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GESTÃO DE CAPITAL DE GIRO
LÍQUIDO E DE FLUXO DE CAIXA EM
RISCO EM EMPRESAS DE UTILIDADE
PÚBLICA BRASILEIRAS
Abdinardo Moreira Barreto de Oliveira (UNIVASF )
Brenna Soraia Gomes de Souza (UNIVASF )
Julia Goes Matos (UNIVASF )
Andre Aroldo Freitas de Moura (UFC )
O objetivo deste estudo foi avaliar o desempenho de empresas de
utilidade pública brasileira quanto à gestão de capital de giro líquido e
quanto à capacidade de geração de caixa, visto que são fatores
primordiais para uma gestão de qualidadde e saúde da empresa. Neste
intuito, foi realizado um estudo com 33 empresas de ações ordinárias
listadas na Bovespa e CVM. Foram coletados entre 15 e 44 relatórios
contábeis trimestrais por empresa (mediante disponibilidade), onde os
dados foram formatados de acordo com as orientações de Fleuriet,
Kehdy e Blanc (2003) e do método indireto de fluxo de caixa
(GITMAN, 2004). A análise dos dados procedeu-se através de
estatística descritiva, análise de cluster e simulação de Monte Carlo.
Quanto à gestão do capital de giro, foi verificado que a maioria das
empresas analisadas foi classificada como Péssima. Quanto à
capacidade de geração de caixa, ainda que a maioria das empresas
estudadas tenha superado a expectativa de 50% de chances de ter
fluxos de caixa final maiores que zero, é importante ressaltar o elevado
risco associado a não ocorrência destes.
Palavras-chaves: Utilidade pública; Gestão de capital de giro líquido;
Geração de caixa
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
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1. Introdução
Com o intuito de aprimorar a sustentabilidade financeira das empresas brasileiras, o
interesse de pesquisadores, empreendedores e gestores de organizações para com a gestão do
capital de giro líquido e a gestão do fluxo de caixa vêm aumentando, dado que estes fatores
são imprescindíveis para a saúde da empresa. Segundo Vieira (2008), a administração do
capital de giro líquido tem como objetivo principal a manutenção do equilíbrio financeiro da
empresa, como forma de garantir a continuidade da atividade operacional e propiciar
condições adequadas que favoreçam a sua sobrevivência e crescimento e, segundo Moura e
Matos (2003), a sua má gestão pode comprometer as atividades operacionais de curto prazo, o
que prejudicaria seu ciclo operacional e a sua capacidade de geração de caixa que afeta
negativamente a maximização do valor da companhia.
Além disso, deve-se também considerar alguns fatores externos, como as variações
nas taxas de juros, no preço das commodities, no câmbio, na demanda e na oferta, conhecidos
como risco de mercado, o qual afeta a liquidez (capital de giro líquido) e a capacidade
financeira (fluxo de caixa) das empresas. De acordo com Albuquerque, Perobelli e Castro
(2009, p.1), “apesar da modelagem de risco de mercado já estar bem desenvolvida no setor
financeiro, a sua prática ainda é prematura nas instituições não-financeiras, em parte devido
à dificuldade de se adaptar os conceitos oriundos do mercado financeiro para a realidade
das corporações”. Neste quesito, a análise da sensibilidade dos fatores de risco está
desconectada das variáveis macroeconômicas.
Com o intuito de avançar as pesquisas neste assunto, Oliveira (2011), Oliveira,
Ramalho e Moura (2011) e Oliveira et al. (2012) publicaram, respectivamente, estudos sobre
essa temática nos setores ferroviário, bens industriais e de embalagens brasileiros, cujos
resultados metodológicos indicam a viabilidade da mensuração do risco nestas operações,
bem como suas conclusões fornecem informações que buscam minimizar os efeitos da
incerteza na tomada de decisões dos gestores, já que as chances de sucesso (e insucesso)
nestas operações puderam ser mensuradas.
Posto os devidos argumentos, a finalidade deste trabalho é analisar os resultados da
gestão do capital de giro líquido e de fluxo de caixa das empresas brasileiras do setor de
utilidade pública, o qual é composto pelas empresas de energia elétrica, água e saneamento e
gás, uma vez que elas têm um papel de grande importância para o desenvolvimento do país e
bem-estar social. Os aspectos sobre a qualidade da gestão do capital de giro líquido e do fluxo
de caixa em risco destas empresas ainda se mostra desconhecido para os usuários externos e,
neste aspecto, o presente estudo intenta em contribuir para o esclarecimento de tal
desempenho, bem como para a comunicação de metodologias que apontam indícios de
sustentabilidade financeira neste setor.
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2. Referencial Teórico
2.1. Aspectos teóricos sobre a gestão de capital de giro líquido
Neste ínterim, a identificação do volume de recursos monetários em capital de giro
líquido necessários para o funcionamento das atividades de curto prazo de uma empresa se dá
pela equação CCL = AC – PC, onde CCL representa o Capital Circulante Líquido, AC
representa o Ativo Circulante (investimentos de curto prazo) e PC representa o Passivo
circulante (financiamentos de curto prazo). Caso o CCL > 0, significa que a empresa
consegue honrar suas obrigações de curto prazo e produzir um excedente de recursos
monetários. Se o CCL = 0 significa que toda a riqueza monetária produzida foi integralmente
utilizada para saldar seus compromissos. Mas se o CCL < 0, representa que a companhia não
consegue honrar completamente suas obrigações de curto prazo, exaurindo as fontes de
financiamento das atividades operacionais.
A técnica supracitada mostra somente a eficácia do processo de gestão do CCL,
ignorando o aspecto da eficiência, que é a adequada distribuição dos recursos monetários
entre os investimentos de curto prazo - Disponibilidades, Créditos e Estoques. Na década de
1980, após de investigações em empresas brasileiras, Michel Fleuriet, apresentou uma
abordagem dinâmica para a administração do capital de giro líquido (BRASIL; BRASIL,
1997). A análise dinâmica do capital de giro apresenta duas novas variáveis que
complementam a análise clássica, permitindo uma melhor compreensão da composição e
gestão do CCL: a Necessidade de Investimento em Giro (NIG) e o Saldo em Tesouraria (ST).
Para se obter os valores destas variáveis, é preciso primeiro fazer uma reclassificação das
contas contábeis presentes no Balanço Patrimonial em três tipos: Estratégicas, Operacionais e
Táticas.
As contas de natureza Estratégica abrangem as contas cuja movimentação está
vinculada à alta administração da empresa. A equação que define esta relação é: CCL = (PL +
PELP) – (ARLP + AP). As contas de natureza Operacional correlacionam-se com a atividade
(o negócio) da empresa. A equação que explica esta relação é: NIG = AO – PO, onde AO
significa Ativo operacional, que são os investimentos de curto prazo diretamente relacionados
com o negócio da empresa; e PO significa Passivo operacional, que são os financiamentos
não-onerosos diretamente relacionados com as atividades da empresa. É importante também
mostrar a relação que a NIG apresenta com o Ciclo Financeiro (CF = NIG/Receita Bruta*360)
da companhia. Quando as saídas de caixa ocorrem antes das entradas de caixa, é gerada uma
necessidade de capital de giro positiva, demandando uma aplicação operacional de recursos
monetários. Caso contrário, é gerada uma necessidade de capital de giro negativa, o que
indica a existência de uma fonte operacional líquida de recursos monetários.
As contas de natureza Tática representam as contas de curto e curtíssimo prazo, em
geral administradas pela tesouraria das empresas. A equação que determina esta relação é: ST
= AF – PF, onde AF representa o Ativo financeiro, que são os investimentos financeiros de
curto prazo efetuados pela organização, e PF representa o Passivo financeiro, que são os
financiamentos onerosos de curto prazo obtidos pela companhia. Desse modo, procura-se
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definir as contas ativas e passivas em função da realidade dinâmica das empresas, onde as
contas relacionam-se aos ciclos operacionais e financeiros da organização, que lhes atribui um
estado de permanente movimentação (FLEURIET; KEHDY; BLANC, 2003; VIEIRA, 2008).
Tomando como referência a reclassificação contábil sugerida pela análise dinâmica do
capital de giro, Marques e Braga (1995) relacionaram as três variáveis dinâmicas (CCL, NIG
e ST) em seis possíveis estruturas (com suas respectivas situações). Como contribuição à
metodologia, Theiss Júnior e Wilhelm (2000) desenvolveram uma escala de notas com o
intuito de medir o desempenho que a empresa obteve em cada situação prevista, conforme
mostra o Quadro 1.
Com estas estruturas, é possível compreender o fenômeno do overtrading, também
conhecido como “Efeito Tesoura”, que acontece quando o valor da NIG ultrapassar o do
CCL. Os gastos para se manter as operações da empresa são maiores que os recursos
monetários que ela dispõe para financiá-los, comprometendo seu ST para futuros
investimentos da atividade produtiva (MARQUES; BRAGA, 1995; FLEURIET; KEHDY;
BLANC, 2003; VIEIRA, 2008).
Assim, as estruturas III a VI culminam em situações que são exemplos de “Efeito
Tesoura” que a companhia pode apresentar, sendo a situação VI a pior delas. A estrutura III
também aponta um exemplo de Efeito Tesoura, só que para valores negativos de CCL e NIG.
Logo, a meta do gestor financeiro é posicionar sua empresa na situação I ou II, sob pena de
erodir suas reservas financeiras e conduzi-la à inadimplência ou à insolvência. Essas
estruturas ganham também a seguinte interpretação: os exemplos (I) e (II) indicam que ela
está com solvência; os exemplos (III) e (IV) indicam que ela está com inadimplência e os
exemplos (V) e (VI) indicam que ela está com insolvência (OLIVEIRA; SILVA; SILVA,
2006).
2.2. Importância da elaboração de fluxos de caixa
Neste quesito, um relatório contábil ganhou relevância no auxílio dos administradores
financeiros nesta tarefa, que é a Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC). Sendo relatório
exigido no Brasil desde a promulgação da Lei n.º 11.638/07, que alterou a Lei n.º 6.404/76,
ela é de grande importância porque consegue demonstrar para ao gestor a sua disponibilidade
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monetária, cujo resultado é decorrente das movimentações de numerário provocadas pelas
necessidades de reinvestimento da empresa em (i) gastos líquidos de capital, referentes às
variações ocorridas nos ativos não-circulantes (Realizável a Longo Prazo e Permanente), e de
(ii) investimentos em capital de giro líquido, decorrentes das peculiaridades de produção e
venda que afetam os ativos e passivos circulantes de cada companhia.
A estrutura da DFC empresarial é resultado da formatação de três fluxos: (1) os
relacionados às atividades operacionais [FCO], (2) os relacionados às atividades de
investimento [FCI] e (3) os relacionados às atividades de financiamento [FCF]. A soma destes
fluxos produz o Fluxo de Caixa [FC], que é a “principal matéria-prima para estimar o valor
de uma empresa, medir a rentabilidade de um projeto de investimento, planejar as operações
ou estabelecer a capacidade de pagamento de uma dívida” (SAMANEZ, 2007, p.71).
O Quadro 2 ilustra a composição de cada um dos fluxos citados, através do método
indireto, bem como a influência de cada conta contábil na sua composição, às quais foram
adaptadas de acordo com o formato dos relatórios contábeis publicados na BMF&BOVESPA
para empresas não financeiras. Assim, o gestor financeiro poderá executar uma das etapas do
planejamento financeiro, que é a elaboração do Orçamento de Caixa, cujo objetivo é estimar
futuras necessidades de caixa no curto prazo, com dedicação especial para projetos de uso de
superávits e a cobertura de déficits (GITMAN, 2004).
3. Procedimentos Metodológicos
Foram pesquisadas empresas que estão listadas na BMF&BOVESPA na classificação
Utilidade Pública, dos subsetores Água e Saneamento, Energia Elétrica e Gás. Em um
universo de 74 empresas, foi selecionada uma amostra não probabilística de 33 companhias
(45% do total), no período entre 2000 e 2010: Aes Elpa (AELP), Afluente (AFLU),
Agconcessões (ANDGB), Ampla Energ (CBEE), Bandeirantes Energ (EBEN), Ceg (CEGR),
Celest (CLSC), Celpa (CELP), Celpe (CEPE), Cemar (ENMAB), Cemat (CMGR), Cespe
(CESP), Coelba (CEEB), Coelce (COCE), Comgas (CGAS), Copasa (CSMG), Copel (CPLE),
Corsen (CSRN), CPFL Energia (CPFE), CPFL Geração (CPFG), CFPL Piratininga (CPFP),
Elektro (EKTR), Eletrobras (ELET), Eletropaulo (ELPL), Energia Br. (ENBR), Enersul
(ENER), Light (LIGT), Neoenergia (GNANB), Paul F Luz (PALF), Rede Energia (REDE),
Rio GDE (RGEG), Tractebel (TBLE) e Trans Paulist (TRPL), a maioria do setor elétrico.
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Os critérios de escolha foram: deveriam possuir, no mínimo, 15 relatórios trimestrais a
contar, retrospectivamente, de dezembro de 2010 e; deveriam atender aos testes de
normalidade, homoscedasticidade e ausência de autocorrelação serial dos resíduos,
linearidade dos coeficientes, e ausência de multicolinearidade entre as variáveis
independentes [PELP, PL, ARLP, AP, RB, CF] na análise individual de suas
regressões, em relação à variável dependente ST.
A coleta de dados ocorreu obtendo relatórios trimestrais Balanço Patrimonial (BP) e
Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), todos disponíveis no banco de dados
Economática®, totalizando até 44 relatórios por empresa. O método de abordagem deste
estudo foi o levantamento, de modo a verificar a existência, ou não, da homogeneidade da
amostra quanto à gestão do capital de giro líquido e a capacidade de geração de caixa.
Os dados foram estruturados da seguinte forma: quanto à gestão de capital de giro
líquido, estes seguiram as orientações de classificação de Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003),
onde está exemplificado no Quadro 3. Uma vez classificados e, de acordo com os resultados
obtidos para as variáveis CCL, NIG e ST, cada trimestre foi categorizado e pontuado
conforme o Quadro 1. Quanto ao fluxo de caixa, estes foram formatados de acordo com o
modelo proposto no Quadro 2.
Para a gestão do capital de giro líquido, foi realizada uma distribuição de frequência
absoluta para as estruturas encontradas nas empresas, com suas respectivas notas médias,
calculadas e classificadas de acordo com o modelo mostrado no Quadro 1. A fim de verificar
a ocorrência de semelhança entre as notas médias das empresas, formando grupos distintos
entre si, aplicou-se a análise de clusters, que reuniu as observações baseando-se nas suas
similaridades. Foram usados os seguintes métodos: Average linkage, Single linkage, Complete
linkage, Método centróide, agrupamento de medianas e método de Ward. A medida de
distância usada foi a euclidiana quadrática. A classificação das empresas nos clusters
originou-se a partir da frequência das mesmas em todos os métodos aplicados, e a avaliação
do poder discriminante entre os grupos se deu pelo teste ANOVA.
Foi realizado um teste de aderência para verificar a maneira pela qual elas estão
distribuídas, de modo agregado. A escolha do modelo probabilístico aconteceu com base nos
resultados da estatística de ajuste de distribuição Anderson-Darling, que é definido pelas
seguintes hipóteses: H0 – os dados seguem a distribuição especificada; H1 – os dados não
seguem a distribuição especificada. Os valores do teste Anderson-Darling são mostrados na
variável Goodness-of-Fit (GoF), bem como tal modelo de distribuição é testado ao nível de
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significância de 1%. Encontrada a curva de distribuição probabilística para a série histórica
das notas, foi calculada, via a simulação de 50.000 valores pela técnica de Monte Carlo, a
probabilidade agregada das empresas estarem em uma situação de solvência (estruturas I e II),
de inadimplência (estruturas III e IV) ou de insolvência (estruturas V e VI).
Em relação à capacidade de geração de caixa, foi realizado o teste de aderência para as
variáveis FCO, FCI, FCF e FC, e a capacidade de geração de caixa foi medida a partir do
cálculo da probabilidade destes serem maiores que zero (p > 0) pela simulação de 50.000
valores com a técnica de Monte Carlo, utilizando o software Crystal Ball.
4. Análise e discussão dos resultados
4.1. Gestão do capital de giro líquido em risco
A Tabela 1 mostra os resultados da classificação dos trimestres de cada empresa
quanto à gestão do capital de giro líquido em risco. Os valores dentro dos colchetes indicam a
nota média da categoria, enquanto que os fora dos colchetes representam a frequência obtida
na estrutura. Os números em parênteses junto à nota média das empresas (variável
discriminante) representam os grupos resultantes da análise de cluster hierárquica aqui usada.
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Tabela 1 - Resultado das notas para gestão do capital de giro líquido.
Empresa Péssima Muito Ruim Insatisfatória Razoável Sólida Excelente Nota Média
CEGR (N=44) 31[0,88] 13[2,68] - - - - 1,41 (1)
CPFG (N=28) 20[1,16] 08[2,63] - - - - 1,58 (1)
CGAS (N=44) 27[1,18] 13[ 2,80] 04[4,33] - - - 1,95 (1)
RGEG (N=44) 31[1,01] - 12[4,04] - 01[8,33] - 2,01 (1)
CPFE (N=28) 18[0,84] - 09[4,18] - 01[8,33] - 2,18 (1)
CPFP (N=36) 24[1,27] 05[2,90] 06[3,92] - - 01[10,0] 2,18 (1)
REDE (N=44) 20[0,97] 20[2,49] 01[5,00] - 03[7,49] - 2,20 (1)
COCE (N=44) 24[0,82] - 20[4,22] - - - 2,36 (1)
EBEN (N=44) 26[0,96] 07[2,36] 06[4,26] 01[6,67] 02[7,50] 02[9,17] 2,43 (1)
CESP (N=44) 06[0,71] 36[2,79] - 02[5,83] - - 2,65 (1)
CMGR (N=44) 15[0,85] 23[2,75] 01[5,00] - 04[7,34] 01[10,0] 2,73 (1)
PALF (N=44) 22[0,84] 03[2,64] 11[4,37] 02[5,83] 05[7,52] 01[10,0] 3,04 (1)
CELP (N=44) 14[0,85] 15[2,31] 08[4,04] - 05[7,46] 02[9,17] 3,06 (1)
CBEE (N=44) 14[1,03] 08[2,42] 20[4,41] - 02[7,50] - 3,11 (1)
CEEB (N=44) 18[0,99] 01[3,33] 23[4,43] - 02[7,50] - 3,14 (1)
CSRN (N=44) 13[0,76] - 31[4,34] - - - 3,28 (1)
TBLE (N=44) 14[0,74] 07[2,78] 15[4,50] 05[5,86] - 03[8,97] 3,49 (1)
CEPE (N=44) 10[0,84] - 30[4,26] - 04[7,31] - 3,76 (2)
ENER (N=44) 15[1,02] - 19[4,31] - 10[7,43] - 3,90 (2)
LIGT (N=44) 19[0,93] 01[3,33] 06[4,53] - 18[7,13] - 4,01 (2)
ELPL (N=44) 21[1,01] 02[2,50] 06[4,59] - 05[7,53] 10[9,26] 4,18 (2)
GNANB (N=40) 15[0,95] - 10[3,99] - 15[7,60] - 4,21 (2)
ENBR (N=24) 07[0,80] - 08[4,22] - 09[7,30] - 4,38 (2)
EKTR (N=44) 15[1,08] 02[2,50] 08 [4,52] - 15[7,14] 04[9,09] 4,57 (2)
ENMAB (N=44) 10[0,73] 06[2,34] 05[4,35] - 22[7,38] 01[10,0] 4,90 (2)
AELP (N=36) 11 [1,13] 05[2,22] 05[4,38] - 05[7,65] 10[9,40] 4,94 (2)
ANDGB (N=32) 06[0,93] - 08[4,17] - 17 [6,93] 01[10,0] 5,21 (2)
CSMG (N=32) 04[0,98] 09[2,76] 01[5,00] 01[6,67] 11[7,73] 06[9,38] 5,68 (3)
CLSC (N=44) - 09[2,26] 09[4,42] 01[6,67] 23[7,51] 02[9,17] 5,86 (3)
ELET (N=44) - - 18[4,32] - 28[7,34] - 6,10 (3)
TRPL (N=44) 05[1,19] - 07[4,41] - 31[7,37] 01[10,0] 6,26 (3)
AFLU (N=20) 02[0,83] - 02[4,17] 01[6,67] 12[7,58] 03[9,03] 6,74 (3)
CPLE (N=36) 02[0,83] 04[2,44] 01[5,00] 01[6,67] 22[7,64] 06[9,10] 6,83 (3)
De acordo com a escala de notas pré-definida no Quadro 1 (0 à 10) e a nota média
geral, percebe-se que, em sua maioria, as empresas classificam-se como insolventes, com
maior frequência na categoria péssima, indicando a ausência de liquidez, ou seja, estas
empresas não tem capacidade de pagar seus compromissos financeiros, porque têm um capital
circulante líquido negativo (os passivos circulantes são maiores do que os ativos circulantes).
Apenas duas empresas foram classificadas, de acordo com a nota média geral, como solvente
(Afluente e Copel), existindo uma maior frequência na categoria sólida.
Por seguinte, através da Análise de Conglomerados, detectou-se a presença de três
clusters heterogêneos entre si (p-value ANOVA < 1%), porém homogêneos quanto aos seus
componentes. O primeiro é formado por 17 empresas que tiveram os menores resultados de
gestão do capital de giro líquido, apresentando maiores frequências nas categorias Péssima e
Muito Ruim, cuja nota média do grupo foi 2,52 e coeficiente de variação de 23%. O segundo
cluster é composto por dez empresas, com nota média 4,41 e CV 10%, as quais possuem notas
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intermediárias que tendem à inadimplência: existe um descompasso entre os prazos de
recebimento e de pagamento, com predominância da categoria insatisfatória. O último
agrupamento é formado pelas melhores notas, com média de 6,23, um CV de 7%, composto
por seis instituições e apresentando as maiores frequências na categoria sólida.
Medindo a probabilidade das empresas apresentarem-se em situação de solvência
(estruturas I e II), de inadimplência (estruturas III e IV) ou de insolvência (estruturas V e VII),
foi possível avaliar o grau de risco associado a gestão do capital de giro líquido. Na Tabela 2
temos os resultados do teste de aderência Anderson-Darling aplicado às notas de gestão de
capital de giro líquido, de modo agregado.
Tabela 2 – Teste de aderência e probabilidades de risco do capital de giro líquido (Sig. 1%)
Empresas Agregadas Nota CG p Insolvente p Inadimplente p Solvente
GoF 0,0928
57,44% 27,82% 14,74% p-value 0,0000
Tipo Gama
O resultado do teste das empresas agregadas notificou que, dentre as curvas de
distribuição de probabilidade, a que melhor se adaptou foi a distribuição Gama, ainda que a
hipótese nula tenha sido rejeitada. Isto aconteceu porque a classificação razoável apresentou o
menor número de observações dentre os tipos possíveis. Admitindo-se que os dados seguem
esta distribuição, percebe-se que as chances delas serem Solventes são de aproximadamente
15%, as chances delas serem Inadimplentes são cerca de 28%, as chances de serem
Insolventes são de 57%. Verifica-se que as empresas analisadas possuem grande chance de
estarem com uma má gestão do seu capital de giro líquido, proporcionando a elas ou uma
situação de insolvência ou de inadimplência.
4.2. Gestão do fluxo de caixa
Os resultados dos 50.000 valores via técnica de Monte Carlo para a probabilidade dos
fluxos de caixa das empresas serem maiores que zero, assim como o formato da distribuição
de probabilidades que melhor se ajustou ao comportamento dos dados coletados, são
apresentados na Tabela 5. Os resultados estão dispostos na tabela em ordem crescente quanto
a probabilidade de que o fluxo caixa final (FC) seja maior que zero. Para que haja uma melhor
compreensão da gestão dos fluxos de caixa ao longo do tempo, a simulação propõe-se a
fornecer uma medida de risco à ocorrência destes valores.
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Tabela 5 – Distribuição e probabilidades dos FC’s > 0 para as empresas estudadas (*Sig. 1%).
Prob. FC’s > 0 FCO FCI FCF FC Grupo
CSMG 84,96% 9,05% 60,74% 42,14% 1
Distribuição Lognormal Logística Extremo Máximo* Extremo Máximo
CEPE 65,64% 40,51% 45,88% 43,74% 1
Distribuição Extremo Máximo Extremo Mínimo T de Student Extremo Máximo
CMGR 56,54% 39,26% 58,95% 46,58% 1
Distribuição Logística Logística Logística Lognormal*
CESP 48,29% 50,55% 48,29% 48,38% 1
Distribuição Extremo Mínimo T de Student Extremo Máximo Logística*
ANDGB 77,56% 31,87% 47,69% 49,40% 1
Distribuição Lognormal Extremo Mínimo* Extremo Máximo* T de Student
CEEB 81,41% 34,54% 37,32% 49,41% 1
Distribuição Logística Logística Logística Logística*
CBEE 59,05% 24,13% 55,69% 49,86% 1
Distribuição Logística T de Student Logística Logística
TRPL 82,14% 13,77% 40,30% 50,21% 1
Distribuição T de Student Logística Logística* Logística
PALF 70,71% 54,56% 31,96% 50,61% 1
Distribuição T de Student Logística Logística Logística
CGAS 75,04% 2,80% 42,42% 50,83% 1
Distribuição BetaPERT Extremo Mínimo Logística Logística
ELPL 61,67% 50,68% 36,80% 50,89% 1
Distribuição T de Student Logística* Extremo Máximo Extremo Máximo
CPFE 97,21% 31,57% 34,48% 51,43% 1
Distribuição Normal Logística Lognormal Logística
LIGT 53,42% 49,29% 39,99% 51,43% 1
Distribuição Logística Extremo Máximo* T de Student Logística
CSRN 80,11% 34,81% 36,07% 52,03% 1
Distribuição Weibull Logística* Logística Logística
COCE 75,01% 33,73% 38,42% 52,17% 1
Distribuição Logística T de Student Logística Logística
RGEG 66,29% 40,24% 46,89% 52,29% 1
Distribuição Logística T de Student Logística Logística
CPFP 80,43% 45,91% 38,91% 52,61% 1
Distribuição Weibull T de Student Logística Logística
CPFG 97,30% 7,50% 62,83% 52,91% 1
Distribuição Gama Extremo Mínimo* Lognormal Logística
EKTR 51,07% 49,20% 50,38% 52,98% 1
Distribuição Logística Logística Logística Logística
TBLE 77,78% 32,30% 45,92% 53,23% 1
Distribuição Weibull Extremo Mínimo* Logística Logística*
AELP 71,78% 57,42% 24,42% 53,24% 1
Distribuição Weibull T de Student Logística Lognormal
CLSC 63,60% 45,32% 46,09% 53,55% 1
Distribuição Logística* Logística* Logística* Logística
Sobre o desempenho dos testes de ajustamento de distribuição, é importante
mencionar que H0 não foi rejeitada em 83% dos fluxos de caixa calculados. Para os 17%
restantes, neste estudo, será admitido o pressuposto de que os dados seguem tal distribuição,
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de modo a contribuir com alguma medida de risco a partir da melhor função de densidade de
probabilidade encontrada para estes fluxos de caixa.
Em relação ao FCO, 31 empresas excederam a expectativa de 50% de chances de
apresentarem valores positivos, enquanto que duas não conseguiram alcançar tal patamar.
Sobre o FCI, cinco empresas excederam a expectativa de 50% de chances de ter valores
positivos, enquanto que as demais apresentaram probabilidades dentro do esperado. Quanto
ao FCF, 14 empresas excederam a expectativa de valores positivos enquanto que 19 empresas
ficaram abaixo deste patamar. E quanto ao FC, 26 empresas superaram a expectativa de 50%
de chances de valores positivos, enquanto que sete empresas ficaram abaixo desta medida.
Tal como realizado para a gestão de capital de giro líquido, efetuou-se também uma
Análise de Conglomerados, detectando-se a presença de 2 (dois) clusters heterogêneos entre si
(p-value ANOVA < 1%), porém homogêneos quanto aos seus componentes, cuja divisão é
mostrada na coluna grupo da Tabela 5. O primeiro grupo é formado por 22 empresas que
tiveram os menores resultados de probabilidade dos seus fluxos de caixa (FC) ser maior do
que zero, cuja média do grupo foi de 50,45% e coeficiente de variação de 5,81%. O segundo
cluster é composto por 11 empresas, as quais apresentaram os melhores resultados de
probabilidade do seu FC ser positivo, cuja média do grupo foi de 61,24% e coeficiente de
variação de 7,15%.
5. Considerações Finais
O objetivo deste estudo foi avaliar o desempenho de empresas de utilidade pública
listadas em bolsa de valores, quanto à gestão de capital de giro líquido e à gestão do fluxo de
caixa, haja vista que estão intrinsecamente associadas e que seu bom gerenciamento é
condição necessária para a manutenção da sustentabilidade financeira organizacional,
considerando sempre o risco inerente à gestão destas atividades.
Em relação à gestão do capital de giro líquido, foram encontrados três grupos,
homogêneos internamente e heterogêneos entre si. No primeiro grupo, 17 empresas
encontram-se, em média, numa situação de insolvência, onde seus resultados oscilaram entre
Péssimo e Muito Ruim. O segundo grupo é formado por 10 empresas que estão, em média,
numa situação de inadimplência, predominando a situação insatisfatória. E no terceiro grupo,
as seis empresas restantes estão, em sua maioria, numa situação de sólida. De maneira
agregada e admitindo a hipótese de distribuição Gama, tais empresas têm 57% de chances de
ficaram insolventes, 28% de estarem inadimplentes e 15% de estarem solventes.
Uma vez calculadas as equações de regressão em painel, foi percebido que os
overtradings observados nas séries históricas das empresas sejam causados pela combinação
de (1) excesso de investimentos ligados à escassez de recursos próprios ou de terceiros de
longo prazo com (2) elevados ciclos financeiros e baixo crescimento das vendas e, em alguns
casos, (3) uma baixa geração de lucros ou prejuízo nas operações. Por outro lado, foi
constatado inelasticidade na maioria dos regressores, indicando que as variações no ST não
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incorporam totalmente as variações ocorridas em suas contas patrimoniais e de resultado.
Assim, faz-se importante para seus gestores reverem suas estratégias organizacionais, de
modo que contemplem soluções para tais contratempos financeiros.
Quanto à gestão do fluxo de caixa, embora a maioria das empresas estudadas tenha
superado a expectativa de 50% de chances de ter valores positivos (26 casos), também é
importante ressaltar o elevado risco de não ocorrência destes, cujos valores estão oscilando
entre 30% e 58%. Por outro lado, exceder tal expectativa de fluxos de caixa positivos não
significa que tais valores sejam suficientes para financiar as suas demandas de curto e longo
prazo. É interessante para os gestores calcularem a probabilidade de se obter os fluxos de
caixa mínimos necessários para o financiamento dos ativos das companhias, com o intuito de
também incrementar seu Fair Value perante o mercado financeiro.
Dessa maneira, este estudo procurou contribuir, de maneira preliminar, com a
apresentação de algumas metodologias para se aferir a qualidade e o risco inerente à gestão do
capital de giro líquido e do fluxo de caixa de empresas de utilidade pública brasileiras. Como
continuação do estudo, é sugerida a ampliação do estudo para as demais empresas deste
agrupamento, de modo a compreender melhor o desempenho da gestão do capital de giro
líquido e do fluxo de caixa em risco do setor, bem como a inclusão de variáveis
macroeconômicas nestas análises, de modo que melhorias específicas para esta atividade de
prestação de serviços sejam desenvolvidas, com o objetivo principal da sustentabilidade
financeira.
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