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Edifícios Gaioleiros da cidade de Lisboa. Avaliação Sísmica de um edifício tipo. Vasco Vilela Guerlixa Firmino das Neves Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Orientadores: Prof.ª Rita Maria do Pranto Nogueira Leite Pereira Bento Prof. Alexandre Bacelar Gonçalves Júri: Presidente: Prof. José Joaquim Costa Branco de Oliveira Pedro Orientador: Prof.ª Rita Maria do Pranto Nogueira Leite Pereira Bento Vogal: Prof. Carlos Alberto Ferreira de Sousa Oliveira Junho 2016

Edifícios Gaioleiros da cidade de Lisboa. Avaliação ... · II Resumo Os edifícios gaioleiros, construídos entre o final do século XIX e início do seculo XX, num período expansionista

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Edifícios Gaioleiros da cidade de Lisboa.

Avaliação Sísmica de um edifício tipo.

Vasco Vilela Guerlixa Firmino das Neves

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Orientadores:

Prof.ª Rita Maria do Pranto Nogueira Leite Pereira Bento

Prof. Alexandre Bacelar Gonçalves

Júri:

Presidente: Prof. José Joaquim Costa Branco de Oliveira Pedro

Orientador: Prof.ª Rita Maria do Pranto Nogueira Leite Pereira Bento

Vogal: Prof. Carlos Alberto Ferreira de Sousa Oliveira

Junho 2016

I

Agradecimentos

Pelo apoio crucial na conclusão de mais um objetivo marcante na minha vida académica não posso de

deixar de agradecer:

À Professora Rita Bento, orientadora desta dissertação, pela oportunidade, tempo despendido, apoio e

ensinamentos proporcionados

Ao Professor Alexandre Gonçalves, coorientador desta dissertação, pela disponibilidade e

conhecimentos transmitidos.

À Ana Simões e à Jelena Milosevic, pelo acompanhamento e esclarecimentos ao longo da dissertação.

A todos os amigos, pela alegria incutida na minha vida e toda a partilha.

À minha namorada Marlene Morgado, por todo o amor, paciência e dedicação num futuro próspero.

Por último, à minha família, em particular ao meu Pai e Mãe, por desde cedo acreditarem e lutarem por

mim e a quem devo tudo o que sou.

II

Resumo

Os edifícios gaioleiros, construídos entre o final do século XIX e início do seculo XX, num período

expansionista da cidade de Lisboa, são conhecidos como a tipologia construtiva dos edifícios antigos

de alvenaria com o pior desempenho estrutural às ações horizontais (Simões et al., 2013). Os edifícios

gaioleiros, que chegam a ter 5 a 6 pisos elevados, apresentam uma estrutura constituída por paredes

de alvenaria e pavimentos flexíveis de madeira. As paredes de alvenaria conferem à estrutura rigidez

e resistência, sendo estes os principais elementos estruturais onde a massa do edifício se encontra

concentrada. Os pavimentos de madeira são leves e apresentam um comportamento flexível no seu

plano.

Este trabalho tem como primeiro objetivo a criação de uma base de dados relativa aos edifícios

gaioleiros. Pretende-se registar diversas características importantes para a caracterização estrutural e

para a avaliação da vulnerabilidade sísmica destes edifícios. Para o efeito, os dados são armazenados

num Sistema de Informação Geográfica (SIG) (ArcGis, 2013), de forma a associar a informação sobre

as características estruturais dos edifícios com a sua disposição e localização espacial.

A segunda parte do trabalho tem como objetivo a avaliação do comportamento e vulnerabilidade

sísmica de um edifício gaioleiro tipo. Partindo do projeto inicial, foi realizado um modelo computacional

com a finalidade de reproduzir o comportamento global do edifício. A estrutura foi modelada com o

programa 3Muri/Tremuri.

A avaliação sísmica do edifício foi realizada através de uma análise estática não linear A verificação de

segurança ao estado limite último foi feita segundo a metodologia proposta no EC8 mas recorrendo a

multicritérios para a definição do deslocamento último da estrutura. Para a intensidade de ação sísmica

admitida e para as condições admitidas na construção do modelo de cálculo, o edifício estudado não

verificou a segurança sísmica estrutural.

Palavras-Chave

Edifícios gaioleiros; antigos edifícios de alvenaria; SIG; vulnerabilidade sísmica; Análise estática não

linear; análise pushover.

III

Abstract

The Gaioleiro buildings in Lisbon, Portugal, built between the late XIX century and the early XX century,

during an expansion period of the city, represent the masonry buildings with the worst structural

performance to horizontal forces. With heights of 5 to 6 storeys, the Gaioleiro buildings structure is

composed by masonry walls and flexible timber floors. The masonry walls bring stiffness and strength

to the building structure and are the main elements in which the mass of the structure is concentrated.

The timber floors are light and show a flexible behavior.

The first objective of this work is the development of a database relative to Gaioleiro buildings. This aims

to record several important characteristics in the vulnerability approach of this buildings. For this

purpose, the data is saved in files usable in geographical information systems (GIS), in order to

associate the structural building information with its location and displacement (using a map).

The second part of the work addresses the assessment of the seismic behavior and vulnerability of an

existing Gaioleiro building. Starting from the original configuration, a computational model capable of

reproducing the global behavior of the building was developed. The structure was modelled with the

3Muri/Tremuri program.

The building seismic assessment was determined by nonlinear static analyses. The safety verification

to the ultimate limit state was conducted following the procedure proposed in EC8 and considering

multiscale approach with different verification criteria for the definition of the ultimate displacement. For

the modelling options considered and the seismic intensity adopted, the building did not verify the

structural safety.

Key-words

Gaioleiro buildings; old masonry buildings; GIS; Seismic vulnerability; nonlinear static analyses;

pushover analyses.

IV

Índice:

Agradecimentos ....................................................................................................................................... I

Resumo .................................................................................................................................................... II

Palavras-Chave ........................................................................................................................................ II

Abstract .................................................................................................................................................. III

Key-words ............................................................................................................................................... III

Lista de Tabelas ..................................................................................................................................... VII

Lista de Figuras ...................................................................................................................................... VII

Lista de abreviaturas e símbolos ............................................................................................................. X

1. Introdução ....................................................................................................................................... 1

1.1 Enquadramento ....................................................................................................................... 1

1.2 Objetivos e Metodologia ............................................................................................................... 2

1.3 Organização do Trabalho............................................................................................................... 2

2. Parque Habitacional em Lisboa ....................................................................................................... 4

2.1 Antigos Edifícios de Alvenaria ................................................................................................. 4

2.2 História do Crescimento Urbanístico da cidade Lisboa ........................................................... 5

2.3 Do Edifício Pombalino ao Gaioleiro ........................................................................................ 7

3. Os Edifícios Gaioleiros ..................................................................................................................... 9

3.1 Caracterização Arquitetónica dos Edifícios Gaioleiros ............................................................ 9

3.2 Caracterização Construtiva e Estrutural dos Edifícios Gaioleiros. ......................................... 10

3.2.1 Fundações ...................................................................................................................... 10

3.2.2 Paredes Exteriores ......................................................................................................... 11

3.2.3 Paredes Interiores ......................................................................................................... 11

3.2.4 Pavimentos .................................................................................................................... 12

3.2.5 Cobertura ...................................................................................................................... 13

4. Comportamento Sísmico dos Antigos Edifícios de Alvenaria ........................................................ 14

4.1 Princípios Gerais .................................................................................................................... 14

4.2 Materiais e suas Propriedades Físicas. .................................................................................. 16

4.3 Comportamento dos Pavimentos às Ações Horizontais. ...................................................... 17

4.4 Comportamento das Paredes às Ações Horizontais. ............................................................ 18

4.4.1 Comportamento para fora do Plano da Parede. ........................................................... 18

4.4.2 Comportamento no Plano da Parede ............................................................................ 19

4.5 Comportamento Global de Edifícios de Alvenaria ................................................................ 20

4.6 Comportamento Conjunto de Edifícios de Alvenaria ............................................................ 25

5. Modelo em SIG .............................................................................................................................. 26

V

5.1 Objetivos ............................................................................................................................... 26

5.2 Metodologia ......................................................................................................................... 26

5.3 Área de Estudo ...................................................................................................................... 28

5.4 Resultados ............................................................................................................................. 29

6. Avaliação sísmica de um edifício gaioleiro tipo ............................................................................. 32

6.1 Objetivos ............................................................................................................................... 32

6.2 Análise Estática Não Linear ................................................................................................... 32

6.3 Edifício em estudo ................................................................................................................. 34

6.4 Programa Tremuri .................................................................................................................. 36

6.4.1 Programa Tremuri – Lei constitutiva multilinear. .......................................................... 38

6.5 Modelação ............................................................................................................................. 41

6.5.1 Caracterização dos Materiais ......................................................................................... 42

6.5.2 Ações ............................................................................................................................. 43

6.5.3 Elementos Estruturais ................................................................................................... 44

6.5.4 Modelo ......................................................................................................................... 47

6.6 Análise Modal ........................................................................................................................ 47

6.6.1 Caracterização Modal .................................................................................................... 47

6.6.2 Aferição do Modelo ....................................................................................................... 49

6.6.3 Análise de Sensibilidade ao modo de distorção dos pavimentos flexíveis. ................... 51

6.7 Avaliação Sísmica do Edifício ................................................................................................. 53

6.7.1 Introdução ..................................................................................................................... 53

6.7.2 Análise estática não linear ............................................................................................. 53

6.7.4 Definição do deslocamento último ................................................................................ 54

6.7.5 Definição da ação sísmica .............................................................................................. 61

6.7.6 Cálculo do deslocamento objetivo ................................................................................. 62

7. Conclusões e desenvolvimentos futuros ....................................................................................... 67

7.1 Conclusões ............................................................................................................................. 67

7.2 Desenvolvimentos futuros .................................................................................................... 70

Referências Bibliográficas ..................................................................................................................... 71

Anexo A – Distribuição em planta das paredes no modelo .................................................................. 74

Anexo B .................................................................................................................................................. 75

B.1 - Drifts obtidos por parede e por nível, para cada substep, na direção x e para um

carregamento pseudo-triangular ...................................................................................................... 75

B.2 - Drifts obtidos por parede e por nível, para cada substep, na direção y e para um

carregamento pseudo-triangular ...................................................................................................... 82

Anexo C – Verificação de Segurança Sismo 2.3 ..................................................................................... 86

VI

Anexo D- Método N2 ............................................................................................................................. 87

Anexo E – Módulo de distorção dos pavimentos de madeira segundo NZSEE ..................................... 92

Anexo F – Carta Geológica de Lisboa .................................................................................................... 93

Anexo G – Projeto inicial no Edifício da Rua Visconde Valmor nº37..................................................... 94

VII

Lista de Tabelas

Tabela 1 – Fases construtivas em Lisboa(Simões & Bento 2012) ......................................................... 4

Tabela 2 – Propriedades das alvenarias ............................................................................................... 42

Tabela 3 – Propriedades resistentes do “Pinho Bravo”(LNEC 1997) ................................................... 43

Tabela 4 – Aço e Ferro fundidio ............................................................................................................ 43

Tabela 5 – Peso próprio pavimentos de madeira ................................................................................. 43

Tabela 6 – Peso próprio cobertura ........................................................................................................ 44

Tabela 7 – Peso próprio varandas ........................................................................................................ 44

Tabela 8 –Sobrecargas e coeficientes 𝜓2 ............................................................................................ 44

Tabela 9 – Intervalo de valores para o módulo de distorção de pavimentos de madeira .................... 45

Tabela 10 – Análise modal (G=11,03 GPa) .......................................................................................... 48

Tabela 11 - Registos obtidos dos edifícios de alvenaria lisboetas (Catulo 2015) ................................. 50

Tabela 12 – Análise modal (G=11,03 MPa) .......................................................................................... 51

Tabela 13 - Análise modal (G=44,12 MPa) ........................................................................................... 51

Tabela 14 - Análise modal (G=110,30 MPa) ......................................................................................... 52

Tabela 15 - Análise modal (G=165,45 MPa) ......................................................................................... 52

Tabela 16 – Critérios de cálculo do deslocamento último ..................................................................... 55

Tabela 17 – análise de drifts, direção x e y ........................................................................................... 59

Tabela 18 – Parâmetros de definição do espectro de resposta............................................................ 62

Tabela 19 – Propriedades das curvas de capacidade bilineares.......................................................... 63

Tabela 20 – deslocamentos últimos e deslocamentos objetivos para o sistema de 1 g.d.l ................. 65

Lista de Figuras

Figura 1 – a) Percentagem de edifícios muito degradados, 2011; b)percentagem de edifícios com

necessidades de reparação, 2011 (Instituto Nacional de Estatística, 2011). ......................................... 1

Figura 2 – Características estruturais de um edifício Pombalino (Mascarenhas, 2005) ........................ 7

Figura 3 – Plantas tipo de edifícios gaioleiros tipo 1, 2, 3 e 4 (dimensões em metros) (Simões et al.,

2014) ........................................................................................................................................................ 9

Figura 4 – Planta do 1º Piso (a) e do 5º Piso (b) da Av. Duque de Loulé, nº 70 com a identificação dos

tipos de parede (Gomes, 2011) ............................................................................................................. 12

Figura 5 – Métodos de ligação dos pavimentos às paredes (Appleton 2003) ...................................... 12

Figura 6 – Relação tensões-extensões da alvenaria em compressão (EC6-1 2005)........................... 17

Figura 7 – Modos de colapso no plano de paredes de alvenaria (Tomaževič 1999) ........................... 19

Figura 8 – Mecanismos locais em nembos no plano da parede (Yi 2004) ........................................... 20

Figura 9 – Espectro de resposta elástico das paredes solicitadas no seu plano à aceleração do solo,

adaptado de (Paulay & Priestley 1992) ................................................................................................. 21

Figura 10 – Variação da aceleração em altura, adaptado de (Paulay & Priestley 1992) ..................... 22

VIII

Figura 11 - Espetro de resposta elástico do pavimento do 3º piso à solicitação imposta pelas paredes,

adaptado de (Paulay & Priestley 1992) ................................................................................................. 23

Figura 12 – a) Forças de inércia geradas nas paredes solicitadas para fora do plano; b) Espetro de

resposta elástico das paredes solicitadas para fora do seu plano às acelerações impostas pelos

pavimentos adaptado de (Paulay & Priestley 1992) ............................................................................. 24

Figura 13 – Informação geográfica de base – representação dos edifícios e das vias de comunicação

............................................................................................................................................................... 27

Figura 14 – Tabela de atributos do edifício na Av. Duque d’Ávila, nº26-26B ....................................... 28

Figura 15 – Área de estudo. .................................................................................................................. 29

Figura 16 – Exemplo de material consultado ........................................................................................ 30

Figura 17 – memória descritiva tipo do projeto de edifícios gaioleiros ................................................. 30

Figura 18 – Edifícios gaioleiros caraterizados (a vermelho) ................................................................. 31

Figura 19 – análises sísmicas sugeridas pelo EC8, adaptado de (Ferrito 2014) ................................. 32

Figura 20 – Edifício em estudo, Rua Visconde Valmor nº37 ................................................................ 34

Figura 21 – Planta do edifício (com constituição das paredes) ............................................................ 35

Figura 22 – Estratégias de modelação de alvenaria a) micro-modelação; b) micro-modelação

simplificada; c) macro-modelação (Candeias, 2008) ............................................................................ 36

Figura 23 - Representação de um macro-elemento, com as variáveis cinemáticas (u, w, φ) e forcas

interiores (N, .......................................................................................................................................... 37

Figura 24 - “equivalent frame model”(Lagomarsino et al., 2013) .......................................................... 38

Figura 25 – Lei constitutiva multtilinear ................................................................................................. 39

Figura 26 – Lei constitutiva dos nembos solicitados à flexão ............................................................... 40

Figura 27 –Lei constitutiva dos nembos solicitados ao corte ................................................................ 40

Figura 28 - Lei constitutiva dos lintéis ................................................................................................... 40

Figura 29 - Modelação da cave ............................................................................................................. 45

Figura 30 – definição dos pavimentos de madeira ............................................................................... 45

Figura 31 – Parâmetros calculados – pavimentos de madeira. ............................................................ 46

Figura 32 – Definição dos pavimentos das varandas ........................................................................... 46

Figura 33 - parâmetros calculados – pavimentos das varandas........................................................... 46

Figura 34 – Definição das vigas metálicas ............................................................................................ 46

Figura 35 – Definição das colunas metálicas. ....................................................................................... 47

Figura 36 – Representação 3D do modelo ........................................................................................... 47

Figura 37 -1º modo de vibração ............................................................................................................ 48

Figura 38 -2º modo de vibração ............................................................................................................ 48

Figura 39 – 3º modo de vibração .......................................................................................................... 49

Figura 40- 4º modo de vibração ............................................................................................................ 49

Figura 41 - 5º modo de vibração ........................................................................................................... 49

Figura 42 – Curvas de capacidade (pushover), direção x e y, carregamento uniforme e pseudo-

triangular ................................................................................................................................................ 54

Figura 43 – distribuição em planta das paredes no modelo ................................................................. 56

IX

Figura 44 –Mapa de danos –direção x (a - planta, b - fachada principal (P1), c – fachada de tardoz

(P15), d – parede de empena (P26), e – parede de empena (P3)) ...................................................... 57

Figura 45 - Mapa de danos –direção y (a – fachada principal (P1), b - fachada de tardoz (P2), c – parede

de empena (P3), d- parede de empena (P26) ...................................................................................... 58

Figura 46 – Drift da parede 1 em função do deslocamento- pushover x .............................................. 60

Figura 47 – Parede 25 ........................................................................................................................... 60

Figura 48 - Drift da parede 26 em função do deslocamento- pushover y ............................................. 60

Figura 49 – deslocamentos últimos segundo o critério 1 e 2 ................................................................ 61

Figura 50 – espectro de resposta sismo 1.3 e 2.3, formato aceleração deslocamento) ...................... 62

Figura 51 – Bilinearização da curva de capacidade em x, critérios 1 e 2 ............................................. 64

Figura 52 –Bilinearização da curva de capacidade em y, critério 1 e 2 ................................................ 64

Figura 53 – determinação do deslocamento objetivo ........................................................................... 65

Figura 54 – rácio entre o deslocamento objetivo e o deslocamento último. ......................................... 66

X

Lista de abreviaturas e símbolos

CML Câmara municipal de Lisboa

LNEC Laboratório Nacional de Engenharia Civil

SIG sistema de informação geográfica

EC8 NP EN 1998-1: Eurocódigo 8

E Módulo de Elasticidade ou Modulo de Young G Modulo de Distorção

ν Coeficiente de Poisson w Peso volúmico

fm Resistência media à compressão

fk Resistência característica a compressão

τ Resistência ao corte

Drift, Deslocamento relativo normalizado a altura do piso

ADRS – acceleration displacement response spectrum

γI Coeficiente de importância

ξ Amortecimento viscoso

η Coeficiente de correção do amortecimento

𝑆𝑑𝑒 Espectro de resposta elástico (deslocamento em função do período)

𝑆𝑎𝑒 Espectro de resposta elástico (aceleração em função do período)

n g.d.l Múltiplos Graus de Liberdade

1 g.d.l Um Grau de Liberdade

𝜞 Fator de transformação

Ke rigidez elástica da estrutura

m* Massa – sistema 1 g.d.l.

T* Período – sistema 1 g.d.l.

Fy* Forca de cedência – sistema 1 g.d.l.

dy* deslocamento de cedência –sistema de 1 g.d.l.

du* Deslocamento ultimo – sistema 1 g.d.l.

dt* Deslocamento objetivo – sistema 1 g.d.l.

μ* Ductilidade – sistema 1 g.d.l.

1

1. Introdução

1.1 Enquadramento

Na sociedade atual onde a escassez de espaço nas cidades representa cada vez mais uma realidade,

o conceito de reabilitação de edifícios antigos tem ganho grande importância. Numa tentativa de

preservação da identidade da cidade, “ a Reabilitação Urbana constitui uma prioridade de intervenção

da Câmara Municipal de Lisboa plasmada na Revisão do Plano Diretor Municipal, no Plano Plurianual

de Investimento e no Programa Local de Habitação” (CML, 2011).

Apesar dos esforços acima indicados, é de salientar que a região de Lisboa apresenta um elevado

índice de envelhecimento dos edifícios, sendo efetivamente o município de Lisboa que detém o parque

habitacional mais antigo da região. No município de Lisboa, existem 1120 edifícios contruídos até 1960

por cada 100 edifícios construídos depois de 2001(Instituto Nacional de Estatística, 2011).

Constate-se também que as percentagens de edifícios muito degradados, e de edifícios com

necessidades de reparação em Lisboa apresentam valores elevados (figura 1). Na região de Lisboa a

proporção de edifícios a necessitar de reparação é ligeiramente superior à média nacional (27,2%). Só

no município de Lisboa mais de 40% dos edifícios necessitam de reparação (Instituto Nacional de

Estatística, 2011).

Em Lisboa, é estimado que aproximadamente metade do parque habitacional é composto por edifícios

antigos de alvenaria. Desta forma, é fundamental um estudo aprofundado acerca da segurança

estrutural e vulnerabilidade sísmica do respetivo edificado.

Figura 1 – a) Percentagem de edifícios muito degradados, 2011; b)percentagem de edifícios com necessidades

de reparação, 2011 (Instituto Nacional de Estatística, 2011).

2

O sismo de 1755 é considerado um dos maiores terramotos na história do mundo com uma magnitude

estimada entre 8,7 a 9,0 na escala de Richter. O número total de vítimas não é conhecido. Contudo

estimativas apontam para valores entre 20 000 e as 40 000 pessoas (Ferreira, 2012). Este

acontecimento ainda traz repercussões nos dias de hoje sendo um dos sismos usado como referência

no regulamento de dimensionamento sísmico em vigor.

Apesar de, no passado recente a atividade sísmica em Portugal não se tenha manifestado com efeitos

nefastos, os acontecimentos sísmicos são recorrentes e “(…) o que aconteceu no passado irá,

certamente, acontecer no futuro.”(Simões & Bento, 2012).

Os edifícios gaioleiros, construídos entre o final do século XIX e início do seculo XX, são conhecidos

como a tipologia construtiva dos edifícios antigos de Lisboa com o pior desempenho estrutural às ações

horizontais (Simões et al., 2013). A intervenção nestas estruturas deve ser vista como uma prioridade.

1.2 Objetivos e Metodologia

A presente dissertação tem como primeira finalidade a criação de uma base de dados relativa à

tipologia construtiva edifícios gaioleiros. Pretende-se registar diversas características importantes para

a avaliação da vulnerabilidade sísmica associada a estes edifícios. Para o efeito, é armazenado os

dados num Sistema de Informação Geográfica (SIG), de forma a associar a informação sobre as

características estruturais dos edifícios com a sua disposição e localização espacial (mapa).

A segunda parte do trabalho tem como objetivo a avaliação do comportamento e vulnerabilidade

sísmica de um edifício gaioleiro tipo. Partindo do projeto inicial, é realizado um modelo computacional

com a finalidade de reproduzir o comportamento global do edifício. A estrutura é modelada no programa

Tremuri (Lagomarsino et al., 2002) e, para as paredes com aberturas, recorre-se ao método de pórtico

equivalente. As curvas de capacidade são determinadas através de análises pushover, tendo em conta

apenas o comportamento das paredes de alvenaria no seu plano, partindo do pressuposto que o

colapso destas para fora do seu plano foi devidamente impedido, e atendendo ao comportamento

flexível dos pavimentos de madeira. A avaliação sísmica do edifício é realizada através de uma análise

estática não linear.

1.3 Organização do Trabalho

A presente dissertação é constituída por 7 capítulos e anexos complementares.

No primeiro capítulo (1. Introdução) é apresentada a introdução do trabalho desenvolvido, assim como

os objetivos pretendidos, a metodologia aplicada e a organização do próprio documento.

No segundo capítulo (2. Parque Habitacional em Lisboa), caracteriza-se o parque habitacional em

Lisboa, explicando o seu processo evolutivo e a existência dos edifícios Gaioleiros nesta cidade.

No terceiro capítulo (3. Os Edifícios Gaioleiros) descreve-se tanto ao nível arquitetónico como a nível

estrutural os edifícios gaioleiros.

3

No quarto capítulo (4. Comportamento Sísmico dos Antigos Edifícios de Alvenaria) procura-se explicar

o comportamento sísmico dos antigos edifícios de alvenaria, tendo em atenção a influência dos

materiais estruturais utilizados e o comportamento dos diferentes elementos constitutivos da estrutura,

alegando o comportamento dos pavimentos e paredes estruturais. Em seguida, é apresentado o

comportamento global e conjunto dos edifícios de alvenaria.

No quinto capítulo (5. Modelo SIG) é apresentado o trabalho desenvolvido na elaboração do modelo

SIG. São apresentados os objetivos e metodologia aplicada assim como os resultados obtidos.

O sexto capítulo (6. Avaliação Sísmica de um edifício gaioleiro típico) destina-se à descrição da análise

sísmica de um edifício gaioleiro típico, pelo que são apresentados os métodos, hipóteses e software

escolhido para o efeito, é caracterizado o edifício estudado e o modelo representativo do seu

comportamento sísmico, e por último avaliado o seu desempenho à ação sísmica.

O sétimo capítulo (7. Conclusões e desenvolvimentos futuros) apresenta uma reflexão sobre os

resultados obtidos e são realizadas considerações finais sobre o trabalho realizado. São ainda

apresentadas propostas de desenvolvimentos futuros.

Informações complementares ao trabalho desenvolvido são apresentados em anexos no final do

mesmo.

4

2. Parque Habitacional em Lisboa

2.1 Antigos Edifícios de Alvenaria

Em Lisboa, é possível tipificar o parque habitacional com base em várias épocas construtivas

associadas a importantes marcos históricos na evolução do seu edificado. Nestes períodos, a

construção de edifícios apresenta características específicas definidas por diferentes técnicas

construtivas, materiais ou soluções estruturais. Os pontos-chave da história evolutiva do edificado são:

1) o sismo de 1755, 2) o aparecimento do betão armado como material estrutural na década de 1940 e

3) o desenvolvimento de regulamentos de dimensionamento estrutural na década de 1960 (Simões &

Bento, 2012).

Importa ainda referir que, como qualquer processo evolutivo, a classificação dos edifícios não pode ser

interpretada de forma rígida uma vez que corresponde a uma evolução contínua ao longo do tempo. A

tabela 1 sintetiza a informação principal referente às diferentes fases construtivas.

Tabela 1 – Fases construtivas em Lisboa(Simões & Bento 2012)

5

Como se pode constatar na tabela 1, os edifícios considerados edifícios antigos de alvenaria são

aqueles construídos antes do primeiro período de edifícios de betão armado, nomeadamente consistem

em edifícios pré-pombalinos, edifícios pombalinos, gaioleiros e edifícios placa. Contudo, estes últimos

pertencem a uma fase de transição de edifícios de alvenaria para edifícios com estrutura em betão

armado, apresentando já frequentemente lajes em betão armado, sendo considerados edifícios mistos

alvenaria-betão armado.

É interessante realçar que estes edifícios já cumpriram o tempo de vida expectável (cinquenta anos

segundo os atuais regulamentos para obras novas), e que muitos deles já foram submetidos a várias

intervenções e modificações estruturais que podem ter comprometido o seu desempenho estrutural

como, por exemplo, a inserção de elevadores, demolição de paredes interiores ou acrescento de pisos.

Por outro lado, o primeiro regulamento sísmico documentado surgiu apenas em 1958, denominado

Regulamento de Segurança das Construções Contra Sismos (RSCCS) (Lopes et al., 2008). Sendo

assim, o dimensionamento de muitos destes edifícios não teve em consideração esta ação sísmica.

São, no entanto, exceção os edifícios pombalinos, construídos logo após o sismo de 1755, nos quais

foram adotadas medidas estruturais para redução da sua vulnerabilidade sísmica.

Por fim, importa referir que as propriedades físicas e mecânicas dos materiais utilizados na estrutura

dos edifícios antigos de alvenaria (alvenaria e madeira) são heterogéneas e difíceis de caracterizar

adequadamente e, nos dias de hoje, apresentam um avançado grau de deterioração (Simões & Bento,

2012) podendo pôr em causa a segurança dos edifícios antigos.

Do conjunto de edifícios antigos de alvenaria, tem-se dado grande importância aos edifícios gaioleiros,

justificada pelo elevado número de construções deste tipo ainda existentes em Lisboa e pela sua

elevada vulnerabilidade e, consequentemente, pela sua grande necessidade de reparação e

intervenção estrutural. Efetivamente, associado a um fraco desempenho estrutural e elevada

vulnerabilidade sísmica, característica original destes edifícios, é comum encontrar-se nestes edifícios

um fraco grau de conservação.

De facto, atualmente julga-se que os edifícios gaioleiros são aqueles que apresentam o pior

desempenho estrutural de todo o edificado lisboeta. Estima-se que existam catorze mil gaioleiros,

constituindo 24% do edificado em Lisboa (Simões et al., 2014).

Para melhor perceber a razão de ser deste problema é fundamental conhecer a história evolutiva da

construção em Lisboa.

2.2 História do Crescimento Urbanístico da cidade Lisboa

A tendência da expansão para norte da cidade de Lisboa teve início após o terramoto de 1755, com o

planeamento da baixa Pombalina desenhada por Manuel da Maia, Eugénio dos Santos e Carlos Mardel.

Até essa data, a cidade (Baixa) desenvolvia-se na margem direita do rio Tejo sendo o seu principal

centro de comércio a Rua Nova dos Ferros, disposta paralelamente ao rio. Após a catástrofe, foram

adotados como eixos principais ruas perpendiculares ao rio, ligando a Praça do Comércio ao Rossio e

à Praça da Figueira.

6

No século XIX, a ligação da cidade ao território circundante era feita por dois vales a norte da Baixa

Pombalina, a qual apresentava fronteiras naturais a sul (rio Tejo), a poente e nascente (colinas).

Desta forma, a expansão de Lisboa deu-se para norte, onde existia o famoso Passeio Público. O

Passeio Público era um dos principais pontos de encontro da cidade. Consistia num jardim murado,

que foi utilizado quase durante um século.

Em 1864 foi nomeada uma comissão encarregue de criar um “Plano de Melhoramentos da Cidade” e

Rosa Araújo, à data presidente da câmara de Lisboa, decidiu, por fim, em 1879 iniciar as obras de

transformação do Passeio Público numa avenida, onde já começavam a surgir importantes palácios –

surgiu assim a Avenida da Liberdade.

Em 1888 foi apresentado por Frederico Ressano Garcia o plano para um novo eixo da cidade até ao

Campo Grande. Este plano consistia num crescimento da cidade para Norte através de três avenidas:

Av. Liberdade, Av. Fontes Pereira de Melo, e Av. da República. O plano integrava a adaptação de

antigos caminhos de forma a ligar a antiga à nova cidade, vencendo a topografia do terreno que desde

cedo era vista como a principal condicionante.

Ressano Garcia procurou trazer a Lisboa um crescimento planeado e de grande flexibilidade. No

entanto, o plano, intencionalmente, não descriminava a arquitetura a utilizar. Não tinham sido definidas

regras relativas às cérceas, à profundidade da construção, tipo de ocupação ou linguagem arquitetónica

a usar nas construções. Como tal, “(…) as Avenidas Novas apresentam uma imagem heterogénea,

descontinua, apenas pontuada por alguns edifícios de melhor qualidade.” (Appleton, 2005).

Apesar de o plano de Ressano Garcia apresentar grande pragmatismo e inteligência na adaptação à

topografia, reaproveitamento de antigas estradas, sendo um plano de larga escala e fácil execução, foi,

no entanto, rapidamente julgado depreciativamente devido há fraca arquitetura e má qualidade da

construção da época. Como afirma Raquel Henriques da Silva (1985): “(…) nascidas de um projeto

moderno e qualificado de extensão da cidade, as Avenidas foram o primeiro campo aberto de atuação

dos promotores imobiliários ávidos de lucro, classe nova de construtores civis sem o oficio dos velhos

mestres de obras ainda ativos no inicio do século, e que a memória da cidade batizou de

“gaioleiros”(Silva 1985).

Surgiu então o neologismo “Gaioleiro”, termo depreciativo inicialmente atribuído aos construtores e

mais tarde ao tipo de construção que estes realizavam. Este tipo de construção, que se seguiu ao

período pombalino, perdurou até à introdução do betão armado nas construções, ou seja, num período

compreendido entre a década de 70 do século XIX e a década de 30 do seculo XX.

Com o acentuado crescimento populacional no final do século XIX e o aparecimento da “(…) lei 2030

que incentivava a demolição dos edifícios, caso fosse garantida a sua reconstrução com um número

superior de fogos, (…)” (Gomes, 2011), a construção tornou-se mais descuidada. Os construtores

utilizavam materiais mais económicos e de qualidade inferior, comprometendo estruturalmente os

edifícios não só na escolha dos materiais, mas também na solução estrutural adotada.

7

Os gaioleiros foram também designados como “prédios de rendimento”, uma vez que a sua construção

tinha como fim a sua venda ou arrendamento por frações.

2.3 Do Edifício Pombalino ao Gaioleiro

Com o esquecimento do grande terramoto, a “involução” da construção pombalina acaba por se

transformar na edificação dos gaioleiros, urbanizando bairros como Campo de Ourique, Bairro Camões

e Avenidas Novas. (Lopes et al., 2008)

Os edifícios pombalinos apresentavam uma estrutura robusta e resistente. Fortemente caracterizados

pela sua capacidade de resistência sísmica, conferida por uma estrutura de madeira tridimensional

conhecida como “gaiola”.

Nos edifícios pombalinos, elementos de madeira verticais e horizontais eram adicionados às fachadas

aumentando a rigidez da parede de alvenaria na zona das aberturas e permitindo uma ligação mais

adequada à estrutura de madeira tridimensional do interior (“gaiola pombalina”).

A estrutura interior é constituída por paredes de frontal. As paredes de frontal são formadas por um

sistema treliçado de madeira (cruz de Santo André), constituindo elementos triangulares, preenchidos

por alvenaria. Como é sabido a forma triangular é dificilmente deformável, uma vez que isso implica

alterar o comprimento de um dos seus lados. Desta forma, apesar de as paredes estarem solicitadas

vertical ou horizontalmente, as “barras” de madeira das paredes frontais irão responder através de

esforço axial. As paredes de frontal são então interligadas aos pavimentos e às paredes exteriores de

alvenaria.

É também importante referir que, nos edifícios pombalinos havia uma atenção especial na ligação dos

vários elementos da estrutura de forma a não comprometer o seu funcionamento.

A figura 2 resume as principais características estruturais dos edifícios pombalinos.

Figura 2 – Características estruturais de um edifício Pombalino (Mascarenhas, 2005)

8

Com a necessidade de crescimento em altura dos edifícios, de uma mais rápida e barata construção e

com o esquecimento dos efeitos catastróficos do sismo de 1755 ”(…) as estruturas foram-se tornando

cada vez mais simples, perdendo-se a excelência dos frontais e esquecendo-se a garantia de

solidarização estrutural entre paredes e pavimentos” (Lopes et al., 2008). Surgiram assim os gaioleiros.

As diferenças entre os edifícios pombalinos e gaioleiros são grandes e não se resumem a um nível

estrutural. Também o processo construtivo, nomeadamente o faseamento da construção, é diferente

favorecendo mais uma vez os edifícios pombalinos.

Nos edifícios pombalinos, a construção das alvenarias apenas se inicia, uma vez concluída a execução

da carpintaria estrutural que conduz à “gaiola”, à semelhança dos edifícios em betão armado.

Contrariamente, os edifícios gaioleiros são construídos piso a piso: primeiro as paredes e depois os

pavimentos, processo semelhante à construção de habitações unifamiliares (Lopes et al., 2008).

9

3. Os Edifícios Gaioleiros

3.1 Caracterização Arquitetónica dos Edifícios Gaioleiros

Convencionalmente, os edifícios gaioleiros apresentam uma planta retangular, e saguões interiores ou

laterais, de forma a ventilar e iluminar os quartos interiores. São caracterizados pelo seu

desenvolvimento em altura, atingindo 5 a 6 pisos elevados.

Os edifícios gaioleiros eram construídos em quarteirão, normalmente em forma retangular (sendo

também vulgar encontrar em forma trapezoidal e triangular, dependendo da orografia do terreno). O

espaço interior dos quarteirões era composto por zonas ajardinadas, impercetíveis do exterior.

Como já referido, havia uma grande flexibilidade construtiva na arquitetura destes edifícios. Por esta

razão surgiram, no mesmo quarteirão, edifícios diferentes nas suas características dimensionais, assim

como nas suas características estéticas.

De forma a simplificar o estudo destes edifícios, vários autores têm dividido os edifícios gaioleiros em

4 grupos (Appleton 2005), figura 3:

Tipo 1 – Edifícios de pequena/média dimensão, em lotes de frente estreita, com saguão e escada

interior laterais, com um fogo por piso.

Tipo 2 – Edifícios de grande dimensão, em lotes de frente larga, com dois saguões e pátio estreito,

escada lateral, com um fogo de grande dimensão por piso.

Tipo 3 – Edifícios de grande dimensão, em lotes de frente larga, com dois saguões laterais e uma

possível central, com escada central, com dois fogos de média dimensão por piso.

Tipo 4 – Edifícios de canto (gaveto).

Figura 3 – Plantas tipo de edifícios gaioleiros tipo 1, 2, 3 e 4 (dimensões em metros)

(Simões et al., 2014)

A arquitetura dos gaioleiros era muito condicionada pelo estatuto social dos potenciais moradores do

edifício, fazendo variar a qualidade e tipo de materiais usados, assim como a presença/quantidade de

elementos decorativos, entre outros aspetos.

10

A fachada principal é constituída por três zonas, o soco, a zona intermédia, e a platibanda/telhado,

sendo normalmente revestida a reboco e posteriormente pintada, podendo também ser forrada a

azulejo. As fachadas são frequentemente decoradas com elementos de arte nova, normalmente flores

e formas orgânicas, muito presente nas aberturas. Na zona intermédia da fachada é frequente

encontrar-se, no mesmo edifício, aberturas com várias dimensões, umas sendo janelas de peito e as

restantes janelas de sacada.

A fachada de tardoz é caracterizada pela presença de varandas ou marquises constituídas por uma

estrutura metálica visível. Também é comum a existência de escadas de incêndio metálicas ligadas ao

sistema de varandas da fachada de tardoz.

A cobertura dos edifícios é em telhado revestido a telha cerâmica. Em alguns casos o telhado apresenta

janelas em mansarda.

A compartimentação interior de um fogo num gaioleiro costuma também seguir um padrão. Usualmente,

junto à fachada principal encontram-se as salas e escritórios. A cozinha e sala de jantar estão

normalmente contiguas e dispostas junto à fachada de tardoz, os quartos de dormir estão ao lado dos

saguões. De forma a obter acesso aos diferentes compartimentos do fogo, existe um corredor que

percorre o edifício em profundidade.

3.2 Caracterização Construtiva e Estrutural dos Edifícios Gaioleiros.

O princípio base do funcionamento estrutural (forças gravíticas) dos edifícios gaioleiros é relativamente

simples. As cargas presentes são encaminhadas pelos pavimentos para as paredes resistentes

(principalmente as paredes de fachada), sendo posteriormente transmitidas às fundações.

Em seguida, é apresentada uma descrição breve dos vários elementos estruturais.

3.2.1 Fundações

As fundações dos gaioleiros são geralmente constituídas por fundações diretas contínuas, sendo

basicamente um prolongamento enterrado da parede resistente. Estas fundações eram construídas em

alvenaria de “pedra rija”, (pedra rija calcária da Serra de Monsanto, Sacavém para edifícios em Lisboa)

(Appleton, 2005).

A espessura da fundação varia normalmente com espessura da parede respetivamente fundada, sendo

as fundações da fachada principal e tardoz correntemente as mais espessas, com larguras de 1,10 a

1,50 metros. As fundações das paredes de empena e saguões apresentam espessuras inferiores (0,60

a 0,70 metros de espessura).

A profundidade das fundações é variável e não era definida no projeto inicial. Era estabelecida

posteriormente em obra dependendo das condições existentes. Na presença de fracos solos de

fundação, utilizavam-se fundações constituídas por poços e arcos de alvenaria (solos viáveis para

fundação a mais de 3 metros de profundidade) (Appleton, 2005; Simões & Bento, 2012).

11

3.2.2 Paredes Exteriores

As paredes exteriores da fachada são normalmente em alvenaria de pedra irregular, (vulgarmente

pedra calcária “macia” e argamassa de cal e areia, utilizada como ligante). A espessura da parede da

fachada principal e de tardoz costuma diminuir em altura, facto justificado pela redução das cargas

verticais, racionalização de materiais e melhor apoio das vigas do pavimento. Desta forma as paredes

de fachada costumam apresentar 0,60 a 0,80 metros na base e 0,3 a 0,4 m no topo. (Lopes et al.,

2008).

As paredes de empena apresentam normalmente a espessuras inferiores às fachadas. Com o

aparecimento do tijolo no final do século XIX, este tipo de alvenaria começou a ser utilizado na

constituição destas paredes que inicialmente eram formadas por alvenaria de pedra (Simões & Bento,

2012). Sendo assim estas paredes apresentam 0,4 a 0,5 m, no caso de serem em alvenaria de pedra

e 0,15 a 0,3 m no caso de alvenaria de tijolo.

As paredes dos saguões apresentam características semelhantes às descritas no parágrafo anterior.

3.2.3 Paredes Interiores

É difícil de classificar as soluções das paredes interiores nos gaioleiros, uma vez que existem muitos

exemplos que “fogem à regra”, não havendo, portanto, um padrão definitivo.

As soluções mais comuns enquadram-se em dois grandes tipos de paredes interiores. Paredes de

tabique, constituídas por pranchas de madeira ao alto fasquiado e rebocado e paredes de alvenaria de

tijolo furado, com argamassa de areia e cal (ligante).

Normalmente as paredes de tabique não apresentam funções estruturais, principalmente para as ações

horizontais, sendo apenas de compartimentação. Contudo, existem vários edifícios onde alguns

pavimentos descarregam sobre estes elementos. Estas paredes costumam encontrar-se dispostas na

direção perpendicular às fachadas, apresentando espessuras entre 0,10 a 0,15 metros.

As paredes de alvenaria de tijolo furado são paredes normalmente com função portante, havendo

também casos em que estas são usadas simplesmente com função de compartimentação. Têm uma

espessura média de 0,15 metros. Estas paredes são normalmente paralelas às fachadas.

Algumas paredes podem também variar de espessura em altura e, inclusive serem adotadas paredes

em tabique de madeira onde nos pisos anteriores eram de alvenaria.

Através dos processos de licenciamento (desenhos de projeto, memórias descritivas) torna-se muito

difícil identificar que tipo de parede se trata, havendo pouca informação e pouco detalhe nas plantas e

cortes dos edifícios. Para além disso estas paredes apresentam espessuras muito parecidas.

Existe ainda a possibilidade de algumas paredes interiores serem constituídas por alvenaria de tijolo

maciço ou por alvenaria de pedra irregular com travamentos em madeira (à semelhança dos frontais

dos edifícios pombalinos).

12

A figura 4 identifica a solução adotada nas paredes interiores no edifício gaioleiro, estudado por (Gomes

2011), presente na Av. Duque de Loulé n.º 20, sendo a imagem da esquerda a planta do primeiro piso

e a da direita a planta do 5.º piso. Este edifício é um exemplo do aligeiramento das paredes interiores.

Figura 4 – Planta do 1º Piso (a) e do 5º Piso (b) da Av. Duque de Loulé, nº 70 com a identificação dos tipos de

parede (Gomes, 2011)

3.2.4 Pavimentos

Os pavimentos são constituídos por vigas de madeira que apoiam nas paredes exteriores e interiores,

sendo as vigas normalmente perpendiculares às fachadas. As vigas são vulgarmente em madeira de

pinho com 0,07 a 0,08 m de largura e 0,16 a 0,22 m de altura, com um afastamento de 0,35 a 0,40 m

(Simões & Bento, 2012). As várias vigas são travadas lateralmente por tarugos perpendiculares. Os

pavimentos são correntemente forrados a madeira de pinho (soalho), constituído por tiras de 0,15 m de

largura e cerca de 0,02 metros de espessura, dispostas perpendicularmente ao vigamento de madeira.

A ligação das vigas às paredes era executada de diversas formas como pode ser observado na figura

5:

a) Vigamentos assentes simplesmente sobre as paredes;

b) Vigamentos assentes nas paredes ancoradas por pregagens metálicas;

c) Pavimentos sobre viga de madeira assente na parede (frechal).

Figura 5 – Métodos de ligação dos pavimentos às paredes (Appleton 2003)

Nas zonas húmidas (cozinhas e casas de banho) o pavimento adotado é geralmente um pavimento

hidráulico (mosaicos). Nestas zonas, assim como nas varandas, também é comum encontrar-se

pavimentos com estrutura metálica (ferro) complementados por abobadilhas de tijolo burro ou furado.

13

É relevante reconhecer que os pavimentos de madeira são bastante deformáveis e dotados de uma

fraca ligação com as paredes de alvenaria. Estruturalmente, estes tipos de pavimentos são

considerados como flexíveis no próprio plano, critério que será importante na análise da vulnerabilidade

sísmica dos gaioleiros.

3.2.5 Cobertura

A estrutura da cobertura é composta por estruturas de madeira de pinho cobertas por telhas do tipo

marselha, assentes num ripado de madeira. A cobertura é apoiada nas paredes de alvenaria resistentes

do edifício.

14

4. Comportamento Sísmico dos Antigos Edifícios de Alvenaria

4.1 Princípios Gerais

O risco sísmico pode ser considerado o produto de três fatores: a perigosidade, a exposição e a

vulnerabilidade. A perigosidade está diretamente ligada à região em estudo caracterizando a apetência

desta à ocorrência de fenómenos sísmicos, com maior ou menor magnitude. A exposição avalia as

pessoas e bens afetados num acontecimento sísmico, estando, portanto, muito associada à densidade

populacional e ao grau de desenvolvimento económico do local em causa. A vulnerabilidade refere-se

à resistência sísmica das construções/infraestruturas e ao mesmo tempo ao grau de preparação das

populações para agir durante e após o sismo. Está, desta forma, relacionada com a solução estrutural

adotada, os materiais e técnicas construtivas empregues na construção. Estes parâmetros, por sua

vez, variam com a região (materiais disponíveis) e período construtivo (Lopes et al., 2008)

Para uma dada região, a vulnerabilidade, enquanto resultado da ação do homem, é um fator de extrema

importância uma vez que é o único onde se pode atuar de forma a minimizar o risco sísmico, estando

intimamente relacionado com a reabilitação e reforço estrutural de edifícios.

Existem diferentes métodos e tipos de estudo para a avaliação da vulnerabilidade sísmica de edifícios.

Fatores como a escala do estudo (cidade, quarteirão, edifício), o rigor pretendido, a disponibilidade

financeira, de recursos e de tempo condicionam a escolha da metodologia. Contudo em qualquer um

dos métodos de avaliação da vulnerabilidade sísmica relaciona-se a severidade sísmica (perigosidade

sísmica) com os seus efeitos, ou seja, os danos sofridos no sistema estudado (quer este seja um edifício

ou um conjunto destes).

Os métodos de estudo da vulnerabilidade sísmica podem ser divididos em dois grupos: os métodos de

vulnerabilidade calculada e os métodos de vulnerabilidade observada ou subjetiva (Candeias, 2008).

Nos métodos de vulnerabilidade calculada avalia-se a resposta sísmica e os danos no sistema em

estudo, através do traçado de curvas de vulnerabilidade função de uma dada ação sísmica.

Estes métodos podem ser aplicados a um determinado edifício, sendo a avaliação o resultado de um

levantamento das suas características estruturais, alterações e causas de degradação. Prossegue

então, a análise da sua capacidade sísmica e comparação desta com a solicitação sísmica pretendida

para obter a resposta esperada.

Os métodos de vulnerabilidade calculada podem também ser aplicados a um edifício padrão,

representativo de uma tipologia construtiva, apresentando as características médias dessa classe de

edificado. Espera-se desta forma obter também o comportamento considerado “normal” dessa

tipologia. Esta abordagem não deixa de ser conceptualmente equivalente à anteriormente mencionada.

Os métodos de vulnerabilidade observada ou subjetiva consistem num conjunto de análises qualitativas

baseadas em registos de danos reais em edifícios, causados por sismos. Parte-se do pressuposto que

edifícios semelhantes submetidos a sismos “equivalentes” apresentarão um mesmo padrão de danos

permitindo, assim, a definição de diferentes classes de vulnerabilidade.

15

Durante um sismo ocorre uma grande vibração do solo que se traduz em movimentos rápidos em várias

direções, traduzidos simplificadamente em ambos os sentidos na direção horizontal e vertical. A estes

movimentos está associada uma aceleração do solo, que se irá propagar às várias estruturas nele

assentes, que por sua vez irá gerar nos edifícios uma nova aceleração diferente da anterior.

Aplicando a segunda lei de Newton, sabe-se que a aceleração da estrutura irá criar forças, nela

aplicadas, proporcionais à sua massa, denominadas como forças de inércia. Nos edifícios, as forças

de inércia significativas são principalmente forças na direção horizontal pelo que a componente vertical

é geralmente menos importante.

Consequentemente, a resistência sísmica da estrutura depende da capacidade de encaminhar as

forças de inércia e suportar as deformação, impostas pela ação dinâmica (sismo), diretamente para as

fundações sem que o edifício seja danificado. Contudo, o comportamento sísmico de um edifício é

bastante complexo dependendo de vários fatores como: as propriedades dinâmicas da estrutura

resistente, as propriedades dos materiais, a geometria do edifício e sua envolvente, entre outros.

É importante um estudo destas propriedades, estando na base de muitos métodos de análise de

vulnerabilidade sísmica, procurando analisar o nível de dano, o tipo de colapso e sua localização na

estrutura.

A estrutura resistente condiciona a resposta do edifício, definindo o seu sistema estrutural (pórtico,

parede ou misto). Os materiais e as suas propriedades mecânicas caracterizam também a resposta do

edifício, determinando o comportamento linear ou não linear da estrutura e o nível de dano instalado.

A configuração em planta do edifício é também de extrema importância, influenciando efeitos locais

indesejados como a presença de torção global na estrutura.

Como já referido a construção dos edifícios gaioleiros foi realizada sem qualquer dimensionamento

sísmico. Por este motivo, no estudo sísmico destes edifícios deverão ser considerados todos os

elementos estruturais e não estruturais, uma vez que todos estes contribuem no seu comportamento

sísmico, apresentando, contudo, níveis de importância diferentes. Normalmente as coberturas, escadas

e varandas são desprezadas na avaliação sísmica, como elementos estruturais sendo apenas

considerado a sua massa/peso.

As paredes de alvenaria apresentam um bom comportamento quando sujeitas à compressão, mas uma

fraca capacidade de suportar tensões de corte e tração. As tensões de corte e tração são resistidas

pelas forças de atrito geradas pelo peso da estrutura na unidade de alvenaria e pela interação entre a

esta unidade e o ligante, o qual, com o tempo vai perdendo as suas propriedades (Simões & Bento

2012).

As fundações dos edifícios antigos de alvenaria foram apenas dimensionadas tendo como base cargas

verticais, não prevendo possíveis esforços de tração, corte e momentos fletores que nestes surjam,

gerados pela ação sísmica.

Mais uma vez, é importante salientar que o estado de conservação e a qualidade da construção são

dois aspetos que muito influenciam o desempenho sísmico de um edifício.

16

De forma a melhor se compreender o comportamento sísmico dos edifícios gaioleiros, é primordial o

conhecimento do comportamento dos seus materiais e elementos estruturais, para se poder apresentar

o conceito do comportamento global do edifício e da sua envolvente (quarteirão).

4.2 Materiais e suas Propriedades Físicas.

Os materiais utilizados nos edifícios gaioleiros são os vários tipos de alvenaria aplicados na sua

construção como a alvenaria de tijolo furado, a alvenaria de tijolo maciço, a alvenaria de pedra irregular,

a madeira utilizada nos pavimentos e nas paredes de tabique (e em alguns casos nos elementos de

travamento das paredes de alvenaria) e o ferro e aço.

Neste capítulo será desprezado o ferro e o aço uma vez que a sua presença nos gaioleiros se resume

a alguns elementos pontuais, como varandas e as escadas exteriores de incêndio (vulgarmente

presentes na fachada de tardoz), sem uma contribuição estrutural para o comportamento global do

edifício.

Desde já, é relevante referir que apesar de muitas vezes estes materiais, por uma razão de simplicidade

do estudo, serem analisados como materiais homogéneos, muitos deles não o são, sendo

anisotrópicos, isto é, apresentam diferentes propriedades em diferentes direções.

As propriedades resistentes das alvenarias estão diretamente ligadas à composição das argamassas

e das unidades de alvenaria usadas. Desta forma, é possível observar grande variabilidade nas

propriedades mecânicas deste “material” compósito e, por esta razão, é frequente recorrer-se a ensaios

in situ para levantamento das propriedades presentes aquando da intervenção/reabilitação destes

edifícios (Cardoso et al., 2001).

Como já referido, as alvenarias são “materiais” com fraca resistência à tração e reduzida ductilidade,

condicionada normalmente pelo ligante e a sua interação com as unidades de alvenaria. O seu

comportamento está diretamente relacionado com a forma de unidade de alvenaria, sendo evidente

que blocos regulares apresentam um desempenho sísmico superior. Efetivamente, as piores

alvenarias, em termos de resistência e rigidez, são as alvenarias secas (sem ligantes) ou com ligantes

muito fracos, alvenarias com pedra irregular e as de terra (barro) não compactada (Lopes et al., 2008).

Por outro lado, o comportamento da alvenaria depende, na maior parte dos casos, da intensidade e da

direção dos esforços atuantes. Quando se trata de alvenarias em que a unidade de alvenaria apresenta

uma forma regular (alvenaria de tijolo e alvenaria de pedra regular), o seu padrão regular influencia

tanto a sua resistência e modo de colapso. Em conclusão, pode-se classificar estas alvenarias como

ortotrópicas, quando analisadas no plano da parede (Candeias, 2008).

Contrariamente, as paredes de alvenaria irregular, pela sua natureza constituinte variável em todas as

direções, apresentam um comportamento aproximadamente isotrópico, não havendo uma direção

preferencial.

Quanto às características de deformação da alvenaria, a relação tensões-extensões em compressão e

flexão é não linear. A atual Norma Portuguesa para dimensionamento de estruturas de alvenaria (NP

17

EN 1996 1-1) disponibiliza, para efeitos de cálculo, várias curvas possíveis, identificadas na figura 6

(EC6-1 2005). O modo de elasticidade é muitas vezes determinado em ensaios, sendo atribuído um

valor tangente ou secante a um ponto escolhido dependendo do tipo de ensaio realizado.

Figura 6 – Relação tensões-extensões da alvenaria em compressão (EC6-1 2005)

O Eurocódigo 6 estabelece também as expressões 1 e 2 para cálculo do módulo de Young (E) e o

módulo de distorção (G) respetivamente, para elementos de alvenaria:

𝐸1(𝑓𝑚) = 1000 𝑓𝑚; (1)

𝐺 = 0,4 𝐸 (2)

Onde fm é a resistência média da alvenaria à compressão.

Quanto aos pavimentos e paredes de tabique, são constituídos por elementos de madeira normalmente

dispostos em direções ortogonais, pelo que o comportamento no seu plano é ortotrópico.

A escassez de bibliografia e a heterogeneidade por trás destas soluções, justificado pelo uso de

diversas espécies de madeira e pelo estado alterado por degradação das suas propriedades, obriga

normalmente ao recurso a ensaios no local, de forma a obter uma melhor caracterização da

madeira(Cardoso et al. 2001).

4.3 Comportamento dos Pavimentos às Ações Horizontais.

Os pavimentos e a cobertura desempenham um papel importante, sendo responsáveis por transmitir

as forças de inércia aos vários elementos verticais da estrutura (paredes). A atuação de forças

horizontais provoca esforços de corte, tração e compressão nos pavimentos, cuja resistência às ações

horizontais é reduzida. A resistência no plano dos pavimentos depende de vários fatores, estando, no

entanto, normalmente condicionada pela resistência das suas ligações às paredes e pela sua rigidez

no plano. Frequentemente o vigamento de madeira apoia simplesmente sobre a parede ou frechal, e o

soalho é fracamente pregado a este vigamento. No geral, é possível afirmar que a ligação foi concebida

sem a exigência de transmissão de cargas horizontais.

18

Por outro lado, esta solução de pavimento apresenta uma elevada flexibilidade, sendo facilmente

deformável quando solicitado no seu plano, e, portanto, estes pavimentos são incapazes de

compatibilizar os deslocamentos entre os vários elementos verticais.

Em conclusão, a reduzida resistência das ligações complementada com uma elevada flexibilidade dos

pavimentos no plano, comprometem a transmissão de forças de inércia horizontais às várias paredes

resistentes, colocando em causa o comportamento em conjunto das várias paredes resistentes e o seu

travamento para fora do plano.

Por outro lado, este tipo de pavimento é também responsável pelo aparecimento de esforços de torção

consideráveis nos elementos verticais dos edifícios.

Em última instância pode-se afirmar que os pavimentos diminuem o comportamento dúctil do edifício,

tornando impossível aproveitar a máxima capacidade resistente dos vários elementos.

4.4 Comportamento das Paredes às Ações Horizontais.

O conhecimento do comportamento das paredes às ações horizontais é de extrema importância, sendo

essencial para a compreensão do comportamento global de edifícios de alvenaria.

Em primeira instância, é importante referir que, as paredes estão sujeitas sempre a esforços de

compressão significativos devidos às ações verticais. Por outro lado, quando as paredes forem

submetidas a forças horizontais, independentemente da sua direção, podem apresentar esforços de

corte e flexão relevantes. Assim sendo, a situação em questão é um problema de interação de esforços

(flexão composta mais esforço transverso).

Devido à sua forma laminar inerente, o comportamento das paredes é dependente da direção da ação.

As paredes apresentam diferentes resistências e diferentes modos de rotura associados a diferentes

direções. Por outro lado, também a esbelteza e o comprimento da parede condicionam o seu

comportamento e colapso.

Como já referido, o tipo de alvenaria da parede condiciona o seu comportamento e modo de colapso.

Por fim, também é importante referir que as condições de fronteira das paredes têm interferência no

tópico em questão, nomeadamente a ligação entre paredes.

4.4.1 Comportamento da Parede para fora do seu Plano

O comportamento para fora do plano da parede está associado à flexão segundo o eixo de menor

inércia da mesma. A resistência está, portanto, condicionada pelos esforços de compressão e tração

que surgem na base da parede, provenientes da flexão composta.

O modo de colapso da parede dá-se, normalmente, com a abertura de uma fenda horizontal na sua

base, devido aos esforços aí instalados (tração) e em seguida o derrubamento da mesma.

Apesar de, numa estrutura de alvenaria, o colapso para fora do plano de uma parede poder ser

entendido como um modo de rotura local, pode facilmente levar ao colapso global do edifício. Por esta

19

razão, este comportamento deve ser impedido. Este facto é muito importante no estudo de

vulnerabilidade sísmica de um edifício pelo que será futuramente retomado.

4.4.2 Comportamento no Plano da Parede

Contrariamente à situação anterior, o comportamento das paredes no seu plano está associado ao eixo

de maior inércia da secção e, desta forma a resistência e rigidez são superiores.

Dependendo da esbelteza da parede, isto é, da relação entre a altura e a largura da secção na direção

em estudo, existem diferentes modos de colapso referentes ao comportamento no seu plano (figura 7).

Quando a secção é menos esbelta (parede mais espessa ou mais baixa), será naturalmente solicitada

a elevados esforços de corte, pelo que o mecanismo de colapso associado será provavelmente o

deslizamento ao longo da base (sliding shear) ou a tração diagonal (diagonal tension).

Quanto mais esbelta for a secção, maiores serão as tensões de compressão e tração provocados pela

flexão da parede, pelo que o modo de rotura desta será associado à flexão da parede no seu plano. No

entanto, o comportamento no plano das paredes atrás descrito, é comprometido pela existência de

aberturas, uma vez que existe uma perda na continuidade no elemento laminar parede.

Figura 7 – Modos de colapso no plano de paredes de alvenaria (Tomaževič 1999)

As aberturas (vulgarmente portas e janelas) dividem as paredes numa série de nembos (elementos

verticais/ “colunas”) e lintéis (elementos horizontais / “vigas”), circundantes das aberturas. Desta forma,

o comportamento da parede no plano fica condicionado pelo comportamento destes dois “novos”

elementos.

Relativamente aos nembos, os seus principais modos de colapso são muito parecidos aos que ocorrem

nas paredes contínuas (sem aberturas) quando analisadas no seu plano. Nomeadamente, os principais

modos de rotura dos nembos são a flexão (rocking ou toe crushing), o deslizamento (sliding) e a tração

diagonal (diagonal tension).

20

A figura 8 ilustra os vários mecanismos de colapso dos nembos, no plano da parede:

Figura 8 – Mecanismos locais em nembos no plano da parede (Yi 2004)

Associado ao modo de rotura por flexão, poderá ocorrer um modo de colapso denominado “toe

crushing”, como é possível observar na figura 8, na qual o colapso da parede implica o esmagamento

do canto do nembo por compressão.

O deslizamento (sliding) e a tração diagonal (diagonal tension) são modos de rotura provocados

principalmente pelos esforços de corte nos nembos. O deslizamento ocorre normalmente, para níveis

de carga vertical reduzidos e baixos coeficientes de atrito na interface das unidades de alvenaria.

É importante salientar que a rotura local dos nembos por flexão é uma rotura mais dúctil, contrariamente

à rotura por corte que apresenta um comportamento frágil.

Os lintéis, por outro lado, têm como principal função estrutural ligar os nembos e impedir a rotação nas

suas extremidades. Aquando da análise de um edifício a cargas horizontais, a sua contribuição não

deixa de ser importante, repercutindo-se no comportamento dos nembos e assim no comportamento

da global estrutural.

Os lintéis são elementos horizontais sujeitos a reduzidas cargas verticais. A sua rotura está,

normalmente, associada ao corte (tração diagonal), o que poderá levar ao colapso da parede caso a

resistência isolada dos nembos seja insuficiente.

4.5 Comportamento Global de Edifícios de Alvenaria

Ao longo do presente capítulo, foram abordados importantes conceitos essenciais para o

comportamento global dos edifícios gaioleiros.

Em primeiro lugar, relembra-se que nos edifícios antigos de alvenaria podem considerar-se como

elementos resistentes primários, as paredes de alvenaria de pedra irregular e de tijolo, assim como os

vários pavimentos de madeira, excluindo, portanto, as paredes de tabique, as coberturas e as escadas

sendo estes últimos considerados elementos secundários.

A massa de estes edifícios encontra-se concentrada nas paredes, que são normalmente dispostas em

direções ortogonais, e não ao nível dos pavimentos, como acontece nos edifícios com a estrutura

convencional em betão armado. Portanto as forças de inércia provocadas pela ação sísmica serão

originadas nas paredes.

21

Por outro lado, é importante notar a discrepância de rigidez nas duas direções principais das paredes,

sendo bastante rígidas no seu plano, e com fraca rigidez quando solicitadas para fora do seu plano.

Os pavimentos de madeira são flexíveis, o que origina implicações não só na compatibilização dos

deslocamentos horizontais das várias paredes, assim como na capacidade de redistribuição das forças

horizontais pelos elementos estruturais verticais.

Deste modo, tendo como base as várias premissas explicadas anteriormente, facilmente se entende a

complexidade que constitui a descrição do comportamento sísmico dos edifícios antigos de alvenaria.

Simplificando, considere-se a ação sísmica numa direção impondo acelerações na base do edifício.

Estas acelerações irão produzir, como já referido, forças de inércia na estrutura que, devido à diferença

de rigidez das paredes no seu plano e para fora deste, serão originadas nas paredes orientadas

segundo a direção da solicitação (maior rigidez).

Como tal, numa primeira fase, as paredes que irão “fletir” no seu plano, serão as primeiras a ser

solicitadas. A sua resposta em termos de acelerações irá depender da sua massa e rigidez, assim

como da massa e rigidez das restantes paredes e pavimentos contribuintes no comportamento sísmico.

As acelerações serão então transmitidas por estas paredes aos pavimentos flexíveis de madeira, a

uma determinada altura. Se estes pavimentos fossem rígidos, os deslocamentos e acelerações em

todos os pontos do pavimento seriam iguais aos deslocamentos/acelerações das paredes anteriores.

Contudo, como os pavimentos são flexíveis, as acelerações e deslocamentos serão diferentes.

Por fim, o pavimento transmite as acelerações e os deslocamentos às paredes dispostas

perpendiculares à solicitação (comportamento para fora do plano – menor rigidez). A aceleração do

solo, neste ponto, já foi bastante modificada, nomeadamente pelas paredes orientadas na direção da

solicitação e pelos pavimentos (Candeias, 2008; Paulay & Priestley, 1992).

A figura 9 descreve a resposta elástica em termos espetrais para as paredes quando solicitadas no seu

plano às acelerações do solo (ag). A partir deste gráfico, e tendo como base o período fundamental do

edifício (T), é possível obter a aceleração máxima de resposta (ar) aplicada no centro de forças sísmicas

do edifício (hE).

Figura 9 – Espectro de resposta elástico das paredes solicitadas no seu plano à aceleração do solo, adaptado de

(Paulay & Priestley 1992)

22

Partindo do pressuposto que o primeiro modo de vibração é um modo de vibração linear, é possível

estimar a resposta (acelerações) do edifício nos seus vários pisos, por extrapolação linear (figura 10)

Figura 10 – Variação da aceleração em altura, adaptado de (Paulay & Priestley 1992)

Contudo, deve-se ter em conta que estas acelerações são relativas à aceleração do solo (ag), e,

portanto, apesar de a linearização atribuir um valor nulo para as acelerações ao nível do solo, estas

terão o valor de ag. Por outro lado, nos pisos superiores seria irreal somar o valor da aceleração do

solo, uma vez que a aceleração de resposta do edifício e a aceleração do solo não irão ocorrer,

normalmente, ao mesmo tempo, e, numa situação de ressonância, a resposta do edifício e a aceleração

do solo estariam fora de fase, e portanto iriam ter um efeito de subtração (Paulay & Priestley 1992).

Desta forma e conservativamente admite-se que para pisos superiores ao centro das forças sísmicas

(hE), as acelerações serão obtidas da extrapolação linear, enquanto que para os pisos inferiores a essa

altura será tido em conta o acréscimo das acelerações pela aceleração do solo.

Partindo agora das acelerações das paredes solicitadas no seu plano, nos vários pisos, e da relação

entre a frequência/período fundamental dos pavimentos (Tf) e dessas paredes (Tr) é possível obter a

resposta em termos de aceleração dos pavimentos.

A figura 11 ilustra o espectro de resposta elástico do pavimento de um hipotético terceiro piso,

resultante da solicitação imposta pelas paredes, por sua vez solicitadas pelo sismo (ag). Pode-se

reparar que:

Para pavimentos muito rígidos (Tf próximo de 0), a aceleração inicial introduzida pelas paredes

não é alterada;

Para pavimentos muito flexíveis, a aceleração de resposta dos pavimentos será baixa;

Para valores de Tf/Tr próximos de 1, poderá ocorrer ressonância amplificando a aceleração

“inicial” das paredes.

23

Figura 11 - Espetro de resposta elástico do pavimento do 3º piso à solicitação imposta pelas paredes, adaptado

de (Paulay & Priestley 1992)

Como já referido, as acelerações aumentam em altura no edifício e como tal, os pisos superiores e a

cobertura estão submetidos às máximas acelerações. Aliando isto, ao baixo nível de carga gravítica

sentido nestes pisos, o qual leva a paredes menos comprimidas e, portanto, mais instáveis, é

expectável que o colapso das paredes ocorra nos pisos superiores. Esta situação é comum no

comportamento sísmico dos edifícios de alvenaria.

A fase final do caminho de energia nos edifícios de alvenaria está representada na figura 12, para um

dos pisos. As forças de inércia geradas nas paredes solicitadas para fora do seu plano são provocadas

pelas acelerações provenientes dos pavimentos (ai e ai+1), na base e topo da parede. Como pode ser

observado no espetro de resposta, a magnitude das acelerações depende, desta vez, da relação entre

o período natural da resposta das paredes solicitadas para fora do plano (Tir) e dos pavimentos (Tf).

No entanto, à medida que as fissuras aparecem e começa a ocorrer o derrubamento da parede, o

período fundamental e o amortecimento da parede irá aumentar (perda de rigidez), mudando a resposta

de amplificação das acelerações provenientes dos pavimentos. Caso o período se altere de 1 para 2

(ver figura 12), a resposta das paredes vai ser afetada por ressonância, sendo amplificada. Contudo

para maiores deslocamentos, o período e o amortecimento poderá aumentar tanto que se dê o caso

de as acelerações de resposta serem inferiores às impostas pelo pavimento (caso 3).

A grande flexibilidade dos pavimentos torna indispensável, para um bom desempenho sísmico dos

edifícios de alvenaria, uma boa ligação entre as paredes ortogonais para que “trabalhem” em conjunto,

impedindo o comportamento frágil e pouco resistente das paredes para fora do seu plano. O “efeito

caixa” presente nas paredes permite associar à flexão para fora do plano de uma parede, a flexão no

plano da parede ligada, aumentando em muito a resistência do edifício, mas também a sua ductilidade.

Este efeito será tanto melhor quanto menos comprida for a parede a contraventar. Para este efeito a

contribuição das paredes interiores é também bastante importante. Apesar de apresentarem fraca

resistência e rigidez (em relação às exteriores), as paredes interiores são importantes no travamento

para fora do plano das empenas e fachadas presentes nos edifícios.

24

Figura 12 – a) Forças de inércia geradas nas paredes solicitadas para fora do plano; b) Espetro de resposta elástico das paredes solicitadas para fora do seu plano às acelerações impostas pelos

pavimentos adaptado de (Paulay & Priestley 1992)

Contudo, nos edifícios gaioleiros as ligações entre paredes são fracas comprometendo o “efeito caixa”

discutido. Facto justificado pelo difícil imbricamento das unidades de alvenaria das paredes a ligar como

pela formação de fendas na zona de ligação das paredes, devido a assentamentos ocorridos ao longo

da vida da estrutura (Frazão, 2013).Por outro lado, as exigências habitacionais desde a construção dos

gaioleiros à atualidade alteraram-se muito, sendo que hoje as várias assoalhadas dos fogos costumam

ter uma área superior. Consequência deste facto, em recentes intervenções nos gaioleiros tem-se

verificado a remoção de paredes interiores que para além de poderem ter influência no comportamento

do edifício às cargas gravíticas, vão certamente por em causa o desempenho sísmico do mesmo.

Uma opção viável para resolver este problema seria atuar ao nível dos pavimentos de forma a terem

um comportamento mais próximo de diafragma, aumentando a sua rigidez na direção perpendicular ao

vigamento de madeira, e melhorando a sua ligação com as paredes.

O problema do colapso para fora do plano das paredes aumenta ainda a sua importância com a altura

do edifício, como referido anteriormente. Se o pavimento dos vários pisos não estiver adequadamente

ligado à parede, esta terá um comportamento para fora do plano em conjunto, agrupando diversos

pisos consecutivos. Caso contrário, as paredes comportam-se de forma isolada entre pavimentos.

25

4.6 Comportamento Conjunto de Edifícios de Alvenaria

Como já referido os edifícios gaioleiros eram construídos em quarteirões, existindo dois tipos de

edifícios: os edifícios de correnteza e os edifícios de gaveto (canto). No entanto, nos quarteirões a

construção nem sempre ocorreu de forma ordenada, na qual seria esperado que os edifícios a construir

fossem adjacentes aos já existentes. Contrariamente, numa fase inicial os edifícios eram construídos

como unidades independentes (edifícios isolado) e numa fase posterior o espaço entre estes era então

edificado constituindo, desta forma, uma continuidade e acabando por se formar o quarteirão. Devido

a este facto é possível distinguir diferentes interações entre as paredes de empena de edifícios

adjacentes, sendo que essa interação é:

Inexistente quando os edifícios adjacentes se encontram separados;

Fraca quando os edifícios adjacentes foram construídos em períodos diferentes, devido à difícil

interligação das unidades de alvenaria (situação mais comum);

Boa “ligação” quando as empenas são constituídas por uma parede única partilhada pelos

edifícios adjacentes (prática habitual nos edifícios pombalinos não sendo tão comum na

construção dos edifícios gaioleiros).

Esta interação é importante quando analisamos um edifício e a sua envolvente. Intuitivamente, é

percetível que, analisando um gaioleiro na correnteza de um quarteirão, o seu principal modo de

vibração está associado à translação do edifício na direção perpendicular à sua fachada. Isto porque a

resistência dos edifícios adjacentes irá contribuir consideravelmente quando estes forem solicitados na

direção das fachadas, principais e de tardoz.

Assim sendo, esta interação entre as empenas dos edifícios adjacentes irá ter consequências no

comportamento global do edifício, definindo, no limite, se o edifício terá um comportamento isolado ou

em conjunto com os adjacentes. Apesar de tudo, esta contribuição é muito relativa e de difícil

quantificação. Por outro lado, a inserção de edifícios mais rígidos no quarteirão (como edifícios de betão

armado), podem contribuir para controlar os deslocamentos gerados nos edifícios mais flexíveis como

os gaioleiros.

A disposição geométrica no quarteirão dos edifícios de gaveto é muito prejudicial, aumentando muito a

vulnerabilidade sísmica destes edifícios. Nestes casos não existem edifícios adjacentes que permitam

limitar os deslocamentos horizontais consequentes da ação sísmica e como tal, as paredes de empenas

são mais suscetíveis, nomeadamente à rotura para fora do plano.

A presença de edifícios adjacentes com diferentes alturas, situação comum nos gaioleiros devido à

inexistência de regras reguladoras da arquitetura construtiva da época, ou entre os edifícios gaioleiros

e edifícios mais recentes de betão armado, agrava a vulnerabilidades dos gaioleiros. Adicionalmente,

nestes casos, irão surgir mais danos concentrados na zona de impacto dos edifícios, sendo estes mais

visíveis no edifício menos resistentes. Na realidade, o impacto dos pavimentos na altura livre das

paredes de empena do edifício vizinho aumenta significativamente os esforços da mesma, o que poderá

trazer consequências para a sua estabilidade e resistência.

26

5. Modelo em SIG

5.1 Objetivos

Um dos objetivos da presente dissertação foi a criação de uma base de dados na qual são registadas

diversas características dos edifícios gaioleiros, importantes para a avaliação da vulnerabilidade

sísmica desta tipologia construtiva, numa determinada zona da cidade de Lisboa.

Para o efeito a informação recolhida foi compilada num Sistema de Informação Geográfica (SIG), uma

vez que esta solução permite associar a localização geográfica dos edifícios com os restantes dados

recolhidos. Por outro lado, num SIG é possível interpretar, estudar e visualizar os dados

georreferenciados de diversas formas, relevando padrões e tendências espaciais, projetando-os em

mapas.

Desta forma, os dados recolhidos, anexados às características estruturais das restantes tipologias

construtivas, registadas em trabalhos semelhantes, poderão em análises futuras identificar quais os

edifícios em Lisboa mais vulneráveis e quais aqueles que apresentam maior urgência interventiva. Se

forem ainda adicionados dados relativos à demografia e economia da cidade, será também possível

prever, de certa forma, as consequências em termos de perdas (humanas e económicas) que um

determinado evento sísmico poderá causar.

5.2 Metodologia

O trabalho desenvolvido seguiu a metodologia aplicada na dissertação de mestrado de Ferreira

(Ferreira 2014) na qual foi realizada uma base de dados relativa às características estruturais dos

Edifícios Placa no bairro de Alvalade e arredores.

Para desenvolvimento do trabalho foi utilizado o sistema de informação geográfica ArcGIS versão 10.1

(ESRI, 2013).

Os dados de base para a realização do trabalho no SIG considerado consistiram numa série de

conjuntos de dados geográficos (layers) representativas da zona urbana da cidade de Lisboa. Desta

forma, no presente caso, recorreu-se a um conjunto de dados de polígonos no qual se encontram

representados os edifícios e outro de linhas contendo informação dos diversos arruamentos/vias de

comunicação (figura 13). Verificou-se que os dados se encontravam corretamente georreferenciados.

27

Figura 13 – Informação geográfica de base – representação dos edifícios e das vias de comunicação

O desenvolvimento do trabalho consistiu na associação de uma tabela de atributos caracterizadores

dos edifícios ao conjunto de dados geográficos de polígonos “Edifícios” atrás referido. Os atributos

considerados foram os seguintes:

Morada - endereço postal do edifício;

Número de Obra – número do processo de obra registado no Arquivo Municipal de Lisboa;

Área – área de implantação do edifício;

Perímetro - perímetro do polígono do edifício;

Ano – ano de construção do edifício;

Ocupação – tipo de utilização do edifício (habitação/ escritórios/ loja);

Andares – número de pisos acima do solo;

Caves – número de pisos enterrados;

Aberturas por Piso – número de vãos por piso na fachada principal;

Formato – formato em planta da estrutura, classificado de A a D, sendo que um edifício tipo A

corresponde ao edifício tipo 1 e assim respetivamente, na classificação referenciada no ponto

3.1 da presente dissertação;

Tipo de Solo – Solo presente no local do edifício;

Fundações – breve descrição das fundações (materiais e tipo de fundação);

Material de Fachada – material estrutural aplicado na fachada principal;

Material de Tardoz – material estrutural aplicado na fachada de tardoz;

Material de Empena – material estrutural aplicado nas paredes de empena;

Paredes Interiores – solução estrutural aplicada nas paredes interiores ou seu material;

Pavimento em Betão – existência ou não de laje de betão;

Pavimento em Madeira – existência ou não de pavimentos em madeira;

Materiais de Cobertura - materiais aplicados na cobertura do edifício;

Desenhos- existência ou não de desenhos (plantas, alçados, cortes);

Notas – informação adicional relevante

28

A figura 14 ilustra um exemplo de uma tabela de atributos de um edifício presente na área de estudo

(área esta que será descrita no ponto seguinte).

Figura 14 – Tabela de atributos do edifício na Av. Duque d’Ávila, nº26-26B

Partindo dos conjuntos de dados de base para o trabalho, e definida a tabela de atributos para os

edifícios, procedeu-se à recolha de informação.

A informação foi obtida através de sucessivas visitas ao arquivo Municipal do Arco do Cego,

consultando a sua base de dados relativa aos processos de obras do edificado da cidade de Lisboa.

No arquivo, a informação mais relevante encontrava-se presente em peças desenhadas como plantas,

alçados e cortes, mas também em documentos escritos como memórias descritivas.

A pesquisa de informação, para maior rapidez e garantia de resultados, foi efetuada partindo do número

de obra dos edifícios. Para obtenção desta referência recorreu-se à plataforma online “Lisboa Interativa”

(Câmara Municipal de Lisboa, 2012), na qual é possível consultar, em forma de mapa, diversas

informações como as várias moradas e números de obra dos edifícios da zona de Lisboa.

5.3 Área de Estudo

A área de estudo considerada no trabalho encontra-se situada na freguesia Avenidas Novas do

concelho de Lisboa. Esta freguesia surgiu em 2012 por agregação de três antigas freguesias: Nossa

Senhora de Fátima, São Sebastião da Pedreira e ainda uma pequena porção da freguesia de

Campolide. A freguesia Avenidas Novas apresenta 2,99 km2 de área e contava 21 625 habitantes no

recenseamento de 2011.

O nome “Avenidas Novas” foi atribuído devido ao grande desenvolvimento urbano de expansão da

cidade de Lisboa para norte, nos finais do século XIX e início do século XX. Como tal, nesta freguesia

29

concentram-se em grande número exemplares da construção gaioleira. A história a descrição do

desenvolvimento urbanístico desta freguesia já foram abordados na seção 3.2.

O trabalho desenvolvido concentrou-se numa área (figura 15) delimitada por:

A norte pela Avenida de Berna;

A nascente pela Avenida Defensores de Chaves;

A poente pela Avenida Visconde Valbom;

A sul pela Avenida Duque de Ávila.

Figura 15 – Área de estudo.

A escolha da área de estudo foi também influenciada pela existência de vários trabalhos sobre o

edificado desta zona, nomeadamente a dissertação para obtenção de grau de mestre em Construção

de Nereu (Nereu, 2001), na qual foi realizada a caracterização, de forma generalista, do parque

habitacional desta área de intervenção e o livro “Reabilitação de Edifícios “Gaioleiros” – Um Quarteirão

em Lisboa” (Appleton, 2005), no qual é caracterizado exaustivamente um quarteirão inserido nesta área

de Lisboa.

5.4 Resultados

A área de intervenção contava com cerca de 400 edifícios, entre eles edifícios gaioleiros, edifícios de

placa e edifícios modernos com estrutura integral em betão armado. Recorrendo à bibliografia atrás

referida, foram eliminados da pesquisa no Arquivo Municipal do Arco do Cego cerca de 60% dos

edifícios, uma vez a sua tipologia construtiva não constava do âmbito da presente dissertação. No

arquivo foram, portanto, consultados 146 processos.

A maioria da informação disponível no arquivo relativa aos processos consultados não contribuía para

o desenvolvimento do trabalho. A informação mais interessante encontrava-se em peças desenhadas

(figura 16) e memórias descritivas (figura 17), quer do projeto inicial dos edifícios quer das suas

alterações.

30

Figura 16 – Exemplo de material consultado

Contudo, mesmo nestes elementos a informação era muito pouco detalhada. Por outro lado, muitos

dos documentos consultados eram digitalizações de antigos manuscritos e de fraca legibilidade,

dificultando a sua examinação.

A figura 17 indica a situação acima descrita, referente a memória descritivas de projetos dos edifícios

gaioleiros consultados, no qual apenas se indica que o edifício seria construído em harmonia com o

regulamento de salubridade de edificações urbanas, tanto no que diz respeito a materiais como pela

forma e dimensão que o projeto indica.

Figura 17 – memória descritiva tipo do projeto de edifícios gaioleiros

Também muitos dos processos consultados não apresentavam qualquer documento sobre o edifício

em questão, sendo muitas vezes a única informação disponível a data de construção da estrutura.

Devido a estes fatores, dos 146 processos consultados apenas foram 60 aqueles que apresentavam

dados suficientes para a caracterização da estrutura como um edifício gaioleiro e poucos foram aqueles

que permitiram completar a tabela de atributos definida (figura 18).

31

Figura 18 – Edifícios gaioleiros caraterizados (a vermelho)

32

6. Avaliação sísmica de um edifício gaioleiro tipo

6.1 Objetivos

Após caracterizada a área de estudo e registada em SIG, foi escolhido um edifício representativo da

tipologia construtiva dos edifícios gaioleiros. O objetivo do presente trabalho foi a avaliação da

vulnerabilidade sísmica desta tipologia, a partir do estudo detalhado de um caso de estudo.

A avaliação sísmica foi realizada com recurso ao programa de cálculo estrutural 3Muri (S.T.A. Data.,

2005) e Tremuri (Lagomarsino et al., 2002), através de análises estáticas não lineares (análises

pushover). Desta forma, foi determinado o desempenho sísmico da estrutura para a ação sísmica

definida segundo o Eurocódigo 8 (CEN, 2010) para a zona de Lisboa.

Espera-se, com a análise deste modelo, avaliar vulnerabilidade sísmica desta tipologia construtiva e

aferir a necessidade de adotar medidas apropriadas ao seu reforço sísmico.

6.2 Análise Estática Não Linear

Os desenvolvimentos científicos e computacionais vividos nos últimos séculos contribuíram para o

aparecimento de novas ferramentas e métodos para avaliação sísmica de estruturas. Atualmente

análises que eram vistas como complexas e morosas, como as análises estáticas não lineares,

deixaram de ter o seu foco apenas na investigação científica apresentando uma componente mais

prática e uso ao nível do dimensionamento/reabilitação de edifícios.

O EC8(CEN, 2010) apresenta dois métodos distintos para análise sísmica de estruturas – análises

lineares e análises não lineares, sendo que cada um destes métodos pode ainda ser dividido em

análises estáticas e análises dinâmicas (Ferrito, 2014). O esquema da figura 19 representa as várias

metodologias de análise propostas no EC8.

Figura 19 – análises sísmicas sugeridas pelo EC8, adaptado de (Ferrito 2014)

O comportamento não linear das estruturas é tido em conta nas análises lineares, muito

aproximadamente, com recurso ao coeficiente de comportamento, que afeta apenas os resultados

finais, estando sempre associada alguma incerteza no valor a este atribuído.

33

Por outro lado, as análises não lineares exploram o comportamento não linear da estrutura, permitindo

definir com maior precisão a distribuição de esforços e danos a que a estrutura estará sujeita quando

ocorre uma ação sísmica intensa. Por esta razão, as análises não lineares têm grande relevância no

âmbito da reabilitação das estruturas, permitindo identificar zonas com maior concentração de danos

e, consequentemente, com maior necessidade de intervenção.

Os efeitos de dissipação de energia oferecem uma última margem de resistência que apenas pode ser

explicada no domínio da resposta não linear, e permitem explorar a resistência da estrutura em estudo.

Contudo, para modelar mais realista o comportamento não linear de estruturas quando sujeitas à ação

sísmica seria necessário recorrer a análises dinâmicas não lineares que são consideradas ainda

demasiado complexas e morosas (Bento & Rodrigues 2004). De forma a obter resultados precisos

através de análises dinâmicas não lineares, é necessário recorrer a sofisticados modelos de elementos

finitos, capazes de simular fenómenos como a degradação de rigidez e resistência. Para que estes

modelos sejam bem definidos, o analista necessita de conhecer bem os fenómenos em causa assim

como ter conhecimento sobre todos os valores necessários à sua caracterização. Por outro lado, nas

análises dinâmicas não lineares, a ação sísmica é definida através de acelerogramas compatíveis com

o espectro de resposta, e deverão ser usados vários acelerogramas e serem realizadas várias análises

no domínio do tempo. Os resultados finais serão obtidos da média dos resultados de cada

acelerograma. Tendo este facto em consideração, mesmo utilizando meios computacionais potentes,

o tempo de cálculo necessário para realizar este tipo de análises é bastante superior aos restantes

tipos de análises.

Assim, as análises estáticas não lineares (análises pushover) acabam por ganhar relevância, não sendo

tão complexas e morosas como as análises dinâmicas não lineares e permitindo considerar mais

corretamente que as análises lineares o comportamento fisicamente não linear das estruturas.

As análises estáticas não lineares (pushover) consistem na avaliação da resposta da estrutura à

imposição de deslocamentos ou carregamentos, progressivamente incrementados, sendo possível

caracterizar a estrutura sob a forma gráfica de uma curva, denominada curva de capacidade.

A curva de capacidade traduz a variação de esforço transverso na base da estrutura (ou força de corte

basal), com o deslocamento no ponto de controlo do edifício, (usualmente o centro de massa do ultimo

piso). A curva pushover permite descrever a resposta inelástica da estrutura submetida à força sísmica

horizontal, permitindo também obter informação essencial para entender o comportamento das

estruturas em termos de rigidez, resistência e deslocamento máximo.

Desta forma, neste tipo de análises não se obtém apenas a resposta da estrutura para quando o

carregamento/deslocamento solicitado equivale à ação sísmica, mas sim todo o histórico da evolução

do comportamento da estrutura. Por outras palavras, a cada ponto da curva de capacidade, está

associado um específico estado de dano no sistema em estudo (que poderá corresponder a uma

determinada intensidade da ação sísmica), sendo possível constatar a evolução de danos na estrutura

ao longo de um sismo e quais as zonas com maior concentração de danos, fator este com bastante

relevância no âmbito da reabilitação de estruturas.

34

A análise sísmica estática não linear é composta pelos seguintes passos (Bento & Rodrigues 2004):

Definição da capacidade resistente da estrutura, através do cálculo da curva de capacidade

que pode ser obtida pela aplicação incremental de cargas ou deslocamentos;

Determinação do ponto de desempenho sísmico ou deslocamento objetivo, através da

definição da ação sísmica e atendendo ao comportamento fisicamente não linear da estrutura;

Avaliação do desempenho sísmico da estrutura – análise dos deslocamentos/rotações e

esforços a que a estrutura se encontra sujeita quando atinge o desempenho sísmico

pretendido.

Existem várias metodologias que recorrem às análises estáticas não lineares, sendo que o EC8 (CEN,

2010) propõe a utilização do Método N2, desenvolvido por Fajfar em 1988. Esta Metodologia foi

também aplicada no âmbito da presente dissertação. A descrição das diferentes fases do método é

apresentada no Anexo D.

6.3 Edifício em estudo

O edifício gaioleiro tipo estudado corresponde à configuração original do edifício localizado na Rua

Visconde Valmor nº37, na freguesia das Avenidas Novas, sendo o seu projeto datado de 1914. O prédio

de habitação apresenta 4 pisos elevados e um piso enterrado (cave) com acesso ao logradouro no

tardoz do edifício, tendo no total cerca de 23,5 m de altura. A sua configuração em planta é retangular

com 14,0 m na direção das fachadas e 18,3 na direção perpendicular (Figura 20).

Figura 20 – Edifício em estudo, Rua Visconde Valmor nº37

A caracterização estrutural do edifício teve como base o projeto inicial consultado no arquivo municipal

de Lisboa que poderá ser consultado no anexo G. Como o edifício se encontra habitado não foi possível

verificar a constituição das paredes estruturais do mesmo, e como tal a caracterização das paredes foi

realizada tendo como base a sua espessura e localização em planta. Na figura 21 encontra-se a

representação da planta do edifico e respetiva constituição das paredes.

35

Figura 21 – Planta do edifício (com constituição das paredes)

A fachada principal e de tardoz são constituídas por alvenaria de pedra. A fachada principal apresenta

0,70m de espessura e a espessura da fachada de tardoz é variável em altura, apresentando na sua

base 0,80m e no topo 0,60m.

As paredes de empena são constituídas por alvenaria de tijolo cheio tendo 0,34m de espessura em

toda a sua altura.

Como apresentado na figura 21 as paredes estruturais interiores são constituídas por alvenaria de tijolo

furado, apresentando na sua maioria 0,11m de espessura (paredes a vermelho). Contudo, as paredes

do núcleo de escadas e dos saguões laterais e interior são bastante mais espessas (paredes a roxo).

As paredes a verde representam paredes divisórias em tabique.

Não foi possível caracterizar os pavimentos existentes no edifício pelo que foram admitidas as

dimensões correntes para o vigamento dos pavimentos de madeira. Os vigamentos de madeira foram

considerados apoiados nas paredes de fachada e nas paredes interiores a estas paralelas, sendo

dispostos paralelos às paredes de empena.

O pé-direito dos vários pisos apresenta diferentes valores pelo que o rés-do-chão e o primeiro andar

apresentam 3,55m, o segundo e o terceiro andar 3,20 e 2,80m, respetivamente. O quarto andar é o

mais alto, constando de um pé direito de 3m.

Alvenaria de pedra irregular

Alvenaria de tijolo cheio (0,34m)

Alvenaria de tijolo furado (0,11m)

Alvenaria de tijolo furado

(0,25m a 0,34m)

Paredes de tabique

36

6.4 Programa Tremuri

A fidelidade dos modelos computacionais constitui uma das mais importantes questões no

desenvolvimento de projetos tanto de obra nova assim como, e em particular, no desenvolvimento de

projetos de reabilitação, na avaliação e dimensionamento das soluções de reforço dos edifícios

existentes.

De forma a facilitar o estudo de estruturas de alvenaria e a aplicação das análises não lineares foram

desenvolvidos diferentes métodos de modelação do comportamento não linear de paredes resistentes

de alvenaria (figura 22).

Destacam-se os seguintes métodos (Lourenço, 1996):

Micro-modelação:

As unidades de alvenaria e a argamassa são modelados como elementos contínuos, sendo

caracterizados exaustivamente, nomeadamente são especificados os seus módulos de

elasticidade, coeficiente de Poisson e ainda se poderá ter em consideração algumas

características não lineares destes elementos. A ligação entre as unidades de alvenaria e

ligante (interface) é modelada através de elementos descontínuos, consistindo num plano de

fragilidade com alguma rigidez inicial. Este tipo de modelação permite estudar o conjunto de

alvenaria, ligante e interface com grande precisão.

Micro-modelação simplificada:

Neste método apenas as unidades de alvenaria são modeladas como elementos contínuos,

enquanto o ligante e a interface unidade de alvenaria/ligante são modelados em conjunto como

elementos descontínuos com propriedades médias entre os dois.

Nesta metodologia perde-se alguma precisão comparativamente à micro modelação uma vez

que já não se entra em consideração com o coeficiente de Poisson do ligante, contudo permite

uma abordagem mais simples.

Macro-modelação:

Nesta metodologia não existe diferenciação entre a unidade de alvenaria, o ligante e a interface

entre estes, sendo a alvenaria modelada como um elemento homogéneo anisotrópico continuo.

Figura 22 – Estratégias de modelação de alvenaria a) micro-modelação; b) micro-modelação simplificada; c)

macro-modelação (Candeias, 2008)

37

As estratégias de modelação de elementos de alvenaria, anteriormente apresentadas, têm diferentes

campos de aplicação. Os estudos que recorrem à micro-modelação têm como principal foco o

conhecimento do comportamento local das estruturas de alvenaria, como por exemplo o estudo do

comportamento de um nembo com geometria particular.

A macro modelação recorre a modelos simplificados que procuram representar as principais

características do comportamento da estrutura procurando minimizar o número de graus de liberdade

(Candeias, 2008). Por outro lado, apenas esta metodologia permite modelar as paredes de alvenaria

com unidades de alvenaria irregulares, como paredes de alvenaria de pedra irregular.

Como referido, neste tipo de modelação a alvenaria é estudada como um material homogéneo e

anisotrópico contínuo, representativo do conjunto unidade de alvenaria mais ligante.

O Tremuri (Lagomarsino et al., 2002) é um software informático que permite a análise estática não

linear de estruturas de alvenaria, sendo as paredes definidas com recurso à macro modelação. O

programa parte do princípio que a estrutura resistente, tanto para cargas horizontais como cargas

verticais, é composto por paredes e pavimentos (Penna et al. 2004).

As paredes são modeladas, recorrendo a um pórtico tipo (equivalente frame model) constituído por

macro-elementos. O pórtico é constituído por um conjunto de elementos deformáveis, nembos e lintéis,

nos quais está concentrado o comportamento não linear da parede, e ligados por nós rígidos. Os

nembos e lintéis são modelados através de um elemento não linear tipo “viga” de 2 nós (figura 23).

Figura 23 - Representação de um macro-elemento, com as variáveis cinemáticas (u, w, φ) e forcas interiores (N,

V, M) (adaptado de (Lagomarsino et al., 2013))

A modelação recorrendo ao pórtico equivalente (equivalent frame model), figura 24, é sugerida tanto

pelo regulamento sísmico europeu EC8 (CEN, 2004) assim como pela norma italiana NTC2008 (NTC,

2008) e permite a modelação de estruturas recorrendo a um número reduzido de graus de liberdade, e

com razoável esforço computacional, permitindo a análise de modelos tridimensionais de estruturas de

alvenaria obtidas pela junção de várias paredes resistentes e pavimentos, contribuindo estes com a

sua resistência e rigidez no seu plano (Lagomarsino et al. 2013).

38

Figura 24 - “equivalent frame model”(Lagomarsino et al., 2013)

Esta abordagem de modelação permite ainda a implementação de outros elementos estruturais, como

vigas ou colunas de aço/betão armado, em conjunto com a estrutura de alvenaria.

Como referido, e tendo como base o comportamento no plano de paredes resistentes de alvenaria com

aberturas, surgem dois tipos de macro elementos: Os nembos e os lintéis.

A sua definição geométrica surge da observação do padrão de dano nas paredes de alvenaria aos

sismos, pelo que a rotura e a fendilhação normalmente ocorre nestes elementos.

Os nembos são os principais elementos verticais resistentes das paredes, suportando tanto as cargas

verticais como horizontais (sismo).

Os lintéis, parte da parede entre duas aberturas verticalmente alinhadas, são elementos horizontais

secundários (no que diz respeito às cargas verticais), contudo compatibilizam a resposta de nembos

adjacentes no caso das cargas horizontais. Os lintéis afetam as “condições de fronteira” dos nembos,

restringindo-os e, desta forma têm uma influência significativa no comportamento da parede às ações

horizontais.

Após a modelação da parede de alvenaria e restantes elementos, recorrendo ao pórtico tipo, a precisão

do modelo depende apenas na caracterização correta de cada um destes elementos estruturais.

Em resumo as características únicas do Tremuri são (Lagomarsino et al. 2013):

Programa especificamente desenvolvido para a análise sísmica de estruturas de alvenaria,

com facilidade em implementar diferentes formulações para os painéis de alvenaria e diferentes

algoritmos para análises pushover;

Permite a modelação dos pavimentos como diafragmas flexíveis;

Junção 3D de paredes de alvenaria, com comportamento no seu plano, e pavimentos,

reduzindo drasticamente o número de graus de liberdade do modelo.

6.4.1 Programa Tremuri – Lei constitutiva multilinear.

Como referido, a correta modelação da estrutura depende de uma correta caracterização dos diversos

elementos do pórtico tipo representativo das paredes de alvenaria. O Tremuri permite a caracterização

de cada tipo de macro elemento, nomeadamente no que diz respeito à sua rigidez, resistência, e

39

deslocamento último admissível, através da implementação de uma coerente relação força-

deslocamento e apropriados valores drift 1 limites.

Na presente dissertação, a resposta dos painéis foi modelada por elementos viga não lineares, com lei

constitutiva multilinear (figura 25). Esta abordagem fenomenológica teve como objetivo uma

caracterização mais precisa do comportamento não linear dos macro elementos até estes atingirem

níveis de dano (damage levels – DL) elevados.

Cada nível de dano, DL, é definido em termos de drift limite (δE) e correspondente decréscimo de

resistência (βE). Os valores são distintos para cada tipo de painel (nembo ou lintel) e dependem também

do seu modo de rotura (Simões et al. 2013).

Figura 25 – Lei constitutiva multtilinear

Após o colapso, isto é, assim que ocorre o nível DL5 (na figura 25 DS5), o elemento apenas mantém a

capacidade de suportar cargas verticais.

O ramo inicial elástico é diretamente definido pela rigidez à flexão ou ao corte do painel. A lei constitutiva

multilinear tem ainda em atenção a degradação de rigidez considerando o rácio entre a rigidez elástica

e secante no ponto onde a resistência máxima é atingida (𝑘𝑖𝑛 = 𝑘𝑒𝑙/𝑘𝑠𝑒𝑐) e o rácio entre o valor de corte

no final da fase elástica e a resistência máxima ao corte (𝑘0).

A resistência última de corte é definida considerando a possibilidade de ocorrência de rotura por flexão,

corte ou uma rotura mista do painel.

Os gráficos seguintes resumem as leis constitutivas aplicadas para os diferentes elementos: nembos

com comportamento à flexão (figura 26) e com comportamento ao corte (figura 27) e lintéis (figuras 28).

1 Drift – Razão entre o deslocamento relativo horizontal e a altura

40

Figura 26 – Lei constitutiva dos nembos solicitados à flexão

Figura 27 –Lei constitutiva dos nembos solicitados ao corte

Figura 28 - Lei constitutiva dos lintéis

A resistência ao corte dos painéis foi definida através da rotura por fendilhação diagonal segundo o

critério de Turnšek e Sheppard (equação 3) sugerida no regulamento sísmico italiano (NTC, 2008) para

edifícios de alvenaria existentes:

𝑉𝑢 = 𝑙𝑡1.5𝜏0

𝑏√1 +

𝜎0

1.5𝜏0= 𝑙𝑡

𝑓𝑡

𝑏√1 +

𝜎0

𝑓𝑡= 𝑙𝑡

1.5𝜏0

𝑏√1 +

𝑁

1.5𝜏0𝑙𝑡 (3)

Onde:

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

0 0,5 1 1,5 2

V/Vu

δE (%)

Nembo: comportamento à flexão

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

0 0,5 1 1,5 2

V/Vu

δE (%)

Nembo: comportamento ao corte

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

0 0,5 1 1,5 2 2,5

V/Vu

δE (%)

Lintel: corte e flexão

DL3 DL4 DL5

DL3

DL4

DL5

DL3

DL4 DL5

Kin = 1,5

Ko = 0,65

δ3 = 0,6%

δ4 = 1%

δ5 = 1,5%

βE4 = 15 %

Kin = 1,5

Ko = 0,65

δ3 = 0,3%

δ4 = 0,5%

δ5 = 0,7%

βE3 = 30 %

βE4 = 60 %

Kin = 1,5

Ko = 0,65

δ3 = 0,2%

δ4 = 0,6%

δ5 = 2,0%

βE3 = 50 %

41

ft – tensão resistente do painel á tração

τ0 – tensão resistente do painel ao corte

b – relação entre a altura e o comprimento da parede (esbelteza); b =h/L mas 1≤ b ≤ 1,5

A resistência à flexão dos nembos foi definida pelo critério usual proposto tanto no EC8 (CEN 2004b),

na norma italiana (NTC 2008), e pela American Society of Civil Engineers (ASCE, 2007). Admite-se que

a alvenaria é um material sem resistência à tração e que as tensões de compressão na secção seguem

uma distribuição aproximadamente retangular (com fator α = 0,85).Desta forma a resistência por flexão

é definida pela equação (4):

𝑀𝑢 =𝑙2 𝑡 𝜎0

2(1 −

𝜎0

0,85𝑓𝑚) =

𝑁 𝑙

2 (1 −

𝑁

𝑁𝑢) (4)

Onde:

l – largura do painel;

t – espessura do painel;

N – compressão axial (sendo o valor de compressão positivo);

σ0 – tensão normal, no qual 𝜎0 = 𝑁

𝑙 𝑡 ;

fm – resistência média à compressão da alvenaria.

Contudo, segundo a definição dos macro elementos, o equilibro global deve sempre ser verificado, pelo

que, se o momento atuante é reduzido de forma a não ultrapassar o momento resistente então, o valor

do esforço transverso terá que ser recalculado de forma a que seja verificada a equação (5).

𝑉𝑖 = −𝑉𝑗 =𝑀𝑖+𝑀𝑗

ℎ (5)

A resistência à flexão dos lintéis foi definida considerando uma resistência equivalente à tração destes

elementos, de forma a considerar o efeito de imbricamento das unidades de alvenaria nas extremidades

dos lintéis. Esta tese foi proposta por Cattari e Lagomarsino (Cattari & Lagomarsino 2008) e

posteriormente comprovado experimentalmente(Cattari et al. 2012). Os resultados demonstram

também que os lintéis apresentam maior capacidade de deformação que os nembos, como se pode

constatar na lei constitutiva atribuída.

A resistência à tração dos lintéis foi atribuída a todos o tipo de alvenaria presente na modelação,

contudo, no caso da alvenaria de pedra irregular este valor foi considerado metade do utilizado nas

alvenarias de tijolo.

6.5 Modelação

O Modelo foi criado em 3Muri, versão comercial do programa Tremuri que permite uma fácil modelação

do edifício. O propósito do modelo foi a obtenção de curvas de capacidade (curvas pushover) para

posterior análise sísmica do edifício pelo que é de extrema importância modelar o edifício

adequadamente. Para tal foi necessário definir as propriedades dos materiais, secção transversal,

disposição e geometria dos elementos estruturais assim como as cargas que a estrutura se encontra

sujeita.

42

6.5.1 Caracterização dos Materiais

Os materiais estruturais tidos em conta na modelação do edifício em estudo foram: os vários tipos de

alvenaria constituintes das paredes estruturais, a madeira constituinte dos pavimentos, o aço estrutural

e o ferro fundido presente na estrutura da varanda de tardoz.

Para caracterização dos materiais foram tido em conta vários parâmetros como o seu módulo de

elasticidade (E), o módulo de distorção (G), o coeficiente de Poisson (ν), a resistência à compressão

(fm), a resistência característica à compressão (fk), a resistência ao corte () e o peso volúmico (w).

6.5.1.1 Alvenaria

Existem poucos ensaios experimentais caracterizadores das diferentes alvenarias estruturais presentes

nos edifícios gaioleiros, não havendo ainda um consenso quanto aos valores a adotar na modelação

desta tipologia construtiva para os vários parâmetros definidores destes materiais.

Desta forma, foi proposto utilizar os valores referidos em (Simões et al. 2014b). Neste trabalho, as

alvenarias foram definidas partindo como base dos valores propostos na norma italiana (NTC, 2008),

contudo os parâmetros definidores da rigidez, E e G, foram posteriormente reduzidos de forma a ter

em conta o estado fendilhado do material durante a ação sísmica. O fator aplicado aos valores elásticos

para a alvenaria de pedra irregular foi de 0,5, segundo o proposto pelo EC8 (CEN, 2010). Para as

alvenarias de tijolo a redução dos valores iniciais foi de 25%, fundamentado por análises paramétricas

realizadas por (Lagomarsino et al. 2013).

Os valores adotados encontram-se na tabela 2:

Tabela 2 – Propriedades das alvenarias

(kN/m3) E (GPa) G (GPa) fc (MPa) 0 (MPa)

Alvenaria de Pedra Irregular

19 0,900 0,290 1,30 0,026

Alvenaria de Tijolo cheio

18 1,130 0,380 3,200 0,076

Alvenaria de Tijolo Furado

12 0,900 0,300 2,400 0.060

6.5.1.2 Madeira

A caracterização da madeira aplicada nos edifícios existentes é um exercício complexo, dificultado por

aspetos como a grande variabilidade das características na própria espécie e o grau de conservação

da madeira existente (Cardoso et al. 2001).

Foi admitido que a madeira utilizada nos pavimentos pertence à espécie Pinho Bravo (Pinus pinaster,

Ait), espécie frequentemente utilizada nos edifícios gaioleiros. As suas propriedades resistentes

encontram-se resumidas na tabela 3 (LNEC, 1997). Esta madeira foi classificada segundo classe E

43

Tabela 3 – Propriedades resistentes do “Pinho Bravo”(LNEC 1997)

6.5.1.3 Aço estrutural

Admitiu-se que os elementos metálicos constituintes da estrutura do edifício (varandas na fachada de

tardoz) são constituídos por aço da classe S235, consultado em EC3-1(CEN, 2005), à exceção das

colunas metálicas que se consideraram serem constituídas por ferro fundido, assim como os perfis

metálicos presentes no pavimento. (Ferreira & Farinha 1974). As suas propriedades encontram-se

resumidas na tabela 4:

Tabela 4 – Aço e Ferro fundidio

Material E (N/mm2) G (N/mm2) γ (kN/m3) fyk (N/mm2) Ref.

Aço S235 210 000 80 769 79 235 EC3-1

Ferro fundido 100 000 38 000 75 40 Tabelas Técnicas

6.5.2 Ações

A definição das ações verticais a atuarem no modelo é de extrema importância uma vez que a definição

da massa da estrutura tem grande impacto no comportamento dinâmico da mesma.

A combinação de ações a ter em conta numa análise sísmica é dada por:

𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑃𝑒𝑟𝑚𝑎𝑛𝑒𝑛𝑡𝑒 + 𝜓2. 𝑆𝑜𝑏𝑟𝑒𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 + 𝑆𝑖𝑚𝑜

À exceção das paredes, a massa dos restantes elementos estruturais é definida pelo seu peso próprio,

valor que é necessário introduzir no software 3Muri (S.T.A. Data., 2005). O peso próprio dos vários

elementos foi calculado com base em valores apresentados nas “Tabelas Técnicas para Engenharia

Civil” (Ferreira & Farinha 1974). Desta forma, para os pavimentos de madeira, cobertura e varandas

considerou-se, respetivamente:

Tabela 5 – Peso próprio pavimentos de madeira

Tábuas de madeira com 0,022m de espessura sobre vigas de madeira afastadas de 0,35 a 0,40m entre eixos

0,50 kN/m2

Esteira de madeira 0,20 kN/m2

Estuque sobre fasquiado, reboco e esboço 0,40 kN/m2

Peso total 1,10 kN/m2

44

Tabela 6 – Peso próprio cobertura

Ripas 0,10 kN/m2

Varas 0,15 kN/m2

Madres e elementos de contraventamento 0,20 kN/m2

Asnas 0,40 kN/m2

Telha de Marselha 0,45 kN/m2

Peso total 1,30 kN/m2

Tabela 7 – Peso próprio varandas

Abobadilha de tijolo de 0,10 a 0,12m de espessura apoiada em vigotas metálicas, incluindo argamassa de ligação dos tijolos

2,10 kN/m2

Peso total 2,10 kN/m2

Foi considerado o valor da sobrecarga a aplicar nas várias zonas segundo o proposto pelo EN 1991-1-

1 tabela NA-6.2 (CEN, 2009). Os coeficientes 𝜓2 foram consultados no EN 1990, quadro A1.1 (CEN,

2009a). A tabela 8 sintetiza os valores utilizados.

Tabela 8 –Sobrecargas e coeficientes 𝜓2

Coeficiente 𝜓2 Sobrecarga (kN/m2)

Pavimento habitação 0,3 2,0

Pavimento escadas 0,3 3,0

Cobertura 0,0 2,0

Varandas 0,3 5,0

6.5.3 Elementos Estruturais

As características dos vários elementos caracterizadores da estrutura do edifício foram obtidas da

consulta do projeto existente na Câmara Municipal de Lisboa.

Contudo, no caso de ausência de informação relativa a elementos fundamentais à modelação do

edifício, foram tomadas hipótese com base em bibliografia consultada, como (Appleton 2005), (Simões

& Bento 2012), entre outros.

6.5.3.1 Paredes Exteriores

As paredes de fachada foram consideradas como sendo constituídas por alvenaria irregular de pedra

com cal aérea, enquanto as paredes de empena foram modeladas como sendo constituídas por

alvenaria de tijolo cheio.

A espessura das paredes e a geometria das aberturas foi consultada no projeto do edifício.

6.5.3.2 Paredes Interiores

As paredes interiores estruturais foram modeladas como sendo constituídas por alvenaria de tijolo

furado.

Houve a necessidade de modelação das paredes de empena, uma vez que no programa 3Muri existe

a necessidade de construir estruturas tipo “caixa”. As paredes de empena foram consideradas como

paredes finas de 7cm (espessura mínima possível de atribuir), constituídas por alvenaria de tijolo

furado.

45

6.5.3.3 Fundações

Uma vez que o edifício apresenta uma cave, presente em apenas parte do edifício e semienterrada,

com acesso ao exterior pela fachada de tardoz, as fundações foram consideradas a diferentes alturas

como pode ser observado na figura 29.

Figura 29 - Modelação da cave

a) vista da fachada principal, b) vista da fachada de tardoz

O programa de cálculo permite restringir todos os movimentos e rotações ao nível das sapatas. As

fundações foram modeladas como encastramentos perfeitos.

6.5.3.4 Pavimentos

Os pavimentos de madeira foram modelados utilizando a interface do 3Muri. Os valores introduzidos

são apresentados na figura 30:

Figura 30 – definição dos pavimentos de madeira

Para o valor de módulo de distorção (G) dos pavimentos de madeira foi considerado o proposto pela

Norma da Nova Zelândia, que define este valor com base em campanhas experimentais (ver anexo E).

No 3Muri o módulo de distorção é definido como módulo de distorção equivalente onde o valor da

rigidez de distorção é dividido pela espessura do diafragma. Com base nos valores apresentados na

figura 29 foi calculado o intervalo de valores a atribuir ao módulo de distorção tendo sido adotado o

valor médio (tabela 9).

Tabela 9 – Intervalo de valores para o módulo de distorção de pavimentos de madeira

Geq (N/mm2) Min. Médio Max.

6.14 11.03 15.91

Com base nos valores atrás referidos o 3Muri modela os pavimentos de madeira como diafragmas com

as seguintes características (figura 31):

46

Figura 31 – Parâmetros calculados – pavimentos de madeira.

Os pavimentos das varandas foram modelados as seguintes propriedades representadas na figura 32:

Figura 32 – Definição dos pavimentos das varandas

Foi admitido que o perfil metálico é um T 70x70 espaçado de 0,53m constituído por ferro fundido. Os

arcos consideraram-se constituídos por alvenaria de tijolo furado.

Com base nos valores atrás referidos o 3Muri modela os pavimentos de madeira como diafragmas com

as seguintes características (figura 33):

Figura 33 - parâmetros calculados – pavimentos das varandas.

6.5.3.5 Vigas Metálicas

As vigas metálicas constituintes da estrutura da varanda no tardoz do edifício foram consideradas U

140x60/7 (figura 34).

Figura 34 – Definição das vigas metálicas

7.5.3.6 Pilares Metálicos

Os pilares metálicos constituintes da estrutura da varanda no tardoz do edifício foram consideradas

CHS101,6x6,3 (figura 35).

47

Figura 35 – Definição das colunas metálicas.

6.5.4 Modelo

Na figura 36 são apresentadas representações 3D do modelo do edifício em estudo.

Figura 36 – Representação 3D do modelo

6.6 Análise Modal

Após conclusão do modelo estrutural, foi realizada a sua análise modal de forma a caracterizar o

comportamento dinâmico da estrutura. Os resultados obtidos permitiram igualmente aferir a modelação

e as hipóteses aplicadas no seu processo, através da interpretação dos resultados e comparação

destes com resultados experimentais de caracterização dinâmica in situ, realizadas em edifícios com

características semelhantes, nomeadamente: tipologia construtiva, altura, forma e dimensões em

planta e “condições de fronteira” (edifício em banda, gaveto).

Importante referir que foram consideradas duas direções principais no edifício, a direção x

correspondente à direção das fachadas e direção y perpendicular à anterior e, como tal, correspondente

à direção das paredes de empena.

6.6.1 Caracterização Modal

A tabela 10 apresenta os principais resultados obtidos da análise modal para os dez primeiros modos

de vibração do modelo: período (T), frequência (f) e a participação de massa em x e y (Mx e My). Estes

48

resultados correspondem ao modelo de edifício considerando um módulo de distorção dos pavimentos

de 11,03 MPa.

É desde já interessante reparar que, devido ao facto de o modelo apresentar pavimentos flexíveis, a

mobilização da massa da estrutura é pequena em cada modo, permitindo também o aparecimento de

modos de vibração locais na estrutura. Pode-se observar que no somatório dos dez primeiros modos

de vibração apenas cerca 63% da massa da estrutura foi mobilizada, nas direções x e y.

Tabela 10 – Análise modal (G=11,03 GPa)

G = 11,03 MPa 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

T(s) 0,80 0,53 0,41 0,41 0,31 0,26 0,23 0,21 0,18 0,17

f(Hz) 1,24 1,90 2,42 2,47 3,24 3,83 4,33 4,75 5,51 5,78

Mx (%) 36% 5% 0% 14% 0% 6% 0% 1% 0% 0%

My (%) 0% 0% 54% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 8%

O primeiro modo de vibração da estrutura (figura 37) corresponde

ao primeiro modo de translação segundo x, sendo mobilizada

36% da massa nesta direção e nenhuma na direção y e z. Este

modo define a frequência fundamental do edifício, apresentando

este um valor de 1,24 Hz. O primeiro modo de vibração pode ser

explicado pela forma retangular do edifício em planta, pelo que,

devido ao facto do edifício apresentar menor rigidez na direção x

seria de esperar que o primeiro modo fosse uma translação nesta

direção. Como se pode constatar pela figura, a massa da estrutura

solicitada neste modo de vibração está relacionada com o

movimento das paredes de empena e paredes interiores, sendo

que a fachada principal e de tardoz não acompanham a

deformação.

O segundo modo de vibração da estrutura (figura 38)

corresponde a um modo local, apresentando pouca mobilização

de massa na direção x (5%) e nenhuma nas restantes direções.

Este modo corresponde à translação em x da fachada principal,

sendo também mobilizada a estrutura a esta conectada.

O terceiro modo de vibração da estrutura (figura 39) corresponde

ao primeiro modo de translação segundo y, havendo uma

participação de 54% nesta direção e 0% nas restantes. Neste modo

de vibração dá-se uma translação “pura” do edifício com uma

translação global em y. A frequência deste modo é de 2,42 Hz.

O quarto modo de vibração (figura 40), à semelhança do segundo modo, corresponde a um modo local

de vibração. Neste modo é mobilizada 14% da massa da estrutura, estando esta concentrada na

Figura 37 -1º modo de vibração

Figura 38 -2º modo de vibração

49

translação segundo x da fachada de tardoz e na estrutura metálica secundária constituinte da varanda.

Este modo apresenta também, como pode ser visto pela sua deformada, alguma distorção associada.

O quinto modo de vibração do modelo (figura 41) apresenta pouca contribuição da massa em ambas

as direções, e consiste num modo de distorção da estrutura. Os restantes modos já não apresentam

grande relevância na caracterização modal da estrutura. Salvaguardando 6º e 10º modo de vibração

da que correspondem a segundos modos de translação da estrutura em x e y, respetivamente.

Figura 41 - 5º modo de vibração

6.6.2 Aferição do Modelo

No âmbito do presente trabalho, não foi possível realizar ensaios de caracterização dinâmica in situ.

Desta forma, a aferição da modelação foi realizada com recurso à comparação das frequências obtidas

da análise modal do modelo, com frequências de vibração obtidas de ensaios de caracterização

dinâmica de edifícios similares, nomeadamente quanto à tipologia construtiva, altura, forma e

dimensões em planta e “condições de fronteira” (edifício em banda, gaveto).

Na dissertação “Análise Dinâmica Experimental de Edifícios de Alvenaria e Avaliação Sísmica de um

edifício tipo” (Catulo 2015), é apresentada uma tabela que sistematiza resultados de ensaios de

caracterização dinâmica de diversos edifícios, obtidos por vários autores (tabela 11). Na tabela indicada

é importante referir que as frequências designadas por longitudinais (Long.) correspondem a uma

Figura 39 – 3º modo de vibração Figura 40- 4º modo de vibração

50

análise na direção da fachada, enquanto que as frequências designadas transversais (Transv.)

correspondem a uma análise dos edifícios na direção das empenas.

Tabela 11 - Registos obtidos dos edifícios de alvenaria lisboetas (Catulo 2015)

Filtrando os valores da tabela de forma a poder comparar com os resultados obtidos da análise modal,

apenas interessam os edifícios da tipologia construtiva gaioleiros que não são de gaveto, e portanto

todos com “restrição dos dois lados”. Assim sendo, pode-se constatar que as frequências de vibração

transversais dos edifícios gaioleiros encontram-se compreendidas entre 2,4 e 4,2 Hz, enquanto que na

direção das fachadas o intervalo das frequências vai desde os 3,2 aos 8,1 Hz.

É também interessante reparar que, mesmo ignorando erros possíveis nos ensaios, os resultados

experimentais apresentam valores algo dispersos, parecendo não haver uma relação direta entre a

frequência de vibração e a altura do edifício, para a tipologia construtiva dos edifícios gaioleiros. Este

facto permite concluir que existem vários fatores (por exemplo as sobrecargas nos edifícios, alterações

51

estruturais a que os edifícios foram sujeitos) que influenciam esta característica dinâmica e que cada

edifício apresenta as suas propriedades.

A análise comparativa é apenas possível entre as frequências transversais dos edifícios caracterizados

por ensaios in situ e o 1º modo de vibração do modelo na mesma direção (direção y). Isto acontece

pelo facto de o edifício ter sido modelado como isolado, não contemplando a rigidez associada aos

edifícios adjacentes nem a massa a estes associada.

De facto, os edifícios adjacentes alteram as características dinâmicas dos edifícios na direção das

fachadas (direção longitudinal), contudo a contribuição destes edifícios na direção transversal (direção

das empenas) é pouco significativa.

Do modelo, obteve-se para o primeiro modo de vibração na direção das empenas um valor de 2,42 Hz.

Este apresenta uma grande contribuição de massa na referida direção e consiste num modo global de

translação. Esta frequência é similar aos valores registados nas análises experimentais (Catulo, 2015),

sendo no entanto um valor baixo.

Depois desta análise comparativa considerou-se que o modelo desenvolvido é representativo da

realidade.

6.6.3 Análise de Sensibilidade ao modo de distorção dos pavimentos flexíveis.

Foi realizado uma análise de sensibilidade ao efeito da rigidez dos pisos no seu plano. Assim, fez-se

variar o valor do módulo de distorção atribuído aos pavimentos de madeira e desenvolveram-se

diferentes análises modais do modelo. Como referido, os pavimentos foram inicialmente modelados

como pavimentos flexíveis, tendo sido adotado o valor módulo de distorção proposto pela norma da

Nova Zelândia de 11,03 N/mm2

Foram definidos quatro modelos com diferentes valores para o módulo de distorção dos pavimentos de

madeira, nomeadamente o modelo inicial e modelos com 4, 10 e 15 vezes o valor do módulo de

distorção inicial. Foi então realizada a análise modal dos vários modelos. Os resultados obtidos são

apresentados nas tabelas 12 a 15.

Tabela 12 – Análise modal (G=11,03 MPa)

G = 11,03 MPa 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

T(s) 0,80 0,53 0,41 0,41 0,31 0,26 0,23 0,21 0,18 0,17

f(Hz) 1,24 1,90 2,42 2,47 3,24 3,83 4,33 4,75 5,51 5,78

Mx (%) 36% 5% 0% 14% 0% 6% 0% 1% 0% 0%

My (%) 0% 0% 54% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 8%

Tabela 13 - Análise modal (G=44,12 MPa)

G = 44,12 MPa 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

T(s) 0,73 0,49 0,41 0,38 0,30 0,26 0,22 0,21 0,18 0,17

f(Hz) 1,37 2,06 2,43 2,66 3,32 3,91 4,62 4,86 5,66 5,88

Mx (%) 44% 1% 0% 11% 0% 7% 0% 1% 0% 0%

My (%) 0% 0% 55% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 8%

52

Tabela 14 - Análise modal (G=110,30 MPa)

G = 110,30 MPa 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

T(s) 0,67 0,44 0,41 0,33 0,29 0,25 0,20 0,19 0,17 0,16

f(Hz) 1,49 2,28 2,45 3,07 3,51 4,04 5,02 5,18 5,84 6,20

Mx (%) 49% 0% 0% 6% 0% 7% 1% 0% 0% 0%

My (%) 0% 0% 55% 0% 0% 0% 0% 0% 5% 3%

Tabela 15 - Análise modal (G=165,45 MPa)

G = 165,45 MPa 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

T(s) 0,66 0,42 0,41 0,30 0,27 0,24 0,19 0,18 0,17 0,15

f(Hz) 1,53 2,39 2,46 3,38 3,67 4,14 5,18 5,57 5,93 6,48

Mx (%) 51% 0% 0% 5% 0% 7% 1% 0% 0% 0%

My (%) 0% 0% 55% 0% 0% 0% 0% 0% 7% 2%

Analisando os resultados, no que diz respeito à deformada dos modos de vibração, estes não sofreram

alteração pelo que o primeiro modo continua a representar o modo de translação segundo x e assim

sucessivamente.

Contudo, com o aumento sucessivo do módulo de distorção dos pavimentos de madeira, pode-se

observar que os valores em termos de frequência e participação de massa de alguns modos de

vibração foram alterados.

Relativamente ao primeiro modo de vibração, com o aumento do módulo de distorção, verifica-se um

aumento da frequência e da participação massa, enquanto que para o terceiro modo de vibração

(primeiro modo de vibração em y), isto não é verificado pelo que a frequência e a participação de massa

permanecem praticamente inalteradas. Este facto é consequência de, ao se aumentar o módulo de

distorção dos pavimentos de madeira do modelo estar-se essencialmente a aumentar a rigidez do

modelo na direção das fachadas (direção x). Isto acontece devido ao facto dos pavimentos se

encontrarem orientados segundo a direção das empenas do edifício (direção y).

Desta forma, é esperado que a frequência aumente nos modos de vibração de translação segundo x,

e não nos modos de vibração segundo y, uma vez que a frequência é proporcional à raiz quadrada da

rigidez. Ao aumentar o módulo de distorção dos pavimentos de madeira, o comportamento destes vai

aproximando-se mais do comportamento de um pavimento rígido. E como tal, o edifício irá apresentar

menos participação de massa nos modos de vibração locais e mais nos modos de vibração globais

como o primeiro modo de vibração.

53

6.7 Avaliação Sísmica do Edifício

6.7.1 Introdução

Utilizando o modelo desenvolvido, foi realizada uma avaliação sísmica do edifício em estudo através

de análises estáticas não lineares, recorrendo ao programa Tremuri (Lagomarsino et al., 2002).

6.7.2 Análise estática não linear

A análise estática não linear (pushover) inicia-se pela definição da capacidade resistente da estrutura.

Isto é conseguido, impondo-se uma distribuição de forças lateral e horizontal, representativa das forças

de inércia sísmicas, e obtendo-se os deslocamentos obtidos ao longo do carregamento.

A resposta da estrutura é analisada através da curva de capacidade (força de corte basal vs

deslocamento horizontal do nó de controlo), que permite obter informação sobre a capacidade do

edifício em termos de rigidez, resistência, ductilidade e deslocamento último.

As análises foram realizadas considerando dois tipos de distribuições de carregamentos: (i) uniforme,

onde a distribuição de forças é aplicada a todos os nós do modelo e com valor proporcional à sua

massa e (ii) pseudo-triangular na qual a distribuição de forças é proporcional ao produto entre a massa

do nó e a sua altura em relação à base.

A escolha da distribuição pseudo-triangular em vez da distribuição proporcional à deformação

associada ao primeiro modo de vibração proposta pelo EC8 (CEN, 2004a) é justificada pela baixa

participação de massa envolvida no primeiro modo de vibração do edifício. Este facto ocorre, uma vez

que os pavimentos, ao serem flexíveis, são incapazes de solicitarem o comportamento dinâmico

conjunto de diferentes paredes. Como tal, apenas algumas paredes estariam envolvidas na análise

pushover, enquanto que utilizando a distribuição pseudo-triangular, a massa de todos os nós é

considerada para obtenção da resposta do edifício (Simões et al. 2014a).

O edifício foi analisado para as suas duas principais direções, sendo a direção x representativa da

direção das fachadas, e a direção y coincidente com a direção das empenas.

Em seguida são apresentadas as curvas de capacidade obtidas das várias análises (figura 42). Estas

curvas representam a força de corte basal da estrutura (Vb) em função do deslocamento médio de

todos os nós localizados no último piso (d).

Apesar de, para cada análise, ser escolhido um único nó de controlo, nó do ultimo piso pertencente à

primeira parede a colapsar (de forma a melhorar a convergência dos resultados), a escolha de

apresentar a média dos deslocamentos do último piso tem como objetivo obter, para uma estrutura com

pavimentos flexíveis, uma descrição mais coerente do comportamento total do edifício, não dando tanta

relevância ao comportamento da parede onde o nó de controlo se encontra.

54

Figura 42 – Curvas de capacidade (pushover), direção x e y, carregamento uniforme e pseudo-triangular

Verifica-se que a distribuição uniforme de forças apresenta em ambas as direções uma força de corte

basal máxima superior à provocada pela distribuição pseudo-triangular. Desta forma, conclui-se que o

carregamento pseudo-triangular é o mais condicionante para avaliação do desempenho sísmico da

estrutura. Por esta razão, de agora avante, na presente dissertação, a avaliação sísmica do edifico terá

apenas em consideração o carregamento pseudo-triangular.

Comparando as curvas das duas direções, é possível constatar que o edifício apresenta maior rigidez

e resistência na direção y, onde a força de corte basal é muito superior à verificada na direção x. Este

facto pode ser justificado pela configuração retangular do edifício e devido à presença das empenas na

direção y, principais paredes resistentes nesta direção que não apresentam aberturas, contrariamente

às fachadas (direção x), que apresentam grande número de aberturas.

Ainda analisando as curvas obtidas em ambas as direções, pode-se verificar que o comportamento na

direção x é muito mais dúctil que o comportamento na direção y, onde as curvas são maioritariamente

representadas pela fase elástica. Este facto prende-se também com a existência de aberturas nas

fachadas e a inexistência destas nas empenas. Apesar de diminuírem a resistência da parede, as

aberturas dividem a parede em vários nembos e lintéis, aumentando a capacidade de redistribuição de

esforços da mesma.

Todas as curvas de capacidade obtidas apresentam uma quebra abrupta, representativa da formação

de um mecanismo de colapso. Desta forma, e como será discutido em seguida, o critério para definição

do deslocamento último, segundo o EC8, através da redução de 20% da resistência máxima da

estrutura não poderá ser aplicado.

6.7.4 Definição do deslocamento último

Para a avaliação sísmica de uma estrutura é fundamental a definição do deslocamento último por esta

suportada. O eurocódigo 8 (CEN, 2010) propõe para a definição do deslocamento último, para o estado

limite último (Limit State of Near Collapse), quando o valor máximo de corte basal sofre uma redução

de 20%.

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1

Vb

(K

N)

d(m)

Curvas de Capacidade

unif. x

triang. x

uniform. y

triang. y

55

Como referido anteriormente, as curvas de capacidade obtidas em ambas as direções do edifício

apresentam uma quebra abruta, representativa da formação de um mecanismo de colapso na estrutura,

não sendo, portanto, possível definir o deslocamento último com base no critério anteriormente referido.

Desta forma o deslocamento último foi definido pelo valor do deslocamento da estrutura associado à

formação do mecanismo de colapso (critério 1). O critério é definido partindo verificação que vários

elementos da estrutura e as várias paredes atingem um certo estado limite de danos quase ao mesmo

tempo. Este facto pode até ser verdade em edifícios com o comportamento tipo caixa com pavimentos

rígidos; contudo nos edifícios de pavimentos flexíveis, as paredes apresentam um comportamento mais

independente. Como tal, o colapso numa parede pode não ser evidente através da curva de

capacidade, se essa parede tiver uma pequena contribuição para a força de corte basal total da

estrutura (Penna et al. 2004).

Assim, o critério 1 para definição do deslocamento último, não tem em consideração a heterogeneidade

da distribuição de danos na estrutura e a possível concentração prematura nalgumas paredes,

podendo-se obter resultados não conservativos.

Foi desenvolvido, no âmbito do projeto Perpetuate (Lagomarsino & Cattari 2014), um novo critério para

avaliação das estruturas de alvenaria com pavimentos flexíveis que, para além dos estados limites

previstos no Eurocódigo 8 (CEN, 2004b), prevê uma análise a várias escalas de correlaciona os danos

do edifício a diferentes níveis: elementos (nembos e lintéis), paredes e o edifício analisado de uma

forma global. Este procedimento, que recorre a diferentes critérios (multicritério), tem como objetivo ter

em conta a possibilidade de ocorrer concentração de danos na estrutura, que não tem necessariamente

que corresponder a um decréscimo de 20% da força de corte basal da estrutura.

Na presente dissertação apenas se teve em conta a análise ao nível das paredes, tendo sido avaliado

o deslocamento entrepisos normalizado (“drift”), colocando um valor máximo para a sua ocorrência

(critério 2). Admite-se, portanto, que ultrapassado esse limite a parede em questão compromete a

segurança estrutural do edifício.

Por outro lado, segundo a Norma Portuguesa NP EN 1998-3 (CEN n.d.), para os edifícios de alvenaria

existentes deve-se apenas considerar o estado limite ultimo de danos severos (Limit State of Significant

Damage - SD) para a avaliação do desempenho sísmico. Para este estado limite, o deslocamento

último, definido pelo critério 1 é reduzido para 3/4 do próprio valor (CEN, 2004b). No caso do critério 2,

o drift para o estado limite de danos severos é limitado por 0,5% (Simões et al. 2014b).

A tabela seguinte sintetiza os diferentes critérios utilizados para cálculo do deslocamento último da

estrutura:

Tabela 16 – Critérios de cálculo do deslocamento último

Estado limite de danos severos

Critério 1 – Global Critério 2 - Parede

SD 3

4𝑑𝑢 𝛿𝑝,𝑙 = 0,5%

56

Na figura 44 é apresentado o mapa de danos das principais paredes de alvenaria corresponde-te ao

deslocamento último da estrutura calculado segundo o critério 1 (formação do mecanismo de colapso),

na direção x para um carregamento pseudo-triangular.

De referir que no anexo A e na figura 43 poderá ser consultado em planta a distribuição das várias

paredes do modelo.

Como é possível observar (figura 44), quando a estrutura atinge o deslocamento último definido

segundo o critério 1 já todos os lintéis das paredes estruturais colapsaram. No momento de formação

do mecanismo de colapso verifica-se que um nembo do rés-de-chão da fachada de tardoz entra em

rotura por flexão, provocando o colapso da estrutura. Por outro lado, a estrutura apresenta uma

distorção ao nível dos pisos, como se pode verificar pela deformada em planta (figura 44 a). A distorção

é causada por assimetria na estrutura sobretudo ao nível das fundações e da cave. Como causa da

distorção, a parede de empena (parede 26, figura 44 c) é também solicitada e entra em colapso.

Na figura 45 é apresentado o mapa de dano correspondente à queda abrupta na curva de capacidade

em y (carregamento pseudo-triangular). É possivel observar que a parede de empena (parede P3)

apresenta um nível de dano elevado concentrado no 3º nível ( correspondente ao 2ºandar). Apesar de

ainda não ter colapsado, isso irá acontecer nos próximos substeps, sendo a rotura provocada por corte

no nembo. Contudo, alguns nembos são solicitados tanto à flexão como ao corte.

Na verdade todas as parede resistentes dispostas segundo y apresentam danos coscentrados no 3º

nível, como pode-se também observar na figura 45 d) (parede de empena P26). Está-se portanto na

presença de uma rotura do tipo “soft storey”, concentrada num piso.

Figura 43 – distribuição em planta das paredes no modelo

P1

P2

P3

P4

P5

P6

P7

P8

P9

P10

P11

P12

P13

P14

P15

P16

P17

P18

P19

P20

P21

P22

P23

P24

P25

P26

P27 P28

P29

57

a) b) c)

c) d)

Figura 44 –Mapa de danos –direção x (a - planta, b - fachada principal (P1), c – fachada de tardoz (P15), d –

parede de empena (P26), e – parede de empena (P3))

P1

P2

P3

P4

P5

P6

P7

P8

P9

P10

P11

P12

P13

P14

P15

P16

P17

P18

P19

P20

P21

P22

P23

P24

P25

P26

P27 P28

P29

1

2 34

5 67

8

9 10

11

12 13

14

15

16 1718

19 2021

22

23 2425

26 2728

29

30 31 32 33 34

35 36

37 3839 40 41 4243 44

45 4647 48 49 5051 52

53 5455 56 57 5859 60

61 6263 64 65 6667 68

69 7071 72 73 7475 76

749 750 751 752 753

N1

N2

N3

N4

N5

N6

N7

N42

N43

N44

N45

N46

N47

N48

N70

N71

N72

N73

N74

N75

N76

N90

N91

N92

N93

N94

N95

N96

N111

N112

N113

N114

N115

N116

N117

N284

N285

N286

N287

N288

N289

N290

343

344 345 346 347

348 349 350 351

352 353 354 355

356 357 358 359

360 361 362 363

364 365

366 367 368 369 370

371 372 373 374 375

376 377 378 379 380

381 382 383 384 385

386 387 388 389 390

880 881 882 883 884

N56

N57

N58

N59

N60

N61

N62

N104

N105

N106

N107

N108

N109

N110

N167

N168

N169

N170

N171

N172

N173

N297

N298

N306

N307

N315

N316

N317

N318

N319

N320

N321

N343

N344

N345

N346

N347

N348

N349

595596

597 598 599

600 601

602 603

604 605

606 607

961 962 963 964 965

966 967 968 969 970 971 972

973 974 975 976 977

978 979 980 981 982

983 984 985 986 987

988 989 990 991 992

n453

n454

N284

N285

N286

N287

N288

N289

N290

N291

N292

N293

N294

N295

N296

N322

N323

N324

N325

N326

N327

N328

N329

N330

N331

N332

N333

N334

N335

N336

N337

N338

N339

N340

N341

N342

N343

N344

N345

N346

N347

N348

N349

N364

N365

N366

N367

N368

N369

N370

7778 79

80 81 82

83 84

85 86

87 88

89 90

754 755 756 757 758

759 760 761 762 763 764 765

766 767 768 769 770

771 772 773 774 775

776 777 778 779 780

781 782 783 784 785

n383

n384

n385

N1

N2

N3

N4

N5

N6

N7

N8

N9

N10

N11

N12

N13

N132

N133

N134

N135

N136

N137

N138

N146

N147

N148

N149

N150

N151

N152

N167

N168

N169

N170

N171

N172

N173

N200

N201

N202

N203

N204

N205

N206

N242

N243

N244

N245

N246

N247

N248

58

a) b)

c) d)

Figura 45 - Mapa de danos –direção y (a – fachada principal (P1), b - fachada de tardoz (P2), c – parede de empena (P3), d- parede de empena (P26)

O deslocamento entrepisos foi calculado para todas as paredes estruturais do edifício, e para todos os

pisos. Devido ao facto de os pavimentos de madeira apresentarem um comportamento flexível,

aquando do cálculo dos deslocamentos entrepisos foi tido em conta tanto a contribuição do

deslocamento horizontal como os deslocamentos provocados pela rotação dos nós de extremidade dos

nembos (obtidos do Tremuri).

Através de uma análise gráfica foi possível analisar para cada parede em que nível e substep ocorreu

um drift de 0,5% (anexo B). Comparando as várias paredes foi possível concluir qual a parede que

primeiro atinge o drift de 0,5% e qual o substep em que este ocorre. Posteriormente foi relacionado o

substep em que a parede condicionante atinge o drift de 0,5% com os deslocamentos médios do último

piso do edifico obtidos da análise pushover, obtendo assim o deslocamento último segundo o critério

2. As tabelas seguintes apresentam o substep e o nível, para cada parede em que ocorre o drift de

0,5%.

1

2 34

5 67

8

9 10

11

12 13

14

15

16 1718

19 2021

22

23 2425

26 2728

29

30 31 32 33 34

35 36

37 3839 40 41 4243 44

45 4647 48 49 5051 52

53 5455 56 57 5859 60

61 6263 64 65 6667 68

69 7071 72 73 7475 76

749 750 751 752 753

N1

N2

N3

N4

N5

N6

N7

N42

N43

N44

N45

N46

N47

N48

N70

N71

N72

N73

N74

N75

N76

N90

N91

N92

N93

N94

N95

N96

N111

N112

N113

N114

N115

N116

N117

N284

N285

N286

N287

N288

N289

N290

343

344 345 346 347

348 349 350 351

352 353 354 355

356 357 358 359

360 361 362 363

364 365

366 367 368 369 370

371 372 373 374 375

376 377 378 379 380

381 382 383 384 385

386 387 388 389 390

880 881 882 883 884

N56

N57

N58

N59

N60

N61

N62

N104

N105

N106

N107

N108

N109

N110

N167

N168

N169

N170

N171

N172

N173

N297

N298

N306

N307

N315

N316

N317

N318

N319

N320

N321

N343

N344

N345

N346

N347

N348

N349

7778 79

80 81 82

83 84

85 86

87 88

89 90

754 755 756 757 758

759 760 761 762 763 764 765

766 767 768 769 770

771 772 773 774 775

776 777 778 779 780

781 782 783 784 785

n383

n384

n385

N1

N2

N3

N4

N5

N6

N7

N8

N9

N10

N11

N12

N13

N132

N133

N134

N135

N136

N137

N138

N146

N147

N148

N149

N150

N151

N152

N167

N168

N169

N170

N171

N172

N173

N200

N201

N202

N203

N204

N205

N206

N242

N243

N244

N245

N246

N247

N248

595596

597 598 599

600 601

602 603

604 605

606 607

961 962 963 964 965

966 967 968 969 970 971 972

973 974 975 976 977

978 979 980 981 982

983 984 985 986 987

988 989 990 991 992

n453

n454

N284

N285

N286

N287

N288

N289

N290

N291

N292

N293

N294

N295

N296

N322

N323

N324

N325

N326

N327

N328

N329

N330

N331

N332

N333

N334

N335

N336

N337

N338

N339

N340

N341

N342

N343

N344

N345

N346

N347

N348

N349

N364

N365

N366

N367

N368

N369

N370

59

Tabela 17 – análise de drifts, direção x e y

Triang. X

Parede Step Nível

P1 65 6

P15 80 6

P16 111 5,6

P22 77 5

P17 102 6

P19 113 4

P20 113 5,6

P18 105 5

P13 115 6

P12 100 6

P21 85 5

P25 78 6

P24 145 4

P23 130 4

P29 108 6

P27 _ _

P10 _ _

P3 _ _

P26 _ _

Analisando os resultados obtidos para a direção segundo x, podemos verificar que os drifts são

superiores nos pisos mais elevados, sendo que a primeira parede a verificar o drift de 0,5% é a fachada

principal do edifico (parede 1), no ultimo piso. Este resultado seria esperado uma vez que esta parede

tem grande influência no comportamento sísmico da estrutura, nesta direção. Pode-se também

constatar que, na análise segundo x, as paredes dispostas na direção y não obtiveram um

deslocamento entrepisos superior a 0,5%.

Na figura 46 é representado o desenvolvimento do drift para os diferentes pisos, para a parede 1, em

função do deslocamento médio verificado ao longo da análise pushover segundo x.

Triang. Y

Parede Step Nível

P1 _ _

P15 _ _

P16 _ _

P22 _ _

P17 _ _

P19 _ _

P20 _ _

P18 136 6

P13 _ _

P12 _ _

P21 _ _

P25 126 6

P24 _ _

P23 _ _

P29 _ _

P27 177 3

P10 151 3

P3 159 3

P26 147 3

60

Figura 46 – Drift da parede 1 em função do deslocamento- pushover x

Na análise segundo y, verifica-se que as paredes interiores 18 e 25 (figura 47) são as

primeiras a verificarem um drift de 0,5%. Contudo, este é causado pelo facto de

existirem nembos muitos esbeltos nestas paredes (devido à existência de aberturas),

que colapsam precocemente. Contudo estas paredes não apresentam grande

relevância para a estrutura na direção y, e como tal, não condicionam o deslocamento

último da estrutura nessa direção.

A parede que condiciona o deslocamento último da estrutura, na direção y, é então a

parede 26 (empena), que apresenta o maior drift no 3º nível. Este resultado é

coerente com o mapa de danos anteriormente apresentado, onde os danos

encontravam-se concentrados também a este nível.

A figura 48 representa o desenvolvimento do drift para os diferentes pisos,

para a parede 26, em função do deslocamento médio verificado ao longo da análise pushover

segundo y

Figura 48 - Drift da parede 26 em função do deslocamento- pushover y

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

0 0,02 0,04 0,06 0,08

dri

ft (

%)

d(m)

Parede P1 - pushover x

drift_P1_L1

drift_P1_L2

drift_P1_L3

drift_P1_L4

drift_P1_L5

drift_P1_L6

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05

dri

ft(%

)

d(m)

Parede 26 - pushover y

drift_P26_L1

drift_P26_L2

drift_P26_L3

drift_P26_L4

drift_P26_L5

drift_P26_L6

579

580

581

582

583

584

585 586

587 588

589 590

591 592

593 594

959 960

n451

n452

N277

N278

N279

N280

N281

N282

N283

N336

N337

N338

N339

N340

N341

N342

Figura 47 – Parede 25

61

Finalmente, o gráfico presente na figura 49 representa sobre a curva de capacidade resistente, para

ambas as direções da estrutura, o deslocamento último calculado segundo os dois critérios

apresentados.

Figura 49 – deslocamentos últimos segundo o critério 1 e 2

6.7.5 Definição da ação sísmica

A ação sísmica foi definida segundo o proposto pelo Eurocódigo 8 (CEN, 2010), e pelo respetivo anexo

nacional sendo esta definida sobre a forma de espectro de resposta para um período de retorno de 475

anos, que corresponde uma probabilidade de excedência de 10% em 50 anos. Para Portugal existe a

possibilidade de ocorrência de dois tipos de sismos, definidos no Eurocódigo 8 como: sismo do tipo 1

(sismo afastado ou interplacas) e sismo do tipo 2 (sismo próximo ou intraplacas).

De salientar que a ação sísmica considerada é estipulada para obras novas, pelo que para edifícios

existentes, o período de retorno na definição da ação poderia ser diminuído, reduzindo a intensidade

da ação sísmica.

Os espectros de resposta são definidos tendo como base vários fatores como:

Zoneamento sísmico – Segundo o Anexo Nacional, Portugal está dividido em zonas com

diferente grau de sismicidade, consoante se trate de um sismo tipo 1 ou tipo 2. Lisboa, zona

do presente trabalho, classifica-se em zona 1.3 e 2.3 para sismos do tipo 1 e 2, respetivamente

Tipo de terreno – Com base na carta geológica presente no anexo F, e conservativamente, o

terreno na qual o edifício em estudo se encontra fundado foi considerado do tipo C.

Classe de importância – Segundo o Eurocódigo 8, os edifícios correntes de habitação

pertencem à classe de importância II.

Amortecimento viscoso – Para o edifício em estudo foi atribuído um amortecimento

viscoso de 5%.

A tabela 18 resume os vários parâmetros utilizados para definir os espectros de resposta elásticos

0,075; 804,210,026; 581,07

0,039; 2755,410,031; 2767,15

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1

Vb

(K

N)

d(m)

Curvas de Capacidade

triang. x

critério 1_x

critério 2_x

triang. y

critério 1_y

critério 2_y

62

Tabela 18 – Parâmetros de definição do espectro de resposta

O espectro de resposta é genericamente apresentado sobre a forma de aceleração em função do

período. Contudo para aplicação do método N2, o espectro de resposta deve ser representado no

formato aceleração-deslocamento (ADRS – acceleration displacement response spectrum). A

expressão 6 permite relacionar a resposta em termos de deslocamentos com o período e a aceleração.

𝑆𝑑𝑒 = 𝑇2

4𝜋2 . 𝑆𝑎𝑒 (6)

A figura 50 apresenta o espectro de resposta para o sismo tipo 1 e tipo 2. É possível constatar,

atendendo às características dinâmicas do edifício em estudo, que o sismo tipo 1 é mais condicionante

para a análise sísmica do edifício pelo que apenas este será considerado.

Figura 50 – espectro de resposta sismo 1.3 e 2.3, formato aceleração deslocamento)

6.7.6 Cálculo do deslocamento objetivo

A avaliação sísmica do edifício é realizada através do cálculo do deslocamento objetivo e posterior

verificação de segurança relativamente ao ponto de desempenho obtido. Este ponto é determinado

pela interseção da curva de capacidade resistente da estrutura com o espectro de resposta que define

a ação sísmica. O deslocamento objetivo é portanto o deslocamento que o edifico apresenta quando

sujeito à ação sísmica definida (Bento & Rodrigues 2004).

Zona 1.3

γI 1,0

ag (m/s2) 1,5 Smax (m/s2)

1,6

S (m/s2) 1,50

TB 0,1

TC 0,6

TD 2,0

η 1,0

Zona 2.3

γI 1,0

ag (m/s2) 1,7 Smax (m/s2)

1,6

S (m/s2) 1,46 TB 0,1 TC 0,25 TD 2,0 η 1,0

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

0 0,05 0,1 0,15 0,2

Sae

(ms2

)

Sde

Espectro de Resposta - ADRS

sismo 1.3

sismo 2.3

63

Como anteriormente referido, o método utilizado para o cálculo do deslocamento objetivo foi o método

N2, previsto pelo Eurocódigo 8 (CEN, 2010). De forma a poder-se comparar a curva de capacidade

com o espectro de resposta da estrutura é necessário transformar as curvas de capacidade e utilizar o

espectro de resposta sob a forma aceleração-deslocamento.

As curvas de capacidade obtidas da análise pushover do edifico, estrutura com n graus de liberdade

(g.d.l.), devem ser transformadas numa curva equivalente para um sistema com um grau de liberdade

(SDOF – single degree of freedom). Para tal, utiliza-se o fator de transformação (Γ) determinado pelo

programa Tremuri, para ambas as direções (x e y).

De forma a poder-se calcular o período elástico do sistema equivalente com 1 g.d.l. (T*) é necessário

obter a curva de capacidade bilinear, representando o comportamento da estrutura como elásto-

perfeitamente plástico. A rigidez inicial da curva bilinear (fase elástica) foi determinada pelo ponto da

curva de capacidade correspondente a 70% da força de corte basal máxima.

O ponto (Fy*, dy*), onde Fy* corresponde à força de corte basal máxima, isto é, a força de corte na base

correspondente à formação do mecanismo de colapso e dy* o deslocamento que marca a transição da

fase elástica para a fase plástica do sistema, é definido para que a área inferior à curva de capacidade

do sistema de 1 g.d.l. e a curva de capacidade bilinear sejam iguais. Desta forma, está-se a garantir

que a energia de deformação seja a mesma, ao bilinearizar-se a curva de capacidade.

A tabela 19 resume as várias propriedades das curvas de capacidade bilineares calculadas para a

direção x e y do edifício, assim como para o critério 1 e 2 de definição do deslocamento último. A

ductilidade (µ*) foi calculada através da relação entre o deslocamento último (du*) e o deslocamento

de cedência da estrutura (dy*).

Tabela 19 – Propriedades das curvas de capacidade bilineares

Direção x Direção y

Crit. 1 Crit. 2 Crit. 1 Crit. 2

Γ 1,180 1,180 1,299 1,299

T* (s) 1,198 1,111 0,408 0,408

Ke (kN/m) 22822,23 26540,84 216018,61 216018,61

Fy* /m* (m/s2) 0,808 0,632 2,299 2,292

dy* (m) 0,029 0,020 0,010 0,010

du* (m) 0,063 0,022 0,030 0,026

µ* 2,16 1,12 3,14 2,70

A aplicação do critério 1 é mais correta para avaliação da ductilidade da estrutura uma vez que se tem

em consideração o deslocamento responsável pela formação do mecanismo de colapso.

Verifica-se que o modelo apresenta maior ductilidade na direção y. A ductilidade em y é elevada uma

vez que dy* é muito inferior a du* justificado pela elevada rigidez na fase elástica inicial. ´

As figuras 51 e 52 apresentam uma representação gráfica da bilinearização das curvas de capacidade,

para a direção x e y, respetivamente.

64

Figura 51 – Bilinearização da curva de capacidade em x, critérios 1 e 2

Figura 52 –Bilinearização da curva de capacidade em y, critério 1 e 2

Como se pode verificar na direção y a diferença entre os dois critérios é ténue, sendo as curvas de

capacidade bilineares muito parecidas. A principal diferença manifesta-se, como não poderia deixar de

ser, ao nível do deslocamento último.

Após a definição das curvas de capacidade bilineares foi feita a interseção destas com o espectro de

resposta no formato aceleração-deslocamento de forma a calcular-se o deslocamento objetivo (ponto

de desempenho), de acordo com o preconizado pelo método gráfico do N2 (figura 53).

0

100

200

300

400

500

600

700

800

0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08

Vb

* (K

N)

d* (m)

Curva SDOF-direção x

SDOF

Bilinear SDOF_crit.2

Biliniar SDOF_crit.1

du_crit.1

du_crit.2

0

500

1000

1500

2000

2500

0 0,005 0,01 0,015 0,02 0,025 0,03 0,035

Vb

* (K

N)

d*(m)

Curva SDOF-direção y

SDOF

bilinear SDOF_crit.1

bilinear SDOF_crit.2

du_crit.1

du_crit.2

65

Figura 53 – determinação do deslocamento objetivo

Na figura 53 a curvas bilineares representam Fb*/m* em função de d*, de forma a poderem ser

intersetadas com o espetro de resposta.

A tabela 20 resume os valores dos deslocamentos últimos e dos deslocamentos objetivos, calculados

para o critério 1 e 2, para o sismo 1.3 (sismo condicionante).

Tabela 20 – deslocamentos últimos e deslocamentos objetivos para o sistema de 1 g.d.l

sismo 1.3

Direção x Direção y

crit. 1 crit. 2 crit. 1 crit 2

du* (m) 0,063 0,022 0,030 0,026

3/4 du* (m) 0,048 _ 0,023 _

dt* (m) 0,102 0,095 0,030 0,030

Como se pode verificar o deslocamento objetivo é sempre superior ao deslocamento último, podendo-

se concluir que não é verificada a segurança estrutural do edifício em estudo. É ainda relevante afirmar

que os deslocamentos acima apresentados são deslocamentos sofridos pelo sistema equivalente com

um grau de liberdade, contudo estes são proporcionais aos deslocamentos reais (sendo o fator de

transformação a constante de proporcionalidade entre eles).

No gráfico da figura 54 é apresentada a verificação de segurança do edifício ao sismo 1.3, através do

rácio entre o deslocamento objetivo e o deslocamento último para ambas as direções e segundo o

critério 1 e 2. Como já referido a segurança estrutural nunca é verificada, uma vez que todos os rácios

apresentam um valor superior a 1

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

0 0,05 0,1 0,15 0,2

Sae

(ms2

)

Sde

Sismo 1.3

sismo 1.3

CC_crit.1_x

CC_crit.2_x

CC_crit.1_y

CC_crit.2_y

PP_crit.1_x

PP_crit.2_x

PP_crit.1_y

PP_crit.2_y

66

Figura 54 – rácio entre o deslocamento objetivo e o deslocamento último.

É também possível concluir que o critério 2, sendo este a delimitação do valor do deslocamento

entrepisos normalizado à altura do piso no valor de 0,5%, é o mais condicionante na direção x, contudo

na direção y o critério 1, sendo este a comparação do deslocamento objetivo com ¾ do deslocamento

último, é o que apresenta o maior rácio.

Este facto é muito interessante, salientado a importância de considerar-se diferentes critérios para

avaliação da estrutura. O critério 1 é um critério global, que procura verificar a estrutura atendendo à

sua capacidade total, contudo o critério 2 é um critério local, sendo a verificação de segurança

condicionada pela parede estrutural mais danificada, responsável pela possível formação de um

mecanismo de colapso parcial da estrutura.

A verificação de segurança foi também realizada para o sismo 2.3, apesar de este não ser a ação mais

condicionante. Os seus resultados podem ser consultados no anexo C.

2,2

4,3

1,3 1,2

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

dt/

du

Verificação de segurança

dir.x_crit.1 dir.x_crit.2 dir.y_crit.1 dir.y_crit.2

67

7. Conclusões e desenvolvimentos futuros

7.1 Conclusões

Os edifícios gaioleiros, construídos entre o final do século XIX e início do seculo XX num período

expansionista da cidade de Lisboa, são conhecidos como a tipologia construtiva dos edifícios antigos

com o pior desempenho estrutural às ações horizontais (Simões et al., 2013). Os edifícios gaioleiros,

que chegam a ter 5 a 6 pisos elevados, apresentam uma estrutura constituída por paredes de alvenaria

e pavimentos flexíveis de madeira. As paredes de alvenaria conferem à estrutura rigidez e resistência,

sendo estes os principais elementos estruturais onde a massa do edifício se encontra concentrada. Os

pavimentos de madeira são leves e apresentam um comportamento flexível no seu plano. Quando um

edifício gaioleiro está sujeito a ações sísmicas, os pavimentos de madeira não conseguem solicitar de

igual forma as várias paredes resistentes de alvenaria, não permitindo uma distribuição de forças

horizontais proporcional à rigidez dos elementos verticais.

Este trabalho teve como primeira finalidade a criação de uma base de dados relativa à tipologia

construtiva edifícios gaioleiros. Pretendeu-se registar diversas características importantes para a

avaliação da vulnerabilidade sísmica associada a estes edifícios. Para o efeito, os dados foram

armazenados num Sistema de Informação Geográfica (SIG) (ESRI 2013), de forma a associar a

informação sobre as características estruturais dos edifícios com a sua disposição e localização

espacial (mapa).

Esta ferramenta tem variadas funcionalidades, possibilitando a futura implementação de metodologias

de avaliação da vulnerabilidade sísmica e planos de proteção civil. Poderá também permitir a criação

de planos de intervenção e reforço de estruturas, entre outros.

O trabalho concentrou-se numa área de estudo situada na freguesia Avenidas Novas do concelho de

Lisboa, delimitada a norte pela Avenida de Berna, a nascente pela Avenida Defensor de Chaves, a

poente pela Avenida Visconde Valbom e a sul pela Avenida Duque de Ávila.

A informação foi obtida através de sucessivas visitas ao arquivo Municipal do Arco do Cego,

consultando a sua base de dados relativa aos processos de obras do edificado da cidade de Lisboa.

No arquivo, a informação mais relevante encontrava-se presente em peças desenhadas como plantas,

alçados e cortes, mas também em documentos escritos como memórias descritivas.

Existiram diversas complicações associadas à consulta dos documentos. A falta de informação relativa

aos edifícios existentes e a ilegibilidade dos documentos consultados foram as principais dificuldades

verificadas. Dos 400 edifícios presentes na área de estudo foram consultados 146 processos relativos

a edifícios gaioleiros, contudo apenas 60 destes processos apresentavam em arquivo documentos

suficientes à sua caracterização estrutural.

A segunda parte do trabalho teve como objetivo a avaliação do comportamento e vulnerabilidade

sísmica de um edifício gaioleiro tipo, localizado na área de estudo.

68

Partindo do projeto inicial, foi realizado um modelo computacional com a finalidade de reproduzir o

comportamento global do edifício. A estrutura foi modelada com base no método, não linear, de pórtico

equivalente através do programa 3Muri/Tremuri (Lagomarsino et al. 2002). Neste método as diferentes

paredes com aberturas são modeladas recorrendo a macro-elementos (nembos e lintéis) e nós rígidos.

O software utilizado permite o cálculo não linear de estruturas de alvenaria existentes. De forma a obter

resultados mais realistas recorreu-se às leis constitutivas multilineares disponíveis na versão científica

do programa de cálculo (Tremuri), para os diferentes macro-elementos solicitados tanto ao corte como

à flexão.

As curvas de capacidade resistentes foram determinadas através de análises pushover, tendo em

conta apenas o comportamento das paredes de alvenaria no seu plano, partindo do pressuposto que

o colapso destas para fora do seu plano foi devidamente impedido, e atendendo ao comportamento

flexível dos pavimentos de madeira. As curvas de capacidade encontram-se representadas

relativamente ao deslocamento médio do último piso de forma a melhor traduzir o comportamento

global do edifício.

Foram obtidas curvas de capacidade do edifício para as suas direções principais (x, direção das

fachadas e y), e para os carregamento uniforme e pseudo-triangular. Verificou-se que a distribuição

pseudo-triangular de forças é a mais condicionante para a avaliação sísmica da estrutura, tendo,

portanto, sido esta a utilizada nas posteriores análises.

Comparando as curvas das duas direções, é possível constatar que o edifício apresenta maior rigidez

e resistência na direção y, onde a força de corte basal é muito superior à verificada na direção x. Este

facto pode ser justificado pela configuração retangular do edifício e devido à presença das empenas na

direção y, principais paredes resistentes nesta direção que não apresentam aberturas, contrariamente

às fachadas (direção x), que apresentam em grande número.

Ainda analisando as curvas obtidas em ambas as direções, pode-se verificar que o comportamento na

direção x é mais dúctil que o comportamento na direção y. Este facto relaciona-se também com a

existência de aberturas nas fachadas e a inexistência destas nas empenas. Apesar de diminuírem a

resistência da parede, as aberturas dividem a parede em vários nembos (e lintéis), aumentando a

capacidade de redistribuição de esforços da mesma.

A avaliação sísmica do edifício foi realizada através de uma análise estática não linear. Foram utilizados

dois critérios diferentes para definição do deslocamento último da estrutura. Uma vez que as curvas de

capacidade apresentam uma interrupção abrupta, não havendo uma degradação da força de corte

basal, o primeiro critério para cálculo do deslocamento último tem em conta a formação de mecanismos

de colapso parciais (critério 1). O segundo critério procurou atender à possível concentração de danos

nalgumas paredes, tendo sido limitado o deslocamento entrepisos das várias paredes pelo valor de

0,5% (critério 2).

69

Foi possível constatar, através dos mapas de danos, o desenvolvimento dos danos ao longo da

aplicação do carregamento lateral (análise pushover) e desta forma perceber como ocorreu o colapso

do edifício.

Na direção x o mecanismo de colapso é formado após todos os lintéis das paredes estruturais terem

entrado em rotura. No momento de formação do mecanismo de colapso verifica-se que nembo do rés-

de-chão da fachada de tardoz entra em rotura por flexão, provocando o colapso da estrutura. Por outro

lado, a estrutura também se encontra submetida a distorção causada por assimetria na estrutura

sobretudo ao nível das fundações e cave e pelos pisos flexíveis. Como causa da distorção, a parede

de empena (parede 26) é também solicitada e entra em colapso.

Na direção y é possivel observar que a parede de empena (parede P3) apresenta um nível de dano

elevado concentrado no 3º nível (correspondente ao 2º andar), sendo a rotura provocada por corte no

nembo. Verifica-se também que todas as parede resistentes dispostas segundo y apresentam danos

concentrados no 3º nível, como pode-se também observar. Está-se portanto na presença de uma rotura

do tipo “soft storey”.

Aplicando o critério 2 foi possível observar, segundo x, que os drifts são superiores nos pisos mais

elevados, sendo que a primeira parede a verificar o drift de 0,5% foi a fachada principal do edifício

(parede 1), no último piso. Este resultado seria esperado uma vez que esta parede tem grande

influência no comportamento sísmico da estrutura, nesta direção.

A parede que condiciona o deslocamento último da estrutura segundo o critério 2, na direção y, foi a

parede 26 (empena), no 3º nível. Este resultado é coerente com o mapa de danos anteriormente

referido, onde os danos encontravam-se concentrados também a este nível.

A ação sísmica foi definida segundo o proposto pelo Eurocódigo 8 (CEN, 2010), e pelo respetivo anexo

nacional. Foi assumido o espectro de resposta para um período de retorno de 475 anos, que

corresponde uma probabilidade de excedência de 10% em 50 anos. Esta ação é a proposta para

edifícios novos pelo que poderá ser reduzido o seu período de retorno para edifícios existentes.

A avaliação do desempenho sísmico da estrutura foi feita segundo o método N2, proposto na norma

NP EN 1998-1 (CEN, 2010). Como anteriormente referido, apenas foi considerada a distribuição de

forças pseudo-triangular.

Os resultados obtidos permitiram aferir que o edifício em estudo, não verifica a segurança na direção x

e y, sendo o deslocamento objetivo sempre superior ao deslocamento último calculado para ambos os

critérios 1 e 2.

Foi possível concluir que o critério 2, sendo este a limitação do deslocamento entrepisos no valor de

0,5%, é o mais condicionante na direção x, contudo na direção y o critério 1, sendo este a comparação

do deslocamento objetivo responsável pela formação do mecanismo de colapso com ¾ do

deslocamento último é o que apresenta o maior rácio.

70

É importante salientar a importância de considerar-se diferentes critérios para avaliação da estrutura.

O critério 1 é um critério global, que procura verificar a estrutura atendendo à sua capacidade total,

contudo o critério 2 é um critério local, sendo a verificação de segurança condicionada pela parede

estrutural mais danificada, responsável pela possível formação de um mecanismo de colapso parcial

da estrutura.

Em última análise pode-se concluir que os estudos e cálculos apresentados confirmam a grande

vulnerabilidade sísmica associada à tipologia construtiva dos edifícios gaioleiros.

Como comentário final, é possível afirmar que o trabalho realizado foi muito enriquecedor, tendo

permitindo obter uma maior sensibilidade relativa ao comportamento estrutural dos edifícios antigos de

alvenaria, em particular aos edifícios gaioleiros. Foi acrescida uma responsabilidade como futuro

engenheiro de procurar preparar convenientemente estas estruturas de forma a melhorar o seu

desempenho sísmico e reduzir a grande vulnerabilidade sísmica que estes apresentam.

7.2 Desenvolvimentos futuros

Ao longo do desenvolvimento da presente dissertação foram várias as dificuldades encontradas, e

várias as questões que surgiram. Como tal, de forma a dar-lhes resposta e a complementar o trabalho

são apresentadas propostas para desenvolvimentos futuros:

1) Desenvolvimento da base de dados relativa a edifícios gaioleiros, abrangendo mais zonas de

Lisboa e mais tipologias construtivas. Análises dos dados recolhidos;

2) Análise e Caracterização in situ das propriedades mecânicas dos materiais constituintes dos

edifícios gaioleiros;

3) Caracterização dinâmica in situ do edifício estudado de forma a confirmar os valores obtidos;

4) Modelação da envolvente do edifício e análise do impacto deste no seu comportamento

sísmico;

5) Estudo do possível derrubamento de alguns elementos das paredes associado ao

comportamento das paredes para fora do seu plano;

6) Análise de possíveis soluções de reforço para o edifício em estudo.

71

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74

Anexo A – Distribuição em planta das paredes no modelo

P1

P2

P3

P4

P5

P6

P7

P8

P9

P10

P11

P12

P13

P14

P15

P16

P17

P18

P19

P20

P21

P22

P23

P24

P25

P26

P27 P28

P29

75

Anexo B

B.1 - Drifts obtidos por parede e por nível, para cada substep, na direção x e para um

carregamento pseudo-triangular

P1

P2

P3

P4

P5

P6

P7

P8

P9

P10

P11

P12

P13

P14

P15

P16

P17

P18

P19

P20

P21

P22

P23

P24

P25

P26

P27 P28

P290

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

0 50 100 150 200

dri

ft (

%)

Substep

Parede P1

drift_P1_L1

drift_P1_L2

drift_P1_L3

drift_P1_L4

drift_P1_L5

drift_P1_L6

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

0 50 100 150 200

dri

ft (

%)

substep

Parede 15

drift_P15_L1

drift_P15_L2

drift_P15_L3

drift_P15_L4

drift_P15_L5

drift_P15_L6

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

0 50 100 150 200

dri

ft(%

)

substep

Parede 16

drift_P16_L1

drift_P16_L2

drift_P16_L3

drift_P16_L4

drift_P16_L5

drift_P16_L6

76

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

0 50 100 150 200

dri

ft(%

)

substep

Parede 22

drift_P22_L1

drift_P22_L2

drift_P22_L3

drift_P22_L4

drift_P22_L5

drift_P22_L6

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0 50 100 150 200

dri

ft (

%)

Substep

Parede 17

drift_P17_L1

drift_P17_L2

drift_P17_L3

drift_P17_L4

drift_P17_L5

drift_P17_L6

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0 50 100 150 200

dri

ft(%

)

substep

Parede 19

drift_P19_L1

drift_P19_L2

drift_P19_L3

drift_P19_L4

drift_P19_L5

drift_P19_L6

77

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0 50 100 150 200

dri

ft(%

)

substep

Parede 20

drift_P20_L1

drift_P20_L2

drift_P20_L3

drift_P20_L4

drift_P20_L5

drift_P20_L6

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0 50 100 150 200

dri

fts(

%)

substep

Parede 18

drift_P18_L1

drift_P18_L2

drift_P18_L3

drift_P18_L4

drift_P18_L5

drift_P18_L6

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

0 50 100 150 200

dri

fts

(%)

substeps

Parede 13

drift_P13_L1

drift_P13_L2

drift_P13_L3

drift_P13_L4

drift_P13_L5

drift_P13_L6

78

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0 50 100 150 200

dri

ft (

%)

substeps

Parede 12

drift_P12_L1

drift_P12_L2

drift_P12_L3

drift_P12_L4

drift_P12_L5

drift_P12_L6

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

0 50 100 150 200

dri

ft (

%)

substep

Parede 21

drift_P21_L1

drift_P21_L2

drift_P21_L3

drift_P21_L4

drift_P21_L5

drift_P21_L6

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

0 50 100 150 200

dri

ft(%

)

substep

Parede 25

drift_P25_L1

drift_P25_L2

drift_P25_L3

drift_P25_L4

drift_P25_L5

drift_P25_L6

79

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0 50 100 150 200

dri

ft (

%)

substep

Parede 24

drift_P24_L1

drift_P24_L2

drift_P24_L3

drift_P24_L4

drift_P24_L5

drift_P24_L6

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0 50 100 150 200

dri

ft(%

)

substep

Parede 23

drift_P23_L1

drift_P23_L2

drift_P23_L3

drift_P23_L4

drift_P23_L5

drift_P23_L6

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0 50 100 150 200

dri

ft(%

)

substep

Parede 29

drift_P29_L1

drift_P29_L2

drift_P29_L3

drift_P29_L4

drift_P29_L5

drift_P29_L6

80

-0,05

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0 50 100 150 200

dif

t(%

)

substeps

Parede 27

drift_P27_L1

drift_P27_L2

drift_P27_L3

drift_P27_L4

drift_P27_L5

drift_P27_L6

-0,05

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

0,4

0 50 100 150 200

dri

ft (

%)

substep

Parede 10

drift_P10_L1

drift_P10_L2

drift_P10_L3

drift_P10_L4

drift_P10_L5

drift_P10_L6

81

0

0,002

0,004

0,006

0,008

0,01

0,012

0 50 100 150 200

dri

ft(%

)

substep

Parede 3

drift_P3_L1

drift_P3_L2

drift_P3_L3

drift_P3_L4

drift_P3_L5

drift_P3_L6

-0,001

0

0,001

0,002

0,003

0,004

0,005

0,006

0 50 100 150 200

dri

ft (

%)

substep

Parede 26

drift_P26_L1

drift_P26_L2

drift_P26_L3

drift_P26_L4

drift_P26_L5

drift_P26_L6

82

B.2 - Drifts obtidos por parede e por nível, para cada substep, na direção y e para um

carregamento pseudo-triangular

P1

P2

P3

P4

P5

P6

P7

P8

P9

P10

P11

P12

P13

P14

P15

P16

P17

P18

P19

P20

P21

P22

P23

P24

P25

P26

P27 P28

P290

0,005

0,01

0,015

0,02

0,025

0,03

0,035

0,04

0 50 100 150 200

dri

ft (

%)

Substep

Parede P1

drift_P1_L1

drift_P1_L2

drift_P1_L3

drift_P1_L4

drift_P1_L5

drift_P1_L6

0

0,0005

0,001

0,0015

0,002

0,0025

0,003

0 50 100 150 200

dri

ft (

%)

substep

Parede 15

drift_P15_L1

drift_P15_L2

drift_P15_L3

drift_P15_L4

drift_P15_L5

drift_P15_L6

0

0,01

0,02

0,03

0,04

0,05

0,06

0,07

0 50 100 150 200

dri

ft(%

)

substep

Parede 16

drift_P16_L1

drift_P16_L2

drift_P16_L3

drift_P16_L4

drift_P16_L5

drift_P16_L6

83

0

0,002

0,004

0,006

0,008

0,01

0,012

0,014

0,016

0,018

0,02

0 50 100 150 200

dri

ft(%

)

substep

Parede 22

drift_P22_L1

drift_P22_L2

drift_P22_L3

drift_P22_L4

drift_P22_L5

drift_P22_L6

0

0,001

0,002

0,003

0,004

0,005

0,006

0,007

0,008

0 50 100 150 200

dri

ft (

%)

Substep

Parede 17

drift_P17_L1

drift_P17_L2

drift_P17_L3

drift_P17_L4

drift_P17_L5

drift_P17_L6

0

0,001

0,002

0,003

0,004

0,005

0,006

0,007

0,008

0,009

0,01

0 50 100 150 200

dri

ft (

%)

substep

Parede 19

drift_P19_L1

drift_P19_L2

drift_P19_L3

drift_P19_L4

drift_P19_L5

drift_P19_L6

84

0

0,002

0,004

0,006

0,008

0,01

0,012

0 50 100 150 200

dri

ft(%

)

substep

Parede 20

drift_P20_L1

drift_P20_L2

drift_P20_L3

drift_P20_L4

drift_P20_L5

drift_P20_L6

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

0 50 100 150 200

dri

fts(

%)

substep

Parede 18

drift_P18_L1

drift_P18_L2

drift_P18_L3

drift_P18_L4

drift_P18_L5

drift_P18_L6

0

0,02

0,04

0,06

0,08

0,1

0,12

0,14

0,16

0,18

0,2

0 50 100 150 200

dri

fts

(%)

substeps

Parede 13

drift_P13_L1

drift_P13_L2

drift_P13_L3

drift_P13_L4

drift_P13_L5

drift_P13_L6

85

0

0,01

0,02

0,03

0,04

0,05

0,06

0 50 100 150 200

dri

ft (

%)

substeps

Parede 12

drift_P12_L1

drift_P12_L2

drift_P12_L3

drift_P12_L4

drift_P12_L5

drift_P12_L6

0

0,005

0,01

0,015

0,02

0,025

0,03

0,035

0,04

0 50 100 150 200

dri

ft (

%)

substep

Parede 21

drift_P21_L1

drift_P21_L2

drift_P21_L3

drift_P21_L4

drift_P21_L5

drift_P21_L6

86

Anexo C – Verificação de Segurança Sismo 2.3

sismo 2.3

direção x direção y

crit. 1 crit. 2 crit. 1 crit 2 du* (m) 0,063 0,022 0,030 0,026

3/4 du* (m) 0,048 _ 0,023 _

dt* 0,047 0,044 0,016 0,016

0

1

2

3

4

5

6

7

0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08 0,09

Sae

(ms2

)

Sde

Sismo 2.3

sismo 2.3

CC_crit.1_x

CC_crit.2_x

CC_crit.1_y

CC_crit.2_y

PP_crit.1_x

PP_crit.2_x

PP_crit.1_y

PP_crit.2_y

0,99

1,97

0,700,61

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

dt/

du

Verificação de segurança

dir.x_crit.1 dir.x_crit.2 dir.y_crit1 dir.y_crit.2

87

Anexo D- Método N2

O método N2 é composto pelas seguintes fases:

1ª Fase – modelação da estrutura:

Modelação da estrutura, num sistema de n graus de liberdade, considerando as propriedades

fisicamente não lineares através da introdução das relações constitutivas não lineares para os

diferentes elementos estruturais.

Segundo o EC8, “Nos elementos dúcteis, para os quais se prevê que se desenvolvam durante

a resposta deformações plásticas, a rigidez elástica de uma relação bilinear deverá ser a rigidez

secante no ponto de cedência. “

O EC8 sugere ainda que “Poderá admitir-se uma rigidez nula após a cedência. Caso se preveja

uma degradação de resistência, por exemplo para paredes de alvenaria ou outros elementos

frágeis, essa degradação deverá ser incluída na relação força-deformação desses elementos.”

Definição da ação sísmica através do espectro de resposta elástico.

Figura D 1- Modelação estrutural (Bento & Rodrigues 2004)

2ª Fase – espetro de resposta no formato ADRS:

Obtenção o espectro de resposta no formato Aceleração-Deslocamento (ADRS – Acceleration

Displacement Response Spectrum).

Neste formato os valores espectrais da aceleração são apresentados em função dos valores

espectrais do deslocamento.

Determinação dos espectros de resposta inelásticos (Sa, Sd), afetando os espectros elásticos

com o fator qu que representa a dissipação de energia histerética, associada às estruturas

dúcteis. Desta forma, a não linearidade na ação é realizada por um fator de redução do espectro

de resposta elástico

88

Figura D 2- espectro de resposta no formato ADRS (Bento & Rodrigues 2004)

3ª Fase – Cálculo da curva de capacidade:

Determinação das características resistentes da estrutura através do cálculo da curva de

capacidade resistente.

A curva é obtida através da aplicação progressiva de uma distribuição de cargas laterais até

ser atingido pela estrutura um determinado estado limite associado a um máximo deslocamento

do nó de controlo.

Deve ser tido em conta a direção do carregamento e a sua distribuição. A carga distribuída

aplicada tem como principio simular as forças de inércia geradas durante um sismo. O EC8

propõe um carregamento lateral cuja distribuição é proporcional à componente da deformação

(ϕ) do piso, obtido da análise modal e à massa do respetivo piso (distribuição modal):

𝑃𝑖 = 𝑝 𝑚𝑖 ϕi

Onde:

Pi - força lateral a aplicar em cada piso

p – fator de intensidade constante

mi – massa do piso i

ϕi - componente do modo condicionante.

Poderá ainda ser aplicada uma distribuição lateral de forças uniforme, quando não é

conhecida a distribuição exata das forças de inércia.

A distribuição de forças aplicada mantém-se inalterada mesmo depois do ponto de rotura

da estrutura.

Figura D 3- Definição da curva de capacidade (Bento & Rodrigues 2004).

89

4ª Fase – sistema de um grau de liberdade equivalente:

Uma vez que a ação sísmica foi definida através de espectros de resposta, existe a

necessidade de transformar a estrutura/modelo de n graus de liberdade (n GL), num sistema

com 1 grau de liberdade equivalente (1 GL).

No método N2, a transformação para um sistema de 1 GL é realizada através do fator de

transformação Γ.

Γ =∑ 𝑚𝑖ϕi𝑖

∑ 𝑚𝑖𝑖 ϕi2=

𝑚∗

∑ 𝑚𝑖𝑖 ϕi2

Através do fator de transformação é possível caracterizar o sistema equivalente de 1GL:

𝐹∗ =𝑉

Γ

𝑑∗ =∆𝑡𝑜𝑝𝑜

Γ

Onde m* representa a massa equivalente do sistema de 1GL, F* representa a força de corte

basal do sistema de 1GL equivalente e d* representa o seu deslocamento.

Após ser definido o sistema de 1GL equivalente é possível calcular a sua curva de capacidade

resistente cujo o valor da aceleração espectral de aceleração é dado por:

𝑆𝑎 =𝐹∗

𝑚 ∗

De forma a calcular o período elástico T* do sistema de 1GL equivalente é necessário recorrer

à representação bilinear da curva de capacidade do respetivo sistema. A curva bilinear é

definida de forma a que a rigidez pós-cedência seja nula (troço pós-cedência horizontal).

O período T* é então calculado:

𝑇∗ = 2𝜋√𝑚∗𝑑𝑦∗

𝐹𝑦∗

Figura D 4 – Caracterização do sistema de 1GL equivalente (Bento & Rodrigues 2004).

90

5ª Fase – Desempenho sísmico do sistema de um grau de liberdade equivalente:

Nesta fase, o desempenho sísmico do sistema de um grau de liberdade equivalente é

calculado, sendo a resposta da estrutura idealizada quantificada sob a forma de deslocamento

(dt*).

O método N2 tem a particularidade de permitir o cálculo do desempenho sísmico graficamente.

Tanto a curva de capacidade resistente (bilinear) do sistema de 1GL equivalente como o

espectro de reposta podem ser representados num gráfico sob a forma aceleração /

deslocamento espectral (formato ADRS).

O valor deslocamento objetivo (de*), para um comportamento elástico é dado pela expressão:

𝑑𝑒∗ = 𝑆𝑎𝑒(𝑇∗) (𝑇∗

2𝜋)

2

O valor do deslocamento objetivo (dt*) depende das características dinâmicas da estrutura:

Figura D 5 - cálculo deslocamento objetivo

O fator qu, anteriormente introduzido na segunda fase do método N2, representa a dissipação

de energia histerética a que a estrutura está sujeita durante a ação sísmica. O seu valor é dado

por:

𝑞𝑢 =𝑆𝑎𝑒

𝑆𝑎=

𝑆𝑎𝑒

𝐹𝑦∗ 𝑚∗⁄=

𝑆𝑎𝑒 𝑚∗

𝐹𝑦∗

A figura seguinte ilustra o método gráfico atrás referido:

91

Figura D 6 - Determinação do deslocamento objetivo do sistema de 1GL equivalente, a) períodos curtos, b) períodos médios/longos (Bento & Rodrigues 2004).

6ª Fase – Desempenho sísmico da estrutura:

Após se ter calculado o deslocamento objetivo para o sistema de 1GL equivalente, é possível

obter-se o deslocamento real do nó de controlo da estrutura (topo da estrutura), através do

fator de transformação Γ:

∆𝑡𝑜𝑝𝑜 = Γ𝑑𝑡∗

O deslocamento ∆𝑡𝑜𝑝𝑜 representa o deslocamento máximo admitido pela estrutura, tendo já

em conta os efeitos fisicamente não lineares.

Conhecendo o deslocamento ∆𝑡𝑜𝑝𝑜, é possível registar a resposta da estrutura para a ação do

sismo obtendo valores como deslocamentos/rotações e esforços permitindo avaliar a

segurança estrutural.

92

Anexo E – Módulo de distorção dos pavimentos de madeira segundo

NZSEE

Figura E 1- módulo de distorção pavimento de madeira

93

Anexo F – Carta Geológica de Lisboa

Figura F 1 – carta geológica de Lisboa

94

Anexo G – Projeto inicial no Edifício da Rua Visconde Valmor nº37

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