12
OUTUBRO 2013 | n.º 62 www.issuu.com/postaldoalgarve 8.962 EXEMPLARES Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO Álvaro de Campos: A última visita a Tavira 8 D.R. Grande ecrã: O vibrador no cinema p. 3 Aqui há espectáulo: O ciclo autárquico e a decisão da programação cultural p. 4 Da minha biblioteca António Ramos Rosa, pelas suas palavras Letras e leituras: Gabo - eterna memória p. 10 D.R. D.R. D.R. p. 6 D.R. Projecto Barril: Reinventar o território p. 5 D.R.

CULTURA.SUL 62 - 4 OUT 2013

  • Upload
    postal

  • View
    225

  • Download
    1

Embed Size (px)

DESCRIPTION

• Veja o CULTURA.SUL DESTE MÊS• Sexta-feira (dia 4/10) nas bancas com o PÚBLICO e o POSTAL • Partilhe o seu caderno mensal de Cultura no Algarve • EM DESTAQUE: > EDITORIAL: Annus horribilis, por Ricardo Claro > ESPAÇO CRIA: Empreendedorismo é uma moda ou veio para ficar?, por Susana Imaginário > JUVENTUDE, ARTES E IDEIAS: Juventude com arte e ideias!, por João Evaristo > GRANDE ECRÃ: Cineclube de Tavira: Um vibrador no cinema > ESPAÇO AGECAL: Gestão de museus, breve história > PANORÂMICA: Eles não sabem nem sonham... Projecto Barril já é uma realidade, por Ricardo Claro > LETRAS E LEITURAS: Gabo - eterna memória, por Paulo Serra > CONTOS: A última visita de Álvaro de Campos a Tavira, por Pedro Jubilot > NA SENDA DA CULTURA: Que gestão para os museus actuais? > DA MINHA BIBLIOTECA: “Uma página está cheia de caminhos” António Ramos Rosa, pelas suas palavras, por Adriana Nogueira

Citation preview

Page 1: CULTURA.SUL 62 - 4 OUT 2013

OUTUBRO 2013 | n.º 62

www.issuu.com/postaldoalgarve8.962 EXEMPLARES

Mensalmente com o POSTALem conjuntocom o PÚBLICO

Álvaro de Campos:

A última visitaa Tavira

8

d.r.

Grande ecrã:

O vibrador no cinema

p. 3

Aqui háespectáulo:

O ciclo autárquico e a decisão da programação cultural

p. 4

Da minhabiblioteca

António Ramos Rosa, pelas suas palavras

Letras e leituras:

Gabo - eterna memória

p. 10

d.r.

d.r.

d.r.

p. 6

d.r.

Projecto Barril:Reinventar o território

p. 5

d.r.

Page 2: CULTURA.SUL 62 - 4 OUT 2013

04.10.2013 2 Cultura.Sul

Nunca podemos presumir que determinadas pessoas são mais relevantes do que outras, muito menos na morte.

Não obstante, o ano que ain-da corre é para a cultura no Al-garve, e do país, um verdadeiro annus horribilis no que à maté-ria dos adeus físicos respeita.

Não porque determinadas pessoas sejam necessariamen-te mais importantes do que quaisquer outras, mas porque o seu espaço vital era enorme na cultura e enorme é, pois, o vazio que deixam.

É a segunda vez que ocupo este ano este espaço com um adeus a homens de grande valor. Primeiro Rosa Mendes e agora António Ramos Rosa.

Vultos maiores, humanos de reconhecido valor e donos de um papel determinante e de-terminativo na cena cultural do Algarve, este editorial é um espaço que é seu por direito.

O adeus fez-se com um sin-gelo e simultaneamente imen-so “Estou vivo e escrevo o Sol”. Aos 88 anos, António Ramos Rosa deixa o espaço que se en-che agora da vida eterna dos seus poemas, das linhas imen-sas de significados que nos en-tregou como legado.

Farense ilustre, laureado re-petidas vezes por uma obra que muito consideram ímpar, o Pré-mio Pessoa (1988) e Poeta Eu-ropeu da Década (1991), nunca se deslumbrou pelas distinções, antes fê-las representativas de uma liberdade inabalável, no-meadamente, quando recusou uma distinção atribuída pelo poder em pleno Estado Novo.

Há quem tenha o dom de se fazer dono de um tempo fora do tempo pela obra que deixa por este caminho que é o da vida. António Ramos é um des-ses exemplos de conquista da eternidade, e é-o mesmo que o não soubesse, de eternamente grande que foi em vida...

“Vivi tantoque já não tenho outra noçãode eternidadeque não seja a duração da

minha vida”

Em Torno do Imponderável, 2012

Annus horribilisFicha Técnica:

Direcção:GORDAAssociação Sócio-Cultural

Editor:Ricardo Claro

Paginação:Postal do Algarve

Responsáveis pelas secções:• Contos da Ria Formosa:

Pedro Jubilot• Espaço ALFA:

Raúl Grade Coelho• Espaço AGECAL:

Jorge Queiroz• Espaço CRIA:

Hugo Barros• Espaço Educação:

Direcção Regionalde Educação do Algarve

• Espaço Cultura:Direcção Regionalde Cultura do Algarve

• Grande ecrã:Cineclube de FaroCineclube de Tavira

• Juventude, artes e ideias: Jady Batista• Da minha biblioteca:

Adriana Nogueira• Momento:

Vítor Correia• Panorâmica:

Ricardo Claro• Património:

Isabel Soares• Sala de leitura:

Paulo Pires

Colaboradoresdesta edição:Joana PiresJoão EvaristoPaulo SerraSusana Imaginário

Parceiros:Direcção Regional de Cul-tura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve

e-mail redacção:[email protected]

e-mail publicidade:[email protected]

on-line em: www.issuu.com/postaldoalgarve

Tiragem:8.962 exemplares

O empreendedorismo é uma moda ou veio para ficar?

Nos últimos anos tem-se veri-ficado o aumento da importân-cia dada à temática do empre-endedorismo, que, num sentido estreito, está associada à criação de empresas. Este conceito, em-bora seja utilizado desde o sécu-lo XVII, ganhou mais importân-cia na década de 40, do século XX. Todavia, agora que passou a ser estudado por outras ciências que não apenas as económicas, nomeadamente a Sociologia e a Psicologia, atingiu um novo apogeu.

Portugal não tem ficado in-diferente a este fenómeno, sen-do cada vez mais frequente o aparecimento de concursos de ideias de negócios, o ensino de disciplinas de empreendedoris-mo nas escolas (principalmente ao nível do ensino superior) e a implementação de programas de educação para o empreen-dedorismo. Se, por um lado, as primeiras medidas estão mais voltadas para a população adul-ta, as últimas abrangem todas

as faixas etárias da população estudantil. Estes programas de educação para o empreendedo-rismo apresentam uma diversi-dade de abordagens práticas e dinâmicas que promovem a aquisição de conhecimentos e competências empresariais e empreendedoras, ao mesmo tempo que potenciam o desen-volvimento de competências

pessoais e sociais, como por exemplo o sentido de respon-sabilidade e a capacidade de iniciativa. Embora os programas já implementados, ou em vigor, apresentem diferentes metodo-logias, é possível referir que exis-tem modelos que pressupõem

a criação de uma empresa na sala de aula, enquanto outros se baseiam no desenvolvimen-to de um plano de negócios para uma possível empresa e outros preveem o desenvolvimento de produtos inovadores.

Quando se fala em compe-tências empreendedoras é con-cordante a existência de carac-terísticas empreendedoras e de

características intraempreen-dedoras. Das primeiras pode-se destacar a adaptabilidade a di-ferentes situações, a persuasão, a assunção dos riscos e a com-petitividade. Relativamente às características intraempreende-doras, pode-se destacar a capa-

cidade de iniciativa, o trabalho independente, a capacidade de comunicação e de gestão do tempo.

Com base nesta descrição, pressupõe-se então, que uma pessoa empreendedora não é apenas aquela que cria a sua própria empresa, podendo as suas características empreen-dedoras refletir-se em todos os aspetos da sua vida quotidiana. Desta forma, podemos ser em-preendedores quando criamos o nosso próprio trabalho, quan-do procuramos um trabalho, quando nos empenhamos para manter o trabalho que temos e quando precisamos gerir o nos-so tempo, a nossa casa e o nosso orçamento familiar.

Tendo em conta a atual cri-se económica, muito marcada pelo aumento do desemprego e pela diminuição do rendi-mento mensal da população ativa, a educação para o empre-endedorismo surge como uma necessidade para o desenvolvi-mento pessoal e profissional dos jovens, podendo até mesmo ser considerada como uma possível solução para fazer face a este problema. Neste sentido, tor-na-se essencial que exista uma aposta educativa no fomento do empreendedorismo e das competências empreendedo-ras, que deve ter início desde tenra idade com iniciativas adequadas à faixa etária em questão.

Juventude com arte e ideias!

Talento, rigor, empenho, de-dicação e responsabilidade são algumas das características que regularmente tenho vindo a en-contrar na maioria dos nossos jovens.

Quem acompanha e apoia es-ses jovens, como é o caso da Casa da Juventude de Olhão, observa diariamente a concretização des-

sas qualidades nas inúmeras ac-tividades artísticas, desportivas ou de carácter social realizadas por todo o lado. Dos muitos obstáculos que estes jovens têm que ultrapassar, um deles não se compreende, refiro-me a alguma falta de reconhecimento ou até descrença por parte dos seus pa-res, mas mais grave por parte das gerações anteriores.

Acreditar na juventude, reco-nhecer o seu valor, dar-lhes estí-mulo e apoio é uma responsabi-lidade de todos.

O espaço J - Juventude Artes e Ideias tem cumprido bem esse papel. Para além de um exce-lente exemplo da dedicação e talento representados por Jady Batista, Mariana Ramos e Danie-

la Rita, entre muitos outros co-laboradores pontuais, tem con-tribuído, ao longo dos últimos 12 meses, para a divulgação das muitas iniciativas dos jovens jun-to da comunidade. Este espaço é hoje um orgulho para todos os que o acompanham, pelo con-ceito inovador e pela função que desempenha.

A parceria com o «Cultura.Sul» e o «O Olhanense» permitiu uma

maior expansão da informação, dignificando o J e atraindo mais jovens para a imprensa local e regional.

Nestas 12 edições podemos comprovar a qualidade do tra-balho desenvolvido por estes jo-vens mas, acima de tudo, e caso dúvidas houvessem, a responsa-bilidade de iniciar um projecto e mantê-lo.Parabéns e continu-ação do excelente trabalho.

d.r.

d.r.

Ricardo [email protected]

Editorial Espaço CRIA

Susana Imaginário Gestora de Ciência e Tecnologia no CRIA – Divisão de Empreende-dorismo e Transferênciade Tecnologia da UAlg

Juventude, artes e ideias

João EvaristoCoordenador da Casada Juventude de Olhão

Page 3: CULTURA.SUL 62 - 4 OUT 2013

04.10.2013  3Cultura.Sul

Espaço AGECAL

Na Antiga Grécia “museion” sig-nificava o lugar das musas, protec-toras das artes e das ciências, onde se reuniam sábios e conhecimentos de todas as disciplinas.

Na Idade Média predominaram os tesouros religiosos e as relíquias de santos. As catedrais e igrejas eram os principais locais de exposição de objectos artísticos.

Durante o Renascimento apare-cem as coleções reais, da aristocra-cia e da Igreja, objetos produzidos pelo homem (artificiallia) ou pela natureza (naturallia). Em muitas cidades da Europa “gabinetes de curiosidades” e também as primei-ras galerias de arte. Os visitantes des-ses espaços, embrionários dos atuais museus, eram os próprios donos ou seus convidados, sendo excepcional-mente abertos ao público em ocasi-ões especiais.

Em 1564 a Galeria dos Uffizi em Florença, projeto de Giorgio Vasari, de planta rectangular com três alas contínuas, foi o primeiro edifício es-pecialmente desenhado para a fun-ção museológica.

Nos séculos XVII e XVIII os palá-cios começaram a integrar galerias onde se guardavam pinturas de ar-tistas de renome e também objectos valiosos. A Grande Galeria do Louvre

foi inaugurada em 1793 por Napo-leão Bonaparte.

Os acervos resultantes das con-quistas militares e da colonização começaram a ser exibidos em edi-fícios adaptados para fins expositi-vos. Objetos retirados dos contextos de origem foram colocados nas ca-pitais imperiais, como um obelisco de Luxor dedicado a Ramsés II ins-talado em 1833 na Praça da Concór-

dia em Paris. As galerias e museus deixaram

gradualmente de ser territórios con-dicionados às elites e ao academis-mo que ditava dogmas e modelos de como cultivar as “belas” artes.

Em Portugal o liberalismo extin-guiu no séc. XIX as ordens religiosas e ao desocupar edifícios criou opor-tunidades para a criação de museus, arquivos e bibliotecas. Uma porta-

ria de 1836 determinou que todas as capitais distritais tivessem os seus museus, gabinetes de pintura e de “raridades”.

Em 1883 surge o primeiro mu-seu público, o Museu Portuense e no ano seguinte o Museu Nacional de Bellas Artes e Archeologia inau-gurado por D. Luís I. Em 1911 este foi subdividido em Museu Nacional de Arte Antiga instalado nas Janelas Verdes e no Museu Nacional de Arte Contemporânea.

No séc. XX o conceito de museu evoluiu nas suas características, fi-nalidades e especializações temáti-cas. Em Portugal com a implanta-ção da democracia registou-se um enorme esforço de renovação teóri-ca e um aumento de novas unidades museológicas.

As cidades possuem hoje espa-ços de memória, de educação e investigação, marcados pela ar-quitetura e o turismo cultural. Surgiram também novas unidades expositivas destinadas ao mercado da produção artística contemporâ-nea, galerias privadas e certames dirigidos a compradores institu-cionais e particulares.

Muitos museus são hoje estrutu-ras complexas, integram sistemas de comunicação, buscam centralidades

e possuem corpos profissionais es-pecializados. Outros projectos pro-curaram a afirmação das periferias, valorizando a história e património locais com modelos conceptuais al-ternativos, museus de território, eco-museus e outros.

No Algarve existem dois museus com origem no séc. XIX, ambos si-tuados em Faro, o ex-Museu Indus-trial Marítimo (1889) actual Museu Marítimo Ramalho Ortigão sob tute-la do Museu de Marinha e o Museu Arqueológico e Lapidar Infante D. Henrique (1894) atual Museu Muni-cipal de Faro. A maioria dos museus algarvios surgiu depois de 1974, pre-dominando os de tutela autárquica.

A Lei-Quadro dos Museus Por-tugueses (Lei nº 47/2004 de 19 de Agosto), explicitou as funções mu-seológicas e estabeleceu também os requisitos para pertença à Rede Por-tuguesa de Museus – RPM. Este en-quadramento permitiu entre outros aspectos a evolução na democratiza-ção e também apoios técnico-finan-ceiros a acções concebidas e propos-tas pelos museus portugueses.

No Algarve integram hoje a RPM os Museus Municipais de Albufeira, Faro, Portimão e Tavira.

Direção da AGECAL

Grande ecrã

Cineclube de TaviraProgramação: www.cineclubetavira.com281 971 546 | 965 209 198 | 934 485 [email protected]

SESSÕES REGULARESCine-Teatro António Pinheiro | 21.30 horas

17 OUT | LE CAPITAL (O CAPITAL), Costa Gavras, França 2012 (114’) M/12

24 OUT | HYSTERIA (BOAS VIBRAÇÕES), Tanya Wexler, Reino Unido/França/Ale-manha/Luxemburgo 2012 (100’) M/1631 OUT | ATÉ VER A LUZ, Basil Da Cunha, Suíça/Portugal 2012 (95’) M/16

Um vibrador no cinemaEnquanto estamos à espera

de poder exibir um leque de filmes com bastante interesse (Beyond the Hills, The Guard, Dans la Maison, etc...), cujas cópias ainda não estão dispo-níveis para exibição em Tavira, este mês apresentamos dois fil-mes nacionais com interesse, ao mesmo tempo tentando cumprir a quota de 30% de fil-mes nacionais que o ICA exi-ge que exibamos (ao longo do ano). Claro que a falta de dis-ponibilidade de cópias tem a ver com o que escrevi no mês passado sobre a crescente “di-gitalização” da exibição cine-matográfica no nosso país...

Além destes dois filmes na-cionais, um documentário so-bre Gilberto Gil e a sua músi-ca: Viramundo; o último filme de Costa Gavras (Z, The Mis-sing, etc...) sobre a mentali-dade dos bancos nessa “crise” económica que inventaram (ai, blasfêmia!): “continuare-mos a roubar os pobres para dar aos ricos”; e um filme que

de certa forma passou desper-cebido em Portugal: Hysteria (Boas Vibrações), sobre a in-venção de uma ferramenta in-teressante e bastante popular: o vibrador. Ainda por cima o filme tem um elenco que con-ta com a Maggie Gyllenha-

al (Secretary, Stranger Than Fiction, Away We Go, etc...). É sempre um prazer vê-la no grande ecrã, pela sua escolha e interpretação dos papéis... Divirtam-se!

Cineclube de Tavira

Hysteria, um filme sobre uma particular invenção

d.r.

Imagem do claustro do Museu de Faro que integra a Rede Por-tuguesa de Museus, a par dos de Albufeira, Portimão e Tavira

d.r.

Cineclube de Faro Programação: cineclubefaro.blogspot.pt

IPJ | 21.30 HORAS | ENTRADA PAGACICLO FRAGMENTOS FAMILIARES

8 OUT | LIKE SOMEONE IN LOVE, Abbas Kiarostami, França/Japão, 2012, 109’, M/1215 OUT | UMA FAMÍLIA RESPEITÁVEL, Massoud Bakhshi, Irão/França, 2012, 90’, M/1222 OUT | APENAS O VENTO, Benedek Flie-gauf, Hungria/Alemanha/França, 2012, 95’, M/1229 OUT | NOIVA PROMETIDA, Rama Bur-shtein, Israel, 2012, 90’, M/12

SEDE | 21.30 HORAS | ENTRADA GRATUITACICLO MIKE LEIGH 1971-1996

10 OUT | LIFE IS SWEET, 1990 (leg. ing.)17 OUT | MEANTIME, 1984 (leg. ing.)24 OUT I NU, 1993 (leg. por.)31 OUT I SEGREDOS E MENTIRAS, 1996 (leg. por.)

FILME FRANCÊS DO MÊS |BIBLIOTECA MUNICIPAL | 21.30 HORAS

25 OUT | L’ARBRE ET LA FORET, Olivier Ducastel, Jacques Martineau, França, 2010

Gestão de museus, breve história (1)

Page 4: CULTURA.SUL 62 - 4 OUT 2013

04.10.2013 4 Cultura.Sul

Novo ciclo, novas realidades

Mudam-se os tempos mu-dam-se as vontades. De qua-tro em quatro anos a ida às urnas para eleições autárqui-cas dita alterações de maior ou menos monta nos quadros dirigentes das autarquias, no-meadamente nas respectivas presidências e vereações, en-tre elas a da Cultura.

Se esta é uma verdade para a maioria dos actos eleitorais, neste que decorreu no passa-do domingo é um facto no-tório. São dez caras novas na cadeira de presidente e, ainda

que alguns sejam mandatos de suposta continuidade ou novos presidentes com larga intervenção na gestão anterior de autarquias, a verdade é que estamos perante dez novos protagonistas, para o melhor ou para o pior.

Desejamos todos, cidadãos, forças vivas e gentes das artes e da Cultura em geral, que es-tes rostos sejam a face de uma aposta na vertente cultural sé-ria, despudorada e sustentável. Isso exige o esforço feito ao longo de anos pelas autarquias na promoção da Cultura e o largo investimento realizado no sector, independentemen-te de uma análise crítica das escolhas preconizadas.

Construíram-se infra-es-truturas, criaram-se públicos, apoiaram-se agentes cultu-rais, desenvolveram-se estra-tégias em rede, apostou-se na qualidade técnica, edificada e discursiva e este esforço e os seus frutos não devem e, aci-ma de tudo, não podem ser desbaratados.

Ainda que a conjuntura se anuncie de continuidade na crise e na austeridade e as au-tarquias tenham hoje garro-tes que durante décadas des-conheceram, a verdade é que

se impõem a continuidade do esforço e a salvaguarda das metas ultrapassadas.

Exige-se hoje como sempre, mas particularmente hoje e no futuro, engenho e arte para do pouco muito fazer e para de pequenos nadas soluções de relevo construir.

O desafio que se coloca na área da cultura aos autarcas, sejam presidentes ou vereado-res com competências no pe-louro, é exigente, mas exigente é-o também a assunção de res-ponsabilidades na gestão da

res publica. Aos que abraçam a função pública agora com no-vas responsabilidades ou com responsabilidades acrescidas, fruto da votação do passado domingo, importa dar o be-nefício da dúvida se mais se não quiser entregar, mas cabe acima de tudo aos algarvios olhar os novos titulares com o respeito que a função merece e, simultaneamente, seguir de perto a sua acção no sentido de acompanhar as decisões to-madas naquele que é um dos sectores fundamentais da vida.

Sem Cultura há um empo-brecimento radical das po-pulações e seca-se um espaço vital no que respeita ao de-senvolvimento, à criatividade e qualidade de vida.

Este - muito embora aqui se não estinga - é o verdadeiro va-lor da Cultura e a sua impor-tância no desenvolvimento in-tegrado dos povos é um dado que, muitas vezes não palpável ou facilmente mensurável, jus-tifica o máximo empenho.

Aos autarcas pede-se isto tão só e não é pouco, mas ao pedir-se pede-se apenas o exi-gível em face de um direito inalienável dos cidadãos, o do acesso à Cultura.

Ricardo Claro

Desafio na área da Cultura é exigente

Teatro Municipal de Faro Programação: www.teatromunicipaldefaro.pt

12 OUT | Gala Internacional de Dança Terpsícore, 21.30 horas, duração: 1h30, preço: 15 €19 OUT | Abraça a CAuSA, com Sara Gonçalves, César Matoso, Virgílio Lança, Retro Nova, Dino, Nome e Tim (música), 21 horas, duração: 2h30, preço: 10 €26 OUT | Sonho da Música III, 21.30 horas, duração: 1h45, preço: 10 €30 OUT | 14ª Festa do Cinema Francês – “L’Écume des Jours”, de Michel Gondry, 22 horas,duração: 2h05, preço: 3.50 €31 OUT | 14ª Festa do Cinema Francês – “Azur et Asmar”, de Michel Ocelot (10.30 horas), “Les Amants de Pont Neuf”, de Leos Carax (19 horas), “Alceste à Bicyclette”, de Philippe Le Guay (22 horas), preço: 3.50 € cada

AMO - Auditório Municipal de Olhão Programação: www.cm-olhao.pt/auditorio

Até 26 OUT | Diálogos Pétreos, por Leandro Sindoncha (escultura), das 14 às 18 horas, entrada livre 5 OUT | Samirah (dança oriental), 21.30 horas, preço: 6 €19 OUT | As Aventuras da Cigarra e da Formiga (música infantil), 16 horas, preço: 5 € (até aos 12 anos), 8 € (maiores de 12)26 OUT | E Tudo o Casamento Levou (comédia), 21.30 horas, preço: 10 € (balcão), 12 € (plateia)

TEMPO - Teatro Municipal de PortimãoProgramação: www.teatromunicipaldeportimao.pt

8 OUT | Stacey Kent (música), 21.30 horas, duração: 1h30, preço: 18 € (plateia), 15 € (balcão)17 OUT | Quem se importa, de Mara Mourão (documentário), 21 horas, duração: 1h30,entrada livre19 OUT | Vol.2 (música), 21.30 horas, duração: 1h30, preço: 3 € (7.5€ com álbum autografado)26 OUT | Caríssimas Canções, com Sérgio Godinho, Hélder Gonçalves, Manuela Azevedo e Nuno Rafael, 21.30 horas, duração: 1h30, preço: 16 €

Aqui há espectáculo

Em digressão por inúmeras salas de espectácu-lo do país, é a vez do AMO receber esta comédia romântica que conta com Maria João Abreu e Almeno Gonçalves como protagonistas.E Tudo o Casamento Levou retrata a histó-

ria de um casal que se ama, que não pode viver um sem o outro, mas que também não consegue viver sem conflito. Prepare--se para rir bastante com episódios que de-certo também já viveu.

Dest

aque 26 OUT | E Tudo o Casamento Levou (comédia), 21.30 horas, preço: 10 € (balcão), 12 € (plateia)

d.r.

A aclamada cantora norte-americana Stacey Kent regressa a Portugal para apresentar o seu novo trabalho “The Changing Lights”.Jay Livingston, três vezes vencedor de Ósca-res da Academia para Melhor Canção Origi-nal, escreveu: “Stacey Kent é uma revelação.

Não há ninguém hoje em dia que possa ser comparado com ela. Tem o estilo das gran-des vozes como Billie Holiday e Ella Fitzge-rald e canta as palavras como Nat King Cole: claras, limpas com um fraseado perfeito. E isto é do melhor que se consegue”.

Dest

aque 8 OUT | Stacey Kent (música), 21.30 horas, duração: 1h30, preço: 18 € (plateia), 15 € (balcão)

É o terceiro “Sonho da Música” do Coral Ossónoba, já uma tradição em Faro, a que não se pode faltar.Dividido em três partes, Franz Lehár lidera a primeira. Árias famosas d’ “A Viúva Ale-gre” e “Giuditta” serão interpretadas pela

bem conhecida soprano Ana Ester Neves.A segunda parte é dedicada a Vinícius de Moraes, para comemorar o centenário do seu nascimento. Na terceira parte, é tempo de reviver momentos inesquecíveis do filme “Música no Coração”.

Dest

aque

s 26 OUT | Sonho da Música III, 21.30 horas, duração: 1h45, preço: 10 €

Cine-Teatro LouletanoProgramação: http://cineteatro.cm-loule.pt

6 OUT | “O Sonho de uma Noite de São João” (cinema), 15.30 horas, duração: 1h25, entrada livre10 OUT | “Até ver a Luz, de Basil da Cunha (cinema), 21 horas, duração: 1h35, preço: 3 €17 OUT | “Contraluz”, de Fernando Fragata (cinema), 21 horas, duração: 1h45, entrada livre20 OUT | “Turbo” (cinema), 15.30 horas, duração: 1h46, entrada livre24 OUT | Improvisos à 5.ª, com “Ensinar-te”, 21 horas, entrada livre26 OUT | Dead Combo (música), 21.30 horas, duração: 1h15, preço: 10 €31 OUT | “Contrato”, de Nicolau Breyner (cinema), 21 horas, duração: 1h35, entrada livre

Os DEAD COMBO são Tó Trips e Pedro Gonçalves, músicos que encarnam duas personagens que poderiam ter saído de uma BD: um gato pingado e um gangster. Formado em 2003, o grupo já lançou 5 álbuns, três dos quais galardoados como

“Álbum do Ano” e/ou “Álbum da Década” em Portugal.

“Lisboa Mulata”, o último registo de ori-ginais, foi editado em Outubro de 2011 e conta com a participação dos convidados Marc Ribot, Camané e Alexandre Frazão.

Dest

aque 26 OUT | Dead Combo (música), 21.30 horas, duração: 1h15, preço: 10 €

Page 5: CULTURA.SUL 62 - 4 OUT 2013

04.10.2013  5Cultura.Sul

Eles não sabem nem sonham... Projecto Barril já é uma realidade

A equipa por detrás do Projecto Barril

d.r.

“A MAGIA DA MÚSICA CELTA IRLANDESA”4 OUT | 21.30 | Centro Cultural de LagosAs canções de Linda Scanlon transportam o públi-co pelos campos verdes da velha Irlanda, pelos seus pubs regados com música tradicional e por temáticas tão duras como a emigração massiva para a América

“ESPECTÁCULO COM SEU JORGE”11 OUT | 22.00 | Portimão ArenaPara além de interpretar temas do novo disco, in-titulado “Músicas para Churrasco nº 2” , o cantor e compositor promete incluir no alinhamento do concerto canções bem conhecidasAg

endar

Panorâmica

As palavras de António Ge-deão que lembram que “o so-nho comanda a vida” são mais do que certas quando se fala do Projecto Barril. Assim diz o poema e, também ali, na anti-ga armação atuneira de Santa Luzia, o sonho comandou os destinos, e a vontade o tornou realidade.

É da mente e perseverança de um outro António, Almei-da Pires, que nasce a aposta numa revolução naquele que é o território da Praia do Bar-ril. Um reinventar que se quer seja apenas a ponta do iceberg de um projecto em que as pa-lavras de ordem são sinergias, envolvimento da comunidade e visão global integrativa.

A Praia do Barril é por si só um local único, cujas potencia-lidades endógenas poderiam à primeira vista ser tidas como sobejantes para a satisfacção de um entendimento primário daquilo que pode ser o aprovei-tamento de um território. Mas António Almeida Pires e o Gru-po Pedras, proprietário dos em-preendimentos turísticos Pedras D’el Rei e Pedras da Rainha, não se ficaram pela elementaridade da análise e conceberam um verdadeiro conceito integrado de reinvenção de um produto eminentemente turístico.

Sol, areal e mar a Praia do Barril tem naturalmente e uma infra-estrutura turística e bal-near dentro dos moldes tradi-cionais também já aquele areal de excelência do concelho de Tavira tinha. A inserção den-tro de uma reserva natural era um facto, o charme da viagem de mini comboio até ao areal e um enquadramento ambiental de excepção eram ali dados ad-quiridos. Mas tudo isto basta? Para António Almeida Pires, em declarações ao Cultura.Sul, não.

O potencial do Barril é imen-so e o aproveitamento que dele se faz exíguo face àquilo que em tese se poderia fazer. Este mote foi suficiente para que Antó-nio Almeida Pires assumisse a missão de transformar a tese numa realidade palpável que

será apresentada ao público este sábado, e que é já um projecto em andamento, com mais de um ano de preparação.

No terreno estão já a desenvol-ver o projecto a Comissão Insta-ladora do Projecto Barril, forma-da pela Universidade do Algarve, a Câmara de Tavira, a Associação Portuguesa do Ambiente, o Ins-tituto de Conservação da Natu-reza, o Instituto de Emprego e Formação Profissional, as asso-ciações Almargem e Raiz e o Gru-po Pedras, e 12 profissionais em regime de estágio com o apoio do Instituto de Emprego e For-mação Profissional que, durante um ano, farão do Projecto Barril a sua aposta profissional.

Barril e Querença projectos de futuro

Na presidência da Comissão Instaladora do Projecto Barril está António Covas, professor da Universidade do Algarve responsável por um projecto de desenvolvimento integrado do território que já decorre em Querença e cujos resultados têm sido muito positivos.

“No Barril a ideia de desen-volvimento do projecto está já a ser desenvolvida e consubs-tanciada na prática pelos es-tagiários que acompanharão cada uma das fases de imple-mentação e que, simultanea-mente, são responsáveis por propostas e soluções que tor-nem o projecto cada vez mais ambicioso e consolidado”, re-fere Almeida Pires.

Os 12 profissionais selec-cionados para integrarem o projecto, dominam áreas tão diversas como a Biologia Ma-rinha, Aquacultura e Pesca, o Planeamento Urbano e Terri-torial, a Arqueologia, a Arqui-tectura Paisagista, a Engenha-ria Civil, as Ciências do Mar e a Geomática, a Agronomia e a Gestão Ambiental, bem como, a Gestão, as Relações Interna-cionais, as Artes Visuais e a En-genharia Alimentar.

Multidisciplinaridade para um projecto multifacetado

que quer aliar ao turismo de sol & mar uma miríade de ou-tras respostas para os mais di-versos públicos e que, de uma assentada quer lado-a-lado turismo e ciência, visitantes e comunidade local, lazer e pa-trimónio, aproveitamento dos recursos marinhos e agricultu-ra, ambiente e gastronomia, história, arte e muito mais.

Uma oferta diferenciada

O património edificado da antiga armação do Barril está apto a ser uma valência poli-facetada, capaz de dar acolhi-mento a várias iniciativas que podem ocupar o espaço da Praia do Barril e que permitem antecipar uma resposta eficien-te ao combate à sazonalidade que grassa no turismo algarvio como uma praga capaz de di-zimar aquele que é o principal potencial da região.

O que se propõe no Projecto Barril é que se crie uma oferta diferenciada a nível regional e que este possa ser um projec-to piloto para uma nova con-cepção daquilo que pode ser o aproveitamento das potencia-lidades da região.

A aposta no mar e nos recur-sos marinhos, com a criação de uma estação náutica, com uma oferta de serviços ao longo de todo o ano e nas mais variadas áreas, como o mergulho, a vela, o kitesurf ou a pesca desportiva, entre tantas outras actividades, é um dos passos fundamentais do projecto. As estações de sky são um pólo turístico de primei-ra linha e o que se quer no Barril é o mesmo no que toca às acti-vidades ligadas ao mar.

O aproveitamento das cons-truções da armação do Barril para acolherem exposições, mostras, encontros e reuniões, entre outros eventos, é outras das apostas do projecto que assim alia a vertente cultu-ral ao conceito. Mas cultura é também património, material e imaterial, e neste campo o próprio edificado da armação do Barril é em si mesmo patri-mónio a preservar e conser-var, bem como o é, a história de um local associado a uma arte de pesca que durante anos foi fundamental para a região. Também aqui o Projecto Bar-ril aposta em desenvolver um discurso museológico, mas não só, capaz de ser uma mais-valia

para a ideia de reinvenção da-quela unidade territorial

A desejada atribuição a Por-tugal, com Tavira à cabeça, da classificação como património imaterial da humanidade no âmbito da dieta mediterrâ-nica é outra das mais-valias a explorar. Trata-se de valorizar a classificação da UNESCO em termos regionais e nacionais e com isso trazer valor acrescen-tado ao projecto com integra-ção da gastronomia, cultura, tradições, usos e costumes, mas também do modo de vida as-sociado ao conceito de dieta mediterrânica.

O turismo sénior e acessível são outras duas áreas que se querem determinantes neste projecto. Tornar o Barril um destino de eleição para estes dois nichos do mercado global de turismo é uma ambição que António Almeida Pires quer ver conquistada em pleno.

Trata-se de dois mercados potenciais de turismo que são certamente, uma vez aproveita-dos, um acréscimo de competi-tividade do Algarve enquanto destino turístico de referência na Europa e uma das respostas mais eficientes à sazonalidade

e à competitividade de outros destinos, nomeadamente, na bacia do Mediterrâneo onde esta oferta ainda não está ex-plorada de forma eficiente.

Aliada a esta oferta está tam-bém a ideia de atrair ao Barril um outro tipo de turista, ligado ao nicho de observação de aves, potenciando o facto de se estar dentro de uma reserva natural com excepcionais potencialida-des no campo da avifauna. Por outro lado, também a flora úni-ca da Ria Formosa e a sua fau-na em termos gerais não serão esquecidas pelo Projecto Barril.

Aliar o conceito à comunidade

O Projecto Barril não se es-quece do continente só por-que está sedeado numa ilha. A oferta de alojamento susten-táculo, também ela, de todo o projecto está garantida pelo empreendimento Pedras D’el Rei, que garante resposta nesta área, mas acima de tudo o que os promotores da ideia dese-jam é que Tavira ganhe com esta ideia e muito em particu-lar Santa Luzia, a comunidade mais próxima do Barril.

Não se pode pensar o terri-tório sem pensar as suas gen-tes e envolvê-las na sua rein-venção e no desenvolvimento sustentável e integrado do seu potencial e assim se faz em grande medida o futuro do próprio Projecto Barril. Santa Luzia é uma comunidade ân-cora para o desenvolvimento de todo este conceito e a liga-ção entre o projecto e as pes-soas é determinante na óptica dos responsáveis.

Há um mundo de ideias que podem crescer dentro e a par-tir do Projecto Barril e a aber-tura dos promotores é comple-ta, não se trata de um conceito fechado, mas antes de algo que se quer evolutivo e agre-gador por que na armação do Barril um futuro diferente já se começou a desenhar fazendo desse futuro um presente feito de desafio. Ricardo Claro

Page 6: CULTURA.SUL 62 - 4 OUT 2013

04.10.2013 6 Cultura.Sul

“ARQUITECTURA EM PERCURSO”Até 15 OUT | Teatro Municipal de PortimãoExposição apresenta fragmentos significativos do percurso criativo de alunos que são hoje arquitectos dos espaços algarvios e de investigadores do Mestra-do Integrado em Arquitectura (MIA) do ISMAT

“OSSOS QUE CONTAM HISTÓRIA”Até 25 JAN | Museu Municipal de Tavira - Núcleo IslâmicoExposição dá a conhecer, entre outros aspectos, o esqueleto de peixes, anfíbios, répteis, mamíferos e aves, o seu modo de locomoção, a sua dentição…Ag

endar

Gabo - eterna memória

Escrevo hoje sobre um escritor de eleição que me marcou na mi-nha tenra juventude desde as suas primeiras linhas e que, infelizmen-te, tendo hoje cerca de 86 anos não mais voltará a escrever, por motivos de saúde. Gabriel García Márquez foi o pai do realismo mágico e laureado com o Prémio Nobel de Literatura em 1982, nomeadamente por uma obra que ainda hoje faz correr muita tin-ta: Cem Anos de Solidão, que deu um grande impulso ao chamado boom da literatura hispano-americana, fa-zendo com que o Velho Mundo pas-sasse a ler toda uma nova geração de autores da América do Sul. Na escrita de García Márquez sente-se como a magia invade o real e rege as leis da natureza, em que os eventos fantásti-cos se tornam extraordinários junto de uma comunidade mítica, a céle-bre Macondo, que parece viver para-do num período medieval, mais ou menos no século em que os conquis-tadores espanhóis chegaram àque-las paragens. A Macondo de Gabriel García Márquez, uma alegorização do espaço que representa todo o conti-nente sul-americano, é o palco da ac-ção da sua obra de estreia, A Revoada, sendo depois retomada em Cem Anos de Solidão, numa tentativa de retratar nessa povoação o percurso histórico, social e político da América Latina, bem como em Ninguém Escreve ao Co-ronel, perfazendo neste tríptico o cha-mado «ciclo de Macondo». Por outro lado, no seu conto «A incrível e tris-te história de Cândida Eréndira e da sua Avó Desalmada» desenvolve-se a história dessas duas personagens que tinham já aparecido num episódio de Cem Anos de Solidão.

Mas, se lermos bem certas passa-gens dessa principal obra de García Márquez, podemos perceber como o extraordinário não é tão pacífico quanto isso: «Mal tinham começado quando Amaranta reparou que Re-medios, a bela, estava transparente, com uma palidez intensa. (...) Fernan-da sentiu que um delicado vento de

luz lhe arrancou os lençóis das mãos e desdobrou-os em toda a sua am-plitude. Amaranta sentiu um tremor misterioso nas rendas dos seus saiotes e tentou agarrar-se ao lençol para não cair, no momento em que Remedios, a bela, começava a elevar-se. Úrsula, já quase cega, foi a única que teve se-renidade para identificar a natureza daquele vento irreparável.» (p. 185). A anunciar este episódio, não só exis-te um intróito de tamanho bastante considerável, com cerca de duas pá-ginas, acerca da natureza singular da

personagem como se alerta para um volteface, onde predominam os vocá-bulos (aqui sublinhados) que contri-buem para reforçar a aura de misté-rio ou de sobrenaturalidade. Linhas depois, como que para confirmar que este evento tem muito pouco de natural, ao contrário do que seria suposto no realismo mágico e con-tradizendo a ideia assente de que os autores mágico-realistas defendem uma ausência ou imparcialidade por parte do autor-narrador, para quem o mágico seria sempre tomado como possível e plausível. Ressalve-se tam-bém que ainda na história se falará desse acontecimento como algo de positivamente extraordinário, a que os forasteiros se referem como «pa-tranha» enquanto outros pensam na ascensão aos céus dessa criatura,

encarada pelos outros como idiota, como um «milagre» ou «prodígio», ainda que no decurso da narrativa outros eventos igualmente estranhos sejam facilmente aceites. Pode, por-tanto, haver convergência desses dois mundos, pode até haver aceitação, mas não se exclui, totalmente ou em parte, uma aura de estranhamento.

Gabriel García Márquez justifica o realismo mágico como uma realidade ontológica das Caraíbas, um espaço que já é por si próprio um compósito de mestiçagem e hibridismo, onde as-

sume a importante herança africana: «No Caribe, ao qual pertenço, mistu-rou-se a imaginação transbordante dos escravos negros africanos com a dos nativos pré-colombianos e de-pois com a fantasia dos andaluzes e o culto dos galegos pelo sobrenatural. Essa capacidade de olhar a realidade de certa maneira mágica é própria do Caribe.» (Plínio Apuleyo Mendo-za, O Aroma da Goiaba, p. 89). Gabriel García Márquez, em entrevista, acerca da influência que a leitura de A Me-tamorfose de Kafka teve em si, desde as primeiras linhas, exclama mesmo: «Porra - pensei - assim falava a minha avó.» (p. 86). O autor refere diversas vezes a avó enquanto uma grande in-fluência igualmente decisiva na sua obra: «era uma mulher imaginativa e supersticiosa, que me aterrorizava

noite após noite com as suas histó-rias de além-túmu-lo.» (p. 87). Gabriel García Márquez res-ponsabiliza assim esta matriarca pelo seu realismo mágico ou mítico, visto que, atendendo às suas palavras, o autor co-lombiano defende não ter criado nada de ver-dadeiramente original,

tendo antes repescado no tesouro da mitologia local caribenha: «Para ela, os mitos, as lendas, as crenças das pessoas, faziam parte, e de forma muito natural da sua vida quotidia-na. Pensando nela, apercebi-me de imediato que não estava a inventar nada, mas simplesmente a captar e a referir um mundo de presságios, de terapias, de premonições, de su-perstições (...).» (p. 99). A ideia de um mundo pautado por um pensamento típico da Idade das Trevas ecoa ainda em diversos momentos de colapso, próximos de um Juízo Final apocalíp-tico, como quando a obra Cem Anos de Solidão termina com o desapareci-mento de Macondo da face da terra, da mesma forma que se foi assistin-do a horrores como o massacre da companhia bananeira, baseado num

facto verídico que terá ocorrido em Ciénaga,

em 1928, uma cidade localizada a norte de Aracataca, terra-natal do au-tor. É ainda emblemática a recorrente frase de Úrsula em Cem Anos de Soli-dão: «o tempo corre em círculos», es-pecialmente numa saga familiar em que Arcadios e Aurelianos se vão su-cedendo ao longo de gerações, como se fossem sempre ressurreições dos seus antepassados, com certas mar-cas características. A confusão gera-da pela profusão dos nomes foi de tal ordem que em certas edições em castelhano se incluíram árvores ge-nealógicas desta família.

As metáforas ganham vida na es-crita deste colombiano, a que acres-ce o realismo da descrição, como o rasto de sangue de José Arcadio Buendía: «Assim que José Arcadio fechou a porta do quarto, o estam-pido de uma bala ressoou pela casa. Um fio de sangue passou por debai-xo da porta, atravessou a sala, saiu para a rua, seguiu um curso direito pelos passeios desirmanados, des-ceu escadinhas e subiu parapeitos, passou ao largo pela Rua dos Tur-cos, dobrou uma esquina à direita e outra à esquerda, virou em ângulo recto em frente da casa dos Buen-día, passou por debaixo da porta fechada, atravessou a sala de visitas rente às paredes para não sujar os tapetes, continuou pela outra sala, evitou numa curva larga a mesa da sala de jantar, avançou pelo corredor das begónias e passou sem ser visto por baixo da cadeira de Amaranta que dava uma lição de Aritmética a Aureliano José, enfiou-se pelo celeiro e apareceu na cozinha onde Úrsula se preparava para partir trinta e seis ovos para fazer o pão./- Ave-Maria Puríssima! - gritou Úrsula.» (p. 107).

Paulo SerraInvestigador da UAlgassociado ao CLEPUL

Letras e Leituras

d.r.

Gabriel García Márquez foi Nobel da Literatura

Page 7: CULTURA.SUL 62 - 4 OUT 2013

04.10.2013  7Cultura.Sul

Momento

“Instalação pública - bicicleta MENINA

e MENINO”Portimão

Foto de Vítor Correia

PUB

Page 8: CULTURA.SUL 62 - 4 OUT 2013

04.10.2013 8 Cultura.Sul

A última visita de Álvaro de Campos a Tavira

Quando apertam as saudades da ter-ra natal ao sul, onde também um rio encontra o seu mar, Fernando Pessoa mete-se frequentemente pelas ruas da baixa abaixo, até vislumbrar o rio que ali desagua num terreiro. Mas só isso não lhe basta para se encher de emoções. Vai parando pelas casas de vinho que encontra pelo caminho, e vazando co-pos com quem como ele se encosta aos balcões da vida por ali. Quando chega ao Martinho da Arcada, já quase a sede o matou. Envenena os amigos de tertú-lia com poesias infantis, é o que eles di-zem. Para ele, multifacetado criador de personagens, estes versos são tão bons como os outros. Isso diverte-o muito, mas desagrada-os a eles que esperam do poeta as grandes coisas a que os acostumou. Depois, já quase sem for-ças assoma-se ao grande rio, descendo os largos degraus de pedra do cais das colunas, onde se estacam dois simples obeliscos que marcam uma partida ou uma chegada. Ou apenas uma passa-gem, ou uma meta tão só, corrigiria ele. No entanto chega ali já muito cansado. Talvez assim consiga dormir melhor no comboio descendente. De Lisboa ao Al-garve. Vai só pegar a mala de viagem.

Na estação de Loulé, enquanto o comboio pára para largar e receber passageiros, entra um cauteleiro que o acorda numa cantilena. O homem vai soltando os números que se queriam da sorte, intercalados de uma poesia que parece improvisada a irónicas palavras vindas de um coração repleto de dor. Numa verdade dita de forma simples e acutilante, em quadras que embora de entendimento popular revelavam um conhecimento prático de vida. Gostava de lhe ter dito que arranjasse alguém que as escrevesse caso ele não soubes-se. Assim estremunhado, pareceram-lhe boas, as que reteve:

«O homem sonha acordado/So-nhando a vida percorre/E desse sonho dourado/Só acorda, quando morre!»; e «Sem que o discurso eu pedisse,/Ele falou; e eu escutei./ Gostei do que ele não disse;/Do que disse não gostei.». Da janela do trem já em andamento,

perguntou-lhe o nome. Qualquer coisa Aleixo, foi o que conseguiu perceber.

Desta vez decide fazer uma paragem na vila da restauração. Sai do comboio em Olhão para visitar o genial Dr. Fran-cisco Fernandes Lopes, um extraordi-nário intelectual do seu tempo, que vivia ali. Disse-lhe dele Almada Ne-greiros: ‘Ele está, para mim, no meio da primeira fila dos que estão à frente disto tudo.’

Na troca de novidades e leituras, Pessoa perguntou ao seu anfitrião por João Lúcio, do qual lhe dera a conhecer um dos seus livros, em tempos lá na cidade. Ficou consternado ao receber a notícia de que o poeta, esse também ilustre advogado olhanense, tinha já falecido vítima da gripe pneumóni-ca. Pena, teria gostado de o conhecer. Confessa ao amigo que é ao seu po-ema ‘A Dor das Pedras’: « (…)E nin-guém sabe ver que pode o infinito/Duma dor existir numa pedra do chão;/Que pode acontecer que um palmo de granito /Sofra, por vezes, mais que um grande coração. (…)», que Alberto Caeiro se refere quando diz no poema XXVIII: «Li hoje quase duas páginas/Do livro d› um poeta mystico (…)/ Porque os poetas mys-

ticos dizem que as flores sentem/E di-zem que as pedras teem alma/E que os rios teem extases ao luar.// Mas as flores, se sentissem, não eram flores,/Eram gente;/E se as pedras tivessem alma, eram cousas vivas, não eram pedras;(…)». Ao ouvir essa revelação, Francisco Lopes levou-o a passear até aos pinheiros de Marim, na zona leste de Olhão, onde ficou fascinado com a concepção que o próprio João Lúcio dera ao seu chalé, um belo exemplo de arquitectura simbolista em Portu-gal, do qual só conhecia a Quinta da Regaleira na sua amada Sintra. A obra impressionou-o. Pediu ao amigo que lhe mostrasse mais poemas dele e quis saber mais sobre a sua vida. Mais tarde o olhanense leu-lhe o poema ‘O Meu Algarve’. A conversa continuou até de madrugada. As aguardentes de medro-nho e figo deliciaram Pessoa. Como sempre tentou convencer o Dr. Lopes a passar uma temporada em Lisboa para coordenar estudos, lançamentos de re-vistas e organizar saraus, junto do seu grupo de amigos. Mas Francisco não queria abandonar a família e a sua terra. Tentou explicar a Pessoa os efei-tos do inspirativo êxtase do cheiro da salmoura, a inconstância leve da brisa

do mar levantino, e a vista contrastiva que tinha dali das açoteias e mirantes, para o cerro de S. Miguel ou para as ilhas barreira na ria. Pela manhã foram às praças. Lopes mostrou-lhe o barco caíque, contando-lhe a aventura dos olhanenses que nele velejaram ao Bra-sil. Ficou impressionado com o movi-mento daquela pequena vila marítima. Depois subiram a larga avenida a ca-minho da estação desembocando num jardim. Mestre Caeiro teria expressado algo sobre a beleza daquele espaço e talvez percebido melhor o malogra-do poeta João Lúcio. Embarcou com destino à bela e adormecida, a antiga, importante e histórica cidade de Tavi-ra, a ‘Veneza algarvia’.

Chega e começa a sentir à medida que vai tomando notas. Rabisca: «Che-guei finalmente à vila da minha in-fância./Desci do comboio, recordei--me, olhei, vi, comparei./(tudo isto levou o espaço de tempo de um olhar cansado).Tudo é velho onde fui novo». Pára diante da paisagem e continua a recordar transportando-se para uma vivência da sua infância al-garvia: “Meu horizonte de quintal e praia!”; “Na nora do quintal da mi-nha casa o burro anda à nora, anda

à nora / E o mistério do mundo é do tamanho disto”. Quem o vê passar reconhece o Álvaro de Campos que nasceu em Tavira, no dia 15 de Outu-bro de 1890. É engenheiro naval por Glasgow. Foi criado à imagem e se-melhança de Pessoa. Desde o seu re-trato físico (1,75 de altura, mais dois centímetros do que ele) à sua vida: «…O que conquistei? Nada./Nada, aliás, tenho a valer conquistado.». E ei-lo ali na sua cidade observando a paisagem vista da mesa do café que convoca um «Chá com torradas na província de outrora(…) Na ampla sala de jantar das tias velhas», no lar-go da Alagoa defronte à antiga igreja da Nª Srª da Ajuda. Mas o homem de gabardine cinzenta levanta-se, e sente: «Trago o meu tédio e a minha falên-cia fisicamente no pesar-me mais a mala.». Atravessa a pé pela velha ponte romana sobre o rio de uma maré-bai-xa. Olha pró lado da barra e pressente ao fundo: «Ah, as praias longínquas, os cais vistos de longe,/ E depois as praias próximas, os cais vistos de per-to.». Vira para um jardim de palmeiras que no meio tem um coreto vindo da fundição do ouro no Porto.

Na residencial Sequa, o homem que de roupa interior branca acende um cigarro, aparece reflectido no espelho do guarda-fatos, como um tipo ju-deu vagamente português de cara rapada. Da janela do seu quarto ob-serva a mulher que chega num carro preto e sai apressada fugindo da chu-va oblíqua. Toca a campainha e sobe. Quer saber qual a porta do quarto do Sr. Engº. Bate e ele abre-a. Traz cartas, mapas e projectos. E também alguns livros. Cumpre-se o encontro.

De novo só, o homem alto e magro de cabelo liso aparado, tem febre e escreve: «cada rua é um canal de uma Veneza de tédios», a frase solitária que surge na folha logo que premidas as teclas da máquina Royal. A noite le-vou-lhe o sono mas despeja-lhes os sonhos. «Esta vila da minha infância é afinal uma cidade estrangeira. Sou forasteiro, tourist, transeunte».

Às primeiras horas da manhã a ci-dade está deserta. Chama um carro de praça. O sol já brilha timidamente sobre o pequeno rio do sul. Quer partir para Lisboa, não sem passar pelo cemitério onde repousa a sua grande influência: o tio-avô Jacques C. Pessoa, ‘livre-pensa-dor’, assim mesmo escrito na sua lápide funerária. No cais de embarque crê que esta poderá bem ter sido a sua última visita a Tavira. Mas dizem que por vezes é visto por aí a dormir a vida.

Pedro [email protected]

Contos de Outono na Ria Formosa

d.r.

“PEQUENAS E GRANDES MARAVILHAS DA NATUREZA”Até 9 OUT | Centro Autárquico de QuarteiraMostra fotográfica retrata algumas espécies botâ-nicas e borboletas que se encontram nas Paisagens Protegidas Locais da Rocha da Pena e da Fonte da Benémola, do concelho de Loulé

Agendar

“CONCERTO PELOS VOL. 2”19 OUT | 21.30 | Grande Auditório do TEMPO – Te-atro Municipal de PortimãoBanda pop/rock portimonense apresenta o seu ál-bum de estreia “Viver o entretanto”

A Ponte Romana em Tavira

«(…) pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida»

Fernando Pessoa

Page 9: CULTURA.SUL 62 - 4 OUT 2013

04.10.2013  9Cultura.Sul

Três livros improváveis

Nesta rentrée deixo três sugestões de leitura que podem constituir, pela suas abordagens e temáticas sui generis, boas estratégias para seduzir os mais cépticos, aco-modados ou indiferentes, no sentido de uma maior aproxima-ção (por uma via mais descon-traída e informal) ao mundo dos livros.

Começo por destacar a obra Nas-cido para mandar – guia prático para chegar ao Poder em Portugal, de José de Pina (Produções Fictícias/Gra-diva). Se há livros positivamente out-of-the-box, este é sem dúvida um deles. Num original misto de rigor, ironia, sátira e desconcerto, o autor – reconhecido especialista em humor político veiculado pelos media – revisita os bastidores ora mais desnudados ora mais inson-dáveis dos universos político e fu-tebolístico (e suas solidariedades e promiscuidades), as perversida-des e contradanças de um regime (tido) democrático e, assim, as melhores estratégias para atingir uma efectiva posição de relevo nes-sa realidade que parece ter tanto de séria e formal como de cómica e hilariante.

Trata-se também de uma incur-são pela nossa capacidade de nos rirmos de nós próprios, pois “o hu-morismo alivia-nos das vicissitudes da vida, activando o nosso senso de proporção e revelando-nos que a seriedade exagerada tende ao ab-surdo” (Charlie Chaplin).

Pelo meio, há conselhos práticos (o mamar e chuchar, as cambalho-tas, os beijinhos, as petas, birras e os amigos imaginários…) para pais que querem que os seus filhos co-mecem cedo a ganhar sede de po-der. Os locais onde comer, comprar roupa, adquirir viatura ou descon-trair também não são esquecidos (com exemplos concretos de Lis-boa e do Porto), sendo aqueles ti-pificados segundo a intenção de se ser conotado com a esquerda, o centro ou a direita (há ainda as mo-dalidades mistas). Os desportos a adoptar, a relação com as mulheres (ter, não ter, ter muitas), os amigos

a privilegiar, bem como as regras de conversação e comportamento também não fogem à lupa atenta, quase científica e tremendamente real do autor.

Sublinho ainda a apresentação dos códigos de ética do político e do dirigente de futebol, de que realço dois dos mandamentos do político: os primeiros cinco dias de férias devem ser sempre, mas sem-pre, no Algarve, e depois pode ser noutro sítio qualquer; e nos comí-cios da rentrée os oradores devem envergar um blusão desportivo ou um pullover pelos ombros, e de-vem dizer várias vezes no discurso: “Vamos trabalhar”. Ficamos ainda a saber que há, grosso modo, três tipos de personalidade política: o Verbo-de-encher, o Espalha brasas e o Idiota útil, detalhadamente ca-racterizados, havendo inclusive um teste que cada leitor pode preen-cher para descobrir o seu perfil.

Uma nota final para o “utilíssimo e criativo” conceito de irresponsa-bilidade subjectiva. Vale a pena ler atentamente este capítulo, que frisa a importância de ter sempre à mão um bom punhado de des-culpas esfarrapadas (e singularís-simas) para defesa perante dife-rentes tipos de acusações. No fim da obra percebemos ainda como se deve morrer (há vários cenários conforme o efeito pretendido) para se ficar com nome de rua, jardim, escola, pavilhão gimnodesportivo, estádio ou aeroporto.

Recomendo ainda duas obras únicas: A arte de dar peidos (ensaio teórico-físico e metódico), de Pierre--Thomas-Nicolas Hurtaut (editora Orfeu Negro); e A arte de pagar as suas dívidas e de satisfazer os seus credores sem gastar um cêntimo, de Honoré de Balzac (editora Nova Delphi).

O Lugar da História da Arte no conhecimento do nosso Património

Muitos se perguntam: o que faz um Historiador da Arte? O que faz? Pinta quadros? Executa esculturas? Intervém em escavações com os Ar-queólogos e procura os vestígios do passado?

No Portugal do século XXI, a profis-são/formação do Historiador da Arte ainda se encontra pouco difundida num contexto onde os lugares dos técnicos de Património se encontram generalizados.

Assim, poderemos facilmente iden-tificar quais os propósitos de um Arqueólogo, de um Historiador, de um licenciado em Património, quanto ao Historiador da Arte, essa profissão/formação elitista que em pouco se associa ao sentido lato da palavra PATRIMÓNIO, fica a pairar no imaginário comum, onde se as-sociam estes profissionais a técnicos de um Louvre em Paris, um MOMA em Nova Iorque ou o Palácio Pitti em Florença, mas sem lugar próprio no mercado de trabalho nacional.

Em Portugal, estes profissionais, passam muitas vezes despercebi-dos, integrados em organismos públicos e privados ou em museus e que trabalham sobre as questões do Património, sobretudo edificado e móvel. Mas que preparação real possuem?

Os Historiadores da Arte possuem uma formação de um tronco comum, a História, que se complementa com as disciplinas de Arte e outras com-pletares ao estudo da História e a partir das quais se encontram capa-citados para classificar, analisar obje-tos, artefactos e património artístico à luz do seu contexto histórico. Co-mummente associam o seu trabalho à arquitetura, como arte maior, ao estudo do imóvel histórico ou à pin-tura pelo peso que esta desempenha no contexto Europeu e dos mercados de Arte.

Todavia, estes profissionais de-verão contactar directamente com obra de arte num todo, tratando-se de uma Igreja ou um machado de pedra polida, uma arquitectura ver-nácula ou um edifico régio, fazendo a sua análise interdisciplinar com os Arqueológos e potenciando desta forma o conhecimento mais vasto da peça/monumento, através do en-quadramento histórico, da ligação primordial entre o seu “encomen-

dante” ou de quem dela usufruiu, do ambiente que rodeava essa peça--objecto e quais os propósitos da sua execução/produção. Não nos esque-çamos que as grandes encomendas artísticas serviram vários propósitos ao longo de milénios. Propósitos in-dividuais, de grupo restrito e elitista, de comunidade e, numa análise mais globalizante propósitos de propagan-da política dos vários Regimes ao lon-go da História.

Habituamo-nos ainda, a estabe-lecer uma relação relativamente à análise estilística e histórica de um

quadro ou de um fresco como Arte dominantemente Europeia. A estes profissionais foi-lhes dado peso no contexto internacional dos grandes Museus dos vários centros Europeus de Arte. No entanto, a realidade Por-tuguesa e do Património Artístico Português em nada se pode igualar, quer na sua complexidade regional, quer na sua heterogeneidade geográ-fica, devendo o Historiador de Arte português integrar uma equipa de investigação in situ, ou uma equipa de Museu, quer estejamos a falar de Museus de Arte, Museus de Sítio, Mu-seus Municipais ou Museus de Arque-ologia. Esta abertura irá potenciar o

entendimento entre objeto e espec-tador/intérprete da obra, através da utilização de um discurso Museológi-co que realce a importância da peça enquanto objeto vivo, transmissor de uma mensagem, de uma linguagem própria e capacitado de encetar um diálogo com o seu visitante, afastan-do a imagem de mero objeto artístico de grande valor pecuniário.

Já ao falarmos em trabalho de campo, o profissional de Arte pode-rá contribuir para a classificação de elementos arquitectónicos prove-nientes de escavações, de ruínas ou de locais abandonados. Com estes trabalhos, o conhecimento, a pro-teção e salvaguarda do património ganhará um relevo diferente com base em enquadramentos científi-cos de época histórica, de estilos ar-tísticos ou de técnicas utilizadas que poderão estabelecer e correlacionar com paralelos extrafronteiras. Num âmbito mais alargado de Patrimó-nio Cultural Imaterial interessa ao Historiador de Arte, sobretudo, a procura mais aprofundada do co-nhecimento das relações emotivas e sociológicas no contexto de cul-tos, tradições que se personificam na manufatura através de objetos materiais e manifestações imateriais do quotidiano das populações.

Poderemos, no final, fazer um re-conhecimento destes profissionais e integrá-los na realidade portugue-sa das várias ciências que se encon-tram à disposição do conhecimen-to, da investigação e da salvaguarda patrimonial com o devido alcance? Poderemos nós canalizar estes pro-fissionais, ainda que inconsciente-mente, para um espaço pouco ar-rumado em que não se sabe muito bem do que se trata ou, em última análise, deslocá-los para espaços e funções definidas apenas ao nível das grandes metrópoles sem apro-veitarmos o seu contributo inter-namente? Poderá o país e regiões como o Algarve demarcar-se da res-ponsabilidade de aproveitamento de recursos qualificados sem verda-deiramente conhecer a especificida-de da sua formação e atribuir-lhes competências no estudo, proteção, salvaguarda e divulgação do Pa-trimónio no seu todo? Deveremos questionar-nos sobre qual o lugar da História da Arte e o seu contribu-to para o verdadeiro conhecimento do nosso Património? Reflitamos então e reaproveitemos estes técni-cos já formados e os que todos os anos concluem as suas licenciatu-ras e especializações. Ganha o Pa-trimónio, ganham as suas gentes e o reconhecimento do País enquan-to criador de capacidade técnica e científica nas áreas das disciplinas Humanas, Sociais e Artísticas.

Espaço ao Património Sala de leitura

d.r.

Joana PiresLicenciada em História- variante História da Arte

Paulo PiresProgramadorCulturalno DepartamentoSocioculturaldo Municípiode Silves

Pormenor da Vénus de Brassempouy

Um livro humorístico tremendamente sério

Page 10: CULTURA.SUL 62 - 4 OUT 2013

04.10.2013 10 Cultura.Sul

Na senda da Cultura

“Que gestão para os museus atu-ais?” foi o tema da Mesa Redonda organizada pela Associação Portu-guesa de Museologia (APOM) em parceria com a Direcção Regional de Cultura do Algarve, contan-do com o apoio do município de Loulé na cedência do espaço para o evento.

A mesa foi constituída por ele-mentos com forte ligação à museo-logia, tais como, José d’Encarnação, professor catedrático da Faculda-de de Letras da Universidade de Coimbra e administrador do fórum Museum, Dália Paulo, museóloga e directora regional de Cultura do Algarve, José Gameiro, director do Museu de Portimão e júri do Fórum Europeu de Museus, Alexandra Gonçalves, vereadora da Cultura da Câmara de Faro e professora da Universidade do Algarve, e Ema-nuel Sancho, director do Museu de São Brás de Alportel e representan-te do Minom Portugal.

APOM foi anfitriã do encontro

A APOM esteve representada pelo seu vice-presidente, Pedro Inácio, e pela delegada regional do sul, Maria Luísa Francisco, que referiram que esta iniciativa “teve

como principal objectivo o debate sobre as possíveis e inovadoras for-mas de gestão dos museus actuais, tal como, a reflexão sobre as poten-cialidades dos espaços museológi-cos, contratempos, metodologias, processos e práticas vivenciadas”.

A mesa redonda foi aberta a to-dos os públicos, não obstante o di-reccionamento em especial para os profissionais de museologia, tendo a partilha de experiências profis-sionais nesta área focado também os desafios da gestão privada de

museus, a inovação e criatividade, as experiências museológicas em espa-ços urbanos e rurais, a função social dos museus e a ligação entre turismo e museus, nomeadamente a impor-tância do envolvimento activo do turista na experiência museológica.

Profissionais em debate

A assistência foi composta maiori-tariamente por profissionais de mu-seus, elementos da Rede de Museus do Algarve (RMA) e ainda elementos de museus do Baixo Alentejo.

“Que gestão para os museus atuais?”em debate no Castelo de Loulé

fotos: d.r.

Os especialistas que orientaram o debate

Vista da assistência à mesa redonda em Loulé

A nova temporada da Orquestra Clássica do Sul (OCS) foi apresenta-da em Lisboa à comunicação social, numa sessão em que o maestro ti-tular, Cesário Costa, deu a conhecer os perfis de evolução da OCS para a próxima temporada naquele que é o primeiro ano da orquestra que herda toda a história e responsabili-dade da Orquestra do Algarve.

Como o Cultura.Sul noticiou na última edição, agora com um terri-tório que se estende a todo o sul do Tejo, da OCS espera-se mais e me-lhor e maior responsabilidade, quer pela dimensão, quer pela abran-gência. E a resposta não se faz tar-dia com a orquestra a agigantar-se para dar cumprimento ao seu novo desígnio fruto de um crescimento que lhe era mais do que natural.

Assim, a OCS estende os seus con-certos a todo o Alentejo e à Penín-sula de Setúbal, bem como, a terras da Andaluzia no cumprimento de um desígnio europeu de uma ver-dadeira União Europeia das regiões

e leva até novas paragens não só os concertos carregados de erudição e mestria, mas também as actividades pedagógicas, educacionais e forma-tivas e desafia todos a cooperarem no desenvolvimento da música como parte integrante da cultura e, mais do que isso, da própria vida.

Novidades

Entre as novidades, Cesário Cos-ta, em declarações ao Cultura.Sul, realça a criação dos lugares de em-baixadores da OCS. António Zam-bujo, músico, Nuno Júdice, ensa-ísta, poeta e ficcionista algarvio, e José Huan Diaz Trillo, escritor e político andaluz, são os primeiros ‘porta-estandarte’ da orquestra.

“Temos de ser o mais imaginati-vos possível e estabelecer, cada vez mais, pontes com outras correntes artísticas” diz o maestro titular que vê na colaboração com estas perso-nalidades uma mais-valia preciosa para a OCS. O maestro dá exem-

plos, com António Zambujo terão lugar concertos em parceria, que mostrarão novos arranjos para as músicas do cantor e com Nuno Jú-dice pretende-se reinventar as com-posições de poemas já hoje musi-cados de sua autoria.

Plataforma cultural

Território de encontros é o que Cesário Costa pretende fazer da OCS e da sua intervenção no todo cultural, espaço para o cruzamento de artes e de artistas e de grande

Orquestra Clássica do Sul define programação da temporada

d.r.

divulgação da música, muito para além do irrepreensível trabalho da orquestra na área da música erudi-ta.

A OCS vai cruzar-se com a Orques-tra de Jazz do Algarve, encontrar-se com músicos de outros géneros, manter os concertos promenade e as idas às escolas para mostrar aos mais miúdos uma das mais belas formas de arte que a humanidade foi capaz de criar.

A par disto, e numa visão que an-tecipa muito trabalho e dedicação, lugar para os habituais concertos de Ano Novo, Natal e abertura do Ano Académico da Universidade do Al-garve, bem como para os ciclos de música Barroca, Americana e Sacra e, ainda, para os prestigiados con-certos Caixa Geral de Depósitos.

A fechar as novidades uma parce-ria estrita a encetar com a Univer-sidade de Évora e com o seu curso de música e espaço ainda para um concurso internacional para jovens maestros e outro para jovens solis-tas a par de um atelier para novos compositores.

Uma rentrée em tudo promisso-ra, porque afinal a música, como o saber, não ocupa lugar.

Ricardo Claro

Cesário Costa apresentou a programação

Page 11: CULTURA.SUL 62 - 4 OUT 2013

04.10.2013  11Cultura.Sul

«Uma página está cheia de caminhos.»António Ramos Rosa, pelas suas palavras

Todos os textos que tentei escrever sobre António Ramos Rosa me pareceram insuficientes perante a sua perda. Creio que os leitores desta página me compreenderão. Deixo excertos de poemas e prosa poética, a minha escolha de palavras suas, lidas e relidas na minha biblioteca. Hoje, a palavra é do poeta.

Diante da folha branca. A tentação de escrever. Por-quê? Que tenho eu para dizer? Nada. Talvez nada. Desisto. Não. O papel branco branco. (…) O branco, a página? O branco da página? Uma página está cheia de caminhos. E que caminho escolher que caminho quando não se sabe qual o caminho ou se um caminho nos leva a algum lado?

(1981) O centro na distância, Lisboa: Arcádia, p.41

Escrever é actualizar a possibilidade de me identifi-car com este obscuro fluxo que a palavra reaviva no seu silêncio essencial.

(1986), In Clareiras, Lisboa: Ulmeiro, p.29

Quem escreve é uma sombra, quem respira é uma sombra?O corpo não respira. Ardem apenas sílabasNo vento.Estou vivo na pedra. Entro na páginaE sob a cinza atinjo uma palavra nua.

(1984) In Dinâmica Subtil, Lisboa: Ulmeiro, p.10

Sou somos uma face uma sombrauma sombra uma face.

Respirar é abrir na sombra uma sombrae respirar na sombraum corpo de sombra.Ninguém nos vê nem verá jamais.

Respirar a sombra viva.

(1975) In Respirar a sombra viva, Lisboa: Plátano, p.44

d.r.

Da minha biblioteca

Adriana NogueiraClassicistaProfessora da Univ. do [email protected]

“UMA HISTÓRIA SOBRE MIM”11 OUT a 22 NOV | Antigos Paçosdo Concelho de LagosPintura e escultura de Helena Björnberg. Em 2009 iniciou a produção em bronze dos projectos de es-culturas que estava a desenvolver há vários anos, daí o tema da presente exposiçãoAg

endar

“SÉRGIO GODINHO APRESENTA CARÍSSIMAS CANÇÕES”26 OUT | 21.30 | Grande Auditório do TEMPO – Te-atro Municipal de PortimãoEspectáculo baseado no seu livro de crónicas “Ca-ríssimas 40 Canções...”, evocando alguns dos temas, intérpretes e compositores que marcaram o seu per-curso artístico

Ramos Rosa, desenho gráfico em vidro acrílico,de Helder de Carvalho (pormenor)

As palavras inscrevem-se sobre o muro da mãosó as letras sobrevivem sobre o muro a boca busca a boca branca

do corpo que se dissemina sobre a página.

O corpo renascerá na folha violenta entre formigas pedras ervas

no silêncio vorazna sombra opaca e deslumbrante das palavras?

(1977) In Boca incompleta, Lisboa: Arcádia, p. 34

«Uma frase»Uma frase sem cor mas com o sabor do vento.Uma frase que veio do silêncio da claridade.E agora é o alto sossego na tensão de um dia pleno.Exacta é a fábula que os teus dedos quase tocam.Sob o solo entreaberto os teus lábios solares.Durmo entre folhas, entre braços abertos, em grutassilenciosas. Terra e corpo conjugam-se num só in-tenso ardor.Escrevo o dia, fonte absoluta, invento o que respiro.

(1987) In No calcanhar do vento, Coimbra: Centelha, p.62

Escreveré anunciar um corpoque nunca será corpo

e manter a distânciaentre o dito e o inominável

(1991) In A intacta ferida, Lisboa: Relógio D’Água, p.67

O meu corpo é uma ilha branca com os sulcos das armase a única música é de areia e de ervasem que a aridez repousa e o ignorado adormece.Uma chuva verde limpa as cinzas e os destroços.O meu verdadeiro nome tem o aroma do iodoe as artérias de argila,mas eu não o pronuncio, apenas o respiro.

(1988) In A imagem e o desejo,

Lisboa: Universitária Editora, p.22

As palavras vêm de lugares fragmentáriosde uma disseminação de iniciaisde magmas respiradasdo odor de gérmen de olhos

As palavras podem formar uma escrita nativade corpos claros

Que são as palavras? Imprecisas armasem praias concêntricastorres de sílex e de calaves insólitas

As palavras são travessias brancas facesgiratóriaselas permitem a ascensão das formaselevam-se estrato após estratoou voam em diagonalaté à cúpula diáfana.

As palavras são por vezes um clarão no dia calcinado

(1983) In, Gravitações, s.l: Litexa, p.30

Frases frases já não complicadasmas orientadaspara a plenitude do ser

(1984) Dinâmica Subtil, Lisboa: Ulmeiro, p.94

Page 12: CULTURA.SUL 62 - 4 OUT 2013

04.10.2013 12 Cultura.Sul

Os bens culturais são patri-mónio nacional e constituem, no seu todo, um recurso de criação de conhecimento, de educação e de riqueza. A sua gestão deve procurar assegurar a prevalência do seu uso públi-co sobre a sua apropriação em prol de interesses particulares. Não sendo fácil o convívio en-tre a preservação e o respeito pelos bens culturais e as ativi-dades turísticas, constitui um enorme repto gerir o patrimó-nio cultural como um recurso útil para quem se desloca tem-porariamente para fora do seu local de residência habitual por motivos de ócio.

O Turismo algarvio enfrenta atualmente grandes desafios, entre os quais uma absoluta necessidade de qualificação de um destino que, desde os anos 60 do passado século, se tem baseado quase exclusivamen-te no trinómio sol-mar-praia. Parece hoje consensual que a patente perda de competitivi-dade do Turismo algarvio deve contrariar-se pelo investimento na formação de meios huma-nos e capacitação dos agentes que operam no setor e pelo in-cremento de qualidade e diver-sificação da oferta de produtos com potencial turístico. Nesta segunda vertente, os recursos culturais constituem um in-contornável fator de comple-mentaridade do já referido trinómio, que continua a cons-tituir a principal oferta turística da região.

Para intervenção prioritária no incremento do uso de visita e de aproveitamento dos bens culturais imóveis para fins tu-rísticos, a Direção Regional de Cultura do Algarve identifica dois segmentos patrimoniais

marcantes da identidade re-gional: o património de matriz islâmica e o património dos Descobrimentos. É neste sen-tido que a Direção Regional de Cultura do Algarve tem vindo a desenvolver um trabalho de cooperação com o Turismo do Algarve e com o apoio do Turis-mo de Portugal em quatro pro-jetos que estarão concretizados no horizonte 2014/15:

1. O projeto de Requalifica-ção e Valorização do Promon-tório de Sagres, cuja primeira fase procura inverter um ine-gável processo de degradação daquele que é o principal mo-numento do Algarve enquan-to significado imaterial para a memória coletiva nacional e em termos de projeção internacio-nal do património algarvio, concretizando na sua segunda fase a consolidação do monu-mento como recurso turístico.

2. O projeto de cooperação transfronteiriça Descubriter, de-senvolvido em parceria com a Fundación Nao Victoria (sedia-da em Sevilha), com o Turismo do Algarve e com os municípios de Vila do Bispo e Lagos, visan-do a criação e consolidação de uma Rota Europeia dos Desco-brimentos a partir dos bens cul-turais existentes na Andaluzia e no Algarve, verdadeiro berço da expansão marítima ibérica.

3. O projeto de cooperação transfronteiriça Rota de Al--Mutamid, em parceria com a fundação Legado Andalusí (se-diada em Granada) e com os municípios de Tavira e Silves e com a Associação de Defesa do Património de Aljezur, aprofun-dando o potencial cultural do

património de raiz islâmica pre-servado no Algarve e na Anda-luzia Ocidental e consolidando uma das rotas dos «Itinerários do Ândalus», os quais corpori-zam um grande itinerário cul-tural reconhecido pelo Conse-lho da Europa.

4. O projeto circummediter-rânico Umayyad / Omíadas, que explora os bens culturais coevos da dinastia que governou o Ca-lifado de Córdova até ao século X da nossa era, os quais consti-tuem uma marca de convivên-cia que é, simultaneamente, um dos mais interessantes recursos culturais comuns da Europa do Sul, do Próximo Oriente e da África setentrional.

Às entidades públicas, nome-adamente da área da Cultura e do Turismo, compete a boa ges-tão destes recursos culturais. Mas é nossa convicção que só a dinâmica e iniciativa empre-sarial dos operadores e agentes turísticos os consubstanciarão em relevantes produtos turísti-cos. De contrário, nunca passa-rão de recursos.

Os recursos culturais contri-buem para a diversificação e qualificação da oferta turística do Algarve, constituindo um fator complementar do trinó-mio sol-mar-praia. A Direção Regional de Cultura do Algar-ve tem vindo a desenvolver um trabalho de cooperação com o Turismo do Algarve e com o apoio do Turismo de Portugal em projetos de valorização de dois segmentos patrimoniais marcantes da identidade re-gional: o património de matriz islâmica e o património dos Descobrimentos.

Direção Regionalde Cultura do Algarve

Os Bens Culturais e o Turismo: um convívio difícil?

d.r.

PUB

Real MarinaHotel & Spa

Criamosmomentos

únicospara si

Real Marina Hotel & Spa - OlhãoInfo e reservas Spa:

289 091 310 - spa @realmarina.com