15
1 Neoplasias Hepáticas: Caracterização pela US, TC e RM Sebastião Oliveira Alcântara Resumo: Ocorre uma variedade de tumores malígnos e benígnos no fígado. A caracterização de lesões hepáticas focais, embora possa ser um desafio para o radiologista, a maioria das lesões se comportam com características de imagem que permitem o seu diagnóstico. Objetivo: O objetivo deste trabalho é o de rever os principais aspectos de imagem de tumores hepáticos benígnos e malígnos principalmente no fígado adulto. Unitermos: Fígado; Neoplasias; Ressonância Magnética; Ultra-sonografia; Tomografia Computadorizada. Abreviaturas: FNH- hiperplasia nodular focal; HCC-carcinoma hepatocelular; HE-hematoxilina- eosina. Abstract: Takes place a variety of malignant and benign tumors in the liver. The characterization of focal liver lesions, although it can be a challenge for the radiologist, most lesions behave with imaging characteristics that highlight its diagnosis. Objective: The objective of this paper is to review the main aspects of imagm of benign and malignant liver tumors in the liver adult. Keywords: Liver, neoplasms, MRI, Ultrasound, Computed Tomography. Abbreviations: FNH, focal nodular hyperplasia, hepatocellular carcinoma, HCC, HE, hematoxylin- eosin Trabalho de conclusão de curso de Pós-graduação em Ressonância Magnética pelo Instituto Cimas/Faculdade Redentor. Coordenador e Profº do curso de Pós-graduação em RM Homero José de Farias e Melo Sebastião Oliveira Alcântara Formado em Tecnologia em radiologia médica pelo Centro Universitário Nove de Julho em São Paulo-Brasil. Email: alcantara.sebastiao@ig.com.br cel: 11-8358-0340 - São Paulo, 06/12/2011 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Artigo de revisão 12/2011

Neoplasias Hepáticas: Caracterização pela US, TC e RMarquivos.5gsistemas.com.br/PosRedentor/arquivos/conteudo_542b114e... · Coordenador e Profº do curso de Pós-graduação em

  • Upload
    buingoc

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

1

Neoplasias Hepáticas: Caracterização pela

US, TC e RM

Sebastião Oliveira Alcântara

Resumo: Ocorre uma variedade de tumores malígnos e benígnos no fígado. A caracterização de lesões

hepáticas focais, embora possa ser um desafio para o radiologista, a maioria das lesões se comportam

com características de imagem que permitem o seu diagnóstico.

Objetivo: O objetivo deste trabalho é o de rever os principais aspectos de imagem de tumores

hepáticos benígnos e malígnos principalmente no fígado adulto.

Unitermos: Fígado; Neoplasias; Ressonância Magnética; Ultra-sonografia; Tomografia

Computadorizada.

Abreviaturas: FNH- hiperplasia nodular focal; HCC-carcinoma hepatocelular; HE-hematoxilina-

eosina.

Abstract: Takes place a variety of malignant and benign tumors in the liver. The characterization of

focal liver lesions, although it can be a challenge for the radiologist, most lesions behave with imaging

characteristics that highlight its diagnosis.

Objective: The objective of this paper is to review the main aspects of imagm of benign and

malignant liver tumors in the liver adult.

Keywords: Liver, neoplasms, MRI, Ultrasound, Computed Tomography.

Abbreviations: FNH, focal nodular hyperplasia, hepatocellular carcinoma, HCC, HE, hematoxylin-

eosin

Trabalho de conclusão de curso de Pós-graduação em Ressonância Magnética pelo Instituto

Cimas/Faculdade Redentor.

Coordenador e Profº do curso de Pós-graduação em RM Homero José de Farias e Melo

Sebastião Oliveira Alcântara Formado em Tecnologia em radiologia médica pelo Centro

Universitário Nove de Julho em São Paulo-Brasil.

Email: [email protected] cel: 11-8358-0340 - São Paulo, 06/12/2011

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Artigo de revisão 12/2011

2

1 INTRODUÇÃO

Ocorre uma grande variedade de

tumores benígnos e malígnos no fígado. A

caracterização de lesões hepáticas focais

embora possa ser um desafio para o

radiologista, a maioria das lesões se apresenta

com características de imagem que permitem o

diagnóstico.

O objetivo deste trabalho é rever o

aspecto de imagem dos tumores hepáticos

benígnos e malígnos mais comumente

encontrados no fígado em adultos. Este artigo

de revisão foi descrito as principais

características do hemangioma, da hiperplasia

nodular focal, do adenoma, do carcinoma

hepatocelular, do colangiocarcinoma intra-

hepático e das metástases hepáticas observadas

em exames de ultra-sonografia (US),

tomografia computadorizada (TC) e

ressonância magnética (RM)¹

1.1Fatores etiológicos:

Exceto para FNH, nódulos hepáticos

geralmente se desenvolvem em fígados

previamente danificados. Danos ao fígado

podem ser causados por vários fatores:

1 A aflatoxina, um produto do fungo:

endêmica Aspergillus flavus, que cresce

indevidamente em grãos armazenados em

nozes (incluindo o amendoim), é considerado

uma importante causa de HCC na África e

Ásia.

2. Doenças metabólicas e genéticas, incluindo

hemocromatose (hepatocelular aumento de

deposição de ferro), doença de Wilson

(hepatocelular aumento de deposição de

cobre), e deficiência de antitripsina, pode levar

à cirrose, nódulos hepáticos, e HCC.

3. Alimentares: obesidade, diabetes (tipo II),

bem como o alcoolismo pode levar à

infiltração gordurosa do fígado (esteatose),

esteatose hepática e cirrose.

4. A hepatite viral: causada principalmente

pela: Viral hepatite B e vírus da hepatite C é

atualmente o mais importante fator etiológico

levando a fibrose hepática e cirrose na

América do Norte.²

1.2 ADENOMA HEPATOCELULAR

Adenomas do fígado normalmente

ocorrem em mulheres jovens com antecedente

de uso de contraceptivos orais. Uma

associação com outras condições ou

hepatocelular agentes estimulantes, como

familiar diabetes mellitus, galactosemia,

armazenamento de glicogênio doença do tipo

3

1, e os esteróides anabolizantes. Necrose e

hemorragia são causas frequentes de dor. Além

disso, de acordo com o uso atual da

terminologia, adenomas hepatocelulares são

classificados como nódulos pré-malígnos.

Devido ao seu potencial de hemorragia e

degeneração malígna, adenomas

hepatocelulares são preferencialmente tratados

cirurgicamente (1,2)

Na RM as características de imagem

que sugerem adenoma incluem hipersinal nas

imagens ponderadas em T1 e em T2, sendo

mais discreto nas últimas. A queda do sinal da

lesão em seqüências gradiente-eco ―fora de

fase‖ indica a presença de gordura intralesional

e é um dado que favorece o diagnóstico de

adenoma. O padrão de realce pelo meio de

contraste paramagnético é similar ao visto na

TC (Fig. 1).

O adenoma pode ser detectado na US,

mas normalmente não apresenta padrão

ecográfico característico, complementações

com TC ou RM são usualmente necessárias

para melhor avaliação da lesão. A

característica que favorece o diagnóstico de

adenoma na TC contrastada multifásica inclui

a presença de lesão única (ou eventualmente

múltiplas), bem delimitada e às vezes

encapsulada. A presença de gordura ou focos

hemorrágicos intralesionais é bastante típica. A

lesão tende a se mostrar isoatenuante ao

parênquima hepático na fase pré-contraste,

com realce homogêneo na fase arterial,

tendendo a tornar-se novamente isoatenuante

ao parênquima hepático nas fases portal e de

equilíbrio.

a b c

d e f

Figura 1. Adenoma hepático na RM (setas). A:

FSE T2 com saturação de gordura, TE 90 MS;

B: FSE T2 sem saturação de gordura, TE 180 MS; C: GRE T1 em fase; D: GRE T1 fora de

fase; E: GRE T1 pós-contraste fase arterial;

F: GRE T1 pós-contraste fase portal. Notar acentuada queda do sinal da lesão na

seqüência GRE T1 fora de fase, indicando

componente de gordura lesional. Liver neoplasms: imaging characterization Radiol

Bras. 2008 Mar/Abr; 41(2): 119–127

1.3 HEMANGIOMA

Os hemangiomas hepáticos são as

lesões benígnas mais comuns que afetam o

fígado, ocorrendo em até 20% de casos de

autópsia, e seu aspecto na ultra-sonografia

4

(US), tomografia computadorizada (TC) e

ressonância magnética (RM) são bem

conhecidas.

No entanto, em número considerável

de casos a sua apresentação pode ser atípica

nos diversos métodos de diagnóstico por

imagem, dificultando o seu diagnóstico,

principalmente nos pacientes em estadiamento

tumoral ou em acompanhamento evolutivo da

doença neoplásica. Apesar de aspectos

incomuns do hemangioma hepático ocorrerem

em até 20% dos exames de imagem, na

maioria dos casos o diagnóstico pode ser

estabelecido combinando-se os resultados

obtidos nos diversos métodos, com destaque

para a RM (3). Para se obter resultados

satisfatórios, é importante reconhecer esses

achados incomuns e se familiarizar com os

principais sinais que permitem o diagnóstico

de hemangioma, evitando, assim, biópsias ou

outros procedimentos invasivos

desnecessários. (8,7)

Na US, o hemangioma hepático se

apresenta como lesão nodular, periférica,

hiperecogênica, homogênea, bem definida e

que, mesmo quando volumosa, não causa

distorção vascular. Cerca de 80% dos

hemangiomas apresentam estas características

na US. Quando maiores que 4,0–5,0 cm, os

hemangiomas podem apresentar

heterogeneidade central correspondente a

necrose, hemorragia ou fibrose, que pode

dificultar o seu diagnóstico ultrasonográfico

(Figura 2).

a

b Figura 2 (a) Hemangioma típico e volumoso,

hiperecogênico e homogêneo, sem distorção

vascular. (b) Volumoso hemangioma hepático, heterogêneo pela presença de necrose central.

Apresentações incomuns do Hemangioma

hepático-Giuseppe D`Ippolito -Radiol Bras 2006;39(3):219–225 ref.(8).

Na TC, o hemangioma comporta-se

tipicamente como uma lesão nodular

hipodensa, homogênea e bem definida na fase

sem contraste e que apresenta realce globular

periférico centrípeto na fase portal após a

injeção do contraste, tendendo a homogeneizar

5

nos cortes mais tardios (Figura 3). As lesões

menores que 3,0 cm podem apresentar realce

homogêneo e completo já na fase arterial,

refletindo o fino calibre dos seus espaços

vasculares, por isso são chamados de

hemangiomas capilares (Figura 4). Ao

contrário, quando as lesões são maiores que

5,0 cm de diâmetro,observa-se, com certa

freqüência, ausência de homogeneização nos

cortes de retardo, decorrente da presença de

áreas avasculares de necrose, fibrose ou

hemorragia (Figura 5)

Figura 3. TC com três fases pós-contraste demonstrando o realce globular, periférico e

centrípeto, tendendo à homogeneização na

fase de equilíbrio. Apresentações incomuns do hemangioma hepático: ensaio iconográfico-

Radiol Bras 2006; 39(3): 219–22)ref.(8)

Figura 4. Pequeno hemangioma hepático

(seta) com intenso realce precoce e

persistente. Apresentações incomuns do

hemangioma hepático: ensaio iconográfico - Radiol Bras 2006; 39(3): 219–225 (8)

Na RM, o hemangioma hepático

apresenta-se como nódulo ou massa

hipointensa em T1 e hiperintensa em T2, sem

queda de sinal nas seqüências obtidas com

Ecos mais longos (TE > 140 MS). Após a

injeção do gadolínio, o hemangioma apresenta

contrastação semelhante àquela observada nos

estudos tomográficos (Figura 6).

Aproximadamente 90% dos hemangiomas

apresentam estas características nos exames de

RM.(1)

a

b

C

Figura 5. (a) Hemangioma com 8,0 cm de

diâmetro e área hipovascularizada central nos

cortes de retardo (b). As imagens de RM

6

ponderadas em T2 (TE = 140) confirmam o

diagnóstico de hemangioma (c). Apresentações

incomuns do hemangioma hepático: ensaio

iconográfico - Radiol Bras 2006;39(3):219–

225 (8)

a

b

c Figura 6. Hemangioma atípico na US (a) e

com aspecto típico na RM (B, C). A massa

apresenta-se hiperintensa em T2 (B), sem

queda de sinal nos Ecos mais longos, com TE

= 140 e realce globular periférico e centrípeto

(C). Apresentações incomuns do hemangioma

hepático: ensaio iconográfico - Radiol Bras

2006;39(3):219–225 Ref(8)

1.4 HIPERPLASIA NODULAR FOCAL

Hiperplasia nodular focal (HNF) é

definida como nódulo composto por

hepatócitos de aparência normal e que ocorre

em fígado com aspecto histológico normal. É o

segundo tumor hepático benígno mais

freqüente, com incidência descrita de 0,9%.

Ocorre predominantemente no sexo feminino e

em pacientes jovens. Cerca de20% dos

pacientes têm lesões múltiplas e existe

associação da ocorrência destes tumores com

hemangiomas hepáticos.

A HNF pode ser dividida em clássica (80%) e

não-clássica (20%), segundo seus aspectos

histológicos. A clássica apresenta três

componentes: arquitetura nodular anormal,

vasos malformados e proliferação de ductos

biliares. A não-clássica contém dois dos três

componentes, incluindo a proliferação ductal.

A patogênese da HNF não é totalmente

conhecida. Malformação vascular e/ou injúria

vascular são sugeridas como possíveis

mecanismos para seu desenvolvimento. A

associação com esteróides é controversa. O

tumor é geralmente assintomático e, nestes

casos, não requer tratamento. É comumente um

achado incidental em exames de imagem,

especialmente após a incorporação e

aprimoramento dos estudos dinâmicos com

meios de contrastes intravenosos na TC e RM.

Na US tem padrão inespecífico e é

mal visualizada. Geralmente se apresenta como

nódulo ligeiramente hipoecogênico ou

hiperecogênico e sua caracterização definitiva

7

com este método não é possível. A HNF

clássica geralmente é caracterizada com grande

eficácia pela TC e RM. Atualmente, a TC

helicoidal e especialmente a TC com múltiplas

fileiras de detectores (multislice) permitem

estudo hepático multifásico (contrastação

hepática arterial, portal e de equilíbrio),

indispensável para a avaliação da

vascularização do tumor e sua correta

caracterização. Os aspectos típicos da HNF na

TC incluem lesão lobulada e bem delimitada,

iso ou levemente hipoatenuante na fase pré-

contraste, e com importante realce homogêneo

na fase arterial do contraste, com clareamento

(wash-out) rápido nas fases portal e de

equilíbrio. Comumente é vista pequena área

central estrelada que tende a se impregnar nas

fases tardias (cicatriz central), composta por

vasos mal formados (Figura 7).

Na RM, a HNF clássica apresenta-se

como lesão ligeiramente hipointensa em T1 e

com discreta hiperintensidade em T2. Em 85%

das lesões é possível a identificação da cicatriz

central, que se apresenta com maior sinal do

que o restante da lesão nas imagens

ponderadas em T2. O padrão de realce pelo

meio de contraste intravenoso da HNF é

semelhante ao descrito na TC. Quando estas

características são presentes, a especificidade

diagnóstica atinge 98%. (Figura 8). HNFs

atípicas podem se apresentar como lesões

grandes, heterogêneas e com múltiplas

localizações. O tumor pode apresentar menor

grau de realce pelo meio de contraste, ausência

de realce da cicatriz central e realce de

pseudocápsula nas fases tardias. Calcificações

puntiformes centrais podem ser

excepcionalmente observadas. Nestas

situações, a diferenciação da HNF com outras

lesões benígnas (adenomas) e malígnas

(hepatocarcinoma, carcinoma fibrolamelar e

metástases hipervascularizadas) pode ser

extremamente dificultada, sendo necessário

estudo histológico. (1,9,10)

Figura 7. Hiperplasia nodular focal típica na

TC (setas). Fases sem contraste (a), arterial (b), portal (c) e de equilíbrio (d). Notar

impregnação precoce na fase arterial e

clareamento rápido na fase portal. A cicatriz

8

central permanece hipoatenuante nas fases

precoces e se impregna tardiamente na fase de equilíbrio.

Neoplasias hepáticas: caracterização por

métodos de imagem- Radiol Bras 2008

mar/abr;41(2)119-127 ref (1)

Figura 8. Hiperplasia nodular focal na RM

(setas). A: FSE T2 com saturação de gordura,

TE 90 MS; B: GRE T1 com saturação de gordura; C: GRE T1 pós-contraste fase

arterial; D: GRE T1 pós-contraste fase de

equilíbrio. Notar acentuado realce arterial e

clareamento na fase de equilíbrio. A cicatriz central apresentahipersinal em T2 e realce

tardio na fase de equilíbrio. caracterização

por métodos de imagem- Radiol Bras 2008 mar/abr; 41(2)119-127 ref (1)

1.5 CARCINOMA HEPATOCELULAR

O carcinoma hepatocelular (CHC)

geralmente ocorre como complicação da

cirrose hepática, especialmente naquela

causado por vírus (B e C), e sua prevalência

em fígados cirróticos retirados em transplantes

atinge 14%. Pacientes com cirrose hepática

podem ser avaliados por US, TC e RM.

Embora cada método tenha sua particularidade,

a capacidade de detecção de uma lesão focal

depende do contraste existente entre ela e o

restante do parênquima, que pode ser

influenciada pela presença de gordura, necrose

e fibrose. Especialmente, a US apresenta

importantes limitações para a avaliação de

nódulos no fígado cirrótico. Devido ao maior

risco de pacientes com cirrose desenvolverem

CHC, ao se detectar qualquer nódulo sólido na

US, preconiza-se prosseguir investigação com

TC ou RM. É fundamental que tanto a TC

como a RM sejam realizadas utilizando meios

de contraste intravenosos e que seja possível

realizar estudos multifásicos incluindo a fase

arterial pós-contraste, imprescindível para a

detecção e caracterização do CHC.

Lesões nodulares no fígado cirrótico

podem ser separadas em duas grandes

categorias: Nódulos regenerativos e displásicos

ou neoplásicos. Nódulos regenerativos

representam áreas de parênquima aumentadas

como resposta à necrose e alterações

circulatórias. Nódulos maiores que 3–5 mm

são chamados de macrorregenerativos, mas

raramente são maiores que 20 mm. Nódulos

com dimensões maiores que 20 mm são

geralmente displásicos. Os nódulos

regenerativos podem conter ferro, e nestes

casos são chamados de nódulos sideróticos.

9

Apesar de histologicamente presentes em todos

os fígados cirróticos, os nódulos regenerativos

são vistos em uma minoria de pacientes na TC

e em cerca de 50% dos casos na RM, sendo os

nódulos sideróticos mais evidentes. (1)

Carcinoma hepatocelular HCC é definido

como uma neoplasia malígna composta de

células com hepatocelular diferenciadas. HCC

pequeno é definido como um tumor de 2 cm ou

menores . HCC tem intensidade de sinal

variável em imagens de T1 e T2. Alto sinal de

imagens ponderada em T1 é atribuída ao

intratumoral gorduroso, cobre ou glicogênio,

ou ao zinco no parênquima circundante. Teor

de gordura leva para sinalizar perda de

intensidade em oposição de fase.

Intensidade do sinal de alta moderada em T2 é

bastante específicos para HCC, desde que

nódulos displásicos não são hiperintensas a

menos que eles são infartado . No entanto,

HCC pode ser difícil de detectar em

ponderação T2 por causa da heterogeneidade

do fígado cirrótico, que obscurece levemente

hiperintensas e isointensa. Artefatos de

respiração, particularmente em pacientes com

ascite, pode também criar dificuldade na

detecção(11).

O CHC tem aparência variável na TC e RM.

Apesar de o hipersinal nas imagens ponderadas

em T2 da RM ser suspeito para CHC, o sinal

das lesões é variável, podendo se apresentar

com hipo, iso ou hipersinal em relação ao

fígado adjacente nas imagens ponderadas em

T1 e T2(12).

O hepatocarcinoma fibrolamelar é um

tipo de hepatocarcinoma incomum que

apresenta características clínicas (incluindo

prognóstico) e histopatológicas distintas do

CHC clássico encontrado no fígado cirrótico.

Ocorre preferencialmente em pacientes jovens,

sem hepatopatia de base e sem elevação de

marcadores tumorais (21). Os aspectos do

CHC fibrolamelar freqüentemente encontrados

na TC e RM incluem massas grandes em

fígados não-cirróticos, lobuladas, bem

delimitadas, heterogêneas e com septos

radiados e cicatriz central com componentes de

fibrose. Calcificações (mais bem avaliadas pela

TC) são vistas em cerca de 50% dos casos,

quase que exclusivamente na região da cicatriz

central. Os estudos dinâmicos com meios de

contrastes intravenosos evidenciam

vascularização preferencialmente

arterial, heterogênea. Nas imagens tardias há

uma tendência de impregnação persistente da

10

cicatriz central, o que denota o componente

fibroso de tal região (Figura 9). Na RM, o

tumor geralmente apresenta hiposinal em T1 e

hipersinal heterogêneo em T2, sendo que a

cicatriz central possui hiposinal em T2. Tal

aspecto ajuda na diferenciação de outros

tumores que podem apresentar cicatriz central,

especialmente a HNF, na qual a cicatriz central

apresenta hipersinal nas imagens de RM

ponderadas em T2. (13).

Figura 9. CHC fibrolamelar. Paciente jovem,

sem hepatopatia. TC sem contraste: grande

massa heterogênea no lobo direito e com calcificações centrais (a). TC com contraste:

nota-se realce heterogêneo e delimitação de

outras lesões no lobo esquerdo (b).

Caracterização por métodos de imagem- Radiol Bras 2008 mar/abr; 41(2)119-127 ref

(1)

Figura 10. Carcinoma hepatocelular na RM

(setas). A: FSE T2 com saturação de gordura, TE 90 MS; B: GRE T1 com saturação de

gordura; C: GRE T1 pós-contraste fase

arterial; D: GRE T1 pós-contraste fase de

equilíbrio. Notar sinais de hepatopatia crônica, com pequenos nódulos regenerativos

sideróticos esparsos, mais bem vistos com

hiposinal nas imagens ponderadas em T2. O carcinoma hepatocelular no lobo esquerdo

apresenta acentuado realce arterial e

clareamento na fase de equilíbrio, com realce da pseudocápsula fibrótica. Caracterização

por métodos de imagem- Radiol Bras 2008

mar/abr; 41(2)119-127 ref (1)

1.6COLANGIOCARCINOMA

Colangiocarcinoma é um tumor raro

com uma incidência de menos de 1%, o que

afeta mais homens que mulheres em uma

proporção de 1,5 / 1 e uma prevalência

máxima 60 anos. Sua origem vem do epitélio

biliar, com 90% de casos adenocarcinomas.

Devido à sua localização anatômica é

classificado em: intra-extra-hepáticos,

(geralmente perihilar), conhecida como tumor

de Klatskin e extra-hepáticos distalmente.

11

Cresce lentamente dando origem a obstrutiva

manifesta clínica por icterícia, dor também

pode estrear prurído, dores abdominais, perda

de peso ou complicações infecciosas. Vários

fatores têm sido relacionados com a presença

deste tumor (cálculos biliares, colangite

esclerosante, etc), embora em muitos casos a

etiologia permaneça indeterminada. O

diagnóstico de colangiocarcinoma não é difícil.

Eventuais análises laboratoriais específicos ou

marcadores tumorais para este tumor. Exames

de imagem continuam sendo o pilar de apoio

para o diagnóstico: Tomografia

computadorizada, ressonância magnética,

cholangio-RM e angiografia com menos

freqüência ou PET. O tratamento de escolha é

cirurgicamente, se isso é possível, reservando o

implante de prótese nos casos ducto biliar ou

cirurgia paliativa não é indicada. Outras

terapias dinâmicas incluem quimioterapia

fototerapia, e radioterapia. (14,15,24)

O colangiocarcinoma periférico

normalmente se apresenta como massa sólida,

bem delimitada, lobulada e com impregnação

periférica pelo meio de contraste na TC e RM.

É geralmente volumoso no momento do

diagnóstico, porque não costuma causar

sintomas nos estágios iniciais, quando

freqüentemente não promove dilatação das

vias biliares, ao contrário da apresentação

hilar. Costuma determinar dilatação focal de

ductos biliares circunjacentes em cerca de 30%

dos casos e retração capsular (Figura 11). A

persistência de impregnação no tumor em fases

tardias é um achado freqüentemente descrito e

é decorrente da presença de tecido fibrótico

intralesional (16).

Figura11. Colangiocarcinoma intra-empático

na RM (setas). A: FSE T2 com saturação de

gordura, TE 90 MS; B: FSE T2 sem saturação de gordura, TE 180 MS; C: GRE T1 pré-

contraste; D: GRE T1 fase portal pós-

contraste. Lesão heterogênea com acentuada

impregnação pelo meio de contraste. Notar discreta retração capsular hepática adjacente.

Caracterização por métodos de imagem-

Radiol Bras 2008 mar/abr;41(2)119-127 ref (1)

1.7 METÁSTASES HEPÁTICAS

São as lesões malignas mais freqüentes

do fígado. O diagnóstico correto é fundamental

para a conduta terapêutica e o prognóstico. A

informação precisa do número e da extensão

12

das lesões é pré-requisito para o sucesso da

ressecção cirúrgica e monitoramento

terapêutico. No paciente oncológico, além do

rastreamento de metástases hepáticas, é

imperativa a diferenciação entre estas e outros

nódulos hepáticos benígnos, comumente

encontrados de modo acidental em estudos de

imagem (17).

A US tem sensibilidade limitada para a

detecção de metástases hepáticas, variando

entre 50% e 70% (19). A maioria das

metástases não detectadas pela US são as

pequenas, principalmente as menores que 1,0

cm ou as isoecóicas em relação ao parênquima

hepático. O aspecto mais característico de

metástase hepática na US é o de lesão hipo ou

isoecogênica ao parênquima circunjacente

rodeada por um halo hiperecogênico, o que

confere à lesão o conhecido aspecto ―em alvo‖

ou ―olho de boi‖. A presença do halo tem alta

sensibilidade para o diagnóstico de

malignidade (cerca de 85%) (20). Apesar do

menor custo e da maior disponibilidade, o

método apresenta menor reprodutibilidade em

relação à TC e RM, o que pode dificultar o

controle evolutivo das lesões (19,20).

A TC, junto com a RM, é considerada

o principal método de imagem para o

rastreamento de metástases hepáticas no

paciente oncológico, por oferecer melhor

resolução espacial e maiores sensibilidade (ao

redor de 75%) e especificidade na detecção e

caracterização de lesões focais hepáticas.

Nódulos hipoatenuantes pequenos,

especialmente os menores que 1,0 cm, podem

ser de difícil caracterização na TC. Nestes

casos, a RM pode auxiliar na avaliação

diagnóstica, tendo em vista a alta

especificidade do método na caracterização de

pequenos cistos e hemangiomas, lesões

comumente presentes, inclusive no grupo de

pacientes oncológicos (22). A RM apresenta

sensibilidade (ao redor de 75%) e

especificidade muito semelhantes à da TC na

avaliação de lesões hepáticas secundárias. A

técnica convencional para avaliação do fígado

utiliza o meio de contraste paramagnético por

via intravenosa, com séries adquiridas durante

as fases arterial, portal e de equilíbrio hepático,

semelhante à TC. As imagens ponderadas em

T2 são muito importantes na caracterização das

lesões e representam uma vantagem adicional

em relação à TC, particularmente nas lesões

pequenas (22). (Figura12). A utilização de

meios de contraste hepato- específicos, como o

óxido de ferro superparamagnético, parece

13

aumentar a acurácia do método na detecção de

metástases, especialmente as de pequenas

dimensões (23). No entanto, este tipo de meio

de contraste não tem sido utilizado de forma

rotineira no nosso meio, por causa do seu

maior custo.

Figura 12. Metástase de neoplasia de cólon.

A: TC, fase portal; B: RM, FSE T2 com

saturação de gordura, TE 90 MS; C: RM, GRE

T1 fase portal. Lesão nodular Com discreto hipersinal em T2 na RM e realce anelar pelo

meio de contraste nas fases portais (TC e RM).

Caracterização por métodos de imagem- Radiol Bras 2008 mar/abr;41(2)119-127 ref

(1)

2.CONCLUSÃO

Com o avanço da tecnologia e

disseminação de equipamentos de diagnóstico

por imagem tem sido cada vez mais comum a

ocorrência de nódulos hepáticos

incidentalmente encontrados em exames de

imagem ou em pacientes em rastreamento

tumoral (25,26). O avanço tecnológico destes

equipamentos tem proporcionado maior

condição de detectar lesões cada vez menores,

o que dificulta a sua caracterização e que pode

ser ulteriormente comprometida pelas

frequentes pseudolesões hepáticas observadas

em exames de TC e RM com contraste (27,28).

Reconhecer os principais aspectos de imagem

dos tumores hepáticos mais comuns e algumas

das suas características (29) pode ajudar o

radiologista a contribuir concreta e

positivamente na abordagem diagnóstica e no

manejo deste grupo de pacientes.

3.AGRADECIMENTO

Agradeço a Deus pela força e condição

que tem me proporcionado ao longo do curso e

em segundo lugar sou grato a todos os

professores do curso do Instituto cimas

juntamente com os amigos e colegas que

juntos concluímos o mesmo objetivo.

4.REFERÊNCIAS

1. Tiferes Ariel Dário; Giuseppe D'Ippolito-

Neoplasias Hepáticas: Caracterização por

métodos de imagem. Radiol. Bras. 2008

Mar/Abr; 41(2): 119-127

2. Shahid M. Hussain, MD, PhD - Pieter E.

Zondervan, MD et al. Benign versus Malignant

Hepatic Nodules: MR Imaging Findings

with Pathologic Correlation. Radio Graphics

2002 v22 nº 5 - página 1024

3. Shahid M. Hussain, MD, PhD - Pieter E.

Zondervan, MD et al. Benign versus Malignant

Hepatic Nodules: MR Imaging Findings with

Pathologic Correlation. Radio Graphics 2002 v

22 – página 1024 nº 5

4. Tiferes Ariel Dário; Giuseppe D'Ippolito-

Neoplasias Hepáticas: Caracterização por

métodos de imagem. Radiol. Bras. 2008

Mar/Abr; 41(2): 119-127 página 122

14

5. Takayuki Kogure, Yoshiyuki Ueno et al.

Liver cell adenoma showing sequential

alteration of radiological findings suggestive of

well-differentiated hepatocellular carcinoma.

World J Gastroenterol Março 14, 2009 Volume

15 Number 10

6. Márcio Martins Machado1, Ana Cláudia

Ferreira Rosa2. ADENOMATOSE

HEPÁTICA MÚLTIPLA: DIAGNÓSTICO

PELA

ULTRA-SONOGRAFIA INTRA-

OPERATÓRIA (USIO). NOTA PRÉVIA.

Radiol Bras 2001; 34(6): 369–372

7. Joan C. Vilanova, MD. Joaquin Barcelo´et

al. Hemangioma from Head to Toe: MR

Imaging with Pathologic Correlation1. Radio

Graphics 2004; 24:373–372 -jkPublished

online 10.1148/rg.242035079

8. Giuseppe D’Ippolito1, Luis Fernando

Appezzato2, Et al. Apresentações incomuns do

hemangioma hepático: ensaio iconográfico -

Radiol Bras 2006;39(3):219–225

9. Ridvan Karahasanoglu,* Hafize Otcu- Focal

nodular hyperplasia vs. hemangioma:

Computed tomography and magnetic

resonance imaging findings-April-June, Vol.

10 No.2, 2011: 218-220-Annals of hepatology

10. Hussain SM, Terkivatan T, Zondervan PE,

et al. Focal nodular hyperplasia: findings at

state-ofthe- art MR imaging, US, CT, and

pathologic analysis Radiographics. 2004;24:3–

17.

11. Jonathon M. Willatt,MD Hero K.

Hussain,MD- MR Imaging of Hepatocellular

Carcinoma in the Cirrhotic Liver-Radiology:

Volume 247: Number 2—May 2008

12.Glenn A. Krinsky, MD - Vivian S. Lee,

MD, PhD-Hepatocellular Carcinoma and

Dysplastic Nodules in Patients with Cirrhosis:

Prospective Diagnosis with MR Imaging and

Explantation Correlation1- Radiology 2001;

219:445–454

13.Tomoaki IckiKawa, MD Michael P Federle

et al. Fibrolamellar hepatocellular carcinoma:

imaging and pathologic findings in 31 recent

cases. Radiology. 1999;213:352–61.

14. Joon Koo Han, MD - Byung Ihn Choi,-

Cholangiocarcinoma: Pictorial Essay of CT

and Cholangiographic Findings1-

RadioGraphics 2002; 22:173–187

15. Yasuni Nakanuma, Yasunori Sato-

Pathological classification of intrahepatic

cholangiocarcinoma based on a new concept-

World J Hepatol 2010 December 27; 2(12):

419-427

16. Su Jin Kim1, Jeong Min Lee, et al -Mass–

Forming Cholangiocarcinoma in Cirrhotic

Liver- AJR 2007; 189:1428–1434Peripheral

17 Maria Raquel Oliva and Sanjay Saini -

Liver cancer imaging: role of CT, MRI, US

and PET- Cancer Imaging (2004) 4, S42–S46

18- Junsung Choi, MD .Imaging of Hepatic

Metastases- MCCRAD,

12902 Magnolia Drive, Tampa, FL 33612. E-

mail: choij@ moffitt.usf.edu

19.Philippe Soyer, MD, PhD Marc Poccard, et

al. Detection of Hypovascular Hepatic

Metastases at

Triple-Phase Helical CT: Sensitivity of Phases

and Comparison with Surgical and

Histopathologic Findings1-Radiology 2004;

231:413–420

20.Wernecke K, Vassallo P, Bick U, et al. The

distinction between benign and malignant liver

tumors on sonography: value of a hypoechoic

halo. AJR Am J Roentgenol. 1992;159:1005–

9.

21. Ichikawa T, Federle MP, Grazioli L, et al.

Fibrolamellar hepatocellular carcinoma:

imaging and pathologic findings in 31 recent

cases. Radiology. 1999;213:352–61.

22. Gisela C. Mueller, Hero K. Hussain et al.

Effectiveness of MR Imaging in

Characterizing Small Hepatic Lesions: Routine

15

Versus Expert Interpretation- AJR

2003;180:673–680

23. Chiara Del Frate, MD Massimo Bazzocchi

et al. Detection of Liver Metastases:

Comparison of Gadobenate Dimeglumine–

enhanced and Ferumoxides-enhanced MR

Imaging Examinations1 Radiology 2002;

225:766–772

24 R. RIDRUEJO SÁEZ, B. JIMÉNEZ

BARTOLOMÉ. Colangiocarcinoma infectado-

Vol. 23, N.º 7, pp. 335-337, 2006 Scielo

25. Márcio Martins Machado1, Ana Cláudia

Ferreira Rosa ET al. HEMANGIOMAS

HEPÁTICOS: ASPECTOS ULTRA-

SONOGRÁFICOS

E CLÍNICOS* Radiol Bras vol.39 no. 6 São

Paulo Nov./Dec. 2006

26. Márcio Martins Machado1, Ana Cláudia

Ferreira Rosa ET al. Hemangioma

Hipoecogênicos. Radio Bras 2003:36 (5) 273-

276

27. Gustavo de Souza Portes Meirelles, Dario

Ariel Tiferes et. Al. Pseudo lesões hepáticas na

ressonância magnética: ensaio

iconográficoRadiol Bras 2003,36 (5) 305-309

28. Gustavo de Souza Portes Meirelles, Dario

Ariel Tiferes et. Al. Pseudo lesões hepáticas na

tomografia computadorizada helicoidal: ensaio

iconográficoRadiol Bras 2003,36 (4) 229-235

29. Alexandre Sergio de Araújo Bezerra;

Guiseppe D`Ippolito et al. Calcificações

hepáticas: Frequência e significado. Radiobras

2003; 36 (4) 199-205

30. Machado MM, Rosa ACF, Barros N, et al.

Múltiplos pequenos nódulos hepáticos

hiperecogênicos sem reverberação sonora

posterior: outra forma De apresentação dos

hamartomas dos ductos biliares. Radiol Bras.

2005;38:389–91.