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INDÚSTRIA E AMBIENTE 73 MARÇO/ABRIL 2012 18 DOSSIER GESTÃO INDUSTRIAL E AMBIENTE CERTIFICAÇÃO DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE MANUTENÇÃO NORMA PORTUGUESA 4492 © ISAFMEDIA Marlene Nunes Técnica de Produto SGS ICS – Serviços Internacionais de Certificação A NORMALIZAÇÃO Para fazer face a isto, e com base na perce- ção do impacto que esta atividade tem no desempenho global das empresas, surgiu em Portugal a necessidade da certificação de prestadores de serviços de manutenção. Para tal, foi criado o referencial NP 4492:2010, no âmbito do Sistema Português da Qualidade, pela mão da Comissão Técnica CT 94 “Manu- tenção”, Subcomissão SC 1 “Sistemas de Ges- tão da Manutenção”, sob a coordenação da APMI (Associação Portuguesa de Manutenção Industrial). Trata-se da norma especifica para a certifi- cação dos serviços de manutenção, embora a sua implementação implique a análise e apli- cação de disposições comuns a outros refe- renciais, sendo estes: NP 4483 - Guia para a implementação do sistema de gestão da manutenção; NP EN 13269 - Manutenção – Instruções para a preparação de contratos de manu- tenção; NP EN 13306 - Terminologia da manutenção; NP EN 13460 - Manutenção – Documen- tação para a manutenção; viços ao cliente com qualidade garantida e no prazo acordado é cada vez mais uma questão de sobrevivência e cada vez menos um fator de diferenciação. A realização de toda a cadeia de valor, desde a matéria-prima até ao produto final, assenta em máquinas, equipamentos, parâmetros e controlos, designados por ”processo”. As eta- pas de planeamento e realização do processo são a base para assegurar que o mesmo vai cumprir os requisitos, garantindo assim a sa- tisfação do cliente. A Manutenção, realizada por meios internos da organização ou através de prestação de serviço por fornecedores externos especia- lizados, tem um papel fulcral no sucesso da organização, capacitando os equipamentos do processo para o desempenho ao nível que lhes é exigido. Por outro lado, a falta do domínio do estado da arte de alguns compradores de serviços de manutenção e a falta de qualidade de al- guns prestadores de serviços de manuten- ção contribuem para o insucesso das inter- venções e agravam o risco da atividade de manutenção. Existem registos datados de serviços de ma- nutenção desde as primeiras Civilizações. Contudo, foi após a Revolução Industrial que o conceito de Manutenção começou a ter mais expressão e a assemelhar-se ao conhecido nos dias de hoje. Embora tenha sido negligenciada pelas em- presas por muitas décadas, sendo vista como uma função secundária, apesar de necessária, a Manutenção não recebia a devida importân- cia, pois não se identificava o impacto que a mesma exercia sobre os resultados das orga- nizações. Com a evolução dos tempos e a automati- zação industrial, os serviços de manutenção começaram a ser analisados de outra forma, o que consequentemente aumentou também os custos de operação associados a este tipo de atividade. Tal como noutros setores afetados pela glo- balização e pela competitividade emergente nos mercados atuais, também no âmbito dos serviços de manutenção foi lançado um desa- fio cada vez mais exigente e real para as or- ganizações. Nos dias de hoje, a entrega do produto ou ser-

Manutenção

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Page 1: Manutenção

INDÚSTRIA E AMBIENTE 73 MARÇO/ABRIL 201218

DOSSIER GESTÃO INDUSTRIAL E AMBIENTE

CERTIFICAÇÃO DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE MANUTENÇÃONORMA PORTUGUESA 4492

© IS

AF

ME

DIA

Marlene NunesTécnica de Produto

SGS ICS – Serviços Internacionais de Certificação

A NORMALIZAÇÃOPara fazer face a isto, e com base na perce-

ção do impacto que esta atividade tem no

desempenho global das empresas, surgiu

em Portugal a necessidade da certificação de

prestadores de serviços de manutenção. Para

tal, foi criado o referencial NP 4492:2010, no

âmbito do Sistema Português da Qualidade,

pela mão da Comissão Técnica CT 94 “Manu-

tenção”, Subcomissão SC 1 “Sistemas de Ges-

tão da Manutenção”, sob a coordenação da

APMI (Associação Portuguesa de Manutenção

Industrial).

Trata-se da norma especifica para a certifi-

cação dos serviços de manutenção, embora a

sua implementação implique a análise e apli-

cação de disposições comuns a outros refe-

renciais, sendo estes:

– NP 4483 - Guia para a implementação do

sistema de gestão da manutenção;

– NP EN 13269 - Manutenção – Instruções

para a preparação de contratos de manu-

tenção;

– NP EN 13306 - Terminologia da manutenção;

– NP EN 13460 - Manutenção – Documen-

tação para a manutenção;

viços ao cliente com qualidade garantida e no

prazo acordado é cada vez mais uma questão

de sobrevivência e cada vez menos um fator

de diferenciação.

A realização de toda a cadeia de valor, desde

a matéria-prima até ao produto final, assenta

em máquinas, equipamentos, parâmetros e

controlos, designados por ”processo”. As eta-

pas de planeamento e realização do processo

são a base para assegurar que o mesmo vai

cumprir os requisitos, garantindo assim a sa-

tisfação do cliente.

A Manutenção, realizada por meios internos

da organização ou através de prestação de

serviço por fornecedores externos especia-

lizados, tem um papel fulcral no sucesso da

organização, capacitando os equipamentos

do processo para o desempenho ao nível que

lhes é exigido.

Por outro lado, a falta do domínio do estado

da arte de alguns compradores de serviços

de manutenção e a falta de qualidade de al-

guns prestadores de serviços de manuten-

ção contribuem para o insucesso das inter-

venções e agravam o risco da atividade de

manutenção.

Existem registos datados de serviços de ma-

nutenção desde as primeiras Civilizações.

Contudo, foi após a Revolução Industrial que

o conceito de Manutenção começou a ter mais

expressão e a assemelhar-se ao conhecido

nos dias de hoje.

Embora tenha sido negligenciada pelas em-

presas por muitas décadas, sendo vista como

uma função secundária, apesar de necessária,

a Manutenção não recebia a devida importân-

cia, pois não se identificava o impacto que a

mesma exercia sobre os resultados das orga-

nizações.

Com a evolução dos tempos e a automati-

zação industrial, os serviços de manutenção

começaram a ser analisados de outra forma,

o que consequentemente aumentou também

os custos de operação associados a este tipo

de atividade.

Tal como noutros setores afetados pela glo-

balização e pela competitividade emergente

nos mercados atuais, também no âmbito dos

serviços de manutenção foi lançado um desa-

fio cada vez mais exigente e real para as or-

ganizações.

Nos dias de hoje, a entrega do produto ou ser-

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DOSSIER GESTÃO INDUSTRIAL E AMBIENTE

INDÚSTRIA E AMBIENTE 73 MARÇO/ABRIL 2012

– NP EN 15341 - Manutenção – Indicadores

de desempenho da manutenção;

– CEN/TR 15628 - Maintenance – Qualifica-

tion of Maintenance personnel.

A NP 4492 é uma norma orientada para os se-

guintes objetivos:

– Definir os requisitos para que os prestado-

res de serviços de manutenção ofereçam

aos seus clientes soluções que se alinhem

com as suas necessidades e objetivos,

através de uma garantia de desempenho

mantendo o ativo operacional e fiável, re-

duzindo assim o tempo ocioso do mesmo;

– Constituir um referencial com vista à cer-

tificação de prestadores de serviços de

manutenção e seu controlo periódico por

auditorias efetuadas por uma entidade

credenciada;

– Apoiar os prestadores de serviços de ma-

nutenção, fornecendo-lhes um meio que

permita reconhecer os seus esforços, dis-

tinguindo-os dos seus concorrentes;

– Fazer da qualidade dos serviços de manu-

tenção um critério permanente e trans-

parente para o comprador, incentivando

a implementação do conceito de Custo do

Ciclo de Vida em substituição do Custo de

Aquisição, e um vetor de promoção comer-

cial e de competitividade para a empresa

prestadora de serviços;

– Fomentar o estabelecimento de um me-

canismo de autorregulação do próprio

mercado, proporcionando o incremento da

competência e inovação.

Para além dos objetivos referidos, e como

já foi referido, a NP 4492 depreende a im-

plementação de um Sistema de Gestão da

Manutenção que segue uma abordagem

PDCA (Plan-Planear, Do-Executar, Check-

Verificar, Act-Atuar), orientando-se para a

melhoria contínua, tal como estabelecido

na NP 4483:

Esta certificação pode ser concedida a qual-

quer tipo de empresa prestadora de serviços

de manutenção, independentemente da sua

dimensão (micro, pequena, média ou grande

empresa) ou da sua área de especialização

A realização de toda a cadeia de valor, desde

a matéria-prima até ao produto final, assenta em máquinas, equipamentos,

parâmetros e controlos, designados por

”processo”. As etapas de planeamento e realização

do processo são a base para assegurar que o

mesmo vai cumprir os requisitos, garantindo assim a satisfação do

cliente.

PU

B.

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INDÚSTRIA E AMBIENTE 73 MARÇO/ABRIL 201220

DOSSIER GESTÃO INDUSTRIAL E AMBIENTE

ficadas de acordo com outras normas, por

exemplo, já tenham o seu Sistema de Gestão

da Qualidade certificado segundo a ISO 9001,

para o âmbito da Manutenção, poderão bene-

ficiar da redução do tempo de auditoria para

a NP 4492.

2. AuditoriasO Organismo de Certificação seleciona a equi-

pa auditora, submete-a à aprovação da em-

presa candidata à certificação e agenda as

datas da auditoria.

Tal como já é comum na certificação doutros

referenciais, é essencial a seleção de uma

equipa auditora adequada, de forma a que a

condução das auditorias seja o mais assertiva

possível.

Nesta etapa, selecionar auditores com compe-

tências, experiência e conhecimentos compro-

vados, são fatores elevadamente valorizados,

especialmente para este tipo de certificação

de complexidade tão específica.

No que diz respeito às auditorias em si, cada

ciclo é constituído por:

– Auditoria de concessão: auditoria inicial na

qual, após a decisão do processo, culmina

na emissão do certificado;

– Auditorias de acompanhamento: onde é

feito o acompanhamento anual da certi-

ficação em curso, a cada 12 meses.

3. Renovação da certificaçãoApós o fim de um ciclo de certificação e ca-

ducidade do respetivo certificado, a empresa

prestadora de serviços de manutenção tem

sempre a oportunidade de renovar a sua cer-

tificação por mais três anos, iniciando-se um

novo ciclo.

Note-se que um novo ciclo de certificação não

significa que se comecem as atividades de

certificação da “estaca zero”, e é sempre tido

em conta todo o histórico do ciclo anterior.

Para além da garantia de uma maior trans-

parência perante o mercado, alguns outros

benefícios da certificação da atividade de ma-

nutenção incluem:

– Custos reduzidos de implementação e

controlo;

– Dinamização das equipas e melhoria do

seu desempenho;

– Aumento da precisão e detalhe do serviço;

– Mais competitividade;

– Maior qualidade do serviço final;

– Maior rigor no cumprimento de prazos;

– Diferenciação no mercado face à concor-

rência.

A certificação do Sistema de gestão da Ma-

nutenção, segundo a NP 4492, implica não

só uma maior monitorização das atividades

inerentes à Manutenção, mas também o re-

conhecimento da eficácia neste ramo de ati-

vidade por terceiros, neste caso por parte de

Organismos de Certificação, perante um mer-

cado cada vez mais diferenciador e que requi-

sita diariamente este tipo de serviços.

Figura 1. Modelo de um Sistema de Gestão de Manutenção orientado por processos

(Fonte: NP 4483:2009 - Guia para a implementação do Sistema de Gestão da Manutenção)

Esta certificação pode ser concedida a qualquer tipo de empresa prestadora de serviços de manutenção, independentemente da sua dimensão (micro, pequena, média ou grande empresa) ou da sua área de especialização dentro do largo espectro da Manutenção, assim como a prestadores de serviços de manutenção independentes.

dentro do largo espectro da Manutenção, as-

sim como a prestadores de serviços de manu-

tenção independentes.

PROCESSO DE CERTIFICAÇÃOO processo de certificação dos serviços de

manutenção envolve várias etapas, de entre

as quais se destacam:

1. Seleção do organismo de certificaçãoA empresa que se pretende certificar deve

entrar em contacto com Organismos de Cer-

tificação devidamente acreditados pelo Ins-

tituto Português da Qualidade, para solicitar

propostas de certificação. Estas são elabora-

das com base nas informações recolhidas via

questionário (p. ex. número de colaboradores;

complexidade do âmbito em avaliação; dimen-

são e dispersão geográfica dos locais a audi-

tar; histórico das certificações: ISO 9001, ISO

14001, entre outras; nº de turnos, etc.).

Posto isto, é determinada a duração de todas

as auditorias do ciclo de certificação e emitida

então uma proposta para a empresa presta-

dora de serviços de manutenção, com a salva-

guarda que embora a duração das auditorias

seja inicialmente estimada para três anos, é

sempre feito um acompanhamento anual dos

contratos e respetivos serviços de manuten-

ção em curso a concorrer para o âmbito da

certificação, uma vez que se trata de um tipo

de atividade onde podem ocorrer variações

significativas no intervalo entre auditorias.

Nesta fase, empresas que já sejam certi-