57
Direito do Trabalho I Introdução 1. Objecto do Direito do Trabalho Tem por objecto o trabalho subordinado que constitui a prestação característica do contrato de trabalho, definido no art. 11º CT, como aquele pelo qual uma pessoa singular se obriga, mediante retribuição, a prestar a sua actividade a outra ou outras pessoas, no âmbito de organização e sob a autoridade destas. Assim, desenvolve-se em torno de um contrato nominado e típico, o CT, o qual disciplina as relações de trabalho exercidas em subordinação jurídica. O DT abrange apenas as actividades exercidas em proveito alheio. Exclusões: trabalho dos artesãos em proveito próprio, actividades forçadas, trabalho gratuito, trabalho autónomo (profissionais liberais) e o trabalho regulado pelo Direito Administrativo. Em conclusão : o Direito do Trabalho tem por objecto as situações jurídico-privadas de trabalho subordinado. A subordinação jurídica aparece como elemento característico do DT, sendo essencial para o CT. Como há uma prestação de actividade, é necessário que o trabalhador se submeta à autoridade e direcção de outra pessoa. Por isso, o trabalhador é normalmente integrado numa organização dirigida pelo empregador, sendo heterodeterminado por este, a quem se subordina juridicamente. Fala-se também em trabalho por conta alheia para exprimir que o trabalhador não assume os riscos nem os proveitos do trabalho que presta, sendo estes assumidos pelo empregador, recebendo o trabalhador apenas a contrapartida da sua remuneração. 2. Paradigma do Direito do Trabalho e a alteração do seu modelo tradicional Modelo clássico da relação laboral: assenta na subordinação jurídica do trabalhador ao empregador, a nível individual, e na sua integração numa unidade empresarial, vista como uma colectividade que reúne, para execução de uma actividade económica, sob a direcção do mesmo empregador, trabalhadores de diversas profissões – “modelo fordista” das relações

Direito Do Trabalho I

Embed Size (px)

DESCRIPTION

DT I

Citation preview

Direito do Trabalho I Introduo1. Objecto do Direito do TrabalhoTem por objecto o trabalho subordinado que constitui a prestao caracterstica do contrato de trabalho, definido no art. 11 CT, como aquele pelo qual uma pessoa singular se obriga, mediante retribuio, a prestar a sua actividade a outra ou outras pessoas, no mbito de organizao e sob a autoridade destas. Assim, desenvolve-se em torno de um contrato nominado e tpico, o CT, o qual disciplina as relaes de trabalho exercidas em subordinao jurdica. O DT abrange apenas as actividades exercidas em proveito alheio.Excluses: trabalho dos artesos em proveito prprio, actividades foradas, trabalho gratuito, trabalho autnomo (profissionais liberais) e o trabalho regulado pelo Direito Administrativo.Em concluso: o Direito do Trabalho tem por objecto as situaes jurdico-privadas de trabalho subordinado. A subordinao jurdica aparece como elemento caracterstico do DT, sendo essencial para o CT. Como h uma prestao de actividade, necessrio que o trabalhador se submeta autoridade e direco de outra pessoa. Por isso, o trabalhador normalmente integrado numa organizao dirigida pelo empregador, sendo heterodeterminado por este, a quem se subordina juridicamente. Fala-se tambm em trabalho por conta alheia para exprimir que o trabalhador no assume os riscos nem os proveitos do trabalho que presta, sendo estes assumidos pelo empregador, recebendo o trabalhador apenas a contrapartida da sua remunerao.2. Paradigma do Direito do Trabalho e a alterao do seu modelo tradicionalModelo clssico da relao laboral: assenta na subordinao jurdica do trabalhador ao empregador, a nvel individual, e na sua integrao numa unidade empresarial, vista como uma colectividade que rene, para execuo de uma actividade econmica, sob a direco do mesmo empregador, trabalhadores de diversas profisses modelo fordista das relaes industriais. Aqui relevam os contratos de trabalho a tempo integral e normalizados, em que o empregador recebe um elevado nvel de subordinao e controlo disciplinar, mas ao mesmo tempo, obrigado a garantir um elevado nvel de estabilidade e de prestaes sociais e garantias para o trabalhador, as quais so alargadas aos membros da sua famlia. o trabalho que funciona normalmente num espao edificado e onde um conjunto de pessoas trabalha sob a direco de um ou mais chefes. Principais caractersticas: Estabilidade e permanncia da relao de trabalho; Trabalho prestado a tempo completo.

Este paradigma tem vindo a ser alterado, surgindo novas formas de prestao de trabalho: o contrato de trabalho a termo, o contrato de trabalho temporrio e o teletrabalho. Tambm se nota um alto grau de inefectividade das leis do trabalho, como os casos de prestao de trabalho subordinado mascarados de prestao de trabalho autnomo (falsos recibos verdes) e o trabalho clandestino.Tem sido consensual apontar as transformaes sofridas no paradigma laboral em relao a 5 vertentes essenciais:

1) Poderes do empregador. A existncia de poderes do empregador sobre o trabalhador (subordinao jurdica) constituiu desde sempre o trao distintivo da relao de trabalho. O surgimento de novos mtodos de gesto e novas tecnologias que reforaram a capacidade fctica de controlo sobre os trabalhadores levou necessidade de estabelecer regulaes em reas como a proteco dos dados pessoais dos trabalhadores, os meios de vigilncia distncia, etc. Tambm a evoluo da sociedade e a maior concorrncia entre as empresas levou ao surgimento das flexibilidades funcional, temporal, geogrfica e salarial, as quais reforaram consideravelmente os poderes do empregador na definio unilateral das condies de trabalho (consequncia do reforo dos poderes do empregador: pe em causa a configurao tradicional da prestao de trabalho como uma prestao de actividade ou meios, uma vez que avaliao dos resultados de trabalho passa a ser constante).O reforo dos poderes do empregador ainda acentuado pelo volume de desemprego e pela possibilidade de deslocalizao das empresas, que leva os trabalhadores a aceitarem piores condies de trabalho, e tambm pela cada vez menor dimenso das empresas em resultado do recurso ao outsourcing e criao de redes de empresas.

2) Estatuto dos trabalhadores. Antes havia um estatuto profissional comum em termos de garantias e proteco social e que constitua a forma genrica de integrao na sociedade. Actualmente, o desemprego levou ao surgimento de novas formas de trabalho precrio ou a tempo parcial, que atenuaram fortemente as garantias dos trabalhadores e geraram a diversificao do seu estatuto em termos de proteco social, a qual passou a depender da negociao individual ou colectiva, ou mesmo de esquemas particulares de previdncia. A legislao tambm vai nesse sentido ao oferecer modelos especiais de CT, diversificando o estatuto dos trabalhadores, consoante a dimenso da empresa e as funes que nela so exercidas. A crescente diversificao e complexidade dos vrios modelos de prestao de trabalho levou a um esbatimento das fronteiras entre o contrato de trabalho e o contrato de prestao de servio. No entanto, a tentativa de aplicao do regime do primeiro ao segundo tem-se revelado infrutfera.

3) Tempo de trabalho. A tendncia actual tem sido para a flexibilizao do tempo de trabalho, com o surgimento de horrios flexveis ou calculados com base em longos perodos de referncia, trabalho a tempo parcial, intermitente ou chamada o que levou a uma diversificao de regimes de tempo de trabalho e criao de zonas intermdias entre o trabalho e os tempos livres. Relatrio da Comisso do Livro Branco para as Relaes Laborais que props que a lei se limitasse a estabelecer princpios gerais.

4) Organizao colectiva. Esta dimenso colectiva veio a ser posta em causa pelo crescimento do desemprego, pelo recuo do sector industrial a favor do tercirio e pela grande individualizao das formas de trabalho o que conduziu ao declnio das formas tradicionais de organizao sindical e ao surgimento de formas alternativas de representao laboral. Actualmente verifica-se uma grande dificuldade em conseguir uma efectividade da representao dos trabalhadores a nvel geral, ou mesmo ao nvel da sua categoria profissional, atendendo ao crescente individualismo dos trabalhadores.

5) Interveno dos poderes pblicos nas relaes laborais. Constituiu a matriz do Direito do Trabalho. Actualmente, h um apagamento dessa interveno, com uma crescente desregulamentao do sector, a benefcio de uma particularizao das condies de trabalho. O Estado tem passado a assumir apenas a vertente de realizao de polticas de emprego, atravs de incentivos fiscais, bem como de uma proteco social mnima, atravs de subsdios de desemprego ou RSI. Assim, o peso relativo das fontes do DT altera-se, vindo a prpria lei a permitir a sua derrogaoin pejus por instrumentos de regulamentao colectiva de trabalho, como sucede no art. 3 CT. Essa mesma lei deixa de ser vista como um instrumento do Estado de disciplina e melhoria das condies de trabalho.

Fontes do Direito de Trabalho

1. Generalidades

Temos as fontes gerais do Direito: a lei, o costume, a jurisprudncia e doutrina que aqui tm particularidades, nomeadamente quanto ao procedimento legislativo especfico face necessidade de participao dos trabalhadores.Mais importantes so as fontes especficas que esto no art. 1 CT: os instrumentos de regulamentao colectiva de trabalho (IRCT) e os usos laborais que no contrariem a boa f.

2. A Constituio

Fonte do Direito colocada a um nvel superior na hierarquia das fontes, no podendo ser contrariada por qualquer outra fonte de nvel inferior, sob pena de inconstitucionalidade. Existe um princpio de interpretao em que as fontes devem ser interpretadas em conformidade com a Constituio. Os direitos dos trabalhadores, das comisses de trabalhadores e das associaes sindicais so limites materiais de reviso (art. 288-e)).

Disposies gerais: direito de resistncia (art. 21), direito integridade pessoal (art. 25), outros direitos pessoais (art. 26), proteco de dados pessoais (art. 35), liberdade de expresso e informao (art. 37), liberdade de conscincia, religio e culto (art. 41).Direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores: segurana no emprego (art. 53).Direitos econmicos e sociais (Estado Social): direito ao trabalho e o dever de trabalhar (art. 58) e outros direitos dos trabalhadores (art. 59, 63).

Aplicao directa do art. 18 nas relaes laborais, porquanto vincula todas as entidades.

Normas preceptivas: so directamente aplicveis, ainda que possam precisar de regulamentao proibio de despedimento sem justa causa (art. 53), a igualdade na retribuio (art. 59/1-a)), direito ao repouso, incluindo o limite da jornada de trabalho e a frias peridicas pagas (art. 59/1-d)), tendo que ser concretizada a justa causa, limites da durao de trabalho.

Normas programticas: no so de aplicao directa, constituindo comandos dirigidos ao legislador a sua concretizao direito ao trabalho (art. 58), direito a um salrio susceptvel de atribuir uma existncia condigna (art. 59/1-a)) e o direito realizao pessoal atravs do trabalho (art. 59/1-b)).

3. Fontes Internacionais

Criao de instrumentos destinados a harmonizar as condies de trabalho, estabelecendo garantias mnimas para os trabalhadores, que os diversos pases se comprometem a respeitar.

Convenes da ONU: DUDH (cujas disposies so directamente aplicveis na OJ portuguesa (art. 8/2 CRP) e servem de elementos de interpretao e integrao dos preceitos relativos aos direitos fundamentais (art. 16)) e Pactos Internacionais relativos aos Direitos do Homem.

Convenes e recomendaes da OIT: tm assento os Governos e as entidades patronais e sindicais dos pases membros. Elabora recomendaes que so simples indicaes aos EM aconselhando a adopo de determinadas medidas. Elabora convenes que so normas internacionais que devem ser incorporadas no OJ interno dos EM atravs de ratificao.

Convenes do Conselho da Europa: Conveno Europeia dos Direitos do Homem e Carta Social Europeia.

Fontes do Direito da Unio Europeia: Carta Comunitria dos Direitos Sociais Fundamentais dos Trabalhadores (livre circulao dos trabalhadores, no discriminao salarial entre homens e mulheres, etc.). Carta dos Direitos Fundamentais da UE. TFUE: Liberdade de circulao dos trabalhadores no espao comunitrio. Coordenao dos regimes de segurana social entre os EM. Princpio da igualdade de remunerao entre trabalhadores masculinos e femininos. EM se esforcem por manter a equiparao de regimes em termos de frias pagas. Fundo Social Europeu: para promover facilidades de emprego e a mobilidade geogrfica e profissional dos trabalhadores; evoluo dos sistemas de produo.Regulamentos e directivas comunitrias. Existem mais directivas (sobre o dever de informao, organizao do tempo de trabalho, licena parental, trabalho a tempo parcial, conselhos de empresa europeus, destacamento de trabalhadores, igualdade e no discriminao e segurana e sade no trabalho). Problema da celebrao de convenes colectivas de mbito geral: ope-se o art. 112/8 CRP que s admite a transposio dos actos jurdicos da Comuniadde por lei, DL ou DL regional.

4. Leis Ordinrias

H reserva relativa da AR art. 165/1-b) no que toca aos direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores (arts. 47, 53/57) e ser, em princpio, por lei da AR que a matria laboral poder ser regulada (+ autorizao legislativa ao Governo). Para os direitos econmicos dos trabalhadores (art. 58 e 59) ambos podem legislar. Regies Autnomas (227/1).

Cdigo do Trabalho: aprovado pela lei 7/2009, de 12 de Fevereiro. As leis laborais tm um processo especial de elaborao, uma vez que a CRP atribui s comisses de trabalhadores e s associaes sindicais o direito de participar na elaborao da legislao arts. 54/5-d) e 56/2-a) CRP e 469 ss CT.

5. Os Instrumentos de Regulamentao Colectiva de Trabalho

Fonte especfica do Direito do Trabalho. Nos termos do art. 2/1, os IRCT podem ser negociais ou no negociais:- IRCT negociais conveno colectiva, acordo de adeso e a deciso arbitral em processo de arbitragem voluntria (art. 2/2).- IRCT no negociais portaria de extenso, portaria de condies de trabalho e a deciso arbitral em processo de arbitragem obrigatria/necessria (art. 2/4).

Os IRCT, bem como a sua revogao, so publicados no Boletim do Trabalho e Emprego, entrando em vigor aps a sua publicao, igual s leis. As portarias de extenso e de condies de trabalho ainda tm que ser publicadas no Dirio da Repblica art. 519.5.1. Os IRCT Negociais: conveno colectiva

Disciplina as condies de trabalho em resultado de um acordo escrito celebrado entre associaes sindicais e empregadores ou associaes de empregadores.

Princpio da filiao art. 496 - a conveno colectiva vigora apenas para os empregadores que a subscrevam ou sejam membros de associaes de empregadores signatrias e para os trabalhadores ao seu servio, que sejam membros das associaes sindicais outorgantes.

O art. 2/3 distingue vrias modalidades de conveno colectiva:- contratos colectivos: convenes celebradas entre associaes sindicais e associaes de empregadores;- acordos colectivos: convenes celebradas entre associaes sindicais e uma pluralidade de empregadores para diferentes empresas;- acordos de empresa: convenes celebradas por associaes sindicais e um empregador para uma empresa/estabelecimento.

A conveno colectiva tem um contedo negocial e um contedo normativo art. 492:- contedo negocial: aqui a conveno colectiva no verdadeira fonte de Direito, visto que no estabelece regras, mas comandos.- contedo normativo de disciplina das condies de trabalho: cariz de fonte. expresso de um poder normativo de autotutela colectiva, que o OJ reconhece a certas foras sociais, por considerar que constitui a melhor forma de obter a regulao das condies de trabalho. Estabelece condies que devem ser respeitadas pelos contratos individuais de trabalho, funcionando como fonte de Direito do Trabalho (arts. 1, 3 e 476).

Na prtica, a conveno colectiva limita-se a estabelecer condies mnimas para as relaes de trabalho, permitindo aos contratos de trabalho incluir condies mais favorveis, a menos que das suas clusulas resulte o contrrio art. 476. Estas condies tm o cariz de verdadeiras normas jurdicas aplicam-se heteronomamente aos contratos individuais de trabalho, independentemente da vontade das partes e tm natureza geral e abstracta, atingindo as relaes de trabalho existentes e futuras, s quais impem certo contedo, em termos mnimos. Tambm esto sujeitas s mesmas regras de publicao, eficcia e vigncia das NJ. Por tudo isto, podem ser objecto de controlo de constitucionalidade. Contra, Fernanda Palma defende no ser possvel o controlo da constitucionalidade por serem actos resultantes da autonomia privada e no actos normativos.

Podem afastar normas legais que no sejam absolutamente injuntivas (art. 3/1) mas em certos casos, apenas em termos + favorveis aos trabalhadores (art. 3/3).

5.2. Os IRCT Negociais: acordo de adeso

Art. 504: acordo celebrado com uma entidade que no foi parte na conveno colectiva ou deciso arbitral, mas que pretende a sua aplicao. Representa uma extenso do mbito subjectivo inicial de uma conveno colectiva ou deciso arbitral. Da adeso no pode resultar modificao do contedo da conveno colectiva/deciso arbitral art. 504/3.

Na conveno colectiva o contedo resulta da livre negociao das partes Na adeso as partes no so livres de negociar os seus efeitos, podendo apenas adoptar ou no um contedo que j resulta da conveno que querem aderir. 5.3. Os IRCT Negociais: deciso arbitral em processo de arbitragem voluntria

Art. 506: acordo pelo qual as partes decidem em deferir resoluo por rbitros determinados litgios laborais (interpretao, integrao, celebrao ou reviso de norma de uma conveno colectiva).Produz os mesmos efeitos que a conveno colectiva (art. 505/3).

Na conveno colectiva o seu contedo resulta integralmente da negociao das partes Na arbitragem as partes limitam-se a submeter a resoluo das questes aos rbitros, acatando a sua deciso.

5.4. Os IRCT No Negociais

Caracterizam-se por serem subsidirios em relao aos negociais, dado que apenas podem ser emitidos na falta deles (art. 515 e 517/2).Caso seja emitida uma portaria de extenso ou uma portaria de condies de trabalho, existindo um IRCT negocial aplicvel, aquela ser ilegal.

5.4.1. Portaria de Extenso

Art. 514: regulamento que estende, total ou parcialmente, o mbito de aplicao de convenes colectivas ou decises arbitrais a empregadores e trabalhadores que no eram por elas abrangidos.

Competncia para emisso: exclusiva do ministro responsvel pela rea laboral, salvo oposio por motivos de ordem econmica e a ser conjunta com o ministro responsvel pelo sector de actividade art. 516/1.A sua emisso tem um procedimento prvio onde se permite a participao das entidades que por ele possam ser, ainda que indirectamente, afectadas art. 516.

Pressupe a integrao dos empregadores e trabalhadores nos mesmos sectores de actividade e de profisso a que se refere o instrumento a estender. S possvel estando em causa circunstncias sociais e econmicas que a justifiquem: identidade ou semelhana econmica e social das situaes abrangidas art. 514/1 e 2.

5.4.2. Portaria de Condies de Trabalho

Art. 517: permite-se ao ministro responsvel pela rea laboral e ao ministro da tutela ou ao ministro responsvel pelo sector de actividade definir em certos casos as condies de trabalho.

Apenas admissvel nos casos em que no seja possvel o recurso portaria de extenso, verificando-se a inexistncia de associaes sindicais ou de empregadores e estando em causa circunstncias sociais e econmicas que o justifiquem.

Procedimento especfico art. 518 - que inclui a elaborao de estudos preparatrios por uma comisso tcnica, que deve incluir assessores nomeados pelos empregadores e pelos trabalhadores.

5.4.3. Deciso Arbitral em Processo de Arbitragem Obrigatria/Necessria

Art. 508: arbitragem obrigatria; Art. 510: arbitragem necessriaEm ambos, trata-se de uma forma particular de arbitragem que, em vez de resultar do acordo das partes, -lhes heteronomamente imposta.Nos termos do art. 505/3, a deciso arbitral em processo de arbitragem obrigatria ou necessria tambm equivale a uma conveno colectiva.

6. Jurisprudncia Laboral

Grande importncia, dado que o DT marcado por uma forte litigiosidade, o que torna necessrio conhecer as tendncias jurisprudenciais.

7. Costume

Prtica social reiterada com convico da sua obrigatoriedade. Pode ser: secundum legem (contedo idntico ao da lei); praeter legem (contedo extravasa o da lei, sem entrar em contradio); contra legem (contra a lei).

Maior importncia histrica, como indica R. Martinez, os casos de costume contra legem como a realizao de greves antes de 1910 e entre 1927 e 1974 e a constituio de associaes de trabalhadores entre 1834 e 1891 e os casos de costume praeter legem como a negociao colectiva que, embora frequente, s viria a ser legalmente reconhecida em 1924.Actualmente, com a intensa regulao legislativa, mais difcil encontrar casos de costume que contrarie a lei ou v para alm dela, dado que qualquer prtica social leva quase imediatamente a uma interveno legislativa. O costume no precisa de reconhecimento legal para produzir normas jurdicas. fonte.

8. Usos Laborais

Prtica social reiterada sem convico da sua obrigatoridade.

No DT tradicional a importncia dos usos consistente na reiterao regular de comportamentos (aces ou omisses) por parte do empregador que, por no terem oposio dos trabalhadores, acabam por delimitar o modo de prestao de trabalho.Os usos podem regular qualquer situao no mbito das condies de trabalho, que possa ser objecto de estipulao das partes, como a concesso de gratificaes ou prmios, ou de dispensa de trabalho em certas situaes.

Usos da empresa: afectam todos ou um grupo de trabalhadores Usos individuais: apenas um trabalhador

Os usos podem ocorrer externamente empresa quando a prtica regular seja seguida por diversos empregadores no mbito daquela profisso ou sector de actividade.

Usos laborais = usos internos da empresa + usos externos e profissionais

Os usos no so necessariamente a favor do trabalhador: exemplo, a retirada de uma funo ao trabalhador, a exigncia de prestaes especficas a certas alturas ou a reduo de certos prmios.

Art. 1: fonte especfica do DT, ao mesmo nvel que os IRCTs. MAS, exige-se que no sejam contrrios aos princpios da boa f. Por fora deste artigo, os usos laborais tero eficcia normativa genrica. Contra, Ferrer Correia que defende no serem fonte de direito, mas um simples meio de integrao das estipulaes individuais.Regra da especialidade: a existncia de um uso interno da empresa em sentido contrrio a um uso externo, derrogar este ltimo.

9. Doutrina

Papel auxiliar. Fonte mediata.

10. Hierarquia das Fontes

A hierarquizao definida com base na autoridade do rgo de que emanam as fontes e da forma que revestem.

1 lugar - Constituio.2 lugar normas de conveno internacional e normas emanadas dos rgos competentes das organizaes internacionais de que Portugal faa parte (art. 8/2 CRP). Excepo para as normas dos Tratados da UE ou emanadas dos rgos comunitrios que, segundo o TJUE, esto num plano superior Constituio, apenas as submetendo aos princpios fundamentais do Estado de Direito democrtico.3 lugar Actos Legislativos (Leis, DLs, DL regionais).4 lugar - IRCTs. Estes encontram-se todos situados no mesmo plano hierrquico, ainda que exista uma subsidiaridade da portaria de extenso e da portaria de condies de trabalho em relao aos IRCTs negociais, os quais s podem ser emitidos na sua falta (arts. 515 e 517/2). A portaria de condies de trabalho s pode ser emitida em caso de impossibilidade de recurso portaria de extenso (art. 517/1). Usos Laborais que no contrariem o princpio da boa f.5 lugar Contrato de Trabalho. Este no estabelece normas, por lhe faltar as caractersticas da generalidade e da abstraco, mas antes comandos, de onde resultam as vinculaes concretas assumidas pelas partes na relao laboral.

Tradicionalmente: o DT deveria estabelecer limites mnimos, assim as fontes de valor superior poderiam ser afastadas por fontes de valor inferior, desde que estas estabelecessem condies + favorveis para o trabalhador princpio do tratamento + favorvel ao trabalhador.

Afastamento das normas legislativas por contrato de trabalho: art. 3/4 admite-o, sempre que o CT estabelea condies + favorveis ao trabalhador e se das normas no resultar o contrrio. Assim, no DT predominam as normas que estabelecem uma injuntividade mnima, admitindo a sua derrogao por CT em sentido + favorvel. No entanto, admite-se que se conclua estar perante normas absolutamente injuntivas, que o CT nunca pode afastar. Por outro lado, podemos estar perante normas supletivas, as quais o CT pode afastar, mesmo em sentido menos favorvel.

Derrogao das normas legais por IRCTs: art. 3/1 que diz que a legislao do trabalho pode ser afastada por IRCT, salvo quando daquela resultar o contrrio, independentemente de esta estabelecer ou no condies + favorveis ao trabalhador. Justificao: os IRCT normalmente resultam da negociao colectiva, onde os sindicatos no se encontram em nenhuma posio de inferioridade face aos empregadores ou suas associaes, no havendo assim necessidade de proteco de uma parte + fraca nas relaes colectivas de trabalho.IRCTs esto numa relao de especialidade com as leis permite-lhes adaptar as condies genericamente fixadas para todos os trabalhadores, s situaes laborais especficas que visam regular.Assim, em princpio, os IRCT podem derrogar as normas da legislao laboral, independentemente do seu carcter + favorvel, salvo quando as leis vedem a interveno dos IRCT. Essa proibio pode ser absoluta (normas injuntivas de contedo fixo) ou relativa (normas injuntivas mnimas). Exemplo de proibio da derrogao da lei laboral por IRCT: art. 339/1.

A reviso de 2009 recuperou alguma aplicao do princpio do tratamento + favorvel nas relaes entre os IRCT e as normas legais, em relao a certas matrias: Art. 3/3: estabelece que as normas legais reguladoras de CT s podem ser afastadas por IRCT que, sem oposio daquelas normas, disponha em sentido + favorvel aos trabalhadores quando repeitem s matrias elencadas.

Art. 3/5: sempre que uma norma legal reguladora das condies de trabalho determine que a mesma pode ser afastada por IRCT, entende-se que no o poder ser por CT. Assim, sempre que o legislador declarar o carcter supletivo da norma legal face ao IRCT, dever concluir-se em contrrio pelo seu carcter injuntivo face s clusulas contratuais laborais.

As normas legais: injuntivas absolutas: no admitem a sua derrogao em qualquer sentido (ex, art. 236/2). injuntivas mnimas: admitem a sua derrogao apenas em sentido + favorvel ao trabalhador (ex, art. 238/1). convnio-dispositivas: admitem a sua derrogao por IRCT, mas no por CT (ex, arts. 265/1 e 268/3). contrato-dispositivas: admitem a sua derrogao por CT, mas no por IRCT (ex, arts. 112/5 e 111/3). facultativas: podem ser livremente afastadas, tanto por IRCT como por CT (ex, art. 264/3).

Concorrncia entre IRCTs: arts. 481 ss.Os IRCTs encontram-se todos situados na mesma posio hierrquica, mas como no podem ser aplicados simultaneamente, surgem relaes de especialidade e subsidiariedade.

Art. 481: concorrncia entre IRCT negociais verticais o IRCT relativo a um sector de actividade, afasta o IRCT relativo a profisso ou profisses daquele sector de actividade.

Outros casos de concorrncia entre IRCTs negociais: regra de que o acordo de empresa afasta a aplicao do acordo colectivo e do contrato colectivo. o acordo colectivo afasta a aplicao do contrato colectivo (art. 482/1), podendo estes critrios ser afastados por IRCT negocial (art. 485/2).Em todos os outros casos*:1) compete aos trabalhadores da empresa escolher por maioria qual o IRCT + favorvel (482/2)2) na ausncia de escolha, aplica-se o + recente (482/3-a))3) se ambos tiverem a mesma data, aplica-se o que regular a principal actividade da empresa (art. 482/3-b)).

Concorrncia entre IRCTs no negociais: regra, a deciso de arbitragem obrigatria afasta a aplicao dos restantes instrumentos (art. 483/1-a)) a portaria de extenso afasta a aplicao da portaria de condies de trabalho (art. 483/1-b)Concorrncia entre portarias de extenso: igual (*) arts. 483/2 e 482/2 e 3.

Concorrncia entre IRCTs negociais e no negociais: Art. 484: a entrada em vigor de um IRCT negocial afasta a aplicao, no respectivo mbito, de um anterior IRCT no negocial. Assim, a lei estabelece uma subsidiariedade dos IRCT no negociais face aos negociais, s podem ser emitidos na falta dos primeiros, salvo tratando-se de arbitragem obrigatria.

Derrogao dos IRCTs por clusulas de CT: Art. 476: essa derrogao apenas pode ocorrer se o CT estabelecer condies + favorveis para o trabalhador. No esquecer o art. 3/1 que nos diz que os IRCT podem estabelecer soluo diferente, admitindo em termos + amplos ou proibindo a sua derrogao por CT.

Assim, as diposies dos IRCT podero ser injuntivas absolutas: quando estabeleam clusulas-padro, insusceptveis de ser derrogadas em qualquer sentido; injuntivas mnimas: quando estabeleam clusulas mnimas que admitam a sua derrogao por CT em sentido + favorvel aos trabalhadores; facultativas: s disponham a ttulo supletivo.

CT e Usos Laborais:CT poder derrogar os usos, em sentido + favorvel para o trabalhador. Poder fazer em sentido desfavorvel?Jlio Gomes: o CT s os pode afastar em sentido + favorvel, dada a natureza colectiva dos usos, embora se possam colocar limitaes a este afastamento por fora do princpio da igualdade de tratamento, nomeadamente em matria de retribuio.Bernardo Xavier: insustentvel que os usos se apliquem ao CT onde este estabelea coisa diferente, uma vez que a consagrao da vinculatividade dos usos a que os CT estariam sujeitos chocar-se-ia com as regras legais que consagram o princpio da autonomia contratual. ML apoia.

11. Interpretao e integrao das fontes do Direito do Trabalho

11.1. Interpretao

Questo da vigncia de um princpio de tratamento + favorvel ao trabalhador (favor laboratoris):

Posies tradicionais: favor laboratoris como caracterstica essencial do DT, que se distingue do Direito Civil por no assentar numa ideia de igualdade das partes, mas destina-se a privilegiar um dos sujeitos da relao.Doutrina + moderna: atribuir ao princpio do tratamento + favorvel um sentido mais restrito.

O princpio do tratamento + favorvel pode ser entendido nas seguintes vertentes: hierarquia das normas: admite apenas a derrogao das normas laborais por outras de contedo + favorvel; interpretao: as normas laborais devem ser interpretadas no sentido + favorvel ao trabalhador, ou que, em caso de dvida, deve prevalecer esse sentido; prova.

Nas duas ltimas vertentes no defensvel porque poderia levar ao subjectivismo e falta de rigor na aplicao da lei. O princpio do tratamento + favorvel s pode ter aplicao no mbito da hierarquia de normas, como resulta dos arts. 3 e 476.

As fontes laborais so sujeitas s regras de interpretao constantes do art. 9 Cciv.No que toca s convenes colectivas, deve fazer-se uma ressalva para o seu contedo negocial, porque no sendo este composto por normas, mas antes por clusulas obrigacionais, dever antes ser interpretado de acordo com as regras relativas interpretao dos NJ dos arts. 236 ss. Cciv. Contra, Palma Ramalho entende que a interpretao das CC deve ser realizada segundo um critrio unitrio e no dualista e deve seguir globalmente as regras de interpretao da lei.

Regras interpretativas especficas: Art. 3/5: sempre que as leis laborais disponham no sentido de que podem ser afastadas por IRCT, entende-se que no o podem ser por clusula de CT. interpretao da conveno colectiva efectuada pela sua comisso paritria, art. 493: a qual tem competncia para interpretar e integrar as clusulas da CC. A interpretao produzida por esta via no , no entanto, considerada autntica, pelo que no tem eficcia retroactiva. regime especial para a interpretao judicial das convenes colectivas, arts. 183 ss. CPT.

11.2. Integrao

Integrao de lacunas na lei: processa a sua integrao nos termos do art. 10 Cciv.Integrao de lacunas de conveno colectiva: existem especialidades na sua integrao, uma vez que a CC possui uma parte normativa e uma parte obrigacional.Em relao parte normativa: a integrao deve ser feita nos termos do art. 10 Cciv.Em relao parte negocial: a integrao deve ser feita com base no regime aplicvel aos NJ, art. 239 Cciv.

Especificidades:- integrao pode ser feita por uma comisso paritria (arts. 492/3 e 493);- aco especial para a integrao de conveno colectiva, tendo o respectivo ac. do STJ valor de revista ampliada em processo civil.

12. Aplicao do Direito do Trabalho

12.1. Aplicao no Tempo

Seguem-se os critrios gerais, arts. 12 e 13 do Cciv. Em princpio, as normas laborais s dispem para o futuro, no sendo retroactivas.No entanto, admite-se que o legislador dote a lei de eficcia retroactiva. Nesse caso, presume-se que ficam ressalvados os efeitos j produzidos pelos factos que a lei se destina a regular.A maior parte das normas laborais pretendem estabelecer uma disciplina das condies de trabalho com abstraco do facto que lhes deu origem, pelo que so normalmente aplicveis aos contratos de trabalho existentes data da sua entrada em vigor.

Questionada a vigncia de um princpio de manuteno dos direitos adquiridos dos trabalhadores (princpio do no retrocesso social): Tendo os trabalhadores adquirido determinadas regalias na sua esfera jurdica, as mesmas no deveriam ser postas em causa por uma nova lei laboral. ML: esta posio inaceitvel porque iria estabelecer desigualdades entre os trabalhadores da mesma empresa, consoante o momento em que tivessem sido contratados e impediria a legislao laboral de se adaptar evoluo da situao econmica.

A tutela dos direitos adquiridos refere-se apenas a direitos concretamente obtidos pelo trabalhador. No se pode considerar que o trabalhador tenha direito manuteno do regime laboral que lhe era aplicvel (exemplo da definio do perodo de trabalho nocturno).

12.2. Aplicao no Espao

Regulamento Roma I para os contratos celebrados a partir de 17 de Dezembro de 2009.No se considera que o pas em que o trabalhador presta habitualmente o seu trabalho mude quando o trabalhador estiver temporariamente empregado noutro pas.

H um reconhecimento da autonomia privada das partes na escolha da lei aplicvel ao CT, embora limitada pelo facto de a mesma no poder derrogar disposies injuntivas do sistema jurdico que seria aplicvel na falta de escolha das partes.Na ausncia de escolha pelas partes, o primeiro critrio o da existncia de uma conexo + estreita, sendo algo subsidirio, uma vez que apenas quando elementos decisivos apontem a existncia dessa conexo, os quais tm que ser judicialmente demonstrados, que esta pode prevalecer sobre os outros critrios indicados. Assim, na falta de escolha, aplica-se,em princpio, a lei do Estado em que o trabalhador presta habitualmente o seu trabalho, ou a lei do Estado a partir do qual o trabalhador presta habitualmente o seu trabalho.

Quando o trabalhador desenvolver habitualmente a sua actividade em vrios Estados, ser aplicvel a lei do Estado onde se situa o estabelecimento que contratou o trabalhador (ex, aplicou-se a lei moambicana a CT entre portugueses para prestar servio no estabelecimento do empregador em Moambique).Se as obrigaes emergentes do CT devam ser ou tenham sido executadas em determinado Estado, so salvaguardadas as normas de aplicao imediata desse mesmo Estado, ie, as disposies injuntivas que esse Estado determina que sejam aplicveis s relaes laborais, independentemente de qual seja a lei reguladora do CT.

12.2.1. Destacamento Internacional dos Trabalhadores

Matria regulada a nvel comunitrio pela Directiva n 96/71/CE, fazendo os arts. 6 e 7 CT referncia ao destacamento em territrio portugus. O destacamento de trabalhadores portugueses no estrangeiro regulado pelo art. 8.

Destacamento internacional de trabalhadores: quando estes, ao abrigo do CT que os liga ao seu empregador e por conta deste, sejam chamados a prestar temporariamente a sua actividade noutro Estado. Enquadramento: menor custo de trabalho em certos EM; como esses CT se encontravam sujeitos s leis e IRCT do pas de origem, o destacamento internacional implicava uma significativa poupana de custos com o factor trabalho surgiu a Directiva para contrariar.

Art. 6/1: est no regime do destacamento o trabalhador que contratado por empregador estabelecido noutro Estado presta a sua actividade em territrio portugus: em execuo de CT entre o empregador e o beneficirio que exerce a actividade, desde que o trabalhador permanea sob a autoridade e direco daquele; em estabelecimento do mesmo empregador, ou empresa de outro empregador com o qual exista uma relao societria (...); ao servio de um utilizador, disposio do qual foi colocado por empresa de trabalho temporrio ou outra empresa. Aplicao do regime de destacamento tem como consequncia a aplicao do disposto no art. 7: estes tm direito s condies de trabalho previstas na lei e na regulamentao colectiva de trabalho de eficcia geral respeitantes s matrias elencadas.

Destacamento de trabalhadores portugueses para outros Estados art. 8 - estes tero direito s condies de trabalho previstas no artigo anterior, sem prejuzo de regime + favorvel constante da lei aplicvel ou do contrato. O empregador obrigado a comunicar ao servio inspectivo do ministrio responsvel pela rea laboral a identidade do trabalhador, local, incio e termo da deslocao (art. 8/2). Caso contrrio contra-ordenao grave.

O Contrato de Trabalho

1. Definio do Contrato de TrabalhoCT: definido pelo art. 11 como aquele pelo qual uma pessoa se obriga, mediante retribuio, a prestar a sua actividade a outra ou outras pessoas, no mbito de organizao e sob autoridade destas. Considera-se que, como o Cdigo do Trabalho mais recente, revogou o art. 1152 Cciv. ML defende ser mais feliz o art. 1152: CT aquele pelo qual uma pessoa se obriga, mediante retribuio, a prestar a sua actividade intelectual ou manual a outra pessoa, sob a autoridade e direco desta.

O que caracteriza o CT a sujeio do trabalhador autoridade e direco do empregador, ie, a subordinao jurdica.

Crticas de ML ao art. 11: 1) omite a referncia direco do empregador, que constitui um elemento essencial do CT;2) a insero numa organizao, embora constitua um elemento natural, no um elemento essencial do CT. Exemplos: a contratao de um trabalhador domstico ou de um motorista particular no implica a sua insero numa organizao.Por sua vez, Palma Ramalho faz referncia a uma componente organizacional do CT, que enquadraria globalmente as relaes entre o trabalhador e o empregador.Tambm Monteiro Fernandes diz que a referncia ao mbito de organizao do empregador, inseparvel da ideia de autoridade do mesmo, exprime, na definio legal, o poder de organizar o trabalho, a partir do processo em que se insere, e no qualquer realidade orgnica corporizada na ideia de empresa.

O CT um NJ bilateral, normalmente celebrado entre o trabalhador e o empregador, ainda que possa ocorrer uma situao de pluralidade de empregadores, referida no art. 101 CT.O CT est sujeito ao regime geral do NJ (arts. 217 ss Cciv).

2. Elementos Essenciais do Contrato de Trabalho

2.1. Prestao de uma actividade

O objecto principal do contrato a prestao de uma actividade humana, seja intelectual ou manual.A actividade laboral traduz-se numa prestao de facto positiva, que o trabalhador se obriga a desenvolver em ordem a atingir o fim pretendido. A no obteno desse fim um risco do empregador contrato de prestao de servios (CPS) em que o prprio resultado objecto da prestao do trabalhador (art. 1154 Cciv).

A prestao do trabalhador assume natureza continuada o trabalhador pe disposio do empregador a sua actividade durante um lapso de tempo especfico. Consequncia: a natureza da prestao no afectada pela existncia de perodos de inactividade. Basta que o trabalhador se mantenha na disponibilidade do empregador durante esses perodos.

2.2 Retribuio

A retribuio a contrapartida da prestao de tabalho subordinado art. 258/1 havendo um nexo sinalagmtico entre ambas. A retribuio deve consistir, ao menos parcialmente, numa prestao pecuniria art. 259/1 devendo as prestaes no pecunirias ser avaliveis em dinheiro art. 259/2.A retribuio uma prestao duradoura porque o tempo influi no seu contedo e extenso.Tem natureza peridica porque no realizada continuamente, antes se renova sucessivamente ao longo do tempo art. 258/2.

2.3. Subordinao Jurdica

Resultante de o trabalhador se colocar sob a autoridade e direco do empregador.

Poder de direco do empregador: tem em vista individualizar a prestao do trabalhador, concretizando a actividade a desenvolver art. 97 - e um dever de obedincia do trabalhador s ordens do empregador art. 128/1-e). Poder disciplinar: do empregador sobre o trabalhador art. 98 - que permite sancionar as actividades contrrias s suas instrues legtimas ou s normas de organizao e disciplina do trabalho ao qual se contrape a sujeio do trabalhador art. 328.

Subordinao jurdica = poder de direco/dever de obedincia + poder disciplinar/sujeio

3. Caractersticas Qualificativas do Contrato de Trabalho

3.1. Contrato Nominado e Tpico

A lei reconhece a sua categoria e estabelece o seu regime legal (CT e avulsa).

3.2. Contrato Primordialmente No Formal

A lei no estabelece genericamente forma especial art. 110. O contrato vlido, independentemente da forma adoptada art. 219 Cciv.

Casos especiais de forma escrita:- CT com trabalhador estrangeiro art. 5/1;- CT com pluralidade de empregadores art. 101/2;- Contrato-promessa de trabalho art. 103/1;- CT a termo art. 141/1;- CT a tempo parcial art. 153/1;- CT intermitente art. 158/1;- CT CT em comisso de servio art. 162/3;- CT de prestao subordinada de teletrabalho art. 166/4;- contrato de utilizao de trabalho temporrio art. 177/1;- CT temporrio art. 181/1;- CT por tempo indeterminado para cedncia temporria art. 183/1;- acordo de cedncia ocasional de trabalhadores art. 290/1;- acordo de pr-reforma art. 319.

3.3. Contrato Obrigacional

fonte de obrigaes para as partes.Na esfera do trabalhador: obrigao de prestar a sua actividade arts. 115 ss.Na esfera do empregador: obrigao de pagar a retribuio arts. 127/1-b) e 258 e ss.Estas so as obrigaes principais.

CT como relao obrigacional complexa inclui tambm deveres secundrios de prestao e deveres acessrios de conduta. Deveres secundrios de prestao:- Empregador: dever de ocupao efectiva do trabalhador art. 129/1-b) e o dever de proporcionar formao profissional ao trabalhador art. 127/1-d).

Deveres acessrios de conduta (impostos pelo princpio da boa f art. 126/1):- Empregador: dever de respeitar e tratar com urbanidade e probidade o trabalhador art. 127/1-a) o dever de proporcionar boas condies de trabalho ao trabalhador art. 127/1-c) o dever de prevenir riscos e doenas profissionais art. 127/1-g) e fornecer ao trabalhador a formao e informao adequada sua preveno art. 127/1-i).- Trabalhador: respeitar e tratar com urbanidade e probidade o empregador e os seus superiores hierrquicos e companheiros de trabalho art. 128/1-a) o dever de obedincia ao empregador art. 128/1-e) o dever de guardar lealdade ao ampregador art. 128/1-f) o dever de velar pela conservao e boa utilizao dos instrumentos de trabalho que lhe forem confiados pelo empregador art. 128/1-g) o dever de cumprir as prescries de higiene e segurana no trabalho art. 128/1-j) o dever de contribuir para a melhoria da produtividade da empresa art. 128/1-h) e do sistema de higiene, segurana e sade no trabalho art. 128/1-i).

3.4. Contrato Oneroso

Uma vez que gera sacrifcios econmicos para ambas as partes: o empregador tem de pagar a retribuio; o trabalhador tem o sacrifcio do valor da sua fora de trabalho. Ambos so elementos essenciais para o CT.

3.5. Contrato Sinalagmtico

Faz surgir obrigaes recprocas para ambas as partes:- Trabalhador: prestar a sua actividade intelectual ou manual;- Empregador: pagar a correspondente retribuio.Estas obrigaes surgem ligadas entre si em termos causais no momento da constituio do contrato sinalagma gentico; permanecendo essa ligao durante a sua execuo sinalagma funcional.

Consequncia: aplicveis os institutos tpicos dos contratos sinalagmticos (ex: caducidade do contrato por impossibilidade de uma das prestaes, 795 Cciv). Existem desvios que resultam da especificidade da relao laboral: 1) no se reconhece genericamente s partes a possiblidade de suspender a sua prestao, sempre que a outra no realize a que lhe compete, s sendo isto admitido no caso do art. 325. 2) Apesar de o art. 343-b) determinar a extino do CT em caso de impossibilidade superveniente absoluta e definitiva de o trabalhador prestar o seu trabalho ou de o empregador o receber se a impossibilidade no imputvel s partes for temporria, o empregador no deixa de continuar a ter que pagar a retribuio, uma vez que o risco corre por sua conta.3) A resoluo no admitida genericamente com base em qualquer incumprimento, exigindo-se fundamentos legalmente tipificados para que a mesma possa proceder arts. 351 ss e 394 ss.

3.6. Contrato Comutativo

A atribuio patrimonial do empregador e a do trabalhador se apresentam como certas quanto sua existncia ou contedo. No h risco econmico.Mesmo no caso de estipulao de retribuio varivel art. 261 - esta sujeita a limites mnimos legais art. 273/1.O nico risco que existe na celebrao do CT, recai sobre o empregador e a obteno ou no do resultado visado com a prestao do trabalhador. No suficiente. S ocorreria se alguma prestao estivesse dependente de um facto futuro e incerto e nvel de existncia e contedo.

3.7. Contrato de Execuo Continuada

O tempo influi no contedo e extenso das obrigaes do trabalhador e do empregador.O trabalhador vai realizar a sua actividade ao longo de determinado perodo de tempo e recebe a sua retribuio tambm em funo do tempo de trabalho decorrido.

A contratao a termo s admitida em termos excepcionais art. 140 - em virtude do princpio da segurana no emprego art. 53 CRP.Estabilidade do vnculo laboral limitadas as situaes em que o empregador pode pr termo ao contrato arts. 351 ss no se lhe reconhecendo o direito de denncia, que apenas pertence ao trabalhador arts. 400 ss. A revogao por acordo envolve cautelas especiais: forma escrita art. 349/2 e reconhecendo-se ao trabalhador a possibilidade de dela se arrepender art. 350.

3.8. Contrato Intuitu Personae

As qualidades de ambas as partes so tidas em considerao aquando da celebrao do CT.O empregador leva em conta a pessoa do trabalhador, as suas qualidades profissionais, honestidade e rectido, currculo e aparncia. O trabalhador tambm leva em conta a pessoa do empregador, vendo as condies de trabalho que ele pode proporcionar e a sua capacidade patrimonial.

Consequncias:1) O erro na pessoa do trabalhador gera anulabilidade do CT. Este incide sobre os motivos determinantes da vontade do empregador, cuja essencialidade no podia ser ignorada pelo declaratrio. CT ser anulvel: arts. 251 e 247 Cciv.

2) Prestao do trabalhador tem carcter infungvel, o que implica que ele no se possa fazer substituir no cumprimento das suas obrigaes laborais art. 767/2 Cciv.A sua ausncia constitui falta ao servio art. 248/1 faa ou no substituir-se.A impossibilidade subjectiva de prestar por parte do trabalhador gera a extino da sua obrigao art. 791 Cciv perdendo direito retribuio, SALVO hiptese de algumas faltas justificadas art. 255. Sendo impossibilidade absoluta e definitiva caducidade do CT art. 343-b).

3) CT institui uma especial relao fiduciria entre as partes, baseada na confiana e colaborao mtuas no CT h especial intensidade dos deveres de boa f art. 126.

Excepes de regime:- transmisso de estabelecimento os respectivos CT transmitem-se para o adquirente, sem que os trabalhadores a isso se possam opor (art. 285).- a morte do empregador no faz caducar o CT, se os sucessores continuarem a respectiva actividade ou se verificar a transmisso do estabelecimento (art. 346/1).- no trabalho temporrio, a regra a substituio do trabalhador por outro (art. 188).

Menezes Cordeiro: por vezes o CT celebradom tendo em conta as particulares qualidades de uma pessoa, mas em regra tal no sucede. O moderno DT massificado, havendo uma total substituibilidade entre os trabalhadores de iguais habilitaes. Jlio Gomes vai no mesmo sentido.

3.9. Eventual Qualificao do Contrato de Trabalho como Negcio Jurdico de Consumo

Mais vivel na doutrina alem, embora esta tenha considerado que o legislador no visava propriamente o CT, quando estabeleceu a definio de consumidor.No direito portugus, o art. 2 da Lei de Defesa do Consumidor exclui essa possibilidade porque a prestao caracterstica actividade do trabalhador no para um fim pessoal.

4. Distino do Contrato de Trabalho em relao a Figuras Afins

Elemento distintivo essencial a subordinao jurdica do trabalhador ao empregador. DT apenas aplicvel ao trabalho dependente. frequente que trabalhadores apresentados como independentes o sejam falsamente ou pelo menos se encontrem numa situao anloga subordinao. Isto surge com o objectivo fraudulento de elidir a aplicao do regime legal do CT, em prejuzo do trabalhador. A aplicao do regime legal do CT no depende da vontade das partes, mas do preenchimento dos pressupostos do respectivo tipo legal. Nada impede o trabalhador nestas situaes de denunciar a sua situao.

4.1. Contrato de Trabalho Contrato de Prestao de Servios

O contrato de prestao de servios (CPS) um contrato atpico que inclui 3 modalidades tpicas (mandato, depsito e empreitada).

Traos distintivos principais entre CT e CPS:

O CPS tem por objecto um certo resultado art. 1154 Cciv. O CT tem por objecto a prestao da actividade do trabalhador art. 11.Esta caracterstica tem consequncias em relao prpria estrutura do sinalagma:a retribuio contrapartida do trabalho prestado no CT. Por sua vez, surge apenas como contrapartida do resultado do trabalho no CPS.Assim, a prestao do trabalhador habitualmente delimitada em unidades de tempo, obrigando a uma retribuio suplementar quando o tempo convencionado para a prestao ultrapassado.No CPS no se obriga a qualquer remunerao suplementar para alm da que foi convencionada para o resultado, independentemente do tempo que levar.

Consequncias a nvel de risco: Ao prometer o resultado, o prestador de servios assume o risco de a sua prestao a ele no conduzir, perdendo a retribuio se o resultado no chega a ser atingido art. 795/1 Cciv.O trabalhador no assume o risco de a sua prestao no atingir o resultado visado, mantendo o direito retribuio, alcanando-o ou no.

Esta distino no 100% fivel porque o resultado no deixa de ser levado em conta no CT, at por fora do princpio da boa f art. 126/1 obrigando as partes a colaborar para a obteno de maior produtividade art. 126/2.Em relao aos contratos de trabalho a termo, fala-se de resultados art. 140/2-h).No CPS pode tomar-se em conta a actividade, independentemente do resultado porque o profissional no pode garantir a obteno do resultado visado: prestao de servios dos mdicos e dos advogados.

O CPS pode ser oneroso ou gratuito. O CT necessariamente oneroso.No um critrio fivel porque, embora o facto de a prestao ser realizada a ttulo gratuito impea a qualificao como CT, fica por resolver a distino nos outros casos em que a prestao seja realizada a ttulo oneroso.

No CPS no existe subordinao jurdica, exercendo o prestador de servios a sua actividade com autonomia. No CT, a actividade prestada sob autoridade e direco do empregador, existindo subordinao jurdica.Este o melhor critrio.

4.2. Contrato de Trabalho Contrato de Mandato

Mandato art. 1157 Cciv contrato pelo qual algum se obriga a praticar actos jurdicos por conta de outrem. O resultado do trabalho prestado consiste na realizao de actos jurdicos que podem ser celebrados com ou sem representao.

A prestao do trabalhador pode igualmente envolver a celebrao de NJ, conforme a lei prev expressamente no art. 115/3, atribuindo ao trabalhador uma representao implcita, salvo nos casos em que a lei exige instrumento especial.

Distino possvel atravs do critrio da subordinao jurdica: embora o mandatrio esteja sujeito s instrues do mandante, no se coloca sob a direco e autoridade deste. Estas instrues visam definir o resultado em vista e no o modo ou processo de atingir esse resultado. As instrues do mandante so meras directivas genricas.

Pode ser celebrado CT para profisses que exijam uma autonomia tcnica especfica advogados aqui a sujeio autoridade e direco do empregador no prejudica a autonomia tcnica do trabalhador inerente actividade prestada art. 116.

4.3. Contrato de Trabalho Contrato de Depsito

Contrato de depsito: uma das partes entrega outra uma coisa, mvel ou imvel, para que a guarde e a restitua quando exigida art. 1185 Cciv. Presume-se gratuito, salvo se corresponder actividade profissional do depositrio, a presume-se oneroso art. 1186 Cciv. A prestao caracterstica a guarda de uma coisa.

A diferena com o CT reside na subordinao jurdica, j que o depositrio exerce a guarda da coisa de forma independente, no se subordinando ao depositante.

4.4. Contrato de Trabalho Contrato de Empreitada

Empreitada art. 1207 - contrato pelo qual algum se obriga realizao de certa obra mediante um preo. Est em causa a realizao de uma obra material. O empreiteiro deve uma prestao de resultado concretizao da obra O trabalhador deve a sua actividade intelectual ou manual.

Na empreitada a retribuio surge como contrapartida da realizao da obra e no da actividade, ainda que possa ser convencionado o pagamento ao empreiteiro em funo do tempo de trabalho.Em caso de impossibilidade da prestao do empreiteiro, o dono da obra fica exonerado da obrigao de pagar o preo art. 1227 Cciv.

Critrio de distino a inexistncia de subordinao jurdica, dado que o empreiteiro no se coloca sob autoridade e direco do dono da ora, realizando a sua obra com inteira autonomia. Reduzidas as possibilidades de o dono da obra controlar direito de fiscalizao e a possibilidade de pedir alteraes ao plano convencionado para a obra.

4.5. Contrato de Trabalho Contrato de Sociedade

Contrato de sociedade art. 980 Cciv duas ou + pessoas se obrigam a contribuir com bens ou servios para o exerccio em comum de certa actividade econmica, que no seja de mera fruio, a fim de repartirem os lucros resultantes dessa actividade.

Scios de capital, entram com bens. J o caso do scio de indstria, que apenas se obriga a contribuir para a sociedade com servios mais complexo porque este fica vinculado a uma prestao de actividade, a qual no associada aos riscos do investimento de capital. A contribuio de servios institui assim uma obrigao de prestao de trabalho que tem como contrapartida o pagamento dos lucros e eventualmente algum complemento remuneratrio, o que se aproxima do CT, especialmente se for estipulada a participao do trabalhador nos lucros art. 260/1-d).

Distino feita pelo critrio da subordinao jurdica, dado que o scio de indstria no se coloca sob a autoridade e direco da sociedade, tendo apenas uma obrigao de realizao da sua entrada, em termos semelhantes aos scios de capital. O scio que presta trabalho por fora do contrato de sociedade no se subordina juridicamente sociedade como seu trabalhador, continuando a manter a sua qualidade de scio.

4.6. Contrato de Trabalho Associao em Participao

Associao em participao DL associao de uma pessoa a uma actividade econmica exercida por outra, ficando a 1 a participar nos lucros ou nos lucros e perdas que desse exerccio resultarem para a segunda.Em contrapartida de uma prestao, a realizar pelo associado, o associante atribui-lhe uma participao nos lucros. A prestao prometida pelo associado pode consistir em qualquer contribuio de natureza patrimonial: esta pode corresponder a uma prestao de trabalho.Por outro lado, o trabalhador tambm pode receber uma participao nos lucros art. 260/1-d).

Distinguem-se porque o associado no se encontra sujeito aos poderes de direco e disciplina, ainda que tenha que cumprir as instrues do associante em relao forma de execuo da sua prestao.4.7. Contrato de Trabalho Contrato de Agncia

Agncia DL contrato pelo qual uma das partes se obriga a promover por conta da outra a celebrao de contratos, de modo autnomo e estvel e mediante retribuio, podendo ser-lhe atribuda certa zona ou determinado crculo de clientes.

O agente embora actue por conta do principal, exerce a sua actividade com autonomia, enquanto que o trabalhador se encontra juridicamente subordinado ao empregador.

No entanto, a subordinao jurdica e a autonomia podem ser susceptveis de graduaes. Por isso, pode ponderar-se se a distino no ser uma mera questo de grau.

A actividade de promoo da celebrao de contratos por conta de outrem pode ser igualmente exercida por trabalhadores subordinados. Mesmo sendo exercida autonomamente, a verdade que, nos casos em que o agente se integra em exclusividade no circuito de distribuio do principal, passa a exercer uma actividade muito similar do trabalhador subordinado, at pela situao de dependncia econmica que surge. Embora o interesse do principal se refira celebrao dos contratos e a remunerao do agente seja determinada em funo das comisses pela sua celebrao, a verdade que o agente promete essencialmente a realizao da actividade.A remunerao do trabalhador subordinado pode ser parcialmente estabelecida por comisses.

A Agncia encontra-se claramente distinguida do CT e regulada autonomamente. Art. 10: sujeio do agente s normas do CT de direitos de personalidade, igualdade, segurana e sade sempre que este esteja na dependncia econmica do principal.

4.8. Contrato de Trabalho Trabalho de Voluntariado a Favor de Instituies com Fins Altrustas

Para as confisses religiosas: a posio dominante parece excluir a existncia de vnculos laborais que liguem os sacerdotes e ministrantes do culto a essas confisses, por considerar que os votos de sacerdcio exprimem antes a deciso de pertena a uma comunidade religiosa e no a instituio de uma relao de trabalho. Rejeitada a existncia de CT entre uma religiosa e a sua congregao, apesar de a mesma trabalhar como enfermeira e assistente social por conta dessa congregao, em regime de subordinao e com retribuio in natura. Foi considerado que esse trabalho era resultado da sua participao na comunidade em virtude dos votos de sacerdcio.

Trabalho prestado a favor de comunidades de insero social: posio dominante no sentido de afastar a qualificao como CT, por se entender que, mesmo que exista poder de direco e seja estipulada uma retribuio, a inteno das partes no instituir uma relao de natureza laboral, dado que a ela no se pode reconduzir a pertena comunidade.Comunidade que visa promover a reinsero social dos excludos atravs da atribuio de pequenos traablhos pelos quais paga uma pequena retribuio, fornecendo ainda alimentao e alojamento. Foi considerada excluda a subordinao jurdica por ser incompatvel com as regras de vida comunitria que implica a pertena a uma associao.

Voluntariado em que as pessoas aceitam prestar uma misso de assistncia humanitria a uma instituio de solidariedade social, com base em deslocao ao estrangeiro, mas no deixam de estipular uma remunerao para esse efeito, que normalmente compensa os custos de deslocao e os encargos no pas de origem:Foi considerado que a situao de voluntariado exclua a qualificao como relao laboral de uma deslocao para fins de assistncia humanitria, apesar da retribuio estipulada.Por sua vez, foi tambm qualificada como relao laboral uma situao em que as pessoas eram colocadas como acompanhantes ao servio da Cruz Vermelha francesa, sendo-lhes efectuado o pagamento de ajudas de custo.Doutrina defendeu que estas so situaes de meio termo entre o trabalho altrusta e o trabalho subordinado.

Voluntrio: indivduo que de forma livre, desinteressada e responsvel se compromete, de acordo com as suas aptides prprias e no seu tempo livre, a realizar aces de voluntariado no mbito de uma organizao promotora. Essa qualidade no pode decorrer de relao de trabalho subordinado ou autnomo ou de qualquer relao de contedo patrimonial.

O voluntrio presta o seu trabalho gratuitamente, embora beneficie de alguns direitos tpicos da prestao de trabalho como a formao profissional, o seguro social voluntrio, a higiene e segurana no trabalho, receber as indemnizaes, subsdios e penses, bem como outras regalias legalmente definidas em caso de acidente e doena contrada no trabalho voluntrio que devem ser garantidas por um seguro obrigatrio e o reembolso das despesas despendidas no exerccio de uma actividade programada pela organizao promotora.

Face sua natureza gratuita, a relao de voluntariado no pode ser considerada como relao de trabalho subordinado.

5. Mtodos de Distino do Trabalho Subordinado em Relao ao Trabalho Autnomo

A subordinao jurdica, como conceito-tipo que , no permite uma mera subsuno. A determinao da existncia ou no de subordinao jurdica constitui matria de facto.

Para a averiguao da existncia ou no de subordinao jurdica tm sido utilizados 2 mtodos:

1) Mtodo tipolgico: baseia-se na comparao do tipo contratual com o tipo legal. Faz-se uma averiguao dos elementos essenciais do CT, como a determinao dos poderes laborais do empregador (poder de direco + poder disciplinar) e o correspondente dever de obedincia do trabalhador, para ver se esto no tipo contratual.

2) Mtodo indicirio: baseia-se na busca de indcios que normalmente se encontram associados existncia de subordinao jurdica. Estes ndices de laboralidade podem ser internos (dizem respeito prpria relao laboral) ou externos (tm em conta factos exteriores RL). o mtodo + seguro.Indcios internos: prestador ser pessoa singular, o local de trabalho, o horrio de trabalho, o fornecimento de utenslios de trabalho pelo beneficirio da actividade, os termos em que estabelecida a remunerao, a utilizao de colaboradores, a repartio do risco do trabalho prestado, os perodos de repouso estabelecidos e a integrao numa actividade produtiva.

O facto de o prestador ser pessoa singular indcio de CT dado que as PC no podem ser trabalhadores (art. 11).A existncia de local de trabalho escolhido pelo beneficirio da actividade indcio de CT. A exigncia de que a prestao sejam realizada em determinado local indicia a existncia de controlo da sua assiduidade e actividade pelo empregador. A realizao da prestao em local escolhido pelo trabalhador torna difcil a sua sujeio autoridade e direco do empregador.

Ser estabelecido um horrio de trabalho indcio de CT. Se o trabalhador se compromete a realizar a prestao em determinado horrio, indicia-se que o objecto do contrato a sua actividade. Se assim no for, indicia-se que o objecto do contrato um determinado resultado.

O fornecimento dos utenslios de trabalho pelo empregador um indcio de CT. O empregador tem o nus de fornecer os instrumentos de trabalho para que o trabalhador possa realizar a actividade contratada. Assim, indicia-se que o objecto do contrato a actividade do prestador. Se o prestador actua com recurso a utenslios que ele prprio fornece, um indcio de que o objecto do contrato o resultado da actividade.

A remunerao essencial ao CT. O CPS pode ser oneroso ou gratuito. Se for estipulada remunerao, indiciar um CT o facto de esta ser fixada em termos horrios. A fixao com base na tarefa realizada indiciar a existncia de CPS. O pagamento de subsdios de frias ou de Natal um importante elemento para indiciar CT (no fixao = CPS).

No admissibilidade do recurso a substitutos ou auxiliares CT. Admissibiidade CPS. Sendo o CT celebrado intuitu personae, no permitida a substituio do trabalhador ou a utilizao de auxiliares.

A repartio do risco em relao ao resultado do trabalho um indcio de CT. No CT promete-se apenas a realizao de uma actividade, assim o risco de essa actividade no conduzir ao resultado visado do empregador. No CPS, o risco de o resultado no ser obtido corre por conta do prestador.

Os perodos de repouso estabelecidos so um indcio de CT. Se ao prestador so atribudos perodos de descanso (frias, FDS) parece clara a existncia de CT.

A integrao do produtor numa unidade produtiva um indcio de CT. indiciada a subordinao jurdica do trabalhador ao empregador.

Indcios externos: trabalho para uma nica ou para vrias entidades, enquadramento fiscal da retribuio, o regime da segurana social e a sindicalizao do trabalhador.

Em princpio, o CT realizado apenas para um empregador. Se for para mais, indicia CPS.

Enquadramento tributrio do trabalhador como dependente ou independente em termos fiscais e de segurana social.

Trabalhador inscrito num sindicato pode constituir indcio de CT. A actividade sindical restrita aos trabalhadores dependentes.

Nenhum destes indcios pode ser qualificado como decisivo. Em relao aos indcios internos:A contratao de PC pode ser utilizada para simular a existncia de um CT, atravs da interposio fictcia de pessoas colectivas.A existncia de horrio de trabalho pode ser dispensada iseno de horrio.O local de trabalho pode no pertencer ao empregador nem ao trabalhador, mas ser imposto em funo da natureza da prestao operrios de reparao ou vendedores ao domiclio.Em relao ao fornecimento dos utenslios pelo beneficirio da actividade, muitas vezes o trabalhador autnomo tambm utiliza instrumentos fornecidos pelo beneficirio da actividade empreitada.Em relao remunerao, existem CPS que tm a remunerao como elemento essencial, tais como a empreitada e a agncia. cada vez mais rara uma PS gratuita.Em relao forma de determinao da remunerao, h PS em que o trabalho determinado em funo das horas prestadas. No CT pode-se prever o pagamento da retribuio em funo do resultado atingido (trabalhador for remunerado comisso ou quando sejam estabelecidos prmios de produtividade).Em relao aos perodos de repouso estabelecidos, possvel estabelece-los num CPS. O facto de no se respeitarem os perodos de descanso no caso de trabalho dependente pode indiciar apenas uma infraco laboral.A integrao do trabalhador numa unidade produtiva pode no ser suficiente num CT (casos de out-sourcing). A no integrao do trabalhador pode ser compatvel com a existncia de um CT (casos em que o trabalhador pode ser colocado numa situao de distncia geogrfica em relao empresa. H CT de regime especial em que o trabalhador no uma entidade empresarial (contrato de servio domstico).

Em relao aos indcios externos:Pode existir uma pluralidade de empregadores no CT art. 101.Em relao ao enquadramento tributrio, existem situaes de falsos trabalhadores independentes.A inscrio sindical tambm pode ser utilizada para dissimular situaes que no so de verdadeiros CT.

Apenas uma avaliao global do conjunto de circunstncias presentes poder determinar sobre se est ou no no caso concreto perante um CT.

6. nus da Prova Relativo Existncia de uma Relao de Trabalho Subordinado

CT de 2003 veio inovar nesta matria estabelecendo uma presuno legal. O artigo era demasiado exigente, exigindo a verificao cumulativa de uma srie de ndices. A disposio foi alterada na reviso 2009 art. 12/1: presume-se a existncia de CT quando, na relao entre a pessoa que presta uma actividade e outra ou outras que dela beneficiam, se verifiquem algumas das seguintes caractersticas:- actividade realizada em local pertencente ao beneficirio ou por ele determinado;- equipamentos/instrumentos de trabalho pertenam ao beneficirio;- prestador observe horas de incio/termo da prestao, determinadas pelo beneficirio;- seja paga, com determinada periodicidade, uma quantia certa ao prestador, como contrapartida da actividade;- o prestador desempenhe funes de direco ou chefia na estrutura orgnica da empresa.

Sanciona o empregador caso ocorra a prestao de actividade, por forma aparentemente autnoma, em condies caractersticas ao CT, que possa causar prejuzo ao trabalhador/Estado art. 12/2, 3 e 4.

Art. 12 consagra uma efectiva presuno legal relativa existncia de CT. Mnimo de 2 requisitos (algumas).Art. 350/2 Cciv presuno pode ser elidida por prova em contrrio. Quantos + indcios, + difcil ser elidir.

7. Dificuldades de Delimitao entre o Trabalho Subordinado e o Trabalho Autnomo. O Trabalho Para-Subordinado

CT actividade/subordinao jurdica. CPS prestao de resultado/autonomia prestador.

A prestao de actividade laboral pode tomar em considerao o resultado, como sucede quando seja estipulada uma remunerao por objectivos. Em muitos casos de prestaes de servio mdicos, advogado essencialmente a actividade e no o resultado que vem a ser objecto da prestao debitria. A actividade do jurisconsulto pode ser recrutada por 3 atravs de CT ou de CPS. No quadro da relao de trabalho subordinado, a actividade do jurisconsulto s concretizvel e apreensvel na sua projeco sobre um resultado: um parecer.

A existncia de subordinao jurdica pode ser difcil de determinar, dado que existem diversos graus de surbordinao jurdica.

Este fenmeno ocorre principalmente nas profisses com autonomia tcnica, j que a extenso dos poderes de direco do empregador varia consoante o grau de autonomia tcnica do trabalhador. A sua autonomia um limite subordinao e uma derrogao dos poderes normais do empregador.O grau de subordinao efectiva varia e reduz-se medida que se vai passando do trabalho menos qualificado para o mais qualificado. Em profisses altamente qualificadas , o empregador apenas tem a possibilidade de controlar a presena do trabalhador e os resutlados externos da actividade, no tendo qualquer controlo na forma como a prestao feita.

Outros casos, sem autonomia tcnica, caso do taxista que vai buscar o clientes s horas de ida/volta para o trabalho e o motorista que faz o mesmo servio, acabam por realizar a mesma actividade, levando a que a subordinao jurdica seja indetectvel (averiguar a quem pertence o veculo).Muitas actividades podem ser exercida indistintamente em CT ou CPS (mdico, advogado, jornalista, treinador de futebol) o que torna difcil a distino no caso concreto. At porque nem o CT nem o CPS exigem forma especial.

Certas actividades especiais tm particularidades que tornam difcil a sua insero no regime laboral comum, ainda que seja rejeitada a qualificao de CPS. Caso dos docentes do ensino privado, especialmente os do ensino superior particular e cooperativo. Tm horrio, que escolhem, sendo a sua remunerao fixada consoante as horas de servio, no se tendo aceite que tenham CT comum, at pela disparidade com o ensino superior pblico. Ser um contrato de trabalho especial ou CPS. Jlio Gomes: a qualificao de contratos celebrados com profs do ensino superior privado tem-se gradualmente reconhecido a pouca ou porventura mesmo nenhuma relevncia do local de trabalho, que s oide ser o da escola onda d aulas. Mesmo o horrio parece carecer de importncia: porque pela prpria natureza da prestao um professor, quer seja autnomo, quer seja subordinado, tem que ter um horrio de trabalho para leccionar.Romano Martinez: a hiptese + plausvel a qualificao destes contratos como de trabalho, ainda que se devesse estabelecer um regime laboral prprio.

Tambm o caso das profisses artsticas (toureiro, actor, bailarina) em que a aplicao do regime laboral comum implicaria uma vigncia do CT muito superior ao perodo durante o qual o trabalhador pode exercer a sua actividade.

A contraposio tradicional tambm posta em causa por as empregas recorrerem cada vez + ao out-sourcing, em vez de contratar trabalhadores subordinados: ao invs de empregadas de limpeza, contratam a empresa de limpeza. Aqui o trabalho autnomo pode apresentar-se como fungvel em relao ao trabalho subordinado, levando a que este ltimo seja preterido por ser + caro.Isto acarreta novos problemas vindos da relao de dependncia que certos trabalhadores autnomos.

A alternativa tem sido equacionar a existncia de uma zona cinzenta entre o trabalho independente e o trabalho subordinado que se poderia qualificar como trabalho para-subordinado. Regra de estender os princpios da legislao laboral a certos CPS que implicassem uma situao de dependncia econmica por parte do prestador em relao ao beneficirio da actividade. Esta soluo resulta do art. 10 que estabelece que as normas legais respeitantes a dtos de personalidade, igualdade e no discriminao e segurana e sade no trabalho so aplicveis a situaes em que ocorre prestao de trabalho por uma pessoa a outra, sem subordinao jurdica, sempre que o prestador de trabalho deva considerar-se na dependncia econmica do beneficirio.

O Trabalhador

1. Noo Jurdica de Trabalhador

- Arts. 1152 Cciv + 11 CT: pessoa que se obriga, mediante retribuio, a prestar a sua actividade a outra ou outras pessoas sob autoridade e direco destas trabalhador subordinado.- Qualidade de trabalhador adquirida com a celebrao do CT. - Trabalhador no susceptvel de uma definio em termos conceptuais, exigindo antes uma descrio tipolgica, atravs da enumerao de um conjunto de caractersticas.

Distino entre trabalhadores dirigentes e os no dirigentes:No dirigentes constituem a situao laboral comum;Dirigentes tm funes de coordenao e orientao dos outros trabalhadores, possuindo um regime especial em certas reas, como a iseno de horrio art. 218/1-a) a possibilidade de celebrao de contratos de comisso de servio art. 161 - e uma menor proteco em caso de despedimento ilcito art. 392/1.

Trabalhador tem de ser uma pessoa singular art. 11 - s estas se podem subordinar juridicamente. O regime das sanes disciplinares, descanso semanal, frias, faltas, direitos de personalidade pressupem a personalidade singular.

Pode ser destacado um grupo de trabalhadores trabalho em grupo, esquadra ou em autonomia tcnica (trabalhadores das artes do espetculo e audiovisual) mas cada um dos trabalhadores do grupo se encontra individualmente vinculado ao empregador.

2. Tutela da Personalidade do Trabalhador

Ao aceitar submeter-se autoridade e direco do empregador, o trabalhador efectua necessariamente uma autolimitao dos seus direitos de personalidade 81/2 Cciv.Antes de 2003 a legislao laboral no regulava esta matria. Arts. 14 ss CT.J que a disponibilizao da fora de trabalho a favor de outrem importa sempre alguma restrio da personalidade, necessrio estabelecer que essa restrio no seja excessiva. Assim, o CT impe que cada parte deva respeitar a personalidade da contraparte.

2.1. Direito Integridade Fsica e Moral

Art. 25 CRP e art. 15 CT.O CT, por muito essencial que seja subsistncia do trabalhador, no deve implicar para este qualquer sacrifcio da sua integridade fsica e moral.Para a sua tutela so importantes as disposies sobre segurana, higiene e sade no trabalho art. 59/1-c) CRP que concretizado pela Lei 102/2009.

Daqui resulta uma obrigao de segurana por parte do empregador, em ordem a garantir que o trabalho se realiza sem especiais riscos para os trabalhadores, os quais adquirem consequentemente um direito a s prestar trabalho quando essa obrigao de segurana seja cumprida.

Integridade moral proibio do assdio: art. 29.

2.2 Liberdade de Expresso e Opinio

Art. 14: reconhecida no mbito da empresa a liberdade de expresso e de divulgao do pensamento e opinio, com respeito dos direitos de personalidade do trabalhador e empregador, incluindo as pessoas singulares que o representam e do normal funcionamento da empresa. Art. 37 CRP que vinculativo para as entidades pblicas e privadas, ex vi art. 18 CRP.

A liberdade de expresso e divulgao do pensamento e opinio pode ser manifestada a propsito de questes conexas com o trabalho, designadamente atravs de crticas ou sugestes sobre o desempenho laboral ou sobre a gesto da empresa, mas tambm questes exteriores a ele, como no caso da ostentao no local de trabalho de smbolos polticos ou religiosos, ou emisso de opinies sobre poltica geral. No por um trabalhador ser contratado por uma companhia de bandera que assume um dever de patriotismo que o proba de emitir opinies polticas.

O regulamento interno da empresa no dever pode impor restries liberdade de expresso do trabalhador dentro da empresa. Foi mesmo considerada ilcita uma clusula do regulamento interno da empresa que proibia qualquer discusso poltica e religiosa, por violar excessivamente a liberdade individual dos trabalhadores.

Fora da empresa, o trabalhador tem um direito livre expresso do seu pensamento e opinio. Assim, foi considera ilcito o despedimento de um operrio que deu uma entrevista em que descrevia uma das suas noites de trabalho, em termos crticos para o empregador.

A CRP reconhece que essa liberdade no absoluta art. 37/3 admite a possibilidade de se cometerem infraces no exerccio desses dtos. CT indica 2 limites: respeito pelos direitos de personalidade da outra parte; normal funcionamento da empresa.

A liberdade de expresso no pode servir de cobertura para leses dos dieritos de personalidade (ex: injrias, difamao ou devassa da vida privada).No pode colocar em causa o normal funcionamento da empresa, pois lesaria directamente os direitos patrimoniais do empregador, ao afectar o funcionamento da sua unidade produtiva, mas tambm porque indirectamente se viria a repercutir nos trabalhadores. Assim, no pode o trabalhador em frente aos clientes, dirigir crticas injustificadas gesto. Foi mesmo considerado fundamento de despedimento o facto de um ajudante de farmcia ter feito publicamente critcas gesto da farmcia, referindo que a sua empregadora no sabe orientar a farmcia.

Caso particular de limitao da liberdade de expresso do trabalhador consiste nas empresas ideolgicas ou de tendncia, pois nos casos em que a actividade empresarial se reconduz propaganda de determinadas convices ou ideologia, naturalmente que o trabalhador fica vinculado por um dever de reserva de no emitir opinies que possam colocar em causa a actividade empresarial.

2.3. Liberdade de Escolha da Apresentao e Vesturio

manifesto que o CT no permite atribuir ao empregador o direito de decidir sobre o vesturio e aparncia do trabalhador, uma vez que tal se mostraria contrrio sua dignidade. As peas de vesturio, maquilhagem, adereos e penteado constituem elementos fundamentais da imagem que ns damos de ns mesmos aos outros, assim como da imagem que fazemos de ns prprios. Consequentemente, permitir ao empregador uma deciso neste domnio levaria o trabalhador a sentir-se despojado da sua identidade e constrangido a integrar-se numa massa indistinta de trabalhadores de aparncia uniforme, o que se apresentaria contrrio sua dignidade.

No concebvel que o empregador possa obrigar os trabalhadores a utilizarem todos o mesmo vesturio, atravs da exigncia de uniforme por si aprovado, ou impor-lhes a utilizao no vesturio de logtipos ou de adereos da empresa. Tambm no parece aceitvel que o empregador possa decidir sobre a aparncia do trabalhador (ex: corte de cabelo, utilizao de barba). No foi considerado punvel disciplinarmente um trabalhador da seco de gastronomia de um supermercado que, contra as instrues expressas do emrpegador, se apresentava ao servio com barba de 2 dias.

Excepes:1) resulta das normas de higiene e segurana no trabalho se em certos trabalhos, que envolvem riscos especficos, se exigir a utilizao de capacete, botas, luvas ou vesturio protector, naturalmente que o trabalhador fica vinculado a utiliza-los. Caso contrrio, infraco das normas sobre higiene e segurana no trabalho.

2) Certas profisses que exigem uma certa indumentria especial trabalhador fica vinculado a adoptar essa indumentria. Os mdicos e enfermeiros contratados por um hospital tero naturalmente o dever de utilizar a bata branca, mesmo para consultas ou actos de acompanhamento. O mesmo para os empregados de farmcias. Tambm os empregados de determinado restaurante ou discoteca podero estar sujeitos a uma indumentria prpria, at para se distinguirem dos clientes que frequentam o local. O mesmo para empregados de casinos. Nestes casos, se o trabalhador se apresentar ao servio sem envergar a indumentria correspondente ser naturalmente considerado como infraco disciplinar (ex: foi considerada infraco disciplinar um agente de trfego do Metro de Lisboa apresentar-se ao servio sem o uniforme da empresa).

3) Mesmo que no exista regra especfica para a adopo de determinado vesturio, o trabalhador no pode adoptar um vesturio que atente contra a moral pblica e os bons costumes, ou mesmo que se apresente em desconformidade com os usos sociais de determinada actividade ou que possa afectar a imagem da empresa.

Os trabalhadores de uma empresa comum no so normalmente obrigados a vestir-se com trajes formais, podendo utilizar um vesturio casual, mas j no devero utilizar trajes desportivos no local de trabalho (ex: agente tcnico de mtodos da sociedade Sagem, foi despedido por usar sistematicamente cales de bermudas e blusa branca no local de trabalho e ter insistido no seu uso, mesmo aps ter sido advertido pelo empregador. O despedimento foi considerado correcto. Crtica: a liberdade de vesturio insere-se nas liberdades fundamentais).

Para os trabalhadores de um banco j pode ser exigido o traje formal (ex: despedimento de um trabalhador bancrio que aparece vestido no banco como um xerife com um chapu mexicano).Esta vinculao do trabalhador a no prejudicar a imagem da emrpesa em consequncia da sua prpria aparncia e vesturio pode considerar-se resultante do princpio da boa f art. 126/1.

2.4. Liberdade Religiosa

Prob: os feriados religiosos que so adoptados pela legislao dos diversos pases no tm qualquer correspondncia com a religio de muitos trabalhadores que no tm dispensa nos seus dias sagrados, nem s horas a que devem cumprir as suas obrigaes religiosas.

Art. 41 CRP: direito que no pode ser afectado pelo CT. No entanto, existem condicionalismos prtica religiosa no local de trabalho no podendo o trabalhador prejudicar objectivos visados pelo CT procurando fazer propaganda religiosa no local de trabalho ou abster-se de trabalhar por motivos religiosos:Um trabalhador, de religio muulmana, de um talho no se poderia recusar a cortar carne de porco, uma vez que tal corresponde precisamente natureza das funes para que foi contratado. Por sua vez, ser abuso de direito se o empregador, podendo atribuir outras funes ao trabalhador, insiste que ele realize actos que contendem com os seus deveres religiosos.

Pelo princpio da boa f empregador tem o dever de tolerar a prtica religiosa do trabalhador que no prejudique a laborao (uso de smbolos religiosos, interrupo do trabalho por breves momentos para a orao ou o fornecimento de comida nas cantinas que no infrinja deveres religiosos).

Pelo princpio da igualdade e no discriminao nenhum trabalhador pode ser discriminado no acesso a uma profisso ou no seu exerccio por fora das suas convices religiosas. Restries no caso das empresas religiosas: escolas religiosas podem exigir que professor de Moral professe a religio seguida na escola, dado que o ensino religiosa perde crebibilidade se for ministrado por quem no professe essa religio. Para as outras disciplinas no vale.

Exibio de smbolos religiosos (vu, cruzes) no local de trabalho: em princpio, permitida. Excepo: situao dos trabalhadores em contacto com o pblico, a quem o empregador poder exigir que se abstenham dessa exibio, em ordem a no afastar a clientela de outras religies. Considerou-se legtimo o despedimento de uma vendedora por se recusar a abandonar o vu islmico. Situao contrria para uma encarregada de inquritos telefnicos. Uma trabalhadora nascida na Turquia, vendedora de perfumes, decidiu passar a usar o vu no local de trabalho e foi considerado que se limitava a exercer a sua liberdade religiosa, no podendo ser despedida com fundamento num mero receio de afastamento da clientela. O despedimento de uma trabalhadora por se recusar a abandonar o vu islmico s ser lcita se essa ordem puder ser justificada em funes de problemas graves que essa expresso religiosa cause empresa.

Utilizao de dias de descanso religiosos que no correspondam aos legalmente previstos o empregador no estar legalmente obrigado a permitir a sua observncia. Admitindo-se, por fora do princpio da boa f, um dever de o permitir, sempre que no cause prejuzo.

2.5. Liberdade de Conscincia

O CT no pode representar uma limitao liberdade de conscincia, devendo o empregador abster-se de dar ordens que representem violao da mesma.

Alemanha vrios casos em que o trabalhador pode, por razes de conscincia, recusar em certas situaes a prestao de trabalho. Ex: trabalhadora dos correios tinha o dto, por razes de conscincia, de se recusar a distribuir um panfleto de propaganda eleitoral de um partido de extrema-direita e xenfobo.

Portugal direito objeco de conscincia dos mdicos em relao ao aborto; dos jornalistas em exprimir ou subscrever opinies ou desempenhar tarefas profissionais contrrias sua conscincia.

Pelo princpio da boa f o trabalhador tem o direito de recusar a sua prestao em casos em que a sua relizao atente gravemente contra a sua conscincia. Exige-se que haja razoabilidade na recusa = a conduta exigida no corresponda ao que habitual naquela prestao, a qual no poderia ser ignorada pelo trabalhador aquando da celebrao do CT.

2.6. Direito Imagem

preciso aplicar o art. 79 do Cciv. Parece exigir-se genericamente o consentimento do trabalhador para a utilizao da sua imagem, no podendo a mesma ser utilizada sem esse consentimento.

S poder considerar-se dispensado art. 79/2 quando o cargo em que o trabalhador seja investido implique necessariamente uma exposio pblica que leve a considerar que a autorizao para a utilizao da imagem um pressuposto necessrio para o exerccio da actividade. Ex: a contratao de um actor/modelo implica necessariamente o dto de o empregador utilizar a sua imagem para os fins contratados.

J um mero operrio ou empregado interno no poder ver a sua imagem utilizada pelo empregador sem a sua autorizao, ainda que a imagem seja recolhida no exerccio das sua funes, podendo o trabalhador opor-se legitimamente a essa recolha, mesmo que ordenada pelo empregador art. 128/1-e). No pode haver qualquer constrangimento por parte do empregador a que os trabalhadores forneam a sua imagem, mesmo que num fim legtimo, extensivo a todos os trabalhadores.

2.7. Direito Intimidade da Vida Privada

Contedo da reserva sobre a intimidade da vida privada concretizado no art. 16/2 atravs da proibio, quer do acesso, quer da divulgao de aspectos atinentes esfera ntima e pessoal das partes, relacionados com a vida familiar, afectiva e sexual, com o estado de sade e com as convices polticas e religiosas.

Teoria das 3 esferas:1) Esfera ntima: vida familiar, sade, comportamentos sexuais e convices polticas e religiosas, cuja proteco , em princpio, absoluta.2) Esfera privada: proteco relativa, podendo ceder em caso de conflito com dtos e interesses superiores.3) Esfera pblica: situaes que so objecto de conhecimento pblico e que, por isso, podem ser livremente divulgadas.

Vida familiar manifestamente protegida, no tendo o empregador a possibilidade de proibir o casamento dos seus trabalhadores ou tentar impedir que estes tenham filhos ou adoptem crianas.Vida sexual empregador no pode proibir o relacionamento afectivo/sexual entre os seus trabalhadores fora do local de trabalho, nem os pode inquirir sobre as suas tendncias sexuais. A liberdade sexual dos trabalhadores no oide ser efectivamente condicionada pelo empregador. expressamente proibido o assdio sexual art. 29/2 que uma restrio dessa liberdade.

Gravidez no assunto que possa respeitar ao empregador, no podendo a mesma ser objecto de qualquer discriminao por esse motivo. O mesmo para o caso de interrupo voluntria da gravidez.Estado de sade do trabalhador protegido, salvo na medida em que possa prejudicar a prestao de trabalho. O mdico da empresa tem o dever de sigilo profissional tambm em relao ao empregador. No pode discriminar o trabalhador devido aquisio de enfermidades que no perturbem a prestao de trabalho.

Problemas financeiros (sobreendividamento, penhora salrio) abrangidos na privacidade.

ilcito o acesso indevido, mesmo que no haja divulgao, nem permitida a divulgao quando o acesso foi obtido ilegalmente. vedada aos empregadores a devassa da vida privada dos seus trabalhadores, atravs da vigilncia das comunicaes distncia (telefone/email) ou da averiguao da actividade do trabalhador fora do local de trabalho.

Dever do art. 16 pode ceder em certas situaes em que se torne absolutamente essencial para o funcionamento da empresa, em actividades sensveis, algum controlo sobre os elementos referidos neste artigo CT do praticante desportivo pq ele assume a obrigao de manter a sua condio fsica adequada prestao de trabalho; caso dos partidos polticos ou associaes religiosas que podem legitimamente no querer admitir como seus trabalhadores membros de outro partido poltico e uma associao religiosa poder no querer ter entre os seus trabalhadores pessoas de diferente religio.

Amadeu Guerra: ilegtimo e desproporcionado que a empresa ou organizao realize investigaes preventivas sobre a ideologia do trabalhador uma vez que estas averiguaes, para alm de serem susceptveis de violar a reserva da intimidade da vida privada, ultrapassam em muito o exerccio de poderes integrados em actividades de diligncia.2.7.1. Recolha de Dados Pessoais pelo Empregador

Recolha de dados pessoais , em princpio, permitida no CT se for respeitante esfera pblica do trabalhador. Ser, em princpio, proibida a recolha de dados respeitantes s esferas privada e ntima do trabalhador, a qual s admitida em certas circunstncias.

Esfera privada art. 17/1-a) empregador no pode exigir a candidato a emprego ou a trabalhador que preste infos relativas sua vida privada, salvo quando estejas sejam estritamente necessrias e relevantes para avaliar a respectiva aptido no que respeita execuo de CT e seja fornecida por escrito a respectiva fundamentao.

Esfera ntima art. 17/1-b) proibe a exigncia de infos relativas sade do trabalhador ou estado de gravidez da trabalhadora, salvo quando particulares exigncias inerentes natureza da actividade profissional o justifiquem e seja fornecida por escrita a respectiva fundamentao.

Art. 17/2: estas infos so prestadas a mdico que s pode comunicar ao empregador se o trabalhador est ou no apto a desempenhar a actividade. Situaes excepcionais que apenas se justificam pela natureza da actividade exercida. (Praticante desportivo)

Mesmo nos casos em que a recolha dos