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13 LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992 Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou fun- ção na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, Faço saber que o Congresso Nacio- nal decreta e eu sanciono a seguinte lei: CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacio- nal de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja con- corrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma desta lei. Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades desta lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão pú- blico bem como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja con- corrido ou concorra com menos de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. 1. Lei 8429/1992: resultante do Projeto de Lei 1.446/91, a Lei de Improbida- de Administrava (LIA), popularmente conhecida como “lei do colarinho branco”, visou dar máxima efevidade ao princípio da moralidade, bem como regulamentar o art. 37, § 4º, da CF. O termo improbidade tem sua origem no lam – improbitate – e significa, dentre outras acepções, deso- nesdade, falsidade, desonradez, corrupção. 2. Antecedentes Normavos: a improbidade administrava foi anteriormen- te prevista em diplomas constucionais e legais, dos quais destacamos: a) Constuição do Império, de 1824: previa a irresponsabilidade do Im- perador, pessoa inviolável e sagrada (art. 99). Todavia, os Ministros de Estado poderiam ser responsabilizados (art. 133), pela práca de peita,

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Lei de improbidade administrativa Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992

Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou fun-ção na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, Faço saber que o Congresso Nacio-nal decreta e eu sanciono a seguinte lei:

CAPÍTULO I DAs DIsPOsIções GerAIs

Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacio-nal de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja con-corrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma desta lei.

Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades desta lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão pú-blico bem como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja con-corrido ou concorra com menos de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.

1. Lei 8429/1992: resultante do Projeto de Lei 1.446/91, a Lei de Improbida-de Administrativa (LIA), popularmente conhecida como “lei do colarinho branco”, visou dar máxima efetividade ao princípio da moralidade, bem como regulamentar o art. 37, § 4º, da CF. O termo improbidade tem sua origem no latim – improbitate – e significa, dentre outras acepções, deso-nestidade, falsidade, desonradez, corrupção.

2. Antecedentes Normativos: a improbidade administrativa foi anteriormen-te prevista em diplomas constitucionais e legais, dos quais destacamos:

a) Constituição do Império, de 1824: previa a irresponsabilidade do Im-perador, pessoa inviolável e sagrada (art. 99). Todavia, os Ministros de Estado poderiam ser responsabilizados (art. 133), pela prática de peita,

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suborno, ou concussão (inciso II), por abuso do Poder (inciso III), pela falta de observância da Lei (inciso IV) e qualquer dissipação dos bens públicos (inciso VI). O art. 134, entretanto, condicionava a aplicação dos dispositivos a edição de “lei particular”.

b) Constituição de 1891: o art. 54 previu diversas condutas que caracte-rizavam crimes de responsabilidade do Presidente da República, das quais destacamos aquelas que atentavam contra a probidade da admi-nistração (6º) e a guarda e emprego constitucional dos dinheiros públi-cos (7º). A aplicabilidade do dispositivo também estava condicionada à edição de lei específica (§§ 1º, 2º e 3º).1

c) Constituição de 1934: o art. 57, trazia em suas alíneas “f” e “g” re-dação idêntica à dos correlatos dispositivos da Constituição de 1891, prevendo as mesmas condutas acima transcritas.

d) Constituição de 1937: consolidou as duas condutas anteriormente mencionadas em um único inciso (art. 85, “d”). No art. 86, definiu--se o procedimento para julgamento e processamento dos crimes de responsabilidade perante o Conselho Federal, depois de declarada por dois terços de votos da Câmara dos Deputados a procedência da acu-sação. Chama-se a atenção para o § 1º, segundo o qual o Conselho Fe-deral só poderia aplicar a pena de perda de cargo, com inabilitação até o máximo de cinco anos para o exercício de qualquer função pública, sem prejuízo das ações cíveis e criminais cabíveis na espécie. O § 2º, entretanto, condicionou a aplicabilidade do dispositivo à lei específica.

e) Constituição de 1946: previu as mesmas condutas no art. 89, incisos V (probidade na administração) e VII (guarda e o legal emprego dos dinheiros públicos). O parágrafo único também condicionou a aplica-bilidade dos dispositivos à edição de lei específica. A maior evolução, sem dúvida, foi a previsão trazida pelo art. 141, § 31, segunda parte, segundo a qual a lei disporia sobre o seqüestro e o perdimento de bens, no caso de enriquecimento ilícito, por influência ou com abuso de cargo ou função pública, ou de emprego em entidade autárquica.

f) Lei 3.164/57: também conhecida como Lei Pitombo Godói-Ilha, trouxe de seqüestro e perda em favor da Fazenda Pública dos bens adquiridos pelo servidor público, por influência do cargo ou função pública, ou de

1. Em atenção especialmente ao § 3º, foi promulgado o Decreto 30, de 08 de janeiro de 1892.

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emprego em entidade autárquica, sem prejuízo da responsabilidade criminal eventualmente apurada.

g) Lei 3.502/58: conhecida como Lei Bilac Pinto, regulamentou o seqües-tro e o perdimento de bens nos casos de enriquecimento ilícito, por influência ou abuso do cargo ou função.

h) Lei 4.717/65: a lei que regulamentou a ação popular, propiciando ao cidadão o controle de atos lesivos ao patrimônio público.

i) Constituição de 1967: com relação à Constituição de 1946, passou a prever os atos que atentam contra a probidade da administração como passíveis de enquadramento em crimes de responsabilidade. Por ou-tro lado, o art. 150, § 31, trouxe a previsão de que qualquer cidadão seria parte legítima para propor ação popular que vise a anular atos lesivos ao patrimônio de entidades públicas.

j) Ato Institucional 05/1968: autorizou, em seu art. 8º, a decretação de confisco de bens daqueles que tivessem enriquecido ilicitamente, no exercício de cargo ou função pública, inclusive autarquias, empresas públicas e sociedades de economia mista, sem prejuízo das sanções penais cabíveis;

k) Ato Institucional 14/69: conferiu nova redação à Constituição de 1967 e estabeleceu, em seu artigo 150, § 11 (posteriormente renomeado para o art. 153, § 11), o perdimento de bens por danos causados ao Erário, ou no caso de enriquecimento ilícito no exercício de cargo, fun-ção ou emprego na Administração Pública, Direta ou Indireta, nos ter-mos de lei regulamentadora.

→ Aplicação em Concurso:• (MP/MG–PromotordeJustiça–2003–adaptada)

Anteriormente ao advento da Lei Federal nº 8.429/92, já era possível a re-pressão ao enriquecimento ilícito.Aafirmativaestácorreta.

3. Improbidade na Constituição de 1988:

a) art. 14, § 9º: Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegi-bilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das elei-ções contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta;

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b) art. 15, V: É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou sus-pensão só se dará nos casos de: (...) V – improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º;

c) art. 37, § 4º: Os atos de improbidade administrativa importarão a sus-pensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponi-bilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.;

d) art. 85, V: São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da Re-pública que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra: (...) V – a probidade na administração.

4. Conceito: embora não exista uniformidade quanto à sua definição, é mui-to comum na jurisprudência do STJ a invocação do conceito elaborado por José Afonso da Silva, para quem “a improbidade administrativa é uma imoralidade qualificada pelo dano ao erário e correspondente vantagem ao ímprobo ou a outrem (...)2”. Todavia, o conceito trazido pelo ilustre ju-rista não abrange todos os aspectos da LIA. Assim, em termos gerais e baseados na lição de José Afonso da Silva, podemos definir improbidade administrativa como “atodeimoralidadequalificadapelaleiqueimportaemenriquecimentoilícitodoagente,prejuízoaoerárioe/ouviolaçãodosprincípios da administração pública, e que enseja, em processo judicialpromovidopelapessoajurídicalesadaoupeloMinistérioPúblico,aaplica-çãodasseguintessanções:suspensãodosdireitospolíticos,perdadafun-çãopública,indisponibilidadedosbens,ressarcimentoaoerário,perdadebensevaloresacrescidosilicitamente,multacivileproibiçãodecontratarcomaadministraçãopúblicaoudelareceberbenefícios3”.

5. Natureza Jurídica: o entendimento doutrinário e jurisprudencial domi-nante aponta no sentido de que os atos de improbidade administrati-va constituem-se como ilícitos de caráter civil lato sensu ou extrapenal (por exclusão, o que não é penal), e como argumento para esta afirma-ção, ressaltam que a própria Constituição Federal se refere às penas de-

2. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 24ª ed., São Paulo: Malheiros Editores, 2005, p-669. Para Marçal Justen Filho (Curso de Direito Administrativo, 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 828) "A improbidade administrativa consiste na ação ou omissão intencionalmente violadora do dever constitucional de moralidade no exercício da função pública, tal como definido por lei".

3. ANDRADE, Flávia Cristina Moura de. Direito Administrativo. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Ed. RT, 2009. p. 236.

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rivadas da improbidade “sem prejuízo da ação penal cabível” (art. 37, § 4º, da CF/1988). Todavia, não pode emoldurar os atos de improbidade tão-somente na categoria dos atos ilícitos puros, pois a solução jurídico--normativa de tais atos extravasa a responsabilidade civil clássica, para abranger sanções administrativas e políticas. Por esta razão, há aqueles que defendem a natureza híbrida dos atos de improbidade administrativa.

► Jurisprudência:

→ STJ, Rcl 2723/SP, j. em 15.10.2008: 1. A competência originária do Superior Tribunal de Justiça para processar e julgar, originariamente, os membros do Tribunal de Contas dos Estados, consoante dispõe o art. 105, inciso I, alínea a, da Constituição Federal, está adstrita à persecução cri-minal, e não se estende à investigação por eventuais atos de improbidade administrativa, porque estes são apurados em ação própria de natureza cível”.

→ Aplicação em Concurso:• (CESPE–TJ/PA–JuizSubstituto–2002)

A ação de improbidade, ainda que resulte na aplicação de sanções civis e eleitorais, possui natureza eminentemente penal.Aafirmativaestáincorreta.

• (MPU–MPDFT–PromotordeJustiça–2005)“Questão das mais tormentosas é a definição da natureza da Lei da Impro-bidade Administrativa, o que já lhe valeu a qualificação de “autêntica babel jurídica”, posto que contém normas que, em tese, podem ser enquadradas em diversas áreas do direito. Pela leitura da expressão contida no caput do art. 12: “independentemente das sanções civis e administrativas”, pode-se ter a impressão que a lei em questão pertenceria a um ramo novo do direi-to. Na realidade, entretanto, parece-nos que a lei tem uma natureza mista e complementar na medida em que tem por objetivo o reforço da morali-dade administrativa por meio de um sistema de penalidades adicionais às sanções tradicionais tanto do direito administrativo como do direito penal e do próprio direito civil.” (BUENO, Paulo Eduardo. Improbidade administrativa no exercício da atividade policial. In SAMPAIO, J. A. L. et al. (orgs.), Improbi-dade Administrativa – 10 anos da Lei n. 8.429/92. Belo Horizonte, 2002, p. 395-396).”Assinale a alternativa incorreta com relação às idéias do texto.

a) O caráter complementar sugerido no texto é evidenciado quando se analisa a natureza das sanções estabelecidas pela lei, que, em sua maior parte, já estavam previstas, de certa forma, no ordenamento jurídico brasileiro. São exemplos dessas sanções, a perda de bens e valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, o ressarcimento integral do dano e a perda da função pública.

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b) A temática da Lei nº 8.249/92 obriga a uma aproximação entre o Direito e a Moral, acentuando os laços éticos que devem presidir a relação entre o povo e as autoridades.

c) A idéia de reforço à moralidade que o autor atribui às normas da Lei da Improbidade pode ser confirmada com o uso recorrente em seu texto de conceitos indeterminados. É o que ocorre, por exemplo, quando a referida lei define como ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às institui-ções.

d) O artigo 11 da Lei nº 8.249/92 não menciona o princípio da eficiência no rol de princípios da administração pública que, uma vez contrariados, poderão caracterizar ato de improbidade. Todavia, a interpretação conforme a Cons-tituição, com a redação que a EC nº 19/98 conferiu ao caput do artigo 37, aliada ao fato de que o rol do artigo 11 não é taxativo, permite afirmar que a violação ao princípio da eficiência possa caracterizar ato de improbidade administrativa.

e) A conceituação e a definição dos atos de improbidade não constituem ino-vações da Lei nº 8.249/92, pois a Lei nº 8.112/90, que instituiu o Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Civis da União, já o fez ao cominar a pena de demissão para a prática ato de improbidade administrativa.Alternativa“e”.

6. Sujeitos do Ato de Improbidade: a Lei 8.429/1992 elenca os atos de im-probidade praticados por agente público, servidor ou não, contra a admi-nistração direta ou indireta, nas três esferas de governo.

6.1. Sujeito Passivo: também chamado sujeito imediato, é aquele preju-dicado pela conduta ímproba:

a) administração pública direta e indireta de qualquer dos poderes dos entes da federação. Portanto, empresas públicas ou sociedades de economia mista podem ser sujeitos passivos, a despeito de serem pessoas jurídicas de direito privado;

b) entidade para cuja criação ou custeio o Estado haja concorrido ou concorra com mais de 50% do patrimônio ou receita anual;

c) entidades que recebam subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de 50% do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. Ex.: serviços sociais autônomos, organizações sociais.

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lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992

► Jurisprudência:→ STF, informativo 474: (...) “Como se vê, a lei, ao contrário do que afir-

mam os requerentes, submete as Organizações Sociais a amplos me-canismos de controle interno e externo, este exercido pelo Tribunal de Contas. Ademais, não subtrai, como alegam os requerentes, qualquer função constitucional atribuída ao Ministério Público; ao contrário, a redação do art. 10 é clara ao prever que, havendo indícios fundados de malversação de bens ou recursos de origem pública, os responsáveis pela fiscalização deverão representar ao Ministério Público, à Advoca-cia-Geral da União ou à Procuradoria da entidade para que requeiram ao juízo competente a decretação da indisponibilidade dos bens da entidade e o seqüestro dos bens dos seus dirigentes, bem como de agente público ou terceiro, que possam ter enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público. Não se pode descartar, ou-trossim, na hipótese de enriquecimento ilícito ou outros atos que impliquem danos ao erário e violação a princípios da administração pública, a responsabilização político-administrativa dos executores do contrato de gestão, com base na Lei de Improbidade Administrativa (Lei n° 8.429/92) (...). ADI 1923 MC/DF RELATOR P/ O ACÓRDÃO: MIN. EROS GRAU, trecho do voto-vista do Min. Gilmar Mendes.

→ Aplicação em Concurso:• (FCC-TCE/AP–Analista-2012)

Os dirigentes de empresa privada da qual o Estado participou com 49% para a criação, aportando recursos a título de subscrição do capital social, apropriaram-se ilegalmente de recursos da referida empresa. De acordo com a Lei nº 9.429/1992, que trata dos atos de improbidade administrativa, os dirigentes

a) somente estão sujeitos à Lei de Improbidade se forem agentes públicos e tiverem auferido a vantagem em função de tal condição.

b) estão sujeitos à Lei de Improbidade, limitando-se a sanção patrimonial à re-percussão do ilícito sobre os cofres públicos, sem prejuízo das demais san-ções previstas no referido diploma legal e em outras leis específicas.

c) somente poderão ser apenados com a apreensão dos valores auferidos in-devidamente, recaindo as sanções administrativas sobre os agentes públicos responsáveis pela fiscalização da aplicação dos recursos públicos.

d) não estão sujeitos à Lei de Improbidade, eis que o prejuízo foi causado a en-tidade de natureza privada, ficando, contudo, impedidos de contratar com a Administração e de receber recursos públicos a qualquer título.

e) estão sujeitos apenas às sanções patrimoniais previstas na Lei de Improbida-de excluídas outras sanções civis e penais previstas em leis específicas.Resposta:alternativa“b”.

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• (FCC–MP/AP–PromotordeJustiça–2006–adaptada)Analise as assertivas abaixo para, em seguida assinalar a alternativa correta:As concessionárias e permissionárias de serviços públicos, pela descen-tralização administrativa enquadram-se automaticamente ao conceito de sujeito passivo do ato de improbidade administrativa de que trata a Lei 8.429/92.Aafirmativaestáincorreta.

• (MP/MG–PromotordeJustiça–2005–adaptada)As entidades privadas, em determinadas hipóteses, também estão sujeitas à tutela da Lei de Improbidade Administrativa.Aafirmativaestácorreta.

• (FCC/TJ/SE/Analista/2009)Os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade para cujo custeio o erário concorra com menos de cinquenta por cento do patri-mônio ou da receita anual, sujeitam seus autores às penalidades previstas na Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/92)

a) apenas se os atos também configurarem infração penal.b) sem qualquer limitação.c) apenas quanto ao ressarcimento dos danos.d) salvo se agiu com culpa em sentido estrito.e) limitada a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição

dos cofres públicos.Alternativa“e”.

6.2. Sujeito Ativo: o conceito de sujeito ativo para fins de improbidade é bastante amplo, envolvendo agentes públicos, servidores ou não, e até mesmo particulares beneficiados, mantenham ou não estes vínculo direto com a Administração Pública. Dessa forma, temos como sujeitos ativos:

a) Agentes Públicos: vide comentários ao art. 2º.

b) Agentes Meramente Particulares: são mencionados no parágrafo único, do art. 1º, e, nada obstante não possuírem vínculo funcional com nenhum dos sujeitos imediatos mencionados no art. 1º, caput, e não executarem nenhuma função pública, possuem algum tipo de vínculo com instituição que receba subvenção, benefício ou incen-tivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com me-nos de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual;

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c) Terceiros que induzam ou concorram para a prática do ato de improbi-dade ou dele se beneficiem sob qualquer forma direta ou indireta: vide comentários ao art. 3º.

d) Pessoas Jurídicas: vide comentários ao art. 3º.

► Importante: o tema sujeitos do ato de improbidade é muito cobrado em con-cursos. Portanto, é importante a sistematização e memorização do dispositivo legal.

7. Modalidades: a LIA classifica os atos de improbidade em três espécies, con-forme impliquem em: a) enriquecimento ilícito do ímprobo; b) prejuízo ao erário; c) violação aos princípios da administração pública. É importante salientar que a LIA traz uma definição geral dos atos de improbidade, po-dendo a legislação extravagante também prever condutas ímprobas, como ocorre no Estatuto das Cidades4 (art. 52) e Lei das Eleições5 (art. 73, § 7º).→ Aplicação em Concurso:• (FCC–PrefeituradeSãoPaulo–Procurador–2008)

Os atos de improbidade administrativa a) poderão corresponder a crimes na legislação penal, hipótese em que a trami-

tação do processo administrativo disciplinar será sobrestada até o desfecho da ação penal.

b) estão configurados na hipótese de atentado contra os princípios da Adminis-tração Pública, ainda que não ocorra prejuízo ao erário.

c) são praticados exclusivamente por agentes públicos, assim considerados os servidores públicos, agentes políticos e os particulares em colaboração com o Poder Público.

d) estarão configurados na hipótese de prejuízo ao erário ou atentado contra os princípios da Administração Pública, independentemente de dolo ou culpa do agente.

e) poderão acarretar pena de perda dos direitos políticos, aplicada em sede de processo administrativo, no qual será garantido direito a ampla defesa.alternativa“b”.

• (FCC–TCE/RR–ProcuradordeContas–2008)Relativamente aos atos de improbidade administrativa, é correto afirmar que

a) os elencos de atos previstos nos arts. 9º, 10 e 11 da Lei nº 8.429/92 são ta-xativos, vigorando em relação a eles os princípios da tipicidade e da estrita reserva legal.

4. Lei 10.257/2001. 5. Lei 9.504/1997.

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b) todos são definidos como atos dolosos, na medida em que a prática de atos de improbidade pressupõe o elemento subjetivo da intenção deliberada do agente.

c) a Lei 8.429/92 apresenta uma definição geral de cada uma das espécies de improbidade, podendo haver a explicitação de novas condutas na legislação extravagante.

d) não se admite a subsunção da conduta praticada em mais de um tipo de ato de improbidade, devendo haver a capitulação em apenas um dos dispositi-vos legais existentes.

e) a inexistência de dano ao erário configura excludente de ilicitude, pois inexis-te ato de improbidade sem o conseqüente prejuízo.Alternativa“c”.

• (CESPE–TJ/BA–JuizSubstituto–2006)Julgue o item seguinte:A tipificação na lei dos atos de improbidade administrativa repousa sobre o binômio ofensa à moralidade – lesão ao patrimônio público, de tal sorte que, na falta de um desses fatores, não se caracterizará o ato ímprobo.Aafirmativaestáincorreta.

• (ESAF–AGU–ProcuradordaFazendaNacional–2006–adaptada)é possível se falar em improbidade administrativa para atos que não impor-tem enriquecimento ilícito e não tenham causado prejuízo ao erário.Aafirmativaestácorreta.

8. ADIn 2.182/DF e Inconstitucionalidade Formal: o STF julgou improceden-te a ADIn 2182, proposta pelo Partido Trabalhista Nacional, que argüia a inconstitucionalidade formal da LIA, sob o argumento de que teria havido violação ao processo legislativo bicameral, previsto no artigo 65 da Cons-tituição Federal. Em questão de ordem suscitada, já havia decidido o STF, por 6 x 5 votos, não apreciar a inconstitucionalidade material da norma, em sessão realizada em 14.06.2007. Em síntese, o Min. Marco Aurélio en-tendeu que houve violação ao processo bicameral, na medida em que o projeto de lei foi encaminhado à Câmara dos Deputados pelo Executivo, onde foi aprovado. No Senado, ele teria sido totalmente modificado por meio de substitutivo. Ao voltar para a Câmara, o projeto teria sido mais uma vez modificado. Porém, em vez de ser arquivado ou voltar para o Senado (que atuaria como Casa revisora), o projeto foi encaminhado à sanção presidencial. A Min. Cármen Lúcia e o ministro Ricardo Lewando-wski abriram divergência e ressaltaram que a alteração realizada pelo Se-nado foi meramente formal, e não no conteúdo. Lewandowski entendeu que o projeto enviado pelo Senado Federal à apreciação da Câmara dos

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Deputados é meramente uma emenda e não um novo projeto de lei. A divergência foi acompanhada pelos demais Ministros do STF.

► Jurisprudência: → STF, ADI 2.182, j. em 12.05.2010: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONA-

LIDADE. 1. QUESTÃO DE ORDEM: PEDIDO ÚNICO DE DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL DE LEI. IMPOSSIBILIDADE DE EXA-MINAR A CONSTITUCIONALIDADE MATERIAL. 2. MÉRITO: ART. 65 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL DA LEI 8.429/1992 (LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA): INEXISTÊNCIA. 1. Questão de ordem resolvida no sentido da impossibilidade de se exa-minar a constitucionalidade material dos dispositivos da Lei 8.429/1992 dada a circunstância de o pedido da ação direta de inconstitucionalida-de se limitar única e exclusivamente à declaração de inconstitucionalida-de formal da lei, sem qualquer argumentação relativa a eventuais vícios materiais de constitucionalidade da norma. 2. Iniciado o projeto de lei na Câmara de Deputados, cabia a esta o encaminhamento à sanção do Presidente da República depois de examinada a emenda apresentada pelo Senado da República. O substitutivo aprovado no Senado da Re-pública, atuando como Casa revisora, não caracterizou novo projeto de lei a exigir uma segunda revisão. 3. Ação direta de inconstitucionalidade improcedente.

9. ADIn 4.295 e inconstitucionalidade Material: encontra-se atualmente em trâmite a ADIn, movida pelo Partido da Mobilização Nacional (PMN), que contestando diversos artigos da LIA. Até o fechamento da obra não havia movimentação processual que indicasse remessa do tema ao plenário do STF.

Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aque-le que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.

1. Sujeito Ativo: o rol trazido pelo dispositivo legal é amplíssimo e abarca qualquer um que tenha exercido mandato, cargo, emprego ou função na administração pública, independentemente da forma de provimento, se transitoriamente ou não e se percebe ou não remuneração pelo exercício da função. O conceito de agente público trazido pela LIA é bem mais am-plo do que aquele trazido pelo art. 327, do Código Penal, ou mesmo com relação ao conceito trazido pelo art. 2º, da Lei 8.112/90.

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→ Aplicação em Concurso:• (FCC–TCE/CE–ProcuradordeContas–2006)

O conceito de “agente público”, para fins de sujeição à lei de improbidade administrativa (Lei nº 8.429/92), é mais amplo que o de “servidor público”, previsto na Lei nº 8.112/90, porque aquele conceito abrange

a) os ocupantes de cargos públicos na administração indireta, o que não é con-templado pela Lei nº 8.112/90.

b) as pessoas físicas e jurídicas que recebem e administram dinheiros públicos, a qualquer título.

c) os exercentes de funções públicas diversas, mesmo que não detentores de cargos públicos.

d) os ocupantes de cargos públicos em comissão, de livre provimento e nomea-ção, que não são tidos como servidores públicos.

e) os partícipes e beneficiários de atos de improbidade administrativa, mesmo que não mantenham qualquer vínculo com a Administração.Alternativa“c”.

• (ESAF–AGU–ProcuradordaFazendaNacional–2006)Tecnicamente, somente o servidor público pode praticar atos de improbida-de administrativa.Aafirmativaestáincorreta.

• (CESPE–DPF–DelegadoFederal–2002)Julgue o item abaixo, relativo à improbidade administrativa, conforme disci-plinada na Lei n. 8.429/92, de 2/6/1992. Entende-se por agentes públicos, para os fins legais, além dos servidores investidos em cargos ou empregos, também aqueles que, transitoriamente, com ou sem remuneração, exerçam funções em entidades da administração direta ou indireta. Aafirmativaestácorreta.

2. Classificação dos Agentes Públicos: Os agentes públicos podem ser classi-ficados da seguinte maneira:

a) Agentes políticos: são os titulares de cargos estruturais à organização política do país, possuindo vínculo político com a Administração Públi-ca. Ex.: deputado, juiz.

b) Servidores estatais: possuem relação de trabalho profissional e não eventual com o Estado e a Administração Indireta. São subdivididos em:

– servidores públicos: atuam junto ao ente político (União, Esta-dos, Distrito Federal e Municípios) e às demais pessoas jurídicas de direito público (autarquias e fundações públicas);