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1 | JUL | 2010 • Nº 23 • Mensal • Este caderno faz parte integrante da edição nº994 do POSTAL do ALGARVE e não pode ser vendido separadamente Olhão, a revolução silenciosa » p. 4 e 5 • O mundo encantado de Sylvain Bongard » p. 11 • Muito para além de Saramago » p. 12 • Algarve forma jovens actores » p. 13 Vítor Guerreiro: O Algarve pode exportar cultura » p. 14 e 15 Com o apoio de: Direcção Regional de Cultura do Algarve • Câmara Municipal de Alcoutim • Câmara Municipal de Olhão • Câmara Municipal de S. Brás de Alportel Distribuído mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO

Cultura.Sul 23

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Cultura.Sul 23

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Olhão, a revolução silenciosa » p. 4 e 5

• O mundo encantado de Sylvain Bongard » p. 11

• Muito para além de Saramago » p. 12

• Algarve forma jovens actores » p. 13

• Vítor Guerreiro: O Algarve pode exportar cultura » p. 14 e 15

Com o apoio de: Direcção Regional de Cultura do Algarve • Câmara Municipal de Alcoutim • Câmara Municipal de Olhão • Câmara Municipal de S. Brás de Alportel

Distribuído mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO

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01. 07.10 ◇ CULTURA . SUL

2destaque

Diálogos – fi nal inacabado

Um diálogo nunca acaba. Quando é verdadeiro e não um simulacro. Quando é uma troca de palavras cujo primeiro objectivo é compreender a razão do outro. Quando é uma demanda pela alteridade para lograr algo de novo.

Por um diálogo nunca acabar, embora possa ser interrompido, se chama a este quarto comentário “final inacabado”. Escritos para acompanhar a publicação de trabalhos dos dois cursos de jornalismo de cultura realizados no Algarve, tendo eles terminado e neste número se publicando mais um texto resultante do segundo curso é o momento de os interromper.

Neles se procurou colocar as questões da cultura, da política do Estado para a cultura e do jornalismo de cultura numa perspectiva dialéctica.

Aqui interrogámos o alcance das ditirâmbicas apologias sobre a extraordinária mais-valia económica do “sector cultural e criativo”, primeiro pela ministra da Cultura, depois pelo Presidente da República. Talvez a derradeira ocasião em que se vislumbrou uma expressão da “cooperação estratégica”, pois a perda de rumo da governação tem frequentemente colocado o Governo a dizer uma coisa e o Presidente da República outra. Não só opostas como antagónicas. Governo e Presidente da República em uníssono parece que só no discurso sobre o vazio. Só quando as palavras signifi cam nada, aprisionadas no seu signifi cante de mera propaganda política.

A apologia da extraordinária cadeia de valor do “sector cultural e criativo” não resistiu à realidade da crise. O orçamento do Ministério da Cultura teve um corte de 13 milhões de euros num total de 65 milhões, o que terá consequências nefastas na actividade de muitos agentes e criadores e na recepção pelos públicos. Em duas palavras: menos cultura. Tal como haverá menos educação, menos saúde, menos apoio social, menos tudo o que suponha investimento público. Sobre vazios estão Governo e Presidente da República de acordo: o ilustre professor de finanças considera “insustentável” o esforço de investimento estatal, o Governo corta no orçamento do Estado.

À parte apologias e demagogias, a cultura e a acção cultural no Algarve não seguirão imunes aos cortes orçamentais, o do Ministério e o das autarquias também elas atingidas e que têm sido um sustentáculo do sector na região. Resta aos criadores e aos agentes culturais não cruzar os braços e procurar diálogos, diálogos para a acção.

Os cursos de jornalismo de cultura promovidos pela Agecal e pelo Cenjor, com o apoio dos municípios de Loulé e de Tavira e a adesão deste jornal, foram um passo dos muitos necessários para mais e melhor cultura no Algarve.

José Luiz Fernandes

REGISTÁMOS

Songlines distinguiu Goran Bregovic no Festival Med•

Ficha TécnicaDirecção: GordaEditor: João EvaristoDesign e paginação: Mário Coelho

Concepção gráfi ca: Ricardo ClaroResponsáveis pelas secções: pa-norâmica.S - Ricardo Claro | cinema.S - Cineclube de Faro, Ci-neclube de Olhão e Cineclube de

Tavira | biblioteca.S - Paulo Izidoro | livro.S - Adriana Nogueira | pal-co.S - João Evaristo | política.S - Henrique Dias Freire | estratégia.S - Direcção Regional de Cultura do

AlgarveRevisão de texto: Cristina Mendonçae-mail: [email protected]: 11.701

Goran Bregovic actuou no dia 24 de Junho no Palco Matriz do Festival Med, em Loulé, acompanhado da sua Wedding

& Funeral Band.No f inal da actuação o músico foi distinguido pela Songlines, uma das mais

conceituadas publicações internacionais de música, com o Songlines Music Awards na categoria de Melhor Artista.

TEATRO/DANÇA

ACTA estreia Insustentável Leveza•

Insustentável Leveza é uma produção da ACTA, com direcção artística de Carlos Matos, que cruza a dança contemporânea, a música e a poesia.

O espectáculo pretende conduzir o público numa viagem até à origem da palavra Saudade.

2 Julho |21h30 |Teatro Municipal de Faro|€7»€123 Julho |21h30|Auditório Municipal de Olhão |€8»€10

Goya, gravura da série Os Caprichos

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01. 07.10 ◇ CULTURA . SUL

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destaque

ESCULTURA

Escultura Abstracta nas Décadas de 1960-1970 da Colecção da Fundação de Serralves

A exposição centra-se na escultura produzida na década de 1960, mas também nos anos 1970, por artistas ligados ao contexto artístico portuense, avançando hipóteses sobre a relação da actividade

escultórica portuguesa com a arte anglo-saxónica.

Comissariada por João Fernandes, apresenta obras de Alfredo Queiroz Ribeiro, Ângelo de Sousa, Armando Alves, João Machado, Joaquim Vieira, Jorge

Pinheiro, José Rodrigues e Zulmiro de Carvalho.

A partir de 10 JulhoDas 16.00 às 23.00 Espaço Multiusos de Albufeira

TEATRO AÉREO

Do Do Land •

A companhia Grupo Puja da Argentina/Espanha apresenta Do Do Land, um espectáculo baseado no conto Alice no País das

Maravilhas que mistura as linguagens do teatro, dança, circo, desportos em altura, multimédia, música ao vivo, arquitectura e engenharia.

Simplesmente imperdível.

1 Julho |22h30 |Largo de Carmo/Tavira|Entrada Livre

TEATRO DE RUA

Rêve d’Herbert pela Compagnie dês Quidams

Rêve d ’Herbert é um espectáculo da companhia francesa Compagnie dês Quidams criado em 1997 e representado mais de 400 vezes por todo o mundo. Nestas actuações incluem-se as realizadas no âmbito do Mundial de Futebol de 1998

e do Europeu de 2000.Evocando o espírito de

união e de encontro, cinco fi guras transformam-se em seres etéreos deslumbrantes que nos convidam a uma viagem de emoções, a um ritual mágico que nos transporta a um mundo

imaginário como num sonho…

17 Julho |22h | Largo do Carvoeiro /Lagoa |Entrada Livre

MÚSICA/JAZZ

McCoy Tyner em Loulé•

McCoy Tyner, um dos mais prestigiados pianistas e compositores de jazz vivos actua no dia 31 de Julho no Festival Internacional de Jazz de Loulé. Com uma musicalidade infl uenciada por Art Tatum, Thelonious Monk e Bud Powell, Tyner

concilia na perfeição a técnica com o lirismo e as inovações harmónicas. Tem o estatuto de lenda viva, especialmente marcado pela sua colaboração enquanto pianista na formação do saxofonista John Coltrane, na qual começou com apenas 17

anos. Tocará com o seu trio e contará com a participação especial de Joe Lovano no saxofone.

31 J u l h o | 2 2 h | Monumento Engº Duarte Pacheco/Loulé | €20

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01. 07.10 ◇ CULTURA . SUL

4panorâmica

ensamento estratégico foi a base da política adoptada pelo município de Olhão para a cultura desde que em 1993, Francisco Leal tomou as rédeas dos destinos da autarquia.

Um projecto cultural, uma estratégia pensada, uma execução criteriosa e o resultado está à vista. Dezassete anos depois, Olhão sofreu uma «revolução silenciosa», expressão que o autarca aceita como descrevendo na perfeição a acção da Câmara em termos culturais.

Quando Francisco Leal tomou posse, Olhão tinha uma diminuta representatividade cultural na região e o panorama cultural local apresentava carências da mais variada ordem, enquanto que hoje a cidade e os seus equipamentos culturais, bem como, a própria cultura popular e a programação e produção culturais locais, apresentam toda uma nova pujança.

Uma mudança que o autarca não nega ao Cultura.Sul, mas que esclarece se deu “paulatinamente”. “A política cultural que implementámos teve por base uma estratégia que def inimos no início do nosso mandato e que tem vindo a ser concretizada paulatinamente”.

Para o presidente há que ter em conta que quando tomou posse, “Olhão tinha enormes carências noutras áreas, muitas delas de prioridade absoluta e que o concelho tem recursos limitados, o que implicou uma política de desenvolvimento cultural à medida das possibilidades”.

“O que se fez foi uma rigorosa gestão dos recursos e uma aplicação criteriosa dos fundos comunitários, disponibilizando assim verbas para a área cultural, também esta uma prioridade para o modelo de desenvolvimento que tínhamos em mente”, diz o autarca em jeito de análise do trabalho feito.

Relat ivamente aos fracos dividendos que a cultura traz para os políticos, Francisco Leal é claro: “o que está no centro das decisões de política cultural da Câmara não são os dividendos políticos directos e imediatistas”.

“As decisões

obedecem a uma estratégia de política geral de desenvolvimento que deve ser vista globalmente e aos critérios de prioridade e oportunidade”, esclarece, concluindo que “o retorno dos investimentos enquadra-se numa política de médio e longo prazo”.

Aliás, clarifica o presidente, “quando se cumpre uma estratégia pensada, consistente e consequente, os resultados sentem-se com o tempo e o reconhecimento aparece com eles de forma paulatina e natural”. E sem hesitar remata, “quando começámos

em 1993/94 pensávamos com 2005 como horizonte, tal como hoje a nossa estratégia está pensada para o horizonte 2025”.

O percursoRever o percurso da política cultural da autarquia num mandato tão extenso não é obra fácil, mas Francisco Leal tem-no perfeitamente presente e recorda, sob proposta do Cultura.Sul, os principais feitos do seu consulado.

“A primeira acção de relevo em termos de política cultural foi a recuperação dos mercados”, recorda. “É uma das grandes obras de recuperação do património edifi cado e que tem hoje uma importância fundamental, quer como um dos espaços turísticos âncora da cidade, quer no que respeita à utilização do espaço público pela comunidade”, destaca.

Outro marco foi a recuperação do antigo Compromisso Marítimo de Olhão, que alberga hoje o Museu Municipal e que constituiu, de acordo com autarca, “outro projecto emblemático para a cidade e para a preservação da memória colectiva”.

Paralelamente, a autarquia esteve presente nos projectos de recuperação das igrejas que, numa cidade recente em termos históricos, constituem parte determinante do património. Para o presidente, “havia que aproveitar ao máximo todo este

património, valorizá-lo e devolvê-lo à comunidade, maximizando a sua expressividade no cômputo cultural e patrimonial”.

Um esforço que se estendeu a todas as freguesias e que, além das intervenções sobre os edifícios, se fez também com intervenções de carácter urbanístico e paisagista, como na recente intervenção na envolvente da Igreja de Moncarapacho.

A bibl ioteca marca outro m o m e n t o f u n d a m e n t a l . “Aproveitámos o antigo edifício do Hospital de Olhão e criámos uma biblioteca, aproveitando o património e valorizando-o”, relembra Francisco Leal. “Criámos uma infra-estrutura indispensável, bem

equipada, numa zona nobre da cidade e em particular junto das escolas, permitindo uma fácil fruição do equipamento”, destaca.

A última intervenção foi o Auditório Municipal, também ele feito na mesma linha de recuperação e reconversão do património da cidade.

“Um edifício que ocupa o lugar de uma antiga fábrica de conservas, da qual mantivemos a espectacular chaminé”, afi rma, relembrando a política integrada, “criámos com as novas zonas industriais condições para transferir as instalações industriais, libertando espaços para serem dedicados aos mais variados fi ns, nomeadamente à cultura”.

Muito mais do que obra feitaMas a cultura em Olhão é

muito mais do que os espaços culturais criados, é acima de tudo uma identidade social e cultural fortíssima que Francisco Leal reconhece claramente e valoriza de forma particular.

“Ao longo dos anos sempre apoiámos as iniciativas populares, sabemos que aí reside a nascente da força de ser olhanense e a identidade cultural do concelho”, destaca.

“Damos apoio desde os santos e marchas populares, que têm em Olhão e nas freguesias grande relevo e demonstram grande vitalidade, até às iniciativas de todas as organizações, da cultura e do desporto até à educação”, refere, concluindo que “atrever-me-ia a dizer mesmo que tudo o que mexe em Olhão é apoiado pela Câmara”.

“Exemplos disto mesmo são o apoio que demos sempre ao Carnaval de Moncarapacho, que o tornou numa festa mais popular e mais aberta aos olhanenses e aos visitantes”, refere o presidente.

Outro exemplo, mais recente, foi a recuperação da festa que tinha lugar antigamente na segunda-feira de Páscoa no Cerro da Cabeça. “Recuperámos esta tradição e está a crescer enquanto evento popular, representando mais uma recuperação do pat r imónio enformador da identidade colectiva dos olhanenses”, destaca.

P

OLHÃO

A revolução silenciosa Por Ricardo Claro

D.R.

Francisco Leal, presidente da Câmara de Olhão

ensamento estratégico foi a base da política adoptada pelo município de Olhão para a cultura desde que em 1993, Francisco Leal tomou as rédeas dos destinos da autarquia.

Um projecto cultural, uma estratégia pensada, uma execução criteriosa e o resultado está à vista. Dezassete anos depois, Olhão sofreu uma «revolução silenciosa», expressão que o autarca aceita como descrevendo na perfeição a acção da Câmara em termos culturais.

Quando Francisco Leal tomou posse, Olhão tinha uma diminuta representatividade cultural na região e o panorama cultural local apresentava carências da mais variada ordem, enquanto que hoje a cidade e os seus equipamentos culturais, bem como, a própria cultura popular e a programação e produção culturais locais, apresentam toda uma nova pujança.

Uma mudança que o autarca não nega ao Cultura.Sul, mas que esclarece se deu “paulatinamente”. “A política cultural que implementámos teve por base uma estratégia que def inimos no início do nosso mandato e que tem vindo a ser concretizada paulatinamente”.

Para o presidente há que ter em conta que quando tomou posse, “Olhão tinha enormes carências noutras áreas, muitas delas de prioridade absoluta e que o concelho tem recursos limitados, o que implicou uma política de desenvolvimento cultural à medida das possibilidades”.

“O que se fez foi uma rigorosa gestão dos recursos e uma aplicação criteriosa dos fundos comunitários, disponibilizando assim verbas para a área cultural, também esta uma prioridade para o modelo de desenvolvimento que tínhamos em mente”, diz o autarca em jeito de análise do trabalho feito.

Relat ivamente aos fracos dividendos que a cultura traz para os políticos, Francisco Leal é claro: “o que está no centro das decisões de política cultural da Câmara não são os dividendos políticos directos e imediatistas”.

“As decisões

hesitar remata, “quando começámos

em 1993/94 pensávamos com 2005 como horizonte, tal como hoje a nossa estratégia está pensada para o horizonte 2025”.

O percursoRever o percurso da política cultural da autarquia num mandato tão extenso não é obra fácil, mas Francisco Leal tem-no perfeitamente presente e recorda, sob proposta do Cultura.Sul, os principais feitos do seu consulado.

“A primeira acção de relevo em termos de política cultural foi a recuperação dos mercados”, recorda. “É uma das grandes obras de foi a recuperação dos mercados”, recorda. “É uma das grandes obras de foi a recuperação dos mercados”,

recuperação do património edifi cado e que tem hoje uma importância fundamental, quer como um dos espaços turísticos âncora da cidade, quer no que respeita à utilização do espaço público pela comunidade”, destaca.

que aproveitar ao máximo todo este

património, valorizá-lo e devolvê-lo à comunidade, maximizando a sua expressividade no cômputo cultural e patrimonial”.

Um esforço que se estendeu a todas as freguesias e que, além das intervenções sobre os edifícios, se fez também com intervenções de carácter urbanístico e paisagista, como na recente intervenção na envolvente da Igreja de Moncarapacho.

A bibl ioteca marca outro m o m e n t o f u n d a m e n t a l . “Aproveitámos o antigo edifício do Hospital de Olhão e criámos uma biblioteca, aproveitando o património e valorizando-o”, relembra Francisco Leal. “Criámos uma infra-estrutura indispensável, bem

novas zonas industriais condições para transferir as instalações industriais, libertando espaços para serem dedicados aos mais variados fi ns, nomeadamente à cultura”.

Muito mais do que obra feitaMas a cultura em Olhão é

muito mais do que os espaços culturais criados, é acima de tudo uma identidade social e cultural fortíssima que Francisco Leal reconhece claramente e valoriza de forma particular.

“Ao longo dos anos sempre apoiámos as iniciativas populares, sabemos que aí reside a nascente da força de ser olhanense e a identidade cultural do concelho”, destaca.

“Damos apoio desde os santos e marchas populares, que têm em Olhão e nas freguesias grande relevo e demonstram grande vitalidade, até às iniciativas de todas as organizações, da cultura e do desporto até à educação”, refere, concluindo que “atrever-me-ia a dizer mesmo que tudo o que mexe em Olhão é apoiado pela Câmara”.

“Exemplos disto mesmo são o apoio que demos sempre ao Carnaval de Moncarapacho, que o tornou numa festa mais popular e mais aberta aos olhanenses e aos visitantes”, refere o presidente.

Outro exemplo, mais recente, foi a recuperação da festa que tinha lugar antigamente na segunda-feira de Páscoa no Cerro da Cabeça. “Recuperámos esta tradição e está a crescer enquanto evento popular, representando mais uma recuperação do pat r imónio enformador da identidade colectiva dos olhanenses”, destaca.

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Francisco Leal, presidente da Câmara de Olhão

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panorâmica

Uma polít ica de apoio às iniciativas populares que nunca pôs em causa a realização de eventos de outras características por parte da Câmara, nomeadamente concertos, exposições, feiras e mostras que determinam a abrangência de públicos que vão desde os habitantes de Olhão e do concelho até aos visitantes de forma transversal na sociedade.

O futuro cultural“Muito há ainda por fazer”, confessa Francisco Leal. As próximas apostas na área cultural passam pela recuperação da zona histórica de Olhão, uma intervenção colossal para a qual já há fundos e que valorizará o espaço público ao mesmo tempo que será, de acordo com o autarca, “o elemento agregador das valorizações parcelares da cidade que temos vindo a realizar”.Esta é uma intervenção que mudará de forma radical a cidade, porque une sob um discurso coerente em termos patrimoniais e urbanísticos os diversos espaços e enquadramentos, e que terá profundos efeitos no desenvolvimento de Olhão.Outros dois projectos em que apostamos a médio e longo prazo são a recuperação do Forte de São Lourenço, onde a investigação patrimonial subaquática já está a dar passos, e a reconversão do antigo matadouro para acolher um museu directamente relacionado com o mar, a pesca e a relação única de Olhão com a Ria Formosa.

Caíque Bom Sucesso

O caíque atracado em Olhão hoje é uma réplica daquele que, em Julho de 1808, zarpou com 17 olhanenses para o Brasil levando consigo o correio que daria ao Rei D. João VI notícias da expulsão dos franceses que haviam invadido o país e tomado a capital provocando o exílio da família real.

A réplica mandada fazer pela Câmara de Olhão representa a memória viva dos feitos do povo de Olhão naquela época e constitui um ícone da História da cidade e do seu povo.Custo: 500.000 €Junho de 2002

Compromisso Marítimo

Hoje Museu da Cidade, depois da recuperação patrimonial levada a cabo pela autarquia, o Compromisso Marítimo de Olhão, a confraria marítima dos homens do mar criada em 1765 e responsável pela administração da Capela de Nossa Senhora da Conceição na Igreja Matriz.

Desde Junho de 2001 que o museu serve a população olhanense, constituindo um dos pontos de interesse da cidade. Alberga agora uma exposição no âmbito do projecto regional “Algarve do Reino à Região”.Custo: 1.000.000 €Junho de 2001

Biblioteca Municipal

Instalada no edifício do antigo hospital de Olhão, criado em 1884, a Biblioteca Municipal de Olhão alberga um acervo que compreende mais de 25 mil documentos, sendo cerca de 15 mil oriundos da antiga biblioteca fi xa n.º 5 da Fundação Calouste Gulbenkian.

A renovada infra-estrutura,

cuja área ultrapassa os 2.600 metros quadrados divididos por três pisos, conta com um auditório e representa uma ferramenta de importância notória para a população e para a comunidade estudantil olhanense.Custo: 3.000.000€Setembro de 2008

Mercados

Os oito torreões dos mercados de Olhão são a imagem mais distintiva da cidade. Construídos em 1915, são um dos ícones da cidade e o lugar por excelência para um encontro com a alma olhanense.Depois de a sua recuperação ter sido desejada sob a forma de centro cultural, a manutenção

da sua função original provou ter sido a decisão mais acertada, deixando aos olhanenses um espaço público que é seu e que os representa de forma ímpar.Custo: 1.500.000€Julho de 1998

A sala maior da cidade de Olhão abriu portas há pouco mais de um ano com uma capacidade para 414 pessoas. O Auditório Municipal determinou

a entrada de Olhão para a rota

nacional dos grandes espectáculos e a possibilidade do público olhanense assistir em casa às maiores produções das mais diversas áreas culturais.Construído a partir de uma velha fábrica conserveira, o Auditório Municipal determinou a requalifi cação de uma zona urbana cuja nova vida devolveu maior dignidade àquela parte da cidade.Saído do estirador do arquitecto

António Meireles, o projecto refl ecte nos pormenores de arquitectura o cubismo associado à cidade e mantém a original chaminé fabril, apesar de nos seus três pisos interiores encerrar uma das mais modernas e versáteis salas da região e do sul do país.Custo: 5.000.000€ Março de 2009

Auditório Municipal

O futuro cultural“Muito há ainda por fazer”, confessa Francisco Leal. As próximas apostas na área cultural passam pela recuperação da zona histórica de Olhão, uma intervenção colossal para a qual já há fundos e que valorizará o espaço público ao mesmo tempo que será, de acordo com o autarca, “o elemento agregador das valorizações parcelares da cidade que temos vindo a realizar”.Esta é uma intervenção que mudará de forma radical a cidade, porque une sob um discurso coerente em termos patrimoniais e urbanísticos os diversos espaços e enquadramentos, e que terá profundos efeitos no desenvolvimento de Olhão.Outros dois projectos em que apostamos a médio e longo prazo são a recuperação do Forte de São Lourenço, onde a investigação patrimonial subaquática já está a dar passos, e a reconversão do antigo matadouro para acolher um museu directamente relacionado com o mar, a pesca e a relação única de Olhão com a Ria Formosa.

levando consigo o correio que daria ao Rei D. João VI notícias da expulsão dos franceses que haviam invadido o país e tomado a capital provocando o exílio da família real.

constitui um ícone da História da cidade e do seu povo.Custo: 500.000 €Junho de 2002

Compromisso Marítimo

Hoje Museu da Cidade, depois da recuperação patrimonial levada a cabo pela autarquia, o Compromisso Marítimo de Olhão, a confraria marítima dos homens do mar criada em 1765 e responsável pela administração da Capela de Nossa Senhora da Conceição na Igreja Matriz.

Desde Junho de 2001 que o museu serve a população olhanense, constituindo um dos pontos de interesse da cidade. Alberga agora uma exposição no âmbito do projecto regional “Algarve do Reino à Região”.Custo: 1.000.000 €Junho de 2001

que compreende mais de 25 mil documentos, sendo cerca de 15 mil oriundos da antiga biblioteca fi xa n.º 5 da Fundação Calouste Gulbenkian.

A renovada infra-estrutura,

de importância notória para a população e para a comunidade estudantil olhanense.Custo: 3.000.000€Setembro de 2008

Mercados

Os oito torreões dos mercados de Olhão são a imagem mais distintiva da cidade. Construídos em 1915, são um dos ícones da cidade e o lugar por excelência para um encontro com a alma olhanense.Depois de a sua recuperação ter sido desejada sob a forma de centro cultural, a manutenção

da sua função original provou ter sido a decisão mais acertada, deixando aos olhanenses um espaço público que é seu e que os representa de forma ímpar.Custo: 1.500.000€Julho de 1998

A sala maior da cidade de Olhão abriu portas há pouco mais de um ano com uma capacidade para 414 pessoas. O Auditório Municipal determinou

a entrada de Olhão para a rota

nacional dos grandes espectáculos e a possibilidade do público olhanense assistir em casa às maiores produções das mais diversas áreas culturais.Construído a partir de uma velha fábrica conserveira, o Auditório Municipal determinou a requalifi cação de uma zona urbana cuja nova vida devolveu maior dignidade àquela parte da cidade.Saído do estirador do arquitecto

António Meireles, o projecto refl ecte nos pormenores de arquitectura o cubismo associado à cidade e mantém a original chaminé fabril, apesar de nos seus três pisos interiores encerrar uma das mais modernas e versáteis salas da região e do sul do país.Custo: 5.000.000€ Março de 2009

Auditório Municipal

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01. 07.10 ◇ CULTURA . SUL

6cinema

Cineclube de Faro

Os cineclubes do Algarve estão vivos

O Cineclube de Faro, ao longo dos seus 54 anos de vida, está totalmente fi rmado na realidade local, regional e nacional. Não são pois de estranhar as múltiplas colaborações que nos são pedidas, nem as co-organizações que fazemos com entidades tão díspares como a Sociedade Recreativa Artística Farense ou o Teatro Municipal de Faro. Mantemos a pujança da juventude, porque jovem é o espírito que nos move. Mantemos o orgulho de fazer o melhor, porque razões de orgulho pela História que nos antecede é o que não nos falta. Mantemos, também, só que neste caso infelizmente, os crónicos problemas de instabilidade e sufoco fi nanceiro que, uns mais do que outros, são triste apanágio da realidade cineclubística nacional. Perguntar-se-à o leitor como é possível sobreviver assim, numa actividade cultural tão onerosa quanto a da exibição cinematográfi ca, cada sessão a rondar os 300 ou 400 euros, e tendo-as todos nós uma vez por semana. Falando pelo CCF, com muita angústia e credo na boca… contando cada espectador que irá despender 3,5€ num bilhete… rezando que mais um ou outro sócio pague quotas em atraso… Mas também com muita imaginação, diversifi cando a oferta, seja do tipo de fi lmes, seja nos locais de exibição, como o programa do mês de Julho exemplifi ca.

Anunciamos desde já que em finais desse mês e durante o início de Agosto, regressaremos com o nosso habitual Ciclo de Cinema ao Ar Livre, mas desta vez composto por 20 fi lmes em 10 noites consecutivas, no aprazível espaço da Fábrica da Cerveja. “Curtas Portuguesas recebem os Amigos Americanos”.. E, em fi nais de Agosto e início de Setembro, o luar de Cacela-A-Velha acolherá, pelo terceiro ano consecutivo, um ciclo de cinema (este ano, só português ) que tudo tem a ver com o Algarve. Porque, para além de Farenses, somos algarvios. É nesta região que existimos e trabalhamos. É por ela que damos tudo o que sabemos, tudo o que podemos – mesmo que conseguíssemos muito mais. Assim nos dessem as condições...

Gratos ao Caderno CULTURA.SUL por, pela sua parte, nos estar a melhorar as condições de divulgação.

• Cineclube de Olhão

Curtas e Documentários– Os mal amados das salas de cinema

Apesar de termos vindo a assistir a um crescimento da produção de curtas-metragens e documentários nacionais, estes continuam a passar ao lado das salas de cinema e sobretudo ao lado do público.

Várias curtas-metragens portuguesas têm sido premiadas em importantes festivais. Depois de “Arena” ter vencido em Cannes em 2009 este género ganhou algum fôlego extra, mas não fora uma inteligente campanha de promoção, com a inclusão de “Arena” como extra de uma longa-metragem de primeira linha e talvez quase ninguém a teria visto numa sala de cinema.

O documentário tem um pouco mais de sorte no processo. Pela sua duração, próxima de uma longa-metragem, e por ser um género que atrai, nem que seja pontualmente, alguns realizadores conceituados, o mesmo acaba por ter mais saída no circuito das salas.

Mas a adesão do público não é tão genuína como se poderia esperar. O mês passado o Cineclube de Olhão (CCO) apresentou o ciclo “Documentários portugueses (menos 1)” no qual exibiu 4 fi lmes documentais de grande qualidade, relevância e atualidade (Pare, Escute, Olhe; Bobby Cassidy; Ruas da Amargura; Ruínas e a fechar (o menos 1) “� e Cove”, vencedor do Óscar de melhor fi lme nessa categoria.

A adesão do público deixou-me algo desanimado. Registámos quebras de espetadores na ordem dos 30 a 40%. A seleção das obras foi boa, todos eles foram premiados em festivais e eram estreias em sala no Algarve. Será que existe a ideia de que “não vale a pena ver documentários no cinema, porque dão na televisão”?

Espero que não, e por isso o CCO volta a insistir e a abrir a programação de Julho com o documentário “Fantasia Lusitana” de João Canijo. Um documento etnográfi co realizado a partir de imagens de arquivo e que nos dá um retrato, e uma outra visão, de Portugal durante a 2ª grande guerra e da nossa controversa neutralidade.

A não perder portanto…

• Cineclube de Tavira

11ª Mostra de Cinema Europeu de Tavira

O Cineclube de Tavira realiza, de 16 a 26 de Julho de 2010, a Mostra de Cinema Europeu, pelo 11º ano consecutivo. Desde o primeiro ano temos privilegiado uma rigorosa selecção de cinema de qualidade produzida por Europeus, aliando a esta programação uma atmosfera única e mágica, proporcionada por espaços ao ar livre. As Mostras já passaram pelos Claustros do Convento da Graça , em 2000 e 2001, pela esplanada do Palácio da Galeria em 2002 e pelos Claustros do Convento do Carmo, desde 2003.

A programação escolhida para este ano é bastante rica. Procurou-se diversifi car em termos das nacionalidades de produção dos fi lmes, sempre dependente da oferta disponível no mercado nacional de distribuição, que continua a ser limitada. Esperamos receber muitos visitantes e apreciadores de bom cinema, neste evento que já é uma das marcas culturais do Verão em Tavira.

O cineclube proporciona, ainda, um serviço de bar junto ao local de projecção para permitir o convivo entre os presentes, a troca de impressões e emoções, num ambiente de diálogo e boa disposição, na prossecução daquele que é um dos nossos objectivos principias: divulgar o cinema de elevada qualidade e, simultaneamente, contribuir para a construção de uma consciência cinéfi la com sentido crítico.

Agenda do Cineclube de Farowww.cineclubefaro.com

Ciclo Já Não Se Fazem Heróis Como Antigamente Instituto Português da Juventude | 21.30 | Sócios: €1 | Não sócios: €3

5 Julho | Bobby Cassidy, Counterpuncher de Bruno Almeida

12 Julho | Tony Manero de Pablo Larrain

19 Julho | Mother - Uma Força Única de Joon-ho Bong

26 Julho | A Nova Vida do Senhor O’Horton de Bent Hamer

Ciclo Tenham Medo - A Obra Completa de Michael Haneke Esplanada d’Os Artistas | 22.00 | Entrada Livre

1 Julho | Brincadeiras Perigosas | Brincadeiras Perigosas (remake USA)

8 Julho | Código Desconhecido

15 Julho | A Pianista

22 Julho | O Tempo do Lobo

29 Julho | Nada a Esconder

Ciclo O Mundo Aos Nossos PésPátio das Letras | 22.00 | Entrada Livre

3 Julho | Home – O Mundo é a Nossa Casa de Yann Arthus-Bertrand | Comentário e debate com Élio Vicente, biólogo marinho

10 Julho | O Primeiro Choro de Gilles de MaîstreComentário e debate com Herberto Neves, obstreta

17 Julho | O Estado do Mundo de Apichatpong Weerasethakul e outros | Comentário e debate com Ana Soares, CIAC-UAlg

Agenda do Cineclube de Olhãowww.cineclubeolhao.com

Sessões RegularesRia Shopping - Sala 2 | Sócios: €1 | Não sócios: €3

6 Julho | 22h | Fantasia Lusitana de João Canijo

13 Julho | 21h30 | Estômago de Marcos Jorge

20 Julho |21h30 | As Ervas Daninhas de Alain Resnais

27 Julho |21.30h | O Segredo dos Seus Olhos de Juan José Campanella

O Cineclube é apoiado pela CM e JF de Olhão e pelo ICA (REDE 2010)

Agenda do Cineclube de Tavirawww.cineclube-tavira.com|[email protected]

Sessões RegularesCine-Teatro de Tavira | 21.30 | Sócios: €2 | Não sócios: €4 |

1 Julho | Soul Kitchen de Fatih Akin

4 Julho | Youth in Revolt de Miguel Arteta

8 Julho | Como Desenhar Um Círculo Perfeito de Marco Martins

11 Julho | Humpday de Lynn Shelton

11ª Mostra de Cinema Europeu de TaviraClaustros do Convento do Carmo | 21.30 | Sócios: €2,50 | Não sócios: €4,50

16 Julho | � e Boat that Rocked de Richard Curtis

17 Julho | An Education de Lone Scherfi g

18 Julho | Los Abrazos Rotos de Pedro Almodóvar

19 Julho | Pranzo di Ferragosto de Gianni di Gregorio

20 Julho | Welcome de Philippe Lioret

21 Julho | Ruas de Amargura de Rui Simões

Com legendas em Inglês e na presença do Realizador

22 Julho | � e Soloist de Joe Wright

23 Julho | Fish Tank de Andrea Arnold

24 Julho | Das Weisse Band de Michael Haneke

25 Julho | � e Straight Story de David Lynch

26 Julho | New York, I Love You de Mira Nair [et al]

29 Julho | � e Time � at Remains de Elia Suleiman

A exibição decorrerá ao ar livre, nos Claustros do Convento

Vico Reis UghettoPresidente do Cineclube de Olhão e técnico de comunicação audiovisual

André VianePresidente do Cineclube de Tavira

Th e Boat that Rocked de Richard Curtis

Fantasia Lusitana de João Canijo

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3, 4, 10 e 11

10/07 a 05/09

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28 e 29

JulhoFestas de FerreirasJunto ao Estádio da Nora | 20h00

Exposição de Escultura Abstracta Espaço Multiusos de Albufeira17h00 às 23h00

Festival Al-buheraDeolindaMacacoBongaThe Original WailersCentro da Cidade

Albufeira Summer CupBenfica – SunderlandEstádio Municipal | 21h15

Ensaio Aberto ACTA/OALargo dos Paços do Concelho | 22h00

XXIII Festa do Frango da GuiaJunto ao Estádio Arsénio Catuna | 19h00

30/07 a 1/08

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Riqueza Maior

Património

O Património histórico edificado é uma das maiores riquezas do Algarve. Ao longo das próximas edições iremos

lançar um olhar mais profundo sobre estes e outros monumentos da nossa região.

Castelo de Paderne (Albufeira)

Este Castelo é um dos que figuram na Bandeira de Portugal e foi conquistado aos mouros por D. Paio Peres Correia em 1248 e desactivado em 1858.Classifi cado como Imóvel de Interesse Público desde 1971, o Castelo está a ser objecto de estudo por parte do IPPAR - Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico, com vista à sua valorização e classifi cação das áreas envolventes à Ribeira de Quarteira como Área de Paisagem Protegida.

www.cm-albufeira.pt

• Castelo de Alcoutim

Esta fortaleza foi construida no séc. XIV, no reinado de D. Dinis, arrasando quaisquer vestígios de épocas anteriores, nomeadamente do periodo compreendido entre a Idade do Ferro e o período romano republicano. Foi classifi cado Imóvel de Interesse Público em 1973, sendo alvo de um projecto de recuperação e valorização em 1992/3, levado a cabo pela Câmara Municipal de Alcoutim.

www.cm-alcoutim.pt

• Castelo de Castro Marim

A primeira fortaleza de Castro Marim deveria ter consistido num castro familiar ou de povoamento do período neolítico, levantado na coroa desse monte. Mais tarde, no reinado de D. Dinis, compensando a perda de Ayamonte que passou para o domínio de Castela, manou o reio reforçar a fortifi cação, ampliando-a com a construção da Muralha de Fora, para abrigo e defesa da população, atraindo-a com a confi rmação e ampliação dos privilégios atribuidos pelo seu pai D. Afonso III, concedendo-lhe nova Carta de Foral em 1282.

www.cm-alcoutim.pt

Castelo de São João de Arade (Lagoa)

O castelo de S. João do Arade, constitui, pela sua antiguidade um conjunto patrimonial de valor nacional. A sua localização na foz do Rio Arade, sobre os rochedos de uma península, confere-lhe um valor paisagístico único no nosso país, tornando-se num dos marcos mais emblemáticos do Concelho de Lagoa.Possui planta trapezoidal, torre de menagem ameada, várias construções escalonadas em altura, dependência virada para o mar e guarida

www.municipiodelagoa.net

• Forte Ponta da Bandeira (Lagos)

Também conhecido por Forte de Nossa Senhora da Penha de França, Forte do Pau da Bandeira ou Forte do Registo. Construído entre 1680 e 1690, defendia o acesso ao cais e os fl ancos sudeste e nascente da muralha da cidade, cruzando fogo com o baluarte da Porta da Vila e com o baluarte do Castelo dos Governadores. Concebido, ao tempo, como uma das fortalezas tecnicamente mais avançadas de todo o Algarve.É um dos melhores e mais bem conservados exemplares do século XVII existentes em todo o Algarve, constituindo um autêntico ex-líbris das fortifi cações marítimas da antiga Praça de Guerra em Lagos.

www.cm-lagos.pt

• Castelo de Loulé

O castelo de origem árabe, reconstruído no séc. XIII, possuía umas muralhas impressionantes, parte das quais ainda se podem ver, e 3 torres de alvenaria. A vila de Loulé era originalmente cercada pelas muralhas, constituindo este espaço o núcleo político, religioso e habitacional. No entanto, o crescimento da população levou a que a então vila se expandisse para além daquelas e formasse os pilares da cidade que hoje conhecemos.

www.cm-loule.pt

Fortaleza de Sagres (Vila do Bispo)

Tem sido difícil de determinar com precisão a data inicial da construção da fortaleza e das suas muralhas, indicando-se como data mais provável o ano de 1443, data em que D. Henrique, fi lho do Rei D. João I, recebeu da parte do seu sobrinho, D. Afonso V, a região de Sagres para nela edifi car uma Vila, destinada a prestar apoio à navegação que cruzava estas águas.A Fortifi cação, que recebeu grandes obras durante o Século XVI, foi fortemente danifi cada pelos ataques de Francis Drake, corsário Inglês, em 1587, bem como pelo Terramoto de 1 de Novembro de 1755.

www.cm-viladobispo.pt

• Castelo de Silves

Situado no cimo da colina, rodeado por uma cortina de muralhas com onze torreões, ocupando uma área de doze mil metros quadrados, este castelo que remonta ao século XI é considerado o maior castelo da região algarvia e o melhor exemplo da arquitectura militar islâmica existente em Portugal.Apesar dos estragos provocados pelo terramoto de 1755, actualmente é considerado como um dos mais bem conservados monumentos nacionais, graças à obras da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.

www.cm-silves.pt

• Ponte Romana de Quelfes (Olhão)

De origem romana é constituída por um arco de volta perfeita, tem uma extensão de 23,65 m. Foi sendo restaurada ao longo dos tempos, sofrendo várias reconstruções. É considerada imóvel de interesse público. Neste local, em 1808, deu-se o confronto entre o povo de Olhão e as tropas napoleónicas, levando à sua expulsão.

www.cm-olhao.pt

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arte

A primeira impressão com que ficamos ao entrar no ateliê de Sylvain Bongard é a de que entramos num mundo povoado de animais e plantas exóticas, onde a imaginação não tem limites.

Nascido na Suíça em 1959, Sylvain Bongard cedo veio viver para o Algarve com os pais. Mais tarde decidiu ir estudar para Inglaterra e Alemanha. Porém o clima, o mar e as pessoas atraíram-no novamente ao Algarve onde permanece, dedicando-se à pintura, decoração, escultura e à arte do azulejo. Considerado um dos mais multifacetados artistas do Algarve foi em Ferragudo que montou o seu ateliê.

A arte do azulejo é uma das suas paixões. Como surgiu esse gosto pelo azulejo?

Foi em 1987 quando comprei um forno pequeno, uns azulejos, umas tintas e comecei a pintar mesmo só como passatempo. Passados alguns meses já tinha uma enorme colecção de quadros em azulejo. Foi então que surgiu a oportunidade de, em 1988, ir à Feira de Artesanato, Turismo, Agricultura, Comércio e Indústria do Algarve (Fatacil) fazer a primeira exposição onde consegui vender algumas peças. Apercebi-me que dava para conseguir viver da arte. Passados três anos, estava já a viver unicamente da pintura.

C o m o t e m s i d o o s e u percurso?

Não tenho apenas trabalhado em painéis de azulejo, tenho também feito trabalhos em escultura em grés e pintura mural. O meu trabalho passa também pela decoração de restaurantes, quartos de crianças, inclusivamente convidaram-me para decorar os corredores da ala psiquiátrica do Hospital do Barlavento Algarvio com fl ores, plantas, insectos. Foram 100 metros de corredor que ganharam outra vida e dão alento a quem lá está. Mas o azulejo teve durante 20 anos um papel importante na minha vida. O azulejo é muito fl exível e eu acabei por encontrar um estilo próprio.

Isto signifi ca que está sempre a inovar e a encontrar novos materiais?

De tal maneira que agora estou centrado na escultura em grés cerâmico. É o que quero fazer. Isso não signifi ca que tenha abandonado a arte do azulejo. O grés cerâmico é barro. A diferença em relação ao barro normal é que é cozido a temperaturas mais altas e é mais resistente ao frio, tem mais textura,

mais cor, é mais impermeável e permite fazer trabalhos de maior porte.

Os motivos naturais são aqueles que lhe agradam mais na concepção das obras artísticas?

Sim, o animal, o vegetal e também a fi sionomia das pessoas. Gosto muito de caras.

Em que se inspira para idealizar os seus objectos artísticos?

Vem tudo da memória passada, da minha infância. Eu sempre vivi rodeado de animais. Primeiro na Suíça, e depois aqui no Algarve. Eu sempre vivi embrenhado no meio natural. Daí ter feito uma peça com passarinhos sem me basear em nenhum livro ou fotografia. Toda a inspiração sai da minha memória. É impressionante como a memória fi cou com tudo lá dentro desde os tempos de criança. São memórias do passado que vêm agora à superfície da mente.

Em que está a trabalhar actualmente?

Estou a trabalhar na escultura em grés. Estou a fazer os últimos trabalhos. São insectos gigantes.

Q uem pr o cur a o s s eus trabalhos?

São mais os particulares que me contactam, sobretudo donos de

vivendas. Diria que 95 por cento são estrangeiros, dos quais 80 por cento são alemães.

Porquê este interesse por parte dos alemães?

Portugal tem menos poder de compra. O português, em termos gerais, se pagar um valor mais alto por uma peça quer que o artista seja português, conceituado porque é a maneira de impressionar a nível social. Já os estrangeiros são diferentes. O alemão, de uma maneira geral, se gosta e acha que o preço é justo, compra, não quer saber o que eu faço, onde vivo, não precisa do currículo do artista nem de diploma. Pode interessar-se por isso mais tarde. Mas não é por isso que ele vai comprar a peça. Não compra para impressionar ninguém. É para o seu próprio prazer.

Os estrangeiros levam as suas peças para os países de origem?

Alguns levam, mas muitos deles têm cá vivenda ou negócios. Por exemplo, acabei de fazer um trabalho com perto de 40 painéis de azulejos para um empreendimento turístico no concelho de Lagoa sobre os pássaros e as árvores de fruto do Algarve. Uma sugestão minha que foi bem aceite. Nesses painéis desenhei lontras, raposas, o lince ibérico. Antes disso tive

também a sorte de decorar o fundo de uma piscina com 100 metros quadrados. É uma imagem subaquática enorme. Há uns anos tive também o privilégio de fazer, em Miami, uma fl oresta tropical em azulejo. Levei mais de um ano a pintá-la com centenas de animais e plantas. Foi um trabalho de três mil azulejos incrivelmente pormenorizados.

“Fazem falta galerias de arte sérias”

Acha que faltam galerias de arte no Algarve?

Sim. Considero que no Algarve fazem falta galerias de arte sérias.

Os artistas não reclamam uma maior divulgação dos seus trabalhos?

Não de uma maneira que funcione. Há uma associação de artistas do Algarve constituída mas a meu ver o problema prende-se também com a selecção. Tem de haver uma selecção de trabalhos e de artistas. É certo que todas as pessoas que desenham têm o direito de expor e vender. Não

vamos impedir ninguém de fazer o que gosta. Porém há que fazer a distinção entre uma réplica comercial e um trabalho genuíno. Numa exposição colectiva há tanta coisa que não interessa... Esse é o problema que eu tenho neste momento. Tenho todas estas peças na minha galeria e gostava de poder mostrá-las a pessoas que têm galerias e que querem ganhar dinheiro com obras de arte.

Este tipo de trabalho que desenvolve não é muito comum?

Eu acho que não há. Algumas pessoas que me conhecem e sabem de arte dizem que não há. E é fácil dizer porque não há. O meu passado não é nada comum. Infl uenciou-me muito. Há algumas pessoas que terão tido também um passado muito ligado à natureza, mas não viraram escultores.

Como vê a relação dos algarvios com a arte e a cultura em geral?

Acho que está a haver um maior interesse, tendo em conta que não havia praticamente nenhum há 40 anos. De momento as pessoas têm tendência ainda a serem muito materialistas. O dinheiro é dirigido sobretudo para a obtenção de bens materiais. Para arranjar um público português acho que só vou conseguir em Lisboa.

A arte de Sylvain BongardA exuberância da arte está à vis-ta para quem entra no ateliê Bongard. Cada um dos objectos por que passamos parece retira-

do de fábulas. A natureza ganha força e expressa-se em forma de arte. Pássaros, cavalos-marinhos, gafanhotos gigantes, camaleões

são cuidadosamente esculpidos e pintados para ganharem uma nova vida

Por Nélia Sousa

D.R.

Sylvain Bongard no seu ateliê rodeado de algumas das suas inúmeras peças

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01. 07.10 ◇ CULTURA . SUL

12livro

Esta é a minha primeira colaboração no cultura.sul, que eu gostava que fosse marcada por um texto de felicidade. Contudo, a morte recente de José Saramago (relativamente à data em que escrevo, foi ontem) alterou os meus planos.

Quando soube do acontecido, veio-me à ideia a carta cor de violeta de As Intermitências da Morte, invenção da morte (com letra pequena, como ela fez questão em afi rmar), enviada aos seres humanos, dando-lhes uma semana para organizarem a sua despedida da vida. O livro está repleto de humor, crítica social (como não poderia deixar de ser, num homem tão comprometido politicamente, nas várias acepções da palavra) e beleza.

A m o r t e d e i x o u - s e seduzir por aquele que já lhe pertencia.

E foi este contexto que me levou para os meus primeiros meses a viver no Algarve, terra de antepassados (de onde herdei o meu Mendonça), onde pela primeira vez apertei a mão a José Saramago. Aconteceu na Biblioteca de Portimão (numa noite em que também lá estava Gonzalo Torrente Ballester), exactamente a 3 de Maio de 1996, relembra-me o meu Ensaio sobre a Cegueira. Quando se apercebeu que lhe trazia para assinar mais do que um exemplar, Saramago comentou, com ironia complacente: «Com tantos autógrafos, os meus livros não assinados vão valer mais do que os assinados!»

Não li todos os livros de José Saramago nem é o meu autor preferido (talvez porque não tenha um), mas é o autor de um dos meus livros preferidos: O Ano da Morte de Ricardo Reis. Enquanto o lia e ia vendo que faltava cada vez menos para acabar, ia também entristecendo por pensar que

teria de deixar a companhia daquelas personagens. Nunca nenhum outro livro me fez ter saudades do convívio com a história que era contada, muito menos quando a sua leitura nem tinha ainda terminado.

José Saramago domina as palavras com mestria, tratando-as com afabilidade, e para nós, leitores, constrói um texto que nos obriga ficar totalmente envolvidos, a respirar onde ele decide, a dar a entoação exigida pelo sentido e pela força das palavras, e não apenas por uma marcação gráfi ca: «as palavras, se não o sabe, movem-se muito, mudam de um dia para o outro, são instáveis como sombras, sombras elas mesmas, que tanto estão como deixaram de estar, bolas de sabão, conchas de que mal se sente a respiração, troncos cortados» (As Intermitências da Morte, 2ª ed. p.118).

A terminar, recordo-me do poeta latino Horácio, que escreveu, há cerca de dois milénios, a propósito da sua própria obra literária, mas que aqui tão bem se ajusta:

«Erigi um monumento mais duradouro que o bronze, | mais alto do que a régia construção das pirâmides | que nem a voraz chuva, nem o impetuoso Vento do Norte | nem a inumerável série de anos, || nem a fuga do tempo poderão destruir. | Nem tudo de mim morrerá (…)».

«Nem tudo de mim morrerá»

Itinerários:• 2 Julho |21h30 |

Livraria Pátio de Letras (Faro)

Álvaro Cunhal - Sete Fôlegos de um Combatente. Memórias, de Carlos Brito, apresentado por Almirante Martins Guerreiro e Carlos Luís Figueira.

• • 9 Julho | 22h |Livraria Pátio de Letras (Faro)

O Professor que o Adolescente deseja, de Maria Gabriela Sousa e Silva,

• 24 Julho |22h | Livraria Pátio de Letras (Faro)

A Maçonaria Desvendada, Luís de Matos (Ed. Zéfi ro), apresentado por

José António Barreiros.

• Até 15 Agosto

“Cantos e Encantos da Minha Terra” – Concurso de Poesia Popular da Fundação Inatel da Região Alentejo e Algarve.

Adriana Nogueiraprofessora universitária de Estudos Clá[email protected]

Biblioteca.s

Lenta revolução nos livros digitais

Está longe de ser tão popular como ver um vídeo no Youtube ou ouvir uma música no leitor de Mp3 mas a leitura de livros em formato digital está a entrar na vida das pessoas.

Se olhar em volta dificilmente vai encontrar provas desta situação e em Portugal o livro digital ainda é uma curiosidade. Já encontram à venda leitores que permitem ler sem computador e em plena luz do dia. Mas a questão não é tecnológica: são os conteúdos que dão corpo às revoluções no mundo digital.

É um facto que hoje as novas edições estão em formato digital, com livros mais baratos e disponíveis antes mesmo da edição em papel. Do mesmo modo existem trabalhos de digitalização de várias bibliotecas consagradas mundialmente. Apesar disto tudo existe uma barreira: a língua.

As editoras portuguesas, o estado e as instituições não investem na publicação em formato digital e assim quase só temos acesso a livros em inglês.

Livros de literatura escritos ou traduzidos em português europeu não passam de poucas centenas. E este começa a ser um problema cultural, uma falha na defesa da língua portuguesa no mundo dos cidadãos digitais.

Literatura gratuita e em português?- BDC: http://cvc.instituto-camoes.

pt/conhecer/biblioteca-digital-camoes.html

- BLD (3 os 13 anos): http://e-livros.clube-de-leituras.pt

Livros digitalizados e Livros digitaisO livro digitalizado é uma reprodução

de um livro existente recorrendo a imagens obtidas por scanners. Destina-se a preservar e a permitir o acesso aos documentos.

Já o livro digital é uma versão de um livro criado normalmente a partir da versão informática para impressão. Possibilita a leitura áudio e utilização em leitores digitais que não emitem ruído e possuem ecrãs de tinta digital (e-ink) para leitura até ao sol.

Os formatos de distribuição são semelhantes e o mais comum é o PDF, podendo ser lidos em qualquer computador.

Paulo IzidoroCoordenador Interconcelhio da Rede de Bibliotecas [email protected]

Leitor digital de trazer no bolso

José Saramago (1922 - 2010)

Da minhabiblioteca

Horácio, Odes, Edições Livros Cotovia, Lisboa, 2008. Tradução de Pedro Braga Falcão.Horácio é um dos poetas latinos que deixou alguns conceitos que perduraram na nossa cultura, literária sobretudo, como o carpe diem, «aproveita/colhe o dia», ou a mediania sensata (a aurea mediocritas, que defende que a vida deve ser vivida com tranquilidade), que tanto infl uenciaram Ricardo Reis, o heterónimo de Fernando Pessoa.

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Até 2007, os jovens algarvios do ensino secundár io que quisessem formar-se como actores viam-se obrigados a sair da região onde nasceram para realizar o seu sonho. A situação modifi cou-se com a abertura do primeiro Curso Profissional de

Artes do Espectáculo, variante Inte r pre t ação , na E scol a Secundária Pinheiro e Rosa, em Faro e, no ano seguinte, na Escola Secundária de Albufeira. Tendo uma base idêntica, os dois cursos apresentam algumas diferenças que aumentam as opções de

escolha dos alunos.Ana Cristina Oliveira e

Paulo Moreira, responsáveis pelos Cursos de Faro e Albufeira, respectivamente, revelam ao Cultura.Sul o que distingue a oferta das duas escolas e quais as suas perspectivas a nível

do mercado de trabalho no Algarve.

Nos dias 6 e 7 de Julho, das 9h às 17h, no IPJ, em Faro, catorze jovens f inalistas do curso da Pinheiro e Rosa prestam provas públicas, perante um júri que os avaliará.

Em 2010/2011 o curso abre apenas na Escola Secundária Pinheiro e Rosa, em Faro. As inscrições têm início a 14 de Julho, para alunos com o 9º Ano.

ALGARVE FORMA JOVENS ACTORES

Do sonho ao palco por João Evaristo

ACO O curso de Faro está mais virado para a obtenção de ferramentas na área do teatro. Quero que os alunos trabalhem a fundo a construção da personagem. O cinema e a dobragem têm técnicas muito específicas que eles poderão apreender noutras formações.

PM Em Albufeira optámos por organizar o curso de modo a oferecer quer a vertente de Teatro, quer a vertente de Cinema e TV, com a consciência que existe mais mercado de trabalho nessa última área.

• O que distingue, em termos de estrutura, os curso oferecidos por Faro e Albufeira?

ACO Os alunos acabam por desistir e seguir outros percursos ao se verem confrontados com a difi culdade do curso e com algum engano. É necessário um grande investimento na parte científi ca e não só na parte prática.

PM Abandono escolar puro. Os cursos não são exigentes do ponto de vista cultural, académico ou intelectual, mas são cursos práticos eminentemente presenciais. O que acontece é que alguns alunos têm o “vício” de faltar às aulas, o que difi culta a aprovação nessas disciplinas.

• Quais os motivos de insucesso?

ACO O estágio é feito só no 12º ano. Em conversa, nomeadamente, com os responsáveis da ACTA e do ALMASRAH chegámos à conclusão que era mais vantajoso um estágio de 3 meses com 430 horas. Em que dois meses são de ensaios e um mês é para andar com a peça em itinerância. Isto permite aos alunos conhecerem de facto como é o trabalho numa companhia de teatro, de uma forma muito aproximada da realidade.

PM O estágio é distribuído pelos 3 anos. No 10º ano, os alunos fazem 100 horas em simulação de contexto de trabalho, num projecto a nível de escola, fi cando logo de início com a noção do que é montar um espectáculo. No 11º ano fazem mais 100 horas de estágio numa área diferente do teatro, nomeadamente no cinema ou na TV. As restantes 230 horas são utilizadas no estágio do 12º ano, em teatro, numa companhia profi ssional.

• Como está delineado o estágio para este curso?

ACO Existe a possibilidade de integrarem produções de companhias profissionais existentes. Ou de se formarem estruturas alternativas. O Algarve tem uma população interior que está muito carenciada relativamente a projectos culturais e essa poderá ser uma aposta.A nível de projectos de teatro considero que não é sufi ciente mas acho que existe muita diversidade. Houve uma grande evolução nos últimos anos. Há 10 anos não havia nada.

PM A razão pela qual eu considero importante a existência destes cursos no Algarve não se prende com a existência de um grande mercado de trabalho mas sim com a falta de escolas para os alunos que o queiram fazer. Obviamente que quem quiser fazer carreira tem que sair do Algarve. O número de companhias de teatro no Algarve está limitado por factores de ordem demográfi ca e sociológica (o teatro continua a ser uma actividade cultural frequentada por uma minoria da população) e não é razoável acreditar que todos os nossos alunos possam integrar-se nelas.

• Existe mercado no Algarve para esses alunos?

ACO No início do curso tinham-se inscrito 24 alunos. Chegaram ao fi m 14. Acho que é um número razoável que corresponde, aliás, à média habitual nestes cursos profi ssionais.

PM Entraram o ano passado 24, passaram 16 para o 11º e neste momento temos 11 a transitar para o 12º ano. Em relação à turma que entrou este ano no 10º ano a taxa é muito parecida.

• Quantos alunos integram as turmas?

Ana Cristina Oliveira, directora do Curso Profi ssional de Artes do Espectáculo, vari-ante Interpretação, na Escola Secundária Pinheiro e Rosa, em Faro.

Paulo Moreira, director do Curso Profi s-sional de Artes do Espectáculo, variante Interpretação, na Escola Secundária de Albufeira.

Os alunos da Pinheiro e Rosa integraram, durante o estágio, produções como Maria Adelaide (na foto) e As Vedetas pela Música XXI, A Cova dos Ladrões pela ACTA, Chama Devoradora pelo Te-Atrito e Min.Mal Show pelo Al-Masrah.

Momento de refl exão numa aula de Movi-mento, na Secundária de Albufeira. No dia 8 de Julho, os alunos de Albufeira apresentam na ESMAE, no Porto, o espectá-culo de teatro físico Via Agem inspirado na obra Os Bichos de Miguel Torga.

Itinerários:• 1 Julho |22h30 |Largo de Carmo/Tavira|Entrada Livre

Teatro/Circo | Do Do Land | Grupo Puja (Argentina/Espanha)

• 3 Julho | 17h | Fnac /Algarve Shoping da Guia/

Música/Rock | � e Mad Dogs |Six Pack Of Trouble

• 4/5 Julho |22h | Convento do Carmo - Tavira

Teatro |Minim.Mal Show | Al-Masrah

• • 10 Julho |21h30 |Teatro Municipal de Faro|€7

Música |B. Fachada |Ciclo “Os Novos Românticos”

• 17 Julho |22h | Largo do Carvoeiro /Lagoa |Entrada Livre

Teatro de Rua | Rêve d’Herbert | Compagnie dês Quidams (França)

• 17 Julho |21h30|Jardim da Verbena /São Brás de Alportel |€20

Música/Jazz|Kurt Elling

• 22 Julho | 21h30 | Teatro Municipal de Faro|€7»€10

Música | Sean Riley & � e Slowriders• 23»31 Julho | Academia de Música de Lagos

Música | III Estágio para Orquestra de Cordas

• 24 Julho | 22h | Monumento Engº Duarte Pacheco/Loulé | €35»€40

Música/Jazz | Diana Krall

• 29»31 Julho | 21h30 | Teatro Municipal de Faro|€10

Dança |Azul |VII Festival Internacional de Dança do Algarve pa

lco

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01. 07.10 ◇ CULTURA . SUL

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CULTURAL.SUL – Em termos culturais, o que é mais relevante no concelho de São Brás de Alportel?

Vítor Guerreiro – Temos um património natural e etnográfi co de enorme riqueza. Preservar a beleza das nossas paisagens e o vasto património etnográfi co são por isso as nossas grandes prioridades.

A história de São Brás de Alportel é feita pela sua gente de trabalho. Somos o mais jovem concelho do Algarve, com “apenas” 96 anos. Até 1914 éramos uma freguesia rural do concelho de Faro, que deve à indústria da cortiça a sua projecção a concelho.

O que tem sido feito para preservar toda essa história?

A edição de publ icações sobre f iguras incontornáveis são-brasenses, que foram uma referência a nível nacional e mesmo até internacional tem sido nossa preocupação. São disso exemplo Roberto Nobre, João Rosa Beatriz e Estanco Louro, que nos deixaram um importante legado e que procuramos dar a conhecer às jovens gerações.

Temos ainda apoiado várias publicações que retratam a nossa etnografia e a nossa história, mas estamos cientes que há ainda muito por fazer nesta área, nomeadamente a nível do nosso património oral. Preservar a poesia popular e o falar algarvio é extraordinariamente importante porque estes são tesouros culturais de valor incalculável. Este trabalho foi iniciado há muito anos com a publicação do livro do Alportel, de autoria de Estanco Louro. Um ilustre professor e investigador são-brasense que foi viver para Lisboa e cuja preocupação com a cultura da sua terra serve de exemplo para todos nós. A sua obra, uma monografia sobre S. Brás de Alportel, editada em 1929 ainda hoje serve de base a estudos e teses de mestrado e doutoramento sobre o Algarve.

E em termos de património edifi cado?

Para além do trabalho que vimos fazendo, em termos de sensibilização dos proprietários para a recuperação dos edifícios, temos feito nos últimos anos um investimento significativo, na requalifi cação e, mais do que isso, na revitalização do nosso Centro Histórico. A preservação deste núcleo da nossa vila é extremamente importante e é uma matéria muito sensível. As intervenções efectuadas nesta zona,

quer pela autarquia quer pelos proprietários, devem ser feitas de uma forma muito cuidadosa e neste sentido, para acompanhar estas intervenções criámos recentemente uma “Comissão de Preservação e Rev ita l ização do Centro Histórico”.

O património rural é outra área da maior importância e a este nível estamos a proceder à limpeza e sinalização de antigos caminhos, criando toda uma rede de percursos pedestres e outra das nossas apostas tem sido a recuperação de antigas fontes, espaços de grande importância na memória colectiva. Nestes espaços de lazer muito agradáveis, temos colocado trechos de poetas são-brasenses, criando uma verdadeira rota poética.

A inda re lat ivamente ao património edifi cado, não posso deixar de sublinhar o Centro Explicativo e de Acolhimento da Calçadinha. Recuperámos um antigo matadouro, instalando aí este centro, onde se inicia a visita para a “Calçadinha de S. Brás, o nosso ex-líbris arqueológico que tem ainda 2 troços a descoberto.

Referir o Museu do Trajo é incontornável…

O trabalho do Museu do Trajo tem sido muito bem conduzido. Neste momento, tem patente uma interessante exposição que integra

o projecto “do Reino à Região”, integrado na Rede de Museus do Algarve. Este Museu, propriedade da Santa Casa da Misericórdia, é actualmente uma referência a nível nacional, com um espólio de trajos valiosíssimo, e por isso merece da parte da autarquia um importante apoio, através da atribuição de uma verba mensal, para o seu funcionamento.

Como tem sido a evolução da biblioteca?

A biblioteca só foi inaugurada em 2001 e teve desde logo uma forte adesão por parte da população.

Hoje, o trabalho da Biblioteca vai muito para além do seu espaço, com uma rede de bibliotecas escolares, uma rede de “cafés com livros” e todo um vasto trabalho itinerante que tem contribuído determinantemente para a promoção do livro e da leitura.

Também com este propósito foi lançado o Prémio Literário Juvenil João Belchior Viegas, em homenagem a esta fi gura são-brasense que projectou o nome do concelho, uma iniciativa dos seus herdeiros, que pretende sensibilizar os mais jovens para a leitura e para a escrita.

Que balanço faz da Rota da Cortiça?

A Rota da Cortiça é um produto turístico mas também um

produto cultural. Foi criada para dar a conhecer o concelho, dando especial ênfase ao nosso património natural, às nossas paisagens e ao nosso ar puro.

A nossa história assenta na importância da cortiça. Daí que a rota tenha cada vez mais visitantes nacionais e estrangeiros, sendo também bastante procurada pelas escolas da região.

Qual é o itinerário oferecido aos visitantes?

A visita começa no Museu do Trajo, onde se aborda a história da cortiça. Segue-se para o campo, através de autocarros e veículos todo-o-terreno ou a pé. Quanto aos circuitos, são vários e à medida do tipo de visitante.

Essencialmente, mostramos o nosso património natural e industrial, desde as fábricas que exist iam no passado, e que cont inuam a l abora r, mostrando a tradição, mas dando também um passo para o futuro, com indústrias actuais do nosso concelho que têm tecnologias de ponta, como a Nova Cortiça que exporta os discos de cortiça que estão n a s r o l h a s do s me l ho r e s champanhes do mundo. E visitamos também a Pelcor, u ma ma rc a de a r t igos em pele de cortiça que é já uma referência mundial.

Temos que apoiar o que é nossoQual é a vossa política de apoios aos agentes culturais?

Defendo que as autarquias têm de apoiar o que se produz no concelho e na região. É fundamental apoiar os bons projectos regionais, como a Orquestra do Algarve, a Orquestra de Guitarras, a ACTA ou o Al-Masrah Teatro, a Companhia de Dança do Algarve e muitos outros projectos. Infelizmente, no nosso caso particular e com um orçamento municipal de apenas 16 milhões de euros, um dos mais pequenos do Algarve, os apoios concedidos têm de ser bem menores do que gostaríamos e, naturalmente, muito criteriosos.

Não se estará a dar relevância aos produtores culturais fora da região em detrimento aos nossos?

Em vez de comprar produtos culturais fora, deveríamos mais vezes apostar em espectáculos produzidos na região. Quem melhor do que os produtores que estão no Algarve para conhecer os seus públicos assim como as nossas autarquias?!!, temos que dar esse voto de confi ança aos nossos agentes culturais e em São Brás de

VÍTOR GUERREIRO, VEREADOR DA CULTURA DA CÂMARA DE SÃO BRÁS DE ALPORTEL

O Algarve pode exportar cultura

Por Henrique Dias Freire*

Temos agentes culturais de grande qualidade, que produzem produtos culturais de excelência, capazes de ser apreciados fora da região. Quem o diz é Vítor Guerreiro, vereador da Câma-

ra de São Brás de Alportel, que expli-ca como pode uma autarquia, com um dos orçamentos mais “apertados” do Algarve, garantir animação e até even-tos culturais de grande qualidade. Para

o autarca, é preciso apostar forte no apoio aos agentes culturais da região, com critérios rigorosos e na união en-tre as entidades que podem apoiar a cultura.

política

JOÃO EVARISTO

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15Apontamento.s

Lugares antigos, novos usos: a reinvenção da memória

Aqui descansaram vidas anónimas. Gentes incógnitas que o tempo fez esquecer. Foram estes os fi lhos antigos de uma geração que viveu fi lha do seu próprio tempo, da sua realidade periférica, de um Algarve antigo, esquecido num cantinho do mundo. Aqui repousaram em segredo as vozes de uma outra era, num tempo de renovação mental. Uma recente preocupação – a saúde pública – resultante de uma moderna consciência europeia, viria a ditar por esta altura uma nova obrigatoriedade: doravante, não mais se poderiam enterrar corpos no interior das igrejas ou nas suas imediações. Conquista difícil de se alcançar, já que os enterramentos nas igrejas garantiam o acesso aos céus, mas muitos eram agora os vizinhos, cada vez mais, e, por isso mesmo, havia que perceber que os cemitérios públicos eram de facto uma necessidade. Foi assim em Cacela e em muitos outros sítios, e foram estas as premissas que viriam a impor a construção do Cemitério Antigo.

Corria a década de trinta do século XIX quando se ergueram aquelas paredes brancas que passariam a delimitar o espaço de enterramentos das populações locais, essas que não viriam a resistir um século depois, nos inícios do século XX, em fi nais da segunda década, à violência epidémica da gripe pneumónica. Muitos foram os que sucumbiram à sua força, que dizimou praticamente toda a população, transformando aquele rectângulo de um branco imaculado numa vala comum para onde dezenas, talvez centenas de corpos foram atirados sem vida, sem nome, sem história e sem memória, à semelhança do que em muitos outros locais se passou.

Destes dias difíceis resta agora um espaço vazio, já que depois deste pesado momento histórico, haveria de ser construído o actual cemitério de Cacela Velha. Quase cem anos depois da última utilização, impera agora a necessidade de valorização de um importante espaço de memória, a sua dignificação, a atribuição de um novo uso, a revitalização.

Os cemitérios sempre tiveram uma carga simbólica que raras vezes permitiu a alteração do uso para o qual foram concebidos, e não é fácil, pelo respeito que merece a morte nas nossas concepções mentais, a atribuição de uma nova utilização a um espaço que está intimamente associado ao sagrado. Na sua essência, são locais de projecção da memória, onde, de alguma forma, se torna possível a descodifi cação da nossa identidade e a percepção do sentido último da existência: vivemos porque morremos. Mas o que fazer com um espaço cuja função se perdeu já no tempo?

Para além da absoluta necessidade de recuperação desta interessantíssima forma de expressão de arquitectura tradicional, Cacela Velha tem necessidade de um espaço polivalente, de um local que permita a fruição cultural, que interfi ra e dialogue com a sua beleza, com a essência do lugar. É isso que se tem já tentado fazer, enquanto o projecto de reabilitação não avança, através da realização de exposições, sessões de cinema ao ar livre, concertos, espectáculos de teatro, palestras, convidando a comunidade a (re)descobrir-se e os visitantes a valorizar o património local. É discutível, sem dúvida, o caminho escolhido. Mas é uma forma de se evitar que o tempo impossibilite de vez a dignifi cação deste local e de facilitar a Cacela e à comunidade a reinvenção da sua memória através da reutilização de um espaço que, na sua origem, pretendia celebrar o passado. E que melhor forma de dar continuidade a esse propósito que não aproveitar o mesmo para proporcionar uma oferta cultural às populações?

Miguel GodinhoTécnico Superior de Património CulturalSócio da AGECAL

Alportel pugnamos por isso.Quais são os principais agentes culturais do concelho?

Temo 2 ranchos folclóricos, 3 grupos de música popular portuguesa, o grupo de dança municipal e uma banda fi larmónica. Existem ainda duas escolas de música, que têm uma grande dinâmica, projectos de duas associações culturais do concelho (ACREMS e ACS). Os grupos musicais da nossa terra são parceiros da autarquia, no desenvolvimento cultural do concelho, com os quais estabelecemos protocolos de colaboração mútua. As escolas são também importantes agentes culturais, com quem temos vindo a trabalhar, assim como agentes privados, como é o caso do Zém Arte ou do Café da Vila.

O Algarve Central é uma boa oportunidade?

O Algarve Central é uma excelente oportunidade, se aproveitarmos para produzir algumas coisas que não sejam efémeras. Temos de aproveitar para dar condições a alguns agentes para que, a partir daí, tenham maiores possibilidades de vingar.

Numa altura de dificuldade, é essencial procurar soluções em conjunto.

O Programa Allgarve está a dar melhor visibilidade cultural à região?

Sem dúvida, esta é uma aposta certa em tornar o Algarve uma referência não apenas a nível turístico, mas também a nível cultural. E penso que este programa está no bom caminho ao passar a ser programado directamente pelo Algarve.

Feira da Serra atrai duas vezes mais que a população residenteQual é o evento de grande referência?

A Feira da Serra, que se realiza no último fi m-de-semana de Julho, e que junta mais de 25 mil visitantes, é o maior evento do concelho. Mais do que uma feira de artesanato ou de gastronomia, aqui aliamos as várias manifestações culturais, desde as artes plásticas à música, à dança, ao artesanato e à história, num único evento. A gastronomia marca também presença até porque preservar a nossa gastronomia mediterrânica é uma das nossas grandes apostas.

Quais são as principais ofertas para este ano?

A feira oferece um espaço de restauração, onde não falta a boa gastronomia tradicional, animação infantil, zona dos animais, arte equestre no picadeiro, a Praça da Cultura onde estão artistas a trabalhar ao vivo, a Aldeia Serrana que é o coração da feira onde está patente o artesanato e os doces tradicionais, com 112 expositores que vêm do Algarve e Alentejo. A animação será uma constante, nos dois palcos do recinto.

Mas este ano, o mel será o convidado especial, na mais doce de todas as edições da Feira da Serra.

Que outros eventos constituem a animação do concelho?

Temos, na Páscoa, a Festa das Tochas Floridas, uma iniciativa conjunta do município, da Paróquia e da Associação Cultural Sambrasense, que traz no domingo de Páscoa milhares de pessoas a São Brás. É uma tradição única, algo de muito nosso que tentamos preservar.

H á c e r c a d e s e i s a no s revitalizámos as Festas dos Santos Populares, com o programa A Festa Sai à Rua que leva a festa a vários sítios do concelho. Também nos temos empenhado em preservar a tradição musical das charolas, com o divertido programa A força da tradição. Em Agosto, diversas actividades culturais de música e dança preenchem o programa Gostos d’Agosto, num espaço muito interessante e de grande valor patrimonial, que é o Jardim da Verbena, o mais representativo espaço de eventos do concelho.

Os públicos educam-seO que é que levou a autarquia a avançar com a criação de uma escola de dança?

Foi um projecto que se iniciou com uma professora que dava aulas de ballet aos mais pequenos. Passados 10 anos, temos 3 professoras e 150 bailarinos de todas as idades, dos 3 aos 30 anos. Inicialmente as pessoas não aderiam muito, mas hoje trazemos qualquer espectáculo de dança ao Cine-Teatro e esgotamos, o que bem mostra de que a semente da dança encontrou um terreno fértil e hoje dá os seus frutos.

Os públicos educam-se e este é um trabalho constante. Nos primeiros espectáculos de música clássica tínhamos 30 a 40 espectadores, quase todos estrangeiros. Hoje trazemos a

Orquestra do Algarve e os 340 lugares do Cine-Teatro esgotam.

Tem outros exemplos dessa educação do público?

Este ano trouxemos, em colaboração com a Orquestra do Algarve, a Caixa Geral dos Depósitos e Direcção Regional de Educação, os Mega Concertos Promenade para os mais pequenos, com o André Sardet, no pavilhão municipal, com a presença de 3 mil alunos vindos de todo o Algarve. No âmbito da música clássica, esta parceria com a Orquestra do Algarve tem resultado muito bem.

A educação para a cultura começa com que idade?

Trabalhamos a cultura desde a primeira infância. Contamos com uma professora de música no pré-escolar bem como com uma professora de dança, o que certamente contribuiu para que os mais pequenos cresçam com outra sensibilidade cultural.

Que impor tância tem a Primavera Jovem neste contexto?

É a grande aposta na promoção de actividades para os mais jovens, com um programa que se estende de Abril a Junho. Na edição de 2010, o programa integrou um espectáculo de stand-up comedy, vários workshops e diversas actividades desportivas, sempre com a colaboração das associações e entidades do concelho.

Estrangeiros são mais-valia cultural para o concelhoA comunidade estrangeira t a m b é m é b a s t a n t e participativa…

O c o n c e l h o t e m u m a comunidade estrangeira bastante signifi cativa. Um desses exemplos é o Grupo de Amigos do Museu, uma associação formada quase exclusivamente por estrangeiros que junta diversas nacionalidades, e que tem mostrado uma enorme dinâmica, com um grupo coral, um grupo de jazz e um grupo de teatro e com toda uma série de actividades. E é interessante ver a troca de experiências, como por exemplo um coro que canta a 5 línguas!

São uma mais-valia que temos de acarinhar e apoiar para que eles, fazendo o que gostam, continuem a dar muito ao concelho.

*com Helga Simão

A existência de um caderno como o CULTURA.SUL é de extrema importância para o Algarve. Não basta informar e divulgar os eventos e os agentes culturais da região. É necessária uma publicação de âmbito regional que aborde de forma transversal as questões da cultura de forma isenta e com o rigor próprio do jornalismo para assim formar e consolidar novos públicos.Felizmente, são já muitos os temas desenvolvidos na imprensa regional,

mas quanto à cultura, era uma lacuna que existia e que passou a ser preenchida desde há dois anos com o CULTURA.SUL que espero ver a crescer por muitos mais anos.É preciso que se saiba o que está a ser produzido com qualidade na região. O Algarve não necessita de importar tudo. Produz-se cá muita coisa boa e pode-se “exportar” produções de grande qualidade que são feitas na região. O CULTURA.SUL pode e deve fazer

esse trabalho importante para a cultura da região e ser um grande incentivador para as entidades que trabalham nesta área.O CULTURA.SUL pode e deve dar-nos referências do passado. Contribuir para que saibamos porque é que hoje somos como somos; dar-nos uma consciência plena da nossa história, porque só assim poderemos dar passos mais sólidos no futuro.

A opinião de Vitor Guerreiro sobre o caderno Cultura.Sul

política

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Um dos principais indicadores que distinguem hoje as sociedades desenvolvidas é o peso que estas atribuem à Cultura na construção democrática da cidadania e como meio de desenvolvimento social.

O P l a n o R e g i o n a l d e Ordenamento do Território (PROT-Algarve) definiu para a Região uma Política com claros objectivos estratégicos e um conjunto de eixos de desenvolvimento sectoriais. A qualifi cação e diversifi cação do ‘cluster’ turismo/lazer; o robustecimento e qualif icação da economia; o impulso de actividades intensivas em conhecimento; a promoção de um modelo territorial equilibrado e competitivo; e a consolidação de um sistema ambiental sustentável e durável, identificam o Algarve como Região com enorme ambição e potencial futuros.

No cumprimento das opções e or ient a ções est r atég ic a s , devemos reconhecer que houve na Região, nos anos mais recentes, um significativo incremento de equipamentos sócio-culturais. Trabalhar em rede, promover o diálogo dos agentes culturais, e apostar na herança histórica como factor de desenvolvimento – gerador de conhecimento, de auto-estima e de riqueza - são porém questões pendentes que se constituem agora como um enorme desafi o.

Complementando as «janelas de oportunidade» oferecidas pelo Turismo – principal vector do desenvolvimento económico da Região para os próximos anos –, as práticas culturais inserem-se

numa opção de desenvolvimento sustentável que assume a Cultura como factor de desenvolvimento e as marcas identitárias com um valor acrescentado.

Como cada empresa, as regiões estão em permanente competição entre si: e, sobretudo, quando se assumem como «destino turístico». Valorizar a identidade diversifica a experiência do Algarve para quem nos visita, e contribui para consolidar o potencial endógeno e para a sustentabilidade do tecido económico regional.

Pensar o papel da Cultura no desenvolvimento regional com um horizonte de dez anos, até 2020, fez reconhecer a necessidade de um Plano que se enquadrasse nos instrumentos estratégicos da Região.

Caracterizar com rigor a realidade actual, def inir onde queremos chegar no fi nal da próxima década, consolidar os modos e os meios para alcançar essas metas, avaliar os actos através de um conjunto de indicadores de desenvolvimento sustentável para a vertente cultural da Região: como qualquer plano estratégico, o PECALG (Plano Estratégico para Cultura do Algarve) deve ser encarado como um processo, mais do que como um instrumento operativo. Construído com, não para, as comunidades, colocando questões transversais e debatendo-as responsavelmente, de forma multissectorial.

É tarefa da Direcção Regional de Cultura do Algarve impulsionar a constituição de redes de conhecimento e animação, apostando na capacidade

dos criadores e agentes locais. Impulsionar o trabalho cultural continuado, por contraste com a «cultura de eventos». O PECALG institui-se assim como instrumento de governabilidade, articulado de uma forma inteligente com os instrumentos de planeamento e com a ambição dos cidadãos.

Numa primeira fase, para a recolha de informação, adoptaram-se instrumentos metodológicos produzidos no âmbito da UNESCO, conceitos operativos como Domínios Culturais (Património Cultural e Natural, Celebrações e Festejos, Artes Visuais e Ofícios, Livro e Imprensa, Audiovisual e Multimédia, Design e Serviços Criativos e transversalmente, Património Cultural Intangível) e Ciclo de Cultura, vulgo Funções Culturais (Criação, Produção, Divulgação/ Difusão, Exibição e Consumo).

O Plano articula-se em sete áreas: Música, Teatro e Dança, Livro e Bibliotecas, Bens Culturais, Arquivos e Património Documental, Indústrias Culturais, Museus e Audiovisual. Na página web da Direcção Regional de Cultura do Algarve (www.cultalg.pt) se encontra uma ligação dedicada ao tema, que tem sido – e se deseja continue a ser - receptáculo de vários e prestimosos contributos para o PECALG.

Participação alargada, visão, confronto de ideias, pragmatismo, consenso e monitorização estratégica: palavras-chave que constituem a base axial orientadora do PECALG, na promoção de qualidade nas condições de vida dos cidadãos.

DIRECÇÃO REGIONAL DE CULTURA DO ALGARVE

Um instrumento estratégico para a Cultura no Algarve

•estratégia

Convidado.S

Camões e Vieira tinham razão – não podemos perder a YDreams!

Estrear a coluna do caderno CULTURAL.SUL é uma honra. O momento não poderia ser mais oportuno para partilhar com os leitores alguns momentos e pontos de vista que considero importantes para as Indústrias Culturais e Criativas.

Tendo em conta o âmbito deste caderno, não posso deixar de referir dois momentos que devem ser assinalados.

A Declaração de Madrid saída da conferência sobre os Media da Presidência Espanhola da EU e a nota estatística do Gpeari (http://www.gpeari.pt/) do Ministério da Cultura português.

Estes momentos procuram estabelecer um traço de união entre uma Europa ou um Portugal envelhecidos, agarrados ao cimento, ao aço e ao ferro para uma Sociedade da Informação em que a liderança dos conteúdos seja assegurada por quem se considera – de uma forma ou outra - guardião dos valores culturais e da sua preservação.

A nota estatística do Gpeari (tão pouco promovida e noticiada) ajuda-nos a perceber. Entre 2001 e 2009 esta indústria cultural e criativa vendeu 7 mil e 500 milhões de euros de direitos de aquisição e utilização de marcas e patentes, royalties e copyright, de produtos audiovisuais, de serviços de informação, de serviços de arquitectura, engenharia, consultoria técnica e informática e de serviços de publicidade e estudos de mercado e opinião pública. Boas noticias sobretudo porque raramente pensamos na cultura e na criatividade a olhar para o porta-moedas!

Nas indústrias criativas mais culturais (com referência à memória, à maneira de estar, à língua, ao engenho da arte) o panorama é desolador e as taxas de cobertura raramente ultrapassam os 30%. E não é de agora, nós lá introduzimos no Japão as armas de fogo e o fabrico do pão, mas a língua portuguesa fi cou de fora, e mesmo o cristianismo que lá chegou pela palavra dos jesuítas portugueses rapidamente passou a ser falado em fl amengo, em italiano ou em inglês.

E, finalmente, também por tudo o que atrás escrevi que vem a propósito falar da Declaração de Madrid do passado dia 4 de Junho.

Para além da evidente importância política para quem se preocupa com o futuro da indústria dos Media, o pluralismo e a sua diversidade, esta declaração mostra-nos que, europeus como nós, ibéricos também, os espanhóis não hesitaram – mesmo perante as perplexidades britânica e germânica e a desconfi ança francesa – em incluir numa declaração política global europeia os seus problemas, as suas questões a sua visão do impacto de certas questões na Sociedade da Informação que é afi nal o grande objectivo desta proposta europeia – dar conteúdos europeus, multulinguisticos e multiculturais ao engenho que a tecnologia neutra e cega nos oferece.

JOSÉ CARLOS DE VASCONCELOS

O p r ó x i m o convidado desta coluna é o director do JL, Jornal de Letras, A r tes e Ideias, coordenador editorial da revista VISÃO e presidente do Conselho Geral do Sindicato dos Jornalistas.

J o s é C a r l o s Vasconcelos, cujo contr ibuto para a divulgação da cultura e da língua portuguesa não tem precedente, é uma das personalidades que tem incentivado a continuação do nosso jornal CULTURAL.SUL. Foi o único até hoje a quem foram atribuídos todos os Prémios de Carreira, ou ‘equiparados’, de jornalismo e media: do Clube Português de Imprensa, da Casa de Imprensa (no ano do Centenário), o Manuel Pinto de Azevedo (Fundação Século XXI - O Primeiro de Janeiro), o Gazeta Mérito do Clube de Jornalistas. Além de outros como, na sua 1ª edição, o de Cultura e Ciência, da Fundação Luso-Brasileira para o Desenvolvimento dos Países de Língua Portuguesa.

João PalmeiroPresidente da Associação Portuguesa de Imprensa

Concerto da Orquestra do Algarve na ermida de Guadalupe, Raposeira, Vila do Bispo, no Dia Internacional dos Monumentos e Sítios

D.R.