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www.issuu.com/postaldoalgarve 7.582 EXEMPLARES Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO FEVEREIRO 2016 n.º 89 RICARDO CLARO Os Cristos Mortos do Algarve como nunca antes vistos p. 10 Museu Municipal de Faro: Realidade e desafios p. 5 D.R. Gestão cultural local: A Casa do Povo de Santo Estevão p. 3 D.R. Missão Cultura: O ‘ribat’ da Arrifana: um ‘lugar’ de destaque p. 2 Letras e Leituras: Brooklyn, de Colm Tóibín: um registo poético da simplicidade D.R. p. 4 D.R. Espaço AGECAL: Encontros à sexta na ALFA p. 7 Espaço ALFA: D.R.

CULTURA.SUL 89 - 5 FEV 2016

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• CONHEÇA O CULTURA.SUL DESTE MÊS • Sexta-feira (dia 05/01) nas bancas com o PÚBLICO e o POSTAL • ON-LINE a informação à distância de um clique em www.postal.pt • • No Facebook em https://www.facebook.com/CulturaSul-Jornal-de-Artes-Letras-do-Algarve-188344417870755/?ref=hl • EM DESTAQUE: > Missão Cultura: O ‘ribat’ da Arrifana: um ‘lugar’ de destaque, por DRCALg > ESPAÇO AGECAL: Gestão cultural local: A Casa do Povo de Santo Estevão, por José Barradas > LETRAS E LEITURAS: Brooklyn, de Colm Tóibín: um registo poético da simplicidade, por Paulo Serra > PANORÂMICA: Museu Municipal de Faro: Realidade e desafios, por Ricardo Claro > ESPAÇO AO PATRIMÓNIO: Os Cristos Mortos do Algarve como nunca antes vistos, por Marco Lopes > SALA DE LEITURA: Das tentadoras maiorias às esquecidas minorias na Cultura, por Paulo Pires > ESPAÇO ALFA: Encontros à sexta na ALFA, por Dário Agostinho • Partilhe o seu caderno mensal de Cultura no Algarve •

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Page 1: CULTURA.SUL 89 - 5 FEV 2016

www.issuu.com/postaldoalgarve7.582 EXEMPLARES

Mensalmente com o POSTAL

em conjuntocom o PÚBLICO

FEVEREIRO2016n.º 89

ric

ard

o c

laro

Os Cristos Mortos do Algarve

como nunca antes vistos

p. 10

Museu Municipal de Faro:Realidade e desafios

p. 5

d.r.

Gestão cultural local: A Casa do Povo de Santo Estevão

p. 3

d.r.

Missão Cultura:

O ‘ribat’ da Arrifana: um ‘lugar’ de destaque

p. 2

Letras e Leituras:

Brooklyn, de Colm Tóibín: um registo poético da simplicidade

d.r.

p. 4

d.r.

Espaço AGECAL:

Encontros à sexta na ALFA

p. 7

Espaço ALFA:d.r.

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05.02.2016 2 Cultura.Sul

AGENDAR

O ‘ribat’ da Arrifana – um ‘lugar’ de destaque

A visita oficial do Ministro da Cultura, João Soares, ao ‘ribat’ da Arrifana (Aljezur), no passa-do dia 1 de fevereiro, veio subli-nhar o reconhecimento oficial deste sítio, já anteriormente consagrado pela classificação como Monumento Nacional, atribuída pelo Decreto n.º 25/2013, de 25-07-2013.

Situado nas arribas da Costa Vicentina, num local conhe-cido como Ponta da Atalaia, numa paisagem de deslum-brante beleza, o sítio encerra uma fabulosa história, que as escavações arqueológicas, ali conduzidas pelo casal de ar-queólogos Rosa e Mário Va-rela Gomes, da Universidade Nova de Lisboa, desde os anos noventa do passado século XX, têm vindo a descobrir. Trata-se de um antigo e arruinado mos-teiro-fortaleza muçulmano, ha-bitado por uma comunidade de monges guerreiros, fundado pelo mestre sufi Ibn Qasi, por volta do ano 1130 da era cris-tã. As escavações arqueológicas identificaram até agora diver-sos momentos de construção e a presença das ruínas de um

numeroso conjunto de celas--mesquita (com o respetivo ni-cho do ‘mihrab’ voltado para Meca), de uma escola corânica (‘madrasa’) e do cemitério da comunidade muçulmana (‘al--maqbara’, com algumas das sepulturas assinaladas com inscrições fúnebres).

As referências históricas e as estruturas e materiais exu-mados (com diversos estudos e abundante documentação já produzida) apontam para uma ocupação do local até ao começo da segunda metade do século XII, pouco após a morte do seu fundador. Esta ocorreu, de acordo com a documenta-ção histórica, em 1151, às mãos de alguns dos seus próprios apaniguados, motivada pela oposição de Ibn Qasi aos pode-rosos impérios muçulmanos e à sua aliança estratégica com o rei português, Afonso Henriques. O que é uma assinalável memória e referência.

O local apresenta uma extra-ordinária relevância para a his-tória do período islâmico em Portugal, sendo o único local com vestígios materiais conhe-cidos de um ‘ribat’ muçulmano em território nacional, e um dos raros cujos vestígios materiais se conservam em toda a Península Ibérica – embora a ocorrência de topónimos como Arrábida

(um derivado de ‘ribat’) ou Za-vial (um derivado de ‘zawia’) permita vislumbrar outras pre-

existências de lugares santos deste mesmo género.

Em 2013, a Aga Khan Trust for

Culture apresentou ao Governo Português uma proposta para desenvolvimento de um Proje-to Cultural e Patrimonial para o ‘ribat’ da Arrifana, projeto esse a integrar no ‘Aga Khan Historic Cities Programme’ e que permi-tirá trazer para o Algarve um sig-nificativo investimento na área da Cultura por parte de uma entidade internacionalmente reconhecida pelo seu contribu-to efetivo para o desenvolvimen-to integrado das comunidades e para uma cultura de paz. Para que tal projeto se concretize, será ainda necessário resolver ques-tões de titularidade dos terre-nos e aspetos relativos ao uso dos mesmos, restringido pela classificação como Monumento Nacional, pela inclusão parcial em domínio público marítimo, e pela situação em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Também nes-te âmbito, a visita do Ministro da Cultura se revestiu de uma enorme importância, permitin-do ativar o diálogo entre o atual proprietário, a Aga Khan Trust for Culture, a Câmara Municipal de Aljezur e a entidade de tutela dos Bens Culturais, representada pela Direção Regional de Cultura do Algarve.

Direção Regionalde Cultura do Algarve

Um bollycao não é uma sardinha V3

Não sei bem porquê mas acho que já estava à espera desta con-versa acerca da exploração de petróleo.

Sabemos o que isto nos pode trazer de dissabores, sobretudo pelo turismo e ambiente. Mas,

é bom que comecemos por al-guns pontos chave acerca do petróleo e desta discussão toda, visto que toda a gente se esque-ce de ser gente e se torna Enge-nheiro, ou tem um primo que uma vez viu uma plataforma numa revista.

Nós não percebemos nada de petróleo! - Este ponto é fundamental, visto estarmos à espera de uma resolução política para o problema, de alguém que não percebe nada do assunto.

Não é por seres vegan, vesti-res a roupa da tua avó, teres ido

à Arrifana uma vez e teres apre-ciado a natureza, que agora fi-cas um profissional do drilling subaquático.

Houve uma sessão de esclare-cimento na Universidade. Entre gente importante que se senta na fila da frente de perna cruza-da e olhar de quem se importa, aparecem sempre esses mamí-feros com cartazes, megafones, uma pão de forma que o papá comprou e restaurou (altamen-te poluente mas dá estilo!), um cão e cheiro a terra molhada; acabados de vir da Quinta do Lago, atrasados porque tiveram

na reunião de direção do clube de golfe.

Depois, há os do café que di-zem que isto é bom porque esta-mos na miséria, sem saber quan-to é que lucramos. Como disse um no outro dia: “vamos ter o gasóleo mais barato”. Estamos portanto a falar de gente que, certamente, venderia um órgão do corpo, para pagar o resto do carro, e que pensou que, com a montagem de aerogeradores e a percentagem de produção de energia por fontes renováveis, fosse baixar a fatura da luz.

Há o intelectual que leu o Ex-

presso, no sábado, e ainda está a decidir que lado tomar, mas está à espera do jantar de sexta para ir para o restaurante levan-tar a questão e impressionar as damas com palavreado técnico que nunca mais acaba.

O que é certo é que ainda ninguém ouviu quem vai furar e fazer a prospeção. Estamos a tra-tar do assunto, tipo encontro às cegas, ou pior! Estamos a enco-mendar uma noiva Tailandesa, só baseados na foto de perfil do site de casamentos.

Por mim, nem preciso saber mais. Brocas fora!

Editorial Missão Cultura

Direção Regionalde Cultura do Algarve

Juventude, artes e ideias

“REGENERAÇÃO”Até 9 ABR | Centro Cultural de LagosExposição de pintura de Clotilde. Entre 1964 e 1975, como artista plástica, executou várias obras em ce-râmica para várias instituições. Expõe regularmente desde 1984

“MÚSICA NAS IGREJAS”6 FEV | 18.00 | Ermida de São Sebastião - TaviraO pianista e compositor Luís Conceição vai interpre-tar obras da sua autoria, bem como de Bach, Beetho-ven e Chopin.

foto: drcalg/r. parreira

O ministro da Cultura, João Soares, no ‘ribat’ da Arrifana, com o presidente da Câmara de Aljezur,

José Amarelinho, o proprietário, Peter Vogel, e o representante da Aga Khan Development Network

em Portugal, Nazim Ahmad

Desta vez é o Museu de Loulé que se candidata à Rede Portu-guesa de Museus, uma classifica-ção que em muito orgulhará não só os louletanos como todos os algarvios e que - elogios à parte - podemos ter quase como certa, sendo resultado de um trabalho coordenado por Dália Paulo, cujos créditos na área, sobeja-mente conhecidos, asseguram uma candidatura certeira no objectivo.

Além do enriquecimento do valor do museu e do seu espólio do ponto de vista do reconheci-mento da respectiva qualidade, esta classificação é mais um pas-so, significativo diga-se, a cami-nho de maiores facilidades no acesso a fundos destinados ao investimento no seu desenvol-vimento e da consolidação do projecto de reestruturação que se encetou com a chegada de Dá-lia Paulo aos comandos da área cultural na autarquia.

Ganhamos todos e ganha Loulé num trabalho que é mais uma prova do muito que se vem fazendo nos mais variados níveis da acção em prol da cultura na região.

Este caminho que investe sa-ber e esforço na valorização do potencial endógeno da coisa cul-tural da região é um trilho que se faz caminhando também na área da economia, onde o sector cultural pesa cada vez mais e pro-mete não deixar de crescer.

O Algarve está assim uma vez mais de parabéns por mais uma iniciativa e valor que decerto não deixará de se tornar realidade de-pois de passar pelo crivo das ins-tâncias competentes.

A bem da cultura, obrigado a todos os que trabalharam em prol de mais esta aposta .

Mais um museu a caminho da Rede Portuguesa de Museus

Ricardo [email protected]

João Pedro Baptista Músico

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05.02.2016  3Cultura.Sul

O ‘ribat’ da Arrifana – um ‘lugar’ de destaque

Espaço AGECAL

Santo Estevão é uma aldeia rural situ-ada no barrocal do concelho de Tavira.

Este artigo pretende refletir a impor-tância da gestão cultural de âmbito local e dar a conhecer a experiência do CPSE.

A CPSE é uma associação sem fins lu-crativos, equiparada a IPSS desde 2001, de âmbito local, que tem como missão sensibilizar a população para as diversas manifestações culturais (expressões ar-tísticas, desporto, património material ou imaterial, etc.) e para o ambiente. As instalações da instituição e a posição central que ocupa na aldeia como no território circundante, riquíssimo do ponto de vista ambiental, contribuem para o desenvolvimento cultural da comunidade. A gestão cultural com-

bina actividades sociais, artísticas e organizacionais.

A gestão cultural permite a facilitação e a organização das atividades culturais. O gestor cultural é “aquele que permite que a arte aconteça”. Considero que os gestores culturais são aqueles que jun-tam o público e os artistas.

No que respeita à programação, gran-de parte é resultante de propostas que nos chegam. As propostas são apresen-tadas e seguidamente, verificamos se têm viabilidade. Funciona assim na mú-sica quase a 100%, nas artes visuais a si-tuação é diferente mas surgem também convites para projetos autossustentáveis.

A música é a área artística com maior relevo e a que mais público capta.

A música ao vivo atrai muito público à CPSE de todo o Sotavento e em fun-ção disso também as propostas artísticas são muito diferenciadas na forma e no género. A programação é diferenciada, tanto programamos projectos locais como nacionais e ate internacionais. Por aqui já passaram desde Beatriz Portugal e Carlos Barretto no Jazz, Cus-tódio Castelo na guitarra portuguesa, Pedro Joia, Viviane, Olivetreedance, Ro-ckabillyo, Bunny Ranch, Canhões de Guerra, Kalu dos Xutos & Pontapes no

rock, B Fachada, Frankie Chavez, Virgem Suta, Manuel João Vieira, JP Simões, UXU KALHUS, Marenostrum, UM, Toques do Caramulo, Sebastião Antunes, Omiri e Charanga na música tradicional portu-guesa, Carlos Mendes na música ligeira portuguesa ou Danae e os novos criou-los, Tcheka e Couple Coffee, Tulipa Ruiz, Edu Miranda e Dani Black no âmbito da lusofonia. Também já foram apresen-

tados projectos na área do teatro com Vítor Correia, a Companhia A Gorda, Ao Luar Teatro ou os Improváveis.

Além dos projectos de nível nacional mais conhecidos, mantemos as tradi-ções associadas à comunidade e aos seus ciclos festivos, o Festival/Encontro de Charolas no ano novo, os bailes tradi-cionais de carnaval ou os Santos Popula-res. Esta programação, porventura, será

aquela que mais público local consegue alcançar.

Na programação é fundamental a parceria. A CPSE realiza parcerias com promotores e outras entidades de âm-bito cultural. As parcerias têm dois ti-pos de retorno: o financeiro, porque se conseguem projectos a custos susten-táveis, e a garantia de continuidade, avanço e alargamento dos programas desenvolvidos.

O financiamento da programação faz-se através dos apoios do Município e da Junta de Freguesia, contudo, não são suficientes, pelo que potenciamos as coproduções, gestão de bilheteiras e o pequeno bar que cobre despesas de produção…

Num mundo cada vez mais global, o local é o mais próximo do cidadão, o lugar onde as pessoas se encontram, se sentem em Casa, e se dá a satisfação das suas necessidades culturais. É no local que se dão os processos culturais mais importantes, a convivência e a cidadania cultural. O local não significa perder a capacidade de conhecimento global, de refletir, e com gestores profissionais con-cretizar programas que são do interesse do público e que permitem o desenvol-vimento cultural das comunidades.

Gestão cultural local: A Casa do Povo de Santo Estevão (CPSE) - Tavira

José BarradasGestor cultural;Presidente da Direcção do CPSE e membro da Direcção da AGECALwww.cpse.pt

d.r.

A música ao vivo atrai muito público à instituição

Grande ecrã

Cineclube de Faro Programação: cineclubefaro.blogspot.pt

TEATRO MUN. DE FARO I 21.30 HORAS 16 FEV | AS MIL E UMA NOITES - VOL II,O DESOLADO, Miguel Gomes23 FEV | AS MIL E UMA NOITES - VOL III, O ENCANTADO, Miguel Gomes

IPDJ I 21.30 HORAS9 FEV | LISBON REVISITED, Edgar Pêra (ANTE-ESTREIA NACIONAL)

A TELA AO SÓCIOS: “A 7ª ARTE DO CAMA-LEÃO - DAVID BOWIE (1947-2016)” | SEDE DO CCF I 21H30 I ENTRADA LIVRE11 FEV | FOME DE VIVER, Tony Scott18 FEV | LOST HIGHWAY - ESTRADA PER-DIDA, David Lynch25 FEV | FELIZ NATAL, MR.LAWRENCE, Nagisa Ôshima

Cineclube de TaviraProgramação: www.cineclubetavira.com281 971 546 | [email protected]

SESSÕES REGULARES | CINE-TEATRO AN-TÓNIO PINHEIRO | 21.30 HORAS

11 FEV | MIA MADRE (MINHA MÃE), Nan-ni Moretti – Itália 2015 (105’) M/12

SÁB 13 FEV | FOXFIRE (RAPOSAS DE FOGO), Laurent Cantet – França/Canadá 2012 (143’) M/14

18 FEV | O LOBO ATRÁS DA PORTA, Fer-nando Coimbra – Brasil 2013 (101’) M/16

25 FEV | THE MUSIC NEVER STOPPED (A MÚSICA NUNCA ACABOU), Jim Kohlberg – E.U.A. 2011 (105’) M/12

Cineclube de Faro faz 60 anosEis-nos chegados a 2016, ano

em que o Cineclube de Faro (CCF) perfaz 60 primaveras. Não é coisa pouca. São seis décadas a exibir filmes que, de outra forma, não chegariam aos espectadores. A primeira sessão aconteceu dia 6 de Abril de 1956 e, desde en-tão, sem qualquer interrupção de actividade.

Clássicos, europeus e portu-gueses, escolhidos a dedo e pre-miados nos mais conceituados festivais mundiais. É este o nosso forte. Tudo aquilo que se destina a contrariar as dificuldades que existem na oferta de cinema ac-tual, tão ancorada em blockbusters estéreis, e desfasados da verdadei-ra essência da 7ª arte.

Nos próximos meses, o CCF está a preparar um programa de cinema variado, bem como uma série de eventos com persona-lidades e instituições ligadas ao mundo da cultura e do cinema e, como não podia deixar de ser, à história do CCF.

Somos hoje uma das institui-ções cinéfilas mais antigas do

país, onde um bilhete não custa mais do que quatro euros. As nos-sas sessões de terça-feira à noite, no IPDJ de Faro, fazem já parte da programação cultural farense, e a nossa bilheteira continua a ter uma procura fiel e eclética.

Nos Cineclubes, por mais dís-pares que sejam as suas realida-des e história, o ânimo e âmbito são os mesmos: ajudar a criar a ci-

nefilia. Ver Cinema de qualidade, pensar sobre Cinema e aprender com o Cinema. Nos Cineclubes gosta-se de Cinema e gosta-se de dar a gostar de Cinema. É esta a nossa proposta cultural.

E quando indagados sobre se preferimos película ou digital, res-pondemos: sala de cinema! Pois é aí que reside a magia.

Cineclube de Faro

Cineclube de Faro comemora seis décadas

fotos: d.r.

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05.02.2016 4 Cultura.Sul

Letras e Leituras

Brooklyn, de Colm Tóibín – Um registo poético da simplicidade

Colm Tóibín nasceu em 1955 numa cidade no sudeste da Ir-landa, em Enniscorthy. Este au-tor é um dos mais conceituados ficcionistas de língua inglesa, além de ensaísta, jornalista da área da cultura e crítico literá-rio, em publicações de prestígio como The London Review of Books e The New York Review of Books. Publicou cerca de vinte títulos, entre ficção e ensaio, sendo que o primeiro romance a ser tradu-zido em Portugal foi A História da Noite (Bizâncio), seguido de O Navio farol de Blackwater (Dom Quixote), que esteve entre os finalistas do Prémio Booker em 1999. Estes dois títulos terão contribuído para que Colm Tói-bín passasse a ser apelidado ou catalogado como autor de lite-ratura gay.

Foi, todavia, O Mestre que lhe trouxe reconhecimento in-ternacional. Considera-se, nor-malmente, este livro como uma biografia ficcionada de Henry Ja-mes (autor de Retrato de uma Senhora, entre outros clássicos), se bem que, na verdade, O Mes-tre cubra apenas um dado perí-odo da vida do autor, dando-nos a conhecer o homem por trás do nome, com as suas inseguranças e anseios. Esta obra esteve entre os finalistas do Booker em 2004 mas mais uma vez não venceu. Contudo, ganhou o Dublin IM-PAC, um prémio que apesar de pouco conhecido, é dos mais conceituados, reservado a obras editadas em língua inglesa, e que consiste numa quantia que ron-da os 110 mil euros.

Brooklyn é um dos livros mais lidos do autor e, a propó-sito do lançamento do filme com o mesmo nome, e nome-ado para os Óscares - um filme belíssimo e comovente sem raiar o melodramático e o xa-roposo -, a Bertrand reeditou o livro originalmente publicado em 2009, agora com nova capa, alusiva ao filme. O livro estreou a 14 de Janeiro, com realização de John Crowley e argumento

do escritor inglês Nick Hornby. Brooklyn foi finalista do Man

Booker Prize e ganhou finalmen-te o prémio Costa, outro prémio aparentemente desconhecido, mas por uma razão válida, pois originalmente o prémio Costa Book tinha a designação de Whi-tbread Book Awards, criado em 1971, destinado exclusivamen-te a autores radicados nas ilhas do Reino Unido e da Irlanda, e patrocinados desde 2006 pela cadeia de lojas de café muito popular aí, Costa Coffee, uma subsidiária da Whitbread, o que motivou a mudança de nome do prémio. Uma das grandes surpresas foi Brooklyn ter sido eleito na categoria de melhor ro-mance em detrimento de outro grande livro, Wolf Hall, de Hilla-ry Mantel.

A protagonista da história é a jovem Eilis Lacey que, à seme-lhança do autor, vive em Ennis-corthy durante a década de 50. Esta jovem não parece ter gran-des aspirações, sentindo-se con-fortável com a vida simples que leva. O próprio meio em que Eilis vive não dá espaço a grandes so-nhos ou desejos, pois é um local com poucas ofertas de trabalho ou mesmo de casamento. Eilis trabalha assim numa mercea-ria, com uma patroa que é bas-tante insuportável, e partilha a casa com a mãe e a irmã mais velha Rose, com quem tem uma relação de grande afinidade, pois o pai já faleceu e os irmãos emi-graram para Inglaterra em bus-ca de melhores oportunidades. Rose trabalha num escritório e é ela quem basicamente susten-

ta a família. E, preocupada com o futuro da irmã, no sentido de providenciar-lhe uma vida com horizontes, encontra uma solu-ção para o seu dilema quando acidentalmente trava amizade no clube de golf com um padre que vive na América e está tem-porariamente de visita à cida-de. É particularmente relevante atentar como o amor de Rose para com a irmã mais nova, e a sua decisão em “empurrá-la” para fora do ninho, significa, por outro lado, a anulação de qualquer possibilidade de mu-dança em relação à sua própria vida, pois ela opta por ficar e continuar a apoiar a mãe. O pa-dre, um velho amigo de família, disponibiliza-se a ajudar Rose e encontra um trabalho para Ei-lis. Rapidamente, Eilis dá por si a atravessar o Atlântico, para ser depois acolhida na casa de uma

senhora irlandesa que aluga quartos a diversas outras rapa-rigas que partilham o mesmo destino de Eilis. A jovem começa a trabalhar num relativamente prestigiado armazém de lojas, e apesar de no início parecer vogar através dos dias com alguma re-signação, pois a personagem é quase sempre bastante passiva, a sua contenção sofre um abalo quando começa a receber cartas da irmã e é assolada pelas sau-dades de casa. E porque o ócio é inimigo da alma, Eilis começa, depois, a estudar à noite, para poder trabalhar como contabilis-ta ou guarda-livros, à semelhan ça d e Rose. A jovem que antes não mostrava ter grandes pers-pectivas de futuro e que parecia ver-se arrastada como uma folha ao vento, seguindo passivamente aquilo que os outros delineavam para ela (o que não invalida que

fosse por simplesmente confiar nas decisões dos outros, feitas por amor, sentindo-se grata), vê-se agora cada vez mais adap-tada à América e a procurar criar raízes. É também, mais ou me-nos por essa altura, que apesar de parecer relativamente indife-rente aos esforços das suas com-panheiras de casa em encontrar um namorado, Eilis conhece um jovem italiano – outra das gran-des diásporas no Novo Mundo – por quem, gradualmente, se deixa envolver numa relação amorosa que nasce, sobretudo, como uma amizade. A palavra amor aliás surge muito poucas vezes ao longo do livro, o que contribuiu para a sobriedade narrativa a que nos referíamos antes. Contudo, notícias trági-cas vêm interromper este idílio em que Eilis começa a deixar--se mergulhar, à medida que sentia como sendo cada vez mais definitivo o não-retorno à Irlanda, e a jovem é obriga-da a voltar a casa onde se verá, subitamente, confrontada com uma escolha, pois, por ironia do destino, encontra na sua terra natal as mesmas oportunida-des que antes lhe faltavam e que terão contribuído para a sua emigração - uma possibili-dade de casamento e um futuro profissional. A trama parece fe-char-se assim de forma circular.

Este romance é de leitura fácil, mas nem por isso superficial, e a história é tão simples e line-ar que pode até causar alguma estranheza o sucesso do livro, pois que a escrita deste autor, considerado um dos expoen-tes da literatura irlandesa, é extremamente contida, des-pojada de qualquer vaidade ou de ornamentação. Alguém escreveu que a escrita de Colm Tóibín constitui uma elegia às vidas banais, mas a vida de Eilis não é tão banal assim, pois este é também um relato de como, mesmo quando mudamos de continente, e perdemos todas as nossas referências, acaba-mos sempre por nos conse-guir adaptar a uma nova vida. Brooklyn é ainda um cuidado retrato histórico no feminino de toda uma diáspora, fruto da geração de 50 ou, aliás, de sucessivas gerações que parti-ram em busca de novas opor-tunidades, não só a partir da Irlanda como inclusivamente de Portugal.

A Bertrand publicou ainda, em anos anteriores, uma co-lectânea de contos intitulada Mães e Filhos e o pequeno ro-mance O testamento de Ma-ria, adaptado a partir do guião que o autor escreveu para a Broadway, um monólogo pro-tagonizado por Fiona Shaw.

Paulo SerraInvestigador da UAlgassociado ao CLEPUL

fotos: d.r.

'Brooklyn' valeu a Colm Tóibín o prémio literário Costa Book

Escritor foi finalista do Man Booker Prize

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05.02.2016  5Cultura.Sul

Panorâmica

Museu Municipal de Faro: realidade e desafios

Aberto nas actuais instalações desde 1973, depois de estar instalado na Igreja do Convento de Santo António dos Ca-puchos até 1971, o Museu Municipal de Faro é herdeiro do Museu Archeológico e Lapidar Infante D. Henrique e é a mos-tra por excelência do património, da his-tória e da cultura do concelho de Faro.

É no antigo Convento da Nossa Se-nhora da Assunção, em plena cidade velha, que se dá a conhecer muito do que é a herança histórica e patrimo-nial deixada às actuais gerações pelos povos que durante centenas e centenas de anos foram sucessivamente habitan-do as terras hoje compreendidas pelos limites geográficos do concelho.

À frente de um espólio de milhares de peças está, desde há cerca de quatro anos Marco Lopes, que aposta em fazer evoluir um museu que muito tem mos-trado da identidade colectiva farense aos próprios farenses, aos portugueses em geral e aos turistas.

Muito do que hoje se pode ver no museu municipal é ainda fruto do tra-balho realizado sob a direcção de Dália Paulo, mas apesar de muitas das expo-sições estarem patentes há vários anos o museu já tem novidades que valem bem uma visita.

Uma das apostas de Marco Lopes foi a de dar dignidade expositiva acrescida à peça conhecida por ser o ex-libris do museu, o mosaico do Deus Oceano.

O mosaico do Deus Oceano, uma peça de destaquenuma sala renovada

Descoberto em 1926 entre as Ruas Infante D. Henrique e Ventura Coelho, no centro da cidade perto da Estação da CP, o mosaico do Deus Oceano foi reen-terrado e só em 1976 redescoberto para ser transferido para o museu..

Datada de finais do século II ou inícios do III d. C., o painel de grandes dimen-sões esteve exposto numa sala que “não correspondia em termos de condições à dignidade da peça”, refere Marco Lopes.

Agora, depois de uma intervenção to-talmente suportada por mecenas, criou--se um enquadramento e um discurso expositivo que constituem uma mais--valia para o visitante e para a compre-ensão do conjunto de peças ali exposto.

“Conseguimos um apoio integral de mecenas numa aposta pessoal minha que teve como resultado um projecto da equipa do museu cujo empenho mereceu uma apreciação positiva dos mecenas privados”.

O percurso criado em torno do mo-saico permite actualmente ao visitante contornar a peça com um perspectiva de visão descendente, ao mesmo tempo que pode ler informação de enquadra-mento em painéis ao longo do percurso.

Mosaico propostopara Tesouro Nacional

Outra das apostas do museu está na classificação do Mosaico de Deus Ocea-no como tesouro nacional, um processo já iniciado e que conta com o parecer favorável - já emitido - da Direcção-Geral do Património Cultural.

“Será o primeiro caso de uma classifi-cação como tesouro nacional atribuída na região do Algarve”, destaca o respon-sável do museu farense, que esclarece que de momento se “aguarda o pare-cer do conselho consultivo para que o ministro da Cultura possa finalmente despachar” no sentido da classificação do mosaico com a mais alta categoria da classificação nacional de património.

Faro ganhará assim, mantenha-se o

bom percurso desta empreitada, o pri-meiro exemplo de tesouro nacional do Algarve, o que potenciará sem dúvida a importância do museu municipal e do património do concelho em termos regionais e nacionais.

As reservas:um património ‘escondido’

São milhares as peças que o mu-seu de Faro tem em reserva, longe do olhar do público, e que muitos se per-guntam porque não vêem a luz do dia em exposições.

No percurso que leva as peças das reservas até uma sala de exposição há pequenos grandes pormenores que fa-zem com que muitas peças demorem muito tempo até poderem ser expostas ou mesmo nunca o venham a ser.

“Não se trata de não querer mostrar as peças”, clarifica Marco Lopes, “trata-se antes de perceber que a museologia tem nos dias de hoje de ter em atenção que a exposição de peças pelo simples acto de expor não faz grande sentido”.

“As peças para poderem ser expostas têm antes de ser estudadas a fundo e res-tauradas em condições que permitam a sua mostra ao público. Estamos a fazer esse estudo - que muitas vezes é muito demorado - e trabalhamos no serviço de conservação e restauro afincadamente para que as peças possam ser expostas em exposições estruturadas, com um discurso museológico adequado e que respeite os critérios de qualidade e cre-dibilidade que queremos todos que o museu tenha”, diz o director do museu.

“Muitas das peças em reserva inte-gram exposições temporárias que va-mos realizando, temos actualmente no museu regional (também sob a alçada da Câmara de Faro) uma exposição de-dicada ao acordeão e à tradição musical de Bordeira, uma verdadeira mostra de património imaterial do concelho que abrimos ao público em Janeiro”, recor-da Marco Lopes, que dá outro exemplo de sucesso com a exposição dedicada aos 125 anos da chegada do Comboio a Faro, “bastava ler o livro de visitas da ex-posição para ter noção dos testemunhos emocionados de visitantes que recorda-ram com aquela mostra momentos da História do concelho e da sua história pessoal”.

A aposta passa, afirma o responsável museológico, “por cumprir aquele que é o papel primordial deste museu, pre-servar e dar a conhecer o património, a história e a cultura do concelho de Faro”, mais do que trazer a Faro exposi-ções importadas, “e por explorar todo o potencial cultural e educativo de cada exposição”.

O serviço educativo,uma aposta continuada

O serviço educativo do museu mu-nicipal é considerado um sucesso, mas para Marco Lopes “há que continuar a melhorar e estender o serviço a todos os espaços museológicos da responsabili-dade do município”.

“Com a abertura do Centro Interpre-

tativo do Arco da Vila passámos agora a ter mais uma área de serviço educativo a somar ao museu municipal que tem cerca de cinco mil visitas anuais oriun-das das escolas e do museu regional que recebe deste segmento cerca de 1.500 visitantes ano”, refere o director do mu-seu, que programa integrar no serviço educativo a Galeria Trem, actualmente dinamizada através de um novo proto-colo entre a autarquia e o curso de Artes Visuais da Universidade do Algarve, de onde resultou a actual exposição “Arte: um assunto de mulheres”.

As exposições permanentes

Numa visita ao museu municipal podem ainda ver-se as exposições per-manentes “Caminhos do Algarve Ro-mano”, “Sala Islâmica”, “Pintura Anti-ga dos séculos XVI a XIX” e “O Algarve Encantado na obra de Carlos Porfírio”.

Nesta área o director do museu gos-tava particularmente de poder reno-var a “Sala Islâmica”, “criando, com o que temos em reservas, um ambiente de uma casa da época” e dando maior dignidade e significado a este período da História do concelho.

Na exposição de pintura antiga, a aposta passaria pela melhor ilumina-ção da área de exposição, um tema em estudo com a área de conservação e restauro para que se possa tornar uma realidade.

Mas estas são intervenções de me-nor monta, as de grande dimensão que poderiam ou deveriam ser feitas dependem de tempo de preparação e de financiamento adequado de mece-nas e da autarquia.

Os desafios de futuro

A par da melhoria das exposições já existentes, o museu de Faro quer enca-rar como desafio de futuro a melhoria das condições de acolhimento dos visi-tantes, por exemplo criando condições de acesso ao primeiro andar do museu para pessoas com mobilidade reduzida, o que actualmente é impossível.

Na área de restauro, o museu man-tém o esforço de conservação e restauro das peças em reserva ao mesmo tempo que desenvolve um trabalho muitas ve-zes tão pouco visível de manutenção do património do concelho, nomeadamen-te ao nível das igrejas e respectivos retá-bulos e estruturas e vai mesmo este ano sair do concelho de Faro para apoiar a Câmara de São Brás de Alportel na re-cuperação do jazigo do poeta Bernardo de Passos.

Na calha estão também uma expo-sição dedicada ao Barroco, feita em parceria entre o museu municipal e o Museu de Belas-Artes de Sevilha, e uma exposição dedicada ao azulejo baseada na colecção de azulejos do Almirante Ramalho Ortigão de que o museu é proprietário e que já integrou a mostra “O Brilho das Cidades” na Gulbenkian.

Ricardo ClaroJornalista / [email protected]

A sala do Mosaico do Deus Oceano, resultado do trabalho do museu apoiado pelo mecenato

fotos: ricardo claro

O director do Museu Municipal de Faro, Marco Lopes

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05.02.2016 6 Cultura.Sul

Artes visuais

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“UM OLHAR SOBRE A OBRA DE PICASSO”Até 20 FEV | Galeria de Arte da Praça do Mar- QuarteiraExposição partilha o olhar de João Pedro Tavares sobre Picasso, uma reinterpretação muito pessoal e que nos confronta com o maior pintor do século XX

“A TRADIÇÃO DO ACORDEÃO EM BORDEIRA”Até 6 JAN 2017 | Museu Regional do Algarve- FaroExposição apresenta v�rios bordeirenses que dedi� v�rios bordeirenses que dedi�bordeirenses que dedi�caram a sua vida à arte de tocar o acordeão, reco�nhecidos a nível nacional e internacional

A fotografia pode ser considerada uma forma de arte visual, tal como é a pintura?

Fotografia “Big-bang” e foto-pintura “Universos paralelos”, de Saul de Jesus (1988 e 2007)

A fotografia surgida no sé�culo XIX não era considerada uma forma de arte visual. Foi no âmbito do movimento fu�turista, a partir do início do século XX, que a fotografia se desenvolveu como expres�são artística. António Tavares (2009), ao abordar “A foto�grafia artística e o seu lugar na arte contemporânea”, considera que foi em It�lia, no âmbito da corrente Futurista, que os fotógrafos começaram a integrar o movimento nas suas criações.

Os futuristas foram um grupo de artistas italianos que trabalharam entre 1909 e 1916, rejeitando o moralis�mo e o passado e abraçando tudo o que tinha a ver com as inovações tecnológicas e a re�presentação do movimento, da energia e da velocidade.

Em termos de fotografia, é de salientar que esta procura da captação do movimento j� havia sido trabalhada pelo fotógrafo inglês Eadweard Muybridge, o qual se tornou conhecido pela invenção do zoopraxiscópio, dispositivo para projetar os retratos de movimento, e por ter conse�guido tirar, em 1877, a pri�meira fotografia que permitiu provar que quando um cavalo galopa consegue ter simulta�neamente todos os cascos no ar, após ter sido contratado por Stanford. Para tal desen�volveu uma forma que permi�tia a captação instantânea de imagens, utilizando fora da câmara um disparador elétri�co criado por John Isaacs. No

ano seguinte, utilizou v�rias câmaras estereoscópicas para conseguir fotografar o galo�pe de um cavalo numa curta distância, ocorrendo o dispa�ro das câmaras em cada mi�lésimo de segundo. Com esta série de fotos, intituladas “O cavalo em movimento” (“The horse in motion”), conseguiu mostrar que as pernas dos cavalos não ficam completa�mente estendidas, ao contr��rio daquilo que os desenhos da época procuravam sugerir.

A publicação das fotos ti�radas por Muybridge na re�vista “La Nature”, despertou a curiosidade do fisiologista Marey, o qual passou a consi�derar a possibilidade de uti�lizar o mesmo método para registar os movimentos de voo de p�ssaros. Mas tendo também em conta os métodos da fotografia astronómica uti�lizados pelo astrónomo Jans�sen, que havia desenvolvido o “revólver fotogr�fico astro�nómico” (1874), Marey desen�volveu o seu próprio método cronofotogr�fico a começar pela criação do seu “fuzil cro�nofotogr�fico”, em 1882, con�seguindo utilizar uma única câmara para obter múltiplas imagens. A continuação da investigação levou�o a rapi�damente conseguir produzir uma única placa com muitas partes do movimento nela re�presentadas, em vez de foto�grafias isoladas de cada parte do movimento produzidas na placa móvel, conseguindo uti�lizar este método na captação do voo de p�ssaros em 1883. Em 1886, a utilização deste método com três câmaras em simultâneo veio a permitir��lhe elaborar uma representa�ção tridimencional do voo na forma de uma escultura, ini�cialmente produzida em cera e posteriormente em bronze, contando com a colabora�ção de um artista. De acordo com Marta Braun (1983), o que Marey procurava era “ver o invisível”, sendo o interesse

do seu trabalho sobretudo “a gravação do que o olho não conseguia captar, e não a re�produção do que ele normal�mente percebe”. O método gr�fico de Marey e seu proces�so cronofotogr�fico abriram ao século XX as possibilidades teóricas dos usos de aparelhos hoje bastante comuns como o eletrocardiograma ou o ele�troencefalograma, bem como a teorização necess�ria para a concretização da invenção de Louis Lumière, o Cinema�tógrafo, em 1895.

A exploração da dimensão movimento pelo futurismo contribuiu para o reconhe�cimento da fotografia como arte. Assim, alguns fotógrafos começaram a enfatizar a com�ponente artística das fotos, fazendo fotos ligeiramente desfocadas, ou aproveitando o efeito do movimento dos objetos fotografadas. Um dos fotógrafos que mais se desta�cou neste âmbito foi Jacques Lartigue, o qual começou a fo�tografar a partir dos 8 anos, em 1902, tendo constituído um di�rio com fotografias e

textos breves durante toda a vida, até 1986. A exposição “Um mundo flutuante”, de�dicada à apresentação do seu trabalho, foi realizada em 2011, na Caixa Forum Madrid.

De acordo com Barthes (1984), a verdadeira alma da fotografia est� em interpretar a realidade e não em copi��la. Fazer fotografia não é apenas clicar no disparador. Tem de haver sensibilidade estéti�ca, registando um momento único, singular, em que o fo�tógrafo recria o mundo exter�no. Conforme refere Tavares (2009), “a m�quina fotogr��fica permitiu, ao longo dos tempos e desde a sua inven�ção, que o fotógrafo se fos�se libertando do car�cter de mero captador de uma dada realidade, de um dado objec�to. Por todo o século XX a fo�tografia envereda por campos onde a sensibilidade artística se revela”. Neste seu artigo, Tavares destaca o contributo de Henri Cartier�Bresson para o desenvolvimento da compo�nente artística na fotografia, afirmando o seguinte: “foi o

criador da expressão e con�ceito de “fotografia de autor” (…) Cartier�Bresson, com os seus trabalhos, prova que o resultado da arte fotogr�fica não estava na m�quina, mas sim no olho do fotógrafo que, de forma subjetiva, percepcio�na um determinado momen�to e o captura”.

Desta forma, a fotogra�fia pode permitir criar uma imagem cuja realidade ob�jetiva que retrata é difícil de identificar, permitindo à ima�gem que surge na fotografia passar a ter uma identidade e um sentido próprio. Exem�plificamos com uma foto que tir�mos em 1988, intitulada “Big�bang”, em relação à qual, até ao momento nunca nin�guém que tenha observado esta fotografia tenha conse�guido identificar a partir de que realidade foi produzida. A foto havia sido tirada a uma Árvore de Natal com luzes, utilizando tripé e disparador de cabo, com uma exposição de dois segundos, durante os quais ocorreu uma apro�ximação utilizando uma ob�

jectiva 60�300mm. Com esta foto procur�mos representar a explosão inicial do universo e remeter o público para uma reflexão acerca das origens do universo, pois no mesmo ano havíamos realizado um traba�lho teórico sobre “A criação do universo: onde acaba Deus e começa o Big�Bang?”. Pro�cur�mos retomar essa ideia, em 2007, produzindo o tra�balho “Universos paralelos”, mas introduzindo a ideia de buraco negro que permitiria a passagem de um universo para outro.

Esta perspetiva da criação de imagens que adquirem uma identidade própria tam�bém est� claramente presen�te na fotografia “Phantom” (fantasma, em inglês), da autoria do fotógrafo austra�liano Peter Lik, o qual criou uma imagem cuja realidade objetiva que retrata é difícil de identificar, permitindo à imagem que surge na foto�grafia passar a ter uma iden�tidade e um sentido próprio. “Phantom” foi fotografada a preto e branco no interior Antelope Canyon, no estado do Arizona (EUA). O nome da fotografia deve�se à forma humana “fantasmagórica” criada pelo efeito da luz ao incidir na poeira do interior do Canyon. Esta é a fotografia mais cara da história, ao ser vendida por 6,5 milhões de dólares (mais de 5,2 milhões de euros). Conforme referido pelo próprio, “o propósito de todas as minhas fotografias é capturar o poder da natureza e transmiti�lo de uma forma que inspire alguém e faça a pessoa conectar�se com a imagem”.

Nota: Algumas das re�flexões apresentadas neste

artigo encontram�se no livro “Construção de um percurso multidisciplinar, integrativo

e de síntese nas Artes Visu�ais”, de Saul Neves de Jesus

([email protected])

Saul Neves de JesusProfessor catedrático da UAlg;Pós-doutorado em Artes Visuais pela Universidade de Évora

fotos: d.r.

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05.02.2016  7Cultura.Sul

Momento

«Palavras Cruzadas de Café»Foto de Ana Omelete

Espaço ALFA

A ALFA – Associação Livre Fotógrafos do Algarve pos-sui um percurso significativo na promoção, dinamização e divulgação das mais variadas vertentes da fotografia. Desde a sua criação, em 2008, tem-se afirmado como uma referência na região cuja ambição, para o triénio 2016-2018, consequen-te de uma renovação dos seus corpos sociais, se amplia ao âmbito nacional e internacio-nal. Para além de exposições, workshops, passeios e de inú-meras outras atividades, a ofer-ta regular de cursos de fotogra-fia de diversos níveis, a par de outros mais especializados, re-vela o compromisso assumido, e sempre renovado, da ALFA. O

compromisso de tratar a ima-gem fotográfica como uma área de oportunidades quer a nível profissional, quer em ter-mos de expressão artística ou de realização pessoal.

Sem descurar os momentos para conhecer pessoas e luga-res, partilhar experiências, e crescer para e com a fotogra-fia, em 2016 a ALFA renova as suas abordagens. Deste modo, deu-se início em janeiro a en-contros que propõem tratar a fotografia num plano menos técnico e um pouco mais te-órico. Podemos chamar-lhes tertúlias, serões ou convívios. Pelo menos uma vez por mês, e durante todo o ano, em am-biente caloroso e informal, falamos do que representa a imagem fotográfica nos dias e nas nossas vidas de hoje. A sede da ALFA abre-se à co-munidade e ao intercâmbio com outras entidades. Basta estar atento ao nosso sitio na Internet em www.alfa.pt e às permanentes atualizações do programa de atividades. Fica o convite!

Encontros à sexta na ALFA

Dário AgostinhoMembro da ALFA

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05.02.2016 8 Cultura.Sul

Os (outros) públicos da Cultura: novos caminhos para maior diversidade e inclusão

foto: vasco célio

Inspirado no incontornável romance de Proust, este título remete para um desafio que é muito caro aos programado-res culturais nos dias de hoje: a dificuldade de captação de públicos, nomeadamente dos segmentos jovem e jo-vem adulto (compreendendo, grosso modo, um arco etário dos 16/18 aos 30/35 anos) para actividades desenvolvi-das no âmbito das artes per-formativas e visuais – isto es-pecialmente fora das grandes metrópoles onde já existe, em geral, uma intensa e diversifi-cada oferta, rotinas culturais mais enraizadas e um univer-so mais alargado de potenciais destinatários.

Sabemos que quer os di-álogos interdisciplinares, as linguagens digitais e outras abordagens com incidência tecnológica e a própria na-tureza inclassificável, experi-mental e inusitada de muitas das manifestações artísticas contemporâneas de um lado, quer as tendências de inspira-ção revivalista e de questiona-mento/reinvenção da tradição/cânone do outro, quer ainda os projectos culturais colabo-rativos/participativos assentes em desafios criativos lançados à comunidade constituem, sem dúvida, três tipos de in-gredientes que exercem uma forte atractividade junto das camadas mais jovens.

Também existe a consciên-cia de que esse público-alvo é complexo e heterogéneo do ponto de vista dos perfis, gostos e motivações que o compõem, estando muita ve-zes compartimentado em seg-mentos/minorias (flutuantes, mutáveis) associados a dada(s) área(s), estilo(s), moda(s) ou personalidade(s) artísticos (por exemplo, os adeptos do cinema, os seguidores do he-avy metal, os entusiastas dos formatos mais herméticos e conceptuais, os fãs da coreó-grafa x ou y, etc.) e/ou em ati-tudes de cariz mais individual e idiossincrático, não necessa-

riamente alinhadas com um colectivo(s) mais ou menos expressivo(s).

No caso do Algarve exis-te uma realidade, à partida minoritária, que tem vindo, paulatinamente, a ganhar um espaço crescente no seu panorama cultural, a qual engloba galerias de arte, co-lectivos artísticos, grupos in-formais tertuliantes e outras estruturas privadas como, sobretudo, bares, quintas de turismo rural e tapas & wine houses, que desenvolvem, com maior ou menor regularidade e consistência, actividades em torno das artes plásticas/visuais, música, performance, literatura, etc., e que apostam, muitas vezes, em conteúdos, formatos e estratégias que muitas entidades públicas não privilegiam – isto ainda que já se note igualmente, em vários casos, uma colaboração/parceria, que se desejaria mais habitual e ambiciosa, entre es-tas e esses agentes. Parece-nos fundamental o papel desses “pequenos” actores da cena cultural enquanto focos de criatividade, experimentação, intervenção-reflexão, agluti-nação e difusão/promoção, os quais investem mais em nichos de público/minorias (captando também, aqui e ali, por arrasto, franjas de desti-natários mais generalistas) e funcionam como precioso e urgente contrapeso (questio-nando, ousando, arriscando)

da oferta dominante propor-cionada pelos equipamentos culturais públicos.

Quando se olha para as pro-postas culturais emanadas das câmaras municipais da região a oferta cultural que aposta em segmentos específicos de público e que privilegia for-matos não massificados tem, no cômputo geral, um carác-ter ainda residual (há excep-ções, obviamente). Essa dis-crepância é igualmente visível na questão da menor aposta (mais visível nuns concelhos do que noutros) em determi-nadas áreas artísticas como a dança contemporânea, a per-formance ou o cinema, isto quando comparadas com o campo da música ou mesmo do teatro, que continuam a ser claramente hegemónicos.

Não obstante este quadro geral, deixamos dois exemplos (outros haveria) de realidades urbanas/cidades que, não obs-tante também apresentarem, como é natural e legítimo, ou-tro tipo de ofertas, têm vindo igualmente a afirmar-se de for-ma gradual – o tempo e a resi-liência são, nestes casos, fun-damentais – no que concerne ao florescimento de projectos e dinâmicas culturais minori-tários/alternativos, emanados de estruturas associativas e ou-tros privados, que procuram ir ao encontro de velhos e novos públicos (esquecidos, perdi-dos, dispersos): Lagos e Faro.

Em Lagos destacamos a es-

trutura de criação e difusão artística transdisciplinar ca-saBranca, fundada pela dupla Ana Borralho & João Galante e Mónica Samões em 2006, e que aposta em projectos de pesquisa, formação e criação que potenciam o desenvolvi-mento e circulação do pen-samento artístico. Esta estru-tura organiza o Festival Verão Azul (desde 2011), porventu-ra exemplo único na região de um evento anual, em formato de festival, que aposta clara e inequivocamente, como foco principal (e não como compo-nente residual ou secundária, de que existem vários exemplos), na criação contemporânea, no ex-perimentalismo e na multidis-ciplinaridade, e cuja edição de 2015 se alargou, pela primeira vez, a Faro e Loulé. Ainda em Lagos, uma alusão inevitável ao LAC – Laboratório de Ac-tividades Criativas, formado em 1995 e sediado na antiga cadeia da cidade, o qual tem--se dedicado continuamente à promoção da criatividade em vários quadrantes artísticos e em especial à área da forma-ção, implementando ainda em 2008 um programa de re-sidências artísticas (PRALAC) e, mais recentemente, em 2011, a 1.ª edição do ARTUR – Artistas Unidos em Residência (projec-to de arte urbana).

Faro: observa-se, aos poucos, que a cidade tem vindo a (re)potenciar-se e reinventar-se culturalmente devido quer à

dinâmica e criativa massa crí-tica que efectivamente nela existe em várias áreas, quer também muito como res-posta positiva e alternativa à crise e, assim, à visível maior dificuldade da autarquia em apoiar financeiramente e não só os agentes e projectos lo-cais, nomeadamente de cariz associativo, o que acabou por fazer com que a própria cida-de espreitasse mais para o seu potencial interno, para o que realmente tem dentro de casa.

O DeVIR/CAPa, por exemplo, tem desenvolvido um longo e consistente trabalho de forma-ção, programação e difusão das artes performativas desde 1994, destacando-se também o seu programa de residências de criação iniciado em 2001. Uma alusão também a vários projectos culturais ancorados em organizações associativas e edifícios “históricos” da ci-dade, que fundem passado e futuro e valorizam/divulgam os criativos da região e outras propostas diferenciadoras, juntando em seu redor novos públicos muito por acção dos seus renovados mentores e dos seus respectivos círculos de amizade e redes de envol-vimento e influência sociais: Sociedade Recreativa Artística Farense, Club Farense, Palácio do Tenente (revitalizado des-de 2013) ou Ginásio Club de Faro (relançado em 2015). Na área da música e da difusão de uma oferta fora do mains-

tream, também é inevitável a referência a entidades como, entre outras, a Associação Re-creativa e Cultural de Músicos (ARCM, fundada em 1990), a Associação Grémio das Músi-cas (desde 2001) e a Associa-ção Filarmónica de Faro (sur-gida em 1982), que têm tido um papel muito importante na área da formação e educa-ção artísticas, mormente junto dos mais jovens.

Uma palavra, por fim, para três projectos farenses que também insistem numa in-tervenção cultural fora dos grandes circuitos e tendências massificados, procurando cap-tar e formar novos públicos: a ArQuente, que tem apresenta-do, desde 2003, um relevante e questionador trabalho na linha de um teatro mais per-formativo (e não clássico) que dialoga com a dança, a foto-grafia e o vídeo, mas também apostando em boas surpresas da nova música portuguesa (de que são exemplo os seus “Concertos ao entardecer”) e ainda noutros formatos li-gados à literatura; a Policro-mia, fundada em 2001 e que em 2015 se fixou no Mercado Municipal de Faro (onde tem a sua sede/atelier e uma gale-ria de arte, a Farpa Lab), cujo colectivo de artistas se foca so-bretudo na difusão das artes visuais apresentando propos-tas verdadeiramente desassos-segadoras e inquietantes; e a Tertúlia Algarvia (surgida em 2013) enquanto projecto ou-sado, neste caso empresarial, que tem promovido a cultura do Algarve cruzando tradição e contemporaneidade, e que, nesse âmbito, tem desenvol-vido inúmeras parcerias com outros agentes da região.

O escritor Henry David Thoreau dizia que se um ho-mem marcha com um passo diferente do dos seus com-panheiros é porque ouve outro tambor. Serão quase sempre esses “tambores” inquietantes, incómodos e inesperados, diferentes da marcha generalizada, auto-matizada e consensual, que poderão atrair esses outros públicos “perdidos” para os palcos da Cultura. Porque o que importa mesmo, para quem cria e/ou programa, é esse comprometimento com a defesa da singularidade e a persistência “violenta”, “mes-mo que” por vezes utópica, nessa direcção.

Em busca do público 'perdido'Sala de leitura

Paulo PiresProgramador culturalno Município de Louléhttp://escrytos.blogspot.pt

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05.02.2016  9Cultura.Sul

O(s) Sentido(s) da Vida a 37º N

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“ANDANÇAS & CANTORIAS”11 FEV | 18.30 | Teatro das Figuras - FaroAfonso Dias e Teresa da Silva apresentam um espectá-culo de música tradicional portuguesa, que pretende contribuir para a divulgação da genuína música de raiz tradicional

“VIAGENS, EPIFANIA DA COR”Até 27 FEV | Galeria do Convento do EspíritoSanto - LouléGuilherme Parente remete-nos para um universo do maravilhoso e da utopia onde a cor é a própria viagem, numa dualidade entre a realidade e a imaginação

Fevereiro

Pedro [email protected]

Prunus Dulcis

Escreveu Mário Claúdio: «soletremos sempre a palavra azul. apegados à terra. até que floresçam as amendoeiras(...)»

Pouco tem chovido, mas finalmente começa a despontar a flor branca, levemente rosada na ‘prunus dulcis’- árvore de pequeno porte, que se expandiu pela bacia do mediterrâneo, cultivada devido à importância do seu fruto - a amêndoa. Encontra-se sobretudo no barrocal, mas também no litoral algarvio, fazendo assim jus à bonita len-da do rei árabe, que mandou plantar amendoei-ras em redor do palácio, para que a princesa, ao ver os campos brancos (em flor) não suspirasse mais pelo rigor dos invernos (de neve) do norte europeu.

Para Além do Branco

Não há uma razão melhor que as outras para nos conduzir até à sede do Ciipc em Santa Rita. Mas ver os deslumbrantes trabalhos de Filipe da Palma ao vivo – fora da rede social facebook – é sem a menor dúvida uma grande razão para to-mar a EN 125 a caminho de V. R. Stº António. A exposição de fotografia «Para Além do Branco», inaugurou a 4 de fevereiro e pode ser visitada até

15 de março, no horário 9-13 / 14-17.

Viviane«Entre Amigos», será o primeiro concerto

de Viviane, enquanto ‘Artista Figuras’ (teatro municipal) 2016. Neste concerto, Viviane irá fazer uma retrospetiva do início da sua carrei-ra, apresentando uma viagem musical através dos grupos e projetos em que participou: Entre Aspas, Camaleão Azul e ainda Linha da Frente.  A acompanhá-la nesta viagem estarão vários ami-gos convidados: a primeira e a segunda formação dos Entre Aspas, a formação do projeto Camaleão Azul, e nomes destacados do atual panorama musi-cal algarvio como Gaijas, Nome, Ludo, Mundopar-do, Funkarmónica, Diogo Piçarra, Tércio Nanook e ainda os DJ's Lord Vegan, Gijoe e Helena Isabel. A seguir ao concerto de 26 de março terá lugar uma “After Party” no foyer do Teatro das Figuras.

De Marim

Dispostos na concisa açoteia do chalé de Marim soletramos a gramática desdobrável da inconstância juvenil, de fazer vibrar as peque-ninas ilhas, emergindo, brancas, silenciosas, com o farol de santa maria aos olhos e o louco sonhar de João Lúcio nas mãos.

Ensaiamos desde logo o que é simples, pere-ne, remoto ou devir. Inferimos em coisas como o viver de agora, o abarbar da perfeição em si-lêncio de água, o complanar do amor puro e eterno, aspergido mesmo se platónico.

Arriscamos depreender que as dicotomias do sul são de toda a parte e nunca se antagonizam, mas antes completam os ciclos de luz, calor, sol, serra, nascente, vida -- sombra, brisa, noite, mar, poente, morte…

Fernando Cabrita

Depois do êxito que foi a sua conferência «Portugal, Espanha e os Sefarditas» no Con-sulado Geral de Portugal em Sevilha, em que desenvolveu os temas da intolerância, da per-seguição e do exílio, que já havia apresentado no brilhante livro bilingue de poesia «Lejos de Sefarad/Longe de Sefarad», - o escritor algarvio Fernando Cabrita foi o poeta português con-vidado oficialmente pela direção do evento a participar no Festival internacional de Poesia de Marraquexe em abril de 2016, sob o signo «Criatividade… Liberdade e Paz». E é assim… a cena literária algarvia a expandir-se.

Adília CésarA editora Lua de Marfim sediada na Amadora

tem apostado recentemente em edições de auto-res do Algarve. E já no final de Janeiro anunciou a estreia desta autora de Lagos, residente em Faro, com o livro «o que se ergue do fogo», que abre com o poema: inventário

 a poesia morreu subitamente no pensamentodo poeta condenado a amassar-lhe o corpoe nos olhos que a comem a chorar vejam os poemas de pedra, indigestosno preciso momento em que as palavras mastigadasse tornam herméticas e inúteis, aos gritosdespejadas e reverberadas nas bocas que se crêemdeuses nas alturas, sem paz nesta terra de poetas as palavras transformam-sedispostas nas linhas enroladas de um processo men-taldesorganizado, apenas ecostransumâncias espaciais na interioridadedos sujeitos intervenientessombras do desgosto ingénuo e salitrosolonge do mar sem fim e sem destinosons inconcebíveis e desconexos da agoniaa dobrar o cabo do medo

a esboroar o vento enraivecidocarne virgem de um poema por acabar na morte súbita da poesia, inventariaram-se as pa-lavras afectadas pelas emoções vazantesaquelas palavras que ainda respiram, exauridasrasgadas na sua glóriaas palavras que recusam a passagempelo crivo decisivo do esquecimento, do anonimatoas chagas dos discursos não poéticosdepósitos de vaidades nos corais quebradiçosas palavras que demoram nos arabescos dos dedos o silêncio não se incluiu na lista

sentiu a vergonha de ser réstia, sozinho e inconsolávela perder-se nos confins do mundo e nas mãos do poetao peso da cobardia a amachucar a fina folha de papela enormidade da perda, a imensidão do marconspurcadopelo não-ser, o não-saber, o não-querera dádiva das palavras sobreviventes,dimensionadas talveznum possível poema sobre a morte súbitaou outra morte qualquera morte é sempre morta e perfeitaainda que a poesia não seja coisa viva

no inventárioo silêncio redigiu a seguinte declaração que dedicouà poesia, em modo de epitáfio: “da próxima vez que morreres, suicido-me contigotalvez assim tu percebas que griteide todas as vezes que morreste”

GuadianaÉ agora um rio que já não serve de muro, que

é uma água de ninguém, para ligar as pessoas. Por isso existem obras como «Poesia Jovem do Baixo Guadiana» uma antologia poética bilin-gue, que reúne 13 jovens poetas, portugueses e espanhóis, da nova geração, que reforma a esperança na continuação da cooperação trans-fronteiriça e a certeza num amanhã construí-do de relações interculturais que juntam povos através de textos poéticos.

TodosTodos deveríamos ter tido uma vida mara-

vilhosa e poder cantá-la, sem precisar de nos escondermos ou andarmos a correr nela. Mas a pintar e escrever a poesia desses dias. 

Ou pelo menos ter tido quinze minutos de fama. Só para depois continuarmos a tentar sobreviver às canções e imagens que pareciam ter sido feitas para nós. Mesmo se nunca o são como tínhamos imaginado.

fotos: d.r.

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05.02.2016 10 Cultura.Sul

Os Cristos Mortos do Algarve como nunca antes vistos

Impõe-se uma nota preli-minar antes de prosseguir com a redação do texto. O autor deste artigo é tão cúm-plice neste projeto quanto outras pessoas que devem ser aqui mencionadas: Da-niel Santana, historiador de arte na Câmara Munici-pal de Tavira, Jorge Pereira, médico-radiologista, e Fran-cisco Lameira, professor na Universidade do Algarve. A todos estes nomes, cada um no ofício que melhor sabe, cabe uma tarefa que pode vi-rar uma página importante no conhecimento do patri-mónio artístico e religioso algarvio. A constituição do grupo de trabalho, multi-disciplinar na sua formação, demonstra que o olhar sobre o património deixou de ter apenas um ponto de vista. Hoje já não conta apenas ter a história de arte como recurso na observação de uma peça e na elaboração da sua respetiva ficha de in-ventário. Pode ser insuficien-te. Existem outras técnicas e ferramentas, à partida estra-nhas em assuntos ligados ao património, extremamente úteis e valiosas. A radiologia é uma delas e que tem um peso fundamental no suces-so deste empreendimento. Um exame radiológico a um bem cultural pode ser uma verdadeira caixa de surpre-sas. Através dele acedemos a um conjunto de dados sem que a peça tenha de ser sa-crificada na sua integridade física. Ficamos a conhecer detalhes do seu estado de conservação, pormenores da sua técnica construtiva, aspetos de antigas interven-ções de restauro e até carac-terísticas dos materiais usa-dos. Todo este manancial de informação pode ser obtido para os Cristos Mortos ou qualquer outra peça artís-tica.

Mas centremo-nos por agora nos Cristos Mortos e

nas quase quatro dezenas de imagens espalhadas pelo Al-garve. Exceto nos concelhos de São Brás de Alportel e de Vila Real de Santo António segundo o estudo de Francis-co Lameira dedicado à ima-ginária e à talha algarvia. A escolha desta representação da figura de Cristo deve-se desde logo à facilidade de transporte, mas também à sua adaptação sem dificul-dades aos aparelhos radio-lógicos e aos procedimentos dos exames de uma TAC. Por outro lado, estamos perante uma imagem que na maior parte do calendário religio-so se encontra discreta e que apenas na Páscoa ganha pro-tagonismo nas procissões do Enterro do Senhor. Está pois ligada à história, às tradições religiosas e à cultura cristã desta região. São figuras de grande carga simbólica e de enorme dramatismo, como de resto se pretendia dar esse efeito junto dos fiéis, sobretudo numa jornada em que se exigia compaixão e dor. Existem de diferentes tamanhos, umas datadas e de autores conhecidos, ou-tras sem data e de artistas anónimos. Umas mais apri-moradas do ponto de vis-ta estético, outras com um recorte mais modesto. A

maioria em madeira e um caso único em papier machê na Misericórdia de Tavira. Al-gumas articuladas nos om-bros e outras sem qualquer rotação nos seus membros. Prevalece no entanto em to-das elas a figura jacente em corpo inteiro de Cristo na sua dimensão humana, sem

vida, ferido e ensanguentado desde a cabeça até aos pés. Vão estar em cima da mesa diferentes componentes de estudo e entendimento des-tas imagens.

O plano de investigação, que vai guiar a ação des-te grupo de trabalho e que no futuro se espera resul-

tar numa publicação, inclui pontos como a análise da fortuna histórica e estética destas obras, as oficinas de escultura, os mestres e as clientelas, os rituais da qua-resma e as procissões do Senhor Morto (numa clara alusão ao património cul-tural imaterial), o exame ra-diológico, a intervenção de restauro e o catálogo. Um retrato que se estima bastan-te completo e que introduz uma leitura totalmente iné-dita na apreciação do patri-mónio religioso algarvio. Até hoje aquilo que se conhecia dos Cristos Mortos resumia--se ao que a vista nos facul-tava e também a alguma documentação identificada nos arquivos. Com a Radio-logia não nos ficamos ape-nas pela aparência do corpo e pelo estado físico do Cris-to. Conseguimos perceber como foi construído, se está deteriorado no seu interior, se tem mazelas antigas e que materiais lhe dão sustento. Podemos levantar questões e até colocar em causa tudo o que se tinha dado como garantido sobre a data ou o estilo da peça. Mas tudo baseado em factos e provas fidedignas e concretas, sem espaço para grandes especu-lações ou suspeitas. Embora as existam e vão continuar a perseguir, mas o campo de interrogações reduz-se sig-nificativamente com o apoio desta ciência.

Temos pois aqui uma oportunidade de nos dis-tinguirmos e de nos posi-cionarmos enquanto região num lugar cimeiro no estu-do do património cultural. Não é por acaso que toda a região está aqui convocada a dar o seu contributo entre autarquias, museus, paró-quias e diocese. Todos são fundamentais e o Algarve só fica a ganhar com planos inovadores, inéditos e inspi-radores, revelando a sua arte e a sua história num quadro nunca antes visto. Abre-se um novo caminho na inves-tigação do património cultu-ral, no diagnóstico do esta-do de conservação dos bens artísticos e na organização de projetos museológicos. Um exemplo a seguir e que pode criar outras frentes de trabalho.

Marco LopesDiretor do Museu Municipal de Faro

Imagem está ligada à cultura cristã da região

fotos: d.r.

A radiologia permite aceder a um conjunto de dados sem sacrificar a peça

Ficha Técnica:

Direcção:GORDAAssociação Sócio-Cultural

Editor: Ricardo Claro

Paginaçãoe gestão de conteúdos:Postal do Algarve

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Jorge Queiroz• Espaço ALFA:

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Cineclube de FaroCineclube de Tavira

• Juventude, artes e ideias: Jady Batista

• Letras e literatura: Paulo Serra• Missão Cultura:

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• Momento:Ana Omelete

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Ricardo Claro• Sala de leitura:

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Alexandre Ferreira

Colaboradoresdesta edição:Dário AgostinhoMarco LopesJoão Pedro BaptistaJosé Barradas

Parceiros:Direcção Regional de Cultu-ra do Algarve, FNAC Forum Algarve

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Espaço ao Património

Page 11: CULTURA.SUL 89 - 5 FEV 2016

05.02.2016  11Cultura.Sul

Da minha biblioteca

Adriana NogueiraClassicistaProfessora da Univ. do [email protected]

Em janeiro de 2011, escrevi nesta secção do Cultura.Sul, a propósito de um outro autor (Rogério Silva) e a questão do regional na literatura: «Tudo aconteceu há uns anos, quan-do procurava o último livro de José Carlos Fernandes (insigne autor de banda desenhada que, por acaso, é de Loulé, e de quem hei-de falar neste espaço). A si-tuação foi a seguinte: tinha-me dirigido a uma livraria em Faro, daquelas que pertencem a uma cadeia de livrarias, e perguntei se tinham o referido livro (devia ser um dos volume de A Pior Banda do Mundo). Como a funcionária não estivesse a localizar o autor, eu acrescentei ‘ele até é daqui, de Loulé’. Foi então que ouvi a res-posta mais espantosa: ‘Ah, então não temos. Nós não temos escri-tores regionais’».

Cumpro, então, o prometido, e hoje escrevo sobre o grande José Carlos Fernandes (um au-tor internacional), que viu pu-

blicado, finalmente, o seu livro A Agência de Viagens Lemming. Digo «finalmente», porque a edição já existia em espanhol, mas não em português. Os que tiveram a sorte de acompanhar as tiras que foram saindo, em 2005, no Diá-rio de Notícias podem agora lê-las reunidas num único volume, di-vidido em duas partes: «Dez mil horas de ‘jet lag’» e «A síndrome da classe turística».

José Carlos Fernandes (JCF) – biografias

A biografia de JCF encontra-se em vários sítios na Internet, que nos dizem que é Engenheiro do Ambiente, que foi assistente na Universidade Nova de Lisboa e que recebeu uma Bolsa de Cria-ção Literária do Ministério da Cultura (quando as havia), a par de nomes como Mário de Car-valho, Luísa Costa Gomes, Maria Velho da Costa, José Luís Peixo-to ou Adília Lopes). Todos des-

tacam a sua obra mais conhecida, a série de seis livros intitulada A Pior Banda do Mun-do (edição da Devir), que rece-beu vários prémios (logo desde o início, tendo os dois primeiros volumes, O Quiosque da Utopia e O Museu Nacional do Acessório e do Irrelevante sido considerados o «Melhor Álbum Português» pelo Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora – FIBDA – em 2002 e em 2003).

Mas o autor diverte-se a criar biografias delirantes, misturan-do a sua com a das personagens. Neste A Agência de Viagens Lem-ming, diz-nos que «nasceu em Loulé em 1964 […]. Tinha apenas 13 anos quando, aproveitando uma episódica ida com a família a Ayamonte, para comprar cara-melos, se meteu a caminho por sua conta, arranjando trabalho numa traineira espanhola que se dedicava ao contrabando com o Norte de África. O apresamento da embarcação pelas autorida-des marroquinas valer-lhe-ia alguns dias de prisão, mas não tardou a evadir-se, oculto num

carregamento de estrume de dromedário», fazendo lembrar, pela precocidade da fuga, As Aventuras do Barão Wrangel (De-vir 2003): «terá nascido em 1934 num remoto povoado algarvio, no seio de uma família modesta. Embarcado aos 13 anos, primei-ro num barco de pesca de atum, depois num bacalhoeiro, logo aproveita uma escala na Terra Nova para desertar».

O feitiço de José Carlos Fernandes

Acompanho a obra de JCF há vários anos. Vi um dia, em casa de um amigo de um ami-go (aquelas casas aonde, nor-malmente, não mais voltamos), um desenho seu emoldurado. O dono da casa esclareceu-me sobre o autor e o fascínio que por ele sentia e eu fiquei cheia de vontade de ler e ver mais tra-balhos seus. Por sorte, não muito depois, pude visitar uma expo-sição de pranchas da sua auto-ria, em Loulé, e fiquei encantada. Mas só depois de conhecer o seu

trabalho mais profun-damente é que perce-bi uma crítica lida, algures, num jornal espanhol, que di-zia algo como que a escrita de JCF era ainda melhor do que os seus de-senhos. Não se espantem, pois, os leitores pela abundância de adjetivos neste texto. Não sou só eu que pensa assim. O desafio que JCF faz à nossa cultura é quase vician-te. No Centro Belga de Banda Desenhada, onde a sua obra es-teve em exposição em 2009, dizia o site: «the Belgian Comic Strip Centre is delighted to welcome the superb José Carlos Fernandes into its gallery».

O que vou dizer parece uma contradição, mas há, na simpli-cidade dos desenhos, quase mo-nocórdicos, uma expressividade enorme moldada pelo texto es-crito. A leitura de JCF é um de-safio constante à nossa atenção.

A Agência de Viagens Lemming

Apetecia-me escrever sobre tantos livros de JCF que tenho na minha biblioteca (como o lindíssimo Coração de Arame, Devir, 1997), mas talvez o faça numa próxima vez. Agora vou tentar restringir-me a este últi-mo, que foi um prazer para os sentidos e para a inteligência.

As pranchas são compostas por duas tiras, de duas (às vezes três) vinhetas. As histórias que o agente de viagem conta ao se-nhor Zoloft são todas em tons de laranja. As conversas que os dois têm na agência, têm o fundo deste mesmo tom, mas ambos estão desenhados e pin-tados em tons de azul metálico.

As histórias reúnem duas ou mais pranchas sob nomes que remetem para o assunto que nelas é tratado, com humor e ironia, que aliviam a crítica que é feita ao que nos rodeia e ao

que nem sempre damos conta (como «Hrabal e a reciclagem, de papel», onde se indica uma lista quase infindável de situa-ções em que o papel é usado, p. 85; ou «As novas Pompeias», sobre cidades que se descaracte-rizam, «soterradas pela erupção do progresso», p. 109).

Neste livro, as referências cul-turais nem são das mais com-plicadas (foram pranchas dese-nhadas para sair no verão, onde se esperariam assuntos mais le-ves. Noutros volumes, o autor agradece a autores tão díspares como F. Nietzsche, T. Adorno, H. Melville, Heraclito ou F. Pessoa). O mais delirante aqui são as co-nexões que podemos fazer ao lermos os desenhos (que é para onde os nossos olhos primeiro se viram e têm sempre muito a que prestar atenção), o texto das legendas e o das vinhetas. Todos se completam, todos dão um sentido, mesmo quan-do, por vezes, são antitéticos. Sentimo-nos desafiados pelos nexos que conseguimos fazer entre aquele mundo com no-mes estranhos (como Gibil, Ci-tronovy, Sliz, Gallupi) e o nosso conhecido.

Uma grande vantagem destes livros de José Carlos Fernandes é que podemos voltar a lê-los e encontrar sempre uma coisa que antes nos tinha passado ao lado.

A eterna descoberta.

Autor usa humor e ironia nas histórias

foto: d. r.

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“JE SUIS CORDES”6 FEV | 18.00 | Teatro das Figuras - FaroRui Sinel de Cordes traz ao Algarve o seu espectáculo ao estilo de stand-up comedy. Mais uma noite épica de rock’n’roll em forma de comédia

“PINTURA DE CASSIANO LIMA”Até 29 FEV | Galeria Pintor Samora Barros- AlbufeiraO autor é apaixonado por pintura há mais de 20 anos, contando no seu curriculum com várias exposições individuais e colectivas em Portugal e no estrangeiro

A Agência de Viagens Lemming, de José Carlos Fernandes

Desenho do autor

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