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Bacteriologia UP4 1 Infecções do trato urinário - Anatomia O trato urinário consiste: o Rins o Ureteres o Bexiga o Uretra A anatomia da uretra tem importância particular na patogénese das ITU -> A uretra feminina é relativamente pequena comparada com a masculina e está próxima da região perirectal que contém microrganismos -> Bactérias podem alcançar a bexiga mais rapidamente num hospedeiro feminino . - Flora saprófita do trato urinário A uretra tem uma microflora residente que coloniza o seu epitélio na porção distal: Estafilococos coagulase-negativos Estreptococos não-hemolíticos e viridans Lactobacilos Diphtheroids (Corynebacterium spp.) Neisseria spp não patogênica Cocos anaeróbios Propionibacterium spp. Bacilos gram- anaeróbios Mycobacterium spp comensal Mucoplasma spp comensal Todas as áreas do TU acima da uretra são estéreis . A urina é tipicamente estéril, mas os métodos de colheita não invasivos poderão conter m.o que tenham passado através de meios contaminados. - Epidemiologia Qualquer factor que interfira no normal fluxo urinário ou no esvaziamento completo da bexiga como: o Gravidez, hipertrofia prostática, cálculos renais, tumores e constrições da uretra; o Perda de controlo neurológico da bexiga e esfíncteres (Ex.: na espinha bífida, paraplegia e esclerose múltipla); o Refluxo vesicouretral (comum em crianças com anomalias anatómicas do TU). Qualquer factor que facilite o acesso do m.o. à bexiga: o Cateterização durante a inserção do cateter, o m.o. pode ser levado directamente para o interior da bexiga. o Actividade sexual -> Facilita o movimento dos m.o. pela uretra (sobretudo em mulheres). o Possivelmente a colonização pré-existente da zona periuretral. Tracto urinário superior Tracto urinário inferior

Infecções do trato urinário - Anatomia Ano... · Bacteriologia – UP4 3 c. A maior parte de infecções que envolvem os rins ocorre por esta via. 2. Via descendente ou hematogénea

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Bacteriologia – UP4

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Infecções do trato urinário

- Anatomia

O trato urinário consiste:

o Rins

o Ureteres

o Bexiga

o Uretra

A anatomia da uretra tem importância

particular na patogénese das ITU -> A uretra feminina é relativamente pequena comparada

com a masculina e está próxima da região perirectal que contém microrganismos -> Bactérias

podem alcançar a bexiga mais rapidamente num hospedeiro feminino.

- Flora saprófita do trato urinário

A uretra tem uma microflora residente que coloniza o seu epitélio na porção distal:

Estafilococos coagulase-negativos

Estreptococos não-hemolíticos e viridans

Lactobacilos

Diphtheroids (Corynebacterium spp.)

Neisseria spp não patogênica

Cocos anaeróbios

Propionibacterium spp.

Bacilos gram- anaeróbios

Mycobacterium spp comensal

Mucoplasma spp comensal

Todas as áreas do TU acima da uretra são estéreis.

A urina é tipicamente estéril, mas os métodos de colheita não invasivos poderão

conter m.o que tenham passado através de meios contaminados.

- Epidemiologia

Qualquer factor que interfira no normal fluxo urinário ou no esvaziamento completo

da bexiga como:

o Gravidez, hipertrofia prostática, cálculos renais, tumores e constrições da uretra;

o Perda de controlo neurológico da bexiga e esfíncteres (Ex.: na espinha bífida, paraplegia e

esclerose múltipla);

o Refluxo vesicouretral (comum em crianças com anomalias anatómicas do TU).

Qualquer factor que facilite o acesso do m.o. à bexiga:

o Cateterização – durante a inserção do cateter, o m.o. pode ser levado directamente para

o interior da bexiga.

o Actividade sexual -> Facilita o movimento dos m.o. pela uretra (sobretudo em mulheres).

o Possivelmente a colonização pré-existente da zona periuretral.

Tracto urinário superior

Tracto urinário inferior

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o Crianças não circuncisadas – colonização do interior do prepúcio e uretra com m.o das

fezes.

o As ITU podem advir de: diabetes, doença ou transplante renal. São também uma grande

causa de sepsis por gram- em doentes hospitalizados.

- Agentes etiológicos

Adquiridas na comunidade

A E.coli é a mais frequente causa de ITUs não complicadas adquiridas na comunidade.

Outras bactérias frequentemente isoladas são:

o Klebsiella spp

o Staphylococus saprophyticus

o Outras Enterobactérias

Em ITUs complicadas, particularmente em infecções:

o Proteus

o Pseudomonas

o Klebsiella

o Enterbacter spp tem aumentado

Adquiridas no hospital

Os doentes hospitalizados estão frequentemente infectados com:

o E.coli (causador mais comum

de ITU ascendente)

o Proteus mirabilis

o Klebsiella spp

o Pseudomonas aeruginosa

o Enterococcus

o Staphylococcus

o Outras Enterobactérias

o Outros bacilos gram negativos

Klebsiella, e Pseudomona aeruginosa -> Mais frequentemente encontradas em

ITU adquiridas em meio hospitalar devido à sua resistência a antibióticos.

o Cocos gram positivos

Staphylococcus saprophyticus -> ITU em mulheres jovens sexualmente activas.

Enterococcus -> ITU em doentes hospitalizados, onde a sua resistência a

múltiplos antibióticos pode causar dificuldades no tratamento.

O TU infectado é a fonte mais frequente de bacterémia.

- Patogénese

Vias de infecção

A bactéria pode invadir e causar ITUs por duas vias principais:

1. Via ascendente (Uretra-bexiga-ureter-rim-sangue).

a. É a via mais comum em infecções nas mulheres.

b. A instrumentação (cataterismo urinário, citoscopia) é a causa mais comum de

ITUs adquiridas no hospital em ambos os sexos.

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c. A maior parte de infecções que envolvem os rins ocorre por esta via.

2. Via descendente ou hematogénea (sangue-rim-ureter-bexiga-uretra).

a. Ocorre como resultado de bacterémia.

Defesas do hospedeiro

pH – muito influenciado pelo nível de estrogénios;

Composição química da urina – osmolaridade, presença de ácidos orgânicos;

Actividade inibidora da urina para algumas bactérias;

IgG e IgA secretória nas pielonefrites;

Efeito mecânico da micção.

Tipos de infecções e as suas manifestações clínicas

Notas:

- Hematúria é característica não só de infecção do rim, como também de endocardite e doença de complexos

imunes -> a sua presença requer investigação.

- Piúria sem cultura de urina positiva:

Uretrite

É uma infecção comum, sexualmente transmissível. Tem como sintomas: disúria e

frequência em urinar. Causas:

o Chlamydia trachomatis o Neisseria gonorrhoeae

Cistite

É uma infecção localizada -> Febre e outros sinais de doença sistémica -> ausentes.

Sintomas: disúria, frequência e urgência em urinar -> não são apenas devido à

inflamação da bexiga, mas também à multiplicação de bactérias na urina e uretra. E em alguns

indivíduos a urina apresenta muito sangue.

Síndrome uretral agudo

Acarreta uma menor quantidade de m.o; os doentes são principalmente mulheres

novas sexualmente activas. Sintomas: disúria, frequência e urgência em urinar.

Pielonefrite

ITU’s Altas ITU’s Baixas

Quando envolvem o parênquima

renal (pielonefrite) ou (ureterite).

Sintomas: sintomas de ITU baixa,

febre, dor lombar e dor perineal

(prostatite).

Quando envolvem a bexiga (cistite) e a uretra (uretrite) e nos homens, a

próstata (prostatite) e o epidídimo (epidídimite).

Sintomas: Disúria (dor ou dificuldade em urinar), urgência (urgência em

urinar), polaquiúria (emissão frequente de pequenas quantidades de urina),

piúria (a urina fica turva pela presença de pús), hematúria (a urina fica

escura pela presença de sangue).

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Inflamação do parenquima, cálice (divisão da pélvis renal) e pélvis (extremidade

superior da uretra que esta localizada dentro do rim) dos rins, normalmente causada por

infecção bacteriana.

Os doentes podem exibir sinais sistémicos de infecção (vómitos, diarreia, arrepios,

aumento do ritmo cardíaco e dor abdominal)Posteriormente ->bacterémia.

Diagnóstico laboratorial de infecções do trato urinário

Métodos não invasivos para a colheita de urina amostras que tenham passado

através de meios contaminados.

Culturas quantitativas para o diagnóstico de ITUspara discriminar entre

contaminação, colonização e infecção.

Exame bacteriológico da urina -> Suspeita de infecção sistémica, febre de causa

desconhecida, grávidas no 1º trimestre ou quando os sinais e sintomas apontem para: ITU,

insuficiência renal e hipertensão.

Colheita

A prevenção da contaminação pela flora normal vaginal, perineal e uretral:

o Nunca colher urina de arrastadeira, urinol ou saco de algália.

Para a colheita de amostras usam-se os seguintes métodos:

Colheita do jacto médio:

1. Lavagem higiénica das mãos;

2. Afastar os grandes lábios/prepúcio mantendo esta posição durante toda a colheita.

3. Com compressas embebidas em água e sabão (não utilizar anti-sépticos), proceder à

lavagem dos orgãos genitais da frente para trás. Repetir a operação 3 vezes.

4. Usando o mesmo processo, lavar só com água esterilizada e secar.

5. Iniciar a micção, desprezando o primeiro jacto e colher 10-20 cm3 para recipiente

esterilizado de boca larga.

Punção de catéterurinário (Foley) Nota: aplica-se em doentes algaliados.

1. Clampar a algália durante 10-15 min, acima da derivação, na zona de borracha.

2. Desinfectar o local a puncionar com álcool a 70%.

3. Aspirar a urina com agulha e seringa esterilizada (5 a 20ml).

4. Transferir a urina para recipiente esterilizado ou usar seringa própria para transporte de

urina.

Punção supra-púbica Nota: Particularmente indicado em doentes algaliados nos quais a interpretação dos

resultados de exames anteriores foi impossivel e em crianças nas quais foi impossível colher urina.

1. O doente deve ter a bexiga cheia.

2. Desinfectar a pele da região supra-púbica com a solução anti-séptica.

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3. Com agulha e seringa esterilizada, puncionar a pele e bexiga ao nível do 1/3 inferior da

linha que une o umbigo à sínfise púbica.

4. Aspirar a urina e colocá-la em recipiente esterilizado ou enviar na própria seringa após

remoção da agulha.

Saco colector Nota: indicado em crianças sem controlo dos esfincteres.

1. Lavar com água e sabão a área genital, limpar com água esterilizada e secar com

compressa esterilizada.

2. Aplicar um saco autocolante estéril.

3. Se, ao fim de 30 min não tiver urinado, retirar o saco e repetir todo o procedimento.

4. Transferir a urina para recipiente esterilizado e envio da urina no próprio saco.

Urina colhida por drenagem de nefrostomia/ureterostomia

1. Um catéter é inserido através do flanco do paciente directamente na pélvis renal ou no

ureter.

2. A colheita é feita directamente do catéter para um recipiente esterilizado.

Algália Nota: usada em pacientes hospitalizados e utentes de lares.

1. O tubo de catéter deve estar selado acima do local de introdução, devendo ser

porteriormente desinfectado com etanol 70%.

2. A urina deve ser aspirada através de uma seringa.

3. A manutenção da integridade do sistema deve ser assegurada de forma a evitar a

contaminação.

4. As amostras obtidas pelo saco de colheita são inapropriadas pela facilidade de

multiplicação

Transporte

A urina deve ser transportada o mais rapidamente possível -> Deve ser inoculada até

1h após a colheita. Se não for possível -> Refrigerada a 4oC e processada até 24h após colheita.

Quando a refrigeração não é possível, a urina deverá ser colhida para um recipiente

com conservante (Ex.: ác. bórico) e colocada à T ambiente; tendo que ser processada até 24h

após a colheita. Nota: deve ter-se em atenção o volume de conservante para não ocorrerem falsos negativos

quando o volume de urina é muito pequeno.

Sem refrigeração por mais de 24h -> Tubos de transporte devem conter ácido

bórico, glicerol e formato de sódio para preservar do crescimento bacteriano.

Procedimento Analítico:

Coloração de Gram

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- Mais fácil, barato e, provavelmente, o mais sensível método analítico para identificar

amostras de urina que contenham mais de 105 UCF/mL (não serve para detectar PMN).

Piúria:

- Marcador de inflamação em que a presença de PMNs pode ser detectada e enumerada em

amostras não-centrifugadas (nº de PMNs excretados por hora, o melhor indicador do estado

do hospedeiro).

- Pacientes com mais de 400.000 PMNs excretados por hora estão provavelmente infectados.

- Este teste pode ser realizado utilizando um hemocitómetro.

Índices Indirectos:

- Testes que detectam bacteriúria ou piúria examinando a presença de enzimas bacterianas

e/ou enzimas de PMNs em vez dos próprios PMNs.

o Teste da Nitrato Redutase: avalia a presença de nitrito na urina (indicador de UTI). As

enzimas reduzem nitrato a nitrito (produzidas pelos patogénios mais comuns do TU).

o Teste da Esterase de Leucócitos: a actividade da esterase (resultante de células

inflamatórias) está correlacionada com a contagem da câmara do hemicitómetro.

o Catalase: detecção de catalase em células somáticas e em todas as espécies bacterianas

que normalmente causam UTI excepto streptococci e enterococci.

Sistemas Automáticos e Semi-automáticos:

Oferecem maior resolução e um resultado rápido são dispendiosos.

Observações sobre os Métodos de Análise

Em geral, os métodos de análise não são sensíveis a níveis inferiores a 10^5 UFC/mL.

Assim, não são aceites para amostras de urina obtidas a partir de aspiração supra-púbica,

cateterização ou citoscopia. Os testes podem falhar na detecção de um nº significante de

infecções em pacientes sintomáticos com contagens de colónias reduzidas.

Cultura de urina

Inoculação e incubação de culturas de urina

A urina deve ser misturada antes de ser inoculada. As placas devem ser inoculadas

por dispositivos que permitem a inoculação de volumes constantes de urina (geralmente 0,01

ou 0,001mL). A ansa calibrada, que corresponde ao maior volume, deve ser usada para

detectar menor nº de organismos em certas amostras.

O uso dos meios de ágar-sangue de ovelha 5% e ágar-MacConkey -> permite a

detecção da maioria dos bacilos gram -, estafilococos, estreptococos e enterococos. Também

se utilizam placas selectivas para gram + (como CNA e agar-feniletilalcool). As culturas são

incubadas a 35ºC (tempo de incubação mínimo: 24h).

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Exame directo:

- Coloração de Gram (esfregaço de urina)

- Exame directo a fresco do sedimento urinário

Observação de elementos celulares como: células epiteliais, leucócitos,

eritrócitos, fungos ou parasitas no sedimento da urina centrifugada.

Exame Cultural:

- Gelose sangue (meio não selectivo)

- Ágar MacConkey

Meio selectivo e diferencial para isolamento de bacilos Gram- (Enterobacteriaceae,

Pseudomonas spp. etc..)

Os sais biliares inibem o crescimento da maioria das bactérias Gram+.

Permite diferenciar as bactérias fermentadoras das não fermentadoras.

- Meio de CLED (Cysteine lactose electrolyte deficient agar)

A deficiência de electrólitos inibe o swarming dos Proteus spp. e a lactose

permite diferenciar os fermentadores dos não fermentadores.

1. Incubar em atmosfera de aerobiose a 35° C, 18 a 24 horas.

2. Após a incubação, leitura do nº de colónias:

Interpretação de culturas de urina

Problemas:

- Poderão estar contaminadas com flora saprófita, incluindo enterobactérias.

- Dificuldade em distinguir uma verdadeira infecção de contaminação.

Orientações gerais para interpretação de culturas de urina

Resultado Tipo de amostra especifica/condição

clínica associada, se conhecida

Workup

≥104 CFU/ml de um único potencial

patogénio ou para cada um de 2

potenciais patogénios

Do jacto médio/pielonefrite, cistite

aguda, bacteriúria assintomática ou

urinas cateterizadas

Completo

≥103 CFU/ml de um único potencial

patogénico

Do jacto médio/sintomáticas em homens

ou urinas cateterizadas ou síndrome

uretral agudo

Completo

≥3 Tipos de m.o. sem nenhum a ser

predominante

Do jacto médio ou urinas cateterizadas Nenhum devido a possível

contaminação. Pedir outra

amostra

Tanto 2 ou 3 tipos de m.o com

crescimento predominante de 1 tipo e

<104 CFU/ml do outro tipo de m.o

Do jacto médio Completo para o m.o.

predominante(s). Descrição

dos outros m.o.

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Infecções do trato genital podem ser classificadas como

Endógenas São provocadas pelos organismos da flora

normal genital do doente

Exógenas Doenças sexualmente transmissíveis

(DSTs)

Workup completo: inclui identificação do m.o e testes de susceptibilidade apropriados

Crescimento predominante = 104 a ≥ 105 UFC/ml

Urina colhida por micção" jacto intermédio" ou por punção de catéter urinário

A valorização dos resultados -> série de parâmetros: método de colheita da urina,

tipo de doente (Ex.: urológico, geriátrico), sintomatologia, observação microscópica do

sedimento urinário e resultados de exames bacteriológicos anteriores.

Amostras contaminadas usualmente têm menos de 104 organismos/mL e contêm

mais do que uma espécie bacteriana.

Requisitar nova colheita por micção -> quando há contaminação de pelo menos 2

estirpes bacterianas.

Urina colhida por saco colector em crianças

O exame bacteriológico da urina -> pode dar falsos positivos por provável

contaminação com a flora do períneo.

Urina colhida por punção supra-púbica

Excluindo a contaminação por bactérias comensais da pele, deverão ser

valorizadas quaisquer espécies de bactérias isoladas (à parte da sua quantificação).

Infecções do Trato Genital

Flora microbiana residente

O trato genital humano é revestido por uma camada mucosa composta por tecido de

transição, colunar e células epiteliais escamosas. A flora normal da uretra inclui:

staphylococcus coagulase negativa e corynebactérias, bem como vários anaeróbios. A vulva e

o pénis (especialmente a área debaixo do prepúcio), podem conter Mycobacterium

smegmatis, juntamente com outras bactérias gram-positivas.

A flora do trato genital feminino varia com o pH e com a concentração de estrogénio

da mucosa, a qual depende da idade do hospedeiro. Mulheres na pós-menopausa e pré-

puberdade contêm principalmente estafilococos e corynebactérias; ao passo que as mulheres

em idade reprodutiva podem conter um grande número de bactérias facultativas, tais como

Enterobacteriaceae, estreptococos e estafilococos, bem como anaeróbios, tais como os

lactobacilos, anaeróbios não esporulativos e Clostridium

Doenças sexualmente transmitidas e outras infeções do trato genital

≥102CFU/ml de qualquer número de

tipos de m.o (configurada com uma ansa

calibrada de 0,001 mL ou 0,01 mL)

Aspirados suprapubicos, outras urinas

obtidas cirurgicamente (incluindo

condutas ileais, amostras de cistoscopia)

Completo

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No sexo feminino, as infeções do trato genital podem ser divididas em:

Infecções do trato inferior (vulva, vagina, colo do útero): normalmente adquiridas

por contacto sexual com um parceiro infectado ou por meios não-sexuais. São uma das

doenças infeciosas mais comuns.

Infecções do trato superior (útero, trompas, ovários e cavidade abdominal): surgem

frequentemente por extensão de uma infecção do trato inferior em que os m.o. da vagina ou

do colo do útero se deslocaram para a parte superior. Ocorre do mesmo modo no sexo

masculino (Ex.: quando m.o da uretra chegam ao epidídimo).

Infecções Genitais

Epidemiologia/Agentes etiológicos

A incidência e propagação das DSTs (principalmente causada por Chlamydia) é

influenciada por factores, tais como:

o Múltiplos parceiros sexuais o Presença de infecções assintomáticas

Vias de transmissão

Embora ITG’s possam ser causadas por membros da flora normal do doente

(infecções endógenas), a maioria delas são sexualmente transmissíveis.

Sexualmente Transmissíveis

Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae e Trichomonas vaginalis podem ser

adquiridos na actividade sexual (práticas de sexo anal ou oral -> a transmissão de uma ITG para

outros locais do corpo, como a faringe ou região ano-rectal).

Outras vias

Os organismos podem também ser introduzidos no trato genital por instrumentação,

presença de um corpo estranho, ou irritação.

Manifestações clínicas

Assintomáticas

As DSTs podem ser muitas vezes livres de sintomas, principalmente no género

feminino, o que pode levar a que o indivíduo não saiba que tem a doença e se torne num

reservatório do patogéneo disseminando-o a outros indivíduos. Pode ainda levar a doenças

pélvicas ou mesmo a infertilidade. Estas infeções são principalmente causadas por N.

gonorrheae e C. trachomatis.

Disúria

Apesar de estar frequentemente associada a infeções do trato urinário também

pode estar presente em DST causadas por N. gonorrheae e C. trachomatis.

Descarga uretral

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Principalmente observada no sexo masculino, levando a desconforto e disúria. A uretrite

pode ser provocada por N. gonorrheae , C. trachomatis, Mycoplasma Hominis, M.

genitalium e Ureaplasma urealyticum.

Lesões da pele e das membranas mucosas

Os agentes de lesões genitais e as suas características de infeção estão resumidas na seguinte

tabela:

Bactéria Doença Lesão Principais sintomas associados

Treponema pallidum Sifílis primária Úlcera genital Geralmente uma única lesão, indolor; representa a

primeira das três fases da sífilis

Haemophilus

ducreyi

Cancróide Pápula que se torna

pustular (cancróide) e

úlceras múltiplas

A úlcera é profundamente invasiva, dolorosa e

purulenta; as bordas da lesão são irregulares

Chamydia

trachomatis-

serotipo L1,L2 e L3

Linfogranuloma

Pequena úlcera ou

vesícula que se cura

espontaneamente sem

deixar cicatriz

Após a lesão cicatriza, dolorosa, inchaço dos

gânglios linfáticos (linfadenopatia); febre e

calafrios; obstrução linfática grave e pode

desenvolver linfedema

Vaginite

Inflamação da mucosa vaginal

Caracteriza-se por uma descarga anormal, odor forte e comichão.

As 3 maiores causas de vaginite em mulheres em pré-menopausa são candidíase vaginal,

vagínose bacteriana e trichomoniasis.

A vagínose bacteriana (BV) tem uma etiologia polimicrobiana, envolvendo a G.

vaginalis e outros microorganismos anaeróbios e anaeróbios facultativos.

Laboratórios encontraram uma elevação nas secreções do pH vaginal, além de

numerosas células polimorfonucleares, um aumento no número de células para-basais, a

ausência de bacilos gram+.

Cervitite (inflamação do colo do útero)

Normalmente existem PMNs no endocérvix, contudo um aumento anormal do número

de polimorfonucleares pode estar associado a cervitite -> Ocorre uma descarga purulenta.

O endocervix é o sitio onde mais frequentemente é isolado N.gonorrhoeae em

mulheres com infecções gonoccais. Nos doentes com cervitite, C. trachomatis também pode

ser isolado. Frequentemente, as doentes estão infectadas com ambos os patogeneos.

Lesões anorectais

Procite (inflamação do recto) provocada por N. gonorrhoeae ou C. trachomatis

caracteriza-se por comichão, descarga anal purulenta, dor anal, hemorragia e tenesmo (dor ao

evacuar).

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Bartolinite

A glândula de bartholin está perto da glândula produtora de muco em cada lado do

orifício vaginal. Cada glândula tem um ducto que se abre no interior dos lábios pequenos. Se

este ducto for infectado pode ficar bloqueado resultando num abcesso da glândula de

bartholin. Embora N. gonorrhoeae e C. trachomatis possam causar infecção, são mais comuns

infecções polimicrobianas e anaeróbias com a origem da flora genital normal.

Infecções nos órgãos reprodutores e outras infecções do trato superior.

Doença inflamatória pélvica (PID)

É uma infecção que surge quando os m.o. viajam para o endométrio, trompas de

falópio e outras estruturas pélvicas. Pode produzir uma ou mais condições inflamatórias:

endometrite, salpingitis, peritonite generalizada ou abcesso nas trompas de falópio/ovários.

Os doentes regularmente têm dor abdominal intermitente, descarga vaginal, disúria,

sensibilidade e possíveis sintomas sistémicos tais como: perda de peso e dor de cabeça. Se a

PID não for tratada podem surgir cicatrizes permanentes nas tropas de falópio e infertilidade.

Infecções por N. gonorrhoeae e/ou C. trachomatis no trato genital inferior podem

conduzir a PID, se a mulher não for correctamente tratada. O DIU -> alta taxa de PID.

Infecções ginecológicas pós-cirúrgicas

Incluem celulite pélvica ou abcessos. A maior parte destas infecções surge da flora

saprofita vaginal: coccos gram + aerobios, Bacillos gram - e anaeróbios.

Infecção associadas com a gravidez

Podem ocorrer infecções durante a gravidez ou após o nascimento, podendo afectar

o feto ou recém-nascido. O sistema imunitário das mulheres fica comprometido durante

alguns meses após o nascimento.

As infecções pré-natais, podem ser adquiridas pelas transmissões de sangue da mãe

para o filho. Se a mãe tiver uma infecção sistémica -> m.o. podem passar placenta.

Agentes etiológicos comuns de infecçoes prenatais e neonatais

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*alguns recém-nascidos desenvolvem infecções durante as 4 primeiras semanas de vida.Estas infecções podem ser resultado de

patogeneos adquiridos antes ou depois do nascimento. Alternativamente os microrganismos podem infectar o feto por uma via

ascendente da vagina passando as membranas fetais. Corioamnionite é uma infecção do útero que ocorre durante a gravidez->

adquirida por microrganismos que ascendem da vagina ou do colo do útero após uma prolongada ou prematura rotura das

membranas ou trabalho de parto.

Os microrganismos que são comumente isolados do líquido amniótico são:

- Bacterias anaerobias

- mycoplasma genital

- Grupo B streptococci

- Escherichia coli

Infecções nos órgãos reprodutivos masculinos: epididymitis protatis e orchitis.

Epididmite, é uma inflamação do epididimo vulgarmente prevista em homens

sexualmente activos. Os doentes apresentam febre, dor e inchaço no testículo. Os m.o

responsáveis são N.gonoreia e C. trachomatis. Contudo staphylococci coagulase negativa e

entérica podem causar infecções em homens com mais de 35 anos de idade. Estas infecções

são vulgarmente associadas com a obstrução da glândula prostática.

Prostatite é um termo clinico para descrever doentes masculinos adultos que têm

perineal, dor abdominal, dor nas costas, desconforto urinário ou complicações ejaculatórias.

As bactérias podem provocar prostatite crónica e aguda. Doentes com prostatite

bacteriana aguda têm disúria e urinam frequentemente. Surgem também sinais sistémicos

(febre). Prostatite bacteriana crónica é uma importante causa de bacterinuria persistente nos

homens que conduz a recorrentes infecções bacterianas do trato urinário. As causas mais

frequentes destas infecções->semelhantes ás causas bacterianas de ITU’s inferior (Escherichia

coli e outros entéricos).