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Modelo multicritério para a seleção de fornecedores de produtos estratégicos Maria Creuza Borges de Araújo Universidade Federal de Pernambuco [email protected] Luciana Hazin Alencar Universidade Federal de Pernambuco [email protected] Resumo Devido à grande importância dos fornecedores para o bom desempenho e imagem das empresas junto aos clientes, a seleção de parceiros que atendam as necessidades da organização quanto aos seus objetivos estratégicos se tornou essencial. Neste contexto, o presente trabalho visa estruturar um modelo multicritério de apoio à decisão para a seleção de fornecedores de produtos estratégicos, considerando vários decisores, assim como uma simulação numérica que ilustra a utilização do mesmo. Uma adaptação do PROMETHEE-GDSS foi realizada, utilizando-se o PROMETHEE III ao invés do PROMETHEE II, para a ordenação dos fornecedores. Desta forma, fornecedores com desempenhos muito próximos ficarão na mesma posição do ranking final, e não em posicionamentos diferentes. Palavras-chaves: seleção de fornecedores; modelo multicritério de decisão em grupo; PROMETHEE. 1 Introdução A seleção de fornecedores é um problema estratégico fundamental para as organizações, pois o desempenho dos mesmos pode influenciar a imagem da empresa junto a seus clientes. Além disso, auxilia a estabelecer e manter sua vantagem competitiva (Li et al., 2011), afeta a qualidade, o preço e o risco na realização dos objetivos de uma cadeia de suprimentos (Haleh e Hamidi, 2010) e auxilia na redução do tempo de desenvolvimento do produto, redução do lead time e maior inovação através de um melhor design e do aumento da flexibilidade (Zeydan et al., 2010). Segundo Lin (2008), para assegurar as vantagens competitivas, as organizações precisam integrar suas competências centrais e capacidades com seus fornecedores, pois encontrar parceiros capazes é uma questão imperativa na gestão moderna das empresas. Neste sentido, as organizações passaram a buscar o estabelecimento de relações de longo prazo com fornecedores que apresentam bom desempenho. Ademais, Zeydan et al. (2010) afirmam que uma seleção correta dos fornecedores faz uma grande diferença na redução dos custos operacionais futuros e na melhoria de seus produtos finais. É importante ressaltar que “escolher os fornecedores certos envolve muito mais do que digitalizar uma série de listas de preços, e as escolhas dependerão de uma ampla gama de fatores quantitativos e qualitativos” (Ho et al., 2009). Assim, como as empresas enfatizam cada vez mais relações de cooperação com fornecedores críticos, os executivos estão utilizando análises de fornecedores para garantir que seus objetivos de negócios sejam cumpridos de forma consistente e com desempenho geral aceitável (Wang, 2010). Desta forma, são necessários métodos estruturados para selecionar seus fornecedores, e, a partir destes, criar relacionamentos com aqueles adequados às necessidades da organização. Devido à existência de vários

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Modelo multicritério para a seleção de fornecedores de produtos

estratégicos

Maria Creuza Borges de Araújo

Universidade Federal de Pernambuco

[email protected]

Luciana Hazin Alencar

Universidade Federal de Pernambuco

[email protected]

Resumo

Devido à grande importância dos fornecedores para o bom desempenho e imagem das empresas junto aos

clientes, a seleção de parceiros que atendam as necessidades da organização quanto aos seus objetivos

estratégicos se tornou essencial. Neste contexto, o presente trabalho visa estruturar um modelo

multicritério de apoio à decisão para a seleção de fornecedores de produtos estratégicos, considerando

vários decisores, assim como uma simulação numérica que ilustra a utilização do mesmo. Uma adaptação

do PROMETHEE-GDSS foi realizada, utilizando-se o PROMETHEE III ao invés do PROMETHEE II,

para a ordenação dos fornecedores. Desta forma, fornecedores com desempenhos muito próximos ficarão

na mesma posição do ranking final, e não em posicionamentos diferentes.

Palavras-chaves: seleção de fornecedores; modelo multicritério de decisão em grupo; PROMETHEE.

1 Introdução

A seleção de fornecedores é um problema estratégico fundamental para as organizações, pois o

desempenho dos mesmos pode influenciar a imagem da empresa junto a seus clientes. Além disso,

auxilia a estabelecer e manter sua vantagem competitiva (Li et al., 2011), afeta a qualidade, o preço e o

risco na realização dos objetivos de uma cadeia de suprimentos (Haleh e Hamidi, 2010) e auxilia na

redução do tempo de desenvolvimento do produto, redução do lead time e maior inovação através de um

melhor design e do aumento da flexibilidade (Zeydan et al., 2010).

Segundo Lin (2008), para assegurar as vantagens competitivas, as organizações precisam integrar suas

competências centrais e capacidades com seus fornecedores, pois encontrar parceiros capazes é uma

questão imperativa na gestão moderna das empresas. Neste sentido, as organizações passaram a buscar o

estabelecimento de relações de longo prazo com fornecedores que apresentam bom desempenho.

Ademais, Zeydan et al. (2010) afirmam que uma seleção correta dos fornecedores faz uma grande

diferença na redução dos custos operacionais futuros e na melhoria de seus produtos finais. É importante

ressaltar que “escolher os fornecedores certos envolve muito mais do que digitalizar uma série de listas de

preços, e as escolhas dependerão de uma ampla gama de fatores quantitativos e qualitativos” (Ho et al.,

2009). Assim, como as empresas enfatizam cada vez mais relações de cooperação com fornecedores

críticos, os executivos estão utilizando análises de fornecedores para garantir que seus objetivos de

negócios sejam cumpridos de forma consistente e com desempenho geral aceitável (Wang, 2010). Desta

forma, são necessários métodos estruturados para selecionar seus fornecedores, e, a partir destes, criar

relacionamentos com aqueles adequados às necessidades da organização. Devido à existência de vários

roger
Typewritten Text
R. Z. Ríos-Mercado et al. (Eds.): Recent Advances in Theory, Methods, and Practice of Operations Research, pp. 247-254, UANL - Casa Universitaria del Libro, Monterrey, Mexico, October 2014.

fatores relacionados a esta avaliação, tal questão pode ser caracterizada como um problema multicritério

de apoio à decisão e, por este motivo, deve-se utilizar métodos específicos para a situação. Além disso,

devido à necessidade de considerar as preferências de diversos decisores, que muitas vezes possuem

objetivos conflitantes, é importante considerar este tema como um problema de decisão em grupo.

Dentre os segmentos industriais, observa-se que a Indústria de Alimentação depende altamente da escolha

de seus fornecedores. Inicialmente, os alimentos possuem efeito direto sobre a saúde dos consumidores, o

que traz a necessidade de produtos com elevado nível de qualidade. Segundo Talamini et al. (2005), há

uma crescente preocupação com a segurança dos alimentos, de forma que o Gerenciamento da Cadeia de

Suprimentos pode apresentar uma importante contribuição para um maior compartilhamento de

informações e práticas produtivas. Ademais, tal ramo industrial tem grande importância para a economia

brasileira. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação – ABIA (2014), o setor obteve

um faturamento de R$ 431,9 bilhões e saldo comercial de US$ 37,8 bilhões no ano de 2012. Além disso,

contribui efetivamente para a criação de empregos no país. No ano de 2012 o nível de emprego no setor

foi de 1,63 milhão, com um aumento de 49 mil postos de trabalho com relação ao ano de 2011 (ABIA,

2014).

Neste contexto, o presente estudo visa à determinação de um modelo multicritério de decisão em grupo

que auxilie as empresas na seleção de fornecedores adequados às suas necessidades, como forma de

aumento de desempenho e consequente melhoria de sua competitividade. Em seguida, é realizada uma

simulação numérica do modelo para a Indústria Alimentícia.

2 Seleção de fornecedores na indústria de alimentação

A seleção de fornecedores é um fator fundamental para as empresas de alimentos, pois é uma importante

ferramenta de escolha para criação de parcerias com fornecedores estratégicos. Desta forma, é essencial a

utilização de métodos estruturados para tal seleção, com o intuito de escolher aqueles mais apropriados às

necessidades da empresa.

Neste sentido, Viana (2009) realizou uma investigação de como as companhias brasileiras de alimentos

têm selecionado e monitorado seus fornecedores, e se as mesmas têm ou não aplicado ferramentas e

técnicas avançadas para tal análise, a partir de uma pesquisa realizada com as indústrias participantes da

Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação. O estudo revelou que empresas com processos

formais para escolha e análise de fornecedores e que possuem critérios padronizados têm maior

preferência em obter relações de longo prazo e maior percepção sobre a redução no fluxo de trabalho e

melhoria da qualidade do produto/serviço advindas das parcerias com seus fornecedores. Por este motivo,

foi realizado um levantamento dos critérios mais utilizados para a seleção e avaliação de fornecedores

pela indústria brasileira de alimentação.

Já Agarwal e Vijayvargy (2013) apresentaram um método para a avaliação e seleção de fornecedores

baseado no ANP na Indústria de Alimentação Indiana. Um estudo de caso foi realizado em uma

companhia de café do país e considerou os seguintes critérios: custo, serviço, qualidade, tempo de ciclo,

perfil do fornecedor, risco e relacionamento. A aplicação resultou em um ranking de fornecedores no qual

o melhor colocado no ranking deveria ser selecionado. Como resultado ocorreu uma redução do lead time

e do nível de estoque, melhor nível de serviço e efetivo controle e coordenação entre os parceiros da

empresa estudada. Ni-Di e Ming-Xian utilizaram um método de decisão baseado no AHP para a seleção

de fornecedores na indústria agroalimentar. Os critérios observados neste caso foram divididos em quatro

dimensões: qualidade (gerenciamento da qualidade total, certificação de qualidade, acesso ao mercado e

taxe de erros), custo (despesas de aquisição, descontos por quantidade e preço do produto), entrega

(capacidade do fornecedor, ponto de entrega e tempo de entrega) e serviço (padrão de serviço e serviço

pós-venda).

Outra questão de extrema importância para a seleção de fornecedores está relacionada à segurança

alimentar. Neste sentido, Losito et al. (2011) propõe um checklist usado por uma empresa distribuidora

italiana para investigar a situação de seus fornecedores de alimentos a fim de detectar não conformidades,

pois os autores afirmam que a auditoria representa um instrumento efetivo para a qualificação dos

fornecedores, já que aqueles com sérias não conformidades são recusados. Além disso, fornecem

informações sobre o gerenciamento do sistema HACCP (Hazard Analysis and Critical Control Points)

nas indústrias de alimentação no país.

A partir dos trabalhos citados, observa-se que “escolher um fornecedor adequado é uma decisão

multicritério que envolve fatores tangíveis e intangíveis” (Khorramshahgol, 2012). Daí a importância em

elaborar modelos que considerem tanto variáveis quantitativas quanto qualitativas, de forma a englobar

todos os aspectos importantes para a empresa. Neste sentido, vários trabalhos utilização decisão

multicritério para seleção de fornecedores são encontrados na literatura (Yücenur et al.,2011; Chen e

Chao, 2012; Ekici, 2013).

Neste contexto, este estudo visa propor um método multicritério adequado ao problema de seleção de

fornecedores, considerando a necessidade de decisão em grupo, com critérios qualitativos e quantitativos,

e que seja considerado simples e flexível, o que possibilita a utilização por gerentes no dia-a-dia.

3 Modelo Proposto

O modelo proposto (Figura 1) tem como finalidade a obtenção de um ranking dos fornecedores potenciais

e, a partir desta ordenação, a seleção daquele que mais se adéqua aos critérios estabelecidos pela empresa.

O mesmo deve ser utilizado para seleção de fornecedores de itens estratégicos, que, segundo Kraljic

(1983), são caracterizados pelo alto impacto no lucro e alto risco de fornecimento, de forma que para a

escolha de tais itens é necessário acuracidade na demanda, pesquisa de mercado detalhada, análise de

riscos, planos de contingência, controle logístico e relacionamento cliente-fornecedor de longo prazo.

Assim, tais produtos são responsáveis pelos maiores custos e riscos na modificação de fornecedores. Este

modelo será empregado separadamente para os fornecedores de cada item a ser comprado.

A primeira fase do processo consiste na identificação dos produtos estratégicos para a organização, a

partir de análises financeiras (porcentagem do custo total de compra, impacto na qualidade do produto,

crescimento do negócio) e análises de riscos (disponibilidade do produto no mercado, número de

fornecedores, demanda competitiva, riscos de armazenagem e possibilidade de substituição).

Posteriormente, serão identificados os critérios qualificadores e ganhadores de pedidos, que serão

utilizados nas fases de pré-seleção e seleção, respectivamente. Após a determinação dos critérios, a

empresa obterá uma visão global de seus objetivos. Em seguida, serão identificados os fornecedores

potenciais do produto estratégico a ser adquirido. Tais fornecedores representarão as alternativas do

modelo de decisão proposto.

Na fase de pré-seleção será realizada uma triagem dos vendedores a ser avaliados pelo método

multicritério de apoio à decisão. Assim, o grupo de decisores deve analisar quais candidatos apresentam

os níveis estipulados pelos decisores como aceitáveis com relação aos critérios qualificadores. Os

fornecedores com níveis de desempenho abaixo do aceitável nestes objetivos são eliminados do processo,

enquanto aqueles que têm níveis acima do especificado continuarão a concorrer. As empresas aprovadas

na fase de pré-seleção concorrerão no processo de seleção propriamente dito.

Para a seleção dos fornecedores será necessário determinar qual o método que mais se adéqua à situação

estudada. Primeiramente, será necessário o uso de um método multicritério que possa lidar com medidas

quantitativas e qualitativas. Ademais, observou-se a necessidade de utilização de uma técnica que possua

lógica de agregação de critérios não compensatória, já que em problemas de seleção as empresas desejam

selecionar alternativas que obtenham uma performance equilibrada com relação aos critérios

identificados, pois não é interessante trabalhar com fornecedores com desempenho muito alto em certos

aspectos, mas que possuam performance abaixo do desejado em outros. Portanto, os métodos de

sobreclassificação são adequados para esta situação. Estes métodos possuem ainda uma modelagem mais

próxima da realidade, devido à utilização de pesos na avaliação inter-critério, são de fácil utilização e

Empresa

aprovada?

Empresa

Reprovada Não

Identificação do produto estratégico

Identificação dos fornecedores

Pré-seleção

Sim

Identificação dos critérios

Fornecedor selecionado

Ranking dos fornecedores

PROMETHEE III

... ... ...

Determinação e aplicação do método de decisão em grupo

PROMETHEE III PROMETHEE III PROMETHEE III PROMETHEE III

Matriz (D1)

𝜱1

Matriz (D2) Matriz (Dx) Matriz (DX)

𝜱2 𝜱x 𝜱X

p1 p2 px pX

Figura 1 - Adaptação do PROMETHEE GDSS

possuem maior flexibilidade e liberdade do decisor em relação à escolha das funções de preferência e

limiares utilizados no modelo. Neste caso, assume-se que os decisores possuem objetivos específicos

conflitantes, de forma que se deve utilizar um modelo multicritério de decisão em grupo em nível de

saída.

Desta forma, o método utilizado será uma adaptação do PROMETHEE em grupo. Segundo o

PROMETHEE-GDSS, proposto por Macharis et al. (1998), para a análise individual e em grupo, o

analista deve utilizar os métodos PROMETHEE I e PROMETHEE II para o estabelecimento das pré-

ordens parcial e completa das alternativas, respectivamente. Entretanto, nesta proposta, optou-se por

utilizar o método PROMETHEE III para realizar a ordenação completa das alternativas, observando-se os

fluxos intervalares entre elas.

Esta escolha ocorreu porque o PROMETHEE III é um método de ordenação intervalar, que considera

ações que possuem fluxos muito próximos como indiferentes, ao passo que, “no PROMETHEE I e II, a

indiferença entre duas ações ocorre quando os fluxos correspondentes são estritamente iguais” (Brans et

al., 1984), independente da função preferência a ser utilizada. Desta forma, a utilização do PROMETHEE

II faria com que houvesse preferência de um fornecedor sobre outro, mesmo que ambos apresentassem

desempenhos muito próximos. Entretanto, em situações deste tipo, os fornecedores deveriam se encontrar

na mesma posição do ranking. O PROMETHEE III auxilia o decisor na determinação dos limites para a

indiferença ou preferência entre alternativas, de forma que fornecedores com desempenho muito próximo

serão considerados como indiferentes. A partir do ranking resultante do modelo proposto o fornecedor

que possui o melhor desempenho com relação aos critérios escolhidos será selecionado. Em situações em

que se deseja contratar mais de um vendedor, deve-se considerar a ordenação no ranking como a

sequência em que os mesmos deverão ser contratados.

4 Aplicação do Modelo

Suponha que uma empresa do ramo alimentício necessita selecionar um fornecedor para os ingredientes

de seu principal produto: biscoito recheado de chocolate. Na aplicação numérica supõe-se que o comitê de

seleção será composto por três decisores (D1, D2 e D3). Conforme o modelo proposto, os produtos

estratégicos para a produção do biscoito foram identificados: cacau em pó, açúcar invertido, fermentos

químicos e pirofosfato ácido de sódio. Dentre estes, o presente estudo demonstrará a utilização da

sistemática de seleção para o açúcar invertido.

Posteriormente, os critérios qualificadores e ganhadores de pedidos, que serão utilizados na fase de pré-

seleção e seleção de fornecedores, devem ser determinados. Os critérios utilizados neste estudo foram

definidos a partir da pesquisa realizada por Viana (2009), em empresas do setor alimentício, cadastradas

na Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (ABIA), que resultou na determinação daqueles

mais utilizados pelas empresas na seleção e avaliação de fornecedores de longo prazo.

Os critérios identificados como qualificadores foram: entrega (Q1), preço (Q2), localização geográfica

(Q3), instalações e capacidade de produção (Q4), conformidade com os procedimentos da empresa (Q5),

habilidade em atender as especificações de embalagem (Q6), responsividade (Q7), capacidades

tecnológicas (Q8), desejo de fechar negócio (Q9), gestão e organização do fornecedor (Q10) e sistemas

gerenciais (Q11). Já os determinados como ganhadores de pedidos foram: compromisso (G1), credibilidade

(G2), eficiência (G3), qualidade do produto/serviço (G4), capacidades técnicas (G5), flexibilidade (G6),

capacidade de cooperação (G7) e impressão no contato pessoal (G8).

Os possíveis fornecedores do açúcar invertido foram determinados como: F1, F2, F3, F4, F5, F6, F7, F8, F9 e

F10.

Em seguida, é realizada a pré-seleção dos fornecedores de acordo com seu desempenho nos critérios

qualificadores de pedidos. Neste caso, observa-se que a alternativa F4 teve desempenho abaixo do

esperado em Q2 e Q7, F6 em Q5, Q6 e Q10, F7 em Q3 e Q9 e F10 em Q9. Desta forma, as mesmas foram

retiradas do processo de seleção.

Após a definição das alternativas que continuaram no processo seletivo, foi construída a matriz de

avaliação (alternativas x critérios) individual, na qual foram geradas as entradas para o modelo de

decisão. Na fase de avaliação individual, cada decisor determinou o peso para os critérios, as funções de

preferência e os parâmetros para cada critério, conforme a Tabela 1.

Tabela 1 - Pesos, funções de preferência e parâmetros para cada decisor

G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7 G8

D1

Peso 0,12 0,14 0,13 0,15 0,14 0,13 0,10 0,09

Função III I II I II III I IV

Max ou min? Max Min Max Max Max Max Max Max

Parâmetros p=1 - q=2 - q=2 p=0,50 - q=1;p=2

D2

Peso 0,15 0,15 0,13 0,13 0,12 0,12 0,10 0,10

Função II I II I III II IV I

Max ou min? Max Min Max Max Max Max Max Max

Parâmetros q=1 - q=1 - p=2 q=0,25 q=1

p=2

-

D3

Peso 0,12 0,16 0,12 0,16 0,13 0,14 0,09 0,08

Função IV I IV I IV II IV IV

Max ou min? Max Min Max Max Max Max Max Max

Parâmetros q=1; p=2 - q=1; p=2 - q=1; p=2 q=0,25 q=1;p=2 q=1;p=2

Em seguida, foram definidas as matrizes de avaliação individual. O PROMETHEE III foi utilizado para

realizar a ordenação decrescente das alternativas a partir dos fluxos intervalares do PROMETHEE III,

com 𝜶 = 0,15.

Durante a avaliação individual não ocorreram intercessões entre intervalos de alternativas com ordenação

sucessiva, de modo que não existem indiferenças entre as alternativas identificadas.

Para a criação de um ranking global das alternativas, elaborou-se uma matriz de avaliação, composta

pelas alternativas citadas anteriormente e com os decisores representando os critérios. Neste caso, os

membros possuem a mesma importância para a decisão, ou seja, cada decisor tem peso 1/3.

Posteriormente, os fluxos líquidos foram utilizados na obtenção dos fluxos intervalares do PROMETHEE

III como forma de determinar se existe indiferença entre alternativas, que poderão assumir a mesma

colocação no ranking final. Os dados são expostos na Tabela 2.

Tabela 2 – Fluxos intervalares globais

Ordenação Alternativa Fluxo Líquido �̅� Intervalo

1º F1 3,667 0,611 [0,574 ; 0,649]

2º F9 2,999 0,499 [0,469 ; 0,530]

3º F8 0,999 0,166 [0,156 ; 0,177]

4º F3 -0,333 -0,055 [-0,059 ; -0,052]

5º F2 -2,999 -0,499 [-0,530 ; -0,469]

6º F5 -4,333 -0,722 [-0,766 ; -0,678]

A ordenação global dos fornecedores está coerente com os rankings individuais. A alternativa F1,

primeira colocada na ordenação global, ocupou a primeira posição para os decisores 1 e 2, e a terceira

para o decisor 3. A segunda colocada, F9, permaneceu em posições diferentes para cada decisor, mas não

foi colocada abaixo da terceira posição. A alternativa F8, terceira colocada na ordenação global também

apresentou colocações diferentes para os decisores, porém não ocupou nenhuma posição abaixo da quarta

colocação. A quarta colocada, F3, variou entre a segunda e quinta posições, coincidindo na quarta

colocação para o decisor 2. Finalmente, a quinta e sexta colocadas, F2 e F5, ficaram entre a quarta e sexta

posição para todos os decisores.

A consistência dos resultados com os rankings individuais demonstra que a agregação das preferências

dos decisores foi realizada de forma coerente, ou seja, a ordenação global está de acordo com as

preferências dos membros do grupo, de acordo com os critérios identificados. Neste caso, o fornecedor a

ser escolhido é o primeiro classificado no ranking, ou seja, F1.

Para a verificação da sensibilidade do modelo proposto, foi realizada uma análise a partir da variação dos

pesos dos critérios para cada decisor. Inicialmente, foi realizada uma diminuição de 15% no peso dos

critérios credibilidade (G2) e qualidade (G4), com uma variação proporcional no peso dos critérios

restantes. Observou-se que não ocorreu nenhuma alteração nas ordenações individuais e global das

alternativas. Posteriormente, ocorreu um acréscimo de 15% nestes critérios. Neste caso, observou-se uma

intercessão entre os fluxos intervalares das alternativas F1 e F9, o que caracteriza uma indiferença para o

PROMETHEE III. As demais alternativas continuaram com a mesma ordenação. Dessa forma, pode-se

afirmar que o modelo não é sensível a pequenas variações.

5 Considerações finais

O presente trabalho teve como objetivo a proposição de um modelo multicritério de apoio à decisão para

a seleção de fornecedores. Tal necessidade deriva do fato de que processos de seleção desestruturados

podem resultar na contratação de fornecedores que não se adéquam às necessidades da empresa. Pode-se

ainda citar as seguintes vantagens da sistemática proposta: uso de um método estruturado para considerar

as preferências dos decisores; incorporação de critérios qualitativos e quantitativos e; utilização de um

método multicritério de decisão em grupo, de forma a abranger indivíduos de vários departamentos da

organização, que são afetados diretamente por tal escolha.

Em seguida, foi escolhido um método multicritério adequado à problemática de ordenação. Portanto,

propôs-se uma adaptação do PROMETHEE-GDSS, na qual o PROMETHEE II é substituído pelo

PROMETHEE III nas fases de avaliação individual e avaliação em grupo. Neste sentido, algumas

observações podem ser relatadas com relação ao modelo: incorpora a noção de pesos como importância

relativa dos critérios, o que ocasiona uma modelagem mais próxima da realidade; é flexível e de fácil

entendimento por parte dos decisores; na fase de decisão em grupo, o método permite que sejam

atribuídos pesos aos decisores, que refletem o seu poder sobre o processo decisório, e influenciam no

impacto de cada indivíduo na decisão final e; a utilização da ordem intervalar do PROMETHEE III

permite que as alternativas com diferenças insignificantes no fluxo líquido fiquem na mesma posição, o

que faz com que a empresa tenha maior flexibilidade para e escolha do fornecedor nestes casos.

Dessa forma, observa-se que o método escolhido se adéqua à problemática de referência determinada na

sistemática. Além disso, o mesmo é de fácil entendimento por parte dos decisores, já que os parâmetros

requeridos têm um significado econômico muito claro. Além disso, o fato de utilizar um método não

compensatório evita que alternativas que possuem performance muito elevada em um critério e

desempenho muito baixo em outros sejam escolhidas, pois na seleção e avaliação de fornecedores são

preferíveis alternativas com performance equilibrada.

Assim, o modelo proposto pode auxiliar as organizações na seleção de desempenho de seus fornecedores.

Entretanto, dependendo das informações disponíveis e do grau de convergência entre os decisores, outros

métodos multicritério de decisão podem ser utilizados tomando como base a mesma sistemática. Como

sugestão para trabalho futuro, pode-se realizar uma aplicação real da sistemática proposta em uma

indústria do setor alimentício e observar os resultados de sua utilização na seleção de fornecedores da

empresa.

Referências

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