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Susana Catarino Mendes «P ara se avançar em Medicina e para termos acesso a novos tratamentos, é necessário, primeiro, fazer investigação e, depois, comprovar se a descoberta feita em la- boratório é realmente eficaz e livre de qualquer toxicidade e efeitos secundários quando aplicada em seres humanos (sau- dáveis e doentes).» É desta forma que a Prof.ª Carmo Fonseca, directora execu- tiva do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Universidade de Lisboa, define ensaio clínico. «Os ensaios clínicos trazem várias vantagens para o País», refere a Dr.ª Ana Maria Nogueira, membro do Grupo de Trabalho de Investigação da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma). «Por um lado, para os doentes, na medi- da em que lhes proporciona um acesso mais precoce a terapêuticas mais inovado- ras. Muitas vezes, é mes- mo a única possibilidade de tratamento que têm, por apresentarem uma situação muito grave ou rara. Por ou- tro, representam uma mais- -valia para as instituições de saúde, uma vez que acabam por melhorar a sua qualida- de assistencial, em conse- quência da disciplina e rigor extraordinários que são exi- gidos aos médicos que parti- cipam nestes estudos.» Ana Maria Nogueira gos- taria que o número de en- saios clínicos que se rea- lizam em Portugal se as- semelhasse ao de outros países europeus. «Temos da- dos concretos que mostram que o nosso País está ainda muito longe de atingir os níveis de parti- cipação de outros países semelhantes ao nosso», sendo que a colocação de Portu- gal em estudos internacionais «advém da sua participação em ensaios anteriores e do desempenho que os centros de ensaios têm relativamente ao recrutamento». Na sua perspectiva, um dos factores que condicio- na o desempenho de Por- tugal nos ensaios clínicos prende-se com o facto de os profissionais estarem exclusivamente dedicados e muito sobrecarregados com a clínica assistencial e não existirem quaisquer tipos de incentivos, nomeadamente ao nível de infra-estruturas logísticas, que estimulem Director: José Alberto Soares Assessora de Direcção: Helena Mourão Redacção: Andreia Pereira, Bruno Miguel Dias, Cátia Jorge, David Carvalho, Paula Pereira, Sílvia Malheiro, Susana Catarino Mendes Fotografia: Ricardo Gaudêncio (editor), Jorge Correia Luís Agenda: [email protected] Director de Produção: João Carvalho Director de Produção Gráfica: José Manuel Soares Directora de Marketing: Ana Branquinho Director de Multimédia: Luís Soares Redacção: Av. Infante D. Henrique, 333 H, 5.º 1800-282 Lisboa, Tel. 21 850 40 00, Fax 21 850 40 09, [email protected], www.jasfarma.com. Publicidade: Just Me Comunicação, Tel. 21 852 50 30, Fax 21 852 50 39, [email protected] Directora de Publicidade: Conceição Pires ([email protected]) Gestoras de Contas: Cláudia Real ([email protected]) Sandra Guimarães ([email protected]) Saúde Pública ® é um projecto da JAS Farma ® , de periodicidade mensal e de distribuição conjunta com o Expresso, com a tiragem total do próprio jornal Pré--press: IMPRESA Publishing Impressão: Lisgráfica. Pretendemos promover e divulgar a informação na área da Saúde. É permitida a reprodução total ou parcial dos textos e fotografias, desde que referenciada a sua origem (JAS Farma ® ) e com autorização expressa da Direcção. Os artigos de opinião são da inteira responsabilidade dos seus autores. Nota: Os conteúdos publicados no presente dossier não são da responsabilidade da Direcção do Expresso ou da IMPRESA Publishing, sendo editorialmente autónomos. Os ensaios clínicos são uma peça fundamental no desenvolvimento de fármacos inova- dores. Será que a população em geral sabe o que são ensaios clínicos e compreende as vantagens que trazem para os doentes, médicos e Saúde em geral e, até, para a economia de um país? Numa altura em que o Governo prepara nova legislação sobre investigação clínica, especialistas discutem os motivos pelos quais Portugal continua ainda na cauda da Europa. 8 SÁBADO, 7 DE JULHO 2012 Investigação em benefício dos doentes uma maior dedicação à in- vestigação. Falta de informação condiciona participação em ensaios Em Portugal, a população está, em geral, mal informa- da sobre os ensaios clínicos. Uma realidade que Carmo Fonseca acredita estar rela- cionada com o facto de se de- senvolverem poucos estudos no País. Como consequência, temos pouca experiência em comunicar sobre o tema e poucos doentes que participam e pos- sam comunicar aos seus pares o que é e como funciona um ensaio clínico. Para a directora executiva do IMM, as associações de doentes assumem um papel fundamental neste processo. Se- gundo refere, em muitos países, são es- tas que promovem os ensaios clínicos. O Prof. Hélder Mota Filipe, vice-presi- dente da Autoridade Nacional do Medica- mento e Produtos de Saúde (Infarmed), partilha da mesma opinião relativamen- te à falta da informação por parte da população. O responsável acredita que, muitas vezes, até os profissionais de saúde e administradores hospitalares não estão adequadamente informados e sensibiliza- dos para a importância dos ensaios clínicos. Hélder Mota Filipe tem uma opinião positiva relativamente ao futuro da rea- lidade dos ensaios clínicos em Portugal. «Há uma forte vontade política. Porém, provavelmente, a informação terá de ser maior e é necessário dar condições para que os centros dedicados à investigação clínica funcionem e se desenvolvam, para que possamos efectuar um maior número de ensaios clínicos.» Em 2004, quando se deu a transposi- ção da directiva europeia de 2001, espera- va-se um «boom» dos ensaios clínicos em Portugal, mas isso não aconteceu. Uma situação que, na opinião de Ana Maria No- gueira, se deve à falta de cultura de inves- tigação. «Não é suficiente colocar uma fra- se no programa do Governo que diga que a investigação é importante. É preciso que haja um compromisso público e uma co- -responsabilização da sociedade civil e dos profissionais de saúde», consi- dera. Ana Maria No- gueira acredita estarmos «numa altura ideal para mudar o paradigma e chegar a um consenso so- bre alguns aspectos muito práticos que, por vezes, nos impedem de ser competi- tivos», visto estar agora em composição a nova proposta de legislação, que prevê a diminuição dos prazos de aprovação dos ensaios clínicos e a atribuição de prazos de aprovação às administrações hospita- lares. Carmo Fonseca defende que o investi- mento feito pela Indústria Farmacêutica nos ensaios clínicos deve ser rentabiliza- do e canalizado para o desenvolvimento de infra-estruturas e recursos dedicados à investigação, criação de centros de ex- celência ou promoção de parcerias de in- vestigação (entre hospitais universitários e faculdades, por exemplo). Alterações à lei podem tornar o País mais competitivo Prof. Hélder Mota Filipe Prof.ª Carmo Fonseca Ensaios clínicos O Infarmed patrocinou o lançamento, em Março último, da Plataforma Nacional de Ensaios Clínicos (PNEC), disponível em www.pnec.pt. A plataforma tem como objectivos estratégicos identificar e resolver os principais problemas e constrangimentos à realização de ensaios clíni- cos com medicamentos em Portugal; promover a realização de investigação clínica de elevada qualidade, garantindo a eficiência de todo o processo; aumentar o número de ensaios clínicos de fases mais precoces a realizar em Portugal; e contribuir para o desenvolvimento de centros de excelência. Segundo Hélder Mota Filipe, esta plataforma vai passar também a disponibilizar informação sobre todos os ensaios clínicos a decorrer em Portugal. «O objectivo é que o doente possa, por sua iniciativa, propor-se ao centro de ensaio.» Plataforma lançada para aumentar ensaios clínicos em Portugal Dr.ª Ana Maria Nogueira

Ensaios clinicos

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Investigação em beneficio dos doentes

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Page 1: Ensaios clinicos

Susana Catarino Mendes

«Para se avançar em Medicina e para termos acesso a novos tratamentos, é necessário,

primeiro, fazer investigação e, depois, comprovar se a descoberta feita em la-boratório é realmente eficaz e livre de qualquer toxicidade e efeitos secundários quando aplicada em seres humanos (sau-dáveis e doentes).» É desta forma que a Prof.ª Carmo Fonseca, directora execu-tiva do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Universidade de Lisboa, define ensaio clínico.

«Os ensaios clínicos trazem várias vantagens para o País», refere a Dr.ª Ana Maria Nogueira, membro do Grupo de Trabalho de Investigação da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma). «Por um lado, para os doentes, na medi-da em que lhes proporciona um acesso mais precoce a terapêuticas mais inovado-ras. Muitas vezes, é mes-mo a única possibilidade de tratamento que têm, por apresentarem uma situação muito grave ou rara. Por ou-tro, representam uma mais--valia para as instituições de saúde, uma vez que acabam

por melhorar a sua qualida-de assistencial, em conse-quência da disciplina e rigor extraordinários que são exi-gidos aos médicos que parti-cipam nestes estudos.»

Ana Maria Nogueira gos- taria que o número de en-saios clínicos que se rea-lizam em Portugal se as-semelhasse ao de outros países europeus. «Temos da-dos concretos que mostram que o nosso País está ainda muito longe de atingir os níveis de parti-cipação de outros países semelhantes ao nosso», sendo que a colocação de Portu-gal em estudos internacionais «advém da sua participação em ensaios anteriores e do desempenho que os centros de ensaios têm relativamente ao recrutamento».

Na sua perspectiva, um dos factores que condicio-na o desempenho de Por-tugal nos ensaios clínicos prende-se com o facto de os profissionais estarem exclusivamente dedicados e muito sobrecarregados com a clínica assistencial e não existirem quaisquer tipos de incentivos, nomeadamente ao nível de infra-estruturas logísticas, que estimulem

Director: José Alberto Soares Assessora de Direcção: Helena Mourão Redacção: Andreia Pereira, Bruno Miguel Dias, Cátia Jorge, David Carvalho, Paula Pereira, Sílvia Malheiro, Susana Catarino Mendes Fotografia: Ricardo Gaudêncio (editor), Jorge Correia Luís Agenda: [email protected] Director de Produção: João Carvalho Director de Produção Gráfica: José Manuel Soares Directora de Marketing: Ana Branquinho Director de Multimédia: Luís Soares Redacção: Av. Infante D. Henrique, 333 H, 5.º 1800-282 Lisboa, Tel. 21 850 40 00, Fax 21 850 40 09, [email protected], www.jasfarma.com. Publicidade: Just Me Comunicação, Tel. 21 852 50 30, Fax 21 852 50 39, [email protected] Directora de Publicidade: Conceição Pires ([email protected]) Gestoras de Contas: Cláudia Real ([email protected]) Sandra Guimarães ([email protected]) Saúde Pública® é um projecto da JAS Farma®, de periodicidade mensal e de distribuição conjunta com o Expresso, com a tiragem total do próprio jornal Pré--press: IMPRESA Publishing Impressão: Lisgráfica. Pretendemos promover e divulgar a informação na área da Saúde. É permitida a reprodução total ou parcial dos textos e fotografias, desde que referenciada a sua origem (JAS Farma®) e com autorização expressa da Direcção. Os artigos de opinião são da inteira responsabilidade dos seus autores.Nota: Os conteúdos publicados no presente dossier não são da responsabilidade da Direcção do Expresso ou da IMPRESA Publishing, sendo editorialmente autónomos.

Os ensaios clínicos são uma peça fundamental no desenvolvimento de fármacos inova-dores. Será que a população em geral sabe o que são ensaios clínicos e compreende

as vantagens que trazem para os doentes, médicos e Saúde em geral e, até, para a economia de um país? Numa altura em que o Governo prepara nova legislação sobre investigação clínica, especialistas discutem os motivos pelos quais Portugal

continua ainda na cauda da Europa.

8 • SÁBADO, 7 DE JULHO 2012

Investigação em benefício dos doentes

uma maior dedicação à in-vestigação.

Falta de informação condiciona participação em ensaios

Em Portugal, a população está, em geral, mal informa-da sobre os ensaios clínicos. Uma realidade que Carmo Fonseca acredita estar rela-cionada com o facto de se de-senvolverem poucos estudos

no País. Como consequência, temos pouca experiência em comunicar sobre o tema e poucos doentes que participam e pos-sam comunicar aos seus pares o que é e como funciona um ensaio clínico.

Para a directora executiva do IMM, as associações de doentes assumem um papel fundamental neste processo. Se-gundo refere, em muitos países, são es-tas que promovem os ensaios clínicos.

O Prof. Hélder Mota Filipe, vice-presi-dente da Autoridade Nacional do Medica-mento e Produtos de Saúde (Infarmed), partilha da mesma opinião relativamen-te à falta da informação por parte da população. O responsável acredita que, muitas vezes, até os profissionais de saúde e administradores hospitalares não estão adequadamente informados e sensibiliza-dos para a importância dos ensaios clínicos.

Hélder Mota Filipe tem uma opinião positiva relativamente ao futuro da rea-lidade dos ensaios clínicos em Portugal. «Há uma forte vontade política. Porém, provavelmente, a informação terá de ser maior e é necessário dar condições para que os centros dedicados à investigação clínica funcionem e se desenvolvam, para que possamos efectuar um maior número de ensaios clínicos.»

Em 2004, quando se deu a transposi-ção da directiva europeia de 2001, espera-va-se um «boom» dos ensaios clínicos em Portugal, mas isso não aconteceu. Uma situação que, na opinião de Ana Maria No-gueira, se deve à falta de cultura de inves-tigação. «Não é suficiente colocar uma fra-

se no programa do Governo que diga que a investigação é importante. É preciso que haja um compromisso público e uma co--responsabilização da sociedade civil e dos profissionais de saúde», consi-dera.

Ana Maria No-gueira acredita

estarmos «numa altura ideal para mudar o paradigma e chegar a um consenso so-bre alguns aspectos muito práticos que, por vezes, nos impedem de ser competi-tivos», visto estar agora em composição a nova proposta de legislação, que prevê a diminuição dos prazos de aprovação dos ensaios clínicos e a atribuição de prazos de aprovação às administrações hospita-lares.

Carmo Fonseca defende que o investi-mento feito pela Indústria Farmacêutica nos ensaios clínicos deve ser rentabiliza-do e canalizado para o desenvolvimento de infra-estruturas e recursos dedicados à investigação, criação de centros de ex-celência ou promoção de parcerias de in-vestigação (entre hospitais universitários e faculdades, por exemplo).

Alterações à lei podem tornar

o País mais competitivo

Prof. Hélder Mota Filipe

Prof.ª Carmo Fonseca

Ensaios clínicos

O Infarmed patrocinou o lançamento, em Março último, da Plataforma Nacional de Ensaios Clínicos (PNEC), disponível em www.pnec.pt. A plataforma tem como objectivos estratégicos identificar e resolver os principais problemas e constrangimentos à realização de ensaios clíni-cos com medicamentos em Portugal; promover a realização de investigação clínica de elevada qualidade, garantindo a eficiência de todo o processo; aumentar o número de ensaios clínicos de fases mais precoces a realizar em Portugal; e contribuir para o desenvolvimento de centros de excelência.

Segundo Hélder Mota Filipe, esta plataforma vai passar também a disponibilizar informação sobre todos os ensaios clínicos a decorrer em Portugal. «O objectivo é que o doente possa, por sua iniciativa, propor-se ao centro de ensaio.»

Plataforma lançada para aumentar ensaios clínicos em Portugal

Dr.ª Ana Maria Nogueira