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Revista SÍNTESE Direito Ambiental ANO VII – Nº 37 – MAIO-JUN 2017 REPOSITÓRIO AUTORIZADO DE JURISPRUDÊNCIA Tribunal Regional Federal da 1ª Região – Portaria CONJUD nº 610-001/2013 Tribunal Regional Federal da 2ª Região – Despacho nº TRF2-DES-2013/08087 Tribunal Regional Federal da 3ª Região – Portaria nº 02, de 31.05.2012 – Registro nº 25 Tribunal Regional Federal da 4ª Região – Portaria nº 942, de 13.08.2013 – Ofício – 1528443 – GPRES/EMAGIS Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Informação nº 001/2013-GAB/DR DIRETOR EXECUTIVO Elton José Donato GERENTE EDITORIAL Milena Sanches Tayano dos Santos COORDENADOR EDITORIAL Cristiano Basaglia EDITOR Rafael Gonzalez Luis Piccoli CONSELHO EDITORIAL André Luis Saraiva, Antomar Viegas, Daniel Roberto Fink, Gina Copola, João Roberto Rodrigues, Luis Fernando Galli, Marcelo Beserra, Maria Luiza Machado Granziera, Patrícia Faga Iglecias Lemos, Paulo de Bessa Antunes, Ronald Victor Romero Magri, Toshio Mukai COMITÊ TÉCNICO Elisson Pereira da Costa, Francisco Salles Almeida Mafra Filho, Renata Jardim da Cunha Rieger, Sylvio Toshiro Mukai, Veridiana Pinheiro Lima COLABORADORES DESTA EDIÇÃO Álvaro Luiz Valery Mirra, Carlos Sérgio Gurgel da Silva, Ives Gandra da Silva Martins, Lorena Grangeiro de Lucena, Sandro Ari Andrade de Miranda, Tauã Lima Verdan Rangel ISSN 2236-9406

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Revista SÍNTESEDireito AmbientalAno VII – nº 37 – MAIo-Jun 2017

ReposItóRIo AutoRIzAdo de JuRIspRudêncIA

Tribunal Regional Federal da 1ª Região – Portaria CONJUD nº 610-001/2013Tribunal Regional Federal da 2ª Região – Despacho nº TRF2-DES-2013/08087

Tribunal Regional Federal da 3ª Região – Portaria nº 02, de 31.05.2012 – Registro nº 25Tribunal Regional Federal da 4ª Região – Portaria nº 942, de 13.08.2013 – Ofício – 1528443 – GPRES/EMAGIS

Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Informação nº 001/2013-GAB/DR

dIRetoR executIVo

Elton José Donato

GeRente edItoRIAl

Milena Sanches Tayano dos Santos

cooRdenAdoR edItoRIAl

Cristiano Basaglia

edItoR

Rafael Gonzalez Luis Piccoli

conselho edItoRIAl

André Luis Saraiva, Antomar Viegas, Daniel Roberto Fink, Gina Copola, João Roberto Rodrigues, Luis Fernando Galli, Marcelo Beserra, Maria Luiza Machado Granziera, Patrícia Faga Iglecias Lemos,

Paulo de Bessa Antunes, Ronald Victor Romero Magri, Toshio Mukai

coMItê técnIco

Elisson Pereira da Costa, Francisco Salles Almeida Mafra Filho, Renata Jardim da Cunha Rieger, Sylvio Toshiro Mukai, Veridiana Pinheiro Lima

colAboRAdoRes destA edIção

Álvaro Luiz Valery Mirra, Carlos Sérgio Gurgel da Silva, Ives Gandra da Silva Martins, Lorena Grangeiro de Lucena, Sandro Ari Andrade de Miranda, Tauã Lima Verdan Rangel

ISSN 2236-9406

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2011 © SÍNTESE

Uma publicação da SÍNTESE, uma linha de produtos jurídicos do Grupo SAGE.

Publicação bimestral de doutrina, jurisprudência, legislação e outros assuntos de Meio Ambiente.

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução parcial ou total, sem consentimento expresso dos editores.

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de total responsabilidade de seus autores.

Os acórdãos selecionados para esta Revista correspondem, na íntegra, às cópias obtidas nas secretarias dos respec-tivos tribunais.

A solicitação de cópias de acórdãos na íntegra, cujas ementas estejam aqui transcritas, e de textos legais pode ser feita pelo e-mail: [email protected] (serviço gratuito até o limite de 50 páginas mensais).

Distribuída em todo o território nacional.

Tiragem: 2.000 exemplares

Revisão e Diagramação: Dois Pontos Editoração

Artigos para possível publicação poderão ser enviados para o endereço [email protected]

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Revista Síntese Direito Ambiental. – v. 7, n. 37 (Jun. 2017)- . – São Paulo: IOB, 2011- . v. ; 23 cm.

Bimestral. ISSN 2236-9406

1. Direito ambiental. 2. Meio ambiente.

CDU 351.777.6 CDD 341.347

Bibliotecária responsável: Nádia Tanaka – CRB 10/855

IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda.R. Antonio Nagib Ibrahim, 350 – Água Branca 05036‑060 – São Paulo – SPwww.sage.com

Telefones para ContatosCobrança: São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7247900

SAC e Suporte Técnico: São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7247900E-mail: [email protected]

Renovação: Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7283888

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Carta do Editor

Na trigésima sétima edição da Revista SÍNTESE Direito Ambiental, publi-camos na Seção Assunto Especial o tema “Limitação Ambiental”.

Sobre o tema, publicamos dois artigos. O primeiro, intitulado “Os Li-mites da Gestão Ambiental Concertativa: um Debate sobre os Princípios Que Regem os Acordos Ambientais”, de autoria do Dr. Sandro Ari Andrade de Mi-randa, Advogado no Rio Grande do Sul, Mestre em Ciências Sociais, responsá-vel pelo Blog Sustentabilidade e Democracia. O segundo, intitulado “Comen-tários à Limitação Administrativa em Matéria Ambiental: uma Análise à Luz do Entendimento do STJ”, de autoria do Dr. Tauã Lima Verdan Rangel, Dou-torando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF), linha de Pesquisa Conflitos Urbanos, Rurais e Socioambientais, Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela Univer-sidade Federal Fluminense (UFF), Especialista em Práticas Processuais – Pro-cesso Civil, Processo Penal e Processo do Trabalho pelo Centro Universitário São Camilo/ES, Bacharel em Direito pelo Centro Universitário São Camilo/ES. Produziu diversos artigos, voltados principalmente para o Direito Penal, Direito Constitucional, Direito Civil, Direito do Consumidor, Direito Administrativo e Direito Ambiental. Além disso, ainda na Seção Assunto Especial, selecionamos um Acórdão na Íntegra do STJ, bem como ementário sobre o assunto.

Na Parte Geral publicamos três artigos, quais sejam: “A Questão dos ‘Refugiados’ Climáticos e Ambientais no Direito Ambiental”, de autoria do Dr. Álvaro Luiz Valery Mirra; o segundo intitulado “Análise da Compensa-ção por Crédito de Carbono no Brasil e a COP 21”, de autoria do Dra. Lorena Grangeiro de Lucena; e o terceiro intitulado “Poder de Polícia Ambiental e os Procedimentos da Defesa Administrativa Ambiental”, de autoria do Dr. Carlos Sérgio Gurgel da Silva.

Selecionamos, outrossim, cinco relevantes acórdãos na íntegra: um do TRF da 1ª R., um do TRF da 2ª R., um do TRF da 3ª R., um do TRF da 4ª R., um do TRF da 5ª R., além de vasto ementário com valor agregado.

Na Seção Especial, contamos com um estudo jurídico cujo título é “Ex-portação de Liga de Nióbio e a Soberania e Segurança Nacional”, de autoria do Advogado Dr. Ives Gandra da Silva Martins.

Não deixe de ver nossa Seção Clipping Jurídico, na qual oferecemos tex-tos concisos que destacam, de forma resumida, os principais acontecimentos do período, tais como notícias, projetos de lei, normas relevantes, entre outros.

Aproveite esse rico conteúdo e tenha uma ótima leitura!

Milena Sanches Tayano dos SantosGerente Editorial

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Sumário

Normas Editoriais para Envio de Artigos ....................................................................7

Assunto EspecialLimitação ambientaL

Doutrinas

1. Os Limites da Gestão Ambiental Concertativa: um Debate sobre os Princípios Que Regem os Acordos AmbientaisSandro Ari Andrade de Miranda .................................................................9

2. Comentários à Limitação Administrativa em Matéria Ambiental: uma Análise à Luz do Entendimento do STJTauã Lima Verdan Rangel ........................................................................18

JurispruDência

1. Acórdão na Íntegra (STJ) ...........................................................................39

2. Ementário .................................................................................................51

Parte Geral

Doutrinas

1. A Questão dos “Refugiados” Climáticos e Ambientais no Direito AmbientalÁlvaro Luiz Valery Mirra ..........................................................................59

2. Análise da Compensação por Crédito de Carbono no Brasil e a COP 21Lorena Grangeiro de Lucena ....................................................................64

3. Poder de Polícia Ambiental e os Procedimentos da Defesa Administrativa AmbientalCarlos Sérgio Gurgel da Silva ...................................................................71

JurispruDência

Acórdãos nA ÍntegrA

1. Tribunal Regional Federal da 1ª Região ....................................................79

2. Tribunal Regional Federal da 2ª Região ....................................................86

3. Tribunal Regional Federal da 3ª Região ....................................................96

4. Tribunal Regional Federal da 4ª Região ..................................................116

5. Tribunal Regional Federal da 5ª Região ..................................................140

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ementário

1. Ementário de Jurisprudência de Direito Ambiental .................................144

Seção EspecialestuDos JuríDicos

1. Exportação de Liga de Nióbio e a Soberania e Segurança NacionalIves Gandra da Silva Martins ..................................................................205

Clipping Jurídico ..............................................................................................215

Resenha Legislativa ..........................................................................................233

Bibliografia Complementar .................................................................................236

Índice Alfabético e Remissivo .............................................................................237

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Normas Editoriais para Envio de Artigos1. Os artigos para publicação nas Revistas SÍNTESE deverão ser técnico-científicos e fo-

cados em sua área temática.2. Será dada preferência para artigos inéditos, os quais serão submetidos à apreciação

do Conselho Editorial responsável pela Revista, que recomendará ou não as suas publicações.

3. A priorização da publicação dos artigos enviados decorrerá de juízo de oportunidade da Revista, sendo reservado a ela o direito de aceitar ou vetar qualquer trabalho recebido e, também, o de propor eventuais alterações, desde que aprovadas pelo autor.

4. O autor, ao submeter o seu artigo, concorda, desde já, com a sua publicação na Revista para a qual foi enviado ou em outros produtos editoriais da SÍNTESE, desde que com o devido crédito de autoria, fazendo jus o autor a um exemplar da edição da Revista em que o artigo foi publicado, a título de direitos autorais patrimoniais, sem outra remune-ração ou contraprestação em dinheiro ou produtos.

5. As opiniões emitidas pelo autor em seu artigo são de sua exclusiva responsabilidade.6. À Editora reserva-se o direito de publicar os artigos enviados em outros produtos jurí-

dicos da SÍNTESE.7. À Editora reserva-se o direito de proceder às revisões gramaticais e à adequação dos

artigos às normas disciplinadas pela ABNT, caso seja necessário.8. O artigo deverá conter além de TÍTULO, NOME DO AUTOR e TITULAÇÃO DO AU-

TOR, um “RESUMO” informativo de até 250 palavras, que apresente concisamente os pontos relevantes do texto, as finalidades, os aspectos abordados e as conclusões.

9. Após o “RESUMO”, deverá constar uma relação de “PALAVRAS-CHAVE” (palavras ou expressões que retratem as ideias centrais do texto), que facilitem a posterior pesquisa ao conteúdo. As palavras-chave são separadas entre si por ponto e vírgula, e finaliza-das por ponto.

10. Terão preferência de publicação os artigos acrescidos de “ABSTRACT” e “KEYWORDS”.11. Todos os artigos deverão ser enviados com “SUMÁRIO” numerado no formato “arábi-

co”. A Editora reserva-se ao direito de inserir SUMÁRIO nos artigos enviados sem este item.

12. Os artigos encaminhados à Revista deverão ser produzidos na versão do aplicativo Word, utilizando-se a fonte Arial, corpo 12, com títulos e subtítulos em caixa alta e alinhados à esquerda, em negrito. Os artigos deverão ter entre 7 e 20 laudas. A pri-meira lauda deve conter o título do artigo, o nome completo do autor e os respectivos créditos.

13. As citações bibliográficas deverão ser indicadas com a numeração ao final de cada citação, em ordem de notas de rodapé. Essas citações bibliográficas deverão seguir as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

14. As referências bibliográficas deverão ser apresentadas no final do texto, organizadas em ordem alfabética e alinhadas à esquerda, obedecendo às normas da ABNT.

15. Observadas as regras anteriores, havendo interesse no envio de textos com comentá-rios à jurisprudência, o número de páginas será no máximo de 8 (oito).

16. Os trabalhos devem ser encaminhados preferencialmente para os endereços eletrôni-cos [email protected]. Juntamente com o artigo, o autor deverá preencher os formulários constantes dos seguintes endereços: www.sintese.com/cadastrodeauto-res e www.sintese.com/cadastrodeautores/autorizacao.

17. Quaisquer dúvidas a respeito das normas para publicação deverão ser dirimidas pelo e-mail [email protected].

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Assunto Especial – Doutrina

Limitação Ambiental

Os Limites da Gestão Ambiental Concertativa: um Debate sobre os Princípios Que Regem os Acordos Ambientais

SANDRO ARI ANDRADE DE MIRANDAAdvogado no Rio Grande do Sul, Mestre em Ciências Sociais, responsável pelo Blog Susten-tabilidade e Democracia.

RESUMO: A gestão ambiental concertativa é um instrumento novo, capaz de dinamizar o trabalho de conservação do meio ambiente, ainda pouco conhecido e utilizado. Cumpre o papel essencial de garantir a defesa de interesses públicos, a harmonização de direitos e a democratização do funcio-namento da Administração Pública. Contudo, deve observar os princípios do Direito que limitam a atividade, especialmente a razoabilidade, a proporcionalidade e a finalidade.

PALAVRAS-CHAVE: Concertação administrativa; finalidade jurídica; gestão ambiental; proporciona-lidade; razoabilidade.

ABSTRACT: Environmental management concertativa is a new instrument, capable of advancing the work of conserving the environment, yet little known and used. It is the essential role of ensuring the protection of public interests, the harmonization of rights and the democratisation of the functioning of public administration. However, shall observe the principles of law which limit the activity, espe-cially the reasonableness, proportionality and purpose.

KEYWORDS: Administrative coordination; legal purpose; environmental management; proportionali-ty; reasonableness.

SUMÁRIO: Introdução; 1 Definindo gestão ambiental concertativa; 2 Dos princípios aplicáveis à ges-tão ambiental; Considerações finais; Referências.

INTRODUÇÃO

A ideia da concertação no direito administrativo não é nova; conso-lidou-se ao longo dos anos nas democracias avançadas e ganhou força no Brasil com a publicação da Lei nº 9.784/1999, que regula o processo admi-nistrativo no âmbito da Administração Pública federal.

Quando falamos em direito ambiental, identificamos a existência de instrumentos de concertação administrativa anteriores à lei do processo ad-

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ministrativo, especialmente o Termo de Compromisso Ambiental, que foi institucionalizado por meio da Lei nº 9.605/1998, popularmente conhecida como Lei de Crimes Ambientais. Está na gênese desse ramo do Direito o princípio da participação, a ideia de cidadania ativa e a vocação para o diálogo.

Concertar, como a própria palavra já diz, é uma busca por acordo, por uma combinação, pela harmonização de interesses com vistas a um fim determinado. Tal medida é relevante quando pensamos que, por força constitucional, o nosso país é um Estado Democrático de Direito.

Em face desses fatores, é de fundamental importância a compreensão dos princípios e dos limites que regem a “gestão ambiental concertativa”, dada a constância e a relevância dos acordos administrativos construídos diariamente pelos gestores públicos para garantir a legalidade e a efetivida-de da política ambiental.

1 DEFININDO GESTÃO AMBIENTAL CONCERTATIVA

Antes de avançar na discussão sobre a gestão ambiental concertativa, é necessário frisar que sempre qualquer ação do Estado deve ser ampara-da no princípio da legalidade e no regime constitucional. De nada valem acordos administrativos que não tenham por finalidade precípua, em última instância, o cumprimento da lei e da Constituição. Como bem lembra Egon Bockmann Moreira, diversamente dos entes privados,

a Administração Pública concretiza a atividade qualificada pela tutela de interesses públicos indisponíveis, titularizados pela coletividade. Ao revés, o sujeito privado maneja, de regra, interesses particulares, por si só imediata-mente titularizados e disponíveis. (Moreira, 2010, p. 28)

Por outro lado, é importante que tenhamos ciência de que a gestão da concertação terá sobre a mesa do administrador o conflito destes dois tipos de interesses – públicos e privados. Logo, é preciso construir uma ponte para a mediação dos conflitos, que, em regra, é exercida pelos princípios da razoabilidade, da finalidade e da proporcionalidade.

Se o ato administrativo de concertação não se justificar de forma ra-zoável, não buscar a finalidade legal-constitucional e não atender uma me-diação entre meios e fins que vise resguardar, além do interesse dos particu-lares submetidos, a tutela dos interesses coletivos, estaremos sempre diante de um ato nulo, podendo, inclusive, ensejar enquadramento como ato de improbidade administrativa.

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É por essas razões que existem limites à gestão concertativa. Esta deve ser utilizada, exclusivamente, para mediar conflitos de interesse e de forma a não resultar em prejuízos aos interesses públicos. O administrador deve respeitar, em todas as hipóteses, a finalidade pública estampada na norma que lhe outorga competência jurídica para a realização dos seus atos de gestão.

De acordo com Bernardo Strobel Guimarães, a Administração Pú-blica atual trabalha num ambiente onde prevalece um permanente cenário de conflitos de interesses das mais diversas ordens; além disso, não pode mais assentar a sua atuação unicamente na garantia do acesso a demandas concretas e atuais do cidadão. Também deve se preocupar com questões futuras, onde incluída a tutela ambiental.

Surge, pois, um alto grau de tensão entre os interesses existentes no tecido social, reclamando que a Administração os harmonize por meio das suas atuações. Tem-se, portanto, a necessidade de a Administração estruturar condições concretas do desenvolvimento social. Nesta ótica, a missão que se impõe transcende as ideias dos paradigmas anteriores, pois nem sequer se trata de prestar concretamente utilidades a serem fruídas pela sociedade, mas de garantir o desenvolvimento do todo social ferindo legitimidade dos diversos interesses que se colocam. (Guimarães, 2010, p. 86)

É exatamente por isso que se fala na emergência de um Estado “pós--social” ou “suprassocial”, no qual, além das garantias voltadas à igualdade substancial e destinadas a proteger os cidadãos e cidadãs de infortúnios, também é necessário garantir a tutela de valores transindividuais, como a democracia, a participação política da sociedade e a conservação do meio ambiente.

No mesmo caminho, segue Humberto Ávila (2012), para quem, inspi-rado no pensamento do italiano Gianluigi Palombella, a existência de uma diversidade de interesses nos permite falar em “politeísmo de valores”, em virtude da impossibilidade de construções de noções conceituais absolutas, graças à multiplicidade de valores existentes no seio da sociedade.

Neste novo paradigma é que situamos a gestão ambiental concertati-va, pois, além de resguardar os interesses dos atuais operadores dos acordos administrativos, há uma inequívoca preocupação no sentido de que as de-cisões tomadas pelos gestores públicos não venham a afetar a conservação do patrimônio ambiental. Trata-se de um mecanismo de gestão aberto, que envolve o administrado na construção de um instrumento que lhe afeta di-

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retamente, mas que poderá atingir terceiros, por isto a função mediadora da Administração Pública.

Outro aspecto importante da gestão ambiental concertativa é a cria-ção de elevado grau de segurança jurídica na relação entre o Estado, os particulares e a coletividade. No momento em que há uma profusão gi-gantesca de normas derivadas das atividades estatais de regulamentação e regulação (Ávila, 2012), a formatação de um acordo administrativo entre os interessados permite um mínimo de confiabilidade e calculabilidade das ações futuras, evitando a perpetuação dos conflitos de interesse que tendem a prejudicar a própria conservação do patrimônio ambiental.

Desta forma, podemos definir a priori a gestão ambiental concertativa como

a busca da construção de consensos entre a Administração, particulares e a coletividade para garantir, conjuntamente, a regularidade ambiental da ati-vidade econômica, a conservação do patrimônio ambiental, a compensação e a mitigação de danos e a segurança jurídico-administrativa entre os envol-vidos.

É relevante, ainda, notar o fato de que o principal instrumento utili-zado neste tipo de atividade administrativa, o Termo de Compromisso Am-biental, possuir força de título executivo extrajudicial e, como os demais atos administrativos, autoexecutoriedade no caso de descumprimento.

2 DOS PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À GESTÃO AMBIENTAL CONCERTATIVA

É desnecessário afirmar que os atos de concertação administrativa estão sujeitos ao princípio da legalidade. Esta é uma questão lógica que vincula todos os atos executados pela Administração Pública nas suas mais básicas funções. Aplicam-se, também, por óbvio, os princípios da publici-dade, da impessoalidade, da moralidade e da eficiência, todos inscritos no caput do art. 37 da Norma Fundamental.

Por seu turno, como destacado anteriormente, a concertação ambien-tal possui como base de mediação a razoabilidade, a finalidade e a propor-cionalidade. São princípios basilares e fundamentais em cada um dos atos de concertação a serem firmados pela Administração.

Certo é que muitos autores tratam tais princípios de forma combi-nada, notadamente a razoabilidade e a proporcionalidade, princípios que, muitas vezes, são considerados um só, ou um a parte do outro. Particular-

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mente, prefiro uma separação didática entre estes, o que permite uma me-lhor compreensão dos referidos meios normativos.

Essa mesma diferenciação também é feita, dente outros, pelo Desem-bargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro Jessé Torres Pereira Júnior, ao afirmar que:

[...] A rigor, a razoabilidade, tal como a sua prima-irmã, a proporcionalidade (a escolha dos meios necessários e suficientes para atender aos fins, porém sem excesso de coerção, custos ou perdas), é uma técnica integrativa de interpretação jurídica, do que um princípio reitor de um sistema jurídico. (Pereira Júnior, 2009, p. 99)

No entanto, como leciona Humberto Ávila, os princípios como nor-ma, ou normas-princípios, apresentam como uma das suas características principais exatamente este caráter integrador, permitindo o exame da corre-lação entre “estado de coisas”, “efeitos e condutas”:

[...] os princípios jurídicos são aquelas normas que estabelecem um estado ideal de coisas para cuja realização é necessária a adoção de comportamen-tos que provocam efeitos que contribuem para a sua promoção. Daí se afir-mar que eles envolvem um fim (estado de coisas) e meios (condutas neces-sárias à sua promoção). Em uma simples ilustração, para garantir um estado de moralidade é preciso adotar condutas sérias, leais, motivas e contínuas. Em suma, para atingir um fim é necessário escolher comportamentos cujos efeitos contribuam para a sua promoção. Pode-se, por isso, asseverar que o modelo dos princípios pode ser simbolizado pela expressão “para, então é preciso” (Ávila, 2012, p. 119)

Assim, mais do que simples técnica de interpretação, tais princípios normatizam relações e lhes dão sustentação. Daí definirmos os princípios como “pontes de mediação”, como caminhos utilizados para atingir o ideal buscado pelo Direito, que é a proteção e conservação do meio ambiente nos atos administrativos de concertação.

A atividade de controle exercida pelo estado é irrenunciável. Todavia, nas palavras de Juarez Freitas (1997), a sua intervenção deve ser exercida no âmbito do “mínimo essencial” para o bom funcionamento das relações humanas. Este mínimo, ao contrário do que pensam os neoliberais, não é a prestação mínima de serviços públicos, mas o exercício mínimo de coerção jurídica visando a atingir as finalidades precípuas do Estado, que são tutela dos direitos fundamentais (o que inclui a conservação do meio ambiente ecologicamente saudável para as presentes e futuras gerações) e da demo-cracia, evitando-se, assim, os excessos que caracterizam o abuso de poder.

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Por isto, quando a Administração utiliza-se dos instrumentos de con-certação, deve agir para garantir a essencialidade do bem a que visa preser-var. Deve atuar com bom senso, dentro das prescrições valorativas previstas e que estruturam o nosso ordenamento jurídico. Para esse “bom senso” da-mos o nome de razoabilidade:

A razoabilidade tem lastro em análise axiológica, para descobrir se a rela-ção entre a finalidade normativa e a conduta administrativa é racionalmente clara. Determina a exclusão de condutas imprudentes, bizarras e contrárias ao bom senso. Ou seja, não é possível cogitar que a lei autorizaria o agente público a adotar comportamentos desconformes a uma compreensão sensata no caso concreto. (Moreira, 2010, p. 97)

Há uma pequena diferenciação entre razoabilidade e proporciona-lidade, e daí se afirmar que ambas possuem a mesma origem. A razoabili-dade é fundada numa relação axiológica, entre o que se pretende e os atos executados, de forma a evitar comportamentos que se tornam estranhos em um ambiente racional, como aplicar uma multa gigantesca em um empre-endimento com baixíssima capacidade econômica. Já a proporcionalidade é a mediação entre meios e fins, como a não interdição continuada de um empreendimento que aceita funcionar dentro de determinados limites im-postos pelo órgão de controle ambiental.

Nunca podemos esquecer que reza em favor do administrado o prin-cípio da boa-fé, e que esta deve ser presumida, ao contrário da má-fé, que carece de comprovação.

O princípio da proporcionalidade é muito adequado ao enfrentamen-to da colisão de direitos, de forma que um direito não possa suprimir a exis-tência de outro. Nas palavras do gaúcho Juarez Freitas:

O administrador público, dito de outra maneira, está obrigado a sacrificar o mínimo para preservar o máximo de direitos. Esta parece ser uma fórmula suficientemente esclarecedora acerca do princípio. Por todo o exposto, fácil perceber que o princípio da proporcionalidade apresenta-se especialmente relevante por forçar a conceituação do poder de polícia administrativa, de forma a estabelecer firmes parâmetros ao seu exercício. (Freitas, 1997, p. 57)

Aqui retornamos ao papel da gestão concertativa, que é exatamente essa harmonização de conflitos entre interesses e direitos conflitantes, além de garantir a tutela de direitos fundamentais que, no universo da política ambiental, possuem ênfase na proteção e na conservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado.

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O princípio da finalidade, como o próprio nome já diz, é aquele que esclarece os objetivos do ato administrativo que deve sempre estar em con-formidade com o comando jurídico-normativo. Não existe ato administra-tivo válido cujas finalidades não sejam claras, razoáveis e adequadamente motivadas. Aliás, uma característica chave do ato administrativa é que ele está sempre motivado, seja pela decisão da autoridade competente, seja com base no parecer ou na nota técnica da unidade de fiscalização ou li-cenciamento ambiental, seja nos “considerandos” presentes em muitos atos administrativos.

Quando falamos em gestão ambiental concertativa, a finalidade pri-maz de todos os atos de concertação é a busca do equilíbrio ambiental. Mas existem finalidades específicas que se apresentam expressas nas cláusulas nos instrumentos jurídico-administrativos e que também devem ser respei-tadas. São elementos de conformação que, quando não observados, podem ensejar o reconhecimento de improbidade administrativa caso venham a ser descumpridos ou a sua execução não esteja razoavelmente motivada.

Cito exemplo: no atual sistema de concertação ambiental, é possível a conversão de multas ou compensações pecuniárias na instrumentalização ou execução de serviços ambientais, como o fortalecimento das atividades de controle e educação ambiental através da aquisição de equipamentos, materiais, serviços, entre outros. Tais instrumentos devem ser utilizados pela Administração no âmbito da sua política ambiental. Quando há desvirtua-mento do uso de um bem adquirido com essa finalidade, estamos inequi-vocamente em situação de desvio, o que pode representar a aplicação das penalidades civis, penais e administrativas legalmente estabelecidas.

O desvio de finalidade é um dos vícios mais comumente observados na aplicação dos instrumentos de concertação ambiental. Seja por meio da sua utilização para fins proibidos pela lei, seja pelo desvio de resultados. Lembro que, em situações de crise, sempre faltam recursos para a imple-mentação de políticas públicas e, na área ambiental, isto não é diferente. Os instrumentos de concertação não podem ser utilizados para resolver as fra-gilidades financeiras do Estado, embora possam contribuir para tanto como acessório. Sua finalidade principal é garantir a eficácia da política ambiental e proteção/defesa/conservação do meio ambiente saudável, que é um bem público de uso comum.

Como se observa, os três princípios citados, tanto razoabilidade, como proporcionalidade e finalidade, também funcionam como limitado-res da concertação ambiental, além de garantir o cumprimento dos outros

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princípios, especialmente os da impessoalidade e da moralidade. A moti-vação expressa e transparente, a busca de soluções razoáveis e a aplicação de medidas proporcionais impedem o abuso de poder e o uso desviado dos instrumentos para beneficiar terceiros, contribuindo para uma adequada aplicação dos instrumentos.

Desta forma, a lógica de uma política de concertação ambiental, em momento algum, deve ser desviada das suas finalidades jurídicas essenciais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O direito concertativo é uma decorrência do regime democrático e visa a substituir o mero controle por uma política ambiental inclusiva, trans-parente e dialogada com compromissos de avanço. Neste sentido, contribui para a substituição da gestão burocrática por um modelo mais eficiente, voltado à efetivação da cidadania.

Todavia, essa concertação está submetida a limites claros, que são sempre regidos por princípios elementares, dos quais destacamos a razoabi-lidade, a proporcionalidade e a finalidade.

A razoabilidade visa a evitar soluções absurdas para conflitos am-bientais, ou soluções que sejam contrárias ao direito ou à racionalidade. A proporcionalidade visa a equacionar os conflitos ambientais com o menor sacrifício possível dos direitos fundamentais envolvidos, razão pela qual o ato administrativo deve ser limitado ao estritamente necessário. Já a finalida-de é descrever o objetivo buscado pelo instrumento de concertação, motivo pelo qual sempre vem instruída pela motivação.

Muito embora a aplicação desses princípios seja imperativa, eles nem sempre são respeitados no processo de formulação dos instrumentos ou na sua aplicação posterior. A validade de um instrumento de concertação ad-ministrativa não se extingue com a sua assinatura, mas com o seu cum-primento efetivo tanto pelo administrado quando pelo gestor público. Tais documentos possuem força de vinculação jurídica que somente pode ser superada por lei ulterior menos restritiva. Ou seja, seus efeitos não se inter-rompem com o tempo.

Quando trato deste tema, sempre destaco que existem dois inimigos para a gestão ambiental concertativa: o administrador sem iniciativa e o administrador afoito. O primeiro paralisa a administração, na medida em que um regime democrático exige do Poder Público a busca de soluções que atendam as demandas da população. O segundo coloca em risco a

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segurança do interesse público, pois provoca desvios dos seus objetivos por desconhecimento da lei ou por má-fé.

Assim, se é bem verdade que a gestão ambiental concertativa é uma inovação jurídica que traz soluções para os conflitos ambientais e vantagens ao atendimento dos interesses públicos por ela tutelados, também é verdade que a má-administração dos remédios pode resultar em prejuízos (alguns irreparáveis) para a coletividade. É por isso que sempre é recomendável o diálogo, a transparência e a parcimônia, além da obrigatória observância dos princípios que fundam o trabalho da Administração Pública.

REFERÊNCIAS

ÁVILA, Humberto. Segurança jurídica: entre permanência, mudança e realiza-ção no direito tributário. São Paulo: Malheiros, 2012.

FREITAS, Juarez. O controle dos atos administrativos e os princípios funda-mentais. São Paulo: Malheiros, 1997.

GUIMARÃES, Bernardo Strobel. A participação no processo administrativo. In: MEDAUAR, Odete; SCHIRATO, Vitor Rhein. Atuais rumos do processo admi-nistrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.

MOREIRA, Egon Bockeman. Processo administrativo: princípios constitucio-nais e a Lei nº 9.784/1999. São Paulo: Malheiros, 2010.

PEREIRA JÚNIOR, Jessé Torres. Controle judicial da Administração Pública: da legalidade estrita à lógica do razoável. Belo Horizonte: Fórum, 2009.

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Assunto Especial – Doutrina

Limitação Ambiental

Comentários à Limitação Administrativa em Matéria Ambiental: uma Análise à Luz do Entendimento do STJ

TAuã LIMA VERDAN RANgELBolsista Capes, Doutorando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF), Linha de Pesquisa Conflitos Urbanos, Rurais e So-cioambientais, Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Especialista em Práticas Processuais – Processo Civil, Processo Penal e Processo do Tra-balho pelo Centro Universitário São Camilo/ES, Bacharel em Direito pelo Centro Universitário São Camilo/ES. Produziu diversos artigos, voltados principalmente para o Direito Penal, Direito Constitucional, Direito Civil, Direito do Consumidor, Direito Administrativo e Direito Ambiental.

RESUMO: Inicialmente, cuida salientar que o meio ambiente, em sua acepção macro e especifi-camente em seu desdobramento natural, configura elemento inerente ao indivíduo, atuando como sedimento à concreção da sadia qualidade de vida e, por extensão, ao fundamento estruturante da República Federativa do Brasil, consistente na materialização da dignidade da pessoa humana. Ao lado disso, tal como pontuado algures, a Constituição de 1988 estabelece, em seu art. 225, o dever de o Poder Público adotar medidas de proteção e preservação do ambiente natural. Aliás, quadra anotar, oportunamente, que tal dever é de competência político-administrativa de todos os entes políticos, devendo, para tanto, evitar que os espaços de proteção ambiental sejam utilizados de forma contrária à sua função – preservação das espécies nativas – e, ainda, promover ostensiva fiscalização desses locais. Neste aspecto, o presente visa analisar o entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça sobre as limitações administrativas em sede de matéria ambiental.

PALAVRAS-CHAVE: Meio ambiente; limitação administrativa; jurisprudência.

SUMÁRIO: 1 Ponderações introdutórias: breves notas à construção teórica da ramificação ambiental do direito; 2 Comentários à concepção de meio ambiente; 3 Singelos comentários ao meio ambiente natural: tessituras conceituais sobre o tema; 4 Intervenção do Estado na propriedade: a confluên-cia entre os corolários da supremacia do interesse público e do meio ambiente ecologicamente equilibrado; 5 Comentários à limitação administrativa em matéria ambiental: uma análise à luz do entendimento do STJ; Referências.

1 PONDERAÇÕES INTRODUTóRIAS: BREVES NOTAS À CONSTRUÇÃO TEóRICA DA RAMIFICAÇÃO AMBIENTAL DO DIREITO

Inicialmente, ao se dispensar um exame acerca do tema colocado em tela, patente se faz arrazoar que a Ciência Jurídica, enquanto um conjunto

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multifacetado de arcabouço doutrinário e técnico, assim como as robus-tas ramificações que a integram, reclama uma interpretação alicerçada nos plurais aspectos modificadores que passaram a influir em sua estruturação. Neste alamiré, lançando à tona os aspectos característicos de mutabilidade que passaram a orientar o Direito, tornou-se imperioso salientar, com ên-fase, que não mais subsiste uma visão arrimada em preceitos estagnados e estanques, alheios às necessidades e às diversidades sociais que passaram a contornar os ordenamentos jurídicos. Ora, infere-se que não mais prospera o arcabouço imutável que outrora sedimentava a aplicação das leis, sendo, em decorrência dos anseios da população, suplantados em uma nova sis-temática.

Com espeque em tais premissas, cuida hastear, com bastante perti-nência, como flâmula de interpretação o “prisma de avaliação o brocar-do jurídico ‘Ubi societas, ibi jus’, ou seja, ‘Onde está a sociedade, está o Direito’, tornando explícita e cristalina a relação de interdependência que esse binômio mantém”1. Destarte, com clareza solar, denota-se que há uma interação consolidada na mútua dependência, já que o primeiro tem suas balizas fincadas no constante processo de evolução da sociedade, com o fito de que seus diplomas legislativos e institutos não fiquem inquinados de inaptidão e arcaísmo, em total descompasso com a realidade vigente. A segunda, por sua vez, apresenta estrutural dependência das regras consoli-dadas pelo ordenamento pátrio, cujo escopo primevo é assegurar que não haja uma vingança privada, afastando, por extensão, qualquer ranço que rememore priscas eras em que o homem valorizava a Lei de Talião (“Olho por olho, dente por dente”), bem como para evitar que se robusteça um cenário caótico no seio da coletividade.

Ademais, com a promulgação da Constituição da República Federa-tiva do Brasil de 1988, imprescindível se fez adotá-la como maciço axio-ma de sustentação do ordenamento brasileiro, precipuamente quando se objetiva a amoldagem do texto legal, genérico e abstrato, aos complexos anseios e às múltiplas necessidades que influenciam a realidade contempo-rânea. Ao lado disso, há que se citar o magistral voto proferido pelo Ministro Eros Grau, ao apreciar a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 46/DF: “O direito é um organismo vivo, peculiar porém porque não enve-lhece, nem permanece jovem, pois é contemporâneo à realidade. O direito é um dinamismo. Essa, a sua força, o seu fascínio, a sua beleza”2. Como

1 VERDAN, Tauã Lima. Princípio da legalidade: corolário do direito penal. Jurid Publicações Eletrônicas, Bauru, 22 jun. 2009. Disponível em: <http://jornal.jurid.com.br>. Acesso em: 6 abr. 2016.

2 BRASIL. Supremo Tribunal Federal, Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 46/DF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Marcos Aurélio, J. 05.08.2009. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em: 6 abr.

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bem pontuado, o fascínio da Ciência Jurídica jaz, justamente, na constante e imprescindível mutabilidade que apresenta, decorrente do dinamismo que reverbera na sociedade e orienta a aplicação dos diplomas legais e os insti-tutos jurídicos neles consagrados.

Ainda neste substrato de exposição, pode-se evidenciar que a con-cepção pós-positivista que passou a permear o Direito, ofertou, por via de consequência, uma rotunda independência dos estudiosos e profissionais da Ciência Jurídica. Aliás, há que se citar o entendimento de Verdan: “Esta doutrina é o ponto culminante de uma progressiva evolução acerca do va-lor atribuído aos princípios em face da legislação”3. Destarte, a partir de uma análise profunda dos mencionados sustentáculos, infere-se que o pon-to central da corrente pós-positivista cinge-se à valoração da robusta tá-bua principiológica do Direito e, por conseguinte, o arcabouço normativo passando a figurar, nesta tela, como normas de cunho vinculante, flâmulas hasteadas a serem adotadas na aplicação e interpretação do conteúdo das leis, diante das situações concretas.

Nas últimas décadas, o aspecto de mutabilidade tornou-se ainda mais evidente, em especial quando se analisa a construção de novos que deri-vam da Ciência Jurídica. Entre estes, cuida destacar a ramificação ambien-tal, considerando como um ponto de congruência da formação de novos ideários e cânones, motivados, sobretudo, pela premissa de um manancial de novos valores adotados. Nesta trilha de argumentação, de boa técnica se apresentam os ensinamentos de Fernando de Azevedo Alves Brito, que, em seu artigo, aduz: “Com a intensificação, entretanto, do interesse dos estudiosos do Direito pelo assunto, passou-se a desvendar as peculiaridades ambientais, que, por estarem muito mais ligadas às ciências biológicas, até então era marginalizadas”4. Assim, em decorrência da proeminência que os temas ambientais vêm, de maneira paulatina, alcançando, notadamente a partir das últimas discussões internacionais envolvendo a necessidade de

2016: “Empresa Pública de Correios e Telégrafos. Privilégio de entrega de correspondências. Serviço postal. Controvérsia referente à Lei Federal nº 6.538, de 22 de junho de 1978. Ato normativo que regula direitos e obrigações concernentes ao serviço postal. Previsão de sanções nas hipóteses de violação do privilégio postal. Compatibilidade com o sistema constitucional vigente. Alegação de afronta ao disposto nos arts. 1º, inciso IV; 5º, inciso XIII, 170, caput, inciso IV e parágrafo único, e 173 da Constituição do Brasil. Violação dos princípios da livre concorrência e livre Iniciativa. Não caracterização. Arguição julgada improcedente. Interpretação conforme à Constituição conferida ao art. 42 da Lei nº 6.538, que estabelece sanção, se configurada a violação do privilégio postal da União. Aplicação às atividades postais descritas no art. 9º da lei”.

3 Verdan, 2009, [s.p.].4 BRITO, Fernando de Azevedo Alves. A hodierna classificação do meio-ambiente, o seu remodelamento e

a problemática sobre a existência ou a inexistência das classes do meio-ambiente do trabalho e do meio-ambiente misto. Boletim Jurídico, Uberaba, ano 5, n. 968. Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br>. Acesso em: 6 abr. 2016.

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um desenvolvimento econômico pautado em sustentabilidade, não é raro que prospere, mormente em razão de novos fatores, um verdadeiro remode-lamento ou mesmo uma releitura dos conceitos que abalizam a ramificação ambiental do Direito, com o fito de permitir que ocorra a conservação e recuperação das áreas degradadas, primacialmente as culturais.

Ademais, há de ressaltar ainda que o direito ambiental passou a figu-rar, especialmente depois das décadas de 1950 e 1960, como um elemento integrante da farta e sólida tábua de direitos fundamentais. Calha realçar, que, mais contemporâneos, os direitos que constituem a terceira dimensão recebem a alcunha de direitos de fraternidade ou, ainda, de solidariedade, contemplando, em sua estrutura, uma patente preocupação com o destino da humanidade5. Ora, daí se verifica a inclusão de meio ambiente como um direito fundamental; logo, está umbilicalmente atrelado com humanismo e, por extensão, a um ideal de sociedade mais justa e solidária. Nesse sentido, ainda, é plausível citar o art. 3º, inciso I, da Carta Política de 1988, que abri-ga em sua redação tais pressupostos como os princípios fundamentais do Estado Democrático de Direitos: “Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária [...]”6.

Ainda nesta esteira, é possível verificar que a construção dos direitos encampados sob a rubrica de terceira dimensão tende a identificar a exis-tência de valores concernentes a uma determinada categoria de pessoas, consideradas enquanto unidade, não mais prosperando a típica fragmenta-ção individual de seus componentes de maneira isolada, tal como ocorria em momento pretérito. Com o escopo de ilustrar, de maneira pertinente, as ponderações vertidas, insta trazer à colação o entendimento do Minis-tro Celso de Mello, ao apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.856/RJ, em especial quando destaca:

Cabe assinalar, Senhor Presidente, que os direitos de terceira geração (ou de novíssima dimensão), que materializam poderes de titularidade coleti-va atribuídos, genericamente, e de modo difuso, a todos os integrantes dos agrupamentos sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem, por isso mesmo, ao lado dos denominados direitos de quarta geração (como o direito ao desenvolvimento e o direito à paz), um momento importante no processo de expansão e reconhecimento dos direitos humanos, qualificados

5 MOTTA, Sylvio; DOUGLAS, Willian. Direito constitucional – Teoria, jurisprudência e 1.000 questões. 15. ed. rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro: Impetus, 2004. p. 69.

6 BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 6 abr. 2016.

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estes, enquanto valores fundamentais indisponíveis, como prerrogativas im-pregnadas de uma natureza essencialmente inexaurível.7

Quadra anotar que os direitos alocados sob a rubrica de direito de terceira dimensão encontram como assento primordial a visão da espécie humana na condição de coletividade, superando, via de consequência, a tradicional visão que está pautada no ser humano em sua individualidade. Assim, a preocupação identificada está alicerçada em direitos que são cole-tivos, cujas influências afetam a todos, de maneira indiscriminada. Ao lado do exposto, cuida mencionar, segundo Bonavides, que tais direitos “têm primeiro por destinatários o gênero humano mesmo, num momento expres-sivo de sua afirmação como valor supremo em termos de existencialidade concreta”8. Com efeito, os direitos de terceira dimensão, dentre os quais se inclui ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, positivado na Consti-tuição de 1988, emerge com um claro e tangível aspecto de familiaridade, como ápice da evolução e concretização dos direitos fundamentais.

2 COMENTÁRIOS À CONCEPÇÃO DE MEIO AMBIENTE

Em uma primeira plana, ao lançar mão do sedimentado jurídico-dou-trinário apresentado pelo inciso I do art. 3º da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 19819 – que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências – salienta que o meio ambiente consiste no conjunto de condições, leis e influências de ordem química, física e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. Pois bem, com o escopo de promover uma facilitação do aspecto conceitual apresentado, é possível verificar que o meio ambiente se assenta em um complexo diálogo de fatores abióticos, provenientes de ordem química e física, e bióticos, consistentes nas plurais

7 BRASIL. Supremo Tribunal Federal, Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.856/RJ, Tribunal Pleno, Rel. Min. Celso de Mello, J. 26.05.2011. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em: 6 abr. 2016: “Ação direta de inconstitucionalidade. Briga de galos (Lei Fluminense nº 2.895/1998). Legislação estadual que, pertinente a exposições e a competições entre aves das raças combatentes, favorece essa prática criminosa. Diploma legislativo que estimula o cometimento de atos de crueldade contra galos de briga. Crime ambiental (Lei nº 9.605/1998, art. 32). Meio ambiente. Direito à preservação de sua integridade (CF, art. 225). Prerrogativa qualificada por seu caráter de metaindividualidade. Direito de terceira geração (ou de novíssima dimensão) que consagra o postulado da solidariedade. Proteção constitucional da fauna (CF, art. 225, § 1º, VII). Descaracterização da briga de galo como manifestação cultural. Reconhecimento da inconstitucionalidade da lei estadual impugnada. Ação direta procedente. Legislação estadual que autoriza a realização de exposições e competições entre aves das raças combatentes. Norma que institucionaliza a prática de crueldade contra a fauna. Inconstitucionalidade”.

8 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 21. ed. atual. São Paulo: Editora Malheiros Ltda., 2007. p. 569.

9 BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 6 abr. 2016.

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e diversificadas formas de seres viventes. Consoante os ensinamentos apre-sentados por José Afonso da Silva, considera-se meio ambiente como “a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que pro-piciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”10.

Nesta senda, ainda, Fiorillo11, ao tecer comentários acerca da acepção conceitual de meio ambiente, coloca em destaque que tal tema se assenta em um ideário jurídico indeterminado, incumbindo, ao intérprete das leis, promover o seu preenchimento. Dada à fluidez do tema, é possível colocar em evidência que o meio ambiente encontra íntima e umbilical relação com os componentes que cercam o ser humano, os quais são de imprescindível relevância para a sua existência. O Ministro Luiz Fux, ao apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.029/AM, salientou, com bastante per-tinência, que:

[...] o meio ambiente é um conceito hoje geminado com o de saúde públi-ca, saúde de cada indivíduo, sadia qualidade de vida, diz a Constituição, é por isso que estou falando de saúde, e hoje todos nós sabemos que ele é imbricado, é conceitualmente geminado com o próprio desenvolvimento. Se antes nós dizíamos que o meio ambiente é compatível com o desenvol-vimento, hoje nós dizemos, a partir da Constituição, tecnicamente, que não pode haver desenvolvimento senão com o meio ambiente ecologicamente equilibrado. A geminação do conceito me parece de rigor técnico, porque salta da própria Constituição Federal.12

É denotável, desta sorte, que a constitucionalização do meio ambien-te no Brasil viabilizou um verdadeiro salto qualitativo no que concerne, especificamente, às normas de proteção ambiental. Tal fato decorre da pre-missa que os robustos corolários e princípios norteadores foram alçados ao patamar constitucional, assumindo colocação eminente, ao lado das li-berdades públicas e dos direitos fundamentais. Superadas tais premissas, aprouve ao Constituinte, ao entalhar a Carta Política Brasileira, ressoando os valores provenientes dos direitos de terceira dimensão, insculpir na redação do art. 225 conceder amplo e robusto respaldo ao meio ambiente como

10 SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. São Paulo: Malheiros Editores, 2009. p. 20.11 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 13. ed. rev., atual e ampl.

São Paulo: Editora Saraiva, 2012. p. 77.12 BRASIL. Supremo Tribunal Federal, Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.029/AM, Tribunal Pleno, Rel.

Min. Luiz Fux, J. 08.03.2012. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em: 6 abr. 2016: “Ação direta de inconstitucionalidade. Lei Federal nº 11.516/2007. Criação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Legitimidade da Associação Nacional dos Servidores do Ibama. Entidade de classe de âmbito nacional. Violação do art. 62, caput e § 9º, da Constituição. Não emissão de parecer pela Comissão Mista Parlamentar. Inconstitucionalidade dos arts. 5º, caput, e 6º, caput e §§ 1º e 2º, da Resolução nº 1 de 2002 do Congresso Nacional. Modulação dos efeitos temporais da nulidade (art. 27 da Lei nº 9.868/1999). Ação direta parcialmente procedente”.

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pilar integrante dos direitos fundamentais. “Com o advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, as normas de proteção ambien-tal são alçadas à categoria de normas constitucionais, com elaboração de capítulo especialmente dedicado à proteção do meio ambiente”13. Nessa toada, ainda, é observável que o caput do art. 225 da Constituição Federal de 198814 está abalizado em quatro pilares distintos, robustos e singulares, que, em conjunto, dão corpo a toda tábua ideológica e teórica que assegura o substrato de edificação da ramificação ambiental.

Primeiramente, em decorrência do tratamento dispensado pelo artífi-ce da Constituição Federal, o meio ambiente foi içado à condição de direito de todos, presentes e futuras gerações. É encarado como algo pertencente a toda coletividade; assim, por esse prisma, não se admite o emprego de qualquer distinção entre brasileiro nato, naturalizado ou estrangeiro, des-tacando-se, sim, a necessidade de preservação, conservação e não polui-ção. O art. 225, devido ao cunho de direito difuso que possui, extrapola os limites territoriais do Estado brasileiro, não ficando centrado apenas na extensão nacional, compreendendo toda a humanidade. Neste sentido, o Ministro Celso de Mello, ao apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.856/RJ, destacou que

a preocupação com o meio ambiente – que hoje transcende o plano das presentes gerações, para também atuar em favor das gerações futuras [...] tem constituído, por isso mesmo, objeto de regulações normativas e de procla-mações jurídicas, que, ultrapassando a província meramente doméstica do direito nacional de cada Estado soberano, projetam-se no plano das declara-ções internacionais, que refletem, em sua expressão concreta, o compromis-so das Nações com o indeclinável respeito a esse direito fundamental que assiste a toda a Humanidade.15

13 THOMÉ, Romeu. Manual de direito ambiental: conforme o novo Código Florestal e a Lei Complementar nº 140/2011. 2. ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2012. p. 116.

14 BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 6 abr. 2016: “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

15 BRASIL. Supremo Tribunal Federal, Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.856/RJ, Tribunal Pleno, Rel. Min. Celso de Mello, J. 26.05.2011. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em: 6 abr. 2016: “Ação direta de inconstitucionalidade. Briga de galos (Lei Fluminense nº 2.895/1998). Legislação estadual que, pertinente a exposições e a competições entre aves das raças combatentes, favorece essa prática criminosa. Diploma legislativo que estimula o cometimento de atos de crueldade contra galos de briga. Crime ambiental (Lei nº 9.605/1998, art. 32). Meio ambiente. Direito à preservação de sua integridade (CF, art. 225). Prerrogativa qualificada por seu caráter de metaindividualidade. Direito de terceira geração (ou de novíssima dimensão) que consagra o postulado da solidariedade. Proteção constitucional da fauna (CF, art. 225, § 1º, VII). Descaracterização da briga de galo como manifestação cultural. Reconhecimento da inconstitucionalidade da lei estadual impugnada. Ação direta procedente. Legislação estadual que autoriza a realização de exposições e competições entre aves das raças combatentes. Norma que institucionaliza a prática de crueldade contra a fauna. Inconstitucionalidade”.

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RSA Nº 37 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ����������������������������������������������������������������������������������������������������������25

O termo “todos”, aludido na redação do caput do art. 225 da Cons-tituição Federal de 1988, faz menção aos já nascidos (presente geração) e ainda aqueles que estão por nascer (futura geração), cabendo àqueles zelar para que esses tenham à sua disposição, no mínimo, os recursos naturais que hoje existem. Tal fato encontra como arrimo a premissa de que foi reco-nhecido ao gênero humano o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao gozo de condições de vida adequada, em ambiente que permita de-senvolver todas as suas potencialidades em clima de dignidade e bem-estar. Pode-se considerar como um direito transgeracional, ou seja, ultrapassa as gerações; logo, é viável afirmar que o meio ambiente é um direito público subjetivo. Dessa feita, o ideário de que o meio ambiente substancializa pa-trimônio público a ser imperiosamente assegurado e protegido pelos orga-nismos sociais e pelas instituições estatais, qualificando verdadeiro encargo irrenunciável que se impõe, objetivando sempre o benefício das presentes e das futuras gerações, incumbindo tanto ao Poder Público quanto à coletivi-dade considerada em si mesma.

Dessa feita, decorrente do fato supramencionado, produz efeito erga mones, sendo, portanto, oponível contra a todos, incluindo pessoa física/natural ou jurídica, de direito público interno ou externo, ou mesmo de direito privado, como também ente estatal, autarquia, fundação ou socieda-de de economia mista. Impera, também, evidenciar que, como um direito difuso, não subiste a possibilidade de quantificar quantas são as pessoas atingidas, pois a poluição não afeta tão só a população local, mas sim toda a humanidade, pois a coletividade é indeterminada. Nessa senda de exposi-ção, quadra apontar que o direito à integridade do meio ambiente substan-cializa verdadeira prerrogativa jurídica de titularidade coletiva, ressoando a expressão robusta de um poder deferido, não ao indivíduo identificado em sua singularidade, mas em um sentido mais amplo, atribuído à própria coletividade social.

Salta aos olhos que, com a nova sistemática entabulada pela redação do art. 225 da Carta Maior, o meio ambiente passou a ter autonomia, tal seja não está vinculada a lesões perpetradas contra o ser humano para se agasalhar das reprimendas a serem utilizadas em relação ao ato perpetrado. Figura-se, ergo, como bem de uso comum do povo o segundo pilar que dá corpo aos sustentáculos do tema em tela. O axioma a ser esmiuçado está atrelado ao meio ambiente como vetor da sadia qualidade de vida, ou seja, manifesta-se na salubridade, precipuamente, ao vincular a espécie humana, está se tratando do bem-estar e condições mínimas de existência. Igualmen-te, o sustentáculo em análise se corporifica também na higidez, ao cumprir

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os preceitos de ecologicamente equilibrado, salvaguardando a vida em to-das as suas formas (diversidade de espécies).

Por derradeiro, insta mencionar, ainda, que o quarto pilar é a cor-responsabilidade, que impõe ao Poder Público o dever geral de se res-ponsabilizar por todos os elementos que integram o meio ambiente, assim como a condição positiva de atuar em prol de resguardar. Igualmente, tem a obrigação de atuar no sentido de zelar, defender e preservar, asseverando que o meio ambiente permaneça intacto. Aliás, este último se diferencia de conservar que permite a ação antrópica, viabilizando melhorias no meio ambiente, trabalhando com as premissas de desenvolvimento sustentável, aliando progresso e conservação. Por seu turno, o cidadão tem o dever ne-gativo, que se apresenta ao não poluir nem agredir o meio ambiente com sua ação. Além disso, em razão da referida corresponsabilidade, são titula-res do meio ambiente os cidadãos da presente e da futura gerações.

3 SINGELOS COMENTÁRIOS AO MEIO AMBIENTE NATURAL: TESSITURAS CONCEITUAIS SOBRE O TEMA

No que concerne ao meio ambiente natural, cuida salientar que tal faceta é descrita como ambiente natural, também denominado de físico, o qual, em sua estrutura, agasalha os fatores abióticos e bióticos, considera-dos como recursos ambientais. Nessa esteira de raciocínio, oportunamente, cumpre registrar, a partir de um viés jurídico, a acepção do tema em des-taque, o qual vem disciplinado pela Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000 – que regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII, da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natu-reza e dá outras providências –, em seu art. 2º, inciso IV, frisa que “recurso ambiental: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora”16. Nessa esteira, o termo fatores abióticos abriga a atmosfera, os elementos afetos à biosfera, as águas (inclusive aquelas que se encontram no mar territorial), pelo solo, pelo subsolo e pelos recursos minerais; já os fatores bióticos faz menção à fauna e à flora, como bem assinala Fiorillo17. Em razão da complexa interação entre os fatores abióticos e bióticos é que ocorre o fenômeno da homeostase, consistente no equilíbrio dinâmico entre os seres vivos e o meio em que se encontram inseridos.

16 BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII, da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 6 abr. 2016.

17 Fiorillo, 2012, p. 78.

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Consoante Rebello Filho e Bernardo, o meio ambiente natural “é constituído por todos os elementos responsáveis pelo equilíbrio entre os se-res vivos e o meio em que vivem: solo, água, ar atmosférico, fauna e flora”18. Nessa senda, com o escopo de fortalecer os argumentos apresentados, ne-cessário se faz colocar em campo os paradigmas que orientam a concepção recursos naturais como componentes que integram a paisagem, desde que não tenham sofrido maciças alterações pela ação antrópica, a ponto de des-naturar o seu aspecto característico. Trata-se, com efeito, de uma conjun-ção de elementos e fatores que mantêm uma harmonia complexa e frágil, notadamente em razão dos avanços e das degradações provocados pelo ser humano. Ao lado do esposado, faz-se carecido pontuar que os recursos na-turais são considerados como tal em razão do destaque concedido pelo ser humano, com o passar dos séculos, conferindo-lhes valores de ordem eco-nômica, social e cultural. Dessa feita, tão somente é possível a compreensão do tema a partir da análise da relação homem-natureza, eis que a interação entre aqueles é preponderante para o desenvolvimento do ser humano em todas as suas potencialidades. Patente se faz, ainda, em breves palavras, mencionar a classificação dos recursos naturais, notadamente em razão da importância daqueles no tema em testilha. O primeiro grupo compreende os recursos naturais renováveis, que são os elementos naturais, cuja correta utilização propicia a renovação, a exemplo do que se observa na fauna, na flora e nos recursos hídricos.

Os recursos naturais não renováveis fazem menção àqueles que não logram êxito na renovação ou, ainda, quando conseguem, esta se dá de maneira lenta em razão dos aspectos estruturais e característicos daqueles, como se observa no petróleo e nos metais em geral. Por derradeiro, os de-nominados recursos inesgotáveis agasalham aqueles que são “infindáveis”, como a luz solar e o vento. Salta aos olhos, a partir das ponderações estrutu-radas, que os recursos naturais, independente da seara em que se encontrem agrupados, apresentam como elemento comum de caracterização o fato de serem criados originariamente pela natureza. Nessa linha, ainda, de dicção, cuida assinalar que o meio ambiente natural encontra respaldo na Consti-tuição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu art. 225, caput e § 1º, incisos I, III e IV.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-

18 REBELLO FILHO, Wanderley; BERNARDO, Christianne. Guia prático de direito ambiental. Rio de Janeiro: Lumen, 1998. p. 19.

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-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas [omissis];

[...]

III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a su-pressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencial-mente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo pré-vio de impacto ambiental, a que se dará publicidade.19

Ora, como bem manifestou o Ministro Carlos Britto, ao apreciar a Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.540, “não se erige em área de proteção especial um espaço geográfico simplesmente a partir de sua vegetação, há outros elementos. Sabemos que fauna, flo-ra, floresta, sítios arqueológicos concorrem para isso”20. Verifica-se, assim,

19 BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 6 abr. 2016.

20 BRASIL. Supremo Tribunal Federal, Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.540, Tribunal Pleno, Rel. Min. Celso de Mello, J. 01.09.2005, DJe 03.02.2006, p. 14. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em: 6 abr. 2016: “Meio ambiente. Direito à preservação de sua integridade (CF, art. 225). Prerrogativa qualificada por seu caráter de metaindividualidade. Direito de terceira geração (ou de novíssima dimensão) que consagra o postulado da solidariedade. Necessidade de impedir que a transgressão a esse direito faça irromper, no seio da coletividade, conflitos intergeneracionais. Espaços territoriais especialmente protegidos (CF, art. 225, § 1º, III). Alteração e supressão do regime jurídico a eles pertinente. Medidas sujeitas ao princípio constitucional da reserva de lei. Supressão de vegetação em área de preservação permanente. Possibilidade de a administração pública, cumpridas as exigências legais, autorizar, licenciar ou permitir obras e/ou atividades nos espaços territoriais protegidos, desde que respeitada, quanto a estes, a integridade dos atributos justificadores do regime de proteção especial. Relações entre economia (CF, art. 3º, II, c/c o art. 170, VI) e ecologia (CF, art. 225). Colisão de direitos fundamentais. Critérios de superação desse estado de tensão entre valores constitucionais relevantes. Os direitos básicos da pessoa humana e as sucessivas gerações (fases ou dimensões) de direitos (RTJ 164/158, 160-161). A questão da precedência do direito à preservação do meio ambiente: uma limitação constitucional explícita à atividade econômica (CF, art. 170, VI). Decisão não referendada. Consequente indeferimento do pedido de medida cautelar. a preservação da integridade do meio ambiente: expressão constitucional de um direito fundamental que assiste à generalidade das pessoas. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Trata-se de um típico direito de terceira geração (ou de novíssima dimensão), que assiste a todo o gênero humano (RTJ 158/205-206). Incumbe, ao Estado e à própria coletividade, a especial obrigação de defender e preservar, em benefício das presentes e futuras gerações, esse direito de titularidade coletiva e de caráter transindividual (RTJ 164/158-161). O adimplemento desse encargo, que é irrenunciável, representa a garantia de que não se instaurarão, no seio da coletividade, os graves conflitos intergeneracionais marcados pelo desrespeito ao dever de solidariedade, que a todos se impõe, na proteção desse bem essencial de uso comum das pessoas em geral. Doutrina. A atividade econômica não pode ser exercida em desarmonia com os princípios destinados a tornar efetiva a proteção ao meio ambiente. A incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica, considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada,

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que o espaço territorial especialmente protegido do direito constitucional ao meio ambiente hígido e equilibrado, em especial no que atina à estru-tura e às funções dos diversos e complexos ecossistemas. Nessa esteira de exposição, as denominadas “unidades de conservação”, nesse aspecto de afirmação constitucional, enquanto instrumentos de preservação do meio ambiente natural, configuram áreas de maciço interesse ecológico que, em razão dos aspectos característicos naturais relevantes, recebem tratamento legal próprio, de maneira a reduzir a possibilidade de intervenções danosas ao meio ambiente.

Diante do exposto, o meio ambiente, em sua acepção macro, e es-pecificamente em seu desdobramento natural, configura elemento inerente ao indivíduo, atuando como sedimento à concreção da sadia qualidade de vida e, por extensão, ao fundamento estruturante da República Federativa do Brasil, consistente na materialização da dignidade da pessoa humana. Ao lado disso, tal como pontuado algures, a Constituição da República es-tabelece, em seu art. 225, o dever de o Poder Público adotar medidas de proteção e preservação do ambiente natural. Aliás, quadra anotar, oportu-namente, que tal dever é de competência político-administrativa de todos

dentre outros princípios gerais, àquele que privilegia a ‘defesa do meio ambiente’ (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral. Doutrina. Os instrumentos jurídicos de caráter legal e de natureza constitucional objetivam viabilizar a tutela efetiva do meio ambiente, para que não se alterem as propriedades e os atributos que lhe são inerentes, o que provocaria inaceitável comprometimento da saúde, segurança, cultura, trabalho e bem- estar da população, além de causar graves danos ecológicos ao patrimônio ambiental considerado este em seu aspecto físico ou natural. A questão do desenvolvimento nacional (CF, art. 3º, II) e a necessidade de preservação da integridade do meio ambiente (CF, art. 225): O princípio do desenvolvimento sustentável como fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia. O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações. O art. 4º do Código Florestal e a Medida Provisória nº 2.166-67/2001: um avanço expressivo na tutela das áreas de preservação permanente. A Medida Provisória nº 2.166-67, de 24.08.2001, na parte em que introduziu significativas alterações no art. 4º do Código Florestal, longe de comprometer os valores constitucionais consagrados no art. 225 da Lei Fundamental, estabeleceu, ao contrário, mecanismos que permitem um real controle, pelo Estado, das atividades desenvolvidas no âmbito das áreas de preservação permanente, em ordem a impedir ações predatórias e lesivas ao patrimônio ambiental, cuja situação de maior vulnerabilidade reclama proteção mais intensa, agora propiciada, de modo adequado e compatível com o texto constitucional, pelo diploma normativo em questão. Somente a alteração e a supressão do regime jurídico pertinente aos espaços territoriais especialmente protegidos qualificam-se, por efeito da cláusula inscrita no art. 225, § 1º, III, da Constituição, como matérias sujeitas ao princípio da reserva legal. É lícito ao Poder Público – qualquer que seja a dimensão institucional em que se posicione na estrutura federativa (União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios) – autorizar, licenciar ou permitir a execução de obras e/ou a realização de serviços no âmbito dos espaços territoriais especialmente protegidos, desde que, além de observadas as restrições, limitações e exigências abstratamente estabelecidas em lei, não resulte comprometida a integridade dos atributos que justificaram, quanto a tais territórios, a instituição de regime jurídico de proteção especial (CF, art. 225, § 1º, III)”.

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os entes políticos, devendo, para tanto, evitar que os espaços de proteção ambiental sejam utilizados de forma contrária à sua função – preservação das espécies nativas e, ainda, promover ostensiva fiscalização desses locais. Verifica-se, portanto, que o escopo repousa em assegurar que, por meio da fiscalização, o indivíduo tenha acesso às formações naturais como elemento inerente à dignidade da pessoa humana.

4 INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE: A CONFLUÊNCIA ENTRE OS COROLÁRIOS DA SUPREMACIA DO INTERESSE PúBLICO E DO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EqUILIBRADO

Em um primeiro comentário, antes de adentrar ao cerne do presen-te, cuida, oportunamente, esmiuçar, de maneira mais robusta, a respeito da proeminência do protagonismo do Estado no que atina à garantia e à salvaguarda dos direitos fundamentais. “Muito mais do que isso, o Estado deve perceber e concretizar as aspirações coletivas, exercendo papel de funda conotação social”21, como obtempera José dos Santos Carvalho Filho. Nessa esteira, durante o curso evolutivo da sociedade, o Estado do século XIX não apresentava essa preocupação; ao reverso, a doutrina do laissez feire assegurava ampla liberdade aos indivíduos e considerava intocáveis os seus direitos, mas, concomitantemente, permitia que os abismos sociais se tornassem cada vez mais profundos, colocando em exposição os inevitá-veis conflitos oriundos da desigualdade, provenientes das distintas camadas sociais.

Quadra pontuar que essa forma de Estado deu origem ao Estado de Bem-Estar, o qual utiliza de seu poder supremo e coercitivo para suavizar, por meio de uma intervenção decidida, algumas das consequências consi-deradas mais penosas da desigualdade econômica. “O bem-estar social é o bem comum, o bem do povo em geral, expresso sob todas as formas de satisfação das necessidades comunitárias”22, compreendo, aliás, as exigên-cias materiais e espirituais dos indivíduos coletivamente considerados. Com realce, são as necessidades consideradas vitais da comunidade, dos grupos e das classes que constituem a sociedade. Abandonando, paulatinamente, a posição de indiferente distância, o Estado contemporâneo passa a assumir a tarefar de garantir a prestação dos serviços fundamentais e ampliando seu espectro social, objetivando a materialização da proteção da sociedade vista como um todo, e não mais como uma resultante do somatório de in-dividualidades.

21 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 24. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. p. 711.

22 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 38. ed. São Paulo: Malheiros, 2012. p. 661.

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Nesse sentido, inclusive, o Ministro Luiz Fux, ao apreciar o Agravo Regimental no Recurso Extraordinário com Agravo nº 672.579/RJ, firmou entendimento que, “ainda que seja de aplicação imediata e incondicional a norma constitucional que estabeleça direitos fundamentais, não pode o Ente Estatal beneficiar-se de sua inércia em não regulamentar, em sua esfera de competência, a aplicação de direito constitucionalmente garantido”23. Desta feita, para consubstanciar a novel feição adotada pelo Estado, restou necessário que esse passasse a se imiscuir nas relações dotadas de aspecto privado. “Para propiciar esse bem-estar social o Poder Público pode inter-vir na propriedade privada e nas atividades econômicas das empresas, nos limites da competência constitucional atribuída”24, por meio de normas le-gais e atos de essência administrativa adequados aos objetivos contidos na intervenção dos entes estatais.

Com efeito, nem sempre o Estado intervencionista ostenta aspectos positivos; todavia, é considerado melhor tolerar a hipertrofia com vistas à defesa social do que assistir à sua ineficácia e ao seu desinteresse diante dos conflitos produzidos pelos distintos grupamentos sociais. Nesse jaez, justa-mente, é que se situa o dilema moderno na relação existente entre o Estado e o indivíduo, porquanto, para que possa atender aos reclamos globais da sociedade e captar as exigências inerentes ao interesse público, é carecido que o Estado atinja alguns interesses individuais. Ao lado disso, o norte que tem orientado essa relação é o da supremacia do interesse público sobre o particular, constituindo verdadeiro postulado político da intervenção do Estado na propriedade.

O princípio constitucional da supremacia do interesse público, como moder-namente compreendido, impõe ao administrador ponderar, diante do caso concreto, o conflito de interesses entre o público e o privado, a fim de definir, à luz da proporcionalidade, qual direito deve prevalecer sobre os demais.25

23 BRASIL. Supremo Tribunal Federal, Agravo Regimental no Recurso Extraordinário com Agravo nº 672.579/RJ, 1ª Turma, Rel. Min. Luiz Fux, J. 29.05.2012, DJ 19.06.2012. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em: 6 abr. 2016: “Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Direito administrativo. Servidor público. Adicional noturno. Regime de plantão semanal. Necessário reexame da legislação infraconstitucional. Análise do contexto fático-probatório. Impossibilidade. Incidência da Súmula nº 279 do STF. Agravo regimental desprovido”.

24 Meirelles, 2012, p. 662.25 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça, Recurso em Mandado de Segurança nº 27.428/GO, 5ª Turma, Rel. Min.

Jorge Mussi, J. 03.03.2011, DJ 14.03.2011. Disponível em: <www.stj.jus.br>. Acesso em: 6 abr. 2016: “Administrativo. Servidor público. Determinação de abertura de conta corrente em instituição financeira pré- -determinada. Recebimento de proventos. Possibilidade. Recurso ordinário improvido”.

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5 COMENTÁRIOS À LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA EM MATéRIA AMBIENTAL: UMA ANÁLISE À LUz DO ENTENDIMENTO DO STJ

Diante das tessituras apresentadas, as limitações administrativas são determinações de aspecto geral, por meio dos quais o Poder Público impõe a proprietários indeterminados obrigações positivas, negativas ou permissi-vas, para o fim de condicionar as propriedades no atendimento da função social. Meirelles, nesse diapasão, salienta que “a limitação administrativa é toda imposição geral, gratuita, unilateral e de ordem pública condiciona-dora do exercício de direitos ou de atividades particulares às exigências do bem-estar social”26. Em mesmo sedimento, Gasparini, com bastante lucidez, obtempera que a limitação administrativa é “toda imposição do Estado, de caráter geral, que condiciona direitos dominiais do proprietário, indepen-dente de qualquer indenização”27.

É possível citar como exemplos de obrigação positiva os proprietários a quem impõe a limpeza de terrenos ou a que impõe o parcelamento ou a edificação compulsória. Da mesma maneira, é possível que sejam impostas obrigações negativas, tal como a proibição de construir, além de determina-do número de pavimentos, limitação conhecida como gabarito de prédios. A propriedade ainda é limitada por meio de obrigações permissivas, ou seja, aquelas em que o proprietário tem que tolerar a ação administrativa, como, por exemplo, a permissão de vistorias em elevadores de edifícios e ingresso de agentes passa fins de vigilância sanitária. “No caso das limitações ad-ministrativas, o Poder Público não pretende levar a cabo qualquer obra ou serviço público. Pretende, ao contrário, condicionar as propriedades à ver-dadeira função social que delas é exigida”28, mesmo que ocorra a colidência com os interesses individuais dos proprietários.

Quadra salientar que as limitações administrativas representam mo-dalidades de expressão da supremacia geral que o Estado exerce sobre pes-soas e coisas existentes no seu território, defluindo do condicionamento da propriedade privada e das atividades individuais ao bem-estar da comuni-dade. Conforme já se decidiu, “os regulamentos são limitações adminis-trativas que encerram preceitos de ordem pública, derivados do poder de polícia do Município, inerente e indissociável da Administração e se ex-teriorizam em imposições unilaterais e imperativas”29, sendo manifestadas

26 Meirelles, 2012, p. 695.27 Gasparini, 2012, p. 887.28 Carvalho Filho, 2011, p. 731.29 RIO GRANDE DO SUL (ESTADO). Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Agravo de Instrumento

nº 70030301527, 21ª Câmara Cível, Rel. Des. Marco Aurélio Heinz, J. 20.01.2010. Disponível em: <www.tjrs.jus.br>. Acesso em: 6 abr. 2016: “Agravo de instrumento. Ação civil pública. Liminar suspendendo a

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sob a tríplice modalidade positiva (fazer), negativa (não fazer) ou permissiva (deixar fazer).

Ao se esmiuçarem as limitações administrativas, necessário faz-se destacar aspectos concernentes às suas naturezas jurídicas. O primeiro de-les toca à natureza dos atos de impõem as obrigações, uma vez que as ma-nifestações volitivas do Poder Público, no sentido das limitações, pode se consubstanciar por leis ou por atos administrativos normativos. “Serão eles sempre gerais, porque, contrariamente ao que ocorre com as formas inter-ventivas anteriores, as limitações não se destinam a imóveis específicos, mas a um grupamento de propriedades em que é dispensável a identificação”30. É observável, desta sorte, que subsiste a indeterminabilidade acerca do uni-verso de destinatários e de propriedades alcançadas pelas limitações.

Outro aspecto que merece ser abordado, em razão da relevância para a análise do tema, consiste na distinção que repousa sobre limitação e res-trição do direito. A restrição toca ao exercício em si das faculdades inerentes ao conteúdo do direito, ao passo que a limitação já constitui o conteúdo do direito, isto é, o próprio direito de propriedade tem sua dimensão jurídica condicionada pelas várias limitações estatuídas no ordenamento jurídico. Dessa maneira, quadra sublinhar que o conteúdo do direito já teria reduções concernentes às limitações administrativas, aos direitos de vizinhança, etc. Assim, ao se caracterizar a natureza jurídica das limitações administrativas, é possível dizer que se tratam de atos legislativos ou administrativos, de ca-ráter geral, que estabelecem o contorno do próprio direito de propriedade.

O fundamento genérico às ocupações temporárias encontra amparo nas disposições ventiladas pelos arts. 5º, inciso XXIII31, e 170, inciso III32,

licença de construção. Dano ambiental. Construção em área de preservação. Prova. Inexistência. O proprietário pode levantar em seu terreno as construções que lhe aprouver, salvo direito dos vizinhos e os regulamentos administrativos (art. 1.299 do CC). Os regulamentos são limitações administrativas que encerram preceitos de ordem pública, derivados do poder de polícia do Município, inerente e indissociável da Administração e se exteriorizam em imposições unilaterais e imperativas sob a tríplice modalidade positiva (fazer), negativa (não fazer) ou permissiva (deixar fazer). No caso dos autos, o agravante expediu licença de construção, conforme revela a documentação carreada aos autos. Por outro lado, não há prova de que a futura construção irá atingir área de preservação. Inexistente, portanto, a comprovação do dano ambiental. Não vislumbro, assim, a verossimilhança no direito invocado pelo autor para fundamentar a suspensão da licença de construção. Agravo provido”.

30 Carvalho Filho, 2011, p. 732.31 BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal,

1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 6 abr. 2016: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [omissis] XXIII – a propriedade atenderá a sua função social”.

32 Idem: “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [omissis] III – função social da propriedade”.

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ambos da Constituição Federal, porquanto ambos qualificam a propriedade como direito condicionado ao atendimento da função social. Em relação, porém, às limitações administrativas, oportunamente, tem que se invocar outro fundamento, consistente no exercício do poder de polícia, porquanto este encerra exatamente a prática de atos administrativos que restringem e condicionam a liberdade e a propriedade, com vista ao interesse coletivo. Como bem salienta Gasparini, as limitações administrativas “são instituídas por lei de qualquer das entidades políticas (União, Estado-membro, Distrito Federal, Municípios), consoante a respectiva competência, por tratar-se de matéria de natureza administrativa”33.

Em decorrência de tal aspecto, incabível é, aos proprietários, a uti-lização de qualquer medida administrativa ou judicial, com o escopo de obstar a imposição das limitações sobre as propriedades. Insta acrescen-tar, também, que “as limitações ou estarão estampadas na própria lei, ou em atos normativos fundados em lei. Implicam, pois, o exercício do poder estatal para assegurar o bem-estar comum”34. No mais, é importante evi-denciar que as ações administrativas em comento encontram respaldo mais remoto na denominada supremacia geral, também nomeada de sujeição geral, retratada no poder de soberania estatal. De maneira mais próxima, o fundamento repousa na supremacia especial, ou sujeição especial, que está direcionada especificamente a propriedades definidas.

Em alinho às ponderações aventadas até o momento, quadra salientar que a limitação administrativa, em matéria ambiental, se reveste de ele-vado aspecto humanístico, sobretudo quando se verifica a consolidação do ideário contido no princípio da função socioambiental da propriedade. Contudo, é importante, em tal cenário, assinalar que a limitação adminis-trativa ambiental não deve ser confundida com a desapropriação indireta, porquanto, no caso da primeira, denota-se que inexiste o desapossamento pelo Poder Público, em que pese a possibilidade de ocorrência de esvazia-mento econômico em prol da preservação da área ambiental assinalada. Denota-se, portanto, que, em sede de limitação administrativa ambiental, o proprietário continua ostentando tal condição; contudo, em decorrência das normas ambientais, tem o exercício limitado em prol da preservação da área demarcada. Tal situação, por si só, não se confunde com a desapropria-ção indireta, na qual há o verdadeiro apossamento da propriedade por parte do ente público. Neste sentido, inclusive, remansosa é a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, em especial quando aponta:

33 Gasparini, 2012, p. 888.34 Carvalho Filho, 2011, p. 733.

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Ementa: Processual civil e administrativo. Desapropriação. Reexame de fa-tos. Súmula nº 7/STJ. Limitação administrativa. Direito ambiental. Esvazia-mento econômico. Ausência de apossamento. Desapropriação indireta. Não ocorrência. Precedentes. 1. Recurso especial em que se discute reconheci-mento de desapropriação indireta e consequente indenização decorrentes de ato do poder público que limitou o direito de propriedade da parte recorren-te, visto que o imóvel estava localizado em área de preservação ambiental. 2. O Tribunal de origem consignou que não houve desapropriação indireta por parte do Município, mas tão somente limitação administrativa, ressaltan-do o fato de os autores continuarem residindo no terreno e na casa dos quais alegam ter sido expropriados. Embora a parte defenda a inviabilidade de morar no local, o Tribunal declarou que a limitação administrativa feita pelo Município impossibilita a ampliação da edificação, mas não lhe prejudica a possibilidade de moradia. Afastar tal premissa encontra óbice na Súmula nº 7 desta Corte Superior. 3. “Não há desapropriação indireta sem que haja o efetivo apossamento da propriedade pelo Poder Público. Desse modo, as restrições ao direito de propriedade, impostas por normas ambientais, ainda que esvaziem o conteúdo econômico, não se constituem desapropriação in-direta. O que ocorre com a edição de leis ambientais que restringem o uso da propriedade é a limitação administrativa, cujos prejuízos causados devem ser indenizados por meio de ação de direito pessoal, e não de direito real, como é o caso da ação em face de desapropriação indireta” (AgRg-EDcl--AREsp 457.837/MG, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., DJe 22.05.2014). Agravo regimental improvido. (STJ, 2ª T., AgRg-REsp 1.389.132/SC, Rel. Min. Humberto Martins, Julgado em 19.05.2015, Publicado no DJe em 26.05.2015)

Ementa: Direito administrativo. Processual civil. Recurso especial. Desapro-priação. Parcela de imóvel. Criação. Lago artificial. Usina hidrelétrica. Indeni-zação paga. Pretensão. Reparação. Parcela imobiliária diversa. Impossibilida-de de uso. Cultivo agrícola. Criação. Área de preservação permanente. Mera limitação administrativa. Prescrição quinquenal. Ocorrência. Inaplicação. Sú-mulas nºs 39/STJ e 119/STJ. Pedido. Lucros cessantes. Prejudicado. 1. A desa-propriação indireta somente se dá com o efetivo desapossamento do imóvel em favor do ente expropriante, tal não ocorrendo com a simples limitação decorrente da criação de área de preservação permanente, situação em que o proprietário mantém o domínio da gleba mas com restrições impostas por norma de direito ambiental. 2. Essa situação, por caracterizar-se como limi-tação administrativa, autoriza seja o proprietário indenizado, limitada a sua pretensão, no entanto, ao prazo prescricional quinquenal de que trata o art. 10 do Decreto-Lei nº 3.365/1941, disposição de regência específica da matéria. 3. Precedente idêntico: AgRg-REsp 1.361.025/MG (Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., Julgado em 18.04.2013, DJe 29.04.2013). 4. Agravo regimen-tal não provido. (STJ, 2ª T., AgRg-EDcl-REsp 1.417.632/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Julgado em 06.02.2014, Publicado no DJe em 11.02.2014).

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Ementa: Ambiental e processual civil. Ação civil pública. Ocupação e edifi-cação em Área de Preservação Permanente – APP. Casas de veraneio. Mar-gens do Rio Ivinhema/MS. Supressão de mata ciliar. Descabimento. Art. 8º da Lei nº 12.651/2012. Não enquadramento. Direito adquirido ao poluidor. Fato consumado. Descabimento. Desapropriação não configurada. Limita-ção administrativa. Dano ambiental e nexo de causalidade configurados. Ausência de prequestionamento. Súmula nº 211/STJ. 1. Descabida a supres-são de vegetação em Área de Preservação Permanente – APP que não se enquadra nas hipóteses previstas no art. 8º do Código Florestal (utilidade pública, interesse social e baixo impacto ambiental). 2. Conquanto não se possa conferir ao direito fundamental do meio ambiente equilibrado a ca-racterística de direito absoluto, certo é que ele se insere entre os direitos in-disponíveis, devendo-se acentuar a imprescritibilidade de sua reparação, e a sua inalienabilidade, já que se trata de bem de uso comum do povo (art. 225, caput, da CF/1988). 3. Em tema de direito ambiental, não se cogita em direito adquirido à devastação, nem se admite a incidência da teoria do fato consu-mado. Precedentes do STJ e STF. 4. A proteção legal às áreas de preservação permanente não importa em vedação absoluta ao direito de propriedade e, por consequência, não resulta em hipótese de desapropriação, mas configura mera limitação administrativa. Precedente do STJ. 5. Violado o art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/1981, pois o Tribunal de origem reconheceu a ocorrência do dano ambiental e o nexo causal (ligação entre a sua ocorrência e a fonte poluidora), mas afastou o dever de promover a recuperação da área afetada e indenizar eventuais danos remanescentes. 6. Em que pese ao loteamento em questão haver sido concedido licenciamento ambiental, tal fato, por si só, não elide a responsabilidade pela reparação do dano causado ao meio ambiente, uma vez afastada a legalidade da autorização administrativa. 7. É inadmissível o recurso especial quanto a questão não decidida pelo Tribunal de origem, por falta de prequestionamento (Súmula nº 211/STJ). 8. Recurso especial parcialmente conhecido e provido. (STJ, 2ª T., REsp 1.394.025/MS, Relª Min. Eliana Calmon, Julgado em 08.10.2013, Publicado no DJe em 18.10.2013).

Conquanto não se possa conferir ao direito fundamental do meio am-biente equilibrado a característica de direito absoluto, certo é que ele se insere entre os direitos indisponíveis, devendo-se acentuar a imprescritibi-lidade de sua reparação e a sua inalienabilidade, já que se trata de bem de uso comum do povo, consoante expressa previsão ínsita no caput do art. 225 da Constituição de 1988. Em tema de direito ambiental, não se co-gita em direito adquirido à devastação, nem se admite a incidência da teoria do fato consumado. A proteção legal às áreas de preservação permanente não importa em vedação absoluta ao direito de propriedade e, por conse-

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quência, não resulta em hipótese de desapropriação, mas configura mera limitação administrativa.

REFERÊNCIAS

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BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 15 out. 2016.

______. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacio-nal do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 15 out. 2016.

______. Lei nº 9.985, de 18 de Julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII, da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 15 out. 2016.

______. Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/biomas/caatinga>. Acesso em: 15 out. 2016.

______. Supremo Tribunal Federal. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em: 15 out. 2016.

______. Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Disponível em: <www.trf2.jus.br>. Acesso em: 15 out. 2016.

BRITO, Fernando de Azevedo Alves. A hodierna classificação do meio--ambiente, o seu remodelamento e a problemática sobre a existência ou a inexistência das classes do meio-ambiente do trabalho e do meio-ambiente misto. Boletim Jurídico, Uberaba, ano 5, n. 968. Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br>. Acesso em: 15 out. 2016.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 24. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.

FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 13. ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2012.

GASPARINI, Diógenes. Direito administrativo. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 38. ed. São Paulo: Malheiros, 2012.

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MINAS GERAIS (ESTADO). Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Disponível em: <www.tjmg.jus.br>. Acesso em: 15 out. 2016.

MOTTA, Sylvio; DOUGLAS, Willian. Direito constitucional – Teoria, jurisprudência e 1.000 questões. 15. ed. rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro: Impetus, 2004.

RIO GRANDE DO SUL (ESTADO). Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Disponível em: <www.tjrs.jus.br>. Acesso em: 15 out. 2016.

SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago. Direito constitucional am-biental: constituição, direitos fundamentais e proteção do ambiente. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.

SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. São Paulo: Malheiros, 2009.

THOMÉ, Romeu. Manual de direito ambiental: conforme o novo Código Flo-restal e a Lei Complementar nº 140/2011. 2. ed. Salvador: JusPodivm, 2012.

VERDAN, Tauã Lima. Princípio da legalidade: corolário do direito penal. Jurid Publicações Eletrônicas, Bauru, 22 jun. 2009. Disponível em: <http://jornal.jurid.com.br>. Acesso em: 15 out. 2016.

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Assunto Especial – Acórdão na Íntegra

Limitação Ambiental

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Superior Tribunal de JustiçaRecurso Especial nº 1.241.630 – PR (2011/0046147‑2)Relator: Ministro Herman BenjaminRecorrente: Valdeci Luiz BidinAdvogado: Ismar Antônio Pawelak e outro(s)Recorrido: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IbamaProcurador: Jaqueline Maggioni Piazza e outro(s)

EMENTA

ADMINISTRATIVO – DIREITO AMBIENTAL – ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP) – RIO SANTO ANTÔNIO – LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA – INEXISTÊNCIA DE DIREITO À INDENIzAÇÃO – DANOS AMBIENTAIS – OBRIGAÇÃO PROPTER REM – PRAzO PRES- CRICIONAL – VACATIO LEGIS NÃO SE PRESUME

1. Restrição de uso decorrente da legislação ambiental é simples limi-tação administrativa, e não se confunde com o desapossamento típico da desapropriação indireta. Dessa forma não enseja ao proprietário direito à indenização, mais ainda quando o imóvel foi adquirido após a entrada em vigência da norma de proteção do meio ambiente, o que afasta qualquer pretensão de boa-fé objetiva do atual titular do domínio: AgRg-EDcl-REsp 1.417.632/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., DJe 11.02.2014; AgRg-EDcl-REsp 1.334.228/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., DJe 11.12.2013, e REsp 1.394.025/MS, Relª Min. Eliana Calmon, 2ª T., DJe 18.10.2013.

2. A obrigação de reparação dos danos ambientais é propter rem, sem prejuízo da solidariedade entre os vários causadores do dano, descabendo falar em direito adquirido à degradação. O novo pro-prietário assume o ônus de manter a integridade do ecossistema pro-tegido, tornando-se responsável pela recuperação, mesmo que não tenha contribuído para o desmatamento ou destruição: AgRg-REsp 1.367.968/SP, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., DJe 12.03.2014,

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e REsp 1.251.697/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., DJe 17.04.2012.

3. O prazo prescricional é quinquenal, conforme dispõe o art. 10, pa-rágrafo único, do DL 3.365/1941, e se inicia com o advento da norma que criou a restrição ambiental (REsp 1.239.948/PR, Relª Min. Eliana Calmon, 2ª T., DJe 14.10.2013).

4. Vacatio legis não se presume, devendo constar expressamente do texto legal. Assim, se o legislador estabelece obrigação ambiental sem fixar termo inicial ou prazo para seu cumprimento, pressupõe-se que sua incidência e sua exigibilidade são imediatas.

5. Recurso Especial não provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça: “A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).” Os Srs. Ministros Og Fernandes (Presidente), Mauro Campbell Marques, Assusete Magalhães e Humberto Martins votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 23 de junho de 2015 (data do Julgamento).

Ministro Herman Benjamin Relator

RELATÓRIO

O Exmo. Sr. Ministro Herman Benjamin (Relator):

Cuida-se de Recurso Especial interposto, com fundamento no art. 105, III, a e c, da Constituição da República, contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região assim ementado (fls. 382-383, e-STJ):

ADMINISTRATIVO – INFRAÇÃO AMBIENTAL – IBAMA – MULTA – ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP) – RIO SANTO ANTÔNIO – CÓDI-GO FLORESTAL – DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA – DESCARACTERIZAÇÃO – INDENIZAÇÃO – DESCABIMENTO – PRESCRIÇÃO

1. Ao explorar a propriedade com a agricultura ou criação de animais, mes-mo objetivando auferir o seu sustento e de sua família, também é obrigação

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da parte, autora a defesa ecológica, mormente porque a própria atividade econômica tem como pressuposto essa proteção (art. 170, CF). O direito de propriedade não é uma cláusula aberta para a prática de atividades que não se coadunam com o interesse coletivo ao meio ambiente sadio e sustentável.

2. Não há que se falar em desapropriação indireta, por não ter havido, no caso em debate, a ocorrência simultânea de “(a) o apossamento do bem pelo Estado, sem prévia observância do devido processo de desapropriação; (b) a afetação do bem, isto é, sua destinação à utilização pública; e (c) a impossibilidade material da outorga da tutela específica ao proprietário, isto é, a irreversibilidade da situação fática resultante do indevido apossamento e da afetação” (STJ, REsp 442.774/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 20.06.2005).

3. O termo inicial da prescrição, ainda que se entendesse possível a inde-nização, seria a entrada em vigor do Código Florestal, o que restaria invia-bilizado pelo implemento do prazo prescricional, vintenário em relação à desapropriação indireta, ou quinquenal em vista da limitação administrativa.

4. A multa foi aplicada em face de ilícito ambiental praticado pelo proprie-tário particular ao desmatar áreas de preservação permanente sem autori-zação. Considerações históricas não afastam a presunção de legitimidade que acompanha as atividades dos gestores ambientais e a questão crucial da preservação dos mananciais hídricos está a merecer atenção pronta e diligente dos órgãos públicos, em especial do Ibama. Por outro lado, ditos fatos não consagram direito adquirido à degradação do meio ambiente e não autorizam o desrespeito ao vetusto Código Florestal, fragilizando a atuação da tutela protetora.

A parte agravante alega divergência jurisprudencial e violação dos arts. 2º, 8º e 18 da Lei nº 4.771/1965 e do art. 1º do Decreto nº 20.910/1932. Afirma que o seu imóvel foi objeto de desmatamento antes da vigência do Código Florestal (fl. 406, e-STJ). Aduz que a legislação determina que o proprietário da área a ser reflorestada seja indenizado pela União (fl. 407, e-STJ).

Registra que o direito de pleitear indenização contra o Estado ainda não prescreveu (fl. 410, e-STJ).

Os Embargos de Declaração foram rejeitados (fls. 392-395, e-STJ).

Há Parecer do Subprocurador-Geral da República Antônio Carlos Pessoa Lins pelo não conhecimento do Recurso Especial (fls. 508-510, e-STJ).

É o relatório.

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VOTO

O Exmo. Sr. Ministro Herman Benjamin (Relator): A irresignação não merece acolhida.

Conforme uníssono entendimento desta Corte, restrição de uso decor-rente da legislação ambiental é simples limitação administrativa, e não se confunde com o desapossamento típico da desapropriação indireta. Dessa forma não enseja ao proprietário direito à indenização, mais ainda quando o imóvel foi adquirido após a entrada em vigência da norma de proteção do meio ambiente, o que afasta qualquer pretensão de boa-fé objetiva do atual titular do domínio. Cito precedentes:

DIREITO ADMINISTRATIVO – PROCESSUAL CIVIL – RECURSO ESPECIAL – DESAPROPRIAÇÃO – PARCELA DE IMÓVEL – CRIAÇÃO – LAGO ARTIFI-CIAL – USINA HIDRELÉTRICA – INDENIZAÇÃO PAGA – PRETENSÃO – RE-PARAÇÃO – PARCELA IMOBILIÁRIA DIVERSA – IMPOSSIBILIDADE DE USO – CULTIVO AGRÍCOLA – CRIAÇÃO – ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMA-NENTE – MERA LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA – PRESCRIÇÃO QUINQUE-NAL – OCORRÊNCIA – INAPLICAÇÃO – SÚMULAS NºS 39/STJ E 119/STJ – PEDIDO – LUCROS CESSANTES – PREJUDICADO

1. A desapropriação indireta somente se dá com o efetivo desapossamento do imóvel em favor do ente expropriante, tal não ocorrendo com a simples limitação decorrente da criação de área de preservação permanente, situa-ção em que o proprietário mantém o domínio da gleba mas com restrições impostas por norma de direito ambiental.

2. Essa situação, por caracterizar-se como limitação administrativa, auto-riza seja o proprietário indenizado, limitada a sua pretensão, no entanto, ao prazo prescricional quinquenal de que trata o art. 10 do Decreto-Lei nº 3.365/1941, disposição de regência específica da matéria.

3. Precedente idêntico: AgRg-REsp 1.361.025/MG (Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., Julgado em 18.04.2013, DJe 29.04.2013).

4. Agravo regimental não provido.

(AgRg-EDcl-REsp 1417632/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., DJe 11.02.2014)

DIREITO ADMINISTRATIVO – PROCESSUAL CIVIL – RECURSO ESPECIAL – DESAPROPRIAÇÃO – PARCELA DE IMÓVEL – CRIAÇÃO – LAGO AR-TIFICIAL – USINA HIDRELÉTRICA – INDENIZAÇÃO PAGA – PRETENSÃO – REPARAÇÃO – PARCELA IMOBILIÁRIA DIVERSA – IMPOSSIBILIDADE

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DE USO – CULTIVO AGRÍCOLA – CRIAÇÃO – ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE – MERA LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA – PRESCRIÇÃO QUINQUENAL – OCORRÊNCIA – INAPLICAÇÃO – SÚMULAS NºS 39/STJ E 119/STJ – PEDIDO – LUCROS CESSANTES – PREJUDICADO

1. A desapropriação indireta somente se dá com o efetivo desapossamento do imóvel em favor do ente expropriante, tal não ocorrendo com a simples limitação decorrente da criação de área de preservação permanente, situa-ção em que o proprietário mantém o domínio da gleba mas com restrições impostas por norma de direito ambiental.

2. Essa situação, por caracterizar-se como limitação administrativa, auto-riza seja o proprietário indenizado, limitada a sua pretensão, no entanto, ao prazo prescricional quinquenal de que trata o art. 10 do Decreto-Lei nº 3.365/1941, disposição de regência específica da matéria.

3. Precedente idêntico: AgRg-REsp 1.361.025/MG (Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., Julgado em 18.04.2013, DJe 29.04.2013)

4. Agravo regimental não provido.

(AgRg-EDcl-REsp 1334228/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., DJe 11.12.2013)

AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – OCUPAÇÃO E EDIFICAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP) – CA-SAS DE VERANEIO – MARGENS DO RIO IVINHEMA/MS – SUPRESSÃO DE MATA CILIAR – DESCABIMENTO – ART. 8º DA LEI Nº 12.651/2012 – NÃO ENQUADRAMENTO – DIREITO ADQUIRIDO AO POLUIDOR – FATO CONSUMADO – DESCABIMENTO – DESAPROPRIAÇÃO NÃO CONFIGU-RADA – LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA – DANO AMBIENTAL E NEXO DE CAUSALIDADE CONFIGURADOS – AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMEN-TO – SÚMULA Nº 211/STJ

1. Descabida a supressão de vegetação em Área de Preservação Permanente – APP que não se enquadra nas hipóteses previstas no art. 8º do Código Flo-restal (utilidade pública, interesse social e baixo impacto ambiental).

2. Conquanto não se possa conferir ao direito fundamental do meio ambiente equilibrado a característica de direito absoluto, certo é que ele se insere entre os direitos indisponíveis, devendo-se acentuar a imprescritibilidade de sua reparação, e a sua inalienabilidade, já que se trata de bem de uso comum do povo (art. 225, caput, da CF/1988).

3. Em tema de direito ambiental, não se cogita em direito adquirido à devas-tação, nem se admite a incidência da teoria do fato consumado. Precedentes do STJ e STF.

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4. A proteção legal às áreas de preservação permanente não importa em vedação absoluta ao direito de propriedade e, por consequência, não resulta em hipótese de desapropriação, mas configura mera limitação administrati-va. Precedente do STJ.

5. Violado o art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/1981, pois o Tribunal de origem reconheceu a ocorrência do dano ambiental e o nexo causal (ligação entre a sua ocorrência e a fonte poluidora), mas afastou o dever de promover a recu-peração da área afetada e indenizar eventuais danos remanescentes.

6. Em que pese ao loteamento em questão haver sido concedido licencia-mento ambiental, tal fato, por si só, não elide a responsabilidade pela repa-ração do dano causado ao meio ambiente, uma vez afastada a legalidade da autorização administrativa.

7. É inadmissível o recurso especial quanto à questão não decidida pelo Tri-bunal de origem, por falta de prequestionamento (Súmula nº 211/STJ).

8. Recurso especial parcialmente conhecido e provido.

(REsp 1394025/MS, Relª Min. Eliana Calmon, 2ª T., DJe 18.10.2013)

A obrigação de reparação dos danos ambientais é propter rem, sem prejuízo da solidariedade entre os vários causadores do dano, descabendo falar em direito adquirido à degradação. O novo proprietário assume o ônus de manter o ecossistema protegido, tornando-se responsável pela restaura-ção, mesmo que não tenha contribuído para o desmatamento ou destruição. A propósito:

AMBIENTAL – PROCESSUAL CIVIL – OMISSÃO INEXISTENTE – INSTITUI-ÇÃO DE ÁREA DE RESERVA LEGAL – OBRIGAÇÃO PROPTER REM E EX LEGE – SÚMULA Nº 83/STJ – APLICAÇÃO DO ART. 68 DO NOVO CÓDI-GO FLORESTAL – IMPOSSIBILIDADE – DESRESPEITO AOS PERCENTUAIS EXIGIDOS PARA A ÁREA DE RESERVA LEGAL – VERIFICAÇÃO – IMPOS-SIBILIDADE – SÚMULA Nº 7/STJ – DEVER DE AVERBAÇÃO DA RESERVA LEGAL – IMPOSIÇÃO – PROVAS SUFICIENTES – DESNECESSIDADE DE RE-ALIZAÇÃO DE PERÍCIA – CONJUNTO PROBATÓRIO – SÚMULA Nº 7/STJ – PREJUDICADA A ANÁLISE DA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL – AU-SÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA

[...]

2. A jurisprudência desta Corte está firmada no sentido de que os deveres associados às APPs e à Reserva Legal têm natureza de obrigação propter rem, isto é, aderem ao título de domínio ou posse, independente do fato de ter sido ou não o proprietário o autor da degradação ambiental. Casos em que não há falar em culpa ou nexo causal como determinantes do dever de recuperar a área de preservação permanente.

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3. Este Tribunal tem entendido que a obrigação de demarcar, averbar e res-taurar a área de reserva legal nas propriedades rurais configura dever jurídico (obrigação ex lege) que se transfere automaticamente com a mudança do domínio, podendo, em consequência, ser imediatamente exigível do pro-prietário atual.

4. A Segunda Turma desta Corte firmou a orientação de inaplicabilidade de norma ambiental superveniente de cunho material aos processos em curso, seja para proteger o ato jurídico perfeito, os direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, seja para evitar a redução do patamar de proteção de ecos-sistemas frágeis sem as necessárias compensações ambientais.

[...]

6. A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que o art. 16, c/c o art. 44 da Lei nº 4.771/1965, impõe a averbação da reserva legal, independentemente de haver área florestal ou vegetação nativa na propriedade [...].

Agravo regimental improvido.

(AgRg-REsp 1367968/SP, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., DJe 12.03.2014)

AMBIENTAL – RECURSO ESPECIAL – MULTA APLICADA ADMINISTRATI-VAMENTE EM RAZÃO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL – EXECUÇÃO FISCAL AJUIZADA EM FACE DO ADQUIRENTE DA PROPRIEDADE – ILEGITIMI-DADE PASSIVA – MULTA COMO PENALIDADE ADMINISTRATIVA, DIFE-RENTE DA OBRIGAÇÃO CIVIL DE REPARAR O DANO

1. Trata-se, na origem, de embargos à execução fiscal ajuizado pelo ora re-corrente por figurar no polo passivo de feito executivo levado a cabo pelo Ibama para cobrar multa aplicada por infração ambiental.

2. Explica o recorrente - e faz isto desde a inicial do agravo de instrumento e das razões de apelação que resultou no acórdão ora impugnado - que o cré-dito executado diz respeito à violação dos arts. 37 do Decreto nº 3.179/1999, 50 c/c 25 da Lei nº 9.605/1998 e 14 da Lei nº 6.938/1981, mas que o auto de infração foi lavrado em face de seu pai, que, à época, era o dono da pro-priedade.

3. A instância ordinária, contudo, entendeu que o caráter propter rem e soli-dário das obrigações ambientais seria suficiente para justificar que, mesmo a infração tendo sido cometida e lançada em face de seu pai, o ora recorrente arcasse com seu pagamento em execução fiscal.

4. Nas razões do especial, sustenta a parte recorrente ter havido violação aos arts. 3º e 568, inc. I, do Código de Processo Civil (CPC) e 3º, inc. IV, e 14 da Lei nº 6.938/1981, ao argumento de que lhe falece legitimidade passiva na

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execução fiscal levada a cabo pelo Ibama a fim de ver quitada multa aplica-da em razão de infração ambiental.

5. Esta Corte Superior possui entendimento pacífico no sentido de que a responsabilidade civil pela reparação dos danos ambientais adere à proprie-dade, como obrigação propter rem, sendo possível cobrar também do atual proprietário condutas derivadas de danos provocados pelos proprietários an-tigos. Foi essa a jurisprudência invocada pela origem para manter a decisão agravada.

6. O ponto controverso nestes autos, contudo, é outro.

Discute-se, aqui, a possibilidade de que terceiro responda por sanção aplica-da por infração ambiental.

7. A questão, portanto, não se cinge ao plano da responsabilidade civil, mas da responsabilidade administrativa por dano ambiental.

8. Pelo princípio da intranscendência das penas (art. 5º, inc. XLV, CR/1988), aplicável não só ao âmbito penal, mas também a todo o Direito Sanciona-dor, não é possível ajuizar execução fiscal em face do recorrente para cobrar multa aplicada em face de condutas imputáveis a seu pai.

9. Isso porque a aplicação de penalidades administrativas não obedece à lógica da responsabilidade objetiva da esfera cível (para reparação dos danos causados), mas deve obedecer à sistemática da teoria da culpabilidade, ou seja, a conduta deve ser cometida pelo alegado transgressor, com demons-tração de seu elemento subjetivo, e com demonstração do nexo causal entre a conduta e o dano.

10. A diferença entre os dois âmbitos de punição e suas consequências fica bem estampada da leitura do art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/1981, segundo o qual “[s]em obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo [entre elas, frise-se, a multa], é o poluidor obrigado, independentemente da existên-cia de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade”.

11. O art. 14, caput, também é claro: “[s]em prejuízo das penalidades defi-nidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgresso-res: [...]”.

12. Em resumo: a aplicação e a execução das penas limitam-se aos trans-gressores; a reparação ambiental, de cunho civil, a seu turno, pode abranger todos os poluidores, a quem a própria legislação define como “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indireta-mente, por atividade causadora de degradação ambiental” (art. 3º, inc. V, do mesmo diploma normativo).

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13. Note-se que nem seria necessária toda a construção doutrinária e juris-prudencial no sentido de que a obrigação civil de reparar o dano ambiental é do tipo propter rem, porque, na verdade, a própria lei já define como polui-dor todo aquele que seja responsável pela degradação ambiental – e aquele que, adquirindo a propriedade, não reverte o dano ambiental, ainda que não causado por ele, já seria um responsável indireto por degradação ambiental (poluidor, pois).

14. Mas fato é que o uso do vocábulo “transgressores” no caput do art. 14, comparado à utilização da palavra “poluidor” no § 1º do mesmo dispositivo, deixa a entender aquilo que já se podia inferir da vigência do princípio da intranscendência das penas: a responsabilidade civil por dano ambiental é subjetivamente mais abrangente do que as responsabilidades administrativa e penal, não admitindo estas últimas que terceiros respondam a título objeti-vo por ofensa ambientais praticadas por outrem.

15. Recurso especial provido.

(REsp 1251697/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., DJe 17.04.2012)

Esclareço que o prazo prescricional é quinquenal, conforme dispõe o art. 10, parágrafo único, do DL 3.365/1941, e se inicia com o advento da norma que criou a restrição ambiental. Saliente-se, ademais, que vacatio legis não se presume, devendo constar expressamente do texto legal. Assim, se o legislador estabelece obrigação ambiental sem fixar termo inicial ou prazo para seu cumprimento, pressupõe-se que sua incidência e sua exigi-bilidade são imediatas. Seguem precedentes:

PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL – AÇÃO ANULATÓRIA E INDENIZATÓ-RIA – AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO – SÚMULA Nº 211/STJ – FUN-DAMENTAÇÃO DEFICIENTE – SÚMULA Nº 284/STF – DESMATAMENTO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE – ART. 18 DA LEI Nº 4.771/1965 – INAPLICABILIDADE – MODIFICAÇÃO DE PREMISSA FÁTICA – IMPOS-SIBILIDADE – SÚMULA Nº 7/STJ – LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA – PRES-CRIÇÃO QUINQUENAL – ART. 1º DO DECRETO Nº 20.910/1932 – RE-CURSO ESPECIAL – DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL – INOBSERVÂNCIA DAS EXIGÊNCIAS LEGAIS E REGIMENTAIS – SÚMULA Nº 284/STF

[...]

3. Inaplicável o disposto no art. 18 da Lei nº 4.771/1965, pois não se trata de determinação de reflorestamento, mas autuação do órgão ambiental em razão de desmatamento em Área de Preservação Permanente – APP perpe-trado pelo proprietário.

4. É inadmissível o recurso especial se a análise da pretensão da recorrente demanda o reexame de provas. Súmula nº 7/STJ.

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5. A ação que busca a reparação de danos em decorrência da imposição de limitação administrativa prevista na Lei nº 4.771/1965 está sujeita à prescri-ção quinquenal, conforme disposto no art. 1º do Decreto nº 20.910/1932, a contar do advento normativo da restrição ambiental. Precedentes do STJ.

[...]

7. Recurso especial parcialmente conhecido e não provido.

(REsp 1239948/PR, Relª Min. Eliana Calmon, 2ª T., DJe 14.10.2013)

ADMINISTRATIVO – CEMIG DISTRIBUIÇÃO S/A – DESAPROPRIAÇÃO IN-DIRETA – NÃO CONFIGURAÇÃO – NECESSIDADE DO EFETIVO DE APOS-SAMENTO E DA IRREVERSIBILIDADE DA SITUAÇÃO – NORMAS AMBIEN-TAIS – LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA – ESVAZIAMENTO ECONÔMICO DA PROPRIEDADE – AÇÃO DE DIREITO PESSOAL – PRESCRIÇÃO QUIN-QUENAL

1. Não há desapropriação indireta sem que haja o efetivo apossamento da propriedade pelo Poder Público. Desse modo, as restrições ao direito de pro-priedade, impostas por normas ambientais, ainda que esvaziem o conteúdo econômico, não se constituem desapropriação indireta.

2. O que ocorre com a edição de leis ambientais que restringem o uso da propriedade é a limitação administrativa, cujos prejuízos causados devem ser indenizados por meio de ação de direito pessoal, e não de direito real, como é o caso da ação em face de desapropriação indireta.

3. Assim, ainda que tenha havido danos ao agravante, diante de eventual esvaziamento econômico de propriedade, deve ser indenizado pelo Estado, por meio de ação de direito pessoal, cujo prazo prescricional é de 5 anos, nos termos do art. 10, parágrafo único, do Decreto-Lei nº 3.365/1941.

Agravo regimental improvido.

(AgRg-EDcl-AREsp 457.837/MG, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., DJe 22.05.2014)

DIREITO ADMINISTRATIVO – PROCESSUAL CIVIL – RECURSO ESPECIAL – DESAPROPRIAÇÃO – PARCELA DE IMÓVEL – CRIAÇÃO – LAGO AR-TIFICIAL – USINA HIDRELÉTRICA – INDENIZAÇÃO PAGA – PRETENSÃO – REPARAÇÃO – PARCELA IMOBILIÁRIA DIVERSA – IMPOSSIBILIDADE DE USO – CULTIVO AGRÍCOLA – CRIAÇÃO – ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE – MERA LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA – PRESCRIÇÃO QUINQUENAL – OCORRÊNCIA – INAPLICAÇÃO – SÚMULAS NºS 39/STJ E 119/STJ – PEDIDO – LUCROS CESSANTES – PREJUDICADO

1. A desapropriação indireta somente se dá com o efetivo desapossamento do imóvel em favor do ente expropriante, tal não ocorrendo com a simples

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limitação decorrente da criação de área de preservação permanente, situa-ção em que o proprietário mantém o domínio da gleba mas com restrições impostas por norma de direito ambiental.

2. Essa situação, por caracterizar-se como limitação administrativa, auto-riza seja o proprietário indenizado, limitada a sua pretensão, no entanto, ao prazo prescricional quinquenal de que trata o art. 10 do Decreto-Lei nº 3.365/1941, disposição de regência específica da matéria.

3. Precedente idêntico: AgRg-REsp 1.361.025/MG (Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., Julgado em 18.04.2013, DJe 29.04.2013).

4. Agravo regimental não provido.

(AgRg-EDcl-REsp 1417632/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., DJe 11.02.2014)

PROCESSUAL CIVIL – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL – ART. 535, INCS. I E II, DO CPC – OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE – AUSÊNCIA – PREQUES-TIONAMENTO – IMPOSSIBILIDADE – LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA – PRAZO PRESCRICIONAL – CINCO ANOS

1. Os embargos de declaração, conforme dispõe o art. 535, incs. I e II, do CPC, destinam-se a suprir omissão, afastar obscuridade ou eliminar contradi-ção existente no julgado, o que não ocorre na hipótese em apreço.

2. O julgador não está obrigado a responder a todas as questões suscitadas pelas partes, quando já tenha encontrado motivo suficiente para proferir a decisão.

3. Não há vício de fundamentação quando o aresto recorrido decide integral-mente a controvérsia, de maneira sólida e fundamentada.

4. O recurso especial não comporta o exame de preceitos constitucionais, ainda que para fins de prequestionamento, sob pena de usurpação da com-petência do Supremo Tribunal Federal.

5. Em relação às limitações administrativas, a ação indenizatória sujeita-se à prescrição quinquenal.

6. Embargos de declaração rejeitados.

(EDcl-EDcl-REsp 1360597/MG, Rel. Min. Og Fernandes, 2ª T., DJe 25.11.2013)

Por tudo isso, nego provimento ao Recurso Especial.

É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEGUNDA TURMA

Número Registro: 2011/0046147-2

Processo Eletrônico REsp 1.241.630/PR

Números Origem: 00004552920094047007 200904000171648 200970070004553

Pauta: 23.06.2015 Julgado: 23.06.2015

Relator: Exmo. Sr. Ministro Herman Benjamin

Presidente da Sessão: Exmo. Sr. Ministro Og Fernandes

Subprocuradora-Geral da República: Exma. Sra. Dra. Denise Vinci Tulio

Secretária: Belª Valéria Alvim Dusi

AUTUAÇÃO

Recorrente: Valdeci Luiz Bidin

Advogado: Ismar Antônio Pawelak e outro(s)

Recorrido: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama

Procurador: Jaqueline Maggioni Piazza e outro(s)

Assunto: Direito administrativo e outras matérias de direito público – Meio Ambiente – Revogação/Anulação de multa ambiental

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia Segunda Turma, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

“A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).”

Os Srs. Ministros Og Fernandes (Presidente), Mauro Campbell Marques, Assusete Magalhães e Humberto Martins votaram com o Sr. Mi-nistro Relator.

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Assunto Especial – Ementário

Limitação Ambiental

2329 – Ação demolitória – rodovia – faixa de domínio – irregularidade – ocupação“Direito constitucional e administrativo. Apelações cíveis. Ação demolitória. Ocupação irregular. Faixa de domínio (BR-393/RJ). Limitação administrativa. 1. Ação ajuizada pela Acciona Concessões Rodovia do Aço S/A, figurando a ANTT como assistente, em que se objetiva a desocupação e a demolição de imóvel titularizado pelo Réu, ‘BR-393 (Km 180,30), lado Sul, Travessa Dalia, s/nº, 30 – Bairro Veraneio – Paraíba do Sul/RJ’, por ocupar a faixa de domínio e área não edificante da rodovia. 2. Por faixa de domínio entende-se a extensão física sobre a qual se assenta a rodovia, sendo constituída pela pista de rolamento, seus canteiros e acostamentos, estendendo-se até o alinhamento das cercas que separam a estrada dos imóveis marginais ou da faixa de recuo, com ex-tensão variável, a qual tem natureza de limitação administrativa, impondo ao particular dever de não fazer, consistente em abster-se de edificar nestas áreas, na forma da Lei nº 6.766/1979. 3. A faixa de domínio e a área não edificante possuem natureza de limitações administrativas, impondo ao particular dever de não fazer, consistente em abster-se de edificar nestas áreas, na forma da Lei nº 6.766/1979. Portanto, não se veri-fica qualquer equívoco na sentença que determinou a remoção de edificações na faixa de domínio e área não edificante da Rodovia Federal BR-393. 4. Insurge-se, contudo a Acciona Concessões Rodovia do Aço S/A, afirmando que a sentença nada teria afir-mado quanto à responsabilidade dos custos para desocupação e demolição do imóvel. Equivoca-se, contudo, a apelante, vez que a sentença é expressa ao atribuir ao réu os custos de demolição. 5. Desse modo, verifica-se a ausência de pressuposto essencial ao apelo, vez que a Acciona Concessões Rodovia do Aço S/A carece de interesse recursal para reforma da sentença. 6. Apelação não conhecida, por ausência de interesse recur-sal.” (TRF 2ª R. – AC 0000219-51.2013.4.02.5113 – 8ª T.Esp. – Rel. Marcelo Pereira da Silva – DJe 20.04.2017 – p. 580)

2330 – Ação popular – patrimônio cultural, histórico e natural – preservação“Agravo de instrumento. Ação popular. Competência recursal. Ação popular ajuizada com o intuito de promover o resguardo e proteção ‘ao patrimônio cultural, histórico e natural da cidade de São Paulo’, ameaçado, segundo a inicial, pela possibilidade de em-preendimento imobiliário que, vindo a demolir a réplica da mansão do filme ‘E o Vento Levou’, localizada em imóvel da Rua José Maria Lisboa, nº 330, no Bairro Jardim Paulista – demanda objetivando a possibilidade de intervenção judicial para preservação do su-posto patrimônio histórico, que o ato administrativo de aprovação de obras encontra-se viciado (Alvará de Aprovação de Edificação Nova nº 2014-26661-0), e que a edificação possui valor cultural. Ação civil pública anteriormente ajuizada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (Proc. 1008156-73.2015.8.26.0053), objetivando a abstenção da então ré Gafisa de efetuar o corte ou transplante de árvore existente no mesmo imó-vel em discussão, de realizar qualquer trabalho de implantação física de empreendi-mento imobiliário no imóvel, incluindo terraplanagem e construção de edificações, a anulação do Alvará de Aprovação de Edificação Nova nº 2014-26661-0, do Termo de

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52 ����������������������������������������������������������������������������������������������������RSA Nº 37 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – EMENTÁRIO

Compromisso Ambiental nº 428/2014 da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, que foi julgada improcedente pela D. Juízo a quo, sendo a r. sentença confirmada pela C. 1ª Câmara Reservada ao Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Prevenção em razão do art. 105, do RIETJSP e também pelo disposto na Resolução nº 623/2013 do Órgão Especial do TJSP. Determinada a redistribuição do feito para a 1ª Câmara Reser-vada ao Meio Ambiente. Recurso não conhecido, com determinação de redistribuição.” (TJSP – AI 2214050-57.2016.8.26.0000 – São Paulo – 8ª CDPúb. – Rel. Ponte Neto – DJe 09.05.2017)

2331 – Área de preservação ambiental – restrição legal de uso – indenização“Agravo de instrumento. Ação de indenização. Impossibilidade de uso da propriedade privada. Área de preservação ambiental. Decisão saneadora que excluiu a autarquia es-tadual. Ilegitimidade passiva. Mera gestora estadual das áreas de preservação ambiental. Pretensão indenizatória que deve ser dirigida a quem instituiu a restrição legal de uso. Honorários advocatícios. Fazenda pública. Proveito econômico. Adequação ao art. 85, § 3º, I, do CPC/2015. Decisão parcialmente modificada. 1. Considerando posicionamen-to do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que ‘[...] para ensejar o direito à indeni-zação o fato de um bem econômico, que antes tinha valor de mercado, deixou de tê-lo porque o elemento utilidade foi completamente esvaziado por força de restrições legais baixadas pelo Estado’ (STJ, REsp 439.192/SP). 2. É de se reconhecer o acerto do decisum agravado, ao asseverar que ‘ainda que a autarquia estadual tenha recebido incumbências (i) de elaboração de proposta de isenção de anuência para construção em determinados locais da APA de Setiba, segundo diretrizes estabelecidas no plano de Manejo da APA, bem como (ii) de atuação no âmbito da Administração da APA, para efeito de avaliação e autorização de intervenções na região, ditas atribuições inserem-se no plano da gestão de que se encontra investida por força de normas ambientais que recaem sobre a área em questão, e não como fonte primária da limitação administrativa questionada na demanda que se cuida, não se lhe podendo, assim, atribuir, ainda que no plano abstrato, responsa-bilidade por pretensões reparatórias fundadas no esvaziamento do conteúdo econômico de propriedades inseridas em APA criada pelo ente público estadual na órbita normativa, com consequência de limitações administrativas daí decorrentes’. 3. Considerando por fim a ausência de condenação na hipótese dos autos, deveria o decisum agravado adotar como base para fixação dos honorários advocatícios, nos moldes do art. 85, § 3º, inciso, I, do CPC/2015, não o valor total da causa, mas o proveito econômico obtido pelo Iema com a sua exclusão do polo passivo da demanda originária, mantendo-se, contudo, o percentual mínimo de 10% (dez por cento) sobre referido valor. 4. Recurso conhecido e parcialmente provido.” (TJES – AI 0010010-85.2016.8.08.0021 – Rel. Des. Fernando Estevam Bravin Ruy – DJe 19.04.2017)

2332 – Licença ambiental – concessão – competência – construção de hidroelétricas“Agravo regimental na suspensão de liminar. Direito ambiental. Competência para ex-pedição de licença ambiental para construção de pequenas hidrelétricas. Suspensão de-ferida. Ausência de argumentos ou fatos novos capazes de infirmar a decisão recorrida. Agravo regimental ao qual se nega provimento.” (STF – AgRg-SL 246 – Mato Grosso – Plen. – Relª Min. Cármen Lúcia – J. 07.04.2017)

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RSA Nº 37 – Maio-Jun/2017 – ASSUNTO ESPECIAL – EMENTÁRIO ��������������������������������������������������������������������������������������������������������53

Comentário Editorial SínteseSabe-se que o Direito estuda as relações entre os indivíduos que vivem em socieda-de. E para que a sociedade exista é notória a necessidade da imposição de limites, sejam eles administrativos, civis ou penais.

Assim, o direito ambiental utiliza os dispositivos das áreas tendo em vista o perma-nente objetivo de se alcançar o equilíbrio das interações de ordem física, química e biológica emanadas ou articuladas pelo ser humano.

O agravo regimental que se passa a comentar ataca decisão que suspendeu pedido liminar para suspender os efeitos de licenças ambientais expedidas para construção de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) denominadas “Telegráfica”, “Rondon”, “Paresis”, “Sapezal” e “Cidezal” ao longo do rio Juruena, bem como determinar aos empreendedores que se abstenham de promover as construções até a realização de EIA/Rima e sua análise pelo Ibama.

Nos termos do art. 317 do Regimento interno do STF, ressalvadas as exceções pre-vistas no Regimento, caberá agravo regimental, em face de decisão do Presidente do Tribunal, de Presidente de Turma ou do Relator, que causar prejuízo ao direito da parte.

Vejamos a seguir trechos da decisão o Ilustre Ministro Gilmar Mendes que determi-nou a suspensão da execução da liminar:

“Segundo o relato da petição inicial, o Ministério Público Federal ajuizou, perante a 5ª Vara Federal de Mato Grosso, ação civil pública, com requerimento de liminar, em face do Estado do Mato Grosso, do Ibama e de ‘Juruena Participações e Inves-timento S/A’, apontando irregularidades decorrentes da renovação de licenças de instalação (LI) por parte da Secretaria Estadual de Meio Ambiente – Sema-MT para tais obras. Na ação civil pública, defendeu-se que as renovações das licenças teriam contrariado o próprio parecer do Ministério Público, o qual antes havia rejeitado es-tudo de Avaliação Ambiental Integrada (AAI) apresentado pela empresa construtora. Ademais, as licenças teriam sido renovadas sem que à área técnica da Funai fosse dada oportunidade de manifestação sobre o componente antropológico dos estu-dos complementares elaborados para identificar, prevenir e mitigar os impactos das obras sobre grupos indígenas e suas respectivas terras situadas na área de influência dos empreendimentos Argumentou o MPF na referida ação civil pública, ainda que a Sema-MT não é órgão competente para expedir licenciamento ambiental no caso concreto, ante o impacto direto e indireto sobre terras indígenas, além da influência sobre a bacia do rio Juruena e do aproveitamento de recursos hídricos, ambos de propriedade da União, a demandar autorização do Congresso Nacional, nos termos do art. 231, § 3º, da Constituição Federal.

[...]

O pedido de suspensão de liminar é baseado em argumentos de lesão à ordem públi-ca, à economia e à saúde mato-grossense. Enfatiza o requerente o adiantado estado atual das obras, ressaltando, ainda, que o BNDES já aprovou financiamento de R$ 360.000.000,00 para a construção do parque gerador do complexo, a repre-sentar 72% do investimento total da obra. Observa também a paralisação das ativi-dades de mais de 600 trabalhadores. Sustenta, ainda, que o meio ambiente ficará desprotegido pela paralisação, atingindo o plano de resgate e monitoramento da fauna e da flora que vem sendo realizado pela empreendedora.

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[...]

No caso, entendo que está devidamente demonstrado o fundamento de aplicabi-lidade do instituto da suspensão, visto que a decisão impugnada, ao determinar a imediata suspensão de licenças ambientais concedidas pela Sema-MT para a cons-trução de pequenas centrais elétricas ao longo do rio Juruena, com isso paralisando as obras até que realizado EIA/Rima pelo Ibama, representa grave risco de lesão à ordem, à economia e à saúde pública do Estado.

[...]

Ante o exposto, defiro o pedido para suspender a execução da liminar deferi-da em antecipação de tutela recursal pela Relatora do Agravo de Instrumento nº 2008.01.00.008210-0, em curso no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (DJ 18.06.2008).”

Considerando que a decisão aqui comentada se iniciou em recursos instrumentais, a relatoria do agravo regimental ainda ressaltou o resultado do mérito da questão, como podemos observar:

“Em 12.04.2010, o Juiz Federal da Quinta Vara Federal da Seção Judiciária de Mato Grosso encaminhou cópia da decisão proferida na Ação nº 2008.36.00.000023-4, pela qual ‘julgo[u] improcedente os pedidos formulados na inicial e, por conse-quência, exting[uiu] o processo, com resolução de mérito’, valendo-se, inclusive, dos fundamentos adotados na decisão impugnada neste agravo regimental.”

A questão guerreada trata exatamente das limitações que são impostas pela admi-nistração pública em prol do meio ambiente, mais especificamente de quem tem o poder de limitar. Ocorre que a Constituição Federal delega competência concorrente aos entes da Federação, de forma que a União, os Estados os Municípios e o Distrito Federal podem legislar sobre meio ambiente (art. 24, VI da CF). Assim como lhes compete legislar também é cabível a proteção (art. 23, VI da CF).

No caso materializado há a argumentação que a Lei nº 6.938/1981 atribui a com-petência do licenciamento ambiental aos órgãos estaduais, de forma que o Ibama o faria de forma suplementar. Todavia, ao Ibama caberá competência originária para que seja concedida licença em razão de quaisquer atividades que acarretem em impactos ambientais significativos, como é o caso daqueles rios que banham mais de um Estado ou que estejam sob terras da União, que, por esses aspectos, são considerados rios federais – é o caso do Rio Juruena.

Embora o agravante argumente com o objetivo de modificar a decisão agravada, a Ilustríssima Ministra Presidente do Supremo Tribunal Federal, relatora no caso analisado, entendeu que os argumentos levados aos autos foram insuficientes para a modificação pleiteada pelo Ministério Público Federal, o que a fez manter a decisão agravada e votar no sentido de negar provimento ao agravo regimental, entendi-mento que foi acompanhado pelos demais ministros, resultando em uma votação unânime.

Transcrição Editorial SÍNTESE:Lei nº 6.938/1981:

“Art. 10. A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva e potencial-mente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação

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ambiental, dependerão de prévio licenciamento de órgão estadual competente, inte-grante do Sistema Nacional do Meio Ambiente – Sisnama, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – Ibama, em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis.

§ 1º Os pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão serão publicados no jornal oficial do Estado, bem como em um periódico regional ou local de grande circulação.

§ 2º Nos casos e prazos previstos em resolução do Conama, o licenciamento de que trata este artigo dependerá de homologação do Ibama.

§ 3º O órgão estadual do meio ambiente e o Ibama, esta em caráter supletivo, pode-rão, se necessário e sem prejuízo das penalidades pecuniárias cabíveis, determinar a redução das atividades geradoras de poluição, para manter as emissões gasosas, os efluentes líquidos e os resíduos sólidos dentro das condições e limites estipulados no licenciamento concedido.

§ 4º Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renová-veis – Ibama o licenciamento previsto no caput deste artigo, no caso de atividades e obras com significativo impacto ambiental, de âmbito nacional ou regional.”

Comentário Editorial SÍNTESE:Ressalta-se que a transcrição acima se refere ao texto legal vigente em 2008, ano da interposição do agravo regimental pelo MPF.

Atualmente, o texto do mesmo artigo do citado ato legal é o abaixo transcrito:

“Art. 10. A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluido-res ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental.

§ 1º Os pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão serão publicados no jornal oficial, bem como em periódico regional ou local de grande circulação, ou em meio eletrônico de comunicação mantido pelo órgão ambiental competente.”

2333 – Licença ambiental – tratamento de água – esgoto – inexistência“Administrativo. Ambiental. Ibama. Estação de Tratamento de Esgoto – ETE. Auto de infração e embargo de atividade. Ausência de licença de operação. Morosidade admi-nistrativa. Suspensão da eficácia do ato administrativo por lapso de tempo razoável à ob-tenção do licenciamento ambiental pela autora. Ponderação de interesses. Proteção ao meio ambiente. Desprovimento. 1. O art. 225 da CRFB/1988 institucionalizou o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Nesse sentido, o § 1º do aludido artigo elenca os deveres da Administração Pública, com o intuito de garantir a efetividade do referido direito, sendo que os parágrafos seguintes dispõem acerca da responsabilidade do particular no que tange à exploração de recursos naturais, bem como ao exercício de atividades que possivelmente gerem danos ao meio ambiente. 2. A legislação exige a emissão de licenças ambientais que atestem a regularidade de obras ou construções, com o objetivo de tutelar a saúde ambiental, com o consequente resguardo à qualidade de vida, dotada, como visto, de amparo constitucional. Assim, tal fato justifica even-tuais restrições à atuação do particular, bem como a imposição de deveres a este e

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ao Poder Público. 3. No caso em comento, em 03.02.2016 lavrou-se Auto de Infração nº 9050606-E, pelo agente do Ibama, apontando a seguinte irregularidade: ‘Fazer fun-cionar atividade potencialmente poluidora (Estação de Tratamento de esgoto Urbano) sem licença do órgão Ambiental competente’, nos termos do art. 70, § 1º e art. 72, II e VII da Lei nº 9.605/1998 c/c art. 3º, II e VII, e art. 66 do Decreto nº 6.514/2008, os quais imputam multa simples e embargo de atividade como penalidades à referida infração. Em consequência, foi lavrado o Auto de Embargo nº 613357-E, nos seguintes termos: ‘fica embargada a atividade de estação de tratamento de esgoto sem autorização do órgão ambiental competente’ (fl. 47). 4. Dos documentos acostados à inicial resta incontroverso que a Impetrante requereu ao Iema –Instituto Estadual do Meio Ambien-te e Recursos Hídricos, órgão ambiental responsável pela providência, que emitisse as Licenças Ambientais referentes à Estação de Tratamento de Esgoto – ETE Anchieta, nos anos de 2008, 2010 e 2014 (fls. 48/51, 60, 63). 5. A empresa obteve, em fevereiro/2008, a LAR – Licença Ambiental de Regularização, expedida pelo Iema, válida por 730 dias (fls. 58/59), que a autoriza a ‘exercer a atividade: sistema de esgotamento sanitário’. Nos termos do art. 2º, IX, do Decreto Estadual nº 1.777-R de 08.01.2007, a LAR define-se como ‘ato administrativo pelo qual o órgão ambiental, mediante celebração prévia de Termo de Compromisso Ambiental, emite uma única licença, que consiste em todas as fases do licenciamento, para empreendimento ou atividade que já esteja em funciona-mento, ou em fase de implantação, estabelecendo as condições, restrições e medidas de controle ambiental, adequando o empreendimento às normas ambientais vigentes’. 6. Irretocável a sentença recorrida, uma vez que pondera, por um lado, o óbvio poder de polícia ambiental constitucionalmente atribuído aos entes federativos para que, por meio de seus respectivos órgãos ambientais, promovam as medidas fiscalizatórias cabíveis à proteção do meio ambiente, pontuando, sob outro prisma, que não se pode desconsi-derar a incontroversa morosidade daqueles para que promovam as medidas adminis-trativas necessárias ao regular funcionamento dos administrados que delas dependem. 7. Importante frisar que a determinação para que se embargue a atividade da Estação de Tratamento de Esgoto – ETE, tal como pretende o Ibama, demonstra potencial lesivo superior àquele que adviria com a continuidade de seu funcionamento, uma vez que o tratamento de esgoto é reconhecidamente essencial à comunidade local. 8. Ressalte-se que o fato de o Ibama ter juntado aos autos documentos apenas quando da apresenta-ção de suas razões recursais, e não quando oficiado a prestar informações pelo juízo a quo, não influencia o deslinde da controvérsia, uma vez que a leitura do procedimento administrativo apenas corrobora o acima esposado. O relatório de fiscalização para apu-ração de infração ambiental, em verdade, vem a ratificar o acima ponderado, uma vez que nele foi constatado o lançamento de esgoto algumas vezes ao dia, o que indica a premência de seu tratamento. Ademais, da própria decisão administrativa de 1ª instân-cia, em 24.06.2016, depreende-se que ‘da infração não decorre dano ambiental’. 9. Esta manifestação jurisdicional não significa de modo algum dispensa à Companhia Espírito Santense de Saneamento – Cesan de devido licenciamento ambiental para a ETE – An-chieta que, como disposto no art. 44 da Lei de Saneamento Básico (Lei nº 11.445/2007), constitui etapa necessária às estações de tratamento; bem como não significa outorga à Cesan do direito de realizar irrestritamente a atividade embargada, sem que o órgão administrativo competente conceda a licença ambiental ou ateste se a atividade é ou não poluidora. 10. Escorreita a sentença, ao permitir a manutenção das atividades da ETE –

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Estação de Tratamento de Esgoto por período certo de tempo (um ano), a fim de que a empresa tome novas medidas administrativas e/ou judiciais para finalizar o licenciamen-to ambiental discutido, perante o Iema. 11. Recurso de apelação desprovido.” (TRF 2ª R. – AC-RN 0002798-12.2016.4.02.5001 – 5ª T.Esp. – Rel. Aluisio Gonçalves de Castro Mendes – DJe 27.04.2017 – p. 245)

Transcrição Editorial SÍNTESE:Constituição Federal:

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecoló-gico das espécies e ecossistemas; (Regulamento)

II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;

III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus compo-nentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permiti-das somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integrida-de dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio am-biente;

VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientiza-ção pública para a preservação do meio ambiente;

VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.”

2334 – Multa administrativa – débito – inexigibilidade – ação – impossibilidade“1. Direito administrativo e processual civil. Ação declaratória de inexigibilidade de débito. Termo de compromisso ambiental. Pedido de suspensão da multa aplicada por descumprimento do termo. Antecipação de tutela. Ausência da probabilidade do direito. a) Nos termos do art. 300 do Código de Processo Civil de 2015, a tutela de urgência de natureza antecipada será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. b) No caso dos autos, as partes celebraram Termo de Compromisso Ambiental, no qual a Agravante Agravo de Instrumento nº 1606146-8 se comprometeu a adotar medidas em determinado prazo, sob de multa pecuniária, e, considerando o fato de que não de desincumbiu do seu compromisso, no prazo fixado, ocorreu por parte da Administração Pública a lavratura de Auto de Infração em virtude do descumprimento do Termo de

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Compromisso. c) Ou seja, os Laudos de Vistorias juntados aos autos atestaram que a Agravante apenas cumpriu com as obrigações estabelecidas no Termo de Compromisso Ambiental, após o prazo estipulado no Termo, e, ainda, somente após ser lavrado o Auto de Infração. d) E, assim, considerando que a Lavratura do Auto de Infração e a sua manutenção, em análise perfunctória, observou o devido processo legal, oportunizando o contraditório e a ampla defesa, bem como que a obrigação assumida não foi cumprida no prazo aventado, verifica-se que não há elementos que evidenciam a probabilidade do direito da Agravante, requisito necessário para a antecipação da tutela de urgência. e) Por outro lado, conforme acertadamente entendeu a decisão agravada, os atos admi-nistrativos gozam de presunção de legalidade e de veracidade, Agravo de Instrumento nº 1606146-8 que só podem ser afastados a partir da existência de provas em contrá-rio, e, no caso dos autos, não existem elementos para afastar, em análise perfunctória, os atos praticados pela Administração. 2. Agravo a que se nega provimento.” (TJPR – AI 1606146-8 – 5ª C.Cív. – Rel. Des. Leonel Cunha – DJe 31.03.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESEDecreto nº 6.514/2008:

“Art. 72. Destruir, inutilizar ou deteriorar:

I – bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial;

[...]

Multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais).”

2335 – Multa administrativa – exemplares arbóreos – corte – termo de compromisso ambiental – descumprimento

“Recursos de embargos de declaração em recurso de embargos de declaração em recur-so de apelação em ação ordinária. Meio ambiente. Município de São Paulo. Corte de exemplares arbóreos e poda drástica sem autorização do órgão competente. Descum-primento de Termo de Compromisso Ambiental – TCA. 1. Erro material. Ocorrência. V. Acórdão que equivocadamente mencionou no dispositivo que foi negado provimento ao recurso, quando deveria constar que o recurso foi parcialmente provido. 2. Parcial acolhimento do recurso que não implica na inversão do ônus sucumbencial, pretensão inicial substancialmente acolhida, com a redução do valor cominado à multa, nos ter-mos do pedido subsidiário formulado. 3. Inocorrência de omissão, obscuridade, con-tradição no V. Acórdão. Inocorrência de qualquer das hipóteses previstas no art. 1.022 do Novo Código de Processo Civil. Questões e provas carreadas nos autos que foram devidamente apreciadas e fundamentadas. Caráter nitidamente infringente. Precedentes deste E. Tribunal de Justiça, do Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal. Embargos parcialmente acolhidos, sem modificação do julgado.” (TJSP – EDcl 1046668-28.2015.8.26.0053 – São Paulo – 1ª C.Res.MA – Rel. Marcelo Berthe – DJe 10.05.2017)

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Parte Geral – Doutrina

A Questão dos “Refugiados” Climáticos e Ambientais no Direito Ambiental

ÁLVARO LuIz VALERy MIRRAJuiz de Direito em São Paulo, Doutor em Direito Processual pela Fadusp, Diplomado em Estu-dos Superiores Especializados em Direito Ambiental pela Faculdade de Direito da Universidade de Estrasburgo (França), Coordenador Adjunto da Área de Direito Urbanístico e Ambiental da Escola Paulista da Magistratura, Membro do Instituto “O Direito Por Um Planeta Verde” e da Associação dos Professores de Direito Ambiental do Brasil.

Tema bastante atual no direito ambiental, notadamente no âmbito do direito internacional do meio ambiente, é o dos refugiados ou deslocados climáticos e ambientais.

Segundo estimativa do Alto Comissariado das Nações Unidas para os refugiados, apresentada em 2008, aproximadamente 250.000.000 pessoas serão levadas a se deslocar no curso deste século em razão da evolução do clima, das condições meteorológicas extremas, da diminuição das reservas de água e da degradação das terras agrícolas, eventos esses resultantes do aquecimento global1. Tais deslocamentos ocorrerão no interior dos Estados e entre os mais diversos países.

Há controvérsia a respeito da denominação a ser dada a essas pessoas como verdadeiros “refugiados”. Isso porque, nos termos da Convenção de Genebra sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951, “refugiado” é a pessoa que teme ser perseguida em razão da sua raça, da sua religião, da sua nacio-nalidade, do fato de pertencer a um determinado grupo social ou em função de suas opiniões políticas, situações que, à evidência, não abrangem os refugiados climáticos e ambientais2. Daí se falar, também, em “deslocados” climáticos e ambientais3.

Os refugiados ou deslocados ambientais, em termos gerais, são as pessoas forçadas a deixar o lugar em que vivem, de maneira temporária

1 A notícia foi dada em dezembro de 2008, por L. Craig Johnstone, Alto Comissário Adjunto para os refugiados da ONU. Segundo ele, os deslocamentos se darão em um ritmo de seis milhões de pessoas por ano (cf. COURNIL, Christel. Les défis du droit international pour protéger les “réfugiés climatiques”: réflexions sur les pistes actuellement proposées. In: COURNIL, Christel; COLARD-FABREGOULE, Catherine. Changements climatiques et défis du droit. Bruxelles: Bruylant, 2010. p. 345).

2 Art. 1º da Convenção de Genebra.3 COURNIL, Christel. Op. cit., p. 347-350; PRIEUR, Michel. Droit de l’environnement, droit durable. Bruxelles:

Bruylant, 2014. p. 998-1000.

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ou permanente, em virtude de eventos climáticos e ambientais, de origem natural ou humana, que colocam em perigo a sua existência ou afetam se-riamente a sua condição de vida4. Mais especificamente, os refugiados ou deslocados climáticos são as pessoas que deixaram imediatamente ou estão na iminência de deixar em um futuro próximo o lugar em que vivem, em razão de uma súbita ou gradual alteração do meio natural causada por al-gum dos impactos causados pelas mudanças climáticas: aumento do nível dos oceanos, eventos climáticos extremos (tempestades, ciclones, tornados), seca e diminuição da disponibilidade de água5.

Discute-se, então, sobre a proteção a ser dada às pessoas que se en-contram nessa condição de deslocados climáticos e ambientais.

Basicamente, duas estratégias são imaginadas para tratar desse pro-blema sob a ótica do direito internacional.

A primeira delas é a modificação dos instrumentos convencionais in-ternacionais já existentes, como a aludida Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados ou a própria Convenção-Quadro sobre as Mudanças Climá-ticas, para incluir, em seus textos respectivos ou em protocolos adicionais, a proteção dos refugiados ou deslocados climáticos e ambientais6.

A segunda estratégia é a elaboração de uma nova convenção inter-nacional específica sobre o assunto7. Nesse sentido, já existe um texto re-gional, elaborado pela União africana, que adotou uma convenção sobre a proteção e a assistência às pessoas deslocadas, embora apenas no plano interno dos países8.

Além disso, existe, também, um Projeto de Convenção Internacional sobre o Estatuto Internacional dos Deslocados Ambientais proposto por um grupo de juristas do direito ambiental e dos direitos humanos ligados à Uni-versidade de Limoges, na França. Essa convenção teria vocação universal, para adoção por todos os países e não apenas em um contexto regional

4 Essa é a conceituação de Essam El-Hinnawi, em relatório apresentado ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (cf. COURNIL, Christel. Op. cit., p. 347; SILVA, Solange Teles da. O direito internacional do meio ambiente. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. p. 46).

5 Frank Biermann e Ingrid Boas apud COURNIL, Christel. Op. cit., p. 348.6 COURNIL, Christel. Op. cit., p. 358-361; SILVA, Solange Teles da. Op. cit., p. 487 COURNIL, Christel. Op. cit., p. 361-369; PRIEUR, Michel. Op. cit., p. 998 e ss.8 Convenção da União Africana sobre a Proteção e a Assistência às Pessoas Deslocadas na África (Convenção

de Kampala, de 2009 – <www.peaceau.org/uploads/convention-on-idps-fr.pdf>), que inclui, no conceito de deslocados, aqueles ambientais e climáticos, embora, como referido, seja restrita aos deslocamentos internos. Sobre o assunto, ainda, COURNIL, Christel. Op. cit., p. 353.

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específico, com a consagração de um estatuto jurídico específico para os deslocados ambientais9.

Mas o que se discute quando se alude à proteção internacional dos deslocados ambientais, seja pela modificação de documentos existentes, seja pela criação de uma convenção internacional específica, com ou sem o estabelecimento de um estatuto jurídico que lhes seja próprio?

Por um lado, defende-se o reconhecimento de uma série de direi-tos fundamentais dos deslocados ambientais, considerados como tais não apenas as pessoas individualmente, mas famílias e populações inteiras. A proteção, nesses termos, levaria em conta não os indivíduos, mas grupos inteiros e teria como objetivo assegurar tratamento digno a todos os que se encontram nessa condição, inclusive nos deslocamentos transfronteiriços externos10.

Entre os direitos fundamentais dos deslocados ambientais, a serem garantidos pelos países de acolhimento, incluem-se o direito à manutenção do grupo familiar, o direito à vida, o direito à dignidade, o direito à saúde, o direito à alimentação e à água, o direito à moradia, o direito ao trabalho, o direito à educação e à formação profissional, o direito a ser sujeito de direito e o direito de não ser recusado pelo país escolhido para o acolhimento11.

Por outro lado, prevê-se, a fim de garantir a efetivação de todos os di-reitos consagrados, ampla cooperação internacional, com a constituição de um fundo de ajuda e de compensação aos países de acolhimento, observa-do, em qualquer circunstância, o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas, entre os Estados12. Dessa maneira, na repartição dos en-cargos, não só com o fundo, mas com o próprio acolhimento, os países do Norte, mais desenvolvidos, que têm responsabilidade histórica maior nas mudanças climáticas, deveriam assumir uma carga igualmente maior13.

A elaboração de uma convenção internacional sobre a matéria e a consagração de um estatuto jurídico específico para os deslocados climá-ticos e ambientais defrontam-se, como é fácil de compreender, com resis-tências importantes, não só daqueles que temem o aumento dos movimen-tos de migração em massa dos países periféricos mais fortemente atingidos

9 PRIEUR, Michel. Op. cit., p. 1005-1023, com o texto do Projeto de Convenção, na versão de maio/2013.10 COURNIL, Christel. Op. cit., p. 363; PRIEUR, Michel. Op. cit., p. 1005 e ss.11 COURNIL, Christel. Op. cit., p. 363; PRIEUR, Michel. Op. cit., p. 1005 e ss., especialmente arts. 12 e 13 do

Projeto de Convenção Internacional.12 Princípio nº 7 da Declaração das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, adotada em 1992

no Rio de Janeiro; art. 5º do Projeto de Convenção Internacional.13 COURNIL, Christel. Op. cit., p. 366.

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pelas mudanças climáticas para os países centrais, como, até mesmo, de especialistas na matéria e do próprio Alto Comissariado das Nações Unidas para os refugiados14.

O máximo que se conseguiu, até o momento, afora as iniciativas re-gionais, foi o estabelecimento, na órbita internacional, no ano de 2015, de uma “agenda para a proteção das pessoas deslocadas para além das fron-teiras no contexto de catástrofes e mudanças climáticas”, sob os auspícios da iniciativa Nansen, encabeçada pela Suíça e pela Noruega15. A iniciativa Nansen foi um processo de consulta mundial que contou com a participa-ção de vários países (ao todo 111 Estados), com ênfase ao reforço de medi-das preventivas a serem adotadas nos países de origem e ao planejamento da relocação das pessoas em situação de risco. Dada a diversidade de situa-ções que envolvem os deslocados transfronteiriços externos, sustenta-se que as soluções devem ser preferencialmente regionais16.

Aplaudida por especialistas na matéria, a iniciativa Nansen constitui uma espécie de guia prático e serve como fonte de inspiração para os Esta-dos elaborarem suas legislações nacionais17. Não se trata, à evidência, de documento obrigatório, como o seria uma convenção internacional sobre o assunto. Ademais, e por essa mesma razão, não reconhece direitos específi-cos dos deslocados climáticos e ambientais.

Ocorre que a opção pela elaboração de uma simples agenda, sem caráter mandatório ou vinculante para os Estados, sem o reconhecimento de direitos específicos e apoiada em soluções a serem adotadas de prefe-rência nos próprios países de origem, não basta para o tratamento de um assunto crucial para o futuro de populações inteiras, que frequentemente se vêm forçadas a abandonar os lugares e os países onde vivem em virtude de

14 A propósito das reservas do Alto Comissariado das Nações Unidas sobre os refugiados ao reconhecimento de um estatuto jurídico próprio aos refugiados ou deslocados climáticos e ambientais, ver, em especial, SILVA, Solange Teles da. Op. cit., p. 48. A Declaração das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, adotada no Rio de Janeiro, em 2012 (Rio + 20), por sua vez, não tratou do problema de maneira expressa, limitando-se, no item 157, a exortar os Estados à promoção e à defesa eficientes dos direitos humanos e das liberdades fundamentais de todos os migrantes, quaisquer que sejam seus estatutos migratórios, com especial atenção ao papel e às responsabilidades dos países de origem, de trânsito e de destinação. No âmbito da Convenção-Quadro sobre as Mudanças Climáticas, as reuniões da Conferência das Partes de Paris (2015 – COP 21) e de Marrakech (2016 – COP 22) previram a revisão do Mecanismo Internacional de Varsóvia sobre perdas e danos associados aos impactos das mudanças climáticas (órgão submetido à autoridade da Conferência das Partes), para incluir o tema dos deslocamentos, das migrações e da mobilidade humana, muito embora, à primeira vista, mais para prevenir e reduzir os deslocamentos de populações.

15 Sobre a iniciativa Nansen, ver <https://www.nanseninitiative.org>.16 Sobre o tema, ver as entrevistas concedidas por Walter Kälin e François Gemenne, especialistas na matéria,

à jornalista Stéphanie Senet, do Journal de l’Environnement, respectivamente, em 14 e 28 de outubro de 2015.

17 Ainda aqui, ver as entrevistas concedidas por Walter Kälin e François Gemenne à jornalista Stéphanie Senet, do Journal de l’Environnement, respectivamente, em 14 e 28 de outubro de 2015.

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eventos climáticos e ambientais para os quais não contribuíram diretamen-te e de que são as maiores vítimas. Tal agenda pode, inclusive, no limite, mostrar-se refratária ao ideal de solidariedade entre os povos, pela falta de obrigatoriedade dos compromissos assumidos e pelo caráter discricionário e aleatório da contribuição dos Estados envolvidos.

Nunca é demais lembrar que o direito ao meio ambiente sadio e eco-logicamente equilibrado, sem dúvida violado em situações como as aqui discutidas, é justamente classificado entre os direitos de terceira geração ou dimensão, como um dos direitos de solidariedade ou direitos dos povos18, de titularidade coletiva e de interesse de toda a humanidade. Como tal, o direito ao meio ambiente está fundado na solidariedade entre as gerações atuais (solidariedade intrageracional) e entre estas e as gerações futuras (so-lidariedade intergeracional)19, pressupondo, para a sua implementação con-creta, o esforço conjunto do Estado, dos indivíduos, dos diversos setores da sociedade e das diversas Nações.

Daí por que, em uma concepção verdadeiramente solidária, seria importante, de fato, a consagração de um estatuto jurídico para os deslo-cados climáticos e ambientais, em um documento internacional de âmbi-to universal e natureza mandatória, voltado a amparar os deslocamentos transfronteiriços internos e externos, com o reconhecimento específico de direitos fundamentais às pessoas, às famílias e aos grupos forçados a migrar, como proposto por importantes experts do direito internacional e do direito ambiental20. Essa parece ser a única concepção compatível com um espírito autenticamente comunitário, indispensável à formação de uma civilização mundial humanista21. Por mais utópico ou incômodo que isso possa parecer na atualidade.

18 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Direitos humanos e meio-ambiente: paralelo dos sistemas de proteção internacional. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1993. p. 115 e 122; MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Participação, processo civil e defesa do meio ambiente. São Paulo: Letras Jurídicas, 2011. p. 104-105.

19 FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos fundamentais e proteção do ambiente: a dimensão ecológica da dignidade humana no marco jurídico-constitucional do Estado Socioambiental de Direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 118; SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago. Princípios do direito ambiental. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 73-76; MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 260-261.

20 Ver, a propósito, entrevista concedida por Fernanda de Salles Cavedon, jurista integrante da Rede Sul- -Americana para as Migrações Ambientais – Resama (<http://migramundo.com/acordo-de-paris-deixa-a- -desejar-sobre-refugiados-ambientais-aponta-pesquisadora/>). Sobre a situação específica do Brasil e da América do Sul, ver entrevista concedida por Erika Pires Ramos, igualmente jurista integrante da Resama, a Rodrigo Farhat, publicada no Le Monde Diplomatique Brasil, n. 117, abr. 2017, p. 32-33.

21 Sobre o espírito da civilização humanista a ser construída, ver COMPARATO, Fábio Konder. A civilização capitalista. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 301.

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Parte Geral – Doutrina

Análise da Compensação por Crédito de Carbono no Brasil e a COP 21

LORENA gRANgEIRO DE LuCENAAdministradora de Empresas, Advogada inscrita na OAB/CE, Especialista em Perícia e Auditoria Ambiental, Membro da Comissão de Direito Ambiental e Direito Marítimo, Portuário, Aeroportuário e Aduaneiro.

SUMÁRIO: 1 Aspectos históricos e relevantes dos créditos de carbono; 2 Protocolo de Quioto; 3 Levantamento das normas jurídicas sobre crédito de carbono; Conclusões; Referências.

1 ASPECTOS HISTóRICOS E RELEVANTES DOS CRéDITOS DE CARBONO

Com o surgimento do Protocolo de Quioto, obteve-se a ideia de que era possível a criação de um processo de redução dos Gases do Efeito Estufa – GEE, por meio de uma proposta de criação de um valor a ser estudado, um pouco semelhante ao método utilizado aos mecanismos existentes a alguns gases poluidores nos Estados Unidos – EUA e na Europa.

A partir da sua existência, iniciou-se uma conscientização dos países e de suas indústrias, para que façam uso racional dos recursos naturais e em busca da sustentabilidade. Sem contar na criação de uma nova moda-lidade financeira, visando ao lucro para os países em desenvolvimento e a compensação dos desenvolvidos, na mitigação dos impactos ambientais causados por suas atividades.

Com isso, o Protocolo de Quioto viabilizou, em seu texto, 3 (três) mecanismos de flexibilização, sendo eles:

(i) o Comércio Internacional de Emissões – CIE;

(ii) a Implementação Conjunta – IC; e

(iii) o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL.

Ademais, em seu art. 17 o Protocolo de Quioto prevê o Comércio Internacional de Emissões – CIE, como sendo o seu último mecanismo de flexibilização de redução de emissões, conforme texto em epígrafe:

Art. 17

A Conferência das Partes deve definir os princípios, as modalidades, regras e diretrizes apropriados, em particular para verificação, elaboração de rela-

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tórios e prestação de contas do comércio de emissões. As partes incluídas no Anexo B podem participar do comércio de emissões com o objetivo de cumprir os compromissos assumidos sob o art. 3º. Tal comércio deve ser suplementar às ações domésticas com vista a atender os compromissos qua-lificados de limitação e redução de emissões, assumidos sob esse artigo.

Dessa forma, os países compromissados com a redução de emissões, por meio do CIE, poderão negociar os limites de emissões com outros países, com o objetivo principal de cumprir os compromissos assumidos no art. 3º do Protocolo de Quioto.

2 PROTOCOLO DE qUIOTO

O Protocolo de Quioto constitui um tratado complementar à Con-venção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que define as metas de redução de emissões para os países desenvolvidos e os que, à época, apresentavam economia em transição para o capitalismo, considera-dos os responsáveis históricos pela mudança atual do clima.

Tal protocolo fora criado em 1997, entrando em vigor no dia 16 de fevereiro de 2005, logo após o atendimento às condições que exigiam a ratificação por, no mínimo, 55% (cinquenta e cinco por cento) do total de Países-membros da Convenção e que fossem responsáveis por, pelo menos, 55% (cinquenta e cinco por cento) do total das emissões do ano de 1990.

Dessa forma, durante o primeiro período de compromisso, entre os anos de 2008 a 2012, 37 (trinta e sete) países industrializados e a Comuni-dade Europeia comprometeram-se a reduzir as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), para uma média de 5% (cinco por cento) em relação aos níveis de 1990.

Já, no segundo período de compromisso, as partes se comprometeram a reduzir as emissões de GEE em pelo menos 18% (dezoito por cento) abai-xo dos níveis de 1990 no período de 8 (oito) anos, entre 2013-2020. Cada país negociou a sua própria meta de redução de emissões em função da sua visão sobre a capacidade de atingi-la no período considerado.

Ademais, houve a realização da 21ª Conferência do Clima, a COP 21, realizada em dezembro de 2015, em Paris, na França, que teve como seu objetivo principal o de “costurar um novo acordo entre os países para diminuir a emissão de gases de efeito estufa, diminuindo o aquecimento global e em consequência limitar o aumento da temperatura global em 2ºC

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até 2100. A partir da elaboração da Convenção durante a Rio-92” (Instituto Socioambiental).

Noutro giro, foram estabelecidas resoluções da Comissão Interminis-terial sobre Mudança Global do Clima (CIMGC), em que a mais recente, Re-solução nº 12/2015, “estabelece, para fins de atividades de projeto MDL, a divulgação dos fatores de emissão de CO2 pela geração de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional pelo Método Simples Ajustado”.

Tal resolução é conferida pela Autoridade Nacional Designada (AND), que, no Brasil, é a Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima (CIMGC).

Sendo assim, é notório que os líderes mundiais estão bastante preo-cupados em relação ao aquecimento global e à emissão de gases do efeito estufa, buscando de todas as formas chegarem a um consenso de como agir para a diminuição efetiva de emissão de CO2, apostando em energias “lim-pas”, como a energia solar, eólica, fotovoltáica, entre outras.

3 LEVANTAMENTO DAS NORMAS JURÍDICAS SOBRE CRéDITO DE CARBONO

No âmbito internacional, o mercado de carbono não se encontra to-talmente regulamentado. No nacional, ainda existe muito o que fazer, pois falta a aprovação de norma pelos países signatários da Convenção-Quadro e do próprio Protocolo de Quioto para ditar as regras.

O Protocolo de Quioto foi aprovado pelo Congresso Nacional, por meio do Decreto Legislativo nº 144, de 20 de junho de 2002, tendo sido ratificado pelo Governo brasileiro em 23 de agosto de 2002 e promulgado pelo Presidente da República, por meio do Decreto nº 5.445, de 12 de maio de 2005.

Assim, mesmo antes da ratificação do Protocolo de Quioto, o Go-verno brasileiro utilizou-se de instrumentos para a criação de mecanismos que viabilizassem o MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, com o intuito de atingir objetivos na emissão dos créditos de carbono ou Reduções Certificadas de Emissão – RCEs a projetos que cumpram as normas estabe-lecidas pelo protocolo.

Dessa forma, em 21 de junho de 1994, após a realização da Cúpula da Terra no Rio de Janeiro, o Governo brasileiro criou, por meio do Decreto nº 1.160, a Comissão Interministerial para o Desenvolvimento Sustentável (Cides), que nasceu com a finalidade de assessorar o Presidente da Repúbli-ca em suas decisões sobre estratégias políticas ao desenvolvimento susten-

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tável. Após três anos, o referido Decreto foi revogado pelo Decreto de 26 de fevereiro de 1997.

Outra comissão criada para tal finalidade foi a Comissão Interministe-rial de Mudança Global do Clima – CIMGC, criada por Decreto Federal em 7 de julho de 1999, sendo a Autoridade Nacional Designada – DNA.

A Resolução CIMGC nº 2/2005, de 10 de agosto de 2005, alterou de-terminados dispositivos da primeira resolução, estabeleceu o novo modelo de documento de concepção do projeto, aprovando procedimentos relati-vos às atividades de projetos de florestamento e reflorestamento no âmbito do MDL, por meio da Decisão nº 14/CP10.

Dessa forma, desde que o Protocolo de Quioto entrou em vigor, hou-ve um crescente interesse no mercado brasileiro na estruturação de projetos que geram e reduzem os gases do efeito estufa.

Noutro giro, temos como uma das principais e pioneiras iniciativas no mercado brasileiro de carbono a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), juntamente com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Estes lançaram campanha em favor da criação de um Mercado Brasi-leiro de Reduções de Emissões – MBRE, com o objetivo de desenvolver um sistema eficiente de negociação de certificados ambientais, em observância aos princípios existentes no Protocolo de Quioto.

Com a criação desse mercado de RCEs, houve o surgimento do Banco de Projetos de MDL da BM&F, com a função de colher para registro projetos validados por Autoridades Nacionais Designadas – DNA.

Na BM&FBovespa, o mercado de carbono é negociado em um am-biente eletrônico, no intuito de viabilizar, de forma ágil, transparente e segu-ra, o fechamento da negociação com créditos gerados por projetos de MDL.

Vale ressaltar que o Banco de Projetos BM&F está aberto para que estrangeiros, que tenham interesse em comprar/adquirir RCEs, possam re-gistrar seu interesse.

Outrossim, conforme o economista Armínio Fraga, que é presiden-te do Conselho de Administração da BM&FBovespa, a bolsa paulista está estudando a criação de um mercado de carbono, em que ressalta que o desenvolvimento desse mercado ainda dependerá de ações do governo no sentindo de exigir padrões de comportamento das empresas emissoras de

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carbono, obrigando-as a comprar créditos daqueles que estão interessados em vender.

Cita-se outro projeto, de lei similar, que está em trâmite no Poder Legislativo:

Projeto de Lei nº 4.425, de 11 de novembro de 2004, que dispõe sobre in-centivos fiscais a serem concedidos às pessoas físicas e jurídicas que invistam em projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL que gerem Reduções Certificadas de Emissões – RCEs, autoriza a constituição de Fundos de Investimento em Projetos de MDL e dá outras providências.

CONCLUSÕES

Temos o estudo voltado para a tecnologia dos créditos de carbono, que nada mais é do que uma nova modalidade financeira, visando ao lucro para os países em desenvolvimento e à compensação dos desenvolvidos, na mitigação dos impactos ambientais causados por suas atividades.

Dessa feita, importante destacar o encontro da COP 21, acontecido em Paris (2015), para que os países, considerados os maiores poluidores, pudessem entrar em acordo para a diminuição da emissão dos gases do efeito estufa.

Assim, fica evidente a preocupação das grandes potências mundiais, bem como dos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, no âmbito dos recursos ambientais, haja vista que os mesmos não são finitos.

Noutro giro, temos a importância da pesquisa e utilização das ener-gias renováveis nesse processo de mitigação ambiental, que interferem dire-tamente nas mudanças climáticas.

Portanto, toda e qualquer tecnologia que venha a ser benéfica à pro-teção do meio ambiente ecologicamente equilibrado será bem vista aos olhos da população mundial.

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Parte Geral – Doutrina

Poder de Polícia Ambiental e os Procedimentos da Defesa Administrativa Ambiental

CARLOS SéRgIO guRgEL DA SILVADoutorando em Direito pela Universidade de Lisboa (Portugal), Mestre em Direito Constitu-cional pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Professor Adjunto III (efetivo) do Curso de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Advogado Ambiental no Escritório Sérgio Gurgel Advocacia Ambiental, Geógrafo.

RESUMO: Os órgãos responsáveis pela realização do poder de polícia ambiental têm o dever de fiscalizar todos aqueles que, efetiva ou potencialmente, possam causar danos significativos ao meio ambiente. Sempre que, nesta tarefa, o órgão ambiental competente constatar o que considera ser uma infração ambiental, esta tem o dever de lavrar o respectivo auto de infração e entregar uma via ao empreendedor, pessoa física ou jurídica, para que este possa apresentar a sua versão dos fatos, ou, melhor, defender-se de eventuais más interpretações da lei ou até mesmo abusos de poder. Nes-te breve ensaio jurídica, discorreremos sobre os procedimentos a serem seguidos pelo Poder Público, quando do processamento de eventual defesa administrativa ambiental apresentada pelo autuado.

PALAVRAS-CHAVE: Poder de polícia ambiental; defesa administrativa ambiental; desenvolvimento sustentável; garantias aos administrados; processo administrativo.

ABSTRACT: The agencies responsible for carrying out the environmental police power have a duty to supervise all those who, effectively or potentially, can cause significant damage to the environment. Whenever, in this task, the competent environmental agency establishes what it considers to be an environmental infraction, it has the duty to draw up the respective infraction notice and deliver a copy to the individual or legal entity, so that they can present its version of the facts, or rather defend themselves against any misinterpretation of the law or even abuses of power. In this brief legal essay we will discuss the procedures to be followed by the Public Power, when processing the eventual environmental administrative defense presented by the assessed.

KEYWORDS: Environmental police power; environmental administrative defense; sustainable develo-pment; guarantees to the administrators; administrative process.

SUMÁRIO: Introdução; 1 Poder de polícia ambiental; 2 O Decreto nº 6.514/2008 e os procedimentos da defesa ambiental; Conclusão; Referências.

INTRODUÇÃO

Os órgãos responsáveis pela defesa do meio ambiente têm o dever de exercer o poder de polícia nesta área, para verificar, nas situações em que se depara nas fiscalizações ambientais, se a legislação ambiental brasileira vem sendo observada ou não.

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Caso constate ou entenda, nestes procedimentos de fiscalização, que houve violação às referidas normas ambientais, o órgão ambiental compe-tente tem obrigação de lavrar o correspondente auto de infração e entregá--lo ao autuado para que este exerça, dentro das condições e dos requisitos legais, a sua defesa, lembrando que o Texto Constitucional, na parte que trata dos direitos e das garantias individuais assegura a todos, no âmbito administrativo ou judicial, o direito à ampla defesa e ao contraditório.

Nota-se, neste contexto, que tanto o órgão ambiental tem liberdade para realizar a fiscalização ambiental quanto o empreendedor, pessoas fí-sica ou jurídica, tem liberdade para apresentar a sua versão dos fatos, ou, melhor, defender-se de eventuais más interpretações da lei ou até mesmo abusos de poder. É sobre esse procedimento a ser seguido pelo empreen-dedor ao receber um auto de infração da autoridade ambiental competente que nos debruçaremos nas linhas que se seguem.

1 PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL

Há uma definição legal que conceitua o termo poder de polícia. Ele está disposto no art. 78 do Código Tributário Nacional (Lei nº 5.172/1966):

Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da Administração Pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prá-tica de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.

No âmbito ambiental, poder de polícia é a faculdade que dispõem os órgãos integrantes do Sisnama (Sistema Nacional do Meio Ambiente), em especial os órgãos federais (Ibama e ICMBio), os órgãos estaduais e os órgãos municipais, para constatar, em situações concretas, a observância ou não da legislação ambiental que incide sobre a atividade econômica fiscalizada.

Nesse sentido, pode-se afirmar como poder de polícia ambiental a atividade da Administração Pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em ra-zão de interesse público concernente à defesa do meio ambiente.

Em lição clássica, Paulo Afonso Leme Machado conceitua poder de polícia ambiental como a atividade da Administração Pública que limita

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ou disciplina direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato em razão de interesse público concernente à saúde da população, à conservação dos ecossistemas, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas ou de outras atividades de-pendentes de concessão, autorização/permissão ou licença do Poder Públi-co, de cujas atividades possam decorrer poluição ou agressão à natureza1.

O Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008, confere aos agentes dos órgãos responsáveis pela fiscalização ambiental a possibilidade de adotar, em defesa do interesse público (meio ambiente ecologicamente equilibra-do), as medidas administrativas previstas em seu art. 101, a seguir transcrito:

Art. 101. Constatada a infração ambiental, o agente autuante, no uso do seu poder de polícia, poderá adotar as seguintes medidas administrativas:

I – apreensão;

II – embargo de obra ou atividade e suas respectivas áreas;

III – suspensão de venda ou fabricação de produto;

IV – suspensão parcial ou total de atividades;

V – destruição ou inutilização dos produtos, subprodutos e instrumentos da infração; e

VI – demolição.

2 O DECRETO Nº 6.514/2008 E OS PROCEDIMENTOS DA DEFESA AMBIENTAL

O Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008, dispõe sobre as infra-ções e sanções administrativas ao meio ambiente e estabelece o processo administrativo federal para apuração dessas infrações.

Nesse momento, convém lembrar que a Lei nº 9.605/1998, conhe-cida como Lei de Crimes Ambientais, é também a lei que define infrações administrativas ambientais. Há, em uma mesma norma, sanções de dois tipos: penais e administrativas.

O referido Decreto nº 6.514/2008 regulamenta apenas a parte relativa às infrações e sanções administrativas, estabelecendo os ritos processuais para a aplicação de tais sanções administrativas pelos órgãos responsáveis pela fiscalização ambiental.

1 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 253.

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Nesse sentido, diante de um fato que aos olhos da fiscalização am-biental seja considerado infração administrativa ambiental, o fiscal que esti-ver à frente deve lavrar o correspondente auto de infração. Há, no entanto, um procedimento a ser seguindo, nos termos dos arts. 96 a 98 do referido decreto:

Art. 96. Constatada a ocorrência de infração administrativa ambiental, será lavrado auto de infração, do qual deverá ser dado ciência ao autuado, asse-gurando-se o contraditório e a ampla defesa.

§ 1º O autuado será intimado da lavratura do auto de infração pelas seguintes formas:

I – pessoalmente;

II – por seu representante legal;

III – por carta registrada com aviso de recebimento;

IV – por edital, se estiver o infrator autuado em lugar incerto, não sabido ou se não for localizado no endereço.

§ 2º Caso o autuado se recuse a dar ciência do auto de infração, o agente au-tuante certificará o ocorrido na presença de duas testemunhas e o entregará ao autuado.

§ 3º Nos casos de evasão ou ausência do responsável pela infração admi-nistrativa, e inexistindo preposto identificado, o agente autuante aplicará o disposto no § 1º, encaminhando o auto de infração por via postal com aviso de recebimento ou outro meio válido que assegure a sua ciência.

Art. 97. O auto de infração deverá ser lavrado em impresso próprio, com a identificação do autuado, a descrição clara e objetiva das infrações ad-ministrativas constatadas e a indicação dos respectivos dispositivos legais e regulamentares infringidos, não devendo conter emendas ou rasuras que comprometam sua validade.

Art. 98. O auto de infração será encaminhado à unidade administrativa res-ponsável pela apuração da infração, oportunidade em que se fará a autuação processual no prazo máximo de cinco dias úteis, contados de seu recebimen-to, ressalvados os casos de força maior devidamente justificados.

Ocorre que, mesmo seguindo-se o procedimento acima descrito, o autuado pode se considerar inocente diante dos fatos. Pode ainda conside-rar que houve excesso ou abuso de poder e de fiscalização realizado pelo agente. Nesses casos, obviamente o autuado irá querer apresentar defesa em face do referido auto de infração.

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Nesse momento, convém explicitar que não se trata de recurso admi-nistrativo, mas defesa administrativa. O recurso administrativo, caso neces-sário, deverá ser manejado em outro momento.

O autuado, após o recebimento do auto de infração, terá um prazo de vinte dias para apresentar defesa administrativa. Esse prazo é contado de forma corrida ou em dias úteis? O decreto em questão nada diz a respeito. No entanto, convém lembrar o teor do art. 15 da Lei nº 13.105/2015 (novo Código de Processo Civil), abaixo transcrito: “Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente”.

Ao lembrar desse dispositivo, não se pode esquecer que a supraci-tada lei (novo Código de Processo Civil) dispõe que a contagem do prazo deve ocorrer apenas em dias úteis. Entendemos, por esta razão e este funda-mento, que os prazos para apresentação da defesa administrativa ambiental devem ser contados em dias úteis. Enquanto ainda não há jurisprudência sedimentada nesse sentido, o que ainda ocorrerá, não se recomenda arris-car, preferindo-se contar o prazo por meio de dias corridos.

Sobre o procedimento da referida defesa administrativa ambiental, vejamos o que dispõe os arts. 113 a 117, a seguir transcritos:

Art. 113. O autuado poderá, no prazo de vinte dias, contados da data da ciência da autuação, oferecer defesa contra o auto de infração.

§ 1º O órgão ambiental responsável aplicará o desconto de trinta por cento de que trata o art. 3º da Lei nº 8.005, de 22 de março de 1990, sempre que o autuado decidir efetuar o pagamento da penalidade no prazo previsto no caput.

§ 2º O órgão ambiental responsável concederá desconto de trinta por cento do valor corrigido da penalidade, nos termos do art. 4º da Lei nº 8.005, de 1990, para os pagamentos realizados após o prazo do caput e no curso do processo pendente de julgamento.

Art. 114. A defesa poderá ser protocolizada em qualquer unidade adminis-trativa do órgão ambiental que promoveu a autuação, que o encaminhará imediatamente à unidade responsável.

Art. 115. A defesa será formulada por escrito e deverá conter os fatos e fun-damentos jurídicos que contrariem o disposto no auto de infração e termos que o acompanham, bem como a especificação das provas que o autuado pretende produzir a seu favor, devidamente justificadas.

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Parágrafo único. Requerimentos formulados fora do prazo de defesa não se-rão conhecidos, podendo ser desentranhados dos autos conforme decisão da autoridade ambiental competente.

Art. 116. O autuado poderá ser representado por advogado ou procurador legalmente constituído, devendo, para tanto, anexar à defesa o respectivo instrumento de procuração.

Parágrafo único. O autuado poderá requerer prazo de até dez dias para a juntada do instrumento a que se refere o caput.

Art. 117. A defesa não será conhecida quando apresentada:

I – fora do prazo;

II – por quem não seja legitimado; ou

III – perante órgão ou entidade ambiental incompetente.

Não há um modelo estrito a ser seguido na elaboração da referida defesa administrativa. Muito menos é necessária a atuação de um advogado para elaborá-la. Claro que nenhum profissional substitui, em importância e conhecimento, a figura do advogado para elaborar uma defesa administra-tiva ambiental dentro da técnica jurídica. No entanto, sua participação não é indispensável.

Convém aqui considerar um fato que tem suscitado muita dúvida en-tre os autuados. Posso pagar a multa imposta em auto de infração – para aproveitar o desconto de trinta por cento (§§ 1º e 2º do art. 113) – e apre-sentar defesa administrativa ambiental. Ao efetuar o pagamento da multa, o objeto da defesa administrativa se esvai, pois houve o reconhecimento táci-to sobre a prática da infração. Senão vejamos o que dispõe o artigo a seguir:

Art. 123. A decisão da autoridade julgadora não se vincula às sanções apli-cadas pelo agente autuante, ou ao valor da multa, podendo, em decisão motivada, de ofício ou a requerimento do interessado, minorar, manter ou majorar o seu valor, respeitados os limites estabelecidos na legislação am-biental vigente.

Os julgadores da defesa administrativa ambiental apresentada terão liberdade para minorar, manter ou majorar o valor da multa, o que revela o sentido de discussão sobre a validade e substância do auto de infração.

Note-se ainda o parágrafo único do art. 126 do tratado Decreto nº 6.514/2008, que concede, mais uma vez, ao autuado, após a confirma-ção da validade do auto de infração em decisão acerca da defesa adminis-trativa ambiental apresentada, o mesmo desconto de trinta por cento, o que

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nos leva à compreensão que não faz sentido efetuar o pagamento da multa por infração ambiental e ao mesmo tempo apresentar defesa administrativa ambiental.

Art. 126. Julgado o auto de infração, o autuado será notificado por via postal com aviso de recebimento ou outro meio válido que assegure a certeza de sua ciência para pagar a multa no prazo de cinco dias, a partir do recebimen-to da notificação, ou para apresentar recurso.

Parágrafo único. O pagamento realizado no prazo disposto no caput contará com o desconto de trinta por cento do valor corrigido da penalidade, nos termos do art. 4º da Lei nº 8.005, de 1990.

CONCLUSÃO

Ao final deste breve ensaio, compreende-se que os órgãos ambientais têm o dever de realizar o poder de polícia ambiental, saindo a constatar, in loco, o cumprimento ou não da legislação ambiental. Caso se depare com situação que entenda ser violadora de dispositivo da legislação ambiental na esfera penal, deve comunicar o fato ao Ministério Público para que ado-te as medidas legais cabíveis, em especial o ajuizamento, se for o caso, de ação penal pública. Caso se depare com situação que entenda ser infração administrativa, deve esse órgão lavrar o correspondente auto de infração, concomitante à emissão de termo de embargo (de obra), de apreensão (de máquinas e equipamentos que foram utilizados na infração), de depósito, enfim, que adote as medidas administrativas que entender necessárias, to-mando como fundamento o supracitado art. 101 do Decreto nº 6.514/2008.

Após a lavratura do referido auto de infração, o órgão ambiental au-tuante deve seguir os passos previstos nos arts. 96 a 98 deste mesmo Decre-to, sob pena de nulidade da autuação (art. 100). Mesmo que tenha seguido todos os passos para a lavratura correta do auto de infração, o autuado pode se considerar injustiçado pelo teor ou pela circunstância da lavratura do mesmo, momento em que terá, nos termos dos arts. 113 a 117, oportunida-de de apresentar defesa administrativa ambiental, a qual será julgada pelo órgão competente que pode revalidar o referido auto de infração, anulá-lo no caso de vício insanável ou confirmar a sua validade. Desta decisão que julga improcedente a defesa ambiental ainda cabe recurso ao mesmo órgão, que o encaminhará à autoridade superior.

Estes são, em síntese, os procedimentos a serem seguidos pelos órgãos autuantes e pelos autuados que pretendem apresentar defesa administrativa ambiental e recursos administrativos ambientais, à autoridade superior do

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órgão autuante e, posteriormente, se for o caso e se houver interesse, ao Conama, sob pena de, respectivamente, ser declarada a nulidade do auto de infração, ou a improcedência da defesa administrativa ambiental ou do recurso administrativo ambiental.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 22 maio 2017.

______. Lei Federal nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm>. Acesso em: 22 maio 2017.

______. Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm>. Acesso em: 22 maio 2017.

______. Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/decreto/d6514.htm>. Acesso em: 22 maio 2017.

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1998.

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Parte Geral – Acórdão na Íntegra

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Tribunal Regional Federal da 1ª RegiãoApelação/Reexame Necessário nº 0001223‑92.2011.4.01.3603/MTRelator: Desembargador Federal Kassio Nunes MarquesApelante: Egidio Alves Correia NetoAdvogado: MT00007443 – Mauro Alexandre Moleiro PiresApelado: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IbamaProcurador: DF00025372 – Adriana Maia VenturiniRemetente: Juízo Federal da Subseção Judiciária de Sinop – MT

EMENTA

ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL – REMESSA OFICIAL – APELAÇÃO – MANDADO DE SEGURANÇA – IBAMA – INFRAÇÃO AMBIENTAL – INCLUSÃO EM LISTA DE ÁREAS EMBARGADAS – EMBARGO – DELIMITAÇÃO – LEI Nº 10.650/2003 – SENTENÇA MANTIDA – DESPROVIMENTO

1. A pretensão da parte apelante reside na exclusão do seu nome e CPF da lista de divulgação de áreas embargadas pelo Ibama.

2. Em interpretação dos dispositivos presentes na legislação de regên-cia, a publicação das áreas embargadas e dados constantes da autua-ção não deve ser tida como penalidade a ser aplicada em caso de des-cumprimento do embargo, e sim como obrigação da Administração.

3. “Prevista em lei a publicação no DO e divulgação ampla dos au-tos de infração e respectivas penalidades impostas pela prática de infrações ambientais (Lei nº 10.650/2003, art. 4º), não configura ile-galidade a inclusão do nome e CPF dos proprietários autuados e que tiveram suas respectivas propriedades embargadas. Evidentemente, esses dados são um dos elementos formais do auto” (AMS 0008454-86.2010.4.01.3901/PA, Rel. Juiz Federal Evaldo de Oliveira Fernandes, filho, 5ª T., e-DJF1 de 20.04.2016). Precedentes.

4. Remessa oficial e apelação, conhecidas e desprovidas.

ACÓRDÃO

Decide a Turma, por unanimidade, conhecer da remessa oficial e da apelação, e negar-lhes provimentos.

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6ª Turma do TRF da 1ª Região.

Brasília, 3 de abril de 2017.

Desembargador Federal Kassio Marques Relator

RELATÓRIO

Trata-se de reexame necessário e de apelação interposta por Egídio Alves Correia Neto, em face da sentença, proferida em sede de ação manda-mental, que concedeu em parte a segurança buscada, em que determinou a limitação da área embargada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ao objeto da autuação.

Nas razões, fls. 356/363, o recorrente informa que impetrou mandado de segurança por ato ilegal do Chefe do Escritório Regional do Ibama em Alta Florestal, com o objetivo do desembargo de todas as atividades eco-nômicas de sua propriedade rural, Fazenda Chapadão do Índio, além da exclusão de seu nome da lista oficial de áreas embargadas, mantida pela autarquia ambiental.

Sustenta que o embargo é ilegal e que vem sofrendo os efeitos preju-diciais sobre outros imóveis rurais de sua propriedade, em virtude daquele embargo, objeto da autuação.

Aduz que a divulgação do nome e do CPF do apelante na lista de áreas embargadas de autuação, prejudica sua atividade econômica de pe-cuarista, eis que não consegue buscar financiamento perante instituições financeiras e, sobretudo, vender sua produção (gado) aos frigoríficos.

Alega que a forma como o Ibama divulga a listagem, contendo nome e CPF do titular da área de embargo, fere frontalmente o direito à livre ini-ciativa, além de que não há respaldo legal para a referida divulgação nesses termos, o que acaba por vincular e prejudicar as demais atividades realiza-das em áreas não embargadas da propriedade nem correlacionadas com a infração.

Defende que a divulgação deve conter apenas o perímetro georrefe-renciado do imóvel objeto do embargo.

Contrarrazões do Ibama, fls. 367/371.

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Parecer do Ministério Público Federal, fls. 377/382, com opinativo de desprovimento.

É o breve relatório.

VOTO

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço da remessa oficial e da apelação.

A inconformidade do apelante limita-se a publicação de seu nome e CPF na lista de áreas embargadas.

Pela sentença, corretamente agindo o magistrado de base, o embargo foi limitado a área irregular, objeto da autuação. No ponto, a medida de embargo foi legalmente realizada pelo Ibama, aliás nem é motivo de ques-tionamento nesta instância.

Certo que o embargo não possa alcançar as demais atividades realiza-das em áreas não embargadas da propriedade ou posse ou não correlacio-nadas com a infração, nos termos do art. 15-A, do Decreto nº 6.514/2008, não há como admitir que a inclusão do nome do proprietário e o CPF sejam dados que extrapolem os limites da área embargada. Vejamos.

Assim dispõe o art. 18 do Decreto nº 6.514/2008, norma em exame:

Art. 18. O descumprimento total ou parcial de embargo, sem prejuízo do disposto no art. 79, ensejará a aplicação cumulativa das seguintes sanções:

I – suspensão da atividade que originou a infração e da venda de produtos ou subprodutos criados ou produzidos na área ou local objeto do embargo infringido; e

II – cancelamento de registros, licenças ou autorizações de funcionamento da atividade econômica junto aos órgãos ambientais e de fiscalização. (Re-dação dada pelo Decreto nº 6.686, de 2008)

§ 1º O órgão ou entidade ambiental promoverá a divulgação dos dados do imóvel rural, da área ou local embargado e do respectivo titular em lista ofi-cial, resguardados os dados protegidos por legislação específica para efeitos do disposto no inciso III do art. 4º da Lei nº 10.650, de 16 de abril de 2003, especificando o exato local da área embargada e informando que o auto de infração encontra-se julgado ou pendente de julgamento. (Incluído pelo Decreto nº 6.686, de 2008)

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§ 2º A pedido do interessado, o órgão ambiental autuante emitirá certidão em que conste a atividade, a obra e a parte da área do imóvel que são objetos do embargo, conforme o caso. (Incluído pelo Decreto nº 6.686, de 2008)

Embora o referido dispositivo trate da situação de descumprimento do embargo com a previsão das penalidades decorrentes desta situação, a norma contida no § 1º não deve ser vista como uma sanção em si, na medida em que, numa interpretação sistemática, importa em dever da Ad-ministração.

É de se notar, primeiramente, que a publicação desses dados não consta do rol de sanções punitivas dispostas no art. 3º, do Decreto nº 6.514/2008.

Aliás, a obrigação de divulgação das informações constantes da tal lista, entre elas, dados pessoais dos proprietários das áreas embargadas, consta expressamente do art. 4º, da Lei nº 10.650/2003:

Art. 4º Deverão ser publicados em Diário Oficial e ficar disponíveis, no res-pectivo órgão, em local de fácil acesso ao público, listagens e relações con-tendo os dados referentes aos seguintes assuntos:

I – pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão;

II – pedidos e licenças para supressão de vegetação;

III – autos de infrações e respectivas penalidades impostas pelos órgãos am-bientais;

IV – lavratura de termos de compromisso de ajustamento de conduta;

V – reincidências em infrações ambientais;

VI – recursos interpostos em processo administrativo ambiental e respectivas decisões;

VII – registro de apresentação de estudos de impacto ambiental e sua apro-vação ou rejeição.

Parágrafo único. As relações contendo os dados referidos neste artigo deve-rão estar disponíveis para o público trinta dias após a publicação dos atos a que se referem.

A respaldar a exigência da publicidade desses dados, outras normas também a determinam, a exemplo do art. 149, do Decreto nº 6.514/2008, e art. 7º, da Instrução Normativa nº 01/2008, do Ministério do Meio Ambien-te, que regulamenta a matéria:

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Art. 149, do Decreto nº 6.514/2008: Os órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente – Sisnama ficam obrigados a dar, tri-mestralmente, publicidade das sanções administrativas aplicadas com funda-mento neste Decreto: (Redação dada pelo Decreto nº 6.686, de 2008)

I – no Sistema Nacional de Informações Ambientais – Sisnima, de que trata o art. 9º, inciso VII, da Lei nº 6.938, de 1981; e

II – em seu sítio na rede mundial de computadores.

Parágrafo único. Quando da publicação das listas, nos termos do caput, o órgão ambiental deverá, obrigatoriamente, informar se os processos estão julgados em definitivo ou encontram-se pendentes de julgamento ou recurso. (Incluído pelo Decreto nº 6.686, de 2008)

Art. 7º, da Res. 01/2008-MMA: Serão produzidos e disponibilizados na rede mundial de computadores, mapas por município, contendo os polígonos ge-orreferenciados das áreas objeto de embargo realizado pelo órgão federal competente e, quando disponível, pelo órgão estadual de meio ambiente, os limites municipais, a sede do município, a malha viária e hidrográfica. Pará-grafo único. A disponibilização dos mapas de que trata o caput deste artigo, é meramente informativa e não constitui condição de validade ou eficácia do embargo nos casos em que o infrator ou detentor do imóvel objeto do embargo foi notificado.

Ao que se vê, decorre da própria lei a obrigação de que sejam publi-cadas na imprensa oficial e, consequentemente, disponibilizadas ao públi-co em geral, listagens e relações com dados referentes aos autos de infração e respectivas penalidades impostas pelos órgãos ambientais, de maneira que não há, portanto, vedação ou constrangimento indevido na divulgação dos nomes e respectivos números de cadastros daqueles que foram autuados.

A aludida disposição legal proporciona segurança jurídica de todos quantos lidem com pessoas, cujas áreas sejam embargadas. Não se deve olvidar que implica em infração administrativa, e mesmo crimes contra o meio ambiente, aquele que negocia com depredadores de recursos natu-rais, a exemplo dos ilícitos contidos no art. 46 da Lei nº 9.605/1998 e do art. 54 do Decreto nº 6.514/2008. O registro público das áreas embargadas do Ibama constitui fator de segurança de quem necessite adquirir produtos extraídos da natureza, além de garantia de preservação do meio ambiente, na medida em que não permite aos infratores a alegação de desconheci-mento ou de culpa na seleção de fornecedores de produtos naturais ilícitos.

Por outro lado, a vedação a publicidade do ato somente existiria se, por algum motivo ou decisão judicial, aquele auto de infração e o termo de embargo estivessem com seus efeitos suspensos, o que não se verifica

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na presente hipótese. Além disso, houve correta individualização da área embargada, não havendo excesso no exercício da medida efetivada pelo Ibama.

Não se deve ter como violado o devido processo legal referente à inclusão do nome do apelante que teve como fundamento auto de infração, em que lhe foi possibilitado o exercício do contraditório e da ampla defesa.

Ademais, a circunstância de o auto de infração ainda não ter sido jul-gado definitivamente não é óbice para a sua utilização na lista impugnada, porquanto o ato da autoridade encontra-se previsto na própria lei, havendo apenas ressalva a constar na informação a ser publicada (art. 149, parágrafo único, do Decreto nº 6.514/2008).

Nesse sentido:MANDADO DE SEGURANÇA – PEDIDO DE EXCLUSÃO DA “LISTA DOS 100 MAIORES DESMATADORES DA FLORESTA AMAZÔNICA” PUBLICA-DA NA INTERNET EM PÁGINA OFICIAL DO MINISTÉRIO DO MEIO AM-BIENTE – ALEGAÇÃO DE FALSIDADE DAS INFORMAÇÕES – FALTA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA – PRECEDENTES DA 1ª SEÇÃO (MS 13.921/DF, MS 13.934/DF) – DIVULGAÇÃO FUNDADA EM AUTO DE INFRAÇÃO NÃO DEFINITIVAMENTE JULGADO – POSSIBILIDADE ASSENTADA NA LEI Nº 10.650/2003 (ART. 4º), DEVENDO SER OBSERVADO O PARÁGRA-FO ÚNICO DO ART. 149 DO DECRETO FEDERAL Nº 6.514/2008 – OR-DEM PARCIALMENTE CONCEDIDA.

(STJ/S1, MS 13.935/DF, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJe 18.03.2010)

ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL – MANDADO DE SEGURANÇA IBAMA – INCLUSÃO EM LISTA DE ÁREAS EMBARGADAS – EMBARGO PARCIAL – DELIMITAÇÃO – LEI Nº 10.650/03, ART. 4º – APELAÇÃO DESPROVIDA

1. Pretensão de excluir nome e dados de imóvel rural da lista do Ibama de divulgação de áreas embargadas.

2. Apelante autuado por “destruir a corte raso floresta nativa de 190,59 ha na Amazônia Legal, objeto de especial preservação, sem licença da autoridade ambiental competente”, conduta tipificada no art. 70 da Lei nº 9.605/1998 c/c art. 50 do Decreto nº 6.514/2008. Lavrou-se AI (nº 470.714-D) e Termo de Embargo/Interdição (nº 585.413/C), promovendo-se o embargo da área antropizada.

3. Prevista em lei a publicação no DO e divulgação ampla dos autos de infra-ção e respectivas penalidades impostas pela prática de infrações ambientais (Lei nº 10.650/2003, art. 4º), não configura ilegalidade a inclusão do nome e CPF dos proprietários autuados e que tiveram suas respectivas propriedades embarga das. Evidentemente, esses dados são um dos elementos formais do auto.

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4. Já decidiu o STJ/S1: “Mandado de segurança. Pedido de exclusão da ‘Lista dos 100 maiores Desmatadores da Floresta Amazônica’ publicada na inter-net em página oficial do Ministério do Meio Ambiente. Alegação de falsidade das informações. Falta de prova pré-constituída. Precedentes da 1ª Seção (MS 13.921/DF, MS 13.934/DF). Divulgação fundada em auto de infração não definitivamente julgado. Possibilidade assentada na Lei nº 10.650/2003 (art. 4º), devendo ser observado o parágrafo único do art. 149 do Decreto Fe-deral nº 6.514/2008. Ordem parcialmente concedida” (MS 13.935/DF, Rel. Min. Teori Albino Zavascki).

5. Apelação desprovida. Sentença confirmada.

(AMS 0008454-86.2010.4.01.3901/PA, Rel. Juiz Federal Evaldo de Oliveira Fernandes, filho, 5ª T., e-DJF1 de 20.04.2016)

Por fim, enfatizo que a divulgação dos dados do apelante no referido cadastro, em si só, não acarreta qualquer restrição de crédito, representan-do uma medida de proteção e preservação do meio ambiente, com caráter meramente informativo. Além disso, em se tratando de ato de providência legal, não há que se cogitar da licitude dos efeitos dele decorrente. Além disso, a opção de terceiros em não contratarem com aquele que esteja ci-tado na referida listagem, ainda que o negócio em nada se refira a área ou atividade embargada, está no campo da liberdade negocial, sobre a qual o Judiciário não pode, nem deve, intervir.

Assim, legalmente autorizada a divulgação das informações relativas a autos e penalidades impostas pelo Ibama, é de se ter por correta a indica-ção do nome e CPF do apelante na referida listagem, eis que proprietário da área embargada.

A área de embargo encontra-se precisamente delimitada nos autos, não havendo elementos a inferir que a medida venha a inviabilizar a produ-ção econômica da área restante do imóvel. Em que pese o inconformismo da parte sobre os efeitos negativos da medida perante a sociedade, são eles próprios do exercício limitativo da ação de polícia ambiental.

Ante o exposto, conheço da remessa oficial e da apelação, e nego--lhes provimentos.

É como voto.

Desembargador Federal Kassio Nunes Marques Relator

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Parte Geral – Acórdão na Íntegra

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Tribunal Regional Federal da 2ª RegiãoAgravo de Instrumento – Turma Espec. III – Administrativo e CívelNº CNJ: 0108694‑80.2014.4.02.0000 (2014.00.00.108694‑9)Relator: Desembargadora Federal Salete MaccalózAgravante: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBioProcurador: Procurador FederalAgravado: Ministério Público FederalProcurador: Procurador Regional da RepúblicaOrigem: 01ª Vara Federal de Angra dos Reis (00002747120144025111)

EMENTA

DIREITO AMBIENTAL E PROCESSO CIVIL – AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO CIVIL PúBLICA – ESTRADA PARATY-CUNHA – PARqUE NACIONAL DA SERRA DA BOCAINA – TRÂNSITO DE VEÍCULOS

1. A decisão agravada determinou liminarmente ao DER – Departa-mento Estadual de Estrada de Rodagem instalar redutores de veloci-dade e fechar a estrada Paraty-Cunha, no interior do Parque Nacional da Serra da Bocaina, no horário noturno, 18:00 às 6:00, e ao ICMBio, junto com o DER, apresentar relatórios mensais de atropelamentos dos animais.

2. Malgrado o princípio da precaução, nenhum elemento técnico autoriza reduzir a velocidade máxima da estrada de 40km/h para 30km/h, não bastando as fotos de aranhas, sapos e centopéias atro-peladas e o relatório isolado de professor de universidade paulista, em detrimento de um complexo de estudos que culminaram na ela-boração do detalhado Plano de Manejo do Parque, Portaria Ibama nº 112/2002.

3. A decisão agravada, de rigor, diminui o nível de proteção ambien-tal ao restringir o tráfego de veículos ao horário de 6:00 às 18:00, pois o Plano de Manejo prevê a passagem de carros de passageiros e utilitários das 6:00 às 7:30 e 15:30 às 17:00 e, no ínterim, apenas veículo de transporte único.

4. A Uerj já monitora os atropelamentos, sendo desnecessário comi-nar esse dever também ao ICM-Bio, que conta com apenas 14 servi-

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dores para atender ao Parque de mais de 134 mil hectares, do Litoral Fluminense ao Vale do Paraíba Paulista.

5. Mesmo a demora na implementação do Plano de Manejo não jus-tifica liminar que transforma o Judiciário em gestor público, determi-nando medidas reputadas mais urgentes, sem considerar os reflexos nas demais atribuições do ICMBio no âmbito de Parque Nacional tão vasto.

6. Agravo de instrumento provido.

ACÓRDÃO

Decide a Sexta Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da Segunda Região, por maioria, dar provimento ao agravo, na forma do voto da Desembargadora Nizete Lobato Carmo.

Rio de Janeiro, 14 de dezembro de 2016.

Assinado eletronicamente (Lei nº 11.419/2006) Nizete Antônia Lobato Rodrigues Carmo Desembargadora Federal

VOTO – VISTA

Pedi vista para melhor refletir sobre os reflexos da liminar que, em de-zembro/2014, determinou o fechamento parcial da estrada Paraty-Cunha, no interior do Parque Nacional da Serra da Bocaina, instalação de redutores de velocidade e apresentação de relatórios mensais sobre atropelamentos de animais.

O MPF propôs a ACP em abril/2014 e, em agosto/2014 a Juíza Fede-ral Ana Carolina Vieira concedeu liminar para suspender as obras de pavi-mentação da rodovia1. Na ocasião, sumarizou a pretensão ministerial nos termos que transcrevo:

1 Decisão de fls. 2398/2442 da ACP. O Ibama, o ICMBio e o Iphan agravaram (Proc. 2014.00.00.105175-3) e a 6ª Turma deu provimento ao recurso em outubro/2014 (Rel. Des. Fed. Guilherme Couto):

AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – SUSPENSÃO DAS OBRAS DE PAVIMENTAÇÃO DE ESTRADA – PROVIMENTO DO RECURSO – LIMINAR CASSADA – 1. Afigura-se equivocado determinar, sem quadro claro e em liminar que gera perigo inverso, a suspensão das obras de pavimentação de estrada. Caso que envolve a Estrada Paraty-Cunha, objeto de Licença de Instalação e das autorizações concedidas pelo ICMBio e pelo Iphan. As providências técnicas para a realização da obra de pavimentação, em princípio, foram adotadas, tanto que o presente agravo é interposto pelos órgãos técnicos competentes, cuja atuação é – por definição – a dos primeiros incumbidos da defesa ambiental. 2. A própria culta juíza de 1º grau ainda fará

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Trata-se de ação proposta contra os atos supostamente irregulares que teriam sido praticados no procedimento de licenciamento para a Pavimentação de 9,4 km da Rodovia RJ-165, trecho Paraty-Cunha, segmento inserido no Parque Nacional da Serra da Bocaina – PNSB.

Como causa de pedir, o Ministério Público sustenta:

a) A ausência de elaboração de EIA/Rima;

b) Ausência de estudo técnico sobre a vegetação, nos termos do § 2º do art. 4º da Lei nº 11.428/2006;

c) Ausência de revisão na Autorização de Licenciamento Ambiental nº 348/2010, por parte do ICMBio, emitida sem que houvesse qualquer estudo ambiental que subsidiasse a análise de viabilidade do projeto, em especial após o cancelamento da primeira Licença Prévia;

d) Ausência de estudo arqueológico em relação a todo o trecho de coinci-dência com o Caminho do Ouro, ainda não delimitado, e, nesses locais, que seja determinado que o patrimônio cultural seja sempre preservado, em detrimento do projeto da estrada;

e) Ausência de estudo sobre a efetividade das passagens de fauna, em espe-cial contendo dados sobre o seu uso, composição com o local e abundân-cia da fauna de entorno, sob pena de ocasionarem mais danos;

f) Ausência de definição quanto ao horário de tráfego de veículos, devendo ser expressamente proibido em período noturno;

g) Ausência de estudo técnico sobre os redutores de velocidade, quantidade e forma, de modo a prevenir atropelamento de animais;

Ainda segundo a narrativa do MPF, a Recomendação nº 1/2013, expedida pelo próprio, não foi integralmente acatada.

Em sede liminar o Parquet requer:

a) A paralisação das obras na estrada Paraty-Cunha, com suspensão dos efei-tos da licença de instalação nº 888/2012 e das autorizações concedidas pelo ICMBio e Iphan, até a realização de audiência pública e elaboração de EIA/Rima;

b) A realização de estudo técnico, nos termos do § 2º do art. 4º da Lei nº 11.428/2006; revisão da autorização de licenciamento por parte do ICMBio;

inspeção local e tentativa de presidir conciliação, já que o interesse de todos os litigantes, na lide, há de ser absolutamente comum. Por ora, deve ser dada fé aos argumentos dos agravantes, que rejeitam as alegações de agressão à mata atlântica e outras correlatas, tudo com argumentos técnicos. O periculum in mora inverso soa nítido, pois a paralisação da obra, que se encontra em estágio avançado, causará mais danos a todos, sem que se vislumbre o interesse acautelado pela liminar, no estado em que se encontram tais trabalhos. De toda sorte, tudo está sujeito a posterior reexame. Agravo de instrumento provido.

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c) A realização de estudo arqueológico em relação a todo o trecho de coin-cidência com o Caminho do Ouro, ainda não delimitado, e, nesses locais, que seja determinado que o patrimônio cultural seja sempre preservado, em detrimento do projeto da estrada; entrega de projeto da estrada em relação a todo o trecho de coincidência com o Caminho do Ouro, não somente os trechos anteriormente expostos pelos arqueólogos;

d) A realização de estudo sobre a efetividade das passagens de fauna, em especial contendo dados sobre o seu uso, composição com o local e abun-dância da fauna de entorno, sob pena de ocasionarem mais danos;

e) A fixação prévia, no estudo ambiental ou ato do poder público, do horário de tráfego de veículos, devendo ser expressamente proibido em horário noturno e a realização de estudo técnico sobre os redutores de velocidade, quantidade e forma, de modo a prevenir atropelamentos de animais, bem como priorizando equipamentos mais discretos, na parte lateral da via.

Em novembro/2014, após inspeção na rodovia e com base em laudo de professor universitário, o MPF se convenceu do “atropelamento de di-versos animais invertebrados e também vertebrados” e de que são devidos ao excesso de velocidade e migrações dos animais. Pediu, assim, a tutela de urgência, deferida pela decisão ora agravada, com os fundamentos que seguem:

[...] o pedido de adoção imediata de restrições ao tráfego na estrada mere-cem acolhida. Segundo aduz o Parquet e foi verificado na Inspeção Judicial, há parte considerável da estrada já pavimentada, o que permite o tráfego de veículos em velocidade superior à recomendada pelos estudos até então apresentados. Aliás, nesses mesmos trechos, foram observados atropelamen-tos de animais.

Não há justifica plausível para que as limitações aplicáveis à estrada sejam implementadas somente ao seu término. Atualmente, já há tráfego expressivo de veículos e a pavimentação finalizada permite a obtenção de velocidade perigosa para os animais do PNSB.

Em outras palavras, no trecho concluído, os motivos para as restrições en-contram-se presentes e não há, portanto, motivo para que se aguarde o au-mento do número de atropelamento dos animais para o início do fechamento noturno da via e para a implementação de redutores de velocidade.

A par disso, o funcionamento noturno da estrada coloca em risco os próprios usuários, visto que não há qualquer policiamento no local. Neste diapasão, oportuno citar que, no dia 18 de novembro deste ano, houve uma tentati-va de assalto com a morte de uma mulher no trecho em obras da Rodovia (http://brasil.estadao.com.br/noticias/rio-de-janeiro,mulher-morre-e-outra--ficaferidaem-assalto-a-carro-na-paraty-cunha,1594435).

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Em suma, além do fechamento noturno da estrada, entre 18:00 e 6:00 h, devem ser implementados redutores de velocidade que impeçam o desen-volvimento de velocidade superior ao limite de 30km/h.

Com o fim de verificar a eficácia das medidas ora determinadas, defiro o pleito do autor quanto à necessidade de apresentação de relatórios pelo DER e pelo ICMBio dos atropelamentos ocorridos mensalmente, com a indicação da espécie atingida. Caso existam relatórios já realizados, deverão ser apre-sentados a este juízo.

Ante o exposto, determino que o Departamento Estadual de Estradas e Ro-dagem (DER) providencie, em cinco dias, o fechamento do trecho da estrada Paraty-Cunha inserido no interior do Parque Nacional da Serra da Bocaina, no período das dezoito às seis horas da manhã, com o auxílio da Polícia Rodoviária Estadual.

Determino, ainda, que o DER, em cinco dias, instale redutores de velocidade que impeçam que os veículos que circulem pelo trecho da estrada existente no interior do PNSB desenvolvam velocidade superior a 30km.

Determino, por fim, que o DER e o ICMBio apresentem relatório mensal dos atropelamentos ocorridos, com a indicação da espécie atingida. Caso existam relatórios já realizados, deverão ser apresentados a este juízo, em dez dias.

O DER – Departamento estadual de Estradas, não agravou e ao ICMBio foi determinado apenas monitorar os atropelamentos. Embora não tenha sido questionado seu interesse recursal, considero presente, porquanto as medidas, mesmo as cominadas ao departamento de estradas, interferem em todo o funcionamento do Parque Nacional, expondo sua administração, a cargo do ICMBio, à interferência judicial, em desacordo com o complexo Plano de Manejo, aprovado em 2002 pela Portaria Ibama nº 112/20022.

É o que advertia o Desembargador Guilherme Couto, anterior Relator, que proveu este agravo monocraticamente em dezembro/20143:

2 http://www.icmbio.gov.br/parnaserradabocaina/extras/62-plano-de-manejo-e-monitorias.html3 Fls. 81/87, nestes termos:

Da leitura dos pedidos, depreende-se que o autor aditou a inicial com outros pedidos, que inclusive estão – em boa parte – na esfera de mutabilidade permanente da administração, em nome da conveniência e oportunidade. Veja-se que, mais, a mudança de pedidos e providências afeta os réus originários, sem que eles tenham consentido com a nova inclusão, nos termos dos arts. 264 e 294 do CPC.

As regras de estabilização do processo foram, apenas no que concerne à mudança e data venia, desrespeitadas.

Acrescer pedidos e mudar a causa de pedir ofende a disciplina do art. 264 do CPC. O centro da lide é a ilegalidade do licenciamento e da própria obra. Há, ainda e de todo modo, referência na inicial ao horário noturno, mas a questão deve ser decidida em conjunto, e toda a responsabilidade de ocorrência de ilegalidades e de consequências é da autoridade administrativa que as toma.

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[...] é inviável que as soluções e decisões administrativas sejam tomadas pelo Judiciário. Isto é equivocado, embora não seja raro ver tal caminho, até em Cortes Superiores, tanto quanto a leitura dos clássicos foi abandonada e o atropelo do excesso de feitos e decisões tomou conta do Judiciário. A tare-fa administrativa é e deve ser essencialmente mutável, mas não a decisão judicial. Por isso, o perigo de decisões como a proferida, que tomam a si a tarefa administrativa, substituindo o juízo de conveniência e oportunidade que cabe a quem de direito.

Nesse aspecto, embora ao final possa proibir o tráfego em certo horário, ou considerá-lo ilegal (como toda a obra) não cabe ao Judiciário adentrar a apli-cação, ou não, de restrições imediatas, e o exemplo se dá exatamente com o acidente fatal referido na própria decisão agravada.

Em novembro/2015 a Turma proveu o agravo interno do MPF, já sob a relatoria da Desembargadora Salete Maccalóz, fundada em que “o objeto dos autos, por envolver questões afetas ao meio ambiente, demanda uma maior atenção na realização de projetos que possam de alguma forma pre-judicá-lo, razão pela qual não há que prevalecer a decisão recorrida [...]”4.

Avançou-se, assim, ao contraditório recursal, e, em novembro/2016, a em. Relatora, louvada no princípio da precaução, votou pela manutenção da decisão agravada, ciosa de que a responsabilidade com o meio ambiente é um dever de todos, principalmente das instituições legalmente instituí-das para tais fins, como Ibama, e daquelas que se autointitulam defensoras

Ainda durante o curso da lide, nada obsta que o MPF, de modo direto, inste e recomende à autoridade a adoção de certas providências administrativas, até mesmo as adotadas pela culta juíza e até outras.

Mas é inviável que as soluções e decisões administrativas sejam tomadas pelo Judiciário. Isto é equivocado, embora não seja raro ver tal caminho, até em Cortes Superiores, tanto quanto a leitura dos clássicos foi abandonada e o atropelo do excesso de feitos e decisões tomou conta do Judiciário. A tarefa administrativa é e deve ser essencialmente mutável, mas não a decisão judicial. Por isso, o perigo de decisões como a proferida, que tomam a si a tarefa administrativa, substituindo o juízo de conveniência e oportunidade que cabe a quem de direito.

Nesse aspecto, embora ao final possa proibir o tráfego em certo horário, ou considerá-lo ilegal (como toda a obra) não cabe ao Judiciário adentrar a aplicação, ou não, de restrições imediatas, e o exemplo se dá exatamente com o acidente fatal referido na própria decisão agravada. Antes de sua ocorrência, os agravos anteriores alertavam para o perigo da decisão que paralisara a obra, e para a presença de assaltantes na pista. É injusto culpar o Ministério Público ou o Judiciário, mas isso se dá, em casos assim, como o agravo volta a mencionar o prejuízo causado.

Por outro lado, nem todos os elementos atinentes ao caso estão claros, e talvez ocorra de, no mérito, a decisão da culta juíza estar certa.

Mas talvez não, talvez não se trate do melhor, no momento. Mas quem deve estudar e assumir o ônus da aferição da conveniência e da oportunidade é a administração, respondendo por seus erros. Repita-se, o Ministério Público pode e deve recomendar e instar a que se siga tal e qual caminho.

Não há como, portanto, em sede de tutela, reconhecer o direito postulado. O caso é delicado, e nada impede que se aguarde todo o exame para a sentença, que julgará o pedido como formulado na inicial, e agora já se aproxima.

4 Fl. 114.

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do ambiente ecologicamente sustentável, como é o caso do Instituto Chico Mendes, o qual deveria ser o principal interessado na formulação de estudos de impacto ambiental, com vistas ao cumprimento de sua missão institu-cional.

Ouso divergir.

Não se pode aceitar a imposição de restrições despidas de fundamen-tação adequada, ou escudadas no “relatório sobre a reforma e ampliação da estrada-parque Paraty-Cunha (RJ-165) e o seu impacto na fauna do Parque Nacional da Serra da Bocaina” elaborado pelo Professor Titular de Vertebra-dos da Universidade Estadual Paulista5.

Sem desmerecer a fauna e o ecossistema brasileiro, é natural que es-tradas que cortem Parques Nacionais causem, em algum momento, pre-juízos ambientais, mas, no estágio atual, não se flagram motivos para se sobrepor ao gestor ambiental, que, com base dos relatórios de monitora-mento da Uerj, deve adotar as medidas necessárias para evitar uma escalada expressiva na mortandade de espécies, pena de ser responsabilizado pela omissão grave.

Mas não se pode perder de vista o princípio da separação dos pode-res, art. 2º da Constituição. De regra, “a ação civil pública não é veículo para levar o Judiciário a exercer ingerência sobre o mérito de ato do Execu-tivo, e substituí-lo [...] Não pode o magistrado coroar-se de novo Defensor Geral, e desfilar seus critérios administrativos sobre como distribuir as ativi-dades. A atuação do Judiciário é adstrita à regularidade e legalidade do ato administrativo, e a tomada de seu mérito configura ofensa à separação os poderes, consagrada no art. 2º da Lei Maior” (Ap-Reex 604329, Rel. Des. Fed. Guilherme Couto, e-DJF2R 04.11.2013)6.

5 Fls. 3051/2060.6 É excepcional a intromissão do Judiciário em casos tais. Leia-se a orientação do STJ:

[...] 4. Em regra geral, descabe ao Judiciário imiscuir-se na formulação ou execução de programas sociais ou econômicos. Entretanto, como tudo no Estado de Direito, as políticas públicas se submetem a controle de constitucionalidade e legalidade, mormente quando o que se tem não é exatamente o exercício de uma política pública qualquer, mas a sua completa ausência ou cumprimento meramente perfunctório ou insuficiente. 5. A reserva do possível não configura carta de alforria para o administrador incompetente, relapso ou insensível à degradação da dignidade da pessoa humana, já que é impensável que possa legitimar ou justificar a omissão estatal capaz de matar o cidadão de fome ou por negação de apoio médico-hospitalar. A escusa da “limitação de recursos orçamentários” frequentemente não passa de biombo para esconder a opção do administrador pelas suas prioridades particulares em vez daquelas estatuídas na Constituição e nas leis, sobrepondo o interesse pessoal às necessidades mais urgentes da coletividade. O absurdo e a aberração orçamentários, por ultrapassarem e vilipendiarem os limites do razoável, as fronteiras do bom-senso e até políticas públicas legisladas, são plenamente sindicáveis pelo Judiciário, não compondo, em absoluto, a esfera da discricionariedade do Administrador, nem indicando rompimento do princípio da separação dos Poderes. 6. “A realização dos Direitos Fundamentais não é opção do governante, não é resultado de um juízo discricionário nem pode ser encarada como tema que depende unicamente da vontade política. Aqueles direitos que estão

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De rigor, a decisão agravada apenas impõe deveres já previstos no Plano de Manejo do Parque Nacional da Bocaina, e, malgrado demoras na sua implementação, não se pode transformar o Judiciário no novo gestor do Parque, elegendo as prioridades sem considerar os reflexos dessa intro-missão.

O Relatório Final da Monitoria, de 2010, disponível na página do ICMBio reflete preocupações específicas com a estrada Paraty-Cunha e a necessidade de melhoria das condições de trafegabilidade, inclusive para o aperfeiçoamento das ações de manejo. Leia-se o seguinte trecho:

As regras estabelecidas pela monitoria, tais como a obrigatoriedade da ado-ção de controladores de velocidade, minimizarão os impactos alertados pelo Plano de Manejo. A monitoria re-define ainda os horários permitidos ao trânsito estabelecidos pelo documento original, no qual encontravam-se nos períodos do início da manhã e final de tarde, horários nos quais costumam ser mais intensas as atividades da fauna. Cabe ressaltar que ficará proibido o fluxo de veículos desde o final da tarde até o início da manhã, compreenden-do todo o período noturno.

[...]

O tempo para transpor o trecho da Paraty-Cunha inserido no PNSB, atual-mente, varia em torno de 1 h. Com a pavimentação, mesmo considerando velocidade máxima de 40 km/h, portanto uma velocidade média de aproxi-madamente 30 km/h, reduzirá este tempo para em torno de 20 minutos.

[...]

No tópico específico à operacionalização da estrada, constam as se-guintes restrições: (i) passagem de carros de passageiros e utilitários das 6:00 às 7:30 e 15:30 às 17:00; (ii) das 7:30 às 15:30 circulará veículo do sistema de transporte único do Parque. É o que consta também do minucioso Plano de Manejo.

Não encontrei nenhum elemento técnico que justifique a ingerência do MPF e do Judiciário sobre as velocidades máximas dentro do Parque, nomeadamente para reduzir de 40km/h para 30Km/h, sendo esta (30km/h), de toda sorte, a média de velocidade projetada no Plano de Manejo, que prevê, ainda, horários de circulação mais restritos que os defendidos pelo MPF, donde a decisão, na verdade, afrouxar a proteção ambiental. A insta-lação de redutores também sempre esteve prevista.

intimamente ligados à dignidade humana não podem ser limitados em razão da escassez quando esta é fruto das escolhas do administrador” (REsp. 1.185.474/SC, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., DJe 29.04.2010). [...] (REsp 1068731, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., DJe 08.03.2012)

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A extrema complexidade da matéria não permite a sobreposição dos estudos do Ibama e ICMBio pela decisão judicial, que acolheu o pedido mi-nisterial com base em parecer de um único especialista, colacionando fotos de sapos, aranhas e gongolos7 atropelados, em detrimento de todo o corpo técnico que participou da elaboração do Plano de Manejo.

“O risco zero, no uso de uma estrada, nunca existirá”, como afirmou o ICMBio no agravo, com outros esclarecimentos relevantes, que acolho (com negritos do original):

A segunda decisão não determinou a paralisação das obras, mas as incur-sões sobre o mérito administrativo tem efeitos igualmente desastrosos. No Memorando nº 348/2014/PNSB/ICMBio/RJ-SP, o Chefe do Parque externou que “há atrasos no cronograma ambiental que causam grande preocupação. As obras previstas nos cronogramas (que seguem em anexo) não foram ain-da iniciadas, sendo que, com exceção das guaritas, em princípio a serem inseridas como termo aditivo do contrato de execução da estrada, as demais edificações sequer contam com procedimento licitatório instaurado [...] Face ao estágio avançado das obras rodoviárias, corre-se sério risco de que a prin-cipal condicionante estabelecida pelo Plano de Manejo, a de que as obras só serão admitidas acompanhadas das estruturas gerenciais, seja descumprida”.

Afora isso, é importante ressaltar que a nova decisão antecipatória da tutela atenta contra a eficiência, na medida em que condena a autarquia obrigação de apresentação de relatório mensal dos atropelamentos ocorridos na Estrada Paraty-Cunha, sem que ela disponha de corpo técnico suficiente para cum-prir essa obrigação sem prejuízo das atividades rotineiras de conservação da biodiversidade e simplesmente despreza que, no processo de licenciamento, essa obrigação cabe ao empreendedor, no caso o DER/RJ.

Ora, é certo que o ICMBio exerce o controle ambiental da rodovia, afinal lhe foi outorgada, pelo art. 1º da Lei nº 11.516/2007, a missão de “executar ações da política nacional de unidades de conservação da natureza, referen-tes às atribuições federais relativas à proposição, implantação, gestão, prote-ção, fiscalização e monitoramento das unidades de conservação instituídas pela União”.

Ocorre que as decisões de uma administração gerencial são tomadas em fun-ção das circunstâncias fáticas que se apresentam ao gestor. O cenário, até o presente momento, era o de uma obra em curso, submetida a licenciamento ambiental pelo Ibama que inseriu, como condicionante da Licença de Insta-lação nº 888/2012, a execução de uma série de Planos e Programas Ambien-tais propostos no Plano Básico Ambiental – PBA (condicionante 2.4), dentre os quais consta expressamente o “Programa de Monitoramento e Controle de Atropelamento da Fauna”.

7 O popular “piolho de cobra”.

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No particular, no Memorando nº 357/2014/PNSB/ICMBio/RJ-SP, o gestor da unidade de conservação pontuou que o “Parque Nacional da Serra da Bocaina não dispõe, na atualidade, de estrutura gerencial capaz de produzir diretamente tais relatórios, se não, sob pena de comprometimento absoluto das demais agendas de proteção e gestão em curso. Existindo uma institui-ção pública de notório saber em campo produzindo os dados determinados, entende-se que a entrega direta da Uerj à Justiça Federal traria o melhor arranjo institucional à agenda”.

Atualmente, apenas para fins de registro, mencione-se que o PNSB conta apenas com 8 (oito) analistas de nível superior e 6 (seis) técnicos de nível mé-dio para atender a um Parque de mais de 134 mil hectares, que se estendem do Litoral Fluminense ao Vale do Paraíba Paulista.

Se o monitoramento do atropelamento da fauna é atribuição conferida pelo licenciador ao empreendedor, o DER, a decisão que imputa ao ICMBio a obrigação de apresentar relatórios mensais dos atropelamentos ocorridos na estrada pretende, mais uma vez, substituir a decisão do Ibama, tomada no processo de licenciamento, pela decisão judicial embasada no entendimento dos peritos contratados pelo Parquet.

Nesse sentido, cabe ainda salientar que constitui prerrogativa da Administra-ção Pública, no exercício de seu poder discricionário, verificar a necessidade de determinar as providências a serem adotadas, estabelecendo as priorida-des na execução da política de gestão do PNSB, em consonância com os re-cursos financeiros disponíveis. Conquanto o acompanhamento e fiscalização da obra seja uma das prioridades atuais da gestão da unidade, não se justifica a realização pelo PNSB de uma tarefa que já está sendo feita a contento pelo empreendedor, inclusive em homenagem ao principio da eficiência admi-nistrativa, que não se coaduna com a realização em duplicidade do mesmo encargo. Trata-se de um retrabalho.

É suficiente, assim, a ressalva final da decisão agravada de que sejam apresentados ao juízo os relatórios já realizados, além, é óbvio, dos que serão ainda elaborados.

Mas, em sede liminar, não há o que impor ao ICMBio que já não esteja previsto no Plano de Manejo, que, neste momento, atende aos princí-pios norteadores do meio ambiente, art. 225 da Constituição, e vem sendo implementado gradualmente, ainda que com atrasos.

Com essas considerações, dou provimento ao agravo.

É o voto.

Assinado eletronicamente (Lei nº 11.419/2006) Nizete Antônia Lobato Rodrigues Carmo Desembargadora Federal

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Parte Geral – Acórdão na Íntegra

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Tribunal Regional Federal da 3ª RegiãoPoder JudiciárioApelação Criminal nº 0002697‑62.2015.4.03.6106/SP2015.61.06.002697‑6/SPRelator: Desembargador Federal José LunardelliApelante: Justiça PúblicaApelante: Sebastião Francisco VisicatoAdvogado: SP184637 Donaldo Luís Paiola e outro(a)Apelado(a): Os MesmosNº Orig.: 00026976220154036106 1ª Vr. São José do Rio Preto/SP

EMENTA

PENAL – PROCESSUAL – APELAÇÕES CRIMINAIS – PÁSSAROS SILVESTRES IRREGULARMENTE MANTIDOS EM CATIVEIRO DOMICILIAR PELO ACUSADO, INCLUSIVE ESPéCIE AMEAÇADA DE EXTINÇÃO, PORTANDO RELAÇÃO NÃO ATUALIzADA DE PASSERIFORMES NO ENDEREÇO DO PLANTEL – ANILHA ALARGADA, NÃO REGISTRADA NO SISPASS OU AUSENTE, EM DESACORDO COM O ART. 32, II E III, DA INSTRUÇÃO NORMATIVA IBAMA Nº 10/2011 – USO INDEVIDO DE ANILHA DO IBAMA PELO RéU, SABIDAMENTE, ADULTERADA – DELITOS IMPUTADOS NA DENúNCIA DEVIDAMENTE TIPIFICADOS NO ART. 29, § 1º, III, E § 4º, I, DA LEI Nº 9.605/1998, E NO ART. 296, § 1º, III, DO CóDIGO PENAL, EM CONCURSO MATERIAL – PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO NÃO APLICÁVEL NO CASO CONCRETO – AUSÊNCIA DE CONFLITO APARENTE DE NORMAS – PRESCRIÇÃO INOCORRIDA – MATERIALIDADE E AUTORIA DEMONSTRADAS – DOLO CONFIGURADO – DOSIMETRIA – ATENUANTES DO ART. 65, I, PARTE FINAL, DO CóDIGO PENAL, E DO ART. 14, I E IV, DA LEI Nº 9.605/1998, RECONHECIDAS NA HIPóTESE, INCLUSIVE DE OFÍCIO, NOS LIMITES DA SúMULA Nº 231 DO STJ (PENAS-BASE FIXADAS JÁ NO MÍNIMO PATAMAR LEGAL) – CAUSA ESPECIAL DE AUMENTO DE PENA DO ART. 29, § 4º, I, DA LEI Nº 9.605/1998, DEVIDAMENTE MANTIDA EM RELAÇÃO AO DELITO AMBIENTAL, EM DETRIMENTO DA AGRAVANTE DO ART. 15, II, q, DA LEI Nº 9.605/1998 – SUBSTITUIÇÃO DA SOMA DAS PENAS CORPORAIS APLICADAS AO RéU POR DUAS RESTRITIVAS DE DIREITOS – APELOS DA ACUSAÇÃO E DA DEFESA PARCIALMENTE PROVIDOS

1. Em suas razões recursais (fls. 132/135 e 149/152), o Ministério Pú-blico Federal pleiteia a reforma parcial da r. sentença, para condenar Sebastião Francisco Visicato, também, pela prática do delito previsto no art. 296, § 1º, inciso I (sic, inciso III), do Código Penal, bem como

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para aplicar-lhe a causa de aumento (sic, agravante) prevista no art. 15, inciso II, q, da Lei nº 9.605/1998, no tocante ao delito ambiental.

2. Já a defesa de Sebastião Francisco Visicato, em suas razões recur-sais (fls. 162/166), pleiteia a reforma parcial da r. sentença, para que: (i) seja o acusado absolvido, também, do crime previsto no art. 29, § 1º, inciso III, e § 4º, inciso I, da Lei nº 9.605/1998, por estar, supos-tamente, provado que não cometera os fatos delitivos tais como des-critos na denúncia, ou ainda por pretensa falta de provas de autoria e dolo, sob o argumento de que, em tese, desconheceria as normas re-ferentes ao anilhamento de aves silvestres, devido a pouca instrução e idade avançada; (ii) subsidiariamente, seja-lhe aplicada a atenuante do art. 65, inciso I, do Código Penal, em razão de ter mais de setenta anos de idade na data da sentença, e, por conseguinte, seja reconhe-cida a prescrição de sua pretensão punitiva, à luz do benefício etário e como medida de política criminal.

3. A despeito da posição adotada pelo magistrado sentenciante às fls. 128/129 da r. sentença e em consonância com o apelo ministe-rial nesse ponto, não há de se falar em conflito aparente de normas entre os tipos penais descritos no art. 296, § 1º, III, do Código Penal (uso indevido de anilha do Ibama adulterada) e no art. 29, § 1º, III, da Lei nº 9.605/1998 (guarda irregular de pássaros silvestres, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente), a resultar em equivocada absorção do primeiro (suposto delito-meio) pelo segundo (pretenso delito-fim), sendo de rigor o seu afastamento.

4. Cumpre observar que os tipos penais em epígrafe tutelam bens jurí-dicos distintos (o primeiro, a fé pública; o segundo, o meio ambiente ecologicamente equilibrado, destacadamente, a fauna silvestre), além de decorrerem de condutas diversas e autônomas, razão pela qual não se vislumbra, na presente hipótese, a incidência do princípio da consunção.

5. Diversamente do sustentado pela defesa, os elementos de cognição demonstram que o criador amador Sebastião Francisco Visicato (CTF 1020319), de forma livre e consciente, mantinha, irregularmente, em cativeiro domiciliar, 03 (três) pássaros silvestres, consistentes em 01 (um) canário-da-terra (Sicalis flaveola brasiliensis), 01 (um) tempera--viola (Saltator maximus) e 01 (um) azulão-verdadeiro (Passerina bris-sonii), espécie esta considerada ameaçada de extinção, sem estarem devidamente anilhados (seja pela ausência de qualquer anilha de

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identificação, seja pelo visível alargamento dos diâmetros internos de suas anilhas “Ibama 3,5 060827” e “SOSP 013 25 99 6”), inclusi-ve portando relação de passeriformes desatualizada no endereço de seu plantel, em nítido desacordo com eventual licença, permissão ou autorização obtida junto ao órgão ambiental competente, nos termos do art. 32, incisos II e III, da Instrução Normativa Ibama nº 10/2011, os quais vieram a ser apreendidos por policiais militares ambientais, em 10.05.2014, durante a operação “Jubileu de Prata”, na própria residência do acusado, no “Sítio Irmãos Visicato”, no Município de Monte Aprazível/SP, além de incorrer, também de maneira livre e consciente, no uso indevido de 01 (uma) anilha, em tese, original-mente cadastrada pelo Ibama e posteriormente adulterada/alargada (de diâmetro interno bastante superior ao normativamente permitido), mantida aposta pelo acusado no tarso do aludido tempera-viola (“Iba-ma 3,5 060827”), no mesmo local e ocasião.

6. Ouvidos em juízo (fls. 104-mídia/106), os policiais militares am-bientais e testemunhas comuns Jean Carlos Ambrosio e Rodrigo Victor Devechi confirmaram a fiscalização realizada, em 10.05.2014, no Sítio “Irmãos Visicato”, onde foram recebidos pelo próprio acusa-do que lhes franqueara a entrada no local e colaborara com a diligên-cia, tendo lhes apresentado, na ocasião, a sua relação de passerifor-mes, notadamente, desatualizada. A propósito, destacaram que, antes mesmo da aferição das bitolas das anilhas com o auxílio de um paquí-metro, já haviam notado que as anilhas do tempera-viola e do azu-lão-verdadeiro (este último ameaçado de extinção), de tão alargadas (fl. 59), teriam saído, com facilidade, de seus respectivos tarsos nas mãos dos próprios agentes de fiscalização durante a vistoria, eviden-ciando, desde logo, sua possível adulteração por alargamento, que, de fato, restou constatada às fls. 15 e 45/60. Além disso, asseveraram que o “canário-da-terra” apreendido no mesmo local encontrava-se, na data dos fatos, desprovido de qualquer anilha de identificação. No mais, o policial militar ambiental Jean Carlos Ambrosio recordou-se ainda que, anteriormente à vistoria de 10.05.2014 (uns cinco anos antes), em outra fiscalização realizada na residência do réu, mas na ausência deste, chegara a lavrar termo circunstanciado em nome de sua esposa, em razão de lá haver apreendido outras aves também desprovidas de anilhas na ocasião.

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7. Em seu interrogatório judicial (fls. 104-mídia e 107), o acusado veio a alterar sua versão inicialmente prestada em sede policial à fl. 35, passando a informar que, em verdade, teria “ganho” o “azu-lão” de sua própria filha, ao passo que o “tempera-viola” teria sido “comprado” de um amigo seu de Votuporanga/SP, cujo nome afirma igualmente não se recordar, ambos há mais de dez anos. Na sequên-cia, passa a declarar, contraditoriamente, que nunca teria vendido ou comprado passeriformes, apenas os teria ganhado. Em relação ao “canário-da-terra”, o qual, segundo ele, teria entrado na gaiola “por acidente” havia alguns dias (atrás de comida posta pelo acusado), admitiu, todavia, estar ciente de que não poderia mantê-lo em ca-tiveiro desprovido de qualquer anilha (até mesmo em razão de ou-tra apreensão anteriormente realizada em sua residência há uns dez anos, também por ausência de anilha em seus passeriformes), caindo, por terra, a frágil tese da defesa de que o acusado, supostamente, desconheceria as normas referentes ao anilhamento de aves silves-tres, não obstante sua larga experiência enquanto criador amador de passeriformes, admitidamente, há mais de quinze anos, inclusive com cadastro no Ibama.

8. Restaram incontestes a materialidade e autoria delitivas, assim como o dolo do réu, em relação à prática dos delitos previstos no art. 296, § 1º, III, do Código Penal, e no art. 29, § 1º, III, e § 4º, I, da Lei nº 9.605/1998, em concurso material, não se olvidando da natu-reza diversa dos bens jurídicos penalmente tutelados em cada um dos tipos penais em comento, respectivamente, a fé pública e a proteção ao meio ambiente (destacadamente, a fauna silvestre), nem havendo de cogitar, na hipótese, eventual erro sobre a ilicitude do fato ou mes-mo sobre os elementos do tipo.

9. Dosimetria e substituição da soma das penas corporais fixadas ao réu por duas restritivas de direitos.

10. Atenuantes do art. 65, I, parte final, do Código Penal, e do art. 14, I e IV, da Lei nº 9.605/1998, reconhecidas na hipótese, inclusive de ofício, nos limites da Súmula nº 231 do STJ (penas-base fixadas já no mínimo patamar legal).

11. Causa especial de aumento de pena do art. 29, § 4º, I, da Lei nº 9.605/1998, devidamente mantida em relação ao delito ambiental, em detrimento da agravante do art. 15, II, q, da Lei nº 9.605/1998, ora pleiteada, sem razão, pela acusação.

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12. De resto, não há de se cogitar o reconhecimento de prescrição antecipada ou virtual da pretensão punitiva, em consonância com a Súmula nº 438 do Superior Tribunal de Justiça, antes de eventual trânsito em julgado do presente acórdão para acusação. Tampouco se verifica nos autos a ocorrência de eventual prescrição de suas pre-tensões punitivas tendo em conta o máximo das penas privativas de liberdade abstratamente cominadas aos delitos previstos no art. 29, § 1º, III, e § 4º, I, da Lei nº 9.605/1998 (um ano e meio de detenção), e no art. 296, § 1º, III, do Código Penal (seis anos de reclusão), assim como o benefício etário a que o réu, de fato, faz jus em razão de dis-por de mais de setenta anos de idade na data da sentença (fls. 36, 131 e 147), na forma dos arts. 109, III e V, 115, parte final, 117, e 119, todos do Código Penal.

13. Recursos da acusação e da defesa parcialmente providos.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia Décima Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, dar parcial provimento aos apelos da acusa-ção e da defesa, apenas para (i) condenar Sebastião Francisco Visicato em 02 (dois) anos de reclusão, e 10 (dez) dias-multa no valor unitário de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos, também pela prática do delito contra a fé pública capitulado no art. 296, § 1º, III, do Código Penal, nos moldes dos arts. 49, § 1º, e 68, do mesmo diploma le-gal, afastando-se a incidência do princípio da consunção no caso concreto; (ii) reconhecer ao réu as atenuantes previstas no art. 65, I, parte final, do Có-digo Penal (relativamente a ambos os delitos imputados e atendendo nesse ponto ao pleito subsidiário da defesa), assim como no art. 14, incisos I e IV, da Lei nº 9.605/1998 (ora vislumbradas ex officio, no tocante ao delito am-biental), em que pese suas respectivas penas-base já houvessem sido fixadas no mínimo patamar legal, à míngua de quaisquer agravantes e nos limites da Súmula nº 231 do Superior Tribunal de Justiça, sem prejuízo da subsequente aplicação da causa especial de aumento de pena prevista no art. 29, § 4º, I, da Lei nº 9.605/1998, no que se refere ao crime ambiental; (iii) tendo em vista o concurso material entre os tipos penais descritos no art. 29, § 1º, III, e § 4º, I, da Lei nº 9.605/1998, e no art. 296, § 1º, III, do Código Penal, calcular a soma de suas penas corporais em 02 (dois) anos e 09 (nove) meses de reclu-são/detenção, em regime inicial aberto, que ficam substituídas por duas res-

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tritivas de direitos, consistentes em prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas, pelo mesmo prazo da soma das penas substituídas, e prestação pecuniária no valor de 01 (um) salário-mínimo, destinada à União Federal, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

São Paulo, 14 de março de 2017.

José Lunardelli Desembargador Federal

RELATÓRIO

Excelentíssimo Senhor Desembargador Federal José Lunardelli:

Trata-se de apelações criminais interpostas pela defesa de Sebastião Francisco Visicato e pelo Ministério Público Federal em face da sentença proferida pelo Juízo Federal da 1ª Vara Federal de São José do Rio Preto/SP, que o condenou apenas pela prática do delito previsto no art. 29, § 1º, III, e § 4º, inciso I, da Lei nº 9.605/1998.

Narra a denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal (fls. 65/68):

No dia 10 de maio de 2014, durante a operação denominada “Julibeu de Prata”, Policiais Militares Ambientais constataram que Sebastião Francisco Visicato mantinha, em cativeiro, pássaros da fauna silvestre de espécimes nativa em situação irregular, inclusive, com anilha de identificação do Ibama adulterada.

Na ocasião, foram apreendidos 03 (três) pássaros, os quais, 01 (um) esta-va sem anilha [canário-da-terra] e 02 (dois) possuíam anilhas supostamente adulteradas [tempera-viola com anilha “Ibama 04-05 3,5 060827” e azulão verdadeiro com anilha “26 99 6 SOSP 013”), conforme constam na tabela abaixo: [...]

O Laudo de Perícia Criminal Federal atestou que a anilha nº 060827 apresen-tava incompatibilidade de medidas de diâmetros e altura, concluindo, assim, que trata-se de anilha adulterada. Quanto à outra anilha (26 99 6 SOSP 013) restou prejudicado o exame, pois, não estavam disponíveis padrões para este tipo de anilha (fls. 45/50).

Sendo assim, fora elaborado o Auto de Infração Ambiental (fl. 08), o Termo de Apreensão (fl. 09), as aves foram submetidas à análise (fl. 10), bem como

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foram enviadas à Estação Ecológica do Noroeste Paulista (IPA) em São José do Rio Preto/SP (fl. 11), para libertação em seu habitat natural.

Instado, à fl. 30, o denunciado afirmou ser criador de pássaros cadastrado no Ibama; que quando recebeu as aves elas já estavam na situação em que se encontravam no momento da diligência policial, não sabendo informar o nome da pessoa que lhe forneceu as aves com o anilhamento; e quanto ao pássaro sem anilha, informou ter capturado há poucos dias no viveiro dos seus pássaros.

Ademais, necessário se faz mencionar que um dos pássaros apreendidos, o conhecido por Azulão Verdadeiro, consta como espécie ameaçada de extin-ção no Estado de São Paulo, conforme extrai-se do Laudo Pericial, às fl. 50.

Cumpre ainda salientar que as anilhas são anéis de metal, codificados se-quencialmente, e só podem ser fornecidas pelo órgão ambiental (Ibama). São consideradas selo público, ou seja, sinais de identificação de atos oficiais e, portanto, emitidos pelo governo brasileiro.

Conclui-se, portanto, que Sebastião Francisco Visicato, embora registrado como criador amador de pássaros, autorizado, em tese, pela autoridade com-petente, fez uso indevido de sinal público (anilha de emissão do Ibama) adul-terado, bem como manteve em cativeiro espécimes da fauna silvestre nativa, inclusive espécie ameaçada de extinção, de forma irregular.

Ante o exposto, o Ministério Público Federal denuncia Sebastião Francisco Visicato como incurso nas penas do art. 296, § 1º, inciso III, do Código Penal, em concurso com as penas do art. 29, § 1º, inciso III e § 4º, inciso I da Lei nº 9.605/1998 [...].

A denúncia do Parquet Federal foi recebida em 19.08.2015 (fls. 69/70).

Resposta à acusação (fls. 90/91).

Decisão afastando as hipóteses de absolvição sumária previstas no art. 397 do Código de Processo Penal e determinando o prosseguimento do feito (fl. 93).

Alegações finais da acusação (fls. 109/110) e da defesa (fls. 114/120).

Boletim de Ocorrência Ambiental nº 140418 (fls. 04/07) e respecti-vo relatório de fiscalização e aferição de anilhas (fl. 15); Auto de Infração Ambiental nº 300963 (fl. 08); Termo de Apreensão (fl. 09); Laudo Biológi-co (fl. 10); Termos de Destinação de aves (fl. 11) e gaiolas (fl. 14); Exame de Constatação relativo às gaiolas (fls. 12/13); registro fotográfico das aves apreendidas durante a fiscalização (fl. 16); Auto de Apreensão das anilhas

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(fl. 19); Ofício nº 02027.000073/2015-13/ESREG/SP/Ibama (fls. 39/40) com histórico SISPASS da anilha “Ibama 04/05 3,5 060827” (fl. 41); Laudo Peri-cial nº 078/2015 referente às anilhas (fls. 45/50); Termo de Guarda para o Depósito das anilhas “Ibama 04/05 060827” e “SOSP 013 26 99 6” (fl. 51), envelopadas à fl. 59; relatório policial (fls. 55/56); depoimentos das testemu-nhas em juízo (fls. 104-mídia/106); interrogatórios do réu em sede policial (fl. 30) e em juízo (fls. 104-mídia e 107).

Após regular instrução, sobreveio a sentença de fls. 126/130, que jul-gou procedente a denúncia, para condenar Sebastião Francisco Visicato a 09 (nove) meses de detenção, em regime inicial aberto, e 15 (quinze) dias--multa, no valor unitário de um trigésimo do salário mínimo vigente à época dos fatos, pelo cometimento do crime-fim ambiental previsto no art. 29, § 1º, III, e § 4º, I, da Lei nº 9.605/1998, reconhecida a absorção do delito--meio previsto no art. 296, § 1º, III, do Código Penal, e substituída a pena corporal aplicada por uma única restritiva de direitos consistente em pres-tação pecuniária no valor de 01 (um) salário mínimo “mensal” em favor de entidade beneficente a ser designada pelo Juízo da Execução.

Publicada a sentença em 23.05.2016 (fl. 131).

Às fls. 142/145, foram opostos embargos de declaração pelo réu em face da r. sentença de fls. 126/130, os quais restaram acolhidos à fl. 146 (decisão publicada em 22.08.2016 – fl. 147), para esclarecer e alterar, em parte, seu dispositivo, dele ficando excluída a expressão “mensal” relativa-mente à substituição de sua pena corporal por uma única restritiva de direi-tos consistente em prestação pecuniária no valor de 01 (um) salário mínimo em favor de entidade beneficente a ser designada pelo Juízo da Execução.

Apela o Ministério Público Federal (fls. 132/135 e 149/152), pleite-ando a reforma parcial da r. sentença, para condenar Sebastião Francisco Visicato, também, pela prática do delito previsto no art. 296, § 1º, inciso I (sic, inciso III), do Código Penal, bem como para aplicar-lhe a causa de au-mento (sic, agravante) prevista no art. 15, inciso II, q, da Lei nº 9.605/1998, no tocante ao delito ambiental.

Contrarrazões da defesa (fls. 167/175), pelo não provimento do apelo ministerial.

Apela a defesa de Sebastião Francisco Visicato (fls. 153/154 e 162/166), pleiteando a reforma parcial da r. sentença, para que: (i) seja o acusado absolvido, também, do crime previsto no art. 29, § 1º, inciso III, e § 4º, inciso I, da Lei nº 9.605/1998, por estar, supostamente, provado que

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não cometera os fatos delitivos assim como descritos na denúncia, ou ainda por pretensa falta de provas de autoria e dolo, sob o argumento de que, em tese, desconheceria as normas referentes ao anilhamento de aves silvestres, devido à pouca instrução e idade avançada; (ii) subsidiariamente, seja-lhe aplicada a atenuante do artigo 65, inciso I, do Código Penal, em razão de ter mais de setenta anos de idade na data da sentença, e, por conseguinte, seja reconhecida a prescrição de sua pretensão punitiva, à luz do benefício etário e como medida de política criminal.

Contrarrazões ministeriais (fls. 177/178), pelo parcial provimento do apelo da defesa, apenas no tocante à aplicação da atenuante prevista no art. 65, inciso I, do Código Penal.

Parecer da Procuradoria Regional da República (fls. 181/188), pelo parcial provimento dos apelos da defesa e da acusação, para condenar o réu, também pela prática delitiva descrita no art. 296, § 1º, do Código Penal, bem como para reconhecer ao acusado a incidência da atenuante prevista no art. 65, inciso I, do Código Penal.

É o relatório.

À revisão.

José Lunardelli Desembargador Federal

VOTO

Excelentíssimo Senhor Desembargador Federal José Lunardelli:

Em suas razões recursais (fls. 132/135 e 149/152), o Ministério Público Federal pleiteia a reforma parcial da r. sentença, para condenar Sebastião Francisco Visicato, também, pela prática do delito previsto no art. 296, § 1º, inciso I (sic, inciso III), do Código Penal, bem como para aplicar-lhe a causa de aumento (sic, agravante) prevista no art. 15, inciso II, q, da Lei nº 9.605/1998, no tocante ao delito ambiental.

Já a defesa de Sebastião Francisco Visicato, em suas razões recursais (fls. 162/166), pleiteia a reforma parcial da r. sentença, para que: (i) seja o acusado absolvido, também, do crime previsto no art. 29, § 1º, inciso III, e § 4º, inciso I, da Lei nº 9.605/1998, por estar, supostamente, provado que não cometera os fatos delitivos tais como descritos na denúncia, ou ainda por pretensa falta de provas de autoria e dolo, sob o argumento de que, em

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tese, desconheceria as normas referentes ao anilhamento de aves silvestres, devido à pouca instrução e idade avançada; (ii) subsidiariamente, seja-lhe aplicada a atenuante do art. 65, inciso I, do Código Penal, em razão de ter mais de setenta anos de idade na data da sentença, e, por conseguinte, seja reconhecida a prescrição de sua pretensão punitiva, à luz do benefício etá-rio e como medida de política criminal.

I – DA AUSÊNCIA DE CONFLITO APARENTE DE NORMAS E DA INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO NO CASO CONCRETO

A despeito da posição adotada pelo magistrado sentenciante às fls. 128/129 da r. sentença e em consonância com o apelo ministerial nesse ponto, não há de se falar em conflito aparente de normas entre os tipos pe-nais descritos no art. 296, § 1º, III, do Código Penal (uso indevido de anilha do Ibama adulterada) e no art. 29, § 1º, III, da Lei nº 9.605/1998 (guarda irregular de pássaros silvestres, sem a devida permissão, licença ou autori-zação da autoridade competente), a resultar em equivocada absorção do primeiro (suposto delito-meio) pelo segundo (pretenso delito-fim), sendo de rigor o seu afastamento.

Cumpre observar que os tipos penais em epígrafe tutelam bens jurídi-cos distintos (o primeiro, a fé pública; o segundo, o meio ambiente ecologi-camente equilibrado, destacadamente, a fauna silvestre), além de decorre-rem de condutas diversas e autônomas, razão pela qual não se vislumbra, na presente hipótese, a incidência do princípio da consunção (g.n.):

Art. 296, § 1º, do Código Penal

Falsificação do selo ou sinal público

Art. 296. Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:

I – selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município;

II – selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito público, ou a autori-dade, ou sinal público de tabelião:

Pena – reclusão, de dois a seis anos, e multa.

§ 1º Incorre nas mesmas penas:

I – quem faz uso do selo ou sinal falsificado;

II – quem utiliza indevidamente o selo ou sinal verdadeiro em prejuízo de outrem ou em proveito próprio ou alheio.

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III – quem altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas, logotipos, siglas ou quaisquer outros símbolos utilizados ou identificadores de órgãos ou entida-des da Administração Pública.

Art. 29, § 1º, III, da Lei nº 9.605/1998

Dos crimes contra a fauna

Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silves-tre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autori-zação da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida:

Pena – detenção de seis meses a um ano, e multa.

§ 1º Incorre nas mesmas penas:

I – quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em desacordo com a obtida;

II – quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural;

III – quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cati-veiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida per-missão, licença ou autorização da autoridade competente.

A respeito da inaplicabilidade do princípio da consunção em face das mesmas condutas delitivas ora imputadas, em concurso material, na presen-te denúncia, colaciono emblemático aresto deste E-TRF3 (g.n.):

PENAL – CRIMES AMBIENTAIS – FALSIDADE DE SELO OU SINAL PÚBLI-CO – CRIMES CONTRA A FAUNA – PÁSSAROS SILVESTRES EM CATIVEIRO SEM A NECESSÁRIA LICENÇA E COM ANILHAS ADULTERADAS – PROVA DA MATERIALIDADE E AUTORIA – NULIDADE DA PERÍCIA TÉCNICA – INEXISTENTE – APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO – DESCA-BIMENTO – DOLO CONFIGURADO – APELAÇÃO DO RÉU DESPROVIDA

1. Policiais federais e agentes do Ibama estiveram na residência do apelante e deram cumprimento a mandado de busca e apreensão, ali encontrando 12 pássaros da fauna silvestre nacional de diversas espécies com anilhas, em doze gaiolas, cinco das quais incompatíveis com as características dos pássaros que ali se encontravam. Além disso, encontraram um papagaio sem qualquer identificação.

2. No tocante à alegação de imprestabilidade da prova pericial, como bem ressalvado pelo eminente juízo de primeiro grau por ocasião da sentença, a acusação não é de falsificação das anilhas para identificação de aves, mas sim, do uso de anilhas falsificadas, e ainda, não obstante constar a ausência

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de lacre quando do recebimento do material a ser periciado, o fato é que não há divergência em relação às anilhas apreendidas na residência do réu.

3. De qualquer forma, a prova técnica se baseou na elaboração de laudo documentoscópico e foi objeto de impugnação posterior pela defesa do ape-lante no curso da ação penal, sendo que durante o exercício regular do con-traditório nenhuma prova foi capaz de elidi-la, sendo descabida a pretensão recursal neste tópico.

4. O apelante detinha licença da autoridade competente para a guarda de aves, porém, tal licença expirou em 31 de julho de 2008, ou seja, mais de um ano antes da data dos fatos. Todas as aves, portanto, estavam em situação irregular. A autoria é inconteste, sendo certo que os pássaros foram encon-trados na residência do réu, configurando situação de flagrante delito, e o apelante não logrou êxito em provar que os pássaros apreendidos já foram adquiridos com as respectivas anilhas. Observo que o ora apelante é criador de pássaros e possuía familiaridade com os trâmites e procedimentos para a regularização da guarda das aves perante o Ibama, não restando dúvida quanto à sua responsabilização, restando devidamente demonstrado o ele-mento subjetivo do tipo (dolo).

5. O apelante invoca em seu favor a aplicação do princípio da consunção, sob o argumento de que o delito previsto no art. 296, § 1º, inciso III, do CP, constitui meio para a consecução do crime previsto no art. 29, § 1º, inciso III, da Lei nº 9.605/1998. Contudo, não há que se falar em absorção de um delito por outro. Os crimes pelos quais o apelante foi condenado tutelam bens jurí-dicos diversos e decorrem de ações diversas. A adulteração de anilhas não é crime de passagem para a consumação do delito de guarda ilegal de pássa-ros. As condutas são autônomas, sendo, portanto, inaplicável o princípio da consunção ao caso concreto em exame.

6. Apelação do réu desprovida.

(TRF 3ª R., ACr 0009303-19.2009.4.03.6106, 2ª T., Rel. Juiz Convocado Fernão Pompêo, e-DJF3 Judicial 1 18.12.2013, g.n.)

Portanto, fica devidamente afastada a aplicabilidade do princípio da consunção no caso em apreço.

II – DA MATERIALIDADE E AUTORIA DELITIVAS

Diversamente do sustentado pela defesa, os elementos de cogni-ção demonstram que o criador amador Sebastião Francisco Visicato (CTF nº 1020319), de forma livre e consciente, mantinha, irregularmente, em cativeiro domiciliar, 03 (três) pássaros silvestres, consistentes em 01 (um) canário-da-terra (Sicalis flaveola brasiliensis), 01 (um) tempera-viola (Salta-

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tor maximus) e 01 (um) azulão-verdadeiro (Passerina brissonii), espécie esta considerada ameaçada de extinção, sem estarem devidamente anilhados (seja pela ausência de qualquer anilha de identificação, seja pelo visível alargamento dos diâmetros internos de suas anilhas “Ibama 3,5 060827” e “SOSP 013 25 99 6”), inclusive portando relação de passeriformes desa-tualizada no endereço de seu plantel, em nítido desacordo com eventual licença, permissão ou autorização obtida junto ao órgão ambiental compe-tente, nos termos do art. 32, incisos II e III, da Instrução Normativa Ibama nº 10/2011, os quais vieram a ser apreendidos por policiais militares am-bientais, em 10.05.2014, durante a operação “Jubileu de Prata”, na própria residência do acusado, no “Sítio Irmãos Visicato”, no Município de Monte Aprazível/SP, além de incorrer, também de maneira livre e consciente, no uso indevido de 01 (uma) anilha, em tese, originalmente cadastrada pelo Ibama e posteriormente adulterada/alargada (de diâmetro interno bastante superior ao normativamente permitido), mantida aposta pelo acusado no tarso do aludido tempera-viola (“Ibama 3,5 060827”), no mesmo local e ocasião: Boletim de Ocorrência Ambiental nº 140418 (fls. 04/07) e respec-tivo relatório de fiscalização e aferição de anilhas (fl. 15); Auto de Infração Ambiental nº 300963 (fl. 08); Termo de Apreensão (fl. 09); Laudo Biológi-co (fl. 10); registro fotográfico das aves apreendidas durante a fiscalização (fl. 16); Auto de Apreensão das anilhas (fl. 19); Ofício nº 02027.000073/2015-13/ESREG/SP/Ibama (fls. 39/40) com histórico SISPASS da anilha “Ibama 04/05 3,5 060827” (fl. 41); Laudo Pericial nº 078/2015 referente às anilhas (fls. 45/50); Termo de Guarda para o Depósito das anilhas “Ibama 04/05 060827” e “SOSP 013 26 99 6” (fl. 51), envelopadas à fl. 59; depoimentos das testemunhas em juízo (fls. 104-mídia/106); interrogatórios do réu em sede policial (fl. 30) e em juízo (fls. 104-mídia e 107).

Segundo apontado pelo Boletim de Ocorrência Ambiental nº 140418 (fls. 04/07) e respectivo relatório de fiscalização e aferição de anilhas (fl. 15), o acusado portava na ocasião “uma relação não atualizada de pas-seriformes” no endereço do plantel, sendo que “o azulão-verdadeiro e o tempera-viola apresentavam anilhas com bitolas maiores que as permitidas, que saíram do tarso das aves no momento da fiscalização, evidenciando possível falsificação ou adulteração”, ao passo que “o canário-da-terra esta-va sem anilha de identificação” alguma, portanto, em nítido desacordo com o disposto no art. 32, incisos II e III, da Instrução Normativa Ibama nº 10, de 20.09.2011:

Art. 32. Todos os Criadores Amadores e Comerciais de Passeriformes de-verão: [...]

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II – Manter todos os pássaros do seu plantel devidamente anilhados com ani-lhas invioláveis, não adulteradas, fornecidas pelo Ibama ou fábricas creden-ciadas ou, ainda, por federações, clubes ou associações até o ano de 2001 ou por criadores comerciais autorizados.

III – Portar relação de passeriformes atualizada no endereço do plantel, con-forme modelo do Anexo III.

Consoante o Ofício nº 02027.000073/2015-13/ESREG/SP/Ibama (fls. 39/41), não foi encontrado qualquer registro no SISPASS relativamente à anilha “SOSP 26-06-2001 013”, mas tão somente da anilha “Ibama 04/05 3,5 060827”, a qual, embora possa ter sido originalmente cadastrada pelo Ibama, veio a ser, posteriormente, adulterada, em sintonia com o Laudo de Exame Pericial nº 078/2015 acostado às fls. 45/50 (“as medidas de di-âmetros e altura eram incompatíveis tratando-se, portanto, de documento adulterado”).

Ouvidos em juízo (fls. 104-mídia/106), os policiais militares ambien-tais e testemunhas comuns Jean Carlos Ambrosio e Rodrigo Victor Deve-chi confirmaram a fiscalização realizada, em 10.05.2014, no Sítio “Irmãos Visicato”, onde foram recebidos pelo próprio acusado que lhes franqueara a entrada no local e colaborara com a diligência, tendo lhes apresentado, na ocasião, a sua relação de passeriformes, notadamente, desatualizada. A propósito, destacaram que, antes mesmo da aferição das bitolas das anilhas com o auxílio de um paquímetro, já haviam notado que as anilhas do tem-pera-viola e do azulão-verdadeiro (este último ameaçado de extinção), de tão alargadas (fl. 59), teriam saído, com facilidade, de seus respectivos tarsos nas mãos dos próprios agentes de fiscalização durante a vistoria, eviden-ciando, desde logo, sua possível adulteração por alargamento, que, de fato, restou constatada à fl. 15. Além disso, asseveraram que o “canário-da-terra” apreendido no mesmo local encontrava-se, na data dos fatos, desprovido de qualquer anilha de identificação.

No mais, o policial militar ambiental Jean Carlos Ambrosio recordou--se ainda que, anteriormente à vistoria de 10.05.2014 (uns cinco anos an-tes), em outra fiscalização realizada na residência do réu, mas na ausência deste, chegara a lavrar termo circunstanciado em nome de sua esposa, em razão de lá haver apreendido outras aves também desprovidas de anilhas na ocasião.

Interrogado em sede policial (fl. 35), o réu admitiu que há cerca de quinze anos é criador amador de passeriformes cadastrado no Ibama e que, em maio de 2014, policiais ambientais lograram apreender em sua residên-

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cia três pássaros silvestres, a saber, um “azulão”, um “trinca-ferro” (sic, tem-pera-viola) e um “canário-da-terra”. O “azulão” e o pretenso “trinca-ferro” teriam sido por ele adquiridos, já anilhados, em datas distintas, há cerca de dez anos, de um criador de São José do Rio Preto/SP, cujo nome afirma não se recordar. Já o “canário-da-terra” teria sido por ele capturado há poucos dias quando a referida ave veio a entrar no viveiro de outros pássaros seus, supostamente, à procura de comida.

Em seu interrogatório judicial (fls. 104-mídia e 107), o acusado veio a alterar sua versão inicialmente prestada em sede policial à fl. 35, passando a informar que, em verdade, teria “ganho” o “azulão” de sua própria filha, ao passo que o “tempera-viola” teria sido “comprado” de um amigo seu de Votuporanga/SP, cujo nome afirma igualmente não se recordar, ambos há mais de dez anos. Na sequência, passa a declarar, contraditoriamente, que nunca teria vendido ou comprado passeriformes, apenas os teria ganhado. Em relação ao “canário-da-terra”, o qual, segundo ele, teria entrado na gaio-la “por acidente” havia alguns dias (atrás de comida posta pelo acusado), admitiu, todavia, estar ciente de que não poderia mantê-lo em cativeiro desprovido de qualquer anilha (até mesmo em razão de outra apreensão anteriormente realizada em sua residência há uns dez anos, também por ausência de anilha em seus passeriformes), caindo, por terra, a frágil tese da defesa de que o acusado, supostamente, desconheceria as normas referen-tes ao anilhamento de aves silvestres, não obstante sua larga experiência en-quanto criador amador de passeriformes, admitidamente, há mais de quinze anos, inclusive com cadastro no Ibama, à míngua de eventual erro sobre a ilicitude dos fatos.

Destarte, restam incontestes a materialidade e autoria delitivas, assim como o dolo do réu, em relação à prática dos delitos previstos no art. 296, § 1º, III, do Código Penal, e no art. 29, § 1º, III, e § 4º, I, da Lei nº 9.605/1998, em concurso material, não se olvidando da natureza diversa dos bens jurí-dicos penalmente tutelados em cada um dos tipos penais em comento, res-pectivamente, a fé pública e a proteção ao meio ambiente (destacadamente, a fauna silvestre), nem havendo de cogitar, na hipótese, eventual erro sobre a ilicitude do fato ou mesmo sobre os elementos do tipo.

III – DA DOSIMETRIA

Em relação ao delito do art. 296, § 1º, III, do Código Penal, fixo as penas-base no patamar mínimo legal, qual seja, 02 (dois) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa, em consonância com o art. 59 do mesmo diploma legal. A culpabilidade, as circunstâncias, os motivos e as consequências do

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delito mostraram-se normais à espécie delitiva. Além disso, não vislumbro nos autos elementos concretos acerca da personalidade e da conduta social do acusado, tampouco que sirvam como “maus antecedentes”.

Ainda que se reconheça a atenuante prevista no art. 65, inciso I, parte final, do Código Penal (o réu, de fato, tinha mais de setenta anos na data da sentença, tal como, acertadamente, observado pela defesa às fls. 165/166), a Súmula nº 231 do Superior Tribunal de Justiça adverte que “a incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal”, como poderia, em tese, ser cogitado, razão pela qual preservo as sanções intermediárias em 02 (dois) anos de reclusão, e 10 (dez) dias-multa, relativamente ao delito em comento, à míngua de eventuais agravantes.

Na ausência de quaisquer causas de aumento ou diminuição, fixo de-finitivamente a pena privativa de liberdade de “Sebastião” em 02 (dois) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa no valor unitário de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos (compatível à situação econômica do réu acostada às fls. 104-mídia e 107), pela prática do delito contra a fé pública capitulado no art. 296, § 1º, III, do Código Penal, nos moldes dos arts. 49, § 1º, e 68, do mesmo diploma legal.

No que se refere ao crime ambiental previsto no art. 29, § 1º, III, da Lei nº 9.605/1998, mantenho as penas-base no patamar mínimo legal, qual seja, 06 (seis) meses de detenção, e 10 (dez) dias-multa, em consonância com o art. 59 do mesmo diploma legal e ainda com o artigo 6º da Lei nº 9.605/1998, nos termos da r. sentença. A culpabilidade, as circunstân-cias, os motivos e as consequências do delito para a saúde pública e para o meio ambiente mostraram-se normais à espécie delitiva. Além disso, não vislumbro nos autos elementos concretos acerca da personalidade e da con-duta social do acusado, tampouco que sirvam como “maus antecedentes”.

A despeito do pugnado pela acusação à fl. 152 de suas razões recur-sais, não vislumbro na hipótese a ocorrência da agravante do art. 15, inciso II, q, da Lei nº 9.605/1998, em razão de ter o agente cometido a infração atingindo espécie ameaçada de extinção (a saber, um azulão-verdadeiro), uma vez que tal circunstância, em verdade, qualifica o delito tipificado no art. 29, § 1º, III, e § 4º, I, da Lei nº 9.605/1998, sob a forma de causa de aumento especial, tal como, acertadamente, considerado na r. sentença:

Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: [...]

II – ter o agente cometido a infração: [...]

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q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das autorida-des competentes; [...]

Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silves-tre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autori-zação da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida:

Pena – detenção de seis meses a um ano, e multa. [...]

III – quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cati-veiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida per-missão, licença ou autorização da autoridade competente. [...]

§ 4º A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado:

I – contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente no local da infração; [g.n.]

Ademais, ainda que se reconheçam as atenuantes previstas no art. 65, inciso I, parte final, do Código Penal (o réu, de fato, tinha mais de setenta anos na data da defesa, tal como, acertadamente, observado pela defesa às fls. 165/166), e no art. 14, incisos I e IV, da Lei nº 9.605/1998 (seja pelo baixo grau de instrução do acusado, seja por sua colaboração com os agentes encarregados da vigilância e controle ambiental, ora vislumbradas ex officio), a Súmula nº 231 do Superior Tribunal de Justiça adverte que “a incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal”, como poderia, em tese, ser cogitado, razão pela qual preservo as sanções intermediárias em 06 (seis) meses de deten-ção, e 10 (dez) dias-multa, relativamente ao delito do art. 29, § 1º, III, da Lei nº 9.605/1998, à míngua de eventuais agravantes.

Na terceira fase da dosimetria de pena, mantenho, de resto, a inci-dência da causa de aumento especial prevista no art. 29, § 4º, inciso I, da Lei nº 9.605/1998 (ficando as penas intermediárias ora fixadas aumentadas de metade), em razão de o referido delito ambiental ter sido praticado, in-clusive, contra espécie considerada ameaçada de extinção, a saber, 01 (um) azulão-verdadeiro (Passerina brissonii), nos termos do Anexo I do Decreto Estadual nº 56.031, de 20 de julho de 2010, em sintonia com o Laudo Bio-lógico acostado à fl. 10.

Dessa forma, fixo definitivamente a pena privativa de liberdade de “Sebastião” em 09 (nove) meses de detenção, em regime inicial aberto, e 15 (quinze) dias-multa, no valor unitário de 1/30 (um trigésimo) do salário mí-

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nimo vigente à época dos fatos, pela prática do delito capitulado no art. 29, § 1º, III, e § 4º, I, da Lei nº 9.605/1998, nos mesmos termos da r. sentença.

A propósito, não há de se cogitar o reconhecimento de prescrição antecipada ou virtual da pretensão punitiva, em consonância com a Súmula nº 438 do Superior Tribunal de Justiça (“É inadmissível a extinção da puni-bilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal”), antes de eventual trânsito em julgado do presente acórdão para acusação.

Tampouco vislumbro nos autos a ocorrência de eventual prescrição de suas pretensões punitivas tendo em conta o máximo das penas privati-vas de liberdade abstratamente cominadas aos delitos previstos no art. 29, § 1º, III, e § 4º, I, da Lei nº 9.605/1998 (um ano e meio de detenção), e no art. 296, § 1º, III, do Código Penal (seis anos de reclusão), assim como o benefício etário a que o réu, de fato, faz jus em razão de dispor de mais de setenta anos de idade na data da sentença (fls. 36, 131 e 147), na forma dos arts. 109, III e V, 115, parte final, 117, e 119, todos do Código Penal.

Com efeito, as penas corporais definitivas dos delitos em comento de-vem ser somadas, em concurso material, à vista do art. 69 do Código Penal, perfazendo o total de 02 (dois) anos e 09 (nove) meses de reclusão/detenção (executando-se primeiro a pena de reclusão).

Nos termos do art. 33, § 2º, c, e § 3º, do Código Penal, fixo o regime prisional inicial aberto.

A propósito, observo que, no concurso de crimes, as penas de multa são aplicadas distinta e integralmente, na forma do art. 72 do Código Penal.

Ademais, na forma do art. 44, § 2º, segunda parte, do Código Penal, e do art. 8º da Lei nº 9.605/1998, substituo a soma das penas privativas de liberdade impostas a “Sebastião” por duas restritivas de direitos, consisten-tes em prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas, pelo mesmo prazo da soma das penas substituídas, e prestação pecuniária no valor de 01 (um) salário-mínimo, destinada à União Federal.

IV – DA EXECUÇÃO PROVISóRIA DA PENA

Em sessão de julgamento de 05 de outubro de 2016, o Plenário do Supremo Tribunal Federal entendeu que o art. 283 do Código de Processo Penal não veda o início do cumprimento da pena após esgotadas as instân-cias ordinárias, e indeferiu liminares pleiteadas nas Ações Declaratórias de Constitucionalidade nºs 43 e 44.

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Desse modo, curvo-me ao entendimento do Supremo Tribunal Fede-ral, que reinterpretou o princípio da presunção de inocência no julgamento do HC 126.292-SP, reconhecendo que “A execução provisória de acór-dão penal condenatório proferido em grau de apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não compromete o princípio consti-tucional da presunção de inocência afirmado pelo art. 5º, inciso LVII, da Constituição Federal”.

Diante desse cenário, independentemente da pena cominada, deve ser determinada a execução provisória da pena decorrente de acórdão pe-nal condenatório, proferido em grau de apelação.

Destarte, exauridos os recursos nesta Corte e interpostos recursos dirigidos às Cortes Superiores (Recurso Extraordinário e Recurso Especial), expeça-se Carta de Sentença, bem como comunique-se ao Juízo de Origem para o início da execução da pena imposta ao réu, sendo dispensadas tais providências em caso de trânsito em julgado, hipótese em que terá início a execução definitiva da pena.

Ante o exposto, dou parcial provimento aos apelos da acusação e da defesa, apenas para: (i) condenar Sebastião Francisco Visicato em 02 (dois) anos de reclusão, e 10 (dez) dias-multa no valor unitário de 1/30 (um trigé-simo) do salário mínimo vigente à época dos fatos, também pela prática do delito contra a fé pública capitulado no art. 296, § 1º, III, do Código Penal, nos moldes dos arts. 49, § 1º, e 68, do mesmo diploma legal, afastando-se a incidência do princípio da consunção no caso concreto; (ii) reconhecer ao réu a atenuantes previstas no art. 65, I, parte final, do Código Penal (relativamente a ambos os delitos imputados e atendendo nesse ponto ao pleito subsidiário da defesa), assim como no art. 14, incisos I e IV, da Lei nº 9.605/1998 (ora vislumbradas ex officio, no tocante ao delito ambien-tal), em que pese suas respectivas penas-base já houvessem sido fixadas no mínimo patamar legal, à míngua de quaisquer agravantes e nos limites da Súmula nº 231 do Superior Tribunal de Justiça, sem prejuízo da subsequente aplicação da causa especial de aumento de pena prevista no art. 29, § 4º, I, da Lei nº 9.605/1998, no que se refere ao crime ambiental; (iii) tendo em vista o concurso material entre os tipos penais descritos no art. 29, § 1º, III, e § 4º, I, da Lei nº 9.605/1998, e no art. 296, § 1º, III, do Código Penal, calculo a soma de suas penas corporais em 02 (dois) anos e 09 (nove) meses de re-clusão/detenção, em regime inicial aberto, que ficam substituídas por duas restritivas de direitos, consistentes em prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas, pelo mesmo prazo da soma das penas substituí-

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das, e prestação pecuniária no valor de 01 (um) salário-mínimo, destinada à União Federal.

Comunique-se ao Juízo de Execução Criminal.

José Lunardelli Desembargador Federal

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Parte Geral – Acórdão na Íntegra

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Tribunal Regional Federal da 4ª RegiãoApelação Cível nº 5002226‑47.2015.4.04.7200/SCRelator: Ricardo Teixeira do Valle PereiraApelante: Município de Florianópolis/SCApelante: Elyana Louro de AlmeidaAdvogado: Eduardo de Mello e SouzaApelado: Ministério Público FederalInteressado: Roberto Henrique Barreiros SilvaAdvogado: Rubens Ritter Von JelitaInteressado: União – Advocacia‑Geral da UniãoApenso(s): 5031630‑78.2016.404.0000

EMENTA

DIREITO AMBIENTAL – ADMINISTRATIVO – AÇÃO CIVIL PúBLICA – ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE – CóDIGO FLORESTAL (LEI Nº 4.771/1965) – zONA COSTEIRA – UNIÃO – MUNICÍPIO – RESPONSABILIDADE

A proteção ao meio ambiente tem previsão constitucional (art. 225, § 3º, da CF/1988), que define a sujeição dos infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

A responsabilidade pelo dano ambiental é objetiva, fundada no risco inerente à atividade, que prescinde por completo da culpabilidade do agente. Assim, para tornar efetiva esta responsabilização, exige--se apenas a ocorrência do dano e a prova do nexo causal com o desenvolvimento ou mesmo a mera existência de uma determinada atividade humana.

Desde a publicação do Código Florestal (Lei nº 4.771/1965) já havia proibição quanto ao uso das áreas de preservação permanente.

A orla marítima deve ser objeto de ações de proteção e controle, em conformidade com as normas federais relativas à gestão integra-da da Zona Costeira. O Poder Público deve garantir o livre acesso e circulação de pedestres pela orla marítima, lacustre e fluvial, por via terrestre, no interesse geral da pesca, maricultura, da navegação, do lazer e do turismo.

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ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Colenda 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, dar parcial provimento à apelação do Município de Floria-nópolis e negar provimento à apelação de Elyana Louro de Almeida, nos termos do relatório, voto e notas de julgamento que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Porto Alegre, 04 de abril de 2017.

Des. Federal Ricardo Teixeira do Valle Pereira Relator

RELATÓRIO

Trata-se de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Fede-ral em face de Roberto Henrique Barreiros Silva, Elyana Louro de Almeida, da União e do Município de Florianópolis/SC objetivando: a) condenar o réu particular a desocupar as terras de marinha e áreas de preservação per-manente, sendo-lhe defeso igualmente obstaculizar o livre e franco acesso público ao bem de uso comum do povo, praia lacustre e a própria Lagoa, retirando cercas ou portões porventura existentes, bem como qualquer ou-tra obra que venha a ser realizada às margens da Lagoa no decorrer des-te processo, b) condenar os réus, município e particular, à demolição das construções do Sr. Roberto nas áreas de preservação permanente das mar-gens da Lagoa da Conceição e de curso d’água, bem como a recuperação ambiental das mesmas (através da apresentação de projeto de recuperação de área degradada – Prad, a ser aprovado pelo Ibama, e sua execução), c) sejam fixados prazos e pena de multa para o caso de descumprimento da sentença condenatória, a ser revertida para a Companhia de Polícia de Pro-teção Ambiental, na forma de aquisição de equipamento ou para programa de educação ambiental específico para a Costa da Lagoa da Conceição, d) condenar o Município a efetuar amplo programa de fiscalização na re-gião da Costa da Lagoa, incluindo margens da Lagoa e áreas de alta declivi-dade, com especial orientação para desocupação e recuperação de margens e de cursos d’água, incluindo solução para casos porventura constatados de poluição hídrica.

Sobreveio sentença que julgou parcialmente procedente a ação para:

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a) condenar o réu particular a desocupar as terras de marinha e áreas de preservação permanente, sendo-lhe defeso igualmente obstaculizar o livre e franco acesso do público ao bem de uso comum do povo (praia lacustre e Lagoa), retirando cercas ou portões porventura existentes;

b) condenar os réus particulares e o município, à obrigação de fazer de demolir as construções nas áreas de preservação permanente das margens da Lagoa da Conceição e de curso d’água, bem como à recuperação ambiental das mesmas, através de apresentação de projeto de recuperação de área degradada, a ser aprovado pelo Ibama e sua execução. Fixo prazo de 30 dias a partir da intimação da sentença para apresentação do Prad, sob pena de aplicação de multa de R$ 10.000, 00 ao dia;

c) Condeno o Município a efetuar amplo programa de fiscalização da região da Costa da Lagoa, incluindo as margens da Lagoa e áreas de alta declividade, com especial orientação para desocupação e recuperação de margens e de cursos d’água, incluindo solução para casos porventura constatados de poluição hídrica, no prazo de seis meses, sob pena de aplicação de multa de R$ 10.000, 00 e de incorrer em improbidade administrativa o Prefeito Municipal.

Inconformados, os réus apelaram.

Elyana Louro de Almeida alega, preliminarmente, a nulidade da sen-tença por cerceamento de defesa, aduzindo a necessidade da produção de prova técnica que demonstre o caráter histórico do imóvel. Assevera que o réu Roberto Henrique Barreiros Silva deve ser mantido no polo passivo da ação. Alega o caráter histórico da casa e que as construções que o MPF pretende ver destruídas (cerca, fossa, dique, muro, trapiche e piscina) não representam qualquer impacto ambiental, e podem facilmente ser adapta-das para corrigir qualquer dano ambiental que tenham causado. Requer a reforma da sentença para que os pedidos formulados na petição inicial sejam julgados inteiramente improcedentes, invertendo-se os ônus sucum-benciais.

O Município de Florianópolis/SC, por sua vez, alega, preliminarmen-te, litispendência com a ACP 5000603-16.2013.404.7200, em relação ao pedido de fiscalização na região da Costa da Lagoa, incluindo margens da Lagoa e áreas de alta declividade. Aduz sua ilegitimidade passiva para a causa, uma vez que a ação se fundamenta em supostas infrações a normas

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ambientais, cuja fiscalização compete à Floram. Argumenta pela inexistên-cia de responsabilidade do Município pela não comprovação do nexo cau-sal entre a conduta comissiva/omissiva e o dano.

Com contrarrazões, vieram os autos a esta Corte.

Nesta Corte, foi concedido efeito suspensivo à apelação de Elyana Louro de Almeida.

É o relatório.

Juíza Federal Maria Isabel Pezzi Klein Relatora

VOTO

O Ministério Público Federal ingressou com a presente ação civil pú-blica objetivando a condenação dos Apelantes, particulares e ente público (Município de Florianópolis) em obrigações de fazer consistentes na demo-lição de obras (casas, piscinas, retificação de curso d’água, etc.) irregular-mente erigidas em área de preservação permanente, composta por terras de marinha lindeiras à Lagoa da Conceição, na capital catarinense. Pretende a ação, ainda, a determinação de efetiva fiscalização e uso do poder de polícia administrativo pelo poder executivo municipal na região, a fim de impedir novas construções ilegais e prevenir novos atos de degradação am-biental.

Impende registrar que a proteção ao meio ambiente tem previsão constitucional (art. 225, § 3º, da CF/1988), que define a sujeição dos infra-tores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, inde-pendentemente da obrigação de reparar os danos causados.

A responsabilidade pelo dano ambiental é objetiva e a obrigação de reparação dos danos é propter rem, podendo ser imediatamente exigível do proprietário atual, independentemente de qualquer indagação a respeito da boa-fé do adquirente. Nesse sentido:

ADMINISTRATIVO – MEIO AMBIENTE – ÁREA DE RESERVA LEGAL EM PROPRIEDADES RURAIS: DEMARCAÇÃO, AVERBAÇÃO E RESTAURAÇÃO – LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA – OBRIGAÇÃO EX LEGE E PROPTER REM, IMEDIATAMENTE EXIGÍVEL DO PROPRIETÁRIO ATUAL

1. Em nosso sistema normativo (Código Florestal – Lei nº 4.771/1965, art. 16 e parágrafos; Lei nº 8.171/1991, art. 99), a obrigação de demarcar,

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averbar e restaurar a área de reserva legal nas propriedades rurais constitui (a) limitação administrativa ao uso da propriedade privada destinada a tutelar o meio ambiente, que deve ser defendido e preservado “para as presentes e futuras gerações” (CF, art. 225). Por ter como fonte a própria lei e por incidir sobre as propriedades em si, (b) configura dever jurídico (obrigação ex lege) que se transfere automaticamente com a transferência do domínio (obriga-ção propter rem), podendo, em consequência, ser imediatamente exigível do proprietário atual, independentemente de qualquer indagação a respeito de boa-fé do adquirente ou de outro nexo causal que não o que se estabelece pela titularidade do domínio.

2. O percentual de reserva legal de que trata o art. 16 da Lei nº 4.771/1965 (Código Florestal) é calculado levando em consideração a totalidade da área rural.

3. Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte, improvido.

(REsp 1179316/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, 1ª T., Julgado em 15.06.2010, DJe 29.06.2010)

AÇÃO CIVIL PÚBLICA – OCUPAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE MADEIRA EM TERRAS PÚBLICAS DA UNIÃO – VALOR DA CAUSA – RAZOABILIDADE – AUSÊNCIA DE PERÍCIA – VIOLAÇÃO À AMPLA DEFESA NÃO CONFIGU-RADA – DOCUMENTOS EXPEDIDOS PELO INSTITUTO DE TERRAS DO PARÁ (ITERPA) – REGULARIZAÇÃO DE POSSE – IMPOSSIBILIDADE – RE-PARAÇÃO DE DANOS À COBERTURA VEGETAL – EXPLORAÇÃO ILEGAL – DANO AMBIENTAL – RESPONSABILIDADE OBJETIVA – ALEGAÇÃO DE BOA-FÉ – IRRELEVÂNCIA – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUM-BÊNCIA – 1. A não realização da perícia não constitui, por si só, violação ao princípio da ampla defesa “porque o julgador não está obrigado a deferir a realização de provas que julgue desnecessárias ou inconvenientes para o deslinde da causa” (REsp 687341/SP, Rel. Min. Castro Meira, 2ª T., Publ. DJ 29.08.2006, p. 150) 2. Tratando-se de danos ambientais, afigura-se complexa a aferição da exata dimensão econômica do pleito reparatório. Não sendo possível o estabelecimento de critérios exatos, deve o valor da causa atender à razoabilidade e à proporcionalidade, não podendo ser manifestamente irrisório ou exorbitante. 3. É razoável o valor da causa de R$ 200.000,00 atribuído à ação civil pública ajuizada pelo MPF, tendo em consideração o lucro líquido da empresa exploradora da atividade de ex-tração de madeiras nos exercícios fiscais de 1999 e 2000, nos valores de R$ 600.982,14 e R$ 542.527,19, respectivamente, bem como a área de ex-ploração, abrangente de cerca de 1800 hectares. 4. Sendo da União as terras, não poderia um órgão do governo estadual legitimar a posse – muito menos concedê-la – a quem quer que fosse. Se houve exploração de madeira em terras da União com base em documentos expedidos por estado-membro da Federação, é ilegal na atividade. 5. Trata-se de terras que nunca poderiam

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ter sido exploradas pelos réus, pois que federais e não destinadas, pelo seu proprietário único, a projetos de exploração madeireira. Cuida-se, doutro lado, de vício original que macula todo e qualquer ato dele derivado, como planos de manejo florestal expedição de autorizações de transporte. Assim, a atividade desempenhada jamais esteve ao abrigo da legislação e a União Federal inevitavelmente sofreu prejuízos desde a sua implantação”. 6. Irrele-vante, a alegação de boa-fé por parte da empresa extratora, uma vez que a responsabilidade por danos ambientais é de natureza objetiva, dispensando perquirir, portanto, a qualidade do animus do agente causador. (EDcl-AgRg--REsp 255170/SP, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª T., Publ. DJ 22.04.2003 p. 197) 7. Apelação do Iterpa improvida. 8. Agravo retido e apelação de Madesa e outros improvidos. 9. Remessa oficial parcialmente provida.

(TRF 1ª R., AC 200139020007990, Desª Fed. Selene Maria de Almeida, 5ª T., e-DJF1 Data: 13.08.2010, p. 169)

CONSTITUCIONAL – AMBIENTAL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL – DANO AMBIENTAL CARACTERI-ZADO – DEVER DE INDENIZAR – SUJEITO PASSIVO.RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SOLIDÁRIA – APELO DESPROVIDO – 1. Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público Federal visando à reparação de dano am-biental ocasionado pela obstrução do Rio Paraíba do Sul. 2. Ocorrido o dano ambiental, deve-se perquirir o responsável por sua ocorrência, que tanto po-derá ser o responsável direto, quanto o indireto, havendo uma relação de responsabilidade solidária e objetiva entre tais pela reparação civil do dano ocorrido, conforme consagrado na Constituição Federal, em seu art. 225, § 3º, e no art. 3º da Lei nº 6.938/1984. 3. Tendo Demerval Queiroz Fernandes colaborado pela efetivação do dano ambiental, de forma direta ou indireta, e sendo ele o proprietário do terreno quando da autuação do Batalhão da Polícia Ambiental – ocasião que, inclusive, confessou ter-melhorado – pas-sagem de terra causadora da degradação ambiental -, pertinente a condena-ção de seu Espólio pelos danos ambientais ocorridos, independentemente de a transferência da propriedade ter ocorrido antes ou depois de seu óbito. 4. Alegação defensiva de ausência de responsabilidade de Demerval diante da pré-existência do aterro causador dos danos quando da aquisi-ção do terreno, não comprovada, ônus que cabia à Defesa nos termos do art. 333, I, do Código de Processo Civil; além de estar destoante da confissão à fl. 25, na qual Demerval assume ter contribuído para a manutenção do aterro poluidor. 5. Em se tratando de responsabilidade solidária, podendo ser ime-diatamente exigida pelo proprietário atual ou por aquele que era da época da agressão ao meio ambiente, independentemente de alegação de boa-fé do adquirente, nenhum óbice há no ajuizamento da ação em questão em face de Demerval. 6. Recurso de Apelação desprovido.

(TRF 2ª R., AC 200751030021186, Des. Fed. Guilherme Diefenthaeler, 5ª T.Esp., e-DJF2R – Data: 18.05.2012 p. 156/157)

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Sabe-se que a aplicação e a execução das penas limitam-se aos trans-gressores; a reparação ambiental, de cunho civil, como se viu, pode abran-ger todos os poluidores, a quem a própria legislação define como “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou in-diretamente, por atividade causadora de degradação ambiental” (art. 3º, IV da Lei nº 6.938/1981), ou seja, a própria lei já define como poluidor todo aquele que seja responsável pela degradação ambiental – e aquele que, adquirindo a propriedade, não reverte o dano ambiental, ainda que não causado por ele, já seria um responsável indireto por degradação ambiental (poluidor, pois).

O uso do vocábulo “transgressores” no caput do art. 14 da Lei nº 6.938/1981, comparado à utilização da palavra “poluidor” no § 1º do mesmo dispositivo, deixa a entender aquilo que já se podia inferir da vi-gência do princípio da intranscendência das penas: a responsabilidade civil por dano ambiental é subjetivamente mais abrangente do que as respon-sabilidades administrativa e penal, não admitindo estas últimas que tercei-ros respondam a título objetivo por ofensa ambientais praticadas por ou-trem. Nesse sentido: STJ, REsp 1251697, DJe 17.04.2012, Rel. Min. Mauro Campbell Marques.

Cumpre referir, de início, no que diz respeito à alegação da ocor-rência de cerceamento de defesa, que o art. 130 do CPC reserva ao magis-trado a tarefa de conduzir o processo, determinando as provas necessárias e suficientes para o seu convencimento, indeferindo diligências inúteis ou meramente protelatórias.

Em princípio, pois, compete ao julgador a quo decidir acerca da ne-cessidade de produção da postulada prova pericial.

No caso em exame, tenho que a alegação não merece prosperar, uma vez que se mostra desnecessária a realização das provas periciais postuladas para o deslinde do feito. Conforme salientado pelo juízo a quo, a contro-vérsia pode ser dirimida por meio da vasta prova documental carreada aos autos.

No que diz respeito à determinação para que o Município de Florianópolis efetue amplo programa de fiscalização na região da Costa da Lagoa, incluindo margens da Lagoa e áreas de alta declividade, com espe-cial orientação para desocupação e recuperação de margens e de cursos d’água, incluindo solução para casos porventura constatados de poluição hídrica, de fato, tal pedido já foi apreciado e concedido em outra ação civil pública anterior (5000603-16.2013.404.7200). O feito encontra-se aguar-

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dando apreciação de Recurso Especial interposto pelo Ibama relativamente à fixação de honorários sucumbenciais em seu favor, não tendo havido re-cursos das demais partes quanto ao mérito da causa. Portanto, há litispen-dência quanto a esse pedido, em relação ao Município, devendo ser extinto sem julgamento do mérito.

Dito isso, quanto às demais preliminares aventadas e o mérito, irre-futáveis são os fundamentos expostos pelo juízo singular em sentença, os quais vão em parte transcritos, como razões de decidir:

Quanto ao mérito, o Município de Florianópolis é competente para disciplinar o uso e ocupação do solo. Todavia, também é obrigação do Mu-nicípio fiscalizar e impedir ocupações irregulares. Assim, basta que tenha havido omissão, para que o Município seja igualmente responsável pelo dano ambiental, não cabendo se falar em culpa quando se examina a res-ponsabilidade ambiental. Neste sentido é a Jurisprudência:

PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – EDIFICA-ÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE – ÁREA DE MANGUE-ZAL – LAUDO PERICIAL – OMISSÃO DO PODER PÚBLICO MUNICIPAL – RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA COM O PARTICULAR AGRESSOR – DEMOLIÇÃO – NECESSIDADE – MANUTENÇÃO DA SENTENÇA – 1. A Constituição da República previu, em seu art. 225, § 1º, que incumbe ao Poder Público preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e pro-ver o manejo ecológico das espécies e ecossistemas, bem como definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a inte-gridade dos atributos que justifiquem sua proteção. 2. Qualquer que seja a qualificação jurídica do degradador – público ou privado –, no Direito bra-sileiro, a responsabilidade civil pelo dano ambiental é de natureza objetiva, solidária e ilimitada, sendo regida pelos princípios do poluidor-pagador, da reparação in integrum, da prioridade da reparação in natura (STJ, 2ª T., REsp 1071741/SP, Rel. Min. Herman Benjamin. DJe 16.02.2010).3. A responsabi-lidade civil do Poder Público, por omissão, é subjetiva ou por culpa, regime comum ou geral esse que, assentado no art. 37 da Constituição Federal, en-frenta duas exceções principais: a) quando a responsabilização objetiva do ente público decorrer de expressa previsão legal, em microssistema especial, como na proteção do meio ambiente (Lei nº 6.938/1981, art. 3º, IV, c/c o art. 14, § 1º), b) quando as circunstâncias indicarem a presença de um stan-dard ou dever de ação estatal mais rigoroso do que aquele que jorra, con-soante a construção doutrinária e jurisprudencial, do Texto Constitucional. 4. O dever-poder de controle e fiscalização ambiental é outorgado a todos os entes federativos no atual modelo constitucional, de modo que não se afigura

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plausível e suscetível de acolhimento a invocação de ilegitimidade sustenta-da pela edilidade onde ocorrida a degradação ambiental, consubstanciada em construção por particular de uma casa em área identificada pela perícia como de preservação permanente. Preliminar rejeitada. 5. Hipótese em que proferido provimento judicial consentâneo com as normas constitucionais e legais aplicáveis à espécie, afigurando-se, pois, escorreita a manutenção in totum da sentença que julgou procedente o pleito do Ibama, determinando ao particular e ao o Município do Conde/PB a obrigação solidária de de-molir construção edificada no loteamento “Expansão Village Jacumã”, na praia de Jacumã, com a consequente retirada dos entulhos de demolição e a recomposição da área degradada, inclusive com descompactação do solo, retorno do fluxo da maré, revegetação com espécies de mangue locais e o consequente retorno da fauna. 6. Apelação e remessa necessária desprovi-das. Preliminar rejeitada.

(TRF 5ª R., Ap-Reex 200282000057119, Des. Fed. Walter Nunes da Silva Júnior, 3ª T., DJe – Data: 17.02.2016, p. 50)

Neste sentido, ao se omitir, o Município é solidariamente responsá-vel, independentemente de culpa. A mera existência da construção irregular é prova cabal da falha do Município em fiscalizar e impedir a construção ilegal.

Por outro lado, o pedido de implementação da fiscalização e orien-tação de desocupação e recuperação das margens e de cursos d’água, não se trata de interferência do Poder Judiciário, mas de mera aplicação da le-gislação ambiental. Assim, havendo graves ofensas ao meio ambiente, e restando o Município inerte, é obrigação do Poder Judiciário decidir o caso concreto e determinar que sejam tomadas medidas efetivas que venham a evitar o dano ambiental e recuperar o meio ambiente degradado existente na Lagoa da Conceição. Neste sentido, a contratação de técnicos somente pode ser realizada pelo Município, mas a implementação da proteção am-biental é uma medida urgente e que não pode ser adiada, pois decorre da mera aplicação da legislação ambiental, não podendo ser indefinidamente adiada pelo ente público. Neste sentido, em caso de grave violação do di-reito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, previsto no art. 225 da Carta Magna, cabe ao Poder Judiciário determinar sejam tomadas medidas protetivas que evitem novos danos ambientais e possam proporcionar a recuperação do meio ambiente atingido.

O réu particular reconhece que não realizou nenhuma espécie de licenciamento ambiental. Contudo, alega que não abusou do exercício de seus direitos.

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Todavia, é preciso lembrar que a construção em áreas de preservação permanente é terminantemente vedada pelo Ordenamento Jurídico, eis que a própria legislação ambiental elencou tais áreas como importantíssimas para o meio ambiente, sendo presumido o dano ambiental existente.

No caso concreto, a construção à margem de cursos d’água importa em poluição para a Lagoa da Conceição, tanto que hoje a Lagoa está poluí-da em diversos pontos. Assim, a permissão descabida e ilegal da Administra-ção Pública, omitindo-se em fiscalizar o desenvolvimento não sustentável, vem tornando a Lagoa poluída, não podendo a população tomar banho em determinados pontos, inclusive.

O réu particular não nega que a construção esteja em área de pre-servação. Reconhece que realizou reforma em 1992 e alegou que o bem possui valor histórico.

No entanto, não demonstrou que o bem fosse tombado pelo Iphan ou qualquer órgão do patrimônio histórico. Assim, se o bem tivesse valor histórico, sequer poderia ter sido reformado sem a autorização do Iphan.

Neste sentido, considerando que a reforma ou construção foi reali-zada em 1992, como reconhece o réu, sem qualquer autorização do Mu-nicípio ou de qualquer órgão ambiental, é evidente sua ilegalidade. O réu deveria ter aproveitado as inúmeras audiências de conciliação que foram oportunizadas para regularizar o imóvel. Todavia, mesmo sendo oportu-nizada a conciliação, o réu recusou-se a tomar medidas de proteção ou recuperação ao meio ambiente, impedindo qualquer tipo de regularização do imóvel. Assim, não havendo provas de que a construção inicial seja an-terior ao Código Florestal de 1965, é evidente sua ilegalidade, não podendo subsistir.

Saliente-se que foram oportunizados todos os meios de defesa dispo-níveis, sem que os réus tivessem demonstrado suas alegações.

Assim sendo, o direito à moradia e o direito à propriedade não podem prevalecer frente ao direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Se todos os proprietários da Lagoa da Conceição resolverem construir ile-galmente, ocupando as margens da Lagoa e de cursos d’água vizinhos, em breve a situação do local se tornará insustentável, ficando prejudicado o direito à qualidade de vida das futuras gerações.

Por conseguinte, o Superior Tribunal Justiça tem entendido que as áreas de preservação permanente são intocáveis. Assim, o prejuízo é pre-

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sumido, in re ipsa, presunção absoluta, que dispensa a produção de prova técnica, como vem entendendo o ilustre Ministro Herman Benjamin:

..EMEN:ADMINISTRATIVO – PROCESSUAL CIVIL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – OCUPAÇÃO E EDIFICAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE – CASAS DE VERANEIO (“RANCHOS”) – LEIS NºS 4.771/1965 (CÓDIGO FLORESTAL DE 1965), 6.766/1979 (LEI DO PARCELAMENTO DO SOLO URBANO) E 6.938/1981 (LEI DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIEN-TE) – DESMEMBRAMENTO E LOTEAMENTO IRREGULAR – VEGETAÇÃO CILIAR OU RIPÁRIA – CORREDORES ECOLÓGICOS – RIO IVINHEMA – LICENCIAMENTO AMBIENTAL – NULIDADE DA AUTORIZAÇÃO OU LICENÇA AMBIENTAL – SILÊNCIO ADMINISTRATIVO – INEXISTÊNCIA, NO DIREITO BRASILEIRO, DE AUTORIZAÇÃO OU LICENÇA AMBIENTAL TÁCITA – PRINCÍPIO DA LEGITIMIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO – SUSPENSÃO DE OFÍCIO DE LICENÇA E DE TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA – VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC.PRECEDENTES DO STJ – 1. Trata-se, originariamente, de Ação Civil Pública ambiental movida pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul contra proprietá-rios de 54 casas de veraneio (“ranchos”), bar e restaurante construídos em Área de Preservação Permanente – APP, um conjunto de aproximadamente 60 lotes e com extensão de quase um quilômetro e meio de ocupação da margem esquerda do Rio Ivinhema, curso de água com mais de 200 metros de largura. Pediu-se a desocupação da APP, a demolição das construções, o reflorestamento da região afetada e o pagamento de indenização, além da emissão de ordem cominatória de proibição de novas intervenções. A sentença de procedência parcial foi reformada pelo Tribunal de Justiça, com decretação de improcedência do pedido. Área de preservação permanente ciliar. 2. Primigênio e mais categórico instrumento de expressão e densifi-cação da “efetividade” do “direito ao meio ambiente ecologicamente equi-librado”, a Área de Preservação Permanente ciliar (= APP ripária, ripícola ou ribeirinha), pelo seu prestígio ético e indubitável mérito ecológico, cor-porifica verdadeira trincheira inicial e última – a bandeira mais reluzente, por assim dizer – do comando maior de “preservar e restaurar as funções ecológicas essenciais”, prescrito no art. 225, caput e § 1º, I, da Constituição Federal. 3. Aferrada às margens de rios, córregos, riachos, nascentes, char-cos, lagos, lagoas e estuários, intenta a APP ciliar assegurar, a um só tempo, a integridade físico-química da água, a estabilização do leito hídrico e do solo da bacia, a mitigação dos efeitos nocivos das enchentes, a barragem e filtragem de detritos, sedimentos e poluentes, a absorção de nutrientes pelo sistema radicular, o esplendor da paisagem e a própria sobrevivência da flora ribeirinha e fauna. Essas funções multifacetárias e insubstituíveis elevam-na ao status de peça fundamental na formação de corredores ecológicos, elos de conexão da biodiversidade, genuínas veias bióticas do meio ambiente. Objetivamente falando, a vegetação ripária exerce tarefas de proteção as-semelhadas às da pele em relação ao corpo humano: faltando uma ou ou-

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tra, a vida até pode continuar por algum tempo, mas, no cerne, muito além de trivial mutilação do sentimento de plenitude e do belo do organismo, o que sobra não passa de um ser majestoso em estado de agonia terminal. 4. Compreensível que, com base nessa ratio ético-ambiental, o legislador caucione a APP ripária de maneira quase absoluta, colocando-a no ápice do complexo e numeroso panteão dos espaços protegidos, ao prevê-la na forma de superfície intocável, elemento cardeal e estruturante no esquema maior do meio ambiente ecologicamente equilibrado. Por tudo isso, a APP ciliar qualifica-se como território non aedificandi. Não poderia ser diferente, hostil que se acha à exploração econômica direta, desmatamento ou ocupação humana (com as ressalvas previstas em lei, de caráter totalmente excepcional e em numerus clausus, v.g., utilidade pública, interesse social, intervenção de baixo impacto). 5. Causa dano ecológico in re ipsa, presunção legal de-finitiva que dispensa produção de prova técnica de lesividade específica, quem, fora das exceções legais, desmata, ocupa ou explora APP, ou impede sua regeneração, comportamento de que emerge obrigação propter rem de restaurar na sua plenitude e indenizar o meio ambiente degradado e tercei-ros afetados, sob regime de responsabilidade civil objetiva.Precedentes do STJ. Licenciamento Ambiental. 6. Se é certo que em licença, autorização ou Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), ao Administrador, quando imple-menta a legislação ambiental, incumbe agregar condicionantes, coartações e formas de mitigação do uso e exploração dos recursos naturais – o que amiúde acontece, efeito de peculiaridades concretas da biota, projeto, ativi-dade ou empreendimento -, não é menos certo que o mesmo ordenamento jurídico não lhe faculta, em sentido inverso, ignorar, abrandar ou fantasiar prescrições legais referentes aos usos restringentes que, por exceção, sejam admitidos nos espaços protegidos, acima de tudo em APP. 7. Em respeito ao princípio da legalidade, é proibido ao órgão ambiental criar direitos de exploração onde a lei previu deveres de preservação. Pela mesma razão, mostra-se descabido, qualquer que seja o pretexto ou circunstância, falar em licença ou autorização ambiental tácita, mormente por quem nunca a solicitou ou fê-lo somente após haver iniciado, às vezes até concluído, a ati-vidade ou o empreendimento em questão. Se, diante de pleito do particular, o Administrador permanece silente, é intolerável que a partir da omissão es-tatal e do nada jurídico se entreveja salvo-conduto para usar e até abusar dos recursos naturais, sem prejuízo, claro, de medidas administrativas e judiciais destinadas a obrigá-lo a se manifestar e decidir. 8. Embora o licenciamento ambiental possa, conforme a natureza do empreendimento, obra ou ativi-dade, ser realizado, conjunta ou isoladamente, pela União, Distrito Federal e Municípios, não compete a nenhum deles – de modo direto ou indireto, muito menos com subterfúgios ou sob pretexto de medidas mitigatórias ou compensatórias vazias ou inúteis – dispensar exigências legais, regulamenta-res ou de pura sabedoria ecológica, sob pena de, ao assim proceder, fulminar de nulidade absoluta e insanável o ato administrativo praticado, bem como

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de fazer incidir, pessoalmente, sobre os servidores envolvidos, as sanções da Lei dos Crimes contra o Meio Ambiente (arts. 66, 67 e 69-A) e da Lei da Improbidade Administrativa, às quais se agrega sua responsabilização civil em regime de solidariedade com os autores diretos de eventual dano cau-sado. Hipótese dos autos. 9. O Recurso Especial em questão debate, entre outros pontos, os efeitos da suspensão de ofício da Licença de Operação nº 12/2008, emitida pelo órgão ambiental do Estado de Mato Grosso do Sul e incorporada às razões de decidir do acórdão recorrido. Nos Embargos de Declaração, o Parquet suscita, de maneira expressa, a suspensão de ofício da licença concedida, bem como diversas outras omissões. Em resposta, o res-pectivo acórdão limita-se a apontar pretensão supostamente infringente, sem examinar as impugnações, todas pertinentes para o deslinde da controvérsia. Por essa razão, vislumbro ofensa ao art. 535 do CPC. Precedentes do STJ em situações análogas. 10. Recurso Especial parcialmente provido para anular o acórdão dos Embargos de Declaração...EMEN: (STJ, REsp 201100383719, Herman Benjamin, 2ª T., DJe Data: 13.06.2013..DTPB:.)

Saliente-se que as esferas penal e civil são totalmente independentes. Assim, os argumentos utilizados na esfera penal, sem respaldo em nenhu-ma prova técnica, não podem ser utilizados na esfera civil, até porque são totalmente conflitantes com o espírito protetivo do Código Florestal, que em seu art. 2º proíbe terminantemente a ocupação de áreas de preservação permanente.

Por outro lado, somente seria possível a existência de cercamentos a uma distância considerável da Lagoa, ou seja, os trinta metros previstos na legislação, a fim de não impedir o acesso da população ao bem de uso comum do povo. Neste sentido, não se justifica o cercamento quando é uti-lizado para uma ocupação ilegal, quando a construção está erigida em área de preservação permanente.

Por conseguinte, tendo sido concedidas diversas oportunidades para que fosse apresentado um projeto de recuperação razoável, os réus se recu-saram terminantemente a tomar qualquer medida que pudesse recuperar o meio ambiente degradado, não podendo agora o Poder Judiciário deixar de aplicar a legislação vigente, ou seja, o Código Florestal, sob pena de estimu-lar novas ocupações irregulares na Lagoa da Conceição, comprometendo--se definitivamente aquele curso d’água já extremamente prejudicado.

Por final, quanto à contestação da ré Elyana, é preciso lembrar que o Ministério Público Federal não requereu qualquer indenização, mas sim recuperação ambiental. Assim, é obrigação da atual proprietária recuperar o meio ambiente degradado, já que tal obrigação é propter rem, ou seja,

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em razão da coisa. Assim, mesmo que não tenha construído ou erigido, a ré é responsável solidariamente, pois é a atual proprietária do imóvel. Neste sentido é a Jurisprudência pacificada nos tribunais:

AMBIENTAL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – APELAÇÃO – DANO AMBIEN-TAL – CONSTRUÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE – FAIXA MARGINAL DE RIO – INSTRUMENTO DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE – RESPONSABILIDADE OBJETIVA – OBRIGAÇÃO PROPTER REM – IRRELEVÂNCIA DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL PREE-XISTENTE – RECURSO IMPROVIDO – 1. Com a finalidade de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, bem como proteger o solo e assegu-rar o bem-estar das populações humanas, foram estabelecidas as Áreas de Preservação Permanente – APPs entre os espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público, instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente (art. 9º, VI, Lei nº 6.938/1981), definidas tanto pelo antigo (art. 1º, § 2º, II, Lei nº 4.771/1965) quanto pelo novo Código Florestal (art. 3º, II, Lei nº 12.651/2012), sendo que aquelas localizadas nas margens dos cursos d’água possuem dimensões de acordo com as respectivas larguras destes. 2. Em face dos princípios tempus regit actum e da não regressão ou vedação ao retrocesso ecológico, a Lei nº 4.771/1965, embora revogada, pode ser aplicada aos fatos ocorridos antes da vigência da Lei nº 12.651/2012, ainda que a norma seja mais gravosa ao poluidor. 3. A fim de conferir uma maior proteção ao meio ambiente, a Lei nº 6.938/1981, denominada Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, prevê que a responsabilidade civil por danos ambientais é objetiva, ou seja, independe da caracterização da culpa, além de ser fundada na teoria do risco integral, razão pela qual é incabível a aplica-ção de excludentes de responsabilidade para afastar a obrigação de indenizar. 4. Basta a demonstração do dano ambiental e o nexo causal entre o resultado lesivo e a situação de risco criada pelo agente no exercício de atividade, no seu interesse e sob seu controle, dispensando-se assim o elemento subjetivo, para resultar na responsabilidade por dano ambiental. 5. A obrigação de reparar os danos ambientais é considerada propter rem, sendo irrelevante que o autor da degradação ambiental inicial não seja o atual o proprietário, pois aquela adere ao título de domínio ou posse, sem prejuízo da solidarie-dade entre os vários causadores do dano, sendo inviável qualquer alegação de direito adquirido à degradação, nos termos do art. 7º do novo Código Florestal. 6. Eventual preexistência de degradação ambiental não possui o condão de desconfigurar uma APP, vez que sua importância ecológica em proteger ecossistemas sensíveis, tal como cursos d’águas, ainda se perpetua, sendo a lei imperiosa no sentido de que constitui área protegida, coberta ou não por vegetação nativa (art. 1º, § 2º, II, Lei nº 4.771/1965 e art. 3º, II, Lei nº 12.651/2012), razão pela qual é necessária a recuperação ambiental, em respeito ao fim social da propriedade e a prevalência do direito supraindi-

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vidual ao meio-ambiente ecologicamente equilibrado. 7. Segundo Auto de Infração e Termo de Embargo/Interdição lavrados pelo Ibama, o réu foi autu-ado em 03.02.2005 em razão de ter iniciado e mantido edificação, situada em imóvel de área total de 0,056ha, sendo 0,018ha de construção e o restan-te de intervenções não impermeabilizantes, localizada a 93m (noventa e três metros) do nível máximo do Rio Grande, estando integralmente em área de preservação permanente cuja largura mínima é de 200m (duzentos metros), considerando que esse rio possui largura entre200m (duzentos metros) e 600 (seiscentos metros), conforme previa e prevê a legislação pertinente (art. 2º, “a”, item 4, Lei nº 4.771/1965 e art. 4º, I, d, Lei nº 12.651/2012). 8. Os do-cumentos que instruem o presente feito demonstram que a construção em tela está situada próxima a rio, curso d’água natural perene e intermitente, não havendo que se falar em aplicação de resolução do Conama referente a áreas no entorno de reservatórios artificiais d’água, decorrentes de barra-mento ou represamento de cursos d’água naturais. 9. Incumbindo ao réu o ônus da prova relativo a fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor (art. 333, II, CPC), descabe qualquer alegação de que a construção na APP em tela estaria autorizada legalmente, com fulcro no art. 61-A do novo Código Florestal, haja vista que a parte ré não trouxe nenhum indício de que desenvolve atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo ou de turismo natural em área rural consolidada até 22.07.2008, o que poderia configurar uma exceção legal, não tendo inclusive produzido nenhuma prova oral nes-se sentido. 10. Tratando-se a questão de proteção ao meio-ambiente, incide o princípio in dubio pro natura e da precaução, de modo que ao poluidor recai o ônus probatório de inocorrência de potencial ou efetiva degradação ambiental. 11. Considerando que construções de edifícios implicam em su-pressão de vegetação nativa e suas manutenções impedem a regeneração natural, não havendo, no caso em tela, autorização do Poder Público, o qual poderia concedê-la apenas em caso de utilidade pública, interesse social ou de baixa impacto ambiental (art. 4º, caput, Lei nº 4.717/1965 e art. 8º, caput, Lei nº 12.651/2012), a mera manutenção de edificação em APP é ilí-cito civil, passível de responsabilização, causando dano ecológico in re ipsa, sendo medida de rigor a manutenção da condenação do réu em promover a recomposição vegetal através de demolição integral de edificações, remoção de entulhos decorrentes, coibição de atividades antrópicas no local e promo-ção de reparação do dano ambiental por meio de implantação de projeto de recomposição da vegetação aprovado pelo Ibama, nos termos estabelecidos na r. sentença.12. Apelação improvida.

(TRF 3ª R., AC 00088725320074036106, Des. Fed. Antonio Cedenho, 3ª T., e-DJF3 Judicial 1 Data: 14.01.2016..FONTE_REPUBLICACAO:.)

Quanto à contestação da União, afirma que a LPM 1831 não está homologada, não havendo como determinar áreas de terrenos de marinha

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em curto espaço de tempo. Possui razão a União. O trabalho de demarca-ção é extremamente complexo e difícil. Por outro lado, existem inúmeros imóveis às margens da Lagoa da Conceição e cada caso tem as suas parti-cularidades. Assim sendo, seria impossível exigir da União a verificação de todos os imóveis existentes, eis que seria necessária, talvez, uma vistoria ou prova pericial, a fim de verificar a distância existente entre as construções e o curso d’água. Neste sentido, o direito de ocupação deve ser examinado caso a caso, não podendo ser determinado o cancelamento da ocupação de todos os imóveis existentes, sem antes uma análise demorada e complexa. Por conseguinte, o pedido veiculado pelo Ministério Público Federal não é viável na prática. Lembre-se que o Princípio da Separação de Poderes im-pede que o Poder Judiciário determine políticas públicas que não estejam previstas expressamente no texto legal, ou que sejam extremente custosas ou difíceis, ao menos que esteja vulnerado um direito fundamental de gran-de importância. O Serviço de Patrimônio da União tem como finalidade resguardar o patrimônio público da União, não dispondo de técnicos am-bientais para averiguar a distância e a existência de área de preservação permanente ao redor da Lagoa da Conceição. Assim, a União deverá anali-sar cada caso concreto, não podendo apreciar e verificar todos os imóveis existentes de uma única vez.

Ante o exposto, julgo parcialmente o pedido veiculado pelo Ministé-rio Público Federal para: a) condenar o réu particular a desocupar as terras de marinha e áreas de preservação permanente, sendo-lhe defeso igualmen-te obstaculizar o livre e franco acesso do público ao bem de uso comum do povo (praia lacustre e Lagoa), retirando cercas ou portões porventura exis-tentes; b) condenar os réus particulares e o município, à obrigação de fazer de demolir as construções nas áreas de preservação permanente das mar-gens da Lagoa da Conceição e de curso d’água, bem como à recuperação ambiental das mesmas, através de apresentação de projeto de recuperação de área degradada, a ser aprovado pelo Ibama e sua execução. Fixo prazo de 30 dias a partir da intimação da sentença para apresentação do Prad, sob pena de aplicação de multa de R$ 10.000, 00 ao dia; c) condeno o Municí-pio a efetuar amplo programa de fiscalização da região da Costa da Lagoa, incluindo as margens da Lagoa e áreas de alta declividade, com especial orientação para desocupação e recuperação de margens e de cursos d’água, incluindo solução para casos porventura constatados de poluição hídrica, no prazo de seis meses, sob pena de aplicação de multa de R$ 10.000, 00 e de incorrer em improbidade administrativa o Prefeito Municipal.

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Como se observa, a sentença é exaustiva no exame da matéria, não merecendo reparos no que tange a conclusão pela ocorrência de dano am-biental.

Não custa lembrar que desde a publicação do Código Florestal (Lei nº 4.771/1965) já havia proibição quanto ao uso das áreas de preservação permanente. Vejamos:

“Art. 3º (Omissis)

§ 1º A supressão total ou parcial de florestas de preservação permanente só será admitida com prévia autorização do Poder Executivo Federal, quando for necessária à execução de obras, planos, atividades ou projetos de utilida-de pública ou interesse social.”

No que pertine à definição legal de áreas de preservação permanente, é importante transcrever as normas constantes dos arts. 1º, 2º e 3º da citada Lei nº 4.771/1965:

“Art. 1º [...]

§ 2º Para os efeitos deste Código, entende-se por:

I – [...]

II – área de preservação permanente: área protegida nos termos dos arts. 2º e 3º desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas; [...]

Art. 2º Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:

[...]

f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;

[...]

Art. 3º Consideram-se, ainda, de preservação permanentes, quando assim declaradas por ato do Poder Público, as florestas e demais formas de vegeta-ção natural destinadas:

a) a atenuar a erosão das terras;

b) a fixar as dunas;

c) a formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;

d) a auxiliar a defesa do território nacional a critério das autoridades mili-tares;

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e) a proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico;

f) a asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados de extinção;

g) a manter o ambiente necessário à vida das populações silvícolas;

h) a assegurar condições de bem-estar público.”

A resolução Conama nº 303/2002, por seu turno, possui como objeto o estabelecimento de parâmetros, definições e limites referentes às Áreas de Preservação Permanente. Nesse ponto, vale transcrever o que consta dos seus arts. 2º e 3º, os quais trazem conceitos e limites relativos às APPs.

Art. 2º Para os efeitos desta Resolução são adotadas as seguintes definições:

I – nível mais alto: nível alcançado por ocasião da cheia sazonal do curso d’água perene ou intermitente;

II – nascente ou olho d’água: local onde aflora naturalmente, mesmo que de forma intermitente, a água subterrânea;

III – vereda: espaço brejoso ou encharcado, que contém nascentes ou ca-beceiras de cursos d’água, onde há ocorrência de solos hidromórficos, ca-racterizado predominantemente por renques de buritis do brejo (Mauritia flexuosa) e outras formas de vegetação típica;

IV – morro: elevação do terreno com cota do topo em relação a base entre cinqüenta e trezentos metros e encostas com declividade superior a trinta por cento (aproximadamente dezessete graus) na linha de maior declividade;

V – montanha: elevação do terreno com cota em relação a base superior a trezentos metros;

VI – base de morro ou montanha: plano horizontal definido por planície ou superfície de lençol d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota da depressão mais baixa ao seu redor;

VII – linha de cumeada: linha que une os pontos mais altos de uma seqüência de morros ou de montanhas, constituindo-se no divisor de águas;

VIII – restinga: depósito arenoso paralelo a linha da costa, de forma geral-mente alongada, produzido por processos de sedimentação, onde se en-contram diferentes comunidades que recebem influência marinha, também consideradas comunidades e dá ficas por dependerem mais da natureza do substrato do que do clima. A cobertura vegetal nas restingas ocorrem mosai-co, e encontra-se em praias, cordões arenosos, dunas e depressões, apresen-tando, de acordo com o estágio sucessional, estrato herbáceo, arbustivos e abóreo, este último mais interiorizado;

IX – manguezal: ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, su-jeitos à ação das marés, formado por vasas lodosas recentes ou arenosas, às

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quais se associa, predominantemente, a vegetação natural conhecida como mangue, com influência flúvio-marinha, típica de solos limosos de regiões estuarinas e com dispersão descontínua ao longo da costa brasileira, entre os estados do Amapá e Santa Catarina;

X – duna: unidade geomorfológica de constituição predominante arenosa, com aparência de cômoro ou colina, produzida pela ação dos ventos, situa-da no litoral ou no interior do continente, podendo estar recoberta, ou não, por vegetação;

XI – tabuleiro ou chapada: paisagem de topografia plana, com declivida-de média inferior a dez por cento, aproximadamente seis graus e superfície superior a dez hectares, terminada de forma abrupta em escarpa, caracteri-zando-se a chapada por grandes superfícies a mais de seiscentos metros de altitude;

XII – escarpa: rampa de terrenos com inclinação igual ou superior a quarenta e cinco graus, que delimitam relevos de tabuleiros, chapadas e planalto, es-tando limitada no topo pela ruptura positiva de declividade (linha de escar-pa) e no sopé por ruptura negativa de declividade, englobando os depósitos de colúvio que localizam-se próximo ao sopé da escarpa;

XIII – área urbana consolidada: aquela que atende aos seguintes critérios:

a) definição legal pelo poder público;

b) existência de, no mínimo, quatro dos seguintes equipamentos de infra--estrutura urbana:

1. malha viária com canalização de águas pluviais,

2. rede de abastecimento de água;

3. rede de esgoto;

4. distribuição de energia elétrica e iluminação pública ;

5. recolhimento de resíduos sólidos urbanos;

6. tratamento de resíduos sólidos urbanos; e

c) densidade demográfica superior a cinco mil habitantes por km2.

Art. 3º Constitui Área de Preservação Permanente a área situada:

I – em faixa marginal, medida a partir do nível mais alto, em projeção hori-zontal, com largura mínima, de:

a) trinta metros, para o curso d’água com menos de dez metros de largura;

b) cinqüenta metros, para o curso d’água com dez a cinqüenta metros de largura;

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c) cem metros, para o curso d’água com cinqüenta a duzentos metros de largura;

d) duzentos metros, para o curso d’água com duzentos a seiscentos metros de largura;

e) quinhentos metros, para o curso d’água com mais de seiscentos metros de largura;

II – ao redor de nascente ou olho d’água, ainda que intermitente, com raio mínimo de cinqüenta metros de tal forma que proteja, em cada caso, a bacia hidrográfica contribuinte;

III – ao redor de lagos e lagoas naturais, em faixa com metragem mínima de:

a) trinta metros, para os que estejam situados em áreas urbanas consolidadas;

b) cem metros, para as que estejam em áreas rurais, exceto os corpos d’água com até vinte hectares de superfície, cuja faixa marginal será de cinqüenta metros;

IV – em vereda e em faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mí-nima de cinqüenta metros, a partir do limite do espaço brejoso e encharcado;

V – no topo de morros e montanhas, em áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a dois terços da altura mínima da elevação em re-lação à base;

VI – nas linhas de cumeada, em área delimitada a partir da curva de nível correspondente a dois terços da altura, em relação à base, do pico mais bai-xo da cumeada, fixando-se a curva de nível para cada segmento da linha de cumeada equivalente a mil metros;

VII – em encosta ou parte desta, com declividade superior a cem por cento ou quarenta e cinco graus na linha de maior declive;

VIII – nas escarpas e nas bordas dos tabuleiros e chapadas, a partir da linha de ruptura em faixa nunca inferior a cem metros em projeção horizontal no sentido do reverso da escarpa;

IX – nas restingas:

a) em faixa mínima de trezentos metros, medidos a partir da linha de preamar máxima;

b) em qualquer localização ou extensão, quando recoberta por vegetação com função fixadora de dunas ou estabilizadora de mangues;

X – em manguezal, em toda a sua extensão;

XI – em duna;

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XII – em altitude superior a mil e oitocentos metros, ou, em Estados que não tenham tais elevações, a critério do órgão ambiental competente;

XIII – nos locais de refúgio ou reprodução de aves migratórias;

XIV – nos locais de refúgio ou reprodução de exemplares da fauna ameaça-das de extinção que constem de lista elaborada pelo Poder Público Federal, Estadual ou Municipal;

XV – nas praias, em locais de nidificação e reprodução da fauna silvestre.

Parágrafo único. Na ocorrência de dois ou mais morros ou montanhas cujos cumes estejam separados entre si por distâncias inferiores a quinhentos me-tros, a Área de Preservação Permanente abrangerá o conjunto de morros ou montanhas, delimitada a partir da curva de nível correspondente a dois ter-ços da altura em relação à base do morro ou montanha de menor altura do conjunto, aplicando-se o que segue:

I – agrupam-se os morros ou montanhas cuja proximidade seja de até qui-nhentos metros entre seus topos;

II – identifica-se o menor morro ou montanha;

III – traça-se uma linha na curva de nível correspondente a dois terços deste; e

IV – considera-se de preservação permanente toda a área acima deste nível.

Dessa forma, aos fundamentos elencados na decisão supracitada não foram opostos argumentos idôneos a infirmar o convencimento do julgador, razão pela qual a mantenho, dando parcial provimento apenas ao recurso do Município de Florianópolis, para reconhecer a litispendência em relação ao feito nº 5000603-16.2013.404.7200 quanto ao pedido de fiscalização na região da Costa da Lagoa.

Ante o exposto, voto por dar parcial provimento à apelação do Mu-nicípio de Florianópolis e negar provimento à apelação de Elyana Louro de Almeida.

Juíza Federal Maria Isabel Pezzi Klein Relatora

VOTO-VISTA

Pedi vista dos autos para melhor exame da questão controvertida.

Feito isso, acompanho o douto voto proferido pela Eminente Relatora, Juíza Federal Maria Isabel Pezzi Klein, consignando que S. Exa. examinou

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com profundidade a prova carreada aos autos em cotejo com as questões jurídicas que envolvem a demanda, bem solucionando a lide, portanto, em todos os seus aspectos.

Assim sendo, voto no sentido de dar parcial provimento à apelação do Município de Florianópolis/SC e negar provimento à apelação de Elyana Louro de Almeida.

Des. Federal Fernando Quadros da Silva

EXTRATO DE ATA DA SESSÃO DE 24.01.2017

Apelação Cível nº 5002226-47.2015.4.04.7200/SC

Origem: SC 50022264720154047200

Relator: Juíza Federal Maria Isabel Pezzi Klein

Presidente: Fernando Quadros da Silva

Procurador: Dr. Alexandre Amaral Gavronski

Sustentação Oral: Por videoconferência de Florianópolis/SC, do Adv. Eduardo de Mello e Souza pela apelante Elyana Louro de Almeida e, pre-sencialmente, do Procurador Regional da República Alexandre Amaral Gavronski pelo apelado Ministério Público Federal.

Apelante: Município de Florianópolis/SC

Apelante: Elyana Louro de Almeida

Advogado: Eduardo de Mello e Souza

Apelado: Ministério Público Federal

Interessado: Roberto Henrique Barreiros Silva

Advogado: Rubens Ritter Von Jelita

Interessado: União – Advocacia-Geral da União

Apenso(s): 5031630-78.2016.404.0000

Certifico que este processo foi incluído na Pauta do dia 24.01.2017, na sequência 506, disponibilizada no DE de 09.01.2017, da qual foi intimado(a) União – Advocacia-Geral da União, o Ministério Público Fede-ral e as demais Procuradorias Federais.

Certifico que o(a) 3ª Turma, ao apreciar os autos do processo em epí-grafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

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Após o voto da relatora, dando parcial provimento à apelação do Municí-pio de Florianópolis e negando provimento à apelação de Elyana Louro de Almeida, pediu vista o Des. Federal Fernando Quadros da Silva, aguarda o Des. Federal Alcides Vettorazzi. Sustentaram oralmente o Adv. Eduardo de Mello e Souza pela apelante Elyana e o Procurador Regional da República Alexandre Amaral Gavronski pelo apelado Ministério Público Federal.

Pedido de vista: Des. Federal Fernando Quadros da Silva

Votante(s): Juíza Federal Maria Isabel Pezzi Klein

José Oli Ferraz Oliveira Secretário de Turma

EXTRATO DE ATA DA SESSÃO DE 04.04.2017

Apelação Cível nº 5002226-47.2015.4.04.7200/SC

Origem: SC 50022264720154047200

Relator: Des. Federal Ricardo Teixeira do Valle Pereira

Presidente: Marga Inge Barth Tessler

Procurador: Dr. Jorge Luiz Gasparini da Silva

Apelante: Município de Florianópolis/SC

Apelante: Elyana Louro de Almeida

Advogado: Eduardo de Mello e Souza

Apelado: Ministério Público Federal

Interessado: Roberto Henrique Barreiros Silva

Advogado: Rubens Ritter Von Jelita

Interessado: União – Advocacia-Geral da União

Apenso(s): 5031630-78.2016.404.0000

Certifico que este processo foi incluído no Aditamento da Pauta do dia 04.04.2017, na sequência 1334, disponibilizada no DE de 17.03.2017, da qual foi intimado(a) União – Advocacia-Geral da União, o Ministério Público Federal e as demais Procuradorias Federais.

Certifico que o(a) 3ª Turma, ao apreciar os autos do processo em epí-grafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

Prosseguindo O julgamento, após o voto-vista do Des. Fernando Quadros da Silva, acompanhando a relatora, e do voto da Des. Marga Inge Barth Tessler, no mesmo sentido, a turma, por unanimidade, decidiu dar parcial provi-

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mento à apelação do Município de Florianópolis/SC e negar provimento à apelação de Elyana Louro de Almeida.

Relator Acórdão: Des. Federal Ricardo Teixeira do Valle Pereira

Voto Vista: Des. Federal Fernando Quadros da Silva

Votante(s): Desª Federal Marga Inge Barth Tessler Des. Federal Ricardo Teixeira do Valle Pereira

José Oli Ferraz Oliveira Secretário de Turma

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Parte Geral – Acórdão na Íntegra

2340

Tribunal Regional Federal da 5ª RegiãoGabinete do Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho (convocado)Embargos de Declaração em Apelação Cível nº 581431‑CE(2000.81.00.013157‑6/01)Apte.: Miguel Weima Rocha BezerraAdv./Proc.: Francisco Ione Pereira Lima e outrosApdo.: Ministério Público FederalApdo.: Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenováveisRepte.: Procuradoria Regional Federal da 5ª RegiãoParte A.: DNOCS – Departamento Nacional de Obras contra as SecasRepte.: Procuradoria Regional Federal da 5ª RegiãoEmbte.: Miguel Weima Rocha BezerraOrigem: 25ª Vara Federal do Ceará – CERelator: Des. Federal Ivan Lira de Carvalho (Convocado)

EMENTA

EMBARGOS DECLARATóRIOS – ÁREA DE USO COMUM E DE PROTEÇÃO AMBIENTAL – PLANO DE RECUPERAÇÃO DE ÁREA DEGRADADA – PRAD NÃO CUMPRIDO – DISCUSSÃO ACERCA DE MATéRIA JÁ ANALISADA – IMPOSSIBILIDADE – INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE

I – Trata-se de embargos de declaração opostos contra acórdão que negou provimento à apelação, para manter a sentença de 1º grau pro-ferida na presente ação civil pública.

II – A embargante sustenta que o acórdão da Segunda Turma res-tou omisso quanto à análise de haver sido o Prad elaborado pelo embargante aprovado pelo Ibama. Apontou, ainda, contradição/erro material em razão da existência de decisões do próprio TRF 5 que, em casos análogos, não apontaram a necessidade de demolição das construções.

III – As questões apontadas pelo embargante foram devidamente analisadas no acórdão embargado, ao dispor que “Ademais, cons-ta no Relatório Técnico referido (fls. 287/292) que o PRDA – Plano de Recuperação de área Degradada não foi devidamente cumprido, haja vista que a área foi ambientada para o lazer, com plantação de espécies exóticas. Além disso, praticamente não há no local extrato

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herbáceo natural, o que torna o solo desprotegido. Próximo das edifi-cações, o solo é coberto com uma grama exótica. Consta do relatório, ainda, a impossibilidade de se avaliar o destino dos efluentes das fos-sas sépticas dos banheiros ali existentes.”

IV – Por outro lado, a contradição a ser afastar por meio de embargos declaratórios deve ocorrer entres os termos de um mesmo decisum, não sendo consideradas contraditórios entendimentos exarados por órgãos distintos do colegiado.

V – Não é possível, em sede de embargos declaratórios, reabrir dis-cussão acerca de questão já debatida e decidida.

VI – O Código de Processo Civil, em seu art. 1.022, condiciona o cabimento dos embargos de declaração à existência de omissão, con-tradição, obscuridade ou erro no acórdão embargado, não se prestan-do este recurso à repetição de argumentação contra o julgamento de mérito da causa.

VII – Embargos de declaração improvidos.

[03]

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Embargos de Declaração em Apelação Cível, em que são partes as acima mencionadas.

Acordam os Desembargadores Federais da Segunda Turma do Tribu-nal Regional Federal da 5ª Região, à unanimidade, em negar provimento aos embargos de declaração, nos termos do voto do Relator e das notas taquigráficas que estão nos autos e que fazem parte deste julgado.

Recife, 28 de março de 2017.

Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho Relator Convocado

RELATÓRIO

O Exmo. Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho (Relator Con-vocado): Trata-se de embargos de declaração opostos contra acórdão que

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negou provimento à apelação, para manter a sentença de 1º grau proferida na presente ação civil pública.

A embargante sustenta que o acórdão da Segunda Turma restou omis-so quanto à análise de haver sido o Prad elaborado pelo embargante apro-vado pelo Ibama. Apontou, ainda, contradição/erro material em razão da existência de decisões do próprio TRF 5 que, em casos análogos, não apon-taram a necessidade de demolição das construções.

É o relatório.

Apresento o feito em mesa independente de pauta.

VOTO

O Exmo. Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho (Relator Con-vocado): Trata-se de embargos de declaração opostos contra acórdão que negou provimento à apelação, para manter a sentença de 1º grau proferida na presente ação civil pública.

A embargante sustenta que o acórdão da Segunda Turma restou omis-so quanto à análise de haver sido o Prad elaborado pelo embargante apro-vado pelo Ibama. Apontou, ainda, contradição/erro material em razão da existência de decisões do próprio TRF 5 que, em casos análogos, não apon-taram a necessidade de demolição das construções.

Ao analisar os embargos declaratórios, observo que se repete argu-mentação já veiculada nos autos.

As questões apontadas pelo embargante foram devidamente analisa-das no acórdão embargado, ao dispor que “Ademais, consta no Relatório Técnico referido (fls. 287/292) que o PRDA – Plano de Recuperação de área Degradada não foi devidamente cumprido, haja vista que a área foi ambientada para o lazer, com plantação de espécies exóticas. Além disso, praticamente não há no local extrato herbáceo natural, o que torna o solo desprotegido. Próximo das edificações, o solo é coberto com uma grama exótica. Consta do relatório, ainda, a impossibilidade de se avaliar o destino dos efluentes das fossas sépticas dos banheiros ali existentes.”

Por outro lado, a contradição a ser afastar por meio de embargos de-claratórios deve ocorrer entres os termos de um mesmo decisum, não sendo consideradas contraditórios entendimentos exarados por órgãos distintos do colegiado.

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O acórdão embargado foi prolatado com amparo na legislação que rege a espécie e em consonância com a jurisprudência do Tribunal. O en-tendimento nele sufragado abarca todas as questões aventadas em sede de embargos, de modo que não restou caracterizada qualquer omissão no pro-nunciamento jurisdicional impugnado.

Na verdade, o que se constata é a pretensão do embargante de reabrir discussão acerca da temática de mérito. Neste sentido, trago à colação o seguinte precedente do colendo Superior Tribunal de Justiça:

“ADMINISTRATIVO – PROCESSUAL CIVIL – EMBARGOS DE DECLARA-ÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO – RES-SARCIMENTO AO SUS – FORMAÇÃO DEFICIENTE – PEÇAS ILEGÍVEIS – JUNTADA POSTERIOR – NÃO CABIMENTO – INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO – INCONFORMISMO DA EMBARGANTE – REVISÃO DO JULGADO – VIA IMPRÓPRIA – EMBARGOS REJEITADOS

1. Os embargos de declaração, a teor dos arts. 535, II, do CPC e 263 do RISTJ, prestam-se a sanar omissões eventualmente existentes no acórdão.

2. O que a embargante chama de vício é na verdade tentativa de modificação do entendimento firmado pelo órgão julgador, uma vez que não há no corpo do decisum posicionamentos que exijam esclarecimentos mais acurados.

3. Não obstante doutrina e jurisprudência admitam a modificação do acór-dão por meio dos embargos de declaração, essa possibilidade sobrevém como resultado da presença dos vícios que ensejam sua oposição, o que não ocorre no presente caso, em que a questão levada à apreciação do ór-gão julgador foi devidamente exposta e analisada, não havendo omissões a serem sanadas.

4. Incumbe ao agravante o dever de formar corretamente o recurso de agra-vo, cabendo fiscalizar a apresentação das peças obrigatórias previstas no art. 544, § 1º, do Código de Processo Civil, que devem constar do instrumento no ato de sua interposição, cuja juntada posterior é inadmissível, uma vez que operada a preclusão consumativa. Precedentes do STJ.

5. Embargos de declaração rejeitados.” (STJ, 1ª T., EDcl-AgRg-Ag 1321768/RJ, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima., J. 07.12.2010, Publ. DJe 16.12.2010)

Conforme se verifica, os embargos declaratórios não servem de ins-trumento para repetição de argumentação contra o julgamento de mérito da causa.

Diante do exposto, nego provimento aos presentes embargos de de-claração.

É como voto.

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Parte Geral – Ementário de Jurisprudência2341 – Ação civil pública – área construída – desocupação – inviabilidade“Administrativo. Ação civil pública. Apelação. Direito ambiental. Área de preservação. Desocupação. Inviabilidade. Princípio da proporcionalidade. Ausência de dano. 1. O princípio da proporcionalidade aplica-se ao caso, eis que se trata de área urbana con-solidada e que a demolição não se apresenta a melhor solução para resolver as irregula-ridades das construções na localidade. Parece mais apropriada uma regularização que dê conta de harmonizar todas as ocupações com a proteção daquele meio ambiente. 2. Apelação improvida.” (TRF 4ª R. – AC 5005404-15.2012.4.04.7004 – 4ª T. – Rel. Cândido Alfredo Silva Leal Junior – J. 19.04.2017)

Comentário Editorial SÍNTESEO cerne da questão para as decisões, tanto da ação inicial quanto ao recurso de ape-lação foi a proporcionalidade. Isso porque, segundo colocou ao julgador singular, não seria razoável que se demolisse o imóvel do Apelado sem que o corresse o mesmo com os demais imóveis em situação similar.

A ação civil pública foi sentenciada e assim interposto o recurso de apelação, que julgado, acarretou no acórdão que passamos a trabalhar. A intenção dos autores da ação era que fosse demolida determinada edificação e também que fossem re-parados os danos ambientais decorrentes da construção em área de preservação permanente sem licença às margens do Rio Paraná.

Para a surpresa dos autores da ação, a sentença da ação proposta foi julgada impro-cedente com as considerações de que a localidade de Porto Figueira seria uma área urbana consolidada, sendo conhecida regionalmente e ocupada para moradia de pescadores e para lazer; o povoamento da região foi estimulado pelo poder público municipal; não seria correto, isonômico e razoável demolir somente a edificação do réu, sendo necessária, em vez disso, uma regularização fundiária daquela área pelo município.

Inconformado com tais fundamentos de base, um dos litisconsortes ativos, que não o Ministério Público, apelou ao tribunal com a intenção de reforma da sentença para que sejam julgados procedentes os pedidos iniciais, alegando a existência de prece-dentes existentes e que com a sua existência deverá ser reconhecida a irregularidade da construção, a desocupação e demolição da construção.

Contudo, o voto do relator não foi no sentido da melhor sorte dos apelantes. No em-basamento da decisão, para a qual foram utilizados julgados anteriores no sentido do entendimento da relatoria, além da base legal correspondente, como passamos e apreciar:

“[...]

Há quem entenda que política de tal natureza não poderia ser executada em favor de população de alta renda, pois esta teria condições de se realocar por conta própria. Contudo, partilho do entendimento de que não se pode ignorar que o direito à cidade sustentável, o qual encontra na regularização fundiária um instrumento relevante, tem natureza difusa, quer dizer, estende-se a pobres e a ricos. Dessa forma, sendo inviável a recuperação da área degradada em face de situação consolidada, a afirma-ção da isonomia não permite a exclusão da hipótese de regularização.

Não é demais repisar que a ocupação do Porto Figueira, inclusive mediante cons-truções muito próximas à margem do rio, remonta à década de 1960, anterior ao

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código florestal revogado, de modo que a tolerância da ocupação ribeirinha por tantos anos pelo Poder Público também não exclui a possibilidade de manutenção da construção da parte ré. Não se pode olvidar também que a ocupação da locali-dade em questão, em vez de ser reprimida, foi estimulada pelo Poder Público, de modo que se consolidou como área urbana, com toda a infraestrutura necessária, com pavimentação asfáltica, energia elétrica, água e esgoto, entre outros serviços e obras. Nesse passo, vale atentar, inclusive, para o disposto no Decreto nº 70/2007 do Município de Alto Paraíso/PR, constante de demanda semelhante, ora empregado como prova emprestada (evento 28 – INF8 – autos nº 50053773220124047004), que aprovou a revisão do Zoneamento Ecológico Econômico da Área de Proteção Ambiental – APA Municipal de Alto Paraíso/PR. Referido Decreto, ao tratar das ‘áreas urbanizadas/em processo de urbanização na localidade de Porto Figueira, jun-to à margem do Rio Paraná, com alguma infraestrutura de comércio, serviços e de atendimento ao turista’, permitiu a construção de residências fixas/de veraneio em terrenos/loteamentos já parcelados e legalizados. É possível, portanto, que a parte ré continue ocupando o terreno marginal do Rio Paraná, desde que preservando a vegetação existente e promovendo a regeneração onde imprescindível, sempre respeitando fauna e flora ora remanescente. A reparação do dano mediante a re-cuperação da área, como já referido, não se afigura adequada ao fim de promoção da proteção ao meio ambiente. Há uma situação histórica consolidada, na qual a paisagem original foi total e irreversivelmente descaracterizada, de tal maneira que a demolição da edificação pouca diferença faria. Demais disso, independentemen-te da legitimidade ou não das legislações municipais, é inexorável que o imóvel encontra-se em área urbana consolidada desde longa data, inclusive, com incen-tivo do Poder Público local, sem que houvesse qualquer ação repressiva por parte dos órgãos ambientais. Agora, após mais de quarenta anos de ocupação da área, não pode o mesmo Poder Público simplesmente ignorar a situação fática de Porto Figueira, passando a exigir de seus moradores o abandono de suas residências e o encerramento das atividades comerciais até então exercidas no local. Em verdade, cumpre à Administração Pública local, com o auxílio dos órgãos ambientais, dar início ao processo de regularização fundiária dessa área urbana consolidada, inclu-sive, com a exigência de eventuais condicionantes ambientais, como o recuo das edificações à distância compatível com a legislação ambiental, respeitadas, claro, as características da localidade, a fim de garantir a preservação do meio ambiente para as futuras gerações. Desconsiderar a situação ocupacional de Porto Figueira, com a lavratura de autos de infrações, embargos das edificações, exigência de de-molição e/ou encerramento das atividades comerciais locais, representa postura que não se coaduna com os princípios constitucionais da proporcionalidade e da razo-abilidade, muito menos com a dignidade da pessoa humana. Os assentamentos em área urbana consolidada que ocupem Área de Preservação Permanente (APP) devem ser regularizados com a aprovação de um projeto de regularização fundiária, contanto que não estejam em áreas de risco, conforme dispõem os arts. 64 e 65 da Lei nº 12.651/2012. Além de um diagnóstico da região, o processo para legalizar a ocupação perante o órgão ambiental deverá identificar as unidades de conservação, as áreas de proteção de mananciais e as faixas de APP que devam ser recuperadas. Essa medida, aliás, é a que mais se aproxima da almejada justiça social, que o caso exige. Não se desconhecem as limitações impostas pela legislação ambiental sobre

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a edificação em área de preservação permanente, nem se está aqui, questionando a constitucionalidade ou legitimidade dos atos normativos emitido pelo Conama. Contudo, a situação específica de Porto Figueira justifica a mitigação das referidas normas ambientais, com manutenção daquela ocupação urbana consolidada, para, quem sabe, estimular o Poder Público a iniciar processo de regularização fundiária daquela área, que possa contemplar a população local, evitando, assim, um con-flito social, e que, ao mesmo tempo, garanta o respeito ao disposto no art. 225 da CF/1988, que consagra o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Por essas razões, os pedidos formulados pelo Ministério Público Federal na exordial des-tas Ações Civis Públicas não merecem acolhimento. Cumpre anotar, contudo, que o comando normativo deste julgado não exime a parte ré, em ulterior processo de regularização fundiária daquela área urbana consolidada, de se submeter às even-tuais condicionantes impostas pelos órgãos ambientais ao exercício de seu direito de moradia e lazer no imóvel, cabendo destacar, por fim, que inexiste direito adquirido à degradação ambiental. Restam prejudicadas as demais matérias ventiladas pelas partes em suas manifestações nos autos. 3. Dispositivo. Ante o exposto, nos termos do art. 269, inciso I, do CPC, julgo improcedentes os pedidos veiculados nos autos nºs 5005404-15.2012.404.7004 e 5005714-21.2012.404.7004 e, por via de consequência, revogo a tutela de urgência concedida nesses autos, nos termos da fundamentação supra. Concluo que o princípio da proporcionalidade aplica-se ao caso, eis que se trata de área urbana consolidada e que a demolição não se apresen-ta a melhor solução para resolver as irregularidades das construções na localidade. Parece mais apropriada uma regularização que dê conta de harmonizar todas as ocupações com a proteção daquele meio ambiente. Portanto, o que foi trazido nas razões de recurso não me parece suficiente para alterar o que foi decidido, manten-do-se o resultado do processo e não havendo motivos para reforma da sentença, inclusive com relação aos honorários advocatícios sucumbenciais. Ante o exposto, voto por negar provimento à apelação.”

Os demais desembargadores acompanharam o ilustre relator e o julgado restou em uma votação unânime pelo não provimento do recurso.

2342 – Ação civil pública – dano ambiental – Ibama – MPF – legitimidade“Administrativo. Ação civil pública ambiental. Dano ambiental. Legitimidade do Mi-nistério Público Federal para figurar no polo ativo da ação. Atividades nocivas ao meio ambiente. Poder de polícia administrativa. Competência fiscalizatória do Ibama. 1. Ape-lação do MPF, em face da sentença que extinguiu o feito, sem resolução do mérito, em razão da suposta ilegitimidade ativa do Ibama e do MPF, nos termos do art. 267, VII, do CPC. 2. O MPF ajuizou Ação Civil Pública, objetivando a reparação do dano ambiental consistente na construção da área de lazer de um condomínio em solo não edificável (área de preservação permanente), nas margens da Lagoa de Precabura, em Fortaleza/CE. O Ibama demonstrou interesse na fiscalização e na autuação da empresa apelada, tendo, inclusive, comunicado a lavratura do Auto de Infração nº 693517/D ao Semace (fl. 282), em cooperação com o órgão ambiental estadual. 3. ‘É pacífico nessa Corte que havendo omissão do órgão estadual na fiscalização, mesmo que outorgante da licença ambiental, o Ibama pode exercer o seu poder de polícia administrativa, porque não se pode confun-dir competência para licenciar com competência para fiscalizar’. Precedente do STJ (Ag. Interno em REsp nº 1484933, 1ª T., Relª Min. Regina Helena Costa, Data do Julgamen-

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to: 21.03.2017). 4. Apelação provida.” (TRF 5ª R. – AC 0005661-74.2013.4.05.8100 – (592704/CE) – 1ª T. – Rel. Des. Fed. Élio Wanderley de Siqueira Filho – DJe 12.05.2017 – p. 26)

Destaque Editorial SÍNTESEDo voto do Relator destacamos o presente julgado:

“PROCESSUAL CIVIL – ADMINISTRATIVO – AGRAVO INTERNO NO RECURSO ES-PECIAL – CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015 – APLICABILIDADE – IBAMA – ATIVIDADE NOCIVAS AO MEIO AMBIENTE – PODER DE POLÍCIA ADMINISTRATI-VA – INÉRCIA DO ÓRGÃO ESTADUAL – REVISÃO – IMPOSSIBILIDADE – SÚMULA Nº 7/STJ – INCIDÊNCIA – ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO ATACADA

I – Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data da publicação do pro-vimento jurisdicional impugnado. Assim sendo, in casu, aplica-se o Código de Pro-cesso Civil de 2015.

II – É pacífico nessa Corte que havendo omissão do órgão estadual na fiscalização, mesmo que outorgante da licença ambiental, o Ibama pode exercer o seu poder de polícia administrativa, porque não se pode confundir competência para licenciar com competência para fiscalizar.

III – In casu, rever o entendimento do tribunal de origem, que consignou não ter ocorrido inércia do órgão estadual, demandaria necessário revolvimento de matéria fática, o que é inviável em sede de recurso especial, à luz do óbice contido na Sú-mula nº 7/STJ.

IV – O Agravante não apresenta, no agravo, argumentos suficientes para desconsti-tuir a decisão agravada.

V – Agravo Interno improvido. (STJ, Ag. Interno em REsp nº 1484933, 1ª T, Relª Min. Regina Helena Costa, Data do Julgamento: 21.03.2017)”

2343 – Ação demolitória – obrigatoriedade – perícia ambiental – inviabilidade“Processual civil. Agravo de instrumento. Ambiental. Tutela antecipada. Demolição e re-moção das edificações. Caráter irreversível. Desocupação imediata da área. Fixação de valor. Inviabilidade. Fase processual dos autos originários. Perícia ambiental. Vistoria e fiscalização favoráveis ao agravado. Manutenção das medidas determinadas pelo r. Juízo de origem. 1. Consoante o art. 273 do CPC/1973, a antecipação da tutela poderia ser concedida pelo juiz somente se preenchidos os pressupostos legais, quais sejam, exis-tência de prova inequívoca e da verossimilhança das alegações deduzidas, bem como a ocorrência de fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação. 2. A demoli-ção imediata e integral da Pousada Jund-Pesca, localizada na região de Porto Morrinho, zona rural de Corumbá/MS, caracteriza-se como ato capaz de causar dano de difícil reparação ao agravado. A obrigação imposta com a demolição e remoção de todas as edificações existentes no local se traduz em medida irreversível, impondo-se, portanto, a adoção de cautela, até que seja julgado o mérito da ação, com o reconhecimento ou não da ocorrência do dano ambiental e possível reparação/indenização. 3. Considerando-se ainda a atual fase processual dos autos originários em que se está a definir a produção

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de provas, em especial, perícia ambiental, inviável também, ao menos por ora, o aco-lhimento do pedido quanto à desocupação imediata da área ou fixação de valor a ser pago pelo uso da área, impondo-se, portanto, a manutenção das medidas indicadas pelo r. Juízo de origem. Nesse sentido, foram determinadas a vistoria e a fiscalização da área pelo Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), providência realizada conforme parecer técnico da equipe de fiscalização do referido instituto, que constatou a instalação de uma Estação de Tratamento de Esgoto – ETE no local, concluindo que a ETE está efetuando o tratamento de esgoto do empreendimento de acordo com sua capacidade de suporte; que não foi observado transbordamento de esgoto no entorno do empreendimento ou no corixo do rio Paraguai e que a Pousada não lança esgoto no rio Paraguai ou em outro curso d’água. 4. Agravo de instrumento improvido e agravo regimental prejudicado.” (TRF 3ª R. – AI 0032291-14.2012.4.03.0000/MS – 6ª T. – Relª Desª Fed. Consuelo Yoshida – DJe 08.05.2017 – p. 217)

Comentário Editorial SÍNTESEA Política Nacional do Meio Ambiente visará à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da con-tribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. Dessa forma, causador da poluição será obrigado, nessa ordem, a reparar o dano, compensar ou indenizar.

O processo que gerou a decisão acima se origina de pedido efetuado pelo Ministério Público Federal, em ação civil pública contra particular, tendo em vista a demolição de empreendimento em área de preservação permanente. Todavia, o pedido de an-tecipação dos efeitos da tutela pretendida não fora acolhido pelo Magistrado julgador a quo, de forma que fora interposto recurso de agravo de instrumento pelo Parquet, haja vista o seu inconformismo com tal interlocutória.

Salienta-se que o recurso que resultou no acórdão em comento foi interposto sob a égide do Código de Processo Civil de 1973. Dessa forma, não foi pleiteada a tutela de urgência do novo Diploma Processual Civil e sim fora feito o pedido de tutela antecipada. Contudo, tal cautela fora negada pelo juízo singular em decisão não terminativa.

Ressalta-se que o ponto crucial para a negativa do Meritíssimo Magistrado a quo foi a irreversibilidade que a medida inegavelmente causaria. Ou seja, a determinação de demolição da construção em sede de antecipação de tutela, sem ainda existir o conjunto probatório completo se mostrou com peso excessivo, considerando ainda que fora juntadas aos autos provas documentais no sentido de que o esgoto da pousada tem a correta destinação, de forma a não acarretar danos ao Rio Paraguai. Vejamos trechos da decisão:

“De outra parte, o r. Juízo de origem deferiu a antecipação de tutela para o fim de determinar ao Imasul que vistorie a área, no prazo de 30 dias, para o fim de averi-guar se o réu Ocimar Veronezi despeja esgoto no corixo do Rio Paraguai, bem como para que imponha as exigências básicas para a eficiência das fossas sanitárias e as demais pertinentes e, finalmente, para que o réu Ocimar Veronezi finque placa de fácil visualização esclarecendo à sociedade em geral que aquela ocupação encontra--se sob litígio judicial. Consoante o art. 273 do CPC/1973, a antecipação da tutela poderia ser concedida pelo juiz somente se preenchidos os pressupostos legais,

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quais sejam, existência de prova inequívoca e da verossimilhança das alegações deduzidas, bem como a ocorrência de fundado receio de dano irreparável ou de di-fícil reparação. Humberto Theodoro Júnior, ao tratar especificamente do instituto da Tutela Antecipada, assim expôs: ‘Exige-se, em outros termos, que os fundamentos da pretensão à tutela antecipada sejam relevantes e apoiados em prova idônea. Re-almente, o perigo de dano e a temeridade da defesa não podem ser objeto de juízos de convencimento absoluto. Apenas, por probabilidade, são apreciáveis fatos dessa espécie. Mas a lei não se contenta com a simples probabilidade, já que, na situação do art. 273 do CPC, reclama a verossimilhança a seu respeito, a qual somente se configurará quando a prova apontar para “uma probabilidade muito grande” de que sejam verdadeiras as alegações do litigante’ (CARREIRA ALVIM. CPC reformado. Belo Horizonte: Del Rey, 1995, p. 145; J. E. S. Frias, ob.cit., p. 65; DINAMARCO, Cândido. A reforma do Código de Processo Civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1995. p. 143). (Curso de Direito Processual Civil, v. II, Apêndice: Estudos do Autor sobre Temas de Processo de Execução e Processo Cautelar, p. 566/567).

[...]

De outra parte, também não vejo como acolher, ao menos por ora, o pedido quanto à desocupação imediata da área. Importante observar-se o teor das determinações do r. Juízo de origem, que deferiu parcialmente a tutela antecipada requerida, no sentido de que seja efetuada a vistoria e fiscalização da área pelo Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), providência realizada conforme parecer técnico da equipe de fiscalização do referido instituto (fls. 366/370), que constatou a instalação de uma Estação de Tratamento de Esgoto – ETE no local, figura 1, toda a instalação é aérea para evitar inundação no período de cheia, concluindo que: A ETE está efetuando o tratamento de esgoto do empreendimento de acordo com sua capacidade de suporte; não foi observado transbordamento de esgoto no entorno do empreendimento ou no corixo do rio Paraguai. Que a Pousada não lança esgoto no rio Paraguai ou em outro curso d’água. Portanto, considerando-se as peculiaridades que envolvem o caso concreto, ao menos neste momento processual, devem ser mantidas as medidas determinadas pelo r. Juízo de origem, mormente diante do caráter polêmico da prova coligida aos autos. Com efeito, como bem frisou o magis-trado singular, [...] a prova é ainda controvertida, pois em que pese os reclamos de que o réu efetive lançamento de esgoto no Rio Paraguai fora juntado por ele Projeto de Preservação Permanente da flora do Rancho Jund-Pesca, a teor dos documentos de fl. 293 e seguintes, bem como consta vigente Licença de Operação, proveniente do Imasul, às fl. 63 dos autos.”

Portanto, o Recurso de Agravo de Instrumento restou improvido em uma decisão unânime da Colenda Turma Julgadora.

2344 – Águas – turismo náutico – unidade de conservação – execução do serviços – possibilidade

“Processual civil. Administrativo. Ambiental. Agravo de instrumento. ICMBio. Aprova-ção de normas para a execução do serviço de autorização de exploração de serviço de turismo náutico em unidade de conservação. Discricionariedade técnica. Controle judicial. Possibilidade. Excepcionalidade. Tutela provisória de urgência. Requisitos. Por meio do art. 300 do novo CPC, estabeleceram-se como requisitos à concessão de tutela provisória de urgência, de natureza antecipada ou cautelar (requerida seja em caráter

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antecedente ou incidental), a simultânea presença de fumus boni juris e periculum in mora, ou seja, indícios da probabilidade (ou incontestabilidade) do alegado direito en-quanto calcado em fundamento jurídico, bem como de perigo de dano ao mesmo direito ou de risco ao resultado útil do processo sendo que, a contrario sensu, a providência daquela proteção à evidência não pode faticamente causar irreversibilidade dos efeitos antecipados, impondo-se ao interessado o ônus de produzir prova inequívoca, por meio da qual evidencie a verossimilhança das alegações, por ele feitas, sobre o atendimento de tais requisitos. Nesse passo, a cassação ou (manutenção da) concessão, conforme o caso, de tutela provisória de urgência, em sede de agravo de instrumento, deve se res-tringir à hipótese na qual há prova por meio da qual se retire ou se atribua, conforme o caso, verossimilhança a tais alegações, visto que se cuida de recurso com cognição verticalmente exauriente (não perfunctória, sumária ou superficial) em profundidade e horizontalmente plena (não limitada) em extensão, o qual não se presta, outrossim, ao indevido pré-julgamento da causa pelo Tribunal. É excepcionalmente possível o controle judicial do objeto de ato administrativo praticado no exercício de discricionariedade técnica, desde que tenha ocorrido a inobservância dos pertinentes princípios, tais como o da legalidade. Recurso não provido.” (TRF 2ª R. – AI 0000948-51.2017.4.02.0000 – 7ª T.Esp. – Rel. Sergio Schwaitzer – DJe 22.05.2017 – p. 464)

Destaque Editorial SÍNTESEDo voto do Relator destacamos o presente julgado:

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – LEI FEDERAL Nº 11.516/2007 – CRIAÇÃO DO INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSI-DADE – LEGITIMIDADE DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS SERVIDORES DO IBA-MA – ENTIDADE DE CLASSE DE ÂMBITO NACIONAL – VIOLAÇÃO DO ART. 62, CAPUT E § 9º, DA CONSTITUIÇÃO – NÃO EMISSÃO DE PARECER PELA COMISSÃO MISTA PARLAMENTAR – INCONSTITUCIONALIDADE DOS ARTS. 5º, CAPUT, E 6º, CAPUT E §§ 1º E 2º, DA RESOLUÇÃO Nº 1 DE 2002 DO CONGRESSO NACIO-NAL – MODULAÇÃO DOS EFEITOS TEMPORAIS DA NULIDADE (ART. 27 DA LEI Nº 9.868/99) – AÇÃO DIRETA PARCIALMENTE PROCEDENTE

[...]

8. Deveras, a proteção do meio ambiente, direito fundamental de terceira geração previsto no art. 225 da Constituição, restaria desatendida caso pudessem ser ques-tionados os atos administrativos praticados por uma autarquia em funcionamento desde 2007. Na mesma esteira, em homenagem ao art. 5º, caput, da Constituição, seria temerário admitir que todas as Leis que derivaram de conversão de Medida Provisória e não observaram o disposto no art. 62, § 9º, da Carta Magna, desde a edição da Emenda nº 32, de 2001, devem ser expurgadas com efeitos ex tunc.

9. A modulação de efeitos possui variadas modalidades, sendo adequada ao caso sub judice a denominada pure prospectivity, técnica de superação da jurisprudência em que ‘o novo entendimento se aplica exclusivamente para o futuro, e não àquela decisão que originou a superação da antiga tese’ (BODART, Bruno Vinícius Da Rós. Embargos de declaração como meio processual adequado a suscitar a modulação dos efeitos temporais do controle de constitucionalidade. RePro, v. 198, p. 389, ago/2011).

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10. Não cabe ao Pretório Excelso discutir a implementação de políticas públicas, seja por não dispor do conhecimento necessário para especificar a engenharia ad-ministrativa necessária para o sucesso de um modelo de gestão ambiental, seja por não ser este o espaço idealizado pela Constituição para o debate em torno desse tipo de assunto. Inconstitucionalidade material inexistente.

11. Ação Direta julgada improcedente, declarando-se incidentalmente a inconstitu-cionalidade dos arts. 5º, caput, e 6º, caput e §§ 1º e 2º, da Resolução nº 1 de 2002 do Congresso Nacional, postergados os efeitos da decisão, nos termos do art. 27 da Lei nº 9.868/1999, para preservar a validade e a eficácia de todas as Medidas Provisórias convertidas em Lei até a presente data, bem como daquelas atualmente em trâmite no Legislativo. [ADI 4.029/AM, STF, Pleno, Rel. Min. Luiz Fux, J. em 08.03.2012.]”

2345 – Análise de impacto ambiental – atividade sísmica – apresentação do EIA/Rima – necessidade

“Administrativo. Embargos de declaração. Omissão reconhecida. Atividade sísmica. Meio ambiente. Necessidade de EIA/Rima. Possibilidade de determinação judicial ao Ibama. Ausência de direito adquirido. Direito indisponível. Parcial provimento. 1. Trata--se de novo julgamento dos Embargos de Declaração opostos contra o Acórdão que negou provimento aos Recursos e à Remessa Necessária, em decorrência da decisão exarada pelo Superior Tribunal de Justiça que deu provimento aos Recursos Especiais interpostos pelas Embargantes, determinando o retorno dos autos a este Tribunal para que houvesse manifestação no tocante às matérias arguidas em sede de Embargos De-claratórios. 2. Não merece guarida a alegação da Embargante, de que houve quanto a existência de cumulação de pedidos e, consequentemente, em relação ao resultado do julgamento, alegando que foi totalmente improcedente os pedidos em relação a re-ferida Embargante, uma vez que a própria Embargante afirmou, em seus Embargos de Declaração, que o entendimento adotado no Acórdão está ‘equivocado’. Ou seja, não houve omissão neste ponto, pretendendo a Embargante apenas impugnar o conteúdo da decisão proferida (que alega ser equivocado), uma vez que o Relator analisou o alegado. 3. In casu, não há que se falar em direito adquirido ou ato jurídico perfeito, uma vez que o meio ambiente equilibrado é elemento essencial à dignidade da pessoa huma-na e um direito indisponível. Assim, conforme precedentes do STJ, em casos análogos, ‘em tema de direito ambiental, não se cogita em direito adquirido à devastação, nem se admite a incidência da teoria do fato consumado’ (STJ, 2ª T., REsp 1394025/MS, Relª Min. Eliana Calmon, DJU 18.10.2013). Admitir a permanência da atividade sísmica apesar do desconhecimento ou, no mínimo, controvertido impacto ambiental, represen-taria uma tolerância do Estado em relação a tais fatos, abrindo precedente sem limite e servindo de exemplo negativo, como forma de incentivo àqueles que desrespeitam a legislação ambiental. 4. Quanto a alegação dos Embargantes, de que a exigência do EIA/Rima é uma opção do Ibama, de acordo com o caso, e que não cabe ao Poder Ju-diciário determinar ao órgão ambiental que faça tal exigência, com base no disposto no art. 225, § 1º, IV, CRFB; art. 8º, II da Lei nº 6.938/1981; art. 3º da Resolução do Conama nº 237/1997; assim como no art. 4º, § 5º da Resolução Conama nº 350/2004, não mere-ce respaldo, pois se trata, novamente, de impugnação ao entendimento adotado. 5. No art. 225, CRFB o constituinte originário não deu uma ‘carta branca’ ao legislador ordiná-

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rio, permitindo que este estabelecesse a exigência de estudo de impacto ambiental ape-nas quando bem entendesse. Ao contrário, diante de atividade ou obra potencialmente causadora de significativa degradação ambiental, não lhe resta qualquer margem para discricionariedade, devendo ser exigida a elaboração de um prévio estudo de impacto ambiental. 6. Em razão da eficácia ‘irradiante’ dos direitos fundamentais, diz respeito ao conteúdo da expressão ‘Poder Público’, que abrange não só os Poderes Executivo e Le-gislativo, como também o próprio Judiciário, estando todos estes, portanto, incumbidos de adotar medidas voltadas para a proteção do meio ambiente. 7. O Dispositivo Consti-tucional requer interpretação extensiva, de modo a ser igualmente exigido estudo prévio de impacto ambiental nas hipóteses em que os efeitos de uma determinada atividade sobre o meio ambiente sejam desconhecidos, em razão dos conhecimentos científicos de determinada época. 8. Considerando que, no caso, ficou demonstrado a possibilida-de de existência de impactos ambientais na biota marinha, inegável a ilegalidade do ato administrativo que autorizou a realização dessa atividade sem o EIA/Rima. 9. Embargos Declaratórios parcialmente providos, para sanar omissão contida no Acórdão que negou provimento aos Recursos e à Remessa Necessária, acrescendo-lhe a fundamentação es-boçada, restando, entretanto, inalterado o resultado do julgamento.” (TRF 2ª R. – Ap-RN 2004.51.02.003866-8 – (464036) – 8ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Guilherme Diefenthaeler – DJe 24.04.2017 – p. 333)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 6.938/1981:

“Art. 8º Compete ao Conama:

[...]

II – determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis conseqüências ambientais de projetos públicos ou privados, requisi-tando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas, as informações indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas patrimônio nacional.”

2346 – Animais – crime ambiental – pássaros – anilhas de identificação – falsificação – insignificância – incorrência

“Penal e processo penal. Apelação criminal. Uso de sinal público falso. Anilhas para pássaros. Crime impossível. Inocorrência. Princípio da insignificância. Inaplicabilidade. Materialidade autoria e dolo configurados. Dosimetria. Atenuante. Crimes ambientais. Baixo grau de escolaridade. Incidência. Apelação parcialmente provida. 1. A utilização de anilhas inautênticas, por si só, é crime consumado e vilipendia a fé pública tutelada pelo Código Penal, mas apesar da suposta ostensividade da falsificação das anilhas, foi indispensável a perícia que constatou a aptidão para ofender ou gerar perigo de lesão a bem jurídico, pelo que não há falar em crime impossível. 2. Diante da ofensa a bem jurídico e efetiva lesão à fé pública, inaplicável princípio da insignificância em relação ao crimes de falsificação de selo ou sinal público (art. 296, §1º, I, do CP). 3. Inaplicá-vel o princípio da insignificância quanto ao crime previsto no art. 29, §1º, III, da Lei nº 9.605/1998, pois as aves apreendidas eram pertencentes à fauna silvestre brasileira, mantidas em cativeiro, com indícios de que não eram domesticadas e vestígios de maus-

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-tratos. 4. Materialidade, autoria e dolo dos delitos comprovados. 5. Não é crível que o réu-apelante, possuindo familiaridade com os trâmites e procedimentos para regula-rização da guarda das aves perante o Ibama, não fosse capaz de reconhecer e tecer a diferenciação entre anilhas autênticas e falsas, haja vista que algumas foram tidas de plano inautênticas, sem a necessidade de maior análise dos objetos apreendidos. O dolo está configurado. 6. Reconhecida a atenuante prevista no art. 14, I da Lei nº 9.605/1998, tendo em vista o baixo grau de escolaridade do réu, sem, contudo, produzir reflexo na quantidade de pena, nos termos da Súmula nº 231, do STJ. 7. Recurso da defesa parcial-mente provido.” (TRF 3ª R. – ACr 0001715-35.2013.4.03.6133/SP – 5ª T. – Rel. Des. Fed. Mauricio Kato – DJe 15.05.2017 – p. 295)

Transcrição Editorial SÍNTESECódigo Penal:

“Art. 296. Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:

I – selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Mu-nicípio;

II – selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito público, ou a autoridade, ou sinal público de tabelião:

Pena – reclusão, de dois a seis anos, e multa.

§ 1º Incorre nas mesmas penas:

I – quem faz uso do selo ou sinal falsificado; [...]”

2347 – Animais – movimentação – excesso – multa – aplicação“Administrativo. Direito ambiental. Ibama. Auto de infração. 1. A devolução cinge-se à análise da legitimidade da multa aplicada pelo Ibama, no valor de R$ 867.000,00 (oito-centos e sessenta mil reais), após a apuração, em processo administrativo, de excesso no limite de movimentação de aves no interregno compreendido entre 2006 e 2011, bem como do bloqueio do registro do Impetrante no sistema de cadastro de criadores ama-doristas de passiformes (SISPASS). 2. O cerne da controvérsia posta a deslinde encontra--se na interpretação das Instruções Normativas do Ibama nºs 01/2003 e 15/2010, que fundamentam a aplicação das penalidades. 3. O Ibama, órgão ambiental integrante do Sisnama e executor da proteção ambiental e da política nacional do meio ambiente, por força do disposto na Lei nº 7.735/1989, é dotado de poder de polícia para executar e fiscalizar a política nacional de meio ambiente. 4. Pela interpretação do art. 9º da IN 01/2003, a movimentação contabilizava apenas as transferências do plantel, ou seja, de saída, não havendo como se conferir efeito extensivo para além do parâmetro delinea-do, sob pena de afronta ao princípio da legalidade estrita e à segurança jurídica. 5. Em relação às transferências do Impetrante entre 2006 e 2010, considera-se descabida a sanção pecuniária, pois a autuação incluiu na contagem de transferências o número de aves recebidas. 6. Após o início da vigência da IN 15/2010 passou a ser expressamente cabível a inclusão dos recebimentos ou solicitações para a contagem de movimentações irregulares, sendo certo, ainda, que o prazo de 12 meses para adequação do criador refere-se ao porte e não às transferências, encontrando-se, portanto, correta a aplicação da multa. 7. Não prospera o argumento no sentido de que a multa é desproporcional e que o agente autuante não levou em consideração a situação econômica do infrator, pois

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o art. 24 do Decreto nº 6.514/2008 não lhe conferiu discricionariedade neste sentido. 8. Apesar da possível cumulatividade entre as penalidades de multa e bloqueio no SISPASS, a norma estabelece que esse não pode ultrapassar o prazo de cinco dias, sendo cabível a liberação da senha do Impetrante no sistema, uma vez que a autorização para criação de aves não foi revogada e tal determinação está ocasionando o cerceamento da atividade profissional desenvolvida. 9. Remessa e apelação do Ibama improvidas e apelação do Impetrante parcialmente provida para conceder a liberação de sua senha no SISPASS.” (TRF 2ª R. – AC 0006246-66.2011.4.02.5001 – 5ª T.Esp. – Rel. José Eduardo Nobre Matta – DJe 15.05.2017 – p. 380)

Transcrição Editorial SÍNTESE

Decreto nº 6.514/2008:

“Art. 24. Matar, perseguir, caçar, apanhar, coletar, utilizar espécimes da fauna silves-tre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida:

Multa de:

I – R$ 500,00 (quinhentos reais) por indivíduo de espécie não constante de listas oficiais de risco ou ameaça de extinção;

II – R$ 5.000,00 (cinco mil reais), por indivíduo de espécie constante de listas ofi-ciais de fauna brasileira ameaçada de extinção, inclusive da Convenção de Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção – Cites.

§ 1º As multas serão aplicadas em dobro se a infração for praticada com finalidade de obter vantagem pecuniária.

§ 2º Na impossibilidade de aplicação do critério de unidade por espécime para a fixação da multa, aplicar-se-á o valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) por quilo-grama ou fração.

§ 3º Incorre nas mesmas multas:

I – quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em desacordo com a obtida;

II – quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural; ou

III – quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade ambiental competente ou em desacordo com a obtida.

§ 4º No caso de guarda doméstica de espécime silvestre não considerada ameaçada de extinção, pode a autoridade competente, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar a multa, em analogia ao disposto no § 2º do art. 29 da Lei nº 9.605, de 1998.

§ 5º No caso de guarda de espécime silvestre, deve a autoridade competente deixar de aplicar as sanções previstas neste Decreto, quando o agente espontaneamente entregar os animais ao órgão ambiental competente.

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§ 6º Caso a quantidade ou espécie constatada no ato fiscalizatório esteja em desa-cordo com o autorizado pela autoridade ambiental competente, o agente autuante promoverá a autuação considerando a totalidade do objeto da fiscalização.

§ 7º São espécimes da fauna silvestre, para os efeitos deste Decreto, todos os or-ganismos incluídos no reino animal, pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras não exóticas, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo original de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro ou em águas jurisdicionais brasileiras.

§ 8º A coleta de material destinado a fins científicos somente é considerada infração, nos termos deste artigo, quando se caracterizar, pelo seu resultado, como danosa ao meio ambiente.

§ 9º A autoridade julgadora poderá, considerando a natureza dos animais, em razão de seu pequeno porte, aplicar multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais) quando a contagem individual for de difícil execu-ção ou quando, nesta situação, ocorrendo a contagem individual, a multa final restar desproporcional em relação à gravidade da infração e a capacidade econômica do infrator.”

2348 – Animais – pássaros – apreensão – multa – aplicação – ocorrência“Administrativo e ambiental. Apreensão de passeriformes sem registro. Decreto nº 3.179/1999. Nulidades do procedimento administrativo. Não comprovação. Multa. Critérios objetivos previstos na legislação de regência. 1. O Decreto nº 3.179/1999 não tipificou condutas nem prescreveu penalidades, apenas estabeleceu os valores da multa cominada às infrações instituídas pela Lei nº 9.605/1998, sem extrapolar os limites da mera regulamentação. 2. A autuação e a imposição de multa estão fundamentadas não apenas no Decreto nº 3.179/1999 como também na Lei nº 9.605/1998. 3. A posse de animais silvestres exige prévia autorização do Ibama. Se tal autorização não existe, a posse é irregular e não pode subsistir. 4. Os pedidos de licença formulados pelo autor foram analisados e indeferidos pelo Ibama, não cabendo ao interessado, em caso de dis-cordância, continuar com a atividade mesmo sem autorização legal, devendo, em caso de interesse, insurgir-se contra as decisões pelos meios legais postos à sua disposição. 5. O autuado obteve pleno acesso aos autos dos processos administrativos instaurados pelo Ibama, não cabe falar-se em ausência de conhecimento acerca dos motivos pelos quais houve majoração de valores quanto às sanções pecuniárias aplicadas, eis que os cálculos efetuados pela autarquia ambiental atenderam, tão somente, a critérios obje-tivos estabelecidos em norma vigente à época dos fatos, devidamente explicitados na seara administrativa.” (TRF 4ª R. – Ap-RN 5010786-46.2013.4.04.7200 – 4ª T. – Relª Desª Fed. Vivian Josete Pantaleão Caminha – J. 26.04.2017)

Remissão Editorial SÍNTESEVide RSA nº 25, maio./jun. 2015, ementa nº 1495 do TRF 2ª R.

2349 – APA – dano ambiental – construção de muro – recomposição da área – ocor­rência

“Apelação cível. Ação civil pública. APA da Bacia do Rio São João/Mico-Leão. Dourado. Edificação de muro e de fundação sem autorização. Danos ambientais. Natureza propter

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rem. Recomposição da área e indenização por danos ambientais. Cabimento. Danos morais coletivos não comprovados. 1. Trata-se de remessa necessária e de recurso de apelação interposto com o objetivo de reformar sentença que, acolhendo em parte a pretensão deduzida na presente Ação Civil Pública, condenou o Apelante a desocupar e demolir todas as construções erguidas em imóvel situado no Distrito de Tamoios, Mu-nicípio de Cabo Frio, em área integrante da APA da Bacia do Rio São João/Mico-Leão Dourado, com a total retira dos entulhos, no prazo de trinta dias a contar do trânsito em julgado. O Réu também foi condenado a abster-se de erigir novas construções, a recom-por a vegetação da área liberada após a demolição e da faixa marginal e a pagar a quan-tia de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) a título de indenização pelos danos ambientais causados no ecossistema local. 2. A Área de Proteção Ambiental – APA da Bacia do Rio São João foi criada pelo Decreto s/nº, de 27 de junho de 2002, ou seja, antes de iniciada a posse do Réu sobre o terreno no qual foram realizadas as construções. Contudo, muito antes da criação da referida APA, a área em questão já contava com importante proteção legal, no caso a do Código Florestal de 1965 (Lei nº 4.771), que previa como área de preservação permanente ‘as florestas e demais formas de vegetação natural’ situadas ao longo dos rios em faixa marginal mínima de ‘30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura’ e ‘50 (cinquenta) metros para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura’. 3. Após ter sido lavrado contra o Réu auto de infração e embargada a obra por ele realizada, foi constatado o prossegui-mento das edificações, tendo sido identificada a construção de uma fundação com 32,5 metros de comprimento e 0,8 metros de altura, erguida dentro do leito da margem direita do Rio São João em área de Preservação Permanente. Também observou-se terem sido edificados 55,40 metros lineares de muro rodeando todo o terreno, totalizando 130,90 m² de área construída, sendo certo que ’toda a obra mencionada foi edificada após a au-tuação e embargo da atividade, caracterizando, desta forma, desobediência ao embargo imposto’. 4. Conquanto a presente Ação Civil Pública tenha se fundado nas impressões colhidas pelo Ibama no curso da autuação mencionada, a verdade é que o seu objeto com ela não se confunde. É indiferente ao seu sucesso a validade, ou não, da mencio-nada autuação no que tange aos seus aspectos formais. Aferir se houve, ou não, descri-ção regular da conduta imputada ao Réu e se é possível aplicar-lhe, analogicamente, atenuan tes previstas no Código Penal são providências que devem ser adotadas no curso de eventual execução fiscal ajuizada pelo Ibama com vistas a efetivar a multa imposta no referido auto. 5. Ainda que se admita que o Réu não tivesse ciência de que a área em questão era protegida quando a ocupou, uma vez autuado acerca de construções ali rea-lizadas não lhe socorre a alegação de boa-fé para livrar-lhe da responsabilidade advinda da realização de novas obras no local. 6. A responsabilidade pelo dano ambiental tem natureza propter rem e se transfere automaticamente com a transferência da posse ou da propriedade do bem, o que permitiria, na linha do entendimento do Colendo Superior Tribunal de Justiça, ‘ser imediatamente exigível do proprietário atual independentemente de qualquer indagação a respeito da boa-fé do adquirente ou de outro nexo causal que não o que se estabelece pela titularidade do domínio’ (REsp 1.179.316/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ 15.06.2010). 7. Não há como eximir o Réu de reparar a área por ele degradada. Além de se tratar de local no qual não era possível construir sem a prévia licença da autoridade ambiental, a área possui solo característico de mangue e que, por tal razão, não suporta edificações sem a prévia compactação. Não obstante, o

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Réu ocupou a área, construindo nela um muro e iniciando a construção de uma casa e, depois de seguidas ações fiscalizatórias do Ibama, abandonou o local, deixando no local uma residência em péssimas condições e um muro com sinais de desmoronamento, gerando danos ambientais e risco as pessoas que ali circulam. 8. Os prejuízos causados vão além da poluição cênica do local. A residência também apresenta ‘sérias patologias na sua estrutura de concreto armado’, os muros de alvenaria estão comprometidos e um deles, erguido dentro do leito do rio, chegou a desmoronar (fls. 63/64), sendo que todas as intervenções foram feitas em manguezal ‘ecossistema extremamente importante para aquela região’ (fl. 159), redundando em danos com efeitos deletérios irreparáveis, razão pela qual condenação não pode ser restrita à tentativa de recuperação do local, sob pena de projetar-se a nociva idéia de que a violação ao meio ambiente compensa. 9. A necessidade da integral reparação do dano ambiental impõe que o responsável pelo prejuízo não só adote as medidas dirigidas à recuperação do local degradado, como arque com o pagamento de indenização em virtude dos prejuízos sofridos pela biota, revelando-se razoável e proporcional à extensão da intervenção realizada o valor fixado pela sentença de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), que leva em conta não só aqueles danos não recuperáveis como a recalcitrância do Réu em cumprir as determinações dos órgãos ambientais. 10. Já no que diz respeito ao dano moral coletivo, correta a sentença. Conforme visto, conquanto não se possa minimizar os malefícios causados pela intervenção imprudente do Réu, a verdade é que não há nos autos prova de que o dano tenha repercutido de tal forma a gerar uma intranquilidade social na comunidade envolvida. Haveria necessidade de demonstrar que a comunidade local efetivamente tenha se sentido lesada e moralmente abalada pela intervenção ambiental realizada, o que não foi demonstrado. 11. Remessa necessária e recurso de apelação desprovidos.” (TRF 2ª R. – AC-RN 0000876-08.2013.4.02.5108 – 8ª T.Esp. – Rel. Marcelo Pereira da Silva – DJe 03.05.2017 – p. 885)

Comentário Editorial SÍNTESESegundo nos ensina a professora Maria Luiza Machado Granziera, a Ação Civil Públi-ca é, sem dúvida, “o instrumento processual eficaz para a defesa do meio ambiente, sobretudo porque legitima o Ministério Público ao ajuizamento da demanda.

[...]

Diferentemente da Ação Popular, que, quando criada, não previa a tutela do meio ambiente, tendo sido o seu rol acrescido por ocasião da Constituição de 1988, a Ação Civil Pública já nasceu destinada à proteção dos direitos difusos, em que se inclui o meio ambiente” (GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito ambiental. São Paulo: Atlas, 2011. p. 755).

A Professora Granziera nos ensina que “em matéria ambiental, a responsabilidade civil é fundada na responsabilidade objetiva. A responsabilidade pelo risco já esta-va prevista na Lei nº 6.938/1981. Isso se justifica pelo fato de que o sistema de responsabilidade então vigente – subjetiva – não bastava para responsabilizar os autores de danos ambientais. Muitas vezes, o dano ocorria sem que houvesse uma conduta dolosa ou culposa, o que eximia de pronto os autores da responsabilidade pelo dano causado. [...] (GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito ambiental. São Paulo: Atlas, 2011. p. 685)

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Além das citações sobre Ação Civil Pública e sobre a responsabilidade objetiva, vejamos o que o que a mesma doutrinadora cita sobre a obrigação propter rem:

“[...] Em determinados casos, o nexo causal pode também ser dispensado. É o que ocorre quando a responsabilidade é propter rem. Nos dizeres do STJ:

É isso que ocorre na esfera ambiental, nos casos em que o adquirente do imóvel é responsabilizado pelos danos ambientais causados nesta propriedade, independen-temente de ter sido ele ou o dono anterior o real causador dos estragos. [...] (REsp 1.056.540/GO, Min. Eliana Calmon, 1ª T., DJe 14.09.2009)” (GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito ambiental. São Paulo: Atlas, 2011. p. 686/687)

O acórdão abordado nessa oportunidade julgou um recurso de Apelação interposto por particular, haja vista a prolatação de sentença em Ação Civil Pública distribuída em seu desfavor. A sentença monocrática o condenou a:

“a) Desocupar e demolir a todas as construções existentes no imóvel situado na Avenida Beira Rio, nº 612, no Distrito de Tamoios, Município de Cabo Frio (casa e muro), em área integrante da APA da Bacia do Rio São João/Mico-Leão-Dourado, com retirada, às suas expensas, das estruturas construídas e consequentemente remoção dos entulhos para local apropriado, sob pena de o ICMBio promover a retirada compulsória do material imputando-lhe as despesas, no prazo de 30 (trinta) dias, a contar do transito em julgado desta sentença;

b) Abster-se de erigir novas construções;

c) Recompor a vegetação desta área liberada após a demolição e na faixa marginal, mediante a elaboração de projeto de recuperação de Área Degradada (Prad) a ser avaliado pelo ICMBio, em liquidação judicial, com início do prazo em 30 (trinta) dias, a contar da sua intimação;

d) Pagar a quantia de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) a título de indenização pelos danos ambientais causados no ecossistema local pela sua construção irregular sobre área de preservação permanente, valor este que deverá ser revertido ao Fundo de Reconstituição de Bens Lesados.”

Mesmo apelando o Tribunal Regional Federal da Segunda Região, não teve êxito o apelante, uma vez que os seus argumentos não foram suficientes para o convenci-mentos dos ínclitos Desembargadores, senão vejamos trecho do relatório da decisão:

“A sentença considerou em sua fundamentação que ‘Embora a parte ré tenha negado ter conhecimento da existência da referida APA e afirmado ter agido de boa-fé, as alegações do Réu não convencem este Juízo, uma vez que o réu não obteve dos órgãos ambientais competentes licenças para efetuar construções no aludido imóvel. Pelo contrário, mesmo após a autuação e o embargo da construção (em 2004), foram realizadas novas edificações, comprometendo seriamente o meio ambiente na região e contrariando o regime de ocupação da referida unidade de conservação’. Além disso, rechaçou o pleito de condenação ao pagamento de danos morais co-letivo ‘uma vez que o autor não logrou demonstrar a correspondência entre o dano ambiental alegado, praticado pelo réu, ainda que se reconheça a sua existência’. No apelo, a parte ré sustentou que adquiriu o imóvel em 2002 e, desde então, manteve posse mansa e pacífica da área, sem realizar qualquer reforma ou construção nova no local, exceto o início da reconstrução de um muro de arrimo, avariado em virtude das chuvas ocorridas em 2004, o que ensejou a lavratura de autor de infração pelo Ibama. Acerca do referido laudo, defendeu a sua irregularidade por não ter imputado

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qualquer fato típico ao Apelante. Argumentou que a conduta praticada não seria po-tencialmente poluidora, já que teria se limitado a construir muro de 80 cm de altura para fins de proteção de sua posse. Pugnou pela aplicação subsidiária do Código Pe-nal, principalmente das circunstâncias atenuantes ali previstas. Informou que o imó-vel já estaria desocupado e não teriam sido realizadas novas construções na área, o que tornaria prejudicado o pleito de cominação de multa diária por descumprimento das medidas requeridas liminarmente. Defendeu que não poderia ser condenado a demolir obras que não teria realizado e que não sabia tratar-se de área contígua a de uma APA. Ao final, pugnou pela redução do valor fixado a título de indenização, de-fendendo que ‘tão logo entrou na posse do imóvel, procurou legalizá-lo na Prefeitura Municipal de Cabo Frio e demais órgãos estatais e concessionários’ [...].”

Já no voto, a relatoria ainda aponta para o agravamento das ocorrências de fiscaliza-ção do Ibama que deram base fática para o trabalho do parquet:

“[...] Ao retornar ao local, agora no ano de 2012, os fiscais do Ibama, apesar de não terem constatado ‘mudanças significativas tampouco novas construções no local’, registraram que o muro e a residência ainda existiam, mas pareciam abandonados e ‘em estado precário’. Em 2014, e já no curso da presente ação, o ICMBio realizou nova diligência no local e atestou a evolução do estado de abandono da área: o muro apresentava sinais de desmoronamento e a casa estaria depredada. Em sua defe-sa, o Réu alegou que teria adquirido a posse da área apenas em outubro de 2002 (fls. 70/71) e pelo valor de R$ 13.000,00 (treze mil reais), defendendo que a casa de 70,87m² já existia no local, assim como o muro construído na faixa marginal de proteção do rio, informando que este último teria sido apenas reconstruído e que tal obra estava em curso quando, em 2004, foi autuado pelo Ibama. Ainda na contes-tação, o Réu fez várias digressões no sentido de desconstituir o mencionado auto.

[...]

Note-se que a Área de Proteção Ambiental – APA da Bacia do Rio São João foi criada pelo Decreto s/nº, de 27 de junho de 2002, ou seja, antes de iniciada a posse do Réu sobre o terreno no qual foram realizadas as construções. Contudo, muito antes da criação da referida APA, a área em questão já contava com importante proteção legal, no caso a do Código Florestal de 1965 (Lei nº 4.771), que previa como área de preservação permanente ‘as florestas e demais formas de vegetação natural’ si-tuadas ao longo dos rios em faixa marginal mínima de ‘30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura’ e ‘50 (cinquenta) metros para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura’. Assim, trata-se de área há muito protegida pela legislação federal, o que milita contra qualquer presunção de boa-fé em favor da parte ré. Não fosse isso, autuado em 2004 pelos já citados motivos, e não obstante ter sido a obra embargada, o Réu retomou as construções, refazendo todo o muro da propriedade e iniciando nela uma fundação para a construção de outro imóvel.

[...]

Desta forma, ainda que se admita que o Réu não tivesse ciência de que a área em questão era protegida quando a ocupou, uma vez autuado acerca de construções ali realizadas não lhe socorre a alegação de boa-fé para livrar-lhe da responsabili-dade advinda da realização de novas obras no local. Da mesma maneira em nada aproveita ao Réu o argumento de que teria adquirido a posse do local já com ben-feitorias. Conforme visto, o principal motivo do ajuizamento da presente ação foram

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as construções realizadas na área quando o Réu já a ocupava. E ainda que assim não fosse, correto o Magistrado a quo ao considerar que a responsabilidade pelo dano ambiental tem natureza propter rem e se transfere automaticamente com a transferência da posse ou da propriedade do bem, o que permitiria, na linha do entendimento do Colendo Superior Tribunal de Justiça, ‘ser imediatamente exigível do proprietário atual independentemente de qualquer indagação a respeito da boa-fé do adquirente ou de outro nexo causal que não o que se estabelece pela titularidade do domínio’ (REsp 1.179.316-SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ 15.06.2010).

[...]

Os prejuízos causados vão além da poluição cênica do local. A residência também apresenta ‘sérias patologias na sua estrutura de concreto armado’, os muros de alvenaria estão comprometidos e um deles, erguido dentro do leito do rio, chegou a desmoronar (fls. 63/64), sendo que todas as intervenções foram feitas em mangue-zal ‘ecossistema extremamente importante para aquela região’ (fl. 159), redundando em danos com efeitos deletérios irreparáveis, razão pela qual condenação não pode ser restrita à tentativa de recuperação do local, sob pena de projetar-se a nociva idéia de que a violação ao meio ambiente compensa. A necessidade da integral reparação do dano ambiental impõe que o responsável pelo prejuízo não só adote as medidas dirigidas à recuperação do local degradado, como arque com o pagamento de indenização em virtude dos prejuízos sofridos pela biota, revelando-se razoável e proporcional à extensão da intervenção realizada o valor fixado pela sentença de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), que leva em conta não só aqueles danos não recuperáveis como a recalcitrância do Réu em cumprir as determinações dos órgãos ambientais. Por fim, no que diz respeito ao dano moral coletivo, correta a sentença. Conforme visto, conquanto não se possa minimizar os malefícios causados pela intervenção imprudente do Réu, a verdade é que não há nos autos prova de que o dano tenha repercutido de tal forma a gerar uma intranquilidade social na comuni-dade envolvida. Haveria necessidade de demonstrar que a comunidade local efeti-vamente tenha se sentido lesada e moralmente abalada pela intervenção ambiental realizada, o que não foi demonstrado.”

Dessa forma, os demais Desembargadores membros da Turma Julgadora acompa-nharam o voto do relator, que negou o provimento ao Recurso de Apelação, de forma que se findou uma votação unânime.

2350 – APA – grau de utilização – desapropriação – afastamento“Processual civil e administrativo. Desapropriação. Grau de utilização da terra. Área de preservação ambiental. O perito oficial concluiu que, em verdade, face a existência de mata atlântica, os graus de utilização da terra e de eficiência da exploração são de, respectivamente, 84,19% e 140%, afastando, por óbvio, o imóvel da incidência da de-sapropriação, qualificando-o como produtivo Inexistência dos requisitos do art. 1.022 e incisos do CPC/2015. Julgado devidamente fundamentado. Ausência de omissão/contra-dição. Embargos de declaração improvidos.” (TRF 5ª R. – AC 2005.85.00.002947-8/02 – (426587/SE) – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Lázaro Guimarães – DJe 16.05.2017 – p. 23)

Remissão Editorial SÍNTESEVide RSA nº 22, nov./dez. 2014, ementa nº 1308 do TRF 2ª R.

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2351 – APP – ação civil pública – obrigação de não fazer – realização de shows – ter­reno de marinha – tartarugas – preservação

“Necessário e apelação cível. Ação civil pública. Meio ambiente. Obrigação de não fazer. Realização de shows e eventos em terreno de marinha e área de preservação permanente. Tartarugas marinhas ameaçadas de extinção. Projeto Tamar. Necessidade de autorização dos órgãos ambientais e de segurança pública. Fixação de astreintes em face da Fazenda Pública. Necessidade de individualização da autoridade responsável pelo cumprimento da ordem. Redução do quantum. 1. Ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal em face do Município de São João da Barra. Pretende a con-denação às obrigações de não fazer consubstanciadas em não realizar shows e outros eventos artísticos, culturais ou esportivos ao longo de toda orla, e nem permitir que outros o façam, salvo se cumpridos os requisitos legais referentes à autorização prévia dos órgãos competentes. Relata que o ente público municipal promove shows e eventos na praia, situada em área de preservação permanente e em terreno de marinha, degra-dando área que serve como habitat de tartarugas marinhas ameaçadas de extinção. Sen-tença que julga procedentes os pedidos veiculados na inicial e condena o Município, na pessoa do Prefeito, ao pagamento de multa por cada evento irregular. 2. A Constituição Federal, art. 23, incs. VI e VII, estabelece a competência comum da União, dos estados e dos municípios para preservar o meio ambiente e proteger a fauna e a flora. O Município apelante abrange ‘praia marítima’ e, sendo bem federal (art. 20, inc. IV, da Constituição Federal), necessita de autorização de uso, a título precário, emitida pela Secretaria de Pa-trimônio da União (art. 22, da Lei nº 9.636/1998 c/c art. 14, do Decreto nº 3.725/2001), ainda que para eventos de curta duração. O art. 1º do Decreto Estadual nº 39.355/2006 prevê a necessidade de autorização prévia de diversos órgãos públicos para a realização de eventos no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, ao passo que a Resolução Conama nº 303/2002 define as áreas de preservação permanente. 3. O Poder Público é repre-sentado tanto pelos entes políticos quanto pelos órgãos ambientais, competindo-lhes, dentre outras atribuições, o exercício do poder regulamentar mediante a edição de atos normativos de caráter técnico (a exemplo das portarias e resoluções) que visam à tutela do meio ambiente e dos recursos naturais. Tal poder normativo/regulamentar inclui a fi-xação de parâmetros, definições e limites de áreas a serem protegidas. As Portarias Ibama nºs 10/1995 e 11/1995 e a Resolução Conama nº 10/1996 preveem parâmetros e restri-ções a serem seguidos por empreendimentos localizados em faixa de areia e em área de desova de tartarugas marinhas. Devem ser observadas as diretrizes técnicas consignadas pelos agentes vinculados ao Projeto Tamar, eis que incumbe à referida instituição zelar pela conservação da espécie e gerenciar os projetos inerentes ao exercício de tal função. 4. Consoante posicionamento desta Corte, a imposição de multa cominatória só encon-tra sentido se for direcionada àquele que, verdadeiramente, detenha meios de dar efeti-vidade ao comando judicial. A Fazenda Pública [ente abstrato] está sujeita ao regime de precatório, tornando-se, por isso, evidente a ineficácia da multa como procedimento de coação, sob pena de tal medida constritiva servir apenas para onerar ainda mais a socie-dade, a qual arca com o custo de seu pagamento (Precedentes: TRF 2ª R., 6ª T.Esp., AC 00002336320074025107, Rel. Des. Fed. Guilherme Couto de Castro, DJe 28.01.2015; TRF 2ª R., 3ª T., Ag 00290663819974020000, Rel. Juiz Fed. Conv. Ricardo Perlingeiro, DJe 21.08.2001). A decisão liminar não individualizou a autoridade pública responsável pela execução da ordem, devendo ser afastada a multa cominatória por eventual des-

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cumprimento em sede de cognição sumária. Posteriormente especificada na sentença a autoridade responsável por cumprir a determinação judicial, é possível a incidência das astreintes, desde que demonstrado o retardo injustificado ou deliberado. 5. A fixação do valor das astreintes é submetida ao critério da proporcionalidade, devendo ser ex-pressiva a ponto de coagir o devedor a cumprir o preceito, mas sem configurar um ônus excessivo. A multa deve implicar instrumento idôneo à coerção da vontade do devedor, de modo que o seu valor seja compatível e proporcional (stricto sensu) ao dano causa-do à administração da justiça. No caso, excessiva a multa de R$ 50.000,00 por evento que venha a ser realizado em desconformidade com a determinação judicial, seu valor deve ser reduzido. Precedente: TRF 2ª R., 5ª T.Esp., Ag 01020883620144020000, Rel. Des. Fed. Ricardo Perlingeiro, e-DJF2R 28.04.2016. 6. Remessa necessária e apelação parcialmente providas.” (TRF 2ª R. – AC 0002973-35.2009.4.02.5103 – 5ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Ricardo Perlingeiro – DJe 10.05.2017 – p. 356)

Comentário Editorial SÍNTESENo acórdão que passa a ser comentado, o Ministério Público Federal ingressou com ação civil pública pleiteando compelir o Município de São João da Barra a não reali-zar shows e eventos artísticos e culturais a longo de toda a orla quando não cumprir com os requisitos legais referentes à autorização prévia dos órgãos competentes. A necessidade do ingresso com a obrigação de não fazer ocorre por conta de a área ser de preservação permanente e ser área de terreno de marinha e habitat de tartarugas marinhas ameaçadas de extinção.

A sentença prolatada na ação civil pública condenou a municipalidade ao pagamen-to de multa – astreintes proporcionais – a cada evento irregular realizado. Inconfor-mada com a decisão em seu desfavor, o Município de São João da Barra interpôs o recurso de apelação e o seu julgamento resultou no acórdão em tela. Vejamos trechos do voto da relatoria:

“[...] O Poder Público é representado tanto pelos entes políticos quanto pelos órgãos ambientais, competindo-lhes, dentre outras atribuições, o exercício do poder regu-lamentar mediante a edição de atos normativos de caráter técnico (a exemplo das portarias e resoluções) que visam à tutela do meio ambiente e dos recursos naturais. Tal poder normativo/regulamentar inclui a fixação de parâmetros, definições e limites de áreas a serem protegidas. Nesse sentido, o recorrente deve obediência às Porta-rias Ibama nºs 10/1995 e 11/1995, que proíbem o ‘trânsito de qualquer veículo na faixa de praia compreendida entre a Praia do Farol de São Tomé até a divisa com o Estado do Espírito Santo’, além de ‘qualquer fonte de iluminação que ocasione intensidade superior a Zero Lux’. Ainda na mesma esteira, entendo que o apelante deve seguir integralmente as diretrizes técnicas consignadas às fls. 426-432, su-geridas pelos agentes vinculados ao Projeto Tamar para a proteção das tartarugas marinhas, sem prejuízo de outras medidas que se façam necessárias à preservação do gênero ameaçado, eis que incumbe à referida instituição zelar pela conservação da espécie e gerenciar os projetos inerentes ao exercício de tal função. Por fim, consoante posicionamento desta Corte, a imposição de multa cominatória só encon-tra sentido se for direcionada àquele que, verdadeiramente, detenha meios de dar efetividade ao comando judicial. A Fazenda Pública [ente abstrato] está sujeita ao regime de precatório, tornando-se, por isso, evidente a ineficácia da multa como pro-cedimento de coação, sob pena de tal medida constritiva servir apenas para onerar

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ainda mais a sociedade, a qual arca com o custo de seu pagamento (Precedentes: TRF 2ª R., 6ª T.Esp., AC 00002336320074025107, Rel. Des. Fed. Guilherme Couto de Castro, DJe 28.1.2015; TRF 2ª R., 3ª T., Ag 00290663819974020000, Rel. Juiz Fed. Conv. Ricardo Perlingeiro, DJe 21.08.2001). A decisão liminar de fls. 214-216, proferida em 2010, não individualizou a autoridade pública respon-sável pelo cumprimento da ordem judicial. Ao mesmo tempo, constata-se dos docu-mentos de fls. 241-248 e 294-296 que o apelante diligenciou para concretizar o co-mando exarado em sede de tutela provisória, tendo procurado diversos órgãos para obter as autorizações para a realização dos eventos. Por conceber que as astreintes não tem natureza de punição, e sim de medida legítima de coação para forçar a sa-tisfação da obrigação, afasto a multa cominatória por eventual descumprimento da decisão liminar. Noutro giro, entendo possível a incidência das astreintes impostas ao Prefeito a partir da sentença, desde que fique demonstrado seu retardo injustifica-do ou deliberado, uma vez que o juízo prolator especificou a autoridade responsável por executar a ordem judicial. Porém, seu quantum merece ser revisto. A fixação do valor da multa cominatória é submetida ao critério da proporcionalidade, devendo ser expressiva a ponto de coagir o devedor a cumprir o preceito, mas sem se con-figurar um ônus excessivo. A multa deve implicar instrumento idôneo à coerção da vontade do devedor, de modo que o seu valor seja compatível e proporcional (stricto sensu) ao dano causado à administração da justiça.

[...]

Obrigações de não fazer consistentes em: não realizar quaisquer tipos de eventos (cultural, artístico ou esportivo) em toda a sua orla, tampouco autorizar que tercei-ros construam estruturas, ainda que temporárias, na orla praiana, dentro da faixa composta por terrenos de marinha e seus acrescidos ou na faixa de praia, sem anuência prévia e específica da Secretaria do Patrimônio da União, na qual conste a data do evento, finalidade e local específico, além da discriminação das estruturas temporárias que eventualmente venham a ser montadas, bem como o prazo de retirada das mesmas e as providências que devem ser adotadas para a redução do impacto negativo na orla da praia; abster-se de, para a realização de qualquer tipo de evento (cultural, esportivo ou artístico), construir ou autorizar que terceiros construam, em toda a orla do Município, estruturas, ainda que temporárias, na orla praiana, dentro da área reconhecida como de preservação permanente, sem a prévia e específica anuência do órgão estadual (Inea) e federal (ICMBio ou Ibama e Projeto Tamar), nas quais constem a efetiva comprovação e constatação, pelos órgãos anuentes, mediante certificação, de que tais eventos não causarão danos à flora e à fauna, inclusive, quanto à iluminação utilizada para os shows (Portaria nº 11/1995 do Ibama); e abster-se de realizar qualquer tipo de evento, sem toda a orla do Município, ou autorizar que terceiros realizem, sem obter as prévias e especí-ficas licenças ou autorizações das Polícias Civil e Militar do Estado do Rio de Janeiro e do Corpo de Bombeiros, nas quais constem os requisitos que devem ser cumpridos e a certificação, pela autoridade responsável, de que os mencionados requisitos estão sendo respeitados. Reduzo o valor das astreintes para R$ 10.000,00 (dez mil reais) por evento realizado em desconformidade com as determinações fixadas na sentença, desde que fique demonstrado o retardo injustificado ou deliberado do Prefeito, que deverá ser intimado para comprovar o cumprimento ou justificar o descumprimento.”

Assim, a apelação e a remessa resultaram em um provimento parcial por maioria, em conformidade com o voto do Relator.

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2352 – APP – dano ambiental – edificação irregular – demolição – recuperação – ocorrência

“Processo civil e ambiental. Ação civil pública. Edificação irregular. Dano ambien-tal. Área de preservação permanente. Demolição. Recuperação in natura. 1. Consta-tado que a área em que se encontra a edificação é qualificada como de preservação permanente, não há como deixar de aplicar as disposições normativas pertinentes: Lei nº 4.771/1965 (antigo Código Florestal), Resolução nº 303/2002, do Conama, e Lei nº 12.651/2012 (novo Código Florestal). 2. Verificada a ocorrência de dano ambiental e existindo a possibilidade de recuperação da área degradada, é pertinente a ordem de demolição de edificação erigida irregularmente, sem a licença do órgão competente. 3. Afora a inexistência de direito adquirido à degradação ambiental, o fato consumado não afasta a ilegalidade da situação, nem impede a remoção de construções e/ou ben-feitorias, porque, desde a primeira edificação, a legislação já considerava o local como área de preservação permanente, o que afasta qualquer afronta a ato jurídico perfeito.” (TRF 4ª R. – AC 5000046-15.2012.4.04.7216 – 4ª T. – Relª Desª Fed. Vivian Josete Pantaleão Caminha – J. 26.04.2017)

2353 – APP – degradação ambiental – pasto – existência“Apelação. Ação anulatória. Matéria preliminar. Coisa julgada material. Área do imó-vel. Propriedade rural que não cumpre sua função social. Momento em que realizada a vistoria. Tempo de cultivo considerado de forma proporcional. Degradação ambiental. Correção do valor da causa. Honorários advocatícios. Litigância de má-fé. 1. No presen-te recurso aplicar-se-á o CPC/1973. 2. Preliminar de cerceamento de defesa rejeitada. 3. Algumas das questões suscitadas nesta ação já foram objeto de apreciação, no seu mé-rito, pelo STF (MS 24.486), estando acobertadas pela coisa julgada material. 4. O juízo de 1ª instância fixou a área total do imóvel em 935,9314 hectares, conforme apuração feita pelo perito judicial. Os ora apelantes concordaram com a conclusão do perito, tor-nando incontroversa a questão. 5. A sentença estabeleceu o GUT (Grau de Utilização da Terra) em 99,75%, acima, portanto, do percentual exigido por lei, que é de 80%, e o GEE (Grau de Eficiência na Exploração) em 91,42%, abaixo do mínimo legal. Daí se conclui que a Fazenda Floresta não cumpria sua função social. 6. Na aferição da produtividade devem ser levadas em conta as condições do imóvel no momento da vistoria levada a efeito pelo Incra, tendo em vista a possibilidade de alterações posteriores no local. 7. Mesmo considerando todas as áreas (cana-de-açúcar, sementes e pastagens) como efetivamente utilizadas, o imóvel permanece qualificado como grande propriedade rural improdutiva. 8. Tanto o plantio da cana-de-açúcar quanto a produção de sementes não abrangeu todo o período considerado na vistoria feita pelo Incra, de sorte que é plena-mente justificável o cômputo proporcional ao tempo de efetiva utilização. 9. O Relatório Agronômico de Fiscalização (RAF) foi categórico ao reconhecer o descumprimento da legislação ambiental, decorrente da existência de pasto em áreas de preservação per-manente. 10. Perfeitamente possível a correção do valor da causa realizada, de ofício, pelo juiz, diante da evidente discrepância entre o valor indicado na petição inicial e o benefício econômico postulado pelos autores. Nesse diapasão, mantida a condenação em honorários advocatícios. 11. A configuração da litigância de má-fé exige a demons-tração de dolo específico, circunstância não vislumbrada na espécie. 12. Apelação dos

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autores parcialmente provida apenas para afastar a condenação por litigância de má-fé.” (TRF 3ª R. – AC 0000344-66.2003.4.03.6107/SP – 11ª T. – Rel. Des. Fed. Nino Toldo – DJe 05.05.2017 – p. 1032)

2354 – APP – infração ambiental – imóvel – restrições ambientais – multa – imposição“Apelação contra sentença de improcedência de ação anulatória de auto de infração am-biental perpetrada em imóvel localizado em APP Lindeira de reservatório artificial de usi-na hidrelétrica. Caso em que não há dúvida plausível de que o imóvel sujeito às restrições ambientais se localiza dentro de área de preservação. Caso singular em que não se confi-gurou bis in idem no exercício de poder de polícia ambiental, com imposições de multas por órgãos distintos de polícia administrativa ambiental, ocorridas em épocas distintas. Recurso desprovido. 1. O apelante – que desde 1990 ocupa de forma desautorizada um terreno de 220 metros quadrados localizado a 28,5 metros da cota máxima de operação do reservatório da Usina Hidrelétrica de Água Vermelha, em Cardoso/SP – foi autuado e multado no ano de 2002 pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, por seu Departamento Estadual de Recursos Naturais (DEPRN), e no ano de 2005 pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), com fulcro no art. 2º, b, da Lei nº 4.771/1965, que guarda o Código Florestal em vigor À épo-ca dos fatos, e na Resolução Conama nº 302/2002, que trata dos parâmetros, definições e limites de APP de reservatórios artificiais e regime de uso do entorno. Caso em que não há dúvida razoável de que o imóvel se situa dentro de área de preservação permanente. 2. É sabido que o exercício da tutela ambiental é comum a todos os entes da federação, nos termos do art. 23, VI, da Constituição Federal (STJ, AgRg-REsp 1417023/PR, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., J. 18.08.2015, DJe 25.08.2015; AgRg-REsp 1373302/CE, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., J. 11.06.2013, DJe 19.06.2013). Também, é induvi-doso que ao teor do art. 76 da Lei nº 9.605/1998 o pagamento de multa imposta pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios substitui a multa federal na mesma hipótese de incidência. 3. No caso vertente, além da multa imposta pelo DEPRN (órgão estadual) não ter sido quitada, sendo inscrita na Dívida Ativa do Estado de São Paulo, ficou evidenciado que entre essa primeira autuação ocorrida em 2002 e a segunda em 2005, pelo Ibama, o apelante não tomou qualquer providência em relação à degradação que provocou ao ocupar de forma desautorizada área situada em APP na margem do reservatório da Usina Hidrelétrica de Água Vermelha, permitindo que o dano ambiental persistisse e se protraísse no tempo. 4. É certo que o Relator guarda profundas reservas acerca do caráter continuado e/ou permanente das infrações ambientais para persecu-ção delas no âmbito Administrativo e/ou Penal. Contudo, no âmbito do STJ essa matéria pacificou-se em desfavor da ação do suposto degradador (AgInt-AREsp 928.184/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., J. 15.12.2016, DJe 01.02.2017; AgRg-REsp 1421163/SP, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., J. 06.11.2014, DJe 17.11.2014; REsp 1223092/SC, Rel. Min. Castro Meira, 2ª T., J. 06.12.2012, DJe 04.02.2013). Assim, embora imposta uma primeira penalidade por conta de prática de degradação ambiental, feita por um dos órgãos que concorrentemente podem exercer o poder de polícia ambiental, não fica inibida uma nova fiscalização e uma segunda imputação realizada por um outro órgão de fiscalização ambiental, quando este contempla a situação de permanência do dano, que – no fundo – ainda se agravou naturalmente em face do decurso do tempo sem que o agente infracional tenha promovido qualquer ação reparadora Acolher a alegação de

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bis in idem aposta pelo apelante, face às autuações do DEPRN em 2002 e do Ibama em 2005, equivaleria à validação da sua inércia e à perpetuação da infração, o que não é possível em matéria ambiental. 5. Não estão em discussão neste feito outras situações que, em tese, poderiam adoçar a condição do apelante, já que o imóvel de 220 metros quadrados ocupado pelo autor está localizado a 28,5 metros da cota máxima de operação do reservatório da Usina Hidrelétrica de Água Vermelha, o que indubitavelmente o co-loca em APP. 6. Apelação desprovida.” (TRF 3ª R. – AC 0007522-30.2007.4.03.6106/SP – 6ª T. – Rel. Des. Fed. Johonsom Di Salvo – DJe 08.05.2017 – p. 243)

2355 – APP – intervenção antrópica – dano ambiental in re ipsa – ocorrência“Ambiental. Processual civil. Ação civil pública. Remessa oficial. Apelação. Intervenção antrópica em área de preservação permanente. Dano ambiental in re ipsa. Responsabili-dade objetiva. Princípio do poluidor-pagador. Recuperação e indenização. Obrigações cumulativas. Provimento. 1. Trata-se de ação civil pública promovida pelo Ministério Público Federal, objetivando a condenação dos requeridos ao cumprimento de obriga-ções de fazer e de não fazer relativas à exploração e recomposição de área de preserva-ção ambiental em sua propriedade, bem como ao pagamento de dano de indenização correspondente ao dano ambiental causado. 2. No presente recurso não se discute a ocorrência ou não do dano ambiental, visto que restou evidenciado sua ocorrência de-corrente do pastoreio de bovinos nas áreas de preservação permanente dificultando a regeneração da vegetação, que protege os recursos hídricos. 3. As obrigações de fazer ou não fazer destinadas à recomposição in natura do bem lesado e a indenização pe-cuniária são perfeitamente cumuláveis, por terem pressupostos diversos, priorizando os princípios do poluidor-pagador e da reparação integral do dano ambiental, nos termos dos arts. 225, § 3º, da Constituição Federal e 4º da Lei nº 6.938/1981 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente). 4. Os deveres de indenizar e recuperar possuem natureza de ressarcimento cível, os quais almejam de forma simultânea e complementar a res-tauração do status quo ante do bem ambiental lesado, finalidade maior a ser alcançada pelo Poder Público e pela sociedade. 5. O fato do laudo pericial ter reputado suficientes a retirada dos animais bovinos das áreas de preservação permanente e a recuperação florestal para reparar o dano ecológico não afasta o dever de indenizar, mormente em face dessa ação civil pública tutelar o direito fundamental ao meio ambiente ecologica-mente equilibrado para a presente e futuras gerações. 6. Imperiosa a condenação dos réus ao pagamento de indenização pelos danos causados pela intervenção antrópica na área de preservação permanente, correspondente à extensão da degradação ambiental e ao período temporal em que a coletividade esteve privada desse bem comum. 7. O quantum indenizatório, a ser revertido ao Fundo Federal de Defesa de Direitos Difusos, por se tratar de dano a direito e interesse difuso, deverá ser fixado na liquidação por arbitramento, nos termos dos arts. 509 e 510 do Código de Processo Civil. 8. A circuns-tância da União, quando intimada, não ter postulado pela produção de prova hábil a demonstrar o possível valor de indenização não implica em preclusão, notadamente por se tratar de direito fundamental, difuso e indisponível. 9. Sobre o valor da indenização devem ser acrescidos juros de mora de 6% (seis por cento) ao ano até dezembro de 2002 (arts. 1.062, 1.063 e 1.064, CC/1916) e, a partir de janeiro de 2003, serão computados com base na Taxa Selic, excluído qualquer outro índice de correção ou de juros de mora (art. 406, CC/2002), a partir do evento danoso. 10. A correção monetária deverá incidir

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com base nos índices previstos no Manual de Orientação de Procedimentos para os Cál-culos na Justiça Federal, aprovado pela Resolução nº 134/2010 do Conselho da Justiça Federal, desde a data do arbitramento do valor da indenização. 11. Remessa oficial e apelação da União providas.” (TRF 3ª R. – AC 0003977-89.2011.4.03.6112/SP – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Nery Junior – DJe 05.05.2017 – p. 746)

Comentário Editorial SÍNTESEPara que passemos a comentar a decisão proferida pela Terceira Turma Julgadora do Egrégio Tribunal Regional Federal da Terceira Região, passemos à introdução com rápidos conceitos:

Princípio do Poluidor-Pagador: Por tal princípio do Direito ambiental o “poluidor deve arcar com os custos relativos ás medidas de prevenção e luta contra a poluição” (PRIEUR, Michel. Droit de l’environnement. 3. ed. Paris: Dalloz, 1996. p. 136)

O Código Civil de 2002, em seus arts. 186 e 187 dispõe que “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”.

Feitas essas considerações, o Ministério Público Federal intentou Ação Civil Pública contra particular, haja vista a degradação ambiental ocorrida em área de preserva-ção permanente, haja vista a incorreta utilização da localidade com a finalidade de pasto para o gado. Em tal ação foram pleiteadas as obrigações de fazer e não fazer, a reparação dos danos ambientais, bem como indenização por danos morais coletivos por conta da degradação ambiental.

Tendo sido julgados parcialmente procedentes os pedidos contidos na inicial, a União, inconformada com o resultado, interpôs Recurso de Apelação.

Vejamos trechos do voto do Eminente Relator do Acórdão:

“[...] Verifica-se a questão foi bem examinada no juízo a quo, conforme destaco da sentença: ‘Tendo o laudo reputado suficientes para reparação do dano a retirada dos animais bovinos das áreas de preservação permanente, bem como a sua recupera-ção florestal, sugerindo, ainda, que o réu realize corredores em locais estratégicos da propriedade para dessedentação dos animais bovinos, fica afastada a condena-ção do réu no pagamento de indenização em dinheiro, o que torna prejudicado o requerido no item 5 à fl. 28’. De fato, ante a possibilidade de reparação integral do dano através da obrigação de fazer e não fazer, restando comprovada a existência de dano ambiental reparável, é incabível a reparação indireta. A Lei é clara ao apontar que a indenização pode ser mera alternativa, quando não for possível a recuperação ambiental, conforme disposto no inciso VII do art. 4º da Lei nº 6.938/1981 que diz, in verbis: ‘Art. 4º A Política Nacional do Meio Ambiente visará: [...] VIII – à imposi-ção, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados, e ao usuário, de contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.’ Assinala-se que a União quando intimados para não requereu a produção de outras provas, sendo que a prova apresentada na inicial, consistente no laudo técnico de constatação e avaliação de dano ambiental (fls. 43/47) anexa-do ao procedimento administrativo juntado por linha, concluiu pela viabilidade de recuperação da área degradada, assim sendo suficiente a condenação imposta para

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recuperar o dano ambiental. Inexiste ofensa ao princípio da Reparação Integral, art. 225 da Constituição Federal ou aos arts. 14 e seus §§ 1º e 5º da Lei nº 6.938/1981 e demais legislação apontada, eis que a sentença, com fundamen-to na prova produzida, entendeu ser desnecessária a condenação do poluidor em complementar o dano com uma indenização pecuniária. Embora seja possível a possibilidade da cumulação de pedidos de reparação e pecuniária, tal entendimento não implica na conclusão de que sempre será devida a indenização, pois, quando é possível a completa restauração, sem que se verifique ter havido dano remanescente ou reflexo, não há falar em indenização. [...]”

Assim, o voto da relatoria foi no sentido de conhecer, mas negar provimento à re-messa oficial, tida por interposta e à apelação da União, mantendo-se a sentença em todos os seus termos.

Todavia, houve divergência em relação ao voto do relator e a apelação teve provi-mento por maioria de votos restando como vencidos os Excelentíssimos Desembar-gadores Federais, Doutor Relator Nery Junior e Doutor Carlos Muta, que negavam provimento ao recurso. Passemos a verificar trechos do voto divergente do Ilustre Desembargador Antonio Cedenho:

“Divirjo do voto apresentado pelo I. Relator, pois coaduno do entendimento, con-forme já exposto em outros julgados, tal como no julgamento da Apelação Cível nº 0007718-74.2010.4.03.6112, realizado aos 04.08.2016, no sentido de que as obrigações de fazer ou não fazer destinadas à recomposição in natura do bem le-sado e a indenização pecuniária são perfeitamente cumuláveis, por terem pressupos-tos diversos, priorizando os princípios do poluidor-pagador e da reparação integral do dano ambiental, nos termos dos arts. 225, § 3º, da Constituição Federal e 4º da Lei nº 6.938/1981 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente). Ainda, destaca-se que os deveres de indenizar e recuperar possuem natureza de ressarcimento cível, os quais almejam de forma simultânea e complementar a restauração do status quo ante do bem ambiental lesado, finalidade maior a ser alcançada pelo Poder Público e pela sociedade. A possibilidade de cumulação visa, em última análise, evitar o enriquecimento sem causa, já que a submissão do poluidor tão somente à reparação do ecossistema degradado fomentaria a prática de ilícitos contra o meio ambiente. Assim, o fato do laudo pericial ter reputado suficientes a retirada dos animais bovi-nos das áreas de preservação permanente e a recuperação florestal para reparar o dano ecológico não afasta o dever de indenizar, mormente em face dessa ação civil pública tutelar o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado para a presente e futuras gerações. Inexistindo, portanto, bis in idem, os réus não se eximem da obrigação de indenizar ainda que demonstrem o propósito de recuperar a área ambientalmente degradada.

[...]

Imperiosa a condenação dos réus ao pagamento de indenização pelos danos causa-dos pela intervenção antrópica na área de preservação permanente, correspondente à extensão da degradação ambiental e ao período temporal em que a coletividade esteve privada desse bem comum. Contudo, considerando que sua quantificação deve levar em conta, inclusive, a extensão da degradação de área de preservação permanente, o quantum indenizatório, a ser revertido ao Fundo Federal de Defesa de Direitos Difusos, por se tratar de dano a direito e interesse difuso, deverá ser

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fixado na liquidação por arbitramento, nos termos dos arts. 509 e 510 do Código de Processo Civil.

[...]

Ademais, havendo improcedência por falta de provas no âmbito das ações civis públicas, não haveria empecilho para que outro legitimado ajuizasse outra deman-da com idêntico fundamento, desde que lastreada em prova nova, nos termos do art. 16 da Lei nº 7.347/1985: ‘Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.’ Destaca-se que sobre o valor da indenização devem ser acrescidos juros de mora de 6% (seis por cento) ao ano até dezembro de 2002 (arts. 1.062, 1.063 e 1.064, CC/1916) e, a partir de janeiro de 2003, serão computados com base na Taxa Selic, excluído qualquer outro índice de correção ou de juros de mora (art. 406, CC/2002), a partir do evento danoso. A correção monetária deverá incidir com base nos índices previstos no Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal, aprovado pela Resolução nº 134/2010 do Conselho da Justiça Federal, desde a data do arbitramento do valor da indenização.”

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 6.938/1981:

“Art. 4º A Política Nacional do Meio Ambiente visará:

I – à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;

II – à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;

III – ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;

IV – ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais;

V – à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessi-dade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico;

VI – à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida;

VII – à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou inde-nizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.”

2356 – APP – manguezal – construção – irregularidade – município – demolição – le­gitimidade passiva

“Constitucional. Administrativo. Ação civil pública. Construções irregulares em área de proteção permanente (manguezal). Legitimidade passiva do município. Dano ambiental

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comprovado. Responsabilidade objetiva configurada. Demolição. Cadastramento e in-clusão das famílias invasoras em programas sociais pelo município. Fixação de prazo. 1. Insurgem-se as partes contra sentença que, em Ação Civil Pública por danos am-bientais, julgou procedente em parte o pedido, para confirmar a liminar que proibiu a ré de construir, ampliar ou modificar o estado atual do imóvel construído em área da preservação permanente, e determinar a demolição do referido imóvel, medida a ser efe-tivada somente após a implantação de política governamental para remoção de todos os moradores em situação similar e realocação dos moradores carentes, mediante inclusão destes em programa de habitação. 2. O Município de João Pessoa/PB incorreu em omis-são em seu dever constitucional de fiscalização, ao tolerar a construção de imóvel em área de preservação permanente, devendo ser responsabilizado solidariamente com o particular em casos de construção irregular em área de preservação ambiental. Rejeição da preliminar de ilegitimidade passiva. 3. A obra cuja construção foi discutida nos autos, localizada em Área de Preservação Permanente, afronta a legislação, submetendo-se, em tese, à interdição, embargo, demolição, uma vez que, conforme a fiscalização feita na área pelo órgão responsável, houve desobediência às restrições previstas pelo legis-lador. 4. Não merece prosperar a alegação da parte ré quanto à aplicação do Estatuto da Cidade ao caso, pois o imóvel foi construído em área de preservação permanente, sendo aplicável, indubitavelmente, a legislação ambiental. 5. Na presente situação, observa--se existir um conflito entre direitos fundamentais. De um lado, há o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Não obstante, também há o direito à dignidade humana e à moradia, considerando-se que se trata de pessoa carente que reside no local há mais de 15 (quinze) anos. 6. A pura e simples demolição, desacompanhada, no míni-mo, de alternativa para o exercício do direito à moradia configuraria ato estatal desvin-culado da boa-fé objetiva e dos direitos fundamentais da apelante. Ainda mais no caso concreto, em que o Poder Público, ciente há muito do local de habitação da apelante, além de nada fazer para compatibilizar a moradia com o ambiente, atuou positivamente ao disponibilizar ali prestação do serviço público de água e energia elétrica no local. 7. Não merece guarida o apelo do Ibama quanto ao pedido de desvinculação da deter-minação de demolição do imóvel à inclusão dos moradores do imóvel em programas habitacionais. Entretanto, visando evitar que tal determinação judicial torne-se inócua, convém fixar um prazo para que o Município de João Pessoa/PB inclua a ré e sua família em programa de habitação e a transfira para sua nova residência. 8. Precedentes desta Corte: Ap-Reex 00060228920124058500, Des. Fed. Cid Marconi, TRF 5ª R., 3ª T., DJe – Data: 12.05.2016, p. 120. 9. Apelação do Ibama provida em parte para fixar o prazo de um ano para que o Município de João Pessoa/PB inclua a ré e sua família em programa de habitação e a transfira para sua nova residência, após o que, deverá ser efetivada a demolição determinada na sentença recorrida. Apelações do particular e do Município de João Pessoa/PB não providas.” (TRF 5ª R. – AC 2002.82.00.009499-2 – (387687/PB) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Carlos Rebelo Júnior – DJe 10.04.2017 – p. 64)

2357 – APP – terreno de marinha – dano – reparação – astreintes – determinação“Reexame necessário e apelações cíveis. Ação civil pública. Meio ambiente. Obrigações de fazer e de não fazer. Construções em área de preservação permanente e em terreno de marinha. Ausência de autorização dos órgãos ambientais. Ausência de pedido de indenização. Possibilidade de análise lógico-sistemática dos fatos narrados na inicial.

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Medidas reparadoras. Necessidade de individualização da autoridade responsável pelo cumprimento da ordem para imposição de astreintes em face da fazenda pública. Ho-norários advocatícios e ônus sucumbenciais em ação civil pública. 1. Ação civil pú-blica ajuizada pelo Parquet em face da União. Relata que a construção de aterros e de estradas na Reserva Biológica de Guaratiba, ecossistema de manguezais e área de preservação permanente, ocasionou danos ao meio ambiente. Pleiteia a imposição da obrigação de fazer consubstanciada em restaurar a área degradada, além de não rea-lizar qualquer atividade ou obra na área na Reserva. Sentença que julga parcialmente procedentes os pedidos e impõe o pagamento de indenização, sob pena de multa co-minatória. 2. As obras de aterramento e de construção de estradas possuem utilidade pública tanto pelo Código Florestal revogado (art. 1º, § 2º, inc. IV e arts. 3º e 4º, da Lei nº 4.771/1965) quanto pelo atual (art. 3º, inc. VIII e art. 8º, da Lei nº 12.651/2012), pois servem a órgão federal formalizado pelo Decreto nº 84.095/1979 e vinculado ao Ministé-rio do Exército, incumbido da pesquisa científica, do desenvolvimento experimental e da aplicação do conhecimento visando à obtenção de produtos na defesa de seu interesse (art. 1º, Decreto nº 84.095/1979). À época do empreendimento já estavam em vigor a Lei nº 6.938/1981 (art. 9º, incs. III e IV e art. 10) e seu Decreto Regulamentador nº 99.274/1990, bem como a Resolução Conama nº 001/1986, que instituiu os critérios básicos e as diretrizes para a avaliação de impacto ambiental. 3. A responsabilidade por danos ambientais é objetiva, segundo a Lei nº 6.938/1981, art. 14, § 1º, contexto que dispensa a investigação do elemento subjetivo da culpa ou dolo. Tanto para a atribuição do dever de indenizar quanto para a incidência dos princípios do poluidor-pagador e da prevenção/precaução, deve-se demonstrar o dano e o nexo de causalidade entre a lesão ambiental e a ação ou omissão dos responsáveis, de modo que a violação da norma, por si, não pressupõe o dano ao meio ambiente, na esteira do já decidido pelo STJ (2ª T., REsp 1.140.549, Relª Min. Eliana Calmon, DJe 06.04.2010). 4. Em diversas ocasiões, o STJ se manifestou no sentido de que ‘o pedido inicial deve ser interpretado em conso-nância com a pretensão deduzida na exordial como um todo, levando em conta todos os fatos e fundamentos jurídicos presentes, de modo que o acolhimento da pretensão extraída da interpretação lógico-sistemática da peça inicial não implica julgamento extra petita’ (STJ, 2ª T., AgRg-REsp 1.434.797, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 07.06.2016; STJ, 2ª T., REsp 1.365.999, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 17.04.2015; STJ, 4ª T., REsp 684.753, Rel. Min. Antônio Carlos Ferreira, DJe 18.08.2014). Inferir o contrário é o mesmo que reconhecer que, embora exista demanda proposta com o intento de apurar e recompor danos ambientais, esses deverão ser reparados em outra ação, a ser ajuizada futuramente, em total afronta à celeridade e à razoável duração do processo. Ainda de acordo com a jurisprudência do STJ, o pagamento de indenização só terá cabimento quando a possibilidade de restauração in natura não for capaz de recompor integralmente os prejuízos (1ª T., AgRg-REsp 1.486.195, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 11.03.2016). No caso vertente, há declarações do perito e dos órgãos ambientais no sentido de que a vegetação suprimida está se regenerando, sendo desaconselhável o desfazimento das construções, ao passo que foram sugeridas medidas reparadoras in natura pelo próprio Parquet, quando da propositura do TAC em momento anterior. 5. Consoante posicionamento desta Corte, a imposição de multa cominatória só encon-tra sentido se for direcionada àquele que, verdadeiramente, detenha meios de dar efeti-vidade ao comando judicial. A Fazenda Pública [ente abstrato] está sujeita ao regime de

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precatório, tornando-se, por isso, evidente a ineficácia da multa como procedimento de coação, sob pena de tal medida constritiva servir apenas para onerar ainda mais a socie-dade, a qual arca com o custo de seu pagamento (Precedentes: TRF 2ª R, 6ª T.Esp., AC 00002336320074025107, Rel. Des. Fed. Guilherme Couto de Castro, DJe 28.1.2015; TRF 2ª R., 3ª T., Ag 00290663819974020000, Rel. Juiz Fed. Conv. Ricardo Perlingeiro, DJe 21.08.2001). Não individualizada a autoridade pública responsável pela efetivação da ordem judicial, afasta-se a multa cominatória imposta em face da União, sem prejuízo da adoção de outras medidas coercitivas e punitivas contra as autoridades ou servidores identificados na fase executiva como responsáveis pelo eventual descumprimento da decisão. 6. Sabe-se que, nas ações civis públicas, a questão da verba honorária foge às regras do CPC, sendo disciplinada pelas normas próprias da Lei nº 7.347/1985. A juris-prudência do STJ é pacífica ao afirmar que, em sede de ação civil pública, a condenação do Ministério Público ao pagamento de honorários advocatícios, custas processuais e ônus da sucumbência somente é cabível quando for comprovada e inequívoca a má--fé. Assim, em observância ao princípio da simetria, bem como à luz da interpretação sistemática do ordenamento, não pode o Parquet se beneficiar dos honorários, quando vencedor na ação civil pública. Precedentes: STJ, 2ª T., REsp 1.422.427, Relª Min. Eliana Calmon, DJe 18.12.2013 STJ, 2ª T., REsp 1.354.802, Rel. Min. Mauro Campbell Mar-ques, DJe 26.09.2013; TRF 2ª R, 5ª T.Esp., AC 20055102.0049075, Rel. Juiz Fed. Conv. Flávio Oliveira Lucas, e-DJF2R 18.08.2014). 7. Remessa necessária e apelações parcial-mente providas.” (TRF 2ª R. – AC-RN 0049109-92.1992.4.02.5101 – 5ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Ricardo Perlingeiro – DJe 22.05.2017 – p. 374)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 12.651/2012:

“Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

[...]

VIII – utilidade pública:

a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária;

b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços públicos de transporte, sistema viário, inclusive aquele necessário aos parcelamentos de solo urbano aprovados pelos Municípios, saneamento, gestão de resíduos, energia, te-lecomunicações, radiodifusão, instalações necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais, bem como mineração, exceto, neste último caso, a extração de areia, argila, saibro e cascalho;

c) atividades e obras de defesa civil;

d) atividades que comprovadamente proporcionem melhorias na proteção das fun-ções ambientais referidas no inciso II deste artigo;

e) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em proce-dimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo federal;”

Remissão Editorial SÍNTESEVide RSA nº 3, set./out. 2011, ementa nº 144 do TRF 5ª R.

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2358 – Avaliação de impacto ambiental – EIA/Rima – irregularidades – nova avaliação – possibilidade

“De instrumento. Ação civil pública. Obras de contenção das cheias. Licença prévia. Parecer favorável do Supram. Laudo técnico aponta irregularidades. Antecipação de tu-tela. Suspensão da licença e elaboração de novo EIA/Rima. Ausência dos requisitos. Impossibilidade. Recurso provido. I – Consoante dispõe o art. 273, do Código de Pro-cesso Civil/1973, poderá o juiz conceder, antecipadamente e a requerimento da parte, os efeitos da tutela satisfativa a qual se busca alcançar com o julgamento do mérito da ação. Para tanto, deverão ser preenchidos os seguintes requisitos: i) prova inequívoca da verossimilhança das alegações; ii) fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; e iii) possibilidade de retorno ao status quo ante na hipótese de eventual sentença de improcedência. II – Não há dúvidas de que só a prova inequívoca poderá ilidir a presunção de veracidade dos atos administrativos, evidentemente, no caso, a conclusão exarada pelo Supram, Órgão do Governo do Estado de Minas Gerais compe-tente para avaliar a possibilidade de concessão de Licença Prévia. III – O Laudo Técnico Ambiental emitido por engenheiro ambiental, apesar de possuir aptidão para apontar falhas nos estudos ambientais que o precederam e que pode, inclusive, ter relevância em determinados pontos, não tem força suficiente a desconstituir o parecer do Supram. IV – Há risco de dano inverso na demora da finalização do procedimento de licencia-mento na construção da barragem, tendo em vista os danos potenciais em casos de enchentes. V – Ausentes os requisitos previstos no art. 273 do CPC/1973, incabível o deferimento da tutela antecipada, mostrando-se necessária a reforma da decisão agra-vada.” (TJMG – AI-Cv 1.0439.14.008031-8/002 – 7ª C.Cív. – Rel. Wilson Benevides – DJe 05.05.2017)

Comentário Editorial SÍNTESESabe-se que o estudo de impacto ambiental, juntamente com o relatório de impacto ambiental, (EIA/Rima) é a mais completa e complexa avaliação de impactos ambien-tais que pode ser exigida para que seja concedida a licença ambiental.

O acórdão que passamos a comentar se trata de decisão proferida por conta da interposição de agravo de instrumento em face de decisão interlocutória que deferiu antecipadamente, em sede de Ação Civil Pública, a suspensão de licenciamento ambiental até que seja apresentado um novo Estudo de Impacto Ambiental para a realização das obras de contenção das cheias do Rio Preto e de Retificação do curso do Rio Muriaé no perímetro urbano. Dessa forma, se um empreendimento está sendo construído que causará significativa ou alta degradação ambiental, será obrigatória a apresentação do EIA/Rima.

Nas razões do agravo que gerou a decisão aqui abordada foram apresentados ar-gumentos no sentido de que ocorreram irregularidades nos estudos ambientais, de forma que novo estudo seja pleiteado, conforme podemos verificar no seguinte tre-cho da decisão:

“Compulsando os autos, verifica-se que, apesar das irregularidades apontadas, o processo para a obtenção de Licença Prévia foi precedido por avaliação do Supram/ZM, órgão responsável pela análise da regularidade dos estudos técnicos e ambientais, que concluiu, mediante criteriosa avaliação, pela concessão da licença, sob o fundamento que se transcreve, in verbis: O ‘Sistema de Contenção de Cheias

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do Rio Muriaé, a ser implantado no município irá gerar impactos sobre o meio ambiente, entretanto, com base na análise dos estudos ambientais apresentados pelo empreendedor, bem como nas observações e informações obtidas por ocasião da vistoria técnica, concluiu-se não haver restrição de ordem ambiental para sua instalação, desde que as medidas mitigadoras previstas nos diversos programas de controle ambiental em observância às condicionantes técnicas apostas neste sejam devidamente observadas’ (Parecer do Supram/ZM para obtenção de Licença Prévia no processo de licenciamento ambiental nº 08765/2013/001/2013, fls. 112/185-TJ). Ora, não há dúvidas de que só a prova inequívoca poderá ilidir a presunção de veracidade dos atos administrativos, evidentemente a conclusão exarada pelo Su-pram, Órgão do Governo do Estado de Minas Gerais competente para avaliar a possi-bilidade de concessão de licenças prévias. Desse modo, o Laudo Técnico Ambiental emitido por uma única engenheira ambiental (fls. 188/214-TJ), apesar de possuir aptidão para apontar falhas nos estudos ambientais que o precederam e que possam inclusive ter relevância em determinados pontos, não tem força suficiente a descons-tituir o parecer do Supram. Além disso, indemonstrados riscos de dano na continui-dade do empreendimento, haja vista a questão ora discutida versar apenas sobre a possibilidade de concessão de Licença Prévia, que é concedida na fase preliminar do planejamento da atividade e serve para atestar a viabilidade ambiental, bem como para estabelecer os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas pró-ximas fases de sua implementação, sendo desautorizado, a priori, o início de obras nesta fase do licenciamento. Assim, dada a larga extensão do empreendimento, há muito ainda para ser discutido e analisado, evidentemente para a obtenção das licenças de instalação/operação, momento em que será possível verificar se todas as rigorosas condicionantes ambientais foram devidamente preenchidas, as quais estão dispostas no Anexo I do parecer da Supram (fls. 179/182-TJ). Vale ressaltar que não se pode esquecer os amplos benefícios almejados pelo empreendimento, que visa promover a contenção das enchentes que assolam a região a afligem toda a comunidade que ali se estabelece, que, inclusive, poderá sofrer danos irreparáveis na demora da conclusão da barragem, havendo, portanto, perigo de dano inverso na concessão da medida antecipatória. Ainda, não se descura que a licença ambiental é prévia e se sujeita a renovações com passar do tempo, sendo plenamente viável a determinação de alterações para adequar pontos equivocados e/ou inadequados que forem apurados no decorrer das fases subsequentes. Por todo o exposto, conclui-se que faltam elementos aos autos para justificar a excepcional concessão da antecipa-ção da tutela previstas no art. 273 do CPC/1973, devendo a questão ser mais bem apreciada em sede de cognição exauriente, quando já oportunizada a ampla dilação probatória e o contraditório. Mediante tais fundamentos, dou provimento ao recurso, para, reformando a decisão objurgada, indeferir a antecipação dos efeitos da tutela requerida pelo autor, ora agravado, evidentemente no que tange aos pedidos ante-cipatórios compreendidos nas letras ‘A’ e ‘B’ da peça exordial às fls. 79/80-TJ. [...]”

Por fim, em votação unânime, foi dado provimento ao recurso para reformar a de-cisão agravada.

2359 – Crime ambiental – areia – argila – extração – dolo – ausência de comprovação – atipicidade

“Penal. Crime ambiental. Art. 55 da Lei nº 9.605/1998. Prescrição. Usurpação de bens da União. Art. 2º da Lei nº 8.176/1991. Extração de areia e argila. Ausência da com-

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provação do dolo. Atipicidade da conduta. Apelação desprovida. 1. Apelação Criminal interposta pelo Ministério Público Federal contra sentença que julgou improcedente a pretensão punitiva estatal, para absolver os réus pelos crimes previstos no art. 55 da Lei nº 9.605/1998 (crime ambiental) e art. 2º da Lei nº 8.176/1991 (crime usurpação de bem da União). 2. Segundo a denúncia, os réus foram flagrados extraindo clandestinamente minérios (argila e areia), sem a devida autorização, permissão, concessão ou licença legal dos órgãos competentes. 3. O art. 119 do Código Penal estabelece que o delito prescreve em 04 (quatro) anos, se o máximo da respectiva pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois anos. 4. Reconhecimento da prescrição em relação ao crime previsto no art. 55 da Lei nº 9.605/1998, haja vista que sua pena é de detenção de 06 (seis) meses a 01 (um) ano e multa, tendo sido a denúncia recebida em 08 de agosto de 2012 e não se verificando nenhuma outra causa interruptiva da prescrição, de se re-conhecer que ocorreu a prescrição quanto ao crime em questão. 5. Quanto ao crime tipi-ficado no art. 2º da Lei nº 8.176/1991, não se demonstrou nos autos a existência de dolo dos réus. 6. Impõe-se a manutenção do entendimento da sentença recorrida, no sentido de que houve, de fato, a extração ilegal de recursos minerais pelos réus. Todavia, há fun-dada dúvida acerca da constatação do elemento subjetivo do tipo em comento, uma vez que a menção ao fato de que os réus requereram o licenciamento para a exploração de minério na região, não autoriza, por si só, a inferência de que havia consciência de que a extração mineral irregular constituiria crime contra o patrimônio da União. 7. A prova testemunhal corroborou para o apontamento de uma exploração de antiga precedência, de forma a ser difícil precisar o quantitativo de minério efetivamente extraído pelos réus na região, em face da inexpressividade da Perícia Criminal Federal realizada, que ava-liou a totalidade do desgaste ambiental e não somente o impacto supostamente causado pelos réus. 8. O conjunto probatório sobrepesa a inexatidão do elemento volitivo ‘dolo’, à medida que averiguada a boa-fé dos acusados, atestada pela ainda prova testemunhal. 9. Reconhecimento da prescrição, para extinguir a punibilidade em relação ao crime pre-visto no art. 55 da Lei nº 9.605/1998. Apelação Criminal do MPF improvida.” (TRF 5ª R. – ACr 0005397-26.2010.4.05.8500 – (13980/SE) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Carlos Rebelo Júnior – DJe 17.04.2017 – p. 58)

Transcrição Editorial SÍNTESE• Lei nº 8.176/1991:

“Art. 2º Constitui crime contra o patrimônio, na modalidade de usurpação, produzir bens ou explorar matéria-prima pertencentes à União, sem autorização legal ou em desacordo com as obrigações impostas pelo título autorizativo.

Pena: detenção, de um a cinco anos e multa.

§ 1º Incorre na mesma pena aquele que, sem autorização legal, adquirir, transportar, industrializar, tiver consigo, consumir ou comercializar produtos ou matéria-prima, obtidos na forma prevista no caput deste artigo.

§ 2º No crime definido neste artigo, a pena de multa será fixada entre dez e trezentos e sessenta dias-multa, conforme seja necessário e suficiente para a reprovação e a prevenção do crime.

§ 3º O dia-multa será fixado pelo juiz em valor não inferior a quatorze nem superior a duzentos Bônus do Tesouro Nacional (BTN).”

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• Lei nº 9.605/1998:

“Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a compe-tente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida:

Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem deixa de recuperar a área pes-quisada ou explorada, nos termos da autorização, permissão, licença, concessão ou determinação do órgão competente.”

2360 – Crime ambiental – caça – animal silvestre – prescrição – possibilidade“Penal e processual penal. Apelação criminal. Caça de animal silvestre. Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido. Prescrição. Extinção da punibilidade. Inépcia da denún-cia. Inocorrência. Dosimetria da pena. Excesso. Parcial provimento. 1. Em caso de crime de autoria coletiva, a descrição individualizada das condutas na denúncia é mitigada, desde que haja a indicação de elementos suficientes para a persecução criminal e o adequado exercício do direito de defesa, o que ocorreu no caso. A superveniência da sentença condenatória torna preclusa a alegação de inépcia da denúncia. Precedentes. 2. Materialidade e autoria comprovadas quanto aos crimes previstos no art. 29, § 4º, da Lei nº 9.605/1998 e art. 14 da Lei nº 10.826/2003. O conjunto probatório dos autos demonstra que os réus, livremente e com consciência da ilicitude, praticaram a caça de animais silvestres no interior de unidade de conservação federal, bem como portavam ilegalmente armas de fogo e grande quantidade de armadilhas automáticas. Perícia cri-minal constatou a potencialidade lesiva das armas de fogo apreendidas. 3. Ocorrência de prescrição da pretensão punitiva com base na pena concreta aplicada para o crime ambiental, com relação aos réus Marcos Nati e Pedro da Silva Ferreira, os quais fazem jus ao prazo prescricional diferenciado do art. 115 do CP. 4. Elementos próprios do tipo penal não podem ser valorados negativamente para a fixação da pena-base acima do mínimo-legal. Redução das penas-bases aos patamares mínimos, ante a ausência de fundamentação idônea para a exacerbação. Adequação das penas de multa para guardar a proporcionalidade com as penas privativas de liberdade aplicadas. Presentes os requi-sitos do art. 44 do CP, deve ser mantida a substituição por penas restritivas de direito, observado o disposto no art. 9º da Lei nº 9.605/1998. 5. Apelação parcialmente provida para declarar extinta a punibilidade dos réus Marcos Nati e Pedro da Silva Ferreira pelo crime do art. 29, § 4º, da Lei nº 9.605/1998 e reduzir as demais penas aplicadas a eles e aos outros apelantes.” (TRF 1ª R. – ACr 0000831-95.2010.4.01.3310 – Rel. Des. Ney Bello – J. 03.05.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESE• Lei nº 9.605/1998:

“Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida:

Pena – detenção de seis meses a um ano, e multa.

[...]

§ 4º A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado:

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I – contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente no local da infração;

II – em período proibido à caça;

III – durante a noite;

IV – com abuso de licença;

V – em unidade de conservação;

VI – com emprego de métodos ou instrumentos capazes de provocar destruição em massa.”

• Lei nº 10.826/2003:

“Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocul-tar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente.”

2361 – Crime ambiental – exclusão do dolo – erro de tipo – ocorrência“Penal. Crime ambiental. Arts. 48 e 64, ambos da Lei nº 9.605/1998. Sentença absolutó-ria. Erro de tipo. Exclusão do dolo. I – O crime descrito no art. 48, da Lei nº 9.605/1998, nesta hipótese concreta, não é autônomo, mas mero exaurimento do intento único de construir em solo não edificável, pelo aproveitamento natural da coisa,trazendo como sequela o impedimento da regeneração natural da vegetação sacrificada com a cons-trução. II – A ausência de definição exata dos limites da unidade de conservação, bem como a existência de sinais, dados pelo próprio poder público, de que a área era edi-ficável – reconhecimento, pela Prefeitura, da rua na qual está localizada a construção, como logradouro público, bem como a cobrança de faturas pela empresa concessio-nária do serviço público de fornecimento de energia elétrica relativa a imóveis na re-gião impossibilitam exigir-se do réu consciência da condição de não edificável do solo, configurando erro de tipo, excludente do dolo. III – Apelação desprovida.” (TRF 2ª R. – ACr 0001579-27.2013.4.02.5111 – 2ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Messod Azulay Neto – DJe 09.05.2017 – p. 554)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 9.605/1998:

“Art. 48. Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação:

Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.”

2362 – Crime ambiental – exploração mineral – diamantes“E processual penal. Apelação criminal. Extração de diamantes sem autorização. Crime de usurpação do patrimônio da União. Crime ambiental. Concurso formal de crimes. Jurisprudência majoritária. Prescrição. Inocorrência. Provimento. Retorno à origem. 1. A conduta de exploração de minério (diamante) sem autorização dos órgãos competentes

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configura, a um só tempo, crime de usurpação de patrimônio da União e crime ambien-tal, nos termos do art. 2º da Lei nº 8.176/1991 e do art. 55 da Lei nº 9.605/1998. Os referidos tipos penais caracterizam crimes formais, de perigo abstrato, que se consumam independentemente da ocorrência de resultado naturalístico, já que os bens protegidos são, respectivamente, o patrimônio da União e o meio ambiente ecologicamente equi-librado. 2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça se consolidou no sentido de que o art. 2º da Lei nº 8.176/1991 e o art. 55 da Lei nº 9.605/1998 tutelam bens jurídicos distintos, configurando concurso formal de crimes. 3. Tratando-se de delitos autônomos, a prescrição do crime ambiental não atinge a punibilidade do réu com relação ao crime contra a ordem econômica. A pena máxima abstratamente cominada para o delito do art. 2º da Lei nº 8.176/1991 é de cinco anos, submetendo-se ao prazo prescricional de doze anos, nos termos do art. 109, III, do Código Penal. Inocorrência da prescrição. 4. Apelação do MPF provida, para anular a sentença e determinar o retorno à origem.” (TRF 1ª R. – Proc. 00015624120084013802 – Rel. Des. Ney Bello – J. 03.05.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESE• Lei nº 8.176/1991:

“Art. 2º Constitui crime contra o patrimônio, na modalidade de usurpação, produzir bens ou explorar matéria-prima pertencentes à União, sem autorização legal ou em desacordo com as obrigações impostas pelo título autorizativo.

Pena: detenção, de um a cinco anos e multa.

§ 1º Incorre na mesma pena aquele que, sem autorização legal, adquirir, transportar, industrializar, tiver consigo, consumir ou comercializar produtos ou matéria-prima, obtidos na forma prevista no caput deste artigo.

§ 2º No crime definido neste artigo, a pena de multa será fixada entre dez e trezentos e sessenta dias-multa, conforme seja necessário e suficiente para a reprovação e a prevenção do crime.

§ 3º O dia-multa será fixado pelo juiz em valor não inferior a quatorze nem superior a duzentos Bônus do Tesouro Nacional (BTN).”

• Lei nº 9.605/1998:

“Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a compe-tente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida:

Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem deixa de recuperar a área pes-quisada ou explorada, nos termos da autorização, permissão, licença, concessão ou determinação do órgão competente.”

2363 – Crime ambiental – fauna – insignificância – princípio – inaplicabilidade“Apelação criminal. Crime contra a fauna. Pássaros silvestres. Uso indevido de símbolo público. Materialidade, autoria e dolo demonstrados. Princípio da absorção. Inaplica-bilidade. Princípio da insignificância não aplicável. Condenação. Dosimetria da pena. Concurso formal. Substituição da pena corporal por restritivas de direitos. Recursos da acusação e da defesa desprovidos. 1. Materialidade, autoria e dolo comprovados. 2. Sen-do o réu um criador de pássaros, registrado no Sistema de Cadastro de Criadores Amado-ristas de Passeriformes, há mais de 10 (dez) anos, tem como dever conferir o número e a

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regularidade da anilha ao adquirir cada ave. Além disso, não é razoável que não tenha atentado para a situação das anilhas nos pássaros que estava adquirindo ou trocando, já que não se trata de pessoa leiga. 3. Ademais, em seu interrogatório, o réu confessou que adquiriu as anilhas da pessoa chamada ‘Sebastião Cabelinho’, sendo que uma pessoa afeta à criação de pássaros como ele deveria saber que tais anéis só devem ser adquiridos do Ibama e não de terceiros. Acrescente-se a isso o fato de a diligência da Polícia Militar Ambiental ter resultado na apreensão também de petrechos destinados à adulteração de anilhas, tais como um anilhador, um alargador de anilha, um suporte para alargar anilha e uma lixa redonda para lixar anilha. 4. Obviamente que, somente por conta disso, não se pode concluir ser o réu o autor da falsificação, mas, por outro lado, não há como eximi-lo da prática do uso indevido das anilhas falsificadas, uma vez que tinha condições de aferir que as mesmas estavam adulteradas, bem como tinha a obrigação de notificar o órgão competente quanto a possíveis irregularidades encontradas. 5. Não há como se afastar o elemento subjetivo do tipo (o dolo), restando demonstrado pelas próprias circunstâncias fáticas e da alegada condição de criador de aves autorizado pelo Ibama. Ao não averiguar a regularidade das anilhas dos seus pássaros, pode-se afirmar que, no mínimo, o réu assumiu o risco do resultado, ensejando a condenação, ainda que pela caracterização do dolo eventual. 6. Da mesma forma, não prospera a tese do Ministério Público de absorção do delito do art. 296 do Código Penal pelo crime do art. 29 da Lei nº 9.605/1998. Isso porque a adulteração das anilhas, que caracteriza o crime de uso de selo ou sinal falsificado de órgão da Administração Pública e previsto no art. 296 do Código Penal, não é meio indispensável à caracterização do crime de manter em cativeiro espécimes da fauna silvestre sem licença da autoridade competente, previsto no art. 29, § 1º, inciso III, da Lei nº 9.605/1998. 7. Não se pode aceitar tratar-se de caso a ser abrangido pela teoria do princípio da insignificância penal, sendo preciso consignar que o bem juridicamente tutelado não se resume na proteção de alguns espé-cimes, mas sim do ecossistema, como um todo, que está ligado, intimamente, à política de proteção ao meio ambiente, como direito fundamental do ser humano, direito de ter um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Na verdade, a lei cuida não só da prote-ção do meio ambiente em prol de uma melhor qualidade de vida da sociedade hodierna, como também das futuras gerações, em obediência ao princípio da solidariedade em relação aos que estão por vir, previsto no art. 225 da Carta Magna (direito fundamental de terceira geração). 8. Aplicável ao caso a hipótese do concurso de crimes, uma vez que, mediante uma única conduta, o réu manteve em cativeiro espécimes da fauna silvestre nativa sem a devida autorização da autoridade competente, bem como fez uso indevido de anilhas falsificadas. 9. Dosimetria da pena. Pena reformada de ofício. Réu primário, inexistência de condições pessoais desfavoráveis. 10. Art. 29, § 1º, III, da Lei nº 9.605/1998. Pena fixada no mínimo legal em 06 (seis) meses de detenção e 10 (dez) dias-multa. 11. Art. 296, § 1º, III, do Código Penal. Pena fixada no mínimo legal em 02 (dois) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa. 12. Concurso formal – majoração em 1/6 da maior pena (do art. 296 do Código Penal). Pena definitiva: 02 (dois) anos e 04 (quatro) meses de reclusão (art. 70 do Código Penal) e 20 (vinte) dias-multa (art. 72 do Código Penal). 13. Regime aberto. Valor do dia-multa fixado no mínimo legal. 14. Cabível a substituição da pena privativa de liberdade (art. 44 do Código Penal) por duas penas restritivas de direitos, consistentes na prestação de serviços à comunidade e prestação pecuniária, no valor de 03 (três) salários-mínimos, que deverão ser revertidas em prol

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de entidade beneficente, ambas determinadas pelo Juízo da Execução. 15. Recursos da acusação e da defesa desprovidos.” (TRF 3ª R. – ACr 0000545-48.2015.4.03.6136/SP – 5ª T. – Rel. Des. Fed. Paulo Fontes – DJe 15.05.2017 – p. 363)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 9.605/1998:

“Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida:

Pena – detenção de seis meses a um ano, e multa.

§ 1º Incorre nas mesmas penas:

I – quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em desacordo com a obtida;

II – quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural;

III – quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente.”

2364 – Crime ambiental – fauna – materialidade – autoria – demonstração“Penal. Processo penal. Crime ambiental. Art. 29, § 1º, III, da Lei nº 9.605/1998. In-timação. Expedição da carta precatória. Intimação da audiência. Inexigibilidade. Sen-tença. Fundamentação. Prejuízo. Exigibilidade. Materialidade e autoria demonstradas. Dosimetria. Afastamento da causa de aumento do art. 29, § 3º, I, da Lei nº 9.605/1998. Justiça gratuita. 1. Não é necessária a intimação da data da audiência no juízo depreca-do, uma vez intimada a defesa da expedição da carta precatória (STJ, Súmula nº 273). 2. E a nulidade por falta de intimação da expedição da precatória é relativa (STF, Súmula nº 155) a exigir comprovação de efetivo prejuízo para a caracterização de nulidade (CPP, art. 563). [Tab]. 3. No processo penal vige a máxima pas de nulitté sans grief segundo a qual se exige a demonstração de prejuízo para a configuração da nulidade, princípio válido também no que toca à necessidade de fundamentação da sentença. 4. Materialidade e autoria demonstradas. 5. Defiro o pedido da gratuidade da justiça pleiteada pelo apelante, salientando que, não obstante sua concessão, há de ser mantida a responsabilidade do beneficiário pelas despesas processuais e pelos honorários advo-catícios decorrentes de sua sucumbência (CPC/2015, art. 98, § 2º), ficando, no entanto, sobrestado o pagamento, enquanto perdurar a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão da gratuidade, pelo prazo de 5 (cinco) anos, ocorrendo, após, a extinção da obrigação (CPC/2015, art. 98, § 3º). 6. Apelação parcialmente provida.” (TRF 3ª R. – ACr 0007280-95.2012.4.03.6106/SP – 5ª T. – Rel. Des. Fed. André Nekatschalow – DJe 17.05.2017 – p. 653)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 9.605/1998:

Page 181: ISSN 2236-9406 Revista SÍNTESE - bdr.sintese.com 37_miolo.pdf · tos concisos que destacam, de forma resumida, os principais acontecimentos do período, tais como notícias, projetos

RSA Nº 37 – Maio-Jun/2017 – PARTE GERAL – EMENTÁRIO DE JURISPRUDÊNCIA DE DIREITO AMBIENTAL ����������������������������������������181

“Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida:

Pena – detenção de seis meses a um ano, e multa.

§ 1º Incorre nas mesmas penas:

[...]

III – quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente.”

2365 – Crime ambiental – madeira – transporte – ilegalidade – corrupção – ocorrência“Penal. Crimes de transporte ilegal de madeira, falsificação e uso de documento pú-blico falso, corrupção passiva e ativa. Não configuração da autoria e materialidade do recebimento de vantagem por um dos servidores que afasta a configuração do crime, com relação a este, de corrupção passiva. Princípio do in dubio pro reo. Não configu-ração de sentença ultra petita quando o julgador aplica o instituto da emendatio libelli. Ausência de erro de tipo, estando configurado o dolo na conduta criminosa. Autoria e materialidade comprovadas. Firme arcabouço probatório. Prescrição retroativa puni-tiva do crime do art. 46, parágrafo único, da Lei nº 9.605/1998 configurada. Condu-ta anterior à alteração da Lei nº 12.234/2010. Não aplicação do instituto do arrepen-dimento posterior. Ausência de reparação do dano. Percentual de aumento do crime continuado que deve ser correlato ao número de infrações praticadas. Revisitação da dosimetria de pena. Pena definitiva minorada. Aplicação da sanção autônoma de perda do cargo público. Possibilidade. 1. Apelações Criminais manejadas pelo Ministério Pú-blico Federal e pelos acusados em face da sentença que os condenou pelos crimes do art. 46, parágrafo único, da Lei nº 9.605/1998 (transporte ilegal de madeira) e art. 297 c/c art. 304 (falsificação e uso de documento público falso), art. 317, § 1º (corrupção passiva), e art. 333, parágrafo único (corrupção ativa), todos do Código Penal e absolveu alguns Réus da prática dos crimes previstos no art. 317, § 1º, e art. 333 do CP (corrupção passiva e ativa, respectivamente). 2. Ausência de comprovação cabal de que um dos acusados (servidor do Ibama) recebeu vantagem indevida para a confecção de ATPF (Autorização de Transporte de Produtos Florestais) falsa, acarretando a não configuração do delito de corrupção passiva no tocante a este servidor. Aplicação do princípio do in dubio pro reo, previsto no art. 386, VII, do Código de Processo Penal, ante a insuficiência probatória de autoria e materialidade. 3. Não há que se falar em sentença ultra petita quando o juízo, aplicando o instituto do emendatio libelli, dá definição jurídica não prevista pelo Minis-tério Público sem alterar o suporte fático descrito na denúncia. Ausência de violação aos princípios do contraditório e ampla defesa, pois os réus se defendem dos fatos e não da capitulação jurídica. 4. Afastada a tese de erro de tipo e a consequente ausência de dolo, visto que, nos termos das provas testemunhais e documentais, foram falsificadas licenças ambientais para transporte de material florestal, tendo os réus, embora conscientes da ilicitude, as utilizado para aparentar legitimidade no transporte irregular de madeira. Materialidade e autoria comprovadas, mediante firme arcabouço probatório presente no feito, estando também configurado o dolo pela vontade consciente de praticar o ilícito

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penal. 5. Incidência da prescrição retroativa punitiva no crime do art. 46, parágrafo úni-co, da Lei nº 9.605/1998, visto que a pena in concreto dos acusados restou fixada abaixo de 01 (um) ano, tendo transcorrido tempo maior que o prazo legal (dois anos), nos ter-mos do art. 109, VI, do CP (redação anterior à Lei nº 12.234/2010) entre a data do fato (24.01.2000) e a data do recebimento da denúncia (30.08.2005), bem como entre esta e a data da sentença (06.02.2013). 6. Não aplicação do instituto do arrependimento pos-terior, uma vez que não houve reparação integral do dano ou restituição da coisa, nem sequer houve tentativa disso, visto que o crime é formal. 7. O percentual de aumento do crime continuado deve ser correlato ao número de infrações penais cometidas. Assim, a consumação de quatro e cinco delitos criminais acarreta a elevação de pena na fração de 1/4 (um quarto) e 1/3 (um terço) respectivamente. Precedentes do STJ. 8. Revisitação da dosimetria de pena dos réus. Atenuante de confissão espontânea que deve ser consi-derada, segundo entendimento do STJ, como circunstância preponderante, não podendo ser rechaçada pelo julgador. Diminuição das penas definitivas dos acusados. 9. Uma vez configurada que a conduta delituosa foi praticada com abuso funcional, em detrimento da Fé Pública, e com violação dos princípios Administrativos, a perda da função públi-ca deve ser imputada, como efeito da condenação, àqueles que tenham demonstrado a incompatibilidade da conduta com a atuação no setor público. Apelações Criminais providas em parte.” (TRF 5ª R. – ACr 2005.84.01.001943-1 – (10247/RN) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Cid Marconi – DJe 11.04.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 9.605/1998:

“Art. 46. Receber ou adquirir, para fins comerciais ou industriais, madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem exigir a exibição de licença do vendedor, outorgada pela autoridade competente, e sem munir-se da via que deverá acompanhar o produto até final beneficiamento:

Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, tem em depósito, transporta ou guarda madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem licença válida para todo o tempo da viagem ou do armazenamento, outorgada pela autoridade competente.”

2366 – Crime ambiental – pesca ilegal – insignificância – princípio – inaplicabilidade“Penal. Processo penal. Crime ambiental. Art. 34 da Lei nº 9.605/1998. Pesca ilegal. Ma-terialidade, autoria e dolo comprovados. Princípio da insignificância. Inaplicabilidade. 1. Comprovados a autoria, a materialidade e o dolo, e sendo o fato típico, antijurídico e culpável, mantém-se a condenação do réu pela prática do delito previsto no art. 34, caput, c/c art. 36, ambos da Lei nº 9.605/1998, consistente na pesca ilegal em área de reserva biológica marinha do arvoredo. 2. Os ilícitos ambientais, em regra, não admitem a aplicação do princípio da insignificância, em razão da ofensa a relevante bem jurídico, constitucionalmente tutelado.” (TRF 4ª R. – ACr 5017607-95.2015.4.04.7200 – 7ª T. – Rel. Márcio Antonio Rocha – J. 09.05.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 9.605/1998:

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“Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente:

Pena – detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativa-mente.

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem:

I – pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes com tamanhos inferio-res aos permitidos;

II – pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de apare-lhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos;

III – transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes provenientes da coleta, apanha e pesca proibidas.

[...]

Art. 36. Para os efeitos desta Lei, considera-se pesca todo ato tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais da fauna e da flora.”

2367 – Crime ambiental – pesca ilegal – peixe pargo – período defeso – impossibilidade“Penal. Processo penal. Apelação criminal. Crime ambiental. Pesca de peixe pargo em período de defeso. Art. 34, da Lei nº 9.605/1998. Elementos probatórios suficientes à comprovação da autoria e da materialidade delitiva. Princípio da insignificância. Reite-ração delitiva. Ausência dos requisitos. Não provimento à apelação. I – Apelação crimi-nal interposta contra sentença que condenou o réu a uma pena de um ano de detenção, substituída por restritiva de direito, por ter efetuado pesca em período de defeso, para fins de comercialização, de 48 Kg (quarenta e oito quilos) de peixe pargo, crime disposto no art. 34, da Lei nº 9.605/1998. II – Autor é aquele que de qualquer modo concorre para a prática do crime (CP, art. 29), definição encampada também pelo art. 2º, da Lei nº 9.605/1998, que estende a responsabilidade penal a todo aquele que mesmo sem praticar os atos do núcleo do tipo penal concorreram para a prática do fato ilícito. No caso, a propriedade da embarcação, a participação nos lucros da quantidade pescada e a responsabilidade pelo fornecimento do combustível necessário às atividades de pesca são elementos suficientes à caracterização do réu como autor do crime imputado. III – A materialidade delitiva também está comprovada, lastreada, fundamentalmente, no auto de infração, juntamente com os termos de fiscalização, termo de apreensão/depósito documentados no IPL 1303/2011 e pela prova testemunhal. IV – Não é o caso de apli-cação do princípio da insignificância, visto não estarem presentes os requisitos necessá-rios à sua incidência, seja pela relevância do bem jurídico tutelado, como pelo fato da reiteração da conduta delitiva pelo acusado. V – Apelação não provida.” (TRF 5ª R. – ACr 0006946-05.2013.4.05.8100 – (14657/CE) – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Edilson Pereira Nobre Júnior – DJe 11.04.2017 – p. 102)

Comentário Editorial SÍNTESEA decisão aqui comentada trata do recurso de apelação criminal interposto pelo condenado pela prática de pesca ilegal. A condenação em, um ano de detenção,

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substituída por restritiva de direito, e dez dias-multa ocorreu por conta da pesca de 48 quilos de peixe pargo em período defeso.

Em sua defesa anterior à sentença, o condenado alegou que seu objetivo não é a pesca do peixe pargo, mas ele se mistura aos outros peixes e por ser de águas pro-fundas já chega no barco morto, de forma a ser inviável a devolução ao mar.

A defesa requereu a absolvição por falta da comprovação da autoria delitiva. Veja-mos trechos do voto do relator:

“[...] Com efeito, a prova contida nos autos evidencia que os agentes de fiscalização do Ibama flagraram 48Kg de peixe pargo na embarcação de propriedade do denun-ciado na hora em que estava sendo descarregado no Porto de Mucuripe. A autoria desponta inconteste, dado que o réu era o proprietário da embarcação que transpor-tava a mercadoria, tendo declarado que participa dos lucros da pesca na proporção de 1/4 de cada quilo de peixe pescado, tendo assinado os autos de infração e apreensão lavrados pelo Ibama (fl. 28, inquérito apenso). A testemunha de defesa Raimundo Baubino Filho confirmou em seu depoimento que o réu possui partici-pação dos lucros da pesca, conforme o próprio denunciado afirmou em seu interro-gatório, robustecendo a conclusão acerca de sua autoria. A circunstância de existir contrato de arrendamento entre o réu e o suposto arrendatário não exclui a autoria delitiva daquele, a qual não se limita ao agente que pratica materialmente o núcleo do verbo da conduta delitiva. Isso porque, nos termos do art. 29, do Código Penal, autor é aquele que de qualquer modo concorre para a prática do crime, definição encampada pelo art. 2º, da Lei nº 9.605/1998, que estende a responsabilidade penal a todo aquele que mesmo sem praticar os atos do núcleo do tipo penal con-correram para a prática do fato ilícito. Deste modo, a propriedade da embarcação, a participação nos lucros da quantidade pescada e a responsabilidade pelo forneci-mento do combustível necessário às atividades de pesca são elementos suficientes à caracterização do réu como autor do crime imputado. A materialidade delitiva também está comprovada, lastreada, fundamentalmente, no auto de infração, junta-mente com os termos de fiscalização, termo de apreensão/depósito de fls. 07/20 do IPL 1303/2011 e pela prova testemunhal. Portanto, o acervo probatório delineado nos autos autoriza a aplicação de uma sanção penal em desfavor do denunciado, não havendo cogitar-se na aplicação do princípio da insignificância, pois não estão presentes os requisitos necessários à sua incidência, seja pela relevância do bem jurídico tutelado e sobretudo quando o caso concreto remete à reiteração da conduta delitiva pelo acusado, tendo ensejado inclusive a revogação do sursis processual concedido. [...]”

O Ilustre Desembargador Relator negou provimento ao recurso e o voto foi acompa-nhado pelos demais julgadores.

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 9.605/1998:

“Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente:

Pena – detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativa-mente.

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem:

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I – pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes com tamanhos inferio-res aos permitidos;

II – pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de apare-lhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos;

III – transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes provenientes da coleta, apanha e pesca proibidas.”

2368 – Crime ambiental – receptação – prescrição – ocorrência“Penal. Processual penal. Crime contra o meio ambiente. Art. 69, Lei nº 9.605/1998. Receptação. Art. 180, CP. Prescrição retroativa. Extinção da punibilidade. Efeitos da con-denação penal e extrapenal afastados. Uso de sinal público falso. Art. 296, § 1º, III, CP. Dosimetria da pena. Desproporcionalidade. Redução da pena-base. 1. Ocorrência de prescrição da pretensão punitiva, na modalidade retroativa, para os crimes do art. 69 da Lei nº 9.605/1998 e do art. 180 do CP, em face do lapso temporal transcorrido entre o recebimento da denúncia e a data da publicação da sentença penal condenatória. 2. A extinção da punibilidade do réu Wilmar Garcia de Magalhães em razão da prescrição da pretensão punitiva estatal pela pena em concreto fixada na sentença elide todos os efeitos da condenação. Precedentes deste Tribunal e do Superior Tribunal de Justiça. 3. A prescrição atinge, inclusive, a pena de perdimento do veículo utilizado para a prá-tica do crime ambiental, determinado nos termos do art. 25, § 5º, da Lei nº 9.605/1998, por constituir efeito da condenação, não podendo a sentença penal, neste caso, servir de fundamento para execução no juízo cível. 4. Excesso na dosimetria da pena do réu Marcos Martinez Borges. Ausência de fundamentação suficiente para majoração da pe-na-base. Redução das penas aplicadas. 5. O pagamento das custas processuais é efeito da condenação. Ausentes provas suficientes de que o réu, assistido por advogado par-ticular, ostenta a condição de hipossuficiência, não deve ser concedido o benefício da suspensão da exigibilidade de pagamento previsto no art. 98, § 3º, da Lei nº 13.105/2015, sem prejuízo de posterior requerimento perante o Juízo da Execução. 6. Declaração, de ofício, da prescrição dos crimes ambiental e de receptação. 7. Apelações parcialmente providas.” (TRF 1ª R. – ACr 2006.41.01.003466-3 – Rel. Des. Ney Bello – J. 09.05.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 9.605/1998:

“Art. 69. Obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do Poder Público no trato de ques-tões ambientais:

Pena – detenção, de um a três anos, e multa.”

2369 – Dano ambiental – aeronaves – emissão de gases poluentes – Anac – competên­cia fiscalizatória

“Agravo de instrumento. Ação civil pública. Competência. Justiça federal. Art. 109, I, CF. Dano ambiental. Emissão de gases poluentes. Interesse jurídico da Anac. Recurso provi-do. 1. Vislumbra-se o interesse de agir da agência reguladora na resolução da demanda, na medida em que se discute dano ambiental de proporções que extrapolam os limites territoriais da localidade em que proposta, assim como atingem atribuições da Anac. 2. A Lei nº 11.182/2005, que criou a Agência Nacional de Aviação Civil – Anac, estabeleceu as atribuições da agencia. 3. Verifica-se que a Anac possui as atribuições necessárias

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para a regulamentação do setor, abarcando as questões ambientais (como as emissões de poluentes), sendo certo que a medida abrange, não só a ora agravante, mas também o setor aeroportuário. 4. Considerando o interesse da Anac na demanda, de rigor a apli-cação do art. 109, I, CF, com o reconhecimento da Justiça Federal para o processamento e julgamento da lide. 5. Agravo de instrumento provido.” (TRF 3ª R. – AI 0014603-05.2013.4.03.0000/SP – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Nery Junior – DJe 12.05.2017 – p. 744)

2370 – Dano ambiental – edificação – área de praia – demolição“Ambiental. Comprovação do dano. Aplicação de sanção. Edificação em área de praia. Terreno de marinha e área de preservação permanente. Comprovação por laudo judi-cial. Demolição do imóvel. Cabimento. Recurso improvido. 1. Hipótese de apelação interposta contra sentença que, nos autos de Ação Civil Pública, julgou procedente o pedido inicial para julgou procedente o pedido para ‘reconhecer a nulidade da ocupa-ção e construção da Barraca Lua Cheia, bem como para determinar a sua desocupação e remoção, na integralidade, incluindo-se instalações, construções, edificações, resídu-os e materiais, recolhendo-se todo o lixo e resíduos do estabelecimento e adjacências, desfazendo, inclusive, o sistema de canos de PVC e tubulação’. 2. No caso dos autos, o Relatório Técnico nº 1.790/2007-Copac/Nucam, da Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará – Semace, constante na mídia digital, como parte do inquérito civil promovido pelo Ministério Público Federal, concluiu que 25 barracas, entre as quais a Barraca Lua Cheia, estavam situadas em área de praia e nenhuma delas tinha alvará de funcionamento atualizado, nem autorização do Serviço de Patrimônio da União – SPU para a utilização dos respectivos espaços. 3. A Justiça Federal é competente para conhe-cer e julgar ação civil proposta tendo em mira a proteção do meio ambiente das praias marítimas que, nos termos do art. 20, incs. IV e VII da Constituição Federal, pois esses bens integram o rol patrimonial da União (art. 109, inc. I, também da Carta Magna). 4. O fato de ter havido autorização para uso da área por autoridade municipal não afasta a ilegalidade da construção, por se tratar de região praieira, submetida à fiscali-zação federal, cabendo à parte que se considere prejudicada buscar eventual responsa-bilização do órgão administrativo cuja atuação possa ter lhe causado prejuízo. 7. Não merece amparo a alegação de que a urbanização não trouxe danos ao meio ambiente, pois o Relatório Técnico nº 1.790-Copam/Nucam atestou que a instalação indevida das barracas ocasiona sobrecarga no precário sistema de esgotamento sanitário, o que con-tribui para a poluição do lençol freático, problemas na disposição dos resíduos sólidos, impedimento de acesso à praia entre algumas barracas, excesso de números de mesas e cadeiras, etc. 8. ‘Havendo dano ambiental, deve o interesse privado ceder frente ao interesse da coletividade, e que se expressa em ter um meio ambiente ecologicamente equilibrado, o que foi erigido pelo constituinte originário em bem de uso comum do povo, e direito das presentes e futuras gerações (art. 225, caput, da CF/1988)’ (Processo: 00006194620104058101, AC 587766/CE, Des. Fed. Cid Marconi, 3ª T., Julgamento: 18.08.2016, Publicação: DJe 29.08.2016, p. 68). 9. Tendo em vista que o conceito legal de praia não leva em consideração a Linha de Preamar Médio de 1831, desnecessária a realização de perícia para a sua demarcação, tendo em vista que seu resultado seria irrelevante para o deslinde da questão. 10. Deve ser mantida a sentença que determinou a demolição do imóvel construído indevidamente. 11. Apelação não provida.” (TRF 5ª R. – AC 0007636-34.2013.4.05.8100 – (591516/CE) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Carlos Rebelo Júnior – DJe 10.04.2017 – p. 53)

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2371 – Exploração mineral – ausência de autorização – crime ambiental – ocorrência“Penal e processual penal. Extração de cascalho sem prévia autorização dos órgãos competentes. Crime ambiental e crime de usurpação de patrimônio público. Capítulos condenatório e absolutório da sentença. Confirmação. 1. Sandro Gonçalves de Olivei-ra e Vicente Paulo do Couto apelam de sentença da 2ª Vara Federal de Uberaba/MG (fls. 606- 610), que condenou o primeiro pelo crime do art. 2º, § 1º da Lei nº 8.176/1991, a 1 (um) ano e 2 (dois) meses de detenção; e, o segundo, pelo art. 55 da Lei nº 9.605/1998, a 6 (seis) meses de reclusão; e pelo crime do art. 2º (caput) da Lei nº 8.176/1991, a 1 (um) ano e 2 (dois) meses de detenção e 35 (trinta e cinco) dias-multa. Apela também o Ministério Público Federal, inconformado com a absolvição de Vicente Paulo do Couto pelo crime do art. 55 da Lei nº 9.605/1998. 2. A extração de cascalho realizada pelos acusados, em 20.07.2011 e em 10.08.2011, a descoberto de licença e de autorização dos órgãos competentes (Departamento Nacional de Produção Mineral [DNPM] e órgão ambiental local). Caracterização do crime descrito no art. 55 da Lei nº 9.605/1998 em re-lação ao acusado Vicente, quanto à primeira hipótese; e do art. 2º da Lei nº 8.176/1991 em relação a ambos (Vicente e Sandro). 3. Confirmação da sentença, nos seus capítulos condenatório e absolutório. Os fundamentos das apelações (do MPF e dos acusados) não infirmam as bases do julgado, inclusive na fixação das condenações. 4. Apelação do MPF. Hipótese em que o Juízo reconheceu que Vicente ‘possuía a Autorização Am-biental de Funcionamento de fl. 148, para a extração de cascalho e areia na poligonal fiscalizada em 10.08.2011, “enquadradas na CN74/2004 sob o(s) código(s) A-03-01-8: A-02-10-0”’. Conclusão de fato não afastada pelo MPF nas suas razões recursais. 5. Apelação dos réus. Comprovação do conhecimento de ambos quanto à inexistência de autorização e de licença para a exploração mineral em causa. Razões insuficientes para afastar as conclusões do Juízo. 6. Eventual estado de miserabilidade (alegado e não provado) não pode ser aceito como justificativa para redução ou isenção da pena pecuniária imposta em substituição à pena privativa de liberdade. 7. Apelações não providas.” (TRF 1ª R. – ACr 0006430-57.2011.4.01.3802 – Rel. Juiz Leão Aparecido Alves – J. 02.05.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESE

• Lei nº 8.176/1991:

“Art. 2º Constitui crime contra o patrimônio, na modalidade de usurpação, produzir

bens ou explorar matéria-prima pertencentes à União, sem autorização legal ou em

desacordo com as obrigações impostas pelo título autorizativo.

Pena: detenção, de um a cinco anos e multa.

§ 1º Incorre na mesma pena aquele que, sem autorização legal, adquirir, transportar,

industrializar, tiver consigo, consumir ou comercializar produtos ou matéria-prima,

obtidos na forma prevista no caput deste artigo.”

• Lei nº 9.605/1998:

“Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a compe-

tente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida:

Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.

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Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem deixa de recuperar a área pes-quisada ou explorada, nos termos da autorização, permissão, licença, concessão ou determinação do órgão competente.”

2372 – Exploração mineral – bem da União – usurpação – crime – ocorrência

“Penal. Processo penal. Apelações criminais da defesa e acusação. Crime ambiental. Usurpação de bem da União. Art. 55 da Lei nº 9.605. Art. 2º da Lei nº 8.176. Art. 70 do CP. Ausência de nulidade pelo não oferecimento de transação penal. Art. 76 da Lei nº 9.099/1995. Materialidade e autoria delitivas comprovadas. Dolo comprovado. Do-simetria inalterada. Apelações criminais desprovidas. 1. Ausência de nulidade em razão do não oferecimento de transação penal ao réu, em especial quando a defesa deixou de impugnar esta decisão judicial, apenas fazendo-o após a prolação de sentença. Assunto decidido em habeas corpus perante esta Corte. 2. Ainda que, tecnicamente, a britagem consista em processo industrial de fragmentação de rocha inicialmente extraída, o Laudo Pericial foi explícito ao identificar a extração de mineral no local fiscalizado. A mera descrição da matéria-prima extraída como ‘pedra britada’ na peça inicial não traz pre-juízo para a defesa, que foi perfeitamente capaz de compreender a imputação. 3. Mate-rialidade e autoria delitivas dos crimes dos art. 55 da Lei nº 9.605/1998 e art. 2º, caput, da Lei nº 8.176/1991 incontestes. 4. Dolo atestado. O réu tinha pleno conhecimento de que a atividade de extração de minerais demandava as respectivas autorizações do DNPM e do Inea para ser legalmente explorada, o que é evidenciado pelas diligências realizadas junto aos órgãos administrativos para obter as autorizações. 5. Dosimetria inalterada. Pena fixada de acordo com o critério trifásico do art. 68 do CP e calculada de forma proporcional às circunstâncias do caso concreto. 6. Manutenção do aumento do concurso formal em 1/6. Prática de dois crimes. Critério de aumento baseado em nú-mero de delitos. Precedentes STJ. 7. Apelações criminais desprovidas.” (TRF 2ª R. – ACr 2012.51.13.000339-6 – 2ª T.Esp. – Relª Simone Schreiber – DJe 25.05.2017 – p. 141)

2373 – Extração de minério – dano ambiental – reparação – obrigatoriedade

“Direito administrativo e ambiental. Ação civil pública. Extração irregular de recurso mineral. Dano ambiental. Responsabilidade civil objetiva. Dever de reparação. Prazo para apresentação de Prad. Majoração. 1. Apuradas a ocorrência de dano ambiental e a viabilidade de recuperação da área degradada, por meio do pertinente Prad, este deverá ser executado, após a aprovação pelo órgão competente, a fim de que seja restabelecido, na medida do possível, o status quo ante. E o desempenho de qualquer atividade no local deverá ser precedida, necessariamente, do devido licenciamento. 2. A responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco, afastando qualquer per-quirição e discussão de culpa. A responsabilidade pode ser atribuída, então, ao titular da propriedade do imóvel, mesmo que não seja de sua autoria a deflagração do dano, tendo em conta sua natureza propter rem. 3. Em atenção ao princípio da razoabilidade, deve ser acolhida a pretensão ao incremento do prazo estipulado para a elaboração de Projeto de Recuperação de Área Degradada.” (TRF 4ª R. – AC 5007515-73.2011.4.04.7208 – 4ª T. – Relª Desª Fed. Vivian Josete Pantaleão Caminha – J. 26.04.2017)

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2374 – Ibama – construção – embargo – área com dunas – recuo mínimo – inobser­vância

“Administrativo e ambiental. Embargo efetuado pelo Ibama. Alegação genérica de exis-tência de dunas fixas e móveis no terreno. Licença ambiental que só permite a cons-trução em área desprovida de vegetação. Ausência de fundamento legal no embargo. Inobservância do recuo mínimo de cem metros a que se refere o art. 2º, g, do Código Florestal. Fato comprovado em vistoria técnica. Manutenção do embargo nessa parte. Provimento parcial do apelo. 1. Apelação interposta contra sentença que julgou im-procedente pretensão voltada à invalidação de embargo administrativo realizado pelo Ibama em relação ao empreendimento denominado ‘Areias Coloridas Resort’, situado no município de Beberibe/CE. 2. A matéria em debate na presente demanda já foi analisada por esta Quarta Turma nos autos do AGTR 103710/CE (Rel. Des. Fed. Bruno Leonar-do Câmara Carrá [Conv.], J. 15.06.2010, DJe 17.06.2010, p. 483), interposto pela ora apelante contra decisão do Juízo de origem que havia indeferido o pleito liminar. 3. O licenciamento ambiental consignou expressamente que haviam tais formações naturais, mas que o projeto pretendia preservar-lhes: a) ‘considerando que os setores a serem edi-ficados estão representados por dunas desprovidas de vegetação’; b) ‘considerando que na implantação de acessos serão aproveitados os trechos mais planos e que não apre-sentem vegetação, evitando-se, assim, o desmatamento e a terraplanagem’. 4. Por outro lado, não há no laudo técnico elaborado pelo Ibama qualquer referencia a uma área específica do empreendimento que esteja passando por dunas fixas, mas apenas que: a) ‘os 3 setores acima compreendem áreas onde ocorrem dunas fixas e móveis legalmente definidas...’ (fl. 177); b) ‘ao longo do campo de dunas onde estão previstas as interven-ções para a instalação dos setores 1,2 e 3 do empreendimento, encontram-se áreas mais rebaixadas, os chamados corredores preferenciais de deflação, ou blowouts (anexo 4.1)’; ‘c) a área onde está prevista a construção da via de acesso que liga as áreas 2 e 3 com-preende dunas fixas e móveis’ (fls. 176/184 e 211/222). 5. Por tais razões, o embargo, no tocante à alegação genérica de existência de dunas fixas e móveis no local, embora formalmente fundamentado, não goza de amparo legal pois não subsistem os argumen-tos nele apontados por partirem de premissa juridicamente equivocada. Nada impede, insisto por derradeiro, que o Ibama retorne sua fiscalização e proceda a novo embargo contra um fato específico, como, por exemplo, que a construção está devastando ou aplainando uma duna, ou um conjunto especificado de dunas com cobertura vegetação originária. 6. Já a segunda referência contida no laudo de vistoria técnica, qual seja, a de que o não houve o respeito no denominado setor misto do empreendimento (setores 1 e 2) do recuo mínimo de cem metros a que se refere o art. 2º, g, do Código Florestal (Lei nº 4.771/1965), essa sim possui firme embasamento legal, ainda mais porque diz a Lei de regência que se trata de área de preservação permanente automática. 7. Ademais, di-ferentemente do outro tópico, o laudo de vistoria técnica aqui goza de plena presunção veracidade já que descreve uma objetiva contextualizada situação de incompatibilidade com a regulamentação ambiental, a qual, por depender de pelo menos alguma aceitável análise probatória não poderia ser discutida nessa estrita via recursal, onde o conjunto probatório ainda não adquiriu sua plenitude. 8. Apelação parcialmente provida, man-tendo-se o embargo da obra apenas dentro do raio de trinta metros necessários para a

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obediência do recuo de cem metros da borda do tabuleiro a norte dos setores 1 e 2 do empreendimento, nos termos do laudo de vistoria técnica levado a efeito pelo Ibama. (TRF 5ª R. – AC 2009.81.00.009751-1 – (592930/CE) – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Edilson Pereira Nobre Júnior – DJe 02.05.2017 – p. 47)

2375 – Infração ambiental – ação anulatória – multa – razoabilidade – ocorrência“Administrativo. Ambiental. Ibama. Ação anulatória de auto de infração. Arts. 60, § 6º e 70 da Lei nº 9.605/1998 c/c art. 6º da Lei nº 7.661/1988. Prescrição. Inocorrên-cia. Contraditório e ampla defesa observados. Inexistência de vícios formais. Decreto nº 3.179/1999 vigente à época da infração. Redução da multa. Proporcionalidade. Con-versão de depósito em renda com o trânsito em julgado. 1. O Ibama lavrou Auto de Infração nº 527068-D (fl. 30), em 19.07.2007, cuja descrição corresponde a ‘Alterar as características naturais da zona costeira através de ampliação/construção de unidade domiciliar sem prévio licenciamento ambiental do órgão competente’, em desconfor-midade, portanto, com os arts. 60, § 6º e 70 da Lei nº 9.605/1998, que tipificam, res-pectivamente, crime ambiental e infração administrativa ambiental, c/c art. 6º da Lei nº 7.661/1988. 2. Apesar do disposto no art. 1º, § 2º da Lei nº 9.973/1999 (‘Quando o fato objeto da ação punitiva da Administração também constituir crime, a prescrição reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal’), apenas será ele aplicado quando já instau-rada a respectiva ação penal (MS 14.446/DF, 3ª S. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe de 15.02.2011; MS 15.462/DF, 1ª S. Min. Humberto Martins, DJe de 22.03.2011; REsp 200900065969, Min. Teori Albino Zavascki, 1ª T. DJe 22.08.2012), sendo que no caso apenas se verifica cópia de Comunicação de Crime firmada por Agente de Fis-calização Federal (fl. 34), não havendo nenhum documento ou informação no sentido de que tenha sido instaurado procedimento investigativo criminal no âmbito do órgão titular da ação penal. 3. Aplicável, na hipótese, o prazo quinquenal previsto no art. 1º, caput, da Lei nº 9.873/1999, não havendo que se falar em perda da pretensão adminis-trativa. O auto de infração foi lavrado em 19.07.2007, com apresentação de defesa pelo administrado em outubro/2007 (fls. 84/108); Parecer Técnico Instrutório com Dilação Probatória do Ibama em junho/2011 (fls. 166/172); Edital de convocação para alega-ções finais, publicado em julho/2011 (fls. 178/184); Decisão de julgamento mantendo o auto de infração, em abril/2012 (fl. 186) e respectiva notificação administrativa (fl. 188); Recurso administrativo interposto em junho/2012 (fls. 204/243); Decisão adminis-trativa final, em junho/2013 (fl. 323). 4. Houve interrupção da prescrição ante decisão condenatória recorrível, em abril/2012, bem como postura sempre ativa do Ibama na apuração do fato, de modo que não se verifica a alegada extinção de punibilidade. Ademais, o procedimento administrativo não ficou paralisado ou sem andamento por mais de três anos, não se verificando eventual prescrição intercorrente, nos termos do art. 1º, § 1º da Lei nº 9.873/1999. 5. Embora o Recorrente alegue que não houve parecer da Procuradoria-Geral Federal no procedimento do Ibama, e que as decisões nele pro-feridas não teriam enfrentado todas as suas alegações, fato é que lhe foi oportunizada apresentação de defesa em ambas as instâncias administrativas, além de intimado para alegações finais e cientificado acerca do resultado de seu recurso. 6. Como bem pontu-ado em sentença, ‘os argumentos expendidos no procedimento administrativo foram no-vamente apreciados em sede judicial [...] de modo que não restou comprovado nenhum prejuízo efetivo à parte autora’. 7. O Ibama, enquanto órgão executor por excelência da

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política de proteção ao meio ambiente, ao se deparar com a construção de estabeleci-mento potencialmente poluidor, ainda que de impacto regional, sem a devida licença do órgão competente, no caso a extinta Feema (atual Inea), tem legitimidade para realizar a respectiva autuação, com base em sua competência supletiva, prevista pelo art. 10, da Lei nº 6.938/1981 c/c art. 7º, § 1º da Lei nº 9.605/1998. 8. Da análise do Auto de Embargo e Interdição nº 440170/C (fl. 32), lavrado no mesmo dia do Auto de Infração nº 527068/D (fl. 30), e da Ordem de Fiscalização nº 31072007 (fl. 36), infere-se que a diligência de fiscalização foi realizada por pelo menos dois agentes do Ibama, cujos no-mes constam de ambos os documentos, além de terem sido esses mesmos Analistas Am-bientais que realizaram o sobrevoo de rotina no qual foi constatada a infração, restando cumpridas, portanto, as regras estabelecidas na Portaria Ibama nº 53-N, de 22.04.1998. 9. Além de a necessidade de aplicação de advertência prévia (art. 72, II, § 3º, I e II, da Lei nº 9.605/1998 e art. 2º, II, § 3º, I e II, do Decreto nº 3.179/1999) encontrar resistência em nosso ordenamento jurídico, no caso vertente, não se vislumbra qualquer prejuízo ad-vindo da ausência da referida advertência, eis que, acaso advertido, o Apelante não teria como remediar o motivo da infração, pois já havia iniciado a construção sem a devida licença ambiental. 10. No que tange ao valor da multa, não havendo caráter confiscató-rio, descabe ao Poder Judiciário majorar ou reduzir o valor arbitrado pela Administração, em razão de sua intervenção estar adstrita à análise da legalidade do ato administrativo, sendo certo que a multa arbitrada em R$ 50.000,00 está dentro dos limites legais pre-vistos nos art. 44 do Decreto nº 3.179/1999, ato normativo vigente à época. 11. Ainda que decisão judicial nos autos de Ação Civil Pública (nº 0015983-84.2007.8.19.0003) ajuizada pelo Município de Angra dos Reis contra o Recorrente tenha, embasando-se em perícia judicial, entendido pela diminuta magnitude do impacto ambiental causado pela construção erigida, tal conclusão não se mostra apta a infirmar o valor da multa arbitrado pelo órgão ambiental e ora contestado. Alegada irrazoabilidade, repise-se, não se verifica, devendo-se considerar plausível o montante de R$ 50.000,00 arbitrado, ante a enorme variação de limites mínimo e máximo (de R$ 500,00 a R$ 10.000.000,00) fixada pela legislação. 12. É cediço que a conversão do depósito em renda ou seu le-vantamento só se dará com o trânsito em julgado do provimento judicial que reconhe-ceu ou afastou a legitimidade da exação (AgRg-AREsp 210.113/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., J. 25.09.2012, DJe 28.09.2012; AgRg-REsp 1254985/SC, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 1ª T., J. 01.03.2012, DJe 06.03.2012; REsp 1033545/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª T., J. 28.04.2009, DJe 28.05.2009). 13. Ao se determinar, em senten-ça, a conversão do depósito em renda em favor do Ibama, deveria ter sido ressalvada a necessidade de aguardar o trânsito em julgado, pelo que deve a apelação ser provida, apenas quanto a tal ponto. 14. Recurso de apelação parcialmente provido.” (TRF 2ª R. – AC 0120675-02.2014.4.02.5111 – 5ª T.Esp. – Rel. Aluisio Gonçalves de Castro Mendes – DJe 18.04.2017 – p. 185)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 9.605/1998:

“Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluido-res, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes:

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Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativa-mente.

[...]

Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.

§ 1º São autoridades competentes para lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo os funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente – Sisnama, designados para as atividades de fiscaliza-ção, bem como os agentes das Capitanias dos Portos, do Ministério da Marinha.

§ 2º Qualquer pessoa, constatando infração ambiental, poderá dirigir representação às autoridades relacionadas no parágrafo anterior, para efeito do exercício do seu poder de polícia.

§ 3º A autoridade ambiental que tiver conhecimento de infração ambiental é obriga-da a promover a sua apuração imediata, mediante processo administrativo próprio, sob pena de co-responsabilidade.

§ 4º As infrações ambientais são apuradas em processo administrativo próprio, as-segurado o direito de ampla defesa e o contraditório, observadas as disposições desta Lei.”

2376 – Infração ambiental – multa – aplicação – APP – utilização irregular – suposição“Administrativo. Embargos à execução fiscal contra imposição, pelo Ibama, de multa por utilização de área de preservação permanente. Construção nas proximidades do reser-vatório da usina hidrelétrica de ilha solteira. Ilícito não configurado. Lei nº 4.771/1965, art. 2º, b. Resolução Conama nº 302/2002. Art. 3º, inc. I, primeira parte. Aplicabilidade. Distância do reservatório artificial em conformidade com o ordenamento legal. Insubsis-tência do auto de infração. Embargos procedentes. Honorários advocatícios. Apelação não provida. 1. Trata-se de embargos à execução fiscal que tem por objeto a cobrança de multa administrativa por infração ambiental supostamente praticada pela executada, ora apelada. Nesse sentido, o cerne da controvérsia cinge-se a aferir a legitimidade do ato administrativo impugnado pela embargante, ora apelada. 2. Compulsando os autos, e à vista da cópia do auto de infração nº 128138 – Série D (fl. 136 dos autos em apenso), objeto da Execução Fiscal em discussão, observa-se que a autoridade fiscal competente do Ibama lavrou, em 11.04.2004, o referido auto em face da embargante, no valor de R$ 5.000,00 (valor original), além de multa e de juros), cuja descrição da infração e enquadramento legal apresentam o seguinte teor: ‘Descrição do Auto: Intervenção não autorizada na APP do reservatório da UHE de Ilha Solteira, impedindo a regeneração natural da vegetação. Fundamentação Legal: art. 38 com art. 48 da Lei nº 9.605/1998; art. 2º, alínea b, da Lei nº 4.771/1965; art. 2º, incs. II, VII, com art. 25 do Decreto nº 3.179/1999’. 3. No que alude ao caso em exame, dispunha a Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965 – Código Florestal (ora revogada pela Lei nº 12.651/2012), em seu art. 2º, sobre a área de preservação permanente, estabelecendo que: ‘Art. 2º Consideram--se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou artificiais; Parágrafo único. No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreen-didas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas

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e aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, observar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo.’ 4. Por sua vez, o Conselho Nacional do Meio Ambiente – Co-nama, no uso das competências legais que lhe são conferidas pela Lei nº 6.938/1981, regulamentada pelo Decreto nº 99.274/1990, e tendo em vista o disposto nas Leis nº 4.771/1965, 9.433/1997, bem como considerando a função sócio-ambiental da pro-priedade, prevista nos arts. 5º (inc. XXIII), 170 (inc. VI), 182 (§ 2º), 186 (inc. II) e 225, todos da Constituição Federal, bem como considerando a necessidade de regulamentar o art. 2º da Lei nº 4.771/1965 no que concerne às Áreas de Preservação Permanente no entorno dos reservatórios artificiais e outros espaços territoriais especialmente protegi-dos, editou a Resolução Conama nº 302, de 20 de março de 2002 (DOU de 13.05.2002) que, em seu art. 3º, inciso I, dispôs sobre a metragem a ser respeitada no entorno dos reservatórios artificiais, como sendo: Art. 3º Constitui Área de Preservação Permanente a área com largura mínima, em projeção horizontal, no entorno dos reservatórios artifi-ciais, medida a partir do nível máximo normal de: I – trinta metros para os reservatórios artificiais situados em áreas urbanas consolidadas e cem metros para áreas rurais. 5. No caso em exame, a embargante, ora apelada, teve seu imóvel autuado pela autoridade fiscal do Ibama, que lavrou o auto de infração nº 128138 – Série D (processo administra-tivo nº 02027.003319/2004-56) cuja descrição foi ‘intervenção não autorizada na APP do reservatório da UHE de Ilha Solteira’, impedindo a regeneração natural da vegetação’, sendo o local da infração descrito como ‘Loteamento Jardim Lago Azul’, no Município de Rubineia/SP (fl. 136 dos autos em apenso). 6. Constata-se no caso em tela que, não obstante a descrição da infração como sendo de ‘intervenção não autorizada’ no APP do Reservatório da UHE de Ilha Solteira’, o Instituto recorrente informou, nas razões de apelação, que: ‘a embargante invade totalmente a área de preservação permanente – eis que efetivou e mantém construção a apenas 82 metros da margem do lago’ (gri-fos meus). 7. Observa-se que o imóvel autuado, sob a matrícula nº 15.799, inscrita no Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Santa Fé do Sul, encontra-se localizado em área urbana, com averbação da construção de prédio residencial junto à Secretaria de Obras da Prefeitura Municipal daquela cidade (Certidão nº 1-0-032/99), acompanha-da de Carta de Habite-se nº 10-025/99, e cadastro na prefeitura municipal local sob o nº 03763/03 (fls. 209/210-vº dos autos em apenso). Ademais, a Lei Municipal nº 253, de 7 de março de 1978 (cópia à fl. 37/38 dos autos), da cidade de Rubineia/SP, já declarava que a área, objeto de autuação nestes autos é considerada urbana, estando sujeita ao recolhimento do Imposto sobre a Propriedade Territorial Urbana (arts. 1º a 4º). 8. Desse modo, verifica-se, in casu, ao contrário do imputado pela fiscalização do Ibama, que a propriedade autuada, a qual mantém construção a 82 (oitenta e dois) metros da margem do reservatório, conforme informado pelo Instituto (Termo de Inspeção nº 181/2004 AT, de fl. 158), encontra-se em conformidade com o disposto na legislação de regência, nos termos da limitação prescrita no art. 3º, inc. I (primeira parte), da Resolução Conama nº 302/2002, porquanto a construção estabelecida obedece a limitação imposta de no mínimo 30 (trinta) metros da quota máxima normal de operação do reservatório, para fins de conservação da Área de Preservação Permanente no entorno de reservatórios ar-tificiais, como é o caso dos autos. 9. Assim, revela-se insubsistente a autuação efetivada em face da embargante, ora apelada, por ausência de amparo legal e, por conseguinte, a multa aplicada deve ser cancelada, bem como extinta a Certidão de Dívida Ativa objeto

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da Execução Fiscal em apenso, não restando demonstrado nos autos que a embargante, ora apelada, haja cometido infração ambiental conforme descrito no auto de infração impugnado. 10. Por derradeiro, no tocante à verba de sucumbência, em observância aos critérios estabelecidos no § 4º, do art. 20 do Código de Processo Civil/1973, vigente à época da sentença, mediante apreciação equitativa do magistrado, o qual se encontrava legitimado a utilizar tanto de percentuais sobre o valor da causa ou da condenação, bem como arbitrar a verba honorária em valor determinado, entendo afigurar-se razoável a fixação dos honorários advocatícios nos termos em que arbitrado pelo MM. Juiz de origem. 11. Apelação não provida.” (TRF 3ª R. – AC 0048696-38.2011.4.03.9999/SP – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Nery Junior – DJe 12.05.2017 – p. 479)

2377 – Infração ambiental – resíduos perigosos – importação – inocorrência“Administrativo. Infração ambiental. Importação de resíduos perigosos não configurada. 1. Realizada perícia a mesma conclui não ser possível estabelecer se havia o predomí-nio de garrafas de origem estrangeira ou de origem nacional, tendo em vista a grande quantidade de garrafas sem rótulos ou com rótulos ilegíveis, bem como que o material apreendido é considerado como resíduo não perigoso. 2. Manutenção da sentença.” (TRF 4ª R. – AC 5002569-34.2015.4.04.7106 – 4ª T. – Rel. Luís Alberto D’Azevedo Aurvalle – J. 10.05.2017)

2378 – Infração ambiental – transporte de madeira – irregularidade – ocorrência“Administrativo. Ambiental. Mandado de segurança. Infração ambiental. Transporte ir-regular de madeira. Veículo automotor (caminhão). Apreensão. Direito de propriedade. Mitigação. Terceiro de boa-fé. Princípio da solidariedade. Nomeação de fiel depositário. Poder discricionário da administração. I – Constatada a infração administrativo-ambien-tal referente ao transporte irregular de madeira (em tora), que se concretizou com a utilização de veículo automotor (caminhão), afigura-se escorreita a apreensão empreen-dida pela fiscalização ambiental (ex vi dos arts. 25, caput, e 72, IV c/c o art. 70, caput, todos da Lei nº 9.605/1998, regulamentados pelos arts. 3º, IV, e 47, § 1º, do Decreto nº 6.514/2008), tendo-se em vista os princípios da precaução e da prevenção, do po-luidor-pagador, da responsabilidade social e do desenvolvimento sustentável. II – O exercício do direito de propriedade não é absoluto, submetido que está aos interes-ses da coletividade (função social), entre os quais o direito de desfrutar do meio am-biente ecologicamente equilibrado, razão pela qual deve sofrer mitigação quando em confronto com os princípios dirigentes do direito ambiental. III – Em direito ambiental aplica-se, também, o princípio da solidariedade, resultando patente a responsabilidade civil, criminal e administrativa de todos os que concorreram para a infração ambiental, afigurando-se irrelevante a discussão sobre a isenção do patrimônio alegada pelo su-posto terceiro de boa-fé. IV – Não se afigura razoável que a Administração ambiental promova a adequada aplicação da lei, na força determinante do comando constitucional da norma-matriz do art. 225, caput, do texto magno, com a apreensão dos instrumentos das infrações e os agentes do Poder Judiciário, em excepcional exercício hermenêutico, venha a desmerecê-la no cumprimento da legislação pertinente, em clara e perversa si-nalização aos agentes infratores para a continuidade da degradação ambiental, na espé-cie. V – Nos termos do art. 105, caput, do Decreto nº 6.514/2008, os bens apreendidos devem ficar sob a guarda do órgão ou entidade responsável pela fiscalização ambiental,

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podendo, ‘excepcionalmente, ser confiados a fiel depositário, até o julgamento do pro-cesso administrativo’, caso em que caberá à Administração, no exercício do seu poder discricionário, definir sobre quem assumirá esse encargo, dentre as opções previstas nos incisos I e II do art. 106 do referido ato normativo. VI – Apelação das impetrantes despro-vida. Remessa oficial e apelação do Ibama providas para cassar a segurança buscada.” (TRF 1ª R. – Ap-RN 0034566-61.2011.4.01.3900 – Rel. Des. Souza Prudente – J. 26.04.2017)

Comentário Editorial SÍNTESEO acórdão em comento trata de recurso de apelação haja vista que o mandado de segurança originário não atendeu completamente à satisfação dos impetrantes. A segurança foi buscada pela via do referido remédio constitucional por conta da apre-ensão de um caminhão que transportava toras de maneira extraída irregularmente e da aplicação de multa.

Os impetrantes tiveram êxito no pedido em relação à anulação do auto de apreensão do veículo, mas não em relação à anulação da multa que também foi objeto do pedido inicial.

Em sede de recurso fora arguida ilegitimidade passiva e incompetência do Ibama para fiscalizar a autuar empresas e pessoas que sejam licenciadas por órgãos am-bientais estaduais e municipais.

O Ibama também apelou e em suas razões buscou demonstrar a legalidade do ato. A Procuradoria-Geral da República também se manifestou, haja vista a remessa oficial e nela sustentou pelo desprovimento do recurso do Ibama e pelo provimento do recurso dos impetrantes.

Vejamos trechos do voto do relator:

“[...] Realmente, a atuação do órgão ambiental, em casos assim, está em conso-nância com a tutela cautelar prevista na Carta Política Federal, no art. 225, § 1º, VII e respectivo § 3º. Com isso, impõe-se ao poder público, e também à coletivida-de, o dever de defender e preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado, como bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, para a presente e as futuras gerações. Importa chamar a atenção, pois, para o papel desta Corte no que diz respeito à defesa e preservação do ‘meio ambiente ecologicamente equilibrado’. Com efeito, qualquer controvérsia que envolva a fiscalização do bioma correspondente à Amazônia Legal – da qual também fazem parte dois importantes e extensos estados da federação (Amazonas e Pará) e de onde se origina a grande parte das demandas ambientais em trâmite neste Tribunal – termina por ser trazida à análise deste egrégio Tribunal, fazendo com que qualquer de suas decisões acerca do meio ambiente assuma considerável amplitude, no contexto ecológico da biodi-versidade global.

[...] resulta enfraquecida a alegação de o órgão ambiental é incompetente para ‘impor sanções em atividades, cujos licenciamentos são de competência da esfera estadual’ (fl. 177). Pois bem, a política pública predominante refere-se a ações de fiscalização, intensificadas a partir de 2004 em razão da implantação do denomi-nado ‘Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal – PPCDAM’, elaborado pelo Grupo Permanente de Trabalho Interministerial composto inicialmente por 13 (treze) ministérios, e nele foram relacionadas as ações

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e as estratégicas organizadas em quatro subgrupos: ordenamento fundiário e terri-torial, monitoramento e controle, fomento a atividades produtivas e sustentáveis e, infraestrutura. Desse modo, torna-se necessário firmar entendimento jurisprudencial no sentido de que, estando formalmente adequada e com amparo legal, o Judiciário chancele a atuação administrativa no combate às infrações ambientais, em particu-lar aquelas que se valem de veículos automotores para a respectiva concretização.

[...] Cabe verificar detidamente o argumento em favor da liberação do instrumen-to (veículo) da infração ambiental, qual seja, para que seja possível a apreensão é necessário que o veículo possua características que o identifique como de uso específico e exclusivo para a atividade ilícita. A mens legis em relação ao § 4º do art. 25 da Lei nº 9.605/1998 não foi, em absoluto, a de promover a apreensão de veículos utilizados reiterada e exclusivamente para a prática de delito/infração ambiental, isso, por si só, representaria pueril afronta aos princípios da precaução e da prevenção. Em verdade, o que pretendeu o legislador foi simplesmente punir a infração ambiental, adotando, para isso, a apreensão do instrumento utilizado pelo infrator, visando inibir o dano ao meio ambiente equilibrado. Nesse sentido, não há dúvida de que se a infração refere-se ao transporte de madeira sem o devido licenciamento, e se o infrator, para tanto, utilizou-se de um caminhão, por certo que esse veículo constitui-se em efetivo instrumento para a concretização do fim ilícito, assim como a rede usada pelo pescador em crime de pesca ilegal. Esse entendi-mento está claramente de acordo com o disposto no inciso IV do art. 72 da referida lei, quando faz referência a ‘veículos de qualquer natureza utilizados na infração’. O art. 102 do Decreto nº 6.514/2008 também assim estabelece: ‘veículos de qual-quer natureza referidos no inciso IV do art. 72 da Lei nº 9.605, de 1998, serão objeto da apreensão de que trata o inciso I do art. 101’. Esse art. 101, listando as medidas administrativas que poderão ser adotadas pelo agente autuante uma vez constatada a infração ambiental, já no primeiro inciso, prevê a infração. Nesse sentido, é possível afirmar que a apreensão do veículo deve ocorrer não só por que foi utilizado reiteradas vezes e exclusivamente em infração ambiental, mas sempre que flagrado, ainda que em uso eventualmente indevido, na prática de infração ambiental.

[...]”

Com estas considerações, nego provimento à apelação interposta pelas impetrantes, e dou provimento à remessa oficial e ao apelo do Ibama para, em reforma parcial do julgado, denegar integralmente a segurança impetrada.

Os demais Eminentes desembargadores que compõem o colegiado acompanharam o voto do relator.

2379 – Meio ambiente do trabalho – ruído – produtos químicos – exposição – ocor­rência

“Previdenciário. Aposentadoria por tempo de contribuição. Revisão. Ruído. Produtos químicos. Exposição habitual e permanente. Limite de tolerância. EPI. 1. O mandado de segurança é processualmente adequado para viabilizar o exame do direito ao enqua-dramento especial pela exposição a agentes nocivos, quando o impetrante apresenta documentos suficientes para afastar qualquer controvérsia sobre o quadro fático e, por conseguinte, não há necessidade de dilação probatória. 2. Houve reconhecimento ad-ministrativo do direito do segurado ao enquadramento especial por exposição a agentes

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nocivos do período de trabalho de 02.02.1979 a 31.12.1998, conforme decisão técnica de fl. 72. 3. A Usiminas expediu Perfis Profissiográficos Previdenciários (PPPs), confir-mando o labor do impetrante nas funções de operador de produção, controlador, oficial de manutenção mecânica, o que o deixava exposto a ruído de: a) 91dB(A) a 94dB(A) de 01.01.1999 a 30.09.1999; b) 88dB(A) de 01.10.1999 a 30.04.2002; c) ruído de 88dB(A), solventes organoclorados, óleos minerais e poeira mineral de 01.05.2002 a 31.12.2004; d) ruído de 88dB(A), solventes organoclorados, óleos minerais, calor e poeira mineral de 01.01.2005 a 13.09.2005, fls. 51/58. 4. Os produtos químicos (poeiras minerais, óleos, solventes organoclorados) foram neutralizados pelos equipamentos de proteção, segun-do os dados estampados nos PPPs, o que desautoriza o enquadramento especial aqui almejado, conforme posição firmada pelo plenário do Supremo Tribunal Federal, sob repercussão geral (ARE 664335). 5. Ressalvado no período de 01.05.2002 a 18.11.2003, a pressão sonora superou o limite traçado na legislação previdenciária: 80dB(A) previsto no item 1.1.6 do Decreto nº 53.831/1964, que prevaleceu até 05.03.1997; 90dB(A), majorado pelo Decreto nº 2.172/1997 até 18.11.2003; 85dB(A) fixado pelo Decreto nº 4.882/2003, sem efeitos retroativos, segundo a orientação do Superior Tribunal de Justiça em recurso repetitivo (REsp 1398260). 6. O art. 58, § 1º, da Lei nº 8.213/1991 não reclama a exibição de memória de cálculo ou histograma para fins de avaliação do ruído (Instrução Normativa INSS/DC nº 78/2002, não mais vigente), mas que o segurado apresente o Perfil Profissiográfico Previdenciário, que deve ser expedido pela emprega-dora de acordo com o levantamento ambiental realizado por profissional especializado em segurança do trabalho; não há, ainda, qualquer suspeita de falsidade ideológica nos documentos exibidos administrativamente ou em juízo, que foram adotados pela autar-quia para reconhecer o direito do segurado até 31.12.1998. 7. É irrelevante a data de emissão do PPP, que confirma a existência de profissional de segurança do trabalho em todo o período controvertido. 8. Não desqualifica a exposição permanente à pressão sonora o fato dos ruídos ou das tarefas desincumbidas serem variadas. ‘Se não é possível aferir durante quantos minutos exatos o trabalhador ficou exposto ao nível máximo de ruído, ou mínimo, durante sua jornada de trabalho, também não seria justo atribuir à média apurada um caráter ocasional e intermitente, em detrimento da afirmação lança-da pelo profissional de segurança do trabalho em seus laudos técnicos. Ainda que seja possível afirmar que o autor tenha ficado exposto a nível mínimo, legalmente tolerado e, portanto, de natureza comum; por outro lado, é igualmente possível que o mesmo tenha ficado durante quase toda a sua jornada de trabalho em exposição ao nível máximo de ruído apurado, vindo, inclusive, a contribuir para uma futura perda auditiva por parte do trabalhador’ (TRF 1ª R., AMS 2000.38.00.018287-4/MG, DJ 29.10.2008, p. 36). 9. O uso de equipamento individual de proteção nos casos de ruído não obsta o enquadramento especial; há fonte de custeio para as aposentadorias concedidas judicialmente mediante enquadramento especial de períodos de trabalho dos segurados, pois a previdência so-cial se pauta na solidariedade entre contribuintes e beneficiários e não no sistema da ca-pitalização individual (ARE 664335). 10. Não se sustenta a pretensão de limitar o fator de conversão a 1,20 até o advento do Decreto nº 611/1992 ou de impedir a conversão em comum do período de atividade especial anterior ao advento da Lei nº 6.887/1980. ‘A lei vigente por ocasião da aposentadoria é a aplicável ao direito à conversão entre tempos de serviço especial e comum, independentemente do regime jurídico à época da pres-tação do serviço’ (REsp 1310034/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, 1ª S., J. 24.10.2012,

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DJe 19.12.2012). 11. No que tange à possibilidade de conversão de tempo de serviço especial prestado a partir de 28.05.1998, a Medida Provisória nº 1.663/1998 revogou o § 5º do art. 57 da Lei nº 8.213/1991; todavia a norma de conversão pertinente, qual seja, a Lei nº 9.711/1998, deixou de convalidar a referida revogação, motivo pelo qual perma-necem plenamente vigentes as regras que viabilizam a conversão do tempo especial em comum estampadas no referido dispositivo. 12. O enquadramento especial dos períodos de 01.01.1999 a 30.09.1999 e de 01.05.2002 a 13.09.2005 não é suficiente para atingir os vinte e cinco anos necessários para o gozo de aposentadoria especial, na forma do art. 57 da Lei nº 8.213/1991; entretanto haverá acréscimo na renda da atual aposenta-doria por tempo de contribuição, fruto da redução dos efeitos do fator previdenciário. 13. Apelação do impetrante não provida. Apelação do INSS e remessa parcialmente pro-vidas, para limitar a condenação imposta à autarquia a: a) enquadrar como especial por exposição a agentes nocivos o período de trabalho do autor de 01.01.1999 a 30.09.1999 e de 01.05.2002 a 13.09.2005, bem como converter em tempo comum, mediante apli-cação do fator 1,40; houve reconhecimento em sede administrativa do direito em rela-ção ao período de 02.02.1979 a 31.12.1998; b) recalcular a aposentadoria por tempo de contribuição, implantando em manutenção a sua nova renda; c) pagar as diferenças pretéritas desde a impetração, compensando-se os valores recebidos a maior pelo impe-trante a partir da data da implantação da revisão preconizada pela sentença.” (TRF 1ª R. – Ap-RN 0004569-34.2010.4.01.3814 – Rel. Juiz Ubirajara Teixeira – J. 25.04.2017)

2380 – Multa administrativa – desmatamento – autorização – ausência – redução de valor – ocorrência

“Apelação. Administrativo. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Na-turais Renováveis – Ibama. Auto de infração. Multa. Lei nº 9.605/1998, Decreto nº 3.179/1999. Derrubada de árvores em floresta considerada de preservação permanente sem autorização do órgão competente. Presunção de veracidade e legitimidade dos atos administrativos. Redução da multa. Princípio da razoabilidade e da proporcionalidade. Individualização da pena. Parcial provimento. 1. Lavrado auto de infração pelo Ibama, pela suposta prática da infração ambiental prevista no art. 26, do Decreto nº 3.179/1999: ‘Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem permissão da autoridade competente: Multa de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) a R$ 5.000,00 (cinco mil reais), por hectare ou fração, ou R$ 500,00 (quinhentos reais), por metros cú-bico.’ 2. Na hipótese, além de existir fundada dúvida sobre a competência da Secretaria Municipal do Meio Ambiente no licenciamento da atividade desenvolvida, a autoriza-ção ambiental era para beneficiamento de árvore de madeira em área de roçado, sendo constatado, por outro lado, a derrubada de árvores em mata virgem, conforme constou do relatório de fiscalização. Presunção relativa de veracidade e legitimidade dos atos administrativos que não foi afastada nem infirmada pelas provas produzidas. 3. Referente a escolha da penalidade, inexiste previsão legal para aplicação prévia da penalidade de advertência, o que é sujeito a discricionariedade técnica da autoridade administrativa. 4. ‘A aplicação da multa deve ter em conta a situação fática e os critérios estabeleci-dos por lei (art. 6º da Lei nº 9.605/1998) em respeito ao princípio da individualiza-ção da pena, bem como observar os princípios da razoabilidade e proporcionalidade’ (AC 0016472-97.2008.4.01.3600/MT, Rel. Juiz Fed. Evaldo de Oliveira Fernandes, filho, 5ª T., e-DJF1 p. 472 de 12.11.2015). 5. De modo a preservar o princípio da individua-

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lização da pena, bem como garantir a razoabilidade e proporcionalidade na aplicação da penalidade administrativa de multa por infração ambiental, faz-se necessário que o art. 26, do Decreto nº 3.179/1999 receba interpretação conforme a Constituição, de modo que o valor cominado para o metro cúbico – para fins de base do cálculo da sanção –, seja considerado como máximo, atento aos limites estabelecidos pelo art. 75, da Lei nº 9.605/1998. Precedentes desta Corte. 6. Apelação conhecida e parcialmente provida, para reduzir o valor fixado para multa.” (TRF 1ª R. – AC 2008.32.00.002924-4 – Rel. Des. Kassio Nunes Marques – J. 24.04.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESEDecreto nº 3.179/1999:

“Art. 26. Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem permissão da autoridade competente:

Multa de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) a R$ 5.000,00 (cinco mil reais), por hectare ou fração, ou R$ 500,00 (quinhentos reais), por metro cúbico.”

2381 – Perícia ambiental – honorários – minoração – razoabilidade – impossibilidade“Direito administrativo. Mandado de segurança em ação civil pública. Ambiental. Ho-norários periciais. Minoração. 1. A remuneração do perito, do intérprete e do tradutor será fixada pelo Juiz em despacho fundamentado, ouvidas as partes e à vista da proposta de honorários apresentada, considerados o local da prestação do serviço, a natureza, a complexidade e o tempo estimado do trabalho a realizar, aplicando-se, no que cou-ber, o disposto no art. 33 do Código de Processo Civil (art. 10 da Lei nº 9.289/1996). 2. Considerando-se as questões a serem analisadas, e a complexidade da causa, conclui--se que os honorários propostos pelo perito mostram-se razoáveis e compatíveis com o tempo e as demais exigências para a realização da prova, respeitando a justa remune-ração do profissional.” (TRF 4ª R. – MS 5002974-77.2017.4.04.0000 – 4ª T. – Rel. Luís Alberto D’Azevedo Aurvalle – J. 10.05.2017)

2382 – Pesca – crime ambiental – condenação – dosimetria da penaPenal. Crimes ambientais. Condenação. Apelação. Dosimetria. Desprovimento. I – Apelação Criminal interposta à Sentença proferida nos autos de Ação Criminal, que condenou o Réu em face da prática, em Concurso Formal, dos Crimes previstos nos arts. 34, parágrafo único, III, e 35, II, da Lei nº 9.605/1998, à Pena de 01 (um) ano, 06 (seis) meses e 06 (seis) dias de Reclusão, e substituiu a Pena Privativa de Liberdade em duas Restritivas de Direitos, consistentes em Prestação Pecuniária e Prestação de Servi-ços à Comunidade. II – A Culpabilidade e as Circunstâncias foram consideradas desfavo-ráveis, aplica-se a Súmula nº 444, do Superior Tribunal de Justiça, concernente à Perso-nalidade e Comportamento Social, para efeito de fixação da Pena-Base, e não podem ser utilizados os mesmos fatos para valoração de mais de uma Circunstância do art. 59 do Código Penal, sob pena de bis in idem, na linha do Parecer da douta Procuradoria Re-gional da República, que acenou com a adequação e razoabilidade da pena-base, para concluir pela manutenção da dosimetria. III – Desprovimento da Apelação.” (TRF 5ª R. – ACr 0002650-73.2014.4.05.8400 – (13353/RN) – 1ª T. – Rel. Des. Fed. Alexandre Luna Freire – DJe 05.05.2017 – p. 33)

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Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 9.605/1998:

“Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente:

Pena – detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativa-mente.

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem:

[...]

III – transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes provenientes da coleta, apanha e pesca proibidas.

Art. 35. Pescar mediante a utilização de:

[...]

II – substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autoridade competente:

Pena – reclusão de um ano a cinco anos.”

2383 – Pesca – crime ambiental – insignificância – princípio – aplicação“Penal. Processual penal. Crime contra o meio ambiente. Pesca em área de preservação ambiental. Art. 34, caput e parágrafo único, II, da Lei nº 9.605/1998. Incidência do prin-cípio da insignificância. Apelação provida. 1. O sistema jurídico de proteção ao meio ambiente no ordenamento brasileiro se estruturou em instâncias administrativa, cível e criminal, independentes entre si. Enquanto manifestação mais contundente do poder punitivo do Estado, a responsabilidade criminal em matéria ambiental se submete aos princípios gerais do Direito Penal, notadamente a subsidiariedade, devendo incidir, de forma geral, como ultima ratio. 2. O princípio da insignificância é aplicável aos crimes ambientais, de modo excepcional e de maneira cautelosa, quando se verificar mínima ofensividade e ausência de reprovabilidade social da conduta. No caso, o crime prati-cado pelo réu não provocou qualquer lesão ao meio ambiente. 3. O tipo penal contido no art. 34 da Lei nº 9.605/1998 só admite a modalidade dolosa e não ficou suficiente-mente comprovado que o réu incorreu livre e espontaneamente na conduta vedada. 4. Apelação provida.” (TRF 1ª R. – Proc. 00075847120154013802 – Rel. Des. Ney Bello – J. 03.05.2017)

2384 – Praia – balneário – veículos – trânsito – dano ambiental – possibilidadeDe instrumento. Administrativo. Área de praia balneária. Impossibilidade de trânsito de veículos na área. Risco de dano ambiental. Situação controvertida. Em outros termos, a (im)possibilidade de acesso, tráfego e estacionamento de veículos particulares na Praia de Fora é questão que reclama reapreciação, em face da existência de novos elementos (detalhadamente analisados pelo juízo a quo) que evidenciam que o risco de ocorrência de danos ambientais no local – onde o equilíbrio do ecossistema é frágil e não há, pelo menos até o momento, um controle efetivo da circulação (desordenada) de automóveis – supera em muito as vantagens decorrentes do amplo e irrestrito uso da faixa de praia pela coletividade, o que é agravado pela inércia do Município, que, desde a prolação da anterior decisão por esta Corte, nada realizou de concreto, para assegurar, nos termos daquele pronunciamento judicial, a efetiva concretização de medidas tendentes a mini-mizar os impactos negativos para área. É cediço que não cabe ao Judiciário substituir o

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administrador na tarefa de avaliar e licenciar qualquer empreendimento ou projeto de utilização de área ambientalmente protegida. Nessa perspectiva, não há como autori-zar, judicialmente, sobretudo em caráter liminar, o que é pretendido pelo Município, porque, a despeito de eventual demora das autoridades administrativas na aprovação/reprovação do plano de uso da área já apresentado, é inviável antecipar um juízo sobre questões técnicas controvertidas, antes de encerrada a instrução probatória na ação ori-ginária. Destarte, há que prevalecer, por ora, a regra geral prescrita na Lei Estadual do RS nº 9.204/1991, segundo a qual, nas áreas de praias balneárias, destinadas ao descanso, aos desportos, à recreação e ao lazer em geral, cuja demarcação é imposta aos muni-cípios pela Lei nº 8.676, de 14 de julho de 1988, fica proibida a circulação de veículos [exceto aqueles expressamente autorizados na licença de instalação concedida], deven-do a autoridade municipal, que sobre elas detém a jurisdição, manter a correspondente sinalização. Vale dizer, não podem os veículos automotores circularem na faixa de praia, utilizando esta como se fosse uma comum via de trânsito e/ou área de estacionamento público a ser utilizada ao ‘bel prazer e na forma que qualquer um entender’.” (TRF 4ª R. – AI 5000177-31.2017.4.04.0000 – 4ª T. – Relª Desª Fed. Vivian Josete Pantaleão Caminha – J. 19.04.2017)

2385 – Risco ambiental – soja geneticamente modificada – plantio – área de conserva­ção – proximidades – impossibilidade

“Agravo de instrumento. Tutela provisória. Ação ordinária. Autorização para plantio de soja geneticamente modificada nas proximidades de área de conservação. 1. Existe ve-dação legal ao plantio de organismos geneticamente modificados no entorno da área de conservação ambiental e não é possível afastar, em sede de cognição sumária, a validade das leis que regem a matéria e o princípio da precaução, parecendo indispensável opor-tunizar o debate das questões controvertidas e o reexame da matéria pelo juiz natural, após o término da instrução probatória, até lá devendo prevalecer a proteção ao ambien-te ecologicamente equilibrado e as balizas estabelecidas pelo legislador e pelos órgãos ambientais competentes. 2. Razoável e recomendável aguardar a regular tramitação do processo originário, até mesmo porque a questão é complexa e porque são questionáveis os aventados benefícios que a modificação do status quo traria para o meio ambiente. 3. Agravo de instrumento improvido.” (TRF 4ª R. – AI 5038765-44.2016.4.04.0000 – 4ª T. – Rel. Cândido Alfredo Silva Leal Junior – J. 19.04.2017)

2386 – TCFA – homologação – lançamento – decadência – prazo – contagem“Tributário. Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA. Lançamento por homo-logação. Prazo decadencial. Termo inicial. Art. 173, I, do CTN. Primeiro dia do exercício seguinte àquele em que poderia ocorrer o lançamento. 1. A TCFA sujeita-se a lançamen-to por homologação, pois a legislação atribui ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, nos termos do art. 150, caput, do CTN. Precedente do STJ. 2. Na hipótese de pagamento parcial, a notificação ao contribuinte deverá se dar dentro do prazo decadencial de 5 (cinco) anos a contar da ocorrência do fato gerador (art. 150, § 4º, do CTN). Por outro lado, na hipótese de ausência completa de pagamento, a notificação ao contribuinte deverá ocorrer no prazo decadencial de 5 (cinco) anos a contar do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado (art. 173, I, do CTN). 4. No caso concreto,

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não houve pagamento antecipado e o lançamento se deu em 19.03.2008. Nessa linha estão decaídos os créditos de TCFA referentes aos fatos geradores ocorridos em 2001 e 2002, conforme foi, inclusive, reconhecido pela autoridade impetrada. 5. Remessa necessária a que se nega provimento.” (TRF 2ª R. – REO-ACív. 2009.50.01.008106-8 – 4ª T.Esp. – Relª Leticia de Santis Mello – DJe 23.05.2017 – p. 175)

2387 – TCFA – prescrição e decadência – reconhecimento“Direito tributário. Taxa de controle e fiscalização ambiental. Prescrição e decadência. Reconhecidas. Inversão dos ônus sucumbenciais. Apelação provida. 1. A decadência e a prescrição são matérias de ordem pública, cognoscíveis em qualquer tempo ou grau de jurisdição. 2. O próprio Ibama, em contrarrazões, confirmou a decadência dos débi-tos inerentes à TCFA relativos ao período de 1/2001 a 3/2003, período, inclusive, mais abrangente do aquele pleiteado pela autora. 3. Instada a se manifestar acerca de eventual cobrança judicial do crédito tributário, a autarquia trouxe aos autos a informação de que os débitos relativos ao período de 4/2003 a 4/2006 encontram-se prescritos, de modo que o tributo em discussão nesta seara, referente aos exercícios de 1/2001 a 4/2006, está fulminado pela prescrição e pela decadência. 4. Inversão do ônus de sucumbência para condenar o Ibama ao pagamento de honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da causa. 5. Apelação provida.” (TRF 3ª R. – AC 0000575-32.2009.4.03.6124/SP – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Nelton dos Santos – DJe 12.05.2017 – p. 563)

Destaque Editorial SÍNTESEDo voto do Relator destacamos o presente julgado:

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO – TRI-BUTÁRIO – TAXA DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS (TFAMG) – LEI ESTADUAL Nº 14.940/2003, COM AS ALTERA-ÇÕES DA LEI ESTADUAL Nº 17.608/2008 – BASE DE CÁLCULO – SOMATÓRIO DAS RECEITAS BRUTAS DE TODOS OS ESTABELECIMENTOS DO CONTRIBUINTE – ART. 145, II, § 2º, DA CF – CONSTITUCIONALIDADE – AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO – I – A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem reconhecido a constitucionalidade de taxas cobradas em razão do controle e fiscalização ambiental, por serem cobradas em razão do exercício regular do po-der de polícia. II – É legítima a utilização do porte da empresa, obtido a partir do somatório das receitas bruta de seus estabelecimentos, para mensurar o custo da atividade despendida na fiscalização que dá ensejo a cobrança da taxa. Preceden-te. III – Agravo regimental a que se nega provimento. (ARE-AgR 738944, Ricardo Lewandowski, STF)”

2388 – TCFA – tributação ambiental – fato gerador – inocorrência“Administrativo. Tributário. Ambiental. Ação ordinária. Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA. Inocorrência de fato gerador. Arrendamento. Inatividade da empre-sa comprovada. Lei nº 6.938/1981. Lei nº 10.165/2000. Cobrança após encerramento das atividades. Impossibilidade (6) A Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental (TCFA) foi instituída pela Lei nº 10.165, de 27.12.2000, que alterou os arts. 17-B, 17-C, 17-D, 17-F, 17-G, 17-H, 17-I e 17-O da Lei nº 6.938, de 31.08.1981 com a finalidade de

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custear o exercício do poder de polícia exercido pelo Ibama sobre as atividades poten-cialmente poluidoras e/ou utilizadoras de recursos naturais, in loco ou indiretamente. A TCFA possui incidência direta, com o fato gerador aferido trimestralmente, estabele-cendo uma presunção da continuidade da atividade fiscalizada em razão da inscrição nos cadastros da Fazenda. Todavia, a situação ativa junto à Secretaria da Receita se trata de presunção relativa, em que não exclui a possibilidade de o interessado comprovar a não ocorrência do fato gerador. Na hipótese dos autos, por ocasião do pedido de can-celamento do cadastro da empresa no CTFA/Ibama em 23.11.2009, a empresa apelada comprovou o encerramento do exercício das atividades que eram fato gerador da TCFA, em razão do arrendamento à outra empresa. Além disso, a empresa arrendatária, respon-sável pela continuidade das atividades, comprovou o recolhimento da TCFA ao órgão fiscalizador. Honorários nos termos do voto. Apelação não provida.” (TRF 1ª R. – Proc. 00141395920104014100 – Rel. Juiz Eduardo Morais da Rocha – J. 25.04.2017)

Destaque Editorial SÍNTESEDo voto do Relator destacamos:

“[...]

Confiram-se, para compreensão da matéria, entre os supracitados, os seguintes dis-positivos, in verbis:

“Art. 17-B. Fica instituída a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA, cujo fato gerador é o exercício regular do poder de polícia conferido ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama para o controle e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos naturais.

Art. 17-C. É sujeito passivo da TCFA todo aquele que exerça as atividades constan-tes do Anexo VIII desta Lei.

§ 1º O sujeito passivo da TCFA é obrigado a entregar até o dia 31 de março de cada ano relatório das atividades exercidas no ano anterior, cujo modelo será definido pelo Ibama, para o fim de colaborar com os procedimentos de controle e fiscalização.

§ 2º O descumprimento da providência determinada no § 1º sujeira o infrator a mul-ta equivalente a vinte por cento da TCFA devida, sem prejuízo da exigência desta.

Art. 17-D. A TCFA é devida por estabelecimento e os seus valores são fixados no Anexo IX desta Lei.

Art. 17-G. A TCFA será devida no último dia útil de cada trimestre do ano civil, nos valores fixados no Anexo IX desta Lei, e o recolhimento será efetuado em conta bancária vinculada ao Ibama, por intermédio de documento próprio de arrecadação, até o quinto dia útil subsequente ao mês subsequente.”

2389 – Tributação ambiental – TAH – natureza não tributária – princípio da legalidade – descumprimento

“Administrativo. Tributário. Ambiental. Mandado de segurança. Taxa Anual por Hec-tare – TAH. Cobrança anterior à vigência da Lei nº 9.314/1996. Multa. Ilegalidade (6) O Supremo Tribunal Federal firmou entendimento no sentido de que a TAH não tem natureza de tributo, mas sim de preço público, pois decorre da exploração de bem da União por particular nos termos do art. 20, IX, c/c art. 175 e §§, da Constituição Fede-

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ral. ‘O fato de a Taxa Anual por Hectare – TAH não ter natureza de tributo não afasta a necessidade de observância do princípio da legalidade. Ilegal, assim, sua cobrança com base em portaria ministerial (Portaria nº 663/1990) no período anterior à vigência da Lei nº 9.314/1996’ (AGA 0011110-16.2009.4.01.0000/MT, Relª Desª Fed. Maria do Carmo Cardoso, 8ª T., e-DJF1 p. 1255 de 30.08.2013). Honorários nos termos do voto. Apela-ção e remessa oficial não providas.” (TRF 1ª R. – Proc. 00069420820094013900 – Rel. Juiz Eduardo Morais da Rocha – J. 25.04.2017)

Destaque Editorial SÍNTESEDo voto do Relator destacamos os presentes julgados:

“CONSTITUCIONAL – TRIBUTÁRIO –TAXA – CONCEITO – CÓDIGO DE MINERA-ÇÃO – LEI Nº 9.314, DE 14.11.1996 – REMUNERAÇÃO PELA EXPLORAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS – PREÇO PÚBLICO

I – As taxas decorrem do poder de polícia do Estado, ou são de serviço, resultantes da utilização efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, pres-tados ao contribuinte ou postos a sua disposição (CF, art. 145, II). O poder de polícia está conceituado no art. 78, CTN.

II – Lei nº 9.314, de 14.11.96, art. 20, II e § 1º, inciso II do § 3º: não se tem, no caso, taxa, no seu exato sentido jurídico, mas preço público decorrente da explora-ção, pelo particular, de um bem da União (CF, art. 20, IX, art. 175 e §§).

III – ADIn julgada improcedente. (STF, ADI 2586/DF, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribu-nal Pleno, DJ 01.08.2003, p. 101)

[...]

TRIBUTÁRIO – AGRAVO DE INSTRUMENTO – AGRAVO REGIMENTAL – TAXA ANUAL POR HECTARE – NATUREZA JURÍDICA – COBRANÇA – PORTARIA MINIS-TERIAL – ILEGALIDADE

1. A exceção de pré-executividade é admissível na execução fiscal relativamente às matérias conhecíveis de ofício que não demandem dilação probatória (enunciado da Súmula nº 393/STJ), tal como as condições da ação, os pressupostos processuais, a decadência, a prescrição, entre outras (STJ, REsp 1.104.900/ES, julgado na siste-mática do recurso repetitivo, 1ª S., Relª Min. Denise Arruda, DJe de 01.04.2009).

2. O STF firmou o entendimento de que a Taxa Anual por Hectare – TAH não tem natureza jurídica de taxa – por não decorrer do poder de polícia do Estado, tampouco da utilização efetiva ou potencial de serviço público específico e divisível prestado ao contribuinte ou posto a sua disposição (art. 145, II, da Constituição da República de 1988) –, mas sim de preço público decorrente da exploração de bem da União pelo particular (art. 20, IX, c/c o art. 175 e §§, da Carta Magna de 1988).

3. O fato de a Taxa Anual por Hectare – TAH não ter natureza de tributo não afasta a necessidade de observância do princípio da legalidade. Ilegal, assim, sua cobran-ça com base em portaria ministerial (Portaria nº 663/1990) no período anterior à vigência da Lei nº 9.314/1996. Precedentes.

4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AGA 0011110-16.2009. 4.01.0000/MT, Relª Desª Fed. Maria do Carmo Cardoso, 8ª T., e-DJF1 p. 1255 de 30.08.2013)”

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Seção Especial – Estudos Jurídicos

Exportação de Liga de Nióbio e a Soberania e Segurança Nacional

IVES gANDRA DA SILVA MARTINSProfessor Emérito das Universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UNIFMU, do CIEE/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército – Eceme, Superior de Guerra – ESG e da Magistratura do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, Professor Honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), Dou-tor Honoris Causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs – Paraná e Rio Grande do Sul; Catedrático da Universidade do Minho (Portugal), Presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomércio, Fundador e Presidente Honorário do Centro de Extensão Universitária – CEU/Instituto Internacional de Ciências Sociais – IICS.

SUMÁRIO: Introdução; I – Da soberania e da segurança nacional; II – Da exportação de nióbio; Conclusão.

INTRODUÇÃO

O Brasil1 detém grande reserva natural do nióbio2, que é um minério passível de uma universidade de utilizações. A sua produção se destina tan-to ao mercado interno quanto ao externo, gerando, quando de sua exporta-ção, algumas controvérsias.

Assim, em questionável exercício do Poder de Polícia Judiciária Mi-litar, exportadores do minério se deparam com a abertura de investigações acerca do suposto subfaturamento em exportações de nióbio, que causa-riam prejuízos anuais de bilhões de dólares ao Brasil, gerando, em última análise, ofensa à soberania e segurança nacional.

1 A respeito das reservas brasileiras:

“O pirocloro é das principais fontes de obtenção do nióbio. As reservas de pirocloro que apresentam maior teor em nióbio encontram-se em Araxá, no Estado de Minas Gerais; em 1970, o Brasil exportou cerca de 8.000 toneladas do minério.” (Ciência Ilustrada, v. 9)

2 O nióbio tem as seguintes características:

“Elemento químico de número atômico 41, símbolo Nb. Foi descoberto em 1801 por C. Hatchett, que lhe deu o nome de colúmbio (de Colúmbia, sinônimo de América) e, em 1844, redescoberto por Rose, que, julgando tratar-se de outro elemento, o designou pelo nome actualmente adoptado (de Niobe, filha de Tântalo). Encontra-se associado com o tântalo em minérios ricos em terras raras e em especial na niobite e nos carbonatitos. Os principais depósitos encontram-se no Brasil, Nigéria e Canadá.

[...]

O metal é utilizado sobretudo no fabrico de ligas ferro-N. para diversos fins e de outras ligas mais complexa, que têm sido aplicadas na construção de turbinas de propulsão a jacto e, provav., usadas tb. em foguetões e naves espaciais.” (Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, 14 v., p. 133)

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Neste breve estudo, dediquei-me, pois, pelo prisma constitucional, a analisar tal questão.

I – DA SOBERANIA E DA SEGURANÇA NACIONAL

Os conceitos de segurança nacional e de soberania estão intrinse-camente ligados e conformam a independência de uma nação perante o concerto delas no cenário mundial3.

O Constituinte, no art. 1º, inciso I, coloca em primeiro lugar, como fundamento do Estado Democrático de Direito, a soberania, adotando ex-pressão que vem do movimento comunista espanhol, que levou aquele país à Guerra Civil de 1936 a 1939.

Versado está o art. 1º, inciso I, nos termos que se seguem:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrá-tico de Direito e tem como fundamentos:

I – a soberania;

[...].

Como realça Manoel Gonçalves Ferreira Filho, foi naquele conflito fraticida que os comunistas cunharam a expressão “Estado Democrático de Direito”, adotada pela Constituinte por influência dos movimentos contrá-rios ao regime militar de exceção. Dessa forma, a expressão da revolução comunista espanhola foi adotada4.

3 Celso Bastos relaciona o conceito de soberania ao exercício da cidadania:

“De qualquer sorte, é plenamente possível extrair os princípios que esteiam o ideal republicano.

Em primeiro lugar, a soberania popular. Com efeito, de república não se tratará se houver alguém dentro do Estado que possa exercer o poder em nome próprio.

É traço importante da República a representatividade, porque o mundo moderno praticamente desconhece o exercício direto do poder pelo povo.

Há também ínsita no ideal republicano a ideia igualitária que decorre do próprio caráter democrático do regime. O que há é uma submissão de governantes e governados às leis gerais.

Finalmente, a temporariedade dos mandatos que são exercidos de forma responsável, o que significa dizer que o poder há de ser exercido dentro da lei, sob pena de sanções aplicáveis aos governantes que desbordam do quadro normativo.” (BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil, 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1 v., 2001. p. 460/461)

4 Manoel Gonçalves Ferreira Filho lembra:

“Deve-se observar que, na doutrina espanhola, Estado Democrático de Direito foi expressão cunhada para significar ‘socialismo na democracia’, como se vê da obra de Elias Diaz (Estado de derecho y sociedad democrática). Entretanto, esta orientação socialista a ser impressa ao Estado de Direito não foi sequer objeto de cogitação nos debates da Constituinte. Não há dúvida alguma que a expressão ‘Estado Democrático de Direito’ não foi votada pelo constituinte brasileiro com a intenção de designar o socialismo na Constituição e na democracia pátria. Não se aplica aqui, desse modo, a conotação que tem a expresso no direito espanhol.

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Apesar de sua origem, a expressão não é incorreta. Cuba é um Estado de Direito, pois regido por uma legislação própria, que constitui seu direito, mas não é um Estado Democrático de Direito, como, de resto, não foi a Es-panha, nem sob o domínio dos comunistas, nem sob o domínio de Franco, nada obstante a expressão.

Ora, a diferença entre os Estados de Direito é que podem ser demo-cráticos ou ditatoriais, apenas aqueles podendo ostentar a expressão por inteiro, pois neles a soberania popular pode ser exercida5.

Por essa razão, nada obstante a origem totalitária da expressão, ela é correta.

Os constituintes, todavia, não quiseram se utilizar da expressão “se-gurança nacional”, na indicação dos fundamentos do Estado Democrático brasileiro, pois entendiam que ela estava impregnada do “tônus” do governo anterior, dominado por militares. Prefiro referir-me a esse regime como “de exceção”, e não “ditadura”, pois o Congresso funcionou, a oposição existia, a OAB opunha-se ao regime – fui seu conselheiro durante 6 anos naquele período – e a volta à plena democracia foi possível com o próprio candidato do governo sendo derrotado, nas eleições presidenciais, pelo candidato da oposição, em 1985.

José Afonso da Silva sustenta, porém, o contrário, afirmando que Estado Democrático de Direito significa na Constituição brasileira Estado em transição para o socialismo (v. O Estado Democrático de Direito, Revista da PGE-SP, 30:61).” (p. 18)

5 Embora reconheça na lei um forte redutor do arbítrio dos detentores no poder, mantenho-me mais cético que otimista. Escrevi:

“Esta evolução da importância da lei, como fator de geração do poder e dele inibidor, à evidência, não poucas vezes é desmentida pela prática, pois, como o poder não admite vácuos, sempre que alguns, com força suficiente, conquistam-no e verificam que podem ultrapassar os limites da lei posta, objetivando mais ação e domínio, fazem-no. Se o conseguirem, o fator inibidor da lei desaparece, dando início a este fenômeno permanente, na história da humanidade, que é o surgimento das ditaduras, e a ruptura das instituições por aqueles que adquirem força necessária, sem encontrar outras forças de contraposição. Colocam-se, então, acima da lei, tornando-a fonte de leis pessoais, para assegurar o seu domínio, como começa a ocorrer, no momento em que escrevo este livro, com os países vizinhos do Brasil (Venezuela, Equador e Bolívia).

No Brasil, a Constituição de 1988 garantiu um bem elaborado esquema de equilíbrio entre os Poderes da República, que permitiu, nada obstante as inúmeras crises por que passou o país, nos últimos 20 anos, promover o regime democrático e que, no dizer de Montesquieu, o poder controlasse o poder, pela força resultante da tripartição (Judiciário, Executivo e Legislativo).

O certo é que o poder dos que o exercem, na atualidade, encontra mais limites na lei que no passado. Mas tal fonte inibidora não impede que alguns adquiram forças suficientes para destruí-la, e terminem por violentá-la, eliminando seus próprios mecanismos assecuratórios constantes das Constituições, para afastar as oposições e assegurar seu exercício. É a ditadura, portanto, fonte de poder sem limites, com reaparecimento permanente, no cenário mundial. Isto porque, como disse no início, o exercício do poder está justificado por si mesmo, sendo irrelevante e secundário o efeito colateral de prestação de serviços públicos, que só ocorre quando há interesse dos detentores em criar imagem favorável a sua atuação.” (Uma breve teoria do poder. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 30/31)

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O certo, todavia, é que o receio de que pudessem os militares preten-der uma volta ao movimento de 1964 é que fez com que os constituintes buscassem toda a espécie de proteção. O art. 5º da CF, por exemplo, tem praticamente metade de suas disposições concernentes aos direitos e às ga-rantias voltados para a defesa contra arbitrariedades, muitas delas veiculan-do excessiva pormenorização de direitos e garantias individuais.

Muitos dos intérpretes da lei suprema têm acentuado que, se a Cons-tituinte tivesse sido instalada após a queda do Muro de Berlim, talvez fosse mais sintética e menos ideológica em alguns pontos.

Apesar da nítida vinculação entre a soberania e a segurança nacional, os constituintes falaram apenas em soberania, nos fundamentos do Estado Democrático. Não há, porém, como deixar de considerar implícito no con-ceito de soberania o de segurança nacional6.

Quando Cordeiro de Farias idealizou a Escola Superior de Guerra, pretendeu que o conceito de segurança nacional fosse o mais abrangente possível, abrigando todas as atividades públicas e privadas que pudessem, em algum momento ou espaço, colocar em risco o projeto de governo, este definitivamente confundido como um projeto de Estado. O conceito de se-gurança nacional confundia-se com o de soberania, em tese. Assim, a mais intranscendente das profissões poderia, em determinado momento, colocar em risco a segurança nacional se contrariasse ao projeto de governo, direta ou indiretamente, identificado com projeto de Estado. A teoria fora elabo-rada pelo General Golbery e, em escala mais científica, por Meira Mattos7.

Ainda na década de 70, a jurisprudência do Supremo Tribunal Fe-deral assegurou conceito menos abrangente, tornando-o contido na defesa do território nacional contra o inimigo externo ou interno, se a serviço dos interesses estrangeiros.

De resto, tal postura foi acolhida pelos constituintes que deram às Forças Armadas, a quem incumbe a defesa da soberania, funções nesses limites, embora tendo acrescentado também outras funções, das quais a principal é dar estabilidade às instituições.

6 Hart, em seu clássico The concept of Law (Ed. Clarendon Law Series, 1961), vincula a soberania ao poder nacional de decidir sobre seu direito interno e ter independência em relação a outros países. Admite que, nos casos de dominação, em uma guerra, apesar de ter regras definidas pela nação dominadora, manter um grau relativo de soberania em relação ao direito interno e nas relações externas não impedidas pelo Estado dominador, não retira a soberania.

7 Recentemente, foi editada a obra completa de Meira Mattos, um dos maiores geopolíticos das Américas (Geopolítica. 1. ed. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército/FGV Editora, 3 v., 2011)

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Por essa razão, o art. 142 da CF/1988, inserido no Título V da Lei Suprema, denominado pelos constitucionalistas de “Regime Constitucional das Crises” – feliz expressão cunhada pelo saudoso colega de turma, De-sembargador Aricê Amaral dos Santos –, ofertou as duas funções, como se pode ler em sua dicção:

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presi-dente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.8

De um lado, a defesa da pátria, de outro, a garantia dos poderes cons-titucionais, sem necessidade de qualquer solicitação, da lei ou da ordem, a pedido de qualquer dos Poderes.

Passaram as Forças Armadas a garantir a segurança nacional, se na dupla faceta (externa – defesa da pátria; interna – garantia dos poderes cons-tituídos, da lei e da ordem, à evidência em momentos de crise internacional ou de crise interna)9.

8 Comentei-o:

“As Forças Armadas destinam-se à defesa da pátria, em primeiro lugar. E a sua feição maior. Historicamente, desde as primitivas eras, as forças militares objetivavam, nos velhos impérios orientais (da China até o complexo de civilizações do próximo Oriente), a conquista ou a defesa.

Principalmente após os romanos, tal missão do exército ficou bem clara, visto que, pela primeira vez, utilizaram-se do direito como instrumento de conquista, aplicando-o durante os dois mil e cem anos de seu domínio (711 a.C. a 1492 d.C.).

A segunda grande missão das Forças Armadas é a garantia que ofertam aos poderes constitucionais, o que vale dizer, se o Supremo Tribunal Federal é o guardião da Constituição, quem garante os poderes constituídos são as Forças Armadas. Quando Nélson Hungria, desconsolado, no golpe de estado que derrubou Café Filho, disse que o Supremo Tribunal Federal era um arsenal de livros, e não de tanques – e, por isso, nada podia fazer para garantir o governo, podendo apenas mostrar uma realidade, qual seja, a de que sem a garantia das Forças Armadas não há poderes constituídos –, definiu os verdadeiros papéis das duas instituições.

Por fim, cabe às Forças Armadas assegurar a lei e a ordem sempre que, por iniciativa de qualquer dos poderes constituídos, ou seja, por iniciativa dos Poderes Executivo, Legislativo ou Judiciário, forem chamadas a intervir.

Nesse caso, as Forças Armadas são convocadas para garantir a lei e a ordem, e não para rompê-las, já que o risco de ruptura provém da ação de pessoas ou entidades preocupadas em desestabilizar o Estado.” (BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 5 v., 2000. p. 166/167)

9 Pinto Ferreira ensina:

“Qualquer nação necessita de um dispositivo de segurança a fim de manter a ordem e a paz pública interna, bem como garantir a defesa externa nas relações com outros países. Daí a necessidade da instituição de Forças Armadas para efeito de conseguir esse objetivo. Os orçamentos consignam somas fabulosas para permitir a realização desse fim, em face do receio de guerra que ainda agita o mundo moderno, não obstante os anseios de paz mundial.

Muitos países, que a princípio não tinham Constituição, como a Rússia tzarista, iniciaram a sua organização através de regulamentos militares. Assim aconteceu com Pedro, o Grande, que se afirmou na Rússia com o Regulamento Militar de 1716 e com o Regulamento Naval de 1720, como assinala Linares Quintana no livro Direito constitucional soviético (Buenos Aires, 1946, p. 21).

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Todo este capítulo é para mostrar que, à luz do texto supremo, a sobe-rania e a segurança nacional têm tratamento claro e bem definido: realçan-do-se o controle por parte das Forças Armadas, no que terão, como forças coadjuvantes, as polícias federais, estaduais e municipais.

Dessa forma, a soberania nacional é assegurada, em Estado Democrá-tico, por todos os Poderes, mas, como atores principais, pelas Forças Arma-das, responsáveis pela segurança nacional, nos termos retroenunciados10.

Não sem razão, o Código Penal Militar, no art. 142, III, fez menção a ser punido militarmente quem procurar internacionalizar região ou território nacional, que pressupõe a cessão, por qualquer tipo de acordo, desta região, como, de resto, muitos ambientalistas desejaram fazer com a Amazônia, ainda cobiçada pelos olhos gordos de outras nações mais poderosas11.

Está assim redigido:

Art. 142. Tentar:

[...]

III – internacionalizar, por qualquer meio, região ou parte do território na-cional.

À luz do direito constitucional, o verbo “internacionalizar” significa admitir que o território nacional seja submetido a controle externo, seja de

Os primeiros hills ingleses se referiam às Forças Armadas. Disposições análogas surgiram na Declaração de Direitos de 1776 da Virgínia e na Declaração de Direitos da França de 1789.

Constituições atuais se referem às Forças Armadas, recrutadas de todos os cantos do país e que se estruturam como um elemento orgânico decisivo para a unidade nacional.” (Comentários à Constituição brasileira, Saraiva, v. 5, 1992. p. 221)

10 Maria Helena Diniz, ao definir segurança nacional e soberania externa, não esconde seus pontos de contato:

“Segurança nacional. [...] 2. Ciência política. a) Complexo de instituições que visam não só a garantia da integridade e soberania da nação contra violência estrangeira, corno também o respeito às normas e à ordem interna (De Plácido e Silva); b) conjunto de medidas assecuratórias da consecução dos objetivos nacionais contra antagonismos internos e externos, preservando a segurança interna externa do país (Paulo Matos Peixoto).”

“Soberania externa. Ciência política e direito internacional público. 1. Independência do Estado, pois em suas relações com outros países há igualdade e não subordinação. 2. Manifestação da soberania do Estado no exercício de direitos e no ato de contrair obrigações na seara internacional para atender a seus interesses. 3. Direito do Estado de organizar-se e reger-se com independência de toda intromissão política estrangeira (Orgaz).” (Dicionário jurídico. São Paulo: Saraiva, v. 4, 1998. p. 279 e 388)

11 Tenho para mim que uma equivocada interpretação dada ao artigo que outorgou a pouco mais de 500 mil índios 13% do território nacional, com leitura do verbo “ocupar” no pretérito perfeito e não no presente do indicativo, internacionalizou para todos os índios dos países vizinhos da mesma etnia, o território nacional, aí sim com violação ao Código Penal Militar. O caput do art. 231 tem o seguinte discurso: “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.

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um ou mais países em conflitos, ou por deliberação de órgãos internacionais com a concordância do Brasil.

II – DA EXPORTAÇÃO DE NIóBIO

Aqui interessa saber se a exportação de nióbio corresponde a feri-mento à soberania nacional, pondo em risco sua segurança, e se se enqua-dra na violação ao art. 1º, inciso I, da CF/198812. Sendo assim, colocadas as premissas retroapresentadas, passo a examinar a matéria à luz do direito constitucional.

Empresas exportadoras do nióbio têm sido surpreendidas com pedido de abertura de inquérito declarando:

a) que o nióbio tem sido exportado subfaturado;

b) que o art. 142, inciso III, do Código Penal está sendo atingido, pois exportar minério subfaturado representa “internacionaliza-ção de região ou parte do território nacional”.

Não fica claro nas referidas investigações se a exportação em si é crime ou se o seria o subfaturamento.

De início, como já disse, não há qualquer semelhança entre interna-cionalizar região ou território e exportar minérios respeitando toda a trami-tação burocrática e fiscal exigida para tal operação13.

À luz, todavia, do conceito de “soberania” do inciso I, que, como disse, implica a manutenção da segurança nacional, não há qualquer pos-sibilidade de tais exportações serem consideradas atentado à soberania ou à segurança nacional.

Eventuais pedidos de investigação parecem indicar que, se não hou-vesse o pretendido subfaturamento, a soberania nacional não seria atingida, nem haveria risco para a segurança nacional.

12 J. R. de Almeida Pinto, A. J. Ramalho da Rocha e R. Doring Pinho da Silva organizaram o livro intitulado Reflexões sobre defesa e segurança: uma estratégia para o Brasil – Pensamento brasileiro sobre defesa e segurança (Ministério da Defesa, Secretaria de Estudos de Cooperação, v. 1, 2004). O livro aborda diversos aspectos que merecem reflexão, à falta de conformação doutrinária, com temas polêmicos, muitos deles de possível contestação à luz da Constituição.

13 Artigos de grupos autodeclarados contra o neoliberalismo e a liberdade de iniciativa, mas adeptos do neoconstitucionalismo, têm confundido os conceitos de internacionalização e soberania com o direito de exportar excedentes da produção nacional de nióbio. Li-os. Economicamente, não há qualquer elemento a justificá-los, pois a tese, sem qualquer dúvida, é insustentável, sobre representar uma eliminação de atividade econômica de alta tecnologia por pruridos ideológicos.

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Se assim o é, a questão seria meramente fiscal, e não de internaciona-lização de qualquer região ou parte do território nacional, visto que nenhu-ma força estrangeira entrou no país ou nenhum tratado internacional impôs forças estrangeiras em região do país contra os ditames constitucionais.

Ora, subfaturamento, que diz respeito ao controle alfandegário e da Receita Federal, é de competência do Ministro da Fazenda, e não do Minis-tério da Defesa, visto que até o contrabando ou perdimento de bens tem tra-tamentos fiscais e penais, mas de direito comum, e não de direito militar14.

Admitindo, todavia, que as exportações de nióbio ferem a soberania, então todas as autorizações, até hoje, de exportação daquele minério esta-riam ferindo a soberania, e os próprios financiamentos oficiais para funcio-namento de empresas exportadoras ou o controle que tais autoridades vêm exercendo no correr dos anos estariam em confronto direto com a especial, particular e curiosa interpretação que se trataria de infração militar.

Ora, não é crível que, durante anos, empresas exportadoras de nióbio tenham crescido com o apoio governamental, exercendo atividade que afe-te a soberania nacional!!! Essa hipótese, portanto, deve ser afastada.

Volto à hipótese de subfaturamento. Essa também não se sustenta. Não só porque as exportações são rigorosamente controladas pela Receita Federal, como pelo fato de que são exportações que propiciam lucro ade-quado à matriz.

O fato de usar subsidiárias fora do país para agilizar e promover as exportações, portanto, gerando, subsidiárias e matriz, lucro auditado por conhecidas empresas internacionais sendo fiscalizadas pelas autoridades brasileiras, demonstra que tais resultados produzidos seriam de impossível obtenção se houvesse subfaturamento de um minério cujos preços interna-cionais são de fácil comprovação15.

14 A lei de perdimento de bens tem o nº 9.804, de 30 de junho de 1999, a de contrabando o nº 13.008, de 26 de junho de 2014, e a legislação penal-tributária sobre subfaturamento tem o nº 8.137/1990. Coordenei neste sentido o livro Crimes contra a ordem tributária – Pesquisas Tributárias (9. sér. 4. ed. atual. São Paulo: Centro de Extensão Universitária e Revista dos Tribunais, v. 1, 2002), com a colaboração dos seguintes autores: Anthero Lopérgolo, Antonio Manoel Gonçalez, Aristides Junqueira Alvarenga, Aurélio Pitanga Seixas Filho, Cecília Maria Marcondes Hamati, Celso Ribeiro Bastos, Dejalma de Campos, Eduardo Roberto Alcântara Del-Campo, Francisco de Assis Alves, Gabriel Lacerda Troianelli, Gilberto de Ulhôa Canto, Gustavo Miguez de Mello, Hugo de Brito Machado, Ives Gandra da Silva Martins, João Mestieri, José Eduardo Soares de Meio, José Maurício Conti, Luiz Antonio Caldeira Miretti, Luiz Felipe Gonçalves de Carvalho, Márcia Regina Machado Melaré, Maria Helena Tavares de Pinho Tinoco Soares, Marilene Talarico Martins Rodrigues, Oswaldo Othon de Pontes Saraiva Filho, Pedro Luís do Amaral Marino, Plínio José Marafon, Rafael Atalla Medina, Raquel Elita Alves Preto Vilia Real, Rubens Approbato Machado, Vittorio Cassone, Wagner Balera e Yoshiaki Ichihara.

15 Daí a importância de serem conservados os balanços das empresas, inclusive de subsidiárias, visto que é a transparência dos balanços consolidados dos lucros mencionados nas subsidiárias que atestam a inocorrência

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Acresce-se que a produção brasileira de nióbio é muito superior à capacidade de absorção do mercado brasileiro, o que exige, para a própria evolução das empresas, sua exportação.

Ora, são poucos os países que produzem o nióbio – todos eles termi-nam por exportá-lo, pela impossibilidade de absorção pelo mercado interno –, e os preços no mercado internacional são semelhantes para todos os paí-ses, alguns com melhor técnica de exploração do que os outros. Isto implica pequenas diferenças, muitas vezes nos preços.

A média dos preços internacionais detectados é rigorosamente a mes-ma dos praticados por exportadoras brasileiras. Por existirem poucos pro-dutores de nióbio no mundo, nem sempre é fácil determinar o preço inter-nacional, como para commodities como o petróleo, razão pela qual não se pode falar em preço único, mas semelhante. O certo, todavia, é que, pela semelhança de preços no mercado internacional, jamais se poderia falar em subfaturamento.

Dessa forma, auditorias nas matrizes e nas subsidiárias exportadoras nunca detectaram qualquer irregularidade, sempre aprovando em balanços, que são, por outro lado, sujeitos ao exame do setor competente, ou seja, o Ministério da Fazenda, e não da Defesa.

Os pedidos de investigação falam em subfaturamento de bilhões de dólares, sem apresentar qualquer fato a suportar tal afirmação, lembrando--se que as empresas brasileiras são fiscalizadas em todas as suas atividades pelas autoridades competentes. Tais números, portanto, parecem mais ser frutos de uma fértil imaginação.

CONCLUSÃO

À luz do direito constitucional, entendo que não há ofensa à sobera-nia nacional, nem qualquer risco para o Brasil na exportação do excedente da produção do nióbio para outros países, conforme a legislação vigente e nos preços internacionalmente praticados16.

de subfaturamentos, lembrando que o nióbio contido na liga de ferro-nióbio tem seu preço calculado no percentual de 0,66. Todas as exportadoras trabalham com preços semelhantes.

16 Vale a pena reiterar que soberania nada tem a ver com exportação ou importação de produtos sobre rigoroso controle da fiscalização. Nunca é demais lembrar a lição de José Cretella Júnior sobre o conceito de soberania do inciso I do art. 1º:

“‘Soberania’ é, realmente, fundamento do Estado, qualquer que seja sua forma, monárquica ou republicana, federativa ou unitária, porque Estado ‘é síntese dos poderes soberanos’. Soberania é a situação do Estado que não está submetido a outro e que, por isso, pode elaborar sua Constituição, ou seja, pode criar seu direito positivo no mais alto grau. O vocábulo ‘soberania’ evoca a ideia de ‘soberano’, aquele que decidia qual o tipo de direito válido para a coletividade, num dado momento histórico. O soberano podia ser um indivíduo,

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Sendo assim, eventual tese de que a exportação do nióbio seria uma forma de internacionalização de qualquer região ou parte do território na-cional e não teria qualquer embasamento jurídico pelo prisma de ofensa à soberania nacional.

Do mesmo modo, na hipótese de subfaturamento em exportações de nióbio é questão de natureza fiscal, e não do âmbito do Ministério de Defe-sa, mas da Fazenda Pública.

o rei, por exemplo, ou toda uma classe ou casta, como ocorria e ocorre nos regimes oligárquicos, podendo, ainda, ser toda a Nação, como diziam os filósofos do século XVIII. ‘A ideia de direito decorre da consideração de uma ordem social desejável, sendo dirigida por uma certa representação do futuro. O soberano deve seu título ao fato de que esta ordem social e este futuro não podem, sem o seu consentimento, se impor como fim da regulamentação jurídica. Desta situação do soberano resulta que a soberania é uma força que nasce das circunstâncias históricas e nacionais em que se encontra comprometida a comunidade política em um momento de sua existência. A soberania caminha com a força política preponderante e é precisamente a qualidade de não depender – quanto à existência – de nenhuma outra ordem jurídica preestabelecida que faz dela uma noção exclusivamente política’.” (Comentários à Constituição 1988. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989. p. 137)

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Clipping Jurídico

ADI questiona lei que regulamenta vaquejada no Estado de RoraimaO procurador-geral da República (PGR), Rodrigo Janot, ajuizou a Ação Direta de Incons-titucionalidade (ADI) nº 5703, com pedido de medida cautelar, no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a Lei nº 900/2013, de Roraima, que regulamenta a vaquejada como prática desportiva e cultural no Estado. A ministra Rosa Weber é a relatora da ação. Se-gundo o procurador, a lei roraimense autoriza atividade que “inevitavelmente submete animais a tratamento violento e cruel”. Ele argumenta que a vaquejada como prática desportiva viola a jurisprudência do Supremo e o art. 225, § 1º, inciso VII, da Constitui-ção Federal, o qual atribui ao Poder Público instrumentos e providências destinados a as-segurar o direito a ambiente ecologicamente equilibrado. Na ADI, Rodrigo Janot afirma que práticas culturais e desportivas também são tuteladas pela Constituição; entretanto, um juízo de ponderação revela que apenas são admitidas constitucionalmente ativida-des culturais e desportivas que não submetam a fauna brasileira a tratamento cruel. “Prá-tica de vaquejada, não obstante sua antiguidade e seu relevo em certas regiões do país, é incompatível com os preceitos constitucionais que obrigam a República a preservar a fauna, a assegurar ambiente equilibrado e, sobretudo, a evitar desnecessário tratamento cruel de animais”, avalia, ao completar que com o passar dos anos a vaquejada também passou a ser “fortemente explorada como atividade econômica”. O procurador-geral alega que a Constituição Federal veda esse tipo de tratamento à fauna e impõe ao Estado e à coletividade o dever de proteção de animais, tanto silvestres quanto domesticados. “Proteção da fauna, em todos os seus aspectos possíveis, é a medida necessária a assegu-rar o direito fundamental à preservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado”, sustenta. De acordo com ele, “além dos traumas físicos decorrentes da atividade, o con-finamento prévio e a provocação dos animais para que corram nas pistas enquanto são perseguidos pelos vaqueiros geram neles estresse intenso, apenas em nome do prazer de alguns de assistir à competição e da ambição econômica de outros, que exploram a prática”. Dessa forma, o procurador-geral da República pede a concessão da medida cautelar para suspender a eficácia da Lei nº 900/2013, de Roraima. No mérito, ele solici-ta a procedência do pedido para declarar a inconstitucionalidade da norma questionada. (Conteúdo extraído do site do Supremo Tribunal Federal)

Comissões promovem evento internacional sobre meio ambiente e direitos humanosO bioma Amazônia foi um estudo de caso dos diferentes conceitos e instrumentos ana-lisados nos painéis. Constituição, meio ambiente e direitos humanos foram temas do Colóquio Judicial para a América Latina e o Caribe sobre Constituições, Ambiente e Direitos Humanos, que será realizado na próxima semana no Congresso Nacional. Os debates foram promovidos em conjunto pela Comissão Mista Permanente sobre Mudan-ças Climáticas do Congresso Nacional e pela Comissão de Meio Ambiente do Senado em parceria com instituições nacionais e estrangeiras. O evento reuniu autoridades da área para debater, sob uma perspectiva mundial, o estado da arte na proteção consti-tucional do meio ambiente, com ênfase nos aspectos práticos de implementação dos direitos humanos e no chamado Estado de direito ambiental. [...], com painéis, con-ferências e mesas redondas que discutiram, entre outros tópicos, o papel de juízes na proteção do meio ambiente; a interpretação e a aplicação de disposições ambientais do

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Direito internacional, regional e interno; o melhor acesso à justiça na América Latina e no Caribe em matéria ambiental; e os progressos e desafios na garantia e implementação de dispositivos constitucionais ambientais nos países da região. Também foi debatido o desenvolvimento de formas complementares de capacitação judicial e de material didático em questões de interesse judicial relacionadas à implementação de dispositivos constitucionais ambientais. Também foi analisado o bioma Amazônia como um estudo de caso dos diferentes conceitos e instrumentos analisados nos painéis anteriores. Entre os debatedores e facilitadores estão os professores Erin Daly, da Faculdade de Direito da Widener University Delaware (EUA); Nicholas Bryner, do Instituto Emmett sobre Mu-dança Climática e o Meio Ambiente da Universidade da Califórnia, Los Angeles (EUA); Néstor Cafferatta, da Universidade Nacional de Buenos Aires, Argentina; Louis Kotzé, da Faculdade de Direito da North-West University, Campus Potchefstroom, na África do Sul; Gustavo Alanis, presidente do Centro Mexicano de Direito Ambiental, no México; e Grethel Aguilar, diretora do escritório regional da International Union for Conserva-tion of Nature (UICN) para México, América Central e Caribe. Também participaram do debate as juízas Fruzsina Bögös, secretária-geral do Fórum de Juízes para o Meio Ambiente da União Europeia; Doyo Kim, da Coreia do Sul; Wendy Martínez Mejía, da República Dominicana; e Candice Galvão Jobim, de Brasília. Além da presença dos desembargadores Michael Wilson, do Tribunal de Justiça do Havaí; e Ricardo Torres de Carvalho, presidente da Câmara Ambiental do Tribunal de Justiça de São Paulo; e também Arnold Kreilhuber, jurista sênior da Divisão de Direito Internacional Ambiental, de Pnuma, Nairóbi, no Quênia. Ainda fazem parte os ministros Chifundo Kachale, da Corte Supe-rior do Malauí; Paul Kihwelo, da Corte Superior e do Instituto de Administração Judicial da Tanzânia; José Ignacio Vásquez Márquez, da Corte Constitucional do Chile; Edward Sidney Blanco Reyes, da Câmara Constitucional e Corte Suprema de El Salvador; Brian Cottle, da Corte Suprema do Caribe Oriental, São Vicente e Granadinas; Rafael Asenjo, do Tribunal Ambiental de Santiago, no Chile; e a ministra Ragnhild Noer, da Corte Suprema da Noruega. A abertura do evento e as sessões iniciais foram realizadas na segunda-feira, das 9h às 12h, no Plenário do Senado Federal. À tarde, das 14h às 19h, o evento foi realizado na sala 2 da Ala Nilo Coelho. Na terça-feira, das 9h às 19h, as reuniões ocorreram no mesmo local. (Conteúdo extraído do site da Câmara dos Depu-tados Federais)

Decisão permite tombamento de bem da União por lei estadualO ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), julgou improcedente ação na qual se questiona o tombamento de prédio de propriedade União por lei local. Na Ação Cível Originária (ACO) nº 1208, o ministro entendeu que é possível o tomba-mento por ato legislativo, e que o Estado pode tombar bem da União. A discussão na ação envolve o prédio onde funciona o Museu da Força Expedicionária Brasileira, loca-lizado no centro de Campo Grande (MS), de propriedade do Exército. O tombamento foi aprovado pela Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul, por meio da Lei estadual nº 1.524/1994. A União alegava que os Estados não podem tombar bens da União, em decorrência do princípio da hierarquia verticalizada, que impede a desapropriação de bens federais pelos Estados. Sustenta, ainda, que o Legislativo local é incompetente para a edição de ato de tombamento, o qual seria atribuição apenas do Executivo. O ministro

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Gilmar Mendes afirma em sua decisão que a legislação federal de fato veda a desapro-priação dos bens da União pelos Estados, segundo o Decreto-Lei nº 3.365/1941, mas não há referência a tal restrição quanto ao tombamento, disciplinado no Decreto-Lei nº 25/1937. A Lei de Tombamento apenas indica ser aplicável a bens pertencentes a pes-soas físicas e pessoas jurídicas de direito privado e de direito público interno. Vê-se que, quando há intenção do legislador de que se observe a “hierarquia verticalizada”, assim o fez expressamente, afirma a decisão. Assim sendo, os bens da União não foram ex-cepcionados do rol de bens que não podem ser tombados por norma dos Estados ou do Distrito Federal. O ministro relator entende que não há vedação ao tombamento feito por ato legislativo, porque tal providência possui caráter provisório, ficando o tombamento permanente, este sim, restrito a ato do Executivo. “A lei estadual ora questionada deve ser entendida apenas como declaração de tombamento para fins de preservação de bens de interesse local, que repercutam na memória histórica, urbanística ou cultural até que seja finalizado o procedimento subsequente”, afirma. A decisão também entende que o tombamento provisório por ato legislativo não precisa ser precedido de notificação pré-via da União, exigência restrita ao procedimento de tombamento definitivo promovido pelo Executivo. (Conteúdo extraído do site do Supremo Tribunal Federal)

Determinada apreensão de arma de fogo utilizada por caçador usada em infração ambientalA 5ª Turma do TRF 1ª Região deu provimento à apelação do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) contra a sentença da 3ª Vara da Seção Ju-diciária do Estado do Amazonas que julgou parcialmente procedente o pedido para que fosse restituída a um caçador de subsistência a arma utilizada para a caça de espécime da fauna silvestre (porco do mato). O órgão ambiental alega que a licença para o porte de arma de caçador não dá direito ao possuidor para abater animais silvestres, haja vista a inexistência de previsão legal para tanto. Nesse sentido, ressalta que, com a devolução da arma, nenhuma outra penalidade surte efeito pedagógico em relação ao infrator. Pede para que seja reformado o julgado em relação à devolução da arma. Ao analisar a controvérsia, o relator, desembargador federal Souza Prudente, afirmou que, para além da análise sobre a licitude, ou não, do instrumento utilizado na infração ambiental, o que importa, preponderantemente, é a preservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado, haja vista que se trata de bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, motivo pelo qual, segundo os termos do art. 225 da Constituição Federal, cabe ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. O magistrado esclareceu que, flagrado no uso do instru-mento no cometimento de infração administrativo-ambiental, compadece indeclinável a respectiva apreensão, ainda que em caráter cautelar. O magistrado asseverou que não há que se perquirir sobre a licitude ou não do bem utilizado como instrumento do dano ao meio ambiente, até pelo fato de que o infrator, no prosseguimento do procedimento ad-ministrativo – no qual haverá a imposição de perdimento e destinação do bem – terá, ex ege, oportunidade. O Colegiado, acompanhando o voto do relator, deu provimento à ape-lação do Ibama para reformar, em parte, a sentença recorrida, para que seja apreendida a arma utilizada na prática da infração ambiental (Processo nº 2007.32.00.006899/AM). (Conteúdo extraído do site do Tribunal Regional Federal da 1ª Região)

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Lei sobre fechamento de lotes residenciais é considerada constitucionalOs desembargadores que integram o Pleno do Tribunal de Justiça do TJRN, à unanimi-dade de votos, julgaram improcedente o pedido de declaração de inconstitucionalidade dos arts. 1º e 3º da Lei nº 1.094/2001 do Município de Parnamirim, a qual tem o ob-jetivo de regularizar o fechamento dos chamados loteamentos fechados. O pedido foi feito por meio da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2014.025826-4, movida pelo procurador-geral de Justiça, em desfavor do prefeito de Parnamirim e da Câmara Munici-pal. Segundo defendeu a PGJ, a Lei Municipal nº 1.094/2001, na meta de regularizar os loteamentos fechados – figura não contemplada na Lei nº 6.766/1979 (que disciplina o parcelamento do solo urbano) e, em nenhum outro diploma normativo federal, permitiu que o simples fato de os moradores levantarem muros e grades com o fechamento de determinadas vias públicas origine um condomínio fechado, considerando tal situação como desmembramento. Ainda de acordo com a ADIn, tal prática desvirtuou por com-pleto o conceito do instituto, na medida em que nessa espécie de parcelamento do solo todas as áreas envolvidas são privadas, não podendo ser admitidas modificações que incidam sobre bens públicos, nos termos do que dispõe o art. 1.331 do Código Civil. A PGJ alegou, também, que, quando uma lei municipal permite o fechamento de vias públicas para atender interesses particulares de um grupo de moradores em detrimento do restante da população, há um flagrante descumprimento do dever de proteção ao meio ambiente construído. A procuradoria também afirmou que uma área, inicialmente implantada como um loteamento, com vias de circulação e equipamentos públicos, não pode, posteriormente, ser fechada com muros ou grades por ato do loteador ou de uma associação de moradores, como autorizado pelos arts. 1º e 3º da Lei nº 1.094/2001 do Município de Parnamirim. Antes dos aspectos jurídicos, o relator da ADIn no TJRN, desembargador Amílcar Maia, considerou que a crise na segurança pública nas últimas décadas aliada à má prestação de serviços públicos fizeram surgir nas cidades brasileiras os chamados loteamentos fechados, que nada mais são do que loteamentos diferencia-dos pelo fechamento físico. Seja pela ação de moradores (que, reunidos em associações, passaram a cercar ou murar determinadas áreas de loteamentos) ou, ainda, pela iniciati-va de construtores (que começaram a lançar empreendimentos com atributos de condo-mínios sem, na verdade, assim se caracterizarem), a apropriação do espaço público (vias de circulação, praças, etc.) com o controle de acesso de pessoas àquelas comunidades criou verdadeiros condomínios de fato. Ou seja, os loteamentos fechados são uma rea-lidade incontrastável da paisagem urbana nacional, conquanto não regulamentados em lei, destaca o desembargador. A decisão no TJRN, dessa forma, considerou que, embora não previstos na nossa legislação, os loteamentos fechados são reconhecidos pela juris-prudência, sendo as questões derivadas da sua existência e do seu funcionamento cor-riqueiramente tratadas nos tribunais, inclusive na Corte potiguar, conforme o julgado da 1ª Câmara Cível na Apelação Cível nº 2014.022368-7, relatada pelo desembargador Ex-pedito Ferreira e publicado no DJe de 17.04.2015. O julgamento também destacou que a realidade dos loteamentos fechados não pode ser negada e, por isso, vários municípios – à margem do que dispõe a legislação nacional a respeito da ocupação do espaço urba-no – trataram de elaborar leis com o fito de regularizá-los e disciplinar a sua existência e o seu funcionamento. “Esse é o caso da Lei nº 1.094/2001 do Município de Parnamirim,

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mais especificamente dos seus arts. 1º e 3º, cuja constitucionalidade é aqui contestada pelo procurador-geral”, ressalta. Da leitura dos dispositivos legais impugnados a decisão ressaltou que se percebe, primeiramente, a atecnia ao tratar loteamentos como desmem-bramentos, já que é clara a intenção do legislador municipal em regularizar os lotea-mentos fechados quando diz que ficam considerados condomínios os desmembramen-tos para construção residencial horizontal, com características de condomínio fechado (art. 3º da Lei nº 1.094/2001). (Conteúdo extraído do site do Tribunal de Justiça do Estado de Rio Grande do Norte)

Justiça determina que Amazonas Energia reduza ruídos de usina em Iranduba

Por relatório, Ministério Público comprovou poluição sonora muito acima do permitido pelas normas. Liminar do Juízo da 1ª Vara da Comarca de Iranduba determinou que a empresa Amazonas Distribuidora de Energia adote mecanismos que impeçam a emissão de ruídos superiores às normas estabelecidas pela legislação ambiental no perímetro industrial e residencial do Município, no prazo de 60 dias, sob pena de multa diária de R$ 100.000,00. A decisão foi proferida pelo juiz de Direito Jorsenildo Dourado do Nascimento, atendendo pedido feito pelo Ministério Público do Amazonas, em ação civil pública, e determina ainda que a requerida, no mesmo prazo, comprove o cumpri-mento da decisão por meio de relatórios técnicos. De acordo com o magistrado, estão presentes na ação os requisitos para a concessão da liminar. O fumus boni iuris (fumaça do bom direito – um sinal ou indício de que o direito pleiteado de fato existe) foi de-monstrado em relatório de vistoria realizado pelo Centro de Apoio Operacional das Pro-motorias de Justiça Especializadas do MP e concluiu que a emissão de ruídos pela usina, em diversos horários do dia, é muito superior à estabelecida nas normas ambientais. E o periculum in mora (perigo na demora) também se aplica, pois a não concessão do pedido permitirá que a atividade poluidora continue sendo praticada, causando danos irreparáveis às pessoas que vivem nas proximidades da usina, tornando aquele ambien-te inapropriado para a vida, de acordo com o juiz. Segundo o relatório, as medições constataram que os ruídos emitidos pela usina próximo à área residencial chegaram a 62,45 dB, quando o máximo admitido pela legislação ambiental é de 40 dB. Já os ruídos emitidos pela usina em seu próprio perímetro de instalação chegaram a 95,6 dB, quando o máximo permitido é de 60 dB. Portanto, inequívoca a violação das normas da ABNT que fixam parâmetros máximos de emissão de ruídos que, ultrapassados, causam danos à saúde dos indivíduos, perturbam o sossego público, tornando a vida ao redor da usina praticamente impossível, afirma o juiz na decisão. O magistrado acrescenta ainda que não se pode, a pretexto da prestação de serviços públicos, como o fornecimento de ener-gia elétrica, permitir que usinas sejam instaladas sem a observância das normas técnicas relativas. O Direito Ambiental não é e nunca foi empecilho ao desenvolvimento social e econômico. Ao contrário, é um mecanismo que possibilita que todas as atividades sejam desenvolvidas e instaladas assegurando ao indivíduo o mínimo de dignidade ambiental, caracterizada pelo respeito ao patamar civilizatório exigido pela norma constitucional que prevê o direito a todos ao meio ambiente equilibrado (art. 225 da CF). (Conteúdo extraído do site do Tribunal de Justiça do Estado de Amazonas)

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Lei sobre “sanitização” em locais de acesso coletivo é considerada inconstitucionalOs desembargadores que integram o Tribunal Pleno do TJRN, à unanimidade de votos, julgaram procedente o pedido movido pelo prefeito de Natal, Carlos Eduardo Alves, o qual pedia que fosse declarada a inconstitucionalidade da Lei nº 6.504/2014 e da Lei Promulgada nº 431/2015 da Câmara Municipal. Os dispositivos contestados, por meio da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2016.003985-9, eram instituidores da obri-gatoriedade na realização de processos de sanitização em locais fechados de acesso coletivo, públicos e privados, climatizados ou não, no âmbito municipal. Na ADIn, a prefeitura alegou, entre outros pontos, a inconstitucionalidade em razão de vício de iniciativa por violação ao princípio da autonomia dos entes federativos e o desrespeito à cláusula de reserva de administração e imposição, ao Executivo, de prazo para re-gulamentação de lei, ao estipular multa vinculada ao salário-mínimo. Pelo seu lado, a Câmara sustentou a impossibilidade jurídica do pedido, por ter sido utilizado como parâmetro norma constitucional versando acerca da iniciativa legislativa do governador do Estado, ao passo que a competência do Prefeito Municipal se acha elencada na Lei Orgânica do Município (art. 39, § 1º, da LOM). Sem razão, contudo, define o relator da ADIn, desembargador Saraiva Sobrinho, ao ressaltar que, na hipótese em questão, o dispositivo apontado na parametricidade – iniciativa legislativa do chefe do Executivo (art. 46, § 1º, II, da Constituição Estadual) – é de observância obrigatória também na esfera municipal, por força do princípio da simetria constitucional, não havendo que se falar em suposta contrariedade apenas de maneira reflexa ou indireta. Tal fato, de acordo com a decisão, cria o vício formal, que reside no ponto da legislação, de origem parla-mentar, criar deveres e encargos dentro da esfera de exclusiva autonomia do prefeito. O normativo extrapola as fronteiras reservadas aos legisladores, por abranger atos de orga-nização interna da gestão municipal (cláusula de reserva de administração), implicando na disponibilidade de recursos humanos e materiais necessários ao atendimento de suas atribuições, acrescenta. A decisão também considerou que o ato normativo também se acha em desconformidade com o princípio da separação e harmonia dos Poderes, consagrado no art. 2º da Constituição do Estado do RN. (Conteúdo extraído do site do Tribunal de Justiça do Estado de Rio Grande do Norte)

Pescador terá que pagar multa por uso de rede de arrasto na Lagoa dos PatosO Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) manteve auto de inflação imposto pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) contra um pescador de Rio Grande (RS) flagrado pescando camarão com rede de arrasto. O petrecho não é permitido pelos impactos que causa ao meio ambiente. Em janeiro de 2013, o pescador foi abordado por fiscais do Ibama na Lagoa dos Patos. Além do uso de rede de arrasto, a pesca também estava proibida por ser período de defeso, época de re-produção e crescimento da espécie. A multa foi arbitrada em R$ 10.000,00. O pescador, então, ajuizou ação na 2ª Vara Federal do Município solicitando que o valor fosse revisto ou reduzido em compatibilidade com sua renda. O pedido foi julgado improcedente, levando o autor a recorrer ao Tribunal argumentando novamente que a multa não seria compatível com a sua condição econômica. O relator do caso, desembargador federal Luís Alberto d’Azevedo Aurvalle, deu parcial provimento ao pedido e diminuiu o valor

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em 50%. “Como não há nos autos qualquer indicação de antecedentes em relação ao infrator, penso que o valor de R$ 5.000,00 já traria o efeito comportamental desejado para conferir o efeito dissuasório e punitivo adequado”, declarou o desembargador (Pro-cesso nº 5000452-22.2014.4.04.7101). (Conteúdo extraído do site do Tribunal Regional Federal da 4ª Região)

Comissão aprova inclusão de proteção do meio ambiente na Lei do VoluntariadoA Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável aprovou proposta que classifica como serviço voluntário a atividade não remunerada de defesa e proteção do meio ambiente. A medida consta no Projeto de Lei nº 3.058/2011, do deputado Aguinal-do Ribeiro (PP-PB), que altera a Lei do Voluntariado (9.608/1998). A lei atual considera serviço voluntário a atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública ou a instituição privada sem fins lucrativos, com objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social. O parecer do relator, de-putado Roberto Balestra (PP-GO), foi favorável à proposta. Segundo ele, o trabalho vo-luntário é fundamental para o atendimento de diversas necessidades sociais essenciais que não têm sido, ou não podem ser, adequadamente satisfeitas pelo Estado. “Entre essas necessidades, encontra-se a de defesa e proteção do meio ambiente, essencial não só à preservação da natureza e do planeta, como à própria qualidade de vida da população”, justificou. O projeto será analisado em caráter conclusivo pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (Íntegra da proposta: PL 3.058/2011). (Conteúdo extraído do site da Câmara dos Deputados Federais)

Meio Ambiente aprova incentivos a proprietário rural por reposição florestal

A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Depu-tados aprovou proposta que concede incentivos fiscais e financeiros a proprietários e possuidores de imóveis rurais, tanto pessoas físicas quanto jurídicas, que promovam proteção e recuperação de nascentes e demais recursos hídricos em áreas ou bacias hidrográficas prioritárias. O texto aprovado é um substitutivo do relator, deputado Roberto Balestra (PP-GO), que unificou mudanças de quatro propostas (PLs 1.465/2015, 1.891/2015, 2.410/2015 e 4.226/2015). O substitutivo foi apresentado na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural. Balestra foi o relator do texto nas duas comissões. “As propostas abordam matéria de vital importância para a po-pulação brasileira, que é a conservação, recuperação e proteção de nascentes, córregos, rios e demais recursos hídricos”, disse Balestra. Ele afirmou que aglutinou os dispositivos de todos os projetos de lei para aproveitar o estímulo econômico à cobertura florestal e à remuneração dos proprietários rurais pelos serviços ambientais. O projeto original (PL 1.465/2015), do deputado Augusto Carvalho (SD-DF), estabelece incentivo só ao pro-prietário rural por reposição florestal ou desassoreamento de cursos de água. Segundo Balestra, a falta de chuvas dos últimos anos foi agravada pela deterioração de áreas de recarga de lençol freático, erosão do solo e assoreamento de nascentes e rios. O subs-titutivo estabelece uma gradação dos incentivos fiscais concedidos ao proprietário que recuperar os cursos de água. Pequenos produtores rurais e agricultores familiares com

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até 4 módulos fiscais (área entre 5 e 110 hectares, a depender da região) terão isenção tanto do Imposto de Renda (IR) quanto do Imposto Territorial Rural (ITR). Para imóveis rurais de 4 a 15 módulos fiscais, o desconto no Imposto de Renda pode chegar a 50% do total tributável. Já, para o produtor rural com área maior que 15 módulos fiscais, a redução do IR é de 30%. O ITR para propriedades rurais acima de 4 módulos fiscais po-derá chegar a 50%. O texto original isentava do ITR uma área quatro vezes maior do que a recuperada. Além disso, o proprietário rural poderia deduzir do Imposto de Renda os gastos com reflorestamento e desassoreamento, até o limite de 40% do total do imposto. Pelo substitutivo, o governo poderá dar crédito rural com juros menores às taxas oficiais, conforme norma do Conselho Monetário Nacional (CMN), além de permitir a equaliza-ção de taxas de juros, prevista na Lei nº 8.427/1992. Pela equalização, o governo cobre a diferença entre a taxa de juros praticada no mercado financeiro e a taxa efetivamente paga pelo produtor. A proposta original estabelecia desconto nos juros do crédito rural proporcional entre a área recuperada e o total da propriedade, e isentava do pagamento da taxa de reposição florestal, obrigatória para quem consome matéria-prima florestal. O texto determina ainda que, para cada hectare recuperado na propriedade, o proprie-tário receberá uma subvenção anual de R$ 50,00, até o máximo de R$ 10.000,00 (200 hectares). Esse valor poderá ser abatido do saldo devedor de operações de crédito rural com bancos federais ou cooperativas e virá do Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal (FNDF), criado pela Lei de Gestão das Florestas Públicas (11.284/2006). A área a ser subvencionada deve estar vinculada à Cota de Reserva Ambiental (CRA), título ins-tituído pelo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) para representar local com vegetação natural em uma propriedade que pode ser usada para compensar a falta de reserva legal em outra. O Código Florestal exige que as propriedades rurais mantenham reserva legal entre 20% a 80% do total do imóvel, conforme o bioma e a região. O certificado da recomposição florestal ou do desassoreamento deverá ser emitido pelo órgão ambiental a partir de projeto técnico. O substitutivo não determina a validade do documento, en-quanto o texto original estabelece dois anos como prazo do certificado. Balestra incluiu a possibilidade de as organizações não governamentais monitorarem a execução do projeto técnico. Tanto a elaboração quanto a implantação do projeto terão apoio de ór-gãos oficiais de assistência técnica e extensão rural para agricultores familiares. O texto original prevê a elaboração gratuita do projeto para esses agricultores, mas não a execu-ção. A proposta tramita em caráter conclusivo e ainda será analisada pelas Comissões de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. (Conteúdo extraído do site da Câmara dos Deputados Federais)

Devolução de peixe vivo ao rio após pesca em local proibido afasta crime ambiental

A 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) não considerou crime ambiental a pes-

ca, feita com vara, em local proibido, de um bagre que foi devolvido ainda vivo ao rio.

O fato ocorreu na Estação Ecológica de Carijós, em Florianópolis, local voltado para a

preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas. A decisão reconheceu a

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atipicidade da conduta do pescador, pois a devolução do peixe vivo ao rio demonstrou “a mínima ofensividade ao meio ambiente”, conforme afirmou o relator do processo, ministro Nefi Cordeiro. O recorrente foi flagrado por agentes de fiscalização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio com o bagre ainda vivo na mão, uma vara de molinete e uma caixa de isopor em local proibido para a pesca. Ele foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) pela prática do crime previsto no art. 34 da Lei nº 9.605/1998. Entretanto, o magistrado de primeiro grau aplicou o prin-cípio da insignificância e rejeitou a denúncia, por entender inexpressiva a lesão jurídica provocada, faltando “justa causa para a persecução criminal”, que seria “absolutamente desproporcional” diante do fato ocorrido. O Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) considerou que a conduta de entrar na estação ecológica com material de pesca e retirar bagre do rio afastava a aplicação da insignificância, “não importando a devolução do peixe ainda vivo”, e que o material apreendido demonstrava “certa profissionalidade” do acusado. No STJ, o ministro Nefi Cordeiro afirmou que, segundo a jurisprudência do Tri-bunal, “somente haverá lesão ambiental irrelevante no sentido penal quando a avaliação dos índices de desvalor da ação e de desvalor do resultado indicar que é ínfimo o grau da lesividade da conduta praticada contra o bem ambiental tutelado, isto porque não se devem considerar apenas questões jurídicas ou a dimensão econômica da conduta, mas deve-se levar em conta o equilíbrio ecológico que faz possíveis as condições de vida no planeta”. A Turma entendeu que os instrumentos utilizados pelo recorrente (vara de molinete, linhas e isopor) são de uso permitido e não configuram profissionalismo, mas, ao contrário, “demonstram amadorismo do denunciado”. Além disso, como houve a de-volução do peixe vivo ao rio, os ministros consideraram que não ocorreu lesão ao bem jurídico protegido pela lei, sendo a conduta atípica (REsp 1409051). (Conteúdo extraído do site do Superior Tribunal de Justiça)

Município é condenado por causar poluição atmosférica e sonora em área resi­dencial

A 2ª Câmara de Direito Público do TJSC confirmou sentença da Comarca de Urussanga, que condenou o Município de Cocal do Sul a promover a transferência de uma garagem da prefeitura, estabelecida em área residencial, por provocar poluição atmosférica e sonora e perturbar os moradores da região. O Município, em apelação, alegou que as atividades ali desenvolvidas são anteriores à lei de zoneamento e que por isso possui direito adquirido em manter a garagem na área onde está situada. O Laudo da Polícia Militar Ambiental, no entanto, constatou que os níveis de poeira e barulho são muito acima do permitido pela legislação. O desembargador Francisco Oliveira Neto, relator da matéria, afirmou que o laudo não deixou dúvidas de que as atividades desenvolvidas no espaço são causadoras de poluição sonora e atmosférica. Ele também ressaltou que o plano diretor do próprio Município restringe atividades naquela área residencial. Por outro lado, o desembargador confirmou a inexistência de danos morais coletivos. Segun-do ele, não há como comprovar que os problemas de saúde de alguns moradores foram decorrentes especificamente da poluição oriunda da garagem municipal. Caso descum-

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pra o determinado, o Município terá de arcar com multa diária fixada em R$ 500,00. A decisão foi unânime (Processos nºs 0002905-75.2012.8.24.0078, 2015.067570-0 e 0002905-75.2012.8.24.0078). (Conteúdo extraído do site do Tribunal de Justiça do Es-tado de Santa Catarina)

Captação de água em área de preservação sem autorização é configurada crime contra o meio ambienteA 3ª Turma do TRF da 1ª Região, por unanimidade, deu provimento ao recurso interpos-to pelo Ministério Público Federal (MPF) contra a sentença da 12ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal, que rejeitou a denúncia contra um acusado pela prática de crime contra o meio ambiente, tipificado no art. 40 da Lei nº 9.605/1998, com base no art. 395, II e III, do Código de Processo Penal (CPP). Consta dos autos que o proprietário de uma chácara foi autuado por ter causado danos diretos e indiretos à Unidade de Con-servação Parque Nacional de Brasília e às suas áreas circundantes, ao instalar canos de PVC e mangueiras para captar água para uma chácara, sem autorização do órgão gestor, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Em suas razões, o MPF alegou que o agente não praticou uma atitude de baixa ofensividade, visto que usou de 820m de canos de PVC, além de diversas mangueiras para criar um sistema ilegal de captação de água, a qual abastece sua residência; que não se trata de pouco uso de água para própria subsistência, mas de captação de um recurso hídrico para fim de utilização residencial em várias tarefas. Disse também que a lesão jurídica não foi inexpressiva, pois foi considerado como dano médio pelo ICMBio e que não se trata de pessoa com baixo grau de instrução e nem de baixa renda. Ao analisar o caso, a relatora, juíza federal convocada Rogéria Maria Castro Debelli, afirmou que, em face da sua relevância consti-tucional, é evidente o interesse do Estado na repreensão às condutas delituosas que pos-sam colocar o meio ambiente em situação de perigo ou lhe causar danos, em conformi-dade com a Lei nº 9.605/1998. A magistrada destacou que a proteção constitucional não afasta a possibilidade de se reconhecer, em tese, o princípio da insignificância quando há a satisfação concomitante de certos pressupostos: a) mínima ofensividade da conduta do agente; b) nenhuma periculosidade social da ação; c) reduzidíssimo grau de reprova-bilidade do comportamento; d) inexpressividade da lesão jurídica provocada. Porém, as-sinalou a relatora, que, de acordo com o Relatório de Fiscalização do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do ICMBio, agente ambiental responsável pela fiscalização, atestou que a infração trouxe consequências negativas para a saúde pública e para o meio am-biente; que a gravidade do dano é de nível médio; que o autuado não é de baixa renda; que o cometimento da infração não ocorreu por motivo de subsistência do infrator ou de sua família; que houve danos em zonas de grande valor para a conservação de grau de proteção elevado e que o autuado não tem baixo grau de instrução ou escolaridade. A magistrada entendeu que a conduta praticada não pode ser considerada como um crime que se consuma com a mera possibilidade de dano. O comportamento do acusado foi dotado de elevado grau de reprovabilidade, pois ele agiu com liberdade ao captar água de unidade de conservação para abastecer sua residência, demonstrando sua intenção em praticar a conduta delituosa ao longo do tempo, mesmo sem a autorização do órgão competente. A relatora concluiu que, neste contexto, evidencia-se, sob a perspectiva das

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peculiaridades do caso, que não há como afastar a tipicidade material da conduta, tendo em vista que a reprovabilidade que recai sobre ela está consubstanciada no fato de o acusado ter captado água de local de grande valor para a conservação e de alto grau de proteção de unidade de conservação, sem permissão do órgão ambiental, em que pese a grave crise hídrica que atinge o Distrito Federal desde muito tempo. Diante do exposto, o Colegiado, acompanhando o voto da relatora, deu provimento ao recurso para receber a denúncia e determinar o retorno dos autos à origem para regular prosseguimento do feito (Processo nº 0009296-75.2014.4.01.3400). (Conteúdo extraído do site do Tribunal Regional Federal da 1ª Região)

Comissão discute ações na Amazônia AzulA Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional realizou audiência pública para debater as pesquisas e ações desenvolvidas na Amazônia Azul. O nome Amazônia Azul define uma vasta região marítima, situada na fronteira leste do Brasil, cuja área e potencial estratégico e econômico assemelham-se ao da Amazônia Verde. O deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP), que solicitou a audiência, destacou que o Brasil pleiteia, junto à Organização das Nações Unidas (ONU), um acréscimo de 950 mil km2 a essa área, em regiões onde a Plataforma Continental vai além das 200 milhas náuticas (370 km). O território marítimo brasileiro tem cerca de 3,6 milhões de km2. Pela Amazônia Azul circulam 95% do comércio exterior e dela se extrai aproximadamente 90% da produção de petróleo. “O mar brasileiro gera milhões de empregos, diretos e indiretos, nos setores de pesca, turismo, pesquisa e energia, irrigando recursos para a economia do País”, acrescentou Macris. “Nessa imensa área oceânica, o Brasil tem um patrimônio nacional riquíssimo, definido como a nossa última fronteira, mas que precisa ter o co-nhecimento e o debate ampliado para que novas e fundamentais ações em prol da região e proteção da mesma possam ser implementadas”, disse ainda o deputado. São convi-dados: o secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar da Marinha do Brasil, contra-almirante Renato Batista de Melo; o diretor de Gestão de Programas da Marinha do Brasil, contra-almirante Petronio Augusto Siqueira de Aguiar; o coordena-dor de Fiscalização Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Roberto Cabral Borges; a coordenadora de Planos de Ação de Espécies Ameaçadas de Extinção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Bio-diversidade (ICMBio), Ana Paula Prates; e o professor da Faculdade de Oceanografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) David Zee. O encontro ocorreu no Plenário 3, às 9 horas. A reunião pode ser acompanhada ao vivo pela WebCâmara. (Conteúdo extraído do site do Câmara dos Deputados Federais)

Índios caiapós alertam magistrados sobre os impactos da construção da usina de Belo MonteOs desembargadores federais do TRF da 1ª Região (TRF1) Jirair Aram Meguerian e Souza Prudente receberam 30 índios caiapós dos Estados do Pará e de Mato Grosso. Entre eles estava o cacique Raoni, um dos maiores líderes indígenas do País. No encontro, eles buscaram sensibilizar os magistrados sobre os impactos que a construção da Usina Hi-drelétrica de Belo Monte, no Município de Altamira/PA, tem gerado no local. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), oito processos sobre a matéria tramitam no TRF1. De

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acordo com os índios caiapós, diversas condicionantes para a construção da usina na bacia do Rio Xingu foram desrespeitadas, e a aldeia localizada perto de Belo Monte está em situação precária em virtude de promessas não cumpridas pelas empresas. Durante o encontro, os índios pediram ao Tribunal para que não haja nova construção na região e agradeceram aos desembargadores a atenção dada aos povos indígenas ao julgarem, os magistrados, processos que atingem diretamente as aldeias e o Rio Xingu. O desembar-gador federal Jirair considerou a reunião com a comitiva de índios uma boa oportunida-de de ter um contato mais próximo com o jurisdicionado. Esse encontro é muito impor-tante porque é o interessado, o jurisdicionado, quem está sofrendo as consequências de algumas coisas, às vezes erradas ou às vezes certas, que acontecem e é quem está aqui em juízo tentando resolver essa problemática toda das terras indígenas e dos malefícios ou benefícios que virão com essas construções de usinas. Ao final da reunião, o magistra-do Souza Prudente disse que o Tribunal está de portas abertas para receber os cidadãos brasileiros. Eu quero dizer da satisfação que tive hoje de receber essa representação do povo indígena que traz o mais alto significado de cidadania constitucional para esta Cor-te que tem a grande responsabilidade de defender e de tutelar os interesses legítimos dos povos indígenas não só da Amazônia como de todo o Brasil, destacou o desembargador. (Conteúdo extraído do site do Tribunal Regional Federal da 1ª Região)

Comissão debate impactos sociais, ambientais e econômicos de papel e celuloseA Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável promoveu audiência para debater o setor de papel e celulose e seus impactos sociais, ambientais e econômi-cos. A audiência foi solicitada pelo deputado Nilto Tatto (PT-SP). Ele ressalta que o setor florestal brasileiro conta com aproximadamente 530 milhões de hectares de florestas nativas, 43,5 milhões de hectares em Unidades de Conservação Federal e 5,5 milhões de hectares de florestas plantadas com pinus, eucalipto e acácia-negra. Segundo o par-lamentar, com a exploração de áreas de florestas nativas mais a exploração das florestas plantadas, o setor gera mais de 2 milhões de empregos, contribui com mais de 20 bilhões de dólares para o Produto Interno Bruto (PIB), exporta mais de 4 bilhões de dólares (8% do agronegócio) e contribui com 3 bilhões de dólares em impostos, ao ano, arrecadados de 60.000 empresas. Deserto verde: Nilto Tatto destaca que a produção de eucalipto é responsável por causar esgotamento das águas nas áreas de plantação e também de pre-judicar a biodiversidade no local. “Esse impacto e tão significativo que um movimento de mais de cem organizações não governamentais (ONGs) cunhou a expressão deserto verde para denominar as áreas de cultura do eucalipto”, afirma. Ele observa ainda que a cultura do eucalipto representa uma fonte de energia 87% mais barata do que a de combustíveis fósseis. Por outro lado, traz os seguintes impactos negativos: reduz a bio-diversidade, afeta os lençóis freáticos, altera a qualidade do solo, compromete a capaci-dade futura de produção de alimentos, reduz o número de postos de trabalho na região do plantio e impacta a economia local, pois não gera renda para a população local. Convidados: Foram convidados para discutir o assunto com os integrantes do colegiado: o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Extração, no Plantio, no Beneficiamento e Afins nas Indústrias de Papel no Extreno Sul da Bahia e Região e Integrante, Silvânio Alves de Oliveira; e o diretor executivo do Indústria Brasileira de Árvores, Marcílio

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Caron. A audiência ocorreu no Plenário 8, a partir das 9h30. (Conteúdo extraído da site do Câmara dos Deputados Federais)

Comissão de Meio Ambiente analisa regras para descarte de medicamentos

A Comissão de Meio Ambiente (CMA) analisou proposta para alterar a lei que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010), com objetivo de disciplinar o descarte de medicamentos de uso humano ou de uso veterinário. O texto obriga fa-bricantes, importadores, distribuidores e comerciantes desses medicamentos a assegurar sistema de logística reversa para que os consumidores devolvam os produtos aos comer-ciantes ou distribuidores após o uso. À época da edição da PNRS, não houve menção aos medicamentos, lacuna a ser suprida com a aprovação da proposta. De acordo com o autor do projeto (PLS 148/2011), o então senador Cyro Miranda (PSDB-GO), esses pro-dutos são a primeira causa de intoxicação das pessoas na maioria dos países desenvol-vidos e no Brasil. As principais vítimas, observou, são crianças menores de cinco anos. O relator, senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), favorável à proposta, diz que o mérito do texto é explicitar a necessidade de tratamento adequado ao descarte de medicamen-tos pela população, prescrevendo para tais produtos o instituto da logística reversa. Em outros termos, afirma o senador, o PLS obriga a cadeia produtora e varejista desse ramo a responder pelo destino final ambientalmente adequado dos resíduos gerados por esses produtos, o que diminuirá intoxicações e até a contaminação ambiental causada pelo descarte irregular dos remédios. Caiado rejeitou as duas emendas aprovadas quando da análise do projeto pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA). As alterações acrescentavam o sistema de logística reversa também para produtos impróprios ao uso e consumo nos estoques de comerciantes e distribuidores. Se for aprovado e não houver recurso para votação do texto pelo Plenário, o projeto seguirá diretamente para a Câmara dos Deputados. Também na pauta da CMA o projeto que permite aos trabalhadores víti-mas de desastres naturais sacar os recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). De autoria do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 749/2015 inclui entre as hipóteses de autorização do saque do FGTS a necessi-dade pessoal cuja urgência e gravidade decorram de desastre natural. O saque será pos-sível nos casos em que o desastre seja ou não provocado pela ação humana. O relator, senador Paulo Rocha (PT-PA), lembrou o caso do rompimento da barragem da Samarco, em Mariana (MG), e outros desastres naturais, como fatos que justificam a necessida-de do projeto. Na opinião dele, nesses casos há iminente necessidade pessoal, já que eventuais ações indenizatórias de cunho pessoal serão julgadas procedentes após longa tramitação na justiça. No entanto, iniciativa semelhante foi vetada ano passado pelo presidente Michel Temer. O Projeto de Lei nº 7.343/2010 (PLS 158/2007, no Senado) foi vetado integralmente, pois, na visão do Executivo, a permanência da definição, em re-gulamento infralegal, do rol de motivos ensejadores dos saques do FGTS, decorrentes de desastre natural, é mais adequada. Outro projeto na pauta é o que torna o derramamento de chorume no solo pelos caminhões de lixo um crime ambiental. A determinação está no Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 54/2016, apresentado pelo senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). O texto acrescenta esse tipo de conduta aos crimes ambientais vigentes

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na legislação. O relator, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), apresentou voto favorável à proposta. (Conteúdo extraído do site do Senado Federal)

Crime ambiental poderá impedir empresa de receber financiamento oficialTramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 5.186/2016, do deputado Chico D’Angelo (PT-RJ), que proíbe empresas que cometeram crimes ambientais de receberem financiamento oficiais de crédito, como os do Banco Nacional de Desenvolvimento Eco-nômico e Social (BNDES). Atualmente, a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998) já pune a empresa com suspensão de atividades, interdição temporária do estabelecimento e proibição de contratar com o Poder Público ou receber dele subsídios, subvenções ou doações. “Faltou, a nosso ver, a proibição de receber financiamentos de estabelecimen-tos oficiais de crédito”, afirmou D’Angelo. O projeto também inclui prazo de três anos para proibição de receber financiamento ou de contratar com o Poder Público quando houver reparação integral do dano ambiental. A lei estabelece proibição de dez anos em caso de reparação parcial. A proposta também institui o Cadastro de Crimes contra o Meio Ambiente, a ser administrado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Re-cursos Naturais Renováveis (Ibama). As empresas que cometeram crime ambiental só poderão sair do cadastro se repararem o dano cometido. Segundo D’Angelo, o cadastro ajudará no cumprimento da lei com informações sobre os crimes ambientais e seus agentes facilmente disponíveis ao administrador público. O Ibama poderá emitir uma Certidão Negativa por Crimes Ambientais, com validade de 30 dias, enquanto comprova se a empresa fez a reparação. A certidão, incluída na Política Nacional do Meio Ambien-te (Lei nº 6.938/1981), será pré-requisito para as empresas conseguirem financiamento governamental. O texto também inclui a regularidade ambiental como exigência para a empresa participar de licitação. A regularidade será comprovada pela Certidão Negativa por Crimes Ambientais. A Lei de Licitações (Lei nº 8.666/1993) estabelece cinco exi-gências para participar de licitação como regularidade fiscal e trabalhista e habilitação jurídica, técnica e econômico-financeira. “Consideramos importante que a proibição de contratar com o poder público dos condenados por crime ambiental seja explicitada na Lei de Licitações”, disse D’Angelo. A proposta tramita em caráter conclusivo e será ana-lisada pelas Comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; de Finanças e Tributação (inclusive quanto ao mérito); e de Constituição e Justiça e de Cidadania. (Conteúdo extraído do site da Câmara dos Deputados Federais)

Proprietário rural em MS é condenado por uso ilegal de madeira de preservaçãoA 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3) manteve a aplicação de multa de R$ 5.000,00 pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Natu-rais Renováveis (Ibama) ao dono de um imóvel rural em Mato Grosso do Sul (MS), que utilizou, em 2004, dez metros cúbicos de madeira de aroeira em cercas sem a devida licença outorgada pela autarquia. Para os magistrados, a autuação do Ibama, realizada por meio de convênio com a Polícia Militar Ambiental/MS, foi legal e baseada no princí-pio da razoabilidade, tudo de acordo com o Decreto nº 3.179/1999, que regulamentou o previsto no art. 80 da Lei nº 9.605/1998. “Nenhum excesso a se flagrar no valor da multa aplicada, porque inserida dentro dos patamares previstos na norma de regência e jungida à razoabilidade, tendo sido encontrados 10 m3 de madeira, portanto nenhum

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vício a se flagrar, merecendo destacar que os valores mínimos e máximos variam de R$ 100,00 a R$ 500,00, por unidade”, afirmou o relator do processo no TRF3, o juiz fe-deral convocado Silva Neto. A sentença da 2ª Vara Federal de Campo Grande/MS havia condenado o proprietário do imóvel ao pagamento da multa em 30.04.2004. A aroeira, por ser considerada uma madeira em extinção, é protegida pela legislação ambiental, que prevê a árvore como imune ao corte. Também havia sido demonstrado nos autos que o proprietário não apresentou nenhum documento que comprovasse a origem legal da aroeira. A conduta ficou devidamente enquadrada e o auto de infração formalmen-te perfeito. O autor recorreu ao TRF3, reafirmando que o convênio do Ibama com a Polícia Militar Ambiental era inconstitucional e que o policial não teria conhecimento técnico-científico necessário para fazer a autuação. Subsidiariamente, pedia que a multa fosse adequada ao mínimo legal e cancelada a agravante imposta de reincidência, por não haver anterior decisão administrativa irrecorrível. Por sua vez, o Ibama apelou ao Tribunal, reafirmando a legalidade da autuação e solicitando a majoração da multa de R$ 5.000,00 para R$ 10.000,00 por reincidência. O juiz federal convocado Silva Neto ressaltou que o meio ambiente deve estar ao alcance de todos e pelo qual também a coletividade deve primar, em seus cuidados, pela proteção e perpetuação, nos termos do art. 225 da Constituição Federal. Ele destacou que a Lei nº 9.605/1998 define o cri-me ambiental da seguinte maneira: “Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, tem em depósito, transporta ou guarda madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem licença válida para todo o tempo da viagem ou do armazena-mento, outorgada pela autoridade competente”. O magistrado ressaltou também que “em nenhum momento logrou o particular afastar a prática de sua conduta, muito menos apresentou licença para utilização do material, buscando se desvencilhar da autuação baseado puramente em alegações (era material morto, lenha), o que não prospera”. Por fim, a 3ª Turma considerou infundada a arguição de irregularidade da autuação, uma vez que o auto de infração possuía identificação do autuado, descrição da conduta ilí-cita, tipificação e indicação da autoridade autuadora, estando preenchidos os requisitos legais. Também negou a apelação do Ibama pela majoração da multa, uma vez que não ficou comprovada a reincidência do infrator (Processo nº 0002501-03.2007.4.03.6000). (Conteúdo extraído do site do Tribunal Regional Federal da 3ª Região)

Comissão de mudanças climáticas debate implantação do Acordo de ParisA Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas teve audiência pública. Os deputados e senadores do colegiado vão debater a implementação do Acordo de Paris no Brasil e no mundo diante das últimas medidas adotadas pelos governos nacionais. Como exemplo, a comissão vai discutir a “ordem executiva” (executive order) do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que revogou o Plano Energia Limpa e impulsiona a produção de petróleo, carvão e gás natural naquele país. Também serão discutidas as perspectivas para a COP23 em Bonn, na Alemanha. Convidados: o subsecretário-geral de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores, embaixador José Antônio Marcondes de Carvalho; a secretária-executiva da Convenção--Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), Patricia Espinosa Cantellano; o diretor-executivo do Centro Brasil no Clima, Alfredo Sirkis; o professor

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titular do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Eduardo Viola; e o coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia do WWF Brasile membro do Comitê de Coordenação do Observatório do Clima, André Costa Nahur. A audiência ocorreu no Plenário 7 da ala Alexandre Costa, no Senado, a partir das 14h30. (Conteúdo extraído do site da Câmara dos Deputados Federais)

Segunda Turma confirma anulação de licença para aterro sanitário de Belo Hori­zonteA 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve decisão da Justiça de Minas Gerais, que anulou a licença para implantação de aterro sanitário da região metropoli-tana de Belo Horizonte no Município de Ribeirão das Neves (MG). A licença havia sido concedida à empresa Sistema de Gerenciamento de Resíduos (SGR), mas sem o cumpri-mento da legislação estadual, que estabelece raio mínimo de 500 metros de qualquer núcleo residencial. Segundo a Associação Ambientalista Naturae Vox, autora da ação, além de desrespeitar as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a empresa afrontou instrução normativa do Conselho Estadual de Política Ambiental (Co-pam), que determina a distância mínima necessária. Além disso, a Naturae Vox alegou que a audiência pública para consultar a população de Ribeirão das Neves sobre a insta-lação do aterro sanitário não foi devidamente divulgada. O pedido para anular as licen-ças concedidas foi deferido em primeira instância, decisão confirmada pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, que constatou desrespeito à Lei estadual nº 14.129/2001 ao ins-talar o aterro. Em recurso especial, a SGR, entre outros pontos, questionou a legitimidade da associação ambientalista para propor a ação. Porém, como destacou o ministro rela-tor do caso, Herman Benjamin, “associação civil constituída há pelo menos um ano que inclua entre seus fins a defesa dos interesses e direitos protegidos pelo Código de Defesa do Consumidor gozam de legitimidade ativa para a propositura de ação coletiva”. “Nota--se que o acórdão vergastado foi bastante claro ao estabelecer que houve desrespeito, pela parte recorrente, da distância mínima do núcleo populacional mais próximo, além de violação à Lei estadual nº 14.129/2001 e à Deliberação Normativa nº 52/2001”, disse o ministro. Segundo ele, rever essas conclusões exigiria reexame de provas, o que não é permitido em recurso especial por conta da Súmula nº 7 do STJ. Além disso, acrescentou, o recurso especial não comporta discussão sobre interpretação de legislação local, por aplicação analógica da Súmula nº 280 do Supremo Tribunal Federal (REsp 1520453). (Conteúdo extraído do site do Superior Tribunal de Justiça)

Agricultura aprova uso de energia renovável em irrigação públicaA Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câma-ra dos Deputados aprovou proposta que torna obrigatória a utilização de percentuais mí-nimos de energia oriunda de fontes renováveis em projetos de irrigação pública. O obje-tivo é estimular o desenvolvimento das tecnologias envolvidas e a conservação do meio ambiente. A medida está prevista no Projeto de Lei nº 5.106/2016, do deputado Carlos Henrique Gaguim (PTN-TO), e recebeu parecer pela aprovação do relator na comissão, deputado Raimundo Gomes de Matos (PSDB-CE). O texto estabelece prazo de cinco anos para que os projetos já instalados sejam adaptados aos patamares fixados. Por ou-tro lado, novos projetos de irrigação pública deverão observar as exigências. A proposta deixa para regulamentação posterior a definição dos critérios de enquadramento e dos

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patamares mínimos obrigatórios de uso de energia renovável. Ao mesmo tempo, prevê a realização de audiência pública com entidades representativas dos setores energético e agrícola para discutir os critérios técnicos e os índices a serem exigidos. “A definição dos critérios e dos percentuais mínimos a serem observados deverá ser precedida de estudo de viabilidade técnica e econômica em que se demonstre que a adoção de tais limites não prejudicará o funcionamento e a expansão de novos projetos de irrigação pública”, destacou Raimundo Gomes de Matos. Tramitação: O projeto tramita em caráter con-clusivo e será analisado ainda pelas Comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. (Conteúdo extraído do site da Câmara dos Deputados Federais)

Caminhão transportando madeira ilegal ficará sob a guarda do IbamaA 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) deu provimento à apelação interposta pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renová-veis (Ibama) contra sentença da 5ª Vara da Seção Judiciária de Rondônia, que, nos autos do mandato de segurança impetrado pelo apelado, concedeu a segurança para determi-nar a liberação de caminhão de sua propriedade, apreendido transportando madeira sem o devido documento de licenciamento para o transporte. Entre suas alegações recursais, o Ibama sustenta a legalidade da apreensão do veículo, uma vez que a instituição, segun-do a legislação ambiental, pode exercer poder de polícia. Ao analisar o caso, o relator do processo, desembargado federal Souza Prudente, destacou que o TRF1 possui extensa orientação jurisprudencial sobre o assunto, o qual, disse o magistrado, não ser possível encontrar qualquer abusividade no ato praticado pelo Ibama que autorize a liberação do caminhão. O magistrado ressaltou que a atuação do órgão ambiental, em casos as-sim, está em consonância com a tutela cautelar prevista na Carta Política Federal, no art. 225, § 1º, VII e respectivo § 3º. Com isso, impõe-se ao Poder Público, e também à coletividade, o dever de defender e preservar o meio ambiente ecologicamente equili-brado, como bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, para as presentes e futuras gerações. Destacou, ainda, ser necessário considerar, também, que interpretações (pró-liberação de veículo) terminam por esvaziar (desmoralizar) a atuação do órgão ambiental, que, na grande maioria das vezes, possui absurdas dificuldades de ordem operacional, resultando, como é do conhecimento geral, em menos operações do que o necessário para o efetivo combate às infrações administrativo-ambientais. Por fim, o desembargador Souza Prudente afirmou que, conforme os termos do Decreto nº 6.514/2008, os bens apreendidos devem ficar sob a guarda do órgão ou da entidade responsável pela fiscalização ambiental, podendo, “excepcionalmente, ser confiados a fiel depositário, até o julgamento do processo administrativo”, caso em que caberá à Administração, no exercício do seu poder discricionário, definir sobre quem assumirá esse encargo entre as opções previstas referido ato normativo. Diante das considerações, a Turma deu provimento à apelação, nos termos do voto do relator, para reformar a sentença recorrida denegando a segurança (Processo nº 0011022-55.2013.4.01.4100). (Conteúdo extraído do site do Tribunal Regional Federal da 1ª Região)

ADI questiona lei mineira sobre política florestalO procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ajuizou a Ação Direta de Inconstitucio-nalidade (ADI) nº 5675, com pedido de liminar, no Supremo Tribunal Federal (STF), con-tra dispositivos da lei mineira que dispõe sobre políticas florestais e proteção à biodiver-

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sidade no Estado. Segundo Janot, ao criar o instituto denominado “ocupação antrópica consolidada em área urbana”, a Lei nº 20.922/2013 legitimou ocupações realizadas em solo urbano de área de preservação permanente em situações não previstas no Código Florestal brasileiro. “O Código Florestal atual, a despeito de grave retrocesso ambiental em vários aspectos, não permite novas intervenções e supressão de vegetação em área de preservação permanente (APP) fora das hipóteses definidas de utilidade pública, in-teresse social ou baixo impacto e exige em alguns casos comprovação de inexistência de alternativa técnica e locacional”, afirma. Além disso, a ação destaca que a norma mineira considera atividade de interesse social a implantação de infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e atividades educacionais e culturais ao ar livre em ocupações antrópicas consolidadas em área urbana, possibilitando tais atividades em APP, fora das hipóteses restritas previstas na lei federal. Janot acrescenta que o art. 17 da lei questiona-da afirma que será respeitada a ocupação antrópica consolidada em área urbana, aten-didas as recomendações técnicas do Poder Público, desconsiderando o regime especial de proteção das áreas de preservação permanente. “A legislação federal exauriu o tema relativo a ocupação e regularização fundiária em APPs. É juridicamente inconstitucional atuação de estados-membros de modo a ampliar as hipóteses e flexibilizar os requisitos definidos para tanto. Houve patente usurpação da competência da União para legislar sobre normas gerais em matéria ambiental pelo Estado de Minas Gerais”, argumenta o procurador-geral. A ADI argumenta que o STF tem jurisprudência consolidada sobre a competência da União para legislar sobre normas gerais em matéria de proteção ambien-tal (art. 24, inciso VI, § 1º, da Constituição Federal), cabendo aos Estados legislar sobre temáticas de interesse regional e aos Municípios, a respeito de temais de interesse local, desde que observadas as regras federais sobre matéria. Na ação, Janot afirma que, além do art. 24 da Constituição, a lei mineira contraria o art. 225, caput e §§ 1º e 3º. Os dis-positivos preveem que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Janot pede liminar para suspender a eficácia dos dispositivos questionados sob alegação de que sua vigência subverte o modelo constitucional e altera o regime jurídico de proteção ao ambiente, com potencial para causação imediata de danos, alguns deles irreparáveis ou de difícil reparação. “O requerimento de tutela de urgência dá-se em vista da possibilidade real de danos ao patrimônio ambiental do território estadual, me-diante flexibilização excessiva de normas sobre ocupação consolidada de solo urbano em áreas de preservação permanente, os quais podem atingir ecossistemas, pelas carac-terísticas do parcelamento do solo e da construção de edificações e benfeitorias”, argu-menta. A ADI foi distribuída ao ministro Ricardo Lewandowski (ADI 5675). (Conteúdo extraído do site do Supremo Tribunal Federal)

Fechamento da Edição: 25�05�2017

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Resenha Legislativa

LEIS

LEI Nº 13.445, DE 24.05.2017 – DOU DE 25.05.2017

Institui a Lei de Migração.

LEI Nº 13.426, DE 30.03.2017 – DOU DE 31.03.2017

Dispõe sobre a política de controle da natalidade de cães e gatos e dá outras providências.

DECRETOS

DECRETO Nº 9.013, DE 29.03.2017 – DOU DE 30.03.2017

Regulamenta a Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950, e a Lei nº 7.889, de 23 de novembro de 1989, que dispõem sobre a inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal.

INSTRUÇÕES NORMATIVAS

INSTRUÇÃO NORMATIVA MApA Nº 19, DE 16.05.2017 – DOU DE 19.05.2017

Altera a Instrução Normativa Mapa nº 17, de 28 de abril de 2017, que regulamenta a Produção, a Comercialização e a Utilização de Sementes e Mudas de Espécies Florestais ou de Interesse Ambiental ou Medicinal, Nativas e Exóticas, visando garantir sua procedência, identidade e qua-lidade.

INSTRUÇÃO NORMATIVA MApA Nº 17, DE 26.04.2017 – DOU DE 28.04.2017

Regulamenta a Produção, a Comercialização e a Utilização de Sementes e Mudas de Espécies Florestais ou de Interesse Ambiental ou Medicinal, Nativas e Exóticas, visando garantir sua procedência, identidade e qua-lidade.

RESOLUÇÕES

RESOLUÇÃO CNpE Nº 11, DE 11.04.2017 – DOU DE 15.05.2017

Dispõe sobre diretrizes para a importação de biocombustíveis.

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234 �������������������������������������������������������������������������������������������������������������������RSA Nº 37 – Maio-Jun/2017 – RESENHA LEGISLATIVA

RESOLUÇÃO CONAMA Nº 479, DE 15.03.2017 – DOU DE 27.04.2017

Dispõe sobre o licenciamento ambiental de empreendimentos ferroviá-rios de baixo potencial de impacto ambiental e a regularização dos em-preendimentos em operação.

RESOLUÇÃO SF Nº 3, DE 30.03.2017 – DOU DE 31.03.2017

Altera o Regimento Interno do Senado Federal para redefinir as atribui-ções e as denominações da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Con-sumidor e Fiscalização e Controle (CMA) e da Comissão de Transparên-cia e Governança Pública (CTG).

PORTARIAS

pORTARIA SAp Nº 1.009, DE 09.05.2017 – DOU DE 10.05.2017

Estabelece critérios e procedimentos para a concessão de Autorização de Pesca Complementar para a captura de tainha (Mugil liza), para a moda-lidade cerco, nas Regiões Sudeste e Sul do País, na temporada de pesca do ano de 2017.

pORTARIA SAp Nº 1.008, DE 09.05.2017 – DOU DE 10.05.2017

Estabelece critérios e procedimentos para a concessão de Autorização de Pesca Complementar para a captura de tainha (Mugil liza), para a moda-lidade de emalhe costeiro de superfície que utilize anilhas, nas Regiões Sudeste e Sul do País, na temporada de pesca do ano de 2017.

pORTARIA SAp Nº 1.002, DE 08.05.2017 – DOU DE 11.05.2017

Concede, à atividade da pesca, a Autorização Temporária de Pesca para todas as embarcações pesqueiras que tenham protocolizado o seu reque-rimento de renovação, nas Superintendências Federais de Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

pORTARIA INTERMINISTERIAL MDIC/MMA/MApA Nº 23, DE 27.04.2017 – DOU DE 28.04.2017

Estabelece normas, critérios e padrões para o exercício da pesca em áreas determinadas para a captura de tainha (Mugil liza), no litoral das regiões Sudeste e Sul do Brasil.

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RSA Nº 37 – Maio-Jun/2017 – RESENHA LEGISLATIVA �����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������235

pORTARIA MMA Nº 161, DE 20.04.2017 – DOU DE 24.04.2017

Dispõe sobre as restrições previstas no art. 2º da Portaria nº 445, de 17 de dezembro de 2014, do Ministério do Meio Ambiente.

Fechamento da Edição: 25�05�2017

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Bibliografia Complementar

Recomendamos como sugestão de leitura complementar aos assuntos abordados nesta edição os seguintes conteúdos:

ARTIGOS DOUTRINÁRIOS

• ComentáriosaoPrincípiodaLicitaçãoSustentável:oReconhe-cimento dos Influxos do Meio Ambiente Ecologicamente Equili-brado no Procedimento Licitatório

Tauã Lima Verdan Rangel Juris SÍNTESE ONLINE e SÍNTESENET, disponíveis em: online.sintese.com

• PoderdePolíciaAmbiental Camila Dias Marques Juris SÍNTESE ONLINE e SÍNTESENET, disponíveis em: online.sintese.com

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Índice Alfabético e Remissivo

Índice por Assunto Especial

DOUTRINAS

Assunto

Limitação ambientaL

•Comentários à Limitação Administrativa em Matéria Ambiental: uma Análise à Luz do En-tendimento do STJ (Tauã Lima Verdan Rangel) ............................................................................18

•Os Limites da Gestão Ambiental Concertativa: um Debate sobre os Princípios Que Regem os Acordos Ambientais (Sandro Ari Andradede Miranda) ...........................................................9

Autor

sanDro ari anDraDe De miranDa

•Os Limites da Gestão Ambiental Concertativa: um Debate sobre os Princípios Que Regemos Acordos Ambientais ..........................................9

tauã Lima VerDan rangeL

•Comentários à Limitação Administrativa em Matéria Ambiental: uma Análise à Luz do En-tendimento do STJ ...............................................18

ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA

Assunto

Limitação ambientaL

•Administrativo – Direito ambiental – Área de Preservação Permanente (APP) – Rio Santo An-tônio – Limitação administrativa – Inexistência de direito à indenização – Danos ambientais – Obrigação propter rem – Prazo prescricional –Vacatio legis não se presume (STJ) .............2328, 39

EMENTÁRIO

Assunto

Limitação ambientaL

•Ação demolitória – rodovia – faixa de domínio– irregularidade – ocupação ......................2329, 51

•Ação popular – patrimônio cultural, histórico enatural – preservação .................................2330, 51

•Área de preservação ambiental – restrição legal de uso – indenização .................................2331, 52

•Licença ambiental – concessão – competência – construção de hidroelétricas ......................2332, 52

•Licença ambiental – tratamento de água – esgoto – inexistência .............................................2333, 55

•Multa administrativa – débito – inexigibilidade – ação – impossibilidade ..............................2334, 57

•Multa administrativa – exemplares arbóreos – corte – termo de compromisso ambiental – des-cumprimento .............................................2335, 58

Índice Geral

DOUTRINAS

Assunto

créDito De carbono

•Análise da Compensação por Crédito de Car-bono no Brasil e a COP 21 (Lorena Grangeiro de Lucena) ...........................................................64

meio ambiente

•A Questão dos “Refugiados” Climáticos e Ambientais no Direito Ambiental (ÁlvaroLuiz Valery Mirra) ................................................59

poDer De poLícia ambientaL

•Poder de Polícia Ambiental e os Procedimen-tos da Defesa Administrativa Ambiental (Carlos Sérgio Gurgel da Silva) ........................................71

Autor

ÁLVaro Luiz VaLery mirra

•A Questão dos “Refugiados” Climáticos e Am-bientais no Direito Ambiental .............................59

carLos sérgio gurgeL Da siLVa

•Poder de Polícia Ambiental e os Procedimen-tos da Defesa Administrativa Ambiental ...............71

Lorena grangeiro De Lucena

•Análise da Compensação por Crédito de Car-bono no Brasil e a COP 21 ..................................64

ACÓRDÃOS NA ÍNTEGRA

Assunto

animais

•Direito ambiental e processo civil – Agravo de instrumento – Ação civil pública – Estrada Paraty-Cunha – Parque nacional da Serra daBocaina – Trânsito de veículos (TRF 2ª R.) .2337, 86

•Penal – Processual – Apelações criminais – Pássaros silvestres irregularmente mantidos em cativeiro domiciliar pelo acusado, inclusive es-pécie ameaçada de extinção, portando relação

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não atualizada de passeriformes no endereço do plantel – Anilha alargada, não registrada no Sis-pass ou ausente, em desacordo com o art. 32, II e III, da Instrução Normativa Ibama nº 10/2011 – uso indevido de anilha do Ibama pelo réu, sa-bidamente, adulterada – Delitos imputados na denúncia devidamente tipificados no art. 29, § 1º, III, e § 4º, I, da Lei nº 9.605/1998, e no art. 296, § 1º, III, do Código Penal, em concurso material – Princípio da consunção não aplicável no caso concreto – Ausência de conflito aparen-te de normas – Prescrição inocorrida – materia-lidade e autoria demonstradas – Dolo configura-do – Dosimetria – Atenuantes do art. 65, I, parte final, do Código penal, e do art. 14, I e IV, da Lei nº 9.605/1998, reconhecidas na hipótese, inclu-sive de ofício, nos limites da súmula nº 231 do STJ (penas-base fixadas já no mínimo patamar legal) – Causa especial de aumento de pena do art. 29, § 4º, I, da Lei nº 9.605/1998, devidamen-te mantida em relação ao delito ambiental, em detrimento da agravante do art. 15, II, q, da Lei nº 9.605/1998 – Substituição da soma das penas corporais aplicadas ao réu por duas restritivas de direitos – apelos da acusação e da defesa par-cialmente providos (TRF 3ª R.) ...................2338, 96

Área De preserVação permanente

•Direito ambiental – Administrativo – Ação ci-vil pública – Área de preservação permanente – Código Florestal (Lei nº 4.771/1965) – Zona costeira – União – Município – Responsabili-dade (TRF 4ª R.) .......................................2339, 116

Área De proteção ambientaL

•Embargos declaratórios – Área de uso comum e de proteção ambiental – Plano de recuperação de área degradada – Prad não cumprido – Dis-cussão acerca de matéria já analisada – Impos-sibilidade – Inexistência de omissão, contradi-ção ou obscuridade (TRF 5ª R.) ................2340, 140

crime ambientaL

•Penal – Processual – Apelações criminais – Pássaros silvestres irregularmente mantidos em cativeiro domiciliar pelo acusado, inclusive es-pécie ameaçada de extinção, portando relação não atualizada de passeriformes no endereço do plantel – Anilha alargada, não registrada no Sis-pass ou ausente, em desacordo com o art. 32, II e III, da Instrução Normativa Ibama nº 10/2011 – uso indevido de anilha do ibama pelo réu, sa-bidamente, adulterada – Delitos imputados na denúncia devidamente tipificados no art. 29, § 1º, III, e § 4º, I, da Lei nº 9.605/1998, e no art. 296, § 1º, III, do Código Penal, em concurso material – Princípio da consunção não aplicável no caso concreto – Ausência de conflito aparen-te de normas – Prescrição inocorrida – Materia-

lidade e autoria demonstradas – Dolo configura-do – Dosimetria – Atenuantes do art. 65, I, parte final, do Código penal, e do art. 14, I e IV, da Lei nº 9.605/1998, reconhecidas na hipótese, inclu-sive de ofício, nos limites da Súmula nº 231 do STJ (penas-base fixadas já no mínimo patamar legal) – Causa especial de aumento de pena do art. 29, § 4º, I, da Lei nº 9.605/1998, devidamen-te mantida em relação ao delito ambiental, em detrimento da agravante do art. 15, II, q, da Lei nº 9.605/1998 – Substituição da soma das penas corporais aplicadas ao réu por duas restritivas de direitos – Apelos da acusação e da defesa par-cialmente providos (TRF 3 R.) ....................2338, 96

infração ambientaL

•Administrativo e ambiental – Remessa oficial – Apelação – Mandado de segurança – Ibama – Infração ambiental – Inclusão em lista de áre-as embargadas – Embargo – Delimitação – Lei nº 10.650/2003 – Sentença mantida – Despro-vimento (TRF 1ª R.) ....................................2336, 79

EMENTÁRIO

Assunto

ação ciViL púbLica

•Ação civil pública – área construída – desocu-pação – inviabilidade ..............................2341, 144

•Ação civil pública – dano ambiental – Ibama – MPF – legitimidade ...............................2342, 146

ação DemoLitória

•Ação demolitória – obrigatoriedade – períciaambiental – inviabilidade ........................2343, 147

Águas

•Águas – turismo náutico – unidade de conser-vação – execução do serviços – possibilidade ................................................................2344, 149

anÁLise De impacto ambientaL

•Análise de impacto ambiental – atividade sísmi-ca – apresentação do EIA/Rima – necessidade ................................................................2345, 151

animais

•Animais – crime ambiental – pássaros – anilhas de identificação – falsificação – insignificância – incorrência ...........................................2346, 152

•Animais – movimentação – excesso – multa – aplicação .................................................2347, 153

•Animais – pássaros – apreensão – multa –aplicação – ocorrência ............................2348, 155

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RSA Nº 37 – Maio-Jun/2017 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO ������������������������������������������������������������������������������������������������������239 apa

•APA – dano ambiental – construção de muro –recomposição da área – ocorrência .........2349, 155

•APA – grau de utilização – desapropriação – afastamento .............................................2350, 160

app

•APP – ação civil pública – obrigação de não fa-zer – realização de shows – terreno de marinha – tartarugas – preservação ........................2351, 161

•APP – dano ambiental – edificação irregular –demolição – recuperação – ocorrência ....2352, 164

•APP – degradação ambiental – pasto – exis-tência ......................................................2353, 164

•APP – infração ambiental – imóvel – restrições ambientais – multa – imposição ...............2354, 165

•APP – intervenção antrópica – dano ambiental in re ipsa – ocorrência .............................2355, 166

•APP – manguezal – construção – irregularida-de – município – demolição – legitimidadepassiva .....................................................2356, 169

•APP – terreno de marinha – dano – reparação – astreintes – determinação ........................2357, 170

aVaLiação De impacto ambientaL

•Avaliação de impacto ambiental – EIA/Rima – irregularidades – nova avaliação – possibili-dade ........................................................2358, 173

crime ambientaL

•Crime ambiental – areia – argila – extração – dolo – ausência de comprovação – atipicidade ................................................................2359, 174

•Crime ambiental – caça – animal silvestre – prescrição – possibilidade ........................2360, 176

•Crime ambiental – exclusão do dolo – erro de tipo – ocorrência .....................................2361, 177

•Crime ambiental – exploração mineral – dia-mantes .....................................................2362, 177

•Crime ambiental – fauna – insignificância – princípio – inaplicabilidade .....................2363, 178

•Crime ambiental – fauna – materialidade – au-toria – demonstração ...............................2364, 180

•Crime ambiental – madeira – transporte – ile-galidade – corrupção – ocorrência ...........2365, 181

•Crime ambiental – pesca ilegal – insignificância – princípio – inaplicabilidade ..................2366, 182

•Crime ambiental – pesca ilegal – peixe pargo – período defeso – impossibilidade .............2367, 183

•Crime ambiental – receptação – prescrição –ocorrência ...............................................2368, 185

Dano ambientaL

•Dano ambiental – aeronaves – emissão de ga-ses poluentes – Anac – competência fiscaliza-tória .........................................................2369, 185

•Dano ambiental – edificação – área de praia – demolição .............................................2370, 186

expLoração mineraL

•Exploração mineral – ausência de autorização – crime ambiental – ocorrência ..................2371, 187

•Exploração mineral – bem da União – usurpa-ção – crime – ocorrência .........................2372, 188

extração De minério

•Extração de minério – dano ambiental – repara-ção – obrigatoriedade ..............................2373, 188

ibama

• Ibama – construção – embargo – área com du-nas – recuo mínimo – inobservância ........2374, 189

infração ambientaL

• Infração ambiental – ação anulatória – multa – razoabilidade – ocorrência ......................2375, 190

• Infração ambiental – multa – aplicação – APP –utilização irregular – suposição ...............2376, 192

• Infração ambiental – resíduos perigosos – im-portação – inocorrência ...........................2377, 194

• Infração ambiental – transporte de madeira – ir-regularidade – ocorrência ........................2378, 194

meio ambiente Do trabaLho

•Meio ambiente do trabalho – ruído – produtosquímicos – exposição – ocorrência ..........2379, 196

muLta aDministratiVa

•Multa administrativa – desmatamento – auto-rização – ausência – redução de valor – ocor-rência ......................................................2380, 198

perícia ambientaL

•Perícia ambiental – honorários – minoração – razoabilidade – impossibilidade ..............2381, 199

pesca

•Pesca – crime ambiental – condenação – dosi-metria da pena .........................................2382, 199

•Pesca – crime ambiental – insignificância – prin-cípio – aplicação .....................................2383, 200

praia

•Praia – balneário – veículos – trânsito – dano ambiental – possibilidade ........................2384, 200

risco ambientaL

•Risco ambiental – soja geneticamente modifica-da – plantio – área de conservação – proximi-dades – impossibilidade ...........................2385, 201

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240 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RSA Nº 37 – Maio-Jun/2017 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO

tcfa

•TCFA – homologação – lançamento – deca-dência – prazo – contagem ......................2386, 201

•TCFA – prescrição e decadência – reconheci-mento ......................................................2387, 202

•TCFA – tributação ambiental – fato gerador –inocorrência ............................................2388, 202

tributação ambientaL

•Tributação ambiental – TAH – natureza não tributária – princípio da legalidade – descum-primento ..................................................2389, 203

Seção Especial

ESTUDOS JURÍDICOS

Assunto

segurança nacionaL

•Exportação de Liga de Nióbio e a Soberania e Segurança Nacional (Ives Gandra da SilvaMartins) .............................................................205

Autor

iVes ganDra Da siLVa martins

•Exportação de Liga de Nióbio e a Soberania eSegurança Nacional ..........................................205

CLIPPING JURÍDICO

•ADI questiona lei mineira sobre política florestal ..........................................................................231

•ADI questiona lei que regulamenta vaquejadano Estado de Roraima ........................................215

•Agricultura aprova uso de energia renovável em irrigação pública ................................................230

•Caminhão transportando madeira ilegal ficará sob a guarda do Ibama ......................................231

•Captação de água em área de preservação sem autorização é configurada crime contra o meioambiente ...........................................................224

•Comissão aprova inclusão de proteção do meioambiente na Lei do Voluntariado .......................221

•Comissão de Meio Ambiente analisa regras para descarte de medicamentos .................................227

•Comissão de mudanças climáticas debate im-plantação do Acordo de Paris ............................229

•Comissão debate impactos sociais, ambientais e econômicos de papel e celulose ........................226

•Comissão discute ações na Amazônia Azul .......225

•Comissões promovem evento internacional so-bre meio ambiente e direitos humanos .............215

•Crime ambiental poderá impedir empresa de re-ceber financiamento oficial ...............................228

•Decisão permite tombamento de bem da Uniãopor lei estadual ..................................................216

•Determinada apreensão de arma de fogo utili-zada por caçador usada em infração ambiental ...217

•Devolução de peixe vivo ao rio após pesca em local proibido afasta crime ambiental ................222

• Índios caiapós alertam magistrados sobre os im-pactos da construção da usina de Belo Monte ...225

• Justiça determina que Amazonas Energia reduza ruídos de usina em Iranduba ..............................219

•Lei sobre “sanitização” em locais de acesso co-letivo é considerada inconstitucional .................220

•Lei sobre fechamento de lotes residenciais é considerada constitucional ................................218

•Meio Ambiente aprova incentivos a proprietário rural por reposição florestal ...............................221

•Município é condenado por causar poluiçãoatmosférica e sonora em área residencial ...........223

•Pescador terá que pagar multa por uso de rede de arrasto na Lagoa dos Patos ............................220

•Proprietário rural em MS é condenado por uso ilegal de madeira de preservação .......................228

•Segunda Turma confirma anulação de licençapara aterro sanitário de Belo Horizonte .............230

RESENHA LEGISLATIVA

Leis

•Lei nº 13.445, de 24.05.2017 – DOU de 25.05.2017 ........................................................233

•Lei nº 13.426, de 30.03.2017 – DOU de 31.03.2017 ........................................................233

Decreto

•Decreto nº 9.013, de 29.03.2017 – DOU de 30.03.2017 ........................................................233

instruções normatiVas

• Instrução Normativa Mapa nº 19, de 16.05.2017– DOU de 19.05.2017 .......................................233

• Instrução Normativa Mapa nº 17, de 26.04.2017– DOU de 28.04.2017 .......................................233

resoLuções

•Resolução CNPE nº 11, de 11.04.2017 – DOUde 15.05.2017 ...................................................233

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RSA Nº 37 – Maio-Jun/2017 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO ������������������������������������������������������������������������������������������������������241

•Resolução Conama nº 479, de 15.03.2017 –DOU de 27.04.2017 .........................................234

•Resolução SF nº 3, de 30.03.2017 – DOU de31.03.2017 ........................................................234

portarias

•Portaria SAP nº 1.009, de 09.05.2017 – DOUde 10.05.2017 ...................................................234

•Portaria SAP nº 1.008, de 09.05.2017 – DOUde 10.05.2017 ...................................................234

•Portaria SAP nº 1.002, de 08.05.2017 – DOUde 11.05.2017 ...................................................234

•Portaria Interministerial MDIC/MMA/Mapa nº 23, de 27.04.2017 – DOU de 28.04.2017 ....234

•Portaria MMA nº 161, de 20.04.2017 – DOUde 24.04.2017 ...................................................235