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Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF 4, 5 e 6 de junho de 2012 O ESTADO-CORPORATISTA NA LÓGICA DA GOVERNANÇA PÚBLICA DE RESULTADOS: O CASE CELESC E O DESAFIO DA EFETIVIDADE ADMINISTRATIVA Antonio Marcos Gavazzoni Cleverson Siewert Julio Cesar Marcellino Jr.

o estado-corporatista na lógica da governança pública de

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Centro de Convenções Ulysses Guimarães

Brasília/DF – 4, 5 e 6 de junho de 2012

O ESTADO-CORPORATISTA NA LÓGICA DA GOVERNANÇA

PÚBLICA DE RESULTADOS: O CASE CELESC E O DESAFIO

DA EFETIVIDADE ADMINISTRATIVA

Antonio Marcos Gavazzoni Cleverson Siewert

Julio Cesar Marcellino Jr.

Painel 46/169 Regulação e agências reguladoras

O ESTADO-CORPORATISTA NA LÓGICA DA GOVERNANÇA

PÚBLICA DE RESULTADOS: O CASE CELESC E O DESAFIO DA EFETIVIDADE ADMINISTRATIVA

Antonio Marcos Gavazzoni

Cleverson Siewert Julio Cesar Marcellino Jr.

RESUMO Este artigo trata sobre a experiência de uma nova lógica de governança pública implementada nas Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A. (Celesc), uma sociedade de economia mista catarinense do setor elétrico. A partir de uma nova postura gerencial adotada pelos dirigentes, os processos de gestão foram redimensionados e racionalizados tendo como norte a efetividade administrativa. Medidas e providências pontuais foram implementadas no âmbito na organização, levando em consideração uma visão diferenciada em relação ao desenvolvimento e às relações humanas. Por meio de uma estratégia gerencial inclusiva, que passa pelo envolvimento e compartilhamento de responsabilidades com a cadeia de tomada de decisões, a empresa pôde enfrentar com desenvoltura os desafios impostos pelo mercado, e alcançar resultados destacados.

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INTRODUÇÃO

O modelo de Estado herdado da modernidade encontra-se nitidamente

superado. As pilastras que sempre deram suporte ao sistema estatal nacional vão

sendo gradativamente minadas. No atual cenário contemporâneo internacional, os

Estados não estão mais sozinhos à frente das decisões globais. Novos atores

surgiram, a exemplo dos conglomerados econômicos, exercendo grande influência

na arena global e induzindo as decisões públicas a partir das diretrizes pautadas

pelo mercado.

No âmbito da sociedade civil, as mudanças são percebidas também com

nitidez. Os sujeitos contemporâneos assumiram uma nova condição comportamental

e as relações sociais já não são mais as mesmas. O receituário econômico que

deflagra o consumo como novo paradigma social, carreado pela velocidade, altera a

lógica do tempo expandindo o presente e comprimindo o futuro. Os desejos

humanos, aguçados por esse ambiente econômico de busca de satisfação

instantânea, transformam as demandas e pressionam de forma contundente o

aparato estatal, que encontra dificuldades para oferecer respostas céleres e que

atendam a esses anseios.

Nesse contexto, o Estado é lançado em descrédito e as ferramentas

administrativas tradicionalmente utilizadas se tornaram insuficientes para dar conta

da complexidade da sociedade contemporânea. No âmbito da gestão pública,

libertando-se da visão tradicional e superada de administração no receituário

taylorista1 de agir sem pensar, pode-se encontrar oportunidades importantes

para, ainda que parcialmente, mudar essa realidade de precariedade e

inefetividade estatal.

O Estado precisa se ajustar ou se adaptar a essa nova realidade político-

econômica, sem, no entanto, subverter a missão institucional traçada pelo

ordenamento constitucional. A partir da diretriz da sustentabilidade, voltada à ideia

de comprometimento e responsabilidade, pode-se buscar uma alternativa de avanço

1 Refere-se a Frederick Winslow Taylor. Vide: TAYLOR, Frederick Winslow. Princípios da

administração científica. Trad. Arlindo Vieira Ramos. 8. ed. São Paulo: Atlas, 1990.

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para a administração pública que se afaste do ideário estritamente “gerencial”, para

acolher um sistema de governança voltado para o alcance de resultados,

transparência de procedimentos, racionalização de custos, sem perder de vista os

impactos sociais e garantia de direitos fundamentais2.

O desafio recrudesce quando deslocamos essa reflexão para o âmbito de

uma empresa pública, como as Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A. Em uma

sociedade de economia mista, com o controle acionário do Estado, pode-se

perceber ainda os resquícios de uma concepção administrativa já superada e que

persiste em existir no imaginário dos atores que compõem esse circuito. Aqui a

confluência dialética público-privada surge, de regra, como um grande desafio a ser

enfrentado, forjando permanentemente um ambiente adverso para o gestor público,

especialmente quando se pensa em busca perseverante de efetividade

administrativa.

No mercado, a Celesc é exigida com o rigor e em patamares de

competitividade como se empresa (exclusivamente) privada fosse. Mas sua

composição, marcada pela hibridez, traz consigo, para além de sua face privada, o

peso da missão de atender às regras diretivas do direito administrativo, o que muitas

vezes pode impor uma velocidade incompatível com o timing do setor. A relação

com os acionistas, com os consumidores e com os empregados, nesse ambiente de

permanente confluência entre o corporativo e o público, impõe, a priori, dificuldades

imensas aos dirigentes.

No entanto, enxergando essas dificuldades como oportunidades, uma

nova proposta de gestão, implementada no início do exercício passado na Celesc

S.A., pôde, já em curto prazo, demonstrar que a utilização de novos métodos

administrativos, aliados a comprometimento, responsabilidade e espírito público,

podem surtir efeitos destacados no que diz respeito à busca por resultados

administrativos efetivos.

2 No que toca à dimensão e importância de uma visão administrativa voltada à garantia de direitos

fundamentais, vide: GAVAZZONI, Antonio Marcos; MARCELLINO JR., Julio Cesar. (Organizadores). Constituição, Estado e Garantismo Jurídico: Diálogos Cruzados. São Paulo: Conceito Editora, 2012.

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As ferramentas utilizadas são em parte já conhecidas como instrumental

de gestão. O que mudou, e esse é o ponto nodal, foi a visão e a atitude diante do

fenômeno corporativo. Os resultados passam a ser buscados a partir de um novo

projeto de governança pública, que transforma e qualifica os processos

administrativos e seus fluxos. Redimensiona-se o envolvimento com os partícipes da

cadeia gerencial e se reconstrói uma dinâmica inclusiva e pautada no potencial

intersubjetivo de tomada de decisão. Essa iniciativa é o que se pretende, ainda que

de maneira breve, aqui apresentar.

I A CELESC: UMA BREVE APRESENTAÇÃO

A Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A. (Celesc) é uma sociedade de

economia mista que foi criada em 1955, e que atua desde então nas áreas de

geração, transmissão e distribuição de energia. Consolidou-se como uma das

maiores empresas do setor elétrico brasileiro, sendo reconhecida nacional e

internacionalmente pela qualidade dos seus serviços e por suas ações nos campos

técnico, social e financeiro.

Adequando-se ao modelo preconizado pela atual legislação do setor

elétrico nacional, a empresa, no ano de 2006, foi estruturada como Holding, já

estreando como um dos 100 maiores grupos empresariais do país, com duas

subsidiárias integrais, a Celesc Geração S.A. e a Celesc Distribuição S.A., e

participações acionárias na Empresa Catarinense de Transmissão de Energia

Elétrica (ECTE), na Dona Francisca Energética S.A. (DFESA), na Companhia

Catarinense de Água e Saneamento (CASAN), e na Usina Hidrelétrica Cubatão S.A.,

entre outras.

Logo após, a Celesc passou a ter o controle acionário da Companhia de

Gás de Santa Catarina (SCGAS), empresa esta detentora da concessão para

distribuição de gás natural no Estado de Santa Catarina. Em 2009, a Celesc Holding

ampliou sua participação no setor de transmissão de energia elétrica, adquirindo

mais ações da Empresa Catarinense de Transmissão de Energia Elétrica (ECTE).

Em ranking elaborado pelo jornal Valor Econômico publicado em dezembro de 2011,

a Celesc ocupava a 70a posição entre os 200 maiores grupos do País e a 11a

posição entre os grandes grupos empresariais do setor elétrico brasileiro.

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O Capital Social da Celesc S.A. atualizado, em 31 de dezembro de 2011,

subscrito e integralizado, alcançava R$ 1.017.700.000,00, representado por

38.571.591 ações nominativas, sem valor nominal, sendo 15.527.137 ações

ordinárias (40,26%) com direito a voto e 23.044.454 ações preferenciais (59,74%),

também nominativas, sem direito a voto.

No que toca às subsidiárias integrais, cumpre dizer que a Celesc

Distribuição é 6a maior empresa de distribuição de energia elétrica brasileira em

volume de receita de fornecimento, a 7a em volume de energia distribuída e a 9a em

número de consumidores. Em 31 de março de 2012, atendia a 2.443.368 unidades

consumidoras, com consumo médio geral de 692,72kWh/mês, incluído o consumo

próprio. O consumo residencial médio chega a 196kWh/mês, o maior índice da

região Sul e o 5o maior do país, de acordo com os dados da ABRADEE (2011)3.

Em 2011, a Empresa distribuiu mais de 19 bilhões de kWh de energia

elétrica, volume correspondente a 26,8% do consumo da região Sul e a 5,2% do

total de energia elétrica consumida no país. Seu faturamento bruto, no ano, foi de

R$ 6,4 bilhões.

A Celesc Geração, por sua vez, é responsável pela operação,

manutenção e expansão de parque gerador formado por doze Pequenas Centrais

Hidrelétricas (PCHs), e apresenta potência total instalada de 81,9 MW. Nos últimos

anos, norteada pelo posicionamento estratégico de aumentar a capacidade de

geração própria, a empresa passou a investir na repotenciação das usinas

existentes e na formação de parcerias para viabilizar projetos que visam à

construção de novos empreendimentos e à diversificação da matriz energética.

Estudos em andamento projetam ampliar em até 148% a capacidade atual e

contemplam projetos de fonte hidráulica, eólica e biomassa.

O setor de energia é regulado, no país, pela Agência Nacional de Energia

Elétrica (ANEEL). A companhia deve cumprir e acatar as orientações dadas pela

agência reguladora, que acabam por ter interferência direta nos procedimentos de

gestão, nos custos, na tarifa de energia elétrica e na qualidade dos serviços.

Em 2012, a distribuidora passará pelo 3o ciclo de revisão tarifária, no qual serão

definidas as receitas necessárias para o período de quatro anos4.

3 Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica.

4 Dados colhidos do Relatório Anual da Administração da Celesc, referente ao exercício de 2011.

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II ACÕES ADMINISTRATIVAS ADOTADAS NA CELESC

As ações implementadas na Celesc levaram em consideração as

necessidades e deficiências gerenciais, as exigências do órgão regulador, os

interesses dos acionistas e a preocupação com os consumidores no que diz respeito

à prestação de serviços de qualidade. Além disso, levou-se também em

consideração o cenário econômico adverso vigente, que exigiu cuidado e atenção

em face dos possíveis impactos da crise internacional que assolava os países do

eixo central.

Esse ambiente de dificuldades na economia também foi decisivo para que

os novos gestores da Celesc buscassem uma estratégia administrativa capaz de

oferecer respostas condizentes com os interesses e necessidades dos acionistas,

consumidores e empregados da empresa. A partir de uma nova atitude, calcada no

planejamento administrativo, uma série de iniciativas e medidas, de curto, médio e

longo prazo, foram tomadas mirando dois objetivos centrais: o fortalecimento da

empresa para o enfrentamento da economia turbulenta de então, e a sua

preparação para o futuro. Vejamos, pois, as principais medidas encetadas pela

nova gestão.

Reforma estatutária: o estatuto social da empresa foi aperfeiçoado

buscando harmonizar o capital, a governança corporativa e a participação dos

minoritários na gestão da Celesc. As principais alterações foram: a) a previsão do

Plano Diretor com abrangência de 5 (cinco) exercícios e revisão anual, descrevendo

os fundamentos, metas, objetivos, resultados pretendidos, plano de obras, plano de

expansão e de novos negócios, taxa de rentabilidade mínima pretendida nos

empreendimentos e política de dividendos; b) o estabelecimento de diretrizes

contendo limites máximos para o endividamento do grupo e limite máximo, também,

para o montante destinado para investimentos; c) exigência de aprovação pelo

Conselho de Administração, para as contratações que ultrapassem R$ 10 milhões,

melhorando o sistema de controle interno da empresa; d) a Diretoria Executiva,

antes formada por 11 membros, agora passa a ser formada por 9 membros, com

diretor presidente único para as empresas do Grupo; foram, também, criadas as

atividades de controle interno, controle de participações, novos negócios, diretoria

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específica para acompanhamento de assuntos regulatórios e uma diretoria de

geração que cuidará, também, de negócios voltados para a transmissão de energia;

e) adequação e adesão do Estatuto Social às novas cláusulas mínimas de práticas

diferenciadas de Nível II de Governança Corporativa, exigidas pela BM&F Bovespa.

Governança corporativa: foram criadas a Secretaria de Governança

Corporativa, com atendimento preferencial aos Conselhos de Administração e

Fiscal; a Auditoria Interna, vinculada à Holding, com a atribuição de avaliar a

integridade, adequação, eficácia e economicidade dos processos corporativos; e o

Comitê de Sustentabilidade, integrado por diretores da companhia e coordenado por

conselheiro independente, representante do Conselho de Administração.

Em busca da melhoria contínua, a diretoria executiva manteve esforço no

estreitamento de relações com os seus diversos stakeholders (empregados, clientes,

fornecedores, acionistas, governo e sociedade), com foco na transparência e na

prestação de contas, estimulando que essa premissa permeie toda a organização.

Foram promovidas diversas reuniões intrassetoriais, em defesa dos

interesses corporativos, junto à ANEEL, ABRADEE (Associação Brasileira das

Distribuidoras de Energia Elétrica) e outras concessionárias, além de reuniões e

divulgação dos atos da empresa em associações empresariais, comerciais e

industriais catarinenses.

A Celesc Distribuição promoveu, também, em parceria com a Energisa e

a ABRADEE (Associação Brasileira dos Distribuidores de Energia Elétrica),

workshop no Rio de Janeiro para discussão dos impactos de catástrofes climáticas

no setor elétrico, com participação de 16 concessionárias de energia.

Foi retomada, de forma efetiva, a comunicação com o mercado financeiro,

por meio de reuniões com bancos de investimentos, associações de analistas e

investidores e teleconferências. Foram realizadas quatro apresentações públicas

para divulgação dos resultados trimestrais (São Paulo, Fortaleza, Belo Horizonte e

Rio de Janeiro) e uma no exterior (Buenos Aires). Os contatos com a mídia

especializada foram reforçados e os empregados receberam as informações por

meio de evento específico.

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Entre 153 empresas que apresentaram seus resultados em evento

especial da Associação dos Profissionais do Mercado de Capitais (APIMEC), em

São Paulo, a Celesc figurou entre as 10 melhores apresentações segundo pesquisa

entre os participantes. O esforço da Celesc em se aproximar do investidor individual,

oferecendo informações sobre o mercado de capitais e orientações para ingresso na

Bolsa de Valores, também rendeu à empresa o prêmio Capital Aberto, concedido

pela Expomoney em setembro de 2011.

Objetivando oferecer transparência total sobre os contratos para aquisição

de serviços e materiais, entre outros, a empresa lançou seu Portal da Transparência

no novo site da companhia. O Portal disponibiliza, na internet, o conteúdo de todos os

contratos assinados pela empresa desde janeiro de 2011. O banco de dados reúne,

hoje, informações de 392 contratos. O próximo passo é reunir, no mesmo ambiente

virtual, todas as demonstrações financeiras da companhia.

Foram concretizadas ações de melhoria dos procedimentos de

atendimento e da ampliação de Pontos de Atendimento Presencial na área de

concessão. Foram, também, inaugurados ou adaptados 140 postos de atendimento

da empresa, conquistando-se a certificação do processo de tratamento de

reclamações.

Como prática recomendada pelo programa GesPública, que tem a Celesc

como empresa âncora em Santa Catarina, a empresa promoveu a adesão do

Ministério Público de Santa Catarina e o Tribunal de Contas do Estado ao Programa

e tornou-se a primeira concessionária brasileira a produzir a Carta de Serviços ao

Consumidor.

No intuito de expandir as ações sociais corporativas a sua cadeia

produtiva, foi aprovada a Política de Relacionamento com Fornecedores para

melhorar processos e construir possibilidades de inclusão social, de respeito ao

ambiente e transparência.

Eficiência operacional: Diante da necessidade de adequação do custo

operacional da empresa, especialmente no que toca aos gastos com pessoal,

materiais, serviços e outros (PMSO), e tendo em conta os parâmetros estabelecidos

pela agência reguladora em face do terceiro ciclo tarifário (2012 – 2016), a diretoria

executiva apresentou ao final do exercício passado uma proposta denominada Plano

de Adequação de Quadros (PAQ) aos Comitês Temáticos de Assessoramento do

Conselho de Administração.

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Como passo inicial para a concretização desse plano, colocou-se em

prática o Mapeamento para eficiência dos processos, objetivando a redução da

estrutura administrativa da empresa. Essa iniciativa se calcou a partir das seguintes

medidas: através da Centralização de Atividades, estabeleceram-se métodos de

processos críticos de modo a racionalizar os fluxos administrativos, encurtar a

estrutura burocrática, e otimizar os serviços prestados; por meio da Política de

Transferências de pessoal, se procedeu à movimentação de empregados entre as

empresas do grupo, bem como entre agências regionais da subsidiária distribuidora,

ajustando a alocação de pessoal à nova estrutura desverticalizada do conglomerado.

Foi realizada a Otimização da apropriação de mão de obra em

investimento, com o objetivo de ajustar os registros de informações referentes às

alocações de serviços em investimentos, sendo que em 2011 foram apropriados R$

77 milhões, projetando-se para o atual exercício o valor estimado R$ 90 milhões.

Outra medida encetada foi o Estabelecimento de políticas de incremento salarial,

através da revisão do plano de cargos e salários, visando a adequação da

majoração e evolução do gasto com pessoal aos impactos na receita decorrente do

reajuste tarifário. Foram deflagrados estudos para a concretização de um Plano de

Demissão Voluntária, já em vias de se efetivar, e que poderá proporcionar, após o

término do pagamento das indenizações aos demissionários, uma economia líquida

anual estimada em R$ 130 milhões.

Outras medidas destacadas também foram tomadas, tais como:

a) redução de custos em 34 milhões com aquisições e contratações, por meio da

ampliação de certames licitatórios, fomentando a competitividade e alcançando

preços mais atraentes para contratação – tendo também, como consequência dessa

nova postura administrativa, a ampliação em 30% do número de fornecedores;

b) renovação da frota de veículos, com investimento aproximado de 5 milhões de

reais, que acarretará expressiva economia evolutiva nos gastos com veículos;

c) venda de bens inservíveis acumulando ao Fundo Patrimonial aproximadamente

R$ 2,8 milhões que serão revertidos em investimentos.

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Investimentos: os investimentos do Grupo Celesc em 2011 chegaram ao

patamar de R$ 475,4 milhões ante R$ 465,9 milhões em 2010. Do total, R$ 352,9

milhões, foram destinados à expansão e melhoria do sistema, efetividade

operacional e modernização da gestão junto à subsidiária de Distribuição. A Celesc

Geração, voltada ao incremento da sua produção própria, investiu no período

R$ 63,7 milhões. Os investimentos da SCGAS somaram R$ 58,8 milhões.

Expansão do sistema: em cumprimento ao Plano de Desenvolvimento

da Distribuição – PDD, em 2011, estavam em construção cinco novas subestações

(Itapoá, Joinville Paranaguamirim, Navegantes, Vidal Ramos e General Motors).

Destas, duas (Navegantes e Joinville Paranaguamirim) foram concluídas e

energizadas em 2011. Outras 10 subestações (Joinville Santa Catarina, Ilha Centro,

Braço do Norte, Gravatal, Blumenau Bairro da Velha, Faxinal dos Guedes,

Itapiranga, Araranguá, Porto Belo e Seara) foram ampliadas. No mesmo período,

associados à construção das novas subestações, foram implantados 74,26km de

linhas de distribuição de 138kV (Kilovolts). As intervenções para ampliação do

sistema somaram incremento de 307MVA (Megavolt Ampère) à potência instalada

do sistema de transformação.

Em atenção ao crescimento vegetativo e fortalecimento do sistema da

malha de distribuição, foram construídos 333,1km de linhas de distribuição

(Alimentadores rede tronco) e realizadas 8.665 obras de expansão. O rol de novos

equipamentos soma a instalação de 18.223 postes e 1.555 transformadores de

distribuição.

Universalização do atendimento: desde a implantação do Programa de

Universalização do Atendimento, instituído pelo Governo Federal em abril de 2003, a

Celesc Distribuição acumula a realização de 60 mil ligações de novos consumidores

em sua área de concessão. Por meio do Programa, em 2011, foram realizadas

6.331 ligações.

A empresa concluiu o seu Programa Luz Para Todos, que beneficiou, em

Santa Catarina, um total de 44 mil famílias. O Luz para Todos é uma iniciativa de

cunho social, que oferece subsídios custeados pelo Governo Federal, Governo

Estadual e a respectiva concessionária, para instalação de energia elétrica em

residências estabelecidas em área rural e com demanda limitada em 15kVA

(kilovolt-ampères).

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Qualidade de serviço: a Celesc continua adequada aos padrões

regulatórios no que diz respeito aos indicadores de continuidade (DEC – Duração

Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora e FEC – Frequência

Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora), percebendo-se um aumento

desses indicadores em relação a 2010. A alta dos índices foi fortemente influenciada

por ocorrências no sistema de alta tensão (em torno de 7%), por desligamentos para

viabilizar obras de manutenção e ampliação do sistema (12%) e devido à mudança na

formatação dos conjuntos de consumidores utilizados para mensurar os índices de

continuidade. Até 2010, o critério utilizado para definição dos conjuntos era o

perímetro dos municípios atendidos pela empresa e, em 2011, os conjuntos passaram

a ser definidos pela área de abrangência de cada subestação do sistema da empresa,

impactando em torno de 4% no aumento do índice global de continuidade.

Pesquisa e desenvolvimento: na busca de inovações para superar os

desafios tecnológicos e de mercado na área de energia elétrica, o Programa de P&D

tem investido predominantemente no seu principal foco de negócio, a distribuição de

energia elétrica, que absorve 51% dos seus recursos. Em 2011, a Celesc finalizou

10 projetos de P&D e, atualmente, o Programa executa 17 projetos, que somam R$

14,83 milhões, além de possuir pelo menos 113 projetos em fase de seleção.

Eficiência energética: a Celesc Distribuição aplicou o montante de R$

5,22 milhões por meio do seu programa de combate ao desperdício de energia

elétrica, o proCeleficiência. Os investimentos foram distribuídos principalmente em

dois grandes projetos, o Energia do Bem, que promove a modernização/substituição

dos sistemas de iluminação, refrigeração, ar condicionado, motores e autoclaves de

hospitais filantrópicos, e o Sou Legal, Tô Ligado, composto por um variado conjunto

de ações de melhoria em residências de comunidades baixa renda, que vão desde a

substituição dos padrões de entrada de energia elétrica (conjunto de poste, caixa de

medidor, ramal de rede ao medidor) até a instalação de sistema de aquecimento de

água por energia solar. A empresa estima, com a execução dos projetos da área, a

redução de 6294MWh/ano no consumo de energia elétrica e de 1.665MW a

demanda evitada na ponta.

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Investimentos em pessoal: a empresa registrou o volume de 24.977

participações em treinamentos internos e externos, o que resultou em 7,18

treinamentos por empregado. O número total de horas/homem de treinamento foi de

132.892,2, resultando em 38,22 HHT.

Em setembro, a diretoria renovou seu compromisso com os benefícios

concedidos por meio de Acordo Coletivo. No ano, foram distribuídos R$ 17,7 milhões

aos empregados da Holding e das subsidiárias integrais, sendo R$ 8,6 milhões

referentes à Participação nos Lucros e Resultados (PLR) de 2010, e R$ 9,1 milhões

pagos em outubro referente à antecipação da PLR de 2011. A PLR está associada

ao cumprimento ou superação de metas do Contrato de Gestão de Resultados e

possibilita atuar estrategicamente para melhorar o desempenho organizacional.

Ainda em 2011, foi realizado concurso público na Celesc Distribuição para

a contratação de engenheiros e advogados com objetivo de melhorar a qualidade do

atendimento prestado pela empresa. Entre os admitidos, três são portadores de

necessidades especiais.

Geração de energia e expansão do sistema: Com geração de 65,5MW

médios/hora, a Celesc Geração registrou a produção líquida de 573,9GWh de energia

elétrica, com fator de capacidade de cerca de 80,7%. O montante total de energia

comercializada (471GWh) ficou 0,2% acima dos 470GWh registrados em 2010.

Em 31 de dezembro, a Celesc Geração possuía participação acionária em

seis Sociedades de Propósito Específico (SPEs) interessadas na viabilização de

novos empreendimentos no Estado. Conforme Assembléia Geral Extraordinária

realizada em dezembro, foi aprovado o termo de distrato da SPE Boa Vista

Energética S.A., tendo em vista o alto valor para instalação, a dificuldade de

obtenção das licenças ambientais, o baixo retorno projetado para o investimento e o

problema fundiário existente no local de implantação do empreendimento.

O ano de 2011 marcou o início da expansão do parque de geração

própria da empresa. Dentre os novos empreendimentos já em execução na

modalidade de parcerias, a PCH Prata (3MW), localizada no Extremo-Oeste

catarinense, entrou em operação no mês de agosto e representou o aporte de

0,75MW à potência instalada do parque de geração própria da Celesc Geração.

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Entre as obras de ampliação, realizadas com recursos próprios, no

decorrer de 2011 a empresa investiu na execução das obras civis e início da

montagem eletromecânica da PCH Pery, no Planalto Serrano. Com potência

instalada de 4,4MW, a Usina passará a contar com capacidade instalada de 30MW.

O início da operação comercial está previsto para outubro de 2012.

Em 2011, a Celesc Geração investiu o montante de R$ 63,6 milhões,

volume 23,1% superior ao realizado em 2010 (R$ 48,9 milhões). O desempenho

reflete a maior atuação da empresa no desenvolvimento de projetos voltados a sua

expansão, com destaque para os recursos destinados à manutenção, revitalização e

ampliação do parque gerador (R$ 58,8 milhões). Os recursos investidos em novos

empreendimentos são de origem própria e somaram, no ano, R$ 4,4 milhões.

Subsidiária de distribuição de gás e a expansão do sistema: em 2011,

a SCGAS investiu R$ 58,8 milhões, grande parte (R$ 54,3 milhões) na construção

de 75km de novas redes de distribuição, ampliando para 958km a extensão total do

sistema em Santa Catarina. Destaca-se o Projeto Serra Catarinense, no qual foram

investidos R$14,3 milhões para a implantação de 19,2km de rede.

A empresa manteve aumento no volume de vendas e a expansão da rede

de distribuição de gás natural e do número de municípios atendidos na área de

concessão da Empresa. As vendas médias diárias atingiram 1.835 mil m³ ante 1.741

mil m³ em 2010, representando 5,4% de crescimento global. No ano, foram

registrados 6% de acréscimo do mercado industrial, 24,4% do comercial e 52,9%

na classe residencial.

O número de clientes da empresa foi ampliado em 47,3%, passando de

1.988 ao final de 2010 para 2.928 em dezembro de 2011, com destaque para o

crescimento de 61,3% no mercado residencial, de 12,2% no comercial e de 8,2%

no industrial.

Relacionamento social: as ações corporativas são norteadas pela

Política de Responsabilidade Social, com o objetivo de aperfeiçoar seu alinhamento

às estratégias das empresas, tendo seus pilares na ISO 26000 e NBR 16001. A

companhia prestou seu apoio a ações nas áreas de educação ambiental,

diversidades, eficiência energética, pesquisa e desenvolvimento e geração de

trabalho e renda, estimulando cooperativas. Entre suas iniciativas, destaque para a

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Instituição da Política de Relacionamento com fornecedores, ampliação do programa

Jovem Aprendiz, reforço a projetos de capacitação para geração de renda,

iniciativas de incentivo ao uso de fontes alternativas e de eficientização do consumo

de energia elétrica, disseminação de práticas sociais responsáveis em toda a cadeia

produtivas e apoio à cultura, esporte, turismo e primeira infância.

Os desembolsos, via Lei Rouanet, foram da ordem de R$ 1,91 milhões.

Para o Fundo de Apoio à Infância e Adolescência (FIA), a Celesc Distribuição

contribuiu com R$ 522,3 mil. No esporte, amparada pela Lei de Incentivo, foram

aplicados R$ 445 mil. Por meio das leis de incentivos fiscais, a SCGAS destinou, em

2011, o valor de R$ 791 mil.

Responsabilidade ambiental: ciente da importância que a dimensão

ambiental representa para a sustentabilidade de seu negócio, a Celesc tem centrado

esforços para a passagem do patamar da conformidade ambiental legal para aquele

da conformidade normativa.

Processado o licenciamento ambiental e obtidos os diplomas aplicáveis,

cada obra realizada pelas empresas do Grupo é objeto de supervisão ambiental

para verificação da eficácia das medidas para redução/neutralização dos impactos

dela decorrentes e dos programas ambientais previstos para reduzir/neutralizar

impactos adversos e potencializar os impactos positivos. Entre as diversas ações

implementadas no ano, destaque para o lançamento do Edital 11/19097, visando à

elaboração do Plano de Gestão de Resíduos para a Celesc e a inclusão da temática

no Edital de Concurso Chamada Pública no 11/23650 para apresentação de Projetos

de Pesquisa e Desenvolvimento.

Desempenho no Mercado de Capitais: ao final de 2011, as ações

preferenciais da Celesc (CLSC4) apresentaram uma variação negativa de 9,4% em

relação à última cotação de 2010, encerrando o período negociadas a R$ 36,23. Se

considerarmos os proventos (dividendos e juros sobre capital próprio), essa variação

reduz para -4,41%. As ações ordinárias (CLSC3) apresentaram valorização de

70,51%. No mesmo período, o índice Bovespa (IBOVESPA) apresentou variação

negativa de 18,11%.

15

Desempenho econômico-financeiro: no exercício de 2011, a empresa

alcançou uma marca histórica em termos de resultado e desempenho, obtendo um

lucro líquido de R$ 323,89 milhões, valor 18,42% maior do que o registrado em

2010. No período, a receita operacional bruta apresentou crescimento de 5,41%,

enquanto a receita operacional líquida evoluiu 3,83%.5

III A GOVERNANÇA PÚBLICA VOLTADA AOS RESULTADOS: DESENVOLVIMENTO, RELACIONAMENTO E COMPROMETIMENTO.

Há algo de novo nas relações humanas. O século passado nos mostrou

que as instituições criadas a partir da crença moderna racionalista já não são mais

capazes de dar conta da complexidade da sociedade contemporânea,

hodiernamente marcada pela ruptura de vínculos sociais e pelo abandono das

narrativas ideológicas de pretensa transformação total. Isso fica também evidente

em relação ao Estado. O modelo tradicional de administrar a coisa pública tem

amargado um desgastante processo de decadência e as implicações para os

sujeitos são preocupantes.

O fenômeno da globalização, especialmente a financeira, que

praticamente refunda as relações humanas e transforma a dinâmica Estado-cidadão,

exige do administrador público um novo olhar, uma nova postura, de modo a

alcançar um método administrativo de procedimentos e de tomada de decisão hábil

a enfrentar os desafios desse novo tempo. Não há mais espaço para concepções

deterministas e percepções redutoras ou simplificadoras da realidade. A economia,

no avanço ascendente que exerce sobre o campo da política, tem acarretado um

reposicionamento visível das instâncias legitimadoras de poder, impondo um novo

paradigma para a governança estatal.

Para evoluirmos nessa reflexão, torna-se importante discorrer, com apoio

em autores especializados, a respeito de pontos temáticos centrais, tais como a

crise gerencial do Estado, o modelo de desenvolvimento contemporâneo, a relação

tempo-espaço, e a nova dinâmica das relações humanas. A compreensão desses

5 Todas essas informações constam do Relatório Anual da Administração da Celesc – exercício 2011,

e de relatórios publicados no sítio www.celesc.com.br.

16

fenômenos e suas consequências para o atual cenário político e econômico

auxiliará, por certo, na tarefa de buscar alternativas para um modo de gerir a coisa

pública com mais comprometimento e efetividade administrativa.

A crise do Estado e, consequentemente, de seu modelo gerencial, é um

necessário ponto de partida para a reflexão a respeito da governança pública.

O fenômeno da globalização tem gradativamente transmudado a estrutura e os

fundamentos da organização estatal. O Estado soberano moderno visto, de regra,

como ator privilegiado no cenário internacional, agora divide espaço com novos

atores. A soberania passa a ser fragmentada e a tomada de decisão pública passa

pela consideração a questões econômicas ditadas pelo mercado6.

Segundo Baumann, há uma nova ordem mundial pautada pela

movimentação globalizada dos recursos financeiros. O Estado nacional passou a se

relacionar com forças modeladoras transnacionais que são em boa parte anônimas

e de difícil identificação. Estas forças exercem um papel erosivo e desagregador no

âmbito do Estado. O controle da política econômica não está mais exclusivamente

nas mãos dos mandatários públicos. Passa também pela relação com os players

que atuam permanentemente no mercado.7

Esse nítido deslocamento de posicionamento de poder político, antes

concentrado nos representantes dos Estados nacionais e agora compartilhado ou

transposto aos constituintes do mercado, com influência transnacional, possui

implicações importantes. A política passou a sofrer grande interferência da

economia, e o rumo do desenvolvimento dos países precisa levar em consideração

os acontecimentos econômicos e não econômicos na arena internacional.

Baumann lembra que, antes da queda do bloco comunista, se vivia uma

polaridade política entre potências mundiais. Tinha-se a impressão de totalidade no

âmbito da ordem mundial estabelecida. Com a queda do muro de Berlim e a

proeminência do discurso da via única, este revonado pelo receituário de retomada

contemporânea do liberalismo econômico, passou a viger um novo modelo político e

econômico que rompe com a ideia de poder centralizado e decisão concentrada,

caracterizando-se pela multipolaridade8.

6 BAUMANN, Zygmunt. Vida Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p. 62.

7 BAUMANN, Zygmunt. Globalização: as conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.

p. 64-65. 8 BAUMANN, Zygmunt. Globalização: as conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. p. 66.

17

Na nova ordem global, categorias tão caras ao Estado-nação, como

“civilização”, “desenvolvimento”, “convergência”, “consenso”, “burocracia”,

“universalização”, passaram a ter pouco significado. Aquela ideia liberal moderna de

ideologia redentora, de transformação total da sociedade, de foco no futuro, passou

por manifesta transformação. Há, na lógica globalizada, uma mudança na

compreensão tempo/estado, com expansão do presente e rompimento com a crença

em narrativas ideológicas que marcaram o período revolucionário9. Agora não se

pensa mais, de modo geral, em transformar o mundo como um projeto finalístico

futuro. A regra é a do excesso, do consumo, da descartabilidade, da busca pelo

resultado instantâneo. A política e o comportamento humano passaram a ser

pautados também por esses novos princípios da contemporaneidade.

Nesse novo formato das relações humanas (políticas, econômicas, sociais

etc.), a dualidade local-global surge de maneira diferenciada, alterando o

posicionamento tradicional das fronteiras estatais. Segundo Baumann, “o que para

alguns parece globalização, para outros significa localização; o que para alguns é

sinalização de liberdade, para muitos outros é um destino indesejado e cruel”. O

fenômeno da mobilidade é marcante nesse processo globalizante. No entanto,

somente alguns se tornam verdadeiramente globais, enquanto outros se fixam em sua

localidade, de forma a serem desagregados, preteridos pelo movimento planetário10.

Em verdade, vive-se num padrão ético pós-moderno ou “líquido-

moderno”11 de fragmentação subjetiva e ruptura com os tradicionais elos sociais. A

vida moral passa por um redimensionamento. A descrença em determinadas

esperanças e ambições modernas e o fim das ilusões com que elas envolveram os

processos sociais e as condutas de vida dos indivíduos12 forjam um novo ambiente

de convívio em sociedade, marcado especialmente pelo processo de privatização e

9 Refere-se às revoluções ideológicas ocorridas no século passado, marcadas pela influência do

pensamento socialista. Vide: LYOTARD, François. A condição pós-moderna. 9. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2006. 10

BAUMANN, Zygmunt. Globalização: as conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. p. 8. 11

Segundo Baumann: “A „vida líquida‟ e a „modernidade líquida‟ estão intimamente ligadas. A „vida líquida‟ é uma forma de vida que tende a ser levada à frente numa sociedade líquido-moderna. „Líquido-moderna‟ é uma sociedade em que as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação, em hábitos e rotinas, das formas de agir. A liquidez da vida e a da sociedade se alimentam e se revigoram mutuamente. A vida líquida, assim como a sociedade líquido-moderna, não pode manter a forma ou permanecer em seu curso por muito tempo.” BAUMANN, Zygmunt. Vida Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007. p. 7. 12

BAUMANN, Zygmunt. Vida em fragmentos: sob a ética pós-moderna. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. p. 09-13.

18

individualização das responsabilidades. Isso implica impacto direto no

comportamento das pessoas, na sua visão de mundo e na forma de se relacionar

com a coisa pública – seja na condição de administrado, seja na condição

de administrador.

Partiu-se da forte influência da codificação de regras e convenções que

surgiu a partir da ideia de cultura, traçada no século XVIII. Pensava-se que as

pessoas precisavam ingressar no projeto civilizatório por meio da formação racional

de suas convicções. Em outras palavras, os seres humanos não poderiam deixar-se

aos desígnios naturais de seus impulsos originais, precisando ser “formados” para

que se portassem de acordo com as regras estabelecidas em sociedade. Cultura,

desse modo, como explica Baumann, veio a significar a normatização

comportamental dos sujeitos, de regulação dos seus modos de agir e pensar13 –

muito ainda ligado a uma racionalidade de controle da natureza humana, bastante

cara à formação do pensamento liberal moderno.

Outro ponto interessante suscitado por Baumann é que a expressão

“cultura” surge menos de cem anos depois de outro conceito moderno crucial, o de

“gerenciar”, que segundo o autor, significava “conseguir que as coisas fossem feitas

de uma forma que as pessoas não fariam por conta própria sem ajuda”14. Mais que

isso, significava “redirecionar eventos segundo motivos e desejos próprios”. Em

outras palavras “„gerenciar‟ (controlar o fluxo de eventos) veio a significar a

manipulação de probabilidades”, de maneira a “tornar a ocorrência de certas

condutas (inicias ou reativas) de „pessoas, animais etc‟ mais provável do que seria

de outro modo, tornando menos provável ou, de preferência, totalmente improvável

à ocorrência de outros movimentos”. Conclui afirmando que, “em última instância,

„gerenciar‟ significa limitar a liberdade do gerenciado”15.

Nessa concepção, que forja o imbricamento entre os conceitos cultura

e gerenciamento, está ocultada a aceitação tácita de uma relação social desigual

e assimétrica entre gerentes e gerenciados, a partir de uma lógica de que gerenciar

é olhar de cima para baixo, de modo a juntar, distribuir, avaliar e organizar16.

13

BAUMANN, Zygmunt. Vida Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p. 71-72. 14

Ibid. p. 72. 15

Ibid. p. 72. 16

Ibid. p. 73.

19

Nessa visão, gerenciar consiste em um processo visto como, digamos, uma quase

tutela do indivíduo, partindo da premissa de que o gerenciado precisa ser

teleguiado ao cumprimento de tarefas, subestimando sua capacidade criativa e sua

autonomia racional.

Mais tarde, no século passado, com a proeminência do modelo liberal

revitalizado, o conceito sofreu mudança, passando do modelo de “regulação

normativa” para o modelo “panóptico de poder”17. Este se calca no monitoramento

constante via tecnologia, sobrerregulamentado, com quebra constante de rotinas,

sendo que os dispositivos de comando se dão com base na incerteza difusa.

Segundo Baumann, esse modelo causou o gradual desmantelamento da estrutura

dos serviços do Estado a que as partes principais das políticas da vida costumavam

estar conectadas e um deslocamento dessas políticas para o âmbito do mercado18.

De fato. O método geral que se aplica ao gerenciamento do aparato

estatal ainda é refém desse olhar tradicional. De longa data, este tem se mostrado

insuficiente para lidar com as complexas relações humanas, além de ter se

mostrado precário para oferecer respostas satisfatórias às novas demandas que

surgem a par da gradativa mudança comportamental da sociedade. Esta, de não se

olvidar, marcada cada vez mais pelo afã consumista, pela busca da satisfação

instantânea, pela descrença em projetos finalísticos futuros, pela aceleração e

descompasso da relação tempo-espaço, pelo individualismo exacerbado e pelo

esvaziamento ético e moral que pretere a capacidade de pensamento e de visão

crítica do que ocorre ao redor.

Outro marco fundamental é a categoria desenvolvimento econômico.

Compreendê-lo, apreendendo suas implicações para a visão administrativa moderna

e contemporânea, se tornará estratégico para os propósitos deste texto. Para

enfrentar o tema da governança pública, é preciso considerar o modo por meio do

qual os administradores públicos, de regra, entendem a interconexão entre

desenvolvimento e economia. Esse imbricamento é central, eis que o

desenvolvimento econômico, desde há muito tempo, tem se tornado norte balizador

das políticas públicas e das estratégias de gerenciamento administrativo. 17

O conceito panóptico está ligado a estudos de Jeremy Bentham e, principalmente, Michael Foucault. 18

BAUMANN, Zygmunt. Vida Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p. 78.

20

A opção aqui eleita de marco teórico para tratar deste tópico é a tese do

“desenvolvimento como liberdade” de Amartya Sen19. Em seus estudos, o autor

oferece grande contribuição para a superação da visão clássica de desenvolvimento

econômico, legado das concepções modernas da economia liberal, ainda atreladas

a uma concepção reducionista quanto ao comportamento humano frente aos

estímulos provocados pela movimentação da economia.

O entendimento tradicional de desenvolvimento econômico normalmente

levava em consideração os números de riquezas produzidas por cada país, o

Produto Nacional Bruto, o aumento de rendas pessoais, industrialização, avanço

tecnológico ou modernização social, desconsiderando outros elementos sociais e

políticos para a aferição e valoração do quantum desenvolvimentista de determinada

comunidade. Essa concepção é tributária à lógica liberal retomada especialmente no

século passado, que não reconhecia, de regra, demandas sociais como uma

obrigatoriedade a serem atendidas pelo Estado. Refere-se à política mínima de

Estado, em que se defende a tímida intervenção estatal na sociedade civil.

Ocorre que, nessa visão tradicional, as distorções em relação ao que se

buscava no sentido de desenvolvimento econômico eram muitas – e com

consequências graves. Lembre-se que as instituições financeiras internacionais

como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, durante muito tempo,

pautaram suas políticas de negócios a partir desse vértice, impondo, especialmente

aos países periféricos, programas de condicionamentos político-financeiros que

desconsideravam por completo o déficit democrático e de cumprimento de

demandas sociais existentes nesses países20.

O autor lembra que, ao longo do século passado e início deste século, o

mundo mudou em muito, especialmente na esfera social e econômica. O fenômeno

da globalização interligou as várias regiões do planeta, criando uma nova dinâmica

nas relações intersubjetivas. Por consequência, os conceitos de direitos humanos e

de liberdade política assumiram nova dimensão, tornando-se categorias recorrentes

na retórica prevalente em sociedade. De outra parte, a exclusão social assumiu

proporções extraordinárias. Como sintetiza o autor, “existem problemas novos

convivendo com antigos problemas”21.

19

SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. 20

Ibid. pg. 11. 21

SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. pg. 09.

21

Ao lado de certo desenvolvimento econômico de alguns setores da

sociedade civil, em parte acarretado por essa nova dinâmica de movimentação do

capital, convive-se ainda, explica Sen, com a persistência da exclusão, violação de

liberdades políticas elementares, negligência em relação às minorias e afronta

permanente ao meio ambiente. Essas privações encontram-se, de regra, em países

periféricos, mas também são encontradas, em outras medidas, em países centrais.22

Sen, com olhar inovador, aponta que o solucionamento ou abrandamento

desses problemas acima citados devem ser o objetivo central de um verdadeiro

processo de desenvolvimento econômico. Torna-se importante, segundo o autor,

reconhecer o papel das diferentes formas de liberdade para serem utilizadas como

instrumental de combate a esses males. Seria preciso, para obter êxito nesta

empreitada, “considerar a liberdade individual como comprometimento social”23.

A liberdade ocupa posição privilegiada no raciocínio de Sen. A expansão

da liberdade é erigida à condição de principal fim e principal meio do

desenvolvimento. Na ótica do autor, “o desenvolvimento consiste na eliminação de

privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de

exercer ponderadamente sua condição de agente.” Tal supressão de privações, em

verdade, é constitutiva do desenvolvimento24.

Além disso, para pensar o desenvolvimento econômico a partir dessas

premissas, Sen utiliza o método por meio do qual a análise se dá de forma integrada

das atividades econômicas, sociais e políticas, envolvendo uma variedade de

instituições e condições de agente relacionadas de modo interativo. Segundo o

autor, o desenvolvimento econômico “concentra-se particularmente nos papéis e

inter-relações entre certas liberdades instrumentais cruciais, incluindo oportunidades

econômicas, liberdades políticas, facilidades sociais, garantias de transparência e

segurança protetora”25.

22

Ibid. pg. 09. 23

Ibid. pg. 10. 24

Ibid. pg. 10. 25

Ibid. pg. 10.

22

O autor procura, com sua proposta, reposicionar o ser humano nas

análises econômicas, de modo que este seja reconhecido, em sua autonomia e

liberdade, como ponto central para a tomada de decisões. A proposta do câmbio

interpretativo em relação ao sujeito, especialmente quando o autor fala em

“expansão da liberdade” está em superar a visão solipsista, individualista e

egocêntrica, própria da relação sujeito-objeto, por uma concepção que reconheça a

importância das relações intersubjetivas, comunitárias, enaltecendo valores sociais,

na lógica sujeito-sujeito.

Há uma importante ruptura em relação ao discurso tradicional que

propalava a ideia de uma liberdade “naturalizada”, ligada a uma autonomia

imperativa individualista de visão liberal-clássica, ainda refém da perspectiva de

neutralidade nas relações no (e com o) mercado. Sen lança no seio da visão

econômica uma nova possibilidade de pensar as relações pessoais. Ele não crê

inocentemente numa liberdade neutra, nos dogmas liberais de possibilidade de

crescimento econômico natural a partir de um impossível equilíbrio de mercado de

tipo marco zero. Por isso, propõe a revisão do próprio conceito de liberdade. Fala de

expansão da liberdade, e trata este signo no sentido de efetivo “acesso” dos sujeitos

às oportunidades econômicas, políticas e sociais que lhes possam dar a viabilidade

de inserção na arena econômica. Sem isso, e bem sabe Sen, será relegado ao

sujeito um (não) lugar de privação, no qual direitos fundamentais serão

ostensivamente sonegados.

Diante desse quadro político e econômico, pensar a governança pública,

levando em consideração o imbricamento das lógicas de desenvolvimento e

relacionamento humano, torna-se fundamental e estratégico. O Estado

contemporâneo, com sua face marcadamente corporatista26, demanda hoje uma

terceira via para a gestão do erário. Métodos gerenciais clássicos, essencialmente

deterministas, mostram-se insuficientes e frustram, definitivamente, as expectativas

dos stakeholders. Uma política pública de gestão pode ser pautada por uma nova

ideia de desenvolvimento, mais próxima da concepção defendida por Sen, e que

tenha por foco o redimensionamento das relações comportamentais e o novo padrão

ético pós-moderno bem apontados por Baumann.

26

Esse conceito de Estado Corporatista pode ser melhor compreendido em: KLEIN, Naomi. A Doutrina do Choque: a ascensão do capitalismo de desastre. Trad. Vânia Cury. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

23

Um método administrativo inclusivo, de fomento ao envolvimento entre os

partícipes do processo gerencial que desperte o comprometimento e a

responsabilidade com a entidade a que pertencem, pode ser construído e

implementado com razoável êxito, e foi exatamente isso o que se pôde perceber

nesse primeiro exercício de administração na Celesc. A aproximação com as

pessoas envolvidas27, enxergando-as não como meros dentes de engrenagem28,

mas sim como forças vivas e decisivas da organização, ouvindo-as com a atenção

devida, constituiu uma lição marcante e inicial de que um novo olhar sobre a gestão

público-corporativa pode conduzir a resultados importantes.

Responsabilidade compartilhada e comprometimento com os objetivos

traçados pela entidade fizeram toda a diferença na árdua missão de enfrentar as

dificuldades iniciais: seus déficits gerenciais internos, as amarras legais impostas

pela burocracia pública e o mercado do setor energético, que é exigente e

competitivo. É possível acreditar em uma nova via para a gestão pública. O Estado

pode ser muito mais efetivo. Basta coragem para que os gestores revejam sua

postura, suas crenças, seus pré-conceitos, seus métodos, e com criatividade e

otimismo, forjem uma nova maneira de se pensar a governança público-corporativa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dessas concepções teóricas, pode-se ter uma melhor compreensão

do que subjaz à nova forma de enxergar a administração público-corporativa. A ideia

tradicional de gerenciamento de relação simplista a partir do comando-obediência de

inspiração Taylorista deve ser superada, pois não mais se coaduna com as

necessidades da governança pública contemporânea. Como visto acima, as

necessidades das pessoas não são mais as mesmas de outrora. O fenômeno da

globalização e a lógica do consumo como paradigma social modificaram de maneira

inequívoca a relação tempo-espaço, redimensionando as demandas ao aparato

27

Por uma nova ética do desenvolvimento, que reposiciona o ser humano no cenário político e econômico, conferir: SEN, Amartya; KLIKSBERG, Bernardo. As pessoas em primeiro lugar: a ética do desenvolvimento e os problemas do mundo globalizado. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. 28

ARENDT, Hannah. Responsabilidade e Julgamento. Trad. Rosaura Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

24

estatal. Quase tudo acaba acontecendo com vistas ao mercado, a partir da mitificação

da eficiência29 como paradigma ético, e em nome de um propósito de

desenvolvimento e crescimento quase sempre voltado para a perspectiva do

movimento de recursos financeiros – nem sempre de forma includente.

Quando se percebe esse ambiente econômico ascendente sobre a

política governamental, ou mais claramente, avançando sobre a gestão estatal, fica

evidente, de regra, a insuficiência administrativa para oferecer respostas rápidas e

efetivas. Não seria difícil de compreender. É que, como se sabe, o Estado, no

regime jurídico e político que ainda se encontra, não foi pensado para funcionar

nesse tipo específico de cenário. A burocracia definitivamente não foi projetada para

oferecer velocidade à administração pública. Desde suas origens canônicas, foi

forjada para servir à ritualização institucional de controle e poder, criando os fluxos

de conveniência para a decisão pública.

Nesse momento o desafio que se impõe aos operadores da administração

pública é procurar, de forma criativa e ainda com alinhamento às diretrizes do direito

administrativo, combater a inequívoca anomia administrativa e a inefetividade estatal

frente aos compromissos consagrados constitucionalmente. Ainda mais quando se

pensa na administração indireta e nas empresas públicas que carregam consigo o

desafio de tentarem ser competitivas no âmbito do mercado, se submetendo a

inúmeras amarras legais e tendo seu funcionamento pautado pelos mecanismos de

regulação e controle estatais.

O exercício administrativo de 2011 na Celesc serviu de importante

laboratório para pôr em prática, a partir das adversidades, uma lógica diferenciada

de gestão. Todas as medidas listadas neste artigo foram providenciadas a partir de

um olhar gerencial voltado a estruturar e, principalmente, alcançar equilíbrio entre

três princípios-objetivos basilares da nova direção da companhia, quais sejam, a

adequação na prestação dos serviços, a solidez econômico-finaneira, e a

transparência em relação às ações administrativas. Esse tripé principiológico pautou

e impulsionou a nova postura administrativa adotada na empresa.

29

Para uma leitura não convencional a respeito das armadilhas da lógica eficientista no âmbito da administração pública, vide: MARCELLINO JR., Julio Cesar. Princípio Constitucional da Eficiência Administrativa: (des)conexões entre economia e direito. Habitus: Florianópolis, 2009.

25

Contudo, tem-se consciência de que esses motes não se sustentam por si

só se permanecerem unicamente no âmbito da intenção e da linguagem. Uma vez

estabelecidos tais princípios como “pontos de partida”, a nova gestão da empresa

passou, gradativamente e no tempo certo de amadurecimento das convicções, a

criar um ambiente de confiança, responsabilidade e comprometimento que

(re)legitimou as relações entre as instâncias administrativas da empresa,

despertando nos partícipes o espírito empreendedor e criativo que estava, há muito,

adormecido.

A comunicação e o relacionamento foram ferramentas fundamentais para

o alcance desse audacioso desiderato. Todas as pessoas que participam, de algum

modo, dos processos de gestão – e que, numa visão ampla, abrange a todo material

humano da empresa – foram envolvidos de maneira includente, interferindo

diretamente com as mais variadas ações e estratégias, sensibilizando-se de que os

resultados positivos somente seriam alcançados a partir de uma postura proativa e

colaborativa. A comunicação, aliada às ações transparentes e abertas às críticas,

viabilizaram essa aproximação com o potencial humano da companhia. Claro que o

processo está somente no início e há muito a se avançar nesse projeto. Mas as

conquistas obtidas com esse novo método de relacionamento trazem otimismo e

confiança aos dirigentes.

Enfim, uma nova compreensão das relações humanas e do que se

entende por desenvolvimento econômico pode em muito ajudar a construir um modo

de gerir no meio corporativo-público mais próximo da realidade, mais efetivo, e sem

perder de vista os propósitos e as diretrizes público-administrativas da entidade.

O crescimento econômico de qualquer organização deve ser buscado, mas não a

qualquer preço. O crash financeiro de 2008 nos advertiu para os riscos advindos dos

excessos da agenda economicista, do desprezo à força humana implicada nos

processos produtivos, e nos mostrou a importância, ainda, do Estado na sua relação

com a sociedade civil, especialmente nas suas funções de regulador e mediador do

desenvolvimento. Por conta disso é que se acredita ser necessário articular essa

nova lógica intersubjetiva de relacionamento. Não por demais lembrar que é com as

pessoas que efetivamente se constroem e se concretizam os projetos corporativos.

26

REFERÊNCIAS

ARENDT, Hannah. Responsabilidade e Julgamento. Trad. Rosaura Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. BAUMANN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. ______. Vida em fragmentos: sob a ética pós-moderna. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. ______. Vida Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. GAVAZZONI, Antonio Marcos; MARCELLINO JR., Julio Cesar. (Organizadores). Constituição, Estado e Garantismo Jurídico: Diálogos Cruzados. São Paulo: Conceito Editora, 2012. KLEIN, Naomi. A Doutrina do Choque: a ascensão do capitalismo de desastre. Trad. Vânia Cury. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. LYOTARD, François. A condição pós-moderna. 9.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2006. MARCELLINO JR., Julio Cesar. Princípio Constitucional da Eficiência Administrativa: (des)conexões entre economia e direito. Habitus: Florianópolis, 2009. SEN, Amartya; KLIKSBERG, Bernardo. As pessoas em primeiro lugar: a ética do desenvolvimento e os problemas do mundo globalizado. São Paulo: Companhia das Letras, 2010 SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. TAYLOR, Frederick Winslow. Princípios da administração científica. Trad. Arlindo Vieira Ramos. 8. ed. São Paulo: Atlas, 1990.

27

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AUTORIA

Antonio Marcos Gavazzoni – Doutorando e Mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Professor licenciado da Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC. Foi professor visitante da Escola Superior da Magistratura de Santa Catarina – ESMESC e da Universidade Paranaense – UNIPAR. Atuou como Coordenador do Curso de Direito e do Curso de Pós-Graduação em Direito da Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC, Procurador Geral do Município de Chapecó, Secretário de Estado da Administração e Secretário de Estado da Fazenda. Atualmente é Presidente das Centrais Elétricas de Santa Catarina – Celesc S.A.

Endereço eletrônico: [email protected] Cleverson Siewert – Pós-Graduado em Gestão Empresarial – MBA Lato Sensu – pela Fundação Getúlio Vargas FVG/RJ. Pós-Graduado em Marketing – MBA Lato Sensu – pela Fundação Getúlio Vargas FVG/RJ. Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná. Atuou como Secretário de Estado da Fazenda de Santa Catarina, além de ter ocupado os cargos de Secretário Executivo do Fundo de Desenvolvimento Social, Diretor do Tesouro Estadual, e Secretário Executivo de Gestão dos Fundos Estaduais. Atualmente ocupa o cargo de Diretor de Distribuição nas Centrais Elétricas de Santa Catarina – S.A.

Endereço eletrônico: [email protected] Julio Cesar Marcellino Jr. – Doutorando em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Mestre em Ciência Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI (SC). Especialista em Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas – FGV/RJ e em Gestão Pública pela Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. Professor Universitário. Membro da Comissão da Advocacia Pública Estadual da OAB/SC. Membro de Grupos de Pesquisa CNPq (UFSC/UFPR). Atuou como procurador municipal e Consultor Jurídico da Secretaria de Estado da Fazenda. Atualmente ocupa o cargo de Assistente para Assuntos Institucionais e Jurídicos da Presidência da Celesc S.A. Endereço eletrônico: juliomarcellino.blogspot.com / [email protected]