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SISTEMA DE EDUCAÇÃO MÉDICA CONTINUADA A DISTÂNCIA PROURGEN PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM MEDICINA DE URGÊNCIA ORGANIZADO PELA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CLÍNICA MÉDICA Diretor científico Antonio Carlos Lopes Diretores acadêmicos Hélio Penna Guimarães Renato Delascio Lopes Artmed/Panamericana Editora Ltda. PROURGEN | PORTO ALEGRE | CICLO 1 | MÓDULO 2 | 2007

Curso - Atendimento Inicial Ao Politraumatizado

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Page 1: Curso - Atendimento Inicial Ao Politraumatizado

SISTEMA DE EDUCAÇÃO MÉDICA CONTINUADA A DISTÂNCIA

PROURGENPROGRAMA DE ATUALIZAÇÃOEM MEDICINA DE URGÊNCIA

ORGANIZADO PELA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CLÍNICA MÉDICA

Diretor científico

Antonio Carlos Lopes

Diretores acadêmicos

Hélio Penna Guimarães

Renato Delascio Lopes

Artmed/Panamericana Editora Ltda.

PROURGEN | PORTO ALEGRE | CICLO 1 | MÓDULO 2 | 2007

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Os autores têm realizado todos os esforços para

localizar e indicar os detentores dos direitos de

autor das fontes do material utilizado. No entanto,

se alguma omissão ocorreu, terão a maior

satisfação de na primeira oportunidade reparar as

falhas ocorridas.

A medicina é uma ciência em permanente

atualização científica. À medida que as novas

pesquisas e a experiência clínica ampliam nosso

conhecimento, modificações são necessárias nas

modalidades terapêuticas e nos tratamentos

farmacológicos. Os autores desta obra verificaram

toda a informação com fontes confiáveis para

assegurar-se de que esta é completa e de acordo

com os padrões aceitos no momento da

publicação. No entanto, em vista da possibilidade

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médicas, nem os autores, nem a editora ou

qualquer outra pessoa envolvida na preparação

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totalidade da informação aqui contida seja exata

ou completa e não se responsabilizam por erros

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informação. Aconselha-se aos leitores confirmá-la

com outras fontes. Por exemplo, e em particular,

recomenda-se aos leitores revisar o prospecto de

cada fármaco que planejam administrar para

certificar-se de que a informação contida neste

livro seja correta e não tenha produzido

mudanças nas doses sugeridas ou nas contra-

indicações da sua administração. Esta

recomendação tem especial importância em

relação a fármacos novos ou de pouco uso.

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contabilizados pela Comissão Nacional de Acreditação (CNA), para obtenção da recertificação (Certificado de

Avaliação Profissional).

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JOSÉ GUSTAVO PARREIRASAMIR RASSLAN

ATENDIMENTO INICIALAO TRAUMATIZADO

José Gustavo Parreira – Professor Assistente – Doutor. Disciplina de Cirurgia de Emer-

gência. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Médico Assistente.

Divisão de Clínica Cirúrgica III. Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo

Samir Rasslan – Professor Titular. Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina

da Universidade de São Paulo

INTRODUÇÃO

O trauma é uma doença comum em nosso meio. Estima-se que, em 2004, 127.470 pessoas morreram

devido a causas externas no Brasil.1 Portanto, aproximadamente 350 pessoas são vítimas letais de lesões

traumáticas por dia em nosso país. Isso seria comparável a um acidente aéreo diário. Para cada morte,

acredita-se que quatro pessoas tenham seqüelas graves, comprometendo sua qualidade de vida e produ-

ção econômica.2,3

A doença trauma é ainda a maior causa de mortes nas primeiras quatro décadas de vida,

representando uma grande perda social e econômica, principalmente pelo acometimento de

adultos jovens.2,3

LEMBRAR

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O As causas de morte em trauma podem ser separadas em três picos de incidência de acordo com o inter-

valo de tempo entre o trauma e o óbito,3,4 conforme o Quadro 1.

Quadro 1

PICOS DE INCIDÊNCIA DAS CAUSAS DE MORTE EM TRAUMADE ACORDO COM INTERVALO DE TEMPO ENTRE TRAUMA E ÓBITO

Primeiro pico Ocorre imediatamente ou minutos após o trauma, principalmente por lesões graves neuro-lógicas e hemorragia por roturas cardíacas ou de grandes vasos. Essas mortes são consi-deradas inevitáveis uma vez que o trauma ocorra e, para a sua prevenção, medidas deprevenção deveriam ser empregadas.

Segundo pico Ocorre nas poucas horas que se seguem ao trauma, principalmente por hematomasintracranianos, obstrução de vias aéreas, pneumotórax hipertensivo e choque hemorrágico.Se avaliadas a fundo, muitas dessas mortes poderiam ser consideradas evitáveis ou poten-cialmente evitáveis. Dessa forma, há uma janela de oportunidade no tratamento dessesdoentes. A chamada golden hour não tem necessariamente 60 minutos, mas diz respeitoaos momentos que se seguem ao trauma e é valiosa para o diagnóstico e tratamento delesões potencialmente letais.2-6

Terceiro pico Ocorre dias após o trauma, principalmente por infecção e síndrome de falência de múltiplosórgãos e sistemas. Contudo, há nítida correlação entre a evolução do doente e a qualidadedo atendimento inicial realizado. Períodos de hipoxia, choque prolongado e hipertensãointracraniana podem deixar seqüelas graves e propiciar o surgimento de falências orgâni-cas específicas.2-6

A distribuição trimodal das mortes em trauma é aplicável para a grande maioria das situações urbanas e

rurais. Nas guerras isso é controverso. A maioria das mortes ocorre nos minutos após os ferimentos, devido

à magnitude do trauma dos modernos armamentos empregados.7

O atraso no tratamento das lesões determina maior morbidade e letalidade. Até há 30 anos não havia

uma sistematização apropriada para o atendimento, e o traumatizado recebia o tratamento como os porta-

dores de outras doenças. Nos casos graves, que geralmente envolvem uma sobrecarga emocional consi-

derável, havia dificuldade na tomada rápida de decisões, retardando o tratamento adequado e facilitando

iatrogenias. Dessa forma, uma necessidade evidente de uma padronização do atendimento inicial ao

traumatizado era necessária. A resposta para estas dúvidas ocorreu em 1980, com a primeira edição do

curso Advanced Trauma Life Support (ATLS), desenvolvido pelo Colégio Americano de Cirurgiões.2,3 A

tradução para o português ocorreu nos anos 90, com a edição do livro Suporte Avançado de Vida em

Trauma (SAVT). Atualmente, o livro está na sua 7ª edição (2004) e são relatados núcleos em 47 países.3

O curso Advanced Trauma Life Support (ATLS) oferece uma maneira eficiente de atendimento

inicial ao traumatizado na sua fase intra-hospitalar. Vem sendo empregado largamente em nos-

so meio, o que também criou uma linguagem comum entre os médicos. O atendimento pré-

hospitalar é extremamente importante para o resultado final e merece uma visão individualiza-

da. Atualmente há o curso Prehospital Trauma Life Support (PHTLS), que aborda com proprie-

dade essa forma específica de tratamento.8

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OBJETIVOS

Os objetivos deste capítulo são:

■ trazer uma abordagem prática do atendimento inicial ao traumatizado;

■ discutir, a cada passo, o que o socorrista deve ter em mente e que medidas podem ser tomadas.

Não traremos à tona todas possíveis discussões sobre o tema, mas o que há de certo para se conduzir de

maneira segura tal procedimento.

Faremos uma revisão dos pontos mais importantes do atendimento inicial ao traumatizado em ambiente

hospitalar. A base deste capítulo é o SAVT, e estimulamos a todos os médicos que atendam traumatizados

a realizar esse curso visto que se trata de uma forma importante e efetiva de aprendizado. No atendimento

ao traumatizado, a melhor conduta parece ser o que é mais simples e rápido.

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Princípios do atendimentoao traumatizado

Preparação

Avaliação primáriae reanimação

Avaliação secundária

A: Vias aéreas (Airways)com controle da colunacervical

B: Ventilação (Breathing)

C: Circulação e controleda hemorragia

Intubação orotraqueal

Intubação nasotraqueal

Cricotireoidostomia

História AMPLA

Mecanismo de trauma

Segmento cefálico

Avaliação secundária

Fases no atendimentoinicial ao traumatizado

Avaliação primáriae reanimação

ESQUEMA CONCEITUAL

Tratamento definitivo

D: Neurológico (Disability)

E: Exposição e controleda hipotermia

Pneumotórax aberto

Contusão pulmonar

Pneumotórax hipertensivo

Hemotórax maciço

Medidas complementaresà avaliação primária

Reavaliação

Segmento cervical

Segmento torácico

Segmento abdominale pélvico

Membros

Tratamento definitivo

Considerações finais

Casos clínicos

Exame neurológicocompleto

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D1. As causas de morte em trauma podem ser separadas em três picos de incidência de acordo com

o intervalo de tempo entre o trauma e o óbito. Quais são eles? Descreva suas características.

............................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

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2. Do que trata o livro Suporte Avançado de Vida em Trauma?

............................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

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3. Por que no atendimento ao traumatizado, a melhor conduta parece ser o que é mais simples

e rápido?

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........................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

...........................................................................................................................................................

PRINCÍPIOS DO ATENDIMENTO AO TRAUMATIZADO

O princípio fundamental do atendimento de traumatizados é identificar e tratar as lesões que

matam mais rapidamente, sem perder tempo com procedimentos que não sejam prioridade no

momento.2-6

Inicialmente nos preocupamos com a hipoxia, seja por obstrução das vias aéreas ou por alterações na

troca gasosa ao nível da membrana alvéolo-capilar. Uma vez que os eventuais problemas estejam resolvi-

dos, voltamos a atenção para a perfusão orgânica. O choque deve ser identificado e tratado, permitindo a

restauração da oferta de oxigênio para os tecidos e controle do metabolismo celular. Com essas medidas,

as células voltam a produzir energia, diminuindo a morte celular decorrente da hipoxia tissular. Seguem-se

a identificação e controle da hipertensão intracraniana, que se não tratada pode resultar em herniação

uncal e morte por compressão do tronco encefálico.

Os procedimentos devem ser realizados prontamente, na admissão do doente, evitando-se

qualquer atraso relacionado a medidas diagnósticas e terapêuticas desnecessárias no mo-

mento. Dessa forma, há fases que devem ser seguidas no atendimento inicial ao traumatizado,

que abordaremos a seguir.

LEMBRAR

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FASES NO ATENDIMENTO INICIAL AO TRAUMATIZADO

Podemos dividir didaticamente em fases o atendimento inicial ao traumatizado: a) preparação; b) avaliação

primária e reanimação; c) avaliação secundária; d) tratamento definitivo. Devemos ter em mente que muitas

vezes elas se sobrepõem, dependendo do número de pessoas e recursos disponíveis para o atendimento. 2-6

PREPARAÇÃO

A fase de preparação diz respeito a equipe e materiais necessários para o atendimento ade-

quado ao traumatizado. O treinamento de uma equipe multidisciplinar para o atendimento ao

trauma é um dos fatores de maior impacto no prognóstico. Não só o médico deve ser tecnica-

mente preparado, mas também seus auxiliares. Isso permite rapidez na tomada de decisões,

agilidade na disponibilidade de material e harmonia nos procedimentos operatórios.

O preparo do equipamento envolve avaliação da sala de emergência, disponibilidade de respiradores,

bem como a reserva de hemoderivados e sala cirúrgica. Isso deve ocorrer como um checklist diário ou a

cada troca de plantão. Idealmente, a equipe de atendimento pré-hospitalar deveria comunicar a chegada de

um traumatizado grave com alguma antecedência, permitindo um preparo mais específico. Por exemplo,

em vítimas de ferimentos penetrantes em tronco com hipotensão arterial sistêmica, seria adequado contato

com centro cirúrgico e banco de sangue, pois provavelmente esse doente precisará de hemoderivados e de

tratamento operatório.

Em relação ao material, sugerimos observar a disponibilidade de:

■ colar cervical dos diferentes tamanhos possíveis;

■ sonda para aspiração;

■ cânulas traqueais;

■ laringoscópio (operacional).

É importante o aquecimento das soluções cristalóides a serem infundidas por via endovenosa. Deve-se

ter material para realizar lavado peritoneal diagnóstico e, se possível, aparelho de ultra-som para avaliação

na sala de emergência.

Sondas gástricas, vesicais e material cirúrgico para toracocentese, pericardiocentese, dre-

nagem torácica e toracotomia de reanimação fazem parte do equipamento necessário para o

atendimento de traumatizados graves. Obviamente, pacotes com campos e aventais cirúrgi-

cos são necessários para esses procedimentos operatórios.

Recomenda-se checar o foco de luz, respirador, oxímetro de pulso e monitor cardíaco. Material de sutura, talas

para imobilização de extremidades e compressas para curativos compressivos devem estar disponíveis.

Todos os traumatizados devem ser considerados como portadores de doenças transmissíveis até que se

prove o contrário. Portanto, recomenda-se o uso de material de proteção individual como gorro, máscara,

óculos, luvas, avental e protetores para sapatos. Todo o cuidado deve ser empregado para se evitar aciden-

tes com materiais perfurocortantes. A organização é fundamental.

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DAVALIAÇÃO PRIMÁRIA E REANIMAÇÃO

A fase de avaliação e reanimação tem por objetivo o diagnóstico e tratamento das lesões que ameaçam a

vida iminentemente. O recurso mnemônico é a seqüência ABCDE, a mesma proposta pelo curso SAVT

(Figura 1):2-6

■ A (Airways): desobstrução das vias aéreas com proteção da coluna cervical;

■ B (Breathing): ventilação;

■ C (Circulation): circulação com controle da hemorragia;

■ D (Disability): avaliação neurológica;

■ E (Exposure): exposição com controle da hipotermia.

O diagnóstico da lesão é seguido pelo tratamento da mesma. Somente após a resolução do problema

identificado é que o passo seguinte é dado. É importante lembrar que o trauma é uma doença dinâmica e

que tem modificações evolutivas na sua apresentação. Portanto, a reavaliação deve ser freqüente.

Há adjuntos à avaliação primária, como a passagem de sondas gástrica e vesical (se não houver contra-

indicações), além da utilização de oxímetro de pulso, monitoração cardíaca e radiografias de tórax e pelve.

Recomenda-se que esses adjuntos estejam presentes ao término da avaliação primária.

Figura 1 – Seqüência de atendimento na avaliação primária.

Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

A

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E

A

B

C

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Avaliação Reanimação

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O AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA

Após o diagnóstico e tratamento das lesões que ameaçam a vida iminentemente, o doente é submetido à

reavaliação. Confirma-se a estabilidade dos dados vitais e se segue com a avaliação secundária. Trata-

se de um exame minucioso com objetivo de identificar as demais lesões que o doente apresenta. Cada

segmento corporal é avaliado clinicamente, e os exames complementares, direcionados.

TRATAMENTO DEFINITIVO

Com o diagnóstico definitivo, o tratamento deve ser proposto e realizado. É importante não retardar o

tratamento definitivo para a realização de exames ou procedimentos que não sejam prioridade. O médico

responsável pelo atendimento inicial deve avaliar os recursos disponíveis e estabelecer se há necessidade

de avaliação de algum especialista (por exemplo, ortopedia) ou mesmo a transferência para a realização de

exame ou tratamento não-disponível no centro do atendimento inicial.

São regras do atendimento inicial:

■ não atrasar o tratamento definitivo;

■ não causar lesões adicionais;

■ não piorar as lesões já existentes.

4. Qual é o princípio fundamental do atendimento de traumatizados?

............................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

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5. Assinale a alternativa INCORRETA em relação à fase de preparação no atendimento

inicial ao traumatizado.

A) O preparo do equipamento envolve avaliação da sala de emergência, da disponibilida-

de de respiradores, bem como a reserva de hemoderivados e da sala cirúrgica.

B) O preparo deve ocorrer como um checklist semanal ou quinzenal.

C) Idealmente, a equipe de atendimento pré-hospitalar deveria comunicar a chegada

de um traumatizado grave com alguma antecedência, permitindo um preparo mais

específico.

D) Em vítimas de ferimentos penetrantes em tronco com hipotensão arterial sistêmica,

seria adequado contato com centro cirúrgico e banco de sangue, pois provavelmen-

te esse doente precisará de hemoderivados e de tratamento operatório.

Resposta no final do capítulo

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D6. Em relação aos materiais que poderão ser utilizados no atendimento inicial ao traumatizado,

quais são empregados em casos graves?

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7. Por que todos os traumatizados devem ser considerados como portadores de doenças

transmissíveis?

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........................................................................................................................................................

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8. Na fase de avaliação primária e reanimação de traumatizados, o objetivo é o diagnós-

tico e tratamento das lesões que ameaçam a vida iminentemente. O recurso mnemônico

é a seqüência ABCDE. Correlacione as colunas com o significado de cada letra.

(1) A ( ) avaliação neurológica.

(2) B ( ) exposição com controle da hipotermia.

(3) C ( ) circulação com controle da hemorragia.

(4) D ( ) desobstrução das vias aéreas com proteção da coluna cervical.

(5) E ( ) ventilação.

Respostas no final do capítulo

9. Após o diagnóstico e tratamento das lesões que ameaçam a vida iminentemente, o doente é

submetido à reavaliação. No que consiste essa fase?

............................................................................................................................................................

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AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E REANIMAÇÃO

Agora veremos com mais profundidade cada uma das etapas propostas para o atendimento inicial ao

traumatizado. Cada uma dessas etapas pode ser didaticamente compreendida em três prioridades

(Tabela 1):

■ saber quais as situações que ameaçam a vida iminentemente;

■ saber identificar essas situações;

■ saber controlar essas situações.

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A: VIAS AÉREAS (AIRWAYS) COM CONTROLE DA COLUNA CERVICAL

A obstrução da passagem do ar pelas vias aéreas é o problema a ser identificado e solucionado nessa

etapa. A hipoxia pode ser rapidamente letal e vários cenários clínicos ocasionam tal problema (Figuras 2A,

B e C). O Quadro 2 apresenta as causas da obstrução de vias aéreas em trauma.

Tabela 1

LESÕES QUE PÕEM EM RISCO A VIDA:DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO NA AVALIAÇÃO PRIMÁRIA

Ameaça Diagnóstico Tratamento

A Obstrução de vias aéreas Respiração ruidosa. Via aérea definitiva.

Risco de lesão raquimedular Todos traumatizados. Imobilização da coluna.

B Pneumotórax hipertensivo Insuficiência respiratória. Toracocentese 20 EIC.MV diminuído. Drenagem torácica 50 EIC.Timpanismo.

Pneumotórax aberto Insuficiência respiratória. “Curativo de três pontas”.Ferimento torácico. Drenagem torácica 50 EIC.Traumatopnéia.

Contusão pulmonar Insuficiência respiratória. Oxigênio máscara.Tórax flácido. Analgesia.Respiração paradoxal. Ventilação mecânica se necessário.

Hemotórax maciço Insuficiência respiratória. Drenagem torácica 5º EICMV diminuído.Macicez à percussão.Anemia/choque.

C Choque hemorrágico Taquicardia. Controle do foco hemorrágico.Diminuição da perfusão. Reposição endovenosa de líquidos.Extremidades frias. Otimização oferta de oxigênio.Hipotensão arterial. Avaliar outras causas de choque.

Tamponamento cardíaco Hipotensão arterial. Pericardiocentese.Hipofonese de bulhas. Toracotomia.Estase jugular.

D Hipertensão intracraniana Diminuição nível de consciência. Evitar injúria secundária.Lesões focais cirúrgicas Anisocoria. Diagnóstico precoce: TAC.

Sinais de localizatórios. Drenagem precoce:neurocirurgia.

E Hipotermia Todos traumatizados. Aquecimento ambiente.Uso de soluções aquecidas EV.

Cobertores.

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As Figuras 2A, B e C apresentam situações de risco para obstrução de vias aéreas.

Quadro 2

CAUSAS DE OBSTRUÇÃO DE VIAS AÉREAS EM TRAUMA

■ Deslocamento posterior da base da língua por diminuição do nível de consciência■ Trauma craniencefálico■ Intoxicação exógena■ Choque hemorrágico■ Hipoxia

■ Aspiração■ Sangue (fraturas de face com sangramento ativo)■ Conteúdo gástrico■ Corpos estranhos

■ Hematomas cervicais

■ Lesão de vias aéreas

■ Queimaduras de vias aéreas por inalação

■ Edema de glote

■ Lesão iatrogênica na tentativa de intubação orotraqueal

Figura 2 – (A) Hematoma cervical (FPAF); (B) Aspiração em

doente com diminuição do nível de consciência (TCE) e (C)

Queimadura de vias aéreas por inalação.

Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

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O A diminuição do nível de consciência determina relaxamento da musculatura que sustenta a mandíbula,

o que é responsável pelo deslocamento posterior da base da língua que, por sua vez, obstrui a passagem

de ar para a laringe.2, 3 Esse é um problema freqüentemente observado em vítimas de trauma craniencefálico

grave ou em doentes com intoxicações exógenas. São também causas de obstrução das vias aéreas:

■ a compressão por hematomas cervicais;

■ o sangramento volumoso ocasionado por fraturas de face;

■ o trauma direto da laringe ou traquéia;

■ o edema ocasionado por queimaduras por inalação;

■ a aspiração de corpos estranhos (por exemplo, próteses dentárias) ou conteúdo gástrico.

Há também casos de ferimentos penetrantes em laringe e traquéia que podem evoluir com escape de ar

para o exterior e sangramento para o interior das vias aéreas, determinando insuficiência respiratória

importante. Deve-se também considerar o mau posicionamento de tubo traqueal que eventualmente foi

introduzido no pré-hospitalar.

Inicia-se a avaliação com uma pergunta simples como “qual é seu nome?” Uma resposta ade-

quada, com voz normal e sem ruídos às respirações traduz que a via aérea não está ameaçada

momentaneamente.

O diagnóstico de obstrução de vias aéreas é feito através da avaliação do nível de consciência,

dos sintomas de insuficiência respiratória e pelos sinais específicos de obstrução alta como o

estridor e a cornagem. Todos os doentes inconscientes que não respondem a estímulos ou que

apresentem escala de coma de Glasgow menor do que 8, são considerados como de risco para

a obstrução das vias aéreas.

Agitação (freqüentemente associada à hipoxia), torpor (associado à hipercarbia), cianose central, tiragem,

taquipnéia e dispnéia nos induzem a pensar em comprometimento da função respiratória. Nesse mo-

mento é importante a diferenciação entre um problema relacionado à obstrução das vias aéreas ou um

comprometimento da ventilação (que será avaliado e tratado no item B - Breathing).

Quando escutamos respiração “ruidosa” e alteração na voz (disfonia), principalmente quando associadas à

diminuição bilateral da expansibilidade torácica, o problema está mais freqüentemente nas vias aéreas.

Contudo, se o doente está falando, sua voz não tem problemas e há nítida insuficiência respiratória, deve

haver algum problema mais específico de troca gasosa e um exame torácico deve ser realizado.

Também podemos inferir que uma via aérea esteja em risco pelo exame direto da região cervical. Esse é

o caso na presença de grandes hematomas locais, bem como se houver edema e crepitação sobre as

cartilagens da laringe ou traquéia. Nos casos de ferimentos penetrantes, o escape de ar e o enfisema de

subcutâneo indicam a lesão das vias aéreas. Vômitos freqüentes, falta de dentes ou próteses, assim como

também fraturas complexas de face com sangramento maior chamam a atenção para possibilidade de

aspiração. Queimaduras em face, sobrancelhas e vibrissas nasais, expectoração carbonácea, lesões orais,

bem como a história de perda de consciência ou confinamento durante um incêndio nos lembram a possibi-

lidade de queimaduras das vias aéreas por inalação.2,3,5,6

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DUma vez que a avaliação foi realizada, devemos decidir por duas opções de tratamento:

■ caso as vias aéreas estejam pérvias, a conduta resume-se a administrar oxigênio úmido com fluxo de

12 litros por minuto;2,3,5,6

■ se há sinais nítidos de obstrução ou grande risco para isso, deve-se optar pela obtenção de uma “via

aérea definitiva”.2,3,5,6

Devemos ressaltar a importância da imobilização da coluna cervical em todos os traumatizados até que

uma lesão maior seja excluída.2,3,5,6,8-10 O trauma raquimedular está presente em aproximadamente 2% dos

traumatizados que recebem atendimento hospitalar.11

Muitos traumatizados têm apenas lesões ligamentares ou ósteo-articulares sem comprometi-

mento neurológico e são potencialmente recuperáveis dessa condição sem maiores seqüelas.

Nesses casos, a hiperextensão da coluna cervical, como é feito para a desobstrução das vias

aéreas em doentes não-traumatizados, pode causar uma lesão irreversível da medula espinhal.

Isso pode ser letal ou determinar tetraplegia irreversível. Portanto, em todos os traumatizados

a coluna vertebral deve ser mantida alinhada até que a presença de uma fratura vertebral

e/ou lesão raquimedular tenham sido excluídos.2,3,5,6,9,10

Todas as manobras para desobstrução das vias aéreas devem ser realizadas com o alinhamen-

to manual da coluna cervical. Freqüentemente são necessárias duas pessoas para realizar es-

sas manobras. Enquanto uma mantém a coluna alinhada, a outra trabalha nas vias aéreas.

Ressalta-se que o colar cervical isoladamente não é suficiente para impedir a mobilização da

coluna.

Sugere-se a seqüência para controle das vias aéreas em traumatizados apresentada na Figura 3. Inicial-

mente a boca é aberta e a cavidade oral examinada.

Os dedos do socorrista não devem ser colocados na cavidade oral, pois, se o doente reagir, podem ocorrer

lesões graves.

Se houver necessidade de retirar corpos estranhos, devemos utilizar pinças específicas. Usa-se um aspira-

dor rígido para a aspiração da cavidade oral, tomando-se o cuidado de não estimular o palato mole, pois

isto pode induzir ao reflexo de vômito.

Manobras de desobstrução temporária das vias aéreas podem ser empregadas nesse momento, como a

elevação do queixo (chin lift) e a tração anterior da mandíbula (jaw thrust).2,3 Nesse momento, já podemos

ter idéia da necessidade ou não de uma via aérea definitiva (VAD).

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Por “via aérea definitiva” entende-se que um tubo seja locado na traquéia, com balonete (cuff) insuflado,

fixado adequadamente e conectado com fonte de oxigênio.2,3 Dessa forma, além de permitir a passagem

direta de oxigênio para as porções mais distais, também há proteção contra aspiração de sangue ou con-

teúdo gástrico refluído. São as opções mais freqüentemente empregadas nos traumatizados:

■ intubação orotraqueal;

■ intubação nasotraqueal;

■ cricotireoidostomia cirúrgica.

Figura 3 – Seqüência sugerida para controle das vias aéreas em traumatizados.

Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

AAvaliação do valiação do AA

Obstrução presente ouObstrução presente ou

Alto risco de obstruçãoAlto risco de obstrução

VVAA pérviaspérvias

Baixo risco deBaixo risco deobstruçãoobstrução

InconscienteInconsciente CombativoCombativo

SedaçãoSedaçãoCurarizaçãoCurarização

AspiraçãoAspiração

Retirada de CERetirada de CE

AAvaliação dificuldadevaliação dificuldade

Desobstrução temporáriaDesobstrução temporária

GuedelGuedel

OxigenaçãoOxigenação

IOTIOT InsucessoInsucesso

SucessoSucessoInsuf.Insuf.

respiratóriarespiratóriagravegrave

Risco de vidaRisco de vidaiminenteiminente

RespiraçãoRespiraçãopresentepresente

Sem fraturasSem fraturasem faceem face

Checar posiçãoChecar posiçãoInsuflar Insuflar cufcufffVVentiladorentilador

Fixação cânulaFixação cânulaImobil. da colunaImobil. da coluna CricotireoidostomiaCricotireoidostomia INTINT

O2 máscaraO2 máscara

ImobilizaçãoImobilizaçãoda colunada coluna

InsucessoInsucesso

AAvaliação do Bvaliação do B

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DSe houver indicação de VAD, sugere-se que o doente seja previamente oxigenado. Se houver história

prévia de vômitos, a ventilação está contra-indicada. Após imobilização da coluna cervical, o colar cervical

pode ser aberto para facilitar a abertura da boca (mantendo-se o alinhamento manual da coluna cervical).

A cavidade oral deve ser aspirada e examinada quanto à presença de corpos estranhos e, a

seguir, uma cânula orofaríngea é inserida (nos inconscientes). Aplica-se uma máscara com ambu

que, por sua vez, tem conexão com fonte de oxigênio. A oximetria de pulso auxilia na obtenção

do valor da saturação de hemoglobina por oxigênio, que nos dá idéia da pressão parcial de

oxigênio arterial. Os valores devem ser interpretados com cuidado, pois muitos fatores interfe-

rem nos resultados, como, por exemplo, a diminuição da perfusão presente no choque

hemorrágico. Idealmente devemos trabalhar com saturação acima de 95%.

Intubação orotraqueal

A primeira VAD a ser tentada geralmente é a intubação orotraqueal. Nesse momento, uma avaliação da

necessidade de curarização e sedação deve ser realizada. Em doentes com diminuição do nível de consciên-

cia, por vezes não há necessidade desse passo. Contudo, em doentes combativos, uma seqüência rápida

de sedação com ou sem curarização associada pode ser empregada. Esse é um passo muito perigoso.

A experiência na avaliação da dificuldade de intubação orotraqueal é um fator importante. Se houver

dúvidas quanto à capacidade técnica de IOT, devemos chamar por equipe auxiliar de anestesiologia ou

mesmo um colega mais experiente. O material para a obtenção de uma via aérea cirúrgica deve estar

preparado, caso a IOT não seja possível.

O curso SAVT sugere a utilização de sedação (etomidato 0,3mg/kg ou midazolam 2 a 5mg por

via endovenosa), seguida da curarização com succinilcolina (1 a 2mg/kg). Durante esse procedi-

mento, deve ser realizada a manobra de Sellick pela compressão da cartilagem cricóide, com

objetivo de impedir o refluxo de conteúdo digestivo para a faringe, o que dificultaria tecnicamen-

te a IOT e resultaria em aspiração.2,3,5,6

A intubação orotraqueal em adultos é realizada com laringoscópio e lâmina curva. Após a

visualização direta das cordas vocais, a cânula deve ser introduzida gentilmente, durante a ins-

piração (se possível), preferencialmente sem guia. Na urgência, as lesões iatrogênicas durante

a IOT são mais freqüentes.12,13 Isso ocorre muitas vezes pelo uso inadequado do guia metálico,

que lesa a parede membranosa da traquéia caso o ângulo de introdução não seja ideal. Uma vez

que a cânula esteja na traquéia, observa-se que há passagem de ar pela mesma e, se o doente

não estiver completamente curarizado, algum esforço de tosse. O balonete deve ser insuflado, e

a posição do tubo, checada. Com a ventilação com ambu, ausculta-se o epigástrio e os campos

pulmonares. Ruídos em epigástrio falam a favor de intubação do esôfago, especialmente se a

saturação estiver caindo. Mesmo com a cânula na traquéia, há possibilidade de intubação sele-

tiva, quando o murmúrio vesicular fica diminuído à esquerda. Trata-se de um diagnóstico dife-

rencial com hemotórax esquerdo, atelectasia por outras causas ou mesmo hérnia diafragmática

esquerda. Uma vez que a posição esteja correta, a cânula deve ser fixada e conectada a um

respirador, ajustado para oferecer altas frações de oxigênio inspirado nessa fase inicial.

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O Intubação nasotraqueal

A intubação nasotraqueal pode ser realizada nos doentes em que a IOT não é tecnicamente possível. Isso

ocorre principalmente nos doentes brevilíneos, com pescoço curto e com diminuição do nível de consciên-

cia. Para sua realização, deve haver respiração espontânea e, preferencialmente, ausência de fraturas de

face.2,3,5,6 A cânula deve ser escolhida com base no diâmetro da narina.

Lidocaína gel deve ser aplicada na narina, e a ponta da cânula, introduzida pela mesma até a

orofaringe. Nesse momento, a curvatura da cânula traqueal deve ser posicionada de forma que sua

ponta esteja direcionada para a laringe, anteriormente. Toma-se atenção ao ruído de entrada e

saída de ar pela cânula e, durante um movimento de inspiração, o tubo deve ser introduzido na

traquéia. Trata-se de uma intubação realizada sem o auxílio de laringoscópio ou pinças especiais.

As manobras para checar o posicionamento da cânula descritas acima devem ser realizadas.

Atualmente se descrevem várias alternativas técnicas para a obtenção de vias aéreas em casos em que

a IOT não é possível. São exemplos a IOT guiada pela passagem de fio através de punção da membrana

cricofaríngea, uso de máscara laríngea ou mesmo a IOT com fibroendoscópio.3,14-16 Devemos lembrar que

essas opções demandam certo tempo e estabilidade do doente. Em traumatizados, tais opções são pouco

empregadas devido à situação crítica de uma via aérea difícil. Devemos lembrar também que a máscara

laríngea não protege o doente de aspiração de conteúdo gástrico refluído. Há certa experiência com o uso

de combitube (cânula esofágica multilúmen) em cenários pré-hospitalares.8,17

O combitube é um dispositivo com duas cânulas paralelas e dois balonetes que é

posicionado através da boca. Um dos tubos automaticamente ganha acesso à laringe e

o outro ao esôfago. Dessa forma, é possível a rápida obtenção de vias aéreas, mesmo

em situações críticas. Em nosso país são poucos os centros que dispõem desse dispo-

sitivo para uso na sala de emergência.

Cricotireoidostomia

A cricotireoidostomia por punção da membrana cricotireóidea com gelco calibroso (14 ou 16) pode ser uma

opção temporária, mas que não funciona bem se houver secreção nas vias aéreas. O gelco é conectado à

fonte de oxigênio através de tubo de borracha com um orifício na porção distal, que é obstruído e liberado

(1 segundo: 4 segundos) para se proporcionar a insuflação de oxigênio (jet insufflation).2,3 Apesar da

melhora da oxigenação, a ventilação fica comprometida e há retenção de CO2.

Há casos de pneumotórax iatrogênico associados a erros na técnica de insuflação de ar pela

cricotireoidostomia por punção.18

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DNos casos de insuficiência respiratória grave, com diminuição da saturação e impossibilidade de IOT, cabe

a realização de via aérea cirúrgica. Na maioria das vezes, a cricotireoidostomia cirúrgica é a opção mais

rápida e efetiva. Se houver tempo, recomenda-se anti-sepsia da pele, assepsia e anestesia local. A incisão

da pele é transversal e ao nível da membrana cricotireóidea (entre a borda inferior da cartilagem tireóide e

a borda superior da cartilagem cricóide). É importante que tanto o cirurgião como o auxiliar imobilizem a

laringe com as mãos para o reconhecimento dos parâmetros anatômicos.

Com o bisturi, são incisados os planos da pele, tecido celular subcutâneo, musculatura e mem-

brana cricotireóidea, o que é possível em segundos. Não se devem dissecar os planos, mas

incisar os tecidos diretamente até a via aérea. Ao penetrar a via aérea, o cabo do bisturi (parte

posterior) é introduzido e rodado 90º, de maneira a abrir espaço para a colocação de cânula

traqueal. O balão (cuff) é insuflado, e a via aérea, aspirada. É importante checar o posicionamento

pela ausculta pulmonar, bem como fixar a cânula e conectá-la ao respirador adequadamente.

Outra situação limítrofe ocorre nos ferimentos cervicais penetrantes com lesão de vias aéreas. Pode

haver sangramento ativo concomitante à perda de ar pelo ferimento. Muitas vezes, o paciente se encontra

em nítida insuficiência respiratória. Nesses casos, consideramos de importância conhecer as manobras de

intubação orotraqueal distalmente ao ferimento e intubação traqueal através do ferimento cervical.

Se houver condições para a tentativa de intubação orotraqueal, a cânula deve ser introduzida distalmente

ao ferimento e, com a insuflação do balão (cuff), assegura-se a ventilação. Caso o cenário seja crítico,

procede-se à intubação através do ferimento cervical, se possível na sala de emergência. Para tanto, é

necessário iluminação, auxílio e material adequados. Recomenda-se anti-sepsia, assepsia e anestesia lo-

cal, caso haja possibilidade. As bordas da ferida devem ser afastadas para expor os planos mais profundos

e, uma vez identificado o local de saída de ar, introduz-se a cânula traqueal através do mesmo, sem dissec-

ções mais amplas.

A traqueostomia foi muito empregada em traumatizados. Entretanto, a chance de lesões

iatrogênicas e o tempo até a canulação da via aérea são maiores do que nas cricotireoidostomias.

Dessa forma, atualmente sua indicação fica restrita a casos de fraturas de laringe ou crianças

(menores de 12 anos) com necessidade de via aérea cirúrgica.2,3

Uma vez que a via aérea esteja segura, imobiliza-se a coluna e segue-se para a próxima etapa, a

ventilação (B).

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10. Complete o quadro com os possíveis diagnósticos e tratamentos de lesões na avaliação primá-

ria que põem em risco a vida. Use como auxílio, as informações contidas na coluna “Ameaça”.

Ameaça Diagnóstico Tratamento

A Obstrução de vias aéreas

Risco de lesão raquimedular

B Pneumotórax hipertensivo

Pneumotórax aberto

Contusão pulmonar

Hemotórax maciço

C Choque hemorrágico

Tamponamento cardíaco

D Hipertensão intracraniana

Lesões focais cirúrgicas

E Hipotermia

11. A obstrução da passagem do ar pelas vias aéreas é o problema a ser identificado e solucio-

nado na etapa A da abordagem primária do trauma. Quais são suas possíveis causas?

............................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

...........................................................................................................................................................

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D12. De que forma se faz o diagnóstico de obstrução das vias aéreas?

............................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

...........................................................................................................................................................

13. Assinale a alternativa INCORRETA em relação às vias aéreas do paciente traumatizado.

A) Agitação (freqüentemente associada à hipoxia), torpor (associado à hipercarbia),

cianose central, tiragem, taquipnéia e dispnéia nos induzem a pensar em compro-

metimento da função respiratória.

B) Quando escutamos respiração “ruidosa” e alteração na voz (disfonia), principalmen-

te quando associadas à diminuição bilateral da expansibilidade torácica, o problema

está mais freqüentemente nas vias aéreas.

C) Se o doente está falando, sua voz não tem problemas e há nítida insuficiência respi-

ratória, não deve haver problema mais específico de troca gasosa, não necessitan-

do exame torácico.

D) Vômitos freqüentes, falta de dentes ou próteses, como também fraturas complexas de

face com sangramento maior chamam a atenção para possibilidade de aspiração.

14. Que informação sobre a manobra de desobstrução das vias aéreas do paciente

traumatizado é INCORRETA?

A) Todas as manobras para desobstrução das vias aéreas devem ser realizadas com o

alinhamento manual da coluna cervical.

B) O colar cervical isoladamente é suficiente para impedir a mobilização da coluna.

C) Para o controle das vias aéreas em traumatizados, inicialmente a boca é aberta, e a

cavidade oral, examinada.

D) Usa-se um aspirador rígido para a aspiração da cavidade oral, tomando-se o cuida-

do de não estimular o palato mole, pois isso pode induzir ao reflexo de vômito.

Respostas no final do capítulo

15. Complete o quadro com as opções mais freqüentes de VAD, suas técnicas e indicações.

VAD Técnica Características Tipo de paciente

Intubação orotraqueal

Intubação nasotraqueal

Cricotireoidostomia

cirúrgica

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O B: VENTILAÇÃO (BREATHING)

O objetivo nessa etapa é assegurar a troca gasosa ao nível da membrana alvéolo-capilar através de uma

ventilação adequada. As lesões que ameaçam a vida nesse ponto são:2,3,5,6

■ pneumotórax hipertensivo;

■ pneumotórax aberto;

■ contusão pulmonar (com ou sem tórax flácido associado);

■ hemotórax maciço;

■ grandes hérnias diafragmáticas.

A falha na ventilação observada nas lesões altas de medula espinhal também pode ser

entendida como uma urgência nessa fase.

Pneumotórax hipertensivo

Define-se pneumotórax pela presença de ar no espaço pleural, que normalmente é virtual. O

pneumotórax é dito hipertensivo quando há um mecanismo valvulado que permite a entrada

(mas não a saída) de ar no espaço pleural.

O aumento da pressão colapsa o pulmão e o comprime contra o mediastino, que é rechaçado para o lado

contralateral, o que determina o chamado “balanço mediastinal”. Isso diminui o volume de sangue que

entra no átrio direito, determinando redução do débito cardíaco. Clinicamente, essa situação extrema é

reconhecida pela grave insuficiência respiratória, taquipnéia, dispnéia, bem como pela cianose central,

diminuição de murmúrio vesicular à ausculta e timpanismo à percussão no lado acometido. Há também

taquicardia, diminuição da perfusão de extremidades e hipotensão arterial.

Eventualmente, ao exame da região cervical, se observa o ingurgitamento das veias jugulares externas e

desvio da traquéia para o lado contralateral. A morte é iminente e não se devem realizar exames comple-

mentares. A conduta deve ser tomada com base no diagnóstico clínico.

Para o pneumotórax hipertensivo, recomenda-se a toracocentese com gelco 14 no 2o espaço

intercostal, na linha hemiclavicular (Figura 4A). Esse procedimento deve ser seguido da drena-

gem de tórax no 5o espaço intercostal, entre as linhas axilar média e anterior (Figura 4B).

A técnica da drenagem inclui a anti-sepsia de pele, anestesia local, incisão de pele, dissecção com pinça

hemostática até a costela, que deve ser contornada pela sua borda superior, e penetração na cavidade pleural.

O dedo indicador do cirurgião deve ser introduzido na cavidade pleural para avaliação da presença de

ruptura do diafragma ou de aderências pleurais.

LEMBRAR

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DO dreno (36 a 40 French) deve ser conectado a selo de água (com coluna líquida aproximada de 10cm) e

fixado à pele.

Figura 4 – (A) Toracocentese; (B) Drenagem torácica.

Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Após a drenagem, é fundamental checar o funcionamento do dreno e do sistema através da ausculta

pulmonar e do oxímetro de pulso. Freqüentemente há uma perda aérea grande inicial com tendência à

diminuição progressiva. Se houver persistência da perda aérea, deve-se suspeitar de falha no sistema de

drenagem ou de lesão de via aérea (traquéia ou brônquios centrais).

A

B

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O Pneumotórax aberto

Outra situação de risco imediato de vida é o pneumotórax aberto. Nesse caso, há uma solução de continui-

dade da parede torácica maior do que 2/3 do diâmetro da traquéia. Durante a inspiração, o rebaixamento

do diafragma torna a pressão intratorácica negativa, o ar entra pelo ferimento e ganha acesso à cavidade

pleural. Progressivamente há insuficiência respiratória tanto pelo colabamento pulmonar como pela dimi-

nuição da entrada de ar pelas vias aéreas.

O diagnóstico do pneumotórax aberto é clínico e determinado pela presença do ferimento e de

traumatopnéia, definida pelo ruído da entrada e saída de ar através do ferimento da parede

torácica. Não há necessidade de exames complementares.

O tratamento do pneumotórax aberto consiste na oclusão do ferimento com o “curativo de três

pontas”, no qual um dos lados é deixado aberto para permitir a saída de ar da cavidade pleural

na expiração, enquanto impede a entrada do mesmo durante a inspiração. Esse procedimento é

seguido de drenagem torácica.

Contusão pulmonar

A contusão pulmonar freqüentemente está associada a fraturas de costelas. Isso é menos comum em

crianças pela maleabilidade óssea. Se houver fraturas de duas ou mais costelas em dois ou mais pontos

forma-se um segmento isolado da parede torácica. Isso é chamado de tórax flácido, e a respiração para-

doxal é uma das características dessa situação. Observa-se que esse segmento instável apresenta uma

movimentação contrária à fisiológica, direcionando-se “para dentro” do tórax na inspiração e “para fora”

durante a expiração.

É importante ressaltar que a insuficiência respiratória associada a essa condição é secundária, na maioria

das vezes, à contusão pulmonar. Há reação inflamatória aguda secundária ao trauma e distúrbios de distribui-

ção do fluxo sangüíneo que comprometem a troca gasosa na membrana alvéolo-capilar. Dessa forma, a con-

tusão pulmonar determina distúrbio de ventilação-perfusão que pode resultar em hipoxia grave.

O tratamento da contusão pulmonar varia de acordo com a gravidade da mesma e, caso haja

falência respiratória na sala de emergência, deve-se realizar a intubação orotraqueal e respira-

ção assistida com oferta de altas frações de oxigênio (FIO2).

Hemotórax maciço

O hemotórax maciço pode resultar em insuficiência respiratória. O acúmulo de sangue na cavidade pleural

é freqüentemente causado por lesões pulmonares, mas também está associado a lesões de artérias inter-

costais, artéria torácica interna, vasos do hilo pulmonar ou mesmo lesões cardíacas.

O diagnóstico é clínico, sendo baseado na presença de taquipnéia, dispnéia, cianose central,

anemia, taquicardia, bem como diminuição do murmúrio vesicular à ausculta e macicez à per-

cussão do lado acometido.

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DO tratamento é a drenagem torácica no 50 espaço intercostal, entre a linha axilar anterior e

média. Deve-se fazer o diagnóstico diferencial com situações que determinem atelectasia pul-

monar (intubação seletiva, aspiração de corpos estranhos, sangue ou conteúdo gástrico, lesão

de brônquio) e com hérnias diafragmáticas.

Uma vez que essas situações tenham sido identificadas e tratadas, seguimos para a próxima fase, a circu-

lação (C).

16. Complete o quadro com as lesões que mais ameaçam a vida na fase de ventilação (B):

Ameaça Diagnóstico Tratamento

Pneumotórax hipertensivo

Pneumotórax aberto

Contusão pulmonar

Hemotórax maciço

17. Qual a causa mais freqüente de hemotórax traumático?

A) Lesão pulmonar.

B) Lesão de artérias intercostais.

C) Lesão cardíaca.

D) Lesão de artéria mamária.

Resposta no final do capítulo

CIRCULAÇÃO E CONTROLE DA HEMORRAGIA

A ameaça iminente de vida nessa etapa é o choque, definido como diminuição da perfusão tecidual com

conseqüente redução da oferta de oxigênio e da produção de energia pela célula.2,3,5,6 O resultado é a

morte celular. Em trauma, até que se prove o contrário, a causa do choque é hemorragia.

O diagnóstico é clínico pela constatação de diminuição da perfusão e temperatura das extremi-

dades, taquicardia e diminuição da amplitude do pulso, hipotensão arterial, agitação ou torpor,

taquipnéia e diminuição do débito urinário. Contudo, muitas vezes o quadro clínico é mais sutil.

Todo traumatizado que se apresentar com taquicardia e diminuição da perfusão periférica deve

ser considerado em choque até que se prove o contrário.

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O O curso SAVT propõe a classificação da hemorragia em quatro classes:

■ na hemorragia classe I, há perda de até 15% da volemia e o doente não apresenta sinais clínicos;

■ na hemorragia classe II, a perda volêmica alcança 15 a 30%, o traumatizado apresenta taquicardia,

diminuição da perfusão periférica e da pressão de pulso (diferença entre as pressões sistólica e diastólica);

■ na hemorragia classe III, com 30 a 40% de perda volêmica, há hipotensão arterial, piora da taquicardia

e o doente está freqüentemente agitado e ansioso;

■ na hemorragia classe IV há perda de mais de 40% da volemia, taquicardia intensa, hipotensão arterial

grave, já com comprometimento do nível de consciência.2,3

O tratamento do doente em choque hemorrágico se baseia em dois princípios: controle da hemorragia e

reposição volêmica. A reanimação volêmica agressiva não substitui o controle da hemorragia. O foco de

sangramento deve ser pesquisado na sala de emergência (Tabela 2), e a reposição volêmica, iniciada.

Nos ferimentos penetrantes, o local de entrada auxilia na identificação do foco mais provável

de hemorragia. Nos traumas fechados, a identificação pode ser mais difícil. Devemos procu-

rar por hemorragia externa, foco hemorrágico torácico (hemotórax), abdominal ou ósteo-

muscular.

Algumas vezes, os ferimentos de couro cabeludo podem sangrar bastante, principalmente se a artéria

temporal for acometida. O sangramento para o tórax deveria ter sido, provavelmente, identificado no item B,

e a drenagem de tórax, realizada. O sangramento abdominal é de difícil diagnóstico clínico, pois muitas

vezes não há dor abdominal ou sinais de irritação peritoneal. Exames complementares como a lavagem

peritoneal diagnóstica (LPD) ou o Focused Assessment Sonography for Trauma (FAST) podem ser empre-

gados para a identificação de sangramento abdominal. Avalia-se a presença de fraturas em ossos longos,

que podem ser focos importantes de hemorragia.

Estima-se que o sangramento de uma fratura de fêmur possa alcançar até 1.500mL e o de uma fratura em

perna ou braço, até 750mL.2,3 Outra fonte importante a ser pesquisada são as fraturas de bacia. Depen-

dendo do tipo, uma fratura pélvica pode ser causa de morte por hemorragia, principalmente na presença de

instabilidade horizontal (open book) ou vertical (Malgaigne). Portanto, aplica-se força sobre as cristas ilíacas

e, na presença de dor, uma fratura deve ser suspeitada.

LEMBRAR

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O tratamento proposto para o controle do foco de hemorragia na sala de emergência é a com-

pressão dos ferimentos que apresentam sangramento externo, o alinhamento e estabilização

das fraturas de ossos longos e a aplicação de algum dispositivo para restaurar o volume pélvico,

como, por exemplo, o envolvimento da mesma com lençol, talafix® ou PASG (pneumatic anti-

shock garment) (Figura 5).

Tabela 2

OPÇÕES DE INVESTIGAÇÃO E TRATAMENTO PARAOS FOCOS HEMORRÁGICOS MAIS FREQÜENTES

Local

Externo

Tórax

Cavidadeperitoneal

Retroperitônio

Membros

Problema

Lesões de pele, fáscia,musculatura e vasos.Fraturas expostas.Amputações traumáticas.

Hemotórax.

Lesão de vasosmediastinais (tamponada).

Ferimento cardíaco.

Hemoperitônio.

Fraturas de bacia.

Lesões renais.

Lesões vasculares.

Fraturas.Lesões vasculares.

Diagnóstico

Inspeção.Mecanismo de trauma.

Diminuição murmúrio vesicular.Macicez à percussão.Radiografia de tórax.

Mecanismo de trauma.Múltiplas fraturas em tórax.Ferimentos mediastinais.Radiografia de tórax.

Ferimento precordial.Abafamento de bulhas.Estase jugular.Hipotensão arterial.FAST.

Mecanismo: indicadoresde lesão.Ferimentos penetrantes.Distensão abdominal.Dor abdominal.Lavagem peritoneal diagnóstica.FAST.

Dor à mobilização da bacia.Instabilidade da bacia.Radiografia de pelve.

Hematúria.

Diminuição pulso femoral.Ferimentos penetrantes.

Desvio.Dor.Hematoma.Crepitação.Perda funcional.Ferimentos penetrantes.

Tratamento

Curativo compressivo.Suturas hemostáticas.Garroteamento (exceção).Amputação.

Drenagem torácica.Toracotomia.

Angiografia.Toracotomia.

Pericardiocentese.Toracotomia.

Tratamento não-operatório.Laparotomia exploradora.

Imobilização pélvica.Fixação externa precoce.Angiografia e embolização.

Angiografia e embolização.Laparotomia exploradora.

Angiografia.Laparotomia exploradora.

Alinhamento membro.Imobilização do membro.

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Há situações em que o sangramento em membros põe em risco a vida, como nos casos de amputações

traumáticas ou fraturas expostas graves. Nesses casos, se recomenda a utilização judiciosa de

garroteamento do membro. Contudo, na maioria das vezes o foco de sangramento pode ser controlado

apenas com compressão local.

A reposição volêmica deve ser realizada através de gelcos calibrosos (14 ou 16) em membros

superiores (se possível). Atualmente, a recomendação é a reposição de Ringer lactato, de 1.000

a 2.000mL inicialmente.2,3 Com o objetivo de evitar a hipotermia, essa solução deve ser infundida

aquecida (37 a 39ºC).

Há muitas pesquisas sobre a reposição volêmica em traumatizados. O debate na utilização de cristalóides

versus colóides foi recentemente reavivado, com os mesmos resultados observados anteriormente.19-21 A

utilização de cristalóides isotônicos tem resultados comparáveis ao uso de colóides, com custo e rea-

ções transfusionais menores.21 Outras opções vêm sendo testadas como o Ringer piruvato e a solução

salina hipertônica.22,23

Em nosso país, vários estudos demonstraram a eficácia da reposição de solução salina hipertônica (NaCl

7,5%) em recuperar rapidamente as condições hemodinâmicas no choque hemorrágico experimental e

clínico.23,24 Essa solução também apresenta outras vantagens, principalmente na área de resposta

imunológica.25,26 Contudo, sua utilização ainda não é recomendada pelo curso SAVT.

No momento da punção venosa, deve ser colhida amostra para tipagem sangüínea e exames complemen-

tares. A indicação de reposição de concentrados de hemácias varia de acordo com vários aspectos. Há três

possibilidades: tipo O negativo, tipo-específico e com prova-cruzada. Se houver risco iminente de morte,

usa-se pelo menos a primeira unidade de O negativo. Caso houver possibilidade, preferencialmente, se

indicam concentrados de hemácias com prova cruzada, para diminuir os riscos de reações transfusionais.

Figura 5 – Imobilização pélvica com talafix® nos casos de suspeita de fratura instável de bacia.Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

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DO atraso na indicação de transfusão de concentrados de hemácias pode ser deletério. Nos

traumatizados com hemorragia ativa e grave, esperar por exames laboratoriais para iniciar transfu-

são é um erro. A experiência do cirurgião em reconhecer a ameaça iminente à vida permite a

indicação, sem demora, de reposição de hemácias. Há pesquisas com substitutos da hemoglobina,

com resultados variados.19 Ainda não se dispõe de dados para uma recomendação formal de uso.

O objetivo do tratamento do choque hemorrágico é restaurar a oferta de oxigênio aos tecidos. Portanto,

a utilização de drogas vasoativas ou bicarbonato de sódio é de exceção. Contudo, há relatos de melhora

dos parâmetros hemodinâmicos refratários à infusão de volume com a utilização de vasopressina.27 O

curso SAVT não recomenda o uso de drogas vasoativas na reanimação inicial do traumatizado. Cabe res-

saltar que a infusão endovenosa de grandes volumes de cristalóides isotônicos não é indene, uma vez que

estimula a resposta inflamatória e ativa neutrófilos. É também prejudicial nos casos de contusões pulmona-

res e trauma craniencefálico por aumentar o líquido intersticial, o que piora a função pulmonar e aumenta a

pressão intracraniana.2,3,5,6,16,21

Se não houver possibilidade de punção venosa, uma flebotomia deve ser realizada. A passagem de cate-

teres centrais nessa situação traz um risco elevado de iatrogenias, além de não oferecer um fluxo adequa-

do para a infusão rápida de volume. O procedimento mais rápido é a dissecção da veia safena magna

anteriormente ao maléolo interno. Outras opções são as veias basílica, cefálica ou braquial em membros

superiores. Se houver material adequado, há possibilidade de puncionar a veia femoral pela técnica de

Seldinger, com passagem de um fio guia e cateter de grosso calibre. Em crianças com até 6 anos de idade,

a infusão intra-óssea é uma opção rápida e segura.2,3

O próximo passo no tratamento do traumatizado está na dependência da resposta hemodinâmica à

reanimação volêmica. Três situações podem acontecer:

■ recuperação dos parâmetros hemodinâmicos. O doente permanece hemodinamicamente normal após

a reposição inicial. Nesse caso, devemos ter em mente que, provavelmente, houve sangramento, e as

causas possíveis devem ser pesquisadas;

■ recuperação transitória dos parâmetros hemodinâmicos. Nesse caso, após atingir o status de

hemodinamicamente normal, há nova deterioração dos dados vitais. Esse sinal nos alerta para a possi-

bilidade de haver sangramento ativo. Os possíveis focos hemorrágicos devem ser investigados pronta-

mente, na sala de emergência. Mais líquido deve ser infundido, sendo freqüentemente necessária a

transfusão de concentrados de hemácias;

■ ausência de recuperação hemodinâmica. O doente permanece hemodinamicamente anormal. Há três

possibilidades: sangramento ativo de grande monta, reposição inadequada de líquidos e causa não

hemorrágica de choque.

Se houver hemorragia grave e ativa, muitas vezes a hemostasia só será possível em centro

cirúrgico, através de toracotomias, laparotomias, reparos vasculares ou amputações. O re-

conhecimento dessa situação deve ser precoce, e o doente, encaminhado prontamente para

uma “reanimação” em sala operatória, sem a realização de exames complementares. Nes-

ses casos, o controle da hemorragia é prioritário e outros problemas concomitantes devem

ser resolvidos posteriormente. As vítimas de trauma penetrante em tronco admitidas com

hipotensão arterial são exemplo dessa situação.

LEMBRAR

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O Quando a perda volêmica é muito grande, a reposição inicial com 2.000mL de Ringer lactato não é suficien-

te. São exemplos os doentes com múltiplas lesões associadas e fraturas complexas de bacia. Freqüentemente

há necessidade de reposição de grandes volumes de cristalóides e concentrados de hemácias.

Uma terceira possibilidade a ser considerada é uma causa não-hemorrágica de choque. Avalia-se a pos-

sibilidade de pneumotórax hipertensivo pela ausculta do tórax. O acúmulo de sangue no saco pericárdico

pode dificultar a entrada de sangue no coração, diminuindo a pré-carga, o que é conhecido como

tamponamento cardíaco. É mais freqüente em vítimas de trauma penetrante e pode ser reconhecido pela

tríade de Beck: hipotensão arterial, estase jugular e abafamento de bulhas cardíacas à ausculta. O comple-

xo QRS pode estar com amplitude diminuída. Atualmente, dispomos do FAST para a investigação da pre-

sença de líquido no pericárdio na sala de emergência.

O tratamento temporário proposto é a punção de Marfan (pericardiocentese) até que a

toracotomia seja possível. Inicia-se com a monitoração cardíaca e, com uma agulha longa,

punciona-se o ângulo entre o processo xifóide e a reborda costal esquerda, com angulação de

45º com a pele, direcionando-se a agulha para o ombro esquerdo. Essa conduta é controversa,

uma vez que se um cirurgião treinado estiver disponível na sala de emergência, provavelmente

uma toracotomia de emergência teria melhores resultados do que a punção.

Devido às possíveis iatrogenias, consideramos a punção de Marfan como uma conduta de

exceção, que deve ser realizada apenas por pessoas treinadas, em condições de morte

iminente.

As lesões cardíacas por trauma fechado também podem manifestar-se com hipotensão arterial. Em al-

guns casos, arritmias e/ou alterações de repolarização no eletrocardiograma são observadas. Eventual-

mente, há sinais de insuficiência cardíaca como estertores crepitantes e estase jugular. O FAST ajuda no

diagnóstico diferencial com tamponamento cardíaco. O tratamento é selecionado a cada caso e envolve um

suporte clínico em terapia intensiva.

O choque neurogênico ocorre pela perda do tônus simpático, determinando vasodilatação e bradicardia.

É observado nas lesões raquimedulares altas e em estágios terminais de trauma craniencefálico. É reco-

nhecido pela presença de hipotensão arterial associada a extremidades coradas e ausência de taquicardia.

O tratamento é a reposição volêmica e, caso seja necessária, a utilização de drogas vasoativas.

Mesmo os doentes com trauma raquimedular podem ter hemorragia interna oculta, e a presença

do déficit neurológico não assegura o diagnóstico de choque neurogênico. Também é oportuno

lembrar que o trauma craniencefálico não deve ser considerado como causa de choque até que

a possibilidade de hemorragia tenha sido descartada.

LEMBRAR

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DUma vez que o estado hemodinâmico tenha sido avaliado e os possíveis focos de hemorragia sejam iden-

tificados, as manobras para hemostasia, tomadas e a infusão volêmica, iniciada, passa-se para a próxima

prioridade, a avaliação neurológica (D).

18. Correlacione as colunas de acordo com a classificação da hemorragia proposta pelo

curso SAVT.

(1) Hemorragia classe I ( ) Com 30 a 40% de perda volêmica, há hipotensão arterial,

piora da taquicardia, e o doente está freqüentemente

agitado e ansioso.

(2) Hemorragia classe II ( ) Há perda de mais de 40% da volemia, taquicardia inten-

sa, hipotensão arterial grave, já com comprometimento

do nível de consciência.

(3) Hemorragia classe III ( ) A perda volêmica alcança 15 a 30%, o traumatizado apre-

senta taquicardia, diminuição da perfusão periférica e da

pressão de pulso (diferença entre as pressões sistólica e

diastólica).

(4) Hemorragia classe IV ( ) Há perda de até 15% da volemia e o doente não apre-

senta sinais clínicos.

Respostas no final do capítulo

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Membros

Problema Diagnóstico

Inspeção.Mecanismo de trauma.

Diminuição murmúrio vesicular.Macicez à percussão.Radiografia de tórax.

Mecanismo de trauma.Múltiplas fraturas em tórax.Ferimentos mediastinais.Radiografia de tórax.

Ferimento precordial.Abafamento de bulhas.Estase jugular.Hipotensão arterial.FAST.

Mecanismo: indicadoresde lesão.Ferimentos penetrantes.Distensão abdominal.Dor abdominal.Lavagem peritoneal diagnóstica.FAST.

Dor à mobilização da bacia.Instabilidade da bacia.Radiografia de pelve.

Hematúria.

Diminuição pulso femoral.Ferimentos penetrantes.

Desvio.Dor.Hematoma.Crepitação.Perda funcional.Ferimentos penetrantes.

Tratamento

Curativo compressivo.Suturas hemostáticas.Garroteamento (exceção).Amputação.

Drenagem torácica.Toracotomia.

Angiografia.Toracotomia.

Pericardiocentese.Toracotomia.

Tratamento não-operatório.Laparotomia exploradora.

Imobilização pélvica.Fixação externa precoce.Angiografia e embolização.

Angiografia e embolização.Laparotomia exploradora.

Angiografia.Laparotomia exploradora.

Alinhamento membro.Imobilização do membro.

19. Complete o quadro com os possíveis focos hemorrágicos mais freqüentes em

traumatizados. Utilize as informações de diagnóstico e tratamento como apoio.

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20. Assinale a alternativa INCORRETA a respeito do tratamento do choque hemorrágico

em traumatizados.

A) O objetivo do tratamento do choque hemorrágico é restaurar a oferta de oxigênio

aos tecidos.

B) A utilização de drogas vasoativas ou bicarbonato de sódio é de exceção.

C) O curso SAVT recomenda o uso de drogas vasoativas na reanimação inicial do

traumatizado.

D) A infusão endovenosa de grandes volumes de cristalóides isotônicos não é indene,

uma vez que estimula a resposta inflamatória e ativa neutrófilos.

21. Complete as definições a partir dos conceitos no quadro.

recuperação transitória dos parâmetros hemodinâmicos - recuperação dos

parâmetros hemodinâmicos - ausência de recuperação hemodinâmica.

A) ..................................................: O doente permanece hemodinamicamente normal

após a reposição inicial. Nesse caso, devemos ter em mente que, provavelmente, houve

sangramento, e as causas possíveis devem ser pesquisadas.

B) ..................................................: Nesse caso, após atingir o status de

hemodinamicamente normal, há nova deterioração dos dados vitais. Esse sinal nos alerta

para a possibilidade de haver sangramento ativo. Os possíveis focos hemorrágicos de-

vem ser investigados prontamente, na sala de emergência. Mais líquido deve ser infundi-

do, sendo freqüentemente necessária a transfusão de concentrados de hemácias.

C) ....................................................: O doente permanece hemodinamicamente anor-

mal. Há três possibilidades: sangramento ativo de grande monta, reposição inadequada

de líquidos e causa não-hemorrágica de choque.

Respostas no final do capítulo

D: NEUROLÓGICO (DISABILITY)

Nessa etapa, a ameaça é a hipertensão intracraniana.2,3,5,6 A herniação do uncus resultante comprime o

tronco encefálico, determinando alterações no sistema nervoso autônomo que põem em risco a sobrevivên-

cia. Realiza-se um “mini” exame neurológico com objetivo de identificar potenciais candidatos à

descompressão cirúrgica de lesões intracranianas focais. São avaliados o nível de consciência, as pupilas

e a resposta motora.

Doentes com diminuição do nível de consciência, com anisocoria e/ou sinais de localizatórios são

considerados portadores de lesões focais de tratamento cirúrgico até que seja provado o contrário.

LEMBRAR

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O O tratamento é evitar a injúria secundária, bem como acelerar a realização de tomografia computadorizada

de crânio e a avaliação neurocirúrgica. Entende-se por injúria neurológica secundária aquela causada por

hipoxia, hipercarbia, anemia e/ou hipotensão arterial. Portanto, o tratamento ideal é assegurar a reanima-

ção feita até o momento, mantendo oxigenação, ventilação e perfusão tecidual adequadas. A realização da

tomografia de crânio deve ser a prioridade, em conjunto com a avaliação neurocirúrgica. Caso constata-

das lesões de tratamento operatório, o doente deve ser encaminhado ao centro cirúrgico para a

descompressão sem atraso.

Uma vez que seja realizada a avaliação neurológica, passamos para a próxima fase, a exposição e con-

trole da hipotermia (E).

E: EXPOSIÇÃO E CONTROLE DA HIPOTERMIA

Nesse momento o doente deve ser totalmente despido. A hipotermia é uma ameaça à vida em traumatizados,

não apenas pelas alterações de condução cardíaca, mas principalmente pela acidose metabólica e

coagulopatia que determina. Portanto, todas as medidas na tentativa de evitá-la são prioritárias. Aqueci-

mento da sala de emergência, uso de cobertores, utilização de soluções aquecidas a serem infundidas são

algumas das possibilidades.

Se o dorso não foi ainda avaliado, devemos proceder com a rotação em bloco do paciente,

tomando-se o cuidado para não mobilizar a coluna vertebral. Para tanto, são necessárias três

pessoas para a rotação e uma para a avaliação da região posterior. Enquanto uma pessoa

imobiliza a coluna cervical e comanda verbalmente os passos do movimento, outras duas exe-

cutam o rolamento (Figura 6). O médico restante realiza a palpação da coluna vertebral e a

procura ativa de orifícios de projéteis de arma de fogo ou outros ferimentos. O toque retal pode

ser realizado nessa oportunidade, sendo avaliada a ampola retal, presença de sangue ou espículas

ósseas e, nos homens, a próstata.

Figura 6 – Posicionamento da equipe para realizar o rolamento do paciente em bloco.

Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

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DMEDIDAS COMPLEMENTARES À AVALIAÇÃO PRIMÁRIA

Consideramos complementares à avaliação primária a sondagem gástrica e vesical, monitoração cardíaca

e oxímetro de pulso, bem como a realização de radiografia de tórax e bacia. O FAST ou a LPD podem

também ser considerados medidas complementares quando há suspeita de sangramento intra-abdominal

ou tamponamento cardíaco. Nos doentes em choque, a gasometria arterial pode nos fornecer dados impor-

tantes sobre a efetividade da reanimação volêmica.

A sondagem nasogástrica está contra-indicada na suspeita de fraturas de base de crânio pelo

risco de penetração da sonda no encéfalo durante a introdução da mesma pela narina. Os sinais

clínicos que indicam fraturas em base de crânio são otorragia, nasoliquorréia (perda de liquor

pelo nariz), otoliquorréia (perda de liquor pelo ouvido), equimose periorbital (sinal do guaxinim),

equimose retroauricular (sinal de Battle), fraturas graves na face e paralisia do VII par craniano.

Nessa eventualidade, a passagem da sonda deve ser reservada aos indivíduos com diminuição

do nível de consciência, por via orogástrica. A sonda vesical está contra-indicada nos casos de

suspeita de ruptura de uretra, pelo risco de piorar a lesão já existente e/ou formação de falso

trajeto. Os sinais clínicos são a uretrorragia, equimose perineal ou de bolsa escrotal, bem como

o deslocamento cranial da próstata ao toque retal. A realização de uma uretrografia dá o diag-

nóstico e orienta a conduta.

As radiografias de tórax e bacia nos fornecem informações importantes e que podem não estar aparentes

no exame físico, como alargamentos de mediastino sugerindo lesões de vasos mediastinais, hérnias

diafragmáticas ou mesmo fraturas de bacia.

REAVALIAÇÃO

Em qualquer momento, se algum problema for identificado, reinicia-se novamente a avaliação pelo A, checan-

do todos os passos e condutas tomados. Ao término da avaliação primária/reanimação, o doente deve, então,

ser reavaliado novamente. O trauma é uma doença extremamente dinâmica e alterações em quadro clínico,

como evolução de pneumotórax simples para hipertensivo, podem ocorrer. Caso o doente esteja estável do

ponto de vista respiratório e hemodinamicamente normal, podemos dar início à avaliação secundária.

22. Qual a principal ameaça na etapa de avaliação neurológica do traumatizado?

............................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

...........................................................................................................................................................

23. Por que a hipotermia é uma ameaça à vida em traumatizados?

............................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

...........................................................................................................................................................

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24. São efeitos da hipotermia nos traumatizados, EXCETO:

A) comprometimento da função plaquetária.

B) alteração nas provas de coagulação.

C) predisposição a arritmias cardíacas.

D) diminuição da resistência vascular sistêmica.

Resposta no final do capítulo

25. Dentro das medidas complementares à avaliação primária, em que situações são contra-

indicadas as sondas nasogástrica e vesical?

............................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

26. Quando a reavaliação do traumatizado é recomendada?

............................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA

A avaliação secundária diz respeito a uma fase em que o traumatizado se encontra estável, o que permite

um exame minucioso de todos os segmentos corporais, exame neurológico e perineal, bem como a realiza-

ção de exames complementares em ambiente externo à sala de admissão.2,3

HISTÓRIA AMPLA

Nesse momento devemos conversar com o doente, com os familiares e com a equipe do atendimento pré-

hospitalar para conseguir o máximo de informações. O recurso mnemônico utilizado é a história AMPLA:

■ A (Alergias): eventuais reações alérgicas a medicamentos que o doente já teve;

■ M (Medicações): medicações em uso;

■ P (Passado médico): passado médico e doenças associadas;

■ L (Líquidos e alimentos ingeridos): última refeição ou alimentação antes do trauma;

■ A (Ambiente): informações sobre o ambiente do trauma.

São importantes as informações da história AMPLA principalmente em doentes idosos, nos quais as doen-

ças associadas são freqüentes. Uso de ácido acetilsalicílico (AAS) ou anticoagulantes orais pode agravar

quadros hemorrágicos. Uso de betabloqueadores, bloqueadores de canal de cálcio, ou mesmo marca-

passo podem influenciar na resposta hemodinâmica à hemorragia.

Doenças associadas podem alterar o curso de tratamento ou mesmo chamar atenção para situações espe-

cíficas relacionadas ao passado mórbido. A última refeição dá idéia do estado de plenitude gástrica, que

deve ser levado em consideração antes da realização de certos exames ou procedimentos operatórios.

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DDados de temperatura e umidade do ambiente em que houve o trauma podem chamar a atenção para a

hipotermia ou mesmo auxiliar a compreensão do mecanismo de trauma.

MECANISMO DE TRAUMA

O mecanismo de trauma é a “anamnese” do traumatizado. A utilização adequada das informações quanto

ao mecanismo oferece a oportunidade de diagnosticar lesões graves antes mesmo de suas manifestações

iniciais.8

Devemos chamar a atenção para a identificação de traumatizados de risco para lesões graves. Esse

grupo é muito amplo, mas podemos citar como exemplo:

■ os que foram vítimas de acidentes automobilísticos com grande deformidade do veículo, especialmente

se estiverem sem cinto de segurança;

■ os ejetados para fora do veículo, os envolvidos em acidentes com morte no local;

■ os atropelados;

■ os motociclistas, especialmente sem o uso de capacete;

■ as vítimas de quedas de mais de 6 metros de altura;

■ os que foram vítimas de ferimentos penetrantes em tronco.

Muitas vezes não há manifestações clínicas, mas pelo mecanismo podemos inferir o risco e tomar as medi-

das necessárias. Podemos acrescentar situações específicas, como o trauma nos extremos de idade ou na

presença de doenças associadas. As fraturas ósseas chamam a atenção para lesões em segmentos es-

pecíficos e freqüentemente direcionam a investigação (Tabela 3).

Tabela 3

POSSIBILIDADE DE LESÃO ASSOCIADA ÀS DIFERENTES FRATURAS

Local da fratura Lesão a ser pesquisada

Crânio: calota Hematomas/contusões cerebrais

Crânio: base Fístulas liquóricas

Coluna cervical Artéria vertebral e carótida

Coluna vertebral Coluna vertebral (outra)

Costelas (1o a 3o arcos) Lesões mediastinais

Costelas (4o a 9o arcos) Tórax flácido, contusão pulmonar, hemopneumotórax

Costelas (10o a 12o arcos) Lesões abdominais (fígado, baço e rins)

Esterno Trauma cardíaco fechado

Vértebras lombares: Lesões retroperitoneais (pâncreas, duodeno e rins)processo transverso

Vértebras: fratura de Chance Lesões vísceras ocas (delgado, cólon) e mesentério

Bacia 90% com lesões associadasOutras fraturasLesões abdominais, principalmente bexigaLesão de uretra posterior

Úmero: supracondiliana Artéria braquial

Fêmur: diáfise Artéria femoral superficial

Joelho: com luxação posterior Artéria poplítea

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O É de grande importância observar se o trauma foi fechado ou penetrante, pois os exames com-

plementares e conduta são, muitas vezes, diferentes. No trauma fechado, freqüentemente vá-

rios segmentos corporais estão envolvidos. Podemos encontrar um doente com trauma

craniencefálico grave, suspeita de lesão raquimedular, hemotórax, lesão de baço e fratura ex-

posta em membro inferior, por exemplo. Há “competição” de prioridades.

Em ferimentos penetrantes, as lesões são, usualmente, restritas a um ou dois segmentos corporais.

Portanto, em um ferimento por projétil de arma de fogo em parede torácica, podemos encontrar lesões

torácicas, abdominais ou cervicais. Contudo, se houver múltiplos ferimentos, esse raciocínio é inválido.

Deve-se lembrar que os ferimentos por projéteis de arma de fogo podem causar danos pela lesão direta

pelo projétil (cavitação permanente), pela deformação tecidual secundária à passagem (cavitação tem-

porária), pela formação de projéteis secundários (fragmentos ósseos ou fragmentação do projétil) e pela

energia térmica liberada.

A magnitude das lesões está na dependência principalmente da velocidade do projétil e, em menor impor-

tância, da massa do mesmo. Devemos considerar todas as vítimas de ferimentos penetrantes em tronco,

pescoço e cabeça como de alta chance de ter lesões graves, mesmo na ausência de sintomas.

SEGMENTO CEFÁLICO

Anamnese

São sintomas importantes a perda de consciência, amnésia, desorientação e convulsões. A escala de

coma de Glasgow pode ser calculada nesse momento.

Inspeção

Observa-se a presença de sinais e trauma direto, como sangramento externo, feridas e hematomas, pois

são indício de uma possível lesão interna. Os sinais de fraturas de base de crânio, já citados anteriormente,

devem ser pesquisados, principalmente a nasoliquorréia, otorragia, otoliquorréia, sinal de Battle (equimose

retroauricular) e equimose periorbital. Avalia-se o globo ocular, a presença de lentes de contato (para serem

retiradas) e lacerações locais. Inspeciona-se a cavidade oral, a presença de feridas e o estado dos dentes.

Fraturas expostas de mandíbula podem passar despercebidas em doentes inconscientes. Ferimentos por

projéteis de arma de fogo podem ser de difícil identificação, especialmente na área de couro cabeludo.

Algumas vezes pode-se observar saída de massa encefálica pelo ferimento.

Palpação

Palpa-se o crânio à procura de sangramento, feridas, orifícios, crepitação, afundamentos e dor (nos doen-

tes conscientes). Os ossos da face devem ser palpados com atenção, pois a falha no diagnóstico de

fraturas não é infreqüente.

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DExames complementares

A tomografia computadorizada deve ser empregada com liberalidade na avaliação de doentes com trauma

constatado em região cefálica. Há lesões graves, por vezes cirúrgicas, que não se manifestam inicialmente

com sinais neurológicos, como em alguns casos de hematomas epidurais. Essa lacuna entre o trauma e a

manifestação neurológica é conhecida como “intervalo lúcido”. A radiografia simples de crânio é um exame

pouco sensível na identificação de lesões importantes e não é o padrão-ouro para a investigação.

SEGMENTO CERVICAL

Anamnese

É importante pesquisar a presença de respiração ruidosa, estridor, cornagem, hemoptise e alte-

ração na voz para o diagnóstico de lesões em laringe.

A dor à deglutição sugere lesões faringoesofágicas, principalmente em ferimentos penetrantes. A dor local é

um sinal importante e merece investigação dirigida. Devemos ressaltar que a ausência de dor ou sinais

neurológicos não descarta a possibilidade de lesão em coluna cervical.

Inspeção

Observam-se ferimentos, orifícios de projéteis de arma de fogo e hematomas. Se houver feridas, avalia-se

a presença de penetração no músculo platisma, sangramento ativo, escape de ar ou saliva pelo ferimento.

Palpação

O enfisema de subcutâneo é um sinal importante que pode estar associado a lesões de vias aéreas ou do

tubo digestivo. Podem ser palpados hematomas ou frêmitos nas lesões vasculares maiores. A palpação da

coluna vertebral é um ponto muito importante para a avaliação da presença de fraturas ou luxações nos

doentes conscientes. As fraturas de laringe podem ser reconhecidas pela dor e edema local.

Ausculta

Deve-se auscultar o pescoço à procura de sopros sistólicos ou contínuos que podem estar presentes nas

lesões vasculares.

Exames complementares

Os exames devem ser direcionados pela suspeita clínica. A tomografia computadorizada multislice trou-

xe vantagens na avaliação desses doentes, visto que apenas com esse exame podemos avaliar de uma

maneira adequada os órgãos cervicais mais importantes e, se indicado, também realizar a angiotomografia.

Em ferimentos penetrantes, cabe ressaltar que a investigação de lesões em faringe e esôfago é mais com-

plexa. Nesses casos, se emprega a endoscopia digestiva e, caso necessário, o exame radiológico con-

trastado. A fibroendoscopia também pode ser utilizada para a investigação de lesões em vias aéreas. Nos

casos em que a angiotomografia não estiver disponível, a angiografia pode ser empregada para a avalia-

ção de lesões em vasos cervicais.

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As fraturas de coluna podem ser avaliadas pelas radiografias simples em ântero-posterior,

lateral e transoral, por tomografia computadorizada ou por ressonância nuclear magnética.

Deve-se lembrar da possibilidade de lesões vasculares em doentes assintomáticos (lesões

de íntima em artérias carótidas ou vertebrais). A pesquisa dessas lesões deve ser ativa nos

doentes de maior risco.

SEGMENTO TORÁCICO

Anamnese

Queixas de dispnéia, dor torácica e hemoptise são significativas.

Inspeção

Observa-se a expansibilidade torácica. Nos casos de pneumotórax ou hemotórax, a expansibilidade pode

estar diminuída no lado acometido. A respiração paradoxal, já citada, se relaciona com fraturas de costelas e

contusão pulmonar. Pode-se também notar a traumatopnéia pela entrada e saída de ar através de ferimento de

parede torácica. Os ferimentos penetrantes podem ser classificados de acordo com sua localização, dando

indícios dos órgãos possivelmente lesados e os exames complementares a serem realizados.

Palpação

Palpa-se o tórax na pesquisa de enfisema de subcutâneo, dor e crepitação sobre as costelas.

Percussão

A percussão torácica é muito importante em trauma. O timpanismo nos indica a presença de pneumotórax.

A macicez está associada aos hemotóraces, atelectasias e hérnias diafragmáticas.

Ausculta

Outro ponto de atenção deve ser a ausculta de campos pulmonares, em que:

■ diminuição unilateral de murmúrio vesicular pode estar presente em doentes com pneumotórax,

hemotórax, atelectasia e hérnias diafragmáticas;

■ roncos podem chamar a atenção para a possibilidade de aspiração;

■ ruídos hidroaéreos em tórax podem indicar a presença de ruptura diafragmática e herniação do conteú-

do abdominal para o tórax.

LEMBRAR

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DExames complementares

A radiografia de tórax é de grande valor. Pode complementar as informações colhidas no exame físico,

bem como chamar atenção para possibilidade de lesões graves que são minimamente sintomáticas (alarga-

mentos de mediastino em suspeita de lesão de aorta). Devem ser realizados em todos os doentes. No

trauma fechado, a tomografia computadorizada multislice tem sua principal indicação nas suspeitas de

ruptura de aorta torácica. No trauma penetrante, a investigação complementar estará na dependência do

provável trajeto do projétil ou instrumento perfurocortante.

Em ferimentos precordiais, o ecocardiograma, FAST ou janela pericárdica podem ser empregados nos

doentes estáveis. Nos ferimentos penetrantes de transição tóraco-abdominal, a identificação de perfura-

ções em diafragma só é possível com a utilização de videolaparoscopia ou videotoracoscopia.

Nos ferimentos que penetram ou transfixam o mediastino, a tomografia multislice nos dá

informações sobre o trajeto do projétil e, dessa forma, indicaremos angiografia, endoscopia

digestiva e/ou respiratória.

SEGMENTO ABDOMINAL E PÉLVICO

Anamnese

Queixas de dor abdominal, vômitos, hematêmese, enterorragia e/ou hematúria são indicativas de lesões

abdominais.

Inspeção

Observa-se a presença de escoriações, equimoses e/ou hematomas na parede abdominal, que são indica-

dores de lesão interna. O “sinal do cinto de segurança” está associado com lesões de vísceras ocas e de

coluna vertebral. Ferimentos e orifícios de projéteis de arma de fogo em parede anterior de abdome são

associados à alta possibilidade de penetração na cavidade peritoneal. Há a possibilidade de haver herniação

das vísceras por ferimentos na parede abdominal.

Deve-se observar o períneo, na busca ativa de soluções de continuidade na pele, vagina ou ânus. O priapismo

pode indicar a presença de trauma raquimedular. A equimose em bolsa escrotal pode indicar lesão de uretra

ou sangramento retroperitoneal.

Palpação

Sinais de peritonite como defesa ou contratura são altamente indicativos de lesões em vísceras ocas.

LEMBRAR

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O Percussão

A percussão dolorosa também é um sinal de peritonite e chama a atenção para a possibilidade de lesões

em vísceras ocas.

Toque retal e vaginal

Avalia-se a presença de sangue, lacerações, espículas ósseas (fraturas de bacia) e hipotonia esfincteriana

(sugestiva de trauma raquimedular).

Exames complementares

Nos doentes com maior risco de lesões abdominais (fraturas de costelas baixas, fraturas de bacia,

hipotensão arterial, anemia, consumo de base à gasometria arterial, “sinal do cinto de segurança”, etc.) é

necessária uma avaliação objetiva (exames de imagem).

O FAST é limitado à observação de líquido livre em peritônio e tem alto índice de falso-negativos nos doentes

hemodinamicamente normais. O exame ultra-sonográfico abdominal completo realizado pelo radiologista

tem maior sensibilidade para a identificação de lesões em fígado, baço e rins. A tomografia computadorizada

é o exame mais sensível e específico para avaliação do trauma abdominal. A cistografia pode ser empregada

para a avaliação dos doentes com hematúria e fraturas de bacia, na suspeita de lesão de bexiga.

Um exame físico ou complementar normal não exclui a possibilidade de lesões em órgãos abdo-

minais. Portanto, nos doentes de alto risco assintomáticos, mesmo com exames complementa-

res normais, a observação clínica é a melhor opção. Aumento dos níveis séricos de amilase (na

ausência de trauma facial), leucocitose e piora progressiva de acidose metabólica (à gasometria

arterial) são indicativos de lesão abdominal não-diagnosticada.

A presença de fratura de bacia está associada a lesões associadas em até 90% dos casos, sendo que em

cerca de 40% dos doentes há lesões abdominais associadas.28,29 Quanto maior a gravidade da fratura,

maior a chance de haver lesões internas.29 Há também casos em que os sinais clínicos podem estar mas-

carados, e uma investigação objetiva com exames de imagem é obrigatória, mesmo na ausência de sinais

indicadores de lesões abdominais, como nos doentes com trauma craniencefálico, lesões raquimedulares,

bem como nos sedados e sob intubação orotraqueal.30

MEMBROS

Anamnese

Dor, sangramento e edema são as queixas mais freqüentes.

Inspeção

Avalia-se a presença de edema, hematomas, desvios, rotação anormal, ferimentos, sangramento externo,

posição antálgica e coloração das extremidades. A perda funcional do membro é outro sinal de alerta.

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DPalpação

Nos doentes conscientes, a presença de dor à palpação é o sinal mais importante. Edema, desvios, espículas

ósseas, temperatura das extremidades devem ser avaliadas. Os pulsos devem ser palpados e comparados

com lado contralateral. Manobras para pesquisar instabilidade ligamentar são obrigatórias. Dependendo do

mecanismo de trauma, deve-se lembrar da possibilidade de síndrome compartimental e/ou necrose muscu-

lar (síndrome do esmagamento).

Exames complementares

As radiografias simples são empregadas amplamente para a pesquisa de lesões ósseas, com bons resul-

tados na maioria dos casos. Para a avaliação arterial, pode-se empregar o Doppler ou angiografia, depen-

dendo da situação. A tomografia computadorizada ou a ressonância nuclear magnética podem ser

empregadas para alguma avaliação específica, como lesões em joelho ou fraturas de bacia com instabilida-

de mecânica.

EXAME NEUROLÓGICO COMPLETO

Nesse ponto deve-se realizar um exame neurológico completo, observando os fatores que não foram

pesquisados até o momento. Chama-se a atenção para o nível de consciência, avaliação dos pares cranianos,

sensibilidade superficial e profunda, resposta motora e reflexos.

TRATAMENTO DEFINITIVO

Uma vez que o diagnóstico esteja feito, o tratamento definitivo deve ser programado. As prioridades de

tratamento seguem a regra ABCD. Um ponto importante é definir se há necessidade de tratamento opera-

tório e qual a urgência disso.2,3 Em trauma, algumas indicações são mais freqüentes. Vítimas de ferimentos

penetrantes em tronco hemodinamicamente instáveis geralmente necessitam tratamento operatório.31

As vítimas de trauma fechado com sangramento ativo que não recuperam estado hemodinâmico com

reposição volêmica também são candidatos a tratamento operatório. A laparotomia está indicada nas víti-

mas de trauma abdominal em choque, com sinais de peritonite, hérnia diafragmática e/ou lesão intraperitoneal

de bexiga. Os doentes com hematomas epidurais e subdurais com desvio de linha média considerável à

tomografia de crânio devem ser submetidos à descompressão cirúrgica. A lavagem e fixação das fraturas

expostas também não devem ser postergadas.

Em muitos desses casos, não há necessidade de exames complementares para a indicação operatória. O

tratamento definitivo não deve ser postergado. Se houver necessidade de transferência, as lesões que

ameaçam a vida iminentemente devem ser tratadas, de preferência, no hospital de origem. O contato entre

os médicos e a documentação em prontuário são obrigatórios.

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27. Combine as colunas com o significado de cada letra que integra a história AMPLA,

recurso mnemônico utilizado durante conversa com o traumatizado, com os familiares e

com a equipe do atendimento pré-hospitalar para conseguir o máximo de informações.

(1) A ( ) Passado médico e doenças associadas.

(2) M ( ) Informações sobre o ambiente do trauma.

(3) P ( ) Medicações em uso.

(4) L ( ) Última refeição ou alimentação antes do trauma.

(5) A ( ) Eventuais reações alérgicas a medicamentos que o doente já teve.

Respostas no final do capítulo

28. Que vítimas de traumas têm um risco maior para lesões graves?

............................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

...........................................................................................................................................................

29. Por que observar se o trauma foi fechado ou penetrante é relevante no tratamento do

traumatizado?

............................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

........................................................................................................................................................

...........................................................................................................................................................

30. Nas vítimas de trauma fechado de tórax, qual achado é mais freqüentemente associ-

ado a trauma cardíaco fechado?

A) Alargamento de mediastino.

B) Fraturas de escápula.

C) Máscara equimótica facial.

D) Fratura de esterno.

31. As lesões intestinais por trauma fechado:

A) têm alta incidência em vítimas de atropelamento.

B) são freqüentemente diagnosticadas pelo ultra-som.

C) são freqüentemente associadas a fraturas de Chance e “sinal do cinto de segurança”.

D) são de tratamento não-operatório preferencialmente.

Respostas no final do capítulo

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D32. Complete o quadro com informações a respeito da avaliação secundária de traumatizados

nas áreas determinadas.

Região Anamnese Palpação Exames complementares

Segmento

cefálico

Segmentos

cervical

Segmento

torácico

Segmento

abdominal

e pélvico

Membros

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há alguns casos em que lesões não-diagnosticadas passam despercebidas à avaliação primária e secun-

dária. Isso ocorre mais freqüentemente nos traumatizados com diminuição do nível de consciência, com

trauma craniencefálico grave, nos sedados e com intubação orotraqueal, quando há múltiplas lesões e/ou

lesões críticas que ameaçam a vida. Uma avaliação terciária (investigação diagnóstica) é proposta nessas

situações, após a estabilização do doente.

Sugere-se que doentes com dor importante recebam analgésicos opióides endovenosos, de

preferência após a avaliação do nível de consciência. Sedativos podem ser empregados para a

realização de exames, mas o nível de consciência e a necessidade de intubação traqueal neces-

sitam monitoração constantemente. Antibióticos podem ser administrados já na sala de admis-

são caso haja indicação (por exemplo, fraturas expostas). A necessidade de profilaxia contra o

tétano deve ser avaliada. Após a avaliação secundária, as suturas podem ser realizadas com

calma e cuidados apropriados.

O médico deve estar atento para a necessidade de transferir o doente. Nos casos em que os recursos

diagnósticos ou terapêuticos não sejam ideais para a condução do caso, a transferência não deve ser

postergada. Lembrar sempre: não atrasar a transferência para a realização de exames ou procedimentos

não-prioritários.

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O CASOS CLÍNICOS

Caso clínico 1

Vítima de atropelamento, 33 anos, sexo masculino, admitido inconsciente, escala de coma de

Glasgow 8, anisocoria (D>E), PA = 80 x 50mmHg, FC = 120bpm, cianose, taquipnéia, MV abo-

lido em hemitórax D, som maciço à percussão. Bacia estável ao exame físico. Não há altera-

ções nos membros superiores e inferiores.

A partir das informações apresentadas no caso clínico 1, responda às seguintes questões:

33. Qual a prioridade no atendimento desse doente?

...........................................................................................................................................

...............................................................................................................................................

............................................................................................................................................

............................................................................................................................................

34. Cite quatro prováveis lesões que esse doente apresenta, bem como sua prioridade

de tratamento.

...........................................................................................................................................

...............................................................................................................................................

............................................................................................................................................

............................................................................................................................................

35. Qual a causa mais provável do choque e como iniciar a investigação e tratamento?

...........................................................................................................................................

...............................................................................................................................................

............................................................................................................................................

............................................................................................................................................

Respostas no final do capítulo

Caso clínico 2

Vítima de ferimento penetrante em 6o espaço intercostal esquerdo, linha paraesternal esquer-

da, por arma branca há 20 minutos; 33 anos, masculino. Apresenta-se consciente, isocórico,

escala de coma de Glasgow 15, taquipnéico, descorado 2+/4, FC = 120bpm, PA = 100/60mmHg,

FR = 32ipm. Apresenta MV diminuído em todo HTE, com timpanismo à percussão. Bulhas

taquicárdicas, normofonéticas sem sopros. Abdome plano, flácido, indolor e sem sinais de

peritonite. Membros sem alterações, sem déficits neurológicos.

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DA partir das informações apresentadas no caso clínico 2, responda às seguintes questões:

36. Como deve ser o atendimento inicial desse doente, envolvendo avaliação primária e

reanimação?

...........................................................................................................................................

...............................................................................................................................................

............................................................................................................................................

............................................................................................................................................

37. Considerando que após a reanimação o doente atingiu estabilidade respiratória e

hemodinâmica, quais as possíveis lesões que devem ser obrigatoriamente pesquisadas?

Nessa mesma condição, quais exames complementares devem ser solicitados?

...........................................................................................................................................

...............................................................................................................................................

............................................................................................................................................

............................................................................................................................................

Respostas no final do capítulo

Caso clínico 3

Vítima de acidente automobilístico, admitido na sala de emergência inconsciente, com

sangramento nasal importante e equimose periorbitária, PA = 100/60mmHg, FC = 120bpm, FR =

30, ECG = 8. Apresenta roncos à ausculta pulmonar, com diminuição do murmúrio vesicular à

direita. Abdome indolor. Pelve estável. Sem sinais de fraturas em membros.

38. A partir da situação apresentada no caso clínico 3, qual a melhor conduta para obten-

ção de VVAA?

A) Tentativa de IOT e, na falha, cricotireoidostomia cirúrgica.

B) Tentativa de IOT e, na falha, cricotireoidostomia por punção.

C) Tentativa de IOT e, na falha, intubação nasotraqueal.

D) Tentativa de IOT e, na falha, traqueostomia.

Resposta no final do capítulo

Caso clínico 4

Vítima de acidente de motocicleta vs. poste. É trazido consciente, PA = 90/60mmHg, FC = 120,

MV presente bilateralmente, abdome indolor. Há dor na compressão da bacia. Apresenta

uretrorragia ao exame perineal.

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39. Quanto à passagem da sonda vesical no caso clínico 4, pode-se afirmar que:

A) deve-se passar a sonda com cuidado devido à chance de lesão de uretra posterior.

B) a passagem da sonda está contra-indicada. Deve-se realizar uma cistostomia na

sala de emergência.

C) a passagem da sonda está contra-indicada. Deve-se realizar uma uretrografia.

D) pode-se passar a sonda se não houver equimose em períneo ou alterações na ava-

liação da próstata ao toque retal.

Resposta no final do capítulo

RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS

Atividade 5

Resposta: B

Comentário: O preparo deve ocorrer como um checklist diário ou a cada troca de plantão.

Atividade 8

Respostas: (De cima para baixo) 4, 5, 3, 1, 2.

Atividade 13

Resposta: C

Comentário: Se o doente está falando, sua voz não tem problemas e há nítida insuficiência respiratória,

deve haver algum problema mais específico de troca gasosa, e um exame torácico deve ser realizado.

Atividade 14

Resposta: B

Comentário: O colar cervical isoladamente não é suficiente para impedir a mobilização da coluna.

Atividade 17

Resposta: A

Comentário: A lesão pulmonar é a causa mais freqüente de hemotórax traumático. Esse é o motivo pelo

qual a maioria dos traumatizados com hemotórax tem tratamento apenas com drenagem torácica, visto que

o sangramento ocorre em território de baixa pressão sangüínea. Quando o sangramento é oriundo de

artérias intercostais ou torácicas internas, o sangramento é maior, e procedimentos como angiografia,

videotoracoscopia ou mesmo toracotomia são mais freqüentemente necessários.

Atividade 18

Respostas: (De cima para baixo) 3, 4, 2, 1.

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DAtividade 20

Resposta: C

Comentário: O curso SAVT não recomenda o uso de drogas vasoativas na reanimação inicial do traumatizado.

Atividade 21

Respostas: A) recuperação dos parâmetros hemodinâmicos, B) recuperação transitória dos parâmetros

hemodinâmicos e C) ausência de recuperação hemodinâmica.

Atividade 24

Resposta: D

Comentário: A hipotermia é altamente prejudicial para o traumatizado. Há coagulopatia por comprometi-

mento da função plaquetária e da cascata de coagulação. A acidose metabólica está presente, associada à

vasoconstrição periférica e aumento da resistência vascular sistêmica. As arritmias também podem ocorrer

nos doentes hipotérmicos.

Atividade 27

Respostas: (De cima para baixo) 3, 5, 2, 4, 1.

Atividade 30

Resposta: D

Comentário: As lesões cardíacas por trauma fechado são de difícil diagnóstico. Podem manifestar-se por

arritmias ou hipotensão arterial. Um dos dados importantes para suspeita diagnóstica é a presença de

fratura de esterno, freqüentemente reconhecida na radiografia de tórax em perfil. Isso nos leva a crer que o

impacto frontal sobre o tórax foi de alta dissipação de energia e levanta suspeita de trauma cardíaco.

Atividade 31

Resposta: C

Comentário: As lesões intestinais são raras após trauma fechado. O mecanismo de trauma mais freqüente

atualmente envolve acidentes automobilísticos e vítimas com contensão pelo cinto de segurança. Portanto,

o “sinal do cinto de segurança” e as fraturas de coluna tipo Chance são associadas freqüentemente com

este tipo de lesão, que são sempre de tratamento operatório. O pneumoperitônio é raro, pois o intestino é

normalmente preenchido por líquido.

Atividade 33

Resposta: Imobilização da coluna cervical e desobstrução das vias aéreas. Visto que o doente está incons-

ciente, há necessidade de via aérea definitiva. Após aspiração, avaliação cavidade oral e oxigenação,

deve-se tentar a intubação orotraqueal.

Atividade 34

Respostas: 1 – obstrução de vias aéreas – via aérea definitiva.

2 – hemotórax direito – drenagem de tórax direito.

3 – choque hemorrágico – reposição volêmica e hemostasia.

4 – lesão focal neurológica (hematoma intracraniano) – drenagem cirúrgica.

Atividade 35

Resposta: Hemorrágico. Clinicamente pode-se dizer que há foco hemorrágico em tórax. Independentemen-

te disso, o abdome deve ser investigado por FAST ou LPD. Radiografias de tórax e pelve podem auxiliar no

diagnóstico. O tratamento é a reposição volêmica, conforme descrita no capítulo, e hemostasia. Caso haja

foco hemorrágico torácico ou abdominal e não haja recuperação hemodinâmica, o tratamento operatório

deve ser considerado.

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O Atividade 36

Respostas: A: Oxigênio 12L/min, imobilização da coluna se houver suspeita de algum mecanismo de trau-

ma fechado. B: toracocentese e drenagem do pneumotórax hipertensivo esquerdo. C: Reposição endovenosa

de cristalóides e procura ativa de algum foco hemorrágico (tórax ou abdome). D: ndn. E: prevenção hipotermia

e procura de outros sinais de trauma ou ferimentos.

Atividade 37

Resposta: Ferimento cardíaco (FAST, janela pericárdica ou videotoracoscopia). Ferimento diafragmático e

abdominal (videotoracoscopia ou videolaparoscopia). A radiografia de tórax também servirá para controle

da drenagem torácica.

Atividade 38

Resposta: A

Comentário: Com a coluna imobilizada, deve-se abrir a boca do doente, aspirar o sangue e retirar corpos

estranhos. Nessa manobra inicial, se realiza uma laringoscopia e, caso as cordas vocais estejam sob visão

direta, pode-se tentar a intubação orotraqueal. Caso não haja sucesso ou o doente deteriorar rapidamente,

se realiza a cricotireoidostomia cirúrgica. A cricotireoidostomia por punção não impede a aspiração do san-

gue. A intubação nasotraqueal não deve ser realizada em doentes com fraturas graves em face, pois pode

penetrar o crânio ou piorar o sangramento. A traqueostomia não é a via aérea cirúrgica de escolha em

traumatizados adultos.

Atividade 39

Resposta: C

Comentário: A presença de uretrorragia em doentes com fraturas de bacia é um alerta para lesão de uretra

posterior. Nesse caso, a passagem de sonda vesical pode agravar uma lesão uretral já existente ou mesmo

determinar falso trajeto. Por tal motivo, a uretrografia é recomendada antes da passagem de sonda vesical.

REFERÊNCIAS

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Diretor científico:Antonio Carlos LopesProfessor Titular da Disciplina de Clínica Médica da Universidade Federalde São Paulo/Escola Paulista de Medicina. Professor Titular de Medicinade Urgência pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina.Presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica. Fellow do American College of Physicians.

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Renato Delascio LopesMédico Assistente da Disciplina de Clínica Médica – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP-EPM). Coordenadordo Núcleo de Estudos em Emergências Clínicas da Disciplina de Clínica Médica – Universidade Federal de São Paulo(UNIFESP-EPM). Especialista em Clínica Médica com certificação de área de Atuação em Medicina de Urgência pelaSociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM) e Associação Médica Brasileira (AMB). Doutor em Medicina pelaUniversidade Federal de São Paulo – (UNIFESP-EPM). Fellow da Duke University – EUA.

Catalogação na publicação: Mônica Ballejo Canto – CRB 10/1023

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1. Medicina de urgência – Educação a Distância. I. SociedadeBrasileira de Clínica Médica. II. Lopes, Antonio Carlos.III. Guimarães, Hélio Penna. IV. Lopes, Renato Delascio.

CDU 616-083.98

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