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i
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI
Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar - CTTMar
Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Ciência e Tecnologia Ambiental–PPCTA
Distribuição espaço-temporal da macrofauna em um baixo
estuário urbanizado subtropical: Variações ambientais e
impactos antropogênicos
Área de concentração: Ecossistemas Aquáticos
Linha de pesquisa: Estrutura e Processos de Ambientes Aquáticos
Pedro Rocha Mattos
Itajaí, Julho de 2014.
ii
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI
Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar - CTTMar
Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Ciência e Tecnologia Ambiental–PPCTA
Distribuição espaço-temporal da macrofauna em um baixo
estuário urbanizado subtropical: Variações ambientais e
impactos antropogênicos
Pedro Rocha Mattos
Trabalho de Conclusão apresentado ao
Programa de Pós-Graduação em Ciência e
Tecnologia Ambiental, como parte dos
requisitos para obtenção do grau de Mestre
em Ciência e Tecnologia Ambiental.
Orientador: Dr. Tito César Marques de
Almeida
Itajaí, Julho de 2014.
iii
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a CAPES pela bolsa de mestrado. Os dados biológicos,
sedimentológicos e físico-químicos trabalhados ao longo do presente estudo foram
referentes ao Monitoramento Ambiental da Dragagem de Aprofundamento do Canal de
Acesso e Bacia de Evolução do Porto Organizado de Itajaí, sendo este um dos programas
incluído no Plano Básico Ambiental (PBA) realizado pela Universidade do Vale do Itajaí
(UNIVALI). Agradecemos ao Laboratório de Geologia e ao Laboratório de Oceanografia
Química, pelo fornecimento de informações cruciais para o desenvolvimento desse
trabalho. Somos gratos a Mariana Martins e Adriana Faria pelo auxílio no processamento
do material biológico, bem como a todos que de alguma forma contribuíram para a
elaboração do manuscrito.
iv
``Na ciência as convicções não tem direito de cidadania, é o que se diz com boas
razões: apenas quando elas decidem rebaixar-se a modéstia de uma hipótese, de um
ponto de vista experimental e provisório, de uma ficção reguladora, pode lhes ser
concedida a entrada e até mesmo um certo valor no reino do conhecimento – embora
ainda com a restrição de que permaneçam sob vigilância policial, a vigilância da
suspeita.``
-Nietzsche (1882)
v
SUMÁRIO
Lista de figuras vi
Lista de tabelas viii
Resumo e palavras chave ix
Abstract and keywords x
Introdução 1
Materiais e métodos 4
Área de estudo 4
Amostragem e desenho amostral 6
Análise de dados 8
Resultados 9
Variáveis ambientais 9
Macrofauna 15
Interação fauna-ambiente 23
Discussão 26
Conclusões 34
Referências bibliográficas 35
vi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Volumes de sedimento dragado ao longo dos anos no canal interno, externo e
bacia de evolução. Adaptado de INPH (2012). 6
Figura 2: Localização geográfica da área de estudo, com destaque para as estações
amostrais (1-4). (© 2013 Google). 7
Figura 3: Desenho amostral, totalizando 228 amostras. 8
Figura 4: Variáveis ambientais e vazão do rio Itajaí-Acu ao longo do estudo, nas quatro
estações amostrais, onde a=temperatura, b=salinidade, c=O2 dissolvido, d=turbidez, e=pH
e f=vazão. As medidas foram tomadas junto ao fundo, sendo que a vazão foi medida junto
a estação da ANEEL, em Indaial. * indica dragagem de aprofundamento, # indica vazão
acima de 400m³/s. 11
Figura 5: Composição do sediento ao longo do estudo, nas quatro estações amostrais,
onde a=areia, b=finos (silte+argila), c=carbonato, d=matéria orgânica. * indica dragagem,
# indica vazão acima de 400m³/s. 12
Figura 6: Análise de componentes principais (ACP). a) O eixo 1 explicou 60.8% da
variação, sendo formado por salinidade e pH. O eixo 2, associado a temperatura, explicou
18,5% da variação. b) O eixo 1 explicou 43,6% da variação, formado pela salinidade. O
eixo 2, que explicou 27,2% da variação, foi formado pela turbidez. Símbolos preenchidos
representam dragagem de aprofundamento, # representa vazão acima de 400m³/s. 16
Figura 7: Descritores da estrutura da macrofauna, S (riqueza) e N (abundância),
representados pelas médias por amostra (0,042m²) e respectivos erros-padrão, ao longo
das estações amostrais (1-4). * indica tempos onde houve dragagem de aprofundamento,
# indica vazão acima de 400m³/s. 18
Figura 8: a) Análise de agrupamento (CLUSTER) e b) escalonamento multidimensional
(MDS) para as estações 1 e 2, aplicados sobre a matriz de similaridade de Bray-Curtis
elaborada a partir dos grupos taxonômicos selecionados. Símbolos preenchidos
representam dragagens de aprofundamento, # representa vazão acima de 400m³/s. 21
vii
Figura 9: a) Análise de agrupamento (CLUSTER) e b) escalonamento multidimensional
(MDS) para as estações 3 e 4, aplicados sobre a matriz de similaridade de Bray-Curtis
elaborada a partir dos grupos taxonômicos selecionados. Símbolos preenchidos
representam dragagens de aprofundamento, # representa vazão acima de 400m³/s. 22
Figura 10: Análise canônica de coordenadas principais (CAP). a) Os eixos canônicos
explicaram 72,6% da variação entre as amostras. O eixo 1 esteve associado a temperatura,
e em menor grau a turbidez. O eixo 2 foi formado pelo pH. b) Os eixos canônicos
explicaram 75,5% da variação entre as amostras. O eixo 1 foi formado pela turbidez e o
eixo 2 foi formado por finos. Os grupos destacados (I-IV) foram evidenciados nas análises
de CLUSTER e MDS. Símbolos cheios representam dragagens de aprofundamento, #
representa vazão acima de 400m3/s. 25
Figura 11: Mapa de uso e ocupação do solo ao longo da bacia hidrográfica do rio Itajaí-
Açu. Adaptado de Vibrans (2006). 32
Figura 12: Mapa temático referente a gestão municipal das APPs na bacia hidrográfica
do rio Itajaí-Açu. Destaque para o município de Ilhota (*). As diferentes tipologias são
definidas na Tabela 8. Fonte: Comitê Itajaí. 33
viii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Estações amostrais, respectivas coordenadas geográficas e localização no
baixo estuário do rio Itajaí-Açu. 6
Tabela 2: Variáveis ambientais e suas correlações com os dois componentes principais
da ACP, que explicaram 79,3% da variação para as estações 1 e 2 (a) e 70,8% da variação
para as estações 3 e 4 (b). 13
Tabela 3: Abundância relativa (%) ao longo das estações amostrais (1-4). Grupos
destacados foram selecionados para as análises estatísticas. 15
Tabela 4: Resultados da PERMANOVA com base na matriz de similaridade de Bray-
curtis para a macrofauna representada pelos táxons com mais de 0,1% de abundância
relativa. Valores de p destacados (*) indicam variação significativa para p<0,05. 19
Tabela 5: Análise de contribuição percentual para as similaridades médias (SIMPER)
referentes as estações 1 e 2, com base nos grupos (I-IV) evidenciados nas análises
CLUSTER e MDS. N=densidade média (indivíduos/0,042m²); %=contribuição
percentual. 23
Tabela 6: Análise de contribuição percentual para as similaridades médias (SIMPER)
referentes as estações 3 e 4, com base nos grupos (I-IV) evidenciados nas análises
CLUSTER e MDS. N=densidade média (indivíduos/0,042m²); %=contribuição
percentual. 23
Tabela 7: Variáveis ambientais e respectivas correlações com os eixos canônicos que
melhor explicaram a distribuição da macrofauna ao longo das estações 1 e 2 (a) e 3 e 4
(b). 24
Tabela 8: Tipologia de parâmetros para definição de espaços territoriais protegidos em
margens de cursos de água e nascentes na BHRI. Fonte: Schult & Custódio, 2010. 33
ix
RESUMO
Estuários são áreas de relevância ecológica, conhecidos como berçários de vida
marinha. Por questões geográficas e econômicas, estuários têm sido historicamente
favoráveis a ocupação humana ao redor do mundo, repercutindo de maneira negativa
sobre sua integridade ecológica. Grandes centros urbanos tendem a se desenvolver nessas
áreas, como é o caso do baixo estuário do rio Itajaí-Açu, em Santa Catarina. São objetivos
desse estudo: (1) Determinar a distribuição espaço-temporal da macrofauna (2) relacionar
o padrão de distribuição da macrofauna com as variáveis ambientais e (3) avaliar a
influência das dragagens de aprofundamento sobre a estrutura e composição da
macrofauna. Amostras em triplicata foram coletadas de dezembro de 2010 a outubro de
2012 em intervalos mensais em quatro estações localizadas no baixo estuário, sendo duas
delas afetadas pelas dragagens de aprofundamento do canal portuário, totalizando 228
amostras. A composição do sedimento e as variáveis da coluna d´água ao longo do estudo
também foram analisadas. Utilizou-se de análise em componentes principais (ACP) para
analisar a variação espaço-temporal das variáveis ambientais, e uma combinação de
escalonamento multidimensional (MDS) e agrupamento hierárquico (CLUSTER) para a
distribuição da macrofauna. Correlações entre a matriz de variáveis ambientais e a
estrutura multivariada da macrofauna foram testadas por meio da análise canônica de
coordenadas principais (CAP). Testamos estatisticamente as variações espaço-temporais
das associações por meio de análise de variância multivariada permutacional
(PERMANOVA) bi-fatorial (estação e tempo). Foram coletados e analisados 21.839
organismos, sendo que 97% do total amostrado correspondeu ao gastrópode Heleobia
australis, ao tanaidáceo Kaliapseudes schubartii e aos poliquetas Heteromastus similis,
Bocardiella ligerica e Nephtys fluviatilis, indicando uma área consideravelmente
alterada. Apesar da descarga fluvial se mostrar uma importante reguladora do
ecossistema, as dragagens de aprofundamento foram deletérias a macrofauna. As
dragagens parecem impedir a estabilização de uma comunidade clímax, apesar da
resiliência observada, favorecendo a dominância de organismos oportunistas tais como
H. australis.
Palavras-chave: Estuários, macrofauna, dragagens, descarga fluvial.
x
ABSTRACT
Estuaries are ecologically relevant areas, known in the literature as marine
nurseries. Because of their geographical and economical features, estuaries have been
historically occupied worldwide, which threatens their ecological integrity. Considerable
urban development tends to take place on those areas, as it is the case of the low estuarine
region of the Itajaí-Açu river, in Santa Catarina, where this work aimed to: (1) Study the
spatiotemporal variation of the macrofauna located on the low estuary of the Itajaí-Acu
river; (2) search for relationships between environmental variables and the macrofauna
and (3) evaluate the influence of capital dredging upon the macrofauna. Sampling was
conducted monthly from December 2010 to October 2012 in four stations located on the
low estuary, two of which were affected by dredging operations, totalizing 228 samples.
Sediment composition and water column´s variables were also assessed. Principal
component analysis (PCA) was used to analyze spatiotemporal patterns of environmental
variables, and a combination of hierarchical clustering (CLUSTER) and
multidimensional scaling (MDS) was used for biotic data. Correlations between
environmental and biotic matrices were tested by canonical analysis of principal
coordinates (CAP). Spatiotemporal variations in the community were statistically tested
by permutational multivariate analysis of variance (PERMANOVA) with two factors
(station and time). A total of 21.839 organisms were sampled, and 97% of the macrofauna
was represented by the gastropod Heleobia australis, the tanaid Kaliapseudes schubartii
and the polychaetes Heteromastus similis, Boccardiella ligerica and Nephtys fluviatilis.
Despite the influence of the river discharge on the ecosystem, dredging of the channel
was deleterious to the studied community. Dredging disturbance maintains the
community in an early successional stage despite its resilience, favoring opportunistic
organisms such as H. australis.
Key-words: Estuaries, macrofauna, dredging, river discharge.
1
INTRODUÇÃO
Estuários podem ser classificados como ecótones, ou zonas de transição entre o
ambiente marinho e fluvial. Estuários podem ser descritos como áreas costeiras
semifechadas onde há a mistura de água do mar com a água doce proveniente da
drenagem do ambiente terrestre, constituindo um ambiente cujas características físico-
químicas estão em constante variação (Pritchard, 1967). Isso reflete na especificidade e
adaptação necessárias para a sobrevivência nesses locais, onde as variações ambientais
(e.g. parâmetros físico-químicos da coluna d´água) não são suportadas por diversas
espécies.
A despeito das condições adversas encontradas nos estuários, são altamente
produtivos devido ao aporte de nutrientes oriundo do ambiente terrestre, configurando-os
como importante fonte de nutrientes para as regiões costeiras (Pereira-Filho et al., 2006).
São responsáveis por uma gama de serviços ecológicos (Whitfield, 1999; Kennish, 2002),
tais como elevada produção primária e secundária, que sustentam densa abundância e
biomassa de peixes e invertebrados (Beck et al., 2001). Essas características fazem com
que os estuários sejam conhecidos na literatura como berçários de vida marinha, onde
diversas espécies vivem durante seu estágio inicial de desenvolvimento, ou até mesmo
por toda sua existência.
As características geográficas dos estuários têm se mostrado historicamente
favoráveis a ocupação humana ao redor do mundo, sendo que grandes centros urbanos
tendem a se desenvolver nessas áreas, como é o caso da região da foz do rio Itajaí-Açu,
em Santa Catarina (Pereira, 2003).
O crescimento populacional e o desenvolvimento econômico das regiões
costeiras, aliados a sua crescente urbanização e industrialização, vêm repercutindo de
maneira negativa sobre a integridade ecológica de diversos estuários ao redor do mundo.
Cabe destacar o crescimento urbano, turismo, lançamento de efluentes, agricultura,
aquicultura, pesca recreativa e industrial, produção de energia, transações portuárias e
atividades de dragagem como as principais atividades antrópicas que podem desencadear
impactos sobre regiões estuarinas (Kennish, 2002).
Podemos classificar dragagens portuárias em dois tipos principais:
aprofundamento e manutenção. As dragagens de aprofundamento consistem na
ampliação ou estabelecimento de bacias portuárias, removendo grandes volumes de
sedimento. A dragagem de manutenção, por sua vez, é um processo contínuo que visa
manter a profundidade da lâmina de água, que é reduzida constantemente devido ao
2
assoreamento natural do leito provocado pelo depósito de sedimento continental e
marítimo, garantindo a navegação segura em regiões portuárias (Filho, 2004).
O desenvolvimento de diversas regiões costeiras ao redor do mundo depende da
qualidade e capacidade de suas áreas portuárias. A maioria dos portos ao redor do globo
se encontra em regiões estuarinas de baixas profundidades, constantemente assoreadas
em virtude do aporte de sedimentos. Isso justifica, portanto, a necessidade de constantes
dragagens em regiões portuárias, visando passagem de navios que demandam
profundidades específicas ao longo do canal de navegação.
Por outro lado, sabe-se que a atividade de dragagem não apenas remove o
sedimento, mas altera consideravelmente a macrofauna presentes tanto nas áreas dragadas
(e.g. Strickney & Perlmutter, 1975; Newell et al., 2004, Cooper et al., 2011) como nas
regiões onde o sedimento é disposto, conhecidas como bota-fora (e.g. Bolan & Rees,
2003; Vivan et al, 2009). Impactos decorrentes de dragagens incluem alterações na
estrutura e composição da macrofauna, além de favorecerem a dominância por
organismos oportunistas. Dragagens podem modificar ambientes de sedimento não
consolidado, reduzindo áreas de habitats específicos e comprometendo a biodiversidade
e funcionalidade do ecossistema em estuários subtropicais (Skilleter et al., 2006).
Distúrbios decorrentes de dragagens de aprofundamento podem ser notados mesmo após
uma década do término das operações, como em New South Wales- Australia (Fraser et
al., 2006).
Pesquisas avaliando os impactos decorrentes de atividades de dragagem do baixo
estuário do rio Itajaí-Açu sobre a macrofauna foram conduzidos por Vivan et al. (2009),
estudando a repercussão do despejo de material dragado na região portuária em áreas
licenciadas na plataforma adjacente. Foi evidenciado que a abundância, riqueza e
diversidade da macrofauna foram reduzidas logo após os despejos, recuperando-se de 8
a 16 meses após as operações. Dados referentes a área dragada não foram analisados.
A macrofauna associada a sedimentos não consolidados é fundamental para a
manutenção de ecossistemas aquáticos, visto que atua na estabilidade do sedimento, na
reciclagem da matéria orgânica e no controle da turbidez da coluna d´agua, além de ser
fonte de alimento para uma gama de organismos, destacando diversos peixes de interesse
econômico (Thrush & Dayton 2002). O gastrópode Heleobia australis (D’ÓRBIGNY,
1835), por exemplo, é uma das principais fontes de alimento de peixes estuarinos
explorados comercialmente no sul do Brasil (Bemvenuti, 1997a). O tanaidáceo
Kalliapseudes shubartii (MAÑÉ-GARZON, 1949) é abundante em regiões estuarinas
3
subtropicais, servindo de alimento para aves e peixes (Freitas-Júnior et al., 2013).
Poliquetas também são abundantes em ambientes estuarinos subtropicais, onde atuam
como um elo fundamental da cadeia trófica (Fauchauld & Jumars, 1979; Muniz & Pires,
2000; Pagliosa & Barbosa, 2006).
Conforme o artigo 1º da resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) 237/97 (BRASIL, 1997), as atividades de dragagem estão sujeitas ao
licenciamento ambiental. Uma vez que esta é uma atividade considerada poluidora e com
potencial de degradação ambiental, faz-se necessário o monitoramento antes, durante e
após as operações.
O primeiro dispositivo legal a nortear o licenciamento de dragagens em águas
jurisdicionais brasileiras foi a Resolução CONAMA 344/2004 (BRASIL, 2004),
estabelecendo diretrizes gerais e procedimentos mínimos para a avaliação do material a
ser dragado. A resolução CONAMA 344 foi baseada em critérios estrangeiros de
classificação do sedimento a ser dragado, mostrando-se inapropriada para o
licenciamento em águas brasileiras e culminando com sua revisão em 2010 pela
Resolução CONAMA 421/2010 (BRASIL, 2010). A Resolução CONAMA 454/2012
(BRASIL, 2012) entrou então em vigor alterando consideravelmente sua precedente,
apresentando maior profundidade técnica acerca do procedimento de dragagem. Isso
reflete o quão recente e incipiente é o conhecimento acerca dos distúrbios causados por
atividades de dragagem no Brasil.
A resolução supracitada prioriza análises químicas e sedimentológicas, porém,
não contempla em seu escopo, o estudo da macrofauna presente nas áreas afetadas,
deixando de lado uma importante variável a ser analisada.
Em escala global, grande parte da literatura relacionada aos impactos decorrentes
de dragagens portuárias é focada em operações de manutenção e áreas de despejo, sendo
que menor atenção tem sido dada aos impactos causados por dragagens de
aprofundamento (Ware et al., 2010).
A detecção das alterações ambientais de origem antrópica deve ser prioridade na
governança costeira, visto que estratégias de conservação devem ser tomadas antes que a
situação se torne irreversível (Kennish, 2002; Lotze et al., 2006). Apesar da importância
ecológica e econômica inerente aos ecossistemas estuarinos, o conhecimento acerca
dessas áreas ainda não se mostra satisfatório no que diz respeito ao fornecimento de um
arcabouço teórico, necessário para o desenvolvimento de políticas de gestão apropriadas
(Signorin et al., 2010).
4
Esse déficit de conhecimento dificulta o prognóstico de impactos decorrentes de
dragagens de aprofundamento, visto que se torna difícil a distinção entre alterações
sazonais decorrentes de variações ambientais e distúrbios causados pelas operações
(Desroy et al. 2007). As repercussões ambientais decorrentes das dragagens são variadas
e devem ser analisadas caso a caso (Cruz-Motta & Collins, 2004; Newell et al., 2004)
Face o exposto, o presente trabalho tem como objetivos: (1) determinar a
distribuição espaço-temporal da macrofauna no baixo estuário do rio Itajaí-Açu, (2)
relacionar o padrão de distribuição da macrofauna com as variáveis ambientais e (3)
avaliar a influência das dragagens de aprofundamento sobre a estrutura e composição da
macrofauna.
MATERIAIS E MÉTODOS
Área de estudo
O estuário do rio Itajaí-açu localiza-se na região Sul do Brasil, na porção Centro-
Norte do litoral de Santa Catarina. Essa região estuarina possui uma localização
estratégica no que diz respeito a economia estadual e nacional. É as margens desse
estuário que se situa um dos maiores complexos portuários do país, além de diversas
indústrias de processamento de pescado, caracterizando a região como a principal rota de
comércio marítimo do estado (Schettini, 2002), onde o fluxo de embarcações aliado a
urbanização do local estão constantemente alterando a região estuarina.
O clima local pode ser classificado como subtropical úmido, com chuvas
distribuídas ao longo do ano e temperatura do ar média acima de 18°C (Gaplan, 1986).
Dados analisados de 1934 a 1998 pela estação fluviométrica de Indaial indicam que a
vazão média diária do rio Itajaí-Açu é de cerca de 230 m3/s, variando de 17 m3/s a 5.390
m3/s. O estuário se localiza em uma planície costeira, sendo classificado como de cunha
salina e altamente estratificado. A declividade do baixo estuário é de 0,03%, com seis
meandros bem definidos nos vinte quilômetros iniciais a partir da foz (Schettini, 2002).
O rio Itajaí-Açu é responsável por 90% do aporte de água continental ao estuário, sendo
que a bacia hidrográfica correspondente abrange 15.500 km², ocupando cerca de 16% do
território do estado (Pereira-Filho et al., 2010).
Trabalhos contemplando a dinâmica de nutrientes e qualidade da água no baixo
estuário indicaram que a área de estudo é consideravelmente alterada pela ação humana
(Pereira-Filho et al., 2003, 2010). Os trabalhos supracitados evidenciaram os efeitos da
descarga de matéria orgânica e efluentes contaminados de origem antrópica como um
5
deteriorador da qualidade da água no estuário, sendo que as áreas amostradas mais
próximas a foz apresentaram diluição dos poluentes, vinculada ao aporte de água marinha.
Não obstante, a atividade de processamento do pescado no baixo estuário, culmina com
altas concentrações de amônio na região próxima a foz.
As atividades de dragagem no rio Itajaí –Açu ocorrem desde 1835, mas com a
intensificação do comércio marítimo, a partir de meados de 1960, as operações de
dragagem para manutenção e aprofundamento do canal de acesso aos portos de Itajaí e
Navegantes se tornaram mais incisivas (Carvalho, 1996).
Desde 1999, houveram três dragagens de aprofundamento. Em 2006 houve um
aprofundamento removendo por volta de 3.000.000m³ de material, mantendo a cota em -
12m. No ano de 2009 ocorreu uma dragagem de 2.500.000m³ de sedimento para
reestabelecer a profundidade do canal de navegação após o assoreamento causado por um
evento de pluviosidade extrema (enchente). A dragagem de aprofundamento abordada no
presente estudo ocorreu em 2011, a qual alterou a cota para -14m, com remoção de cerca
de 8.000.000m³ de sedimento. As operações de manutenção que vem ocorrendo a partir
do ano 2000 têm removido por volta de 2.000.000m³ de material por ano (INPH, 2012)
(Figura 1).
Figura 1: Volumes de sedimento dragado ao longo dos anos no canal interno, externo
e bacia de evolução. Adaptado de INPH (2012).
6
Amostragem e desenho amostral
Foram estabelecidas quatro estações amostrais a jusante da desembocadura do rio
Itajaí-Mirim, o principal tributário do baixo estuário e consideravelmente alterado pela
descarga de efluentes contaminados. Todas as estações estão localizadas em meio a áreas
urbanizadas, praticamente desprovidas de mata ciliar, havendo espaçamento de 1.500
metros entre elas (Tabela 1, Figura 2).
Tabela 1: Estações amostrais, respectivas coordenadas geográficas e
localização no baixo estuário do rio Itajaí-Açu.
Estação Coordenadas Localização
1 26º 53’ 11,40” S
48º 41’ 02,62” W
A montante dos terminais
portuários.
2 26° 53’ 25,51” S
48° 40’ 04,62 ”W
A montante dos terminais
portuários.
3 26º 53’ 58,6” S
48º 39’ 41,26” W
Em frente aos terminais
portuários.
4 26º 54’ 31,07” S
48º 39’ 4,68” W
A jusante dos terminais
portuários
Figura 2: Localização geográfica da área de estudo, com destaque para as estações
amostrais (1-4). (© 2013 Google).
7
A frequência amostral compreendeu coletas mensais de dezembro de 2010 a
outubro de 2012, ressaltando que não houve coletas entre janeiro de 2011 e abril de 2011.
De maio a dezembro de 2011 ocorreu o aprofundamento do canal de navegação,
ressaltando que em setembro de 2011 houve um evento de enchente, paralisando
temporariamente as operações. Utilizou-se para a coleta de sedimento um busca fundo
Van-Veen com área amostrada de 0,042m2, sendo cada ponto amostrado em triplicata,
totalizando 228 amostras da macrofauna.
Para os testes de hipótese foram considerados dois fatores fixos e ortogonais:
estação (com 4 níveis) e tempo (com 19 níveis) (Figura 3). Os fatores foram considerados
fixos, pois buscamos avaliar variações entre as estações amostrais estabelecidas, bem
como elucidar a influência da dragagem de aprofundamento de 2011. Os fatores foram
considerados ortogonais pois todas as estações foram amostradas em todos os tempos de
coleta.
Figura 3: Desenho esquemático da amostragem (total de 228 amostras).
Em campo as amostras foram colocadas em sacolas plásticas etiquetadas e pré-
condicionadas em isopor com gelo. No laboratório de ecologia de comunidades aquáticas
da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), o material biológico foi lavado em
peneiras com 0,5mm de abertura de malha. Organismos retidos na peneira foram triados
e fixados em formol 4%, sendo posteriormente acondicionados em frascos etiquetados
contendo solução de álcool 70%. A identificação e triagem dos organismos foi feita com
uso de microscópio estereoscópico.
Os poliquetas foram identificados de acordo com Amaral et al. (2005), Bolívar
(1986), Bolívar (1990), Day (1967), Lana (1984) e Rouse & Pleijel (2001).
Uma quarta amostra foi coletada em cada estação para análises granulométricas,
realizadas junto ao Laboratório de Geologia da UNIVALI. As referidas análises
procederam de acordo com o método descrito por Suguio (1979), sendo que a composição
8
do sedimento foi representada pelos percentuais de areia, finos (silte e argila), matéria
orgânica e carbonato.
Com o uso de uma sonda multiparamétrica (Mulatiparameter Water Quality Sonde
YSI 6600 V2 ™) foram coletados dados referentes a temperatura (ºC), salinidade, pH, O2
dissolvido (mg/L) e turbidez (NTU) no fundo do leito do canal de navegação. Esses dados
foram fornecidos pelo Laboratório de Oceanografia Química da UNIVALI.
Dados referentes a vazão do rio Itajaí-Açu ao longo do estudo foram obtidos
mediante consulta a estação fluviométrica de Indaial da agência nacional de energia
elétrica (ANEEL) e representados pelas médias mensais. A estação está localizada a cerca
de 90 km a montante da área de estudo, sendo o local mais a jusante onde não há
interferência das marés nas leituras.
Análise de dados
Os resultados referentes a variáveis abióticas (temperatura, salinidade, pH, O2
dissolvido, turbidez, areia, finos, matéria orgânica e carbonato) foram expressos como os
valores absolutos registrados para cada estação longo do tempo. Sobre esses valores foi
aplicada uma análise de componentes principais (ACP) para analisar a variação espaço-
temporal. Foram eliminadas da análise a matéria orgânica e carbonato, que apresentaram
alta colinearidade positiva com o teor de finos. A areia apresentou alta colinearidade
negativa com as demais variáveis do sedimento, e também foi eliminada das análises. Em
virtude da elevada assimetria, os dados de turbidez foram transformados pelo log10(x+1),
e toda a matriz de variáveis abióticas foi normalizada pelo desvio padrão (Clarke &
Warwick, 1994; Clarke & Gorley, 2006). A ACP foi conduzida separadamente para as
estações não dragadas (1 e 2) e dragadas (3 e 4), buscando visualizar o efeito da dragagem
de aprofundamento.
A estrutura da macrofauna foi representada pelos indicadores numéricos de
abundância (N) e riqueza de espécies (S) representados por suas respectivas médias e
erros-padrão.
Para as análises de similaridade foram eliminados os taxa com abundância relativa
inferior a 0,01%. O coeficiente de Bray-curtis ajustado (Clarke et al., 2006) foi utilizado
no cálculo das similaridades para as abundâncias transformadas pelo Log10 (x+1), e sobre
a matriz foi aplicada a análise de variância permutacional multivariada (PERMANOVA)
considerando os fatores anteriormente descritos. Para interpretação das significâncias
9
consideramos os valores de p permutacional, dado o elevado número de permutações
possíveis (9999) (Anderson, 2005).
Buscando visualizar o padrão de variação espaço-temporal nas similaridades
amostrais segundo a composição da macrofauna, utilizamos uma combinação de
escalonamento multidimensional (MDS) e agrupamento hierárquico (CLUSTER),
aplicados sobre a matriz de similaridade. Grupos evidenciados no CLUSTER foram
sobrepostos ao MDS. Da mesma maneira que na ACP, as análises foram conduzidas
separadamente para as estações dragadas e não dragadas.
Visando identificar as principais espécies responsáveis pela formação dos grupos
apontados na PERMANOVA e evidenciados nas representações gráficas, foram
realizadas análises de contribuição para a similaridade média (SIMPER), baseadas nas
abundâncias logaritmizadas dos grupos taxonômicos selecionados. Consideramos apenas
os taxa responsáveis pela contribuição acumulada de 90% para as similaridades médias.
Com intuito de avaliar a correlação entre a estrutura multivariada da macrofauna
e a matriz de variáveis abióticas, foi realizada uma análise canônica de coordenadas
principais (CAP). A significância das possíveis correlações foi testada por meio de 9999
permutações (Anderson, 2005). As análises também foram conduzidas separadamente
para as estações dragadas e não dragadas.
Todas as análises foram realizadas por meio dos softwares PRIMER 6© versão
6.1.11 e PERMANOVA +© versão 1.0.1.
RESULTADOS
Variáveis ambientais
As variáveis da coluna d´água (salinidade, turbidez, oxigênio dissolvido, turbidez
e pH), de maneira geral, apesentaram baixa variação entre as estações amostradas, sendo
mais evidente sua variação temporal na região do baixo estuário.
A temperatura apresentou um perfil sazonal, com quedas associadas aos meses de
inverno em todas as estações, variando de 17°C em agosto de 2011 a 24°C em janeiro de
2012 (Figura 4a).
A salinidade, apresentando uma média de 27,4 ao longo do estudo, foi
consideravelmente reduzida em todas as estações amostrais durante o pico de vazão
(enchente) em setembro/2011. Com a posterior redução na vazão do rio, os valores de
salinidade voltaram a subir nas quatro estações. Evidenciou-se menor influência marítima
nas estações 1 e 2, sobretudo em condições de descarga acima de 400m³/s. Em janeiro de
10
2012 houve uma queda brusca na salinidade registrada apenas na estação 1, mais a
montante (Figura 4b).
O O2 dissolvido e a turbidez demonstraram uma relação positiva e linear com
descarga fluvial. A estação 4 apresentou aumento na turbidez durante as dragagens em
outubro de 2011 (T8) (Figura 4c e Figura 4d).
O pH apresentou um gradiente de variação similar ao da salinidade, porém menos
pronunciado, com valores elevados em direção a foz, variando de 5 a 8 ao longo do estudo
(Figura 4e).
A vazão do rio Itajaí-Açu ao longo do estudo apresentou oscilações de grande
magnitude em intervalos relativamente curtos, variando de 68,5m³/s em março de 2012
(T12) a 1348m³/s em setembro de 2011 (T6) com descarga média de 325,7 m³/s. Foi
observada vazão acima de 400m³/s em dezembro de 2010, julho, agosto e setembro de
2011 (Figura 4f). Pôde-se notar que alterações na vazão, como as observadas ao longo do
estudo, tendem a incitar variações nos parâmetros físico-químicos da coluna d´água.
11
Figura 4: Variáveis ambientais e vazão do rio Itajaí-Açu ao longo do estudo, nas quatro estações
amostrais, onde a=temperatura (ºC), b=salinidade, c=O2 dissolvido (mg/l), d=turbidez (NTU), e=pH
e f=vazão (m3/s). As medidas foram tomadas junto ao leito, sendo que a vazão foi medida junto a
estação da ANEEL, em Indaial. * indica dragagem de aprofundamento, # indica vazão acima de
400m3/s.
Quanto as variáveis do sedimento (areia, finos, matéria orgânica e carbonato),
houve considerável variação ao longo do tempo e entre as estações amostrais.
O teor de areia esteve acima de 50% durante as dragagens de aprofundamento ao
longo das estações 3 e 4, bem como em maio de 2012. As estações 1 e 2, por sua vez,
apresentaram maior percentual de areia (quase 100%) durante o pico na vazão em
setembro de 2011 (Figura 5a).
O teor de sedimentos finos (silte e argila) comportou-se de maneira inversamente
proporcional ao teor de areia ao longo das quatro estações, atingindo valores próximos a
100% nas estações 3 e 4 durante a enchente em setembro de 2011. (Figura 5b).
12
O carbonato e a matéria orgânica se comportaram de maneira diretamente
proporcional ao teor de finos, porém nunca representaram mais de 20% na composição
do sedimento (Figura 5c, d).
Figura 5: Composição do sedimento ao longo do estudo, nas quatro estações amostrais, onde a=areia,
b=finos (silte+argila), c=carbonato, d=matéria orgânica. * indica dragagem, # indica vazão acima de
400m3/s.
Com relação as estações 1 e 2, os dois eixos principais da ACP explicaram 79,3%
da variação entre as amostras. O eixo 1, que explicou 60,8% da variação total, foi
formado pelas variáveis salinidade e pH. O eixo 2, explicando 18,5% da variação, foi
formado pela temperatura (Tabela 2a). A ordenação das amostras, de maneira geral,
evidenciou o efeito da descarga fluvial ao longo do eixo 1, com amostras de dezembro de
2010, agosto e setembro de 2011 (associadas a vazão acima de 400m³/s) apresentando
menor salinidade e pH. O aumento na turbidez durante esses períodos corrobora com essa
sugestão. Ao longo do eixo 2 foi possível notar o efeito da sazonalidade sobre a área de
estudo, com temperaturas reduzidas de julho a setembro de 2011 e de junho a outubro de
2012 (Figura 6a).
Quanto as estações 3 e 4, os dois eixos principais da ACP explicaram 70,8% da
variação entre as amostras. O eixo 1 explicou 43,6% da variação, sendo formado pela
salinidade. O eixo 2, que explicou 27,2% da variação, foi formado pela turbidez (Tabela
13
2b). O eixo 1 demonstrou a influência da descarga fluvial, como observado nas estações
a montante. Ao longo do eixo 2, foi possível notar o efeito das dragagens associado ao
aumento da turbidez, com tendência de sedimento mais grosseiro durante as operações
Figura 6b).
Tabela 2: Variáveis ambientais e suas correlações com os
dois componentes principais da ACP, que explicaram
79,3% da variação para as estações 1 e 2 (a) e 70,8% da
variação para as estações 3 e 4 (b). Variáveis destacadas
formaram maior associação com os eixos.
a b
Variável PC1 PC2 PC1 PC2
Temp 0.258 -0.778 -0.42 -0.418
Sal 0.481 0.267 -0.552 0.129
OD -0.464 0.317 0.436 0.369
pH 0.486 0.151 -0.432 0.368
Turb -0.378 -0.442 0.335 -0.558
Finos 0.327 -0.064 0.171 0.474
14
Figura 6: Análise de componentes principais (ACP). a) O eixo 1 explicou 60.8% da variação, sendo formado por salinidade e pH. O eixo 2, associado a temperatura,
explicou 18,5% da variação. b) O eixo 1 explicou 43,6% da variação, formado pela salinidade. O eixo 2, que explicou 27,2% da variação, foi formado pela turbidez.
Símbolos preenchidos representam dragagem de aprofundamento, # representa vazão acima de 400m³/s.
15
Macrofauna
Foram coletados e analisados ao todo 21.839 indivíduos, distribuídos em 5 filos e
6 classes, sendo Molusca a ordem de maior abundância ao longo do estudo, ao passo que
Annelida foi a que apresentou a maior variedade de espécies (Tabela 3).
Tabela 3: Abundância relativa (%) ao longo das estações amostrais (1-4). Grupos destacados foram
selecionados para as análises estatísticas.
Grupo taxonômico 1 2 3 4 TOTAL
Filo Arthropoda
Classe Insecta
Ordem Diptera 0.005 0.000 0.005 0.000 0.009
Classe Crustacea
Ordem Amphipoda
Família Gammaridae* 0.078 0.032 0.000 0.041 0.151
Ordem Decapoda
Infra ordem Brachyura 0.000 0.000 0.005 0.005 0.009
Ordem Cumacea* 0.009 0.005 0.000 0.009 0.023
Ordem Tanaidacea
Família Kalliapseudidae
Kalliapseudes shubartii (Mañé-garzon, 1949)* 0.700 0.916 0.014 0.064 1.694
Filo Mollusca
Classe Bivalvia
Ordem veneroida
Família Veneridae
Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791)* 0.307 0.092 0.014 0.037 0.449
Classe Gastropoda
Ordem Littorinimorpha
Família Littorinidae 0.000 0.005 0.000 0.000 0.005
Família Naticidae
Natica sp. * 0.266 0.298 0.005 0.133 0.700
Ordem Rissooidea
Família Hydrobiidae
Heleobia australis (D’Órbigny, 1835)* 24.090 21.622 16.902 26.700 89.315
Filo Nemertea * 0.005 0.005 0.000 0.005 0.014
Filo Annelida
Ordem Capitellida
Família Capitellidae
Capitella cf. capitata (Fabricius, 1780)* 0.078 0.119 0.046 0.060 0.302
Heteromastus similis (Southern, 1921)* 0.339 0.302 0.060 0.270 0.971
Ordem Phyllodociida
Família Nephtyidae
Nephtys fluviatilis (Monro, 1937)* 0.375 0.426 0.183 0.060 1.044
Família Sigalionidae 0.000 0.000 0.005 0.000 0.005
Ordem Aciculata
16
Família Syllidae 0.000 0.000 0.000 0.005 0.005
Família Lumbrineridae 0.009 0.000 0.000 0.000 0.009
Família Nereididae
Laeonereis acuta (Treadwell, 1923)* 0.000 0.023 0.000 0.009 0.032
Alitta succinea (Leuckart, 1947)* 0.018 0.037 0.000 0.041 0.096
Ordem Canalipalpata
Família Spionidae
Boccardiella ligerica (Ferronière, 1898)* 0.119 1.167 0.005 2.591 3.882
Boccardia sp. * 0.023 0.032 0.005 0.133 0.192
Paraprionospio pinnata (Ehlers, 1901)* 0.009 0.092 0.000 0.137 0.238
Família Magelonidae
Magelona sp. 0.000 0.000 0.000 0.009 0.009
Família Oweniidae
Owenia sp. * 0.000 0.000 0.000 0.018 0.018
Família Sabellidae 0.009 0.000 0.000 0.000 0.009
Família Ampharetidae 0.000 0.000 0.000 0.005 0.005
Família Flabelligeridae 0.000 0.000 0.005 0.000 0.005
Ordem Phylodocida
Família Pilargidae
Sigambra sp. * 0.005 0.014 0.009 0.037 0.064
Ordem Eunicida
Família Onuphidae
Kinbergonuphis difficilis (Fauchald, 1982)* 0.009 0.041 0.000 0.124 0.174
Ordem Opheliida
Família Opheliidae
Armandia hossfeldi (Hartman-Schroeder, 1956)* 0.005 0.005 0.005 0.014 0.027
Ordem Orbiniida
Família Paraonidae
Aricidea sp. * 0.041 0.005 0.018 0.165 0.229
Ordem Terebellida
Família Cirratulidae 0.000 0.000 0.000 0.005 0.005
Filo Hemichordata
Classe Enteropneusta* 0.307 0.000 0.000 0.000 0.307
TOTAL 26.805 25.235 17.282 30.678 100.000
O gastrópode H. australis foi responsável por quase 90% do total de organismos
coletados. Outros organismos mais representativos foram os anelídeos H.similis (1%), N.
fluviatilis (1%), B. ligerica (3,9%) e o tanaidáceo K. Shcubartii (1,7%).
A maior abundância relativa (30,7%) foi verificada na estação 4, próxima a foz,
ao passo que a mais reduzida foi observada na estação 3 (17%). As estações 1 e 2 (a
montante dos terminais portuários) apresentaram abundâncias relativas similares (26,8%
e 25,2%, respectivamente).
17
De maneira geral, a riqueza de espécies (S) apresentou os valores médios mais
elevados em abril, maio, junho e julho de 2012, ao longo dos quatro pontos de
amostragem. A riqueza média máxima foi observada na estação 1, com cerca de 10
espécies em abril de 2012. Nas estações 1 e 2, a riqueza foi reduzida em condições de
vazão acima de 400m³/s e durante as dragagens de aprofundamento, contudo nas estações
3 e 4 esse declínio na riqueza foi mais pronunciado. A estação 3 apresentou a menor
riqueza de espécies após as operações de dragagem, com médias inferiores a 4 (Figura 7).
Quanto a densidade média (N), notou-se variações de alta magnitude em escala
mensal, seguidas por declínios de proporções semelhantes na mesma escala de tempo. A
densidade média máxima foi observada na estação 4 em outubro de 2012 (cerca de
1.400/0,042m²). Excetuando-se esse evento, as densidades foram mais elevadas ao longo
das estações 1 e 2. Todas as quatro estações amostrais tiveram densidades reduzidas em
condições de vazão acima de 400m³/s e durante as dragagens de aprofundamento, contudo
as associações presentes nas estações 1 e 2 apresentaram maior resiliência (Figura 7).
18
Figura 7: Descritores da estrutura da macrofauna, S (riqueza) e N (abundância), representados pelas médias por amostra (0,042m²) e respectivos erros-padrão, ao
longo das estações amostrais (1-4). * indica tempos onde houve dragagem de aprofundamento, # indica vazão acima de 400m3/s.
.
19
A PERMANOVA indicou significância para ambos os fatores (estação e tempo)
bem como na sua interação, indicando variações temporais diferenciadas nos pontos
amostrados (Tabela 4).
Tabela 4: Resultados da PERMANOVA com base na
matriz de similaridade de Bray-curtis para a macrofauna
representada pelos táxons com mais de 0,1% de
abundância relativa. Valores de p destacados (*) indicam
variação significativa para p<0,05.
Fonte de variação gl F p
Tempo 18 17.977 0.0001*
Estação 3 9.78 0.0001*
Tempo x Estação 54 3.5737 0.0001*
Resíduo 152
Total 227
gl=graus de liberdade.
Os resultados do CLUSTER e do MDS, evidenciaram uma distinção na
similaridade entre as estações amostrais e ao longo do tempo.
Para as estações 1 e 2, as análises destacaram a formação de basicamente quatro
grupos (Figura 8). O grupo I, que apresentou menor similaridade para com os demais, foi
formado basicamente por amostras referentes a períodos onde ocorreu dragagem de
aprofundamento em ambas as estações, após descargas fluviais elevadas. Esse grupo foi
composto principalmente por N. fluviatilis, que contribuiu com 80% da macrofauna, e
A.brasiliana (13,1%) (Tabela 5I). O grupo II foi formado por amostras onde ocorreram
dragagens e descarga fluvial acima de 400m3/s. Esse grupo foi formado por H. australis,
N. fluviatilis e Boccardia sp., responsáveis por 70,5%, 15,5% e 14,3% da composição da
macrofauna respectivamente (Tabela 5II). O grupo III foi formado basicamente por
amostras onde não ocorreram dragagens, logo após as operações. A composição da
macrofauna foi semelhante a do grupo II, com H. australis, N. fluviatilis e Boccardia sp.
responsáveis por 79,2%, 7,1% e 7% do total (Tabela 5III). O grupo IV foi formado apenas
por amostras após quatro meses do término das operações e com descarga fluvial
reduzida. Nesse grupo, H. australis, N. fluviatilis, K. schubarti, B. ligerica, P. pinnata e
H. similis compuseram respectivamente 43,2%, 10,4%, 11,6%, 19,1%, 3,6% e 3,1% da
macrofauna (Tabela 5IV).
20
Quanto as estações 3 e 4, também se observou a formação de quatro grupos
(Figura 9). O grupo I foi formado por amostras referentes as dragagens de
aprofundamento, com exceção de T9, e por períodos de vazão acima de 400m3/s. H.
australis, N. fluviatilis e K. Schunartii compuseram respectivamente 43,23%, 39,32% e
17,45% da macrofauna (Tabela 6I), sendo que durante as dragagens ocorreu a depleção
quase absoluta da associação faunística. O grupo II foi formado em maior parte por
amostras referentes a estação 4, passados cerca de quatro meses das operações. Nesse
grupo a macrofauna foi composta principalmente por H. australis (45,1%), K. Schubarti
(8,14%), H. similis (22,39%), C. capitata (4,24%), A. brasiliana (6,31%) e Aricidae sp.
(4,37%) (Tabela 6II). O grupo III foi formado principalmente por amostras da estação 3,
após o término das operações. H. australis foi a espécie dominante nesse grupo,
responsável por 96% da macrofauna (Tabela 6III). O grupo IV foi formado por amostras
da estação 4, com o final das operações, onde a assembleia de organismos bentônicos foi
formada por H. australis (8,4%), B. ligerica (50,1%), P. pinnata (18,8%) e Boccardia sp.
(13,34%) (Tabela 6IV).
21
Figura 8: a) Análise de agrupamento (CLUSTER) e b) escalonamento multidimensional (MDS) para
as estações 1 e 2, aplicados sobre a matriz de similaridade de Bray-Curtis elaborada a partir dos
grupos taxonômicos selecionados. Símbolos preenchidos representam dragagens de aprofundamento,
# representa vazão acima de 400m³/s.
22
Figura 9: a) Análise de agrupamento (CLUSTER) e b) escalonamento multidimensional (MDS) para
as estações 3 e 4, aplicados sobre a matriz de similaridade de Bray-Curtis elaborada a partir dos
grupos taxonômicos selecionados. Símbolos preenchidos representam dragagens de aprofundamento,
# representa vazão acima de 400m³/s.
23
Tabela 5: Análise de contribuição percentual para as similaridades médias (SIMPER) referentes
as estações 1 e 2, com base nos grupos (I-IV) evidenciados nas análises CLUSTER e MDS.
N=densidade média (indivíduos/0,042m²); %=contribuição percentual.
Grupo
Similaridade média
I
8,21
II
57,73
III
63,29
IV
69,85
Taxa N % N % N % N %
H. australis - - 1.58 70.56 4.33 79.22 5.35 43.19
N. fluviatilis 0.3 80.84 0.5 15.54 0.79 7.14 1.42 10.41
K. shubartii - - - - - - 2.08 11.64
B. ligerica - - - - - - 2.48 19.14
P. pinnata - - - - - - 0.77 3.64
Boccardia sp. - - 0.59 14.39 0.71 7 - -
H. similis - - - - - - 0.86 3.16
A. brasiliana 0.07 13.16 - - - - - -
Tabela 6: Análise de contribuição percentual para as similaridades médias (SIMPER) referentes
as estações 3 e 4, com base nos grupos (I-IV) evidenciados nas análises CLUSTER e MDS.
N=densidade média (indivíduos/0,042m²); %=contribuição percentual.
Grupo
Similaridade média
I
2,42
II
38,12
III
67,20
IV
41,95
Taxa N % N % N % N %
H. australis 0.07 43.23 1.33 45.1 4.38 96.72 1.23 8.41
N. fluviatilis 0.06 39.32 - - - - - -
K. shubartii 0.09 17.45 0.41 8.14 - - - -
B. ligerica - - - - - - 4.08 50.1
P. pinnata - - - - - - 1.61 18.08
Boccardia sp. - - - - - - 1.54 13.94
H. similis - - 0.95 22.39 - - - -
C.capitata - - 0.47 4.24 - - - -
A.brasiliana - - 0.32 6.31 - - - -
Aricidae sp. - - 0.56 4.37 - - - -
Interação fauna-ambiente
Para as estações 1 e 2, A CAP evidenciou correlações significativas entre a matriz
de fauna e a matriz de variáveis abióticas (p=0,016). As duas primeiras correlações
canônicas foram de 0,68 e 0,38 e os dois eixos canônicos explicaram 72,6% da
variabilidade entre as amostras.
O eixo 1, associado a temperatura, separou os grupos III e IV, com densidade e
riqueza médias superiores, dos grupos I e II, onde a temperatura foi reduzida. A turbidez
elevada, associada ao aumento na descarga fluvial, colaborou para o empobrecimento da
macrofauna nos grupos I e II. O eixo 2, associado ao pH, separou principalmente o grupo
24
IV dos demais, evidenciando o ganho em riqueza e diversidade associado a entrada de
água marinha no estuário. A salinidade elevada no grupo IV corrobora com essa sugestão
(Tabela 7a, Figura 10a).
No que diz respeito as estações 3 e 4, a CAP mostrou correlações com alta
significância entre a matriz de fauna e a matriz de variáveis abióticas (p=0,004). A duas
primeiras correlações canônicas foram de 0,72 e 0,63 e os dois eixos canônicos
explicaram 75,5% da variabilidade entre as amostras.
O eixo 1, associado a turbidez, separou o grupo I (formado por dragagens de
aprofundamento e vazão acima de 400m2/s) dos demais. O ganho em diversidade no
grupo II (evidenciado na SIMPER), associado ao aumento na salinidade, reforça os
efeitos deletérios da descarga fluvial elevada sobre a macrofauna. O eixo 2, associado a
finos, separou o grupo III dos demais. A separação dos grupos ao longo do eixo 2, além
de mostrar o teor de areia elevado na estação 4, evidencia a rápida colonização de H.
australis após o término das dragagens, em condições de alto teor de sedimentos finos
(Tabela 7b, Figura 10b).
Tabela 7: Variáveis ambientais e respectivas correlações
com os eixos canônicos que melhor explicam a
distribuição da macrofauna ao longo das estações 1 e 2
(a) e 3 e 4 (b).
a b
Variável CAP1 CAP2 CAP1 CAP2
Temp -0.604 -0.132 -0.48 -0.279
Sal -0.394 -0.452 -0.465 -0.039
OD -0.358 0.263 -0.375 -0.573
pH -0.083 -0.711 -0.082 0.121
Turb 0.586 -0.391 0.582 -0.304
Finos -0.032 -0.226 -0.259 0.696
25
Figura 10: Análise canônica de coordenadas principais (CAP). a) Para as estações 1 e 2, os eixos canônicos explicaram 72,6% da variação entre as amostras. O eixo 1
esteve mais associado a temperatura, com correlação negativa com a turbidez. O eixo 2 foi formado pelo pH. b) Para as estações 3 e 4, os eixos canônicos explicaram
75,5% da variação entre as amostras. O eixo 1 foi formado pela turbidez e o eixo 2 foi formado por finos. Os grupos destacados (I-IV) foram evidenciados nas análises
de CLUSTER e MDS. Símbolos cheios representam dragagens de aprofundamento, # representa vazão acima de 400m3/s.
26
DISCUSSÃO
Ao longo do estudo foi possível evidenciar a variação espaço-temporal da
macrofauna presente no baixo estuário do Rio Itajaí-Açu, relacionada as características
físico-químicas da coluna d´água e a composição do sedimento. Todas as variáveis
analisadas (bióticas e abióticas) demonstraram influência das variações ambientais e ação
antrópica.
A despeito do efeito sazonal evidenciado por meio da ACP para as variáveis
abióticas, não foi explícito o efeito da sazonalidade sobre a macrofauna, típico de
ambientes subtropicais, com estações do ano bem definidas. Os trabalhos de Rosa &
Bemvenuti (2006) e Freitas-Junior et al. (2013), destacam aumento da diversidade e
abundância da macrofauna em estuários subtropicais associados ao aumento da
temperatura da água, que favorece o recrutamento. Ainda que tenhamos observado ganho
em riqueza de espécies associado ao aumento da temperatura (evidenciado na CAP), os
valores de S e N mais elevados foram registrados durante os meses de outono e inverno
(maio, junho e julho de 2012), concomitante com o declínio na temperatura da água, após
as dragagens e em períodos de baixa vazão, em todos os pontos amostrais. Esses
resultados sugerem que as dragagens e aumentos na descarga fluvial alteram o padrão
sazonal de distribuição e composição da macrofauna.
O aumento na salinidade mostrou favorecer o recrutamento, o que pode ser
visualizado nos tempos de vazão abaixo de 400m³/s, com entrada de maior quantidade de
água do mar (cunha salina) no estuário, culminando com ganho em abundância e riqueza
de espécies em todos os pontos amostrais.
Estuários são vulneráveis a distúrbios naturais, tais como variações na salinidade,
alto teor de matéria orgânica, anoxia no sedimento entre outros (Rosa & Bemvenuti
2006). As variáveis ambientais analisadas ao longo do estudo apresentaram oscilações
constantes, sendo que essa variação ocorreu de maneira distinta ao se comparar as
estações 1 e 2 com as estações 3 e 4. As estações a montante foram influenciadas mais
fortemente pela descarga fluvial, e em segundo grau pela sazonalidade. As estações a
jusante dos terminais portuários tiveram as variáveis ambientais mais fortemente afetadas
pela descarga fluvial, e em segundo grau pela atividade de dragagem. Esses resultados
evidenciaram o impacto das dragagens de aprofundamento sobre as características do
sedimento, que se mostrou mais arenoso durante as operações, além do aumento da
turbidez.
27
Organismos oportunistas são característicos em ecossistemas estuarinos, uma vez
que são capazes de colonizar rapidamente ambientes pós-distúrbio. Tais associações
tendem a apresentar reduzida riqueza e elevadas abundâncias de poucas espécies
dominantes (Pagliosa & Barbosa 2006). A macrofauna levantada ao longo do presente
estudo está em acordo com demais trabalhos conduzidos em estuários urbanizados
subtropicais do atlântico sul.
Souza et al. (2013), ao estudar a macrofauna do complexo estuarino de Paranaguá,
no sul do Brasil, encontraram uma associação onde cinco espécies (H. australis,
Heteromastus sp., Sigambra sp., Tubificinae sp. e Laeonereis culveri) compuseram mais
de 80% do total de organismos amostrados.
Na região estuarina de Arroio Pando, no Uruguai, Passadore et al. (2007)
descreveram uma associação onde 94% da abundância total foi composta pelos anelídeos
H. similis, Laeonereis culvieri, N. fluviatilis, pelo bivalve Erodona mactroides e o
gastrópode H. australis.
Ao estudar a lagoa costeira de Custódias, no Rio Grande do Sul, Ozório (1993)
encontrou N. fluviatilis, H. australis, H. similis, Panaeus paulensis e Cyprideis
riograndensis como as espécies mais abundantes.
Quanto aos poliquetas identificados no presente estudo, H. similis, N. fluviatilis e
B. ligerica, as espécies mais representativas, formam uma associação típica de ambientes
estuarinos.
H. similis pertence a família Capitellidae, caracteristicamente cosmopolita e
tolerante a variações ambientais como salinidade e temperatura (Rao, 1980). É um
poliqueta comedor de depósito não seletivo, de hábito sedentário e sub-superficial,
escavando túneis de até 15cm de profundidade no sedimento, evitando a predação e
possíveis distúrbios físicos. Essa família é comum em áreas afetadas por descarga de
matéria orgânica (Fauchald 1977, Ramskov & Forbes, 2005) .
N. fluviatilis é considerado um poliqueta essencialmente carnívoro, errante e
altamente móvel. Há inclusive, evidências de que se alimentam de outros poliquetas em
estágios juvenis, como H. similis (Bemvenuti, 2004). A distribuição da família Nephtydae
está relacionada a ambientes estuarinos, com sua predominância em sedimentos areno-
lodosos (Hutchings, 1984). Em contraste com H. similis, N. fluviatilis não é um escavador
de galerias, sendo considerado de hábito superficial. Há registros da ocorrência de N.
fluviatilis em ambientes oligohalinos, com salinidade próxima a 0‰ (Sene-Silva et al.,
2011).
28
B. ligerica, é um representante da família Spionidae, amplamente distribuída em
substratos não consolidados de baías e estuários (Blake, 1996). Pode ser considerado um
comedor de depósito sub-superficial, porém tende a apresentar selecionamento de itens
alimentares. São organismos de mobilidade discreta, sendo que passam a maior parte do
tempo alimentando-se em tubos escavados nos primeiros centímetros do sedimento
(Fauchald & Jumars, 1979). B. ligerica é um organismo indicador de estuários alterados
pelo aporte de efluentes contaminados (Ysebaert et al., 2000).
Os poliquetas supra citados são tolerantes a variações ambientais e de caráter
resiliente, sendo que podem se recuperar de substratos submetidos a defaunação após
apenas dois meses (Bemvenuti, 1997a). São considerados oportunistas quando
encontrados em altas abundâncias, como ocorreu no presente estudo (Bemvenuti et al.,
2005; Pagliosa & Barbosa, 2006), indicando uma área alterada pelo aporte de
contaminantes e matéria orgânica.
O tanaidáceo K. Schubarti pode ser classificado como suspensívoro, escavando
tubos curvos de 10cm a 15cm de profundidade, preferencialmente em sedimentos areno-
lodosos (Pennafirme & Soares-Gomes, 2009). É uma espécie oportunista, abundante em
estuários subtropicais, preferencialmente em áreas pouco hidrodinâmicas. Devido a suas
características fisiológicas, essa espécie vem sendo utilizada como bioindicadora e em
ensaios ecotoxicológicos. K. shubarti esteve mais associado ao aumento na salinidade das
estações a montante, atingindo abundâncias elevadas com a entrada da cunha salina no
estuário.
H. australis, pertencente a família Hidrobriidae, é um gastrópode epibêntico,
típico de ambiente mixohalinos, podendo suportar amplas variações na salinidade. Sua
distribuição está associada a sedimentos areno-lodosos, sendo mais comum em regiões
estuarinas de baixas profundidades (Bemvenuti et al., 1987).
A dominância de H. australis ao longo do estudo, bem como sua rápida
recolonização após as dragagens, corrobora com o trabalho de Echeverría et al. (2010),
conduzido na Baía de Guanabara no Rio de Janeiro, que evidenciou esse gastrópode
epibêntico como a espécie dominante em estuários degradados pela ação antrópica. H.
australis é altamente móvel, sendo capaz inclusive de flutuar na coluna d´água (criando
uma bolha de gás dentro de sua concha) e se deslocar por meio de correntes e marés para
ambientes menos povoados e sob menor nível de estresse. Essa estratégia aliada ao
comportamento oportunista, favorecem sua proliferação em ambientes degradados como
nossa área de estudo.
29
Esse gastrópode foi a espécie dominante no baixo estuário do rio Itajaí-Açu,
sobretudo nas estações 3 e 4, durante períodos onde não ocorreram dragagens de
aprofundamento. Isso sugere seu deslocamento frente aos impactos da dragagem, visto
que durante as operações pôde-se observar maior dominância do poliqueta N. fluviatilis.
Não obstante, o hábito epibêntico de H. australis faz esse gastrópode mais vulnerável as
descargas fluviais elevadas, que podem arrastar esses organismos em direção a foz, bem
como a própria sucção pelas dragas. A rápida recolonização do substrato após os
distúrbios esteve vinculada a explosões populacionais de H. australis.
A PERMANOVA evidenciou alterações significativas na macrofauna para a
interação dos fatores tempo e estação, indicando que a mesma é afetada tanto pela
heterogeneidade do ambiente como pelos distúrbios ocorridos ao longo do tempo.
Diferenças significativas observadas quando da interação de fatores indicam que diversas
fontes de variação afetam a macrofauna (Anderson et al., 2008; Underwood, 2000).
Intervenções antrópicas ao longo dos anos vêm alterando as teias tróficas do
estuário do rio Itajaí-Açu, seja por supressão de predadores, aporte de contaminantes, ou
alterações em padrões hidrodinâmicos, favorecendo espécies resilientes e oportunistas. A
dominância de quatro espécies, sendo que a maioria em estágio inicial de
desenvolvimento, indica uma macrofauna em constante processo de recolonização, onde
a maturação parece ocorrer precocemente em virtude dos estresses ambientais constantes.
Pesquisas contemplando a distribuição espacial da macrofauna em estuários
subtropicais apontam maior abundância e riqueza em áreas próximas a região marítima,
com empobrecimento das associações relacionado a queda na salinidade (Bemvenuti,
1997b; Bemvenuti & Netto, 1998). Baseando-se nesses autores, seria esperado a maior
abundância e riqueza nas estações 3 e 4, sendo que esse padrão não foi claramente
observado.
A estação 3, em frente aos terminais portuários e cerca de três quilômetros da foz,
apresentou os menores valores de densidade e riqueza ao longo do estudo. Essa estação
está localizada em meio a área dragada, próxima a bacia de evolução onde são feitas as
manobras dos navios de grande porte, culminando com a constante ressuspenssão de
sedimentos na coluna d´água. De acordo com nossos resultados, somente poucas espécies
caracteristicamente oportunistas compõem a associação da estação 3, caracterizando-a
como a de menor qualidade ambiental.
Não obstante, a estação 4 apresentou elevada resiliência frente aos distúrbios,
provavelmente devido a maior teor de areia no sedimento, que favorece a recuperação da
30
macrofauna (Dernie et al., 2003). A maior proximidade com o ambiente marinho também
pareceu favorecer a recuperação da estação 4.
O fato de as estações 1 e 2 apresentarem maiores indicadores de abundância e
riqueza durante as dragagens é um indicativo do impacto dessa atividade sobre as áreas
dragadas (estações 3 e 4), no qual os descritores da estrutura da macrofauna (N e S) foram
mais baixos durante as operações.
Além das atividades de dragagem, a descarga fluvial demonstrou influenciar a
estrutura e composição da macrofauna, visto que em todas as estações foram observados
valores de N e S elevados durante períodos de vazão abaixo de 400m³/s.
Estudos conduzidos por Antunes (2010) e Leite & Pezuto (2012) indicaram que a
ictiofauna e carcinofauna do rio Itajaí-açu são significativamente afetadas pela descarga
fluvial. Os autores notaram reduções na abundância e riqueza de espécies em condições
de vazão intensa (enchentes), apesar de as associações se reestabilizarem alguns meses
após os distúrbios. O mesmo padrão foi observado no presente estudo, onde a macrofauna
mostrou se recuperar cerca de dois meses após descargas elevadas, porém distante de
atingir um estado clímax.
Descargas fluviais elevadas podem baixar a salinidade, ou até mesmo causar a
exclusão total da cunha salina no estuário do rio Itajaí-açu (Leite & Pezzuto, 2012),
carreando sedimentos finos para a plataforma adjacente, resultando em sedimento mais
grosseiro na calha do rio. As abundâncias mais elevadas ao longo do estudo estiveram
associadas a sedimentos finos, onde o gastrópode H. australis prevaleceu.
As análises multivariadas evidenciaram associações pouco numerosas e diversas
durante períodos de vazão elevada, onde a turbidez aumenta consideravelmente, bem
como durante as dragagens de aprofundamento nas estações 3 e 4. A elevação na riqueza
se mostrou claramente relacionada ao aumento na salinidade e em segundo grau ao
aumento da temperatura, em todas as estações amostradas, durante períodos de baixa
vazão e ausência de dragagens de aprofundamento.
Nossos resultados apontam que apesar do tênue efeito da sazonalidade e da
intrusão da cunha salina sobre a regulação da macrofauna, os distúrbios causados por
descarga fluvial acima de 400m/s2 e pelas dragagens de aprofundamento são
consideravelmente prejudiciais a macrofauna estudada, impedindo que esta atinja um
estágio de sucessão avançado. Os impactos das dragagens se sobrepuseram aos efeitos da
elevada descarga fluvial, o que pode ser visualizado na depleção da macrofauna durante
as operações nas estações 3 e 4.
31
Os impactos decorrentes das dragagens tendem a se tornar mais expressivos a cada
aprofundamento do canal de navegação. A taxa de assoreamento para a região portuária
após a dragagem de aprofundamento de 2011, segundo estudo conduzido pelo INPH
(2012), foi estimada em 1.300.000m³/ano. Houve aumento na deposição de sedimentos
após as operações, visto que com o aprofundamento do canal de navegação, a cunha salina
permanece por mais tempo na região estuarina, aumentando a deposição de sedimentos.
A cunha salina permanecia por cerca de 60% do tempo ao longo do ano na região
portuária antes do aprofundamento (profundidade de -10m). Após a dragagem de 2011,
que aumentou a profundidade para -14m, a cunha salina passou a permanecer na região
portuária por cerca de 80% do tempo ao longo do ano (INPH 2012).
Esses resultados indicam que quanto mais profundo o canal de navegação, maior
a frequência das dragagens de manutenção necessárias para manter a profundidade, o que
tende a prejudicar a macrofauna aqui discutida. O fato de a cunha salina permanecer por
mais tempo no baixo estuário não parece favorecer a macrofauna, visto que esse fato
decorre do aumento da profundidade da calha e aumento na intensidade das dragagens,
que se mostrou deletéria para as associações.
Apesar de termos evidenciado a influência das dragagens de aprofundamento
sobre a macrofauna estudada, o desenho amostral proposto careceu de uma região
controle de referência (i.e. um baixo estuário subtropical não dragado, de características
físicas semelhantes). Dessa maneira torna-se delicada a inferência dos impactos a
macrofauna serem relativos as dragagens, visto que diversos fatores ambientais e
antrópicos atuaram na distribuição espaço-temporal da macrofauna, sobretudo a descarga
fluvial. Não obstante, esse trabalho mostrou que há uma correlação significativa entre os
eventos de dragagem e o empobrecimento da macrofauna estudada.
Em vista do aumento na deposição de sedimentos no canal de navegação e do
incremento no esforço empreendido nas dragagens de manutenção, faz-se necessária uma
abordagem mais holística dessa problemática. Pouco resta de mata ciliar ao longo do
baixo estuário do rio Itajaí-Açu (Figura 11), sendo que essa formação vegetal atua como
um filtro, diminuindo o assoreamento natural causado pelo desgaste do solo (Sheridan et
al., 1999). Esforços devem ser tomados, portanto, no sentido da restauração da mata ciliar
ao longo das margens dos cursos d´água da região, visando a estabilidade das margens do
rio e a redução do aporte de sedimentos.
32
Figura 11: Mapa de uso e ocupação do solo ao longo da bacia hidrográfica do rio Itajaí-Açu.
Adaptado de Vibrans (2006).
Ao longo da bacia hidrográfica do rio Itajaí, a legislação dos diferentes municípios
concernente a preservação das matas ciliares é difusa, sendo que até a data do trabalho
realizado por Shult e Custódio (2010), o município de Ilhota, próximo ao baixo estuário,
nem sequer dispunha de um dispositivo legal destinado a preservação dos recursos
hídricos (Figura 12, Tabela 8).
33
Figura 12: Mapa temático referente a gestão municipal das APPs na bacia hidrográfica do rio
Itajaí-Açu. Destaque para o município de Ilhota (*). As diferentes tipologias são definidas na
Tabela 8. Fonte: Comitê Itajaí.
Tabela 8: Tipologia de parâmetros para definição de espaços territoriais protegidos em margens de
cursos de água e nascentes na BHRI. Fonte: Schult & Custódio, 2010
Lei municipal sobre espaços territoriais protegidos de margens de cursos de água e
nascentes
1 Segue os parâmetros definidos no Código Florestal na área urbana e rural.
2 2.1 Define faixas de 5 a 20 metros por bacias hidrográficas e 33 a 45 metros para o rio
Itajaí-Açu. Em cotas inundáveis proíbe a ocupação e a alteração de terreno (cota 10), e
restrições à ocupação (cota 12). Segue os parâmetros definidos no Código Florestal na
área rural.
2.2 Define faixas de 5, 7, 10 e 15 metros por bacias hidrográficas. Proíbe a ocupação e a
alteração de terreno na cota emergencial de 334,08 metros.
3 Define faixas de 30 a 45 metros - para o Rio Itajaí - e faixas variáveis nos afluentes.
4 Define na área urbana faixas de: 5 metros para rios de até 10 metros; 15 metros para rios
de até 50 metros; e 30 a 50 metros para rios acima de 200 metros. Define ao redor de
nascentes 50 metros. Segue os parâmetros definidos no Código Florestal na área rural.
5 5.1 Define faixas de 15 metros ao longo do Rio Itajaí e seus afluentes.
5.2 Define faixas de 15 metros ao longo do Rio Itajaí e faixas de 5 metros para afluentes.
6 6.1 Não define espaços territoriais protegidos de margens de cursos de água.
6.2 Não possui Plano Diretor.
34
Esforços no sentido da gestão integrada das bacias hidrográficas para o
aprimoramento das dragagens portuárias vem sendo tomados para reduzir o assoreamento
da baia de Antonina no Paraná, cuja área de drenagem totaliza 1.621,5 km2. As estratégias
descritas por Paula et al., (2006) para otimizar as operações, envolvem a definição de
áreas prioritárias para a recuperação de mata ciliar, fundamentadas por conceitos
pedológicos e geológicos. Com o controle do assoreamento da baía de Antonina, é
esperado inclusive, que haja uma redução dos custos atrelados a dragagens de
manutenção.
O presente trabalho ilustrou a necessidade de um estudo contínuo da macrofauna
presente no baixo estuário do rio Itajaí-Açu, como forma de se monitorar os impactos
decorrentes de dragagens portuárias. A legislação pertinente (CONAMA 454/12) carece
de um protocolo básico de monitoramento da macrofauna, e uma rotina similar a aqui
discutida poderia ser testada em diferentes regiões portuárias brasileiras, visando sua
incorporação a resolução supracitada.
COCLUSÕES
Retomando os objetivos propostos, concluímos que:
A macrofauna estudada apresenta uma distribuição espaço–temporal
influenciada por eventos naturais e atividades antrópicas;
A descarga fluvial é a principal forçante ambiental controladora da composição
e estrutura da macrofauna;
As dragagens de aprofundamento alteraram a macrofauna presente no canal de
navegação, causando uma queda na diversidade e abundância durante as
operações, e favorecendo a colonização e dominância do ambiente por espécies
altamente oportunistas, tais como H. australis, após as operações.
A macrofauna demonstrou resiliência, com ganho significativo em abundância e
riqueza em cerca de dois meses após os distúrbios, ainda que distante de atingir
um estado clímax;
A elevada resiliência da estação 4 foi relacionada a proximidade da foz e a
presença de sedimento mais arenoso.
35
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