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Universidade Cândido Mendes Pós-graduação “Lato Sensu” O PAPEL DO ADMINISTRADOR NO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO Por: Luciane Beck Sola Orientador: Prof. Antonio Fernando Vieira Ney São Paulo 2009

O PAPEL DO ADMINISTRADOR NO PROJETO POLÍTICO … · do administrador escolar com o projeto político-pedagógico e como uma gestão democrática e participativa, onde haja o envolvimento

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Universidade Cândido Mendes

Pós-graduação “Lato Sensu”

O PAPEL DO ADMINISTRADOR

NO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

Por: Luciane Beck Sola

Orientador: Prof. Antonio Fernando Vieira Ney

São Paulo 2009

Universidade Cândido Mendes

Pós-graduação “Lato Sensu”

O PAPEL DO ADMINISTRADOR NO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

Apresentação de monografia ao Conjunto

Universitário Cândido Mendes como condição prévia

para conclusão do Curso de Pós-graduação “Latu Sensu” em

Administração Escolar.

Por: Luciane Beck Sola

AGRADECIMENTOS

A todos que me ajudaram a desenvolver e concluir

esse curso de Pós-graduação.

RESUMO

A discussão sobre a gestão democrática e participativa mostra-se

relevante à medida que se observa, no âmbito escolar, uma prática autoritária e

conservadora, voltada apenas para a parte burocrática-administrativa e colocando em

segundo plano a ação progressista, participativa. A gestão participativa, para que se torne

efetivamente uma realidade, é necessário, que o líder da equipe tenha pleno conhecimento

do todo que é a escola, ou seja, como se organiza a instituição, como se constrói sua

identidade verdadeira e a sua filosofia, para que a partir desse momento, saiba como

administrar, orientar e coordenar a equipe. Nesse contexto, o administrador escolar é figura

de suma importância, visto que uma liderança consciente o auxiliará na transformação da

prática administrativa, pedagógica e relacional no contexto escolar. Desse modo, o trabalho

buscou discutir as principais questões relacionadas à atuação do administrador escolar no

âmbito escolar, enfocando a gestão política-pedagógica democrática e participativa nas

escolas, como também sua função dentro desse novo modelo organizacional para a

construção de um ensino de qualidade, ou seja, discutiremos sobre o vínculo indissociável

do administrador escolar com o projeto político-pedagógico e como uma gestão

democrática e participativa, onde haja o envolvimento de toda a comunidade escolar,

influenciando no desenvolvimento do projeto político-pedagógico. Com base nesse

enfoque, analisaremos as principais atividades do administrador escolar, com a

preocupação de demonstrar o quanto sua execução está compromissada com a gestão

democrática e com a formação de um cidadão capaz de participar e opinar de forma ativa e

autônoma.

METODOLOGIA

Para a elaboração desse estudo foi utilizada uma metodologia com base

na bibliográfica disponível sobre o tema e desenvolvida na última década, ou seja,

realizamos uma revisão dos estudos de autores modernos, como Barroso, Freire, Luck,

Marcelino, Veiga, entre outros.

Esses autores, como outros destacados, baseiam seus estudos em uma

administração escolar democrática e participativa, onde deixam de lado a teoria de que uma

boa administração deve estar nas mãos de uma direção centralizada. Eles defendem a idéia

da participação de todos os envolvidos no projeto de administrar de forma ativa e

consciente, ou seja, as tomadas de decisões devem ocorrer de modo horizontal através da

reflexão.

A pesquisa, também, baseia algumas de suas análises em experiências

pessoais e observações realizadas no dia a dia de escolas em que desenvolvi trabalhos.

Desse modo, enfocando essas duas estratégias, trabalhamos as principais

relações existentes entre o papel do administrador escolar e o processo de gestão.

SUMÁRIO

Resumo

Metodologia

Introdução 01

Capítulo I: Definições e Princípios da Gestão Democrática e Participativa. 03

Capítulo II: Administrador Escolar: Agente de Transformação e Desenvolvimento. 13

Capítulo III: O processo Administrativo Escolar e o Desenvolvimento da Cidadania. 20

Conclusão 29

Referências Bibliográficas 32

INTRODUÇÃO

A gestão democrática da educação está associada ao estabelecimento de

mecanismos legais e institucionais, bem como, à organização de ações que desencadeiem a

participação social: na formulação de políticas educacionais; no planejamento; na tomada

de decisões; na definição do uso de recursos e necessidades de investimento; na execução

das deliberações coletivas; nos momentos de avaliação da escola e da política educacional,

ou seja, a gestão democrática e participativa significa integração das ações pedagógicas e

responsabilidade coletiva de todos pelos resultados da escola – a qualidade de ensino e da

educação /formação do aluno. Assim, quando se fala em gestão não se trata apenas de

controlar recursos, coordenar funcionários e assegurar o comprimento dos dias letivos e

hora /aula, ou seja, a gestão democrática visa o acesso e estratégias que garantam a

permanência na escola, tendo como horizonte a universalização do ensino para toda a

população, assim como o debate sobre a qualidade dessa educação universalizada. Esses

processos devem garantir e mobilizar a presença dos diferentes atores envolvidos, que

participam no nível dos sistemas de ensino e no nível da escola.

Segundo observações de Medeiros, 2003:

“Sempre devemos visar ao produto final, que é a educação, com objetivos, o aumento do interesse dos alunos e a redução dos índices de repetência, devendo o administrador escolar apresentar uma visão mais global preocupando-se com os recursos, os processos, as pessoas, o currículo, a metodologia, a disciplina, tudo de maneira integrada”.

Esta proposta está presente hoje em praticamente todos os discursos da

reforma educacional no que se refere à gestão, constituindo um "novo senso comum", seja

pelo reconhecimento da importância da educação na democratização, regulação e

"progresso" da sociedade, seja pela necessidade de valorizar e considerar a diversidade do

cenário social, ou ainda, conforme nos diz Barroso, 2000, a necessidade do Estado

sobrecarregado "aliviar-se" de suas responsabilidades, transferindo poderes e funções para

o nível local.

Em nível prático, encontramos diferentes vivências dessa proposta, como

a introdução de modelos de administração empresariais, ou processos que respeitam a

especificidade da educação enquanto políticas sociais, buscando a transformação da

sociedade e da escola, através da participação e construção da autonomia e da cidadania.

Falar em gestão democrática nos remete, portanto, quase que imediatamente a pensar em

autonomia e participação.

Nesse contexto, o administrador escolar, passa a ter a missão de

identificar e mobilizar os diferentes talentos para que as metas sejam compridas, e,

principalmente, conscientizar todos da importância da contribuição individual para a

qualidade do todo. De olho nessa nova realidade, cabe a ele desenvolver algumas

competências, como aprender a buscar parcerias, trabalhar com as diferenças e medir

conflitos, objetivando a formação de lideranças escolares para a direção moderna, focada

no sucesso do aluno.

Como gestor, o administrador deve ter autonomia nas áreas

administrativas, financeira e pedagógica e desprendimento para construir com a

comunidade escolar o projeto político pedagógico que vai nortear todo o trabalho da escola

e deve ser construído através do planejamento participativo, desde os momentos de

diagnóstico, passando pelo estabelecimento de diretrizes, objetivos e metas, execução e

avaliação. A escola pode desenvolver projetos específicos de interesse da comunidade

escolar, que devem ser sistematicamente avaliados e revitalizados. Vários autores, como

Padilha (1998), defendem a eleição de gestores de escola e a constituição de conselhos

escolares como formas mais democráticas de gestão.

Dessa forma, tem se, atualmente, considerado a organização educacional

como um sistema de atores, contingente das interações, construindo-se uma nova visão da

coordenação do trabalho educativo como um processo em que o administrador assume uma

postura de líder, educador, procurando através de suas práticas organizacionais e de sua

inter-relação com os demais agentes pedagógicos uma busca para a eficiência e eficácia do

processo educativo.

Diante dessas considerações, a presente pesquisa tem por objetivo

identificar o papel do administrador escolar na construção de um ensino de qualidade em

uma perspectiva democrática e participativa.

CAPÍTULO I

DEFINIÇÕES E PRINCÍPIOS DA GESTÃO DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA

As mudanças que vem ocorrendo nos últimos anos, como por exemplo, a

globalização, os grandes avanços tecnológicos, a quantidade de informação e todas as

transformações ocorridas ao longo do tempo e em diferentes aspectos das nossas vidas,

têm provocado mudanças em toda a sociedade. Diante dessas mudanças, temos a divisão

das escolas em duas ramificações: as que resistem às mudanças e transformações,

mantendo umas estruturas estáticas, fechadas, burocráticas e mecânica e a da vivência e

práticas democráticas, que trabalham junto à comunidade, buscando uma interação aluno-

sociedade, as quais nos focaremos nesse estudo.

A gestão democrática tem se tornado um dos motivos mais freqüentes, na

área educacional e tem como objetivos principais acompanhar as mudanças da sociedade e

assumir outras funções sociais. Uma gestão democrática implica a democratização do

processo de construção social da escola, mediante a elaboração de seu Projeto Político-

Pedagógico, onde o administrador, através da articulação entre os diversos segmentos da

unidade escolar, compartilha decisões de forma coletiva e modifica as relações de poder,

transformando-as em um organismo vivo e dinâmico.

Desse modo, podemos dizer que a gestão democrática contribui para a

construção de uma educação, na qual todas as crianças, jovens e adultos possam se

desenvolver como sujeitos autônomos e construtores da sua cidadania.

Para definirmos gestão democrática, temos que analisar a junção de

instrumentos formais, como a eleição de direção, conselho escolar, descentralização

financeira e a práticas efetivas de participação entre a escola e a comunidade local.

A gestão democrática e participativa implica em um diálogo

interrogativo e se baseia na paciência em buscar respostas que possam auxiliar nos

principais problemas educacionais. Nesta perspectiva, a gestão implica o diálogo como

forma superior de encontro das pessoas e solução dos conflitos, pois somente essa prática

favorecerá o despertar de novas iniciativas, reflexões e críticas como respostas aos anseios

e às necessidades da escola e da sociedade, fazendo com que desse modo surjam momentos

para ajustar e organizar a estrutura interna e externa da instituição de modo não burocrático,

para que os interessados no processo educacional possam conhecer as manobras para que o

seu grupo funcione de modo pleno e autônomo.

Assim, entenderemos a gestão democrática e participativa como a geração

de um novo modo de administrar uma realidade e é, em si mesma, democrática, já que se

traduz pela comunicação, pelo envolvimento coletivo e pelo diálogo e se preocupa em

preparar os alunos para uma vida futura.

Atualmente, com a abertura que a gestão democrática nos proporciona, o

maior desejo da escola é conquistar o apoio da sociedade, realizando um trabalho

competente, organizando, em fim, tentando da melhor maneira educar com a participação

de todos, mas essa democratização do sistema de ensino e da escola, implica ir além das

teorias e, é necessário, ensinar a todos a vivência e a tomada de decisões em um meio

coletivo, ou seja, é um processo que deve ser desenvolvido e construído na coletividade e

deve considerar a especificidade e as experiências de cada indivíduo participante. É de

extrema importância que percebamos, que esse processo nunca será efetivado por decretos,

portarias e/ou resoluções, mas é resultado da participação de pessoas ativas, comprometidas

e com capacidade de reflexão, para que as decisões sejam efetivas e não um sistema

fantasioso, onde a democracia apresenta-se atrás de atos autoritários. Desse modo, para que

a gestão democrática seja concretizada, é importante, que sejam desenvolvidas

periodicamente atividades com a comunidade, com o objetivo de observar o que deve ser

mantido ou mudado, para que seja possível superar os desafios do momento, aumentando a

auto-estima e a confiança necessária para operar sobre o que é restrito. Diante dessa atitude,

observa-se que vários educadores procuram respostas que levem em consideração o

problema de desenvolvimento econômico e a participação da comunidade, iniciando assim,

a busca da inserção crítica do cidadão brasileiro no processo de democratização da escola e

formação de novos cidadãos, ou seja, criar condições plenas para todos os seres humanos

no planeta, em um processo de autoconsciência, que só se dará pelo conhecimento, pelas

condições dignas de vida e pela participação na vida societária mundial, o que vai exigir

uma outra qualidade e quantidade de conhecimento a ser adquirido.

Sabemos que a busca por processos coletivos ocorrem em um ambiente

instável e de junção de pessoas com opiniões diversas sobre determinados assuntos, ou seja,

a escola é um espaço de contradições e diferenças, e somente alcançaremos os objetivos

que a gestão democrática nos propõe se a participação ocorrer em um meio de cooperação,

no trabalho coletivo e no partilhamento do poder, assim, exercitando o diálogo, as

diferenças e nunca deixar de garantir a liberdade de expressão e os princípios de uma

convivência democrática.

Como essa participação ativa e direta se funda no exercício do diálogo entre as

partes interessadas, ou seja, entre pessoas com competências distintas para construir uma

ação conjunta e consensual, assim, é de extrema importância, que a escola implemente e

desenvolva práticas que não sofram o processo inverso de seus grandes anseios: uma volta

a atitudes burocráticas e autoritárias, sem que haja um processo que vise o desenvolvimento

da cidadania.

Segundo estudiosos como Bobbio (1986), em “O Futuro da Democracia”,

reporta-se à educação para a cidadania como sendo:

“O único modo de fazer com que um súdito transforme-se em cidadão. No cidadão, a democracia brotaria do próprio exercício da prática democrática e assim teríamos com maior facilidade os objetos necessários para que a comunidade pudesse participar de forma verdadeira e ativa nos processos coletivos”.

Assim, diante das novas tendências educacionais, podemos perceber que a

atual gestão escolar não permite que decisões sejam tomadas através de práticas

autoritárias, onde a centralização do poder de decisão, o conservadorismo na postura

administrativa precisa ser superado, pois somente geram imobilismo, não responsabilidade

pelos seus atos e em última instância, a estagnação social e até o fracasso da instituição.

Historicamente, tivemos vários momentos em que ocorreu a interrupção

do desenvolvimento da democratização social em gestação. Para exemplificar, podemos

citar o regime militar, por sua forma política de se instalar e de ser, instaurando, dentro do

campo educacional, comandos autoritários de mandamentos legais, os quais, por sua vez, se

baseavam mais no direito da força do que na força do direito.

Somente quando ocorreu a participação popular que o regime militar foi

derrubado, assim, concluímos que com a participação da sociedade que uma gestão

democrática poderá ser concretizada. A mobilização geral foi capaz de derrubar a ordem

autoritária e de criar um novo ordenamento jurídico nacional em bases democráticas e

somente a interação da escola e sociedade poderá mudar as gestões autoritárias, onde as

decisões são centralizadas, não formando um aluno reflexivo e com ação diante dos

problemas.

Assim, podemos dizer que a palavra chave desse momento histórico e do

atual é “participação”, pois somente a experiência coletiva efetiva a socialização de

decisões e a divisão de responsabilidades. A participação é um elemento básico e essencial

da gestão democrática.

Somente no final da década de 80, com a Constituição Federal, nasceram

princípios éticos que começaram a direcionar uma gestão participativa.

A Constituição faz uma escolha por um regime normativo e político, plural e

descentralizado, no qual se cruzam novos mecanismos de participação social com um

modelo institucional cooperativo, que amplia o número de sujeitos políticos capazes de

tomar decisões.

No campo educacional, junto com a derrubada do autoritarismo e com o

processo em andamento de uma nova ordem constitucional, propugnou a inclusão do

princípio da gestão democrática na Constituição.

“A gestão democrática está presente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n. 9.394/96, no art. 3o. VIII, reforçando o que já fora posto na Constituição. Referindo-se ao pacto federativo nos termos da autonomia dos entes federados, o art. 14 diz: “Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes”.

A gestão democrática é um princípio do Estado nas políticas educacionais

que espelha o Estado Democrático de Direito, postulando a presença dos cidadãos no

processo e no produto de políticas dos governos. Os cidadãos querem mais do que ser

executores de políticas, ou seja, querem ser ouvidos e ter presença em arenas públicas de

elaboração e nos momentos de tomada de decisão. Trata-se de democratizar a própria

democracia.

Podemos dizer que esse movimento também ocorre na educação, assim, a

gestão democrática precisa ser, ao mesmo tempo, transparência e impessoalidade,

autonomia e participação, liderança e trabalho coletivo, representatividade e competência e

sempre estar voltada para um processo de decisão baseado na atuação de todos os

envolvidos e na deliberação pública, pois assim expressará com clareza os anseios de

crescimentos dos indivíduos como cidadãos e do crescimento da sociedade, enquanto

sociedade democrática.

Neste sentido, a gestão democrática é uma gestão de autoridade

compartilhada, nascendo, desse modo, os desafios, as perspectivas de uma democratização

da escola brasileira, seja como desconstrução de desigualdades, de discriminações, de

posturas autoritárias, seja como construção de um espaço de criação de igualdade de

oportunidades e de tratamento igualitário de cidadãos entre si.

Assim, as modificações sofridas pelos métodos gestores, durante a história,

fizeram com que o planejamento participativo fosse difundido entre as escolas, mas com

base em algumas observações pessoais, vejo que são poucos os envolvidos no processo

educativo que obtiveram alguma leitura ou estudo sobre o assunto.

A alienação imposta às pessoas atuantes no meio escolar precisa ser

debatida, repensada e combatida por todos. Os educadores ficam condicionados a práticas

alienantes para que se mantenham as ordens estabelecidas. Depositam em suas cabeças a

ideologia dominante, como se não soubessem pensar, refletir e dialogicamente ir

transformando o seu agir e decidir em situações conflitantes.

Segundo Silva (1988):

“As estratégias e manobras que visam a coisificação do educador são rigidamente calculadas (...). A nível estrutural segmenta-se o conhecimento proposto pelas escolas (a compartimentalização e a superespecialização, isolam, dividem, estraçalham). A nível intelectual levantam-se barreiras contra a atualização do educador (quanto menos ele souber, maior será a alienação). A nível ideológico, prega-se uma só concepção de mundo (nos livros didáticos: O Brasil ideal distante do real). A nível salarial, abaixa-se o preço hora aula a fim de automatizar o trabalho (mais aulas para sobreviver, tempo mínimo para perspectivar a mudança resultado: alienação e reprodução)”.

Portanto, somente através da participação poderemos combater à

alienação, pois as pessoas descobrem que agrupadas e organizadas podem transformar a

realidade, exercendo assim, sua cidadania. Segundo Neto Lima, 1999, a participação exige

de nós sair do comodismo, da alienação, da indiferença, onde participar não é só estar

presente, e sim, estar agindo.

Propor o agrupamento de pessoas com o mesmo interesse e anseios como

forma de gestão democrática na escola, não garante qualidade de ensino, mas já é um

grande passo para se ensinar o exercício da cidadania, em uma escola democrática, onde

todos tenham reais possibilidades de participar com liberdade de questionar, discutir uma

decisão, um projeto ou uma simples proposta.

Desse modo, através das reflexões expostas, visando o domínio das

teorias da administração em geral, a gestão participativa corresponde a um conjunto de

princípios e processos que defendem e permitem o envolvimento regular e significativo dos

trabalhadores na tomada de decisão.

Conforme relata Marcelino (1988):

“A gestão participativa e democrática tem origem nos movimentos das relações humanas que se difundiram a partir dos célebres estudos conduzidos entre 1924 e 1933, por Elton Mayo, na Western Electrics Hawthorne, nos Estados Unidos”.

“Estes estudos e a investigação que se lhes seguiu mostraram a importância do fator humano nas organizações relativizando, assim, a idéia de que era possível uma racionalidade da gestão baseada na organização cientifica do trabalho, como defendiam Fréderic Taylor e seguidores, desde o princípio do século”.

Ainda de acordo com Marcelino, 1988:

“Um dos momentos em que se assiste a uma aceleração no desenvolvimento de formas de gestão participativa situa-se nos finais da década de 60, até meados da de 70, na Europa, onde por efeito de movimentos políticos e sociais diversos, os trabalhadores e as suas organizações sindicais passam a reivindicar modalidades mais democráticas de gestão que levam a introdução de diversas formas de co-gestão em muitas empresas e a experiências autogestionárias”.

Nas escolas se assistiu um movimento idêntico, embora só recentemente

se tenha generalizado o conceito. Para isso, muitos contribuíram (para além da própria

evolução das teorias das organizações e da administração educacional) os estudos

realizados no domínio das escolas eficazes.

Para Luck (2000):

“A gestão participativa é normalmente entendida como uma forma de regular e significante de envolvimento de funcionários de uma organização no seu processo decisório. Em organizações democraticamente administradas – inclusive escolas – os funcionários são envolvidos nos estabelecimentos de objetivos na solução de problemas na tomada de decisões, no estabelecimento e manutenção de padrões de desempenho e na garantia de que sua organização está atendendo adequadamente às necessidades do cliente. Ao se referir as escolas e sistemas de ensino, o conceito de gestão participativa envolve, além dos professores e outros funcionários, os pais, os alunos e qualquer outro representante da comunidade que esteja interessado na escola e na melhoria do processo pedagógico”.

O entendimento do conceito de gestão já pressupõe, em si, a idéia de

participação, isto é, do trabalho associado a pessoas analisando situações, decidindo sobre

seu encaminhamento e agindo sobre elas em conjunto, ou seja, o êxito de uma organização

depende da ação construtiva de seus componentes, pelo trabalho associado mediante

reciprocidade que cria um todo orientado por uma vontade coletiva.

Ao se referir a escolas e sistemas de ensino, o conceito de gestão participativa a

envolve, além dos professores e outros funcionários, os pais, os alunos e qualquer

representante da comunidade que esteja interessado na escola e na melhoria do processo

pedagógico.

A participação na comunidade escolar é parte de esforço que promove o

afastamento às tradições corporativas e clientistas, prejudiciais a melhoria do ensino por

visarem ao atendimento de interesses pessoais de determinados grupos e não a qualidade de

ensino, visando à formação do pensar autônomo e crítico. Conforme nos cita Luck, 2000:

“A gestão escolar participativa, em seu pleno caracteriza-se por uma força de atuação consciente, pela qual os membros das escolas reconhecem e assumem seu poder de influenciar na determinação da unidade escolar, de sua cultura e de seus resultados”.

A abordagem participativa na gestão escolar demanda maior atuação de

todos os interessados no processo decisório da escola envolvendo-os também na realização

das múltiplas tarefas da gestão, assim, esta abordagem amplia a fonte de habilidades e

experiências que podem ser praticados no dia-a-dia. Na literatura disponível sobre o tema,

observa-se que nos mais bem sucedidos exemplos de gestão escolar participativa, os

administradores dedicam uma quantidade considerável de tempo à capacitação profissional,

ao desenvolvimento de um sistema de acompanhamento escolar de experiências

pedagógicas caracterizadas pela reflexão-ação.

Como já dissertamos, existem diversas razões para se optar pela

participação na gestão escolar, dentre elas pode-se citar: a busca pela melhoria de qualidade

pedagógica do processo educacional das escolas; a garantia de um currículo escolar com

um maior sentido de realidade e atualidade; um aumentar do profissionalismo dos

professores, o combate aos isolamentos físicos, administrativos e profissionais dos gestores

e professores; a motivação ao apoio comunitário às escolas; e, o desenvolvimento dos

objetivos comuns na comunidade escolar, pois somente seguindo esses paradigmas a escola

passará a ter um papel fundamental na formação do indivíduo como cidadão, sendo

responsável pelo amadurecimento intelectual e crítico das novas gerações, formando

pessoas pensantes e reflexivas, pois é a escola o lugar ideal para trabalhar com a

comunicação, como um processo mediado pela cultura e pela realidade de cada receptor,

buscando a formação reflexiva, onde o que aprende deixa de ser mero receptor das

informações veiculadas pelos meios de comunicação para ser um sujeito crítico, atuante,

munido de valores de participação, responsabilidade, solidariedade e democracia.

Logo, a gestão democrática e os princípios acima apresentados, tais como

a ação dos gestores de educação, a análise das diretrizes políticas educacionais em seus

diferentes níveis e desdobramentos práticos, a participação sistemática e a articulação de

parceiros que contribuam com a multiplicidade de olhares e formação de alianças; a

investigação da realidade que se pretende trabalhar, considerando espaço, tempo e saberes

locais é a única maneira capaz de formar um cidadão.

Assim, a efetivação dessa relação “gestão democrática – escola – cidadão

participativo”, exige a construção de uma educação que vise a emancipação, portanto,

deve-se garantir a todos novos mecanismos de distribuição de poder, que só é possivel se os

envolvidos participarem ativamente em todas as decisões e problemas, pois somente assim,

consiguirá romper com os principios da lógica autóritaria em que se estruturam as

concepções e práticas e gestores, mas para que esses projetos possam ser concretizados

temos que mudar a estrutura interna das escolas, ou seja, fazer com que os educadores, que

possuem uma função ativa na gestão, integrado com uma comunidade que possa oferecer

uma opinião critica e reflexiva, participem ativamente da estruturação e aplicação do

projeto político pedagógico e em sua prática. Desse modo, como nos cita Veiga em seu

artigo “o Projeto Político Pedagógico da Escola”, a escola e a comunidade devem estar

interligadas com a um conjunto de atividades que tem não tenham como visão apenas a

geração de um produto, ou seja, um documento pronto e acabado, pois essa ação ignora o

processo de produçaõ coletiva e nega a diversidade de interesses de todos os envolvidos na

formulação do projeto de direciona o funcionamento da escola.

Na prática sabemos que o projeto político-pedagógico fica restrito as

mãos de uma pequena quantidade de professores e gestores, e assim, temos a construção da

resistência a uma escola democrática e a negação da divisão de poderes, e nesse momento,

podemos nos questionar como que a sociedade terá uma participação ativa no meio

acadêmico, se o principal instrumento de gestão – o Projeto Político-Pedagógico – é

construído e estruturado por um grupo de pessoas que ainda não conquistaram sua

autonomia e capacidade de crítica frente a direção e organização da escola e não

conseguem desenvolver em suas funções princípios básicos da gestão participativa e

democrática, como: a representatividade, continuidade e legitimidade.

Assim, como a gestão na sua forma democrática e cooperativa, não é algo

pronto que podemos buscar suas diretrizes e teorias em livros didáticos, fica mais evidente

a necessidade de descentralização o poder, fazendo com que as tomadas de decisões sejam

coletivas e compartilhadas por todos, mas para que esse projeto seja efetivado, é necessário,

experimentar diversas teorias administrativas e ensinar a comunidade a refletir criticamente

e não somente se adaptar a elas de modo automático.

Desse modo, não devemos apenas observar, na sociedade o

desenvolvimento da consciência de que o autoritarismo, à centralização, a fragmentação

estão ultrapassados por conduzirem ao imobilismo, a desresponsabilização por atos e seus

resultados e, também, pelo fracasso de instituições. Devemos participar e perceber que a

escola atualmente se encontra no centro de atenções, isto porque se reconhece que a

educação, na sociedade globalizada, constitui grande valor estratégico para o

desenvolvimento da humanidade, pois caso contrário, ficamos somente na teoria e diante do

primeiro problema da instituição, voltaremos ao autoritarismo e a centralização das

decisões, pois estaremos proporcionando o processo contrário e voltaremos ao cenário

inicial.

Portanto, a gestão participativa é complexa e envolve o entendimento e a

competência relativa de questões políticas, pedagógicas e organizacionais, mas para que ela

ocorra, ainda é necessário trilhar um caminho que certamente não será fácil, porém

desafiador e somente será trilhado pelos verdadeiros agentes de mudança, que trabalham

com valores inquestionáveis em todos os desdobramentos do processo, ou seja, a realidade

e o conhecimento construídos socialmente, igualdade entre os seres humanos,

reconhecimento do valor potencial em cada um deles, e reconhecimento da existência de

grupos sociais pluralistas, constituindo sistemas de pessoas e grupos heterogêneos, mas

capazes de discussões, com o intuito de formar um olhar único que represente a opinião dos

verdadeiros interessados na mudança dos paradigmas anteriormente estipulados.

CAPÍTULO II

ADMINISTRADOR ESCOLAR: AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO E

DESENVOLVIMENTO

Conforme artigo publicado pela revista “Nova Escola” e escrito por

Gustavo Heidrich, em Julho 2009, ao falarmos da figura do administrador escolar, podemos

compará-lo com a de um maestro, pois ambos estão à frente de uma equipe. O maestro

segue a partitura e é responsável pelo desenvolvimento da dinâmica da música e o

administrador escolar trabalha com as leis e normas e cuida da dinâmica escolar. Os dois

servem ao público, mas a platéia do administrador não opina de longe, apenas com palmas

ou vaias. Ela é formada por uma comunidade que participa da cena educacional, e somente

com a ajuda dela, o ele consegue cumprir com plenitude sua função, ou seja, assegurar que

a escola realize a sua missão: ser um lugar de educação, entendida como elaboração do

conhecimento, aquisição de habilidades e formação de valores; animar a comunidade

educativa na execução, com qualidade, do projeto educacional; incrementar a gestão

democrática e participativa da ação pedagógico-administrativa; conduzir a gestão da escola

nos seus aspectos administrativos, econômicos, jurídicos e sociais.

Diante das mudanças de paradigmas que a sociedade atual nos oferece,

discutir o papel do administrador escolar é ir além das questões burocráticas e olhar para os

principais aspectos da gestão da educação, tendo como centro a problemática vivida no

interior da escola, ou seja, apontando como eixo central da discussão a escola como o local

onde se dá a apropriação de serviços educacionais, tendo necessariamente que ocorrer a

dinamização e assistência aos membros da escola para que promovam ações condizentes

com os objetivos e princípios educacionais propostos; liderança e inspiração no sentido de

enriquecimento desses objetivos e princípios; promoção de um sistema de ação integrada e

cooperativa; manutenção de um processo de comunicação claro e aberto entre os membros

da escola e entre a escola e a comunidade; estimulação à inovação e melhoria do processo

educacional.

Assim, para definirmos com mais clareza a figura do administrador

escolar, podemos nos basear na teoria de Luck, 2000, onde o administrador escolar:

“É um gestor da dinâmica social, um mobilizador de atores, um articulador da diversidade na construção do ambiente educacional e promoção segura da formação de seus alunos”.

Atualmente, o gestor escolar é chamado a admitir seu papel político e

social, frente aos desafios exigidos pelo seu cargo, exercendo todas as atividades de

coordenação e liderança de equipe, que abrange aspectos filosóficos e políticos. Devemos

considerar que, esses aspectos vêm antes e acima da administração. A administração é uma

das formas da gestão, pois compreende as atividades de planejamento, organização,

direção, coordenação e controle.

Na década de 80, percebemos que as teorias administrativas centralizadas

na figura de uma pessoa, detentora de poder, perderam suas forças, dando espaço para uma

nova concepção, onde surgem os especialistas na organização do trabalho na escola, que

buscavam a diversificação da divisão do trabalho.

O administrador escolar aparece neste cenário, como o especialista em

gerar novas oportunidades e não o gerente que coordena e controla o trabalho alheio,

recolhendo o saber de todos em suas mãos. Esse papel atribuído ao administrador de escola,

que a partir daí assume posição de especialista, está em contraposição àquele que detém a

concepção do trabalho e está aberto para discussões e debates de novas idéias, permitindo

uma participação homogenia dos interessados e uma administração linear e horizontal.

Por isso o debate em torno do papel do administrador não pode estar

descolado da função social da escola, ou seja, a que fins esta busca atender e seus objetivos.

Este contexto quebra um tradicionalismo que durante décadas tornou imutável e

impermeável às mudanças as rotinas escolares, colocando, assim, a possibilidade de atribuir

múltiplas finalidades a essa escola, ou ainda de mudar o seu foco, o seu eixo, o centro dessa

organização e adotar outro, mas as questões administrativas não podem consumir toda a

disposição e energia dos que tentam coletivizar a administração da escola.

As questões administrativas de uma escola não possuem um traço

específico escolar. São questões comuns à rotina burocrática de qualquer instituição:

controle de pessoal (horário), controle de contas a pagar, entre outras tarefas menores.

Essas rotinas absorvem quase completamente todo o tempo do administrador. Esvaziam de

conteúdo crítico e analítico suas atitudes, reduzindo-o a uma função de gerente, de

controlador da força de trabalho e de administrador de recursos escassos, em síntese: em

funcionário de uma organização.

O administrador se vê consumido por uma rotina burocrática que

cotidianamente absorve toda sua capacidade criativa, colocada a serviço de pensar soluções

mágicas para equacionar os vários problemas em condições materiais tão adversas. Ao

considerarmos que essa situação retira do administrador de escola o seu específico de

pedagogo: daquele que entende das questões educacionais, do currículo, da didática, da

estrutura e do funcionamento do ensino. Entendemos que o administrador de escola deve

ser visto dentro desse espaço: de um profissional que compreende as funções da escola nas

suas múltiplas dimensões e relações com a sociedade.

Diante desse contexto, o administrador escolar deverá atuar como um representante

dos segmentos sociais que compõem a escola, devendo, portanto se pautar pela coerência

com os fins que esses segmentos depositam na escola ou esperam dela. Essa coerência

exige do administrador uma aproximação indispensável à comunidade

(pais/alunos/funcionários/professores) mediante um instrumento legítimo e pensado para tal

como os conselhos de escola. Entender as funções às quais esta escola deve responder e

disponibilizar recursos no sentido de colocar em desenvolvimento projetos, abrir a escola à

participação de todos, efetivar seu caráter público, de espaço público, de todos, ou seja, o

administrador deve contribuir na ruptura com o estranhamento e distanciamento revelado

por uma escola tão excludente. Somente buscando superar entraves corporativos, localistas,

podemos dar respostas a um nível mais amplo.

As transformações processadas no mundo atual não só exigem da escola

que esta repense seus padrões de escolarização, seus objetivos formativos como também

recoloca em xeque sua própria organização interna, ou seja, são pressões em torno do que

se ensina para quem se ensina e para quê.

Esses movimentos aparecem neste cenário buscando uma readequação da

escola aos seus objetivos: ao alargamento dos direitos sociais - o direito a participarem

dessa instituição social e influir nos seus desígnios. Porém a participação implica a

existência de canais próprios e, primordialmente, o domínio de informações básicas ou, se

preferirmos, informações mínimas necessárias ao entendimento dos processos, à distinção

de projetos e propostas, à identificação dos sujeitos envolvidos.

Marilena Chauí (1984), em seu livro Cultura e Democracia – nos reafirma

a importância do diálogo junto as questões democráticas, e nos alerta para o fato de que não

é possível pensar em democracia sem criar mecanismos de participação, e não é possível

pensar em participação sem informação, ou seja, sem uma administração participativa e

aberta à comunidade, mas essa participação somente ocorrerá de modo efetivo, quando os

envolvidos se sentirem integrados, ou seja, partícipes do processo, ou seja, quando

interferem, modificam, realizam. Sem essa possibilidade a comunidade não se vê motivada,

não se entende sujeito e ao contrário, se sente muitas vezes "ludibriada", porque participa

de um poder que não é seu, ou seja, continua existindo uma administração em que o poder

vertical, sem participação popular.

Desse modo, sempre será muito cômodo para os gestores escolares

alojarem-se em uma posição conformista de que a comunidade não participa dos projetos

escolares, porque não se interessa, porque é negligente, ignorante ou porque evita trabalho

pesado, mas não questiona se ela tem realmente tem acesso ao poder de participação e

decisão. Assim, essa postura se exime de qualquer responsabilidade na condução da gestão

democrática e aberta, que não se realiza por não contar com a participação dos envolvidos,

sob o argumento de que a escola fez a sua parte, os canais estão criados, a população é que

não participa, está descrente ou não se interessa.

Corremos, assim, o risco de nos entorpecermos com essas "profundas e

duras verdades" e nos privarmos da autocrítica, de lançarmos desafios maiores como ajudar

a escrever uma nova história, a desenhar e traçar novos contornos para um sistema de

ensino que precisa ser mudado, assim, para que esse processo ocorra, é necessário, ensinar

a comunidade a participar e de modo efetivo mudar conceitos ultrapassados.

Mas o administrador escolar só terá condições de captar essas dimensões

na medida em que se colocar aberto e ao mesmo tempo articulado com um projeto mais

amplo - o projeto de uma reconstrução social da escola que não pode estar circunscrito a

um circulo fechado, pois ele é maior, faz parte de um projeto social, de uma forma de

pensar e estruturar a sociedade a serviço dos interesses diferentes da maioria.

Esse trabalho de formação social não deve valorizar os preceitos

capitalistas e buscar ganhos ou perdas, como se ocorresse de modo estático e fechado, mas

deve visar a perspectiva e anseios das classes envolvidas, onde o que define sua condição

não é apenas sua inserção no processo produtivo, mas a formação de uma identidade, onde

é importante que haja espaços de vivência, socialização e expressão de sua própria cultura,

pois caso não se produza essa articulação, podemos incorrer em atitudes espontaneístas,

voluntaristas, que confundem a autonomia da escola com interesses localistas, imediatistas

e até corporativistas.

Por isso, é importante ressaltarmos, a necessária distinção entre

autonomia e descentralização no campo da administração educacional. A autonomia revela

a possibilidade de uma escola criar ou definir o seu projeto pedagógico e a descentralização

expressa um movimento no sentido de atribuir maior mobilidade administrativa aos

partícipes, mas para isso é fundamental que haja uma abertura para a formação de materiais

de organização que estejam relacionados às reais condições de trabalho para a consecução

dos objetivos educacionais de forma eficiente, ou seja, os conselhos com participação de

todos os envolvidos nos projetos.

Mas ao ocorrer à descentralização na área escolar, o administrador deverá ser muito

cauteloso e perceber que a mesma não deve aparecer como um processo isolado, pois isso

pode ser um agravador das desigualdades sociais. Ao olharmos para nossa história,

perceberemos que à descentralização de políticas públicas em curso na sociedade brasileira

não pode prescindir da capacidade institucional do governo central, mas deve pressupor

recuperação de espaços de debate com a sociedade brasileira no encalço de possíveis

soluções aos problemas sociais. Esta situação deve ser vista com muito cuidado pelo

administrador escolar e por todos envolvidos no processo de educação, pois por um lado,

evidencia a importância da participação da sociedade, de outro, ao transferir para a

sociedade o gerenciamento da educação, o Estado pode ausentar-se, descomprometendo-se

com o processo. O maior risco desta prática é a possibilidade de gerar um tipo especial de

privatização da educação, ocasionando a perda de seu sentido público universal e o desvio

das responsabilidades educacionais que o Estado tem com a população.

Dentro desse contexto atual de mudanças, assistimos a uma nova estruturação do

trabalho educacional, anunciando uma forte convulsão no interior da escola, com todos os

seus espaços, da forma ao conteúdo, sendo, passível de crítica, logo, as tradicionais (ou

nem tanto) funções no interior da escola são questionadas e não mais estáticas.

Nesse momento, vale a pena destacar que o administrador escolar deve

sempre estar ligado com o projeto da escola e conhecer as necessidades principais de sua

gestão, a cultura da escola e as características da comunidade local, para que desse modo,

seja reconhecido como um administrador / líder, sempre se empenhando na interação com a

sociedade e na motivação de seu corpo docente.

Assim, através dos conteúdos abordados e analisados, chegamos à

conclusão de que o bom administrador ou gestor escolar deve sempre observar, pesquisar e

refletir sobre o cotidiano escolar de forma a aprimorá-lo conscientemente, compreender os

fatores políticos e sociais que interferem no cotidiano escolar para promover a integração

com a comunidade, construindo relações de cooperação que favoreçam a formação de redes

de apoio e a aprendizagem recíproca; propor e planejar ações que, voltadas para o contexto

sócio-econômico e cultural do entorno escolar, incorporem as demandas e os anseios da

comunidade local aos propósitos pedagógicos da escola; valorizar a gestão participativa

como forma de fortalecimento institucional e de melhoria dos resultados de aprendizagem

dos alunos; articular e executar as políticas educacionais, na qualidade de líder e mediador

entre essas políticas e a proposta pedagógica da escola, construída no coletivo da

comunidade escolar; reconhecer a importância das ações de formação continuada para o

aprimoramento dos profissionais que atuam na escola, criando espaços que favoreçam o

desenvolvimento dessas ações; cuidar para que as ações de formação continuada se

traduzam efetivamente em contribuição ao enriquecimento da prática pedagógica em sala

de aula, acompanhar e avaliar o desenvolvimento da proposta pedagógica e os indicadores

de aprendizagem com vistas à melhoria do desempenho da escola, compreender os

princípios e diretrizes da administração pública e incorporá-los à prática gestora no

cotidiano da administração escolar.

Somente seguindo esses parâmetros, o administrador escolar poderá

apresentar a comunidade um modelo de gestão que favoreça o diálogo, a compreensão e

mostre a cada membro de sua equipe a importância e responsabilidade que cada um

desempenha diante de seu papel perante a escola e comunidade. Assim, o administrador

deverá ter competências e habilidade também para compreender a natureza, a organização e

o funcionamento da educação escolar, suas relações com o contexto histórico-social e com

o desenvolvimento humano, bem como a gestão do sistema escolar, seus níveis e

modalidades de ensino; apropriar-se dos fundamentos e das teorias do processo de ensino e

de aprendizagem; relacionar princípios, teorias e normas legais a situações reais,

interpretando e aplicando a legislação de ensino a favor da população escolar, identificar e

avaliar criticamente os impactos de diretrizes e medidas educacionais, objetivando tomada

de decisão, com vistas à garantia de uma educação plena; comunicar-se com clareza, em

diferentes situações, com diferentes interlocutores, utilizando as linguagens e as tecnologias

próprias; socializar informações e conhecimentos na busca do diálogo permanente com a

comunidade intra e extra-escolar; estimular a participação dos colegiados e instituições

escolares, promovendo o envolvimento e a participação efetiva de todos como fator de

desenvolvimento da autonomia da escola, compreender, valorizar e implementar o trabalho

coletivo, reconhecendo e respeitando as diferenças pessoais e as contribuições de todos

participantes, incorporar à sua prática valores, atitudes e sentido de justiça, que possibilitem

seu desenvolvimento pessoal e aprimoramento profissional, bem como do grupo que lidera;

elaborar de forma participativa os planos de aplicação dos recursos físicos e financeiros,

vinculados à proposta pedagógica da escola; responsabilizar-se pela administração de

pessoal, de recursos materiais e financeiros e do patrimônio escolar com transparência nos

procedimentos administrativos, garantindo a legalidade, a publicidade e a autenticidade das

ações e dos documentos escolares; fortalecer o vínculo com a comunidade local, buscando

estabelecer, com outras instituições e lideranças comunitárias, parcerias que promovam o

enriquecimento do trabalho da escola e da comunidade em que ela se insere. Mas, de

acordo com algumas observações pessoais, é possível concluir que na prática são poucos os

administradores que conseguem aplicar a maioria dessas características, sendo assim, nós,

professores, temos de avaliar nossa posição em relação às eleições de nossos

administradores, para elegermos gestores competentes capazes de elevar o nível da

educação, mas, geralmente preferimos a omissão e deixar incompetentes assumir cargos

que pessoas honestas ocupariam, pois o medo e a submissão não podem mais fazer parte da

educação nas escolas, ora se os professores são acomodados e indiferentes imaginem como

serão seus alunos e o resto da comunidade escolar.

CAPÍTULO III

O PROCESSO ADMINISTRATIVO ESCOLAR E O DESENVOLVIMENTO DA

CIDADANIA

O termo “cidadania” e o conceito de “escola reflexiva” vêm sendo muito

debatidos nos meios acadêmicos e nessas discussões buscam entender os seus papéis dentro

da escola e na estrutura de ensino, que de modo global vem sofrendo mudanças em sua

composição interna e externa. Essa temática vem ressaltar a busca constante pelos direitos

de cidadania amplamente negados a maioria dos estudantes, ou seja, o direito fundamental

da educação com qualidade para todos. Assim, diante de um ato de coragem, de

consciência e de compromisso social, a escola vem tentando fazer com que a cidadania não

seja apenas uma teoria ou projeto, mas sim, uma ação em pleno desenvolvimento,

destacando os direitos de nossos alunos com indivíduos. Conforme já discutimos, há um

profundo interesse no momento em que vivemos por parte de todos os envolvidos com o

movimento educacional, acerca da participação cidadã em projetos sociais e educacionais

que realize esta interface com a ampliação e construção de uma sociedade mais cidadã,

participativa, reflexiva e capaz de formar cidadãos com opiniões críticas e capazes de

decisões.

Para que uma escola seja considerada cidadã e reflexiva, é importante,

contemplar em seu projeto educacional a vontade e a intenção de ser escola participativa,

ou seja, é necessário, conhecer a realidade a sua volta e compartilhá-la com a sociedade,

sugerindo desafios que não fiquem restritos a sala de aula, sempre preparando os

educadores para que orientem seus grupos de estudantes nos projetos em desenvolvimento,

ou seja, sairemos das teorias e efetivaremos a cidadania na prática, onde a educação está a

serviço de desenvolver valores emancipatórios, através da qualidade de ensino, formação

cultural igualitária e autonomia. Assim, a escola cidadã e reflexiva vê nos problemas um

motivo de crescimento, pois toda busca gera a aprendizagem e o crescimento do indivíduo.

Ela é construída a partir da pesquisa-ação-participação, tendo como característica principal

à contribuição para a mudança, logo, a escola reflexiva traz dentro de suas veias condições

de gerir sua própria ação em meio ao diálogo. Logo, a base da escola cidadã e reflexiva é a

formação na atuação, visto que a avaliação constante das práticas conduz ao aprendizado.

Essa escola cidadã é baseada na inclusão, pois traz para si todo o corpo de alunos e

professores em um movimento de conhecer-se e se fazer conhecer, respeitando as

individualidades, vivências e limitações.

Mas, essa concepção de escola cidadã, participativa e reflexiva somente

se concretizará, se valorizarmos a construção de relações sociais efetivamente democráticas

e equilitárias, ou seja, a luta pela cidadania que constrói a emancipação humana no

conjunto das lutas sociais pela terra, pela reforma agrária, pelo emprego, pelo direito a

saúde, educação, trabalho, seguro-desemprego, deve ser a mesma que busca uma educação

de acesso e qualidade igual para todos. Essa escola se constituiu em uma perspectiva

“unitária” da sociedade e educação, ou seja, visa buscar a mesma qualidade para todos os

educandos, mas temos que visualizar que “unitário” ao contrário de uniforme e único,

significa síntese do diverso.

Essa diversidade, todavia, somente é democrática se as condições básicas,

isto é, a materialidade objetiva e subjetiva de produção social da existência for efetivamente

igualitária, ou seja, se todos os educandos tiverem iguais condições de acesso e

permanência na escola e através do diálogo o educador conseguir construir o conhecimento,

sempre visando que esse exige o movimento de idéias de todo um grupo e que as relações

entre as pessoas sejam horizontais, onde todos terão as mesmas possibilidades de

participação, sendo livres para discordar e também sugerir mudanças na prática social de

forma autônoma, mas isso somente ocorrerá se houver um rompimento com a forma de

ensino padrão e admissão da diferença, formando parcerias e nunca agindo de modo

excludente por opiniões diferentes. Portanto, gerir essa escola reflexiva e igualitária é

considerar a experiência, utilizar-se da observação, conceptualização, generalização e

experimentação na ação. É considerar a escola em desenvolvimento e aprendizado, é estar

integrada às pessoas e processos. É ter no centro não somente o aluno, mas todo o elemento

humano, mas para que esse processo se concretize na prática, é importante, que a escola

requeira a existência de professores igualmente reflexivos, que pensem e implementem

ações visando uma qualidade de ensino e aprendizagem, ou seja, o professor deve ser autor

de idéias, projetos e ações significativas e sempre deve buscar respostas e não ser apenas

um reprodutor de ações não refletidas.

Segundo Freire, 1983:

“A idéia de projeto de uma sociedade e educação unitária e igualitária tem na sua base pressupostos éticos-políticos, epistemológicos e políticos-pedagógicos, que norteiam todas as atividades da organização e constituem o cerne dos elevados padrões de pensamentos e aspirações coletivas”.

Assim, percebemos que o processo administrativo direcionado a

formação da cidadania e reflexão, constitui um ato político com possibilidade de ação sobre

si, sobre seu estar no mundo, associada indissoluvelmente a sua ação sobre o mundo, a

ausência de reflexão sobre seu estar no mundo, impossibilita o ser de transportar os limites

que lhe são impostos pelo próprio mundo, assim, o educando quando visto como cidadão

tem diversas oportunidades de crescer e se deparar com fenômenos, fatos e objetos do

mundo; e assumindo sua função vai perguntar, reunir informações, organizar explicações e

refletir sobre problemas propostos, ocorrendo assim, mudanças fundamentais no seu modo

de conceber a vida, a natureza e a cultura.

Desse modo, percebemos que é papel da escola orientar tantos os alunos

como a comunidade, mostrando um caminho, mas muitas vezes, a escola terá que propiciar

situações para que a comunidade reflita sobre seus papéis e atribuições, fazendo com que as

instituições não tenham um papel estático na comunidade e sim apresente a todos a função

social da educação, pois somente com uma ampla participação da comunidade nas decisões

da escola haverá possibilidades de fortalecer o projeto autônomo de escola..

Logo, o gestor educacional que opta pela mudança visando à formação de

um educando capaz de refletir, não teme a liberdade, não prescreve, não manipula, não foge

da comunicação, pelo contrário, a procura e vive, no propósito de desmistificar o mundo, a

realidade, através do exercício da reflexão dos indivíduos sobre sua ação, sobre a própria

percepção que possam ter da realidade. Nas escolas que desenvolvem uma gestão

participativa e visam à formação de cidadãos que pensam diante dos conflitos, os gestores

precisam agir como líderes pedagógicos, apoiando a priorização de metas, avaliando os

programas pedagógicos e educacionais, organizando e participando dos programas de

desenvolvimento de funcionários, professores, sempre os motivando e também enfatizando

a importância de resultados alcançados por sua equipe. Os administradores interligados

com as novas mudanças organizacionais e institucionais também devem agir como líderes

de relações humanas, enfatizando a criação e a manutenção de um clima institucional

positivo, estando sempre pronto para agir diante de conflitos, o que inclui promover uma

conformidade quanto aos objetivos e métodos, mantendo uma organização eficaz na escola.

Assim, o administrador escolar eficaz deve apoiar o estabelecimento com objetivos claros,

motivar a visão do que é uma boa escola e encorajar o seu corpo docente e funcionários, de

modo a auxiliá-los nas descobertas dos recursos necessários para que realize

adequadamente o seu trabalho.

Mas para que dentro desses paradigmas haja uma administração escolar

projetada no desafio de conscientizar seus funcionários e a comunidade local, para que

possam agir de modo a somar e trazer novas perspectivas no modo de agir diante de uma

administração eficaz, devemos partir do pressuposto de que existe uma possibilidade do

homem se desenvolver e crescer interiormente, participando da construção de si mesmo e

de uma comunidade cada vez mais humana, que almeja conquistar a liberdade, podendo

assim ser vista como referencial em decisões e opiniões.

Diante desse contexto e ao falarmos em formação de cidadãos reflexivos,

percebemos que o administrador escolar é o personagem principal que deve atuar por meio

de canais que permitam perceber a democracia não como forma de regime político, mas

uma forma de existência social, ou seja, uma democracia participativa e nunca excludente.

Logo, a questão democrática passa a ser uma questão social e política, fundada em uma

cidadania concreta, que começa no plano do trabalho, isto é, a passagem dos objetos sócios-

políticos em que nos tornamos, sujeitos históricos, capazes de mudanças, mas essas devem

estar repletas de valores humanos, pois somente através do movimento de humanização da

escola, podemos redimensionar as relações de poder, os tempos, os espaços e o currículo no

sentido de atender às demandas da sua comunidade a partir da interação crítica e criativa

para democratizar a convivência com a sociedade.

A postura crítica e humana na adoção de novas perspectivas e decisões

devem somar-se as novas formas de facilitar sua introdução no sistema escolar, o que

exigirá uma cultura pessoal e institucional em constante processo de auto-organização,

sempre destacando a necessidade de existir um estado de experimentação, pesquisa e

análise de novos processos e descobertas e ao mesmo tempo, a materialização via resolução

consistente de problemas encontrados no dia-a-dia. Portanto, o gestor deve estar apto a

acompanhar essas mudanças e tentar ampliar a capacidade de realização da organização

escolar, levando-a a atingir seu potencial pleno e a tornar-se uma instituição que traga

orgulho profissional a seus integrantes e também à sociedade, pois somente desse modo,

nós, professores, seremos capaz de desenvolver um trabalho que forme cidadãos pensantes,

éticos e, principalmente, capazes de tomar decisões coletivas.

Assim, para que o qualquer processo administrativo escolar seja capaz de

formar cidadãos conscientes, temos que olhar para o processo de formação de modo

bilateral, ou seja, destacando o seu âmbito político, advogando a necessidade de distinguir

as determinações de um determinado fenômeno social das secundárias, ou seja, no processo

histórico necessitamos diferenciar de forma bem clara aquelas determinações que se

alternadas, modificam estruturalmente a natureza dos fatos ou das relações sociais daquelas

que alteram sem mudar sua essência estrutural e seu âmbito epistemológico, em que o

pressuposto básico é de que a compreensão dos fatos da realidade social implica articulá-las

na sua totalidade histórica, com o objetivo de combater a fragmentação e o particularismo

do conhecimento e no domínio curricular o eixo básico das mais diferentes ordens.

Já no plano pedagógico, o eixo central da proposta de uma escola cidadã,

funda-se no processo ensino-aprendizagem tendo como alvo os alunos enquanto sujeitos

sociais, suas múltiplas necessidades, dimensões e diversidades, o que requer uma leitura

consciente das determinações concretas da própria realidade, de tal modo, é urgente

repensarmos as políticas e projetos voltados à educação através de uma visão ampla de

educação e ensino, e esta deve ser planejada para muito além dos muros da instituição

escola. Diante desse exemplo, percebemos que a concepção de escola voltada para a

formação de cidadãos é uma opção para a superar o processo de exclusão que uma grande

parcela da população mais necessitada sofre e, além disso, busca renovar as relações entre

escola, comunidade, sociedade civil, poder público, entre outros, pois somente a

participação possibilita a população um aprofundamento do seu grau de organização e uma

melhor compreensão do estado influindo na maneira mais efetiva de seu funcionamento.

Assim, a amplitude do processo educacional, o qual implica

essencialmente o processo administrativo no âmbito das relações sociais, nos referimos do

próprio “fazer humano” e conseqüentemente o próprio homem, pois pensar sobre nós

mesmo é tentar encontrar a natureza do homem algo que possa constituir o núcleo

fundamental onde se sustenta o processo de educação. Esta, portanto, implica em uma

busca realizada por um sujeito que é o homem. O homem deve ser o sujeito de sua própria

educação, e não objeto dela. Concordamos plenamente com a afirmativa de Paulo Freire,

1983, quando diz que “ninguém educa ninguém, nós nos educamos”. Para ele, o homem

pode ser inacabado, incompleto, não sabe de maneira absoluta. Pensar em uma

administração correlacionada ao desejo de transformação, promover a cidadania, poder

demonstrar que é possível mudar e isto reforça a importância de sua tarefa político-

pedagógico, é contrapor-se ao autoritarismo, a centralização, e resgatar o verdadeiro sentido

da administração.

Recordamos o grande educador Paulo Freire, 1983, quando afirmava que:

“Ensinar é uma especificidade humana que exige segurança, competência profissional e generosidade. Nós, porém, afirmamos: administrar é uma especificidade humana, exige segurança, competência profissional, habilidade, criatividade, cooperação e comunicação”.

Afirmamos que a escola contribui para a democratização a partir da

eliminação de poder do seu interior e conseqüentemente, para a melhoria da qualidade de

ensino. Todos os segmentos da comunicação podem compreender melhor o funcionamento

da escola, conhecer com mais profundidade todos que nela estudam e trabalham,

intensificar seu envolvimento com ela, e assim, acompanhar melhor a educação ali

oferecida. Portanto, toda a escola pode ser cidadã enquanto realizar tarefas numa concepção

de educação, que vise formar a cidadania e para o desenvolvimento.

Como verificamos, o propósito inicial de uma gestão democrática é do

próprio gerenciamento em substituir o paradigma autoritário pelo democrático, dando

oportunidade às pessoas de “liberarem seu potencial oculto”, ajudando-os a usarem seus

talentos e sua criatividade, para resolver os problemas que a instituição enfrenta, embasado

no trabalho democrático participativo e descentralizado, com ênfase na “delegação de

poderes”.

Na gestão democrática, a participação de cada sujeito é fundamental e o

reconhecimento de suas idéias e sua contribuição é independente do nível hierárquico. O

administrador, por sua vez, torna-se um líder eficaz quando valoriza o trabalho dos

indivíduos, estimula o ambiente e acredita no potencial de seus auxiliares, e, somente

assim, poderá repensar a escola como espaço democrático de troca de produção e

conhecimento, tendo todos os educadores o grande desafio de enfrentar neste início de

milênio, especificamente o gestor escolar, por ser um elemento significativo e articulador

de uma prática capaz de romper com as relações competitivas, autoritárias e corporativas

que permeiam as relações internas da escola. Assim torna-se urgente à construção de uma

proposta pedagógica com um planejamento articulando o processo coletivo na tomada de

decisões.

Segundo Veiga, 2001:

“A elaboração do projeto pedagógico tem a ver com o trabalho da escola como um todo e com a participação da sala de aula, considerando o contexto social e a preservação de uma visão da totalidade. Logo, o projeto pedagógico busca a organização global da escola”.

Assim entende-se o projeto pedagógico como um conjunto articulado de

propostas e ações, delimitadas, planejadas, executadas e avaliadas em função de uma

finalidade que se pretende alcançar e que é previamente delineada mediante a representação

simbólica dos valores a serem efetivados.

O projeto pedagógico é uma proposta diferente com intuito de suprir as

necessidades da escola e estabelecer parâmetros para o futuro, no sentido de romper com o

passado, inserido num cenário marcado pela diversidade, e nesse sentido é que o projeto

pedagógico deve ser feito com competência e liderança dentro de uma gestão democrática

que propõe a descentralização dos processos de tomada de decisão e da ampliação da

autonomia da escola.

Certamente, a formulação do projeto pedagógico nas escolas é uma

inovação prevista pela Legislação Educacional em vigor, com o objetivo de descentralizar e

democratizar os processos educacionais, de buscar maiores oportunidades de participação

da comunidade, comprometimento de todos os seus membros, estabelecimento de

alternativas para resolução dos problemas atuais da educação.

Assim, como também é uma exigência da gestão democrática que exige a

compreensão em profundidade dos problemas postos pela prática pedagógica, esta

compreensão deve partir de todos os segmentos envolvidos no processo educacional, e para

que isto de concretize em primeiro lugar, é necessário uma mudança de mentalidade de

todos os membros da comunidade escolar justificando assim, a importância da participação

coletiva dos educadores, funcionários, alunos, pais e comunidade.

Segundo Veiga, 2001:

“A gestão democrática implica primeiramente o repensar da estrutura de poder da escola, tendo em vista sua socialização. A socialização do poder propicia a prática da participação coletiva, que atenua o individualismo da reciprocidade, que supera a expressão da autonomia, que anula a dependência, de órgão intermediário que elaboram políticas educacionais tais quais a escola é mera executora”.

Desse modo, é importante ressaltar de que forma o projeto pedagógico

está estruturado. A escola de forma geral tem nível de dois tipos básicos de estruturas:

administrativas e pedagógicas.

As estruturas administrativas asseguram praticamente a locação e a

questão de recursos humanos, físicos e financeiros, faz parte ainda a manutenção do prédio

da escola e compra de materiais didáticos.

A estrutura pedagógica que teoricamente determina a ação dos

administrativos, organiza as funções educativas de forma eficaz, para que sejam atingidas

as finalidades da escola. Dentro dessa mesma estrutura, inclui-se a interação política às

questões de ensino aprendizagem e as de currículo, a e todos os setores necessários ao

desenvolvimento do ato pedagógico.

Na estrutura organizacional da escola deve ser analisado, visando

identificar quais estruturas são viabilizadas, e porque, verificando as relações funcionais

entre elas. Essas análises significam indagar sobre as suas características, seus pólos de

poder, seus conflitos.

“É preciso ficar claro que a escola é uma organização orientada por

finalidades, controladas e permeadas pela questão do poder”. (Veiga, 2001).

No que tange a estrutura organizacional, é necessário se reportar ao

regimento e organograma da escola, identificando os pólos de poder, e as relações de poder

formalmente estruturadas, a forma da gestão que vem sendo praticada nos últimos anos

questiona os pressupostos que embaçam a estrutura burocrática da escola que viabiliza a

formação de cidadãos capacitados a criar ou a modificar a realidade social.

Quando a escola ocupa o tempo dos professores com aulas e não lhes

proporciona algumas horas semanais de trabalhos remunerados para acompanhamento do

processo pedagógico, as reuniões e as discussões em torno do projeto pedagógico, ela

dificulta a realização de um trabalho de qualidade, pois todos sabem que, são poucos os

professores que podem se dar ao luxo de ter apenas um vínculo empregatício e a corrida de

uma escola à outra, não lhes proporciona muito tempo para as atividades de planejamento e

avaliação, não queremos dizer com isso, que o professor não possa ou não deva participar

das reuniões não remuneradas. Apenas queremos reforçar a necessidade de se promover às

condições básicas para a almejada participação no projeto pedagógico tal como afirma

Veiga (2001):

“É preciso tempo para que os educadores aprofundem seus conhecimentos sobre os alunos e sobre o que estão aprendendo. Preciso tempo para acompanhar e avaliar o projeto político pedagógico em ação. É preciso tempo para os estudantes se organizar e criarem seus espaços para além da sala de aula”.

Na organização formal da escola, o fluxo das tarefas, das ações e,

principalmente, das decisões são formalizadas prevalecendo as relações hierárquicas de

mundo e submissão de poder autoritário e centralizados.

Atualmente, a estrutura administrativa da escola não se enquadra mais

neste tipo de administração. Os objetivos educacionais propostos de acordo com o interesse

da população devem prevê mecanismos que estimulem a participação de todos no processo

de tomada de decisão, praticando uma gestão democrática em que se trabalha a avaliação

continuada dos serviços escolares.

CONCLUSÃO

Um possível aumento da qualidade educacional brasileira tem sido

correlacionado com o engajamento de seus profissionais a partir da descentralização

administrativa e da democratização da gestão escolar. Os estudos realizados nesse trabalho

mostram que o sucesso da escola pode ser impulsionado através da prática de uma

administração participativa voltada para objetivos claros, definidos coletivamente com

comunidade escolar. Assim, na atualidade, nós, envolvidos com projetos educacionais,

estamos diante de um grande desafio, ou seja, construir uma escola com qualidade e ao

mesmo tempo, assegurar que o processo de escolarização seja efetivo em termos de

aprendizagem para todos os que chegam às escolas na idade compatível e corrigir a

defasagem idade-série, representada por um alto contingente de estudantes, através de

programas oferecidos pelo Estado a nossos estudantes.

Também, significa dizer que a escola tem como parâmetros melhorar a

qualidade de ensino através de uma administração participativa, mas para tanto, é

necessário que se crie um espaço no qual o coletivo possa opinar, elencar prioridades e

deliberar ações no sentido de contribuir de modo eficaz para o sucesso do ensino

ministrado.

A administração participativa na escola é, então, percebido como sendo

um meio capaz de possibilitar maior envolvimento dos profissionais da educação com o

planejamento e a tomada de decisões na prática cotidiana. Desse modo, o foco na escola e

no aluno e a probabilidade de autonomia e sucesso da escola são aumentados. A esse tipo

de administração participativa é creditado o alargamento de espaços para incorporar a

capacidade criativa e solidária das comunidades escolar e local. Tal prática favorece o

despertar de iniciativas e programas a partir das interlocuções, dos diálogos, da critica e da

reflexão, como respostas aos anseios e às necessidades das escolas e da sociedade que a

financia, mas toda proposta de mudança no campo educacional deve olhar criticamente

para todos os desafios que surgem e sempre desenvolver revisões constantes na formulação

dos objetivos educacionais e as mudanças profundas na sociedade. Mas para que esses

projetos não sejam somente teorias, é importante, que tenhamos como líder um

administrador formado para as mudanças e as exigências educacionais, ou seja, uma pessoa

com olhar crítico que consiga estudar a situação da escola e suas responsabilidades e a

revisão de seu papel na sociedade atual. Logo, caberá a esse profissional romper com uma

postura passiva que somente acata orientações como se fosse um funcionário burocrático do

sistema e não um líder com a plena função de integrar o processo, comunidade e todos os

envolvidos com a área educacional. Esse líder que administra deve enxergar a si mesmo

como um representante de um projeto político-social de educação que passa pela ruptura

com um sistema seletivo, excludente, e forjar uma gestão escolar mais aberta, arejada e

direcionada para os anseios populares, logo, precisa estar atento às manifestações interiores

da escola, às questões concernentes à cultura escolar, ao pedagógico, ao educativo. Para

isso, é necessário que não se deixe anular ou esgotar suas potencialidades como um

profissional pedagogo que possui uma especificidade: conhece as questões relativas à

educação.

Diante desse personagem, conseguiremos valorizar as escolas

democráticas, participativas e transparentes, que estão centradas em três pilares básicos: o

administrativo, o pedagógico e o relacional. Todos os três eixos devem estar abertos à

avaliação interna – da própria escola e seu sistema de ensino – e externa – da comunidade

onde está inserida e da sociedade como um todo, pois agora fazem parte de um processo em

movimento. A avaliação deverá funcionar como termômetro e bússola, indicando a

temperatura e o melhor caminho a ser perseguido com a participação e comprometimento

da equipe escolar e comunidade local.

O administrativo volta a sua atenção para a concretização do plano de

desenvolvimento da escola e do projeto pedagógico, construindo e implementando

coletivamente. Ele deve ser catalisador das ações que promovam a integração da escola

consigo própria, com seu sistema de ensino e estabeleça parcerias com outras instituições.

O pedagógico volta-se para a construção e operacionalização do processo

ensino-aprendizagem centrado no aluno e na integração com a comunidade.

O relacional é responsável por toda intricada teia de relações necessárias

ao bom desenvolvimento dos trabalhos planejados para atender à consecução dos objetivos

definidos e à missão da escola. A comunicação entre a equipe escolar, os pais, estudantes e

seus familiares é uma das estratégias usadas para estabelecer uma prática escolar

participativa.

Em suma, o deslocamento das decisões para o lócus da escola aumenta a

responsabilidade da equipe escolar, pois do uso coreto que a escola faz de sua capacidade

de autonomia, melhores serão os resultados para todos os envolvidos nos processos

escolares.

Nesse contexto, o administrador escolar é um agente de transformação e

deve assumir o papel de motivador, incentivador e catalisador de ações que liguem a sua

escola a outras escolas e à comunidade, fazendo para tanto uma re-leitura de suas

atribuições, a fim de rever algumas atitudes equivocadas no trato educativo e, assim, traçar

metas compatíveis com o ensino que esteja voltado ao desenvolvimento pleno das

competências dos educandos.

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