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Revista SÍNTESE Direito Ambiental ANO VII – Nº 40 – JAN-FEV-MAR 2018 REPOSITÓRIO AUTORIZADO DE JURISPRUDÊNCIA Tribunal Regional Federal da 1ª Região – Portaria CONJUD nº 610-001/2013 Tribunal Regional Federal da 2ª Região – Despacho nº TRF2-DES-2013/08087 Tribunal Regional Federal da 3ª Região – Portaria nº 02, de 31.05.2012 – Registro nº 25 Tribunal Regional Federal da 4ª Região – Portaria nº 942, de 13.08.2013 – Ofício – 1528443 – GPRES/EMAGIS Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Informação nº 001/2013-GAB/DR DIRETOR EXECUTIVO Elton José Donato GERENTE EDITORIAL Milena Sanches Tayano dos Santos COORDENADOR EDITORIAL Cristiano Basaglia EDITOR Patrícia Rosa da Costa Ruiz CONSELHO EDITORIAL André Luis Saraiva, Antomar Viegas, Daniel Roberto Fink, Gina Copola, João Roberto Rodrigues, Luis Fernando Galli, Marcelo Beserra, Maria Luiza Machado Granziera, Patrícia Faga Iglecias Lemos, Paulo de Bessa Antunes, Ronald Victor Romero Magri, Toshio Mukai COMITÊ TÉCNICO Elisson Pereira da Costa, Francisco Salles Almeida Mafra Filho, Renata Jardim da Cunha Rieger, Sylvio Toshiro Mukai, Veridiana Pinheiro Lima COLABORADORES DESTA EDIÇÃO Aluer Baptista Freire Júnior, Anysia Carla Lamão Pessanha, Bruno Fialho Ribeiro, Carolina Alves Muniz de Freitas, Hycaro Daloy Inácio, Jessé Torres Pereira Junior, Lorena Grangeiro de Lucena Tôrres, Tauã Lima Verdan Rangel, Thaís Boia Marçal ISSN 2236-9406

ISSN 2236-9406 Revista SÍNTESE - bdr.sintese.com · Publicação trimestral de doutrina, jurisprudência, legislação e outros assuntos de Meio Ambiente. ... Direito pela Universidade

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Revista SÍNTESEDireito Ambiental

Ano VII – nº 40 – JAn-FeV-MAr 2018

reposItórIo AutorIzAdo de JurIsprudêncIA

Tribunal Regional Federal da 1ª Região – Portaria CONJUD nº 610-001/2013Tribunal Regional Federal da 2ª Região – Despacho nº TRF2-DES-2013/08087

Tribunal Regional Federal da 3ª Região – Portaria nº 02, de 31.05.2012 – Registro nº 25Tribunal Regional Federal da 4ª Região – Portaria nº 942, de 13.08.2013 – Ofício – 1528443 – GPRES/EMAGIS

Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Informação nº 001/2013-GAB/DR

dIretor executIVo

Elton José Donato

Gerente edItorIAl

Milena Sanches Tayano dos Santos

coordenAdor edItorIAl

Cristiano Basaglia

edItor

Patrícia Rosa da Costa Ruiz

conselho edItorIAl

André Luis Saraiva, Antomar Viegas, Daniel Roberto Fink, Gina Copola, João Roberto Rodrigues, Luis Fernando Galli, Marcelo Beserra, Maria Luiza Machado Granziera, Patrícia Faga Iglecias Lemos,

Paulo de Bessa Antunes, Ronald Victor Romero Magri, Toshio Mukai

coMItê técnIco

Elisson Pereira da Costa, Francisco Salles Almeida Mafra Filho, Renata Jardim da Cunha Rieger, Sylvio Toshiro Mukai, Veridiana Pinheiro Lima

colAborAdores destA edIção

Aluer Baptista Freire Júnior, Anysia Carla Lamão Pessanha, Bruno Fialho Ribeiro, Carolina Alves Muniz de Freitas, Hycaro Daloy Inácio, Jessé Torres Pereira Junior, Lorena Grangeiro de Lucena Tôrres, Tauã Lima Verdan Rangel, Thaís Boia Marçal

ISSN 2236-9406

2011 © SÍNTESE

Uma publicação da SÍNTESE, uma linha de produtos jurídicos do Grupo SAGE.

Publicação trimestral de doutrina, jurisprudência, legislação e outros assuntos de Meio Ambiente.

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução parcial ou total, sem consentimento expresso dos editores.

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de total responsabilidade de seus autores.

Os acórdãos selecionados para esta Revista correspondem, na íntegra, às cópias obtidas nas secretarias dos respec-tivos tribunais.

A solicitação de cópias de acórdãos na íntegra, cujas ementas estejam aqui transcritas, e de textos legais pode ser feita pelo e-mail: [email protected] (serviço gratuito até o limite de 50 páginas mensais).

Distribuída em todo o território nacional.

Tiragem: 2.000 exemplares

Revisão e Diagramação: Dois Pontos Editoração

Artigos para possível publicação poderão ser enviados para o endereço [email protected]

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Revista Síntese Direito Ambiental. – v. 7, n. 40 (Mar. 2018)- . – São Paulo: IOB, 2011- . v. ; 23 cm.

Trimestral. ISSN 2236-9406

1. Direito ambiental. 2. Meio ambiente.

CDU 351.777.6 CDD 341.347

Bibliotecária responsável: Nádia Tanaka – CRB 10/855

IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda.R. Antonio Nagib Ibrahim, 350 – Água Branca 05036‑060 – São Paulo – SPwww.sage.com

Telefones para ContatosCobrança: São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7247900

SAC e Suporte Técnico: São Paulo e Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7247900E-mail: [email protected]

Renovação: Grande São Paulo (11) 2188.7900Demais localidades 0800.7283888

Carta do Editor

Na quadragésima edição da Revista SÍNTESE Direito Ambiental, publica-mos na Seção Assunto Especial o tema “Cadastro Ambiental Rural”.

Sobre o tema são publicados dois artigos. O primeiro, intitulado “Ca-dastro Ambiental Rural: Importância Ambiental e Econômica”, de autoria do Dr. Aluer Baptista Freire Júnior, Pós-Doutor em Direito Privado PUC-MG, Dou-tor e Mestre em Direito Privado PUC-Minas, MBA em Direito de Empresa, Espe-cialista em Direto Público, Penal e Processo Penal, Direito Privado e Processo Civil, Coordenador Curso de Direito da Fadileste, Professor de Graduação e Pós-Graduação, Editor-Chefe da Revista Remas – Faculdade do Futuro, Ava-liador da Revista da Faculdade de Direito da UERJ, do Conpedi e da Unijuí, Advogado. Autor de livros e artigos jurídicos. Orientador do presente trabalho e do Dr. Hycaro Daloy Inácio, Graduado em Direito pela Fadileste. O segundo, intitulado “Cadastro Ambiental Rural (CAR/MS) – Regulamentação e Aplicabili-dade do Cadastro Ambiental Rural (CAR) para o Desenvolvimento Econômico Sustentável”, de autoria da Dra. Carolina Alves Muniz de Freitas, Graduada em Direito pela Universidade para Desenvolvimento do Estado e da Região do Pan-tanal – Anhanguera Uniderp (Campo Grande/MS), Pós-Graduanda em Direito Ambiental pela Universidade Cândido Mendes (UCAM/RJ), Secretária-Geral da Comissão de Meio Ambiente da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional de Mato Grosso do Sul – Comam/MS (biênio 2014-2014), Membro do Conselho Municipal de Meio Ambiente pela OAB/MS (biênio 2014-2015), Professora de Direito Ambiental no Instituto Nivaldo de Azevedo (INA Educacional).

Além disso, ainda no Assunto Especial, selecionamos um Acórdão na Íntegra, do TRF 3ª R., bem como ementário sobre o assunto.

Na Parte Geral publicamos três artigos, quais sejam: “Conversão de Mul-tas Ambientais”, de autoria do Dr. Jessé Torres Pereira Junior e Dra. Thaís Boia Marçal; o segundo intitulado “O Estudo do Impacto de Vizinhança Como Instru-mento de Segurança Jurídica e Desenvolvimento Sustentável nos Municípios”, de autoria do Dr. Bruno Fialho Ribeiro; e, o terceiro, intitulado “Limites à Res-ponsabilidade Penal da Pessoa Jurídica nos Crimes Ambientais”, de autoria dos Dr. Tauã Lima Verdan Rangel e Anysia Carla Lamão Pessanha.

Selecionamos, outrossim, sete relevantes acórdãos na íntegra: um do STJ, um do TRF da 1ª R., um do TRF da 2ª R., um do TRF da 3ª R., um do TRF da 4ª R., um do TRF da 5ª R. e um do TJDFT, além do vasto ementário com valor agregado.

Na Seção Especial contamos com um Estudo Jurídico, cujo título é “Área de Relevante Interesse Ecológico do Cocó (ARIE) X Especulação Imobiliária”, de autoria da Dra. Lorena Grangeiro de Lucena Tôrres, Administradora de Em-presas, Advogada, Especialista em Perícia e Auditoria Ambiental, Membro da Comissão de Direito Ambiental, Parecerista.

Não deixe de ver nossa Seção Clipping Jurídico, na qual oferecemos tex-tos concisos que destacam, de forma resumida, os principais acontecimentos do período, tais como notícias, projetos de lei, normas relevantes, entre outros.

Aproveite esse rico conteúdo e tenha uma ótima leitura!

Milena Sanches Tayano dos SantosGerente Editorial

Sumário

Normas Editoriais para Envio de Artigos ....................................................................7

Assunto EspecialCadastro ambiental rural

doutrinas

1. Cadastro Ambiental Rural: Importância Ambiental e EconômicaAluer Baptista Freire Júnior e Hycaro Daloy Inácio ....................................9

2. Cadastro Ambiental Rural (CAR/MS) – Regulamentação e Aplicabilidade do Cadastro Ambiental Rural (CAR) para o Desenvolvimento Econômico SustentávelCarolina Alves Muniz de Freitas ...............................................................29

JurisprudênCia

1. Acórdão na Íntegra (TRF 3ª R.) .................................................................31

2. Ementário .................................................................................................36

Parte Geral

doutrinas

1. Conversão de Multas AmbientaisJessé Torres Pereira Junior e Thaís Boia Marçal ........................................50

2. O Estudo do Impacto de Vizinhança Como Instrumento de Segurança Jurídica e Desenvolvimento Sustentável nos MunicípiosBruno Fialho Ribeiro ................................................................................56

3. Limites à Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica nos Crimes AmbientaisAnysia Carla Lamão Pessanha e Tauã Lima Verdan Rangel ......................65

JurisprudênCia

Acórdãos nA ÍntegrA

1. Superior Tribunal de Justiça......................................................................82

2. Tribunal Regional Federal da 1ª Região ....................................................88

3. Tribunal Regional Federal da 2ª Região ....................................................98

4. Tribunal Regional Federal da 3ª Região ..................................................107

5. Tribunal Regional Federal da 4ª Região ..................................................114

6. Tribunal Regional Federal da 5ª Região ..................................................131

7. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios ...............................137

ementário

1. Ementário de Jurisprudência de Direito Ambiental .................................144

Seção Especialestudos JurídiCos

1. Área de Relevante Interesse Ecológico do Cocó (ARIE) x Especulação ImobiliáriaLorena Grangeiro de Lucena Tôrres .......................................................201

Clipping Jurídico ..............................................................................................205

Resenha Legislativa ..........................................................................................225

Bibliografia Complementar .................................................................................227

Índice Alfabético e Remissivo .............................................................................228

Normas Editoriais para Envio de Artigos1. Os artigos para publicação nas Revistas SÍNTESE deverão ser técnico-científicos e fo-

cados em sua área temática.2. Será dada preferência para artigos inéditos, os quais serão submetidos à apreciação

do Conselho Editorial responsável pela Revista, que recomendará ou não as suas publicações.

3. A priorização da publicação dos artigos enviados decorrerá de juízo de oportunidade da Revista, sendo reservado a ela o direito de aceitar ou vetar qualquer trabalho recebido e, também, o de propor eventuais alterações, desde que aprovadas pelo autor.

4. O autor, ao submeter o seu artigo, concorda, desde já, com a sua publicação na Revista para a qual foi enviado ou em outros produtos editoriais da SÍNTESE, desde que com o devido crédito de autoria, fazendo jus o autor a um exemplar da edição da Revista em que o artigo foi publicado, a título de direitos autorais patrimoniais, sem outra remune-ração ou contraprestação em dinheiro ou produtos.

5. As opiniões emitidas pelo autor em seu artigo são de sua exclusiva responsabilidade.6. À Editora reserva-se o direito de publicar os artigos enviados em outros produtos jurí-

dicos da SÍNTESE.7. À Editora reserva-se o direito de proceder às revisões gramaticais e à adequação dos

artigos às normas disciplinadas pela ABNT, caso seja necessário.8. O artigo deverá conter além de TÍTULO, NOME DO AUTOR e TITULAÇÃO DO AU-

TOR, um “RESUMO” informativo de até 250 palavras, que apresente concisamente os pontos relevantes do texto, as finalidades, os aspectos abordados e as conclusões.

9. Após o “RESUMO”, deverá constar uma relação de “PALAVRAS-CHAVE” (palavras ou expressões que retratem as ideias centrais do texto), que facilitem a posterior pesquisa ao conteúdo. As palavras-chave são separadas entre si por ponto e vírgula, e finaliza-das por ponto.

10. Terão preferência de publicação os artigos acrescidos de “ABSTRACT” e “KEYWORDS”.11. Todos os artigos deverão ser enviados com “SUMÁRIO” numerado no formato “arábi-

co”. A Editora reserva-se ao direito de inserir SUMÁRIO nos artigos enviados sem este item.

12. Os artigos encaminhados à Revista deverão ser produzidos na versão do aplicativo Word, utilizando-se a fonte Arial, corpo 12, com títulos e subtítulos em caixa alta e alinhados à esquerda, em negrito. Os artigos deverão ter entre 7 e 20 laudas. A pri-meira lauda deve conter o título do artigo, o nome completo do autor e os respectivos créditos.

13. As citações bibliográficas deverão ser indicadas com a numeração ao final de cada citação, em ordem de notas de rodapé. Essas citações bibliográficas deverão seguir as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

14. As referências bibliográficas deverão ser apresentadas no final do texto, organizadas em ordem alfabética e alinhadas à esquerda, obedecendo às normas da ABNT.

15. Observadas as regras anteriores, havendo interesse no envio de textos com comentá-rios à jurisprudência, o número de páginas será no máximo de 8 (oito).

16. Os trabalhos devem ser encaminhados preferencialmente para os endereços eletrôni-cos [email protected]. Juntamente com o artigo, o autor deverá preencher os formulários constantes dos seguintes endereços: www.sintese.com/cadastrodeauto-res e www.sintese.com/cadastrodeautores/autorizacao.

17. Quaisquer dúvidas a respeito das normas para publicação deverão ser dirimidas pelo e-mail [email protected].

Assunto Especial – Doutrina

Cadastro Ambiental Rural

Cadastro Ambiental Rural: Importância Ambiental e Econômica

Rural Environmental Registry: Environmental and Economic Importance

ALUER BAPTISTA FREIRE JÚNIORPós-Doutor em Direito Privado PUC-MG, Doutor e Mestre em Direito Privado PUC-Minas, MBA em Direito de Empresa, Especialista em Direto Público, Penal e Processo Penal, Direito Privado e Processo Civil, Coordenador Curso de Direito da Fadileste, Professor de Graduação e Pós--Graduação, Editor-Chefe da Revista Remas – Faculdade do Futuro, Avaliador da Revista da Faculdade de Direito da UERJ, do Conpedi e da Unijuí, Advogado. Autor de livros e artigos jurídicos. Orientador do presente trabalho.

HYCARO DALOY INÁCIOGraduado em Direito pela Fadileste.

RESUMO: O presente trabalho tem como finalidade entender os procedimentos exigidos para a reali-zação do Cadastro Ambiental Rural (CAR), instituído pelo Código Florestal, Lei nº 12.651/2012, como o instrumento de regularização ambiental. O Cadastro Ambiental Rural é um sistema eletrônico, utilizado para cadastrar informações [remanescentes de vegetação nativa, das APPs, das áreas con-solidadas e da Reserva Legal (RL) de cada propriedade rural]. Analisar a adequação das exigências propostas pelo Código Florestal em relação aos parâmetros estabelecidos para as Áreas de Preser-vação Permanente e Reserva Legal e das Áreas Rurais Consolidadas.

PALAVRAS-CHAVE: Cadastro Ambiental Rural (CAR); Reserva Legal (RL); Áreas de Preservação Pre-mentes (APPs); regularização ambiental.

ABSTRACT: The purpose of this paper is to understand the procedures required to carry out the Rural Environmental Registry (CAR), established by the Forest Code, Law nº 12.651/2012 as the instrument for environmental regularization. The Rural Environmental Registry is an electronic system, used to register information [remnants of native vegetation, APPs, consolidated areas and Legal Reserve (RL) of each rural property]. To analyze the adequacy of the requirements proposed by the Forest Code, in relation to the parameters established for the Permanent Preservation Areas and Legal Reserve and the Consolidated Rural Areas, to understand the requirements in the scope of the small rural property.

KEYWORDS: Rural Environmental Registry (CAR); Legal Reserve (RL); Permanent Preservation Areas (APPs); environmental regularization.

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INTRODUÇÃO

O meio ambiente é um tema que está na “moda” perante a sociedade atual. O mundo está cada vez mais preocupado com a atual situação do meio ambiente, e há uma série de fatores que acarretam isso, como exemplo: “[...] a qualidade do ar que respiramos o temor a grandes desastres naturais, ou até mesmo a preservação para as futuras gerações”1.

A preocupação em relação a essa temática possibilita alterações nos ru-mos do desenvolvimento em prol das gerações futuras, ou seja, estabelece me-canismos de comando e controle, impondo normas e padrões que devem ser seguidos. Por outro lado, esses mecanismos de proteção ambiental podem criar sérios problemas à sobrevivência das pequenas propriedades rurais.

No campo, essa forma de agir têm trazido inúmeras dificuldades para que proprietários rurais promovam a adequação ambiental de sua propriedade. Diante da dificuldade imposta pela antiga legislação ambiental, foram elabora-das no Código Florestal alterações capazes de compreender essas dificuldades e, assim, diminuir abruptamente alguns fatores limitantes para as propriedades rurais.

A legislação florestal estabeleceu um modelo de regularização para pro-priedade rural, que é baseado em um registro eletrônico, obrigatório para todos os imóveis rurais, que tem por finalidade integrar as informações ambientais de cada propriedade rural. Esse registro foi denominado de Cadastro Ambiental Rural (CAR), instrumento utilizado para auxiliar no processo de regularização ambiental das propriedades e posses rurais. Ele consiste em reunir informações georreferenciadas do imóvel, com delimitação da Reserva Legal (RL), das Áreas de Proteção Permanente (APP), de remanescentes de vegetação nativa, da área rural consolidada, das áreas de interesse social e de utilidade pública, com o objetivo de traçar um mapa digital a partir do qual são calculados os valores das áreas para diagnóstico ambiental. Essa ferramenta é de grande valia, pois com ela é possível que haja o planejamento do imóvel rural e possa readquirir áreas degradadas. O CAR incentiva a criação de corredores ecológicos e a conserva-ção dos demais recursos naturais, contribuindo para a melhoria da qualidade ambiental, sendo atualmente utilizado pelos governos estaduais e federais.

HISTÓRICO DO CÓDIGO FLORESTAL

O primeiro “Código Florestal” do País surgiu em 1934, em meio à vasta expansão cafeeira que ocorria na época, principalmente na região sudeste. As

1 Conceito disponível em: <https://www.portaleducacao.com.br/biologia/artigos/49511/preocupacao>. Acesso em: 4 maio 2016.

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florestas sofriam com o avanço desregular das plantações, sendo distanciadas para longe das cidades, o que dificultava e encarecia o carregamento de lenha e carvão (insumo energético de extrema importância naquela época).

Por meio do Decreto nº 23.793/1934 foi estabelecido o “Código Florestal brasileiro”. Ficou estabelecido no decreto, entre outros pontos, “[...] a definição de florestas protetoras, nele não previa as distâncias mínimas para a proteção das áreas, no entanto, visava confrontar os efeitos sociais e políticos, provocado pelo aumento do preço e eventual falta da lenha e carvão, e garantir a continui-dade dos fornecimentos”2 (Brasil, 1934: 1).

Desse modo, o “Código Florestal brasileiro” impôs aos proprietários de terras rurais que se preserva a chamada “quarta parte” (25%) da área de seus imóveis com a cobertura de mata original, uma espécie de “reserva florestal”.

Uma sinopse de preservação ambiental também estava presente na lei, que instaurou o conceito de florestas protetoras, para garantir a saúde de rios e lagos e áreas de risco (encostas íngremes e dunas), muito embora não previsse as distâncias mínimas para a proteção dessas áreas. Essa concepção deu ori-gem às Áreas de Preservação Permanente (APPs), também situadas em imóveis rurais.

Ao passar dos anos foram surgindo novos combustíveis e fontes de ener-gia, e a lenha passou a ter menos relevância na economia. Concomitantemente, cresceu a consciência do papel do meio ambiente e das florestas, e de suas funcionalidades em terrenos privados. Nesse cenário surgiu o Código Florestal de 1965, Lei nº 4.771/1965, que atualizou a lei anterior.

A concepção de Reserva Legal (RL) e Áreas de Preservação Permanente (APPs) é firmada na Lei nº 4.771/1965. “As florestas existentes no território na-cional e as demais formas de vegetação, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercen-do-se os direitos de propriedade [...]”3 (Brasil, 1965: 1).

Com o propósito de preservar os diversos biomas, a “quarta parte” dos imóveis rurais se transforma na Reserva Legal (RL). Sendo que o Código de 1965 previa que, na Amazônia, metade (50%) de todos os imóveis rurais deveria ser reservada para esses fins. Nos demais Estados do País o percentual era de 20%. No que tange às Áreas de Preservação Permanente, são melhores defini-das com distâncias mínimas e orientação sobre qual parte das terras deveria ser protegida.

2 Supressão nossa.3 Supressões nossas.

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O Código Florestal de 1965 e as decorrentes alterações estabeleceram, entre outros pontos, as limitações ao direito de propriedade no que se atribui ao uso e à exploração do solo e das florestas e demais formas de vegetação. Em 1986, a Lei nº 7.511/1986 modificou o regime da reserva florestal que autoriza o desmatamento de 100% da mata nativa, a partir de que substituída por plantio de espécies, inclusive exóticas. Desde então o desmatamento das áreas nativas não foi mais consentido. Os limites das Áreas de Preservação Permanente foram aumentados, dos originais 5 (cinco) metros para 30 (trinta) metros (contados da margem dos rios) e, para rios com 200 (duzentos) metros de largura ou maiores, o limite passou a ser equivalente à largura do rio.

Passados três anos, de acordo com a Lei nº 7.803/1989 “[...] determinou que a reposição das florestas nas reservas legais fosse feita prioritariamente com espécies nativas”4 (Brasil, 1989: 1). A medida das Áreas de Preservação Per-manente nas margens dos rios voltou a ser modificada, com a criação de áreas protegidas ao redor de nascentes, bordas de chapadas ou em áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros.

Em 1996, o Código Florestal passou a ser alterado por inúmeras medidas provisórias, a última em 2001, MP 2.166-67/2001. Nesse espaço de tempo o Código também foi modificado por um dispositivo relacionado, a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998). Diversos delitos administrativos ali contidos viriam a se tornar crimes e a lei permitiu a aplicação de multas pelos órgãos de fiscalização ambiental, além de elaborar novas infrações.

A partir da década de 1990, houve uma firme e continuada pressão para que houvesse a “flexibilização” do Código Florestal de 1964 por parte das so-ciedades de classes representantes dos grandes proprietários rurais. As nume-rosas discussões levaram a uma proposta para reformar o Código Florestal, que tramitou por 12 (doze) anos na Câmara dos Deputados e suscitou polêmica entre ruralistas e ambientalistas5.

O CódigO FlOrestal brasileirO

O Código Florestal brasileiro contém as regras gerais de exploração da vegetação nativa. O referido código determina de que forma e o quanto a ve-getação pode ser explorada, além de determinar quais regiões são autorizadas a receber os diferentes tipos de produção rural. O Código Florestal brasileiro, publicado por meio da Lei nº 12.651/2012, no art. 1º, institui:

4 Supressões nossas.5 Esses dados estão disponíveis em: <http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/285754-o-que-e-o-codigo-

-florestal/>. Acesso em: 12 set. 2016.

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[...] normas gerais sobre a proteção da vegetação, Áreas de Preservação Per-manente e as áreas de Reserva Legal; a exploração florestal, o suprimento de matéria-prima florestal, o controle da origem dos produtos florestais e o controle e prevenção dos incêndios florestais, e prevê instrumentos econômicos e finan-ceiros para o alcance de seus objetivos.6 (Brasil, 2015: 882)

O código faz menção a dois tipos de áreas de preservação: as Áreas de Preservação Permanente (APPs) e as áreas de Reserva Legal (RL).

As Áreas de Preservação Permanente podem ser compreendidas como as áreas que necessitam ser protegidas devido à sua importância ambiental e sua elevada fragilidade. Esse tipo de vegetação cumpre a função de proteger os rios e reservatórios de assoreamentos, evitar transformações negativas nos leitos, garantir o abastecimento dos lençóis freáticos e a preservação da vida aquática.

A Reserva Legal é a porcentagem de cada propriedade ou posse rural que deve ser preservada, variando de acordo com o bioma e a região.

CadastrO ambiental rural (Car)

O Cadastro Ambiental Rural é um registro nacional obrigatório para to-das as propriedades rurais, que permite que o Poder Público possa controlar e gerir a utilização do uso e ocupação do solo.

No CAR contém todas as informações ambientais das propriedades e posses rurais, com acesso público pela Internet, formando uma base de dados estratégica para o monitoramento e combate ao desmatamento das florestas e demais formas de vegetação nativa do Brasil, bem como para os planejamen-tos ambiental e econômico dos imóveis rurais. O Código Florestal estabeleceu como marco legal e dedicou um capítulo inteiro ao tema (Capítulo VI), inclusive buscando pelo trabalho integrado de órgãos públicos federais, estaduais e mu-nicipais. O art. 29 da Lei nº 12.651/2012 estabelece a definição do CAR, assim como suas instruções:

Art. 29. É criado o Cadastro Ambiental Rural – CAR, no âmbito do Sistema Na-cional de Informação sobre Meio Ambiente – Sinima, registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econô-mico e combate ao desmatamento [...].7 (Brasil, 2015: 888)

6 Supressões nossas.7 Supressões nossas.

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Em 17 de outubro de 2012, foi editado o Decreto nº 7.830/2012 para re-gulamentar o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e o Sistema de Cadastro Ambien-tal Rural (Sicar), e criar normas de caráter geral, como o Programa de Regula-rização Ambiental (PRA). Ele é composto por quatro capítulos: “(I) Disposições Gerais; (II) Do Sistema de Cadastro Ambiental Rural e do Cadastro Ambiental Rural; (III) Do Programa de Regularização Ambiental – PRA; e (IV) Disposições Finais” (Brasil, 2012: 1).

O segundo capítulo é subdividido em duas seções (arts. 3º e 4º), no qual a Seção I trata das regras impostas pelo Sicar, que é o sistema eletrônico de âmbito nacional destinado ao gerenciamento de informações ambientais dos imóveis rurais.

Art. 3º Fica criado o Sistema de Cadastro Ambiental Rural – Sicar, com os seguin-tes objetivos:

I – receber, gerenciar e integrar os dados do CAR de todos os entes federativos;

II – cadastrar e controlar as informações dos imóveis rurais, referentes a seu perí-metro e localização, aos remanescentes de vegetação nativa, às áreas de interesse social, às áreas de utilidade pública, às Áreas de Preservação Permanente, às Áreas de Uso Restrito, às áreas consolidadas e às Reservas Legais;

III – monitorar a manutenção, a recomposição, a regeneração, a compensação e a supressão da vegetação nativa e da cobertura vegetal nas áreas de Preservação Permanente, de Uso Restrito, e de Reserva Legal, no interior dos imóveis rurais;

IV – promover o planejamento ambiental e econômico do uso do solo e conser-vação ambiental no território nacional; e

V – disponibilizar informações de natureza pública sobre a regularização am-biental dos imóveis rurais em território nacional, na Internet.

§ 1º Os órgãos integrantes do Sinima disponibilizarão em sítio eletrônico loca-lizado na Internet a interface de programa de cadastramento integrada ao Sicar destinado à inscrição, consulta e acompanhamento da situação da regularização ambiental dos imóveis rurais.

§ 2º Os entes federativos que não disponham de sistema para o cadastramento de imóveis rurais poderão utilizar o módulo de cadastro ambiental rural, disponível no Sicar, por meio de instrumento de cooperação com o Ministério do Meio Ambiente [...].8

Art. 4º Os entes federativos que já disponham de sistema para o cadastramento de imóveis rurais deverão integrar sua base de dados ao Sicar, nos termos do inciso VIII do caput do art. 8º e do inciso VIII do caput do art. 9º da Lei Complementar nº 140, de 8 de dezembro de 2011. (Brasil, 2012: 1)

8 Supressão nossa.

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E a Seção II (arts. 5º a 8º) dispõe sobre as regras impostas para realizar o CAR propriamente dito. Vale salientar que o art. 8º desse decreto faz menção às pequenas propriedades ou posses rurais que possuem tratamento diferen-ciado por haver parâmetros referidos no inciso V do caput do art. 3º da Lei nº 12.651/2012, como, por exemplo, procedimento simplificado, apoio técnico e jurídico, entre outros.

Art. 5º O Cadastro Ambiental Rural – CAR deverá contemplar os dados do pro-prietário, possuidor rural ou responsável direto pelo imóvel rural, a respectiva planta georreferenciada do perímetro do imóvel, das áreas de interesse social e das áreas de utilidade pública, com a informação da localização dos remanes-centes de vegetação nativa, das Áreas de Preservação Permanente, das Áreas de Uso Restrito, das áreas consolidadas e da localização das Reservas Legais.

Art. 6º A inscrição no CAR, obrigatória para todas as propriedades e posses rurais, tem natureza declaratória e permanente, e conterá informações sobre o imóvel rural, conforme o disposto no art. 21.

§ 1º As informações são de responsabilidade do declarante, que incorrerá em sanções penais e administrativas, sem prejuízo de outras previstas na legislação, quando total ou parcialmente falsas, enganosas ou omissas [...].9

Art. 7º Caso detectado pendências ou inconsistências nas informações declaradas e nos documentos apresentados no CAR, o órgão responsável deverá notificar o requerente, de uma única vez, para que preste informações complementares ou promova a correção e adequação das informações prestadas.

§ 1º Na hipótese do caput, o requerente deverá fazer as alterações no prazo es-tabelecido pelo órgão ambiental competente, sob pena de cancelamento da sua inscrição no CAR.

§ 2º Enquanto não houver manifestação do órgão competente acerca de pendên-cias ou inconsistências nas informações declaradas e nos documentos apresen-tados para a inscrição no CAR, será considerada efetivada a inscrição do imóvel rural no CAR, para todos os fins previstos em lei [...].10

Art. 8º Para o registro no CAR dos imóveis rurais referidos no inciso V do caput do art. 3º, da Lei nº 12.651, de 2012, será observado procedimento simplificado, nos termos de ato do Ministro de Estado do Meio Ambiente, no qual será obriga-tória apenas a identificação do proprietário ou possuidor rural, a comprovação da propriedade ou posse e a apresentação de croqui que indique o perímetro do imóvel, as Áreas de Preservação Permanente e os remanescentes que formam a Reserva Legal.

§ 1º Caberá ao proprietário ou possuidor apresentar os dados com a identificação da área proposta de Reserva Legal [...].11 (Brasil, 2015: 882)

9 Supressões nossas.10 Supressões nossas.11 Supressões nossas.

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Os beneFíCiOs dO Car

Além de possibilitar os planejamentos ambiental e econômico de uso e ocupação do imóvel rural, a inscrição no CAR, acompanhada de compromisso de regularização ambiental, quando for o caso, é pré-requisito para acesso à emissão das Cotas de Reserva Ambiental e aos benefícios previstos nos Progra-mas de Regularização Ambiental (PRA) e de Apoio e Incentivo à Preservação e Recuperação do Meio Ambiente, ambos definidos pela Lei nº 12.651/2012. Entre os benefícios desses programas pode-se citar:

Possibilidade de regularização das APP e/ou Reserva Legal vegetação natural su-primida ou alterada até 22.07.2008 no imóvel rural, sem autuação por infração administrativa ou crime ambiental;

Suspensão de sanções em função de infrações administrativas por supressão irre-gular de vegetação em áreas de APP – Reserva Legal e de uso restrito, cometidas até 22.07.2008;

Obtenção de crédito agrícola, em todas as suas modalidades, com taxas de juros menores, bem como limites e prazos maiores que o praticado no mercado;

Contratação do seguro agrícola em condições melhores que as praticadas no mercado;

Dedução das Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restri-to base de cálculo do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural – ITR, geran-do créditos tributários;

Linhas de financiamento atender iniciativas de preservação voluntária de vegeta-ção nativa, proteção de espécies da flora nativa ameaçadas de extinção, manejo florestal e agro florestal sustentável realizados na propriedade ou posse rural, ou recuperação de áreas degradadas;

Isenção de impostos para os principais insumos e equipamentos, tais como: fio de arame, postes de madeira tratada, bombas d’água, trado de perfuração do solo, dentre outros utilizados para os processos de recuperação e manutenção das Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito. (Minas Gerais, 2016: 1)

PrOgrama de regularizaçãO ambiental (Pra)

Este programa foi criado tendo como função regularizar a situação dos proprietários autuados por alguma infração ambiental ou de indivíduos proces-sados por crime ambiental cometido até 22 de julho de 2008. Os Estados e a União terão prazo de um ano, prorrogável por apenas mais doze meses, para implantar os Programas de Regularização Ambiental de posses e propriedades

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rurais, conforme definido pelo art. 59 da Lei nº 12.651/2012, cujas normas ge-rais foram regulamentadas pela União com o Decreto nº 7.830/2012.

Art. 59. A União, os Estados e o Distrito Federal deverão, no prazo de 1 (um) ano, contado a partir da data da publicação desta Lei, prorrogável por uma única vez, por igual período, por ato do Chefe do Poder Executivo, implantar Programas de Regularização Ambiental – PRAs de posses e propriedades rurais, com o objetivo de adequá-las aos termos deste Capítulo. (Brasil, 2015: 893)

A intenção deste programa é possibilitar o indulto a multas e a extinção das punições de crimes ambientais, estimulando, assim, a regularização das propriedades rurais que tenham cometido intervenções ilegais em áreas prote-gidas. O órgão ambiental competente deve convocar proprietário ou possuidor para assinar o termo de compromisso, para adequar e recuperar áreas ilegal-mente utilizadas. Segundo Mauro da Fonseca Ellovitch e Carlos Alberto Valera,

[...] servirá também como instrumento para consolidação de atos ilícitos e per-missão para continuidade de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural (ranchos e resorts), em áreas que eram protegidas pela legislação (na forma dos arts. 61-A a 68 da Lei nº 12.651/2012). Além disso, será instrumento para anistia de multas e crimes ambientais cometidos até 22 de julho de 2008, violando os princípios da isonomia, da separação dos poderes, da tríplice respon-sabilidade ambiental (art. 225, § 3º, da Constituição Federal), da prevenção geral e da prevenção especial.12 (2013: 7)

sem Car, PrOdutOr Perderá direitO aO CréditO rural

Os produtores brasileiros que ainda não fizeram o CAR correm o risco de ter o acesso ao crédito vedado já na próxima safra, que começa a ser plantada. O alerta é do Serviço Florestal brasileiro, órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente responsável pelo CAR, e até de alguns representantes do setor que defendem uma nova prorrogação da data final para o cadastramento.

Independentemente do pedido da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural em estender a data-limite para até o ano de 2018, o serviço florestal não trabalha com a hipótese de novo adiamen-to. Uma vez que a lei aprovada pelo congresso havia um dispositivo que per-mitia somente uma prorrogação da data final para o cadastramento, que vence em 31 de dezembro de 2017.

12 Supressão nossa.

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O Deputado Luis Carlos Heinze (PP/RS), autor da proposta que pede nova prorrogação do CAR, recomenda que os produtores busquem se cadastrar o quanto antes para evitar ter problemas na admissão de financiamentos.

Quem não fizer o cadastro até a data final ainda poderá e deverá se re-gularizar. “O sistema continuará ativo. A diferença é que quem perder o prazo, não terá direito aos benefícios previstos na lei, entre eles o acesso a qualquer tipo de crédito, seja ele privado ou público”, afirma Raimundo Deusdará Filho, diretor-geral do serviço florestal.

Com a possibilidade de não poder pegar dinheiro em banco para finan-ciamentos, o produtor inadimplente com o CAR perde o direito de fazer adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA), que permite converter even-tuais multas por serviços ambientais. O agricultor que tem passivo ambiental também terá a obrigação de regenerar a área desmatada na mesma proprieda-de, diferente de quem fez o cadastro dentro do prazo e poderá recompor em qualquer propriedade do País, desde que ela esteja no mesmo bioma da que foi desmatada.

Segundo o último Boletim do Serviço Florestal, até 31 de março de 2016 279,6 milhões de hectares haviam aderido ao CAR, o que representa 70,3% da área total. O órgão alerta, ainda, que, apesar de o sistema ter ficado mais robus-to, há uma sobrecarga nos últimos dias de cadastramento. Portanto, o produtor precisa fazer o CAR o quanto antes e não deixar para o último dia.

O Cadastro Ambiental Rural é só o primeiro passo e por isso a etapa mais importante no processo de implantação do Código Florestal, conforme os ambientalistas. Segundo afirma Valmir Ortega, consultor do Observatório do Código Florestal:

O CAR talvez seja a primeira ferramenta que daqui uns anos poderá nos apontar a qualidade das nossas florestas, além de informar condição das bacias hidrográfi-cas que estão sendo prejudicadas pela descarga de agroquímicos e minérios, por exemplo. Ano a ano são criados subterfúgios para empurrar pra frente, protelar as obrigações dos produtores. Essa cultura de se opor às obrigações precisa mudar.

A Sociedade Rural Brasileira também se posiciona contra uma nova pror-rogação do prazo final do CAR:

Empurrar o problema com a barriga não é o caminho. É falta de consideração com os que já fizeram esse trabalho. Os problemas de fato com o cadastramento são pontuais, como no Rio Grande do Sul, por exemplo, onde tem problema dos Pampas. A protelação vai resolver esses problemas? Vamos perder muito crédito em relação aos compromissos que o Brasil assumiu internacionalmente. Se a gente começa a não responder ou atender aquilo que nos propusermos a fazer

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ninguém vai nos respeitar. Ou encaramos os problemas e começa a trabalhar pra achar soluções.13 (Junqueira apud Ribeiro, 2016: 1)

área de PreservaçãO Permanente (aPP)

As Áreas de Preservação Permanente podem ser definidas como aquelas que necessitam ser protegidas devido à sua importância ambiental e sua eleva-da fragilidade. São elas: margens de nascentes, arredores de nascentes, riachos, rios, lagos, reservatórios d’água, topos de morros e áreas de alta declividade. A definição legal da importância ecológica prestada pela APP já vinha desde o Código Florestal antigo, Lei nº 4.771/1965, e assim foi mantida no Código em seu art. 3º, II, da Lei nº 12.651/2012:

[...] área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodi-versidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.14 (Brasil, 2015: 882)

O Capítulo II da Lei nº 12.651/2012, dedicado às Áreas de Preservação Permanente, foi dividido em duas seções: a 1ª trata a respeito da delimitação das APPs, sob o título “Da Delimitação das Áreas de Preservação Permanente” (arts. 4º ao 6º); e a 2ª diz respeito ao regime jurídico de proteção, intitulada “Do Regime de Proteção das Áreas de Preservação Permanente” (arts. 7º ao 9º).

As delimitações locais são estabelecidas via critério técnico, consideran-do a função ecológica de cada área. Dessa maneira, o art. 4º determina o que deve ser considerado como Área de Preservação Permanente:

Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urba-nas, para os efeitos desta Lei:

I – as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mí-nima de:

a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de lar-gura;

b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;

c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;

13 Entrevista concedida conforme consta em: <http://revistagloborural.globo.com/Colunas/fazenda-sustentavel/noticia/2016/04/sem-car-produtor-perdera-direito-ao-credito-rural.html/>. Acesso em: 4 maio 2016.

14 Supressão nossa.

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d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;

e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;

II – as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:

a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros;

b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas [...].15 (Brasil, 2015: 883)

Após a delimitação das APPs estabelecidas nos incisos do art. 4º, nos parágrafos subsequentes, serão feitas algumas exceções aos limites que foram impostos. Seguindo a ordem, os §§ 1º e 4º do mesmo artigo destacam que os reservatórios artificiais de água já descritos no inciso III estão submetidos ao acréscimo de regras impostas.

Art. 4º [...]

[...]

III – as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de bar-ramento ou represamento de cursos d’água naturais, na faixa definida na licença ambiental do empreendimento;

§ 1º Não será exigida Área de Preservação Permanente no entorno de reserva-tórios artificiais de água que não decorram de barramento ou represamento de cursos d’água naturais.

§ 2º (Vetado).

§ 3º (Vetado).

§ 4º Nas acumulações naturais ou artificiais de água com superfície inferior a 1 (um) hectare, fica dispensada a reserva da faixa de proteção prevista nos incisos II e III do caput, vedada nova supressão de áreas de vegetação nativa, salvo auto-rização do órgão ambiental competente do Sistema Nacional do Meio Ambiente – Sisnama.16 (Brasil, 2015: 883)

No próximo parágrafo, observamos que a pequena propriedade rural ad-quire um tratamento diferenciado, de caráter mais permissivo, como é visto no § 5º do art. 4º:

15 Supressão nossa.16 Supressões nossas.

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Art. 4º [...]

[...]

§ 5º É admitido, para a pequena propriedade ou posse rural familiar, de que trata o inciso V do art. 3º desta Lei, o plantio de culturas temporárias e sazonais de vazante de ciclo curto na faixa de terra que fica exposta no período de vazante dos rios ou lagos, desde que não implique supressão de novas áreas de vegetação nativa, seja conservada a qualidade da água e do solo e seja protegida a fauna silvestre.17 (Brasil, 2015: 883)

A legislação, nesse caso, se preocupou com a condição socioeconômi-ca dos proprietários rurais, porém deixa de lado a preocupação com a função ecológica dessas áreas. No § 6º, a legislação constitui mais uma exceção para imóveis rurais com até 15 módulos fiscais, ficando permitida a prática de aqui-cultura.

Art. 4º [...]

[...]

§ 6º Nos imóveis rurais com até 15 (quinze) módulos fiscais, é admitida, nas áreas de que tratam os incisos I e II do caput deste artigo, a prática da aqüicultura e a infra-estrutura física diretamente a ela associada, desde que:

I – sejam adotadas práticas sustentáveis de manejo de solo e água e de recursos hídricos, garantindo sua qualidade e quantidade, de acordo com norma dos Con-selhos Estaduais de Meio Ambiente;

II – esteja de acordo com os respectivos planos de bacia ou planos de gestão de recursos hídricos;

III – seja realizado o licenciamento pelo órgão ambiental competente;

IV – o imóvel esteja inscrito no Cadastro Ambiental Rural – CAR;

V – não implique novas supressões de vegetação nativa.18 (Brasil, 2015: 883)

No artigo subsequente, podemos observar a preocupação com os reser-vatórios artificiais de água. Todo o texto do art. 5º é destinado à geração de energia ou ao abastecimento público, o qual impõe a aquisição, desapropriação ou instituição de servidão administrativa para que seja respeitada a APP.

Art. 5º Na implantação de reservatório d’água artificial destinado a geração de energia ou abastecimento público, é obrigatória a aquisição, desapropriação ou instituição de servidão administrativa pelo empreendedor das Áreas de Preserva-

17 Supressões nossas.18 Supressões nossas.

22 ��������������������������������������������������������������������������������������������������������RSA Nº 40 – Jan-Mar/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA

ção Permanente criadas em seu entorno, conforme estabelecido no licenciamen-to ambiental, observando-se a faixa mínima de 30 (trinta) metros e máxima de 100 (cem) metros em área rural, e a faixa mínima de 15 (quinze) metros e máxima de 30 (trinta) metros em área urbana.

§ 1º Na implantação de reservatórios d’água artificiais de que trata o caput, o em-preendedor, no âmbito do licenciamento ambiental, elaborará Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno do Reservatório, em conformidade com termo de referência expedido pelo órgão competente do Sistema Nacional do Meio Ambiente – Sisnama, não podendo o uso exceder a 10% (dez por cento) do total da Área de Preservação Permanente. (Brasil, 2015: 883)

O Poder Executivo poderá delimitar alguns espaços nos quais sejam fei-tas restrições de seu uso, ampliando, assim, as APPs. Somente poderá ocorrer mediante apresentação da declaração de interesse social, como é decorrente em alguns casos no art. 6º da Lei nº 12.651/2012.

Complementando, a segunda seção do Capítulo II, destinada às APPs, impõe regras quanto ao regime de proteção das Áreas de Preservação Perma-nente. Como pode ser verificado em seus artigos:

Art. 7º A vegetação situada em Área de Preservação Permanente deverá ser man-tida pelo proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado.

§ 1º Tendo ocorrido supressão de vegetação situada em Área de Preservação Permanente, o proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título é obrigado a promover a recomposição da vegetação, ressalvados os usos autori-zados previstos nesta Lei.

§ 2º A obrigação prevista no § 1º tem natureza real e é transmitida ao sucessor no caso de transferência de domínio ou posse do imóvel rural [...].

Art. 8º A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação Permanente somente ocorrerá nas hipóteses de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto ambiental previstas nesta Lei [...].19 (Brasil, 2015: 885)

reserva legal (rl)

É a área do imóvel rural que deve ser mantida com a vegetação original para preservação da biodiversidade. Para Mauro da Fonseca Ellovitch e Carlos Alberto Valera,

19 Supressões nossas.

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a idéia ínsita à Reserva Legal é dada preservação de uma parte do bioma original em cada propriedade rural, mantendo o equilíbrio ecológico entre flora nativa, abrigo da fauna nativa, microrganismos, predadores naturais, estoque de carbo-no, potencialização da polinização, regulação climática, equilíbrio esse que seria prejudicado com a exploração total da área. (2013: 6)

A definição imposta pela legislação das funções ecossistêmicas prestadas pela Reserva Legal já havia sido feita no antigo código, pela Lei nº 4.771/1965, e mantida no atual código pelo art. 3º, III, da Lei nº 12.651/2012.

Art. 3º Para os efeitos desta Lei entende-se por:

[...]

III – Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodi-versidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa. (Brasil, 2015: 882)

O Capítulo IV do Código Florestal é destinado às áreas de Reserva Legal (arts. 12 a 25). Ele é divido em três seções distintas: Seção I – Delimitação da Área de Reserva Legal; Seção II – Regime de Proteção da Reserva Legal; Seção III – Regime de Proteção das Áreas Verdes Urbanas, sendo esta última descon-siderada por não se enquadrar nos objetivos deste trabalho.

A Reserva Legal continua variando entre 20% e 80% de mata nativa na propriedade, dependendo da região do País:

Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanentes observadas os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel:

I – localizado na Amazônia Legal: 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;

a) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;

b) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais;

II – localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento). (Brasil, 2015: 886)

Porém, existem exceções nos §§ 6º, 7º e 8º do art. 12, nestes a dispensa de Reserva Legal sendo as propriedades usadas com a finalidade de abasteci-mento de água e esgoto, para reservatórios de água para geração de energia

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para linhas de transmissão e subestações de energia, para instalação e amplia-ção de rodovias e ferrovias.

Art. 12. [...]

[...]

§ 6º Os empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto não estão sujeitos à constituição de Reserva Legal.

§ 7º Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou desapropria-das por detentor de concessão, permissão ou autorização para exploração de po-tencial de energia hidráulica, nas quais funcionem empreendimentos de geração de energia elétrica, subestações ou sejam instaladas linhas de transmissão e de distribuição de energia elétrica.

§ 8º Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou desapropria-das com o objetivo de implantação e ampliação de capacidade de rodovias e ferrovias.20 (Brasil, 2015: 886)

A Reserva Legal é determinada por um espaço protegido, sendo que a sua criação deve permitir a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos, promovendo a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa.

Para obter esse propósito, a localização da Reserva Legal, no interior da propriedade rural, dever ser realizada por padrões que possuam uma base científica. O art. 14 do Código Florestal determina certos parâmetros para a localização das reservas:

Art. 14. [...]

I – o plano de bacia hidrográfica;

II – o Zoneamento Ecológico-Econômico;

III – a formação de corredores ecológicos com outra Reserva Legal, com Área de Preservação Permanente, com Unidade de Conservação ou com outra área legalmente protegida;

IV – as áreas de maior importância para a conservação da biodiversidade; e

V – as áreas de maior fragilidade ambiental.

§ 1º O órgão estadual integrante do Sisnama ou instituição por ele habilitada de-verá aprovar a localização da Reserva Legal após a inclusão do imóvel no CAR, conforme o art. 29 desta Lei.

20 Supressões nossas.

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§ 2º Protocolada a documentação exigida para análise da localização da área de Reserva Legal, ao proprietário ou possuidor rural não poderá ser imputada sanção administrativa, inclusive restrição a direitos, por qualquer órgão ambiental com-petente integrante do Sisnama, em razão da não formalização da área de Reserva Legal.21 (Brasil, 2015: 887)

Dessa forma, é de responsabilidade do órgão ambiental a aprovação de localidade da reserva, quando for incluída no CAR. Segundo Luís Paulo Sirvinskas, “a protocolização resguarda o proprietário rural de possíveis sanções administrativas evitando que o proprietário seja prejudicado pela demora na aprovação da localização da reserva” (2015: 245).

É aquiescido, para todas as propriedades, a soma da Área de Preservação Permanente no percentual de Reserva Legal. Essa tolerância da lei é considera-da como um retrocesso da legislação em relação ao antigo código.

As funções ecossistêmicas da Área de Preservação Permanente e da Re-serva Legal não se confundem. Apesar disso, o art. 5º da Lei nº 12.651/2012 permite que o cômputo das áreas relativas à vegetação nativa existente em APP seja aplicado no cálculo do percentual de Reserva Legal:

Art. 15. Será admitido o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cál-culo do percentual da Reserva Legal do imóvel, desde que:

I – o benefício previsto neste artigo não implique a conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo;

II – a área a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação, conforme comprovação do proprietário ao órgão estadual integrante do Sisnama; e

III – o proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel no Cadastro Ambiental Rural – CAR, nos termos desta Lei.

§ 1º O regime de proteção da Área de Preservação Permanente não se altera na hipótese prevista neste artigo.

§ 2º O proprietário ou possuidor de imóvel com Reserva Legal conservada e inscrita no Cadastro Ambiental Rural – CAR de que trata o art. 29, cuja área ultrapasse o mínimo exigido por esta Lei, poderá utilizar a área excedente para fins de constituição de servidão ambiental, Cota de Reserva Ambiental e outros instrumentos congêneres previstos nesta Lei.

§ 3º O cômputo de que trata o caput aplica-se a todas as modalidades de cum-primento da Reserva Legal, abrangendo a regeneração, a recomposição e a com-pensação. (Brasil, 2015: 887)

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Ressaltando, a segunda seção do Capítulo IV define as obrigações relati-vas ao regime de proteção da Reserva Legal. Iniciando pelo art. 17, verifica-se que a Reserva Legal deve ser conservada com cobertura de vegetação nativa pelo proprietário do imóvel rural, possuidor ou ocupante a qualquer título, pes-soa física ou jurídica, de direito público ou privado.

O imóvel rural deve condicionar a área com cobertura de vegetação na-tiva a título de Reserva Legal, independente se foi o proprietário anterior ou o novo proprietário quem destruiu ou não conservou a área de reserva legal.

A Lei nº 12.651/2012 dispensa averbação da Reserva Legal à margem da matrícula do imóvel com a inscrição no CAR. Como é estipulado no § 4º do art. 18:

Art. 18. [...]

[...]

§ 4º O registro da Reserva Legal no CAR desobriga a averbação no Cartório de Registro de Imóveis, sendo que, no período entre a data da publicação desta Lei e o registro no CAR, o proprietário ou possuidor rural que desejar fazer a averbação terá direito à gratuidade deste ato.22 (Brasil, 2015: 887)

Todavia, posteriormente ao efetivo registro da propriedade no CAR, será possível a dispensa da averbação da área de Reserva Legal no Cartório de Regis-tro de Imóveis, se tornando, assim, facultativo o registro da Reserva Legal pelo proprietário do imóvel.

Ademais, insta salientar que, mesmo após a implantação do CAR, a Re-serva Legal poderá ser averbada no Cartório de Registro de Imóveis e será obri-gatória para os que não a registrarem no CAR, nos termos da Lei nº 6.015/1973 e da Lei nº 12.651/2012. Constituindo uma faculdade que desonera o proprie-tário das exigências relacionadas com a identificação do perímetro e da loca-lização da Reserva Legal no CAR, nos termos do art. 30 do Código Florestal:

Art. 30. Nos casos em que a Reserva Legal já tenha sido averbada na matrícula do imóvel e em que essa averbação identifique o perímetro e a localização da reserva, o proprietário não será obrigado a fornecer ao órgão ambiental as infor-mações relativas à Reserva Legal previstas no inciso III do § 1º do art. 29.

Parágrafo único. Para que o proprietário se desobrigue nos termos do caput, de-verá apresentar ao órgão ambiental competente a certidão de registro de imóveis onde conste a averbação da Reserva Legal ou termo de compromisso já firmado nos casos de posse. (Brasil, 2015: 888)

22 Supressões nossas.

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CONCLUSÃO

A aplicação da legislação ambiental não resguarda um tratamento dife-renciado para as diversas realidades vivente no meio rural brasileiro. Ao contrá-rio de apontar as singularidades, aplica normas generalizadas, que para alguns podem trazer benefícios e para outros prejuízos.

A Constituição Federal estabelece, em seu art. 170, que a atividade eco-nômica deve atentar com o “princípio da defesa do meio ambiente”, ou seja, a Constituição Federal não impede o desenvolvimento econômico, mas requer um bom gerenciamento dos recursos naturais, conceituando o que chamamos de “desenvolvimento sustentável”, e o Código Florestal nos trouxe o CAR, que possibilitará termos um cadastro digital único de cada propriedade, que servirá para supervisionar as áreas de Reserva Legal e APPs, coisa impossível no pas-sado recente.

A execução do cadastro ambiental rural auxilia na produção de provas rápidas após alguma denúncia, acelerando as medidas tutelares com o propósi-to de diminuir custos com gastos judiciais. Em resumo, servirá, em um primeiro momento, para produzir evidências. Isto é, neste primeiro momento o CAR não tem caráter de detecção de infrações, mas, sim, auxiliar significativamente o sistema jurídico, acelerando-o e diminuindo as brechas exploradas por pessoas não comprometidas com o meio ambiente.

O Código Florestal brasileiro trouxe várias alterações que o deixou me-nos limitante e, assim, tornou-o mais flexível e menos burocrático. Concebeu um tratamento diferenciado para as pequenas propriedades rurais e criou uma ferramenta que vai possibilitar a regularização de todas as propriedades rurais.

O presente trabalho propiciou explorar uma realidade socioeconômica e ambiental entre várias outras que compõem o cenário rural brasileiro e constatou que aplicação do CAR é muito benéfica para ambas às partes: o pequeno proprie-tário rural, que vai poder manter sua atividade produtiva e ainda regular sua pro-priedade, estando em conformidade com as exigências da lei; o meio ambiente, que terá um ganho na quantidade e qualidade de vegetação nativa; e o governo, que terá todas essas informações reunidas para direcionar suas políticas.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto nº 7.803, de 1989. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4771.htm>. Acesso em: 23 nov. 2016.

______. Decreto nº 7.830, de 2012. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2012/Decreto/D7830.htm>. Acesso em: 23 nov. 2016.

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______. Lei nº 4.771, de 1965. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4771.htm>. Acesso em: 23 nov. 2016.

______. Lei nº 12.651, de 2012. Vade Mecum. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2015 (Legislação brasileira).

______. Decreto nº 23.793, de 1934. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/D23793.htm>. Acesso em: 23 nov. 2016.

ELLOVITCH, Mauro da Fonseca; VALERA, Carlos Alberto. Manual CEAF/Coama Novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), 2013. MPMG Jurídico, Revista do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte: CGB Artes Gráficas, 2013.

MINAS GERAIS. Cadastro Ambiental Rural – CAR, 2016. Disponível em: <http://www.car.mg.gov.br/#/site/sobreocar>. Acesso em: 23 nov. 2016.

RIBEIRO, Cassiano. Fazenda sustentável sem CAR, produtor perderá direito ao crédito rural, 2016. Disponível em: <http://revistagloborural.globo.com/Colu- -nas/fazenda-sustentavel/noticia/2016/04/sem-car-produtor-perdera-direito-ao--credito-rural.html>. Acesso em: 23 nov. 2016.

SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

Assunto Especial – Doutrina

Cadastro Ambiental Rural

Cadastro Ambiental Rural (CAR/MS) – Regulamentação e Aplicabilidade do Cadastro Ambiental Rural (CAR) para o Desenvolvimento Econômico Sustentável

CAROLINA ALVES MUNIZ DE FREITASGraduada em Direito pela Universidade para Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal – Anhanguera Uniderp (Campo Grande/MS), Pós-Graduanda em Direito Ambiental pela Universidade Cândido Mendes (UCAM/RJ), Secretária-Geral da Comissão de Meio Am-biente da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional de Mato Grosso do Sul – Comam/MS (biênio 2014-2014), Membro do Conselho Municipal de Meio Ambiente pela OAB/MS (biênio 2014-2015), Professora de Direito Ambiental no Instituto Nivaldo de Azevedo (INA Educacional).

O Cadastro Ambiental Rural (CAR) significa um importante avanço no processo de regularização ambiental de propriedades e posses rurais. Consiste no levantamento de informações georreferenciadas do imóvel, com delimita-ção das Áreas de Proteção Permanente, da Reserva Legal, de remanescentes de vegetação nativa, da área rural consolidada, das áreas de interesse social e de utilidade pública, com vistas a um diagnóstico ambiental de todo o País.

No Governo Federal, a política de fomento à regularização ambiental é executada de acordo com a Lei nº 12.651/2012 – Novo Código Florestal, que criou o CAR, a qual foi regulamentada por meio do Decreto nº 7.830, de 17 de outubro de 2012, que criou o Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar), sistema esse capaz de agrupar o CAR de todas as Unidades da Federação.

O Ministério do Meio Ambiente publicou a Instrução Normativa nº 2/2014, detalhando os procedimentos para a integração, execução e com-patibilização do Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar) e definindo os procedimentos gerais do CAR.

A publicação do Decreto Federal nº 8.235/2014 trouxe ao ordenamento jurídico-ambiental as normas gerais complementares ao Programa de Regulari-zação Ambiental dos Estados e do Distrito Federal (PRA), de que trata o Decreto nº 7.830, de 17 de outubro de 2012, e institui o Programa Mais Ambiente Brasil.

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Já o PRA restringe-se à regularização das Áreas de Preservação Perma-nente, de Reserva Legal e de uso restrito, que poderá ser efetivada mediante recuperação, recomposição, regeneração ou compensação. A compensação aplica-se exclusivamente às Áreas de Reserva Legal e poderá ser feita mediante as opções previstas no § 5º do art. 66 da Lei Federal nº 12.651/2012.

Para adesão ao PRA, os proprietários ou possuidores de imóveis rurais deverão inscrever seus imóveis no CAR, conforme disposto na Seção II do Ca-pítulo II do Decreto Federal nº 7.830/2012.

Em Mato Grosso do Sul, o CAR foi regulamentado pelo Decreto nº 13.977/2014, o qual também criou o Programa MS Sustentável, operaciona-lizado pelo Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul – Imasul. Já a Área de Uso Restrito da planície inundável do Pantanal foi regulamentada pelo Decreto nº 14.273/2015.

No entanto, em que pese todos os sistemas estarem operando de maneira satisfatória, o número de imóveis rurais cadastrados junto ao CAR/MS ainda não representa a totalidade dos imóveis rurais do Estado.

Assim, emite-se orientação no sentido de que todos os proprietários de-verão proceder à inscrição de seus imóveis rurais, apontando todas as carac-terísticas e delimitações dos remanescentes de vegetação nativa, das Áreas de Preservação Permanente, das Áreas de Uso Restrito, das áreas consolidadas e, caso existente, também da localização da Reserva Legal.

O proprietário rural deve se valer da ideia de que as exigências criadas pela legislação citada consistem em um excelente auxílio para que seu imóvel rural cresça economicamente, de maneira a preservar o meio ambiente para as atuais e futuras gerações de forma sustentável e viável.

Assunto Especial – Acórdão na Íntegra

Cadastro Ambiental Rural

2510

Tribunal Regional Federal da 3ª RegiãoAgravo de Instrumento nº 0021911‑24.2015.4.03.0000/SP2015.03.00.021911‑4/SPRelator: Desembargador Federal Johonsom Di SalvoAgravante: Ministério Público FederalAdvogado: Eleovan Cesar Lima Mascarenhas e outro(a)Agravado(a): Geraldo BittencourtAdvogado: SP141924 Paulo Henrique Vieira Borges e outro(a)Agravado(a): Município de Guaraci/SPAdvogado: SP147865 Vicente Augusto Baiochi e outro(a)Agravado(a): Furnas Centrais Elétricas S/AAdvogado: SP191664A Décio Flavio Gonçalves Torres Freire e outro(a)Agravado(a): Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IbamaOrigem: Juízo Federal da 2ª Vara de S. J. Rio Preto/SPNº Orig.: 00127179320074036106 2ª Vr. São José do Rio Preto/SP

ementa

AGRAVO DE INSTRUMENTO – SUSPENSÃO DO CURSO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA TEM POR OBJETO A REPARAÇÃO DE DANOS AMBIENTAIS, À CONTA DA PRORROGAÇÃO POR 1 (UM ANO) DO PRAZO PARA A INSCRIÇÃO NO CADASTRO AMBIENTAL RURAL (CAR) (DECRETO Nº 8.235/2014), ALÉM DE “POSSÍVEL” REGULARIZAÇÃO AMBIENTAL DA ÁREA OBJETO DA AÇÃO – GENEROSA EXPECTATIVA QUE NÃO ENCONTRA AMPARO NO TEXTO LEGAL – RECURSO PROVIDO PARA DETERMINAR O PROSSEGUIMENTO DO FEITO

1. Até conceitualmente, o processo é um “caminhar para a frente” e por isso a paralisação da demanda só é possível nos estritos ca-sos em que a lei permite. A propósito, Cândido Rangel Dinamarco (Instituições de Direito Processual Civil. 4. ed. São Paulo: Malhei-ros Editores, v. III, p. 147) chama atenção para o fato de o processo civil brasileiro desconhecer o instituto da interrupção do processo, contemplado no direito italiano.

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2. As regras gerais para suspensão do processo abrigam-se no art. 265 do CPC/1973 (atual art. 313 do CPC/2015), havendo ou-tras no próprio corpo do CPC e ainda na legislação extravagante.

3. Sucede que na singularidade do caso o d. Magistrado entendeu ser cabível a suspensão da instância à conta de “possível” regula-rização ambiental da propriedade descrita nos autos, nos termos e prazos do art. 59 da Lei nº 12.651/2012. Não há onde alojar no texto legal a razão de direito que possa sustentar a r. decisão a qua.

4. A situação noticiada na petição inicial da ação civil pública é grave e seu desfecho vem sendo postergado ao menos desde agosto de 2013, data da primeira decisão que suspendeu o curso da ação sob o fundamento de que, em tese, seria possível a regu-larização da área ocupada, em que pese a manifesta resistência da parte autora.

5. Nesse cenário, não há como sustar o trâmite da demanda, de-vendo o feito prosseguir e o d. Magistrado proceder como enten-der cabível quanto aos postulados e pleitos das partes.

6. Agravo de instrumento provido.

aCórdãO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, de-cide a Egrégia Sexta Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por una-nimidade, dar provimento ao agravo de instrumento, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

São Paulo, 16 de junho de 2016.

Johonsom di Salvo Desembargador Federal

relatóriO

O Excelentíssimo Senhor Desembargador Federal Johonsom di Salvo, Re-lator:

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Trata-se de agravo de instrumento interposto pelo Ministério Público Fe-deral em face da decisão que determinou o sobrestamento da ação civil pública ambiental pelo prazo de um ano nestes termos:

“Tendo em vista o que consta no Decreto nº 8.235, publicado em 05.05.2014, bem como o que restou determinado na Portaria nº 100, de 04.05.2015, do Mi-nistério do Meio Ambiente, que prorrogou por 1 (um ano) o prazo para a inscri-ção no Cadastro Ambiental Rural – CAR, contado de 05 de maio de 2015, bem como o fato de que ainda existe a possibilidade de regularização ambiental da área objeto desta ação, determino nova suspensão do andamento deste feito, até o dia 05.05.2016.

As partes envolvidas, caso seja efetivado o CAR, bem como a regularização am-biental, deverão comunicar imediatamente este juízo.

Arquivem-se os autos em Secretaria, com baixa sobrestado, até o dia 05.05.2016.

Decorrido o prazo da suspensão ou havendo a regularização ambiental da área, abra-se vista ao MPF, para a retomada da marcha processual.

Vista ao MPF.”

Anoto que a ação originária tem por objeto a reparação de danos am-bientais decorrentes de indevida ocupação humana em área de preservação permanente, correspondente, segundo a parte autora, à área de 100 metros do nível máximo do reservatório de acumulação de água para geração de energia elétrica da Usina Hidrelétrica Água Vermelha.

Nas razões do agravo o Ministério Público Federal sustenta, em resumo, a impossibilidade de regularização da ocupação área em questão, porquanto inaplicáveis ao caso dos arts. 59 e 61-A, ambos da Lei nº 12.651/2012 (Novo Código Florestal).

Aduz que já se passaram cerca de oito anos desde o ajuizamento da ação e a ocupação irregular continua causando danos irreparáveis ao meio ambiente, de modo que o sobrestamento do feito tão somente agravará a situação.

Requer assim a antecipação dos efeitos da tutela recursal para que o pro-cesso retome sua marcha e seja ao final julgado.

Deferi a suspensão dos efeitos da interlocutória agravada, para que o fei-to prossiga e o d. Magistrado proceda como entender cabível quanto aos pleitos das partes (fls. 55/56).

Contraminuta apenas pela agravada Furnas Centrais Elétricas S/A (fls. 64/67); os demais recorridos não apresentaram resposta, apesar de devida-mente intimados (fl. 58; 76; 78; 79).

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Embora desnecessária a oitiva do Ministério Público Federal em proces-sos nos quais o mesmo atua como parte, consta dos autos parecer pelo provi-mento do recurso (fls. 59/62).

É o relatório.

vOtO

O único tema de que devem se ocupar o Relator e a Turma – para evitar supressão de instância – afina-se com a pertinência ou não da suspensão da instância, à luz dos preceitos específicos da sistemática processual civil em vi-gência na ocasião (CPC/1973), uma vez que o recurso deve ser regido pela lei processual vigente ao tempo da publicação da decisão recorrida.

Até conceitualmente, o processo é um “caminhar para a frente” e por isso a paralisação da demanda só é possível nos estritos casos em que a lei permi-te. A propósito, Cândido Rangel Dinamarco (Instituições de Direito Processual Civil. 4. ed. São Paulo: Malheiros Editores, v. III, p. 147) chama atenção para o fato de o processo civil brasileiro desconhecer o instituto da interrupção do processo, contemplado no direito italiano.

As regras gerais para suspensão do processo abrigam-se no art. 265 do CPC/1973 (atual art. 313 do CPC/2015), havendo outras no próprio corpo do CPC e ainda na legislação extravagante.

Sucede que na singularidade do caso o d. Magistrado entendeu ser ca-bível a suspensão da instância à conta de “possível” regularização ambien-tal da propriedade descrita nos autos, nos termos e prazos do art. 59 da Lei nº 12.651/2012.

Trata-se a meu sentir de generosa expectativa do nobre Juiz Federal, que pode ou não ser realizada, e a dúvida se resolve em favor da Jurisdição e não contra a prestação jurisdicional.

Não vejo onde alojar no texto legal a suposta razão de direito que sus-tentaria a r. decisão a qua.

A situação noticiada na petição inicial da ação civil pública é grave e seu desfecho vem sendo postergado ao menos desde agosto de 2013, data da primeira decisão que suspendeu o curso da ação sob o fundamento de que, em tese, seria possível a regularização da área ocupada, em que pese a manifesta resistência da parte autora.

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Nesse cenário, não vejo como sustar o trâmite da demanda, que deve prosseguir rumo a um desfecho sob pena de negativa de jurisdição.

Ante o exposto, voto por dar provimento ao agravo de instrumento.

Johonsom di Salvo Desembargador Federal

Assunto Especial – Ementário

Cadastro Ambiental Rural

2511 – Cadastro ambiental rural – apresentação – dano ambiental – desmatamento – TAC – reconhecimento

“Agravo de instrumento. Constitucional e administrativo. Dano ambiental. Desmata-mento anterior a 22.07.2008. Apresentação de Cadastro Ambiental Rural – CAR e Ter-mo de Ajustamento de Conduta – TAC. Presentes na origem os requisitos do art. 300 do CPC. Agravo não provido. 1. Extrai-se do conteúdo normativo do art. 59 da Lei nº 12.651/2012 que, em regra, acaso o proprietário/possuidor de área rural, cuja degra-dação ocorrera antes de 22.07.2008 (caso dos autos), aderir ao Programa de Recupe-ração Ambiental e enquanto estiver sendo cumpridas as exigências do Termo de Com-promisso – TC, não poderão sofrer penalidades ambientais relativas ao aludido período pretérito. Sanções suspensas a partir da celebração do TC. 2. Além disso, conforme aduz o art. 66 da mesma lei, independentemente da adesão ao Programa de Regularização Ambiental – PRA, poderá o proprietário/possuidor, de forma mais simplificada, regula-rizar sua situação junto aos órgãos de proteção ambiental acaso recomponha, permita a regeneração ou compense as áreas degradadas de reserva legal. 3. Na espécie, restou registrado a emissão do Cadastro Ambiental Rural – CAR e a celebração com o Ibama do Termo de Ajustamento de Conduta – TAC, assim, inexistindo demonstração de qual-quer nova degradação ou elemento de prova que possa infirmar a regularidade de tais documentos, forçoso reconhecer a presença na origem da probabilidade do direito in-vocado pela parte autora, ora recorrida. 4. Ademais, não se vislumbra risco ou violação ao direito do recorrente em aguardar o deslinde da ação originária, ao contrário, decisão em sentido inverso poderia, a toda evidência, causar grave lesão ao recorrido com a im-possibilidade de manejo de suas atividades produtivas e com a exigência de pagamento de multa. 5. Agravo de instrumento do Ibama a que se nega provimento.” (TRF 1ª R. – AI 0002896-26.2015.4.01.0000 – Rel. Des. Kassio Nunes Marques – J. 20.03.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 12.651/2012:

“Art. 59. A União, os Estados e o Distrito Federal deverão, no prazo de 1 (um) ano, contado a partir da data da publicação desta Lei, prorrogável por uma única vez, por igual período, por ato do Chefe do Poder Executivo, implantar Programas de Regularização Ambiental – PRAs de posses e propriedades rurais, com o objetivo de adequá-las aos termos deste Capítulo.”

2512 – Cadastro ambiental rural – área de preservação permanente – dano ambiental – dever de recomposição – configuração

“Ação civil pública ambiental. Prescrição. Ocupação de área de preservação permanen-te. Dano ambiental que não cessou e se prolonga no tempo não ocorrência. Impertinente a arguição de ocorrência de prescrição, justamente porque o dano decorrente da degra-dação ambiental se prolonga no tempo. Logo, enquanto persistir a situação danosa, não

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há que se falar em perda da pretensão de exigir a satisfação das obrigações contidas na exordial da presente ação. Ação civil pública ambiental. Danos comprovados em área de preservação permanente. Dever de recomposição instituição de reserva legal. Regras autoaplicáveis. Possibilidade de cômputo da área de preservação permanente na reser-va legal (art. 15 do Código Florestal vigente). Instituição e regulamentação do cadastro ambiental rural previsto no novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), por meio do Decreto nº 8.235, de 05.05.2014, e da Instrução Normativa nº 2/MMA, de 06.05.2014. Averbação da área. Desnecessidade. Recebimento de benefícios e incentivos fiscais. Possibilidade. Recurso parcialmente provido. I – Ainda que os réus não tenham dado causa à totalidade dos danos verificados em área de preservação permanente, verifica--se que o dano ambiental foi efetivamente perpetrado, consubstanciado na supressão de vegetação na faixa de preservação permanente dos cursos d’águas que cortam sua pro-priedade, bem como na construção de obras de madeira e alvenaria relacionadas às ben-feitorias da propriedade, além de ter sido verificado o lançamento, nos cursos d’água, de águas servidas e dejetos oriundos dos animais que criam sem o devido tratamento. Assim, considerando-se que as obrigações derivadas da legislação ambiental são intrín-secas à coisa, ou seja, de natureza propter rem, devem os réus, proprietários de tal área, promover o isolamento protetivo da área de preservação atingida, recompor a vegetação ciliar e demolir as construções ilegalmente erigidas, com remoção de entulhos, tudo sob orientação dos órgãos ambientais e mediante a aprovação de projeto previamente enviado para tal fim, nos termos do art. 7º, § 1º, da Lei nº 12.651/2012, com redação dada pela Lei nº 12.727/2012 sob pena de multa diária fixada em R$ 1.000,00, além de pagar indenização em caso de se mostrar irrecuperável a área. II – A instituição de 20% de área de reserva legal, exigência da então Lei nº 4.771/1965, também é feita pela Lei nº 12.651/2012 que a revogou, mas agora com a instituição de novas regras, sendo, portanto, plenamente autorizado o cômputo da área de APP na reserva legal, desde que preenchidos os requisitos do art. 15 da aludida lei. Ademais, a área de reserva legal pode ser utilizada sob regime de manejo florestal sustentável, conforme preceitua o art. 20 da atual lei, sendo que sua localização deve ser aprovada pelo órgão ambiental competente e, quanto à regularização, esta poderá se dar na forma de recomposição, permissão de regeneração natural ou compensação (art. 66), atentando-se para os novos prazos con-cedidos para a recuperação e realização da reserva legal (arts. 29 e seguintes do Novo Código Florestal). II – Dispõe expressamente o Código Florestal (Lei nº 12.651/2012, com redação dada pela Lei nº 12.727/2012) que a reserva legal deve ser registrada tão somente no CAR (Cadastro Ambiental Rural) e que tal registro desobriga a averbação no Cartório de Registro de Imóveis. Assim, quanto à obrigação voltada ao registro da área de reserva legal no cadastro imobiliário por meio da averbação, procedimento que se reputava como necessário com o fim de permitir a fiscalização da manutenção e preser-vação de tal área contida nos imóveis rurais, vê-se que não mais é exigida em função das recentes publicações do Decreto nº 8.235, de 5 de maio de 2014, e da Instrução Norma-tiva nº 2/MMA, de 6 de maio de 2014, que estabelecem procedimentos a serem adotados para a inscrição, registro, análise e demonstração das informações ambientais sobre os imóveis rurais no Cadastro Ambiental Rural – CAR, bem como para a disponibilização e integração dos dados no Sistema de Cadastro Ambiental Rural – Sicar, registro público

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eletrônico de âmbito nacional, de forma a instrumentalizar as normas contidas na Lei nº 12.651/2012.” (TJSP – Ap 0004193-35.2010.8.26.0543 – Santa Isabel – 2ª C.Res.MA – Rel. Paulo Ayrosa – DJe 09.09.2014 – p. 1492)

2513 – Cadastro ambiental rural – área de preservação permanente – recomposição e reflorestamento – necessidade

“Apelação cível. Ação civil pública. Área de preservação permanente. Exploração de atividade econômica. Inadmissibilidade. Registro da área do Cadastro Ambiental Rural – CAR. Recomposição e reflorestamento. Necessidade. Extensão da área a ser reflorestada. Código Florestal. Pagamento de custas em ação civil pública. Isenção do autor. Conde-nação ao pagamento de honorários advocatícios em favor do Ministério Público. Im-possibilidade. Prequestionamento. I – Mostra-se desarrazoado o exercício de atividades econômicas que impliquem em utilização da área de preservação permanente do Rio Corumbá, por ser evidente a necessidade de proteção ao meio ambiente naquela loca-lidade, devendo prevalecer, em casos tais, o princípio constitucional do direito ao meio ambiente equilibrado e a própria função socioambiental da cidade. II – Presentes nos autos provas robustas que apontam os danos causados ao meio ambiente, deve ser defe-rida a tutela específica que o caso requer, devendo o requerido/apelante ser obrigado a promover a recuperação e reflorestamento da área, devendo prevalecer, em casos tais, o princípio constitucional do direito ao meio ambiente equilibrado. III – A recomposição da área degradada deve ser realizada nas faixas marginais de cinco metros, contados da borda da calha do leito regular do Rio Corumbá. IV – A inscrição no CAR – Cadastro Ambiental Rural não suprime a obrigação de recuperação ambiental da área, nem a ausência de reserva legal, posto que referido cadastro ainda não se encontra em pleno funcionamento no estado de Goiás. V – A obrigação de reparação do dano ambiental é propter rem, ou seja, o atual proprietário é responsável pelo reflorestamento da área, ainda que o dano tenha sido provocado pelo antigo dono. VI – Na Ação Civil Pública, está a parte autora isenta do adiantamento de custas e ao pagamento de honorários ad-vocatícios, salvo comprovada má-fé. A regra é aplicável somente ao requerente da Ação Civil Pública, inexistindo isenção em relação ao requerido, ora apelante. VII – A juris-prudência do superior tribunal é firme no sentido de que, no bojo de Ação Civil Pública, não cabe a condenação da parte vencida ao pagamento de honorários advocatícios em favor do ministério público. VIII – O magistrado não precisa esmiuçar todos os dispo-sitivos legais indicados pela parte, bastando que demonstre as razões de seu convenci-mento, sendo certo que o imprescindível é a análise, pelo órgão jurisdicionado, de toda a matéria aventada no recurso. Apelo conhecido e parcialmente provido.” (TJGO – AC 201192488563 – 2ª C.Cív. – Rel. Des. Carlos Alberto Franca – DJe 09.06.2016 – p. 181)

2514 – Cadastro ambiental rural – área de preservação permanente na reserva legal – consideração do art. 67 do Código Florestal – possibilidade

“Ação civil pública ambiental. Pretenso reconhecimento de inconstitucionalidade de dispositivos legais contidos na Lei nº 12.651/2012. Impertinência. Ajuizamento sob ale-gação de ausência de instituição de reserva legal. Regras autoaplicáveis. Possibilidade de cômputo da área de preservação permanente na reserva legal (art. 15 do Código Flores-

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tal vigente). Instituição e regulamentação do cadastro ambiental rural previsto no novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), por meio do Decreto nº 8.235, de 05.05.2014, e da Instrução Normativa nº 2/MMA, de 06.05.2014. Consideração do art. 67 do Códi-go Florestal. Possibilidade, mas condicionada à apreciação pelo órgão ambiental com-petente. Recurso não provido. I – Deve ser reconhecida a impertinência da alegação quanto à inconstitucionalidade de dispositivos do novo Código Florestal vigente (Lei nº 12.651/2012, com redação dada pela Lei nº 12.272/2012), tornando-se descabido, assim, o controle difuso pretendido. II – A instituição de 20% de área de reserva legal, exigência da então Lei nº 4.771/1965, também é feita pela Lei nº 12.651/2012 que a revogou, mas agora com a instituição de novas regras, mostra-se plenamente autorizado o cômputo da área de APP na reserva legal, desde que preenchidos os requisitos do art. 15 da aludida lei. E, quanto à regularização, esta poderá se dar na forma de recom-posição, permissão de regeneração natural ou compensação (art. 66). Reconhece-se, também, a eventual aplicação dos arts. 66/68 da lei, mas condicionada à análise perante o órgão ambiental competente, à luz do projeto a ser regularmente apresentado. III – Dis-põe expressamente o Código Florestal (Lei nº 12.651/2012, com redação dada pela Lei nº 12.727/2012) que a reserva legal deve ser registrada tão somente no CAR (Cadastro Ambiental Rural) e que tal registro desobriga a averbação no Cartório de Registro de Imóveis, ato não mais exigido em função das recentes publicações do Decreto nº 8.235, de 5 de maio de 2014, e da Instrução Normativa nº 2/MMA, de 6 de maio de 2014, que estabelecem procedimentos a serem adotados para a inscrição, registro, análise e de-monstração das informações ambientais sobre os imóveis rurais no Cadastro Ambiental Rural – CAR, bem como para a disponibilização e integração dos dados no Sistema de Cadastro Ambiental Rural – Sicar, registro público eletrônico de âmbito nacional, de forma a instrumentalizar as normas contidas na Lei nº 12.651/2012. IV – A regra prevista no art. 67 da nova lei florestal, que exclui da abrangência do art. 12 do mesmo Codex os imóveis rurais que possuam até quatro módulos fiscais, deverá ser verificada pelo órgão ambiental competente quando da apresentação do projeto de recuperação ambiental.” (TJSP – Ap 0000720-87.2015.8.26.0083 – Aguaí – 2ª C.Res.MA – Rel. Paulo Ayrosa – DJe 19.12.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESELei Federal nº 12.651/2012 (Código Florestal):

“Art. 67. Nos imóveis rurais que detinham, em 22 de julho de 2008, área de até 4 (quatro) módulos fiscais e que possuam remanescente de vegetação nativa em percentuais inferiores ao previsto no art. 12, a Reserva Legal será constituída com a área ocupada com a vegetação nativa existente em 22 de julho de 2008, vedadas novas conversões para uso alternativo do solo.”

2515 – Cadastro ambiental rural – área de reserva florestal legal – obrigação de con-servar 20% da área do imóvel rural com vegetação nativa – descumprimento

“Apelação cível. Ação civil pública. Meio ambiente. Área de reserva florestal legal. Des-cumprimento da obrigação de conservar 20% da área do imóvel rural com vegetação nativa, de acordo com o art. 12 da Lei Federal nº 12.651/2012 (novo Código Florestal).

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Inscrição no cadastro ambiental rural possível, no âmbito do Estado do Paraná, a partir da Portaria nº 097/2014 do IAP. Descabimento da condenação em honorários advoca-tícios em favor do Ministério Público. Enunciado nº 02 das Câmaras de Direito Público deste Tribunal. Recurso parcialmente provido. (1) A partir da Portaria nº 097/2014, de 26.05.2014, do Instituto Ambiental do Paraná – IAP, as inscrições no Cadastro Ambiental Rural – CAR podem ser efetuadas no endereço eletrônico do Sistema de Cadastro Am-biental Rural – Sicar, de acordo com o § 3º do art. 29 da Lei Federal nº 12.651/2012 e do art. 1º do Decreto Estadual nº 8.680/2013. Com isso, não é mais necessária a averbação da reserva florestal legal na matrícula do imóvel rural, de acordo com o art. 18 da Lei Federal nº 12.651/2012 (novo Código Florestal). (2) ‘Em sede de Ação Civil Pública, a condenação do Ministério Público ao pagamento de honorários advocatícios somente é cabível na hipótese de comprovada e inequívoca má-fé; dentro de absoluta simetria de tratamento e à luz da interpretação sistemática do ordenamento jurídico, não pode o parquet beneficiar-se dessa verba, quando for vencedor na Ação Civil Pública’ (Enun-ciado nº 02 das Câmaras de Direito Público deste Tribunal).” (TJPR – AC 1236135-6 – 5ª C.Cív. – Rel. Des. Adalberto Jorge Xisto Pereira – DJe 15.07.2015 – p. 109)

Transcrição Editorial SÍNTESELei Federal nº 12.651/2012:

“Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos previstos no art. 68 desta Lei:

I – localizado na Amazônia Legal:

a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;

b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;

c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais;

II – localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).”

2516 – Cadastro ambiental rural – assentamento – regularização ambiental – respon-sabilidade – Incra – caracterização

“Remessa necessária. Mandado de segurança. Assentamento. Fazenda Georgina. Re-gularização ambiental. Cadastro Ambiental Rural – CAR. Inscrição. Responsabilidade. Incra. Segurança parcialmente concedida. Remessa necessária desprovida. 1. Trata-se de Remessa Necessária em Mandado de Segurança impetrado por Merilo Moreira Silva em face do Superintendente Regional do Incra/ES, tendo o MM. Juízo de origem conce-dido parcialmente a segurança para determinar que a autoridade impetrada proceda à regularização ambiental do lote de assentamento da Fazenda Georgina, providenciando o registro da Reserva Legal junto aos órgãos de controle ambiental competentes, bem como identificando as Áreas de Preservação Permanente e, caso exista, as Áreas de Uso Restrito, no prazo de 90 dias. 2. O impetrante é assentado no Projeto de Assentamento Fazenda Georgina, onde desenvolve atividades rurais em regime de economia familiar no lote/gleba/parcela rural nº 40, que lhe foi destinada desde 12.11.1986. 3. A respon-sabilidade pelo Cadastro Ambiental Rural – CAR dos assentamentos de reforma agrária

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é do Incra, em virtude dele possuir a titularidade das terras assentadas. Somente com o registro é possível exigir que o imóvel cumpra a sua função social e se torne viável ao cultivo. 4. Segurança parcialmente concedida. 5. Remessa Necessária desprovida.” (TRF 2ª R. – REO 0000001-96.2012.4.02.5003 – 6ª T.Esp. – Rel. Theophilo Miguel – DJe 23.10.2017 – p. 538)

2517 – Cadastro ambiental rural – cadastro – licença ambiental – configuração

“Ambiental. Processual civil. Embargos de declaração. Omissão. Ato jurídico perfeito. Ação antrópica consolidada. Condição do infrator. Licença ambiental. Inscrição no CAR. Provimento parcial. 1. Embargos de declaração opostos pela Usina Bulhões e pelo Insti-tuto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais – Ibama, em face de Acórdão prolatado pela Primeira Turma desta Corte que, por unanimidade, deu parcial provimen-to à remessa oficial e às apelações. 2. A Companhia Usina Bulhões alega que o Acórdão restou omisso quanto à fundamentação para afastar o ato jurídico perfeito. Ocorre que, de fato, a decisão foi omissa ao se ater apenas à análise do direito adquirido e não argu-mentar acerca do ato jurídico perfeito. 3. Consta dos autos que a demandada vem exer-cendo a atividade de cultivo de cana-de-açúcar na Área de Reserva Legal antes e durante a vigência do novo Código Florestal (Lei nº 12.727/2012). Na hipótese em exame, ainda que se considere o fato da atividade de cultivo de cana-de-açúcar estar sendo exercida pela demandada na região objeto desta lide antes mesmo da vigência do já revogado Código Florestal (Lei nº 4.771/1965), não há que se falar em direito adquirido ou ato ju-rídico perfeito, pois, em se tratando de atividade lesiva ou potencialmente lesiva ao meio ambiente, não se pode admitir a perpetuação desse ilícito no tempo, pena de por em risco a própria coerência do ordenamento jurídico vigente. 4. Entende-se não prosperar a existência de omissão no que diz respeito à ocupação antrópica consolidada. O Acórdão é nítido ao explicar ser desarrazoado perquirir quem causou o dano ambiental, se o atual proprietário ou os anteriores, sendo esse entendimento Precedente do STJ. Da mesma forma, não existe omissão no que concerne à condição de infrator da ora embargante. O Acórdão é suficientemente claro em tal aspecto. 5. Sustenta, também, a Usina recorrente que o Acórdão se mostra omisso quanto à análise de determinados documentos juntados aos autos, especialmente às fls. 208 e 254. Contudo, entende-se não haver omissão a ser sanada. Analisando a decisão embargada, percebe-se que houve enfrentamento da documentação. 6. De acordo com o Acórdão embargado, verifica-se que a licença am-biental versa sobre a ‘Fabricação e Refino do Açúcar e Produção de Álcool’, não versan-do sobre as atividades agrícolas. Nesse sentido, depreende-se que a validade da licença abrange apenas às atividades de fabricação e refino do açúcar e produção de álcool, mas não é válida para as atividades agrícolas. Portanto, qualquer atividade agrícola exercida não era regular. 7. O Ibama, em suas razões recursais, alega que o Acórdão se mostra obscuro no que diz respeito à condenação da empresa ré de demarcar e registrar junto à CPRH, no âmbito do Cadastro Ambiental Rural, a exata localização das Áreas de Reserva Legal, pois o Acórdão embargado afirma que a inscrição no CAR não pode ser exigida ‘de imediato’. De fato, assiste razão à ora embargante. As Áreas de Reserva Legal devem ser registradas no CAR, como previsto no Novo Código Florestal, até dezembro de 2017,

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de acordo com o prazo estipulado pela Lei nº 13.335/2016. 8. Embargos de declaração da Companhia Usina Bulhões conhecidos, para suprir a omissão apontada, devendo ser negado provimento quanto ao mérito. Embargos de declaração do Ibama providos.” (TRF 5ª R. – Ap-Reex 2008.83.00.012464-2/01 – (33280/PE) – 1ª T. – Rel. Des. Fed. Élio Wanderley de Siqueira Filho – DJe 17.08.2017 – p. 60)

2518 – Cadastro ambiental rural – danos ambientais – reparação – configuração

“Agravo de instrumento. Suspensão do curso da ação civil pública tem por objeto a reparação de danos ambientais, à conta da prorrogação por 1 (um ano) do prazo para a inscrição no Cadastro Ambiental Rural – CAR (Decreto nº 8.235/2014), além de ‘pos-sível’ regularização ambiental da área objeto da ação. Generosa expectativa que não encontra amparo no texto legal. Recurso provido para determinar o prosseguimento do feito. 1. Até conceitualmente, o processo é um ‘caminhar para a frente’ e por isso a pa-ralisação da demanda só é possível nos estritos casos em que a lei permite. A propósito, Cândido Rangel Dinamarco (Instituições de direito processual civil. 4. ed. São Paulo: Malheiros Editores, v. III, p. 147) chama atenção para o fato de o processo civil brasileiro desconhecer o instituto da interrupção do processo, contemplado no direito italiano. 2. As regras gerais para suspensão do processo abrigam-se no art. 265 do CPC/1973 (atual art. 313 do CPC/2015), havendo outras no próprio corpo do CPC e ainda na legis-lação extravagante. 3. Sucede que na singularidade do caso o d. Magistrado entendeu ser cabível a suspensão da instância à conta de ‘possível’ regularização ambiental da pro-priedade descrita nos autos, nos termos e prazos do art. 59 da Lei nº 12.651/2012. Não há onde alojar no texto legal a razão de direito que possa sustentar a r. decisão a qua. 4. A situação noticiada na petição inicial da Ação Civil Pública é grave e seu desfecho vem sendo postergado ao menos desde agosto de 2013, data da primeira decisão que suspendeu o curso da ação sob o fundamento de que, em tese, seria possível a regula-rização da área ocupada, em que pese a manifesta resistência da parte autora. 5. Nesse cenário, não há como sustar o trâmite da demanda, devendo o feito prosseguir e o d. Magistrado proceder como entender cabível quanto aos postulados e pleitos das partes. 6. Agravo de instrumento provido.” (TRF 3ª R. – AI 0021830-75.2015.4.03.0000/SP – 6ª T. – Rel. Des. Fed. Johonsom Di Salvo – DJe 28.06.2016 – p. 509)

Comentário Editorial SÍNTESEO acórdão em comento trata de agravo de instrumento interposto pelo Ministério Pú-blico Federal contra decisão que determinou o sobrestamento da ação civil pública ambiental pelo prazo de um ano, nos seguintes termos:

“Tendo em vista o que consta no Decreto nº 8.235, publicado em 05.05.2014, bem como o que restou determinado na Portaria nº 100, de 04.05.2015, do Ministério do Meio Ambiente, que prorrogou por 1 (um ano) o prazo para a inscrição no Ca-dastro Ambiental Rural – CAR, contado de 05 de maio de 2015, bem como o fato de que ainda existe a possibilidade de regularização ambiental da área objeto desta ação, determino nova suspensão do andamento deste feito, até o dia 05.05.2016.

As partes envolvidas, caso seja efetivado o CAR, bem como a regularização ambien-tal, deverão comunicar imediatamente este juízo.

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Arquivem-se os autos em Secretaria, com baixa sobrestado, até o dia 05.05.2016.

Decorrido o prazo da suspensão ou havendo a regularização ambiental da área, abra-se vista ao MPF, para a retomada da marcha processual.

Vista ao MPF.”

Consta dos autos que a ação originária, tinha por objetivo a reparação de danos ambientais, decorrentes de ocupação humana em área de preservação permanente, correspondente à área de 100 metros do nível máximo do reservatório de acumula-ção de água para geração de energia elétrica da Usina Hidrelétrica.

Sustentou o Ministério Público Federal ser impossível a regularização da ocupação da referida área, pois são inaplicáveis ao caso dos arts. 59 e 61-A, ambos da Lei nº 12.651/2012 (Novo Código Florestal).

Aduziu que já se passaram cerca de oito anos do ajuizamento da ação, e a ocupação irregular continua causando danos irreparáveis ao meio ambiente.

Foi deferida a suspensão dos efeitos da interlocutória agravada, para que o feito prossiga e o d. Magistrado proceda como entender cabível.

Assim, em seu voto o nobre Relator entendeu:

“[...]

Até conceitualmente, o processo é um ‘caminhar para a frente’ e por isso a parali-sação da demanda só é possível nos estritos casos em que a lei permite. A propósi-to, Cândido Rangel Dinamarco (Instituições de direito processual civil. 4. ed. São Paulo: Malheiros Editores, v. III, p. 147) chama atenção para o fato de o processo civil brasileiro desconhecer o instituto da interrupção do processo, contemplado no direito italiano.

As regras gerais para suspensão do processo abrigam-se no art. 265 do CPC/1973 (atual art. 313 do CPC/2015), havendo outras no próprio corpo do CPC e ainda na legislação extravagante.

Sucede que na singularidade do caso o d. Magistrado entendeu ser cabível a sus-pensão da instância à conta de ‘possível’ regularização ambiental da propriedade descrita nos autos, nos termos e prazos do art. 59 da Lei nº 12.651/2012.

Trata-se a meu sentir de generosa expectativa do nobre Juiz Federal, que pode ou não ser realizada, e a dúvida se resolve em favor da Jurisdição e não contra a pres-tação jurisdicional.

Não vejo onde alojar no texto legal a suposta razão de direito que sustentaria a r. decisão a qua.

A situação noticiada na petição inicial da ação civil pública é grave e seu desfecho vem sendo postergado ao menos desde agosto de 2013, data da primeira decisão que suspendeu o curso da ação sob o fundamento de que, em tese, seria possível a regularização da área ocupada, em que pese a manifesta resistência da parte autora.

Nesse cenário, não vejo como sustar o trâmite da demanda, que deve prosseguir rumo a um desfecho sob pena de negativa de jurisdição.

Ante o exposto, voto por dar provimento ao agravo de instrumento.”

Por todo o exposto, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região deu provimento ao agravo de instrumento.

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2519 – Cadastro ambiental rural – desapropriação – reforma agrária – reserva legal – ausência de má-fé – configuração

“Constitucional e administrativo. Processual civil. Desapropriação para fins de reforma agrária. Anulação do processo administrativo expropriatório. Reserva legal. Averbação. CAR – Cadastro Ambiental Rural. Juntada de documento posterior. Ausência de má-fé. Observância do contraditório. Possibilidade. 1. A sentença, ante a ausência de averba-ção cartorária da parcela de reserva legal superior ao percentual de 20% (vinte por cento) já averbado, determinou que a área não averbada integrasse o cálculo previsto pelo art. 6º, § 1º, da Lei nº 8.629/1993, concluindo pela natureza jurídica de grande propriedade improdutiva das terras em questão. 2. Os expropriados trouxeram aos autos, junto com os embargos de declaração opostos na ação expropriatória, o Cadastro Ambiental Rural – CAR expedido em maio de 2011. Ressaltaram que o pedido de registro e individualiza-ção da área de reserva legal foi protocolado em junho de 2006 – antes do ajuizamento da ação de desapropriação em agosto de 2006 e antes realização da pericia ocorrida em abril de 2010. 4. A jurisprudência é no sentido de que o registro da Reserva Legal no CAR desobriga a averbação no Cartório de Registro de Imóveis. 5. ‘A jurisprudência desta Corte admite a relativização da regra do art. 396 do Código de Processo Civil de 1973, predominando o entendimento de que inexistindo má-fé ou intenção de surpreender o juízo, é possível a juntada de documentos aos autos a qualquer tempo, desde que não sejam aqueles indispensáveis para a propositura da ação e que tenha sido respeitado o contraditório. Precedentes’ (STJ, AgRg-REsp 1571907/MT, 3ª T.,Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe de 20.06.2016). 6. O imóvel em questão é uma grande propriedade rural produtiva, não se mostrando juridicamente possível, no âmbito do tratamento que a Constituição Federal vigente deu à propriedade produtiva, cogitar de sua desapropria-ção por interesse social para fins de reforma agrária. 7. Apelação provida para anular o processo administrativo e declarar o imóvel em questão imune ao processo de de-sapropriação por interesse social, com inversão no ônus da sucumbência.” (TRF 1ª R. – AC 2004.36.00.008859-1 – Rel. Des. Ney Bello – J. 22.03.2017)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 8.629/1993:

“Art. 6º Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada econômica e ra-cionalmente, atinge, simultaneamente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo índices fixados pelo órgão federal competente.

§ 1º O grau de utilização da terra, para efeito do caput deste artigo, deverá ser igual ou superior a 80% (oitenta por cento), calculado pela relação percentual entre a área efetivamente utilizada e a área aproveitável total do imóvel.”

2520 – Cadastro ambiental rural – desmatamento de área com vegetação nativa – dano e nexo de causalidade – comprovação

“Reexame necessário e apelação cível. Julgamento antecipado da lide. Cerceamento de defesa. Não ocorrência. Alegações que não especificam o fato que se pretendia compro-var e tampouco demonstram o prejuízo experimentado. Prefacial afastada. ‘A existência do prejuízo deve ser concreta e devidamente evidenciada. A mera intervenção genérica

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de que se violou o direito de defesa em juízo, não satisfaz nem supre a exigência de indicar [...] qual é o prejuízo sofrido, as defesas de que se viu privado ou as provas que não pôde produzir’ (KOMATSU, Roque. Da invalidade no processo civil. São Paulo: RT, 1991, p. 241-242). Ação civil pública. Ambiental. Bem coletivo e de uso comum do povo (art. 225 da CRFB/1988). Desmatamento de área com vegetação nativa. Dano e nexo de causalidade amplamente comprovados. Reparação da área degradada. Obri-gação do agente poluidor. Norberto Bobbio, em meados da década de 80, já prenun-ciava a imanência do direito ao ambiente equilibrado e sadio, como direito do homem, quando afirmava: ‘nos movimentos ecológicos, está emergindo quase que um direito da natureza a ser respeitada ou não explorada, onde as palavras “respeito” e “exploração” são exatamente as mesmas usadas tradicionalmente na definição e justificação dos di-reitos do homem’ (A era dos direitos. Trad. de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1992. p. 69). No Brasil é possível constatar, pois, o status que a Constituição Federal conferiu ao direito ambiental, elevando-o ao nível de bem coletivo e de uso comum do povo, nos termos do seu art. 225. O conjunto probatório contido nos autos demonstra, de forma cristalina, a correlação entre a ação do ora recorrente. Nexo de causalidade. E os danos causados ao meio ambiente, tendo em vista que este promo-veu desmatamento em área composta por vegetação nativa, o que, de conseguinte, o obriga a reparar a área degradada. Registro da área no Cadastro Ambiental Rural – CAR. Providência regulamentada pelo Decreto Estadual nº 2.219/2014. ‘Com a edição do Decreto nº 2.219, publicado em 04.06.2014, o Cadastro Ambiental Rural foi regula-mentado no Estado de Santa Catarina, passando não mais a subsistir a obrigatoriedade da averbação da reserva legal na matrícula no cartório de registro de imóveis’ (Apelação Cível nº 0005619-88.2013.8.24.0040, de Laguna, Rel. Des. Francisco Oliveira Neto, J. 25.04.2017). Dano moral ambiental. Possibilidade. Ausência, na hipótese, dos requi-sitos que autorizam a indenização. Sentença reformada nesse ponto. A hipótese não alberga a possibilidade de indenização, isso porque, o ilícito ambiental não ocasionou reflexos à coletividade de forma significativa a ensejar a condenação por danos morais coletivos. A supressão de vegetação nativa, nesse caso, não têm o condão de ocasionar sofrimento psíquico coletivo. Confira-se, a propósito, o seguinte julgamento: Apelação Cível nº 0003188-34.2014.8.24.0012, de Caçador, Rel. Des. Francisco Oliveira Neto, J. 02.05.2017. Recurso parcialmente provido e remessa desprovida.” (TJSC – AC 0001840-20.2013.8.24.0075 – Rel. Des. Sérgio Roberto Baasch Luz – J. 18.07.2017)

2521 – Cadastro ambiental rural – imóvel rural – atribuição – município – art. 29, § 1º do novo Código Florestal – aplicabilidade

“Apelação cível. Ambiental. Ação civil pública. Imóvel rural. Cadastro ambiental ru-ral. Atribuição. Município. Art. 29, § 1º do novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012). Apelação conhecida e desprovida. 1. Aduz o município recorrente que o Cadastro Am-biental Rural – CAR, que constitui um registro eletrônico de informações ambientais do imóvel rural nas Áreas de Preservação Permanente – APP, é atribuição do Estado, recaindo sobre a união e o município a função de tão somente anuir com a autorização estatal, quando assim demandar o caso concreto. 2. Com efeito, novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) criou o cadastro ambiental rural (art. 29) que consiste no registro

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eletrônico de âmbito nacional, no Sistema Nacional de Informação Sobre o Meio Am-biente – Sinima, com a finalidade de integrar as informações ambientais das proprieda-des e posses rurais, compondo a base de dados com vistas ao controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento, visando promover e apoiar a regularidade ambiental de imóveis rurais para a recuperação de áreas de preservação permanente. 3. Nesse contexto, o art. 29, § 1º, do novo Código Florestal, dispõe que a inscrição do imóvel rural no Cadastro Ambiental Rural – CAR deverá ser feita, preferencialmente, no órgão ambiental municipal ou estadual, de sorte que, a tese do apelante concernente a sua não atribuição quanto ao registro eletrônico de informa-ções ambientais do imóvel rural nas Áreas de Preservação Permanente – APP, ou seja, o CAR, sob a fundamentação de ser competência do Estado, prescinde amparo legal. 4. Apelação conhecida e desprovida.” (TJCE – Ap 0002471-86.2012.8.06.0046 – Relª Maria Iraneide Moura Silva – DJe 24.05.2016 – p. 13)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 12.651/2012:

“Art. 29. É criado o Cadastro Ambiental Rural – CAR, no âmbito do Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente – Sinima, registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.

§ 1º A inscrição do imóvel rural no CAR deverá ser feita, preferencialmente, no órgão ambiental municipal ou estadual, que, nos termos do regulamento, exigirá do proprietário ou possuidor rural:

I – identificação do proprietário ou possuidor rural;

II – comprovação da propriedade ou posse;

III – identificação do imóvel por meio de planta e memorial descritivo, contendo a indicação das coordenadas geográficas com pelo menos um ponto de amarração do perímetro do imóvel, informando a localização dos remanescentes de vegetação nativa, das Áreas de Preservação Permanente, das Áreas de Uso Restrito, das áreas consolidadas e, caso existente, também da localização da Reserva Legal.”

2522 – Cadastro ambiental rural – inscrição – área de reserva legal – obrigatoriedade de averbação – configuração

“Reexame necessário. Direito ambiental. Ação civil pública. Averbação de área de re-serva legal. Inscrição no cadastro ambiental rural após a citação. Reconhecimento ex-trajudicial do pedido. Novo Código Florestal. Obrigatoriedade da averbação no registro de imóveis ou inscrição no Cadastro Ambiental Rural – CAR. 1. O novo Código Florestal apenas substituiu a averbação da área de reserva legal na matrícula do imóvel pelo regis-tro da referida área no Cadastro Ambiental Rural – CAR sem, contudo, extinguir a obri-gatoriedade da instituição e da preservação da reserva legal, sendo certo que a edição da nova lei não acarretou em retrocesso socioambiental, por não reduzir a proteção dos direitos ambientais. 2. A prática de ato extrajudicial em contradição com a defesa apre-

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sentada na contestação, em razão da inscrição do imóvel no CAR – Cadastro Ambien-tal Rural, implica no reconhecimento implícito do pedido inicial e, consequentemente, na sua procedência.” (TJMG – AC 1.0016.15.011603-2/001 – 4ª C.Cív. – Rel. Renato Dresch – DJe 20.02.2018)

2523 – Cadastro ambiental rural – registro de reserva legal – imposição de multa – art. 645 do CPC – desnecessidade

“Agravo de instrumento. Despacho de mero expediente. Não configuração. Justiça gra-tuita. Preparo. Ato incompatível. Execução da obrigação de fazer. Termo de ajustamento de conduta. Registro de reserva legal. Cadastro Ambiental Rural – CAR. Imposição de multa. Art. 645 do CPC. Desnecessidade. Os atos que impulsionam o processo não cau-sando nenhum prejuízo a qualquer das partes é irrecorrível, segundo exegese do art. 504 do Código de Processo Civil. São atos sem quaisquer conteúdos decisórios onde nada é decido. O requerimento da justiça gratuita realizada na petição recursal tem o condão de eximir o recorrente do preparo imediatamente, sob pena de realizar ato incompatível com a alegada hipossuficiência. Da leitura do art. 18, § 4º da Lei Federal nº 12.651, de 25 de maio de 2012, o novo Código Florestal, que apenas houve a modificação da forma do registro da reserva legal não tendo sido retirada a obrigação de sua manutenção. É desarrazoado fixar a multa com fulcro no art. 645 do Código de Processo Civil porque a sanção disposta no TAC já exerce a função de compelir os agravantes ao cumprimento da obrigação assumida.” (TJMG – AI-Cv 1.0701.14.013668-3/001 – 8ª C.Cív. – Relª Ângela de Lourdes Rodrigues – DJe 13.06.2016)

Transcrição Editorial SÍNTESELei Federal nº 12.651/2012:

“Art. 18. A área de Reserva Legal deverá ser registrada no órgão ambiental compe-tente por meio de inscrição no CAR de que trata o art. 29, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, ou de desmembra-mento, com as exceções previstas nesta Lei.

[...]

§ 4º O registro da Reserva Legal no CAR desobriga a averbação no Cartório de Re-gistro de Imóveis, sendo que, no período entre a data da publicação desta Lei e o registro no CAR, o proprietário ou possuidor rural que desejar fazer a averbação terá direito à gratuidade deste ato.”

2524 – Cadastro ambiental rural – reserva legal – comprovante de ITR – dúvida regis-trária – art. 198 da Lei de Registros Públicos – cabimento

“Agravo de instrumento. Expedição de novo mandado de penhora. Exigências cartorá-rias. Reserva legal. Cadastro ambiental rural. Comprovante de ITR. Dúvida registrária. Art. 198 da Lei de Registros Públicos. Competência do juiz da Vara de Registros Públi-cos. 1. Deve o agravante formular requerimento junto ao oficial, com a declaração de dúvida, para que o juízo competente decida sobre o inconformismo do agravante ou caso seja impossível cumprir as exigências trazidas. 2. Com base na Lei de Organização Judiciária do Distrito Federal e Territórios, Lei nº 11.697/2008, o juiz de registros públi-

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cos é competente para processar e julgar as questões contenciosas e administrativas re-lativas ao atos de registros públicos e notariais, portanto competente para dirimir dúvida acerca das exigências do oficial para registro da penhora. 3. Decisão mantida.” (TJDFT – AI 20130020240075 – (743119) – Relª Desª Gislene Pinheiro – DJe 16.12.2013 – p. 101)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 6.015/1973 (Lei de Registros Públicos):

“Art. 198. Havendo exigência a ser satisfeita, o oficial indicá-la-á por escrito. Não se conformando o apresentante com a exigência do oficial, ou não a podendo satisfazer, será o título, a seu requerimento e com a declaração de dúvida, remetido ao juízo competente para dirimi-la, obedecendo-se ao seguinte:

I – no Protocolo, anotará o oficial, à margem da prenotação, a ocorrência da dúvida;

Il – após certificar, no título, a prenotação e a suscitação da dúvida, rubricará o oficial todas as suas folhas;

III – em seguida, o oficial dará ciência dos termos da dúvida ao apresentante, for-necendo-lhe cópia da suscitação e notificando-o para impugná-la, perante o juízo competente, no prazo de 15 (quinze) dias;

IV – certificado o cumprimento do disposto no item anterior, remeter-se-ão ao juízo competente, mediante carga, as razões da dúvida, acompanhadas do título.”

2525 – Cadastro ambiental rural – usucapião – imóvel rural sem matrícula – registro da sentença – delimitação da reserva legal ambiental – necessidade

“Recurso especial. Civil e ambiental. Usucapião. Imóvel rural sem matrícula. Registro da sentença. Necessidade de delimitação da reserva legal ambiental. Registro no Cadastro Ambiental Rural – CAR. Novo Código Florestal. 1. Controvérsia acerca da possibilida-de de se condicionar o registro da sentença de usucapião de imóvel sem matrícula à averbação da reserva legal ambiental. 2. ‘É possível extrair do art. 16, § 8º, do Código Florestal que a averbação da reserva florestal é condição para a prática de qualquer ato que implique transmissão, desmembramento ou retificação de área de imóvel sujeito à disciplina da Lei nº 4.771/1965’ (REsp 831.212/MG, DJe 22.09.2009). 3. Extensão desse entendimento para a hipótese de aquisição originária por usucapião, aplicando-se o princípio hermenêutico in dubio pro natura. 4. Substituição da averbação no Cartó-rio de Registro de Imóveis pelo registro no Cadastro Ambiental Rural – CAR, por força do novo Código Florestal. 5. Adaptação do entendimento desta Corte Superior à nova realidade normativa, mantida a eficácia da norma protetiva ambiental. 6. Necessidade de prévio registro da reserva legal no CAR, como condição para o registro da sentença de usucapião no Cartório de Registro de Imóveis. 7. Recurso especial provido.” (STJ – REsp 1.356.207 – (2012/0251709-6) – 3ª T. – Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino – DJe 07.05.2015 – p. 1683)

Destaque Editorial SÍNTESEDo voto do Relator destacamos:

“[...]

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O Ministério Público Federal opinou favoravelmente à exigência de averbação, em bem lançado parecer, que transcrevo como parte das razões de decidir, litteris:

Uma das características do imóvel rural é a existência de uma reserva legal, con-forme já dispunha o art. 16 da Lei nº 4.771/1965, e reafirma o art. 12 da Lei nº 12.651/2012. A reserva legal ostenta natureza propter rem, ou seja, é inerente ao direito de propriedade ou posse de bem imóvel rural. Constitui obrigação de todo e qualquer proprietário ou possuidor de imóvel rural, já que adere ao título de ou à posse. (cf. AgRg-REsp 1367968/SP, Rel. Min. Humberto Martins).

A reserva legal, portanto, é uma das características intrínsecas ao direito de proprie-dade ou posse de imóvel rural, e constitui uma limitação administrativa diretamente conectada com o princípio da função sócio-ambiental da propriedade.

A especialização da reserva legal é dever do proprietário, possuidor ou do adquirente do imóvel rural. In casu, tendo em vista que o recorrido adquiriu a propriedade de um imóvel rural (ainda que de forma originária, qual seja, por usucapião), deve cum-prir o disposto no Código Florestal, averbando à margem da inscrição de matrícula do imóvel, no registro imobiliário competente, a área de reserva legal.

A abertura da respectiva matrícula no Cartório de Registro Imobiliário, por sua vez, deve ficar condicionada à indicação dessa característica do imóvel rural, qual seja, a delimitação da reserva legal. Nesse sentido dispõe o art. 176, § 1º, I e II da Lei de Registros Públicos:

I – cada imóvel terá matrícula própria, que será aberta por ocasião do primeiro regis-tro a ser feito na vigência desta Lei;

II – são requisitos da matrícula:

[...]

3) a identificação do imóvel, que será feita com indicação: (Redação dada pela Lei nº 10.267, de 2001)

a. se rural, do código do imóvel, dos dados constantes do CCIR, da denominação e de suas características, confrontações, localização e área; (Incluída pela Lei nº 10.267, de 2001)

Em suma: quer na abertura de uma nova matrícula de imóvel rural, quer na modi-ficação de matrícula já existente, impõe-se a averbação da reserva legal, tendo-se em vista uma interpretação sistemática do disposto no art. 16, III e § 8º da Lei nº 4.771/1965 (agora, art. 12 do novo Código Florestal, vigente à época dos fatos) com o art. 176, § 1º, II, nº 3, a, da Lei nº 6.015/1973 (Lei dos Registros Públicos). Nesse mesmo sentido, já decidiu esse Superior Tribunal:

Direito ambiental. Pedido de retificação de área de imóvel, formulado por proprietá-rio rural. Oposição do MP, sob o fundamento de que seria necessário, antes, promo-ver a averbação da área de reserva florestal disciplinada pela Lei nº 4.771/1965. Dispensa, pelo Tribunal. Recurso especial interposto pelo MP. Provimento. É possível extrair, do art. 16, § 8º, do Código Florestal, que a averbação da reserva florestal é condição para a prática de qualquer ato que implique transmissão, desmembra-mento ou retificação de área de imóvel sujeito à disciplina da Lei nº 4.771/1965. Recurso especial provido.”

(REsp 831.212/MG, Relª Min. Nancy Andrighi, 3ª T., J. 01.09.2009, DJe 22.09.2009)

Parte Geral – Doutrina

Conversão de Multas Ambientais

JESSÉ TORRES PEREIRA JUNIORDesembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Professor Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Direito Administrativo da Escola da Magistratura e da Escola de Administração Judiciária do Estado do Rio de Janeiro, Professor visitante da Escola de Direito--Rio, da Fundação Getúlio Vargas.

THAÍS BOIA MARÇALMestranda em Direito da Cidade pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Especialista em Direito Público pela Universidade Cândido Mendes, Pós-Graduada pela Escola da Magis-tratura do Estado do Rio de Janeiro, Bacharela em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Conta-se que prestigiosa instituição cultural se empenhou na importação de uma múmia para compor o acervo de seu museu de egiptologia; todavia, enfrentava o aflitivo dissabor de ver embargado o ingresso da peça no País por-que os agentes alfandegários não conseguiam enquadrá-la em norma alguma de autorização. Desafiado a examinar a questão, veterano especialista em ad-ministração aduaneira, após compulsar as regras vigentes, encontrou a solução: a peça seria enquadrada como “carne seca”, que contava com expressa norma de admissão.

O criativo – embora um tanto macabro – chiste pretende ilustrar o apego ao exacerbado positivismo que predominou – talvez ainda impressione largo contingente de setores da Administração Pública – na aplicação do princípio da legalidade, interpretado em seu sentido estrito de que ao gestor público somente é dado fazer o que a lei expressamente determine, quedando-se paralisado à falta da norma legal.

É o que traz à memória a leitura do Decreto nº 9.179, de 23.10.2017, que, ao alterar o Decreto nº 6.514/2008, institui o Programa de Conversão de Multas Ambientais emitidas por órgãos e entidades da União, integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente – Sisnama.

Dito decreto – ato administrativo privativo de chefe de Poder Executi-vo – põe em prática o entendimento de que, mesmo no campo das sanções administrativas, à legalidade estrita sucede, no direito público pós-moderno, a juridicidade, que, a partir da supremacia da Constituição e da efetividade dos princípios, deve passar a orientar as decisões dos administradores públicos se-gundo novos paradigmas, o que inclui a dinâmica para a dosimetria da sanção,

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inspirada no raciocínio da ponderação e no senso de proporcionalidade quanto ao resultado de interesse público a obter-se.

Exatamente por isso o Decreto nº 9.179/2017 colhe importante oportu-nidade para dinamizar o norte traçado pelo art. 225 da Constituição da Repú-blica, no sentido de que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá--lo para as presentes e futuras gerações”.

O decreto ilustra o fenômeno da constitucionalização do direito admi-nistrativo, projetado em todas as Cartas Fundamentais promulgadas, no curso da segunda metade do século XX, com o fim de, traçando políticas públicas cogentes que assinam obrigações de fazer e de não fazer, fixar limites que as autoridades públicas devem respeitar em face da sociedade e dos direitos fundamentais que a embalam (individuais, sociais, econômicos, ambientais). No dizer de Luis Prieto Sanchis, festejado lente das Universidades Castilla-La Mancha e de Toledo, “se conciben tanto la Constitución y la justicia constitu-cional como los derechos fundamentales como artifícios jurídicos que cobran todo su sentido al servicio de la limitación del poder y de la garantia de la inmunidad y libertad de las personas” (Justicia Constitucional y Derechos Fun-damentales. 2. ed. Madri: Trota, 2009. p. 9).

É nessa constitucionalização que se vão plasmando os novos paradigmas do controle jurídico da gestão pública: a efetividade dos princípios a que a Administração Pública deve obediência; a explicitação compulsória dos mo-tivos do ato administrativo; o alcance da discricionariedade por controles; a processualização da atividade decisória; a responsabilidade universal dos agen-tes públicos, afastado qualquer nicho de irresponsabilidade; a consensualidade que vincula a ação administrativa às prioridades da sociedade objetivamente aferidas; a gestão sustentável dos bens e recursos públicos.

O Decreto nº 9.179/2017 introduziu no Decreto nº 6.514/2008, que dis-põe sobre infrações e sanções administrativas ao meio ambiente, estabelecendo o respectivo processo administrativo federal para sua apuração, alterações reve-ladoras do novo compromisso do direito punitivo estatal com a efetividade da reparação decorrente da imposição de sanção pecuniária, abrindo alternativa à vetusta tendência de que seria apenas mais uma fonte de receita para o Erário.

Assim não mais deve ser, sobretudo tratando-se de danos ambientais, daí o art. 143, § 1º, com a redação do Decreto nº 9.179/2017, sublinhar que, “inde-pendentemente do valor da multa aplicada, o autuado fica obrigado a reparar integralmente o dano que tenha causado”.

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A jurisprudência do Tribunal de Contas da União entendia pela possibi-lidade da conversão de multas por investimentos. Por exemplo, pode ser citado o caso em que determinada operadora de telefonia celebrou um TAC, o qual prevê a conversão de 2,199 bilhões de reais em multas aplicados pela Anatel contra a referida em 4,87 bilhões de reais em investimentos na rede da própria empresa.

No âmbito do STJ, diversos são os precedentes concluindo pela redução da multa aplicada por entidades ambientais. Confira-se:

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL – ADMINISTRATIVO E PRO-CESSUAL CIVIL – AÇÃO ORDINÁRIA OBJETIVANDO A REDUÇÃO DA MUL-TA APLICADA PELO IBAMA DECORRENTE DE INFRAÇÃO AMBIENTAL – O QUANTUM FORA ESTIPULADO EM RAZÃO DAS PECULIARIDADES DISPOS-TAS NOS AUTOS, LEVANDO EM CONSIDERAÇÃO A AUSÊNCIA DE ANTE-CEDENTES DO INFRATOR, O GRAU DE INSTRUÇÃO E A SUA SITUAÇÃO ECONÔMICA – OBSERVÂNCIA DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDA-DE – IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO DAS PREMISSAS DO ACÓRDÃO RECOR-RIDO – AGRAVO INTERNO DO IBAMA A QUE SE NEGA PROVIMENTO – 1. Nota-se dos autos que o ajuizamento da ação penal pública ambiental visava à recuperação da área degradada mediante o plantio de mudas nativas, bem como à condenação com o pagamento de multa. 2. A fixação da multa fora estipulada de acordo com as peculiaridades do caso concreto, em especial, considerando a baixa capacidade econômica do infrator, em respeito aos princípios da razoa-bilidade e proporcionalidade. Assim, mostra-se inviável, em sede de recurso es-pecial, a análise de tais premissas fáticas, pois demandaria necessariamente a incursão no acervo fático-probatório dos autos. Súmula nº 7/STJ. 3. Agravo inter-no do Ibama a que se nega provimento. (AgInt-REsp 1371298/SC, 1ª Turma, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, J. 09.03.2017, DJe 20.03.2017 – os grifos não constam do original)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL – PENAL E PROCESSO PE-NAL – PARCELAMENTO OU LOTEAMENTO IRREGULAR DO SOLO URBANO (ART. 50, INCISO I, E PARÁGRAFO ÚNICO, I E II, DA LEI Nº 6.766/1979) – AP-TIDÃO DA DENÚNCIA – TIPICIDADE – MATÉRIA SUPERADA POR SENTENÇA CONDENATÓRIA SUPERVENIENTE – DOSIMETRIA – PENA-BASE – CULPABI-LIDADE, CIRCUNSTÂNCIAS E CONSEQUÊNCIAS DO CRIME – VALORAÇÃO NEGATIVA – EXASPERAÇÃO FUNDADA EM ELEMENTOS CONCRETOS – MULTA – REDUÇÃO – PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE

1. A denúncia expôs o fato criminoso, com todas as circunstâncias relevantes para o entendimento do caso concreto. A tipicidade penal ressai evidente quan-do, a partir da descrição fática, imputou-se ao agravante a adesão subjetiva, livre e consciente, ao grupo de pessoas responsáveis pela implantação do loteamento clandestino denominado “Mansões Chácaras do Lago”.

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[...]

8. A fixação da pena pecuniária deve manter a proporcionalidade para com a pena corporal cominada e, no caso concreto, sem perder de vista a capacidade econômica do agente, uma vez que o tipo penal violado, em seu preceito se-cundário, já especifica a multa em valores diretos – 10 (dez) a 100 (cem) vezes o salário mínimo vigente no País.

9. Agravo regimental provido parcialmente, apenas para reduzir a pena de mul-ta, fixando-a em 60 (sessenta) vezes o salário mínimo vigente à época do fato. (AgRg-REsp 1361945/DF, 5ª Turma, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, J. 14.02.2017, DJe 17.02.2017)

Importante destacar, inclusive, que o princípio da eficiência na tutela ambiental é maximizado no momento em que se empreendem meios de re-paração direta ao meio ambiente, ao invés de cobrar valores pecuniários, haja vista que se evita que verba seja destinada para fins diversos do que a reparação daquela área que sofreu o dano.

Ademais, a lógica punitiva estatal deve ser utilizada como ultima ratio em matéria sancionadora administrativa, uma vez que se deve conferir primazia a práticas restaurativas do status operandi ético. Nesse cenário, mostra-se de fundamental importância o estabelecimento de critérios normativos para regu-lar o processo de conversão. A implementação de programas de compliance também atende tal desiderato, permitindo que a empresa retome sua atividade, em conformidade com a regulação estatal, ensejando, assim, o exato cumpri-mento de sua função social.

Chega-se ao ponto nodal das preocupações do decreto, qual seja, o do caráter pedagógico-reparatório da multa ambiental e de sua possível conversão, a ser manejada com o fim de coibir, com inteligência, senso de proporção e utilidade, violações ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Nos ter-mos do art. 145, “por ocasião do julgamento do auto de infração, a autoridade julgadora deverá, em decisão única, julgar o auto de infração e o pedido de conversão da multa”, julgamento no qual considerará, acrescenta o § 1º, “as pe-culiaridades do caso concreto, os antecedentes do infrator e o efeito dissuasório da multa ambiental, e poderá, em decisão motivada, deferir ou não o pedido de conversão formulado pelo autuado”, decerto que, di-lo o § 4º, cabendo “recur-so hierárquico da decisão que indeferir o pedido de conversão”.

A tais pertinentes homenagens ao devido processo, à ampla defesa e ao contraditório também em sede administrativa (CF/1988, art. 5º, LIV e LV) adi-tem-se duas observações: (a) a função punitiva constitui prerrogativa da admi-nistração; (b) todo ato que aplica penalidade administrativa é um ato jurídico,

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destinado que é a restringir ou suprimir direitos, impor obrigações de fazer, de não fazer ou de tolerar, seguindo-se que o seu editor deve zelar por que se apresente íntegra a respectiva estrutura morfológica.

Para bem apreender a natureza e os limites da primeira observação, é necessário conceituar prerrogativa, que se não confunde com privilégio. No jar-gão do direito público, prerrogativa traduz um dever-poder de agir com o fim de assegurar a satisfação do interesse público. Não se trata de um direito propria-mente, muito menos de um direito personalizado, como na excepcionalidade do privilégio. Prerrogativa exprime um dever que compele o agente público a agir, sob pena de omissão de seu dever funcional, sempre que perceba em risco o adequado desempenho da função pública. Não lhe é facultado agir. É de seu dever jurídico agir.

Aplicando-se o conceito de prerrogativa ao tema ambiental, entenda--se que ao gestor público não se concede escolher entre punir e não punir o causador do dano. É de seu dever puni-lo, desde que, respeitadas as garantias da defesa e do contraditório em processo regular, resulte comprovada a falta atraente da sanção. A esse dever servem poderes meramente instrumentais de agir. Não o poder como manifestação de prestígio ou força, mas o poder como instrumento de ação subordinada a um dever indesviável. Se a autoridade deixa de punir quando era o caso de fazê-lo, ou pune inadequadamente – com exces-so ou indulgência –, estará agindo com abuso de poder ou desvio de finalidade, figuras igualmente caras aos essenciais fundamentos do direito público, cuja incidência corrompe a idoneidade do desempenho do cargo público. Por isto que toda prerrogativa está limitada pelos fins legais que a circunscrevem: no caso de dano ambiental, a prerrogativa de aplicar sanções se justifica em face de comprovada violação. Nem mais, nem menos.

A segunda observação deve pautar o agir da autoridade administrativa por técnica e precisão. Todo ato punitivo, sendo, como é, um ato administrati-vo, deve nascer e sustentar-se a partir do exercício regular da competência do órgão e do agente; veiculado pela forma escrita e na sede processual que lhe atestem a seriedade; tendo por conteúdo um objeto de inequívoco interesse público; enunciando os motivos que lhe demonstrem a juridicidade (fatos ve-razes e comprovados, submetidos a normas regentes de induvidosa incidência no caso concreto, fatos e normas sopesados com razoabilidade e proporciona-lidade); de sorte a alcançar os resultados justificadores da finalidade do regime protetivo do meio ambiente.

Toda atenção deve ser posta para precatar vícios de competência (a san-ção ser imposta por autoridade que não era a competente), de forma (o instru-mento formalizador da sanção não era apto a expressá-la), de objeto (a san-

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ção aplicada esconde o propósito de prejudicar o autuado, e, não, o de tão só conformar-lhe a conduta aos ditames da preservação ambiental), de motivo (os fatos puníveis inexistem ou não são aqueles que embasaram a sanção, ou esta adotou severidade incompatível com o grau da falta) e de finalidade (a sanção em pouco ou nada contribuirá para que se obtenha o resultado planejado com a execução da multa ou a sua conversão em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente, tisnada pela conduta do autuado).

Em presença de vícios comprometedores dos elementos de sua estrutu-ra morfológica – competência, forma, objeto, motivo e finalidade –, o ato da sanção estará sujeito à invalidação, seja por autoridade administrativa hierar-quicamente superior, em cuja competência funcional se insira a revisão do ato sancionador ou da autoridade judiciária, se o penalizado provocá-la pela via própria.

Parte Geral – Doutrina

O Estudo do Impacto de Vizinhança Como Instrumento de Segurança Jurídica e Desenvolvimento Sustentável nos Municípios

BRUNO FIALHO RIBEIROMBA em Gestão Pública pela UNESA (Universidade Estácio de Sá) e Pós-Graduado em Direito Administrativo pela Universidade Cândido Mendes. Autor do livro: Estudo do Marco Regulató-rio das Organizações da Sociedade Civil, Curitiba: CRV, 2016.

SUMÁRIO: Introdução; 1 O Estatuto da Cidade; 1.1 O plano diretor; 2 O estudo do impacto de vi-zinhança como instrumento de segurança jurídica e desenvolvimento sustentável nos Municípios; 2.1 O Estudo de Impacto Ambiental; 2.2 O Estudo de Impacto de Vizinhança; Conclusão; Referências.

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento das cidades brasileiras deve harmonizar suas voca-ções econômicas, a proteção ao meio ambiente, a mobilidade, o ordenamento de uso e ocupação do solo, a diminuição da desigualdade social e os serviços públicos eficientes para o bem-estar das pessoas.

A Constituição da República dedicou um capítulo para tratar da “política urbana”1, que foi regulamentado pela Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, está denominada “Estatuto da Cidade”.

Por sua vez, o Estatuto da Cidade prevê um instrumento denominado “Estudo prévio de Impacto de Vizinhança (EIV)”2, que precisa ser regulamenta-do pelos Municípios, seja por meio do plano diretor ou por lei específica, a fim de gerar segurança jurídica para novos empreendimentos e que sejam adotadas medidas de mitigação e compensação dos impactos urbanísticos.

1 O ESTATUTO DA CIDADE

O “Estatuto da Cidade” inaugura uma fase em que os olhos estão focados nos Municípios, ente da federação onde vivem as pessoas e possui uma admi-nistração de interesse local com autonomia administrativa e financeira3.

1 CF/1988, art. 182: “A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes”.

2 CF/1988, art. 4º: “Para os fins desta Lei, serão utilizados, entre outros instrumentos: [...] VI – estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV)”.

3 Nota explicativa: Destacamos o que diz a Constituição.

CF/1988: “Art. 30. Compete aos Municípios: I – legislar sobre assuntos de interesse local; [...] III – instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de

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Nas palavras de Nelson Nery Costa4, a “autonomia administrativa com-preende a gestão dos serviços locais, isto é, aqueles em que o interesse munici-pal é maior do que o federal ou o estadual”. A autonomia financeira é necessá-ria para a efetivação da sua gestão. Conclui o autor:

O Município faz sua própria administração em razão de sua autonomia em ma-téria de interesse local, mas só se efetiva se também lhe for concedido poder para ter sua renda, independente de outras entidades federadas. O poder para arrecadar os seus tributos e aplicar suas rendas, de acordo com os respectivos orçamentos, vem a se constituir na autonomia financeira. A competência tribu-tária exclusiva é essencial para se assegurar a organização dos serviços públicos locais.

A fim de instrumentalizar e concretizar as diretrizes de política urbana no País (CF/1988, arts. 182 e 183), o Estatuto da Cidade “estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental” (Lei nº 10.257/2001, art. 1º, parágrafo único).

As diretrizes políticas de urbanismo para a cidade (art. 2º) estão alicerça-das (i) nos diretos e nas garantidas fundamentais e (ii) nos direitos sociais, como moradia, participação democrática, saúde, meio ambiente, mobilidade, lazer, etc.

A lei prevê diversos instrumentos para concretização das políticas urba-nas previstas no art. 4º5, sendo objeto deste trabalho a apresentação do Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV).

1.1 O PlanO diretOr

O Plano Diretor é o regulamento por lei municipal que disciplina a forma de (i) uso e ocupação do solo, (ii) desenvolvimento da cidade, (iii) mobilidade urbana, (iv) preservação do meio ambiente, etc., a fim de proporcionar qualida-de de vida aos seus moradores e visitantes.

Para Celso Ribeiro Bastos, o plano diretor

vem a ser o instrumento pelo qual os Municípios definirão os objetivos a serem atingidos, assim como as regras básicas, as diretrizes, as normas do desenvolvi-

prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; [...] VIII – promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; [...]”.

4 COSTA, Nelson Nery. Direito municipal brasileiro. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 123.5 Lei nº 10.257/2001, art. 4º: “Para os fins desta Lei, serão utilizados, entre outros instrumentos: [...]

III – planejamento municipal, em especial: a) plano diretor; [...] VI – estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV)”.

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mento urbano, estabelecendo, portanto, o zoneamento, as exigências quanto às edificações e um sem-número de outras matérias fundamentalmente pertinentes ao uso do solo. Não é estranho ao plano diretor o próprio sistema viário, arrua-mento, estradas, localização de áreas verdes, etc.6

De forma bem didática o constitucionalista José Afonso da Silva explica7:

O Plano Diretor é plano, porque estabelece os objetivos a serem atingidos, o pra-zo em que estes deve ser alcançados (ainda que, sendo plano geral, não precise fixar prazo, no que tange as diretrizes básicas), as atividades a serem executadas e quem deve executá-las. É diretor porque fixa as diretrizes do desenvolvimento urbano do Município. Sua função: sistematizar o desenvolvimento físico, econô-mico e social do território municipal, visando ao bem-estar-geral da comunidade local. Seus objetivos gerais: promover a ordenação dos espaços habitáveis do Município; ou, em termos ainda mais gerais: instrumentalizar uma estratégia de mudança no sentido de obter a melhoria da qualidade de vida da comunidade local. Seus objetivos específicos: dependem da realidade que quer transformar. Traduzem-se em objetivos concretos de cada um dos projetos que integram o plano, tal como reurbanização de um bairro, alargamento de determinada via pública, construção de vias expressas, intensificação da industrialização de área determinada, construção de casas populares, construção de rede de esgoto, sa-neamento de determinada área, retificação de um rio e urbanização de suas mar-gens, zoneamento, arruamento, loteamento etc.

Demais disso, caberá ao Poder Executivo promover a ampla participação da população no planejamento da cidade, por meio da participação de asso-ciações de moradores, organizações da sociedade civil, autoridades públicas, associações comerciais, sindicatos, órgãos de classe e até mesmo pelas pessoas que não participam de nenhuma associação.

A realização das conferências sobre os assuntos de interesse urbano é o instrumento previsto no Estatuto da Cidade (art. 43, III), que busca garantir a sua gestão democrática por meio de consultas, audiências públicas, eleição de delegados e conselheiros que iram participar das deliberações dos assuntos de interesse da cidade também em âmbito estadual e nacional.

2 O ESTUDO DO IMPACTO DE VIZINHANÇA COMO INSTRUMENTO DE SEGURANÇA JURÍDICA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NOS MUNICÍPIOS

De plano, deve-se fazer a distinção entre o Estudo de Impacto de Vizi-nhança (EIV) e o Estudo de Impacto Ambiental (EIA). Enquanto o EIV é restrito

6 BASTOS, Celso Ribeiro. Comentários à Constituição do Brasil, v. VII, p. 212.7 AFONSO DA SILVA, José. Comentário contextual à Constituição. São Paulo/SP: Malheiros, 2007. p. 738.

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ao impacto direto na qualidade de vida dos moradores e visitantes da cidade, bem como dos empreendimentos vizinhos a esses moradores, o EIA estuda o impacto de forma geral aos ambientes físico, biótico, social e econômico.

2.1 O estudO de imPaCtO ambiental8

A Constituição expressamente determina a elaboração de Estudo de Im-pacto Ambiental prévio à autorização ou licença9. Trata-se de um procedimento administrativo preventivo de gestão ambiental em que “o Poder Público exerce o controle prévio sobre as atividades que possam de alguma forma impactar o meio ambiente, buscando com isso a implementação dos princípios do desen-volvimento sustentável, da prevenção e da precaução”10.

As obras e atividades que necessitam de Estudo de Impacto Ambiental são previstas de forma exemplificativa na Resolução nº 1/1996 do Conama – Conselho Nacional do Meio Ambiente.

A Lei Complementar nº 140/2011 fixa normas para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum de proteção ambiental. No Estado do Rio de Janeiro, a Resolução Conema nº 42/2012 dispõe sobre as ati-vidades que causam ou possam causar impacto ambiental local e fixa normas gerais de cooperação federativa conforme a lei complementar.

Logo, o Município poderá exigir, também, o Estudo de Impacto Ambien-tal, com fundamento nos art. 225, § 1º, IV, c/c o art. 30, I e II, da CF/1988.

Ademais, a Resolução Conema nº 42/2012 estabelece o conceito de im-pacto ambiental de âmbito local:

Art. 1º Fica definido, para fins desta Resolução, que impacto ambiental de âmbito local é qualquer alteração direta ou indireta das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, que afetem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e/ou a qualidade dos recursos ambientais, dentro dos limites do Município.

8 Nota explicativa: Este tema foi exposto em meu artigo “O direito ambiental na Constituição e no Município” (Revista SínteSe Direito Ambiental, São Paulo: IOB, v. 6, n. 31, p. 78-88, jun. 2016.

9 CF/1988, art. 225: “[...] § 1º [...] IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; [...]”.

10 GARCIA, Leonardo de Medeiros e Romeu Thomé. Direito ambiental. Salvador/Bahia: JusPodivm, 2010. p. 117.

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Estabelecendo da mesma forma o que não é interesse local11, estando afe-to ao interesse do Estado, permanecendo, ainda, a observação de que não pode deixar o Município alheio à participação na discussão ambiental.

A licença ambiental é definida na Resolução nº 237/1997 do Conama da seguinte forma:

Art. 1º [...]

I – Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considera-das efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regu-lamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso.

Aos órgãos municipais compete licenciar empreendimentos e atividades de impacto ambiental local e delegadas pelo Estado por meio de Convênio, ou-vidos os órgãos de competência da União e dos Estados, quando necessário. No Estado do Rio, a matéria sobre convênio é disciplinada na Resolução Conema nº 42/201212.

2.2 O estudO de imPaCtO de vizinhança

O Estudo de Impacto de Vizinhança nasce no art. 182 da Constituição, Capítulo “Da Política Urbana”, regulamentado pelo Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001, art. 4º, inciso VI). Caberá ao Município editar lei específica13

11 Resolução Conema nº 42/2012: “Art. 1º [...] Parágrafo único. Não será considerado de âmbito local o impacto ambiental quando: I – sua área de influência direta ultrapassar os limites do Município; II – atingir ambiente marinho ou unidades de conservação do Estado ou da União, à exceção das Áreas de Proteção Ambiental; III – a atividade for listada em âmbito federal ou estadual como sujeita à elaboração de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e respectivo Relatório de Impacto Ambiental (Rima)”.

12 “Art. 17. As ações de cooperação entre os entes federativos deverão ser desenvolvidas de modo a garantir os objetivos previstos no art. 3º da Lei Complementar nº 140/2011 e fortalecer o Sisnama, harmonizando e integrando todas as políticas governamentais.

Parágrafo único. No exercício da competência subsidiária, os entes federativos poderão firmar consórcios públicos, convênios, acordos de cooperação técnica e outros instrumentos similares, inclusive de delegação da execução de ações administrativas, respeitados os requisitos previstos na Lei Complementar nº 140/2011.

Art. 18. Nos procedimentos de licenciamento ambiental, o Município deverá exigir, quando cabível, a regu-larização dos usos dos recursos hídricos, junto ao Inea, quando de domínio estadual, ou à Agência Nacional de Águas, quando de domínio da União.

Art. 19. Os convênios de cooperação nas áreas de fiscalização e licenciamento ambiental vigentes perma-necerão válidos por mais 120 dias, a contar da data de publicação desta Resolução, findos os quais serão considerados extintos pela perda do objeto.”

13 Lei nº 10.257/2001, art. 36: “Lei municipal definirá os empreendimentos e atividades privados ou públicos em área urbana que dependerão de elaboração de estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV) para obter as licenças ou autorizações de construção, ampliação ou funcionamento a cargo do Poder Público municipal”.

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para construções que deverão ser objeto de prévio Estudo de Impacto de Vizi-nhança, sem prejuízo do EIA, conforme estudado no item 2.1.

O Estatuto da Cidade apresenta, de forma exemplificativa, quais elemen-tos deverão ser abordados no EIV, contemplando “os efeitos positivos e negati-vos do empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades”, quais sejam: (i) adensamento popula-cional; (ii) equipamentos urbanos e comunitários; (iii) uso e ocupação do solo; (iv) valorização imobiliária; (v) geração de tráfego e demanda por transporte público; (vi) ventilação e iluminação; (vii) paisagem urbana e patrimônio natu-ral e cultural.

Esse estudo norteará o planejamento do Município, a fim de mitigar ou compensar os possíveis impactos causados pelo empreendimento, impondo obrigações acessórias ao empreendedor, às concessionárias de serviços públi-cos e à própria Administração Pública direta e indireta, assegurando-se, assim, a sustentabilidade da cidade. Dessa forma, somente após aprovado pelo órgão municipal responsável será expedido o competente alvará municipal de cons-trução, ampliação ou funcionamento.

Nas palavras de Rogério Rocco14,

a novidade inerente ao Estudo de Impacto de Vizinhança é que ele surge com o fundamento de instrumentalizar o diálogo em torno das disputas de interesses, a fim de criar a arena na qual as soluções deverão emergir, sob o princípio da sustentabilidade da cidade – o que deve envolver a preocupação com a garantia de direitos às presentes e futuras gerações.

Por outro lado, ressaltamos que a aprovação do EIV não substitui o Estu-do de Impacto Ambiental (EIA)15, conforme legislação pertinente. No entanto, a doutrina diverge sobre a necessidade dos dois estudos.

Rocco entende que se tratam de estudos que possuem conteúdos dis-tintos:

Fato é que a elaboração de um estudo não substitui a necessidade de elaboração e aprovação do outro. Não se trata de uma lacuna legal. Muito pelo contrário, o mandamento é expresso na exigência da realização dos dois estudos, de acordo com as exigências relacionadas para cada um dos institutos. Portanto, entendeu o legislador que ambiente e vizinhança são dois conceitos distintos e que devem

14 ROCCO, Rogério. estudo de impacto de vizinhança – Instrumento de garantia do direito às cidades sus-tentáveis. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005.

15 Lei nº 10.257/2001, art. 38: “A elaboração do EIV não substitui a elaboração e a aprovação de estudo prévio de impacto ambiental (EIA), requeridas nos termos da legislação ambiental”.

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ter, para as atividades que sobre eles exerçam algum tipo de alteração em sua condição original, instrumentos distintos para a avaliação de seus impactos.

Paulo Bessa crítica exigência dos dois estudos para atividades urbanas não industriais, sendo o EIV suficiente neste caso:

Infelizmente, o legislador deixou passar uma ótima oportunidade para disciplinar adequadamente a avaliação de impactos em atividades urbanas, especialmente as atividades não industriais. Todos aqueles que militam na área de proteção ao meio ambiente sabem que os estudos de impacto ambiental têm uma vocação eminentemente industrial, ou, no mínimo, de projetos que signifiquem interven-ção em ambiente não urbanizado. No entanto, à míngua de outras normas, o EIA passou a ser exigido pelos órgãos ambientais para a implantação de Shopping Centers, condomínios e outros empreendimentos semelhantes.

Tais Estudos de Impacto, de acordo com seus termos de referência, normalmen-te, têm por objetivo investigar os assuntos relacionados como conteúdo mínimo do EIV. Penso que o EIV é um instrumento mais do que suficiente para que se avaliem os impactos gerados por uma nova atividade a ser implantada em área urbana – não se tratando de atividade industrial. Penso que o EIV nada é mais do que um EIA para área urbana e, data vênia, creio ser completamente destituída de lógica ou razão a obrigatoriedade de ambos os estudos.16

Rocco ainda cita o entendimento de Elaine Pereira Rodrigues Podeva, asseverando o caráter de complementaridade dos dois estudos17:

A lei ressalva que o Estudo de Impacto de Vizinhança – EIV não substitui a ela-boração nem a aprovação do Estudo de Impacto Ambiental – EIA previsto na le-gislação respectiva, não obstante, conclui-se que os instrumentos ora analisados se complementam – e não se excluem – na busca de dirimir os desequilíbrios existentes nas cidades. Diante da breve comparação realizada, compreende-se que o estudo prévio de impacto ambiental tem sido efetivamente aplicado como instrumento de planejamento e localização de empreendimentos que possam causar significativo impacto ao meio ambiente, levando-se em consideração todo local do entorno, aspectos sociais, ambientais e econômicos.

É verdade que o legislador se limitou a poucas palavras para dizer que um estudo não substituí o outro. Compartilho o entendimento de Rocco da dis-tinção entre os estudos, admitindo, como Elaine, o seu caráter de complemen-taridade, principalmente no assunto “meio socioeconômico”18.

16 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. p. 355-356.17 ROCCO, Rogério. estudo de impacto de vizinhança – Instrumento de garantia do direito às cidades sus-

tentáveis. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005.18 Resolução Conama nº 1, de 23 de janeiro de 1986, art. 6º: “O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no

mínimo, as seguintes atividades técnicas: I – Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto completa

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CONCLUSÃO

O Estudo de Impacto de Vizinhança é de extrema importância para o desenvolvimento sustentável das cidades brasileiras. Do ponto de vista da se-gurança jurídica, as “regras do jogo” devem ser conhecidas previamente pelos investidores. O cenário econômico de hoje não comporta surpresas, gerando desconfiança que prejudica os negócios.

Na prática, as empresas conseguem as licenças dos órgãos competentes da União e do Estado após Estudo de Impacto Ambiental, sendo, posteriormen-te, surpreendidas com o indeferimento de órgãos municipais, em muitos casos sem qualquer embasamento legal. A liberação de licença pela Administração Pública municipal fica condicionada à obtenção de contrapartida ao Município sem previsão legal, ou seja, exerce “pressão política” pelo seu poder. Ademais, essas contrapartidas nem sempre tem por objetivo mitigar ou compensar os im-pactos socioeconômicos na cidade.

Não estamos dizendo que seria ilegítimo, desde que a exigência tenha caráter de interesse público. No entanto, em um Estado de Direito as regras devem ser claras e objetivas com previsão em lei. É dever do Município regu-lamentar o Estudo de Impacto de Vizinhança, a fim de evitar arbitrariedades e desvio de finalidade.

Em breve pesquisa, encontramos poucos Municípios que regulamenta-ram o Estudo de Impacto de Vizinhança. Essa realidade precisa ser mudada para que haja segurança jurídica e uma política de desenvolvimento sustentável.

Compartilhando o pensamento de Norberto Bobbio no seu livro O futuro da democracia, o cenário atual comporta o pensamento de que “[...] a luz está avançando com dificuldade para começar a clarear ao menos uma parte da área escura...”.

REFERÊNCIAS

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AMARAL GARCIA, Flávio. Licitações e contratos administrativos. Rio de Janeiro/RJ: Lumen Juris, 2012.

descrição e análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de modo a caracterizar a situação ambiental da área, antes da implantação do projeto, considerando: [...] c) o meio sócio-econômico – o uso e ocupação do solo, os usos da água e a sócio-economia, destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e culturais da comunidade, as relações de dependência entre a sociedade local, os recursos ambientais e a potencial utilização futura desses recursos” (grifou-se).

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ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004.

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VILLELA SOUTO, Marcos Juruena. Direito administrativo das parcerias. Rio de Janeiro/RJ: Lumen Juris, 2005.

Parte Geral – Doutrina

Limites à Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica nos Crimes Ambientais1

ANYSIA CARLA LAMÃO PESSANHA2

Graduanda do 10º Período de Direito da Faculdade Metropolitana São Carlos (Famesc) – Uni-dade Bom Jesus do Itabapoana.

TAUÃ LIMA VERDAN RANGEL3

Professor Orientador, Doutorando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense, Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense, Es-pecialista em Práticas Processuais – Processo Civil, Processo Penal e Processo do Trabalho pelo Centro Universitário São Camilo/ES, Professor do Curso de Direito da Faculdade Metropo-litana São Carlos – Unidade Bom Jesus do Itabapoana, Líder do Grupo de Pesquisa “Faces e Interfaces do Direito: Sociedade, Cultura e Interdisciplinaridade no Direito”.

RESUMO: O presente artigo se justifica em analisar a responsabilidade penal da pessoa jurídica na seara ambiental, que, como a pessoa natural, sofre limitações. Logicamente, não as mesmas limi-tações, tendo em vista que se tratam de naturezas diversas; porém, a responsabilidade aqui tratada é aplicada de maneira equivalente, mas não semelhante, em ambos os casos. A responsabilidade penal da pessoa jurídica, não só na esfera ambiental, mas de forma geral, ainda é alvo de muita diver-gência doutrinária, pois contraria os conceitos clássicos enraizados no Direito Penal. Assim, hão de serem ultrapassadas essas ideias clássicas para se compreender e aplicar essa responsabilidade às pessoas jurídicas, no que pese a doutrina clássica e remeter a individualização da culpabilidade. Ou seja, os conceitos esposados na raiz clássica do Direito Penal não se mostram efetivos e compatíveis com a responsabilização penal da pessoa jurídica. Logo, depara-se com a necessidade de superar e evoluir as definições clássicas, no sentido de moldar a realidade social, no que se refere à criminali-dade ambiental. O advento da Constituição Federal de 1988 foi um grande marco evolutivo ao prever como possível infratora a pessoa jurídica que incorrer a práticas lesivas ao meio ambiente em seu art. 225, § 3º. Bem como a fim de efetivar e corroborar o quanto assegurado constitucionalmente, a Lei de Crimes Ambientais dispõe expressamente que as pessoas jurídicas hão de ser responsabi-lizadas nos âmbitos administrativo, civil e penal, conforme a redação de seu art. 3º e a partir dessa temática que o presente estudo será guiado.

PALAVRAS-CHAVE: Responsabilidade penal; pessoa jurídica; crimes ambientais; limite à responsa-bilidade penal; meio ambiente.

1 Trabalho vinculado ao Grupo de Pesquisa: “Faces e Interfaces do Direito: Sociedade, Cultura e Interdis-ciplinaridade do Direito”.

2 e-mail: [email protected] e-mail: [email protected].

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ABSTRACT: This article is justified in analyzing the criminal responsibility of the legal person in the environmental field that, as the natural person, suffers limitations. Of course, not the same limita-tions, given that they are of different natures, but the liability here treated is applied in an equivalent but not similar way in both cases. The criminal responsibility of the juridical person, not only in the environmental sphere, but in general, is still the object of much doctrinal divergence, as it contradicts the classic concepts rooted in Criminal Law. Thus, these classic ideas will have to be overcome in order to understand and apply this responsibility to legal persons, in spite of the classic doctrine if it refers to the individualization of guilt. That is, the concepts handcuffed in the classic root of criminal law, are not effective and compatible with the criminal responsibility of the legal person. Therefore, it is necessary to overcome and evolve the classic definitions in the sense of shaping the social reality, as far as environmental crime is concerned. The advent of the Federal Constitution of 1988, was a great evolutionary milestone in predicting as possible offender, the legal entity that incurs practices harmful to the environment, in its art. 225, § 3º. As well as, in order to enforce and corroborate the constitutional guarantee, the Environmental Crimes Law expressly provides that legal entities should be held accountable in the administrative, civil and criminal spheres, according to the wording of its art. 3º and from this subject that the present study will be guided.

KEYWORDS: Criminal responsibility; legal person; environmental crimes; limit to criminal liability; environment.

SUMÁRIO: Considerações iniciais; 1 A proteção jurídica do meio ambiente; 2 O reconhecimento da responsabilidade penal da pessoa jurídica; 3 A responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes ambientais; 4 Os limites da responsabilidade penal nos crimes ambientais cometidos por pessoa jurídica; Considerações finais; Referências.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A necessidade de proteger os recursos naturais e preservar o meio am-biente não é tão recente na humanidade. Desde que o ser humano passou a entender os processos de interação, químicos, físicos e biológicos entre os seres bióticos (que possuem vida) e abióticos (que não possuem vida), se deparou com a finitude dos recursos naturais. Com isso, surgiu a necessidade de pre-servar o meio ambiente, pois até então os recursos naturais eram considerados infinitos. Com o advento da Revolução Industrial, os impactos ambientais se tornaram cada vez mais evidentes, inclusive ocasionando diversas tragédias, ao ponto de a organização internacional exigir um posicionamento da Orga-nização das Nações Unidas em relação ao meio ambiente. Necessário se faz ressaltar que a Revolução Industrial teve uma contribuição positiva do âmbito industrial; porém, o que se discute aqui são os impactos sofridos pelo meio ambiente, ou seja, a gritante degradação ambiental decorrente dessa revolução.

Diante disso, em 1972 foi realizada a primeira grande reunião sobre o meio ambiente, conhecida como a Conferência de Estocolmo, pois essa foi a cidade-sede da reunião. O fruto dessa reunião foi a Declaração de Estocolmo,

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como é popularmente conhecida, a qual reuniu 26 princípios em prol do meio ambiente, sendo o Brasil um dos países signatários. Nesse talvegue, em 1981 foi sancionada a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente e, posteriormente, a legislação ambiental do Brasil só foi crescendo e se complementando.

Nesse seguimento, houve a promulgação da atual Constituição Federal de 1988, que dedicou o Capítulo VI, composto pelo art. 225, ao meio ambien-te. Protegendo-o da forma mais ampla possível, inclusive prevendo as sanções de caráter administrativo, civil e penal, responsabilizando a pessoa natural e jurídica que viesse incorrer à prática do delito. Entretanto, fez-se necessária a criação de uma lei que elencasse as condutas delituosas relacionadas ao meio ambiente, e, por isso, em 12 de fevereiro de 1998 foi sancionada a Lei nº 9.605, ou seja, a Lei de Crimes Ambientais.

A Lei de Crimes Ambientais, de forma a regulamentar o quanto disposto constitucionalmente, instituiu a responsabilidade da pessoa natural e da pessoa jurídica que praticassem crimes ambientais, prevendo, ainda, a possibilidade de desconsideração da pessoa jurídica. Ocorre que a responsabilidade da pessoa jurídica, ao logo do tempo, vem sendo objeto de ampla discussão e divergência doutrinária. Assim, o presente artigo partirá desse ponto com o intuito de expla-nar, fundamentadamente, quais são as correntes doutrinárias acerca do tema e como vem sendo aplicada a responsabilidade penal da pessoa jurídica em face da infração ambiental.

1 A PROTEÇÃO JURÍDICA DO MEIO AMBIENTE

Considera-se meio ambiente o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abarca e rege a vida, alcançando todas as suas formas, como afirma a Lei nº 6.938/1981 deno-minada a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Nesse seguimen-to, a Constituição Federal, mais especificamente em seu art. 225, caput, garante o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo, de forma a conferir uma sadia qualidade de vida essencial à população, delegando ao Poder Público a função de defender e preservar, de modo gera-cional e intergeracional, ou seja, para que a presente geração possa desfrutar do meio ambiente e com isso as gerações vindouras não venham ser prejudicadas por esse uso, pois uma das funções do Poder Público é exatamente garantir e preservar o meio ambiente para que as futuras gerações venham usufruir dele.

Verifica-se que o bem jurídico tutelado não é definido com exatidão no texto constitucional, ensejando, assim, uma amplitude que infere em abarcar tudo o que permite a vida, que abriga e rege (Ribeiro, 2010, [s.p.]). Na concep-ção de José Afonso da Silva (2004, p. 20), o meio ambiente é a relação entre ele-

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mentos naturais, artificiais e culturais, que, mediante suas interações, propicia o desenvolvimento equilibrado da vida e todas as suas formas. Nesse sentido, Luciana Uchôa Ribeiro leciona que,

conforme a doutrina e a própria Constituição Federal (que reconheceu as várias formas de meio ambiente) o meio ambiente está subdividido em: a) meio am-biente natural (é aquele que existe sem a influência do homem, a fauna, a flora); b) meio ambiente artificial (interação do homem com o meio o meio ambiente por seus equipamentos construídos); c) meio ambiente cultural (também fruto da interação do homem com o meio ambiente natural, mas com um valor espe-cial adquirido, integrados pelos os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico); e d) meio ambiente do trabalho (interação como meio ambiente na atuação de proteção da saúde e segurança do trabalhador). (2010, [s.p.])

Diante dessa subdivisão, cumpre salientar o alcance da ciência ambien-tal, sob a ótica holística da concepção de meio ambiente, traduzindo, assim, o aspecto abrangente e multidisciplinar na órbita da problemática ambiental (Milaré, 2007, p. 112). Mediante a análise perfunctória da problemática aludi-da, verifica-se que as ciências correlacionadas seriam a jurídica ambiental, eco-lógica e biológica, pois essas articulam as legislações pertinentes a preservação do meio ambiente e doutrinas ecológicas e biológicas, como afirma Luciana Uchôa Ribeiro (2010, [s.p.]). Ainda nesse sentido, Enrique Leff (2002, p. 17) destaca que o ambiente não significa ecologia em si, mas a complexidade do mundo. Assim, o ambiente não se restringe aos conceitos naturais, como fauna e flora, sua amplitude é bem maior e sua composição é completa e heterogênea, pois estaremos sempre submetidos a um tipo de meio ambiente (Ribeiro, 2010, [s.p.]).

No que tange à multidisciplinaridade da problemática ambiental, Luciana Uchôa Ribeiro (2010, [s.p.]) elucida que a legislação ambiental brasi-leira, com o escopo protecionista em relação ao meio ambiente, instituiu san-ções à prática de determinadas condutas previstas na Lei nº 9.605/1998. Elu-cida, ainda, que a Constituição Federal e a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente regulam e estabelecem normas dos órgãos ambientais nacionais e locais com a finalidade de coibir a prática de condutas degradantes ao meio ambiente, ou seja, ferindo, assim, o bem jurídico ambiental.

Logo, a legislação dispõe de mecanismos que asseguram a proteção do meio ambiente ante determinadas práticas, denominados de instrumentos de política ambiental. Luciana Uchôa Ribeiro (2010, [s.p.]) exemplifica esses ins-trumentos sendo as formas de licenciamento, estudo de pacto ambiental (EIA), relatório de impacto ambiental (RIMA), alguns dos instrumentos que buscam

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regulamentar a permissividade de atividade potencialmente degradadora ou poluidora, viabilizando, assim, o controle da gestão dos recursos naturais, bem como atuam na prevenção à postulação judicial relacionada aos ilícitos am-bientais acarretados pela exploração de atividade econômica.

2 O RECONHECIMENTO DA RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA

No âmbito do Direito Penal, a matéria discutida se volta para a indivi-dualização da culpabilidade e os conceitos explicitados não se compatibilizam com a responsabilização penal da pessoa jurídica, ou seja, há necessidade de superar os conceitos clássicos dessa matéria, a fim de se amoldar à realidade social em relação à criminalidade, seja na esfera de crimes econômicos, am-biental ou social, de forma a se obter uma resposta satisfatória à resolução de tal criminalidade (Smanio, 2004, [s.p.]).

Nesse sentido, segundo Gianpaolo Poggio Smanio (2004, [s.p.]) verifica--se a necessidade de gerar um novo sistema teórico com o escopo de resolução de conflitos supraindividuais surgidos hodiernamente e, devido à época em que os conceitos clássicos foram formulados, a situação atualmente vivida extra-polava a visão tradicional. Situação essa que não é exclusiva do Direito Penal, e sim de todos os Direitos ante a evolução da sociedade. Uma das principais mudanças necessárias do direito está diretamente ligada ao reconhecimento da capacidade penal da pessoa jurídica, pois todas as correntes doutrinárias convergem no sentido da importância da pessoa jurídica atualmente na crimi-nalidade, desde a prática do crime até sua ocultação.

Historicamente, a responsabilidade penal da pessoa jurídica foi admitida na Ida-de Média e por um período da Idade Moderna, especificamente entre os séculos XIV e XVIII. Depois, caiu em desuso, voltando a firmar-se na segunda metade do século XIX, com a teoria da realidade de Gierke, em contraposição à teoria da ficção. Para a teoria da realidade, a pessoa jurídica é um autêntico organismo, realmente existente, ainda que de natureza distinta do organismo humano. A vontade da pessoa jurídica é distinta da vontade de seus membros, que pode não coincidir com a vontade da pessoa jurídica. Assim, a pessoa jurídica deve responder criminalmente pelos seus atos, uma vez que é o verdadeiro sujeito do delito. (Smanio, 2004, [s.p.])

Nesse passo, o sistema de dupla imputação fora adotado de forma que o crime cometido pela pessoa jurídica não venha alcançar seus sócios – pessoas físicas –, pois nem sempre a vontade desses são compatíveis com a realidade e, assim, gozam de pleno tratamento penal tradicional com conceitos e garantias individuais fixados. Ressalta Gianpaolo Poggio Smanio (2004, [s.p.]), no que se

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refere às pessoas jurídicas, a necessidade de um novo sistema para atender à realidade da criminalidade empresarial de maneira rápida e eficaz.

Gianpaolo Poggio Smanio (2004, [s.p.]) salienta a ideia de que a pessoa jurídica poderá praticar ações divergentes do que as pessoas físicas que as inte-gram praticaria, como também ações independentes. Nesse seguimento, lecio-na Fausto Martin de Sanctis:

[...] as pessoas jurídicas possuem vontade própria e se exprimem pelos seus ór-gãos. Essa vontade independe da vontade de seus membros e constitui uma de-corrência da atividade orgânica da empresa. Conclui-se, portanto, que diante dessa vontade própria é possível o cometimento de infrações, de forma conscien-te, visando à satisfação de seus interesses. (1999, p. 9)

A ação institucional ou ação praticada pela pessoa jurídica se difere em relação à ação praticada pelos seres humanos; assim, o dolo e a tipicidade são observados por outro ângulo. A ação em tela provém de um evento inter--relacional composto por cada um dos participantes e a instituição, resultando uma concorrência de fatores independentes da vontade de seus membros, di-retores ou sócios. Nessa senda, David Baigún (1999, p. 35) alega que a con-duta da pessoa jurídica tem como base para sua formação três aspectos, quais sejam, o normativo, a organizacional e o interesse econômico. Partindo desse entendimento, sobreleva notar que, em consonância com a legislação de cada país, a decisão institucional é considerada um fruto normativo estabelecido no estatuto social, levando-se em consideração que existem divisões tanto internas quanto externas, administrativas, de representação, não obstante a distribuição das funções e responsabilidades de cada um. Diante disso, vale ressaltar que as decisões institucionais não deverão sair dos moldes delineados pelos estatutos.

Outrossim, de forma a compor essa tríplice, há a organização que, por sua vez, detém um elo com a ordem normativa, todavia autônoma. Isso ocorre, pois abarca todos os seres humanos que compõem a empresa, o sistema de controle interno e um sistema institucionalizado de comunicação. Sob a pers-pectiva do interesse econômico, está enraizado na justificativa da empresa em existir, tendo em vista que esse é seu objetivo; porém, não funciona de forma deserta, necessitando, assim, de complementação por parte dos componentes normativos e organizacionais para que se produza a ação institucional (Baigún, 1999, p. 35).

Ainda em relação ao interesse econômico que paira sobre a empresa, vale salientar que esse é um fator de grande importância e, ao mesmo tem-po, está inserido no papel de cada sujeito componente da instituição, como os agentes da organização que fazem o motor da ação institucional funcionar.

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Insta acentuar que os interesses econômicos da instituição ultrapassam os in-teresses econômicos individuais, se caracterizando o interesse próprio da em-presa por meio de seus integrantes. Em suma, a ação institucional há caracte-rísticas próprias, independendo da conduta das pessoas físicas e formando suas próprias características de maneira diferenciada. Assim, Silvio Rodrigues (2003 apud Cunha, 2015, [s.p.]) argui que “a sociedade nasce e ganha vida e perso-nalidade independente dos indivíduos que a compõem”. Com isso, deverão ser analisados os elementos subjetivos, seja dolo ou culpa e, por conseguinte, a tipificação da conduta institucional (Smanio, 2004, [s.p.]). Ante o entendimento esposado, João Marcello de Araújo Júnior leciona que

a doutrina inglesa, holandesa e americana, tendo à frente, principalmente, John Vervaele, de Utrecht, sustenta que, se a pessoa jurídica tem capacidade de ação para contratar, tem também capacidade para descumprir, por exemplo, crimi-nosamente o contratado, logo tem capacidade de agir criminosamente. Além do mais, principalmente no que se refere ao Direito Penal Econômico, ilícitos exis-tem em que a lei prevê, exclusivamente, a conduta da empresa. É o que acontece, entre outros exemplos, com os crimes contra a livre concorrência. Quem exerce a concorrência desleal é a empresa. A ação da pessoa natural que atua por conta e no proveito dela é expressão do agir da empresa, pois quem pratica a ação é a própria empresa. (1999, p. 89)

Vislumbra-se que a pessoa jurídica possui capacidade para ação, assim, impera a necessidade de estabelecer, quanto a sua possibilidade, a imputa-ção penal e a culpabilidade institucional. Sob a ótica da dupla imputação, a culpabilidade remete à ideia de culpabilidade do fato; logo, fica claro que a culpa é algo individual no Direito Penal e devem ser levadas em consideração a situação e as circunstâncias individuais dentro de suas distinções (Smanio, 2004, [s.p.[). Nesse seguimento, Shecaira (1999, p. 78) defende que há culpa mediante a prática de um “ato em particular”, sendo esse o marco inicial para a intervenção penal. Consoante a lição geral do Direito, esse ato particular é a prática de uma conduta típica, ou seja, um fato delituoso previsto em lei. Diante disso, nasce a culpabilidade da pessoa jurídica, a qual permite ao Direito Penal aplicar suas normas, com escopo de responsabilização perante a prática de graves delitos.

Ao revés, Araújo Júnior (1999, p. 91-92) alude que a culpabilidade não se comunica com a capacidade de propor alguma ação em juízo. No entanto, há de se associar a teoria do risco da empresa, decorrente da culpa da própria organização e atuação, legitimando a responsabilidade penal da pessoa jurídica e, via reflexa, justificando as atribuições devidas, seja de maneira isolada ou cumulada, do ato delituoso praticado em benefício da empresa.

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Nesse talvegue, Pacelli e Callegari (2015, p. 227) explicitam seu enten-dimento no sentido de que o cerne da culpabilidade sempre esteve ligado ao ser humano, qual seja, capaz de distinguir a conduta lícita e ilícita de forma a entender o momento em que concorre à prática do ato ilícito. Com isso, seria inviável a pessoa jurídica arcar com o ônus advindo da conduta delituosa que praticou, ou seja, a culpabilidade não alcançava a pessoa jurídica. Nesses ter-mos, Sánchez (2003, p. 359) leciona claramente no sentido de que a responsa-bilidade penal da pessoa jurídica ainda é um instituto que não fora desenvol-vido de maneira satisfatória. A propósito, deve-se levar em consideração que a responsabilidade penal da pessoa jurídica, uma vez relacionada à responsabi-lidade penal da pessoa natural, não deve ser aplicada de forma idêntica, tendo em vista as particularidades de ambos (Pacelli; Callegari, 2015, p. 227). Em face das considerações aduzidas, Sirvinskas assegura que

o tema é conflituoso, especialmente porque impera, no direito penal, a princípio da culpabilidade (juízo de reprovabilidade). Pune-se a pessoa física com base na sua culpabilidade (imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibili-dade de conduta diversa). Como seria possível punir penalmente um ente fictício com pena de multa, restritiva de direitos ou prestação de serviços à comunidade, por exemplo? Normalmente, a dosimetria da pena se baseia na culpabilidade da pessoa física. Já a dosimetria da pena, em relação a pessoa jurídica, estaria adstrita às consequências e à extensão dos danos causados ao meio ambiente. (2015, p. 892)

Nessa continuidade, Pacelli e Callegari (2015, p. 227) salientam, ainda, que há de ser respeitadas as especificidades teóricas de cada situação, fazendo nascer a ideia de que há uma culpabilidade que se molda aos aspectos da pes-soa jurídica e, por outro lado, existe a ideia de culpabilidade relacionada à pes-soa natural. Apesar de serem diferenciadas, dadas as circunstâncias, a essência funcional da culpabilidade é aplicada de forma equivalente em ambos os casos. Portanto, toda essa discussão que envolve a responsabilização da pessoa jurídi-ca foi atenuada com o advento da Constituição Federal, mais especificamente a redação do § 3º do art. 225 desse diploma (Sirvinskas, 2015, p. 892), como será discorrido cautelosamente a seguir.

3 A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA NOS CRIMES AMBIENTAIS

Preliminarmente, vale acentuar que tanto a esfera da pessoa jurídica quanto a pessoa natural, nem todos possuem a capacidade de culpabilidade, ou, como ensina Pacelli e Callegari (2015, p. 227), nem todas serão imputáveis. No que tange à pessoa jurídica, serão imputáveis certas organizações empresa-riais, desde que detenham um sistema complexo interno e, ao mesmo tempo,

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suficiente para justificar sua responsabilidade penal. Isso ocorre também no caso da pessoa natural, em que os menores de idade não têm condições inter-nas suficientes e complexas para arcar com o ônus advindo dessa responsabili-dade penal (Diéz, 2013, p. 32-35).

Não há um conceito preciso de culpabilidade da pessoa jurídica, porém Pacelli e Calegari (2015, p. 227) se pautam no entendimento de Günter Heine para afirmar que a culpabilidade não se baseia somente no fato, mas dada as circunstâncias e os aspectos que compõem a forma de condução da empresa. Em suma, Díez (2013, p. 45) leciona que “o injusto empresarial estaria vincu-lado com a organização da empresa; a culpabilidade empresarial referir-se-ia à cultura da empresa”.

Nessa senda, a tutela penal do meio ambiente é imprescindível, ainda mais quando as medidas punitivas na seara administrativa e civil não lograrem êxito. Essas medidas penais visam precaver, bem como reprimir as condutas de-lituosas em desfavor do meio ambiente. Seguindo a trilha da doutrina moderna, a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (Lei de Crimes Ambientais), adotou o posicionamento de que a pena privativa de liberdade há de ser uma exceção, ou seja, aplicada apenas a casos extremos, pugnando pelas penas alternativas aos infratores que incorrerem a tal prática (Sirvinskas, 2015, p. 887). Nesse sen-tido, Pacelli e Callegari complementam:

Em relação ao sancionamento da pessoa jurídica, o juiz deve sopesar as penas dispostas em lei e aplicar aquela mais apropriada à finalidade preventiva (geral e especial), atentando para que as sanções, quando pecuniárias, não sejam ab-sorvidas pelos custos da empresa, sob pena de perder seu caráter intimidatório. Deve-se, ainda, ter consciência de que a pena aplicada à pessoa jurídica pode lesionar interesses de terceiros, especialmente os empregados da empresa e seus credores, sendo necessário que o julgador avalie tais interesses no momento da definição da reprimenda penal mais adequada. (2015, p. 228-229)

No Direito brasileiro, tanto a Constituição Federal de 1988 quanto a Lei de Crimes Ambientais preveem que a pessoa jurídica deve ser responsabilizada. Bem como a Lei nº 9.605/1998 prevê, especialmente, a punição para a pessoa jurídica, sobrelevando a “independência da responsabilidade da pessoa coleti-va em relação à responsabilização da pessoa natural” (Pacelli; Callegari, 2015, p. 229). Dessa forma, necessário se faz a transcrição dos artigos referentes a esse assunto nos diplomas supracitados.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as pre-sentes e futuras gerações.

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[Omissis]

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, in-dependentemente da obrigação de reparar os danos causados [...]. (Brasil, 1988) (grifamos)

A partir de então, a pessoa jurídica teve sua responsabilidade expressa-mente descrita nas normas constitucionais, mais especificamente no art. 225, o qual versa, de forma completa, sobre o meio ambiente nas suas mais diversas faces. Nessa esteira, com escopo de proporcionar maior efetividade à norma constitucional, a Lei de Crimes Ambientais trouxe no corpo de seu art. 3º a possibilidade de responsabilizar a pessoa jurídica, não só na esfera criminal, mas também na seara administrativa e cível. Destacando-se a relação de inde-pendência disposta no parágrafo único do artigo supracitado, em que não se comunica, ou, melhor, não se exclui a responsabilidade das pessoas naturais ante a responsabilização das pessoas jurídicas (Pacelli; Callegari, 2015, p. 229). Com isso, impende transcrever:

Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penal-mente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.

Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pes-soas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato. (Brasil, 1998) (gri-famos)

Seguindo o entendimento de Sirvinskas (2015, p. 887), o meio ambiente não é de ninguém individualmente e, simultaneamente, de todos. Isso significa dizer que a proteção ao meio ambiente não abarca somente alguns, mas sim todas as pessoas, independentemente do país que seja, como, por exemplo, sob a justificativa de que um desastre de natureza ambiental poderá atingir vários países, como ocorre no desastre nuclear ou na contaminação de rios internacio-nais. O que se verifica é que o bem aqui tutelado ultrapassa, em amplitude, os outros delitos penais. Para isso, o direito penal moderno pende pela aplicação do princípio da intervenção mínima do Estado Democrático de Direito. Dessa sorte, Ivete Senise Ferreira (1995, p. 13) acentua que a tutela penal deve ser aplicada em ultima ratio, isso traduz o entendimento de que a responsabilidade em voga deverá ser aplicada somente após não lograrem êxito nas tentativas de aplicação de mecanismos intimidatórios nas esferas cível e criminal, e, assim, aplicar-se-á medida punitiva constante na seara penal.

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Essa noção propedêutica é necessária ao entendimento de que grande parte da doutrina ainda se volta à impossibilidade da responsabilização da pes-soa jurídica, pois a ideia expressa por esses doutrinadores clássicos se pauta na ideia de um período anterior ao funcionalismo. Todavia, a realidade nacional é diversa, como se vislumbra na condução do presente artigo, levando-se em consideração que a Constituição Federal, de forma incisiva, consagra a res-ponsabilização penal da pessoa jurídica. Em relação às críticas diante dessa disposição constitucional, Pacelli e Callegari (2015, p. 229-230) defendem que “a vontade do intérprete não pode se sobrepor a de todos os demais interessa-dos na compreensão e na aplicação das normas jurídicas”. Ou seja, o simples inconformismo legislativo ou constitucional não enseja a invalidade da norma.

Por fim, Sirvinskas (2015, p. 892), em sua lição, esclarece que o polo ativo dos crimes ambientais pode ser composto por pessoas jurídicas. Apesar de serem entes fictícios, a Lei de Crimes Ambientais prevê penalidades em face dessas, quais sejam, a multa, as restritivas de direitos e a prestação de serviços à comunidade, consoante explicita o art. 21 da lei supramencionada; não obstante, a desconsideração da pessoa jurídica, com fulcro na disposição do art. 4º, bem como a execução forçada, conforme o art. 24, ambos da Lei nº 9.605/1998.

4 OS LIMITES DA RESPONSABILIDADE PENAL NOS CRIMES AMBIENTAIS COMETIDOS POR PESSOA JURÍDICA

Inicialmente, é relevante lembrar que a responsabilidade penal em re-lação à pessoa jurídica ante à prática de infrações de natureza ambiental se consubstancia em um instrumento de política criminal em prol da promoção do princípio ambiental da prevenção. Tal princípio reza que devem existir medidas a fim de afastar ou dirimir os danos causados ao meio ambiente, via reflexa, garantindo a “perenidade da sadia qualidade de vida” em face das presentes ge-rações, bem como as vindouras. Além disso, visa preservar os recursos naturais presentes no planeta, minimizando, assim, o processo de degradação ambiental com riscos e impactos, já sabidos no âmbito científico (Claudino, 2012, [s.p.]).

Como cediço, a Lei de Crimes Ambientais, em seu art. 3º, confere às pessoas jurídicas a possibilidade de arcar com o ônus decorrente da prática de infrações penais, devendo-se destacar a disposição do parágrafo único, o qual não desvincula a responsabilidade da pessoa jurídica em relação à responsabi-lidade da pessoa física, enquanto “autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato” (Brasil, 1998). Com isso, Eduardo Souza (2017, [s.p.]) explica que, nesse caso, para efeitos de responsabilização da pessoa jurídica, mesmo que detenha

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personalidade jurídica própria, o respectivo ente fictício não faz jus à vontade voluntária e consciente, sobretudo por não serem seres humanos.

Nesse diapasão, a responsabilidade das pessoas jurídicas deve ser anali-sada sob a perspectiva do concurso de agentes, tendo em vista que a vontade desses entes fictícios se materializa mediante ação original daqueles que os representam. O cerne da questão no Direito Penal em relação aos delinquentes é proceder ao recolhimento do convívio em sociedade proporcionalmente com a necessidade da intervenção do Estado, que, in casu, desempenha a função de garantidor do “cumprimento da vontade delegada pela sociedade de perseguir a retidão e o efetivo cumprimento da norma” (Souza, 2017, [s.p.]). Assim, esse mesmo autor prossegue com o raciocínio, ao explanar que,

entretanto, inexiste a tal possibilidade para pessoas jurídicas. As pessoas coleti-vas estão sujeitas a penas de responsabilidade e reflexas de direito, ou seja, ou submete-se a reparação pecuniária ou a perda de direitos que lhe são inerentes. Assim, a existência da criminalização provoca uma discussão praticamente inó-cua que, condensado pelo apelo social na busca de culpados, alcançará seus gestores, e por consequente terão dupla responsabilização. A primeira por ter or-denado ou coordenado as ações delituosas da pessoa ficta, a segunda, pela pena pecuniária ou restritiva de direitos que esta virá a ter. Sobejamente claro que os dispositivos legais delimitam a responsabilização penal desses entes, no entanto, as disposições processuais de manejo e aplicabilidade dessa realidade não se fez acompanhar pelo códex e assim, inviabilizaram a prestação jurisdicional. (2017, [s.p.]) (grifamos)

Nessa esteira, Grigorio (2013, [s.p.]) afirma que, apesar de reconhecida a responsabilidade penal da pessoa jurídica que incorre na prática de infrações ambientais, é inviável a imputação somente desse ente coletivo. Se não iden-tificada a pessoa natural corresponsável, deve-se investigar a infração, ou, me-lhor, a situação minunciosamente, sob o entendimento de que é incongruente responsabilizar unicamente a pessoa jurídica, restando impune a pessoa natural que incorreu ao delito. Nada obstante, o Supremo Tribunal Federal (STF) já se posicionou em relação ao questionamento em tela, reconhecendo a imprescin-dibilidade da dupla imputação ao processar ações penais que apuram a infra-ção ambiental, veja:

Parece-me que, na atual configuração constitucional, é possível, em tese, a res-ponsabilização penal da pessoa jurídica, segundo o sistema da dupla imputação e em bases epistemologicamente diversas das utilizadas tradicionalmente, sendo competência do Juízo de instrução a regular análise de cada caso concreto. (STF, Habeas Corpus nº 88544-MC/SP, Medida Cautelar no Habeas Corpus, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, J. 27.04.2006, DJ 05.05.2006, p. 50)

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Com isso, faz-se necessário observar que a penalização da pessoa jurí-dica, somente, é viável no direito privado em que o ato criminoso se consubs-tancia em proveito próprio. Noutra senda, o legislador foi omisso em relação às disposições ambientais, ou seja, quanto às infrações que gerem danos ao meio ambiente, bem como em relação à responsabilidade de seus gestores. Em suma, vale concretizar o entendimento pautado no concurso de pessoas, pois o Código Penal pátrio, em seu art. 29, expressa que “quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade” (Brasil, 1940). Impende destacar que a Lei de Crimes Ambientais também dispõe acerca do presente questionamento em seu art. 2º, o qual reza em relação aos concorrentes para a prática de quaisquer delitos elencados por essa lei. Nesse talvegue, aqueles que concorrem para a ação delituosa incidem nas penas cominadas, proporcionalmente a sua culpabilidade, extensiva aos administradores, membros de conselho e de órgão técnico, auditor, gerente, preposto ou mandatário de pessoa jurídica, uma vez que, tendo conhecimento da conduta, não diligencia no sentido de impedi-la nas situações em que pode-ria ter evitado (Souza, 2017, [s.p.]).

Ocorre que todas as condutas emanam da ação do ser humano, assim, viável se faz a responsabilização por ricochete ou responsabilidade reflexa. Assim, sempre que uma pessoa jurídica compor o polo passiva de uma de-manda penal ambiental, deverá estar atrelada a uma pessoa natural (Souza, 2017, [s.p.]). Tecendo comentários acerca da matéria, Pacelli e Callegari (2015, p. 230) asseveram que “corre-se o risco até de afetação do princípio do ne bis in idem, com a punição de ambos (pessoas físicas e pessoa jurídica), na medida em que a decisão da prática do ato tem a mesma origem e fonte”.

Como aduzido anteriormente, o STF já promoveu o reconhecimento da dupla imputação nas ações penais que tratam de infração ambiental. Dessarte, o Tribunal Superior de Justiça (STJ), bem como os demais tribunais adotaram esse entendimento, como pode-se verificar pelos acórdãos proferidos e trans-critos a seguir:

PENAL E PROCESSO PENAL – AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL – OFENSA AO PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE – INOCORRÊNCIA – DECISÃO RECORRIDA EM MANIFESTO CONFRONTO COM JURISPRUDÊNCIA DA COR-TE – ART. 557, § 1º-A, DO CPC – POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO MONO-CRÁTICO – APLICAÇÃO EQUIVOCADA DO PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE À AÇÃO PENAL PÚBLICA – INOCORRÊNCIA – CRIME AMBIENTAL – DUPLA IMPUTAÇÃO – RESPONSABILIZAÇÃO SIMULTÂNEA DA PESSOA JURÍDICA E DA PESSOA FÍSICA – CONTRARIEDADE AO PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO – JULGADO EM CONFORMIDADE COM O

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ENTENDIMENTO DO PRETÓRIO EXCELSO – AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO

1. Não há que se falar em ofensa ao princípio da colegialidade quando a decisão é proferida pelo relator, com base no regramento previsto no art. 557, § 1º-A, do Código de Processo Civil.

2. A necessidade de dupla imputação nos crimes ambientais não tem como fun-damento o princípio da indivisibilidade, o qual não tem aplicação na ação penal pública. Aplica-se em razão de não se admitir a responsabilização penal da pes-soa jurídica dissociada da pessoa física.

3. Não há contrariedade ao princípio da interpretação conforme a constituição, quando a decisão agravada encontra-se em consonância com o entendimento do próprio Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição Federal.

4. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ, AgRg-REsp 898302/PR, Relª Min. Maria Tereza de Assis Moura, J. 07.12.2010, DJe 17.12.2010) (grifamos)

PROCESSUAL PENAL – RECURSO ESPECIAL – CRIMES CONTRA O MEIO AM-BIENTE – DENÚNCIA REJEITADA PELO E. TRIBUNAL A QUO – SISTEMA OU TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO

Admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais des-de que haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome ou em seu benefício, uma vez que “não se pode compreender a responsabilização do ente moral dissociada da atuação de uma pessoa física, que age com elemento subjetivo próprio” (cf. REsp 564960/SC, 5ª Turma, Rel. Minis-tro Gilson Dipp, DJ de 13.06.2005) (Precedentes). Recurso especial provido. (STJ, Recurso Especial nº 889.528/SC, Rel. Min. Felix Fischer, J. 17.04.2007, publicado em 18.06.2007) (grifamos)

Autos de mandado de segurança. Crime contra o meio ambiente Responsabili-dade de pessoa jurídica. Trancamento da ação penal. Inépcia da denúncia. Em função da teoria da dupla imputação há necessidade, nos delitos de natureza ambiental, da responsabilidade simultânea do ente jurídico e da pessoa física, ausente este requisito há de se reconhecer a necessidade de trancamento da ação penal. Ordem concedida. (TJPA, Mandado de Segurança nº 200930125198, Relª Desª Albanira Lobato Bemerguy, J. 12.02.2010, DJ 22.02.2010, p. 68) (grifamos)

Nesse liame, a lei penal ambiental brasileira encontra-se restrita e direta-mente ligada à ação humana; portanto, todo o exposto corrobora o posiciona-mento de que é relativamente impossível a “responsabilização pela ausência de vontade consciente desta na prática do delito, na prática apenas penas restriti-vas de direitos e penas pecuniárias poderiam ser aplicáveis”. Tudo isso porque a pessoa jurídica é caracterizada como ente fictício e, por outro lado, há o ser humano que possui capacidade para incorrer à prática da infração ambiental e, ao contrário da finalidade do direito penal que é ressocializar o agente, aqui se visa à reparação do dano causado (Souza, 2017, [s.p.]).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ante todo o entendimento esposado no presente artigo, verifica-se que a responsabilidade penal da pessoa jurídica, apesar de alguns avanços, ainda en-contra muitas divergências na doutrina. Em contrapartida, tanto na Constituição Federal, em seu art. 225, quanto na Lei de Crimes Ambientais (art. 3º) encontra--se evidenciada tal responsabilidade. Deve-se lembrar que essa responsabilida-de na esfera penal, apesar de alcançar a pessoa natural e jurídica, é aplicada de maneira equivalente e não idêntica, pois existem algumas peculiaridades em razão da natureza do ser humano em relação a um ente coletivo. Outrossim, a Lei de Crimes Ambientais, por ser um diploma atual, já segue a tendência mo-derna do direito penal quanto à aplicabilidade da pena privativa de liberdade, sendo essa aplicada em casos extremos. Não obstante, a responsabilidade penal deverá ser aplicada após o insucesso nas outras esferas, qual seja, administrativa e cível. Sobreleva lembrar que, como a pessoa natural, a pessoa jurídica tam-bém não tem plena capacidade para a responsabilização penal.

Consoante o estudo realizado nesse trabalho, a pessoa jurídica também sofre limitações quanto à responsabilidade penal ambiental. Tendo em vista que o entendimento do Supremo Tribunal Federal, mais recente, nesse sentido versa que deverá ser analisada a responsabilidade penal da pessoa jurídica que incor-rer para a prática de crimes ambientais, sob o crivo da dupla imputabilidade. Ou seja, basicamente significa que a pessoa jurídica nunca será responsabiliza-da sem que esteja vinculada à pessoa natural responsável e que concorreu para prática dessa ação delituosa, uma vez que a pessoa jurídica, por si só, não tem capacidade para infringir a norma penal ambiental. Logo, deverá ser punida a pessoa que é dotada desse discernimento e, ainda, responsável pelo dano ambiental.

Ora, deve-se pensar a contrario sensu, assim, depara-se com uma situação ilógica em que a pessoa jurídica infratora arcará com o ônus do dano ambien-tal; todavia, a pessoa natural que teve a ideia e arquitetou e concorreu para tal prática estará impune. Portanto, o entendimento do Supremo Tribunal Federal, seguido pelo Superior Tribunal de Justiça e pelos demais Tribunais Estaduais, procura dirimir esse impasse, ainda aflorado na doutrina, porém já pacificado pela jurisprudência.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO JÚNIOR, João Marcello de. Societas delinquere potest: revisão da legislação comparada e estado atual da doutrina. Responsabilidade penal da pessoa jurídica e medidas provisórias e Direito Penal. Coord. Luiz Flávio Gomes. São Paulo: RT, 1999.

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BAIGÚN, David. Naturaleza de la acción institucional em el sistema de la doble imputación. Responsabilidad penal de las personas jurídicas. Depalma: Buenos Aires, 1997.

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Parte Geral – Acórdão na Íntegra

2526

Superior Tribunal de JustiçaAgInt no Recurso Especial nº 1.597.589 – SP (2016/0111355‑4)Relator: Ministro Mauro Campbell MarquesAgravante: Jose Mario Avila Rezende FilhoAgravante: Fernanda Silva Rezende – Menor impúbereAgravante: Ana Maria Sousa Silva – Por si e representandoAdvogado: Evandro Alves da Silva Grili e outro(s) – SP127005Agravado: Ministério Público do Estado de São Paulo

ementa

AMBIENTAL – ENUNCIADO ADMINISTRATIVO Nº 3/STJ – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – PEDIDO DE COMPENSAÇÃO DA RESERVA LEGAL EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE – NÃO CABIMENTO

1. Mantida a decisão de reforma do acórdão recorrido, tendo em vista que “O novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito, os direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, tampouco para reduzir de tal modo e sem as necessárias compensações ambientais o patamar de proteção de ecossistemas frágeis ou espécies ameaçadas de extinção, a ponto de transgredir o limite constitucional intocável e intransponível da ‘incumbência’ do Estado de garantir a preservação e a restauração dos processos ecológicos essenciais (art. 225, § 1º, I)” (AgRg-REsp 1.434.797/PR, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., DJe 07.06.2016).

2. Agravo interno não provido.

aCórdãO

Vistos, relatados e discutidos esses autos em que são partes as acima indi-cadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas, o seguinte resultado de julgamento: “A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo interno, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).”

A Sra. Ministra Assusete Magalhães, os Srs. Ministros Francisco Falcão (Presidente), Herman Benjamin e Og Fernandes votaram com o Sr. Ministro Relator.

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Brasília (DF), 20 de fevereiro de 2018.

Ministro Mauro Campbell Marques, Relator

relatóriO

O Exmo. Sr. Ministro Mauro Campbell Marques (Relator):

Trata-se de agravo de decisão de minha relatoria em que provido recurso especial do Ministério Público do Estado de São Paulo para afastar a aplicação do novo Código Florestal no que se refere ao cômputo da área de preservação permanente no percentual destinado à reserva legal.

Alegam os particulares o seguinte: (a) a matéria não havia sido preques-tionada; (b) o dissídio jurisprudencial não foi demonstrado; (c) o entendimento adotado na decisão agravada coloca quem devastou antes do novo Código Flo-restal em situação de desigualdade em relação a quem devastou posteriormente; (d) conforme o princípio do tempo regit actum não se pode cogitar que os atos administrativos necessários ao cumprimento da decisão judicial a ser proferida nestes autos sejam cumpridos com base em lei revogada; (e) a nova legislação florestal brasileira não traz qualquer abolitio que desonere o proprietário rural de promover a regularização ambiental de sua propriedade.

No mais, pede a suspensão do presente feito até a conclusão do julga-mento das ADIs 4901, 4902 e 4903 pelo STF.

Houve impugnação.

É o relatório.

ementa

AMBIENTAL – ENUNCIADO ADMINISTRATIVO Nº 3/STJ – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – PEDIDO DE COMPENSAÇÃO DA RESERVA LEGAL EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE – NÃO CABIMENTO

1. Mantida a decisão de reforma do acórdão recorrido, tendo em vista que “O novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito, os direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, tampouco para reduzir de tal modo e sem as necessárias compensações ambientais o patamar de proteção de ecossistemas frágeis ou espécies ameaçadas de extinção, a ponto de transgredir o limite constitucional intocável e intransponível da ‘incumbência’

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do Estado de garantir a preservação e a restauração dos processos ecológicos essenciais (art. 225, § 1º, I)” (AgRg-REsp 1.434.797/PR, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., DJe 07.06.2016).

2. Agravo interno não provido.

vOtO

O Exmo. Sr. Ministro Mauro Campbell Marques (Relator):

Antes de mais nada, necessário consignar que o presente recurso está submetido ao Enunciado Administrativo nº 3/STJ: “Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na for-ma do novo CPC”.

A insurgência não prospera.

Primeiramente, o tema da retroatividade do novo Código Florestal foi su-ficientemente prequestionado, e devidamente demonstrada a divergência juris-prudencial quanto à aplicação do respectivo art. 15 a fatos pretéritos; portanto, o recurso especial era perfeitamente conhecível.

Quanto à matéria de fundo, tem razão o MP/SP.

É que o acórdão recorrido permitiu a compensação da reserva legal em área de preservação permanente em outro imóvel de sua propriedade.

No que interessa ao exame do presente recurso, as instâncias ordinárias autorizaram o cômputo das áreas de preservação permanente no percentual destinado à reserva legal, nos termos do art. 15 da Lei nº 12.651/2012.

Em resposta aos argumentos do MP/SP, o Tribunal de origem assim se manifestou (fl. 508-e):

[...] independentemente de a ação ter sido ajuizada na vigência do código an-terior, perfeitamente incidente o atual código, porquanto as normas de direito ambiental têm aplicação em casos novos e nos preexistentes, dada a sua natureza de norma cogente e de aplicação imediata, pois voltada à proteção de bem me-taindividual. Isso sem olvidar que os bens aqui discutidos tiveram mantidas a sua proteção na Lei nº 12.651, de 2012.

Ocorre que, a despeito do esforço argumentativo dos agravantes, não é cabível a aplicação do novo Código Florestal para permitir a compensação da reserva legal com área de preservação permanente, pois, conforme bem escla-recido no parecer do Ministério Público Federal.

RSA Nº 40 – Jan-Mar/2018 – PARTE GERAL – ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA ���������������������������������������������������������������������������������������������������85

Nesse sentido é a jurisprudência desta Corte, segundo a qual, em matéria ambiental, deve prevalecer o princípio tempus regit actum, de forma a não se admitir a aplicação das disposições do novo Código Florestal a fatos pretéritos, sob pena de retrocesso ambiental.

Citam-se os seguintes julgados:

PROCESSO CIVIL – AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL – CONSTRU-ÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE ÀS MARGENS DO RIO IVI-NHEMA – INAPLICABILIDADE DA TEORIA DO FATO CONSUMADO – 1. In-viável, por ausência de prequestionamento, a análise de questão que, a despeito de ter sido suscitada em contrarrazões, não foi alvo de manifestação pela Corte de origem. Além disso, tratando-se de matéria ambiental, prevalece o disposto no princípio tempus regit actum, que impõe obediência à lei em vigor por ocasião da ocorrência do fato ilícito, sendo, portanto, inaplicável o novo Código Florestal a situações pretéritas. Precedentes. 2. O acórdão recorrido destoa da orientação desta Corte assentada no sentido da ilegalidade das edificações ocorridas em áre-as de preservação permanente às margens do Rio Ivinhema e da inaplicabilidade da teoria do fato consumado na espécie. 3. Tal conclusão não exigiu reexame de provas ou análise de leis locais, mas tão somente o devido enquadramento e a subsunção dos fatos, precisamente delineados no aresto impugnado, aos re-gramentos da legislação federal aplicável ao caso e apontada como violada. A medida é compatível com a natureza excepcional da via eleita, e a conclusão da discrepância do acórdão com o entendimento desta Corte está respaldada na jurisprudência deste Superior Tribunal. 4. Agravo interno a que se nega pro-vimento. (AgInt-REsp 1381085/MS, Rel. Min. Og Fernandes, 2ª T., julgado em 17.08.2017, DJe 23.08.2017)

[...] AÇÃO CIVIL PÚBLICA – EDIFICAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PER-MANENTE – SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO – INFRAÇÃO AMBIENTAL – PRE-TENSÃO DE DEMOLIÇÃO – INDEFERIMENTO – NOVA CODIFICAÇÃO FLO-RESTAL – VIOLAÇÃO A NORMATIVOS CONSTITUCIONAIS – TEMPUS REGIT ACTUM – IRRETROATIVIDADE DA NOVA CODIFICAÇÃO FLORESTAL – [...] 5. “O novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o ato jurídico per-feito, os direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, tampouco para reduzir de tal modo e sem as necessárias compensações ambientais o patamar de pro-teção de ecossistemas frágeis ou espécies ameaçadas de extinção, a ponto de transgredir o limite constitucional intocável e intransponível da ‘incumbência’ do Estado de garantir a preservação e a restauração dos processos ecológicos essen-ciais (art. 225, § 1º, I)” (AgRg-REsp 1.434.797/PR, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., julgado em 17.05.2016, DJe 07.06.2016). 6. Agravo interno não provido. (AgInt-AgInt-AREsp 850.994/SP, de minha relatoria, 2ª T., julgado em 15.12.2016, DJe 19.12.2016)

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ADMINISTRATIVO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – INSTITUIÇÃO DE RESERVA FLO-RESTAL – DEVER DE OBEDIÊNCIA – OBRIGAÇÃO DO PROPRIETÁRIO OU POSSUIDOR DO IMÓVEL RURAL – [...] 2. O entendimento da Corte originá-ria (fls. 536-540/STJ) está em conformidade com a orientação do STJ, de que a delimitação e a averbação da Reserva Legal configuram dever do proprietário ou adquirente do imóvel rural, independentemente da existência de florestas ou outras formas de vegetação nativa na gleba. Outrossim, constitui obrigação do proprietário ou adquirente tomar as providências necessárias à restauração ou à recuperação das formas de vegetação nativa para se adequar aos limites per-centuais previstos nos incisos do art. 16 do Código Florestal. (EREsp 218.781/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, 1ª S., DJe 23.02.2012; no mesmo sentido, RMS 21.830/MG, Rel. Min. Castro Meira, DJ 01.12.2008; RMS 22.391/MG, Relª Min. Denise Arruda, DJe 03.12.2008; REsp 973.225/MG, Relª Min. Eliana Calmon, DJe 03.09.2009, REsp 821.083/MG, Rel. Min. Luiz Fux, DJe 09.04.2008; REsp 1.087.370/PR, Relª Min. Denise Arruda, 1ª T., DJe 27.11.2009; EDcl-Ag 1.224.056/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., DJe 06.08.2010). 3. Em matéria ambiental, a adoção do princípio tempus regit actum impõe obe-diência à lei em vigor quando da ocorrência do fato ilícito (AgRg-REsp 1.367.968/SP, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., DJe 12.03.2014; REsp 1.090.968/SP, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª T., DJe 03.08.2010; REsp 625.024/RO, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., DJe 04.05.2011). 4. Agravo Regimental não provido. (AgRg--AREsp 231.561/MG, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., julgado em 16.12.2014, DJe 03.02.2015)

Como o acórdão recorrido não se coaduna com essa orientação jurispru-dencial, correta se mostra a decisão agravada, que proveu o recurso especial do MP/SP, a qual de ser mantida, uma vez que os agravantes não trouxeram argumentos suficientes para infirmar a sua fundamentação.

Por fim, a pendência de julgamento no Supremo Tribunal Federal das ações em que se discute a constitucionalidade de dispositivos no novo Código Florestal não enseja o sobrestamento dos recursos que tramitam nesta Corte.

De qualquer forma, o que se discute no presente caso é a retroatividade, e não a constitucionalidade do art. 15 do novo Código Florestal.

Ante o exposto, nego provimento ao agravo interno.

É o voto.

CertidãO de JulgamentO segunda turma

Número Registro: 2016/0111355-4 AgInt-REsp 1.597.589/SP

Números Origem: 00043968920118260210 1700/2011 17002011 43968920118260210

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Pauta: 20.02.2018 Julgado: 20.02.2018

Relator: Exmo. Sr. Ministro Mauro Campbell Marques

Presidente da Sessão: Exmo. Sr. Ministro Francisco Falcão

Subprocuradora-Geral da República: Exma. Sra. Dra. Sandra Verônica Cureau

Secretária: Belª Valéria Alvim Dusi

autuaçãO

Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo

Recorrido: Jose Mario Avila Rezende Filho

Recorrido: Fernanda Silva Rezende – Menor impúbere

Recorrido: Ana Maria Sousa Silva – Por si e representando

Advogado: Evandro Alves da Silva Grili e outro(s) – SP127005

Assunto: Direito administrativo e outras matérias de direito público – Meio ambiente

agravO internO

Agravante: Jose Mario Avila Rezende Filho

Agravante: Fernanda Silva Rezende – Menor impúbere

Agravante: Ana Maria Sousa Silva – Por si e representando

Advogado: Evandro Alves da Silva Grili e outro(s) – SP127005

Agravado: Ministério Público do Estado de São Paulo

CertidãO

Certifico que a egrégia Segunda Turma, ao apreciar o processo em epí-grafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

“A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo interno, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).”

A Sra. Ministra Assusete Magalhães, os Srs. Ministros Francisco Falcão (Presidente), Herman Benjamin e Og Fernandes votaram com o Sr. Ministro Relator.

Parte Geral – Acórdão na Íntegra

2527

Tribunal Regional Federal da 1ª RegiãoApelação Cível nº 0003469‑88.2016.4.01.3505/GO Relator: Desembargador Federal Kassio Nunes MarquesApelante: Brazquímica Comércio de Carvão Ltda. – MEApelante: Ilvaci Martins TeixeiraApelado: Instituto Nacional do Seguro Social – INSSProcurador: DF00025372 – Adriana Maia Venturini

ementa

AMBIENTAL, ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL – TRANSPORTE IRREGULAR DE CARVÃO, SEM ACOMPANHAMENTO DA DEVIDA LICENÇA AMBIENTAL – BENS E INS- TRUMENTOS UTILIZADOS NA PRÁTICA DA INFRAÇÃO AMBIENTAL – LEGALIDADE DA AÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – EMPRESA AUTORA PROPRIETÁRIA DOS BENS APREENDIDOS

1. O tratamento da questão ambiental não pode prescindir da es-trita observância dos diversos parâmetros e balizas constitucionais e infraconstitucionais a ela atinentes.

2. No que toca ao meio ambiente, a sensível relação entre direi-tos e deveres foi abarcada no caput do art. 225 da Constituição Federal. Em tal dispositivo, coexistem a imposição de um dever difuso de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações; e previsão de um direito, do qual todos são igual-mente titulares, a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, dado que se trata de um bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida.

3. Nosso ordenamento jurídico foi dotado de normas legais que re-verberam os postulados acima aludidos. Não faltam prerrogativas, na Lei nº 9.605/1998 e no Decreto nº 6.514/2008, atribuídas ao administrador, para, coercitivamente, sancionar o infrator.

4. Entre tais sanções – adotadas, é bom frisar, no legítimo exercício do poder de polícia da administração pública –, estão justamen-te aquelas cuja categoria se discute nessa ação, que vem a ser a

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apreensão dos produtos e instrumentos relacionados às correspon-dentes infrações administrativas.

5. A norma legal é categórica: caracterizada a infração administra-tiva, a apreensão dos materiais nela utilizados é devida, desde que respeitados o contraditório e a ampla defesa no âmbito de regular processo administrativo.

6. Havendo – como na hipótese dos autos – elementos que si-nalizam o claro risco de nova utilização do bem apreendido em atividade ilícita, a pretendida determinação judicial de restituição de bem apreendido se constituiria, a toda evidência, em indevida e injustificada intervenção judicial na esfera de atuação da admi-nistração.

7. A intervenção judicial, em casos tais, a um só tempo, traz enor-mes prejuízos à autonomia do gestor público ambiental – por-quanto desautoriza o poder de polícia regularmente exercido –, assegura a impunidade pela infração cometida e incentiva a pro-gressiva degradação do meio ambiente.

8. Está pacificado no âmbito do Superior Tribunal de Justiça o en-tendimento de que “a responsabilidade civil pelo dano ambiental, qualquer que seja a qualificação jurídica do degradador, públi-co ou privado, é de natureza objetiva, solidária e ilimitada, sen-do regida pelos princípios do poluidor-pagador, da reparação in integrum, da prioridade da reparação in natura [...]”. Nesse senti-do, entre muito outros, o REsp 1.454.281, Min. Herman Benjamin, DJ de 09.09.2016.

9. Na hipótese dos autos, é possível se depreender que a impug-nada sanção administrativa obedecera ao contraditório e à am-pla defesa e que o correspondente auto de infração apresenta particularidades que não deixam dúvida quanto à ilegalidade do transporte de carvão vegetal sem o acompanhamento da licença ambiental exigida para o ato. Além disso, foi constatado que a empresa infratora já possuía registros de envolvimento a outras infrações ambientais.

10. Verificada a legalidade e a regularidade das apreensões dos veí- culos, deve ser mantida a sentença que indeferiu sua resti tuição.

11. Apelação, da parte autora da ação, conhecida e desprovida.

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aCórdãO

Decide a Turma, por unanimidade, conhecer e negar provimento à ape-lação, nos termos do voto do Relator.

6ª Turma do TRF da 1ª Região – Brasília, 5 de fevereiro de 2018.

Desembargador Federal Kassio Marques Relator

relatóriO

Apelação interposta por Brazquímica Comércio de Carvão Ltda. e Ilvaci Martins Teixeira em face da sentença, proferida em ação ordinária ajuizada pe-los ora apelantes contra o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, que julgou improcedente o pedido autoral de restituição dos veículos, de sua propriedade apreendidos em razão do Auto de Infração nº 9106697/E e Termos de Apreensão nºs 714964/E e 714963/E – car-reta, placa OVO 0376 e reboque, placa JYN 6983.

Nas razões do apelo, em síntese, sustenta-se a legalidade das ações da empresa, a utilização lícita dos veículos como instrumentos de trabalho, e a regularidade de todas as licenças ambientais.

Pleiteia, inclusive, em sede de tutela provisória de urgência, que os refe-ridos bens sejam restituídos a posse dos apelantes como fieis depositários até a finalização do processo administrativo e judicial.

Com a apresentação das contrarrazões pela parte apelada, subiram os autos a esta instância para julgamento.

É o relatório.

vOtO

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço da apelação.

A sentença não merece reforma, ao passo que bem examinado o mérito da ação, cujos fundamentos ratifico e adoto como razões de decidir:

“Com efeito, a matéria em discussão é apenas de direito, estando o processo instruído com documentos suficientes para o exame do pedido.

Consta dos autos que, em 24.11.2016, em fiscalização realizada pelo Ibama jun-to ao posto da Polícia Rodoviária Federal em Uruaçu (GO), foram apreendidos os veículos utilizados no transporte de 43,92 m3 de carvão vegetal, de vegetação

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nativa (cerrado), sem licença válida para todo o tempo da viagem, conforme se observa do Auto de Infração nº 9106697/E e Termos de Apreensão nºs 714964/E e 714963/E (fls. 24 e 26).

Conforme Relatório de Fiscalização nº 27/2016, juntado pelo Ibama às fls. 172/174, o veículo foi abordado transportando 43,92 m3 de carvão vegetal nativo do Cerrado, e ‘com o motorista não constava Documento de Origem Flo-restal – DOF, ou similar, nem a Nota fiscal Documentos que são de porte obriga-tório para todo o tempo da viagem’.

Além disso, na tentativa de burlar a fiscalização, foi apresentada pelo motorista autorização expedida para viagem realizada em trecho diverso. Senão vejamos:

‘[...] Foi apresentada pelo motorista a Guia de Controle Ambiental – CGA similar ao DOF, gerada em 17.11.2016, e válida até 27.11.2016, do Estado de Minas Gerais, porém, a mesma refere-se ao deslocamento de Unaí/MG para a empresa Brazquímica Com. de Carvão Ltda., sediada em Brasília/DF e que possui como atividade principal o comércio de carvão vegetal no Distrito Federal. Logo, rola inviável para Uruaçu/GO.

O motorista do veículo informou que esta era a segunda viagem com a mes-ma GCA e que na verdade o carregamento ocorreu no município de Mora Rosa/GO, logo, transporte de carvão sem acompanhamento de documento que comprove a origem. Porém, o mesmo recusou a informar a origem real do carvão.’

Da análise das provas produzidas nos autos é possível concluir que a conduta informada no auto de infração caracteriza, em tese, a infração administrativa des-crita no art. 46, c/c art. 70 da Lei nº 9.605/1998, com regulamentação feita pelo art. 47 do Decreto nº 6.514/2008:

‘Art. 46. Receber ou adquirir, para fins comerciais ou industriais, madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem exigir a exibição de licença do vendedor, outorgada pela autoridade competente, e sem munir-se da via que deverá acompanhar o produto até final beneficiamento: (grifei)

Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, tem em depósito, transporta ou guarda madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem licença válida para todo o tempo da viagem ou do armazenamento, outorgada pela autoridade competente. (grifei)

Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.

§ 1º São autoridades competentes para lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo os funcionários de órgãos ambientais inte-grantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente – Sisnama, designados para

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as atividades de fiscalização, bem como os agentes das Capitanias dos Portos, do Ministério da Marinha.

§ 2º Qualquer pessoa, constatando infração ambiental, poderá dirigir repre-sentação às autoridades relacionadas no parágrafo anterior, para efeito do exercício do seu poder de polícia.

§ 3º A autoridade ambiental que tiver conhecimento de infração ambiental é obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante processo administra-tivo próprio, sob pena de co-responsabilidade.

§ 4º As infrações ambientais são apuradas em processo administrativo pró-prio, assegurado o direito de ampla defesa e o contraditório, observadas as disposições desta Lei.

Art. 47. Receber ou adquirir, para fins comerciais ou industriais, madeira ser-rada ou em tora, lenha, carvão ou outros produtos de origem vegetal sem exigir a exibição de licença do vendedor, outorgada pela autoridade com-petente, e sem munir-se da via que deverá acompanhar o produto até final beneficiamento: (grifei)

Multa de RS 300,00 (trezentos reais) por unidade, estéreo, quilo, mdc ou me-tro cúbico aferido pelo método geométrico.

§ 1º Incorre nas mesmas multas quem vende, expõe à venda, tem em de-pósito, transporta ou guarda madeira, lenha, carvão ou outros produtos de origem vegetal, sem licença válida para todo o tempo da viagem ou do arma-zenamento, outorgada pela autoridade competente ou em desacordo com a obtida. (grifei)

§ 2º Considera-se licença válida para todo o tempo da viagem ou do arma-zenamento aquela cuja autenticidade seja confirmada pelos sistemas de con-trole eletrônico oficiais, inclusive no que diz respeito à quantidade e espécie autorizada para transporte e armazenamento.’

Ao disciplinar a matéria relativa às infrações ambientais, a Lei nº 9.605, de 1998 dispõe, ainda, em seus arts. 25 e 72 o seguinte:

‘Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos sem produtos e instrumen-tos, lavrando-se os respectivos autos.

§ 1º Os animais serão libertados em seu habitat ou entregues a jardins zooló-gicos, fundações ou entidades assemelhadas, desde que fiquem sob a respon-sabilidade de técnicos habilitados.

§ 2º Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras, serão estes avaliados e doados a instituições científicas, hospitalares, penais e outras com fins bene-ficentes.

§ 3º Os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis serão destruídos ou doados a instituições cientificas, culturais ou educacionais.

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§ 4º Os instrumentos utilizados na prática da infração serão vendidos, garan-tida a sua descaracterização por meio da reciclagem.

Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções, observado o disposto no art. 6º:

IV – apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instru-mentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utiliza-dos na infração; [...]’ grifei

De acordo com os dispositivos legais supracitados, para o transporte de carvão ou outros produtos de origem vegetal, é necessária licença válida outorgada pela autoridade competente para todo o tempo da viagem.

Conforme se vê do Auto de Infração nº 9106697/E (fl. 26), a fiscalização am-biental constatou o transporte de 43,92 m3 de carvão vegetal, de vegetação na-tiva (cerrado), sem licença válida para todo o tempo da viagem. Diante disso, a autoridade ambiental procedeu à apreensão dos veículos de propriedade dos demandantes, utilizados no transporte irregular, conforme se vê dos Termos de Apreensão nºs 714964/E e 714963/E (fls. 24 e 26).

Logo, a autuação da autoridade administrativa foi pautada pelo princípio da legalidade, posto que os veículos apreendidos, utilizados, especificamente no transporte ilícito de carvão, configura-se instrumento da infração administrativa e penal, conforme preceitua a legislação ambiental.

Conforme se observa da legislação mencionada, a autorização para a apreen-são dos instrumentos utilizados na infração alcança os veículos utilizados para o transporte dos produtos de origem vegetal. In casu, a medida é proporcional diante da gravidade do transporte irregular de carvão sem documento válido para todo o tempo da viagem.

Ressalte-se, ainda, que, no presente caso, restou demonstrado que a autora é uma empresa que atua há bastante tempo na atividade de transporte de carvão vegetal, tendo amplo acesso à legislação aplicada à atividade e conhecimento das licenças e autorizações exigidas para a comercialização e o transporte de produtos de origem vegetal. Além disso, o Ibama comprovou que a empresa requerente já foi autuada anteriormente por outras infrações ambientais relacio-nadas à atividade de transporte e armazenamento de carvão vegetal, conforme documentos de fls. 190/191.

Outrossim, a legislação não exige a ilicitude dos instrumentos para a apreensão administrativa, tampouco a reincidência do infrator, sendo que entendimento diverso esvazia o art. 72, IV, da Lei nº 9.605/1998.

Conveniente consignar, ainda, que a aplicação de sanção por infração adminis-trativa ambiental independe do elemento subjetivo do autor da conduta. Vale dizer, os demandantes devem responder pelas infrações à legislação a que der causa em sua atividade.

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Há, é verdade, decisões judiciais que vem autorizando a restituição de veículos apreendidos sob o argumento de não serem destinados exclusivamente à prática de ilícitos.

Nesse sentido:

ADMINISTRATIVO – INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS (IBAMA) – INFRAÇÃO AMBIENTAL APLICAÇÃO DE MULTA E APREENSÃO DO VEÍCULO TRANSPORTADOR DE MADEIRA PERTENCENTE A TERCEIRO – PRESUNÇÃO DE BOA-FÉ DO PRO-PRIETÁRIO QUE NÃO CONCORREU PARA O ILÍCITO, RESTITUIÇÃO DO VEÍCULO – POSSIBILIDADE – I A jurisprudência deste Tribunal tem entendi-mento de que o veículo pertencente a terceiro, contratado para o serviço de transporte de madeira, somente pode ser apreendido, nos termos do art. 25, § 4º, da Lei nº 9.605/1998, quando for usado exclusivamente para o desempenho da atividade ilícita. 2. Apelação e remessa oficial desprovidas. (TRF 1ª R., 6ª T., AMS 00013904120094014101, Relª Juíza Fed. Daniele Maranhão Costa (Conv.), e-DJFl de 13.03.2015, p. 2979)

Tal entendimento, além de não se amparar na Lei, acaba esvaziando o comando normativo do art. 72, inciso IV, da Lei nº 9.506/1998, já que é difícil imaginar um veículo utilizado exclusivamente para fins ilícitos.

O entendimento judicial acima mencionado permite que os proprietários dos produtos de origem vegetal, no caso dos autos o carvão, diminuam bastante os prejuízos decorrentes das autuações em estradas mediante a contratação de em-presas de transporte rodoviário.

Em casos como o dos autos, o prejuízo do comerciante de carvão se limitaria à carga apreendida, possivelmente um percentual ínfimo do total extraído ilegal-mente (e a multa de baixo valor). Já a transportadora estaria livre de qualquer pre-juízo significativo (o valor da multa é pequeno) e teria assegurado um lucrativo mercado de transporte ilícito de carvão.

Em outras palavras, estar-se-ia reduzindo drasticamente o potencial de um dos principais métodos de combate a extração ilícita de carvão.

A alegação de que o transportador desconhecia a ilegalidade constatada no trans-porte da carga e que os veículos apreendidos são utilizados exclusivamente para transporte rodoviário de cargas não merece prosperar, porquanto, via de regra os transportadores conhecem as formalidades envolvidas no transporte de produtos de origem vegetal.

Portanto, como a fiscalização constatou o transporte de carvão desacompanha-do da documentação necessária, correta se mostra a autuação e apreensão dos aludidos veículos, realizada com fundamento no poder de polícia constitucional-mente deferido ao Ibama.

Ressalte-se, ainda, que a legislação ambiental permite que a pessoa física ou jurídica possa ser responsabilizada em razão de conduta causadora de degra-

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dação ambiental praticada por terceiro, conforme se extrai do art. 2º da Lei nº 9.605/1998, in verbis:

‘Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes pre-vistos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua cul-pabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.’

Por fim, não tendo a parte autora desconstituído a presunção de legitimidade da autuação realizada pela autarquia ambiental consubstanciada no Auto de Infra-ção nº 9106697/E e Termos de Apreensão nºs 714964/E e 714963/E (fls. 24 e 26), a improcedência dos pedidos é medida que se impõe.”

O tratamento da questão ambiental não pode prescindir da estrita obser-vância dos diversos parâmetros e balizas constitucionais e infraconstitucionais a ela atinentes.

No que toca ao meio ambiente, a sensível relação entre direitos e deveres foi abarcada no caput do art. 225 da Constituição Federal. Em tal dispositivo, coexistem a imposição de um dever difuso de defender e preservar o meio am-biente para as presentes e futuras gerações; e previsão de um direito, do qual to-dos são igualmente titulares, a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, dado que se trata de um bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida.

Nosso ordenamento jurídico foi dotado de normas legais que reverberam os postulados acima aludidos. Não faltam prerrogativas, na Lei nº 9.605/1998 e no Decreto nº 6.514/2008, atribuídas ao administrador, para, coercitivamente, sancionar o infrator.

Entre tais sanções – adotadas, é bom frisar, no legítimo exercício do poder de polícia da administração pública –, estão justamente aquelas cuja categoria se discute nessa ação, que vem a ser a apreensão dos produtos e instrumentos relacionados às correspondentes infrações administrativas.

A norma legal é categórica: caracterizada a infração administrativa, a apreensão dos materiais nela utilizados é devida, desde que respeitados o con-traditório e a ampla defesa no âmbito de regular processo administrativo.

Além da constatação da infração ambiental, consistente no transporte de carvão vegetal sem o acompanhamento de licença ambiental válida, apurou-se que a empresa já foi envolvida em anteriores infrações ambientais.

Havendo – como na hipótese dos autos – elementos que sinalizam o cla-ro risco de nova utilização do bem apreendido em atividade ilícita, a pretendida

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determinação judicial de restituição de bem apreendido se constituiria, a toda evidência, em indevida e injustificada intervenção judicial na esfera de atuação da administração.

A intervenção judicial, em casos tais, a um só tempo, traz enormes pre-juízos à autonomia do gestor público ambiental – porquanto desautoriza o po-der de polícia regularmente exercido –, assegura a impunidade pela infração cometida e incentiva a progressiva degradação do meio ambiente.

Está pacificado no âmbito do Superior Tribunal de Justiça o entendimen-to de que “a responsabilidade civil pelo dano ambiental, qualquer que seja a qualificação jurídica do degradador, público ou privado, é de natureza obje-tiva, solidária e ilimitada, sendo regida pelos princípios do poluidor-pagador, da reparação in integrum, da prioridade da reparação in natura [...]”. Nesse sentido, entre muito outros, o REsp 1.454.281, Min. Herman Benjamin, DJ de 09.09.2016.

Na hipótese dos autos, é possível se depreender que a impugnada sanção administrativa obedecera ao contraditório e à ampla defesa.

Os argumentos trazidos nesta instância não capazes de infirmar as razões em que fundada a sentença proferida pelo juízo de primeiro grau.

Além da verificação de da higidez da autuação lavrada, a apreensão dos veículos utilizados na infração é decorrente do exercício do poder de polícia conferido ao Ibama e com a natureza de sanção, conforme previsão na lei

As circunstâncias fáticas do caso em exame, ainda, não permitem o deferimento da nomeação dos recorrentes como depositários fiéis dos bens apreendidos até sua posterior definição, notadamente pelos indícios de explora-ção irregular de produto florestal, consoante os registros anteriores citados pelo magistrado na sentença, o que não foi elidido pelos apelantes.

A licitude na aquisição dos veículos, bem como o fato de servirem como garantias no próprio financiamento de compra não servem para afastar a medi-da de cunho acautelatório ora decidida. É que mesmo adquirido licitamente um bem, nada obsta que sua utilização sirva como instrumento para a prática de ilícitos, conforme se verificou na hipótese.

Por fim, eventual desproporção verificada entre o valor sugerido do bem apreendido e o valor da multa administrativa não serve para autorizar sua restituição, eis que inexiste a previsão legal de tal parâmetro com fins a esse exercício. Mais uma vez, frise-se, está diante de um ato ilícito praticado pelo administrado, cujas ações efetivadas pela Administração apresentam a devida correspondência na lei.

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DISPOSITIVO

Ante o exposto, conheço da apelação, e nego provimento.

É como voto.

Desembargador Federal Kassio Nunes Marques Relator

Parte Geral – Acórdão na Íntegra

2528

Tribunal Regional Federal da 2ª RegiãoAgravo de Instrumento – Turma Espec. III – Administrativo e CívelNº CNJ: 0009810‑11.2017.4.02.0000 (2017.00.00.009810‑6)Relator: Desembargador Federal Ricardo PerlingeiroAgravante: Instituto Ambiental Conservacionista 5º Elemento e outrosAdvogado: RJ153678 – Nadia Oliveira PegadoAgravado: Instituto Estadual do Ambiente – Inea e outrosProcurador: Procurador do Estado do Rio de Janeiro e outrosOrigem: 01ª Vara Federal de Três Rios (00591850220164025113)

ementa

QUESTÃO DE ORDEM – DIREITO AMBIENTAL – GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS – ATERRO SANITÁRIO – DEMANDAS CONEXAS NA JUSTIÇA FEDERAL E ESTADUAL – CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA – SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (ART. 105, I, D, DA CF/1988)

1. Agravo de instrumento (0009810-11.2017.4.02.0000) visando à reforma da decisão proferida pelo Juízo Federal da 1ª Vara de Três Rios, que revogou o deferimento da tutela antecipada na ACP 0059185-02.2016.4.02.5113, em que se pretende, em síntese, suspender/impedir o licenciamento ambiental do empreendimen-to referente à implantação da Central de Tratamento e Destinação de Resíduos Sólidos de Três Rios – CTDRS-TR, localizado na Ro-dovia BR-040, Km 17, Sítio São Jorge, Três Rios/RJ.

2. Efeito suspensivo deferido, por unanimidade, pela 5ª Turma Especializada do TRF2, para sustar a decisão atacada, restabele-cendo a decisão que havia concedido a tutela antecipada para “suspender a validade da Licença Prévia nº IN033586 e da Licen-ça de Instalação nº IN037543, conferidas à ré União Norte Flumi-nense Engenharia e Comércio Ltda., bem como para determinar a paralisação de eventuais obras decorrentes destas licenças, além do sobrestamento do respectivo processo administrativo do Inea E-07/002.10751/2014, até o julgamento do mérito da presente lide, sob pena de multa a ser arbitrada pelo juízo por dia de des-cumprimento da medida liminar”.

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3. Deferimento de liminar pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ/RJ) no Ag 0063143-65.2017.8.19.0000, inter-posto contra a decisão proferida pela 4ª Vara Cível da Comarca de Petrópolis/RJ, na ACP 0026515-48.2017.8.19.0042, ajuizada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. Liminar con-cedida para “determinar ao Município de Petrópolis que destine os resíduos sólidos urbanos de Petrópolis à célula fase 1 do aterro sanitário para RSU Classe II de Três Rios (BR-040 Km 17, Sítio São Jorge)”.

4. Da leitura das decisões proferidas pelo Juízo da 4ª Vara Cível da Comarca de Petrópolis/RJ na ACP 0026515-48.2017.8.19.0042 e pelo TJ/RJ no Ag 0063143-65.2017.8.19.0000, resta evidente que as mesmas esvaziam por completo o conteúdo da decisão proferida pela 5ª Turma Especializada do TRF2, que determinou a suspensão da decisão agravada, proferida na ACP 0059185-02.2016.4.02.5113, restabelecendo, assim, a tutela antecipada anteriormente deferida.

5. Tratam-se de causas conexas na origem, uma vez que efeito de uma é capaz de eliminar o efeito prático da outra (a decisão do TJ/RJ, no Ag 0063143-65.2017.8.19.0000, determinou o re-cebimento de resíduos sólidos do Município de Petrópolis pela Central de Tratamento de Três Rios, cujo funcionamen-to havia sido suspenso por liminar do TRF2 no Ag 0009810-11.2017.4.02.0000).

6. Conflito Positivo de Competência Suscitado, nos termos do art. 105, I, d, da CF/1988, dos arts. 66, I, e 951 do CPC/2015, em face do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, re-lativo ao Ag 0063143-65.2017.8.19.0000, e do Juízo da 4ª Vara Cível da Comarca de Petrópolis/RJ, referente à ACP 0026515-48.2017.8.19.0042, os quais, declarada a competência da Justi-ça Federal, devem ser distribuídos, respectivamente, à 5ª Turma Especializada do TRF2 (Gabinete Desembargador Federal Ricardo Perlingeiro) e ao Juízo da 1ª Vara Federal de Três Rios, por depen-dência à ACP 0059185-02.2016.4.02.5113.

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aCórdãO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a 5ª Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, por unanimidade, acolher a questão de ordem para suscitar conflito positivo de competência, a ser dirimido pelo Superior Tribunal de Justiça, nos termos do relatório e voto, que passam a integrar o presente julgado.

Rio de Janeiro, 28 de novembro de 2017 (data do Julgamento).

Ricardo Perlingeiro Desembargador Federal

relatóriO

Cuida-se agravo de instrumento interposto pelo Instituto Ambiental Con-servacionista 5º Elemento contra a decisão proferida pelo Juízo da 1ª Vara Fe-deral de Três Rios que revogou a tutela antecipada que havia sido concedida na ação civil pública 0059185-02.2016.4.02.5113, ajuizada pelo ora agravante em face do Instituto Estadual do Ambiente – Inea, do Estado do Rio de Janeiro e da União Norte Fluminense Engenharia e Comércio Ltda., na qual pretende, em suma, suspender/impedir o licenciamento ambiental do empreendimento referente à implantação da Central de Tratamento e Destinação de Resíduos Sólidos de Três Rios – CTDRS-TR, localizado na Rodovia BR-040, Km 17, Sítio São Jorge, Três Rios/RJ.

A 5ª Turma Especializada do TRF2, por unanimidade, deferiu o efeito suspensivo requerido no agravo de instrumento para sustar a decisão atacada (fls. 341/345), o que implicou restabelecimento da decisão que havia concedido a tutela antecipada para suspender “a validade da Licença Prévia nº IN033586 e da Licença de Instalação nº IN037543, conferidas à ré União Norte Fluminen-se Engenharia e Comércio Ltda., bem como para determinar a paralisação de eventuais obras decorrentes destas licenças, além do sobrestamento do respec-tivo processo administrativo do Inea E-07/002.10751/2014, até o julgamento do mérito da presente lide, sob pena de multa a ser arbitrada pelo juízo por dia de descumprimento da medida liminar”.

Após a atribuição de efeito suspensivo ao recurso, a agravada União Norte Fluminense Engenharia e Comércio Ltda. noticiou, às fls. 2.449/2.450, o deferimento de liminar, em plantão judicial, pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ/RJ) no Agravo de Instrumento nº 0063143-65.2017.8.19.0000, interposto contra a decisão proferida pela 4ª Vara

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Cível da Comarca de Petrópolis/RJ, na Ação Civil Pública nº 0026515-48.2017.8.19.0042, ajuizada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP/RJ), nos seguintes termos:

A União Norte Fluminense Engenharia e Comércio Ltda. vem [...] dar conhe-cimento a V. Exa. acerca da nova decisão judicial proferida pelo MM. Julga-dor da 4ª Vara Federal Cível da Comarca de Petrópolis/RJ, nos autos da Ação Civil Pública nº 0026515-48.2017.8.19.0042, bem como decisão de tutela de urgência proferida pela e. Desembargadora Dra. Cristina Tereza Gaulia do e. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, nos autos do Agravo de Instrumento nº 0063143-65.2017.8.19.0000, em sede de plantão judicial do dia 02.11.2017.

1. Conforme explicitado em petição anterior datada de 01.11.2017, em razão da decisão de tutela de urgência proferida nos autos da Ação Civil Pública nº 0026515-48.2017.8.19.0042 ajuizada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (“MPRJ”), no bojo da qual foi determinada, pelo MM. Juízo da 4ª Vara Cível da Comarca de Petrópolis, a destinação dos resíduos sólidos no domiciliares do Município de Petrópolis à célula fase 1 da Central de Tratamento e Destinação de Resíduos Sólidos no Município de Três Rios (“CTDRS-TR”) de propriedade da União Norte Fluminense, a empresa agravada apresentou petição na supramencionada ação a fim de informar ao MM. Juízo da 4ª Vara Cível sobre o conteúdo da decisão de concessão de efeito suspensivo no presente Agravo de Instrumento, para evitar possível conflito entre as jurisdições.

2. Pois bem. Ainda no dia 01.11.2017, em virtude da petição apresentada pela União Norte Fluminense, o Magistrado da 4ª Vara Cível da Comarca de Petrópo-lis-RJ proferiu nova decisão para suspender os efeitos da tutela de urgência con-ferida até o dia 07.11.2017, determinando, por conseguinte, que nesse intervalo de tempo os resíduos sólidos domiciliares do Município de Petrópolis fossem despejados no aterro controlado de Pedro do Rio (Doc.01).

3. Ocorre que o MP-RJ interpôs Agravo de Instrumento nº 0063143-65.2017.8.19.0000, no plantão judicial do e. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro do dia 02.11.2017, tendo sido deferida parcialmente a tutela de urgência pela e. Desembargadora Dra. Cristina Tereza Gaulia a fim de que a União Norte Fluminense receba e destine adequadamente os resíduos sólidos domiciliares provenientes do Município de Petrópolis no aterro sanitário de sua propriedade, pelo prazo de 30 dias, sob pena de multa diária de R$ 10.000,00 (dez mil reais) (Doc.02).

4. Como se pode observar, a razão de decidir da e. Desembargadora Dra. Cristina Tereza Gaulia baseou-se: (i) na impossibilidade de o aterro controlado de Pedro do Rio continuar a receber os resíduos sólidos domésticos do munícipes, (ii) na situação financeira do Município de Petrópolis que requer que o despejo seja realizado em aterro mais próximo à cidade imperial, (iii) no entendimento de que

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a decisão dessa c. Turma Especializada não alcança a Licença de Operação emi-tida pelo Inea à União Norte Fluminense e (iv) no entendimento de que o objeto da Ação Civil Pública ajuizada pelo MP-RJ é mais amplo do que aquele contido na Ação Civil Pública ajuizada na Justiça Federal de Três Rios.

5. Sendo assim, diante da concessão da tutela de urgência pelo e. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Janeiro, mesmo após a comunicação pela Agravada da existência de decisão dessa c. Turma Especializada nos presentes autos, associa-da à suspensão do expediente forense na justiça federal nessa data, não restou alternativa à União Norte Fluminense senão o cumprimento imediato da decisão da e. Desembargadora Dra. Maria Tereza Gaulia.

6. Portanto, mais uma vez com base nos princípios da lealdade processual e boa-fé, e visando evitar a instalação de um ambiente de insegurança jurídica, a empresa Agravada vem dar conhecimento à c. 5ª Turma Especializada a respei-to da nova decisão proferida pelo MM. Juízo da 4ª Vara Cível da Comarca de Petrópolis, bem como decisão de tutela de urgência proferida pela e. Desembar-gadora Dra. Cristina Tereza Gaulia do e. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, nos autos do Agravo de Instrumento nº 0063143-65.2017.8.19.0000, em sede de plantão judicial do dia 02.11.2017.

Às fls. 2.489/2.490, a União Norte Fluminense Engenharia e Comércio Ltda. comunicou que no Agravo de Instrumento nº 0063143-65.2017.8.19.0000 (em trâmite no TJ/RJ) foi proferida nova decisão para “suspender todas as de-cisões anteriores [proferidas na ACP 0026515-48.2017.8.19.0042 e no Ag 0063143-65.2017.8.19.0000], que impeçam o depósito de resíduos sólidos urbanos na Célula 01 do Centro de Tratamento de Resíduos de Três Rios, e os demais resíduos em Pedro do Rio, até o julgamento de mérito do recurso”.

Às fls. 2.500/2.516, o agravante instituto Ambiental Conservacionista 5º Elemento requereu a declaração de nulidade das decisões proferidas pela Justi-ça Estadual na Ação Civil Pública nº 0026515-48.2017.8.19.0042 e no Agravo de Instrumento nº 0063143-65.2017.8.19.0000, por violarem a competência da Justiça Federal para decidir sobre o licenciamento ambiental referente à im-plantação da Central de Tratamento e Destinação de Resíduos Sólidos de Três Rios – CTDRS-TR, empreendimento da agravada União Norte Fluminense En-genharia e Comércio Ltda.

É o relatório. Em mesa para julgamento.

Ricardo Perlingeiro Desembarga dor Federal

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vOtO

O Exmo Desembargador Federal Ricardo Perlingeiro (Relator):

Consoante relatado, cuida-se de agravo de instrumento interposto pelo Instituto Ambiental Conservacionista 5º Elemento contra a decisão proferida pelo Juízo da 1ª Vara Federal de Três Rios que revogou a tutela antecipada que havia sido concedida na Ação Civil Pública nº 0059185-02.2016.4.02.5113, ajuizada pelo ora agravante em face do Instituto Estadual do Ambiente – Inea, do Estado do Rio de Janeiro e da União Norte Fluminense Engenharia e Co-mércio Ltda., na qual pretende, em suma, suspender/impedir o licenciamento ambiental do empreendimento referente à implantação da Central de Tratamen-to e Destinação de Resíduos Sólidos de Três Rios – CTDRS-TR, localizado na Rodovia BR-040, Km 17, Sítio São Jorge, Três Rios/RJ.

A 5ª Turma Especializada do TRF2, por unanimidade, deferiu o efeito suspensivo requerido no agravo de instrumento para sustar a decisão atacada (fls. 341/345), o que implicou restabelecimento da decisão que havia concedido a tutela antecipada para “suspender a validade da Licença Prévia nº IN033586 e da Licença de Instalação nº IN037543, conferidas à ré União Norte Fluminen-se Engenharia e Comércio Ltda., bem como para determinar a paralisação de eventuais obras decorrentes destas licenças, além do sobrestamento do respec-tivo processo administrativo do Inea E-07/002.10751/2014, até o julgamento do mérito da presente lide, sob pena de multa a ser arbitrada pelo juízo por dia de descumprimento da medida liminar”.

Após a atribuição de efeito suspensivo ao recurso, a agravada União Norte Fluminense Engenharia e Comércio Ltda. noticiou, às fls. 2.449/2.450, o deferimento de liminar, em plantão judicial, pelo Tribunal de Justiça do Es-tado do Rio de Janeiro (TJ/RJ) no Ag 0063143-65.2017.8.19.0000, interposto contra a decisão proferida pela 4ª Vara Cível da Comarca de Petrópolis/RJ, na ACP 0026515-48.2017.8.19.0042, ajuizada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP/RJ) em face do Município de Petrópolis, da Companhia Municipal de Desenvolvimento de Petrópolis (Comdep) e da União Norte Flu-minense Engenharia e Comércio Ltda., objetivando “[...] que o Município de Petrópolis e a Comdep destinem os resíduos sólidos urbanos de Petrópolis à cé-lula fase 01 do aterro sanitário para RSU classe II de Três Rios (BR-040, KM 17, Sítio São Jorge, Moura Brasil, Três Rios/RJ), determinando-se, ainda, ao terceiro réu – União Norte Fluminense Engenharia e Comércio Ltda. – o recebimento e o destino adequado dos resíduos sólidos domiciliares de Petrópolis a esta célula licenciada”.

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A decisão proferida no plantão judicial do TJRJ deferiu parcialmente a tutela de urgência para (fls. 2.457/2.460):

1) determinar ao Município de Petrópolis e ao Comdep o encerramento do funcionamento do aterro de Pedro do Rio a contar de 02.11.2017, pena de multa diária de R$ 500,00 (quinhentos reais); 2) determinar ao Município de Petrópolis que destine os resíduos sólidos urbanos de Petrópolis à célula fase 1 do aterro sanitário para RSU Classe II de Três Rios (BR-040, KM 17, Sítio Jorge Moura Brasil), pena de multa diária de R$ 500,00 (quinhentos reais), pelo prazo de 30 dias a contar do presente; determinando à empresa União Norte Fluminense Engenharia e Comércio Ltda., o recebimento e o destino adequado dos resíduos sólidos domiciliares do Município de Petrópolis à cé-lula licenciada, pena de multa diária de R$ 10.000,00 (dez mil reais), pelo prazo de 30 dias a contar do presente; sendo determinado ainda ao Municí-pio de Petrópolis e ao Comdep que, no prazo de 30 dias requeiram a Licença Ambiental de Recuperação – LAR para remediação do aterro controlado de Pedro do Rio.

Às fls. 2.489/2.490, a União Norte Fluminense Engenharia e Comércio Ltda. comunicou que no Ag 0063143-65.2017.8.19.0000 (em trâmite no TJ/RJ) foi proferida nova decisão para “suspender todas as decisões anteriores [proferi-das na ACP 0026515-48.2017.8.19.0042 e no Ag 0063143-65.2017.8.19.0000], que impeçam o depósito de resíduos sólidos urbanos na Célula 01 do Centro de Tratamento de Resíduos de Três Rios, e os demais resíduos em Pedro do Rio, até o julgamento de mérito do recurso”.

Às fls. 2.500/2.516, o agravante Instituto Ambiental Conservacionis-ta 5º Elemento requereu a declaração de nulidade das decisões proferidas pela Justiça Estadual na ACP 0026515-48.2017.8.19.0042 e no Ag 0063143-65.2017.8.19.0000, por violarem a competência da Justiça Federal para decidir sobre o licenciamento ambiental referente à implantação da Central de Trata-mento e Destinação de Resíduos Sólidos de Três Rios – CTDRS-TR.

De fato, da leitura das decisões proferidas pelo Juízo da 4ª Vara Cí-vel da Comarca de Petrópolis/RJ na ACP 0026515-48.2017.8.19.0042 e pelo TJ/RJ no Ag 0063143-65.2017.8.19.0000 (cópias às fls. 2.451/2.452, 2.453, 2.463/2.465 e 2.491/2.499), resta evidente que as mesmas esvaziam por com-pleto o conteúdo da decisão proferida por esta 5ª Turma Especializada no Ag 0009810-11.2017.4.02.0000, que determinou a suspensão da decisão agrava-da, proferida na ACP 0059185-02.2016.4.02.5113, restabelecendo, assim, a tutela antecipada anteriormente deferida, que suspendeu a validade das licen-ças concedidas e determinou a paralisação do empreendimento referente à im-

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plantação da Central de Tratamento e Destinação de Resíduos Sólidos de Três Rios – CTDRS-TR.

Com efeito, tratam-se de causas conexas na origem, uma vez que efeito de uma é capaz de eliminar o efeito prático da outra (o TJ/RJ, no Ag 0063143-65.2017.8.19.0000, determinou o recebimento de resíduos sóli-dos do Município de Petrópolis pela Central de Tratamento de Três Rios, cujo funcionamento havia sido suspenso por liminar do TRF2 no Ag 0009810-11.2017.4.02.0000).

Dessa forma, entendo que as decisões do TJ/RJ prolatadas no Ag 0063143-65.2017.8.19.0000 são nulas, assim como aquelas advindas do Juízo da 4ª Vara Cível da Comarca de Petrópolis/RJ na ACP 0026515-48.2017.8.19.0042, de-vendo a referida ação civil pública ser distribuída ao Juízo da 1ª Vara Federal de Três Rios, por dependência à ACP 0059185-02.2016.4.02.5113, em curso perante aquele Juízo Federal, a fim de assegurar a coerência entre os provimen-tos jurisdicionais.

Sendo assim, fica caracterizado conflito positivo de competência para processar a referida causa em 1º e 2º graus, a ser dirimido pelo E. Superior Tri-bunal de Justiça (STJ), ao qual deve ser encaminhado.

Ante o exposto, na dicção do art. 105, I, d, da CF/1988, dos arts. 66, I, e 951 do CPC/2015, e do art. 44, IV, do Regimento Interno desta E. Corte, subme-to à Turma a presente questão de ordem para Suscitar Conflito Positivo de Com-petência em face do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, relativo ao Ag 0063143-65.2017.8.19.0000, e do Juízo da 4ª Vara Cível da Comarca de Petrópolis/RJ, referente à ACP 0026515-48.2017.8.19.0042, os quais, declara-da a competência da Justiça Federal, devem ser distribuídos, respectivamente, a esta 5ª Turma Especializada do TRF2 (Gabinete Desembargador Federal Ricar-do Perlingeiro) e ao Juízo da 1ª Vara Federal de Três Rios, por dependência à ACP 0059185-02.2016.4.02.5113.

Ademais, deve ser requerido ao E. STJ que, liminarmente, restabeleça a plena competência do TRF2 e do Juízo 1ª Vara Federal de Três Rios/RJ, para apreciar as questões de natureza urgente, respectivamente, no Ag 0063143-65.2017.8.19.0000 e na ACP 0026515-48.2017.8.19.0042, tendo em vista que a jurisdição federal tem fundamento constitucional e, em princípio, cabe à Jus-tiça Federal decidir sobre a sua atuação e não à Justiça Estadual.

Por fim, oficie-se ao Juízo da 1ª Vara Federal de Três Rios/RJ, requisitan-do-lhe informações, em 48h, sobre os motivos que levaram a paralisação do

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feito no primeiro grau, como consta da decisão de fl. 1.895 dos autos da ACP 0059185-02.2016.4.02.5113.

É como voto.

Ricardo Perlingeiro Desembargador Federal

Parte Geral – Acórdão na Íntegra

2529

Tribunal Regional Federal da 3ª RegiãoApelação Criminal nº 0004433‑52.2014.4.03.6106/SP2014.61.06.004433‑0/SPRelator: Desembargador Federal André NekatschalowApelante: Aparecido Donizete dos SantosAdvogado: SP154436 Marcio Mano Hackme e outro(a)Apelado(a): Justiça PúblicaNº Orig.: 00044335220144036106 4ª Vr. São José do Rio Preto/SP

ementa

PENAL – PROCESSO PENAL – ART. 296, § 1º, III, DO CÓDIGO PENAL – ART. 29, § 1º, III, DA LEI Nº 9.605/1998 – ANILHAS ADULTERADAS – MANUTENÇÃO DE ESPÉCIMES DA FAUNA SILVESTRE, EM CATIVEIRO, EM DESACORDO COM AUTORIZAÇÃO DA AUTORIDADE COMPETENTE – MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS – DOSIMETRIA – MANUTENÇÃO – CUSTAS PROCESSUAIS – RÉU POBRE – ISENÇÃO – APELAÇÃO DESPROVIDA

1. Materialidade e autoria comprovadas.

2. Está demonstrado que o acusado era o responsável pela ma-nutenção de diversos pássaros em situações irregulares, por mo-tivos variados, bem como que, com relação àqueles com anilhas violadas, o réu tinha plena ciência do fato, tendo sido ele próprio o responsável por sua violação, conforme confessado à Autorida-de Policial, restando comprovada a prática do crime do art. 296, § 1º, III, do Código Penal. Ainda, na condição de criador amador, o acusado sabia que era vedado manter em sua residência espé-cimes da fauna silvestre em desacordo com a autorização obtida do Ibama, a demonstrar que houve a prática dolosa do crime do art. 29, § 1º, III, da Lei nº 9.605/1998.

3. Não há falar em falsificação grosseira, tendo o réu delibera-damente alterado e feito uso indevido do sinal público, com o fito de manter em cativeiro os espécimes silvestres, em desacordo com autorização obtida do órgão ambiental, estando adequada-mente tipificadas tais condutas nos dispositivos legais apontados.

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Do mesmo modo, não era imprescindível a realização de perícia técnica, pois sua retirada causaria danos inaceitáveis à saúde das aves, tendo sido, de todo modo, realizada pela equipe policial a medição das anilhas com uso de instrumento perfeitamente apto para tanto (fl. 119) e constatada pelos agentes, que gozam de fé pública, a violação das anilhas.

4. Manutenção das penas, adequadamente fixadas no mínimo le-gal pelo Juízo a quo.

5. Ainda que beneficiário da assistência judiciária gratuita, o réu deve ser condenado ao pagamento das custas processuais (CPP, art. 804), ficando, no entanto, sobrestado o pagamento, enquan-to perdurar o estado de pobreza, pelo prazo de 5 (cinco) anos, ocorrendo, após, a prescrição da obrigação (Lei nº 1.060/1950, art. 12). A isenção deverá ser apreciada na fase de execução da sentença, mais adequada para aferir a real situação financeira do condenado (STJ, REsp 842.393, Rel. Min. Arnaldo Esteves de Lima, J. 20.03.2007; REsp 263.381, Rel. Min. Fernando Gonçalves, J. 06.02.2003; TRF 3ª R., ACr 26.953, Rel. Des. Fed. André Nekatschalow, J. 09.02.2009).

6. Apelação criminal desprovida.

aCórdãO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, de-cide a Egrégia Quinta Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, negar provimento à apelação do réu, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

São Paulo, 19 de fevereiro de 2018.

André Nekatschalow Desembargador Federal Relator

relatóriO

Trata-se de apelação criminal interposta pelo réu Aparecido Donizete dos Santos contra a sentença que o condenou à pena de 2 (dois) anos de reclu-

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são e 6 (seis) meses de detenção, regime inicial aberto, e 20 (vinte) dias-multa, valor unitário mínimo, substituídas as penas privativas de liberdade por duas pe-nas restritivas de direitos consistentes em prestação pecuniária de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) e prestação de serviços à comunidade pelo tempo das penas de reclusão e detenção, por prática dos crimes previstos no art. 296, § 1º, III, do Código Penal e no art. 29, § 1º, III, da Lei nº 9.605/1998, referentes às aves com anilhas violadas, absolvendo-o das mesmas imputações com rela-ção às demais aves (fls. 141/148).

O réu alega o quanto segue:

a) deve ser absolvido por ausência de provas e de materialidade, uma vez que a condenação se funda somente nas afirmações do policial responsável pela apreensão, bem como porque ausente exame pe-ricial nas anilhas supostamente falsas;

b) a falsificação das anilhas era grosseira, de modo a tornar o meio absolutamente ineficaz;

c) a pena imposta deve ser revista e reduzida, afastando-se a condena-ção ao pagamento de custas e concedendo-se ao réu o benefício da gratuidade da justiça (fls. 178/185).

O Ministério Público Federal apresentou as contrarrazões (fls. 188/191v.).

A Procuradoria Regional da República manifestou-se pelo desprovimento da apelação (fls. 194/197v.).

Os autos foram encaminhados à revisão, nos termos regimentais.

É o relatório.

André Nekatschalow Desembargador Federal

vOtO

Imputação. Aparecido Donizete dos Santos foi denunciado por prática dos crimes do art. 29, § 1º, III, da Lei nº 9.605/1998 e do art. 296, § 1º, III, do Código Penal, porque em 17.12.2013, em sua residência localizada na cidade de José Bonifácio/SP, mantinha em cativeiro 11 (onze) pássaros da fauna silves-tre, de diversas espécies, nos quais eram utilizados sinais públicos adulterados, consistentes em anilhas do Ibama cujas dimensões internas haviam sido altera-das (fls. 56/57).

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Verificou-se que o denunciado era criador de passeriformes cadastrado junto ao Ibama, sendo-lhe exigido manter aves anilhadas e relação atualizada dos pássaros em seu poder. Consta que as aves estavam com anilhas com di-versas irregularidades, sinais de adulteração, violação e abertura, diferença de espécie ou sexo e de bitolas medidas com relação às aves cadastradas:

a) anilha nº 063488, com bitola medida superior à cadastrada, tratan-do-se de macho registrado como fêmea;

b) anilhas nºs 210097, 261008, 526634 e 126134, com bitolas medi-das superiores às cadastradas;

c) anilha nº 043354, adulterada;

d) anilhas nºs 085008 e 116272, abertas;

e) anilhas nºs 063474 e 063486, com espécies cadastradas diversas daquelas dos espécimes apreendidos;

f) anilha nº 063480, violada, tratando-se de macho registrado como fêmea (fls. 4/8 e 10/14).

Do processo. A sentença absolveu o réu com relação aos pássaros com as anilhas alargadas e adulteradas, bem como quanto àqueles cadastrados com informações incorretas (itens a, b, c e e supra), não havendo a acusação inter-posto recurso. A condenação, portanto, se restringe às 3 (três) aves com anilhas violadas (itens d e f supra), pois plenamente constatável a olho nu (fls. 141/148).

Materialidade. Está satisfatoriamente demonstrada a materialidade dos delitos diante dos seguintes elementos de convicção:

a) boletim de ocorrência ambiental (fls. 4/6);

b) termo de vistoria ambiental (fls. 7/8);

c) auto de infração ambiental (fl. 9)

d) termo de apreensão de 4 (quatro) “canários-da-terra”, 3 (três) “pás-saros-preto”, 1 (um) “coleiro-do-brejo”, 1 (um) “bigodinho”, 1 (um) “patativa-chorona”, 1 (um) “coleira-baiano” e de 10 (dez) gaiolas (fl. 10);

e) laudo biológico de exame dos pássaros apreendidos, com a indica-ção de suas espécies e nomes científicos (fl. 11);

f) termos de destinação de animais, materiais e produtos apreendi-dos, informando a libertação dos animais e a destruição das gaiolas (fls. 12 e 19);

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g) relação de passeriformes registrados em nome do réu, com indica-ção de suas anilhas (fls. 13/14);

h) relatório fotográfico e exame de constatação das gaiolas apreen-didas (fls. 15/17 e 20);

i) termo de embargo de atividade (fl. 18);

j) relatórios com históricos das anilhas apreendidas (fls. 27/40);

k) certificado de calibração do paquímetro digital utilizado na data dos fatos (fl. 119).

Autoria. Está comprovada a autoria delitiva.

O boletim de ocorrência ambiental, o termo de vistoria ambiental, o ter-mo de apreensão, o laudo biológico e a relação de passeriformes registrados em nome do réu demonstram que, no dia 17.12.2013, o Comando de Policiamento Ambiental de José Bonifácio/SP apreendeu 11 (onze) pássaros da fauna silves-tre, de variadas espécies, mantidos em cativeiro na residência do acusado, que estava presente e foi pessoalmente notificado (fl. 4). Consta que as aves estavam com anilhas que apresentavam diversas irregularidades, quais sejam, sinais de adulteração, violação e abertura, diferença de espécie ou sexo e de bitolas me-didas com relação às aves cadastradas.

As declarações da testemunha Cláudio Roberto Vieira, policial militar ambiental, são harmônicas e coerentes com o quanto narrado na denúncia. Em fiscalização, constataram que algumas anilhas estavam adulteradas por meio do uso de um parquímetro digital e que outras haviam sido violadas, apesar de estarem todas as anilhas registradas no nome do apelante (mídia à fl. 115). Não medram as alegações de que todo o procedimento se funda na atuação do poli-cial Cláudio, constando inclusive do boletim de ocorrência ambiental os nomes e matrículas dos demais integrantes da equipe de fiscalização (fl. 6).

Aos policiais responsáveis pela apreensão o réu declarara, na data dos fatos, que já adquirira os pássaros com as anilhas nas condições como encon-tradas (fl. 4). Perante a Autoridade Policial, contudo, confessara que, “quanto aos pássaros com anilhas violadas esclarece que realmente as anilhas estavam um pouco abertas”, pois “na época em que anilhou seus pássaros elas eram de alumínio e como as colocou quando eles eram mais velhos teve que deixá-las mais frouxas para que os pés dos passarinhos passassem por elas e não os ma-chucasse, confirmando ser o responsável pela violação” (fl. 43). Em Juízo, o réu permaneceu em silêncio (mídia à fl. 115).

Está demonstrado que o acusado era o responsável pela manutenção de diversos pássaros em situações irregulares, por motivos variados, bem como

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que, com relação àqueles com anilhas violadas, o réu tinha plena ciência do fato, tendo sido ele próprio o responsável por sua violação, conforme confessa-do à Autoridade Policial, restando comprovada a prática do crime do art. 296, § 1º, III, do Código Penal. Ainda, na condição de criador amador, o acusado sabia que era vedado manter em sua residência espécimes da fauna silvestre em desacordo com a autorização obtida do Ibama, a demonstrar que houve a prática dolosa do crime do art. 29, § 1º, III, da Lei nº 9.605/1998.

Não há falar em falsificação grosseira, tendo o réu deliberadamente al-terado e feito uso indevido do sinal público, com o fito de manter em cativeiro os espécimes silvestres, em desacordo com autorização obtida do órgão am-biental, estando adequadamente tipificadas tais condutas nos dispositivos legais apontados. Do mesmo modo, não era imprescindível a realização de perícia técnica, pois sua retirada causaria danos inaceitáveis à saúde das aves, tendo sido, de todo modo, realizada pela equipe policial a medição das anilhas com uso de instrumento perfeitamente apto para tanto (fl. 119) e constatada pelos agentes, que gozam de fé pública, a violação das anilhas.

Comprovadas a materialidade e a autoria das condutas delitivas, deve ser mantida a condenação.

Dosimetria. Nos termos do art. 59 do Código Penal, foram fixadas as pe-nas iniciais de 2 (dois) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa, quanto ao crime do art. 296, § 1º, III, do Código Penal, e de 6 (seis) meses de detenção e 10 (dez) dias-multa, quanto ao crime do art. 29, § 1º, III, da Lei nº 9.605/1998.

Sem circunstâncias atenuantes e agravantes ou causas de diminuição ou aumento, tais penas tornaram-se definitivas.

As penas de multa foram somadas, perfazendo 20 (vinte) dias-multa, cada um fixado em 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época do fato.

Fixado o regime inicial aberto.

As penas de reclusão e de detenção foram substituídas por duas penas restritivas de direitos, consistentes em prestação pecuniária de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) e prestação de serviços à comunidade pelo tempo das penas de reclusão e detenção.

O réu aduz que a pena imposta deve ser revista e reduzida, afastando-se a condenação ao pagamento de custas e concedendo-se ao réu o benefício da gratuidade da justiça (fls. 178/185).

Não lhe assiste razão.

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As penas foram fixadas no mínimo legal, não tendo sido reconhecidas quaisquer circunstâncias agravantes ou atenuantes, bem como causas de au-mento ou diminuição.

Ainda que se reconheça a incidência da atenuante da confissão, não poderia a pena ser reduzida abaixo do mínimo legal, em atenção à Súmula nº 231 do Superior Tribunal de Justiça, de modo que não há falar em reforma da sentença.

Não procede, ademais, o pedido para afastamento da condenação ao pa-gamento de custas, tratando-se de expressa determinação legal (CPP, art. 804). Ainda que beneficiário da assistência judiciária gratuita, o réu deve ser conde-nado ao pagamento das custas processuais, ficando, no entanto, sobrestado o pagamento, enquanto perdurar o estado de pobreza, pelo prazo de 5 (cinco) anos, ocorrendo, após, a prescrição da obrigação (Lei nº 1.060/1950, art. 12).

A isenção deverá ser apreciada na fase de execução da sentença, mais adequada para aferir a real situação financeira do condenado (STJ, REsp 842.393, Rel. Min. Arnaldo Esteves de Lima, J. 20.03.2007; REsp 263.381, Rel. Min. Fernando Gonçalves, J. 06.02.2003; TRF 3ª R., ACr 26.953, Rel. Des. Fed. André Nekatschalow, J. 09.02.2009).

Ante o exposto, nego provimento à apelação criminal.

É o voto.

André Nekatschalow Desembargador Federal

Parte Geral – Acórdão na Íntegra

2530

Tribunal Regional Federal da 4ª RegiãoApelação Criminal nº 5000374‑13.2015.4.04.7127/RSRelator: Márcio Antonio RochaApelante: Nelson TietzAdvogado: Renata Graciele Abreu LopesApelado: Ministério Público Federal

ementa

PENAL – CRIMES AMBIENTAIS – ESTABELECIMENTO POTENCIALMENTE POLUIDOR – OLARIA – AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO OU LICENÇA AMBIENTAL – LAVRA E EXPLORAÇÃO DE ARGILA – ARTS. 55 E 60 DA LEI Nº 9.605/1998 E 2º DA LEI Nº 8.176/1991

1. Comprovados a materialidade, a autoria e o dolo do réu na prática dos delitos tipificados nos arts. 2º da Lei nº 8.176/1991 e 55 e 60 da Lei nº 9.605/1998, consistentes em extração de argila e funcionamento de olaria sem autorização e sem licenciamento ambiental, mantém-se a condenação do réu como incurso nas res-pectivas penas.

aCórdãO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, de-cide a Egrégia 7ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unani-midade, negar provimento à apelação, nos termos do relatório, votos e notas de julgamento que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Porto Alegre, 06 de fevereiro de 2018.

Des. Federal Márcio Antônio Rocha Relator

relatóriO

O Ministério Público Federal ofereceu denúncia em face de Nelson Tietz e da empresa Nelson Tietz – ME, pela prática, em tese, dos delitos previstos nos

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arts. 55 e 60 da Lei nº 9.605/1998, imputando ao acusado Nelson o delito tipi-ficado no art. 2º da Lei nº 8.176/1991. A denúncia assim narrou os fatos (evento 1, DENUNCIA2):

Em período de tempo não identificado precisamente, mas pelo menos até o dia 04.06.2013, em área localizada na Linha Boa Esperança, no município de Vicen-te Dutra/RS, os denunciados extraíram recurso mineral (argila) sem a competente autorização/licença ambiental.

Também nas mesmas condições, o denunciado pessoa física explorou matéria prima pertencente à União, sem autorização legal.

Conforme apurado, em fiscalização realizada no dia 04.06.2013 por agentes do 2º Grupo Ambiental da Brigada Militar de Frederico Westphalen/RS, foi cons-tatado que os denunciados fizeram funcionar estabelecimento potencialmente poluidor, qual seja, olaria para produção de artefatos de barro cozidos e tijolos, denominada “Nelson Tietz – ME”, sem a devida licença de operação expedida pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental – Fepam ou pelo órgão ambiental municipal.

Ainda, foi constatado que os denunciados estavam extraindo argila – para em-prego na olaria – de uma área de preservação permanente que fica aproxima-damente 90 (noventa) metros distante do Rio Uruguai, representando uma área impactada de aproximadamente 1.000 m² (um mil metros quadrados). Todavia os denunciados também não possuíam licença ambiental para extração, expedida pela Fepam ou pelo órgão ambiental municipal (evento 1, documento 4, p.p. 5, 12 e evento 4, documento 3, p. 9).

Ademais, o denunciado pessoa física extraía a mencionada matéria-prima, que pertence à União, sem autorização do Departamento Nacional de Produção Mi-neral (DNPM).

A materialidade e a autoria dos delitos em tela estão comprovadas pelo termo circunstanciado ambiental nº 2.2.021203.049/06-13 (evento 1, documento 4), pelo auto de constatação simplificado (evento 1, documento 4, p. 12), pela in-formação da Fepam (evento 4, documento 2), pelo termo de declarações do de-nunciado pessoa física (evento 4, documento 3, p. 9) e pelos demais documentos juntados aos autos.

Ante o exposto, tendo assim procedido, os denunciados estão incursos nos arts. 55 e 60 da Lei nº 9.605/1998, e o denunciado pessoa física também no art. 2º da Lei nº 8.176/1991.

A denúncia foi recebida em 24.03.2015 (evento 4, DESPADEC1).

Foi oferecida transação penal em relação à pessoa jurídica Nelson Tietz – ME, cindindo-se os autos (ev. 134).

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Instruído o feito, sobreveio sentença (evento 197, SENT1), publicada em 10.07.2017, julgando procedente a denúncia para condenar o réu Nelson Tietz à pena total de 01 (um) ano e 03 (três) meses de detenção, e 35 (trinta e cinco) dias-multa, à razão de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente ao tempo do pagamento, pela prática dos crimes previstos no art. 55 da Lei nº 9.605/1998 e no art. 2º da Lei nº 8.176/1991, em concurso formal, e no art. 60 da Lei nº 9.605/1998. Foi substituída a pena privativa de liberdade por duas penas restritivas de direitos, consistentes em prestação de serviços à comunidade e prestação pecuniária fixada no valor de 02 (dois) salários mínimos vigentes ao tempo do pagamento.

A defesa do réu interpôs apelação (evento 208, RAZAPELA1), alegando, em síntese, a ausência de dolo, sob o argumento de que não tinha ciência da proibição de retirar argila do local, bem como teria encerrado a atividade extra-tiva após a fiscalização ambiental.

Foram apresentadas contrarrazões (evento 211, PROMOÇÃO1).

A Procuradoria Regional da República na 4ª Região ofereceu parecer pelo desprovimento da apelação (evento 5, PARECER1).

É o relatório.

Dispensada a revisão, nos termos dos arts. 610 do Código de Processo Penal e 38, IV, do Regimento Interno deste Tribunal.

Peço dia para julgamento.

Des. Federal Márcio Antônio Rocha Relator

vOtO

A sentença, da lavra da MMª Juíza Federal, Dra. Ana Raquel Pinto de Lima, examinou e decidiu com precisão todos os pontos relevantes, devolvidos à apreciação do Tribunal. As questões suscitadas no recurso não têm o condão de ilidir os fundamentos da decisão recorrida. Evidenciada, assim, a desnecessi-dade da construção de nova fundamentação jurídica, destinada à confirmação da bem lançada sentença, transcrevo os seus fundamentos, adotando-os como razões de decidir (evento 197, SENT1):

2. Da materialidade dos fatos

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A materialidade dos fatos narrados na denúncia encontra-se comprovada pelos seguintes documentos anexados aos autos do IPL 5002544-26.2013.4.04.7127, apenso, em especial:

a) Termo circunstanciado ambiental nº 2202/1203.049/06-13 (evento 1 – OFIC4, p. 2/6);

b) Boletim de ocorrência nº 2819505 (evento 1, OFIC4, p. 7/8);

c) Auto de constatação simplificado (evento 1, OFIC4, p. 12);

d) Levantamento fotográfico (evento 1, OFIC4, p. 15);

e) Informação da Fepam (evento 4, OFIC2, p. 2),

f) Termo de declarações do acusado (evento 4, DECL3, p. 9);

Também se encontra demonstrada pelos extratos negativos de consulta ao siste-ma de registros no Departamento Nacional de Produção Mineral (evento 151, dos presentes autos).

A ocorrência dos fatos igualmente restou asseverada pela prova testemunhal pro-duzida ao longo da instrução, que corrobora os elementos de informação acima arrolados.

3. Autoria, dolo e demais teses defensivas

Narra a denúncia que, em período de tempo não identificado precisamente, mas pelo menos até o dia 04.06.2013, em área localizada na Linha Boa Esperança, no município de Vicente Dutra/RS, o réu Nelson Tietz extraiu recurso mineral (argila) sem a competente autorização/licença ambiental. Nas mesmas condições de tempo e lugar, o denunciado pessoa física explorou matéria prima pertencente à União, sem autorização legal.

Diante da multiplicidade de delitos, passo a destacar a prova que serve ao con-junto, para, após, analisar a conduta relacionada a cada um deles.

No Auto de Constatação lavrado pelos policiais militares Sandro Lúcio de Azevedo e Adílio Gonchorowsk, constou o seguinte (evento 4_DECL3, p. 5, IPL apenso):

Constatou-se que o infrator é empresário, declarou que percebe vencimentos mensais em torno de R$ 1.800,00 (mil e oitocentos reais) é proprietário da em-presa Nelson Tietz – ME, CNPJ XXXX; a qual exerce a atividade de fabricação de artefatos de barro cozido para uso na construção civil.

O crime ambiental se caracterizou pelo exercício da atividade mencionada sem a devida Licença de Operação; também foi constatada uma lavra de extração de argila na mesma propriedade com uma área impactada de aproximadamente 1.000 m² (mil metros quadrados), onde retira toda a matéria-prima empregada

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na fabricação de tijolos, esta lavra fica aproximadamente 90 m (noventa metros) distante do Rio Uruguai em Área de Preservação Permanente.

Não houve apreensão e nem foram constatados danos ambientais que tenham atingido terceiras pessoas.

Ouvidos em juízo, esses policiais confirmaram os fatos. Sandro Lúcio de Azevedo, lotado na Brigada Militar de Frederico Westphalen/RS (evento 141, vídeo1) relatou:

Receberam do grupo ambiental uma denúncia de que o Sr. Nelson estaria fa-zendo uso de olaria sem licença e tirando barro de um barreiro próximo do Rio Uruguai. Foram até o local e constataram que a empresa estava sem licencia-mento. O barreiro também não tinha licença, estava em área de preservação permanente. Isso foi constatado no dia. Perguntado qual a área aproximada do desmatamento e da realização dessas atividades: referiu que aproximadamente uns mil metros quadrados aproximadamente, onde ele estava retirando argila para fazer tijolos. No dia, o Sr. Nelson não estava no local. Falaram com fun-cionários, deixando uma notificação para o Sr. Nelson comparecer no Grupo ambiental para dar explicações e trazer a documentação que porventura tivesse. Ele compareceu, não sabe se no outro dia ou dali a dois ou três dias, não recorda, mas compareceu alegando que não tinha documentação e que estaria em fins de terminação da empresa. Foi ele mesmo que compareceu e admitiu que era dono, proprietário das instalações. Perguntado, não sabe informar há quanto tempo a olaria estaria em funcionamento. O barreiro estava há aproximadamente 60 metros do Rio Uruguai. Do começo da retirada da argila até o final dele da em torno de sessenta, setenta metros longe do rio. A mata ciliar, pela legislação, no entorno do Rio Uruguai deve ser de 200 metros, pela largura do rio, que vai de 200 a 400 metros de água. Isso, no novo código florestal e também no antigo, não mudou nada, então são 200 metros de área de preservação. A extração da argila era realizada em área de preservação permanente. Refere que o réu não apresen-tou nenhuma documentação, estava sem documentação. Além da extração do minério, da argila do solo, não foi constatado no dia em que estiveram lá que a atividade produzisse algum tipo de poluição. Os fornos não estavam funcionan-do, estavam retirando os tijolos de dentro dos fornos, tinham acabado de fazer a “cura” do tijolo. Neste dia, os fornos não estavam funcionando. Crê que quando em funcionamento provavelmente emitam alguma fumaça, não muito extensa. Refere que quando em funcionamento os fornos de olaria não produzem muita fumaça/ poluição. É diferente do forno de carvão, que dá muita poluição. Nem à olaria licenciada é exigido o uso de filtros, pois os fornos ficam tampados, não causando muita fumaça. A área hoje está abandonada. Já esteve no local para verificar o plantio de mudas, constatando que a área está abandonada, não sendo exercido nenhum tipo de atividade no local. Refere que a parte do barreiro está abandonada, foram plantadas mudas, só que tem um problema ali por causa das enchentes. Provavelmente neste local não vão vingar as mudar que o Sr. Nelson for plantar. Teria que propor uma outra área, abandonar essa área talvez, porque

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vai ser trabalho em vão, as mudas ali não vão vingar. Pela experiência que possui em atividades de fiscalização, essa olaria era de pequeno a médio porte. Refere visitou a olaria há aproximadamente um ano, um ano e pouco e ela estava de-sativada.

Já Adílio Gonchorowsk, policial militar lotado em Frederico Westphalen/RS (evento141, vídeo2), prestou o seguinte relato:

Refere que já faz muito tempo, que inclusive já saiu do grupo ambiental, estando no policiamento normal. Foi constatado por uma denuncia anônima. Chegando ao local foi constatado que havia extração de barro numa área de preservação permanente. A extração de barro ficava há uns 60/70 metros do Rio Uruguai, mais ou menos. A APP ali tem que ser de em média 200 metros. Não se lem-bra quem se identificou como proprietário ou responsável. Refere que havia um funcionário, o proprietário não estava no local. O proprietário/responsável não apresentou nenhuma licença. A área aproximada do local onde ele estava reti-rando material era de aproximadamente uns mil metros quadrados. Refere que ele começou antes, foi seguindo, tirando barro, até chegar há aproximadamente um 70 metros do rio. Não recorda se havia máquinas no local. Refere que havia os fornos, local onde ele guardava tijolos armazém de guarda da lenha, não lembra se ainda mais coisas. Não visitou o local depois, não sabe se houve re-composição da área.

Tanto em sede policial, quanto em juízo, o réu apresentou basicamente a mesma versão aos fatos. Em sede policial, afirmou (evento4, DECL3, p. 9, IPL apenso):

[...]

Em juízo, Nelson Tietz acrescentou (evento 141, vídeo3):

Refere que é casado, tem dois filhos, um com 35 anos, outro com 28, ambos com deficiência. O mais novo tem alto grau de autismo, o outro tem deficiência men-tal. Por não conseguir mantê-lo, passou a guarda para o irmão (tio do deficiente). A esposa vive junto e o filho mais novo também. Tem o primeiro grau. Refere que praticamente está desempregado. Trabalha em serviços terceirizados, em cami-nhão, 2 ou 3 meses por ano, vai para o Mato Grosso de caminhão, como empre-gado. Pelo serviço ganha 1,5, 2 mil por ano, mas é três, quatro meses por ano. Só safra. Mora no interior. Mora numa chácara, mas não é agricultor. A esposa traba-lhava em salão, mas deu baixa por estar com problemas de saúde e ter que cuidar do rapaz (autista) em casa. Ele foge muito e dá muito problema, então um sempre tem que estar cuidando. Nunca foi preso, nem processado. Refere que estava sem autorização. Não lembra se tinha há dez anos a olaria. Trabalhava com pouco empregado, porque era área de alagamento. Trabalhava praticamente no verão, no inverno sempre estava complicado. Eram 2 ou 3 empregados. Terceirizava o serviço, eles ganhavam por comissão. Produzia por mês, na média entre inverno e verão, 30, 35 mil tijolos por mês. De dinheiro, refere que sobrava para ele 2, 3 salários. Refere que sabia que tinha que ter autorização. Refere que tentou até,

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mas o rapaz que foi lá achou inviável, além do custo, era uma área cujo material era de má qualidade, além dos alagamentos. A área onde retirava a argila era de mais ou menos 90 metros do rio. Não sabia que se tratava de APP. Inclusive me-diram dessa barragem que era para sair, os marcos eram mais ou menos ali onde ele extraia o material. Achava que de 100 metros para adiante não poderia tirar material. Achava que estava dentro da área que podia retirar material. Quando ocorreu a fiscalização já estava trabalhando para o norte. Em junho já deu baixa. Em relação a pessoa jurídica, refere que plantaram mudas, mas quando vem a enchente, mata tudo. Refere que está sempre plantando, sempre tentando. Ao natural está vindo uma vegetação. Tem projeto, a área está cercada. Refere que essa terra era de seu pai, já falecido. A acrescentar só tem a dizer que a única coisa que quero é tentar corrigir a área. Refere que está fazendo isso. Se não desse enchente um ano, acha que conseguiria. Essa área inunda. Desde menino sempre viu a área inundando. Com a enchente, represa e acaba alagando. Refere que essa olaria existia há muitos anos atrás, mas que estava desativada. Refere que foi ele mesmo que reativou.

Assim, conforme apurado, de uma área de mil metros quadrados era extraída argila para a produção de tijolos, sem a existência de licença ou autorização do órgão competente para o exercício dessa atividade.

3.1 Da usurpação de matéria-prima da União (art. 2º da Lei nº 8.176/1991)

O tipo penal descrito no caput do art. 2º da Lei nº 8.176/1991 prevê duas moda-lidades de condutas sancionáveis: produzir (fabricar e criar) bens e explorar (tirar proveito, extrair benefício ou vantagem) matéria-prima, isto é, a substância bruta principal e essencial com que é fabricada alguma coisa.

O crime é material e de dano, tendo foco na usurpação do patrimônio público federal e consumando-se, in casu, com a apropriação de mineral pertencente à União para exploração econômica, em desacordo com as obrigações impostas pelo título autorizativo.

Com efeito, os recursos minerais, inclusive os do subsolo, são bens da União (art. 20, IX, da Constituição Federal), de maneira que, para a sua exploração, faz--se necessária a licença, autorização ou concessão do Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM, nos termos dos arts. 1º e 3º, da Lei nº 6.567/1978, in verbis:

Art. 1º Poderão ser aproveitados pelo regime de licenciamento, ou de autoriza-ção e concessão, na forma da lei:

I – areias, cascalhos e saibros para utilização imediata na construção civil, no preparo de agregados e argamassas, desde que não sejam submetidos a processo industrial de beneficiamento, nem se destinem como matéria-prima à indústria de transformação; (Incluído pela Lei nº 8.982, de 1995)

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II – rochas e outras substâncias minerais, quando aparelhadas para paralelepípe-dos, guias, sarjetas, moirões e afins; (Incluído pela Lei nº 8.982, de 1995)

III – argilas usadas no fabrico de cerâmica vermelha; (Incluído pela Lei nº 8.982, de 1995)

IV – rochas, quando britadas para uso imediato na construção civil e os calcários empregados como corretivo de solo na agricultura. (Incluído pela Lei nº 8.982, de 1995)

Parágrafo único. O aproveitamento das substâncias minerais referidas neste arti-go fica adstrito à área máxima de cinquenta hectares. (Incluído pela Lei nº 8.982, de 1995)

Art. 3º O licenciamento depende da obtenção, pelo interessado, de licença espe-cífica, expedida pela autoridade administrativa local, no município de situação da jazida, e da efetivação do competente registro no Departamento Nacional da Produção Mineral – DNPM, do Ministério das Minas e Energia, mediante reque-rimento cujo processamento será disciplinado em portaria do Diretor-Geral desse órgão, a ser expedida no prazo de 60 (sessenta) dias da publicação desta Lei.

Pois bem. De acordo com as provas constantes dos autos, é certo que a autoria do delito pertence ao réu.

Com efeito, Nelson Tietz reconheceu perante a autoridade policial e em juízo sua responsabilidade pela lavra de recursos minerais objeto da denúncia, enquanto no comando da empresa Nelson Tietz – ME.

Sandro Lúcio de Azevedo, policial militar, como já destacado, referiu que o réu compareceu no Grupo ambiental alegando que não tinha documentação e que estaria em fins de terminação da empresa. Foi ele mesmo que compareceu e admitiu que era dono, proprietário das instalações. [...] o réu não apresentou nenhuma documentação, estava sem documentação (evento 141, vídeo1).

O policial Adílio Gonchorowsk referiu que chegando ao local foi constatado que havia extração de barro numa área de preservação permanente. [...] O proprietá-rio/responsável não apresentou nenhum licença (evento141, vídeo2).

Em juízo, Nelson Tietz afirmou que (evento 141, vídeo3):

Refere que estava sem autorização. Não lembra se tinha dez anos a olaria. [...] Produzia por mês, na média entre inverno e verão, 30, 35 mil tijolos por mês. [...] Refere que sabia que tinha que ter autorização. Refere que tentou até, mas o rapaz que foi lá achou inviável, além do custo, era uma área cujo material era de má qualidade, além dos alagamentos. [...] Refere que essa olaria existia há muitos anos atrás, mas que estava desativada. Refere que foi ele mesmo que reativou.

O réu confessou que na época dos fatos denunciados nestes autos não tinha li-cença para explorar os recursos naturais. Afirmou ter conhecimento da exigência de licença para realizar a atividade. Disse que retirava em torno de 30 a 35 mil

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tijolos por mês, sobrando-lhe em torno de 2 a 3 salários por mês. Referiu que deu baixa no empreendimento, desativando a olaria.

Cabendo ao réu o controle da atividade de extração no período descrito na de-núncia e no qual houve a efetiva exploração irregular da área, a autoria deve a ele ser atribuída.

Dessa forma, é certa a tipicidade objetiva da conduta praticada pelo réu, na medida em que desenvolveu atividade de mineração sem que possuísse título autorizativo para tanto.

No que tange ao elemento subjetivo do tipo, entendo que o dolo restou plena-mente caracterizado pelo fato de o réu, a despeito de ter conhecimento da irregu-laridade da lavra, ter dado continuidade à atividade pelo menos até que a fiscali-zação comparecesse no local, autuando-o em flagrante delito no dia 04.06.2013, pela extração de recurso mineral sem autorização do DNPM.

Ademais, evidencia sua consciência e a vontade deliberada em realizar a ativi-dade minerária de forma irregular o fato de ter prosseguido com atividade após tomar conhecimento da situação irregular em que operava.

Dessa forma, estando comprovada a materialidade e a autoria, assim como a tipicidade da conduta, e ausentes causas de exclusão da ilicitude ou da culpabi-lidade, a condenação de Nelson Tietz pela prática do delito previsto no art. 2º, caput, da Lei nº 8.176/1991, é medida que se impõe.

3.2 Da extração mineral sem licença ambiental (art. 55, caput, da Lei nº 9.605/1998)

Narra a denúncia que Nelson Tietz praticou extração de recursos minerais (argila) sem licença ambiental.

Por ocasião dos fatos, o acusado não foi encontrado no local, apenas um de seus funcionários. Contudo, posteriormente compareceu ao batalhão ambien-tal em Frederico Westphalen, informando que a empresa estava sendo extinta. Ao prestar declarações à autoridade policial, justificou a ausência de licença do órgão competente em razão de que os custos se mostravam inviáveis para sua atividade. Trouxe contrato de prestação de serviços, além de orçamento (evento 4 – DECL3, IPL apenso).

Tais documentos confirmam que o réu sabia da necessidade de autorização do órgão competente para a extração de recursos minerais. Isso veio confirmado em juízo quando ele próprio admitiu que sabia que tinha que ter autorização. Refere que tentou até, mas o rapaz que foi lá achou inviável, além do custo, era uma área cujo material era de má qualidade, além dos alagamentos (evento 141, vídeo3).

Por sua vez, os policiais militares Sandro Lúcio de Azevedo e Adílio Gonchorowsk, em juízo, confirmam o teor dos documentos constantes do inquérito policial.

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Ambos narraram que na data do fato delituoso, deslocaram-se até o local alvo da denúncia anônima e constataram que o réu estava realizando a extração de recursos minerais, sem licença para tanto (evento 141, vídeos 1 e 2).

Como se vê, está plenamente comprovado que o réu realizava a extração de argila sob o manto da pessoa jurídica Nelson Tietz – ME, a qual, de fato, geria sozinho, exercendo atividade empresarial em nome próprio.

Quanto à existência de Licença ambiental, a Fepam, por meio da informação nº 18/2014, referiu: constatamos que não existe solicitação de licenciamento am-biental em nome de Nelson Tietz. Ademais, o réu não possuía Licença Ambiental de Operação no âmbito municipal para a produção de blocos de tijolo e barro cozido (evento4, OFIC2, IPL apenso).

Em vista do exposto, o contexto fático-probatório, aliado à confissão externa-da pelo réu, revelam-se suficientes para comprovar que Nelson Tietz praticou a conduta de extrair recursos minerais sem autorização da autoridade competente.

Quanto à existência de dano, de sinalar que, enquanto executar pesquisa ou lavra de recursos minerais se trata de crime de mera conduta, a extração de re-cursos minerais considera-se crime formal, não necessitando de comprovação de efetivo do dano ao bem jurídico tutelado para sua configuração, no caso o meio ambiente.

Em se tratando de fato típico, antijurídico e culpável, firmo convicção no sentido de que a condenação é medida impositiva.

3.3 Do delito previsto no art. 60 da Lei nº 9.605/1998

Narra a denúncia a prática por Nelson Tietz, colocar em funcionamento estabe-lecimento potencialmente poluidor, sem autorização exigida por lei.

Conforme os relatos policiais (evento 141, vídeos 1 e 2), foi constatado que havia uma olaria e mais adiante um barreiro, de onde era extraída a matéria-prima para a confecção de tijolos. O policial Sandro Lúcio de Azevedo referiu que quando chegaram ao local identificaram que a área aproximada do desmatamento e da realização dessas atividades era de aproximadamente uns mil metros quadrados. [...] A extração da argila era realizada em área de preservação permanente. O réu não apresentou nenhuma documentação, estava sem documentação. O po-licial Adílio Gonchorowsk, a seu turno, informou que foi constatado que havia extração de barro numa área de preservação permanente. A extração de barro ficava há uns 60/70 metros do Rio Uruguai, mais ou menos [...]. O proprietário/responsável não apresentou nenhuma licença. A área aproximada do local onde ele estava retirando material era de aproximadamente uns mil metros quadrados. Refere que ele começou antes, foi seguindo, tirando barro, até chegar há aproxi-madamente um 70 metros do rio.

Dessa forma, devidamente comprovado se tratar a atividade de olaria (produção de blocos de tijolo e barro cozido) de estabelecimento potencialmente poluidor,

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nos termos ao Anexo VIII da Lei nº 6.938/1981 – lavra a céu aberto, inclusive de aluvião, com ou sem beneficiamento e fabricação e elaboração de produtos mi-nerais não metálicos tais como produção de material cerâmico, cimento, gesso, amianto, vidro e similares.

Tanto em sede policial como em sede judicial, o acusado declarou que era ele quem, de fato, geria a atividade empresarial, desempenhando-a com auxílio de dois a três empregados (evento 141, vídeo 3).

Quanto à existência de Licença ambiental, a Fepam, no ofício nº 1320/2014, veio a informação nº 18/2014, referindo: constatamos que não existe solicitação de licenciamento ambiental em nome de Nelson Tietz. Ademais, o réu não possuía Licença Ambiental de Operação no âmbito municipal para a produção de blocos de tijolo e barro cozido (evento4, OFIC2, IPL apenso).

Destarte, o funcionamento da atividade potencialmente poluidora não contava com autorização legal da Fepam ou de qualquer outro órgão ambiental.

O próprio réu reconheceu ter ciência da necessidade da licença, justificando sua atuação irregular em razão dos custos que alegou não poder suportar.

Com efeito, o contexto fático-probatório é robusto e seguro em apontar que o réu tinha pleno conhecimento da necessidade de licença, além de se tratar de infor-mação que, como proprietário do empreendimento, poderia alcançar.

Em se tratando de crime de mera conduta, independe da ocorrência de resultado naturalístico para sua configuração. Assim, desnecessária a comprovação de efe-tivo dano ao meio ambiente, que de fato ocorreu. Como declarado pelos policiais deslocados para atender à denúncia (evento 141, vídeos 1 e 2), a área impactada era de aproximadamente mil metros quadrados, sendo que a extração do barro foi avançando até cerca de setenta metros do Rio Uruguai.

Sobre o impacto ambiental ocasionado, interessante a leitura da seguinte trecho de artigo veiculado na web (https://qualidadeonline.wordpress.com/2014/10/12/impactos-sociais-e-ambientais-das-olarias/):

Geralmente no processo de extração da argila, a cobertura vegetal é totalmente retirada e usada como lenha na queima dos produtos. Na medida em que o solo vai sendo retirado, o lençol freático torna-se mais vulnerável, facilitando assim, a contaminação das águas subterrâneas, caso ocorram derramamentos de óleo ou derivados provenientes das máquinas que atuam no local.

Os principais impactos ambientais encontrados foram o desmatamento das áreas de extração, as cavas no solo, e a poluição do ar decorrente da queima dos tijolos e de segurança dos trabalhadores. Um outro impacto ambiental bem relevante, é relacionada a vida útil da reserva de argila explorada e sua durabilidade, pois se sabe que sua exploração é feita sem qualquer estudo prévio, afetando sua vida útil, e todo ecossistema envolvido.

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Isso ficou comprovado pelo relato do policial Sandro Lúcio de Azevedo, ao refe-rir a parte do barreiro está abandonada, foram plantadas mudas, só que tem um problema ali por causa das enchentes. Provavelmente neste local não vão vingar as mudar que o Sr. Nelson for plantar (evento 141, vídeo1). Ou seja, a flora reti-rada para a extração de barro não tem condições de se recompor, daí a gravidade da conduta praticada.

Em vista do exposto, os elementos analisados são mais que suficientes para com-provar que o réu praticou a conduta de fazer funcionar estabelecimento poten-cialmente poluidor sem autorização da autoridade competente para tanto.

Em se tratando de fato típico, antijurídico e culpável, o réu Nelson Tietz deve ser condenado nas penas do art. 60 da Lei nº 9.605/1998.

4 Da mensuração dos danos ambientais

O art. 20, da Lei nº 9.605/1998, prevê que a sentença condenatória, sempre que possível, fixe o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, devendo ser considerado para tanto os prejuízos sofridos pelo ofendido ou pelo meio ambiente.

Apesar da previsão legal, a jurisprudência pacífica e consolidada orienta no sen-tido de que somente é possível a fixação de valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração quando houver expresso requerimento na peça inicial, possibilitando ao acusado o contraditório e ampla defesa.

No caso em tela, o Ministério Público Federal requereu a fixação de valor pe-cuniário a título de reparação dos danos sofridos com as infrações, com base na previsão constante no art. 387, inc. IV, do CPP. O pedido foi realizado em sede de alegações finais. Intimada, a defesa nada referiu quanto a esse ponto.

Tenho que o pleito não merece acolhida, em face da ausência de elementos mí-nimos para fixar o seu montante. Veja-se que sequer o Ministério Público Federal os estimou em sede de alegações finais.

Conforme entendimento fixado pela jurisprudência, o art. 2º da Lei nº 8.176/1991 tem por objetivo tutelar e preservar o patrimônio da União, proi-bindo a usurpação de suas matérias-primas, e o art. 55 da Lei nº 9.605/1998 visa a coibir atividades lesivas ao meio ambiente, proibindo, dentre outras, a extração de recursos minerais sem o prévio licenciamento ambiental.

A extração de recurso mineral (argila) sem a competente autorização do DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral, e sem a com-petente licença ambiental, configura, portanto, os delitos dos arts. 2º da Lei nº 8.176/1991 e 55 da Lei nº 9.605/1998, em concurso formal, consoante fixa-do pela jurisprudência desta Corte e do Superior Tribunal de Justiça:

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PENAL E PROCESSUAL PENAL – USURPAÇÃO DO PATRIMÔNIO DA UNIÃO – ART. 2º DA LEI Nº 8.176/1991 – [...] ART. 55 DA LEI Nº 9.605/1998 E ART. 2º DA LEI Nº 8.176/1991 – EXTRAÇÃO MINERAL – TIPICIDADE – [...] 2. A Quarta Se-ção deste Regional pacificou o entendimento de que, tratando-se de exploração de recursos minerais sem a respectiva autorização ou licença dos órgãos compe-tentes, está-se diante de concurso formal entre os tipos penais descritos no art. 55, caput, da Lei nº 9.605/1998 e no art. 2º da Lei nº 8.176/1991, uma vez que estes tutelam bens jurídicos distintos. [...] (grifos) (ACr 5000668-95.2010.404.7206, 7ª T., Relª Desª Fed. Cláudia Cristina Cristofani, J. 17.11.2015)

PENAL – [...] EXTRAÇÃO DE AREIA SEM AUTORIZAÇÃO – ART. 2º DA LEI Nº 8.176/1991 E ART. 55 DA LEI Nº 9.605/1998 – CONCURSO APARENTE DE NORMAS – INEXISTÊNCIA – CONFIGURAÇÃO DE CONCURSO FORMAL – 1. O art. 2º da Lei nº 8.176/1991 busca tutelar e preservar o patrimônio da União, proibindo a usurpação de suas matérias-primas, enquanto o art. 55 da Lei nº 9.605/1998, impõe sanções a atividades lesivas ao meio ambiente, proibindo, dentre outras, a extração de recursos minerais. 2. Em sendo distintos os bens jurídicos tutelados, não há falar em conflito aparente de normas, mas sim em concurso formal. [...] (grifos) (STJ, AgRg-AREsp 60.761/TO, Relª Min. Alderita Ramos de Oliveira – Desembargadora Convocada do TJ/PE, 6ª T., J. 06.09.2012, DJe 17.09.2012)

PENAL E PROCESSUAL PENAL – APELAÇÃO CRIMINAL – EXTRAÇÃO IRRE-GULAR DE AREIA – ART. 55 DA LEI Nº 9.605/1998 – USURPAÇÃO DE BENS DA UNIÃO – ART. 2º DA LEI Nº 8.176/1991 – [...] 1. Tendo em vista que as normas insculpidas nos arts. 2º da Lei nº 8.176/1991 e 55 da Lei nº 9.605/1998 tutelam bens jurídicos distintos (ordem econômica e meio ambiente), a conduta de explorar recursos minerais sem a respectiva autorização ou licença dos ór-gãos competentes enquadra-se em ambos os tipos penais, mediante concurso formal. 2. Comprovada a exploração mineral à míngua dos títulos autorizativos do DNPM e do órgão ambiental competente, deve ser mantida as condenação do réu às penas do art. 2º da Lei nº 8.176/1991 e do art. 55 da Lei nº 9.605/1998. [...] (grifos) (ACr 5010623-75.2013.404.7003, 8ª T., Rel. Des. Fed. Victor Luiz dos Santos Laus, por unanimidade, J. 15.02.2017)

Quanto ao elemento subjetivo do tipo, inicialmente, destaco que o dolo dos delitos dos arts. 2º da Lei nº 8.176/1991, 55 e 60 da Lei nº 9.605/1998, é genérico, pois as normas penais em questão não descrevem nenhum especial fim de agir.

Consiste o dolo, assim, no caso, na vontade livre e consciente de explorar matéria-prima pertencente à União sem a devida autorização do órgão respon-sável, ou em desacordo com a autorização obtida, de executar a extração de recursos minerais sem a competente licença ambiental, e de fazer funcionar es-

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tabelecimento potencialmente poluidor, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes.

No caso em análise, a fim de evitar tautologia, valho-me de excerto das contrarrazões ofertadas pelo Ministério Público Federal, de lavra do Exmo. Pro-curador da República, Dr. Guilherme Augusto Velmovitsky Van Hombeeck, que aponta precisamente os elementos de prova que demonstram o dolo do réu (evento 211, PROMOÇÃO1):

Outrossim, ficou devidamente demonstrado nos autos o dolo por parte do ape-lante, ao contrário do alegado no recurso. Desse modo, em esquivo à tautolo-gia, pede-se vênia para reportar-se ao teor das alegações finais já apresentadas. Veja-se.

O soldado Sandro Lúcio de Azevedo, durante seu depoimento em sede judicial (Evento 141, vídeo1), confirmou que esteve na olaria e na área explorada pelo acusado para extração de argila, ocasião em que constatou as práticas delituosas. Segundo aduziu, a extração do recurso mineral ocorria sem licença ambiental em uma extensão de 1.000 m2 (mil metros quadrados), localizada em área de preser-vação permanente (APP). Embora o acusado não estivesse no local por ocasião da fiscalização, a testemunha confirmou que o réu atendeu a notificação entre-gue a empregado e compareceu alguns dias depois no Grupamento Ambiental, oportunidade em que admitiu que era o responsável pela atividade, a qual estava em vias de ser encerrada. A testemunha ainda confirmou que a extração da argila ocorria a cerca de 70 metros da margem do Rio Uruguai, dentro, portanto, de APP, bem como que o acusado não apresentou nenhum documento relacionado à autorização ambiental ou do DNPM para a exploração mineral. No tocante ao empreendimento, aduziu a testemunha que se tratava de uma olaria de pequeno a médio porte.

A testemunha Adílio Gonchorowsk referiu que a atividade fiscalizatória ocorreu em atendimento a uma denúncia apócrifa recebida pelo Grupamento Ambiental. Na ocasião, constatou a extração de argila em APP, afirmando ainda, quanto ao empreendimento, a existência de fornos, armazém para a lenha e local para armazenagem dos tijolos produzidos (Evento 141, vídeo2).

Por sua vez, o réu Nelson Tietz, durante seu interrogatório judicial (Evento 141, vídeo3), admitiu não possuir autorização para o empreendimento, o qual estava em funcionamento havia aproximadamente 10 anos, bem como ter explorado argila em área de alagamento. Aduziu que mantinha 2 ou 3 empregados, bem assim que produzia em torno de 30.000 a 35.000 tijolos por mês. O acusado confessou que detinha conhecimento de que precisava de autorização ambiental para o empreendimento, razão pela qual tentou obtê-la, entretanto, devido à má qualidade da matéria-prima e dos alagamentos constantes na área, era inviável a atividade no local. Outrossim, o acusado afirmou que a atividade era realizada a

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mais ou menos 90 metros do Rio Uruguai, não sabendo que não podia trabalhar nessa área, imaginando que podia tirar argila do local. Declarou que, após a fis-calização, encerrou as atividades e que estava tentando recuperar a área, sendo que a vegetação natural estava crescendo, bem como que implementou projeto de recuperação, plantando espécies nativas e cercando o local. Além disso, o acusado declarou que, antes dele, seu pai teve olaria há muito tempo no local.

Do teor de seu próprio interrogatório, constata-se presente o elemento subjeti-vo (dolo) na conduta do apelante, considerando que sabia da necessidade de licenças para manter a olaria em funcionamento e para realizar a extração de argila, razão pela qual empreendeu esforços na tentativa de regularizar a ativi-dade. Porém, em razão das exigências realizadas, teria se sentido desestimulado a regularizar a olaria e a exploração mineral, permanecendo na atividade sem observância das formalidades legais e regulamentares.

Dessa forma, conforme consignado pelo Juízo a quo na sentença, o elemento subjetivo caracterizador do dolo restou satisfatoriamente demonstrado nos autos (Evento 197, SENT1, páginas 09 e 10):

[...]

Outrossim, não se pode falar em ausência do elemento anímico também quanto ao delito de usurpação de matéria-prima da União, tendo em vista que o acusado mantinha a atividade havia 10 anos, conforme relatou, bem como que, antes dele, seu pai já extraía a argila e mantinha a olaria, razão pela qual era de se es-perar que o réu tivesse conhecimento acerca da necessidade de autorização para realização da atividade, conforme entende a jurisprudência do Egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

De fato, o dolo é evidente na hipótese dos autos, tendo sido corrobo-rado pelo próprio interrogatório do réu, que afirmou não ter autorização para explorar a matéria-prima da União (argila) no local, bem como saber de sua necessidade (evento 141_VÍDEO3, minutos: 4:30 e 6:20 – processo originário).

Assim, presentes materialidade, autoria e dolo e ausentes causas exclu-dentes de ilicitude ou culpabilidade, deve ser mantida a condenação do réu.

Outrossim, o argumento defensivo de que o réu teria cessado a atividade extrativa irregular e teria tentado recuperar a área, após a fiscalização, não tem o condão de tornar atípica a conduta já praticada. Nesse sentido:

PENAL E PROCESSUAL – CRIME AMBIENTAL – OBRAS IRREGULARES NO PAR-QUE NACIONAL DA SERRA DO ITAJAÍ – DANOS – PLANO DE RECUPERAÇÃO – IRRELEVÂNCIA PARA A TIPICIDADE DA CONDUTA – [...] 1. A consumação do delito previsto no art. 40, § 1º, da Lei nº 9.605/1998 se dá com a ocorrência do dano à área especialmente protegida, de modo que o compromisso posterior de regenerar o local não afasta a tipicidade da conduta, mas apenas corrobora a

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certeza de que houve prejuízos, cujos efeitos precisam ser mitigados. Além disso, o acordo de recuperação firmado na instância administrativa não implica efeitos substanciais na seara penal, em face do princípio da independência das esferas. (TRF 4ª R., ACr 0004589-87.2009.404.7205, 7ª T., Desª Fed. Salise Monteiro Sanchotene, 18.11.2013)

Nos termos do art. 14, II, da Lei nº 9.605/1998, a reparação do dano am-biental, quando espontânea e decorrente de arrependimento, poderia atenuar a pena. Todavia, como deflui do teor do interrogatório em juízo o réu disse somente suspendeu a atividade irregular após a fiscalização, e estaria tentando recuperar a área (evento 141, video3).

No entanto, verifica-se que a tentativa de recuperação não decorreu de atitude espontânea do réu Nelson, mas, sim, dos termos da proposta de transa-ção penal entabulada com a pessoa jurídica de titularidade do réu, nos autos cindidos 5001794-53.2015.4.04.7127, a qual não foi cumprida, pois não com-provou a implantação de Projeto de Recuperação de Área Degradada, motivo pelo qual sobreveio sentença condenatória da empresa, pelos delitos ambien-tais, naqueles autos (evento 72 daquele feito).

Por fim, ausente recurso específico das partes quanto à dosimetria penal, e não havendo questão a reexaminar de ofício, mantenho-a nos moldes fixados na sentença.

Ante o exposto, voto por negar provimento à apelação.

Des. Federal Márcio Antônio Rocha Relator

eXtratO de ata da sessãO de 06.02.2018

Apelação Criminal nº 5000374-13.2015.4.04.7127/RSOrigem: RS 50003741320154047127Relator: Des. Federal Márcio Antônio RochaPresidente: Juíza Federal Salise Monteiro SanchoteneProcurador: Dr. Manoel do Socorro Tavares PastanaApelante: Nelson TietzAdvogado: Renata Graciele Abreu LopesApelado: Ministério Público Federal

Certifico que este processo foi incluído na Pauta do dia 06.02.2018, na sequência 21, disponibilizada no DE de 18.01.2018, da qual foi intimado(a)

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o Ministério Público Federal, a Defensoria Pública e as demais Procuradorias Federais.

Certifico que o(a) 7ª Turma, ao apreciar os autos do processo em epígra-fe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A turma, por unanimidade, decidiu negar provimento à apelação, nos termos do voto do relator.

Relator Acórdão: Des. Federal Márcio Antônio Rocha

Votante(s): Des. Federal Márcio Antônio Rocha Desª Federal Cláudia Cristina Cristofani Desª Federal Salise Monteiro Sanchotene

Lisélia Perrot Czarnobay Secretária

Parte Geral – Acórdão na Íntegra

2531

Tribunal Regional Federal da 5ª RegiãoGabinete do Desembargador Federal Rogério Fialho MoreiraACr 14678‑CE 0000234‑72.2013.4.05.8108Apte.: Luiz Moreira PiresApdo.: Ministério Público FederalRepte.: Defensoria Pública da UniãoOrigem: 27ª Vara Federal do CearáRel.: Des. Federal Auxiliar Frederico Wildson da Silva Dantas

ementa

DIREITO PENAL E AMBIENTAL – PESCA DE LAGOSTA COM PETRECHO NÃO PERMITIDO – CRIME AMBIENTAL TIPIFICADO NO ART. 34, PARÁGRAFO ÚNICO, INCISO II, DA LEI Nº 9.605/1998 – UTILIZAÇÃO DE ARMADILHAS EM QUANTIDADE SUPERIOR À PREVISTA NA LICENÇA DO MINISTÉRIO DA PESCA – ATIPICIDADE – APELAÇÃO PROVIDA

1. Apelação contra sentença proferida pelo juízo da 27ª Vara Fe-deral do Ceará que condenou o réu pelo cometimento do crime ambiental tipificado no art. 34, parágrafo único, inciso II, da Lei nº 9.605/1998, por ter utilizado na pesca da lagosta petrechos (co-vos/manzuás) em quantidade superior à permitida na licença con-cedida pelo Ministério da Pesca, cominando-lhe pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de detenção e 10 (dez) dias-multa.

2. Caso em que a condenação se deu pela pesca da lagosta com a utilização de métodos não permitidos, porém, o uso de quanti-dade de armadilhas acima do autorizado na licença não se con-funde com a utilização de método proibido e tal conduta não está prevista na norma penal, sendo certo ainda que a Acusação não alegou nem provou que a quantidade de lagosta encontrada na embarcação resultou na pesca da lagosta em quantidade superior à permitida.

3. O princípio da tipicidade estrita não permite a interpretação extensiva da norma incriminadora para punir fatos que não fo-ram descritos expressamente na lei penal. A pesca da lagosta com quantidade de armadilhas superior à permitida na licença

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do Ministério da Pesca constitui infração administrativa, mas não tipifica o crime ambiental do art. 34, parágrafo único, II, da Lei nº 9.605/1998.

4. Apelação provida.

aCórdãO

Vistos, etc.

Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por maioria, dar provimento à apelação para absolver o acusado, com fundamento no art. 386, III, do Código de Processo Penal, nos termos do voto do relator, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Recife, 08.02.2018.

Des. Federal Auxiliar Frederico Wildson da Silva Dantas Relator

relatóriO

Trata-se de apelação de Luiz Moreira Pires contra sentença proferida pelo juízo da 27ª Vara Federal do Ceará que o condenou pelo cometimento do crime ambiental tipificado no art. 34, parágrafo único, inciso II, da Lei nº 9.605/1998, por ter utilizado na pesca da lagosta apetrechos (covos/manzuás) em quanti-dade superior à permitida pelo Ministério da Pesca, cominando-lhe pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de detenção e 10 (dez) dias-multa.

Nas razões recursais, o Apelante alega: a) que recebeu os manzuás ex-cedentes de outra embarcação; b) que o fato seria atípico, porque o Apelado não teria utilizado petrechos não permitidos (ilícitos), apenas em quantidade excessiva, fato que poderia ser considerado ilícito administrativo, porém, não tipificaria o crime ambiental que lhe foi imputado; c) em caráter subsidiário, alegou que a pena foi injustamente majorada, porque o juízo utilizou como maus antecedentes processos criminais em andamento, quando somente pode-riam ser consideradas as condenações transitadas em julgado.

Pede ao final a reforma da sentença para que seja absolvido ou, ainda, para que a pena seja reduzida (fls. 245/248, vol. 2).

Houve contrarrazões (fls. 254/262, vol. 2).

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A Procuradoria Regional da República, atuando nesta instância, ofereceu parecer opinando pelo desprovimento do recurso (fl. 266, vol. 2).

É o relatório.

vOtO

Conforme sumariado no relatório, trata-se de apelação de Luiz Moreira Pires contra sentença proferida pelo juízo da 27ª Vara Federal do Ceará que o condenou pelo cometimento do crime ambiental tipificado no art. 34, parágrafo único, inciso II, da Lei nº 9.605/1998, por ter utilizado na pesca da lagosta ape-trechos (covos/manzuás) em quantidade superior à permitida pelo Ministério da Pesca, cominando-lhe pena de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de detenção e 10 (dez) diasmulta.

Caso em que a r. sentença apelada, com base em Auto de Infração e Termo de Apreensão formalizados pelo Ibama, asseverou que o réu, Luiz Moreira Pires, na condição de dono da embarcação “Divina Providência”, exer-ceu a pesca da lagosta em desacordo com a licença expedida pela capitania. Isso porque, em 9 de novembro de 2010, foi constatada na referida embarcação a presença de 340 (trezentos e quarenta) manzuás, excedendo o permitido na licença, de 220 (duzentos e vinte), além do que a embarcação possuía 12,84 metros de comprimento, quando a licença emitida pelo órgão competente tinha como extensão 9,65 m de comprimento.

O crime imputado ao Apelante está descrito na regra do art. 34, parágrafo único, inciso II, da Lei nº 9.605/1998, que tem a seguinte redação:

Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interdita-dos por órgão competente:

Pena – detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulati-vamente.

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem:

[...]

II – pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de apa-relhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos;

[...]

Os fatos narrados na peça acusatória foram comprovados para além de qualquer dúvida razoável, uma vez que não há dúvidas de que a embarcação pertencente ao Apelante tinha extensão superior à prevista na licença da capi-

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tania dos portos e que nela, efetivamente, foi constatada a presença de quanti-dade de covos/manzuás superior à permitida na licença emitida pelo Ministério da Pesca.

A versão apresentada pela Defesa para justificar o ocorrido não merece acolhida. Apesar dos depoimentos das testemunhas arroladas pelo réu, afirman-do que, no dia dos fatos, a embarcação “Divina Providência” rebocou a em-barcação “Deus Dará I”, que teria sofrido pane mecânica em alto mar, isso não explica o excesso de armadilhas (covos/manzuás) encontrados na embarcação do Apelante, dada quantidade de lagosta recém capturada, encontrada pela fiscalização, de 50 quilos, o que confirma o uso excessivo de covos na pesca da lagosta acima do permitido na licença, conforme autuação do Ibama.

Para além disso, sabe-se que, na pesca da lagosta, o número de covos/manzuás transportados varia diretamente em função do tamanho de cada em-barcação, assim, constatando-se que a embarcação do Apelante extrapolava em 1/3 (um terço) o tamanho previsto na licença (de 9,65m para 12,84 m), é lógico que a quantidade de covos/manzuás transportada haveria de ultrapassar o previsto da licença, desde que há uma proporção entre ambos e isso também converge com os demais elementos dos autos no sentido de confirmar a mate-rialidade delitiva.

Não há dúvidas, outrossim, quanto à autoria delitiva, tanto que a prova dos autos é harmônica em apontar o Apelante como responsável pela embarca-ção “Divina Providência”, fato por ele confessado e confirmado pelas testemu-nhas, inclusive aquelas arroladas pela Defesa do acusado.

Todavia, entendo que a apelação deve ser provida para afastar a conde-nação, por entender que os fatos narrados na denúncia não se amoldam ao tipo descrito no art. 34, parágrafo único, inciso II, da Lei nº 9.605/1998. Isso porque a Acusação de fato não imputa ao réu a utilização de “aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos”, de sorte que o fato embora possa consubs-tanciar ilícito administrativo não tipifica crime ambiental.

Com efeito, segundo consta dos autos, foi constatado que o Apelante pescava lagosta por meio de embarcação motorizada, utilizando covos/man-zuás, os quais são permitidos pela legislação, tanto assim que ele recebeu li-cença do Ibama para exercer a pesca com o número de até 220 (duzentos e vinte) covos. A autuação não se deu, portanto, pelo uso de qualquer aparelho, petrecho, técnica ou método não permitido, mas sim pelo uso de aparelhos em quantidade superior à que lhe fora autorizada/permitida.

Entendo que a alegação do Ministério Público Federal, acolhida na r. sentença apelada, de que a utilização de quantidade de covos/manzuás acima

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do permitido seria o mesmo que a utilização de método não permitido, está, data maxima venia, completamente equivocada.

Vige no Direito Penal o princípio da legalidade estrita, pelo qual não se admite a interpretação extensiva da norma incriminadora para punir fatos que não forem descritos expressamente no tipo penal, e o uso de quantidade de armadilhas acima do autorizado na licença não está previsto na norma; senão, veja-se.

Antes de tudo, registre-se que a norma penal criminaliza a utilização de “aparelhos” ou “petrechos” não permitidos, referindo-se claramente à utiliza-ção, na pesca, de utensílios, engenhos, artefatos, equipamentos ou ferramentas que sejam proibidos. Sabe-se que a pesca da lagosta pode se valer de diversos equipamentos, como por exemplo “jererés”, “covos”, “caçoeiras”, “cangalhas”, sendo que a escolha do petrecho repercute no método utilizado na pesca. Al-guns deles foram proibidos pela Instrução Normativa Ibama nº 138, de 6 de dezembro de 2006, a qual veda a captura de lagostas com emprego de “redes de espera do tipo caçoeira” e “marambaias”. No entanto, não existe regra proi-bindo o exercício da pesca com a utilização de “covos” – como no caso dos autos – tanto assim que o Apelante obteve licença para exercer a pesca com o uso desses aparelhos.

Resta saber se o fato pode ser enquadrado como utilização de “técnica” ou “método” não permitido. Esses termos, descritos na norma penal, referem-se à pesca segundo um determinado conjunto de métodos e procedimentos, ou seja, usando certos expedientes ou meios. A técnica, ou método, utilizada na pesca com “covos” consiste no transporte desses aparelhos em embarcações até o local de pesca e seu lançamento, dispostos em “espinhel” (fila) ou isolados, presos a um cabo de nylon torcido ao qual é presa uma bóia de isopor e uma bandeira, conjunto denominado “bulandeira”, os quais são recolhidos no dia seguinte. Mais uma vez, inexiste norma que proíba a utilização dos “covos” e, portanto, nenhum óbice legal à utilização dessa técnica de pesca em particular. O regulamento já mencionado – Instrução Normativa Ibama nº 138/2006 – so-mente proíbe a pesca por meio de mergulho, de qualquer natureza, denomina-da de “pesca com compressor” que se utiliza de “cucas” e “mangotes”, o que não se confunde com o caso dos autos.

É fácil perceber, portanto, que o transporte de “covos” em quantidade acima da permitida na licença em embarcação com tamanho superior ao que fora autorizado não importa na pesca com “aparelhos” ou “petrechos” não per-mitidos, nem implica a utilização de “técnica” ou “método” não permitido. Seria possível, talvez, o enquadramento da conduta do Apelante no tipo penal pela pesca de lagosta em quantidade superior à permitida. Ocorre, no entanto,

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que esse fato não foi alegado nem muito menos provado pela Acusação, sendo certo que qualquer iniciativa nesse sentido teria que ter sido adotada oportu-namente pelo Ministério Público Federal possibilitando ao acusado o exercício pleno do direito à ampla defesa e ao contraditório.

Com esses fundamentos, entendo que o fato narrado na exordial acusa-tória pode muito bem caracterizar ilícito administrativo, sujeitando-se às pena-lidades previstas na lei, porém, não tipifica o crime ambiental do art. 34, pará-grafo único, inciso II, da Lei nº 9.605/1998 sendo que a absolvição do Apelante é medida que se impõe.

Ante o exposto, dou provimento à apelação para absolver o acusado, com fundamento no art. 386, III, do Código de Processo Penal.

É como voto.

Recife, 08.02.2018.

Des. Federal Auxiliar Frederico Wildson da Silva Dantas Relator

Parte Geral – Acórdão na Íntegra

2532

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios Órgão: 3ª Turma CriminalClasse: ApelaçãoNº Processo: 20120710320838APR (0030984‑57.2012.8.07.0007)Apelante(s): Jeovam Rezende MoraisApelado(s): Ministério Público do Distrito Federal e TerritóriosRelator: Desembargador Waldir Leôncio Lopes JúniorRevisor: Desembargador Demetrius Gomes CavalcantiAcórdão nº 1071911

ementa

PENAL – PROCESSO PENAL – CRIME AMBIENTAL – DANO À UNIDADE DE CON- SERVAÇÃO DE USO SUSTENTÁVEL – FLORESTA NACIONAL DE BRASÍLIA – AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADA

1. A remoção de cobertura vegetal, impermeabilização do solo e realização de obra de alvenaria em unidade de conservação de uso sustentável sem a prévia autorização do gestor ambiental são condutas danosas ao meio ambiente, configuradoras do crime pre-visto no art. 40 da Lei nº 9.605/1998.

2. Comprovadas a autoria e a materialidade delitivas não há falar em absolvição por insuficiência probatória.

3. Recurso conhecido e não provido.

aCórdãO

Acordam os Senhores Desembargadores da 3ª Turma Criminal do Tribu-nal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, Waldir Leôncio Lopes Júnior – Relator, Demetrius Gomes Cavalcanti – Revisor, Nilsoni de Freitas Custodio – 1º Vogal, sob a presidência do Senhor Desembargador Jesuino Rissato, em proferir a seguinte decisão: conhecido. Negou-se provimento. Unânime.

, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 1º de fevereiro de 2018.

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Documento assinado eletronicamente Waldir Leôncio Lopes Júnior Relator

relatóriO

Cuida-se de recurso de apelação interposto por Jeovan Rezende Morais contra a r. sentença proferida pelo MM. Juiz de Direito da 3ª Vara Cri-minal de Taguatinga, que o condenou como incurso no art. 40, caput, da Lei nº 9.605/1998, à pena de 1 (um) ano de reclusão, em regime inicial aberto, substituída por uma restritiva de direitos (fls. 272-276).

De acordo com a denúncia (fls. 2-4), no período compreendido entre o fim de 2010 e o início de 2011, o réu, com vontade e consciência, causou da-nos ambientais por meio da remoção da cobertura vegetal, impermeabilização do solo e edificação, sem devida autorização, na Chácara 29, Rua 3, Flona II, Vicente Pires/DF, localizada em área da Floresta Nacional de Brasília, unidade de conservação de uso sustentável.

Nas razões recursais (fls. 301-307), a defesa postula a absolvição, afir-mando que o réu não causou qualquer dano ambiental. Alega que o recorrente adquiriu os direitos possessórios sobre área em setembro de 2001, tratando-se, à época, de assentamento rural destinado ao plantio e sem qualquer tipo de vegetação.

Sustenta que a conduta do apelante foi apenas de reformar um peque-no galpão, trocando madeira por alvenaria, e buscou a prévia autorização do ICMBio. Assevera, ainda, que os danos indicados na perícia já existiam na área antes desta ser adquirida pelo recorrente.

O MPDFT não ofereceu contrarrazões “formais”, pelas justificativas de fls. 310-311.

A 14ª Procuradoria de Justiça Criminal ofertou parecer pelo conhecimen-to e não provimento do recurso (fls. 315-316).

É o relatório.

vOtOs

O Senhor Desembargador Waldir Leôncio Lopes Júnior – Relator:

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do apelo.

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Conforme relatório, Jeovan Rezende Morais foi condenado como incurso no art. 40 da Lei nº 9.605/1998, à pena de 1 (um) ano de reclusão, em regime inicial aberto, substituída por uma restritiva de direitos (fls. 272-276), por ter causado danos ambientais, entre o fim de 2010 e o início de 2011, na Rua 3, Chácara 29, Flona II, Vicente Pires/DF, localizada em unidade de conservação de uso sustentável, ao remover a cobertura vegetal, impermeabilizar o solo e realizar edificação, sem autorização do órgão gestor ambiental.

Inconformada, a defesa apela, objetivando a absolvição. Afirma que o réu não praticou crime, pois, quando adquiriu a posse da área, não havia cober-tura vegetal. Ademais, sustenta que o apelante tão somente pretendeu reformar um galpão existente no local, substituindo madeira por alvenaria, e buscou a prévia autorização do ICMBio.

A tese defensiva, entretanto, não merece prosperar.

A materialidade e a autoria delitivas se encontram demonstradas pelo auto de infração (fls. 20-26), parecer técnico (fls. 29-29v), laudo de perícia cri-minal (fls. 58-68), relatórios policiais (fls. 69-71 e 144-146), laudo de exame de local (fls. 109-133) e pela prova oral colhida na fase extraprocessual e em juízo.

O próprio réu, no interrogatório judicial, apesar de negar a prática de danos ambientais, admitiu ter construído um galpão na área e iniciado uma plantação, mesmo antes de receber a devida autorização formal do órgão ges-tor competente. Por oportuno, confira-se o teor de seu depoimento, conforme transcrição extraída da sentença (fl. 274):

que o fato narrado na denúncia não é verdadeiro; que adquiriu o terreno de uma pessoa chamada Baltazar, com o objetivo de fazer um sitio, quando fosse para a reserva militar; que iniciou a plantar na área e foi quando pediu autorização à flo-ra, para fazer um barraco para guardar as sementes e as mudas; que incialmente (sic) esse pedido foi negado porque a área não estava em nome do interrogando, mas, sim, em nome de Baltazar; que pegou uma procuração com Baltazar e fez novo pedido, mas o tempo foi passando e não teve resposta; que achou que, com a procuração, já estava autorizado e começou a botar suas mudas e a modificar o depósito de madeira por um outro de alvenaria; que o depósito antigo era de seis por seis metros de tamanho; que o depósito de alvenaria seria de três metros por cinco metros; que foi à sua cidade buscar mais mudas, e quando chegou ficou sabendo que tinham derrubado a construção que estava sendo construída; que levaram mudas ferramentas, destruíram tudo; que foi quando registrou BO na Delegacia sobre o que ocorreu; que depois foi à Flora e lá disseram que iam multar o interrogando; que o que fez na área foi apenas plantar, pois queria morar no sítio; que removeu os entulhos e continua lá, plantando; que lá já tem frutas e palmeiras produzidas, mangueiral; que fez um curso, depois do acordo feito aqui e pagou R$ 500,00 (quinhentos reais) para a Flora; que o galpão que

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tinha no local era de madeira, num tamanho de trinta e seis metros, sendo que o interrogando diminuiu o galpão para o tamanho de três metros por cinco metros e estava construindo de alvenaria, sendo que antes de concluir essa construção foi derrubada; que quando adquiriu a área, lá existia apena o branquearia (mídia, fl. 258). (grifos nossos)

Ao examinar tais declarações, é possível concluir que o réu tinha cons-ciência da necessidade de prévia autorização do órgão ambiental para a re-alização da obra de alvenaria, tanto que formulou o requerimento perante o ICMBio (fls. 48-49). Entretanto, diante da negativa inicial do gestor ambiental e da necessidade de regularização cadastral, o réu optou por dar andamento à construção, sem obter a autorização prévia para tanto.

A fiscalização dos órgãos de gestão ambiental na área onde o réu pro-moveu a edificação irregular foi descrita pela testemunha Altivo José Ferreira, agente público que participou das diligências no local dos fatos. Suas declara-ções em juízo constam da sentença, vale conferir (fl. 274-274v):

que viu o Réu somente uma vez, quando ele foi autuado; que reconhece como suas as assinaturas de fls. 38-39; que participou da operação onde foi deflagrada aquele trabalho na área 2 da Floresta Nacional de Brasília onde o Réu foi autuado por construção de casa de alvenaria sem autorização do Órgão ambiental com-petente; [...]; que a testemunha estava em uma sala um pouco distante e ouviu uma discussão com muita veemência; que foi até a sala onde se encontrava o senhor Enio e tentou acalmar os ânimos, porque a pessoa não queria dar os documentos para ser notificada e estava em discussão com o fiscal; que a teste-munha conseguiu acalmar os ânimos; que, então, o Réu entregou o documento e foi autuado, tendo ele Réu assinado os autos de infração; [...]; que a testemunha estava presente no dia da derrubada da edificação; que estavam no local pessoas do Instituto Chico Mendes, Novacap e Ordem Pública; que houve derrubadas em outras áreas, além da do Réu; que não se recorda do tamanho da edificação, mas era um tamanho pequeno; que o Réu não se encontrava no local; que o Réu foi notificado e compareceu espontaneamente ao ICMBio; que não se recorda de o Réu ter protocolado pedido para edificação no local, eis que não tinha acesso a estas coisas; que antes o local era um assentamento feito na época do Governa-dor Cristovam, antes de ser criada a Floresta Nacional de Brasília; que parte da área onde foi criada o assentamento era parte degradada outras não; que quando a testemunha conheceu o local já não havia plantações de árvores, era como se fosse desmatada, com vegetação rasteira; que em relação ao plano de recupera-ção da área é algo muito específica da área técnica do Instituo Chico Mendes, em que a testemunha não participa. (mídia de fl. 258).

Frise-se que, no caso, a pequena dimensão da construção soerguida pelo recorrente não significou ausência de impacto ambiental na unidade de conser-

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vação da Floresta Nacional de Brasília. Isso porque, segundo o relatório de fis-calização lavrado pelo ICMBio (fl. 23), a obra foi apta a gerar danos ambientais, porquanto comprometeu a biota, os recursos naturais e a qualidade ambiental da área.

Nesse ponto, vale observar o teor do laudo de perícia criminal de fls. 58-68, que descreve os danos ambientais verificados na chácara ocupada pelo réu:

[...] Os danos ambientais diretos verificados na Chácara nº 29 caracterizam-se pela remoção da cobertura vegetal; pela compactação e impermeabilização do solo causada pelas edificações construídas no local e pelo uso do solo (agrícola); e pela própria ocupação humana. Os danos indiretos decorrentes desses danos ambientais devem ser considerados tanto no contexto da chácara examinada, quanto no contexto do Assentamento 26 de Setembro, da Flona de Brasília e do Parna de Brasília, e podem resultar em diversas conseqüências ao meio ambien-te, conforme exposto a seguir.

Os principais danos ambientais decorrentes da retirada da vegetação são: a ex-posição do solo aos agentes erosivos; compactação do solo, com aumento do escoamento superficial e diminuição da infiltração de água pluvial; redução da capacidade de regeneração natural do cerrado, pela redução de propágulos ve-getais; diminuição da área de vida para espécies da fauna e da flora locais; de-gradação de habitats e alteração da paisagem acarretando no desequilíbrio de ecossistemas, na diminuição do fluxo gênico e na perda de biodiversidade.

As conseqüências ambientais decorrentes das construções são o impedimento do desenvolvimento da vegetação nativa no local e a impermeabilização do solo, o que dificulta ou impede a penetração da água das chuvas, influenciando o balan-ço hídrico local. [...] (grifo nosso)

Acrescente-se que o suposto baixo custo de reparação da área, a qual demandaria basicamente a “remoção dos entulhos oriundos da demolição”, segundo o laudo de fls. 58-68, não desconfigura o crime ambiental, já que essa circunstância não torna atípica a conduta, tampouco exclui a ilicitude ou a culpabilidade.

Além disso, a tese do réu que os danos verificados preexistiram à aquisi-ção da área não comporta acolhimento. Primeiro porque o apelante reconhe-ceu, em juízo, que iniciou edificação na chácara. Em segundo lugar, o laudo de perícia – exame de local (fls. 109-133) confirmou que construções foram executadas entres os anos de 2008 e 2013 na área (fl. 123).

Sobre a caracterização do crime descrito no art. 40 da Lei nº 9.605/1998, colaciono precedentes desta Corte de Justiça:

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APELAÇÃO CRIMINAL – CRIMES AMBIENTAIS – DANIFICAR UNIDADE DE CONSERVAÇÃO – DIFICULTAR O REBROTAMENTO DA VEGETAÇÃO – AL-TERAÇÃO DE LOCAL ESPECIALMENTE PROTEGIDO POR LEI – ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 40 DA LEI Nº 9.605/1998 – REJEITADA – CONDENAÇÃO – PROVA SUFICIENTE – RESPONSABILIDADE PENAL DO DIRIGENTE E DA PESSOA JURÍDICA – PARTICIPAÇÃO COMPROVADA – DO-SIMETRIA – CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS – ANTECEDENTES – REINCIDÊNCIA – PENA DE MULTA – RECURSOS PARCIALMENTE PROVIDOS

1. Não se desconhecem as críticas doutrinárias a respeito do grau de abstração do tipo penal contido no artigo 40 da Lei nº 9.605/1998. Entretanto, verifica-se que é possível extrair do comando normativo, com exatidão, a conduta legal-mente vedada, qual seja, danificar as Unidades de Conservação. [...] 9. Arguição de inconstitucionalidade rejeitada. Recursos parcialmente providos. (Acórdão nº 896508, 20120110210595APR, Relator: Silvanio Barbosa dos Santos, Revisor: João Timóteo de Oliveira, 2ª Turma Criminal, Data de Julgamento: 24.09.2015, Publicado no DJe: 02.10.2015, p. 108 – grifo nosso)

PENAL E PROCESSO PENAL – APELAÇÃO CRIMINAL – CRIME AMBIENTAL – ARTS. 40, CAPUT, E 46, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 9.605/1998 – LEI Nº 12.231/2010 – INAPLICÁVEL – FATO ANTERIOR À ALTERAÇÃO LEGISLATI-VA – PRESCRIÇÃO RETROATIVA RECONHECIDA – OFENSIVIDADE AO MEIO AMBIENTE – REPARAÇÃO DO DANO – ATENUANTE – CAUSA DE DIMINUI-ÇÃO DE PENA – PREVALÊNCIA DE LEI ESPECÍFICA EM RELAÇÃO A PARTE GERAL DO CÓDIGO PENAL – REGIME ABERTO – SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS – [...] 3. Para a com-provação da consumação do tipo penal do art. art. 40 da Lei nº 9.605/1998, basta a comprovação de que o agente causou danos diretos ou indiretos cau-sados à Unidade de Conservação inserida em área de proteção permanente. 4. Não há que se falar em ausência de ofensividade ao meio ambiente quando o dano é considerável, sendo certo que em se tratando de crime ambiental, ainda que determinada conduta, isoladamente, possa parecer inofensiva ao meio am-biente, num contexto mais amplo, torna-se relevante. [...] (Acórdão nº 583959, 20090310179810APR, Relator: João Batista Teixeira, Revisor: Jesuino Rissato, 3ª T. Criminal, Data de Julgamento: 03.05.2012, Publicado no DJe: 08.05.2012, p. 207 – grifo nosso)

Nesse cenário, comprovada a materialidade e autoria delitivas, não há falar em absolvição com fulcro no art. 386, IV e VII, do CPP.

Quanto à dosimetria, sem reparos a sentença, uma vez que a reprimenda foi fixada no mínimo legal.

De semelhante modo, acertada a fixação do regime inicial aberto, por-quanto atendido o disposto no art. 33, § 2º, c, do Código penal.

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A substituição da pena privativa de liberdade por uma restritiva de direi-tos se mostrou correta, uma vez que o réu preenche os requisitos do art. 44 do Código Penal.

Por fim, escorreita a sentença ao facultar ao réu o direito de recorrer do processo em liberdade.

Ante o exposto, conheço e nego provimento ao apelo.

É como voto.

O Senhor Desembargador Demetrius Gomes Cavalcanti – Revisor

Com o relator

A Senhora Desembargadora Nilsoni de Freitas Custodio – Vogal

Com o relator

deCisãO

Conhecido. Negou-se provimento. Unânime.

Parte Geral – Ementário de Jurisprudência2533 – Ação civil pública – abatedouro clandestino – desatendimento de normas de

higiene – ausência de licença ambiental – configuração

“Agravo de instrumento. Ação civil pública. Abatedouro clandestino. Desatendimento de normas de higiene. Ausência de licença ambiental. Dano ao consumidor e ao meio ambiente. Alegação de que caminhões pertencentes a terceiros. Ausência de provas. Agravo conhecido e desprovido.” (TJPR – AI 1737237-9 – 5ª C.Cív. – Rel. Des. Luiz Mateus de Lima – DJe 06.02.2018 – p. 205)

2534 – Ação civil pública – ocupação irregular – faixa da areia da Praia de Geribá – demolição de piso – restituição de vegetação de restinga – danos materiais – dano moral coletivo – não comprovação

“Remessa necessária. Apelação cível. Ação civil pública. Ocupação irregular. Faixa da areia da Praia de Geribá. Desistência do recurso. Demolição de piso. Restituição de vegetação de restinga. Danos materiais. Dano moral coletivo. 1. Trata-se de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público Federal em face de Ebert Vianna Chamoun, sob a alegação de que a propriedade do réu avançou sobre a praia e a vegetação de restinga, para além da linha de preamar média, causando danos ao meio ambiente e dificultando o acesso da população à praia. Requereu, liminarmente, os seguintes provimentos: i) a manutenção da medida concedida na Ação Cautelar nº 2005.51.08.000270-1, a qual impôs ao réu a obrigação de não fazer consistente em se abster de construir, reformar, ampliar, realizar benfeitorias ou praticar qualquer outra atividade na faixa de areia da Praia de Geribá, ou que acarrete a extensão dos limites de sua propriedade na sua dire-ção; ii) a demolição da parte da construção erguida sobre a vegetação de restinga, em avanço sobre a faixa de areia, ultrapassando a linha da Preamar Média. No mérito, além da ratificação da liminar, requer a condenação do réu a: i) pagamento de indenização, quantificada em perícia ou por arbitramento do Juízo, correspondente aos danos am-bientais, tanto materiais quanto morais, causados pela ocupação irregular da faixa de areia e da área de vegetação de restinga que a margeia áreas de preservação permanente, até o início da execução do projeto de adequação ambiental; ii) pagamento de indeni-zação, quantificada em perícia ou por arbitramento do Juízo, correspondente aos danos ambientais, tanto materiais quanto morais, que, no curso do processo mostrarem-se téc-nica e absolutamente irrecuperáveis nas áreas de preservação permanente mencionadas, irregularmente ocupadas pelo réu; iii) adoção de medidas adequadas para a restauração da área, bem assim, das medidas compensatórias e mitigatórias a serem indicadas em perícia, correspondentes aos danos ambientais que, no curso do processo mostrarem-se técnica e absolutamente irrecuperáveis nas áreas de preservação permanente menciona-das, irregularmente ocupadas pelo réu. 2. A sentença julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados na exordial, para condenar o Réu, ora Apelante, a adotar as seguintes providências: (a) ‘remoção de parte do piso em lajotas de pedra, de cerca de 16m2, além dos limites de sua propriedade, conforme laudo do perito (fls. 559 e 565), procedendo à retirada de todos os entulhos e materiais do local, no prazo de 30 (trinta) dias, a contar do trânsito em julgado desta sentença’ e (b) ‘recompor a vegetação de restinga com as espécies nativas descritas no laudo pericial e no Projeto de Recuperação acostado às fls. 219/246) nesta área liberada após a demolição e na remanescente entre a faixa de areia e o limite da sua propriedade, com início no prazo de 30 (trinta) dias

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a contar da sua intimação e sob a orientação do Ibama’. 3. A desistência do recurso constitui ato unilateral do recorrente e que não depende da concordância do recorrido. Logo, uma vez manifestada a desistência, pelo Apelante, do recurso por ele interposto, mediante petição subscrita com advogado com poderes especiais para desistir, o seu não conhecimento é de rigor. No entanto, a desistência do recurso não pode ter o alcance pretendido pelo Apelante/Réu, qual seja, o reconhecimento da quitação das obrigações estipuladas na sentença, com ‘a posterior extinção do feito em razão da perda evidente de seu objeto’; a uma, porque a desistência do recurso encerra apenas o processamento/julgamento do recurso que havia sido interposto, em nada alterando as conclusões da sentença; a duas porque eventual cumprimento do comando nela contido depende de apuração minuciosa em sede de cumprimento do julgado efetuado perante o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição e sob a supervisão do Ibama. 4. O avanço da propriedade do Réu em direção à faixa da areia da Praia de Geribá restou demons-trado através de prova pericial produzida em juízo, ainda que resumido a uma parte de piso em lajotas de pedra que totaliza 16 metros quadrados, bem como a presença de danos à vegetação nativa na parte dos fundos do imóvel junto à divisa com a praia, agin-do com acertos a sentença ao determinar a demolição do citado piso e a recomposição da vegetação de restinga na região mencionada. 5. Descabida a condenação por danos materiais, considerando-se, na presente hipótese, a viabilidade da integral recomposição do dano ambiental com o retorno ao estado anterior da faixa de areia irregularmente ocupada. 6. Quanto ao dano moral coletivo, conquanto não se possa minimizar os ma-lefícios causados pela intervenção imprudente do Réu, a verdade é que não há nos autos prova de que o dano tenha repercutido de tal forma a gerar uma intranquilidade social na comunidade envolvida. Haveria necessidade de demonstrar que a comunidade local efetivamente tenha se sentido lesada e moralmente abalada pela intervenção ambiental realizada, o que não foi demonstrado. 6. Apelação não conhecida. Remessa desprovida.” (TRF 2ª R. – AC-RN 0000682-86.2005.4.02.5108 – 8ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Marcelo Pereira da Silva – DJe 21.02.2018 – p. 848)

2535 – Ação civil pública ambiental – ligação de energia elétrica – unidade de conser-vação – prévio licenciamento ambiental – exigibilidade

“Processual civil. Enunciado Administrativo nº 3/STJ. Ação civil pública ambiental. Liga-ção de energia elétrica em unidade de conservação. Exigência de prévio licenciamento ambiental. Ausência de prequestionamento. 1. A questão da necessidade de prévio licen-ciamento ambiental para fins de ligação da rede de energia elétrica em área de conservação ambiental foi decidida sem debate acerca dos dispositivos indicados como violados, razão pela qual o recurso especial não pode ser conhecido. Incidência da Súmula nº 211/STJ. 2. Agravo interno não provido.” (STJ – AgInt-REsp 1.561.182 – (2015/0233283-4) – 2ª T. – Rel. Min. Mauro Campbell Marques – DJe 21.02.2018 – p. 1401)

2536 – Águas pluviais – interferência na vazão e no escoamento – obras de terrapla-nagem – alagamentos – dano moral coletivo – inexistência

“Direito processual civil e ambiental. Ação civil pública. Obras de terraplanagem para duplicação da BR-101 nas imediações do município de Mamanguape/PB. Interferência na vazão e no escoamento de águas pluviais. Alagamentos de residências, oficinas e

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estabelecimentos comerciais lindeiros. Dano moral coletivo. Inexistência. Jurisprudência da Terceira Turma. Recurso improvido. 1. Ação civil pública do Ministério Público Fe-deral pretendendo a condenação do Departamento Nacional de Infraestrutura de Trans-portes – DNIT a indenizar danos morais coletivos causados aos moradores do distrito de Pitanga, Mamanguape/PB, em decorrência de obras de terraplanagem para duplicação da BR-101 que interferiram de forma prejudicial na vazão e no escoamento de águas pluviais, ocasionando problemas de alagamento e trazendo prejuízos materiais e so-ciais à comunidade local. 2. A caracterização do dano moral coletivo, por representar direito fundamental de terceira geração, e ter como lesada a coletividade, não exige prova da dor e do sofrimento causados, reclamando, tão somente que o ato acarrete relevante intranquilidade social, alterações substanciais na ordem coletiva, atingindo o patrimônio moral da comunidade. Precedente desta Corte Regional. 3. Todavia, a egrégia Terceira Turma tem decidido que em situações a ação adequada da administra-ção na composição dos danos materiais afastaria a ocorrência do dano moral coletivo, sendo certo ainda que o sofrimento e transtornos ocasionados aos prejudicados deve ser objeto de ações individuais de reparação. 4. Recurso improvido.” (TRF 5ª R. – AC 0007398-40.2012.4.05.8200 – (578887/PB) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Fernando Braga – DJe 30.11.2017 – p. 134)

2537 – Área de preservação permanente – construção há mais de vinte anos – área urbana consolidada – demolição da casa e dos acessórios – desnecessidade

“Apelação cível. Ambiental. Área de preservação permanente. Construção há mais de vinte anos. Área urbana consolidada. Desnecessidade de demolição da casa e dos aces-sórios. Medidas mitigadoras que equilibrem o meio ambiente, a habitação e a proprie-dade. I – Apelação manejada por Francisco Humberto Bezerra, fitando sentença que lhe foi desfavorável em uma Ação Civil Pública deflagrada pelo Ministério Público Federal, em ofício do Procurador da República Oscar Costa Filho, com o objetivo de demolir um imóvel dito situado em área de preservação permanente, localizado em área praieira do Município de São Gonçalo do Amarante/CE, impondo-se ainda ao apelante o dever de restaurar as condições primitivas da flora e do solo da região, além de se abster de praticar quaisquer atos lesivos ao meio ambiente na APP em foco, mormente quanto à construção em solo não edificável. II – No seu recurso, insiste o Apelante, dentre outros argumentos, de que edificou a vivenda há mais de vinte anos antes do ajuizamento desta ação, quando não havia definição de ser aquele espaço uma Área de Preservação Permanente, fazendo jus a lá permanecer. Aduz também que não estava a construir no imóvel quando sofreu a autuação que deflagrou as controvérsias que findaram na pre-sente pendenga. III – Quanto à idade da ocupação da área pelo Recorrente, em vários momentos o processo disso dá notícia, com seriedade. É o caso do ato firmado pelo Procurador Regional da República Lino Edimar de Menezes, a 29.05.2009, oficiando na Procuradoria da República no Estado do Ceará, ao promover o arquivamento administra-tivo de uma suposta notitia criminis tratando da mesma situação que deu azo à presente ACP, que diz: ‘No dia 21.12.2005, analistas ambientais do Ibama realizaram vistoria na propriedade na Rua Capitão Inácio Prata, vizinha à Barraca de Praia Taibinha, no Município de São Gonçalo do Amarante/CE. O respectivo laudo técnico, que repousa às

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fls. 19/21, esclarece que a propriedade vistoriada consiste em uma residência de ve-raneio edificada há mais de 20 (vinte) anos, na qual, posteriormente, foram realizadas pequenas reformas, sem aumento da área construída’ (fl. 57). IV – O perito judicial, no exercício do seu mister, fl. 520, afirmou: ‘Quando da visita in loco este Vistor Oficial constatou o uso de materiais de revestimento comuns na década de 1980, com piso em lajota cerâmica aplicada na garagem e piso em pedra ardósia preta na sala de estar’. Razoável afirmar-se, portanto, que a casa ali está desde a metade dos anos oitentas do século que findou. V – A perícia judicial concluiu, dentre outros aspectos, que a casa em questão está encravada em Área de Proteção Permanente e que a sua permanência ali impede a revitalização florística do espaço. Informou também que a residência está situada em uma rua, como infraestrutura de posteação para transmissão de energia elé-trica, telefone, rede de água e esgoto etc. VI – Vê-se, pelo próprio rumo da instrução do processo, que o foco da presente ação não é de cunho patrimonial físico, pois a própria União, através da gerência dos seus bens, esteve várias vezes em contato com a situa-ção, mas não avançou mais do que impor ao ora Recorrente (apesar de erroneamente dirigida a uma de suas filhas), uma multa, por construção irregular de um deck e outros acessórios. O foco aqui é ambiental. Tanto que a sentença ordena a demolição da casa, para ‘restaurar as condições primitivas da flora e do solo da região’. VII – Não se contro-verte ou se acusa o Recorrente de estar laborando em desfavor do meio ambiente, salvo no que diz respeito à alegada reforma do deck. E já são contadas mais de três décadas de ocupação da área – inegavelmente uma APP – sem máculas maiores registradas. VIII – Tem razão o apelante quando diz que a ocupação do prédio operou-se antes da ‘euforia ambiental’ inaugurada com a Constituição de 1988. Mas não é menos certo que antes mesmo da promulgação da Carta Política vigente, já existia a designação daquele locus como APP, conforme ditava a Lei nº 4.771/1965, art. 2º, c, e e g. IX – Entretan-to, deve ser considerado, no caso em análise, à luz das imagens trazidas com o laudo do perito judicial, que é possível a adoção de medidas mitigadoras que harmonizem o ambiente sob foco e a permanência da habitação do Apelante. Observe-se que por três décadas a casa esteve ali, sem sofrer controle dos órgãos ambientais competen-tes (o Ibama, especial mercê) e nem mesmo do Ministério Público. X – Considere-se, por oportuno, que a perícia (item 17, fl. 524), respondeu positivamente à existência, no lugar, de equipamentos urbanos (‘posteamento para transmissão de energia elétrica, telefone, rede de água e esgoto etc.’). Logo, é possível a conclusão de que se trata de área urbana consolidada, a merecer os influxos da Lei nº 10.257/2001. O Estatuto das Cidades, em conjugação com o vigente Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), já que de ambos os diplomas exala sensibilidade para a adoção de medidas mitigadoras pró--ambiente, com mira no desenvolvimento sustentável. XI – A temperança deve presidir análises delicadas como a agora posta em baila, onde conflitam interesses de alta im-portância, como o meio ambiente, a propriedade e a habitação. X – ‘Conforme o novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), art. 65 – na regularização fundiária de interesse específico dos assentamentos inseridos em área urbana consolidada e que ocupam Áreas de Preservação Permanente não identificadas como áreas de risco, a regularização am-biental será admitida por meio da aprovação do projeto de regularização fundiária, na forma da Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009 – cumpre à Administração Pública local,

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com o auxílio dos órgãos ambientais, dar início ao processo de regularização fundiária dessa área urbana consolidada, inclusive, com a exigência de eventuais condicionantes ambientais, como o recuo das edificações à distância compatível com a legislação am-biental, respeitadas as características da localidade, a fim de garantir a preservação do meio ambiente para as futuras gerações. Não se exime a parte ré, em ulterior processo de regularização fundiária daquela área urbana consolidada, de se submeter às eventuais condicionantes impostas pelos órgãos ambientais ao exercício de seu direito de moradia e lazer no imóvel, inexistindo direito adquirido à degradação ambiental’ (TRF 4ª R., 3ª T., AC 5005829-42.2012.404.7004/PR, Marga Inge Barth Thessler, DJe 20.10.2015). XI – Não pode ficar sem registro dois fatos no mínimo curiosos: a) um ofício – fl. 62 – da parte da Procuradoria da República no Estado do Ceará, requisitando ao Ibama a reali-zação de providências ‘a fim de verificar a legalidade de uma obra que está localizada na Rua Capitão Inácio Prata (vizinha à Barraca de Praia Taibinha)’, mandando sindicar uma possível irregularidade, dando como referência uma irregularidade certa, que é um bar/restaurante em plena área de uso comum do povo e de vulnerabilidade ambiental, a praia; b) a existência de diversos imóveis na mesma linha de preamar do prédio ora questionado, mas só contra o agora Apelante foi movimentada uma Ação Civil Pública. XII – Flui dessa seletividade para a Ação Civil Pública, bem como da tolerância para com a ‘Barraca de Praia Taibinha’, a conclusão de que o dano ambiental apontado à respon-sabilidade do Recorrente não é tão extenso que não possa ser corrigido com medidas mitigadoras. XIII – Parcial provimento à apelação, para determinar que o Recorrente se abstenha de realizar qualquer obra de acréscimo ao imóvel em questão, salvo as intervenções estritamente conservativas, privando-se de promover o plantio de plantas exóticas ao ecossistema local, bem como de remover qualquer elemento mineral da área por ele ocupada, da mesma forma com vegetais de médio e de grande porte ou mesmo fixadoras do solo.” (TRF 5ª R. – AC 0008143-97.2010.4.05.8100 – (542590/CE) – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Edilson Pereira Nobre Júnior – DJe 09.01.2018 – p. 63)

2538 – Área de preservação permanente – dano – supressão de vegetação nativa – configuração

“Processual civil. Ambiental. Dano em área de preservação permanente. Não conhe-cimento do agravo em recurso especial que não ataca os fundamentos da decisão re-corrida. I – Trata-se de ação civil pública ajuizada pela sociedade pró Educação, Res-gate e Recuperação Ambiental – Serra em decorrência de dano ambiental ocasionado pela supressão de vegetação nativa na construção em área de preservação permanente. II – Negou-se seguimento ao recurso especial na origem com base nos óbices de: au-sência de obscuridade/contradição/omissão/erro, Súmula nº 7/STJ e divergência não comprovada. Agravo nos próprios autos que não impugna os fundamentos da decisão recorrida. III – São insuficientes para considerar como impugnação aos fundamentos da decisão que nega seguimento ao recurso especial na origem: meras alegações genéricas sobre as razões que levaram à negativa de seguimento, o combate genérico e não es-pecífico, e a simples menção a normas infraconstitucionais, feita de maneira esparsa e assistemática no corpo das razões do agravo em recurso especial. IV – Incumbe à parte, no agravo em recurso especial, atacar os fundamentos da decisão que negou seguimento

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ao recurso na origem. Não o fazendo, é correta a decisão que não conhece do agravo nos próprios autos. V – Agravo interno improvido.” (STJ – AgInt-Ag-REsp 1.120.507 – (2017/0142378-1) – 2ª T. – Rel. Min. Francisco Falcão – DJe 26.02.2018 – p. 1405)

Comentário Editorial SÍNTESEO acórdão em comento é oriundo de ação civil pública ajuizada em razão de supres-são de vegetação nativa, por edificação em área de preservação permanente.

Os pedidos da inicial foram julgados parcialmente procedentes. No Tribunal de Jus-tiça do Estado de São Paulo, a sentença foi parcialmente reformada em acórdão assim ementado:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA – Supressão de vegetação, implantação de aterro e cons-trução de templo religioso em área de preservação permanente protetora de curso d’água, situada na Área de Proteção Ambiental Sapucaí Mirim. Procedência par-cial dos pedidos. Intervenção ilícita comprovada pelo amplo conjunto probató-rio. Proteção nos termos do art. 4º da Lei nº 12.651/2012 e do art. 15 da Lei nº 9.985/2000. Responsabilidade ambiental de natureza objetiva (art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/1981) e solidária. Conceito de poluidor considerado amplo, a teor do art. 3º, inc. IV, da Lei nº 6.938/1981. Valoração dos danos ambientais que deve ser feita na fase de execução da sentença, diante da perenidade e instabilidade do meio ambiente. Sentença parcialmente reformada.

Recurso dos corréus desprovido e provido em parte o da autora.”

Dessa forma,foi interposto recurso especial com fundamento nas alíneas a e c do in-ciso III do art. 105 da Constituição Federal, cujo seguimento foi obstado na origem, ensejando a interposição de agravo nos próprios autos.

Recebidos os autos pelo Superior Tribunal de Justiça, foi proferida decisão pela qual não se conheceu do agravo em recurso especial.

Contra essa decisão, foi interposto este agravo interno, alegando a parte agravante que impugnou todos os fundamentos da decisão de inadmissibilidade do recurso especial na origem.

Diante do exposto, o nobre Rel. entendeu:

“[...]

Nesse sentido é a jurisprudência:

É assente nesta Corte o entendimento segundo o qual os recursos devem impugnar, de maneira específica e pormenorizada, os fundamentos da decisão contra a qual se insurgem, sob pena de vê-los mantidos. Não são suficientes meras alegações genéri-cas sobre as razões que levaram à inadmissão do agravo ou do recurso especial ou à insistência no mérito da controvérsia (AgRg-AREsp 542.855/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª T., J. 23.06.2015, DJe 29.06.2015).

A afirmação de que ‘a matéria em debate claramente não demanda reexame dos ele-mentos probatórios’ revela-se como combate genérico e não específico, porque com-pete à parte agravante demonstrar de que forma a violação aos artigos suscitada nas razões recursais não depende de reanálise do conjunto fático-probatório – deixando claro, por exemplo, que todos os fatos estão devidamente consignados no acórdão recorrido (Decisão monocrática no Agravo em Recurso Especial nº 944.910/GO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques).

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Acrescente-se, ainda, que ‘a simples menção a normas infraconstitucionais, feita de maneira esparsa e assistemática no corpo das razões do apelo nobre, não su-pre a exigência de fundamentação adequada do Recurso Especial’ (AgRg-AREsp 546.084/MG, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., DJe 04.12.2014).

Não existindo impugnação à decisão que negou seguimento ao recurso especial, correta a aplicação do art. 544, § 4º, inciso I, do Código de Processo Civil de 1973 (atual art. 932, inciso III, do Código de Processo Civil de 2015), para não conhecer do agravo nos próprios autos.

Nesse sentido, os seguintes precedentes: AgRg-EREsp 1.387.734/RJ, Corte Espe-cial, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe de 09.09.2014; e AgRg-EDcl-EAREsp 402.929/SC, Corte Especial, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe de 27.08.2014; AgInt-AREsp 880.709/PR, 2ª T., Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 17.06.2016; AgRg-AREsp 575.696/MG, 3ª T., Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe de 13.05.2016; AgRg-AREsp 825.588/RJ, 4ª T., Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe de 12.04.2016; AgRg-REsp 1.575.325/SC, 5ª T., Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, DJe de 01.06.2016; e, AgRg-EDcl-AREsp 743.800/SC, 6ª T., Relª Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJe de 13.06.2016.

Ante o exposto, nego provimento ao agravo interno.

É o voto.”

Assim, o Egrégio Superior Tribunal de Justiça negou provimento ao agravo interno.

2539 – Área de preservação permanente – ocupação – margens do Rio Paraná – cons-trução/reforma realizada ao tempo do Código Florestal de 1965 – embargos – improcedência

“Embargos à execução fiscal. Ambiental. Multa por utilização de área de preservação permanente, às margens do Rio Paraná, Lei nº 4.771/1965, art. 2º, a, configurado o ilícito, em razão da ocupação de área non aedificandi. Construção/reforma realizada ao tempo do Código Florestal de 1965 prevalência do interesse público de preservação aos interesses privados de lazer e moradia, invocados. Improcedência aos embargos. Improvimento à apelação. 1. Configura o meio ambiente bem ao alcance de todos e pelo qual também a coletividade deva primar, em seus cuidados, proteção e perpetua-ção, nos termos do art. 225, da Lei Maior. 2. O polo apelante foi autuado por realizar edificação em área de preservação permanente sem licença ambiental na margem do rio Paraná. 3. O Código Florestal vigente ao tempo dos fatos, Lei nº 4.771/1965, art. 2º, a, considerava de preservação permanente as áreas ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água, fixando distância a ser resguardada, levando-se em consideração as margens e a largura do curso pluvial. 4. Nenhum reparo a demandar a r. sentença, que mui bem resolveu a controvérsia, embasada nos elementos probatórios ao feito produzidos, que adiante serão abordados. 5. A propalada preexistência de casa de madeira na área im-plicada não restou provada, tendo o expert sido conclusivo sobre tal situação, fl. 215: ‘Face a impossibilidade de encontrar vestígios físicos que pudessem identificar se existia ou não uma casa de madeira, posso afirmar que: 1º Se existia uma casa de madeira no local, esta foi totalmente reformada e não tem mais a configuração inicial; 2º A casa, no estado físico que se encontra e pelos materiais empregados, é provável que tem no má-ximo 25 (vinte e cinco) anos; 3º A distância da casa à margem do Rio Paraná é de 81,60

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metros’. 6. A insistência do recorrente na tese de que no local havia uma casa desde a década de 50 ressente-se de elementos probatórios objetivos, tanto que o perito foi claro ao dizer ocorreu total supressão de eventual edificação, naquele terreno. 7. A suposta casa de madeira não existe mais (se existiu), flagrando a Fiscalização uma construção de alvenaria, prédio novo (se considerado o marco defendido pelo apelante), portanto não é da década de 50, assim a ação humana na área subsumiu-se aos conceitos previstos na Lei nº 4.771/1965. 8. Não resta mínima dúvida de que a construção litigada se perfez ao tempo em que previsto impedimento para ocupação da área, por este motivo caindo por terra as arguições envolvendo irretroatividade da norma e ‘direito adquirido’, preva-lecendo, assim, os interesses coletivos à preservação em norma estatuídos. Precedente. 9. Patente que a norma visou a permitir preservação do ambiente que margeia o rio, evitando assoreamento e degradação, buscando com que o curso d’água fosse preserva-do, a fim de que regeneração apropriada do local fosse realizada. 10. Referida área não deve ser ocupada, esta a hermenêutica da regra, assim não merece amparo o argumento de que não há degradação ambiental, porquanto tem a restrição a natureza de limitação non aedificandi (a presença humana impossibilita a regeneração natural do tracto de terra, por evidente). 11. Nenhuma alteração ao quadro infracional firmado pelo Ibama a ocorrer com a transformação em ‘Distrito’ da área do Porto Caiuá, pelo Município de Naviraí/MS, porquanto, como descrito no laudo pericial, está a região distante 66 km da urbe, fl. 98, evidenciando as fotografias tratar-se de área afastada/remota e que possui, ainda, mata ciliar preservada, fl. 110, fotos 13/14, contando o povoado com apenas 181 moradores, dados do censo/2000, fl. 100, parte final, assim mui diferente do buscado ce-nário de ‘urbanização e antropização’, tecido na apelação. 12. Superior ao vertente caso o interesse coletivo à preservação, nos termos da lei, que se sobrepõe ao privado anseio (por este motivo superado o invocado direito à moradia, ao lazer, à proporcionalidade e à razoabilidade), por evidente, descabendo ao apelante fazer comparações com outras situações que considera irregulares, porque, a uma, em exame seu exclusivo direito e, a duas, aos autos tratada situação específica que se demonstrou violadora da legislação, nos termos das provas produzidas, assim de todo o acerto o agir do Ibama, afigurando-se degradadora ao meio ambiente a só permanência humana em local cuja norma proibiu ocupação, por isso não se há de falar em mitigação de impacto. Precedente. 13. Pelo raciocínio privado, se há infrações sendo cometidas por outrem/vizinhos (seria praxe), então justificável o seu ‘não apenamento’, logo tal evidentemente a não frutificar, afinal o livramento do recorrente significaria a perpetuação do cometimento de ilegalidades e o incentivo ao uso irregular de terrenos protegidos, tudo com egoísmo e descaso à vital preservação do meio ambiente, ainda mais na área litigada, lindeira a curso d’água (importante Rio Paraná do Continente), fonte de vida e substância escassa ao Planeta, que atualmente vive agravante crise hídrica, tudo por causa de ações impensadas do homem e de erros cometidos ao longo da história, seja por desconhecimento, seja por postura predatória em busca de riquezas, desastrosas experiências estas a imporem sen-síveis reflexos ao presente e também impactantes a um futuro próximo, infelizmente. 14. Improvimento à apelação. Improcedência aos embargos.” (TRF 3ª R. – AC 0000350-75.2009.4.03.6006/MS – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Nery Junior – DJe 16.02.2018 – p. 488)

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Comentário Editorial SÍNTESEO acórdão em epígrafe trata de apelação em embargos á execução fiscal, em face do Ibama.

O objetivo da apelação é o reconhecimento de inexigibilidade da multa aplicada, pois a casa existente no local foi construída antes da edição da Lei nº 4.771/1965, sendo descabida a retroação da norma.

Mencionou a existência de caso análogo, onde foi permitido o uso de área, além de existir urbanização, defendeu a existência de excesso de execução com a incidência da Selic. Requisitou a sua não inclusão no Cadin, via antecipação de tutela.

Assim, entendeu o d. Rel. em seu voto:

“[...]

Nesta senda, o Código Florestal vigente ao tempo dos fatos, Lei nº 4.771/1965, art. 2º, a, considerava de preservação permanente as áreas ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água, fixando distância a ser resguardada, levando-se em conside-ração as margens e a largura do curso pluvial:

Art. 2º Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as flo-restas e demais formas de vegetação natural situadas:

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será: (Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.07.1989)

1. de 30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura; (Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.07.1989)

2. de 50 (cinquenta) metros para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; (Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.07.1989)

3. de 100 (cem) metros para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura; (Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.07.1989)

4. de 200 (duzentos) metros para os cursos d’água que tenham de 200 (duzen-tos) a 600 (seiscentos) metros de largura; (Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.07.1989)

5. de 500 (quinhentos) metros para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros; (Incluído pela Lei nº 7.803 de 18.07.1989)

[...]

Por sua vez, patente que a norma visou a permitir preservação do ambiente que mar-geia o rio, evitando assoreamento e degradação, buscando com que o curso d’água fosse preservado, a fim de que regeneração apropriada do local fosse realizada.

Em outro dizer, referida área não deve ser ocupada, esta a hermenêutica da regra, assim não merece amparo o argumento de que não há degradação ambiental, por-quanto tem a restrição a natureza de limitação non aedificandi (a presença humana impossibilita a regeneração natural do tracto de terra, por evidente).

De seu giro, nenhuma alteração ao quadro infracional firmado pelo Ibama a ocorrer com a transformação em ‘Distrito’ da área do Porto Caiuá, pelo Município de Na-viraí/MS, porquanto, como descrito no laudo pericial, está a região distante 66 km da urbe, fl. 98, evidenciando as fotografias tratar-se de área afastada/remota e que possui, ainda, mata ciliar preservada, fl. 110, fotos 13/14, contando o povoado

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com apenas 181 moradores, dados do censo/2000, fl. 100, parte final, assim mui diferente do buscado cenário de ‘urbanização e antropização’, tecido na apelação.

Portanto, superior ao vertente caso o interesse coletivo à preservação, nos termos da lei, que se sobrepõe ao privado anseio (por este motivo superado o invocado direito à moradia, ao lazer, à proporcionalidade e à razoabilidade), por evidente, descaben-do ao apelante fazer comparações com outras situações que considera irregulares, porque, a uma, em exame seu exclusivo direito e, a duas, aos autos tratada situação específica que se demonstrou violadora da legislação, nos termos das provas produ-zidas, assim de todo o acerto o agir do Ibama, afigurando-se degradadora ao meio ambiente a só permanência humana em local cuja norma proibiu ocupação, por isso não se há de falar em mitigação de impacto:

‘CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE – ART. 225 DA CF/1988 – LEIS NºS 4.711/1965, 6.938/1981, 7.347/1985 E 12.651/2012 – PRESCRIÇÃO – INOCORRÊNCIA – OCUPAÇÃO E EDIFICAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PER-MANENTE CILIAR – DANO AMBIENTAL CONFIGURADO In Re IPSA – RESPON-SABILIDADE OBJETIVA E PROPteR ReM DO POSSUIDOR – CONDENAÇÃO EM OBRIGAÇÃO DE FAZER, NÃO FAZER E INDENIZAR – HONORÁRIOS

I – A proteção ambiental detém status constitucional, estando os agentes infratores, pessoas físicas ou jurídicas, sujeitos a sanções civis, penais e administrativas, cuja incidência pode ser cumulativa, ante sua autonomia (art. 225, § 3º, CF; art. 4º, VII, c/c art. 14, § 1º, Lei nº 6.938/1981).

II – Ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal para apuração de res-ponsabilidade por dano ao meio ambiente, decorrente da inobservância da função socioambiental da propriedade, traduzida pela ocupação e posse irregular de parcela de imóvel rural mediante construção e manutenção de edificações e benfeitorias em mata ciliar, “rancho” erigido em Área de Preservação Permanente às margens do Rio Pardo, no Município de Jardinópolis.

III – A degradação ou supressão de vegetação natural legalmente protegida configura conduta instantânea de efeitos permanentes, estendendo-se a destruição do meio ambiente de modo continuado no decorrer do tempo e persistindo a responsabilida-de do proprietário ou possuidor de área degradada quanto à obrigação de conservar o patrimônio ambiental, não se falando em prescrição. Precedentes do STJ.

IV – A obrigação de reparação dos danos ambientais é propter rem, sem prejuízo da solidariedade entre os vários causadores do dano, descabendo falar em direito adquirido à degradação, competindo ao novo proprietário ou possuidor assumir os ônus de manter a preservação, tornando-se responsável pela reposição, mesmo que não tenha contribuído para o desmatamento, configurando-se dano ambiental in re ipsa a exploração, ocupação e edificação em Área de Preservação Permanente (art. 7º, Lei nº 12.651/2012). Precedentes do STJ.

V – Preceitua o Código Florestal configurar Área de Preservação Permanente aquela detentora da função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (art. 2º, II, Lei nº 4.771/1965; art. 3º, II, Lei nº 12.651/2012).

VI – Nos termos do art. 2º, a, item 3, da Lei nº 4.771/1965, e arts. 3º e 4º, I, c, da Lei nº 12.651/2012, constituem Área de Preservação Permanente as florestas e

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demais formas de vegetação natural situadas ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto, em faixa marginal, cuja largura mínima será de 100 metros para os cursos d’água que tenham entre 50 e 200 metros de largura.

VII – Possuindo o Rio Pardo cerca de 200 metros de largura na região de Jardinó-polis, e devendo portanto ser observada a Área de Preservação Permanente Ciliar de 100 metros, constata-se a violação à legislação de proteção ambiental por parte do réu, pois a faixa por ele ocupada a 30 metros da margem fluvial não é passível de exploração, edificação, supressão de vegetação ou qualquer outra intervenção humana.

VIII – Inexistentes quaisquer das hipóteses excepcionais de uso autorizado pelos órgãos de proteção ambiental, taxativamente previstas na legislação, adstritas à utilidade pública e interesse social ou ao baixo impacto, vedada, de igual sorte, a compensação.

IX – Configurado o dano ambiental in re ipsa e, mais ainda, estando a degradação demonstrada nos autos, restam comprovados os elementos hábeis à responsabiliza-ção do réu, quais sejam, conduta lesiva, ocorrência do dano e configuração do nexo de causalidade, tornando de rigor reconhecer sua responsabilidade pelo prejuízo ambiental causado, impondo-se o consequente dever de indenizar.

X – Tratando-se de apelo exclusivo do réu, e em observância à legislação, à razoabi-lidade e proporcionalidade, devem ser mantidos os termos da sentença de procedên-cia da ação civil pública, quais sejam, a condenação do apelante à desocupação da Área de Preservação Permanente, à demolição da edificação ali erigida e decorrente retirada do entulho, ao pagamento de indenização já quantificada pelos analistas ambientais e confirmada no bojo do decisum, a ser revertida ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, bem como às custas e honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor atualizado da causa, cujo patamar está em consonância aos termos do art. 20, § 3º, do CPC e à linha de entendimento desta Quarta Turma.

XI – Apelação desprovida.’

(TRF 3ª R., 4ª T., AC 0001390-42.2002.4.03.6102, Relª Desª Fed. Alda Basto, J. 23.08.2013, e-DJF3 Judicial 1 Data: 09.09.2013)”

Por todo o exposto, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região julgou pelo improvi-mento à apelação, mantendo a r. sentença, tal qual lavrada.

2540 – Área de proteção permanente – manguezal – invasão – ausência de intimação pessoal da união – configuração

“Embargos de declaração. Processual civil. Construções irregulares em área de proteção permanente. Manguezal. Invasão. Ausência de intimação pessoal da união. Vício su-prido. Prejuízo não demonstrado. Ilegitimidade passiva. Interesse de agir. Preliminares enfrentadas. Dispositivos. Prequestionamento. Violação não configurada. Omissões ine-xistentes. Rediscussão. Embargos improvidos. 1. Embargos de declaração opostos pela União em face do acórdão que negou provimento à remessa necessária e às apelações do Ibama e da Emurb, deu parcial provimento à apelação do Município de Aracajú para aumentar para dois anos o prazo de execução de todas as inclusões das famílias atingidas pela demolição em programas habitacionais e a transferências destas para suas novas moradias e deu parcial provimento à apelação interposta pela União, apenas para prorrogar o prazo concedido na sentença para apresentação do Prad e para a demolição

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dos imóveis vazios e abandonados da área de manguezal invadida para 180 (cento e oitenta) dias. 2. No caso dos autos não há que falar nulidade dos atos processuais que sucederam a prolação do acórdão recorrido, uma vez que a Procuradoria Regional da União, recebendo os autos com vista em 29.08.2017, opôs embargos de declaração indo além da mera alegação de nulidade por ausência de intimação pessoal, pois se insurgiu contra o acórdão vergastado com a mais ampla profundidade. 3. Além disso, os embargos de declaração anteriormente opostos pelo Município de Aracajú e pelo Ibama foram improvidos, mantendo incólume o acórdão recorrido. 4. A União não de-monstrou qualquer ato que tenha ensejado cerceamento do seu direito de defesa ou que evidencie prejuízo ao ente público, ainda que potencialmente. 5. A jurisprudên-cia do Superior Tribunal de Justiça é firme em aplicar o princípio pas de nullité sans grief, o qual determina que a declaração de nulidade requer a efetiva comprovação de prejuízo à parte, o que não ocorreu na presente hipótese. 6. Rejeitado o pedido de declaração de nulidade dos atos processuais que sucederam o acórdão vergastado por ausência de prejuízo à União. 7. Inexistem as omissões apontadas pela embargante, não se subsumindo o objeto dos presentes embargos a nenhuma das hipóteses previstas no art. 1.022 do CPC/2015. 8. A decisão vergastada enfrentou as questões preliminares suscitadas nas razões de apelação da União, rejeitando-as explicitamente. Exsurge do acórdão recorrido que a área objeto da demanda está inserida em área de preservação permanente e em terreno de marinha e seus acrescidos, o que evidencia a legitimidade passiva da União e a necessidade e utilidade do provimento jurisdicional perquirido pelo MPF, consubstanciado na responsabilização dos infratores pelos danos ambientais ocorridos no manguezal indevidamente ocupado. 9. Ao contrário do que alega a União, o acórdão vergastado não ensejou qualquer violação ao disposto nos arts. 9º e 10 da Lei nº 9.636/1998, art. 3º da Lei nº 10.257/2001 e art. 182 da CF/1988, pois as obrigações de fazer consistentes na inclusão de famílias em programas habitacionais ou na conces-são de auxílio-aluguel foram impostas exclusivamente ao Município de Aracajú (itens d, e e g da sentença). 10. O embargante suscitou teses que não se revelaram capazes de infirmar a conclusão adotada no acórdão vergastado, pretendendo, ainda, provocar a rediscussão de questões apreciadas no julgamento que originou o acórdão questionado, revelando-se, assim, incabíveis os embargos de declaração, ainda que opostos para fins de pré-questionamento. 11 – Embargos de declaração improvidos.” (TRF 5ª R. – Ap-Reex 0006022-89.2012.4.05.8500/03 – (32965/SE) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Rogério Fialho Moreira – DJe 23.02.2018 – p. 149)

2541 – Área indígena – desmatamento – ausência de licenciamento – dano ambiental – configuração

“Processual civil. Ambiental. Ação civil pública. Desmatamento de área indígena sem licenciamento. Cerceamento de defesa. Não ocorrência. Dano ambiental configurado. Responsabilidade civil. Aplicação de multa e recomposição da área degradada. Despro-vimento do apelo. 1. Apelação ataca sentença que condenou o réu a restaurar a área ambiental que existia anteriormente ao desmatamento realizado em terra indígena, bem assim a ressarcir, mediante reparação pecuniária, os danos materiais que não puderem ser efetivamente recompostos, além de indenizar a coletividade pelo prejuízo decorrente

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do desequilíbrio ecológico provocado, no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). 2. Não se há falar em cerceamento de defesa, em razão do indeferimento de prova testemunhal e pericial. É que o juízo a quo indeferiu o pedido de produção de prova pericial e tes-temunhal formulado pelo réu às fls. 155/156, sob o fundamento de que os documentos acostado aos autos já seriam instrumentos hábeis a comprovar a ocorrência ou não do dano ambiental. Ora, cabe ao magistrado verificar a existência de provas suficientes a ensejar o julgamento antecipado da lide, conforme o princípio do livre convencimento. 3. Ademais, há de se considerar que o Recorrente demonstrou conformação com a deci-são que indeferiu a produção de tais provas, dado que, embora devidamente intimado, não a questionou. Portanto, tento o apelante deixado de impugnar no momento opor-tuno, certamente ocorreu a preclusão, não sendo mais possível, nessa fase processual, alegar cerceamento de defesa. 4. Consoante apontado no Laudo Técnico de nº 09/2012, realizado pela equipe de fiscalização do Ibama, o desmatamento de 0,57 ha de recursos florestais – imputados ao ora apelante – foram suprimidos a corte raso, no interior da ter-ra indígena Tapeba, sem autorização da Funai ou autoridade ambiental competente – e que a supressão da vegetação se deu por interesse particular e não por uma necessidade coletiva da terra indígena. 5. Nos termos da apelação apresentada pelo réu, o desmata-mento fora realizado com autorização dos representantes dos índios Tapeba. Contudo, o Ofício nº 220, datado de 06.06.2012, de lavra da Funai e dirigido à Procuradoria da República no Ceará, diz justamente o contrário. É que, a denuncia do desmatamento da área em questão partiu da própria Comunidade Indígena Tapeba, assertiva ratificada pelo Relatório de Fiscalização da Funai. Portanto, não há como acolher o argumento inserto no apelo sob exame. 6. Nos termos do art. 231, da Constituição Federal, as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis. Logo, não é possível aliená-las, a qualquer título. De igual modo, não se pode destiná-las a qualquer outro fim senão àquele relacionado à cultu-ra indígena. Além disso, as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nela existentes. 7. Apelação improvida.” (TRF 5ª R. – AC 0006665-78.2015.4.05.8100 – (596888/CE) – 2ª T. – Rel. Des. Fed. Paulo Roberto de Oliveira Lima – DJe 15.02.2018 – p. 28)

Comentário Editorial SÍNTESETrata-se de apelação interposta contra sentença que nos autos da Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público Federal condenou o apelante nos seguintes termos:

“[...]

1) restaurar a compleição ambiental que existia anteriormente, as condições primi-tivas da flora e do solo da região, sob pena de multa diária, no valor de R$ 200,00 (duzentos reais), nos termos do art. 11 da Lei nº 7.347/1985 c/c arts. 536, § 1º e 537, do NCPC;

2) ressarcir, mediante reparação pecuniária, os danos materiais que não puderem ser efetivamente recompostos, conforme vier a ser ulteriormente apurado em sede de liquidação por arbitramento judicial, nos termos dos arts. 509, inciso I e 510, ambos do NCPC, devendo ser revertida a importância pertinente, juntamente com

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eventuais multas contabilizadas, para o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDD), na forma dos arts. 13 da Lei nº 7.347/1985 e 1º da Lei nº 9.240/1995; e

3) indenizar a coletividade pelo prejuízo decorrente do desequilíbrio ecológico do meio ambiente, no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), importância a ser reverti-da para o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDD), na forma dos arts. 13 da Lei nº 7.347/1985 e 1º da Lei nº 9.240/1995.”

O apelante aduziu preliminarmente cerceamento de defesa,pois tendo em vista que mesmo requerendo a produção de provas testemunhais e periciais, estas lhes foram negadas e alegou não ter concorrido com o dano ambiental disposto na exordial, pelo fato de ter sido autorizado a utilizar a área supostamente danificada.

Diante do exposto, vale trazer trecho do voto do nobre Relator:

“[...]

Conforme se extrai das informações do Laudo Técnico de nº 09/2012 realizado pelo Ibama, fls. 54/60, ‘[...] Após análise cartográfica da localização da área desmatada e do poligonal da terra indígena Tapeba fornecida pela Funai pode-se afirmar o desmatamento foi realizado no interior da terra indígena Tapeba sem autorização da Funai ou autoridade ambienta competente.’

É inconteste que a intervenção realizada pelo réu se deu em terras tradicionalmente ocupadas por indígenas, mais especificamente na terra Indígena Tapeba II, Aldeia Lagoa II, comprovando-se tal fato pela documentação instrutória de procedimentos administrativos no âmbito do Ibama (fls. 54/60; 77/82) e da Funai, acompanhado de registros fotográficos (fls. 20/26).

Nos termos da apelação apresentada pelo réu, o desmatamento fora realizado com autorização dos representantes dos índios Tapebas, o que, no seu entendimento, o exime de responsabilidade. Contudo, verifica-se do Ofício nº 220, datado de 06.06.2012, oriundo da Funai e dirigido à Procuradoria da República no Ceará, fl. 19, que denuncia o desmatamento da área em questão partiu da própria Comu-nidade Indígena Tapeba, assertiva ratificada pelo Relatório de Fiscalização da Funai (fls. 20/21). Portanto, não há como acatar tal argumento.

Em verdade, nos termos do art. 231, da Constituição Federal, as terras tradicional-mente ocupadas pelos índios são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis. Logo, não é possível alienar, a qualquer título, as terras ocu-padas pelos índios, bem como não se pode destiná-las a qualquer outro fim senão aquele relacionado à cultura indígena. Além disso, destinam-se posse permanente dos indígenas, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nela existentes.

Em matéria ambiental, entende-se que a responsabilidade é de natureza objetiva, por força do art. 225, § 3º, da CF/1988. Logo, qualquer atividade que pretenda explorar recursos ambientais trás por consequência o dever de preservá-lo, sob pena de responsabilização pelos danos causados independente de culpa. Daí que, ainda que autorização houvesse por parte de terceiro ou dos próprios índios, tal não afas-taria a responsabilidade do autuado.

Assim, no caso concreto entende-se que o apelante deve ser responsabilizado, em razão de existir incontroverso dano ambiental demonstrado pela documentação ins-trutória acostada aos autos. Sendo certo que a exploração dos recursos naturais se dera sem o devido licenciamento ambiental.

Mercê do exposto, nego provimento à apelação.

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É como voto.”

Assim, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região negou provimento à apelação.

2542 – Aterro sanitário – implantação – alegação de violação à norma técnica – lesão ao patrimônio público e dano ambiental – inocorrência

“Apelação cível. Ação popular. Implantação de aterro sanitário. Alegação de violação à norma técnica. Lesão ao patrimônio público e dano ambiental. Inocorrência. Procedên-cia da ação popular exige a comprovação da invalidade do ato praticado e da lesividade ao patrimônio público, ônus que pertence ao autor. Ausência de provas a ensejar a procedência do pedido. Sentença mantida. Recurso de apelação conhecido e negado provimento.” (TJPR – AC 1722152-8 – 4ª C.Cív. – Relª Desª Astrid Maranhão de Carvalho Ruthes – DJe 13.12.2017 – p. 68)

2543 – Crime ambiental – área pertencente à área circundante da reserva antes da ins-tituição da Rebio do Tinguá – modificação da competência material – Justiça Federal – incompetência

“Penal. Processo penal. Ação penal originária. Suposto crime ambiental. Área não inte-grante da zona de amortecimento ou da unidade de conservação da Rebio do Tinguá. Área pertencente a área circundante da reserva antes da instituição da Rebio. Modi-ficação da competência material. Incompetência da justiça federal. I – À época dos fatos os imóveis supostamente degradados se encontravam dentro da área circundante da Reserva do Tinguá, compreendida em sua proteção qualquer atividade que pudesse afetar a biota num raio de dez quilômetros das áreas circundantes da Unidade de Con-servação, as quais deveriam ser obrigatoriamente licenciadas pelo órgão ambiental com-petente, nos ternos da Resolução Conama nº 13/1990. II – Com a publicação da Portaria nº 68/2006 do Ibama, que aprovou o Plano de Manejo da Reserva Biológica do Tingá, bem como da Resolução Conama nº 428/2010, que revogou a Resolução Conama nº 13/1990, estabelecendo a Zona de Amortecimento da Reserva do Tinguá, os imóveis ficaram fora da área protegida pela União, ou seja, fora da Unidade de Conservação e da Zona de Amortecimento da reserva. III – Embora à época dos fatos, o local onde os crimes teriam ocorrido ficasse inserido dentro de área de proteção federal, posterior-mente, com o Plano de Manejo da Reserva, os imóveis ficaram fora da reserva e até mesmo de sua zona de amortecimento, não possuindo nenhuma restrição administra-tiva ao direito de propriedade. Não restou configurado o interesse público da União. IV – Possibilidade de modificação da competência inicialmente estabelecida, mesmo depois de encerrada a instrução do feito, por se tratar de alteração da competência em razão da matéria. V – Declínio de competência para a Justiça Estadual.” (TRF 2ª R. – PET 0100357-34.2016.4.02.0000 – 1ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Paulo Espirito Santo – DJe 17.01.2018 – p. 1233)

2544 – Crime ambiental – destruição de vegetação de restinga – prescrição – descum-primento de embargo de obra – desobediência

“Penal. Processual penal. Crime ambiental. Destruição de vegetação de restinga. Pres-crição. Descumprimento de embargo de obra. Desobediência. Ausência de justa causa.

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Atipicidade. Inépcia da denúncia. Recurso em sentido estrito não provido. I – Diante da narrativa empreendida na denúncia, dando conta de que, por meio de construção irre-gular, o acusado causou destruição a vegetação de restinga, que integra o Bioma Mata Atlântica, escorreita se revela a capitulação delitiva no art. 38-A da Lei nº 9.605/1998, o que remete ao prazo prescricional de oito anos (art. 109, IV, do CP). II – Em se tratando o crime do art. 38-A da Lei nº 9.605/1998 de consumação instantânea e de efeitos per-manentes, o prazo prescricional começa a fluir a partir da conclusão da construção tida como irregular. III – Constando informação no laudo de perícia criminal no sentido de que a edificação já estaria concluída desde 2004, não estando nos autos cópia do embar-go de lavra do Ibama de 2006, infere-se o transcurso de mais de oito anos sem que a de-núncia tenha sido recebida, configurando-se a prescrição da pretensão punitiva estatal. IV – Não é possível deduzir justa causa para fim de imputação do crime de desobediên-cia (art. 330 do CP), se a denúncia, muito embora se refira a suposto descumprimento de embargo de obra, não vem acompanhada de cópia do respectivo auto de lavra do Ibama, mas tão somente do auto de infração em que foi aplicada ao denunciado multa pelo não atendimento das exigências contidas naquela interdição. V – Em se tratando o embargo de ato Administrativo punitivo praticado no exercício do poder de polícia e dotado do atributo da autoexecutoriedade, ou seja, pode ser posto em execução pela própria Admi-nistração Pública, sem necessidade de intervenção do Poder Judiciário, e não fazendo a Lei nº 9.605/1998 e o Decreto nº 6.514/2008, que preveem aquela penalidade, ressalva específica à aplicação cumulativa do art. 330 do CP, resta atípica a conduta imputada ao recorrido deduzida do descumprimento de auto de embargo de obra tida como sem licença ambiental, e, consequentemente, inepta a denúncia, nos termos do art. 395, III, c/c art. 41, ambos do CPP. VI – Recurso em sentido estrito não provido.” (TRF 2ª R. – RSE 0500170-81.2016.4.02.5004 – 2ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Marcello Granado – DJe 09.01.2018 – p. 20)

2545 – Crime ambiental – exploração de recurso mineral – argila – dolo – presente – responsabilidade criminal – comprovação

“Penal e processual. Exploração de recurso mineral. Argila. Crime ambiental. Art. 55 da Lei nº 9.605/1998. Usurpação do patrimônio da união. Art. 2º da Lei nº 8.176/1991. Dolo. Presente. Responsabilidade criminal comprovada. Condenação. Pena de per-dimento. Razoabilidade e proporcionalidade. Afastamento. 1. Tendo em vista que as empresas de propriedade dos réus não detinham autorização do DNPM ou licença da Fatma para extrair argila em nenhuma zona do Município de Sangão/SC, tampouco exis-tia regularização de eventual contrato de cessão de direitos minerários, é incoerente a alegação de que houve erro quanto à delimitação da área permitida, uma vez que os acusados estavam proibidos de lavrar em qualquer zona daquele território. 2. Ainda que se considerasse válida a atividade caso os títulos autorizativos estivessem em nome de terceira empresa, ao que tudo indica, nem mesmo a alegada possuidora da lavra detinha as devidas autorizações e licenças para extrair o mineral na época dos fatos. E, no ponto, tratando-se de atividade notoriamente fiscalizada e regulamentada, era dever dos réus se informar convenientemente sobre a presença das autorizações dos órgãos competentes, sob pena de assumir o risco de incorrer em dolo eventual. Assim, analisando o caso sob

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esse viés, chega-se à mesma conclusão de que os réus não podiam realizar a lavra em nenhum terreno próximo ao local dos fatos, não havendo se cogitar em erro decorrente de desorientação espacial. 3. Supondo-se, ainda, que a alegada possuidora da lavra tivesse permissão para realizar a atividade, o exame da tese de que houve mero equí-voco territorial dependia, ao menos, que a defesa comprovasse a proximidade dos dois locais. Os réus, porém, não se desincumbiram desse ônus, pois não há dados suficientes para esclarecer se a permissão anexada aos autos se referia a terreno contíguo ao local onde houve a fiscalização. 4. Estando devidamente comprovado que os réus, de forma livre e consciente – ou, ao menos, assumindo o risco – extraíram argila sem as devidas autorizações e licenças dos órgãos competentes, mostra-se evidente a caracterização do crime ambiental (art. 55 da Lei nº 9.605/1998) e de usurpação do patrimônio da União (art. 2º da Lei nº 8.176/1991). 5. O perdimento dos bens, nos termos do art. 25, § 5º, da Lei nº 9.605/1998 deve ser aplicado conforme critérios de razoabilidade e proporciona-lidade, atentando-se aos danos causados e ao proveito econômico auferido pelo autor, especialmente nas hipóteses em que os objetos constituem instrumento de trabalho e de sustento dos agentes. Hipótese em que a medida deve ser afastada.” (TRF 4ª R. – ACr 5005710-49.2015.4.04.7207 – 7ª T. – Relª Salise Monteiro Sanchotene – J. 06.02.2018)

Comentário Editorial SÍNTESETrata-se de denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal contra os réus dando--os como incursos nas sanções do art. 55 da Lei nº 9.605/1998 e do art. 2º da Lei nº 8.176/1991.

Consta dos autos que os réus promoveram extração e exploração de recursos mine-rais pertencentes à União, que consistiu na retirada e utilização de argila, em uma área aproximada de 3,2 hectares, sem licença ambiental e autorização do DNPM.

Regularmente instruído do feito, sobreveio a sentença, que julgou procedente a pre-tensão punitiva e condenou os réus individualmente, 01 (um) ano e 02 (dois) meses de detenção, em regime inicial aberto, e 20 (vinte) dias-multa, à razão de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente na época do fato (agosto de 2012), por ofensa ao art. 2º, caput, da Lei nº 8.176/1991 e ao art. 55 da Lei nº 9.605/1998, em concurso formal (art. 70 do CP).

Inconformados apelaram sustentando: “(a) no mérito, que ‘é prática comum na re-gião que a possuidora da lavra venda a argila para as cerâmicas, sendo incumbência destas a retirada do produto’, revelando que essa sistemática era adotada no presen-te caso. Esclarece que os réus detinham licença ambiental da Fatma para exploração da maior parte pertencente à gleba maior do terreno. E, no que tange à área não amparada por esse título, os acusados exerciam a atividade albergados por contrato firmado com a empresa possuidora da lavra no local. Explica que esta informava que a área tinha autorização da Fatma; no entanto, em face da ausência de delimitação do terreno, acabaram adentrando em área que não englobava a lavra concedida. No que se refere à autorização do DNPM, alega que a referida empresa contratante não informou sobre a necessidade de tal concessão federal. Por essas razões, sustenta a ocorrência de erro de tipo, afastando-se o dolo na conduta dos agentes; (b) Insurge--se, ainda, contra o perdimento de bens decretado na sentença, afirmando que a medida inviabiliza o negócio dos acusados, denotando a desproporcionalidade e fal-ta de razoabilidade da condenação. Refere, ademais, que a retro escavadeira não é

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de propriedade única dos réus, tendo sido adquirida por vários ceramistas da região. Além disso, aduz que não há pedido de perdimento na denúncia, sendo a decisão extra petita no ponto; (c) Suscita os princípios da inocência, do in dubio pro reo e do devido processo legal. Ao final, requer a reforma da sentença, com a absolvição dos apelantes, nos termos do art. 386, I, II ou VII do CPP e, subsidiariamente, o afastamento da pena de perdimento”.

Diante do exposto, entendeu o d. Relator:

“[...]

A autoria dos crimes tampouco é contestada pelos apelantes, na medida em que ambos assumiram que, na condição de proprietário das respectivas empresas, esta-vam extraindo argila no local no momento da abordagem da fiscalização ambiental.

A tese defensiva reside na suposta ausência do elemento volitivo do tipo.

Informam que detinham licença ambiental para exploração da maior parte perten-cente à gleba maior do terreno, cuja propriedade era de seus familiares. E, no que tange à área não amparada por esse título, os acusados exerciam a atividade alber-gados por contrato firmado com a empresa possuidora da lavra no local, a qual afir-mava que a área tinha autorização legal. No entanto, por se tratar de uma região de banhado de difícil acesso, na época não existia demarcação da área autorizada para a exploração mineral, de modo que os empresários incorreram em erro ao adentrar em zona que não englobava a lavra concedida.

Entretanto, a versão da defesa apresenta inúmeras incongruências. Vejamos.

Inicialmente, constata-se que as autorizações e licenças as quais os acusados apon-tam como embasadoras da regularidade de suas atividades não estão em nome das empresas Demerval Felisberto ME ou Cerâmica Orvalhense Ltda., e sim em nome de terceira pessoa jurídica, qual seja: Vale do Urussanga. Tal peculiaridade é reconhe-cida pelos próprios réus, tanto no interrogatório judicial de Fabio (ev. 122, VIDEO2) quanto na defesa técnica (ev. 154).

Entretanto, em que pese a alegada existência de acordo informal entre a empresa Vale do Urussanga (em tese, detentora do direito minerário) e as empresas Demerval Felisberto e Cerâmica Orvalhense (responsáveis pela efetiva retirada do produto), inexistia qualquer contrato de cessão averbado perante o DNPM nesse sentido. As-sim, ainda que fosse verdadeira a tese defensiva, tecnicamente a atividade estava irregular, já que em desacordo com a Portaria nº 199/2006, a qual estabelece os regramentos relativos à concessão de anuência prévia e averbação de contratos de cessão e transferência de direitos minerários.

Ocorre que sequer é necessário discorrer de forma mais aprofundada sobre essa questão, já que, de acordo com o conjunto probatório carreado aos autos, nem mesmo a empresa Vale do Urussanga possuía os devidos títulos autorizativos para exploração de argila no local à época dos fatos.

Com efeito, os próprios acusados admitiram saber que iniciaram a extração dos recursos minerais enquanto ainda estavam em processo de regularização perante o DNPM e a Fatma. Ou seja, na ocasião, embora os interessados já tivessem proto-colado requerimento perante os órgãos responsáveis, a efetiva concessão ainda não havia sido expedida.

[...]

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Por sua vez, os documentos juntados pela defesa não permitem afastar a responsa-bilidade criminal dos apelantes.

Os acusados anexaram aos autos a seguinte documentação a fim de corroborar a tese defensiva: Guia de Utilização nº 079/2013 do DNPM e LAO 2357/2012, am-bas em nome da Vale do Urussanga (ev. 20, LAU3).

Além do já mencionado problema de a documentação estar em nome de terceiro, sem que tenha havido a devida averbação da cessão de direitos, cabe pontuar que a guia de utilização do DNPM foi concedida apenas em 19.09.2013, ou seja, em momento posterior aos fatos, ocorridos em 28.08.2012.

Ademais, ambos os títulos se referem à área relativa ao processo DNPM 815.434/2005, ao passo que a abordagem se deu na área do processo DNPM 815.164/2000. Na espécie, cumpre destacar que não há dados suficientes sequer para comprovar que os referidos pontos se tratam de áreas contíguas – ônus que incumbia à defesa demonstrar, nos termos do art. 156 do CPP –, o que inviabiliza a análise da tese de que os réus incorreram em equívoco quanto ao local da extração.

[...]

No entanto, o referido dispositivo deve ser aplicado conforme critérios de razoabilida-de e proporcionalidade, atentando-se aos danos causados e ao proveito econômico auferido pelo autor, especialmente nas hipóteses em que os objetos constituem ins-trumento de trabalho e de sustento dos agentes. Nessa linha, confira-se:

PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL – AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RE-CURSO ESPECIAL – INFRAÇÃO AMBIENTAL – APREENSÃO DE VEÍCULO – LIBE-RAÇÃO – CRITÉRIOS DE RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE – SÚMULA Nº 7/STJ – 1. Embora exista previsão legal para apreensão do veículo utilizado na prática de infração ambiental, a medida deverá ser aplicada de acordo com critérios de razoabilidade e proporcionalidade, nos termos do disposto no art. 6º da Lei nº 9.605/1998. 2. O Tribunal de origem, na apreciação da matéria, entendeu que a referida embarcação é ferramenta de trabalho e sustento do agravado. 3. O reexame das conclusões do acórdão a propósito da razoabilidade da apreensão do veículo atrai o impeditivo da Súmula nº 7/STJ: ‘A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial’. 4. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ, AgRg-AREsp 498.497/CE, Rel. Min. Og Fernandes, 2ª T., J. 21.05.2015, DJe 29.05.2015)

ADMINISTRATIVO – INFRAÇÃO AMBIENTAL – PESCA PROIBIDA – AUTUAÇÃO – MULTA – QUITAÇÃO – PENA DE PERDIMENTO DA EMBARCAÇÃO – DESPROPOR-CIONALIDADE – LIBERAÇÃO – 1. A jurisprudência tem se manifestado no sentido de que a apreensão de equipamentos decorrentes da situação de infração ambiental deve ser observada na proporção dos danos causados, especialmente nos casos em que a embarcação apreendida constitui principal instrumento de trabalho do autor e sustento da família. Precedentes dos Tribunais. 2. Manutenção da sentença na íntegra. (TRF 4ª R., AC 5013936-40.2015.4.04.7208, 4ª T., Rel. Luís Alberto D’Azevedo Aurvalle, juntado aos autos em 30.08.2017)

No caso, não houve quantificação do dano ambiental, tampouco do benefício econô-mico dos agentes. A reprovabilidade da conduta, ao seu turno, foi normal à espécie, já que as reprimendas foram aplicadas no patamar mínimo.

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Por outro lado, os instrumentos apreendidos representam objetos de vultosa monta, tendo sido avaliados no valor total de R$ 530.000,00 (ev. 01, INIC1, p. 16 e 24, da Representação Criminal).

Ademais, trata-se de bens lícitos, utilizados pelos agentes no exercício de sua ativi-dades profissionais, de modo que a pena imposta inviabiliza a continuidade de seus respectivos negócios, prejudicando o sustento próprio e de seus familiares. No pon-to, destaco que, ao que tudo indica, hoje em dia os acusados detêm as necessárias permissões para exploração mineral na região.

Dessa feita, entendo que deve ser afastada a pena de perdimento imposta na pri-meira instância.

No mesmo sentido, inclusive, manifestou-se o d. Procurador da República, Ipojucan Corvello Borba, conforme se infere do Parecer exarado no evento 04.

Logo, no ponto, merece acolhida a pretensão dos recorrentes.

Ante o exposto, voto por dar parcial provimento à apelação, apenas para afastar o perdimento dos bens apreendidos.”

Dessa forma, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região deu parcial provimento à apelação.

2546 – Crime ambiental – importação e transporte de substância perigosa ou nociva ao meio ambiente – agrotóxico de procedência estrangeira – tipicidade

“Penal. Crime ambiental. Art. 56 da Lei nº 9.605/1998. Importação e transporte de subs-tância perigosa ou nociva ao meio ambiente. Agrotóxico de procedência estrangeira. Tipicidade. As condutas de importar e transportar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências legais e regulamentares, estão previstas no tipo penal do art. 56, caput, da Lei nº 9.605/1998. Conforme entendimento firmado neste Tribunal, o agente que transporta, em território nacional, agrotóxico de procedência estrangeira que importou irregularmente, se sujeita apenas à incidência do art. 56 da Lei nº 9.605/1998, afastando a aplicação do art. 15 da Lei nº 7.802/1989.” (TRF 4ª R. – ACr 5005091-47.2014.4.04.7210 – 7ª T. – Rel. p/o Ac. Des. Fed. Márcio Antônio Rocha – J. 10.01.2018)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 9.605/1998:

“Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tó-xica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos:

Pena. reclusão, de um a quatro anos, e multa.”

2547 – Crime ambiental – pesca com petrechos proibidos – traineira – tipicidade – materialidade, autoria e dolo – comprovação

“Direito penal. Prescrição da pretensão punitiva com relação à pessoa jurídica. Art. 114, I, do Código Penal. Crime ambiental. Art. 34, parágrafo único, II da Lei nº 9.605/1998. Pesca com petrechos proibidos. Traineira. Tipicidade. Materialidade, autoria e dolo comprovados. Erro de proibição. Não comprovação. Condenação. Pena adequada à

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conduta. Circunstâncias e consequências do delito avaliadas negativamente. 1. Aplican-do-se o prazo prescricional de 2 (dois) anos, conforme estabelece o art. 114, inciso I, do Código Penal, subsidiariamente incidente na hipótese, consoante prevê o art. 79 da Lei nº 9.605/1998, a pretensão punitiva estatal está prescrita, tendo transcorrido referido lapso temporal entre o recebimento da denúncia e prolação da sentença. Declarada, de ofício, a extinção da punibilidade com relação à pessoa jurídica, em face da prescrição retroativa. 2. A pesca de determinadas espécies com a utilização de petrechos proibi-dos. No caso, rede de cerco/traineira, medindo 700 metros por 70 metros, configura o crime previsto no art. 34, parágrafo único, inciso II, da Lei nº 9.605/1998. 3. A instrução probatória demonstrou que a embarcação de responsabilidade do réu estava pescando espécie proibida (pescada-olhuda) valendo-se de petrechos proibidos – traineira. 4. A autoria está demonstrada, sendo o réu o representante contratual da empresa na época dos fatos, e também o único responsável pelas embarcações, cabendo a ele instruir seus tripulantes a ter ciência e evitar a pesca de espécies proibidas, além de estabelecer cri-térios e métodos para o reconhecimento e devolução ao mar de espécimes antes de seu perecimento. 5. Evidenciado que o réu conhecia as exigências legais para a realização da atividade de pesca, com potencial conhecimento da ilicitude de seu ato, mostra-se inaplicável a tese defensiva quanto ao erro de proibição. 6. É ônus da defesa comprovar a veracidade de suas teses, nos termos do art. 156 do Código de Processo Penal, o que, no caso, não foi feito. 7. Tendo sido demonstrado o desligamento de aparelho rastrea-dor do sistema Preps, para dificultar a fiscalização da embarcação, as circunstâncias do delito devem ser avaliadas negativamente. 8. As conseqüências do delito revelam-se graves, destoando do tipo penal em questão, uma vez que foram apreendidos 31,68 quilogramas de peixe, isto é, a pesca ilegal foi feita em quantidade considerável. 9. As penas aplicadas mostram-se adequadas e proporcionais aos fatos imputados ao réu.” (TRF 4ª R. – ACr 5006788-12.2014.4.04.7208 – 7ª T. – Relª Desª Fed. Cláudia Cristina Cristofani – J. 06.02.2018)

Remissão Editorial SÍNTESEVide RSA nº 12, mar./abr. 2013, ementa nº 798 do TRF 3ª R.

2548 – Crime ambiental – transporte de lagosta – tamanho impróprio para pesca e comercialização – dificultação do ato de fiscalização – materialidade e autoria delitivas – comprovação

“Penal e processual penal. Crimes de transporte de lagosta em tamanho impróprio para a pesca e comercialização e de dificultação do ato de fiscalização. Arts. 34, parágrafo único, inciso III, e 69, ambos da Lei nº 9.605/1998. Materialidade e autoria delitivas comprovadas. Constatação do tamanho das lagostas, em desconformidade com a norma específica, apta a tornar prescindível a medição. Apelação improvida. 1. Narra a denún-cia (fls. 3/9) que João Flor de Oliveira Neto, no dia 21 de julho de 2013, foi surpreendido por fiscalização empreendida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, no Município de João Câmara/RN, transportando 56kg (cinquenta e seis quilogramas) de lagostas imaturas, tipo ‘cabo verde’ e ‘vermelha’, que foram dispostas embaixo de lagostas grandes e de polvos dentro de uma caixa de isopor, na tentativa de as esconder, acrescentando ser o acusado bastante conhecido pela fisca-

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lização em virtude de autuações anteriores por irregularidade ambiental, incidindo nos crimes do art. 34, parágrafo único, inciso III, da Lei nº 9.605/1998, pelo transporte para comercialização de espécimes provenientes de pesca proibida, e do art. 69 da mesma lei, por dificultar a ação fiscalizadora dos agentes ao tentar esconder as lagostas imaturas abaixo das grandes e dos polvos dentro da caixa de isopor, vindo a ser condenado, ao final, às penas de 2 (dois) anos de detenção, em regime de cumprimento inicialmente aberto, e de 10 (dez) dias-multa, cada qual valorada em 1/15 (um quinze avos) do salário mínimo vigente à época dos fatos (2013), substituída a primeira por duas restritivas de direitos, consistentes em prestação pecuniária e em prestação de serviços à comunida-de. 2. Em suas razões de apelo, a defesa aduz não restar demonstrada a materialidade delitiva por ausência de perícia nas lagostas, contrariando a norma específica que deter-mina a necessidade de medição para definir-se o comprimento da lagosta transportada ou comercializada, trazendo-se aos autos fotografias, sem a juntada da medições; além de ser contraditória a prova testemunhal, quando um dos fiscais não lembra se houve a medição, enquanto que o outro ratificou sua realização, apesar de se encontrarem ambos presentes no momento da apreensão. 3. Não há como afastar a materialidade e a autoria delitivas quando se observa, e é corroborado nos autos, que o ora apelante reco-nheceu, em defesa administrativa, ‘que tinha pescado 50 quilos de lagosta menor, pesca não permitida’, além do que possui ele histórico de infrações ambientais, todas relacio-nadas ao descumprimento das normas estabelecidas para a pesca da lagosta, situação essa, inclusive, que obsta uma eventual apreciação de se aplicar o princípio da insigni-ficância diante de um reiterado agir, acrescentando-se que instado no procedimento de fiscalização a declarar se transportava lagosta, respondeu negativamente, a demonstrar consciência da ilicitude da conduta, além de ter tentado esconder as lagostas imaturas sob outras com o tamanho em atendimento às normas e polvos, para que não viessem a ser descobertas. 4. A partir do conjunto probatório carreado aos autos – registros fo-tográficos que instruem o auto de apreensão – não há como entender de forma diversa à expendida pelo douto Magistrado sentenciante de se fazer prescindível a juntada das medições das lagostas por se verificar claramente serem elas em tamanho inferior ao mínimo estabelecido nas normas específicas. 5. Apelação improvida.” (TRF 5ª R. – ACr 0002834-29.2014.4.05.8400 – (13592/RN) – 2ª T. – Rel. Des. Fed. Leonardo Carvalho – DJe 13.12.2017 – p. 58)

Comentário Editorial SÍNTESEO acórdão em tela é oriundo de apelação interposta contra sentença que julgou procedente denúncia pelo cometimento do capitulado nos arts. 34, parágrafo único, inciso III, e 69, ambos da Lei nº 9.605/1998, in verbis:

“Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente:

Pena. detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativa-mente.

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem:

[...]

III – transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes provenientes da coleta, apanha e pesca proibidas.

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Art. 69. Obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do Poder Público no trato de ques-tões ambientais:

Pena. detenção, de um a três anos, e multa.”

O Réu foi condenado respectivamente às penas de 1 (um) ano de detenção e de 1 (um) ano de detenção e 10 (dez) dias-multa, perfazendo, dado o concurso formal, de forma concreta e definitiva, em 2 (dois) anos de detenção, em regime de cumpri-mento inicialmente aberto, e de 10 (dez) dias-multa, cada qual valorada em 1/15 (um quinze avos) do salário mínimo vigente à época dos fatos (2013), substituída a primeira por duas restritivas de direitos, consistentes em prestação pecuniária e em prestação de serviços à comunidade.

Em suas razões recursais pugnou pela absolvição do réu.

Dessa forma, o entendimento do d. Relator foi:

“[...]

Em suas razões de apelo, a defesa aduz não restar demonstrada a materialida-de delitiva por ausência de perícia nas lagostas, contrariando a norma específica que determina a necessidade de medição para definir-se o comprimento da lagosta transportada ou comercializada, trazendo-se aos autos fotografias, sem a juntada das medições; além de ser contraditória a prova testemunhal, quando um dos fiscais não lembra se houve a medição, enquanto que o outro ratificou sua realização, ape-sar de se encontrarem ambos presentes no momento da apreensão.

[...]

Como se observa, e é corroborado nos autos, o ora apelante reconheceu, em defesa administrativa (fls. 20/22 do apenso), ‘que tinha pescado 50 quilos de lagosta me-nor, pesca não permitida’, além do que possui ele histórico de infrações ambientais, todas relacionadas ao descumprimento das normas estabelecidas para a pesca da lagosta, situação essa, inclusive, que obsta uma eventual apreciação de se aplicar o princípio da insignificância diante de um reiterado agir, acrescentando-se que ins-tado no procedimento de fiscalização a declarar se transportava lagosta, respondeu negativamente, a demonstrar consciência da ilicitude da conduta, além de ter ten-tado esconder as lagostas imaturas sob outras com o tamanho em atendimento às normas e polvos, para que não viessem a ser descobertas.

Ademais, observando o conjunto probatório – registros fotográficos que instruem o auto de apreensão – não há como entender de forma diversa à expendida pelo douto Magistrado sentenciante de se fazer prescindível a juntada das medições das lagostas por se verificar claramente serem elas em tamanho inferior ao mínimo esta-belecido nas normas específicas, notadamente ao se comparar com aquelas que as encobriam, de tamanho que atendiam ao permissivo.

Posto isso, nego provimento à apelação.

É como voto.”

Diante do exposto, o Tribunal Regional da 5ª Região negou provimento à apelação.

2549 – Crimes contra a flora – supressão danificação de vegetação integrante do Bioma Mata Atlântica – destruição área de preservação permanente – margem de recurso hídrico – princípio da insignificância – inaplicabilidade

“Apelação criminal. Crimes contra a flora. Arts. 38 e 38-A, ambos da Lei nº 9.605/1998. Sentença condenatória. Pretensão absolutória. Afastamento. Autoria e materialidade

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bem delineadas pelas provas dos autos. Réu que suprimiu e danificou vegetação inte-grante do Bioma Mata Atlântica e destruiu área de preservação permanente (margem de recurso hídrico). Infringência clara das normas de proteção ambiental, inclusive com a continuidade da degradação mesmo após o embargo administrativo. Inaplicabilidade do princípio da insignificância. Condenação que se mantém. Recurso desprovido. I – A elementar típica prevista no art. 38-A da Lei nº 9.605/1998, caracterizada como vegeta-ção primária ou secundária, em estágio avançado ou médio de regeneração, do Bioma Mata Atlântica, bem como a elementar considerada floresta de preservação permanente, art. 38 da Lei nº 9.605/1998, ambos tem como objeto de tutela não somente as forma-ções arbóreas de grande porte, mas também aquelas em processo de ‘formação’, o que inclui as demais formas de vegetação eventualmente existentes no local objeto destes autos. II – Assim, impossível a absolvição pela ausência de materialidade quando os ele-mentos contidos nos autos, corroborados pelas declarações firmes e coerentes das teste-munhas fiscais ambientais, formando um conjunto sólido, dando segurança e convicção à conclusão de que houve a efetiva prática, das condutas típicas previstas nos arts. 38 e 38-A, ambos da Lei nº 9.605/1998. Fase de cognição, quando os vestígios já haviam desaparecido (registrado no entanto por imagens fotográficas e lavrado auto de infração ambiental), não induz sumariamente ao juízo absolutório, porquanto pelos demais ele-mentos de prova, notadamente aqueles apurados pelos agentes que constatam o ilícito ambiental, como pelas imagens fotográficas e demais documentos coligidos, inclusive os depoimentos testemunhais, apontam para a ocorrência dos ilícitos, corroborado inclusi-ve pelos depoimentos orais judiciais e extrajudiciais encartados no caderno processual. IV – As provas dos autos demonstraram de modo indene de dúvidas que o acusado na condição de proprietário do imóvel fiscalizado pelos policiais, suprimiu vegetação em estágio médio de regeneração pertencente ao Bioma Mata Atlântica, bem como des-truiu floresta considerada de preservação permanente (encosta de recurso hídrico), con-dutas estas que ficaram bem delineadas pelas provas orais e documentais angariadas nos autos.” (TJPR – ACr 1720415-2 – 2ª C.Crim. – Rel. Des. Laertes Ferreira Gomes – DJe 13.12.2017 – p. 203)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 9.605/1998:

“Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção:

Pena. detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.

Art. 38 -A. Destruir ou danificar vegetação primária ou secundária, em estágio avan-çado ou médio de regeneração, do Bioma Mata Atlântica, ou utilizá-la com infrin-gência das normas de proteção:

Pena. detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, ou multa, ou ambas as penas cumula-tivamente.

Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.”

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2550 – Dano ambiental – área de preservação permanente – entorno de reservatório artificial – perícia – imprescindibilidade

“Ambiental. Ação civil pública. Apelações. Remessa oficial tida por interposta. Dano ambiental em área de preservação permanente. Entorno de reservatório artificial. Im-prescindibilidade de perícia. 1. Conhecimento ex officio da remessa oficial, vez que o art. 19 da Lei nº 4.717/1965 aplica-se analogicamente às ações civis públicas, vez que tan-to estas quanto as ações populares visam tutelar o patrimônio público lato sensu, estando ambas regidas pelo microssistema processual da tutela coletiva. 2. O caso em tela refere--se a danos ambientais causados pela construção e manutenção de rancho em área de preservação permanente situada às margens do reservatório UHE de Água Vermelha/SP. 3. Imprescindível a realização de perícia técnica para constatar a cota máxima de ope-ração e a cota maxima maximorum. 4. Em face dos princípios tempus regit actum e da não regressão ou vedação ao retrocesso ecológico, a legislação ambiental, ainda que revogada, tal como a Lei nº 4.771/1965, pode ser aplicada aos fatos ocorridos antes da vigência da Lei nº 12.651/2012, ainda que a norma seja mais gravosa ao poluidor. 5. Os documentos que instruem os autos revelam que os danos ambientais foram verificados em datas pretéritas ao advento do novo Código Florestal, de modo que se torna impe-riosa a realização de nova perícia, pois somente com as conclusões do laudo pericial é que se poderá delimitar a área de preservação permanente de acordo com a legislação atual e anterior. 6. Com o advento da Lei nº 12.651/2012 houve alteração do critério de medida da área de preservação permanente no entorno de reservatórios d’água ar-tificiais, passando a ser vertical, ou seja, com base no nível da água, em detrimento do horizontal, baseado na medida fixa a partir da margem do nível máximo normal ou operacional, razão pela qual houve evidente retrocesso na proteção ambiental. 7. A revogação da legislação anterior não implica, por si só, na aplicação imediata da lei em vigor, sendo necessária o exame do caso concreto para definir quais regras lhe serão aplicáveis, notadamente por se tratar do direito fundamental do meio ambiente ecolo-gicamente equilibrado. 8. Independentemente da época da consolidação do reservató-rio, pode-se afirmar que podem prevalecer as regras previstas nas Resoluções Conama nºs 4/1985, 302/2002 e 303/2002 sobre as disposições da Lei nº 12.651/2012, haja vista que essa veicula normas de direito material, cuja eficácia é ex nunc, por implicar redu-ção de proteção do meio ambiente. 9. Ocorrência de cerceamento do direito de defesa, haja vista que a causa demanda a realização de exame pericial para ser dirimida, seja por versar sobre matéria fática controvertida, seja pelo fato de tanto a parte autora quanto a ré terem postulado tal prova. 10. Remessa oficial, tida por interposta, e apelação da AES Tietê S.A. providas para anular a r. sentença, devendo os autos retornarem à Vara de Origem para que seja realizada prova pericial, restando prejudicada a apelação do réu José Lúcio Romero.” (TRF 3ª R. – AC 0005069-28.2008.4.03.6106/SP – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Antonio Cedenho – DJe 16.02.2018 – p. 484)

2551 – Dano ambiental – competência – local do dano – Lei nº 7.347/1985 – compe-tência territorial absoluta – princípio da perpetuatio jurisdictionis – exceção

“Processual civil. Conflito negativo de competência. Ação civil pública. Dano ambien-tal. Competência. Local do dano. Lei nº 7.347/1985. Competência territorial absoluta.

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Exceção ao princípio da perpetuatio jurisdictionis. Competência do juízo suscitante. 1. O art. 2º da Lei nº 7.347/1985 dispôs que a competência para o processamento da Ação Civil Pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente é fixada com base no local da lesão alegada. 2. Trata-se de competência territorial absoluta, de modo que a instalação de vara federal com jurisdição sobre o local do dano alegado impõe o deslocamento do processo para esse novo foro. 3. Conflito conhecido para de-clarar competente Juízo Federal da Subseção Judiciária de Corrente/PI, suscitante, para processar e julgar a Ação Civil Pública.” (TRF 1ª R. – CC 0001214-31.2018.4.01.0000 – 3ª S. – Relª Desª Daniele Maranhão Costa – J. 30.01.2018)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 7.347/1985:

“Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer dano, cujo Juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.”

2552 – Dano ecológico – vazamento de óleo lubrificante no estuário do Porto de Santos – indenização pecuniária – razoabilidade e proporcionalidade – confi- guração

“Ambiental. Ação civil pública. Vazamento de óleo lubrificante no estuário do Porto de Santos. Responsabilidade objetiva e solidária. Dano ecológico. Inviabilidade de recom-posição ao status quo ante. Indenização pecuniária. Razoabilidade e proporcionalidade. Caráter preventivo. 1. Remessa oficial tida por interposta, uma vez que o art. 19 da Lei nº 4.717/1965 (Lei de Ação Popular) deve ser aplicado analogicamente às ações civis públicas, pois tanto estas quanto as ações populares visam tutelar o patrimônio públi-co lato sensu, estando ambas regidas pelo microssistema processual da tutela coletiva. 2. Ainda que a sentença tenha julgado parcialmente procedente o pedido inicial, tal fato não afasta a submissão do julgado ao reexame necessário, uma vez que tal instituto, nas ações coletivas, visa conferir a mais ampla e efetiva tutela aos bens jurídicos tutelados. 3. A Lei nº 6.938/1981, denominada Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, prevê que a responsabilidade civil por danos ambientais é objetiva, ou seja, independe da caracterização da culpa, além de ser fundada na teoria do risco integral, razão pela qual é incabível a aplicação de excludentes de responsabilidade para afastar a obrigação de reparar ou indenizar. 4. Basta a demonstração do dano ambiental e o nexo causal entre o resultado lesivo e a situação de risco criada pelo agente no exercício de atividade, no seu interesse e sob seu controle, dispensando-se o elemento subjetivo, para configurar a res-ponsabilidade por dano ambiental. 5. No caso sub judice, conforme consta no Relatório de Inspeção elaborado pela autoridade portuária, no dia 22 de outubro de 2002, por vol-ta das 18h10m, na Av. Ismael Coelho Souza, junto ao muro do pátio T-35, durante servi-ço de manutenção da empilhadeira Stacker, prefixo GEP 16, realizado, indevidamente, por funcionários da empresa Tomé Engenharia Transportes S/A, contratada pela empresa Libra Terminais S/A, ter ocorrido vazamento de óleo lubrificante do cárter contido numa bandeja, no piso do logradouro. Assim, o produto escoou, em função da inclinação do piso, atingindo um bueiro da rede de drenagem de águas pluviais, sendo lançado, no corpo d’água receptor, ou seja, nas águas do estuário de Santos, cerca de 10 (dez) litros

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de óleo lubrificante de motor, contribuindo para a manutenção do estresse crônico do ecossistema, considerado região poluída. 6. Induvidoso que houve efetivo dano ambien-tal, na medida em que tal fato causou poluição, ou seja, ‘degradação da qualidade am-biental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;’ nos termos do art. 3º, III, da Lei nº 6.938/2001. 7. A responsabilidade do poluidor ambiental é solidária, alcançando, inclusive, aqueles que indiretamente contribuíram para a degradação ao meio ambiente, de modo que deve ser imputado a ambas as empresas o dano efetivamente causado ao meio ambiente. 8. No caso dos autos, a recomposição ao status quo ante é inviável, em face da dispersão do poluente nas águas do mar e do lapso temporal decorrido, restando tão somente a condenação em indenização pecuniária, a ser quantificada de acordo, inclusive, com a quantidade de óleo lubrificante lançado do estuário do Porto de Santos. 9. O magistrado não está vinculado às conclusões do perito, pois inexiste qualquer hierarquia entre as provas no nosso ordenamento, vigorando no sistema processual o princípio do livre con-vencimento motivo, segundo qual o juiz é livre para formar seu convencimento, desde que de maneira fundamentada, conferindo às provas o valor que entender pertinente em cada caso concreto. 10. O ‘Critério para Valoração de Danos Ambientais Causados por Derrames de Petróleo ou de seus derivados em Mar’ adotado pela Cetesb, que, no caso em tela, estimou em US$ 354.813,00, pode ser utilizado como parâmetro para a quanti-ficação do dano ambiental em apreço, mas não de forma absoluta, devendo o valor inde-nizatório se adequar às particularidades do caso concreto, de acordo com os princípios da proporcionalidade e razoabilidade. 11. Não podendo ser ignorada a circunstância da empresa ré ter adotado, de imediato, medidas tendentes a reduzir o impacto causado ao meio ambiente pelo derramamento de óleo, a indenização deve ser reduzida para R$ 70.000,00 (setenta mil reais), de modo a privilegiar o comportamento pautado na boa-fé e a consciência ambiental, sem olvidar de seu caráter preventivo. 12. Sobre o va-lor da indenização, devem ser acrescidos juros de mora de 6% (seis por cento) ao ano até dezembro de 2002 (arts. 1.062, 1.063 e 1.064, CC/2016) e, a partir de janeiro de 2003, serão computados com base na taxa Selic, excluído qualquer outro índice de correção ou de juros de mora (art. 406, CC/2002), a partir do evento danoso. 13. Remessa neces-sária, tida por interposta, e apelações do Ministério Público Federal improvidas e ape-lações das rés parcialmente providas.” (TRF 3ª R. – AC 0001913-38.2008.4.03.6104/SP – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Antonio Cedenho – DJe 16.02.2018 – p. 492)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 4.717/1965:

“Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação está sujeita a duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confir-mada pelo tribunal; da que julgar a ação procedente, caberá apelação, com efeito suspensivo.”

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2553 – Degradação ambiental – implantação do esgotamento sanitário – interrupção de lançamento de efluentes sem tratamento prévio – necessidade

“Agravo de instrumento. Ação civil pública. Tutela antecipada. Implantação do esgo-tamento sanitário. Degradação ambiental. Interrupção de lançamento de efluentes sem tratamento prévio. Prazo fixado. Ausência de demonstração prévia de projetos para jus-tificar a liminar. Cassação. A tutela antecipada que impõe a implantação da rede de esgotamento sanitário em face da existência de condições de degradação ambiental e humanas causadas pelo lançamento de efluentes sem tratamento regular e que busca sua interrupção em prazo específico, só pode ser deferida se houve prova inequívoca da existência de projeto básico e executivo prévio com indicação de prazos e recursos materiais e humanos necessários, não sendo razoável que o Juízo antecipe a tutela espe-cífica imponha prazo e multa sem que tome conhecimento de tais elementos, daí porque a pretensão ministerial neste sentido, não pode ser acolhida já que faltaria prova inequí-voca capaz de dar justificativa à própria imposição antecipada da relevante obrigação. Provido.” (TJMG – AI-Cv 1.0487.15.000540-2/002 – 3ª C.Cív. – Rel. Judimar Biber – DJe 27.02.2018)

2554 – Desastre ambiental – interrupção ilegal – fornecimento de água potável – ser-viço essencial – menor – dano moral in re ipsa – configuração

“Apelação cível. Direito civil. Desastre ambiental. Interrupção ilegal no fornecimento de água potável. Serviço essencial. Menor. Dano moral in re ipsa. Recurso conhecido e pro-vido. I – O rompimento de barragem da mineradora Samarco que contaminou a água do Rio Doce e interrompeu o abastecimento de água do Município de Colatina/ES no ano de 2015, apresenta-se como fato notório. II – Por apresentar-se a água potável como bem essencial à vida, o seu tratamento e abastecimento adequados são serviços essenciais a serem prestados à população. III – Na hipótese, a interrupção do fornecimento de água potável ao apelante, em virtude de fato de responsabilidade da mineradora apelada, ensejou dano moral operado in re ipsa. IV – É notório todo o aborrecimento e frustração que o apelante sofreu durante longo período, em decorrência de dano ambiental de responsabilidade da empresa apelada, que ofendeu a sua dignidade e originou o dever de indenizar. V – Diante das peculiaridades do caso e sem descurar a capacidade eco-nômica de grande monta da empresa apelada, uma das maiores mineradoras do país, e das condições de vida do autor, fixa-se o quantum indenizatório devido a título de danos morais ao apelante no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), a título de indeniza-ção por danos morais, com juros de mora pela Selic, a partir do evento danoso (Súmula nº 54), vedada sua cumulação com correção monetária, sob pena de bis in idem. O valor tem sido adotado no âmbito deste TJES e, ainda, nos Juizados Especiais, máxime com a fixação adotada no Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas nº 040/2016, que tramitou na Turma Estadual de Uniformização da Jurisprudência dos Juizados Especiais. VI – Recurso conhecido e provido.” (TJES – Ap 0008876-44.2016.8.08.0014 – Rel. Des. Subst. Jaime Ferreira Abreu – DJe 19.02.2018)

2555 – Exploração florestal – ausência de autorização – desmatamento e comerciali-zação das árvores – realização do fim almejado no contrato – impossibilidade

“Apelação cível. Ação monitória. Contrato de compra e venda de madeiras em toras. Co-brança dos valores descritos no contrato. Impossibilidade. Descumprimento contratual

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por parte do credor. Ausência de autorização para exploração florestal. Não obtenção de licenciamento ambiental para desmatamento e comercialização das árvores. Impossibi-lidade de realização do fim almejado no contrato. Aplicabilidade do art. 476 do Código Civil. Exceptio non adimpleti contractus. Improcedência da ação monitória. Manuten-ção da sentença. Apelo conhecido e não provido. 1. Nos contratos bilaterais, impera a regra de que nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro, nos termos do art. 476 do Código Civil. 2. Diante da falta de implemento contratual da própria Recorrente, não tem esta o direito de reclamar o inadimplemento por parte do Recorrido, eis que caracterizada a exceção de contrato não cumprido, tendo agido com acerto a magistrada a quo, não merecendo reparo a sentença vergastada. 3. Apelo conhecido e desprovido.” (TJAC – Ap 0003302-60.2005.8.01.0001 – (5.173) – 2ª C.Cív. – Rel. Des. Júnior Alberto – DJe 09.02.2018 – p. 13)

2556 – Exploração mineral – prescrição do crime ambiental – não ocorrência

“Penal. Lavra desautorizada. Crime de usurpação minerária. Prescrição do crime am-biental. Apelações desprovidas. I – Apelam Francisco Dino de Azevedo e Francivaldo Pereira Santos da sentença que os condenou pela prática do crime previsto no art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.176/1991. II – A acusação também pediu a condenação dos Apelantes nas penas do art. 55 da Lei nº 9.605/1998 e foi atendida na sentença. Mas em embargos declaratórios o juiz entendeu que estava prescrito esse crime. III – A sentença, no relató-rio, historia os fatos e os tipos indicados para a fattispecie: ‘Em suma, relatou a denúncia que: a) os dois primeiros acusados, conhecidos como “Dico ou Dito” (Erivaldo Cezidio de Carvalho) e “Tico” (Francisco Dino de Azevedo), desde, pelo menos, maio de 2005, são intermediários na compra de minérios na região de Picuí/PB, trabalhando inclusive para o terceiro acusado, Francivaldo Pereira Santos, conhecido como “Civaldo”, tido na localidade como o maior comprador de minérios, notadamente a Tantalita, Mica e Feldspato, das cidades circunvizinhas entre os Estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, de modo que os acusados, ao comercializarem ilegalmente estes minérios, perpetraram os crimes previstos no art. 55 da Lei nº 9.605/1998 e no art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.176/1991, todos c/c art. 70 do Código Penal; b) por meio das declarações fornecidas pelo representante da associação dos garimpeiros de Picuí/PB, o Sr. Assunção Henrique da Costa, ficou claro que o terceiro denunciado, “Civaldo”, é conhecido na região como explorador de minérios atuando pessoalmente ou por intermédio dos acusados “Dico” e “Tico”, os quais negociam os referidos minérios sem autorização legal, até porque o alvará de pesquisa do DNPM apenas autoriza a pesquisa e não a exploração e/ou comercialização de qualquer produto mineral; c) o acusado “Civaldo”, na fase inquisi-torial admitiu comercializar minérios, fornecendo a matéria-prima precipuamente para a entidade Companhia Industrial Fluminense, sediada em São João Del Rey/MG, embora o referido acusado tivesse plena consciência de que o simples alvará de pesquisa não autorizava a comercialização de minérios’. IV – Com acerto, pois fulcrado no art. 109, IV, do Código Penal, se houve o juiz ao reconhecer que a prescrição não fulmina a pretensão punitiva em relação ao crime previsto no art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.176/1991. Verbis: ’15. Por fim, convém ressaltar que a pretensão punitiva estatal não foi fulminada pela prescrição no que pertine ao crime do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.176/1991, porquanto

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a pena máxima abstrata cominada a este delito é de 05 (cinco) anos, o que resulta num prazo prescricional de 12 (doze) anos (art. 109, inciso IV, do Código Penal), lapso esse não decorrido na presente hipótese, seja em momento anterior ou posterior ao recebi-mento da denúncia’. V – À luz dos fatos, não há que se falar em atipicidade da conduta dos acusados, em razão da adequação dos fatos ao disposto no art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.176/1991. Ressalta da sentença, com foco nos autos: ‘As condutas típicas perpe-tradas pelos acusados também estão sobejamente comprovadas no Relatório Circuns-tanciado do IPL (fls. 17/21 – do IPL em apenso), ressalte-se, subscritos por dois agentes da Polícia Federal, do qual se depreende que, desde outubro de 2006, os acusados praticavam o comércio ilegal dos citados minérios na região de Picuí/PB, desprovidos de qualquer autorização legal. Ademais, como se depreende das peças de fls. 373/375 e 377, do Apenso II, que evidenciam a aquisição de minérios por parte de Francivaldo, mediante o conhecimento de que não haveria autorização prévia. Tal fato foi admitido pelo acusado no seu interrogatório e por testemunhas’. VI – Não existem elementos su-ficientes para o acolhimento da inexistência de dolo por parte dos agentes. É desprovida de razoabilidade a afirmação, unilateral, do não conhecimento do regramento desse ramo – o do comércio de minérios – notadamente por pessoas que são destacadas na Região do Seridó da Paraíba e do Rio Grande do Norte como grandes comerciantes de minerais, atividade através da qual sabidamente cursa enormes volumes de dinhei-ro. Acentue-se que o próprio Recorrente/Recorrido Francivaldo Pereira deu conta que compra minérios e atua como fornecedor da renomada indústria da área, a Companhia Industrial Fluminense, sediada em São João Del Rey, Minas Gerais. Não se cuida, como visto, de um tabaréu que possa se escudar nos biombos legais do erro inevitável ou do erro de proibição – e muito menos na ausência de dolo – atuando em descompasso com a lei, em ramo tão sensível quanto é o minerário, onde a União é a proprietária das jazi-das (por força do disposto no art. 20 da Constituição Federal), os Acusados atraíram para si a criminalização antevista no art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.176/1991. VII – No que tange ao quantitativo das penas, se houve bem o magistrado, à luz dos arts. 59, 62 e 68 do Código Penal, demarcando-as em posição bem próxima do mínimo legal, já que ficaram fixadas em 1 ano e 6 meses, para um balizamento de 1 a 5 anos. VIII – Recursos desprovidos.” (TRF 5ª R. – ACr 2005.82.01.004472-0 – (13884/PB) – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Lázaro Guimarães – DJe 18.12.2017 – p. 135)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 9.605/1998:

“Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a compe-tente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida:

Pena. detenção, de seis meses a um ano, e multa.”

2557 – Extração mineral – irregular – Pedreira Serrote – responsabilidade objetiva do proprietário – obrigação propter rem – omissão do órgão ambiental estadual no dever de fiscalizar (CPRH) – delegação – irrelevância

“Direito processual civil e ambiental. Ação civil pública. Extração mineral irregular da Pedreira Serrote em Petrolina/PE. Codevasf. Responsabilidade objetiva do proprietário.

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Obrigação propter rem. Omissão do órgão ambiental estadual no dever de fiscalizar (CPRH). Delegação. Irrelevância. Apelação da Codevasf provida em parte. Apelação da CPRH improvida. 1. Ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal em face da extração irregular de minério e uso ilegal de explosivos na pedreira ‘Serrote’, locali-zada em área de propriedade da Codevasf, no Município de Petrolina/PE. 2. A obrigação de reparar danos ao meio ambiente independe de culpa, podendo ser imputada ao pro-prietário ainda que não tenha sido responsável pela degradação ambiental (obrigação propter rem). Precedentes do STJ. A Codevasf, na condição de proprietária, é responsável pela recuperação da área degradada ainda que não tenha obtido proveito econômico da exploração da jazida, inclusive porque sua omissão em zelar pela conservação do bem concorreu para a prática da extração irregular de minério ao longo de uma década. Incabível a pretensão de impor aos outros réus, pessoas físicas, que extraíram minerais em pequena escala para fins de subsistência, a corresponsabilidade por recuperar o alto nível de degradação ambiental causado pela exploração irregular da Pedreira Serrote por empresas de grande porte. 3. Caso em que a Codevasf foi condenada a promover a recuperação da área degradada através da execução de Plano de Recuperação de Área Degradada (Prad), ou recuperar área equivalente de mesma extensão caso constatada a impossibilidade de reparação, ou ao pagamento de indenização pelos danos ambien-tais causados, caso não seja possível reparar área degradada equivalente e a se abster de permitir atividade de extração de minério, exploração ou supressão de vegetação na área da Pedreira Serrote, sem prévia autorização do órgão ambiental competente e do Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM. 4. A lei processual admite a cumulação imprópria de pedidos em ordem subsidiária na petição inicial, mas veda a prolação de sentença condicional, logo, o acolhimento do pedido principal prejudi-ca o conhecimento dos pedidos subsidiários com ele incompatíveis, devendo eventual frustração do meio executório ser solucionada, se necessário, em incidente próprio de liquidação. Inteligência dos arts. 326 e 492 do Código de Processo Civil. Anulação par-cial da sentença, mantido o capítulo que acolheu o pedido principal para condenar a Codevasf a recuperar a área degradada através de Prad. 5. Ainda que a Codevasf tenha demonstrado estar adotando providências para minimizar o dano ambiental no curso do processo não se afigura razoável adiar a adoção das medidas de recuperação da área, sendo condizente com a realidade o prazo de 180 (cento e oitenta) dias estabelecido na sentença para submissão do Prad ao órgão ambiental, mesmo porque decorrido mais de um ano desde a publicação da sentença. 6. A delegação não retira do delegante o dever de fiscalização e de controle das atividades a serem exercidas pelo ente delegatário em relação ao objeto da delegação, podendo avocar a execução do objeto conveniado, motivo pelo qual a existência de convênio não exime o delegante de sua responsabili-dade legal. Mantida a condenação da Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado de Pernambuco (CPRH) a se abster de licenciar atividade extrativa, exploradora ou supressiva de vegetação no local da Pedreira Serrote sem prévio estudo de impacto ambiental, apresentação de plano de recuperação da área degradada e au-torização do Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM, sem prejuízo da adoção de medidas afetas à sua competência se verificada a prática de ilícitos ambientais

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no local. 7. Apelação da Codevasf parcialmente provida. Apelação e agravo retido da CPRH improvidos.” (TRF 5ª R. – AC 0000182-58.2013.4.05.8308 – (595102/PE) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Carlos Rebelo Júnior – DJe 30.11.2017 – p. 121)

2558 – Fauna silvestre – animais em cativeiro – sanção pecuniária desproporcional – princípio da razoabilidade – precedentes

“Administrativo e ambiental. Apelação. Infração administrativa. Manutenção de animal da fauna silvestre em cativeiro. Sanção pecuniária desproporcional. Princípio da razoa-bilidade. Advertência. Conversão em prestação de serviços. Parcial provimento. 1. La-vrado auto de infração, pelo Ibama, em que se imputou ao administrado a prática da conduta de manter em cativeiro espécimes da fauna silvestre sem a devida autorização. Infração administrativa sujeita à multa. 2. A manutenção de espécimes da fauna silvestre em cativeiro sem a devida autorização é conduta lesiva ao meio ambiente, ainda que potencialmente considerada. As circunstâncias fáticas em que praticada a conduta, no entanto, devem ser avaliadas no contexto de adequação da penalidade a ser aplicada. 3. A previsão específica de infração ambiental e respectiva penalidade em ato infralegal (no caso, o Decreto nº 3.179/1999, vigente na ocasião da data dos fatos) não viola a legalidade nem a reserva legal, eis que a referida norma fora editada com o propósito de atender a determinação de regulamentação conferida pela própria lei em sentido estrito – Lei nº 9.605/1998 –, em situação que se verifica a necessária correspondência da conduta típica, sem qualquer resquício de abuso do poder regulamentar. 4. Para im-posição e gradação da penalidade ambiental, a autoridade competente deverá observar: I – a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas consequências para a saúde pública e para o meio ambiente; II – os antecedentes do infrator quanto ao cum-primento da legislação de interesse ambiental; e III – a situação econômica do infrator, no caso de multa (art. 6º da Lei nº 9.605/1998). 5. A pena de advertência é aplicada a infrações de menor lesividade ao meio ambiente, assim entendidas aquelas em que a multa máxima cominada não ultrapasse o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), ou que, no caso de multa por unidade de medida, a multa aplicável não exceda esse valor, na forma do art. 5º, §§ 1º e 2º, do Decreto nº 6.514/2008. 6. O art. 72, § 4º, da Lei nº 9.605/1998 e o Decreto nº 3.179/1999, art. 2º, § 4º, possibilitam a conversão da multa em pena de prestação de serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio am-biente. 7. Hipótese em que não há elementos que indiquem ter sido a infração cometida para obtenção de vantagem pecuniária, que seja a parte autora reincidente, tampouco que exista qualquer outra agravante da conduta praticada. Tais circunstâncias, aliadas à condição de hipossuficiência do agente, assim como a diretriz presente na legislação de regência, levam à conclusão de que a multa aplicada, no valor de R$ 4.500,00 (quatro mil e quinhentos reais), é excessiva e desproporcional. Embora não cabível ao caso a sanção de advertência, a conversão em prestação de serviços revela-se suficiente e adequada. Precedentes. 8. Apelação, da parte autora da ação, conhecida e, em parte, provida, para converter a penalidade de multa em prestação de serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente. Apelação do Ibama conhecida e desprovida.” (TRF 1ª R. – AC 2009.38.00.029070-8 – Rel. Des. Kassio Nunes Marques – J. 05.02.2018)

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2559 – Floresta – destruição – absolvição – impossibilidade – materialidade e autoria – configuração

“Apelação criminal. Crime ambiental. Destruição de floresta considerada de preservação permanente. Absolvição. Impossibilidade. Materialidade e autoria demonstradas pelo conjunto probatório. Aplicação do princípio da insignificância. Inadmissibilidade. Dian-te da prova segura da autoria e da materialidade do crime do art. 38 da Lei nº 9.605/1998, não há como absolver o réu. Não é possível aplicar o princípio da insignificância para absolver o acusado porque não é ínfimo o grau de reprovabilidade da conduta daquele que destrói floresta, cuja vegetação, em estágio inicial para médio de desenvolvimento, atingirá o estágio satisfatório de regeneração em aproximadamente dez anos.” (TJMG – ACr 1.0183.13.003285-1/001 – 1ª C.Crim. – Rel. Flávio Leite – DJe 21.02.2018)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 9.605/1998:

“Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção:

Pena. detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.”

2560 – Ibama – auto de infração – multa – imóvel localizado em área urbana – lei mu-nicipal – área de preservação permanente – embargos de declaração – omissão inexistente

“Direito processual civil. Direito ambiental. Ibama. Auto de infração. Multa. Imóvel lo-calizado em área urbana. Lei municipal. Área de preservação permanente. Embargos de declaração. Omissão inexistente. 1. São manifestamente improcedentes os presentes embargos de declaração, pois não se verifica qualquer omissão no julgamento impug-nado, mas mera contrariedade da embargante com a solução dada pela Turma, que, à luz da legislação aplicável e com respaldo na jurisprudência, consignou expressamente que ‘A autuação aponta como local da infração o Condomínio Parque Paraíso, no Mu-nicípio de Mira Estrela/SP. E, no termo de embargo, que constitui parte integrante da autuação lavrada, constou expressamente que “verificada a intervenção não autorizada em área de preservação permanente relativa ao lago de acumulação da UHE de Água Vermelha, no Município de Mira Estrela/SP, impedindo a regeneração natural da vege-tação, no lote 13 do Condomínio Parque Paraíso, de coordenadas geográficas descritas nos campos 13 e 14, acima. Verificada a intervenção de 309,50 m2, sendo que o ponto do elemento de intervenção que está mais próximo da linha que contém os pontos do terreno de cota igual à da cota máxima normal de operação do reservatório dista 41,00 m desta linha”’. 2. Ressaltou-se que ‘compete ao Município definir o que compõe a área urbana, e não ao Conselho Nacional do Meio Ambiente, menos ainda por ato infralegal, exigindo-se para tanto a edição de lei em sentido estrito’. 3. Observou o acórdão que ‘o embargante comprovou que o Município de Mira Estrela certificou que “o Loteamento Condomínio Parque Paraíso está localizado no Perímetro Urbano do Município de Mira Estrela, declarado perímetro urbano através da Lei nº 061/1993, e que o Município lança Imposto Predial Territorial Urbano – IPTU desde 1985 [...]”. Ainda, trouxe aos autos o embargante documento de outubro/2008, no qual o Município de Mira Estrela certifica

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que o Condomínio Parque Paraíso é dotado de malha viária para águas pluviais, rede de abastecimento de água, distribuição de energia elétrica, recolhimento de resíduos sólidos urbanos, e fossa séptica individual, impermeabilizado com tratamento’. 4. As-severou o acórdão que ‘Se a atuação municipal, ao autorizar e regulamentar o condo-mínio e reconhecê-lo em local de área urbana, incorreu em inconstitucionalidade ou ilegalidade, cabe ao Ibama postular tal reconhecimento em ação própria, em que figure o Município no polo passivo como parte competente para a defesa dos atos impugnados, não se admitindo que a autarquia, sem providenciar tais medidas prévias, despreze lei municipal, que se presume válida e constitucional, para atingir diretamente o embargan-te, devidamente respaldado’. 5. Concluiu-se que ‘restando comprovado nos autos que o imóvel está localizado em área urbana, nos termos da Lei nº 309/2001, do Município de Mira Estrela, e que as construções respeitam os limites da área de preservação per-manente definidos na Resolução Conama nº 302/2002, assiste razão ao embargante em questionar a autuação, devendo ser mantida a sentença de procedência dos embargos do devedor’. 6. Não houve qualquer omissão no julgamento impugnado, revelando, na realidade, a articulação de verdadeira imputação de erro no julgamento, e contra-riedade da embargante com a solução dada pela Turma, o que, por certo e evidente, não é compatível com a via dos embargos de declaração. Assim, se o acórdão violou os arts. 2º, 3º da Lei nº 4.771/1965; 3º, parágrafo único, V, 4º, III da Lei nº 6.766/1979; 8º da Lei nº 6.938/1981; 48 da Lei nº 9.605/1998; 24, VI da CF, como mencionado, caso seria de discutir a matéria em via própria e não em embargos declaratórios. 7. Para cor-rigir suposto error in judicando, o remédio cabível não é, por evidente, o dos embargos de declaração, cuja impropriedade é manifesta, de forma que a sua utilização para mero reexame do feito, motivado por inconformismo com a interpretação e solução adotadas, revela-se imprópria à configuração de vício sanável na via eleita. 8. Embargos de decla-ração rejeitados.” (TRF 3ª R. – EDcl-Ap-RN 0020727-38.2017.4.03.9999/SP – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Carlos Muta – DJe 31.01.2018 – p. 801)

2561 – Ibama – infração ambiental – apreensão de carvão – apreensão de veículo – restituição do bem – possibilidade

“Administrativo e ambiental. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Na-turais Renováveis – Ibama. Infração ambiental. Apreensão de veículo. Restituição do bem. Possibilidade. Apreensão de carvão. Notas fiscais e guias de transporte. Licença de transporte de parte do carvão. Liberação parcial. Possibilidade. Sentença mantida. 1. O entendimento estabelecido neste Tribunal é de que os bens utilizados na prática de infração ambiental não são passíveis de apreensão, na forma do art. 25, § 4º, da Lei nº 9.605/1998, se não for identificada situação de uso específico e exclusivo para aquela atividade ilícita. 2. Na hipótese, não ficou caracterizado que os veículos apreendidos fossem utilizados exclusivamente para a prática do ilícito ambiental. 3. A jurisprudência deste Tribunal tem entendido que, em hipóteses como a dos presentes autos, em que apenas uma parte da carga de carvão retida possui notas fiscais e guias de transporte, é legítima a liberação da parcela que tenha regular procedência. 4. Sentença confirmada. 5. Apelação desprovida.” (TRF 1ª R. – Proc. 00044716320074013811 – 6ª T. – Rel. Des. Daniel Paes Ribeiro – J. 29.01.2018)

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Destaque Editorial SÍNTESEDo voto do Relator destacamos:

“[...]

Com relação aos veículos, é assente o entendimento jurisprudencial de que os bens utilizados na prática de infração ambiental não são passíveis de apreensão, na for-ma do art. 25, § 4º, da Lei nº 9.605/1998, se não for identificada situação de uso específico e exclusivo para aquela atividade ilícita.

Nesse sentido, confiram-se os seguintes julgados:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL – MANDADO DE SEGURANÇA – INSTI-TUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENO-VÁVEIS (IBAMA) – INFRAÇÃO AMBIENTAL – APLICAÇÃO DE MULTA E APREEN-SÃO DE ESCAVADEIRA HIDRÁULICA – PROPRIETÁRIO – RESTITUIÇÃO DO BEM – POSSIBILIDADE – SENTENÇA MANTIDA

1. O entendimento estabelecido neste Tribunal é de que a escavadeira hidráulica utilizada na extração ilegal de lavra mineral não é passível de apreensão, na forma do art. 25, § 4º, da Lei nº 9.605/1998, se não for identificada situação de uso específico e exclusivo para aquela atividade ilícita.

2. Apelação do Ibama a que se nega provimento.

3. Remessa oficial tida por interposta a que se nega provimento.

(TRF 1ª R., AMS 0004979-75.2012.4.01.3603/MT, Relª Juíza Fed. Hind Ghassan Kayath (Convocada), e-DJF1 de 12.02.2016)

ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL – MANDADO DE SEGURANÇA – IBAMA – AUTO DE INFRAÇÃO – EXTRAÇÃO MINERAL SEM AUTORIZAÇÃO – APREENSÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR – DESPROPORCIONALIDADE DA CONSTRIÇÃO – NÃO COMPROVAÇÃO DO USO EXCLUSIVO NA ATIVIDADE DELITUOSA – LIBERAÇÃO – POSSIBILIDADE – SENTENÇA MANTIDA

1. A apreensão de veículo utilizado na realização de infração ambiental se cons-titui em medida que encontra amparo na legislação de regência. Entretanto, há orientação jurisprudencial assentada nessa Corte no sentido de que, em se tratando de matéria ambiental, o veículo transportador somente é passível de apreensão na forma do art. 25, § 4º, da Lei nº 9.605/1998, senão quando caracterizado como instrumento de uso específico e exclusivo em atividade ilícita – o que não é a hipó-tese dos autos. Precedentes.

2. Os arts. 105 e 106, II, do Decreto nº 6.514/2008, permitem que o próprio autuado ou seu dono ostente a posição de fiel depositário do bem apreendido, esta-belecendo tal possibilidade ‘desde que a posse dos bens ou animais não traga risco de utilização em novas infrações’.

3. Apelação e Remessa oficial a que se nega provimento.

(TRF 1ª R., AMS 0005393-81.2014.4.01.3901/PA, Rel. Des. Fed. Kassio Nunes Marques, e-DJF1 de 11.12.2015)

ADMINISTRATIVO – PROCESSUAL CIVIL – INFRAÇÃO AMBIENTAL – TRANSPOR-TE DE MADEIRA – DIVERGÊNCIA ENTRE A ESPÉCIE DA MADEIRA TRANSPOR-TADA E A CONSTANTE DA GUIA FLORESTAL – APREENSÃO DE VEÍCULO – NÃO DEMONSTRAÇÃO DE SUA UTILIZAÇÃO PARA FINS EXCLUSIVOS DE CRIME AM-BIENTAL – REEXAME DE PROVAS – SÚMULA Nº 7/STJ

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1. No caso dos autos, houve transporte irregular de madeira em razão de a madeira especificada na Guia Florestal ser diversa da que estava sendo transportada no veículo apreendido.

2. As instâncias ordinárias, procedendo à análise do conjunto fático-probatório, con-cluíram inexistir indicação de uso específico e exclusivo do veículo apreendido para a prática de atividades ilícitas, voltadas à agressão do meio ambiente, bem como não ter sido comprovada a intenção do proprietário do veículo no sentido de efetuar transporte de madeira desacobertada de documentação hábil.

3. ‘A decisão da Corte de origem não destoa da jurisprudência do STJ no sentido de que a apreensão dos “produtos e instrumentos” utilizados para a prática da in-fração não pode dissociar-se do elemento volitivo’ (REsp 1.436.070/RO, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., J. 19.03.2015, acórdão pendente de publicação).

4. A alteração das conclusões adotadas pelo Tribunal de origem demandaria, ne-cessariamente, novo exame do acervo fático-probatório constante nos autos, pro-vidência vedada em recurso especial, a teor do óbice previsto na Súmula nº 7/STJ.

Recurso especial conhecido em parte e improvido.

(STJ, REsp 1.526.538/RO, Rel. Min. Humberto Martins, DJe de 19.05.2015)”

2562 – Ibama – terras indígenas – arrendamento – realização de diagnóstico ambien-tal – cabimento

“Agravo de instrumento. Cumprimento provisório de sentença. Ação civil pública que discutiu sobre arrendamento de terras indígenas. Realização de diagnóstico ambiental da terra indígena Xapecó pelo Ibama, que não foi parte no processo. Alegação de ausência de título judicial, de inexequibilidade da obrigação e de contingenciamento orçamentá-rio. 1. Não foi a decisão agravada que determinou que o Ibama realizasse o diagnóstico ambiental, uma vez que essa providência já havia sido determinada anteriormente, em outro processo. O Ibama poderia ter se utilizado do recurso cabível à espécie (apelação), na condição de terceiro prejudicado. Se o Ibama deixou de recorrer no momento pró-prio, ainda que intimado do que estava sendo decidido e determinado, não parece viável que este Relator neste agravo de instrumento suspendesse o cumprimento de decisão proferida em outros autos. 2. Não parece absurda a determinação tomada pelo juízo agravado, no sentido de impor obrigação ao Ibama, ainda que fosse terceiro no proces-so, uma vez que tal colaboração com o Judiciário é exigível em razão do dever geral de colaboração com o Judiciário, previsto no art. 14, V do CPC/1973 (com correspondência no art. 77, IV do CPC/2015), sendo dever de todos aqueles que de qualquer forma parti-cipem no processo, cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais e não criar embara-ços à sua efetivação. 3. Estando em vigor a determinação contida na sentença proferida na Ação Civil Pública, a qual serve como título executivo do feito originário, e não tendo a agravante, ao menos por ora, obtido efeito suspensivo em outra ação, a resistência ao cumprimento do que foi determinado parece injustificada. 4. A elaboração de diagnós-tico ambiental neste caso se afigura compatível com as funções institucionais do Ibama, parecendo que a autarquia tem dever legal de agir, inclusive porque, segundo consta, teria havido dano ambiental. 5. De acordo com o que consta no processo originário, o diagnóstico ambiental foi realizado, o que evidencia que o cumprimento da obrigação

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era possível e que, aparentemente, se está diante de fato consumado. 6. Agravo de ins-trumento improvido.” (TRF 4ª R. – AI 5043586-91.2016.4.04.0000 – 4ª T. – Rel. Cândido Alfredo Silva Leal Junior – J. 31.01.2018)

2563 – Infração ambiental – autuação – Ibama – pássaros em cativeiro – princípios da proporcionalidade e da razoabilidade – possibilidade

“Constitucional. Civil. Processual. Administrativo. Infração ambiental. Autuação. Insti-tuto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama. Pássa-ros em cativeiro. Tipificação. Lei nº 9.605/1998. Decreto nº 6.514/2008. Princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. Circunstâncias do caso. I – A sentença proferida em primeiro grau de jurisdição não está sujeita ao reexame necessário, uma vez que o direito controvertido, na hipótese, é inferior a 60 salários mínimos (penalidade de multa aplicada em R$ 6.000,00), prevalecendo, dessa forma, o quanto disposto no § 2º do art. 475 do Código de Processo Civil/1973, vigente à época: ‘Art. 475. Está sujeita ao du-plo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença: [...]. § 2º Não se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenação, ou o direito controvertido, for de valor certo não excedente a 60 (sessenta) salários mínimos, bem como no caso de procedência dos embargos do devedor na execução de dívida ativa do mesmo valor.’ II – A interpretação do pedido não deve ficar restrita à linearidade textual, mas extraída do conjunto do seu conteúdo à luz do princípio da boa-fé, a teor do quanto disposto no § 2º do art. 322 do CPC/2015: ‘§ 2º A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé.’ III – Não se sustenta a preliminar de nulidade da sentença, por alegação de violação ao princípio da congruência (extra petita), uma vez apreciado o pedido explícito, de anulação do conteúdo do auto de infração, e decidido de acordo com a legislação de regência, ainda que por fundamentos não elencados na petição inicial. IV – Dispõe o art. 29, § 2º, da Lei nº 9.605/1998: ‘No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar a pena’. V – O Decreto nº 6.514/2008, de 22 de julho de 2008, ao revogar os termos do anterior, nº 3.179/1999, manteve a previsão de afastamento da multa, de acordo com as circunstâncias, nos termos: ‘§ 4º No caso de guarda doméstica de espécime silvestre não considerada ameaçada de extinção, pode a autoridade competente, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar a multa, em analogia ao disposto no § 2º do art. 29 da Lei nº 9.605, de 1998.’ VI – ‘Apesar de constatada a infração à legislação ambiental, a atuação administrativa deve se ater aos princípios da legalidade, da razoabilidade e da proporcionalidade, com observância, ainda, dos critérios previstos no art. 6º da Lei nº 9.605/1998: I – a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas con-sequências para a saúde pública e para o meio ambiente; II – os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse ambiental; III – a situação econômica do infrator, no caso de multa [...]. 4. No caso, não há prova de que a infração tenha sido cometida para obtenção de vantagem pecuniária, o autor não é reincidente, não há, nos autos, prova de que os pássaros apreendidos estejam na lista de espécies em extinção, circunstâncias que levam à conclusão de que a multa aplicada se afigura excessiva e desproporcional, devendo, em consequência, ser afastada, com base no art. 29, § 2º, da

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Lei nº 9.605/1998’ (AC 0004166-44.2009.4.01.3800/MG, Rel. Des. Fed. Daniel Paes Ribeiro, 6ª T., e-DJF1 de 21.06.2017). VII – Incumbe ao Poder Judiciário a adequação do fato à norma, cabendo ao magistrado perquirir o fundamento axiológico que subjaz como finalidade na inspiração da lei, não implicando tal mister imiscuir-se no mérito do ato administrativo, mas, antes, adequar a aplicação da lei ao caso concreto. VIII – Em observância ao contexto dos autos, e com fulcro no texto da legislação ambiental, assim como na interpretação jurisprudencial pertinente, a lesividade da infração, o perfil so-cioeconômico do infrator, pessoa física, de baixa renda, que não registra antecedentes ou indícios de comercialização ou de maus tratos a animais, na prática de guarda do-méstica de pássaros, fica evidenciada a adequação da medida de conversão da multa em penalidade de prestação de serviços. IX – Reexame necessário não conhecido. Apelação do Ibama parcialmente provida. Sentença reformada para, mantido o auto de infração, determinar a conversão da pena de multa em prestação de serviços.” (TRF 1ª R. – Ap-RN 2007.38.00.036815-3 – Rel. Juiz Lincoln Rodrigues de Faria – J. 05.02.2018)

Comentário Editorial SÍNTESEPassamos a comentar o acórdão em epígrafe que trata de recurso de apelação inter-posto pelo Ibama e de reexame necessário contra r. sentença.

A referida sentença, que em autos de demanda sob procedimento comum, tinha como objetivo anulação de multa administrativa.

Consta dos autos que foi aplicada a multa administrativa por meio de Auto de infra-ção, pela prática de manter em cativeiro 7 pássaros da fauna silvestre, sem a devida autorização do órgão ambiental competente.

De acordo com os arts. 29 e 72, da Lei nº 9.605/1998, e arts. 2º e 11 do Decreto nº 3.179/1999, foi julgado procedente o pedido a fim de declarar nulos o auto de infração de nº 539881, série D, e a multa aplicada pelo Ibama ao autor.

Assim, o d. Relator entendeu:

“[...]

Em acréscimo, cito precedente da 5ª T., nessa mesma linha de intelecção, acerca da redução da multa, quando não pleiteada explicitamente:

AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL – IBAMA – AUTO DE INFRAÇÃO – MANUTEN-ÇÃO EM CATIVEIRO DE PÁSSAROS DA FAUNA SILVESTRE SEM AUTORIZAÇÃO DO ÓRGÃO COMPETENTE – LEI Nº 9.605/1998 E DECRETO Nº 3.179/1999 – PENALIDADE ADMINISTRATIVA – APREENSÃO E MULTA – LEGITIMIDADE DA AUTUAÇÃO – VALOR DA MULTA – REDUÇÃO AO MÍNIMO LEGAL – SENTENÇA MANTIDA – 1. Não prospera a alegação de nulidade da sentença por julgamento extra petita, uma vez que, da leitura da petição inicial, observa-se que, embora o pedido principal seja a anulação do auto de infração lavrado pelo Ibama, a autora apontou irregularidades na aplicação da pena pecuniária, que foram posteriormente contestadas pelo Ibama. Preliminar rejeitada. 2. A Lei nº 9.605/1998, art. 74, estabelece que ‘a multa terá por base a unidade, hectare, metro cúbico, quilograma ou outra medida pertinente, de acordo com o objeto jurídico lesado’. No art. 75, dispõe que ‘o valor da multa de que trata este Capítulo será fixado no regulamento desta Lei e corrigido periodicamente, com base nos índices estabelecidos na le-gislação pertinente, sendo o mínimo de R$ 50,00 (cinquenta reais) e o máximo

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de R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais)’. 3. É certo que o art. 11 do Decreto nº 3.179/1999 prevê multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) por unidade. Esse dispositivo deve ser interpretado, conforme a Constituição, como se fixasse o máximo de R$ 500,00 (quinhentos reais) por unidade, para preservar o princípio da individualização da pena. Como mínimo deve ser tomado o valor previsto na Lei nº 9.605/1998, ou seja, R$ 50,00 (cinquenta reais) por unidade, corrigidos perio-dicamente. 4. Correta a sentença recorrida que reduziu o valor da multa aplicada de R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais) para R$ 1.350,00 (mil trezentos e cinquenta reais), em razão da ausência de motivação específica para elevação da pena acima do mínimo, nos termos do art. 75 da Lei nº 9.605/1998. 5. Apelação do Ibama a que se nega provimento. (AC 0002473-64.2014.4.01.3504/GO, Relª Juíza Fed. Daniele Maranhão Costa (Conv.), 5ª T., e-DJF1 de 10.06.2016)

11. O mesmo entendimento acerca da interpretação do pedido se aplica ao argu-mento de que houve violação ao princípio da congruência ao ter decidido o juízo originário com base em fundamento não cogitado pela parte autora em sua inicial, qual seja, ausência de parecer da AGU, para homologação do auto de infração, no processo administrativo punitivo.

12. Observe-se que a própria sentença, fl. 62, atentando-se para o fato de que não houve, pela parte autora, alegação de vícios formais no auto de infração, ponderou que ‘em se tratando de matéria exclusivamente de direito, devem ser aplicadas pelo juiz, de ofício, as normas jurídicas á espécie, subsumindo-se o fato à norma, para que seja alcançada a solução do litígio, ainda que tal procedimento tenha como base fundamentos diversos daqueles sustentados pelas partes litigantes’. Acrescen-tou que tal medida não infringe a vedação constante do art. 460 do CPC/1973, ‘já que o exame da controvérsia se dará no mesmo sentido do pleito autora, qual seja, a nulidade do auto de infração’.

[...]

16. Ademais, acerca da tipificação em exame nesta demanda, prevê a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrati-vas, derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, na disciplina do art. 29, inserta no capítulo referente aos crimes contra a fauna, como destaco:

‘Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, na-tivos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida:

Pena. detenção de seis meses a um ano, e multa.

§ 1º Incorre nas mesmas penas:

I – quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em desacordo com a obtida;

II – quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural;

III – quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente.

§ 2º No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.

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§ 3º São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies na-tivas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras.’

[...]

30. Desse modo, com fulcro no texto da legislação ambiental, assim como na inter-pretação jurisprudencial pertinente, e em observância do contexto circunstancial em que inserida a demanda, a pequena potencialidade lesiva da infração, o perfil socio-econômico do infrator, pessoa física, de baixa renda, que não registra antecedentes ou indícios de comercialização ou maus tratos a animais, na prática de guarda doméstica de pássaros, evidente o maior e mais adequado proveito da conversão da multa em penalidade de prestação de serviços.

31. Assim, merece parcial acolhimento o recurso de apelação do Ibama, para man-ter hígido o auto de infração, entretanto, devendo ser convertida a penalidade de multa em medida de prestação de serviços.

32. Registre-se que, no caso, ao Poder Judiciário incumbe a adequação do fato à norma, cabendo ao magistrado perquirir o fundamento axiológico que subjaz na fi-nalidade pensada pelo legislador, não implicando tal mister imiscuir-se no mérito do ato administrativo, mas, antes, adequar a aplicação da lei ao caso concreto.

Pelo exposto, não conheço do reexame necessário, dou parcial provimento ao recur-so de apelação interposto pelo Ibama, e, reformando a sentença, julgo parcialmente procedente o pedido feito na inicial, para determinar à autarquia a conversão da penalidade de multa em prestação de serviços.

É como voto.”

Diante do exposto, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região não conheceu o reexa-me necessário e deu parcial provimento ao recurso de apelação.

2564 – Infração ambiental – despejo de resíduos em área de proteção – parque de uso múltiplo – cerceamento de defesa – não ocorrência

“Processo civil e administrativo. Apelação cível. Multa aplicada pelo Ibram. Infração ambiental. Despejo de resíduos em área de proteção. Parque de uso múltiplo do lago norte. Cerceamento de defesa. Não ocorrência. Valor da multa. Proporcionalidade. Ho-norários recursais. 1. O princípio do convencimento motivado ou da persuasão racional, consagrado pelo art. 371 do Código de Processo Civil, estabelece que o juiz é livre para apreciar as provas, podendo indeferi-las na hipótese de entender serem desnecessárias para o deslinde da questão. 2. No caso, o juiz sentenciante entendeu que a existência dos documentos acostados aos autos foi suficiente para formar sua convicção, reputando inadequada a produção da prova pericial, sob o argumento de que ‘A área ocupada pelo Parque de Uso Múltiplo do Lago Norte encontra-se definida nos memoriais descritivos anexos ao Decreto nº 36.735, de 04 de setembro de 2015, tratando-se portanto de fato incontroverso, o que dispensa qualquer dilação probatória’. 3. Afasta-se a pretensão de anulação de multa decorrente de processo administrativo que respeitou o regular trâmite processual, o valor fixado pela Administração está condizente com a conduta da infra-ção e com o porte econômico dos Recorrentes, além de respeitar as balizas legais para

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sua fixação. 4. Preliminar rejeitada. Apelos não providos. Honorários recursais fixados.” (TJDFT – Proc. 20150110785749APC – (1073765) – 3ª T.Cív. – Rel. Flavio Rostirola – J. 20.02.2018)

Remissão Editorial SÍNTESEVide RSA nº 7, maio/jun. 2012, ementa nº 453 do TRF 5ª R.

2565 – Infração ambiental – transporte irregular de carvão – ausência de licença am-biental – bens apreendidos – caracterização

“Ambiental, administrativo e constitucional. Transporte irregular de carvão, sem acom-panhamento da devida licença ambiental. Bens e instrumentos utilizados na prática da infração ambiental. Legalidade da ação da administração pública. Empresa autora pro-prietária dos bens apreendidos. 1. O tratamento da questão ambiental não pode pres-cindir da estrita observância dos diversos parâmetros e balizas constitucionais e infra-constitucionais a ela atinentes. 2. No que toca ao meio ambiente, a sensível relação entre direitos e deveres foi abarcada no caput do art. 225 da Constituição Federal. Em tal dispositivo, coexistem a imposição de um dever difuso de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações; e previsão de um direito, do qual todos são igualmente titulares, a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, dado que se trata de um bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida. 3. Nosso ordenamento jurídico foi dotado de normas legais que reverberam os postulados acima aludidos. Não faltam prerrogativas, na Lei nº 9.605/1998 e no Decreto nº 6.514/2008, atribuídas ao administrador, para, coercitivamente, sancionar o infrator. 4. Entre tais sanções adotadas, é bom frisar, no legítimo exercício do poder de polícia da administra-ção pública, estão justamente aquelas cuja categoria se discute nessa ação, que vem a ser a apreensão dos produtos e instrumentos relacionados às correspondentes infrações administrativas. 5. A norma legal é categórica: caracterizada a infração administrativa, a apreensão dos materiais nela utilizados é devida, desde que respeitados o contraditório e a ampla defesa no âmbito de regular processo administrativo. 6. Havendo como na hi-pótese dos autos elementos que sinalizam o claro risco de nova utilização do bem apre-endido em atividade ilícita, a pretendida determinação judicial de restituição de bem apreendido se constituiria, a toda evidência, em indevida e injustificada intervenção judicial na esfera de atuação da administração. 7. A intervenção judicial, em casos tais, a um só tempo, traz enormes prejuízos à autonomia do gestor público ambiental – por-quanto desautoriza o poder de polícia regularmente exercido –, assegura a impunidade pela infração cometida e incentiva a progressiva degradação do meio ambiente. 8. Está pacificado no âmbito do Superior Tribunal de Justiça o entendimento de que ‘a responsa-bilidade civil pelo dano ambiental, qualquer que seja a qualificação jurídica do degrada-dor, público ou privado, é de natureza objetiva, solidária e ilimitada, sendo regida pelos princípios do poluidor-pagador, da reparação in integrum, da prioridade da reparação in natura [...]’. Nesse sentido, entre muito outros, o REsp 1.454.281, Min. Herman Ben-jamin, DJ de 09.09.2016. 9. Na hipótese dos autos, é possível se depreender que a im-pugnada sanção administrativa obedecera ao contraditório e à ampla defesa e que o cor-respondente auto de infração apresenta particularidades que não deixam dúvida quanto

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à ilegalidade do transporte de carvão vegetal sem o acompanhamento da licença am-biental exigida para o ato. Além disso, foi constatado que a empresa infratora já possuía registros de envolvimento a outras infrações ambientais. 10. Verificada a legalidade e a regularidade das apreensões dos veículos, deve ser mantida a sentença que indeferiu sua restituição. 11. Apelação, da parte autora da ação, conhecida e desprovida.” (TRF 1ª R. – AC 0003469-88.2016.4.01.3505 – Rel. Des. Kassio Nunes Marques – J. 05.02.2018)

Comentário Editorial SÍNTESETrata-se de apelação interposta em face da sentença proferida em ação ordinária, ajuizada pelos apelantes contra o Ibama, que julgou improcedente o pedido autoral de restituição dos veículos.

Consta dos autos que os veículos foram apreendidos em virtude de utilização no transporte de 43,92 m3 de carvão vegetal, de vegetação nativa (cerrado), sem licen-ça válida para todo o tempo da viagem.

Em suas razões recursais sustentou a legalidade das ações da empresa, a utilização lícita dos veículos e regularidade de todas as licenças ambientais.

Pleiteou em sede de tutela provisória de urgência, que os referidos bens fossem res-tituídos a posse dos apelantes como fieis depositários até a finalização do processo administrativo e judicial.

Diante do exposto, o nobre Relator votou:

“[...]

Nosso ordenamento jurídico foi dotado de normas legais que reverberam os postu-lados acima aludidos. Não faltam prerrogativas, na Lei nº 9.605/1998 e no Decre-to nº 6.514/2008, atribuídas ao administrador, para, coercitivamente, sancionar o infrator.

Entre tais sanções adotadas, é bom frisar, no legítimo exercício do poder de polícia da administração pública, estão justamente aquelas cuja categoria se discute nessa ação, que vem a ser a apreensão dos produtos e instrumentos relacionados às cor-respondentes infrações administrativas.

A norma legal é categórica: caracterizada a infração administrativa, a apreensão dos materiais nela utilizados é devida, desde que respeitados o contraditório e a ampla defesa no âmbito de regular processo administrativo.

Além da constatação da infração ambiental, consistente no transporte de carvão ve-getal sem o acompanhamento de licença ambiental válida, apurou-se que a empresa já foi envolvida em anteriores infrações ambientais.

Havendo, como na hipótese dos autos, elementos que sinalizam o claro risco de nova utilização do bem apreendido em atividade ilícita, a pretendida determinação judicial de restituição de bem apreendido se constituiria, a toda evidência, em in-devida e injustificada intervenção judicial na esfera de atuação da administração.

A intervenção judicial, em casos tais, a um só tempo, traz enormes prejuízos à autonomia do gestor público ambiental – porquanto desautoriza o poder de polícia regularmente exercido –, assegura a impunidade pela infração cometida e incentiva a progressiva degradação do meio ambiente.

Está pacificado no âmbito do Superior Tribunal de Justiça o entendimento de que ‘a responsabilidade civil pelo dano ambiental, qualquer que seja a qualificação jurídica

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do degradador, público ou privado, é de natureza objetiva, solidária e ilimitada, sendo regida pelos princípios do poluidor-pagador, da reparação in integrum, da prioridade da reparação in natura [...]’. Nesse sentido, entre muito outros, o REsp 1.454.281, Min. Herman Benjamin, DJ de 09.09.2016.

Na hipótese dos autos, é possível se depreender que a impugnada sanção adminis-trativa obedecera ao contraditório e à ampla defesa.

Os argumentos trazidos nesta instância não capazes de infirmar as razões em que fundada a sentença proferida pelo juízo de primeiro grau.

Além da verificação de da higidez da autuação lavrada, a apreensão dos veículos uti-lizados na infração é decorrente do exercício do poder de polícia conferido ao Ibama e com a natureza de sanção, conforme previsão na lei.

As circunstâncias fáticas do caso em exame, ainda, não permitem o deferimento da nomeação dos recorrentes como depositários fiéis dos bens apreendidos até sua posterior definição, notadamente pelos indícios de exploração irregular de produto florestal, consoante os registros anteriores citados pelo magistrado na sentença, o que não foi elidido pelos apelantes.

A licitude na aquisição dos veículos, bem como o fato de servirem como garantias no próprio financiamento de compra não servem para afastar a medida de cunho acautelatório ora decidida. É que mesmo adquirido licitamente um bem, nada obsta que sua utilização sirva como instrumento para a prática de ilícitos, conforme se verificou na hipótese.

Por fim, eventual desproporção verificada entre o valor sugerido do bem apreendido e o valor da multa administrativa não serve para autorizar sua restituição, eis que inexiste a previsão legal de tal parâmetro com fins a esse exercício. Mais uma vez, frise-se, está diante de um ato ilícito praticado pelo administrado, cujas ações efeti-vadas pela Administração apresentam a devida correspondência na lei.

Dispositivo

Ante o exposto, conheço da apelação, e nego provimento.

É como voto.”

Dessa forma, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região negou provimento à apelação.

2566 – Licença ambiental – ausência – fundição de ferro e aço – poluição/degradação – princípio da precaução – possibilidade

“Apelação cível. Remessa necessária. Meio ambiente. Fundição de metais não ferrosos e suas ligas. Fundição de ferro e aço. Autorização ambiental de funcionamento. Ato meramente declaratório. Verificação, quando da fiscalização, que a capacidade insta-lada da impetrante permitia uma produção muito maior (triplo) da declarada no pedido de obtenção da AFF. Possibilidade de médio impacto ambiental. Constatação de que o empreendimento também estava causando poluição/degradação, por não ter sistema de tratamento dos gases dos fornos a óleo. Ausência de licença ambiental. Suspensão cau-telar das atividades da impetrante. Princípio da precaução. Posicionamento do Superior Tribunal de Justiça. Legalidade do ato. Denegação da ordem. Reforma da sentença. Na esteira do posicionamento do Superior Tribunal de Justiça, o princípio da precaução, consagrado formalmente pela Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – Rio 92 (ratificada pelo Brasil), a ausência de certezas científicas

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não pode ser argumento utilizado para postergar a adoção de medidas eficazes para a proteção ambiental, sendo que, na dúvida, prevalece a defesa do meio ambiente, espe-cialmente no caso dos autos, onde malgrado a impetrante exerça atividades que acarre-tam médio impacto ambiental negativo, encontra-se amparada apenas por uma simples AAF – Autorização Ambiental de Funcionamento. Reformada a sentença na remessa necessária, prejudicado o apelo voluntário.” (TJMG – AC-RN 1.0223.14.028996-6/003 – 3ª C.Cív. – Rel. Judimar Biber – DJe 27.02.2018)

2567 – Licenciamento ambiental – empreendimento – loteamento – área de proteção ambiental – emissão de declaração – dolo genérico – não verificação

“Reexame necessário. Apelação cível. Ação civil pública. Improbidade administrativa. Município de Pouso Alegre. Licenciamento ambiental. Empreendimento. Loteamento. Área de proteção ambiental. Emissão de declaração. Improbidade. Ofensa aos princípios administrativos. Dolo genérico. Não verificada. Sentença mantida. A Lei nº 8.429/1992 enumera as infrações praticadas por qualquer agente público, no exercício de suas fun-ções, trazendo suas respectivas punições, abrangendo, inclusive, as condutas praticadas indistintamente por todos os agentes políticos, que são investidos em seus respectivos cargos. O licenciamento ambiental constitui procedimento complexo, de caráter prévio, composto de uma série de atos tendentes a regularizar empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente lesivas ao meio ambiente. Ao declarar que o loteamento estava em conformidade com a legislação de regência emitiu o apelado juízo de valor, interpretativo, baseado em todo o procedimento administrativo ambien-tal até então produzido, que, destaca-se foi sempre favorável ao empreendimento.” (TJMG – AC-RN 1.0525.14.011957-5/001 – 4ª C.Cív. – Rel. Dárcio Lopardi Mendes – DJe 27.02.2018)

2568 – Licenciamento ambiental – municipal – atuação supletiva do Ibama – possibi-lidade

“Processual civil. Embargos declaratórios no agravo interno no recurso especial. Ação civil pública. Alegada ofensa ao art. 535 do CPC/1973. Inexistência. Apontada violação à lei estadual. Impossibilidade de análise. Súmula nº 280/STF. Afronta aos arts. 48 e 292, § 1º, II, do CPC/1973 e ao art. 3º, V, da Lei nº 6.938/1981. Súmula nº 284/STF. Licencia-mento ambiental municipal. Atuação supletiva do Ibama. Possibilidade. Jurisprudência dominante do STJ. Cumulação de obrigação de fazer e de pagar quantia certa. Possi-bilidade. Precedentes do STJ. Pretendida redução do quantum indenizatório. Súmula nº 7/STJ. Alegação de julgamento contrário à prova dos autos. Reexame. Impossibili-dade. Súmula nº 7/STJ. Agravo interno improvido. Embargos de declaração. Alegada violação ao art. 1.022 do CPC/2015. Vícios inexistentes. Inconformismo. Rejeição dos embargos de declaração. I – Embargos de Declaração opostos a acórdão prolatado pela 2ª T. do Superior Tribunal de Justiça, publicado em 23.10.2017. II – O voto condutor do acórdão embargado apreciou fundamentadamente, de modo coerente e completo, todas as questões necessárias à solução da controvérsia, negando provimento ao Agravo inter-no, para manter a decisão que conhecera parcialmente do Recurso Especial e, nessa par-

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te, negara-lhe provimento, em razão da ausência de violação ao art. 535 do CPC/1973 e pela incidência das Súmulas nºs 7 do STJ e 280 e 284 do STF. III – Inexistindo, no acórdão embargado, omissão, contradição, obscuridade ou erro material, nos termos do art. 1.022 do CPC vigente, não merecem ser acolhidos os Embargos de Declaração, que, em verdade, revelam o inconformismo da parte embargante com as conclusões do decisum. IV – Embargos de Declaração rejeitados.” (STJ – EDcl-AgInt-REsp 1.532.643 – (2015/0111599-8) – 2ª T. – Relª Min. Assusete Magalhães – DJe 15.02.2018 – p. 2552)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 6.938/1981:

“Art. 3º Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

[...]

V – recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâ-neas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.”

2569 – Mineração – metalurgia – contaminação por chumbo, cádmio e outros metais pesados – omissão – inexistência do dever de fiscalizar – responsabilidade civil – inocorrência

“Apelação cível. União. Plumbum Mineração e Metalurgia. Contaminação por chumbo, cádmio e outros metais pesados. Omissão. Inexistência do dever de fiscalizar. Respon-sabilidade civil. Inocorrência. Sentença mantida. I – Não há que se falar em responsa-bilidade civil da União por omissão por não ter o Exército brasileiro fiscalizado devida-mente a produção dos lingotes de chumbo pelas empresas Plumbum e Cobrac, visto que, a fiscalização, no caso, não teria por escopo proteger a integridade física das pessoas envolvidas nesse processo produtivo, mas salvaguardar a segurança nacional, missão institucional das Forças Armadas, conforme se depreende do art. 3º, do Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controlados (Dec. 3.365/2000). II – Não há relação de causalidade necessária e suficiente entre a falta do serviço que lhe foi atribuída (a omissão do dever de fiscalizar) e os danos que o Autor teria sofrido, em virtude de contaminação direta por chumbo, cádmio, dentre outros elementos à vista da teoria da causalidade direta e imediata constante do art. 403, do Código Civil. III – O fato de a União eventualmente ter concedido autorização de funcionamento das empresas mani-puladoras de metais pesados não guarda relação de causalidade direta e imediata com os danos que ele alega ter sofrido, já que na aludida autorização de funcionamento não se permite o descumprimento de normas ambientais. IV – Eventuais danos ambientais ocasionados pelas empresas Plumbum e Cobrac, ademais, estariam sujeitos à fiscaliza-ção do Ibama, ente autárquico distinto da União, não havendo atribuição fiscalizatória da ré a justificar eventual responsabilização por omissão no ponto. V – O laudo pericial constante dos autos, por fim, demonstra não estar o autor contaminado por chumbo, não havendo que se falar em dano a ser indenizado. VI – Recurso de apelação do autor a que se nega provimento.” (TRF 1ª R. – AC 2006.33.00.000044-0 – Rel. Juiz Lincoln Rodrigues de Faria – J. 29.01.2018)

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2570 – Mineral – exploração – extinção de concessão de lavra – cerceamento de de-fesa – inocorrência

“Direito constitucional e administrativo. Exploração mineral. Extinção de concessão de lavra. Cerceamento de defesa. Inocorrência. Supremacia do interesse público sobre o privado. Possibilidade de ampla defesa. Ausência de irregularidade. Mérito administra-tivo. 1. Firme a jurisprudência no sentido de que não cabe compelir o magistrado a autorizar a produção desta ou daquela prova, se por outros meios estiver convencido da verdade dos fatos, tendo em vista que o juiz é o destinatário final da prova, a quem cabe a análise da pertinência, conveniência e necessidade de sua produção. Precedente do Superior Tribunal de Justiça. 2. Desse modo, a dispensa da diligência não gera a nulida-de por cerceamento de defesa, principalmente quando já presente nos autos diversos Pa-receres emitidos pelo DNPM e pelo Ministério de Minas e Energia, Relatório de Inspeção da Cetesb, Laudo Técnico e informações sobre o depoimento do engenheiro do DNPM Wagner Wanderley, prestado em juízo em outro processo na esfera federal, deixando, inclusive, a apelante de apresentar qualquer argumento de imprescindibilidade de pro-dução da nova prova pericial e testemunhal. 3. Ainda em preliminar, afastada a alegação de cerceamento de defesa em decorrência de não ter sido juntada cópia integral do processo administrativo, pois o ônus de provar o fato constitutivo do direito alegado é sempre do autor, não tendo in casu sido apresentada nenhuma justificativa para que a própria apelante não pudesse ter providenciado e apresentado nos autos cópia de algum documento faltante do processo administrativo, caso imprescindível à solução da con-trovérsia. No mais, ainda que conste a pendência de análise de seu recurso na esfera ad-ministrativa, tal fato não é capaz de gerar a nulidade da sentença, pois o esgotamento das vias administrativas não é pressuposto para o acesso à jurisdição, nos termos do art. 5º, V da Constituição Federal, além de que foi de iniciativa da própria apelante o ajuizamento do presente feito. 4. Na espécie, os processos administrativos DNPM 005.570/1951 e MME 48000.001908/2007-41, resultaram no Parecer Conjur MME nº 524/2007, que concluiu pela extinção da concessão de lavra outorgada pelo Decreto Presidencial nº 34.325/1953, retificado pelas Portarias nºs 1.359/1980 e 481/2001, mediante a apli-cação analógica do art. 42, do Código de Mineração, além do não pagamento de qual-quer indenização pela União. 5. A propósito, observo inicialmente, que consta nos autos que a apelante tinha pleno conhecimento do trâmite dos processos administrativos e, inclusive, apresentou defesa e recurso, o que evidencia ter exercido seu direito ao con-traditório na via administrativa, não justificando qualquer alegação de afronta ao princí-pio da ampla defesa. 6. Os arts. 20 e 176 da Constituição Federal de 1988 não deixam dúvidas de que os recursos minerais, inclusive os do subsolo, bem como as jazidas, em lavra ou não, pertencem a União, além de que a pesquisa e aproveitamento dos seus po-tenciais somente poderão ser efetuados mediante autorização ou concessão, desde que atendidas as condições estabelecidas em lei e não sejam estas atividades prejudiciais ao interesse público. 7. Neste cenário, não soa razoável que haja a predominância infindá-vel do interesse particular sobre o coletivo, principalmente quando fundamentado em Decreto anterior a vigência da atual norma constitucional, e proveniente de uma mera autorização/concessão de exploração de atividade comercial sobre bem que continua a pertencer a União. 8. Ademais, cabe destacar que houve também denúncia de irre-

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gularidades, incluindo entre elas, a degradação do meio ambiente e a não recuperação de áreas lavradas, bem como de reflexos na área urbana e na segurança dos habitantes da região, conforme se verifica no Parecer Conjur/MME nº 524/2007. 9. Desse modo, considerando que a continuidade da exploração da lavra em questão mostra-se prejudi-cial ao bem público, comprometendo interesses que superam a utilidade da exploração industrial, e não tendo sido verificado in casu nenhuma irregularidade capaz de anular o procedimento administrativo e a decisão proferida pelo Ministério de Minas e Energia que revogou o ato normativo que autorizou a exploração, determinando o término das atividades de mineração na região, não cabe ao Poder Judiciário retirar-lhe a discricio-nariedade que lhe é inerente, bem como subtrair o juízo de valor do Poder Público sobre o mérito administrativo. 10. Como se observa, não houve desapropriação indireta, mas cassação da autorização, que havia concedido a lavra, sob regime jurídico anterior, sem termo final, pois houve descumprimento de suas obrigações (art. 47 do Código de Mineração), e a continuidade da exploração da lavra mostrar-se-ia prejudicial ao bem público. Além do mais, houve denúncias de irregularidades incluindo degradação do meio ambiente e não recuperação de áreas lavradas, com reflexos na área urbana e na segurança dos habitantes da região. Diante da regularidade na cassação da autorização da exploração da lavra, fica prejudicado o pedido de indenização, tal como pleiteado. 11. Sobre os honorários advocatícios, ressalto que a legislação a ser aplicada é aquela do Código de Processo Civil vigente à época da publicação da sentença, motivo pelo qual deve ser mantida na espécie a aplicação do art. 85, § 8º, do CPC/2015, uma vez que a decisão foi proferida em novembro/2016. 12. Apelação desprovida.” (TRF 3ª R. – AC 0000981-84.2013.4.03.6133/SP – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Carlos Muta – DJe 16.02.2018 – p. 410)

Comentário Editorial SÍNTESECuida-se de apelação contra sentença que julgou improcedente a demanda, e rejei-tou o pedido de declaração de nulidade do Processo Administrativo e afastou o pleito indenizatório pela extinção da concessão da lavra, tendo sido fixada verba honorária em R$ 40.000,00, nos termos do art. 85, §§ 2º, 3º, e 8º, do CPC.

A apelante alegou que “[...] (1) preliminarmente a nulidade da sentença, por cercea-mento de defesa ante a não produção de prova pericial e testemunhal, além de não ter sido juntada aos autos cópia integral do processo administrativo de extinção da concessão da lavra em que consta a pendência a análise de seu recurso; e no mérito (2) a violação ao princípio do contraditório e da ampla defesa, pois não teria sido cientificada ou notificada do procedimento Administrativo DNPM 005.570/1951; (3) ‘o título de Concessão de Lavra é um bem jurídico’, cujo ‘valor econômico in-tegra-se ao patrimônio do titular’, e ‘toda vez que a União suprime ou restringe a concessão, fica obrigada a indenizar a parte da lavra’; (4) a concessão da lavra cria um direito real, perpétuo e especial sobre a jazida, de modo que assegura ao seu titular ‘direitos cujo conteúdo e substância são praticamente os mesmos do domínio, ou seja pode usar e gozar da mina, explorando-a em seu benefício, sem qualquer ônus especial, a não ser os tributos gerais’; (5) o art. 42 do Código de Mineração é aplicado para aqueles que têm expectativa de obter uma autorização de lavra e não para aqueles que já são concessionários do direito; (6) trata-se de um caso típico de desapropriação que dever ser indenizado; e (7) os honorários de sucumbência

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devem ser fixados em 20% sobre o valor atribuído a causa, nos termos do art. 20, § 3º, do CPC/1973 (fls. 325/346)”.

Assim, vale trazer trecho do entendimento do d. Relator:

“[...]

Na espécie, os processos administrativos DNPM 005.570/1951 e MME 48000.001908/2007-41, resultaram no Parecer Conjur MME nº 524/2007, que concluiu pela extinção da concessão de lavra outorgada pelo Decreto Presidencial nº 34.325/1953, retificado pelas Portarias nºs 1359/1980 e 481/2001, mediante a aplicação analógica do art. 42, do Código de Mineração, além do não pagamento de qualquer indenização pela União (fls. 277/281).

A propósito, observo, inicialmente, que consta nos autos que a apelante tinha ple-no conhecimento do trâmite dos processos administrativos e, inclusive, apresentou defesa e recurso, o que evidencia ter exercido seu direito ao contraditório na via administrativa, não justificando qualquer alegação de afronta ao princípio da ampla defesa (fls. 267-v/276 e 282/285).

Sobre os argumentos da apelante de que a concessão de lavra cria ao concessionário um direito real, perpétuo e especial sobre a jazida, assegurando a seu titular o direito de explorá-la em seu benefício sem qualquer ônus, e que todo e qualquer caso de su-pressão deve ser indenizado, demonstra-se necessário tecer algumas considerações.

Os arts. 20 e 176 da Constituição Federal de 1988 não deixam dúvidas de que os recursos minerais, inclusive os do subsolo, bem como as jazidas, em lavra ou não, pertencem a União, além de que a pesquisa e aproveitamento dos seus potenciais somente poderão ser efetuados mediante autorização ou concessão, desde que aten-didas as condições estabelecidas em lei e não sejam estas atividades prejudiciais ao interesse público.

Neste cenário, não soa razoável que haja a predominância infindável do interesse particular sobre o coletivo, principalmente quando fundamentado em decreto an-terior a vigência da atual norma constitucional, e proveniente de uma mera auto-rização/concessão de exploração de atividade comercial sobre bem que continua a pertencer à União.

Com efeito, observou corretamente o Juízo a quo de que ‘a concessão de lavra concedida sem prazo sob a égide de regime jurídico anterior não pode ser vista senão como uma autorização para empreender, sendo marcada pela precariedade, podendo ser cessado quando insubsistente o interesse público que justifica a outor-ga’, e ‘ao invés de entender-se como direito perpétuo, como advoga a autora, o mais adequado é compreender-se o direito de lavra como um direito de extração a prazo determinado ou, ainda, na falto do termo final, a prazo indeterminado, mas nunca eterno’ (fl. 321).

Ademais, cabe destacar que houve também denúncia de irregularidades, incluindo entre elas, a degradação do meio ambiente e a não recuperação de áreas lavradas (35/40), bem como de reflexos na área urbana e na segurança dos habitantes da região, conforme se verifica no trecho do Parecer Conjur/MME nº 524/2007, a seguir transcrito:

‘O aproveitamento mineral levado a cabo pela interessada causos danos de monta a esse bem público. Há nos autos diversas fotografias que atestam a formação de enormes e profundas lagoas, em virtude da utilização contínua do solo, nos quais di-versas pessoas morreram afogadas. A exploração da cava gerou, também, a poluição das águas subterrâneas localizadas no subsolo.

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Além disso, a expansão urbana propiciou a formação de bairros na região, já den-samente povoados e próximos ao centro da cidade, os quais se originaram de uma ocupação irregular e, por isso, oferecem aos moradores condições sanitárias extre-mamente precárias’ (fl. 279-v).

Como se observa, há evidencias de que a lavra situada no Município de Suzano, a priori, não vinha sequer cumprindo com as obrigações previstas no art. 47 do Código de Mineração.

[...]

Como se observa, não houve desapropriação indireta, mas cassação da autorização, que havia concedido a lavra, sob regime jurídico anterior, sem termo final, pois houve descumprimento de suas obrigações (art. 47 do Código de Mineração), e a continuidade da exploração da lavra mostrar-se-ia prejudicial ao bem público. Além do mais, houve denúncias de irregularidades incluindo degradação do meio ambien-te e não recuperação de áreas lavradas, com reflexos na área urbana e na segurança dos habitantes da região. Diante da regularidade na cassação da autorização da exploração da lavra, fica prejudicado o pedido de indenização, tal como pleiteado.”

Dessa forma, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região negou provimento à apela-ção. Referente aos honorários advocatícios, ressaltou que a legislação a ser aplicada é aquela do Código de Processo Civil vigente à época da publicação da sentença, motivo pelo qual manteve a aplicação do art. 85, § 8º, do CPC/2015.

2571 – Pesca – camarão em período de defeso – preliminar de prescrição da pretensão punitiva – inocorrência

“Penal. Crime ambiental. Lei nº 9.605/1998. Art. 34. Pesca. Camarão. Período defeso. Preliminar de prescrição da pretensão punitiva. Inocorrência. Autoria, materialidade e dolo comprovados. 1. Não decorrido o lapso temporal necessário entre os marcos in-terruptivos para o reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva retroativa. 2. Os elementos de convicção transplantados aos autos com o inquérito policial e as provas produzidas no curso da instrução processual revelam-se suficientes à demonstração de que o réu praticou a conduta descrita no art. 34 da Lei nº 9.605/1998. 3. O conjunto fático-probatório do feito descarta o argumento do ausência de conhecimento do acusa-do quanto à prática do ilícito descrito na denúncia. 4. Recurso não provido.” (TRF 2ª R. – ACr 0002060-72.2013.4.02.5116 – 1ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Paulo Espirito Santo – DJe 27.02.2018 – p. 335)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 9.605/1998:

“Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente:

Pena. detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativa-mente.”

2572 – Pesca – rede de espera – rejeição de denúncia – princípio da insignificância – atipicidade

“Penal e processual penal. Recurso em sentido estrito. Crime ambiental. Pesca com rede de espera. Rejeição de denúncia. Princípio da insignificância. Atipicidade. Recurso do

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MPF não provido. I – O princípio da insignificância, que está diretamente ligado aos postulados da fragmentariedade e intervenção mínima do Estado em matéria penal, tem sido acolhido pelos Tribunais Superiores, como causa supralegal de tipicidade. II – É im-prescindível que a aplicação do referido princípio se dê de forma prudente e criteriosa. Para tanto, o Pretório Excelso arrolou a necessidade do preenchimento dos seguintes requisitos, cumulativos: (i) conduta minimamente ofensiva; (ii) ausência de periculosida-de social da ação; (iii) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e (iv) lesão jurídica inexpressiva (STF, HC 84.412/SP, Rel. Min. Celso de Mello, DJU 19.04.2004). III – A conduta do denunciado, consistente em pescar pequena quantidade de pescados (8 quilos) com rede de espera, tida como aquela prevista no art. 34 c/c art. 36, da Lei nº 9.605/1998 – sem registros nos autos de reiteração ou de que era pescador profissio-nal –, preenche todos os requisitos acima explicitados e não coloca em risco o equilíbrio ecológico, revelando-se insignificante no âmbito jurídico-penal. IV – Recurso da defesa não provido.” (TRF 2ª R. – RSE 0500320-37.2017.4.02.5001 – 2ª T.Esp. – Rel. p/o Ac. Des. Fed. Marcello Granado – DJe 20.02.2018 – p. 293)

2573 – Poder de polícia – Ibama – ausência de licenciamento – multa – proporciona-lidade – nulidade – inexistência

“Apelação cível. Administrativo. Ambiental. Auto de infração. Ausência de licenciamen-to. Poder de polícia. Ibama. Técnico ambiental. Multa. Proporcionalidade. Inexistência de nulidade. Devido processo legal. Manutenção da sentença. 1. Recurso de Apelação interposto em face de sentença proferida pelo Juízo da 21ª Vara Federal Cível do Rio de Janeiro que julgou improcedente o pedido que objetivava a declaração de nulidade de Auto de Infração, com a consequente declaração de insubsistência da multa aplicada. 2. O caso em análise cinge-se em saber se (i) os técnicos ambientais são competentes para autuarem a Empresa apelante; (ii) a mora da administração em reconhecer a licença ambiental pode ensejar o início das atividades; (iii) houve violação ao devido processo legal no procedimento de autuação; (iv) há desproporcionalidade na aplicação da multa. 3. A licença constitui-se como forma de controle prévio da atividade econômica, ante-rior à própria atividade e a qualquer possível dano. Daí se inferir que a eventuais morais da Administração na análise do pedido de licenciamento não tem o condão de autorizar a empresa solicitante a iniciar as atividades, tampouco invalidar autuações por parte dos órgãos de fiscalização (TRF 2ª R., 7ª T.Esp., AC 0505988-58.2009.4.02.5101, Rel. Des. Fed. Eugenio Rosa de Araújo, e-DJF2R 18.08.2011; TRF 5ª R., 1ª T., AC 359283/RN, 0000191-21.2002.4.05.8400, Rel. Des. Fed. Emilizano Zapata Leitão, DJe 28.10.2009). 4. Com efeito, o Ibama está autorizado a valer-se dos meios coercitivos legalmente pre-vistos no controle das atividades lesivas efetiva ou potencialmente ao meio ambien-te, tratando-se de típico poder de polícia pela Administração (TRF 2ª R., 6ª T.Esp., AC 200251010215548/RJ, 2002.51.01.021554-8, Rel. Des. Fed. Guilherme Couto, e-DJF2R 27.1.2010). 5. A Lei nº 9.605/1998 autoriza ao técnico ambiental do Ibama efetuar autua-ções, não havendo que se falar, portanto, em incompetência desses funcionários. Prece-dentes: STJ, 2ª T., AgRg-REsp 1263626/SC, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 26.06.2012; STJ, 1ª T., REsp 1057292/PR, Rel. Min. Francisco Falcão, DJe 18.8.2008; TRF 2ª R., 6ª T.Esp., AC 0017801-03.2013.4.02.5101, Rel. Des. Fed. Guilherme Calmon Nogueira

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da Gama, e-DJF2R 09.05.2016; TRF 2ª R., 8ª T.Esp., Ap 0023330-47.2006.4.02.5101, Relª Desª Fed. Vera Lúcia Lima, e-DJF2R 11.02.2015. 6. Quaisquer funcionários de ór-gãos ambientais, integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente – Sisnama, designa-dos para as atividades de fiscalização, têm a obrigação de promover a imediata autuação de quem pratique conduta lesiva ao Meio Ambiente. E o Ibama é o órgão executor do Sisnama, por força do disposto no art. 6º, IV, da Lei nº 6.938/1981. Destarte, tendo em vista que o Técnico Ambiental é integrante dos quadros funcionais do Ibama, órgão de execução do Sisnama, é de se concluir que possui atribuição legal para fiscalizar atividades lesivas ao meio ambiente e autuar os responsáveis por sua prática, desde que tenha sido designado para tanto. 7. Inexistência de nulidade no procedimento de autuação e estipulação de multa, uma vez que foi apresentada defesa, bem como pedido de parcelamento. Nesse sentido: TRF 2ª R., 7ª T.Esp., AC 200451030003043, Rel. Juiz Fed. Conv. Theophilo Miguel, DJ 26.08.2009. 8. Ao Judiciário é vedado se imiscuir na discricionariedade da Administração quando da efetiva aplicação de multa, salvo em si-tuações de flagrante ilegalidade e violação à razoabilidade e à proporcionalidade, o que não é o caso em análise (TRF 2ª R., 5ª T.Esp., AC 001402220.2011.4.02.5001, e-DJF2R 27.07.2017; TRF 2ª R., 7ª T.Esp., AC 201450010107016, Rel. Des. Fed. José Antonio Neiva, e-DJF2R 20.05.2016). 9. Apelação não provida.” (TRF 2ª R. – AC 0025380-41.2009.4.02.5101 – Rel. Des. Fed. Ricardo Perlingeiro – DJe 20.02.2018 – p. 422)

2574 – Poluição ambiental – destruição de floresta – condenação – prova – inexis-tência

“Apelação criminal. Crime ambiental. Destruição de floresta. Poluição ambiental. Con-denação. Prova. Inexistência. A condenação pela prática de infração prevista na Lei de Crimes Ambientais exige a existência de prova suficiente. Não há que se falar em con-denação, se o conjunto probatório deixa dúvida quanto à autoria, à tipicidade e à mate-rialidade dos crimes pelos quais os apelados foram denunciados. Recurso de Apelação improvido.” (TJAC – ACr 0800441-53.2014.8.01.0001 – (25.372) – C.Crim. – Rel. Des. Samoel Evangelista – DJe 29.11.2017 – p. 37)

2575 – Poluição sonora – infração ambiental – causa de pedir do mandado de segu-rança – recurso administrativo – admissibilidade

“Constitucional. Administrativo. Mandado de segurança. Ilegitimidade passiva ad causam. Preliminar de ofício. Atuação da administração pública. Infração ambiental. Poluição so-nora. Causa de pedir do mandado de segurança. Admissibilidade do recurso administra-tivo. Juízo realizado pelo Conselho de Meio Ambiente do Distrito Federal – Conam/DF. Ilegitimidade do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Distrito Federal – Ibram/DF. Reconhecimento de ofício. Possibilidade. Proibição de decisão surpresa. Impetrante ciente da possível ilegitimidade. Manutenção pela impetrante da estrutura inicial do polo passivo. Sentença reformada. Apelo prejudicado. 1. O juiz não pode decidir, ‘em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício’ (art. 10 do CPC). 2. O art. 10 do Código de Processo Civil valoriza a dimensão formal do principio constitucional do contraditório, pois trata

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da garantia de ser ouvido, de participar do processo, de ser comunicado, poder falar no processo, e se enquadra na dimensão material daquele princípio: não se duvida que iura novit curia (do direito cuida a corte) e que o juiz recebe os fatos e devolve o direito (da mihi factum dabo tibi ius); Contudo, sob a dimensão material do princípio do contradi-tório, o órgão jurisdicional não pode decidir com base em um argumento, uma questão jurídica ou uma questão de fato não postos pelas partes no processo. Ilegitimidade pas-siva discutida no transcurso do processo. 3. A legitimação passiva do Mandado de Segu-rança, remédio constitucional previsto no inciso LXIX do art. 5º da Constituição Federal, é bem especificada pela lei infraconstitucional: autoridade coatora e a pessoa jurídica a que o agente do ato impugnado se acha integrado (art. 6º da Lei nº 12.016/2009). 4. A competência do ato impugnado em sede de Mandado de Segurança é do presidente do Conam/DF, órgão consultivo vinculado à Secretaria de Estado do Meio Ambiente e do Distrito Federal – Sema/DF. O Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Distrito Federal – Brasília Ambiental (Ibram/DF) tem personalidade jurídica própria (Lei Distrital nº 3.984/2007) e é autarquia, portanto com autonomia administrativa, fi-nanceira e patrimonial. 5. A ilegitimidade passiva do Ibram/DF foi suscitada e quando o Juízo oportunizou a manifestação da impetrante, aquela preferiu a manutenção do polo passivo, para fazer constar como Autoridade Coatora a Presidente do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Distrito Federal – Brasília Ambiental – Ibram/DF. 6. Preliminar suscitada de ofício. Processo extinto sem julgamento de mérito, por ile-gitimidade passiva. Recurso prejudicado.” (TJDFT – Proc. 20160111178636APC – (1061212) – 6ª T.Cív. – Rel. Alfeu Machado – J. 28.11.2017)

2576 – Poluição sonora – suspensão das atividades do estabelecimento – não obser-vação dos limites de ruídos previstos na ABNT – demolição da construção irregular – desnecessidade

“Agravo de instrumento. Ação civil pública. Ambiental. Poluição sonora. Suspensão das atividades do estabelecimento que não observa os limites de ruídos previstos na ABNT. Demolição da construção irregular. Desnecessidade. Decisão parcialmente reformada. Parcial provimento. I – As atividades do estabelecimento comercial foram suspensas sem que houvesse prévia notificação para que o recorrente se adequasse aos limites legais quanto a poluição sonora. II – Decisão parcialmente reformada para que o esta-belecimento comercial continue funcionando, contudo, atendendo aos limites sonoros estipulados na legislação vigente, visando, entre outras responsabilidades, zelar pelo bem-estar da coletividade. III – Recurso conhecido e parcialmente provido.” (TJPA – AI 00045923820148140000 – (186245) – 2ª TDPúb. – Rel. Luiz Gonzaga da Costa Neto – DJe 28.02.2018 – p. 220)

2577 – Queimada – área de conservação – curso d’água – princípio da insignificância – configuração

“Apelação criminal. Crime ambiental. Queimada de 0,1357 hectares de área de conser-vação. Princípio da insignificância. Aplicação restrita pelos tribunais superiores. Curso d’água. Emprego de fogo. Postulado inaplicável ao caso. Recurso conhecido e desprovi-do. Tendo sido comprovado de forma clara e robusta a materialidade e a autoria do deli-

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to, por intermédio do auto lavrado pelo órgão ambiental competente, que o réu queimou área correspondente a 0,1357 hectares (1.357 metros quadrados) que deveriam ser cui-dadosamente conservados em razão do curso d’água, impõe-se a condenação. A queima de área degradada demasiadamente extensa não representa mínima ofensividade e, tam-bém, ínfima lesão ao bem jurídico tutelado, devendo-se consignar que a jurisprudência dos tribunais superiores apenas tem albergado a incidência de tal postulado em situações excepcionais, caracterizadas pela manifesta inexpressividade da intervenção ilícita no meio ambiente ou, ainda, quando a lesão é sopesada em face de outros direitos, como a moradia e a alimentação.” (TJES – Ap 0000917-71.2013.8.08.0064 – Rel. Ney Batista Coutinho – DJe 23.02.2018)

2578 – Queimada – urbana – caracterização – dano ambiental – indenização – res-ponsabilidade objetiva – dano moral difuso – precedentes

“Apelação cível. Ação civil pública. Queimada urbana caracterizada. Relatório técnico ambiental. Dano ambiental. Indenização. Responsabilidade objetiva. Dano moral difu-so. Precedente do STJ. Recurso desprovido. [...] Às pretensões ressarcitórias relacionadas a esta segunda categoria, aplicam-se igualmente as disposições específicas do direito ambiental e, por conseguinte, da responsabilidade civil ambiental (objetiva) – consigna-das na Lei nº 6.938/1991 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente), nos moldes em que preceituado no seu art. 14, § 1º: ‘Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a in-denizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. [...]’ 2.2 A excludente de responsabilidade civil consistente no fato de terceiro, na seara ambiental, tem aplicação bastante restrita, dada a abrangência do disposto no artigo acima transcrito. Desse modo, só poderá ser reconhecida quando o ato praticado pelo terceiro for completamente estranho à atividade desenvolvida pelo indigitado po-luidor, e não se possa atribuir a este qualquer participação na consecução do dano. Ato omissivo ou comissivo, o que não se verifica na hipótese, consoante se infere do acórdão recorrido, o qual expressamente consignou ser o recorrente/réu ‘conhecedor de que as pessoas que “limpavam” sua propriedade se utilizavam do fogo para fazê-lo, e a prática era reiterada, frequente, “todos os anos”, conforme descrito na inicial. E mesmo conhe-cedor do ilícito, nada fez para coibir a prática proscrita exercida em sua propriedade, tornando-se dessa forma responsável por ato de terceiro’. 2.3 ‘Para o fim de apuração do nexo de causalidade no dano ambiental, equiparam-se quem faz, quem não faz quando deveria fazer, quem deixa fazer, quem não se importa que façam, quem financia para que façam, e quem se beneficia quando outros fazem’ [...] (REsp 1381211/TO, Rel. Min. Marco Buzzi, 4ª T., J. 15.05.2014, DJe 19.09.2014).” (TJMT – Ap 180746/2015 – Rel. Des. José Zuquim Nogueira – DJe 04.12.2017 – p. 81)

2579 – Reserva legal – pedido de compensação – área de preservação permanente – não cabimento

“Ambiental. Enunciado Administrativo nº 3/STJ. Ação civil pública. Pedido de compen-sação da reserva legal em área de preservação permanente. Não cabimento. 1. Mantida a decisão de reforma do acórdão recorrido, tendo em vista que ‘O novo Código Florestal

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não pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito, os direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, tampouco para reduzir de tal modo e sem as necessárias compensações ambientais o patamar de proteção de ecossistemas frágeis ou espécies ameaçadas de extinção, a ponto de transgredir o limite constitucional intocável e intransponível da “in-cumbência” do Estado de garantir a preservação e a restauração dos processos ecológi-cos essenciais (art. 225, § 1º, I)’ (AgRg-REsp 1.434.797/PR, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., DJe 07.06.2016). 2. Agravo interno não provido.” (STJ – AgInt-REsp 1.597.589 – (2016/0111355-4) – 2ª T. – Rel. Min. Mauro Campbell Marques – DJe 26.02.2018 – p. 1543)

Destaque Editorial SÍNTESEDo voto do Relator destacamos os seguintes julgados:

“[...]

PROCESSO CIVIL – AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL – CONSTRUÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE ÀS MARGENS DO RIO IVINHEMA – INAPLICABILIDADE DA TEORIA DO FATO CONSUMADO – 1. Inviável, por ausência de prequestionamento, a análise de questão que, a despeito de ter sido suscitada em contrarrazões, não foi alvo de manifestação pela Corte de origem. Além disso, tratando-se de matéria ambiental, prevalece o disposto no princípio tempus regit actum, que impõe obediência à lei em vigor por ocasião da ocorrência do fato ilícito, sendo, portanto, inaplicável o novo Código Florestal a situações pretéritas. Preceden-tes. 2. O acórdão recorrido destoa da orientação desta Corte assentada no sentido da ilegalidade das edificações ocorridas em áreas de preservação permanente às margens do Rio Ivinhema e da inaplicabilidade da teoria do fato consumado na espécie. 3. Tal conclusão não exigiu reexame de provas ou análise de leis locais, mas tão somente o devido enquadramento e a subsunção dos fatos, precisamente delineados no aresto impugnado, aos regramentos da legislação federal aplicável ao caso e apontada como violada. A medida é compatível com a natureza excepcional da via eleita, e a conclusão da discrepância do acórdão com o entendimento desta Corte está respaldada na jurisprudência deste Superior Tribunal. 4. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt-REsp 1381085/MS, Rel. Min. Og Fernandes, 2ª T., J. 17.08.2017, DJe 23.08.2017)

[...] AÇÃO CIVIL PÚBLICA – EDIFICAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMA-NENTE – SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO – INFRAÇÃO AMBIENTAL – PRETENSÃO DE DEMOLIÇÃO – INDEFERIMENTO – NOVA CODIFICAÇÃO FLORESTAL – VIOLA-ÇÃO A NORMATIVOS CONSTITUCIONAIS – teMPUS ReGIt ACtUM – IRRETROATI-VIDADE DA NOVA CODIFICAÇÃO FLORESTAL – [...] 5. “O novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito, os direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, tampouco para reduzir de tal modo e sem as necessárias com-pensações ambientais o patamar de proteção de ecossistemas frágeis ou espécies ameaçadas de extinção, a ponto de transgredir o limite constitucional intocável e intransponível da ‘incumbência’ do Estado de garantir a preservação e a restauração dos processos ecológicos essenciais (art. 225, § 1º, I) (AgRg-REsp 1.434.797/PR, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., J. 17.05.2016, DJe 07.06.2016). 6. Agra-vo interno não provido. (AgInt-AgInt-AREsp 850.994/SP, de minha relatoria, 2ª T., J. 15.12.2016, DJe 19.12.2016)

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ADMINISTRATIVO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – INSTITUIÇÃO DE RESERVA FLORES-TAL – DEVER DE OBEDIÊNCIA – OBRIGAÇÃO DO PROPRIETÁRIO OU POSSUIDOR DO IMÓVEL RURAL – [...] 2. O entendimento da Corte originária (fls. 536-540/STJ) está em conformidade com a orientação do STJ, de que a delimitação e a averbação da Reserva Legal configuram dever do proprietário ou adquirente do imóvel rural, independentemente da existência de florestas ou outras formas de vegetação nativa na gleba. Outrossim, constitui obrigação do proprietário ou adquirente tomar as providências necessárias à restauração ou à recuperação das formas de vegeta-ção nativa para se adequar aos limites percentuais previstos nos incisos do art. 16 do Código Florestal. (EREsp 218.781/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, 1ª S., DJe 23.02.2012; no mesmo sentido: RMS 21.830/MG, Rel. Min. Castro Meira, DJ 01.12.2008; RMS 22.391/MG, Relª Min. Denise Arruda, DJe 03.12.2008; REsp 973.225/MG, Relª Min. Eliana Calmon, DJe 03.09.2009; REsp 821.083/MG, Rel. Min. Luiz Fux, DJe 09.04.2008; REsp 1.087.370/PR, Relª Min. Denise Arru-da, 1ª T., DJe 27.11.2009; EDcl-Ag 1.224.056/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Mar-ques, 2ª T., DJe 06.08.2010). 3. Em matéria ambiental, a adoção do princípio tem-pus regit actum impõe obediência à lei em vigor quando da ocorrência do fato ilícito. (AgRg-REsp 1.367.968/SP, Rel. Min. Humberto Martins, 2ª T., DJe 12.03.2014; REsp 1.090.968/SP, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª T., DJe 03.08.2010; REsp 625.024/RO, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., DJe 04.05.2011). 4. Agravo Regimen-tal não provido. (AgRg-AREsp 231.561/MG, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., J. 16.12.2014, DJe 03.02.2015)”

2580 – Resíduos sólidos – aterro sanitário – supressão de vegetação – Bioma da Mata Atlântica – declaração de utilidade pública – configuração

“Agravo de instrumento. Direito ambiental. Gestão de resíduos sólidos. Aterro sanitá-rio. Supressão de vegetação. Bioma da Mata Atlântica. Declaração de utilidade pública. 1. Agravo de instrumento visando à reforma da decisão que revogou o deferimento da tutela antecipada em Ação Civil Pública em que se pretende, em síntese, suspender/im-pedir o licenciamento ambiental do empreendimento referente à implantação da Central de Tratamento e Destinação de Resíduos Sólidos de Três Rios – CTDRS-TR. 2. Embargos de declaração opostos contra o acórdão que atribuiu efeito suspensivo ao agravo de instrumento. 3. De acordo com o art. 3º, VII, b, c/c art. 14, da Lei nº 11.428/2006, a supressão de vegetação primária e secundária em estágio avançado de regeneração po-derá ser autorizada em caso de utilidade pública; e a vegetação secundária em estágio médio de regeneração poderá ser suprimida nos casos de utilidade pública e interesse social. Em qualquer dos casos, a lei exige autorização do órgão ambiental estadual com-petente, com anuência prévia, quando couber, do órgão federal ou municipal de meio ambiente. 4. As declarações de utilidade pública emitidas pelo Município de Três Rios e pelo Estado do Rio de Janeiro não se afiguram adequadas para os fins do art. 3º, VII, b, c/c art. 14, da Lei nº 11.428/2006, porque o empreendimento privado em questão não se enquadra no conceito de serviço público previsto no art. 175 da CF/1988, pois se assim fosse, o seu exercício dependeria de concessão ou permissão do Poder Público, precedido de regular licitação. 5. Ademais, a alegação de ofensa a interesse público (e saúde pública) com a concretização da presente medida jurisdicional deve ser apurada mediante contraditório, seja perante o Juízo a quo, quando da execução da referida me-

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dida (e ante este colegiado somente em grau de recurso), seja perante à Presidência do TRF2 ou à Presidência do STJ. 6. Agravo de instrumento provido, para determinar o dever de abstenção pelas partes demandadas quanto à supressão de vegetação do Bioma Mata Atlântica, em atenção ao disposto no art. 3º, VII, b, c/c art. 14, da Lei nº 11.428/2006. Embargos de declaração prejudicados.” (TRF 2ª R. – AI 0009810-11.2017.4.02.0000 – 5ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Ricardo Perlingeiro – DJe 21.02.2018 – p. 716)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 11.428/2006:

“Art. 3º Consideram-se para os efeitos desta Lei:

[...]

VII – utilidade pública:

[...]

b) as obras essenciais de infra-estrutura de interesse nacional destinadas aos ser-viços públicos de transporte, saneamento e energia, declaradas pelo poder público federal ou dos Estados.

[...]

Art. 14. A supressão de vegetação primária e secundária no estágio avançado de regeneração somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública, sendo que a vegetação secundária em estágio médio de regeneração poderá ser suprimida nos casos de utilidade pública e interesse social, em todos os casos devidamente ca-racterizados e motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto, ressalvado o disposto no inciso I do art. 30 e nos §§ 1º e 2º do art. 31 desta Lei.”

2581 – Terreno de Marinha – edificação – interesse da União – art. 109, I, da Consti-tuição de 1988 – aplicabilidade

“Ação civil pública. Agravo de instrumento. Direito ambiental e processual civil. Edifi-cação em terreno de Marinha. Interesse da União. Art. 109, I, da Constituição de 1988. 1. A competência atribuída aos juízes federais é estabelecida pela Constituição Federal, nos termos do art. 109, que elenca as hipóteses em que o processamento e o julgamento ocorrerão no âmbito da Justiça Federal. 2. Nos termos do art. 109, I, da Constituição de 1988, compete aos juízes federais processar e julgar as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho. 3. No caso dos autos, se trata de ação ajuizada visando a demolição de obra erguida de forma irregular em terreno da marinha, enqua-drando-se, assim, no inciso I do art. 109 e, consequentemente, atraindo a competência da Justiça Federal para processamento e julgamento da causa. 4. A União integra o polo passivo da ação e, inclusive, manifestou interesse em atuar como assistente no polo ati-vo (evento 14 – processo originário). 5. Evidenciado o interesse da União em participar do feito, o julgamento da presente Ação Civil Pública compete à Justiça Federal, em conformidade com o teor do art. 109, inciso I, da Constituição Federal, de modo que

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a decisão agravada deve ser reformada. 6. Agravo provido.” (TRF 4ª R. – AI 5056430-39.2017.4.04.0000 – Relª Desª Fed. Marga Inge Barth Tessler – J. 30.01.2018)

Transcrição Editorial SÍNTESEConstituição Federal de 1988:

“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

I – as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho.”

Seção Especial – Estudos Jurídicos

Área de Relevante Interesse Ecológico do Cocó (ARIE) x Especulação Imobiliária

LORENA GRANGEIRO DE LUCENA TÔRRESAdministradora de Empresas, Advogada, Especialista em Perícia e Auditoria Ambiental, Mem-bro da Comissão de Direito Ambiental, Parecerista.

Para quem não está por dentro dos últimos acontecimentos abrangendo a ARIE do Cocó, irei dar uma breve explanação acerca do assunto e, ao final, trarei a liminar que suspendeu a revogação do art. 283 da Lei Municipal Com-plementar nº 236/2017.

Para isso, será necessário o entendimento do que seja uma ARIE, ou seja, é uma área de pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação humana, protegida por suas características naturais singulares ou por abrigar exemplares raros da fauna e flora de uma região.

Assim, como uma unidade de conservação de uso sustentável, a ARIE tem por objetivo preservar os ecossistemas naturais de importância regional ou local e, ao mesmo tempo, regular o uso admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da natureza.

Em geral, as ARIEs são estabelecidas em áreas com menos de 5.000 hec-tares, podendo ser constituídas por terras públicas ou privadas. Já o uso destas áreas é possível, desde que respeitados os critérios técnico-científicos para a exploração de seus produtos naturais. Nesse sentido, as ARIEs são reguladas por meio do plano de manejo, sendo proibidas as atividades que possam colocar em risco a conservação dos ecossistemas que a protegem.

Dessa forma, estamos diante de um enorme conflito, que abrange as esferas ambiental, política, econômica e social. É que, de um lado, temos as Dunas do Cocó, que compreendem uma área na Cidade de Fortaleza, a qual recebeu, em meados de 2009, uma proteção legal, por meio da Lei Ordinária nº 9.502/2009, lei de autoria do Vereador João Alfredo Telles Melo.

Dessa feita, fora criada a partir dessa lei ordinária uma Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), mais conhecida como a ARIE Dunas do Cocó. As-sim, desde então, essa região vem sendo objeto de constantes debates na mídia, no Poder Judiciário e no âmbito político.

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Tal debate é compreensivo, haja vista essa área ser bastante valorizada e haver muita especulação imobiliária. No entorno da ARIE possuem inúmeros edifícios, a maioria de alto padrão, o que aumenta o interesse imobiliário da região e a torna muito valorizada.

Portanto, há uma evidente colisão entre direitos fundamentais referente à propriedade e direito à proteção do meio ambiente ecologicamente equili-brado. Para isso, faz-se necessário um aprofundamento no estudo acerca do instituto da propriedade, bem como do meio ambiente.

O caso voltou a ganhar repercussão, pois, em agosto de 2017, foi sancio-nada uma Lei Complementar Municipal nº 236/2017, que extinguiu a Área de Relevante Interesse Ecológico das Dunas do Cocó.

Sendo assim, aqui estamos diante de uma colisão envolvendo dois direi-tos fundamentais, quais sejam: (i) o direito ao meio ambiente sadio e (ii) o direito de propriedade. Todavia, conforme já explanado anteriormente, quando existir um conflito entre duas regras, apenas uma prevalecerá por força da validade.

JUSTIÇA SUSPENDE REVOGAÇÃO DA ARIE

A justiça determinou, em caráter de tutela provisória de urgência, a sus-pensão dos efeitos do art. 283 da Lei Municipal Complementar nº 236/2017, no que se refere à revogação da Lei Municipal nº 9.502/2009, que instituiu a ARIE Dunas do Cocó.

Tal decisão foi concedida pelo juiz da 5ª Vara da Fazenda Pública de Fortaleza, atendendo a pedido da 2ª Promotoria de Justiça do Meio Ambiente e Planejamento Urbano de Fortaleza, em uma ação civil pública (ACP) ajuizada contra o Município de Fortaleza.

Nesse sentido, o Ministério Público alegou que o citado artigo havia re-vogado a lei municipal sem a observância das regras constitucionais e ferindo o princípio da proibição do retrocesso ambiental, sem que houvesse a participa-ção social na discussão acerca da extinção da ARIE.

Além desse ponto, foi mencionada a inobservância dos deveres do Muni-cípio em proteger o meio ambiente, além da violação da Lei nº 9.985/2000, que trata acerca da desafetação ou redução dos limites de uma unidade de conser-vação (UC), onde essa redução só poderia ser realizada mediante lei específica.

Ou seja, segundo a decisão, o princípio da proibição do retrocesso am-biental pressupõe que “a salvaguarda do meio ambiente tem caráter irretroativo

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e não pode admitir o recuo para níveis de proteção inferiores aos anteriormen-te consagrados, a menos que as circunstâncias sejam significativamente alte-radas”.

Portanto, com a referida decisão, o Município de Fortaleza deverá se abster de praticar qualquer ato administrativo que permita, ao próprio ente mu-nicipal ou mesmo a terceiro (pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado), a realização de atividades como limpeza do terreno, desmatamento, extração de areia, escavação, terraplanagem, estocagem de material de cons-trução, instalação de equipamentos para construção, entre outras atividades.

aPliCaçãO de multa

Caso haja descumprimento da decisão, o Município deverá pagar multa diária de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). Além disso, será aplicada uma multa diária, do mesmo valor, que irá incidir pessoalmente à autoridade respon-sável pelo eventual descumprimento da determinação.

CONCLUSÃO

É notório que tanto o meio ambiente ecologicamente equilibrado quanto o direito de propriedade referem-se a direitos fundamentais. Desta forma, quan-do há colisão entre esses direitos, o intérprete deverá se valer de alguns instru-mentos hermenêuticos, quais sejam: sopesamento e ponderação, bem como deverá verificar o princípio da proporcionalidade.

É imprescindível que a colisão entre princípios não deverá implicar na exclusão do outro princípio do ordenamento jurídico, ou seja, que ambos os princípios devem coexistir no ordenamento por força do princípio da unidade da constituição, haja vista não existir hierarquia entres os princípios.

Como no caso em epígrafe está existindo um embate entre a legislação, é tarefa crucial para o intérprete, ou seja, o órgão específico para julgar à matéria, a utilização da ponderação para conferir peso a cada um dos valores apresenta-dos. Sabendo-se que a solução entre a colisão dos princípios fundamentais será realizada em cada caso em particular.

Necessário também que haja a presença e participação efetiva da Seuma e Semace acerca de eventual existência de processos de licenciamento ambien-tal que envolvam as áreas objetos desse litígio. Além da necessidade de um estudo em relação à flora e fauna presente nessas áreas de preservação, bem

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como a verificação de existência de restinga ou de mata atlântica nas áreas levantadas. Por fim, a transparência nesse tipo de demanda é extremamente necessária!

Este é um resumo do parecer confeccionado pela autora à Comissão de Direito Ambiental, no que concerne a Área de Relevante Interesse Ecológico do Cocó – Dunas do Cocó.

Clipping Jurídico

Ministros Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Dias Toffoli apresentam vo-tos sobre Código FlorestalO julgamento sobre as ações relativas ao novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) prosseguiu no Supremo Tribunal Federal (STF). Após os votos dos ministros Alexandre de Moraes e Edson Fachin, no início da tarde, foram proferidos também os votos dos ministros Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Dias Toffoli. O julgamento abrange a Ação Declaratória Constitucionalidade (ADC) nº 42 e as Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) nºs 4901, 4902, 4903 e 4937. Ministro Barroso: O ministro Luís Roberto Barroso proferiu seu voto acompanhando na quase integralidade o voto do relator, ministro Luix Fux, com o acréscimo de alguns dispositivos relativos à possibIlidade de redução em até 50% na Reserva Legal de propriedades, em alguns casos. Em sua expo-sição, detalhou premissas teóricas relativamente à proteção ao meio ambiente, sua ponderação com as exigências do desenvolvimento econômico e social, a vedação ao retrocesso social e as limitações à intervenção da Justiça na ativi-dade do legislador, restrita apenas a casos de manifesta falta de razoabilidade e desproporcionalidade da medida. Sobre o tema da anistia a sanções para agricultores que aderirem ao Programa de Regularização Ambiental, o ministro considerou não haver inconstitucionalidade em si na suspensão ou extinção da responsabilidade administrativa ou criminal dos atos lesivos ao meio ambiente, havendo, porém, um problema de proporcionalidade na norma. “Impõe severo ônus ao meio ambiente, mas gera benefícios ínfimos em razão da estabilização de situações jurídicas consolidadas”, afirmou. Ministra Rosa Weber: A ministra Rosa Weber apresentou um resumo no qual elenca os pontos de seu voto nos quais diverge do relator, acompanhando em outras partes posicionamentos pro-feridos nos votos apresentados pelos ministros Marco Aurélio, Cármen Lúcia, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso. Em um dos principais tópicos em dis-cussão, em relação à alegada anistia para proprietários rurais responsáveis por danos ao ambiente, a ministra Rosa Weber acompanhou o posicionamento da ministra Cármen Lúcia. Em seu voto, a ministra presidente havia considerado o dispositivo da suspensão da punibilidade constitucional, uma vez que o benefí-cio é condicionado à adesão do infrator ao Programa de Regularização Ambien-tal. O programa está estimulando, assim, a recuperação de áreas degradadas. Ministro Dias Toffoli: O ministro Dias Toffoli iniciou seu voto observando a necessidade de se levar em consideração a opção do legislador, uma vez que a legislação questionada obteve votação expressiva no Congresso Nacional. Dedicou-se a discorrer sobre o tema da anistia, lendo textualmente o dispositivo legal e aderindo à tese da constitucionalidade da norma neste ponto. O ministro considerou que a norma não trata de uma anistia para todo e qualquer um que tenha cometido crime ou infração ambiental, mas apenas para aqueles que as-sumiram o termo de compromisso previsto na legislação. “Se ele não recuperar,

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será responsabilizado. Isso é um programa de incentivo”, concluiu. A votação prosseguiu com o voto dos demais ministros. (Conteúdo extraído do site do Supremo Tribunal Federal)

2ª Turma reforma decisão que perdoou multa em infração ambientalA 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em decisão unânime, reco-nheceu como ilegítima a dispensa pelo Poder Judiciário de multa aplicada em decorrência de infração ambiental. Para o colegiado, um magistrado não pode, por vontade própria e contrariamente aos preceitos legais, anular a sanção im-posta pelo Ibama. O caso envolveu ação anulatória de multa administrativa no valor de R$ 9.000,00, aplicada em razão da manutenção de 18 pássaros da fauna silvestre em cativeiro, sem registro no órgão competente. O Tribunal Re-gional Federal da 1ª Região (TRF1) afastou a multa por entender não estar pre-sente nenhuma agravante da conduta praticada, como obtenção de vantagem pecuniária ou reincidência. Segundo o acórdão, a lei prevê sanções proporcio-nais à gravidade e às circunstâncias das infrações, não se podendo falar em dis-cricionariedade da administração no caso. Havendo previsão legal de critérios para a imposição e gradação da penalidade, deve ser assegurada ao infrator a aplicação de referidos critérios, sob pena de o ato sancionatório padecer de ilegalidade. Dessancionamento: No STJ, entretanto, o relator, ministro Herman Benjamin, não acolheu a justificativa. Além de destacar a insensibilidade da decisão em relação a elevados valores da sociedade contemporânea, conside-rou que o entendimento aplicado, na prática, constituiu um dessancionamento judicial de condutas consideradas pelo legislador infrações administrativas. Da leitura do acórdão recorrido extrai-se que o tribunal de origem reconheceu a validade da autuação, “posto que a conduta descrita no auto de infração efe-tivamente se enquadra nos dispositivos legais já citados, e as verificações e os atos administrativos praticados pelo Ibama gozam de presunção de legitimida-de e de veracidade, até prova em contrário”, disse o ministro. Mínimo legal: Segundo Herman Benjamin, a incidência do benefício do art. 29, § 2º, da Lei nº 9.605/1998, além de não configurar direito absoluto do infrator, depende das circunstâncias do caso, cabendo ao beneficiário provar, como ônus seu, que a guarda é doméstica e que não se trata de espécie silvestre ameaçada de extin-ção. “É vedado ao juiz, por vontade própria e à margem do ordenamento de tutela de bens jurídicos constitucionalizados, criar modalidade contra legem de perdão judicial”, observou o ministro. Segundo o relator, caracterizada a infra-ção administrativa ambiental e inexistentes circunstâncias agravantes ou outros indicadores de acentuada seriedade da conduta, a multa deve ser aplicada no seu mínimo legal (Esta notícia refere-se ao Processo nº 1686089). (Conteúdo extraído do site do Superior Tribunal de Justiça)

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Tribunal determina recomposição de meio ambiente em área preservação em Rosana/SPDecisão destaca que direito à moradia, à propriedade e ao lazer não se so-brepõe ao direito coletivo ao meio ambiente ecologicamente sustentável. A 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3) manteve a condenação de proprietários de imóvel em Área de Preservação Permanente (APP) e Área de Preservação Ambiental (APA) às margens do Rio Paraná, no Município de Rosana/SP, para a recomposição do meio ambiente na propriedade e demolição de todas as construções existentes na área de várzea. Para os magistrados, ficou confirmada que a área da propriedade dos apelantes está situada na porção coberta por água nos eventos de cheia do Rio Paraná, denominada várzea. No local, há edificação de uma residência em alvenaria, tipo palafita, rampa para barcos, áreas ajardinadas, gramadas, de solo exposto, além de outras interven-ções que colocam em risco a segurança dos moradores da região. Além disso, os despejos de efluentes lançados pela propriedade contaminam não somente as águas, mas também o solo quando das enchentes do Rio Paraná e abertura das comportas da Usina Hidrelétrica Sérgio Motta. A decisão confirmou a sentença da 3ª Vara Federal de Presidente Prudente/SP proferida em ação civil pública promovida pelo Ministério Público Federal (MPF). A condenação determinou a não exploração da área e a demolição de edificações inseridas nos limites da APA das Ilhas e Várzeas do Rio Paraná, não previamente autorizadas pelo órgão ambiental, bem como o pagamento de dano de indenização correspondente ao dano ambiental causado. “O dano está demonstrado, pois é incontroverso que as edificações estão dentro da APP, de forma que sua permanência continuará a lesar o meio ambiente, acentuado pelos lançamentos de efluentes (esgotos) e assoreamento, impedindo o restabelecimento da vegetação na APP”, salientou o desembargador federal relator Nery Júnior. O magistrado acrescentou que a ocorrência da intervenção humana é indevida na APA Ilhas e Várzeas do Rio Paraná, conforme o Decreto Federal nº 5.786/1997, que criou a área ambiental. A interferência e as edificações impedem a regeneração natural da vegetação, prejudicando ainda a movimentação, o abrigo, a alimentação, o descanso e a reprodução de certas espécies da fauna silvestre. Ao negar provimento à apela-ção, a 3ª Turma desconsiderou o pedido de nulidade de sentença e ainda afir-mou que não houve o cerceamento de defesa ou a ofensa ao princípio da ampla defesa. Ressaltaram, inclusive, a inexistência de situação consolidada no tempo ou ofensa aos princípios constitucionais do direito à propriedade, à moradia e ao lazer, visto que não se sobrepõem ao direito coletivo ao meio ambiente ecologicamente sustentável e equilibrado. Além disso, reafirmaram que não há direito adquirido à continuação da situação de ilícito ambiental. “Diante da im-possibilidade de regeneração da área sem a demolição das edificações, não há razoabilidade para afastar aplicação de medida, sendo necessário desfazer as

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construções, remover o entulho e recompor o meio ambiente, nos termos expos-tos na sentença”, concluiu o relator (Processo nº 0002505-82.2013.4.03.6112). (Conteúdo extraído do site do Tribunal Regional Federal da 3ª Região)

Usina vai indenizar por incêndio em propriedade rural vizinhaA empresa Anicuns S/A Álcool e Derivados foi condenada a pagar indenização por danos morais no valor de R$ 36.761,04 a Orlando Martins Garcia, por ter provocado um incêndio em sua propriedade rural que atingiu a reserva legal durante uma queimada de cana-de-açúcar. A sentença é da juíza Lígia Nunes de Paula, da Comarca de Anicuns. A empresa de álcool alegou que o autor da ação não faz jus à indenização da reparação da reserva legal porque a quei-mada da área derivou da sua omissão em adotar as providências de prevenção que lhe cabia, como a construção de aceiros. Todavia, o perito responsável pela prova técnica destacou, no laudo, que a reserva legal foi danificada em função do fogo e pelo não controle nos horários do vento e da própria queima, não in-dicando nenhuma omissão indevida do autor capaz de contribuir para o evento. Ouvido em audiência, o profissional afirmou que não houve culpa concorrente do autor, pois, ainda que houvesse aceiros, como as árvores caiam em cima das cercas e as derrubavam, o fogo teria adentrado na reserva. Para a juíza Lígia Nunes de Paula, a conduta e os danos materiais sofridos são fatos incontrover-sos nos autos, não havendo dúvidas de que a ré, por meio de seus empregados, agiu com descuido nos procedimentos de queimadas da cana-de-açúcar na pro-priedade explorada, motivo pelo qual o fogo se alastrou para a propriedade do autor, causando-lhes prejuízos de ordem econômica. Quanto aos danos morais pleiteados, a magistrada ressaltou que não enseja o dever de indenizar. “O dano moral decorre de uma lesão a direito da personalidade, tal como imagem, nome ou honra. A situação vivida pelo autor certamente foi aborrecedora e frustrante, porém, não tem o condão de lesar sua personalidade”, observou Lígia Nunes de Paula. (Conteúdo extraído do site do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás)

Garantida posse de terras às comunidades quilombolasPor maioria de votos, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a validade do Decreto nº 4.887/2003, garantindo, com isso, a titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades quilombolas. A decisão foi tomada no jul-gamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 3239, julgada impro-cedente por oito ministros. A ação foi ajuizada pelo Partido da Frente Liberal (PFL), atual Democratas (DEM), contra o Decreto nº 4.887/2003, que regula-menta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, de-marcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos. A legenda apontou diversas inconstitucionalidades, entre elas o critério de autoatribuição fixado no decreto para identificar os remanescentes

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dos quilombos e a caracterização das terras a serem reconhecidas a essas comu-nidades. Votaram pela improcedência integral da ação os ministros Rosa Weber, Edson Fachin, Ricardo Lewandowski, Luiz Fux, Marco Aurélio, Celso de Mello e a presidente, ministra Cármen Lúcia. O ministro Luís Roberto Barroso também votou pela improcedência, mas com a diferença que, além das comu-nidades remanescentes presentes às terras na data da publicação da Constitui-ção Federal de 1988, têm direito à terra aquelas que tiverem sido forçadamente desapossadas, vítimas de esbulho renitente. Já os ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes votaram pela parcial procedência da ação, dando interpretação confor-me a Constituição ao dispositivo para também dizer que têm direito às terras, além das comunidades presentes na data da promulgação da Constituição, os grupos que comprovarem a suspensão ou perda da posse em decorrência de atos ilícitos praticados por terceiros. O ministro Cezar Peluso (aposentado), re-lator do caso, foi o único voto pela total procedência da ação. Relator: O julga-mento do caso teve início em abril de 2012, quando o relator votou pela incons-titucionalidade do Decreto nº 4.887/2003, que regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos, impugna-do pelo partido político. Entre outros pontos, o ministro salientou, na ocasião, que o decreto somente poderia regulamentar uma lei, jamais um dispositivo constitucional. Outra inconstitucionalidade por ele apontada está na desapro-priação das terras. Isso porque a desapropriação de terras públicas é vedada pelos arts. 183, § 3º, e 191, parágrafo único, da Constituição. O julgamento, então, foi interrompido por um pedido de vista da ministra Rosa Weber. Minis-tra Rosa Weber: No retorno do caso ao Plenário, em março de 2015, a ministra Rosa Weber abriu a divergência e votou pela improcedência da ação, concluin-do pela constitucionalidade do decreto presidencial. Em seu voto, Rosa Weber disse que o objeto do art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitó-rias (ADCT) é o direito dos remanescentes das comunidades dos quilombos de ver reconhecida pelo Estado a sua propriedade sobre as terras por eles histórica e tradicionalmente ocupadas. Tenho por inequívoco tratar-se de norma defini-dora de direito fundamental de grupo étnico-racial minoritário, dotada, portan-to, de eficácia plena e aplicação imediata e, assim, exercitável o direito subjeti-vo nela assegurado, independentemente de qualquer integração legislativa. Novamente o julgamento foi suspenso, dessa vez por pedido de vista do minis-tro Dias Toffoli. Ministro Dias Toffoli: O ministro Dias Toffoli apresentou seu voto-vista em novembro de 2015, oportunidade em que afastou a alegação de inconstitucionalidade formal do decreto, que, de acordo com o autor da ação, estaria regulamentando autonomamente uma regra constitucional. Ele observou que o decreto impugnado, na verdade, regulamenta as Leis nºs 9.649/1988 e

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7.668/1988, e não a Constituição Federal diretamente. O ministro decidiu in-cluir em seu voto um marco temporal, dando interpretação conforme a Consti-tuição ao § 2º do art. 2º do decreto, no sentido de esclarecer, nos termos do art. 68 do ADCT, que somente devem ser titularizadas as áreas que estavam ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos, inclusive as efe-tivamente utilizadas para a garantia de sua reprodução física, social, econômica e cultural, na data da promulgação da Constituição – 5 de outubro de 1988 –, salvo os casos em que houver comprovação, por todos os meios de prova juri-dicamente admitidos, da suspensão ou perda da posse em decorrência de atos ilícitos praticados por terceiros. Ministro Edson Fachin: Na sequência da vota-ção, o ministro Fachin afastou as alegações de inconstitucionalidade formal e material. Para o ministro, é legítima a opção administrativa pela instauração de processo de desapropriação das terras eventualmente na posse ou no domínio de terceiros para assegurar a propriedade das comunidades quilombolas às ter-ras que tradicionalmente ocupam. O ministro também considerou válido o cri-tério de autodefinição previsto no decreto. Quanto ao marco temporal sugerido pelo ministro Toffoli, o ministro Fachin salientou que, se no tocante à questão indígena esse tema já enseja questionamentos de complexa solução, quanto ao direito à propriedade das áreas dos quilombolas a questão tem contornos ainda mais sensíveis. Segundo o ministro, a ausência de regulamentação da matéria antes do advento da Constituição de 1988 torna muito difícil ou até impossível a comprovação da presença dessas comunidades. Assim, o ministro votou pela improcedência da ADI. Ministro Roberto Barroso: O ministro Luís Roberto Barroso também votou pela improcedência da ação, no sentido da validade do decreto que, para ele, disciplina e concretiza um direito fundamental, previsto no art. 68 do ADCT. O ministro também considerou legítimo o critério da auto-definição, lembrando que esse critério não é único, mas o início de todo um procedimento que inclui laudos antropológicos e outros, que tornam possível afastar eventuais fraudes. Quanto ao marco temporal, o ministro disse que, além das comunidades que estavam presentes na área quando da promulgação da Constituição de 1988, também fazem jus ao direito aquelas que tiverem sido forçadamente desapossadas, vítimas de esbulho renitente, cujo comportamento à luz da cultura aponta para sua inequívoca intenção de voltar ao território, desde que relação com a terra tenha sido preservada. Ministro Ricardo Lewandowski: O ministro Ricardo Lewandowski também votou pela improce-dência. Para ele, o autor da ADI não conseguiu demonstrar minimamente quais seriam as supostas violações ao texto constitucional. Segundo o ministro, a ação demonstra, na verdade, um mero inconformismo do autor com os critérios usa-dos pelo decreto. Ainda de acordo com o ministro Lewandowski, o art. 68 do ADCT, ao assegurar reconhecimento propriedade definitiva, encerra norma as-

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seguradora de direitos fundamentais, de aplicabilidade plena e imediata, uma vez que apresenta todos os elementos jurídicos necessários à sua pronta inci-dência. Com esses argumentos, o ministro acompanhou integralmente a minis-tra Rosa Weber. Ministro Gilmar Mendes: O ministro Gilmar Mendes acompa-nhou, na integralidade, o voto do ministro Dias Toffoli pela parcial procedência da ação, para dar interpretação conforme ao § 2º do art. 2º do decreto, no sen-tido de que somente devem ser titularizadas as áreas ocupadas por remanescen-tes das comunidades dos quilombos, na data da promulgação da Constituição, ressalvados os territórios que o grupo conseguir comprovar a suspensão ou per-da da posse em decorrência de atos ilícitos praticados por terceiros. Ministro Luiz Fux: O ministro Luiz Fux salientou que a regularização fundiária das terras quilombolas tem notório interesse social. Em seu entendimento, a norma cons-titucional é claramente protetiva e os requisitos previstos no decreto para o re-conhecimento da comunidade e a titulação da propriedade, como a ancestrali-dade da ocupação, trajetória histórica, entre outros, são plenamente controláveis pelo setor público. Ministro Marco Aurélio: O ministro Marco Aurélio observou que o art. 68 do ADCT não cuida de direitos individuais, mas sim de direitos coletivos. Em seu entendimento, não há dúvida de que o direito de quilombolas às terras ocupadas pela comunidade foi reconhecido e que o decreto questiona-do busca dar concretude à norma constitucional. Destacou, ainda, que o decre-to impugnado, além de não configurar um ato normativo abstrato autônomo, pois não inovou no cenário jurídico, não contraria a Constituição Federal. Mi-nistro Celso de Mello: Para o ministro Celso de Mello, os preceitos do art. 68 do ADCT são autoaplicáveis, mas o decreto confere efetividade máxima à norma constitucional. Segundo ele, a norma constitucional veicula uma série de direi-tos fundamentais, pois a propriedade de terras pelas comunidades quilombolas vincula-se a um amplo conjunto de direitos e garantias sociais de caráter cole-tivo, além do direito fundamental à proteção do patrimônio cultural. Ressaltou que a titulação de terras guarda uma íntima vinculação com o postulado da essencial dignidade da pessoa humana, pois assegura direito a uma moradia de pessoas carentes e um mínimo necessário para os remanescentes de quilombos, tendo em vista que a terra apresenta um significado especial para essas comu-nidades. Ministra Cármen Lúcia: Para a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, as alegações de inconstitucionalidades contra o decreto são infundadas. Ela salientou que o legislador constituinte reconheceu aos quilombolas a pro-priedade definitiva das terras, cabendo ao Estado apenas cumprir essa determi-nação. Em seu entendimento, os critérios elencados pelo decreto impugnado para a definição das comunidades estão de acordo com o texto constitucional. (Conteúdo extraído do site do Supremo Tribunal Federal)

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Tribunal suspende liminar que impedia exportações de animais vivos em todo o PaísA presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3), desembargado-ra federal Cecília Marcondes, suspendeu a liminar que impedia a exportação de animais vivos para abate no exterior em todo o território nacional. A decisão foi proferida em suspensão de liminar ou antecipação de tutela interposta pela União e autoriza o transporte de animais vivos até o trânsito em julgado da ação civil pública movida pelo Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal que contesta a prática. A decisão de primeiro grau que proibia as exportações foi assinada pelo juiz federal Djalma Moreira Gomes, da 25ª Vara Federal da Seção Judiciária de São Paulo, em ação civil pública. No plantão judiciário, a desembargadora federal Diva Malerbi havia indeferido liminar em agravo de instrumento interposto pelo Minerva S/A, que pedia liberação de 25 mil bois da empresa que estavam embarcados em navio no Porto de Santos e esta-vam impedidos de seguir viagem em decorrência da decisão de primeiro grau. Durante plantão judiciário, Malerbi deferiu liminar em agravo interposto pela União para autorizar especificamente a exportação desses animais do Minerva S/A. Na decisão a presidente do TRF3 observou que a legislação brasileira não veda o comércio internacional de animais vivos. “Ao contrário, há uma série de atos normativos traçando regramentos a respeito do assunto, estabelecidos pelo órgão nacional competente, que é o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento”, explicou Marcondes. Ela explicou que o transporte internacio-nal de animais vivos é realizado de acordo com as normas editadas pelo Poder Executivo, observando os interesses da Administração no comércio exterior e sem deixar de lado o controle da qualidade, da segurança e do bem-estar dos animais. Para a presidente, ao menos em sede de cognição sumária, própria do momento, não se pode impedir a exportação de animais destinados a abate no exterior, seja pela existência de normas a respeito do tema, seja por se tratar de modelo eleito pelo administrador e sobre o qual não se pode admitir, em princí-pio, ingerência do Poder Judiciário, sob pena de violar o indispensável e funda-mental princípio da separação dos poderes. A imposição de um modelo diverso daquele eleito pelo administrador para a exportação de animais vivos, por parte do Poder Judiciário, somente seria admissível em sede de cognição exaurien-te, ou seja, após ampla instrução, com o esgotamento e a análise de todas as provas produzidas, bem como a oitiva de todos os interessados, haja vista as consequências advindas de medida de tamanha envergadura. Em outras pala-vras, “para afastar o modelo escolhido pelos órgãos técnicos da Administração Federal a decisão judicial deve estar robustamente amparada em provas e ele-mentos de convencimento que assegurem que a exportação de animais vivos,

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na forma como é feita atualmente, causa prejuízo a estes animais”, completou. Além disso, a desembargadora federal lembrou que a própria autora da ação civil pública informou que o mercado de animais vivos movimenta valores da ordem de 170 milhões de dólares por ano. A magistrada entendeu que se trata de valor significativo e que, em uma época crítica como a atual, com escassez de recursos, abrir mão de tamanha quantia beiraria o escárnio e agravaria ainda mais a crise econômica (Processo nº 5001511-93.2018.4.03.0000). (Conteúdo extraído do site do Tribunal Regional Federal da 3ª Região)

Tribunal mantém multa aplicada pelo Ibama a empresa que não portava autorização para transporteA 6ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) manteve a deci-são que reconheceu a validade da autuação lavrada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), aplicada contra empresa de transportes pela ausência do porte de autorização para transporte de produtos perigosos no momento da fiscalização. Consta dos autos que a em-presa foi autuada por realizar o transporte de carga perigosa sem a devida licen-ça ou autorização do órgão ambiental competente, sendo indicados na autua-ção os arts. 70 e 72 da Lei nº 9.605/1998, o art. 66 do Decreto nº 6.514/2008, bem como o art. 2º da Resolução do Conama nº 239/1997. A empresa apelante sustentou que possui autorização ambiental para o transporte de cargas perigo-sas (ATCP) e por isso a sua conduta não se configura a prevista como infração sujeita à multa. Alegou ainda que o Ibama não contesta a validade do ATCP. O relator do caso, desembargador federal Kassio Marques, esclareceu que a empresa possuía a devida autorização ambiental, mas não a portava no instante em que foi fiscalizada pelo Ibama durante o transporte. A infração imputada à apelante está descrita no art. 66 do Decreto nº 6.514/2008. O magistrado res-saltou que, na primeira parte da descrição das condutas do artigo, pressupõe-se a inexistência de autorização ou licença ambiental; enquanto, na segunda, o documento existe, mas as atividades são executadas em desacordo a ela ou em contrariedade às normas legais e aos regulamentos pertinentes. “Assim, a con-duta da apelante está corretamente enquadrada nesta segunda parte, mais espe-cificamente no final, eis que a obrigatoriedade de portar a autorização ambien-tal durante o transporte de carga perigosa é prevista na legislação, conforme devidamente indicadas as normas pelo Ibama, entendimento que foi acolhido na sentença”, afirmou o relator. O Colegiado, acompanhando o voto do relator, negou provimento à apelação, mantendo a sentença integralmente (Processo nº 0006880-19.2015.4.01.4300). (Conteúdo extraído do site do Tribunal Regio-nal Federal da 1ª Região)

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Proposta prevê monitoramento em tempo real de transporte de resíduos sólidosA Câmara analisa projeto que prevê o monitoramento em tempo real do trans-porte de resíduos sólidos (PL 8.235/2017). A proposta do deputado Rômulo Gouveia estabelece que o plano municipal de gestão integrada regras para o transporte e outras etapas do gerenciamento de resíduos sólidos defina o sis-tema de monitoramento, em tempo real, das frotas de transporte de resíduos. Atualmente, a legislação (Lei nº 12.305/2010) não prevê essa regra. O projeto também acrescenta na lei que cabe ao titular dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos a implantação, pelas concessionárias, de sistema de monitoramento, para ser disponibilizado na Internet. Rômulo Gouveia acredita que, tendo um maior controle por parte do Poder Público, possíveis desvios de rotas poderão ser facilmente detectados, servindo, tais sis-temas, como importante ferramenta no combate aos lixões clandestinos. “Com a alteração da Lei de Resíduos, aqui proposto, será possível a obtenção de in-formações determinantes para a tomada de decisões referentes à segurança da população e do meio ambiente”, defendeu o autor. O projeto, que tramita conclusivamente, será analisado pelas Comissões de Desenvolvimento Urbano; Viação e Transportes; Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e Cons-tituição e Justiça e de Cidadania. (Conteúdo extraído do site da Câmara dos Deputados Federais)

Justiça condena marceneiro por adquirir madeira ilegalmenteO Juízo da Vara Criminal da Comarca de Sena Madureira julgou procedente o Processo nº 0000795-13.2016.8.01.0011 e condenou um marceneiro, que adquiriu madeira ilegal, a prestar serviços à comunidade. O ato de adquirir, guardar ou receber madeira sem licença emitida por autoridade competente é descrito no art. 46, parágrafo único, da Lei nº 9.605/1998 (Lei de Crimes Am-bientais). Na sentença, publicada na edição nº 6.039 do Diário da Justiça eletrô-nico, o juiz de Direito Fábio Farias destacou que tanto a materialidade quanto a autoria foram comprovadas pelos documentos e depoimentos prestados em Juízo. Conforme os autos, o Ministério Público do Estado do Acre (MPAC) de-nunciou o marceneiro por ele ter adquirido madeira sem a devida licença para utilização comercial. A madeira ilegal foi apreendida em um caminhão que tinha como destino a marcenaria do denunciado. O juiz de Direito Fábio Farias, titular da unidade judiciária, analisou o processo e condenou o marceneiro por ter infringido a Lei de Crimes Ambientais. Por isso, o magistrado fixou pena privativa de liberdade de seis meses e 10 dias multas, em regime inicial, aberto. Mas o marceneiro preenchia os requisitos do art. 44 do Código Penal, assim o juiz de Direito promoveu a substituição dessa pena por restrição de direitos,

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consistente com a prestação de serviços à comunidade. (Conteúdo extraído do site do Tribunal de Justiça do Estado do Acre)

Projeto inclui região do Pantanal na área de atuação da SudamTramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei Complementar nº 424/2017, que pretende ampliar a área de atuação da Superintendência do Desenvolvi-mento da Amazônia (Sudam), para abranger os municípios pantaneiros situados na Bacia do Rio Paraguai. “Esse bioma está em risco tão ou mais elevado que o amazônico em virtude do assoreamento de seus rios, provocado pelo desma-tamento, e da poluição de suas águas em virtude da expansão agrícola e urba-na sem planejamento”, argumenta o deputado Dagoberto Nogueira (PDT-MS). Recriada em 2007, a Sudam atualmente abrange a Amazônia Legal e o Estado do Mato Grosso. Conforme o parlamentar, a região do Pantanal precisa de in-vestimentos que ajudem a promover o desenvolvimento sustentável e a pre-servação da riqueza ambiental, que não apenas contribui para a manutenção do necessário equilíbrio climático no subcontinente e para a sustentabilidade de potencial agrícola, como também para o desenvolvimento da indústria de cosméticos e medicamentos elaborados a partir da rica biosfera local. O pro-jeto modifica a Lei Complementar nº 124/2007 e renomeia a autarquia como Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia e do Pantanal (Sudamp). Além disso, altera todos os dispositivos da lei que tratam dos instrumentos de desenvolvimento regional da superintendência, para que façam referência à sua nova área de atuação. Pelo texto, os Conselho Deliberativo da Sudam e o Plano Regional de Desenvolvimento da Amazônia, por exemplo, passariam a denominar-se Conselho Deliberativo da Sudamp e Plano Regional de Desen-volvimento da Amazônia e do Pantanal, respectivamente. Do mesmo modo, o Fundo de Desenvolvimento da Amazônia passaria a ser denominado Fundo de Desenvolvimento da Amazônia e do Pantanal. A proposta também modifica a Medida Provisória nº 2.157-5/2001, que regula o Fundo de Desenvolvimento da Amazônia, substituindo as referências à Amazônia por da Amazônia e do Pantanal. A matéria será analisada, em caráter conclusivo, pelas Comissões de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. (Conteúdo extraído do site da Câmara dos Deputados Federais)

Juiz proíbe utilização de animais em vaquejadas no DF sob pena de multa de 50 milhões por infraçãoO juiz da Vara do Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Fundiário do Distrito Federal proibiu a utilização de animais em provas de perseguição, la-ceio ou derrubada em vaquejadas no Distrito Federal, sob pena de multa no valor de 50 milhões de reais para cada ato de descumprimento da ordem judi-

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cial, e sem prejuízo da responsabilidade criminal pela desobediência e por maus-tratos aos animais. A sentença de mérito foi proferida na ação civil públi-ca ajuizada pela BSB Animal Proteção e Adoção contra o DF e a empresa Par-que de Vaquejada Maria Luiza. De acordo com o magistrado, a utilização de animais nesse tipo de evento deve ser limitada à comercialização e à exposição, sempre em ambiente adequado e com amparo médico-veterinário condizente. Na mesma decisão, o DF foi condenado na obrigação de não autorizar a reali-zação das provas elencadas, bem como de fiscalizar o respeito à proibição im-posta pela Justiça. Ao fundamentar a decisão, o juiz abordou aspectos relevan-tes sobre a complexa demanda: a questão dos maus-tratos/crueldade contra animais, os aspectos éticos, a questão cultural/esportiva da prática da Vaqueja-da e os interesses econômicos por trás desses tipos de eventos. A discussão tra-vada neste processo pode ser considerada uma das mais antigas e polêmicas que pontuam o direito ambiental brasileiro, e que pode ser resumida na seguin-te questão: A prática da utilização de animais na Vaquejada é legítima e com-patível com a ordem constitucional nacional?, questionou o magistrado ao adentrar no mérito da ação. Não pode haver dúvidas de que a Constituição proíbe terminantemente a crueldade contra animais, o que decorre, obviamen-te, da formalização da consciência ética atualmente vigente e do consenso so-bre o que se pode entender como uma proteção razoável à fauna. São inúmeras as manifestações de médicos veterinários, juristas e técnicos no que concerne aos maus-tratos aos animais em provas de vaquejadas e similares. Destacamos dois pareceres técnicos reconhecidos publicamente, com os quais concorda-mos. “Os maus tratos que os animais são submetidos não se restringem aos poucos minutos das provas em que são utilizados, mas também a todo o perío-do de treinamento a que são submetidos para os condicionamentos necessários à realização das provas. Para atender critérios e normas regulamentares, os va-queiros são obrigados a cumprir a prova dentro de um curto espaço de tempo, e em espaço físico restrito, o que demanda repetição intensiva dos procedimen-tos nos períodos de treinamento. Portanto, é fundamental que também se avalie e analise o processo do ponto de vista mental e físico, não apenas na arena, mas também nas etapas que contemplam o antes e o depois”. Ainda conforme esses pareceres, há possibilidades de ocorrência de lesões físicas e de vivência de dor/sofrimento antes, durante e após o evento da Vaquejada. Durante a prova, a derrubada do animal se dá por meio de uma torção no rabo, o que ocasiona lesões traumáticas na medula espinhal e muitas vezes resulta no desmembra-mento da cauda. Já a laçada exige que o boi saia em disparada, motivo pelo qual se procede a prévio molestamento por meio de choques elétricos e estoca-das, levando o animal a extremo estado de agitação e estresse. Tais condutas importam em violação ao art. 225, caput e § 1º, da Constituição Federal, porque implicam na submissão de animais à crueldade. Recordando-se que a articula-

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ção ética fundamental, seja ela chamada de regra de ouro ou de imperativo categórico, exige que não se faça aos outros o que não se deseja que se faça a si mesmo, ou considera que uma conduta pode ser considerada boa se puder ser universalizada e transformada em norma, a utilização de animais em práti-cas esportivas que causam dor e terror é francamente antiética, além de incons-titucional, dado que, salvo os pervertidos denominados masoquistas, nenhum ser senciente aprecia a dor e o pavor; logo, a conduta de se lançar animais ao sofrimento, para o puro divertimento e esporte de alguns, não teria como ser racionalmente universalizada, ou seja, não poderia jamais ser reputada como eticamente defensável. Aqui vale destacar que, ao menos na acepção acolhida pela ordem jurídica, a cultura que interessa proteger é não apenas a herança de comportamentos e ideias tradicionais, mas aquela tradição que se coadune com valores reconhecidos pela sociedade como elevados e úteis ao processo civili-zatório. É que determinadas tradições podem ter sido aceitas e até celebradas em determinado momento histórico, mas tornarem-se inadmissíveis em outro, conforme evolução da consciência ética da sociedade ou determinada por fato-res outros. Temos como exemplo a superada cultura da supremacia masculina, que outrora justificava até mesmo a violência doméstica, o que era fomentado, inclusive, pela ordem jurídica então vigente – ilustrando o que se está a dizer, há não muito tempo o Código Civil consagrava o homem como chefe da famí-lia, e a jurisprudência não reconhecia como estupro a conjunção sexual prati-cada à força pelo marido, sob a suposição de que estaria apenas a exigir o dé-bito conjugal, noções hoje reconhecidas de modo quase unânime como repugnantes. Outro exemplo: hoje em dia, quando o País assiste aterrado o desnudar da corrupção generalizada revelada por variadas operações policiais e judiciais, fala-se em uma cultura da corrupção a empestear as práticas políti-cas nacionais. É fato notório para quem tenha um mínimo de senso crítico reco-nhecer uma realidade incômoda, mas impossível de ser desprezada: poucas coisas são mais tradicionais no Brasil do que a cultura de se utilizar o Estado como meio de tutela de interesses pessoais de determinadas castas (estude-se a História política nacional, e se perceberá que muitas famílias que dominavam a política desde o Brasil colônia ainda mantêm representantes nas diversas esferas de poder, na constituição de uma cultura tão perversa como antidemocrática). É evidente que não são essas as modalidades de cultura protegidas pela Consti-tuição, mas apenas as formas de cultura que tendam a elevar o espírito das ge-rações humanas, em conformidade com a evolução científica e ética da socie-dade. A cultura é inerentemente mutável, e a dinâmica de suas mutações é tanto mais acelerada quanto mais sofisticada for a evolução do conhecimento científico e da reflexão ética. Em determinadas situações, o abandono de uma cultura não equivale à morte ou ao empobrecimento, mas à evolução da socie-dade. Para demonstrar que determinados traços culturais relativos a usos cruéis

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de animais podem sucumbir ante a evolução ética e jurídica da sociedade, basta recordar o caso das rinhas de galos. Atualmente, não mais se questiona a natureza injurídica, até mesmo criminosa, de tais eventos. Contudo, era prática com raízes culturais bem mais robustas que a Vaquejada, em todo o Brasil. Se-gundo o magistrado, as consequências econômicas da vedação à Vaquejada foram especialmente lamentadas pelos defensores da prática. No entanto, afir-mou: “Um aspecto que deve ser ressaltado é que o interesse econômico não prevalece sobre o ordenamento jurídico, por mais poderoso que seja”. Ao revés, o que denomina atualmente direito ambiental constitui-se exatamente de um complexo de limitações jurídicas contra os excessos do capitalismo e da ambi-ção humana, posto que a ausência de limites à ambição leva à depredação completa de todos os recursos naturais, o que conduziria ao perecimento de todos – reitere-se o que fora dito acima: a depredação da natureza atenta contra a Humanidade, que precisa de um ambiente saudável para viver dignamente. De todo modo, acrescentou, como realçado pelo parlamentar autor da Lei Dis-trital, as vaquejadas abrigam uma miríade de atividades econômicas, que po-dem perfeitamente ser preservadas, com a exclusão apenas das provas cruéis com animais. Nesse descortino, soa perfeitamente compatível a manutenção da Vaquejada (cuja proibição não fora requerida neste feito, salvo no que refere à utilização de animais), para a manutenção de toda a atividade comercial e cul-tural referida anteriormente, preservando-se os animais das práticas cruéis a que são submetidas em uma entre tantas atividades realizadas. “Satisfaz-se, com isso, a ambição pelo dinheiro, que é evidentemente o grande móvel dos defen-sores do evento, respeitando-se a diretriz constitucional de resguardo dos ani-mais contra a crueldade humana”, concluiu. A ação em questão tramita na Vara do Meio Ambiente desde 2015 e foi ajuizada com pedido liminar para suspen-der uma Vaquejada que iria acontecer em Planaltina. O evento acabou sendo proibido. Depois disso, o tema ganhou repercussão nacional, quando o STF, com o placar apertado de 6 votos a 5, julgou inconstitucional a Lei cearense nº 15.299/2013, que regulamentava a Vaquejada naquele Estado. O julgamento aconteceu em outubro de 2016. Nesse mesmo ano, no mês de novembro, foi publicada a Lei Federal nº 13.364/2016, que elevou o Rodeio, a Vaquejada, bem como as respectivas expressões artístico-culturais, à condição de manifes-tação cultural nacional e de patrimônio cultural imaterial. No TJDFT, em março de 2017, o Conselho Especial julgou improcedente a ação direta de inconstitu-cionalidade ajuizada pelo MPDFT contra a Lei Distrital nº 5.579, que reconhe-ceu a Vaquejada como modalidade esportiva no Distrito Federal. Na ocasião, o colegiado decidiu que a prática não configura maus-tratos contra animais e tem natureza recreativa e cultural, conforme disposto na Lei Federal nº 13.364/2016, que dispôs sobre o tema em âmbito nacional. Sobre essa decisão da 2ª Instân-cia, o juiz da Vara do Meio Ambiente esclareceu: “Não há, na presente decisão,

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quebra de reverência e acatamento à decisão do e. TJDFT, que julgou a lei local constitucional à luz da Lei Orgânica desta unidade da Federação, mas acata-mento e harmonização do caso concreto à inconstitucionalidade reiteradamen-te afirmada pelo STF em situações idênticas, perfazendo-se a diretriz processual de harmonização e respeito aos precedentes dos órgãos superiores”. E concluiu sobre a alegação de contrariedade à declaração de constitucionalidade da lei local que autoriza a realização de vaquejadas pelo TJDFT: “Observo que a pre-sente demanda não visa proibir pura e simplesmente a Vaquejada, mas apenas a condenação em obrigação de não fazer, determinando a proibição de utiliza-ção de animais no referido evento”. Ainda cabe recurso da sentença de 1ª Ins-tância (Processo nº 2015.01.1.017379-7). (Conteúdo extraído do site do Tribu-nal de Justiça do Estado de Distrito Federal)

Acidente com carreta causa danos ambientais e empresa deve pagar inde-nização de R$ 100.000,00O juiz da Vara da Fazenda Pública Estadual de Cariacica, Paulo Cesar de Carvalho, condenou uma empresa a indenizar em R$ 100.000,00 o meio am-biente, cujo valor será recolhido pelo Fundo Especial de Reparação dos In-teresses Difusos Lesados. A multa é pelos danos causados por vazamento de ácido hexanoico, ocorrido em um acidente com uma carreta de propriedade da empresa citada. De acordo com o processo, “uma carreta da empresa re-querida se envolveu em um acidente ocorrido na Rodovia do Contorno, KM 282 em Cariacica/ES, que causou o vazamento de 20m³ de ácido hexanoico na região, causando danos ao solo, aos recursos hídricos e demais corpos d’água superficiais e subterrâneos, que eventualmente não possam ser restaurados”. No Termo de Declaração do gerente de fiscalização do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), consta que ficou comprovado o descaso da requerida com as normas que regulam a sua atividade e as irregularidades exercidas pela empresa. “Não há dúvidas de que o acidente causado pela car-reta de propriedade da requerida ocasionou dano ao meio ambiente, tendo em vista que o produto derramado infiltrou no solo, na vegetação que margeia a Rodovia do Contorno”, diz o termo. “De acordo com o juiz Paulo Cesar de Carvalho, pode-se definir o dano ambiental como um prejuízo causado ao meio ambiente por uma ação ou omissão humana, que afeta de modo negativo o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e, por con-sequência, atinge, também de modo negativo, todas as pessoas, de maneira direta ou indireta”, disse o magistrado, condenando a requerida a elaborar, no prazo de 90 (noventa) dias, um Projeto de Recuperação de Área Degradada com Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) e apresentar ao IEMA. O juiz também condenou a ré a providenciar análise laboratorial que comprove a descontaminação das áreas degradadas, fixando o valor da indenização em

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R$ 100.000,00 (Processo nº 0014120-67.2010.8.08.0012). (Conteúdo extraído do site do Tribunal de Justiça do Estado de Espírito Santo)

Juvam de Rondonópolis apreende 229 kg de pescadoO Juizado Volante Ambiental (Juvam) de Rondonópolis (212 km ao sul de Cuiabá), do Poder Judiciário de Mato Grosso, em conjunto com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) e A Polícia Militar de Proteção Ambiental de Rondonópolis, apreendeu 229 quilos de pescado irregular proveniente de pesca predatória. A denúncia anônima foi recebida na Unidade Descentralizada da Sema, em Rondonópolis, e o mandado de vistoria, constatação e busca e apre-ensão foi expedido pela juíza Milene Aparecida Pereira Beltramini, responsável pelo Juvam local. O mandado foi cumprido pelo Juvam em uma residência localizada no Bairro Residencial Maria José Fernandes de Souza (Dona Fiuca), em Rondonópolis. Na residência foi encontrado um freezer contendo pesca-do irregular das espécies Cachara, Dourado e Pacu. Além do pescado, foram apreendidos duas redes de pesca malhas 14 e 26 e o freezer utilizado para armazenamento irregular dos peixes. O responsável pelo pescado não foi en-contrado no local, pois o imóvel estava fechado. Conforme a denúncia recebida pela Sema, a casa era utilizada apenas para o comércio de peixes. O caso foi encaminhado à delegacia local para apuração dos fatos. O pescado apreendido foi doado para as entidades filantrópicas de Rondonópolis Casa do Adolescente Sagrada Família e Associação Divina Providência. O período de defeso da Pi-racema teve início em 1º de outubro de 2017 e prossegue até 31 de janeiro de 2018. Durante esse período a pesca é restrita, para garantir a reprodução das espécies. E com o objetivo de combater a pesca predatória, a fiscalização nos rios da Região Sul de Mato Grosso é intensificada pelos órgãos competentes durante essa época. (Conteúdo extraído do site do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso)

Acordo celebrado pelo Sistcon resolve controvérsia sobre direito de explo-ração de manganêsO Sistema de Conciliação da Justiça Federal da 1ª Região (Sistcon) fechou acor-do entre a União, o Estado do Amapá, o Município de Serra do Navio/AP e a Mineradora Indústria e Comércio de Minérios S.A. (Icomi), reconhecendo o direito da empresa de extrair os resíduos de minério de manganês por ela ex-plorado por cerca de 30 anos, na cidade amapaense localizada a 203 km de Macapá, capital do Amapá. Mesmo tendo a concessão de lavra, a Icomi estava impedida de operar no local em virtude de decisão obtida por outra empresa mineradora no Tribunal de Justiça do Amapá. Com a conciliação, a mineradora se comprometeu a retomar as atividades de transferência do restante de rejeitos no prazo de um mês, submetendo-se à fiscalização dos órgãos responsáveis

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e ao recolhimento da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), bem como a criar projetos de compensação socioambiental para resguardar o município após o término da retirada dos rejeitos. Para a co-ordenadora do Sistcon, desembargadora federal Maria do Carmo Cardoso, que conduziu a audiência, o maior benefício dessa conciliação é para a população do Município de Serra do Navio. “Pelo que se colocou aqui, a partir de agora, além da parcela do CFEM, o Município terá 5% do valor líquido do faturamento da exploração da mineradora a ser colocado em um fundo justamente para ge-rar ali as condições econômicas e ambientais”, afirmou a magistrada. O prefeito de Serra do Navio, Elton Lobato, ficou satisfeito com o acordo obtido na conci-liação. “A data de hoje é um momento histórico para o Amapá, sobretudo para o meu Município de Serra do Navio, e a expectativa é muito grande, porque o Município está muito decadente de emprego, de investimentos, de projetos sociais. Então, nós precisamos realmente ter esta oportunidade de fazer com que o resultado desta audiência de conciliação traga novas alternativas para a cidade, transformando esses recursos que virão nas prioridades que o Município requer”, disse o político. Já o diretor executivo da Icomi, Marcelo Velasquez, afirmou que a empresa está comprometida em cumprir o acordo. “Temos plena consciência das nossas obrigações e também do quanto as nossas operações lá vão ser benéficas para toda população de Serra do Navio. Esse acordo é muito importante para nossa empresa, porque vai garantir uma segurança para o re-torno das nossas atividades e, com isso, beneficiar todo o Estado do Amapá e, principalmente, o município, que é uma cidade com bastante carência hoje no Estado”. (Conteúdo extraído do site do Tribunal Regional Federal da 1ª Região)

Homem é condenado por manter aves silvestres em cativeiroA juíza Ticiana Maria Delgado Nobre, do Juizado Especial Cível e Criminal de João Câmara, condenou um cidadão a pena de seis meses de detenção e dez dias-multa, à base de 1/30 do salário-mínimo vigente à época do fato delituoso, em virtude da prática de crime ambiental consistente na manutenção em cati-veiro de aves de espécie silvestre nativa em desconformidade com a legislação vigente referente à matéria. A magistrada determinou que a pena privativa de liberdade deverá ser cumprida em regime aberto, após o término da reclusão imposta ao réu em outros processos a que responde. Quanto à pena de multa aplicada, ela deverá ser atualizada por ocasião do pagamento, na forma do § 2º do art. 49 do Código Penal. No entanto, ela determinou que, após o trânsito em julgado, lance-se o nome do réu no rol dos culpados e oficie-se ao Tribunal Re-gional Eleitoral para os efeitos do art. 15, inciso III, da Constituição Federal, bem como determinou a remessa do boletim individual do condenado ao Centro de Estatísticas Criminais do Instituto Técnico e Científico de Polícia do Estado do Rio Grande do Norte – Itep/RN. O Ministério Público informou que, em 10 de

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janeiro de 2014, o denunciado, de modo livre, voluntário e consciente, con-forme consta nos autos, mantinha em cativeiro duas aves de espécie silvestre nativa Azulão e duas aves de espécie silvestre nativa Galo-de-Campina, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, tudo des-crito no termo de exibição e apreensão. Com isso, o MP fez a denúncia instruída com os autos de prisão em flagrante, auto de exibição e apreensão e laudo for-necido pelo Ibama, sendo recebida perante o Juizado Especial Cível e Criminal de João Câmara no dia 18 de outubro de 2016. Para a juíza, a materialidade do delito tipificado no art. 29, § 1º, III, da Lei nº 9.605/1998 se encontra patenteada nos autos, por meio do auto de prisão em flagrante, termo de exibição e apreen-são e laudo do Ibama, os quais informam que foi apreendido na residência do acusado dois galos de campina e dois pássaros da espécie azulão. Do mesmo modo, a autoria também ficou delimitada, especialmente considerando a oitiva do acusado, que confessou o crime ambiental. Nesta, o acusado confirmou a versão dos fatos delineada no auto de prisão e pelas testemunhas, não restando dúvidas acerca da veracidade dos fatos narrados pelo Ministério Público. Nesse passo, não se pode negar que a conduta do réu, de ter em cativeiro ou depósito quatro aves silvestres, ainda que para fins domésticos, é uma violação à legis-lação ambiental vigente. “Considerando que o acusado é imputável, era-lhes exigida conduta diversa, e tinha potencial consciência da ilicitude da sua ação, conclui-se presente a culpabilidade e é lícito o juízo de reprovação”, ressaltou a magistrada (Processo nº 0100050-59.2015.8.20.0104). (Conteúdo extraído do site do Tribunal de Justiça do Estado de Rio Grande do Norte)

Homem é condenado por desmatamento ilegalO Juizado Especial Criminal da Comarca de Acrelândia determinou que J.I.S. prestasse serviço à comunidade pelo período de três meses ou prestação pe-cuniária no valor de R$ 1.400,00 pela destruição de 10,90 hectares de flo-resta primária, conforme auto de infração do Instituto Brasileiro do Meio Am-biente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Na decisão do Processo nº 0800057-70.2017.8.01.0006, foi estabelecido que o responsável deve reali-zar a atividade uma vez por semana junto à entidade cadastrada por seis horas diárias. Caso o réu opte pelo depósito judicial, o valor será revestido em favor do Fundo de Penas Pecuniárias da Comarca. De acordo com os autos, a equipe do Ibama estava realizando a Operação Onda Verde, com o intuito de contribuir para a redução do desmatamento ilegal nos Municípios de Acrelândia, Bujari, Capixaba, Feijó, Manoel Urbano, Porto Acre, Rio Branco, Sena Madureira, Senador Guiomard e Tarauacá, locais em que apresentaram elevadas taxas de desmatamento e focos de calor. O crime ambiental foi denunciado pelo Mi-nistério Público do Estado do Acre e o flagrante ocorreu em fevereiro de 2017 no Ramal Novo Processo, localizado às proximidades do KM 115 da BR 364.

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A juíza de Direito Louise Kristina, titular da unidade judiciária, apontou que o crime contra flora é uma conduta que se subsume ao previsto no art. 50 da Lei nº 9.605/1998. A decisão foi publicada na edição nº 6.012 do Diário da Justiça eletrônico (fl. 109). (Conteúdo extraído do site do Tribunal de Justiça do Estado do Acre)

Comissão aprova criação de disque-denúncia para crimes ambientaisA Comissão de Finanças e Tributação aprovou o Projeto de Lei (PL) nº 143/2011, do deputado Weliton Prado (Pros-MG), que cria o disque-denúncia para crimes ambientais. O projeto recebeu parecer favorável do deputado Uldurico Junior (PV-BA), que analisou apenas a adequação orçamentária da proposta e do subs-titutivo ao projeto apresentado pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvol-vimento Sustentável. Segundo o parlamentar, os dois textos não ampliam as despesas dos órgãos que vão implantar o disque-denúncia (Ibama e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio). “Os encargos de-correntes da implementação do serviço podem adequadamente ser amparados por dotações genéricas do Ibama e do ICMBio, que deverão implementá-lo na medida de suas disponibilidades financeira, material e de recursos huma-nos”, disse Uldurico Junior. De acordo com o substitutivo da Comissão de Meio Ambiente, o serviço telefônico será gratuito e terá o objetivo de estimular a comunicação de atos ilícitos praticados contra o meio ambiente. Será assegu-rado o anonimato do denunciante. O texto altera a Política Nacional de Meio Ambiente (Lei nº 6.938/1981) e cria o Sistema Nacional de Denúncia a Crimes e Agravos Ambientais. Todos os órgãos federais do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama) deverão dispor de um serviço de disque-denúncia a crimes e agravos ambientais. O PL 143/2011 tramita apensado aos PLs 2.284/2011 e 5.127/2013, que tratam do mesmo assunto. O projeto tramita de forma con-clusiva e será analisado, agora, pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. (Conteúdo extraído do site da Câmara dos Deputados Federais)

Estado tem o dever de demarcar terras indígenas de forma legal e mediante justa indenizaçãoO Estado tem o dever de demarcar as reservas indígenas, mas não de forma ilegal e sem pagamento, espoliando o direito de propriedade de terceiros. Com esse entendimento, a 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) deu provimento à apelação de dois proprietários de um imóvel rural, contra sentença que, em ação de desapropriação indireta proposta em desfavor da União e da Fundação Nacional do Índio (Funai), julgou improcedentes os pedi-dos formulados e condenou os autores ao pagamento das custas e dos honorá-rios advocatícios arbitrados em R$ 15.000,00. Em suas alegações recursais, os apelantes sustentaram que houve flagrante enriquecimento ilícito por parte da

224 �������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������RSA Nº 40 – Jan-Mar/2018 – CLIPPING JURÍDICO

União quando a sentença julgou improcedente a pretensão inicial, por entender que não seria cabível indenização pela perda da terra nua de área declarada como tradicionalmente indígena. Argumentaram que a pretensão indenizatória foi amplamente motivada na teoria da responsabilidade administrativa, pois foi fundamentada na prática lesiva de alienar área cuja posse tradicional indígena que só restou reconhecida posteriormente. Os apelantes apresentaram, ainda, título definitivo que demonstra cabalmente a alienação da área, após exaustivo trabalho de regularização conduzido por órgão ligado à União, onde em ne-nhum momento se relata a existência de posse indígena sobre a área. O relator do caso, desembargador federal Ney Bello, esclareceu que os proprietários do imóvel adquiriram as terras em 1981, de forma onerosa da União, por meio do Grupo Executivo de Terras Araguaia Tocantins (Getat), e que o caso em espécie se trata de indenização de imóvel adquirido regularmente e devida-mente titulado. “Essa realidade cartorária, que tem a seu favor a presunção de veracidade e de legitimidade, pois formada por atos administrativos, não pode simplesmente ser ignorada”, afirmou o relator. O magistrado citou, ainda, voto do desembargador federal Olindo Menezes, em que é sustentado que o Estado tem o dever de demarcar as reservas indígenas quando a terra tem um valor de sobrevivência física e cultural, mas não de forma ilegal e sem pagamento, espo-liando o direito de propriedade de terceiros, pois, por preceito constitucional, ninguém será privado dos seus bens sem o devido processo legal. O imóvel dos apelantes foi legitimamente adquirido de Estado-membro, segundo os me-canismos legais, inclusive os registros no Cartório de Imóveis, e por isso não é lícito negar-lhes a correspondente indenização em desapropriação indireta. O Colegiado, acompanhando o voto do relator, deu provimento à apelação dos proprietários para anular a sentença e determinar o retorno dos autos à origem, para que seja realizada a perícia avaliatória do imóvel e seja proferida sentença fixando o valor da indenização que for devido, em face do mercado (Processo nº 0006145-92.2010.4.01.3901). (Conteúdo extraído do site do Tribunal Regio-nal Federal da 1ª Região)

Fechamento da Edição: 28�02�2018

Resenha Legislativa

LEIS ORDINÁRIAS

lei nº 13.576, de 26.12.2017 – PubliCada nO dOu de 27.12.2017

Dispõe sobre a Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) e dá

outras providências.

lei nº 13.575, de 26.12.2017 – PubliCada nO dOu de 27.12.2017

Cria a Agência Nacional de Mineração (ANM); extingue o Departamento

Nacional de Produção Mineral (DNPM); altera as Leis nºs 11.046, de 27

de dezembro de 2004, e 10.826, de 22 de dezembro de 2003; e revoga a

Lei nº 8.876, de 2 de maio de 1994, e dispositivos do Decreto-Lei nº 227,

de 28 de fevereiro de 1967 (Código de Mineração

lei nº 13.540, de 18.12.2017 – PubliCada nO dOu de 19.12.2017

Altera as Leis nºs 7.990, de 28 de dezembro de 1989, e 8.001, de 13 de

março de 1990, para dispor sobre a Compensação Financeira pela Explo-

ração de Recursos Minerais (CFEM).

lei nº 13.533, de 15.12.2017 – PubliCada nO dOu de 15.12.2017 – ediçãO eXtra

Abre aos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União, em favor

dos Ministérios do Trabalho, do Meio Ambiente e do Desenvolvimento

Social e Agrário e de Encargos Financeiros da União, crédito suplementar

no valor de R$ 4.511.886.489,00, para reforço de dotações constantes

da Lei Orçamentária vigente.

DECRETOS

deCretO nº 9.263, de 10.01.2018 – PubliCadO nO dOu de 11.01.2018

Altera o Decreto nº 4.892, de 25 de novembro de 2003, que regulamenta

a Lei Complementar nº 93, de 4 de fevereiro de 1998, que criou o Fundo

de Terras e da Reforma Agrária.

deCretO nº 9.257, de 29.12.2017 – PubliCadO nO dOu de 29.12.2017 – ediçãO eXtra

Prorroga o prazo de inscrição ao Cadastro Ambiental Rural – CAR.

226 ���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������RSA Nº 40 – Jan-Mar/2018 – RESENHA LEGISLATIVA

deCretO nº 9.221, de 06.12.2017 – PubliCadO nO dOu de 07.12.2017

Regulamenta a Lei nº 12.512, de 14 de outubro de 2011, que institui o Programa de Fomento às Atividades Produtivas Rurais.

Fechamento da Edição: 28�02�2018

Bibliografia Complementar

Recomendamos como sugestão de leitura complementar aos assuntos abordados nesta edição o seguinte conteúdo:

ARTIGO DOUTRINÁRIO

• OCadastroAmbientalRuraleaDispensadeAverbaçãoCartoráriada Reserva Legal Florestal

Marcus Vinícius Coutinho Gomes Juris SÍNTESE ONLINE e SÍNTESENET, disponíveis em: online.sintese.com

Índice Alfabético e Remissivo

Índice por Assunto Especial

DOUTRINAS

Assunto

Cadastro ambiental rural

•Cadastro Ambiental Rural: Importância Ambien-tal e Econômica (Aluer Baptista Freire Júniore Hycaro Daloy Inácio) ..........................................9

•Cadastro Ambiental Rural (CAR/MS) – Regula-mentação e Aplicabilidade do Cadastro Am-biental Rural (CAR) para o Desenvolvimento Econômico Sustentável (Carolina Alves Munizde Freitas) ............................................................29

Autor

aluer baptista Freire Júnior e HyCaro daloy ináCio

•Cadastro Ambiental Rural: Importância Ambien-tal e Econômica ....................................................9

Carolina alves muniz de Freitas

•Cadastro Ambiental Rural (CAR/MS) – Regula-mentação e Aplicabilidade do Cadastro Am-biental Rural (CAR) para o Desenvolvimento Econômico Sustentável .......................................29

HyCaro daloy ináCio e aluer baptista Freire Júnior

•Cadastro Ambiental Rural: Importância Ambien-tal e Econômica ....................................................9

ACÓRDÃO NA ÍNTEGRA

Assunto

Cadastro ambiental rural

•Agravo de instrumento – Suspensão do curso da ação civil pública tem por objeto a repara-ção de danos ambientais, à conta da prorroga-ção por 1 (um ano) do prazo para a inscrição no Cadastro Ambiental Rural (CAR) (Decreto nº 8.235/2014), além de “possível” regulariza-ção ambiental da área objeto da ação – Gene-rosa expectativa que não encontra amparo no texto legal – Recurso provido para determinar oprosseguimento do feito (TRF 3ª R.) ...........2510, 31

EMENTÁRIO

Cadastro ambiental rural

•Cadastro ambiental rural – apresentação – dano ambiental – desmatamento – TAC – reconhe-cimento .....................................................2511, 36

•Cadastro ambiental rural – área de preservação permanente – dano ambiental – dever de re-composição – configuração .......................2512, 36

•Cadastro ambiental rural – área de preserva-ção permanente – recomposição e refloresta-mento – necessidade .................................2513, 38

•Cadastro ambiental rural – área de preserva-ção permanente na reserva legal – considera-ção do art. 67 do Código Florestal – possibili-dade ..........................................................2514, 38

•Cadastro ambiental rural – área de reserva flo-restal legal – obrigação de conservar 20% da área do imóvel rural com vegetação nativa –descumprimento ........................................2515, 39

•Cadastro ambiental rural – assentamento – re-gularização ambiental – responsabilidade – Incra – caracterização ................................2516, 40

•Cadastro ambiental rural – cadastro – licençaambiental – configuração ..........................2517, 41

•Cadastro ambiental rural – danos ambientais – reparação – configuração ..........................2518, 42

•Cadastro ambiental rural – desapropriação – reforma agrária – reserva legal – ausência demá-fé – configuração .................................2519, 44

•Cadastro ambiental rural – desmatamento de área com vegetação nativa – dano e nexo de causalidade – comprovação ......................2520, 44

•Cadastro ambiental rural – imóvel rural – atribui-ção – município – art. 29, § 1º do novo Código Florestal – aplicabilidade ..........................2521, 45

•Cadastro ambiental rural – inscrição – área de reserva legal – obrigatoriedade de averbação – configuração ..............................................2522, 46

•Cadastro ambiental rural – registro de reserva legal – imposição de multa – art. 645 do CPC– desnecessidade .......................................2523, 47

•Cadastro ambiental rural – reserva legal – comprovante de ITR – dúvida registrária – art. 198 da Lei de Registros Públicos – cabi-mento ........................................................2524, 47

•Cadastro ambiental rural – usucapião – imóvel rural sem matrícula – registro da sentença – de-limitação da reserva legal ambiental – neces-sidade ........................................................2525, 48

Índice Geral

DOUTRINAS

Assunto

Crimes ambientais

•Limites à Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica nos Crimes Ambientais (Anysia Carla Lamão Pessanha e Tauã Lima Verdan Rangel) .....65

RSA Nº 40 – Jan-Mar/2018 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO ��������������������������������������������������������������������������������������������������������229 desenvolvimento sustentável

•O Estudo do Impacto de Vizinhança Como Instrumento de Segurança Jurídica e Desen-volvimento Sustentável nos Municípios (Bruno Fialho Ribeiro) .....................................................56

multas ambientais

•Conversão de Multas Ambientais (Jessé Torres Pereira Junior e Thaís Boia Marçal) ......................50

Autor

anysia Carla lamão pessanHa e tauã lima verdan rangel

•Limites à Responsabilidade Penal da PessoaJurídica nos Crimes Ambientais ...........................65

bruno FialHo ribeiro

•O Estudo do Impacto de Vizinhança Como Instrumento de Segurança Jurídica e Desenvol-vimento Sustentável nos Municípios ....................56

Jessé torres pereira Junior e tHaís boia marçal

•Conversão de Multas Ambientais .........................50

tauã lima verdan rangel e anysia Carla lamão pessanHa

•Limites à Responsabilidade Penal da Pessoa Jurí-dica nos Crimes Ambientais .................................65

tHaís boia marçal e Jessé torres pereira Junior

•Conversão de Multas Ambientais .........................50

ACÓRDÃOS NA ÍNTEGRA

Assunto

área de preservação permanente

•Ambiental – Enunciado Administrativo nº 3/STJ – Ação civil pública – Pedido de compensação da reserva legal em área de preservação per-manente – Não cabimento (STJ) .................2526, 82

Crime ambiental

•Direito penal e ambiental – Pesca de lagosta com petrecho não permitido – Crime ambien-tal tipificado no art. 34, parágrafo único, inciso II, da Lei nº 9.605/1998 – Utilização de arma-dilhas em quantidade superior à prevista na licença do Ministério da Pesca – Atipicidade –Apelação provida (TRF 5ª R.) ...................2531, 131

•Penal – Crimes ambientais – Estabelecimento potencialmente poluidor – Olaria – Ausência de autorização ou licença ambiental – La-vra e exploração de argila – Arts. 55 e 60 da Lei nº 9.605/1998 e 2º da Lei nº 8.176/1991(TRF 4ª R.) ...............................................2530, 114

inFração ambiental

•Ambiental, administrativo e constitucional – Transporte irregular de carvão, sem acompa-nhamento da devida licença ambiental – Bens e instrumentos utilizados na prática da infração ambiental – Legalidade da ação da administra-ção pública – Empresa autora proprietária dos bens apreendidos (TRF 1ª R.) .....................2527, 88

Fauna silvestre

•Penal – Processo penal – Art. 296, § 1º, III, do Código Penal – Art. 29, § 1º, III, da Lei nº 9.605/1998 – Anilhas adulteradas – Ma-nutenção de espécimes da fauna silvestre, em cativeiro, em desacordo com autorização da autoridade competente – Materialidade e au-toria comprovadas – Dosimetria – Manutenção – Custas processuais – Réu pobre – Isenção – Apelação desprovida (TRF 3ª R.) ..............2529, 107

resíduos sólidos

•Questão de ordem – Direito ambiental – Ges-tão de resíduos sólidos – Aterro sanitário – De-mandas conexas na Justiça Federal e Estadual – Conflito positivo de competência – Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, d, da CF/1988) (TRF 2ª R.) .................................................2528, 98

unidade de Conservação

•Penal – Processo penal – Crime ambiental – Dano à unidade de conservação de uso susten-tável – Floresta nacional de Brasília – Autoriae materialidade comprovada (TJDFT) .......2532, 137

EMENTÁRIO

Assunto

ação Civil públiCa

•Ação civil pública – abatedouro clandestino – desatendimento de normas de higiene – au-sência de licença ambiental – configuração ................................................................2533, 144

•Ação civil pública – ocupação irregular – faixa da areia da Praia de Geribá – demolição de piso – restituição de vegetação de restinga – danos materiais – dano moral coletivo – não com-provação .................................................2534, 144

•Ação civil pública ambiental – ligação de ener-gia elétrica – unidade de conservação – pré-vio licenciamento ambiental – exigibilidade ................................................................2535, 145

águas pluviais

•Águas pluviais – interferência na vazão e no escoamento – obras de terraplanagem – ala-gamentos – dano moral coletivo – inexistência ................................................................2536, 145

230 ���������������������������������������������������������������������������������������������������������RSA Nº 40 – Jan-Mar/2018 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO

área de preservação permanente

•Área de preservação permanente – constru-ção há mais de vinte anos – área urbana con-solidada – demolição da casa e dos acessó-rios – desnecessidade ..............................2537, 146

•Área de preservação permanente – dano – su-pressão de vegetação nativa – configuração ................................................................2538, 148

•Área de preservação permanente – ocupação – margens do Rio Paraná – construção/refor-ma realizada ao tempo do Código Florestal de1965 – embargos – improcedência ..........2539, 150

•Área de proteção permanente – manguezal – invasão – ausência de intimação pessoal daUnião – configuração ..............................2540, 154

área indígena

•Área indígena – desmatamento – ausência de licenciamento – dano ambiental – configuração ................................................................2541, 155

aterro sanitário

•Aterro sanitário – implantação – alegação de violação à norma técnica – lesão ao patrimô-nio público e dano ambiental – inocorrência ................................................................2542, 158

Crime ambiental

•Crime ambiental – área pertencente à área circundante da reserva antes da instituição da Rebio do Tinguá – modificação da competên-cia material – Justiça Federal – incompetência ................................................................2543, 158

•Crime ambiental – destruição de vegetação de restinga – prescrição – descumprimento deembargo de obra – desobediência ...........2544, 158

•Crime ambiental – exploração de recurso mi-neral – argila – dolo – presente – responsabili-dade criminal – comprovação .................2545, 159

•Crime ambiental – importação e transporte de substância perigosa ou nociva ao meio am-biente – agrotóxico de procedência estrangeira – tipicidade ..............................................2546, 163

•Crime ambiental – pesca com petrechos proi-bidos – traineira – tipicidade – materialidade, autoria e dolo – comprovação .................2547, 163

•Crime ambiental – transporte de lagosta – ta-manho impróprio para pesca e comercializa-ção – dificultação do ato de fiscalização – ma-terialidade e autoria delitivas – comprovação ................................................................2548, 164

Crimes Contra a Flora

•Crimes contra a flora – supressão danificação de vegetação integrante do Bioma Mata Atlântica

– destruição área de preservação permanente – margem de recurso hídrico – princípio da insig-nificância – inaplicabilidade ....................2549, 166

dano ambiental

•Dano ambiental – área de preservação perma-nente – entorno de reservatório artificial – perí-cia – imprescindibilidade .........................2550, 168

•Dano ambiental – competência – local do dano – Lei nº 7.347/1985 – competência ter-ritorial absoluta – princípio da perpetuatio jurisdictionis – exceção ...........................2551, 168

dano eCológiCo

•Dano ecológico – vazamento de óleo lubrifican-te no estuário do Porto de Santos – indeniza-ção pecuniária – razoabilidade e proporciona-lidade – confi guração .............................2552, 169

degradação ambiental

•Degradação ambiental – implantação do es-gotamento sanitário – interrupção de lança-mento de efluentes sem tratamento prévio – necessidade .............................................2553, 171

desastre ambiental

•Desastre ambiental – interrupção ilegal – forne-cimento de água potável – serviço essencial – menor – dano moral in re ipsa – configuração ................................................................2554, 171

exploração Florestal

•Exploração florestal – ausência de autoriza-ção – desmatamento e comercialização das árvores – realização do fim almejado no con-trato – impossibilidade .............................2555, 171

exploração mineral

•Exploração mineral – prescrição do crime am-biental – não ocorrência ..........................2556, 172

extração mineral

•Extração mineral – irregular – Pedreira Serrote – responsabilidade objetiva do proprietário – obrigação propter rem – omissão do órgão am-biental estadual no dever de fiscalizar (CPRH) – delegação – irrelevância .......................2557, 173

Fauna silvestre

•Fauna silvestre – animais em cativeiro – sanção pecuniária desproporcional – princípio da ra-zoabilidade – precedentes .......................2558, 175

Floresta

•Floresta – destruição – absolvição – impossibi-lidade – materialidade e autoria – configuração ................................................................2559, 176

RSA Nº 40 – Jan-Mar/2018 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO ��������������������������������������������������������������������������������������������������������231 ibama

• Ibama – auto de infração – multa – imóvel loca-lizado em área urbana – lei municipal – área de preservação permanente – embargos de decla-ração – omissão inexistente .....................2560, 176

• Ibama – infração ambiental – apreensão de carvão – apreensão de veículo – restituição dobem – possibilidade .................................2561, 177

• Ibama – terras indígenas – arrendamento – rea-lização de diagnóstico ambiental – cabimento ................................................................2562, 179

• Infração ambiental – autuação – Ibama – pás-saros em cativeiro – princípios da proporcio-nalidade e da razoabilidade – possibilidade ................................................................2563, 180

inFração ambiental

• Infração ambiental – despejo de resíduos em área de proteção – parque de uso múltiplo – cerceamento de defesa – não ocorrência ................................................................2564, 183

• Infração ambiental – transporte irregular de carvão – ausência de licença ambiental – bens apreendidos – caracterização ..................2565, 184

liCença ambiental

•Licença ambiental – ausência – fundição de fer-ro e aço – poluição/degradação – princípio daprecaução – possibilidade .......................2566, 186

liCenCiamento ambiental

•Licenciamento ambiental – empreendimento – loteamento – área de proteção ambiental – emissão de declaração – dolo genérico – não verificação ..............................................2567, 187

•Licenciamento ambiental – municipal – atua-ção supletiva do Ibama – possibilidade....2568, 187

mineração

•Mineração – metalurgia – contaminação por chumbo, cádmio e outros metais pesados – omis-são – inexistência do dever de fiscalizar – res-ponsabilidade civil – inocorrência ...........2569, 188

mineral

•Mineral – exploração – extinção de concessão de lavra – cerceamento de defesa – inocorrência ................................................................2570, 189

pesCa

•Pesca – camarão em período de defeso – pre-liminar de prescrição da pretensão punitiva –inocorrência ............................................2571, 192

•Pesca – rede de espera – rejeição de denún-cia – princípio da insignificância – atipicidade ................................................................2572, 192

poder de políCia

•Poder de polícia – Ibama – ausência de licencia-mento – multa – proporcionalidade – nulidade– inexistência ..........................................2573, 193

poluição ambiental

•Poluição ambiental – destruição de floresta –condenação – prova – inexistência ..........2574, 194

poluição sonora

•Poluição sonora – infração ambiental – causa de pedir do mandado de segurança – recurso administrativo – admissibilidade ..............2575, 194

•Poluição sonora – suspensão das atividades do estabelecimento – não observação dos limites de ruídos previstos na ABNT – demolição daconstrução irregular – desnecessidade .....2576, 195

Queimada

•Queimada – área de conservação – curso d’água – princípio da insignificância – configuração ................................................................2577, 195

•Queimada – urbana – caracterização – dano ambiental – indenização – responsabilidade objetiva – dano moral difuso – precedentes ................................................................2578, 196

reserva legal

•Reserva legal – pedido de compensação – área de preservação permanente – não cabimento ................................................................2579, 196

resíduos sólidos

•Resíduos sólidos – aterro sanitário – supressão de vegetação – Bioma da Mata Atlântica – de-claração de utilidade pública – configuração ................................................................2580, 198

terreno de marinHa

•Terreno de Marinha – edificação – interesse da União – art. 109, I, da Constituição de 1988 – aplicabilidade ..........................................2581, 199

ESTUDOS JURÍDICOS

Assunto

meio ambiente

•Área de Relevante Interesse Ecológico do Cocó (ARIE) x Especulação Imobiliária (Lorena Grangeiro de Lucena Tôrres) ..............................201

Autor

lorena grangeiro de luCena tôrres

•Área de Relevante Interesse Ecológico do Cocó(ARIE) x Especulação Imobiliária ........................201

232 ���������������������������������������������������������������������������������������������������������RSA Nº 40 – Jan-Mar/2018 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO

CLIPPING JURÍDICO

•2ª Turma reforma decisão que perdoou multa em infração ambiental .......................................206

•Acidente com carreta causa danos ambien-tais e empresa deve pagar indenização deR$ 100.000,00 ...................................................219

•Acordo celebrado pelo Sistcon resolve contro-vérsia sobre direito de exploração de manganês ..........................................................................220

•Comissão aprova criação de disque-denúncia para crimes ambientais ......................................223

•Estado tem o dever de demarcar terras indí-genas de forma legal e mediante justa indeni-zação .................................................................223

•Garantida posse de terras às comunidades qui-lombolas ............................................................208

•Homem é condenado por desmatamento ilegal ..........................................................................222

•Homem é condenado por manter aves silves-tres em cativeiro ................................................221

• Juiz proíbe utilização de animais em vaqueja-das no DF sob pena de multa de 50 milhõespor infração .......................................................215

• Justiça condena marceneiro por adquirir ma-deira ilegalmente ...............................................214

• Juvam de Rondonópolis apreende 229 kg depescado .............................................................220

•Ministros Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Dias Toffoli apresentam votos sobre CódigoFlorestal .............................................................205

•Projeto inclui região do Pantanal na área deatuação da Sudam .............................................215

•Proposta prevê monitoramento em tempo real de transporte de resíduos sólidos .......................214

•Tribunal determina recomposição de meio ambiente em área preservação em Rosana/SP....207

•Tribunal mantém multa aplicada pelo Ibama a empresa que não portava autorização paratransporte ..........................................................213

•Tribunal suspende liminar que impedia expor-tações de animais vivos em todo o País .............212

•Usina vai indenizar por incêndio em proprie-dade rural vizinha ..............................................208

RESENHA LEGISLATIVA

leis ordinárias

•Lei nº 13.576, de 26.12.2017 – Publicada noDOU de 27.12.2017 .........................................225

•Lei nº 13.575, de 26.12.2017 – Publicada no DOU de 27.12.2017 .........................................225

•Lei nº 13.540, de 18.12.2017 – Publicada no DOU de 19.12.2017 .........................................225

•Lei nº 13.533, de 15.12.2017 – Publicada noDOU de 15.12.2017 – Edição extra...................225

deCretos

•Decreto nº 9.263, de 10.01.2018 – Publicadono DOU de 11.01.2018 ....................................225

•Decreto nº 9.257, de 29.12.2017 – Publicadono DOU de 29.12.2017- Edição extra ...............225

•Decreto nº 9.221, de 06.12.2017 – Publicadono DOU de 07.12.2017 ....................................226