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Processual

Nova - TSE - HC (Teste final) · AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO RESCISÓRIA N. 3.892-59.2010.6.00.0000 - CLASSE 5 - GOIÁS (Goiânia) Relator: Ministro Hamilton Carvalhido Agravante:

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AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO RESCISÓRIA N. 3.892-59.2010.6.00.0000 - CLASSE 5 - GOIÁS (Goiânia)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoAgravante: Carlos Antônio de FreitasAdvogados: Edna Barreira Costa e outroAgravado: Tribunal Regional Eleitoral de Goiás

EMENTA

Eleições 2006. Ação rescisória. Agravo regimental. Representação processual irregular. Recurso que não ataca a decisão agravada. Incidência Enunciado n. 182-STJ. Desprovimento.

1 - A jurisprudência fi rmada neste Tribunal é no sentido de que “[...] O fato de o subscritor do pedido estar com sua inscrição suspensa e, consequentemente, impedido de exercer a atividade advocatícia, evidencia a irregularidade na representação processual” (AgR-Pet n. 2.975-DF, Rel. Ministro Arnaldo Versiani, julgado em 05.03.2009, DJe 03.04.2009).

2 - O agravo regimental deve atacar especifi camente as razões da decisão impugnada, caso contrário, é de rigor a incidência analógica do Enunciado n. 182 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça: “É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especifi camente os fundamentos da decisão agravada”.

3 - Agravo regimental a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em desprover o agravo regimental, nos termos das notas de julgamento.

Brasília, 28 de abril de 2011.Ministro Hamilton Carvalhido, Relator

DJe 22.06.2011

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, agravo regimental interposto por Carlos Antônio de Freitas contra decisão que negou seguimento à presente ação rescisória na linha da jurisprudência desta Corte, com fundamento em que “[...] o advogado subscritor da presente ação rescisória está com o registro suspenso no referido órgão de classe, importando, assim, em obstáculo ao conhecimento da demanda, ante a irregularidade da representação processual [...]” (fl . 36).

Nas razões do regimental, sustenta o agravante:

[...]

O agravante é advogado e deputado federal, conforme explicitado na peça exordial, mas não quer adendrar no mérito, e sim, que Vossa Excelência, decida a sua diplomação para deputado federal.

O Ilustre Ministro já conhece, muito bem a atuação do agravante, no STJ e aqui também no TSE.

Mas o agravante, não quer entrar no mérito que o mesmo é ou não é advogado e sim, quer sua diplomação que é no caso concreto.

Diante estes [sic] fatos e fundamentos requer pelo provimento do agravo regimental conforme emana nossa CF e o Regimento Interno do TSE. Nesse sentido provimento. (fl s. 38-39).

Consta dos autos procuração do agravante outorgando poderes à Dra. Edna Barreira Costa, subscritora do regimental.

O agravante apresentou petição em que requer sua diplomação e afi rma haver obtido 98 mil votos (fl . 53).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, o regimental não merece prosperar.

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

A irregularidade de representação processual resulta na inexistência do ato praticado, culminando no não conhecimento do pedido. No que se refere à condição de advogado, é esta a letra do artigo 36 do Código de Processo Civil, verbis:

Art. 36. A parte será representada em juízo por advogado legalmente habilitado. Ser-lhe-á lícito, no entanto, postular em causa própria, quando tiver habilitação legal ou, não a tendo, no caso de falta de advogado no lugar ou recusa ou impedimento dos que houver.

Ainda sobre tema, a Lei n. 8.906/1994 (Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil), verbis:

Art. 4º São nulos os atos privativos de advogado praticados por pessoa não inscrita na OAB, sem prejuízo das sanções civis, penais e administrativas.

Parágrafo único. São também nulos os atos praticados por advogado impedido – no âmbito do impedimento – suspenso, licenciado ou que passar a exercer atividade incompatível com a advocacia. (nosso o grifo).

In casu, as razões do regimental deixam de atacar, de forma específi ca, o fundamento sufi ciente da decisão agravada, no tocante à irregularidade da representação processual, atraindo a incidência analógica do Enunciado n. 182 da Súmula do Superior Tribunal, verbis:

É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especifi camente os fundamentos da decisão agravada.

Gize-se, em remate, ser inadmissível a pretensão do agravante no sentido de ser diplomado na via da ação rescisória.

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É o voto.

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 429-12.2010.6.00.0000 – CLASSE 6 – MINAS GERAIS (Morro do Pilar)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoAgravante: Ministério Público EleitoralAgravado: Christian Vieira de MatosAdvogados: Paulo Henrique Figueiredo e outrosAgravado: José Edvan da MataAdvogados: Ana Márcia dos Santos Mello e outros

EMENTA

Agravo regimental no agravo de instrumento. Negativa de seguimento. Recurso especial. Entendimento do Tribunal Superior Eleitoral acerca da aplicação do prazo de 24 horas para recurso interposto contra sentença (art. 30-A da Lei n. 9.504/1997) proferida antes da vigência da Lei n. 12.034/2009. Desprovimento.

1 - A adoção do procedimento previsto na Lei Complementar n. 64/1990 para apuração de gastos ilícitos em campanha eleitoral, consoante dispõe o artigo 30-A da Lei n. 9.504/1997, não afasta a aplicação do prazo de 24 horas para interposição de recurso previsto no artigo 96, § 8º, porque se trata de regra específi ca, cuja incidência afasta a regra geral.

2 - Até o advento da Lei n. 12.034/2009, o prazo para a interposição de recursos nas ações ajuizadas com esteio no artigo 30-A da Lei n. 9.504/1997 era de 24 horas (artigo 96, § 8º).

3 - A análise sobre o cabimento e admissibilidade do recurso interposto da sentença que se pretende reformar obedecerá à lei vigente à época da sua prolação.

4 - Agravo regimental a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em desprover o agravo regimental, nos termos das notas de julgamento.

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

Brasília, 26 de agosto de 2010.Ministro Hamilton Carvalhido, Relator

DJe 08.10.2010

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, agravo regimental interposto pelo Ministério Público Eleitoral contra decisão que negou seguimento a agravo de instrumento nos seguintes termos (fl s. 278-280):

[...]

Tudo visto e examinado, decido.

A irresignação não comporta admissibilidade.

Trata-se, na origem, de representação ajuizada com fundamento no artigo 30-A da Lei n. 9.504/1997.

O acórdão regional encontra-se em conformidade com a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral quando afi rma a intempestividade do recurso eleitoral, interposto contra a sentença (fl s. 225-229).

O agravante foi intimado da sentença em 06.02.2009, sexta-feira, às 15h30, conforme certidão (fl . 231), tendo o recurso eleitoral sido interposto somente em 10.02.2009, terça-feira (fl . 68) – fora, portanto, do prazo de 24 horas a que alude o artigo 96, § 8º, da Lei n. 9.504/1997, a determinar a intempestividade deste agravo de instrumento.

Nesse sentido AgR-AI n. 11.957-SC, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, julgado em 27.04.2010, DJe 25.05.2010, de cuja ementa destaco:

[...]

2. Até o advento da Lei n. 12.034/2009, o prazo para a interposição dos recursos nas ações ajuizadas com esteio no art. 30-A da Lei n. 9.504/1997 era de 24 (vinte e

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MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

quatro) horas, nos termos do art. 96, § 8º, desta mesma Lei. Precedente.

[...].

Gize-se que não se aplica à hipótese dos autos o prazo de três dias a que alude a Lei n. 12.034 porque a publicação desta ocorreu em 30.09.2009 – após a intimação da referida sentença.

Pelo exposto, com fundamento no artigo 36, § 6º, do Regimento Interno do Tribunal Superior Eleitoral, nego seguimento ao agravo.

A insurgência está fundada, em síntese, na tempestividade do recurso eleitoral, apontando incidência do artigo 258 do Código Eleitoral. Para tanto, sustenta o agravante que os artigos 30-A e 41-A da Lei n. 9.504/1997 obedeceriam ao rito do artigo 22 da Lei n. Complementar n. 64/1990, que, ao disciplinar o procedimento a ser adotado, não faria alusão a prazos recursais. Por essa razão, o recurso deveria ser interposto no prazo de 3 dias.

Pede seja reconsiderada a decisão agravada ou, caso contrário, submetido o regimental a julgamento pelo Colegiado.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, na origem, o juízo eleitoral extinguiu, com fundamento no artigo 269, IV, do Código de Processo Civil, ação de investigação judicial eleitoral fundada no artigo 30-A da Lei n. 9.504/1997.

O Tribunal a quo, apreciando recurso interposto contra a sentença e afastando a decadência, determinou o retorno dos autos ao juízo de origem.

Ao acórdão foram opostos embargos de declaração, que foram acolhidos para reconhecer a intempestividade do recurso eleitoral, porque não fora observado o prazo de 24 horas, aplicável também às ações ajuizadas com arrimo no artigo 30-A da Lei n. 9.504/1997.

Como se depreende, a questão que se controverte é o prazo para recurso em face de sentença proferida em sede de ação de investigação

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

judicial eleitoral ajuizada com fundamento no artigo 30-A da Lei n. 9.504/1997.

A adoção do procedimento previsto na Lei Complementar n 64/1990 para apuração de gastos ilícitos na campanha eleitoral, consoante dispõe o artigo 30-A da Lei das Eleições, não afasta a aplicação do prazo de 24 horas para interposição do recurso previsto no artigo 96, § 8º, porque se trata de regra específi ca, cuja incidência afasta a regra geral.

Para conferir, transcreve-se a ementa do AgR-RO n. 1.500-GO, Rel. Ministro Ricardo Lewandowski, julgado em 22.10.2009, DJ de 07.12.2009, verbis:

Agravo regimental. Recurso especial eleitoral. Decisão agravada em consonância com a jurisprudência do TSE. Agravo improvido.

I - Os argumentos apresentados no agravo regimental não se alinham à jurisprudência desta Corte, que se fi rmou no sentido de que a adoção do procedimento do art. 22 da LC n. 64/1990 na apuração dos ilícitos previstos no art. 30-A e 41-A da Lei das Eleições não afasta a incidência do prazo recursal de 24 horas, estabelecido no § 8º do art. 96 dessa lei.

II - Decisão agravada mantida por seus próprios fundamentos.

III - Agravo regimental a que se nega provimento.

Como salientado pelo Ministro Arnaldo Versiani em voto-vista proferido no RO n. 1.679-TO, julgado em 04.08.2009, DJe de 1º.09.2009, verbis,

[...] é de 24 horas o prazo para interposição de recurso ordinário contra acórdão de Tribunal Regional Eleitoral que julga as representações previstas no art. 96 da Lei das Eleições (Lei n. 9.504/1997).

De fato, este Tribunal tem decidido que o prazo é de 24 horas para as representações que tenham por objeto, por exemplo, captação ilícita de sufrágio (art. 41-A).

Esse mesmo entendimento também deve ser aplicado à hipótese dos autos, que trata de gastos irregulares de recursos durante a campanha eleitoral (art. 30-A).

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Processual

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Isso porque, de acordo com o art. 96, § 8º, da Lei das Eleições:

Quando cabível recurso contra a decisão, este deverá ser apresentado no prazo de vinte e quatro horas da publicação da decisão em cartório ou sessão, assegurado ao recorrido o oferecimento de contra-razões, em igual prazo, a contar da sua notifi cação.

Esse dispositivo não excepciona qualquer situação, seja perante juízo eleitoral, seja perante tribunal eleitoral, aplicando-se, portanto, às instâncias ordinárias, inclusive, como é o caso dos autos, a recurso ordinário interposto para este Tribunal, quando, então, se deve observar o citado prazo de 24 horas.

No caso, colhe-se dos autos (fl . 231) que a intimação da sentença ocorreu em 06.02.2009 (sexta-feira), às 15h30, e o recurso eleitoral foi interposto apenas em 10.02.2009 (terça-feira), quando já escoado o prazo de 24 horas previsto no artigo 96, § 6º, da Lei n. 9.504/1997.

Calcada nas disposições legais e no AgR-AI n. 11.957-SC, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, julgado em 27.04.2010, DJe de 25.05.2010, a decisão atacada fez consignar que é de 24 horas o prazo recursal na espécie, fi cando afastada, inclusive, a incidência da Lei n. 12.034, publicada em 30 de setembro de 2009, que traz prazo recursal de 3 dias. Isto porque a lei vigente à época da prolação da sentença que se pretende desconstituir é que regerá o cabimento e a admissibilidade do recurso interposto para o Tribunal Regional.

Gize-se que a intimação da sentença ocorreu em 06.02.2009; portanto, muito antes da vigência da Lei nova.

Nesse contexto, é invocável o enunciado n. 182 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, in verbis:

É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especifi camente os fundamentos da decisão agravada.

Diante da ausência de argumentação relevante, apta a afastar a decisão impugnada, esta se mantém por seus próprios fundamentos.

Voto pelo desprovimento do agravo regimental.É o voto.

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 1.520-40.2010.6.00.0000 – CLASSE 6 – CEARÁ (Caucaia)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoAgravante: Benedito Ires da CunhaAdvogados: José Marques Júnior e outrosAgravado: Ministério Público Eleitoral

EMENTA

Agravo regimental no agravo de instrumento. Traslado de cópias. Recolhimento do valor. Não observância. Deserção. Artigo 3º, § 2º, da Resolução-TSE n. 21.477/2003. Conversão em diligência. Inviabilidade.

1. O agravante deve recolher, no prazo de dois dias contados do ajuizamento do agravo, o valor relativo à extração das peças indicadas para formação do instrumento sob pena de deserção (artigo 3º, § 2º, da Res.-TSE n. 21.477/2003).

2. É pacífi ca a orientação deste Tribunal de que constitui ônus da parte agravante corretamente instruir o agravo, devendo ser ciosa na sua formação e fi scalização.

3. É inviável a conversão do feito em diligência para complementar o instrumento defi ciente. Precedentes.

4. Agravo regimental a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em negar provimento ao agravo regimental, nos termos das notas de julgamento.

Brasília, 24 de março de 2011.Ministro Hamilton Carvalhido, Relator

DJe 15.06.2011

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, agravo regimental contra decisão que negou seguimento ao agravo de instrumento interposto por Benedito Ires da Cunha, nestes termos (fl . 54), verbis:

[...]

Verifi co que não foi recolhido pelo agravante o valor referente às cópias das peças obrigatórias por lei, bem como das essenciais à compreensão da controvérsia (certidão fl . 10), nos termos do artigo 3º, § 2º, da Resolução-TSE n. 21.477/2003, o que importa na sua deserção (AgR-AI n. 11.068-RJ, Rel. Ministro Felix Fischer, julgado em 23.4.2009, DJe 20.5.2009; AgRgAg n. 7.244-SP, julgado em 1º.8.2006, DJ 28.8.2006, e AgRgAg n. 6.809-SP, julgado em 11.4.2006, DJ 12.5.2006, ambos da relatoria do Ministro Caputo Bastos).

Pelo exposto, com fundamento no artigo 36, § 6º, do Regimento Interno do Tribunal Superior Eleitoral, nego seguimento ao agravo de instrumento.

[...].

Nas razões do regimental, o agravante sustenta que pode ter ocorrido extravio que não lhe pode ser imputado, pois, além de indicar as peças obrigatórias e facultativas, foram juntadas peças para formação do instrumento, e “[...] salvo exceção expressamente prevista em lei, ninguém pode responder por fato de outrem [...]” (fl . 58 - grifo no original). No seu entender, este Tribunal, ao constatar o traslado incompleto, deveria converter o julgamento em diligência a fi m de que fosse intimada para trazer aos autos a peça faltante, sob pena de afrontar os “[...] princípios constitucionais do acesso à Justiça, e da ampla defesa e do contraditório” (fl . 58 - grifo no original). Além disso, acrescenta, admitir o contrário seria “[...] sobrepor o mero formalismo em detrimento da aplicação do texto constitucional, o que, em verdade, é repelido pelos mais conceituados doutrinadores e pela construção jurisprudencial pátria” (fl . 59 - grifo no original), mormente

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

porque a decisão do Tribunal a quo afrontou o artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal.

Além disso, afi rma que a decisão agravada deve ser reformada,

[...] ante a ausência de fundamentação, havendo que acrescentar, tão somente, que, socorre a [sic] agravante a alegação e comprovação de violação a lei e de dissídio jurisprudencial, enquanto os julgados que apontou como paradigmas se aplicam ao caso ora em comento. (fl . 60)

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, o regimental não merece prosperar.

O agravante requereu o traslado de todas as peças que compõem o agravo de instrumento, em especial, a cópia da petição de interposição do recurso denegado, das contrarrazões ao recurso, da decisão recorrida, da certidão de intimação, das procurações e substabelecimentos outorgados aos advogados de ambas as partes (fl . 3). O presidente do Tribunal a quo deferiu o pedido e determinou fosse feito o traslado sob expensas do agravante (fl . 8).

Diante desse requerimento, era seu dever juntar aos autos a guia de recolhimento. Todavia, deixou de fazê-lo. Por essa razão foi negado seguimento ao agravo de instrumento.

A Resolução-TSE n. 21.477/2003 disciplina a formação do agravo de instrumento, nas hipóteses em que o recurso especial tem seu processamento negado. São estes os termos que interessam:

Art. 2º Incumbe às partes indicar para traslado as peças indispensáveis à perfeita compreensão da controvérsia, devendo estar, entre elas, necessariamente, o acórdão recorrido e a petição do recurso especial, bem como a comprovação da interposição tempestiva.

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Processual

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Art. 3º Na formação do instrumento de agravo, o traslado das peças obrigatórias – a decisão recorrida e a certidão de intimação –, bem como daquelas indicadas pelas partes, é de responsabilidade das secretarias dos tribunais regionais, que se encarregarão de efetuar as cópias.

[...]

§ 2º As partes recolherão o valor referente às cópias das peças que indicarem, no prazo de dois dias da interposição do agravo ou da juntada das contra-razões, independentemente de intimação, juntando o comprovante aos autos, no mesmo prazo.

[...]

§ 5º As partes que desejarem poderão apresentar, no ato da interposição do agravo ou da resposta, as peças que deverão compor o instrumento, declarando o procurador a autenticidade delas. (nossos os grifos)

É pacífi ca a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral no sentido de estar o agravante obrigado, independentemente de intimação e no prazo de dois dias contados do ajuizamento do agravo, a recolher o valor relativo à extração das peças por ele indicadas para formação do instrumento sob pena deserção (AgRgAg n. 7.244-SP, julgado em 1º.8.2006, DJ 28.8.2006, e AgRgAg n. 6.809-SP, julgado em 11.4.2006, DJ 12.5.2006, ambos da relatoria do Ministro Caputo Bastos).

Gize-se, em remate, que, com a interposição do agravo, é inviável a conversão do feito em diligência para complementação do instrumento defi ciente. No tema, destaque-se acórdão deste Tribunal AgR-AI n. 7.749-MG, Rel. Ministro Joaquim Barbosa, julgado em 23.6.2009, DJe 31.8.2009. A meu ver, tal aspecto não pode ser relevado.

A decisão atacada está devidamente fundamentada, desse modo se mostram sem repercussão as alegações de afronta aos princípios constitucionais que o agravante enumera.

Nesse contexto, nego provimento ao regimental.

É o voto.

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 1.828-76.2010.6.00.0000 – CLASSE 6 – BAHIA (Central)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoAgravantes: José Maciel Júnior e outroAdvogados: Ademir Ismerim Medina e outroAgravado: Leonandes Santana da SilvaAdvogados: Ademir Passos e outrosAgravado: Uilson Monteiro da SilvaAdvogado: Adriano Gonçalves de Queiroz

EMENTA

Eleições 2008. Agravo regimental em agravo de instrumento. Negativa de seguimento. Ausência da procuração. Incidência da Súmula n. 115 do STJ. Fundamento não afastado. Aplicação do artigo 13 do CPC. Impossibilidade. Desprovimento.

1 - O pressuposto objetivo de recorribilidade da regular representação processual há de estar atendido no prazo assinado em lei para a interposição do recurso. Do contrário, aplica-se o Enunciado n. 115 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça.

2 - A pretensa aplicação do artigo 13 do Código de Processo Civil em sede extraordinária não encontra amparo na jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral.

3 - Agravo regimental a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em negar provimento ao agravo regimental, nos termos das notas de julgamento.

Brasília, 22 de fevereiro de 2011.Ministro Hamilton Carvalhido, Relator

DJe 13.04.2011

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, trata-se de agravo regimental interposto por José Maciel Júnior e Hermenito Ferreira do Amaral contra a seguinte decisão (fl s. 20-21):

Agravo de instrumento contra inadmissão do recurso especial interposto por José Maciel Júnior e Hermenito Ferreira do Amaral, com fundamento no artigo 276, I, a e b, do Código Eleitoral, impugnando acórdão do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia que rejeitou preliminar de litispendência e, mantendo a sentença, negou provimento ao recurso contra expedição de diploma por ausência de provas sufi cientes a demonstrar os fatos narrados na inicial.

Mostra-se defi ciente a instrução do feito, pois não consta dos autos procuração dos agravantes ao Dr. Ademir Ismerim Medina, subscritor do agravo de instrumento e do recurso especial, assim como não há certidão da Corte Regional atestando seu arquivamento. Não atendido, assim, o disposto nos artigos 3o, § 2o, da Res.-TSE n. 21.477/2003 e 279, § 7o, do Código Eleitoral.

Incidente, na espécie, o enunciado 115 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, in verbis:

Na instância especial é inexistente recurso interposto por advogado sem procuração nos autos.

Além disso, a jurisprudência deste Tribunal é fi rme em que:

[...]

É ônus do agravante fi scalizar a correta formação do agravo de instrumento, competindo-lhe verifi car se constam todas as peças obrigatórias ou de caráter essencial e as necessárias para a compreensão da controvérsia, não sendo admitida a conversão do feito em diligência para complementação do traslado.

[...].

(AgRgAg n. 8.143-MG, Rel. Ministro Gerardo Grossi, julgado em 14.2.2008, DJ 29.2.2008)

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

Pelo exposto, com fundamento no artigo 36, § 6º, do Regimento Interno do Tribunal Superior Eleitoral, nego seguimento ao agravo de instrumento.

[...].

Sustentam, em síntese, que a defi ciência no traslado se deu por falha do Regional baiano, que deixou de intimá-los para sanar o vício processual, conforme dispõe o artigo 13 do Código de Processo Civil. Para defender sua aplicação, trazem à colação julgados do Supremo Tribunal Federal no AI n. 950047688-6-PR, DJU de 5.12.1995; do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul nos Embargos Infringentes n. 596110866, do 4º Grupo de Câmara Cíveis; do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo no Recurso Eleitoral n. 32.365, DOE 30.4.2009.

Com as razões do regimental foi juntada procuração, datada de 20.8.2010, em que outorgam poderes ao Dr. Ademir Ismerim.

Requerem seja reconsiderada a decisão agravada ou, caso contrário, submetido o regimental a julgamento pelo Colegiado.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, a cópia da procuração outorgada ao advogado se destina a aferir a regularidade da representação processual. Certo é que, por constituir peça essencial à formação do instrumento, a ausência do seu traslado é imputada ao agravante. Nesse sentido já decidiu este Tribunal ao julgar o AgR-AI n. 1.387-95-PR, Rel. Ministro Arnaldo Versiani, julgado em 25.11.2010, DJe 14.12.2010, assim ementado:

Agravo regimental. Agravo de instrumento. Procuração dos agravados.

1. O art. 544, § 1º, do Código de Processo Civil estabelece que a petição de agravo de instrumento deve ser instruída obrigatoriamente com cópias das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado, o que se destina a aferir a regularidade da representação processual das partes.

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Processual

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2. A ausência de cópia da procuração outorgada ao advogado do agravado ou certidão atinente ao seu arquivamento em cartório consubstancia óbice ao conhecimento do agravo de instrumento.

3. A jurisprudência deste Tribunal é pacífi ca no sentido de que incumbe à parte fi scalizar a formação do agravo de instrumento.

Agravo regimental não provido.

Daí por que a alegação dos agravantes de que não foi trasladada a peça por erro do Tribunal a quo não prospera, uma vez que é dele o ônus de fi scalizar a formação do instrumento.

Dessa forma descabe invocar o artigo 13 do Código de Processo Civil. É certo ainda que, na instância especial, o pressuposto objetivo de recorribilidade da regular representação processual há de estar atendido no prazo assinado em lei para a interposição do recurso.

Quanto à procuração trazida com a interposição do agravo regimental (fl . 30), é entendimento desta Corte de que é inviável a posterior complementação do traslado. Nesse sentido, alinho a ementa do acórdão desta Corte no AgR-AI n. 10.019-PR, Rel. Ministro Felix Fischer, julgado em 19.11.2009, DJe 1º.2.2010, verbis:

Agravo regimental. Agravo de instrumento. Ausência de procuração. Não provimento.

1. É entendimento assente neste c. Tribunal que cabe ao advogado fi scalizar a correta formação do agravo de instrumento, sob pena de responder pela sua defi ciência, sendo inapropriada a posterior complementação do traslado. (AgR AI n. 9.279-PA, Rel. Min. Arnaldo Versiani, DJe de 23.9.2008; AAG n. 6.846-SP, Rel. Min. Carlos Ayres Britto, DJ de 7.8.2008.

2. “A responsabilidade pela má-formação do instrumento deve ser imputada à parte agravante, e não à secretaria judiciária do TRE.” (AAG n. 8.459-RJ, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe de 3.10.2008)

3. Não há falar na existência de mandato tácito conferido nos autos do agravo de instrumento. Segundo a jurisprudência do e. TSE, a atuação reiterada do causídico não dispensa a comprovação do mandato formalmente conferido ao advogado subscritor do apelo. (AgR-REspe n. 28.995-RS, Rel. Min. Marcelo Ribeiro, PSESS de 2.9.2008)

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

4. Tratando-se de pressuposto processual de validade referente à capacidade postulatória, a instrução do agravo de instrumento mesmo na Justiça Eleitoral não dispensa a juntada da procuração. Sendo omisso o art. 279 do CE, aplica-se subsidiariamente o art. 525, I, do CPC que expressamente indica a procuração como peça obrigatória na formação do agravo de instrumento. (AAG n. 6.001-PA, Rel. Min. Caputo Bastos, DJ de 3.2.2006).

5. Agravo regimental não provido. (nossos os grifos)

Assim, uma vez interposto o agravo, opera-se a preclusão consumativa, sendo por essa razão inviável a complementação ou regularização posterior.

Diante da ausência de argumentação relevante, apta a afastar a decisão impugnada, esta se mantém por seus próprios fundamentos.

Pelo exposto, conheço do agravo regimental, mas nego-lhe provimento.

É o voto.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 3.197-08.2010.6.00.0000 – CLASSE 6 – DISTRITO FEDERAL (Brasília)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoAgravante: José Roberto ArrudaAdvogados: Oscar Luís de Morais e outrosAgravado: Ministério Público Eleitoral

EMENTA

Agravo regimental no agravo de instrumento. Negativa de seguimento. Usurpação de competência. Inépcia da inicial. Falta de interesse processual. Preliminares afastadas. Reexame de provas.

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Processual

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Inviabilidade. Afronta ao artigo 275 do Código Eleitoral. Inexistência. Fundamentos não infi rmados. Desprovimento.

1. É fi rme a orientação deste Tribunal no sentido de que “Ao Juízo de admissibilidade compete examinar a presença dos pressupostos de cabimento do recurso especial, ou seja, se houve demonstração de divergência com julgados aptos para sua caracterização e a plausibilidade da alegação de infração à norma legal” (Ag n. 2.577-SP, Rel. Ministro Fernando Neves, julgado em 1º.03.2001, DJ 16.03.2001.

2. Não é inepta a petição que descreve os fatos e os fundamentos do pedido, possibilitando à parte o exercício do direito de defesa e do contraditório.

3. Persiste o interesse processual ainda que o governador, por não ser mais fi liado a partido político, não se tenha candidatado à reeleição. Precedentes.

4. Afi rmada a prática de propaganda eleitoral extemporânea pelo Tribunal a quo com base na avaliação crítica da prova, encontra óbice seu reexame em sede extraordinária.

5. Não se evidencia omissa a decisão que aprecia as questões postas pela parte.

6. “É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especifi camente os fundamentos da decisão agravada”. (Enunciado n. 182 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça).

7. Agravo regimental desprovido.

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em desprover o agravo regimental, nos termos das notas de julgamento.

Brasília, 28 de abril de 2011.Ministro Hamilton Carvalhido, Relator

DJe 22.06.2011

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RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, agravo regimental interposto por José Roberto Arruda contra decisão pela qual neguei seguimento a agravo de instrumento e cujos termos são os seguintes (fl s. 265-269):

[...]

Tudo visto e examinado, decido.

Primeiramente, não há falar em invasão de competência pelo Presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal ao proferir a decisão ora agravada. Como bem lançado no pronunciamento ministerial (fl . 261),

[...] esse Egrégio Tribunal Superior Eleitoral sufraga entendimento no sentido de que, em sede de juízo de admissibilidade levado a efeito pelo Presidente do Tribunal a quo, é cabível o exame da existência ou não de afronta à legislação eleitoral, bem como de dissídio jurisprudencial, correspondentes ao próprio mérito da controvérsia, não havendo de se cogitar de invasão da competência da Corte ad quem.

Ao que se tem, o Ministério Público Eleitoral ofereceu representação contra José Roberto Arruda em razão de propaganda eleitoral antecipada, sob a alegação de que, em 05.10.2009, na cidade satélite do Gama, quando, no exercício do cargo, o então Governador do Distrito Federal, em reunião com feirantes, teria pedido votos para si e para alguns deputados distritais.

Consigna o voto condutor do acórdão (fl s. 151-152):

[...]

Disse ele [agravante] na reunião feita no Gama em 05 de outubro de 2009:

Vou disputar uma reeleição, e uma reeleição que botei a cidade em ordem. Se eu ganhar a eleição em Brasília inteira, for reeleito, mas se eu não ganhar no Gama, para mim não valeu.

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Processual

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[...]

Disse ele, referindo-se aos deputados distritais Pedro do Ovo e Wilson Lima:

Eu queria para o Gama me dar a eleição destes dois no ano que vem.

[...]

O que se tinha era reunião pública, aberta, com feirantes, para cuidar de reforma da feira permanente do Gama [...]. (grifos do original).

A preliminar de carência do direito de ação – com base no fato de o Governador, por não ser mais fi liado a partido político, não ter podido se candidatar à reeleição em 2010 – foi corretamente afastada pelo Tribunal Regional Eleitoral, sob o fundamento de que “[...] se a possível ilegalidade teria sido cometida em instante que eleição futura se fazia possível, a perda no futuro dessa condição não retira o interesse processual [...]” (fl . 150).

Este é o entendimento desta Corte:

[...]

2. A proibição de realizar propaganda antes de 05 de julho atinge todas as pessoas, independentemente da aspiração pessoal em disputar a eleição a que ela se destina.

[...]. (R-Rp n. 1.346-31-DF, Rel. Ministro Henrique Neves, publicado na sessão de 05.08.2010 - grifo nosso).

[...]

5. Para que seja considerada antecipada a propaganda, ela deve levar ao conhecimento geral, ainda que de forma dissimulada, a candidatura, a ação política ou as razões que contribuam para inferir que o benefi ciário é o mais apto para a função pública, ou seja, é preciso que, antes do período eleitoral, se inicie o trabalho de captação de votos dos eleitores (AAG n. 7.967-MS, Rel. Min. Marcelo Ribeiro, DJ de 1º.09.2008; AREspe n. 23.367-PI, de minha relatoria, DJ de 06.08.2008).

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[...]. (RO n. 2.346-SC, Rel. Ministro Felix Fischer, julgado em 02.06.2009, DJe 18.09.2009 - grifos nossos).

In casu, o discurso também foi favorável a deputados distritais, e não somente à fi gura do então Governador.

Observados, portanto, os artigos 267, incisos I e IV; 282, inciso III; 295, inciso I, e parágrafo único, inciso II, todos do Código de Processo Civil, contrariamente ao alegado pelo agravante.

No que diz respeito à violação aos artigos 36-A e 40-B da Lei das Eleições, melhor sorte não o socorre, porquanto, consoante a letra do acórdão impugnado, que aludiu às circunstâncias específi cas do caso, seria necessário o reexame fático-probatório, tarefa vedada nesta instância (Enunciados n. 7 e n. 279 das Súmulas do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, respectivamente).

Obiter dictum, conforme a jurisprudência desta Corte:

[...] Não se pode pretender que os titulares de mandato eletivo parem de dar continuidade a sua atuação de agente político. É natural que participem de inaugurações e, nestas ocasiões, profi ram discursos. Contudo, não lhes é facultado, nestes ou em outros momentos, incutir candidatos ou pré-candidatos no imaginário do eleitor, ainda que de forma disfarçada [...]. (AgR-Rp n. 20.574-DF, Rel. designado Ministro Felix Fischer, julgado em 25.03.2010, DJe 11.05.2010; grifos nossos).

A aplicação da multa tampouco merece reforma, porquanto “Não cabe afastar multa aplicada por propaganda eleitoral irregular, quando devidamente fundamentada a decisão que fi xa o seu valor” (AgRgREspe n. 26.244-MS, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 23.06.2009, DJe. 31.08.2009). É o caso dos autos.

O valor da multa prevista no artigo 36, § 3º, da Lei n. 9.504/1997 pode variar entre R$ 5.000,00 (cinco mil reais) e R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), e o Tribunal Regional Eleitoral fi xou-a em R$ 10.000,00 (dez mil reais), “levando-se em conta o cargo ocupado quando da violação à lei, o de governador de Estado, o signifi cado que tem uma autoridade dessa qualidade desrespeitar a lei [...]” (fl . 152).

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Processual

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Por fi m, tampouco há falar em violação ao artigo 275, I e II, do Código Eleitoral, porquanto foram enfrentadas, pela Corte Regional, todas as questões postas pelo agravante em seu recurso integrativo, revelando-se, mais, mero inconformismo com a decisão que lhe foi desfavorável.

Assim, mostra-se irrepreensível a decisão agravada, razão pela qual é medida que se impõe a preservação do juízo negativo de admissibilidade do recurso especial interposto.

Pelo exposto, com fundamento no artigo 36, § 6º, do Regimento Interno do Tribunal Superior Eleitoral, nego seguimento ao agravo de instrumento.

[...].

Nas razões do regimental, o agravante afi rma que, ao contrário do consignado na decisão agravada, já demonstrou nas razões de recurso especial:

[...]

(I) que “mostra-se de conhecimento público e notório que o governador José Roberto Arruda se desfi liou do Partido Democratas (DEM) e se encontra desfi liado de qualquer partido político até hoje”;

(II) que, “Além disto, o prazo para fi liação a outro partido com o objetivo de concorrer ao pleito eleitoral de 2010 [sic] já expirou e, ainda que considerássemos qualquer interesse em concorrer a cargo eletivo, o que se admite apenas por argumentar, mesmo assim não poderia José Roberto Arruda concorrer”;

(III) e que, “Portanto, não pode – e não poderia – o Representado/Recorrente sequer se candidatar a cargo eletivo já que o partido é quem pode solicitar eventual candidatura para eleições/reeleições de 2010 [sic] e José Arruda se encontra desfi liado de qualquer partido político”; razão pela qual não “poderia então o ora Recorrente (aqui ora agravante) promover campanha eleitoral fora do período previsto no art. 36 da Lei n. 9.504/1997, se não poderia concorrer a cargo eletivo [...]. (grifos no original - fl . 285).

E mais, que:

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[...] a análise por parte do eg. TSE em verifi car se o col. TRE-DF aplicou – ou não – no julgamento da lide, em relação ao fatos tidos como provados, os pertinentes dispositivos constitucionais/legais (“arts. 267, I e VI, 282, III, 295, I, parágrafo único, II, do CPC; 36-A, caput e incisos, 40-B, da Lei n. 9.504/1997, além dos preceitos constitucionais constantes do art. 5º, caput, LIV e LV, da CF/1988”), diz respeito unicamente a matéria de direito e não importa em reexame de prova. (grifos no original - fl . 285).

Além disso, reitera a alegação de ofensa ao artigo 275, I e II, do Código Eleitoral porque o Tribunal Regional Eleitoral não se manifestou acerca de documentos de fl s. 47-48 sob a ótica do artigo 5º, caput, LIV e LV, da Constituição Federal.

Pede seja reconsiderada a decisão agravada ou, caso contrário, submetido o regimental a julgamento pelo Colegiado.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, o agravo regimental não merece prosperar.

É fi rme a orientação deste Tribunal no sentido de que:

[...] Ao Juízo de admissibilidade compete examinar a presença dos pressupostos de cabimento do recurso especial, ou seja, se houve demonstração de divergência com julgados aptos para sua caracterização e a plausibilidade da alegação de infração à norma legal (Ag n. 2.577-SP, Rel. Ministro Fernando Neves, julgado em 1º.03.2001, DJ 16.03.2001).

Ainda sobre o tema, o acórdão deste Tribunal no Ag n. 12.297-MT, Rel. Ministro Marco Aurélio, julgado em 17.10.1995, DJ 10.11.1995.

O fato de o Presidente do Tribunal a quo, por ocasião do juízo de admissibilidade, adentrar o mérito recursal não importa em preclusão que obsta este Tribunal de exercer segundo juízo de admissibilidade, por essa razão não há falar em usurpação de competência.

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Tampouco se pode falar em inépcia da inicial de fl s. 43-52, porquanto descreve os fatos e os fundamentos do pedido, possibilitando ao representado o exercício do direito de defesa e do contraditório.

Quanto à alegação de falta de interesse processual, também não procede. Essa condição da ação, que requisita a presença do binômio necessidade/adequação, pode ser vista como a utilidade do provimento jurisdicional. Ora, descrita pelo autor na inicial situação jurídica que, em tese, demonstre a necessidade de recorrer ao Judiciário para obtenção do resultado pretendido, não há falar em falta de condição da ação.

Esta Corte Superior tem orientação de que não afasta o interesse processual o fato de o Governador, por não ser mais fi liado a partido político, não ter podido se candidatar à reeleição em 2010 (R-Rp n. 1.346-31-DF, Rel. Ministro Henrique Neves da Silva, publicado em Sessão de 05.08.2010; AgRgAg n. 7.967-MS, Rel. Ministro Marcelo Ribeiro, julgado em 05.08.2008, DJ 1º.09.2008; e RO n. 2.346-SC, Rel. Ministro Felix Fischer, julgado em 02.06.2009, DJe 18.09.2009).

O Tribunal a quo afastou as preliminares arguidas pelo ora agravante com a seguinte fundamentação, verbis:

[...]

Rejeito a preliminar de carência do direito de ação.

O que disse o Ministério Público, na inicial, é que o representado, quando no cargo de Governador do Distrito Federal, fora do tempo pediu voto para si e terceiras pessoas.

Assim, se a possível ilegalidade teria sido cometida em instante que eleição futura se fazia possível, a perda no futuro dessa condição não retira o interesse processual, que é o de punição por prática de ato indevido.

Rejeito a preliminar de inépcia da inicial.

A causa de pedir é clara: ter o representado indevidamente pedido voto, sendo claro o pedido dele decorrente, o apenamento.

Mais lógica não poderia ser a inicial.

E tão clara e lógica é a inicial que o representado pode apresentar resposta, sem qualquer prejuízo para sua defesa.

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Nessas condições, não se pode ter a inicial como ilógica.

Ensina José Calmon de Passos:

O que lhe cumpre é narrar o fato com clareza e precisão e concluir postulando as consequências que desse fato juridicamente decorrem. (In Comentários ao Código de Processo Civil, Forense, Rio de Janeiro, 1979, 3ª edição, Volume III, p. 289).

[...]. (grifos no original - fl . 150).

Ressalto que o conhecimento da alegação de afronta aos artigos 36-A e 40-B da Lei das Eleições encontra óbice nos Enunciados n. 7 e n. 279 das Súmulas do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, respectivamente.

Na decisão ora atacada, tive o cuidado de transcrever trechos do voto condutor do acórdão recorrido em que, diante da prova, se concluiu caracterizado o fato, ou seja, ocorreu propaganda eleitoral extemporânea, verbis (fl s. 266-267):

[...]

Disse ele [agravante] na reunião feita no Gama em 05 de outubro de 2009:

Vou disputar uma reeleição, e uma reeleição que botei a cidade em ordem. Se eu ganhar a eleição em Brasília inteira, for reeleito, mas se eu não ganhar no Gama, para mim não valeu.

[...]

Disse ele, referindo-se aos deputados distritais Pedro do Ovo e Wilson Lima:

Eu queria para o Gama me dar a eleição destes dois no ano que vem.

[...]

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O que se tinha era reunião pública, aberta, com feirantes, para cuidar de reforma da feira permanente do Gama [...]. (grifos do original).

Consoante a decisão impugnada, consignou a instância de origem, ainda, que o discurso também foi favorável a deputados distritais, e não somente à fi gura do então Governador.

Assim, não há falar em simples questão de valoração da prova, até porque só o seu reexame poderia afastar as conclusões do acórdão a quo.

Destaco, em remate, que não procede a alegação de afronta ao artigo 275, II, do Código Eleitoral, porque não se evidencia omissa a decisão que, de forma, sucinta aprecia as questões postas. Senão, vejamos:

[...]Não se feriu o direito constitucional da igualdade.

[...]O que se procura com a norma é garantir que tenham todos,

nacionais e residentes no País, pessoas físicas e jurídicas, acesso à jurisdição, com exame de seus pleitos.

[...]E isto aqui foi feito, dando-se solução que pareceu a correta para

o caso concreto.Observado foi o devido processo legal e o princípio do contraditório.

[...]Pode o embargante apresentar contestação e indicar provas se

assim o desejar.Logo, em nenhum momento deixou o contraditório de ser

observado.[...]. ( grifos no original - fl s. 187-189).

Por estar a decisão atacada calcada em orientação deste Tribunal, de que “Não cabe afastar multa aplicada por propaganda eleitoral irregular, quando devidamente fundamentada a decisão que fi xa o seu valor” (AgRgREspe n. 26.244-MS, Rel. Ministro Joaquim Barbosa, julgado em 23.06.2009, DJe 31.08.2009), deveria o agravante apontar-lhe o desacerto,

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demonstrando que outro é o entendimento atual desta Corte quanto ao tema, o que não ocorreu.

Nesse contexto, é invocável o Enunciado n. 182 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, in verbis:

É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especifi camente os fundamentos da decisão agravada.

A jurisprudência deste Tribunal é fi rme em que: “É inviável o agravo cujas razões não contraditam os fundamentos da decisão agravada [...]” (Ag n. 3.569-BA, Rel. Ministro Barros Monteiro, julgado em 27.02.2003, DJ 28.03.2003; n. 5.480-PR, Rel. Ministro Luiz Carlos Madeira, julgado em 15.02.2005, DJ 22.04.2005).

Assim, diante da ausência de argumentação relevante, apta a afastar a decisão impugnada, esta se mantém por seus próprios fundamentos.

Voto pelo desprovimento do agravo regimental.É o voto.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 3.397-15.2010.6.00.0000 – CLASSE 6 – RIO DE JANEIRO (Rio de Janeiro)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoAgravante: Anthony Willian Garotinho Matheus de Oliveira e outroAdvogados: Jonas Lopes de Carvalho Neto e outrosAgravado: Ministério Público Eleitoral

EMENTA

Agravo regimental no agravo de instrumento. Negativa de seguimento. Reexame. Dissídio jurisprudencial não demonstrado. Fundamentos não atacados. Multa acima do limite legal. Matéria preclusa. Inviabilidade.

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288

Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

1. Afi rmada a prática de propaganda eleitoral extemporânea pelo Tribunal a quo com base na avaliação crítica da prova, encontra óbice seu reexame em sede extraordinária.

2. Para confi guração do dissídio jurisprudencial, “[...] não basta a mera transcrição de ementas, sendo exigido o cotejo analítico dos precedentes invocados com a hipótese versada nos autos, além da similitude fática entre eles”.

3. “É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especifi camente os fundamentos da decisão agravada”. (Enunciado n. 182 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça)

4. Fixada a multa acima do limite legal pelo Tribunal a quo, e não havendo impugnação opportune tempore, está preclusa a matéria.

5. Agravo regimental desprovido.

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em desprover o agravo regimental, nos termos das notas de julgamento.

Brasília, 28 de abril de 2011.Ministro Hamilton Carvalhido, Relator

DJe 18.05.2011

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, agravo regimental interposto por Anthony Willian Garotinho Matheus de Oliveira contra decisão pela qual neguei seguimento a agravo de instrumento e cujos termos são os seguintes (fl s. 189-191):

[...]

Tudo visto e examinado, decido.

Impõe-se a preservação do juízo negativo de admissibilidade do especial interposto, que se pautou na ausência de dissídio e na

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289

Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

necessidade de reexame do acervo probatório dos autos, o que é inviável nesta instância especial.

Ao que se tem, o Tribunal a quo, soberano na análise dos fatos e provas, entendeu caracterizada a propaganda eleitoral irregular prevista no artigo 36 da Lei das Eleições. Por pertinente, transcrevo, no que interessa, do voto condutor do acórdão recorrido, verbis (fl . 116-117):

[...] Na verdade, foram comícios travestidos de evento religioso – um, em Belford Roxo, em abril, e outro, em Cabo Frio, no mês de maio –, em que realmente se buscava enaltecer a pessoa do então eventual candidato ao governo do Estado, Sr. Anthony Garotinho. Observando os trechos trazidos à colação pela representante do Ministério Público, entendi que não havia dúvidas quanto à existência de propaganda política.

Destaco que, em seu recurso, o recorrente afi rma: “para caracterização da chamada propaganda extemporânea, três requisitos tem que ser preenchidos: A) divulgação da ação política que se pretende desenvolver”. Não sei se “tirar feitiçaria do Brasil” é divulgação de ação política que se pretende desenvolver, mas o recorrente fez menção a isso “Vamos tirar a feitiçaria do Brasil!” “Vamos fi car com o nosso governador”. Portanto, esse ponto está superado.

Continuando: “B) divulgação das razões que induzam a concluir que o benefi ciário é o mais apto ao exercício de função pública”. Isso também foi mencionado nas palavras das pessoas que participaram do evento.

E na letra “C”: “pedido de voto”. Um pedido de voto implícito, claro, diante também dos trechos retirados, e trazidos aos autos, e que constam dos CDs, que podiam – como dito pela Dra. Silvana Batini – ser objeto de análise por parte da Corte.

[...]

Nos termos do artigo 333, inciso II, do Código de Processo Civil, incumbe ao réu o ônus de provar a existência de fato impeditivo, modifi cativo ou extintivo do direito do autor.

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290

Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

Sendo assim, uma vez existindo comprovação de tratar-se de propaganda eleitoral antecipada, caberia ao agravante comprovar nos autos de que naquele culto evangélico ocorrido não houve as manifestações favoráveis à candidatura do recorrente, mas tão somente uma celebração do cotidiano, o que não ocorreu na hipótese dos autos.

Para modifi car o entendimento do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, seria necessário o reexame fático-probatório, tarefa vedada nesta instância (Enunciados n. 7 e 279 das Súmulas do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, respectivamente).

No que tange à alegação de contrariedade ao princípio da proporcionalidade na aplicação da pena, tal matéria não foi objeto de impugnação nas razões do especial que se pretende destrancar, estando, portando, preclusa a questão (AgRgAg n. 5.722-AP, Rel. Ministro Cesar Asfor Rocha, julgado em 5.12.2006, DJ 19.12.2006).

Quanto ao dissídio, é assente a jurisprudência deste Tribunal no sentido de que, para sua confi guração, “[...] não basta a mera transcrição de ementas, sendo exigido o cotejo analítico dos precedentes invocados com a hipótese versada nos autos, além da similitude fática entre eles” (AgRgAg n. 5.316-RS, Rel. Ministro Caputo Bastos, julgado em 10.2.2005, DJ 8.4.2005), não se prestando para esse fi m, ademais, decisões monocráticas. Nesse sentido, o AgRgRO n. 1.220-SP, Rel. Ministro Cezar Peluso, julgado em 21.11.2006, DJ 11.12.2006.

Pelo exposto, com fundamento no artigo 36, § 6º, do Regimento Interno do Tribunal Superior Eleitoral, nego seguimento ao agravo de instrumento.

[...].

A insurgência está fundada em que o evento como levado a efeito é livre manifestação do pensamento, na forma do artigo 5º, VI, da Constituição Federal, e não possui os elementos caracterizadores da propaganda eleitoral extemporânea. E mais, “[...] Caravana Palavra de Paz’ é um evento de cunho unicamente religioso, que ocorre há muito tempo e durante todo o ano, não apenas às vésperas das eleições” (fl . 195).

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291

Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

Pugna pela redução da multa aplicada porque acima do mínimo legal, considerados os princípios da razoabilidade/proporcionalidade e a orientação deste Tribunal nos casos de propaganda eleitoral extemporânea. Afi rma que evento como o discutido nos autos possui público de pequena monta, sendo, portanto, de alcance reduzido.

Pede seja dado provimento ao agravo – por conseguinte, julgada improcedente a representação – ou, em caso contrário, seja reduzida a multa ao mínimo legal em observância do princípio da proporcionalidade/razoabilidade.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, a decisão é de ser mantida por seus próprios fundamentos. Por estar calcada na incidência dos Enunciados n. 7 e 279 das Súmulas do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, respectivamente; inviabilidade do acolhimento da alegação de ofensa ao princípio da proporcionalidade na aplicação da pena; ausência de demonstração do dissídio jurisprudencial; o agravante deveria demonstrar-lhe o desacerto, o que não fez.

As razões do regimental não impugnaram a incidência dos Enunciados n. 7 e 279 das Súmulas do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, respectivamente. Também não se insurgiu o agravante contra o fundamento de que é inviável o recurso especial pela divergência porque,

[...] para sua confi guração, não basta a mera transcrição de ementas, sendo exigido o cotejo analítico dos precedentes invocados com a hipótese versada nos autos, além da similitude fática entre eles.

Nesse contexto, é invocável o Enunciado n. 182 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, in verbis:

É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especifi camente os fundamentos da decisão agravada.

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

Gize-se, em remate, que a pretensão de ver reduzida a multa, considerada a aplicação do princípio da proporcionalidade/razoabilidade, não merece acolhida. No recurso especial, não foi devolvida a esta Corte a apreciação da matéria, tendo o agravante somente se insurgido contra esse ponto no agravo de instrumento.

Sem a devolução da questão opportune tempore, em sede de recurso especial, sobre a desproporcional cominação da multa, outra não é a consequência: operou-se a preclusão, sem possibilidade de o agravante obter o efeito pretendido. Nas razões do regimental, cumpria-lhe apontar para a existência de argumentação específi ca nas razões do recurso especial, o que deixou de fazer.

Diante da ausência de argumentação relevante, apta a afastar a decisão impugnada, esta se mantém por seus próprios fundamentos.

Voto pelo desprovimento do agravo regimental.

É o voto.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 11.060 (38016-05.2009.6.00.0000) – CLASSE 6 – SÃO PAULO (São Paulo)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoAgravante: Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) - EstadualAdvogadas: Fátima Nieto Soares e outras

EMENTA

Agravo regimental em agravo de instrumento. Recurso especial incabível. Matéria administrativa. Fundamento não afastado. Desprovimento.

1. Para aferir o cabimento e admissibilidade dos recursos, aplica-se a lei que estiver em vigor por ocasião da prolação do ato decisório.

2. Agravo regimental desprovido.

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em negar provimento ao agravo regimental, nos termos das notas de julgamento.

Brasília, 2 de março de 2011.Ministro Hamilton Carvalhido, Relator

DJe 10.05.2011

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, agravo regimental interposto pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) - Estadual contra decisão que negou seguimento a agravo de instrumento, nestes termos (fl s. 862-863):

[...]

Tudo visto e examinado, decido.

Ao que se tem, o acórdão foi publicado no Diário da Justiça Eletrônico de São Paulo em 16.12.2008 (fl . 801), antes, portanto, da publicação da Lei n. 12.034, ocorrida em 30.9.2009, que jurisdicionalizou a prestação de contas de partido político.

Como bem lançado no pronunciamento ministerial (fl . 858),

[...]

Mesmo reconhecendo a possibilidade de aplicação imediata das novas regras aos processos pendentes, no caso concreto, a modifi cação não benefi cia o agravante, porquanto o recurso especial foi interposto em data anterior à entrada em vigor da Lei n. 12.034, publicada em 30.09.2009. A lei nova não pode retroagir para alcançar o ato consumado no sistema anterior, somente tendo efi cácia com relação aos atos processuais futuros.

[...].

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294

Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

Pelo exposto, com fundamento no artigo 36, § 6º, do Regimento Interno do Tribunal Superior Eleitoral, nego seguimento ao agravo de instrumento.

[...].

O agravante alega ofensa aos artigos 5º, LIV e LV, e 121, § 4º, da Constituição Federal, argumentando que a norma constitucional não faz distinção entre matéria administrativa e jurisdicional. No seu entender, numa interpretação analógica, pode-se concluir pela existência do duplo grau de jurisdição contra decisões de tribunais regionais eleitorais, considerada a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), subscrita pelo Brasil. E mais, afi rma que “[...] o processo em questão trata de prestação de contas de partido político, julgada originalmente por Tribunal Regional Eleitoral, sob a exegese da Resolução TSE n. 21.841, que é expressa ao prever a possibilidade de recurso [...]”, no artigo 31, § 2º (fl . 869).

Pede seja reconsiderada a decisão ou, caso contrário, submetido o regimental a julgamento pelo Colegiado.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) - Estadual teve a prestação de contas relativas ao exercício de 2003 desaprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo na sessão de 9.12.2008, o que se confi rmou no julgamento dos embargos de declaração em 3.2.2009.

Daí foi interposto recurso especial em 12.2.2009, que foi inadmitido por ser incabível, nos termos da orientação deste Tribunal Superior de “[...] não caber recurso especial contra decisão relativa à prestação de contas, por versar sobre matéria administrativa, ainda que os fatos tenham ocorrido antes da edição da Res.-TSE n. 21.841” (AgRgAg n. 8.231-SP, Rel. Ministro Ricardo Lewandowski, julgado em 14.4.2009, DJe 20.5.2009). A possibilidade de recurso prevista na mencionada Resolução foi afastada

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

pela orientação que à época se fi rmou. No julgamento dos embargos de declaração opostos a esse acórdão, esta Corte reafi rmou a não aplicação do artigo 31, § 2º, da Resolução.

Ainda no tema, veja-se o acórdão no AgRgAg n. 8.774-SP, Rel. Ministro Caputo Bastos, julgado em 16.08.2007, DJ 10.09.2007.

A Constituição Federal dispõe em seu artigo 5º, inciso LV:

Art. 5º [...]

§ 5º - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

[...].

Vale dizer, recursos previstos na lei processual.A compreensão deste Tribunal à época da prolação do acórdão

atacado por recurso especial era de que o sistema processual não previa aquela espécie recursal em processos de prestação de contas. Posteriormente, por inovação legislativa, passou a prever o cabimento do especial nesses casos.

De resto, as disposições constitucionais invocadas em nada comprometem a motivação do julgado.

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.É o voto.

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL ELEITORAL N. 3.351-47.2010.6.10.0000 – CLASSE 32 – MARANHÃO (São Luís)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoAgravante: Flauberth de Oliveira AmaralAdvogados: Th iberio Henrique Lima Cordeiro e outroAgravado: Ministério Público Eleitoral

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

EMENTA

Eleição 2010. Registro de candidatura. Agravo regimental. Recurso especial. Interposição antes do julgamento dos embargos de declaração opostos pela mesma parte. Extemporaneidade. Necessidade de ratifi cação. Desprovimento.

1. É extemporâneo o recurso especial se interposto antes do exaurimento da instância ordinária, sem posterior ratifi cação, quando ainda estão pendentes de julgamento os embargos de declaração opostos pela mesma parte.

2. O julgamento dos declaratórios, tenham eles ou não efeito modifi cativo, complementa e integra o acórdão recorrido, formando um todo indissociável, podendo falar-se em esgotamento de instância e decisão passível de recurso especial.

3. Torna-se inviável o provimento do agravo regimental quando não afastados os fundamentos da decisão impugnada, fazendo incidir o Enunciado n. 182 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça.

4. Agravo regimental a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em desprover o agravo regimental, nos termos das notas de julgamento.

Brasília, 29 de setembro de 2010.Ministro Hamilton Carvalhido, Relator

Publicado em Sessão

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, agravo regimental contra decisão que negou seguimento ao recurso especial

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

interposto por Flauberth de Oliveira Amaral porque foi considerado extemporâneo.

A insurgência, em síntese, está fundada em que o recurso especial foi interposto após os embargos, dentro do prazo razoável, atendendo a legislação processual (fl s. 101-104).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, a decisão agravada deve ser mantida por seus próprios fundamentos.

É esta a letra da decisão monocrática (fl s. 98-99):

Recurso especial interposto por Flauberth de Oliveira Amaral contra acórdão do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão assim ementado (fl . 53):

Eleições 2010. Impugnação ao registro de candidatura. Prestação de contas da campanha eleitoral de 2008. Contas desaprovadas. Quitação eleitoral. Ausência. Procedência da impugnação. Requerimento de registro de candidatura. Coligação “O Maranhão não pode parar F1 (PRB, PP, PT, PTB, PMDB, PSC, PR, DEM, PV). Cargo de Deputado Federal. Inobservância das formalidades legais (art. 11 da Lei n. 9.504/1997 e art. 26 da Resolução n. 23.221/2010-TSE). Indeferimento do registro.

1. Entender que a simples apresentação de prestação de contas seria sufi ciente para a obtenção da quitação eleitoral esvaziaria a efi cácia do processo de prestação de contas, e não é essa a fi nalidade da norma, devendo, portanto, haver aprovação das contas.

Opostos embargos declaratórios, foram rejeitados (fl s. 84-88).

A insurgência está fundada em que a Lei n. 12.034/2009 exigiria, para efeito de quitação eleitoral, somente a apresentação das contas de campanha, e não a sua aprovação. Afi rma que a interpretação

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

da Corte a qua “[...] fere um dos princípios basilares da Carta Republicana que é o da Legalidade previsto no seu art. 5º, XXXIX” (fl . 71).

Foram apresentadas contrarrazões (fl s. 78-82).

A Procuradoria-Geral Eleitoral pronuncia-se pelo desprovimento do recurso especial (fl s. 94-96).

Tudo visto e examinado, decido.

À luz da jurisprudência desta Corte, o presente recurso especial é extemporâneo, porquanto interposto antes do exaurimento da instância ordinária, sem posterior ratifi cação, quando ainda pendente de julgamento os embargos de declaração opostos pela mesma parte. Nesse sentido: AgR-REspe n. 19.952-SP, Rel. Ministro Eros Grau, julgado em 05.08.2008, DJ de 19.08.2008; e AgRgREspe n. 27.572-MA, Rel. Ministro Marcelo Ribeiro, julgado em 18.12.2007, DJ 25.03.2008.

[...].

Em 06.08.2010, a parte opôs embargos de declaração ao acórdão do Tribunal Regional que lhe indeferiu o registro de candidatura (fl . 60) e, antes de seu julgamento, interpôs recurso especial eleitoral, em 07.08.2010 (fl . 67).

A oposição dos embargos teve por fundamento omissão no acórdão daquele Tribunal e também objetivou “[...] prequestionamento, notadamente quanto a [sic] aplicabilidade da LC n. 12.034/2009, sobre a aplicabilidade apenas da apresentação das contas de campanha” (fl . 64).

A meu ver, o julgamento dos declaratórios, tenham eles ou não efeito modifi cativo, complementa e integra o acórdão recorrido, formando um todo indissociável, podendo falar-se em esgotamento de instância e decisão passível de recurso especial.

Daí resulta a necessidade de ratifi cação das razões do especial após a publicação do acórdão prolatado em sede de declaratórios, que, no caso, ocorreu em 12 de agosto (fl . 84).

Frise-se que:

[...] o acórdão, enquanto ato processual, tem na publicação o termo inicial da sua existência jurídica, que em nada se confunde

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

com aqueloutro com que se dá ciência às partes do conteúdo, intimação, que marca a lei como inicial do prazo para a impugnação recursal. (AgRg no RMS n. 12.458-GO, de minha relatoria, julgado em 09.09.2003, DJ 20.10.2003 - Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça)

É a partir da publicação que se abre para a parte a possibilidade de impugnação recursal da decisão proferida. Daí a extemporaneidade de o recurso se operar não apenas quando é interposto além do prazo legal, mas também quando o é aquém do termo inicial da existência jurídica do decisum a ser impugnado.

Vale, a propósito, transcrever os seguintes precedentes deste Tribunal:

Embargos de declaração. Agravo regimental. Agravo de instrumento. Recurso protocolado antes da publicação do acórdão atacado. Precocidade. Embargos não conhecidos.

1. O prazo para recorrer só começa com a publicação da decisão no órgão ofi cial, sendo prematuro o recurso que a antecede, salvo se se provar “o conhecimento anterior das razões de decidir” (AgRgRO n. 955, rel. Min. Cezar Peluso).

2. Embargos não conhecidos. (EDclAgRgAg n. 8.822-MG, Rel. Ministro Carlos Ayres Britto, julgado em 28.02.2008, DJ 09.04.2008)

Eleições 2008. Registro de candidatura. Processual Civil. Agravo regimental em recurso especial considerado extemporâneo. Interposição anterior ao julgamento dos embargos declaratórios. Não exaurimento da instância ordinária. Ausência de renovação. Precedente. Desprovimento.

I. “É prematura a interposição de recurso especial antes do julgamento dos embargos de declaração, momento em que ainda não esgotada a instância ordinária e que se encontra interrompido o lapso recursal” (REsp n. 776.265-SC, Corte Especial, rel. para o acórdão Min. Cesar Asfor Rocha, DJ de 06.08.2007).

II. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgR-REspe n. 31.544-GO, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, publicado na sessão de 16.10.2008 - nosso o grifo)

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

Do Superior Tribunal de Justiça, verbis:

Recurso especial. Recurso não ratifi cado após o julgamento dos embargos de declaração. Decisão monocrática. Não interposição de agravo regimental. Não conhecimento.

1. O julgamento dos embargos de declaração, tenha ele, ou não, efeito modifi cativo, complementa e integra o acórdão recorrido, formando um todo indissociável ao qual se denomina decisão de última instância. Esta, sim, passível de recurso especial e extraordinário, nos termos dos artigos 102, inciso III, e 105, inciso III, da Constituição Federal.

2. Não se permite a interposição do recurso especial na pendência de julgamento de embargos de declaração, nem tampouco, e com maior razão, em hipóteses tais como a dos autos, em que, opostos e julgados embargos de declaração após a interposição de recurso especial, inocorre a posterior e necessária ratifi cação.

3. A decisão monocrática, proferida em sede de embargos de declaração, é impugnável mediante agravo regimental para o próprio tribunal a quo, cuja falta faz incabível o recurso especial, próprio à impugnação das decisões de única ou última instância (artigo 105, inciso III, da Constituição da República).

4. Recurso especial não conhecido. (REsp n. 499.845-RJ, de minha relatoria, julgado em 18.08.2005, DJ 19.12.2005)

Agravo regimental em recurso ordinário. Interposição antes da publicação do acórdão. Intempestividade. Agravo improvido.

1. “1. O acórdão, enquanto ato processual, tem na publicação o termo inicial de sua existência jurídica, que em nada se confunde com aqueloutro com que se dá ciência às partes do conteúdo, intimação, que marca a lei como inicial do prazo para a impugnação recursal.

2. A extemporaneidade do recurso ocorre não apenas quando é interposto além do prazo legal, mas também quando vem à luz aquém do termo inicial da existência jurídica do decisório alvejado. Precedente do STF.

3. Constatado que os embargos declaratórios foram opostos sem que o acórdão da Corte estadual sequer tivesse sido publicado, não se constituindo, portanto, o dies a quo do termo legal para a interposição

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

do recurso, deve-se tê-lo como extemporâneo”. (EDclHC n. 9.275-RJ, da minha Relatoria, in DJ 19.12.2002).

2. Agravo regimental improvido. (AgRg no RMS n. 12.458-GO, de minha relatoria, julgado em 09.09.2003, DJ de 20.10.2003 - nosso o grifo)

Sem a necessária ratifi cação, é inviável o conhecimento do recurso, que se mostrou extemporâneo.

Assim, porque não infi rmada a fundamentação, é aplicável o Enunciado n. 182 do Superior Tribunal de Justiça, verbis:

É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especifi camente os fundamentos da decisão agravada.

Nesse sentido, entre outros, confi ram-se os seguintes precedentes desta Corte:

Agravo regimental. Recurso especial eleitoral. Registro de candidatura. Eleições 2008. Prestação de contas de campanha. Apresentação próxima ao pedido de registro. Decisão agravada não atacada. Súmula n. 283-STF. Não-provimento.

1. É condição necessária à análise do agravo regimental que o agravante, ao manifestar seu inconformismo, tenha atacado todos os fundamentos da decisão que pretende combater. Incidência, mutatis mutandis, na Súmula n. 283-STF. Precedentes: AgRg no REspe n. 26.754-MG, Rel. e. Min. Cezar Peluso, DJ de 31.10.2006; AgRg no MS n. 3.829, Rel. e. Min. Marcelo Ribeiro, DJ de 06.08.2008.

2. In casu, o agravante não infi rmou o fundamento da decisão agravada segundo o qual, ainda que se admitisse, no caso concreto, ter o Ministério Público Eleitoral utilizado de seu parecer como sucedâneo de impugnação, não se poderia olvidar que o Juiz Eleitoral pode conhecer de ofício das questões afetas às condições de elegibilidade.

3. Também não impugnou o fundamento segundo o qual as condições de elegibilidade são aferidas no momento da formalização do pedido de registro, tendo a jurisprudência desta Corte evoluído para assentar que a prestação de contas em período muito próximo

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ao requerimento do registro – sendo esta a hipótese dos autos – frustra o efetivo controle da Justiça Eleitoral, razão pela qual não pode ser considerada para efeito da concessão da quitação eleitoral.

4. Igualmente, não infi rmou o fundamento da decisão agravada de que, diante da apresentação da prestação de contas próxima ao pedido de registro, ainda que previamente ao requerimento de candidatura, somente sua efetiva análise anterior ao pedido de registro poderia ensejar a obtenção da quitação eleitoral.

5. Agravo regimental não provido.

(AgR-REspe n. 31.894-RS, Rel. Ministra Eliana Calmon, publicado na sessão de 21.10.2008 - nossos os grifos)

Agravo regimental. Recurso especial. Rejeição de contas. Prefeito. Inelegibilidade. LC n. 64/1990, art. 1º, I, g. Registro de candidato. Indeferimento.

1. Não tendo sido atacados todos os fundamentos da decisão agravada, devem subsistir as suas conclusões (Súmula n. 182-STJ).

2. Tendo em vista que o recorrente não prestou contas dos recursos repassados ao município, por meio de convênio, tendo sido condenado ao pagamento do débito apurado e de multa, conforme apontado no acórdão e na sentença (fl s. 240 e 148), resta caracterizada a inelegibilidade prevista no art. 1º, I, g, da LC n. 64/1990. Precedentes.

3. Agravo regimental desprovido.

(AgR-REspe n. 32.096-MG, Rel. Ministro Marcelo Ribeiro, publicado na sessão de 16.10.2008 - nossos os grifos)

Diante da ausência de argumentação apta a afastar a decisão impugnada, esta se mantém por seus próprios fundamentos, fazendo incidir o Enunciado n. 182 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça.

Pelo exposto, conheço do agravo regimental, mas lhe nego provimento.

É o voto.

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AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL ELEITORAL N. 28.744 (46874-59.2008.6.00.0000) – CLASSE 32 – RIO GRANDE DO SUL (Canoas)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoAgravante: Jairo Jorge da SilvaAdvogados: Gabriela Gonçalves Rollemberg e outrosAgravante: Partido dos Trabalhadores (PT) - MunicipalAdvogados: Rubens Pazin e outroAgravado: Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB)

- MunicipalAdvogados: Caetano Cuervo Lo Pumo e outros

EMENTA

Agravo regimental no recurso especial eleitoral. Recurso do Partido dos Trabalhadores subscrito por advogado sem procuração nos autos. Súmula n. 115-STJ. Recurso do segundo recorrente conhecido. Violação do artigo 275 do Código Eleitoral. Omissão e contradição. Inexistência. Propaganda eleitoral antecipada. Outdoors. Súmula n. 7-STJ.

1. “Na instância especial é inexistente recurso interposto por advogado sem procuração nos autos.” (Súmula do STJ, Enunciado n. 115).

2. Decididas clara e fundamentadamente as questões suscitadas nos limites em que proposta a lide, não há falar em violação do artigo 275 do Código Eleitoral, à falta de omissão, contradição ou obscuridade a serem supridas no acórdão.

3. O juiz não está obrigado a responder a questionário da parte, nem tampouco a todas as suas alegações, quando estabelece motivo sufi ciente para fundamentar integralmente a decisão.

4. Reconhecida no acórdão impugnado, com amparo nos elementos de convicção dos autos, a caracterização de propaganda eleitoral extemporânea, a alegação em sentido contrário, a motivar insurgência especial, requisita exame do acervo fáctico-probatório, vedado na instância excepcional.

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5. Agravo regimental do Partido dos Trabalhadores (PT) - Municipal não conhecido.

6. Agravo regimental de Jairo Jorge da Silva improvido.

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em não conhecer do agravo regimental quanto ao Partido dos Trabalhadores (PT) e o desprover quanto a Jairo Jorge da Silva, nos termos das notas taquigráfi cas.

Brasília, 1º de junho de 2010.Ministro Ricardo Lewandowski, PresidenteMinistro Hamilton Carvalhido, Relator

DJe 1º.07.2010

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, agravo regimental contra decisão proferida pelo ilustre Ministro Fernando Gonçalves que negou seguimento ao recurso especial eleitoral interposto por Jairo Jorge da Silva e pelo Partido dos Trabalhadores (PT) - Municipal, ao entendimento de que não houve violação do artigo 275 do Código Eleitoral, pela ausência de prequestionamento e pela incidência do Enunciado n. 7 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça.

Alegam os agravantes que:

[...]

Com a devida vênia, não merece prevalecer o entendimento da r. decisão agravada.

É bem verdade que a intenção dos recorrentes na oposição dos embargos não se limitou ao prequestionamento de dispositivos legais e constitucionais.

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No entanto, isso não se deu com a fi nalidade de “promover verdadeira rediscussão da matéria”.

Além do prequestionamento, os ora agravantes buscam o correto delineamento do quadro fático-probatório, de modo a possibilitar a correta compreensão do contexto da controvérsia e realização do seu re-enquadramento jurídico pelo c. Tribunal Superior Eleitoral.

[...]

No caso dos autos, os embargos de declaração opostos pelos ora recorrentes tiveram a mesma fi nalidade, conforme se depreende da síntese das omissões suscitadas:

A) o fato de que “os painéis objeto da presente representação publicam a fotografi a do representado vinculando-o ao programa da TV Ulbra, Domínio Público, no qual é apresentador” (fl . );

B) o fato de que os outdoors se constituíam, na verdade, em propaganda institucional da TV Ulbra, “tanto é que mais duas apresentadoras tiveram, por meio de outdoors, seus nomes e programas divulgados, exatamente nos mesmos moldes daqueles de Jairo Jorge”;

C) quanto ao conteúdo do impresso ao fundamento que demonstraria a sua fi nalidade eleitoral, uma vez que apenas “mostra suas realizações como gestor, atividades, idéias, projetos e conquistas na pró-reitoria da Ulbra e em nenhum momento faz referência à cargo eletivo e menção a projetos políticos de um futuro prefeito” (fl . );

D) violação ao art. 45, VI, da Lei n. 9.504/1997 e aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade (art. 5º, LIV, CF/1988), devido à exigência de conduta mais restritiva do que a contida na legislação eleitoral (fl . );

E) violação aos princípios da legalidade (art. 5º, II, CF), da reserva legal (CF/1988, arts. 22, inciso I, e 48, caput), da segurança jurídica e da anterioridade da legislação eleitoral (CF, art. 16) pois o acórdão aplicou restrição inteiramente nova, não contemplada na legislação de regência [...]

[...]

É inequívoco que quanto aos dispositivos que se pretendia o pronunciamento específi co com a fi nalidade de prequestionamento

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por meio dos embargos de declaração, o acórdão recorrido permaneceu omisso a respeito deles.

[...]

Da mesma forma, no caso específi co dos autos, foram opostos embargos de declaração pelos recorrentes com a fi nalidade de obter manifestação a respeito de provas documentais essenciais ao deslinde da controvérsia.

[...]

Com a devida vênia, não é necessário que o dispositivo tido por violado conste expressamente do acórdão recorrido, se a matéria controvertida foi debatida e apreciada no Tribunal recorrido à luz da legislação constitucional.

[...]

É exatamente o caso específi co dos autos, pois há manifestação implícita sobre as violações do art. 5º, IV e art. 220 da CF.

[...]

Dessa forma, como demonstrado, não merece prevalecer o entendimento da r. decisão agravada a respeito da ausência de prequestionamento.

Isso porque, a prevalecer tal entendimento, é inequívoco que deverá necessariamente ser acolhida a preliminar de nulidade do acórdão dos embargos de declaração, vez que os recorrentes tiveram o cuidado de interpor o recurso cabível para proceder ao devido prequestionamento.

[...]

No entanto, caso se entenda que o acórdão recorrido se manifestou de forma sufi ciente para o deslinde da controvérsia, é importante ressaltar que esse c. TSE já decidiu “não constituir questão de fato, mas de sua qualifi cação jurídica – portanto, suscetível de deslinde em recurso especial –, saber, a partir do exame do seu texto, se a mensagem questionada constitui ou não propaganda eleitoral”.

[...]

No caso específi co dos autos, sem se ingressar no reexame da matéria fático-probatória, mas apenas analisando os fatos tais como narrados pelo acórdão recorrido, é possível chegar à conclusão diversa em relação à confi guração da suposta prática de propaganda extemporânea.

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[...]

Tanto isso é verdade que para se proceder à análise da violação ao disposto no artigo 45, inciso VI, da Lei n. 9.504/1997, e aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, por exemplo, os recorrentes não partem de nenhuma premissa fática que não esteja posta no acórdão recorrido.

[...]

Por fi m, consta da r. decisão agravada que “nesse contexto, fi ca prejudicada a análise da ocorrência de dissídio jurisprudencial”.

Com a devida vênia, o recurso especial foi interposto com base nas duas alíneas do inciso I, do art. 276 do Código Eleitoral, tanto pela violação a legislação de regência (alínea a), quanto pela ocorrência de divergência na interpretação da lei entre o tribunal de origem e esse c. Tribunal (alínea b).

Quanto ao argumento referente à violação da legislação de regência, decidiu a r. decisão agravada pela ausência de prequestionamento ou pela impossibilidade de sua análise sem o revolvimento de matéria de fato, o que já foi afastado nas razões do presente recurso.

[...]

No caso dos autos, não há como se concluir pela confi guração de propaganda extemporânea, nem mesmo de forma dissimulada.

Com efeito, frisa-se novamente não foi divulgado no outdoor, muito menos no jornal o cargo político almejado.

Da mesma forma, não houve pedido de voto, bem como também não expôs propostas de ações políticas a serem desenvolvidas pelo suposto pré-candidato.

[...]

Também não foi feita comparação entre a atuação de governos sob a direção de agremiações adversárias, com a fi nalidade de ressaltar as qualidades do primeiro agravante e de denegrir a imagem do opositor.

Portanto, a partir da análise do contexto fático-probatório narrado pelo acórdão recorrido é perfeitamente possível verifi car

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a ausência de confi guração de propaganda eleitoral extemporânea, razão pela qual se impõe a análise do dissídio jurisprudencial.

[...] (fl s. 297-319).

Requerem, por fi m, que no caso de manutenção da decisão ora impugnada, seja assegurado seu direito à sustentação oral.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, a decisão atacada não merece reforma, motivo pelo qual a mantenho pelos seus próprios fundamentos.

De início, é de se indeferir o pedido de sustentação oral, uma vez que não é cabível em sede de agravo regimental.

Nesse sentido, e por todos, o seguinte julgado:

Embargos de declaração. Agravo regimental. Agravo de instrumento. Ausência. Cerceamento de defesa. Não cabimento. Sustentação oral. Agravo regimental. Falta. Oportunidade. Apresentação. Memorial. Não comprovação. Prejuízo. Divulgação. Enquete. Ausência. Veiculação. Advertência. Inexistência. Vícios. Embargos rejeitados.

I - É incabível a realização de sustentação oral em agravo regimental.

II - O oferecimento de memoriais não é ato indispensável à defesa, não devendo ser anulado julgamento por não ter sido dada oportunidade à parte quando não demonstrada a existência de prejuízo.

III - A veiculação de enquete sem o devido esclarecimento de que não se trata de pesquisa eleitoral autoriza a aplicação da multa prevista no art. 33, § 3º, da Lei n. 9.504/1997.

IV - A rediscussão de matéria já apreciada não está incluída nas hipóteses de cabimento dos embargos declaratórios.

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V - Embargos rejeitados.

(ED-AgR-AI n. 11.019-PR, Rel. Ministro Ricardo Lewandowski, julgado em 16.3.2010, DJe 15.4.2010).

Em relação ao Partido dos Trabalhadores (PT), verifi ca-se que a irresignação esbarra em óbice formal intransponível, porquanto o recurso foi subscrito por advogados sem procuração nos autos, o que atrai o óbice contido no Enunciado n. 115 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, verbis:

Na instância especial é inexistente recurso interposto por advogado sem procuração nos autos.

Posto isso, conheço do agravo regimental interposto por Jairo Jorge da Silva, passando à análise das razões do inconformismo.

De início, dispõe o artigo 275 do Código Eleitoral:

Art. 275. São admissíveis embargos de declaração:

I - quando há no acórdão obscuridade, dúvida ou contradição;

II - quando for omitido ponto sobre que devia pronunciar-se o Tribunal.

E é fi rme o constructo jurisprudencial de que a parte deve vincular a interposição do recurso especial eleitoral à violação do artigo 275 do Código Eleitoral, quando, mesmo após a oposição de embargos declaratórios, o Tribunal a quo persiste em não decidir questões que lhe foram submetidas a julgamento ou, ainda, quando desconhece obscuridade ou contradição arguidas como existentes no decisum.

E, no caso concreto, é esta a letra do acórdão de origem (fl s. 152-157):

[...]

Observo que a r. sentença recorrida parte da premissa de que não restou demonstrada a condição de Jairo Jorge como pré-candidato do Partido dos Trabalhadores à Prefeitura de Canoas, concluindo pela descaracterização do material, artigo e jornal de outdoors, como propaganda eleitoral.

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Todavia, ao contrário do raciocínio desenvolvido [...] entendo que o conjunto probatório dos autos não deixa dúvidas acerca da pré-candidatura de Jairo Jorge para as próximas eleições. Veja-se, por exemplo, a reportagem da folha 17, intitulada “Jairo Jorge começa a angariar apoio”, publicada no jornal Diário de Canoas em 19 de setembro de 2007, a qual afi rma que Jairo Jorge: “irá apresentar seu nome para concorrer à Prefeitura canoense pelo Partido dos Trabalhadores” [...].

[...]

Não existe nos autos qualquer dúvida acerca da pré-candidatura de Jairo Jorge. E não haveria de existir, diante da afi rmativa: “Jairo Jorge já está com a candidatura consolidada” [...]

[...] o próprio recorrido reconhece que: “submeteu seu nome às instâncias partidárias, mas ainda não pode se considerar candidato para estar fazendo propaganda extra partido” [...].

Do panorama formado nos autos, é incontroverso o fato de que o requerido veiculou, na cidade de Canoas, seu nome e imagem não apenas nos 10 outdoors referidos na inicial, como também em outros 8 locais próximos àquele município, conforme afi rmado na defesa (art. 61), e retratado às fl s. 72-75, totalizando, assim, 18 painéis publicitários. A publicação do jornal “Canoas para Todos”, de igual forma, não foi contestada. Questiona-se, em suma, se o material teve cunho eleitoral.

[...]

Este é o ponto que deve ser observado e sobre o qual pauto meu entendimento de que tanto os painéis impugnados como o jornal referido constituem, sim, forma de propaganda do pré-candidato Jairo Jorge, confi gurando forma de concorrência desleal na disputa municipal que se aproxima e, portanto, propaganda eleitoral antecipada.

Não é preciso fazer grande esforço persuasivo para entender, nas fotografi as das fl s. 11-15, forte apelo visual e comunicação instantânea a quem quer que veja, capaz de infl uir diretamente na opinião do eleitorado, seja pela fi xação do nome do recorrido, seja pela visualização de sua imagem, seja pelo conhecimento de sua pública e notória pré-candidatura.

Não desconheço as decisões que entendem a confi guração da propaganda eleitoral antecipada pela constatação da presença de critérios

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objetivos, como a intenção de revelar o cargo almejado, a ação política pretendida e os méritos do benefi ciário.

Porém, aqui, a questão deve ser vista de forma mais perspicaz, porque, como dito, trata-se de propaganda extemporânea que, no mais das vezes, aparece de forma mascarada, ultrapassando o limite existente entre a promoção pessoal e a divulgação eleitoreira.

[...]

Nessa perspectiva, inegável o proveito eleitoral que o recorrido obtém com a divulgação de seu nome e imagem nos diversos outdoors retratados no feito. Assim, identifi co que os painéis publicitários reproduzidos às fl s. 11-15 encerram verdadeira propaganda eleitoral, devido ao enorme impacto visual que causam ao público que atingem, que, no caso concreto, é justamente o eleitorado de Jair Jorge. [...]

De igual modo, entendo que o jornal impugnado na representação foi publicado exclusivamente para divulgar a imagem do recorrido, sua ação política, suas qualidades como gestor e seus projetos para a cidade. [...]

Anoto, a propósito, que o jornal contém inclusive alguns dos critérios objetivos referidos pelo recorrido nas contra-razões, a saber, a ação política pretendida e os méritos do benefi ciário. [...]

O objetivo está claro. Veicular suas realizações com o intuito de fazer marketing eleitoral, tentando, assim, conquistar simpatia e votos futuros antes dos demais candidatos aos cargos eletivos, revela, com toda a segurança, que o recorrido é benefi ciário de propaganda irregular, subsumindo-se assim à hipótese do § 3º do art. 36 da Lei n. 9.504, de 1997 (art. 3º, § 4º, da Resolução n. 22.718/2008, do c. TSE).

[...].

In casu, está o agravante em que o acórdão foi omisso e contraditório quanto aos pontos nucleares suscitados nos embargos de declaração, no tocante à análise fáctica feita pela sentença de primeiro grau.

E, por sua vez, é este o teor do acórdão dos embargos declaratórios (fl . 175):

[...]

No caso concreto, o embargante pretende, a todo efeito, que seja realizado um cotejo analítico entre a sentença de primeiro grau e o

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acórdão deste Tribunal, sob a alegação de que o julgado não teria se pronunciado sobre questões nucleares decididas na sentença.

Sem razão.

Conforme se verifi ca, a decisão monocrática julgou improcedente o pedido da inicial, ao entendimento de que não restou demonstrada a condição de Jairo Jorge como pré-candidato do Partido dos Trabalhadores à Prefeitura de Canoas e que o material impugnado, artigo de jornal e outdoors, não se constituiria em propaganda eleitoral antecipada.

No entanto, este Tribunal, no julgamento do recurso, reformou a sentença de improcedência, reconhecendo a condição de pré-candidato do embargante e caracterizando os painéis publicitários e o jornal impugnado como propaganda eleitoral extemporânea, com motivação clara e extensa, que indicou sufi cientemente as razões de decidir. [...]

[...]

Observo, assim, que o embargante pretende, em verdade, modifi car a posição adotada por esta Corte, requerendo a manifestação sobre os argumentos esposados na sentença de primeiro grau, o que, todavia, não lhe é lícito fazer na via estreita do instituto dos embargos declaratórios [...].

Pela simples leitura do acórdão impugnado, integrado pelo dos declaratórios, tem-se que todos os pontos necessários ao deslinde da controvérsia foram enfrentados de maneira fundamentada, não havendo falar nos vícios constantes do artigo 275 do Código Eleitoral.

Em verdade, quanto à alegada omissão de fatos, tem-se que, sustentando-a, reitera o agravante a mesma argumentação já expendida, qual seja, aludir à falta de fundamentação do julgado a quo, sem, contudo, comprovar qualquer omissão ou contradição a invalidar o decisum.

Ademais, em relação à contradição, recolhe-se no magistério de José Carlos Barbosa Moreira o seguinte:

[...] Não há que se cogitar de contradição entre o acórdão e outra decisão porventura anteriormente proferida no mesmo processo, pelo tribunal ou pelo órgão de grau inferior. Se a questão estava

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preclusa, e já não se podia voltar atrás do que fora decidido, houve sem dúvida error in procedendo, mas o remédio de que agora se trata é incabível. Também o é na hipótese de contradição entre o acórdão e o que conste de alguma peça dos autos (caso de error in judicando). (in Comentários ao Código de Processo Civil, Volume V, Forense, 7ª edição, págs. 541-543).

Os embargos de declaração se destinam a suprir omissões ou eliminar contradições, não sendo caso de se admitir para atender o inconformismo da parte na sua pretensão infringente, muito menos ainda quando tal pretensão difere de eventual acolhimento de Tribunal Superior.

Assim, pelo fato de a decisão ser contrária aos interesses do agravante, reformada que foi a sentença pelo Tribunal Regional Eleitoral, extrai a parte recorrente a consequência de que tal decisão superior teve com efeito a violação dos dispositivos dos artigos 5º, incisos IV e XIII, e 220 da Constituição Federal.

Ocorrendo tal consequência, apenas insulada na subjetividade do recorrente/agravante, em nada se identifi ca com o prequestionamento implícito ou explícito, considerado pela jurisprudência e doutrina.

Ademais, esta Corte Superior já possui jurisprudência no mesmo sentido do acórdão impugnado, tanto no sentido de que a confi guração de propaganda eleitoral antecipada independe da distância temporal entre o ato impugnado e a data das eleições ou das convenções partidárias de escolha dos candidatos, quanto no sentido de que na propaganda extemporânea subliminar devem ser levadas em consideração outras circunstâncias a caracterizar a ilicitude, tais como fotografi as, imagens e alcance da divulgação.

A propósito, o recente precedente:

Representação. Obra pública. Inauguração. Pronunciamento de governante. Propaganda eleitoral extemporânea. Confi guração. Decisão monocrática. Recurso. Desprovimento.

1. Considerados os dois principais vetores a nortearem a proibição do cometimento do ilícito, quais sejam, o funcionamento efi ciente e impessoal da máquina administrativa e a igualdade entre os competidores no processo eleitoral, a confi guração de propaganda

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eleitoral antecipada independe da distância temporal entre o ato impugnado e a data das eleições ou das convenções partidárias de escolha dos candidatos.

2. Nos termos da jurisprudência da Corte, deve ser entendida como propaganda eleitoral antecipada qualquer manifestação que, previamente aos três meses anteriores ao pleito e fora das exceções previstas no artigo 36-A da Lei n. 9.504/1997, leve ao conhecimento geral, ainda que de forma dissimulada, a candidatura, mesmo que somente postulada, a ação política que se pretende desenvolver ou as razões que levem a inferir que o benefi ciário seja o mais apto para a função pública.

3. Conforme jurisprudência da Corte, “a fi m de verifi car a existência de propaganda subliminar, com propósito eleitoral, não deve ser observado tão somente o texto dessa propaganda, mas também outras circunstâncias, tais como imagens, fotografi as, meios, número e alcance da divulgação” (Recurso Especial Eleitoral n. 19.905-GO, DJ de 22.8.2003, rel. Min. Fernando Neves).

4. O caráter ofi cial de evento exige de qualquer agente público ou político redobrada cautela para que não descambe em propaganda eleitoral antecipada atos legitimamente autorizados como a inauguração e entrega de obras públicas.

5. Confi gura propaganda eleitoral antecipada reação à manifestação popular, ainda que surgida espontaneamente entre os presentes a evento, que leve ao conhecimento geral, ainda que de forma dissimulada, eventual candidatura, mesmo que somente postulada.

6. Recurso desprovido.

(R-Rp n. 1.406-DF, Relator Ministro Joelson Dias, in DJe 10.5.2010).

A verdade é que de fato buscou o recorrente a revisão do exame da prova, pois que as fotografi as existentes nos outdoors e painéis foram tidas como sufi cientes para confi gurar a violação da lei, principalmente porque, na espécie, os outdoors não podem se divorciar das reportagens que com eles se articulam.

Assim, não se cuida senão de pretensão de inversão das conclusões do acórdão, a demandar, como é óbvio, o reexame de todo o conjunto da

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

prova, aliás, olvidando-se intencionalmente o recorrente de devidamente refutar a completa fundamentação fáctica do acórdão.

Gize-se, em remate, que o mesmo óbice sumular que inviabiliza o recurso pela alínea a se aplica à divergência jurisprudencial.

Nesse sentido:

Embargos de declaração recebidos como agravo regimental em agravo de instrumento. Locação e Processo Civil. Indicação do dispositivo legal violado. Ausência. Súmula n. 284-STF. Desconsideração da personalidade jurídica. Reexame de matéria fática. Súmula n. 7-STJ. Divergência jurisprudencial. Prejudicada.

1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça reconhece a possibilidade de conversão dos embargos de declaração em agravo regimental, de acordo com o princípio da fungibilidade recursal. Precedentes.

2. É imprescindível para o conhecimento do recurso especial pela alínea a do inciso III do art. 105 da CF, que o recurso especial indique o dispositivo legal violado, bem como a forma pela qual se deu tal contrariedade, sob pena de incidência da Súmula n. 284-STF.

3. Reverter as conclusões do Tribunal a quo acerca da desconsideração da personalidade jurídica, ocasionaria, necessariamente, o revolvimento do conjunto fático-probatório dos autos, procedimento que é vedado pelo Enunciado n. 7 da Súmula desta Corte.

4. Está prejudicada a análise da alegada divergência jurisprudencial, pois o suposto dissídio aborda a mesma tese que amparou o recurso pela alínea a do permissivo legal, e cujo julgamento esbarrou no óbice do Enunciado n. 7 da Súmula deste Superior Tribunal de Justiça.

5. Agravo regimental improvido.(EDcl no Ag n. 984.901-SP, Relatora Ministra Maria Th ereza

de Assis Moura, julgado em 16.3.2010, DJe 05.4.2010 - nossos os grifos).

Pelo exposto, não conheço do agravo regimental do Partido dos Trabalhadores (PT) - Municipal e nego provimento ao agravo regimental de Jairo Jorge da Silva.

É o voto.

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Processual

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AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL ELEITORAL N. 36.136 (43303-46.2009.6.00.0000) – CLASSE 32 – SÃO PAULO (São Paulo)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoAgravante: Ministério Público EleitoralAgravado: Bar e Restaurante Mistérium Ltda. - EPPAdvogado: Antônio Carlos Amaral de Amorim

EMENTA

Eleições 2006. Agravo regimental. Limite de doação. Representação. Artigos 23 e 81 da Lei n. 9.504/1997. Prazo de 180 dias para ajuizamento (art. 32 da Lei n. 9.504/1997).

- Agravo regimental desprovido.

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em desprover o agravo regimental, nos termos das notas de julgamento.

Brasília, 5 de agosto de 2010.Ministro Hamilton Carvalhido, Relator

DJe 24.08.2010

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, agravo regimental contra decisão da minha lavra pela qual neguei seguimento a recurso especial interposto contra acórdão do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo assim ementado (fl . 38):

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

Representação eleitoral. Doação. Campanha de 2006. Alegação de excesso ao limite legal (arts. 23, § 1º, I e 81, § 1º, da Lei n. 9.504/1997 - Lei das Eleições). Limitação legal que objetiva resguardar a lisura dos pleitos, coibindo o abuso do poder econômico. Por decorrência, prazo para propositura restrito à data da diplomação dos eleitos. Inutilidade da imposição das sanções depois de fi ndo o processo eleitoral. Falta de interesse processual. Caráter substancial do julgamento. Reconhecimento da improcedência da representação. Extinção do processo com resolução do mérito. Artigo 269, I, do Código de Processo Civil.

A decisão combatida está fundada em que é de 180 dias, com base no artigo 32 da Lei n. 9.504/1997, o prazo para o ajuizamento da representação por descumprimento do limite de doação de campanha eleitoral, na linha da orientação desta Corte, no acórdão no REspe n. 36.552-SP, Rel. designado Ministro Marcelo Ribeiro, julgado em 06.05.2010, DJe 28.05.2010. O referido aresto foi objeto de embargos de declaração, julgados na sessão de 24.06.2010, quando este Tribunal confi rmou esse entendimento.

O agravante sustenta o desacerto da decisão, pois:a) o artigo 32 da Lei n. 9.504/1997 cinge-se ao período durante o

qual devem os partidos políticos e candidatos conservar, sob sua guarda, a documentação relativa à prestação de contas, não se dirigindo aos doadores de campanha;

b) os artigos 23 e 81 da Lei n. 9.504/1997 não estabelecem marco temporal para a propositura de representação fundada no seu descumprimento, tampouco o artigo 96, que disciplina o trâmite da ação;

c) a fi xação de prazo para o ajuizamento da representação relativa a doações de campanha, mediante construção jurisprudencial deste Tribunal, afronta os princípios da legalidade, do devido processo legal e da separação dos poderes;

d) o Ministério Público estaria impedido de exercer suas funções institucionais, o que viola os artigos 127 e 129 da Constituição Federal;

e) no caso dos autos, os dados necessários para o ajuizamento da representação foram encaminhados pela própria Justiça Eleitoral somente em 2009;

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Processual

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f ) “[...] e até para garantia do valor segurança jurídica, o prazo adotado deveria ser mais razoável”. O prazo de 180 dias se encerra antes do fi nal do prazo para a entrega da declaração das informações econômico-fi scais da pessoa jurídica. Assim, a “[...] Corte Superior Eleitoral poderia permitir a propositura da ação enquanto perdurasse o mandato [...]” (fl . 90).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo julgou improcedente representação fundada no artigo 81 da Lei n. 9.504/1997.

Além de divergência jurisprudencial, o recurso especial interposto pela Procuradoria Regional Eleitoral alega afronta aos artigos 81 e 96 da Lei n. 9.504/1997 e 5º, XXXV, da Constituição Federal.

No caso, cinge-se a discussão acerca do lapso temporal para a propositura da representação por descumprimento do limite legal para doação para campanha eleitoral – 180 dias após a diplomação dos eleitos.

O tema tomou corpo no julgamento do REspe n 36.552-SP, para cujo acórdão foi designado relator o Ministro Marcelo Ribeiro.

Com o julgamento dos embargos de declaração opostos, a discussão retornou ao Plenário, que assim assentou:

[...]

Com efeito, esta Corte debateu o tema em análise, entendendo, com fundamento no art. 32 da Lei n. 9.504/19971, que é de 180 dias a contar da diplomação o prazo para a propositura, contra os

1 “Lei n. 9.504/1997.

Art. 32. Até cento e oitenta dias após a diplomação, os candidatos ou partidos conservarão a documentação concernente a suas contas.

Parágrafo único. Estando pendente de julgamento qualquer processo judicial relativo às contas, a documentação a elas concernente deverá ser conservada até a decisão fi nal.”

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

doadores, das representações fundadas em doações de campanha acima dos limites legais.

Na ocasião, ponderou-se ser esta a melhor interpretação da lei, considerando o estatuído pelo referido dispositivo, segundo o qual, até 180 dias após a diplomação, devem os candidatos ou partidos conservar a documentação concernente a suas contas.

Consignou-se que, para a obtenção das informações relativas ao montante doado, não é indispensável a declaração entregue pelo doador à Fazenda Pública, sendo sufi ciente a verifi cação dos valores informados na prestação de contas do partido ou candidato, entregues à Justiça Eleitoral antes mesmo da diplomação dos eleitos, em cotejo com o rendimento da pessoa física ou o faturamento da empresa do ano anterior à eleição – nos moldes em que determinam os arts. 23, § 1º, I, e 81, § 1º, da Lei n. 9.504/19972 – cujos valores já constarão do banco de dados da Receita Federal.

Desse modo, concluiu-se que a pretendida dilação do prazo de ajuizamento das referidas representações para todo o curso do mandato afi gura-se desnecessária, porquanto é viável a obtenção de todos os dados necessários para o ingresso de tais ações dentro do prazo de 180 dias a contar da diplomação, com arrimo no que prevê o já mencionado art. 32 da Lei n. 9.504/1997 – tempo adequado ao manejo das ações em exame, sem que se adote prazo muito extenso, como o de quatro e oito anos, ou muito exíguo, como o de 15 dias.

Por fi m, registro que os dispositivos indicados como violados, quais sejam, os arts. 2º e 5º, XXXV, da CF, não foram debatidos

2 “Lei n. 9.504/1997.

Art. 23. Pessoas físicas poderão fazer doações em dinheiro ou estimáveis em dinheiro para campanhas eleitorais, obedecido o disposto nesta Lei.

§ 1º As doações e contribuições de que trata este artigo fi cam limitadas:

I - no caso de pessoa física, a dez por cento dos rendimentos brutos auferidos no ano anterior à eleição;

[...]

Art. 81. As doações e contribuições de pessoas jurídicas para campanhas eleitorais poderão ser feitas a partir do registro dos comitês fi nanceiros dos partidos ou coligações.

§ 1º As doações e contribuições de que trata este artigo fi cam limitadas a dois por cento do faturamento bruto do ano anterior à eleição.”

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pela instância regional, carecendo do indispensável requisito do prequestionamento.

Da leitura do voto condutor dos acórdãos mencionados percebe-se que este Tribunal pretendeu dar interpretação sistemática às disposições da Lei Eleitoral para que seja alcançada a fi nalidade da norma. Nesse contexto, não há falar em ofensa aos princípios constitucionais alegados como afrontados nas razões do agravo regimental.

Destaque-se que não merece prosperar o argumento de que a data da entrega das informações econômico-fi scais da pessoa jurídica à Receita Federal inviabiliza a propositura da representação no prazo de 180 dias.

Esta Corte já afi rmou ser sufi ciente, para a verifi cação dos valores consignados na prestação de contas do partido ou candidato entregues à Justiça Eleitoral, o cruzamento entre os valores das doações recebidas antes mesmo da diplomação dos eleitos e o rendimento da pessoa física ou o faturamento da empresa no ano anterior à eleição (artigos 23, § 1º, I, e 81, § 1º, da Lei n. 9.504/1997) – informação que constará do banco de dados da Receita Federal.

Com essa compreensão fi cou afastada a possibilidade de propositura da referida representação durante o curso do mandato. Vale destacar do voto proferido pelo Ministro Marcelo Ribeiro no julgamento do REspe n. 36.552-SP, DJe 28.05.2010, verbis:

[...] a dilação do prazo de ajuizamento das representações em tela para todo o curso do mandato, sob o referido argumento, afi gura-se desnecessária, porquanto é viável a obtenção de todos os dados necessários para o ingresso de tais ações dentro do prazo de 180 dias a contar da diplomação, com arrimo no que prevê o já mencionado artigo 32 da Lei n. 9.504/1997.

Portanto, a decisão agravada não merece reparo, devendo ser mantida por seus próprios fundamentos.

Nego provimento ao agravo regimental.É o voto.

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO N. 566-41. 2010.6.27.0000 – CLASSE 37 – TOCANTINS (Palmas)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoAgravante: Abraão Cavalcante LimaAdvogados: Leandro Finelli e outrosAgravado: Ministério Público Eleitoral

EMENTA

Eleições 2010. Registro de candidatura. Agravo regimental em recurso ordinário. Inelegibilidade. Artigo 1º, I, e, da Lei Complementar n. 64/1990. Aplicabilidade. Desprovimento.

1. As inelegibilidades da Lei Complementar n. 135/2010 incidem de imediato sobre todas as hipóteses nela contempladas, ainda que o respectivo fato ou condenação seja anterior à sua entrada em vigor, pois as causas de inelegibilidade devem ser aferidas no momento da formalização do pedido de registro de candidatura, não havendo, portanto, falar em retroatividade da lei.

2. O prazo de inelegibilidade em hipóteses de crime contra o patrimônio público começa a fl uir após a prescrição da pretensão executória.

3. Agravo Regimental a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em desprover o agravo regimental, nos termos das notas de julgamento.

Brasília, 1º de fevereiro de 2011.Ministro Hamilton Carvalhido, Relator

DJe 23.02.2011

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, agravo regimental interposto por Abraão Cavalcante Lima contra decisão que, negando seguimento a recurso ordinário, manteve o indeferimento do registro de sua candidatura ao cargo de deputado estadual no pleito de 2010, à consideração de ser aplicável o artigo 1º, I, e, da Lei Complementar n. 64/1990.

Para a certeza das coisas, destaco trecho do decisum (fl . 205):

[...]In casu, o recorrente foi condenado pela prática do crime contra

o patrimônio público, previsto no artigo 171, § 3º, do Código Penal, a dois anos e oito meses de reclusão e 200 (duzentos) dias-multa, com substituição da pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos, tendo a sentença penal transitado em julgado para a acusação em 14.8.2000. Consoante cópia da sentença de fl s. 69-70, a extinção da punibilidade, por prescrição da pretensão executória, consumou-se em 14.8.2008, o que ainda atrairia a aplicação do artigo 1º, I, e, da Lei Complementar n. 64/1990 [...]. (grifos do original)

A insurgência está fundada em ofensa aos artigos 5º, XXXVI, LVII e XL, e 16 da Constituição Federal, uma vez que houve ampliação do prazo de inelegibilidade, em razão de condenação criminal, de três para oito anos. Salienta que o prazo de três anos passou a fl uir com a extinção da punibilidade em razão da prescrição da pretensão executória, não podendo por essa razão ser alcançado pela modifi cação introduzida pela Lei Complementar n. 135/2010.

Requer seja reconsiderada a decisão, ou, se não se entenda assim, seja encaminhado o agravo regimental à análise do Colegiado.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, não há como prosperar o agravo regimental.

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

A alegação de afronta aos artigos 5º, XXXVI, LVII e XL, e 16 da Constituição Federal não pode prosperar. Este Tribunal tem orientação fi rme quanto à aplicação da Lei Complementar. Nesse sentido, veja-se o julgado no AgR-RO n. 186-84-AP, Rel. Ministro Arnaldo Versiani, publicado em sessão de 13.10.2010, com a seguinte ementa:

Registro. Inelegibilidade. Condenação criminal.

1. A Lei Complementar n. 135/2010 aplica-se às eleições de 2010, porque não altera o processo eleitoral, de acordo com o entendimento deste Tribunal na Consulta n. 1.120-26.2010.6.00.0000 (rel. Min. Hamilton Carvalhido).

2. As inelegibilidades da Lei Complementar n. 135/2010 incidem de imediato sobre todas as hipóteses nela contempladas, ainda que o respectivo fato ou condenação seja anterior à sua entrada em vigor, pois as causas de inelegibilidade devem ser aferidas no momento da formalização do pedido de registro de candidatura, não havendo, portanto, falar em retroatividade da lei.

3. Tendo sido o candidato condenado, por órgão judicial colegiado, pela prática de crime contra a Administração Pública e formação de quadrilha, incide, na espécie, a causa de inelegibilidade a que se refere o art. 1º, inciso I, alínea e, 1 e 10, da Lei Complementar n. 64/1990, acrescentada pela Lei Complementar n. 135/2010.

Agravo regimental não provido.

A causa de inelegibilidade constante da alínea e do inciso I da Lei Complementar n. 64/1990, com a modifi cação da Lei Complementar n. 135/2010 incide no caso. O agravante fora condenado pela prática do crime contra o patrimônio público, previsto no artigo 171, § 3º, do Código Penal, a dois anos e oito meses de reclusão e 200 (duzentos) dias-multa, com substituição da pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos.

A sentença penal condenatória transitou em julgado para a acusação em 14.8.2000 (fl . 69).

Conforme consta da sentença que declarou a extinção da punibilidade, a prescrição da pretensão executória consumou-se em 14.8.2008, em

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

observância ao prazo prescricional estabelecido no artigo 109, inciso IV, do Código Penal (fl s. 69-70).

Como já consignado na decisão atacada, o agravante está inelegível, ainda que considerado o prazo de três anos previsto na redação anterior. Para certeza das coisas, transcrevo o artigo 1º, I, e, da Lei Complementar n. 64/1990, verbis:

Art. 1º São inelegíveis:

I - para qualquer cargo:

[...]

e) os que forem condenados criminalmente, com sentença transitada em julgado, pela prática de crime contra a economia popular, a fé pública, a administração pública, o patrimônio público, o mercado fi nanceiro, pelo tráfi co de entorpecentes e por crimes eleitorais, pelo prazo de 3 (três) anos, após o cumprimento da pena;

Com a nova redação passou a ter o seguinte teor:

[...]

e) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena, pelos crimes:

1. contra a economia popular, a fé pública, a administração pública e o patrimônio público;

2. contra o patrimônio privado, o sistema fi nanceiro, o mercado de capitais e os previstos na lei que regula a falência;

3. contra o meio ambiente e a saúde pública;

4. eleitorais, para os quais a lei comine pena privativa de liberdade;

5. de abuso de autoridade, nos casos em que houver condenação à perda do cargo ou à inabilitação para o exercício de função pública;

6. de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores;

7. de tráfi co de entorpecentes e drogas afi ns, racismo, tortura, terrorismo e hediondos;

8. de redução à condição análoga à de escravo;

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

9. contra a vida e a dignidade sexual; e

10. praticados por organização criminosa, quadrilha ou bando;

[...]. (nossos os grifos)

Portanto, mesmo se considerada a antiga redação, nos moldes da Lei Complementar n. 64/1990, sem as alterações feitas pela Lei Complementar n. 135/2010, estaria o agravante inelegível, porquanto os cálculos apontam que, somados três anos à data fi nal de cumprimento da pena (14.8.2008), a inelegibilidade incide até 14.8.2011.

Gize-se, como já consignado na decisão agravada, que a extinção da punibilidade em razão da prescrição da pretensão executória não afasta a inelegibilidade, pois esta, nas hipóteses de condenação por crime contra o patrimônio público, permanece no período estabelecido na lei complementar, ainda que os efeitos da condenação já tenham cessado.

Nesse sentido é a remansosa jurisprudência desta Corte:

Eleições 2008. Recurso especial. Registro de candidatura. Prefeito. Indeferimento. Condenação criminal. Crime contra a administração pública. Prescrição da pretensão executória. Incidência de inelegibilidade. Art. 1º, I, e, da LC n. 64/1990. Concessão de liminar pela justiça comum em Habeas Corpus após o registro. Suspensão da execução do acórdão condenatório. Irrelevância. As causas de inelegibilidade e as condições de elegibilidade devem ser aferidas ao tempo do registro. Precedentes. Recurso improvido.

1. A inelegibilidade prevista no art. 1º, I, e, da LC n. 64/1990 incide após a prescrição da pretensão executória. Precedentes do TSE.

[...]

(REspe n. 32.209-SC, Rel. designado Ministro Joaquim Barbosa, publicado em sessão de 6.11.2008 - nosso o grifo)

Diante da ausência de argumentação apta a afastar a decisão impugnada, esta se mantém por seus próprios fundamentos.

Pelo exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É como voto.

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO N. 906-78. 2010.6.02.0000 – CLASSE 37 – ALAGOAS (Maceió)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoAgravante: Joao Beltrão SiqueiraAdvogados: Gabriela Rollemberg e outrosAgravado: Ministério Público EleitoralAssistente: João Henrique Holanda CaldasAdvogados: Maria Claudia Bucchianeri Pinheiro e outro

EMENTA

Eleição 2010. Registro de candidatura. Agravo regimental em recurso ordinário. Notas taquigráfi cas. Ausência de juntada. Desnecessidade. LC n. 135/2010. Aplicabilidade imediata. Norma atributiva de efeito. Tema de ordem pública. Inelegibilidade. Art. 1º, I, g da LC n. 64/1990. Fundamento não atacado. Irregularidade insanável.

1. Decisão unânime torna desnecessária a juntada de notas taquigráfi cas. Precedentes.

2. A LC n. 135/2010 tem aplicação imediata porque não é norma relativa ao processo eleitoral, não alcançada pela regra da anualidade, sendo norma atributiva de efeito e tema de ordem pública, aberta também a situações pretéritas, com o fi m de, por meio da inelegibilidade, assegurar o futuro, é dizer de modo abrangente, um mínimo de moralidade, de probidade, indispensáveis ao exercício do mandato político.

3. A inelegibilidade do art. 1º, I, g, da Lei Complementar n. 64/1990 constitui uma consequência do fato objetivo da rejeição de contas públicas, não implicando retroatividade da lei ou violação à coisa julgada.

4. É insanável a irregularidade constante na não aplicação de recursos provenientes de convênio e com desrespeito aos §§ 4º e 6º do art. 116 da Lei n. 8.666/1993.

5. Agravo regimental a que se nega provimento.

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por maioria, em desprover o agravo regimental, nos termos das notas de julgamento.

Brasília, 1º de fevereiro de 2011.Ministro Hamilton Carvalhido, Relator

DJe 17.02.2011

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, agravo regimental contra decisão que negou seguimento ao recurso ordinário interposto por João Beltrão Siqueira, tendo em vista o caráter insanável da rejeição de suas contas quando titular da Secretaria do Trabalho e Ação Social do Estado de Alagoas (fl s. 569-585).

O agravante reitera a alegação de afronta aos artigos 273, § 2º, do Código Eleitoral, 5º, LIV e LV, da Constituição Federal porque não juntadas aos autos notas taquigráfi cas que devem integrar o teor do acórdão recorrido.

Nesse sentido, afi rma que houve cerceamento de defesa, pois “[...] no âmbito da Justiça Eleitoral o princípio da oralidade assume especial relevo, principalmente no julgamento dos processos de registro de candidatura, devido à necessidade de celeridade e ao volume de processos existente” e que, por isso, “[...] há aspectos relevantes que somente são contemplados oralmente, e deixam de integrar o voto escrito” (fl . 593).

E mais, sustenta que a “[...] juntada das notas taquigráfi cas é obrigação da Corte Eleitoral, nunca mera faculdade, pois o texto do artigo 273, § 2º, do Código Eleitoral, é impositivo” (fl . 594), tendo o ora agravante formulado expressamente tal pedido ao fi nal da sessão de julgamento perante a Corte Regional.

Além disso, aduz ofensa ao princípio constitucional da anterioridade da lei eleitoral, disposto no artigo 16 da Constituição Federal porque,

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em suma, “[...] a nova lei gera inevitável alteração no processo eleitoral, situação que impossibilita, portanto, a efi cácia das novas regras nas eleições próximas de 2010” (fl . 603).

Defende, ainda, contrariedade ao princípio da irretroatividade das leis, violação à coisa julgada e ao ato jurídico perfeito (artigo 5º, inciso XXXVI), pois “[...] permitir que os preceitos da novel LC n. 135/2010 possam alcançar a inelegibilidade que já havia atingido o ora agravante é atentar e violar as garantias da coisa julgada e do ato jurídico perfeito” (fl . 605), e sobre o assunto transcreve vários julgados do Supremo Tribunal Federal.

Afi rma não haver diferença entre o caso dos autos e aquele do RO n. 86.514 em que o TSE “[...] reconheceu a impossibilidade de aplicação da LC n. 135/2010, especialmente quando já exauridos os efeitos produzidos pela lei anterior [...]”. Explica que “[...] no caso dos autos, a inelegibilidade que envolvia o ora agravante, que era decorrente de uma condenação do TCU por rejeição de contas em 2003, tornou-se irrecorrível e imutável em 15 de abril de 2003” (fl . 611), concluindo que o período da inelegibilidade do ora agravante fi ndou-se em 15 de abril de 2008.

Alega ser inaplicável o Enunciado n. 283 da Súmula do STF quanto aos elementos caracterizadores da inelegibilidade porque, “[...] ao atacar a própria possibilidade de aplicação da Lei Complementar n. 135/2010 à eleição de 2010, ou mesmo de se agravar o prazo de cinco para oito anos de inelegibilidade, consequentemente, atacou ‘os elementos caracterizadores da inelegibilidade’” porque “[...] a análise da questão revela que o fundamento mais abrangente é a possibilidade de aplicação da LC n. 135/2010” e que a possibilidade de aumento do prazo da inelegibilidade sem violação à coisa julgada e ao ato jurídico perfeito está englobado por esse fundamento que, por sua vez, abarca a análise dos requisitos legais da alínea g, I, art. 1º da LC n. 64/1990.

Por fi m, sustenta que o Enunciado n. 283 da Súmula do STF somente se aplica a casos relativos a recursos de natureza extraordinária, citando jurisprudência.

É o relatório.

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VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, não obstante a alegação do agravante quanto à necessidade de juntada das notas taquigráfi cas, persiste o fundamento da decisão agravada. Consoante consignado na decisão agravada, este Tribunal já assentou que, havendo decisão unânime da Corte, mostra-se desnecessária a juntada das notas taquigráfi cas.

Vale ainda salientar que as notas taquigráfi cas e a degravação da fi ta da sessão de julgamento não são necessárias para que a decisão fi que completa. Isto porque ao assinarem o acórdão, os juízes demonstram sua concordância com o nele contido (ED-REspe n. 29.730-SP, Relator Ministro Felix Fischer, publicado na sessão de 29.09.2008).

Reafi rmo que longos trechos do voto condutor do acórdão recorrido foram transcritos nas razões recursais, o que demonstra o conhecimento, ao longo da peça, do inteiro teor do julgamento.

Quanto à alegação de ofensa a coisa julgada, em que pesem os fundamentos postos no agravo regimental, tenho que todos os pontos do recurso ordinário foram devidamente analisados na decisão agravada.

Para certeza das coisas, transcrevo a decisão de fl s. 569-585, por mim proferida, verbis:

[...]

Tudo visto e examinado, decido.

[...]

No mais, tal como tenho votado, estou em que a questão genérica é a da aplicação da Lei Complementar n. 135/2010, que alterou a Lei Complementar n. 64/1990, e se especifi ca nas da sua aplicação imediata e da sua irretroatividade.

Pergunta-se, primeiro: aplica-se a Lei Complementar n. 135/2010 às eleições em curso ou, ao contrário, incide, na espécie, a anualidade de que cuida o artigo 16 da Constituição da República?

Esta é a letra do artigo 16 da Constituição da República:

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Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.

A solução desta primeira questão deve principiar, necessariamente, pela consideração do disposto no § 9º do artigo 14 da Constituição da República, verbis:

Art. 14 [...]

§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fi m de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a infl uência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

Assim me introduzi no voto oral que proferi no julgamento do RO n. 1.616-60-DF:

Peço licença a Vossa Excelência para relembrar um grande mestre de Direito Constitucional, Josaphat Marinho, que, entre as suas várias produções, escreveu um artigo em que afi rmou que a prova ilícita mostra a essência do que é a nossa Constituição. Ainda que seja a única prova e não exista nada mais que possa conduzir à certeza relativa ao fato criminoso e à sua autoria, que a utilidade social aponte no sentido da sua punição e a exigência de justiça reclame a necessária imposição de uma sanção, o constituinte fez a opção ética. Quando suprimia qualquer efeito à prova ilícita, proclamou o valor que teve como essencial à regência da ordem constitucional e, pois, da ordem social e política.

Não é outro o valor maior que o § 9º do artigo 14 da Constituição Federal visa a proteger que não o da ética, indissociável do mandato eletivo, ao fazer suas condições a probidade e a moralidade. Não é outro o valor que o inspira na proteção da normalidade e da legitimidade das eleições contra a infl uência do poder econômico ou o abuso do exercício da função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

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Tal fonte constitucional, de modo a afastar qualquer equivocidade do novo diploma legal, diz respeito a situações de inelegibilidade e, pois, à capacidade eleitoral, tornando evidente a natureza material das normas da Lei Complementar n. 135/2010, que lhe deu consecução, inconfundíveis com aqueloutras que também integram o sistema normativo, denominadas instrumentais, que disciplinam o processo eleitoral e, desse modo, a forma das eleições, ou seja, o conjunto de normas que disciplinam os atos em que se consubstanciam as eleições.

Não se trata, pois, de normas relativas ao processo eleitoral, que o tenham alterado as da Lei Complementar n. 135/2010, assim de aplicação imediata porque não alcançadas pela regra da anualidade, inserta no artigo 16 da Constituição da República.

É de se afi rmar, portanto, a aplicação imediata da nova lei que modifi cou a Lei de Inelegibilidade às eleições em curso.

A segunda questão é a da retroatividade, que, por assim dizer, se tem afi rmado resultar do afastamento da anualidade constitucional.

Ocorre que aplicação imediata e retroatividade da regra jurídica não se identifi cam, colocando-se aquela, na espécie, apenas em função da anterioridade reclamada pela Constituição na hipótese de alteração do processo eleitoral, o que não ocorre no caso.

De retroatividade só há falar apenas e quando se desconstitui, no presente, por efi cácia da lei nova, efeito que a da lei anterior que incidiu produziu no passado.

Modifi car ou suprimir efeito já produzido ou, o que é muito mais grave, já irradiado ou, ainda pior, já exaurido da lei anterior importa em atribuir efi cácia retroativa à regra jurídica.

É questão de efi cácia da lei nova e não propriamente da sua incidência, que ocorre quando se constitui, no mundo, o suporte fático da regra jurídica, ao qual não são necessariamente estranhos elementos pretéritos.

Por todo o exposto, o magistério insigne de Pontes de Miranda:

O efeito retroativo que, invade o passado, usurpa o domínio de lei que já incidiu, é efeito de hoje, riscando, cancelando, o efeito pretérito: o hoje contra o ontem, o voltar no tempo, a reversão na dimensão fi sicamente irreversível.

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É preciso que algo que foi deixe de ser no próprio passado; portanto, que deixe de ter sido. O efeito hodierno, normal, é o hoje circunscrito ao hoje. Nada se risca, nada se apaga, nada se cancela do passado. O que foi continua a ser tido como tendo sido. Só se cogita do presente e da sua lei. [...]

A lei do presente é a que governa o nascer e o extinguir-se das relações jurídicas. Não se compreenderia que fosse a lei de hoje reger o nascimento e a extinção resultantes de fatos anteriores. Isso não obsta a que uma lei nova tenha – como pressuposto sufi ciente, para a sua incidência, hoje – fatos ocorridos antes dela. Porém não só ao nascimento e à extinção das relações jurídicas concerne a regra jurídica de co-atualidade do fato e da lei. Os efeitos produzidos antes de entrar em vigor a nova lei não podem por ela ser atingidos; dar-se-ia a retroatividade. (in Comentários à Constituição de 1967, Com a Emenda n. 1, de 1969, Tomo V, Editora Revista dos Tribunais, 2ª edição, p. 80-81 – nossos os grifos).

A propósito desses elementos pretéritos, veja-se a letra do artigo 3º da Lei Complementar n. 135/2010 referente a fatos anteriores ao início da vigência da novel lei:

Art. 3º Os recursos interpostos antes da vigência desta Lei Complementar poderão ser aditados para o fi m a que se refere o caput do art. 26-C d Lei Complementar n. 64, de 18 de maio de 1990, introduzido por esta Lei Complementar.

Acrescente-se, mais, em remate, que o dispositivo do § 9º do artigo 14 da Constituição da República, antes transcrito (“Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fi m de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a infl uência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta”), expressamente aponta para fatos pretéritos como elementos dos suportes fáticos das normas da lei complementar que prevê, tanto quanto não os exclui implicitamente, à luz da sua objetividade jurídica e da sua natureza cautelar, da proteção da normalidade e da

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legitimidade das eleições, contra a infl uência do poder econômico ou o abuso no exercício da função, cargo ou emprego público na administração direta ou indireta.

Convém averbar a abalizada corrente que vê na espécie norma atributiva de efeito e tema de ordem pública, aberta também a situações pretéritas, com o fi m de, por meio da inelegibilidade, assegurar o futuro, é dizer de modo abrangente, um mínimo de moralidade, de probidade, indispensáveis ao exercício do mandato político.

Por fi m, não vejo nenhuma ofensa ao princípio da presunção de não culpabilidade.

A esse respeito, esta Corte Superior, em 10.06.2010, respondendo à Consulta n. 1120-26.2010.6.00.0000-DF, de minha relatoria, assim se manifestou:

[...]

A garantia da presunção de não culpabilidade protege, como direito fundamental, o universo de direitos do cidadão, e a norma do artigo 14, § 9º, da Constituição Federal restringe o direito fundamental à elegibilidade, em obséquio da probidade administrativa para o exercício do mandato, em função da vida pregressa do candidato.

A regra política visa acima de tudo ao futuro, função eminentemente protetiva ou, em melhor termo, cautelar, alcançando restritivamente também a meu ver, por isso mesmo, a garantia da presunção da não culpabilidade, impondo-se a ponderação de valores para o estabelecimento dos limites resultantes à norma de inelegibilidade.

Fê-lo o legislador, ao editar a Lei Complementar n. 135/2010, com o menor sacrifício possível da presunção de não culpabilidade, ao ponderar os valores protegidos, dando efi cácia apenas aos antecedentes já consolidados em julgamento colegiado, sujeitando-os, ainda, à suspensão cautelar, quanto à inelegibilidade.

[...].

Na espécie, tenho por imprescindível destacar o exame acerca do possível exaurimento dos efeitos do acórdão da Corte de Contas

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sob a égide da Lei anterior, porquanto o decisum em questão (Acórdão-TCU n. 692/2003, de 15.04.2003, publicado no DOU de 25.04.2003) teria exaurido seus efeitos, quanto à inelegibilidade decorrente da rejeição das contas do ora recorrente, ainda sob a vigência da norma antiga, com o transcurso dos cinco anos nela prevista, considerando que a referida decisão tornou-se irrecorrível em 05.09.2003 (fl . 233).

Na sessão de 03.11.2010, por ocasião do julgamento do RO n. 399.166-MG, de minha relatoria, interrompido em razão de pedido de vista, mantive-me fi el ao entendimento de que seriam imunes à lei nova os efeitos produzidos pela lei anterior, mormente quando exauridos ainda na vigência da norma antiga, asseverando que o decurso do tempo seria causa extintiva da efi cácia do fato jurídico cuja consequência foi a inelegibilidade, que, assim, estaria extinta.

Sustentei que pretender, por efeito da lei nova, ampliar prazo já fi ndo seria rematado pleito de retroatividade, infringente ao princípio da segurança jurídica, essencial ao Estado Democrático de Direito.

Nesse contexto, pela redação primitiva da alínea g do inciso I do artigo 1º da LC n. 64/1990, a inelegibilidade do recorrente teria como termo ad quem o dia 05.09.2008, antes, portanto, do advento da Lei Complementar n. 135/2010.

Ocorre que esta Corte Superior já assentou entendimento majoritário de que, em espécies tais como a dos autos, o decurso do prazo de 05 (cinco) anos da Lei Complementar n. 64/1990 não inibe a incidência da Lei Complementar n. 135/2010, de vigência posterior, no que diz respeito ao tempo da inelegibilidade, que passou a ser de 08 (oito) anos. O referido julgado restou assim ementado:

Recurso ordinário. Registro de candidatura. Eleições 2010. Deputado Estadual. Inelegibilidade. Art. 1º, I, g, da Lei Complementar n. 64/1990. Negado provimento.

1. O Tribunal Superior Eleitoral fi rmou o entendimento de que a Lei Complementar n. 135/2010 é constitucional e se aplica às eleições de 2010.

2. A inelegibilidade do art. 1º, I, g, da Lei Complementar n. 64/1990 constitui uma consequência do fato objetivo da

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rejeição de contas públicas, não implicando retroatividade da lei ou violação à coisa julgada.

3. O desvio de recursos públicos, aliados aos indícios de falsifi cação de documentos da prestação de contas e à falta de licitação para a aquisição dos materiais objeto de convênio constituem irregularidades insanáveis que confi guram ato de improbidade administrativa, aptos a atrair a inelegibilidade do art. 1º, I, g, da Lei Complementar n. 64/1990.

4. Recurso desprovido.

(RO n. 503-39-AC, rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, publicado na sessão de 28.10.2010).

Assim, com a ressalva do meu entendimento acerca do exaurimento dos efeitos da inelegibilidade, as razões recursais, in casu, esbarram nessa orientação, porquanto, lavrado pelo Tribunal de Contas da União o Acórdão n. 418/2002, em 18.06.2002, publicado no DOU de 27.06.2002 (fl . 216), e confi rmado em sede de recurso de reconsideração pelo Acórdão n. 692/2003, em 15.04.2003, publicado no DOU de 25.04.2003 (fl . 231), tornando-se irrecorrível em 05.09.2003 (fl . 233), tem aplicação a lei nova.

Por outro lado, persiste fundamento não atacado quanto aos elementos caracterizadores da inelegibilidade, atraindo a incidência do Enunciado n. 283 do Supremo Tribunal Federal, verbis:

É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento sufi ciente e o recurso não abrange todos eles.

E a Corte a qua reconheceu a causa da inelegibilidade constante da alínea g do inciso I do artigo 1º da Lei Complementar n. 64/1990, com as modifi cações dadas pela Lei Complementar n. 135/2010, em razão da decisão nos autos do Processo TC n. 200.136/1998-4-TCU, confi rmada no julgamento do recurso de reconsideração que, embora admitido, foi ao fi nal desprovido pela 1ª Câmara do Tribunal de Contas da União, por meio do Acórdão n. 692/2003, com trânsito em julgado em 15.04.2003, fl . 368.

Nesse processo, o Tribunal de Contas da União proferiu o Acórdão n. 418/2002 TCU, em 18.06.2002, julgando irregulares as contas

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do ora recorrente e condenando-o a devolver aos cofres do Tesouro Nacional a importância de R$ 143.502,00 (cento e quarenta e três mil, quinhentos e dois reais) com os acréscimos legais calculados a partir de 29.05.1996 até a data do efetivo recolhimento, além de aplicação da multa prevista no artigo 57 da Lei n. 8.443/1992, verbis:

Art. 57. Quando o responsável for julgado em débito, poderá ainda o Tribunal aplicar-lhe multa de até cem por cento do valor atualizado do dano causado ao Erário.

A incidência da causa de inelegibilidade por rejeição de contas de gestores, com efeito, requisita a presença dos seguintes pressupostos: irregularidade insanável que confi gure ato doloso de improbidade administrativa, decisão irrecorrível do órgão competente e inexistência de provimento judicial, ainda que provisório em ação anulatória.

Para conferir, é esta a letra do artigo 1º, inciso I, alínea g, da Lei Complementar n. 64/1990 com as modifi cações dadas pela Lei Complementar n. 135/2010, verbis:

Art.1º [...]

I – [...]

g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável que confi gure ato doloso de improbidade administrativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, para as eleições que se realizarem nos 08 (oito) anos seguintes, contados a partir da data da decisão, aplicando-se o disposto no inciso II ao art. 71 da Constituição Federal, a todos os ordenadores de despesa, sem exclusão de mandatários que houverem agido nessa condição;

[...].

Nesse passo, é importante registrar que os autos revelam decisão irrecorrível do Tribunal de Contas da União proferida em processo de prestação de contas referente à fi scalização e à aplicação dos recursos públicos federais, repassados mediante convênio do Ministério do

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Trabalho com a Secretaria do Trabalho e Ação Social do Estado de Alagoas. Não há, portanto, dúvida quanto à competência daquela Corte de Contas para o seu julgamento e à irrecorribilidade da decisão que julgou irregulares as contas.

Registre-se, mais, que não cabe à Justiça Eleitoral, em processo de registro de candidatura, discutir o acerto ou desacerto do julgamento pelo Tribunal de Contas, mas pode, sim, analisar se na decisão que desaprovou as contas estão presentes os elementos ensejadores da inelegibilidade. Vejam-se, a propósito, os precedentes deste Tribunal nos Acórdãos n. 31.053-GO, Rel. Ministro Felix Fischer, publicado na sessão de 11.10.2008; n. 32.568-MA, Rel. Ministro Ricardo Lewandowski, publicado na sessão de 23.10.2008.

Na lição de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, “Defi ne-se o convênio como forma de ajuste entre o Poder Público e entidades públicas ou privadas para a realização de objetivos de interesse comum, mediante mútua cooperação” (2009, p. 336), apontando para a observância do artigo 116 da Lei n. 8.666/1993, verbis:

Art. 116. Aplicam-se as disposições desta Lei, no que couber, aos convênios, acordos, ajustes e outros instrumentos congêneres celebrados por órgãos e entidades da Administração.

[...]

§ 6º Quando da conclusão, denúncia, rescisão ou extinção do convênio, acordo ou ajuste, os saldos fi nanceiros remanescentes, inclusive os provenientes das receitas obtidas das aplicações fi nanceiras realizadas, serão devolvidos à entidade ou órgão repassador dos recursos, no prazo improrrogável de 30 (trinta) dias do evento, sob pena da imediata instauração de tomada de contas especial do responsável, providenciada pela autoridade competente do órgão ou entidade titular dos recursos.

O acórdão da Corte de Contas, prolatado nos autos de tomada de contas especial, ressalta que dos R$ 828.470,00 (oitocentos e vinte e oito mil, quatrocentos e setenta reais), repassados mediante convênio à Secretaria do Trabalho e Ação Social do Estado de Alagoas, foi comprovada a aplicação de R$ 684.968,00 (seiscentos e oitenta e

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quatro mil, novecentos e sessenta e oito reais). Ficou evidenciada, ainda, a existência de saldo não aplicado, de R$ 143.502,00 (cento e quarenta e três mil, quinhentos e dois reais), que não foi restituído ao órgão descentralizador dos recursos. Reconhece também estar compreendida no período de gestão do ora recorrente a obrigação de prestar contas e de recolher o saldo não aplicado.

Daí que a Corte de Contas verifi cou a responsabilidade do gestor pela irregularidade. Vale conferir a letra daquela decisão, verbis:

[...]

Nos termos da cláusula décima segunda, combinada com a sexta, subcláusula oitava, do convênio, fl s. 15 e 10, respectivamente, o órgão executor tinha a obrigação de restituir o saldo não aplicado durante o exercício de 1996 – o pagamento de despesas inscritas em restos a pagar poderia ser feito até 26.01.1997. Há nesses dispositivos a informação precisa do procedimento observado para a restituição de valores não aplicados: a indicação da agência do Banco do Brasil e o número da conta corrente para depósito e os prazos a serem observados em cada situação específi ca. A prestação de contas dos valores transferidos em 1996 deveria ser apresentada até o dia 26.02.1997.

Em duas oportunidades – 14.03.1997 e 17.04.1997 (fl s. 19-20) – a Secretaria Nacional de Formação e Desenvolvimento Profi ssional – Sefor solicitou a apresentação da prestação de contas. Nos autos não há informação da data em que a prestação de contas foi apresentada. Apenas a solicitação para a suspensão da Tomada de Contas Especial, de 21.07.1997 (fl . 22), com a informação de que essa obrigação havia sido cumprida.

Faltava, entretanto, a comprovação do recolhimento da importância não aplicada em 1996, objeto desta Tomada de Contas Especial.

Nas alegações de defesa, o responsável assevera que na data de sua exoneração do cargo de Secretário de Estado do Trabalho e da Ação Social de Alagoas – 17.07.1997 – o saldo da conta corrente específi ca do convênio (Banco do Brasil,

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Agência n. 0013-2, c/c n. 73.898-0) correspondia exatamente ao valor reclamado: R$ 143.502,00 (cento e quarenta e três mil e quinhentos e dois reais). Transcreve, no Item n. 08 de suas alegações, o que seria a movimentação fi nanceira daquela conta no período de 03.03.1997 a 16.07.1997.

O Banco do Brasil, atendendo diligência da unidade técnica, encaminhou os extratos daquela conta. O saldo registrado em 16.07.1997 é de R$ 18,04 (dezoito reais e quatro centavos) (fl . 98). Ante a divergência entre as informações prestadas pelo responsável e pelo Banco do Brasil, nova diligência foi encaminhada àquela instituição fi nanceira (fl . 146). O banco confi rmou o saldo inicialmente apresentado (fl . 161).

A informação, proveniente de instituição fi nanceira ofi cial e fundamentada nos registros da conta bancária específi ca do convênio, é razão sufi ciente para rejeitar as alegações de defesa apresentadas.

A exoneração do responsável não pode ser admitida para justifi car a falta de ação do gestor dos recursos. Entre a data fi xada para o recolhimento do saldo do convênio, a prestação de contas dos recursos aplicados e a exoneração do responsável transcorreram cinco meses. A obrigação de prestar contas e de recolher o saldo não aplicado está compreendida no período de gestão do Sr. João Beltrão Siqueira.

Ao ser chamado ao processo, apresentou informações falsas de que o Banco do Brasil não confi rmou o que me dá a convicção de que, ao ser exonerado, o valor exigido nesta Tomada de Contas Especial não se encontrava na conta específi ca do Convênio MTb-Sefor-Codefat n. 27/96.

Em face da má-fé com que atuou o responsável, apresentando extrato bancário adulterado para dar suporte a suas alegações, julgo as contas irregulares, consoante prevê a Decisão Normativa n. 35/2000 – Plenário.

Sobre o fundamento legal da condenação, a questão enquadra-se na alínea d do inciso III do art. 16 da Lei n. 8.443/1992.

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Processual

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Por fi m, em face da gravidade da conduta do responsável, impõe-se a aplicação da multa prevista no artigo 57 da Lei n. 8.443/1992. (nossos os grifos – vol. 1 - fl . 96).

A Corte de Contas teve por incidente a regra do artigo 16, inciso III, alínea d, da Lei n. 8.443/1992, verbis:

Art. 16. As contas serão julgadas:

I - regulares, quando expressarem, de forma clara e objetiva, a exatidão dos demonstrativos contábeis, a legalidade, a legitimidade e a economicidade dos atos de gestão do responsável;

II - regulares com ressalva, quando evidenciarem impropriedade ou qualquer outra falta de natureza formal de que não resulte dano ao Erário;

III - irregulares, quando comprovada qualquer das seguintes ocorrências:

a) omissão no dever de prestar contas;

b) prática de ato de gestão ilegal, ilegítimo, antieconômico, ou infração à norma legal ou regulamentar de natureza contábil, fi nanceira, orçamentária, operacional ou patrimonial;

c) dano ao Erário decorrente de ato de gestão ilegítimo ao antieconômico;

d) desfalque ou desvio de dinheiros, bens ou valores públicos.

§ 1° O Tribunal poderá julgar irregulares as contas no caso de reincidência no descumprimento de determinação de que o responsável tenha tido ciência, feita em processo de tomada ou prestarão de contas.

§ 2° Nas hipóteses do inciso III, alíneas c e d deste artigo, o Tribunal, ao julgar irregulares as contas, fi xará a responsabilidade solidária:

a) do agente público que praticou o ato irregular, e

b) do terceiro que, como contratante ou parte interessada na prática do mesmo ato, de qualquer modo haja concorrido para o cometimento do dano apurado.

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§ 3° Verifi cada a ocorrência prevista no parágrafo anterior deste artigo, o Tribunal providenciará a imediata remessa de cópia da documentação pertinente ao Ministério Público da União, para ajuizamento das ações civis e penais cabíveis.

Como se depreende, aquela Corte afastou a alegada boa-fé do gestor.

É nesse contexto que pode ser afi rmada a existência de irregularidade insanável que confi gura ato doloso de improbidade administrativa: mediante os elementos indicativos fornecidos pela Corte de Contas, por ocasião do julgamento, em que, apresentadas as alegações e provas pelo gestor, afi rmou-se existente o fato.

Gize-se, em remate, que a orientação deste Tribunal é no sentido de que “É insanável a irregularidade constante na não-aplicação de recursos provenientes de convênio e com desrespeito aos §§ 4º e 6º do art. 116 da Lei n. 8.666/1993” (AgR-REspe n. 33.861-CE, Rel. Ministro Joaquim Barbosa, publicado na sessão de 16.12.2008 – nosso o grifo).

E ainda antes da edição da Lei Complementar n. 135/2010, este Tribunal já havia assentado que “[...] irregularidade insanável é aquela que indica ato de improbidade administrativa ou qualquer forma de desvio de valores [...]”. É o que se colhe do voto condutor do Acórdão no AgR-RO n. 1.178-RS, cuja relatoria é do Ministro Cezar Peluso, DJ 04.12.2006, verbis:

[...]

Conforme o art. 10, VIII, da Lei n. 8.429/19923, tal conduta confi gura ato de improbidade administrativa, constituindo-se, pois, em vício insanável. É que “o descumprimento da lei de licitação importa irregularidade insanável” (Acórdão n. 22.704, de 19.10.2004, Rel. Min. Carlos Madeira).

3 “Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:

[...]

VIII – frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente;

[...]”.

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Quanto à segunda irregularidade, houve descumprimento de decisão do Tribunal de Contas do Estado, a qual sustou atos admissionais, por considerá-los irregulares. Essa desobediência à determinação da Corte de Contas infringiu o art. 11, II, da Lei n. 8.429/19924, caracterizando-se também como improbidade administrativa.

Esta Corte já fi xou o entendimento de que “somente a rejeição das contas, com a nota de irregularidade insanável, ou, inexistindo essa nota, seja possível verifi car esse vício, é que tem-se a inelegibilidade da Lei Complementar n. 64/1990, art. 1º, I, g” (Acórdão n. 24.448, de 07.10.2004, Rel. Min. Carlos Velloso).

Também é assente nesta Corte que “[...] irregularidade insanável é aquela que indica ato de improbidade administrativa ou qualquer forma de desvio de valores” (Acórdão n. 21.896, de 26.08.2004, Rel. Min. Peçanha Martins)”.

Acresça-se que a aplicação do Enunciado n. 283 da Súmula do Supremo Tribunal Federal deu-se por analogia, uma vez que o recurso não abrangeu todos os fundamentos sufi cientes do acórdão recorrido.

Pelo exposto, conheço do agravo regimental, mas lhe nego provimento. É o voto.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor Presidente, peço vênia ao Relator para prover o agravo regimental e o faço tendo em conta o

4 “Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:

[...]

II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;

[...]”.

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

princípio da aplicação da lei no tempo, da Lei Complementar n. 135/2010. A aplicação imediata não pode ser confundida com a retroativa.

Provejo, portanto, o agravo, para que o recurso ordinário venha a julgamento e tenhamos a sustentação oral da Tribuna.

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO N. 970-33. 2010.6.22.0000 – CLASSE 37 – RONDÔNIA (Porto Velho)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoAgravante: José Alves Vieira GuedesAdvogado: Nilton Dantas da SilvaAgravado: Ministério Público Eleitoral

EMENTA

Eleição 2010. Registro de candidatura. Agravo regimental em recurso ordinário. Fundamento não infi rmado. Incidência do Enunciado n. 182 da Súmula do STJ. Desprovimento.

1. “É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especifi camente os fundamentos da decisão agravada.”

2. Agravo regimental a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em desprover o agravo regimental, nos termos das notas de julgamento.

Brasília, 1º de fevereiro de 2011.Ministro Hamilton Carvalhido, Relator

DJe 16.02.2011

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RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, agravo regimental contra decisão que negou seguimento ao recurso especial interposto por José Alves Vieira Guedes, por intempestividade do recurso ordinário e preclusão consumativa que obstou o conhecimento do recurso especial.

O ora agravante alega que a questão se resolve pela aplicação do princípio de fungibilidade, pois, exceto a denominação emprestada, todas as demais características são de ratifi cação do recurso ordinário, interposto antes do julgamento dos primeiros embargos de declaração (fl . 328).

Esclarece que “[...] no preâmbulo do Recurso Especial (Ordinário) consta o requerimento da renovação do Recurso Ordinário [...]”, não há, portanto, no seu sentir, ausência de ratifi cação do recurso, pois o termo “renovação” tem idêntico sentido (fl . 328).

Sustenta que a certidão foi protocolada em 13.10.2010, mas houve nova iniciativa de mostrá-la, tendo em vista que, na sessão de 17.10.2010, ocasião do julgamento dos primeiros declaratórios, a presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia, repreendeu publicamente os servidores pela certifi cação de tempestividade de recurso em razão de falha burocrática e ressaltou a importância da gravação do áudio da sessão, que estava disponível, à semelhança do que faz o Tribunal Superior Eleitoral (fl . 329).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, a decisão agravada deve ser mantida por seus próprios fundamentos, verbis (fl s. 320-323):

O Ministério Público Eleitoral impugnou o registro de candidatura de José Alves Vieira Guedes ao cargo de deputado estadual nas eleições de 2010, fundado na ausência de certidões da

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Justiça Federal, Estadual e do Distrito Federal e na inelegibilidade por rejeição de contas, em razão de irregularidade insanável que confi gura ato doloso de improbidade administrativa, por decisão defi nitiva do Tribunal de Contas da União (artigo 1º, I, g, da Lei Complementar n. 64/1990 com a redação dada pela Lei Complementar n. 135/2010).

O Tribunal Regional Eleitoral, julgando-a procedente tão somente em razão da inelegibilidade, indeferiu o pedido de registro, em acórdão assim ementado (fl . 156):

Eleições 2010. RRC (Requerimento de Registro de Candidatura - pedido coletivo). Deputado Estadual. Impugnação Ministerial. Rejeição de contas. Tribunal de Contas da União. Recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Verba federal. Lei Complementar n. 64/1990, artigo 1º, I, alínea g. Procedência da impugnação. Inelegibilidade. Registro de candidatura indeferido.

Em 6.8.2010, o candidato opôs embargos de declaração, suscitando omissão quanto à análise da alegação de que as notas fi scais e recibos necessários à comprovação da regularidade da aplicação dos recursos foram objeto de inspeção in loco.

Em 13.8.2010, interpôs recurso ordinário, com fundamento no artigo 49, I, da Res.-TSE n. 23.221/2010, também contra o acórdão que lhe indeferiu o pedido de registro de candidatura.

Nas razões recursais, alega, em suma, que, na prestação de contas referente a convênio fi rmado à época em que foi prefeito de Porto Velho, considerada irregular pelo Tribunal de Contas da União, nem houve vício insanável, nem dolo, nem improbidade administrativa a atrair a incidência do artigo 1º, I, g, da Lei Complementar n. 64/1990.

Foram apresentadas contrarrazões ao recurso ordinário (fl s. 196-207).

Em 16.8.2010, o Tribunal a quo julgou os embargos manifestamente protelatórios e aplicou ao embargante a sanção do artigo 275, § 4º, do Código Eleitoral (fl s. 168-172). A estes opôs segundos embargos de declaração, em 17.8.2010, buscando

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a modifi cação do julgado, à consideração de que o indeferimento do registro teve por fundamento acórdão do Tribunal de Contas da União que, por sua vez, no sentir do embargante, afrontou o artigo 21 da Instrução Normativa n. 2/1993, de 19.4.1993 – que regia as prestações de contas perante o Governo Federal.

Foi juntada certidão (fl . 195) dando conta da intempestividade do recurso ordinário, visto que o decisum regional foi publicado na sessão de 5.8.2010, bem como da declaração do caráter procrastinatório dos embargos.

O ora recorrente protocolizou, então, em 18.8.2010 petição na qual requereu a retifi cação dessa certidão para ser reconhecida a tempestividade do recurso ordinário e apresentou cópia de certidão da Secretaria do Tribunal a quo de 10.8.2010 dando conta de que apenas nessa data tivera acesso aos autos (fl s. 252-253).

Em 26.8.2010, a Corte a qua não conheceu dos segundos declaratórios e aplicou multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) ao embargante (fl s. 259-262).

Em 27.8.2010 José Alves Vieira Guedes interpôs, então, recurso especial, em que sustenta a tempestividade do recurso ordinário, porque apenas em 10.8.2010 teve acesso ao voto vencedor do acórdão que lhe indeferiu o registro, e junta certidão da Secretaria do Tribunal a quo. No mérito, reitera as razões daquele apelo e traz os debates ocorridos na oportunidade do julgamento do registro (fl s. 264-289).

Foram apresentadas contrarrazões ao recurso especial (fl s. 299-307).

A douta Procuradoria-Geral Eleitoral se manifesta pelo não conhecimento de ambos os recursos: o ordinário porque intempestivo; o especial porque operada a preclusão consumativa, visto que a parte já havia optado pela interposição do recurso ordinário (fl s. 312-318).

Tudo visto e examinado, decido.

Verifi ca-se dos autos que ao acórdão que indeferiu o registro pelo candidato foram opostos declaratórios e, antes do seu julgamento, foi interposto recurso ordinário, sem posterior ratifi cação, que se mostra imprescindível. Assim, o recurso é intempestivo.

Registre-se ainda que, quer pela ausência de ratifi cação, quer pela declaração do caráter protelatório dos primeiros embargos, que

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não foi afastada nos segundos, também não conhecidos, deve ser reconhecida a intempestividade.

E mais, não aproveita ao recorrente a certidão apresentada apenas em 18 de agosto, porque no momento em que interpôs o recurso ordinário já poderia ter dado notícia da ocorrência do fato nela descrito – impossibilidade de acesso aos autos. Deixou para fazê-lo após a oposição dos segundos declaratórios em petição que buscou retifi car a intempestividade daquele recurso.

Tampouco comporta conhecimento o recurso especial, interposto em 27.8.2010 (fl . 264), haja vista a evidente preclusão consumativa com a interposição anterior do recurso ordinário, em que a parte teve oportunidade para manifestar sua irresignação.

Como bem lançado no pronunciamento ministerial (fl . 316):

[...]

Com efeito, na espécie, aplica-se o princípio da unirrecorribilidade. Conforme tal princípio, não é possível a utilização simultânea de dois recursos contra a mesma decisão; para cada caso, há um recurso adequado e somente um. [...].

Nesse sentido, confi ra-se, por todos, o seguinte precedente desta Corte:

[...]

1. Ocorre a preclusão consumativa quando, exercido o direito de recorrer mediante a primeira interposição, a parte busca inovar razões em nova peça recursal.

[...]. (AgRgAgRgAg n. 8.953-RN, Rel. Ministro Eros Grau, julgado em 7.8.2008, DJ 11.9.2008)

Pelo exposto, com fundamento no artigo 36, § 6º, do Regimento Interno do Tribunal Superior Eleitoral, nego seguimento ao recurso.

[...].

Persiste fundamento não afastado oportunamente, consubstanciado no caráter protelatório do recurso integrativo declarado pelo Tribunal a quo, dando ensejo à intempestividade do recurso ordinário interposto.

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Nesse contexto, os fundamentos da decisão agravada não foram infi rmados pelo agravante, fazendo incidir o enunciado 182 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, verbis:

É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especifi camente os fundamentos da decisão agravada.

Nesse sentido, entre outros, confi ram-se os seguintes precedentes desta Corte:

Agravo regimental. Recurso especial eleitoral. Registro de candidatura. Eleições 2008. Prestação de contas de campanha. Apresentação próxima ao pedido de registro. Decisão agravada não atacada. Súmula n. 283-STF. Não-provimento.

1. É condição necessária à análise do agravo regimental que o agravante, ao manifestar seu inconformismo, tenha atacado todos os fundamentos da decisão que pretende combater. Incidência, mutatis mutandis, na Súmula n. 283-STF. Precedentes: AgRg no REspe n. 26.754-MG, Rel. e. Min. Cezar Peluso, DJ de 31.10.2006; AgRg n. MS 3829, Rel. e. Min. Marcelo Ribeiro, DJ de 6.8.2008.

2. In casu, o agravante não infi rmou o fundamento da decisão agravada segundo o qual, ainda que se admitisse, no caso concreto, ter o Ministério Público Eleitoral utilizado de seu parecer como sucedâneo de impugnação, não se poderia olvidar que o Juiz Eleitoral pode conhecer de ofício das questões afetas às condições de elegibilidade.

3. Também não impugnou o fundamento segundo o qual as condições de elegibilidade são aferidas no momento da formalização do pedido de registro, tendo a jurisprudência desta Corte evoluído para assentar que a prestação de contas em período muito próximo ao requerimento do registro – sendo esta a hipótese dos autos – frustra o efetivo controle da Justiça Eleitoral, razão pela qual não pode ser considerada para efeito da concessão da quitação eleitoral.

4. Igualmente, não infi rmou o fundamento da decisão agravada de que, diante da apresentação da prestação de contas próxima ao pedido de registro, ainda que previamente ao requerimento de candidatura, somente sua efetiva análise anterior ao pedido de

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registro poderia ensejar a obtenção da quitação eleitoral.

5. Agravo regimental não provido. (AgR-REspe n. 31.894-RS, Rel. Ministra Eliana Calmon, publicado na sessão de 21.10.2008 - nosso o grifo)

Agravo regimental. Recurso especial. Rejeição de contas. Prefeito. Inelegibilidade. LC n. 64/1990, art. 1º, I, g. Registro de candidato. Indeferimento.

1. Não tendo sido atacados todos os fundamentos da decisão agravada, devem subsistir as suas conclusões (Súmula n. 182-STJ).

2. Tendo em vista que o recorrente não prestou contas dos recursos repassados ao município, por meio de convênio, tendo sido condenado ao pagamento do débito apurado e de multa, conforme apontado no acórdão e na sentença (fl s. 240 e 148), resta caracterizada a inelegibilidade prevista no art. 1º, I, g, da LC n. 64/1990. Precedentes.

3. Agravo regimental desprovido. (AgR-REspe n. 32.096-MG, Rel. Ministro Marcelo Ribeiro, publicado na sessão de 16.10.2008 - nosso o grifo)

Pelo exposto, conheço do agravo regimental, mas nego-lhe provimento.

É o voto.

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO N. 2.802-85.2010.6.19.0000 – CLASSE 37 – RIO DE JANEIRO (RIO DE JANEIRO)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoAgravante: Coligação Frente de Mobilização Socialista (PSB/PMN)Advogados: André Luís Mançano Marques e outrosAgravado: Claudiocis Francisco da SilvaAdvogados: Bruno Calfat e outros

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EMENTA

Eleições 2010. Registro de candidatura. Agravo regimental. Recurso ordinário. Intempestividade. Assistência simples. Ausência de atuação do assistido. Recurso autônomo do assistente. Inviabilidade. Não conhecimento.

1 - É intempestivo o agravo regimental interposto quando esgotado o prazo de três dias previsto no artigo 36, § 8º, do Regimento Interno do Tribunal Superior Eleitoral.

2 - É cediço que os prazos relativos a registro de candidatura são peremptórios e contínuos e não se suspendem, no período eleitoral, aos sábados, domingos e feriados, nos termos dos artigos 66 da Resolução-TSE n. 23.221/2010 e 16 da Lei Complementar n. 64/1990.

3 - Nos processos de registro de candidatura, a coligação ou o partido pelo qual concorre o candidato tem a possibilidade de intervir no processo na qualidade de assistente simples (artigo 50, caput, do Código de Processo Civil), desde que se sujeite aos limites impostos para essa modalidade.

4 - Não se conhece de agravo regimental interposto pelo assistente simples quando o assistido se conforma com o julgado.

5 - Agravo regimental não conhecido.

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em não conhecer do agravo regimental, nos termos das notas de julgamento.

Brasília, 1º de fevereiro de 2011.

Ministro Hamilton Carvalhido, Relator

DJe 18.02.2011

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RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, agravo regimental interposto pela Coligação Frente de Mobilização Socialista – admitida como assistente simples do Ministério Público Eleitoral (fl s. 181) – contra decisão de minha lavra que negou seguimento ao recurso ordinário, nos seguintes termos (fl s. 467-469):

[...]

In casu, pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro foi deferido o pedido de registro da candidatura de Claudiocis Francisco da Silva ao cargo de deputado estadual para as eleições deste ano. Entendeu a Corte pela impossibilidade de aplicar a disciplina do artigo 1º, I, d, da Lei Complementar n. 64/1990, com a redação dada pela Lei Complementar n. 135/2010, em razão do exaurimento do prazo de três anos de inelegibilidade – imposta ao ora recorrido em sede de AIJE, por uso indevido dos meios de comunicação social –, a partir do pleito suplementar de março de 2006, realizado para o preenchimento dos cargos de prefeito e vice-prefeito do Município de Campos dos Goytacazes-RJ (fl s. 112-125), e não de 2004, como assevera o recorrente.

Destaco do voto condutor do acórdão proferido nos embargos de declaração opostos pela Procuradoria Regional Eleitoral (fl s. 132 v.-133), verbis:

[...]

De qualquer sorte, não se ignora que as alterações implementadas na Lei das Inelegibilidades, especialmente no que concerne ao incremento do prazo da restrição ao ius honorum para 8 (oito) anos, considerando os novos parâmetros temporais prescritos no art. 1º, inciso I, alíneas d, h e j, assumiu contornos mais destacados após o pronunciamento do c. Tribunal Superior Eleitoral na Consulta n. 1.147-09, sob a relatoria do eminente Ministro Arnaldo Versiani. Nesta oportunidade, sedimentou-se a imediata aplicabilidade dos preceitos moralizadores em comento, já para o pleito geral de 2010, não havendo que se falar em ofensa ao art. 16 da CRFB, como sustentado pela defesa.

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Bem vistas as coisas, não se está a conferir efi cácia retrooperante ao conjunto de inovações incorporadas à norma complementar de regência das inelegibilidades, mas simples incidência prospectiva aos novos requisitos, em vista de um certame que ainda não se havia iniciado quando de sua vigência, aos 7 de junho de 2010.

[...]

Neste contexto, não me parece possível deixar de divisar um caráter de exasperação sancionatória nos casos onde o prazo da restrição de direitos foi majorado de 3 (três) para 8 (oito) anos. Com efeito, se antes o abuso de poder reconhecido implicava inelegibilidade por três anos, encontro substancial difi culdade em aplicar a restrição majorada a fatos ocorridos sob o império da lei anterior, sem observância da tão arraigada máxima do tempus regit actum (o tempo rege o ato).

[...]

Especifi camente em relação ao hoje pré-candidato Claudiocis Francisco, convém salientar que o Acórdão n. 50.881 expressamente fi xou sua inelegibilidade por três anos, contados na forma do Enunciado n. 19, da Súmula de Jurisprudência do TSE, circunstância que, de plano, evidencia a inviabilidade dos embargos manejados pela d. P.R.E., eis que o termo inicial da sanção expresso na decisão já se encerrou.

Ante o exposto, impõe-se o desprovimento dos Embargos de Declaração opostos pela Procuradoria Regional Eleitoral, na forma dos argumentos acima esposados, mantendo-se o acórdão nos estritos termos em que prolatado.

Destarte, o decisum regional mostra-se consonante com o entendimento fi rmado nesta Corte, de que não incide o regramento legal insculpido no artigo 1º, I, d, da Lei Complementar n. 64/1990, quando já decorrido o prazo de três anos assinado para a inelegibilidade, ainda quando não haja trânsito em julgado, mesmo antes do início da vigência da Lei Complementar n. 135/2010.

É que o decurso do tempo, na espécie, seria causa extintiva da condição de efi cácia do fato jurídico de que é efeito a inelegibilidade, assim extinta.

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

Não há pretender, portanto, ainda mais por efeito da lei nova, ampliar prazo já extinto, sem incidir em rematado pleito de retroatividade, infringente ao princípio da segurança jurídica, essencial ao Estado Democrático de Direito.

Por peremptório, diga-se em remate, na letra do parecer da Procuradoria-Geral Eleitoral, verbis (fl . 178):

[...]

Entretanto, no caso em tela, no momento do registro da candidatura, o recorrido não era inelegível, uma vez que ainda não havia sido condenado por órgão colegiado.

Ainda que este órgão do Ministério Público Eleitoral entenda correto o posicionamento do Parquet Regional, no sentido que a condenação deveria ter imposto ao recorrido a inelegibilidade pelo prazo de 8 (oito) anos e não 3 (três) anos, certo é que esta não é a via adequada para impugnar a decisão proferida na Representação n. 150.

Pelo exposto, com fundamento no artigo 36, § 6º, do Regimento Interno do Tribunal Superior Eleitoral, nego seguimento ao recurso.

A agravante sustenta, primeiramente, a tempestividade do presente agravo regimental, interposto em 22.11.2010, em conformidade com a letra do § 10 do artigo 36 do Regimento Interno do TSE. Segundo a sua interpretação desse dispositivo, a publicação das decisões do relator nos processos relativos a registro de candidatura se dá somente na sessão subsequente à prolação e, no caso, em que a decisão foi prolatada em 18.11.2010, a publicação só se daria na data da próxima sessão, 23.11.2010, daí passando a correr o prazo para a interposição do recurso.

Reitera as razões expostas por ocasião do pedido de assistência, além de fazer menção a fato novo, qual seja, que os autos do agravo de instrumento interposto contra a decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, que indeferiu o recurso especial do recorrido, Claudiocis Francisco da Silva, já estariam tramitando nesta Corte Eleitoral. Além disso, pugna para que estes sejam apensados àquele recurso, em decorrência da manifesta “conexão ou continência existente entre os processos” (fl . 488).

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

Requer a suspensão do julgamento do presente recurso ordinário “[...] até o julgamento fi nal do mérito da ação onde o recorrido foi declarado inelegível, que, no TSE, vai se dar através do Agravo de Instrumento na RP n. 150, oriunda do TRE-RJ” (fl . 491), afi rmando se tratar de matéria de ordem pública.

Pede, ao fi nal, seja reconsiderada a decisão monocrática e indeferido o registro de candidatura do recorrido, ora agravado, ou, caso contrário, seja conhecido o presente recurso como agravo regimental e submetido a julgamento do Plenário.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, não conheço do regimental.

Verifi ca-se a intempestividade do presente agravo regimental, uma vez que é de três dias o prazo para a interposição de agravo contra decisão monocrática de relator, nos termos do artigo 36, § 8º, do Regimento deste Tribunal.

Nos processos de registro de candidatura, o prazo para recurso passa a correr da publicação do acórdão em sessão, em conformidade com o pacífi co entendimento jurisprudencial desta Corte, da qual destaco:

Embargos de declaração. Recebimento como agravo regimental. Desprovimento.

1. Os embargos de declaração opostos contra decisão monocrática devem ser acolhidos como agravo regimental.

2. A juntada posterior de procuração, nesta Corte, não sana a defi ciência na representação processual, por ser inaplicável nas instâncias especiais o artigo 13 do Código de Processo Civil que possibilita a regularização da representação processual da parte. Precedentes do TSE.

3. Em processo de registro de candidatura, a intimação ocorre com a publicação do acórdão em sessão (artigo 56, § 3º, da Resolução-TSE n.

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

22.717/2008 combinado com o artigo 184, § 2º, do CPC (AgRREspe n. 31.087, rel. Min. Felix Fischer, PSESS de 23.09.2008).

(AgR-REspe n. 30.888-RJ, Rel. Ministro Eros Grau, publicado na sessão de 30.10.2008)

Deve-se destacar, ainda, que, nos termos dos artigos 66 da Resolução-TSE n. 23.221/2010 e 16 da Lei Complementar n. 64/1990, os prazos relativos a registro de candidatura são peremptórios e contínuos e não se suspendem, no período eleitoral, aos sábados, domingos e feriados.

Consoante certidão (fl . 470), a decisão atacada teve sua publicação na sessão de 18 de novembro (quinta-feira), tendo decorrido o prazo legal para recurso dia 21 (domingo). O agravo regimental foi interposto apenas dia 22 seguinte (segunda-feira).

Gize-se, em remate, que, nos processos de registro de candidatura, a coligação ou partido pelo qual concorre o candidato tem a possibilidade de intervir no processo na qualidade de assistente simples (artigo 50, caput, Código de Processo Civil). A propósito, trago à colação os seguintes precedentes deste Tribunal:

Embargos de declaração no agravo regimental no recurso especial. Impugnação de registro de candidatura. Vereador. Admissão de partido político no polo passivo. Assistente simples. Possibilidade. Não aplicação da Súmula n. 11 do TSE. Omissão sanada. Falta de quitação eleitoral. Prestação de contas extemporânea. Aprovação das contas de campanha em momento posterior. Irrelevância. Condição de elegibilidade aferida no momento do pedido de registro. Omissão, neste ponto, inexistente. Contradição interna não confi gurada. Precedentes.

I - Nas ações de impugnação de registro de candidatura, não existe litisconsórcio necessário entre o pré-candidato e o partido político pelo qual pretende concorrer no pleito. Entretanto, deve ser admitida a intervenção da agremiação partidária na qualidade de assistente simples do pretenso candidato, tendo em vista os refl exos eleitorais decorrentes do indeferimento do registro de candidatura. Omissão sanada.

II - Não está quite com a Justiça Eleitoral aquele que apresenta contas de campanha intempestivamente, após o pedido de registro neste pleito.

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Processual

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III - Inexistência de contradições no acórdão embargado. Os embargos declaratórios não se prestam a reexame do quanto decidido pelo Tribunal.

IV - Embargos de declaração opostos por Josias Teixeira do Amaral rejeitados.

V - Embargos de declaração opostos pelo Partido Humanista da Solidariedade (PHS) acolhidos parcialmente, sem efeitos modifi cativos, a fi m de tão somente deferir o ingresso do partido na lide como assistente simples do pré-candidato. (ED-AgR-REspe n. 33.498-PE, Rel. Ministro Ricardo Lewandowski, julgado em 23.4.2009, DJe 12.5.2009 - nosso o grifo)

Embargos de declaração. Agravo regimental. Recurso especial. Registro de candidato. Indeferimento. Filiação partidária. Duplicidade. Assistência. Admissão. Votos obtidos. Destinação. Rejeição.

1. A assistência é admitida em qualquer grau ou instância, conforme expressamente prevê o art. 50, parágrafo único, do Código de Processo Civil, mas é exigida a demonstração do interesse imediato a fi m de que se possa deferir a intervenção no feito.

2. Inocorrentes as hipóteses do art. 275 do Código Eleitoral, não há como prosperarem os embargos de declaração.

3. Embargos rejeitados. (ED-AgR-REspe n. 31.545-CE, Rel. Ministro Marcelo Ribeiro, publicado na sessão de 11.11.2008)

In casu, o Ministério Público, que foi o único a recorrer do deferimento do registro de candidatura, não opôs agravo regimental da decisão que negou seguimento ao recurso ordinário, conformando-se, assim, com o decisum. Desse modo, não há como conhecer do recurso autônomo interposto pela Coligação, que, por força de lei, é mero auxiliar do assistido. Veja-se, a propósito, o seguinte precedente desta Corte, verbis:

Eleições 2008. Embargos de declaração. Recurso especial. Assistência simples. Não impugnação da decisão pelo assistido. Ausência de legitimidade do assistente para recorrer. Omissão. Inexistência. Efeitos infringentes. Impossibilidade. Rejeição.

1. Falta legitimidade à embargante para opor embargos declaratórios, pois não recorrendo o Ministério Público (assistido)

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da decisão proferida pelo Plenário desta Corte, cessa, nos termos do art. 53 do CPC, a intervenção do assistente simples, na medida em que este não pode atuar de forma contrária à intenção do assistido.

2. Não ocorrentes as hipóteses insertas no art. 275 do Código Eleitoral, tampouco equívoco manifesto no julgado recorrido, não merecem acolhida os embargos que se apresentam com nítido caráter infringente, onde se objetiva rediscutir a causa.

3. Embargos de declaração rejeitados. (ED-REspe n. 30.461-SP, Rel. Ministro Fernando Gonçalves, publicado na sessão de 25.11.2008 - nosso o grifo)

Pelo exposto, não conheço do agravo regimental.É como voto.

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO N. 2.825-36. 2010.6.26.0000 – CLASSE 37 – SÃO PAULO (SÃO PAULO)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoAgravante: Ministério Público EleitoralAgravada: Liliana Medeiros de Almeida Aymar BecharaAdvogados: Anderson Pomini e outros

EMENTA

Eleição 2010. Agravo regimental. Recurso ordinário. Registro de candidatura. Artigo 1º, I, d, da LC n. 64/1990, com a redação dada pela LC n. 135/2010. Efeitos produzidos pela lei anterior. Inaplicabilidade da lei nova. Retroatividade infringente da segurança jurídica. Precedentes. Decisão que se mantém por seus próprios fundamentos.

- São imunes à lei nova os efeitos produzidos pela lei anterior, mormente quando exauridos ainda na vigência da norma antiga.

- Agravo regimental desprovido.

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ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em desprover o agravo regimental, nos termos das notas de julgamento.

Brasília, 29 de outubro de 2010.Ministro Hamilton Carvalhido, Relator

Publicado em Sessão

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, agravo regimental interposto pelo Ministério Público Eleitoral contra decisão que, afastando a incidência de causa de inelegibilidade, deu provimento ao recurso ordinário interposto por Liliana Medeiros de Almeida Aymar Bechara, deferindo-lhe o registro.

O agravante sustenta a aplicação da causa de inelegibilidade contida no artigo 1º, I, d, da Lei Complementar n. 64/1990 ao caso dos autos, levando-se em consideração que, verbis (fl s. 201-206):

[...] a agravada teve contra sua pessoa ação de investigação judicial eleitoral julgada procedente pela Justiça Eleitoral, em acórdão transitado em julgado aos 29.6.2007 (fl s. 35-52v), em processo de apuração de abuso de poder econômico e uso indevido de meio de comunicação social.

Essa condenação, relativa às eleições de 2004, acarreta a incidência da causa de inelegibilidade prevista na atual redação do art. 1º, I, d, da Lei Complementar n. 64/1990, até o ano de 2012, ainda que já tenha decorrido o prazo alusivo à inelegibilidade de três anos anteriormente imposta à agravada.

Cumpre ressaltar a ausência de ofensa ao princípio da irretroatividade de lei e à coisa julgada, já que as causas de inelegibilidade, assim como as condições de elegibilidade, devem

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ser aferidas em cada eleição, no momento do pedido de registro de candidatura, ou seja, referem-se a pedidos futuros (repita-se, registro de candidatura), realizados após a entrada em vigor da Lei Complementar n. 135/2010.

No julgamento do MS n. 22.087-DF5, o Supremo Tribunal Federal entendeu, por seu Tribunal Pleno, que “inelegibilidade não constitui pena. Possibilidade, portanto, de aplicação da lei de inelegibilidade, Lei Compl. n. 64/1990, a fatos ocorridos anteriormente a sua vigência”.

Portanto, diante do alcance de situações anteriores pela Lei da “Ficha Limpa”, a agravada é inelegível, nos termos dos arts. 1º, I, d; e 22, XIV, ambos da Lei Complementar n. 64/1990, com a alteração da Lei Complementar n. 135/2010’.

[...]. (grifos no original)

Pede seja reconsiderada a decisão ou submetido o regimental a julgamento pelo Colegiado para que seja conhecido e provido o recurso.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, o agravo não merece provimento.

Tenho afi rmado que a aplicação da lei nova em relação a fato cujos efeitos jurídicos se produziram ainda sob a vigência da lei anterior é caso típico de retroatividade, isto é, desconstituir, no presente, efeito realizado no passado por diploma normativo anterior.

Destarte, não incide, in casu, o novo regramento legal insculpido no artigo 1º, I, d, da Lei Complementar n. 64/1990, que não alcança efeito produzido pela lei anterior e até exaurido no tempo da sua vigência.

E isto por que a recorrente foi declarada inelegível pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, devido à comprovação do uso indevido de

5 MS n. 22.087-DF, Relator Ministro Carlos Velloso, DJ 10.05.1996, p. 15.132

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meio de comunicação social e abuso do poder econômico, para as eleições que se realizassem nos três anos subsequentes ao pleito de 2004 (Recurso Cível n. 24.414; acórdão publicado em 27.9.2005, fl . 47; trânsito em julgado em 29.6.2007, fl . 49).

Vale conferir a decisão agravada na qual a matéria foi devidamente enfrentada, verbis (fl s. 193-198):

[...]

Tudo visto e examinado, decido.

Tal como tenho votado, estou em que a questão genérica é a da aplicação da Lei Complementar n. 135/2010, que alterou a Lei Complementar n. 64/1990, e se especifi ca nas da sua aplicação imediata e da sua irretroatividade.

Pergunta-se, primeiro: aplica-se a Lei Complementar n. 135/2010 às eleições em curso ou, ao contrário, incide, na espécie, a anualidade de que cuida o artigo 16 da Constituição da República?

Esta é a letra do artigo 16 da Constituição da República:

Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.

A solução desta primeira questão deve principiar, necessariamente, pela consideração do disposto no § 9º do artigo 14 da Constituição da República, in verbis:

Art. 14 [...]

§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fi m de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a infl uência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

Assim me introduzi no voto oral que proferi no julgamento do RO n. 1616-60-DF:

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Peço licença a Vossa Excelência para relembrar um grande mestre de Direito Constitucional, Josaphat Marinho, que, entre as suas várias produções, escreveu um artigo em que afi rmou que a prova ilícita mostra a essência do que é a nossa Constituição. Ainda que seja a única prova e não exista nada mais que possa conduzir à certeza relativa ao fato criminoso e à sua autoria, que a utilidade social aponte no sentido da sua punição e a exigência de justiça reclame a necessária imposição de uma sanção, o constituinte fez a opção ética. Quando suprimia qualquer efeito à prova ilícita, proclamou o valor que teve como essencial à regência da ordem constitucional e, pois, da ordem social e política.

Não é outro o valor maior que o § 9º do artigo 14 da Constituição Federal visa a proteger que não o da ética, indissociável do mandato eletivo, ao fazer suas condições a probidade e a moralidade. Não é outro o valor que o inspira na proteção da normalidade e da legitimidade das eleições contra a infl uência do poder econômico ou o abuso do exercício da função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

Tal fonte constitucional, de modo a afastar qualquer equivocidade do novo diploma legal, diz respeito a situações de inelegibilidade e, pois, à capacidade eleitoral, tornando evidente a natureza material das normas da Lei Complementar n. 135/2010, que lhe deu consecução, inconfundíveis com aqueloutras que também integram o sistema normativo, denominadas instrumentais, que disciplinam o processo eleitoral e, desse modo, a forma das eleições, ou seja, o conjunto de normas que disciplinam os atos em que se consubstanciam as eleições.

Não se trata, pois, de normas relativas ao processo eleitoral, que o tenham alterado as da Lei Complementar n. 135/2010, assim de aplicação imediata porque não alcançadas pela regra da anualidade, inserta no artigo 16 da Constituição da República.

É de se afi rmar, portanto, a aplicação imediata da nova lei que modifi cou a Lei de Inelegibilidade às eleições em curso.

A segunda questão é a da retroatividade, que, por assim dizer, se tem afi rmado resultar do afastamento da anualidade constitucional.

Ocorre que aplicação imediata e retroatividade da regra jurídica não se identifi cam, colocando-se aquela, na espécie, apenas em

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função da anterioridade reclamada pela Constituição na hipótese de alteração do processo eleitoral, o que não ocorre no caso.

De retroatividade só há falar apenas e quando se desconstitui, no presente, por efi cácia da lei nova, efeito que a da lei anterior que incidiu produziu no passado.

Modifi car ou suprimir efeito já produzido ou, o que é muito mais grave, já irradiado ou, ainda pior, já exaurido da lei anterior importa em atribuir efi cácia retroativa à regra jurídica.

É questão de efi cácia da lei nova e não propriamente da sua incidência, que ocorre quando se constitui, no mundo, o suporte fático da regra jurídica, ao qual não são necessariamente estranhos elementos pretéritos.

Por todo o exposto, o magistério insigne de Pontes de Miranda:

O efeito retroativo que, invade o passado, usurpa o domínio de lei que já incidiu, é efeito de hoje, riscando, cancelando, o efeito pretérito: o hoje contra o ontem, o voltar no tempo, a reversão na dimensão fi sicamente irreversível. É preciso que algo que foi deixe de ser no próprio passado; portanto, que deixe de ter sido. O efeito hodierno, normal, é o hoje circunscrito ao hoje. Nada se risca, nada se apaga, nada se cancela do passado. O que foi continua a ser tido como tendo sido. Só se cogita do presente e da sua lei. (...)

A lei do presente é a que governa o nascer e o extinguir-se das relações jurídicas. Não se compreenderia que fosse a lei de hoje reger o nascimento e a extinção resultantes de fatos anteriores. Isso não obsta a que uma lei nova tenha – como pressuposto sufi ciente, para a sua incidência, hoje – fatos ocorridos antes dela. Porém não só ao nascimento e à extinção das relações jurídicas concerne a regra jurídica de co-atualidade do fato e da lei. Os efeitos produzidos antes de entrar em vigor a nova lei não podem por ela ser atingidos; dar-se-ia a retroatividade. (in Comentários à Constituição de 1967, Com a Emenda n. 1, de 1969, Tomo V, Editora Revista dos Tribunais, 2ª edição, págs. 80-81 - nossos os grifos).

A propósito desses elementos pretéritos, veja-se a letra do artigo 3º da Lei Complementar n. 135/2010 referente a fatos anteriores ao início da vigência da novel lei:

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Art. 3º Os recursos interpostos antes da vigência desta Lei Complementar poderão ser aditados para o fi m a que se refere o caput do art. 26-C d Lei Complementar n. 64, de 18 de maio de 1990, introduzido por esta Lei Complementar.

Acrescente-se, mais, em remate, que o dispositivo do § 9º do artigo 14 da Constituição da República, antes transcrito (“Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fi m de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a infl uência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta”), expressamente aponta para fatos pretéritos como elementos dos suportes fáticos das normas da lei complementar que prevê, tanto quanto não os exclui implicitamente, à luz da sua objetividade jurídica e da sua natureza cautelar, da proteção da normalidade e da legitimidade das eleições, contra a infl uência do poder econômico ou o abuso no exercício da função, cargo ou emprego público na administração direta ou indireta.

Convém averbar a abalizada corrente que vê na espécie norma atributiva de efeito e tema de ordem pública, aberta também a situações pretéritas, com o fi m de, por meio da inelegibilidade, assegurar o futuro, é dizer de modo abrangente, um mínimo de moralidade, de probidade, indispensáveis ao exercício do mandato político.

Por fi m, não vejo nenhuma ofensa ao princípio da presunção de não culpabilidade.

A esse respeito, esta Corte Superior, em 10.6.2010, respondendo à Consulta n. 1.120-26.2010.6.00.0000-DF, de minha relatoria, assim se manifestou:

[...]

A garantia da presunção de não culpabilidade protege, como direito fundamental, o universo de direitos do cidadão, e a norma do artigo 14, § 9º, da Constituição Federal restringe o direito fundamental à elegibilidade, em obséquio

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da probidade administrativa para o exercício do mandato, em função da vida pregressa do candidato.

A regra política visa acima de tudo ao futuro, função eminentemente protetiva ou, em melhor termo, cautelar, alcançando restritivamente também a meu ver, por isso mesmo, a garantia da presunção da não culpabilidade, impondo-se a ponderação de valores para o estabelecimento dos limites resultantes à norma de inelegibilidade.

Fê-lo o legislador, ao editar a Lei Complementar n. 135/2010, com o menor sacrifício possível da presunção de não culpabilidade, ao ponderar os valores protegidos, dando efi cácia apenas aos antecedentes já consolidados em julgamento colegiado, sujeitando-os, ainda, à suspensão cautelar, quanto à inelegibilidade.

[...].

Isso estabelecido, tenho que o recurso merece prosperar.

In casu, a recorrente foi declarada inelegível pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, devido à comprovação do uso indevido de meio de comunicação social e abuso do poder econômico, para as eleições que se realizassem nos três anos subsequentes ao pleito de 2004 (Recurso Cível n. 24.414; acórdão publicado em 27.9.2005, fl . 47; trânsito em julgado em 29.6.2007, fl . 49).

Destarte, não incide o novo regramento legal insculpido no artigo 1º, I, d, da Lei Complementar n. 64/1990, não atingindo fato já consumado, com seus efeitos e consequências exauridas na vigência da anterior redação da norma em referência.

Pretender, por efeito da lei nova, ampliar prazo já extinto, é rematado pleito de retroatividade, infringente ao princípio da segurança jurídica, essencial ao Estado Democrático de Direito, consoante recente julgado desta Corte, de minha relatoria, na sessão de 30.9.2010, nos autos do RO n. 865-14-AL, cuja ementa destaco, verbis:

Eleição 2010. Recurso ordinário. Artigo 1º, I, d, da LC n. 64/1990, com a redação dada pela LC n. 135/2010. Efeitos produzidos pela lei anterior. Inaplicabilidade da lei nova. Retroatividade infringente da segurança jurídica.

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

- São imunes à lei nova os efeitos produzidos pela lei anterior, mormente quando exauridos ainda na vigência da norma antiga.

- Recurso ordinário provido para deferir o registro do candidato.

Pelo exposto, com fundamento no artigo 36, § 7º, do Regimento Interno do Tribunal Superior Eleitoral, dou provimento ao recurso para deferir o registro de candidatura de Liliana Medeiros de Almeida Aymar Bechara ao cargo de deputado estadual nas eleições de 2010. (grifos no original)

Assim, diante da ausência de argumentação apta a afastar a decisão impugnada, esta se mantém por seus próprios fundamentos.

Pelo exposto, nego provimento ao agravo regimental.É o voto.

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO N. 4.164-30.2010.6.26.0000 – CLASSE 37 – SÃO PAULO (São Paulo)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoAgravante: José Carlos Pereira da SilvaAdvogado: Ricardo Monte OlivaAgravado: Ministério Público Eleitoral

EMENTA

Eleição 2010. Registro de candidatura. Agravo regimental no recurso ordinário. Ausência de indicação de afronta a lei ou divergência jurisprudencial. Fungibilidade recursal. Impossibilidade de aplicação. Inovação de tese recursal. Inviabilidade. Desprovimento.

1. Impugnado apenas um dos fundamentos bastantes do acórdão regional, insufuciência que se reproduz no regimental,

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

qualifi cada, a mais, pela inovação, resta obstada a fungibilidade pretendida por manifestamente inadmissível o apelo excepcional.

2. Agravo regimental a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em desprover o agravo regimental, nos termos das notas de julgamento.

Brasília, 05 de outubro de 2010.Ministro Hamilton Carvalhido, Relator

Publicado em Sessão

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, agravo regimental contra decisão de minha lavra pela qual neguei seguimento a recurso ordinário interposto por José Carlos Pereira da Silva, nos termos seguintes (fl s. 109-110):

Recurso ordinário interposto por José Carlos Pereira da Silva contra acórdão do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo que indeferiu seu registro de candidatura ao cargo de deputado federal pela ausência de comprovante de escolaridade e de fi liação partidária igual ou superior a um ano, de acordo a Res.- TSE n. 23.221/2010.

Nas razões do recurso, o recorrente sustenta, em suma, não haver impedimento à sua candidatura, por ter apresentado com a interposição do presente recurso a declaração de escolaridade, regularizado, assim, o vício que ensejou o indeferimento de seu registro. Pugna pela incidência da Súmula n. 3 do Tribunal Superior Eleitoral ao caso.

Recurso tempestivo e respondido (fl s. 95-98).

A Procuradoria-Geral Eleitoral pronuncia-se pelo não conhecimento do recurso ou seu desprovimento (fl s. 104-107).

Tudo visto e examinado, decido.

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

Consoante o artigo 49 da Resolução-TSE n. 23.221/2010, cabem os seguintes recursos para o Tribunal Superior Eleitoral:

Art. 49. [...]

I – recurso ordinário quando versar sobre inelegibilidade (CF, art. 121, § 4º, III);

II – recurso especial quando versar sobre condições de elegibilidade (CF, art. 121, § 4º, I e II).

No caso, o recorrente interpôs recurso ordinário quando cabível o especial.

De acordo com a fi rme orientação deste Tribunal, poder-se-ia aplicar, nessa situação, o princípio da fungibilidade recursal, mas desde que comprovada a interposição tempestiva da irresignação, preenchidos os pressupostos específi cos e requisitos do recurso cabível e verifi cada a ausência de erro ou má-fé.

No caso, porém, embora tempestivo, o recurso ordinário (fl s. 85-88) não preenche os pressupostos específi cos para ser recebido como especial. O recorrente não indicou adequadamente de que forma o acórdão recorrido afrontou a norma legal ou negou vigência a lei federal, muito menos demonstrou a divergência jurisprudencial de teses, com a realização do cotejo analítico a fi m de caracterizar a similitude fática e jurídica dos casos confrontados.

Ademais, conforme bem apontado pelo Ministério Público Eleitoral, o recurso se volta, tão somente, contra um dos fundamentos do acórdão regional, deixando de atacar fundamento sufi ciente do decisum, consubstanciado na ausência de fi liação partidária igual ou superior a um ano, o que atrai a incidência do Enunciado n. 283 da Súmula do Supremo Tribunal Federal, verbis:

É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento sufi ciente e o recurso não abrange todos eles.

[...].

A insurgência está fundada na possibilidade de conhecimento do recurso interposto, no que assim argumenta o agravante (fl s. 114-116):

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Processual

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[...]

O que se ataca no Recurso Ordinário, nada mais, nada menos é do que a afronta do v. acórdão proferido pelo Egrégio Tribunal Regional Eleitoral ao disposto na Súmula n. 20 desse Colendo Tribunal Superior Eleitoral, que prevê taxativamente, que:

a falta do nome do fi liado ao partido na lista por este encaminhada à Justiça Eleitoral, nos termos do Art. 19 da Lei n. 9.096, de 19.09.1995, pode ser suprida por outros elementos de prova de oportuna fi liação.

[...] no caso em apreço, houve a oportuna e tempestiva demonstração em Juízo, no que concerne aos “outros elementos de prova de oportuna fi liação” do Sr. José Carlos Pereira da Silva, mais precisamente, o encarte aos autos de sua fi cha de fi liação ao PRTB, bem como, a sua inclusão na ata de reunião de citada Agremiação, a qual contemplou e ofi cializou os nomes de seus candidatos, que irão concorrer aos pleitos proporcionais de outubro próximo.

[...] O fato de se haver nominado um Recurso Especial de Ordinário, não pode fazer superar o princípio constitucional incerto [sic] no inciso LV, de seu artigo 5º.

[...] o Poder Jurisdicional não se [sic] pode ser detido simplesmente em meras formalidades. O acesso a [sic] justiça e a garantia da apreciação da questão suscitada em sua plenitude, deve ser colocado em primeiro plano a [sic] efi cácia jurisdicional do que as solenidades previstas em lei.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, a decisão agravada deve ser mantida por seus próprios fundamentos.

É esta, no que interessa, a letra do acórdão recorrido (fl s. 57-58):

[...]

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

Verifi ca-se que o presente pedido de registro de candidatura se ressente da documentação e requisitos exigidos pela Resolução n. 23.221/2010 do E. Tribunal Superior Eleitoral, notadamente de comprovante de escolaridade e de fi liação partidária igual ou superior a um ano, de acordo com o disposto no art. 12 da Resolução TSE n. 23.221/2010.

Assim, em razão do exposto, pelo meu voto, julgo procedente impugnação e indefi ro o pedido de registro de candidatura. (grifo no original).

Contra acórdão da Corte a qua, consoante o artigo 49 da Resolução-TSE n. 23.221/2010, cabem os seguintes recursos para o Tribunal Superior Eleitoral:

Art. 49. [...]

I - recurso ordinário quando versar sobre inelegibilidade (CF, art. 121, § 4º, III);

II - recurso especial quando versar sobre condições de elegibilidade (CF, art. 121, § 4º, I e II).

No caso, o agravante interpôs recurso ordinário contra o acórdão do Tribunal Regional Eleitoral do São Paulo, quando cabível o especial, no qual invocou o Enunciado n. 3 da Súmula deste Tribunal.

A aplicação da fungibilidade, para que o recurso ordinário interposto seja recebido como especial, está condicionada à comprovação da tempestividade, preenchimento dos pressupostos específi cos e requisitos do recurso cabível e verifi cação de ausência de erro ou má-fé.

No entanto, do cotejo entre as razões do recurso e a fundamentação do acórdão recorrido verifi co que o recorrente não indicou adequadamente de que forma o acórdão recorrido afrontou a norma legal ou negou vigência a lei federal, muito menos demonstrou a divergência jurisprudencial de teses, com a realização do cotejo analítico a fi m de caracterizar a similitude fática e jurídica dos casos confrontados.

Registro que não se presta a atender o que dispõe o artigo 276, I, a, do Código Eleitoral a alegação de afronta ao Enunciado n. 3 da Súmula deste Tribunal. Isso porque enunciado sumular não se equipara a lei federal.

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

Colho, a propósito, os seguintes precedentes do Superior Tribunal de Justiça: REsp n. 716.515-RS, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 1º.04.2008, DJe 11.04.2008; REsp n. 904.207-RN, Rel. Ministro José Delgado, Primeira Turma, julgado em 18.12.2007, DJ 27.02.2008; REsp n. 549.896-PR, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Segunda Turma, julgado em 1º.03.2007, DJ 19.03.2007. E mais:

Administrativo. Processual Civil. Ofensa ao art. 535, inciso II, do Código de Processo Civil. Omissão inexistente. Fundamentos contrários aos interesses das partes. Violação ao Enunciado n. 242 do Superior Tribunal de Justiça. Descabimento. Art. 460 do Código de Processo Civil. Ausência de contrariedade.

[...]

2. Consoante o entendimento desta Corte, os verbetes ou enunciados dos Tribunais não se equiparam às leis federais para fi ns de interposição de recurso especial.

[...]

4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no Ag n. 804.538-SP, Rel. Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 21.11.2006, DJ 05.02.2007).

Processual Civil. Recurso especial. Inadmissibilidade. Fundamentação defi ciente. Súmula n. 284-STF. Alegação de violação a súmula. Matéria constitucional.

Não é possível se conhecer de recurso especial, interposto pela alínea a do permissivo constitucional, se o recorrente indica como violados apenas dispositivo constitucional e enunciado de Súmula, que não se enquadra no conceito de lei.

Recurso não conhecido. (REsp n. 263.576-RJ, Rel. Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em 10.04.2001, DJ 28.05.2001).

Processual Civil. Recurso especial. Ação rescisória. Empréstimo compulsório sobre combustível. Inconstitucionalidade. Restituição. Prova de propriedade do veículo. Decadência do direito de propor a ação. Inocorrência. CPC, art. 284. Violação a súmula para fi ns de interposição do recurso especial. Impossibilidade. Divergência jurisprudencial não comprovada. Inadmissibilidade.

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

Ao Tribunal é defeso indeferir a petição inicial antes de conceder ao autor a oportunidade de suprir a falha, no prazo do art. 284 do CPC, para apresentar a certidão do trânsito em julgado da decisão rescindenda.

A alegação de contrariedade à Súmula do STF não autoriza a interposição do recurso especial, por isso que é assente o entendimento no sentido de que os verbetes ou enunciados dos Tribunais não se equiparam às leis federais para a fi nalidade prevista no art. 105, III, a da C.F.

A divergência jurisprudencial deve ser estabelecida entre o aresto recorrido e os acórdãos que serviram de apoio à edição da Súmula indicada como dissidente, segundo entendimento pacífi co desta eg. Corte, na interpretação do RISTJ, art. 255 e parágrafos.

Recurso especial não conhecido. (REsp n. 191.795/RJ, Rel. Ministro Francisco Peçanha Martins, Segunda Turma, julgado em 15.05.2001, DJ 25.06.2001).

A meu ver, tais aspectos não podem ser relevados. Por oportuno destaco excerto do voto proferido pelo ilustre Ministro

Sálvio de Figueiredo Teixeira por ocasião do julgamento no Superior Tribunal de Justiça do AgRg no Ag n. 150.796-MG, julgado em 24.03.1998, DJ 08.06.1998:

[...] Por mais justa que seja a pretensão recursal, não se pode desconhecer os pressupostos recursais. O aspecto formal é importante em matéria processual não por amor ao formalismo, mas para segurança das partes. Assim não fosse, teríamos que conhecer dos milhares de processos irregulares que aportam a este Tribunal, apenas em nome do acesso à tutela jurisdicional.

[...].

E mais, bastaria para manter o acórdão recorrido o fundamento de ausência de fi liação partidária igual ou superior a um ano, que nem sequer foi atacado no recurso ordinário.

Ora, ao deixar de atacar todos os fundamentos do acórdão recorrido, incidiu na espécie o Enunciado n. 283 da Súmula do Supremo Tribunal Federal.

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

Apenas nas razões do regimental o agravante suscitou a possível demonstração da fi liação partidária por outros elementos de prova (Enunciado n. 20 da Súmula deste Tribunal). Todavia, reafi rmo, esse tema não foi objeto de alegação nas do recurso ordinário.

Registro, a propósito, o fi rme entendimento jurisprudencial de que as partes não podem inovar tese recursal em sede de agravo regimental. Nesse sentido, alinho, entre outros, o seguinte julgado deste Tribunal, verbis:

Agravo regimental. Recurso especial. Doação de campanha acima do limite legal. Ajuizamento. Prazo. 180 dias. Inovação. Teses. Recursais. Inadmissibilidade. Decisão agravada mantida por seus próprios fundamentos.

1. Em sede de agravo regimental, não se admite a inovação de teses recursais. Precedentes.

2. Não havendo razões para a reforma da decisão agravada, esta deve ser mantida por seus próprios fundamentos.

3. Agravo regimental desprovido. (AgR-REspe n. 36.463-SP, Rel. Ministro Marcelo Ribeiro, julgado em 10.08.2010, DJe 1º.09.2010 – nosso o grifo).

Diante da ausência de argumentação apta a afastar a decisão impugnada, esta se mantém por seus próprios fundamentos.

Pelo exposto, nego provimento ao agravo.É o voto.

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO N. 4.301-12. 2010.6.26.0000 – CLASSE 37 – SÃO PAULO (São Paulo)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoAgravante: Remigio Rocha Neto RochinhaAdvogado: Ricardo Monte OlivaAgravado: Ministério Público Eleitoral

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

EMENTA

Eleição 2010. Registro de candidatura. Agravo regimental. Recurso ordinário. Alegação de afronta. Ausência de prequestionamento. Fungibilidade recursal. Impossibilidade de aplicação. Inovação de tese recursal. Inviabilidade. Desprovimento.

1. Fica inviabilizada a aplicação da fungibilidade recursal se, do cotejo que se faz entre as razões de recurso e a fundamentação do acórdão recorrido, não houve prequestionamento da questão federal alegada.

2. Os enunciados da Súmula deste Tribunal não se equiparam a lei federal para fi ns de cabimento do recurso especial, não se prestando a atender o que dispõe o artigo 276, I, a, do Código Eleitoral. Precedentes.

3. Agravo regimental a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em desprover o agravo regimental, nos termos das notas de julgamento.

Brasília, 29 de setembro de 2010.Ministro Hamilton Carvalhido, Relator

Publicado em Sessão

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, agravo regimental contra decisão de minha lavra pela qual neguei seguimento a recurso ordinário interposto pelo Remígio Rocha Neto Rochinha, nos termos seguintes (fl s. 76-77):

Recurso ordinário interposto por Remígio Rocha Neto Rochinha contra acórdão do Tribunal Regional Eleitoral de São

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

Paulo que indeferiu seu pedido de registro ao cargo de deputado estadual no pleito de 2010, em face da ausência de apresentação da documentação exigida nos termos do artigo 26 da Res.-TSE n. 23.221/2010, mesmo havendo sido intimado para supri-la.

Nas razões recursais, o recorrente invoca o disposto no artigo 183, § 1º, do Código de Processo Civil, porquanto teve necessidade de requerer dilação de prazo para apresentar a certidão faltante, em decorrência do movimento grevista do Poder Judiciário do Estado de São Paulo.

Sustenta ser aplicável o Enunciado n. 3 da Súmula do Tribunal Superior Eleitoral, uma vez que o pedido de dilação de prazo nem sequer teria sido analisado pelo Tribunal Regional. Protesta, por esse motivo, pela juntada da documentação faltante juntamente com o seu recurso.

A douta Procuradoria-Geral Eleitoral se manifesta pelo não conhecimento do recurso (fl s. 70-74).

Recurso tempestivo e respondido (fl s. 62-63 v.).

Tudo visto e examinado, decido.

Consoante o artigo 49 da Resolução-TSE n. 23.221/2010, caberão os seguintes recursos para o Tribunal Superior Eleitoral:

Art. 49. [...]

I - recurso ordinário quando versar sobre inelegibilidade (CF, art. 121, § 4º, III);

II - recurso especial quando versar sobre condições de elegibilidade (CF, art. 121, § 4º, I e II).

O recorrente interpôs recurso ordinário quando cabível o especial, por se tratar de ausência de condição de elegibilidade.

De acordo com a fi rme orientação deste Tribunal, poder-se-ia aplicar, nessa situação, o princípio da fungibilidade recursal, mas desde que comprovada a interposição tempestiva da irresignação, preenchidos os pressupostos específi cos do recurso cabível e verifi cada a ausência de erro ou má-fé.

No caso, embora tempestivo, o recurso ordinário (fl s. 50-53) não preenche os requisitos para ser recebido como especial. Sem qualquer

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

dúvida, o recorrente não indicou de que forma o acórdão recorrido afrontou norma legal ou negou vigência a lei federal, muito menos demonstrou a divergência jurisprudencial de teses, com a realização do cotejo analítico a fi m de caracterizar a similitude fática e jurídica dos casos confrontados.

Ademais, não foi prequestionada a matéria alusiva ao artigo 183, § 3º, do Código de Processo Civil, nem opostos embargos de declaração com essa fi nalidade, resultando prejudicado o exame do recurso quanto à aplicação do enunciado n. 3 da Súmula do Tribunal Superior Eleitoral.

[...].

A insurgência está fundada na possibilidade de conhecimento do recurso interposto, no que assim argumenta o agravante (fl s. 80-83):

[...]

O que se ataca no Recurso Ordinário, nada mais, nada menos é do que a afronta do v. acórdão proferido pelo Egrégio Tribunal Regional Eleitoral ao disposto na Súmula n. 3 desse Colendo Tribunal Superior Eleitoral, que prevê taxativamente, que:

Súmula n. 3 - No processo de registro de candidatos, não tendo o juiz aberto prazo para o suprimento de defeito da instrução do pedido, pode o documento, cuja falta houver motivado o indeferimento, ser juntado com o recurso ordinário. (grifos do subscritor)

[...] no caso em apreço, não foi concedido prazo para suprir defeito da instrução de seu pedido de candidatura, ao obstante ao notório fato de se existir um movimento grevista, que assolou o Poder Judiciário Paulista, sendo certo que, o encarte da certidão faltante se deu antes da prolação do v. acórdão proferido pelo Egrégio Tribunal Regional Eleitoral do Estado de São Paulo.

[...]

O fato de se haver nominado um Recurso Especial de Ordinário, não pode permissa venia fazer superar o princípio constitucional incerto [sic] no inciso LV, de seu artigo 5º.

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[...] o Poder Jurisdicional não pode ser detido simplesmente pela existência de formalidades processuais. O acesso à justiça e a garantia da apreciação da questão suscitada em sua plenitude, deve ser colocado em primeiro plano à efi cácia jurisdicional do que as solenidade previstas em lei.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, a decisão agravada deve ser mantida por seus próprios fundamentos.

É esta, no que interessa, a letra do acórdão recorrido (fl s. 45-46):

[...]

Verifi ca-se que o presente pedido de registro de candidatura se ressente da documentação e requisitos exigidos pela Resolução n. 23.221/2010 do E. Tribunal Superior Eleitoral, notadamente da certidão de objeto e pé referente ao processo indicado na certidão criminal expedida pela Justiça Estadual de segundo grau do domicílio eleitoral do candidato de fl s. 20.

Em razão do exposto, pelo meu voto, indefere-se o presente pedido de registro de candidatura. (grifo no original)

No caso, o agravante interpôs recurso ordinário contra o acórdão do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, quando cabível o especial, no qual invocou o Enunciado n. 3 da Súmula deste Tribunal e incidência do artigo 183, § 1º, do Código de Processo Civil.

A aplicação da fungibilidade, para que o recurso ordinário interposto seja recebido como especial, está condicionada à comprovação da tempestividade, preenchimento dos pressupostos específi cos e requisitos do recurso cabível e verifi cação de ausência de erro ou má-fé.

No entanto, do cotejo entre as razões do recurso e a fundamentação do acórdão recorrido verifi co que não houve prequestionamento da questão federal alegada (artigo 183, § 3º, do Código de Processo Civil), nem

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

se presta a atender o que dispõe o artigo 276, I, a, do Código Eleitoral a alegação de afronta a enunciado de Súmula deste Tribunal Isso porque enunciado sumular não se equipara a lei federal.

Colho, a propósito, os seguintes precedentes do Superior Tribunal de Justiça: REsp n. 716.515-RS, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 1º.04.2008, DJe 11.04.2008; REsp n. 904.207-RN, Rel. Ministro José Delgado, Primeira Turma, julgado em 18.12.2007, DJ 27.02.2008; REsp n. 549.896-PR, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Segunda Turma, julgado em 1º.03.2007, DJ 19.03.2007. E mais:

Administrativo. Processual Civil. Ofensa ao art. 535, inciso II, do Código de Processo Civil. Omissão inexistente. Fundamentos contrários aos interesses das partes. Violação ao Enunciado n. 242 do Superior Tribunal de Justiça. Descabimento. Art. 460 do Código de Processo Civil. Ausência de contrariedade.

[...]2. Consoante o entendimento desta Corte, os verbetes ou

enunciados dos tribunais não se equiparam às leis federais para fi ns de interposição de recurso especial.

[...]4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no Ag n. 804.538-SP,

Rel. Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 21.11.2006, DJ 05.02.2007)

Processual Civil. Recurso especial. Inadmissibilidade. Fundamentação defi ciente. Súmula n. 284-STF. Alegação de violação a súmula. Matéria constitucional.

Não é possível se conhecer de recurso especial, interposto pela alínea a do permissivo constitucional, se o recorrente indica como violados apenas dispositivo constitucional e enunciado de Súmula, que não se enquadra no conceito de lei.

Recurso não conhecido. (REsp n. 263.576-RJ, Rel. Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em 10.04.2001, DJ 28.05.2001)

Processual Civil. Recurso especial. Ação rescisória. Empréstimo compulsório sobre combustível. Inconstitucionalidade. Restituição. Prova de propriedade do veículo. Decadência do direito de propor

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Processual

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a ação. Inocorrência. CPC, art. 284. Violação a súmula para fi ns de interposição do recurso especial. Impossibilidade. Divergência jurisprudencial não comprovada. Inadmissibilidade.

Ao Tribunal é defeso indeferir a petição inicial antes de conceder ao autor a oportunidade de suprir a falha, no prazo do art. 284 do CPC, para apresentar a certidão do trânsito em julgado da decisão rescindenda.

A alegação de contrariedade à Súmula do STF não autoriza a interposição do recurso especial, por isso que é assente o entendimento no sentido de que os verbetes ou enunciados dos Tribunais não se equiparam às leis federais para a fi nalidade prevista no art. 105, III, a da CF.

A divergência jurisprudencial deve ser estabelecida entre o aresto recorrido e os acórdãos que serviram de apoio à edição da Súmula indicada como dissidente, segundo entendimento pacífi co desta eg. Corte, na interpretação do RISTJ, art. 255 e parágrafos.

Recurso especial não conhecido. (REsp n. 191.795-RJ, Rel. Ministro Francisco Peçanha Martins, Segunda Turma, julgado em 15.05.2001, DJ 25.06.2001)

A meu ver, tais aspectos não podem ser relevados.Por oportuno destaco excerto do voto proferido pelo ilustre Ministro

Sálvio de Figueiredo Teixeira por ocasião do julgamento no Superior Tribunal de Justiça do AgRg no Ag n. 150.796-MG, julgado em 24.03.1998, DJ 08.06.1998:

[...] Por mais justa que seja a pretensão recursal, não se pode desconhecer os pressupostos recursais. O aspecto formal é importante em matéria processual não por amor ao formalismo, mas para segurança das partes. Assim não fosse, teríamos que conhecer dos milhares de processos irregulares que aportam a este Tribunal, apenas em nome do acesso à tutela jurisdicional.

[...].

Diante da ausência de argumentação apta a afastar a decisão impugnada, esta se mantém por seus próprios fundamentos.

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

Pelo exposto, conheço do agravo regimental, mas lhe nego provimento.

É o voto.

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO N. 4.870-13. 2010.6.26.0000 – CLASSE 37 – SÃO PAULO (São Paulo)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoAgravante: Flavius Cotait RuggieroAdvogados: José de Aguiar Junior e outrosAgravado: Ministério Público Eleitoral

EMENTA

Eleição 2010. Registro de candidatura. Agravo regimental. Recurso ordinário. Alegação de afronta. Ausência de prequestionamento. Fungibilidade recursal. Impossibilidade de aplicação. Desprovimento.

1. Fica inviabilizada a aplicação da fungibilidade recursal se, do cotejo que se faz entre as razões de recurso e a fundamentação do acórdão recorrido, não houve prequestionamento da questão federal alegada.

2. Agravo regimental a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em desprover o agravo regimental, nos termos das notas de julgamento.

Brasília, 15 de setembro de 2010.Ministro Hamilton Carvalhido, Relator

Publicado em Sessão

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhora Presidente, agravo regimental contra decisão de minha lavra pela qual neguei seguimento a recurso ordinário interposto pelo Flavius Cotait Ruggiero, nos termos seguintes (fl s. 88-89):

Recurso ordinário interposto por Flavius Cotait Ruggiero contra acórdão do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo que indeferiu seu pedido de registro ao cargo de deputado federal no pleito de 2010, por concluir pela ausência da apresentação da certidão criminal expedida pela Justiça Federal de 1º grau do Distrito Federal, contrariando o artigo 26, II, c, da Res.-TSE n. 23.221/2010.

A insurgência se fundamenta, em síntese, na falta de conhecimento jurídico da agremiação e do candidato, o qual teria conduzido à juntada de certidões de 2º grau, faltando, no entanto, a de 1º grau.

Afi rma o recorrente que:

[...] negou-se vigência ao disposto no parágrafo 3º do artigo 11 [da Lei n. 9.504/1997], no exato momento em que não se concedeu prazo ao recorrente para apresentar as certidões de objeto e pé, as quais não foram solicitadas na diligência anterior. (fl . 63)

Requer a juntada da documentação anexada ao apelo, invocando a aplicação do enunciado 3 da Súmula do Tribunal Superior Eleitoral6 para sua análise.

A douta Procuradoria-Geral Eleitoral se manifesta pelo não conhecimento do recurso (fl s. 83-86).

Tudo visto e examinado, decido.Consoante o artigo 49 da Resolução-TSE n. 23.221/2010,

caberão os seguintes recursos para o Tribunal Superior Eleitoral:

6 “No processo de registro de candidatos, não tendo o juiz aberto prazo para o suprimento de defeito da instrução do pedido, pode o documento, cuja falta houver motivado o indeferimento, ser juntado com o recurso ordinário.”

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

Art. 49. [...]

I – recurso ordinário quando versar sobre inelegibilidade (CF, art. 121, § 4º, III);

II – recurso especial quando versar sobre condições de elegibilidade (CF, art. 121, § 4º, I e II).

No caso, o recorrente interpôs recurso ordinário contra o acórdão do Tribunal Regional Eleitoral, contudo cabível o especial, por se tratar de ausência de condição de elegibilidade.

De acordo com a fi rme orientação deste Tribunal, poder-se-ia aplicar, nessa situação, o princípio da fungibilidade recursal, mas desde que comprovada a interposição tempestiva da irresignação, preenchidos os pressupostos específi cos do recurso cabível e verifi cada a ausência de erro ou má-fé.

O presente recurso ordinário, embora tempestivo, não preenche os requisitos para ser recebido como especial, porquanto não houve prequestionamento do dispositivo tido por violado (artigo 11, § 3º, da Lei n. 9.504/1997), prejudicando a análise quanto à aplicação do Enunciado n. 3 da Súmula deste Tribunal.

[...].

A insurgência está fundada na possibilidade de conhecimento do recurso interposto, no que assim argumenta o agravante (fl s. 93-95):

[...]

Inexistiram o erro e má fé processual. Quanto ao erro, existe jurisprudência deste mesmo E. Tribunal Superior Eleitoral, admitindo o recurso ordinário nas hipóteses de indeferimento do pedido de registro (decisão proferida nos autos do RO n. 431848.2010.626.0000) - anexa cópia.

Por sua vez, as Súmulas n. 3 e 10 deste mesmo Colendo Tribunal Superior, conduzem ao entendimento de que o recurso cabível à espécie, é o ordinário, pois na primeira delas trata da não concessão de prazo para a juntada de documentos ao pedido de registro de candidatura, e na segundo [sic] de igual forma, trata de registro de candidatura.

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

[...] Houve sim pré [sic] questionamento, no exato instante em que o E. Tribunal Regional Eleitoral indeferiu o RRC do agravante, sem lhe dar prazo para juntar a respectiva certidão criminal.

[...]

A partir do instante em que o E. Tribunal Regional Eleitoral não conferiu prazo ao agravante e proferiu acórdão, não havia outro meio de se buscar a correção, a não ser este de aforar recurso ao órgão Judiciário Eleitoral Superior.

[...]

Quanto à indicação especifi ca do artigo de lei violado pelo v. acórdão recorrido, o agravante a fez expressamente.

Sustenta o agravante a aplicação na espécie do Enunciado n. 3 da Súmula deste Tribunal (fl . 98)

Pede seja reconsiderada a decisão ou, caso contrário, submetido o regimental a julgamento pelo Colegiado para que seja conhecido e provido o recurso.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhora Presidente, a decisão agravada é de ser mantida por seus próprios fundamentos.

É esta, no que interessa, a letra do acórdão recorrido (fl . 54):

[...]

Há obrigação legal dos candidatos instruírem o pedido de registro de candidatura com os documentos necessários (art. 11 da Lei n. 9.504/1997 e art. 26 da Resolução TSE n. 23.221/10).

Observa-se, da documentação que instrui o processado, que o requerente não deu integral cumprimento ao disposto no art. 11, VII, da Lei n. 9.504/1997 e art. 26, II, c, da Resolução TSE n. 23.221/2010, vez que não apresentou certidão criminal expedida

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

pela Justiça Federal de 1º grau do Distrito Federal, restando prejudicada, dessa forma, a análise acerca do preenchimento de todas as condições de elegibilidade.

Diante do exposto, indefi ro o registro da candidatura de Flavius Cotait Ruggiero ao cargo de Deputado Federal pela Coligação Humanista Cristão (PSC/PHS).

Contra acórdão da Corte a qua, consoante o artigo 49 da Resolução-TSE n. 23.221/2010, cabem os seguintes recursos para o Tribunal Superior Eleitoral:

Art. 49. [...]

I - recurso ordinário quando versar sobre inelegibilidade (CF, art. 121, § 4º, III);

II - recurso especial quando versar sobre condições de elegibilidade (CF, art. 121, § 4º, I e II).

No caso, o agravante interpôs recurso ordinário contra o acórdão do Tribunal Regional Eleitoral do São Paulo, quando cabível o especial, alegando infração ao artigo 11, 3º, da Lei n. 9.504/1997, porque não lhe foi dado prazo “[...] para apresentar as certidões de objeto e pé, as quais não foram solicitadas na diligência anterior” (fl . 63).

Nas razões do regimental, o agravante defende a possibilidade de aplicação da fungibilidade recursal, porque, no recurso interposto, foram demonstrados os pressupostos específi cos do recurso cabível. Mas essa alegação não procede.

A aplicação da fungibilidade, para que o recurso ordinário interposto seja recebido como especial, está condicionada à comprovação da tempestividade, preenchimento dos pressupostos específi cos e requisitos do recurso cabível e verifi cação de ausência de erro ou má-fé.

No entanto, do cotejo que se faz entre as razões de recurso e a fundamentação do acórdão recorrido verifi ca-se que não houve prequestionamento da questão federal alegada, fi cando prejudicada a análise quanto ao Enunciado n. 3 da Súmula deste Tribunal.

Diante da ausência de argumentação apta a afastar a decisão impugnada, esta se mantém por seus próprios fundamentos.

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

Pelo exposto, conheço do agravo regimental, mas lhe nego provimento.

É o voto.

HABEAS CORPUS N. 558-80.2011.6.00.0000 – CLASSE 16 – RIO DE JANEIRO (Rio de Janeiro)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoImpetrantes: Rodrigo Jorge Xavier de Souza e outroPaciente: Filipe de Almeida PereiraAdvogados: Rodrigo Jorge Xavier de Souza e outroAutoridade coatora: Antônio Augusto de Toledo Gaspar, Juiz

Corregedor do TRE-RJ

EMENTA

Habeas corpus. Pedido de liminar. Salvo-conduto. Audiência. Depoimento pessoal. Paciente/investigado. AIJE. Inadequação da via eleita. Não conhecimento do writ.

1 - O remédio constitucional não se compatibiliza com a pretensão de obstar a realização de audiência para tomada de depoimento pessoal do investigado em sede de ação de investigação judicial eleitoral, se não há demonstração inequívoca de que foi posta em risco a liberdade individual do paciente.

2 - Habeas corpus não conhecido.

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em não conhecer do habeas corpus, nos termos das notas de julgamento.

Brasília, 31 de março de 2011.

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

Ministro Hamilton Carvalhido, Relator

DJe 09.05.2011

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, Habeas corpus impetrado por Rodrigo Jorge Xavier de Souza e outro em favor de Filipe de Almeida Pereira, atualmente no exercício do mandato de deputado federal, contra ato do Juiz Corregedor do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro consubstanciado na designação de audiência para oitiva do paciente nos autos da Ação de Investigação Judicial Eleitoral n. 5.588-05-RJ, proposta em seu desfavor, visando apurar a prática de abuso do poder econômico nas eleições de 2010.

Sustentam os impetrantes que o paciente está sofrendo constrangimento ilegal pelo fato de o Corregedor Regional ter mantido a designação de audiência para tomada de seu depoimento pessoal na referida AIJE, o que aduzem não estar previsto na Lei Complementar n. 64/1990 e ser contrário ao entendimento desta Corte e do Supremo Tribunal Federal.

Dizem ainda:

[...] o ora paciente encontra-se em pleno exercício do mandato eletivo de deputado federal, possuindo sessão plenária da Câmara dos Deputados no mesmo dia da audiência designada para o dia 05 de abril de 2011, sessão que deve o parlamentar, ora paciente, comparecer. (fl . 10)

Afi rmam, por isso, estarem presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora e requerem a concessão de liminar,

[...] a fi m de suspender a realização da audiência de instrução e julgamento já designada para o dia 05 de abril de 2011, levando-se em consideração a natureza una e indivisível de tal ato, até o fi nal do julgamento do presente writ OU [...] que defi ra medida liminar no sentido de não ser realizado o depoimento pessoal do ora paciente na audiência acima mencionada. (fl . 11)

É o relatório.

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, o pedido de habeas corpus está fundado na suposta existência de constrangimento ilegal ao paciente pelo fato de o Juiz Corregedor do TRE-RJ, Antônio Augusto de Toledo Gaspar, haver reafi rmado a necessidade do depoimento pessoal, a ser tomado em audiência designada para 5.4.2011, à míngua de previsão legal.

Por primeiro, registre-se que o Supremo Tribunal Federal já afi rmou que:

[...] 4. De acordo com a estrutura da Justiça Eleitoral brasileira, é competente o TSE para conhecer e julgar habeas corpus impetrado contra ato supostamente ilegal ou abusivo, perpetrado por qualquer dos órgãos fracionários do TRE, no caso, a Presidência da Corte regional. [...]. (Habeas Corpus n. 88.769-4-SP, Rel. Ministra Ellen Gracie, julgado em 9.9.2008, DJ 26.9.2008, 2ª Turma)

Este Tribunal, no entanto, em julgado recente, já fi rmou orientação de que não se conhece de habeas corpus contra ato de juiz membro de Tribunal Regional Eleitoral, sob pena de invasão de competência e supressão de instância. Para certeza das coisas, transcrevo a respectiva ementa:

Habeas corpus. Trancamento de ação penal. Falsidade documental.

1. Não se concede habeas corpus quando a denúncia descreve indícios sufi cientes de autoria e materialidade e expõe claramente fato - falsidade documental - que, ao menos em tese, confi gura crime eleitoral.

2. Segundo a teoria da substanciação, o réu se defende dos fatos narrados na denúncia, motivo pelo qual o julgador não está vinculado à qualifi cação jurídica nela feita.

3. Não se conhece do habeas corpus no tocante ao não cabimento de proposta de suspensão condicional do processo, tendo em vista ter sido impetrado contra ato de membro de Tribunal Regional Eleitoral, evitando-se, assim, indevida supressão de instância.

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

4. Ordem parcialmente conhecida e, nessa parte, denegada. (HC n. 3.203-15-RS, Rel. Ministro Arnaldo Versiani, julgado em 15.2.2011, DJe 29.3.2011 - nossos os grifos)

No mesmo sentido, de minha relatoria, o Habeas Corpus n. 377-79-RJ, julgado na sessão de 1º.3.2011, ainda pendente de publicação.

A par dessa discussão, tem-se que a pretensão deduzida não tem relação concreta e efetiva com o direito à liberdade individual de ir, vir e fi car, assegurado constitucionalmente:

Art. 5º [...]

LXVIII - conceder-se-á habeas-corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.

O verbo constitucional é peremptório no cabimento do remédio heróico: só e sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, o que não se provou no caso.

Nesse contexto, não conheço do writ.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL ELEITORAL N. 35.941 (43011-61.2009.6.00.0000) – CLASSE 32 – PARAÍBA (Monte Horebe)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoRecorrente: José Nilton Pereira DantasAdvogado: Johnson Gonçalves de AbrantesRecorrida: Coligação Liberdade para Todos (PT/PMDB/PSDB/PTB)Advogados: Michel Saliba Oliveira e outraRecorrido: José Pessoa Filho

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

EMENTA

Recurso especial. Recurso contra expedição de diploma. Erro material. Correção em instância especial. Possibilidade. Interposição. Legitimidade de candidato. Artigo 262, I a IV, do Código Eleitoral. Cassação de diploma. Interesse de agir. Existência de direito material. Análise. Desnecessidade.

1. Erro material é passível de retifi cação na instância especial. Precedentes.

2. O candidato tem legitimidade ativa para o manejo do recurso contra expedição do diploma, ainda que não tenha benefício direto com o provimento do recurso. Precedentes.

3. O recurso contra expedição de diploma é o instrumento adequado à cassação de diploma se presentes uma das hipóteses previstas no artigo 262, incisos I a IV, do Código Eleitoral.

4. Para aferir se há interesse de agir, não se analisa a existência do direito material, que é questão vinculada ao exame do mérito da demanda.

5. Recurso conhecido, mas desprovido.

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em desprover o recurso, nos termos das notas taquigráfi cas.

Brasília, 20 de maio de 2010.Ministro Ricardo Lewandowski, PresidenteMinistro Hamilton Carvalhido, Relator

DJe 16.06.2010

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, recurso especial interposto por José Nilton Pereira Dantas, com fundamento no

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

artigo 276, I, a, do Código Eleitoral, contra acórdão do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba que, dando parcial provimento ao recurso contra expedição de diploma interposto pela Coligação Liberdade Para Todos e José Pessoa Filho, cassou o diploma do recorrente, em acórdão assim ementado (fl s. 51-52):

Recurso contra diplomação. Vereador. Registro indeferido após a eleição. Cassação do diploma. Votos válidos para legenda. Posse do suplente da mesma coligação. Art. 175, § 4º do Código Eleitoral. Provimento parcial.

Estando o registro deferido à época da eleição, os votos concedidos ao recorrido devem ser contados para a legenda, não se devendo falar em novo cálculo do coefi ciente Eleitoral. Inteligência do art. 175, § 4º do Código Eleitoral.

Precedente oriundo da Paraíba, no caso do candidato a deputado Federal Tarcísio Marcelo.

Conforme orientação do TSE, não deve ser diplomado candidato sem registro, ainda que o indeferimento esteja sub judice, ou seja, ainda que na data da diplomação a decisão do TSE não tenha transitado em julgado.

Situação em que o diploma é cassado, porém os votos são considerados válidos para a legenda, com a posse do primeiro suplente da mesma coligação.

Recurso provido parcialmente, para determinar a posse do primeiro suplente da mesma coligação do vereador cassado.

Opostos embargos de declaração pelo recorrente, suscitando ilegitimidade de parte e falta de interesse de agir da Coligação e de José Pessoa Filho, foram eles rejeitados (fl s. 68).

O recurso especial está fundamentado, exclusivamente, na afronta ao artigo 3º do Código de Processo Civil, por ilegitimidade e falta de interesse dos recorridos para a interposição de recurso contra expedição de diploma.

Admitido o recurso, os recorridos foram intimados mas não apresentaram contrarrazões (certidão de fl s. 106).

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MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

Parecer da Procuradoria-Geral Eleitoral, em preliminar, pelo não conhecimento do recurso especial e, no mérito, pelo seu desprovimento (fl s. 110-113).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, de início, cumpre registrar que, o acórdão recorrido, malgrado analisar a legitimidade ativa da Coligação Liberdade para Todos e de José Pessoa Filho, consigna, no entanto, no lugar deste o nome de José Nilton Pereira Dantas.

Do aresto decorrente do julgamento dos embargos na origem destaco, no que interessa, o seguinte (fl s. 67-68):

No caso, a coligação “Liberdade Para Todos” e o senhor José Pessoa Filho interpuseram Recurso Contra a Expedição de Diploma alegando ter esse direito à vaga deixada pelo recorrido, na ocasião de cassação do diploma, em virtude de cancelamento do seu registro de candidatura, baseando-se no § 3º do art. 175 do Código Eleitoral, onde se afi rma que serão nulos, para todos os efeitos, os votos dados a candidatos inelegíveis ou não registrados.

Todavia, analisando os autos, verifi cou-se não ser o caso de incidência do § 3º do art. 175 do Código Eleitoral, mas sim do § 4º, uma vez que a decisão de cancelamento do registro foi proferida após a realização da eleição a que concorreu o candidato alcançado pela sentença, hipótese em que os votos não devem ser anulados, mas contados para a coligação pela qual o candidato foi registrado.

[...]

No que tange à legitimidade e ao interesse da Coligação para interposição de Recurso Contra a Expedição de Diploma, encontramos na doutrina de Tito Costa:

Na linha do que permite a Lei de Inelegibilidades com relação ao processo de registro das candidaturas, deve-se reconhecer a qualquer candidato, partido político, coligação ou

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Ministério Público legitimidade para recorrer da diplomação. O recurso manifestado pelo candidato, contudo, há de estar condicionado a que este revele interesse direto na desconstituição do diploma; ou seja, o cancelamento do diploma do seu adversário deve propiciar a sua diplomação.

No caso vertente, tanto a coligação quanto o candidato José Nilton Pereira Dantas, em principio, demonstraram proveito direto com o cancelamento do diploma expedido ao recorrido, logo, restou patente a legitimidade e interesse de ambos para a interposição de Recurso Contra a Expedição de Diploma, o que não se faz presumir que, obrigatoriamente, o pedido de ambos devesse ser integralmente atendido. (grifos no original)

No caso, a existência de erro material autoriza a correção na via dos embargos de declaração ou de ofício. Pela parte, não foi tomada a providência devida, isto é, não houve provocação para a correção pelo órgão julgador, havendo interposição apenas do recurso especial, sem menção ao equívoco.

Sobre o tema a doutrina defi ne que: “Erro material é aquele perceptível ‘primu ictu oculi’ e sem maior exame, a traduzir desacordo entre a vontade do juiz e a expressa na sentença” (RSTJ 102/278) – in Código de Processo Civil, Th eotônio Negrão e outros, 41ª edição, Saraiva, 2009, p. 580.

Aliás, foi fi rmado entendimento a respeito de erro material na instância extraordinária pelo Superior Tribunal de Justiça, de cuja orientação pretoriana destaco a seguinte ementa:

Recurso especial. Ação rescisória. Duplo juízo de mérito. Iudicium rescindens. Julgamento por maioria. Iudicium rescissorium. Julgamento unânime. Exaurimento de instância. Inexistente. Conclusão do julgamento. Erro material. Retifi cação. Instância especial. Possibilidade. Retorno dos autos.

1. Regra geral, a ação rescisória possui dois pedidos cumulados; o primeiro objetiva rescindir o julgado atacado e o segundo visa à prolação de um novo julgamento para a ação inicialmente proposta. Exceção a essa regra ocorre quando o fundamento da

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

rescisória é justamente a existência de coisa julgada. Nesse caso, o pedido é uno e limita-se a anular a decisão que foi proferida por último.

2. O Tribunal, ao realizar o julgamento de uma ação rescisória, leva em consideração a cumulação dos pedidos existentes e, quando julga pela procedência da ação, exara dois juízos de cognição meritória, um para cada objetivo coimado. Esses juízos são denominados de rescindens e rescissorium, o primeiro analisa a viabilidade de anular o julgado atacado e o segundo forma a decisão que o substituirá. Caso o iudicium rescindens conclua pela impossibilidade de anulação, prejudicada fi ca a análise do juízo seguinte.

3. No caso dos autos, o Tribunal a quo entendeu, por maioria, rescindir o julgado e, por unanimidade, chegou ao resultado que veio a substituir a decisão atacada. Entretanto a conclusão e a certidão de julgamento anunciaram o resultado como sendo unânime, o que efetivamente não ocorreu.

4. O réu interpôs recurso especial sem sanar o erro material do julgamento.

5. A dissonância entre a conclusão inserta na certidão de julgamento e o conteúdo do acórdão ao qual ela se refere constituiu verdadeiro erro material (EDcl no REsp n. 40.468-CE, Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, DJ 04.10.2004; EDcl no REsp n. 602.585-SC, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ 10.05.2004; EDcl nos EDcl no REsp n. 599.841-SC, Rel. Min. Luiz Fux, DJ 13.02.2006).

6. A retifi cação de erro material pode ser feita inclusive na instância especial: “Trata-se de exceção ao princípio de que só a declaração de vontade, e não a vontade mesma, opera nos atos processuais. Pode ser feita a correção material, a qualquer tempo, ainda depois da coisa julgada (...) A retifi cação pode ser ordenada ainda na instância superior, incluída a do recurso extraordinário” (Pontes de Miranda in Comentários ao Código de Processo Civil, 3ª ed., Forense: Rio de Janeiro, 1997. Págs. 82 e 83).

7. No caso em tela, a correção do erro material constante da conclusão do julgamento do acórdão a quo implica devolução dos autos ao Tribunal estadual para que seja reaberto o prazo recursal às partes, uma vez que altera o julgamento da ação rescisória, que deixa de ser unânime.

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

8. Em conclusão, julgando prejudicado o recurso especial interposto, deve ser retifi cado o resultado do julgamento proferido pelo Tribunal local, passando a constar: “Ação rescisória julgada procedente, por maioria”. Em conseqüência, os autos devem retornar para que seja republicada na origem a decisão do julgamento, desta vez com a retifi cação aqui aludida.

9. Recurso especial prejudicado.

(REsp n. 866.349-ES, rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJe de 11.3.2008 - grifo nosso)

Na linha desse precedente, erro material é passível de retifi cação nesta instância.

No que se refere à falta de prequestionamento acerca da falta de legitimidade ativa dos recorridos, arguida no pronunciamento ministerial, não procede. No caso, observa-se que o recorrente opôs embargos de declaração provocando na instância originária a discussão sobre o tema, havendo expressamente se manifestado a Corte de origem no ponto. Admissível, portanto, o recurso especial.

No mérito, tenho que a legislação eleitoral é silente quanto à legitimação para interposição do recurso contra expedição do diploma (arts. 216 e 262 do Código Eleitoral), mas esta Corte a tem reconhecido a candidatos, partidos e coligações.

A pesquisa na base de dados da jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral revela orientações diversas.

Num primeiro momento, fora assentada a ilegitimidade ativa daquele que não demonstra interesse jurídico, a qual “pressupõe a titularidade de um suposto direito, atingido pela decisão ou pelo ato judicial impugnado”. Naquela oportunidade, foi afastada pelo Tribunal a legitimidade ad causam estribada em interesse público sem que, para tanto, estivesse “autorizado por lei, como seria de elementar exigência”. Reporto-me, especifi camente, ao Acórdão no REspe n. 11.811-BA, da relatoria do Ministro Ilmar Galvão, DJ de 26.4.1996.

Posteriormente, foi declarada por este Tribunal a legitimidade do candidato, ainda que não houvesse benefício direto com o provimento do recurso contra expedição de diploma, dado o interesse público na lisura das eleições. O acórdão está assim ementado:

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Processual

MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

Recurso contra a expedição de diploma. Abuso do poder econômico e político e uso indevido de meio de comunicação social. Ilegitimidade. Partido político incorporado. Não-ocorrência. Incorporação deferida após a interposição do recurso. Art. 47, § 9º, da Resolução n. 19.406/95. Deliberação em convenção. Insufi ciência.

Candidato. Benefício direto. Inexistência. Legitimidade. Cassação de diploma de candidato inidôneo. Interesse público.

Distribuição de cestas básicas a gestantes e lactantes. Remissão de débitos de IPTU. Programas antigos e regulares. Obras e festejos pagos com dinheiro público. Especifi cação. Ausência. Não-comprovação. Desvirtuamento de atos da administração. Não-demonstração.

Propaganda antecipada e irregular. Emissora de rádio de propriedade da família do recorrido. Participação freqüente do candidato ou menção elogiosa, com referências à obtenção de verbas para obras públicas, principalmente no primeiro semestre do ano eleitoral. Confi guração de abuso do poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação social. Possibilidade. Potencialidade. Desequilíbrio da disputa.

Ausência de provas. Inexistência das fi tas de gravação dos programas. Degravação contestada.

1. O candidato é parte legítima para interpor recurso contra a expedição de diploma, ainda que não tenha benefício direto com o provimento do recurso, uma vez que, em última análise, nos feitos eleitorais há interesse público na lisura das eleições.

2. A caracterização de abuso do poder político depende da demonstração de que a prática de ato da administração, aparentemente regular, ocorreu de modo a favorecer algum candidato, ou com essa intenção, e não em prol da população.

3. A utilização de um meio de comunicação social, não para seus fi ns de informar e de proporcionar o debate de temas de interesse comunitário, mas para pôr em evidência um determinado candidato, com fi ns eleitorais, acarreta o desvirtuamento do uso de emissora de rádio ou de televisão e, também, confi guração da interferência

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do poder econômico, principalmente quando a emissora é de sua família.

4. Não é impedimento para a confi guração de uso indevido dos meios de comunicação social que a maior parte dos programas tenha ocorrido antes do período eleitoral, porque o que importa, mais que a data em que ocorridos os fatos, é a intenção de obter proveito eleitoral.

(RCED n. 642-SP, rel. Min. Fernando Neves, DJ de 17.10.2003 - grifo nosso)

Nesse sentido a pesquisa remete, ainda, à decisão monocrática da lavra do Ministro Ricardo Lewandowisk nos autos do RCED n. 704-RJ, DJe de 25.8.2009.

Seguindo essa orientação, reconheço a legitimidade ativa do candidato para o manejo do recurso contra expedição do diploma, ainda que não tenha benefício direto com o provimento do recurso.

Quanto à ausência de interesse de agir, também sem êxito a insurgência, pois o recurso contra expedição de diploma é o instrumento adequado à cassação do diploma se presentes uma das hipóteses previstas no artigo 262, incisos I a IV, do Código Eleitoral.

A petição inicial narra que José Nilton Pereira Dantas teve o registro de candidatura indeferido por este Tribunal em razão de inelegibilidade. Daí o pedido de cassação do diploma, requerendo-se, ainda, comunicação à Câmara de Vereadores para proceder à posse de José Pessoa Filho.

Para aferir se há interesse de agir, não se analisa a efetiva existência do direito material, que é questão vinculada ao exame do mérito da demanda, momento em que, analisados os pedidos, poderá haver procedência ou improcedência. Ora, a determinação de posse do segundo suplente, observado o diposto no art. 216 do Código Eleitoral, é efeito da procedência do pedido.

Por essas razões, conheço do recurso, mas lhe nego provimento.

É o voto.

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MSTJTSE, a. 3, (8): 259-440, agosto 2011

RECURSO ORDINÁRIO N. 865-14.2010.6.02.0000 – CLASSE 37 – ALAGOAS (Maceió)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoRecorrente: Ronaldo Augusto Lessa SantosAdvogados: Gabriela Rollemberg e outrosRecorrido: Ministério Público Eleitoral

EMENTA

Eleição 2010. Recurso ordinário. Artigo 1º, I, d, da LC n. 64/1990, com a redação dada pela LC n. 135/2010. Efeitos produzidos pela lei anterior. Inaplicabilidade da lei nova. Retroatividade infringente da segurança jurídica.

- São imunes à lei nova os efeitos produzidos pela lei anterior, mormente quando exauridos ainda na vigência da norma antiga.

- Recurso ordinário provido para deferir o registro do candidato.

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por maioria, em prover o recurso, nos termos das notas de julgamento.

Brasília, 30 de setembro de 2010.Ministro Hamilton Carvalhido, Relator

Publicado em Sessão

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, cuida-se de recurso ordinário interposto por Ronaldo Augusto Lessa Santos contra acórdão do Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas, que, apreciando

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ações de impugnação, apresentadas pelo Ministério Público Eleitoral, à sua candidatura ao cargo de governador nas eleições de 2010, julgou improcedente a primeira e procedente a segunda, indeferindo-lhe o pedido de registro.

É esta a ementa do acórdão recorrido (fl s. 731-733 – vol. 3):

Registro de candidatura. Governador. Vice-Governador. Eleições 2010. 1ª impugnação ao pedido de registro. Ausência de documentos. Diligência cumprida. Processo instruído com todos os documentos exigidos pela Resolução TSE n. 23.221/2010 e pela Lei n. 9.504/1997. 2ª impugnação ao pedido de registro. Inelegibilidade decorrente de condenação por órgão colegiado. Aplicação do art. 1º, inciso I, alínea d, LC n. 64/1990 com a redação da LC n. 135/2010. Improcedência da 1ª impugnação e procedência da 2ª impugnação. Indeferimento do registro da candidatura.

1. Inexistência de ofensa à anterioridade eleitoral (art. 16, CF/1988), pois as inovações trazidas pela LC n. 135/2010 têm natureza de norma eleitoral material e em nada se identifi cam com as do processo eleitoral. O estabelecimento, por lei complementar, de outros casos de inelegibilidade, além dos diretamente previstos na Constituição, é exigido pelo art. 14, § 9º, e não confi gura alteração do processo eleitoral, vedada pelo art. 16 da mesma Carta. Preliminar rejeitada.

2. Inelegibilidade não constitui pena, não havendo que se falar em violação ao princípio da presunção de inocência (art. 5º, LVII, CF/1988).

3. Inexistência de ofensa ao princípio da irretroatividade da lei. A norma ínsita na LC n. 64/1990 (com as alterações da LC n. 135/2010) não tem caráter de norma penal, mas, sim, se reveste de norma de caráter de proteção à coletividade. Ela não retroage para punir, mas sim busca colocar ao seu jugo os desmandos, desperdícios e malversações de bens e do erário público cometidos por administradores. Não tem caráter de apená-los por tais, já que na esfera competente própria é que responderão pelos mesmos; visa, sim, resguardar o interesse público de não ser novamente submetido ao comando daquele que demonstrou anteriormente não ser a melhor indicação para o exercício do cargo.

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4. A sanção da inelegibilidade prevista da norma, diferente da sanção civil (que objetiva a reparação) e da penal (que almeja a retribuição/coibição/prevenção de uma conduta ilícita), visa a proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, considerada a vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a infl uência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta (é o princípio da precaução, que está expresso no art. 14, § 9º, da CF/1988).

5. Se é certo que a “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”, não menos certo é que não há direito adquirido à elegibilidade (ou às causas de inelegibilidades), nem muito menos há que se falar em situação jurídica consolidada (na expressão de Paul Roubier) que impeça a incidência dos novéis dispositivos da LC n. 135/2010, máxime quando o pedido de registro de candidatura (momento em que se afere as condições de elegibilidade e inelegibilidade, cf. art. 11, § 10, da Lei n. 9.504/1997) é posterior à promulgação da novel LC n. 135/2010. Não há, pois, in casu, que se falar em retroatividade da LC n. 135/2010, pois ela está sendo aplicada em registros de candidaturas solicitados após à sua entrada em vigor.

6. Inexistência de ato jurídico perfeito, coisa julgada ou mesmo restrição a direito não permitida pela Constituição, pois não há princípio ou direito fundamental absoluto, devendo ser aplicada a Teoria dos Direitos Fundamentais (Robert Alexy) para sopesar os princípios e direitos fundamentais envolvidos no caso concreto.

7. A Constituição há de ser interpretada sob o prisma axiológico, dela extraindo o verdadeiro espírito democrático de tutela da cidadania, priorizando o interesse público no confronto com o particular, evitando que candidatos com “fi cha suja” na Justiça disputem a eleição. Há de se dar, mais, a força normativa que a Constituição merece.

8. É aplicável o novo prazo de inelegibilidade (08 anos) previsto na LC n. 64/1990 com as alterações da LC n. 135/2010, ainda que ela tenha se dado a partir de decisão judicial que condenou o impugnado por abuso de poder e declarou a inelegibilidade para os três anos seguintes às eleições de 2006, pois a inobservância da nova regra para as decisões já transitadas em julgado, além de desconsiderar a verdadeira natureza jurídica da inelegibilidade

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prevista no art. 14, § 9º, da CF/1988, implicaria na quebra do princípio da isonomia, eis que dois candidatos que cometeram o mesmo tipo de infração (crime de improbidade, abuso de poder ou desaprovação de contas por irregularidade insanável, por exemplo) teriam, a depender do exaurimento/cumprimento (ou não) do prazo anterior da inelegibilidade (03 ou 05 anos), “fi cha suja” ou “limpa” para o mesmo fato, o que não pode – e nem deve – ser chancelado pelo Judiciário.

9. Procedência da AIRC para reconhecer e declarar a inelegibilidade dos impugnados prevista no art. 1º, I, alínea d, da LC n. 64/1990, com a redação fi xada pela LC n. 135/2010, indeferindo-se o pedido de registro de candidatura do candidato ao cargo de Governador e Vice-Governador. (grifos no original).

Nas razões do recurso, o recorrente alega, preliminarmente, cerceamento ao direito de defesa pela ausência de juntada aos autos das notas taquigráfi cas e da gravação da sessão de julgamento, resultando, no seu entender, na afronta ao artigo n. 273, § 2º, do Código Eleitoral.

Defende a inaplicabilidade da Lei Complementar n. 135/2010, popularmente chamada de Lei da Ficha Limpa, para estas eleições, sob pena de ofensa ao princípio constitucional da anualidade, previsto no artigo 16 da Constituição Federal, bem como aos princípios da coisa julgada e do ato jurídico perfeito. Isso porque (fl . 799 – vol. 4):

[...] o indeferimento do registro de candidatura do ora Recorrente se baseou numa inelegibilidade imposta como sanção pela prática de abuso de poder nas eleições de 2004, a partir da incidência do art. 22, XIV, da LC n. 64/1990, tudo num processo que se iniciou em 2004 e transitou em julgado bem antes da edição da LC n. 135/2010. (grifo no original).

Sustenta que o artigo 1º, I, d, da Lei Complementar n. 64/1990, com a nova redação, não poderia ser aplicado ao caso dos autos, tendo em vista que a inelegibilidade contada por oito anos não pode atingir fato jurídico já consolidado antes de sua entrada em vigor, mormente porquanto as causas de inelegibilidade não ocorrem no momento do registro, somente se verifi cando a sua existência ou não naquele momento.

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Argumenta que, fi xada a inelegibilidade como sanção e aplicada por três anos, a contar das eleições em que praticado o ilícito eleitoral, não se poderia negar a sua consequência coercitiva e o cumprimento daquele prazo com o regular trânsito em julgado da decisão, devendo ser respeitada a coisa julgada.

Transcreve trechos de julgados do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Regionais Eleitorais do Rio Grande do Sul e Ceará a fi m de corroborar sua tese e de demonstrar dissídio jurisprudencial.

Pede, por fi m (fl . 835 – vol. 4):

A) Preliminarmente, que se determine a juntada aos autos das notas taquigráfi cas e a gravação da sessão de julgamento, de forma a se possibilitar e reforçar, ainda mais, o reconhecimento da existência de prequestionamento e debate sobre todas as normas e pontos discutidos no presente RO, permitindo, assim, que esse eg. TSE reconheça, de maneira ampla, o discutido na origem e a posição do eg. TRE-AL e de cada um dos seus membros;

B) que se reconheça a inaplicabilidade da LC n. 135/2010 ao caso dos autos, por violação ao princípio da anterioridade/anualidade eleitoral (art. 16 da CF/1988) e, por conseguinte, que julgue extinto o processo, sem resolução de mérito, por se tratar de pedido juridicamente impossível, com base no art. 267 do CPC;

C) Acaso superada a preliminar, e adentrando-se ao mérito, que se reconheça a impossibilidade de a LC n. 135/2010 ser aplicada ao caso específi co que envolve o ora Recorrente, pelos fundamentos de direito suso delineados (máxime a irretroatividade em respeito à coisa julgada e ao ato jurídico perfeito que albergam a situação do Recorrente), sob pena de se perpetrar um rejulgamento da AIJE onde constou a condenação e a sanção (que reproduziu e aplicou a lei vigente à época – LC n. 64/1990), sem que, para tanto, tal seja fruto da interposição de um eventual recurso cabível e/ou atipicamente do manejo de uma ação rescisória, de modo que se requer seja este RO julgado procedente, de modo a reformar inteiramente o Acórdão n. 7.121 do TRE-AL, para indeferir a impugnação de registro de candidatura atacada e, assim, fi nalmente, deferir o registro de candidatura do ora Recorrente. (grifos no original).

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Nas contrarrazões (fl s. 1.011-1.044 – vol. 4), o recorrido defende, em síntese, a constitucionalidade da Lei Complementar n. 135/2010 e sua consequente aplicação ao caso sob análise. No seu entender, não há violação a nenhum dos princípios constitucionais invocados pelo recorrente, tendo em vista que o óbice à sua candidatura seria em decorrência da aplicação imediata da lei e não da sua retroatividade, além de não haver falar em “[...] direito adquirido ao regime de inelegibilidades anteriormente vigente [...]” (fl . 1.013 – vol. 4).

Vindo os autos a esta instância, foi aberta vista à douta Procuradoria-Geral Eleitoral, que opina pelo desprovimento do recurso (fl s. 1.053-1.063 – vol. 4).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, de início, afasto a preliminar de cerceamento de defesa, supostamente consubstanciado na ausência de juntada aos autos das notas taquigráfi cas e da gravação da sessão de julgamento, porquanto não representam documentos de juntada obrigatória em processo de registro, à luz da Lei Complementar n. 64/1990. Além do mais, não foi demonstrado prejuízo ao recorrente, ensejando a incidência do artigo 219 do Código Eleitoral.

Passo, então, à análise das demais razões recursais.

O Ministério Público Eleitoral formulou impugnações ao pedido de registro de candidatura de Ronaldo Augusto Lessa Santos ao cargo de governador nas Eleições de 2010. A primeira impugnação, fundamentada na ausência de documentação necessária, de acordo com a Res.-TSE n. 23.221/2010, foi julgada improcedente (fl s. 731-773 – vol. 3).

O indeferimento do registro de candidatura se deu pela procedência da segunda impugnação, que tratou de notícia de inelegibilidade com base no artigo 1º, I, d, da Lei Complementar n. 64/1990, com a redação dada pela Lei Complementar n. 135/2010.

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Para melhor compreensão da controvérsia, destaco excertos do voto condutor do acórdão regional, in verbis (fl s. 738 ss. – vol. 3):

Trata-se de julgamento do pedido de registro dos Sr. Ronaldo Augusto Lessa Santos e Joaquim Antônio de Carvalho Brito, respectivamente candidatos a Governador e Vice-Governador, cujo registro foi impugnado pelo Ministério Público Eleitoral com fundamento na possível inelegibilidade dos candidatos à luz da Lei Complementar n. 135/2010.

[...]

No que diz respeito à inaplicabilidade da Lei Complementar n. 135, o próprio TSE já se manifestou, quando publicada a Lei Complementar n. 64/1990 que alterou a anterior lei de inelegibilidades (LC n. 5/1970), no sentido de que “o estabelecimento, por lei complementar, de outros casos de inelegibilidade, além dos diretamente previstos na Constituição, e exigido pelo art. 14, § 9º, não confi gura alteração do processo eleitoral, vedada pelo art. 16 da mesma Carta”.7

[...]

Assim, não há que se falar em irretroatividade pois não [...] há direito adquirido à elegibilidade (ou às causas de inelegibilidades), nem muito menos há que se falar em situação jurídica consolidada que impeça a incidência dos novéis dispositivos da LC n. 135/2010, máxime quando o pedido de registro de candidatura (momento em que se afere as condições de elegibilidade e inelegibilidade, cf. art. 11, § 10, da Lei n. 9.504/1997) é posterior à promulgação da novel LC n. 135/2010. Não há, pois, in casu, que se falar em retroatividade da LC n. 135/2010, pois ela está sendo aplicada em registros de candidaturas solicitados após à sua entrada em vigor.

[...]

No caso em julgamento, as sentenças que condenaram os impugnados por abuso de poder político e decretou a inelegibilidade por três anos, a contar das eleições de 2004 teve seu trânsito em julgado em ambos casos.

7 “CTA – Consulta n. 11.173 – Resolução n. 16.551, de 31.05.1990, DJ 09.07.1990, Relator Min. Luiz Octávio Gallotti.”

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Ministros do STJ no TSE - Ministro Hamilton Carvalhido

Diante do quadro de fato e de direito apresentado, na presente decisão de apreciação do registro de candidatura e respectiva ação de impugnação, é de se aplicar o art. 1º, I, alínea d, da LC n. 64/1990, com o novo formato estabelecido pela LC n. 135/2010, que regula o abuso de poder sob diretriz diferente da LC n. 64/1990, na redação originária, qual seja, para fi ns de concretização da “moralidade para exercício de mandato, considerada a vida pregressa do candidato”, imposta pela redação alterada do art. 14, § 9º, da Constituição Federal. Como a inelegibilidade conta das eleições ocorridas em 2004, sendo o novo lapso de tempo alterado para 08 (oito) anos, atinge as eleições de 2010. (grifos no original)

A questão genérica é a da aplicação da Lei Complementar n. 135/2010, que alterou a Lei Complementar n. 64/1990, e se especifi ca nas da sua aplicação imediata e da sua irretroatividade.

Pergunta-se, primeiro: aplica-se a Lei Complementar n. 135/2010 às eleições em curso ou, ao contrário, incide, na espécie, a anualidade de que cuida o artigo 16 da Constituição da República?

Esta é a letra do artigo 16 da Constituição da República:

Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.

A solução desta primeira questão deve principiar, necessariamente, pela consideração do disposto no § 9º do artigo 14 da Constituição da República, in verbis:

Art. 14 [...]

§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fi m de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a infl uência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

Assim me introduzi no voto oral que proferi no julgamento do RO n. 161.660-DF:

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Processual

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Peço licença a Vossa Excelência para relembrar um grande mestre de Direito Constitucional, Josaphat Marinho, que, entre as suas várias produções, escreveu um artigo em que afi rmou que a prova ilícita mostra a essência do que é a nossa Constituição. Ainda que seja a única prova e não exista nada mais que possa conduzir à certeza relativa ao fato criminoso e à sua autoria, que a utilidade social aponte no sentido da sua punição e a exigência de justiça reclame a necessária imposição de uma sanção, o constituinte fez a opção ética. Quando suprimia qualquer efeito à prova ilícita, proclamou o valor que teve como essencial à regência da ordem constitucional e, pois, da ordem social e política.

Não é outro o valor maior que o § 9º do artigo 14 da Constituição Federal visa a proteger que não o da ética, indissociável do mandato eletivo, ao fazer suas condições a probidade e a moralidade. Não é outro o valor que o inspira na proteção da normalidade e da legitimidade das eleições contra a infl uência do poder econômico ou o abuso do exercício da função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

Tal fonte constitucional, de modo a afastar qualquer equivocidade do novo diploma legal, diz respeito a situações de inelegibilidade e, pois, à capacidade eleitoral, tornando evidente a natureza material das normas da Lei Complementar n. 135/2010, que lhe deu consecução, inconfundíveis com aqueloutras que também integram o sistema normativo, denominadas instrumentais, que disciplinam o processo eleitoral e, desse modo, a forma das eleições, ou seja, o conjunto de normas que disciplinam os atos em que se consubstanciam as eleições.

Não se trata, pois, de normas relativas ao processo eleitoral, que o tenham alterado as da Lei Complementar n. 135/2010, assim de aplicação imediata porque não alcançadas pela regra da anualidade, inserta no artigo 16 da Constituição da República.

É de se afi rmar, portanto, a aplicação imediata da nova lei que modifi cou a Lei de Inelegibilidade às eleições em curso.

A segunda questão é a da retroatividade, que, por assim dizer, se tem afi rmado resultar do afastamento da anualidade constitucional.

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Ocorre que aplicação imediata e retroatividade da regra jurídica não se identifi cam, colocando-se aquela, na espécie, apenas em função da anterioridade reclamada pela Constituição na hipótese de alteração do processo eleitoral, o que não ocorre no caso.

De retroatividade só há falar apenas e quando se desconstitui, no presente, por efi cácia da lei nova, efeito que a lei anterior produziu no passado.

Modifi car ou suprimir efeitos já produzidos ou, o que é muito mais grave, já exauridos da lei anterior importa em atribuir efi cácia retroativa à regra jurídica.

É questão de efi cácia e não da incidência que ocorre quando se constitui, no mundo, o suporte fático da regra jurídica, ao qual não são estranhos elementos pretéritos.

A propósito desses elementos pretéritos, veja-se a letra do artigo 3º da Lei Complementar n. 135/2010 referente a fatos anteriores ao início da vigência da novel lei:

Art. 3º Os recursos interpostos antes da vigência desta Lei Complementar poderão ser aditados para o fi m a que se refere o caput do art. 26-C d Lei Complementar n. 64, de 18 de maio de 1990, introduzido por esta Lei Complementar.

Acrescente-se, mais, em remate, que o dispositivo do § 9º do artigo 14 da Constituição da República expressamente aponta para fatos pretéritos como elementos dos suportes fáticos das normas da lei complementar que prevê, tanto quanto não os exclui implicitamente, à luz da sua objetividade jurídica e da sua natureza cautelar, da proteção da normalidade e da legitimidade das eleições, contra a infl uência do poder econômico ou o abuso no exercício da função, cargo ou emprego público na administração direta ou indireta.

Por todo o exposto, o magistério insigne de Pontes de Miranda:

O efeito retroativo que, invade o passado, usurpa o domínio de lei que já incidiu, é efeito de hoje, riscando, cancelando, o efeito pretérito: o hoje contra o ontem, o voltar no tempo, a reversão na dimensão fi sicamente irreversível. É preciso que algo que foi deixe de ser no próprio

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passado; portanto, que deixe de ter sido. O efeito hodierno, normal, é o hoje circunscrito ao hoje. Nada se risca, nada se apaga, nada se cancela do passado. O que foi continua a ser tido como tendo sido. Só se cogita do presente e da sua lei. (...)

A lei do presente é a que governa o nascer e o extinguir-se das relações jurídicas. Não se compreenderia que fosse a lei de hoje reger o nascimento e a extinção resultantes de fatos anteriores. Isso não obsta a que uma lei nova tenha – como pressuposto sufi ciente, para a sua incidência, hoje – fatos ocorridos antes dela. Porém não só ao nascimento e à extinção das relações jurídicas concerne a regra jurídica de co-atualidade do fato e da lei. Os efeitos produzidos antes de entrar em vigor a nova lei não podem por ela ser atingidos; dar-se-ia a retroatividade. (in Comentários à Constituição de 1967, Com a Emenda n. 1, de 1969, Tomo V, Editora Revista dos Tribunais, 2ª edição, p. 80-81).

Convém averbar, por fi m, a abalizada corrente que vê na espécie norma atributiva de efeito e tema de ordem pública, aberta também a situações pretéritas, com o fi m de, por meio da inelegibilidade, assegurar o futuro, é dizer de modo abrangente, um mínimo de moralidade, de probidade, indispensáveis ao exercício do mandato político.

Isso estabelecido, tenho que o recurso merece provimento.O recorrente foi declarado, por decisão que transitou em julgado em

2007, inelegível em razão de abuso do poder político praticado nas eleições de 2004, já tendo ocorrido, inclusive, o exaurimento desse efeito jurídico em outubro do ano de 2007. Desconstituí-lo, no presente, por força da lei nova que ampliou o tempo da inelegibilidade de três para oito anos, é atribuir efeito retroativo à regra jurídica nova.

Destarte, não incide, in casu, o novo regramento legal insculpido no artigo 1º, I, d, da Lei Complementar n. 64/1990, que não alcança efeito produzido pela lei anterior e até exaurido no tempo da sua vigência.

Pelo exposto, dou provimento ao recurso para deferir o registro de candidatura de Ronaldo Augusto Lessa Santos ao cargo de governador nas eleições de 2010.

É o voto.

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PEDIDO DE VISTA

O Sr Ministro Aldir Passarinho Junior: Senhor Presidente, peço vista antecipada dos autos.

VOTO-VISTA (vencido)

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: Senhor Presidente, trata-se de recurso ordinário interposto por Ronaldo Augusto Lessa Santos, candidato ao cargo de governador nas eleições de 2010, contra v. acórdão do e. TRE-AL que indeferiu seu registro de candidatura com fundamento no art. 1º, I, d, da Lei Complementar n. 64/1990.

Naquela oportunidade, foi reconhecida a inelegibilidade do então investigado pelo prazo de (03) três anos a contar das eleições em que se verifi cou o abuso, qual seja, 2004, nos termos do art. 22, XIV, da Lei Complementar n. 64/19908 e da Súmula n. 19-TSE9. A condenação transitou em julgado em 23 de março de 2007.

O e. Relator, Ministro Hamilton Carvalhido, proveu o recurso para deferir o registro de candidatura do recorrente.

8 Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político, obedecido o seguinte rito:

(...)

XIV - julgada procedente a representação, o Tribunal declarará a inelegibilidade do representado e de quantos hajam contribuído para a prática do ato, cominando-lhes sanção de inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 03 (três) anos subseqüentes à eleição em que se verifi cou, além da cassação do registro do candidato diretamente benefi ciado pela interferência do poder econômico e pelo desvio ou abuso do poder de autoridade, determinando a remessa dos autos ao Ministério Público Eleitoral, para instauração de processo disciplinar, se for o caso, e processo-crime, ordenando quaisquer outras providências que a espécie comportar;

9 Súmula n. 19-TSE. O prazo de inelegibilidade de três anos, por abuso de poder econômico ou político, é contado a partir da data da eleição em que se verifi cou (art. 22, XIV, da LC n. 64, de 18.05.1990).

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Sua Excelência afastou a preliminar de cerceamento de defesa e reafi rmou a aplicação imediata da Lei Complementar n. 135/2010, porquanto suas disposições não alteraram o processo eleitoral, não sendo alcançadas pelo princípio da anualidade (art. 16 da Constituição).

Contudo, concluiu que, no caso dos autos, exaurido o efeito jurídico da condenação por abuso de poder, a saber, a inelegibilidade, em outubro de 2007, a aplicação do prazo de 08 (oito) anos introduzido pela Lei Complementar n. 135/2010, implicaria a atribuição de efeito retroativo à nova norma jurídica.

Na sessão de 28.09.2010, pedi vista dos autos para melhor análise.A questão aqui debatida refere-se à aplicação do art. 1º, I, d, da Lei

Complementar n. 64/1990, com a redação dada pela Lei Complementar n. 135/2010, para estas eleições de 2010.

II

O Tribunal Superior Eleitoral decidiu, recentemente, nos autos da Cta n. 1.120-26-DF, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJe de 30.09.2010, que a aplicação da Lei Complementar n. 135/2010 às Eleições 2010 não importa violação ao art. 16 da Constituição Federal por se tratar de norma de direito eleitoral material, que não altera, portanto, o processo eleitoral.

Nesse sentido, destaco excerto voto do e. Min. Ricardo Lewandowski proferido nos autos do RO n. 4.336-27-CE, publicado na sessão de 25.08.2010:

Quanto à aplicação do art. 16 da Lei Complementar n. 135/2010, a solução passa por uma refl exão a respeito do alcance do princípio da anterioridade da lei eleitoral consagrado no art. 16 da Constituição, que, nas palavras do Min. Celso de Mello, “foi enunciado pelo Constituinte com o declarado propósito de impedir a deformação do processo eleitoral mediante alterações casuisticamente nele introduzidas, aptas a romperem a igualdade de participação dos que nele atuem como protagonistas principais: as agremiações partidárias, de um lado, e os próprios candidatos, de outro”10.

10 ADI n. 3.345-DF. Rel. Min. Celso de Mello, de 25.08.2005.

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O art. 16 da Constituição estabelece que “a lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência”.

Com efeito, na Sessão Plenária de 06.08.2006, o Supremo Tribunal Federal estabeleceu o alcance do art. 16 da Constituição no julgamento da ADI n. 3.741-DF, de minha relatoria, ajuizada pelo Partido Social Cristão – PSC, objetivando a aplicação do princípio da anterioridade à totalidade da Lei n. 11.300, de 10 de maio de 2006, denominada Minirreforma Eleitoral.

O acórdão recebeu a seguinte ementa:

Ação direta de inconstitucionalidade. Lei n. 11.300/2006 (Minireforma Eleitoral). Alegada ofensa ao princípio da anterioridade da Lei Eleitoral (CF, art. 16). Inocorrência. Mero aperfeiçoamento dos procedimentos eleitorais. Inexistência de alteração do processo eleitoral. Proibição de divulgação de pesquisas eleitorais quinze dias antes do pleito. Inconstitucionalidade. Garantia da liberdade de expressão e do direito à informação livre e plural no Estado Democrático de Direito. Procedência parcial da ação direta.

I - Inocorrência de rompimento da igualdade de participação dos partidos políticos e dos respectivos candidatos no processo eleitoral.

II - Legislação que não introduz deformação de modo a afetar a normalidade das eleições.

III - Dispositivos que não constituem fator de perturbação do pleito.

IV - Inexistência de alteração motivada por propósito casuístico.

V - Inaplicabilidade do postulado da anterioridade da lei eleitoral.

VI - Direito à informação livre e plural como valor indissociável da idéia de democracia.

VII - Ação direta julgada parcialmente procedente para declarar a inconstitucionalidade do art. 35-A da Lei introduzido pela Lei n. 11.300/2006 na Lei n. 9.504/1997.

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Naquela oportunidade, sustentei que só se pode cogitar de afronta ao princípio da anterioridade quando ocorrer: i) o rompimento da igualdade de participação dos partidos políticos e dos respectivos candidatos no processo eleitoral; ii) a criação de deformação que afete a normalidade das eleições; iii) a introdução de fator de perturbação do pleito, ou iv) a promoção de alteração motivada por propósito casuístico (Cf. ADI n. 3.345-DF, Rel. Min. Celso de Mello, de 25.08.2005).

Penso, assim, que não há falar na incidência do art. 16 da Constituição no caso de criação, por lei complementar, de nova causa de inelegibilidade. É que, nessa hipótese, não há o rompimento da igualdade das condições de disputa entre os contendores, ocorrendo, simplesmente, o surgimento de novo regramento legal, de caráter linear, diga-se, que visa a atender ao disposto no art. 14, § 9º, da Constituição, segundo o qual:

“Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fi m de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a infl uência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta” (grifei).

Na verdade, existiria rompimento da chamada “paridade de armas” caso a legislação eleitoral criasse mecanismos que importassem num desequilíbrio na disputa eleitoral, prestigiando determinada candidatura, partido político ou coligação em detrimento dos demais. Isso porque o processo eleitoral é integrado por normas que regulam as condições em que ocorrerá o pleito não se incluindo entre elas os critérios de defi nição daqueles que podem ou não apresentar candidaturas.

Tal afi rmação arrima-se no fato de que a modifi cação das regras relativas às condições regedoras da disputa eleitoral daria azo à quebra da isonomia entre os contendores. Isso não ocorre, todavia, com a alteração das regras que defi nem os requisitos para o registro de candidaturas. Neste caso, as normas direcionam-se a todas as candidaturas, sem fazer distinção entre candidatos, não tendo, portanto, o condão de afetar a necessária isonomia.

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Registro, por oportuno, que este Tribunal, ao apreciar a Cta n. 1.120-26-DF, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, assentou a plena aplicabilidade da Lei Complementar n. 135/2010 para as eleições 2010. À ocasião, o eminente Relator assentou que

as inovações trazidas pela Lei Complementar n. 135/2010 têm a natureza de norma eleitoral material e em nada se identifi cam com as do processo eleitoral, deixando de incidir, destarte, o óbice esposado no dispositivo constitucional.

Nesse sentido também é o entendimento pretérito desta Corte Eleitoral, que, analisando a aplicação do princípio da anterioridade no tocante à Lei Complementar n. 64/1990, assentou que a matéria que cuidava de idêntica questão relativa às inelegibilidades não se insere no rol daquelas que podem interferir no processo eleitoral (Cta n. 11.173 – Resolução-TSE n. 16.551, de 31.05.1990, Rel. Min. Octávio Gallotti).

Ao pontuar que a norma deveria ter vigência imediata, o Relator, Min. Octavio Gallotti, destacou que

o estabelecimento, por lei complementar, de outros casos de inelegibilidade, além dos diretamente previstos na Constituição, é exigido pelo art. 14, § 9º, desta e não confi gura alteração do processo eleitoral, vedada pelo art. 16 da mesma Carta.

José Afonso da Silva, em seu comentário contextual ao art. 16 da Constituição, conceitua o processo eleitoral como a dinâmica composta pelos atos que

postos em ação (procedimento) visam a decidir, mediante eleição, quem será eleito; visam, enfi m, a selecionar e designar autoridades governamentais. Os atos desse processo são a apresentação de candidaturas, seu registro, o sistema de votos (cédulas ou urnas eletrônicas), organização das seções eleitorais, organização e realização do escrutínio e o contencioso eleitoral. Em síntese, a lei que dispuser sobre essa matéria estará alterando o processo eleitoral11.

11 SILVA. José Afonso. Comentário contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 234.

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Destaco, por oportuno, trechos dos votos proferidos pelos Ministros Moreira Alves e Néri da Silveira, respectivamente, no julgamento do RE n. 129.392-DF, verbis:

Sr. Presidente, a meu ver, a lei complementar a que se refere o § 9º do artigo 14 da Constituição Federal não está sujeita à norma do artigo 16 da mesma Carta Magna, a qual visa, apenas, a impedir a edição das mudanças abusivas do processo eleitoral que se faziam pouco antes de cada eleição. Não se aplica ela, porém, a essa lei complementar que a própria Constituição determinou, no referido parágrafo 9º, fosse editada a fi m de proteger a normalidade e legitimidade das eleições contra a infl uência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

Quando o Direito Eleitoral regula o processo eleitoral já o prevê na sua complexidade. De fato, o processo eleitoral, de acordo com a parte terceira do Código Eleitoral, compreende desde o alistamento dos eleitores até a fase de votação e apuração dos resultados dos pleitos, encerrando-se com a diplomação dos eleitos. Quando, entretanto, a Constituição, que não dispõe sobre o processo eleitoral na sua complexidade, regula a matéria atinente à elegibilidade e inelegibilidade, confere a este tema uma natureza específi ca.

(...)Compreendo, pois, que a matéria nunca perdeu a

natureza constitucional, e, por isso mesmo, quando se cuida de inelegibilidade, o assunto é de índole constitucional, e não se comporta, a meu ver, dessa sorte, no simples âmbito do processo eleitoral, enquanto este se compõe de procedimentos que visam à realização das diferentes fases do pleito eleitoral, desde o alistamento até a apuração dos resultados e diplomação dos eleitos.

Não tendo, portanto, a matéria de que se cogita nos autos como de natureza processual eleitoral, mas, sim, de índole constitucional, não considero a Lei Complementar n. 64 compreendida na restrição do art. 16, no que concerne à possibilidade da sua imediata aplicação.

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Lembro, por fi m, que o Supremo Tribunal Federal, na Sessão Plenária de 06.08.2008, no julgamento da ADPF n. 144-DF, Rel. Min. Celso de Mello, ajuizada pela Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB, assentou a impossibilidade constitucional de defi nir-se, como causa de inelegibilidade, a mera instauração, contra o candidato, de procedimentos judiciais quando inocorrente condenação transitada em julgado.

Na oportunidade, consignei que em Roma antiga os candidatos a cargos eletivos trajavam uma toga alva como forma de identifi cá-los e distingui-los dos demais cidadãos. Nesse sentido, lembrei que a palavra “candidato” vem do latim candidatus, que signifi ca “aquele que veste roupa branca”, representando a pureza, a honestidade, a idoneidade moral para o exercício do cargo postulado.

Naquela quadra, ressaltei que estávamos diante de uma verdadeira norma em branco

que permitiria aos juízes eleitorais determinarem a inelegibilidade de certo candidato com base em uma avaliação eminentemente subjetiva daquilo que a Constituição denomina de “vida pregressa”, a fi m de proteger, segundo o alvedrio de cada julgador, a probidade administrativa e a moralidade para o exercício do mandato.

Entretanto, ressalvei em meu voto que, “enquanto outro critério não for escolhido pelos membros do Congresso Nacional”, é melhor que prevaleça “aquele estabelecido pela lei complementar vigente”.

É dizer, em nenhum momento excluí a possibilidade de o legislador complementar, mediante critérios objetivos, que visem a proteger a probidade administrativa e a moralidade eleitoral, criar nova causa de inelegibilidade, tendo em conta aquilo que a Constituição denominou “vida pregressa do candidato”.

Entendo, desse modo, que a Lei Complementar n. 135, de 04 de junho de 2010, a qual estabelece casos de inelegibilidade, prazos de sua cessação e determina outras providências, teve em mira proteger valores constitucionais que servem de arrimo ao próprio regime republicano, abrigados no § 9º do art. 14 da Constituição, que integra e complementa o rol de direitos e garantias fundamentais estabelecidos na Lei Maior.

Afasto, portanto, a alegada violação do art. 16 da Constituição Federal, e passo e examinar o mérito da questão.

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Esta Corte Superior ressaltou, ademais, que referida lei complementar atende ao princípio constitucional da presunção de não culpabilidade, porquanto resultou da ponderação de tal princípio com o da moralidade e probidade para o exercício do mandato eletivo, considerada a vida pregressa do candidato. Nas palavras do Min. Hamilton Carvalhido, nos autos da Cta n. 1.120-26-DF, DJe de 30.09.2010:

A garantia da presunção de não culpabilidade protege, como direito fundamental, o universo de direitos do cidadão, e a norma do artigo 14, § 9º, da Constituição Federal restringe o direito fundamental à elegibilidade, em obséquio da probidade administrativa para o exercício do mandato, em função da vida pregressa do candidato.

A regra política visa acima de tudo ao futuro, função eminentemente protetiva ou, em melhor termo, cautelar, alcançando restritivamente também a meu ver, por isso mesmo, a garantia da presunção da não culpabilidade, impondo-se a ponderação de valores para o estabelecimento dos limites resultantes à norma de inelegibilidade.

Fê-lo o legislador, ao editar a Lei Complementar n. 135/2010, com o menor sacrifício possível da presunção de não culpabilidade, ao ponderar os valores protegidos, dando efi cácia apenas aos antecedentes já consolidados em julgamento colegiado, sujeitando-os, ainda, à suspensão cautelar, quanto à inelegibilidade.

Assim, são constitucionais as previsões da Lei Complementar n. 135/2010, inclusive o disposto no art. 1º, I, d, da Lei Complementar n. 64/1990, devendo ser aplicadas aos pedidos de registro de candidatura referentes às Eleições 2010.

III

Ultrapassadas essas questões, passo ao exame do segundo ponto. Ronaldo Augusto Lessa Santos, ora candidato ao cargo de

governador, teve sua inelegibilidade declarada por “3 anos a contar da eleição de 2004” (fl . 736), nos termos de acórdão do TRE-AL, em razão de abuso de poder político naquele pleito (fl s. 420-437).

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A questão que se põe é se a orientação já sufragada pelo TSE, como visto antes, no sentido de que a inelegibilidade não é uma pena, porém uma situação aferível no momento do registro das candidaturas, que para a presente eleição ocorreu a partir de 05 de julho de 2010, merece ou não ressalva em se tratando da hipótese do art. 1º, I, d, da Lei Complementar n. 64/1990, na redação dada pela LC n. 135/2010, que dispõe:

Art. 1º São inelegíveis:

I - para qualquer cargo:

(...)

d) os que tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, em processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos 08 (oito) anos seguintes; (Redação dada pela Lei Complementar n. 135, de 2010).

A discussão, parece-me, a respeito do prazo de vigência da declaração de inelegibilidade, por três anos, feita no acórdão que julgou a AIJE, não interfere na restrição trazida no bojo da “Lei da Ficha Limpa”. Não se está alterando a coisa julgada do art. 22, XIv. É uma nova eleição, regida por outras condições, em época diferente, em que diferentes são os requisitos à admissão da candidatura. Para o presente pleito de 2010, ante a LC n. 135/2010, exige-se a ausência de condenação em representação julgada pela Justiça Eleitoral decorrente de abuso de poder político e econômico nos últimos 08 (oito) anos.

Entendo, como já assinalei em voto vogal anterior, que o fato é objetivo. A “Lei da Ficha Limpa” identifi ca, concretamente, as situações em que, apoiada no art. 14, parágrafo 9º, da Carta da República, veda a candidatura de pessoas que tenham atentado contra a “probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, considerada a vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a infl uência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta”. Friso a expressão “vida pregressa do candidato”.

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Importa para o aludido preceito constitucional exatamente o passado. E a Lei Complementar n. 135/2010 deve ser interpretada e aplicada, em minha compreensão, em estrita harmonia com os princípios acima elencados, que emprestam relevância aos atos pregressos daqueles que querem conquistar cargos eletivos. Interessa a moralidade anterior, a história de vida escorreita dos candidatos. Eles não são nossos meros procuradores, mas nossos representantes, nossa voz e até nosso pensamento, que nós só vamos resgatar a cada quatro anos, por ocasião de um novo pleito democrático, oito anos no caso dos senadores. A norma oportuniza a depuração do rol desses representantes e ela dá efi cácia ao citado art. 14, § 9º, protegendo o interesse coletivo, em detrimento do pseudo direito individual dos que, apesar de haverem cometido ilícitos ou irregularidades, ainda assim ambicionam o exercício do poder.

Daí a razão de, nos julgamentos precedentes, em sede de consultas e processos judiciais, este Tribunal Superior Eleitoral ter dado relevância ao dito fato objetivo, como uma fotografi a tomada no passado dos candidatos. Não importa, para os fi ns da novel inelegibilidade ditada na Lei Complementar n. 135/2010, qual o tamanho da pena, a forma da pena, e, até, se houve pena ou se foi ela cumprida. Basta lembrar que nos casos de renúncia a mandato eletivo, sequer condenação houve. Importa, volta-se a frisar, o fato enquadrável nas alíneas do dispositivo legal.

No dizer do ilustre Ministro Arnaldo Versiani, “uma restrição temporária à possibilidade de qualquer pessoa se candidatar” (Cta n. 1.147-09-DF, julgada em 16.06.2010).

Na espécie dos autos – letra d do art. 10, I, da LC n. 64/1990, com a recente alteração – basta a procedência da ação com decisão transitada em julgado ou tomada colegiadamente. A simples procedência anterior – fato objetivo – é que gera, por si só, a inelegibilidade por oito anos, a partir da vigência da lei, não o tempo antes ditado de inelegibilidade.

O TSE, no julgamento das consultas e em processos anteriores, não afastou a incidência da moderna lei em face dos alegados princípios constitucionais da irretroatividade, do direito adquirido e tão pouco do art. 16 da Carta da República, alusivo à inaplicabilidade da norma ao pleito ocorrente até um ano da sua vigência. Também aqui, com a máxima vênia, insisto na força do art. 14, § 9º, da Constituição, por tudo que representa

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de positivo avanço em prol da escolha dos líderes que irão conduzir o povo brasileiro nos próximos quatro anos, cuja redação traz a nítida idéia de aplicação incidental da norma, ou seja, ao momento do pleito eleitoral que se desenvolve, eis que já em vigor quando do registro das candidaturas.

Ademais, a aplicação linear, às inteiras, da lei em comento afasta inevitáveis paradoxos que surgiriam, se não for assim, quando, em relação a muitos casos, nem havia previsão de inelegibilidade, a exemplo, dentre vários outros, das alíneas k (renúncia de mandato), m (excluídos da profi ssão por infração ético-profi ssional) e p (doação para campanha acima do limite legal). Antes não se cogitava de inelegibilidade; a partir da Lei Complementar n. 135/2010, sim, e todos os fatos, objetivos, foram a ela anteriores, mas o TSE já se pronunciou pela incidência do novel diploma.

Ronaldo Augusto Lessa Santos foi processado pelo Ministério Público Eleitoral e condenado por abuso de poder político pelo Tribunal Regional Eleitoral do Estado de Alagoas em decorrência dos seguintes fatos (fl s. 422-423):

i) o Sr. Ronaldo Lessa, a par de “apadrinhar” a campanha eleitoral do primeiro representado para o cargo de prefeito da cidade de Maceió, na condição de Governador do Estado, envolvendo-se diretamente com o pleito, promoveu aumento dos servidores do setor de saúde do Estado, dois dias antes da votação do primeiro turno, o que, nada obstante a justiça com os servidores estaduais, o momento era inoportuno, conquanto infl uenciava diretamente o pleito eleitoral. Tanto isso é verdade, afi rmam, que o candidato Sexta-Feira, até então em terceiro lugar nas pesquisas, logrou o segundo lugar no primeiro turno, habilitando-se, assim, a disputar o segundo turno das eleições de 2004; ii) além do benefício estendido aos servidores do setor de saúde, o Governador do Estado, usando dessa prerrogativa, nos 10 dias que antecederam à eleição, também promoveu militares, criou cargos e carreiras profi ssionais, além da implantação da remuneração sob a forma de subsídios, para servidores do IMA, Ipaseal, Iteral e Funesa;

Nesses termos, sendo bastante a procedência da ação como causa à inelegibilidade prevista no art. 1º, I, d, da LC n. 64/1990, na redação dada pela LC n. 135/2010, nego provimento ao recurso, mantendo a decisão do

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mesmo TRE-AL, que indeferiu o registro da candidatura, rogando vênia ao eminente relator.

É o voto.

RECURSO ORDINÁRIO N. 3.128-94.2010.6.10.0000 – CLASSE 37 – MARANHÃO (São Luís)

Relator: Ministro Hamilton CarvalhidoRecorrente: Ministério Público EleitoralRecorrido: Jackson Kepler LagoAdvogados: Daniel de Faria Jerônimo Leite e outros

EMENTA

Eleição 2010. Recurso ordinário. Lei Complementar n. 135/2010. Aplicabilidade. Ausência de alteração no processo eleitoral. Não incidência. Causa de inelegibilidade (artigo 1º, I, d, LC n. 64/1990) Recurso contra expedição de diploma.

As causas de inelegibilidade, no que convergem a doutrina e a jurisprudência, são de ius strictum, não comportando interpretação extensiva nem aplicação analógica.

A hipótese da alínea d do inciso I do artigo 1º da Lei Complementar n. 64/1990, modifi cada pela Lei Complementar n. 135/2010, refere-se exclusivamente à repressentação de que trata o artigo 22 da Lei das Inelegibilidades.

Recurso ordinário desprovido.

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por maioria, em desprover o recurso, nos termos das notas de julgamento.

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Brasília, 30 de setembro de 2010.Ministro Hamilton Carvalhido, Relator

Publicado em Sessão

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Senhor Presidente, cuida-se de recurso ordinário interposto pelo Ministério Público Eleitoral contra acórdão do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, que, apreciando ação de impugnação à candidatura de Jackson Kepler Lago ao cargo de governador nas eleições de 2010, julgou-a improcedente, deferindo o pedido de registro.

O acórdão recorrido encontra-se assim ementado (fl . 1.055 – vol. 3):

Eleições 2010. Impugnação ao registro de candidatura ajuizada pelo Ministério Público Eleitoral com base na LC n. 135/2010. Inaplicabilidade da lei ao caso concreto. Impossibilidade de retroatividade da lei punitiva mais severa. Improcedência da impugnação. Requerimento de registro de candidatura. Coligação requerente Coligação “O Povo é Maior. Cargos de governador e vice-governador. Atendimento das formalidades legais (art. 11 da Lei n. 9.504/1997 e art. 26 da Resolução n. 23.221/10-TSE). Deferimento do registro.

1. A inelegibilidade decorrente de ato ilícito confi gura sanção, entendida como “toda conseqüência que se agrega, intencionalmente, a uma norma, visando ao seu cumprimento” (in: Filosofi a do Direito, 14ª ed. São Paulo, saraiva, 1991, p. 260).

2. Nas hipóteses de inelegibilidade-sanção, aplica-se o princípio da anterioridade da lei punitiva, sendo proibido a retroatividade de lei mais severa sob pena de violar-se os incisos XXXIX e XL, art. 5º da Constituição Federal e o princípio da segurança, considerado “premissa de toda civilização” (Gustav Radbruch).

3. A inaplicabilidade da LC n. 135/2010 a fatos anteriores à sua vigência não confi gura reconhecimento a direito adquirido às

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condições de elegibilidade. A prática de ilícitos eleitorais na vigência da nova lei enseja a sanção de inelegibilidade com base nos novos critérios, e jamais com base nos critérios revogados.

4. Assim, embora a LC n. 135 tenha aplicabilidade em tese, só pode disciplinar fatos futuros, ocorridos após a sua vigência.

5. Impugnação julgada improcedente. Registro de candidatura deferido.

Nas razões do recurso, o Ministério Público Eleitoral reitera os termos da impugnação ao registro do recorrido, defendendo a aplicação imediata da Lei Complementar n. 135/2010, a chamada Lei da Ficha Limpa, por entender que as inovações por ela trazidas têm natureza de norma eleitoral material, não se lhe aplicando o princípio constitucional da anualidade, previsto no artigo 16 da Constituição Federal.

Afi rma ter o recorrido incidido na causa de inelegibilidade prevista na alínea d do inciso I do artigo 1º da Lei Complementar n. 64/1990, modifi cada pela Lei Complementar n. 135/2010, uma vez que, nos autos do Recurso Contra Expedição de Diploma n. 671-MA, relator o Ministro Eros Grau, teve seu diploma de governador cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral, por abuso do poder político, relativamente ao pleito de 2006.

Sustenta que, por ter natureza de ação, o recurso contra expedição de diploma “[...] inscreve-se no conceito de representação, a que se refere o artigo 1º, inciso, I, letra d, da Lei Complementar n. 64/1990 [...]”, porquanto “[...] comumente empregado no Direito Eleitoral, [...] pouco importando o nome que se dê à ação” (fl . 1.105).

Assevera que, apesar de o recorrido não ter sido declarado inelegível em razão dos limites do recurso contra expedição de diploma, seu reconhecimento à luz da alteração legislativa (Lei Complementar n. 135/2010) não constitui agravamento da sanção imposta, pois não sendo pena a inelegibilidade pode ser reconhecida ao tempo do pedido de registro.

Conclui requerendo o provimento do recurso ordinário para cassar o registro do recorrido, ante a incidência da causa de inelegibilidade prevista no artigo 1º, I, d, da Lei Complementar n. 64/1990.

Nas contrarrazões (fl s. 1.156-1.191 – vol. 3), o recorrido sustenta, em síntese, a inconstitucionalidade da Lei Complementar n. 135/2010, no

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tocante à referida alínea, porque entende haver violação dos princípios da presunção de inocência e da anualidade na sua aplicação. Aduz, ainda, que, mesmo considerada constitucional, não poderia ser invocada para o caso dos autos em razão de o recorrido não ter sido condenado á inelegibilidade, não podendo retroagir a norma para impô-la.

Vindo os autos a esta instância, foi aberta vista à douta Procuradoria-Geral Eleitoral, que opina pelo provimento do recurso (fl s. 1.198-1.201 – vol. 3).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Senhor Presidente, o Ministério Público Eleitoral formulou impugnação ao pedido de registro de candidatura de Jackson Kepler Lago, ao cargo de governador nas eleições de 2010, fundamentado em que teve seu diploma cassado nos autos do Recurso Contra Expedição de Diploma n. 671-MA, em razão de abuso do poder político, relativamente ao pleito de 2006. Contra o acórdão foi interposto recurso extraordinário, que teve seu seguimento negado, sobrevindo agravo de instrumento que se encontra pendente de exame pela Suprema Corte (AI n. 767.243).

O Tribunal a quo, afastando a aplicação da Lei Complementar n. 135/2010, julgou improcedente a impugnação. Está expresso no acórdão recorrido, in verbis (fl s. 1.066-1.067 – vol. 3):

[...]

Por essa razão, quando uma lei draconiana vem impor, de modo a contrariar os fundamentos da Constituição, a gravíssima pena da inelegibilidade está subtraindo a condição plena da cidadania, que é o jus honorum, a capacidade de ser votado.

Por isso tenho a convicção de que a inelegibilidade é uma sanção.

Reportando-me ao princípio da segurança jurídica pela pretensão de aplicação retroativa da lei, creio que há um desalinhamento com

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o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada, insertos no artigo 5º, XXXVI, da Constituição Federal.

Tenho para mim que a inelegibilidade, por ser sanção, a ela se aplica os mesmos princípios do direito penal. E como tal, leis retroativas, de conteúdo sancionatório, ferem o princípio da segurança jurídica, através da impossibilidade de retroação das leis.

Dr. Jackson Lago já foi julgado pelo TSE e a ele foi atribuída a penalidade, a penalidade de ter [sic] cassado o seu diploma.

Com essas considerações, e entendendo ser plenamente aplicável ao caso presente os recentes precedentes desta Corte, lançados nas impugnações aos registros de candidatura de José Sarney Filho, Cleber Verde e Ildon Marques, voto pelo acolhimento da preliminar violação ao princípio da segurança jurídica de aplicação retroativa da lei, rejeitando a impugnação.

Em que pesem os argumentos que fundamentam a decisão regional, o recurso ordinário não merece ser provido.

As causas de inelegibilidade, no que convergem a doutrina e a jurisprudência, são de ius strictum, não comportando interpretação extensiva nem aplicação analógica (REspe n. 33.109-BA, rel. Ministro Marcelo Ribeiro, publicado em sessão de 02.12.2008).

Daí por que não há falar no gênero representação a compreender representação e recurso contra expedição do diploma, como pretende o recorrente.

A Lei das Inelegibilidades está ajustada no sistema normativo de que é elemento, não sendo o recurso contra expedição de diploma a via processual própria à declaração de inelegibilidade, que outra não é que a da representação disciplinada pelo artigo 22 e seguintes da Lei Complementar n. 64/1990, com a alteração dada pela Lei Complementar n. 135/2010. A propósito do tema, colhe-se da ementa do acórdão deste Tribunal no RCEd n. 698-TO, de relatoria do Ministro Felix Fischer, no julgamento dos embargos de declaração, julgado em 08.09.2009, DJe 05.10.2009, verbis:

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Embargos de declaração. Recurso contra expedição de diploma. Eleições 2006. Captação ilícita de sufrágio. Abuso de poder político e econômico. Uso indevido dos meios de comunicação. Ausência de omissão. Embargos rejeitados.

1. O recurso contra expedição de diploma (RCED) é instrumento processual adequado à proteção do interesse público na lisura do pleito, assim como o são a ação de investigação judicial eleitoral (AIJE) e a ação de impugnação de mandato eletivo (AIME). Todavia, cada uma dessas ações constitui processo autônomo, dado possuírem causas de pedir próprias e consequências distintas, o que impede que o julgamento favorável ou desfavorável de alguma delas tenha infl uência no trâmite das outras. A esse respeito, os seguintes julgados desta e. Corte: (AREspe n. 26.276-CE, Rel. Min. Marcelo Ribeiro, DJ de 07.08.2008; REspe n. 28.015-RJ, Rel. Min. José Delgado, DJ de 30.04.2008).

2. Verifi cada a nulidade de mais de 50% dos votos, realizam-se novas eleições indiretas, nos termos do art. 224 do Código Eleitoral interpretado à luz do art. 81, § 1º, da Constituição da República.

3. O art. 1º, I, c, da LC n. 64/1990 prevê a inelegibilidade daqueles que perdem seus cargos eletivos “por infringência a dispositivo da Constituição Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal e da Lei Orgânica dos Municípios”. Contudo, a pretensão de ver declarada tal inelegibilidade deve ser manejada por instrumento próprio. Tal sanção não se inclui entre aquelas previstas para o recurso contra expedição de diploma.

4. Para conhecer do recurso contra expedição de diploma e dar-lhe provimento, o e. TSE entendeu estarem presentes os requisitos caracterizadores do abuso de poder. Considerou que os atos praticados pudessem ser caracterizados conduta vedada. Não há falar em omissão ou contradição do v. acórdão embargado.

5. De fato, o pedido de remarcação de oitiva de testemunhas que não compareceram à audiência inicial não foi apreciado. Contudo, as razões do v. acórdão embargado revelam que a mencionada prova oral não revelou importância para o deslinde da quaestio, mesmo porque os fatos que pretendiam justifi car foram, em parte, rejeitados.

6. Acolhem-se os embargos de declaração opostos pelo Partido Popular Socialista, sem efeito modifi cativo e nega-se provimento aos demais embargos de declaração. (grifo nosso)

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É fi rme, com efeito, o constructo jurisprudencial de que, embora haja identidade da causa petendi, a ação de investigação judicial eleitoral, a ação de impugnação de mandato eletivo e o recurso contra expedição de diploma não produzem litispendência nem ensejam a exceptio res judicata entre si. Nesse sentido:

Recurso contra expedição de diploma. Eleições 2006. Captação ilícita de sufrágio. Preliminar de litispendência. Afastamento. Oferecimento de serviços de fretes gratuitos a eleitores em comitê eleitoral de candidato.

I - Não há litispendência entre as ações eleitorais, ainda que fundadas nos mesmos fatos, por serem ações autônomas, com causa de pedir própria e consequências distintas, o que impede que o julgamento favorável ou desfavorável de alguma delas tenha infl uência sobre as outras. Precedentes do TSE.

II - O oferecimento de serviço gratuito de mudança para eleitores em período eleitoral, por intermédio de comitê de candidato, confi gura captação ilícita de sufrágio.

III - Nas hipóteses de captação de sufrágio é desnecessária a análise da potencialidade da conduta para infl uir nas eleições.

IV - Recurso provido. (nossos os grifos)

(RCEd n. 696-GO, Rel. Ministro Ricardo Lewandowski, julgado em 04.02.2010, DJe 05.04.2010).

No mesmo sentido o RCEd n. 703-SC, Rel. Ministro Felix Fischer, julgado em 28.05.2009, DJe 1º.09.2009; o AgRgREspe n. 26.276-CE, Rel. Ministro Marcelo Ribeiro, julgado em 26.06.2008, DJ 07.08.2008; e o REspe n. 28.015-RJ, Rel. Ministro José Delgado, julgado em 25.03.2008, DJ 30.04.2008.

Por todo o exposto, seja vista, em remate, a decisão monocrática do eminente Ministro Arnaldo Versiani, proferida nos autos do REspe n. 3.870-38-MG, em 12.08.2010, em que Sua Excelência deu provimento ao recurso para restabelecer o registro de candidatura, pronunciando-se nos seguintes termos:

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[...]

Sendo assim, somente por interpretação ampliativa é que se poderia estender a hipótese da alínea d a outros casos que não os de representação, inclusive aos de ação de impugnação de mandato eletivo.

Acontece que, por se tratar de norma de caráter restritivo, como o são as normas que regem as inelegibilidades, não se pode estender a inelegibilidade da alínea d aos casos de procedência de ação de impugnação de mandato eletivo.

Nesse contexto, entendo que a alínea d do inciso I do artigo 1º da Lei Complementa n. 64/1990, com a modifi cação dada pela Lei Complementar n. 135/2010, fazendo inelegíveis “os que tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, em processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos 08 (oito) anos seguintes”, não tem, assim, incidência na espécie.

Nego, portanto, provimento ao recurso ordinário.É o voto.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski: Senhores Ministros, trata-se de recurso ordinário interposto pelo Ministério Público Eleitoral contra acórdão do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão que deferiu o pedido de registro de candidatura do recorrido ao cargo de Governador do Estado do Maranhão, afastando a incidência da LC n. 135/2010 sobre a eleição deste ano.

I – Breve resumo histórico

Em sessão do dia 03 de março de 2009, o Tribunal Superior Eleitoral decidiu, por maioria, prover o recurso contra expedição de diploma e cassar o mandato do então Governador do Maranhão, Jackson Kepler Lago, e de seu Vice, Luiz Carlos Porto.

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Entendeu-se que o pleito de 2006 no Estado do Maranhão foi comprometido, tendo em vista que o Governador à época, José Reinaldo Tavares, colocou à disposição da candidatura de Jackson Kepler Lago a estrutura do governo estadual.

Cumpre neste processo, porém, analisar se o recorrido, condenado por esta Corte por abuso de poder, enquadra-se na hipótese prevista no art. 1°, I, d, da LC n. 64/1990.

II – art. 16 da Constituição Federal de 1988

Inicialmente, quanto à aplicabilidade do art. 16 da Constituição Federal de 1988, anoto que o TSE, ao apreciar a Cta n. 1.120-26-DF, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, e a Cta n. 1.147-09-DF, Rel. Min. Arnaldo Versiani, assentou a plena aplicabilidade da Lei Complementar n. 135/2010 às eleições de 2010, inclusive a situações fáticas anteriores à lei.

Destaco, ainda, que essas questões também foram exaustivamente analisadas e confi rmadas no julgamento do RO n. 4.336-27-CE, Rel. p/ acórdão o Min. Arnaldo Versiani.

III – Possibilidade de enquadramento do caso dos autos no art. 1°, I, d, da LC n. 64/1990

No mérito, analiso se as alterações na Lei Complementar n. 64/1990, trazidas pela Lei Complementar n. 135/2010, podem ser aplicadas ao Governador cassado por abuso de poder político, Jackson Kepler Lago.

Diz o dispositivo, in verbis:

d) os que tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, em processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos 08 (oito) anos seguintes (grifei).

Devemos investigar, portanto, se a expressão “representação julgada procedente”, contida no art. 1°, I, alínea d, pode ser interpretada no sentido

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de que outras ações que também apurem abuso de poder – como, no caso, o Recurso Contra Expedição de Diploma (RCED) – têm por efeito a hipótese de inelegibilidade prevista na alínea d.

Antes de qualquer passo interpretativo da nova redação da alínea d, assento que sou conhecedor da jurisprudência estabelecida nesta Corte que historicamente concedeu à palavra “representação” o sentido de que incluiria apenas a ação de investigação judicial eleitoral. Precedente: RCED n. 669-AL, Rel. Min. Ari Pargendler.

Entendo, contudo, que a complexidade das alterações introduzidas pela LC n. 135/2010 demanda uma reanálise da matéria. Tal afi rmação assenta-se no pressuposto de que a inelegibilidade é um efeito secundário da condenação, o qual é determinado, em diversas hipóteses, pela causa de pedir da ação e não pelo instrumento manejado para tanto, sob pena de ferir, entre outros princípios, o postulado da isonomia.

Com efeito, penso que a referência à “representação”, como inserida na alínea d, não se limita à ação de investigação judicial eleitoral (AIJE). Três são os fundamentos que arrimam tal afi rmação: i) a sistemática da própria Lei n. 64/1990; ii) a natureza dos instrumentos disponíveis para investigação do abuso de poder; iii) o princípio da isonomia.

Nesse sentido, extraio da LC n. 64/1990 que, quando se utiliza a palavra “representação” como instrumento para viabilizar a abertura “de ação de investigação judicial” (AIJE), a norma o faz expressamente. É o caso do art. 22, caput, que dispõe a respeito da “representação” ajuizada especifi camente para “pedir abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social”.

É de se notar, pois, a substancial diferença existente entre a norma do art. 22 da LC n. 64/1990 e o disposto na alínea d, em que não há menção a nenhum pedido ou ação específi ca, mas apenas às causas de pedir “abuso de poder político e econômico”.

Corrobora com essa tese a interpretação sistemática da legislação eleitoral, da qual se extrai que o termo “representação” não revela o nomen juris de uma ação específi ca.

Vejamos o que dispõe a Lei n. 9.504/1997, Lei das Eleições, a respeito da chamada “representação”.

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Temos, em seu art. 96, o uso da palavra “representação” para defi nir a ação por meio da qual se apuram as violações dos seus dispositivos. Ocorre que dentre todas as vedações existentes na Lei das Eleições não se encontra regulação quanto ao abuso de poder político, econômico ou ao uso indevido dos meios de comunicação. Tal regulação está prevista na LC n. 64/1990.

Por consequência lógica, é indubitável que o vocábulo “representação” contido no art. 1°, I, alínea d, da LC n. 64/1990 deverá ser aplicado com signifi cação que cumpra a fi nalidade da norma, qual seja, afastar da vida pública políticos condenados por abuso de poder político e econômico.

Nessa linha, reafi rmo que ao termo “representação” atribuo o sentido de “ação”. Assim, quando o legislador refere-se à hipótese de “representação”, devemos entender que ele não se refere a um tipo específi co de ação, mas faz alusão às ações intentadas com o fi m de se apurar abuso de poder econômico ou político.

Essa conclusão é reforçada pela análise da natureza das ações cujo objeto é apurar e sancionar o abuso de poder: ação de investigação judicial eleitoral (AIJE), ação de impugnação de mandato eletivo (AIME) e recurso contra expedição de diploma (RCED). Todas servem à apuração de abuso de poder, alcançadas, portanto, pelo art. 1°, I, alínea d12.

Verifi co que a AIJE, disciplinada no art. 22 da LC n. 64/1990, é a única em que a Justiça Eleitoral declara a inelegibilidade no corpo da condenação (art. 22, XIV). A reforma manteve tal possibilidade, modifi cando apenas dois pontos: i) aumentou de 03 para 08 anos a sanção de inelegibilidade; ii) acrescentou a possibilidade de “cassação do registro ou diploma do candidato diretamente benefi ciado” mesmo que seu julgamento ocorra após a eleição e a diplomação dos eleitos.

Como já destacado, as condutas apuradas pela AIJE são o abuso do poder econômico, o desvio ou o abuso do poder de autoridade ou dos meios de comunicação.

12 Registro, por oportuno, que a doutrina eleitoral brasileira é unânime em apontar que o RCED tem natureza jurídica de ação. Dentre outros, José Jairo Gomes, Marcos Ramayana e Adriano Soares da Costa. Deste último extraio a seguinte passagem: “No atual estágio do direito eleitoral é inadmissível se imiscua o remédio jurídico previsto no art. 262 do CE entre os recursos eleitorais”. No mesmo sentido, nossa jurisprudência, da qual destaco o REspe n. 11.841-RJ, Rel. Min. Torquato Jardim, em que o então Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Ministro Sepúlveda Pertence, assentou que “recurso de diplomação é a ação impugnatória de diploma julgada em primeiro grau pelos Tribunais”.

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Já o recurso contra a expedição de diploma (RCED), previsto no art. 262 do Código Eleitoral, também tem como uma das causas de pedir a interferência (abuso) de poder econômico a fi m de apurar a legitimidade do mandato eletivo.

Por ausência de previsão legal expressa, a jurisprudência do TSE nunca cogitou em decretar a inelegibilidade no bojo da AIME, de modo que sua consequência limitava-se à perda do mandato. Precedentes: AgRg no REspe n. 26.314, Rel. Min. Caputo Bastos, DJ 22.03.2007; AI n. 4.203-MG, Rel. Min. Peçanha Martins.

Nota-se, no tocante à inelegibilidade, que a diferença entre as ações residia no fato de que apenas a AIJE tinha como consequência direta sua declaração.

Penso, contudo, que a partir da LC n. 135/2010 tais consequências foram profundamente alteradas.

A jurisprudência anterior do TSE, que afi rmava não ser possível aplicar inelegibilidade como consequência na AIME, não mais se sustenta diante das novas causas de inelegibilidade e do disposto no art. 1º, I, d, da LC n. 64/1990.

De fato, a inelegibilidade existirá como efeito natural da condenação, seja em ação de impugnação de mandato eletivo (AIME), seja em recurso contra expedição de diploma (RCED).

Isso ocorre, a toda evidência, pelo fato desta Corte ter reiterado que inelegibilidade não se confunde com pena. No ponto, destaco o voto do Ministro Arnaldo Versiani na Consulta n. 1147-09-DF, in verbis:

Realmente, não há, a meu ver, como se imaginar a inelegibilidade como pena ou sanção em si mesma, na medida em que a ela se aplica a determinadas categorias, por exemplo, a de juízes ou a de integrantes do Ministério Público, não porque eles devam sofrer essa pena, mas, sim, porque o legislador os incluiu na categoria daqueles que podem exercer certo grau de infl uência no eleitorado. Daí, inclusive, a necessidade de prévio afastamento defi nitivo de suas funções.

O mesmo se diga a respeito dos parentes de titular de cargo eletivo, que também sofrem a mesma restrição de elegibilidade. Ainda os inalistáveis e os analfabetos padecem de semelhante inelegibilidade, sem que se possa falar de imposição de pena.

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A inelegibilidade, assim como a falta de qualquer condição de elegibilidade, nada mais é do que uma restrição temporária à possibilidade de qualquer pessoa se candidatar, ou melhor, de exercer algum mandato. Isso pode ocorrer por eventual infl uência no eleitorado, ou por sua condição pessoal, ou pela categoria a que pertença, ou, ainda, por incidir em qualquer outra causa de inelegibilidade (grifos nossos).

Como bem alertado pelo Ministro Arnaldo Versiani, é impensável atribuir à inelegibilidade o caráter de pena.

Reitero, pois, que apenas na hipótese de AIJE cabe à Justiça Eleitoral declarar inelegibilidade na sentença ou no acórdão. Entretanto, nos demais casos, incluindo aqueles em que se apura o abuso, a inelegibilidade será consequência da condenação.

De mais a mais, entendo que os elementos da inelegibilidade previstos na própria alínea d do inciso I do art. 1° da LC n. 64/1990 enfraquecem a interpretação no sentido de que sua incidência se limitaria à hipótese de condenação por meio de AIJE.

Tal afi rmação fundamenta-se no fato de que, enquanto a alínea d atribui inelegibilidade apenas aos condenados por abuso de poder político e econômico, a ação de investigação judicial (AIJE) comporta a apuração de abuso de poder político, econômico e dos meios de comunicação social.

Destaco a redação do art. 22 da Lei das Inelegibilidades, in verbis:

Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político (...).

Confi rma-se que a hipótese de “utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social” não está contemplada dentre as situações que atraem a inelegibilidade prevista na alínea d. Signifi ca dizer que a previsão contida na referida alínea d não é sinônimo de AIJE.

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Com efeito, entendo que tal fato denuncia que a citada inelegibilidade incide sobre aqueles condenados por abuso de poder econômico e de autoridade, independentemente da ação que foi intentada. Isso porque, como destacado no parágrafo anterior, o legislador não contemplou todas as hipóteses previstas no art. 22 como ensejadoras da inelegibilidade da alínea d.

Reitero que não há, portanto, vinculação exclusiva entre a AIJE e o art. 1°, I, d, da Lei Complementar 64/1990.

IV – Possibilidade de violação do Princípio da Isonomia

Ressalto, por essencial, que interpretação diversa, que estabelecesse discrimen fundamentado apenas na ação por meio da qual o cidadão é processado, violaria o Princípio da Isonomia. No ponto, colho lições do voto do Ministro Celso de Mello no MI n. 58-DF, ipsis litteris:

o princípio da isonomia, que se reveste de auto-aplicabilidade, não é – enquanto postulado fundamental de nossa ordem político-jurídica – suscetível de regulamentação ou de complementação normativa. Esse princípio – cuja observância vincula, incondicionalmente, todas as manifestações do Poder Público – deve ser considerado, em sua precípua função de obstar discriminações e de extinguir privilégios (RDA n. 55/114), sob duplo aspecto: (a) o da <igualdade> na lei; e (b) o da <igualdade> perante a lei. A <igualdade> na lei – que opera numa fase de generalidade puramente abstrata – constitui exigência destinada ao legislador que, no processo de sua formação, nela não poderá incluir fatore s de discriminação, responsáv eis pela ruptura da ordem isonômica. A <igualdade> perante a lei, contudo, pressupondo lei já elaborada, traduz imposição destinada aos demais poderes estatais, que, na aplicação da norma legal, não poderão subordiná-la a critérios que ensejem tratamento seletivo ou discriminatório. A eventual inobservância desse postulado pelo legislador imporá ao ato estatal por ele elaborado e produzido a eiva de inconstitucionalidade (grifei).

De fato, considero que viola frontalmente a “igualdade perante a lei” eventual entendimento no sentido de que candidatos condenados por fatos idênticos possam ser atingidos por consequências diversas: ora ser inelegível, ora estar livre para concorrer aos mais variados cargos eletivos.

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Rememoro, ainda, apesar de cuidar de alínea diversa, o precedente fi rmado no julgamento do RO n. 1.715-38-DF, Rel. Min. Arnaldo Versiani.

Tratava-se de recurso ordinário interposto contra acórdão regional que afastou a incidência do art. 1°, I, j, da LC n. 64/1990 para deferir o registro de candidata. No caso, a Corte Regional entendeu que, embora condenada por captação ilícita de sufrágio, com trânsito em julgado, a candidata havia sofrido apenas multa, sem a consequência da cassação do registro ou do diploma, que seria essencial para incidência da inelegibilidade.

O TSE, contudo, reformou o julgado regional para assentar que o cerne da questão estava fundado na causa de pedir da ação condenatória, qual seja, a existência de captação ilícita de sufrágio com trânsito em julgado.

Nesse sentido, esta Corte interpretou a norma segundo sua fi nalidade para afastar da vida pública aqueles que tenham condenação por captação ilícita de sufrágio transitada em julgado.

Reitero, assim, a necessidade de se ter atenção à causa de pedir das ações propostas nesta Justiça especializada, de modo a defi nir quem são os indignos do voto popular.

Por todo o exposto, dou provimento ao recurso para aplicar o art. 1°, I, d, da LC n. 64/1990 aos que foram condenados em recurso contra expedição de diploma por abuso de poder.

VOTO

O Sr. Ministro Marcelo Ribeiro: Senhor Presidente, peço vênia a Vossa Excelência para acompanhar o relator. Parece-me que a norma, ao dispor acerca de representação, deixa claro o âmbito de sua incidência.

Principalmente, porque se trata de uma norma restritiva de direitos. Eu sou daqueles que pensam ainda – outro dia até fui criticado, disseram que isso não é mais moderno –, que as normas restritivas de direito devem ter uma interpretação estrita. Não se pode elastecer o conteúdo de uma norma restritiva de direitos.

No caso, Vossa Excelência até cita que essa é a jurisprudência atual do Tribunal, afi rmando que representação não é abrangida no conceito de recursos contra expedição de diploma.

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O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Presidente): Se Vossa Excelência me permite um aparte, afi rmo que temos que fazer a releitura dessa jurisprudência à luz da alteração extremamente signifi cativa que foi introduzida no mundo jurídico pela Lei Complementar n. 135/2010.

O Sr. Ministro Marcelo Ribeiro: Então, Senhor Presidente, soma-se ao fato de que se trata de uma norma restritiva de direito, que, a meu ver, não comporta interpretação extensiva, o de que a jurisprudência do Tribunal é essa.

Modifi car a jurisprudência para estender a aplicação de uma norma restritiva a uma hipótese que não está contemplada, pelo menos a meu ver, data venia, não seria adequado.

Acompanho o relator.

VOTO

O Sr. Ministro Arnaldo Versiani: Senhor Presidente, eu já decidi, como foi citado pelo ilustre advogado da tribuna, questão semelhante. A única diferença é que no caso anterior se tratava de ação de impugnação de mandato eletivo e aqui é recurso contra expedição de diploma, mas a hipótese jurídica é a mesma. Por isso, também peço vênia a Vossa Excelência para acompanhar o relator.

Na minha decisão dispus o seguinte:

[...]

De fato, a alínea d alude expressamente à hipótese de “representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral” por abuso do poder econômico ou político, ou seja, processo de natureza específi ca.

[...]

Embora tenha como imprópria a referência à sanção de inelegibilidade, pois inelegibilidade não constitui sanção nem pena, certo é que tanto o inciso XIV do art. 22, quanto a alínea d mencionam como causa da inelegibilidade a procedência, exclusivamente, de “representação”.

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No caso, porém, a condenação [e aí aplico ao caso concreto] do candidato por abuso do poder econômico em segunda instância [e aqui ocorreu perante este Tribunal], ocorreu em sede de recurso contra expedição de diploma.

Sendo assim, somente por interpretação ampliativa é que se poderia estender a hipótese da alínea d a outros casos que não de representação, inclusive aos de recurso contra expedição de diploma. Acontece que, por se tratar de norma de caráter restritivo, como são as normas que regem as inelegibilidades, não se pode estender a inelegibilidade da alínea d aos casos de procedência de recurso contra expedição de diploma.

[...]

Lembro que a hipótese de inelegibilidade da alínea d não constitui inovação trazida pela Lei Complementar n. 135/2010, mas teve sua redação apenas alterada elevando-se o respectivo prazo de inelegibilidade e estabelecendo sua caracterização também diante da existência de decisão proferida por órgão colegiado, e não mais apenas com o trânsito em julgado da decisão na AIJE.

No mesmo caso eu cito acórdão do Ministro Marco Aurélio, em que Sua Excelência assenta que “as normas relativas a inelegibilidade são de direito estrito, e que portanto hão de ser observadas tal como se contêm, vedado o recurso a métodos de interpretação e aplicação que acabem por agasalhar casos a ela estranhos”.

Senhor Presidente, em relação tanto à alínea d, quanto ao inciso XIV do art. 22, penso que o legislador teve uma boa oportunidade de alterar, tanto a redação de uma quanto de outro. A redação da alínea d talvez pudesse ter até sido no propósito não de representação julgada procedente, mas sim de reconhecimento de abuso do poder econômico, de abuso do poder político ou utilização indevida dos meios de comunicação. Talvez, Senhor Presidente, fosse possível até mesmo transportar todos esses ilícitos eleitorais para as hipóteses da alínea j, que são exatamente as de conduta vedada, compra de voto, corrupção eleitoral e outras, sem se referir expressamente ao objeto da “representação”, mas sim aos “que forem condenados, em decisão (...)”.

E como entendo que realmente é o caso de interpretação estrita, peço vênia a Vossa Excelência para acompanhar o relator.

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VOTO VENCIDO

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: Senhor Presidente, especifi camente quanto à questão da representação, eu acompanho Vossa Excelência, porque também entendo que nesse caso houve, sim, uma modifi cação no sentido de não se circunscrever, e não penso que aqui seja só uma interpretação ampliativa; penso que, realmente, há uma alteração muito signifi cativa na jurisprudência da Casa. Estudando esse caso, verifi ca-se que a jurisprudência estava placitada em sentido oposto.

Eu acompanho Vossa Excelência. Aqui, a meu ver, fi ca superada a questão posta pelo Ministro Hamilton Carvalhido.

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Presidente): Mas está dentro dos três anos, nem se coloca a hipótese dos oito anos.

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: O Ministro levanta a questão porque, contando-se da eleição, seria de 2006. Isso eu não supero. De 2006 para 2009 há os três anos. Para mim, o exaurimento de efeitos não se ressuscita.

Então, quanto à representação, eu acompanho Vossa Excelência e penso que realmente há a mudança fi xada por Vossa Excelência. Entretanto, no caso da alínea d, quando já se exauriram os efeitos (e contados de 2006, ter-se-iam exaurido em 2009), não há como, a meu ver, se aplicar, razão pela qual, na conclusão, na parte dispositiva, eu acompanho o relator, com as vênias de Vossa Excelência.

VOTO

O Sr. Ministro Marco Aurélio: Senhor Presidente, confesso haver conhecido o Tribunal Superior Eleitoral em outra época, na qual o Presidente votava apenas em determinadas matérias ou, então, no caso de empate. Mas vejo que, hoje em dia, é uma tônica Vossa Excelência antecipar o voto nas sessões. É o registro que faço, tendo em conta a passagem pelo Tribunal em 1996 e também em 2006.

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Senhor Presidente, reitero o que tenho dito quanto à Lei Complementar n. 135/2010, presente o artigo 16 da Constituição Federal. Repetem-se os recursos tendo em conta a aplicação – nestas eleições e de forma retroativa – da Lei Complementar n. 135/2010. Na esteira de pronunciamento do Tribunal Superior Eleitoral – em relação ao qual guardo profundas reservas –, nada menos que vinte e quatro Tribunais Regionais Eleitorais vêm observando, nestas eleições, a citada Lei. São exceções os Tribunais do Tocantins, do Pará e do Maranhão.

Descabe introduzir, na Carta da República, exceção não contemplada e, mais do que isso, distinguir onde a norma não distingue. O artigo 16 nela contido, a revelar a homenagem constitucional à segurança jurídica, preceitua:

Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência (Emenda Constitucional n. 4/1993).

A toda evidência, o preceito versa direito material e não processual. A referência a processo eleitoral direciona à caminhada visando à participação no pleito. Ora, ninguém em sã consciência é capaz de afi rmar não repercutir a Lei Complementar n. 135/2010 no gênero processo eleitoral. Ela versa sobre inelegibilidades e, assim, repercute sobremaneira – como demonstram os inúmeros processos em andamento nos Regionais e no Tribunal Superior Eleitoral – na participação de candidatos. Mais do que isso, tem sido maltratada a primeira condição da segurança jurídica: a irretroatividade normativa. Sem esta, é a Babel! Sem esta, a sociedade viverá aos sobressaltos, deixando de reinar a almejada paz social. Hoje, visando à correção de rumos no campo político-administrativo, implementa-se a retroatividade da Lei Complementar n. 135/2010. Amanhã, ante precedente nefasto, instalar-se-á a mesma prática quanto a outros direitos, a outras leis que possam ser interpretadas de forma retroativa.

Há de meditar-se sobre a situação jurídica, passível de repetir-se em um sem número de casos e em diversos campos da vida gregária.

Paga-se um preço por se viver em um Estado de Direito, e é módico – o respeito irrestrito ao arcabouço normativo. Somente assim, haverá avanço no campo dos costumes e no campo cultural, corrigindo-se rumos. Nunca

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é demasia repetir máxima de sabença geral: em Direito, o meio justifi ca o fi m, mas não este àquele. De bem intencionados, o Brasil está cheio. Hão de distinguir-se os âmbitos próprios à religião, à moral e ao Direito. Que prevaleça, no campo jurisdicional, este último, sem atropelos nem surpresas incompatíveis com a democracia.

Também procedo à reafi rmação sobre a primeira condição da segurança jurídica – a irretroatividade da lei.

Concluo da mesma forma – estamos julgando, já ultrapassada a barreira de conhecimento do recurso, a própria matéria de fundo –, considerado o princípio bicameral quanto ao processo legislativo, pelo vício formal da Lei. Houve substancial modifi cação na demanda do projeto remetido pela Câmara. Os verbos utilizados foram do passado para o futuro do subjuntivo.

Surge a matéria debatida pelos Colegas e que está ligada ao contido na alínea d do hoje artigo 1º da Lei Complementar n. 64/1990, tendo em conta o teor impresso pela Lei Complementar n. 135, de 04 de junho de 2010. Aprendi, desde cedo, que não se pode atribuir a existência, na lei, de vocábulos e expressões inócuos. E, na alínea d, há à referência a inelegibilidade por oito anos no tocante àqueles que tenham – e, repito, o verbo está no futuro do subjuntivo, envolvendo acontecimento eventual – contra si representação julgada procedente. Remete-se necessariamente a um instituto: o da representação.

Mas abandonemos esse enfoque para considerar a interpretação sistemática. A Lei Complementar n. 135/2010 versou sobre a representação da Lei Complementar n. 64/1990, tanto assim que fez inserir dispositivos nesta mesma Lei Complementar. Implicou a revogação do inciso XV do artigo 22 da Lei Complementar n. 64/1990, para dispensar, no caso de julgamento da representação após a eleição, o que previsto anteriormente – a remessa de peças ao Ministério Público para viabilizar a ação de impugnação ao mandato.

Não posso, Senhor Presidente, dizer que, no tocante a essa revogação, tendo em vista a nova redação do inciso XIV, dada pela Lei Complementar n. 135/2010, o vocábulo “representação” veio a ser utilizado de forma técnica e, quanto à alínea d do mesmo Diploma, no que empregado idêntico

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vocábulo, o foi de forma atécnica, havendo leque de procedimentos e ações que podem atrair o disposto na alínea d.

Peço vênia a Vossa Excelência para, no caso, acompanhar o Relator, desprovendo o recurso interposto.

O Sr. Ministro Marcelo Ribeiro: Senhor Presidente, apenas para lembrar que eu também nego provimento com base também nos argumentos do art. 16, da irretroatividade.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: Senhor Presidente, acompanho a divergência em relação a admitir que não seja apenas restrito à representação.

Quanto ao recurso contra expedição de diploma, eu também admito a aplicação da alínea d.

ESCLARECIMENTO

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Presidente): Na verdade, na decisão daqui do Tribunal Superior Eleitoral, nós apenas cassamos o mandato; não declaramos a inelegibilidade.

Portanto, estaríamos aplicando a alínea d, que estabelece oito anos de inelegibilidade contados das últimas eleições de 2006. Esse é o meu entendimenO Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: Pelo que entendi, o Ministro Hamilton Carvalhido havia simplesmente entendido que, como não se trata de representação, já eliminava.

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Presidente): Estaria no sentido estrito a palavra “representação”.

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: Então foi destacado a esse tema. Ou seja, eu posso acompanhar a divergência e, evidentemente, nem avançaria, nesse caso, no tema de fundo, porque me parece que a maioria está formada.

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O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Presidente): Sim, já há uma maioria no sentido do desprovimento.

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: No sentido do desprovimento com o fundamento de que não é caso de representação, portanto incabível.

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Presidente): Eu quero frisar a Vossa Excelência que realmente não houve declaração de inelegibilidade, apenas foi cassado o diploma, não sendo fi xado prazo de inelegibilidade de três anos, como em outros casos.

Neste caso, estamos aplicando a alínea d e a inelegibilidade de oito anos, objetivamente, como sempre fi zemos.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: De forma indireta, estamos transformando aquele procedimento em representação!

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Presidente): Pois é, esse é o entendimento.

O Sr. Ministro Marco Aurélio: É o cerne da questão.

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Presidente): Parece que, agora, há três entendimentos no sentido de que, como disse, “representação”, aqui, é utilizada no sentido genérico, como gênero que compreende outras espécies de ações.

VOTO RETIFICAÇÃO

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: Concluo dessa forma porque não foi fi xado o prazo de três anos.

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Presidente): Não foi fi xado, porque não houve inelegibilidade.

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: Não houve inelegibilidade declarada especifi camente naquela decisão, porque não era própria.

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Entretanto, a decorrência de inelegibilidade era daquele mesmo título, e, naquela ocasião, Vossa Excelência dispõe que no recurso contra expedição do diploma não foi cogitada a decretação da inelegibilidade.

O Sr. Ministro Ricardo Lewandowski (Presidente): Somente estamos dizendo que aquele que é o objeto de uma representação por abuso de poder político ou econômico incide na alínea d e sofre as consequências de uma inelegibilidade.

A Sra. Ministra Cármen Lúcia: Exatamente por essa razão. Por isso na ocasião eu disse que seguia a considerar que teria havido a fi xação, mas, não tendo havido a fi xação da inelegibilidade, eu mantenho o meu ponto de vista e, portanto, acompanho Vossa Excelência.