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2020 Coleção LEIS ESPECIAIS para concursos Dicas para realização de provas com questões de concursos e jurisprudência do STF e STJ inseridas artigo por artigo Coordenação: LEONARDO GARCIA 10 LEONARDO GARCIA ROMEU THOMÉ DIREITO AMBIENTAL Constituição de 1988; Leis: 6.938/1981, 9.433/1997, 9.605/1998, 9.985/2000, 12.187/2009 e 12.651/2012. revista,atualizada e ampliada 12ª edição

DIREITO AMBIENTAL - Editora Juspodivm · 1. Princípios específicos de proteção ambiental → O direito ambiental, ciência dotada de autonomia científica, apesar de apresentar

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2020

Coleção

LEIS ESPECIAIS para concursosDicas para realização de provas com questões de concursos

e jurisprudência do STF e STJ inseridas artigo por artigo

Coordenação: LEONARDO GARCIA

10LEONARDO GARCIA

ROMEU THOMÉ

DIREITO AMBIENTALConstituição de 1988; Leis: 6.938/1981, 9.433/1997, 9.605/1998, 9.985/2000,

12.187/2009 e 12.651/2012.

revista,atualizada e ampliada

12ª edição

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CAPÍTULO I

Princípios Fundamentais do Direito Ambiental

I. INTRODUÇÃO

1. Princípios específicosdeproteçãoambiental→ O direito ambiental, ciência dotada de autonomia científica, apesar de apresentar caráter interdisciplinar, obedece a princípios específicos de proteção ambiental, pois, de outra forma, dificilmente se obteria a proteção eficaz pretendida sobre o meio ambiente. Nesse sentido, os princípios caracterizadores do direito ambiental têm como escopo fundamental orientar o desen-volvimento e a aplicação de políticas ambientais que servem como instrumento fundamental de proteção ao meio ambiente e, consequen-temente, à vida humana.

2. Princípios → primaziaformalematerialsobreasregrasjurídicas

Os princípios, cuja função sistematizadora do ordenamento jurídico é evidente, têm primazia formal e material sobre as regras jurídicas, im-pondo padrões e limites à ordem jurídica vigente. Importante destacar ainda sua função normogenética na medida em que atuam na elaboração das regras jurídicas. Perante eventuais antagonismos existentes entre valores constitucionais, deve-se fazer o juízo de adequação de princípios e a ponderação de valores.

De acordo com o SupremoTribunalFederal:

A superação de antagonismos existentes entre princípios e valores constitucionais há de resultar da utilização de critérios que permitam ao Poder Público (e, portanto, aos magistrados e Tribunais), ponderar e avaliar, “hic et nunc”, em função de determinado contexto e sob uma perspectiva axiológica concreta, qual deva ser o direito a pre-ponderar no caso, considerada a situação de conflito ocorrente, desde que, no entanto, (...) a utilização do método da ponderação de bens e interesses não importe em esvaziamento do conteúdo essencial dos direitos fundamentais, dentre os quais avulta, por sua significativa

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DIREITO AMBIENTAL – Leonardo Garcia | Romeu Thomé

importância, o direito à preservação do meio ambiente. (STF, ADI 3540 MC/DF, Rel. Min. Celso de Mello, 1º.9.2005).

PP Aplicaçãoemconcurso:

• (PGE/AL – 2009 – CESPE) “Não há possibilidade de correlação de mais de um princípio na análise de um caso concreto de dano ambiental.”A afirmativa está errada.

• (PGE/AL – 2009 – CESPE) “Se, na análise de determinado problema, houver a colisão de dois prin-cípios ambientais, um deverá prevalecer e o outro será obrigatoriamente derrogado.”A afirmativa está errada.

3. Importante: nãoháconsensonadoutrinasobreosprincípiosdedireitoambiental.

O quadro a seguir demonstra, a título ilustrativo, o dissenso na sistema-tização dos princípios aplicáveis ao direito ambiental, cujo tratamento, nada obstante a existência de princípios fundamentais norteadores, re-cebe diferenciado enfoque quantitativo e especialmente terminológico.

Autores Princípiosabordados

PauloAffonsoLemeMacha-

do1

1. Princípio do direito ao meio ambiente equilibrado2. Princípio do direito à sadia qualidade de vida3. Princípio da sustentabilidade4. Princípio do acesso equitativo aos recursos naturais5. Princípios usuário-pagador e poluidor-pagador6. Princípio da precaução7. Princípio da prevenção8. Princípio da reparação9. Princípio da informação10. Princípio da participação11. Princípio da obrigatoriedade da intervenção do poder público

1. MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 23 ª ed. São Paulo: Malheiros. 2015.

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Princípios Fundamentais do Direito Ambiental

Autores Princípiosabordados

Édis Milaré2

1. Princípio do ambiente ecologicamente equilibrado como direito/dever fundamental da pessoa humana2. Princípio da solidariedade intergeracional3. Princípio da natureza pública da proteção ambiental4. Princípio da prevenção e da precaução5. Princípio da consideração da variável ambiental no processo decisório de políticas de desenvolvimento6. Princípio do controle do poluidor pelo Poder Público7. Princípio do poluidor-pagador 8. Princípio do usuário-pagador9. Princípio do protetor-recebedor10. Princípio da função socioambiental da propriedade11. Princípio da participação comunitária12. Princípio da proibição de retrocesso ambiental13. Princípio da cooperação entre os povos

LuísPauloSirvinskas3

1. Princípio do direito humano2. Princípio do desenvolvimento sustentável3. Princípio democrático ou da participação4. Princípio da prevenção (precaução ou cautela)5. Princípio do equilíbrio6. Princípio do limite7. Princípio do poluidor-pagador, do usuário-pagador e do protetor-recebedor8. Princípio do não retrocesso ou da proibição de retrocesso9. Princípio da responsabilidade social

Paulo deBessaAntunes4

1. Princípio da dignidade da pessoa humana2. Princípio do desenvolvimento3. Princípio democrático4. Princípio da precaução5. Princípio da prevenção6. Princípio do equilíbrio7. Princípio da capacidade de suporte8. Princípio da responsabilidade9. Princípio do poluidor-pagador

2. MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. 10ª ed. São Paulo: RT, 2015.3. SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. 11ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013.4. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 17ª ed. São Paulo: Atlas, 2015.

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DIREITO AMBIENTAL – Leonardo Garcia | Romeu Thomé

Autores Princípiosabordados

CelsoAntônioPachecoFiorillo5

1. Princípio do desenvolvimento sustentável2. Princípio do poluidor – pagador3. Princípio da prevenção4. Princípio da participação (de acordo com o autor, a infor-mação e a educação ambiental fazem parte deste princípio)5. Princípio da ubiquidade

Princípios mais

cobrados emconcursos

1. Princípio do desenvolvimento sustentável2. Princípio da precaução3. Princípio da prevenção4. Princípio do poluidor-pagador 5. Princípio da participação

PP Aplicaçãoemconcurso:

• (ProcuradordoEstadoMT2011–FCC)“São princípios do Direito Ambiental:A) poluidor pagador, usuário pagador e autonomia da vontade.B) prevenção, taxatividade e poluidor pagador.C) função socioambiental da propriedade, usuário pagador e precaução.D) vedação de retrocesso, prevenção e insignificância.E) capacidade contributiva, função socioambiental da propriedade e de-

senvolvimento sustentável.”Gabarito: letra “c”.

II. PRINCÍPIODODESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL

1. Vertentes → Considerado o “prima principium” do Direito Ambiental6, o desenvolvimento sustentável tem como pilar a harmonização das seguintes vertentes:

• Crescimento econômico;

• Preservação ambiental;

• Equidade social;

5. FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental. 8ª ed. Saraiva: São Paulo. 2007.

6. SAMPAIO, 2003. p. 47.

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Princípios Fundamentais do Direito Ambiental

O desenvolvimento somente é considerado sustentável quando as três vertentes acima apresentadas são efetivamente respeitadas simultanea-mente. Ausente qualquer um desses elementos, não há que se falar em desenvolvimento sustentável.

2. Conferência de Estocolmo (1972) → a ideia de desenvolvimento so-cioeconômico em harmonia com a preservação ambiental emergiu da Conferência de Estocolmo, em 1972, marco histórico na discussão dos problemas ambientais. Designado à época como “abordagem do ecodesenvolvimento” e posteriormente renomeado “desenvolvimento sustentável”, o conceito vem sendo continuamente aprimorado.7

Desenvolvimento sustentável, segundo a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (World Comission on Environment and Development) significa “umdesenvolvimentoquefazfaceàsne-cessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidadedas gerações futuras na satisfação de suas próprias necessidades”. Assim, as gerações presentes devem buscar o seu bem-estar através do crescimento econômico e social, mas sem comprometer os recursos naturais fundamentais para a qualidade de vida das futuras gerações.

3. Princípios4e5daDeclaraçãodaRio/92 → A Declaração do Rio/92, documento elaborado na ECO 92 (Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento), endossa o conceito fundamental de desenvolvimento sustentável, que associa as aspirações compartilha-das por todos os países ao progresso econômico e social com a neces-sidade de uma consciência ecológica. De acordo com o Princípio 4 da Declaração da Rio/92, “para se alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteçãodomeioambiente deve constituir parteintegrantedopro-cessodedesenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente em relação a ele”.

Já o princípio 5 da Declaração do Rio/92 dispõe claramente sobre a vertente social do desenvolvimento sustentável ao afirmar que “todos os Estados e todos os indivíduos, como requisitoindispensávelparaodesenvolvimentosustentável, devem cooperar na tarefa essencial de erradicar a pobreza, de forma a reduzir as disparidades nos padrões de vida e melhor atender às necessidades da maioria da população do mundo.”

7. A expressão ecodesenvolvimento continua a ser bastante usada em diversos países europeus, latino-americanos e asiáticos. O presidente do Equador proclamou os anos 90 como a “Década do Ecodesenvolvimento”.

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DIREITO AMBIENTAL – Leonardo Garcia | Romeu Thomé

4. OdesenvolvimentosustentávelnaConstituiçãode1988

4.1.Art.170daCRFB/1988 → a necessidade do equilíbrio entre “cres-cimento econômico”, “preservação ambiental” e “equidade social” está expressa na Constituição de 1988. O artigo 170, integrante do título dedicado à ordem econômica e financeira, dispõe que:

Art.170daCRFB/1988: A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

I – soberania nacional;

II–propriedadeprivada;

III–funçãosocialdapropriedade;

IV – livre concorrência;

V – defesa do consumidor;

VI – defesadomeioambiente, inclusive mediante tratamento dife-renciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação;

VII–reduçãodasdesigualdadesregionaisesociais;

VIII – busca do pleno emprego;

IX – tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e admi-nistração no País.

Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.

O inciso VI do artigo 170 apresenta a defesa do meio ambiente como princípio da ordem econômica. Trata-se de comando que indica a ne-cessidade de harmonização entre atividade econômica e preservação ambiental.

Já o princípio da propriedade privada, disposto no inciso II, do artigo 170, é um valor constitutivo da sociedade brasileira, fundada no modo capitalista de produção8 e corolário da livre iniciativa, representando claramente o incentivo ao crescimento econômico consagrado consti-tucionalmente.

8. DERANI, 2008. p. 238.

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DIREITO AMBIENTAL – Leonardo Garcia | Romeu Thomé

PP Aplicaçãoemconcurso:

• (MagistraturaEstadual/RS–2016–Faurgs)“Entre o princípio da precaução e da prevenção, na realidade, existe di-ferença de grau e não tanto de espécie. O princípio da precaução passa a noção de maior certeza sobre os efeitos de determinada técnica e leva em consideração o potencial lesivo, determinando-se que sejam evitados os danos já conhecidos. Já com o princípio da prevenção, planeja-se regular o uso de técnicas sobre as quais não há uma certeza quanto aos efeitos, procurando-se evitar os resultados danosos, com a lógica do in dubio pro natura ou in dubio pro ambiente.” A afirmativa está errada.

6. Quadro comparativo

PREVENÇÃO PRECAUÇÃO

Objetivo Evitar a concretização do dano.

Evitar a concretização do dano.

Situaçãodeincidência

Quando existe certeza cien-tífica sobre o impacto am-biental da atividade.

Quando ausente certeza científica absoluta sobre o risco da ocorrência de da-nos ao meio ambiente eCasos de riscos graves e irre-versíveis ao meio ambiente.

ReconhecimentonoDireito

Internacional

Declaração de Estocolmo 1972 (princípios 6 e 21);Declaração do Rio de 1992 (princípio 2);

Declaração do Rio de 1992 (princípio 15).

Previsão constitucional

Art. 225, § 1º, inciso IV, CRFB: “exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou ativi-dade potencialmente causa-dora de significativa degra-dação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade”.

Art. 225, caput, CRFB 88: “(...) para as presentes e futuras gerações”. Se as medidas de precaução não forem adotadas hoje, as fu-turas gerações poderão ser as mais prejudicadas caso os danos se concretizem.

ExemplosEstudos de Impacto Ambien-tal das atividades de extra-ção mineral.

Transgênicos (OGM);Radiofrequência das ante-nas de base de telefonia celular.

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Princípios Fundamentais do Direito Ambiental

PP Aplicaçãoemconcurso:

► Obs.1: São princípios muito cobrados em concursos!

► Obs.2: O CESPE diferencia os princípios.

• (ProcuradordoEstadoBA2014–CESPE)“O princípio da precaução poderá ser aplicado como um dos argumentos para a suspensão, pelo o órgão competente, da licença prévia da empresa, caso se identifique risco de dano ambiental”.A afirmativa é verdadeira.

• (MPE/SC2014–FEPESE)“Admitindo-se a existência de distinção entre os princípios da precaução e da prevenção, pode-se afirmar que uma Ação Civil Pública visando a proibição do comércio de determinado produto transgênico, sobre o qual ainda paira incerteza científica a respeito das consequências de seu uso à saúde humana e ao equilíbrio do meio ambiente, estaria fundamentada no princípio da prevenção.”A afirmativa é falsa, pois a situação descrita na assertiva tem espeque no princípio da precaução, que se diferencia do princípio da prevenção.

• (ExamedeOrdem2012.1–FGV–provareaplicadaemDuquedeCaxias/RJ)“Uma empresa de telefonia celular deseja instalar uma antena próxima a uma floresta localizada no município de Cantinho Feliz. A antena produzirá uma quantidade significativa de energia eletromagnética. Com base no exposto, assinale a alternativa correta.A) Como a energia é incolor e inodora, e é praticamente imperceptível a

olho nu, não pode ser considerada potencialmente poluente. Logo, o Poder Público não pode exigir licenciamento e estudo prévio de impacto ambiental à empresa de telefonia, porque não há como comprovar o risco de impacto ambiental.

B) Como não há certeza científica sobre a existência de riscos ambientais causados pela poluição eletromagnética, o princípio da prevenção deve ser invocado, e a empresa de telefonia deverá solicitar ao Município de Cantinho Feliz que faça o licenciamento e que elabore o estudo prévio de impacto ambiental.

C) O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é visto pelos tribunais superiores como um direito fundamental e possui viés an-tropocêntrico. Logo, se a área não for habitada por seres humanos, o Poder Público não poderá exigir licenciamento e estudo prévio de impacto ambiental.

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CAPÍTULO II

O meio ambiente na Constituição de 1988

I. COMPETÊNCIASCONSTITUCIONAISEMMATÉRIAAMBIENTAL

I.1 INTRODUÇÃO

1. A Constituição Federal tratou de repartir as competências entre todos os entes da federação brasileira. Quanto ao critério de relação entre os entes federativos, o modelo adotado no Brasil é denominado fede-ralismo cooperativo, por haver relação de coordenação entre a União e os demais entes. Importante lembrar que tanto a União, quanto os Estados, o Distrito Federal e os Municípios são dotados de autonomia (art. 18, CRFB/1988/88), poder de Estado cuja fonte se encontra deli-neada na própria Constituição Federal. A autonomia desdobra-se em capacidades estatais de auto-organização, de autogoverno, legislativa, administrativa, financeira e tributária.

PP Aplicaçãoemconcurso:

• (JuizFederalda5ªRegião–2005–CESPE)Foram elaboradas questões com o seguinte enunciado: “A Constituição brasileira de 1988 adotou o modelo de federalismo cooperativo, esta-belecendo a coexistência de competências privativas e de competên-cias comuns, distribuídas entre os diversos entes políticos. No tocante à implementação de políticas públicas, a Constituição fixou um rol de competências materiais, sublinhando o objetivo geral do poder público na execução das tarefas enunciadas.”

2. Princípiodapredominânciadointeresse → na repartição de competên-cias, o critério norteador será o princípio da predominância do interesse, de modo que à União caberão aquelas matérias de predominante inte-resse nacional (geral); aos Estados matérias de predominante interesse regional; e aos Municípios matérias de predominante interesse local. A predominância do interesse local não significa ausência de interesse

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Art. 22 DIREITO AMBIENTAL – Leonardo Garcia | Romeu Thomé

regional ou nacional, mas a preponderância do interesse público do Município sobre eventuais interesses dos demais entes. Nesse mesmo sentido a decisão do Supremo Tribunal Federal, ao afirmar que

[…] as expressões “interesse local”, do art. 30, I, da Constituição Federal (CF), e “peculiar interesse”, das Constituições anteriores, se equivalem e nãosignificam interesseexclusivodoMunicípio,maspreponderante. (STF. Informativo 870. RE 194704/MG. Rel. Min. Car-los Velloso. Julg.: 29.06.2017).

3. Competência legislativaecompetênciamaterial → a doutrina perfaz uma bipartição da competência em competência legislativa e compe-tência material (ou administrativa).

A competêncialegislativa se expressa no poder outorgado a cada ente federado para a elaboração das leis e atos normativos. A competênciamaterial, por sua vez, cuida da atuação concreta do ente, através do exercício do poder de polícia.

II.ACOMPETÊNCIALEGISLATIVAEMMATÉRIAAMBIENTAL

II.1 COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PRIVATIVA

1. A competência legislativa privativa, prevista no art. 22 da CRFB/1988, é aquela entregue à União, com possibilidade de delegação.

Importante perceber que quando o tema se refere à exploraçãoeco-nômica derecursosnaturaisenergéticos (como os recursos minerais, atividades nucleares e as águas para geração de energia), a competência legislativa é privativa da União, mesmo porque, nesses casos, os refe-ridos bens são da União (ex: recursos minerais, art. 20, IX, CRFB/1988) ou estão relacionados com atividades monopolizadas pela União (ex: atividades nucleares, art. 177, V, da CRFB/1988). Já nos casos de prote-çãodosrecursosnaturais, diferentemente, a competência legislativa é concorrente, sendo atribuída a todos os entes federados (vide a seguir item II.4).

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

(...)

IV – águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;

(...)

X – regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial;

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O meio ambiente na Constituição de 1988 Art. 22

(...)

XII – jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;

(...)

XIV – populações indígenas;

(...)

XVIII – sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais;

(...)

XXVI – atividades nucleares de qualquer natureza;

(...)

Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.

2. Parágrafoúnicodoart.22 → na competência legislativa privativa existe a possibilidade de delegação, pois a teor do artigo 22, parágrafo único, da CRFB/1988, lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas no artigo.

Ressalte-se que a autorização, mediante lei complementar, aos Estados para legislar sobre matérias do artigo 22 tem que ser específica, sendo vedada a delegação genérica de toda uma matéria.

Por fim, o fato de ser da União o poder legiferante não significa, em princípio, que só a ela caiba a fiscalização.

3. Jurisprudência

AtividadesNucleareseCompetênciadaUnião. O Tribunal, por maio-ria, julgou procedente pedido formulado em ação direta ajuizada pelo Governador do Estado de São Paulo para declarar a inconstitucionali-dade da Lei paulista 6.263/88, que prevê medidas de polícia sanitária para o setor de energia nuclear no território da referida unidade federada. Entendeu-se que a norma estadual invade a competência da União para legislar sobre atividades nucleares (CF, art. 22, XXVI), na qual se inclui a competência para fiscalizar a execução dessas ativi-dades e legislar sobre essa fiscalização. Aduziu-se competir, também, à União, explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os princípios e condições que estabelece (CF, art. 21, XXIII). Observou-se que toda a atividade nuclear desenvolvida no país, portanto, está exclusivamente centralizada na União, com exceção dos radioisótopos, cuja produção,

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CAPÍTULO III

Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981)

Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.

Art. 1º – Esta lei, com fundamento nos incisos VI e VII do art. 23 e no art. 225 da Constituição, estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, constitui o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e institui o Cadastro de Defesa Ambiental.

1. Normageralsobreproteçãoambiental

A Política Nacional do Meio Ambiente, instituída pela Lei6.938,de31de agosto de 1981, recepcionada pela Constituição da República de 1988, afigura-se como norma geral sobre proteção ambiental, estabe-lecendo princípios, objetivos e instrumentos para a implementação da preservação dos recursos naturais no País, além de instituir o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA.

PP Aplicaçãoemconcurso:

• (JuizFederal–TRF5ªRegião2011–CESPE)“As diretrizes da PNMA, dispostas na Lei nº 6.938/1981, orientam a ação do governo federal no que se refere à qualidade ambiental e à manutenção do equilíbrio ecológico, cabendo aos estados, ao DF e aos municípios, no exercício de sua autonomia político-legislativa, estabelecer livremente as normas e os planos ambientais por meio de leis próprias.”A afirmativa está errada. Estados, DF e municípios devem observar as normas gerais estabelecidas pela Lei 6.938/81.

2. Artigo23daConstituiçãode1988

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

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Art. 2º DIREITO AMBIENTAL – Leonardo Garcia | Romeu Thomé

(...)

VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;

VII – preservar as florestas, a fauna e a flora;

Como analisado no Capítulo II, a competência material comum é atri-buída simultaneamente à União, Estados, DF e Municípios, através do art. 23 da CRFB/1988, no intuito de promover a execução de diretrizes, políticas e preceitos relativos à proteção do meio ambiente, bem como para exercer o poder de polícia ambiental. Trata-se de competência material comum repartida entre todos os entes da federação para o cumprimento de tarefas em forma de cooperação. A atribuição dessa competência a vários entes da federação é justificada pela sobrepo-sição de interesses acerca do tema.

Cabe, portanto, à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Mu-nicípios implementar a política nacional do meio ambiente e, para o exercício dessa competência administrativa, deverão observar os princípios, objetivos e instrumentos instituídos pela Lei 6.938/81, diploma normativo que estabelece os padrões mínimos a serem es-pecificados no âmbito da territorialidade de cada ente da federação.

DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

Art. 2º – A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preser-vação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, vi-sando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:

I – ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, conside-rando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;

II – racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;

III – planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;

IV – proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representa-tivas;

V – controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente po-luidoras;

VI – incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais;

VII – acompanhamento do estado da qualidade ambiental;

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Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981) Art. 2º

VIII – recuperação de áreas degradadas;

IX – proteção de áreas ameaçadas de degradação;

X – educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.

1. ObjetivogeraldaPolíticaNacionaldoMeioAmbiente

No artigo 2º, caput, a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (LPNMA) estabelece como objetivogeral “a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida” para, em seguida, no artigo 4º, estabelecer seus objetivosespecíficos.

2. “Princípios”daLPNMA

Os incisos do artigo 2º relacionam, sobretudo, programas, metas ou modalidades de ação, e não verdadeiramente “princípios”, como nor-malmente estamos habituados a analisar. De acordo com Milaré1 “os princípios da Política Nacional do Meio Ambiente não se confundem nem se identificam com os princípios de Direito do Ambiente” (analisados no Cap. I). “São formulações distintas, embora convirjam para o mesmo grande alvo, a qualidade ambiental e a sobrevivência do Planeta; por conseguinte, eles não poderão ser contraditórios.”

PP Aplicaçãoemconcurso:

• (MagistraturaEstadualRJ2017–CESPE–adaptada)

“A recuperação de áreas degradadas é exigida das mineradoras por previ-são constitucional expressa e, sob aspectos gerais, é prevista na lei como um dos princípios da PNMA.”

A afirmativa está correta. Vide o art. 225, § 2º da CRFB/1988 e o art. 2º, VIII da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/1981).

• (MPE/SC2014–FEPESE)

“O objetivo geral da Política Nacional do Meio Ambiente divide-se em preservação, melhoramento e recuperação do meio ambiente, visando compatibilizar o desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico.”

A afirmativa está correta.

1. MILARÉ, 2007. p. 315.

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Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981) Art. 6º

federação, visando a assegurar mecanismos capazes de, eficientemente, implementar a política nacional do meio ambiente.

► Atenção:a LPNMA inclui como integrantes do SISNAMA também os órgãos estaduais (seccionais) e municipais (locais), e não apenas órgãos da União.

PP Aplicaçãoemconcurso:

• (MPE/SE/Promotor/2010–CESPE)

“O SISNAMA congrega os órgãos e as instituições ambientais da União, dos estados e dos municípios; o DF não compõe esse sistema.”

A afirmativa está errada.

• (MinistérioPúblico/AM2007–CESPE)

“O SISNAMA é constituído pelos órgãos e entidades da União, dos estados, do DF e dos municípios e pelas fundações instituídas pelo poder público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental.”

A afirmativa está correta. Importante destacar que questão idêntica foi cobrada pelo CESPE no concurso para a magistratura federal 2009 (TRF 5ª Região).

• (MinistérioPúblico/AM2007–CESPE)

“O SISNAMA possui estrutura federativa.”

A afirmativa está correta.

2. EstruturadoSISNAMA

► Atenção: à estrutura administrativa do SISNAMA e à função de cada órgão (incisos I a VI).

EstruturadoSistemaNacionaldoMeioAmbiente(SISNAMA)

Órgão(s)do SISNAMA Composição Função e/ou finalidade

ÓrgãoSuperior

Conselho de Governo

Assessorar o Presidente da Re-pública na formulação da política nacional e nas diretrizes governa-mentais para o meio ambiente e os recursos ambientais.

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Art. 6º DIREITO AMBIENTAL – Leonardo Garcia | Romeu Thomé

EstruturadoSistemaNacionaldoMeioAmbiente(SISNAMA)

ÓrgãoConsultivo

e Deliberativo

Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)

Assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre nor-mas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida.

ÓrgãoCentral

Secretaria do Meio Am-biente da Presidência da República6

Planejar, coordenar, supervisio-nar e controlar, como órgão fe-deral, a política nacional e as di-retrizes governamentais fixadas para o meio ambiente.

ÓrgãosExecutores

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBA-MA) e o Instituto Chico Men-des de Conservação da Bio-diversidade (Instituto Chico Mendes).7

Executar e fazer executar a políti-ca e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente, de acordo com as respectivas com-petências.

ÓrgãosSeccionais

Órgãos ou entidades esta-duais

Responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo con-trole e fiscalização de atividades capazes de provocar a degrada-ção ambiental.

ÓrgãosLocais

Órgãos ou entidades muni-cipais

Responsáveis pelo controle e fis-calização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições.

PP Aplicaçãoemconcurso:

• (MPE/SE/Promotor/2010–CESPE)

O SISNAMA possui dois órgãos superiores e cinco órgãos locais.

A afirmativa está errada.

6. A Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República (SEMA) foi transformada em Ministério do Meio Ambiente por força do artigo 21 da Lei n. 8.490/92.

7. Decreto 99.274/1990, art. 3º, IV (com redação dada pelo Decreto 6.792/2009).

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Art. 9º DIREITO AMBIENTAL – Leonardo Garcia | Romeu Thomé

LICENCIAMENTOAMBIENTALCompetênciadaUNIÃOparaatividades:

Art. 4º da Res. CONAMA 237/97 Art. 7º da LC 140/11

no mar territorial; na plataforma continental; na zona econômica exclusiva;

no mar territorial, na plataforma conti-nental ou na zona econômica exclusiva;

em terras indígenas; em terras indígenas;

em unidades de conservação do domínio da União;

em unidades de conservação instituídas pela União, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs);

localizadas ou desenvolvidas em dois ou mais Estados

localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados

cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais do País ou de um ou mais Estados;

que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de propo-sição da Comissão Tripartite Nacional, as-segurada a participação de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou empreendimento; 38

destinados a pesquisar, lavrar, pro-duzir, beneficiar, transportar, arma-zenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utili-zem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN;

destinados a pesquisar, lavrar, produ-zir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN);

bases ou empreendimentos milita-res, quando couber, observada a legislação específica.

de caráter militar, excetuando-se do li-cenciamento ambiental, nos termos de ato do Poder Executivo, aqueles previstos no preparo e emprego das Forças Arma-das, conforme disposto na Lei Comple-mentar nº 97, de 9 de junho de 1999.

38. Vide Decreto 8.437/2015, que estabelece tipologias de empreendimentos e atividades cujo licenciamento ambiental será de competência da União.

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Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981) Art. 9º

LICENCIAMENTOAMBIENTALCompetênciadaUNIÃOparaatividades:

Art. 4º da Res. CONAMA 237/97 Art. 7º da LC 140/11

-

cuja localização compreenda concomitan-temente áreas das faixas terrestre e marí-tima da zona costeira, exclusivamente nos casos previstos em tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de pro-posição da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a participação de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da ati-vidade ou empreendimento.

A Lei Complementar 140/2011 ratifica o entendimento de que não há um único critério a ser observado para a definição de competência licenciatória dos entes federados.

Em cumprimento ao disposto no art. 7º, caput, inciso XIV, “h” da Lei Complementar 140/2011, o Decreto8.437,de22deabrilde2015, es-tabelece tipologias de empreendimentos e atividades cujo licenciamento ambiental será de competência da União. Serão licenciados pelo órgão ambiental federal competente empreendimentos ou atividades como a pavimentação e ampliação de capacidade de rodovias federais com extensão igual ou superior a duzentos quilômetros (art. 3º, I, “b”), a implantação de ferrovias federais (art. 3º, II, “a”) e usinas hidrelétricas com capacidade instalada igual ou superior a trezentos megawatt (art. 3º, VII, “a”).

Além de reformular o critério do alcance dos impactos ambientais di-retos do empreendimento, mantém aqueles adotados pela Resolução CONAMA 237/97 para a definição da competência da União, como o da dominialidade do bem e o do ente instituidor de uma unidade de conservação da natureza (com exceção das APAs).

► Atenção: uma das principais novidades está relacionada ao licenciamento de empreendimentos e atividades em unidades de conservação da natureza.

Fica evidente a prevalência do critério doente federativo instituidorda unidade de conservação para a definição da competência licen-ciatória, ou seja, compete à (o órgão ambiental da) União promover o