Farmacologia

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Farmacologia Cardiopata

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  • AGRADECIMENTOS

    minha famlia, minha amiga Carla Antunes pelo incentivo,

    carinho, pacincia e apoio demonstrados ao longo da realizao

    deste trabalho.

    Ao orientador Professor Antnio Madureira

    A todos os que de uma forma ou de outra, contriburam para a

    realizao deste estudo, um grande e sincero obrigado.

  • RESUMO

    Ttulo do trabalho: Crenas na medicao e Adeso teraputica medicamentosa no doente com Cardiopatia Isqumica

    Introduo: A no adeso uma problemtica importante, no doente com Cardiopatia Isqumica (CI). Torna-se fundamental estudar factores que influenciam a adeso, nomeadamente as crenas nos frmacos (CNF).

    Objectivos: Descrever o perfil scio-demogrfico, familiar e de sade do doente com CI; analisar a influncia das variveis scio-familiares, clnicas e relacionadas com a teraputica farmacolgica nas CNF; analisar a relao entre as CNF e a MAT; estimar a predio das CNF na adeso ao tratamento farmacolgico do doente com CI.

    Metodologia: Estudo do tipo no-experimental, quantitativo, transversal, descritivo-correlacional. Amostra constituda por 110 indivduos (sexo masculino 68,2%, feminino 31,8%; idade mdia = 66,3 anos, dp = 9,78 anos). Aplicao de Questionrio, scio-demogrfico, clnico de sade, verso portuguesa da MAT e verso portuguesa do Beliefs about Medicines Questionnaire, especifica.

    Resultados: As variveis: idade, stress, e as relacionadas com a teraputica farmacolgica, influenciam as CNF nos doentes com CI (p

  • ABSTRACT

    Title: Beliefs about medication and adherence to drug therapy in the patient with ischemic heart disease.

    Introduction: About half of the patients do not comply with the therapeutic regimen prescribed by their doctor. The non-compliance becomes an important issue, particularly in patients with ischemic heart disease (IHD). In this context, it becomes fundamental to study the factors that influence the adherence, namely the beliefs about drugs (BAD).

    Goals: To describe the socio-demographic, familiar and health profile of the ischemic heart disease patient; to analyze the influence and or causality of the socio-familiar, clinical and related with drug therapy variables with the BAD; to analyze the relationship between beliefs and measures of adherence to treatment (MAT); and to estimate the prediction of the BAD variable in the adherence to drug therapy of the patient with IHD.

    Methodology: Non-experimental, quantitative, cross-sectional and descriptive-correlational study. Sample constituted by 110 subjects (68, 2% male and 31, 8% female; men age = 66, 3 years; sd =9, 78 years). Data collection technique socio-demographic and clinical questionnaire designed for the purposes of the study; Portuguese version of the Measure of Adherence to Treatment (MAT); Portuguese version of the Questionnaire Beliefs about Medicines Questionnaire (BMQ).

    Results: The variables: age, stress, and related with drug therapy, influence the beliefs about drugs in patients with IHD (p

  • NDICE

    Pg.

    1 - INTRODUO ............................................................................................................... 19

    2 CRENAS NA SADE .................................................................................................. 25

    2.1. MODELO DAS CRENAS NA SADE ..................................................................... 26

    2.2 - CRENAS NOS MEDICAMENTOS ......................................................................... 27

    2.3. CRENAS E ADESO NO DOENTE COM DCI. ...................................................... 29

    3 - ADESO MEDICAO .............................................................................................. 33

    3.1 - CONCEITOS DE ADESO E NO ADESO ........................................................... 33

    3.2 - FACTORES RELACIONADOS COM A NO ADESO MEDICAO .................. 35

    3.3 - AVALIAO DA ADESO MEDICAO ............................................................. 36

    3.4 - INTERVENES PARA MELHORAR A ADESO .................................................. 37

    4 - METODOLOGIA............................................................................................................. 41

    4.1 - PROBLEMTICA DA INVESTIGAO .................................................................... 41

    4.2 TIPO DE ESTUDO E DESENHO DA INVESTIGAO .............................................. 42

    4.3 - PARTICIPANTES ..................................................................................................... 44

    4.4 INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS .......................................................... 45

    4.5 - PROCEDIMENTOS.................................................................................................. 46

    5 APRESENTAO DE RESULTADOS .......................................................................... 49

    5.1 ANLISE DESCRITIVA ........................................................................................... 49

    5.1 - ANLISE INFERENCIAL ......................................................................................... 53

    6. DISCUSSO ................................................................................................................... 61

    7 CONCLUSO ................................................................................................................ 69

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................................... 73

    APNDICE I- Caracterizao scio-demogrfica e scio-familiar .................................. 85

  • APNDICE II - Questionrio .............................................................................................. 89

    APNDICE III - Descrio das componentes MAT e BMQ especifica ............................ 99

    APNDICE IV - Declarao de consentimento ............................................................... 101

    APNDICE V Caracterizao dos estilos de vida ....................................................... 103

    APNDICE VI: Anlise descritiva. ................................................................................... 107

    APNDICE VII. Anlise inferencial .................................................................................. 113

    ANEXO I - Autorizao para a colheita de dados no chcb, epe e parecer da comisso

    de tica ............................................................................................................................. 123

    ANEXO II Autorizaes dos autores ............................................................................ 125

  • NDICE DE QUADROS

    Pg.

    Quadro 1 Classificao do IMC. ........................................................................................ 51

    Quadro 2 - Esttica da amostra de acordo com a idade. ..................................................... 85

    Quadro 3 - Caracterizao da amostra de acordo com as variveis scio-demogrficas e

    scio-familiares. ................................................................................................................... 87

    Quadro 4 - Caractersticas de acordo com as variveis de estilos de vida ......................... 104

    Quadro 5 - Caracterizao do valor total dos estilos de vida da amostra. .......................... 105

    Quadro 6 - Caracterizao relacionada com as variveis clnicas...................................... 107

    Quadro 7 - Caracterizao do ndice de Massa Corporal (IMC) da amostra. ..................... 108

    Quadro 8 - Caracterizao das variveis relacionadas com a teraputica farmacolgica. . 108

    Quadro 9 - Estatstica da varivel do nmero total de comprimidos que toma por dia. ...... 110

    Quadro 10 - Caracterizao da amostra de acordo com a Medida de Adeso ao Tratamento

    farmacolgico. ................................................................................................................... 110

    Quadro 11 - Classificao da Adeso ao tratamento farmacolgico .................................. 110

    Quadro 12 - Caracterizao da amostra de acordo com escala Crenas acerca dos

    Frmacos (BMQe). ............................................................................................................ 111

    Quadro 13 - Anlise estatstica (t-Student) relativa varivel Sexo. .................................. 113

    Quadro 14 - Anlise estatstica (t-Student) relativa varivel Com companheiro. ............. 113

    Quadro 15 - Anlise estatstica (ANOVA) relativa varivel Habilitaes literrias. .......... 114

    Quadro 16 - Anlise estatstica (ANOVA) relativa varivel Rendimento mensal. ............. 114

    Quadro 17 - Anlise estatstica (ANOVA) relativa varivel Residncia. ........................... 114

    Quadro 18 - Anlise estatstica (t-Student) relativa varivel Stress. ................................ 115

    Quadro 19 - Anlise estatstica (t-Student) relativa varivel Doena cardaca diagnosticada

    .......................................................................................................................................... 115

    Quadro 20 - Anlise estatstica (t-Student) relativa varivel Outras doenas. ................. 115

  • Quadro 21 - Anlise estatstica (t-Student) relativa varivel Familiares com doena

    cardaca. ............................................................................................................................ 116

    Quadro 22 - Anlise estatstica (t-Student) relativa varivel Factores de risco. ............... 116

    Quadro 23 - Anlise estatstica (t-Student) relativa varivel Nmero excessivo de

    comprimidos. ..................................................................................................................... 116

    Quadro 24 - Anlise estatstica (t-Student) relativa varivel Esquema teraputico

    complicado. ........................................................................................................................ 117

    Quadro 25 - Correlao de Pearson entre a dimenso Necessidades especficas e as

    variveis independentes Gasto mensal, Nmero de comprimidos que toma por dia, Tempo

    de toma da medicao, Idade e Nmero excessivo de comprimidos. ................................ 117

    Quadro 26 - Regresso Mltipla entre as Necessidades especificas e as variveis

    independentes Gasto mensal, Nmero de comprimidos que toma por dia, Tempo de toma da

    medicao, Idade e Nmero excessivo de comprimidos. ................................................... 118

    Quadro 27 - Correlao de Pearson entre a dimenso Preocupaes especficas e as

    variveis independentes Gasto mensal, Nmero de comprimidos que toma por dia, Tempo

    de toma da medicao, Idade e Nmero excessivo de comprimidos. ................................ 118

    Quadro 28 - Regresso Mltipla entre as Preocupaes especficas e a varivel

    independentes Nmero excessivo de comprimidos. .......................................................... 119

    Quadro 29 - Correlao de Pearson entre as duas dimenses (Necessidade especficas e

    Preocupaes especficas) de CNF e MAT. ....................................................................... 119

    Quadro 30 - Regresso Mltipla entre as CNF e MAT. ...................................................... 120

  • NDICE DE FIGURAS

    Pg.

    Figura 1 Desenho de investigao. Fonte: Elaborao prpria. ........................................ 43

  • ABREVIATURAS E SIGLAS

    AVC Acidente Vascular Cerebral

    BMQ - Beliefs About Medicines Questionnaire

    BMQE - Beliefs About Medicines Questionnaire Specific

    CNF - Crena Nos Frmacos

    CI Cardiopatia Isquemica

    CHCB-EPE Centro Hospitalar Cova Da Beira Entidade Pblica Empresarial

    CV Coeficiente De Variao

    DCV - Doenas Cardiovasculares

    DCI - Doena Cardaca Isqumica

    Dp Desvio Padro

    EAM - Enfarte Agudo Do Miocrdio

    HTA Hipertenso Arterial

    ICD - Ischemic Coronary Disease

    IMC ndice De Massa Corporal

    K-s - Kolmogorov-Smirnov

    MAT - Medida De Adeso Aos Tratamentos

    OE Ordem Dos Enfermeiros

    OMS - Organizao Mundial De Sade

    OPPS Observatrio Portugus Para Os Sistemas De Sade

    WHO - World Health Organization

    Sd. - Standard Deviation

    SPSS - Statistical Package For Social Science

  • SMBOLOS

    Kw/erro Curtose

    = - Igual

    % - Percentagem

    Sw/erro Simetria

  • 19

    1 - INTRODUO

    De acordo com a Organizao Mundial de Sade (2011), as Doenas

    Cardiovasculares (DCV) representam a principal causa de morte a nvel mundial.

    Estima-se que no ano de 2007, tenham sido responsveis por 35% da mortalidade na

    Europa, representando a Doena Cardaca Isqumica (DCI) e a Doena

    Cerebrovascular no seu conjunto 70% (WHO, 2009). As previses para 2030, so

    alarmantes uma vez que predizem um nmero de mortes por DCV de 23,6 milhes de

    pessoas (sobretudo por cardiopatias e AVC), mantendo-se assim como a principal

    causa de morte no mundo (WHO, 2011).

    No que diz respeito a Portugal, estas patologias mantm-se no topo da lista de

    causas de maior mortalidade, sendo as doenas cardiovasculares responsveis por

    cerca de 40% de mortalidade em Portugal (PORTAL DA SADE, 2009).

    O envelhecimento acentuado da populao um dos maiores triunfos da

    humanidade mas tambm um dos grandes desafios, devido ao aumento massivo do

    nmero de mortes e incapacidade resultantes da doena crnica. As estatsticas

    mostram que 60% das mortes a nvel global se devem agora doena crnica (WHO

    2008).

    Uma populao que cresce sem a adopo de estilos de vida saudveis e

    envelhece sem sade e constituir uma enorme perda de recursos humanos e

    financeiros (GUERREIRO, 2010:11).

    As doenas crnicas representam um elevado impacto social, econmico e na

    qualidade de vida, a nvel mundial (SILVA et al., 2006). Prev-se que o impacto

    econmico e mundial das doenas crnicas continue a crescer e, em 2020

    corresponda a 65 % das despesas relativas sade em todo o mundo (BUGALHO E

    CARNEIRO, 2004:8). Neste panorama, o tema da adeso medicao, torna-se cada

    vez mais relevante pois as estimativas dos incumprimentos das prescries mdicas

    so, segundo a literatura bastante elevadas. A no adeso conduz a 125000 mortes por

    ano nos EUA e provoca entre 5% a 15% de hospitalizaes no mesmo perodo de

    tempo (BUGALHO E CARNEIRO, 2004 upud CABRAL E SILVA, 2009:22).

    A adeso teraputica definida como o grau ou extenso em que o

    comportamento da pessoa em relao toma de medicao, ao cumprimento da dieta e

  • 20

    alterao de hbitos ou estilos de vida, corresponde s instrues veiculadas por um

    profissional de sade (CABRAL E SILVA, 2009). Assume um papel de particular

    importncia nos doentes portadores de doenas crnicas, constituindo a ausncia da

    mesma um grave problema de sade pblica, com enormes repercusses na incidncia

    e prevalncia de inmeras patologias. O problema da adeso ao tratamento um

    indicador central de avaliao da qualidade em qualquer sistema de sade que se

    queira moderno e eficaz (BUGALHO E CARNEIRO, 2004:8).

    Sabemos hoje que noes como sade e doena se referem a fenmenos

    complexos que conjugam factores biolgicos, sociolgicos, econmicos ambientais e

    culturais (UCHA, 2004). Cada um privilegiando diferentes factores e sugerindo

    diversas estratgias de interveno e pesquisa. A cultura fornece modelos de e para

    os comportamentos humanos relativos sade e doena e todas as actividades de

    cuidados em sade so respostas socialmente organizadas frente s patologias e

    podem ser estudadas como um sistema cultural (UCHA, 2004).

    Diversos modelos de pesquisa tm vindo a ser desenvolvidos para entender os

    comportamentos na rea da sade, nomeadamente modelos estruturais, modelos de

    barreiras situacionais, modelos educacionais e o modelo de crenas na sade

    (CARVALHO e STUCHI, 2003).

    O presente estudo incide numa vertente do modelo de crenas na sade, em

    particular, nas crenas nos frmacos (CNF).

    As crenas sobre o tratamento em geral e sobre os medicamentos em particular

    so influenciadas pelas crenas sobre a doena e sobretudo pela percepo de

    gravidade desta. Desenvolvem-se de acordo com, os modelos de senso comum sobre a

    doena, e as expectativas sobre a eficcia e necessidade desse tratamento (HORNE,

    1999).

    Diferentes indivduos tm diferentes percepes acerca do papel, significado e

    grau de importncia ou risco associados ao consumo de frmacos, como tal,

    desenvolvem diferentes crenas acerca dos mesmos, podendo estas influenciar a forma

    como aderem ao tratamento farmacolgico. (WEINMAN, & HANKINS, 1997 apud

    FERREIRA, 2008). Sendo o indivduo um agente activo nas escolhas dos seus cuidados

    de saude, as suas crenas tem implicaes nas decises sobre o seu prprio

    tratamento (HORNE, 1999).

    O paradigma da adeso ao tratamento nas ltimas dcadas tem sido alvo da

    ateno dos profissionais de sade, por ser de importncia vital para o controlo das

    doenas crnicas e suas consequncias.

  • 21

    A justificativa pela escolha do tema vai ao encontro das preocupaes

    evidenciadas em vrios estudos realizados sobre esta temtica. H resultados

    preocupantes no que diz respeito a taxas de no adeso ao tratamento nos doentes

    crnicos, com graves repercusses no progresso da doena, no insucesso das prticas

    profissionais e nos gastos astronmicos em sade.

    O incumprimento das prescries/tratamentos tem efeitos negativos na sade da

    prpria pessoa, minimiza a probabilidade de potenciais melhoras, por falta de eficcia

    das teraputicas institudas. Leva a necessidade de cuidados de sade mais

    prolongados, provoca desperdcio de medicamentos e acarreta consequncias de cariz

    sistmico, uma vez que sobrecarrega o sistema de sade, resultando em custos

    adicionais para a economia (CABRAL e SILVA, 2009).

    Percebe-se urgente o estudo deste fenmeno da adeso e todos os factores que

    envolvem este processo. Acredita-se que uma melhor compreenso destes

    determinantes poder contribuir para o conhecimento e entendimento do problema, e

    para a implementao de intervenes baseadas na evidncia, tendo em vista a

    melhoria da qualidade da assistncia centrada nos comportamentos da no adeso ao

    regime medicamentoso prescrito.

    Sabendo que as crenas ligadas aos medicamentos tm implicaes na adeso

    teraputica do doente do DCI, parece-nos de vital importncia compreender esta

    relao. Neste sentido pretendeu-se, com a realizao do estudo, responder seguinte

    pergunta de investigao, que norteou o desenvolvimento do estudo: Em que medida

    as crenas ligadas ao uso dos medicamentos interferem no comportamento de adeso

    teraputica dos pacientes com doena cardaca isqumica?

    Tendo em conta a necessidade de obter respostas questo de investigao

    foram definidos os seguintes objectivos:

    Descrever o perfil scio-demogrfico, familiar e de sade do doente com Doena

    Cardaca Isqumica;

    Analisar a influncia das variveis scio-familiares, clnicas e relacionadas com a

    teraputica farmacolgica com as Crenas nos frmacos (CNF).

    Analisar a relao entre as crenas e as medidas de adeso ao tratamento

    (MAT)

    Estimar a predio da varivel CNF na adeso ao tratamento farmacolgico do

    doente com Doena Coronria Isqumica.

  • 22

    Para tal sero analisadas uma multiplicidade de factores e variveis envolvidas

    nas crenas nos frmacos, de forma a contribuir para uma melhor compreenso

    desta temtica.

    Estruturalmente, este trabalho integra duas partes fundamentais:

    A primeira parte constituda pela fundamentao terica onde so descritos os

    aspectos mais relevantes relacionados com os conceitos em estudo, constam os

    captulos crenas e adeso medicao.

    A segunda parte dedicada ao estudo emprico, dela faz parte os captulos

    referentes metodologia, resultados, discusso e concluso.

  • 23

    PARTE I- FUNDAMENTAO TERICA

    Captulo 2. CRENAS NA SADE

    Captulo 3. ADESO TERAPUTICA MEICAMENTOSA

  • 24

  • 25

    2 CRENAS NA SADE

    As crenas podem ser definidas como componentes cognitivas das atitudes, que

    influenciam a percepo e comportamento frente a eventos ou situaes sociais

    (KRUGUER, 1995 upud RONZANI, 2007). O contexto social apresenta importncia

    fundamental uma vez que existe um mecanismo de organizao psicolgica das

    crenas em termos de centralidade das mesmas.

    Teoria da Aprendizagem Social (BRANDURA, 1979 apud RONZANI, 2007)

    permite perceber a importncia dos aspectos cognitivo-comportamentais,

    nomeadamente na mudana e manuteno de determinadas normas e condutas a nvel

    social. Segundo esta teoria, os padres de comportamento so influenciados pelas

    contingncias ambientais, h uma aco recproca entre aspectos individuais e

    ambientais e as situaes das relaes interpessoais apresentam importncia vital no

    desenvolvimento da mudana ou manuteno do comportamento.

    A partir dos aspectos levantados, percebe-se que determinadas crenas e

    comportamentos so mantidos ou modificados pelas circunstncias que envolvem o

    doente. Sendo assim, para obtermos uma mudana comportamental, importante

    actuarmos simultaneamente nos indivduos e no seu ambiente (BRANDURA, 1979 apud

    RONZANI, 2007). Dependendo da importncia de determinadas crenas para o

    contexto em que esto representadas na vida do indivduo, elas so mais fceis ou

    difceis de alterar (ROKEACH, 1981; KRUGUER, 1995 apud RONZANI, 2007).

    As crenas ou cognies tm sido bastante estudadas e parecem ser possveis

    preditores na adeso ao tratamento. Elas espelham o conhecimento individual, pois

    podem ser entendidas como um equipamento que o indivduo possui para lidar com a

    realidade (OGDEN, 1999 apud TEIXEIRA, 2004). Este equipamento representa a

    necessidade de equilbrio entre o meio ambiente e as imposies do meio interno

    (TEIXEIRA, 2004)

    Crenas e sistemas de crenas integram e influenciam culturas, desenvolvidas

    ao longo dos tempos. Determinadas crenas e comportamentos so mantidos ou

    modificados pelas circunstncias e contingncias ambientais. Ao sugerirmos uma

    mudana comportamental, importante actuarmos no somente junto aos indivduos,

    mas tambm junto dos familiares e do envolvimento social.

  • 26

    A assistncia oferecida pelos profissionais de sade aos pacientes necessita de

    se alicerar numa abordagem holstica do indivduo, o qual deve ser tratado como um

    sistema complexo de partes inter-relacionadas, focalizando, alm do aspecto biolgico,

    valores culturais, sociais e suas necessidades psquicas e emocionais (SIQUEIRA et.

    al., 2006).

    2.1. MODELO DAS CRENAS NA SADE

    As crenas em sade so atitudes, valores e conhecimentos que os indivduos

    tm sobre sua sade e sobre os servios de sade, que iro influenciar a sua percepo

    de necessidade e, consequentemente, de uso dos servios (PAVO, 2008).

    Uma das abordagens que tem sido utilizada neste campo refere-se a teorias e

    modelos cognitivos aplicados sade. De entre os vrios modelos, o das Crenas em

    Sade considerado o principal modelo capaz de explicar e predizer a aceitao de

    recomendaes sobre cuidados com a sade (JANZ e BECKER, 1984).

    O modelo de crenas de sade (ROSENSTOCK, 1966) teve origem em teorias

    comportamentais e cognitivas. Foi o primeiro modelo desenvolvido para explicar o

    comportamento de sade e doena, e tem sido o mais utilizado nos programas de

    interveno desenvolvidos nos ltimos anos (RIBEIRO, 2005). De acordo com este

    modelo o comportamento de sade baseia-se em trs pressupostos:

    A susceptibilidade percebida a uma ameaa sade, em que quanto maior a

    susceptibilidade percebida, maior a motivao para adoptar comportamentos

    que promovam a sade.

    A gravidade atribuda doena ou condio de sade, que habitualmente

    percebida de acordo com a gravidade dos sintomas e com o impacto da doena

    na famlia e conviventes.

    Os benefcios percebidos e dificuldades do tratamento: a pessoa

    constantemente avalia se os benefcios obtidos com a adopo de um

    comportamento de sade, excedem as dificuldades ou barreiras sua

    realizao.

    Este modelo foi posteriormente aferido, na dcada de 70/80, por Becker e

    colaboradores (PEDROSA, 1991), que afirmavam que a probabilidade de um pessoa ter

    um determinado comportamento saudvel, est relacionado com as crenas pessoais

    acerca da ameaa percebida da doena e da percepo do risco/benefcio de praticar a

  • 27

    aco recomendada. Neste contexto, as crenas na sade e em particular nos frmacos

    so influenciadas de acordo com variveis clnicas (sintomas, etc.), variveis

    demogrficas (gnero, idade, classe, etc.) e por caractersticas psicolgicas

    (personalidade, companheiro, presso do grupo, etc.), que por sua vez vo originar um

    determinado comportamento de adeso teraputica (HORNE e WEINMAN, 1999),

    (HANKINS, 1997).

    De acordo com Strecher & Rosenstock, (1997), citados por Straub (2005), o

    MCS reconhece ainda a influncia varivel que os amigos, as campanhas de sade e

    factores scio-demogrficos como a idade, sexo e grupo socioeconmico podem

    exercer sobre a pessoa, fornecendo-lhe razes para adoptar ou no comportamentos de

    sade.

    Existem vrios estudos que tm demonstrado a importncia deste modelo, mas

    referem tambm limitaes, nomeadamente o facto de funcionar melhor quando

    utilizado como modelo para comportamentos preventivos (JANZ e BECKER, 1984, apud

    HORNE e WEINMAN, 1999).

    Focalizando-nos no fenmeno da adeso e de acordo com este modelo a

    pessoa ir aderir ao regime teraputico se acreditar que a doena grave e lhe poder

    trazer consequncias pessoais srias e se entender o regime teraputico proposto,

    como uma possibilidade de reduzir a gravidade da doena ou a sua susceptibilidade

    mesma, sendo os custos de aderir, superados pelos benefcios resultantes da adopo

    de comportamentos de adeso. (HORNE e WEINMAN, 1999).

    O estudo das crenas na sade fundamental para compreender a adeso

    teraputica, uma vez que as crenas dos doentes acerca da sade demonstraram ter

    efeito no comportamento relativo toma da medicao (BALKRISHAN, 1998).

    2.2 - CRENAS NOS MEDICAMENTOS

    Considerando os conceitos de adeso e no adeso teraputica, como

    questes de ordem comportamental, torna-se pertinente estudar factores que

    influenciem os comportamentos, em especial os relacionados com o processo de

    adeso teraputica, nomeadamente as crenas nos frmacos (CNF).

    () A sade e o que se relaciona a ela (conhecimento do risco, ideias

    sobre preveno, noes sobre causalidade, ideias sobre tratamentos apropriados,

  • 28

    etc.) so fenmenos culturalmente construdos e culturalmente interpretados

    (MARRONI, 2007:103).

    Existem estudos que referem que os indivduos tm crenas sobre os

    medicamentos em geral, assim como sobre medicamentos prescritos para doenas

    especficas (CONRAD, 1985; MORGAN e WATKINS, 1988). Segundo (HORNE, 2003,

    apud FIGUEIRAS, 2006), as crenas sobre o tratamento em geral e sobre os

    medicamentos em particular so influenciadas pelas crenas sobre a doena em causa

    e sobretudo pela percepo de gravidade desta. Neste sentido, as crenas sobre o

    tratamento de uma doena desenvolvem-se de acordo com os modelos de senso

    comum sobre a doena, e com as expectativas sobre a eficcia e necessidade desse

    tratamento (HORNE, 1999).

    As preocupaes com a medicao podem traduzir uma reaco emocional de

    medo e ansiedade diminuindo assim a adeso ou influenciando a escolha de um certo

    medicamento (Horne, 2003). A percepo dos sintomas pode incentivar o uso dos

    medicamentos, reforando a crena na necessidade. Contrariamente a ausncia de

    sintomas graves pode dar origem a dvidas sobre a necessidade de tratamento. Os

    sintomas podem aumentar o nvel de preocupao sobre o tratamento, se estes forem

    interpretados como efeitos secundrios (LEVENTHAL et. al., 1987, apud FIGUEIRAS,

    2006).

    Sabendo que o doente um agente activo na escolha dos cuidados de sade, as

    suas crenas no tratamento vo influenciar o seu comportamento no tratamento da

    doena (FIGUEIRAS, 2006). Por outras palavras, os doentes tm as suas prprias

    ideias e perspectivas em relao ao uso de medicao e tomam decises, baseadas

    nas suas crenas e experincias. Ponderam o risco/beneficio relativamente toma da

    medicao e determinam, de acordo com a eficcia percebida a segurana e o valor em

    termos de resultados para a sua sade e consequentemente a sua adeso ou no ao

    tratamento. Este contexto refora a importncia, de avaliar os medos e crenas, por

    vezes falsas, relacionadas com a medicao, pois podem levar a uma baixa adeso

    medicao (GORDON; SMITH; DHILLON, 2007).

    Monsivais e Mcneill (2007) afirmam que receios relativos, aos efeitos

    secundrios causados pela toma continuada de medicao, dependncia, ineficcia

    ou combinao dos vrios frmacos prescritos, fomentam algumas das principais

    crenas acerca dos frmacos e levam a uma adeso parcial ou, at mesmo, no adeso

    teraputica. Em concordncia com estes autores, Horne, (2006), Treharne, Lyons e

    Kitas, (2004), explicam que a no adeso est frequentemente relacionada com o modo

    como os pacientes avaliam a necessidade do medicamento que lhes prescrito,

  • 29

    podendo estes apresentar efeitos adversos, devido s suas preocupaes sobre os

    potenciais efeitos negativos dos medicamentos que esto a tomar. A investigao

    mostra que a perspectiva do paciente, relativamente s convices pessoais sobre os

    medicamentos, tem importncia na no adeso medicao.

    Horne, Weinman e Hankins, (1997) consideram que diferentes indivduos tm

    percepes diferentes acerca do papel, significado e grau de importncia ou de risco

    associados ao consumo de frmacos e, como tal, desenvolvem diferentes crenas

    acerca dos mesmos, podendo estas crenas influenciar a forma como os indivduos

    aderem ao tratamento farmacolgico.

    Cada doena crnica especfica e tem um impacto prprio no indivduo, famlia

    e comunidade. Deste modo, torna-se importante o estudo da especificidade dos

    problemas e das complicaes comuns que acompanham as vrias perturbaes de

    sade, para que se possa compreender e ajudar as pessoas com doenas crnicas.

    As crenas nos frmacos, foram avaliadas no presente estudo, devido ao facto

    da literatura sugerir a sua influncia nos comportamentos relacionados com a sade

    (FIGUEIRAS; MACHADO; ALVES, 2002) e na adeso teraputica (WHO, 2003).

    2.3. CRENAS E ADESO NO DOENTE COM DCI.

    Cardiopatia Isqumica o termo utilizado para descrever as doenas cardacas

    provocadas por depsitos arteriosclerticos que conduzem reduo do Imen das

    artrias coronrias. O estreitamento pode causar Angina de Peito ou Enfarte de

    Miocrdio, se em vez de reduo do Imen arterial se verificar obstruo total do vaso;

    (PORTAL DA SAUDE, 2009). Na fisiopatologia da cardiopatia isqumica dois processos

    esto implicados: a oferta e a demanda de oxignio pelo miocrdio. A isquemia

    miocrdica ocorre quando h desequilbrio na oferta e na demanda de oxignio

    (CARVALHO e SOUSA, 2001).

    A apresentao clnica da doena coronria varia desde a angina estvel at a

    morte sbita. Nesse espectro encontram-se os quadros de enfarto agudo do miocrdio

    com supra desnivelamento do segmento ST, enfarto agudo do miocrdio sem supra

    desnivelamento do segmento ST e angina instvel, actualmente catalogados como

    sndromes coronrias agudas (CARVALHO e SOUSA, 2001).

  • 30

    A compreenso sobre as crenas relacionadas aos comportamentos de sade

    cardiovascular fundamental para se conseguir a adeso dos pacientes s prescries

    e dos indivduos saudveis aos comportamentos de preveno.

    Estima-se que em alguns pases da Unio Europeia a mortalidade por doena

    coronria represente cerca de 65% de toda a mortalidade. De acordo com a WHO

    (2009), em 2030 morrero 23,6 milhes de pessoas devido a alguma forma da doena

    cardiovascular e este aumento ser mais evidente nos pases mediterrneos, como no

    caso de Portugal. A doena cardaca isqumica foi responsvel por 23% das mortes a

    nvel nacional; apesar desta elevada percentagem, a taxa de mortalidade por DCI em

    Portugal um das mais baixas a nvel europeu. J o Portal da Sade (2009) alerta para

    o facto de a doena cardiovascular ser actualmente responsvel por cerca de 40% do

    total de bitos, assumindo-se como a principal causa de morte e uma importante causa

    de incapacidade mental e fsica em Portugal.

    Os factores de risco mais referidos para a doena cardiovascular so o consumo

    de tabaco, a tenso arterial elevada, as dislipidemias, o excesso de peso e a obesidade,

    a diabetes mellitus, o consumo de lcool em excesso e o stress psico-social. Todos

    estes factores de risco so relacionados com caractersticas comportamentais, mas

    existem tambm factores de risco de intrnsecos s pessoas como a idade, o sexo, a

    etnia e factores genticos (CARVALHO e SOUSA, 2001).

    O tratamento mdico consiste no controlo dos factores de risco, na utilizao dos

    frmacos apropriados e na modificao dos estilos de vida (FUNDAO

    PORTUGUESA DE CARDIOLOGIA, 2011).

    O conhecimento das crenas e de outros contedos cognitivos pode favorecer a

    criao de estratgias capazes de identificar, avaliar e modificar interpretaes da

    prpria doena e por consequncia os comportamentos relacionados adeso ao

    tratamento. A pesquisa sobre crenas e comportamentos de sade leva-nos a

    considerar diversos aspectos relevantes associados doena e ao comportamento

    especfico, nomeadamente as caractersticas scio-demogrficas dos sujeitos, o estado

    de sade e outros factores externos (DELA COLETA, 2004).

    Um elevado nmero de estudos apontam para uma taxa de adeso, em pessoas

    com doenas crnicas, nos pases desenvolvidos na ordem dos 50%, sendo a

    magnitude e impacto da no adeso ainda maior nos pases mais pobres (MAIA, 2008).

    So muitos os factores cognitivos a serem explorados na complexidade do

    processo de deciso em relao sade. No que se refere preveno de doenas

    cardiovasculares, o Modelo da crenas em sade foi eficaz, juntamente com outras

  • 31

    variveis, para explicar o comportamento de diminuir ou parar de fumar (PEDERSON;

    WANKLIN; KNIGHT; BRUN, 2010), seguir a dieta para perder peso (OCONNELL;

    JURS; 1985), praticar exerccios, consumir alimentos saudveis (SCHAFER, 1995) e

    outros comportamentos de sade geral (MULLEN; HERSEY, 1987).

    Num programa supervisionado para doentes coronrios, foram verificadas as

    crenas relacionadas aos exerccios e doena, verificou-se que a motivao para a

    sade e a severidade percebida na doena coronria estavam relacionadas com a

    adeso ao programa de exerccios. (MIROTZNIK, 1995). O MCS foi tambm testado na

    melhoria da adeso ao tratamento de 72 pacientes hipertensos, verificando-se que,

    aps a interveno, houve um aumento na marcao de consultas e na continuidade

    dos cuidados (JONES; JONES e KATZ, 1987).

    Num estudo cujos objectivos foram o levantamento de crenas sobre

    comportamentos de sade cardiovascular (DELA COLETA, 1995), a autora verificou que

    a amostra total apresentava crenas positivas a respeito de se fazer exerccios, evitar

    preocupaes, ter horas de lazer e diverso e manter o peso. De 90 a 95% da amostra

    tinha crenas positivas sobre usar menos sal, comer menos gorduras, ter tempo para

    descanso, medir a presso arterial, consultar o mdico anualmente, no fumar e tomar

    os medicamentos receitados pelo mdico (DELA COLETA, 1995).

    Gus et al. (2004) apud Mion et al., (2006) revelou que, em 50,8% de indivduos

    adultos que sabiam ser hipertensos, s 40,5% estavam em tratamento e apenas 10,4%

    tinham presso arterial controlada. A hipertenso aumenta 3-4 vezes o risco de doena

    cardaca isqumica, e 2-3 vezes o risco cardiovascular global (OMS, 2004). Estima-se

    que 40% dos casos de enfarte agudo do miocrdio (IAM) ou AVC so atribuveis

    hipertenso. Apesar da disponibilidade de tratamentos eficazes, os estudos mostram

    que em muitos pases, menos de 25% dos pacientes tratados para hipertenso

    conseguem uma presso arterial ptima. A baixa escolaridade esteve presente na

    prevalncia da hipertenso arterial sistmica num estudo de Gus et al. (2004). A baixa

    adeso tem sido identificada como a causa considervel de falta de controlo da

    hipertenso (OMS, 2004).

    Pacientes que no aderem ao tratamento com beta-bloqueadores tiveram 4,5

    vezes mais probabilidade de ter complicaes coronrias do que aqueles que o fizeram

    (OMS, 2004). O conhecimento e crenas dos doentes acerca da sade demonstraram

    ter efeito no comportamento relativo toma da medicao (BALKRISHAN, 1998,apud

    SIMO, 2009).

  • 32

    Gordon et al., (2007) afirma relativamente a doenas crnicas, que os principais

    problemas encontrados relacionados com o uso de medicao foram: as percepes

    das doentes relativas doena; o medo dos efeitos secundrios e suas formas de

    confronto; as crenas dos sujeitos relativamente ao uso de medicamentos; problemas

    cognitivos, fsicos, e sensoriais, os quais interferem na capacidade dos sujeitos de

    administrar a sua medicao; a falta de informao ou compreenso relativa ao uso dos

    medicamentos e problemas atribudos ao acesso e organizao dos servios de sade.

    A durao do tratamento tambm um factor associado aos nveis baixos de

    adeso (VANI e BABANI apud JOYCE-MONIZ e BARROS, 2005), sendo os doentes

    crnicos so aqueles que menos cumprem as prescries (BECKER e ROSENSTOCK

    apud JOYCE-MONIZ e BARROS, 2005).

    Frequentemente, apenas a cultura individual do doente tida em conta, contudo

    a cultura do sistema de sade e da sociedade contempornea tm tambm grande

    influncia na formao de crenas e atitudes acerca da medicao, criando muitas

    vezes confuses para tcnicos e doentes (MONSIVAIS e MCNEILL, 2007). Assim, a

    doena crnica requer muito tempo e colaborao entre o profissional de sade e o

    doente, embora constrangimentos relativos ao tempo no permitam que tal acontea.

    Ouvir com ateno, esclarecer a histria do doente, algo to importante e to pouco

    utilizado no sistema de sade actual (MONSIVAIS e MCNEILL, 2007).

  • 33

    3 - ADESO MEDICAO

    Rapley (1997), Morisson (1993) afirmam que aderir a um tratamento significa

    aceitar e seguir correctamente o tratamento proposto pelo profissional de sade, seja

    ela medicao, dietas ou mudanas no estilo de vida. Outros factores que influenciam a

    adeso a um tratamento so, as caractersticas do prprio tratamento, as condies

    particulares do paciente, o relacionamento com a equipe mdica, variveis psicolgicas

    do prprio paciente bem como dos seus familiares e amigos, os aspectos psicossociais

    e socioeconmicos, entre outros (KURITA; PIMENTA, 2003).

    Actualmente um dos principais problemas do sistema de sade relaciona-se com

    o abandono ou cumprimento incorrecto dos tratamentos prescritos pelos profissionais de

    sade. Deste modo, uma das mais importantes causas do insucesso teraputico

    encontra-se ligada no adeso ou adeso incompleta teraputica medicamentosa,

    contribuindo para um aumento da morbilidade e mortalidade (GALLAGHER; VISCOLI;

    HORWITZ, 1993).

    3.1 - CONCEITOS DE ADESO E NO ADESO

    Ao longo da literatura verifica-se uma certa dificuldade para definir adeso aos

    tratamentos mdicos. Tm sido propostas vrias definies, e expresses alternativas

    relativamente ao processo de adeso, como por exemplo, cumprimento (compliance) e

    aderncia (adherence).

    A compliance enquanto conceito define o nvel de concordncia entre o

    comportamento de uma pessoa e o aconselhamento do profissional de sade

    (HAYNES, 1981). Os pacientes deviam assim cumprir obrigatoriamente todas as

    indicaes dadas e eram responsabilizados pelos desvios que pudessem ocorrer face

    prescrio (CABRAL e SILVA, 2009). Em alternativa surge o termo Adesoem que o

    paciente reconhecido como interveniente activo do processo, uma vez que

    compreende e aceita a prescrio, partilhando a responsabilidade do tratamento com os

    profissionais de sade que o seguem (CABRAL e SILVA, 2009).

  • 34

    Os dois termos podem, portanto, ser utilizados como sinnimos, desde que

    compreendam a existncia de um acordo/aliana entre ambas as partes, respeitando

    crenas e desejos. Devem simplesmente constatar um facto, e no classificar, de forma

    depreciativa, o doente, o profissional de sade ou o tratamento prescrito (BUGALHO e

    CARNEIRO, 2004, p. 10).

    Ho, Bryson e Rumsfeld (2009) reforam o facto da adeso teraputica consistir

    num envolvimento activo e voluntrio do doente, relativamente a comportamentos que

    produzam resultados teraputicos. Em suma, a adeso por parte de um doente pode

    referir-se, aquisio das prescries mdicas, tomar a dose correcta de medicao

    para cada dia e implementao e manuteno do tratamento pelo perodo

    estabelecido (SIMO, 2009).

    Outros autores referem a adeso como utilizao dos medicamentos prescritos

    ou de outros procedimentos, em pelo menos 80% da sua totalidade, incluindo o

    cumprimento do horrio, dose e tempo de tratamento estabelecido cumprido (LEITE e

    VASCONCELOS, 2003).

    A no adeso ocorre quando o comportamento do doente no coincide com as

    recomendaes do profissional de sade. Este conceito no diz respeito unicamente

    ingesto de medicamento, mas tambm ao seguimento da dieta, mudanas no estilo de

    vida e ainda pela concordncia com as recomendaes do mdico ou de outro

    profissional de sade (WHO, 2003; OSTERBERG e BLASCHKE, 2005 apud CABRAL e

    SILVA, 2009).

    O fenmeno de no adeso pode ser classificado: em consumo excessivo,

    quando os doentes tomam maior nmero de frmacos que o necessrio ou prescrito, ou

    tomam frmacos que no necessitam; consumo deficiente, que se refere ao descuido

    em iniciar a medicao, interrupo precoce e falha constante de tomar a

    quantidade de medicao recomendada; consumo irregular, por erros no seguimento

    correcto das instrues, quer por erros de dosagem (diminuio ou aumento), ou toma

    fora de horas; consumo contra-indicado ou inadequado ocorre quando o doente toma

    medicao inadequada (WHITTINGTON, 1995).

    Embora a no adeso ocorra em todas as idades, alguns estudos sugerem

    maiores taxas de no adeso entre a populao idosa (STUCK e TAMAI, 1991 apud

    SIMO, 2009). Diversos estudos evidenciam a dificuldade que os doentes tm em

    administrar de forma correcta a sua medicao, experienciando um vasto leque de

    problemas associados (GORDON; SMITH; DHILLON, 2007) nomeadamente dfices

    sensoriais do doente, questes financeiras (STUCK & TAMAI, 1991), maior ocorrncia

  • 35

    de doenas crnicas, existncia de mltipla medicao, isolamento social, e confuso

    mental (SCHWARTZ, WANG, ZEIT; GLOSS (1962) apud PAMPLONA, 1997).

    3.2 - FACTORES RELACIONADOS COM A NO ADESO MEDICAO

    O grau de adeso teraputica depende de um conjunto de factores que se

    relacionam entre si e que afectam directamente o paciente, influenciando o seu

    comportamento e contribuindo para uma maior ou menor adeso s recomendaes

    sobre o tratamento recomendado para a sua doena (CABRAL E SILVA, 2009).

    Dada a complexidade do processo de adeso e as vrias formas de o conceber

    e definir, so tambm consideradas diversos factores subjacentes a todo o processo de

    falta de adeso ao tratamento.

    Para Blackstock et al., (2005) estes factores dividem-se em:

    Caractersticas do doente: Compreendem as condies fsicas, as

    caractersticas psicolgicas, o desconhecimento sobre os tratamentos e a

    incapacidade de compreenso e interpretao da doena, o contexto familiar,

    social, profissional e scio-cultural e o nvel scio-econmico de difcil acesso a

    cuidados de sade.

    Caractersticas da doena e teraputica: Diz respeito mudana do estilo de

    vida e ao declnio da adeso ao longo do tempo;

    Relao com os profissionais de sade: Constam s caractersticas da

    relao teraputica, insatisfao e desinteresse do doente e da equipa de

    sade;

    Caractersticas do sistema de sade: Refere-se necessidade de desenvolver

    medidas e recursos que promovam a adeso (BLACKSTOCK et al., 2005).

    As tendncias gerais da literatura tendem a mapear as causas da no adeso e

    procuram agrupa-las em quatro grandes dimenses (WHO, 2003): Causas

    demogrficas, sociais e econmicas; relativas doena e ao regime teraputico

    prescrito; ligadas relao do paciente com os profissionais e servios de sade.

    Como factores contributivos para a no adeso podem ainda ser referidas

    variveis como: a complexidade do tratamento; as crenas do paciente sobre o

    tratamento; as estratgias de confronto adoptadas para enfrentar a doena, e os custos

    associados adeso, por exemplo, algumas propostas feitas por parte dos tcnicos de

    sade podem ser percepcionadas pelos doentes como perturbadoras ou exigentes, o

  • 36

    que poder fazer com que estes no se sintam capazes de as cumprir (BENNETT,

    2002).

    Adicionalmente, outros autores do mais relevncia aos factores psicossociais

    que podem ser considerados como barreiras adeso, nomeadamente as

    caractersticas do paciente e da doena, as caractersticas da medicao e efeitos

    secundrios e outros factores que possam estar associados (PATEL e DAVID, 2007).

    Para alm das acima referenciadas, tambm existem variveis/ barreiras de no

    adeso especficas da idade, sendo por isso os idosos mais vulnerveis ao uso errado

    da medicao. Algumas dessas barreiras consistem no dfice/disfuno cognitiva, perda

    de viso, falta de compreenso, incapacidade para lidar com mltipla medicao, e

    atitudes, ou crenas acerca dos medicamentos (MURRAY et al., 2004). de salientar

    que os idosos tm um maior nmero de doenas associadas, e evidenciam maiores

    dificuldades cognitivas e comportamentais, em gerir as exigncias de implementar

    mltiplos comportamentos de adeso, alguns deles envolvendo a medicao (CABRAL

    e SILVA, 2009).

    3.3 - AVALIAO DA ADESO MEDICAO

    A no adeso ao regime teraputico tem reflexos ao nvel, das complicaes

    mdicas e psicossociais da doena, reduo da qualidade de vida do paciente e

    aumento dos gastos com recursos de sade. Torna-se por isso importante avaliar o

    nvel de adeso dos doentes ao tratamento.

    A escolha do mtodo de avaliao, vai depender do tipo de doena, do regime

    teraputico e da prpria definio de adeso escolhida e dos objectivos particulares,

    dado no existir uma s medida universal e unnime (DELGADO e LIMA, 2001).

    Podem utilizar-se mtodos directos ou indirectos como as entrevistas. Nos

    resultados teraputicos, podem ainda considera-se medida comportamentais como a

    contagem de medicamentos ou os mais recentes monitores computadorizados de

    adeso e mtodos directos como os marcadores bioqumicos. Contudo, todos estes

    mtodos apresentam algumas limitaes, uma vez que o recurso a entrevistas e

    relatrios de auto-avaliao podem ser pouco confiveis, pois os doentes por vezes

    mentem sobre a toma de medicamentos, para agradar ou evitar a desaprovao

    (DELGADO; LIMA, 2001).

  • 37

    A contagem de comprimidos pode-se tambm revelar enganadora, pois traduz o

    nmero dos mesmos que foi removido do frasco e no o nmero realmente ingerido

    (FISHMAN et al., 2000).

    Por sua vez, a tcnica de utilizao de marcadores biolgicos, na qual

    calculada a concentrao do medicamento (ou marcadores biolgicos especiais

    adicionados aos comprimidos) no sangue ou na urina do doente, embora seja exacta,

    pouco prtica e dispendiosa na maioria dos contextos clnicos.

    O mtodo de monitorizao de renovao da receita permite obter uma

    informao clara sobre as receitas que foram adquiridas e, por vezes, alguns

    medicamentos que possam ter sido entregues, no entanto, essa informao no permite

    ter a certeza se os medicamentos foram efectivamente tomados (BUTLER; ROLLNICK,

    2003).

    Apesar de todas estas limitaes acima referidas o processo de avaliao da

    no adeso indispensvel para a compreenso das dificuldades existentes na adeso

    ao tratamento, permitindo delinear estratgias para uma interveno mais eficaz e com

    melhores resultados teraputicos (DELGADO; LIMA, 2001)

    Como referem Bugalho e Carneiro (2004:10), a no adeso s teraputicas

    mdicas crnicas um problema de etiologia multifactorial. Os problemas de adeso

    verificam-se em todas as situaes em que existe auto-administrao do tratamento,

    muitas vezes independentemente do tipo de doena, qualidade e/ou acessibilidade aos

    recursos de sade. No tem apenas consequncias para o utente, transporta graves

    consequncias para a sade pblica: aumento do custo-efectividade dos cuidados de

    sade, deteriorao do estado individual de sade com possveis implicaes na sade

    pblica devido ao acrscimo da morbilidade e mortalidade e da resistncias criadas aos

    frmacos.

    3.4 - INTERVENES PARA MELHORAR A ADESO

    Apesar de muitos estudos terem sido realizados sobre o problema da adeso/

    no adeso, ainda no foi encontrada uma estratgia para manter o paciente fiel ao

    tratamento (OSTERBERG; BLASCHKE, 2005).

    Segundo a WHO (2003), foram identificados vrios pontos-chave para melhoria

    da adeso teraputica, dos quais se salientam: I) os pacientes necessitam de apoio, e

    no de repreenso; II) a baixa adeso, em terapias de longa durao, proporciona

  • 38

    baixos resultados em sade e aumento nos custos da ateno sade; III) h aumento

    da segurana do paciente com a adeso teraputica; IV) a adeso um importante

    modificador da efectividade do sistema de sade; v) melhorar a adeso um importante

    investimento no caso de doenas crnicas; VI) requer-se evoluo do sistema de sade

    para encontrar novas solues para os problemas de adeso; e VII) h necessidade de

    uma abordagem multidisciplinar adeso.

    Estes pontos-chave traduzem-se em intervenes nas principais barreiras de

    adeso teraputica (WHO, 2004:51).

    Socioeconmicas, dirigidas a barreiras como pobreza, acesso sade e

    medicamentos, analfabetismo, fracas redes sociais e mecanismos de prestao

    de servios de sade desajustados das crenas culturais sobre doena e

    tratamento;

    Sobre as equipas e sistemas de sade, dirigidas a barreiras como,

    desconhecimento sobre o tema, dfice de ferramentas clnicas no auxilio aos

    profissionais de sade para monitorizar e intervir nos problemas de adeso, m

    comunicao entre profissionais de sade e doentes, e falhas de ateno para

    as doenas crnicas;

    Relacionadas com o tratamento, dirigidas a barreiras como, nmero e dosagem

    do medicamento, frequncia e efeitos adversos da medicao;

    Relacionadas com a doena, dirigidas a barreiras como, exigncias especficas

    da doena, sintomatologia e limitaes que doena implica;

    Relacionadas com o utente, dirigidas a barreiras como, falta de informao, falta

    de motivao, de auto-estima, de auto-eficcia, falta de apoio na mudana de

    comportamentos.

  • 39

    PARTE II ESTUDO EMPIRICO

    Captulo 4 METODOLOGIA

    Captulo 5 APRESENTAO DE RESULTADOS

    Captulo 6 DISCUSSO

  • 40

  • 41

    4 - METODOLOGIA

    Na elaborao e desenvolvimento de um projecto de pesquisa, torna-se

    necessrio um planeamento cuidadoso e reflexes conceptuais slidas aliceradas nos

    conhecimentos j existentes. A metodologia ou fase do planeamento do mtodo a

    explicao, minuciosa, detalhada, rigorosa e exacta de todas as aces desenvolvida ao

    longo do trabalho de pesquisa. Inclui todos os elementos que ajudam a conferir

    investigao um caminho ou direco (FREIXO, 2009, p. 177).

    Desta forma, a anlise da metodologia adoptada na presente pesquisa

    compreender a conceptualizao do estudo, as hipteses de investigao, os

    instrumentos de recolha de dados utilizados, a caracterizao da amostra e todos os

    procedimentos efectuados.

    4.1 - PROBLEMTICA DA INVESTIGAO

    A populao em geral tem crenas de senso comum acerca dos medicamentos,

    independentemente da experincia directa com uma doena, que podem influenciar os

    comportamentos relacionados com a sade, nomeadamente com a adeso

    teraputica (FIGUEIRAS et al., 2002). A no adeso teraputica medicamentosa nos

    doentes com DCI um problema que acarreta graves repercusses ao nvel do estado

    de sade e qualidade de vida do doente/famlia (MACHADO, 2009). Este facto

    justificativo da escolha da problemtica do presente estudo - As Crenas nos frmacos,

    tero influncia na Adeso ao tratamento farmacolgico do doente com Doena

    Coronria Isqumica?

    Nesta sequncia formulamos as seguintes questes de investigao:

    Qual o perfil scio-demogrfico e scio-familiar do doente com DCI?

    Quais os estilos de vida do doente com DCI?

    As variveis scio-econmicas e demogrficas influenciam as CNF adoptadas

    pelo doente com DCI? Existe relao entre a Periodicidade das consultas e as

    CNF dos doentes com DCI?

    As variveis Clnicas influenciam as CNF adoptadas pelo doente com DCI?

  • 42

    As variveis relacionadas com a Teraputica Farmacolgica influenciam as CNF

    adoptadas pelo doente com DCI?

    Existe relao entre as CNF e a Adeso teraputica medicamentosa do doente

    com DCI?

    Para dar resposta problemtica referida previamente e s questes da

    investigao enunciadas foram formulados, no presente estudo, os seguintes objectivos

    especficos:

    Descrever o perfil scio-demogrfico, familiar e de sade do doente com Doena

    Cardaca Isqumica;

    Analisar a influncia e ou casualidade das variveis, scio-familiares, clnicas e

    relacionadas com a teraputica farmacolgica, com as Crenas nos frmacos

    (CNF).

    Analisar a relao entre as crenas e as medidas de adeso ao tratamento

    (MAT)

    Estimar a predio da varivel CNF na adeso ao tratamento farmacolgico do

    doente com doena coronria isqumica.

    Para responder aos objectivos estabelecidos, o estudo foi organizado em duas

    fases:

    - Na primeira, pretende-se relacionar as diversas variveis seleccionadas com as

    CNF.

    - A segunda visa relacionar as CNF com a Adeso ao tratamento farmacolgico.

    4.2 TIPO DE ESTUDO E DESENHO DA INVESTIGAO

    Foi desenvolvido um estudo do tipo no-experimental, quantitativo, transversal,

    descritivo-correlacional.

    um estudo quantitativo uma vez que procura estabelecer factos, examinar e

    explicar relaes entre variveis, por meio da verificao de hipteses. Traduz em

    nmeros, opinies e informaes para classific-los e organiz-los recorrendo a

    mtodos estatsticos (FORTIN, 2009). No experimental, porque se desenvolve em

    contexto natural sem que haja a introduo de uma varivel independente (FORTIN,

    2009).

  • 43

    Esta investigao de natureza transversal quanto ao tempo em que decorre o

    estudo, j que os questionrios foram aplicados num perodo pr-definido, relativo ao

    momento presente. Tem como finalidade medir a frequncia de um acontecimento ou

    problema, numa populao num determinado momento (FORTIN, 2009).

    Consiste num estudo descritivo-correlacional, na medida em que explora as

    relaes entre as variveis, de forma a determinar quais so as variveis associadas ao

    fenmeno estudado (FORTIN, 2009).

    O desenho de investigao sendo um guia para a planificao e realizao do

    estudo, expe as variveis que foram seleccionadas no presente estudo segundo os

    objectivos da investigao a realizar. A articulao das variveis estudadas

    representada no modelo esquematizado na Figura 1.

    Com base nos objectivos descritos e nas questes de investigao,

    equacionaram-se as seguintes hipteses:

    H1: Existe relao entre as variveis scio-demogrficas e familiares (idade,

    Sexo, Estado marital, Habilitaes literrias, Residncia, Situao laboral, Rendimento e

    Coabitao) e as CNF do doente com DCI.

    Figura 1 Desenho de investigao. Fonte: Elaborao prpria.

  • 44

    H2: Existe relao entre o stress, as varveis clnicas (doena cardaca

    diagnosticada, sofre de outras doenas, familiares com doena cardaca, factores de

    risco, tempo de ocorrncia do 1 episodio), as variveis relacionadas com a teraputica

    farmacolgica (n. excessivo de comprimidos, esquema teraputico complicado, tempo

    de toma da medicao para a DCI, n. total de comprimidos que toma por dia e

    ocorrncia de efeitos secundrios) e as CNF do doente com DCI.

    H3: As CNF predizem a Adeso ao tratamento farmacolgico no doente com

    DCI.

    4.3 - PARTICIPANTES

    A obteno da amostra para o presente estudo foi possvel atravs de um

    conjunto de aces continuadas, desde a definio da populao alvo at ao

    estabelecimento dos diferentes contactos institucionais e individuais.

    A amostra foi no probabilstica por acessibilidade, uma vez que formada pelo

    grupo de indivduos portadores de Doena Cardaca Isqumica, em regime de

    ambulatrio, que recorreram consulta externa do Hospital Pro da Covilh, no perodo

    de 15 de Maio a 2 de Junho de 2011.

    Os participantes considerados elegveis no presente estudo foram todos os

    adultos (maiores de 18 anos), diagnosticados com Doena Cardaca Isqumica e com o

    ltimo episdio de SCA inferior a 5 anos.

    Foram excludos do presente estudo, os utentes institucionalizados, utentes

    portadores de deficincia mental ou patologia psiquitrica e utentes que se

    encontrassem sob o efeito de lcool ou de estupefacientes.

    O presente estudo incidiu sobre uma amostra de 300 doentes (181 do sexo

    masculino e 119 do sexo feminino), registados no programa Sonho do Hospital Pro da

    Covilh, por ocorrncia de episdio de DCI, nos ltimos cinco anos. O hospital em

    questo pertence ao Centro Hospitalar Cova da Beira, EPE, e engloba os concelhos da

    Covilh, Belmonte, Fundo e Penamacor.

    Com base nos critrios de incluso e excluso, a amostra do presente estudo

    consistiu em 115 indivduos. Destes foram excludos 3 indivduos pelo facto de os seus

    formulrios no se encontrarem totalmente preenchidos e outros 2 indivduos por no se

    disponibilizarem para assinar o consentimento. Deste modo, a amostra total apenas

    constituda por 110 sujeitos.

  • 45

    Caracterizao scio-demogrfica e scio-familiar

    A amostra em estudo constituda por 110 indivduos AS caractersticas scio-

    demogrficas da amostra sero explicadas mais aprofundadamente em apndice

    (APNDICE I). Neste ponto ser apenas efectuado uma breve caracterizao.

    Em sntese, a amostra em estudo constituda maioritariamente por indivduos

    do sexo masculino (68,2%). A idade mdia dos homens de 64 anos (dp=9) e a das

    mulheres de 72 (dp=10). A maioria dos indivduos da amostra tem companheiro

    (79,1%), normalmente o cnjuge. (62,7%), Possuem apenas o ensino primrio (44,5%),

    residem na cidade (60%) e so reformados (79,1%). No que diz respeito aos indivduos

    activos profissionalmente (15,5%), na sua generalidade pertence ao grupo de pessoal

    administrativo e similares (31,3%) e ainda (25%) de pessoal no qualificado, sendo de

    salientar que grande maioria dos indivduos da amostra (50,9%) possui um rendimento

    mensal inferior a 485 euros e coabitam com o cnjuge (62,7%).

    4.4 INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS

    Relativamente recolha dos dados do presente trabalho, optou-se pela

    utilizao de um questionrio (APNDICE II), que engloba quatro componentes:

    Componente scio-demografica, familiar e clnica: permitiu recolher informaes

    acerca das caractersticas scio-demogrficas e familiares (Grupos de idades,

    Sexo, Estado marital, Habilitaes literrias, Residncia, Situao laboral,

    Rendimento e Coabitao - com quem vive). As questes clnicas permitiram

    obter dados referentes s caractersticas clnicas (Tempo de ocorrncia do 1

    Episdio, Outros episdios, Factores de risco, Outras doenas, Familiar directo

    com DCI e Limitaes fsicas).

    Componente relacionada com a teraputica farmacolgica (N. excessivo de

    comprimidos, Esquema teraputico complicado e Ocorrncia de efeitos

    secundrios).

    A terceira componente foi destinada avaliao do nvel de adeso aos

    tratamentos, atravs da verso portuguesa da Medida de Adeso aos

    Tratamentos (MAT) (DELGADO e LIMA, 2001) (APNDICE III)

    A quarta componente permitiu avaliar as representaes de frmacos prescritos

    para uso pessoal, foi aplicado amostra o Questionrio de Crenas acerca dos

  • 46

    Frmacos, na verso portuguesa do Beliefs about Medicines Questionnaire

    (BMQ) de Pereira e Silva (1999), BMQ especifica (BMQe). (APNDICE III)

    De forma a avaliar a acessibilidade e compreenso das perguntas do formulrio,

    foi aplicado um pr-teste a 12 indivduos, com critrios de seleco da amostra. Como

    resultado, algumas perguntas foram simplificadas de forma a minimizar o risco de no

    colaborao no preenchimento por parte dos indivduos abordados.

    4.5 - PROCEDIMENTOS

    Procedimentos ticos e legais

    Para cumprir todas as questes ticas e legais referentes ao recurso dos

    instrumentos acima referidos, foram conseguidas as devidas autorizaes, por meio de

    um pedido formal de autorizao dirigido ao Conselho de Administrao do Hospital

    Pro da Covilh e respectiva Comisso de tica, bem como aos Directores dos

    departamentos de Medicina, de Urgncia e Emergncia, e da Consulta Externa (ANEXO

    I). Foram tambm obtidas as autorizaes dos respectivos autores das escalas

    utilizadas no presente estudo, nomeadamente MAT e BMQ. (ANEXO II)

    Por fim, foram obtidos formalmente o consentimento livre e informado de todos

    os sujeitos da amostra (APNDICE IV). A administrao dos procedimentos foi

    precedida por uma breve explicao sobre os objectivos, na qual tambm foi reforado o

    facto de o estudo assegurar o anonimato e confidencialidade dos participantes.

    Tratamento estatstico

    Os dados obtidos foram submetidos ao programa de tratamento estatstico

    Statistical Package for Social Science, verso 19,0 (SPSS).

    No presente estudo foi efectuada uma anlise descritiva dos dados e uma

    anlise inferencial. Na primeira, recorreu-se anlise de frequncias, mdias, desvios

    padro e coeficientes de variao (CV), sendo utilizado intervalos definidos por Pestana

    e Gajeiro (2008): CV15% Disperso fraca; 15% 30% Disperso elevada. A simetria e a curtose, tambm foram analisadas

    segundo os valores definidos por Pestana e Gajeiro (2008): Skewness/error (S/e) -

    1.96 assimtrica negativa ou enviesada direita; -1.96

  • 47

    1,96 assimtrica positiva ou enviesada esquerda e Kurtosis/error (K/e) -1.96

    platicrtica; -1.96 1,96 leptocrtica.

    A anlise inferencial foi realizada com o intuito de verificar as hipteses

    enunciadas no presente estudo. Foram aplicados testes paramtricos sempre que as

    variveis de natureza quantitativa seguiam a distribuio normal (MAROCO, 2007), foi

    usado o teste Kolmogorov-Smirnov para testar a normalidade da distribuio das

    variveis. Para testar a homogeneidade das varincias recorreu-se ao teste de Levene

    por ser um dos mais potentes (MAROCO, 2007). Mesmo no se verificando a condio

    de normalidade, no caso de algumas variveis, optou-se pela realizao de testes

    paramtricos, dado que com um N superior a 30, apesar da distribuio da amostra no

    ter as caractersticas das curvas gaussianas, a distribuio t com X graus de liberdade

    aproxima-se da distribuio normal (PESTANA e GAGEIRO, 2008). Os testes

    paramtricos so bastante robustos, podendo estes serem utilizados mesmo quando o

    pressuposto de normalidade no se verifica, a menos que os dados tenham uma

    distribuio muito diferente da normal (MAROCO, 2007).

    Os testes paramtricos aplicados foram o teste t-Student (para comparao de

    mdias entre dois grupos dependentes ou relacionado), e a anlise de varincia a um

    factor e anlise de varincia a um factor (ANOVA), para a comparao de mdias de

    uma varivel quantitativa em mais de dois grupos em estudo. Complementando o teste

    ANOVA, foi utilizado o teste Post Hoc Tukey.

    No Teste t-Student foi utilizado o teste de homogeneidade de Levene para

    seleco do valor do teste t mais adequado, considerando que se assume a igualdade

    das varincias quando a significncia do teste de Levene foi superior a 0,05. (PESTANA

    e GAJEIRO, 2008)

    Quando considerado adequado, foi utilizada a Regresso linear, considerando os

    valores de r que Pestana e Gageiro (2008) sugerem: r 0,9 associao muito alta

    As hipteses foram testadas utilizando um nvel de confiana de 95%, do qual

    resulta um nvel de significncia de 5,0% (=0,05), permitindo assim afirmar que existe

    relao entre as variveis, caso se verifique, com um grau de certeza de 95,0%, isto ,

    considerando uma probabilidade de erro inferior a 5%. Os critrios de deciso em

    relao aos testes de hipteses so baseados no estudo das probabilidades se o nvel

    de significncia (p) for inferior a 0,00 e rejeitam-se este for superior.

  • 48

  • 49

    5 APRESENTAO DE RESULTADOS

    De acordo com os objectivos e as hipteses do estudo, neste captulo apresenta-

    se os resultados descritivos da amostra e os resultados da anlise inferencial das

    hipteses.

    Os dados obtidos atravs da aplicao do questionrio, so descritos de acordo

    com as caractersticas, scio-demogrficas e scio-familiares, estilo de vida, clnicas e

    relacionadas com a teraputica farmacolgica. Por ltimo, so apresentados os dados

    descritivos das duas escalas utilizadas no estudo: Medida de adeso aos tratamentos

    (MAT) e Questionrio de Crenas acerca dos Frmacos (BMQe).

    5.1 ANLISE DESCRITIVA

    Caracterizao dos Estilos de vida

    A caracterizao exaustiva dos estilos de vida foi remetida para apndice

    (APNDICE V) devido s limitaes do trabalho em termos de n de pginas.

    Os indivduos foram agrupados em trs Grupos de estilos de vida, Estilo de

    vida equilibrado, Estilo de vida intermdio e Estilo de vida desequilibrado, criados com

    recurso ao Mtodo dos Grupos Extremos Revisto (PESTANA e GAGEIRO, 2008).

    Analisando este grupos pode aferir-se que 100% dos indivduos se encontram inseridos

    no grupo de Estilos de vida Equilibrados. (APNDICE V, Quadro 4).

    No valor global de Estilos de Vida o mnimo de 64 e o mximo de 100, o que

    corresponde a uma mdia de 81,37 (dp=7,71) (APNDICE V, Quadro 5)

    Quanto aos grupos de estilos de vida, 100% dos inquiridos inserem-se no grupo

    de estilos de vida Equilibrados.

    Relativamente ao consumo de bebidas alcolicas, podemos aferir que 62,7%

    dos sujeitos ingere Bebidas alcolicas. Destes, 59,4%, fazem-no Todos os dias e

    87,0% ingerem Entre 1-2 copos (20-24gr de lcool/dia), sendo que a maioria dos

    que bebe so homens (73,3%). Importa ainda referir que 13,0% dos inquiridos

    afirma beber At um litro (100gr de lcool/dia). Esta quantidade diria de lcool

    ingerida diariamente por 16, 4% dos homens.

  • 50

    Quanto aos Hbitos tabgicos, dos indivduos da amostra, 60,0% referem que

    Nunca fumaram e 30% da amostra refere J ter fumado.

    No que concerne Prtica de exerccio fsico, dos sujeitos presentes no

    estudo 51,8% No pratica exerccio fsico e destes 62,9% so mulheres.

    Analisando a varivel Percepo do tipo de Alimentao da amostra em

    estudo, 42,7% dos indivduos consideram ter uma alimentao Moderadamente

    saudvel, 40,9%.

    Quanto Frequncia das refeies, 94,5% dos inquiridos toma todos os dias o

    pequeno-almoo , 46,4% nunca ou quase nunca efectua uma merenda; 92,7%

    dos sujeitos almoa todos os dias; 48,2% lancha todos os dias; 99,1% janta

    todos os dias e 42,7% ceiam todos os dias.

    J na Frequncia de consumo de alguns alimentos, verificou-se que 90% da

    amostra refere nunca ou quase nunca comer sopas instantneas; 85,5% refere

    ainda nunca ou quase nunca comer hambrgueres e salsichas e 83,6% nunca

    ou quase nunca ingere Coca-Cola ou outras bebidas gaseificadas.

    Verifica-se que 52,7% dos indivduos da amostra sofrem de Stress diariamente,

    sendo que esta varivel afecta mais o sexo masculino (56%) do que o feminino

    (45,7%). (Apndice V, Quadro 4)

    Caractersticas Clnicas da Amostra

    Os dados obtidos demonstram que a maioria dos indivduos da amostra teve

    como diagnstico mdico, um EAM (Enfarte Agudo do Miocrdio) (82,7%).

    Relativamente aos episdios de DCI, constatamos que a maioria dos sujeitos sofreram o

    1 episdio de DCI menos de 5 anos (63,6%) e o 2 e 3 episdio ocorreram menos

    de 5 anos (100%) (APNDICE VI, Quadro 6).

    Tambm foi possvel verificar que a maioria dos sujeitos em estudo apresenta

    factores de risco de DCI (89,1%), maioritariamente Hiperdislipidmia (64,5%) e HTA

    (60,9%).

    A maioria dos indivduos no possui familiares directos com DCI (56,4%) e a

    limitao fsica relacionada com a DCI representa 56,4%.

    No tocante ao ndice de Massa Corporal (IMC) a maioria apresentou um valor de

    correspondente a pr-obesidade (52,7%). O IMC foi classificado segundo WHO (2008)

  • 51

    Quadro 1 Classificao do IMC.

    IMC> 18,5 25 30 35 40 Obesidade mrbida

    Fonte: WHO (2008)

    Foi efectuada uma anlise estatstica em relao a esta caracterstica,

    (APNDICE VI, Quadro 7) e verificou-se um valor mnimo de 18,71 kg/m2 e mximo de

    41,95 kg/m2, apresentando uma mdia de 27,61 (dp=3,81) e um CV de 13,8%. As

    mulheres apresentam valores mdios para o IMC superiores ( X =27,92; dp=4,15) aos

    homens ( X =27,47; dp=3,65), no entanto no se observa uma diferena estatstica

    significativa (t=-0,58; p=0,53). Tambm se verifica que a curva assimtrica positiva

    (Sw/error=4,16) e leptocrtica (Kw/error=3,05). (APNDICE VI, Quadro 7)

    Caractersticas relacionadas com a teraputica farmacolgica

    Os dados descritivos da anlise das caractersticas relacionadas com a

    teraputica farmacolgica esto relatados no (APNDICE VI, Quadro 8).

    Constata-se que todos os indivduos da amostra tomam medicao para a

    doena cardaca, sendo que 37,3% dos mesmos referem tomar estes frmacos h mais

    de 5 anos.

    No que diz respeito quantidade de comprimidos ingeridos por dia, pode-se

    observar que o valor varia entre 2 a 16 comprimidos/dia, o que representa uma mdia

    de 7,27 comprimidos/dia (dp=2,7). Apesar da elevada mdia de comprimidos por dia, a

    maioria da amostra no considerou o nmero de comprimidos ingeridos excessivo

    (53,6%), nem considerou o esquema teraputico institudo complicado (70,9%).

    Em relao s restantes caractersticas relacionadas com a teraputica

    farmacolgica, pode-se observar que a maioria dos inquiridos referiu nunca ter

    interrompido a medicao por sua iniciativa (80,9%) e afirma gastar mensalmente mais

    de 81 euros de medicao (37,3%). J em relao aos efeitos secundrios, impotncia

    o principal efeito, sendo referida (31,8%) enquanto 30,8% das mulheres referiu a

    fraqueza e fadiga.

  • 52

    Da anlise estatstica da varivel relativa ao nmero total de comprimidos

    ingeridos diariamente, constata-se que a curva assimtrica positiva e mesocrtica

    (Sk/error=3,85 e Kw/error=1,45) apresentando forte disperso (CV=37,15%) (Tabela

    Tabela 7, Apndice A). De acordo com estes dados, verifica-se que existem diferenas

    estatisticamente significativas entre ambos (t=- 2,518; p=0,013). (APNDICE VI,

    Quadro 9)

    Caracterizao da Adeso teraputica MAT

    No presente estudo foi analisada a Adeso a teraputica medicamentosa dos

    doentes com DCI, assim sendo, foi efectuada a anlise estatstica dos dados obtidos

    pelo uso da escala MAT. Pode-se observar que numa pontuao de 1 a 6, o mnimo

    obtido de 3,57 e o mximo de 6, apresentando uma mdia de 5,40 (dp=0,56). No

    que diz respeito aos valores obtidos de simetria (Sk/error=-5,03) e os valores da curtose

    (Kw/error=2,17), verifica-se que a distribuio da varivel assimtrica negativa com

    enviesamento direita e leptocrtica, com uma fraca disperso (CV=10,38%).

    (APNDICE VI, Quadro 10)

    Uma anlise desta varivel (MAT) em funo do gnero, permite constatar que

    os homens apresentam uma mdia superior ( X =5,48; dp=0,52) s mulheres ( X =5,24;

    dp=0,61), demonstrando pelo teste de t-Student, a existncia de uma diferena

    estatstica significativa entre ambos (t=2,15; p=0,03).

    Com base nos valores definidos no estudo para quantificar a varivel adeso

    teraputica nas trs categorias de adeso teraputica: Baixa Adeso ( M 0,25 dp);

    Razovel Adeso (> M 0,25 dp e < M + 0,25 dp); e Boa Adeso ( M + 0,25 dp)

    verifica-se que a maioria dos participantes (53,6%) encontra-se no nvel de Boa Adeso

    teraputica, sendo esta percentagem correspondente a 60,0% dos homens e 40,0%

    das mulheres. (APNDICE VI, Quadro 11)

    Caracterizao da Crena acerca dos Frmacos (BMQ Especifica)

    Atravs da anlise da Quadro 12 (APNDICE VI), possvel constatar que a

    dimenso Necessidades Especficas que avalia as crenas dos doentes acerca da

    necessidade especfica da medicao que lhes foi prescrita varia entre um valor mnimo

  • 53

    de 5 e um mximo de 25, o que correspondente a uma mdia de 9,25 (dp=4,17) e

    apresenta uma forte disperso em torno da sua mdia (CV=45,08). A distribuio

    simtrica positiva (Sk/error=5,93) e leptocrtica (Kw/error= 5,12). Em relao mdia

    apresentada pelos indivduos do sexo masculino ( X =9,53; dp=4,21) superior do

    sexo feminino ( X =8,66; dp=4,07), deste modo, atravs da realizao do teste t-

    Student, verifica-se que no existem diferenas significativas entre os grupos (t=1,03;

    p=0,31).

    No que diz respeito dimenso Preocupaes especficas que avalia as crenas

    relacionadas com os perigos de dependncia e toxicidade ou efeitos secundrios a

    longo prazo, esta oscila entre 6 e 25, o que corresponde uma mdia de 15,41 (dp=4,90),

    com forte disperso (CV=31,80%). A sua distribuio simtrica (Sw/error=-0,19) e

    mesocrtica (Kw/error=-1,69). A mdia dos homens ( X =15,85; p=4,52) superior

    mdia das mulheres ( X =14,46; dp=5,53). De acordo com o teste t-Student, no

    existem diferenas estatisticamente significativas (t=1,30; p=0,20). (APNDICE VI,

    Quadro 12)

    5.1 - ANLISE INFERENCIAL

    Aps a anlise descritiva apresentada, de seguida, a anlise inferencial dos

    dados. Esta anlise tem como objectivo verificar a validade das hipteses enunciadas

    no estudo e deste modo, analisar a possvel existncia de uma relao significativa

    entre as variveis em estudo.

    Neste contexto, de forma a cumprir o desenho de investigao, a anlise

    inferencial foi organizada em duas partes. Na primeira parte, as crenas acerca dos

    frmacos foram assumidas como variveis dependentes, com o propsito de averiguar

    quais os factores que as influenciam, nos doentes com DCI. Deste modo, o BMQ foi

    associado com as variveis sociodemogrficas e familiares, com o Stress, com algumas

    variveis clnicas e com variveis relacionadas com a teraputica farmacolgica.

    Na segunda parte, assumiu-se como varivel dependente a Adeso aos

    Tratamentos, relacionando-a com as crenas acerca dos frmacos, com o objectivo de

    verificar qual a influncia desta ltima sobre a Adeso teraputica farmacolgica no

    doente com Doena Cardaca Isqumica.

  • 54

    Para testar estas hipteses foram executados testes paramtricos

    nomeadamente testes t-Student, anlises de varincia (ANOVA) e regresso linear

    simples. As hipteses foram testadas utilizando um nvel de confiana de 95%, do qual

    resulta um nvel de significncia de 5,0%, permitindo afirmar que existe relao entre as

    variveis, caso se verifique, com um grau de certeza de 95,0%.

    Os critrios de deciso em relao aos testes de hipteses so baseados no

    estudo das probabilidades se o nvel de significncia (p) for inferior a 0,05 e rejeitam-se

    este for superior.

    de referir que a relao entre as variveis Idade, Tempo de Toma da

    Medicao, Nmero Total de Comprimidos que Toma por Dia e Gasto Mensal e as CNF

    dos doentes com DCI, foram analisadas separadamente por regresses lineares e

    mltiplas.

    H1: Existe relao entre as variveis scio-demogrficas e familiares

    (idade, Sexo, Estado marital, Habilitaes literrias, Residncia, Situao laboral,

    Rendimento e Coabitao - com quem vive) e as CNF do doente com DCI.

    Ao analisar os dados referentes varivel sexo e CNF nos doentes com DCI

    (APNDICE VII, Quadro 13), possvel constatar que indivduos do sexo masculino

    apresentam mdias superiores aos do sexo feminino na dimenso das Necessidades

    Especficas, bem como na dimenso Preocupaes Especficas. Contudo, com base no

    teste t-Student, no se verificam diferenas estatsticas significativas nas dimenses

    Necessidades Especficas e Preocupaes Especficas (p> 0,05). Assim sendo, pode-se

    concluir, com um nvel de confiana de 95%, que no existe relao entre o Sexo e as

    CNF.

    Ao analisar a Quadro 14 (APNDICE VII) possvel constatar que o grupo de

    indivduos sem companheiro apresentam mdias mais elevadas do que o grupo de

    indivduos com companheiro na dimenso Necessidades especficas. J na dimenso

    Preocupaes especficas, o grupo Com companheiro apresenta mdias mais elevadas

    do que o grupo de indivduos Sem companheiro. Ao realizar o teste t-Student, verifica-se

    que no existem diferenas estatisticamente significativas em ambas as dimenses (p>

    0,05). Assim sendo, pode-se concluir, com um nvel de confiana de 95%, que no

    existe relao entre estar ou no com o companheiro e as CNF.

    A relao entre a varivel Habilitaes literrias e as CNF foi analisada atravs do teste

    ANOVA (APNDICE VII, Quadro 15). Com base nos dados obtidos verifica-se que as

    mdias mais altas se situam, em ambas as dimenses, no grupo Ensino bsico. A

  • 55

    mdia mais baixa na dimenso Necessidades especficas situa-se no grupo Ensino

    primrio e na dimenso Preocupaes especficas situa-se no grupo No sabe ler nem

    escrever. Com o teste ANOVA no se verificam diferenas estatsticas significativas na

    dimenso Necessidades Especficas e na dimenso Preocupaes Especficas (p>

    0,05). Assim sendo, pode-se concluir, com um nvel de confiana de 95%, que no

    existe relao entre as Habilitaes literrias e as CNF.

    No caso da relao entre a varivel Rendimento mensal e as CNF, verifica-se que as

    mdias mais altas se situam, no grupo Rendimento mensal entre 970 a 1455 euros, j

    as mdias mais baixas encontram-se no grupo com Rendimento mensal inferior a 485

    euros. Com a realizao do teste ANOVA (APNDICE VII, Quadro 16) possvel

    constatar que no existem diferenas estatisticamente significativas (p>0,05) entre

    ambos. Assim sendo, pode-se concluir, com um nvel de confiana de 95%, que no

    existe relao entre o Rendimento mensal e as CNF.

    A fim de analisar a relao entre a varivel Residncia e as CNF nos doentes com DCI,

    verifica-se que as mdias mais altas se situam, no grupo Aldeia, em ambas dimenses

    da BMQ, j a mdia mais baixa na dimenso Necessidades especficas situa-se no

    grupo Vila e na dimenso Preocupaes especficas, situa-se no grupo Cidade. Com a

    realizao do teste ANOVA (APNDICE VII, Quadro 17) possvel constatar que no

    existem diferenas estatisticamente significativas (p> 0,05) entre ambos. Assim sendo,

    pode-se concluir, com um nvel de confiana de 95%, que no existe relao entre a

    Residncia e as CNF.

    H2: Existe relao entre o stress, as varveis clnicas (doena cardaca

    diagnosticada, sofre de outras doenas, familiares com doena cardaca, factores

    de risco, tempo de ocorrncia do 1 episodio), as variveis relacionadas com a

    teraputica farmacolgica (n. excessivo de comprimidos, esquema teraputico

    complicado, tempo de toma da medicao para a DCI, n. total de comprimidos

    que toma por dia e ocorrncia de efeitos secundrios) e as CNF do doente com

    DCI.

    Para testar esta hiptese se existe relao entre a varivel Stress e as CNF do

    doente com DCI, foi utilizado o teste t-Student (APNDICE VII, Quadro 18). O teste t-

    Student, atravs da observao dos seus nveis de significncia, possvel concluir que

    no existem diferenas estatisticamente diferentes nas mdias da dimenso

    Necessidades especficas (p> 0,05). J na dimenso Preocupaes especficas verifica-

    se uma diferena estatisticamente significativa (p

  • 56

    com um nvel de confiana de 95%, que existe relao entre o Stress e a dimenso

    Preocupaes especficas das CNF.

    Tambm se recorreu ao Teste t-Student, com a finalidade de averiguar a

    existncia de relao entre a varivel Doena cardaca diagnosticada e as CNF

    (APNDICE VII, Quadro 19). Ao analisar os dados verifica-se que as mdias mais altas

    na dimenso Necessidades especficas se situam o grupo Enfarte Agudo do Miocrdio.

    Na dimenso Preocupaes especficas, a mdia mais alta verifica-se no grupo Angina

    Instvel e Enfarte Agudo do Miocrdio. O teste t-Student, atravs da observao dos

    seus nveis de significncia, permite concluir que no existem diferenas

    estatisticamente significativas (p>0,05). Assim sendo, pode-se concluir, com um nvel de

    confiana de 95%, que no existe relao entre a varivel Doena cardaca

    diagnosticada e as CNF.

    A relao entre a varivel Outras doenas e as CNF nos doentes com DCI foi

    analisada com o teste t-Student (APNDICE VII, Quadro 20). Nos dados obtidos

    constata-se que o grupo que no tem doenas associadas apresenta mdias mais

    elevadas nas duas dimenses. O teste t-Student, atravs da observao dos seus

    nveis de significncia, permite concluir que no existem diferenas estatisticamente

    significativas (p>0,05). Assim sendo, pode-se concluir, com um nvel de confiana de

    95%, que no existe relao entre a varivel Outras doenas e as CNF.

    Ao analisar os dados referentes varivel Familiares com doena cardaca e

    CNF nos doentes com DCI (APNDICE VII, Quadro 21) possvel constatar que as

    mdias so mais elevadas no grupo com familiares com doena cardaca. Contudo, com

    base no teste t-Student, atravs da observao dos seus nveis de significncia, no se

    verificam diferenas estatsticas significativas na dimenso das Necessidades

    Especficas e na dimenso Preocupaes Especficas (p> 0,05). Assim sendo, pode-se

    concluir, com um nvel de confiana de 95%, que no existe relao entre a varivel

    Familiares com doena cardaca e as CNF.

    Para testar esta hiptese se existe relao entre a varivel clnica Factores de

    risco e as CNF do doente com DCI, tambm foi utilizado o teste t-Student (APNDICE

    VII, Quadro 22). De acordo com os dados obtidos constata-se que o grupo de

    indivduos sem factores de risco apresenta mdias mais elevadas nas duas dimenses.

    O teste t-Student, atravs da observao dos seus nveis de significncia, possvel

    concluir que no existem diferenas estatisticamente diferentes nas mdias, em ambas

    as dimenses (p>0,05). Assim sendo, pode-se concluir, com um nvel de confiana de

    95%, que no existe relao entre o Factores de risco e as CNF.

  • 57

    A fim de analisar a relao entre as variveis relacionadas com a teraputica

    farmacolgica foi utilizado o teste t-Student. No que diz respeito relao da varivel

    Nmero excessivo de comprimidos e as CNF, verifica-se que o grupo que respondeu

    negativo varivel Nmero excessivo de comprimidos apresenta mdias mais elevadas

    nas duas dimenses (APNDICE VII, Quadro 23). O teste t-Student, atravs da

    observao dos seus nveis de significncia, permite concluir que, por um lado, existem

    diferenas estatisticamente diferentes na dimenso Preocupaes especficas (p 0,05). Assim sendo, pode-se concluir, com um nvel de

    confiana de 95%, que existe relao entre o Nmero excessivo de comprimidos e a

    dimenso Preocupaes especficas das CNF.

    J em relao varivel Esquema teraputico complicado e as CNF nos doentes

    com DCI, verifica-se que grupo que respondeu no varivel Esquema teraputico

    complicado apresenta mdias mais elevadas nas duas dimenses (APNDICE VII,

    Quadro 24). O teste t-Student revela que existem diferenas estatisticamente diferentes

    na dimenso Preocupaes especficas (p 0,05).

    Assim sendo, pode-se concluir, com um nvel de confiana de 95%, que existe relao

    entre o Esquema teraputico complicado e a dimenso Preocupaes especficas das

    CNF.

    Como j foi referido, no que diz respeito relao entre as variveis Idade,

    Tempo de Toma da Medicao, Nmero Total de Comprimidos que Toma por Dia e

    Gasto Mensal com a Medicao e a dimenso Necessidades Especficas das BMQ, foi

    utilizada uma correlao de Pearson (APNDICE VII, Quadro 25). Neste modelo de

    regresso a varivel que apresenta maior correlao com as Necessidades Especficas,

    o Nmero total de comprimidos que toma por dia (r = -0,388) e menor correlao a

    idade (r = -0,190). As variveis independentes em estudo estabelecem uma relao

    inversa. Nesta dimenso as correlaes entre a varivel dependente e variveis

    independentes so todas significativas, (p

  • 58

    apresentou um total de 3 passos, foi o nmero total de comprimidos que toma por dia,

    pois como se pode verificar pelas correlaes insertas na tabela anterior, a que

    apresenta um maior coeficiente de correlao de Pearson com a varivel dependente.

    Esta varivel explica no primeiro modelo 15,1% da variao da