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VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN 1808-8716 Lopes. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017; 2(gt16):1-18 Oceanos: da Social Studies of Sciences à Revista Marítima GT 16 – Historiografia dos Estudos de Ciência e Tecnologia Maria Margaret Lopes

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Oceanos: da Social Studies of Sciences à RevistaMarítima

GT 16 – Historiografia dos Estudos de Ciência e Tecnologia

Maria Margaret Lopes

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Introdução

Os oceanos e suas histórias não têm sido especificamente um dos temas mais privilegiados

na historiografia das ciências e/ou dos Estudos Sociais das Ciências e Tecnologias no país1.

Aspectos relativos às investigações sobre os oceanos têm sido incorporados na abrangência temática

das discussões ambientais e sobre mudanças climáticas. Mas mesmo nesses estudos muitas

dimensões e perspectivas de análises, a que esse artigo se refere, como por exemplo aquelas

relacionadas ao conhecimento geológico dos mares ou à exploração dos recursos minerais dos

oceanos, permanecem ainda muito pouco consideradas no país.

Para nos aproximarmos do objetivo da pesquisa em que esse artigo se insere2 foi necessário

realizarmos um amplo levantamento de publicações, livros-texto, abrangendo apenas algumas das

diversas temáticas e abordagens incluídas tanto em disciplinas científicas modernas como a

Oceanografia ou a Geologia Marinha como em publicações tão díspares como a Revista Marítima

Brasileira e a Social Studies of Science. Este artigo parte de uma análise qualitativa dessas

publicações. Enquanto percorremos numa abordagem inicial a Revista Marítima Brasileira para

uma aproximação do que se considerou temáticas relacionadas ao estudo dos oceanos desde o final

do século XIX até os anos de 1950 no país3, tomamos a Social Studies of Science4 para subsidiar

releituras de textos clássicos sobre oceanos.

Hidrografia e Oceanografia na Revista Marítima Brasileira

Para se acompanhar – mesmo que parcialmente e da perspectiva da história das ciências

geológicas –, a diversidade de historiografias das investigações oceânicas, retomamos, como já o

fizemos em outros lugares, as observações de Gregory Good5. Para o autor, dificilmente os

1 Heizer, Alda Lucia; Lopes. Maria Margaret; Garcia, Susana. Carta das editoras convidadas. Histórias, ciências epolíticas de oceanos e mares. Revista História, Ciência, Saúde – Manguinhos, v. 21, n. 3, jul./set., 2014. p. 803–804.2 A autora agradece o apoio do CNPq ao projeto de produtividade em pesquisa – proc. 306046/2014-8, sobre os‘Oceanos – capítulos estratégicos na História das ciências geológicas (1870 – 1950)’ em que esse artigo se insere.3 Os termos consultados nos levantamentos realizados na publicação disponível na hemeroteca digital da BibliotecaNacional do Rio de Janeiro, foram prioritariamente Hidrografia e Oceanografia em diferentes grafias. A título deexemplo para os termos Hidrografia foram levantadas e consultadas 1089 ocorrências; para Oceanografia 519 entradas epara Oceanográfico 616. Geologia Marinha, independentemente de diferentes abrangências conteudísticas e abordagensteórico-metodológicas, dada sua estabilização mais atual como disciplina acadêmica, evidentemente não seria um termoa ser encontrado nos primeiros volumes da Revista Marítima Brasileira. Este só surge a partir de 1974 e em 15referências pontuais. Todo esse material, a que apenas nos referiremos aqui em alguns exemplos, está sendo utilizado naelaboração de artigos. As menções às publicações da RMB estão indicadas pelo ano e edições que permitiram aconsulta.4 Sem qualquer intenção de um levantamento estatístico, localizamos para o período, 39 entradas para o termooceanography/oceanographers (3 em títulos de artigos) e 20 para marine geology. De imediato cabe ressaltar que osmecanismos de busca simples da Social Studies of Science – que estão disponíveis apenas a partir do ano de 1988 –,para palavras como oceanography ou marine geology, no título, como palavras-chave ou no corpo do artigo revelaram-se insuficientes, tendo sido necessário evidentemente a consulta aos diversos volumes da publicação de 1971 a 2017.5 Good, Gregory A. The Assembly of Geophysics: Scientific Disciplines as Frameworks of Consensus. Studies in theHistory and Philosophy of Modern Physics, v. 31, 2000. p. 259–292. Lopes, Maria Margaret. Investigar oceanos,explorar terrenos historiográficos. Revista Maracanan, n. 13, Dezembro 2015, p. 11–22. Disponível em: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/maracanan/article/view/20117/14570. Acesso em 10 Ago. 2017.

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historiadores das ciências tratam suas disciplinas como questões historiográficas, como

arranjos temporários. Pelo contrário, as consideram como categorias estáveis, ao tomarem

como pressuposto a autonomia das disciplinas científicas modernas, para construir suas

histórias retrospectivas a partir de seus termos definidores atuais. Para o caso das

investigações sobre oceanos é fundamental termos em conta tal alerta.

Desde séculos anteriores, Hidrografia usualmente se refere à Geografia física dos

oceanos e as suas práticas de mapeamento, envolvendo suas dimensões de profundidade e

dimensões físicas das águas6. Para o final do século XIX, interesses políticos, comerciais e

científicos relacionados sobretudo à delimitação de zonas pesqueiras, navegação, comércio,

telegrafia submarina no Atlântico e Mar do Norte levaram à organização pelos países

europeus dos primeiros congressos sobre as delimitações de áreas pesqueiras e aqueles ainda

denominados Hidrográficos, tendo sido o primeiro realizado em 1899, em Estocolmo. A

denominação Oceanografia começou a ser mais amplamente empregada a partir dos anos

1880 e, por volta de 1900, já era largamente utilizada, configurando nova disciplina

acadêmica.

Esses são temas que desde sua primeira edição a Revista Marítima Brasileira – RMB -

acompanhou. A Revista Marítima Brasileira se apresenta ano a ano como a segunda revista

mais antiga do mundo a tratar de assuntos marítimos e navais, atribuindo sua fundação ao 1º

Tenente Sabino Eloy Pessoa em 18517. O que se pode ler na sua primeira publicação de julho

de 1881, sob direção do próprio Sabino Eloy Pessoa, de José Egydio Garcez Palha e Alfredo

Augusto de Lima Barros e assinado por S.E.P. (Sabino Eloy Pessoa), sugerindo uma certa

descontinuidade em publicações sobre o tema, é que: ‘não é a primeira vez que se publica no

Brasil um jornal dedicado aos interesses da marinha. Em épocas diversas, a contar de 1851,

6 Reveladora das dificuldades em se delimitar precisamente fronteiras disciplinares, é a essa dimensão quecontinua se referindo o livro texto que tomamos por base para problematizações de definições de áreasdisciplinares nesse artigo. ‘Hidrografia: (1) Descrição dos mares, lagos, rios e outros corpos de água em termosde configuração do fundo subaquosos, sedimentos de fundo, feições costeiras, etc. (2) Ramo da Geografia queversa sobre as águas existentes na superfície da Terra, que constituem os rios, os lagos, os mares e os oceanos.’Suguio, Kenitiro Dicionário de Geologia Marinha (com termos correspondentes em inglês, francês e espanhol.São Paulo:T.A. Queiroz. (Biblioteca de Ciências Naturais, vol.15) 1992, p.66.7 As demais seriam: a 1ª Revista russa Morskoi Sbornick, de 1840, e depois da brasileira a Revue Maritime,França, de 1866, a Rivista Marittima, Itália, de 1868; os Anais do Clube Militar Naval, Rio de Janeiro, 1870 e osUSNI Proceedings, E.U.A., de 1873. Revista Marítima Brsileira (Editada desde 1851). Diretoria do PatrimônioHistórico e Documentação da Marinha. Rio de Janeiro v. 138 n. 04/06 abril/junho 2017, p. 1–320.http://www.revistamaritima.com.br/. Acesso em 10/08/2017.

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saíram a luz pequenos jornais’... voltados para desenvolver a força naval. Ainda menciona

que à mesma época o jornal Cruzeiro, cujo principal redator era um ex-oficial da armada,

dedicava algumas colunas à Revista Marítima, salvando o tema do esquecimento8.

Esse primeiro editorial de 1881, não chega a afirmar que a Revista Marítima Brasileira vinha

sendo efetivamente editada desde 1851. E no editorial da 1ª edição de julho de 1902, a RMB

comemora seu XXII ano de existência, não se referindo a períodos anteriores aos anos de

1880. É só em 1928, que o artigo ‘A Genesis desta Revista’ constrói a continuidade linear da

publicação, que passa a ser adotada até hoje9. Em suas primeiras páginas a RMB ressalta que

as prioridades da Força Naval Brasileira em tempos de paz se voltavam para as ações de

proteção do comércio e navegação, de segurança às populações litorâneas. Mas já explicitava

seu compromisso com os trabalhos científicos, mencionando o exemplo dos estudos já

realizados por Maury10, Mouchez, Vital de Oliveira, nomes reconhecidos na historiografia

relacionada aos oceanos e na marinha brasileira. Alguns autores consideram as primeiras

iniciativas mais sistemáticas de pesquisas marítimas no país, a implantação dos serviços

hidrográficos da década de 1860, devidos a Vital de Oliveira (1829–1867) e Antonio Luiz von

Hoonhooltz, Barão de Teffé (1837–1931) e as tentativas de delimitação da plataforma

continental pelas expedições de 1861 a 1866, comandadas por Amedée Mouchez (1821–

1892)11.

E de fato, desde os primeiros números da RMB se sucedem informações sobre os mais

variados assuntos nacionais sobre marinha de guerra e mercante, como os atos administrativos

do Ministério da Marinha ou teses defendidas pelos alunos da Escola Naval do Rio de Janeiro.

Mas não faltam artigos, notícias, publicações de caráter técnico e científico, e mesmo político,

8 S.E.P. (Sabino Eloy Pessoa) Revista Marítima Brazileira, 1881, p. I-IVIII http://www.revistamaritima.com.br/9 Arias Neto, José Miguel. Imprensa Militar nos Oitocentos: A revista marítima Brasileira: 1851–1855. 9ºEncontro Nacional de História da Mídia. UFOP. Ouro Preto. 2013. http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/9o-encontro-2013/artigos/gt-historia-da-midia-impressa/imprensa-militar-nos-oitocentos-a-revista-maritima-brasileira-1851-1855. Acesso em 10/08/2017.10 A RMB atribuía a Matthew Fontaine Maury (1806–1873), tenente da Marinha dos Estados Unidos o início damoderna ciência oceanográfica, por sua indicação para o cargo de oficial encarregado do Depot of Charts andInstruments, posteriormente U.S. Naval Observatory and Hydrographic Office (Ano 1949/Edição00155(4)).Maury foi um dos impulsionadores da 1ª Conferência Marinha Internacional realizada em Bruxelas em 1853,que levou à organização do International Hydrographic Bureau. É de sua autoria um dos primeiros livrosincluídos na tradição de oceanografia moderna ‘The Physical Geography of the Sea’, de 1855.11 Ab’Saber, Aziz N. Geociências. In: Ferri, Mário. G. e Motoyama, Shozo (coords.) História das Ciências noBrasil. São Paulo: EPU. Ed. da Universidade de São Paulo, 1979–1980, p. 117–205.

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muitas traduções de revistas internacionais francesas, inglesas, norte-americanas, alemãs em

seções como o ‘noticiário marítimo internacional’, a ‘revista das revistas’, ‘bibliografia’,

‘anais da marinha’, etc. Não se desconsidera aqui que o interesse principal da RMB era o

compromisso com a marinha brasileira, que nesse âmbito se inseria seu público alvo e que

apesar de se apresentar como uma publicação técnica, a RMB se envolveu em diversas

polêmicas.

Consideramos que a RMB no que se refere aos interesses dessa investigação, pode ser

entendida como uma revista de divulgação técnico-científica. Em praticamente todos os

volumes há menções a assuntos relacionados a avanços hidrográficos e oceanográficos e

constantes menções à importância dos estudos oceanográficos para o desenvolvimento da

marinha brasileira, seja na formação de seus quadros, seja na incorporação dos avanços

tecnológicos em seus navios e nas técnicas de navegação. O volume de 1903 por exemplo traz

textos sobre ‘Pharologia’, sobre ‘Instrumentos náuticos’, de Radler Aquino, apoiado em Lord

Kelvin; sobre trabalhos submarinos, escafandria; longa matéria sobre o Congresso Marítimo

em Portugal, artigo sobre os movimentos da atmosfera (Ano 1903/Edição 00043).

Apenas para mencionar alguns exemplos dos textos relacionados à oceanografia, a

RMB publicou o artigo traduzido do Annual Report of the Board of Regents of the

Simithsonian Institution de 1900, pelo 1º tenente Bento Machado ‘As conquistas geográficas

do século XX’ de Gilbert Grosvenor12. Para o autor ‘as três ciências geologia, meteorologia e

oceanografia eram as grandes conquistas realizadas pelo estudo da Geografia no decorrer do

século anterior’.

Em transcrição de outro artigo do mesmo ano da revista Yacht, a RMB destaca a

importância dos estudos oceanográficos, referindo-se às conferências que o príncipe Alberto

do Mônaco realizara em Paris sobre os princípios básicos da oceanografia. Destacando a

indispensável utilidade do ponto de vista teórico para o avanço da meteorologia, geologia e

zoologia, como sob o ponto de vista prático da navegação, da telegrafia submarina e

sobretudo da pesca, para os editores da revista referindo-se a esses temas da atualidade, de um

ponto de vista prático, abordar a navegação, a telegrafia submarina e a pesca sem a

12 Golbert Hovey Grosvenor (1875–1966) foi o geógrafo norte-americano que naquele ano assumira o cargo deeditor chefe da National Geographic (1899–1954) e mais tarde se tornaria presidente National GeographicSociety responsável pela revista.

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oceanografia, era o mesmo que construir uma estrada de ferro sem noção do relevo e da

natureza do solo.

Um artigo de nosso interesse por tratar coleções que estavam sob a guarda do Museu

Naval publicado pela RMB ‘Ligeiro estudo de «oceanograhia», a propósito da coleção da

fauna marítima de H. Leonardos’ de autoria do 1º tenente Mario R. da Silva nos dá uma ideia

das referências teóricas do autor, e do entendimento sobre oceanografia que a RMB divulgava.

O artigo apoia-se em Thoulet13 para dividir a oceanografia em estática – o oceano

independente de seu movimento: relevo submarino, forma e natureza de seus fundos,

composição química e propriedades físicas das águas; e dinâmica – os movimentos das águas,

as vagas, marés, corrente, fenômenos dos rios em contato com o mar e terra firme (Ano

1902/Edição 00041(2).

Disciplinas já estabilizadas como a História, Engenharia, Biologia, Geografia e ou

Geologia, entre outras, disputavam então a primazia das diversas abordagens dos estudos dos

oceanos e mares. Especializações que se conformaram passando a acrescentar ‘Marinha’,

marítima ou ‘dos oceanos’, às suas denominações gerais, se constituíram ao longo da primeira

metade do século XX em suas imprescindíveis intersecções e controvérsias com diversos

outros campos de conhecimento envolvendo oceanos e mares14, que podem abranger desde a

pesca, o turismo, aos estudos climáticos ou de geofísica, geomagnetismo, entre vários outros.

Todos esses temas foram acompanhados pela RMB.

A RMB não deixou de noticiar a organização do International Council for the

Exploration of the Sea (ICES) criado em 190215, que incentivaria novas explorações, que

passaram a se valer das novas tecnologias da navegação submarina desenvolvidas durante a

primeira guerra mundial, outro assunto constante na revista, nos anos seguintes à guerra.

13 Julien Thoulet (1843–1936), conhecido naturalista e hidrógrafo, foi professor na Universidade de Nancy naFrança, autor de diversos livros de suas viagens à Terra Nova e à Antártica. Livros clássicos de Julien Thouleteram justamente Océanographie (statique) publicado em Paris, em 1890, elaborado a partir de seus artigos daRevue maritime et coloniale, uma das publicações citadas pela RMB e Océanographie (dynamique) publicadoem 1896. http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k147589s. Acesso em 10/08/2017.14 Mcnutt, Marcia K. ‘Achievements in Marine Geology and Geophysics’. Steele, John et al. (eds.). 50 Years ofOcean Discovery. National Science Foundation 1950–2000. Washington, DC: National Academy Press, 2000. p.51–64.15 Rozwadowski, Helen M. The sea knows no boundaries: a century of marine science under ICES. Seattle andLondon: University of Washington Press and International Council for the Exploration of the Sea. 2002.Svansson, Artur W. Theoretical Oceanographer. Earth Sciences History. 2010, v. 29, n.1, p. 100–120.

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Nas primeiras décadas do século, a RMB acompanhou os projetos de reforma e

modernização da Marinha brasileira no contexto da Primeira República. Não faltaram os

constantes destaques à necessária formação dos seus integrantes, para a chegada do couraçado

Minas Gerais em 1910 no Rio de Janeiro ou à Conferência Internacional de Direito Marítimo

realizada em Bruxelas em dezembro de 1910.

Mas essas eram também conjunturas de intensas discussões pró e anti o pan-

americanismo no país. E já foi identificado que nos anos de 1918 e 1919 a RMB publicou uma

série de traduções de oficiais norte-americanos sobre temas relacionados a estratégias navais,

aspectos operacionais da marinha norte-americana16. Mas não faltaram referências desde o

início do século a modernizações da marinha do Chile e da Argentina, por exemplo.

Informações detalhadas sobre relatórios da Marinha argentina do ano de 1901–1902,

abordando temas como instrumentos e novas tecnologias utilizadas em navios e navegação e

formação de profissionais.

A partir dos anos de 1920, tais traduções de artigos de oficiais estrangeiros tendem a

diminuir e os artigos de nacionais se apresentam em tons mais políticos, demandando por

reformas e melhoramentos nesses períodos de modernização porque passava a marinha

brasileira, que envolviam desde ‘organização da saúde naval’ a ‘curso de direito público

internacional e diplomacia do mar’. E a RMB privilegiava temas da atualidade como

navegação aérea, indústria da pesca, vida polar ou ‘determinação da profundidade do oceano

por meio de ondas sonoras refletidas’ (Ano1923/Edição 00094).

A RMB concedeu especial atenção à expedição marítima alemã Meteor (1925–1927),

que aplicou as novas técnicas de sondagens acústicas para o levantamento sistemático e de

detalhe do Atlântico sul, identificando as áreas contínuas de menores profundidades

correspondentes à cadeia meso-atlântica. Augusto Vinhaes em seu longo artigo sobre ‘A

Missão do Meteor’ elenca as explorações da Porcupine, Challenger, Gazella ‘que fizeram

época na história das investigações oceânicas’ para definir a Oceanografia como a mais vasta

de todas as ciências. Menciona que já não bastava o conhecimento do relevo oceânico, era

necessário conhecer a natureza do seu solo, das substâncias minerais e das camadas de restos

16 Marques, Adriana Aparecida. A Revista Marítima Brasileira de 1918 a 1932.http://www.anpuhsp.org.br/sp/downloads/CD%20XVII/ST%20XV/Adriana%20Aparecida%20Marques.pdf.Acesso em 10/08/2017.

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de animais que aí se depositaram ao longo da história da Terra. Estas seriam as missões da

Meteor, cujos resultados só se conheceriam ao término da campanha, que quem sabe,

poderiam até elucidar a questão amplamente debatida da existência ou não do antigo

continente da Atlântida (Ano 1926/Edição 00104(26).

Em uma perspectiva da História das Ciências, as profundidades oceânicas foram as

dimensões inovadoras agregadas aos estudos dos oceanos e mares desde o meados do século

XIX17. A partir dessas expedições que se acentuam a partir do final do século XIX até a

primeira metade do século XX, os estudos sistemáticos e observações coordenadas dos

oceanos, suas diferentes profundidades e temperaturas se consolidaram. Em uma perspectiva

dos Estudos Sociais das Ciências e Tecnologias esses processos de construção de diferentes

ambientes geomorfológicos, tectônicos e de sedimentação seriam amplamente transformados

em registros de bancos de dados, representados, etiquetados, mapeados, enumerados em

tabelas, gráficos, imagens18.

Na década de 1930, a RMB destacou inúmeras vezes a importância dos estudos

oceanográficos e ressaltou como um primeiro passo significativo nesse sentido a inclusão de

estudos da Oceanografia e Hidrografia no curso da Escola Naval, em 1931. Continuou a tratar

de temas da ordem do dia, como por exemplo ‘o problema internacional do petróleo’, ou ‘a

química’, ‘o ano polar’, ‘mulheres marinheiras’, (Ano 1932/Edição 00123) Mas, abre o

volume de outubro e novembro (nos. 4 e 5) de 1930 saudando em editorial ‘O novo governo’

de Vargas. Ressalta que ‘não obstante o caráter essencialmente técnico da Revista seria uma

falta imperdoável não saudar a nova fase da vida nacional que trazia profunda e esperançosa

modificação na vida política e social do país’ (p. 442).

Mesmo alinhada à política Vargas a RMB não deixaria de publicar artigos que

protestavam por exemplo, contra ‘a passagem daquela especialidade marítima e fluvial (a

pesca) do Ministério da Marinha para o Ministério da Agricultura’. E é justamente nesse

artigo ‘Inquérito sobre a pesca’ em que a revista transcreve uma entrevista publicada no jornal

A Hora com o comandante Augusto Vinhaes em que é ressaltada mais uma vez a importância

essencial dos estudos oceanográficos, dada a relevância da pesca para a economia do país.

17 Rozwadowski, Helen M. Fanthoming the Ocean. The Discovery and Exploration of the Deep Sea. Cambridgeand London: The Belknap Press of Harvard University Press, 2008.18 Höhler, Sabine. A Sound Survey: The Technological perception of the Ocean. 2003. Disponível em:www.sabinehoehler.de/download.php?id=1 . Acesso em 11/08/2017.

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Os novos instrumentos de pesca que haviam progredido ‘a saltos de gigante nos

últimos quinze anos’, muito deviam aos avanços da Oceanografia e da Mecânica. A um pouco

de história seguem-se as constantes menções ao príncipe do Mônaco e suas doações para a

construção do Instituto Oceanográfico de Paris e a menção de que a Oceanografia havia

conquistado em poucos anos o direito de cidadania entre as outras ciências, cujos limites

precisos eram impossíveis de se inquerir. Mencionando Thoulet, eram os grãos dos abismos

oceânicos que as sondagens traziam à superfície que escreviam a história do globo. E para o

caso do Brasil, mesmo com seu imenso litoral, sem o auxílio da Oceanografia, o país

continuaria a ser forçado a depender de outras nações que já haviam reconhecido a

importância dos estudos oceanográficos (Ano 1934/Edição 00126 (2) p. 979–984). Essa seria

a tônica de diversos outros artigos que tratam da urgência da organização de um Instituto

Oceanográfico no país19.

Se não havia qualquer dúvida quanto à importância da Oceanografia, mesmo para

RMB, até antes da 2ª guerra mundial os cientistas norte-americanos, por exemplo, ‘não viam

realmente a oceanografia como uma disciplina, e a entendiam mais como o estudo do oceano

como um lugar particular, não importando por quais meios ou disciplinas alguém o

considerasse útil ou relevante’. Naomi Oreskes lembra que Harold Sverdrup (1888-1957) o

conhecido diretor do Scripps Institution of Oceanography a partir de 1936, discutia com seu

staff se a Oceanografia biológica deveria ser uma disciplina de campo ou laboratório. Sem

serem resolvidas, essas questões foram colocadas de lado frente as mais variadas demandas

que o National Defense Research Committee – NDRC – colocou aos oceanógrafos durante a

guerra. Estas abrangeram desde os efeitos de temperatura e salinidade nas transmissões

acústicas, os barulhos dos organismos marinhos, aos efeitos dos sedimentos do assoalho

oceânico20.

A RMB, cujo enfoque central não era as disciplinas acadêmicas, parece partilhar o

entendimento dos cientistas norte-americanos proposto por Naomi Oreskes. Os termos

hidrografia, oceanografia – ressaltada a importância dos estudos para a marinha, a pesca ou o

19. Embora o Instituto tenha sido fundado no Clube Naval em 1935 e funcionado nos anos de 1940,Frederico Villar, um dos fundadores da iniciativa no artigo A Oceanografia, os institutos de Científicose a Marinha o considerava ‘que até os anos de 1950 não teria passado ‘de um projeto sem o devidoalento’ (ano1955/Edição 00167(1) p.175) (Ano 1956/Edição00169(7).20 Oreskes, Naomi. Getting Oceanography Done. Earth Sciences History, v.9, no. 1, 2000, pp. 36–43,Cf. citação p. 37.

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conhecimento da Terra – convivem de forma não especificada ou polemizadas enquanto

disciplinas acadêmicas ao longo da publicação e constam não só ao longo de toda a

publicação como em diversos anos da seção ‘Estante de navegação’ em que são listadas

publicações recebidas do país e do exterior.

No ano de 1932 há um extenso levantamento bibliográfico de obras publicadas no

país, relacionadas aos interesses da revista por Didio Costa, ‘com apreciações ligeiras e

ligeiros traços biográficos’. Trata-se de uma listagem de fontes preciosas para os estudos

relacionadas à história naval brasileira, navegação fluvial, marinha mercante e de guerra,

portos, regiões costeiras, estudos oceanográficos, de magnetismo, astronomia náutica,

instrumentos náuticos, memórias de navegações desde o início do século XIX, cursos de

História Naval de Pinto Bravo de 1884, Instruções gerais para hidrógrafos de Boiteux,

traduzida em 1903, informações sobre os professores da escola Naval e suas obras, trabalhos

de José Augusto Vinhaes tanto sobre Oceanografia de 1905, como de Hidrografia e evolução

marítima de 1925. Enfim, a RMB como um todo e especialmente esse catálogo constituem-se

em um enorme levantamento de autores e obras que possibilitam identificar a produção

existente no país, e talvez o quê, se não se lia, estava disponível à leitura, na biblioteca da

RMB. São materiais essenciais de pesquisa sobre estudos relacionados aos oceanos até a data

no país, e em proporções maiores do que se costuma supor21.

‘No geology without marine geology’22: releituras a partir da Social Studies of

Science

Avançando para considerações sobre Oceanografia, Geologia Marinha na Social

Studies of Science e no sentido de continuar a exemplificar as dificuldades das definições

disciplinares, da delimitação de fronteiras entre e intra disciplinas23 e das disputas em torno

dos seus arranjos definidores e de abordagens historiográficas, tomamos como ponto de

21 Costa, Didio Estante de Navegação. Revista Marítima Brasileira, ano LII, março-abril, 1932 ns. 9–10 p. 676–702. http://memoria.bn.br, Ano 1932 / Edição 00124 (7). Um tema que não abordamos aqui e que é do maiorinteresse para essa pesquisa é a propaganda relacionada à navegação e aparatos técnicos que a RMB divulgava.22 Kuenen, Ph. H. No geology without marine geology. Geologische Rundschau, September 1958, 47, 1, p. 1–10.Re-publicado em Dullo, Wolf-Christian. Milestones in Geosciences. Selected Benchmark papers published in theJournal Geologische Rundschau. Springer-Verlag. Berlin, Heidelberg, New York, 2003 p. 54–61.23 Barnes, Barry, Bloor, David & Henry, John. Scientific knowledge. A Sociological Analysis. Chicago. TheUniversity of Chicago Press, 1996. Ver especialmente o capítulo 6. Drawing Boundaries, p. 140–168, que setornou um clássico para essa discussão.

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partida para o amplo levantamento dessa pesquisa, obras reconhecidas como fundacionais no

campo das ciências geológicas, autodenominadas Geologia Marinha. No Dicionário brasileiro

de Geologia Marinha de 1992, o professor Kenitiro Suguio, conhecido geólogo brasileiro

formador de gerações de estudantes da Universidade de São Paulo, define a disciplina –

indicando sua tradução do inglês Marine Geology – de modo que não poderia ser mais geral

como o ‘ramo das ciências geológicas que se preocupa com o estudo geológico das porções

cobertas ou em contato com os oceanos’. Apresentando ainda como sinônimo a denominação

Oceanografia geológica, já marcando as dificuldades de delimitação de campos disciplinares,

elenca suas subdivisões em sedimentologia marinha, estratigrafia submarina e geologia

estrutural24.

Outras autoridades no campo, como Eugen Seibold (1918–2013) – que presidiu

International Union of Geological Sciences (IUGS) e a European Science Foundation – e

Wolfgang H. Berger (1937–2017) do Scripps Institution of Oceanography apresentam seu

livro reconhecendo a interdisciplinaridade de campos de estudos como a geologia,

oceanografia, e ciências ambientais. E para tanto consideram a necessidade de incluir na obra

tópicos sobre tectônica e morfologia do assoalho oceânico, processos geológicos ativos nos

mares profundos e plataforma continentais, registros climáticos nos sedimentos de mares

profundos, entre outros. Recuaram a origem da moderna disciplina Geologia Marinha aos

trabalhos sancionados como fundacionais em Geologia de James Hutton (1726–1797) no

século XVIII. Seibold e Berger iniciam a introdução da 3ª edição de 1996 sua obra The Sea

Floor. An Introduction to Marine Geology (1ª edição 1982)25 com o subtítulo ‘Pioneers of

Marine Geology: Identifying the Basic Question’, reinvidicando para a Geologia Marinha – o

mais novo campo derivado da Geologia –, aspectos centrais da Teoria da Terra (Theory of the

Earth, 1795): como rochas formadas em ambientes marinhos, então aflorantes em áreas

continentais, assim como variações dos níveis do mar evidenciadas nas rochas. Recuperam

igualmente para a historiografia da disciplina os trabalhos do conhecido químico Antoine

Laurent Lavoisier (1743–1794), que anteriormente a Hutton já havia diferenciado camadas

24 Suguio, Kenitiro. Dicionário de Geologia Marinha (com termos correspondentes em inglês, francês eespanhol. São Paulo: T.A. Queiroz. (Biblioteca de Ciências Naturais, vol.15) 1992, p.64.25 Evidenciando os avanços da historiografia há uma 4ª edição de 2017, cuja Introdução difere radicalmente destaque comentamos e refere-se às Grandes revoluções do Século XX (especialmente Tectônica de Placas).

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sedimentares marinhas formadas em ambientes de grande profundidade em mar aberto –

camadas pelágicas – e aquelas litorâneas, formadas ao longo da costa.

E em seguida afirmam que a Geologia Marinha começa quando os primeiros geólogos

vão ao mar para procurarem reconhecer os processos geradores das rochas marinhas que lhes

são familiares em áreas continentais. Os estudos progridem e as ênfases se sucedem

gradualmente, até a nova ênfase evidenciada pelos estudos de John Murray (1841–1914) o

naturalista da HMS Challenger Expedition (1872–1876) que marcaria o início da moderna

Oceanografia, e de interesse para a Geologia, especialmente sua obra em coautoria com

Alphonse Renard Report on the Deep Sea Deposits, de 189126. Nessa abordagem datada, a

Geologia Marinha constituiu-se em campo de estudo que gerou em seus desdobramentos a

Oceanografia.

Os 50 volumes produzidos pelos principais especialistas da época, a partir da

imensidão de dados, amostras de águas, coleções zoológicas, botânicas, geológicas coletados

pela Challenger, cuja publicação Murray coordenou por quase vinte anos, estabeleceram a

Challenger Expedition como o marco inicial da disciplina, o que será amplamente sancionado

por praticamente todas as obras clássicas e inúmeros manuais de Oceanografia internacionais.

Em uma abordagem cultural das ciências, Helen Rozwadowski27 chama a atenção para

o fato de que se incorporamos novos atores nesses estudos interdisciplinares, é possível

identificar um primeiro período de interesse pela investigação dos oceanos entre os anos de

1840 e 1880, quando a partir das informações anteriores dos caçadores de baleias, pescadores,

oficiais da marinha e naturalistas desenvolveram uma série de técnicas para medição

sistemática de profundidades oceânicas métodos e instrumentos de dragagem para recolha de

amostras. Tais práticas vão, inclusive, favorecer e serem favorecidas nos processos de

instalação dos cabos oceânicos para a constituição de redes telegráficas.

Nos questionamentos a uma historiografia oficial de pais fundadores, mas sem deixar

de se referir a um deles, o artigo Science pays off de Burstyn – um dos artigos identificados no

26 Murray, John and Renard, Alphonse François. ‘Report on the Deep-Sea Deposits Based on the SpecimensCollected During the Voyage of H. M. S. Challenger in the years 1872 to 1876’. Report on the scientific resultsof the voyage of H.M.S. Challenger during the years 1873–76 under the command of Captain George S. Naresand the late Captain Frank Tourle Thomson. Prepared under the superintendence of the late Sir C. WyvilleThomson and now of John Murray. Edinburgh. H. M. Stationery Off., by Neill and Company. 1891.27 Rozwadowski, Helen M. Fanthoming the Ocean. The Discovery and Exploration of the Deep Sea . Cambridgeand London: The Belknap Press of Harvard University Press. 2008.

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levantamento realizado da publicação Social Studies of Science para acompanhar diferentes

historiografias em suas diferentes perspectivas de análise – problematiza outros aspectos

desses primeiros períodos de pesquisas mais sistemáticas sobre os oceanos. Discute a

articulação de temas então menos tratado na historiografia, e abordagens marcadas por

anacronismo, em relação aos lucros financeiros mesmo que inesperados, acumulados a partir

de um projeto a princípio marcado por um interesse de ciências puras.

Podemos sugerir, no entanto, um questionamento sobre o quanto o projeto de

exploração oceanográfica da Challenger, se tratava de fato de um projeto de ciência pura,

mesmo entendendo que o autor se refere a uma situação específica. No caso, o interesse

científico de Murray pelos processos formadores de recifes de corais. Estes levaram à

identificação e posterior exploração do fosfato e o enriquecimento do consagrado protagonista

da disciplina Oceanografia, que até investiria parte de tais recursos na própria pesquisa

científica e produção dos 50 volumes da Challenger28.

Autores como Doel29 inclusive caracterizam esse período envolvendo a exploração dos

oceanos como o de uma ´onda de exploração geológica na década de 1870’. Tais

investigações envolvendo as Ciências da Terra, como geofísica, oceanografia, processos

atmosféricos, só voltariam a ganhar proeminência no período pós 1945, da Guerra Fria,

particularmente nos Estados Unidos. Nesses dois momentos novas tecnologias alavancaram as

ciências da terra, envolvendo o Estado, a Marinha, instituições de pesquisa. Mas foi durante a

Guerra Fria que as Ciências da Terra ganharam um papel sem precedentes como parte

integrante das estratégias militares e de politica externa norte-americana. Para o autor, as

Ciências da Terra expandiram-se dramaticamente ao longo das primeiras décadas de Guerra

Fria e a Oceanografia e as ciências espaciais se tornaram símbolos das conquistas

tecnológicas do Ocidente e mais especificamente dos Estados Unidos, representando inclusive

uma importante retomada dos financiamentos federais para as ciências de campo.

Como Michael Aaron Dennis destacou: ´entre os muitos efeitos da Guerra Fria, um

deles foi uma profunda reconfiguração de disciplinas, instituições e práticas voltadas para o

entendimento dos processos terrestres. Com o advento das guerras de escalas planetárias as

28 Mas. Burstyn, Harold L. Science Pays Off: Sir John Murray and the Christmas Island PhosphateIndustry,1886–1914. Social Studies of Science, 5, 1975, 5–34.29 Doel, Ronald E. Constituting the Postwar Earth Sciences. The Military’s Influence on the EnvironmentalSciences in the USA after 1945. Social Studies of Science, 33, 5, 2003, 635–666.

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ciências da terra se tornaram indispensáveis para moldar estratégias nacionais e identificar um

nunca visto potencial de inovações tecnológicas’30.

Atento ao período Phillip Henry Kuenen (1902–1976), que combateu na 2a guerra,

esteve por alguns meses preso e teve alguns de seus materiais confiscados, foi uma das mais

conhecidas autoridades europeias de Geologia Marinha a sua época. Foi o introdutor da noção

de correntes de turbidez formadoras das rochas sedimentares em ambientes subaquáticos – os

turbiditos. Professor da Universidade de Groningen e diretor da fundação para Geologia

marinha dessa universidade holandesa inicia o primeiro capítulo de seu livro, Physical

Oceanography de 1950, afirmando o caráter necessariamente interdisciplinar dos estudos

sobre oceanos: ‘the geology of the sea floor is intimately connected with many physical,

chemical, and biological problems of the oceans, and no sharp distinction can be made

between marine geology and oceanography’31.

Kuenen escreveu em 1958, um artigo que se tornou um marco: No geology without

marine geology32 O título, que ele mesmo considerava um certo exagero, tinha o objetivo de

justamente chamar a atenção para o fato de que a geologia marinha com suas múltiplas

intersecções com sedimentologia, paleogeografia, vulcanologia, geofísica, tectônica, estudos

atmosféricos, etc, era um campo disciplinar muito mais importante e abrangente do que

muitos geólogos percebiam33.

Os textos levantados na Social Studies of Science, do interesse dessa pesquisa, tratam

exatamente dessa abrangência. Referem-se principalmente a análises dos grandes projetos do

período da Guerra Fria, integrando o volume temático ‘Earth Sciences in the Cold War’ de

200334.

30 Dennis, Michael Aaron Postscript Earthly Matters: On Cold War and the Earth Sciences. Social Studies ofScience, 33, 5, 2003, 809–819. Cf. citação p. 809.31 Kuenen, P.H. Marine Geology. John Wiley & Sons, INC. New York; Chapman & Hall, Limited, London,1950, p.1. https://archive.org/details/marinegeology030411mbp. Acesso em 17/08/2017.32 Kuenen, P.H. No geology without marine geology. Geologische Rundschau, 1958, 47: 1–10. Republicado emDullo, Wolf-Christian, Geologische Vereinigung e.V. (ed.) Milestones in Geosciences. Selected BenchmarkPapers Published in the Journal Geologische Rundschau. Springer-Verlag. Berlin, Heidelberg 2003, p. 54–61.33 Datam desse período importantes livros textos para a formação dos novos pesquisadores requeridos para asnovas capacidades de investigação.34 Alguns artigos avaliam políticas de sismologia e de descarte de lixo nuclear entre outros temas, mas aprioridade é para os grandes projetos desenvolvidos nos Estados Unidos no período. Esses temas tratados emartigos da Social Studies of Science como os grandes projetos de investigação aparecem, mas em abordagensdescritivas, em levantamentos em outras publicações que estamos realizando, como por exemplo na RevistaGravel, do grupo regional de Geologia costeira e marinha, com atividade no Atlântico Sudoeste (South WestAtlantic Coastal and Marine Geology Group – COMAR). Martins, L.R. A Geologia Marinha Brasileira e os

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A ênfase desses artigos concentra-se nas complexas relações estabelecidas entre

agentes e agências no campo de pesquisas que o oceano se tornara, envolvendo pesquisadores,

oficiais da marinha, burocratas do governo, diversos órgãos da Marinha dos Estados Unidos,

instituições de pesquisa já organizadas, universidades e por exemplo, construções de feições

geológicas que passaram à historiografia ‘como exemplos de descobertas ao acaso,

característica da natureza da pesquisa científica, do triunfo da curiosidade investigativa’. ‘A

investigação dos ambientes de mares profundos nos Estados Unidos no período da Guerra

Fria foi qualquer coisa menos o resultado ‘by chance’. Naomi Oreskes está se referindo à

estabilização do entendimento dos veios hidrotermais, como ambientes propícios à vida de

complexas comunidades bióticas. A existência dos veios inseria-se nos conhecimentos da

teoria da tectônica de placas, mas não se tinha ideia da sua extensão e significado geoquímico,

nem tampouco dos ecossistemas associados a eles, o que teria se configurado como uma

grande surpresa. Para autora, nesse período, nos Estados Unidos além do que se poderia

apresentar como ‘descobertas’ científicas em termos de contextos de descoberta e de

justificação, caberia analisar o contexto de motivação que levou inúmeros pesquisadores a se

engajarem nos grandes projetos político-militares-técnico-científicos de então, que foram

fundamentais para as pesquisas oceânicas35.

O volume da Social Studies of Science buscava justamente suprir a lacuna que a

publicação considerava existir de menor atenção dada pelos historiadores das ciências e

tecnologias às iniciativas relacionadas às Ciências da Terra no período de Guerra Fria. Apesar

da óbvia importância do tema, havia e ainda há, na Social Studies of Science muito mais

produção sobre as disciplinas relacionadas às ciências físicas e à Engenharia, do que à

Geologia Marinha, Oceanografia ou Geologia, que desde os anos de 1960 ganhava

crescentemente a denominação de Ciências da Terra36.

Programas Internacionais. Gravel, Jan. 2003, nº 1, 1–24. Projetos envolvendo pesquisas inclusive internacionaisrelacionadas à Geologia marinha têm sido noticiados também de forma descritiva, na Revista FAPESP e seconstituem em fontes significativas de análises, na perspectiva dos Estudos Sociais das Ciências e Tecnologias.35 A Context of Motivation. US Navy Oceanographic Research and the Discovery of Sea-Floor HydrothermalVents. Social Studies of Science, 33, 5, 2003, 697–742. Cf. citação p. 697.36 Para uma sistematização dessa discussão ver Lopes, Maria Margaret. Investigar oceanos, explorar terrenoshistoriográficos. Revista Maracanan, 13, 2015, p. 11–22. Disponível em: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/maracanan/article/view/20117/14570.

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Considerações finais

Ao longo das décadas de 1940 e 1950 a Revista Marítima Brasileira publicou artigos

sobre a importância de se avançar os estudos oceanográficos no país, argumentando que o

tempo das grandes explorações oceanográficas já havia passado e que então os governos já se

dedicavam ao estudo de zonas restritas para elaboração de cartas litológicas dos assoalhos

marinhos, de seus mares territoriais. De fato, desde a década de 1940, em função dos

interesses de exploração de recursos pesqueiros e petrolíferos vários países como os Estados

Unidos, Argentina, Chile já haviam começado a reivindicar e a estabelecer suas soberanias e

políticas para áreas de plataforma continental. Inúmeras conferências e acordos internacionais

buscaram definir regulamentações para os oceanos e mares territoriais, como o fizeram, além

de outras, a Primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, em 1958,

noticiada pela RMB.

A revista continuava noticiando nos anos de 195037 as atividades da então Divisão de

Oceanografia e Meteorologia Náutica da Marinha, a criação do Instituto Paulista de

Oceanografia em dezembro de 194638, o lançamento de seu primeiro Boletim em 1950 e a

participação da Marinha em expedições oceanográficas. Reproduzia artigos do Jornal do

Comércio, como o de Frederico Villar ‘A Oceanografia, os Institutos de Científicos e a

Marinha’, que listava em uma retrospectiva historiográfica tradicional as grandes expedições,

os grandes nomes da Oceanografia internacional e nacional, mas também as iniciativas da

Inspetoria da Pesca de 1912, as atividades mais recentes dos pesquisadores do Instituto

Oswaldo Cruz, do Museu Nacional, da Diretoria de Meteorologia e daqueles dispersos por

outras instituições em diferentes estados do país, que poderiam contar ‘por certo com a

cooperação dos Estados Unidos e de outros países de vanguarda’ para levarem a frente a

investigação dos assuntos dos mares. (Ano1955/Edição 00167(1) p.177). O artigo concluía

‘apenas para despertar a atenção dos poderes públicos e dos cientistas brasileiros’ afirmando

37 O Índice Remissivo da RMB de 1950 a 1959 organizado por títulos principais, como artes militares, ciência etecnologia, comunicações, congressos, economia, guerra, história, forças armadas, etc., com uma lógica própriade difícil avaliação, passou a incluir a Oceanografia como subtítulo de Atividades Marinheiras, ao lado deHidrografia, Arqueologia e outros subtítulos tão variados quanto arte naval, atividades polares, cartografia,controle de avarias, escafandria, escotismo, modelismo naval, navegação.38 Varela, Alex Gonçalves. O Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo: um capítulo do processo deemergência e consolidação das ciências oceanográficas no Brasil, 1946-1969. Hist. cienc. saúde-Manguinhos.2014, vol.21, n.3, p. 951-969.

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que ‘a Oceanografia era a mais jovem e certamente uma das mais belas ciências’ (Ano

1956/Edição00169(7) p.233).

As temáticas presentes na RMB a partir da década de 1950 evidenciam uma situação

bastante diversa, ou muito mais modesta daquela analisada pelos artigos da Social Studies of

Science, quanto ao papel dos diversos agentes e agências do Estado, da Marinha, das

Universidade e Instituições de pesquisa enquanto protagonistas de ações fundamentais e

financiamentos para a consolidação de estudos relacionados à oceanografia, áreas

relacionadas às novas especialidades que passaram a configurar as Ciências da Terra, e da

capacidade de articulação das instituições já existentes39.

Mesmo se lembrarmos que essa é a década de organização do CNPq e sob a primeira

direção do contra-almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva (1889–1976) e que a RMB

publica entre outros artigos uma conferência de Álvaro Alberto, na Escola de Guerra Naval

para um salão lotado de mais de 300 militares, oficiais da Missão Naval Americana e

autoridades do governo e pesquisadores da Universidade e Institutos de Pesquisa do Rio de

Janeiro, justamente sob o tema de seu interesse e motivação para a criação do CNPq, a

pesquisa sobre urânio: ‘Da bomba atômica à bomba de hidrogênio’ (Ano 1950/Edição

00155(12).

Ou ainda se mencionarmos que a RMB não deixa de reproduzir também, por exemplo

um artigo do Suplemento científico – Ciência para Todos – do periódico A Manhã que

denuncia o conhecido contrabando das areias monazíticas – fonte de tório e terras raras -

como lastro de navios e destaca a suspensão pelo governo, atendendo aos interesses nacionais,

à exportação a granel das areias monazíticas, ‘que estavam na ordem do dia’ (ano

1950/Edição 00156(6). Sem dúvida na ordem do dia, já que consta do Relatório de Pesquisas

do CNPq de 1951 o início de um projeto de levantamento ‘aerogeológico abrangendo a faixa

litorânea dos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia para determinação de

concentrações de monazita’40, essenciais então para os projetos de indústria nuclear

brasileira41.

39 Cloud, John. Introduction. Special Guest-Edited Issue on the Earth Sciences in the Cold War. Social Studies ofScience, 33, 5, 2003, 629–633.40 CNPq - Conselho Nacional de Pesquisas. Retrospecto das atividades do Conselho Nacional de Pesquisas nocampo das pesquisas científicas e tecnológicas, no ano de 1951. Rio de Janeiro: CNPq.1952. Cf. citação p. 38.41 Andrade, Ana M. R. de. Valores e ideais presentes nas fundações do CBPF e CNPq. In: Troper Amós, Videira,Antonio, A. P. e Vieira, Cássio L. (orgs.) Os 60 anos do CBPF e a Gênese do CNPq. Rio de Janeiro: CBPF,

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Sem dúvida, essas e outras notícias de atualidades e políticas técnico-científicas são

também contribuições significativas da RMB para serem agregadas aos panoramas sobre as

pesquisas envolvendo a consolidação das áreas disciplinares como Geologia Marinha ou

Oceanografia no início da segunda metade do século XX no país. Mas em uma primeira

percepção, que necessita ainda de continuidade das análises dos levantamentos realizados, a

RMB vai se tornando mais memorialista e de caráter histórico, não acompanhando como

tentava anteriormente, notícias sobre a situação então cada vez mais extremamente complexa

das pesquisas e políticas científicas relacionadas aos oceanos em qualquer uma das áreas

disciplinares já então consolidadas. Se ao longo de suas primeiras décadas a RMB era

praticamente a única publicação nacional que contemplava sistematicamente os estudos dos

oceanos42, para a década de 1950, felizmente outros agentes e agências, como os reconhecidos

pela RMB e entre outros, o Boletim do Instituto Paulista de Oceanografia, já começavam a

contribuir para alterar profundamente esse panorama no país.

Consideramos que esses levantamentos, dos quais apenas pinçamos alguns

exemplos nesse artigo, reforçam a ideia que partilhamos, de que para as discussões em

torno de historiografias sobre os estudos dos oceanos ‘ the vigour of intellectual debate

and awakening is not to be restricted to disciplinary lines of battle; the dilemmas of

science and technology today are too important for that .’ The editors, Editorial, Social

Studies of Science, Jan, 1, 1971, p.2.

2010, p. 27-5742 Não ignoramos aqui a existência de outras publicações como a Revista da Sociedade de Geographia do Rio deJaneiro, que também levantamos, que tratavam temas relacionados aos oceanos. O Índice Analítico das MatériasInsertas II (Anos de 1894-1941) da Revista da Sociedade de Geographia do Rio de Janeiro inclui apenas 13artigos publicados entre 1909 a 1938, sob a classificação de Oceanografia.

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