494
p. 1-494 Repositório autorizado de jurisprudência do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, Registro nº 16, Portaria nº 12/90. Os acórdãos selecionados para esta Revista correspondem, na íntegra, às cópias dos originais obtidas na Secretaria do STJ. Repositório autorizado de jurisprudência do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, a partir do dia 17.02.2000, conforme Inscrição nº 27/00, no Livro de Publicações Autorizadas daquela Corte. Jurisprudência Mineira Belo Horizonte a. 57 v. 179 outubro/dezembro 2006 Jurisprudência Mineira Órgão Oficial do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Jurisprudência Mineira_ed.179

Embed Size (px)

Citation preview

  • p. 1-494

    Repositrio autorizado de jurisprudncia do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA, Registro n 16,Portaria n 12/90.

    Os acrdos selecionados para esta Revista correspondem, na ntegra, s cpias dos originais obtidasna Secretaria do STJ.

    Repositrio autorizado de jurisprudncia do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, a partir do dia17.02.2000, conforme Inscrio n 27/00, no Livro de Publicaes Autorizadas daquela Corte.

    Jurisprudncia Mineira Belo Horizonte a. 57 v. 179 outubro/dezembro 2006

    Jurisprudncia Mineirargo Oficial do Tribunal de Justia

    do Estado de Minas Gerais

  • Fotos da Capa:

    Ricardo Arnaldo Malheiros Fiuza - Sobrado em Ouro Preto onde funcionou o antigo Tribunal da Relao - Palcio da Justia Rodrigues Campos, sede do Tribunal de Justia de Minas Gerais

    Srgio Faria Daian - Montanhas de Minas GeraisRodrigo Albert - Corte Superior do Tribunal de Justia de Minas Gerais

    Projeto Grfico: ASCOM/CECOVDiagramao: EJEF/GEJUR/CODIT -Thales Augusto BentoNormalizao Bibliogrfica: EJEF/GEDOC/COBIB

    SuperintendenteDes. Antnio Hlio Silva

    Superintendente AdjuntoDes. Geraldo Augusto de Almeida

    Diretor Executivo de Desenvolvimento de PessoasLeonardo Lcio Machado

    Diretora Executiva de Gesto da Informao DocumentalSilvana Couto Lessa

    Gerente de Jurisprudncia e Publicaes TcnicasDaysilane Alvarenga Ribeiro

    Coordenao de Publicao e Divulgao de Informao TcnicaEliana Whately Moreira - Coordenadora

    Alexandre Silva HabibCeclia Maria Alves CostaJoo Dias de vilaLuiz Gustavo Villas Boas GivisiezMaria Clia da SilveiraMaria da Consolao SantosMaria Helena DuarteMarisa Martins FerreiraMauro Teles Cardoso

    Escola Judicial Des. Edsio Fernandes

    Escola Judicial Desembargador Edsio FernandesRua Guajajaras, 40 - 22 andar - Centro - Ed. Mirafiori - Telefone: (31) 3247-890030180-100 - Belo Horizonte/MG - Brasilwww.tjmg.gov.br/ejef - [email protected]

    *Nota: Os acrdos deste Tribunal so antecedidos por ttulos padronizados, produzidos pela redao da Revista.

    Enviamos em permuta - Enviamos en canje - Nous envoyons en change- Inviamo in cambio - We send in exchange - Wir senden in tausch

    Qualquer parte desta publicao pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.

    ISSN 0447-1768

    JURISPRUDNCIA MINEIRA, Ano 1 n 1 1950-2005Belo Horizonte, Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais

    Trimestral.ISSN 0447-1768

    1. Direito - Jurisprudncia. 2. Tribunal de Justia. Peridico. I.Minas Gerais. Tribunal de Justia.

    CDU 340.142 (815.1)

    Myriam Goulart de OliveiraSvio Capanema Ferreira de MeloTadeu Rodrigo RibeiroVera Lcia Camilo GuimaresWolney da Cunha Soares

    Colaboradoras:Maria Beatriz da Conceio MendonaLiliane Maria Boratto

  • PresidenteDesembargador ORLANDO ADO CARVALHO

    Primeiro Vice-PresidenteDesembargador ISALINO ROMUALDO DA SILVA LISBA

    Segundo Vice-PresidenteDesembargador ANTNIO HLIO SILVA

    Terceiro Vice-PresidenteDesembargador MRIO LCIO CARREIRA MACHADO

    Corregedor-Geral de JustiaDesembargador JOS FRANCISCO BUENO

    Tribunal Pleno

    Desembargadores

    (por ordem de antiguidade em 1.09.2006)

    Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais

    Francisco de Assis FigueiredoGudesteu Biber SampaioEdelberto Lellis SantiagoMrcio Antnio Abreu Corra de MarinsHugo Bengtsson JniorOrlando Ado CarvalhoAntnio Hlio Silva

    Cludio Renato dos Santos CostaIsalino Romualdo da Silva LisbaSrgio Antnio de ResendeRoney Oliveira

    Nilo Schalcher VenturaReynaldo Ximenes Carneiro

    Joaquim Herculano RodriguesMrio Lcio Carreira MachadoJos Tarczio de Almeida MeloJos Antonino Baa Borges

    Jos Francisco Bueno

    Clio Csar Paduani

    Hyparco de Vasconcellos ImmesiKildare Gonalves Carvalho

    Mrcia Maria Milanez CarneiroNilson Reis

    Dorival Guimares Pereira

    Jarbas de Carvalho Ladeira FilhoJos Altivo Brando TeixeiraJos Domingues Ferreira Esteves

    Jane Ribeiro SilvaAntnio Marcos Alvim SoaresEduardo Guimares AndradeAntnio Carlos Cruvinel

    Fernando Brulio Ribeiro TerraEdivaldo George dos Santos

    Silas Rodrigues VieiraWander Paulo Marotta MoreiraSrgio Augusto Fortes BragaMaria Elza de Campos ZettelGeraldo Augusto de AlmeidaCaetano Levi Lopes

    Luiz Audebert Delage FilhoErnane Fidlis dos SantosJos Nepomuceno da SilvaCelso Maciel PereiraManuel Bravo SaramagoBelizrio Antnio de LacerdaJos Edgard Penna Amorim PereiraJos Carlos Moreira DinizPaulo Czar Dias

  • Vanessa Verdolim Hudson Andrade

    Edilson Olmpio FernandesGeraldo Jos Duarte de PaulaMaria Beatriz Madureira Pinheiro Costa CairesArmando Freire

    Delmival de Almeida Campos

    Alvimar de vila

    Drcio Lopardi Mendes

    Valdez Leite Machado

    Alexandre Victor de Carvalho

    Teresa Cristina da Cunha Peixoto

    Eduardo Marin da CunhaMaria Celeste Porto TeixeiraAlberto Vilas Boas Vieira de SousaEulina do Carmo Santos AlmeidaJos Affonso da Costa Crtes

    Antnio Armando dos Anjos

    Jos Geraldo Saldanha da FonsecaGeraldo Domingos CoelhoOsmando Almeida

    Roberto Borges de Oliveira

    Eli Lucas de Mendona

    Alberto Aluzio Pacheco de Andrade

    Francisco Kupidlowski

    Antoninho Vieira de BritoGuilherme Luciano Baeta Nunes

    Maurcio Barros

    Paulo Roberto Pereira da SilvaMauro Soares de Freitas

    Ediwal Jos de Morais

    Ddimo Inocncio de Paula

    Unias Silva

    Eduardo Brum Vieira ChavesWilliam Silvestrini

    Maria das Graas Silva Albergaria dos SantosCosta

    Jos de Dom Vioso Rodrigues

    Elias Camilo SobrinhoPedro Bernardes de OliveiraAntnio Srvulo dos SantosFrancisco Batista de AbreuHelosa Helena de Ruiz CombatJos Amancio de Sousa FilhoSebastio Pereira de Souza

    Selma Maria Marques de SouzaJos Flvio de Almeida

    Tarcsio Jos Martins CostaEvangelina Castilho Duarte

    Otvio de Abreu Portes

    Nilo Nivio LacerdaWalter Pinto da Rocha

    Irmar Ferreira Campos

    Luciano Pinto

    Mrcia De Paoli Balbino

    Hlcio Valentim de Andrade FilhoAntnio de Pdua OliveiraFernando Caldeira Brant

    Hilda Maria Prto de Paula Teixeira da CostaJos de Anchieta da Mota e SilvaJos Afrnio VilelaElpdio Donizetti NunesFbio Maia Viani

    Renato Martins Jacob

    Antnio Lucas PereiraJos Antnio Braga

    Jos Octavio de Brito CapanemaMaurlio Gabriel DinizWagner Wilson FerreiraPedro Carlos Bitencourt MarcondesPedro Coelho VergaraMarcelo Guimares RodriguesAdilson Lamounier

    Cludia Regina Guedes MaiaJos Nicolau Masselli

  • Composio de Cmaras e Grupos - Dias de Sesso

    Primeira Cmara CvelTeras-feiras

    Segunda Cmara CvelTeras-feiras

    Primeiro Grupo deCmaras Cveis

    1 quarta-feira do ms(Primeira e Segunda

    Cmaras, sob a Presidnciado Des. Francisco Figueiredo)

    - Horrio: 13:30 horas -

    Desembargadores

    Mrcio Antnio Abreu Corra de Marins*Eduardo Guimares AndradeGeraldo Augusto de Almeida

    Vanessa Verdolim Hudson Andrade

    Armando Freire* Presidente da Cmara

    Desembargadores

    Francisco de Assis Figueiredo*Nilson Reis

    Jarbas de Carvalho Ladeira FilhoJos Altivo Brando Teixeira

    Caetano Levi Lopes

    Terceira Cmara CvelQuintas-feiras

    Quarta Cmara CvelQuintas-feiras Segundo Grupo de

    Cmaras Cveis

    1 quarta-feira do ms(Terceira e Quarta Cmaras,sob a Presidncia do Des.Nilo Schalcher Ventura)

    - Horrio: 13:30 horas -

    Desembargadores

    Nilo Schalcher Ventura*Kildare Gonalves Carvalho

    Celso Maciel PereiraManuel Bravo Saramago

    Maria das Graas Silva Albergaria dosSantos Costa * Presidente da Cmara

    Desembargadores

    Jos Tarczio de Almeida Melo*Clio Csar Paduani

    Luiz Audebert Delage FilhoJos Carlos Moreira DinizDrcio Lopardi Mendes

    Quinta Cmara CvelQuintas-feiras

    Sexta Cmara CvelTeras-feiras

    Terceiro Grupo deCmaras Cveis

    3 quarta-feira do ms(Quinta e Sexta Cmaras,sob a Presidncia do Des.Dorival Guimares Pereira)

    - Horrio: 13:30 horas -

    Desembargadores

    Cludio Renato dos Santos CostaDorival Guimares Pereira*

    Maria Elza de Campos ZettelJos Nepomuceno da Silva

    Mauro Soares de Freitas * Presidente da Cmara

    Desembargadores

    Jos Domingues Ferreira Esteves*

    Ernane Fidlis dos SantosEdilson Olmpio Fernandes

    Maurcio Barros

    Antnio Srvulo dos Santos

    Stima Cmara CvelTeras-feiras

    Oitava Cmara CvelQuintas-feiras

    Quarto Grupo de CmarasCveis

    3 quarta-feira do ms(Stima e Oitava Cmaras,

    sob a Presidncia doDes. Roney Oliveira)

    - Horrio: 13:30 horas -

    Desembargadores

    Antnio Marcos Alvim Soares*Edivaldo George dos Santos

    Wander Paulo Marotta MoreiraBelizrio Antnio de Lacerda

    Helosa Helena de Ruiz Combat * Presidente da Cmara

    Desembargadores

    Roney Oliveira*

    Fernando Brulio Ribeiro TerraSilas Rodrigues Vieira

    Jos Edgard Penna Amorim PereiraTeresa Cristina da Cunha Peixoto

  • Nona Cmara CvelTeras-feiras

    Dcima Cmara CvelTeras-feiras Quinto Grupo de CmarasCveis

    2 tera-feira do ms(Nona e Dcima Cmaras,

    sob a Presidncia doDes. Osmando Almeida)

    - Horrio: 13 horas -

    Desembargadores

    Osmando Almeida*

    Pedro Bernardes de OliveiraTarcsio Jos Martins CostaAntnio de Pdua Oliveira

    Jos Antnio Braga * Presidente da Cmara

    Desembargadores

    Alberto Vilas Boas Vieira de Sousa*Roberto Borges de Oliveira

    Alberto Aluzio Pacheco de Andrade

    Paulo Roberto Pereira da SilvaEvangelina Castilho Duarte

    Dcima Primeira Cmara CvelQuartas-feiras

    Dcima Segunda Cmara CvelQuartas-feiras

    Sexto Grupo de CmarasCveis

    3 quarta-feira do ms(Dcima Primeira e DcimaSegunda Cmaras, sob a

    Presidncia do Des. Alvimarde vila)

    - Horrio: 13 horas -

    Desembargadores

    Geraldo Jos Duarte de PaulaSelma Maria Marques de Souza*

    Fernando Caldeira Brant

    Jos Afrnio VilelaMarcelo Guimares Rodrigues

    * Presidente da Cmara

    Desembargadores

    Alvimar de vila

    Jos Geraldo Saldanha da FonsecaGeraldo Domingos CoelhoJos Flvio de Almeida*

    Nilo Nivio Lacerda

    Dcima Terceira Cmara CvelQuintas-feiras

    Dcima Quarta Cmara CvelQuintas-feiras Stimo Grupo de Cmaras

    Cveis

    2 quinta-feira do ms(Dcima Terceira e Dcima

    Quarta Cmaras, sob aPresidncia do Des. Valdez

    Leite Machado)

    - Horrio: 13 horas -

    Desembargadores

    Eulina do Carmo Santos Almeida*Francisco Kupidlowski

    Fbio Maia Viani

    Adilson Lamounier

    Cludia Regina Guedes Maia* Presidente da Cmara

    Desembargadores

    Valdez Leite Machado*

    Ddimo Inocncio de Paula

    Elias Camilo SobrinhoHilda Maria Prto de Paula Teixeira da Costa

    Renato Martins Jacob

    Dcima Quinta Cmara CvelQuintas-feiras

    Dcima Sexta Cmara CvelQuartas-feiras

    Oitavo Grupo de CmarasCveis

    3 quinta-feira do ms(Dcima Quinta e Dcima

    Sexta Cmaras, sob aPresidncia do Des. JosAffonso da Costa Crtes)

    - Horrio: 13 horas -

    Desembargadores

    Jos Affonso da Costa Crtes*

    Jos de Anchieta da Mota e SilvaMaurlio Gabriel Diniz

    Wagner Wilson FerreiraPedro Carlos Bitencourt Marcondes

    * Presidente da Cmara

    Desembargadores

    Francisco Batista de AbreuJos Amancio de Sousa FilhoSebastio Pereira de Souza

    Otvio de Abreu Portes*

    Jos Nicolau Masselli

  • Desembargadores

    Eduardo Marin da Cunha*Irmar Ferreira Campos

    Luciano Pinto

    Mrcia De Paoli Balbino

    Antnio Lucas Pereira

    Dcima Stima Cmara CvelQuintas-feiras

    Primeira Cmara CriminalTeras-feiras

    Segunda Cmara CriminalQuintas-feiras

    Terceira Cmara CriminalTeras-feiras

    Desembargadores

    Gudesteu Biber Sampaio

    Edelberto Lellis Santiago

    Mrcia Maria Milanez Carneiro*

    Srgio Augusto Fortes Braga

    Eduardo Brum Vieira Chaves

    Desembargadores

    Reynaldo Ximenes Carneiro*

    Joaquim Herculano Rodrigues

    Jos Antonino Baa Borges

    Hyparco de Vasconcellos Immesi

    Maria Beatriz Madureira PinheiroCosta Caires

    Desembargadores

    Srgio Antnio de Resende

    Jane Ribeiro Silva*

    Antnio Carlos Cruvinel

    Paulo Czar Dias

    Antnio Armando dos Anjos

    * Presidente da Cmara

    Primeiro Grupo de Cmaras Criminais (2 segunda-feira do ms) - Horrio: 13:30 horasPrimeira, Segunda e Terceira Cmaras, sob a Presidncia do Des. Edelberto Santiago

    Segundo Grupo de Cmaras Criminais (1 tera-feira do ms) - Horrio: 13 horasQuarta e Quinta Cmaras, sob a Presidncia do Des. Delmival de Almeida Campos

    * Presidente da Cmara

    Desembargadores

    Delmival de Almeida Campos

    Eli Lucas de Mendona*

    Ediwal Jos de Morais

    William Silvestrini

    Walter Pinto da Rocha

    Desembargadores

    Alexandre Victor de Carvalho

    Maria Celeste Porto Teixeira*

    Antoninho Vieira de Brito

    Hlcio Valentim de Andrade Filho

    Pedro Coelho Vergara

    Quarta Cmara CriminalQuartas-feiras

    Quinta Cmara CriminalTeras-feiras

    Desembargadores

    Guilherme Luciano Baeta Nunes*

    Unias Silva

    Jos de Dom Vioso RodriguesElpdio Donizetti Nunes

    Jos Octavio de Brito Capanema

    Nono Grupo de CmarasCveis

    1 Quinta-feira do ms(Dcima Stima e Dcima

    Oitava Cmaras, sob aPresidncia do Des.

    Eduardo Marin da Cunha)

    - Horrio: 13 horas -

    * Presidente da Cmara

    Dcima Oitava Cmara CvelTeras-feiras

  • Corte Superior (Sesses nas segundas e quartas quartas-feiras do ms - Horrio: 13:30 horas)

    Francisco de Assis FigueiredoGudesteu Biber SampaioEdelberto Lellis Santiago

    Mrcio Antnio Abreu Corra de MarinsOrlando Ado Carvalho

    Presidente

    Antnio Hlio SilvaSegundo Vice-Presidente

    Cludio Renato dos Santos CostaIsalino Romualdo da Silva Lisba

    Primeiro Vice-Presidente

    Srgio Antnio de ResendeRoney Oliveira

    Nilo Schalcher VenturaPresidente do TRE

    Reynaldo Ximenes Carneiro

    Joaquim Herculano RodriguesVice-Presidente e Corregedor do TRE

    Mrio Lcio Carreira MachadoTerceiro Vice-Presidente

    Jos Tarczio de Almeida MeloJos Antonino Baa Borges

    Jos Francisco BuenoCorregedor-Geral de Justia

    Clio Csar PaduaniVice-Corregedor-Geral de Justia

    Hyparco de Vasconcellos ImmesiKildare Gonalves Carvalho

    Dorival Guimares Pereira

    Jarbas de Carvalho Ladeira FilhoJos Altivo Brando Teixeira

    Jos Domingues Ferreira Esteves

    Desembargadores

    Procurador-Geral de Justia: Dr. Jarbas Soares Jnior

    Conselho da Magistratura (Sesso na primeira segunda-feira do ms) - Horrio: 13:30 horas

    Orlando Ado CarvalhoPresidente

    Isalino Romualdo da Silva LisbaPrimeiro Vice-Presidente

    Antnio Hlio SilvaSegundo Vice-Presidente

    Mrio Lcio Carreira MachadoTerceiro Vice-Presidente

    Desembargadores

    Jos Francisco BuenoCorregedor-Geral de Justia

    Antnio Marcos Alvim SoaresEduardo Guimares Andrade

    Antnio Carlos Cruvinel

    Fernando Brulio Ribeiro TerraEdivaldo George dos Santos

  • Comisso de Divulgao e Jurisprudncia

    Desembargadores

    Orlando Ado Carvalho - Presidente

    Eduardo Guimares Andrade - 1 Cvel

    Caetano Levi Lopes - 2 Cvel

    Kildare Gonalves Carvalho - 3 Cvel

    Jos Carlos Moreira Diniz - 4 Cvel

    Maria Elza de Campos Zettel - 5 Cvel

    Ernane Fidlis dos Santos - 6 Cvel

    Antnio Marcos Alvim Soares - 7 Cvel

    Silas Rodrigues Vieira - 8 Cvel

    Osmando Almeida - 9 Cvel

    Paulo Roberto Pereira da Silva - 10 Cvel

    Jos Afrnio Vilela - 11 Cvel

    Geraldo Domingos Coelho - 12 Cvel

    Francisco Kupidlowski - 13 Cvel

    Helosa Helena de Ruiz Combat - 14 Cvel

    Jos Affonso da Costa Crtes - 15 Cvel

    Sebastio Pereira de Souza - 16 Cvel

    Antnio Lucas Pereira - 17 Cvel

    Srgio Augusto Fortes Braga - 1 Criminal

    Beatriz Pinheiro Caires - 2 Criminal

    Jane Ribeiro Silva - 3 Criminal

    Eli Lucas de Mendona - 4 Criminal

    Maria Celeste Porto Teixeira - 5 Criminal

  • SUMRIO

    MEMRIA DO JUDICIRIO MINEIRO

    Desembarbador Petrnio Jos Garcia Leo - Nota biogrfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

    Preservar tambm transmitir - Nota histrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

    DOUTRINA

    Escrituras de inventrios, separaes e divrcios: alguns cuidados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21ANTNIO CARLOS PARREIRA

    Filtragem hermenutico-constitucional da responsabilidade estatal por atos omissivos . . . . . . . . . 29AUGUSTO VINCIUS FONSECA E SILVA

    TRIBUNAL DE JUSTIA DE MINAS GERAIS

    Jurisprudncia Cvel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

    Jurisprudncia Criminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 299

    SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 409

    SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 431

    NDICE NUMRICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 455

    NDICE ALFABTICO E REMISSIVO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 459

  • Mem

    ria

    do

    Judi

    cir

    io M

    inei

    ro

    Desembargador PETRNIO JOS GARCIA LEO

  • Mem

    ria

    do

    Judi

    cir

    io M

    inei

    ro

    Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 13-19, out./dez. 2006 15

    MEMRIA DO JUDICIRIO MINEIRO

    Nota biogrfica

    Desembargador Petrnio Jos Garcia Leo*

    Petrnio Jos Garcia Leo nasceu em 14 de setembro de 1935 na cidade minera de Iguatama.Filho de Pedro Garcia Leo Filho e Gentil Garcia Leo. Casado com Maria de Lourdes Vieira GarciaLeo, com quem teve uma filha: Cludia Vieira Garcia Leo.

    Cursou o ensino primrio no Grupo Escolar Paula Carvalho, em Iguatama, o ginasial no ColgioDom Cabral, em Campo Belo, no Seminrio Nossa Senhora das Dores, em Campanha, e na PiaSociedade de So Paulo, em So Paulo, onde tambm concluiu o curso colegial e os cursos deFilosofia e Teologia. Bacharelou-se em Direito em 10 de dezembro de 1962, pela Faculdade de Direitoda UFMG.

    Advogou no perodo de 1962 a 1966 nas cidades de Belo Horizonte, So Joaquim e Conceiodo Mato Dentro.

    Exerceu o magistrio, sendo Professor de Direito Tributrio em Sete Lagoas; Professor deHistria da Filosofia e Sociologia na Escola Normal de Capelinha; Professor de Latim, Portugus,Histria e Moral e Cvica nas cidades de Dom Joaquim e Capelinha; tendo sido, tambm, Diretor doGinsio Estadual de Dom Joaquim.

    Em 1968, aprovado no concurso pblico para Juiz de Direito do Estado de Minas Gerais, foinomeado para a Comarca de Mesquita, em 02 de outubro de 1968, e, sucessivamente, sempre pro-movido por merecimento, atuou nas Comarcas de Capelinha, de abril de 1970 a julho de 1975, ePatrocnio, de julho de 1975 a agosto de 1979.

    Em agosto de 1979, foi removido a pedido para o cargo de 5 Juiz Substituto de Belo Horizonte.

    Em 07 de outubro de 1981, assume como titular a 4 Vara Cvel da Capital.

    Foi Juiz Substituto nas Comarcas de Itamarandiba, Minas Novas, Monte Carmelo e Coromandele Juiz designado para Santa Maria do Suau.

    Em 24 de fevereiro de 1988, foi promovido para o cargo de Juiz do Tribunal de Alada.

    Em 14 de maio de 1992, atinge o grau mximo de sua carreira, sendo promovido por mereci-mento para o cargo de Desembargador do egrgio Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais,para compor a 2 Cmara Cvel.

    (*) Elaborado pela Assessoria da Memria do Judicirio Mineiro.

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 13-19, out./dez. 200616

    Foi agraciado com os seguintes ttulos e condecoraes: Medalha de Prata Santos Dumont,em 18 de outubro de 1986; Ttulo de Cidado Honorrio de Capelinha; Ttulo de Juiz Cvel do Ano de1984, conferido pelo Clube dos Advogados.

    Faleceu em pleno exerccio de suas funes em 12 de dezembro de 2003.

    Referncias bibliogrficas

    LEO, Petrnio Jos Garcia. Belo Horizonte, 1988. 3 p. Curriculum vitae, 26 fevereiro 1988, Arquivode Provimento de Comarcas da Magistratura de Minas Gerais. Tribunal de Justia do Estado de MinasGerais.

    TRIBUNAL DE JUSTIA DE MINAS GERAIS. Ficha funcional. Arquivo de Provimento de Comarcasda Magistratura de Minas Gerais. Belo Horizonte.

    -:::-

  • Mem

    ria

    do

    Judi

    cir

    io M

    inei

    ro

    Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 13-19, out./dez. 2006 17

    Nota histrica

    Preservar tambm transmitir *

    A lgica de conservao material algo que ainda se pode considerar como muito incipiente nasociedade ocidental. Roma, Florena, Toledo, Ouro Preto, Diamantina e tantas outras cidades intitu-ladas patrimnio da humanidade conservaram-se no somente por polticas pblicas preserva-cionistas, mas tambm por estagnao financeira. H aproximadamente 60 anos, teve incio a toma-da de conscincia da necessidade de se preservarem os traos deixados pelo passado. Aes e polti-cas nesse sentido foram planejadas. Umas ficaram no papel, outras chegaram execuo.

    As primeiras leis que tratam do assunto patrimonial no Brasil datam da dcada de 30 e so declara influncia do movimento que na Europa efervescia, intensificado no ps-guerra, com a emergn-cia de se reconstruir a memria coletiva dos pases destrudos pela guerra. A partir da, a cultura oci-dental se ateve preservao dos bens palpveis, tais como os monumentos, obras de arte, objetosraros, entre outros. Tal concepo de patrimnio gerou dois problemas srios: o congelamento cul-tural e o risco de perda de outras formas de memria.

    Como sabemos, a memria coletiva no apenas o patrimnio fixo, imutvel, a ser contempla-do; pelo contrrio, consiste em um conjunto de grande abrangncia, que diz respeito aos mais varia-dos tipos de manifestaes culturais em estado de constante construo. Outras formas de culturaimaterial no eram contadas como patrimnio. Apenas a partir do Decreto 3.551, de 4 de agosto de2000,1 h um reconhecimento legal da existncia dessas manifestaes.

    As polticas governamentais que tenderam, at recentemente, a priorizar a arte e a cultura ditaerudita acabaram por alijar do espao do debate cultural as manifestaes populares, legtimasexpresses da coletividade, que fomentam todo o sentimento de pertencimento social. Dessa forma,festas tpicas, artesanato, folclore, danas e outros resqucios de nossas razes culturais foram deixa-dos de lado, por no se encaixarem nos preconceitos de arte ditados pelas classes elitistas. Tal pos-tura trouxe consigo o conseqente risco de que manifestaes culturais to relevantes desapare-cessem, antes mesmo de serem mais bem conhecidas.

    Em direo oposta, e no apenas do ponto de vista geogrfico, pases orientais como Japo,China, ndia, etc. sempre zelaram pelo modo de fazer dos pequenos artesos, e os ofcios manuaispassados de pai para filho tambm sempre receberam valorao plena. Para se ter uma idia, odinheiro japons at hoje desenhado manualmente antes de ser impresso. Essas sociedades con-seguiram preservar suas razes, concomitantemente com um avano tecnolgico sem precedentes,mostrando que possvel a convivncia harmoniosa entre o passado e o futuro.

    Percebendo a importncia de tais atitudes na preservao das razes da cultura nacional, oOcidente acabou por modificar suas definies de patrimnio e as maneiras de conserv-lo. Os pioneirosna Europa foram os franceses, desenvolvendo projetos sociais de valorizao de antigos ofcios e

    * Matria elaborada pela Assessoria da Memria do Judicirio.1 Decreto-lei que dispe sobre o patrimnio histrico imaterial e as formas de tomb-lo.

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 13-19, out./dez. 200618

    mostrando as singularidades da arte, em contraste com a globalizao flagrante dos tempos modernos.Instituiu o projeto Mestres da Arte, que reconhece e apia os ofcios que aliam tradio e inovao.Promove a distino daqueles que se destacam por um saber fazer de excelncia e que estejam aptosa compartilhar seus conhecimentos com aprendizes capazes de perpetuar essas competncias.

    No projeto intitulado Tesouros humanos vivos, um programa de valorizao dos mestres emdiferentes ofcios em todo o mundo, a idia resgatar e preservar velhas formas do saber fazer.Segundo as recomendaes da Unesco, esse projeto reconhece oficialmente o valor dos mestres eassegura-lhes condies para que transmitam s novas geraes o saber fazer de tantas modali-dades de patrimnio cultural imaterial ou intangvel, como as lnguas, as tradies orais, os costumes,a dana, os ritos, os festivais, as artes e artesanatos em geral, etc.

    Os artesos, ao ensinarem aos aprendizes o que herdaram de seus pais e avs, garantem apermanncia desses ensinamentos, os quais, de outra maneira, poderiam ser apagados da histria.No objetivo do projeto congelar esse conhecimento. Por ser ele mutante, como a prpria gnesesocial, as prticas antigas convivem com outras desenvolvidas pelos artesos.

    Valores como amizade e respeito mtuo, to esquecidos na selvageria da concorrncia de mer-cado, so reforados e do o toque de distino quilo que produzido nos atelis. O arteso, assimcomo o jurista, sabe que no conhecedor de tudo e que sempre h o que aprender; afinal, a exe-cuo dos ofcios exige dedicao, responsabilidade e a verdadeira maestria do aperfeioamento con-tinuado, a linha da perfeio uma assntota curva descrita pelo progresso humano (ClorindoBurnier).2 O projeto Mestres do saber nos remete ao imensurvel valor do saber fazer, que se aper-feioa e que se adapta ao novo, sem perder suas razes.

    O Tribunal de Justia de Minas Gerais, consciente da tamanha importncia de se conheceraprofundadamente o saber fazer jurdico, criou a Memria do Judicirio Mineiro, em 9 de novembrode 1988, pelo ento presidente do Tribunal de Justia de Minas Gerais, o Desembargador Jos Arthurde Carvalho de Pereira, conhecido por sua atuao brilhante, inteligncia privilegiada e grande cul-tura humanstica.

    Neste espao, ilustres doutores da lei se debruaram sobre o assunto, buscando formas de res-gatar e preservar esse patrimnio para alm de papis e processos antigos. As palavras do discursode seu primeiro superintendente na inaugurao da Mejud, o Desembargador Pedro Braga, denotam,claramente, esta concepo de preservao do ontem em harmonia com o hoje e o amanh: O pas-sado est, generosa e constantemente, a oferecer ao presente e ao futuro a lcida diretriz das suaslies e a grandeza do seu exemplo.

    O fazer jurdico , pois, peculiar e muito distinto, como a confeco de uma pea de arte. Cadaprocesso nico, embora a lei seja igual para todos. Conhecer sua histria nos revela mais quetrmites legais. Por ter base slida nas regras sociais, a existncia e a aplicao das leis podem seconsiderar a expresso dos anseios da sociedade.

    Essa forma de conhecimento permite-nos vislumbrar as trocas culturais que ocorrem nasrelaes estabelecidas pelo ofcio. Um jurista aprende, tambm, sobre os hbitos e a cultura daslocalidades em que trabalha, atravs dos depoimentos processuais e do estudo da gnese dos

    2 ALAMY FILHO, 1961, p. 340.

  • Mem

    ria

    do

    Judi

    cir

    io M

    inei

    ro

    Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 13-19, out./dez. 2006 19

    crimes. Mas no algo unilateral; pelo contrrio, aqueles que participam de alguma forma do proces-so acabam, mesmo que de forma inconsciente, absorvendo um pouco do capital cultural do advoga-do, do juiz e das partes. O dilogo de saberes constitui uma verdadeira troca, que pode promovermudanas significativas no modo de pensar e de entender a sociedade, de ambos os lados.

    Os superintendentes, Desembargador Pedro Braga, Magistrado exemplar, DesembargadorWalter Veado, de slida cultura, notvel inteligncia e privilegiado senso de justia, e o nosso atual,Desembargador Hlio Costa, homem ilustre e competente, extraordinrio orador, de reconhecidosaber jurdico, com brilhantismo profissional e comprometimento cultural, so nossos guias na divul-gao da histria do saber fazer jurdico para as geraes futuras. Verdadeiros Tesouros humanose Mestres da Arte, sem os quais a seriedade e o sucesso do trabalho da Memria do JudicirioMineiro sequer existiriam.

    A eles, nosso eterno reconhecimento pelo trabalho inovador, que garantia do contnuo inter-cmbio cultural que se d por meio do dilogo entre o passado e o presente.

    Referncias bibliogrficas

    ABREU, Regina. Tesouros humanos vivos ou quando as pessoas transformam-se em patrimnio cul-tural - notas sobre a experincia francesa de distino dos Mestres da Arte. In Memria e patrimnio:ensaios contemporneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p. 81-94.

    ALAMY FILHO, Joo. O caso dos irmos Naves, o erro judicirio de Araguari. Belo Horizonte: Ed.Bernardo lvares, 1961, p. 340.

    BRAGA, Antnio Pedro. Discurso do Desembargador Pedro Braga na inaugurao da Memria doJudicirio. In Jurisprudncia Mineira - Memria do Judicirio Mineiro, volume especial n 130, fevereirode 1995, ano 46, p. 33.

    DECRETO n 3.551, de 04 de agosto de 2000: Institui o Registro de bens culturais de natureza ima-terial que constituem patrimnio cultural brasileiro, cria o Programa nacional do patrimnio imaterial ed outras providncias.

    -:::-

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 21-34, out./dez. 2006 21

    Dou

    trina

    DOUTRINA

    ESCRITURAS DE INVENTRIOS, SEPARAES E DIVRCIOS: ALGUNS CUIDADOS

    Antnio Carlos Parreira

    No dia 05 de janeiro de 2007, com a publicao da Lei 11.441, de 04 de janeiro de 2007, tornou-se possvel promover por escritura pblica o inventrio, a separao consensual e o divrcio consen-sual, com as respectivas partilhas dos bens, desde que os contratantes (herdeiros, cnjuge e com-panheiro sobrevivente nos inventrios e cnjuges ou ex-cnjuges nas separaes e divrcios) sejammaiores e capazes.

    Antes se utilizava o termo separao judicial, que, com a Lei do Divrcio, veio substituir o anti-go desquite. Tal expresso indicava a separao em juzo do casal, distinguindo-se da mera sepa-rao de fato.

    Neste texto, utilizarei o termo separao legal, englobando tanto a separao judicial como aseparao contratual, conforme se d em juzo ou por escritura pblica.

    Especificamente sobre as separaes e divrcios, a lei condicionou a lavratura da escriturapblica ausncia de filhos menores ou incapazes do casal, ao passo que no tocante ao inventriono pode existir testamento.

    Desde o incio da tramitao do projeto no Congresso Nacional, foi possvel notar dos ma-gistrados, promotores, advogados e principalmente dos notrios sobre questes que poderiam surgir,principalmente de cunho tributrio, com a mudana radical da legislao, permitindo sejam realizadosde forma administrativa atos que historicamente estavam sujeitos tutela jurisdicional.

    Possvel notar que, passada uma semana da vigncia da nova lei, persistem ainda dvidas eincertezas por parte dos notrios, principalmente pelo temor de praticarem o ato notarial deixando deobservar requisito indispensvel, ou de se exigir o recolhimento de tributo, sendo posteriormenteresponsabilizados pela omisso.

    At porque, se verdade que a lei veio permitir a prtica de tais atos por escritura pblica e que,sendo os contratantes obrigatoriamente maiores, capazes e assistidos por advogados, podem con-tratar livremente, no menos verdade que no afastou ela exigncias outras previstas em leis fe-derais, estaduais e mesmo municipais, aplicveis principalmente em partilhas de bens, em especialquando h desigualdade de valores nos quinhes.

    Assim, penso que devero os tabelies e os advogados que participarem dos atos notariais agircom certa cautela, principalmente nas seguintes situaes:

    1) Partilha amigvel com pagamento do usufruto para o cnjuge ou companheiro e danua-propriedade para os herdeiros

    * Juiz de Direito da Vara de Famlia e Sucesses da Comarca de Varginha (MG).

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 21-34, out./dez. 200622

    Na verdade, o cnjuge ou companheiro sobrevivente, via de regra, tem direito meao dosbens inventariados, os quais j lhe pertencem, em face do regime de bens adotado (comunho uni-versal ou bens adquiridos na constncia do matrimnio no regime de comunho parcial, etc.), aopasso que os herdeiros recebem em partes iguais a meao que pertencia pessoa inventariada. Darna partilha apenas o usufruto para o cnjuge ou companheiro suprstite e a nua-propriedade para osherdeiros significa que o primeiro doou a nua-propriedade de sua meao para os herdeiros, reser-vando o usufruto, e que estes instituram aquele usufruturio das partes que constituem suas legti-mas, recebidas como herana.

    O mesmo se d quando na partilha do inventrio se atribui apenas o usufruto para um herdeiro e anua-propriedade para outro, ou ainda nas separaes e divrcios em relao aos cnjuges ou ex-cnjuges.

    Tal ocorrendo, alm do imposto de transmisso causa mortis nos inventrios, deve o tabelioexigir o prvio pagamento do imposto de transmisso por esses atos inter vivos.

    2) Renncia herana ou meao com beneficirio determinado

    Constantemente se vem nos inventrios herdeiros renunciarem herana em favor de outroherdeiro ou do cnjuge ou companheiro sobrevivente, ou, o que pior, este renunciar meao emfavor de um ou mais herdeiros...

    Na verdade, o Cdigo Civil contempla apenas as hipteses de renncia da herana sem beneficiriodeterminado, antes de praticado ato pelo herdeiro que importe em sua aceitao (arts.1.806 e seguintes doatual e 1.581 e seguintes do anterior), no havendo previso legal para a renncia da meao.

    Mas na prtica a doutrina e a jurisprudncia acabaram por admitir a chamada renncia transla-tiva, expresso esta sobre a qual, certa feita, consagrado jurista escreveu que o substantivo brigacom o adjetivo, porquanto quem renuncia nada transfere.

    Na verdade, tais renncias nada mais so do que doaes disfaradas, pois, somente seaceitar a herana, poder o renunciante transferir os bens que a integram para pessoa por ele deter-minada. Caso contrrio, havendo renncia pura e simples como previsto na lei, a parte do renuncianteacresce por vontade da norma legal (e no dele) dos outros herdeiros da mesma classe, ou da sub-seqente, conforme o art. 1.810 do Cdigo Civil.

    Da mesma forma, mesmo antes do evento morte, o cnjuge ou companheiro meeiro j era pro-prietrio da meao dos bens comuns, importando em doao sua renncia translativa em favor deum ou mais herdeiros.

    Portanto, possvel que nas escrituras de inventrio os herdeiros ou os meeiros faam doaode suas legtimas ou meaes uns aos outros, devendo os notrios utilizar o termo correto de doao,evitando a renncia translativa ou a renncia em favor de...

    No obstante seja a expresso utilizada doao, ou renncia translativa, ou renncia com bene-ficirio determinado ou renncia em favor de algum, h na espcie transmisso gratuita de bens, porato inter vivos, impondo-se o prvio recolhimento do imposto de transmisso respectivo ou o reconhe-cimento pelo Fisco da iseno.

    3) Renncias sem beneficirios determinados

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 21-34, out./dez. 2006 23

    Dou

    trina

    Nada impede que, na mesma escritura de inventrio e partilha, um ou mais herdeiros renunciem herana que lhes cabe sem beneficirio determinado (art. 1.806 do Cdigo Civil), sendo beneficia-dos com essa renncia os outros herdeiros da mesma classe, como, por exemplo, os outros filhos doinventariado, irmos do renunciante, ou os herdeiros da classe subseqente (ex.: todos os filhos doinventariado vivo renunciam, passando a herana ento para os pais do de cujus).

    Mas, nesses casos, devem ser tomados alguns cuidados, no de natureza tributria, inexistentetributao na renncia da herana pura e simples.

    que algumas vezes certos herdeiros ao renunciarem desejam de fato beneficiar determinadapessoa, no o declarando expressamente para evitar a tributao, imaginando que a disposio da leiatende a suas vontades, com o acrscimo das partes que renunciaram da pessoa por eles visada.

    Por exemplo: todos os filhos, querendo beneficiar sua me, que foi casada com o de cujus sobo regime da comunho universal de bens, renunciam herana que lhes cabe, sem indicar benefi-cirio determinado, supondo erroneamente que suas partes acrescero da sua genitora, uma vezque o inventariado, seu pai, faleceu sem deixar ascendentes.

    No entanto, esses herdeiros renunciantes tm filhos, inclusive um menor.

    Nessa hiptese, pela regra do art. 1.811 do Cdigo Civil, as partes dos renunciantes serotransmitidas aos seus filhos (netos do inventariado), por direito prprio, e por cabea, e no ao cn-juge sobrevivente, impondo-se ao tabelio ateno redobrada para no contribuir no equvoco doscontratantes.

    At porque, numa situao como a retratada acima, no poder o tabelio lavrar a escritura,pois a partilha dever obrigatoriamente contemplar herdeiro incapaz (filho menor do renunciante).

    4) Existncia de processos de inventrio, separao e divrcio

    A existncia de processo de inventrio ainda no encerrado, porquanto no julgada a partilha,no impede a realizao do inventrio por escritura pblica, bastando que cpia autntica dela poste-riormente seja juntada ao processo para extino do feito, por perda de objeto.

    No entanto, dever o juiz examinar se, na escritura de inventrio e partilha, foram observadosos requisitos legais e recolhidos os tributos incidentes, dando cincia ao Fisco de eventual sonegaopara as providncias administrativas ou judiciais que o ente pblico entender cabveis.

    Igualmente possvel lavrar escrituras de divrcio e separao, mesmo existindo processos arespeito ainda no julgados, os quais perdero seu objeto, sendo extintos sem exame do mrito, umavez neles juntadas as cpias autnticas das escrituras.

    Embora no obrigatrio, de todo recomendvel que o tabelio indague dos contratantes e faaconstar da escritura se existe processo em tramitao, se possvel indicando seu nmero e vara,sendo apresentada e arquivada certido sobre o estgio em que se encontra o feito.

    5) Renncia herana em processo de inventrio ou em outra escritura anterior

    Entendo que, se j existia processo de inventrio e nele determinado herdeiro renunciou suaparte na herana, sem beneficirio determinado, ou mesmo se ocorreu a renncia translativa, com

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 21-34, out./dez. 200624

    recolhimento do imposto de transmisso inter vivos, salvo declarao do Fisco de sua iseno/no-incidncia, e tal renncia com ou sem beneficirio tenha sido objeto de homologao pelo juiz, podero tabelio lavrar uma escritura de inventrio e partilha, sem a presena no ato do herdeiro renunciante,tocando a parte que lhe caberia aos demais herdeiros nos termos da lei ou ao herdeiro beneficiadocom a renncia translativa, desde que os interessados apresentem certido atualizada do processode inventrio, expedida pelo escrivo do feito, da qual seja possvel aferir que a renncia se refere aosbens inventariados e partilhados.

    Tambm desnecessria a presena na escritura de inventrio e partilha do herdeiro renun-ciante, se tal renncia, observados os requisitos legais, se deu por outra escritura pblica, em opor-tunidade anterior e em tabelionato diverso, porquanto admitida pelo art. 1.806 do Estatuto Civil.

    Mas repito: indispensvel se possa aferir, tanto pela escritura anterior como pela certido dotermo judicial homologado pelo juiz, que a renncia envolveu os direitos hereditrios sobre os bensinventariados, objeto da escritura de inventrio e partilha.

    6) Inventrio e partilha realizados por herdeiros de uma classe posterior, segundo aordem de vocao hereditria

    Pode acontecer de os contratantes do inventrio e partilha serem herdeiros de uma classe pos-terior na ordem de vocao hereditria, como ocorre, por exemplo, na hiptese de promoverem oinventrio e partilha os irmos do inventariado, em virtude do prvio falecimento da esposa, dos filhos,dos netos e dos pais do de cujus.

    Indispensvel que, em situaes como esta, os tabelies exijam a comprovao no somentedo bito do inventariado, mas de todos os herdeiros das classes anteriores, vale dizer, de todas aque-las pessoas que antecederiam os contratantes na ordem de vocao hereditria.

    O mesmo cuidado de se ter quando do direito de representao na linha reta descendente eprincipalmente na linha transversal, pois, nesse ltimo caso, somente se d o direito de representaoem favor dos filhos de irmos do falecido, quando com irmos deste concorrerem (art. 1.853 doCdigo Civil).

    7) Concorrncia entre herdeiros e incidncia do imposto de transmisso sobre as partesque excederem as legtimas

    Devem os notrios atentar ainda para as hipteses em que o cnjuge sobrevivente concorrecom herdeiros descendentes e ascendentes. Com os primeiros poder herdar metade (1/2) da he-rana, ou um tero (1/3) dela ou no mnimo um quarto (1/4), dependendo se concorre com apenas um,com dois ou com trs ou mais descendentes (CC, art. 1.832).

    J com ascendentes poder receber uma tera parte ou metade da herana (art. 1.832).

    Possvel, ainda, a concorrncia entre irmos bilaterais com unilaterais (art. 1.840) ou entre seusrespectivos filhos ( 2 do art. 1.843), quando estes herdaro metade daqueles.

    Em todas essas situaes, dependendo do nmero de herdeiros ou mesmo do vnculo unila-teral ou bilateral que os une, podero os herdeiros receber quinhes diferenciados de uma escriturapara outra. Se os notrios no atentarem para o fato, podero beneficiar determinado herdeiro em pre-juzo de outro. E, mais, ao efetuarem na escritura pagamento a maior, poder o Fisco interpretar que

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 21-34, out./dez. 2006 25

    Dou

    trina

    houve uma transmisso gratuita (doao), sem que houvesse o indispensvel recolhimento do impos-to respectivo, cobrando a omisso do cartorrio.

    8) Incidncia do imposto de transmisso por ato inter vivos sobre as partes que exce-derem a meao ou as legtimas

    Se, na partilha dos bens no inventrio, na separao ou no divrcio, houver pagamento a maiorpara meeiro, de forma gratuita, restar caracterizada a doao, sujeita ao imposto de transmisso porato inter vivos devido ao Estado, salvo iseno por ele reconhecida.

    Para tanto devem ser observados exclusivamente os valores dos bens comuns, sujeitos par-tilha.

    Se, para compensar o recebimento a maior, o herdeiro ou o meeiro efetuar um pagamento emdinheiro ou mediante dao de outros bens, restar caracterizada a transmisso onerosa, como se hou-vesse uma compra da parte excedente. Nessa hiptese, se o valor excedente corresponder a imvel,haver tributao, porm em favor do Municpio da situao do bem, a ttulo de imposto sobre a trans-misso de bem imvel (ITBI), salvo iseno ou no-incidncia segundo a lei municipal respectiva. Damesma forma, se em pagamento for dado outro bem imvel, devido o ITBI pela transmisso desse bem.

    9) Prazo para recolhimento do imposto de transmisso causa mortis nas escrituras deinventrio

    Tais prazos dependem das leis estaduais que tratam da matria. Em Minas Gerais, o impostosobre a transmisso causa mortis e doao de quaisquer bens ou direitos, conhecido por ITCD, atual-mente regido pela Lei Estadual n 14.941, de 29.12.2003, que, nos casos de transmisso causa mor-tis, fixa para pagamento um prazo mximo de 180 dias, contados da data da abertura da sucesso(art. 13, inciso I).

    No obstante, o prprio Cdigo de Processo Civil prev o prvio recolhimento dos tributos antesda sentena que julga a partilha (art. 1.026), ou antes da expedio do formal de partilha (art. 1.031, 2), vale dizer, antecedendo a concluso do processo de inventrio.

    A lei mineira prev, no 1 do mencionado artigo 13, que o ITCD ser pago antes da lavratu-ra da escritura pblica e antes do registro de qualquer das hipteses previstas nesta Lei.

    Obviamente, no se refere s escrituras de inventrio, separao e divrcio, pois inexistentes einadmissveis at 04 de janeiro passado.

    Assim, como o ITCD sempre foi exigido antes do encerramento do processo de inventrio, viade regra antes mesmo de proferida sentena julgando a partilha ou adjudicando os bens a herdeironico, entendo deva o respectivo tributo ser exigido tambm antes da lavratura da escritura.

    Da mesma forma, eventuais impostos incidentes sobre as partes que excederem gratuitamentea legtima do herdeiro ou a meao do cnjuge ou companheiro sobrevivente, ou ainda sobre asrenncias translativas, devero ser recolhidos antes da lavratura da escritura de inventrio e partilha,visto configurarem verdadeira doao.

    E, nessas hipteses em que o imposto de transmisso deve ser exigido previamente, impe-seaos notrios observar para fins de tributao se h desigualdade das legtimas ou desrespeito ao

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 21-34, out./dez. 200626

    direito de meao, considerando para tanto a avaliao dos bens realizada pelo Fisco estadual, poucoimportando atribuam os contratantes valores diferentes da fiscalizao, segundo os quais no have-ria desigualdade dos quinhes hereditrios ou prejuzo ao meeiro.

    Em suma: aconselho aos tabelies exigir o prvio recolhimento do ITCD, antes da lavratura dasescrituras de inventrio e partilha, mesmo se os bens partilhados forem situados em outras unidadesda Federao.

    10) Prazo para recolhimento do imposto de transmisso por ato inter vivos nas escriturasde separao e divrcio

    Relativamente aos processos judiciais de separao e divrcio, em Minas Gerais o imposto detransmisso incide apenas sobre o valor que exceder meao, transmitido de forma gratuita, comprazo para pagamento de at 15 dias, contados da data do trnsito em julgado da sentena, nos ter-mos do inciso III do mencionado art. 13 da Lei Estadual n 14.941, de 29.12.2003.

    Em razo disso, descarta-se a possibilidade de se exigir previamente o recolhimento do tributono prprio processo, porquanto, com o trnsito em julgado da sentena, possvel desde logo a expe-dio do formal de partilha ou da carta de sentena e o arquivamento do processo.

    Concluo, assim, por analogia, ser possvel aos separandos ou divorciandos recolher o tributo(se devido for), no prazo de 15 dias contados da lavratura da escritura de separao ou divrcio, noobstante seja de todo aconselhvel o seu prvio pagamento.

    E, no sendo exigvel o pagamento do imposto antes da escritura, no h necessidade tambmde prvia manifestao do Fisco sobre os valores atribudos pelos contratantes aos bens partilhados.

    Uma coisa certa: seja escritura de inventrio e partilha, seja de separao ou divrcio, o paga-mento dos impostos de transmisso causa mortis ou por atos inter vivos deve preceder obrigatoriamenteao registro imobilirio, conforme em Minas Gerais exige o artigo 18 da lei anteriormente referida.

    11) Possibilidade de divrcio direto consensual

    Entendo possvel a realizao do divrcio direto consensual por escritura pblica, bastando queos divorciandos apresentem declarao escrita de duas ou mais pessoas, com firmas reconhecidas,atestando sob as penas da lei saber que o casal se encontra separado de fato, ininterruptamente, hmais de dois anos. Tambm possvel a presena de testemunhas no ato para dar tal declarao, sem-pre sob as penas da lei em caso de falsidade.

    No entanto, como h acirrada divergncia a respeito, e salvo se houver autorizao judicial paraa lavratura do ato, aconselhvel aos tabelies aguardar instrues a respeito da sua Corregedoria-Geral de Justia, ou que seja pacificado o entendimento por mudana da lei ou por construojurisprudencial.

    12) Possibilidade da separao e divrcio por escritura, mesmo existindo filhos menoresou maiores incapazes

    A lei clara ao condicionar as escrituras de separao e divrcio ausncia de filhos menoresou maiores incapazes do casal.

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 21-34, out./dez. 2006 27

    Dou

    trina

    No entanto, princpio comezinho de direito ptrio que a lei deve ser aplicada segundo os finssociais a que se destina, de modo a afastar a vedao em alguns casos especiais.

    Com efeito, a finalidade da lei nova foi simplificar as separaes e divrcios consensuais, medi-ante procedimento administrativo rpido, quando desnecessria a interveno judicial.

    Afastou-se a possibilidade de realizao dos atos notariais quando da presena de filhos inca-pazes dos separandos e divorciandos, uma vez ser indispensvel a tutela dos interesses destes peloPoder Judicirio, sob a fiscalizao do Ministrio Pblico.

    Mas e se os direitos indisponveis dos filhos incapazes j estiverem judicialmente tutelados e asescrituras de separao e divrcio ratificarem as decises judiciais, sem quaisquer alteraes pelocasal? Qual o prejuzo para os filhos incapazes?

    Nenhum.

    Assim, se for caso de mera converso consensual de separao judicial em divrcio, no qualficaro mantidas as clusulas da separao relativas guarda, direito de visita e penso alimentciados filhos menores e maiores incapazes, obviamente que nenhum prejuzo poder ocorrer para os fi-lhos. Nessa hiptese, se foram prejudicados, tal se deu no processo judicial da separao e sob asbarbas do juiz de direito e do promotor de justia.

    Ora, tambm possvel em processo contencioso ou consensual serem resolvidas as questes dealimentos, guarda e direito de visita dos filhos incapazes, podendo os cnjuges em escritura de sepa-rao ou divrcio consensual direto ratificar o acordo homologado ou a deciso imposta pelo Judicirio.

    Tal ocorrendo, no h margem para prejuzo para os filhos.

    Em resumo: entendo que a inteno do legislador, ou melhor, que o fim social buscado foi uni-camente impedir que os cnjuges ou ex-cnjuges, em escrituras de separao ou divrcio, portantosem a presena do juiz de direito e do promotor de justia, estabeleam ou alterem direitos envol-vendo filhos menores ou maiores incapazes, especialmente sobre penso alimentcia, guarda e direi-to de visita, de modo a permitir ao Judicirio afastar tal bice para a lavratura da escritura pblica,quando j tutelados judicialmente os direitos desses filhos, limitando-se o casal a ratificar as condiesdessa tutela judicial.

    Acredito que, com o decorrer do tempo, ser essa a posio adotada pela maioria dos juzes.No entanto, como aos tabelies no dado decidir, devem-se abster de lavrar escrituras quando exis-tentes filhos incapazes, seguindo risca a letra fria da lei, podendo quando muito levantar dvida aomagistrado, ou instruir os contratantes a postular autorizao judicial.

    Na prtica, entre aguardar uma deciso em processo de dvida ou de autorizao judicial paraa lavratura da escritura, prefervel requerer a separao ou o divrcio em juzo.

    13) Escritura de inventrio e adjudicao

    A lei autoriza seja lavrada a escritura de inventrio e partilha, quando os interessados foremmaiores e capazes.

    Mas, se houver herdeiro nico, sendo caso de adjudicao?

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 21-34, out./dez. 200628

    No vejo qualquer bice em se lavrar uma escritura de inventrio e adjudicao, figurando onico herdeiro como outorgante declarante.

    Comprovada a qualidade de herdeiro nico, observadas as demais exigncias legais e recolhi-do o imposto de transmisso causa mortis, deve o tabelio lavrar mencionada escritura, por se tratarde situao singela, menos complexa do que se houvesse outro ou outros herdeiros e, conseqente-mente, uma partilha.

    14) Concluso

    Tomados esses cuidados, observando-se pela certido do registro civil o bito da pessoa inven-tariada ou o tempo mnimo de casamento para a separao consensual (CC, art. 1.574) ou para a con-verso da separao legal em divrcio (art. 1.580), no h qualquer empecilho em se lavrar escriturade inventrio, separao ou divrcio, por se tratar de ato notarial como outro qualquer.

    A lei veio em boa hora, com possibilidade de desafogar o Judicirio, dele retirando casos nosquais sua interveno no se justifica. Apenas uma crtica: deveria o legislador, ao invs de criar maisuma forma de separao legal, ter aproveitado a oportunidade para acabar com a separao judicial,e principalmente com a discusso de culpa pela separao, fonte interminvel de litgios no Judicirio,cuja finalidade nica manter abertas as feridas das separaes traumticas.

    Como costumeiramente diz o Desembargador Judimar Martins Biber Sampaio: vamos semmedo.

    -:::-

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 21-34, out./dez. 2006 29

    Dou

    trina

    FILTRAGEM HERMENUTICO-CONSTITUCIONAL DA RESPONSABILIDADEESTATAL POR ATOS OMISSIVOS

    Augusto Vincius Fonseca e Silva*

    Apesar de o Direito brasileiro, desde a Constituio Federal de 1946, ter adotado a Teoria daResponsabilidade Objetiva do Estado nos casos de responsabilizao civil extracontratual, ainda gras-sa, na doutrina e na jurisprudncia, controvrsia quando o problema toca aos atos omissivos estatais.

    A Constituio atual, no art. 37, 6, parece ser bem clara na adoo de tal teoria, porquantono faz qualquer meno a elemento que induza adoo da subjetivao da responsabilidade.Nesse mesmo sentido, veio tona o art. 43 do Cdigo Civil de 2002, cuja redao praticamente repetea daquele dispositivo, mas que consubstanciou significativa alterao do tema na seara infraconstitu-cional, haja vista que o art. 15 do Cdigo Civil de 1916 permitia ilao de ser subjetiva a responsabi-lidade do Estado.1

    A clareza dos dispositivos da Constituio de 1988 e do Cdigo Civil novo, porm, no afasta anecessidade de interpret-los. O brocardo in claris cessat interpretatio, j se dizia, uma afirmativasem nenhum valor cientfico, ante as idias triunfantes da realidade (MAXIMILIANO, 1979, p. 33).Bem por isso, a doutrina no prescinde do exerccio hermenutico, mesmo quando claras as pres-cries normativas. A bem da verdade, a clareza no inerente letra da lei, mas ao resultado dainterpretao que se faz de tal letra. Flvia de Almeida Viveiros de Castro (2004, p. 7) preconiza inci-sivamente que a clareza e a obscuridade no so, via de regra, qualidades intrnsecas a um texto,que precederiam a interpretao do mesmo. Elas so fruto da atividade interpretativa.

    Logo, como disserta Pietro Perlingieri (2002, p. 72), a clareza, se existe, no pode ser um prius,mas um posterius da interpretao: no a premissa, mas o resultado da interpretao.

    A interpretao, para Ronald Dworkin (1998, p. 71), importa

    (...) o relato de um propsito; ela pressupe uma forma de ver o que interpretado uma prticasocial ou uma tradio, tanto quanto um texto ou uma pintura como se este fosse o produto deuma deciso de perseguir um conjunto de temas, vises ou objetivos, uma direo em vez de outra.

    Conseqentemente, escorreito afirmar, com Paulo Bonavides (2003, p. 437), que busca ainterpretao, portanto, estabelecer o sentido objetivamente vlido de uma regra de direito. Questionaa lei, no o direito (...). No h norma jurdica que dispense interpretao.

    Mas quem exerce a interpretao? Responde Peter Hberle (1997, p. 15): todo aquele que viveno contexto regulado por uma norma e que vive com este contexto , indireta, ou at mesmo direta-mente, um intrprete desta norma.

    * Juiz de Direito em Minas Gerais. Ps-Graduado em Direito Civil e Direito Processual Civil pela Unesa - Rio deJaneiro. Ex-Professor de Direito Constitucional da Faculdade de Direito da Universidade Estcio de S - CampusJuiz de Fora. Ex-Procurador do Municpio de Juiz de Fora.1 CC/1916, art. 15: As pessoas jurdicas de direito pblico so civilmente responsveis por atos de seus repre-sentantes que nessa qualidade causem danos a terceiros, procedendo de modo contrrio ao direito ou faltandoa dever prescrito por lei, salvo o direito regressivo contra os causadores do dano.

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 21-34, out./dez. 200630

    Sendo, pois, imperioso o exerccio hermenutico de tais dispositivos, deve ser feito, inexora-velmente, luz da Constituio Federal, que deve joeirar todo o processo interpretativo. J afirmaraLuis Roberto Barroso (2004) que

    (...) o Direito Constitucional um modo de olhar o Direito, e a Constituio a lente por que sedeve ler e interpretar os demais ramos do Direito, de modo que o Direito infraconstitucional deveser lido e reinterpretado a partir da Constituio, cuja supremacia, alm de formal, axiolgica.Enfim, toda interpretao jurdica constitucional. A norma infraconstitucional deve ser interpreta-da como forma de viabilizar e concretizar a vontade constitucional.

    O processo de filtragem constitucional, assevera Paulo Ricardo Schier (1999, p. 104), querdizer que

    (...) a ordem jurdica, sob a perspectiva formal e material, e assim os seus procedimentos e valores,devem passar sempre e necessariamente pelo filtro axiolgico da Constituio Federal, impondo,a cada momento da aplicao do Direito, uma releitura e atualizao de suas normas.

    Subsumindo-se, pois, o tema da responsabilidade civil estatal por omisso ao critrio da fil-tragem hermenutico-constitucional, procurar-se- demonstrar, ao final, que, mesmo nos casos omis-sivos, tem aquela responsabilidade natureza objetiva.

    Esclarea-se, entrementes, que no tem por escopo o presente trabalho sinalizar no sentido dea concluso alcanada ser a nica correta, pois,

    (...) a interpretao de uma lei no deve necessariamente conduzir a uma nica soluo comosendo a nica correta, mas possivelmente a vrias solues que na medida em que apenassejam aferidas pela lei a aplicar tm igual valor, se bem que apenas uma delas se torne Direitopositivo no ato do rgo aplicador do Direito no ato do Tribunal, especialmente (KELSEN, 1994,p. 390-391).

    Por isso, que h corrente sectria da teoria subjetiva, capitaneada por juristas de escol.

    Tem-se na pessoa do professor Celso Antnio Bandeira de Mello o maior defensor da teoria daresponsabilidade subjetiva do Estado por atos omissivos. Segundo ele,

    (...) h previso de responsabilidade objetiva do Estado, mas, para que ocorra, cumpre que os danosensejadores da reparao hajam sido causados por agentes pblicos. Se no foram eles os cau-sadores, se incorreram em omisso e adveio dano para terceiros, a causa outra; no decorre docomportamento dos agentes. Ter sido propiciada por eles. A omisso haver condicionado suaocorrncia, mas no a causou. Donde no h cogitar, neste caso, responsabilidade objetiva (...). Aresponsabilidade por omisso responsabilidade por comportamento ilcito. E responsabilidadesubjetiva, porquanto supe dolo ou culpa em suas modalidades de negligncia, impercia ouimprudncia, embora possa tratar-se de uma culpa no individualizvel na pessoa de tal ou qual fun-cionrio, mas atribuda ao servio estatal genericamente. a culpa annima ou faute de service dosfranceses, entre ns traduzida por falta do servio (Responsabilidade extracontratual do Estado porcomportamentos administrativos - RT 552/13).

    No mesmo diapaso, Rui Stoco (2004, p. 963), j dissertando sob a gide do CC/2002:

    A premissa fundamental, portanto, a de que a responsabilidade do Estado, nos termos do art. 37, 6, da CF/88, s objetiva quando os danos a terceiros forem causados diretamente por seusagentes, nessa qualidade. a teoria do risco que dispensa qualquer indagao acerca da juridici-dade e da culpabilidade.

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 21-34, out./dez. 2006 31

    Dou

    trina

    Ora, a omisso do Estado annima, posto que se produz em algo que a prpria Administraono fez, quando devia fazer. No tomou providncias quando estas eram exigidas. Omitiu-se,danosamente, quando exigia um comportamento ativo. O servio falhou sem que houvesse a par-ticipao direta de qualquer agente pblico.Se assim , o comportamento omissivo do prprio Poder Pblico no se encaixa nem no art. 37, 6, da Constituio Federal, nem no art. 43 do Cdigo Civil, e, portanto, empenha responsabilidadesubjetiva.Embora o art. 43 do atual Cdigo Civil tenha se apartado da teoria abraada no art. 15 do revoga-do Cdigo de 1916, pois este adotava a responsabilidade subjetiva do Estado, e aquele preceito doCdigo atual na linha do princpio estabelecido pela Constituio Federal tenha acolhido aresponsabilidade objetiva do Estado, a situao no muda, segundo nos parece.

    A jurisprudncia, tanto dos colendos Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justia,quanto do egrgio Tribunal de Justia de Minas Gerais, tambm endossa a posio subjetivista:

    A Turma negou provimento a recurso extraordinrio no qual se pretendia, sob alegao ao art. 37, 6, da CF, a reforma do acrdo do Tribunal de Justia do Rio Grande do Norte, que, entenden-do caracterizada na espcie a responsabilidade objetiva do Estado, reconhecera o direito de inde-nizao devida a filho de preso assassinado dentro da prpria cela por outro detento. A Turma,embora salientando que a responsabilidade por ato omissivo do Estado se caracteriza como sub-jetiva no sendo necessria, contudo, a individualizao da culpa, que decorre de forma genri-ca, da falta de servio , considerou presente, no caso, o nexo de causalidade entre a ao omis-siva atribuda ao Poder Pblico e o dano, por competir ao Estado zelar pela integridade fsica dopreso (STF - RE 372472/RN - Rel. Min. Carlos Veloso - j. em 04.11.2003 - Informativo n 329 STF).

    Processual civil. Administrativo. Violao dos arts. 131, 165 e 458, II, do CPC configurada.Aplicao da teoria da responsabilidade civil subjetiva. Omisso do Poder Pblico. Pleito de danosmateriais e morais. Morte de funcionrio em hospital pblico. Fato presumvel. Onus probandi.- 1. cedio no Tribunal que: Administrativo. Responsabilidade civil do Estado. Ato omissivo. Mortede portador de deficincia mental internado em hospital psiquitrico do Estado. - A responsabilidadecivil que se imputa ao Estado por ato danoso de seus prepostos objetiva (art. 37, 6, CF), impon-do-lhe o dever de indenizar se se verificar dano ao patrimnio de outrem e nexo causal entre o danoe o comportamento do preposto. - 2. Somente se afasta a responsabilidade se o evento danoso resultar de caso fortuito ou foramaior ou decorrer de culpa da vtima. - 3. Em se tratando de ato omissivo, embora esteja a doutrina dividida entre as correntes dos adep-tos da responsabilidade objetiva e aqueles que adotam a responsabilidade subjetiva, prevalece najurisprudncia a teoria subjetiva do ato omissivo, de modo a s ser possvel indenizao quandohouver culpa do preposto.- 4. Falta no dever de vigilncia em hospital psiquitrico, com fuga e suicdio posterior do paciente.- 5. Incidncia de indenizao por danos morais. - 6. Recurso especial provido (STJ - 1 T. - REsp 738833/RJ - Rel. Min. Luiz Fux - j. em 08.08.2006- DJ de 28.08.2006, p. 227).

    Indenizao. Leso corporal de detento sob custdia do Estado. Ato omissivo. Responsabilidadesubjetiva. - Tratando-se de suposto ato omissivo do Poder Pblico, a responsabilidade subjetiva,exigindo a presena do dolo ou da culpa por faute du service dos franceses. Assim, a espcie regida pelo direito comum - art. 159 do Cdigo Civil (vigente data dos fatos), que estabelece aresponsabilidade civil de indenizar quele que por ao ou omisso voluntria causar prejuzo aoutrem. Se a situao especfica era evitvel, decorre da a omisso do Estado, como condio dodano, porque foi essa omisso que propiciou a sua ocorrncia e, portanto, a sua responsabilidadeindenizatria (TJMG - Processo n 1.0024.03.058108-6/001 - Rel. Des. Geraldo Augusto - j. em25.10.2005 - pub. em 25.11.2005).

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 21-34, out./dez. 200632

    A anlise dos atuais dispositivos - constitucional (art. 37, 6, da CF/88) e legal (art. 43 doCC/2002) - deve obedecer aos mtodos de interpretao jurdica, seja os clssicos, seja os que con-cernem especificamente seara constitucional.

    No campo dos mtodos clssicos, no h como fugir da interpretao literal ou gramatical.Diante de um texto, ensina Miguel Reale (1998, p. 281):

    (...) o primeiro dever do intrprete analisar o dispositivo legal para captar o seu pleno valor expres-sional (...). A lei uma realidade morfolgica e sinttica que deve ser, por conseguinte, estudadado ponto de vista gramatical. da gramtica tomada esta palavra no seu sentido mais amplo - oprimeiro caminho que o intrprete deve percorrer para dar-nos o sentido rigoroso de uma normalegal. Toda lei tem um significado e um alcance que no so dados pelo arbtrio imaginoso do intr-prete, mas so, ao contrrio, revelados pelo exame imparcial do texto.

    Entretanto, no se pode coarctar o exegeta fria letra da lei, isoladamente. Esse apenas umprimeiro passo rumo ao desvendar do texto posto, pelo que ganha destaque a advertncia de TrcioSampaio Ferraz Jr. (1994, p. 287), para quem, no fundo, a interpretao gramatical tem na anliselxica apenas um instrumento para mostrar e demonstrar o problema, no para resolv-lo. A letra danorma, assim, apenas o ponto de partida da atividade hermenutica.

    Aps essa perquirio filolgica, continua Reale (1998, p. 281),

    (...) impe-se um trabalho lgico, pois nenhum dispositivo est separado dos demais. Cada artigositua-se num captulo ou num ttulo e seu valor depende de sua colocao sistemtica. preciso,pois, interpretar as leis segundo seus valores lingsticos, mas sempre situando-as no conjunto dosistema. Esse segundo passo denomina-se interpretao sistemtica do Direito.

    Da, o intrprete levado ainda mais fundo no ordenamento jurdico, pois

    (...) interpretar uma norma interpretar o sistema inteiro: qualquer exegese comete, direta ou obli-quamente, uma aplicao da totalidade do Direito (...). No se deve considerar a interpretao sis-temtica como simples instrumento da interpretao jurdica. a interpretao sistemtica, quan-do entendida em profundidade, o processo hermenutico por excelncia, de tal maneira que ou secompreendem os enunciados prescritivos nos plexos dos demais enunciados, ou no se alcanarcompreend-los sem perdas substanciais. Nesta medida, mister afirmar, com os devidos tempera-mentos, que a interpretao jurdica sistemtica, ou no interpretao (FREITAS, 2002, p. 71).

    Situadas as normas num sistema e nesse contexto interpretadas, deve ter-se em mente quetoda interpretao deve conduzir realizao da vontade ou legalidade constitucional. Escoradonisso, concluiu o citado Pietro Perlingieri (2002, p. 74) que: (...) a legalidade constitucional impe umainterpretao da norma ordinria ou de grau inferior, luz dos interesses e dos valores constitu-cionalmente relevantes (...). Atento a isso, Michel Temer (2004, p. 23) pontua que a interpretao deuma norma constitucional levar em conta todo o sistema, tal como positivado, dando-se nfase,porm, para os princpios que foram valorizados pelo constituinte. Mas o aplicador do direito no livre para interpretar o texto normativo como bem entender. H limites - objetivos - que deve respeitar,sob pena de conspurcar a ratio do dispositivo, o que no pode ser admitido. Significa isso dizer que

    (...) ao aplicador do Direito - por mais ampla que seja sua necessria liberdade de interpretao -no dado, subjetivamente, criar ou atribuir significados arbitrrios aos enunciados normativos, nemtampouco ir alm do sentido lingisticamente possvel, um sentido que, de resto, conhecido e/oufixado pela comunidade e para ela funciona como limite da interpretao (COELHO, 2003, p. 67).

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 21-34, out./dez. 2006 33

    Dou

    trina

    , outrossim, a posio do Ministro Eros Roberto Grau (2003, p. 52), para quem todo intrprete,embora jamais esteja submetido ao esprito da lei ou vontade do legislador, estar sempre vincu-lado aos textos normativos, em especial - mas no exclusivamente - pelos que veiculam princpios.E por isso que chega esse professor a dizer que interpretar o direito formular juzos de legalidade.

    E qual seria esse limite de interpretao? Respondem Gilmar Ferreira Mendes, InocncioMrtires Coelho e Paulo Gustavo Gonet Branco (2000, p. 78):

    (...) a letra da lei possui uma dupla finalidade, funcionando, por um lado, como ponto de partida daelucidao do sentido pelo intrprete e, por outro, definindo os limites postos sua atividade inter-pretativa. Ultrapassados esses limites, que servem de fronteira entre a interpretao em sentidoestrito e a livre criao judicial do direito, a atividade hermenutica como que se contamina de sub-jetividade e voluntarismo, expondo o intrprete ao risco de produzir uma deciso ilegtima e, porisso, fadada a se tornar socialmente ineficaz.

    Circunscrito a tal limite, v-se que, de fato, h uma moldura dentro da qual toda interpretao queescolha um ponto fora da moldura h de ser necessariamente inconstitucional. Essa limitao impostapelo Texto Constitucional tem que ser sempre obedecida, sob pena de ser incua (LEITE, 2004, p. 208).

    Enfim, visa o presente trabalho, despretensiosamente, a demonstrar que toda e qualquer inter-pretao deve passar pela filtragem constitucional. A letra da lei, com sua dupla funo de ponto departida e de limite de interpretao, no pode ser distorcida, nem muito menos ignorada, porque, casocontrrio, subverter-se- o seu prprio sentido. A se admitir isso, estar-se- chancelando o caos her-menutico ou a anarquia hermenutica. Sim, certo que, como visto, todo aquele que vive num con-texto social um potencial intrprete da Constituio. Mas, h lindes que devem ser respeitados, afim de conjurar um clima de insegurana jurdica que, certamente, no o desejado.

    No caso especfico da responsabilidade civil do Estado por omisso, se observarmos tanto oque dispe o art. 37, 6, da CF/88, quanto o art. 43 do CC/2002, veremos que no h nenhum acenoou fumaa de palavra/expresso que induza o intrprete a concluir pela subjetivao da responsabil-idade, sindicando-se acerca do elemento culpa. Se, pois, h um limite objetivo que no pode ser des-obedecido, no deve o intrprete extrapol-lo.

    Alis, de h muito j se dizia: ubi lex non distinguit, nec interpres distinguere debet. Se opta oexegeta pela incluso do elemento culpa para os casos de omisso estatal, concluindo, pois, ser sub-jetiva a responsabilidade nesse caso, faz distino onde nem a Constituio nem a Lei Civil novafazem, aviltando-se, pois, uma das mais comezinhas regras de hermenutica constitucional.

    Diante do exposto, conclui-se que, uma vez respeitados os limites objetivos de interpretao efeita a devida filtragem hermenutico-constitucional, a responsabilidade civil estatal por omisso temnatureza objetiva, data venia de outros posicionamentos.

    Referncias bibliogrficas

    BARROSO, Luis Roberto. Hermenutica e interpretao da Constituio. In: CONGRESSO BRASILEIRODE DIREITO CONSTITUCIONAL, 24., 12 a 14 maio de 2004, So Paulo. (Notas taquigrficas.)

    BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 13. ed. So Paulo: Malheiros, 2003.

    CASTRO, Flvia de Almeida Viveiros de. Interpretao constitucional e prestao jurisdicional. 2. ed.Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004.

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 21-34, out./dez. 200634

    COELHO, Inocncio Mrtires. Interpretao constitucional. 2. ed. Porto Alegre: Sergio Antnio FabrisEditor, 2003.

    DWORKIN, Ronald. O imprio do direito. Traduo Jefferson Luiz Camargo. So Paulo: MartinsFontes, 1998.

    FERRAZ JR., Trcio Sampaio. Introduo ao estudo do direito - tcnica, deciso, dominao. 2. ed.So Paulo: Atlas, 1994.

    FREITAS, Juarez. A interpretao sistemtica do direito. 3. ed. So Paulo: Malheiros, 2002.

    GRAU, Eros Robert. Ensaio e discurso sobre a interpretao/aplicao do direito. 2. ed. So Paulo:Malheiros, 2003.

    HBERLE, Peter. Hermenutica constitucional - A sociedade aberta dos intrpretes da Constituio -Contribuio para a interpretao pluralista e procedimental da Constituio. Traduo: GilmarFerreira Mendes. Porto Alegre: Sergio Antnio Fabris, 1997.

    KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 4. ed. Traduo: Joo Batista Machado. So Paulo: MartinsFontes, 1994.

    LEITE, Marcelo Santos. A influncia dos grupos de presso na interpretao constitucional. Revista deDireito Constitucional e Internacional - Cadernos de Direito Constitucional e Cincia Poltica (IBDC).n 48, ano 12, jul./set. 2004.

    MAXIMILIANO, Carlos. Hermenutica e aplicao do direito. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979.

    MELLO, Celso Antnio Bandeira de. Responsabilidade extracontratual do Estado por comportamen-tos administrativos. RT 552/13.

    MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocncio Mrtires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet.Hermenutica constitucional e direitos fundamentais. Braslia: Braslia Jurdica, 2000.

    PERLINGIERI, Pietro. Perfis do direito civil - Introduo ao direito civil constitucional. Traduo MariaCristina de Cicco. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.

    REALE, Miguel. Lies preliminares de direito. 24. ed. So Paulo: Saraiva, 1998.

    SCHIER, Paulo Ricardo. Filtragem constitucional - Construindo uma nova dogmtica jurdica. PortoAlegre: Sergio Antnio Fabris Editor, 1999.

    STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.

    TEMER, Michel. Elementos de direito constitucional. 19. ed. So Paulo: Malheiros, 2004.

    -:::-

  • TJM

    G -

    Juris

    prud

    nci

    a C

    vel

    Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 35-298, out./dez. 2006 35

    TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

    JURISPRUDNCIA CVEL

    MANDADO DE SEGURANA COLETIVO - PARTIDO POLTICO - INTERESSES INDIVIDUAISDE SERVIDORES PBLICOS - INTERESSE PARTIDRIO - NO-CONFIGURAO -

    ILEGITIMIDADE ATIVA

    Ementa: Mandado de segurana coletivo. Partido poltico. Interesses partidrios.

    - O partido poltico s tem legitimidade para o mandado de segurana coletivo, quando defendeinteresses individuais partidrios, na forma coletiva.

    APELAO CVEL N 1.0133.06.028474-1/001 - Comarca de Carangola - Apelantes:Funcionrios Pblicos do Municpio de So Francisco do Glria - Apelado: Prefeito Municipal de SoFrancisco do Glria - Relator: Des. ERNANE FIDLIS

    Acrdo

    Vistos etc., acorda, em Turma, a 6Cmara Cvel do Tribunal de Justia do Estadode Minas Gerais, incorporando neste o relatriode fls., na conformidade da ata dos julgamentose das notas taquigrficas, unanimidade devotos, EM NEGAR PROVIMENTO.

    Belo Horizonte, 28 de novembro de 2006.- Ernane Fidlis - Relator.

    Notas taquigrficas

    O Sr. Des. Ernane Fidlis - Irreparvel asentena de primeiro grau.

    O mandado de segurana no perde suacaracterstica de defesa de interesse individual,podendo, nas hipteses em que tais interesses serevelam coletivamente para determinada classeou grupo, ser proposto por entidade que tenhalegitimidade para representao dos mesmos. Nocaso do partido poltico, evidente que os interes-ses a serem defendidos coletivamente devem tera conotao partidria. Esta a orientao dajurisprudncia, conforme acrdo do STF:

    RE 196184/AM-Amazonas. Recurso extraor-dinrio. Relatora: Min. Ellen Gracie. Julga-

    mento: 27.10.2004. rgo Julgador: PrimeiraTurma.Publicao: DJ de 18.02.2005, PP-00006,Ement., Vol-02180-05, PP-01011, LEXSTF v.27, n 315, 2005, p. 159-173 RTJ VOL-00194-03 PP-01034 Recte.: Municpio de Manaus.Recdo.: Partido Socialista Brasileiro - PSB.Ementa: Constitucional. Processual civil.Mandado de segurana coletivo. Legitimidadeativa ad causam de partido poltico. Impug-nao de exigncia tributria. IPTU. - 1. Uma exigncia tributria configura inte-resse de grupo ou classe de pessoas, spodendo ser impugnada por eles prprios, deforma individual ou coletiva. Precedente: REn 213.631, Rel. Min. Ilmar Galvo, DJ de07.04.2000. - 2. O partido poltico no est, pois, autori-zado a valer-se do mandado de seguranacoletivo para, substituindo todos os cidadosna defesa de interesses individuais, impugnarmajorao de tributo. - 3. Recurso extraordinrio conhecido e provido.Deciso: O Tribunal, por maioria, conheceu edeu provimento ao recurso extraordinrio, nostermos do voto da Relatora, vencido o SenhorMinistro Marco Aurlio. Votou o Presidente,Ministro Nelson Jobim. Ausentes, justificada-mente, o Senhor Ministro Celso de Mello e,neste julgamento, o Senhor Ministro Eros Grau.

    No caso dos autos, torna-se evidente quea defesa de servidores pblicos por interesses

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 35-298, out./dez. 200636

    Acrdo

    Vistos etc., acorda, em Turma, a 16Cmara Cvel do Tribunal de Justia do Estado deMinas Gerais, incorporando neste o relatrio defls., na conformidade da ata dos julgamentos edas notas taquigrficas, unanimidade de votos,EM REJEITAR AS PRELIMINARES E DARPROVIMENTO AO RECURSO.

    Belo Horizonte, 29 de novembro de 2006.- Otvio Portes - Relator.

    Notas taquigrficas

    O Sr. Des. Otvio Portes - Reunidos ospressupostos necessrios admissibilidaderecursal, conhece-se do recurso.

    -:::-

    EXECUO POR TTULO EXTRAJUDICIAL - DUPLICATA - FALTA DE ACEITE - COMPROVANTEDE ENTREGA DE MERCADORIA - AUSNCIA - EXCEO DE PR-EXECUTIVIDADE - NO-

    CABIMENTO - EMBARGOS DO DEVEDOR - PRELIMINARES - DEFEITO DE REPRESENTAO -ART. 13 DO CDIGO DE PROCESSO CIVIL - PRODUO DE PROVA - DESNECESSIDADE -JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE - CERCEAMENTO DE DEFESA - NO-OCORRNCIA

    Ementa: Ao de execuo. Duplicata. Preliminares de defeito de representao e cerceamentode defesa rejeitadas. Exceo de pr-executividade. Ausncia de aceite e de comprovante deentrega de mercadorias. Matria oponvel em sede de embargos.

    - Tem-se como certa a possibilidade de, em qualquer grau de jurisdio, oportunizar parte que re-gularize defeito pertinente sua legitimidade ad processum, uma vez que ao julgador cabe ordenaro suprimento de eventuais falhas a esse respeito, em face da previso legal expressa nesse sentido.

    - Inexiste cerceamento de defesa em caso de a dilao probatria se apresentar desnecessriaem face da natureza das questes em debate, dos elementos de prova nsitos no contexto doprocesso e da certeza de conter o feito meios suficientes ao julgamento do litgio sem ampliaoda fase instrutria.

    - A exceo de pr-executividade, admitida, excepcionalmente, no Direito brasileiro, porconstruo jurisprudencial, somente poder ser utilizada nos casos em que o juzo puder, deplano, conhecer da matria relativa nulidade do ttulo executado por vcios formais.

    - A ausncia de comprovante de entrega de mercadorias e a de aceite em duplicata somatrias que devem ser apreciadas em sede de embargos de devedor, no podendo ser diri-midas por exceo de pr-executividade, mormente por haver elementos nos autos queindicam a compra e venda objeto da cambial em execuo, no se tratando, pois, de vcio for-mal do ttulo verificvel de plano pelo juiz.

    APELAO CVEL N 1.0394.03.034023-3/001 - Comarca de Manhuau - Apelante:Fertilizantes Heringer Ltda. - Apelado: Eli do Carmo Pereira - Relator: Des. OTVIO PORTES

    particulares de cada um, afetando a classe con-juntamente, no se revela como interesse par-tidrio, sendo, pois, ilegtima a atuao do par-tido poltico na defesa de tais interesses.

    Com tais consideraes, no concedo a se-gurana, com custas recursais pelos impetrantes.

    o meu voto.

    Votaram de acordo com o Relator osDesembargadores Edilson Fernandes eAntnio Srvulo.

    Smula - NEGARAM PROVIMENTO.

  • TJM

    G -

    Juris

    prud

    nci

    a C

    vel

    Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 35-298, out./dez. 2006 37

    Trata-se de ao de execuo propostapor Fertilizantes Heringer Ltda. em face de Elido Carmo Pereira, alegando que celebraram aspartes contrato de compra e venda de merca-dorias, no cumprindo o ru sua parte nas obri-gaes contradas, qual seja de pagamento dovalor negociado, pelo que pugnou pela conde-nao do suplicado no pagamento do valordevido, com os consectrios legais de atraso ede sucumbncia.

    A MM. Juza de primeiro grau (f. 66/68), aoentendimento de que a ausncia de aceite relati-vamente duplicata em execuo e a falta decomprovante de entrega ao autor das mercado-rias negociadas acarretariam nulidade da cambial,julgou procedente exceo de pr-executividade eextinguiu a execuo, condenando a autora nopagamento das custas processuais e honorriosadvocatcios fixados em R$ 1.000,00 (mil reais).

    Inconformada, apela Fertilizantes HeringerLtda. (f. 69/74), alegando preliminar de cercea-mento de defesa e, no mrito, que resta demons-trada nos autos a entrega de mercadorias ao exe-cutado, o que torna hbil o procedimento oraintentado, fato que poderia, tambm, ser compro-vado com dilao da fase probatria, pugnando,assim, pela reforma da sentena.

    Contra-razes apresentadas s f. 77/78,alegando o executado preliminar de irregulari-dade de representao processual e requeren-do a confirmao da deciso impugnada.

    Preliminar de defeito de representao.

    Relativamente a esta prefacial, assinala-seque o artigo 13 do Digesto Instrumental determinaque, verificando a incapacidade processual ou airregularidade da representao das partes, o juiz,suspendendo o processo, marcar prazo razovelpara ser sanado o defeito.

    Assim, verificando o Magistrado que aprocurao apresentada pela requerente noatende aos requisitos da lei processual, ou queno houve a juntada desse instrumento nomomento oportuno, dever suspender oprocesso e intimar a parte para que regularize

    sua representao, decretando a nulidade doprocesso se a determinao no for atendida.

    Isso porque h possibilidade jurdica de,em qualquer grau de jurisdio, se oportunizar parte que regularize defeito pertinente sualegitimidade ad processum, uma vez que ao jul-gador cabe ordenar o suprimento de eventuaisfalhas a esse respeito, em face da previsolegal expressa in retro.

    No destoa a posio exarada da jurispru-dncia nacional:

    Cumpre ao juiz, nos termos do artigo 13 doCPC, determinar a regularizao dos casosde capacidade e representao no processo.Para isso, determinar a suspenso doprocesso por tempo razovel, para que aparte tome as providncias necessrias(Adcoas, 1987, n 113.405).

    Portanto, verificada a irregularidadeapontada em contra-razes recursais, foi opor-tunizada parte autora a regularizao do vcio,o que foi levado a efeito, no havendo, assim,motivos para acolhimento da preliminar,mxime em se considerando o princpio dainstrumentalidade adotado pela lei processualcivil em vigor, pelo que se rejeita a preliminar.

    Preliminar de cerceamento de defesa.

    Quanto a esta prefacial, deve-se salien-tar que constitui dever do magistrado, e nomera faculdade, julgar o feito conforme seuestado, antecipando a soluo da lide, se veri-ficar que a matria tratada na ao no exigedilao probatria para sua deciso.

    O eminente processualista Calmon dePassos ensina que:

    sendo a verdade buscada no processo umaverdade formal, subordinada preocupaopoltica da pacificao social atribuda aoprocesso, h um momento considerado timono procedimento e aps o qual j no mais seadmite cogitar sobre fatos, impondo-se aomagistrado dizer o direito, formando sua con-vico com apoio no que se tenha provadonos autos. Este o momento considerado

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 35-298, out./dez. 200638

    pelo legislador como adequado para o examedo mrito (Comentrios ao Cdigo deProcesso Civil, III/420).

    A propsito, os tribunais do Pas, reitera-damente, tm decidido:

    Quando, aps oferecimento da contestao, ojuiz se convencer de que a matria objeto dalide versa to-somente sobre questes dedireito ou, sendo de direito e de fato, no hou-ver necessidade de produzir prova emaudincia, deve proferir julgamento anteci-pado da lide (Adcoas, 1996, n 8149217).

    No constitui cerceamento de defesa, nemviola os princpios do contraditrio, da igual-dade de tratamento das partes ou da ampladefesa o desate antecipado da lide seentende o julgador j dispor, com os elemen-tos carreados para os autos na fase postu-latria do feito, de dados suficientes for-mao de seu livre convencimento (Adcoas,1996, n 8149491).

    Se certo que cabe parte o direito depropor, tempestivamente, as provas que pre-tende produzir, no menos correto que com-pete ao julgador aquilatar as que so neces-srias ao seu convencimento, j que o magis-trado, na direo do processo, dotado decompetncia discricionria para selecionar oselementos probatrios requeridos pelos liti-gantes, indeferindo os que demonstrem serinteis ou meramente protelatrios, segundodispe o art. 130 do Digesto Instrumental.

    O simples fato de ter a parte protestadopor produo de outras provas que no aquelasj colacionadas aos autos no obriga o magis-trado a deferi-las e tampouco o vincula rea-lizao de audincia, se estiver seguro paraexercer um julgamento imediato do mrito.

    In casu, a deciso a respeito da pro-cedncia ou no da exceo de pr-executivi-dade, em razo de haver aceite na duplicataexecutada ou comprovante de entrega das mer-cadorias da autora ao executado, no dependia,de fato, de dilao probatria, mormente emrazo da deciso proferida em primeiro grau deanlise e do presente julgamento, mostrando-se

    eventuais provas a respeito indiferentes deciso do incidente suscitado.

    luz de tais consideraes, denota-se,na presente hiptese, a desnecessidade dadilao probatria pretendida pela parte oraapelante, mostrando-se o contedo dos autosrealmente suficiente para a elucidao dademanda no estado em que se encontrava,razo pela qual se rejeita a preliminar e sepassa ao exame do mrito.

    Mrito.

    A propsito, deve-se salientar que aexceo de pr-executividade consiste em inci-dente processual que vem sendo admitido excep-cionalmente no Direito brasileiro, por construojurisprudencial, sem a necessidade de ofereci-mento de embargos ou de bens penhora pelodevedor, para suscitar a inexistncia ou nulidadedo ttulo executivo, buscando, assim, a extino daao de cobrana forada.

    Trata-se de expediente aperfeioado medi-ante simples petio nos prprios autos da deman-da executiva, suscitando matrias de ordem pbli-ca que podem ser conhecidas de ofcio pelo jul-gador, sem que haja a provocao das partes,sendo certo que, para o conhecimento da exceode pr-executividade, necessrio que o vcioexistente no ttulo seja palpvel, isto , que omagistrado se convena de que a execuo nopode prosseguir sem maiores indagaes oudilao probatria, sendo verificveis tais vcios,portanto, notadamente no que tange formalidadedas cambiais que instruem o feito executivo.

    Dessa forma, invivel que, sob o rtulo deexceo de pr-executividade, suscite o devedorou o prprio magistrado matrias que, pela suaprpria natureza, devem ser alegadas atravs deembargos execuo, por consistir a sede prpriapara se insurgir contra a ao de cobrana fora-da, devendo o incidente manter-se restrito aquestes em que se vislumbra, sem instruoprocessual, a plena nulidade da execuo.

    Nesse sentido, tm registrado os tribunaisdo Pas:

  • TJM

    G -

    Juris

    prud

    nci

    a C

    vel

    Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 57, n 179, p. 35-298, out./dez. 2006 39

    Processo civil - Execuo - Exceo de pr-executividade - Admissibilidade - Hipteses -Higidez do ttulo executivo - Matrias apre-civeis de ofcio - Verificao no caso concreto- Reexame de provas e interpretao declusula contratual - Recurso no conhecido(...) - A exceo de pr-executividade, admitidaem nosso direito por construo doutrinrio-jurisprudencial, somente se d, em princpio,nos casos em que o juiz, de ofcio, pode co-nhecer da matria, a exemplo do que se verificaa propsito da higidez do ttulo executivo (...)(REsp n 180734-RN, STJ, Rel. Ministro Slviode Figueiredo Teixeira, j. em 20.04.99).

    Execuo. Nulidade. Embargos do devedor. - Adefesa em execuo faz-se, como regra, pormeio de embargos, depois de seguro o juzo,somente se permitindo a modernamente deno-minada exceo de pr-executividade nosprprios autos da execuo, para que sejadeduzida questo de ordem pblica, por eviden-te nulidade do processo executivo, revelada deplano e independentemente de maiores ques-tionamentos (Agr. de Instrumento n 583.369-00/5, Rel. Juiz Renato Sartorelli, j. em 30.06.99).

    Portanto, a questo relativa efetiva entre-ga ou no de mercadorias pela autora ao execu-tado no pode ser considerada como matria aser conhecida de plano pelo julgador, mormenteporque, provada a realizao de negcio entre aspartes, fica suprida a necessidade de aceite a serdado pelo devedor em duplicata mercantil.

    Necessrio registrar que a documentaojuntada aos autos com a pea de ingresso revelaque de fato houve negcio firmado entre aspartes, sendo assinado pelo executado pedidode venda (f. 20) das mercadorias cobradas peladuplicata de f. 17, objeto do feito executivo.

    Assim, a questo relativa existncia efeti-va da compra e venda de mercadorias realizadaentre as partes, o que se demonstra no s pelaassinatura do devedor em nota fiscal, mas tambmpor outros elementos nos autos, desafia dilaoprobatria, j que h incio de prova