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Doracina Aparecida de Castro Araujo; Ademilson Batista Paes; Léia Comar Riva [Organizadores] DIREITOS E EDUCAÇÃO: PESQUISAS, PRESCRIÇÕES E PRÁTICAS

Livro Final 14x21[1]

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Doracina Aparecida de Castro Araujo;  Ademilson Batista Paes;  

Léia Comar Riva [Organizadores] 

       

DIREITOS E EDUCAÇÃO:   

PESQUISAS, PRESCRIÇÕES E PRÁTICAS   

            

  

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© dos autores.   

 Doracina Aparecida de Castro Araujo; Ademilson Batista Paes; Léia Comar Riva [Organizadores]  

Direitos  e  Educação:  Pesquisas,  prescrições  e  práticas.  São Carlos: Pedro & João Editores, 2013. 213p.  ISBN 978‐85‐88533‐81‐3  1. Educação. 2. Iniciação à docência. 3. Inclusão Social. 4. Autores. I. Título.  

 CDD – 370 

   Capa: Marcos Antonio Bessa‐Oliveira,  Editores: Pedro Amaro de Moura Brito & João Rodrigo de Moura Brito   Conselho Científico da Pedro & João Editores: 

Augusto  Ponzio  (Bari/Itália);  João  Wanderley  Geraldi (Unicamp/Brasil); Nair F. Gurgel do Amaral (UNIR/Brasil); Maria Isabel de Moura  (UFSCar/Brasil); Maria da Piedade Resende da Costa (UFSCar/Brasil); Rogério Drago (UFES/Brasil). 

    

    

Pedro & João Editores www.pedroejoaoeditores.com.br 

13568‐878 ‐ São Carlos – SP 2013 

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SUMÁRIO     

 PREFÁCIO

APRESENTAÇÃO

I. DIREITO E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

ANÁLISE DOS REQUISITOS CONSTITUTIVOS DA UNIÃO ESTÁVEL À LUZ DO ORDENAMENTO JURÍDICO 

BRASILEIROJuliana Gomes Marques e Léia Comar Riva

CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E O CONSENTIMENTO DA MULHER PARA A REALIZAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS 

IMOBILIÁRIOSLéia Comar Riva

LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA: UMA SITUAÇÃO DE DEPENDÊNCIA

Fernanda Peres Soratto e Aires David de Lima

MOVIMENTOS SOCIAIS: UMA ESPERANÇA DEMOCRÁTICA DENTRO DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO

Vitor Luiz Carvalho da Silva, Renato Amorim e Ailton de Souza

II. EDUCAÇÃO: CONHECIMENTO, INCLUSÃO E PRÁTICAS SOCIAIS

“EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E SOCIEDADE” E “EDUCAÇÃO MATEMÁTICA CRÍTICA”: CONVERGÊNCIAS OU 

DESAPROXIMAÇÕESDouglas Gonçalves da Silva

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ESTADO DO CONHECIMENTO SOBRE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA REGIÃO CENTRO‐OESTE DO BRASIL EM 

TESES E DISSERTAÇÕES DA ÁREA DA EDUCAÇÃO (2000‐2010)

Doracina Aparecida de Castro Araujo, Edinéia da Silva Freitas e Raquel Marques Ribeiro dos Santos 

IDENTIDADE, DEFICIÊNCIA E INCLUSÃO ESCOLAR: REFLEXÕES (E) CRÍTICAS A PARTIR DE UMA REPORTAGEM 

DO PERIÓDICO NOVA ESCOLAGiovani Ferreira Bezerra

O BULLYING NO ÂMBITO ESCOLAR E A MÍDIA: ALGUMAS REFLEXÕES

Gilmar Ribeiro Pereira e Maria José de Jesus Alves Cordeio 

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA (PIBID): FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM 

DIFERENTES ESFERASDeuzélia Alves Gomes e Doracina Aparecida de Castro Araujo

UMA REFLEXÃO SOBRE OS LIVROS DA COLEÇÃO MATEMÁTICA: NUMA ABORDAGEM DA HISTÓRIA DA 

MATEMÁTICA COMO RECURSO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA

Ronilce Maira Garcia Lopes e Sabrina Helena Bonfim 

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121

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168

183 

 

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 PREFÁCIO 

 Uma palavra que não representa uma idéia é 

uma coisa morta, da mesma forma que uma idéia não incorporada em palavras não passa de uma 

sombra.    Lev. S. Vygotsky   

  Prefaciar uma obra é sempre uma grande honra e coube‐me em especial fazê‐lo em um trabalho que tem como inestimável fonte a  pesquisa,  não  sendo meramente  uma  junção  de  artigos, mas  a concretização  de  uma  proposta  de mudança  que  a Universidade pretende, na contramão de uma sociedade que tem se notabilizado pela ausência de fundamentos teóricos.    Os  textos  são  resultantes  dos  trabalhos  enviados  aos eventos  X  Simpósio  Científico‐Cultural  (SCIENCULT),  IX Seminário em Educação, IV Ciclo de Debates em Ciências Sociais e II  Simpósio  Nacional  de  Pesquisadores  das  Ciências  Sociais (SINPECS), promovidos pela Unidade Universitária de Paranaíba, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, que nestes anos tem  buscado  incessantemente  uma  produção  pluridisciplinar, considerando que os mencionados Eventos abarcam todas as áreas do conhecimento representadas nesta Unidade, bem como tem em conjunto a participação de outras instituições de ensino.    É  um  trabalho  que  envolve  e  une  os  cursos  de  Ciências Sociais, Direito e Pedagogia e demais cursos de outras Instituições, como  Psicologia  e  Matemática,  que,  ousando  não  se  limitar  às questões territoriais ou mesmo geográficas, ampliam e demonstram que  o  cientificamente  construído  independe  de  fatores  externos, mas é resultante de um projeto de Universidade que tenha em suas entranhas sua  função maior, que é construir a cidadania por meio da  ciência.  E  este  livro  é  resultado  de  parte  deste  trabalho, intencionalmente iniciado há dez anos.   Muitos  outros  trabalhos  teriam  condições  de  compor  a presente obra, por motivos alheios a nossa vontade e por restrição de tempo, que se tem tornado o balizador da academia por muitas serem  as  atividades,  não  o  fizerem,  embora  sejam  valorosos. 

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Podemos  observar  o  envolvimento  de  acadêmicos  e  orientadores neste processo, seja em nível de Graduação ou Pós‐Graduação, lato ou stricto sensu, o que denota a intenção de integração horizontal e vertical entre os cursos, visando à produção de futuros pensadores das  ciências  humanas,  produção  que  se  constrói  pela  incessante inquietação em relação aos problemas sociais, e eles são numerosos e  constantes. Mas não há  como declinar de viver  em  sociedade  e muito  menos  de  pensar  nas  necessárias  transformações, responsabilidade maior de nossa produção intelectual.   A obra que lhe é oferecida não tem o condão de solucionar questões de ordem imediata, mas é o germe que alimenta a reflexão e que sugere que o processo se encontra em andamento e também que  o  compromisso  social  não  é  uma  alternativa  ou  opção, constitui‐se  como  dever  impositivo  aos  que  vivem  no  espaço universitário, um quase “dever‐ser” kantiano.   Os trabalhos científicos que lhe chegam às mãos possuem a marca do progresso de uma Unidade da Universidade que tem por escopo  o  crescimento  intelectual  de  todos  que  a  compõem  e daqueles  que  desejam  recompor  o  espaço  público  como propriedade da sociedade; tal atitude somente pode acontecer pela consciência  de  que  as  possibilidades  existem  e  são  resultados  de trabalho,  no  sentido  de  transformação  da  natureza  humana,  esta com a capacidade de transformar a sociedade e influir no meio.   O  tema  sobre Políticas  objetiva discutir  a  ação do Estado frente  às  demandas  sociais,  assim  o  aspecto  principal  foi direcionado para a concepção e efetivação das políticas de governo, sempre  com  o  foco  na  relação  do  humano,  seu  ambiente  e  sua construção histórica.   Dessa forma, gostaria de anexar uma máxima marxista, que acredito  estar  bastante  relacionada  ao momento  em  que produzo este singelo texto:  

 [...]  são  os  homens  que  desenvolvem  a  sua  produção material  e  o  seu  intercâmbio material  que,  ao mudarem esta sua realidade, mudam também o seu pensamento e os produtos  do  seu  pensamento.   Não  é  a  consciência  que determina  a  vida,  é  a  vida  que  determina  a  consciência (MARX, Ideologia Alemã, p.23). 

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 A  materialização  da  produção  intelectual  presente  nesta 

coletânea reflete a intenção, por parte de seus autores, de divulgar suas  reflexões  teóricas  acerca  de  temáticas  relevantes  no  cenário atual, promovendo o  intercâmbio necessário à mudança de nossos pensamentos  e  dos  produtos  de  nossos  pensamentos,  como preconizado por Marx.   Um prefácio deve  ser  sempre breve, a  fim de que o  leitor possa adentrar aos  trabalhos apresentados, que  são o que de  fato importa  em  uma  produção  acadêmica.  Assim,  esta  brevíssima menção não tem a capacidade de ser uma pré‐leitura da obra, mas tenho  a  certeza  de  que  a  honra  que  me  foi  concedida  nesta oportunidade  não  será menor  do  que  a  certeza  de  que  a  leitura poderá  ampliar  suas  reflexões  sobre  o  humano,  a  política,  a transformação e a Universidade. A frase de abertura de Vygotsky é o que se deseja nesta obra, nossas palavras transformadas em ideias e ações. Boa leitura a todos e que nossos pensamentos, por meio de sua socialização, estejam em constante evolução.  

 Drª Maria Silvia Rosa Santana 

 Paranaíba, novembro de 2013. 

 

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APRESENTAÇÃO    Em  plena  primavera  de  2013  floresce  o  fomento  ao conhecimento científico, na junção de quatro eventos realizados na Universidade  Estadual  de Mato  Grosso  do  Sul  (UEMS)/Unidade Universitária  de  Paranaíba:  X  Simpósio  Científico‐Cultural (SCIENCULT), IX Seminário de Educação, IV Ciclo de Debates em Ciências  Sociais  e  II  Simpósio  Nacional  de  Pesquisadores  das Ciências  Sociais  (SINPECS),  sob  o  tema  Políticas  Públicas  na Contemporaneidade.    Em  forma  de  conferências,  minicursos,  simpósios temáticos, comunicações orais e pôsteres, buscou‐se debater, refletir e disseminar a produção acadêmica que se vem construindo sobre o tema  dos  eventos,  de  modo  a  instalar‐se  uma  cultura  científica desde a graduação.   De  acordo  com  a  Coordenação  de  Aperfeiçoamento  do Pessoal de Nível Superior (CAPES), há vários critérios para aferir a vitalidade  das  pesquisas  desenvolvidas  pelo  corpo  docente  e discente  realizadas  durante  os  cursos  de  graduação  e  de  pós‐graduação  lato  ou  stricto  sensu.  Entre  esses  critérios  está  a  veiculação  de  pesquisas  por meio  de  trabalhos  de  conclusão  de curso,  monografias,  dissertações  e  teses.  Acrescesse‐se  a  esses  a divulgação  de  artigos  oriundos  de  pesquisas  desenvolvidas também  por  docentes  e  discentes  apresentados  sob  a  forma  de comunicação em eventos científicos.    A  presente  publicação,  portanto,  busca  contemplar  esse último  critério.  Composta  pela  compilação  de  artigos  em  que  se apresentam resultados de pesquisas desenvolvidas por docentes ou em coautoria por docentes e alunos de graduação e pós‐graduação, e  tendo  sido  apresentados  sob  a  forma  de  comunicação  oral  nos eventos  citados,  foram  aqui  reunidos  e  organizados  em  dez capítulos, divididos em duas partes.   A parte  I está dividida em quatro  capítulos. No primeiro, intitulado  ʺAnálise dos  requisitos  constitutivos da união  estável à luz do  ordenamento  jurídico  brasileiroʺ, de  autoria da  acadêmica Juliana  Gomes  Marques  e  da  professora  Drª.  Léia  Comar  Riva 

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buscou‐se  analisar  os  requisitos  necessários  para  que  a  união estável se constitua de acordo com o entendimento majoritário dos doutrinadores.   No  segundo,  intitulado  ʺCasamento,  união  estável  e  o consentimento da mulher para a  realização dos negócios  jurídicos imobiliáriosʺ,  de  autoria  da  professora  Drª  Léia  Comar  Riva, examinaram‐se  várias  questões  jurídicas  concernentes  à  anuência da esposa e da companheira para a alienação de bens imóveis, cuja investigação  faz  parte  da  pesquisa  bibliográfica  intitulada “Casamento e união estável: anuência da mulher para a elaboração dos  contratos  imobiliários”,  que  está  sendo  desenvolvida  junto  à Universidade  Estadual  de  Mato  Grosso  do  Sul,  na  Unidade Universitária de Paranaíba.   No  terceiro,  intitulado  ʺLinguagem  e  linguagem  jurídica: uma  situação  de  dependênciaʺ,  de  autoria  da  professora  Me. Fernanda Peres  Soratto  e do  professor Me. Aires David de  Lima objetivou‐se  discorrer  acerca  da  linguagem,  demonstrando  sua importância  e  função  social,  bem  como,  conceituá‐la  na  visão  de diversos  autores  que  discutem  o  tema  e  abordar  a  questão  da linguagem  jurídica,  que  se manifesta dentro do Direito  enquanto um grupo social específico.   E,  no  quarto,  intitulado  ʺMovimentos  sociais:  uma esperança  democrática  dentro  do  orçamento  participativoʺ,  de autoria  dos  acadêmicos  Vitor  Luiz  Carvalho  da  Silva  e  Renato Amorim  e  do  professor Me. Ailton  de  Souza  visou‐se  analisar  o programa  de  orçamento  como  reflexo  dos movimentos  sociais  e esperança de democracia direta na contemporaneidade.   A  parte  II  está  dividida  em  seis  capítulos. No  primeiro, intitulado  ʺEducação  matemática  e  sociedade  e  educação matemática crítica: convergências ou desaproximaçõesʺ, de autoria do mestrando Douglas Gonçalves da Silva, refletiu‐se teoricamente acerca  das  afirmações  incisivas  expressas  no  parecer  técnico  da seleção de bolsas do curso de pós‐graduação stricto sensu, mestrado em  Educação  Matemática,  do  projeto  de  pesquisa/dissertação intitulado  “O  ensino  de  frações  na  perspectiva  marxiana: possibilidades para Educaçãoʺ. 

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  No  segundo,  intitulado  ʺEstado  do  conhecimento  sobre educação  especial  na  região  centro‐oeste  do  Brasil  em  teses  e dissertações  da  área  da  educação  (2000‐2010)ʺ,  de  autoria  da professora  Drª  Doracina  Aparecida  de  Castro  Araujo  e  das mestrandas Edinéia da Silva Freitas e Raquel Marques Ribeiro dos Santos,  procedeu‐se  ao  levantamento,  por  meio  do  Estado  do Conhecimento  sobre  Educação  Especial,  das  pesquisas  realizadas em Programas de Pós‐Graduação em Educação na Região Centro‐Oeste do Brasil, de 2000 a 2010, a fim de compreender o que se tem pesquisado sobre Educação Especial e, dessa forma, contribuir para a ampliação de estudos neste tema.    No  terceiro,  intitulado  ʺIdentidade,  deficiência  e  inclusão escolar:  reflexões  (e)  críticas  a  partir  de  uma  reportagem  do periódico  Nova  Escolaʺ,  de  autoria  do  professor  Me.  Giovani Ferreira  Bezerra  houve  a  proposição  de  análise  da  reportagem, publicada na revista Nova Escola em 2004, sobre o tema da inclusão.   No  quarto,  intitulado  ʺO  bullying  no  âmbito  escolar  e  a mídia: algumas reflexõesʺ, de autoria do mestrando Gilmar Ribeiro Pereira  e  da  professora Drª Maria  José  de  Jesus Alves Cordeiro, investigou‐se  acerca  das  questões  que  permeiam  o  bullying  no âmbito  escolar  e  na mídia  ‐  como  uma  das  formas  de  agressões violentas que tem marcas registradas e ocorrências no mundo todo e na sociedade brasileira. A pesquisa pretendeu esclarecer por meio de  referenciais  teóricos  como  têm  sido as abordagens  referentes à violência  no  Brasil,  em  especial  o  bullying  no  âmbito  escolar  e também como a sociedade midiática tem abordado tal questão.   No quinto, intitulado ʺPrograma Institucional de Bolsas de Iniciação  à  Docência  (PIBID):  formação  de  professores  em diferentes esferasʺ, de autoria da acadêmica Deuzélia Alves Gomes e da professora Drª Doracina Aparecida de Castro Araujo, buscou‐se  analisar  o  Programa  Institucional  de  Iniciação  à  Docência (PIBID). Dessa  forma, para compreender a proposta do Programa, relatou‐se  a  implantação do PIBID, da  esfera nacional  à  local  (de 2007 a 2012), a fim de abordar o Programa e sua  inserção positiva nas Instituições de Ensino Superior – IES.  

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  No  sexto,  intitulado  ʺUma  reflexão  sobre  os  livros  da coleção Matemática  numa  abordagem  da  história  da matemática como  recurso  no  processo  de  ensino  e  aprendizagem  de matemáticaʺ,  de  autoria  da  pós‐graduanda  Ronilce Maira  Garcia Lopes  e  da  professora  Me.  Sabrina  Helena  Bonfim  objetivou‐se apresentar  a  ideia  geral  do  Trabalho  de  Conclusão  de  Curso desenvolvido  durante  o  curso  de Matemática  –  Licenciatura,  da Universidade  Federal de Mato Grosso do  Sul  (UFMS),  campus de Paranaíba  (CPAR)  e,  principalmente,  expor  uma  subseção  do  4º capítulo denominado ʺAnálise dos Livrosʺ.   Como se pode observar, são  textos oriundos de diferentes áreas sobre diversas temáticas que abordam de maneira abrangente e instigante inúmeras possibilidades de abordagem de prescrições e práticas  relativas  aos  direitos,  à  educação  e  à  sociedade. Convidamos àqueles que se  interessam por questões políticas e de participação  social  a  enveredarem  por  estas  diferentes  posturas frente ao  conhecimento  científico  e,  como na primavera, acreditar que novas experiências são possíveis.    

Drª Léia Comar Riva Drª Estela Natalina Mantovani Bertoletti 

Primavera de 2013               

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I.         

DIREITO E PARTICIPAÇÃO SOCIAL 

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ANÁLISE DOS REQUISITOS CONSTITUTIVOS DA UNIÃO ESTÁVEL À LUZ DO ORDENAMENTO JURÍDICO 

BRASILEIRO  

Juliana Gomes Marques Léia Comar Riva 

  Introdução 

 A união estável é um  instituto do Direito de Família, que 

tem  por  objetivo  assegurar  os  direitos  dos  casais  que  vivem  de maneira  informal,  não  contraindo matrimônio. O  reconhecimento da união estável pela Constituição Federal de 1988 (CF/1988) foi um grande  progresso  no  cenário  jurídico  brasileiro,  assegurando  aos companheiros, direitos  decorrentes desse  vínculo. 

Dessa forma, a CF/1988, em seu art. 226 § 6º, determina que a lei deve facilitar a conversão da união estável em casamento. No entanto,  quando  ocorre  essa  conversão,  não  há  equiparação  dos institutos,  pois  a  união  estável  se  caracteriza  pela  informalidade enquanto o casamento pelas formalidades previstas em  lei. Dentre as  leis  que  visam  regulamentar  o  dispositivo  constitucional referente  à  união  estável,  destacam‐se  as  Leis  n.  8.971/1994,  n. 9.278/1996 e o Código Civil de 2002 (CC/2002).  

O  Código  Civil  de  2002  (CC/2002)  dedicou  um  Título  à regulamentação  dessa  forma  de  união,  estabelecendo  alguns requisitos  acerca  da  configuração  da  união  estável.  Com  esse propósito, o art. 1.723 do CC/2002 estabeleceu como requisitos para  caracterizar  a  união  estável:  uma  união  pública,  duradoura, contínua e com o intuito de constituir família.   

Esses elementos  são indispensáveis para a configuração da união  estável,    sua  ausência  inviabiliza  a  caracterização  dessa entidade  familiar. Além disso, a assistência é elemento primordial para que haja a configuração de unidade familiar. Portanto, com a ausência  de  algum  dos  requisitos  essa  união  não  resultará  na configuração de uma entidade familiar.  

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Mediante  o  exposto,  o  presente  artigo  busca  analisar  os requisitos necessários para que a unidade  familiar se constitua de acordo  com  o  entendimento  majoritário  de  doutrinadores brasileiros.  Para  alcançar  o  objetivo  proposto,  recorreu‐se  à pesquisa bibliográfica como principal ferramenta.  

Pretende‐se que o trabalho sirva como fundamentação para futuras  pesquisas  e  estudos    que  tratem  do  mesmo  tema, contribuindo  na  compreensão  desses  requisitos  e  situando  essa contribuição  àqueles    que  adotarem  essa  forma  de  união, procurando  pôr  em  relevo  o  conhecimento  de    seus  direitos  e deveres. 

Para  abordar  o  tema,  em  um  primeiro  momento,  será apresentado um breve percurso histórico acerca do reconhecimento do  instituto no ordenamento  jurídico brasileiro. Em seguida, serão investigados o dispositivo na CF/1988, alguns dos principais pontos trazidos  pela  legislação  e  os  elementos  caracterizadores da união estável à  luz do CC/2002.   Ao  final, serão apresentadas as últimas considerações da presente pesquisa. 

  1. Percurso Histórico  

 No  ordenamento  jurídico  brasileiro,  ainda  hoje  há 

resquícios  da  elaboração  legislativa  do  Direito  Romano  (RIVA, 2013,  p.  21),  por  isso  é  imprescindível  a  pesquisa  e  o  estudo  do Direito  Romano  “por  seu  conteúdo  ético,  lógico  e  prático,  na solução dos problemas cotidianos” (AZEVEDO,1999, p. 7). 

A  família  significava  para  os  romanos  um  conjunto  de pessoas  submissas  ao poder de um  cidadão  independente. Dessa forma, a unidade familiar era constituída com o ingresso da mulher na  família  do  marido  por  meio  do  casamento  realizado  pela “conventio in manum” ou pelo “sine manu” (RIVA, 2013, p. 22).  

Embora  houvesse  a  união  entre  os  peregrinos,  ou  ainda, entre um peregrino  com uma mulher  romana, bem como a união entre os escravos ou entre um escravo e uma pessoa  livre, não se consideravam essas uniões. Com isso, não existia o “ius civile”, pois as  mencionadas  unidades  familiares  eram  consideradas  apenas 

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simples  uniões  de  fato,  que  não  apresentavam  quaisquer consequências  jurídicas  (CRETELLA  JÚNIOR,  2006,  p.  83‐84  ). A “manus”  era  adquirida  por meio da  “conventio  in manum”,  que produzia efeitos em relação à mulher, como também em relação aos bens  que  lhe  pertenciam  (RIVA,  2013,  p.  2).   Mayns  (1891,  p.  2) ensina  que  “os  mesmos  termos  manus,  mancipium,  potestas  eram usados no mesmo sentido para referir‐se à propriedade quiritaire e de  coisas  corpóreas  e  ao poder do  pater  famílias  sobre  as  pessoas livres ou que estão submissas a sua autoridade”.  

Paralelamente ao casamento “cum manu”,  também existiu o  casamento  “sine  manu”,  que  não  ocorria  com  a  aquisição  da “manus” sobre a mulher, mas apenas por meio de uma cerimônia simbólica  (RIVA,  2013, p.  24). Cretella  Júnior  (2006, p.  83)  afirma que  a  cerimônia  simbólica  era  apenas  a  simples  condução  da mulher para a casa do marido, além de haver, na maioria dos casos, a constituição de um dote.  

Exigiam‐se  três  requisitos,  tanto  para  a  constituição  do casamento “cum manu”, quanto para o casamento “sine manu”. Os requisitos  exigidos  eram  o  consentimento,  a  puberdade  para  a mulher  aos  doze  anos  e  para  o  homem  aos  quatorze  e  o “conunbim”,  que  consistia  em  uma  capacidade  reconhecida  pelo direito positivo de constituir entre o homem e a mulher uma união conjugal juridicamente válida. (RIVA, 2013, p. 26). 

Em Roma, além das “justae nuptiae”, havia também, outras formas de união  entre  o homem  e  a mulher. Dentre  as quais    se destaca o concubinato, que, gradativamente, se expandiu devido a  proibições  de  natureza  social  que  pairavam  sobre  o  instituto  do casamento.  Por  isso,  o  concubinato  não  se  confunde  com  o casamento. (RIVA, 2013, p. 27) ). Conforme Biondi (1957, p.339): 

 No mundo romano, ao lado do matrimônio coexistiu o concubinato, que é a união estável entre duas pessoas de sexo diferentes sem a vontade de ser marido e mulher; diverge da simples relação sexual pela estabilidade e do matrimônio pela  falta do  “honor matrimonii”  e  relativa  “affectio maritalis”.  É  um  instituto  não  vedado  pela  lei,  nem  reprovado  pela consciência  social,  tanto  que  a  pessoa  poderia  ser  considerada  como exemplo de moralidade, mesmo vivendo em concubinato.   

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Em razão disso, na Sociedade  Imperial, o concubinato não era  considerado  lesivo  à  moral  tampouco  aos  costumes.  Era contraído  em  razão  das  proibições  que  a  própria  sociedade estabelecia  para  o  matrimônio  (RIVA,  2013,  p.  27).    Assim,  o concubinato produziu  efeitos  jurídicos  com o direito pós‐clássico, transformando‐se em instituto jurídico.  

O casamento não se confundia com o concubinato em razão das  consequências  jurídicas  que  estes  produziam,  pois  o concubinato  não  produzia  quaisquer  efeitos  inerentes  ao casamento,  tanto  em  relação  às  pessoas  quanto  aos  bens  que  lhe pertenciam  (RIVA,  2013,  p.  30). Nesse  contexto, Monteiro  (1980, p.16)  assevera  que  o  concubinato  era  considerado  uma  união inferior  ao  casamento,  já  que  era  contraído  sem  haver  qualquer formalidade.  Assim: 

 No Direito Romano, enquanto algumas leis procuravam garantir direitos aos concubinos e a seus filhos, outras, ao contrário, afastavam qualquer possibilidade de reconhecimento dessa união. Os  imperadores cristãos, no período pós‐clássico, para preservar a família legitima, por um lado, inferiorizavam  a  condição da  concubina  e de  seus  filhos  e, por  outro, integravam a mulher  legítima nas honras e condição social do marido, procurando,  dessa  forma,  incentivar  os  concubinos  a  contrair matrimônio  legítimo  e  a  legitimarem  os  filhos  por  casamento subsequente (RIVA, 2013, p. 32).  

  

A  família  romana  independia de participação  estatal para sua  configuração,  e  o  Direito  reconhecia  as  diversas  formas  de enlace entre o homem e a mulher. Apesar de reconhecer as diversas formas de enlace, considerava somente o casamento como entidade familiar  passível de  produzir  efeitos  jurídicos  (RIVA,  2013,  p.43). Para  Monteiro  (1980,  p.  16),  o  concubinato  era  “um  quase casamento,  união  inferior  ao  casamento,  semimatrimônio, contraído  sem  formalidades.  Faltava‐lhe,  no  entanto,  a  affectio maritalis,  sempre  presente  nas  justae  nuptiae,  e  era  despido  da finalidade social e familiar inerente ao matrimônio”. 

Com o  surgimento  e  fortalecimento do  cristianismo  como religião  oficial  do  Império,  o  instituto  do  Direito  de  Família  foi 

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influenciado  pelas  questões  religiosas. No  início,  a  igreja  católica não interferia na constituição das entidades familiares, mas, com a sua  crescente  influência  passou  a  intervir  nas  formas  de constituição  familiar,  instituindo o casamento como a única  forma legítima de família.  (RIVA, 2013. p. 47‐53).  

Nesse contexto, Czajkowski (2001, p. 55‐ 56) afirma que:  Por  fim,  a  influência  cada vez maior da  Igreja Católica no  âmbito das relações  familiares  e  a  sacramentalização  do  casamento,  aliado  à  sua reconhecida  posição  contra  quaisquer  uniões  extramatrimoniais, orientou  toda  a  Idade Média,  e mesmo  períodos  subsequentes,  num sentido de grave repressão a quaisquer uniões concubinárias, jogando‐as na vala comum do  incesto, do adultério e do homossexualismo para, a todos, condenar indistintamente.   

 A  Igreja  Católica  interferiu  fortemente  nas  convicções 

acerca  da  entidade  familiar,  uma  vez  que  considerava  legítimos somente os casamentos realizados com solenidade, que seguiam os dogmas e princípios religiosos.  Diante dessa interferência da Igreja, o concubinato e o  segundo matrimônio  foram considerados como ilegítimos e imorais (RIVA, 2013, p. 67‐68).  

O  cristianismo  ainda  reconheceu  a  existência  de  várias formas  de  composição  familiar,  e  por  essa  razão  traçou impedimentos  quanto  ao  matrimônio.    Nesse  sentido,  pode‐se afirmar que a  Igreja, ao  reconhecer a afinidade entre os membros familiares, considerou os vínculos conjugais entre os ascendestes e descendentes como meramente ilegítimos, dentre outras formas de impedimentos matrimoniais. (RIVA, 2013, p. 59‐65). 

 2. Ordenações do Reino de Portugal  

 Após  longos  anos,  é  frequente  que  passem  a  existir 

codificações  que  busquem  regulamentar  situações  fáticas.  Dessa forma, surgiu a necessidade de uma ordenação legislativa, no início do século XV, concluída como Ordenações Afonsinas do Reino de Portugal (RIVA, 2013, p. 69). Essas ordenações eram representadas segundo Valesco  (1994, p.  14  e17)  como um  “esforço pioneiro de 

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sistematização do que podemos propriamente  chamar um direito nacional”.  

Em  seguida,  surgiram  as  Ordenações  Manuelinas  e  as Filipinas,  assemelhando‐se  às  Ordenações  Afonsinas,  mas  com pequenas  modificações,  tendo  em  vista  a  época  em  que  se encontravam.  Essas modificações  tornam‐se  explicáveis  uma  vez que  as normas devem  adequar‐se  ao  tempo  que produz vigência (RIVA, 2013.p. 69‐70).  

As ordenações Filipinas admitiam o casamento de marido conhecido,  que  consequentemente  lembrava  a  tradição  romana “usus”,  em  que  o  enlace  familiar  era  comprovado  por meio  do “affectio maritalis”, a pública  forma de enlace entre o homem e a mulher    pelo  decurso  de  tempo  (Wald,  2002,  p.  18).    Deve‐se salientar  ainda,  que  as  Ordenações  de  Portugal  foram recepcionadas no Brasil. Riva (2012, p. 57) pontua que: 

 No  Brasil,  não  obstante  a  positivação  das  Ordenações,  os  usos  e costumes adotados de Portugal ou adquiridos dos índios imperavam na organização  da  vida  privada  dos  colonos  mais  que  na  dos metropolitanos. Durante a vigência das Ordenações Filipinas, várias leis e decretos no período Imperial e Republicano foram promulgados para regulamentar o casamento e a situação dos filhos [...]   Embora as Ordenações Filipinas fossem tendentes a igualar 

juridicamente  a  mãe  ao  pai,  verifica‐se  que  o  pátrio  poder prevalecente à época,  só era exercido, exclusivamente, pela  figura masculina. Com  isso  não  foi  possível demonstrar  a  igualdade de direitos e obrigações entre os membros  familiares. A mãe possuía como obrigação primordial a criação e educação dos filhos (RIVA, 2012,  p.  55)  e  ao  pai  cabia  determinar  o  gênero  de  educação, corrigir,  castigar,  conceder  ou  negar  consentimento  para  o casamento de seus filhos (PEREIRA, 1918, p. 234‐238, 241‐244) 

No que diz respeito às formas de unidade familiar, pode‐se salientar que se aceitavam vários vínculos, no entanto, a celebração dos  matrimônios  deveria  seguir  as  disposições  do  Concílio Tridentino e da Constituição do Arcebispo da Bahia (RIVA, 2012, p. 63).  

 

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3. Código Civil de 1916  Com  a  promulgação  e  vigência  do Código Civil  de  1916 

(CC/1916),  o  casamento  tornou‐se  a  única  forma  de  sociedade familiar,  em  razão da  solenidade  exigível para  a  configuração do vínculo. Outrossim,  a  legislação  pátria    previa  direitos  e  deveres decorrentes  do  enlace matrimonial,  bem  como  produzia  os  seus efeitos  jurídicos quanto às relações de parentesco, à dissolução do vínculo e aos regimes de bens entre os cônjuges (RIVA, 2012, p. 75‐77). Ainda  nesse  contexto, Czajkowski  (2001,  p.  21)  afirma  que  o CC/1916  tornou‐se  insuficiente  em  razão  da  nova  postura constitucional, que associava o concubinato ao adultério.    

O concubinato não produzia efeitos jurídicos, tampouco era reconhecido  pela  legislação  pátria  como  unidade  familiar,  sendo considerado imoral e ilegítimo. Isso porque a unidade familiar não respeitava o ordenamento  jurídico vigente à época. Considerando que  as normas são feitas para serem observadas e respeitadas, isso  não ocorria com as uniões que não se formavam sem que houvesse solenidade,  isto  é,  celebração  reconhecida  pela  legislação  civil  da época (RIVA, 2012, p. 77).  

O  concubinato  apresentava‐se  em  duas  espécies:  o concubinato puro e o impuro. O concubinato puro refere‐se àquele em que os companheiros se unem sem que haja interrupções, sendo duradouro, com o intuito de obter prole em comum. Paralelamente a  essa  forma  de  união,  temos  o  concubinato  impuro,  que  é  a convivência  estabelecida  entre  pessoas  que  são  impedidas  de consistir  família  entre  si,  em  razão  de  alguma  característica peculiar,  como por exemplo, a  relação  conjugal estabelecida entre pessoas casadas (TARTUCE e SIMÃO, 2008, p. 267‐269).  

Além  disso,  o  concubinato  se  demonstrava  com  vários impedimentos:  incestuoso,  desleal  ou  adulterino.  O  concubinato incestuoso  se  caracteriza,  por  tratar  de  relações  conjugais  entre parentes,  tanto consanguíneos como por afinidade. Nesse sentido,  o vínculo entre a mulher e seu sogro, por exemplo, é     meramente imoral  e  ilegítimo.  Já  no  concubinato  desleal,  uma  das  pessoas possui vínculo conjugal com terceiro. E  no concubinato adulterino, 

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a mulher  ou  o  homem  da  entidade  familiar  possui  um  amante, estranho ao vínculo inicial (TARTUCE e SIMÃO, 2008, p. 267‐269).  

 4. Constituição Federal de 1988 e os Princípios Gerais de Direito 

 A CF/1988 reconheceu expressamente a união estável, que 

era  considerada  pelo  CC/1916  como  concubinato  puro,  como entidade familiar (LEITE, 2003, p. 18‐19). 

Desse modo,  o  Texto Maior  além  de  prever  o  casamento como  forma  de  configuração  familiar,  ainda  assegurou  aos membros  familiares  proteção  integral  quanto  aos  seus  direitos  e deveres  adquiridos  com  a  constituição  da  unidade  familiar. Segundo Leite (2003, p. 18‐19) existem diferenças entre os conceitos de “família” e “entidade  familiar”; ao  se  referir “à  família”, o art. 226,  caput,  referiu‐se  ao  “casamento”  e  às  “entidades  familiares”. Nesse sentido, Leite (2003)leciona que: 

 Quando  o  legislador  se  refere  à  união  estável  (em  verdade,  está  se referindo à união livre) ou a comunidade formada por qualquer um dos pais  e  seus  descentes  (família  monoparental),  é  porque  reconhece expressamente  a  inserção  destas  realidades  naqueles  modelos familiares.,  ou  porque  progressivamente  elas  adquiriram  legitimidade (LEITE, 2003, p. 18‐19). 

 Em  relação  aos  Princípios  Gerais  de  Direito,  podemos 

salientar que são base para o ordenamento jurídico brasileiro, além de  terem  caráter  primordial  para  o  efetivo  exercício  de  direito. Assim, quando as normas silenciarem acerca de determinado caso referente  às  relações  familiares,  se mostram  necessárias   medidas hábeis à aplicação dos princípios que versem  sobre dada matéria. Em outros  termos, os princípios  serão  aplicados  ao  caso  concreto com  ponderação,  devendo‐se  buscar  a  dignidade  da  pessoa humana, bem como a igualdade de direitos.  

 Por  outro  lado,  os  princípios  norteadores  do  Direito  de Família  deverão  respeitar  aos  princípios  gerais  de  direito  que  se encontram previstos na Constituição Federal (REALE, 1981, p. 300). No  que  diz  respeito  aos  princípios,  podemos  ressaltar  que  são aplicáveis  não  somente  aos membros  familiares  constituídos pelo 

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matrimônio  como  também  aos  companheiros  provenientes  da união livre (RIVA, 2013, p. 138‐143) 

Assim,  os  princípios  da  solidariedade  familiar,  dignidade da  pessoa  humana,  dentre  outros,  são  inerentes  às  relações familiares,  tendo  todos  os membros  familiares  direitos  e  deveres recíprocos,  em  especial,  os pais possuem  o dever de  sustentar os seus próprios  filhos  (RIVA, 2013, p. 139). Nesse contexto, Ferreira (1975, p. 1.319) esclarece acerca do significado atribuído à palavra solidariedade. Segundo o  autor  solidariedade  é    “laço ou vínculo recíproco de pessoas  [...], sentido moral que vincula o  indivíduo à vida, aos interesses e às responsabilidades dum grupo social, duma nação, ou da própria humanidade” (Ferreira, 1975 , p. 1.319) .  

Com a CF/1988 houve a equiparação da mulher ao homem quanto ao exercício de direito e deveres referente à entidade familiar. A mulher passou  a  ter  obrigações de manter  economicamente  sua prole,  deixando  de  ser  apenas  dever  do  genitor  suprir  as necessidades basilares dos infantes (Wald, 2002, p. 24). 

Posteriormente, promulgou‐se a Lei n. 8.971/1994 versando a respeito dos direitos e obrigações a alimentos e à sucessão que os companheiros  possuem  em  decorrência  da  extinção  da  união. Assim,  o  mencionado  texto  legal  por  ser  considerado infraconstitucional respeita a simetria das normas no ordenamento jurídico brasileiro (RIVA, 2013, p. 149). 

Dessa  forma,  os  companheiros  terão  direitos  assegurados por lei, desde que comprovem suas necessidades e não constituam nova  união,  e  ainda,  o  companheiro  devedor  deverá  ter possibilidade  de  fornecê‐los.  Embora  atualmente  haja  previsão legal, a legislação anterior não mencionava nada acerca dos direitos a  alimentos.  Isso  ocorria  porque  os  companheiros  não  eram considerados cônjuges tampouco parentes (WALD, 2002, p. 247).  

    5. Código  Civil  de  2002  e  elementos  caracterizados  da  união 

estável   O Código Civil prevê no Livro IV, Direito de Família, Título 

III, nos arts. 1.723 aos 1.727 as disposições que  regulam acerca da 

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união estável. Dentre esses dispositivos, cabe salientar os requisitos indispensáveis para a configuração da união estável como unidade familiar. 

O  concubinato  puro,  com  o  advento  da  CF/1988  e  o CC/2002,  tornou  a  união  estável,  na  hipótese  de  serem  os companheiros      viúvos,  solteiros,  divorciados  ou  separados faticamente  ou  judicialmente,  desde  que  atendidos  os  demais elementos, como a convivência pública, contínua, duradoura e com o intuito de constituir família, não sendo recomendável a utilização do termo concubinato, mas sim união estável, em razão do uso da nomenclatura pela legislação civil (TARTUCE e SIMÃO, 2008, 127).  

O Código Civil traz também o conceito (art. 1.723 § 1º), os impedimentos  e  as  causas  suspensivas,  que  ensejam  na inviabilidade da  composição da união  estável  entre o homem  e a mulher  (art.  1.723  §  2º).  Regulamenta,  ainda,  acerca  dos  efeitos patrimoniais e pessoais entre os companheiros (art. 1.724) e trata do concubinato  ou  concubinato  impuro  (art.  1.727),  dentre  outros dispositivos  que  versam  sobre  o  assunto  (TARTUCE  e  SIMÃO, 2008, p. 269). 

Não só a CF/1988, como  também o CC/2002 reconhecem a união  estável  – modo  informal  de  unidade  familiar  –  como  uma família que comporta direitos e deveres em razão da composição de vínculo  entre  os  companheiros,  não  bastando  apenas  o  vínculo afetivo para sua configuração (VENOSA, 2010, p. 36‐42). 

De  acordo  o  art.  1.723  da  legislação  civil,  “é  reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada  na  convivência  pública,  contínua  e  duradora  e estabelecida  com  o  objetivo de  constituição de  família”. Assim,  a ausência  de  um  dos  elementos  caracterizadores  previstos  pelo dispositivo, anteriormente citado, não ensejará na configuração da união  estável.  Torna‐se  imprescindível  para  a  constituição  dessa forma de unidade  familiar  informal o preenchimento de  todos os requisitos já mencionados (TARTUCE e SIMÃO, 2008, p. 263). 

A união deverá ser pública, no sentido de que não somente a família tenha conhecimento sobre a unidade familiar fática, como também  a  sociedade  local,  não  podendo  assim  ser  clandestina. 

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Além disso, os companheiros não só se visitam, mas vivem  juntos, sem  intenção de se separarem, participando um da vida do outro (AZEVEDO, 2003, p. 255‐256). 

O autor salienta ainda, que não há um prazo estabelecido pela  legislação  como  requisito  necessário  para  a  configuração  da entidade  familiar, mencionando apenas no  texto  legal que a união entre  o homem  e  a mulher deverá  ser duradoura. Ressalta  ainda que a ausência de  fixação de prazo não prejudicou a configuração da  união  estável,  pois  existem  uniões  fáticas,  que  mesmo  não apresentando  longo  prazo  de  constituição,  preenchem  os  demais elementos previstos pela  legislação civil  (AZEVEDO, 2003, p. 255‐256). 

Além disso, as relações meramente afetivas e sexuais entre o homem e a mulher não configuram união estável, tendo em vista não  tratar‐se  de  unidade  familiar,  pois  não  há  companheirismo entre  o  casal,  tampouco  se  presume  existência  de  participação constante na vida do outro (TARTUCE, 2008, p. 267).  

Nesse mesmo sentido, pontua o renomado civilista Venosa (2010, p. 42‐43) que: 

 Se levarmos em consideração o texto constitucional, nele está presente o requisito  da  estabilidade  na  união  entre  o  homem  e  a mulher. Não  é qualquer  relacionamento  fugaz  e  transitório  que  constitui  a  união protegida; não podem ser definidas como concubinato simples relações sexuais, ainda que reiteradas.   Venosa  (2010)  salienta  ainda,  que  a  consequência  da 

estabilidade  consiste  na  característica  de  ser  duradora,  como menciona  o  texto  legislativo.  E  embora  a  norma  legal  não  faça menção  à  estabilidade  como  elemento  primordial  para configuração  da  união  estável,  pressupõe‐se,  diante  os  costumes, que o vínculo entre o homem e a mulher consiste na ausência de interrupção.  Esse  vínculo  pode  ser    longo  ou  até mesmo  ocorrer algum  lapso  temporal,  sendo  assim  caracterizador  para  a constituição da união, mesmo que doutrinariamente.  

Entende‐se que as relações serão duráveis até que ocorra a efetiva separação ou extinção do vínculo (VENOSA, 2010, p. 43). O 

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Tribunal de Justiça do Distrito Federal afirma que para que haja a configuração  da  união  livre  faz‐se  necessário  a  comprovação  de vida e de interesses em comum, restando evidência dos elementos da  união  informal.  Diante  disso,  a  coabitação  é  elemento caracterizador, mesmo não estando disposto, explicitamente, no art. 1.723. 

É  a  partir  dessa  conduta  entre  os  casais  que  resta evidenciado a intenção de constituir uma família. E a maior prova a se  levar  em  consideração  é  a  convivência  sob  o mesmo  teto.  A convivência  sob  o  mesmo  teto  poderá  ser  dispensada  caso  os companheiros  vivam  relativamente  longe,  em  razão do  emprego, cargo ou  função. Em outros  termos,  será dispensada a  coabitação caso haja justa causa para tanto. (RIVA, 2012, p. 131‐132).  

Há  outros  requisitos  que  embora  não  descritos  no  texto legal  se  apresentam  como  elementos  indispensáveis  para configuração  da  união  estável.  Esses  elementos  são  avaliados, conjuntamente,  com  os  demais,  em  cada  caso  concreto.  Exemplo disso,  é  o dever de  lealdade,   mesmo não prescrito  em  norma,  é considerado  um  elemento  caracterizador  da  união,  pois  não existem  relacionamentos  que  contrariem  os  costumes da presente sociedade (VENOSA, 2010, p. 47). 

De acordo com o art. 1.724 do CC/2002, as relações entre os companheiros devem se pautar por lealdade, respeito e assistência, e  de  guarda,  sustento  e  educação  dos  filhos,  ou  seja,  trata‐se  de deveres e obrigações recíprocas e solidárias (VENOSA, 2010, p. 47). Esses  elementos  subjetivos  apresentam  “sempre  um  substrato comum que é o afeto, o amor, o respeito e consideração mútuos são regras morais antes que jurídica” (Czajkowski, 2001,p.75).  

Afirma  ainda  que  os  mencionados  requisitos  são considerados essências para a configuração da unidade familiar, em especial,  o  vínculo  afetivo  que  une  abstratamente  o  homem  e  a mulher. Ainda nesse viés,  a  assistência moral  é  considerada para Czajkowski (2001, p. 76) como o apoio psicológico e emocional que mutuamente os companheiros possuem um  com o outro. Isso quer dizer que os companheiros  se ajudam na medida em que passam por necessidades, problemas ou ainda, dificuldades.  

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Czajkowski (2001) salienta também que a assistência moral entre os companheiros vincula a convivência. Para o referido autor, as  uniões  livres  pressupõem  ao menos  um  terço  de  convivência juntos.  Em  outros  termos,  é  difícil  imaginar  a  união  entre  duas pessoas que não vivam juntas, embora  existam atualmente, uniões estáveis sem  convivência contínua,   consideradas protegidas pelo ordenamento jurídico brasileiro como entidade familiar.  

Desse  modo,  a  ausência  de  moradia  fixa  para  um  dos companheiros  não  descaracteriza  a  convivência. Contemporaneamente, deve‐se  levar  em  consideração,a  existência de casamento religioso que consolida o vínculo, tornando‐o válido. Conforme os preceitos do nosso  sistema,  considera‐se    casamento válido somente aquele realizado perante uma autoridade religiosa ou espiritual. Assim, a mera celebração  judicial não estampa uma relação de fato.  (VENOSA, 2010, p. 47) 

Outro elemento que a doutrina considerava essencial para caracterização  da  união  estável  era  a  diversidade  de  sexos,  que tinha como escopo a procriação, ou  seja, visava constituir  família, gerando, assim prole em comum entre os companheiros (VENOSA, 2010, p. 44). Contudo, o Supremo Tribunal Federal se posicionou no sentido de que as uniões contraídas entre pessoas do mesmo sexo possuem os mesmos direitos e deveres que os casais heterossexuais, passando a  tratar as uniões homossexuais como um novo  tipo de entidade familiar prevista pelo ordenamento jurídico brasileiro. 

Posteriormente  a  essa  decisão,  na  V  Jornada  de  Direito Civil,  realizada  em  2011,  pelo  Conselho  da  Justiça  e  Superior Tribunal de Justiça, foi aprovada, no Enunciado 526, a possibilidade de conversão de união estável constituída entre pessoas do mesmo sexo  em  casamento,  desde  que  respeitados  os  requisitos  para  a respectiva habilitação.  

Com o advento das Leis n. 8.971/1994 e 9.278/1996 podemos salientar  que  houve uma  enorme  contribuição  para minimizar  as discussões que tratavam as uniões entre o homem e a mulher com ilegais,  imorais  e  ilegítimas. Essas discussões  também  contribuem para  assegurar  e  proteger  as  relações  patrimoniais  e  pessoais decorrentes deste  tipo de união. Embora  a questão  anteriormente 

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suscitada  não  esteja  integralmente  protegida,  de  acordo  com  os princípios norteadores do Direito de Família, deve‐se dar ênfase às questões afetivas e solidárias. (RIVA, 2012, p. 168).  

A união estável ou o casamento de  fato é considerado por Tartuce  (2008, p.  257‐270)  como uma  convivência  não  incestuosa, tampouco adulterina, entre um homem e uma mulher, convivendo como  se  casados  fossem,  constituindo  uma  família  de  fato.  No entanto, a união estável não se confunde com o casamento.   Prova disso  é  que  a  legislação  constitucional  tratou  no  §  3º  sobre  a conversão  dessa  união  em  vínculo  matrimonial.  Desse  modo, salienta Wald (2002, p. 242): 

 Foi concedida, portanto, proteção constitucional às  famílias de  fato, ou naturais, sem que  tal signifique a sua equiparação às  famílias  legítimas ou  constituídas  pelo  matrimônio.  Tanto  é  assim  que  o  dispositivo constitucional  determina  que  a  lei  deverá  facilitar  a  conversão  das uniões  estáveis  em  casamento.  A  necessidade  de  conversão,  ou  o incentivo a ela, exclui evidentemente a equiparação da união estável ao casamento.A matéria merece regulamentação em lei ordinária, impondo a definição do que seja “união estável” e os seus efeitos legais. 

 Não  só a  legislação  constitucional, mas  também o § 8º da 

Lei 9.278 prevê que “os conviventes poderão, de comum acordo e a qualquer  tempo,  requerer  a  conversão  da  união  estável  em casamento,  por  requerimento  ao  Oficial  do  Registro  Civil  da Circunscrição  de  seu  domicílio”.  Isso  não  quer  dizer  que  os companheiros deverão ter c de se casar, mas sim poderão optar por uma união protegida pelo ordenamento jurídico brasileiro, já que o mencionado texto legal faz referência à possibilidade da conversão da união em casamento (CZAJKOWSKI, 2001, p. 65).  

Ademais, o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais entende que o mero namoro não configura a união estável,  tendo em  vista  a  ausência  de  um  elemento  caracterizador  objetivo  de constituir  família, mesmo  havendo  o  preenchimento  dos  demais elementos previstos no art. 1.723 do diploma legal.  

Nesse  mesmo  sentido,  cabe  pontuar  que  o  Tribunal  de Justiça do Estado do Rio de  Janeiro entendeu que os contratos de namoro  pactuados  pelos  casais  serão  considerados  nulos,  pois 

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visam afastar os direitos e deveres existentes nos enlaces familiares. O namoro não  se  confunde  com a união estável, pois esse é mais singelo do que a união.   

Para  Venosa  (2010,  p.  25)    a  natureza  jurídica  da  união estável é considerada um fato social e jurídico. Em contrapartida, o casamento  seria  um  fato  social  e  um  negócio  jurídico,  que produziria  efeitos  imediatos  no  ordenamento  jurídico  brasileiro. Fato  jurídico  é  qualquer  acontecimento  que  gere  consequências jurídicas. Desse modo, a união estável é um  fato humano que, ao gerar efeitos  jurídicos, torna‐se um fato  jurídico. Czajkowski (2001, p. 81) afirma que: 

 A união  livre continua sendo, em si, e a princípio, um fato  jurídico; ela não é previamente pactuada,  sua existência é constatada dia‐a‐dia, sua subsistência no tempo lhe dará foros de estabilidade e, então, produzirá seus principais efeitos jurídicos. 

  Contudo, prevê o § 1º, do art. 1.723 do CC/2002 que a união 

estável  não  se  configurará  caso  haja  os  impedimentos  do casamento; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa  casada  se  achar  separada  de  fato  ou  judicialmente.    O dispositivo prevê a aplicação dos impedimentos do casamento para a união estável, salvo a possibilidade de o separado faticamente ou judicialmente constituir união com terceiro.  

Tal  entendimento  apresenta  controvérsias  entre  os doutrinadores,  pois  tornaria  difícil  ou  até  mesmo  impossível apontar  os  bens  que  foram  adquiridos,  conjuntamente,  na constância do casamento ou da suposta união estável  (TARTUCE, 2008, p. 265). Além do mais, é situação notória e admitida no Brasil, a  existência  de  uniões  desleais  ou  adulterinas  entre  os companheiros,  não  sendo  tal  fato  legislado  pelo  ordenamento jurídico  por  apresentar  total  injustiça  com  as  companheiras legítimas (TARTUCE, 2008, 265). 

Ademais,  dispõe  o  §  2º  do  art.  1.723  que  as  causas suspensivas  do  casamento  (art.  1.523,  CC)  não  operam  efeitos  à união  estável,  pois  não  impedem  a  caracterização  de  unidade familiar  entre  os  companheiros.  Nesse  sentido,  as  pessoas  que 

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constituem  enlace matrimonial  que  infringem  a  causa  suspensiva terão  como  regime  de  bens  a  separação  total,  uma  vez  que  a legislação  civil  protege  os  bens  que  não  foram  adquiridos, conjuntamente,  entre  os  companheiros.  Trata‐se  de  uma  união impossibilitada  de  se  configurar  devido  à  circunstância  já explanada, anteriormente (TARTUCE, 2008, p. 265).   CONCLUSÃO 

 Após  análise  dos  dados,  podemos  assumir  que  a  união 

estável  não  era  considerada  uma  forma  legítima  de  unidade familiar  no  contexto do CC/1916. No  entanto,  ao  ser  reconhecida pela CF/1988, foi regulamentada pelas leis especiais, bem como pelo CC/2002.  

Com o advento das novas legislações, tornou‐se possível a constituição de união  entre o homem  e  a mulher, podendo desta união  decorrer  direitos  e  deveres  impostos  aos  companheiros. Como por exemplo, temos o direito à meação, aplicando‐se, no que couberem, as normas  relativas ao  regime de comunhão parcial de bens,  conforme  dispõe  o  art.  1.723  do  CC/2002;  a  conversão  da união estável em casamento  (art. 1.726, CC); o direito a alimentos (art.  1.694, CC),  bem  como,  os direitos  sucessórios, disposto  pelo art. 1.790 da Legislação Civil.  

Por  fim,  cabe  pontuar  que  a  legislação  pátria  estabelece alguns  elementos  caracterizadores  da  união  estável.  Elementos, imprescindíveis para configuração do mencionado vínculo entre o homem e a mulher. Nesse sentido, a união deverá apresentar como elementos  a  convivência  pública,  contínua,  duradoura  e  com  o objetivo de constituir família.  

Além desses  elementos,  os doutrinadores  ressaltam  como requisitos,  a  lealdade,  o  respeito  e  a  assistência.  Nesses  termos, temos  que  a  união  estabelecida  entre  o  homem  e  a mulher  não poderá  ser  incestuosa, adulterina ou  ainda, desleal, pois atentaria contra os princípios norteadores do Direito de Família, bem como, pelos costumes. 

 

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REFERÊNCIAS   AZEVEDO, Álvaro Villaça. Direito romano. Qualimetria, São Paulo, v. 11, n. 93, maio, 1999.  BIONDI, Biondo. Il diritto romano. Bolonha: Licinio Cappelli, 1957.  CRETELLA JÚNIOR, José. Direito romano moderno: introdução ao direito civil brasileiro. 12. ed. rev., atual. e aum. Rio de Janeiro: Forense, 2006.  CZAJKOWSKI,  Rainer.  União  livre  à  luz  da  lei  8.971/1994  e  da  lei 9.278/1996. 2. ed. rev., atual. e amp. Curitiba: Juruá, 1999.  MAYNS, Charles. Cours de droit romain. 5. ed. Bruxelles: BruylantChristophe; Paris: A. Durand & Pedone‐Lauriel, 1891. T. 3.  MONTEIRO, Washington  de  Barros.  Curso  de  direito  civil:  direito  de família. 19. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 1980. v. 2. PEREIRA,  Lafayette  Rodrigues.  Direitos  de  família.  Anotações  e adaptações ao Código Civil, por José Bonifácio de Andrada e Silva. Rio de Janeiro: Virgilio Maia & Comp., 1918.  RIVA,  Léia Comar. União  estável  sob  a  perspectiva  do  parentesco  por afinidade.  2012.  251  f. Tese  (Doutorado  em Direito Civil).  Faculdade de Direito do Largo de São Francisco da Universidade de São Paulo, 2012.  ______.  . União estável e parentesco por afinidade. Campo Grande: Life, 2013.  REALE, Miguel.  Lições  preliminares  de  direito.  9.  ed.  rev.  São  Paulo: Saraiva, 1981. TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito civil: família. 3. ed. rev., atual. São Paulo: Método, 2008. v. 5. VALESCO,  Ignácio  Maria  Poveda.  Ordenações  do  reino  de  Portugal. Revista  da  Faculdade  de  Direito  da  Universidade  de  São  Paulo,  São Paulo, v. 89, p. 11‐67, jan. 1994.  VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. São Paulo: Atlas, 2010. WALD, Arnold. O  novo  direito  de  família.  14.  ed.  São  Paulo:  Saraiva, 2002.  

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CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E O CONSENTIMENTO DA MULHER PARA A REALIZAÇÃO DOS NEGÓCIOS 

JURÍDICOS IMOBILIÁRIOS  

Léia Comar Riva                                                                                                 

O casamento  é o acto  solemne pelo qual duas pessoas de sexo  differente  se  unem  para  sempre,  sob  a  promessa reciproca  de  fidelidade  no  amor  e  da  mais  estreita communhão  da  vida”.  Além  disso,  segundo  o  autor,  a razão de ser desta instituição, sua finalidade capital “está nessa  admiravel  identificação  de  duas  existencias,  que confundindo‐se uma na outra, correm os mesmo destinos, soffrem  das mesmas  dores  e  compartem,  com  egualdade, do  quinhão  de  felicidade  que  a  cada  um  cabe  nas vicissitudes da vida  (PEREIRA, Laffayette Rodrigues, 1869, p. 12). 

  Introdução  

 Várias  legislações referem‐se à necessidade da autorização 

da esposa para a prática de numerosos atos da vida civil. O direito codificado brasileiro, desde o início, seguindo a tradição de outros países,  é  fiel  à  necessidade  de  certos  elementos,  considerados indispensáveis para a realização dos negócios jurídicos, e entre eles também  consta  o  consentimento,  inclusive  e,  se  for  o  caso,  da mulher, para atribuir legitimação ao ato. 

A pesquisa se propõe a examinar várias questões  jurídicas concernentes  à  anuência  da  esposa  e  da  companheira  para  a alienação de bens  imóveis. A bibliografia consultada  foi escolhida de forma aleatória, mas buscou os ensinamentos de doutrinadores que trabalham na área.  

A  investigação  faz  parte  da  pesquisa  bibliográfica intitulada “Casamento e união estável: anuência da mulher para a elaboração  dos  contratos  imobiliários”,  que  está  sendo desenvolvida  junto  à Universidade  Estadual  de Mato Grosso  do Sul, Unidade Universitária de Paranaíba. 

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Para  alcançar  o  objetivo  proposto  escolheu‐se  por,  no momento,  compreender  a origem dos  institutos dos  contratos, do casamento, da união estável e abordar o consentimento da mulher, para  a  alienação  de  bens  imóveis,  no  Direito  Romano.  Ao  final serão apresentados os resultados parciais da pesquisa.  1. Direito Romano: breve resenha histórica dos contratos  

 O antigo Direito Romano não conheceu o termo obrigação 

(AZEVEDO, 2008, p. 10) nem contrato. Segundo Alves (2000b, p. 8), embora,  no  Direito  Romano,  haja  controvérsias  a  respeito  da evolução histórica do conceito de obligatio, é possível identificar que não havia um conceito comum utilizado nem no direito pré‐clássico nem no clássico. O autor, ladeado por outros romanistas, anota que o  conceito  genérico  de  obligatio  como  “relação  jurídica  pela  qual alguém deve  realizar uma prestação, de  conteúdo  econômico,  em favor de outrem”, apenas,  foi concebido no período pós‐clássico e justinianeu.  

Nesse  mesmo  sentido,  Cretella  Júnior  (2006,  p.  181) concorda  com  o  autor  acima  e  reafirma  que  os  romanos,  nos primeiros  séculos de Roma,  período  do Direito Romano Arcaico, não  conhecem  a  noção  genérica  e  abstrata  de  obrigação,  porque eles:  

[...] positivos por excelência, raciocinam concretamente e só conhecem os coobrigados, pessoas  ligadas por  laços materiais, porque o devedor era amarrado  ao  credor.  Em  períodos  posteriores,  o  vínculo  material  é transformado  em  vínculo  jurídico,  de  que  nos  fala  Justiniano  em  sua definição (vinculum juris) (CRETELLA JÚNIOR, 2006, p. 181). 

  Nesse Direito, as duas clássicas conceituações de obrigação 

são dos  jurisconsultos de  Justiniano nas  Institutas e a de Paulo no Digesto: 

 Obrigação  é  ʹo  vínculo  jurídico  por  necessidade  do  qual  nos adstringimos a solver alguma coisa, segundo os direitos de nossa cidade (Obligatio est  juris vinculum, quo necessitate adstringimur alicuius solvendae rei, secundum nostrae civitatis iursʹ. Institutas, livro III, título XIII, princípio). ʹessência da obrigação não consiste em que se  faça uma coisa corpórea 

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ou uma  servidão, mas  em  que  se  obrigue  outrem  a  nos dar,  fazer  ou entregar  alguma  coisa  (Obligationum  substancia  non  in  eo  consistit,  ut aliquod  corpus  nostrum  aut  servitutem  nostram  faciant,  sed  ut  alium  nobis obstringant ad dandum aliquid, vel faciendum vel praestandumʹ Digesto, livro 44, título 7, lei 3) (AZEVEDO, 2008, p. 11). 

 Complementa  o  autor,  orientando  no  sentido  de  que, 

atualmente,  as  ʺcaracterísticas  conceituais  da  obrigação continuaram,  praticamente,  as  mesmas,  diferenciando‐se  a obrigação  do  Direito  moderno  pelo  conteúdo  econômicoʺ (AZEVEDO, 2008, p. 12). 

Quanto às fontes das obrigações que “constitui o ato ou fato que  lhe  dá  origem,  tendo  em  vista  as  regras  do  direito” (MONTEIRO,  1983a,  p.  32),  os  romanistas,  igualmente,  citam  os textos dos jurisconsultos nas Institutas e no Digesto, para explicá‐las:                    

                                [...]  para  entendermos  bem  as  fontes  das  obrigações,  que  nos retroprojetamos  no  passado,  até  o  tempo  dos  romanos,  recebendo  as lições de Gaio,  que,  em  suas  Institutas, no período do direito  clássico, relacionou, em sua Summa divisio, duas fontes das obrigações: o contrato e  o  delito  [...]  dois  outros  textos,  surgidos  após  a  época  do  direito clássico,  atribuídos  ao  mesmo  jurisconsulto  Gaio,  apresentam  outras fontes  de  obrigações,  além  do  contrato  e  do  delito.  Realmente,  o primeiro  desses  dois  textos,  que  apareceu  no  Digesto,  acrescenta  às referidas  fontes  outros  casos  de  obrigações  reconhecidos  pela jurisprudência,  que  delas  não  surgiam,  mas  de  outras  figuras  não perfeitamente  identificadas  [...].  O  segundo  dos  dois  textos  citados, aparece nas Institutas do Imperador Justiniano (AZEVEDO, 2008, p. 22).  Azevedo (2008, p. 22) leciona que nas Institutas (3, 13, 2) de 

Justiniano,  também  atribuída  a  Gaio,  as  fontes  das  obrigações romanas são quatro: o contrato, o delito, o quase contrato e o quase delito e Cretella Júnior (2006, p. 182) acrescenta ʺas obrigações que derivam  da  leiʺ.    Quanto  a  essas,  as  que  decorrem  da  lei,  e  a declaração unilateral da vontade, outra possível  forma de contrair obrigações  (ALVES,  2000b,  p.  241),  há  divergências  entre  os doutrinadores. Monteiro  (1983a, p. 33) afirma: “Fonte  ex  lege, com caráter  autônomo  não  existia  entre  os  romanos,  sem  embargo de opinião em contrário de Ferrini”. Nesse diapasão Alves  (2000b, p. 241) explica que as obrigações decorrentes da lei obrigationes ex legis 

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constam  em  poucos  textos  romanos  e  que  as mesmas  não  foram conhecidas  dos  jurisconsultos  clássicos;  quanto  à  declaração unilateral de vontade, assevera que as fontes são omissas a respeito. 

Em  razão  do  objetivo  da  presente  pesquisa,  de  todas  as fontes que dão origem às obrigações, estudar‐se‐á a derivada dos contratos, a qual,  segundo Monteiro  (1983a, p. 34), era e continua sendo a fonte mais rica e fecunda.  

Em  períodos  distintos  e  com  significados  nem  sempre correspondentes aos atuais, o Direito Romano  ‐ Antigo, Clássico e Pós‐Clássico ‐ conheceu os termos: obrigação, convenção, contrato, nexum,  sponsio e pactos. Embora não seja pacífico entre os autores consultados, é provável que, no  início, existisse a  convenção para designar o acordo de vontade entre duas ou mais pessoas (ROLIM, 2003, p. 220), o contrato fosse uma das modalidades de convenção (MEIRA, 1971, p. 321) e o nexum, constituísse uma das espécies de contrato verbal (ALVES, 2000b, p. 117 e 136; MEIRA, 1971, p. 320). Ao lado desses, havia os pactos.  Nesse sentido, Monteiro (1983a, p. 34) leciona: 

 Conventio  era  a  expressão  genérica  empregada  pelos  romanos  e  que compreendia  simultaneamente  não  só  os  contratos propriamente ditos, isto  é,  as  convenções  reconhecidas  pelo  direito  civil,  providas  de obrigatoriedade e de  tutela  judicial,  como  também os pactos,  isto é, as convenções  não  sancionadas  pelo  direito  civil,  despidas  de  força obrigatória e de tutela processual.   As  convenções  entre  duas  ou  mais  pessoas  sempre 

existiram na história de alguns povos antigos, sendo na Época da Realeza  –  período  do Direito  Romano Arcaico  –  regulamentadas pelo  jus  civile  ou  direito  quiritário.  As  convenções,  no  Direito Romano antigo, ʺeram celebradas de modo rígido, solene e formal, através das formas do nexum e do sponsioʺ (ROLIM, 2003, p. 220).   

O último, sponsio, se consolidava na frente da estátua de um de seus deuses e posteriormente foi substituída pelo stipulatio, outra forma de contrair obrigações no Direito Romano (ROLIM, 2003, p. 221).    A  stipulatio  era  o  contrato  verbal,  celebrado  por meio  de perguntas  e  respostas,  sendo  considerado  o mais  importante  do Direito Romano. Essa forma de contrair obrigação, também ʺsofreu, 

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ao longo da evolução do direito romano, profundas modificações, e sobre  seu  alcance  há  grande  controvérsia  entre  os  autores modernosʺ (ALVES, 2000b, p. 138‐139). 

Correia e Sciascia  (1961, p. 226) comentam que o nexum, é uma das  formas mais antigas de contrair obrigação e Meira  (1971, p.  319)  aponta  que pesar de  os  romanistas divergirem  quanto  ao nexum ser ou não uma espécie de contrato, eles são conformes ao afirmarem ser o mesmo uma das espécies de convenção. Segundo o autor, ʺPara Giffard, o nexum não era pròpriamente um contrato mas ʹuma convenção criadora de uma dívida e ato de alienação ou de vinculação da pessoa do devedor ao credorʺ. 

Segundo a leitura do material consultado, é possível inferir que o nexum era mais utilizado pela população mais pobre e que ele desapareceu com a promulgação da Lex Poetelia Papiria 326 a.C, a qual ʺdeterminou que o patrimônio, e não mais a vida do devedor, deveria  responder  pelo  inadimplementoʺ  da  obrigação    (ROLIM, 2003, p. 221), isso porque:                                              

 O nexum conferia poder ao credor de exigir do devedor o cumprimento de  determinada  prestação.  Em  caso  de  inadimplemento,  de  não cumprimento  obrigacional,  respondia  esse  devedor  com  seu  próprio corpo, podendo ser reduzido à condição de escravo, o que se dava por meio da actio per manus iniectionem (ação pela qual o credor podia vender o devedor como escravo, além do rio Tibre) (AZEVEDO, 2008, p. 10).   Sobre o nexum Alves (2000b, p. 117), também comenta que 

se  trata de um negócio  jurídico arcaico  (espécie de empréstimo) e que  os    “jurisconsultos  romanos  do  século  I  a.C.  já  não  tinham noção exata do nexum”. 

Como o termo obrigação, Meira (1971, p. 320) mostra que a palavra  contrato,  também  ʺnão  foi  conhecida  do  antigo  direito romanoʺ.  O  contrato,  enquanto  uma  nova  e  mais  restrita modalidade de convenção entre pessoas, surgiu no direito romano no  século  I  d.C.  (ROLIM,  2003,  p.  220;  ALVES,  2000b,  p.  108; MEIRA, 1971, p. 320).   

Junto aos textos dos jurisconsultos, ao lado das convenções e dos  contratos havia os pactos, distintos dos últimos, porque não eram obrigatórios. A distinção entre pactos e contratos desapareceu 

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no direito contemporâneo  (MONTEIRO, 1983b, p. 23 e 35), assim, como,  também,  no  direito  moderno  a  convenção  e  o  contrato, enquanto  acordo de  vontade,  se  confundem  (ALVES,  2000b,  108‐109). Naquele direito a noção de contrato era mais restrita que no atual. Isso ocorre:                                                 

a)primeiro, porque, durante  toda  a  evolução do direito  romano,  só  se enquadram entre os contratos os acordos de vontade que se destinam a criar relações jurídicas obrigacionais (e não, como no direito moderno, a criar,  regular  ou  extinguir  relações  jurídicas  em  geral;  e  b)  segundo, porque, em Roma, nem  todo acordo de vontade  lícito gera obrigações: contrato  (contractus)  e  pacto  (pactum,  conuentio)  eram  acordos  de vontade, mas, ao passo que aquele produzia obrigações, este, em regra, não (ALVES, 2000b, p. 108‐109).  Ainda,  no  Direito  Romano,  o  modo  rígido  e  formal 

empregado  nos  contratos  também  o  diferencia  dos  pactos,  cuja validade não é a mesma dos contratos. Os pactos caracterizavam‐se por “simples manifestações de vontade entre pessoas  (nuda pacta), não  podendo,  portanto,  serem  reclamados  em  juízo  pelas  partes. ʹDo simples pacto não nasce açãoʹ, ensinava Ulpiano (Ex nudo pacto non nascitur actio ‐ Sentenças, 2,14)” (ROLIM, 2003, p. 241).  

Nesse mesmo sentido, Cretella Júnior (2006, p. 187) ensina: no direito de  Justiniano  e  seus  comentadores,  que  ʺpela primeira vez a palavra  contractus  é  empregada  com o  sentido de  convenção destinada a criar obrigações (Teófilo, 3, 14, 2)”.  

Comentando  sobre  o  formalismo  no  Direito  Romano, Cretella  Júnior  (2006,  p.  189)  aponta:  “As  formalidades  que acompanham  os  pactos,  no  antigo  direito,  transformando  as simples convenções em contratos são de três espécies: 1ª) bronze e balança (aes et libra); 2ª) palavras (verba); 3ª) letras (litterae)”. Sobre o caráter  rigoroso e  sacramental dos atos  jurídicos no direito antigo ou pré‐clássico, consigna‐se: 

 Esta  é  uma  peculiaridade  de  todos  os  institutos  primitivos,  que  não concebem  atos  jurídicos  senão  baseados  em  ritos  solenes,  capazes  de atestar‐lhes pùblicamente a realização. Pouco importa que as formas não correspondem  à  vontade  dos  contraentes;  a  intenção  das  partes  está materializada  nas  palavras  pronunciadas  que  são  em  todo  caso 

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decisivas. A Lei das XII Tábuas dispõe: uti lingua nuncupassit, ita ius esto (CORREIA e SCIASCIA, 1961, p. 274).  Posteriormente, mas,  ainda durante  a vigência do Direito 

Romano,  os  contratos  foram  classificados  como:  obligationes,  quae sunt  ex  contractu,  aut  consensu  contrahuntur,  aut  re,  aut  verbis,  aut litteris (Institutas, III, 89), ou seja, contratos consensuais, porque se originavam  do mútuo  consenso  entre  as  partes  (consensu);  reais, quando  tinham  por  pressuposto  a  entrega  de  uma  coisa  ou  o adimplemento  de  outra  prestação  (re);  verbais  aqueles  que  se constituíam  pelas  palavras,  ou  seja,  mediante  o  ʺemprego  de expressões solenes que os contraentes deveriam pronunciar (verbis)ʺ e  literais  quando  eram  convencionados por  escrito  (litteris). Essas categorizações  não  desapareceram  e  foram  usadas  pelo  direito moderno  (MONTEIRO,  1983a,  p.  34).  Portanto,  quatro  são  as obrigações que nascem dos contratos (ALVES, 2000b, p. 116). 

No  Direito  Romano,  em  meio  a  essas  obrigações,  que nascem  dos  contratos,  apenas  as  decorrentes  da  compra  e  venda (emptio  uenditio),1  da  locação  (locatio  conductio),  do  mandato (mandatum)  e da  sociedade  (societas)  (ALVES, 2000b, p. 116  e 153) são  denominadas    consensuais,  porque  ʺse  formam  pelo  mútuo consentimento  ou  pela  vontade  recíproca  das  partesʺ;  esses contratos,  no  início,  eram  considerados  ʺinsólito  e  aberrante  no sistema contratual romanoʺ (CRETELLA JÚNIOR, 2006, p. 187).  

Segundo  o  primeiro  romanista,  os  contratos  consensuais são  mais  recentes  que  os  reais  e  os  formais,  ʺsua  existência  é atestada  no  tempo  de  Quinto  Múcio  Scévola,  que  viveu, aproximadamente, de 140 a 82 a.C.ʺ e representam, segundo Voci ʺo primeiro  sinal  de  reação  da  vontade  (uoluntas)  contra  o formalismo. Além de  independerem da  forma,  são  eles  contratos 

                                                            1   ʺChama‐se  COMPRA  e  VENDA  (emptio  venditio)  o  contrato  bilateral, consensual  pelo  qual  o  vendedor  se  obriga  a  entregar  uma  coisa  ao comprador mediante um preço em dinheiro, que este se obriga a pagar (Gai.  3,  139‐141)  [...]  A  venda  se  aperfeiçoa  simplesmente  pelo consentimentoʺ (CORREIA e SCIASCIA,1961, p. 226). 

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sinalagmáticos2 perfeitos ou  imperfeitos, e sancionados, todos, por iudicia bonae fidei (ações de boa‐fé)ʺ. Dentre eles, somente o mandato é sinalagmático imperfeito (ALVES, 2000b, p. 155).   

Alves  (2000b, p. 109), novamente, comenta que do Direito Romano  clássico  ao  justinianeu,  ʺo  sistema  contratual  romano sofreu  alterações  profundas,  observando‐se,  nessa  evolução,  uma constante:  o  alargamento  gradativo  do  círculo  de  acordos  de vontade  a  que  a  ordem  jurídica  concede  a  eficácia  de  gerar obrigações”. Nesse mesmo  sentido, Cretella  Júnior  (2006,  p.  186) explica  a  evolução  da  figura  contratual  no  Direito  Romano,  da seguinte  forma:  “Do  formalismo  para  o  não  formalismo,  do  apego excessivo à forma para um abrandamento ininterrupto, em benefício do conteúdo, da intenção das partes – eis o sentido exato da evolução da figura contratual no direito romano”. 

Com  fundamento  no  material  bibliográfico  levantado,  é possível  afirmar que  as modernas  legislações  foram  influenciadas pelo  direito  romano,  sendo  o  direito  das  obrigações  o  que  ʺde maneira mais completaʺ se destacou (CRETELLA JUNIOR, 2006, p. 189), além de ser considerado ʺsem dúvida a parte mais importante do direito  romano,  sobretudo por  sobreviver  substancialmente no direito moderno, mais  que  qualquer  outraʺ,  consolidando‐se  ʺao longo dos séculos, num mais perfeito corpo doutrinalʺ (CORREIA e SCIASCIA, 1961, p. 227).  

Quanto  às  obrigações  decorrentes  dos  contratos,  observa‐se,  ressalvadas as mudanças ocorridas no  tempo e no espaço, que                                                             2   ʺO contrato é sempre um negócio jurídico bi ou plurilateral com relação à sua formação, pois sempre necessitará de duas ou mais vontades para se  aperfeiçoar.  [...]  Entretanto,  formado  o  contrato,  este  poderá  ser classificado como bi ou unilateral, dependendo do número de prestações existentes para as partes. Unilaterais: só há prestação para uma das partes (mútuo,  comodato,  doação  simples);  bilaterais  ou  sinalagmáticos:  há prestação  e  contraprestação.  Ambos  os  contraentes  têm  o  dever  de prestar  (compra  e  venda,  locação,  empreitada).  É  decorrência  da bilateralidade que não pode um dos contraentes, antes de cumprir a sua parte, exigir o cumprimento da do outro (exceptio non adimpleti contractus, CC,  art.  476).  Os  contratos  bilaterais  podem  ser  cumulativos  ou aleatóriosʺ (SIMÃO, 2010, p. 4‐5).  

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sua  origem,  sua  classificação  e  algumas  de  suas  modalidades, previstas pelo Direito Romano “com fisionomia bem diversa da que o  caracteriza,  por  exemplo,  nos  períodos  clássicos  e  justinianeu” (CRETELLA  JUNIOR,  2006, p.  186),  se  fazem presentes  em nossa legislação, como a compra e a venda, o mandato e a locação. Outras foram extintas, como o nexum; ou foram criadas, como os contratos eletrônicos, e outras, ainda, serão necessárias para a efetivação do direito enquanto ius est ars boni et aequi (direito é a arte do bom e do justo)  (Digesto  de  Justiniano  1.1.),  ainda,  hoje  reconhecido  e  que deve ser aplicado. 

Ainda quanto às obrigações decorrentes do contrato, não há divergências entre os autores consultados de que o Direito Romano exigia  os mesmos  requisitos  para  os  negócios  jurídicos  em  geral: ʺcapacidade  e  legitimação  das  partes,  manifestação  de  vontade isenta  de  vícios  (que,  nos  contratos,  se  traduzem  no  acordo  de vontade  dos  contraentes  ‐  conuentio)  e  objeto  lícito,  possível, determinado  e  determinávelʺ  (ALVES,  2000b,  p.  111; CRETTELA JÚNIOR,  2006,  p.  195; ROLIM,  2003,  p.  224).  Esses  requisitos,  no plano  da  validade  (AZEVEDO,  2002b,  p.  77),  sobreviveram  ao tempo  e,  no direito moderno,  ainda  se  fazem presentes. Dos  três elementos,  abordar‐se‐á  o  consentimento, mais  especificamente  o consentimento da esposa (outorga uxória) e da companheira para a validade dos contratos imobiliários. 

 1.2. O consentimento da mulher no Direito Romano   1.2.1. A outorga uxória: casamento 

 Como  vimos  no  Direito  Romano,  entre  os  elementos  de 

validade dos contratos, estava o consentimento ou a manifestação da vontade isenta de vício. Sem nos atermos a um estudo profundo sobre todos os atos que um dos cônjuges pode ou não praticar sem autorização do  outro,  para  não  nos distanciarmos do  objetivo da presente pesquisa, buscar‐se‐á, ainda no Direito Romano, de forma suscinta,  investigar duas  formas de constituição de  família,  sendo uma  o  casamento  e  a  outra  o  concubinato;  verificar  alguns  dos 

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efeitos das  relações patrimoniais entre o casal e averiguar sobre o consentimento da mulher para os negócios jurídicos realizados pelo chefe da família pater familia ou não. 

Segundo Coulanges  (2005,  p.  46),  a  institucionalização da antiga  família  teve  como  principal  elemento  constitutivo  a preservação  da  religião  doméstica  e  do  culto  aos  antepassados. Ainda o mesmo autor ensina: “A primeira  instituição estabelecida pela religião doméstica, foi de fato, o casamento”. 

Inicialmente,  é  preciso  enfatizar,  como  orienta  Azevedo (2002a, p. 38): ʺO fundamento da família e da sociedade romana foi o casamento (iustae nuptiae), embora  tenham os romanos admitido efeitos  jurídicos de  caráter pessoal e patrimonial,  semelhantes aos do matrimônio, também ao concubinato”. 

A evolução  jurídica da  família ganha destaque a partir de Roma, devido ao fato de o Direito Romano ter‐lhe dado “estrutura inconfundível,  tornando‐a unidade  jurídica, religiosa e econômica, fundada  na  autoridade de um  chefe”  –  o  pater  familias.  (GOMES, 1995,  p.  36).  Azevedo  (2002a,  p.  43),  acompanhado  por  outros romanistas, assevera que a forma de organização da família romana era monogâmica. 

Em suas pesquisas, Alves (2000b, p. 245‐246)  levanta cinco grupos de pessoas vinculadas pelo parentesco ou pelo casamento, no  Direito  Romano:  a  gens,  a  familia  comuni  iure,  o  conjunto  de cognados em sentido restrito, a  família proprio  iure e a  família natural e afirma serem mais estudados os que formam ʺa familia proprio iure e a  família  natural. Da  gens,  da  familia  comuni  iure  e  do  conjunto  de cognados em sentido estrito, ele se ocupa incidentalmente”. A familia proprio  iure,  denominação  dada  à  família  na  qual  as  pessoas estavam sob a potestas do pater  familia, “foi o organismo básico da estrutura  familiar  romana,  e  que,  por  isso,  embora  em decomposição,  não  desapareceu  enquanto  perdurou  o  sistema jurídico romano” (ALVES, 2000b, p. 248). 

O Direito Romano  admitiu,  num  primeiro momento,  três modalidades  de  parentesco:  a  agnação  (agnatio),  a  cognação (cognatio) e, ao lado desses a afinidade (adfinitas) (GOMES, 1995, p. 37;  ALVES,  2000a,  p.  110).  Esse  romanista,  ao  estudar  a  família 

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proprio  iuri,  no direito  romano pré‐clássico,  clássico  e  justinianeu, observou  que  houve  uma  evolução  “pelo  gradativo enfraquecimento  da  potestas  do  pater  familias  e  pela  progressiva substituição do parentesco agnatício pelo cognatício – a  tendência para se chegar à família moderna” (ALVES, 2000b, p. 248).  

                             Como  reunião  de  pessoas,  a  família  romana  foi  eminentemente patriarcal  nos  tempos  da  Realeza  e  do  Império,  com  todos  os  seus membros  sujeitos  ao  poder  do  pater  familias,  que  era,  sempre,  o ascendente masculino mais antigo e que, enquanto vivesse,  tinha sobre os  demais  o  poder  de  vida  e  de  morte  (jus  vitae  necisque).  [...]  Esse rigorismo  do  patriarcado  romano  só  começou  a  ser  amenizado  no período  do  Principado,  influenciado  pelas  novas  idéias  trazidas  pela filosofia  grega  e,  principalmente,  pelo  cristianismo.  No  Dominato  os poderes  do  pater  familias  foram  sendo  absolvidos  pelo  Estado,  que passou a ditar normas de convivência e relacionamento no seio familiar (ROLIM, 2003, p. 154‐155).  Se  houve  um  enfraquecimento  da  patria  potestas  (pátrio 

poder) conceituado como o conjunto de poderes que o pater familias tem sobre a pessoa e os bens de seus filii familias (ALVES, 2000b, p. 266) e quanto ao parentesco agnatício em  relação ao  cognatício, o mesmo  não  se  observou  no  que  diz  respeito  às  relações matrimoniais entre o marido e a mulher. 

Segundo as regras aplicadas no Direito Romano, a mulher entra para a família do marido por meio do casamento a conventio cum manu e sine manu. ʺO casamento cum manu e o casamento sine manu,  constituem,  ambos,  as  justae  nuptiae,  casamentos  legítimos que,  conforme  as  regras  do  jus  civile,  só  se  verificam  entre  os romanos,  não  se  aplicando,  nem  aos  latinos,  nem  aos  peregrinosʺ (CRETELLA  JÚNIOR, 2006, p. 83). Alves  (2000b, p. 290) escudado em vários romanistas, aponta: 

   Segundo  tudo  indica,  porém,  não  havia  no  direito  romano, propriamente, duas espécies de casamento. O conceito de casamento era um só. O que ocorria era a possibilidade de ele ser acompanhado de um ato  solene  –  a  conuentio  in manum  – pelo  qual  o marido  (ou  seu  pater familias)  adquiria  a manus  sobre  a mulher. Quando  isso  se  verificava, dava‐se o que, tradicionalmente, se denomina casamento cum manu; em caso  contrário  –  isto  é,  quando  o  matrimônio  não  era  seguido  da 

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conuentio  in  manum  –,  tinha‐se  o  que  tradicionalmente  se  chama casamento sine manu.  No casamento cum manu o homem sui iuris (não está sobre a 

patria potestas de seu pai) ou se alieni iuris (está sobre a patria potestas do pai)  seu pater  familias adquire  a manus  (poder marital)  sobre a mulher, nesse caso a mulher se desvincula da  família de origem e ingressa,  na  de  seu marido,  como  filha  (ALVES,  2000b,  p.  289). Nesse  casamento,  a mulher  conserva  o  status  familias  anterior  ao casamento se  fosse alieni  juris, mas perde se  fosse  sui  juris porque  torna‐se alieni juris. 

Escudado  em  outros  romanistas,  Alves  (2000b,  p.  302) mostra:  “no direito  romano,  até o período pós‐clássico, não  eram requeridas  quaisquer  formalidades  para  que  os  nubentes manifestassem seu consentimento inicial”. Segundo Gaio (Institutas I,  110  a  113)  o  casamento  cum manu  realizava‐se  de  três modos: farreum,  coemptio  e  usus;  nos  dois  primeiros,  o  casamento  era precedido  de  determinadas  formalidades  e  no  último  bastava  a coabitação do  homem  e  da mulher durante  um  ano  (AZEVEDO, 2002a, p. 46 e 49).                            

A  confarreatio,  que  era  o  procedimento  matrimonial  reservado  ao patriciado, consistia na oferta a Júpiter Farreus de um pão de farinha de trigo  (panis  farreus),  em  ritual  religioso,  perante  10  testemunhas, acompanhado de palavras solenes do sacerdote de Júpiter (flamen Dialis). A  coemptio  ‘é  o  casamento  privativo  dos  plebeus,  em  que  a manus  se concretiza  pela  venda  simbólica  da  mulher  ao  marido’  por  meio  de ‘cerimônia que se assemelha pela forma, não pelas palavras, à mancipatio (modo  solene  de  transferir  a  propriedade’  [...] O  usus  era  o modo  de aquisição da manus pela  convivência de um homem  com uma mulher, durante um ano ininterruptamente [...] (AZEVEDO, 2002, p. 46 e 49).   Quanto aos efeitos patrimoniais da manus, Azevedo (2002a, 

p.  46)  ensina  que  ela  “ocasionava  a  passagem  de  todos  os  bens, presentes e futuros, da mulher ao patrimônio do marido, tornando‐se juridicamente, filha deste e irmã de seus filhos, agnada de todos os agnados do marido e herdeira deste”.  

Ainda em relação aos bens, Alves (2000b, p. 304) anota que se a mulher é sui iuris, os seus bens ʺpassam a integrar o patrimônio 

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da família do maridoʺ, ao contrário, se ela é alieni iuris, não possui bens,  portanto  não  há  o  que  transmitir, mas  nesse  caso  o  pai  da esposa pode dar o dote. 

O  casamento  sine  manu  era  destituído  de  qualquer formalidade e  ʺexistiu  em  fins da  época  republicana  e  começo da imperial” (AZEVEDO, 2002a, p. 47) o homem “não adquire a manus sobre a mulher, que, em virtude disso conserva, além de seus bens, o status familie anterior ao casamento” (ALVES, 2000b, p. 290). 

Segundo Rolim (2003, p. 162), no casamento sine manu não havia  subordinação  como  no  casamento  cum  manu,  mas  havia direitos e deveres recíprocos. Assevera ainda o autor: “O casamento sine manu era geralmente celebrado com separação de bens [...] No século  III  depois  de  Cristo  o  casamento  sine  manu  substituiu definitivamente  o  casamento  cum manu”. Azevedo  (2002a,  p.  48) clarifica que essa  forma de casamento “em  fins do século  III d.C., era utilizado, normalmente, como modo usual de enlace no período do Baixo Império”. 

Quanto  às  relações  patrimoniais  no  casamento  sine manu, verificou‐se  que  há  total  independência  econômica  entre  os cônjuges  e  os  patrimônios  do  homem  e  da mulher  são  distintos, além  disso,  “os  romanos  jamais  conheceram  o  sistema  de autoridade  marital  para  que  a  mulher  pudesse  praticar  atos  de conteúdo  econômico”  (ALVES,  2000b,  p.  304).  Nesse  sentido, Beviláqua  (1979,  p.  604)  ensina:  ʺPelo  direito  romano,  a mulher podia alienar e adquirir bens, estar em juízo como autora ou ré, sem outorga maritalʺ. 

Apesar disso, é orientação dos romanistas que nesse direito, a mulher era absolutamente  incapaz, porque “se alieni  iuris,  ficava sob o poder do pai ou do marido; se sui iuris, sob a tutela perpétua, instituição criada para remediar a infirmeza do seu caráter, propter sexus infirmitatem, e suprir sua inexperiência nos negócios; et propter forensium  rerum  ignorantiam”  (PONTES  DE  MIRANDA,  1983,  p. 118).  Provavelmente,  essas  declarações  têm  como  referência  as afirmações de Gaio (I, 144), o qual sustentou que ela era debilitada fisicamente  em  razão  do  sexo  (infirmitas  sexus),  faltava‐lhe 

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raciocínio  lógico  (infirmitas  consilii),  além  de  sua  inconstância  de caráter (levitas animi). 

No  Direito  Romano  antigo  as  relações  entre  os  cônjuges eram  regulamentadas  pela moral;  somente  aos  poucos  ʺa  lei,  os costumes  e o pretor vão atribuindo ao  casamento  efeitos pessoais entre  os  cônjugesʺ  e  estabelecendo  o  regime  de  dote  no  qual, conforme  a  capacidade  ou  não dos  cônjuges,  a mulher,  seu  pater familias ou um terceiro transfere ao marido ou a seu pater familias, se ele não  fosse  pater, o dote para auxiliar no  sustento dos  encargos decorrentes  do  matrimônio.  Outros  bens  da  mulher  que  não integram  o  dote  continuam  a  pertence‐lhe,  mas,  em  geral,  ʺsão administrados  pelo  marido  (ou,  se  alieni  iuris,  pelo  seu  pater familias), que age, com relação a eles, como mandatário da mulher, devendo  restituir‐lhos  quando  da  dissolução  do  casamentoʺ (ALVES, 2000b, p. 303‐305). 

O  mesmo  romanista  continua  explicando  que  embora  a propriedade  do  dote  sempre  tenha  cabido  ao  marido,  a administração desses bens nem sempre se fez da mesma forma nos diferentes períodos que marcaram a história do Direito Romano: no direito  pré‐clássico  o  esposo  tinha  total  liberdade  para  sozinho administrá‐lo e aliená‐lo (no início dessa época nem a dissolução do casamento  lhe retirava esse direito); no direito clássico, apesar de o marido  continuar  a  ser  considerado  proprietário  do  dote,  havia algumas  restrições  à  livre  administração  e  à  alienação desses  bens pelo marido, por exemplo, a ʺLex Iulia de adulteriis (18 a.C.) proibiu‐lhe  alienar  os  imóveis  dotais  localizados  na  Itália,  a  menos  que houvesse  o  consentimento  da  mulherʺ;  no  direito  justinianeu  aumentam‐se as restrições: “o esposo não pode hipotecar os imóveis dotais  ainda  que  obtenha  o  consentimento  da  mulher;  estende  a proibição da alienação de  imóveis dotais aos  situados na província (salientando,  porém,  que  elas  seriam  válidas  se  a  mulher  as autorizasse)”,  ademais,  o marido  é  responsável,  em  alguns  casos, pela deterioração dos bens dotais (ALVES, 2000b, p. 307‐309). 

Nesse  sentido, Rolim  (2003, p.  165),  comentando  sobre  as alterações introduzidas por Justiniano, nos primeiros séculos da Era Cristã,  quanto  às  relações  patrimoniais,  diz  que  esse  Imperador 

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ʺdeterminou que os pais deveriam constituir um dote em favor das filhasʺ  e  que  esses  bens  dotais,  administrados  pelo marido,  não podiam  ser  alienados,  sem  o  consentimento  de  ambos.  Explica  o autor:  

Esses  bens,  após  o  casamento,  passavam  a  ser  administrados  pelo marido  em  benefício  do  casal  e  não  podiam  ser  alienados  sem  o consentimento de ambos. Em caso de separação ou divórcio, esses bens dotais seriam devolvidos à mulher ou a seus herdeiros. O mesmo ocorria com as doações propter nuptias, ou seja, aquelas que haviam sido  feitas pelo marido à esposa após o casamento (ROLIM, 2003, p.165).  Por  ser  o  matrimônio  romano  um  res  fact,  ou  um  “ato 

consensual  contínuo de  convivência”  (MARKY,  2008, p.  160),  ele  se constituía  por  dois  elementos  de  fato  fundamentais  para  a  sua existência jurídica: affectio maritalis e honor matrimonni. A primeira, “é o elemento subjetivo consistente na  intenção contínua de  ser marido e mulher; o honor matrimonii é o elemento objetivo concretizado em uma série de fatos exteriores inequívocos (coabitação, constituição do dote, posição social etc.), pelos quais se exterioriza essa intenção” (CORREIA e SCIASCIA, 1961, p. 124).  

Azevedo  (2002a,  p.  38‐39)  acrescenta  que  o  elemento subjetivo  é  de  ordem  imaterial  ou  espiritual,  representado  pela afeição  marital  e  o  objetivo  de  ordem  material,  resultante  da convivência  do marido  e  da mulher,  capaz  de  gerar  obrigações entre  os  cônjuges. Mostra Bonfante  (1946,  §  58, p.  182)  que  esses dois  requisitos  do  matrimônio  são,  portanto,  a  convivência  e  a intenção;  Biondi  (1957,  p.  320)  afirma  que    um  é  a  expressão  do outro e nega serem eles elementos distintos. 

Para  ser  justo ou  legítimo o  casamento  civil  romano,  ensina Azevedo  (2002a, p. 44), de acordo com Ulpiano, que deveriam estar presentes “três requisitos: o consentimento recíproco dos esposos, ou de seus patres, se sujeitos ao poder destes; a puberdade e a nubilidade dos nubentes; e o  ius conubbi destes, que consistia na posse do status civitatis e do status  libertatis, simultaneamente”. Observa‐se que nessa época o casamento civil, embora precedido ou não de  formalidades, dava‐se pelos rituais e não por meio de documentos escritos. 

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Sobre  esses  elementos  presentes  no  Corpus  Iuris  Ciuilis, Azevedo  (2002a, p.  38‐39)  comenta o  fato de  eles aparecerem nos “dois  conceitos  de matrimônio,  que  se mostram  no Digesto,  o de Modestino e nas Institutas do Imperador Justiniano, provavelmente, o  de  Florentino  ou  de  Ulpiano”.3  Embora  existam  suspeitas  de interpolações, a grande maioria dos autores concorda que “as duas definições focalizam apenas a essência do casamento sob o aspecto social,  não  lhe  determinando,  portanto,  a  natureza  jurídica” (ALVES, 2000b, p. 283).   

 1.2.2. A concubina e a ausência de consentimento 

 No  Direito  Romano,  ao  lado  do  casamento  cum  ou  sine 

manu  existiam  três  formas  para  o  cidadão  romano  constituir  sua família  legítima: “a dos peregrinos, que passavam a  conviver  sine connubio,  a  dos  escravos  e,  finalmente,  a  dos  concubinos,  que  se uniam,  livremente,  sem o chamado  consensus nuptialis”. O mesmo autor  acrescenta  que,  em  Roma,  o  concubinato  se  caracterizava “pela convivência estável de homem e de mulher, livres e solteiros, como  se  fossem  casados,  mas  sem  a  affectio  maritalis  e  a  honor matrimonii. Não era proibido, nem considerado atentatório à moral” (AZEVADO, 2002a, p. 151). 

Portanto,  em  relação  às  formas  de  instituir  a  família,  ʺao lado  das  iustae  nuptiae  cum  ou  sine manu”,  estava,  entre  outros  o concubinato e, ao lado do concubinato estava o casamento de fato, cujo  conceito  “é um  estágio paralelo  ao do  concubinato, pois,  no primeiro,  os  conviventes  sentem‐se marido  e mulher, porque  são 

                                                            3   Azevedo  (2002a,  p.  39)  comenta  que:  no  conceito  de  Modestino: “percebem‐se  com  nitidez  esses  elementos,  quando  assenta  que  ‘as núpcias  são  a união do marido  e da mulher  e o  consórcio para  toda  a vida,  a  comunicação  do  direito  divino  e  do  humano’  (Nuptiae  sunt coniunctio maris et  feminae, et consortium omnis vitae, divini et humani  iuris communicatio)”. Nas  Institutas, “as núpcias, ou matrimônio,  são a união do varão  e da mulher,  implicando uma  comunhão  indivisível de vida’ (Nuptiae  autem  sive matrimonium  est viri  et mulieris  coniunctio,  individuam vitae consuetudinem continens)”. 

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casados,  embora não nos  termos do  casamento  legislado  (civil ou religioso  com  efeitos  civis);  no  segundo,  vivem  como  se  casados fossem” (AZEVEDO, 2002a, p. 111 e 151). 

O concubinato, que diverge da simples relação sexual pela estabilidade  (BIONDI,  1957,  p.  339),  era  uma  instituição  de  fato meramente tolerada, mas absolutamente fora do direito no mundo pagão e não produzia efeitos em relação aos filhos, à sucessão e aos direitos civis (BONFANTE, 1946, § 63, p. 197). 

Como  instituto  jurídico capaz de produzir efeitos na seara do  direito,  o  concubinato  não  existia  até  o  direito  clássico;  no período  do  direito  pós‐clássico,    é  transformado  em  instituto jurídico, mas a condição da concubina e de seus filhos é inferior em relação à família legítima, e somente com o Imperador Justiniano o concubinato  foi  considerado  “indene  de  dúvidas,  como  instituto jurídicoʺ.    Para  que  a  união  concubinária  fosse  considerada legítima,  ela  deveria  preencher  ʺos  mesmos  requisitos  que  se exigiam às justas núpcias, aplicando, ainda, as disposições relativas aos  impedimentos matrimoniais”  (AZEVEDO,  2002a,  p.  153‐154; ALVES, 2000b, p. 321). 

Sobre a natureza do  concubinato, Cretella  Junior  (2006, p. 83) assevera, que no início,  era ʺuma união de natureza inferior que não nivela, socialmente, a mulher ao marido e que não subordina os filhos à patria potestas do pai”. Mas essa situação se modificou:                                         

Na época do Imperador Augusto, ele foi regulamentado, indiretamente, por meio da Lex Iulia et Papia Poppaea de maritandis ordinibus e da Lex Iulia de Adulteriis, as quais visavam regulamentar o matrimônio.  [...] Mesmo atribuindo  alguns  requisitos  para  que  houvesse  concubinato,  como: relação  monogâmica  entre  o  casal;  idade  conjugal;  inexistência  dos mesmos  impedimentos  previstos  para  o  matrimônio  relativos  ao parentesco  e à afinidade na  linha  reta,  é  consenso  entre os  romanistas pesquisados  que  esse  instituto,  por  ser  considerado  imoral  pelos imperadores cristãos, no Oriente “foi abolido por Leão, o Filósofo (886‐912  d.C.);  no  Ocidente,  ele  caiu  em  desuso  no  século  XII  d.C.”. (AZEVEDO,  2002, p.  152‐154; ALVES,  2000b, p.  320‐322; BONFANTE, 1946, § 63, p. 198 e RAMOS, 1969, p. 198 apud RIVA, 2013, p. 28 e 32)  Quanto às relações patrimoniais entre os concubinos, não se 

encontrou  junto  aos  autores  consultados  qualquer  menção. 

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Crispino  (2005,  p.  48)  anota:  “A  discussão  acerca  do  regime patrimonial entre os concubinos é matéria muito pouco tratada nos autores  de  direito  romano.  Esse  último  entendimento  revela  que não existia regime patrimonial entre os concubinos”.  

O mesmo autor, em sua tese de doutoramento sobre o tema ora  investigado,  infere  que  embora  se  identificassem  alguns negócios realizados entre concubinos, não se encontrou um sistema jurídico para  regulamentar  as  relações patrimoniais, nem  se pode afirmar  a  existência  de  um  regime  patrimonial  entre  eles;  no entanto, assevera que os estudiosos da época se preocupavam ʺem traçar  o  embrião  do  que  hoje  se  tem  como  proteção  às  relações realizadas  pelos  companheiros,  bem  como  àquelas  praticas  entre um deles e terceirosʺ.  Referente às relações jurídicas com terceiros, conclui  ʺque  o  concubino  agia  como  único  proprietário  do  bem objeto do negócio, não havendo exemplos de negócios  relativos a bens pertencentes ao casal que vivia em concubinatoʺ  (CRISPINO, 2005, p. 51‐52).   Conclusão                                                                                                                         

 Ao  abordar  as  duas  formas  de  união  –  o  casamento  e  o 

concubinato  –  na  sociedade  romana,  verificou‐se,  com  poucas divergências entre os autores consultados, que os negócios jurídicos eram sempre celebrados pelo chefe da família, pater  familia, e, que, no casamento, a única situação na qual a esposa participava, e isso ocorreu  somente  à  época  de  Justiniano,  era  em  relação  aos  bens dotais,  já que esses, para serem alienados ou hipotecados,  fazia‐se necessário o seu consentimento. Quanto à concubina, como não era exigido o dote, é muito provável que também não fosse exigida sua anuência para nenhuma transação praticada pelo companheiro. 

Uma situação que chama a atenção é que tanto o casamento quanto  o  concubinato,  nos  períodos  que marcaram  a  história  do Direito Romano,  e,  nos  subsequentes  a  ele,  eram  uniões  de  fato, embora,  como  examinado,  no  casamento,  no  último  período  do citado Direito,  já havia, em relação aos bens dotais no matrimônio, previsão  legal da necessidade da outorga uxória para a realização de alguns negócios jurídicos. 

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Quanto ao concubinato, ainda em relação à realização dos negócios  jurídicos, nos quais se inclui o contrato, de acordo com o levantamento dos dados, no Direito Romano encontram‐se as raízes que sustentaram a necessidade do consentimento da mulher para a realização  dos  negócios  imobiliários  entre  os  conviventes  e terceiros. 

A  pesquisa  encontra‐se  em  fase  de  elaboração;  os  dados apresentados foram os e levantados até o momento e  parcialmente analisados. 

   

REFERÊNCIAS  ALVES, José Carlos Moreira. Direito romano. Rio de Janeiro: Forense, 2000a. v. I. ______. Direito romano. Rio de Janeiro: Forense, 2000b. v. II. AZEVEDO, Álvaro Villaça. Estatuto da família de fato: de acordo com o novo código civil, Lei n. 10.406, de 10‐01‐2002. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002a. ______. Teoria geral das obrigações e responsabilidade civil. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2008. AZEVEDO, Antonio Junqueira de. Negócio jurídico: existência, validade e eficácia. 4. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2002b. BEVILÁQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. 4. tir. Edição histórica. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1979. BONFANTE, Pietro. Istituzioni di diritto romano. 10. ed. Torino: G. Giappichelli, 1946. CORREIA, Alexandre; SCIASCIA, Gaetano. Manual de direito romano. 4. ed. rev. e aum. São Paulo: Saraiva, 1961. v. I. COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. Tradução de Jean Melville. São Paulo: Editora Martin Claret, 2005. CRETELLA JÚNIOR, José. Direito romano moderno. Rio de Janeiro: Forense, 2006. CRISPINO, Nicolau Eládio Bassalo. A união estável e a situação jurídica dos negócios entre companheiros e terceiros. 2005. Tese (Doutorado em Direito) – FDUSP – Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.  GOMES, Orlando. Direito de família. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. 

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MARKY, Thomas. Curso elementar de direito romano. 8. ed. 12. tiragem. São Paulo: Saraiva, 2008. MEIRA, Sílvio A. B. Instituições de direito romano. 4. ed. rev. e aum. São Paulo: Max Limonad, 1971. v. 1. MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das obrigações 1ª parte. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 1983a. ______. Curso de direito civil: direito das obrigações 2ª parte. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 1983b. PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direitos de família. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, Livreiro‐Editor, 1869. PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito privado. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1983. Tono VIII. RIVA, Léia Comar. União estável e parentesco por afinidade. Campo Grande: Life Editora, 2013.  ROLIM, Luiz Antonio. Instituições de direito romano. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.  

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LINGUAGEM E LINGUAGEM JURÍDICA:  UMA SITUAÇÃO DE DEPENDÊNCIA 

 Fernanda Peres Soratto Aires David de Lima 

  

O   homem   é   um   ser   social .   A   l inguagem   do  homem   está   presente   em   todos   os   domínios   da  vida   em   sociedade,   em   todas   as   prof issões .   A  l inguagem   é   o   instrumento   que   permite   ao  indivíduo   debater   ideias,  apresentar  opiniões, argumentar em defesa de um ponto de vista, persuadir e ser persuadido (Marcondes Junior).  

 Introdução    A linguagem é o meio pelo qual os homens interagem entre si,  sendo  fundamental  para  sua  convivência,      possibilitando  o estreitamento  dos  laços  individuais,  e  permitindo‐lhes  o reconhecimento  como  humano  e  o  agrupamento    em  sociedade. Entretanto, a  linguagem não  se manifesta no  seio  social de  forma única, sua manifestação depende do grupo de  indivíduos, de suas características,  do  ambiente  em  que  estão  inseridos,  do  período histórico corrente, dentre outros fatores. 

Nesse  contexto,  este  artigo  objetiva  discorrer  acerca  da linguagem,  demonstrando  sua  importância  e  função  social,  bem como,  conceituá‐la  na  visão  de  diversos  autores  que  discutem  o tema. Objetiva ainda, abordar a questão da linguagem jurídica, que se manifesta dentro de um grupo social específico ‐  a linguagem do Direito,  que  por  suas  peculiaridades  possui  termos,  expressões  e jargões  próprios  da  ciência  jurídica,  o  que  dificulta  o  seu entendimento pelos cidadãos leigos. 

Assim,  se  abordará  também,  neste  estudo,  as  crescentes críticas a esta linguagem, popularmente conhecida como rebuscada e  obscura,  e  a  necessidade de  sua  simplificação,  haja  vista  que  o Direito é posto a todos e a todos é necessário o seu entendimento.      

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1. A Linguagem  Os  seres  humanos  são  por  natureza  seres  sociais, 

dependentes  uns  dos  outros  por  essência  e  excelência,  para Aristóteles (1999) o homem é um ser essencialmente cívico, pois só é  considerado  homem  quando  pertencente  ao  seio  social, necessitando  do  convívio  com  outras  pessoas  para  suprir  suas necessidades  fundamentais  de  sobrevivência.  Aristóteles  (1999) defendeu  ainda,  que  foi  nesta  constante  busca  por  suprir  suas necessidades, que o homem agrupou‐se a outros homens, na busca de um  bem  coletivo,  o  que  resultou nas primeiras  células  sociais conhecidas. 

Contudo,  a  organização  social  fundada  nas  lições  do filósofo grego não é absoluta, outras pairam pela história da vida humana  sobre  a  Terra,  dependendo  da  época  e  do  pensamento dominante no momento histórico, porém, o que não se discute é a existência  de  uma  sociedade  de  homens  que,  simploriamente, constitui‐se  da  reunião  de  indivíduos  ligados  por  uma  interação necessária de  convivência,  vinculo  básico, mas  não  exclusivo dos homens.    Para  que  esses  vínculos  básicos  de  convivência  se tornassem  possíveis,  e  com  isso  a  própria  sociedade  humana, necessária foi a criação de meios, mecanismos, ou um conjunto de signos,  conforme  Saussere  (2006),  que  permitisse  a  comunicação entre  os  seus  indivíduos. Assim,  quando  falamos  em  linguagem, logo  nos  remetemos  a  Saussure,  o mais  antigo  estudioso  sobre  o assunto, para ele 

 [...]  a  linguagem  é multiforme  e  heteróclita;  o  cavaleiro  de  diferentes domínios,  ao mesmo  tempo  física,  fisiológica  e  psíquica,  ela  pertence, além  disso,  ao  domínio  individual  e  ao  domínio  social;  não  se  deixa classificar  em  nenhuma  categoria  de  fatos  humanos,  pois  não  se  sabe como inferir sua unidade (2006, p. 17). 

   Barbiero (2006, p. 01) apresenta que:  

Nós  seres  humanos,  ao  longo  dos  séculos  desenvolvemos  formas diferentes para conseguir um canal eficiente de comunicação com nossos 

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semelhantes.  Nos  primórdios,  alguns  gestos  e  ruídos  animalescos traduziam as vis  ideias que a mente símia conseguia produzir. Depois, foram  desenvolvidas  a  palavra  falada,  a  palavra  escrita,  os meios  de comunicação em massa e outras tantas fontes mais. 

   Assim,  estas  formas  de  comunicação  humana denominaram‐se  linguagem,  cuja  concepção  assenta‐se  na perspectiva de diferentes autores, em diferentes épocas. Benveniste (2006, p. 93) argumenta que: 

 A  linguagem  é para o homem um meio, na verdade, o único meio de atingir  o  outro  homem,  de  lhe  transmitir  e  de  receber  dele  uma mensagem. Consequentemente, a linguagem existe e pressupõe o outro. A partir deste momento, a sociedade é dada com a  linguagem. Por sua vez,  a  sociedade  só  se  sustenta  pelo  uso  comum  de  signos  de comunicação [...]. Assim, cada uma destas duas entidades,  linguagem e sociedade, implica a outra. 

   Para  Orlandi  (1986,  p.  10‐11)  “ao  produzir  signos  os homens  estão  produzindo  a  própria  vida:  com  eles,  o  homem  se comunica, representa seus pensamentos, exerce seu poder, elabora sua cultura e sua identidade, etc”.    Leite (2013, p. 218), por sua vez, deixa “[...] claro que todo ser  humano  nasce  dotado  de  uma  capacidade  geral  chamada linguagem, ou  faculdade da  linguagem,  e que  essa  capacidade  se atualiza,  se  concretiza  em uma  língua  específica, um  conjunto de signos e normas que permitem a comunicação em uma comunidade particular”.    Segundo  Sapir  (1929,  apud  LEITE,  2013,  p.  219)  “a linguagem é um método puramente humano e não instintivo de se comunicarem  ideias,  emoções  e  desejos  por  meio  de  símbolos voluntariamente produzidos”.   No dizer de Chomsky (1957, apud LEITE, 2013, p. 219), “a linguagem  é  um  conjunto  (finito  ou  infinito)  de  sentenças,  cada uma  finita  em  seu  comprimento  e  construída  a  partir  de  um conjunto finito de elementos”.   Em outras palavras Chomsky  (2000, apud LEITE, 2013, p. 219) define que “a  linguagem é um componente da mente/cérebro humanos  especificamente  dedicada  ao  conhecimento  e  uso  da 

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língua.  A  faculdade  da  linguagem  é  o  órgão  da  linguagem.  A língua é então um estado dessa faculdade.”    A  linguagem, para Carrió  (1990, apud CAMILLO, 2011, p. 4) “[...] é a mais rica e complexa ferramenta de comunicação entre os  homens”.  Além  de  possibilitar  a  comunicação  entre  os indivíduos, a  linguagem também “[...] possibilita o  intercâmbio de informações  e  conhecimentos,  funcionando,  ainda,  como meio de controle desses conhecimentos” (WARAT, 1994, p. 37), pois com o controle  dos  conhecimentos  os  homens  conseguem  dominar  o mudo em que vivem (ORLANDI, 1986).    Segundo  Mendes  (2011,  p.  180),  “[...]  a  linguagem,  por compreender uma das mais  importantes  faculdades humanas,  [...] possibilita  a  interação  entre  indivíduos  e  permite  a  expressão  de pensamentos e ideias [...].”   Diante  do  já  exposto,  a  linguagem  mostra‐se,  pois, imprescindível  para  a  formação  e  manutenção  da  sociedade humana,  visto  que,  com  seu  aparecimento,  aos  indivíduos  foi permitido gerar  laços de convivência entre  si e domínio dos mais fortes sobre os menos fortes (SANTIAGO, 2001).   Para  Fiorin  (2007)  a  linguagem  é  uma  criação  social,  que liga  ideologias  e media  a  comunicação  entre  os  homens.  Neves (2011, n. p.) esclarece que   

[...]  a  Linguagem  é  uma  faculdade  (inata  ou  adquirida?)  que  tem  o homem de  exprimir  seus  estados mentais,  formada, de  um  lado, pela língua, sistema de signos vocais, que os organiza em uma representação compreensiva em face do mundo exterior objetivo e do mundo subjetivo interior. Esse sistema de signos vocais, utilizado por um grupo social ou comunidade linguística, constitui uma língua particular, assim podemos falar de Língua Portuguesa, Língua Inglesa, Língua Francesa etc.[...]. De outro  lado,  temos  a  fala,  segundo  componente da  linguagem,  que  é  a realização  da  língua,  essa  é  individual,  cada  membro  de  uma comunidade linguística terá o seu “modo de falar”, é o que ele chama de desempenho.  

   Segundo Medeiros e Tomasi (2004, p. 17), a  

Linguagem  é  um  sistema  de  signos  utilizados  para  estabelecer  uma comunicação. A linguagem humana seria de todos os sistemas de signos o  mais  complexo.  Seu  aparecimento  e  desenvolvimento  devem‐se  à 

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necessidade de comunicação dos seres humanos. Fruto de aprendizagem social e reflexo da cultura de uma comunidade, o domínio da linguagem é relevante na inserção do indivíduo na sociedade.  

   Já  para  Dubois  (2000,  apud  NEVES,  2011,  n.  p.)  a “linguagem  é  a  capacidade  específica  à  espécie  humana  de comunicar por meio de um sistema de signos vocais”. A linguagem, portanto,  pode  ser  considerada  todo  o  conjunto  de  signos  que sustenta  e permeia  a  comunicação de  ideias,  ações,  sentimentos  e acontecimentos,  dentre  outros,  expressada  e  compreendida  pelos diversos órgãos sensoriais.    Destarte,  classifica‐se  em  diversas  espécies  como,  a linguagem visual, simbólica, falada, escrita, gestual etc. Sendo que estas  constituíssem,  de  modo  geral,  por  gestos,  palavras,  sons, sinais  e  símbolos  que  permitem  a  comunicação  entre  as  pessoas. Assim,  nos  ateremos  aqui,  somente  a  comentários  referentes  à linguagem falada e escrita. Pois, em sociedade, múltiplas e variadas são as expressões da linguagem humana, assim,     

O homem pode se comunicar pela forma verbal e/ou não verbal. Para a forma verbal a linguagem oral torna‐se ponto crucial; a forma não verbal pode ocorrer de várias formas, como por exemplo, a linguagem corporal (exemplos: o testemunho de surdos‐mudos pela mímica; a falsidade de um  depoimento  pode  revelar‐se  até  mesmo  pela  transpiração,  pela palidez  ou  simples movimento palpebral)  e  a  linguagem do  vestuário (exemplo: a  toga é um a  informação que  indica a  função exercida pelo juiz  e  a  cor  negra  sinaliza  seriedade  e  compostura  que  devem caracterizá‐lo)  (DAMIÃO; HENRIQUES, 2010, apud REOLON, 2010, p. 5). 

   Porém,  a  linguagem  como  veículo  de  comunicação  dos indivíduos que a utilizam, às vezes, não funciona corretamente, isso implica dizer, que uma  situação de  comunicação pode  resultar‐se completamente  frustrada,  quando  os  interlocutores  não compreendem,  verdadeiramente,  a  significação  das  mensagens ouvidas  ou mesmo  lidas.  Isso  ocorre  devido  a  peculiaridades  de algumas linguagens, como é o caso da linguagem jurídica.   

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2. A Linguagem Jurídica    É através da linguagem que os seres humanos comunicam‐se  uns  com  os  outros,  pode  se  comunicar  e  trocar  experiências, tanto na  linguagem escrita ou falada, que não são as únicas formas, podendo variar, seguindo critérios de classificação complexos. No entanto,   para  este  estudo duas  se  fazem  relevantes:  a  linguagem  natural  (informal)  e  a  científica  (técnica  e  formal).  A  linguagem natural  “[...]  nasce  de  uma  maneira  espontânea  no  seio  da sociedade e, destarte, ela não ultrapassa ou transcende a esfera do senso comum (CAMILLO, 2011, p. 4).   Para Fernandes (2002, n.p.):  

As  linguagens  naturais  são  efetivamente  criadas  por  seres  vivos  e sociais. Linguagens naturais não  são originadas de  comunicação  entre duas  entidades  isoladas.  Pelo  contrário,  uma  linguagem  natural  é continuamente  estabelecida  e  aperfeiçoada  ao  longo  do  processo construtivo e histórico da  sociedade de organismos que a  criou  (grifos do autor). 

   A  linguagem  científica,  por  sua  vez,  rompe  com  o  senso comum,  sendo  empregada  para  a  edificação  da  linguagem especializada  (CAMILLO,  2011,  p.  4).  Assim,  para Warat  (1994, p.53):   

[...]  estamos  frente  a  uma  linguagem  com  uma  clara  pretensão epistêmica, concretizada através de uma abstrata tentativa de expurgar; no  plano  da  linguagem,  os  componentes  políticos,  as  representações ideológicas e as incertezas comunicacionais da linguagem natural. 

   Para Fonseca (2010, n. p.):  

A linguagem cientifica tem características próprias que a distinguem da linguagem  comum.  Essas  características  não  foram  inventadas  em algum momento determinado. Ao contrário,  foram sendo estabelecidas ao  longo  do  desenvolvimento  cientifico,  como  forma  de  registrar  e ampliar o conhecimento. Essas características, muitas vezes, tornaram a linguagem científica estranha e difícil para os alunos. Reconhecer essas diferenças  implica  em  admitir  que  a  aprendizagem  da  ciência  é inseparável da linguagem cientifica.  

 

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  Assim,  a  linguagem  do Direito  encontra‐se  situada,  para muitos,  com  uma  linguagem  científica,  recheada  de  técnicas  e formalidades,  pois  possui  sentido  e  estrutura  própria  (BITTAR, 2010),  verificada  manifestadamente  nos  “[...]  enunciados  e proposições técnicas, aliados ao habitual rigorismo formal existente nas leis, jurisprudência e doutrina são, de fato, técnica (CAMILLO, 2011, p. 5), carecendo que um interprete faça “da literal letra da lei um dado real da vida de existentes e palpáveis cidadãos e cidadãs (BITTAR, 2010, p. 571).   Partindo  dessas  premissas,  em  se  tratando  de  ciência jurídica,  a  linguagem  possui  características  próprias,  sendo  “a pedra  fundamental do Direito, pois é por meio dela que esta área em  questão  se  origina  e  se  desenvolve”  (MOREIRA;  MARTELLI; MAKOWSKI; STUMPF, 2010, p. 140).   O Direito, entendido  como uma palavra plurívoca, possui uma diversidade de significações, ainda que estas estejam ligadas e entrelaçadas  entre  si.  Segundo  Moreira;  Martelli;  Makowski  e Stumpf (2010, p. 140),  

 [...]  o Direito  é  um  instrumento  de  controle  social,  desenvolvido  e/ou criado  da  sociedade  e  para  a  sociedade,  deve‐se  encará‐lo  como  uma instituição que  acompanha passo  a passo a história da humanidade;  é um processo que é passível de mudanças, sendo realizado sempre com vistas à realização do bem comum. 

   Deste modo, analisado como arte ou técnica, o Direito: 

 [...] procura melhorar as condições sociais ao sugerir e estabelecer regras justas  e  equitativas  de  conduta.  Pois  é  justamente  como  arte  que  o Direito,  na  busca  do  que  pretende,  se  vale  de  outras  ciências  como  a Filosofia, Antropologia, Economia, Sociologia, História, Política. Embora Hans  Kelsen  tenha  tentado  demonstrar  que  há  uma  teoria  pura  do direito,  livre de  qualquer  ideologia política,  o  quadro do dia‐a‐dia do Direito traduz outra realidade (VENOSA, 2009, 9). 

   Em  termos  sociológicos,  o  direito  é  considerado  um  fato social figurando,   

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Como  instrumento  de  instauração,  desenvolvimento  e/ou manutenção da ordem – que possibilita a convivência social ‐, o direito é um fator de equilíbrio  social.  [...]  complexo  fenomênico  configurado  temporal  e espacialmente,  que  sofre  mudanças  e  apresenta  manifestação morfológica e significação funcional, patente e latente (CASTRO, 2001, p. 69‐70).      

   Enquanto  ciência,  o  Direito  tem  por  responsabilidade  o entrelaçamento do estudo e a compreensão das normas postas aos homens  por  delegação  de  poderes  a  outros  homens,  que representam  o  poder  do  estatal,  objetivando  a  analise  e  o estabelecimento de princípios para os fenômenos ocorridos no meio social (VENOSA, 2009). Montoro, citando Hermann Post, define   o Direito como “[...] a exposição sistematizada de todos os fenômenos da vida jurídica e a determinação de suas causas” (2000, p. 40).   Para Reolon (2010, p. 2),  

O Direito é a ciência social que está presente no  cotidiano da vida das pessoas, mesmo que elas não percebam: seja na hora do nascimento de uma vida humana, seja quando faz uma compra numa loja, seja quando paga  seus  impostos,  seja  quando  ocorre  um  acidente  de  trânsito,  seja quando há uma briga entre vizinhos, seja na hora da morte de um ente querido, apenas para exemplificar. Dependendo do acontecimento, este será “encaixado” em algum ou alguns dos ramos do Direito. O  Direito,  por  ser  uma  ciência  interdisciplinar  que  se  comunica principalmente  com  a  filosofia,  a  sociologia,  a  política,  a  ética,  a linguagem dentre outras, torna‐se um elemento de evolução da própria história de um país. Daí a importância do conhecimento e de toda uma postura dos  operadores do direito,  como protagonistas deste processo de evolução. 

   Mas  para  que  o Direito,  efetivamente,  produza  os  efeitos atinentes a sua conceituação, entra em cena a figura do operador do Direito, com a função primordial de comunicação, já que o Direito é a profissão da comunicação. Conforme Sabbag (2006, p. 15):  

Os  operadores  do  Direito  são  profissionais  que  se  valem, cotidianamente,  de  enunciados  comunicativos  para  levarem  a  cabo  a exteriorização das normas jurídicas, como as decisões judiciais, os textos doutrinários e as petições.  

  

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  Desta  forma, para que  a  comunicação  se  torne  eficiente  e surta  os  efeitos  esperados  dentre  os  sujeitos  do  discurso,  a linguagem utilizada deverá possuir algumas qualidades, que para Sabbag (2006) resumem‐se em correção, concisão, clareza, precisão, naturalidade,  originalidade,  nobreza  e  harmonia. A  comunicação correta  é  aquela  obediente  à  gramática  formal,  livre  de  erros  e vícios  formais;  a  concisa,  por  sua  vez,  “é  qualidade  inerente  à objetividade  e  à  justeza de  sentido  [...]”  (SABBAG, 2006, p. 48); a clara  se  caracteriza  pela  limpidez  e  simplicidade,  opondo‐se  à obscuridade (SABBAG, 2006).   Sequentemente, o autor descreve a qualidade da precisão, fundada nas  escolhas  corretas dos  termos para os  textos orais ou escritos. A  naturalidade  também  é  fundamental,  consubstanciada na simplicidade e espontaneidade; a originalidade, não obstante, é o estilo natural do escritor (SABBAG, 2006).       A  linguagem nobre “[...] é aquela que não é chula e  torpe; [...] não dispensa o véu do pudor e do decoro  (SABBAG, 2006, p. 71). Já a harmônica “[...] prima pela adequada escolha e disposição dos vocábulos, pelos períodos não muito longos e pela ausência de cacofonias” (SABBAG, 2006, p. 73).   Neste  sentido,  como  dito  anteriormente,  é  pelo  uso  da linguagem que ocorre comunicação humana, sendo esta a forma de expressão  e  instrumentalização  do  Direito  em  nossa  sociedade. Assim,  “quando  se  está  a  falar  de  linguagem  jurídica,  deve‐se, sobretudo  grifar,  que  o  discurso  jurídico  não  é  um  discurso descontextualizado, mas  um  discurso  que  se  produz  no  seio  da vida social [...]” (BITTAR, 2010, p. 572).   Assim, nos dizeres de Reolon (2010, p. 2), 

 O principal instrumento que o advogado vai usar para se comunicar é a linguagem,  sua  única  “arma”  para  que  possa  concretizar  seu conhecimento  e  interagir  com  seus  clientes  e  também  com  os  demais operadores  do Direito. A  linguagem  utilizada pelo  advogado, por  ser muito  técnica,  pode  dificultar  a  comunicação  entre  o  advogado  e  seu cliente, pois  o  cliente, nem  sempre,  ou na maior parte das  vezes,  tem qualquer  conhecimento  jurídico  (e nem deve  ter, por  isso  contrata um advogado).  O  advogado,  por  sua  vez,  pode  não  perceber  que  a comunicação está falhando ou mesmo não está acontecendo.  

 

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  Contudo,  mesmo  produzido  em  contexto  social,  como mencionado acima, sua  linguagem é permeada por peculiaridades própria da ciência, o que nem  sempre possibilita o seu entendido por  todos,  principalmente,  daqueles  encontrados  à  margem  da linguagem jurídica, ou seja, o leigo. Para isso, a linguagem jurídica carece  de  interpretação,  que  não  é  tarefa  fácil,  como  preceitua Camillo (2011, p. 10), que 

   [...]  a  interpretação das  normas,  à  evidência,  somente  será  efetivada  a partir de  sua  leitura  inicial. Embora  constitua uma  tarefa plausível  ao leigo – não versado em Direito – somente o bacharel em Direito é que pressupõe  deter  o  conhecimento  técnico  suficiente  para,  a  partir  da leitura  da  norma,  valer‐se  das  regras  de  interpretação  fornecidas  pela hermenêutica, e atingir o significado e alcance das normas jurídicas. 

 Segundo Venosa (2009, p. 157):  

 [...] é difícil e exige predicados do especialista. Embora exista toda uma vantagem  no  domínio  da  técnica  da  interpretação,  isso  não  basta.  È necessário  que  o  interprete  revele  experiência  e  vocação,  bem  como intuição no sentido crítico, pois a hermenêutica, mais do que técnica ou ciência, é uma arte. A  temperança e a serenidade são virtudes maiores do interprete: que deve ser ao mesmo tempo tradicionalista e ousado, na busca do que melhor amoldar‐se ao espírito da lei e do sentido do justo.   

   Neste  contexto,  a  “[...]  interpretação  constitui‐se  num desafio  quando  perseguida  teoricamente  e,  sobretudo,  quando  se procura  conferir uma dimensão  epistêmica  (BITTAR, 2001, p. 93). Bittar (2010, p. 589) defende que:  

A  interpretação, nesse  contexto,  significa mais do que normalmente  se costuma  dizer  a  respeito.  O  legislador,  conhecedor  do  papel  da interpretação e das possibilidades de sentido que abre, não evita o uso de  termos vagos no  seio da  legislação. Se proposital ou não,  tal uso  é frequente, [...].  

   Importante então, que “[...] o profissional que deseja deixar de lado o misoneísmo e tornar seu trabalho mais científico, precisa de muito esforço. Selecionar a palavra exata para transmitir a ideia é  tarefa  irrefutável  para  quem  quer  tornar  seu  trabalho 

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diferenciado”  (MOREIRA;  MARTELLI;  MAKOWSKI;  STUMPF, 2010, p. 141).     Na argumentação jurídica, isso fica evidenciado, visto que a atividade  jurídica  é  essencialmente  argumentativa,  cabendo  ao operador do direito dar sentido e determinar o verdadeiro alcance das  normas,  enunciados  e  vocábulos  dispostos  pelo  sistema jurídico. Damião e Henriques (2000, p. 41) esclarecem que:    

No  Direito,  é  ainda  mais  importante  o  sentido  das  palavras  porque qualquer sistema jurídico, para atingir plenamente seus fins, deve cuidar do  valor  nacional  do  vocabulário  técnico  e  estabelecer  relações semântico‐sintáticas  harmônicas  e  seguras  na  organização  do pensamento. 

   Sendo  assim,  o  operador  do  Direito  necessita  ser conhecedor  da  linguagem  escrita  e  falada,  dominando  suas qualidades e nuanças, bem como conhecedor da linguagem jurídica para poder  interpretá‐la,  segundo  suas  reais pretensões, pois  isso certamente  surtirá  efeitos  em  sua  prática  argumentativa, fundamental a esta profissão,   esclarecendo aos cidadãos  leigos os dizeres  jurídicos, que a todos são necessários, mas que por poucos são compreendidos.  3. Pela simplificação da linguagem jurídica         A  linguagem  jurídica,  distanciando‐se  da  linguagem natural,  é dotada de  rigores  técnicos  e  formais,  característicos da linguagem científica, visto que,   

 [...] o cientista  [...] age com o objetivo de se distanciar da  instabilidade das outras linguagens, visando à impessoalidade, objetividade e clareza, tornando  a  linguagem  precisa  e  controlável,  rompendo  com  o  senso comum (PENA, 2009, 74). 

    Mesmo eivada de caráter científico, não se pode considerar 

que a linguagem jurídica não possua vícios e jargões característicos da sua prática cotidiana. O linguajar jurídico está repleto de termos jurídicos  próprios,  que  ao  serem  utilizados,  possuem  sentido somente  ao  olhar  daquele  que  opera,  diariamente,  o  direito, 

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como,por  exemplo,  anticrese,  acórdão  e  jurisprudência.  Também não é incomum ao Direito o uso de expressões latinas, como, caput, a posteriori e a priori, que para o sujeito comum não logram sentido algum.    Para Realon (2010, p. 10):  

Toda profissão  tem sua  linguagem própria, com características que são peculiares,  e  que  todo  e  qualquer  membro  pertencente  a  ela  adota naturalmente  no  seu  exercício.  A  linguagem  para  o  advogado,  no entanto,  tem  um  significado muito mais  contundente,  uma  vez  que  a linguagem é o instrumento de trabalho para o advogado. Saber fazer uso desse  instrumento  na  medida  adequada  é  bastante  difícil  para  o profissional do Direito. 

   No mundo  jurídico,  o  uso  de  expressões  e  terminologias 

próprias  só  existe  porque  “há  uma  linguagem  do  direito  [...]  o direito dá um sentido particular a certos termos. O conjunto desses termos  forma  o  vocabulário  jurídico.”  (PETRI,  2008,  apud MOREIRA; MARTELLI; MAKOWSKI; STUMPF, 2010, p. 143).   Este  vocabulário  jurídico,  ainda  hoje,  tem  uso  muito comum entre os advogados, juízes e demais operadores do direito, pois,  para  muitos,  significam  a  demonstração  de  sabedoria, domínio e habilidade na área de atuação, como destaca Lima (2011, p. 4),  

[...]  ao  analisar  a  linguagem  jurídica  como um  todo, percebe‐se  que  a mesma ainda é definida por alguns doutrinadores como  intocável, que não se pode mexer, pois a mesma é apresentada por suas peculiaridades, ou seja, a mesma tem termos que só são utilizados por ela como ciência. Em vista disso, construiu uma idéia de que falar bem é falar sinônimo de falar difícil. De acordo com  tal concepção, aqueles que se expressão de forma prolixa  e  rebuscada  são  considerados mais  cultos,  inteligentes  e dignos  de  maior  respeito.  O  vocabulário  utilizado  no  exercício  da atividade  jurisdicional  acompanhou  a  ideologia  do  “falar  difícil”, criando‐se um grupo de indivíduos cuja forma de se comunicar o afasta do povo destinatário.  

   Segundo Sytia e Fabris (2002, p. 23):  

A  linguagem  jurídica  exige  que  os  termos  estejam  sempre  em  seus devidos  lugares,  ou  seja,  empregados  especificamente  para  a  situação 

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determinada.  Há  de  se  destacar  que  um  repertório  verbal  preciso  e tecnicamente  adequado  somente  se  adquire  ao  longo  de  muitas pesquisas  e  leituras  jurídicas,  vivência  nas  lides  forenses.  Os  termos jurídicos  adquirem  conteúdo  semântico  próprio  e  o  emprego  de sinônimos pode alterar o sentido e desvirtuar a expressão legal. 

   Gustavo (2008) ao tratar da temática, enfatiza que qualquer tentativa de mudança na forma de comunicação  jurídica há de ser polêmica,  pois  os  profissionais mais  conservadores  alegam  a  seu favor,  por  terem  uma  longa,  secular  e  prestigiosa  tradição  na linguagem  jurídica,  não  pretendendo  abrir mão  de  seus  hábitos linguísticos há tanto arraigados.   Sendo assim, constantes críticas têm sido feitas à linguagem jurídica e ao seu vocabulário de termos próprios, visto que devido a suas  especificidades,  muitas  vezes  não  são  compreendidas  por grande  parcela  do  público,  em  razão  da  imensa  quantidade  de palavras, expressões,  jargões próprios. Para Rodríguez (2004, apud MOREIRA; MARTELLI; MAKOWSKI; STUMPF, 2010, p. 143) isso    

[...] revela‐se como pobreza de estilo, como falta de conhecimento ou de segurança para a utilização de outros  termos de nossa  língua que não somente se expressam com o mesmo valor, como também utilizam uma linguagem  mais  corrente  e  permitem  troca  por  outros  termos, sinônimos,  que  acabam  por  organizar  uma  construção  textual,  no mínimo, de leitura mais fluente.       

   Assim,  para  Lima  (2011),  a  simplificação  da  linguagem jurídica  não  significa    a  vulgarização  ou  o  completo  desuso  de termos  técnicos  necessários  à  situação,  mas  sim  o  combate  dos excessos que podem ser banidos sem prejuízo algum para a ciência, facilitando  o  entendimento  do  cidadão  comum,  o  que  trariam inúmeros  benefícios  para  os  que  utilizam  as  vias  judiciais  para solução de seus conflitos.    Assim, para Vianna (2001, p. 1):  

A  ʺsimplificação  da  linguagem  jurídicaʺ  é  inadiável.  A  mudança  de mentalidade ganha importância ao se constatar que uma escrita jurídica arcaica,  prolixa  e  rebuscada  não  reflete  apenas  na  estética  das  peças processuais, mas na própria  efetividade da prestação  jurisdicional.  [...] Para essa ʺsimplificaçãoʺ, convém lembrar que peças processuais não são 

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trabalhos  acadêmicos,  sendo  desnecessário  recorrer,  em  regra,  a considerações de ordem Histórica ou ao Direito Comparado. Tampouco devem  servir  de  palco  para  demonstração  de  ʺconhecimentoʺ  ou ʺculturaʺ.  Deve,  portanto,  prevalecer  o  ʺfimʺ,  ou  seja,  busca  pela prestação jurisdicional, e não o ʺmeioʺ, isto é, peças processuais extensas e repletas de ʺjuridiquêsʺ e outras inutilidades.  

   Conclui‐se  então,  que  simplificar  o  uso  da  linguagem  do Direito,  tornando‐a  acessível  às  pessoas  comuns,  só  produzirá efeitos positivos  a  está  ciência, pois  ao  se  tornar  compreensível  a todos,  sua  função  lograsse  alcançada,  bem  como,  solucionado estarão os conflitos de interpretação tão constantes nesta celeuma.  Considerações Finais    Pela  linguagem  as pessoas  comunicam‐se  todo o  tempo, no meio jurídico o seu uso é de grande  importância, sendo um instrumento fundamental, visto que a fala e a escrita constituem as ferramentas de trabalho do operador do Direito. Assim, o correto uso dos signos pelos operadores do Direito torna‐se essencial. 

A  linguagem  jurídica  deve  assumir  algumas  qualidades importantes,  tais  como a  clareza  e a  concisão, dentre outras, para que  a  comunicação  nesta  ciência  torne‐se  eficiente  e  efetiva, abandonando‐se o uso exagerado de  termos, expressões e  jargões, os quais corrompem e ofuscam a beleza linguagem jurídica. 

Atualmente, a sociedade vem preocupando‐se com a questão da  linguagem  jurídica  e  seus  reflexos no  cidadão  comum, muitas vezes incapaz de compreender as especificidades dessa linguagem. Embora    os  inúmeros  termos  técnicos  sejam  necessários  à linguagem  do  Direito,    cabe  aos  operadores  o  bom  senso  de simplificá‐los,  tornando‐os  acessível  à maioria  da  população  que diuturnamente  necessitam  dos  veículos  judiciários  para solucionarem seus conflitos sociais.      

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MOVIMENTOS SOCIAIS: UMA ESPERANÇA DEMOCRÁTICA DENTRO DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO 

 Vitor Luiz Carvalho da Silva 

Renato Amorim Ailton de Souza 

  Introdução    Nas últimas décadas, em várias regiões da América Latina, pelo  menos  dois  processos  políticos  distintos  engendraram  a participação da sociedade civil como princípio relevante na atuação da vida pública. O desenho de políticas públicas, particularmente às de  cunho  social:  de  um  lado,  a  emergência  da  sociedade  civil como  esfera  valorizada  da  ação  política  e,  de  outro,  as  reformas orientadas para o mercado. (ALMEIDA, 2006). Nos países diversos em  que  se  desenrolaram,  tais  processos  assumiram  ritmos  e impactos variados. A intenção aqui é, exatamente, focá‐los a partir da  realidade  brasileira.  A  valorização  da  sociedade  civil  como esfera  de  atuação  política  foi  resultado  do  contexto  amplo principalmente dos anos 60 a 90, no qual novos movimentos sociais surgiram  na  cena  pública  e,  no  seu  conjunto,  fazendo  uma  linha histórica de transição de diversos governos, entre eles o autoritário, centro direita, neoliberal e a social democracia. (ALMEIDA, 2006).    As reivindicações de liberdade de imprensa e de expressão, de  associação  e  reunião, de participação no poder, de pluralismo político, melhores  condições  de  trabalho  e  salariais,  e  igualdade política  no  estado  de  direito,  evidenciaram  a  existência  de  uma sociedade civil que reclamava para si o direito de fazer política, até então  “monopolizado”  pelo  Estado.  Naquela  realidade, movimentos  variados  reivindicaram  o  reconhecimento  de princípios de integração social. Finalmente, a relevância recente da sociedade civil e movimentos sociais deveram‐se às novas práticas e  reivindicações  protagonizadas  pelos  novos movimentos  sociais 

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latino‐americanos  durante  o  processo  de  transição  de  regimes autoritários para regimes democráticos. (ALMEIDA, 2006)   Com fortes influencias vindas da Europa, o sistema político neoliberal,  implantado  sob o  contexto de  esgotamento do modelo desenvolvimentista,  cuja  crise,  em  parte,  é  conseqüência  daquela hegemonia,  a  aliança  dos  partidos  políticos  deram  início  e sustentação à agenda de reformas no Brasil que foi resultado de um novo consenso elaborado no  seio das elites políticas e  intelectuais brasileiras a respeito da “estratégia de desenvolvimento”.   O  processo  de  restauração  das  instituições  democráticas abriu, para o campo movimentalista, a partir do inicio dos anos 80, terrenos novos para a disputa dos  rumos da democracia. Pouco a pouco,  e  em  meio  a  conflitos  internos,  a  defesa  da  autonomia, dentro  daquele  campo,  foi‐se  combinando  com  a  reivindicação, mais  enfática,  da  participação  social  nas  políticas  públicas.  Tal reivindicação,  que  esteve  fortemente  presente  no  período  da Assembleia  Nacional  Constituinte  e  que  teve  no  Partido  dos Trabalhadores  seu  suporte  partidário  privilegiado,  aspirava  à construção  de  novos  espaços  institucionais  que  permitissem  com que as decisões políticas resultassem de um processo público amplo de  explicitação  e  negociação  dos  diferentes  interesses  que perpassam  o  tecido  social,  tendo  em  vista,  uma  maneira  de participação  da  esfera  política,  a  social  democracia,  representada pelo partido dos trabalhadores, cria um programa integralista, que dá o direito  à  sociedade de participação  e destinação de  recursos para  fins  estratégicos  eleitos  pela  sociedade  como  importantes, chamado  de  orçamento  participativo,  que  tem  como  um  dos modelos de aplicação o estado do Rio Grande do Sul, na cidade de Porto Alegre.  

No  ambiente  de  1988,  havia,  pois,  os  elementos  favoráveis  ao surgimento de uma proposta como a do orçamento participativo. Havia a  trajetória política no campo social, representado pelo PT e os demais partidos aliados, e havia a experiência de ativismo social, de organização e de luta do movimento comunitário de Porto Alegre. O nascimento do OP  obedeceu  á  combinação  desses  dois  elementos.  (SÁNCHEZ,  2002, p.22) 

 

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  O modelo de orçamento participativo  (OP), que deu certo em Porto Alegre no Rio Grande do Sul, não deu certo nos demais estados devido ao momento político, que não se preocupava com a questão  popular;  Porto  Alegre  já  desenvolvia  projetos  de participação popular, que veio a se consolidar no fim da década de 1980  onde  o  Partido  dos  Trabalhadores  (PT)  assumiu  o  poder municipal.  O  orçamento  participativo  nasce  de  um  processo histórico  de  luta  de movimentos  sociais  que  ocorreu  na América Latina e em especial no Brasil, o orçamento participativo é apenas um  dos  seguimentos  dentro  de  vários  outros  em  que  se transformaram os movimentos sociais nos dias de hoje, e são a estes que dedicamos o estudo de nossa pesquisa.  1. Discussão 

 Os movimentos  sociais  na América  Latina,  sem  dúvidas, 

foram muito  importantes  para  o  desenvolvimento  do  continente, contudo,    especifico‐me  tencionar  a  pesquisa  com  um  olhar  nos movimentos sociais do Brasil, a fim de delimitar e objetivar a minha pesquisa.  A  primeira  ação  coletiva  de  caráter  reivindicatório  no Brasil, ainda que bastante acanhado devido ao momento histórico e suas amarras que prendiam a sociedade trabalhadora em grilhões, através dos aspectos  econômicos,  culturais  e  sociais,  fazendo  com que  o  trabalhador  desenvolvesse  uma  cultura  de  submissão  e aceitação;  essas primeiras ações  coletivas  tiveram  inicio no  século XX  com  operários,  camponeses,  indígenas,  comunitários  cristãos etc.  Desse  momento  em  diante  começou  a  se  desenvolver  uma cultura política de caráter critico e autônomo perante o estado, que até então já sofria influências da igreja católica, sendo ela a religião oficial do Brasil. 

 Será  apenas  em meados  do  século  XX  que  as  contestações  populares assumem um  caráter mais politizado,  com  relativa  crítica e autonomia em relação ao Estado, exercendo pressão política para transformações na estrutura  social,  como  as  Ligas  Camponesas  e  os  movimentos comunitários  ligados  à  teologia da  libertação,  em  vários países  latino‐americanos e, já nas décadas de 1970‐1980, o novo sindicalismo e vários 

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“novos movimentos sociais” na América Latina.  (SCHERER‐WARREN, 2008, p.506). 

 Os movimentos sociais brasileiros caminharam  juntos com 

as diversas  transições do estado  (entre eles a ditadura militar que teve seu auge em 1964 e o  término em 1985) e com o processo de desenvolvimento industrial do país. As más condições de trabalho, entre  elas  as  longas  jornadas diárias  e o  salário precário,  faz  com que  os  trabalhadores  se  unam  para  reivindicar  melhorias,  a burguesia, como forma de manutenção do seu status quo, crie uma alternativa, para frear os movimentos sociais que acabara de nascer, a  aristocracia  brasileira,  em  parceria  com  o  estado,  inicia  um processo de desenvolvimento do país, e como medida de contenção das  organizações  sociais,  criaram  um  nacionalismo  indenitário, obrigando  o  trabalhador  a  trabalhar  pelo  “desenvolvimento  do país”.  Apesar  de  estar  nascendo  os  movimentos  sociais  e  uma militância  política  no  Brasil,  não  é  possível  atingir  toda  a  classe trabalhadora,  a  repressão  feita pela  aristocracia  a  fim de  coagir  e punir  quem  fazia militância  contra  a  organização  do  estado  e  as péssimas  condições  de  trabalho,  era  evidentemente  muito  forte, deixando  os  movimentos  dispersos  e  enfraquecidos.  Essas organizações  sociais  ainda  como  força  política  não  eram  forte  o bastante  para  consolidar  os  direitos  da  classe  trabalhadora,  foi necessário  a  criação  de  um  sindicato  para  representar  os trabalhadores  e  uma  pauta  reivindicatória  para  legalizar  seus direitos. 

No  período  ditatorial  do  Brasil,  a  luta  dos  movimentos sociais  foi  bem  abrangente,  não  era  apenas mais  a  luta da  classe trabalhadora  em  si,  mas  sim  a  luta  de  todos:  índios,  idosos, universitários,  sindicatos,  movimento  negro,  movimento  da mulher, o estado era o inimigo incomum da população. 

 São  movimentos  de  segmentos  sociais  excluídos,  usualmente pertencentes às camadas populares (mas não exclusivamente). Podem‐se incluir, nesse formato, as lutas das mulheres, dos afro‐descendentes, dos índios,  dos  grupos  geracionais  (jovens,  idosos),  grupos  portadores  de necessidades  especiais,  grupos  de  imigrantes  sob  a  perspectiva  de direitos, especialmente. Dos novos direitos culturais construídos a partir de  princípios  territoriais  (nacionalidade,  Estado,  local),  e  de 

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pertencimentos  identitários  coletivos  (um  dado  grupo  social,  língua, raça, religião etc.). (GOHN, 2008, p. 440). 

 

A repressão do estado não ficou apenas no campo político, contou  com  apoio  das  grandes mídias  para  controlar  as massas através dos meios: intelectual, visual, cultural e esportivo, forçando as massas a acreditar que o  regime militar era a melhor  forma de governo;  a  mídia  também  disseminava  a  idéia  nacionalista,  a paixão pelo  futebol  foi um dos maiores símbolos de nacionalismo nessa  época,  que  perdura  até  hoje.    Tudo  isso  aliado  ao  capital internacional que era investido em multinacionais pelo país. Antes do  período  militar,  mas  precisamente  no  mandato  de  Getúlio Vargas, o Brasil  tinha uma economia de  terceiro mundo, mas um marketing  de  primeiro.   As  propagandas  das multinacionais  nas redes de comunicação, as falsas noticias da mídia, tornaram a  luta dos  movimentos  sociais  muito  mais  difíceis.  Um  dos  maiores problemas    enfrentados  pelos  movimentos  sociais  brasileiro, vividos até hoje, é a vandalização dos movimentos sociais por parte das mídias, deslegitimando a luta e criando estigmas sociais.  

No  fim  do  século XX,  o  Brasil  adota  um  sistema  político chamado neoliberalismo, esse sistema político veio para amortecer os  conflitos  sociais,  alguns  movimentos  sociais  viram  como necessária  a  burocratização  do  movimento  para  poder  ter  um melhor  diálogo  com  os  governantes,  criando  estatutos,  sedes  etc, mas dessa maneira o governo agia como forma de tutor, pois esses movimentos  burocratizados  ficam  presos  nas  leis,  vendo  única alternativa a luta pelo viés jurídico. 

 Teorias  que  destacam  a  capacidade  de  resistência  dos  movimentos sociais, a partir de elaborações sobre o tema da autonomia, de formas de lutas  em  busca  da  construção  de um  novo mundo, de  novas  relações sociais  não  focadas  ou  orientadas  pelo  mercado,  da  luta  contra  o neoliberalismo.  Nessa  abordagem,  critica‐se  veementemente  a ressignificação  das  lutas  emancipatórias  e  cidadãs  pelas  políticas públicas que buscam apenas a integração social, a construção e produção de  consensos,  conclamando  para  processos  participativos,  mas deixando‐os inconclusos, com os resultados apropriados por um só lado, o que detém o controle sobre as ações desenvolvidas. São as cidadanias tuteladas,  geradas  nos  processos  de  modernização  conservadora. Trocam‐se  identidades  políticas  construídas  e  tecidas  em  longas 

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jornadas de lutas, por políticas de identidades construídas em gabinetes burocratizados (GOHN, 2008, p. 403). 

 Essa nova  transição que passa uma parte dos movimentos 

sociais, na qual me limito a falar, tem a sua inserção nos processos associativos e participativos, tornando essas novas formas de lutas, burocráticas, pois, através do viés jurídico, o estado, como detentor dessa  extensão  que  faz  parte  de  seu  poder,  consegue  impedir  os movimentos sociais que por ventura optaram por esse viés jurídico, a  cooptação  é  uma  realidade  dentro  dessa  simbiose  política,  os lideres dos movimentos sociais são calados com negociações, que se limitam  com  pequenos  reajustes  salariais.  Essas  organizações representativas,  com  o  tempo,  estão  perdendo  adeptos  devido  à burocratização e a não confiabilidade nos representantes lideres das organizações  representativa,  tendo  em  vista  que  muitos  deles defendiam o próprio  interesse ao  invés dos  interesses do coletivo, outro  fator  muito  importante  é  que  muitos  lideres  dessas organizações  representativas  eram  aliados  do  governo  e  não defendiam  os  interesses  de  seus  representados,  possibilitando  e dando lugar cada vez mais a auto representação do individuo ou o sentimento  de  não  ser  representado  por  nenhuma  organização, criando uma apatia política. 

Com  essa  desfragmentação  dos  movimentos  sociais  e  o novo  sistema  governamental,  o  neoliberal,  criou‐se  na  sociedade uma  apatia  política  de  tal  modo  que  não  é  mais  espontâneo  o interesse  social  da  escolha  dos  lideres  políticos  que  deveriam legislar em favor da população, o que é preocupante.  

 O  comentário de Warren  levanta uma questão  importante: da maneira como  o  conceito  de  ‘sociedade  civil’  tem  sido  utilizado  pelos  autores resenhados  anteriormente  exclui  determinados  tipos  de  organizações cívicas  que  são  fundamentais  no  funcionamento  da  democracia, especialmente  no  sentido  de  mediar  entre  Estado,  mercado  e componentes mais ‘isolados’ da sociedade civil. Desse modo, nas críticas feitas, Warren e Chandoke trazem uma preocupação que aparece, como veremos mais  adiante,  em  boa  parte  da  literatura  brasileira  e  latino‐americana  sobre  sociedade  civil:  a  rejeição  cada  vez  maior  de perspectivas  que  insistem  que  movimentos  sociais  se  mantenham sempre distantes do Estado. (ABERS, 2011, p.59). 

 

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Por  outro  lado,  uma  das  organizações  sociais  que  vem dando certo no Brasil e na America Latina, no século XXI, ainda que receba  bastantes  influencias  do  liberalismo,  é  o  orçamento participativo,  que  nascem  no  inicio  de  1980.  A  trajetória  de implantação do Orçamento Participativo aconteceu num período de grandes  mudanças  em  nível  nacional,  marcado  por  eleições  em diferentes níveis. O novo modelo de gestão instaurado na cidade de Porto Alegre  a  partir  de  1988  passou  a  garantir  a  expansão  dos espaços de  relacionamento para os cidadãos e, por conseguinte, a possibilidade  de  um  verdadeiro  exercício  da  cidadania.  (ROSSI, 2002) 

 Ao  analisar  a  origem  da  proposta  OP,  serão  examinadas  suas  raízes comuns relacionando‐as com o chamado “modo petista de governar” e com a  tradição programática do partido dos  trabalhadores em matéria de administração  local, participação popular e democrática. Menos por vontade do autor‐ que gostaria que a proposta de participação cidadã no orçamento  fosse mais difundida por  todos os segmentos da sociedade, independentemente  do partido  político‐  apresenta‐se  o OP  como uma “criação petista”  surgidas nas  circunstâncias da  formação do partido e das  características  marcantes  da  conjuntura  no  final  dos  anos  1980. Nesse período ocorreram a  crise do  estado desenvolvimentista,  a  crise da ditadura militar e a ascensão de um amplo  leque de forças sociais e políticas  que  uniram  o  PT,  as  redes  movimentalistas,  a  igreja progressista e o movimento sindical, dito “autêntico”. (SÁNCHEZ, 2002, p.19).  O orçamento participativo é apenas um modelo vindo das 

organizações  sociais,  nas  quais  os  movimentos  sociais  vêm  se transformando nos dias de hoje. Essa forma de gestão inovadora foi bem positiva no estado do Rio Grande do Sul, mais precisamente em  Porto  Alegre,  cabe  ressaltar,  que,  o  orçamento  participativo, como  um  tipo  de  gestão  publica,  é  visto  como  uma  democracia direta,  não  eliminando  os  mesmo  meios  de  uma  democracia representativa. 

 Maria  Victoria  Benevides  expressa  em  sua  visão  dos mecanismos  da democracia  participativa  na  construção  dos  alicerces  de  uma  nova sociedade  ao  assinalar  “uma  convicção  muito  profunda  sobre  a incompatibilidade radical entre democracia e capitalismo, no sentido de que  o  capitalismo  é  cada  vez  mais,  nesse  modelo  globalizado  e 

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neoliberal,  o  inimigo  principal  da  democracia”.  Paralelamente  a  essa questão, ganha força a defesa da democracia direta como mecanismo de construção de instituições democráticas de novo tipo que alicerçariam o socialismo democrático – a nova sociedade transformada pela superação da  sociedade  capitalista.  Nessas  visões,  o  próprio  orçamento participativo é visto como forma de democracia direta que não exclui os mecanismos  da  democracia  representativa,  agindo  de  forma  positiva como um “corretivo aos seus vícios e mazelas já por demais conhecidos em nossa cultura política”. (SÁNCHEZ, 2002, p. 51). 

 O  processo  de  organização  dentro  do  orçamento 

participativo funciona na descentralização das assembleias, que são distribuídas e espalhadas em dezesseis regiões dentro da cidade de Porto Alegre, onde os moradores são os atores sociais que discutem e deliberam sobre as questões urbanas evidenciando os problemas e propondo  soluções,  contribuído  com  a  prefeitura  no desenvolvimento do município. Essa participação social dentro da vida pública,  tenta contribuir para a extinção de problemas como: saneamento  básico,  pavimentação,  iluminação,  saúde,  educação, segurança, etc. Segundo Félix, a instauração de mecanismos como o OP, considerado como uma força inovadora de intervenção estatal representa  a  saída  para  realizar  uma  real  democratização  da sociedade,  combatendo  a  exclusão  social  e  fortalecendo  a coletividade (SÁNCHEZ, 2002)  

As  Assembleias  Regionais  ocorrem  em  cada  uma  das  16  regiões  da Cidade,  enquanto  as  chamadas  Plenárias  Temáticas,  criadas  mais recentemente e em número de cinco‐Transportes e Circulação; Educação, Lazer  e  Cultura;  Saúde  e  Assistência  Social;  Desenvolvimento Econômico  e  Tributação;  Organização  da  Cidade  e  Desenvolvimento Urbano—acontecem  em  locais  que  independem do  recorte  regional. É importante salientar que a regionalização do Orçamento Participativo se deu  mediante  critérios  sócio‐espaciais,  de  acordo  com  a  tradição organizativa  dos  movimentos  de  moradores  na  Cidade  e  não obedecendo  a  critérios  exclusivamente  ʺtécnicosʺ  de  zoneamento urbanístico,  como  estabelecia  até  então  a  divisão  regional  do  Plano Diretor da Cidade de Porto Alegre. Em conjunto, as duas modalidades de participação geram 21 assembleias  (16 Regionais e cinco Temáticas), que ocorrem  em duas  ‘rodadas’ oficiais por ano,  isto  é,  em dois  ciclos anuais de 21 assembleias populares, as quais se diferenciam segundo as suas  pautas  de  trabalho,  conforme  se  verá  mais  adiante.  As  duas rodadas  anuais  de  Assembleias  Regionais  e  Temáticas  são  abertas  à 

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participação  individual  de  qualquer  morador  da  Cidade  e  às representações  das  entidades  civis.  As  assembleias  contam  com  a presença  do  Prefeito  e  dos  Secretários  de  Órgãos Municipais,  sendo coordenadas  por  integrantes  da  Administração  Municipal  e  por representantes comunitários. Antes das assembleias anuais, há reuniões preparatórias  dos  moradores,  as  quais  são  realizadas,  geralmente, durante  o  mês  de  março  e  organizadas  mediante  uma  dinâmica autônoma,  isto é, sem a coordenação por parte da Prefeitura Municipal Essas reuniões preparatórias dão  inicio ao  levantamento das demandas dos moradores  individualmente, das  instituições  comunitárias de base e/ou dos grupos organizados que atuam em  cada  região ou no âmbito das  Plenárias  Temáticas.  Nessas  reuniões  preparatórias,  são  também iniciadas  as  articulações  das  comunidades  para  a  escolha  dos  seus representantes  junto  às  instâncias  supra‐regionais  do  OP,  como,  por exemplo, o Conselho do Orçamento.(FEDOZZI,1998, p. 250) 

   Com  a  construção  de  um  modelo  de  participação  que engloba a sociedade civil, o orçamento participativo possibilita uma reforma substancial sobre as  relações das pessoas e do Estado e a gestão  pública.  Essa  proposta  do  orçamento  participativo desvincula  os  arranjos  de  interesses  entre  governo,  grupos empresariais, limitando o clientelismo e a corrupção. “Começa a se democratizar  radicalmente  a  relação  do  Estado  com  a  sociedade civil; as pessoas não mais  limitam sua participação política ao ato de  votar  em  dia  de  eleição”.  (DUTRA.  2001).  A  sociedade amadurece  sua  relação  com  a  Gestão  Pública,  modificando  e alternado  suas  formas  culturais. As  pessoas  adquirem  uma  nova dimensão  política,  na  qual,  a  sua  participação  é  mais  ativa, exercendo o seu papel democrático e de cidadania.  

 Assim, política e  culturalmente, o orçamento participativo é  também a negação da  ideologia neoliberal e da hegemonia do pensamento único: prega  e pratica o  controle público  sobre o Estado  e  se  efetiva desde o início,  de  modo  aberto  e  pluralista.  Dessa  forma,  as  22  regiões  do orçamento participativo no Rio Grande do Sul vão se tornando espaços fecundos  nos  quais  se  desenvolve  uma  verdadeira  opinião  pública independente. Espaços que não podem ser instrumentalizados nem pelos partidos, nem pelo governo. (Dutra, 2001, p.9).  

  As pessoas das comunidades que participam do orçamento participativo não  lutam apenas por suas demandas, mas ao  longo 

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das participações elas vão adquirindo uma visão total da cidade, do estado  e  do  país,    tornando‐se  cidadãos  ativos  e  críticos, disseminando consciência sobre os problemas sociais, colocando se contra as tentativas de dominação. Trata‐se de um processo que vai progressivamente  se  aperfeiçoando  e  fazendo  desabrochar  a consciência  crítica  da  população  e,  com  ela,  a  noção  de responsabilidade  coletiva  de  cada  um  com  a  coisa  pública. (DUTRA,  2001).  Esse  espaço  participativo  é  uma  experiência  de democracia  participativa,  isso  rompe  a  barreira  tecnocrática  e  o menosprezo pela gestão púbica.  Transformando a ética política em algo pautável e concreto, afastando as mazelas da corrupção.   

Entretanto, não  encaramos  essas  conquistas nem de  forma meramente administrativa,  nem  de  maneira  idílica,  como  se  tudo  estivesse funcionando  às mil maravilhas. Ao  contrário,  temos plena  consciência de  que  esse  processo  revolucionário  situa‐se  em  um  contexto  de exacerbada luta entre dois projetos distintos. As elites tradicionais sabem perfeitamente  que  esta  prática  dá  um  conteúdo  real  à  democracia, acabando  com os privilégios,  com o  clientelismo  e,  em última  análise, com o poder do capital sobre o conjunto da sociedade.  (DUTRA, 2001, p.12) 

  O  orçamento  participativo  é  um  contra  peso  na  luta  de 

classes, que reorganiza a sociedade colocando a população sobre o comando da gestão pública. Tirando da aristocracia parte do poder que antes era usado em seu próprio benefício. Com a população no poder  através  do  orçamento  participativo,  a  elite  na  tentativa  de manter o seu status quo, cria uma oposição política e  ideológica de caráter  neoliberal,  que  vai  contrariamente  aos  fins  do  orçamento participativo,  esse  entrave  dificulta  a  ação  do  orçamento participativo dentro do parlamento, a aristocracia conta ainda, com toda a mídia ao seu favor, afinal, são proprietários dela. O papel da mídia  desestabiliza  os  feitos  do  orçamento  participativo, vandalizando toda a ação da popular na busca por melhorias.  

Nossos adversários de projeto de sociedade sabem bem disso, tanto que os partidos alinhados com a  ideologia neoliberal buscam nos meter, no parlamento,  a  um  cerco  raivoso  e  irracional,  enquanto  os  principais meios  de  comunicação  distorcem  os  fatos  e  assumem  abertamente  o 

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combate a esse processo democrático. Eles percebem, talvez por instinto de  classe,  que  o  orçamento  participativo  é  um  instrumento  de protagonizou  do  nosso  povo  para  a  formulação  ampliada  da socialização da política; é o surgimento de estruturas que  levam à  luta pela  hegemonia  democrático‐popular,  sinalizando  a  superação  da sociedade de exploração, apontando para a possibilidade de criação de uma sociedade autogestionária, humanista, democrática e  libertária – a sociedade socialista. (DUTRA, 2001, p.12)  

  Com  essas práticas da  aristocracia, que  tenta manipular  e controlar a população através de seus veículos de comunicação, ela não  tenta  acabar  apenas  com  o  orçamento  participativo,  mas também  com a participação popular dos  conselhos municipais de saúde  consolidados  no  processo  de  municipalização  solidária;  a Constituinte  Escolar,  os  comitês  de  gerenciamento  das  bacias hidrográficas  e  os  diversos  canais  de  participação  popular  em processo de construção ou de aperfeiçoamento em todas as áreas da esfera pública referenciam um projeto efetivamente democrático no Rio  Grande  do  Sul,  em  que  o  ser  humano  é  o  centro  e  o protagonista  das  políticas  de  governo.  (DUTRA,  2001).  Com  a população  ocupando  esses  espaços,  fica  difícil  a  aristocracia conseguir manter  o  seu  poder  e  a  sua  hegemonia. O  orçamento participativo  não  fabrica  dinheiro, mas  fabrica  uma  coisa muito especial,  o protagonismo,  a  cidadania,  e  a  critica.  Isso  aumenta  a cobrança sobre o governo, mas também as propostas alternativas, já que um número crescente de pessoas se dispões a pensar, a discutir e produzir politicas.  

Outro  ponto  que  considero muito  importante,  tanto  na  reflexão mais histórica  e  acadêmica  como  na  observação  das  práticas  concretas  da democracia direta, é que o orçamento participativo e as demais  formas de democracia direta nos  levam a perceber com clareza a superação da velha dissociação, da velha dicotomia, entre o Estado e a sociedade civil, vigente até hoje  tanto  entre  liberais  como  entre antiliberais. O que diz Olívio? Que o  importante no orçamento participativo é à  força de uma cultura nova que exige o controle público sobre o Estado. E aí ele diz, e eu  reforço:  isso  significa dizer não ao Estado mínimo, mas  também ao Estado  que  pretende  ser  maior  do  que  a  sociedade.  Assim,  com  a vigência dessas  formas de democracia direta  ocorre uma  abolição das fronteiras rígidas e  tradicionais entre Estado e sociedade civil. Quando me  refiro ao  controle público  sobre o Estado, estou pensando  também 

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em uma via de mão dupla: controle público da cidadania sobre o Estado e a obrigação do Estado prestar contas. Às vezes, vejo com certa  ironia meus  colegas  tucanos,  acadêmicos,  que  insistem  muito  na  tal  de accountability, ou  seja, a obrigação do governo de prestar  contas. E  são justamente  os  governos  que  eles  apoiam  que  não  prestam  contas  à sociedade,  não  se  sentem  responsáveis  perante  o  povo,  nem  no Executivo nem na  instância de poder na qual estão  inseridos. (DUTRA, 2001, p.26) 

   Ao  ocupar  essas  lacunas  no  espaço  publico  a  população, principalmente  com  o  orçamento  participativo,  obriga  seus representantes políticos  a prestar  contas do que  esta  acontecendo dentro da gestão de seu mandato no cargo público. Essa atividade sem a participação da população era desempenhada pelo governo com forme lhe era favorável, ou seja, o estado exercia um domínio sobre a população, mas com a participação popular na vida publica a  população  exercendo  o  seu  direito  de  cidadania,  passa  a  ter  o controle sobre o estado e o estado sobre a cidadania. Através de sua organização  pelo  viés,  orçamento  participativo,  não  se  omite  da sociedade informações, pelo contrário, as informações são passadas com  clareza,  fazendo  cumprir  também  outra  exigência  que  é  a socialização dos resultados. Os que participam das assembleias têm o  direito  de  participar  também  da  discussão  e  da  avaliação  dos resultados. (DUTRA, 2001). O papel que o orçamento participativo desempenha, deveria se refletir dentro dos partidos políticos, para entender  as diferentes  realidades  que  as  regiões  do  Brasil  têm,  e fazer  com  que  essas  realidades  se  reflitam  em  melhorias,  em conversas  com a população, para que os direitos democráticos de todos sejam atendidos. 

 É preciso  ter  claro,  contrariando velhas  crenças, que o partido não é a vanguarda. O partido  tem de permitir a  independência da opinião e o pluralismo  da  participação,  como  bem  lembrou  o  Olívio,  e  também respeitar  as particularidades  locais  e  regionais.  Isso  num país  como  o nosso,  com  uma  diversidade  política,  social,  econômica  e  cultural  tão grande  e  tão  rica,  deve  ser  um  ponto  da  nossa  especial  preocupação. (DUTRA, 2001, p29) 

   Visto  isso, é necessário que os partidos políticos  faça uma 

aproximação  com  a  população,  para  que  sejam  discutidos 

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problemas  de  ordens  públicas,  fazendo  uma  interação  com governantes e governado.   Esse exercício de interação que deveria ser  desempenhado  pelos  partidos  políticos,  contribuiria  para  o entendimento  politico  das  particularidades  especificas  de  cada região,  permitindo  a  resolução  de    demandas  apontadas  pela população,  com  melhores  planejamentos  e  aproveitamento  do dinheiro público.  Conclusão    O  trabalho  foi  uma  clara  visão  do  quanto  é  complexa  e contraditória  essa  burocratização  dos  movimentos  sociais  como uma  forma  de  luta  dentro  do  orçamento  participativo. Compreendendo  tanto  as  relações  ambíguas  com  relação  ao governo, afinal a idéia de orçamento participativo está ligada a uma parceria com o governo, para contribuir com uma melhor aplicação de  recursos dentro da  sociedade,  como  também  as  reivindicações sociais e relações nas quais a população enquanto um movimento social,  dentro  de  um  processo  associativo,  estabelecendo  uma disputa  de  poder;  pleiteando  recursos,  enquanto  uma  esfera deliberativa, transitando dentro de um espaço institucional e social.    Os movimentos  sociais  dentro  deste  processo  associativo, ainda que bastante burocratizados e  limitados, consistem em uma forma  de  emancipação  social,  que  visa  buscar  melhorias  para sociedade.  Esses  novos  movimentos  sociais  ligados  ao  processo associativo, possibilitam novos patamares políticos dentro de uma democracia participativa, que busca discutir e planejar melhorias e uma melhor aplicabilidade dos recursos públicos. 

O orçamento participativo não é uma coisa mágica que irá solucionar todos os problemas da democracia, ainda está  longe de ser suficientemente bem implantado em diversos estados do Brasil, nesse momento o orçamento participativo é uma experiência a nível regional, que pode  levar certo tempo para disseminar em todas as regiões  do  Brasil,  esse  processo  ainda  encontra‐se  em  fase  de aperfeiçoamento.  Por  ele  passam  a  questão  da  participação,  da representação,  do  controle  público  sobre  o  Estado,  do 

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protagonismo,  que  torna  as  pessoas  construtoras  da  mudança, sujeitos  e  não  objetos  da  política.  (DUTRA,  2001).  O  orçamento participativo  como  citamos  anteriormente  não  é  algo  tido  como certo, que irá resolver as lacunas da democracia, mas no momento é o melhor mecanismo democrático que temos, levando  as pessoas a exercerem seus direitos, participando da vida pública.  

O  orçamento  participativo  revitaliza  a  ética  política, afrontando com uma maré de corrupção que assombra e revolta os brasileiros.  A  democratização  da  politica  através  do  OP  é  uma grande  oportunidade  da  população  de  se  entrelaçar  com  a  vida pública, de desmitificar  a politica  como  algo  sujo  e desonesto. O processo  de  democratização  da  politica  não  pode  passar  nesse momento  sem  o  Orçamento  Participativo.  O  papel  da  O.P  é  de compartilhar  responsabilidades, através da participação popular e da  aceitação  de  decisões,  num  processo  educativo.  (BRANDÃO, 2003).  Somente  com  uma  politica  de  participações  é  que  a comunidade  poderá    tornar‐se  uma  sociedade  ativa  na  gestão pública, fortificando suas relações e suas ações contra as armadilhas das  ‘raposas  felpudas’ da politica. O povo, sem os vícios da velha política,  das  velhas  raposas  ‘felpudas’  da  política,  começa  a perceber como é bom fazer politica, que é gostoso, que vale a pena, que é um caminho, que não é coisa suja não. (BRANDÃO, 2003). 

O  exercício  da  democracia  dentro  do  orçamento participativo faz com que o convívio e a organização social pautado na  cidadania,  tenha,  uma  melhora  significativa,  criando  na população  um  respeito  mútuo  que  supera  o  individualismo, atingindo uma emancipação popular, autônoma e consciente.     REFERÊNCIAS  ABERS, Rebecca. Movimentos sociais na teoria e na Prática: como estudar o ativismo através Da fronteira entre Estado e sociedade? Sociologias, Porto Alegre, ano 13, nº 28, p. 52‐84, set./dez. 2011. 

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ALMEIDA. Carla Cecília Rodrigues. O marco discursivo da participação solidaria e a redefinição da questão social: construção democrática e lutas políticas no Brasil. Campinas, 2006. BRANDÃO, Elias. Orçamento participativo:  avanços,  limites  e desafios. Maringá: Massoni, 2003. DUTRA,  Olívio.  Orçamento  participativo  e  socialismo.  São  Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001. FEDOZZI, Luciano. Esfera Publica e cidadania: a experiência do orçamento participativo  de  Porto  Alegre,  Ensaios  Fee,  Porto  Alegre,v.19,n.2,p236‐271,1998. GOHN, Maria da Glória. Abordagens teóricas no estudo dos Movimentos sociais na América latina. Caderno CRH, Salvador, v. 21, n. 54, p. 439‐455, set./dez. 2008. ROSSI, Olinto. Orçamento participativo  e  a  formação para  a  cidadania, Rio de Janeiro, 2002. SÁNCHEZ,  Félix,  Orçamento  participativo:  teoria  e  pratica.  São  Paulo: Cortez, 2002. SCHERER‐WARREN, Ilse. Redes de movimentos sociais na América latina caminhos para uma política emancipatória? Caderno CRH, Salvador, v. 21, n. 54, p. 505‐517, set./dez. 2008. 

        

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   II.         

EDUCAÇÃO:  CONHECIMENTO, INCLUSÃO  

E PRÁTICAS SOCIAIS 

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“EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E SOCIEDADE” E “EDUCAÇÃO MATEMÁTICA CRÍTICA”: CONVERGÊNCIAS OU 

DESAPROXIMAÇÕES  

Douglas Gonçalves da Silva   Introdução    No  início  do  ano  de  dois  mil  e  doze,  foi  submetido  ao parecer  técnico  da  seleção  de  bolsas  do  curso  de  pós‐graduação stricto  sensu, mestrado  em  Educação Matemática  de  determinada Universidade,  o  projeto  de  pesquisa/dissertação  intitulado  “O ensino de  frações na perspectiva marxiana: possibilidades para Educação Matemática”, cujo resumo era: 

 A essência desta pesquisa é provocativa, a reflexão filosófica direcionada ao  rompimento  do  modelo  tradicional  e  técnico,  consolidado  pelo pensamento  paradigmático  de  ensino  de  Matemática  técnico  e tradicional prevalecente na atualidade, conduz todo o processo. A ideia é,  depois  de  analisar  o  pensamento  marxiano  (em  suas  diferentes vertentes), o conteúdo matemático de  frações e as considerações acerca da Educação Matemática, materializar o processo de  ensino permeado por  todo  esse  raciocínio,  para  isso,  serão  fundamentos  teóricos  do trabalho, os pensamentos de Karl Marx, Althusser, Max Weber, Émile Durkheim entre outros escritores da Educação Matemática. A pesquisa se configura como qualitativa e bibliográfica. Nos resultados pretende‐se observar  o  diferencial  em  oferecer,  no  momento  da  aprendizagem, conhecimento  acerca  dos  condicionantes  sociais  a  fim  de  oferecer elementos  do  conteúdo  condizentes  com  as  possibilidades  de aprendizagem,  contribuindo  assim  para  a  legitimação  da  Educação Matemática  enquanto  movimento  revolucionário  do  ensino  de matemática. 

 Serão resguardados os nomes do autor, do orientador, bem 

como da Universidade vinculada a este fato, por essas informações não serem relevantes para o desenvolvimento do raciocínio exposto nas linhas seguintes.  

O  projeto  em  questão  obteve  o  seguinte  resultado  como resposta do parecer: 

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   O  Candidato  tem  bastante  experiência  profissional,  tanto  como 

professor,  como  coordenador.  Entretanto,  sua  vivência  prática  (não apresenta  relação  com  a  pesquisa)  não  está  ajudando  no amadurecimento da pesquisa. Assim,  supõe‐se que o  candidato vá  ter dificuldades no enfrentamento do problema. O resumo do candidato não está claro, nem apresenta as informações 

importantes  sobre  a  questão  e  a  condução  da  pesquisa,  tais  como  os procedimentos metodológicos. No trecho abaixo, tem‐se a idéia de que o candidato  pretende  apresentar  uma  proposta  de  ensino  de  frações. Porém na leitura do projeto, percebe‐se que não haverá tal proposta. “A  ideia  é,  depois  de  analisar  o  pensamento  marxiano  (em  suas 

diferentes  vertentes),  o  conteúdo  matemático  de  frações  e  as considerações acerca da Educação Matemática, materializar o processo de ensino permeado por todo esse raciocínio,...” Pelo o que é possível entender, os objetivos são puramente teóricos, e 

fogem  do  que  é  apresentado  como  objeto  de  análise  –  o  ensino  de frações. Os objetivos não são coerentes com os referenciais teóricos. Apesar  dos  autores  apontados  na  revisão  de  literatura  serem 

relevantes para o estudo, não será possível, dentro do prazo, conhecer o pensamento de todos com profundidade suficiente para a realização da pesquisa. Além  disso,  outros  autores mais  acessíveis  e  pertinentes  ao assunto não  foram citados. Seria  interessante dialogar com Skovsmose, por  exemplo, ou outro  autor do Movimento da Matemática Crítica. O candidato não apresentou um aporte metodológico condizente com seus objetivos, aliás, nem poderia, pois seus objetivos não estão claros. O  tema da pesquisa proposta é  relevante e a proposta de  fazer uma 

revisão  bibliográfica  também.  Porém  não  fica  claro  a  relação  entre  o objeto  “ensino  de  frações”  e  o  estudo  sobre  a  Educação Matemática numa perspectiva marxista. Recomenda‐se  uma  revisão  de  metas  e  estabelecer  um  novo 

cronograma, pois dentro do apresentado, o projeto não é exequível.  Com isso, surgiu a ideia de reflexão acerca do ocorrido, no 

momento em que o erro por parte dos pareceristas avaliadores do projeto  em  questão  foi  percebido,  assim,  a  referida  reflexão  se formalizará em  forma de produção acadêmica, especificamente na materialização deste trabalho4. 

                                                            4   Seu  o  objetivo  é  tentar  esclarecer  o  ocorrido  na má  interpretação  do projeto  de  pesquisa.  É  importante  esclarecer  que  as  especificidades políticas  e  burocráticas  envolvidas  no  processo  da  análise  do  projeto, como a classificação para bolsa, não nos interessa, ou seja, não é esperado 

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As  reflexões  relativas ao  fato  serãopautadas nas qu estões teóricas explicitadas no parecer e no projeto, constituindo assim o objetivo deste trabalho. As ideias de marxismo e as diferenças entre “Educação Matemática  e  Sociedade”  e  “Educação Matemática  Crítica” serão discutidas com o intuito de esclarecimentos. 

A princípio é necessário que algumas considerações sejam feitas acerca da  ideia de Tendências em Educação Matemática, no entanto, para isto é também necessário que se estabeleçam reflexões sobre  a  concepção  de  Educação  Matemática,  o  que  permitirá  a percepção de  indícios que podem contribuir para o entendimento de todo esse raciocínio.  

Os  pensamentos  das  Filosofias  “Moderna  e  Pós‐moderna” serão visitados e rebuscados com o intuito de entender ainda mais o  direcionamento  teórico  da  Educação  Matemática  Crítica, entendendo esse exercício necessário pelo fato de que no parecer é sugerido que o projeto seja inserido neste âmbito. 

A Pedagogia Histórico‐crítica será elencada com a intenção de desvelar o porquê de seu enfoque no projeto, entendendo seus fundamentos  filosóficos  marxistas  contributivos  para  o desenvolvimento da pesquisa. 

Serão  fundamentos  teóricos  deste  artigo,  os  pensamentos de autores da Educação Matemática como Ole Skovsmose, Adriana Cesar  Mattos,  Marcelo  Batarce,  Luiz  Carlos  Paes,  Ubiratan D’Ambrosio,  Lúcia  Moysés,  entre  outros,  bem  como  ideias  de autores da Filosofia e da História, como Marilena Chaui, Gilberto Cotrim, Mirna Fernandes e da Educação, como Dermeval Saviani e Newton Duarte. 

Como  resultado  pretende‐se  substanciar  as  ideias  de Tendências  em  Educação  Matemática,  Educação  Matemática  e Sociedade e Educação Matemática Crítica, a fim de esclarecimentos teórico‐reflexivos oportunos. 

   

                                                                                                                            que nenhuma atitude de reavaliação do projeto ou de reclassificação do mesmo seja considerada. 

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1. Resposta ao Parecer do Projeto    Como  já  foi dito acima, o objetivo desta discussão não é o de  reivindicar  nova  análise  do  projeto  ou  reposicionamento  da classificação do processo de bolsas, e sim o de refletir teoricamente acerca  das  afirmações  incisivas  expressas  no  parecer,  com  esse intuito  o  autor  do  projeto  e  deste  artigo  elaborou  a  seguinte resposta que foi encaminhada para os pareceristas: 

   O  intuito desta resposta não é em definitivo questionar a  idoneidade 

deste  conselho,  ainda  menos  colocar  em  dúvida  a  capacidade  de discernimento e abstração do pareceristas  responsáveis pela análise do projeto, no entanto é importante para este pesquisador e candidato, que algumas  questões,  que  tomaram  caráter  incisivo  e  irrevogável,  sejam esclarecidas. “O  Candidato  tem  bastante  experiência  profissional,  tanto  como 

professor,  como  coordenador.  Entretanto,  sua  vivência  prática  (não apresenta  relação  com  a  pesquisa)  não  está  ajudando  no amadurecimento da pesquisa. Assim, supõe‐se que o candidato vá ter dificuldades no enfrentamento do problema.” No  parágrafo  destacado,  o  parecer  afirma  que  o  candidato,  em  sua 

vivência  prática,  não  apresenta  relação  com  a  pesquisa,  o  que  denota  uma afirmação incisiva acerca de um fato que, olhado com cautela, configura‐se como precipitada, tendo em vista a proximidade do candidato com a área da Educação. Deve‐se  considerar  que  grande parte dos  trabalhos desenvolvidos  pelo  candidato,  como  pesquisador,  coordenador  e professor,  se  fundamentam  na  Pedagogia  Histórico‐crítica,  idealizada por Dermeval  Saviani  e  consubstanciada  por  autores  de  destaque  no marxismo,  como  Newton  Duarte,  Guiomar  Namo  de  Mello,  Paolo Nosella,  entre  outros.  A  Pedagogia  histórico‐crítica  toma  como contribuição fundamental o pensamento de Karl Marx (Saviani 2005, p. 147)5. Com  isso,  entende‐se  que  o  candidato  tem  leitura  e  experiência, 

suficientes  para  propor  análise  do  pensamento  marxista  nas perspectivas humanista  (elencada por Dermeval  Saviani na Pedagogia Histórico‐crítica) e anti‐humanista (a ser investigada), bem como refletir acerca de situações como a descrita pelo projeto. O resumo do candidato não está claro, nem apresenta as informações 

importantes  sobre a questão e a  condução da pesquisa,  tais  como os procedimentos metodológicos. No trecho abaixo, tem‐se a idéia de que 

                                                            5   Neste artigo, esta citação deve ser lida como ‐ Saviani 2005a, p. 147. 

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o  candidato pretende apresentar uma proposta de ensino de  frações. Porém na leitura do projeto, percebe‐se que não haverá tal proposta.  “A  ideia  é,  depois  de  analisar  o  pensamento  marxiano  (em  suas 

diferentes  vertentes),  o  conteúdo  matemático  de  frações  e  as considerações acerca da Educação Matemática, materializar o processo de ensino permeado por todo esse raciocínio,...” “Pelo o que é possível entender, os objetivos são puramente teóricos, 

e  fogem do que é apresentado  como objeto de análise – o ensino de frações. Os objetivos não são coerentes com os referenciais teóricos.” Nas  ideias  expostas  acima  e  extraídas  do  Parecer,  percebe‐se  que  o 

âmago do projeto não foi captado, talvez pelo fato de as  ideias tiverem sido  expostas  com  clareza  ou  ainda  não  tenham  correspondido  às expectativas dos pareceristas.  É  importante destacar que o objeto de  estudo do projeto  em voga  é 

ensino de  frações  em uma perspectiva marxiana  e que Materializar o processo de  ensino permeado por  todo  esse  raciocínio  significa  refletir acerca  do  pensamento  marxista  ou  marxiano  e  o  ensino  de  frações, constituindo  ou  não  um  processo  de  emancipação,  ou  seja,  a materialização é a própria reflexão proposta, o que nos obriga talvez a, filosoficamente, amadurecer o conceito de “material”.  O candidato entende que esta pesquisa  tem caráter  investigatório, de 

esclarecer  pensamentos  e  levantar  questionamentos,  em  nenhum momento o projeto sugeriu propor Teoria e ou Metodologias.     “Apesar  dos  autores  apontados  na  revisão  de  literatura  serem 

relevantes para o estudo, não será possível, dentro do prazo, conhecer o pensamento de todos com profundidade suficiente para a realização da pesquisa. Além disso, outros autores mais acessíveis e pertinentes ao  assunto  não  foram  citados.  Seria  interessante  dialogar  com Skovsmose,  por  exemplo,  ou  outro  autor  do  Movimento  da Matemática  Crítica.  O  candidato  não  apresentou  um  aporte metodológico condizente com seus objetivos, aliás, nem poderia, pois seus objetivos não estão claros.” Os prazos estabelecidos para a execução da pesquisa foram pensados 

tomando  como  referência  o  fato  de  que  grande  parte  dos  autores mencionados faz parte do aporte teórico do candidato‐pesquisador, com isso, cabe a ele, a leitura e análises dos autores componentes da vertente anti‐humanista do pensamento marxista, o que  também  justifica o  fato de  não  buscar  em  outros  autores  humanistas  a  revisão  de  literatura pretendida, como o caso do autor humanista sugerido Skovsmose. “O tema da pesquisa proposta é relevante e a proposta de fazer uma 

revisão bibliográfica  também. Porém não  fica  claro a  relação entre o objeto  “ensino  de  frações”  e  o  estudo  sobre  a Educação Matemática numa perspectiva marxista.” “Recomenda‐se  uma  revisão  de  metas  e  estabelecer  um  novo 

cronograma, pois dentro do apresentado, o projeto não é exequível”. 

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A  relevância  da  pesquisa  revigora‐se  na  necessidade  de  legitimar  e ampliar  o  movimento  da  Educação  Matemática  como  campo  de pesquisa  num  exercício  de  preenchimento  das  lacunas  deixadas  pelos campos de pesquisa da Educação e da Matemática ao analisar e refletir os  problemas  do  ensino  de  matemática  presentes  na  atualidade  em nosso país. Este  candidato  agradece  as  críticas  e  as  toma  como  apontamentos 

pertinentes para o melhoramento das  ideias envolvidas e expressas no projeto de pesquisa.  

    Com  base  nesta  resposta,  daremos  início  à  discussão refletindo acerca da teoria pedagogia “Pedagogia Histórico‐crítica”, fundamento do projeto analisado pelo parecer.  2. Pedagogia Histórico‐Crítica 

 O  surgimento  da  Pedagogia Histórico‐Crítica  se  deu  por 

volta das décadas de 1970 e 1980, por conta da emergência de um movimento pedagógico no qual era constante a crítica em torno das especificidades  da  educação.  De  acordo  com  seu  idealizador, Dermeval Saviani: 

 À educação, na medida em que é uma mediação no seio da prática social global, cabe possibilitar que as novas gerações incorporem os elementos herdados  de  modo  que  se  tornem  agentes  ativos  no  processo  de desenvolvimento e transformação das relações sociais. (2005b, p.143) 

 Consonante  ao  cenário  político  em  que  se  discutiam  os 

limites da dominação burguesa  e à  responsabilidade da  educação enquanto reprodutora ou não das diferenças de classes, destacava‐se  a  importância  de  uma  teoria  pedagógica  que  evidenciasse  e defendesse os interesses das classes menos favorecidas: 

 Considerando‐se  que  a  classe  dominante  não  tem  interesse  na transformação histórica da  escola  (ela  está  empenhada na preservação de seu domínio, portanto, apenas acionará mecanismo de adaptação que evitem  a  transformação)  segue‐se que uma  teoria  crítica  (que não  seja reprodutivista) só poderá ser formulada do ponto de vista dos interesses dos dominados. (SAVIANI, 2005a, p.30) 

 

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A  teorização da educação em  torno da então  luta contra a seletividade e a dominação por meio da escola toma forma e lança‐se mão de  uma  ideologia  a  favor do proletariado,  adequando  os métodos de ensino à realidade desniveladora do capitalismo: 

 Do  ponto  de  vista  prático,  trata‐se  de  retomar  vigorosamente  a  luta contra a  seletividade, a discriminação  e o  rebaixamento do  ensino das camadas  populares.  Lutar  contra  a marginalidade  por meio  da  escola significa engajar‐se no esforço para garantir aos trabalhadores um ensino da melhor  qualidade nas  condições históricas  atuais. O papel de uma teoria crítica da educação é dar substância concreta a essa bandeira de luta  de  modo  a  evitar  que  ela  seja  apropriada  e  articulada  com  os interesses dominantes. (SAVIANI, 2005a, p.31) 

 A Pedagogia Histórico‐Crítica emerge no seio do criticismo, 

no  momento  historicamente  conturbado  dos  movimentos estudantis que ocasionaram a revolução política brasileira de 1968 e se consolida por estar em frequente sintonia com os problemas de aprendizagem  e  sócio‐políticos.  A  partir  desse  momento,  as referências teóricas da Pedagogia Histórico‐Crítica são observáveis e  outros  autores  brasileiros  como Guiomar Namo de Mello,  João Luiz  Gasparin,  José  Carlos  Libâneo,  Suze  Scalcon  entre  outros, contribuem    com  o  acervo  de  Saviani.  Libâneo  em  seu  livro “Democratização da Escola Pública” usa a terminologia “Pedagogia Crítico‐Social  dos  Conteúdos”  por  enfatizar  os  conteúdos  no confronto  da  prática  social  inicial  e  a  apropriação  de  uma  nova prática social, dessa vez final, ou seja, da síncrese à síntese:  

 Aprender, dentro da visão da pedagogia dos conteúdos é desenvolver a capacidade  de  processar  informações  e  lidar  com  os  estímulos  do ambiente,  organizando  os  dados  disponíveis  da  experiência.  Em conseqüência,  admiti‐se o princípio da  aprendizagem  significativa que supõe,  como  passo  inicial,  verificar  aquilo  que  o  aluno  já  sabe.  O professor precisa saber (compreender) o que os alunos dizem ou fazem, o  aluno  precisa  compreender  o  que  o  professor  procura  dizer‐lhe. A transferência de  aprendizagem  se dá  a partir do momento da  síntese, isto é, quando o aluno supera sua visão parcial e confusa e adquire uma visão mais clara e unificadora. (LIBÂNEO, 2003, p.42) 

 Em  suma,  essa  teoria  pedagógica  preconiza  o 

desenvolvimento de um processo educativo como um equalizador 

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social  eficaz  e  nos  direciona  a  uma  concepção  de  educação  que coloca  em  primeiro  plano  a  igualdade  de  oportunidades  e  a constante reflexão de que em qualquer gesto na prática educativa se oculta  uma  ideologia,  muitas  vezes  formada  pelos  interesses dominantes. 

As concepções de indivíduo, coletividade, interação social e dialética  são  derivadas  da  obra  de  Karl  Marx  e  Vigotski.  A concepção de  formação do  indivíduo,  sua  capacidade de adquirir conhecimento por meio da  interação  com  o mundo material  e  as relações de força do trabalho e de produção, contribuem no estudo de Dermeval Saviani para a concretização de uma teoria que fosse crítica  por  analisar  de  forma  contraposta  (dialética)  o  sistema capitalista vigente, questionando a funcionalidade da educação.  

Esta é a maior conotação marxista da Pedagogia Histórico‐crítica, o que derruba a tese exposta no parecer de que alguém que desenvolva  trabalho  nesta  perspectiva  não  possui  condições teóricas para estudar o marxismo. 

Ainda  mais,  entendida  a  ideia  expressa  na  teoria  de Saviani, corrobora‐se o porquê de seu enfoque no projeto, uma vez que  seus  fundamentos  filosóficos  são marxistas  e vigotiskianos  (é conhecido  o  fato  de  que  Vigotski  desenvolveu  sua  teoria,  a Psicologia Histórico‐cultural,  sob  a  égide do pensamento de Karl Marx (MOYSÉS, 2007)).  

No  parecer  apresentado  acima,  foi  recomendado  que  o projeto  fosse  desenvolvido  no  âmbito  da  Educação  Matemática Crítica,  talvez  por  mera  semelhança  de  nomenclaturas  com  a Pedagogia Histórico‐crítica,  o  que  nos  leva  a  um  erro  hediondo, pois mesmo apresentando a palavra “crítica” em seu nome, a teoria pedagógica não apresenta em  seu  corpo nenhuma  ligação  com as teorias criticas desenvolvidas na Escola de Frankfurt6.    

                                                            6   Esclarecimentos maiores acerca da Escola de Frankfurt serão explicitados ao longo deste texto. 

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3.  Refletindo  acerca  da  ideia  de  tendências  em  Educação Matemática e seus objetivos 

 A  definição  da  ideia  de  Tendências  em  Educação 

Matemática e seus objetos de estudos é um tema bastante polêmico e que abarca diferentes representações. Abaixo observa‐se algumas delas: 

Do pensamento de Pais destaca‐se:  

A  educação Matemática  é  uma  grande  área  de  pesquisa  educacional, cujo objetivo de estudo é a compreensão,  interpretação e descrição dos fenômenos  referentes  ao  ensino  e  à  aprendizagem da matemática, nos diversos níveis da  escolaridade, quer  seja  em  sua dimensão  teórica ou prática. Além dessa definição ampla, a expressão educação matemática pode  ser  ainda  entendida  no  plano  da  prática  pedagógica,  conduzida pelos  desafios  do  cotidiano  escolar.  Sua  consolidação  como  área  de pesquisa  é  relativamente  recente,  quando  comparada  com  a  histórica milenar  da matemática  e  o  seu  desenvolvimento  recebeu  um  grande impulso, nas últimas décadas, dando origem a várias  tendências  teóricas (estamos  utilizando  a  expressão  tendência  teórica  para  representar  a existência  de  um  certo  coletivo  de  pesquisadores  em  educação matemática,  que  compartilha  de  um  mesmo  referencial  teórico.  Por exemplo:  etnomatemática;  psicologia  cognitiva  da  matemática; modelagem  matemática;  história  da  matemática,  didática  da matemática,  entre  vários  outros.)  cada  qual  valorizando  determinadas temáticas educacionais do ensino da matemática, no Brasil destacamos neste  trabalho,  a  didática  da  matemática  que  se  caracteriza  pela influência  de  autores  franceses.  Esta  diferenciação,  entre  educação matemática e didática da matemática é necessária, pois não se trata apenas de  um  problema  de  tradução,  uma  vez  que  na  França,  esta  ultima expressão  é  usada  para  representar  a  própria  área  de  pesquisa educacional  da  matemática.  Daí  nossa  preocupação  em  esclarecer  o significado  da  nomenclatura  em  relação  ao  contexto  educacional brasileiro, onde, além disso, a expressão didática da matemática pode ser confundida com a disciplina pedagógica de didática aplicada ao ensino da matemática.  [...] A didática da matemática é uma das  tendências da grande área de educação matemática, cujo objeto de estudo é a elaboração de conceitos e teorias que sejam compatíveis com a especificidade educacional do saber educacional  matemático,  procurando  manter  fortes  vínculos  com  a formação  de  conceitos  matemáticos,  tanto  em  nível  experimental  da prática pedagógica,  como  no  território  teórico da pesquisa  acadêmica. (Pais 2002, p. 10‐11) 

 

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O  fragmento  destacado  acima  ilustra  a  imensa  gama  de possibilidades  para  a Educação Matemática,  permitindo  pesquisa formais  e  informais  no  exercício  do  ensino  de  matemática,  no entanto, pelo que é conhecido da Educação Matemática, há também as pesquisas que não têm o propósito de investigar especificamente o processo de  ensino  e  aprendizagem,  a Didática da Matemática, como  Pais  nos  disse  de  forma  bastante  clara,  se  preocupa  em desenvolver  o  conhecimento matemático,  isto  também  ocorre  em outras áreas da Educação Matemática, como a História da Educação Matemática, por exemplo.  

Acompanhando  a  ideia  de  Lucia  Moysés  parafraseando Ubiratan D’Ambrosio, observa‐se:  

 Considerada como uma área autônoma de pesquisa em educação, pode‐se afirmar que a educação matemática é um campo em franca expansão em  níveis  internacionais.  Congrega  em  torno  de  si  um  grupo  de pesquisadores ativos e participantes, que fazem um intenso trabalho de produção e divulgação do conhecimento: promovem eventos, publicam periódicos, mantém cursos de pós‐graduação etc. No Brasil, há cerca de 20 anos, há um crescente movimento em seu redor (D’AMBROSIO  1990,  1993).  E  a  psicologia  é  a  principal  área  do conhecimento,  além  da  própria  matemática,  a  contribuir  para  a  sua evolução (Brito 1993). Estudos sobre cognição e organização intelectual e social  do  conhecimento  estão  no  cerne  das  suas  pesquisas.  (MOYSÉS, 2007, p. 62‐63) 

   Deste  pensamento  abstrai‐se  que  a  Educação Matemática está  em  expansão  e  que  a  ligação  entre  outras  áreas de  pesquisa contribuem para sua consolidação, é o caso específico da Psicologia, que vem  ao  longo dos  anos possibilitando diversas pesquisas  em diferentes  conotações,  inclusive  formatando  subárea  dentro  da Educação  Matemática,  conhecida  como  Psicologia  da  Educação Matemática.    Acerca da Tendência em Educação Matemática “Educação Matemática Crítica”,  do  pensamento  de Ole  Skovsmose,  pode‐se dizer que é explícita a defesa da superação dos  ideais do período histórico da modernidade, os quais serão esclarecidos no próximo tópico.  Nesta  ação,  Skovsmose  direciona  sua  teoria  para  o pensamento  da  pós‐modernidade,  mais  especificamente  dos 

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teóricos  da  Escola  de  Frankfurt,  que  a  grosso  modo,  podemos classificá‐los  como  teóricos  das  teorias  críticas.  Este  pensamento pode ser conferido no artigo “Critical Mathematics Education for the Future”, publicado nos anais do  ICME no ano de 2004  (o  link para consulta do mesmo encontra‐se nas referências).   O  fato  é  que,  sendo  a  Escola  de  Frankfurt,  o  produto  de estudos  que  levaram  em  conta  a  superação  dos  pressupostos  da modernidade  entre  eles  o  questionamento  da  razão  como possibilitadora  de  emancipação,  muitas  vezes  questionando  os pensamentos de Marx, Engels e Max Weber, pergunta‐se: Por que não  beber  nas  fontes  originais?  Por  que  não  estudar  as  teorias primeiras? Por que não buscar substâncias na própria modernidade para  tentar entender coisas que os  teóricos de Frankfurt explicam, muitas  vezes  contaminados  pela  obsessão  de  fixar  na  história  o período da pós‐modernidade?   Para  Newton  Duarte,  engendrado  pela  filosofia  de Marilena  Chauí,  o  período  histórico  da  pós‐modernidade  é  tão nebuloso quanto detentor dos ideais neoliberalistas. “O termo pós‐moderno é, sem dúvida, difícil de ser definido, assim como é difícil delimitar de forma precisa o campo teórico abarcado por esse termo (DUARTE, 2006, p. 76)”. A esse respeito diz mais:   

Marilena  Chauí,  em  artigo  intitulado  “Vocação  Científica  da Universidade”,  também  reforça  a  concepção  de  que  neoliberalismo  e pós‐modernismo são partes de uma mesma realidade social ao afirmar que  o  pós‐modernismo  é  a  ideologia  do modelo  neoliberal  (CHAUI, 1993, p. 23, citado por DUARTE, 2006, p. 76) 

   No  artigo  “Mathematics  education  and  democracy”, publicado  pela ZDM  no  ano  de  2010, Adriana Mattos  e Marcelo Batarce  promovem  pertinente  discussão  acerca  da  Tendência  em Educação  Matemática  “Educação  Matemática  e  Sociedade”, principalmente no que  tange  a  ingenuidade  com que  a Educação Matemática pode dispensar ao processo educativo desconsiderando a dominação imposta pelo capitalismo. 

 [...] devemos dizer que nos parece que  tenha  sido pouco notado pelos educadores  matemáticos  e  pesquisadores  em  história  da  educação matemática  a  filiação  (pertencimento)  político‐ideológica  da  educação 

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matemática. No entanto, se por um  lado  educação matemática  e  sociedade pode ser pensada como sendo a mais apta para fazer uma crítica sobre esta  questão,  também  é  verdade  que  por  meio  de  conceitos  como inclusão  e multiculturalismo  a  crítica  se  sustenta  em  um  sentimento idealista  de  democracia  e  de  ʺeducação  para  todosʺ.  (BATARCE  e MATTOS, 2010) 

   Ainda mais, os autores esclarecem que a matemática pode não ser elemento de garantias para emancipação, o que coloca em divergência  teórica  os  pensamentos  da  Tendência  em  Educação Matemática  Educação  Matemática  Crítica  e  Educação  Matemática  e Sociedade.   Educação Matemática e Sociedade, por não estar vinculada ao pensamento pós‐moderno e a Escola de Frankfurt, dispensa maior criticidade ao trato com as questões sociais, colocando em dúvida o questionamento  de  que  o  conhecimento,  entre  eles  o matemático pode não ser garantia de emancipação.   4. Modernidade, Pós‐Modernidade e Escola de Frankfurt 

 O período histórico compreendido aproximadamente entre 

os séculos XV e XVIII7 denota‐se como Modernidade, e foi berço de mudanças  significativas  para  todo  pensamento  científico  das ciências exatas, matemática e física, e das humanas, como a filosofia e a sociologia.   Ideias como a revalorização do ser humano e da natureza, questionamentos sobre os critérios e métodos para a elaboração de um conhecimento verdadeiro, passagem da organização econômica da  sociedade  baseada  no  Feudalismo  para  o  Capitalismo,  a formação  dos  Estados  Nacionais,  o  Movimento  da  Reforma (abandono  da  submissão  das  ciências  aos  desígnios  da  igreja católica), a invenção da imprensa e o racionalismo foram os pontos marcantes  deste  período.  O  Empirismo8  e  o  Iluminismo9  foram 

                                                            7   Existe  na  delimitação  deste  período  uma  variação  muito  grande  de pensamentos, o que nos permite fixar esta média. 

8    Corrente Filosófica ocorrente entre os séculos XVII ao XVIII onde havia a  defesa  de  que  o  conhecimento  parte  da  experiência;  Incidência  da 

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movimentos filosófico‐científicos contribuintes para a mudança do pensamento  dogmático  herdado  do  período  medieval,  também conhecido  historicamente  como  idade  das  trevas.  (COTRIM  e FERNANDES, 2010).   A respeito da  pós‐modernidade, pode‐se afirmar que existe uma  grande  divergência  de  ideias,  que  reside  desde  sua delimitação  cronológica  (séculos  XIX  ao  XXI)  até  seus  limites teóricos.  Suas  características  principais,  segundo  Cotrim  e                                                                                                                             continuidade  dos  debates  levantados  nos  séculos  anteriores  acerca  da elaboração  de  um  conhecimento  verdadeiro  (racionalismo,  empirismo, ideias inatas‐ defendidas por Platão na Filosofia Antiga, Santo Agostinho na Medieval e Descartes na Filosofia Moderna); Os Pensadores de maior destaque deste período são: Descartes (penso logo existo – racionalismo – teoria do conhecimento – ideias inatas), Francis Bacon (racionalismo, base da ciência moderna), Thomas Hobbes  (influências de Bacon e Galileu – ciência  dos  corpos),  John  Locke  (tabula  rasa,  crítica  ao  inatismo  de Descartes), George Berkeley (idealismo imaterialista – empirista radical – experiências  e percepções)  e David Hume  (crítico do método  indutivo) (Cotrim e Fernandes, 2010). 

9   Corrente Filosófica também ocorrente entre os séculos XVII ao XVIII na qual surgiu a Revolução  Industrial e com ela a  ideia de progresso; Para alguns  (Lucien Godmann – 1913; 1979) as  ideias  iluministas  (igualdade, tolerância,  liberdade  e  propriedade  privada)  defendiam  os  interesse burgueses de atividade comercial e influenciaram os ideais fundamentos da  Revolução  Francesa;  Entre  os  principais  pensadores  iluministas, destaca‐se: Montesquieu  (jurista  francês,  pensador  da  leis,  defendia  a liberdade  individual),  Voltaire  (acreditava  na  necessidade  social  da existência  de  DEUS,  defendia  a  liberdade  de  pensamento);  Diderot  e D’Alembert  ( defendiam o racionalismo, a  independência do Estado em relação a igreja e a confiança no progresso humano), Rousseau (crítico do excessos  racionalistas, precursor do Romantismo, defensor da  liberdade do  estado  natural,  defensor  da  ideias  bases  da  revolução  francesa, defensor  do  bem  comum  e  da  vontade  geral  do  povo  –  escritor  do clássico Contrato Social), Adam Smith (teórico do liberalismo econômico, idealizador do  jogo livre da oferta e da procura de mercado), Immanuel Kant  (iluminismo alemão, o ser humano deve guiar‐se pela sua própria razão  ‐  sem  se  deixar  enganar‐se  pelas  crenças,  tradições  e  opiniões alheias,  defendeu  o  problema  do  conhecimento  e  do  ato  de  conhecer) (COTRIM E FERNANDES, 2010). 

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Fernandes,  são  o  fim do projeto da modernidade  que defendia  a ideia  de  emancipação  provinda  da  razão,  essa  ideia  vem  da constatação, por alguns pensadores, dos problemas sociais atuais, a identificação do fenômeno da assimilação do individuo ao sistema, isto  é,  a  capitalização  e  narcotização  das  consciências  (Adorno  e Horkheimer) a desesperança de que a razão tecnocientífica favoreça a  emancipação  humana  e  o  abandono  da  visão  de  totalidade preconizada  pelo  pensamento  moderno,  valorizando  as pluralidades culturais e as diferenças.   Os  pensadores  de  maior  destaque  desse  período  foram Foucault  (autor  da  genealogia  do  poder,  dos  mecanismos  de dominação, do controle social e punição),   Derrida (conhecido por desconstruir  a  ideia de  razão  e  criar  a  ideia de que  toda  filosofia ocidental  partilha  da  ideia  de  centro  –  o  logocentrismo  )  e  Baudrillard  (dono  da  ideia  de  que  não  existe  possibilidade  de, dentro  dos  modos  de  produção  atuais  e  do  modelo  econômico imposto por ele  ‐ o capitalismo, que cidadãos  livres, conscientes e emancipados  coexistam  ‐  à  lógica  do  capital,  a  menos  que  seja extirpada qualquer hipótese de dominação cultural e ideológica).   A  Escola  de  Frankfurt  é  o  nome  dado  ao  grupo  de pensadores  alemães do  Instituto de Pesquisa  Social de  Frankfurt, fundado na década de 1920  (COTRIM E FERNANDES, 2010),  tem como herança a  ideia de que em seu bojo  foram criadas as  teorias criticas,  cuja  intenção  era  criar  mecanismos  de  mapeamento  e superação  das  diferenças  sociais.  São  pontos  de  partida  para  os frankfurtianos  a  teoria  marxista,  a  psicanálise  e  também  os pensamentos de Hegel, Kant e Max Weber.    Entre  os  pensadores  de  Frankfurt,  estão  Adorno  e Horkheimer (que defendem a tese de que o iluminismo criou uma razão controladora em função do progresso social que ao invés de emancipar as pessoas,  dominou‐as em função do mercado, e que a razão  foi  contaminada  pelos  ideias  capitalistas  contaminando  as consciências  do  proletariado),  Walter  Benjamin  (que  defende  a cultura e as artes como elementos contributivos para emancipação política do individuo), Hebert Marcuse (lança mão da repressão dos instintos para o desenvolvimento, retoma esta que é uma das teses 

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de FREUD) e  Habermas (último racionalista, discorda de Adorno e Horkheimer defendendo a  ideia de que a razão é propiciadora de emancipação,  aponta  que  a  filosofia  da  pós‐modernidade  é irracionalista, propõe um novo modelo de razão, a razão dialógica que provém do diálogo e da argumentação, e que a mesma surge da ação comunicativa).   Em meio  às  atribulações  causadas  pelo  pós‐modernismo, destaca‐se  o  pensamento  contemporâneo,  que  de  acordo  com alguns filósofos e historiadores, entre eles Cotrim e Fernandes, é a era de  incertezas, mesclando pensamentos de  filósofos  confiantes na  razão,  cientistas  entusiasmados  com  o  progresso  tecnológico, capitalistas  radiantes  com  a  expansão  da  indústria,  românticos vibrando com a valorização da pátria e dos sentimentos nacionais e dos socialistas pregando o socialismo.    Ademais, Freud com a Psicanálise, colocando em dúvida a hegemonia  da  razão  nos  assuntos  humanos  a  crise  nas  ciências iniciado  por  Freud,  Einstein  e  Heisenberg  e  a  presença  das Filosofias  Existencialistas  (conjunto  de  tendências  filosóficas distintas,  que  embora  divergentes,  tem  na  existência  humana  o ponto  de  partida  e  o  objeto  fundamental  de  reflexões)  e  da Fenomenologia  (investigação  das  experiências  conscientes  ‐ fenômenos).   O  Idealismo  Alemão  ,  que  tem  início  do  século  XVIII, apresenta uma doutrina idealista que se configura quando o sujeito é determinante no processo de construção do conhecimento e não o contrário  (objeto),  retomando  o  pensamento  de    Platão  (Filosofia Antiga), Descartes e Kant (Filosofia Moderna).   Tem como pensadores  Johan Gottlieb Ficht  (tomou o “eu” de Kant – a existência do sujeito  (eu) como centro do processo de conhecer  e  transformou‐o  em  princípio  de  toda  a  realidade), Friedrich  Schelling  (discordou  de  Ficth  no  sentido  de  existe  um único princípio, a inteligência, exterior ao próprio eu que rege todas as  coisas),  Friedrich Hegel  (ícone  deste  período,  defendia  que  a realidade identifica‐se em absoluto com o espírito – ideia ou razão, e  a  racionalidade  seria  o  princípio  de  tudo,  dialética),    Ludwig Feurbach (crítico de Hegel, base do pensamente de Marx, dizia que 

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a filosofia deve partir do concreto), Arthur Schopenhauer (crítico de Hegel, adepto à filosofia da existência, entendia que o ser humano seria essencialmente vontade, conhecido como filósofo pessimista ), Sören Kierkegaard (analisou os problemas da relação existencial do ser humano com o mundo, consigo mesmo e com Deus), Karl Marx (critico do  idealismo hegeliano, defendia que a  filosofia não se dá no mundo das  ideias e  sim nas condições materiais de existência, estudou os modos de produção, as lutas de classes, e a dialética) e por  fim, mas não menos  importante, Nietzsche  (promoveu  critica profunda  e  impiedosa  à  civilização ocidental    e dissertou  sobre o valor da existência humana). 

 5. Acerca do Marxismo 

 No  clássico  “Manifesto do Partido Comunista”, Engels  e 

Marx expõem os objetivos vislumbrados pelos comunistas e lançam mão  de  uma  série  de  ideias  que  materializam  o  pensamento marxista  como  argumentos  para  manter  acesa  a  chama  da  luta revolucionária do proletariado contra a burguesia.   Os  autores  fortalecem  o  pensamento  de  que  a  burguesia moderna  é  o  resultado  histórico  das  revoluções  no  processo  de produção e como consequências a instauração de uma organização social  do  trabalho  diferente,  fundamentada  na  nova  ordem econômica, o  capitalismo. A essa nova ordem social  instituída pela burguesia é atribuída uma gama de inversão dos valores humanos, desde  o  conceito  de  família,  ao  de  liberdade  e  trabalho,  ou  seja, nessa ordem das coisas a única lógica mediadora do pensamento e ação humana é a do capital.   

O movimento proletário  é o movimento  independente da imensa maioria em proveito da imensa maioria (MARX & ENGELS, 2006,  p.  96).  Nessas  palavras  os  autores  expressam  toda  sua indignação  às  mazelas  acometidas  pela  classe  dominante ratificando o  fato de que a  revolução promovida pelo comunismo beneficiará grande número de pessoas. 

Marx  e  Engels  explicam  que:  “O  que  caracteriza  o comunismo  não  é  a  abolição  da  propriedade  em  geral,  mas  a 

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abolição  da  propriedade  burguesa.  [...]  Nesse  sentido,  os comunistas podem resumir sua teoria nesta fórmula única: abolição da  propriedade  privada”  (MARX  &  ENGELS,  2006,  p.  99).  Esse pensamento  aliado  ao  reconhecimento  da  classe operária/proletariado  ‐  como  classe  revolucionária  capaz  de subverter a ordem  social econômica vigente pela  classe burguesa, ideias distorcidas do comunismo são disseminadas pela burguesia com  o  intuito  de  calar  ou  interromper  a  revolução,  que  se  torna cada vez mais eminente.  

A ideologia imposta pela burguesia ao proletariado vela os fatos de tal forma que submete os conceitos de liberdade, verdade e moral aos interesses capitalistas, tornando‐os regras morais e parte da conduta humana orientada pela  lógica desumana do  lucro: “A falsa concepção interesseira que vos leva a erigir em leis eternas da natureza e da razão as relações sociais oriundas do vosso modo de produção e de prosperidade” (MARX & ENGELS, 2006, p. 102). 

A  revolução/transformação  da  sociedade,  segundo  o pensamento marxista é possível e real desde que haja a mobilização consciente do proletariado,  ou  seja,  é necessário que  esta  classe  ‐ única  com  potencial  para  tal  feito  ‐  perceba  e  desbanque  as armadilhas  impostas por seus  inimigos. A educação tem relevante contribuição  para  a  instauração  de  um  modelo  socialista  de sociedade, é por meio dela que o desvelar pode  ter  início. Sobre a educação, Marx e Engels nos diz: “Os comunistas não  inventaram essa intromissão da sociedade na escola, apenas mudam seu caráter e arrancam a educação à influência da classe dominante” (MARX & ENGELS, 2006, p. 102). 

Ainda  fazendo  referência  à  dominação  intelectual proporcionada  pelo  capitalismo  e  pela  necessidade  de conscientização  da  parte  do  proletariado,  os  autores  propõem  a seguinte  reflexão:  “Será  preciso  grande  perspicácia  para compreender  que  as  idéias,  as  noções  e  as  concepções,  numa palavra, a  consciência do homem  se modifica  com  cada mudança em  suas  condições  de  vida,  em  suas  relações  sociais,  em  sua existência social?” (MARX & ENGELS, 2006, p. 104). 

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Diante do exposto, é clara a necessidade de emancipação da classe dominada, e nos resta a dúvida se esse movimento se dará ou não por meio do conhecimento. O certo é que, de acordo com Marx e Engels, “A revolução comunista é a ruptura mais radical com as relações  tradicionais  de  propriedade;  não  é  de  se  estranhar, portanto, que no  curso de  seu desenvolvimento  rompa, de modo mais radical, com as ideias tradicionais”  (MARX & ENGELS, 2006, p.  105‐106)  tornando  material  o  movimento  histórico  de transformação da sociedade.  Considerações finais 

 Do  pensamento  de  Marx  abstraem‐se  inúmeras 

interpretações,  fazendo  valer  o  ditado  do  senso  comum  “O marxismo  é  para Marx  o  que  o  cristianismo  foi  para Cristo”,  no entanto não há  como negar  sua profundidade  cientifica  e  teórica, matriz de debates atuais acerca das condições materiais de vida. 

Do exposto neste artigo, fica a dúvida, será o conhecimento condição  necessária  e/ou  suficiente  para  emancipação  do individuo? No  entanto  esse  é  um  problema  a  ser  investigado  e estudado em outras oportunidades por este pesquisador. 

É forte a ideia das diferenças de pensamentos e da vaidade que envolve a academia (produtora de conhecimento), constituindo assim,  grande  diversidade  de  teorias,  no  entanto,  qualquer  ideia que  leve em conta apenas argumentos prevalecentes da  luta entre egos,  cai  por  terra  ao  confrontar‐se  com  argumentos  teóricos sólidos. 

Esse  pensamento  comprovou‐se  ao  perceber  que  existem divergências  entre  os  pensamentos  das  Tendências  em  Educação Matemática  “Educação  Matemática  Crítica”  e  “Educação Matemática e Sociedade” no que  tange ao comprometimento com as questões sociais e o trato com o conhecimento. 

A  aproximação  ou  instauração  da  “Educação Matemática Crítica” no âmbito da Escola de Frankfurt e dos pós‐modernistas, cerceia  a  possibilidade  de  vislumbrar  horizontes  fixados  pelos modernistas. 

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A grande questão é que não se sabe ao certo o que é pós‐modernidade,  no  entanto  emitir  conceitos  incisivos  acerca  de teorias tão sólidas e cristalizadas é no mínimo arriscado. 

Quanto  ao  projeto  analisado  pelo  parecer,  é  importante esclarecer que o mesmo  serviu de álibi para que  essas discussões fossem levantadas. Os erros hediondos emitidos pelos pareceristas só  comprovaram  a  tese  de  que  ideias  provenientes  do  ego  não suportam argumentos teóricos sólidos.  

A fragilidade do parecer  tornou‐se explicita na tentativa de aproximar  o  projeto  da    Tendência  Educação Matemática Crítica por mera aproximação da palavra  crítica, que  também aparece na teoria Pedagogia Histórico‐crítica, de fundo marxista. 

Nas palavras finais, pode‐se buscar em Marx a ideia de que a revolução é necessária para a melhoria da qualidade de vida dos que sofrem, vinda de onde vier, seja por meio da educação formal (conhecimento  escolar  acumulado  pela  cultura,  como  dizem  os humanistas)  ou  por  meio  da  militância  e  da  educação  das consciências do proletariado (como esperam os anti‐humanistas). 

   

REFERÊNCIAS  BATARCE,  Marcelo  Salles;  MATTOS,  Adriana  César  de.  Mathematics education  and  democracy.  Disponível  em:    <http://www.springerlink. com/content/m873228584277u77 >.  Acesso em: 30 abr. 2012.  COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2010. D’AMBROSIO, Ubiratan. Educação Matemática: da teoria à prática. 8. ed. Campinas‐ SP: Papirus, 2001. DUARTE, Newton; OLIVEIRA, Betty A. Socialização do Saber escolar. 17. ed. São Paulo: Autores Associados, 1987. DUARTE,  Newton.  Vigotski  e  o  “Aprender  a  Aprender”  –  crítica  às apropriações  neoliberais  e  pós‐modernas  da  Teoria  Vigostskiana.  4.  ed. Campinas‐SP: Autores Associados, 2006. LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola – Teoria e Prática. 4. ed. Goiânia: Alternativa, 2003.  

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MARX,  Karl  Heinrich;  ENGELS,  Friedrich.  Manifesto  do  Partido Comunista. 10. ed. São Paulo: Global, 2006. MOYSÉS, Lucia. Aplicações de Vygotsky à Educação Matemática. 8. ed. Campinas‐ SP: Papirus, 2007. PAIS,  Luiz  Carlos.  Didática  da Matemática:  uma  análise  da  influência francesa. Belo  Horizonte‐MG: Autêntica, 2001. SAVIANI, Dermeval Pedagogia histórico‐crítica: primeiras aproximações. 9. ed. Campinas‐SP: Autores Associados, 2005a.  ______.  Escola  e Democracia.  37.  ed. Campinas‐SP: Autores Associados, 2005b. SKOVSMOSE,  Ole.  Critical  mathematics  education  for  the  future. Disponível  em:  <http://www.icme10.dk/proceedings/pages/regular_pdf/ RL_Ole_Skovsmose.pdf> Acesso em: 30 abr. 2012. 

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ESTADO DO CONHECIMENTO SOBRE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA REGIÃO CENTRO‐OESTE DO BRASIL EM TESES E DISSERTAÇÕES DA ÁREA DA EDUCAÇÃO (2000‐

2010)  

Doracina Aparecida de Castro Araujo  Edinéia da Silva Freitas  

Raquel Marques Ribeiro dos Santos   

Esses estudos são justificados por possibilitarem uma visão geral do que vem sendo produzido na área e uma ordenação que permite aos interessados perceberem a 

evolução das pesquisas na área, bem como suas características e foco, além de identificar as lacunas 

ainda existentes. Norma Sandra de Almeida Ferreira, 2002. 

  

Introdução  A  Educação  Especial  tem  sido  objeto  de  estudos  desde 

meados  do  século  XX,  inicialmente  de  forma  incipiente,  sem divulgação e com pouco conhecimento científico. Com o passar dos anos,  a  preocupação  com  o  Público Alvo    da  Educação  Especial (PAEE)  foi  aumentando,  paradigmas  não  foram  totalmente superados, mas outros foram se apresentando nesse cenário.  

Os  defensores  do  Paradigma  da  Institucionalização,  que entendiam  que  a  pessoa  com deficiência deveria  ser  ‘tratada’  em locais afastados do convívio  familiar e social, viram chegar outras possibilidades  para  esse  público  da  Educação  Especial,  iniciando um  processo  de  aproximação  das  pessoas  com  deficiência  das escolas comuns, em salas especiais, com vistas a normalizá‐las para depois inseri‐las no convívio com os ditos “normais”. Desta forma chegou‐se  ao  Paradigma  de  Serviços  ou  Integração,  iniciado  na década de 1960, com pouco tempo de hegemonia.  

Estudiosos  de  diferentes  esferas,  internacional  e  nacional, após a década de 80 do século XX,  iniciam a defesa do Paradigma de  Suportes  ou  Inclusão.  É  possível  identificar  dentre  esses 

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estudiosos, uns que defendem a inclusão total de todo Público Alvo da  Educação  Especial  (PAEE);  outros  de  uma  corrente  mais moderada  que  defendem  a  impossibilidade  de  algumas  pessoas com deficiência frequentarem o espaço escolar.  

A discussão em torno da inclusão total ou parcial da pessoa com  deficiência  em  escolas  comuns  tem  tomado  diversas proporções,  principalmente  no  campo  político,  com  lobbies  em diferentes momentos e situações. O agravante é que a pessoa com deficiência  sequer  participa  de  tais  discussões,  não  dão  fala  ao principal agente da discussão.  

Nesse  diapasão  é  que  buscamos,  por meio  do  Estado  do Conhecimento  sobre  Educação  Especial,  verificar  as  pesquisas realizadas  em  Programas  de  Pós‐Graduação  em  Educação  na Região  Centro‐Oeste  do  Brasil,  de  2000  a  2010,  a  fim  de compreendermos o que se tem pesquisado sobre Educação Especial e, dessa  forma,  contribuirmos para  a  ampliação de  estudos  neste tema.  Para  tanto,  definimos  como  objetivo  identificar  a  evolução das  pesquisas,  a  tendência  teórica  dos  pesquisadores  e  o  tipo  de Necessidade  Educacional  Especial  (NEE)  mais  pesquisados  nos Programas de Pós‐Graduação em Educação da Região Centro‐Oeste (2000 a 2010), sobre a temática Educação Especial e Inclusiva. 

Os  teóricos clássicos e os estudiosos da temática Educação Especial que fundamentam os estudos dos pesquisadores das teses e  dissertações  são  diversos,  com  preponderância  para  Vygotsky, Marx, Piaget, Peto, Kassar e Mantoan. Esses teóricos clássicos e os pesquisadores contemporâneos da temática Educação Especial têm apresentado alternativas para melhor compreensão da deficiência. 

A  partir  da  definição  por  um  aporte  teórico  crítico,  da intenção  em  se  atingir  os  objetivos  é  que  buscamos  responder  a algumas questões do  estudo,  a  saber:  as pesquisas  realizadas nos programas de pós‐graduação em Educação da Região Centro‐Oeste contemplaram o  tema Educação Especial? Qual  foi a  categoria de necessidade  educacional  especial mais pesquisada nos programas de pós‐graduação em educação nessa região? Quais os teóricos que subsidiaram  os  estudos  dos  pesquisadores  com maior  frequência nas  dissertações  e  teses?  Como  estão  sendo  catalogados  esses 

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estudos nas universidades? Existe um banco de dados organizado por categorias, para facilitar a socialização dessas produções?    Para  responder  às  questões  definimos  por  um  ciclo metodológico de pesquisa, que não se fechou e não se fechará, pois as  pesquisas  sobre  o  Estado  do  Conhecimento  de  um  tema específico deve ser contínuo, observando as categorias de pesquisa e os períodos dos estudos, favorecendo a continuação da pesquisa por outros pesquisadores ou pelo mesmo pesquisador.  1. Ciclo metodológico da pesquisa  

 A  abordagem  definida  para  a  pesquisa  foi  a Qualitativa, 

com  a  utilização  de  dados  quantitativos  por  considerarmos  que esses dados não  são oponentes,  ao  contrário,  se  completam nesse tipo de estudo.  

A  Abordagem  Qualitativa  é  relevante  em  pesquisas  do Estado do Conhecimento, evitando que o pesquisador fique apenas na apresentação de dados quantitativos.  Consideramos que estudos sobre  o  Estado  do  Conhecimento  também  devem  ser  tratados  com rigor científico e de forma exploratória, para contribuir com a evolução da  Ciência  sobre  determinado  tema,  nesta  pesquisa,  a  temática Educação Especial.  

 Essa  compreensão  do  estado  de  conhecimento  sobre  um  tema,  em determinado momento, é necessária no processo de evolução da ciência, afim  de  que  se  ordene  periodicamente  o  conjunto  de  informações  e resultados  já  obtidos,  ordenação  que  permita  indicação  das possibilidades de  integração de diferentes perspectivas  aparentemente autônomas,  a  identificação  de  duplicações  ou  contradições,  e  a determinação  de  lacunas  e  vieses.  (FERREIRA,  2002,  p.  3,  grifo  dos autores). 

 O  ciclo  da  pesquisa  foi  iniciado  com  o  levantamento  e 

revisão bibliográfica sobre Educação Especial, Inclusão Escolar e as teorias  que  embasaram  os  estudiosos  da  área.  Em  seguida, realizamos  o  levantamento  online  das  teses  e  dissertações defendidas  nos  Programas  de  Pós‐Graduação  em  Educação  da região Centro‐Oeste, observando cada estado da região, a partir da 

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criação  de  cada  Programa.  Dando  prosseguimento  à  pesquisa, fomos  a  campo  (utilizando  uma  ficha/roteiro  das  categorias elencadas), momento em que selecionamos o material constante nos arquivos  das  Universidades  e,  a  seguir,  completamos  com  os materiais  disponibilizados  nas  páginas  das  bibliotecas  das Universidades e nos sites de domínio público. 

Na  sequência,  verificamos  os  tipos  de  Necessidades Especiais  (NE),  mais  pesquisados  nas  teses  e  dissertações,  no período  de  2000  a  2010.  Depois  identificamos  os  teóricos  e pesquisadores mais  presentes,  que  subsidiaram  os  pesquisadores na análise do objeto de estudo.  

Para finalizar a pesquisa nos Programas de Pós‐Graduação na  região  Centro‐Oeste,  analisamos  os  dados  à  luz  de  teóricos críticos  os  quais  buscam  alternativas  para  uma  educação  de qualidade, envolvendo  todos,  independente de etnia, classe social, gênero, deficiência, entre outros tipos de diversidades. 

Os dados desta pesquisa estão  sendo organizados em um banco de dados,  em que a  equipe de pesquisadores,  estudantes  e colaboradores  fazem  um  acompanhamento  dos  resultados  das dissertações e  teses  inseridas no banco de dados. Esses  resultados também  vêm  sendo  apresentados  aos  participantes  da  linha  de pesquisa Educação Escolar  Inclusiva, no decorrer das  reuniões da linha  de  pesquisa,  em  eventos  científicos  e  na  publicação  de capítulo de livro. 

A pesquisa está findando, mas consideramos que os dados levantados podem ser utilizados por outros pesquisadores, com um olhar diferenciado, que contribuirá com análise de outro lugar, em outro tempo, dando novo sentido aos dados levantados.  2. Resultados e discussão dos dados da pesquisa 

 Um  projeto  de  pesquisa  científica  que  tem  como  fito 

compreender os avanços do conhecimento sobre Educação Especial na Região Centro‐Oeste do Brasil, com período delimitado de 2000 a 2010, observando o período de criação dos programas de pós‐graduação em Educação, a partir da análise de teses e dissertações, deve considerar a 

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possibilidade de se analisar o material  levantado, pois quando existe um  grande quantitativo de material, há que  se  fazer um  recorte no tempo e/ou no espaço, evitando análises superficiais.  

O  quantitativo  de  teses  e  dissertações  da  região  Centro‐Oeste  sobre  a  temática  Educação  Especial  não  é  vasto, mas  para responder  a  todas  as  questões  definidas  no  projeto,  esse quantitativo  ganha  uma  proporção  maior,  considerando  a abordagem Qualitativa  da  pesquisa,  em  que  a  interpretação  dos dados pelos pesquisadores passa a ser preponderante em relação à subjetividade. 

Em  relação  ao  quantitativo  de  Programas,  que  tem  como retorno o quantitativo de  teses  e dissertações, a  região Centro‐Oeste está à frente apenas da região Norte do Brasil, considerando o período do recorte do estudo (2000 a 2010). Já em relação aos Estados da região Centro‐Oeste, identifica‐se certa paridade, apenas Mato Grosso do Sul aparece  com  um  maior  número  de  Programas  de  Pós‐Graduação, conforme FIG. 01. Os dados têm sofrido alterações constantes, com a política  da  CAPES  de  ampliar  a  oferta  de  Programas  de  Pós‐Graduação em regiões do País com menor quantitativo de Programas. Tal política da CAPES pode  ser  constatada  em  todos os Estados da região  Centro‐Oeste,  a  saber:  MS:  01  mestrado  profissional,  cinco mestrados  acadêmicos  e  dois  doutorados;  MT:  03  mestrados acadêmicos  e  um  doutorado;  GO:  04  mestrados  acadêmicos  e  02 doutorados; DF: 01 mestrado profissional, 02 mestrados acadêmicos e 02 doutorados, conforme FIG. 02.  FIG 01: Quantitativo de Programas  de Pós‐Graduação em Educação  da Região Centro‐Oeste.                             2011     2013 Me. Profis.            01         02                Me. Acadêm.       12         14 Doutorado           07         07  Fonte: Coordenação de Aperfeiçoamento  de Pessoal de Nível Superior (CAPES). 

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FIG 02: Quantitativo de Programas de Pós‐Graduação em Educação por estado da Região Centro‐Oeste. 

                       2011    2013 MT        03        04 DF         03        03 GO        02        04 MS        05         06 

  

               

  Fonte: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). 

 As figuras 01 e 02 apresentam a evolução dos Programas de 

Pós‐Graduação em Educação em dois anos, na região Centro‐Oeste (2011  a  2013). No  entanto,  essa  expansão  ainda  não  é  suficiente, considerando  a    populaçãodessa  região    e  a  demanda  verificada principalmente no quantitativo de professores da Educação Básica, que em casos isolados não têm sequer especialização. 

Como  são  poucos  os  Programas  de  Pós‐Graduação  em Educação  na Região Centro‐Oeste,  com  alguns  reconhecidos  pela CAPES  após  2011,  entende‐se  o  pequeno  quantitativo  de  teses  e dissertações  inseridas  nos  bancos  de  dados  desses  programas, principalmente em relação à temática Educação Especial, que é um tema que vem suscitando  interesse dos pesquisadores nos últimos anos. 

Assumimos  que  existe  um  esforço  coletivo  na  busca  de alternativas para  implementar  a política de  expansão da  inclusão escolar  de  alunos  com  deficiência  no  ensino  regular.  Essas alternativas  têm  enfrentado  muitas  dificuldades,  considerando forças  oponentes  e  com  interesses  distintos  que  se  afastam  e afastam as pessoas com NE dessas discussões, não  incentivando a participação dos principais  interessados  nas decisões. É  relevante que tenhamos  

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 clareza de que, em si mesmos, o embate crítico ao ideário inclusivista e a denúncia  de  sua  filiação  aos  objetivos  reprodutivistas  do  capital  não bastam,  embora  este  seja  passo  importante  e  até  decisivo  para  a transformação  social  e  escolar,  como  defendido  anteriormente.  Nesse sentido,  pensamos  que,  sendo  as  ilusões  e  suas  cadeias  duramente combatidas,  por  meio  de  um  esforço  teórico  para  a  interpretação desmistificada do real, poderá desabrochar, pelas sendas da História, o desejo  pela  flor  viva,  vale  dizer,  pela  ação  humana  revolucionária (BEZERRA; ARAUJO, 2013, p. 585). 

 Os estudos sobre Educação Especial nas universidades do 

Brasil começam a ser ampliados gradativamente, pois  já é possível constatar  o  interesse, mesmo  que  tímido,  pela  temática  educação especial,  em  uma  perspectiva  inclusiva,  por  pesquisadores  de diferentes áreas o  conhecimento,  com maior volume de pesquisas concentrado  na  área  de  Humanas,  em  especial,  na  área  de Educação,  conforme  observamos  em  sites  de  universidades  e  de domínio público. 

Na  região  Centro‐Oeste,  levantamos  o  quantitativo  de trabalhos  que  vem  sendo  realizados  pelos  Programas  de  Pós‐Graduação  sobre  a  temática  Educação  Especial  e  Inclusiva.  Os Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do  Sul  e  o Distrito Federal  têm  contribuído  para  os  estudos  inerentes  à  temática, embora de forma reduzida, considerando o número de defesas em outras  áreas da Educação  e  o  número de defesas  ocorridas  entre 2000 e 2010 sobre Educação Especial e Inclusiva.  

Ao  analisarmos  as  dissertações  e  teses  da  região  Centro‐Oeste,  no  banco de  catalogação dessas  Instituições  e  nos  sites de domínio  público  é  que  definimos,  neste  artigo,  apresentar  os resultados  das  Instituições  que  oferecem  Programas  de  Pós‐Graduação  em  Educação  de  toda  a  Região  Centro‐Oeste, observando  as  instituições  de  ensino  superior  com  defesas  de dissertações e  teses, pois alguns Programas de Pós‐Graduação em Educação da UFG, campus de Catalão e Jataí; da UEMS, Unidade de Paranaíba e Campo Grande; da UFMT  campus de Rondonópolis e da UNEMAT, campus de Cáceres, foram criados após o período de recorte deste estudo, com início das atividades a partir de 2011.  

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A Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC/GO) e a Universidade Federal de Goiás (UFG), campus de Goiânia, oferecem mestrado  e  doutorado,  ambas  com  várias  defesas  anuais  sobre Educação e Educação Especial, conforme quadros 01 e 02. A UNB e a  UCB  oferecem  mestrado  e  doutorado,  sendo  que  a  primeira também  oferece  o  Mestrado  Profissional.  No  Estado  de  Mato Grosso do Sul, a UCDB e a UFMS oferecem mestrado e doutorado, a  UEMS,  UFGD  e  a  UFMS  do  Pantanal  oferecem  mestrado acadêmico,  e  a  UEMS/Campo  Grande  oferece  mestrado profissional.  Em  Mato  Grosso  eram  dois  mestrados  e  um doutorado, tendo sido ampliado para três mestrados e manteve um doutorado. 

No tocante às produções dos Programas de Pós‐Graduação da Região Centro‐Oeste,  observamos  que  o  quantitativo  de  teses apresentado  é  pequeno,  tal  fato  se  dá  porque  os  Programas  da Região Centro‐Oeste são novos e não ofertam doutorado. Já quanto às dissertações, esse quantitativo aumenta, no entanto, na área de Educação Especial, o quantitativo é baixo, principalmente em razão de    docentes  vinculados  a  grupos  de  estudos  e/ou  linhas  de pesquisas  ser  mínimo.  Tal  situação  começa  a  ser  alterada,  pois docentes  de  novos  programas  da  região  Centro‐Oeste  estão vinculados a linhas de pesquisas sobre Educação Especial. 

Os quadros  apresentados  sobre o quantitativo das  teses  e dissertações  dos  programas  de  Pós‐Graduação  em  Educação  da Região Centro‐Oeste deixam de  apresentar  alguns dados de  anos anteriores a 2005, considerando que não foi possível localizá‐los  in loco, na página dos programas e nos portais de domínio público. O breve  descritivo  feito  sobre  os  programas  é  para  facilitar  a compreensão dos períodos das defesas, assim como para verificar a evolução dos mesmos.  

O  Programa  de  Pós‐Graduação  em  Educação  da  PUC Goiás,  nível  de  Mestrado,  foi  implantado  em  1999,  sendo recomendado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES) em março de 2001, com decisão favorável ao  reconhecimento pelo Ministério da Educação/CNE. Em 2006, o 

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Programa  obteve  da  Capes  a  autorização  para  implantação  do Doutorado em Educação.    A  Área  de  Concentração  do  Programa  é  Educação  e Sociedade,  tendo  três Linhas de Pesquisa: Teorias da Educação  e Processos  Pedagógicos;  Estado,  Políticas  e  Instituições Educacionais;  e  Educação,  Sociedade  e  Cultura;  que  envolve dezenove  docentes  de  diferentes  grupos  de  estudos  e  linhas  de pesquisa (PUC‐GO, 2012).   A PUC/GO tem realizado um trabalho efetivo na formação de mestres  e doutores  em Educação na Região Centro‐Oeste. Em dez  anos  (fevereiro  de  2001  a  dezembro  de  2010)  ocorreram  167 defesas no Programa de mestrado  e  três defesas no Programa de doutorado, num cômputo de 170 defesas. Dessas 167 dissertações e três  teses,  dez  dissertações  são  sobre  a  temática  em  estudo  ‐ Educação  Especial  e  Inclusiva,  ou  seja,  5,88%  da  produção, conforme Quadro 01.   

Quadro 01: Defesas do Programa de Pós‐Graduação em Educação da PUC‐GO (2000‐ 2010) 

Dissertações  Dissertações em Educação Especial 

Teses  Teses em Educação Especial 

Ano  Quantidade  Ano  Quantidade Ano  Quantidade Ano  Quantidade2000  ‐  2000  ‐  2000  ‐  2000  ‐ 2001  12  2001  ‐  2001  ‐  2001  ‐ 2002  25  2002  ‐  2002  ‐  2002  ‐ 2003  13  2003  ‐  2003  ‐  2003  ‐ 2004  16  2004  02  2004  ‐  2004  ‐ 2005  24  2005  01  2005  ‐  2005  ‐ 2006  13  2006  03  2006  ‐  2006  ‐ 2007  21  2007  02  2007  ‐  2007  ‐ 2008  12  2008  01  2008  ‐  2008  ‐ 2009  03  2009  01  2009  ‐  2009  ‐ 2010  28  2010  ‐  2010  03  2010  ‐ Total  167  Total  10  Total  03  Total  0 

Fonte: Site do Programa de Pós‐Graduação em Educação da PUC‐GO.   

O  Programa  de  Pós‐Graduação  em  Educação  da UFG  de Goiás,  nível  de  Mestrado,  foi  implantado  em  1985,  sendo recomendado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior  (CAPES),  com  início das atividades  em  1986. No 

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ano  de  2002,  o  Programa  obteve  da  CAPES  a  autorização  para implantação do doutorado em Educação.  

O Programa oportuniza aos interessados pelo mestrado ou doutorado  quatro  Linhas  de  Pesquisa:  Educação,  Trabalho  e Movimentos  Sociais;  Estado  e  Políticas  Educacionais;  Cultura  e Processos Educacionais;  e Formação  e Profissionalização Docente. Desenvolvendo  orientações,  pesquisas  e  produção  intelectual,  a partir das  linhas de pesquisa, o Programa conta com 27 docentes, vinculados  a  diferentes  grupos  de  estudos  e  linhas  de  pesquisa (UFG, 2012).   A  UFG  tem  contribuído  com  a  formação  de  mestres  e doutores  da  Região  Centro‐Oeste.  Em  dez  anos,  289  discentes defenderam  suas  dissertações  de  mestrado  e  51  discentes defenderam suas teses de doutorado, num cômputo de 340 defesas no  Programa.  Dessas  340  dissertações  e  teses,  apenas  doze  são sobre a temática em estudo  ‐ Educação Especial e Inclusiva, sendo onze dissertações e uma tese, ou seja, 3,52%, conforme Quadro 02.  Quadro 02: Defesas do Programa de Pós‐Graduação em Educação 

da UFG (2000‐ 2010) Dissertações  Dissertações em 

Educação Especial Teses  Teses em 

Educação Especial 

Ano  Quantidade  Ano  Quantidade Ano  Quantidade Ano  Quantidade2000    32  2000  ‐  2000  ‐  2000  ‐ 2001  28  2001  ‐  2001  ‐  2001  ‐ 2002  43  2002  01  2002  ‐  2002  ‐ 2003  18  2003  01  2003  ‐  2003  ‐ 2004  27  2004  ‐  2004  01  2004  ‐ 2005  21  2005  01  2005  01  2005  ‐ 2006  22  2006  01  2006  09  2006  ‐ 2007  26  2007  03  2007  10  2007  ‐ 2008  35  2008  03  2008  09  2008  ‐ 2009  21  2009  01  2009  13  2009  ‐ 2010  16  2010  ‐  2010  08  2010  01 Total  289  Total  11  Total  51  Total  01 

Fonte: Site do Programa de Pós‐Graduação em Educação da UFG.   O Programa de Pós‐Graduação em Educação da UCB, nível 

de  Mestrado,  foi  recomendado  pela  Coordenação  de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES) em 1994, 

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com  decisão  favorável  ao  reconhecimento  pelo  Ministério  da Educação/CNE.  Em  2009,  o  Programa  obteve  da  Capes  a autorização  para  implantação  do  Doutorado  em  Educação. Considerando  o  período  de  implantação  e  primeiras  defesas,  o Programa não  tem nenhum  tese defendida no período delimitado para a pesquisa. (UCB, 2013). 

As  Áreas  de  Concentração  do  Programa  são  Política  e Administração  Educacional  e  Ensino‐aprendizagem  tendo  a primeira  área  de  concentração  uma  articulação  com  a  linha  de pesquisa Política, Gestão e Economia da Educação e a segunda área a  articulação  com  as  linhas  de  pesquisa  Dinâmica  Curricular  e Ensino‐Aprendizagem;  e  Educação,  Juventude,  Sociedade;  que envolve dezesseis docentes de diferentes grupos de estudos e linhas de pesquisa. (UCB, 2013). 

 Quadro 03: Defesas do Programa de Pós‐Graduação em Educação 

da UCB (2000‐ 2010) Dissertações  Dissertações em 

Educação Especial Teses  Teses em 

Educação Especial Ano  Quantidade  Ano  Quantidade  Ano  Quantidade  Ano  Quantidade 2000  ‐  2000  01  2000  ‐  2000  ‐ 2001  ‐  2001  01  2001  ‐  2001  ‐ 2002  01  2002  01  2002  ‐  2002  ‐ 2003  ‐  2003  01  2003  ‐  2003  ‐ 2004  19  2004  01  2004  ‐  2004  ‐ 2005  12  2005  02  2005  ‐  2005  ‐ 2006  19  2006  02  2006  ‐  2006  ‐ 2007  29  2007  ‐  2007  ‐  2007  ‐ 2008  35  2008  02  2008  ‐  2008  ‐ 2009  25  2009  ‐  2009  ‐  2009  ‐ 2010  27  2010  02  2010  ‐  2010  ‐ Total  167  Total  13  Total  ‐  Total  ‐ 

Fonte: Site do Programa de Pós‐Graduação em Educação da UCB‐DF.    A UCB, mesmo sendo uma IES Privada, tem contribuído na formação de em Educação na Região Centro‐Oeste. Em cinco anos, 2004  a  2010  ocorreram  166  defesas  no  Programa  de  mestrado. Dessas 166 dissertações, nove dissertações são sobre a temática em estudo ‐ Educação Especial e Inclusiva, ou seja, 5,42% da produção, conforme Quadro  03. Há  que  se  considerar  que  não  foi  possível levantar os dados completos de 2000 a 2003. 

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O Programa de Pós‐Graduação em Educação da UNB, nível de  Mestrado,  foi  recomendado  pela  Coordenação  de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES) em 1975 e o Doutorado foi recomendado em 1998. 

A  área  de  concentração  do  Programa  é  Educação  e  se articula com seis  linhas de pesquisas:  ‐ Políticas Públicas e Gestão da  Educação;  ‐ Escola,  Aprendizagem,  Ação  Pedagógica  e Subjetividade na Educação; ‐ Educação em Ciências e Matemática; ‐ Profissão Docente, Currículo e Avaliação; ‐ Educação Tecnologias e Comunicação;  ‐ Educação Ambiental  e Educação do Campo;  com 46  docentes  permanentes  e  nove  docentes  colaboradores  (UNB, 2013). 

A UNB  tem  realizado um  trabalho constante na  formação de mestres  e doutores  em Educação na Região Centro‐Oeste. Em cinco anos ocorreram 255 defesas no Programa de mestrado e 22 de doutorado.  Dessas  277  dissertações  e  teses,  onze  são  sobre  a temática em estudo ‐ Educação Especial e Inclusiva, ou seja, 3,97% da produção, conforme Quadro 04. 

 Quadro 04: Defesas do Programa de Pós‐Graduação em Educação 

da UNB (2000‐ 2010) Dissertações  Dissertações em 

Educação Especial Teses  Teses em 

Educação Especial 

Ano  Quantidade  Ano  Quantidade  Ano  Quantidade  Ano  Quantidade 2000  ‐  2000  ‐  2000    2000  ‐ 2001  ‐  2001  ‐  2001    2001  ‐ 2002  ‐  2002  01  2002    2002  ‐ 2003  ‐  2003  01  2003    2003  ‐ 2004  ‐  2004  ‐  2004    2004  ‐ 2005  01  2005  02  2005    2005  ‐ 2006  27  2006  02  2006  ‐  2006  ‐ 2007  55  2007  01  2007  ‐  2007  ‐ 2008  61  2008  05  2008  03  2008  ‐ 2009  76  2009  01  2009  13  2009  ‐ 2010  35  2010  02  2010  06  2010  ‐ Total  255  Total  15  Total  22  Total  ‐ 

Fonte: Site do Programa de Pós‐Graduação em Educação da UNB‐DF.  O  Programa  de  Pós‐Graduação  em  Educação  da 

Universidade Católica Dom Bosco, nível de Mestrado,  iniciou  seu 

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funcionamento em 1994. Em 2010, o Programa obteve da Capes a autorização para implantação do Doutorado em Educação.  

A Área de Concentração do Programa  é Educação,  tendo três Linhas de Pesquisa: ‐ Políticas Educacionais, Gestão da Escola e Formação Docente;    ‐ Práticas Pedagógicas e  suas Relações com a Formação  Docente;  ‐  Diversidade  Cultural  e  Educação  Indígena; que  envolve  treze docentes permanentes de diferentes  grupos de estudos e linhas de pesquisa (UCDB, 2013).  Quadro 05: Defesas do Programa de Pós‐Graduação em Educação 

da UCDB (2000‐ 2010) Dissertações  Dissertações em 

Educação Especial Teses  Teses em 

Educação Especial Ano  Quantidade  Ano  Quantidade Ano  Quantidade Ano  Quantidade

 2000  19  2000  03  2000  ‐  2000  ‐ 2001  ‐  2001  ‐  2001  ‐  2001  ‐ 2002  14  2002  ‐  2002  ‐  2002  ‐ 2003  18  2003  01  2003  ‐  2003  ‐ 2004  03  2004  ‐  2004  ‐  2004  ‐ 2005  19  2005  02  2005  ‐  2005  ‐ 2006  22  2006  01  2006  ‐  2006  ‐ 2007  24  2007      ‐  2007  ‐  2007  ‐ 2008  27  2008  01  2008  ‐  2008  ‐ 2009  26  2009  ‐  2009  ‐  2009  ‐ 2010  20  2010  01  2010  ‐  2010  ‐ Total  192  Total  09  Total  ‐  Total  ‐ 

Fonte: Site do Programa de Pós‐Graduação em Educação da UCDB‐MS. ‐    A UCDB,  IES Privada, desenvolve um  relevante papel na formação de mestres em Educação na Região Centro‐Oeste. Em dez anos ocorreram 192 defesas no mestrado. Dessas 192 dissertações, nove  são  sobre  a  temática  em  estudo  ‐  Educação  Especial  e Inclusiva, ou seja, 4,7% da produção, conforme Quadro 05. 

O  Programa  de  Pós‐Graduação  em  Educação  da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, nível de Mestrado, iniciou  seu  funcionamento  em 1988. Em 2004, o Programa obteve da  Capes  a  autorização  para  implantação  do  Doutorado  em Educação.  

A Área de Concentração do Programa  é Educação,  tendo cinco Linhas de Pesquisa: Educação e Trabalho, Ensino de Ciências 

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e Matemática;    História,  Políticas  e  Educação;  Escola,  Cultura  e Disciplinas  Escolares,  Educação,  Psicologia  e  Prática  Docente, contando com 23 docentes permanentes. 

 Quadro 06: Defesas do Programa de Pós‐Graduação em Educação 

da UFMS (2000‐ 2010) Dissertações  Dissertações em 

Educação Especial Teses  Teses em 

Educação Especial 

Ano  Quantidade  Ano  Quantidade Ano  Quantidade Ano  Quantidade 

2000  06  2000  01  2000  ‐  2000  ‐ 2001  15  2001  ‐  2001  ‐  2001  ‐ 2002  21  2002  01  2002  ‐  2002  ‐ 2003  23  2003  02  2003  ‐  2003  ‐ 2004  20  2004  02  2004  ‐  2004  ‐ 2005  31  2005  02  2005  ‐  2005  ‐ 2006  34  2006  05  2006  ‐  2006  ‐ 2007  23  2007  03  2007  ‐  2007  ‐ 2008  20  2008  04  2008  01  2008  ‐ 2009  23  2009  01  2009  09  2009  02 2010  17  2010  02  2010  10  2010  ‐ Total  233  Total  23  Total  20  Total  02 

Fonte: Site do Programa de Pós‐Graduação em Educação da UFMS.   

A UFMS tem realizado um trabalho efetivo na formação de mestres e doutores em Educação na Região Centro‐Oeste. Em dez anos  ocorreram  233  defesas  no  Programa  de  mestrado  e  vinte defesas  no  de  doutorado. Dessas  253  dissertações  e  teses,  25  são sobre a temática em estudo  ‐ Educação Especial, ou seja, 9,88% da produção, conforme Quadro 06. 

O Mestrado em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) foi o primeiro curso de Pós‐Graduação Stricto Sensu da  Universidade,  sendo  criado  em  1987,  com  início  da  primeira turma  em  1988. O  curso de Doutorado  iniciou  em  1994, mas  em 1996  recebeu  parecer  desfavorável  da  CAPES  para  seu funcionamento. O mesmo  foi novamente proposto pelo Conselho de Ensino e Pesquisa/UFMT, em 28 de  janeiro de 2008,  juntamente com  a  nova  proposta  do Mestrado  em  Educação,  pela Resolução 05/2008.  

Após  várias  e  sucessivas  alterações  ao  longo  dos  anos, definiu‐se  atualmente  pela  Área  de  Concentração  em  Educação, 

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com cinco Linhas de Pesquisa: ‐ Culturas escolares e Linguagens; ‐ Educação  em  Ciências  e  Educação  Matemática;  ‐  Organização Escolar,  Formação  e  Práticas  Pedagógicas;  ‐  Cultura, Memória  e Teorias  da  Educação;  ‐ Movimentos  Sociais,  Política  e  Educação Popular; contando com 29 docentes permanentes. 

A  UFMT  tem  se  destacado  na  formação  de  mestres  em Educação  na  Região  Centro‐Oeste.  Em  dez  anos  ocorreram  508 defesas  no  Programa  de mestrado  e  oito  defesas  no  doutorado, considerando que o doutorado iniciou, mas não obteve autorização pela Capes para seu funcionamento, tendo sido garantida a defesa dos  ingressantes,  em  parcerias  com  outros  programas  com doutorado  autorizado  (SILVA,  2008).  Dessas  516  dissertações  e teses,  apenas  duas  são  sobre  a  temática  em  estudo  ‐  Educação Especial e Inclusiva, ou seja, 0,38% da produção, conforme Quadro 07. Há que considerar ainda que não foi possível um levantamento detalhado do material anterior a 2006, pois não constam no site de domínio público e também não foi localizado na Biblioteca Central da UFMT, em pesquisa in loco.  

Quadro 07: Defesas do Programa de Pós‐Graduação em Educação da UFMT (2000‐ 2010) 

Dissertações  Dissertações em Educação Especial 

Teses  Teses em Educação Especial 

Ano  Quantidade  Ano  Quantidade Ano  Quantidade Ano  Quantidade 

2000  37  2000  ‐  2000  01  2000  ‐ 2001  18  2001  ‐  2001  01  2001  ‐ 2002  54  2002  ‐  2002  03  2002  ‐ 2003  37  2003  ‐  2003  02  2003  ‐ 2004  36  2004  ‐  2004  01  2004  ‐ 2005  49  2005  ‐  2005  ‐  2005  ‐ 2006  62  2006  ‐  2006  ‐  2006  ‐ 2007  62  2007  ‐  2007  ‐  2007  ‐ 2008  77  2008  01  2008  ‐  2008  ‐ 2009  41  2009  01  2009  ‐  2009  ‐ 2010  35  2010  ‐  2010  ‐  2010  ‐ Total  508  Total  02  Total  08  Total  ‐ 

Fonte: Portal Domínio Público e Dissertação de Liane Deise da Silva (UFMT, 2008).  

 

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Com  os  dados  levantados  nas  teses  e  dissertações afirmamos  que  as  pesquisas  realizadas  nos  programas  de  pós‐graduação  em  Educação  da  Região  Centro‐Oeste  não contemplaram  o  tema  Educação  Especial  em  uma  proporção satisfatória. O Distrito Federal, seguido do Estado de Mato Grosso do  Sul  foram  os  que  realizaram  mais  estudos  sobre  Educação Especial,  tendo  a  Deficiência  Intelectual  como  a  categoria  de necessidade  especial  mais  pesquisada  nos  programas  de  pós‐graduação em educação nessa Região, mas é relevante destacar que os  estudos genéricos  sobre  Inclusão Escolar  foram mais presentes nas dissertações. Os estudiosos da temática Maria Tereza Mantoan, Rosângela Prieto, Romeu Sassaki, Mônica Kassar e os teóricos Karl Marx,  Lev.  S.  Vygotsky  e  Piaget  foram  os  mais  citados  nas discussões das dissertações. 

É  relevante  informar  que  todos  os  Programas  já  estão disponibilizando  online  suas  teses  e  dissertações  desde  2006  e alguns programas estão escaneando as antigas para disponibilizá‐las  em  seus  bancos  de  dados  mesmo  que  ainda  os  dados  não estejam organizados por categorias, para facilitar a socialização das produções.   Considerações finais 

 Concluímos  que  os  estudos  realizados  recentemente  nos 

Programas de Pós‐Graduação em Educação, na temática Educação Especial  e/ou  Inclusiva,  ainda  deixam  lacunas  que  podem  ser completadas  por  outros  pesquisadores,  além  de  ainda  existir  um vasto campo para análise, em virtude de serem vários os níveis de ensino, modalidades  de  educação,  comunidade  interna  e  externa das  instituições; ou seja, ainda não se esgotaram as possibilidades de estudos sobre o tema.  

À  luz das  teses e dissertações, é possível verificar que são poucos os  estudos  realizados  sobre Educação Especial  e  Inclusiva nos programas de Pós‐Graduação em Educação da região Centro‐Oeste no período de 2000 a 2010. Entretanto, é relevante mencionar que apesar da frequência flutuante, os olhares se firmam para essa 

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temática,  o  que  demonstra  a  necessidade  de  pesquisas  sobre  ela. Quiçá, estudos vindouros contribuam diretamente com os sujeitos das análises, e assim cumpram sua função social.  

Conquistas vêm sendo obtidas, mas não o suficiente para se conformar com o que está posto. Sempre é momento de se repensar a  Educação  Especial,  tentando  superar  paradigmas  que  não atendem as especificidades do Público Alvo da Educação Especial (PAEE). 

   

REFERÊNCIAS  BEZERRA, G. F.; ARAUJO, D. A. C. De volta à teoria da curvatura da vara: a  deficiência  intelectual  na  escola  inclusiva.  Educação  em  Revista.  Belo Horizonte‐MG: FAE/UFMG. V.27, nº 02, agos. 2011. p. 277‐302. ______. Em busca da flor viva: para uma crítica ao  ideário  inclusivista em educação.  Revista  Educação  e  Sociedade.  Revista  de  Ciências  da Educação. Campinas‐SP. Vol. 34, abr‐jun. 2013.  BRASIL.  CNPQ  –  Diretório  de  grupos  de  pesquisas.  Disponível  em: <http://www.cnpq.br/gpesq/apresentacao.htm>. Acesso em: 10 mar. 2012. ______.  Constituição  da  República  Federativa  do  Brasil.  Brasília‐DF: Gráfica do Senado Federal, 1988. ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394. Brasília‐DF: Gráfica do Senado Federal, 1996. ______.  Plano  Nacional  de  Educação.  Brasília‐DF:  Gráfica  do  Senado Federal, 2001. FERREIRA, N. S. A. As pesquisas denominadas ʺestado da arteʺ. Educação e Sociedade. Ano XXIII, n. 79, ago, 2002.  PUC/GO.  Histórico  do  Programa  de  Pós‐Graduação  da  Pontifícia Universidade  Católica  de  Goiás.  Disponível  em:  <http://www.ucg.br>. Acesso em: 11 mar. 2012. SILVA, L. D. da. História do Programa de Pós‐Graduação em Educação da UFMT (1987‐2007). Cuiabá‐MT: UFMT, 2008. Dissertação de Mestrado. SOARES,  M. Alfabetização  no  Brasil.   O  Estado  do  Conhecimento. Brasília: INEP/MEC, 1989.  UCB. Histórico  da  Universidade  Católica  de  Brasília.  Disponível  em: <http://www.ucb.br>. Acesso em: 11 out. 2013. 

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UFG.  Histórico  da  Universidade  Federal  de  Goiás.  Disponível  em: <http://www.ufg.br>. Acesso em: 11 mar. 2012. UFMS.  Histórico  da  Universidade  Federal  de  Mato  Grosso  do  Sul. Disponível em: <http://www.ufms.br>. Acesso em: 20 set. 2013.  UFMT. Histórico  da Universidade  Federal  de Mato Grosso. Disponível em: <http://www.ufmt.br>. Acesso em: 18 set. 2013.  UNB.  Histórico  da  Universidade  de  Brasília.  Disponível  em: <http://www.unb.br>. Acesso em: 14 ago. 2013.  UNESCO.  Convenção  sobre  os  direitos  das  pessoas  com  deficiências. Nova York, 2007. ______.  Declaração  Mundial  sobre  educação  para  todos.  Jomtien, Tailândia, 1990. ______.  Declaração  de  Salamanca.  Resolução  das  Nações  Unidas. Salamanca, Espanha, 1994.  

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IDENTIDADE, DEFICIÊNCIA E INCLUSÃO ESCOLAR: REFLEXÕES (E) CRÍTICAS A PARTIR DE UMA REPORTAGEM 

DO PERIÓDICO NOVA ESCOLA  

Giovani Ferreira Bezerra   Introdução    Nas  últimas  décadas,  em  particular  a  partir  dos  anos  de 1990,  o  discurso  em  prol  da  inclusão  escolar,  da  valorização  das diferenças,  das  múltiplas  identidades  e  das  especificidades culturais  tem  se  convertido  em  uma  agenda  político‐ideológica mundial,  estruturada  a  partir  de  interesses  econômicos  do capitalismo  globalizado.  Unificando  os  compromissos  dessa agenda,  nota‐se  a  perspectiva  do  multiculturalismo  e  da  pós‐modernidade,  que  este  artigo  não  pretende  discutir detalhadamente; mas apenas destacar alguns de  seus elementos e pressupostos  subjacentes,  como  a  noção  de  identidade  volátil, descentrada, e a fetichização das diferenças, em especial aquela de que tem sido alvo as deficiências humanas, reduzidas a uma nova forma de “identidade” a ser celebrada.  

Para tanto, recorro à análise de uma reportagem, publicada na  revista  Nova  Escola,  no  ano  de  2004,  por  ser  essa  matéria reveladora  da  concepção  pós‐moderna  e  multiculturalista hegemônica  na  atualidade;  evidenciando  também,  no  plano pedagógico,  o  revigoramento  de  postulados escolanovistas/construtivistas,  típicos  do  universo  ideológico neoliberal  e  pós‐moderno,  instaurado  globalmente  desde  a transição do século XX para o século XXI, conforme caracterizado por  Duarte  (2001).  Cumpre  explicitar  que  a  revista  Nova  Escola, fundada  em  março  de  1986,  é  um  periódico  direcionado  para educadores e profissionais envolvidos diretamente com a educação escolar,  apresentando‐se  como  “[...]  a  maior  e  melhor  revista  de Educação  do  Brasil,  [...]  sempre  ao  lado  do  professor”  (NOVA ESCOLA..., 2011, p. 104, grifos meus).  

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  Com periodicidade mensal, Nova Escola é vendida a preço de custo, pois recebe subsídios financeiros da Fundação Victor Civita, e  tem  a  segunda maior  circulação  de  exemplares  entre  todas  as revistas nacionais,  ficando atrás apenas do periódico semanal Veja (FUNDAÇÃO...,  s.  d;  GROSSI,  2008).  Quando  se  consideram apenas  os  periódicos da  imprensa  pedagógica, Nova Escola  lidera absoluta  esse  filão  editorial  no  Brasil,  sendo  a  mais  lida  pelos professores  de  todo  o  país,  principalmente  aqueles  da  educação infantil  e  ensino  fundamental  (BARBOSA;  MAZZONETTO; MIRANDA,  2007;  GENTIL,  2006).  Como  esclarece  o  site  da Fundação Victor Civita  (LINHA...,  s.d., n.p.), a  revista é “[...] hoje voltada  para  professores  de  Educação  Infantil  e  Ensino Fundamental”.  Tamanha  popularidade  de  Nova  Escola  está relacionada  não  apenas  ao  valor  irrisório  pelo  qual  é comercializada, mas  também ao  fato de que a  revista costuma ser enviada às escolas públicas brasileiras, por meio da compra de lotes de  assinatura por  governos municipais,  estaduais  e pelo  governo federal  (GROSSI,  2008).  Juntas,  essas  circunstâncias  asseguram  ao periódico  ampla  capacidade  de  penetração  e  difusão  nos  mais diversos rincões brasileiros, de modo que, realmente, este “[...] vem ajudando  a moldar  o  futuro  de  nossos  professores  e  estudantes” (GROSSI, 2011, p. 11, grifo meu).  

Apesar  de  se  apresentar  como  revista  de  educação,  o periódico adota um modelo editorial jornalístico, muito próximo ao de  revistas  de  notícias,  inclusive  com  anúncios  publicitários, distanciando‐se das  revistas de cunho científico. Porém, diante da influência  ideológica  exercida  por  Nova  Escola  junto  aos professores‐leitores, que, muitas vezes,  têm  essa publicação  como sua principal fonte de estudos, pesquisas e atualização profissional, haja  vista  ser  esta,  nas  palavras  de  um  ex‐editor  do  periódico,  a “[...]  revista  que  você  [o professor]  se  acostumou  a  ler  (e  reler,  e guardar, e pesquisar, e usar em sala de aula)” (GROSSI, 2000, p. 4), consideramos  relevante  esse  artigo,  ao  problematizar  um  tema candente  nos  debates  educacionais,  qual  seja,  as  interfaces  entre inclusão escolar e multiculturalismo nesse momento histórico que 

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muitos  denominam,  longe  de  ser  esta  uma  denominação consensual, como pós‐modernidade. 

 Não obstante  tratar‐se  este de um  estudo que  se debruça especificamente  sobre  uma  reportagem,  historicamente  datada  e situada, compreendemos que “o singular é sempre uma  forma de realização do  universal”  (ALVES,  1995.  p.  10).    Isto  é,  o  singular possibilita,  dentro  de  seus  limites,  captar  as  tendências disseminadas e objetivadas na sociedade como um todo, revelando suas  contradições  e  concretizações.  É  nesse  sentido  que  nos propomos  a  empreender  o  trabalho  analítico  seguinte, compreendendo o singular em sua íntima conexão com a totalidade econômico‐social  e  histórica  de  que  faz  parte  e  pela  qual  é condicionado.   1. Inclusão escolar, deficiência e identidade: (pro)posições críticas à pós‐modernidade e ao multiculturalismo 

 Neste  artigo,  como  dito  na  introdução,  colocamos  em 

destaque  uma  reportagem  publicada  na  revista  Nova  Escola,  na edição  de  junho/julho  de  2004.  Intitulada  Aparências  diferentes? Talentos  também,  essa  matéria  discute  possibilidades  para  se favorecer a construção identitária dos estudantes, sobretudo diante da  presença  de  alunos  com  deficiência  nas  escolas  comuns, enfocando, de modo particular, a inclusão escolar em uma turma de Educação  de  Jovens  e  Adultos  (EJA).  O  termo  identidade  é recorrente  na matéria  e,  por  isso,  é  a  partir  dele  que  se  baseia  a análise  proposta.  O  subtítulo  já  anuncia  o  escopo  da  temática abordada,  ao  afirmar  que  “Na  escola  inclusiva,  a  identidade  se constrói  com  a  valorização  das  qualidades  de  cada  um  dos estudantes”  (CAVALCANTE,  2004,  p.  32).  E,  no  primeiro parágrafo, pode‐se ler o seguinte:  

 Trabalhar o tema identidade em uma turma de inclusão pode ser, à primeira vista,  uma  tarefa  árdua.  Como  contribuir  para  que  alunos  que muitas vezes se sentem diferentes e que têm a autoestima fragilizada por causa de suas  limitações se valorizem? A solução para o problema é mais simples do que você pensa:  identificar  e  exaltar as capacidades de cada um,  em vez de colocar em primeiro plano as possíveis  limitações. A prática é  indicada para 

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turmas de qualquer  idade ou série  (CAVALCANTE, 2004, p. 32, grifos meus). 

 A esta referência à  ideia de constituição  identitária, outras 

se  sucedem.  Como  exemplo,  são  apontados  estes  fragmentos:  a) “Adotar uma postura positiva e  incentivar o desenvolvimento das habilidades  dos  estudantes  são  passos  importantes  para  que  eles comecem a se conhecer e perceber o que  têm de bom”  (CAVALCANTE, 2004, p. 32, grifo meu); b) “Para  fortalecer a  identidade de crianças e adolescentes, em especial os deficientes, é necessário olhá‐los sem benevolência”  (CAVALCANTE,  2004,  p.  32,  grifo  meu);  c)  “A professora  desenvolve  também  atividades  nas  quais  cada  um  se reconhece como participante de um grupo, outro bom caminho para trabalhar a identidade” (CAVALCANTE, 2004, p. 33, grifos meus); d) “‘Esses alunos, além de conviver com a deficiência, chegam a essa modalidade de ensino [EJA] em virtude do fracasso na vida escolar. Por  terem  uma  baixa  autoestima,  o  trabalho  de  identidade  é duplamente  importante’”  (SARTORETTO  apud  CAVALCANTE, 2004, p. 33, grifo meu); e) 

 A professora X10 faz questão ainda de mostrar a contribuição dos estudantes para  o grupo por meio dos  atributos pessoais. Papel  sulfite e  caneta  são os únicos materiais necessários para a dinâmica proposta por ela. Em cada folha é escrito o nome de um aluno e os papéis passam de mão em mão. A  tarefa  é  escrever  alguma  característica  positiva  sobre  o  colega.  ‘É comum  os  estudantes  ficarem  emocionados  e  espantados  ao  saber  o  que  os amigos  veem  de  bom  em  sua  personalidade.  Dessa  forma  começam  a  se desinibir  e  a gostar mais de  si’, afirma  [a professora X]  (CAVALCANTE, 2004, p. 33, grifos meus). 

          No  interesse  deste  estudo,  primeiramente,  é  preciso  lembrar que a  recorrência à  categoria de  identidade  é um posicionamento do  ideário  pós‐moderno  (HALL,  2005).  Essa  categoria  tem dominado os discursos pedagógicos nos últimos anos, em especial no  caso  da  formação  docente  (MARTINS,  2010),  integrando  a corrente  multiculturalista,  pela  qual  é  incorporada,  também,  ao 

                                                            10  O  nome  verdadeiro  da  professora,  embora  conste  na  reportagem,  foi omitido neste artigo, para preservar sua identidade. 

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ideário  inclusivista.  Nos  fragmentos  selecionados,  identidade  é tratada como se fosse um tema a mais para ser trabalhado em sala de aula, deslocando “[...] o eixo da questão pedagógica do intelecto para  o  sentimento;  do  aspecto  lógico  para  o  psicológico  [...]” (SAVIANI, 2009, p. 8); dos conteúdos cognitivos  (SAVIANI, 2009) para os emotivos; do conhecimento para o autoconhecimento. 

A  princípio,  essa  tarefa  seria  difícil  em  uma  “turma  de inclusão”. A revista, porém, logo simplifica o trabalho do professor, invocado  pelo  pronome  pessoal  de  tratamento  você.  E,  para  não desanimá‐lo,  em  tom  informal,  dá mais  uma  receita  facilitadora para “driblar” a complexidade do processo pedagógico: “A solução para o problema é mais simples do que você pensa: identificar e exaltar as capacidades de cada um, em vez de colocar em primeiro plano as possíveis limitações” (CAVALCANTE, 2004, p. 32, grifos meus). O conflito “identitário”, o sentimento de “desvalor” dos estudantes é resolvido com a percepção e celebração festiva de suas habilidades, com  vistas  ao  desenvolvimento  de  uma  aprendizagem  muito peculiar:  aprender  a  gostar  de  si,  aprender  a  ser  aprendendo  a  viver juntos. O  trabalho  pedagógico  lembra,  aqui,  a  caricatura  de  uma “terapia de grupo”, na qual se faz a listagem, o relato e a apreciação das qualidades de cada participante. 

Em  certa medida,  é  possível  inferir  que,  ao menos  nesse caso,  Nova  Escola  pressupõe  o  pensamento  do  professor  sobre  o “tema” e, ao mesmo tempo, desmerece, simplifica tal pensamento: “é mais simples do que você pensa”.   O periódico dá a  impressão de  julgar  o  pensar  docente  como  complicado  demais.  E,  logo  em seguida,  dá  aos  professores  a  “solução  para  o  problema”,  o  que neutraliza a reflexão docente, utilizando‐se do discurso pragmático, indicativo de “aplicabilidade genérica”: “A prática é indicada para turmas de qualquer idade ou série” (CAVALCANTE, 2004, p. 32).  

Há,  nos  trechos  de  Nova  Escola  expostos  anteriormente, apelo  a  conotações  individualistas  e  subjetivistas  (não  subjetivas), presentes  na  retórica  pós‐moderna.  Indaga‐se  sobre  como  o professor poderia contribuir para que o indivíduo “com limitações” se  valorizasse,  desenvolvesse  sua  autoestima. Não  por  acaso,  tais dizeres lembram o mercado editorial dos livros de autoajuda. E, haja 

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vista  a  dramaticidade  do  conflito  identitário,  os  alunos “fragilizados”  precisariam  de  um  empurrãozinho:  as  capacidades individuais devem ser não apenas reconhecidas, mas exaltadas na sala de aula  inclusiva.   Há, pois, uma  fetichização operando sobre os alunos com deficiência, que, se não são mais uma “deficiência”, passam  a  ser  a  “exaltação  de  uma  habilidade”;  não  chegam, entretanto,  a  serem  vistos  como  seres  sócio‐históricos,  que  se apropriam de e  se objetivam mediados por objetivações genéricas (DUARTE, 1993), como sujeitos universais e livres, como o homem total marxiano (MARX, 2004; MARX; ENGELS, 2007).  

Não  desconsidero  a  existência  de  sentimentos  de inferioridade e menos‐valia que atinjam, como um estado reativo da personalidade,  os  alunos  com  deficiência,  em  particular  aqueles matriculados na EJA, duplamente negligenciados  em  sua história de vida; nem  que não  seja necessário  encontrar meios de dirimir tais  sentimentos  para  o  e  no  encaminhamento  da  praxis educacional, cujo  fim é mediar o desenvolvimento omnilateral em cada  ser  singular. Tampouco  afirmamos que o  aluno  seja passivo nesse  processo.  Além  do  mais,  nossas  reservas  ao  emprego  da palavra  identidade explicam‐se na medida em que esta se vincula à compreensão  do  pós‐modernismo  sobre  o  homem,  visto  como sujeito  fragmentado,  imerso  em  particularismos  fetichistas  e cambiantes,  cada  vez mais  descentrado  (HALL,  2005),  distante  de uma  relação  consciente  consigo  mesmo,  com  a  coletividade  e  a genericidade.  Entendemos  que  a  exaltação  de  identidades, deslocadas de uma concepção histórico‐social de individualidade e subjetividade  humanas  (DUARTE,  1993,  1996; MARTINS,  2009), tende a abrir caminho para o surgimento de posturas individualistas de  pessoas  e  de  grupos,  conquanto  seja  esta  a maneira  alienada como a pós‐modernidade capta a formação subjetiva do indivíduo.  

Em alusão à modernidade tardia, que, no entender de Hall (2005),  tem  como  marco  os  movimentos  dos  anos  de  1960, precipuamente os agitos de 1968, o mesmo autor é bem explícito ao caracterizar, a partir desse período, a fragmentação  identitária dos movimentos sociais, lembrando que: 

 

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Cada movimento  apelava para  identidade  social de  seus  sustentadores. Assim,  o  feminismo  apelava  às mulheres,  a política  sexual  aos  gays  e lésbicas,  as  lutas  raciais  aos  negros,  o  movimento  antibelicista  aos pacifistas,  e  assim por diante.  Isso  constitui o nascimento histórico do que veio a ser conhecido como a política de  identidade  ‐ uma  identidade para cada movimento (HALL, 2005, p. 45, grifos do autor). 

 Em  outra  passagem,  ao  explicar  os  “descentramentos” 

conceituais  provocados  pelo movimento  feminista  em  relação  ao sujeito cartesiano e sociológico, predominante na modernidade, Hall (2005, p. 46, grifo do autor) evidencia que: “O feminismo questionou a  noção  de  que  os  homens  e  mulheres  eram  parte  da  mesma identidade, a ‘Humanidade’, substituindo‐a pela questão da diferença sexual”.    Ao  definir  identidade,  cita  que  esta  “[...]  torna‐se  uma ‘celebração  móvel’:  formada  e  transformada  continuamente  em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam (Hall, 1987)” (HALL, 2005, p. 13, grifo meu). E, logo adiante, prossegue dizendo que “O sujeito assume  identidades  diferentes  em  diferentes  momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um  ‘eu’ coerente” (HALL, 2005, p. 13). Identidade remete, pois, a uma representação transitória,  a  algo  para  ser  celebrado  segundo  a  conveniência  e  a pertinência  da  “moda”;  o  conceito  alude  ao  esfacelamento  do indivíduo, em vez de permitir‐lhe a síntese, a unidade dialética, a tomada de consciência, como ser para si (MARX, 2004) que conhece a  verdade  sobre  a  pessoa  e  a  humanidade,  dominando conscientemente  suas  funções psicológicas  superiores  (VIGOTSKI, 2004). 

Certamente,  é  preciso  ressalvar  que  o  uso  da  palavra identidade, per se, não é suficiente para caracterizar a abordagem da revista  como  pós‐moderna,  nem  se  imputa  à  palavra  vinculação automática a esse ideário. Ocorre que, pela forma como se entende o processo de constituição identitária na reportagem visada, torna‐se difícil não admitir semelhante vinculação, ainda mais quando se sabe  que  a matéria  integra  o  coro  discursivo  das  representações ideológicas do movimento  inclusivista. Em certo editorial de Nova Escola, fica explicitado que  

 

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Nos últimos anos, NOVA ESCOLA vem acompanhando de perto uma das  mais  importantes  transformações  da  Educação  brasileira:  o movimento para oferecer a inclusão das crianças com deficiência na rede regular  (e garantir que  todas  aprendam,  ainda que  limitadas por  suas condições  específicas).  Essa  evolução  foi  mostrada  em  grandes reportagens publicadas na revista (GROSSI, 2009, p. 6).  Rapidamente,  relembramos que o movimento de  inclusão 

escolar, no Brasil, tem se dado de maneira idealizada, por não levar em  conta  os  determinantes  contraditórios  e  os  antagonismos  da base material  capitalista,  que  limitam  o  alcance  dessa  proposta  e convertem‐na  em  um  jogo  discursivo  politicamente  correto  e sedutor; porém,  com  consequências negativas para o processo de desenvolvimento  e  aprendizagem  dos  alunos  com  deficiência (BEZERRA; ARAUJO  2010,  2011),  na  proporção  em  que  o  apelo pela  educação  inclusiva  tem  promovido  “[...]  o  esvaziamento  da atuação  pedagógica  especializada  com  os  alunos  em  processo  de inclusão” (BEYER, 2010, p. 38). Ao se perder de vista a perspectiva da transformação radical da sociedade, mediante a aceitação tácita de uma  inclusão precária,  que  “[...]  se dá de modo  subordinado, subjugado,  para  reproduzir  esse modelo”  (BARROCO,  2007a,  p. 167),  oblitera‐se  a  compreensão  totalizante  (uma  referência  que  a pós‐modernidade  tende  mesmo  a  descartar)  de  que  “[...]  o preconceito, o estigma, a  lógica da exclusão, etc. apresentam‐se às pessoas  com  base  nas  condições  objetivas  e,  sem  superação  das mesmas,  a  transformação  pleiteada  não  se  torna  possível  nos moldes como se defende e se gostaria” (BARROCO, p. 20, 2007b).  

Sassaki  (2010),  ao  apresentar  as  ideias  inclusivistas, sintetiza com clarividência o respectivo movimento, possibilitando‐nos  perceber  as  influências  da  discursividade  pós‐moderna  e  as idealizações  que  gravitam  em  torno  da  tendência  inclusivista hegemônica, pela qual se pode construir uma nova sociedade, de e para  todos,  apenas  com  a mediação de novos princípios, no plano ideal; e não pelo enfretamento, agudização e superação do modo de produção existente, assentado no capital.  Para o autor,  

 Este  movimento  [de  inclusão  social,  no  bojo  do  qual  está  situada  a inclusão escolar] tem por objetivo a construção de uma sociedade realmente 

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para todas as pessoas, sob inspiração de novos princípios, dentre os quais se destacam:  celebração  das  diferenças,  direito  de  pertencer,  valorização  da diversidade  humana,  solidariedade  humanitária,  igual  importância  das minorias, cidadania com qualidade de vida (SASSAKI, 2010, p. 17, grifos meus). 

 Nesse sentido, quero dizer que a  revista, no que concerne 

ao  texto objeto de  análise,  conscientemente ou não,  reforça  esse ideário inclusivista, perante a incorporação de noções relativistas do  individualismo  pós‐moderno,  a  celebração  fetichista  das diferenças, das identidades e da (auto)valorização da pessoa, não como sujeito da práxis,   mas mediante um processo alienante de subjetivação. Concordo  com  Frederico  (apud DUARTE,  2001, p. 78) sobre o fato de que, no pós‐modernismo, “A luta original pela igualdade  caminhou  [...]  para  o  labirinto  dos  particularismos irredutíveis,  nos  quais  o  universalismo  da  reivindicação igualitária perdeu‐se na Babel dos dialetos grupais, hostis entre si, dificultando  ao  máximo  o  reconhecimento  da  identidade coletiva”.  Prevalecem  os  seres  ensimesmados  em  suas  diferenças  ou minorias,  autoestimados  em  momentos  passionais  fugazes; predominam  as  representações mistificadas  dos  deficientes  bem‐sucedidos  (CURY  apud  CAVALCANTE,  2004;  CAVALCANTE, 2004), que, com força e determinação pessoal, tornam‐se grandes personalidades,  sobretudo  por  não  ficarem  lamentando  sua condição  e  irem  à  luta.   Como diz Cury  (apud CAVALCANTE, 2004, p. 32‐33, grifo meu), “Uma boa dica é mostrar pessoas que conviveram com algum tipo de deficiência e foram bem sucedidas”, ao que completa Cavalcante (2004, p. 33, grifo meu): “Você pode solicitar pesquisas sobre grandes personalidades que não  limitaram sua vida por causa de uma deficiência”.  

As  interposições  capitalistas  são  ignoradas  pela  revista, pois  a  remoção  dos  obstáculos  rumo  ao  sucesso  diz  respeito  à disposição  da  pessoa,  tenha  esta  ou  não  meios materiais  para realizar  sua  vontade.  Há,  inclusive,  certa  oposição,  tácita,  entre atributos pessoais  considerados positivos e outros  supostamente considerados  “negativos”,  “não  bons”.  Logo,  dicotomiza‐se  e fraciona‐se a personalidade. Isto se verifica em trechos como este: 

 

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Tendo  isso  em  vista  [a  baixa  autoestima  dos  alunos  da  EJA, especialmente no caso dos alunos com alguma deficiência matriculados nessa modalidade de ensino], coloque em evidência o que seu aluno  tem de bom. Alguém na sala não enxerga? Eis uma  limitação. Mas o que  ele  sabe fazer  com  competência?  Ele  canta  ou  se  socializa  bem?  Todos  têm limitações e capacidades, e é papel da escola ensinar e praticar o respeito às diferenças,  dando  oportunidades  a  crianças,  jovens  e  adultos  de reconhecer seus limites e os dos colegas. E, acima de tudo, destacar o que há de bom em si e nos outros (CAVALCANTE, 2004, p. 33, grifos meus).  O excerto sugere algumas  reflexões pertinentes e serve de 

mote a outras. A priori, é no mínimo razoável pensar que, “acima de tudo”,  o  simples  destaque  daquilo  que  o  aluno  “sabe  fazer  com competência”, “o que tem de bom”, torna‐se, para Nova Escola, um fim em si mesmo nas relações escolares. Se um aluno não sabe isto, que  faça  aquilo. Não  há,  todavia,  uma  preocupação  clara  com  a superação  dos  limites  ou  das  “diferenças”,  que  devem  ser respeitadas; portanto, mantidas. O  tom do discurso é pragmático e beira à  ironia: se há um aluno que não enxerga, não há porque se preocupar.  Ele  pode  cantar  ou  se  socializar muito  bem.  Eis  uma solução! De fato, tais habilidades têm importância social e educativa, mas  parece‐me  que  elas  estão  obliterando  o  ensino  e  a aprendizagem  escolares,  os  quais  interessam  à  escola  enquanto instituição formal propriamente dita, seja para pessoas com ou sem deficiência,  seja  turmas de  jovens  e  adultos,  ou  quaisquer  outros estudantes. 

Nas  proposições  discursivas  da  revista,  o  ideário inclusivista  aparece  ratificado. pelo  lema do  ser  diferente  é normal. Dessa perspectiva, a própria deficiência e as demais singularidades humanas  se  reduzem  a  diferenças  para  serem  celebradas,  a  um slogan  esvaziado de  sentido  e  objetividade;  ou,  até mesmo,  a um “privilégio”,  comemorado  como  nova  forma  de  “riqueza (multi)cultural”. Um  box, posto  como  adendo  à  reportagem,  traz, por exemplo, a  ideia, novidadeira, de que  toda classe é “inclusiva”. No  comentário  de  Baroukh  (apud  CAVALCANTE,  2004,  p.  33, grifos meus): 

 ‘Ser  gordo  ou muito magro,  agressivo,  negro,  superdotado,  pobre  ou rico, ter déficit de atenção ou diabetes e usar óculos muitas vezes torna 

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um  aluno  alvo  de  exclusão,  preconceito  e  piadinhas’,  cita  a  psicóloga Josca  Baroukh.  ‘Por  isso,  todos  os  professores,  sem  exceção,  precisam praticar o respeito e a tolerância, que só nascem quando se entende que o normal é ser diferente’, ensina.  Qualquer  semelhança  com  os  textos  que  compõem  o 

Relatório  Jacques  Delors  (1998)  não  é  fortuita,  pois  Nova  Escola confirma,  em  grande  parte,  o  ideário  ali delineado  para  o  século XXI.  Ela  testifica‐o.  Neste  documento,  perpassado  por ambiguidades capciosas e contradições próprias do capitalismo em reforma  e  renovação  cultural,  que  anuncia  transformações  para coibi‐las, que se adapta aos anseios populares sem negar a si mesmo, podem‐se  ler  passagens  emblemáticas  sobre  o  reconhecimento  do outro,  das  múltiplas  alteridades.  Isso  como  fundamento  e  arte  do aprender a viver  juntos e do aprender a ser (DELORS, 1998). Nanzhao (1998,  p.  264,  grifos meus),  um  dos  autores  do  relatório,  quando elenca  os  valores  culturais  universais  a  serem  cultivados  pela educação  do  novo  século,  com  o  fito  de  se  promover  uma  ética global, menciona, entre esses valores, a “compreensão e  tolerância em  relação  às  diferenças  e  ao  pluralismo  culturais,  pré‐requisito indispensável  à  coesão  social,  à  coexistência  pacífica  e  à  resolução  dos conflitos pela negociação e não pela força e, no fim de contas, à paz mundial”.  Kornhauser  (1998,  p.  236‐237,  grifos  meus),  outro integrante da comissão elaboradora do documento, cita ainda que 

 Há  uma  [...]  noção,  objeto  de muitos  debates  sobretudo  nos  países  em transição: a da  tolerância. No  futuro  talvez a  tolerância não baste  e  ser‐nos‐á  necessário,  para  podermos  viver  juntos,  passar  da  tolerância  à cooperação  ativa.  Esta  implica  esforços  comuns  para  proteger  a diversidade. Em vez de “sou tolerante” passar‐se‐á a dizer eu respeito.  Singh  (1998, p. 244), outro coautor do relatório, é explícito 

ao  defender  a  adoção,  em  escala  mundial,  de  “[...]  métodos pedagógicos  inovadores  e  interativos  [...]”,  pondo‐se  muito próximo do  construtivismo/neoscolanovismo.  Stavenhagen  (1998), também  membro  da  supracitada  comissão,  falando  sobre multiculturalismo, lança uma crítica às instituições de ensino e aos conteúdos  clássicos, defendendo novos métodos, novos processos 

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educacionais.  Outra  vez,  é  notória  certa  vinculação  entre inclusivismo  e  multiculturalismo,  mediada  por  discursos (neo)escolanovistas. Para o autor, 

 Uma  educação  verdadeiramente multicultural  [...]  Levará  cada  um  a tomar  consciência da diversidade e a  respeitar os outros, quer  se  trate dos vizinhos mais próximos, dos colegas presentes, ou de habitantes de um  país  longínquo.  Para  que  seja  possível  uma  educação  realmente pluralista, será necessário repensar os objetivos — que significa educar e ser educado? — remodelar os conteúdos e programas dos estabelecimentos de ensino de tipo clássico,  imaginar novos métodos pedagógicos e novos processos educativos, e estimular o aparecimento de novas gerações de professores‐alunos. (STAVENHAGEN, 1998, p. 249). 

 Reproduzi, pois, estes fragmentos com o  intuito bem claro 

de mostrar sua proximidade ao dizeres veiculados na revista Nova Escola  e  também  para  enfatizar  o  posicionamento  adotado  pelo ideário  inclusivista, que gravita  em  torno do  respeito  e  tolerância pelas diferenças, aproximando‐se de correntes multiculturalistas e neoescolanovistas.  Esse  retorno  ao  relatório  Delors  (1998),  cuja elaboração  deu‐se  entre  1993  e  1996,  sob  encomenda  da Organização  das Nações Unidas  para  a  Educação,  a  Ciência  e  a Cultura  (UNESCO),  é  importante para  se perceber  os  reflexos de suas  formulações no  senso  comum pedagógico dos últimos  anos, bem  como  sua  forte  influência  ideológica  nos  meios  de comunicação de massa, quando se trata de educação. Esse relatório integra  a  ideologia  dominante  dos  últimos  tempos.    Logo,  esse détour, ou, em linguagem mais simples, esse rodeio, que extrapola os limites  imediatos  do  texto  de  Nova  Escola,  constitui,  pois,  uma exigência  para  captar  minimamente  a  totalidade  do  fenômeno estudado.  Desse  modo,  tento  não  procurar  “atalhos”  que  mais rápida  e  sucintamente  levem‐me  a  concluir o  raciocínio desejado, poupando‐me  ao  trabalho  de  evidenciar  inter‐relações  mais complexas no  seio da problemática  levantada,  embora o  caminho em  direção  a  explicações  progressivamente  totalizantes  também não esteja isento de riscos (KOSÍK, 2002).   

Com  semelhante  détour,  pode‐se  afirmar  que  o  citado relatório,  embora  não  seja  diretamente  objeto  de  estudo  neste 

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artigo, representa, junto com a Declaração de Jomtien e a de Salamanca (UNESCO,  1990,  1994),  a  base  conceitual,  política  e  ideológica  do ideário  inclusivista.  Forjada  no  bojo  das  reformas  neoliberais  de caráter  global  dos  anos  de  1990,  conforme  promovidas  pelos organismos  internacionais de poder, essa plataforma  ideológica se estende para os anos 2000,  tal qual  refletido nas páginas de Nova Escola,  com acentuada  capacidade de difusão  e  sedução. Ressalto, no entanto, que não me posiciono contra as diferenças individuais, o  reconhecimento das pessoas com deficiência e  suas habilidades, ou  contra  a diversidade das manifestações  culturais humanas  e  a legitimidade das reivindicações existentes na sociedade. A intenção aqui  não  é  negar  a  possibilidade  de  autonomia  individual  face  às circunstâncias,  como  também  não  é  desmerecer  a  iniciativa  dos docentes  da  EJA,  ao  empreenderem  o  trabalho  de  valorização identitária  de  seus  alunos.  Esse  trabalho  tem  sua  importância, quando situado em uma abordagem emancipadora.  

Busco,  de  fato,  combater  um  ideário,  uma  mistificação, certo posicionamento no  campo  educacional, que  tem passado ao largo da análise crítica e se objetivado em práticas  imediatistas, as quais  não  superam,  em  linguagem  gramsciana,  o  momento puramente  egoísta‐passional  (GRAMSCI,  1995). No  intuito de me fazer compreender, procuro respaldo em Duarte (2001). Estudando o lema do aprender a aprender no discurso oficial contemporâneo, o autor também se volta para o estudo do próprio Relatório Jacques Delors  (1998). Suas conclusões ajudam a entender melhor a crítica ao  ideário  inclusivista  e  ao  aprender  a  viver  juntos, nos  termos  em que  a  formulo  neste  artigo.  Apesar  de  extenso,  o  trecho  é esclarecedor  e  vale  como  síntese. Para Duarte  (2001, p.  50,  grifos meus): 

 Não  é  casual  que  a  comissão  [encarregada  de  elaborar  o  supracitado relatório] tenha dedicado especial atenção ao primeiro dos quatro pilares que ela considerou  as  bases  da  educação  para  o novo  século,  quais  sejam,  aprender  a viver  juntos  (a viver  com  os  outros),  aprender  a  conhecer,  aprender  a  fazer  e aprender a ser (idem, pp. 19‐20). É claro que não podemos deixar de também defender  princípios morais  como  o  da  aceitação  do  outro  e  o  da  aceitação  da diferença. Entretanto,  não  é  isso  que  está  em  jogo, mas  sim  o  fato  de  que  o princípio  da  aceitação  da  diferença  esteja  sendo  utilizado  para  legitimação  de 

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uma  sociedade  desigual,  injusta,  exploradora  e  excludente.  Por  um  lado, procura‐se dar aos explorados e aos excluídos o suficiente para que sua condição concreta de vida não se tome generalizadamente  insuportável e, por outro lado, busca‐se difundir uma mentalidade de convivência pacífica, por meio  da  qual  as  desigualdades  seriam  identificadas  com  as  diferenças, no intuito  de  enfraquecer  qualquer  clamor  por  uma  sociedade  menos  injusta  e desigual.  Por  fim,  é  necessário,  nessa  ótica,  difundir  o  ideal  da  participação colaborativa,  construtiva,  otimista,  em  oposição  ao  espírito  pouco  construtivo daqueles que criticam o projeto social atualmente hegemônico.  O fato de que a aceitação das diferenças esteja legitimando 

a  sociedade  capitalista  hegemônica,  em  suas  disparidades  e interesses mercantis, fica comprovado na vertente multiculturalista defendida  no  mesmo  relatório.  Está  claro  que  o  discurso aparentemente  democrático da  tolerância, da  inclusão, do  respeito  à alteridade não se pauta apenas, se é que se pauta, em preservar e defender  os  seres  humanos,  em  suas  potencialidades  coletivas  e individuais;  mas,  sobretudo,  aspira  à  estabilidade  das  relações sociais para a expansão dos mercados e das transações financeiras, desinibidas  das  barreiras  “culturais”.  Respeitadas  e  toleradas,  as “diferenças  entre  as  culturas”  deixam  de  ser  obstáculo  às  novas facetas do expansionismo imperialista e ao crescimento econômico das grandes potências mundiais, com suas poderosas organizações industriais  (FAUSTINO,  2008).  Reproduzo,  para  não  deixar dúvidas sobre o exposto  ‐ e para desfazer a  ideia de que este seja um  ponto  de  vista  arbitrário  de minha  parte  ‐  trecho  escrito  por Stavenhagen  (1998,  p.  248‐249,  grifos  meus),  outro  membro  da comissão encarregada daquele relatório: 

 Em muitos países, as  finalidades e exigências de um sistema educativo “nacional” entram em conflito com os valores, interesses e aspirações de grupos  culturalmente  distintos.  Ao  mesmo  tempo  o  mundo  em  que vivemos,  caracterizado  por  uma  crescente  interdependência,  suscita tendências  antagônicas que  tomam direções diferentes: por um  lado  a tendência  para  a  homogeneização  em  nível  nacional  e  para  a uniformização em nível mundial, por outro a busca das raízes, de uma especificidade  comunitária,  que  para  alguns  só  pode  existir  se  se reforçarem as  identidades  locais e  regionais, guardando uma  saudável distância para com os “outros”, tidos por vezes como uma ameaça. Uma  situação  assim  tão  complexa  representa  um  desafio  para  o  sistema educativo  e  para  as  políticas  culturais  do  Estado,  assim  como  para  o 

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funcionamento dos mecanismos de mercado  (principalmente) nos domínios da comunicação e do lazer — vastas redes onde pontificam as indústrias culturais planetárias. Nestes  últimos  anos,  as  políticas  tradicionais  de  educação baseadas no postulado de uma cultura nacional homogênea vêm sendo objeto de uma apreciação cada vez mais crítica. Há um número cada vez maior de Estados  que não  só  toleram  as  formas  de  expressão  da  diversidade cultural  mas  reconhecem  que,  longe  de  serem  obstáculos  perturbadores,  o multiculturalismo  e  a  plurietnicidade  são  os  verdadeiros  pilares  de  uma integração social democrática. A educação do século XXI deverá enfrentar este desafio  e os  sistemas  educativos  (entendidos no  sentido mais  lato possível) devem dar provas de flexibilidade e imaginação para encontrar o  justo ponto de  equilíbrio  entre  as duas  tendências  estruturais  a  que aludimos. 

 Uma vez demonstrado o caráter  interesseiro e  interessado 

do  lema  que  enaltece  a  diversidade,  as  diferenças  culturais  e individuais,  sob a bandeira do  inclusivismo  e  seu  aprender  a viver juntos,  fundamento da escola  inclusiva  contemporânea, preocupo‐me,  igualmente,  com o  fetiche das habilidades. A preocupação  se justifica na medida em que estas são significadas na perspectiva do aprender a ser, aprender a gostar de si, aprender a se conhecer. Também o Relatório  Jacques  Delors  (1998),  com  nuanças  sentimentalistas  e inatistas,  ilustra a  referida perspectiva,  cujos  ecos  são  sentidos na matéria  de Nova  Escola. No  prefácio  do  documento,  ao  comentar sobre aprender a ser, um dos quatro pilares a serem perseguidos na educação do século XXI, Delors (1998, p. 20, grifos meus) destaca a exigência de se  

 [...] não deixar por explorar nenhum dos talentos que constituem como que tesouros  escondidos  no  interior  de  cada  ser  humano. Memória,  raciocínio, imaginação, capacidades físicas, sentido estético, facilidade de comunicação com  os  outros,  carisma  natural  para  animador,  ...  e  não  pretendemos  ser exaustivos. O que  só vem  confirmar  a necessidade de  cada um  se  conhecer  e compreender melhor.  Com  a mediação do  ideário  inclusivista,  é possível  que  o 

reconhecimento bombástico dessas habilidades, no caso dos alunos com deficiência, sejam crianças, adolescentes ou adultos, promova e/ou mantenha  a  unilateralidade  do  desenvolvimento  individual. Assim,  na  prática  pedagógica,  há  o  perigo  de  se  estacionar  na 

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contemplação  dos  tesouros  pessoais,  olvidando‐se  que,  ao menos pela  ótica  vigotskiana,  o  trabalho  educativo  também  precisa considerar as diversas aptidões dos sujeitos como “[...] habilidades estas que poderiam formar a base para o desenvolvimento de suas capacidades  integrais” (LURIA, 2006, p. 34). Logo, elas valem como meio  para  uma  cadeia  de  sínteses  (GRAMSCI,  1995)  e  de metamorfoses  revolucionárias,  que  levem  à  formação  unitária  da personalidade (VYGOTSKI, 1997).  

Tal  reflexão  repõe  a  análise  do  texto    publicado  em junho/julho de 2004 no periódico Nova Escola, tomado como objeto singular que revela o movimento político‐ideológico e educacional do  capitalismo  contemporâneo.  É  verdade  que  a  reportagem mencionada sugere ao professor a adoção de uma postura positiva frente  às  deficiências,  incentivando  a  emergência  de  novas habilidades.  Segundo  indicações  de  uma  psicóloga,  também  se recomenda  aos  professores  a  identificação  dos  limites  e possibilidades de alunos com deficiência, para, assim, garantir aos docentes  condições  pedagógicas  favoráveis  para  se  instigar  o avanço dos  estudantes,  conforme  suas potencialidades. O  excerto abaixo ratifica essa explanação: 

 Adotar uma postura positiva e incentivar o desenvolvimento das habilidades dos estudantes são passos  importantes para que eles comecem a se conhecer e perceber o que  têm de bom.‘O professor deve apostar no aluno, e para isso é necessário conhecê‐lo bem’, afirma a psicóloga e educadora Josca Baroukh, de São Paulo. Josca recomenda que os professores ouçam as crianças e os jovens e sejam sensíveis para identificar limites e possibilidades. Assim, de acordo com ela, eles adquirem condições para desafiar os estudantes — no que é possível a cada um — a progredir (CAVALCANTE, 2004, p. 32, grifos meus).  Não obstante ser adequado concordar com algumas  ideias 

acima  expostas,  faz‐se  necessário  examiná‐las  mais  detidamente sob  o  enfoque  ora  adotado.  De  fato,  a  educação  de  alunos  com deficiência,  sejam  adultos  ou  crianças,  exige  que  o  processo educativo  seja  visto  pelo  ângulo  positivo,  pois  não  se  pode  fixar apenas  nas  limitações  (VYGOTSKI,  1997).  A  título  de  respaldo teórico, basta  lembrar que Vygotski (1997) condenava a pedagogia 

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especial que  se  organizava  sobre  a  base de definições puramente negativas,  orientadas  para  a  “enfermidade”,  o  “defeito”  e  as “insuficiências”  da  criança.  Em  contrapartida,  seus  escritos advogam uma pedagogia que reconhece o vir‐a‐ser do homem, com destaque  para  suas  forças  compensatórias  e  aptidões  psíquicas, capazes  de  levá‐lo,  ainda  que  por  caminhos  alternativos,  à  plena validez  social,  à  “nutrição”  cultural  mais  ampla  possível.  Para  o autor,  “Es  imposible  educación  alguna  que  no  se  plantee determinadas  tareas  sociales positivas  […]”  (VYGOTSKI,  1997, p. 35).  No  seu  entender,  “[…]  ninguna  teoría  es  posible  si  parte exclusivamente  de  premisas  negativas,  así  como  no  es  posible práctica educativa alguna construida sobre  la base de principios y definiciones puramente negativos” (VYGOTSKI, 1997, p. 13).  

A  “postura  positiva”  do  professor,  no  entanto,  não  se restringe,  para Vygotski  (1997),  ao mero  incentivo  ou  “estímulo” para que os  alunos desenvolvam novas  capacidades.  Incentivar  é muito diferente de proporcionar,  deliberadamente,  os meios para o desenvolvimento  pessoal.  Com  isso,  dá‐se  a  entender  que  a responsabilidade  maior  fica  a  cargo  do  aluno,  o  mesmo  que  já enfrenta uma  série de dificuldades  sociais e psicológicas, além de orgânicas,  advindas  da  deficiência.    Dito  de  outro  modo,  a psicologia  vigotskiana  não  autoriza  uma  atitude  singela  de autoconhecimento  incentivado,  por  meio  do  qual  cada  um  vai percebendo  o  que  tem  de  bom.  Identificar  e  realçar  habilidades pode  ser  uma  maneira  estratégica  e  bastante  eficaz  para (re)direcionar a compensação social da deficiência. A categoria de totalidade,  porém,  não  pode  ser  esquecida.  Falando  sobre  os processos  compensatórios  para  a  educação  das  crianças  com deficiência intelectual, o autor supracitado considera tais processos como ponto de apoio ao desenvolvimento multilateral da criança. Em suas palavras: 

 Pero,  ¿se  puede  afirmar  que  el  desarrollo  del  niño  mentalmente retrasado  está  determinado  únicamente  por  los  procesos compensatorios? No  se  puede  plantear  el  problema  de  este modo.  Lo importante es aclarar qué da un punto de apoyo para el desarrollo multilateral del  niño.  Me  parece  que  es  un  objetivo  completamente  definido distinguir revelar y analizar    los procesos que, en el proprio desarrollo 

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infantil, deben  ser el punto de apoyo sobre el cual es preciso  trabajar, al operar con niños retrasados en la escuela politécnica (VYGOTSKI, 1997, p. 148, grifos meus).  

 Antes  de  ser  derivada  de  “incentivo”,  a  emergência  de 

outras habilidades e funções psicológicas superiores é resultante de um  planejamento  sistemático  e  intencional  do  professor,  que,  na atividade  educativa,  passa  a  mediar  a  apropriação  de  novas aptidões  e  funções  psíquicas  por  parte  dos  estudantes.  É precisamente  para  mediatizar  essa  transformação  qualitativa, evitando‐se  desvios  compensatórios  doentios  ou  fictícios,  que  o professor necessita conhecer bem o aluno, com o fito de responder a suas  particularidades  ontogenéticas  (VYGOTSKI,  1997).  Nesse sentido, reconhecer habilidades e vias compensatórias para mediar a constituição da personalidade integral dos indivíduos singulares, notando‐se limites e possibilidades, não é uma ação dependente de um  conhecimento  pautado,  sobretudo,  na  sensibilidade  dos professores, conquanto esta dimensão não esteja de todo ausente no trabalho  pedagógico.  É,  em  primeira  instância,  um  problema teórico‐metodológico,  no  sentido  de  que  o  professor  precisa objetivar,  em  sua  praxis,  certa  competência  técnica  (mas  não tecnicista)  que  lhe  coloque  em  condições  de  mediar  a  ação pedagógica.  Em  outras  palavras,  precisa  demonstrar  o  domínio objetivo  dos  meios  instrumentais  que  condicionam  o  trabalho educativo enquanto atividade humana específica, mediante a qual se  produz  “[...]  direta  e  intencionalmente,  em  cada  indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens” (SAVIANI, 2003, p. 13).  

O  tom  discursivo  adotado  em Nova  Escola,  contudo,  não ultrapassa  o  viés  sentimentalista  do  senso  comum  educacional, apesar  de,  na  aparência  imediata,  sinalizar  para  uma  praxis transformadora, que, apostando no aluno, em suas potencialidades, desafia‐o e  fá‐lo atingir etapas de próximo desenvolvimento. Mas, ao objetivar‐se pautada no senso comum, a revista  também revela que incorpora conceitos científicos e noções teóricas válidas, mesmo que de modo ocasional e desagregado. É possível, então, testificar a existência  de  um  núcleo  positivo  ou  sadio  no  interior  do  senso 

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comum, isto é, o bom senso intuitivo, não sistematizado ainda, mas indicador de um pensamento que pode vir a ser unitário e coerente (GRAMSCI,  1995).  No  caso  da  reportagem  em  tela,  isso  se manifesta,  de  forma  difusa,  em  algumas  considerações  sobre  a educação de pessoas com deficiência. Em certo  trecho, Cavalcante (2004, p. 32, grifos meus) expõe que: 

 A  sociedade  brasileira  ainda  engatinha  no  que  se  refere  à  inclusão. Devido à  falta de  informação e ao preconceito,  todos os envolvidos passam por dificuldades.  O  deficiente  sente‐se  excluído  porque  o  tratam  como incapaz. Os pais, por sua vez, infantilizam ou superprotegem os filhos. E o professor que  recebe um aluno  com  esse histórico  teme  fracassar na tentativa  de  integrá‐lo  à  sociedade,  principalmente  se  não  tiver orientação sistematizada.  A  primeira  parte  da  citação  é  questionável  e  precisa  ser 

perscrutada. Os “envolvidos” pela inclusão passariam dificuldades e  seriam  inferiorizados  porque  haveria,  sobretudo,  falta  de informação e preconceito disseminado nas relações sociais. De fato, ninguém  duvida  de  que  essas  situações  estivessem  e  continuem ocorrendo objetivamente. Entretanto, apenas constatar a existência do fenômeno diz pouco sobre sua essência, sobre as leis internas de seu  funcionamento  e  nexos  causais.  A  manifestação fenomenológica, parcial  e  caótica, deve  ser  superada, para que  se perceba a estrutura real da “coisa em si” (KOSÍK, 2002).  

Desse  ângulo,  argumento  que,  para  um  entendimento menos imediato do fenômeno inclusão, não basta, como faz a revista, explicitar,  em  linguagem  lacônica,  consequências  da  “exclusão”, sendo estas  independentes da prática  social global. Pela abordagem crítico‐dialética,  dever‐se‐ia  também,  na  exposição  dos  fatos, questionar  as  motivações  e  causas  do  preconceito  em  uma sociedade  que  se  pretende  inclusiva  e  por  que,  nesta  mesma sociedade, uns se apropriam das conquistas e conceitos científicos mais  elaborados  e  outros  permanecem  na  pseudoconcreticidade (KOSÍK), na  filosofia  espontânea, conforme objetivada “[...] em  todo sistema de crenças , superstições, opiniões , modos de ver e agir que se manifestam  naquilo  que  se  conhece  geralmente  por  ‘folclore’” (GRAMSCI,  1995,  p.  11).  Dever‐se‐ia  indagar  por  que  uns  são 

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alienados do  conhecimento  científico ou,  então,  lidam  com  ele de maneira  mistificada,  unilateral,  favorecendo  teorizações preconceituosas e alienantes. Isto repõe a problemática de se situar o  ideário  inclusivista  na  concretude  da  sociedade  brasileira capitalista,  colocando‐o  como  uma  derivação  desta  e  das proposições  político‐econômicas  internacionais.  Sob  esse  prisma, consegue‐se  compreender melhor  por  que  o  “deficiente”  sente‐se excluído e é tratado como incapaz.  

A própria deficiência,  como  representação  conceitual, não deixa de ser produto histórico engendrado pelo capitalismo. Neste ponto,  respalda‐me  Vygotski  (1997).  Ao  falar  sobre  o  estudo  da pessoa com deficiência intelectual, ele insiste em situar a questão na concreticidade  da  história  e  das  lutas  de  classe,  rechaçando posições  idealistas  ou  as  teses  empiristas.  Mostra  que  o entendimento  da  deficiência  como  “defeito”,  como  atributo unicamente negativo, como defectividade “[...] es ya una valoración social  [...]”  (VYGOTSKI,  1997,  p.  93).  Em  1931,  falando  sob condições  materiais  revolucionárias  vivenciadas  na  União Soviética,  o  psicólogo  bielorruso  assim  descreve  a  situação educacional de seu país: 

 Ahora, nuestra  escuela que  se  enfrenta  con objetivos  enormes, de una significación  histórica,  está  produciendo  un  cambio  decisivo  en  toda  la teoría y  la práctica de  la enseñanza y  la educación del niño normal y del retrasado.  Nuestra  escuela  auxiliar  siente  una  insuficiencia  de orientaciones  teóricas  de  principio,  de  una  fundamentación  científica que puede obtener de  las fuentes sobre  las cuales hemos hablado hasta ahora.  Y  lo  primero  se  nos  plantea  aquí    es  el  nuevo  fin  y  la  tarea práctica que debe encarar el estudio del niño mentalmente retrasado.  No el estudio por el estudio en sí, sino el estudio para encontrar las formas óptimas de  acciones  prácticas,  para  resolver  la  tarea  histórica  de  superar  realmente  el retraso mental, esta enorme calamidad que es una herencia de  la estructura de clase de la sociedad (VYGOTSKI, 1997, p. 132, grifos meus)11. 

                                                            11  Vygotski  (1997)  usa  o  termo  criança  “atrasada”,  “anormal”, “mentalmente  retardada”,  por  oposição  a  criança  normal,    não  com sentido preconceituoso e estigmatizante. Na realidade, trata‐se do jargão científico  adotado  no  começo  do  século  XX,  quando  escrevia  o  autor. Hoje, certamente, por questões éticas e pelo avanço da ciência, não cabe 

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O mesmo autor ajuda também a entender a exclusão sentida pela pessoa com deficiência, mencionada na reportagem. Vygotski (1997)  defende  a  ideia  de  que  a  deficiência  orgânica  leva  a  um “rebaixamento”,  a  um  descenso  na  posição  social  ocupada  pela pessoa nessas condições ontogenéticas peculiares. Não é raro que se trate  a  pessoa  “deficiente”  como  incapaz,  incompetente  e improdutiva, em particular na sociedade de classes que prima pela máxima  eficiência,  padronização  para  produtividade  em  larga escala  e  “controle”  de  qualidade,  ou  seja,  de  “normalidade”.  Em virtude  disso,  podem  surgir  complicações  secundárias  para  o desenvolvimento  do  sujeito,  visto  como  “desviante”  da  “norma” pré‐estabelecida.    A  pessoa  sente‐se,  então,  inferiorizada, “diminuída”,  incapacitada,  não  por  sentir  diretamente  sua deficiência, não pela  atuação  imediata das  causas orgânicas, mas, sobretudo,  porque  internaliza  valorações  negativas,  a  ela sociamente atribuídas, deparando‐se com obstáculos e dificuldades sociais, que restringem os caminhos de sua realização psicossocial em determinado contexto. Mediante essas ponderações, ainda que não expresse a ideia em termos teoricamente fundamentados, nem capte  as  determinações  estruturais  amplas  do  fenômeno,  Nova Escola  sinaliza  para  o  bom  senso  pedagógico,  ao  ressaltar  que  “O deficiente  sente‐se  excluído  porque  o  tratam  como  incapaz” (CAVALCANTE, 2004, p. 32). 

A  segunda  parte  do  excerto  de Nova  Escola  que  serve  de mote  a  estas  reflexões  prossegue  com  a  explicitação  do  núcleo válido do senso comum, aquele que merece “[...] ser desenvolvido e transformado em algo unitário e coerente” (GRAMSCI, 1995, p. 16). Estou  me  referindo  a  estas  proposições:  “Os  pais,  por  sua  vez, 

                                                                                                                            mais utilizá‐lo. Expressões como criança excepcional, especial, anormal, atrasada,  idiota,  entre  outras  similares,  tornaram‐se  carregadas  de sentido negativo e, por isso, busca‐se sua superação no plano ideológico. O autor citado também escrevia em um contexto histórico revolucionário, onde  a  questão  não  era  suprimir  completamente  as  escolas  especiais (auxiliares), mas vinculá‐las organicamente à proposta geral de educação social e coletiva, a ser definida para toda a União Soviética, que, naquele momento, procurava articular a educação aos princípios comunistas. 

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infantilizam ou superprotegem os  filhos. E o professor que recebe um aluno com esse histórico teme fracassar na tentativa de integrá‐lo  à  sociedade,  principalmente  se  não  tiver  orientação  sistematizada (CAVALCANTE,  2004,  p.  32,  grifos meus).  Perante  as  citações  e comentários antes expostos, creio ter sido possível depreender que, para Vygotski  (1997),  o  professor,  como  partícipe  da  construção  de uma  sociedade  e  escola  revolucionárias,  inspiradas  em  princípios comunistas, necessita conhecer as deficiências para superá‐las, não no  plano  biológico, mas  no  que  concerne  às  suas  consequências sociais.  

Para  tanto,  a  orientação  sistemática,  teórico‐metodológica, na  formação  docente  é  uma  condição  sine  qua  non.  Está  aí  um posicionamento da revista indicador de bom senso, pois o periódico sugere  a  necessidade  de  se  garantir  orientação  sistematizada  ao educador. Na alerta marxiana, a  transformação das circunstâncias, inclusive educacionais, para a formação do novo homem e de uma educação modificada,  é  produto  da  ação  humana  concreta  sobre tais  circunstâncias  (MARX;  ENGELS,  2007).  O  professor  precisa apropriar‐se dos  instrumentos de  seu  trabalho, que, nesse  caso,  é um  trabalho  não‐material  (SAVIANI,  2003),  instrumentalizado pelos  conteúdos  científico‐culturais, vistos  como  essenciais  “[...]  à constituição da  humanidade  em  cada  ser  humano  e  à descoberta das  formas  adequadas  para  se  atingir  esse  objetivo”  (SAVIANI, 2003, p. 22). Não obstante, um ponto  contraditório,  revelado pelo periódico,  é  que  ao  professor  se  colocaria  a  tarefa  de  integrar  o “deficiente”  à  sociedade.  As  tentativas  dessa  ação  poderiam fracassar,  como  temido  pelos  docentes,  justamente  devido  à ausência  de  propostas  formativas  adequadas.  Nesse  caso,  fica patente  o  aspecto  artificial  da  “inclusão”  e  a  unilateralidade  do processo,  posto  principalmente  sob  o  encargo  dos  professores, ainda mais quando desprovidos de formação suficiente.  

Por outro ângulo, se a sociedade é excludente, se a e escola erige‐se nesta estrutura e, mesmo perante os avanços contraditórios da  “inclusão”,  não  questiona  as  inter‐relações  entre  a  orientação ideológica pretendida e a prática econômica predominante, é difícil uma  “integração”  bem‐sucedida.  Mesmo  que  se  imagine  uma 

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situação de máximo investimento na formação docente, o problema não  fica  resolvido.  O  processo  de  “inclusão”  dá‐se,  pois,  como imposição mecânica,  segundo  exprime  o  conteúdo  semântico  do verbo  integrar.12  Os  professores  percebem  isso  de  modo  difuso, porquanto,  na  sociedade  alienada,  são  constrangidos  em  seu processo  catártico,  expropriados  da  autoria  de  seu  trabalho (SANTANA, 2008) e conformados ao modelo pedagógico vigente, sustentado  pela  bandeira  do  politicamente  correto.  Não  é  exato afirmar,  porém,  que,  na  totalidade,  sua  praxis  seja  “tragada” irremediavelmente  pelas  representações  e  forças  dominantes, caracterizando‐se  pela  absoluta  precariedade  formativa.  Isto  seria incorrer  no  determinismo  mecanicista.  Tampouco  é  adequado negar o caráter contraditoriamente transformador da ação docente ou a possibilidade de sua determinação individual, ainda que existam limites  consideráveis  a  esta  determinação,  em  especial  quando  as situações alienantes têm predominância.  

Nesse  sentido,  queremos  dizer  que,  diante  do  caso analisado, a prática pedagógica relatada em Nova Escola, em turmas de  EJA,  não  deixa  de  ser  potencialmente  revolucionária,  pois prenuncia  o  início  de  uma  reflexão  catártica  sobre  a individualidade de cada um e seu papel no coletivo, sejam pessoas com ou sem deficiência. O homem, diz Gramsci  (1995), pode vir a ser  o  guia  de  si  mesmo,  não  aceitando  servilmente  imposições externas  à  sua  personalidade,  à  medida  que  se  conhece  como síntese  histórica  das  relações  sociais  existentes.  Assim  sendo,  a consciência de si não está limitada, para o filósofo italiano, ao mero conhecimento especulativo da  individualidade. Esse processo  já é, para  a  filosofia  da  praxis,  uma  etapa  que  medeia  transformações revolucionárias, com vistas a superar a alienação econômica, social e psíquica ainda presentes nas formas de intercâmbio humano, das quais o ser singular faz parte. Diz o pensador sardo: “Se a própria individualidade  é  o  conjunto  destas  relações  [sociais],  conquistar 

                                                            12  Segundo o minidicionário Houaiss  (2009, p. 428, grifos meus),  integrar significa:  1  incluir  (‐se)  em  (conjunto,  grupo),  formando  um  todo coerente; incorporar (‐se). 2 [fazer] sentir‐se parte de (grupo, coletividade); adaptar‐se. 3 unir‐se, formando um todo harmonioso; completar‐se.  

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uma  personalidade  significa  adquirir  consciência  destas  relações, modificar  a  própria  personalidade  significa modificar  o  conjunto  destas relações”  (GRAMSCI,  1995,  p.  40,  grifo meu).  Entretanto,  é  neste ponto,  o do  conhecimento de  si  como momento da  e para  a  luta revolucionária,  que  a  pedagogia  da  inclusão  mostra  seu  caráter reacionário, pois não avança  rumo ao questionamento do modelo social instituído.   

Dadas essas explicações, posso, então, retomar o fragmento de Nova Escola para dele extrair outro indício teórico de bom senso, focando  as  ideias  lançadas,  pelo  periódico,  sobre  determinadas circunstâncias sociais que são comumente identificadas na trajetória ontogenética das pessoas com deficiência. Diz naquele  trecho que “Os  pais,  por  sua  vez,  infantilizam  ou  superprotegem  os  filhos” (CAVALCANTE,  2004,  p.  32).  Outro  fragmento,  que  antes  foi utilizado  para  a  crítica  ao  termo  identidade,  também  possui  um núcleo  positivo  a  ser  considerado.  Ei‐lo:  “Para  fortalecer  a identidade de crianças e adolescentes, em especial os deficientes, é necessário  olhá‐los  sem  benevolência”  (CAVALCANTE,  2004,  p.  32, grifo meu).  Essas  afirmações  confirmam  e  ilustram  o  que  vinha dizendo  sobre  as  interferências  secundárias,  de  natureza  social, refletidas  na  ontogênese  de  pessoas  com  curso  diferenciado  de desenvolvimento.  

Apesar  de  esse  texto  do  periódico  não  se  referir explicitamente aos pressupostos vigotskianos, o autor soviético fez considerações importantes a respeito. Suas proposições auxiliam no entendimento de como a sociedade, especialmente a família, e, por extensão,  a  escola,  costuma  se  relacionar  com  o  “diferente”,  às vezes  infantilizando‐o  com  superproteção  benevolente,  como mostra Nova Escola. Ou, em outras ocasiões, valorando‐o como um “castigo”  a  que  se  deve  “suportar”  com  resignação.  Ambos  os cenários cerceiam a emergência de funções psicológicas superiores, reestruturando,  sob vias  “especiais”,  os vínculos que  o  indivíduo mantém com a coletividade (VYGOTSKI, 1997). 

A  deficiência,  que,  em  si  mesma,  é  um  fato  biológico, provoca  determinadas  reações  sociais,  que,  secundariamente,  dão novo  curso  à  formação  integral  da  personalidade,  separam  o 

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indivíduo de seus pares e lhe conferem um estigma de “desvalido” (VYGOTSKI,  1997).  Na  EJA,  ou  em  qualquer  outra etapa/modalidade  de  escolarização,  são  estas  manifestações  do fenômeno “deficiência” que o professor precisará enfrentar. Logo, conhecer  cada  aluno  e  suas  peculiaridades  ontogenéticas  é importante, mas o é na proporção em que também se explicitam as contradições  sociais  que  alimentam,  acentuam  e  fetichizam  a deficiência,  no  interior  de  relações  de  produção  capitalistas, fundamentas  nos  antagonismo  de  classe,  sendo  uns  indivíduos mais valorizados, e outros aviltados. Concordo com Barroco (2007b, p. 230, grifo meu), quando esta afirma que:  

 [...]  educar  indivíduos  com deficiência  e/ou necessidades  educacionais especiais implica em levá‐los às formas de compensações adequadas, ao encontro  de  vias  colaterais  de  desenvolvimento  [...].  Os  processos compensatórios  devem  encaminhar  ao  desenvolvimento  das  funções psicológicas  superiores  de  tal modo  que  os  indivíduos  possam  ter maior compreensão de si mesmos e da sociedade que eles mesmos ajudam a formar. 

 Este  pode  ser,  doravante,  o  ponto  de  partida  para 

repensarmos  criticamente a  inclusão  escolar  e as discussões  sobre individualidade de pessoas com e sem deficiência, sob bases críticas e  emancipatórias.  Compreender  a  si  é,  em  última  instância, compreender‐se  em  uma  determinada  sociedade,  organizada  sob relações  de  produção  que  podem  ser,  intencionalmente, revolucionadas. E  isso põe  em  relevo a necessidade de  superação das  fragmentações  pós‐modernas,  assentadas  na  negação  das categorias explicativas de totalidade, universalidade, contradição e historicidade,  soterradas pela bandeira multiculturalista e por  sua celebração móvel  das  alteridades  e  diversidades,  alienadas  da  base material.   Considerações finais 

 No que concerne ao entendimento sintético e valorativo da 

reportagem  analisada,  bem  como  das  fontes  complementares consultadas,  em  relação  ao  posicionamento  ideológico  expresso pelo  ideário  inclusivista  hegemônico,  é  possível  dizer  que  este 

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incorpora pressupostos do subjetivismo identitário pós‐moderno, levando à exaltação  fetichista  das  habilidades  das  pessoas  com  deficiência;  o  que, contraditoriamente  pode  provocar  a  unilateralidade  do  seu desenvolvimento  individual.    Enfatiza‐se  o  aprender  a  gostar  de  si  e  o aprender  a  viver  juntos,  nos  termos  derivados  do  ideário neoescolanovista/multiculturalista difundido, com forte intensidade, desde os  anos  de  1990,  em  consequência  das  reformas  do  capitalismo contemporâneo. Nota‐se, assim, que o movimento de inclusão escolar e  a  valorização  das  identidades  descentradas  pela  corrente multiculturalista  convergem  em  seus  pontos  e  reivindicações principais, de maneira que a propalada aceitação da diferença e da multiplicidade  identitária,  conforme  está  posta,  abre  um  novo caminho  para  a  expansão  e  reprodução  sociometabólica  do capitalismo. No entanto, a presente crítica não pode ser entendida como  apologia  à  homogeneidade  ou  à  manutenção  de  práticas sociais segregadoras. Trata‐se de uma crítica para a proposição de novos  caminhos  teórico‐metodológicos,  a  serem  elaborados  com base no referencial marxista.  

Por  fim,  gostaria  de  encerrar  essas  reflexões  lembrando, ainda,  a  necessidade de  referenciais  teóricos  críticos para  guiar  a prática  pedagógica  na  EJA,  como  em  toda  praxis  escolar.  Isto  é importante para que  as pessoas  com  e  sem deficiência,  jovens ou adultos,  adolescentes  ou  crianças,  valham‐se  de  sua  condição  de sujeitos, percebendo as marcas de sua própria  individualidade. E, com  a  mediação  pedagógica  do  educador  e  dos  conteúdos científicos, possam relacionar‐se consigo mesmos e com a sociedade de  maneira  mais  consciente  e  livre,  não  apenas  de  modo desarticulado,  espontâneo  e  cotidiano.  Em  outras  palavras,  o processo  educacional,  inclusive  com  certa  urgência  e  assumindo conotações  singulares  nas  condições  em  que  se  desenrola  a  EJA, deve mediar o avanço dos educandos da individualidade em si para a  individualidade  para  si,  pela  socialização  do  saber  elaborado (BEZERRA; SANTANA, 2011; DUARTE, 1993; GRAMSCI, 1995).  

Nessa  direção,  entendo  ser  da  máxima  importância fortalecer a personalidade de cada um e de todos como sujeitos da, na e com História  (GRAMSCI, 1995);  sujeitos que  se  transformam 

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conscientemente,  quando  buscam  os  meios  concretos  para transformar a realidade adversa, reunindo elementos conceituais e práticos  que  deem  início  à  desfetichização  das  categorias  de identidade,  deficiência  e  diversidade,  tendo  em  vista  o  real atendimento das necessidades educacionais especiais de cada um e a  superação  da  sociedade  de  classes.  Nessa  tarefa,  a  Pedagogia Histórico‐Crítica,  a  Psicologia  Histórico‐Cultural  e  a  filosofia marxista  continuam  sendo  referências  imprescindíveis  para desencadear  e  respaldar  a  praxis  revolucionária,  para  além  do capital.  

   

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O BULLYING NO ÂMBITO ESCOLAR E A MÍDIA:  ALGUMAS REFLEXÕES 

 Gilmar Ribeiro Pereira 

Maria José de Jesus Alves Cordeio  

 Introdução 

 O  presente  trabalho  “o  bullying¹  no  âmbito  escolar  e  a 

mídia:  algumas  reflexões”  pretende  esclarecer  por  meio  de referenciais  teóricos de  como  tem  sido as abordagens  referentes à  violência  no  Brasil,  em  especial  o  bullying  no  âmbito  escolar  e também como a sociedade midiática tem abordado tal questão. 

É  sabido  que  a  violência,  qual  seja  ela,  provoca consequências  desagradáveis  aos  seres  humanos.  Para  tanto,  é preciso  ter clareza, de que quando aborda  tal assunto de  tamanha gravidade,  deve‐se  ter  o  cuidado  de  não  caracterizá‐lo  somente superficialmente,  como  tem  feito  a  sociedade  midiática,  sem preocupar‐se com as causas e consequências e  como se prolifera a violência  no  âmbito  escolar,  tanto  dentro  quanto  fora  da  escola. Assim sendo, tratar a questão como algo vendável é a afirmação da espetacularização da notícia, sendo somente de conteúdo de senso comum, ou seja, o sensacionalismo moderno.  

A violência não é um ato  individual, é necessário  levar‐se em conta que  individuo é produto das suas afetações e que desse modo,  esses  atos  são  efeitos  da  convivência  mútua,  das representações  de  poderes,  bem  com    das  relações  sociais.  Logo,  determinadas ações de violências ocorridas no âmbito  escolar  são produzidas  por  atos  de  intimidação,  humilhação,  terrorismo  e brincadeiras de mau gosto, dentre  outras. Nota‐se que são práticas de bullying e, por vezes, questões como essas não são tratadas pela a mídia com seriedade.  

A  partir  desta  temática  é  de  suma  importância  debater assuntos  que  permeiam  o  bullying  na  sociedade  brasileira. Contudo,  há  alguns  anos    vem  sendo  discutindas  as  ações  de 

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violência no âmbito escolar e o modo como a sociedade midiática tem abordado tal questão. 

 Assim sendo, o que não se pode é fechar os olhos para tais circunstâncias,  como  as    depreciações  do  patrimônio  público, homicídios e até mesmo suicídios. Ao nosso olhar, a escola é espaço pertinente para debater, refletir e se possível elencar sugestões   de relevo,  como  o  convívio  saudável,  o  respeito  mútuo  e  a solidariedade, uma vez que a escola é um “território” de  relações de poderes e de representações sociais. Sem dúvida, a escola pode contribuir muito para essa tarefa. 

 1. O bullying escolar e a mídia    Desde  o  final  dos  anos  90  do  século  passado,    vêm‐se discutindo no Brasil,   a problemática da violência escolar, por  ser um  elemento  que  se  tem  desdobrado  com muita  intensidade  na sociedade  pós‐moderna,  “Nessas  sociedades  em  tempos  de ‘globalização’,  ‘mundialização’,  ‘sociedade  pós‐industrial’,  ‘pós‐modernidade’, ‘modernidade radical’, não se supõe a existência de uma  igualdade  de  acesso  aos  novos  bens  ou  às  novas possibilidades”  (SCHILLING, 2004, p.17) por uma sociedade cada vez estimulante no que diz respeito aos aspectos da competividade e do consumismo desenfreado. Parafraseando  (FANTE & PEDRA, 2008)  a  competitividade  e  o  individualismo,  acabam  sendo produzidos  por  pressão  da  família  e  até mesmo  pelo  seriado  de conteúdos  escolares,  que  reforçam  e  acabam  dando  lugar  à obtenção de resultados, a exemplo   dos vestibulares. 

Nota‐se que a violência não é um ato natural e comum e, sim,  produzida  por  uma  sociedade  de  competição  que  acaba estimulando cada um a fortalecer seu individualismo, ”sistema esse cada  vez  mais  dominado  por  uma  ‘ética’  da  privatização,  do individualismo  alienado,  da  ganância  e  do  lucro”  (MOREIRA; TADEU, 2011, p.66), a  instituição a escola,   ao não reconhecer  tais problemas,  acaba  reproduzindo  as  mesmas  ações  de competitividade,  ao  invés  de  estimular  o  respeito  mútuo,  a solidariedade e a cooperação. 

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Por isso, essa violência se transforma em um fenômeno que intimida,  humilha  e  aterrorizar  sendo  definido  como  Bullying,  os atos  produzidos  por  representações  sociais,  que  atinge  o  meio escolar. 

Para  tanto, não se deve aplicar uma explicação simplicista ao  termo  violência  ‐  “Violência”  provém  do  latim  violentia,  que significa “veemência”, “impetuosidade”, e deriva da raiz latina vis, “força”.  (PINHEIRO,  2009,  p.  14).  Certamente,  não  podemos imaginar  que  esta  definição  nos  baste,  até  porque  a  violência apresenta  uma  multiplicidade  de  significados,  requerendo  uma avaliação cuidadosa de suas variações e implicações. 

No  entanto,  sobre  a  violência  escolar,  vários  autores apresentam divergências sobre o conceito, para isso vejamos como (RUOTTI, 2006, p. 24) classifica: 

   Um  dos  primeiros  pontos  de  divergência  entre  os  pesquisadores  que trabalham o tema da violência nas escolas foi justamente sobre o uso do termo “violência” para se referir ao assunto, o que, para alguns, parecia excessivo ao se tratar de questões referentes ao âmbito escolar. Contudo, atualmente  são  poucos  os  pesquisadores  que  não  aceitam  o  termo “violência nas escolas”.  Entre eles está a dificuldade em delimitar, cientificamente, o objeto a ser estudado. Quando se faz uso de um termo tão amplo como “violência”, que abrange desde agressões graves até as pequenas  incivilidades que acontecem na escola, o problema pode tornar‐se impensável devido aos inúmeros tipos de situações envolvidas ou pode, simplesmente, passar a criminalizar  e  estigmatizar  padrões  de  comportamento  comuns  no ambiente  escolar.  Ao  mesmo  tempo,  ao  adotar  uma  definição excessivamente  limitada,  pode‐se  acabar  excluindo  a  experiência  de algumas vítimas no processo de reflexão sobre o problema, o que, para o autor,  deve  ser  evitado,  pois  “a  voz  das  vítimas  deve  ser  levada  em consideração  na  definição  de  violência,  que  diz  respeito  tanto  a incidentes  múltiplos  e  causadores  de  stress,  que  escapam  à  punição, quanto a agressão brutal e caótica”  

 Fica  claro  que  não  basta  apenas  uma definição  ampla do 

assunto, sem mesmo levar em conta as peculiaridades manifestadas pela  violência. Assim  tratando‐se  do meio  escolar  há  uma maior preocupação em não atribuir a determinados atos de indisciplina a caracterização  como  atos  de  violência,  ou  seja,  a  violência 

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produzida  não  é  um  fato  isolado,  mas  deve‐se  levar  em consideração como  foi gerada e desta  forma buscar possibilidades de sanar o problema. 

No  interior do espaço escolar acaba sendo produzido outro tipo de violência, como afirma (ROUTTI, 2006, p.70): 

As  agressões  verbais  entre  os  professores  seriam  pouco  freqüentes, segundo  os  entrevistados.  A  mesma  tendência  foi  constatada  na freqüência  de  agressões  verbais  entre  professores  e  funcionários,  a maioria dos dirigentes mencionaram que nunca ocorriam. Os dirigentes das escolas relataram que as agressões físicas leves (como empurrões,  chutes  e  tapas)  eram  também  freqüentes  entre  alunos.  (...) seriam  apenas  brincadeiras  que  não  afetariam  as  relações  de  amizade entre os alunos. Nota‐se nesse ponto como, muitas vezes, naturalizam‐se certos comportamentos agressivos, o que pode se constituir em entrave para a construção de ambiente escolar baseado no respeito mútuo e em atitudes não violentas.   Enquanto    alguns    autores    referem‐se  a  essas  agressões 

físicas  e  verbais  como  atos  de  Bullying,  por  serem  agressões  de intimidações  e  humilhações,  que  acarretam  mais  tarde intranquilidade no meio escolar,  justamente por  imaginar que são “atos de brincadeiras”, temos a seguinte  afirmação (MIDDELTON‐MOZ & ZAWADSKI, 2007, p.21):  

  o  bullying  envolve  atos,  palavras  ou  comportamentos  prejudiciais intencionais  e  repetidos. Os  comportamentos  incluídos no  bullying  são variados:  palavras  ofensivas,  humilhação,  difusão  de  boatos,  fofoca, exposição  ao  ridículo,  transformação  em  bode  expiatório  e  acusações, isolamento,  atribuição  de  tarefas  pouco  profissionais  ou  áreas indesejáveis no  local de  trabalho, negativa de  férias ou  feriados, socos, agressões,  chutes,  ameaças,  insultos,  ostracismo,  sexualização,  ofensas raciais, étnicas ou de gênero. 

   Em referência ao que foi dito acima (CUBAS, 2006, p. 185) clarifica que 

O bullying que, muitas vezes, é visto apenas como uma “brincadeira de criança”  é, basicamente, a ausência ou a  ruptura de normas  sociais. A ausência  de  sanções  àqueles  que  seguem  suas  vontades  individuais  e não respeitam o direito à integridade física ou moral do outro pode ser a precursora de casos mais graves de  incivilidades, pois sinaliza que não existem limites para os atos dos agressores e que não existe defesa para as vítimas.  

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  Em  outro  determinado  momento  sobre  as  determinadas agressões físicas e verbais, no âmbito escolar (ROUTTI, 2006, p.30) enfatiza: 

 Pesquisas  identificaram  que  os  alunos  que  provocaram  as  agressões, geralmente,  eram  vítimas de  assédio moral  entre  os  colegas,  sofrendo constantes piadas e gozações, recebendo apelidos e sendo discriminados pelos outros alunos. Em virtude disso, a grande maioria dos programas e pesquisas  realizados nessa área enfatiza a questão do assédio moral, também denominado bullying.  

    Assim  sendo,  a  escola  que  deveria  ser  o  meio  de socialização  e  convivência  saudável,  acaba‐se por  transformar  em um  espaço  onde  crianças  e  jovens  se  revitalizam  e  estimulam  a opressão  ao  outro,  deixando  de  lado  de  fato  as  brincadeiras saudáveis,  como  construir  uma  boa  relação  de  amizade,  de convivência  aplausível,  de  respeito mútuo,  troca  de  experiências, da comunicação do diálogo e de solidarização. Abramovay (2002, p. 92) alerta: 

 Mesmo que a violência nas escolas não se expresse em grandes números e apesar de não ser no ambiente escolar que acontecem os eventos mais violentos da  sociedade, ainda assim, este é um  fenômeno preocupante tanto  pelas  sequelas  que  diretamente  inflige  aos  atores  partícipes  e testemunhas,  como  pelo  que  contribui  para  rupturas  com  a  ideia  da escola como lugar de conhecimento, de formação do ser e da educação, como veículo por excelência do exercício e aprendizagem, da ética e da comunicação por diálogo e, portanto, antítese da violência.  

 Em  afirmação  do  que  foi  abordado  anteriormente 

(SCHILLING, 2004, p.69) afirma:  Quem, senão a prática educativa nas escolas, pode realizar de maneira intensa o direito humano que nos diz que toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de fazer parte do progresso cientifico e seus benefícios? Este é o objetivo central  da  escola:  possibilitar  o  acesso  aos  bens  científicos  e  culturais produzidos  pela  humanidade.  Igualdade,  é  nessas  práticas  que conquistamos  o  exercício  da  liberdade  de  expressão,  do  acesso  à informação que possibilite o usufruto dos direitos civis e políticos, dos direitos sociais e econômicos.  

 Ainda nesse enfoque (ROUTTI, 2006, p.26) chama atenção: 

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Assim,  de  instituição  encarregada  de  socializar  as  novas  gerações,  a escola  passa  a  ser  vista  como  o  ambiente  que  concentra  conflitos  e práticas  de  violência,  situação  essa  que  “passa  pela  reconstrução  da complexidade das relações sociais que estão presentes no espaço social da  escola”.  Estaríamos  vivendo  um  período  de  crise  da  educação,  ou seja, o papel da escola já não está tão claro e não há mais sentido para os alunos  freqüentarem  um  espaço,  percebido,  muitas  vezes,  como desagradável  e  excludente.  O  que  antigamente  era  visto  como  o trampolim  para  uma  vida melhor,  aumentando  as  oportunidades  de trabalho e de qualidade de vida, perdeu‐se no  tempo e, hoje, os  jovens vivem  a  desesperança  em  relação  ao  futuro  e  nesse  contexto  é  que emerge a violência na escola.  

   E ainda nesse contexto, temos outra discussão de violência no âmbito escolar que causa distúrbios e estimula a depreciação do espaço escolar, como algo  inviável para a  formação  intelectual do indivíduo,  trata‐se  da  depredação  ao  patrimônio  público,  como afirma  (SCHILLING, 2004, p.79) “há outras  formas de violências à escola  como:  ações  violentas  identificadas  são  as depredações,  os furtos, e as invasões aos prédios escolares”.   (ROUTTI, 2006, p. 62) reforça  tal  convicção  “situações  de  indisciplina  e  violência  no ambiente  escolar  acabam  por  afetar  o  rendimento  escolar  dos alunos, causam a evasão, a deterioração das instalações das escolas e a desvalorização do ambiente escolar”.  

Ainda (ROUTTI, 2006, p.62) relata:    No  que  diz  respeito  à  violência  contra  o  patrimônio  escolar,  essas pesquisas  evidenciam  que  as  escolas  pesquisadas,  segundo  seus dirigentes,  sofrem  em  grande  medida  com  as  depredações, arrombamentos,  pichações  (internas  e  externas)  e  com  o  furto  de equipamentos e materiais.  

 As  referências  citadas  acima  reforçam  o  que  vem  sendo 

assumido ao longo deste trabalho, ou seja,  há  uma necessidade de rever o papel pedagógico político da escola, e viabilizar discussões sobre  a  temática  da  violência  no  âmbito  escolar,  que  por  alguns motivos  externos  e  internos  desabrocham  em  seu  meio.  Assim, existe a necessidade de procurar caminhos viáveis para superação de tais circunstâncias.  

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Enquanto a escola continuar  impondo um currículo com a organização  dos  conteúdos  de  forma  seriada  e  fragmentada, caminhando  de  forma  tradicional  e  cristalizando  a  cultura burguesa,  sem  levar  em  conta  as mudanças  que  têm  ocorrido na sociedade  brasileira  em  tempos  de  globalização,  favorecerá  a geração de atos de violência, entre os alunos e  consequentemente na  sociedade,  que  seculariza  uma  história,  principalmente  o bullying, que tem desdobramentos em conflitos muito agressivos a ponto  de  quebrar  as  regras  de  limites,  diálogo  e  tolerância.   As atitudes  acabam  em  violência,  às  vezes  explícitas,  de  agressões verbais,  corporais,  chegando  a  extremos,  como  homicidios  e suicídios.  Entretanto,  o  bullying  pode  também  manifestar‐se  no meio escolar, através de apelidos cruéis, gestos, desenhos, piadas, ameaças,  gozações,  roubos  de materiais  e  outras.  Daí  o  bullying encontrar‐se inserido  dentro de um quadro de violência simbólica. 

A sociedade não é estática, tal como uma novela de ficção, nas  quais  as  coisas  acontecem  naturalmente  e  aparentam  serem reais,  pois,  vivemos  em  sociedade  que  se movimenta,  como  nós seres  humanos,  que  somos  racionais,  com  vontades,  desejos, paixões,  sentimentos,  capacidade  de  fazer  escolhas  e  tomar decisões. 

Segundo Brandão (2008)  

[...]  Não  somos  quem  somos,  seres  humanos,  porque  somos  “seres racionais”. Somos quem somos e somos até mesmo “racionais”, porque somos seres “aprendentes”. Somos seres vivos dependentes de estarmos a todo o tempo de nossas vidas – e não apenas durante algumas “fases” dela  –  aprendendo  e  reaprendendo.  Somos  pessoas  humanas  que dependemos  inteiramente dos outros  e de nossas  interações  afetivas  e significativas com eles para aprendermos até mesmo a sermos... pessoas. (BRANDÃO, 2008, p.28) 

 Assim sendo, pode‐se afirmar que os serem humanos não 

são  apenas  seres  de  necessidades  biológicas  e  de  circunstâncias determinadas,  logo,  são seres culturais que vivem e modificam‐se cotidianamente, mudam‐se os tempos, mudam‐se as vontades. 

Dai  a  escola  ser  o  espaço  das  reflexões  e  das  discussões, porque de alguma forma os seres humanos passarão pela  escola e 

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essa  instituição  tem  por  obrigação  estimular  situações  de convivência  mútuas,  de  respeito  e  dignidade,  além  de  criar mecanismos  que  desestimulem  as  atitudes  de  violência  no  seu âmbito  e,  mais  ainda,  trabalhar  com  informações  que  levam  o cidadão a pensar a sua importância na sociedade em que vive.  

Contudo, o que se vê são efêmeros  trabalhos em  torno da questão,  pois,  não  há  persistência  em  combater  as  causas  e consequências  além  da  escola,  temos  a  mídia  com  visões equivocadas  sobre  a  violência  e,  principalmente  em  relação  ao bullying  no  âmbito  escolar,  enfatiza  o  assunto  sem  clareza  e  sem soluções  para  tal  situação,  somente  como  objetivo  da espetacularização da notícia ou  como uma “coisificação”  segundo (ADORNO, 2006).   Parafraseando  (FERREIRA,  2007),  o  conceito  de  mídia chegou ao Brasil pelo inglês media (pronuncia‐se “mídia”, com som de  /i/)  e  pode  ser  entendida  como  sinônima  de  “meios  de comunicação”. Na  verdade,  o  termo  já  existia  em  latim: media  é plural de médium, substantivo neutro que significa “meio, elemento intermediário, mediador”. Para tanto o, (DICIONÁRIO HOUAISS, 2011):  “a  palavra  e  a  pronúncia  inglesas  (em  especial,  a  norte‐americana) se exportaram, graças ao seu maciço poder de cultura, comércio  e  finanças, manifestos  em  particular,  no  caso  brasileiro, nas agências de propaganda comerciais”.   Entretanto,  a  pronúncia  da  palavra  mídia  no  Brasil  tem conotação  de  dominação  cultural,  ou  seja,  veio  em  inglês  com pronúncia norte‐americana, e não pelo o latim, já que somos povos de  língua  neolatina,  aqui  de  forma  alguma  gostaríamos  de intensificar o nacionalismo linguístico e, nem demonizar a palavra e substituir  por  “meios  de  comunicação”,  continuaremos  usando  o termo mídia, que existe no português brasileiro, é dicionarizado e registrado  no  Vocabulário  ortográfico.  Mas  não  deixa  de  ser significativa sua origem.   Assim  sendo,  para  existência  da  mídia  é  necessário  o emissor que produz uma mensagem, que é destinada ao receptor, as  coisas  tornam‐se  intrinsicamente  ligadas  uma  vez  que  há  um canal de comunicação, daí o significado que a mídia é um “meio”.  

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  Durante grande parte da história da humanidade para que as pessoas pudessem se comunicar teriam que estar face a face, com tempo os indivíduos adotaram outros meios de comunicação, como as pinturas nas paredes, sinais de fumaça, a invenção da escrita, da imprensa e transmissões de  informações, e na passagem do século XIX  para  o  XX,  o  telefone,  o  rádio,  a  televisão,  o  cinema,  a publicidade,  os  computadores,  a  internet,  os  celulares,  o mundo digital, assim sendo, permitiram ampliar a comunicação à distância. Portanto, a mídia hoje é um “meio” que produz em  larga escala e de expressão capaz de transmitir mensagens, daí não estar isolada e sim vinculada com as relações sociais.    Nota‐se  ao  lidar  com o  social, que  as  informações podem estarem  condicionadas a uma massificação  cultural no  sentido de desinformar o indivíduo. O número de pessoas que expressam uma opinião é sempre menor, do que aquelas que recebem, ou seja, em vez de receber informações com fundamentos claros e destinos, no decorrer  do  processo  são  codificadas  e  manipuladas  por  uma comunicação social de massa, (FERREIRA, 2007).   Dessa  forma, as  informações da mídia não  é uma  coisa  e, sim se transforma em coisa, é um produto a ser comercializado e a violência  como  uma  coisa  em  si,  como  se  não  houvesse  uma história,  e,  transformando‐a    em  um  produto    vendável,  ou  seja, mercadoria  de  consumo.  A  indústria  cultural  dos  divertimentos não  torna, de  fato,  a vida mais humana, parece mais um  jogo de sedução,  de  fantasias  e  alienação,  que  faz  permanecer  as desigualdades sociais. (ADORNO, 2002).   Logo,  a  felicidade  proporcionada  pelo  cinema,  pela  a televisão, pelas músicas nas  rádios  e pela  internet,  é  enganadora. Ela  é  enfatizada  por  uma  indústria  que  está  a  trabalho  da padronização de comportamentos.   Exemplo  disso  são  as  reportagens  da  revista  (VEJA, 20.04.2011),  que  enfocam  o  tema  violência  de  forma  homogênea, relatando  o  massacre  ocorrido  em  Realengo  (Rio  de  Janeiro) cometido  por  Wellington,  que  longo  da  sua  vida  escolar possivelmente vivenciou opressões, desprezos, achincalhações por parte de seus colegas, daí então, mediantes estes conflitos internos e 

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externos,  acredita  que  para  resolver  seus  problemas  psíquicos,  o caminho  é  revidar por meio de uma  barbárie,  como  a prática de homicídios a várias crianças inocentes e depois o próprio suicídio.  

 Todavia,  a  frequência  com  que  são  vítimas  sofrem violência,  em  especial  o  bullying  poderá  acarretar  traumas psicológicos,  podendo  “ter  prejuízos  irreparáveis  ao  seu desenvolvimento  cognitivo,  emocional  e  socioeducacional”, (FANTE;  PEDRA,  2008,  p.84),  contudo,  as  possibilidades  de rejeições  sociais nas vivências do  âmbito  escolar,  como  já  foi dito anteriormente neste trabalho são resquícios das práticas de bullying, que podem ter contribuindo para tais situações de barbárie. 

Assim, a revista por meio de sua reportagem reproduz um embrião  que,  acaba  por  proliferar  um  tipo  de  violência  gratuita, cristalizada pela  sociedade neoliberal que  julga  ser melhor aquele que  se  sobrepõe  às  outras  pessoas.  Tratou  o  assunto  como  se  o jovem  estivesse  ligado  a  algum  grupo  terrorista,  pois,  abordou  a situação apenas como mais uma noticia que iria para as bancas, ou seja, desviou o foco da informação. 

Outro fato, que cabe lembrar também, ocorrido em  tempo anterior  a  este,  foi  o  tratamento  dado  pela  a  revista  no  caso  da “Jovem  aluna  Geisy  Arruda,  que  foi  expulsa  da  Universidade Uniban” (VEJA, 2009), por causa da intolerância dos colegas a seus trajes. Em nenhum momento a revista citou o direito de escolha e da  isonomia  individual,  uma  vez  que  isso  é  garantido juridicamente  e  constitucionamente.  Logo,  cabe  afirmar  que  a notícia  somente  ganha  sensacionalismo  barato,  [...]  “quando  os meios  de  comunicação  veiculam  cenas  de  barbárie” (MENTE&CÉREBRO, 2008, p. 75).   

No  caso  da  televisão  que  atinge  boa  parte  de  nossa população  brasileira,  temos  um  episódio  recente  na  cidade  de Campo  Grande‐  MS,  divulgado  pela  TV  Morena  no  dia  11  de setembro de 2013, um caso de violência no entorno da escola: brigas de  alunas  em  frente  à  Escola  Estadual  José  Ferreira  Barbosa, localizada na Vila Bordon, que terminou em homicídio. No qual  a jovem Luana Vieira Gregório (15 anos) foi a vítima.  

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Quando  a  reportagem  veio  ao  ar,  a  mídia  somente preocupou‐se  em  transmitir  o  fato,  sem  refletir  e  discutir  as problemáticas dos desdobramentos da violência escolar. Contudo, situações  como  essas  podem  também  estar  ligadas  às  ações  de bullying, ou, mesmo de ciberbullying, uma vez   que alunos usavam os  celulares  para  gravar  o  ato  de  incivilidade,  é  algo  assustador, pois,   a “plateia” assistiu ao ato,   como se  fosse um espetáculo de diversão,  como  era muito  comum  na  antiga  e  clássica  Roma  “A política do Pão e Circo”. 

Nota‐se  que  tal  incivilidade  em  nenhum  momento  foi levada  em  questão,  ou  seja,  em  nenhum momento  “os meios  de comunicação”  ao    transmitirem  o  fato  aos  telespectadores  se referiram às condições socioeconômicas e históricas dos indivíduos envolvidos, da  localização da escola se era de bairro pobre, classe média ou rica, se a escola já tem projetos de combate à violência, em especial o bullying. Portanto, padroniza a mensagem  como se fosse o espetáculo da representação.    Para tanto, (FANTE, 2005, p. 171) alerta:  

Existe uma grande relação entre a televisão e a construção da identidade e do comportamento não só dos adolescentes, mas de toda a sociedade. (...) São veiculadas  idéias agressivas e destrutivas nos  filmes, nos  jogos de videogames e de computadores, em que a violência é vista como algo imediato, cotidiano e freqüente. Os mais violentos têm a capacidade de ganhar  e  sobressair‐se  entre  os  demais. As  crianças  e  os  adolescentes tendem a ver na agressividade e na violência estratégias de resolução de problemas, desconsiderando o diálogo como recurso eficaz.  

    É  preciso  ter  um  olhar  sério  sobre  os  meios  de comunicação,  que,  têm  o  dever  moral  e  ético  de  “formar”  e “socializar”  as  novas  gerações,  informações  sem  espetáculos  e sensacionalismos, que chega ao ponto muitas vezes ridicularizar a violência  tratando‐a  como  um  processo  naturalizado  e  fruto  do conformismo.  

Contudo,  tal projeção  torna‐se um espetáculo de  imagens, para  tanto  (DEBORD,  1991)  alerta,  que  o  espetáculo  é  não agrupamento de imagens, mas é uma inter‐relação com as pessoas, mediatizada  por  imagens.   A  questão  é,  pois,  que  imagem  é  um 

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“meio”,  de  inter‐relação  com  os  indivíduos,  assim  a  imagem trabalhada  pela mídia  de  forma  absoluta  anestesia  os  receptores, dai  serem  conduzidos  a  uma  alienação  sobre  um  determinado assunto.   Entretanto, são necessários cuidados, ao abordar a violência escolar e seus efeitos,  justamente por se tratar de uma questão tão ampla,  pois, deve‐se  de  antemão  preocupar‐se  como    a  violência não  somente produzida no meio escolar, sendo que a mesma pode ser produzida no entorno da escola ou até por outras  instituições que compõem a sociedade brasileira. Ou seja, fora dos muros que a cercam.  

Mas o mundo da notícia domina tudo que é vivo e vivido, dai  algumas  reportagens  com  cunho  apenas  capitalistas  e  não  a priori de formação humanitária, não se preocuparem com as causas e  consequências  provocadas  pela  violência  no  âmbito  escolar, principalmente  em  se  tratando  da  proliferação  do  bullying,  isentando‐se  de  utilizar  os  seus  “meios”,  como  combate  a  tais violências,  assim  reforça  o  seu projeto de  coisificação  e  alienação (ADORNO, 2002).   A questão não é estar contra a contribuição da mídia, pois, é  justamente  o  contrário. Busca‐se  que mídia  faça  as  reportagens sem  falácias de alienação e, ainda  sem  conotações de  reportagens elitizadas, nas observações de (MIDDELTON‐MOZ & ZAWADSKI, 2007) como se os bullies fosse uma ocorrência de uma determinada classe social apenas. 

São  reproduções  como  essas  que  mantém  um  modelo passivo da violência como se fosse algo somente de ocorrências de uma determinada classe social e, para o bullying não há fronteiras e, menos  ainda, não  escolhe os grupos  aonde  se manifestar,  seja na escola  pública,  bem  como,  na  escola  privada.  Ou  seja,  não  há violência  nem  maior  ou  menor  grau  para  ambas  as  partes.  O bullying acarreta problemas que desabrocham na aprendizagem dos discentes. Nesse sentido (FANTE & PEDRA, 2008, p.85) descreve: 

 No  caso  dos  envolvidos  em  bullying,  principalmente  os  que  foram vitimizados,  sendo  expostos  a  situações  intimidatórias  e 

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constrangedoras, pode ocorrer a formação de uma estrutura psicológica caracterizada por auto‐estima rebaixada e inabilidades relacionais.  

   Enquanto  se  observa  essa  perda  sócio‐educativa  por  um lado,  de  outro  ocorre  a  alarmante  situação  daqueles  que  não suportam  a  “pressão  e  o  abuso,  não  vêem  saída,  e  passam  a  ter tendências  depressivas  e  suicidas  ou  reagem  com  punhos  ou armas” (MIDDELTON‐MOZ & ZAWADSKI, 2007, p. 23).   

Para  quem  sofre  o  bullying,  os  prejuízos  são  muitos. Transformam‐se  em pessoas de baixa auto‐estima,  inseguras,  sem confiança  e  assim  tornam‐se  homens  e  mulheres  amedrontados, que  não  conseguem  superar  suas  dificuldades,  justamente  por virem  carregadas  de  sofrimento  desde  a  infância  até  sua  fase adulta, sem poder dizer a ninguém o que sentiam e o que queriam de verdade. 

Para tal afirmação (CUBAS, 2006, p.185) relata:  

Crianças vitimizadas sofrem de problemas físicos e psicológicos. Em sua vida adulta, tendem a ter baixa auto‐estima e experiências de depressão. Freqüentemente têm altos graus de sensação de medo, ansiedade, culpa, vergonha, desamparo, depressão ou problemas com álcool, comparadas a uma pessoa que não teve a mesma experiência na infância. 

 Podemos  compreender  então  que  durante  o  período  de 

intimidação  do  bullying,  a  pessoa  sofre  insegurança,  angústia, medo,  vergonha,  etc.,  isso  fatalmente  interfere  em  sua aprendizagem, e o agressor ao constatar tal fragilidade percebe que a  referida  vítima  não  oferecerá  resistência  aos  seus  ataques, continuando  o  processo  e  agravando  as  consequências  para  a vítima. 

 A  violência  escolar,  violência  na  escola  e  violência  em entorno  da  escola,  não  deve  ser  tratada  como  algo  simplista  na reflexão,  é  necessário,  um  debate mais  amplo  o  qual  envolva  a sociedade como um todo, para elencar possibilidades de combate à violência no âmbito escolar, em primordial as ações de Bullying.  

A  seriedade  em  reconhecer  o  problema  possibilita caminhos que  esclarecem  como  surgem  e ampliam‐se a violência, principalmente  aquela que  afeta o ambiente  escolar,  assim  sendo, 

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sem tirar conclusões precipitadas, ou, até mesmo alegar que é uma consequência banal, de  suma  importância para  a  construção uma escola democrática é encarar os problemas de frente. 

Nesse  sentido  (RODRIGUES,  2010,  p.109)  oferece  uma grande contribuição descrevendo: 

 Para  que  estas  mudanças  sejam  possíveis  e  para  que  se  tenha  um ambiente  em  que  às  diferenças  –  social,  cultural,  econômica,  física  e política  –  coexistam,  torna‐se  necessário  mudar  a  forma  de  se compreender o mundo e se libertar dos mecanismos de exclusão que são inerentes aos processos educativos atuais.  

 Diante  desses  novos  olhares,  notar  as  diferenças 

individuais,  possibilita  resgatar  o  indivíduo  e  reconhecê‐lo  como pessoa  que  faz parte de uma  sociedade  tomada de preconceito  e individualismo.  A  saída  é  insistir  nas  sementes  da  paz, incentivando  –  “a  solidariedade,  a  tolerância,  o  respeito  às diferenças, a cooperação, a amizade e o amor” (FANTE & PEDRA, 2008, p.129). 

 Em  reforço  aos  dizeres  citados  acima  por  (FANTE  & PEDRA, 2008), atenhamos‐nos  aos dizeres de Soares  (2004, p.159) que sugere:  

O Brasil precisa, com urgência, de um pacto pela paz celebrando nossa unidade – nas  irredutíveis e  respeitáveis diferenças – em  torno de um programa  de  salvação  nacional  da  juventude  vulnerável.  Pelo  futuro civilizado do país e contra a desigualdade iníqua que nos envergonha. E para que possamos nos reconciliar com nossa consciência.  

 Em  conformidade  à  sugestão,  notamos  diante  das 

problematizações  provocadas  pela  violência,  que  há  uma necessidade de operação de combate contra a mesma, assegurando à sociedade brasileira o direito da convivência, do respeito mútuo, da  igualdade  e  principalmente,  o  direito  à  liberdade  civil  e individual,  sendo que  isto  somente ocorrerá mediante um projeto político  pedagógico  que  traga  em  seu  bojo  a  importância  dos valores socioeducativos e da paz. 

Talvez assim possamos vislumbrar um futuro melhor. Para isso  é  necessário  compromisso  do  educador,  da  família,  da 

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comunidade  escolar,  além  das  políticas  públicas,  visto  ser  esse envolvimento e engajamento uma possibilidade real de construção de uma sociedade, mas fraterna, solidária e justa. 

 Considerações finais 

 Por  meio  deste  trabalho  faz‐se  necessário  realizar  uma 

discussão  e  reflexão  sobre,  as  abordagens  e  as manifestações,  no que diz respeito à violência escolar, a mídia e seu tratamento com o bullying  no  âmbito  escolar.  Sobretudo  indagar‐se  sobre desdobramento da violência escolar, como um fenômeno que vem sendo construído na nossa sociedade brasileira desenfreadamente, aumentando e dificultando o desempenho pedagógico educacional, uma  vez  que  para  o  bullying  não  há  barreiras  para  suas proliferações. 

A  violência  escolar,  em  especial  o  bullying  suas manifestações acabam destruindo as relações interpessoais, ou seja, gerando  atos  de  intolerância,  desrespeito,  insatisfação,  agressões físicas ou psicológicas,  intimidações, humilhações, ou seja, os atos de bullies. 

Para  tanto,  não  bastam  apenas  reportagens  com informações  codificadas,  prontas  e  acabadas  e,  menos  ainda tiragem  de  textos  superficiais,  ou,  mesmo  ainda  imagens televisivas,  que  não  esclarecem  de  fato  como  tais  ações  de violências se dão na origem do seu “cerne”. É dever moral e ético compreender  o  que  de  fato  é  a  violência  escolar  e  como  ela  se reproduz neste  âmbito,  logo, não  é  reproduzir  os  fatos  como  são apenas,  mas  notificar  as  condições  de  como  estes  ocorrem  e proliferam no meio escolar. A mídia não tem o direito de lubridiar as pessoas, massificar  culturalmente  e padronizar  as  coisas  como vendável, ou seja, como algo a ser consumido em larga escala. 

Então,  é  inadmissível  aceitar  que  em  pleno  século  XXI  a escola seja omissa aos problemas da violência no âmbito escolar, em especial o bullying, assim é de  importância expandir a discussão e reflexão,  juntamente com os professores, alunos, pais, autoridades públicas  e  a  comunidade  entorno  da  escola,  e  a  partir  daí  traçar 

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encaminhamento  de  projetos  políticos  pedagógicos,  que  vão  de encontro à realidade escolar.  

Tornar a escola um espaço democrático e de emancipação seria uma das possibilidades de  combate  à violência  escolar  e de efeitos  contrários  às manifestações  que  dilaceram  o  seu meio. A escola  não  pode  ser  reconhecida  como,  fim  em  si mesmo  e,  sim, como  meio  de  formação  cidadã,  de  ensino‐aprendizagem  e  de relação socioculturais. 

 Portanto, ao que tratar o tema é necessário demonstrar que o respeito mútuo é caminho para viver em uma sociedade movida pela cooperação, dignidade e a paz. Para  tanto, a escola enquanto instituição  tem por dever  inserir no seu currículo o debater destas questões  e  outras  que  tem  ocorrido  no  cotidiano,  propiciando  a nossas  crianças  e  jovens  a  possibilidade  de  construção  e fortalecimento de    identidades e respeito as diferenças, alvo estas, dos atos de bullying. A educação ainda é o melhor e caminho para uma cultura de paz na sociedade.    REFERÊNCIAS   ABRAMOVAY, Mirian e RUA, Maria das Graças. Violências nas escolas. Brasília: Unesco, 2002. ADORNO,  Theodor.  Indústria  cultural  e  sociedade.  São  Paulo:  Paz  e Terra, 2002. ADORNO, Theodor W. Educação e emancipação. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Viver de criar cultura, cultura popular, arte e educação. In. COELHO, Teixeira. O que é indústria cultural. São Paulo: Brasileinse, 2007. CUBAS,  Viviane.  Bullying:  assédio moral  na  escola.  In.  ROUTTI,  Caren (Org.). Violência na escola: um guia para pais e professores. São Paulo  : Andhep : Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006. DEBORD,  Guy.  A  sociedade  do  espetáculo.  Lisboa: Mobilis  in Móbile, 1991. 

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FANTE, Cleo. Fenômeno bullying: como prevenir a violência n as escolas e educar para a paz. Campinas: Versus Editora, 2005. FANTE,  Cleo;  PEDRA,  José  Augusto.  Bullying  escolar:  perguntas  & respostas. Porto Alegre: Artmed, 2008. FERREIRA, Delson. Manual  de  sociologia:  dos  clássicos  à  sociedade  de informação. São Paulo: Atlas, 2007. HOUAISS,  Instituto Antônio  (Org.). Dicionário Houaiss Conciso. Rio de Janeiro: Moderna, 2011. MENTE&CERÉBRO.  ‐  Brincadeiras  perversas  –  disponível  em: <http://mr12.com.br/bullying/images/pdf/artigo002.pdf  >  Acesso  em:    09 out. 2013. MIDDELTON‐MOZ, Jane; ZAWADSKI, Mary Lee. Bullying – estratégias de  sobrevivência  para  crianças  e  adultos;  tradução  Roberto  Cataldo Costa. Porto Alegre: Artmed, 2007. MOREIRA, Antonio Flavio; TADEU, Tomaz,  (Org.). Currículo, Cultura e Sociedade. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2011. MORENA,  TV.  disponível  em  <http://g1.globo.com/mato‐grosso‐do‐sul/noticia/2013/09/imagens‐mostram‐briga‐que‐matou‐estudante‐na‐saida‐de‐escola‐em‐ms.html > acesso em:  09 out. 2013. RODRIGUES,  Thiago Donda. A  etnomatemática  no  contexto  do  ensino inclusivo. Curitiba: CRV, 2010. RUOTTI, Caren. Violência  na  escola:  um  guia  para  pais  e  professores  / Caren Ruotti, Renato Alves, Viviane de Oliveira Cubas.  São  Paulo: Andhep:  Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006. SILVA, René Marc da Costa. Cultura popular  e  educação. Brasília: Salto para o Futuro? TV Escola/ SEED/ MEC, 2008. SHILLING, Flávia. A  sociedade da  insegurança  e  a violência na  escola. São Paulo: Moderna, 2004. SOARES, Luiz Eduardo.  Juventude  e violência no Brasil  contemporâneo. In. NOVAES, Regina; VANNUCHI, Paulo, (org.). Juventude e Sociedade: trabalho,  educação,  cultura  e  participação.  São  Paulo:  Fundação  Perseu Abramo, 2004. VEJA,  Revista.  Disponível  em:  <http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/ geral/geisy‐expulsa‐da‐uniban‐barbarie‐fascistoide‐mulheres‐do‐brasil‐unam‐se‐contra‐o‐%e2%80%9cdireito‐ao‐estupro%e2%80%9d/> Acesso em: 08 out. 2013. VEJA, Revista. São Paulo. v. 2213, n. 16, p. 89‐95, 20/abr./ 2011.   

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PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA (PIBID): FORMAÇÃO DE 

PROFESSORES EM DIFERENTES ESFERAS  

Deuzélia Alves Gomes Doracina Aparecida de Castro Araujo 

 [...] o exercício da profissão ganha mais qualidade se o 

professor conhece bem o funcionamento do sistema escolar (as políticas educacionais, as diretrizes legais, as relações 

entre escola e sociedade, etc.) e das escolas (sua organização interna, as formas de gestão, o currículo os métodos de ensino, o relacionamento professor‐aluno, a 

participação da comunidade, etc.) e aprender a estabelecer relações entre essas duas instâncias.   

José Carlos Libâneo  (2003).  

Introdução  A  formação de professores vai além da presença do aluno 

nos  bancos da Universidade,  formação de professores  é  estar  em contato, interagir‐se, movimentar‐se dentro de outra instituição – a instituição escolar. Ela, por sua vez,  impulsionará a aprendizagem de  diferentes  saberes  articulados  a  diferentes  fazeres  no  trabalho pedagógico. Portanto, formação de professores “[...] não é a prática docente, mas  é  a  teoria  sobre  a  prática  docente  e  será  tão mais formador à medida que as disciplinas todas tiverem como ponto de partida a realidade escolar brasileira” (PIMENTA, 2002, p.14).  

A realidade debatida em sala de aula na universidade deve estar  pautada  na  realidade  do  trabalho  educativo  da  Educação Básica,  em  que  o  aluno  aprenderá  a  ser  professor  atuando  como professor.  Nóvoa  (2009)  afirma  que  um  dos  princípios fundamentais  para  a  formação  de  professores  é  a  formação  que ocorre dentro da profissão. 

A  epígrafe  é  bem  explícita,  porque  provoca  um  diálogo entre  o  corpo  docente  e  a  sua  profissão  que  não  está  vinculada, apenas,  na  sala  de  aula.  A  profissão  do  docente  como  bem mencionou Libâneo é estabelecer  relações  com as duas  instâncias: 

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sistema  escolar,  uma  escola  que,  por  sua  vez,  dará  suporte  para compreender  as  políticas  públicas  educacionais  e,  também, relacionar com a gestão escolar e a comunidade  interna e externa. Essa  relação  deve  estar  explicita,  pois  o  acadêmico  precisa compreender que a escola não funciona, apenas, dentro de uma sala de aula, mas em um todo.  

Essas reflexões devem ser propagandeadas desde os bancos da Universidade, mas não ficar em si mesma, isto é, deve‐se ir além, unir  a  teoria  com  a  prática,  porque  ambas  são  intrínsecas (PIMENTA,  2002). A  proposta,  portanto,  é  alterar  a  forma  como está posto e visto o quadro da formação de professores atualmente. Essa  alternativa  é  um  dos  pilares  do  Programa  Institucional  de Iniciação à Docência – PIBID. 

 A ação do conhecimento em como atuar em uma rede de ensino,  será  adquirida,  somente,  na  atuação  na  escola,  pois  o docente  iniciante  precisa  perceber  a  importância  de  uma  sólida articulação entre corpo administrativo e o corpo docente e inclusive a sociedade.  Essas articulações se dão por meio do contato escolar. Este  contato,  portanto,  é  priorizado  pelo  PIBID,  que  conduz  o acadêmico a uma futura profissionalização consciente de seus atos pedagógicos no âmbito escolar.  

O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID),  financiado  pela  Coordenação  de  Aperfeiçoamento  de Pessoal  de  Nível  Superior  (CAPES)  visa  ao  aprimoramento  dos estudantes  de  licenciatura,  dando‐lhes  apoio  e  incentivo,  tendo como principal objetivo a junção entre os saberes da universidade e fazeres  na  educação  básica  para  que  a  teoria  apreendida  na academia seja compreendida e explorada pelos acadêmicos, em sua prática, a fim de que em sua atuação profissional eles sejam capazes de  compreender  os  fenômenos  escolares  e  utilizar  de  suas experiências para uma atuação sólida e bem fundamentada.  

O PIBID é uma continuação dos estudos acadêmicos, uma vez que, além de propiciar  trocas de experiências, desenvolve nos alunos  à  capacidade  de  compreender  a  realidade  escolar  e  os provoca para uma tentativa de  intervenção a fim de modificar seu papel como docente em formação. 

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O  aluno  ao  ingressar  na  vida  acadêmica  cuja  opção  é  a licenciatura, tem a oportunidade de ser contemplado com o PIBID que será  apoiado  tanto  financeiramente quanto para  seu aprimoramento profissional, isto é, em suas ações enquanto professor em formação, já que um dos objetivos do Programa é a elevação do magistério, dando suporte  e  incentivo  aos  acadêmicos  que  cursam  a  licenciatura.  O Programa  visa  o  aprimoramento  dos  bolsistas  e  a  contribuição  na melhoria  do  processo  ensino/aprendizagem  em  que  está  inserido  o projeto.  Ambas  as  partes  se  beneficiam  e  produzem  uma  relação profícua entre a Universidade e a Educação Básica. 

Para  compreender  de  fato  a  proposta  do  Programa,  será, primeiramente, relatada a implantação do PIBID, da esfera nacional à  local  (2007 a 2012), a  fim de abordar o Programa e sua  inserção positiva  nas  Instituições  de  Ensino  Superior  –  IES. No  primeiro subtítulo serão apresentadas as leis que asseguram o Programa, por quais  portarias  ele  foi  instituído  e  o  decreto  que  dispõe  sobre  o PIBID para, a partir daí, realizar, detalhadamente, a abordagem dos dados quantitativos do Programa com destaque em seus impactos e resultados positivos que vem adquirindo desde 2007.  

No segundo subtítulo, será especificado sobre o Programa na  esfera  local,  ou  seja,  relatar  a  inserção  do  PIBID  no  curso  de Pedagogia na Unidade Universitária de Paranaíba/MS com o  foco em  seu  subprojeto  “A  Construção  da  Identidade  Profissional Docente: Formação Compartilhada e a Escola de Educação Básica” a  fim  de  abordar  as  ações  previstas  do  Programa  para  a Universidade e, dela, para a escola.  1. Implantação do PIBID no Brasil (2007 a 2012) 

 Com o objetivo de melhorar  a qualidade  educacional dos 

docentes  em  formação,  das  licenciaturas  e  promover  um  diálogo entre  o  Ensino  Superior  e  a  Educação  Básica,  o  Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), criado pela Portaria Normativa  nº  38,  de  12  de  dezembro  de  2007  (BRASIL, 2007), em conformidade com a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996  (BRASIL,  1996)  e  a Lei  nº  11.273, de  6 de  fevereiro de  2006 

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(BRASIL, 2006),    constitui‐se com a  finalidade de apoiar discentes de  formação  inicial  e  a  formação  continuada  de  docentes  da Educação  Básica,  em  uma  Proposta  de  trabalho  interativo, interdisciplinar  e  coletivo  com  destaque  nas  experiências metodológicas,  tecnológicas  proporcionada  entre  os  envolvidos com enfoque na superação dos empecilhos encontrados na prática docente no processo de ensino/aprendizagem.  

No Artigo  1º  do Decreto  nº  7.219,  de  24  de  julho  de  2010 (BRASIL,  2010),  o  PIBID,  instituído  pela  Portaria  Normativa  nº  38 (BRASIL,  2007)  tem  o  intuito  de  favorecer  a  iniciação  a  docência  e aprimorar  as  ações  dos  acadêmicos  que  cursa  a  licenciatura, promovendo  uma  articulação  com  o  ensino  básico,  elevando  sua qualidade de ensino. Logo, a base do Programa é o envolvimento entre os  parceiros,  como:  a  universidade,  escola,  professores  e  alunos  no qual  todos  envolventes  promovem  um  trabalho  coletivo  que  está aberto a novas idéias e, sobretudo a uma interação bem intencionada.  

Os envolvidos possuem bolsas concedidas pelo PIBID que são  destinadas  ao  Coordenador  de  área  Institucional,  ao Coordenador  de  Gestão,  ao  Professor  Coordenador  de  área  da Instituição de Ensino Superior; ao Professor Supervisor da Escola e para  os  discentes  dos  cursos  de  graduação,  licenciatura,  que atendem aos requisitos tratados no artigo 2º da Portaria Normativa nº  38  (BRASIL,  2007). Na  sequência  são definidos os objetivos do PIBID, no artigo 3º:  

 I  ‐  incentivar  a  formação  de  professores  para  a  educação  básica, especialmente para o ensino médio;  II  ‐ valorizar o magistério,  incentivando os estudantes que optam pela carreira docente;  III ‐ promover a melhoria da qualidade da educação básica;  IV  ‐ promover a articulação  integrada da educação superior do sistema federal com a educação básica do sistema público, em proveito de uma sólida formação docente inicial;  V ‐ elevar a qualidade das ações acadêmicas voltadas à formação inicial de  professores  nos  cursos  de  licenciaturas  das  instituições  federais  de educação superior. (BRASIL, 2007, p. 4). 

 Os  objetivos  do  Programa  especificam  a  falta  de 

profissionais para a Educação Básica, por isso, o foco é a promoção 

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de melhoria  na  qualidade  do  trabalho  educativo  e,  sobretudo,  o incentivo à carreira docente. Justifica‐se, portanto, a necessidade de reformulações na área educativa, dessa  forma, o PIBID surge com tais objetivos para dar suporte a carreira docente para que ela seja atrativa e que, pouco a pouco, mediante o conhecimento adquirido da organização escolar como um todo, contribua para que na futura atuação  dos  bolsistas  como  profissional,  possa  surgir  reflexões sobre  as  condições  de  trabalho  e  articular  suas  reivindicações  na busca de condições adequadas no espaço escolar. 

E, finalizando, no Art. 5º lê‐se que para participar do PIBID deve ser Instituição Pública de Ensino Superior (federal, estadual). No  §  2º,   VI  ‐  aborda  o  perfil  das  escolas  na  qual  o  PIBID  será desenvolvido  que  dependerá  da  nota  obtida  pelo  Índice  de Desenvolvimento da Educação – IDEB.  

De acordo com o Ministério da Educação  ‐ MEC o  IDEB é uma ferramenta, instituída pelo Instituto Nacional de Estudos e de Pesquisas  Educacionais Anísio  Teixeira  (INEP),  foi  criada  com  o intuito avaliar e medir a qualidade das redes de ensino das escolas de  rede  pública  e  é  calculado  com  base  no  rendimento  e desempenho  dos  alunos  mediante  as  aprovações  e  evasão  em consonância  com  as  avaliações  instituídas pelo  governo,  exemplo disso,  é  a  provinha  Brasil. A  partir  desses  critérios,  a  escola  que obtiver uma nota muito inferior a desejável, de seis a dez, em uma escala de zero a dez,  estará  sujeita a uma baixa  classificação  e ao olhar  atento do  INEP. Portanto,  é  a partir dessa  classificação que define a escola que participará do PIBID. (BRASIL, 2012). 

Diante das leis que asseguram o PIBID, tem‐se, desde 2007, várias  portarias  que  o  instituiu,  dessa  forma,  fica  evidente  a  sua ampliação  e  expansão  diante  das  universidades  brasileiras  e  a relevância enquanto Programa que prima pela qualidade no ensino e a melhoria da prática em sala de aula.   2. PIBID: Impactos e resultados  

 Desde sua implantação em 2007 o PIBID lançou cinco editas 

até 2011, embora tenha implementado o primeiro edital apenas nos 

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primeiros meses de 2009 e, ao ser lançado o Programa, tinha como prioridade  o  atendimento  nas  áreas  de  Matemática,  Biologia, Química e Física pelo fato da escassez de professores voltados para essas  áreas  específicas.  No  entanto,  no  decorrer  do desenvolvimento  do  Programa,  este  obteve  resultados  positivos, dessa forma, ampliou‐se a toda a Educação Básica dando suporte as licenciaturas em geral.  

Esse fato  justifica o aumento dos números de participantes em relação a IES e as bolsas concedidas em todas as modalidades, pois de um total de 3.000 bolsistas em dezembro de 2009, o PIBID avançou para 26. 918 bolsas em 2011 e chegou ao total de 49.231 em 2012.  Um  salto  relativamente  alto  em  relação  às  concessões  de bolsas, conforme constatado no Relatório de Gestão 2009‐2011, da Diretoria de Educação Básica Presencial – DEB. (BRASIL, 2012). 

A  crescente  procura  de  bolsas  de  iniciação  à  Docência retrata  a  preocupação  em  torno  das  questões  educativas  e, sobretudo, a formação de professores, uma vez que de acordo com Libâneo (2003, p. 277):  

Especificamente sobre os docentes, há grande preocupação em torno de sua  profissionalização.  Passando  por  tempos  difíceis,  de  desprestigio social,  de  salários  aviltantes,  com  péssimas  condições  de  trabalho,  a profissão  de  professor  já  não  atrai  a  juventude,  e  muitas  escolas  e inúmeras áreas do conhecimento sentem a falta desse profissional. 

 Percebe‐se essa preocupação dado ao aumento de números 

de concessões de bolsas de iniciação à docência, uma vez que se há essa alta demanda de bolsas é porque algo está falho e a formação de professores deve ser  revista e  repensada para que esse quadro seja alterado, ou porque houve um grande interesse pela carreira de professores  no  Brasil,  que  já  na  fase  de  formação  inicial  querem ampliar seus conhecimentos. 

Dessa  forma,  os  números  evidenciam  a  expansão  do Programa  nas  universidades  de  todo  o  Brasil,  pois  conforme informações  do  Ministério  da  Educação  (MEC),  esta  crescente procura  é  dado  aos  principais  impactos  provocados  pelo  PIBID, como: o reconhecimento do curso de licenciatura na universidade, o aumento pela procura pelos cursos de licenciatura e a melhoria na 

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qualidade do  ensino das  escolas participantes  e  a diferença  entre outros Programas  já  realizados, pois  faz uma  articulação  entre os envolvidos  na  educação  pública  brasileira  sendo  acadêmicos  e professores  universitários  e  alunos  e  professores  da  rede  pública (BRASIL, 2010). 

Esses  impactos  provocados  pelo  Programa  são  evidentes, porque as licenciaturas que possuíam uma baixa procura são as que estão  nas  primeiras  posições  de  cursos  que  possuem  o  PIBID inserido  em  suas  propostas.  A  título  de  exemplo,    o  curso  de Matemática    possui,  cadastrado  na  proposta,  3.620  bolsistas.  A Pedagogia,  3.080;  o  curso  de  Biologia  possui  2.716  e  a  Química 2.688.  Nota‐se  que  algumas  dessas  áreas  foram  as  que impulsionaram para  a  implantação do PIBID dada  à  ausência de professores e, hoje, possui o maior percentual de bolsistas inscritos.  

O  PIBID  concede  a  abertura  para  um  diálogo  entre  os envolvidos  na  busca por uma melhoria  tanto  na  formação  inicial quanto no processo de ensino/aprendizagem no âmbito escolar no qual todos são beneficiados, uma vez que de acordo com o relatório extraído  do  Relatório  de  Gestão  2009‐2011,  da  Diretoria  de Educação Básica Presencial – DEB (BRASIL, 2012, p. 5) “O diálogo e a interação entre licenciandos, coordenadores e supervisores geram um  movimento  dinâmico  e  virtuoso  de  formação  recíproca  e crescimento contínuo”.  

Os  envolvidos  em uma prática  com objetivos  comuns  são pertinentes,  uma  vez  que  os  alunos  e  professores  do  Ensino Superior,  trabalham  em  conjunto  com  os  alunos  e  professores supervisores do Ensino Básico. Essa soma de professores e alunos promove  um  trabalho  benéfico,  ou  seja,  um  em  prol  do  outro. Enquanto  que  os  bolsistas  atuam,  na  prática,  seus  saberes  na universidade.  Os  professores  da  escola  são  os  co‐formadores  da formação dos bolsistas, intercalando os saberes já apreendidos com os fazeres no Ensino Básico.  

Nota‐se,  portanto,  que  essas  modalidades  de  bolsas oferecidas vêm ganhando destaque e crescendo significativamente, pois de acordo com a DEB (Relatório de Gestão 2009 – 2011), dentre as modalidades de bolsas oferecidas pelo Programa  em 2011, das 

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26.918  bolsas  concedidas,  21.849  foram  para  bolsistas  discentes; 1.761  para  coordenadores  de  área  (IES)  e  3.308  para  professores supervisores  das  escolas  públicas  (BRASIL,  2012).  Esse  dado quantitativo  é,  extremamente,  importante,  pois  revela  a preocupação  e motivação  para  que,  de  fato,  haja  uma mudança tanto no processo de escolarização do alunado, como na formação inicial dos novos docentes.  

Essas bolsas são distribuídas nas cinco regiões do Brasil, a saber: no Nordeste 35% de bolsas concedidas; no Sudeste, são 27%; no Centro‐Oeste são 11%; no Sul 19% e no Norte 8%. Nota‐se que a região Nordeste é a que possui maior número de bolsas. Segundo a DEB,  é  uma  situação  não  muito  comum,  visto  que,  em  outros programas de fomento a iniciação à docência, quem se destaca em porcentual de bolsistas inscritos é a região Sul e Sudeste.  

As  Instituições  de  Ensino  Superior  –  IES  são  distribuídas pelas regiões da seguinte forma: no Norte são 17 IES participantes; no Nordeste são 45; no Centro‐Oeste são 9; no Sudeste 42 e no Sul 33. Ao todo são 146 IES contemplados com o Programa, todas elas estão dividas pelas Federais, ao todo são 83 participantes; Estaduais 32; municipais são 6 e comunitárias são 25. Em 2009 havia apenas 43  IES e 266 escolas  inseridas,  já em 2011  são 146 e 1.938 escolas. Nota‐se que  em dois  anos houve um  crescimento  significativo de instituições e escolas que se inseriram no Programa.  

Já  em  2012  esse  número  avançou  significativamente,  são 40.012  bolsistas de  iniciação;  3.046  coordenadores de  área  e  6.173 supervisores. Atualmente, são 196 IES participantes e 4.160 escolas contempladas. Percebe‐se que o crescimento é bastante significativo em  relação  aos  anos  que  foi  implantado,  ou  seja, de  2007  a  2012 houve  uma  escala  alta  de  universidades  contempladas  com  o intuito de exercer ações pedagógicas na Educação Básica.  3.  Proposta  do  PIBID  Para  A  UEMS  de  Paranaíba  ‐  Curso  de Pedagogia 

 O  PIBID  tem  sua  iniciativa  pelo  Governo  Federal  e  tem 

como principal ideal realizar parcerias entre as Universidades e as 

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Escolas da Educação Básica, com o intuito de melhorar a qualidade do ensino/aprendizagem nas redes públicas de todo Brasil. Assim, foi  implantado em 2007 o Programa, na qual poderão ser  inscritas as  instituições  públicas  para  o  aperfeiçoamento  e  auxílio  dos acadêmicos que cursam a licenciatura, dando‐lhe apoio e incentivo com o foco no êxito de uma carreira profissional docente capaz de articular a teoria/prática em suas ações pedagógicas.  

Dessa forma, de todos os Estados, inclusive Mato Grosso do Sul,  contém  quatro  instituições,  a  saber: UFMS, UEMS, UFGD  e UCDB, que integram o grupo de participantes e, dentre elas, está a Universidade  Estadual  de  Mato  Grosso  do  Sul  (UEMS)  de Paranaíba/MS  que  é  uma  das  unidades  que  integra  o  grupo.  A unidade oferta  três opções de  cursos  sendo que, dois deles,  estão voltados  para  a  área  da  educação  –  cursos  de Ciências  Sociais  e Pedagogia. 

O curso de Pedagogia foi instituído em 2003, na unidade de Paranaíba/MS,  com  o  objetivo  atender  as  necessidades  da comunidade  em  relação  à  educação  voltada  para  séries  iniciais. Desde  então,  a  Unidade  sempre  esteve  em  parceria  com  a comunidade em prol de uma educação profícua para que a nota do IDEB melhore a cada ano. E uma das alternativas de beneficiar os estudantes  universitários  e  a  comunidade  interna  e  externa  da Educação Básica foi a de abrir espaço na Unidade de Paranaíba/MS para  implantação  de  um  Programa  voltado  para  a  conexão  da teoria  com  a  prática  –  o  PIBID  que  tem  como  foco  o  auxílio, aprimoramento  e  conhecimento  para  os  acadêmicos  que  tem  o propósito de atuar em sala de aula. O PIBID é coordenado por uma professora  adjunta  da  universidade  e  supervisionado  por  uma professora  da  Educação  Básica,  ambas  se  comprometem  com  a qualidade  de  ensino  e  em  gerar  futuros  professores compromissados e conhecedores do cotidiano de uma sala de aula e, sobretudo, da ética profissional. 

Para a aplicação das atividades foi selecionada uma escola de  rede  pública  que  obteve  uma  nota  inferior  no  IDEB,  a selecionada para a execução do  trabalho  foi a Escola Estadual Dr. Ermírio  Leal  Garcia,  como  princípio  das  normas,  deveria 

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oportunizar uma parceria com a universidade para que os estágios ocorram  e,  os  alunos,  pudessem  passar  a  conhecer  de  fato  a realidade no espaço escolar, ou seja, ir além da sala de aula, ter um contato  maior  com  a  escola,  participar  das  reuniões  de  pais, reuniões  pedagógicas,  compreender  a  estrutura  da  escola  e, também, a curricular.  

A escola selecionada é de  rede pública, suas atividades se realizam no período matutino  e vespertino que  atende o  1º  ao  5º ano  do  Ensino  Fundamental  e,  também,  o  6º  a  8º  ano;  a  escola recebe  um  alunado  da  camada  popular  pertencentes  a  bairros carentes.  Neste  espaço  escolar,  percebe‐se  que  há  alguns contratempos  dado  à  gravidade  de  problemas  em  relação  à indisciplina  e,  também,  as  constantes  reclamações  de  casos  de violência  que  ocorrem  nesse  espaço,  uma  vez  que  um  dos problemas  geradores  desse  fenômeno  está  vinculado  a  não aprendizagem dos alunos e a falta de suporte familiar e, também, a carência  financeira  que  envolve  a  alimentação,  vestimentas  e, sobretudo,  a  relação  entre  esses  alunos  e  os  pais  e,  deles,  com  a escola.  

Esse  conhecimento  oportuniza  reflexões  sobre  como  está estruturado a escola e se o currículo atende  todas as necessidades da  comunidade  interna.  Esse  conhecimento,  portanto,  não  fica restrito apenas ao espaço entre quatro paredes  fornecidas em sala de aula, mas compreende o todo e não apenas uma parte isolada.   4. PIBID e suas ações previstas: da Universidade para a escola 

 Ao  entrar  em  contato  com  o  meio  escolar  tinha‐se, 

primeiramente, a meta de cumprir as normas do subprojeto na qual relata  as  atividades  a  serem  cumpridas.  O  subprojeto  é  um documento  no  qual  está  abordado  todas  as  atividades  a  serem planejadas e executadas em sala e fora de sala de aula, ou seja, ele contempla as atividades que devem ser desenvolvidas na escola e na  universidade. As  atividades  devem  ser  organizadas  conforme segue no subprojeto:  

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Conhecimento da realidade escolar; Aprofundamento teórico da equipe de  trabalho;  Planejamento  participativo;  Avaliação  e  replanejamento; Divulgação  científica  dos  trabalhos  realizados  ao  longo  do  PIBID; Avaliação  do  projeto  e  proposição  de  estudos  e  novas  ações. (PARANAÍBA, 2011, p. 129). 

  Conforme  relata o subprojeto a primeira ação prevista é o 

conhecimento  da  realidade  escolar,  ou  seja,  o  encontro  entre  a equipe do PIBID e a equipe pedagógica da escola para as definições de  regras,  funcionamentos,  recomendações  e  estudos  do  projeto pedagógico da escola para maiores conhecimentos.  

Em  seguida,  exige‐se  um  aprofundamento  teórico  da equipe  de  trabalho,  para  isso,  são  estipulados  temas  a  serem explorados  e  analisados  a  fim  de  aprimorar  o  conhecimento  e  a atuação  na  sala  de  aula  e  para melhor  direcionar  o  trabalho  dos acadêmicos que tem a função de utilizar planos diferenciados com as  crianças.  O  planejamento  requer  uma  participação  efetiva  de toda  a  equipe  do  PIBID,  uma  vez  que  a  troca  de  experiências,  o trabalho coletivo possibilita diversos olhares em relação a um tema específico, pois cada um possui sua singularidade, portanto, a troca de ideias é um ponto significativo no trabalho entre os envolvidos.  

Para o  aprimoramento dos bolsistas há  a  seleção de  temas com  o  foco  em  estudos,  como  a  diversidade,  indisciplina,  há, também, estudos voltados para a Emancipação social com o  fito de realizar no aluno bolsista a capacidade de refletir sobre a mudança social, ter conhecimento sobre análise do discurso, para que entenda melhor  e  realize  entrevistas  com  professores,  com  o  corpo administrativo da escola. Há também, como menciona no subprojeto (2011)  a  avaliação  e  replanejamento,  são  alguns  dos  critérios  do PIBID, como a avaliação das ações do semestre e relatório parcial; a produção  intelectual;  a  avaliação  e  relatório  final  do  projeto  são outras ações relevantes para serem executadas. 

As atividades a serem desenvolvidas no espaço escolar com a comunidade interna e, também, externa, são as práxis educacionais, a saber: leitura e produção de textos é um tema que contribui para os planejamentos,  a  avaliação  dos  textos,  como  trabalhar  e  as contribuições teóricas; o teatro na sala de aula; avaliação das ações do semestre  e  relatório  parcial;  a  literatura  infantil,  contos,  poesias  e 

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paródias; as brincadeiras de roda e jogos educativos; os problemas da Matemática  e  a Matemática  a  partir da  resolução de  problemas;  o concreto nas áreas de Iniciação a Ciências e Estudos Sociais; o filme como  pretexto  para  trabalhar  temas  educacionais;  recursos tecnológicos em sala de aula. (PARANAÍBA, 2011). 

Essas  são  algumas  das  ações  previstas  para  um  trabalho realizado  com  consciência,  compromisso  e  seriedade  para  que aconteça  o  desenvolvimento  e  a  aprendizagem  e,  os  bolsistas, juntamente  com  a  coordenadora  de  área  e  supervisora  busquem por uma prática diferenciada não deixando de lado, também, uma base  teórica bem  fundamentada, uma vez que um dos pilares do PIBID  é  a  articulação  da  prática  com  a  teoria  para  que,  de  fato, aconteça  um  trabalho  efetivo  e,  assim,  o  PIBID  não  seja  algo significante apenas em um dado quantitativo, mas na qualidade do trabalho desenvolvido. 

E  de  acordo  com  André  (2012,  n.p.)  os  Programas  que fomentam  a  iniciação  a  docência  “[...]  constituem  excelentes alternativas  para  superar  o  distanciamento  que  historicamente  se observa  entre os  espaços da  formação  e do  exercício profissional. Além  disso,  auxiliam  os  estudantes  a  se  identificarem  com  a profissão e  favorecem a  inserção na docência”. Essa promoção de saberes que se adquire por meio do Programa valoriza a profissão docente e, sobretudo, a ação docente, uma vez que contribui “[...] para  diminuir  as  taxas  de  abandono  e  para  manter  os  bons professores na profissão” (ANDRÉ, 2012, n.p.). 

Como afirma Nóvoa (2009) para que haja bons professores no  trabalho  coletivo  é  preciso  que  alguns  princípios  estejam arraigados  na  prática  educativa,  a  saber:  “O  conhecimento,  a cultura profissional; o  tacto pedagógico; o  trabalho em equipe e o compromisso social” (2009, p. 3). 

Esses  princípios  são  um  dos  pilares  identificados  na proposta  do  PIBID  que  fundamentam  a  prática  inicial  docente  e quando  Nóvoa  (2009)  aborda  um  desses  princípios  pode‐se relacioná‐los  as  questões  geradoras  da  proposta  do  PIBID  na unidade  de  Paranaíba/MS  no  curso  de  Pedagogia,  a  saber:  “O conhecimento” o que o Programa tem proporcionado ao acadêmico 

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sobre a relação de saberes, e na sala de aula, como o conhecimento está sendo conduzido aos alunos? “A cultura profissional” como a práxis da equipe do PIBID  tem contribuído  tanto para  iniciação a docência  quanto  para  a  aprendizagem  dos  alunos  na  escola?  “O tacto pedagógico” Como os acadêmicos tem conduzido sua prática na  sala  de  aula,  quais  as  ações  dos  acadêmicos  para  atender  a comunidade  interna,  estas  ações  tem  a  participação  direta desses alunos? “O  trabalho em equipe” o  trabalho coletivo é bem  frisado pelos  componentes  do  grupo,  qual  a  relação  entre  os  docentes, gestores  da  escola  com  a  equipe  do  PIBID?  E,  por  fim,    “O compromisso social” as atividades proporcionadas pelo PIBID têm enfatizado as questões sociais, estudos voltados para a realidade da comunidade  interna  e  externa  contribuindo  para  a  formação  dos discentes  do  PIBID?  São  estes  os  princípios  que  fundamentam  o Programa  e  faz  parte  do  trabalho  realizado  no  cotidiano  da Universidade e, dela, para a escola.  Considerações Finais 

 A partir desta pesquisa  é possível  afirmar que o  trabalho 

realizado,  as  reuniões,  planejamentos,  avaliação  de  aulas,  bem como  a  aprendizagem  de  temas  e  assuntos  que  contribui  para  a formação  dos  licenciandos  se  torna  significativo  para  a  formação inicial  dos  bolsistas,  além  da  relevância  do  trabalho  coletivo realizado durante o desenvolvimento do trabalho da universidade e  dela  para  a  escola,  sobretudo  as  experiências  trocadas  entre  os próprios  bolsistas  por  cursarem  séries  diferentes,  além  da aprendizagem  adquirida  entre  os  bolsistas  e  professores  da  rede pública que são importantes para atuação destes em sala de aula.  

A experiência e conhecimento adquirido no momento que se está  como professor  em  formação  contribui para que possa  ter uma visão do todo, pois o contato vai além de como é uma sala de aula, mas como  funciona  a  estrutura  de  uma  escola,  a  socialização  com  os professores  regentes, o  corpo  administrativo  e  coordenadores  e  essa relação produz um diálogo entre a escola e universidade tendo como 

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oportunidade  colocar  em  prática  os  saberes  divulgados  pela universidade.  

Esse diálogo  entre  as diferentes níveis: Educação Básica  e Universidade  contemplam  não  só  os  bolsistas  inseridos  na proposta, mas  contribui para  o processo de  ensino/aprendizagem dos  alunos  da  escola  e,  também,  para  a  propagação  da continuidade dos estudos aos professores regentes e a importância de  uma  formação  continuada.  Dessa  forma,  o  PIBID  provoca reflexões e retrata que ser bolsista do PIBID é estar além do que se espera  em uma  sala de  aula  na universidade,  ser  bolsista  é  estar atento ao que se diz na  teoria e saber utilizar suas argumentações porque  já  esteve  na  prática,  é  poder  entender  os  textos,  pois vivencia  na  prática  as  situações  de  um  professor,  é  esperar  no professor  saberes  que  na  prática  já  conheceu  e  fazer  um  vínculo com o que vivenciou e com o que aprendeu, ou seja, unir a  teoria apreendida  em  sala  de  aula  na  universidade  com  a  prática adquirida na sala de aula de uma escola de Educação Básica.  

Enfim, fazer a diferença em uma sala de aula é saber como trabalhar  e  se  compreender  como  um  profissional  da  educação. Também deve‐se entender as  lutas de classes e se apaixonar dia a dia pela profissão, conquistando os alunos para aprender com eles seus saberes, pois esse é um dos pilares do PIBID, e que passa a ser também dos pibidianos que  compreendem  a Educação não  como um fim em si mesma, mas sim um meio para transpor dificuldades e descobrir habilidades.    REFERENCIAS  ANDRÉ, Marli. Políticas e programas de apoio aos professores  iniciantes no Brasil. Educação e pesquisa: São Paulo, v. 42, n.145, p. 112‐129, 2012. Disponível  em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100‐15742012000100008&lng=pt&nrm=iso> Acesso em: 22 maio 2013. BRASIL. Ministério da Educação. Decreto nº 7.219, De 24 de junho de 2010. Diário Oficial da União, nº 120, sexta‐feira, 25 de junho de 2010. Seção 1. p. 

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ISSN  1677‐7042.  Disponível  em:  <http://www.capes.gov.br/educacao‐basica/capesPIBID> Acesso em: 20 abr. 2013. ______.  Ministério  da  Educação.  Portaria  normativa  nº  38,  de  12  de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, nº 239, quinta‐feira, 13 dez. 2007. Disponível em:  <http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/ead/port_40.pdf>.  Acesso  em: 14 dez. 2011. ______.  CAPES.  PIBID.  Disponível  em:  <http://www.capes.gov.br/ educacao‐basica/capesPIBID.> Acesso em: 07 Jul. 2011. ______.  Diretoria  de  Educação  Básica  Presencial,  DEB:  PIBID (RELATÓRIO GERAL 2009 – 2011. Brasília, 2012. EDUCAÇÃO. Ministério  da  Educação.  PIBID.  Disponível  em:    <http:// gestao2010.mec.gov.br/o_que_foi_feito/program_55.php>  Acesso em: 10 jul. 2011. LIBÂNEO,  José  Carlos;  OLIVEIRA,  João  Ferreira  de;  TOSCHI,  Mirza Seabra.  Educação  Escolar:  políticas,  estrutura  e  organização.  São  Paulo: Cortez, 2003. NÓVOA, Antonio. Para uma formação de professores construída dentro da profissão. Revista Educacion. Madrid: 2009. PARANAÍBA.  Subprojeto  de  Pedagogia  do  Programa  Institucional  de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID). UEMS, 2011. PIMENTA,  Selma  Garrido.  O  estágio  na  Formação  de  professores: unidade teoria e prática?  5. ed. São Paulo: Cortez, 2002.   

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UMA REFLEXÃO SOBRE OS LIVROS DA COLEÇÃO MATEMÁTICA: NUMA ABORDAGEM DA HISTÓRIA DA 

MATEMÁTICA COMO RECURSO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA 

 Ronilce Maira Garcia Lopes 

Sabrina Helena Bonfim   Introdução 

 Este  artigo  tem por  finalidade apresentar a  ideia geral do 

Trabalho de Curso desenvolvido durante o curso de Matemática – Licenciatura,  da  Universidade  Federal  de  Mato  Grosso  do  Sul (UFMS),  campus  de  Paranaíba  (CPAR)  e  principalmente,  expor uma  subseção  do  4º  capítulo  denominado:  Análise  dos  Livros Didáticos. 

Deste modo, apresentaremos o 3º capítulo do trabalho, que teve  como  finalidade  dar  suporte  para  o  4º  capítulo,  assim,  o objetivo deste artigo é apresentar uma das subseções do 4º capítulo, no caso, referente a coleção de livros didáticos: Matemática.  

De modo  geral,  realizamos  um  estudo  histórico  sobre  as equações  algébricas,  e  posteriormente  com  base  em  alguns referenciais  da  educação matemática,  os  Parâmetros Curriculares Nacionais  (PCN)  e  o  Referencial  Curricular  do  Estado  de Mato Grosso  do  Sul  (MS),  buscamos  entender  como  a  História  da Matemática  vem  sendo  utilizada  como  recurso metodológico  nos livros do Ensino Fundamental  (6º ao 9º anos) de Matemática, mas especificamente como a história das equações de 1º e 2º graus está sendo utilizadas pelos autores de coleções didáticas. 

Por  fim,  selecionamos  algumas  coleções  de Matemática  e verificamos como a história do conteúdo em questão (equação de 1º e 2º grau) está sendo abordados nos livros e se estão de acordo com as indicações dos PCN e referencial curricular do Estado de MS. 

Desta maneira,  o Trabalho de Curso  tinha  como  objetivo, apresentar  sucintamente  um  recorte  histórico  das  equações 

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algébricas  por  meio  da  História  da Matemática,  seus  principais personagens  e  obras;  identificar  as  equações  de  1º  e  2º  grau  nos livros  didáticos  das  coleções  escolhidas;  averiguar  a  presença  da utilização  do  recurso  da História  da Matemática  nas  coleções  de livros didáticos adotados para a pesquisa. 

Assim,  quanto  à  metodologia  que  utilizamos, primeiramente,  realizamos  um  estudo  histórico  das  equações algébricas  tendo  como  principais  referências:  Boyer  (1996), Domingues (2000), Eves (2004) e Martins (2006). Elencamos como se deu  o  surgimento  e  o  desenvolvimento  do  tema  estudado, apresentamos  algumas  considerações  sobre  os  matemáticos responsáveis pelas principais demonstrações. 

Num  segundo  momento,  desenvolveu‐se  a  análise  das coleções didáticas escolhidas, no tocante a utilização do recurso da História  da  Matemática  no  desenvolvimento  dos  conteúdos  de equações  algébricas.  Esta  análise  foi  feita  de  acordo  com  as indicações  dos  Parâmetros  Curriculares Nacionais,  referencial  do Estado de MS e os  referenciais utilizados por PEREIRA  (2005) em sua dissertação de mestrado. Este  artigo  tratará de modo  sucinto alguns aspectos da pesquisa realizada. 

 1. Síntese do trabalho de curso 

 O trabalho de curso teve como objeto de estudo as equações 

algébricas,  desta  maneira,  a  pesquisa  foi  disposta  em  cinco capítulos, sendo que, o 1º capítulo trouxe a introdução do trabalho, bem como, os objetivos e metodologia. 

O 2º capítulo teve como foco realizar uma breve exposição sobre  a  história,  o  desenvolvimento  das  equações  algébricas  ao longo  do  tempo.  Assim,  realizamos  um  estudo  histórico‐matemático sobre as equações de 1º grau, 2º grau, 3º grau, 4º grau e 5º  grau,  aonde  apresentamos  algumas  considerações  sobre  a necessidade das equações para algumas civilizações e os principais povos e personagens ligados ao desenvolvimento deste conceito. 

No 3º capítulo desenvolvemos um estudo preliminar para que  servisse de  base  para  o  4º  capítulo, deste modo,  no  capítulo 

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três,  apresentamos  a  História  da  Matemática  como  recurso metodológico e as indicações de trabalho sobre as equações de 1º e 2º  graus,  de  acordo,  com  os  PCN  e  o  referencial  curricular  do Estado de MS entre outras literaturas referentes à pesquisa. 

Desta maneira no  4º  capítulo,  realizamos  a verificação de algumas  coleções  didáticas  de  Matemática,  que  atendessem  aos seguintes  requisitos:  ser  do  ensino  fundamental  (6º  ao  9º  anos), abordar os conteúdos de equação de 1 

º  grau  ou  linear  e  equação  de  2º  grau  ou  quadrática  e trabalhar  com  a  história  destes  dois  conteúdos  como  recurso metodológico  e  assim,  buscamos  verificar  como  a  História  da Matemática vem sendo abordada e logo, qual a sua contribuição no processo de ensino e aprendizagem de Matemática. 

No último capítulo apresentamos as considerações finais da pesquisa,  ou  seja,  quais  conclusões  foram  possíveis  chegar  por intermédio  do  conjunto  de  estudos  abordados  no  Trabalho  de Curso.  Nos  próximos  subtítulos  apresentaremos  na  integra  o  3º capítulo e em seguida, a verificação de uma das coleções adotadas na pesquisa.  2. Livros didáticos e equações algébricas: uma análise sucinta da utilização da história da matemática como recurso no ensino e aprendizagem de matemática. 

 2.1 Breve exposição 

 Nesta seção a intenção foi apresentar as equações algébricas 

via  referencial  curricular,  ou  seja,  quais  as  habilidades  e competências devem ser  trabalhadas no conteúdo de equações do 1º  e  2º  graus  e  em  quais  anos  estes devem  ser  abordados. Neste tocante,  a  análise  das  coleções  propriamente  ditas  reserva‐se  o capítulo  seguinte,  com  intuito  de  realizar  uma  breve  descrição sobre a obra e, posteriormente considerações acerca do conteúdo e uma sucinta conclusão.   Neste sentido, também apontamos quais os focos da análise e, principalmente, a  intenção  foi verificar  se os autores dos  livros 

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didáticos escolhidos utilizam o recurso da História da Matemática, segundo o referencial curricular já citado.     2.2. A escolha dos livros didáticos 

 Inicialmente,  a  ideia  foi  investigar  livros  didáticos  de 

Matemática que circularam/circulam (1990 e 2000) entre os anos de 1980 a 2010, ou seja, coleções que permitissem um estudo sobre as mesmas desde antes da criação até a elaboração e divulgação dos PCN  e  suas  indicações  a  utilização  do  recurso  de  História  da Matemática no ensino e aprendizagem de Matemática. 

Como  já  citado,  a  escolha  das  décadas  foi  pautada  na criação  dos  Parâmetros  Curriculares  Nacionais,  pois,  os  PCN começam a ser elaborado em 1995, sendo concluído em 1997. Deste modo,  intencionava‐se  fazer a análise de  três coleções distintas da mesma década, sendo três coleções do ano de 1980, que antecede a criação dos PCN e três coleções de 1990, (para esta década poderia ter  coleções que  já  estavam de  acordo  ou não  com  os PCN),  três coleções  de  2000,  que  deviam  (ao menos  se  imaginava)  estar  de acordo com as indicações dos PCN e três coleções de 2010.  

No entanto, restringiu‐se a análise aos anos de 1990 e 2000, pois  não  foi  possível  encontrar  coleções  de  livros  da  década  de 1980; assim, como também não foram encontrados livros editados a partir de 2010, adotados pelas escolas de Paranaíba e Inocência no estado de Mato Grosso do Sul.  

Vale  ressaltar  que  foram  encontradas  outras  coleções,  no entanto,  estas  não  contribuíram  com  a  pesquisa,  pois  quando  o conteúdo  de  equações  algébricas  é  abordado,  os  autores  não utilizavam  o  recurso  da  História  da  Matemática,  além  do  que algumas  coleções  eram  do  ensino médio,  e  as  coleções  desejadas deviam  ser  do  que  atualmente  é  designado  como  ensino fundamental,  isto  é,  do  6º  ao  9º  ano,  haja  vista  que  equações algébricas é trabalhadas no ensino fundamental. 

Assim,  definido  o  foco  da  pesquisa,  iniciou‐se  a  procura por  coleções  que  atendesse  as  necessidades  deste  estudo.  Neste momento,  as  dificuldades  de  encontrar  os  livros  referentes  as 

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décadas  de  80  e  90,  principalmente;  com  relação  a  2010,  o  que aconteceu é que os livros adotados em 2012 pelas escolas estaduais de Inocência e Paranaíba foram editados em anos anteriores. 

Nestes  munícipios  foram  procuradas  as  escolas  públicas (estaduais  e  municipais),  Secretarias  de  Educação,  bibliotecas públicas  e  também  houve  algumas  conversas  informais  com professores, no intuito de conseguir algum resultado. Infelizmente, a busca não foi satisfatória. 

Principalmente, pela facilidade de acesso. No entanto, nem todas  as  coleções  identificadas  foram  escolhidas,  para  o  real trabalho em sala de aula. Alguns foram apenas comprados, todavia adotadas  para  serem  utilizadas  por  professores  e  alunos,  como fonte de pesquisa. 

Ressalto que embora a intenção deste trabalho não seja a de criticar os arquivos públicos, ou seja, aqueles a quem recorro nesta pesquisa,  salienta‐se  que,  enquanto  estudante/pesquisadora  de História,  e,  neste  caso,  a  História  da Matemática,  deixa‐se  aqui registrada a insatisfação quanto à conservação dos livros didáticos, uma vez que, ao se preservar os  livros adotados, a escola também preservará sua história.   2.3 Livros Didáticos: breviário histórico e políticas públicas 

 Em  se  tratando  de  livro  didático,  este  tem  conquistado 

espaço  no  ambiente  escolar  e    merecida  atenção  de  estudiosos. Neste  sentindo,  relembramos  algum marcos  referente  ao  assunto. De acordo com Carvalho: 

 1938 –  Instituição, pelo Ministério da Educação da Comissão Nacional do Livro Didático  (CNLD)  que  estabelece  condições para  a produção, importação  e  utilização  do  livro  didático.  Decreto  de  lei  1006,  de 30/12/1938. (BRASIL, 1938). 1966  –  Criação  da  Comissão  do  Livro  Técnico  e  do  Livro  Didático (Colted),  com  o  objeto  de  coordenar  as  ações  referentes  à  produção, edição  e  distribuição  do  livro  didático.  (BRASIL,  MINISTÉRIO  DA EDUCAÇÃO, 1966). 1971  –  O  instituto  Nacional  do  Livro  (INL)  passa  a  desenvolver  o Programa  do  Livro  Didático  para  o  Ensino  Fundamental  (Plidef),  ao 

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assumir as atribuições administrativas e de gerenciamento dos recursos financeiros, até então sob a responsabilidade da Colted (BRASIL, 1971). 1976  –  A  Fundação  Nacional  do Material  Escolar  (Fename)  torna‐se responsável  pela  execução  dos  programas  do  livro  didático.  (BRASIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 1976). 1983  –  Criação  da  Fundação  de  Assistência  ao  Estudante  (FAE),  que passa a incorporar o Plidef. (BRASIL, 1983). 1985 – Instituição do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), em substituição ao Programa do Livro Didático para o Ensino Fundamental (Plidef). (BRASIL, 1985). 1993  –  Instituição,  pelo  Ministério  da  Educação,  de  comissão  de especialistas  encarregada  de  avaliar  a  qualidade  dos  livros  mais solicitados  pelos  professores  e  de  estabelecer  critérios  gerais  de avaliação. (BRASIL, MEC, 1993). 1994 – Publicação do documento Definição de  critérios para  avaliação dos livros didáticos. (BRASIL, 1994). 1996 –  Início do processo de avaliação pedagógica dos  livros didáticos (PNLD/1997). (BRASIL, MEC, 1996). 1997  ‐  Extinção  da  Fundação  de  Assistência  ao  Estudante  (FAE)  e transferência  da  execução  do  Programa  Nacional  do  Livro  Didático (PNLD)  para  o  Fundo  Nacional  do  Desenvolvimento  da  Educação (FNDE). (BRASIL, 1997). 1999  –  Criação  da  Comissão  Técnica  do  Livro  Didático  por meio  de Portaria Ministerial. (BRASIL, 1999). 2001  –  Primeira Avaliação  dos  dicionários  distribuídos  aos  alunos  do Ensino Fundamental. (BRASIL, MEC, 2001). 2002  –  O MEC  passa  a  realizar  a  avaliação  dos  livros  didáticos  em parceria com as universidades (BRASIL, MEC, 2001 apud CARVALHO 2008, p. 2‐ 3). 

    Ao  fazer  este  levantamento  histórico  acerca  das  políticas públicas  referentes  aos  livros  didáticos  no  Brasil,  destaca‐se  a importância  que  este  material  vem  recebendo  dos  órgãos governamentais. Ressalta‐se  que  a  criação  do  Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) no ano de 1985 foi um passo importante para este recurso, pois segundo Carvalho: 

 [...] o Estado  assumiu, de maneira  sistemática,  a distribuição de  livros didáticos para o  ensino  fundamental. Cumpre notar que  isso  era  feito sem nenhuma seleção, baseada na qualidade, dos livros comprados para distribuição. (CARVALHO, 2008, p. 2). 

 

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  Assim,  intenta‐se  aqui  tratar  brevemente  o desenvolvimento  do  livro  didático13  diante  ao  Estado14.  Pereira conclui: 

[...] os  livros didáticos no Brasil não ganharam destaque  apenas pelos seus  aspectos  pedagógicos  e  de  aprendizagem,  mas,  também,  pela economia  e  política  envolvidas  no  circuito  de  produção,  circulação  e consumo de manuais didáticos. O  livro didático pode ser considerado, hoje, como mercadoria, um produto do mundo de edição, que obedece à evolução  das  técnicas  de  fabricação  e  comercialização,  pertencentes  à lógica do mercado. Porém, com a  intervenção do governo, por meio da avaliação dos  livros didáticos,  foi  identificada uma nítida melhora nos livros didáticos, mas, percebem‐se, ainda, alguns problemas em relação a determinados conteúdos e abordagens (PEREIRA, 2005, p. 25). 

   O livro didático passou por diversas transformações para se chegar  ao  que  conhecemos  hoje,  e  a  política  esteve  diretamente ligada a esta evolução por meio de decretos e leis.   Inicialmente, o livro didático era voltado ao professor e somente no século XIX que os manuais  escolares  passaram  a  ser  consideradas  obras  onde  as crianças e adolescentes poderiam realizar leituras.   No  Brasil  as  concepções  francesas  influenciaram  os educadores brasileiros. Assim, o termo abrégés e o livre e élémentaire foram  traduzidos  como  compêndios  e  livros  populares respectivamente, o que dava  significado  as duas  classes de  livros que começaria a circular no Brasil.   Somente em 1808 D. João VI  instalou a Imprensa Régia no Rio  de  Janeiro,  pois,  anteriormente  os  livros  eram  impressos  no exterior. Nesse período  a  educação não visava  a  todos,  o  que no 

                                                            13  Informando, definiu‐se pela primeira vez no Brasil, o que era um  livro didático, de acordo com o decreto‐lei 1006, de 30/12/1938, ou seja, Art 2º, inciso  1º  ‐ Compêndios  são  livros  que  expunham  total  e  parcialmente matéria das disciplinas constantes do programa escolares; 2 – Livros de leitura de classe são  livros usados para  leitura dos alunos em aula;  tais livros  também são chamados de  livro‐texto, compêndios escolares,  livro de classe, manual, livros didáticos, dentre outros. Adaptado de PEREIRA (2005, p. 22). 

14  Vale  destacar  que  ao  citar  o  Estado,  estou  priorizando  o  valor  que  o Livro didático vem conquistando perante os órgãos governamentais.  

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início do  século XIX,  fez  com que o governo promovesse debates para  criação  e  organização de um  sistema  educacional  e  onde  as discussões sobre livros didáticos tiveram notável destaque.   A  maioria  dos  livros  impressos  aqui  eram  traduções  de obras francesas sobre matemática, física, anatomia, moral, filosofia e cirurgia. As criticas  sobre os manuais estrangeiros começaram a surgir  quando  houve  a  falta de manuais  escolares  no  interior do país.  

A  produção  de  livros  didáticos  por  autores  brasileiros acompanhou o período de crescimento da  rede escolar, visando a construção de mais escolas secundárias, assim no século XX ocorreu a efetivação de livros didáticos de autores brasileiros e editados no Brasil.  A  partir  do  século  XX  e  XXI  começa‐se  uma  maior divulgação  e utilização do  livro didático, nos  termos da primeira citação desta seção.  2.4  A Análise das coleções de livros didáticos 

 O  projeto  inicial  deste  trabalho  intencionava  fazer  um 

estudo voltado para o  ensino, principalmente no que  se  refere  as equações  algébricas,  se  valendo  do  recurso  metodológico  da História  da  Matemática.  Durante  a  realização  dos  estágios obrigatórios e, em contato com os livros didáticos, surgiu a ideia de se  analisar  coleções  didáticos  e  o  modo  como  a  Historia  da Matemática  é  trabalhada  nas  coleções,  itinerário  seguido  nesta pesquisa,  em  relação  à  abordagem  no  tocante  ao  conteúdo  das equações algébricas. 

Considerando o tema central deste trabalho de curso, isto é, equações  algébricas, mais  necessariamente  à  abordagem  adotada pelos  autores  dos  livros  em  relação  ao  conteúdo  das  equações algébricas e a utilização do recurso da História da Matemática. De acordo com Pereira:   

 Dentro da história das disciplinas escolares, o livro didático desempenha um papel  importante, pois, por meio deles,  conseguimos  identificar as tendências  metodológicas,  a  filosofia  educacional  e  até  a  visão  do conhecimento produzido em uma determinada época, sendo um recurso fundamental para história do ensino no Brasil (PEREIRA, 2005, p. 10). 

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   Deste  modo,  o  livro  didático  é  uma  excelente  fonte  de 

pesquisa,  por  conter  uma  variedade  de  informação,  inclusive determinar valores, costume, objetivos educacionais, tornando uma fonte riquíssima para quem se valer deste recuso. Assim, conforme Pereira: 

 Os  livros  didáticos  constituem  para  o  historiador,  uma  fonte privilegiada, principalmente pelas variedades de olhares que  ele pode atrair sobre ele. Assim, ele assume várias funções destinadas a diversas classes (alunos, professores, família...), mesmo quando é tratada o ponto de vista histórico (PEREIRA, 2005, p. 10). 

 Entretanto,  o  que  é  ressaltado por Choppin pode não  ser 

suficiente para se fazer uma pesquisa histórica nos livros didáticos, por  não  abranger  todos  os  estudos  nesta  área,  deste  modo ressaltamos Chervel (1990), pois o livro didático para o historiador é uma importante fonte de pesquisa: 

 O estudo dos conteúdos beneficia‐se de uma documentação abundante à base de cursos manuscritos, manuais e periódicos pedagógicos. Verifica‐se aí um  fenômeno de “vulgata15”, o qual parece  comum às diferentes disciplinas.  Em  cada  época,  o  ensino  dispensado  pelos  professores  é, grosso modo,  idêntico, para a mesma disciplina e para o mesmo nível. Todos os manuais ou quase todos dizem então a mesma coisa, ou quase isso.  Os  conceitos  ensinados,  a  terminologia  adotada,  a  coleção  de rubricas e capítulos, a organização do corpus de conhecimentos, mesmo os exemplos utilizados ou os tipos de exercícios praticados são idênticos, com  variações  aproximadas.  São  apenas  essas  variações,  aliás,  que podem apresentam mais do que desvios mínimos: o problema do plágio é  uma  das  constantes  da  edição  escolar  (CHERVEL,  1990  apud PEREIRA, 2005 p. 11). 

 Com  base  nestes  autores,  nesta  pesquisa,  a  análise  dos 

livros  didáticos  será  conduzida  a  fim  de  averiguar  os  seguintes aspectos: 

• Identificar  as  Equações  Algébricas  (Equação  de  1º  e  2º grau); 

                                                            15  Vulgata é aquilo que é de uso público, divulgado, publicado, espalhado, propagado. 

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• Mostrar o modo de organização das obras pesquisadas; • Verificar  se  o  autor  utiliza  o  recurso  da  História  da 

Matemática. Com  base  nestes  aspectos  será  direcionada  a  análise  das coleções didáticas. 

 2.5 O Recurso à História da Matemática 

 A História da Matemática,  recurso metodológico  adotado 

nesta  pesquisa  servirá  de  pano  de  fundo  nesta  investigação  que buscou por meio da análise de livros didáticos identificarem o uso ou  não da História da Matemática  na  abordagem do  conceito de equações algébricas nos livros de Matemática.  

Desta maneira, utilizar‐se para  compor  a  análise  algumas referências  e  principalmente,  as  orientações  fornecidas  pelos Parâmetros  Curriculares  Nacionais  (PCN).  Assim,  os  PCN informam que: 

 A história da Matemática pode oferecer uma importante contribuição ao processo  de  ensino  e  aprendizagem  dessa  área  do  conhecimento. Ao revelar  a  Matemática  como  uma  criação  humana,  ao  mostrar necessidades  e  preocupações  de  diferentes  culturas,  em  diferentes momentos  históricos,  ao  estabelecer  comparações  entre  conceitos  e processos  matemáticos  do  passado  e  do  presente,  o  professor  cria condições  para  que  o  aluno  desenvolva  atitudes  e  valores  mais favoráveis diante desse conhecimento (BRASIL, 1998, p. 42). 

      Ainda menciona  a História  da Matemática  como  recurso, como um  caminho para  “fazer Matemática” na  sala de aula, pois “Além  disso,  conceitos  abordados  em  conexão  com  sua  história constituem  veículos  de  informação  cultural,  sociológica  e antropológica de grande valor formativo. A história da Matemática é, nesse sentindo, um instrumento de resgate da própria identidade cultural (BRASIL, 1998, p. 42).   Nos dias atuais encontra‐se em discussão a questão acerca da  identidade  cultural  do  aluno,  ou  seja,  respeitar  e  valorizar  a realidade sociocultural do aluno. Os PCN falam sobre a pluralidade cultural e discorrem: “[...] tanto a História da Matemática como os 

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estudos  da  Etnomatemática16  são  importantes  para  explicar  a dinâmica da produção desse conhecimento, histórica e socialmente “(BRASIL, 1998, p. 33).    A presença da História da Matemática em livros didáticos, paradidáticos17 e propostas feitas individualmente por professores, dentre  outros,  na  intenção  de  elaborar  diretrizes  para  o  ensino fundamental  e  claro,  para  o  ensino  médio  e  superior  tem aumentado  substancialmente  gerando  alguns  questionamentos como,  por  exemplo:  quais  argumentos  são  favoráveis  a  seu  uso? Como esses  se  justificam e  se  relacionam ao processo de ensino e aprendizagem de Matemática. Esta ampliação do discurso histórico em obras direcionadas a Matemática escolar  também se manifesta na  proposta  governamental  –  PCN  –  quando  se  trata  do Quadro atual  do  ensino  de  matemática  no  Brasil.  Apresentam  o  seguinte discurso:  

 Apresentada em várias propostas como um dos aspectos importantes da aprendizagem matemática, por propiciar  compreensão mais  ampla da trajetória os  conceitos  e métodos da  ciência,  a História da Matemática também  tem se  transformado em assunto específico, um  item a mais a ser  incorporado  ao  rol dos  conteúdos,  que muitas vezes não passa da apresentação de  fatos ou biografias de matemáticos  famosos  (BRASIL, 1998, p. 23). 

 

                                                            16  A  Etonomatemática  é  definida  por  D’  Ambrosio,  como  os  métodos, maneiras,  técnicas,  artes  (tica) de  explicar,  conhecer,  lidar, de  conviver (matema) a realidade natural e sociocultural (entno) em que o sujeito está inserido. Para maiores  informações  sobre o assunto: D’ AMBROSIO, U. Etnomatemática:  Elo  entre  as  tradições  e  a  modernidade.  Belo Horizonte: Autêntica, 2005. 

17  Livros paradidáticos são  livros  temáticos que  têm a declarada  intensão de  ensinar,  porém,  ensinar  de  forma  lúdica,  podendo  ser  utilizados paralelamente  ao  livro  didático  e  até  substituí‐los  em  determinados momentos.  O  termo  “paradidático”  foi  criado  no  Brasil  no  final  da década  de  70  no  século  XX  principalmente,  pela  editora  Ática.  Para maiores  informações  consultar:  DALCIN,  A.  Um  Olhar  Sobre  o Paradidático de Matemático. Campinas: ZETETIKÉ, 2007. 

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  Atualmente  questiona‐se  como  este  recurso  vem  sendo utilizado no ensino de Matemática, pois existem distintas formas de como  esta proposta metodológica pode participar desse processo, assim como, quais são os argumentos que justificam sua utilização.   Deste  modo,  a  História  da  Matemática,  as  vezes,  acaba sendo  utilizada  como  divertimento,  como  opção  de  leitura  e segundo  (MIGUEL  e  MIORIM,  2004,  p.  19)  “Realmente,  uma grande parte dos textos históricos presentes na obra diz respeito a personagens,  povos  ou  temas  específicos  da  Matemática,  ‘que colaboram no progresso dessa ciência’”. É claro que alguns  textos apresentam predicados que os diferenciam dos demais. O que  se apresenta  é  a  inegável  contribuição da história  aos mais variados grupos  sociais,  aos  processos  de  evolução  da  sociedade  e  de diversas maneiras. Neste sentindo, D’ Ambrósio ainda diz: 

 A  história  tem  servido  das mais  diversas maneiras  e  grupos  sociais, desde  família,  tribos  e  comunidades,  até  nações  e  civilizações.  Mas, sobretudo tem servido como afirmação de identidade. Em qualquer área do conhecimento, uma vez identificados objetos do seu estudo, a relação de fatos, datas e nomes depende de registros que podem ser de natureza muito  diversa: memórias,  práticas, monumentos  e  artefatos,  escritos  e documentos (D’ AMBRÓSIO, 2012, p. 4). 

   A  história  poderia  desempenhar  diversas  funções  no processo  de  ensino  e  aprendizagem,  conforme Miguel  e Miorim tem‐se:  

 [...]  o  desenvolvimento  de  atitudes  e  valores  favoráveis  diante  do conhecimento matemático,  o  resgate  da  própria  identidade  cultural,  a compreensão  das  relações  entre  tecnologia  e  herança  cultural,  a constituição  de  um  olhar mais  crítico  sobre  os  objetos matemáticos,  a sugestão  de  abordagens  diferenciadas  e  a  compreensão  de  obstáculos encontrados pelos alunos. MIGUEL e MIORIM, 2005, p. 52). 

   Assim,  história  pode  e  deve  constituir‐se  um  caminho desmistificador  no  processo  de  ensino  e  aprendizagem  da Matemática, no entanto, é preciso parar de  transmitir a  falsa  ideia de  que  a  História,  assim  como  a  Matemática  e  a  História  da Matemática é harmoniosa e está pronta e acabada.  

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2.6 As Equações Algébricas    Nesta  seção  o  referencial  curricular  e  os  Parâmetros Curriculares Nacionais torna‐se a base de averiguação, pois existe a pretensão de identificar  em  que  níveis  de  escolaridade  do  2º  ciclo18  do  ensino fundamental os conteúdos de equações algébricas são trabalhados, e  principalmente,  quais  as  competências  e  habilidades  são desejadas para o desenvolvimento da matéria.   O  referencial  curricular  para  atender  aos  objetivos,  no tocante  a  estrutura  de  conteúdos,  está  divido  por  blocos classificados  como:  Números  e  operações;  espaço  e  forma (percepção espacial e geometria); grandezas e medidas e tratamento de  informação  (elementos  da  estatística,  probabilidade  e combinatória).   Deste modo, segue abaixo uma  tabela que mostra como o conteúdo  é  divido,  a  qual  bloco  pertence  e  quais  são  as competências e habilidades que se espera alcançar.   Segundo o referencial curricular do Estado de Mato Grosso do Sul19, tem‐se:  7º ano [3º bimestre]: Equação de 1º grau. Bloco: Número e operações. Competências e Habilidades:  Identificar uma equação de 1º grau; determinar o valor desconhecido de uma equação de 1º grau.  

                                                            18  Referente a este termo, segue uma sugestão de leitura, ressaltando que o objetivo do artigo é  levantar algumas  reflexões sobre “espaço e  tempo” na escola, o que muda quando se altera essa organização. FREITAS, L. C. de.  Ciclos  ou  Séries?  O  que  muda  quando  se  altera  a  forma  de organizar  os  tempos‐espaços  da  escola?  Disponível  em: <http://www.anped.org.br/reunioes/27/diversos/te_luiz_carlos_freitas.pdf.>   Acesso em:  26 maio 2013.  

19  GOVERNO  DO  MATO  GROSSO  DO  SUL.  Secretária  do  Estado  de Educação. Referencial Curricular (6º ao 9º), Matemática. Campo Grande, 2012. Disponível em: <www.sed.ms.gov.br>  Acesso em: 08 jun. 2013. 

 

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8º ano [1º bimestre]: Equação de 1º grau com uma incógnita. Bloco: Números e Operações. Competências  e Habilidades: Resolver  equação  do  1º Grau  com uma incógnita, aplicando os princípios aditivos e multiplicativos de igualdade; resolver problemas que envolvem equações do 1º grau.  8º  ano  [4º  bimestre]:  Equação  e  Inequação  de  1º Grau  com  uma incógnita; Equação de 1º grau com duas incógnitas. Bloco: Números e Operações. Competências e Habilidades: Calcular o resultado de uma equação e/ou  inequações  do  1º  grau;  Resolver  problemas  envolvendo equações e/ou inequações do 1º grau; Verificar se um par ordenado (x, y) é ou não uma das soluções de uma equação do 1º grau com duas incógnitas.  9º  ano  [2º  bimestre]:  Equação  do  2º  grau;  Equação  completa  e incompleta do 2º grau; Raízes de uma equação do 2º grau. Bloco: Número e Operações Competências e Habilidades: Identificar uma equação do 2° grau; Calcular o  resultado da equação do 2° grau utilizando a  fórmula; Identificar  e  resolver  uma  equação  do  2°  grau,  completa  e incompleta; Resolver problemas envolvendo a equação do 2° grau; Encontrar  raízes  da  equação  do  2º  grau  utilizando  vários procedimentos; Resolver problemas  tendo  como  resultados  raízes da equação do 2º grau.    Quanto à organização do conteúdo o referencial do Estado de  MS  acata  a  proposta  dos  PCN,  ou  seja,  seguem  a  seguinte disposição  de  conteúdos:  Números  e  operação;  espaço  e  forma; grandezas e medidas e tratamento da informação.  2.7 Considerações    Nesta  seção  o  objetivo  foi  dar  subsídios  para  um  entendimento posterior  onde  serão  abordadas  as  considerações  realizadas  nas coleções de livros didáticos, bem como, proporcionar uma reflexão 

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acerca da utilização do recurso da História da Matemática tanto no processo  de  ensino  e  aprendizagem  de  matemática,  quanto  na abordagem adotada pelos autores de coleções de livros didáticos.   Deste modo, de acordo com os PCN, o referencial curricular e MIGUEL e MIORIM (2005), dentre outros, mostrar a importância da História e consequentemente, a sua contribuição para o processo de ensino. Quando cabível apontar‐se‐á direções para a utilização deste  recurso  metodológico  em  sala  de  aula,  afinal,  os  PCN instruem o seu uso. 

 3. COLEÇÃO: MATEMÁTICA  3.1 Descrição da Obra    A coleção intitulada Matemática foi escrita por Luiz Márcio Pereira Imenes e Marcelo Lellis, sendo esta a coleção aqui analisada a 1ª edição e 5ª reimpressão do ano de 1997.   

 Fig. 1. Foto das capas da coleção Matemática.  IMENES, L. M. P. e LELLIS, M.  C. Matemática.  Vol.  1,  2,  3,  4  (5ª  série).  São  Paulo: Scipione, 1997. 

 

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Esta coleção não oferece informação visual como as demais. Observou‐se, a pouca utilização de cores e o texto e ilustrações são apresentados praticamente em preto e branco.   Esta  coleção  apresenta‐se  numa  linha  tradicional20 (comparado  com  os  demais  ou  autores,  isto  é,  não  estamos definindo o livro ou autor dentro da perspectiva tradicionalista) e é possível perceber esta postura no  índice da coleção, bem como na maneira como os autores nomeiam os conteúdos. As apresentações dos conteúdos nas páginas traziam somente o necessário.   Um diferencial desta coleção é o olhar que os autores dão para as construções geométricas, para utilização dos  instrumentos de desenho,  ou  seja,  esquadro,  compasso  e  régua  e  também pelo uso  de  papel  quadriculado,  com  o  objetivo  de  ensinar  o  aluno  a usar esses instrumentos, fazer planificações e até dobraduras. Cada livro  possui  uma  unidade  trabalhando  estas  construções, planificações  e  simetria,  sendo  trabalhado  separadamente  e  não como um “atrativo” a outros conceitos.   Outro  ponto  importante  refere‐se  aos  exercícios apresentados  na  coleção,  pois  entre  as  coleções  analisadas,  os exercícios da coleção Matemática são os mais dinâmicos, isto porque são  abordados  com  contexto,  oferecem  observações  quanto  a pontos  essenciais da  resolução,  além de  exercícios  resolvidos. Ao fazer  tal  afirmação,  salienta‐se  não  existir  aqui  a  pretensão  de favorecer a análise de uma coleção em detrimento de outra.    

                                                            20  O  termo  tradicionalista  no  ensino  em  resumo  representa,  na  relação professor‐aluno uma postura vertical, onde o professor detém o poder, ou  seja,  o  professor  a  todo  tempo  transmiti  o  conhecimento  e  o  aluno simplesmente  recebe,  isto  é,  não  participa  da  construção  do  seu conhecimento. Trata‐se de uma  concepção, uma prática que persiste ao longo do tempo. Para uma introdução: MIZUKAMI, M. da G. N. Temas básicos de educação e ensino. São Paulo: E.P.U., 2011. 

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Quadro I ‐ 6º ano21 (5ª série) Unidade  Conteúdos 122:  Formas geométricas 

Bloco  retangular; Vistas de um  objeto; Cilindro  e esfera; Giros,  cantos  e  ângulos; Perpendiculares  e paralelas; Mosaicos e polígonos; Quadriláteros. 

2:  Operações fundamentais 

Fazendo contas de cabeça; Técnicas da divisão; Para que servem; Operações? Operações inversas; Problemas. 

3: Múltiplos e divisores 

Sequências;  Sequências  de  múltiplos;  Múltiplos comuns e o mmc; Divisibilidade e divisores. 

4: Construções geométricas 

Construções  em papel  quadriculado; Construções com réguas e esquadrados; Construções com régua e compasso. 

5: Frações  Ideias  básicas;  Nomenclatura;  Problemas; Números mistos e medidas; Frações equivalentes; Adição e subtração. 

6:  Números decimais  e medidas 

Medidas de  comprimento; Números  com vírgula; Números  decimais;  Adição  e  subtração; Multiplicação  e  divisão  por  10,  100,  1000,  ... Multiplicação; Quocientes decimais. 

7: Simetria  Eixo de simetria; Uma figura e sua simétrica. 8:  Linguagem matemática 

Expressões numéricas; Expressões numéricas  com colchetes e chaves; Potências. 

9:  Áreas  e perímetros 

Noção de  área; Área  de  retângulos; Unidades  de medidas de área. 

10: Possibilidades e estatística 

Várias possibilidades; Tabelas e gráficos de barras. 

11: Porcentagens 

Calculando  mentalmente;  Um  método  para calcular porcentagens. 

12: Generalização 

Tirando conclusões gerais; Expressando conclusões gerais. 

Mais  100 supertestes; Dicionário ilustrado. 

                                                            21  Este  livro  não  será  analisado  por  não  trabalhar  com  as  equações algébricas. 

22  É deste modo que o autor apresenta o índice. 

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Quadro II – 7º ano (6ª série) Unidade  Conteúdos 1:  Números naturais 

Escrita  dos  números;  Quebra‐cabeças; Múltiplos,  divisores  e  divisibilidade;  Regras de divisibilidade; Contando possibilidades. 

2:  Números decimais e frações 

Informações  numéricas;  Adição,  subtração  e multiplicação de decimais; Frações no lugar de decimais; Explorando operações com frações. 

3:  Formas geométricas 

Ângulos;  Polígonos; Classificação  das  formas geométricas; Vistas, mapas e plantas. 

4: Medidas  Instrumentos e unidades de medidas; Sistemas decimais  de  medidas;  Problemas  sobre medidas; Medindo o tempo. 

5: Proporcionalidade 

Grandezas  diretamente  proporcionais,  Mais proporcionalidade  direta;  Grandezas inversamente proporcionais. 

6:  Números negativos  ou positivos 

Números  negativos;  Adição;  Subtração; Expressões numéricas; Multiplicação; Divisão; Mais expressões numéricas. 

7:  Construções geométricas 

Simetria;  Ampliação  e  redução;  Usando circunferências. 

8:  Usando  letras em Matemática 

Comunicando ideias; Calculando com letras. 

9: Equações  Letras  para  achar;  Números  desconhecidos; Usando  letras  para  resolver  problemas; Resolvendo equações; Regra de três. 

10: Porcentagens  Calculando  porcentagens;  Calculando  o “quanto por cento”. 

11:  Estatística  e gráficos 

Utilidade  da  estatística;  Gráficos  de segmentos; Gráficos de setores. 

12:  Áreas  e volumes 

Áreas; Volumes. 

Mais  100 supertestes; Dicionário ilustrado.    

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Quadro III – 8º ano23 (7ª série) Unidade  Conteúdos 1:  Aplicações  de Matemáticas 

Problemas  de  Matemática  do  dia‐a‐dia; Usando  fórmulas  e  equações;  Usando porcentagens. 

2:  Números primos 

Números  primos;  Decomposição  em  fatores primos; Cálculo do mmc. 

3: Operações  com frações 

Revendo  as  frações;  Adição  e  subtração; Multiplicação; Divisão. 

4:  Construções geométricas 

Construções  com  dobraduras;  Usando  os instrumentos  de  desenho;  Simetria, Planificações. 

5:  Potências  e raízes 

Expoentes  menores  que  1;  Notação  científica; Propriedades  das  potências;  Raízes;  Extraindo raízes. 

6:  Ângulos  e polígonos 

Algumas propriedades dos ângulos; Soma das medidas  dos  ângulos  internos  de  um triângulo;  Soma  das  medidas  dos  ângulos internos  de  um  polígono;  Classificação  dos polígonos. 

7:  Cálculo algébrico 

O  que  é  álgebra;  Deduzindo  fórmulas; Cálculos  algébricos;  Fatoração;  Produtos  de polinômios. 

8:  Estatística  e possibilidades 

Possibilidades e chances; Estatística, Amostra. 

9:  Perímetros, áreas e volumes 

Ideia  para  o  cálculo  de  áreas  e  volumes; Fórmulas para o  cálculo de  áreas; O  teorema de Pitágoras. 

10:  Equações  e sistemas  de equações 

Problemas  e  equações;  Equações  com coeficientes;  Fracionários;  Sistemas  de equações; Mais  sobre  sistema  de  equações; Problemas. 

11:  Geometria  e  É ou não é proporcional? Figuras semelhantes; 

                                                            23  Este livro trabalha com as equações algébricas, no entanto, não aborda o recurso da História da Matemática, logo não entre na análise. 

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proporcionalidade  Perímetro do círculo. 12:  Desenhando figuras espaciais 

Desenhando  sobre  malhas;  Desenhando  em perspectiva. 

Mais  100 superteste; Dicionário ilustrado    QUADRO IV – 9º ano (8ª série) Unidade  Conteúdos 1: Semelhanças 

Figuras semelhantes; Triângulos semelhantes. 

2:  Números  e cálculos 

Contando  possibilidades;  Cálculos  com porcentagens;  Notação  cientifica;  Cálculos  com radicais; Mais cálculos com radicais. 

3:  Equações  e sistemas  de equações 

Ideias básicas; Equações resolvidas por fatorações; Mais  resoluções  por  fatoração;  A  fórmula  de Bhaskara;  Resolução  de  equações:  um  resumo; Sistemas de equações; Problemas. 

4: Trigonometria 

Medindo  o  que  não  se  alcança;  Razões trigonométricas;  Polígonos  inscritos  e circunscritos. 

5: Medidas  Sistemas  decimais  e  não‐decimais;  Calculando áreas e volumes; Perímetro e área do círculo. 

6: Classificação dos números 

Conjuntos; Conjuntos numéricos; Reta numérica. 

7: Estatística  Chances e estatística e Amostras. 8: Propriedades geométricas 

Matemática  e  detetives;  Ângulos  nos  polígonos; Ângulos no círculo; Paralelismo. 

9: Matemática, comércio  e indústria 

Produção  e  proporcionalidade;  Juros;  Problemas variados. 

10: Funções  Funções,  suas  tabelas  e  suas  fórmulas; Funções  e seas gráficos; Usando funções. 

11:  Técnica algébrica 

Produtos  notáveis  e  fatoração;  Equações fracionárias. 

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12: Construções geométricas 

Simetrias; Dá para construir; Desenhando em 3D. 

Mais   100 supertestes; Vestibulinho; Dicionário ilustrado.  3.2 Análise do conteúdo específico     Esta  coleção  também  trabalhava  com  o  conteúdo  das equações  em  três  livros,  sendo  os  conteúdos  apresentados  nos livros do 7º, 8º e 9º anos. No livro do 7º ano, na unidade 9 inicia‐se o conceito  de  equação,  designado  por:  Letras  para  achar  números desconhecidos e assim, como as demais coleções abordam “charadas” para se trabalhar com o conceito.  

O autor por meio de um diálogo propõe o seguinte desafio: “Pensei  num  número.  Multipliquei  por  7.  Somei  15,  deu  71. Adivinhe o número.” (IMENES e LELLIS, 2001, p. 201).    Deste modo, surge na obra a discussão de como resolver o problema fazendo operações inversas, ou utilizando incógnitas. No tópico seguinte o autor continua resolvendo problemas fazendo uso das  incógnitas  e  ao  dar  a  solução  de  um  problema  faz  a contextualização do conceito por  intermédio da história, conforme a figura 2 abaixo.  

 Fig. 2. O problema da herança. Recorte da coleção Matemática, 6ª série, p. 205. IMENES, L. M. P. e LELLIS, M. C. Matemática. Vol. 1, 2, 3, 4 (5ª série). São Paulo: Scipione, 1997. 

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 Fig. 3. O problema da herança. Recorte da coleção Matemática, 6ª série, p. 206. Continuação. IMENES, L. M. P. e LELLIS, M. C. Matemática. Vol. 1, 2, 3, 4 (5ª série). São Paulo: Scipione, 1997.  

Logo  após  a  explicação do  conteúdo,  apresenta  exercícios para  serem  resolvidos pelos  alunos  e  então,  com base na história contada propõe um exercício baseado na história, veja a figura. 

 

 Fig. 4: Exercício. Recorte da coleção Matemática, 6ª série, p. 207. IMENES, L. M. P. e LELLIS, M. C. Matemática. Vol. 1, 2, 3, 4  (5ª série). São Paulo: Scipione, 1997.    A  abordagem  do  conteúdo  utilizando  a  História  da Matemática conta uma curiosidade da história do povo árabe.   Esta utilização, conforme Miguel e Miorim: 

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 [...]  pode‐se  incorrer  no  erro  de  simplesmente  assumir  a História  da Matemática  como  elemento  motivador  ao  desenvolvimento  do conteúdo.  Sua  amplitude  extrapola  o  campo  da motivação  e  engloba elementos  cujas  naturezas  estão  voltadas  a  uma  interligação  entre  o conteúdo e sua atividade educacional (MIGUEL e MIORIM, 2004, p. 65). 

   Neste  contexto, os  autores dos  livros didáticos  analisados abordam a história, tomando‐a como um elemento motivador, que desperta  a  curiosidade,  mas  não  como  elemento  que  possa contribuir  com processo de  aprendizagem  significativo  e  atraente para os alunos. Observa‐se que não há a interligação do conteúdo, da história e da atividade a ser desenvolvida nestas coleções.    Os  autores  continuam  a  trabalhar  com  o  tema  e  também, exemplifica a resoluções de uma equação por meio da Matemática das balanças. Abaixo segue uma figura, para a visualização, pois as balanças  é um  recurso adotado por  todos os autores das  coleções escolhidas como exemplo de algum  tópico relacionado a equações algébricas. Até o fim da unidade o recurso não será mais abordado  

 Fig. 5. Balanças. Balanças. 6ª série, p. 210. IMENES, L. M. P. e LELLIS, M. C. Matemática. Vol. 1, 2, 3, 4 (5ª série). São Paulo: Scipione, 1997. 

 Até o fim da unidade o recurso não será mais abordado no 

livro do 8º ano, na unidade 10 retoma‐se o conceito de equações, no entanto, neste livro os autores não adotam a história do conceito. O objetivo da  retomada do conteúdo  foi o de  introduzir o conteúdo de sistema de equações. 

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  Na unidade 3 do livro do 9º ano, partindo das ideias básicas apresenta‐se o conteúdo, por meio de um resumo de como resolver equações do 1º grau, conforme a figura 6. Trata‐se na sequência das equações  de  2º  grau,  com  ênfase  nas  soluções,  focando  nas possíveis soluções de uma equação: nenhuma, uma, duas, quando tem  soluções,  quando  as  sentenças  são  falsas  ou  verdadeiras. Observa‐se a figura 6.  

 Fig. 6.24 Introdução ao conteúdo. Recorte da coleção Matemática, 8ª série, p. 11. IMENES, L. M. P. e LELLIS, M. C. Matemática. Vol. 1, 2, 3, 4 (5ª série). São Paulo: Scipione, 1997.  

                                                            24  Na  figura acima, ao  ser  resolvida a questão,  chega a  conclusão de que não  há  solução,  no  entanto,  há  uma  solução,  entretanto,  a  solução encontrada não uma solução real. 

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 Fig. 7. Equação do 2º grau. Recorte da coleção Matemática, 8ª série, p. 75. IMENES, L. M. P. e LELLIS, M. C. Matemática. Vol. 1, 2, 3, 4 (5ª série). São Paulo: Scipione, 1997.  

Os exercícios/exemplos são minuciosamente resolvidos.    Equações resolvidas por fatoração e mais resoluções por fatoração são respectivamente, os títulos dos próximos tópicos.    E  então,  no  tópico  intitulado  A  fórmula  de  Bhaskara,  a história da matemática é representada por  intermédio do desenho de uma  cabeça  (que  representa  a  cabeça de um  árabe), Estranho! Veja a figura.  

 Fig. 8. Cabeça. Recorte da coleção Matemática, 8ª série, p. 90. IMENES, L. M.  P.  e  LELLIS, M. C. Matemática. Vol.  1,  2,  3,  4  (5ª  série).  São  Paulo: Scipione, 1997. 

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  Abaixo  segue  a  imagem  da  página  no  qual  este  desenho está contido, para que  se possa compreender qual a  relação deste desenho e a utilização do recurso da História da Matemática.  

 Fig. 9. História da Matemática. Recorte da coleção Matemática, 8ª série, p. 90. IMENES, L. M. P. e LELLIS, M. C. Matemática. Vol. 1, 2, 3, 4 (5ª série). São Paulo: Scipione, 1997.    Observe  que  no  desenho  está  escrito:  Que  problema!  Esta unidade oferece um problema, generaliza uma equação para chegar à  fórmula  de  Bhaskara,  na  página  91  problema  é  desenvolvido, conforme a figura.  

 Fig. 10. Desenvolvimento do problema. Recorte da coleção Matemática, 8ª série, p 91. IMENES, L. M. P. e LELLIS, M. C. Matemática. Vol. 1, 2, 3, 4 (5ª série). São Paulo: Scipione, 1997. 

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Ao  alcançar  o  objetivo,  ou  seja,  a  fórmula  de  Bhaskara  os autores conclui: é chamada de  fórmula de Bhaskara e, novamente o desenho  da  cabeça  expressa  uma  frase:  É  uma  homenagem  que me fizeram! Observe a figura. 

 Figura 11: Homenagem, recorte da página 92. IMENES, L. M. P. e LELLIS, M. C. Matemática. Vol. 1, 2, 3, 4 (5ª série). São Paulo: Scipione, 1997.    

Deste modo, abaixo do desenho e da fala, segue a seguinte orientação:  Consulte  o  dicionário  para  saber  quem  foi  o  senhor Bhaskara.  Neste  sentindo,  remetendo‐se  ao  índice,  é  possível observar  que  no  final  das  obras,  existe  um  tópico  cujo  titulo  é Dicionário  ilustrado.  Então,  ao  procurar  a  palavra  Bhaskara encontra‐se um relato histórico, conforme a figura.  

 Fig.12. Dicionário. Recorte da coleção Matemática, 8ª série, p. 318. IMENES, L. M. P. e LELLIS, M. C. Matemática. Vol. 1, 2, 3, 4  (5ª série). São Paulo: Scipione, 1997.  

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O  dicionário  é  uma  abordagem  interessante,  no  entanto, nesta pesquisa atentou‐se para  este detalhe,  entretanto, no que  se refere aos alunos: será que o professor trabalha com este dicionário, talvez,  pudesse  adequar  o  dicionário  aos  conteúdos.  Estas  são algumas  indagações  que  vem  surgindo  no  desenvolver  deste estudo, então, qual seria o método certo?   Métodos para  que? Para  ensinar, para  trabalhar‐se  com  a História  da Matemática  no  processo  de  ensino  e  aprendizagem. Essas questões fornecem um leque de possibilidades, de respostas. Miguel e Miorim  (2005) dizem que a problematização da História da Matemática  deve  cumprir,  pelo menos,  quatro  papéis,  sendo este  interdisciplinar,  didático‐metodológico,  psicológico motivacional e político‐crítico. E ainda assim, a dúvida permanece, talvez,  porque  ensinar  seja  um  constante  processo  de aprendizagem, logo, de exclamações e interrogações.   3.3 Conclusão    

Esta  coleção  difere‐se  das  demais  coleções  verificadas  na pesquisa,  pois  trata‐se  de  uma  obra  com  menos  apelo  visual  e apresentações  de  curiosidades,  sejam    históricas  ou  temas  atuais, dentre outras questões.   No que se refere à abordagem da História da Matemática, esta  segue  os  modelos  já  apresentados  nas  demais  coleções.  As diferenças  de  aplicações  são  poucas,  mas  recaem  no  mesmo objetivo, ou seja, a história não é tomada como elemento que possa contribuir  com  o  ensino  e  aprendizagem  de  Matemática,  mas apresentada de forma meramente ilustrativa.   Assim,  a  obra,  em  geral,  é  bastante  clara  e  com  objetivos bem  definidos.  Entretanto,  no  tocante  desta  pesquisa  deixa  a desejar, pois, conforme abordada nos livros, a história das equações algébricas não fornecem subsídios importantes para a formação de cidadãos críticos.    

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Considerações finais  Este artigo visa apresentar alguns aspectos do Trabalho de 

Curso,  intitulado: Equações Algébricas  e História da Matemática: um  estudo  sobre  a utilização deste  recurso  em  coleções didáticas dos anos de 1990 e 2000  identificadas nas  cidades de Paranaíba e Inocência / MS.  

Desta maneira,  as  considerações  aqui  apresentadas  trarão de modo  geral  as  conclusões  da  pesquisa,  buscamos  no  trabalho verificar  se usam ou não  a História da Matemática  como  recurso metodológico  pelos  autores  das  coleções  de  livros  didáticas percebeu a utilização do recurso. 

Entretanto, a abordagem do recurso nem sempre atende as recomendações dos PCN e do  referencial  curricular do Estado de MS, ou seja, é possível perceber que os autores utilizam  a história como abertura de capítulo, ou trazem pequenos recorte da história utilizando  –  a  como  curiosidade,  ou  no  fim  do  capítulo,  como leitura complementar. De acordo com LOPES (2013). 

 Percebe‐se  a  utilização  da  história  aparece  para  completar  as  páginas dos  livros,  ao  trazerem  trechos das  histórias  em pequenos  retângulos, como uma curiosidade, leitura complementar, dentre outros. É claro que abordar a história dos  conteúdos matemáticos  é uma  tarefa  complexa, árdua,  mas  que  pode  contribuir  de  modo  significativo  no  ensino. Entender o processo de desenvolvimento do conceito é compreender um modo de pensar, existe todo um contexto que envolve este conteúdo, é dar  significado  ao  aluno  e  responder  a  questões,  como  por  exemplo, “porque precisamos estudar esta matéria” (LOPES, 2013, p. 78). 

   Deste  modo,  é  preciso  ainda  que  autores,  cursos  de formação de professores de Matemática, dentre outros, reconheçam a História da Matemática como um campo de conhecimento, apesar de  que  na  pesquisa  adotamos  a  História  da  Matemática  como recurso  metodológico  não  pode  limita‐la  somente  como  um recurso.   Assim,  tomando  as  equações  algébricas,  objeto  de  nosso estudo,  percebemos  que  a  história  que  cerca  o  desenvolvimento deste conteúdo, oferece informações sobre uma determinada época, 

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sobre  a  religião, política,  ciência,  arte  e não  somente  informações matemáticas.   A  História  da  Matemática,  ou  seja,  a  história  do desenvolvimento dos conteúdos de Matemática tem como pano de fundo o cotidiano, a observação dos fenômenos da natureza, deste modo, o homem inicia a beira de grandes rios suas civilizações, pois conseguem perceber as relações entre as chuvas, fazes da lua, dia e noite  e  assim,  surge  a  agricultura  e  a  engenharia, deste modo,  o homem  consegue  estabelece  moradia,  saem  da  condição  de nômades e com isso, a Matemática faz‐se cada vez mais presente no dia a dia do homem, conforme LOPES (2013). 

 O desenvolvimento das equações algébricas, da derivada, do sistema de medidas,  por  exemplo,  nasce  por  parte  da  necessidade  prática  do homem em seu cotidiano. Os primeiros problemas envolvendo equações derivam de elementos do dia a dia do homem, como pão e cerveja. Essas transformações  vividas  pela  humanidade  é  simplesmente  o  homem saciando a sua necessidade diária de transcender (LOPES, 2013, p. 78). 

   E ainda, “Privar os alunos deste conhecimento é ir contra os discursos  atuais,  ou  seja,  aluno  e  professor  como mediadores  do conhecimento,  com  seres  agentes  e  não  passivos.  Para  isso,  é necessário oferecer meios, condições e informações” (LOPES, 2013, p. 78).   O  ensino  e aprendizagem de Matemática, principalmente, estão  passando  por  um momento  de  transformação,  os  recursos, por  exemplo,  a  História  da  Matemática,  a  Etnomatemática,  a informática  podem  auxiliar  neste  processo  e  são  indicados  pelos PCN.    Referências  BONFIM,  S. H. Um  estudo  sobre  elementos matemáticos  presentes  na narrativa  da  descrição  do  Templo  de  Jerusalém.  2007.  Dissertação  de (Mestrado em Educação Matemática)  ‐ Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2007. BOYER,  C.  B.  História  da  Matemática.  2.  ed.  São  Paulo:  Ed.  Edbard Blücher LTDA, 1996. 

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