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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP CURSO DE DIREITO PAULO HENRIQUE VASCONCELOS ALVES PROGRAMA EMPREENDER-JP E O MICROCRÉDITO COMO AGENTE DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO JOÃO PESSOA 2013

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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP

CURSO DE DIREITO

PAULO HENRIQUE VASCONCELOS ALVES

PROGRAMA EMPREENDER-JP E O MICROCRÉDITO COMO AGENTE DE

DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO

JOÃO PESSOA

2013

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PAULO HENRIQUE VASCONCELOS ALVES

PROGRAMA EMPREENDER-JP E O MICROCRÉDITO COMO AGENTE DE

DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, apresentado à Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – Fesp – Curso de Graduação em Direito, para atender exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Área: Direito Empresarial Orientadora: Professora Especialista Juliana Porto Vieira

JOÃO PESSOA 2013

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A474p Alves, Paulo Henrique Vasconcelos

Programa empreender – JP e o microcrédito como agente de desenvolvimento socioeconomico. / Paulo Henrique Vasconcelos Alves. – João Pessoa, 2013.

23f.

Orientadora: Profª. Esp. Juliana Porto Vieira.

Artigo Científico (Graduação em Direito) Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP.

1. Direito Econômico. 2. Políticas Públicas . 3. Microcrédito. I

Título.

BC/FESP CDU: 346(043)

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PAULO HENRIQUE VASCONCELOS ALVES

PROGRAMA EMPREENDER-JP E O MICROCRÉDITO COMO AGENTE DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito da Fesp Faculdades, pela seguinte banca examinadora:

Aprovado em _____ / _____ / _____

BANCA EXAMINADORA

______________________________________

Profª Esp. JULIANA PORTO VIEIRA Orientador(a)

______________________________________ Membro da Banca Examinadora

______________________________________ Membro da Banca Examinadora

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Dedico este trabalho à minha família, em especial aos meus pais, Paulo e Sandra, ao meu filho Rafael e a Joyce, que me incentivou na elaboração deste artigo.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus, que me abençoou com o dom da vida e me fez crescer na graça da saúde, inteligência e bondade. Aos meus pais que souberam trilhar meu caminho sempre na direção do amor, que jamais mediram esforços para minha educação e sempre incentivaram na realização dos meus sonhos. Enfim, a todos que contribuíram com palavras e atitudes de incentivo para que eu pudesse chegar até aqui. Muito obrigada!

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“O homem de bem exige tudo de si próprio; o homem medíocre espera tudo dos outros.”

(Confúcio)

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PROGRAMA EMPREENDER-JP E O MICROCRÉDITO COMO AGENTE DE

DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO

RESUMO

Paulo Henrique Vasconcelos Alves* Juliana Porto Vieira**

O presente trabalho acadêmico tem como escopo o estudo do Microcrédito, instrumento que possibilita a inclusão de micro e pequenos empreendedores, os quais dispõem de pouco poder aquisitivo, na atividade econômica, mediante a concessão de crédito de pequenos valores. Em João Pessoa, capital da Paraíba, a experiência com atividades de microcrédito se apresenta através do EMPREENDER-JP, programa de crédito orientado pelo Governo Municipal que tem como objetivos a criação ou ampliação de empregos, contribuindo para inclusão social de parcela da sociedade que vive marginalizada. Constitui a estrutura do estudo realizado, todo o conteúdo disposto em seqüência lógica de raciocínio devidamente distribuído, onde trata dos aspectos essenciais do direito econômico e traz uma abordagem da Economia sob a visão constitucional. Em seguida, apresenta o surgimento, o conceito e as características do microcrédito, demonstrando ainda a concretização de políticas públicas voltadas ao acesso ao crédito. Finalmente, vislumbra-se a experiência do já referido Programa EMPREENDER-JP como fator de viabilização da livre iniciativa. A finalidade deste trabalho acadêmico é expor aos possíveis leitores que o microcrédito, de fato, é um importante componente das estratégias de desenvolvimento econômico e, para tanto, é imprescindível que ocorra o incentivo à livre iniciativa, bem como políticas regulatórias que oportunizem o crescimento ao empreendedorismo. O método de abordagem utilizado foi o dedutivo, constando também uma pesquisa bibliográfica. Palavras-chave: Direito Econômico. Ordem Econômica Constitucional. Políticas Públicas. Livre Iniciativa. Microcrédito.

1 INTRODUÇÃO

Grande parcela da população brasileira é considerada carente, não tendo

oportunidades de crescer sob o ponto de vista econômico, ficando, assim, excluído

do sistema de crédito tradicional. Algumas dessas pessoas ainda conseguem

produzir certa variedade de bens e serviços, entretanto não logram êxito no

* Graduado em Administração de Empresas. Atua no ramo de Negócios Imobiliários. Concluinte do Curso de

Direito da Fesp Faculdades, semestre 2013.2. E-mail: [email protected] ** Advogada. Professora Especialista. Atuou como orientadora desse TCC.

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crescimento e expansão de suas atividades devido à escassez do crédito e,

principalmente, porque não têm acesso a serviços financeiros adequados.

Por isto, o tema do presente trabalho é o microcrédito, que consiste em um

instrumento de inclusão dos menos favorecidos na atividade econômica, mediante a

concessão de crédito de pequenos valores que, com sua política e metodologia

próprios, facilita o acesso ao crédito por parte de micro e pequenos

empreendedores.

Este tema foi pontuado sob os aspectos econômicos, jurídico-constitucionais

e sociais. Vislumbrou-se ainda, de maneira específica, a experiência do Programa

Empreender-JP que é o Programa de Microcrédito executado pela Prefeitura

Municipal de João Pessoa. A área de concentração deste trabalho é o Direito

Econômico, e a problemática envolvida consiste em: será que os Programas de

Microcrédito, no caso específico do Empreender-JP, representam um instrumento de

viabilização do Princípio da Livre Iniciativa elencado em nossa atual Constituição

Federal? As experiências mundiais, nacionais, estaduais e municipais demonstram

que sim.

Justifica-se, portanto, a análise do Microcrédito por este ser um tema bastante

discutido na atualidade e de grande alcance social. Logo, pretendeu demonstrar que

o Estado deve agir com vistas à garantia do desenvolvimento, não apenas

econômico-financeiro, mas também o desenvolvimento humano, e, para tanto,

concorre o desenvolvimento das liberdades fundamentais. Nesse sentido a

regulação estatal deverá estimular um desenvolvimento sustentável, eficiente e sem

exclusões ao direito de liberdade de iniciativa.

A fim de realizar os objetivos supramencionados, alguns procedimentos

metodológicos (metodologia) foram utilizados com vistas ao alcance de um maior

grau de cientificidade do presente trabalho.

Nesta pesquisa, portanto, a vertente metodológica é quali-quantitaviva, por

haver grande repercussão e integração social. Quanto ao método de abordagem

escolhido no presente trabalho foi o dedutivo, que, preliminarmente, analisamos o

aspecto geral e depois aprofundamos no específico. O método de procedimento

utilizado foi o funcionalista, porque enfatizamos as relações de uma sociedade

(coletivo). No que tange ao método jurídico de interpretação, este trabalho é

exegético porque interpretou a Constituição Federal do Brasil de 1988 e algumas

outras legislações específicas. Classifica-se ainda este trabalho como exploratório,

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uma vez que foi utilizado um levantamento bibliográfico, dados de sistema,

documental, etc. No procedimento técnico, utilizou-se pesquisa bibliográfica e

documental com técnicas de pesquisa indireta.

O trabalho está organizado na forma de seções e subseções, assim

distribuídos: a primeira trata dos aspectos do Direito Econômico; a segunda fala

sobre o Direito Econômico e seu assentamento constitucional; em seguida, a

terceira aborda a origem e as peculiaridades do Microcrédito, pontuando algumas

experiências de programas de acesso ao crédito no Brasil; finalmente, a quarta

demonstra o Programa Empreender-JP como política pública de acesso ao crédito

na cidade de João Pessoa que viabiliza a Livre Iniciativa, trazendo uma análise de

dados coletados.

2 ASPECTOS DO DIREITO ECONÔMICO

2.1 SURGIMENTO DO DIREITO ECONÔMICO

No início do século XX, os rumos do direito foram profundamente alterados

devido a fatores como o movimento Iluminista, os efeitos da primeira Guerra Mundial

e, finalmente, as crises sofridas pela crença na ordem natural do liberalismo, que

levaram à certeza de que os antigos instrumentos adotados pelo direito se tornaram

insuficientes e inadequados para solução dos problemas na nova realidade. Assim,

foi necessária uma grande mudança na condução do novo fato econômico por parte

do Estado.

Como se sabe, a concentração capitalista veio a ocasionar grandes

modificações no sistema jurídico, surgindo, então, novos ramos, com regras e

princípios próprios.

Então, com essa necessidade de adotar novas medidas reguladoras e um

novo modelo econômico, é que surge o direito econômico, como ramo do direito

voltado a reger justamente o novo fato econômico.

Quanto a essa nova postura adotada pelo Estado, haviam muitos pensadores

que afirmavam o surgimento de novos ramos do Direito, como Gustav Radbruch,

que menciona:

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É neste sentido que se pode dizer que alguns dos mais importantes domínios novos do direito, como os do direito do trabalho e do direito econômico, nos surgem precisamente, hoje, como verdadeiros sistemas dessas e outras semelhantes limitações impostas à liberdade contratual.

1

Observa-se ainda o que assevera Leopoldino da Fonseca “(...) quer no bloco

socialista, quer no ocidente, surge e se impõe cada vez mais um conjunto de normas

que tem por finalidade conduzir, regrar, disciplinar o fenômeno econômico.”2

Ressalta-se que tanto na ótica mundial, quanto na visão nacional, a resposta

aos novos problemas de ordem econômica e social configurava-se na reforma

constitucional, como bem pontua Leopoldino da Fonseca ao citar os pensamentos

de Ruy Barbosa:

O Estado tinha que valer-se de instrumentos jurídicos adequados para, por seu intermédio, dirigir a nova ordem que se impunha de modo crítico e que exigia tratamento adequado. Vê-se, a partir daí, que o Estado tinha que intervir na economia. O Estado não podia mais permitir que a crença na ordem natural da economia dirigisse os fenômenos econômicos

3

Concretiza-se, portanto, no plano da linguagem jurídica, um conjunto de

normas voltadas a conduzir o fenômeno econômico, e, no âmbito da metalinguagem,

é que se firma o Direito Econômico, como a ciência que tem por objetivo o estudo

desse conjunto de normas.

2.2 CONCEITO DE DIREITO ECONÔMICO

O direito, enquanto ciência, tem seu estudo voltado às relações

intersubjetivas, sob o aspecto normativo, enquanto sob o âmbito formal, volta-se à

delimitação do estudo da direção da política econômica por parte do Estado, e é

justamente esse aspecto que diferencia o direito econômico dos demais ramos

jurídicos.

Nesse sentido, Champaud, citado por Leopoldino da Fonseca verifica que:

(...) o Direito Econômico é essencialmente composto de regras que regem as relações do Estado e de suas unidades. Ele aparece então como um Direito Público. Se sua criação e sua animação é, no essencial, deixada à iniciativa privada, o Direito Econômico é quase exclusivamente formado de

1 RADBRUCH, G. (1974, p. 289, apud., LEOPOLDINO DA FONSECA, 2007, p. 10).

2 Ibidem. p.11

3 Idibem, p.9.

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regras que regem relações entre “particulares”. Apresenta-se então como um Direito Privado.

4

Vale destacar que o direito econômico não é nem privatista, nem publicista,

mas se apresenta como direito misto ou de síntese, quer originado do Estado ou da

iniciativa privada.

2.3 OBJETO DO DIREITO ECONÔMICO

Verifica-se que o direito econômico pode ser visto quer sob o aspecto de um

sistema de normas, quer como uma disciplina jurídica que estuda tal sistema.

O conceito de direito econômico conforme entendimento de J. Simões Patrício

é:

Direito Econômico é o sistema de normas – ou a disciplina jurídica que as estuda – que regulam: i) a organização da economia, designadamente definindo o sistema e o regime econômicos; ii) a condução ou controle superior da economia pelo Estado, em particular estabelecendo o regime das relações ou do “equilíbrio de poderes” entre o Estado e a economia (os agentes econômicos, máxime os grupos de interesses concentrados) e iii) a disciplina dos centros de decisão econômica não estaduais, especialmente enquadrando, macroeconomicamente a atividade das instituições fundamentais.

5

Percebe-se que para intermediar confrontos entre direito econômico privado e

direito econômico público, o Estado intervém na economia de inúmeras maneiras,

dentre elas, adotando políticas que direcionam a relação entre o jurídico e o

econômico: as chamadas políticas econômicas.

2.4 FONTES, PRINCÍPIOS E REGRAS DO DIREITO ECONÔMICO

Como é sabido, o direito econômico tem como principal objetivo disciplinar as

relações humanas, através das chamadas normas jurídicas.

Ao observar a Constituição Federal de 1988, percebe-se que a mesma

estabelece os seguintes princípios direcionados a reger a aplicação do direito

4 CHAMPAUD (1967, p. 141-154, apud., LEOPOLDINO DA FONSECA, 2007, p. 14). 5 PATRÍCIO (1981, p. 76-77, apud., LEOPOLDINO DA FONSECA, 2007, p. 19).

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econômico: cidadania, dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho,

soberania nacional, propriedade privada, função social da propriedade, livre

concorrência, dentre outros.

2.4.1 Dignidade Humana

A priori, afirma-se que o valor que este princípio possui não pode se desfazer

com o tempo, devendo permanecer para sempre respeitado. o fundamento da

“dignidade da pessoa humana” estabelece um direito concreto com base em que

“toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”, não se limitando ao

aspecto abstrato.

2.4.2 Segurança nas Relações Jurídicas

Ao falar em segurança, atenta-se para a segurança conferida ao cidadão, e

como conseqüência desta, tem-se a segurança coletiva.

O princípio da Segurança nas relações jurídicas está relacionado a dois

princípios constitucionais, quais sejam o da legalidade, segundo o qual ninguém é

obrigado a fazer algo senão em virtude da lei, e o da igualdade, que menciona a

ideia de que todos são iguais perante a lei.

2.4.3 Garantia da Democracia Econômica e Social

Tal princípio pode ser vislumbrado nos artigos 10 e 11 da Constituição

Federal de 1988, concretizando-se mediante a participação de categorias

econômicas que atuam na elaboração de normas que disciplinarão as suas

atividades.

3 O DIREITO ECONÔMICO E O SEU ASSENTAMENTO CONSTITUCIONAL

3.1 AS VÁRIAS ACEPÇÕES DO CONCEITO DE ORDEM

Para uma melhor compreensão sobre o estudo do ordenamento jurídico, faz-

se mister a conceituação de ordem política, ordem econômica e ordem jurídica. A

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priori, deve-se compreender o significado da palavra ordem, que em sua acepção

mais clara, traz a ideia de organização, hierarquia. Entende-se ainda que esta ordem

envolve elementos compatíveis entre si que tem um mesmo direcionamento final.

Com vistas a complementar o conceito de ordem, há uma outra corrente que

trata do aspecto material, substancial ou de conteúdo da norma. Santi Romano

menciona a respeito:

(...) o direito, antes de ser norma, antes de se relacionar com uma ou várias ordens sociais, é organização, estrutura, atitude da mesma sociedade na qual ele está em vigor e que por ele se erigem em unidade, em um ser existente por si mesmo (...) O conceito necessário e suficiente a nossos olhos para traduzir em termos exatos o de direito enquanto ordem jurídica tomada em seu conjunto e em sua unidade é o conceito de instituição e, inversamente, toda instituição é uma ordem jurídica: há entre estes dois conceitos, uma equação necessária e absoluta.

6

Segundo entendimento de Kant, o conceito de ordem se estabelece na

oposição entre os elementos caos x paz. Para ele, a finalidade do direito não

consiste na justiça, e sim na manutenção da paz:

(...) a paz não é somente uma parte, mas todo o fim último da teoria do direito dentro dos limites da pura razão. A paz, com efeito, assegura a regra certa e permanente das ações humanas, de modo que o homem possa realizar as suas exigências de autonomia dirigida ao seu dever individual.

7

Os filósofos gregos, que sempre se preocupavam com a origem do universo e

da ordem vigente, mencionavam dois conceitos de ordem, quais sejam, o de

kosmos, para determinar a ordem universal, e o de táxis, representando a ordem

criada, produzida. Vale destacar que Aristóteles associou o conceito de táxis ao de

nomos, sendo este a criação de uma ordem.

3.2 A CONSTITUIÇÃO E A ORDEM ECONÔMICA

Na medida em que o direito se relaciona com a economia, faz-se necessária a

criação de uma Constituição Econômica, que fundamenta o modo de tal interligação

entre o jurídico com o econômico.

6 SANTI ROMANO (1975, p. 19, apud., LEOPOLDINO DA FONSECA, 2007, p. 98).

7 KANT (s/d, apud., LEOPOLDINO DA FONSECA, 2007, p. 84).

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Conforme entendimento de Vital Moreira, o conceito de Constituição

Econômica é dado nos seguintes termos:

(...) como o conjunto de preceitos e instituições jurídicas que, garantindo os elementos definidores de um determinado sistema econômico, instituem uma determinada forma de organização e funcionamento da economia e constituem, por isso mesmo, uma determinada ordem econômica, ou de outro modo, aquelas normas ou instituições jurídicas que, dentro de um determinado sistema e forma econômicas, que garantem e (ou) instauram, realizam uma determinada ordem econômica concreta.

8

Importa salientar que não pode haver choques existentes entre os princípios

firmados pela constituição econômica e aqueles estabelecidos pela constituição

política, uma vez que há a interligação entre ambas constituições. Nesse sentido,

Leopoldino da Fonseca menciona que: “A constituição econômica tem seu quadro

contextual no todo da constituição política, cujos princípios devem traçar os

parâmetros para aquela”.9

3.2.1 As Constituições Liberais

Sabe-se que o liberalismo foi o movimento que teve como finalidade a defesa

da liberdade nos planos político e econômico, sem a intervenção estatal na atividade

econômica. No Brasil, a nossa primeira Constituição de 1824 e a de 1891 foram

Constituições Liberais.

Diz-se que o constitucionalismo do século XIX foi marcado por um conjunto

de fontes, dentre as quais se observam as fontes políticas, sintetizadas na

Declaração da Virgínia (1776) e a Declaração dos Direitos do Homem (1789) e as

filosóficas, concentradas nos direitos naturais e na filosofia das Luzes.

A Constituição de 1891, vigente após a Proclamação da República, foi outra

Constituição que apresentou os princípios do liberalismo. Observa-se, portanto, uma

mudança política, continuando com a sua ideologia econômica imutável. Logo, o

Estado continuava sem intervir na economia, prevalecendo os ideais liberais.

Nesse contexto de mudanças sociais, em que pese a ocorrência da libertação

dos escravos no Brasil, importante destacar que passou a haver uma necessidade

8 MOREIRA (1979, p. 41, apud., LEOPOLDINO DA FONSECA, 2007, p.93).

9 Passim.

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de revisão constitucional, pautada no descompasso semântico entre a Constituição

Formal e a Constituição Real.

3.2.2 As Constituições Intervencionistas

Com o passar do tempo, a ordem econômica e social passou por uma

evolução do Estado Liberal abstencionista para o Estado Social Intervencionista,

implicando em uma nova funcionalidade na legislação. O Estado, que havia sido

afastado pelo liberalismo econômico e político, foi chamado a intervir na ordem

econômica e social.

A Constituição Brasileira de 1934 tem sua origem em um contexto histórico

posterior à Primeira Guerra Mundial, momento assinalado por inúmeras

transformações sociais, com destaque à concreta relação que passou a existir entre

o capital e o operário, o que gerou um fato novo, denominado “questão social”,

esgotando, de tal modo, as ideias do naturalismo e do liberalismo vigentes nas

Constituições anteriores.

Já ao mencionar a Constituição de 1937, diz-se que no período de tal

Constituição, o Brasil foi governado apenas por decretos-leis, e o texto constitucional

restringiu-se ao aspecto do nominalismo, não existindo qualquer relação com a

realidade política e social do país, e assim, não acrescentou ao avanço político,

social, nem econômico.

A Constituição Brasileira de 1946, bastante avançada para a época, teve seu

momento histórico no Brasil, marcado pelo término da ditadura, e coincidiu com o

desfecho da Segunda Guerra Mundial. Foi então nesse contexto que houve a

necessidade da implantação da democracia, com alicerce de bases políticas sólidas

e bases econômicas mais justas.

Os princípios definidos na Constituição de 1967-69 compreenderam: a

liberdade de iniciativa, a valorização do trabalho como condição da dignidade

humana, a função social da propriedade, a harmonia e solidariedade entre as

categorias sociais de produção, a repressão ao abuso do poder econômico, e ainda,

o princípio da expansão das oportunidades de emprego que depois foi acrescentado

aos demais.

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3.3 O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA

Ao analisar o texto constitucional de 1988, percebe-se que ocorreu uma

modificação no que diz respeito ao direcionamento do Estado nas atividades

econômicas.

A antiga Constituição de 1967-69, em seu artigo 163, explanava que a

intervenção e o monopólio estatal eram “facultados" ao Estado. Vejamos:

Art. 163 São facultados a intervenção no domínio econômico e o monopólio de determinada industria ou atividade, mediante lei federal, quando indispensável por motivo de segurança nacional ou para organizar setor que não possa ser desenvolvido com eficácia no regime de competição e de liberdade de iniciativa, assegurados os direitos e garantias individuais.

10

Já o artigo 173 da nossa atual Constituição Federal determina que “só será

permitida” a atuação direta do Estado na economia em casos de interesse coletivo,

limitando, portanto, a atividade estatal:

Art. 173 Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.

11

Mais ainda, o texto constitucional de 1988, em seu artigo 174, refere-se ao

papel do Estado como agente regulador e normativo da atividade econômica,

definindo que tais funções se corporificam na fiscalização, incentivo e planejamento.

4 POLÍTICA PÚBLICA DO MICROCRÉDITO

4.1. DEFINIÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

O desafio mais premente do poder público é estabelecer políticas e meios que

promovam o desenvolvimento econômico e social, possibilitando a geração de

emprego e renda para as populações mais pobres.

Nesse diapasão, cumpre ainda ressaltar que as políticas públicas, como

instrumento de concessão de crédito, devem ser compatíveis com o princípio do

desenvolvimento nacional, contido na ilustre Constituição Federal de 1988, visto que

10 BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra.Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, v. 7,1990 11 Ibidem

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“o desenvolvimento nacional é preceito fundamental da República, devendo

conformar todas as normas de ordem econômica e orientar todas as ações e

iniciativas do Poder Público Executivo e Legislativo”.12

4.2 DISTINÇÃO ENTRE MICROFINANÇAS E MICROCRÉDITO

Com o objetivo de dar mais clareza e funcionalidade ao tema proposto, faz-se

mister a apresentação da definição do termo microcrédito, detalhando algumas de

suas principais características. Antes, porém, seria de muita importância entender a

noção do vocábulo crédito, donde aquela outra definição emana.

No entendimento de José Simões Patrício, verifica-se que:

“Etimologicamente, a noção de crédito (do latim credere) está ligada ao

estabelecimento de uma relação de confiança entre os sujeitos que nela intervêm,

uma vez que conceder crédito é confiar desde logo na solvabilidade do devedor”. 13

Em termos práticos, entende-se por microcrédito como sendo o empréstimo

destinado especificamente aos excluídos da economia informal, aqueles que

dispõem de pouco poder aquisitivo, dando a essas pessoas a oportunidade de se

auto-empregarem, isto é, de se tornarem empresárias potenciais, através do

compromisso de restituir em parcelas mínimas o valor recebido, sem exigir, para

tanto, garantias reais.

Vale ainda ressaltar que as “entidades microfinanceiras são aquelas

especializadas em crédito constituídas na forma de Organizações não

governamentais (ONGs), Organizações da sociedade civil de interesse público

(OSCIPs), cooperativas de crédito de pequeno porte, Sociedades de crédito ao

microempreendedor (SCM), bancos comerciais públicos e privados e fundos

institucionais”, segundo dados do Banco Central do Brasil.14

É, portanto, comumente entendida como principal atividade do setor de

microfinanças pela importância que tem junto às políticas públicas de superação da

miséria pela geração de trabalho e renda.15

12

Idem. 13

PATRÍCIO, José Simões. Direito do Crédito, Introdução, LEX, Edições Jurídicas, Lisboa, 1994,

p. 16. 14

ALVES, S. D. da S.; S. SOARES, M. M. Democratização do crédito no Brasil: atuação do Banco Central. Brasília: Banco Central do Brasil, 2004. 15

Idem.

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12

4.3 ORIGEM DO MICROCRÉDITO

Considera-se que quem popularizou e idealizou o conceito de microcrédito foi

o economista Muhammad Yunus. Em 1992, surgiu na Bolívia o primeiro banco

comercial em bases lucrativas direcionado ao microcrédito. Hoje, o banco atende

cerca de 70 mil clientes, sendo 70% de mulheres. Mais tarde, nos Estados Unidos,

no ano de 1953, foram criados os fundos de ajuda que se transformaram no que se

chamou Liga de Crédito16.

4.4 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO MICROCRÉDITO

4.4.1 Público – Alvo

A concessão do microcrédito é voltada para os micro e pequenos

empreendedores, dos setores formais ou informais da economia, que não são

assistidos pelo sistema de crédito tradicional, uma vez que não têm acesso a ele por

não possuírem renda nem garantias reais.

4.4.2 Metodologia do Empréstimo

A metodologia empregada para concessão do microcrédito se dá com a

análise de dados dos clientes, de sua família, do negócio e de seu projeto, pelo

chamado Agente de Crédito, que processa todas as informações em um sistema de

informática próprio de cada instituição. Vale lembrar que cada instituição utiliza de

critérios para a fase de inscrição, tendo como requisitos obrigatórios RG, CPF e

comprovante de residência.

4.4.3 Agente de Crédito

A intervenção da figura do Agente de Crédito é essencial nas atividades de

Microcrédito. É o responsável por fazer a avaliação do empreendedor, de sua

condição socioeconômica, da viabilidade de seu negócio, bem como por realizar

16 YUNUS, Muhammad; JOLIS, A. O banqueiro dos pobres. São Paulo; Ática, 2001.

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13

uma análise do crédito solicitado, sua concessão, quando aprovada, e ainda, pelo

acompanhamento posterior.

4.4.4 Valores dos empréstimos

Uma das características mais comuns do Microcrédito é ser um empréstimo

de pequenos valores, uma vez que não se faz mister valores altos de capital para

dar inicio a um negócio com vistas ao sustento da família. Tais valores aumentam

gradativamente, levando-se em conta o comportamento do cliente. Destaca-se que o

valor médio do empréstimo é de R$1.000 (Um mil reais) e, em regra, só se pode tirar

um empréstimo por ano.

4.4.5 Juros

Nas operações de microcrédito, as taxas de juros devem ser de até 2% ao

mês, porém o percentual praticado atualmente pode alcançar até 6%.

Vale mencionar que essas taxas dependem de alguns fatores, dentre os quais

a origem dos recursos. Por exemplo, o microcrédito quando financiado pelo Governo

normalmente apresenta taxas de juros mais baixas do que quando as instituições se

auto sustentam.

4.4.6 Prazos

Na maioria das vezes, são de 12 (doze) meses os prazos para pagamentos, e

as parcelas podem ser pagas de maneira semanal, quinzenal ou mensal.

4.4.7 Garantias

Para ter acesso ao sistema de crédito formal ou tradicional, necessário se faz

possuir garantias reais. Em se tratando do Microcrédito, os seus clientes não têm

como oferecer tais garantias.

Este Grupo Solidário forma-se de maneira voluntária, ficando os participantes

dispostos a dar garantia solidária uns aos outros. Então, se alguém do grupo não

pagar a sua prestação, os demais membros serão responsáveis e solidariamente

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14

pagarão pelo inadimplente. Uma maneira diversa de garantia se dá mediante a

figura do fiador.

4.4.8 Produtos e Serviços Financiados

Os financiamentos de Microcrédito voltam-se ao capital de giro, que consiste

em pequenos e gradativos valores, sendo em curto prazo. E também ao

oferecimento de crédito para capital fixo, como máquinas e equipamentos. Ressalta-

se que há o crédito misto que compreende ambos os tipos de financiamentos

citados.

4.4.9 Baixos Custos de Transação para os Microempreendedores

Ao realizar as atividades de Microcrédito, os microempreendedores não

enfrentam tantas burocracias, conseguem um atendimento eficaz, sendo rápido o

prazo entre a solicitação do empréstimo e o recebimento do recurso oferecido. Por

essas facilidades, afirma-se que o custo de transação para os clientes do

Microcrédito é considerado baixo.

5 O EMPREENDER-JP: UMA POLÍTICA PÚBLICA DE VIABILIZAÇÃO DA LIVRE

INICIATIVA

5.1 MICROCRÉDITO E A CONCRETIZAÇÃO DA LIVRE INICIATIVA

Para se estabelecer o conteúdo da livre iniciativa, deve-se, primeiramente,

lembrar que um dos maiores obstáculos para se alcançar o efetivo desenvolvimento

econômico e superar os entraves ao microempreendedorismo é o difícil acesso ao

crédito pela população de baixa renda.

Partindo de tais considerações, pode-se então afirmar que a “livre iniciativa é

termo de conceito extremamente amplo e dela – da livre iniciativa – se deve dizer,

inicialmente, que expressa desdobramento da liberdade”, e, portanto, deve-se

reconhecer a liberdade, amplamente considerada – liberdade real, material, como

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15

um atributo inalienável do homem, desde que o conceba no todo social e não

exclusivamente em sua individualidade”.17

Nesse contexto, vale ainda destacar que a livre iniciativa não se resume a

“princípio básico do liberalismo econômico” ou a “liberdade de desenvolvimento da

empresa”. Em outros termos: não se pode visualizar no princípio tão-somente uma

afirmação do capitalismo”.18

Dessa forma, o princípio da livre iniciativa deve ser compreendido como um

direito inalienável do homem, traduzido na liberdade da expansão de sua própria

criatividade, uma vez que em seu texto legal traz o reconhecimento de um direito

que todos têm de exercer livremente uma atividade empresarial, e ainda, de

administrá-la. Porém, isso por si só não basta, sendo, portanto, necessário que

existam condições materiais (reais) para que esta necessidade humana seja

satisfeita.

5.2 MICROCRÉDITO EM JOÃO PESSOA ATRAVÉS DO PROGRAMA

EMPREENDER-JP

Não há dúvidas de que o Microcrédito é um tema de relevante importância e

muito estudado nos dias hodiernos. Em João Pessoa, capital da Paraíba, há um

programa de concessão de crédito conhecido como Empreender-JP, ferramenta de

fomento ao microempreendedorismo, que merece ser analisado como fator de

viabilização do Principio da Livre Iniciativa, direito inerente a todos os cidadãos

O Programa Municipal de Apoio aos Pequenos Negócios do Município de

João Pessoa - Empreender-JP, criado em abril de 2005, pela Lei Nº 10.431, é um

programa permanente de crédito que tem dentre suas principais finalidades a

concessão de empréstimos a empreendedores de pequenos negócios na cidade de

João Pessoa, auxiliando também no desenvolvimento dos empreendimentos já

existentes, e assim, contribui de forma significativa para inclusão social.

Quanto aos recursos arrecadados pelo Fundo Empreender-JP, diz-se que

estes são operacionalizados pela chamada Agência de Desenvolvimento de

Pequenos Negócios, no âmbito da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável da

17 Cf. GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988. 5. ed. rio. Atual. São Paulo: Malheiros, 2000. 18 Idem.

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Produção (SEDESP), ou pelos agentes financiados selecionados dentre os bancos

oficiais, que celebrarão convênios com o Município de João Pessoa para

operacionalizar as linhas de créditos, nos termos da lei.

No que tange à fonte dos recursos do Empreender-JP, vale mencionar o que

a própria Lei 10.431/05 traz em seu texto:

Art.4 º Constituirão recursos do PROGRAMA MUNICIPAL E APOIO AOS PEQUENOS NEGÓCIOS – EMPREEN ER--JP: I – O produto resultante de 1,5% (hum vírgula cinco por cento)sobre todos os valores de pagamentos realizados pelo Município de João Pessoa, relativos ao fornecimento de bens, serviços e contratação de obras,creditados automaticamente ao FUNDO MUNICIPAL E APOIO AOS PEQUENOS NEGÓCIOS; II –VETADO III – As transferências de agências e fundos de desenvolvimento, nacionais e internacionais, a título de contribuição, subvenção ou doação, além de outras formas de transferências a fundo perdido; IV – Os valores decorrentes da remuneração do Fundo pelos financiamentos concedidos pelo agente financeiro e os rendimentos resultantes de aplicações financeiras dos recursos não comprometidos; V – Doações de pessoas físicas e jurídicas, entidades públicas e privadas que desejem participar de programas de redução das disparidades sociais de renda, no âmbito do município de João Pessoa; VI –Juros e quaisquer outros rendimentos eventuais; VII – Amortizações de empréstimos concedidos. Parágrafo Único. Ficam excluídos dos valores mencionados no inciso I deste artigo os pagamentos relativos a: I – Serviços públicos explorados por concessão dispensados de procedimento licitatório para contratação com o Município; II – Pagamentos e adiantamentos aos servidores públicos municipais; III – Pagamentos inferiores a 04 (quatro) salários mínimos; IV – VETADO

19

Segundo dados da secretaria do Empreender-JP, o dinheiro para manter o

Empreender-JP funcionando vem de doações e do percentual de 1,5% que incide

sobre os pagamentos feitos pela Prefeitura a fornecedores de mercadoria e

prestadores de serviço contratados por licitação.

19 LEI N º 10.431, DE 11 DE ABRIL DE 2005. Disponível em: <http://www.joaopessoa.pb.gov.br/legislacao/segap/decretos_leis2005/leis/10431_1104.pdf.>. Acesso em: 07/11/2012.

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17

Este Programa segue uma metodologia específica, e as pessoas atendidas

pelo programa são orientadas na elaboração de seus planos de negócio, baseados

na viabilidade da atividade do empreendimento, objetivos, estratégias e pesquisa de

mercado. Assim, faz-se mister compreender as etapas do Empreender-JP, as quais

seguem a seguinte estrutura operacional, conforme dados obtidos no Sebrae/PB:

- Na primeira etapa, que compreende a inscrição e a seleção, os inscritos são

submetidos a cadastramento previamente agendado no momento da inscrição e a

uma seleção eliminatória, onde serão avaliados alguns fatores, tais como, a

viabilidade de mercado, o conhecimento mínimo da atividade, o bom conceito social

e a aptidão empreendedora. Esse processo de inscrição e seleção acontece em

locais, datas e horários determinados pela Secretaria de Desenvolvimento

Sustentável da Produção – SEDESP.

Caso o participante cumpra os requisitos estabelecidos, segue para a etapa

do programa de capacitação em que os futuros empreendedores fazem parte de um

curso de “Orientação para o Crédito”, com duração de 18 horas, além de assistir

palestras empresariais sobre gestão de negócio, processo produtivo e marketing.

- Na etapa posterior, os participantes elaboram um Plano de Negócio em

conjunto com os técnicos do Empreender-JP, em que são programadas as

atividades do empreendedor para os próximos meses e anos.

Após serem concluídos os Planos de Negócios, estes são encaminhados para

a Secretaria Executiva do Fundo Empreender e, em seguida, são enviados para o

Comitê Gestor que os analisará e, caso aprovados, seguirão para a fase final de

contratação.

- Já na etapa de liberação de crédito, diz-se que esta ocorre uma vez por mês

para os Planos de Negócios aprovados pelo Comitê Gestor. E a cobrança aos

empreendedores fica ao cargo do banco parceiro.

Liberado o crédito, o empreendedor recebe todo um acompanhamento de

técnicos que o auxiliam nos primeiros anos da atividade, fornecendo orientações

para melhoria e modernização de seu empreendimento.

Observada esta estrutura operacional, pode-se afirmar que o Empreender-JP

se destaca por sua organização e administração sempre voltadas a atender os

interesses dos micro e pequenos empreendedores.

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18

5.2.1 Motivação para Iniciar o Próprio Negócio

Foi observado que 59,26%20 dos proponentes beneficiados foram motivados a

realizar atividades de empreendedorismo, uma vez que estavam desempregados;

25,93%21 resolveram iniciar um negócio para adquirir uma renda extra e 14,81%22

por uma oportunidade observada no mercado.

O Microcrédito é considerado um instrumento de concessão de empréstimos

a micro e pequenos empreendedores informais e microempresas sem acesso ao

sistema financeiro tradicional, principalmente por não terem como oferecer garantias

reais.

5.2.2 Participação do Programa de Crédito Empreender-JP

A pesquisa mostrou que do total dos participantes do programa de Crédito

Empreender-JP, o percentual de 44,44%23 não tem acesso a nenhum banco para

realizar alguma atividade; 25,93%24 utilizaram o programa para pagar dívidas

pessoais, retirando o direito de um empreendedor iniciar o seu negócio. Como

consequência de tal ato, perde-se o direito de renovar o empréstimo, ou seja, não há

mais que se falar em direito de negociar com o programa); os que procuraram o

Empreender-JP devido à facilidade de aquisição do empréstimo somaram o

percentual correspondente a 18,52%25; e 11,11%26 foram ao Empreender-JP por

analisarem a oportunidade de investir em uma atividade comercial fazendo uma

negociação financeira que cobra baixo retorno de taxas e juros, dando um bom

custo- beneficio do investimento.

5.2.3 Representação do Negócio na Renda Familiar

Verificou-se que 66,67% dos empreendedores, possuem como única fonte de

renda para o sustento familiar, o retorno financeiro que a atividade investida com o

20 Fonte: Pesquisa de Campo, 2012. 21 Ibidem 22 Ibidem 23

Ibidem 24 Ibidem 25 Ibidem 26 Ibidem

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empréstimo do Empreender- JP proporcionou, e 33,33% utiliza o investimento

realizado como complemento de renda familiar.27

5.2.4 Contribuição do Microcrédito para Melhoria de Vida

Foi visto ainda que 70,37% dos empreendedores beneficiados conquistaram

uma melhoria de vida com a assistência do Empreender-JP, enquanto 29,63% não

conquistaram nenhuma melhoria, demonstrando que o Microcrédito na cidade de

João Pessoa alcançou seus objetivos com a maioria dos empreendedores, dando a

eles a oportunidade de criar ou ampliar seus negócios, fazendo-os participar da

atividade econômica.28

Diante deste cenário, foram liberados aproximadamente até o momento,

cerca de 45 mil contratos para a melhoria de vida da população empreendedora,

fazendo com que o desenvolvimento socioeconômico na cidade de João Pessoa

seja elevado para patamares ainda mais altos, incentivando os cidadãos a terem seu

próprio negócio e atingindo a independência financeira que tanto almejam.

O programa Empreender-JP possui várias linhas de crédito, entre elas o

Empreender Mulher, o Empreender Jovem, Cinturão Verde, linha de crédito para

deficientes físicos e também para servidores públicos.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tema Microcrédito foi tratado em toda a sua generalidade, com uma

abordagem de suas características gerais até as suas delimitações mais específicas,

através do Programa Empreender-JP.

É sabido que ao longo dos anos, surgiu a necessidade da intervenção do

Estado na economia com vistas à garantia dos direitos fundamentais a todos os

cidadãos.

No Município de João Pessoa, o Programa Empreender-JP ganha destaque

como instrumento de microcrédito por facilitar o acesso dos empreendedores ao

crédito, viabilizar a iniciativa empreendedora dos cidadãos, e contribuir,

27 Ibidem 28 Ibidem

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consequentemente, para a inclusão social e melhoria das condições de vida dos

beneficiados.

Finalmente, respondendo a problemática mencionada no presente trabalho,

conclui-se que os programas de Microcrédito consistem em uma ferramenta eficaz

que possibilitam a participação de grande parcela da população que não tem acesso

ao sistema de crédito tradicional nos mercados de trabalho. Deste modo, o

programa de Microcrédito Empreender-JP, orientado pelo Município de João

Pessoa, mediante a concessão de crédito a micro e pequenos empreendedores,

representa uma ferramenta que viabiliza a garantia e manutenção do direito à Livre

Iniciativa, direito inerente a todo e qualquer cidadão.

PROGRAM EMPREENDER-JP MICRO-CREDIT AS AGENT OF SOCIO-

ECONOMIC DEVELOPMENT

ABSTRACT

This academic work is scoped to the study of Microcredit, an instrument that enables the inclusion of micro and small entrepreneurs, who have little purchasing power, in economic activity by lending small amounts. In João Pessoa, capital of Paraíba, experience with microcredit activities is presented by EMPREENDER-JP, credit program directed by the Municipal Government which aims at the creation or expansion of jobs, contributing to social inclusion of a portion of society that lives marginalized. Is the structure of the study, all of the content provided in a logical sequence of reasoning properly distributed, which deals with the essential aspects of Economic Law and brings an approach of Economy under the constitutional vision. It then presents the appearance, the concept and characteristics of Microcredit, demonstrating yet to materialize Public Policy focused on access to credit. Finally, we conjecture about the experience of the aforementioned Program EMPREENDER-JP factor feasibility of Free Enterprise. The purpose of this academic work is exposed to potential readers that microfinance, in fact, is an important component of economic development strategies and, therefore, it is essential that occurs encouraging free enterprise and regulatory policies that give the opportunity for the growth entrepreneurship. The method used was the deductive approach, consisting also a literature search.

Keywords: Economic Law. Economic Constitutional Order. Public Policy. Free Enterprise. Microcredit.

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