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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 1 de 34 _____________________________________________________________________________________________________ João S. Furtado [email protected] site em parceria com Teclim www.teclim.ufba.br/jsfurtado Gestão com responsabilidade socioambiental Princípios de RSA Responsabilidade Socioambiental Códigos de conduta Capacitação para a RSA São Paulo - Março 2003

Gestão com responsabilidade socioambiental

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 1 de 34 _____________________________________________________________________________________________________

João S. Furtado [email protected] site em parceria com Teclim www.teclim.ufba.br/jsfurtado

Gestão com responsabilidade socioambiental • Princípios de RSA Responsabilidade

Socioambiental • Códigos de conduta • Capacitação para a RSA

São Paulo - Março 2003

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 2 de 34 _____________________________________________________________________________________________________

Gestão com responsabilidade socioambiental reúne textos de livre acesso e uso, para organizações e pessoas interessadas em Responsabilidade Socioambiental (RSA), do ponto de vista da produção e consumo de bens e serviços sustentáveis. Por simplicidade, os temas poderão ser referidos como capítulos, mas são blocos independentes e não numerados, que poderão receber revisões, inclusões ou reordenações.

Temas abordados

Visão e motivações & Gestão e planejamento estratégico socioambiental

Desenvolvimento Sustentável & comunidade

Indicadores de sustentabilidade & de ecoeficiência

A empresa e a sociedade

Princípios de RSA, Códigos de conduta & Capacitação para RSA

Ferramentas e tecnologias socioambientais

Temas e ações com RSA

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1. PRINCÍPIOS DE RSA

A responsabilidade social da organização ou responsabilidade corporativa é expressa, em geral, por ações orientadas para o público interno. As iniciativas externas, quando existem, são voltadas às famílias dos funcionários, às comunidades ao redor das fábricas ou a outros segmentos da sociedade e têm características filantrópicas ou assistenciais, educacionais e culturais.

As ações sociais são executadas, via de regra, por trabalho voluntário e patrocínio financeiro ou material, através de fundações e ONGs – Organizações Não-Governamentais. As iniciativas de caráter ambiental envolvem, na maior parte das vezes, coleta seletiva de lixo, reciclagem e educação ambiental.

Neste texto, o conceito de RSA é usado de modo diferente1 e definido como:

o dever ou obrigação da organização para responder – perante todas as partes interessadas – pelas conseqüências ou impactos sociais e ambientais causados por seus produtos, serviços e atividades introduzidos no ambiente público.

Esta visão propõe a expansão do foco, de Responsabilidade Social para Responsabilidade Socioambiental, especialmente para a organização comprometida com o desenvolvimento sustentável e, em particular, para a empresa com fins lucrativos.

O uso do adjetivo socioambiental é justificado pelo fato de que pobreza, saúde, segurança, criminalidade, abrigo, alimentação, entre outros eventos, são questões sociais intimamente associadas às ações humanas resultantes do uso do meio físico e biológico. E vice-versa.

A visão socioambiental integrada está sendo defendida por diversas organizações, no plano internacional, apesar das dificuldades para sua adoção e do reconhecimento das relações com questões de natureza econômica e institucional.

Empresários e funcionários com poder de decisão consideram, em sua maioria, que as questões sociais são restritas a ações aplicadas ao quadro interno ou, quando muito, às famílias destes ou à população do entorno das fábricas. Além disso, acham que as ações sociais são da atribuição do governo, de grandes firmas, fundações, igreja e ONGs.

Para estas pessoas, as empresas médias e pequenas têm que lidar para sobreviver no dia-a-dia. As iniciativas ambientais internas são interpretadas como a implementação de Sistema de Gestão Ambiental (geralmente reduzido à questão da certificação pela norma NBR ISO 14001. Nem sempre o foco ambiental é voltado para o processo de manufatura e produtos. Via de regra, as ações ambientais internas são vistas como despesas e, no máximo, tratadas no limite da conformidade à lei.

Outro fato relevante é que, no geral, as organizações não divulgam, sistematicamente, o resultado de suas atividades, por falta de cultura, hábito ou exigência regulamentada, como acontece para a auditoria financeira externa obrigatória. Os observadores mais otimistas

1 Opinião pessoal.

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 4 de 34 _____________________________________________________________________________________________________ estão entusiasmados com o aumento numérico para 2000, das empresas2 que, no mundo, estão divulgando, voluntariamente, as ações socioambientais.

• Nos países desenvolvidos, os principais estímulos originam-se do mercado, caracterizados por demandas de consumidores; pressões de ONGs; regulamentação; organizações indexadoras, com influência no mercado de ações e exigências de investidores, especialmente os fundos éticos. Estes últimos aumentaram de 168 (1999) para 230 (2001)3 .

• No Brasil, as motivações para a divulgação da responsabilidade social vêm da mídia, que tem dado destaque para as organizações que publicam o balanço social, promovem iniciativas sociais e candidatam-se a premiações oferecidas por diversas entidades. As influências de mercado e dos investidores são insignificantes.

RSA confunde-se com gestão responsável.

Portanto, RSA não deve ser substituída por práticas convencionais de filantropia (no sentido caritativo), trabalho voluntário ou patrocínio de atividades de organizações externas, a menos que não estejam relacionados ao dever de responder por seus atos e atitudes.

A prática do novo conceito de RSA irá distinguir a organização que4:

• contribui para a proteção social e física do ambiente e para o destino e estabilidade da comunidade

• não desrespeita os direitos humanos • não discrimina, nem explora seus funcionários, pagando-lhes salários aviltantes e

praticando o subemprego • não adota formas e esquemas para eximir-se dos compromissos sociais-trabalhistas • não usa mão de obra infantil • não utiliza recursos naturais de forma insustentável • não causa danos ao ambiente e ao homem, nos níveis local, regional e planetário • não comercializa substâncias, produtos e serviços perigosos ou danosos • não desrespeita, nem desconsidera as comunidades locais e indígenas,

consumidores, fornecedores, distribuidores, concorrentes e a sociedade em geral, em particular as partes interessadas que afetam as atividades da organização, ou são afetadas por estas.

É fato incontestável que inúmeras propostas acadêmicas e referências a casos de sucesso vêm demonstrando o fortalecimento da imagem e posição mercadológica para as organizações com fins lucrativos que implementaram iniciativas sob as denominações de

Responsabilidade Social das Empresas, Responsabilidade Social das Corporações, Envolvimento Comunitário das Corporações, Cidadania Corporativa, Corporação Cidadã, Negócios Éticos, Estratégia Ambiental Corporativa, Engajamento Corporativo, Governança Corporativa.

2 http://www.wbcsd.ch/newscenter/releases/3march02.htm Tomorrow's markets. Global trends and their implications for business. UNEP, WBCSD e WRI, 33 pp. 3 Tomorrow's markets (citado). 4 www.un.org/documents/ecosoc/cn17/background/ecn171998-bp8.htm Corporate management tools for sustainable development. UN Commision on Sustainable Development. 20 April-1May 1998, 10 pp.

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 5 de 34 _____________________________________________________________________________________________________ Embora seja pequeno o número de empresas que considerem a RSA parte de suas atividades, independente da conformidade legal, há vários motivos para que ações sejam incorporadas por número cada vez maior de organizações.

Para isso, é necessário que as organizações levem em consideração vários fatores ou elementos que afetam suas atividades ou negócios.

RSA é parte da governança organizacional.

Portanto, deve ser determinada pelo nível mais alto de decisões e gestão da organização e estar alinhada e integrada ao planejamento estratégico para os negócios da empresa. O entendimento integrado de RSA deve estar voltado para o desenvolvimento sustentável. Neste caso, a organização deve

• estar consciente de seu papel na sociedade • atuar com ecoeficiência, para produzir mais, melhor e com menores custos,

poupando água, energia e recursos, prevenindo ou reduzindo, ao máximo, a geração de resíduos e emissões, especialmente os tóxicos e perigosos

• contabilizar dispêndios, ganhos e perdas derivadas de suas iniciativas socioambientais e

• agir com transparência, relatando, publicamente, o desempenho e significado das ações socioambiental realizadas.

A visão de RSA e seu foco no desenvolvimento sustentável envolvem todas as partes interessadas, levando-se em conta que o Estado representa o conjunto de poderes de uma nação e está formado, portanto, por

i. Governo, responsável pela administração dos bens do Estado ii. Setor produtor de bens e serviços de mercado e iii. Setor cívico, Terceiro Setor ou Sociedade Civil, constituído de pessoas e

organizações voluntárias, autônomas e sem fins lucrativos.

Ética social de cidadãos

Indicadores socioambient

ais Exigência

legal

Códigos voluntários

Exigência de

mercado

Ética e valores

Estratégia da

organização

Visão de futuro

RSA

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 6 de 34 _____________________________________________________________________________________________________ Portanto, a organização, com ou sem visão de lucro, não é um indivíduo isolado, mas ente social, no âmbito do Estado. Nestas condições, o ambiente (ou o pleonasmo meio-ambiente) constitui bem público, nacional, com duas dimensões5: (i) recursos providos pelo meio físico e biológico e (ii) aspectos de natureza social e econômica, que emergem das atividades humanas, isto é, do meio cultural.

No Brasil, o ambiente é um bem comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações6.

Esta assertiva é inspirada no desenvolvimento sustentável do planeta, segundo o qual as atividades políticas, econômicas, sociais e ambientais devam conduzidas de modo a atender as necessidades do presente, sem comprometer a habilidade das futuras gerações de encontrarem meios para alcançar suas próprias necessidades7.

O ambiente – como bem de uso comum do povo – está sujeito ao princípio do interesse difuso da sociedade. Portanto, as questões ambientais têm caráter pluralístico e comunitário, ultrapassando o direito individual e privado. A conseqüência é que o ambiente não pode ser apropriado pela organização, sob a justificativa de aumentar o lucro para o dono, investidor ou acionista.

Assim, para cumprir o dever ou obrigação de responder por seus atos, atividades e produtos, a organização deverá

• atender ou, preferivelmente, ultrapassar as expectativas éticas, públicas, legais e comerciais, em relação a aspectos ou questões sociais e ambientais envolvidos nos processos produtivos de bens e serviços e

• respeitar os interesses das partes ou grupos, que afetam ou são afetados pelos negócios ou atividades da organização, abrangendo:

1. proprietários, acionistas e investidores (stockholders) 2. e demais interessados (stakeholders), como trabalhadores, suas famílias,

comunidade na vizinhança ou entorno, contratados, fornecedores, distribuidores, consumidores, concorrentes, outros agentes econômico-financeiros, governo e sociedade em geral.

Inserção de RSA na Gestão e no Planejamento estratégico

Os princípios de RSA devem ser incorporados na filosofia de atividades e negócios e no nos procedimentos de planejamento estratégico de longo prazo. As evidências mostram que isto será essencial para a sobrevivência da organização.

Entretanto, a inclusão não ocorrerá, se não for determinada, com clareza, através de Política Socioambiental e que esta faça parte da Política de negócios da organização. Mesmo assim, é preciso que a relevância da RSA para as ações gerenciais estratégicas faça parte da cultura interna e seja praticada pelos colaboradores da organização.

Para isso, é necessário que o quadro de colaboradores esteja capacitado para:

1. identificar marcos de referência de RSA

5 Toshio Mukai. 1994. Direito ambiental sistematizado. Ed. Forense Universitária, 191 pp. 6 Constituição Federal, seg. Maria da Graça Krieger & col. 1998. Dicionário de direito ambiental. Ed. da Universidade, UFRS-MPF, 511 pp. 7 http://www.ceres.ca.gov/tcsf/sustainable_development.html

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 7 de 34 _____________________________________________________________________________________________________

2. analisar e propor códigos de conduta apropriados para o tipo e porte de organização 3. articular indicadores de padrões elevados de RSA a idéias e estratégias competitivas

e 4. estabelecer processos para aprimorar ou criar padrões elevados de excelência

gerencial. Com isso, a organização estará preparada para

1. dialogar com as partes interessadas

2. alinhar interesses comuns ao quadro funcional interno 3. formar alianças estratégicas 4. inserir questões de RSA nos produtos oferecidos 5. e executar ações socioambientais complementares, internas e externas, alinhadas ao

eixo principal de atividades ou negócios.

RSA e política socioambiental

A Alta Administração – no caso das grandes e médias organizações – ou o dono, nas pequenas e micro, devem determinar e assumir implementação e incorporação dos procedimentos para gestão com RSA.

É preciso que a política de atuação da organização traduza o escopo e diretrizes nos âmbitos da ética de negócios, as preocupações com os trabalhadores, comunidades do entorno e em geral, as relações com os consumidores e clientes, distribuidores, agentes financeiros, concorrentes e agentes reguladores. Por isso, as organizações campeãs não limitam suas ações de RSA a modelos reduzidos, nem definem tais ações como iniciativas isoladas e desarticuladas da política da organização como um todo.

Grande parte do sucesso das ações de RSA está em entender as propostas e reivindicações de entidades e organizações não-governamentais, que manifestam os desejos e expectativas de segmentos de negócios ou de setores da sociedade8.

O alinhamento estratégico da RSA requer a integração da RSA com a missão da organização, a definição de valores socioambientais, princípios, seleção e adoção de código de conduta, de indicadores de desempenho socioambiental e formalização de política específica pela alta administração. Para isso, há diversas ferramentas ou tecnologias de Gestão com responsabilidade socioambiental, abordadas em capítulo específico deste texto.

Operacionalmente, os funcionários precisam saber como (i) lidar com as partes envolvidas, (ii) estabelecer regras e regulamentos formais; códigos, princípios e valores, negociados com as partes interessadas; (iii) desempenhar padrões gerenciais adequados e (iv) usar as ferramentas de gestão, avaliação de desempenho e comunicação socioambiental apropriadas.

É indispensável, portanto, que a organização disponha de métodos para: • implementar e avaliar a qualidade das atividades, os resultados obtidos, as relações

entre os resultados de ações de RSA e o desempenho global da organização e • comunicar os resultados para a validação externa, pela sociedade.

A contabilidade ou balanço social representa apenas uma parte do processo de avaliação externa. É necessário incluir as operações socioambientais, com base em marcos de referência (benchmarks).

8 Vários tipos de iniciativas socioambientais foram sugeridos, em capítulo próprio, para atender diferentes agentes e dimensões nos âmbitos político-legal, socioambiental e econômico.

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 8 de 34 _____________________________________________________________________________________________________ Apesar do crescente interesse na aferição de dados econômicos e financeiros derivados de ações de responsabilidade sociais, a prática não revela, facilmente, resultados tangíveis9. Por isso, vale a pena mencionar o uso de TQEM Total Quality Environment Management, por possibilitar a aferição de aspectos qualitativos e quantitativos, com base em auditorias externa, independente, desde que sejam definidos os indicadores apropriados de caráter genérico e outros, específicos, para medir as atividades ou negócios de cada organização.

É indispensável criar indicadores que melhor caracterizem a natureza das ações e atividades de RSA. Para tanto, poderão ser usados os acordos e códigos voluntários, índices, estatísticas, regulamentos, normas e outras fontes. Texto à parte10 aborda os indicadores, de caráter geral e negócio ou atividade-específicos.

O fundamento para a inserção da RSA na estratégia da organização consiste em conhecer o eixo central de atividade ou negócio da organização e reconhecer e identificar as expectativas das partes interessadas (stakeholders) e acionistas (shareholders).

A partir disso, é possível estabelecer os marcos de referência (benchmarks), para atender os interesses e expectativas, orientar e motivar o quadro interno, combinando todos os ingredientes que puderem ser combinados e comparando-os a experiências da concorrência ou com ações executadas por empresas de outros ramos ou setores.

Com isso, a organização poderá absorver • de um lado, as influências e diretrizes próprias, para serem manifestadas nos níveis

nacional e local • e, de outro, as idéias e oportunidades proporcionadas pelo meio externo, capazes de

projetar a imagem e a experiência da organização nos âmbitos global, nacional e local.

A organização disposta a combinar sua atividade produtiva com ações de RSA torna-se forte candidata a conquistar o imediato reconhecimento de diversas entidades e organizações nacionais e internacionais.

Várias organizações estão demonstrando grande interesse em conhecer o desempenho socioambiental de produtores de bens e serviços, com diferentes propósitos: promover os casos relevantes e questionar as organizações com baixo desempenho ou que não atuam dentro dos padrões de excelência esperados. As articulações das organizações que atuam dentro dos princípios de RSA estão ilustradas a seguir.

9 Fernanda Gabriela Borger. 2001. Responsabilidade social: efeitos da atuação social na dinâmica empresarial. Tese de doutorado. FEA-USP, 242 pp. 10 João S. Furtado. 2000. Indicadores de sustentabilidade e ecoeficiência. [email protected]

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IFCS (Intergovernmental Forum on Chemical Safety), ISO (International Standard Organisation), GRI (Global Reporting Initiative), OECD (Organisation for Economic Cooperation and Development), WBCSD (World Business Council for Sustainable Development), PNUMA-UNIDO (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e United Nations Industrial Development Organisation.

No plano nacional, são muitas as partes interessadas, na cadeia de negócios, abrangendo organizações de natureza legal, governamental, social, comercial, de ciência e tecnologia, etc.. É importantíssimo que a organização defina com bastante clareza quais são seus propósitos de RSA e consiga expressar com objetividade como irá se apresentar para os integrantes dos domínios econômico, político-legal e socioambiental.

Padrões de excelência gerencial

A organização deve dar importante passo na direção de identificar o padrão gerencial e a capacitação interna para desenvolver ações de RSA. O diagnóstico do padrão de excelência interativo, proposto pelo The Center for Corporate Citizenship at Boston College11 abrange sete níveis de prática de processos e política gerenciais. Assim, será possível avaliar o desempenho da organização e desenvolver a abordagem estratégica voltada para a cidadania.

Padrão I - Liderança

Executivos seniores demonstram apoio, compromisso e participação nos esforços de envolvimento da comunidade.

Padrão II - Gestão de temas

A organização identifica e monitora temas importantes para suas operações e reputação.

Padrão III - Construção de relacionamento

A administração (management) da organização reconhece que a construção e manutenção de relações de confiança com a comunidade são pontos críticos para sua estratégia e operações.

11 www.bc.edu/bc_org/avp/csom/ccc/Pages/soe_tool.htm Standards of Excellence and Diagnostic Tool - http://www.cccresearch.org/dt/register.cfm On line diagnostic tool.

Partes interessadasAtividades ou negócios

Influências sociaisConsumidores

Comunidade internacionalONGs sociais

Desafios e carências

Influências nacionaisLegislação

FiscalizaçãoPolíticas públicas

Incentivos

Influências globaisIFCS - ISO - GRI- OECD -

WBCSD - PNUMA - UNIDO- Leaders of Tormorrow -

EPA USA - União Européia- Greening of Industry -

Banco Mundial - etc

Ciência e tecnologiaUniversidades

Institutos de pesquisaConsultoria

Alianças estratégicasAssociações empresariais

Influências comerciaisConcorrênciaFornecedoresDistribuidores

FinanceirasSeguradoras

Serviços

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Padrão IV - Estratégia

A organização desenvolve e implementa um plano estratégico para programas comunitários e de respostas, com base em temas envolvendo questões mútuas, assuntos, objetivos, preocupações.

Padrão V - Responsabilidade

Todos os níveis da organização têm papéis específicos, assunto e responsabilidade para atender os objetivos de envolvimento da comunidade.

Padrão VI - Infra-estrutura

A organização incorpora sistemas e políticas para apoiar, comunicar e institucionalizar os objetivos de envolvimento da comunidade.

Padrão VII - Medições

A organização estabelece processo contínuo para avaliação das estratégias de envolvimento da comunidade, atividades e programas e seus impactos na própria organização e na comunidade.

Alinhamento da RSA ao eixo de atividades ou de negócios

Paras colocar as operações gerenciais para a gestão com RSA em marcha, é preciso eliminar contra-sensos que envolvem as organizações com fins lucrativos, tais como12:

• a governança corporativa deve refletir apenas o interesse de acionistas • o mercado não remunera as empresas éticas • não há definição clara para a RSA, tratando-se apenas de uma "invenção de Relações

Públicas" • faltam mecanismos de conformidade em relação aos direitos humanos • a RSA localiza-se na periferia da estrutura corporativa.

Portanto, a organização só irá ganhar maior destaque e reconhecimento, melhor imagem e reputação, na medida que:

• conhecer o impacto de suas atividades e negócios - produtos e serviços - na cadeia de valor

• identificar valores e temas, para definir projetos e atividades de RSA sólidos, relevantes, atuais, pertinentes e com qualidade, com foco no desenvolvimento sustentável

• promover o envolvimento das partes interessadas • dominar a prática de combinar, estrategicamente, programas de RSA aos negócios

ou tipo de atuação, de maneira transversal e vertical • operar rotinas de conformidade socioambiental • estabelecer sistema de medição e avaliação • auditar os marcos de referência (benchmarks), abrindo as informações para o público • avaliar os resultados socioambientais e comunicar os impactos e mudanças.

A partir do momento em a ação de RSA estiver, prioritariamente, alinhada ao eixo de atividades ou negócios, a inserção será mais objetiva. Com isso, poderão ser implementados:

12 http://www.managementfirst.com/professional_organisations/csaccounting_and_finance.htm

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• projetos educacionais, diretamente voltadas para diferentes segmentos socioeconômicos

• envolvimento do quadro de funcionários em voluntariado • geração de novas idéias e transferência de capacitação adquirida através da

comunicação da missão da organização, seus objetivos, metas e resultados da política socioambiental

• atuação como laboratório de desenvolvimento de idéias inovadoras para demonstração de iniciativas empresariais na linha da "indústria ecologicamente responsável".

É fundamental formular o modelo conceitual,os objetivos e metas para as ações de RSA, a partir de:

• cenários de curto, médio e longo prazos • marcos de referência (benchmarking) representados por aprimoramento de práticas

internas, ou exemplos externos de práticas de sucesso já existentes • diretrizes a serem adotadas para criação de novas idéias ou novas práticas • transferência, para fora da organização, de experiências na produção de bens e

serviços com responsabilidade socioambiental • incorporação de boas práticas socioambientais externas aos processos produtivos

internos.

Outros fatores essenciais para o sucesso das iniciativas da organização serão determinados através de critérios e diretrizes para:

• identificar temas • caracterizar o perfil dos agentes e atores-chave • definir prioridades, a partir das características socioambientais e econômicas da

região ou área de influência pretendida pela organização • criar quadro de referência para geração de propostas, atividades, projetos e outras

ações no âmbito e da missão do espaço físico disponível • definir indicadores sociais, econômicos e ambientais para a atuação da organização,

com as respectivas maneiras de medir e comparar resultados já registrados • efetivar a organização administrativa e gerencial da unidade responsável pela

condução dos trabalhos na unidade física disponível • organizar fluxos para que o modelo de gestão em marcha, os indicadores e os

processos de comunicação pública da organização possam ser realizados com sucesso.

Os sucessos e fracassos de atividades de RSA - isoladas ou fazendo parte de programas consistentes - dependem, acima de tudo, da decisão para concebê-las e implementá-las partir da alta direção da organização e, em seguida, da inserção das ações na cultura organizacional. Isso vale para pequenas, médias e grandes organizações.

Os casos mais notáveis envolvem as corporações transnacionais, principalmente quando os gerentes de nível alto e médio não acreditam na RSA da empresa13 e quando a organização não está preparada para perceber o entendimento da comunidade a respeito dos impactos

13 Weiser, J. & Zadek, S. 2000. Conversations with disbelievers, 128 pp. www.conversations-with-disbelievers.net

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A preparação interna do quadro de funcionário e o alinhamento de atividades de RSA às atividades da empresa requerem mudanças nos projetos para capacitação do quadro de funcionários - especialmente nas gerências.

A mudança na conduta dos descrentes foi relacionada a quatro grandes âmbitos15:

• disponibilidade de informações, geradas por fontes confiáveis e aceitas para melhorar a qualidade das evidências das relações entre as ações de RSA e os resultados para o desempenho da organização

• caracterização da relevância do desempenho e resultado das ações de RSA, quando à acurácia das medições, materialidade da eficiência e da aplicabilidade dos resultados no desempenho da organização

• respeitabilidade e hierarquia das fontes, levando-se em conta que muitos descrentes valorizam os concorrentes, gurus, ícones, pares, consultores e vendedores respeitados e associações comerciais, em detrimento a acadêmicos, fundações, grupos de defesa social, mídia

• padrões de atitudes subjacentes em relação ao lucro que as iniciativas de RSA poderiam trazer para a empresa

Vencidas as barreiras internas, a organização poderá conceber, desenhar e inserir ações de RSA no planejamento estratégico, com múltiplo interesse. A figura a seguir é baseada no modelo de competência socialmente ancorada para iniciativas de RSA. (Fonte O'Brien, 200l, modificado).

14 http://www.bc.edu/bc_org/avp/csom/ccc/Pages/kn_mba.html Dan O'Brien. 2001. Integrating corporate social responsibility with competitive strategy. 23 pp. 15 Weiser, J. & Zadek, S. 2000. Conversations with disbelievers, 128 pp. www.conversations-with-disbelievers.net

• Habilidades• Expe riê ncia s• Recu rso s• Apren dizagem

coletiva

• Habilidades• Expe riê ncia s• Recu rso s• Apren dizagem

coletiva

• Clien te s• Investidores• Em pregados• Fornec edores• Go vernos• Setor cívico -

ON Gs ecomunidade

• Clien te s• Investidores• Em pregados• Fornec edores• Go vernos• Setor cívico -

ON Gs ecomunidade

• Bene fíc ios dene gócios

• Bene fíc ios dene gócios

• Bene fíc ios sócio-am bie ntais

• Bene fíc ios sócio-am bie ntais

Alianç as e stratégica s• ON Gs• Go verno• Ou tra s organizaç ões

Alianç as e stratégica s• ON Gs• Go verno• Ou tra s organizaç ões

Com pe tênc iasprin cipais

Com pe tênc iasprin cipais

Age ntesinteressados

prin cipais

Age ntesinteressados

prin cipais

Com pe tênc ias ancoradassoc ia lmente

Com pe tênc ias ancoradassoc ia lmente

Ação c om RSA• Formaç ão de equipes• Definiçã o de alvos• Expe rim enta ção• Com unicaç ão

Ação c om RSA• Formaç ão de equipes• Definiçã o de alvos• Expe rim enta ção• Com unicaç ão

• Com pe tênc ia pa ra a çõe s de RSA• No va s ha bilidades• Indic adores e avaliaçã o

• Com pe tênc ia pa ra a çõe s de RSA• No va s ha bilidades• Indic adores e avaliaçã o

A linhamento estratégico da R SA

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2. CÓDIGOS DE CONDUTA

Para conceber e implementar ações de RSA, a organização poderá usar: estatísticas16, indicadores 17 , padrões externos, princípios e índices de desempenho e códigos de conduta, credos, declarações de filosofia de gestão. São instrumentos cuja proposta é tornar as organizações transparentes e conquistar a confiabilidade das partes interessadas. Mas, há críticas de que muitas vezes os instrumentos são destinados à proteção da imagem e promoção de produtos.

O código de conduta é definido como18 "o conjunto de princípios comportamentais ou de padrões que a organização promete seguir" ou19 "a política da empresa que define os padrões éticos para a conduta". São, de modo geral20, voluntários e baseados em auto-declarações.

Poucos incluem levantamentos, questionários, entrevistas e exame de documentos. Muitos são reconhecidos e discutidos por organizações governamentais e não-governamentais, com sugestões de critérios para aperfeiçoamento, e restrições21. A ILO International Labor Organization reconhece a diferença22 entre código para corporações e código para transnacionais, uma vez que as transnacionais devem sujeitar-se às legislações internacionais e às dos países onde atuam.

Fontes para códigos de conduta

Códigos internacionais ou estrangeiros

http://globalsullivanprinciples.org Global Sullivan Principles http://icftu.org/displaydocument.asp?Index=991209513&Language=EN ICFTU Basic Code of Labour Practice http://www.accountability.org.uk AA 1000 Accountability 1000 http://www.cauxroundtable.org The Caux Round Table http://www.cepaa.org Social Accountability ISO 8000 http://www.ceres.org The CERES Principles http://www.codesofconduct.org Códigos de conduta http://www.corporate-citizenhip.co.uk London Benchmarking Group http://www.ecgi.de/codes_and_principes.htm European Corporate Governance Institute

16 http://www.un.org/esa/subindex/wb1510.htm 17 Furtado, João S. 2001. Indicadores de sustentabilidade. Não publicado, disponível através de pedido por correio eletrônico [email protected] 18 OECD Codes of corporate conduct. http://www1.oecd.org/ech/act/codes.htm 19 ILO Corporate Codes of Conduct , já mencionado. 20 ILO Corporate Codes of Conduct http://www.itcilo.it/english/actrav/telearn/global/ilo/code/main.htm 21 http://www.nautilus.org/cap/codes/criteria.html#unep, www.npa1.org/Staging/OECD/historycodes.htm, http://nt1.ids.ac.uk/eldis/hot/ethmon.htm, http://www.web.net/~msn/5codes3.htm, http://unepie.org/outreach/vi/pub_codes.htm, http://www.maquilasolidarity.org/resources/codes/index.htm, www.goodmoney.com/directry_codes.htm, http://www.foe.co.uk/resource/briefings/life_death_final_frontier.htm 22 ILO http://www.itcilo.it/english/actrav/telearn/global/ilo/guide/main.htm#Concept

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 14 de 34 _____________________________________________________________________________________________________

http://www.ecgn.ulb.ac.be/ecgn/codes/htm European Corporate Governance Network http://www.ethics.ubc.ca/resources/business/codes.html Centre of Applied Ehtics http://www.eti.org.uk Ethical Trading Initiative (ETI) http://www.foei.org/activist_guide/tradeweb/icc.htm International Chamber of Commerce, Business Charter for Sustainable Development Principles http://www.ftse4good.co.uk/frm_home.asp FTSE4Good Global Investment. Global Improvement http://www.globalethics.org Institute for Global Ethics http://www.globalreporting.org Global Reporting Initiatives http://www.greenbiz.com/toolbox/tools_third.cfm?LinkAdvID=5369 The Social Venture Network's Standards of Corporate Responsibility http://www.iblf.org/csr/csrwebassist.nsf/content/a1a2c3d4.html The Social Venture Network’s Standards of Corporate social Responsibility http://www.iccwbo.org/sdcharter/charter/principles/principles.asp International Chamber of Commerce http://www.iepce.org European Initiative for Ethical Production and Consumption http://www.iipuk.co.uk Investors in People http://www.itilo.it/english/actrav/telearn/global/ilo/code/main.htm ILO International Labour Organization http://www.mjra-jsi.com/jsi Jantzi Social Index http://www.mtn.org/iasa/tnsintro.html The Natural Step http://www.naturalstep.org The Natural Step http://www.radicalmiddle.com/manifestos.htm 21st Century Political Manifestos Radical Middle Newsletter http://www.stakeholderalliance.org/sunstds.html The Stakeholder Alliance. The Sunshine Standards http://www.sustainability-index.com Dow Jones Sustainability Index http://www.transparency.org Transparency International http://www.unglobalcompact.org United Nations Global Compact http://www.wbcsd.ch World Business Sustained Development http://www.web.amnesty.org/ai.nsf/index/ACT700011998 Amnesty International’s Human Rights Principles for Companies http://www.web.net/~tccr/benchmarks TCCR The Taskforce on the Chruches and Corporate Responsibility - Principles for Global Corporate Responsibility http://www.globalsullivanprinciples.org Global Sullivan Principes http://www1.oecd.org/daf/governance/principles.htm OECD Principles of corporate governance

Códigos brasileiros

www.balancosocial.org.br IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) – Balanço Social www.ethos.org.br Indicadores do Instituto ETHOS http://www.transparencia.org.br Transparência Brasil http://www.uol.com.br/idec/ IDEC Instituto de Defesa do Consumidor

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 15 de 34 _____________________________________________________________________________________________________

Expectativas de comportamento da organização

Para a ILO International Labor Organization, além de voluntários, os códigos são formatados e implementados com grandes diferenças, dependendo, totalmente, da decisão da organização. Além disso, pequeno número de empresas responde aos levantamentos de participação em códigos de ética, nos países industrializados.

De modo geral, prevalece o sentimento de que as empresas relutam em disponibilizar, publicamente, as informações sobre seu desempenho socioambiental, com receio de que ficariam expostas a críticas prejudiciais à sua imagem. Mas, a realidade, nos países desenvolvidos, mostra que a adoção de códigos de conduta de RSA traz vantagens para a empresa.

É preciso reconhecer as opiniões de que o sucesso do código depende da credibilidade das informações, perante as partes interessadas e que, para isso, é essencial que haja monitoramento a respeito das informações distribuídas pelas organizações, o cumprimento de compromissosassumidos e a transparência diante do público.

A OECD revelou, em 2000, a existência de 246 códigos, em 23 países, abrangendo quase 30 grandes temas, os quais poderiam ser agrupados em:

• administração/supervisão ambiental • emprego justo • práticas de negócios justas • cumprimento das regras da lei • respeito aos direitos humanos • cidadania e • novas tecnologias corporativas.

A aceitação de códigos internacionais pelas organizações, especialmente as corporações transnacionais, é baseada no desenvolvimento e seleção de critérios e a condição de que:

• sejam globalmente reconhecidos por empresas líderes e, em alguns casos, por governos

• tenham aplicação ampla • e estejam em consistência com as principais preocupações de investidores

socialmente responsáveis.

Folheto da Friends of Earth e comunicação pessoal de especialista em construção de índices de RSA da ONG mencionada23, recomendam que o foco do código inclua três áreas chaves: (i) eco-inovação, (ii) responsabilidade social (segundo o conceito de direitos humanos e das partes interessadas) e (iii) responsabilidade política.

A ONG propõem ainda que:

• a medição da responsabilidade corporativa seja baseada em princípios de "melhores práticas", os quais incluem, em especial: (i) consciência, (ii) política, (iii) sistema administrativo, (iv) desempenho e monitoramento, (v) informação, e (vi) orientação

• e que os resultados do desempenho envolvam: (i) melhoramento em relação ao desempenho anterior da empresa, (ii) bom desempenho comparado a grupos relativos e (iii) desempenho que atenda às expectativas da sociedade, com base na legislação, códigos de conduta, acordos internacionais e similares.

23 Simon McRae, www.foe.og.uk, março 2002.

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 16 de 34 _____________________________________________________________________________________________________ A oposição aos códigos fundamenta-se no fato de que são acordos voluntários, sem mecanismos de autoria externa, nem de instrumentos para rebaixamento de faltosos, o que permitem a prática de maquiagens como whitewashing (autodeclarações ambientais camufladas), greenwashing (atributos ambientais inexistentes) e bluewashing (uso indevido de rótulo, símbolo ou da logomarca de iniciativas sob o patrocínio das Nações Unidas).

Para os críticos dos códigos voluntários, faltam mecanismos públicos complementares, para punição de violações, determinadas por empregados, vendedores, associados e outras partes, envolvendo, entre outras formas, multas monetárias, estágios probatórios, ações corretivas e cancelamento de contratos.

De modo global, a importância das práticas de RSA é muito citada, praticada por poucas empresas, ignorada por muitas e desconhecidas pela maior parte delas. Alguns praticantes - inclusive grandes corporações -, são ganhadores de prêmios ambientais, concedidos por organizações representativas do setor de negócios, mas são multadas, nos próprios países de origem, por violarem a lei; ou são penalizadas, no mercado, por descumprimento de obrigações estabelecidas em códigos voluntários assumidos.

Outras, também signatárias de códigos voluntários setoriais, acabam sendo beneficiadas por ineficiência da fiscalização, inefetividade do sistema de justiça, ou escapam de punições por insuficiência institucional.

A corrupção é apontada como fator de grande importância para ações de não conformidade, tem sido apontada como danosa, em escala global24 e cuja redução é interpretada como a variável de maior relevância para a boa governabilidade25 .

A ONG Transparency International classifica os países, com base na percepção da corrupção em diferentes segmentos. Os índices de percepção de 200126 apontam Finlândia, Dinamarca, Nova Zelândia, Islândia, Singapura e Suécia como os menos corruptos, com notas entre 9,9 e 9,0; entre 91 países. O Brasil está na 46a. posição, com nota 4. Os comentários específicos para o Brasil estão no relatório para a América do Sul27.

Textos produzidos por várias organizações e unidades acadêmicas afirmam que as ‘práticas de negócios socialmente responsáveis contribuem para a produtividade e lucratividade da corporação’28 e de que a sensibilidade humana já puniu - no mercado - grandes corporações que infringiram os princípios do consumo consciente29.

Apesar de todos os movimentos, dos códigos já criados e de pressões de mercado, permanece a questão da resistência à abertura de parte das organizações com interesse lucrativo, sempre que mencionada a importância de atendimento a códigos obrigatórios.

24 www.foundation.novartis.com/multinational_corporations_corruption.htm Novartis Foundation for Sustainable Development 1996. 25. www.ciesin.columbia.edu/indicators/ESI 2001 Environmental Sustainability Index. Global Leaders of Tormorrow Environment Task Force, World Economic Forum, Davos, Switzerland, 253 pp, http://www1.oecd.org/daf/nocorruption/initiatives.htm http://www.adb.org/Documents/Manuals/Operations/om55.asp?p=anticrrp , http://www.iie.com/press/corrptpr.htm , http://www.transparency.ca/Readings/TI-F06.htm 26 http://www.transparency.org/cpi/2001/cpi2001.html 27 http://www.globalcorruptionreport.org/download/rr_s_america.pdf 28 http://www.bsr.org 29 Mattar, Hélio. 2002. Consumo consciente e responsabilidade social, p. 3-10, em Diálogos Akatu. A gênese do consumidor consciente. Instituto Akatu. ano 1, nr. 01.

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 17 de 34 _____________________________________________________________________________________________________ Especialmente quando se trata de estabelecer o direito público de acesso a informações no âmbito da RSA. O Código de Defesa do Consumidor no Brasil serve de exemplo.

As reivindicações iniciais das organizações ativistas, em 1970, eram para que fossem criados códigos globais de conduta, mas, não tiveram sucesso. Em 1977, o UN Center on Transnational Corporations tentou estabelecer acordo voluntário, para incluir objetivos ambientais e delinear direitos e responsabilidades das corporações transnacionais. É dito que o Centro foi eliminado em 1992, por pressão dos Estados Unidos30. Houve, porém, progressos e os códigos criados passaram a focar grandes temas socioambientais.

O FTSE4Good Global Product Manager, por exemplo, baseia-se em três grandes campos: sustentabilidade ambiental, desenvolvimento de relações positivas com as partes interessadas e patrocínio e apoio aos direitos humanos internacionais.

O Global Compact foi recomendado, após a comparação com outros códigos para a RSA31. O código teve origem no Fórum Econômico Mundial, em Davos, em 31 de janeiro 1999. Na ocasião, o Secretário Geral das Nações Unidas lançou de desafio aos líderes mundiais de negócios para a criação do código32, o qual acabou sendo lançado em junho de 200033, com o apoio de vários governos, inclusive do Brasil, e abrangendo 9 grandes princípios.

Direitos humanos 1. Apoiar e respeitar a proteção internacional dos direito humanos 2. Assegurar que a própria corporação não seja cúmplice no abuso dos direitos

humanos, na sua esfera de influência Trabalho 3. Liberdade de associação e efetivo reconhecimento do direito para negociações

coletivas 4. Eliminação de todas as formas de trabalho forçado e compulsório 5. Efetiva abolição do trabalho infantil 6. Eliminação da discriminação em relação ao emprego e ocupação

Ambiente 7. Apoio à abordagem precaucionária 34 para os desafios ambientais 8. Tomada de iniciativas para promover a maior responsabilidade ambiental 9. Encorajamento do desenvolvimento e difusão de tecnologias ambientais amigáveis

A adesão/participação da empresa no Global Compact implica em:

• informar empregados, acionistas, clientes e fornecedores • integrar os 9 princípios no desenvolvimento e treinamento corporativos • incorporar os princípios do Global Compact nas declarações da missão da empresa • incluir o compromisso para com o Global Compact no Relatório Anual e outros

documentos públicos • produzir notícias para a mídia, tornando o compromisso público.

Os responsáveis pelo Global Compact anunciaram a adesão de importantes corporações aos princípios, mas, há também destaque para as dificuldades para implementar os padrões, internacionalmente. Apesar disso, a responsabilização (accountability) das corporações no

30 www.npa1.org/Staging/OECD/historycodes.htm 31 Public policies to promote Corporate Social Responsibility. National Policy Association. http://www.multinationalguidelines.org/OECD/compare.htm 32 http://www.unglobalcompact.org 33 http://www.unglobalcompact.org/un/goc/unweb.nsf/content/newsletter.htm 34 Estatuto do Princípio da Precaução, proposto pela Agenda 21 para o desenvolvimento sustentável.

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 18 de 34 _____________________________________________________________________________________________________ nível de mercado continuará sendo objeto de estudos, com base na versão preliminar da Norma Israelense SI 10000 Responsabilidade social e envolvimento da comunidade 35 .

Há contestação e acusações36 de que os princípios do Global Compact são violados por organizações que participam do acordo. Os críticos acham que o sistema deveria ser redesenhado e renomeado para Global Accountability Compact, para constituir parceria de aliados que concordam com os objetivos. Deveria também ficar claro que o propósito não é apoiar uma agenda de comércio liberalizada, mas incluir provisões para monitoramento da conformidade dos participantes com os princípios e a revisão pública de estudos de casos corporativos.

Os desafios a serem vencidos pelo Global Compact servem para a reflexão das pessoas interessadas em construir ou aplicar os instrumentos destinados a avaliar a RSA das organizações, localmente:

• convencer as empresas sobre a importância do engajamento • criar sistema de indexação, capaz de atender às expectativas das partes interessadas,

combinando a RSA das organizações com os propósitos do desenvolvimento sustentável, sem perder de vista na produtividade e lucratividade das empresas de negócios

• integrar e perenizar a participação das organizações • envolver os consumidores e demais membros da comunidade no uso dos

indicadores, de modo a premiar as organizações que demonstrem inequívoca atuação socioambiental responsável.

O Jantzi Social Index37 utiliza indicadores para os grandes blocos: boas relações com a comunidade onde atua, inclusive as indígenas; promoção da diversidade no ambiente de trabalho; forte relacionamento com os empregados; manutenção de registros ambientais aprimorados; respeitadora aos direitos humanos; segurança dos produtos; alto padrão de governança corporativa e ética das práticas de negócios

Os critérios do Dow Jones Sustainability Group Index38 abrangem inovação (ecoeficiência), governança, acionistas e liderança, liderança e sociedade. Os blocos são constituídos por vários indicadores. Governança, por exemplo, envolve: prática ilegal de comércio, direitos humanos universais, conflitos com trabalhadores, relocação de funcionários, padrões para fornecedores, acidentes, responsabilidade (accountability), transparência, mitigação de danos aos acionistas, aprendizagem interna, política ambiental (incluindo sistema de gestão, segurança e desempenho ambiental, ecodesign, contabilização ambiental, relatórios ambientais, rotulagem e comunicação ambiental).

O Caux Round Table39 adota princípios de responsabilidade das empresas perante acionistas e investidores; impacto econômico e social com base em inovação, justiça e comunidade mundial; comportamento empresarial com base na lei e espírito da verdade; respeito às regras para a cooperação e para evitar tensões comerciais; apoio ao comércio multilateral; respeito ao ambiente sustentável; e a condenação às operações ilegais.

35 www.ansi.org/public/news/2001may/social.html American National Standards Institute 36 www.corpwatch.org/campaings/PCD.jsp?articleid=1348 37 www.mjra-jsi.com 38. http://www.environmental-center.com/magazine/elsevier/ces/index.htm Ivo Knoepfel. 2001. Dow Jones sustainability group index: a global benchmark for corporate sustainability 39 http://www.cauxroundtable.org/PORTUGUE.htm

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 19 de 34 _____________________________________________________________________________________________________ As medições feitas pela Social Accountability 800040 são: trabalho infantil, trabalho forçado, práticas disciplinares, não-discriminação, salários e benefícios, horas trabalhadas, saúde e segurança, liberdade para associações e negociações coletivas e sistema de gestão.

Texto elaborado por Zadek & colaboradores41, para The New Economics Foundation e Institute of Social and Ethical AccountAbility, destaca: inclusão de todas as atividades na contabilização, sem vieses e ao longo do tempo; comparação do desempenho com resultados anteriores e externos; condução de auditoria e prestação contas, periodicamente; incorporação da contabilização, consultas e resultados de auditorias com a política e prática de gestão estratégica e unidades operacionais em todos os níveis da organização; comunicação efetiva às partes interessadas do desempenho e resultados de auditagens e pareceres correlatos de origem externa; verificação externa dos registros, processos, relatórios ou pareceres emitidos por terceiras partes independentes; passos e medidas reconhecidas e verificadas para aperfeiçoar o desempenho em relação aos valores e objetivos das partes interessadas e de normas mais gerais.

Os princípios do Business Charter for Stainable Development42 foram traduzidos para 28 idiomas e abrangem: reconhecimento da gestão ambiental responsável como prioridade corporativa; integração da política e gestão ambiental nos negócios; aperfeiçoamento contínuo dos processos corporativos, com atenção a todas partes interessadas; educação dos empregados; avaliação de impactos ambientais antes de implementar projetos novos ou atividades; desenvolver e oferecer serviços e produtos eco-eficientes; orientar e educar consumidores, distribuidores e o público em geral para produtos e serviços seguros; desenho e operações com eficiência energética e de materiais e sustentabilidade; pesquisa sobre impactos ambientais de materiais, produtos, processos e gestão responsável de resíduos; abordagem precaucionária para prevenir degradação séria ou irreversível; extensão dos princípios para prestadores de serviços e fornecedores; preparação para emergências; transferência de tecnologia ambientalmente adequadas; contribuição para o esforço comum, envolvendo os diversos agentes interessados; abertura para as preocupações e interesses; conformidade e comunicação de resultados e auditorias, para todos os interessados.

Os princípios CERES43 incluem: proteção da biosfera; uso sustentável de recursos naturais; redução e destinação de resíduos; conservação de energia; redução de riscos; serviços e produtos seguros; restauração ambiental; informação ao público; compromissos para a gestão; auditagem e comunicação.

No Brasil, o Instituto Ethos trabalha com informações sobre: valores e transparência; público interno; meio ambiente; fornecedores; consumidores; comunidade; e governo e sociedade. A Revista Exame classificou projetos sociais com base em: capacidade de transformação social; aplicação de tecnologia de gestão social e inovação; escala e auto-sustentação.

A elaboração e divulgação do Balanço Social criado pelo Ibase, no Brasil, são citadas, com freqüência, como exemplo de conduta socioambiental responsável. O modelo de Balanço, usado até o ano 2001, passou a requer informações sobre atividades ambientais relacionadas a metas específicas e os correspondentes investimentos, para a versão 2002.

40 http://www.cepaa.org/SA8000%20Standard.htm 41 www.zadek.nt/publishedreports.html Claudia Gonell e col. 1998. Sumário Exedutivo de Making valures count: contemporary experience in social and ethical accounting, auditing and reporting. 42 http://www.iccwbo.org/sdcharter/charter/principles/principles.asp 43 http://www.ceres.org/about/principles.htm

Page 20: Gestão com responsabilidade socioambiental

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 20 de 34 _____________________________________________________________________________________________________

4) Indicadores ambientais Descrição Investimentos relacionados com a produção/operação da empresa

• Investimentos, monitoramento da qualidade dos resíduos/efluentes, despoluição, gastos com a introdução de métodos não-poluentes, auditorias ambientais, programas de educação ambiental para os(as) funcionários(as) e outros gastos com o objetivo de incrementar e buscar o melhoramento contínuo da qualidade ambiental na produção/operação da empresa

Investimentos em programas/projetos externos

• Despoluição, conservação de recursos ambientais, campanhas ecológicas e educação socioambiental para a comunidade externa e para sociedade em geral

Metas anuais • Resultado médio percentual alcançado pela empresa no cumprimento de metas ambientais estabelecidas pela própria corporação, por organizações da sociedade civil e/ou por parâmetros internacionais como o Global Reporting Initiative (GRI)

As “metas anuais” referem-se a minimização de resíduos, do consumo em geral na produção ou operação e aumento da eficácia na utilização de recursos naturais (ecoeficiência), devendo a empresa identificar se não cumpre metas, cumpre de 0 a 50%, cumpre de 51 a 75% ou se cumpre de 76 a 100%.

O Ibase já estabelece proibição para concessão do Selo Ibase/Betinho, para empresas empresas de cigarro, fumo, tabaco, armas de fogo e munições, bebidas alcoólicas ou estejam comprovadamente envolvidas com exploração de trabalho infantil e/ou qualquer forma de trabalho forçado.

Além dos códigos, foram criados índices para classificar o desempenho de organizações com interesse lucrativo. Atualmente, alguns índices tornaram-se referência e alvo para empresas interessadas em aumentar valorização de seus ativos no mercado financeiro, principalmente em virtude das políticas dos fundos éticos de investimento44. A alta classificação resulta no aumento do valor dos ativos no mercado de ações45. Para isso, a organização passou a ser avaliada, por exemplo, em função de 46

• diversidade na Direção Superior e comprometimento de práticas relativas a questões socioambientais, inclusive a formalização de políticas específicas

• incentivos que reflitam o desempenho positivo e negativo da organização, para formulação ou em relação a políticas públicas

• responsabilidade perante as partes interessadas • justiça socioambiental • produtos e processos que apresentam impacto direto e positivo para o

desenvolvimento sustentável • padrão e registros de manutenção de saúde e segurança no trabalho • atendimento à legislação e auditorias em curso que ultrapassem a conformidade,

registro de redução de emissões tóxicas, com vistas à emissão zero • emprego não-discriminatório quanto a sexo, raça, etnias e deficiências • investimento em Pesquisa e Desenvolvimento de processos e materiais que

minimizem impactos socioambientais.

44 http://www.greenmoney.com 45 http://www.goodmoney.com, http://www.greenmoney.com; http://www.sums.ac.uk/sigma/sea2.htm; http://www.calvert.com 46 http://www.foundationpartnership.org/SmplPlcy.htm Foundation Partnership on Corporate Responsibility

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 21 de 34 _____________________________________________________________________________________________________ As exclusões por fundos éticos - com variações de uns para outros - também são consideradas, pois, abrangem empresas que - embora legalmente constituídas - comercializem, produzam ou usem, por exemplo:

• energia nuclear (inclusive mineração de urânio ou que produzem ou mantêm reatores nucleares)

• pesticidas sintéticos, herbicidas ou outros agrotóxicos químicos, particularmente os que provocam defeitos ao nascimento, desorganização do sistema endócrino no homem e animais

• tabaco • álcool • armamentos • jogos (apostas)

Conclui-se, portanto, que, apesar das dificuldades e resistências, é preciso reforçar a importância da aderência das organizações aos códigos cujos índices ou indicadores revelem, publicamente, a política e conduta socioambiental das organizações. É essencial, também, converter os descrentes, a fim de que a empresa de negócios assuma os compromissos socioambientais que lhe cabem.

Mudança na conduta de códigos

Com o tempo, as propostas dos códigos modificam-se em função de princípios e valores dos dirigentes no poder, das ligações destes com Governantes, ou por combinações de diferentes fatores. Acontecimentos no ano 2000, no Programa de Atuação Responsável (Responsible Care) servem para exemplificar as mudanças 47 em códigos de conduta voluntários.

Atuação Responsável (Responsible Care)48 surgiu como reação da indústria química e entidades representativas, ao impacto público causado pelo desastre de Bopal. Foi criado pela indústria química mundial e movido pela mensagem " Um compromisso público". Representa, possivelmente, o mais conhecido código voluntário de abrangência global, com notável capacidade de influência em decisões institucionais, tecnológicas, econômicas, ambientais e, por decorrência, sociais. Surgiu em 1988, por iniciativa da Chemical Manufacturers Association, por estímulo da Canadian Chemical Producers Association. Em 1989, foi criado o "Painel Consultivo Público", dedicado ao estabelecimento de práticas de gestão responsável nas indústrias do segmento.

Representantes do Programa de Atuação Responsável sempre tiveram assento garantido em importantes comitês internacionais, multilaterais e, certamente, em organismos similares nacionais.

No Brasil, a organização representativa da indústria química, engajada na implementação da Atuação Responsável. 49 passou a desfrutar de prestígio junto a grupos acadêmicos, institutos de pesquisa, agências ambientais e organismos governamentais, especialmente na esfera federal. Representantes locais passaram a opinar, participar e ter assento nas delegações oficiais em foros inter-governamentais e, em certos casos, apresentar projetos unilaterais para formulação de políticas públicas, envolvendo questões ambientais, segundo a visão da indústria química.

47 http://www.igc.apc.org/gadfly/liberal/AccPanel.htm The American Chemistry Council, July 23 2001. A valedictory message from the American Chemistry Council Public Advisory Panel 48 http://www.americanchemistry.com - http://www.cefic.org/activities/hse/rc/rc.htm#4 49 http://www.abiquim.org.br

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 22 de 34 _____________________________________________________________________________________________________ Apesar de forte presença global, o Responsible Care recebeu críticas, pelo caráter voluntário, baixa transparência das informações ambientais envolvendo processos produtivos e gestão de substâncias químicas, e conduta desigual da corporação (double standards) em países diferentes.

A vulnerabilidade do modelo foi exposta por depoimento de membro, de origem acadêmica, após sete anos de participação no Painel Consultivo Público50 . As revelações citam como é seguida a cartilha de Milton Friedman de que ‘A responsabilidade social do negócio é aumentar os lucros’ e a forte coesão entre o governo (executivo e legislativo) e as grandes corporações que acabam redigindo atos legislativos segundo o foco das indústrias. As mudanças de foco e missão do Programa, do Painel e da própria denominação da organização mantenedora, que passou de Chemical Manufacturers Assciation para American Chemistry Council, também foram criticadas.

Códigos voluntários e mandatários

O debate sobre os códigos voluntários51 deve ser aprofundado. Acima de tudo, é preciso refletir a respeito das críticas de que as informações produzidas pelas próprias organizações precisam ser validadas pelas partes interessadas e complementadas por outras que resultem de levantamentos junto às próprias organizações e outras obtidas de fontes diversas. Mais do que isso, é necessário reconhecer a conclusão resultante do estudo de 40 códigos de conduta, propondo as iniciativas voluntárias precisam ser complementadas por alguma ação governamental para que as avaliações possam ser mais efetivas52.

A importância de combinar códigos voluntários e regulamentação pública irá enriquecer o sistema de indexação, especialmente se forem atendidos os critérios de transparência, direito de acesso às informações, os mecanismos e instrumentos de rebaixamento para as organizações faltosas ou infratoras.

Os códigos combinados evitariam modificações de conduta nos princípios e fundamentos do modelo de código adotado, como o ocorrido com o "Programa de Atuação Responsável", da indústria química internacional, e as críticas sobre o Global Compact e as corporações transnacionais com diferentes padrões de conduta socioambiental em países distintos.

A proposição de códigos de conduta combinando aspectos voluntários e regulamentados é inspirada, em particular, nos impactos políticos, sociais, econômicos e ambientais provocados pelas grandes corporações e, entre estas, as acusadas de terem provocado grandes acidentes ou crimes ambientais.

Aqui se encontra, por exemplo, a reforma do Global Compact para Global Accountability Compact e com previsão de monitoramento de conformidade com os princípios, para revisão pública dos estudos de caso obrigatórios53.

As conseqüências dos impactos socioambientais, provocados por corporações54, levaram à proposição dos Princípios de Bhopal para responsabilidade corporativa55 :

50 www.igc.apc.org/gadfly/liberal/token.htm Partridge, Ernest. 2001. My seven years as a Corporate Token. The Gadfly Bytes. 51 http://www.maquilasolidarity.org/resources/codes/bluebooklet.htm 52 http://www.multinationalguidelines.org/OECD/NPAproject.htm 53 http://www.corpwatch.org/campaigns/PCD.jsp?articleid=1348 Kenny Bruno. jan. 2002. Greenwash+10. The UN's Global Compact, Corporate Accountability and the Johannesburg Earth Summit. 54 www.greenpeace.org.br/toxicos/pdf/corporate_crimes.pdf

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 23 de 34 _____________________________________________________________________________________________________

1. Implementação do Princípio 13 da Declaração do Rio em 1992 2. Extensão da responsabilidade civil corporativa 3. Responsabilidade civil corporativa para danos além da jurisdição nacional 4. Proteção dos direito humanos 5. Provisão da participação pública e do direito à informação 6. Aderência a padrões mais elevados de conduta 7. Prevenção da influência corporativa sobre a governança pública 8. Proteção da autodeterminação local na escolha de alimentos 9. Implementação do princípio da precaução e exigência de avaliação de impactos

ambientais 10. Promoção do desenvolvimento sustentável limpo

O conteúdo descritivo de cada princípio leva em conta a necessidade de criação de jurisprudência e instrumentos de elevados padrões de RSA, para vigência e aplicação internacional.

Com isso, as corporações transnacionais e suas extensões - independentes do país onde operassem - não poderiam rebaixar os padrões internacionais, aproveitando-se de deficiência na legislação, inoperância do sistema fiscalizador e punitivo, corrupção e outros fatores que contribuem para o baixo desempenho socioambiental de todas as partes envolvidas.

Dessa maneira, as corporações transnacionais - representadas por suas matrizes, subsidiárias e afiliadas, diretores e demais oficiais - estariam sujeitos às ações de responsabilidade civil ou de passivos (liability) pelas conseqüências das atividades e produtos introduzidos no ambiente.

Para tanto, os Princípios de Bhopal estabelecem a necessidade de:

• criação, pelos Estados, de legislações nacionais que vinculem o desempenho socioambiental das corporações a instrumentos internacionais

• implementação de compromissos assumidos em foros internacionais, articulando a RSA ao desenvolvimento sustentável

• reconhecimento e prática de princípios e atitudes relacionados a: visão "do-berço-à-cova", responsabilidade do poluidor pagador, responsabilidade continuada do produtor, direito público de acesso a informações, gestão ambiental responsável, comunicação ambiental, princípio da precaução, não-ingerência na soberania dos Estados, combate à corrupção, entre outros

• sujeição da figura jurídica da corporação, em sua matriz, e das filiais, subsidiárias ou associadas, juntamente com diretores e demais dirigentes envolvidos, às ações legais de responsabilidade civil, por injúria, danos socioambientais a pessoas, propriedades, bens naturais locais, transfronteiriços ou globais (comuns), imputando-lhes penalidades e obrigações de ressarcimento, compensação, recuperação, remediação e outras formas de reparação.

55 http://www.greenpeace.org/earthsummit/bhopalprinciples.html - Greenpeace Bhopal Principles on corporate accountability. Jun 2002. Recomenda-se a leitura do original, para melhor precisão do conteúdo.

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 24 de 34 _____________________________________________________________________________________________________

3. CAPACITAÇÃO PARA RSA

Percepções e realidade de RSA

O entendimento dos limites de responsabilidade das organizações deve partir de uma questão básica: não tratar a RSA como ação de paternalismo - em relação aos funcionários, nem de filantropia - extensiva aos demais membros da comunidade.

A visão contemporânea - usada como base ao longo desse texto - é de que a RSA constitui um processo contínuo de comportamento responsável, voltado para a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento sustentável.

Assim, a organização precisa

• incorporar o compromisso, engajamento e conduta responsáveis (legal e moral) perante à sociedade,

• desempenhar ações apropriadas e divulgar os resultados, com especial atenção às correlações entre seus processos e produtos e os impactos (positivos e negativos) para o homem e o ambiente.

Entretanto, a percepção de líderes e formadores de opinião é bastante variada quanto aos aspectos socioeconômicos do mesmo país, ou entre países, mesmo quando as questões são avaliadas por pessoas de nações mais ricas. Alguns exemplos ilustram as diferentes de percepção.

Nível internacional

Importantes líderes de opinião da França, Reino Unido e Alemanha56 reconhecem o desempenho financeiro como o elemento mais importante e que as ações de RSA das organizações devem gerar saúde e prosperidade.

As opiniões divergem, em muitos casos, conforme o país do formador de opinião. O levantamento feito revelou algumas situações que surpreendem os que acompanham as políticas de governo nos países europeus.

Preocupações principais de 100 líderes europeus

Poluição do ar/água 57% Resíduos reciclagem 47%

Mudança do clima 31% Conservação de recursos e energia 21%

Transporte 9% Biodiversidade 8% Manufatura ecológica 5% Biotecnologia 4%

56 http://www.uk.bm.com/csr.nsf Levantamento de opiniões (sumário) de 100 líderes (Reino Unido, França e Alemanha) sobre a Responsabilidade Social Corporativa. The Prince of Wales Business Leaders Forum.

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 25 de 34 _____________________________________________________________________________________________________ Outras preocupações

Tema Reino Unido

França Alemanha

Tratamento de funcionários 30% >55% 75% Práticas responsáveis de negócios >40% 30 >65 Responsabilidade social 30% >40 >60 Responsabilidade ambiental <40% <40 30 Compromisso com a comunidade <40% >40 <10 Responsabilidade para acionistas <20% 10 20 Responsabilidade para empregados e clientes

10% >10 <10

Doações caritativas <10% <10 <10 Responsabilidade para a economia <10% <10 10

54% consideram que “ter lucro” é a função mais importante dos negócios 89% dizem que a RSA irá influenciar suas decisões no futuro 64% consideram que a saúde da reputação da organização será afetada por suas próprias atitudes, atuando como legisladores, reguladores, jornalistas, líderes de ONGs, etc. 42% (fortemente) e 34% (ligeiramente) concordam que a responsabilidade corporativa afetará os preços, no futuro 71% mencionam a visão além de “curto prazo”, como fator mais importante para a RSA 53% definem a RSA como “tratar bem os empregados”, 30% esperam o “compromisso com as comunidades locais” 5% consideram as “doações caritativas” importantes como forma de RSA

Pessoas influentes, em países desenvolvidos, identificaram, como maiores preocupações para si ou suas famílias 57, os seguintes riscos:

45% Crime 42% má saúde e doença 29% Desemprego 25% mal uso de medicamentos/drogas 20% aposentadoria e atendimento a idosos 17% acidentes no lar ou no ambiente de trabalho 16% perda da casa 14% Guerra 13% Pobreza 13% acidentes de transporte 12% Poluição 10% segurança alimentar 9% divórcio ou desorganização do lar 6% alimentos geneticamente modificados 4% ataque terrorista

57 www.risk-analysis-center.com/scripts1/aboutR.asp#a1 Public Attitudes to Risk. Resultado de levantamento com 1.015 pessoas, entre 9-19 janeiro de 1999, em 87 localidades na Inglaterra.

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 26 de 34 _____________________________________________________________________________________________________

Dados do Brasil

Levantamentos revelaram questões importantes58

• organizações conhecidas por suas ações de RSA são mais aceitas pela sociedade • o perfil de RSA do fabricante está sendo mais bem avaliado pelo consumidor • as iniciativas vitoriosas de RSA fortalecem sua marca e trazem maior lealdade

do consumidor • ações de RSA não dependem do tamanho e porte da organização e, nas micro e

pequenas (para as quais a sobrevivência é questão central), não há nítido limite entre as iniciativas do dono e dos empregados

• a decisão para implementar ações de RSA nas organizações é – essencialmente – do dono ou do responsável por negócios (71%) ou da diretoria (32%), com reduzidíssima efetividade das iniciativas dos empregados (2%) ou da área de recursos humanos (1%)

• Mas, é preciso considerar que: • iniciativas de RSA não neutralizam os impactos negativos na imagem da

organização, causados por demissões • dentre 782.000 empresas privadas no Brasil, 59% têm alguma atividade social • 83% dos brasileiros consideram o trabalho voluntário importante – para os

outros fazerem – pois 73% nada fizeram a respeito. 30% não sabem do que se trata, 20% não estão dispostos a fazerem qualquer coisa

• os voluntários mais disponíveis são os que ganham menos: 24% dos que ganham acima de 20 salários mínimos dizem-se “nada dispostos”, comparados com 14% dos que ganham entre 10 e 20 salários mínimos

• entre os que “estão dispostos”, 41% estão “muito dispostos”, 34% “um pouco” e 21% “nada dispostos”.

Ações voluntárias e projetos em 2001, de natureza socioambiental, foram relatados em edição especial da Revista Exame59. As iniciativas das empresas envolveram cerca de R$550 milhões, abordando temas nos âmbitos da educação, saúde, cultura, comunidade, apoio à criança e ao adolescente, voluntariado, meio ambiente, apoio à terceira idade, apoio a portadores de deficiências e parceria com o Governo.

A classificação de 20 projetos de empresas campeãs envolveu: valores e transparência, funcionários e público interno, meio ambiente, fornecedores, consumidores/clientes, comunidade e governo e sociedade. Os critérios usados foram: capacidade de transformação social; aplicação da tecnologia de gestão social e inovação; escala e auto-sustentação.

A avaliação partiu de auto-declarações, seguida de visita de jornalista da Revista EXAME, às 11 empresas selecionadas, para verificação de dados e informações, a partir de gabarito para entrevista com funcionários e dirigentes.

As considerações feitas pela Revista EXAME indicam que a estruturação da organização para implantar, executar, avaliar e relatar suas iniciativas de RSA é um território aberto, pela

58 Jornal Folha de S. Paulo. Caderno Especial Voluntariado. 28 outubro 2001. 59 Revista Exame. Guia Exame de boa cidadania corporativa 2001. Edição 754

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 27 de 34 _____________________________________________________________________________________________________ dificuldade de usar os relatórios divulgados e, essencialmente, pela falta de relatórios padronizados.

Há obstáculos para que as empresas brasileiras introduzam ações de RSA como parte de seu arcabouço central de negócios. O maior deles, certamente, é falta de prática em lidar com a transparência e divulgação pública de dados do desempenho socioambiental.

Subsidiárias e associadas de grandes corporações estão pondo em prática as políticas de suas matrizes, motivadas, em parte, por decisões corporativas, pressões de mercado e de investidores institucionais éticos, políticas compensatórias, prevenção ou mitigação de efeitos das ações do Ministério Público, entre outras.

Algumas empresas tornaram-se ícones ou referências globais. Outras destacaram-se no cenário brasileiro como entes diferenciados, menos como cultura institucionalizada de RSA e mais como desejo de dirigente com suficiente poder decisório. Fica a dúvida, porém, se as iniciativas de RSA irão persistir, ao longo da existência de tais empresas, ou se desaparecerão quando os líderes se afastarem.

A expectativa é de que os ícones atuais aprimorem-se e novas empresas passem a atuar com maior intensidade, tornando a RSA parte das ações para a produção e consumo sustentáveis de bens e serviços.

No mundo real, os desafios para atuação socioambiental responsável são grandes. No Estado de São Paulo, das 75 mil indústrias, cerca de 30 mil ou seja 40% não têm licença ambiental para operar60 .

Maiores desafios são enfrentados por micro e pequenas empresas brasileiras.

• São 3,6 milhões de empresas formais, de comércio, indústria e serviços; mais 4,6 milhões de empresas rurais das quais 3,6 milhões, 98% são pequenas e microempresas.

• Nas 4,6 milhões de propriedades rurais, 4,1 milhões são de agricultura familiar. • Segundo o IBGE, são 9,5 milhões de empreendedores informais, os quais, segundo o

Dieese, são 14,5 milhões. No total, fala-se de 20 milhões de empreendedores no Brasil61.

Pesquisa em 29 países colocou o Brasil entre as nações mais empreendedoras, com 14% da população. Por falta de opções ou de emprego, 40% dos empreendedores optam pela criação ou administração de negócios próprios62 .

Só no Estado de São Paulo, foram registradas cerca de 660 mil microempresas, entre 1995 e 2000, das quais mais da metade havia fechado após 5 anos63. Os números também são válidos, nacionalmente, principalmente por falta de capital (25%), falta de encomendas (30%) e pouca dedicação do proprietário ao negócio (16%)64.

60 http://www.sitecontabil.com.br/Notici32.htm Estimativa da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), segundo o diretor do Departamento de Meio Ambiente da entidade.

61 http://www.mct.gov.br/sobre/namidia/MCTnamidia/2002/05_02c.htm Bom momento para a pequena empresa. Entrevista - Sergio Moreira, presidente do Sebrae Fonte: Jornal do Commercio - Rio de Janeiro - Domingo, 03 de fevereiro de 2002. 62 http://www.redeideal.com.br/artigos/art/respons.htm Brasil é um dos países mais empreendedores 63 http://www.estado.estadao.com.br/jornal/01/11/04/news214.html 64 http://www.sitecontabil.com.br/Notici11.htm Um ano é a média de vida de 35% das microempresas.

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 28 de 34 _____________________________________________________________________________________________________ Os obstáculos para incorporação de RSA por micro e pequenas empresas são identificados por dirigente do SEBRAE Nacional, que reconhece a necessidade de apoio direto para que as empresas possam lidar com questões sociais e ambientais65.

Apesar de tudo, nada impede que a micro e pequena empresas utilizem as ferramentas de gestão socioambiental, apresentadas em capítulo próprio deste texto, pois estariam cumprindo a missão de RSA e otimizando o desempenho técnico-econômico de seus negócios.

Este comentário não é novidade, uma vez que o SEBRAE envolveu-se, nos últimos anos, em parceria com os Centros Nacionais de Produção Mais Limpa, a fim de implantar medidas de prevenção na geração de resíduos, otimizar o uso de água e energia66 e criar condições para a implementação de sistema de gestão ambiental, não necessariamente certificado.

Capacitação organizacional

Tomando-se o mercado como paradigma e a globalização como fato, as sugestões a seguir são um bom começo para os programas de capacitação organizacional:

(1) inovar; (2) praticar a ecoeficiência; (3) migrar do diálogo com as partes interessadas para parcerias para o progresso; (4) informar e disponibilizar a preferência dos consumidores; (5) aperfeiçoar a estrutura para as condições de mercado; (6) estabelecer o valor do planeta terra; e (7) tornar o mercado de trabalho para todos.67

Os itens abordados nos próximos tópicos mostram as ferramentas já disponíveis, com as quais as organizações poderão aperfeiçoar suas ações de RSA. Mas, será preciso reconhecer as dificuldades e barreiras para criar competência interna na organização, evitando-se, com isso, que as ações de RSA fiquem na dependência de um ou mais Diretores, como se isso fosse projeto pessoal e não institucional.

65 http://www.redeideal.com.br/artigos/art/respons.htm O papel da pequena empresa frente à Responsabilidade Social Corporativa. Vinícius Lummertz Silva. Diretor Técnico do Sebrae Nacional 66 http://www.redeideal.com.br/artigos/art/respons.htm 67 http://www.wbcsd.org/newscenter/media.htm Sustainability through the market: 7 keys to success.

Passos para atuação com RSA

Engajamento das partes interessadas Treinamento de empregados Desenvolvimento de lideranças Práticas de ferramentas de gestão ambiental Definição dos limites de RSA Definição de modelos de relatórios de RSA Gestão estratégica socioambiental

Definir indicadores de RSA Implementar

Relatar

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 29 de 34 _____________________________________________________________________________________________________

Envolvimento das Partes Interessadas

Os fundamentos da teoria das partes interessadas (stakeholders) envolvem as bases normativas para a integração dos interesses externos às atividades da organização, os modelos de relacionamento, a visão das partes, a gestão das relações68, entre outros aspectos abordados em textos acadêmicos.

Para muitos negócios, o engajamento das partes interessadas locais é uma necessidade.69. As corporações internacionais, que atuam nos países em desenvolvimento, estão se integrando ao desenvolvimento sustentável - através do envolvimento das partes interessadas.

O propósito é buscar a garantia de sua lucratividade, com benefícios para as corporações representados por:

(i) acesso a terra, (ii) construção e garantia de confiança e reputação; (iii) garantia de licença ‘social’ para operar; (iv) acesso à comunidade local de usuários de bens e serviços providos pelas corporações; (v) vantagens competitivas e mercadológicas; (vi) melhoria da qualidade na tomada de decisões; (vii) melhor saúde industrial e (viii) ambiente operacional mais estável.

Fatores de sucesso

Envolvimento prematuro • identificação correta dos agentes chaves • desenvolvimento de confiança • flexibilidade • compartilhamento aberto de informações • tempo apropriado para conversações • expectativas realísticas • indicadores significativos • relato de resultados e de responsabilidade e • inserção da sustentabilidade em projetos de atividades e negócios.

Os melhores resultados são obtidos projeto-a-projeto, nas organizações cujas prioridades e planos incluam metodologias da casa flexíveis, menos formais, para:

• desenvolver processo de engajamento e gestão dos agentes locais • aprendizado através de discussões e compartilhamento e • progresso em direção a sistemas para gerar relatórios aceitáveis, padronizados e

acreditáveis.

Dúvidas e interrogações

• O apoio financeiro - ou a mobilização de serviço voluntário dos funcionários - que as organizações de interesse lucrativo destinam para as ações de RSA - representa, realmente, uma nova cultura e novos valores nas empresas, ou repete apenas um modismo, na conjuntura atual?

• A natureza, propósito e objetivos dos projetos socioambientais privados têm afinidade com a missão social da organização, ou constituem - na maioria das vezes

68 Fernanda Gabriela Borger. 2001. Responsabilidade social: efeitos da atuação social na dinâmica empresarial. Tese de doutorado. FEA-USP, 242 pp. 69 ENGAGING STAKEHOLDERS AND BUSINESS-NGO PARTNERSHIPS IN DEVELOPING COUNTRIES Maximizing An Increasingly Important Source of Value. David Greenall and Darin Rovere.. THE CENTRE FOR INNOVATION IN CORPORATE RESPONSIBILITY www.cicr.net Presented at The Canadian International Development Agency International Cooperation Days November 17, 1999

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 30 de 34 _____________________________________________________________________________________________________

- iniciativas filantrópicas, ou ações para preencher lacunas criadas pela inoperância dos entes governamentais?

• O objetivo e conteúdo das iniciativas privadas fazem parte da estratégia de atuação e negócios da organização, ou visam, essencialmente, a promoção - marketing - institucional?

• As organizações privadas consideram-se benemerentes, ou reconhecem que a execução/patrocínio de projetos de RSA é uma parte da obrigação decorrente da permissão que a sociedade e o Estado lhes concede para atuar no mercado?

Para muitos, Responsabilidade Social e Responsabilidade Ambiental envolvem objetos diferentes. Para outros, como defendido no presente texto, trata-se de binômio indissociável.

Tem sido insistido que conceito de RSA pode limitar-se às relações entre a organização e a comunidade na qual estiver presente; ou abranger todas as partes interessadas (stakeholders) nos negócios ou atividades; incluindo a responsabilidade (legal, moral e ética70 ), nos âmbitos nacional, regional ou global.

Barreiras

Inúmeras dificuldades impedem o engajamento da comunidade e outras partes interessadas, nas atividades ou negócios das organizações, dentre os quais os seguintes servem de exemplo:

• falta de organização dos agentes • inexperiência para negociação • inexistência de interesses comuns • barreiras culturais e de linguagem • diferenças de poder (empowerment) e de influência • agendas ocultas • limitação de acesso a recursos • falta de conhecimento e de confiança mútua

Entretanto, há sugestões para superar as dificuldades, como as feitas pelo World Business Council for Sustainable Development71.

• Dê tempo para planejar, planejar e mais planejar • Pense, cedo, em engajamento de longo prazo e consulte o que as partes interessadas

querem e como querem dar continuidade à comunicação • Esteja alerta e gerencie as expectativas: suas e das outras partes • Seja realista: não comece o que não puder terminar • Enfoque a qualidade, não a quantidade: os participantes devem ser convidados com

base na sua credibilidade e habilidade para pensamentos provocativos • Afaste-se de posições e mensagens (slogans) públicos: tão logo quanto possível,

oriente o foco do diálogo para valores e interesses específicos • Reconheça as diferenças legítimas: todos devem se esforçar para compartilhar

perspectivas, ouvir e aprender • Prepare-se para ser tão aberto e transparente quanto possível

70 Novo Dicionário Aurélio: Legal - Conforme ou relativo à lei. Moral - Costumes, conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada. Ética - Juízo de apreciação que se refere à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto. 71 http://www.wbcsd.org/newscenter/media World Business Council for Sustainable Development. Stakeholder dialogue.

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 31 de 34 _____________________________________________________________________________________________________

• Procure construir propriedades compartilhadas para mudanças a serem feitas, em seguida ao diálogo

• Seja flexível e aberto para improvisação, em programas baseados em desejos das partes interessadas

A estratégia proposta pelo WBCSD implica em:

• definir o objetivo e prioridades • permitir o maior entendimento entre as partes interessadas, suas necessidades e

restrições • garantir o engajamento direto de grupos distintos e ajudá-los a forjar alianças,

parcerias colaborativas e compartilhar princípios • habilitar as pessoas para reconhecer e assumir responsabilidades • reconhecer diferenças e necessidades de trocas • encorajar a sinergia e novas idéias • gerenciar conflitos, antevendo problemas • compartilhar dificuldades para decisões.

Governança corporativa

O conceito geral de governança corporativa72 é de que se trata do conjunto de procedimentos, para se tratar das relações entre a organização e seus acionistas. Entretanto, seu entendimento ainda é pobre e os limites bastante difusos73. Por isso, as propostas e comentários sobre o significado da Governança Corporativa podem ser tratados de diferentes maneiras.

Restrito

"as maneiras pelas quais os fornecedores de finanças para as corporações garantem-se o retorno de seu investimento"

"um termo fantasioso usado por diretores e auditores para lidarem com suas responsabilidades em relação aos acionistas”

"sinônimo de democracia do acionista"

Abrangente

"a área que trata das relações da corporação com a sociedade".

A opção pelo modelo - restrito ou abrangente - tem implicações no sistema de governança, com especial atenção para as funções da alta direção.74

Para a OECD75,

72 http://www.corpgov.net/links/links.html#international 73 http://www.encycogov.com/WhatIsGorpGov.asp Encyclopedia Corporate Governance 74 http://www.companydirectors.com.au/polsub/speech05.html GOVERNANCE AND RELATED ISSUES SOME INTERNATIONAL PERSPECTIVES; http://law.vanderbilt.edu/journal/33-4-2.html 75 http://www1.oecd.org/daf/governance/Q&As.htm OECD Principles of Corporate Governance.

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Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 32 de 34 _____________________________________________________________________________________________________

"a governança corporativa é o sistema usado para a direção e controle dos negócios, que especifica a distribuição dos direitos e responsabilidades entre os diferentes participantes na corporação, tais como dirigentes, gerentes, acionistas e outros stakeholders e define as regras e procedimentos para tomada de decisões nos assuntos corporativos. Assim, é criada a estrutura pela qual são estabelecidos os objetivos da empresa e os meios para alcançar os objetivos e a monitoramento do desempenho".

Independente das pressões sociais, econômicas e financeiras, a empresa com pensamento mais avançado reconhece a importância e a necessidade de implementar sistema de governança efetivo e eficaz, como forma de aumentar sua produtividade e lucratividade.

O papel da Direção Superior (Board) é, portanto, essencial para a criação e funcionamento do sistema de governança. Para ser eficiente e eficaz, a governança deve basear-se em princípios objetivos, claros, transparentes e gerar informações pertinentes, relevantes, verdadeiras - para tomada de decisões e, com isso, ganhar a confiança dos acionistas e demais agentes interessados.

Assim, a definição do sistema de governança corporativa é entendida como:

• liderança para eficiência, para probidade e para responsabilidade com transparência76

• ou "um conjunto de regras que governam como as pessoas interagem e como as decisões são tomadas", sendo necessário que "em todos os casos a confiança seja um ingrediente essencial para a interação positiva entre a organização e todas as pessoas que afetam as atividades"77.

Nestas condições, a governança corporativa deve levar em conta diversas questões78, prevendo-se a influência de temas sociais, econômicos, ambientais, éticos, política institucional e organizacional, ferramentas gerenciais, entre outros.

Consequentemente, a melhor maneira para a tomada de decisões, envolvendo os interesses e considerações das partes interessadas, será através da criação de um painel de stakeholders que tenha comunicação direta com a Direção Superior da organização.

Isso requer a criação de bases sólidas para confiabilidade e responsabilidade, sem que a empresa renuncie o controle de suas atividades, mas consolide a liderança através da aprendizagem, para promover o engajamento dos agentes interessados nas atividades ou negócios da organização.

Só assim a organização irá dispor de recursos para gerenciar a complexidade de temas e questões relevantes para a governança.

76 Philip Armstrong, segundo www.accountability.org.uk Governance and accountability; http://www.combinet.net/Governance/FinalVer/CACG%20-%2019_10.doc Commonwealth Association for Corporate Governance CACG GUIDELINES PRINCIPLES FOR CORPORATE GOVERNANCE IN THE COMMONWEALTH 77 www.accountability.org.uk Governance and accountability. 78 http://www.corpgov.net/links/links.html

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IncentivosIncentivosIncentivos

MeiosMeiosMeiosObjetivosObjetivosObjetivos

GestãoGestãoGestãoDireçãoDireção

Sócio-Sócio-econômicoeconômico

Macro-Macro-economiaeconomia

Sócio-Sócio-ambientalambiental

Econômico-Econômico-ambientalambiental

Econômico-Econômico-ambientalambiental

ContabiContabi--lizaçãolização

AuditagemAuditagem

AcionistasAcionistasAcionistas

LegislaçãoLegislação

NegóciosNegócios

ÉticaÉtica Demaisinteressados

DemaisDemaisinteressadosinteressados

EstruturaEstruturainstitucionalinstitucional

A qualidade da governança foi objeto de levantamento em 22 países, com o propósito de mostrar as diferenças entre a boa da má governança.

Característica Má governança Boa governança Diretores externos Minoria Maioria Diretores externos e management Existência de

vínculos financeiros

Independentes, sem vínculos

Diretores e estoques de ações Pequena ou nenhuma propriedade

Propriedade significativa de ações

Remuneração para os Diretores Apenas em dinheiro

Maior parte do pagamento em ações ou opção de compra

Avaliação formal do Diretor Ausente Existente Questões do investidor sobre governança

Não respondente Muito respondente

A boa governança começa com o estabelecimento de relações transparentes e dinâmicas entre a alta direção e a organização, como um todo. Segundo levantamento em 22 países, 70-90% dos investidores estão dispostos a premiar as empresas com boa governança79.

79 McKinsey & Company. Investor oppinion survey.Mar/Apr 2000.

Page 34: Gestão com responsabilidade socioambiental

Furtado, J.S. 2003. Gestão com responsabilidade socioambiental. Princípios, códigos de conduta e capacitação para RSA. Texto de livre acesso e uso, desde que citada a fonte. Sujeito a revisões e modificações, sem aviso prévio. Versão mar 2003. pág. 34 de 34 _____________________________________________________________________________________________________

Além dos aspectos relacionados pessoalmente aos dirigentes, a má governança resulta da conduta empresarial que80: (i) considera a organização um ente auto-sustentável e à parte da sociedade, localizado em um ambiente físico delimitado; (ii) conduz as atividades por comando e controle e (iii) assume a responsabilidade pelas iniciativas apenas para os acionistas e não para outros grupos na sociedade.

A boa governança relaciona-se à desempenho "responsável por" (accountable), através do estabelecimento de práticas de negócios e sua correlação aos âmbitos social, ambiental e econômico81, sem desconsiderar as interações

• socioambiental - equidade no acesso aos recursos, terra e localização dos altos impactos ambientais provocados pelas instalações industriais

• socioeconômico - criação de emprego, distribuição justa de riquezas, oferta de bens e serviços para necessidades sociais, investimento na educação dos empregados, acesso de fornecedores minoritários ao mercado e doações

• ambiental-econômico - ecoeficiência na produção de bens e serviços (materiais, energia, água e valor agregado por pegada ambiental).

80 www.accountability.org.uk 81 www.wri.org/meb/sei/state.html