Upload
nguyendiep
View
223
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA
LISTERIOSE EM RUMINANTES
MARCEL SUHOBOKOV BONIN
São Paulo 2008
FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA
LISTERIOSE EM RUMINANTES MARCEL SUHOBOKOV BONIN Trabalho apresentado para Conclusão do Curso de Medicina Veterinária/FMU, sob orientação do Professor Dr. Carlos Augusto Donini.
São Paulo 2008
MARCEL SUHOBOKOV BONIN
LISTERIOSE EM RUMINANTES
Trabalho apresentado para Conclusão do Curso de Medicina Veterinária/FMU, sob orientação do Professor Carlos Augusto Donini, defendido e aprovado em.......de.......de......., pela banca examinadora constituída pelos professores:
________________________________________ Professor Dr. Carlos Augusto Donini - Orientador _______________________________________ Professor Dr. Rodolfo Nurmberger Júnior _______________________________________ Professora Dra. Terezinha Knobl
DEDICATÓRIA Quero dedicar esta monografia aos meus pais, a minha namorada, aos meus amigos e aos meus familiares, que me apoiaram, me deram força e acreditaram na minha pessoa para chegar ao fim do curso de Medicina Veterinária.
AGRADECIMENTOS Primeiramente quero agradecer a Deus, por todas as coisas boas e transformações que ele tem feito na minha vida. Agradeço aos meus pais, por terem confiado na minha pessoa, pela ajuda financeira, pela paciência e compreensão, pois sem a ajuda deles eu não conseguiria atingir os meus objetivos. Agradeço a todos os professores do curso de Medicina Veterinária, principalmente o meu orientador Professor Dr. Carlos Augusto Donini, por terem passado todos os seus conhecimentos. Quero agradecer aos meus amigos de turma: Rodrigo Albanez, Fernando Bacherini, Leandro Chaud, Fernando Magalhães, Fernando Figliollini e todos os outros, pelos bons momentos vividos durante a faculdade. Agradeço também a minha maravilhosa namorada Tatiana Antunes, pela paciência, compreensão e companhia.
RESUMO
BONIN, M. S., Listeriose em Ruminantes, Trabalho de conclusão do curso de Medicina Veterinária nº 29 págs, 2008. Este trabalho apresenta uma revisão sobre a listeriose em ruminantes, que ocorre de forma esporádica nos animais e no homem, causada pela bactéria Listeria monocytogenes. A importância da listeriose é menor quanto ao prejuízo econômico por ela causado do que pelo perigo que representa de infecção ao homem. Abordando o agente etiológico e seus subtipos; as vias de transmissão; a patogenia que é pouco conhecida e complexa; sinais clínicos como: andar em círculos, ptose e queda auricular; o diagnóstico como o exame do líquido cérebro-espinhal, sendo o mais valioso para a confirmação da enfermidade; o prognóstico depende de quando o tratamento é administrado; além desses temas o trabalho aborda o tratamento, prevenção e profilaxia. Palavras chaves: listeriose, Listeria monocytogenes, ruminantes, bactéria, zoonose.
ABSTRACT
BONIN, M. S., Listeriosis in Ruminants, completing the course work of Veterinary Medicine 29 pages, 2008. This paper presents a review of the listeriosis in ruminants, which occurs in a sporadic form in animals and humans, caused by the bacterium Listeria monocytogenes. The importance of listeriosis is less about the economic damage caused by it than the danger it poses to humans from infection. Addressing the causative agent and its subtypes, the routes of transmission, the pathogenesis is poorly understood and complex; clinical signs such as: walking in circles, ptosis and fall headset, the diagnosis as the examination of the cerebral-spinal fluid and is the most valuable for the confirmation of the disease, the prognosis depends on when treatment is administered, besides the work addresses issues such treatment, prevention and prophylaxis. Key words: listeriosis, Listeria monocytogenes, ruminants, bacterium, zoonosis.
SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO....................................................................................01 2.SAÚDE PÚBLICA...............................................................................03 3.ETIOLOGIA........................................................................................05 4.EPIDEMIOLOGIA.............................................................................08 5.PATOGENIA E LESÕES...................................................................10 6.SINAIS CLÍNICOS..............................................................................12 7.DIAGNÓSTICO...................................................................................16
7.1. Diagnóstico diferencial...........................................................17 8.PROGNÓSTICO..................................................................................19 9.TRATAMENTO...................................................................................20 10.CONTROLE E PROFILAXIA.........................................................22 10.1. Vacinas.................................................................................22 11.CONCLUSÃO....................................................................................24 12.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................25
LISTA DE TABELA
Tabela 1. Sorotipos da Listeria monocytogenes.............................................07
LISTAS DE FIGURAS
Fig. 1. Vias de transmissão da Listeria monocytogenes para o homem.................................................................................................04 Fig. 2. Ovino de 5 meses com listeriose em decúbito e Com desvio de cabeça....................................................................................13 Fig. 3. Caprino com desvio de cabeça, queda auricular direita, salivação e dificuldade de apreensão de alimento..............................13 Fig. 4. Caprino de três anos com desvio de cabeça, ptose, queda auricular bilateral e lábio flácido..........................................................14
1. INTRODUÇÃO
A listeriose é uma enfermidade infecciosa causada pela bactéria Listeria monocytogenes
(LOW; DONACHIE, 1997; GEORGE, 1994; JENSEN; MACKEY, 1979), de aparição
geralmente esporádica (ROSENBERGER, 1989; REBHUN, 2000), às vezes também enzoótica,
que no bovino se manifesta, de acordo com o ponto atacado pelo agente e a capacidade de reação
do organismo do animal, por transtornos nervosos centrais, abortamentos, partos prematuros ou
com fetos mortos, ou com septicemia (preferentemente em bezerros), mastites ou conjuntivites
(ROSENBERGER, 1989). Ocorre em todas as espécies domésticas, porém é mais comum em
ruminantes (JENSEN; MACKEY, 1979; BLENDEN et al., 1975), coelhos e aves, e menos
comum em suínos e pouco comum em eqüinos e carnívoros (BLENDEN et al., 1975).
Listeria monocytogenes está amplamente distribuída em todo o ambiente (REBHUN,
2000; MARINSEK; GREBENC, 2002; RYSER; MARTH, 1991). Pode ser isolada de esgoto,
alimentos de origem animal, leite e outros alimentos, como também de excrementos de animais
(MARINSEK; GREBENC, 2002; BRIONES et al., 1992) e humanos saudáveis (MARINSEK;
GREBENC, 2002; CASTRO, 1991). Isto é um grande risco à saúde humana, e nos animais pode
causar abortamentos e mortes, e em caso de surtos pode chegar a ter um grande impacto
econômico (MARINSEK; GREBENC, 2002). Mas, como na raiva, a importância da listeriose é
menor quanto ao prejuízo econômico por ela causado do que pelo perigo que representa de
infecção do homem (HEIDRICH et al., 1980).
A listeriose é também conhecida como doença do andar em círculos (circling disease),
meningoencefalite, doença da silagem (GEORGE, 1994; AMSTUTZ et al., 1980) e infecção por
Listeria monocytogenes (GEORGE, 1994).
Em 1924, Murray et al. (apud RYSER; MATH, 1991; BIER, 1977) isolaram um pequeno
bacilo gram-positivo de sangue contaminado de um coelho. Durante a doença, uma monocitose
foi observada nos animais atingidos. Conseqüentemente, o organismo recebeu o nome de
Bacterium monocytogenes. Embora Murray et al. (1924 apud RYSER; MARTH, 1991) tenham
acreditado ter feito a primeira descrição do agente causador da listeriose (conhecido hoje como
Listeria monocytogenes), numerosos relatos sugerem que o organismo fosse encontrado em
infecções do “tipo-listeria”. Já em 1891 (GRAY, 1960 apud RYSER; MARTH, 1991). Em 1991,
1
o sueco Hulphers isolou um organismo de focos necróticos de um fígado de coelho. Descrição
desse isolamento chamou-o de Bacillus hepatis, e sua descrição eram muito semelhantes a atual
Listeria monocytogenes. Isolamentos prováveis de Listeria monocytogenes também foram
informados por Atkinson em 1915 e Dick em 1919 junto com os casos clínicos de meningites
humanas (RYSER; MARTH, 1991). Além disso, Dumont e Cotoni isolaram um organismo do
diftérico do fluído cérebro-espinhal em 1918 e depositou a cultura no Instituto de Pasteur em
Paris. Em 1940 este organismo era identificado por Paterson como Listeria monocytogenes,
fazendo com que a nomenclatura antiga fosse desusada (RYSER; MARTH, 1991).
Três anos depois Murray et al. (1926 apud RYSER; MARTH, 1991) satisfeitos com a
primeira descrição precisa de Listeria monocytogenes. Pirie isolou a bactéria de um rato
selvagem na África do Sul, nomeou como Listerella hepatolytica em honra de Lord Lister, que
descobriu a anti-sepsia. Depois da descoberta que a Bacterium monocytogenes e a Listerella
hepatolytica eram o mesmo organismo, o nome foi mudado para Listerella monocytogenes, e esta
designação foi usada por 12 anos. Em 1939, foi descoberto que existia um gênero vegetal assim
denominado. Conseqüentemente, em 1940, a mudança de nome proposta por Pirie de Listerella
monocytogenes para Listeria monocytogenes foi aceito. Esta mudança de nome foi adotada
depois na sexta edição do Manual de Bergey de Denominação de Bacteriologia e aprovado em
1954 pela Comissão Judicial em Nomenclatura Bacteriológica e Taxonomia (RYSER; MARTH,
1991).
O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão bibliográfica sobre a listeriose na área
da saúde pública, na sua prevalência no mundo todo, os sinais clínicos apresentados pelos
animais e pelo homem, abordando também os métodos de diagnósticos e as medidas profiláticas,
bem como a utilização e a eficácia das vacinas.
2
2. SAÚDE PÚBLICA
A primeira descrição em humanos foi nos anos 20 (LOW; DONACHIE, 1997). O
sorotipo 4d de Listeria monocytogenes é o isolado humano comum. Surtos foram relacionados
até à ingestão de leite pasteurizado, o que trouxe preocupações de que a bactéria poderia
sobreviver ao processo de pasteurização (GEORGE, 1994). Mas o leite de animais com mastite
por Listeria monocytogenes não pasteurizado, pode ser uma via de transmissão humana
(CARTER, 1988).
A transmissão direta tem sido relatada em pessoas que tenham contato direto com animais
infectados, como veterinários e tratadores (CORRÊA; CORRÊA, 1992). Além do contato direto
da pele com animais ou material contaminado, pode ocorrer por via aerógena, por alimentos
contaminados ou por via transplacentária (CASTRO, 1991; MARINSEK; GREBENC, 2002;
GEORGE, 1994). Os níveis de exposição para infecção são desconhecidos e provavelmente
variam de pessoa para pessoa, embora pacientes com desordens de imunidade (MARINSEK;
GREBENC, 2002; GEORGE, 1994), mulheres grávidas, recém-nascidos, idosos (MARINSEK;
GRBENC, 2002; GEORGE, 1994; CASTRO, 1991), alcoólatras, diabéticos e viciados em drogas
tenham um risco maior de infecção (MARINSEK; GREBENC, 2002; GEORGE, 1994).
A listeriose praticamente ocorre com mais freqüência em recém-nascidos (TRABULSI,
1991). Ocasionalmente a criança morre logo após o nascimento. A infecção pode ser transmitida
por via transplacentária ou durante o parto, em conseqüência da aspiração de secreção vaginal ou
de líquido amniótico. No adulto pode ser confundida com outras doenças, uma vez que apresenta
sintomas de resfriado comum, inflamação na garganta, septicemia severa, doenças do Sistema
Nervoso Central (SNC), e de outras doenças (CASTRO, 1991). A principal doença que o adulto
desenvolve é a meningoencefalite com taxa elevada de mortalidade (70% em média),
principalmente em crianças e nos indivíduos idosos (CASTRO, 1991; HEIDRICH et al, 1980).
Entretanto, com exceção de forma neonatal, que é transmitida da mãe para o feto, as
outras formas de listeriose são provavelmente adquiridas pelo contato direto com os animais
doentes ou seus excrementos, possivelmente pela inalação de poeira ou ingestão de alimentos
contaminados (CASTRO, 1991).
3
Devido aos avanços tecnológicos a freqüência de diagnóstico da doença tem aumentado
significamente nos últimos 20 anos (LOW: DONACHIE, 1997).
Enquanto a morbidade da Listeria monocytogenes é de freqüência baixa, a mortalidade
entre os infectados é relativamente alta (MARINSEK: GREBENC, 2002).
4
3. ETIOLOGIA
O agente causador desta enfermidade é a Listeria monocytogenes pertence ao gênero
Listeria, família Corynebacteriaceae (LEHNERT, 1999). É amplamente distribuído no ambiente
(RYSER; MARTH, 1991; SCHILD, 2001), presente em quase todos os animais domésticos
(CASTRO, 1991; SCHILD, 2001), no solo (REBHUN, 2000; HEIDRICH et al., 1980; RYSER;
MARTH, 1991; CASTRO, 1991; SCHILD, 2001), no esgoto (RYSER; MARTH, 1991;
MARINSEK; GREBENC, 2002), na vegetação (REBHUN, 2000; RYSER; MARTH, 1991;
BRIONES et al., 1992; CASTRO, 1991; SCHILD, 2001), nos alimentos (MARINSEK;
GREBENC, 2002; SCHILD, 2001) e na matéria fecal proveniente do homem e dos animais
(REBHUN, 2000; RYSER; MARTH, 1991; BRIONES et al., 1992; SCHILD, 2001); este agente
também foi isolado a partir de insetos parasitas (LEHNERT, 1999). Em ruminantes sadios a
bactéria pode ser isolada da secreção nasal e das fezes (SCHILD, 2001).
É um cocobacilo (BLOWEY et al., 1992; ROSENBERGER, 1989; JENSEN; MACKEY,
1979), Gram-positivo, aeróbico ou anaeróbico facultativo (LOW; DOACHIE, 1997; GEORGE,
1994; AMSTUTZ, 1980; ROBERTS, 1979; BIER, 1977; ROSENBERGER, 1989; CORRÊA;
CORRÊA, 1992; HEIDRICH et al., 1980; BLOWEY et al., 1992; LEHNERT, 1999), não
esporulado e nem encapsulado (CORRÊA; CORRÊA, 1992; GRAY, 1960 apud RYSER;
MARTH, 1991; LEHNERT, 1999).
São microrganismos com flagelos peritríquios (CORRÊA; CORRÊA, 1992;
ROSENBERGER, 1989; LEHNERT, 1999). A formação dos flagelos depende da temperatura e
do meio de cultura; temperatura acima de 22ºC existe uma tendência pronunciada a perder os
flagelos e após a cultura a 37ºC os microrganismos são praticamente imóveis (LEHNERT, 1999).
Suas dimensões variam de cada autor, 0,4-1,5 µm de diâmetro por 0,2-2,0 µm de comprimento
(JENSEN; MACKEY, 1979; BIER, 1977, ROSENBERGER, 1989; AMSTUTZ, 1980) ou 0,5
µm de diâmetro por 0,6-2,5 µm de comprimento (LEHNERT, 1999).
As listerias figuram entre as espécies de bactéria menos exigente e podem ser cultivadas
em meio simples (LEHNERT, 1999). Crescem em meio neutro ou levemente alcalino
(ROSENBERGER, 1989); a adição de sangue estimula seu crescimento (CORRÊA; CORRÊA,
1992; RYSER; MARTH, 1991; JENSEN; MACKEY, 1979; LEHNERT, 1999), soro ou glicose
5
(LEHNERT, 1999). É conseguido seu crescimento em temperaturas que variam de 1 a 40ºC
(LOW; DONACHIE, 1997; RYSER; MARTH, 1991) e a temperatura ótima para o crescimento
está entre 30 e 37ºC, segundo Rosenberger (1989); enquanto que temperaturas acima de 80ºC a
destroem rapidamente (HEIDRICH et al., 1980).
São bastante resistentes as influências externas (ROSENBERGER, 1989; LEHNERT,
1999). No solo úmido vivem um ano, na matéria fecal bovina úmida 16 meses, no solo seco e no
esterco sobrevivem durante anos (LEHNERT, 1999; ROSENBERGER, 1989); na cama e sujeira
do estábulo, mais de 4-6 meses, no limo de qualquer acúmulo de água até 300 dias, em alimentos
de 6-26 semanas (LEHNERT, 1999). A resistência ao calor é pequena; ao aquecer a 60-62ºC é
destruída aos 30 minutos (LEHNERT, 1999; CARTER, 1988), a 80ºC o agente da listeriose
morre em 15 segundos, a 75ºC se requerem mais 30 segundos. Os congelamentos a -20ºC e os
descongelamentos repetidos, não procedem em danos notáveis ao microrganismo
(ROSENBERGER, 1989).
Do ponto de vista da constituição antigênica a Listeria monocytogenes não é homogênea
(LEHNERT, 1999). No início Paterson (1939 apud LOW: DONACHIE, 1997) demonstrou
quatro tipos sorológicos. Uma análise mais refinada permite, atualmente, uma divisão em não
menos de 16 tipos e subtipos sorológicos do gênero Listeria (LEHNERT, 1999), (sendo 13
sorotipos da Listeria monocytogenes (CORRÊA; CORRÊA, 1992), baseados em diferenças nos
antígenos O (somáticos) e H (flagelares) (CORRÊA; CORRÊA, 1992; JENSEN; MACKEY,
1979; LEHNERT, 1999)).
Os sorotipos 1/2a, 1/2b e 4b são os que mais causam enfermidades de acordo com a
investigação epidemiológica (LOW; DONACHIE, 1997; CORRÊA; CORRÊA, 1992). O
sorotipo 4b é o mais freqüente associado a meningoencefalite (ROSENBERGER, 1989). Não
existe diferença na patogenicidade e nem na especificidade, mas há diferença na distribuição
geográfica (CORRÊA; CORRÊA, 1992).
6
4. EPIDEMIOLOGIA
A listeriose ocorre em todos animais domésticos (BLENDEN et al., 1987; LOW;
DONACHIE, 1997; AMSTUTZ, 1980) e silvestres (BLENDEN et al., 1987; JENSEN;
MACKEY, 1979; AMSTUTZ, 1980) como também no homem (BLENDEN et al., 1987; LOW;
DONACHIE, 1997; AMSTUTZ, 1980), porém é mais comum em animais confinados que
consomem silagem (JENSEN; MACKEY, 1979). A identificação da fonte em casos de animais
com listeriose é complicada porque a Listeria monocytogenes é ubiqüitária (WIEDMANN et al.,
1997; LEHNERT, 1999). A enfermidade tem sido diagnosticada em todo o mundo e em várias
espécies de animais, mais freqüente no inverno (AMSTUTZ, 1980; CORRÊA; CORRÊA, 1992;
JENSEN; MACKEY, 1979) e em países trópico-equatoriais (CORRÊA; CORRÊA, 1992).
Os reservatórios podem ser animais domésticos e silvestres, inclusive animais de sangue
frio como os peixes (CORRÊA; CORRÊA, 1992; AMSTUTZ, 1980), dos quais se tem isolado o
agente a partir das fezes, de tecidos e de órgãos de animais com ou sem quadro clínico e sem
lesões (CORRÊA; CORRÊA, 1992; ROBERTS, 1979; CARTER, 1988), porém a Listeria
monocytogenes também tem sido isolada do solo, vegetais, silagens (CORRÊA; CORRÊA, 1992;
ROBERTS, 1979; CARTER, 1988; JOHNSTON, 1986), águas residuais, barro, terra de jardim,
de lavoura e de plantas (LEHNERT, 1999), admitindo-se poder seu habitat ser telúrico
(CORRÊA; CORRÊA, 1992); podendo o solo ser considerado como a real via de transmissão dos
agentes, o qual é contaminado a partir dos animais infectados de forma inaparente (LEHNERT,
1999).
As vias de transmissão podem ser água, poeira e alimentos contaminados (CORRÊA;
CORRÊA, 1992), como silagem, fenos e forragens mal armazenados (GEORGE, 1994).
O contágio se dá por via oral (HEIDRICH et al., JOHNSTON, 1986, ROSENBERGER,
1989), pelo contágio direto por contato, via cutânea, no coito ou na inseminação artificial
(ROSENBERGER, 1989).
A ingestão de pequena quantidade de agentes presentes nas plantas ou no solo não
acarreta, quase nunca, o estabelecimento de uma infecção, são necessárias quantidades maiores
do agente (LEHNERT, 1999) e uma ocorrência prévia de situações de estresse predispõe à
infecção (insuficiente administração de alimentos, períodos climáticos desfavoráveis, manejo
8
anti-higiênico, entre outras mais) (HEIDRICH et al., 1980; ROBERTS, 1979; JOHNSTON,
1986).
Tem-se uma importância epidemiológica para os ruminantes alimentados com silagens,
pois constantemente são relatados aumentos de casos de listeriose quando da alimentação
abundante com silagem (LOW; DONACHIE, 1997; HEIDRICH et al., 1980; ROBERTS, 1979;
JENSEN; MACKEY, 1979; LEHNERT, 1999; JOHNSTON, 1986; SCHILD, 2001).
Principalmente as porções periféricas sujas de silagem ou áreas em que ocorrem condições
aeróbias num pH superior a 5,4-5,5 (SMITH, 1994; HEIDRICH et al., 1980; SCHILD, 2001) ou
superiores a 5,0-5,2 (LEHNERT, 1999), varia de cada autor.
As vias de eliminação do agente são através de matérias fecais, urina, mucosa nasal, leite
em caso de mastite por Listeria monocytogenes e de produtos do abortamento (ROSENBERGER,
1989).
9
5. PATOGENIA E LESÕES
A patogenia natural da Listeria monocytogenes é estudada há mais de 60 anos; entretanto,
o mecanismo do agente causador é altamente complexo e pouco conhecido (RYSER; MARTH,
1991).
O agente pode penetrar pela mucosa intacta do trato respiratório, trato gastrintestinal
(ROBERTS, 1979), oral (SCHILD, 2001), conjuntiva (BLOWEY et al., 1992) ou pela via
trasnplacentária (CORRÊA; CORRÊA, 1992).
A Listeria monocytogenes tem forte tropismo pelo feto, placenta, e pelo sistema nervoso
central (CORRÊA; CORRÊA, 1992). São conhecidas três formas da enfermidade: a forma
septicêmica, meningoencefálica e reprodutiva, esta última caracterizada por abortamento, metrite
e placentite (LOW; DONACHIE, 1997; ROBERTS, 1979; SCHILD, 2001).
A forma septicêmica afeta os animais jovens (SCHILD, 2001; ROSENBERGER, 1989),
prematuros ou debilitados (ROSENBERGER, 1989); sendo mais freqüente na infecção
transplacentária em neonatos (CORRÊA; CORRÊA, 1992), ou pelo tubo digestivo e
possivelmente pela mucosa nasal em animais jovens (LEHNERT, 1999). Os microrganismos
atravessam as mucosas não danificadas e disseminam-se, primeiro pela via linfogênica e, a
seguir, hematogênica. Na via transplacentária a disseminação ocorre através das vias umbilicais
(LEHNERT, 1999).
A forma meningoencefálica afeta principalmente animais adultos (ROBERTS, 1979;
ROSENBERGER, 1989) e pode ocorrer em neonatos que contraem a infecção durante o parto
(CORRÊA; CORRÊA, 1992). Em animais adultos, ocorre porque a bactéria provavelmente em
conseqüência de traumatismos na mucosa oral, causados por alimentos grosseiro ou infecção das
cavidades dentárias (SCHILD, 2001), principalmente em animais jovens em que a erupção dos
dentes permanentes pode produzir gengivite e exposição das raízes dentárias do nervo trigêmeo
(GEORGE, 1994); assim o microrganismo invade o nervo trigêmeo e chega ao tronco encefálico
(SCHILD, 2001).
Charlton et al. (1967 apud GEORGE, 1994) relatam não estar esclarecido se a infecção do
cérebro por Listeria monocytogenes ocorre por via hematógena, ou pela ascensão centrípeta a
partir das radículas dos nervos cranianos. Através das radículas do nervo craniano o agente se
10
movimenta ao longo do tronco linfático, penetra no tronco encefálico, onde o agente começa a se
multiplicar e se espalhar pela medula e a ponte (JENSEN; MACKEY, 1979).
Lehnert (1999), diz que as listerias que alcançam o tecido chegam aos ramos periféricos
dos nervos diretamente ou pela via linfogênica, nelas localizando-se e provocando um processo
inflamatório. Este é circunscrito, quase sempre, a axônios isolados de um nervo. No interior
destes são produzidos a multiplicação dos microrganismos e um progresso (ascensão) da neurite.
À medida que a moléstia progride, poderá ocorrer herniação cerebral (ETTINGER; FELDMAN,
1997).
A forma que leva ao abortamento é menos freqüente que a meningoencefálica e ocorre de
forma esporádica (ROSENBERGER, 1989). O que leva ao abortamento é a infecção intra-uterina
que ocorre aparentemente, por via hematógena, após a ingestão do agente pela fêmea prenhe; a
bactéria se localiza exclusivamente no útero, provocando edema e necrose da placenta e leva ao
abortamento em 5-10 dias após a infecção; quando a infecção ocorre no final da gestação, resulta
em natimortos ou nascimento de bezerros que desenvolvem a forma septicêmica fatal da
enfermidade (SCHILD, 2001).
Nos ovinos são encontrados junto a petéquias subepicárdias, hiperemia e tumefação da
mucosa nasal e acúmulo de um exsudato mucopurulento nas cavidades nasais (LEHNERT,
1999).
A moléstia em caprino e ovino tende a ser mais aguda, e produz uma taxa mais elevada
da relação fatalidade por caso do que em bovinos (GEORGE, 1994). A quantidade de Listeria
monocytogenes nas lesões encefálicas é limitada pela capacidade dos macrófagos de sintetizar
óxido nítrico, maior nos bovinos, intermediária nos ovinos e mais baixa nos caprinos (PFISTER
et al., 2002).
11
6. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
O sinal clínico inicial apresenta presença de febre (JOHNSTON, 1986; CORRÊA;
CORRÊA, 1992; REBHUN, 2000; ROBERTS, 1979; GEORGE, 1994; ROSENBERGER, 1989;
JENSEN, 1979), especialmente durante os primeiros dias de enfermidade (REBHUN, 2000),
devido a bacteremia (ROBERTS, 1979). A febre não é alta (39,4 a 40,5ºC), e a ausência de febre
não descarta uma listeriose (REBHUN, 2000).
Os sinais clínicos são comuns à maior parte dos casos neurológicos (GEORGE, 1994) e
encefalomielites (HEIDRICH et al., 1980). E os sinais clínicos da forma meningoencefálica
variam de acordo com o nervo utilizado como via de acesso; geralmente estão envolvidos os
nervos cranianos V, VII, IX e X (ETTINGER; FELDMAN, 1997). Os sintomas mais comuns
incluem: animais que não acompanham o rebanho (HEIDRICH et al., 1980) ou classicamente é
conhecida como doença do andar em círculo (REBHUN, 2000; GEORGE, 1994; HEIDRICH,
1980; AMSTUTZ, 1980), devido às lesões unilaterais nos nervos cranianos VII e VIII
(REBHUN, 2000); apresentam lentidão e incoordenação (BLENDEN et al., 1987), sinais
neurológicos unilateralmente específicos (BLENDEN et al., 1987; SCHILD, 2001) como queda
auricular, ptose, flacidez labial (REBHUN, 2000; GEORGE, 1994), desvio lateral de cabeça e do
corpo (SCHILD, 2001); nistagmo e disfunção pupilar, descarga conjuntival, anorexia, depressão
(REBHUN, 2000; GEORGE, 1994; HEIDRICH, 1980; AMSTUTZ, 1980) e podendo acentuar-se
por desidratação e déficits ácido-básicos (REBHUN, 2000), em decorrência de perda salivar de
bicarbonato (GEORGE, 1994).
12
O animal com listeriose pode apresentar ceratoconjuntivite, os sintomas clínicos são:
conjuntiva hiperêmica, lacrimejamento, fotofobia e córnea turva (DZIEZYC; MILLICHAMP,
1994).
Também podem apresentar aumento da freqüência cardíaca e respiratória (JOHNSTON,
1986). Uma respiração estenosante em animais com perda funcional aguda dos nervos cranianos
IX, X e XII (REBHUN, 2000).
Nas fêmeas prenhas pode ocorrer o abortamento entre o quarto e o sétimo mês de gestação
(AMSTUTZ, 1980; HEIDRICH, 1980, ROSENBERGER, 1989) ou segundo Miller e Turk
(1994) os abortamentos bovinos em geral ocorrem nos últimos dois meses de gestação; podem
aparecer fetos mortos, mumificados, incapazes de sobreviver (HEIDRICH, 1980) ou esses
animais possuem um crescimento retardado (AMUSTUTZ, 1980; ROSENBERGER, 1989).
Pode ocorrer também uma retenção placentária e conseqüentemente uma metrite
(ROSENBERGER, 1989).
A Listeria ivanovii também causa abortamento em ovelhas e vacas, mas sua ocorrência é
menor que a Listeria monocytogenes (IVANOV, 1962 apud LOW; DONACHIE, 1997).
A Listeria monocytogenes pode provocar uma mastite. Bourry e Poutrel (1996)
inocularam a Listeria monocytogenes nos quartos da glândula de vacas, observaram episódios
clínicos de leite com grumos eram raros.
14
Rosenberger (1989) cita que os quartos infectados se apresentam endurecidos e nodulosos. O
leite ordenhado é aquoso ou flaculento, ou também macroscopicamente normal.
Nos bezerros a forma septicêmica da listeriose é a mais comum, pois o agente se
multiplica em todo organismo. Apresentam febre alta e diarréia (AMSTUTZ, 1980), raramente
apresentam opistótono, orelhas caídas, conjuntivite e poliartrite; depois de 3 a 9 dias de evolução
da doença e com a debilidade progressiva, perda de peso, se produz a morte (ROSENBERGER,
1989).
15
7. DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é feito através dos sinais clínicos (JOHNSTON, 1986; JENSEN MACKEY,
1979; SCHILD, 2001), sinais que indicam distúrbios do sistema nervoso central (AMSTUTZ,
1980), dados epidemiológicos (SCHILD, 2001) e um histórico de consumo de silagem (JENSEN;
MACKEY, 1979: BLOWEY et al., 1992). Entretanto, os sintomas são inespecíficos para
confirmação da listeriose, sendo necessário fazer testes laboratoriais para um diagnóstico seguro
(ROSENBERGER, 1989; BLENDEN et al., 1987) como isolamento e identificação do
microrganismo que pode ser de difícil realização (ROBERTS, 1979).
A punção e o exame do líquido cérebro-espinhal (LCE) constitui o auxílio mais valioso
para a confirmação do diagnóstico (GEORGE, 1994; REBHUN, 2000). A punção do LCE é
geralmente realizada na região lombossacral, a menos que o paciente se encontre em decúbito
(REBHUN, 2000).
No LCE em animais com a enfermidade, a concentração protéica pode estar maior que
100µg/dL, e as contagens leucocitárias podem estar maior que 100 células
mononucleares/microlitro (GEORGE, 1994), tais como macrófagos, monócitos ou linfócitos
(REBHUN, 2000).
Além do exame do LCE, em animais vivos pode-se coletar amostras de sangue, leite,
raspado das conjuntivas (quando estiverem inflamadas) e lóquios. Nos animais mortos ou
sacrificados deve-se coletar amostras do cérebro e medula espinhal (em caso de
meningoencefalite); feto e/ou útero materno (suspeita de abortamento por listeria); coração,
pulmão, fígado, baço e rins (em caso de septicemia); úbere em caso de mastites; todas amostras
extraídas em forma estéril e refrigeradas a 4ºC (ROSENBERGER, 1989).
A cultura do agente em um ambiente estéril é relativamente fácil (LOW; DONACHIE,
1997). Entretanto, culturas de cérebro fresco podem ser negativas, sendo necessário requerer um
período extenso de enriquecimento a frio (4ºC) (BLOWEY et al., 1992; CASTRO, 1991,
SCHILD, 2001) e realizar cultivos semanalmente (SCHILD, 2001) em ágar-sangue (CASTRO,
1991) a 10% (ROSENBERGER, 1989). Deve-se tomar cuidado ao identificar a bactéria, pois
podem ser confundidas com corinebactérias e certos estreptococos (CASTRO, 1991). A bactéria
também pode ser identificada através da imunofluorescência (SCHILD, 2001).
16
Uma contagem sanguínea completa pode mostrar uma leucocitose suave e uma
monocitose sugestiva dessa doença, mas em ruminantes não é observada essa monocitose
periférica (GEORGE, 1994; REBHUN, 2000) que pode ser encontrada em outras espécies
infectadas e que dão a Listeria monocytogenes seu nome (REBHUN, 2000).
Em alguns casos a silagem e o feno devem ser analisados por cultura para Listeria
monocytogenes (REBHUN, 2000).
Para obter um diagnóstico final é feita uma inoculação de material contendo o agente em
camundongos (ROSENBERGER, 1989; CORRÊA; CORRÊA, 1992) e observar se desenvolvem
uma monocitose comprovada hematologicamente (ROSENBERGER, 1989).
7.1. Diagnóstico diferencial:
Os diagnósticos diferenciais são muitos para a listeriose, sendo a raiva a mais importante
do ponto de vista de saúde pública (REBHUN, 2000).
A raiva é a doença mais difícil de se diferenciar da listeriose quando encontram se
presentes uma disfagia ou outros sinais nervosos. O LCE na raiva apresenta menos células
nucleadas e proteínas, uma porcentagem alta de células mononucleares com relação aos
neutrófilos são encontrados nos indivíduos com listeriose não é típica na raiva
(ROSENBERGER, 1989).
As infecções do ouvido interno-médio (JENSEN; MACKEY, 1979; REBHUN, 2000)
podem causar sinais de NC-VII e VIII, inclinação da cabeça e saliva aparente no lábio flácido do
mesmo lado, mas o animal não apresenta nenhum sinal de doença do tronco cerebral (REBHUN,
2000).
A cetose nervosa ou acetonemia em bovinos e toxemia da prenhez em ovinos, também
podem ser confundidas com a listeriose (BLOWEY et al., 1992; REBHUN, 2000;
ROSENBERGER, 1989, SCHILD, 2001), um exame do LCE normal descartam a listeriose
(REBHUN, 2000) e, além disso, a evolução dessas enfermidades é mais rápida, os sinais clínicos
nervosos são acompanhados de marcada cetonúria e ocorrem em forma de surtos, enquanto que a
listeriose ocorre mais freqüentemente de forma esporádica (SCHILD, 2001).
17
Polioencefalomalácea, encefalite por HVB-5 (SCHILD, 2001; REBHUN, 2000),
intoxicação por chumbo e outras doenças do córtex cerebral, deve ser feito um diagnóstico
diferencial através de exames neurológicos e das respostas do animal, mas se o animal estiver em
decúbito o diagnóstico é difícil de ser feito. Essas doenças provocam cegueira (SCHILD, 2001;
REBHUN, 2000) cortical bilateral e na listeriose raramente causa cegueira (REBHUN, 2000).
Nos casos de abortamentos é feito um diagnóstico diferencial com as doenças: brucelose,
leptospirose e vibriose (ROSENBERGER, 1989).
Além dessas enfermidades citadas acima para um diagnóstico diferencial, há outras
doenças como: distúrbios gastrintestinais suaves ou sutis (REBHUN, 2000); infecção por
Haemophilus somnus (REBHUN, 2000; GEORGE, 1994); colissepticemia, que se assemelha
com a listeriose na forma septicêmica em bezerros; mastites causadas por outros agentes como
estreptococos (ROSENBERGER, 1989); coenurose, que pode levar a sinais clínicos nervosos
unilaterais, dependendo da localização dos cistos de Coenurus cerebralis; abcessos cerebrais, que
geralmente tem um curso clínico mais prolongado (SCHILD, 2001).
18
8. PROGNÓSTICO
Um prognóstico bom depende de quando o tratamento é administrado precocemente no
curso da moléstia (JOHNSTON, 1986; GEORGE, 1994). Em animais que se encontram andando
quando se faz o diagnóstico e com bons cuidados de enfermagem, administração de
antibioticoterapia, fluidoterapia e terapia de suporte, o prognóstico é razoável a bom (REBHUN,
2000).
Em animais em decúbito, comatosos ou convulsivos o prognóstico é mau, raramente
sobrevivem (GEORGE, 1994; REBHUN, 2000). Animais com o desenvolvimento da forma
meningoencefálica e septicêmica possuem um prognóstico desfavorável (ROSENBERGER,
1989).
No caso de abortamento a fêmea não possui perigo de vida, a menos que não tenha
retirado o conteúdo uterino a tempo; nas mastites por listeriose o prognóstico também é favorável
quanto à vida do animal, mas pode trazer transtornos em caso de secreções e ser uma fonte de
infecção (ROSENBERGER, 1989).
19
9. TRATAMENTO
O tratamento da listeriose tem uma alta freqüência de sucesso quando o tratamento é
administrado antecipadamente e sem sinais nervosos (SCHILD, 2001; ERDOGAN et al., 2001).
Um tratamento efetivo requer o uso de compostos que penetrem a barreira hematocefálica e
formem altas concentrações no tecido e no fluído cérebro-espinhal (JENSEN; MACKEY, 1979),
pois a Listeria monocytogenes é um organismo intracelular facultativo que consegue sobreviver e
se esconder das drogas nos macrófagos, e a barreira hematocefálica (embora fique comprometida
pela inflamação) ainda impede a penetração do antibiótico no cérebro em certo grau (REBHUN,
2000).
O tratamento varia de cada autor, mas na maioria o tratamento consiste de uma
antibioticoterapia com administração de penicilina (REBHUN, 2000; ROBERTS, 1979;
JOHNSTON, 1986; CORRÊA, CORRÊA; 1992; SCHILD, 2001), estreptomicina (ROBERTS,
1979), tetraciclina, cloranfenicol (JOHNSTON, 1986; HEIDRICH et al., 1980) ou clortetraciclina
(SCHILD, 2001).
A dose e o tempo do tratamento variam de cada autor e do estágio da enfermidade.
Lippmann (1968 apud LEHNERT, 1999), afirmou que na encefalite ovina tratada com
oxitetraciclina com 10-15 mg/kg/5 dias e a penicilina com 40.000 UI/kg/5 dias, revelaram-se
eficazes. George (1994) também cita que a terapia com penicilina as doses iniciais são de 4.000
UI/kg de peso corporal (intramuscular) durante 5 dias.
Entretanto, foi relatada resistência do cloranfenicol, tetraciclina e eritromicina no
tratamento da listeriose. Cefalosporina tem sido relatada por ser ineficiente, e a combinação da
ampicilina e gentamicina é relatado por ser um tratamento de escolha para a listeriose (LOW;
DONACHIE, 1997).
O tratamento é mantido por uma a duas semanas (CORRÊA; CORRÊA, 1992), embora a
duração exata da terapia varie em cada caso (REBHUN, 2000). Uma recuperação completa pode
durar semanas ou meses (AMSTUTZ, 1980).
O estado hídrico e eletrolítico é muito importante ao indivíduo com listeriose. Animais
que não estejam salivando, podem receber água e eletrólitos balanceados através de sonda
gástrica, melhorando a hidratação e amolece o conteúdo ruminal estimulando a atividade ruminal
20
(REBHUN, 2000). Uma administração de vitamina B também ajuda a aumentar a atividade
ruminal nos pacientes com listeriose (BRAUN, 2002).
As concentrações plasmáticas de bicarbonato e potássio devem ser monitoradas
(JENSEN; MACKEY, 1979; REBHUN, 2000; GEORGE, 1994) principalmente quando os
pacientes estiverem com salivação excessiva devido à perda de tampão (REBHUN, 2000), sendo
necessário uma terapia de correção da desidratação e da acidose com administração intravenosa
de fluídos de bicarbonato de sódio (BRAUN, 2002; REBHUN, 2000) diariamente até que as
perdas salivares parem (REBHUN, 2000). Administração de solução de glicose e administração
intragástrica de água e concentração de proteína até que o paciente comece a se alimentar sozinho
(JENSEN; MACKEY, 1979).
A terapia de reposição torna-se necessária, pois a depressão e a fraqueza que ocorrem na
acidose metabólica severa podem ser confundidas com uma progressão da doença ou falta de
resposta à terapia para a listeriose (REBHUN, 2000).
21
10. CONTROLE E PROFILAXIA
A Listeria monocytogenes por ser muito difundida no ambiente e nos animais é
praticamente impossível de controlá-la (CORRÊA; CORRÊA, 1992).
A relação listeriose e silagem estão bem estabelecidas, devendo tomar cuidado na seleção
e preparo de silagem na alimentação dos animais, uma vez aberta à silagem as porções periféricas
que entraram em contato como ar, devem ser descartadas (LOW; DONACHIE, 1997;
ROSENBERGER, 1989; SCHILD, 2001).
Toda troca de alimentos deve ser feita paulatinamente (SCHILD, 2001;
ROSENBERGER, 1989), durante o inverno para não provocar esforços nos animais, ou seja, não
provocar estresse no animal para que a sua imunidade diminui, assim o animal estará mais
predisposto à doença. Durante a engorda intensiva (ROSENBERGER, 1989) ou em caso de
aparecimento esporádico (BLOWEY et al., 1992) se recomenda administrar pequenas
quantidades de antibióticos (ROSENBERGER, 1989; BLOWEY et al., 1992).
Separar os animais em tratamento imediatamente do rebanho (HEIDRICH et al., 1980;
ROSENBERGER, 1989), deve ser eliminado todo material suspeito; o leite do animal positivo
não deve ser usado para o consumo humano ou animal, sem pasteurização (ROSENBERGER,
1989).
Aplicar as práticas de higiene consistentes em caso de animais que abortaram e a
destruição dos fetos abortados e as membranas. E o tratamento ou o sacrifício de animais
positivos na sorologia ou doentes (ROBERTS, 1979).
10.1. Vacinas:
Linde et al. (1995), fizeram um experimento onde foram utilizadas vacinas com sorotipos
1/2a e 4b (sorotipos de maior prevalência a campo). A freqüência de mortalidade nos ovinos
vacinados foi baixa, nos que não foram imunizados houve uma mortalidade mais alta. Ainda
22
nesse estudo, apenas vacinas vivas podem conferir adequada imunidade efetiva para proteger os
animais da doença, pois a Listeria é um agente intracelular; Merchant e Packer (1980) analisaram
o estudo de Olson e Blore nos meados da década de 50 em que ovelhas que recebiam vacinas
vivas de Listeria monocytogenes virulento, como os não virulentos eram capazes de produzir uma
imunidade efetiva. Mas, George (2000) relata que vacinas vivas ou mortas produzem proteção de
ovinos e caprinos. As vacinas reduzem a prevalência de listeriose em rebanhos vacinados,
contudo, não são comercializados nos Estados Unidos (GEORGE, 2000). No Brasil também não
há comercialização das vacinas.
23
11. CONCLUSÃO
A Listeria monocytogenes é ubiqüitária (WIEDMANN et al., 1997; LEHNERT, 1999),
mas a sua presença em uma amostra de alimento não indica que o alimento seja uma fonte para
uma epizootia. Por exemplo, aproximadamente 10³ de Listeria monocytogenes/g foram
encontradas em silagem que era fonte de alimentação para bezerros e sem que houvesse
manifestação e sinais da listeriose (WIEDMANN et al., 1997). Isso se deve talvez a grande
divisão de sorotipos baseados nos antígenos O e H, sendo que a Listeria monocytogenes tenha 13
sorotipos (CORRÊA; CORRÊA, 1992; JENSEN; MACKEY, 1979; LEHNERT, 1999).
Na maioria dos trabalhos são citados caprinos e ovinos como investigação epizoótica,
achados clínicos, tratamentos; talvez seja porque os caprinos e ovinos tendem a ter uma moléstia
mais aguda que nos bovinos (GEORGE, 1994). Acredita-se que seja devido à capacidade dos
macrófagos de sintetizarem óxido nítrico em maior quantidade nos bovinos (PFISTER et al.,
2002).
A ausência de vacina no mercado, embora seu uso tenha se demonstrado eficaz na
prevenção da doença (LINDE et al., 1995; REBHUN, 2000), provavelmente se explica pelo
baixo impacto econômico e baixa ocorrência (HEIDRICH et al., 1980). De acordo com Low e
Donachie (1997) antes de desenvolver uma vacina deve-se conhecer a doença, pois sua etiologia,
patogenia e o mecanismo da imunidade são complexos.
24
12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMUSTUTZ, H. E. LISTERIOSIS. In: Amstutz, H. E. Bovine medicine and surgery. 2.ed.
California: American Veterinary Publication, Inc., 1980. 2v. v.1, p.252-255.
BIER, O. Bacteriologia e imunologia – Em suas aplicações à medicina e a higiene. 18 ed. São
Paulo:Edições Melhoramentos, 1977. p.1056.
BLENDEN, D. C.; KAMPELMACHER, E. H.; TORRES-ANGEL, M. J. LISTERIOSIS. J. Am.
Vet. M. A., v.191, n.12, p.1546-1551, 1987.
BLOWEY, R. W.; BOYD, H.; EDDY, R. G. Bovine medicine – disease and husbandry of
cattle. Oxford: Blackwell Scientific Publications, 1992. p.703.
BOURRY, A.; COCHARD, T.; POUTREL, B. Serological Diagnosis of bovine, caprine, and
ovine mastitis caused by Listeria monocytogenes by using an Enzyme-Linked Immunosorbent
Assay. Journal of Clinical Microbiology, v.35, n.6, p.1606-1608, 1997.
BOURRY, A.; POUTREL, B. Bovine mastitis caused by Listeria monocytogenes: Kinetics of
antibody responses in serum and milk after experimental infection. Journal Dairy Sci., v.79,
p.2189-2195, 1996.
25
BRAUN, U.; STEHLE, C.; EHRENSPERGER, F. Clinical findings and treatment of listeriosis in
67 sheep and goats. Veterinary Record, New York, v.150, p.38-42, 2002.
BRIONES, V.; BLANCO, M. M.; MARCO, A.; PRATS, N.; FERNANDÉZ GARAYZÁBAL, J.
F.; SUARÉZ, G.; DOMINGO, M.; DOMÍNGUEZ, L. Biliary excretion as possible origino f
Listeria monocytogenes in fecal carriers. Am. Journal Vet. Rs., v.53, n.2, p.191-193, 1992.
CARTER, G. R. Fundamentos de bacteriologia e microbiologia veterinária. São Paulo: Roca,
1988. p.122-124.
CASTRO, A. F. P. Listeria. In: TRABULSSI, R. L. Microbiologia. 2. ed. São Paulo: Livraria
Atheneu Editora, 1991. p.131-132.
CORRÊA, W. M.; CORRÊA, C. N. M. Enfermidades infecciosas dos mamíferos domésticos.
2. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 1992. p. 367-373.
DZIEZYC, J.; MILLICHAMP, N. J. Moléstias oculares infecciosas. In: SMITH, B. P. Tratado
de medicina veterinária interna de grandes animais: moléstia de eqüinos, bovinos, ovinos e
caprinos. São Paulo: Manole, 1994. 2v.. v.2, p. 1210-1211.
ERDOGAN, H. M.; CETINKAYA, B.; GREEN, L. E.; CRIPPS, P. J.; MORGAN, K. L.
Prevalence, incidende, sings and treatment of clinical listeriosis in dairy cattle in England.
Veterinary Record, New York, v.149, p.289-293, September, 2001.
26
ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado de medicina veterinária – moléstias do cão e do
gato. 4.ed. São Paulo: Manole, 1997. 2v. v.1, p.880.
FENLON, D. R. Rapid quantitative assessment of the distribution of listeria in silage implicated
in a suspected outbreak of listeriosis in calves. Veterinary Record, New York, v.118, n.9, p.240-
242, march, 1986.
GEORGE, L. W. Moléstias apresentando-se principalmente com disfunção do tronco cerebral e
nervos cranianos. In: SMITH, B. P. Tratado de medicina veterinária interna de grandes
animais: moléstia de eqüinos, bovinos, ovinos e caprinos. São Paulo: Manole, 1994. 2v. v.2,
p.966-968.
HEIDRICH, H. D.; GRUNER, J.; VASKE, T. R. Manual de patologia bovina. São Paulo:
Varela, 1980. p.215-217.
JENSEN, R.; MACKEY, D. R. Disease of feedlot cattle. 3.ed. Philadelphia: Lea & Febiger,
1979. p.71-75.
JOHNSTON, A. M. Equine medical disorders. Oxford: Blackwell Scientific Publication, 1986.
p.150-151.
LEHNERT, C. Listeriose. In: BEER, J. Doenças infecciosas em animais domésticos. São Paulo:
Roca, 1999. 2v. 2.v, p.48-53.
27
LINDE, K. FTHENAKIS, G. C.; LIPPMANN, R.; KINNE, J.; ABRAHAN, A. The efficacy of a
live listeria monocytogenes combined serotype 1/2a and serotype 4b vaccine. Vaccine, Great
Britain, v.13, n.10, p. 923-926, 1995.
LOW, J. C.; DONACHIE, W. A review of Listeria monocytogenes and listeriosis. The
Veterinary Journal, Scotland, v.153, p. 9-29, 1997.
MARINSEK, J.; GREBENC, S. Listeria monocytogenes in minced meat and thermally untreated
meat products in Slovenia. Slov. Vet. Res., Slovenia, v.39, n.2, p.131-136, 2002.
MERCHANT, I. A.; PACKER, R. A. Bacteriologia y virologia veterinarias. 3.ed. Zaragoza:
Acribia, 1980. p.390-396.
MILLER, M. A.; TURK, J. R. Causas infecciosas de infertilidade e de aborto. In: SMITH, B. P.
Tratado de medicina veterinária interna de grandes animais: moléstia de eqüinos, bovinos,
ovinos e caprinos. São Paulo: Manole, 1994. 2v. v.2, p. 1387.
PFISTER, H.; REMER, K. A.; BRCIC, M.; FATZER, R.; CHRISTEN, S.; LEIB, S.; JUNGI, T.
W. Inducible nitric oxide synthase and nitrotyrosine in listeric encephalitis: a cross-species study
in ruminants. Veterinary Pathology, v.39, p. 190-199, 2002.
REBHUN, W. C. Doenças do gado leiteiro. São Paulo: Roca, 2000. p.504-509.
28
ROBERTS, S. J. Obstetrícia veterinária y patologia de la reproduccion (teriogenologia).
Argentina: Editorial Hemisfério Sur S.A., 1979. p. 147-149.
ROSENBERGER, G. Enfermidades de los bovinos. 1. ed. Argentina: Editorial Hemisfério Sur
S.A, 1989. p. 114-119.
RYSER, E. T.; MARTH, E. H. Listeria, Listeriosis and Food safety. New York: Maral
Dekker, Inc., 1991. p.1-43.
SCHILD, A. L. Listeriose. In: RIET-CORREA, F.; SCHILD, A. L.; MÉNDEZ, M. C.; LEMOS,
R. A. A. Doenças de ruminantes. São Paulo: Livraria Varela, 2001. 2v. v.1, p. 288-291.
WIEDMANN, M.; ARVIK, T.; BRUCE, J. L.; NEUBAUER, J.; PIERO, F.; SMITH, M. C.;
HURLEY, J.; MOHAMMED, H. O.; BATT, C. A. Investigation of a listeriosis epizootic in sheep
in New York state. Am. J. Vet. Res., v.58, n.7, 1997.
29