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ABR | 2011 • Nº 32 • Mensal • O Cultura.Sul faz parte integrante da edição do POSTAL do ALGARVE e não pode ser vendido separadamente ABRIL • Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO www.issuu.com/postaldoalgarve Rui André quer afi rmar Monchique como destino cultural » p. 8 Reinventar o sentir » p. 4 e 5 • Património 11.891 EXEMPLARES ALGARVE E ALENTEJO

Cultura.Sul Abril32

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»Património: Reinventar o sentir »Rui André quer afirmar Monchique como destino cultural »Hotel Abril, Pedro Jubilot 2»Simplex Dictum: Natal em Abril, João Evaristo »momentos.S: Vítor Correia »3ª Mostra de Bibliotecas Escolares de Faro 3»Cineclubes de Faro, Olhão e Tavira. 6»Espaço ALFA: A calibração da cor, Maia Coimbra »Espaço AGECAL: Eleição dos novos órgãos sociais para o triénio 2011-2014 7»palco.S: Performance e instalação no Auditório de Olhão »Lagos é o palco para triller/terror 9»livro.S: Muito mais do que uma guerra, Adriana Nogueira 10»Espaço Cultura: Só se ama aquilo que se conhece, DRCAlg 11»Espaço Educação: Lontra Bernardina avistada nas Fontes de Estombar, Helena Tapadinhas 12/13»baú.S: Quando as moedas eram… notas + Jornais de Olhão, Joaquim Parra 14»museu.S: Museu de Portimão, Isabel Soares»António Pina Convida: Maria Cabral - Cultura Algarvia: o que somos e o que queremos ser

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ABRIL • Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO www.issuu.com/postaldoalgarve

Rui André quer afi rmar Monchique como destino cultural » p. 8

Reinventar o sentir

» p. 4 e 5

• Património

11.891 EXEMPLARESALGARVE E ALENTEJO

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Cultura.Sul07.04.2011 2

momento Vítor Correia

3ª Mostra de Bibliotecas Escolares de FaroDurante os dias 2, 3 e 4 de Abril,

o Forum Algarve recebeu, pelo 3º ano consecutivo, a Mostra de Bibliotecas Escolares de Faro, que se realizou no âmbito do Mês da Leitura com o tema «As Imagens Têm Texto».

Esta iniciativa efectuou-se através de uma parceria estabelecida entre a Direcção Regional de Educação do Algarve, o Forum Algarve e o Grupo de Trabalho da Rede de Bibliotecas Escolares do Concelho de Faro.

O piso zero do Forum Algarve transformou-se durante três dias numa biblioteca escolar, com o objectivo de divulgar a Rede de Bibliotecas Esco-lares, sensibilizar a comunidade, em particular as famílias, para “a impor-tância que este programa desempe-nha no suporte às aprendizagens, no desenvolvimento de competências de informação, na formação de leitores e na promoção de hábitos de leitura”.

Durante estes três dias foram rea-lizadas actividades como: retratos de época, atelier de escrita criativa, cons-trução de textos, ofi cina de imagens, construção de brinquedos ópticos e ofi cinas de Photo Story, que conta-

Pormenor de Escultura de Bailarina em Quinta dos Vales - Estombar

biblioteca

Representantes da RBE de Faro, DREAlg, Câmara de Faro e Forum Algarve reunidos no encerramento da mostra

Elisete Santos

ram com a signifi cativa participação dos utentes do Forum Algarve e de algumas turmas das escolas que visi-taram este espaço.

O encerramento desta Mostra de-correu no dia 4 de Abril pelas 15.30 horas, assistindo-se à apresentação do

grupo de teatro “Tou(en)Cena”, con-tou com a presença do Dr. António Nogueira, representante do gabinete da RBE, Dr. Eduardo Dias, Direc-tor Regional de Educação Adjunto, Dr.ª Sandrine Pires, representante da Administração do Forum Algarve,

Dr.ª Alexandra Gonçalves, Vereadora da Cultura da CMF, Dr.ª Filomena Branco, representante pelo sector das BE da DREAlgarve, Dr.ª Madalena Santos, coordenadora Interconcelhia das BE de Faro e professores biblio-tecários.

Simplex dictum

Ficha Técnica

Natal em Abril

Abril! Tempo de festas e comemorações!

É como o Natal, uns come-moram a 24, outros a 25. Há quem não comemore. Depende da tradição. Da família de que se provém.

Gastos excessivos para uns. Oportunidade de negócio para outros - para as f loristas, por exemplo - a ver se a coisa anima a economia.

Tempo de refl exão, das reuni-ões de família. Quadra de liber-dade. Libertinagem. Conquistas. Excessos. Derrotas.

Muita Cultura. Promovem-se recitais. Entoam-se bonitas me-lodias. Muitas cantigas.

Cantigas de intervenção, abri-leiras, revolucionárias, datadas, intemporais. Cantigas a florir, como cravos! Cantigas cravadas na alma!

E enquanto se espera a che-gada do Menino, do Salvador, do FMI, do FEEF, do SARL, do D. Sebastião - o que seja! - recordam-se os clássicos:

«Estás desiludido com as pro-messas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu fi caste quietinho, né fi -lho? E tu fi zeste como o avestruz, enfi aste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né fi -lho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, hã?»

[FMI (excerto) - José Mário Branco]

Direcção:GORDAAssociação Sócio-Cultural

Editor:João Evaristo

Paginação:Postal do Algarve

João EvaristoEditor Cultura.Sul

Colaboradores:António Pina, Cineclube de Faro, Cineclube de Olhão, Cineclube de Tavira, AGECAL, ALFA, Maia Coimbra, Helena Tapadinhas, Maria Cabral, Marta Dias, Pedro Jubilot.

Responsáveis pelas secções:» panorâmica.S: Ricardo Claro» biblioteca.S: Elisete Santos» livro.S: Adriana Nogueira» palco.S: João Evaristo» momento.S: Vítor Correia» baú.S: Joaquim Parra» políticas.S: Henrique Dias Freire» museu.S: Isabel Soares

Parceiros:Direcção Regional de Cultura do Al-garve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve.

e-mail: [email protected]

on-line: www.issuu.com/postaldoalgarve

Tiragem:11.891 exemplares

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3Cultura.Sul07.04.2011

Assim que foi noticiado para Março o Mês Godard, iniciativa da Midas Filmes, associámo-nos ao evento mas transferindo-o para o mês mais adequado para nós: o de Abril, nosso aniversário.

Truff aut, presidente honorário da Federação Portuguesa de Ci-neclubes desde a criação desta, em 1978, até ao falecimento do ma-logrado realizador, em 1984, com apenas 52 anos, não é só, a par de Jean-Luc Godard, o fundador da Nouvelle Vague; não é só, a par de Jean-Luc Godard, o brilhante te-órico e crítico; não é só, a par de Jean-Luc Godard, o consumidor de fi lmes na cinemateca francesa e nos cineclubes parisienses.

Truffaut e Godard são os pa-tronos da nossa existência, são os

companheiros do mesmo caminho, são os faróis que nos iluminam e os arquitectos que nos alicerçam. Tru-ff aut e Godard, na nossa história, são 9 e 21 sessões, respectivamente, 14 e 20 títulos na nossa fi lmoteca, respectivamente também. Destes, e com a excepção da opção provoca-tória – que a semana santa assim o obrigou – de Je Vous Salue Marie, escolhemos obras de pendor policial. É noir bebido do americano nada tendo a ver com o americano. É pulsão narrativa a mover arrojos formais. É marginalidade e irreve-rência e loucura de personagens para além da vida. Como eles, como nós, cineclube resistente e perseverante há 55 anos.

E, para iniciar Maio, a remarca-ção de um fi lme cuja distribuidora

nos fi ntou em Março… O MÁGI-CO, a comandar uma programação

dedicada à… poesia, que por ela vamos!

Eh Companheiros, Aqui Estamos!

Exibir cinema nacional é difícil

cinema

Durante a primeira semana de Abril irá decorrer uma pequena obra de manutenção no Cine-Tea-tro António Pinheiro, pelo que não haverão sessões nos dias 3 e 7. Já no domingo, dia 10, estaremos de volta com o último fi lme de Danny Boyle (Trainsporting, Slumdog Millionnaire, entre outros).

Exibir cinema nacional é difícil, todos o sabemos e também conhece-mos as razões. Também conhecemos o sucesso do conceito “supermercado” em Portugal, no entanto, é raro ver um filme português programado num multiplex, os supermercados do cinema. Os únicos que continuam a demonstrar interesse em exibir cine-ma feito por cá são os cineclubes e ainda bem que assim seja. Todos nós

o sabemos, incluindo os realizadores e produtores.

Só que estamos a enfrentar cada vez mais difi culdades, ten-tando cumprir a nossa nobre mis-são. Aqui vem a última: cada vez mais, os fi lmes nacionais apenas são disponibilizados em formato digital. Por vezes, a distribuidora disponibiliza uma cópia dvd para exibição pública, outras vezes não... Os cineclubes podem estar bem equipados (pelo menos alguns têm esta sorte), mas o que não temos é verba para adquirirmos equipa-mento de projecção digital, que continua a ser bem caro (entre 50 e 60 mil euros).

Mais um caso triste é o fi lme BUDAPESTE, com co-produção

entre Hungria, Brasil e Portugal, de Walter Carvalho, que muitos de nós queremos ver e exibir. Apenas há cópias digitais para exibição, portanto, e por enquanto, fi camos

à espera de resposta sobre o nosso pedido para disponibilizarem uma cópia dvd ou blu-ray para exibi-ção pública em Tavira. A ver e a seguir...

Sessões RegularesCine-Teatro António Pinheiro | 21.30

10 ABR | 127 Hours (127 Horas), Danny Boyle, E.U.A./Reino Unido, 2010, 94’, M/16

14 ABR | Um Funeral à Chuva, Telmo Martins, Portugal, 2010, 129’, M/16

17 ABR | Toy Story 3 (versão original), Lee Unkrich, E.U.A., 2010, 103’, M/6

21 ABR | Du Levande (Tu, Que Vives), Roy Andersson, Suécia/Alemanha/França/Dinamarca/Noruega/Japão, 2007, 95’, M/12

23 ABR | Winter’s Bone (Despojos de Inverno), Debra Granik, E.U.A., 2010, 100’, M/12

28 ABR | Another Year (Um Ano Mais), Mike Leigh, Reino Unido, 2010, 129’, M/12

PROGRAMAÇÃOwww.cineclube-tavira.com

PROGRAMAÇÃOwww.cineclubefaro.com

Após duas sessões com entrada livre para duas selecções de curtas-metragens do Festival de Avan-ca’10, gentilmente cedidas pelo organizador deste Festival de reno-meada – O Cineclube de Avanca, o CCO regressa às exibições mais habituais neste mês de Abril.

Mais concretamente irá fazer um pequeno ciclo com dois fi lmes, dedicado ao Oriente, mercado nor-malmente marginal nas nossas sa-las de cinema, mas com um cinema quase sempre muito interessante, para além dos clichés do Animé ou das artes marciais.

No caso concreto é exibido, a abrir o ciclo, o fi lme Tóquio, uma

visão de três realizadores sobre esta imponente e muito sui generis ci-dade, ultimamente muito noticiada pelas questões nucleares devidas à catástrofe que ocorreu naquele país. São três visões diferentes onde nenhum dos realizadores é japonês mas, por isso, apresentam uma pers-pectiva singular num único fi lme.

Poesia é o título do segundo filme a exibir. Um filme de um realizador coreano – Chang-dong Lee – que tem no seu curriculum poucas, mas boas, longas-metra-gens, sempre com um lado humano e dramático, ao mesmo tempo que intenso e inspiracional, bem ao es-tilo oriental. Vencedor na edição

deste ano em Cannes, na categoria de melhor argumento, será, com certeza, juntamente com Tóquio,

um fi lme a não perder.Vico Ughetto

(Presidente da Direcção)

ABRIL

CICLO EH COMPANHEIROS,AQUI ESTAMOS!Sede ‒ 21H30 ‒ ENTRADA LIVRE

11 ABR | A Noiva Estava de Luto, François Truffaut, França, 1968, 107’

13 ABR | O Bando à parte, Jean-Luc Godard, França, 1964, 95’

15 ABR | Disparem sobre o Pianista, François Truffaut, França, 1960, 92’

18 ABR | Pedro, o Louco, Jean-Luc Godard, França/Itália, 1965, 110’

20 ABR | Finalmente, Domingo!, François Truffaut, França, 1983, 110’

22 ABR | Eu Vos Saúdo, Maria, Jean-Luc Godard, Suíça/França, 1985, 105’

MAIO

CICLO POESIA? POR ELA VAMOS!IPJ ‒ 10H30 e 21H30

2 MAI | O Mágico, Sylvain Chomet, Reino Unido/ França, 2010, 80’, M/6

Cineclube de Faro

Cineclube de Tavira

O Portugal de 1973 era um país já demasiado triste e cansado, à es-pera de algo que acontecesse.

Nos estádios de futebol, o Pantera Negra, que já dera o seu melhor, continuava exilado num país de que há muito o obrigaram a ser. Não podia sair da Luz, mas já começava a entrar no túnel da inevitável decadência.

A Diva, de tanto lhe doer a voz e a alma, incluía já no seu repertório, canções de vários géneros e línguas, que se desviavam da essência do seu fado, indirectamente afastando-se da forçada colagem ao destino do seu país. No entanto, essa perda de identidade criativa, é que a manti-nha ainda livre.

Na televisão, ainda a preto e branco, Nossa Senhora de Fátima continuava a proteger semestral-mente a nação de todos os males com a benção de um estado que continuava a chamar-se novo, ao fi m de 48 anos.

E… havia uma juventude, que tinha de tornar-se adulta por força das circunstâncias da guerra ultra-marina, da falta de estudos e de uma estimulante vida cultural, e de ter de arranjar um trabalho, pois que nesses anos os pais não ganha-vam o sufi ciente para se poderem manter os fi lhos no sonho etéreo da adolescência por muito tempo.

‘Trrrriiiiin…..trrrriiiiin….trrr-riiiiin….’ tocavam assim os telefo-nes num som grave, orgânico, ter-restre, subterrâneo e utilizavam-se para se dizerem coisas realmente importantes. Boas ou más. Por isso Augusto sentia um arrepio de cada vez que o ouvia. Tremia só de pen-sar, que lhe iam comunicar o dia e a hora de embarque para as colónias portuguesas do Ultramar. Ainda para mais agora que estava tão perto de completar os seus vinte anos de idade. O serviço militar obrigatório era a sua sombra mais negra. Não conseguia equacionar a possibili-dade de atingir a idade adulta sem chegar a realizar-se como homem. Que desespero e opressão sentia ao pensar que poderia ser mais um nas intermináveis listas de anónimos desaparecidos em combate que o seu irmão às vezes mencionava em conversas com os amigos.

Nunca mais esquecera a memo-rável noite que juntou no pavilhão de Cascais todos aqueles monstros sagrados do Jazz. Ficara deslumbra-do com a arte daqueles fabulosos músicos afro-americanos. Um fes-tival que em cartaz tinha nada mais nada menos que uma miríade de estrelas que incluía Ornette Cole-man, Dexter Gordon, Keith Jarrett, mas sobretudo Miles Davis, o gran-de inventor de estruturas sonoras cheias de modernidade. Aquela noite foi uma autêntica pedrada no charco movediço da sua exis-tência, mas não apenas em termos musicais. Tudo nele e à sua volta transbordava de emoções. Desde a

‘Hotel Abril’Pedro JubilotPremiado no Concurso Literário Francisco Guerreiro, de Pechão, em 2010

Continua na página 5

Ciclo Oriente

Cineclube de Olhão

Ciclo OrienteSala 2 do Ria Shopping | 21.30

5 ABR | Tóquio, Joon-ho Bong, Leos Carax, Michel Gondry, elenco: Ayako Fujitani, Ryo Kase, Ayumi Ito, 2008, 112’, Comédia, Drama, Fantástico, França, Japão, Coreia do Sul, Alema-nha, M/16

19 ABR | Poesia, Chang-dong Lee, elenco: Jeong-hie Yun, Nae-sang Ahn, Da-wit Lee, 2010, 112’, Drama, Coreia do Sul, M/12

PROGRAMAÇÃOwww.cineclubeolhao.comBilhetes a um e três euros para sócios e não sócios, respectivamente

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Há ideias assim, geniais, porque di-ferentes, porque desafi antes e porque, acima de tudo, propõem momentos únicos em espaços de memória para, mais tarde, recordar.

Imaginar a brisa do Atlântico, o rugir do mar de encontro às escarpas rochosas, num enquadramento histó-rico como o da Fortaleza de Sagres, e deixar-se levar pelas sonoridades da música e da leitura de poemas e excer-tos literários e pelo ritmado único dos staccato e fl uidos do ler e pelos allegros, andantes e pianos das melodias, parece uma proposta tentadora.

Adicionar a esta tentação o vigor ou o relaxamento de uma massagem taylor made, por entre aromas de incensos e óleos essenciais, propõe um idílio que poucos acreditam ser conciliável quando o mote para esta proposta ir-recusável é o património.

Mas é exactamente disso que se trata quando se fala da iniciativa que une o projecto Experiment’arte e a Direcção Regional de Cultura do Algarve, momentos idílicos e únicos vivenciados em espaços patrimoniais do Algarve.

Para o efeito foram escolhidas quatro localizações, a Fortaleza de Sagres [o evento realizou-se a 27 de Março], os Monumentos Megalíticos de Alcalar, a 18 de Abril, a Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe, a 23 de Abril, e a Villa Romana de Milreu, a 4 de Junho.

Uma visita a estes monumentos re-gionais signifi ca, nestas datas, usufruir do património regional com a possibi-lidade de ouvir lerem-lhe literatura em português, ao som de música nascida de um acordeão ou de instrumentos inusitados, ao mesmo tempo que pode usufruir de uma massagem.

A ideia, património e sentidos

A ideia base da iniciativa é promover a literatura portuguesa, esse é o âmago da acção do projecto Experiment’arte, a que se une sabiamente a vontade férrea da actual directora regional de Cultura, Dália Paulo, de dar ao património a sua verdadeira função social, revitalizando-o e dando-o a usufruir às pessoas.

Acresce-se às performances de Sónia Pereira (leitura) e Paulo Pires (música) a arte das mãos de Lúcia Guerreiro (terapeuta massagista), em palcos únicos, e nasce um conceito interdisciplinar cuja grande aposta é a de proporcionar uma vivência do pa-trimónio de forma inovadora e deixar uma marca indelével nos visitantes.

“Experimentar diversas sensações

enquanto se visita o património é uma das políticas que temos seguido e que assenta no entendimento de que o pa-trimónio só faz sentido se o integrar-mos na nossa vida quotidiana”, diz Dália Paulo, para quem a intenção base é a de fi delizar e criar novos pú-blicos para estes quatro monumen-tos, escolhidos por estarem abertos ao público e disponibilizarem todas as valência necessárias a uma visita de qualidade.

O nome da iniciativa nasce do con-ceito. Pedras [as dos monumentos] que falam, que ganham novas vozes e sons e que apelam a serem escuta-das e vistas, porque perscrutadas, de novo e de uma nova forma. A senda pelo caminho, o dos vários eventos por um turno e o da literatura e da história, por outro, porque como diz Sónia Pereira, “pensar o futuro e o presente exige saber quem somos e isso é muito mais do que os livros de

história nos podem dar”.Os sentidos são o foco das perfor-

mances. O apelo à audição, ao olfacto, à visão e ao tacto são a palavra de or-dem para quem deixar uma impressão para a memória, vivida dentro de um espaço de memória.

Os poemas e excertos literários, as músicas e as massagens foram pen-sados sob medida para cada monu-mento e para cada pessoa, para cada momento único.

Literatura contemporânea ou não, mas sempre de qualidade e desafi ante em si mesma, aromas secretos, massa-gens de ‘perder’ os sentidos e música em que os sons envolventes nos deixam ir nas asas dos tons são as armas da multidisciplinaridade para que todos os sentidos participem nesta aventura. Não, não se esqueceram do paladar, é que dar de comer à alma e ao corpo um pouco de tudo isto tem um sabor muito especial.

Um mundo fora do tempo

Transportar os visitantes para um tempo fora do tempo num mundo es-condido, que é deles porque se vivencia só no meio da multidão, e que é raro, porque o pensamento incentivado pelas palavras e pelos sons e em relaxe, pelas

massagens, é coisa que não passa a todos, todos os dias, é o desafi o que se faz.

Como diz Paulo Pires, “a dispo-nibilidade mental para interiorizar o património é assim criada por uma interdisciplinaridade que se prova a si mesma como frutuosa. Quando os ve-ículos para tal são a literatura, a música e as massagens estamos num encontro perfeito de vontades em prol de um fi m comum”.

O segredo, diz Lúcia Guerreiro, “está em ter um momento que foi pen-sado só para si” e a verdade é essa mes-mo, porque a massagem dada a cada visitante é pensada naquele momento para o próprio. A música e a leitura seguem o passo da massagem e o todo perfeito e harmónico é assim criado para cada um em exclusivo.

Depois de uma primeira parte pen-sada para todos e que faz o enquadra-mento ao monumento através da lite-ratura e da música, depois, o convite é viver uma experiência única.

Como confessou Dália Paulo ao Cultura.Sul “é fantástico estar em lu-gares carregados de história e juntar-lhe uma experiência carregada de contem-poraneidade”, “uma experiência quase perfeita”, conclui a directora regional de Cultura sobre a sua experiência na iniciativa decorrida em Sagres.

NA SENDA DAS PEDRAS FALANTES

Os novos sentidos do património•

panorâmica panorâmica

Cultura.Sul07.04.2011

A leitura, a música e as massagens num trabalho interdisciplinar no mínimo original

EXCERTOS DE UM SER4 a 12 ABR | Galeria de Arte Pintor Samora Barros (Albufeira)Através da pintura, Nelson Tei-xeira explora o universo do corpo humano.

O PRIMEIRO15 ABR | 21.30 |Centro Culturalde Lagos16 ABR | 21.30 |Teatro Municipalde PortimãoA ACTA apresenta o espectáculo “O Primeiro”, com texto de Israel Horovitz e encenação de Elisabete Martins.de

staque

Acordeão e percursão ao ritmo das mãos

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5Cultura.Sul07.04.2011

Ricardo Claro

Monumentos Megalíticos de Alcalar - Monumento Nacional do Neolítico fi nal/Calcolítico (3200-1200 a.C.) trata-se de um conjunto de templos funerários, edifi cados e usados ao longo de séculos. Cons-tituem uma necrópole relacionada com um vasto habitat situado na proximidade imediata dos túmulos, que foi o centro hegemónico do território ocidental do Algarve no 3º milénio a.C.. Nos arredores, loca-lizam-se grutas e criptas artifi cialmente escavadas na rocha (hipogeus), que, na mesma época, foram usadas como sepulcros colectivos.Situa-se na estrada entre a Penina e Casais.

Fortaleza de Sagres - A im-ponente fortifi cação de Sagres é o prolongamento humano do ro-chedo natural e foi durante séculos a principal praça de guerra de um sistema defensivo marítimo geo-estratégico, é hoje monumento nacional.A política da Expansão portuguesa nos séculos XV e XVI levou à fun-dação da Vila do Infante. Assim, Vila do Infante e Sagres confundem-se no desenrolar dos tempos.Integrando o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicen-tina, o Promontório de Sagres apresenta uma interessante biodiversi-dade faunística e fl orística e endemismos únicos que todos os visitantes podem observar.Situa-se em Sagres.

Villa Romana de Milreu - Mo-numento nacional, revela uma ocu-pação continuada desde o século I e até ao século XI. Terá sido habitada por famílias de elevado estatuto social e político.No século IV, foi erguido um edi-fício religioso ricamente decorado e ainda hoje conservado até ao ar-ranque das abóbadas. Cristianizado no século VI, o templo serviria também o culto no período islâmico e até ao século XI. Entre os séculos. XVI e XIX, e sobre a antiga casa romana, foi erguida uma casa rural.A riqueza desta villa rústica está patente no volume de achados arque-ológicos. Situa-se em Estoi, a oito quilómetros de Faro.

Ermida de Nª Senhora de Gua-dalupe - Monumento Nacional do Neolítico fi nal/Calcolítico (3200-1200 a.C.) trata-se de um conjunto de templos funerários, edifi cados e usados ao longo de séculos. Cons-tituem uma necrópole relacionada com um vasto habitat situado na proximidade imediata dos túmulos, que foi o centro hegemónico do território ocidental do Algarve no 3º milénio a.C.. Nos arredores, loca-lizam-se grutas e criptas artifi cialmente escavadas na rocha (hipogeus), que, na mesma época, foram usadas como sepulcros colectivos.Situa-se na estrada entre a Penina e Casais.

Os Monumentos:Na Sendadas Pedras Falantes, um projecto feito de gente:

O projecto e a ideia têm alma, mas mais do que isso têm alma de gente, três pessoas que são as mãos, a voz e os sons de uma iniciativa inovadora que a directora regional de Cultura, Dália Paulo, classifi ca rara e original, conheça um pouco mais sobre quem é quem a dar novos sentidos ao património regional:

As letras e a música:

Sónia Pereira e Paulo Pires têm forma-ção superior em Línguas e Literatu-ras Modernas (Estudos Portugueses) e especializações, respectivamente, nos campos da Promoção e Media-ção da Leitura e dos Estudos Musicais e Artísticos.São programadores e coordenadores/dinamizadores de acções e projectos de promoção da leitura em bibliotecas públicas (e noutros espaços de índole/vocação cultural), e, ao longo do seu percurso profi ssional, têm vindo a traba-lhar, em formatos diversos, com várias fi guras reconhecidas do panorama lite-rário e cultural português, como Eunice Muñoz, João Grosso, Nuno Júdice, Lídia Jorge, Gonçalo M. Tavares, valter hugo mãe, José António Furtado, Simone, Tozé Brito, Ângela Pinto, Diogo Dória, José Fanha, Jorge Reis-Sá, Maria do Céu Guerra, António Torrado, Álvaro Ma-galhães, José Mário Silva, Miguel Real, Daniel Sampaio, Mário Zambujal, Vera Mantero, entre muitos outros.Formam desde 2006 o projecto Experiment’arte, dedicado à promo-ção interdisciplinar da leitura junto dos públicos jovem e adulto.Em 2007 conceberam e dinamizaram o projecto “Letras ao Sul”, coordenado pela Direcção Regional de Cultura do Algarve.

As mãos:

Lúcia Guerreiro, convidada do ciclo “Na senda das pedras falantes”, é terapeuta, massagista, engenheira alimentar e possui uma pós-graduação em Saú-de, Nutrição e Exercício Físico, e um mestrado em Agricultura Sustentável. É docente universitária e formadora.Desde Janeiro de 2009 é gerente do Amazing Day Spa, em Silves, espaço onde corpo e mente se equilibram na busca de bem-estar e saúde.

imagem atemorizante da polícia de choque

que rodeava o recinto, passando pela dedicatória de Charlie Haden aos movimentos de libertação de Angola e Moçambique, ovacionada por uma audiência sedenta de mudanças e de apoios do exterior, até à resposta do público com a exibição de panos pin-tados com curtas frases apelando ao fi m da guerra colonial. A ousadia do músico valeu-lhe uma visita às instala-ções da PIDE na rua António Maria Cardoso. A efervescente assistência quase acabou espancada e sem es-pectáculo. Mas aí Augusto percebeu que não estava só. É certo que tinha mais inimigos invisíveis do que ami-gos visíveis, o que nem sempre é uma desvantagem, mas tudo aquilo que foi presenciando ao longo desses dias foi claramente importante para formar a sua personalidade como indivíduo. Desde então fi cou com a certeza de que a polícia já o havia referenciado como uma das regulares presenças nos festivais de música contra a corrente opressora do regime que continuava a ter a eterna aura do estadista mais discreto do mundo.

Decidiu-se finalmente a levan-tar o pesado auscultador do telefone mas descansou ao ouvir a voz do seu amigo Jorge. Sentiu-se reconfortado. Esta chamada era das boas. O que de melhor se podia arranjar por aqueles dias. Assim, um conjunto musical tão recentemente formado por quatro músicos de Lisboa que nem nome ainda tinha, vai abrilhantar a passa-gem de ano a um hotel do Algarve. A noite de Reveillon correu tão bem de animada que no dia seguinte acabam por ser convidados, e logo passando a contratados para banda residente da época baixa, isto é, até ao dia 31 de Maio. Nada mau naqueles difíceis tempos. Poderiam assim amealhar alguns escudos, que muito bem-vin-dos seriam para todos eles.

Embora os primeiros dias do novo ano da graça de 1974 tenham sido chuvosos, e depois também um pou-co frios, fustigados pelo vento norte – logo o céu se limpou dando lugar a belos e azuis dias. Dias de Algarve, como costumavam chamar àqueles dias amenos.

Janeiro fora já se notava que o dia tinha uma hora mais de sol, e Fe-vereiro denunciava o aumento das temperaturas mínimas e máximas no mercúrio dos termómetros expostos junto à porta da sala de refeições que dava acesso à esplanada. Daí a vista do alto hotel sobre a praia permitia-lhes admirar os navios que cruzavam o Oceano Atlântico em direcção ao Estreito de Gibraltar para entra-rem no Mar Mediterrâneo ou então navegando para ocidente. O olhar de Augusto dotava-se de um novo brilho ao imaginar-se a bordo dum qualquer barco que o levasse a cami-nho de França, de preferência, pois aí encontraria músicos e outros artistas seus conterrâneos por ali exilados, mas tanto lhe fazia desde que conse-guisse chegar a porto livre. Já tinha pensado que poderia tentar embarcar nos cais de Lisboa como passageiro clandestino, mas disseram-lhe que era muito arriscado porque as docas estavam cheias de bufos informadores da DGS.

O rapaz sentia-se feliz na com-panhia dos amigos mas por vezes mostrava-se bastante nervoso e im-paciente. Nos tempos livres jogam às cartas ou tentam conhecer turistas estrangeiras que lhes proporcionem novas experiências. E profi ssional-mente até têm um local de ensaio com bom material de som disponí-vel. Contudo, nos momentos em que fazem longos passeios pela praia, o seu semblante modifi ca-se, pois é aí que espera encontrar a mulher que enviada pelo irmão lhe trará infor-mações para o seu contacto para o salto para Espanha.

Tudo parece correr às mil maravi-lhas, quando no fi m do mês de Mar-ço são informados pelo gerente que ocorrera um problema nos bancos e não lhes podia pagar já. Mas só que não tinham nada a temer que o pa-trão era homem de palavra, para mais muito rico e muito importante. Ti-nham de ter paciência e esperar alguns dias. Estas coisas às vezes acontecem no mundo dos negócios. E não lhes faltaria nada como até ali, foi-lhes dito pelo senhor Ramos, que desde aí passaria a ser conhecido entre os músicos por ‘lambe-botas’.

Durante Abril, mesmo sem re-ceber há quase um mês, teimam em honrar a sua palavra, embora já a mui-to custo suportassem a monotonia que se começava a instalar naquela sua especial estadia numa unidade hoteleira que não se percebia estar à beira da falência. Os ‘standards’ de hotel, canções-êxito ao género romântico de Sinatra ou Nat King Cole, que o contrato indicava que repetissem noite após noite, revelavam o pouco conhecimento do ignorante gerente Ramos perante a mudança de gostos musicais dos seus clientes estrangeiros, e também dos portugue-ses. Estes pediam aos músicos para tocar Beatles, Stones, Shadows, ou mesmo Bob Dylan e Led Zeppelin. Os músicos acediam. Como já pouco tinham a perder não viam porque não ignorar esse ponto do acordo e era isso que ainda os conseguia animar a cada dia e noite que ali passavam. Tanto que numa dessas noites o me-tódico Ramos lhes perguntou que raio de série musical era aquela que agora lhes tinha dado para tocar há já alguns serões.

‘Nada de jeito, coisas que os clien-tes nos pedem, já se sabe como são os ingleses, têm gostos estranhos’, desculparam-se airosamente peran-te a falta de informação musical de-monstrada pelo ridículo homenzinho, que de dia para dia se mostrava mais preocupado com a situação do hotel. Então estava bem assim. Na verda-de ninguém se queixara. Já que os clientes queriam, isso era bom para o negócio, acabou por concordar o mesquinho Ramos.

Lá para o fi m do mês numa noite que estivera pouco animada, a banda recolheu-se mais cedo mas desanimada com a situação, terminada que estava a sua primeira e única série de temas da noite, pois todos os poucos clientes já se haviam retirado. Pouco habituados a dormir cedo ainda fi caram por ali estendidos a conversar e a ouvir rádio no quarto que os albergava a todos. A meio da tertúlia, ouve-se a canção portuguesa concorrente ao Festival Eurovisão da Canção desse ano.

imagem atemorizante

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Cultura.Sul07.04.2011 6

A cor é usada pelo ser humano há milénios. Cada cor tem a sua própria vida, vibração e signifi cado social, se-gundo o conhecimento “Feng Shui” pode até ser usada como tratamento de doenças humanas.

O Homem vê a cor através do seu aparelho visual e trata-a no seu enorme cérebro.

Nós humanos, possuímos um complexo sistema de reconhecimento e aferição das cores e desde muito cedo despertamos o interesse por elas,

reproduzir e entendê-las foi sempre um desafi o. Newton teve um papel fulcral neste vasto cenário e depois dele a ciência tem vindo a permitir a calibração da cor como nunca visto.

Porque é que necessitamos de ca-librar a cor, ou seja, calibrar os nossos equipamentos?

É porque nesta sociedade moder-na e Tecnocrática há cada vez mais uma vasta gama de equipamentos electrónicos e de vários fabricantes que têm como função representar ou trabalhar no mundo cromático, quer seja numa televisão, numa revista ou numa máquina fotográfi ca a cor está presente e a sua fi el representação de suporte para suporte pode variar.

O seu domínio é complicado e moroso e é uma verdadeira ciência.

Neste sentido, a ALFA - Asso-ciação Livre Fotógrafos do Algarve, decidiu criar um Workshop dedicado à Calibração da Cor em equipamen-tos utilizados no mundo da fotografi a a fi m de esclarecer os seus associados como podem estabelecer uma mais fi el ponte entre o que vemos e o que imprimimos, permitindo-lhes melho-rarem a sua plataforma de trabalho e

os seus resultados, reduzindo, entre outros, também as difracções e aber-rações cromáticas.

Elevando o conhecimento dos

amadores e profissionais da “Pra-ça Algarvia” no mundo da foto-graf ia, a ALFA está também a prestar o seu contributo positivo

como entidade que pretende ser a referência na área da fotografi a no Algarve.

Abraços e Boas Fotos

AGECAL elegeu novos órgãos sociais para o triénio 2011-2014

No dia 25 de Março, a AGE-CAL - Associação de Gestores Culturais do Algarve, elegeu em Assembleia Geral realizada em Faro novos órgãos sociais para o triénio 2011-2014.

A AGECAL é uma associação socioprofi ssional fundada em Abril de 2008, possui expressão regional e associados distribuídos por 13 dos 16 concelhos do Algarve.

São objectivos centrais contri-buir para a qualifi cação regional, dando maior ênfase à dimensão cultural do desenvolvimento do Algarve e do País, a formação e profi ssionalização dos gestores cul-turais com especial atenção para a integração dos mais jovens, a internacionalização da cultura portuguesa e a participação nos movimentos internacionais e estru-turas representativas que possam contribuir para políticas de paz, cooperação e respeito pelos direitos culturais dos povos.

Para além da colaboração com a Universidade do Algarve na es-truturação e apoio ao Mestrado em “Gestão Cultural”, a funcionar nos últimos dois anos lectivos, e da aceitação do convite paras par-ticipar no Conselho Económico e Social da UAlg, a AGECAL realizou seminários temáticos em

Faro (2008), Tavira (2009) e Lagos (2010) e dois Cursos de “Jorna-lismo de Cultura” (Loulé e Tavi-ra), certifi cados e com o apoio do CENJOR.

No plano internacional, a AGE-CAL integra a direcção da AIGC - Associação Ibérica de Gestores Culturais, criada com as congé-

neres espanholas da Andaluzia e Extremadura. Participou como associação co-organizadora no 1º Congresso Internacional de Gestão Cultural realizada em El Ejido - Almeria (Novembro de 2009). Nesse congresso, a AGECAL foi uma das entidades subscritoras do importante documento sobre

a criação de uma Organização Mundial de Gestores Culturais e para a elaboração da Carta Mun-dial da Gestão Cultural e dos Di-reitos Culturais.

Para o novo mandato, a AGE-CAL, com a questão da sede já estabilizada, pretende aprofundar a sua relação com as instituições e sectores económicos e sociais do Algarve e do País, conceber um Código Deontológico dos Gestores

Culturais, manter uma participa-ção activa e colaboração na forma-ção dos gestores culturais e outros profi ssionais da cultura.

A AGECAL mantém activo o site www.agecal.pt.

A AGECAL mantém há dois anos um protocolo com o semaná-rio “Postal do Algarve”, que garan-te a publicação mensal de artigos de opinião e informações sobre a gestão cultural do Algarve.

A Calibração da CorEspaço ALFA

Maia CoimbraPresidente da ALFA - Associação LivreFotógrafos do Algarvewww.alfa.pt

Espaço AGECAL

Os novos órgãos sociais:

Assembleia geral

Efectivos:António Rosa Mendes(Presidente)Catarina Oliveira (Vice-Presidente)Elena Moran (Secretária)

Suplentes:Rita ManteigasVeralisa BrandãoSwantje Seumer

Direcção

Efectivos:Jorge Queiroz (Presidente)Emanuel Sancho(Vice-Presidente)Marta Santos (Tesoureira)Rui Parreira (Vogal)Pedro Nascimento (Vogal)

Suplentes: Cristina Braga Luísa RicardoPedro BartilottiJorge RochaTela Leão

Conselho fi scal

Efectivos:Salomé Horta (Presidente)José Barradas (Secretário)Miguel Godinho (Vogal)

Suplentes:Manuela Palma TeixeiraIsabel Neto SoaresLuís Gordinho dos Santos

ALFA cria Workshop dedicado à Calibração da Cor

A AGECAL existe desde 2008

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7Cultura.Sul07.04.2011

palco

O auditório Municipal de Olhão recebe no próximo dia 29 de Abril, pelas 21.30, o espectáculo ABSEN-CE I, II, III, concebido e dirigido por José Laginha, composto por uma parte performativa, “não temos Pátria, temos barbatanas 011” (absence I), “a encomenda” (absence II), e uma instalação, “valsa lenta” (absence III). Para José Laginha, “ainda que pouco óbvia, existe uma ligação de comple-mentaridade entre os três momentos que compõem este espectáculo. Apesar de distintos e aparentemente antagó-nicos eles formam um todo. Uma frase projectada em valsa lenta (instalação de vídeo/luz/som), pode ter dado origem, despoletado a acção, a imagem, ou o movimento em não temos Pátria, temos barbatanas (que termina com a exibição de um excerto de “Jaime”), ou ter justifi cado a utilização de um determinado objecto em a encomenda. Do objecto à imagem, do movimento à acção, da personagem ao discurso, tudo no decurso deste trabalho tem um momento complementar”.

Sobre o trabalho, José Laginha revela ainda que, “mantendo o pro-cesso de criação que tenho vindo a desenvolver e a aplicar nas minhas últimas incursões na criação, tra-balhámos sobre uma estrutura que assenta num discurso fragmentado, que convida ao retorno e permite múltiplos reencontros. Nada é linear,

tudo desafi a o espectador a encontrar sentido no que aparentemente pode parecer solto e desconexo, suspenso e inacabado”.

José Laginha dedica este trabalho a José Ribeiro da Fonte, que lhe en-sinou que na dança cabe tudo, até o sentido cívico e político.

ABSENCE I, II, III DE JOSÉ LAGINHA

Performance e instalaçãono Auditório de Olhão

«Numa garagem, ao fi m da noite...por entre a madrugada e o crepúsculo, uma bela mulher a caminhar em di-recção ao seu carro... também lá estão três homens, assaltantes de banco que decidem que se querem divertir um pouco... mas estes são a menor das suas preocupações... algo mais se esconde na escuridão... algo bem pior!»

Este é o mote para a mais recente produção da Paradoxon Produções, uma curta metragem com realização de Hernâni Duarte Maria e Pedro Noel da Luz e argumento de Tiago Inácio.

O novo projecto desta produtora Algarvia conta com a participação especial do actor Philippe Leroux.

Segundo Hernâni Duarte Maria, realizador habituado a trabalhar em cinema independente de baixo orça-mento, a participação deste actor, com vasto trabalho reconhecido a nível de cinema, teatro e televisão, é uma mais-valia para esta nova produção.

As fi lmagens começam no fi nal de Abril, na cidade de Lagos.

PARADOXON PRODUÇÕES

A Paradoxon Produções surgiu no Al-garve, em Lagos, no ano de 1997, quando um conjunto de jovens entusiastas pelo cinema decidiram formar uma pequena estrutura, com o intuito de produzir e realizar curtas-metragens.A concepção deste projecto teve como seu principal impulsionador, o então jovem Hernâni Duarte Maria que pro-pôs a todos a elaboração de um pro-jecto de cinema para o Algarve, com o objectivo principal: a realização de curtas-metragens. Entre 1997 e 2000, a Paradoxon pas-sou por período mais experimentalista a nível de técnicas e estéticas de ima-gem e som.

“Dissimulados”, a primeira produção, nasce no âmbito do Maio Jovem, do IPJ, em 2000, a partir do tema Sexu-alidade na Juventude. A Paradoxon,

consegue obter o seu primeiro prémio neste concurso local de curtas-metra-gens, com uma realização de Hernâni Duarte Maria.A partir daí, a pequena produtora reali-zou e produziu várias curtas-metragens, todas elas com presença em festivais de vídeo e cinema em Portugal e no Estran-geiro. Para além disso tem contribuído para a divulgação do cinema indepen-dente.Com o apoio do Espaço Jovem em Lagos desenvolveu várias mostras de cinema e extensões de festivais onde tinha participado, desde uma extensão do Festival Internacional de Vídeo do Algarve, ao Videolab Coimbra, ao Fes-tival de Super 8mm, Faro Capital da Cultura, mostra de curtas-metragens locais. Todos estes eventos tiveram como pressuposto a divulgação do cinema de curta-metragem.

Prémios:- Manhã Triste 2009 - Melhor Produção

Bragacine 2010 ( adaptação de um conto de Urbano Tavares Rodrigues )- Insónia 2007 - Melhor Filme Nacional Festival Internacional de Cinema de Arouca 2008

CURTA METRAGEM: FAMINTO

Lagos é o palco para triller/terror•

FICHA TÉCNICA:

concepção e direcção: José Laginhacriação de texto/ interpretação: André E. Teodósioco-criadores/ intérpretes: Bruno Ale-xandre, José Laginha, Marlene Vilhe-na, Marta Lobato Faria, Pedro Ramos, Sérgio Matiascriadores música/intérpretes: Filipa Pais, Jacinto Lucas Pires, João Paulo Esteves da Silva, Mazgani, Vera Manteroconcepção visual/instalação:José Laginhadesenho de luz/projecções: Hugo Coelho, António Martins, José Laginhasom: Luís Guerreirodirecção de produção: Ana Rodrigues

SINOPSE

não temos Pátria, temos barbatanas.somos um país que não sabe, o hospital é aqui!de pijama rodopiamos num desnorte que não incomoda. o nosso espaço é de vidro e tem a turva densidade das águas. aqui não há esforço, porque este mata o passado e condiciona o futuro. não há sofrimento, porque não há direcção e há pouca razão.não há alegria, ela existiu pouco e é uma promessa para o “futuro”. não há som, não há esforço, não há so-frimento, não há alegria porque nos es-quecemos de querer melhor, há tudo isto mas dentro, mesclado com a ironia dos sobreviventes e a alegria dos loucos, dos atletas, dos sprinters que na partida avis-tam a meta.- a festa é já ali.… longe daqui, tudo isto parece um circo.

‘ FAMINTO ‘

Produção Paradoxon Produções 2011RealizaçãoHernâni Duarte Maria e Pedro Noel da LuzArgumentoTiago InácioElencoSofi a ReisHenrique PereiraPhlippe LerouxHugo Costa RamosInês TaroucaPatrícia de Abreu Castello BrancoMiguel Rufi no

Rodagem Locais :Início da Rodagem: Lagos - última semana de Abril (Locais de rodagem: Parque Esta-cionamento Futurlagos sito na Praça D’Armas e Luna Bar Tivoli Hotel Lagos)

Patrocinadores Ofi ciais até à presente data:Futurlagos (cedência do local da roda-gem: parque de estacionamento)Tivoli Hotel Lagos (alojamento e local de rodagem - bar)Palloram (cedência de guarda-roupa)

‘O Pau lo tem uma grande voz, não

acham?!’‘É! Mas gostava mais de o ouvir

nos Sheiks. Ainda cheguei a ensaiar com eles uns dias’.

‘Eu acho que não! Aquilo era uma imitação da música inglesa, ao jeito dos Beatles. Temos que defender a nossa música, a nossa língua’.

‘Pois, e a nossa pátria, as nossas colónias, o império…’, escarneceu o nervoso Augusto levantado o tom de voz.

‘Ei, amigos, calma, não estamos aqui para isso, mas para esquecer isso’.

‘Como é que eu me posso alhear disto Jorge, mais cedo ou mais tar-de, vêm buscar-me e vou lá bater’, continuou Augusto.

‘Vamos com calma pessoal, te-mos de manter este contrato até ao fi m. E já falta tão pouco. Deixem-se disso, amanhã é outro dia .‘

‘Talvez… o primeiro dia do resto da minha vida… estou aqui tão perto de Espanha, tenho um contacto para arranjar alguém que me passe pelo rio Guadiana. Eu quero ser músico… e poder ex-pressar a minha arte e as minhas ideias livremente. Não quero ser animador de presos em Peniche. Nunca mais me vou esquecer da primeira vez que fui a um concer-to. Eu estava lá na noite em que prenderam o Charlie Haden no festival de Cascais. Desculpa-me só te dizer isto agora, mas foi mais por causa disso que eu vim para cá… e claro porque somos amigos há tantos anos, mas Rui, por favor vê lá se consegues falar amanhã com o forreta do Ramos, e arrancar-lhe algum deste dinheiro’.

‘Calem-se lá por favor, deixem ouvir isto’, pediu o Mário. ‘Isto não é possível, isto…não é possível… o Zeca Afonso na Rádio Renascen-ça? Passa-se ali algo de estranho, isso é o «Grândola Vila Morena» malta, e eu que pensava que isto estava censurado’

‘Então rapazes, eu sou o vosso agente, arranjei-vos este empre-go, dou-vos comida, cama lavada e whisky todos os dias, e mesmo assim não se acalmam? Vamos mu-dar de assunto, sim?! ’

Nisto batem à porta do quarto.‘Porra! Não vos disse para se

calarem…Quem é?’ perguntou Rui.

Abriram a porta ao recepcionis-ta que trazia um recado para o Sr. Augusto Lacerda, uma chamada de Lisboa. Era o seu irmão que lhe queria dar uma palavrinha.

Quando Augusto volta do tele-fonema, deita-se na cama, calado mas sereno e parecia mais feliz do que quando saíra porta fora.

‘Está tudo bem?’ Querem saber, como se fossem um coro e não ins-trumentistas.

‘Sim. Está! Está tudo bem! Mas não desliguem a telefonia… des-culpa Rui, ter reagido assim, mas tenho andado muito tenso… eu não queria ir para a tropa, mas oxalá as coisas mudem esta noite…’

‘Porque é que estás a dizer isso?

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LUÍS DA CRUZ

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SAFRA – ANTOLOGIA POÉTICA16 ABR | 18.30 | Auditório da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de S. B. de MessinesManuel Neto dos Santos publica a sua antologia poética de 1988 a 2008, com prefácio de António Cândido Franco.

EXPOSIÇÃO DE VITOR DO Ó4 a 29 ABR | Casa da Juventudede OlhãoO Corredor das Artes da Casa da Juventude de Olhão revela mais um jovem talento de Olhão, desta vez na área da fotografi a.de

staque

política política Henrique Dias Freire

Para Rui André, presidente da Câmara de Monchique, a falta de espaços físi-cos não impede a produção de cultura. Ela vai fl uindo e acontecendo mesmo sem espaços culturais como auditórios ou cinemas.O concelho que começou a ter uma programação cultural regular vai agora avançar para projectos únicos como grande aposta diferenciadora. A propósito do Allgarve, afi rma que a política cultural do Algarve está ao contrário…

CULTURA.SUL – O seu percur-so pessoal tem infl uência no modo como encara as questões cultu-rais?Rui André – Tive um percurso pes-soal e profi ssional muito ligado às ar-tes. O meu contexto familiar é muito artístico. A minha mulher é música e professora de música e eu, durante muitos anos, fi z pintura, fotografi a e escultura. Para mim, a cultura não é um mero apêndice de qualquer programa polí-tico ou eleitoral, é uma parte da iden-tidade das pessoas e muito importante no meu dia-a-dia.

C.S – Porquê este interesse pela cultura?RA – A cultura é uma coisa que se cultiva e, apesar de Monchique ser uma zona serrana, ela acaba por ser mais dinamizada do que nas zonas do litoral.Temos perto de mil estrangeiros que têm uma sensibilidade acima da mé-dia. Escolheram Monchique para viver por ser uma zona com vários tipos de património. O nosso património imaterial é fabuloso. Tem um passa-do rural que representa uma riqueza enorme, com uma série de conheci-mentos, de saber fazer, de ofícios e tradições.Temos um património religioso muito interessante. Ainda se continua a cele-brar a Páscoa como há cem anos atrás. No ano passado, a Câmara fez uma aposta clara de tornar este período um período de celebração da fé das pessoas de Monchique e um factor turístico. Há muita gente que procura destinos culturais como destinos de férias. Este mercado tem vindo a aumentar de ano para ano e Monchique tem feito uma aposta clara nesse sentido, não só na Páscoa mas durante o ano todo.

C.S – A arte assume especial inte-resse para as pessoas?RA – A arte é, para muitas pessoas, uma peça importante no seu dia-a-dia. Pessoas para quem um concerto, uma exposiçao, uma peça de teatro é um alimento para a sua alma e melhoria da sua qualidade de vida. Os autarcas por vezes esquecem essa parte importante nas suas políticas. Em Monchique, isto assume especial importância pelo número crescente de pessoas que dá atenção a estes temas mas também porque, em termos tu-rísticos, Monchique deve-se afi rmar como um destino cultural muito in-teressante.

Monchique quer ser “Cidade da Arte”

C.S – Que passos estão a ser toma-dos nesse sentido?RA – Estamos a desenvolver contactos para que Monchique seja a primeira European Art City (Cidade Europeia da Arte) no país. Esta é uma lista de cidades na Europa que têm um cuida-do especial com a cultura e com algum tipo de estruturas que são divulgadas a nível europeu. Há um tipo de turista muito interessante, que faz questão de visitar todas ass cidades europeias desta lista. Queremos afi rmar Monchique como um destino cultural.

C.S – Que medidas estão a ser to-madas?RA – Quando cheguei à Câmara ha-via poucas actividades. Quero que a cultura tenha futuro, que as pessoas ganhem hábitos e para isso tem de haver uma programação permanente. Desde Agosto que estamos a fazer uma agenda cultural, que não exis-tia, para que as pessoas se habituem a saber o que vai acontecer e quando vai acontecer.

C.S – O que é que está a ser feito na Páscoa?RA – Estamos a apostar num conceito novo, com um simpósio de escultura em cera. Investigando os antepassados, descobrimos que muitos espanhóis se vieram fi xar em Monchique na altura da Expansão Marítima e se dedica-vam à exploração de mel, havendo por isso uma grande produção de cera no concelho. Essa cera era vendida para a betumagem dos navios e imperme-

abilização das velas. Por isso achei importante que na Páscoa, em que a religiosidade assume a questão do mistério, das velas e da cera, organizar este simpósio, que este ano vai ter a sua segunda edição. É um simpósio internacional com cinco escultores, um de cada país, que durante 10 a 12 dias desenvolvem um trabalho sobre um tema. No ano passado, o tema foi a Páscoa e este ano será a Liberdade, porque o dia 25 de Abril será muito próximo da Páscoa.

Allgarve tem pouco retorno

C.S – O que pensa do Allgarve?RA – No caso do Allgarve, o retorno é muito pouco e muitas vezes mal fei-to. No Verão passado tivemos alguns eventos que foram um erro. Os sítios foram mal escolhidos, houve concertos que não tiveram praticamente público nenhum, como o que decorreu em Alcoutim. O turismo tem de trabalhar muito de perto com as instituições locais, as autarquias e as necessidades de cada concelho.

C.S – Como é que isto pode ser feito?Temos também de conhecer o turista que nos procura. O último estudo que foi feito refere que o turista que vem para o Algarve tem como uma das principais razões da vinda a gastrono-mia. Curiosamente, só no fi m da lista é que vêm os grandes eventos musicais, que são onde tem sido feito o maior investimento. A política cultural do Algarve está ao contrário. Se calhar, onde temos esse grande potencial não é gasto nem 1% daquilo que é gas-to nos grandes eventos, nos grandes concertos, de que muitas vezes resulta muito pouco.

C.S – E o que é que está a ser feito em Monchique?RA – Nem sequer é preciso um grande investimento. Tinhamos uma galeria, que estava fechada e era uma dor de cabeça cada vez que se tinha de fazer uma exposição. Tinha de se pedir à Câmara, que emprestava o espaço, e a própria pessoa é que abria a exposição. Fiz um protocolo com uma associação local com o objectivo de que a galeria

municipal tivesse uma programação regular com uma exposição diferente todos os meses. Isso tem acontecido, de há um ano a esta parte, sendo uma surpresa para a população e para quem nos visita.

Monchique vai ter primeira Artoteca do país

C.S – O concelho precisa de mais equipamentos culturais?RA – Pretendemos criar equipamen-tos culturais para ampliar esta oferta. O espaço da Casa do Povo carece de obras há muitos anos e não temos um espaço para um concerto, um cinema ou um teatro de mais qualidade. Queremos, ainda este ano, realizar obras na Casa do Povo para criar um espaço onde estes acontecimentos pos-sam ter lugar. Queremos criar uma espécie de mini-auditório. Também queremos criar uma Artoteca, uma espécie de galeria e biblioteca onde as pessoas podem levar para casa, em vez de livros, uma peça de arte, uma pintura, uma escultura, uma serigrafi a. Será a primeira Artoteca do país.

ENTREVISTA COM RUI ANDRÉ, PRESIDENTE DA CÂMARA DE MONCHIQUE

Uma aposta que vai passarpor projectos inovadores

Rui André quer criar equipamentos culturais para ampliar a oferta

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9Cultura.Sul07.04.2011

Neste número de Abril não podia deixar de pensar no dia 25. Numa época conturbada como a que agora passamos, trauteio a canção de Sérgio Godinho «Só há liberdade a sério quando houver/a paz, o pão/habitação/saúde, educação» e apetece-me falar da História da Guerra do Peloponeso, de Tucídides, cuja primeira tradução portuguesa, directamente do grego, foi publicada há poucos meses pela Fundação Calouste Gulbenkian.

Este livro, pela sua actualidade, faz parte dos programas de ciência política das mais prestigiadas universidades do mundo ocidental.

Tucídides foi um historiador grego que viveu no século V a.C. e escre-veu sobre a guerra que opôs Atenas a Esparta durante 27 anos (de 431 a.C. a 404 a.C.), levando à derrota dos Atenienses e ao fi m da democracia. O seu texto vivo, enérgico e cheio de ensinamentos sobre a natureza huma-na, leva-nos a concluir que, passados 25 séculos, a essência do homem não mudou: cometemos os mesmos erros, somos assolados pelas mesmas paixões, alegrias e tristezas. E muitas das pre-ocupações são as mesmas. Mudemos um pouco o cenário e reconhecemos cenas do passado e da actualidade.

Pena de morte

Atenas, 427 a.C.. Já se passaram qua-tro anos de guerra entre aquelas duas cidades e respectivos aliados. Os cida-dãos estão tão furiosos com a ousadia da cidade de Mitilene, na ilha de Lesbos, de se ter revoltado contra Atenas, que decidem mandar matar todos os homens e escravizar as mulheres e as crianças. No dia seguinte arrependem-se da decisão tomada, pois acham-na «monstruosa e cruel, ao mandarem destruir uma cidade inteira em vez dos culpados» e voltam a debater o assunto. Um dos generais mais infl uentes (e também «o mais violento dos cidadãos»), Cléon, insiste que a me-dida tomada está correcta, pois deve-se fazer de Mitilene um exemplo, para que ninguém pense que pode trair Atenas. Contudo, o general Diódoto pensa o contrário, baseado no conhecimento que tem da natureza humana. Ao falar sobre a inutilidade da pena de morte, vemos como as suas palavras são tão actuais:

«É provável que antigamente as pe-nas fossem mais suaves para os grandes crimes, mas como continuavam a ser cometidos, a maior parte era punida pela morte. Mesmo assim, os crimes continuavam da mesma forma. Por con-sequência, ou se encontra um horror mais terrível do que a morte, ou esta em nada evita o crime».

Pobreza gera violência

E continua, enunciando aquilo que todos sabemos, mas pouco ou nada fi -zemos para alterar a situação: há 2500

anos, este general ateniense afi rmava «É a necessidade ligada à pobreza que leva a humanidade à violência». Portanto, enquanto existirem as condições que geram os confl itos, não adianta condenar à morte, pois, conclui, «é impossível e sinal de grande inocência que haja quem pense que a natureza humana, quando está empenhada cegamente em qual-quer empreendimento, dele se afaste, seja pela força da lei, ou por qualquer outra ameaça».

Muito se pode refl ectir sobre a demo-cracia neste livro. Seleccionei um excerto de um discurso que um «cabecilha do povo» de Siracusa faz à população: «de-mocracia signifi ca todo o povo, enquanto oligarquia signifi ca apenas uma parte; depois, muito embora os ricos sejam os melhores guardas das fortunas, são os ju-diciosos que dão os melhores conselhos, mas para decidir uma disputa depois de ter ouvido os assuntos a discutir, o povo é o melhor. E em democracia, todos estes, considerados em parte ou em conjunto, têm privilégios iguais».

Para terminar, nesta era tecnológica, em que o factor humano parece perder relevância, as palavras do general Ní-cias: «As cidades são os homens e não as muralhas, nem os navios vazios de homens!»

A tradução é de Raul Miguel Rosado Fernandos e Maria Gabriela Palma Granwehr. Quem é ele? Pro-fessor catedrático jubilado, da área do Grego, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Lembram-se de um mediático e polémico presidente

da Confederação dos Agricultores Portugueses? É ele. Recordam-se da cena do eurodeputado português que agrediu um eurodeputado dinamar-quês, por se ter sentido atacado na sua honra? É ele. Este homem, que

publicou em 2006 as suas Memórias de um rústico erudito, afi rmou, há bem pouco tempo, num programa de te-levisão, que “as classes que não lêem os clássicos fi cam mais burras”. Sem papas na língua. É ele.

DA MINHA BIBLIOTECA

Muito mais do que uma guerra•

livro

Adriana NogueiraClassicistaProfessora da Universidade do Algarve

A Escola Secundária Pinheiro e Rosa, em Faro, tem um clube de tea-tro dirigido há 15 anos por Ana Cris-tina Oliveira, docente de Filosofi a. Para celebrar a data, vai ser lançado um livro, no próximo dia 9 de Abril, pelas 18 horas, no Teatro Lethes.

Tive acesso a uma versão ainda por acabar e gostei do que li. Ana Oliveira faz um relatório do trabalho que desenvolveu com os alunos ao longo de 28 produções e apresenta um grande número de peças que escreveu. Este pareceu-me o aspecto mais interessante, não só pela varie-dade de temas, que, por um lado, interagem com diversas disciplinas curriculares do ensino secundário e, por outro, abordam temáticas proble-máticas para os adolescentes e jovens adultos, como as relações sexuais, o uso de preservativos, as bebedeiras, os desencontros amorosos, a droga, a orientação sexual, a relação com os pais, etc.

As peças primam pelo cuidado com a adequação da linguagem ao tema e ambiente escolhido. Assim, as personagens tanto usam lingua-gem popular, como se expressam

com uma linguagem elevada ou com a informalidade dos jovens da actualidade, tanto podem ser mais prosaicas como mais grandíloquas, mais directas ou mais subtis, po-dem inspirar-se em personagens da literatura ou serem refl exos da vida quotidiana.

Um trabalho extracurricular, apoiado pela direcção de uma escola que demonstra uma visão esclarecida do que pode enriquecer a formação de um jovem.

Parabéns à criadora do Tapete Mágico, a todos quantos por ele pas-saram e à escola que o acolheu.

Não é de um livro que trata, mas de um facto já raro neste país e que demonstra clareza de espírito por parte dos dirigentes da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes, em Porti-mão.

É sabido que Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook (que tem uma fortuna de muitos zeros à direita), es-tudou Latim e Grego, reconhece a importância dos estudos clássicos e cita publicamente textos nestas línguas. No mesmo Facebook, alguns alunos da

referida escola (que está de parabéns, pois mostrou ser um estabelecimento de ensino exemplar, abrindo este ano lectivo uma turma de Grego com o nú-mero fantástico de 20 alunos), criaram mais um grupo, onde apresentam «10 razões para aprender Grego»:

1 - A Grécia Antiga foi a civilização-berço de todo o Ocidente.

2 - Contactar com a língua dos gran-des fi lósofos.

3 - Conhecer a fundo a mitologia grega.

4 - Aumentar a cultura geral.5 - Descobrir a permanência da cul-

tura grega na atualidade, no cinema e na internet.

6 - Aprofundar os conhecimentos de português (origem das palavras, história das línguas, na Europa).

7 - Relacionar a língua grega com o vocabulário de várias áreas cientí-ficas (biologia, química, medicina, astronomia...).

8 - Conhecer as palavras básicas do grego moderno.

9 - Iniciar uma nova língua permite adquirir, facilmente, mais competências linguísticas.

10 - Aperfeiçoar a expressão escrita, em português, e a capacidade de racio-cínio.

Com jovens assim, o país tem futuro.

Porquê esta noite? Quem é que te li-

gou? O que é que se está a passar, Augusto?

‘…bem, é que hoje faço anos e o meu irmão mais velho, que estava de serviço no quartel, fez questão de ser o primeiro a dar os parabéns ao benjamim da família’.

Aí os músicos entoaram a sua versão da canção mais ouvida em todo o mundo. Esse ‘Parabéns a Você’ só foi silenciado quando se ouviu a voz colocada de Joaquim Furtado que ao microfone do Rádio Clube Português anunciava:

“Aqui posto de comando do Movimento das Forças Armadas, que desencadearam esta madrugada uma série de acções com vista à libertação do país do regime que há longo tempo o domina”.

Passam a noite a beber whisky de ouvidos colados à telefonia até de manhã. Depois descem à recep-ção para o pequeno-almoço e aí, a caixinha que mudou o mundo passa a sê-lo realmente. A monótona e desinteressante RTP, terá tido nesse dia a maior audiência de sempre em Portugal, superando de longe a da-quela noite em que Neil Armstrong pisou a lua. Lisboa, é então o centro do mundo, por uma vez, nesse dia. Um grupo de militares portugue-ses tomou o poder, sem derramar sangue. E isso é mesmo História. Mas os músicos não podem, não devem, e concluem que essa não é a melhor hora de regressar a Lisboa. Estão eufóricos e querem celebrar. Inspirados pelos acontecimentos to-mam conta do palco da sala de baile do hotel e começam a tocar ainda a meio da tarde, fora do habitual horário de trabalho. Tocam o que bem lhes apetece mas sobretudo muita música portuguesa pela pri-meira vez. E assim vão tocando pela tarde fora, enquanto a revolução se começa a confi rmar. Os hóspedes, que estão de regresso ao hotel e aos seus quartos são surpreendidos pelo ambiente festivo e vão fi cando por ali a ouvi-los em silêncio.

Ao início da noite é levado do quartel do Largo do Carmo, um tal chamado de professor Marcelo Caetano, que na sua qualidade de presidente do conselho de ministros do estado português tinha a mania de chamar Conversas em Família a monólogos para a câmara de te-levisão, e a quem inclusivamente fora atribuída descabidamente uma primavera com o seu nome. Dada a circunstância, muito indignado com o rumo dos acontecimentos, o miserável gerente Ramos informa que vai abandonar o hotel dizen-do que o país vai cair numa anar-quia. Comunica aos empregados que agora os revoltosos comunistas vão tomar conta dos bancos e não lhes pode pagar nem mais um tos-tão, a ninguém mesmo, nem aos músicos da capital, pois que o dono daquele e de outros hotéis, já se foi embora para o Brasil. Ninguém por ali se parece importar muito com o discurso do execrável Ramos. Mas já que era assim, então o bar, a gar-rafeira e a cozinha passam a estar abertos a todos. São agora posse

Porquê esta noite?

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APONTAMENTOS: DUAS ESCOLAS EXEMPLARES•Clube de TeatroTapete Mágico

Grego em Portimão

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Cultura.Sul07.04.2011 10

Embora tal nem sempre seja reco-nhecido, tem sido por iniciativa estatal que o património histórico e artístico do Algarve tem vindo a ser sistema-ticamente inquirido desde a segunda metade do século XIX.

Foi por incumbência do governo da monarquia que Estácio da Veiga preparou as duas folhas da Carta Ar-cheologica do Algarve à escala 1:200000, em 1883 (Tempos Pré-históricos) e em 1889 (Tempos Históricos), e a sua correspondente descrição nos vários volumes das Antiguidades Monumen-tais do Algarve. Essas obras fornece-ram, desde logo, um apreciável elenco de sítios arqueológicos que estaria na base dos inventários regionais sistema-tizados do património arqueológico efectuados até praticamente aos fi nais do século XX.

Com efeito, os dois volumes da Ar-queologia Romana do Algarve de Maria Luísa Santos, publicados em 1971 e 1972 e que contêm um amplo inventá-rio de sítios romanos, baseiam-se nos dados de Estácio da Veiga, bisavô da autora. E quando, em 1988, Jorge de Alarcão publica o seu levantamento de sítios romanos em Portugal, as-sente em grande parte em trabalhos de seminário executados pelos seus alunos e por si orientados no Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra, basicamente repete muitos dos dados coligidos por Maria Luísa Santos. Além disso, pode-se dizer que são também os dados que Estácio da Veiga reuniu por incumbência do Estado que subjazem à sistematização dos testemunhos megalíticos algar-vios, concretizada no corpus preparado pelos alemães Vera e Georg Leisner e editado em 1943, 1959 e 1965 nos volumes de Die Megalithgräber der Iberischen Halbinsel.

Em 1977 a então Direcção-Geral do Planeamento Urbanístico retomou um programa de estudos básicos sobre os bens culturais imóveis do Algarve que, entre outros temas, incluíam a Arqueologia, a História Urbana e a Sistematização e Classifi cação da Pai-sagem Urbana, procurando organizar a informação acerca das preexistências de origem socio-histórica que pudes-sem infl uir nas opções de ordenamento urbanístico e do território. Na área disciplinar da Arqueologia foi então constituído um grupo de trabalho especializado para o «Levantamento Arqueológico para o Planeamento Ur-banístico», coordenado por D. Fernan-do de Almeida, professor catedrático jubilado de Arqueologia da Universi-dade de Lisboa (e, após o falecimento deste, em 1979, pelo seu antigo assis-

tente, José Luís de Matos). Até 1981, data em que os trabalhos do LAPU foram interrompidos, haviam sido reunidas cerca de 900 fi chas corres-pondentes ao Algarve. Paralelamente, o Gabinete de Planeamento do Al-garve (GAPA), antecessor da CCRA, fi nanciou em larga medida e apoiou institucionalmente o projecto Carta Arqueológica do Algarve – CAALG, um trabalho realizado pela Unidade de Arqueologia do Centro de História da Universidade de Lisboa (Uniarq), que se concentrou, na prática, no Alto Algarve Oriental. Finalmente, criado em 1979, o então Instituto Português do Património Cultural, constituiu um serviço de documentação e infor-mação arqueológica no âmbito do seu Departamento de Arqueologia e, entre 1986 e 1988, a Delegação de Faro da Secretaria de Estado da Cultura promoveu o Levantamento Arqueoló-gico-Bibliográfi co do Algarve, editando em 1988 um inestimável repositório de referências textuais publicadas so-bre os sítios arqueológicos algarvios - uma obra, preparada sob a orienta-ção de Mário e Rosa Varela Gomes, que beneficiou de uma colaboração com o IPPC e do trabalho entretanto

desenvolvido pelo seu Departamento de Arqueologia. E, a partir dos fi nais dos anos Oitenta, por um lado numa iniciativa da Delegação Regional do Sul da Secretaria de Estado da Cultura e, por outro, numa parceria entre o Insti-tuto Português do Património Cultural e a Direcção-Geral de Ordenamento do Território, começam a publicar-se cartografi as do património histórico e arqueológico dos Municípios algarvios. As cartas resultam, no essencial, da transposição sistemática para uma base cartográfi ca (Carta Militar de Portugal à escala 1/25.000) dos dados compila-dos a partir da bibliografi a.

Em 1995, a criação do Instituto Português de Arqueologia (desde 2007 integrado no IGESPAR) con-tribuiu positivamente para a sistema-tização desses dados e para a melhoria da cartografi a arqueológica com a aplicação do sistema de informação e gestão arqueológica designado como Endovélico, anteriormente criado no âmbito do então IPPAR. A sua base de dados georreferenciada aumen-tou a qualidade da informação e, si-multaneamente, o número de sítios patrimoniais conhecidos, incluindo os locais de achados do riquíssimo

património cultural submerso nas águas frente às costas do Algarve. Desenvolvido para prossecução das atribuições da tutela do património arqueológico, e embora o seu uso assíduo permita facilmente verifi car as limitações deste sistema de infor-mação, com uma cartografi a baseada substancialmente nas informações retiradas da bibliografi a, não confi r-madas no terreno e, por isso, pouco fi áveis, o Endovélico passou a assu-mir um papel fundamental enquanto instrumento não só de planeamento e administração da actividade ar-queológica mas também de apoio à pesquisa.

Já o inventário do património artís-tico algarvio revela um panorama mais modesto. A parte relativa ao Algarve do Inventário Artístico de Portugal pro-movido pala Academia Nacional de Belas-Artes, de que esteve incumbi-do o professor Pinheiro e Rosa, não foi jamais publicada. Mas os imóveis históricos classificados dispõem de dois inventários realizados por inicia-tiva da administração pública, cujas bases de dados estão disponíveis em linha, nos sítios de internet do IHRU e do IGESPAR, respectivamente. E,

mais uma vez, foi por iniciativa estatal, através da então Delegação Regional da Secretaria de Estado da Cultura, que o património integrado da quase totalidade dos edifícios religiosos al-garvios – retábulos e imaginária – foi sistematicamente levantado e publicado por Francisco Lameira, que a este tema tem posteriormente vindo a dedicar numerosos estudos.

Constituindo uma competência le-gal da Direcção Regional de Cultura do Algarve «apoiar e colaborar na in-ventariação sistemática e actualizada dos bens que integram o património arquitectónico e arqueológico» [Decre-to Regulamentar n.º 34/2007 de 29 de Março], bem como «colaborar na actu-alização do inventário e do cadastro dos bens imóveis classifi cados ou em vias de classifi cação» [Portaria n.o 373/2007 de 30 de Março], é esta política patri-monial de registar para conhecer que se tem procurado incentivar, ciente de que é a sistemática inventariação dos bens culturais que está na base das opções da salvaguarda e do conhecimento, valorização e divulgação da herança cultural da região.

Direcção Regional de Cultura do Algarve

Só se ama aquilo que se conhece

Menir pré-histórico em Vale Fuzeiros, Silves

Espaço Cultura

ARTÊXTIL 20114 ABR | Vila Real de Stº António14 intervenções têxteis produzidas por artistas plásticos, em exibição no es-paço público da cidade.

“(H)à Pincelada” 7 ABR | JUN |Museu Municipalde Tavira – Palácio da GaleriaCurso de iniciação à pintura acrílica, sob a orientação da artista plástica Pa-trícia Gonçalves.

destaque

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Lontra Bernardina avistada nas Fontes de Estombar

Espaço Educação

No passado dia 18 de Março, mais de 600 alunos pertencentes ao Agru-pamento Padre Martins de Oliveira, tinham agendado uma jornada no Sítio das Fontes de Estombar, na expectativa de aí se avistarem com a famosa Lontra Bernardina.

No entanto, mesmo na véspera, através do seu site em www.lontra-bernardina.blogspot.com, Bernardi-na invocou difi culdades de agenda e cancelou a aparição. Em alternativa, os seus fãs reorganizaram-se e resol-veram receber os seus colegas mais novos das escolas das redondezas nos vários espaços da Escola Jacinto Cor-reia para lhes dar conta das aventuras daquela bizarática criatura.

Por entre panelas, caldeirões, extractos de ervas muitas e algas da baixa-mar, os ensinamentos da química saltaram para cima das im-provisadas bancas para tentar recriar à vista de todos as poções mágicas com que a Lontra sonhava criar asas e voar.

Contos do Mago

A par de muitas outras, a odis-seia da Lontra Bernardina faz par-te dos Contos do Mago, um livro editado em 2009 pela Direcção Regional de Educação do Algarve (DREAlg), da autoria da professora Helena Tapadinhas. Os contos do livro constituem o fi o condutor de uma estratégia educativa que pro-cura alternativas pedagógicas para promover nos alunos das escolas algarvias a compreensão dos con-ceitos mais importantes na aborda-gem da questão ambiental.

A estratégia não é de agora. Ela

constitui a espinha dorsal do PRE-AA – Programa Regional de Edu-cação Ambiental pela Arte, uma iniciativa da DREAlg que tem vindo a ser continuamente imple-mentada na região desde 1997.

Os Contos do Mago (www.contosdomago.com) são o 5º ciclo temático deste projecto regional. Envolve uma equipa de coorde-

nação de 4 técnicos, 47 formado-res, e cerca de 600 professores e 20 mil alunos. Abrange a maioria dos agrupamentos do Algarve e conta com a colaboração de um vasto leque regional de entidades,

públicas e privadas. Antes, outros ciclos houve, como os Guardiões da Água e a Operação Lágrimas Negras.

Operação Lágrimas Negras

Os promotores do PREAA usam o imaginário criador e a expressão artística como “cavalo de Tróia” para o debate de questões ambientais tão pertinentes quanto a conservação das zonas húmidas, a gestão do freático ou a defesa de marés negras. Um dos seus propósitos tem sido de extravasar a escola, levando, através dela, estas questões até às comunidades em que se inserem.

No próximo dia 11 de Maio, por exemplo, a DREAlg irá assinalar no Farol da Ponta do Altar, em Ferragudo, o 11º aniversário da Operação Lágri-mas Negras. Nesse dia, alunos de todo o Algarve saíram à rua nas suas loca-lidades vestindo de negro em sinal de alerta para o risco de uma maré negra na costa algarvia. Simultaneamente, Daniela Luz, então aluna do 3º ciclo da Escola Jacinto Correia, entregava a Sua Exa. o presidente da Assembleia da República uma petição promovida por todas as escolas da região e que congregou 33 mil assinaturas.

O objecto da petição consistia exac-tamente no afastamento dos corre-dores marítimos ao largo de Sagres e na instalação de um sistema de vigi-lância costeira. Ambos os objectivos foram atingidos. As torres de controlo VTS, como a instalada na Ponta do Altar, simbolizam o sucesso de outra das premissas centrais do PREAA: uma educação para o exercício de uma cidadania activa.

Helena TapadinhasCoordenadora da DREALgPrograma Regional de EducaçãoAmbiental pela Arte (PREAA)

FOTO: DN

Alunos do segundo ciclo iniciam os colegas mais novos nos mistérios químicos das “poções mágicas”. A criação de laços tutorais entre os diferentes níveis etários presen-tes na escola é um dos propósitos do PREAA

A Operação Lágrimas Negras levou às ruas algarvias mais de 20 mil alunos de todos os concelhos da região

de todos. Dos hóspe-des, dos trabalhadores

e também dos seus convidados. As bebidas alcoólicas disponíveis no bar atenuam a já por si só inebriante felicidade natural. O hotel é ocu-pado pelo povo em festa. São três dias e três noites, de uma alegria imensa para compensar não de um carnaval atrasado de dois meses, mas já de muitos anos. De tantos anos de tristeza.

Os hóspedes maioritariamente estrangeiros não percebem nada do que se está a passar naquele momento, ali naquela bonita e soalheira região de clima tempe-rado às portas do Mediterrâneo, nessa ofuscante primavera, nem muito menos naquele pacato país de brandos costumes à beira mar plantado. Ao princípio fi cam um pouco apreensivos e perguntam: ‘What the hell is going on here? A revolution? …What kind of re-volution? Cada um tenta uma ex-plicação no melhor inglês possível. ‘Freedom’, ‘Power to the people’. ‘Death to the fascists!’ Como se de um exercício de chuva de ideias relacionadas com a revolução se tratasse. Os estrangeiros acham tanta piada ao exotismo da situa-ção, que decidem juntar-se à festa e, à banda lisboeta, que apenas era a ‘banda do hotel’ passam a chamá-la ‘� e Red Carnations’, porque como toda a gente trazem ao peito cravos vermelhos.

Os músicos fi cam nessa festa popular até 29 de Abril. Até um momento solene como as despedi-das costumam ser, se pauta nessa hora pelo contentamento de todos. É nesse ambiente de natural felici-dade que regressam a Lisboa para junto dos seus familiares e ami-gos, anunciada que está a maior concentração de sempre do povo português que teria lugar nesse dia Primeiro do mês de Maio de 1974, e que a partir daí seria dia feriado também em Portugal, ce-lebrando-se o dia do trabalhador, nesse tempo em que o povo unido jamais seria vencido.

Na ressaca do corpo e do es-pírito desses revolucionários dias, Augusto regressa à casa dos pais e decide recomeçar as aulas de piano e composição. Tem de novo gosto e vontade em tocar e aprender ao mesmo tempo que a ex-banda de hotel se mantém unida. Depois de algumas semanas de ensaios começam então a tocar no Hot Clube de Portugal, interpretando nas suas versões de jazz instrumen-tal os temas dos novos cantautores da então chamada música popu-lar portuguesa. O sucesso sorriu-lhes. ‘Os Cravos Vermelhos’ foram nesse ano a banda que mais tocou nesse e em muitos outros palcos portugueses.

Em 1980, Portugal era um país ainda alegre, onde tudo poderia ainda acontecer. Augusto tornou-se o compositor principal e líder do quarteto que evoluiu tanto que começou a ser também conheci-do e apreciado fora de Portugal. Podia agora passar a fronteira do país, também fi sicamente, e não

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de todos. Dos hóspe-

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Há dias, conversando com uns ami-gos e remexendo nos nossos “baús” de recordações, alguém se lembrou dos rebuçados ou pastilhas elásticas que a senhora da mercearia dava como troco por não ter moedas ou quando, nos correios, as ditas eram substituídas por selos. Situação puxa situação, garga-lhada puxa gargalhada, como a daque-le que, pacientemente, foi juntando os rebuçados, as pastilhas elásticas e os pequenos chocolates e, quando já tinha um saco cheio foi à mercearia trocar por uma nota, perante a estupefacção da dona. Lembrei-me então que esta

situação já tinha acontecido, de uma forma mais séria, muitos anos antes com a emissão das cédulas. De facto, embora não fosse um caso inédito (já tinha acontecido no século XIX).

Com o fi m da guerrade 1914 – 1918 as cédulas

fazem a sua aparição triunfal

Aparecem emitidas por Câmaras, Misericórdias, Hospitais, Juntas de Freguesia, Associações Comerciais, cafés, restaurantes, casas comerciais, etc. A escassez de moeda a isso obri-

gava. Com efeito, as moedas (ou me-lhor, o metal de que eram feitas, cobre, bronze, cuproníquel) eram açambarca-das ou utilizadas para fi ns industriais. São normalmente de valores muito baixos: 1 a 5 centavos. De valores mais altos só por volta de 1922, com a grande infl ação.

O curioso desta situaçãoé que eram ilegais

Nunca saiu legislação que auto-rizasse a sua emissão, com excepção para as que eram emitidas pela Casa

da Moeda. Só em 1924 o Gover-no toma medidas mais rígidas para acabar com esta situação, argumen-tando com a sua fácil falsifi cação, o custo do papel, a necessidade de uma constante renovação causada pela sua rápida deterioração e ainda o facto de serem anti-higiénicas. Mas o proble-ma persistia: a moeda não aparecia, ou melhor, ela aparecia mas, açam-barcada, rapidamente desaparecia de circulação. Só em 1926, as cédulas começariam a sair de circulação com a emissão das novas moedas de $10, $20, $50 e 1$00.

Quando as moedas eram… notas baú baú

Joaquim ParraProfessor de Históriae Coleccionador

RETICÊNCIAS1 a 30 ABR | Galeria Municipalde Albufeira Mostra de pintura e escultura,da autoria de Júlio Antão.

OS MITOS DA VIRGEM NEGRA 2ª a 6ª feira das 10h00 às 16h30 | Centro de Interpretação de Vilado Bispo A mostra composta por 19 painéis aborda a temática da lenda da Virgem de Guadalupe e dos mitos das Virgens Negras da Europa Ocidental. de

staque

Frente e verso de um exemplar da emissão feita pela Câmara de Castro Marim, no valor de um centavo

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seria só para África. Nunca esqueceu o que

às escondidas ouvira numa conversa lá em casa, numa distante noite de inverno. Tornara-se realidade a frase profetizada por um amigo dos seus pais: ‘Quando o teu puto tiver idade para ir para a tropa já a guerra aca-bou, vais ver, acredita no que te digo Lacerda’, palavras essas que durante anos o encheram de esperança e força para continuar a acreditar que um dia seria livre. O A. Lacerda Quarteto começou a tocar por toda a Europa como representante do novo país e da sua música.

Por exigência da profi ssão que abarcara Augusto passava cada vez mais temporadas lá fora, tendo vi-vido em Madrid, Paris e Berlim, dedicando-se posteriormente a uma bem sucedida carreira a solo. Du-rante muito tempo apenas visitava Portugal a espaços para fazer férias e rever a família e os amigos. Mas depois de muitos anos de discos, gravações e longas digressões, sentiu de repente uma estranha vontade de regressar à sua terra. Conseguiu assim chegar mesmo a tempo de adquirir a casa dos seus pais, onde crescera.

O Portugal que Augusto encontra em 2004, é um país já a ficar de-primido, onde pouco poderá ainda acontecer, a não ser tudo o que a glo-balização e a comunidade europeia deixarem para nos entreter. Quando, no dia em que Augusto teve outra vez tempo para se sentar em casa a ler o jornal e ligou a televisão, era o dia do jogo da fi nal do campeonato, que celebrava aquele que considera-vam ser o maior evento desportivo jamais realizado no país.

Nos estádios de futebol, o Me-nino de Ouro, que ainda viria a dar o seu melhor, regressaria de novo à ilha, não do país que o viu nascer, mas onde nasceu o desporto do qual diziam ser ele o melhor. Não podia sair de Old Traff ord, mas já come-çava a entrar na esfera da inevitável e exagerada exposição pública da sua vida privada. E nessa tarde de Junho, mesmo estando dentro do relvado, foi apenas mais um entre os milhões de portugueses vestidos de camisola grená e calções verdes, que não con-seguiu festejar um único golo, apesar de tantas bandeiras penduradas nas janelas por esse país fora.

A Cantora de ascendência crioula que foi promovida ao estrelato mete-oricamente, deseja ir instalar-se em Nova Iorque para indirectamente se ir afastando do forçado rótulo de nova diva da canção de Lisboa, e do destino do seu país. Enfi m, da essência do nosso fado. No entanto, essa abertura de identidade criativa, é que a poderá manter ainda famo-sa e independente por mais algum tempo.

Na televisão plasma por cabo, o nosso senhor Primeiro-Ministro anunciaria a sua partida para Bruxe-las como se de um dever patriótico se tratasse, lançando o país numa crise política e social que estará para durar. Através dessa caixa que o mundo transformou num painel estreito de alta defi nição, os políticos vindouros continuarão a mentir semanalmen-te ao povo de uma nação cheia de

altas taxas de desemprego, fome e corrupção, apesar de todos nós que-reremos ainda acreditar num estado que continua a dizer-se de direito democrático, mesmo depois do que fomos assistindo ao longo destas úl-timas décadas.

E… uma juventude, que tem de demorar-se a fi car adulta por for-ça das circunstâncias da crise, por o curso não ter saída no mercado, tendo de arranjar trabalhos precários e temporários, pois enquanto não conseguem nada melhor os pais lá fazem por manter os fi lhos no sonho visionário da adolescência por mais algum tempo.

‘Tchalalalalaúuuu….Tchalalala-laúuuu….Tchalalalalaúuuu….’ tocam assim os telefones num som agudo, digital, sem fi os, demasiado estri-dentes e utilizam-se para se dizerem coisas realmente normais. Boas ou más. Por isso Augusto sente um ar-repio de cada vez que os ouve. Treme só de pensar, que lhe vão perguntar onde está e o que está a fazer ou a estafada senão paradoxal pergunta sobre que projectos tem para o fu-turo - esse tempo que cada vez se sabe ser mais incerto. Decidiu-se fi nalmente a apanhar o leve telefone móvel. Esta chamada era das más. Sentiu-se devastado. O que de pior se podia esperar ouvir por aqueles dias. A voz profunda e triste do Rui num som nítido como se estivesse ali mesmo a seu lado, dizia que já tinha descansado o seu amigo Jorge.Ficou imóvel junto à janela da sala da velha casa onde nascera, agora restaurada e com vidros duplos, o que lhe permitia compor sem a interfe-rência do ruído contínuo que vinha daquela movimentada artéria da ci-dade. Dali podia ver o seu jardim, ou o que restava desse pequeno jardim público e relembrar nostalgicamente quando nos fi ns de tarde ou noite ali se sentava nos bancos com o amigo a falar das pequenas grandes coisas da vida. Passaram mais de trinta anos em apenas alguns minutos. Apesar de tudo o que de bom e mau envolve o acto de recordar, era preciso con-tinuar a ensaiar, a tocar, a resistir à morte. Pisando as tábuas do soalho de madeira que gostava de ouvir ran-ger, foi engolindo em seco para não se comover demasiado. A sua profi ssão exigia era que emocionasse os outros. Dirigiu-se para o piano tocando algo que poderia assemelhar-se a excertos de ‘Mantra’ de Karl Stockhausen, premindo com força nas teclas de modo a libertar aquela tensão que se lhe alojava na alma. E assim se refez daquela sensação sufocante, terminando nessa mesma madrugada a peça começada ainda em Londres, no dia em que se decidiu pelo regres-so a Lisboa e que às primeiras notas trazia colado o título provisório ‘A Sort of Homecoming ’. Tinha estado a trabalhar esta composição nestas últimas semanas, dedicando-a ao seu velho amigo Jorge, desde que soubera da sua doença. Tomara então naturalmente o nome ‘Uma Espécie de Regresso a Casa’ e ia estreá-la no concerto que daria em breve no Centro Cultural de Belém, para o lançamento do disco de retrospectiva dos seus 25 anos de carreira a solo. Exausto, adormeceu no sofá ao lado do piano. FIM

seria só para África.

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Dando continuidade ao trabalho iniciado desde o primeiro número desta rubrica, aqui fi ca mais uma re-ferência bibliográfi ca, desta vez relativa à imprensa de Olhão: A Imprensa Pe-riódica no Concelho de Olhão (1888-1983), Antero Nobre, Olhão, 1983, edição de «A Voz de Olhão».

O primeiro periódico de Olhão foi O Porvir (1888), que saiu à rua a 28 de Outubro, sendo o seu proprietário Roque Féria que, em 1889, cedeu a propriedade a Gustavo Cabrita. No seu cabeçalho ostentava: «Direito, Li-berdade, Humanidade». Apresentava algumas secções regulares como: Cor-

respondência, Noticiário, Folhetim, Livros e Jornais etc. Custava 20 réis. A sua precoce suspensão deve-se ao conteúdo dos artigos nele publica-dos, uma vez que, não só atacava a monarquia e o rei, como veiculava ideais republicanos e anarquistas, pou-co consentâneas com as mentalidades da época e da região. Exactamente por isso é um jornal importantíssimo para o estudo desta cidade e da polí-tica republicana, socialista (e mesmo anarquista) da época, não só na região, como do país.

Desde O Porvir até à actualidade

foram muitos os títulos que Olhão viu nascer (mais de três dezenas) não só de carácter noticioso mas abrangendo diversas áreas, como o espectáculo (O Écran, 1919), a política (O Racional, 1922; Cruzeiro do Sul, 1976; O Povo de Olhão, 1975), o desporto (Boletim do Clube Desportivo “Os Olhanenses”

1956; Boletim Informativo do “Bom Sucesso” – Clube Náutico de Olhão, 1980; O Sporting Olhanense, 1963), escolares, (O Caíque, 1969; O João Ratão, 1961; O Mirante, 1969) e até jornais manuscritos, copiografados e fotocopiados.

Devido à extensão deste artigo, ele será dividido em duas partes.

O Futuro (1888) - Semanário De-mocrático (mais tarde, Semanário Democrático Algarvio) - De ca-rácter, noticioso, literário e republi-cano, sucedeu ao O Porvir, sendo seu Director Gustavo Adolfo Ma-nuel Cabrita. Apresentava um bom conjunto de colaboradores onde se destacam Luciano Cabrita, Antó-nio Cabreira, José Bacelar, Helio-doro Salgado, João Chagas, Ho-mem Cristo, Nuno de Bulhão Pato, Marcos Algarve, António José de Almeida, Magalhães Lima, Hen-rique Galvão,Teofi lo Braga, Higino Craveiro Lopes entre muitos outros. Custava 20 réis. Tinha várias secções regulares, como por exemplo: Folhe-

tim, Curiosidades, Governo Civil de Faro, Tuna académica etc. Foi um dos mais importantes paladinos dos ideais republicanos algarvios, razão que o torna de incontornável importância para a história do repu-blicanismo em Olhão, no Algarve e em Portugal. Terminou em 1909, por morte do seu Director.

Correio Olhanense (1921) - Sema-nário independente (com o nº50), mais tarde bi-semanário independente, volta depois à designação inicial. Noticioso, literário, cultural, regionalista e repu-blicano, era seu Director João Lobo de Miranda Trigueiros, substituído em 1924 por José de Sousa Ferradeira. João Trigueiros voltará a este cargo em 1929, o mesmo sucedendo com José Ferradeira. João da Silva Nobre é outro nome que aparece nos cargos de chefi a deste jornal, nomeadamente como Redactor e Editor. Entre os co-laboradores são de destacar algumas fi guras femininas, como é o caso de Lúcia de Lemos, Josefi na Cláudia, Maria Otília Lima e Maria Odete Leonardo. Entre as fi guras mascu-linas são de destacar entre muitos: Marcos Algarve, Antero Nobre, João Trigueiros, Francisco Fernandes Lo-pes, Abílio Gouveia, Francisco e José Dentinho Júnior e Henrique Cruz. São inúmeras as secções que apre-sentava, nomeadamente: Noticiário, Vida Desportiva, Folhetim, Crónica Religiosa, Coisas Antigas do Algar-ve, Tribuna dos Novos, Arabescos etc. No entanto, a grande alma deste jornal é sem sombra de dúvida, João Trigueiros. Custava $10. Surge numa época em que Olhão começava a des-pontar como um dos maiores centros comerciais e industriais. Para a sua publicação foi mesmo constituída uma sociedade por quotas, a Editora Olha-nense Lda.. Foi provavelmente um dos melhores, ou mesmo, o melhor jornal olhanense. Apesar de procurar ser imparcial e defensor da sua terra, viu a censura fechar-lhe as portas, por um ano, em 1929/30. Mas o seu corpo redactorial rapidamente contornou a situação, fazendo sair um outro jornal em tudo idêntico, apenas divergindo no título que era agora O Olhanense e apresentava como Redactor e Editor, Abílio Gouveia. Este jornal suspendeu a sua publicação em 1930 quando o Correio Olhanense foi amnistiado. Terminou a sua publicação em 1933. Olhão, tem gravado na sua toponímia o nome deste jornal, atribuído pela Câmara Municipal de Olhão, em 23 de Novembro de 1969.

(Continua na próxima edição)

Da Imprensa Local – Olhão (I)DA IMPRENSA REGIONAL•

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Cultura.Sul07.04.2011 14

Quando se fala de cultura é co-mum dizer-se que o conceito refere um sistema de signos que enquadra a actividade dos membros de uma comunidade. Esse sistema é ‘alimen-tado’ pela história, pelas memórias e crenças, pelas convenções e pelas normas que regem as práticas sociais dessa mesma comunidade.

De acordo com esta acepção, na refl exão sobre a actividade cultural de uma região, devemos obrigatoria-mente olhar para todas as actividades que contribuem para o aumento da consciência de identidade dos seus habitantes e para o aumento do seu próprio conhecimento sobre os modos

de vida, o património e a história das comunidades que nela residem.

Na defi nição do que é cultura no Algarve teríamos, então, de consi-derar as actividades realizadas tanto pelas pequenas comunidades rurais como pelos habitantes das cidades mais densamente populadas. A cul-tura algarvia, como qualquer outra, é assim como que uma rede ou teia construída com os factos da história, os costumes e as ideias dos seres que aqui vivem. Afi nal, somos um povo com raízes numa terra que já foi agrí-cola, num mar que já foi sustento e na história de um país que muitas vezes nos esqueceu. Apesar disso, ou talvez

por isso mesmo, invertemos o rumo das expectativas e tornámo-nos numa região cosmopolita, que se habituou desde há muito a aceitar diferentes modos de ser e de estar, e aonde se verifi cam índices mais altos do que a média nacional em termos de educa-ção e qualidade de emprego.

Se é verdade que a cultura algarvia mais genuína se inscreve, ainda hoje, nas peças teatrais representadas por pequenas comunidades, nos bailes em dias de festa de freguesia, nas feiras e nos mercados do barrocal e das serras, na actividade das fi larmó-nicas e dos agrupamentos musicais populares, também é verdade que

no Algarve acontece também uma outra cultura, umas vezes mais eru-dita, outras vezes mais próxima do lazer e do consumo do efémero. Dessa outra cultura, falam as estatísticas e as brochuras editadas por vários municípios do Algarve. Aí se afi rma que esta é uma região que privilegia a actividade cultural.

Particularmente no caso das cida-des com maior índice populacional, a análise dessa oferta cultural releva que a maioria dos programas inclui sobretudo espectáculos de música ao vivo, embora neles também ocorram, com uma frequência bastante menor, algumas actividades de teatro, con-

certos de música erudita e espectá-culos de dança.

As actividades culturais mais massifi cadas correspondem ao que os públicos preferem, dir-me-ão os responsáveis pela oferta anunciada. Todavia, se consideramos a actividade cultural como instrumento de coesão social e como factor de promoção da identidade dos povos, então julgo que será um dever ético rejeitarmos as políticas que atribuem à cultura a mera função de produto de consumo, em época de Verão.

Maria CabralProfessora universitária

Cultura Algarvia: o que somos e o que queremos serAntónio Pina Convida

Hoje não sou viajante porque vivo nesta terra e vou falar da minha gente. Trata-se de Portimão, uma localidade de vocação marítima e com uma larga tradição na faina da pesca e nas artes de conservação do peixe. Ao longo das margens do Rio Arade despontaram moinhos de maré e fumeiros, edifi ca-ram-se fábricas de salga e de conserva de peixe, construíram-se marinhas de sal e estaleiros navais. Também a ex-ploração da terra marcou este lugar. Na agricultura, sobretudo, a produção de frutos secos e a actividade dos fumeiros complementaram as actividades ma-rítimas. Actualmente, a evolução e o desenvolvimento urbano de Portimão transformaram a paisagem das comu-nidades ribeirinhas, rurais e urbanas. Já não ouvimos o toque das “sereias” das fábricas, nem ouvimos o barulho das gaivotas no ambiente da antiga lota onde nos leilões se ouvia gritar “chui”.

Agora restam as memórias e alguns dos vestígios desse quotidiano como os velhos edifícios fabris de conservas. É precisamente sobre uma fábrica de Portimão que vos vou falar. Refi ro-me à antiga Fábrica de Conservas de Peixe Feu Hermanos recentemente convertida e adaptada no museu. Aqui podem visitar a história associada ao Município, observando e admirando as exposições que habitam as salas por onde, em tempos idos, muitos homens e mulheres passaram e deixaram o seu saber. Neste espaço a história prolonga-se no tempo e nas memórias. Os mais velhos recordam o que muitos viveram e os mais novos descobrem e aprendem a evolução histórica do município, desde as origens à actualidade.

Este Museu oferece um conjunto de temáticas diversifi cadas que envol-

vem, na sua maioria, memórias e quoti-dianos de um passado recente (indústria conserveira, pesca, construção naval, litografi a, fumeiros) e ainda nos leva a uma viagem mais longínqua, abor-dando as primeiras comunidades em torno de testemunhos arqueológicos do Município. Destaca-se, também, do acervo a colecção Manuel Teixeira Gomes (antigo Presidente da Repú-blica, natural de Portimão e notável do Município).

A Exposição de longa duração “Portimão Território e Identidade” desenvolve-se em torno de três per-cursos principais: “Portimão – Ori-gem e destino de uma comunidade;

A vida industrial e o desafi o do mar; Do fundo das águas”. Para além desta existem mais duas salas onde podem ser visitadas exposições temporárias nas quais são abordados temas rela-cionados com a história e também no domínio da expressão artística. Actualmente, encontram-se patentes duas exposições temporárias: “Porti-mão nos Alvores do Século XX”, que nos retrata os principais aspectos da evolução de Vila Nova de Portimão entre 1900 e 1925, e o “Azeite – Sa-beres com Sabor”, inserida no projecto “Taste of Europe” sobre a alimentação e resultante da cooperação entre nove museus europeus.

Museu de Portimão

Secção do Cheio, enlatamento

museu museu

Isabel SoaresMuseóloga/Arqueóloga

Testemunhos:Porque faço parte da equipa deste museu, ofereço, nesse caso, a vez e a voz a quem colaborou cedendo peças e testemunhando saberes que hoje fazem parte do museu de Portimão:O “Museu de Portimão”, constitui uma das obras mais marcantes e emblemáticas que o Município concretizou, aproveitando o espaço, equipamentos e material da antiga fábrica de conservas de peixe.Trata-se de relevante mais-valia que honra o concelho de Portimão e justifi ca expressivo agradecimento a quem o concebeu, nomeadamente o seu actual director, José Gameiro, e os autarcas que o tornaram possível.Para mim, que trabalhei cerca de vinte anos, na antiga Fábrica de Consevas “Feu Hermanos”, é sempre emocionante percorrer aqueles espaços, “viver o ciclo de produção”, apreciar como foram tão bem aproveitadas as antigas máquinas e materiais, rever os fi lmes da pesca e do fabrico, ver e ouvir antigos trabalhadores nas projecções de grande utilidade, alguns dos quais comigo conviveram.

Espero que o “Museu de Portimão”, galardoado com o prémio Europeu em 2010, continue a prestigiar o concelho, a cidade e o País!

António Feu (sócio-gerenteda antigaSociedade Feu Hermanos)

O museu está muito bonito e bem representado! Conheço tudo quanto lá está.Um dia visitei o museu onde vi um rádio a fazer propaganda às conservas “La rose” e por isso lembrei-me de oferecer ao Museu de Portimão uma grafonola e um rádio, que era do meu pai, porque é uma recordação da minha infância e também porque quero que seja relembrado o tempo em que se faziam matinés e bailes com os rapazes e

raparigas. Este era o único divertimento que havia a não ser no carnaval, alguns bailes das Sociedades.

Maria Paula Faustino

A minha contribuição para o museu é precisamente por causa da montagem da máquina da litografi a, pois ajudei a montar e ensinei como funcionava. Trabalhei desde miúdo nesta máquina por isso conheço-a bem. E ainda hoje sempre que é preciso chamam-me para ensinar. Quando visitam o museu e vêem a ilustração nas latas “Marie Elisabeth”, fui eu que as imprimi, o que me deixa orgulhoso por estar exposto o meu trabalho no Museu.

Lourival Monteiro Arez(antigo impressor litográfi co)

Creio que uma das funções dos museus é preservar e divulgar os testemunhos históricos. Ao fazê-lo está a dignifi car, revitalizar e até certo ponto eternizar essas memorias para que as gerações presentes e futuras se possam culturalmente enriquecer na contemplação e conhecimento dessas realidades.Porquê doar a Mercearia Bia Floro ao Museu de Portimão?Um museu é obra do seu director e de todos os seus colaboradores. Essa obra é reconhecida quando transborda as paredes do museu, invade ruas e cidades e convida a população a visitá-lo. Se ao apreciarem o trabalho desses profi ssionais sentirem vontade de participar, o que deveria ser o dever de qualquer cidadão, passa a ser uma alegria, um orgulho.Por todas estas razões e também para homenagear da melhor forma os nossos pais doamos com muita alegria e orgulho a Mercearia Bia Floro, ao Museu de Portimão.

Joaquim Ramos Xavier

(Todos os testemunhos são de colaboradores do Museu)