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O registro da rotina do dia Maria de Fátima Cardoso Gomes Maíra Tomayno de Melo Dias Luciana Prazeres Silva Hermínia Lima Karina Batista

O registro da rotina do dia 2

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O registro da rotina do diaMaria de Fátima Cardoso Gomes

Maíra Tomayno de Melo Dias

Luciana Prazeres Silva

Hermínia Lima

Karina Batista

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O REGISTRO DA ROTINA DO DIA E A CONSTRUÇÃO DE OPORTUNIDADES DE APRENDIZAGEM DA ESCRITA

A elaboração de uma Rotina ou Agenda de trabalho junto com osestudantes no início das aulas tem sido apontada como favorável paraque os alunos aprendam sobre os usos e as funções sociais da escrita.

A defesa de tal prática (BATISTA et al., 2005; CASTANHEIRA; SILVA;MEIRELLES; CURTO MORILLO; TEIXIDÓ, 2000) está associada ao ensinoda escrita na perspectiva do letramento, por criar, em sala de aula,possibilidades reais de uso da escrita semelhantes àquelas existentesfora da escola.

Embora seja uma prática muito adotada, ainda não se investigou se, o

que e como os alunos em fase inicial de alfabetização podem tirar

proveito dessa atividades para o aprendizado da escrita.

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O que os alunos podem aprender sobre a escrita quandoparticipam, com seu professor, da elaboração e registro daAgenda ou Rotina de atividades no início de cada dia de aula?

O foco da análise está:

nas oportunidades de aprendizagem da estrutura silábica da palavra;

na relação dos processos de alfabetização e letramento, por meio daarticulação entre o trabalho com um gênero textual e o estudo decaracterísticas estruturais do sistema de escrita.

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O estudo e seu contexto

A análise apresentada nesse texto é parte integrante de um estudoetnográfico cujo objetivo principal é:

compreender como os participantes de uma sala de aula (professorae alunos) constroem, por meio de suas interações, oportunidades deaprendizagem da escrita à medida que interagem em sala de aula.

O registro da rotina do dia faz parte do cotidiano dessa sala de aula, massuas características foram sendo estabelecidas e modificadas ao longo doano.

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1ª Fase

• A professora escrevia os itens da rotina no quadro e,em seguida, solicitava aos alunos que realizassem comela a leitura oral das anotações que havia feito.

2ª Fase

• A professora solicitava que os alunos soletrassem aspalavras que compunham a Rotina para que elapudesse escrevê-las no quadro.

3ª Fase

• Eles passaram a escrever no quadro as palavras que aprofessora soletrava. A cada dia, um aluno eraescolhido como a escriba da turma.

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O estudo é orientado pelo entendimento de que:

os participantes da sala de aula (professora e alunos) vão estabelecendo padrões para agir e usar a linguagem, ou seja, vão construindo a culturada sala de aula, que é tomada como referência para o engajamento nas atividades que serão desenvolvidas pela turma.

Cultura de sala de aula

Linguagem

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Cultura de sala de aula Linguagem

A sala de aula funciona como umacultura, em que:

os membros reconstroem maneiras para interagirem uns com os outros e com objetos nas práticas de que participam; as maneiras de interação entre participantes do grupo levam a formas particulares de fazer e conhecer e construção do conhecimento comum, e enquadramentos que orientam a interpretação e a participação no grupo. Collins e Green (1992), Green eHarker (1982).

A linguagem é uma prática social e, conseqüentemente, as maneiras de produzir sentido com a linguagem, falando, escrevendo ou compreendendo, dependem de interações e ações, dependem do contexto em que a atividade lingüística ocorre.

Na escola, a “linguagem não é apenas constitutiva da cultura da sala de aula, mas também se torna objeto de estudo”. (GERALDI, 1991; KATO, 1986; GOMES; MONTEIRO, 2005; SOARES, 1999)

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Ao produzirem a Rotina do Dia, a professora e os alunos,simultaneamente, realizam uma prática de uso social e escolar dalinguagem e tornam a escrita de palavras objeto de estudo.

Objeto de estudo – escrita da palavra

Elaboração da Rotina

do dia

Uso escolar da linguagem

Uso social da

linguagem

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A análise de como ao tomarem a linguagem escrita como objeto deestudo, os alunos e a professora focalizam a estrutura silábica daspalavras busca evidenciar:

como a professora desenvolve esse trabalho com os alunos, que ações ela realiza nesse processo;

quais oportunidades de aprendizagem da estrutura silábica daspalavras resultam da interação entre professora e alunos nesseevento.

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DESCRIÇÃO GERAL DE EVENTO ROTINA DO DIA

A identificação de um evento a ser analisado como um caso expressivoresulta de um processo de inserção do pesquisador no campo depesquisa, esse caso a sala de aula, para a construção de umconhecimento da história do grupo observado e das suas práticasdiscursivas e de ensino.

Evento Caso expressivo

“O conjunto de atividades delimitado

interacionalmente em torno de um

tema comum num dia específico. Um

evento é identificado analiticamente

observando‐se como o tempo foi

usado, por quem, em que, com que

objetivo, quando, onde, em que

condições, com que resultados, e como

os membros [do grupo] sinalizam

mudança na atividade”.

Castanheira,2007.

É uma narrativa detalhada de casos

etnograficamente identificados, que

fornece elementos para a produção de

inferências teóricas necessárias à

construção de conhecimento sobre

determinado tema.

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O processo de análise do evento requer:

uma transcrição criteriosa do registro feito em vídeo que permita analisarquem fez ou falou o quê, com quem, quando, onde, de que maneira ecom que conseqüências.

O evento analisado ocorreu em meados do ano letivo e teve duração de 15minutos e 9 segundos e foi composto por diferentes subeventos:

os participantes soletraram as palavras que compuseram a rotina do dia; escreveram no quadro as palavras em letra cursiva e de imprensa; leram e copiaram as palavras registradas no quadro em seus cadernos; refletiram sobre corno se escrevem essas palavras e sobre sua composição silábica.

Foi realizada uma micro-análise do evento selecionado.

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QUADRO 1SÍNTESE DESCRITIVA DA INTERAÇÃO ENTRE PARTICIPANTES NO EVENTO ROTINA DA SALA DE AULA

a professora e os alunos estão envolvidos na escrita da expressão PARACASA.

a partir da soletração correta pela aluna a professora faz o registroproporcionando aos alunos a oportunidade de refletir quanto à composiçãodas palavras;

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a hipótese que as crianças na idade de alfabetização possuem de que aspalavras devem ser compostas por caracteres variados é refutada quandoos alunos observam que um mesmo caractere, no caso a letra "a", serepete numa mesma palavra ou em duas palavras que compõem umaexpressão;

a escrita das palavras se constitui, nesse evento, como objeto de estudona sala de aula.

a inclusão na rotina do dia do item BRINQUEDO revela a preferência poressa atividade pelos alunos que vibram: oooooobaaa!!!

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QUADRO 2A ESCRITA E A SOLETRAÇÃO DA PALAVRA BRINQUEDO E REFLEXÃO SOBRE ESTRUTURA SILÁBICA

Ao serem questionados sobre a escrita da palavra brinquedo duas respostas são apresentadas: BI e BIN;

Em resposta ao registro feito pela professora (sílaba BRI), Ana Carolina diz: "Consoante é primeira, e a segunda é vogal".

Esse comentário da aluna demonstra o seu estranhamento em relação ao registro feito pela professora no quadro.

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A fala do garoto: “Não professora, ela tá falando que toda palavra temque ter consoante e vogal também”, expressa uma hipótese sobre aescrita de palavras que é comumente feita por aprendizes em fase inicialde aquisição da escrita, acreditar que toda sílaba deve ser da forma CV,silaba canônica.

A professora desafia a validade da hipótese perguntando:

- “Pode ter palavras só com vogal?”- Ana Carolina afirma que não.- Hermes, olhando para a câmera diz quais são as vogais.-A professora afirma que sempre tem que ter vogais, mas apresenta no quadro a expressão: A CASA e questiona, apontando para a letra “a”: “isso aqui não é palavra não?”

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A conversa apresentada no quadro 2 permite ver:

como a professora conduz a reflexão do grupo sobre a composiçãodas palavras através da proposição de questões e apresentação deexemplos.

Eles verificam juntos que uma palavra, de apenas uma letra, no casouma vogal (o artigo A), pode ser lida e todos observam que a palavraCASA corresponde perfeitamente à hipótese levantada por AnaCarolina de que palavras são escritas pela seqüência de consoantes evogais.

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QUADRO 3Discussão sobre a presença de consoantes e vogais na palavra

A professora retoma a discussão da composição das sílabas emconsoantes e vogais voltando à palavra CHEGADA.

Ela retoma o foco da discussão e apresenta nova possibilidade deanálise que trará elementos para a revisão da hipótese levantada porAna Carolina.

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Considerações finais

Alunos e professora se engajaram de forma colaborativa ao proporemdesafios aos demais, apresentarem exemplos ou buscarem esclarecercomo estavam pensando ou o que um colega pretendia dizer.

A professora apresentava questões aos alunos a partir de exemploslistados no quadro e os conduzia em seu processo reflexivo.

A turma desenvolveu maneiras diversas de participar das atividades:seja com um aluno complementando as idéias dos colegas ou indo aoquadro para exemplificar o que estava dizendo, seja buscando explicitarsua compreensão de hipóteses levantadas por colegas.

A professora apresentava desafios aos alunos, e cedia espaço no grupopara que as respostas a esses desafios fossem demonstradas sem o riscode serem desprezadas ou mesmo ridicularizadas.

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O grupo construiu um espaço interacional em que o foco era refletirpara aprender e é indicativo de como oportunidades de aprendizagemresultam do engajamento e da colaboração entre os participantes daturma.

As intervenções da professora e dos alunos podem ser vistas comoconstitutivas das oportunidades de aprendizagem em sala de aula.

A articulação entre alfabetização e letramento pode ocorrer em salade aula, desde que os professores estejam atentos às demandasenvolvidas no processo de escrita, seja do ponto de vista da observaçãodas características e funções do gênero explorado, seja do ponto devista daquilo que é necessário saber para produzi-lo.