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1199500880 1111111111111111111111111111111111111111 FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE ADMINIS"T:"RAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS PRÁTICAS EM EMPRESAS BRASILEIRAS HEITOR JOSÉ PEREIRA Orientador: Prof. Dr. Carlos Osmar Bertero lf) (J) ....... co co Fundação Getulio Vargas Escola de Admillistração V de Empresas de São Pau lo Biblioteca 1199500880 SÃO PAULO- 1995

OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

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Page 1: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

1199500880

1111111111111111111111111111111111111111

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINIS"T:"RAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E

ALGUMAS PRÁTICAS EM EMPRESAS BRASILEIRAS

HEITOR JOSÉ PEREIRA

Orientador: Prof. Dr. Carlos Osmar Bertero

lf) (J) ....... ~ co co

Fundação Getulio Vargas Escola de Admillistração

V de Empresas de São Pau lo Biblioteca

1199500880

SÃO PAULO- 1995

Page 2: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

HEITOR JOSÉ PEREIRA

- , OS NOVOS MODELOS DE GESTAO: ANALISE E

, ALGUMAS PRATICAS EM EMPRESAS BRASILEIRAS

Tese apresentada ao Curso de

Doutorado em Administração de

Empresas da Escola de

Administração de Empresas de São

Paulo, da Fundação Getúlio Vargas,

Área de Concentração Organização

e Recursos Humanos, como parte

dos requisitos para obtenção do

título de Doutor em Administração.

Orientador:

Prof. Dr". Carlos Osmar Bertero

SÃO PAULO- 1995

Page 3: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ,

ALGUMAS PRATICAS EM EMPRESAS BRASILEIRAS

Banca Examinadora ·

Prof. Dr. Carlos Osmar Bertero - Orientador

Prof8 Dr Maria Cecília Coutinho de Arruda

Prof8 Dr Ofélia Lanna de Sette Torres

Prof. Dr. Silvio Aparecido dos Santos

Prof8 Dr Suzana Braga Rodrigues

Page 4: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

ii

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais,

Heitor e /rene, pela vida e pelas lições

de vida que me propiciaram; e à minha

esposa, Rita de Cássia, pelo amor e

dedicação.

Vida e amor . . . a essência do Ser

Humano!

r

Page 5: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

iii

AGRADECIMENTOS

Para desenvolver um trabalho da envergadura de uma Tese de

Doutorado, não há dúvida de que muitas pessoas e organizações

concorrem para o atingimento de um resultado almejado. E, quando este é

conseguido de forma satisfatória, não há dúvida de que seus méritos (se

existem) devem ser compartilhados. Difícil é nominar todas as pessoas que

colaboraram para tal mérito. Assim ao fazer os agradecimentos de uma

forma abrangente, espero estar compartilhando com cada uma das pessoas

que contribuíram para o trabalho.

Inicialmente, devo agradecer à Escola de Administração de

Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas, pelo ambiente

acadêmico que me ofereceu durante os anos do Curso de Doutorado, tendo

ainda me propiciado a oportunidade de exercer, durante cinco anos, a

atividade de docente, a qual em grande parte foi responsável pelo

amadurecimento das idéias centrais deste trabalho.

No âmbito da EAESP-FGV, granjeei grandes amizades, tanto de

colegas Doutorandos quanto de professores e funcionários, cuja

convivência só tem enriquecido o meu lado humano, intelectual e

profissional.

Devo agradecer ao conjunto de várias empresas brasileiras, três das

quais destaquei neste estudo como organizações modelares na implantação

de várias práticas gerenciais inovadoras, cujas experiências (sucessos e

fracassos) foram de extrema importância no amadurecimento do trabalho

desenvolvido.

E, finalmente, uma gratidão especial à amiga Neide, que me .

propiciou todo o apoio logístico na preparação do relatório final da Tese,

trabalho anônimo, mas desenvolvido com extrema dedicação e '

responsabilidade profissional. \,

Page 6: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1

O PROBLEMA DA PESQUISA .

1.1.

1.2.

1.3.

1.4.

1.5.

CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

OBJETIVO DO ESTUDO

JUSTIFICATIVA DO ESTUDO

O MODELO DA PESQUISA

1.4.1 Os métodos da pesquisa

DEFINIÇÃO DOS TERMOS

CAPÍTULO 2

O CENÁRIO HISTÓRICO DA ORIGEM E EVOLUÇAO DOS

"MODELOS" DE GESTÃO

2.1. AS GRANDES "ONDAS"DE TRANSFORMAÇÃO E SEUS

IMPACTOS NAS ORGANIZAÇÕES

2.2. A EVOLUÇÃO DAS ERAS EMPRESARIAIS

2.2.1. A Era da Produção em Massa

2.2.2. A Era da Eficiência

CAPÍTULO 3

O ESGOTAMENTO DOS "MODELOS DE GESTÃO" DA SOCIEDA­

DE INDUSTRIAL

3.1. A TRANSIÇÃO DA SOCIEDADE INDUSTRIAL PARA A SO­

CIEDADE DO CONHECIMENTO

02

04

05

07

11

14

17

25

29

34

37

i v

Pág.

Page 7: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

3.2. AS MEGATENDÊNCIAS: AMEAÇAS E OPORTUNIDADES PA-

RA AS ORGANIZAÇÕES

3.3 AS NOVAS ERAS EMPRESARIAIS NA SOCIEDADE DO

CONHECIMENTO

3.4 AS CARACTERÍSTICIAS E OS DESAFIOS DA GESTÃO NA

EMPRESA BRASILEIRA

CAPÍTULO 4

OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: PRINCIPAIS ABORDAGENS

E SUAS CARACTERÍSTICAS

4.1. ADMINISTRAÇÃO JAPONESA

43

58

64

71

4.1.1. Origens e evolução da administração japonesa 72

4.1.2. Práticas e instrumentos da adminsitração japonesa 81

4.1.3. Análise da aplicabilidade da administração japonesa 98

4.2. ADMINISTRAÇÃO PARTICIPATIVA 104

4.2.1. Origem da gestão participativa 104

4.2.2. O funcionamento da gestão participativa: conceitos e práticas 107

4.2.3. Etapas para implantação da gestão participativa 112

4.2.4. Aspectos críticos na aplicabilidade da gestão participativa 113

4.3. ADMINISTRAÇÃO EMPREENDEDORA

4.3.1. Origens da administração empreendedora

4.3.2. Características e principais práticas da gestão empre­

endedora

4.3.2.1. Características de uma organização empreen­

dedora

4.3.2.2. Características dos "intrapreneurs"

4.3.2.3. Aspectos organizacionais da gestão empreen­

dedora

114

115

123

125

129

134

v

Page 8: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

4.3.2.4. Políticas de recursos humanos para estimular

o espírito empreendedor

4.4. APLICABILIDADE DO MODELO DE ADMINISTRAÇÃO

EMPREENDEDORA

4.5. ADMINISTRAÇÃO HOlÍSTICA

4.5.1 A visão holítica na Administração

4.5.2. Práticas da Administração Holística

4.5.3. Condições para uma empresa adotar o modelo holísti-

co de gestão

4.6. CORPORAÇÃO VIRTUAL

4.6.1. Origem da corporação virtual

4.6.2. Principais práticas gerenciais na corporação vurtual

4.6.3. Aplicabilidade das práticas gerenciais na corporação

virtual

4.7. A TRANSIÇÃO DOS "MODELOS TRADICIONAIS" PARA

OS "NOVOS MODELOS" DE ADMINISTRAÇÃO

CAPÍTULO 5

ESTUDOS DE CASO

vi

140.

154

156

158

159

161

162

163

166

169

169

ESTUDO DE CASO 1: LOCALIZA RENT A CAR 17 4

ESTUDO DE CASO 2: MÉTODO ENGENHARIA 224

ESTUDO DE CASO 3: INEPAR S.A. ELETROELETRÔNICA 247

CAPÍTULO 6

CONCLUSÕES DO ESTUDO E RECOMENDAÇÕES 270

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 278

Page 9: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

vi i

QUADROS

Quadro 1- COMPARAÇÃO DE SUPOSIÇÕES BÁSICAS NAS

SOCIEDADES INDUSTRIAL E DO CONHECIMENTO 42

Quadro 2- CARACTERÍSTICAS DA EMPRESA BRASILEIRA 67

Quadro 3- CARACTERÍSTICAS GERENCIAIS DAS EMPRESAS

JAPONESAS E AMERICANAS 102

Quadro 4- COMPARAÇÃO DE PERFIS ORGANIZACIONAIS: OR-

GANIZAÇÃO CONCORRENCIAL x EMPREEDEDORA 128

Page 10: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

vi i i

FIGURAS

Figura 1- O MODELO DE PESQUISA: QUADRO TEÓRICO RE-

FERENCIAL DE SUPORTE 09

Figura 2- ERAS EMPRESARIAIS x RELAÇÃO EMPRESA-CLIEN-

TE 28

Figura 3- FATORES DETERMINANTES DA COMPETITIVIDADE

DE UMA EMPRESA 61

Figura 4- O FLUXOGRAMA DE MELHORIA DA QUALIDADE DE

EDWARDS DEMING 77

Figura 5- AVALIAÇÃO DO GRAU DE PARTICIPAÇÃO DA EQUI-

PE NO PROCESSO DECISÓRIO 111

Figura 6- VARIEDADE DE COMPORTAMENTO ESTRATÉGICO

E OPERACIONAL 122

Figura 7- CONTEXTO DO AMBIENTE EXTERNO E INTERNO DE

UMA ORGANIZAÇÃO EMPREENDEDORA 126

Figura 8- CARREIRA EM "Y" 149

Page 11: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

. .;:-··

CAPÍTULO 1

O PROBLEMA DA PESQUISA

Page 12: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

2

1.1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES.

Inovação Qualidade Competitividade Parceria

Reengenharia ... estas são apenas algumas das diversas palavras que têm

se incorporado nos últimos anos na linguagem da gestão empresarial.

Embora a maioria delas já estivesse presente nos dicionários e até

frequentasse o vocabulário empresarial, na realidade passaram a ter

conotações diferentes e mais específicas nos últimos anos.

O que estaria provocando o surgimento de tais palavras novas no

dia-a-dia das organizações? "Palavras são palavras", diria o poeta,. mas até

que ponto elas deixam de ser meras abstrações literárias e passam a

representar (novas) práticas gerenciais nas operações rotineiras de uma

empresa? Será que todas as organizações serão ( óu estão sendo) afetadas

por estas no_vas palavras? Não estariam tais palavras indicando a

proximidade da definição de um (novo) modelo ideal (e definitivo) de gestão

empresarial?

Nenhuma destas questões (e outras delas decorrentes) terá

certamente respostas determinísticas e nem é objetivo deste estudo chegar

a elas. Neste sentido, a linha a ser aqui seguida buscará muito mais

levantar e avaliar as características peculiares às novas práticas de gestão

empresarial, hoje dispersas na literatura e nas pesquisas acadêmicas na

área de Administração, visando analisá-las dentro de um contexto histórico

de sua evolução e de sua relação com o conjunto de outras práticas

gerenciais.

O contexto histórico diz respeito ao fato de que as novas prátic.as de

gestão empresarial, surgidas principalmente a partir dos anos 70, são

decorrentes ou provocadas por mudanças macro-ambientais que tornaram

obsoletas as práticas até anteriormente utilizadas: assim, ocorre uma

quebra de paradigma que precisa ser avaliada do ponto de vista da

evolução dos novos modos de se administrar uma organização.

Quanto à relação de cada uma das novas práticas gerenciais

analisadas com outras práticas inovadoras de gestão, justifica-se pelo fato

de que as empresas bem sucedidas não aplicam modelos únicos ou

Page 13: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

3

exclusivos de gestão: na realidade, constata-se uma combinação destas

novas idéias e práticas gerenciais. Assim, é comum encontrar nestas

empresas práticas de Gestão da Qualidade Total, parcerias com

fornecedores, participação dos empregados nos lucros ou resultados, entre

outras ferramentas inovadoras de administração.

A motivação para desenvolver este estudo partiu da constatação de

que as empresas brasileiras, de forma crescente nos últimos anos,

passaram a se conscientizar da importância da revisão dos seus modelos

tradicionais de gestão, que já não garantem mais a sua sobrevivência e a

sua capacidade competitiva no mercado e estão freneticamente à busca de

novas idéias e práticas de gestão empresarial. De outro lado, estas novas

idéias e práticas gerenciais são apresentadas geralmente como a solução

definitiva dos problemas de gestão e, geralmente, recebidas pelo meio

empresarial como "modismos". Assim, é preciso desmistificar idéias e

práticas novas, como Qualidade Total, Reengenharia, Gestão Participativa e

outras.

Dentro da mesma motivação acima, outra questão importante é

avaliar até que ponto estas novas práticas gerenciais, geralmente

originadas em outros países com culturas bem diferentes da nossa

realidade econômica e social, se adequam ao perfil do empresário e do

trabalhador brasileiro. Não são poucos os registros de fracasso de

organizações brasileiras, tanto privadas como públicas, que tentaram

implementar algumas destas práticas sem alcançar os resultados esperados

ou provocando maiores conflitos internos, seja na relação capital-trabalho

ou na relação com agentes externos (clientes, fornecedores e outros).

Finalmente, uma questão que tem angustiado o meio empresarial e

acadêmico: o mundo não está apenas mudando (como sempre ocorreu

desde a pré-história): a velocidade das mudanças é o fator mais importante

neste final de século. Assim, as pessoas, as organizações e até os países

estão sendo afetados de forma diferenciada, mas os efeitos são

desestruturadores para todos: é preciso se antecipar ou, pelo menos, reagir

e se adaptar âo "novo mundo". Portanto, no caso das organizações, todas

as regras, práticas e modelos que as orientavam até os anos 80 passam a

se tornar instrumentos obsoletos e arcaicos, que já nao permitem a

sobrevida das mesmas na economia competitiva e globalizada dos nos 90.

Page 14: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

4

Mais uma vez, portanto, é oportuno repensar os modelos de gestão e avaliar

a sua aplicabilidade no contexto ambiental de cada organização.

1.2 OBJETIVOS DO ESTUDO

O objetivo geral deste estudo é analisar os novos modelos de gestão

empresarial e avaliar como algumas empresas brasileiras estão praticando

alguns conceitos, técnicas e instrumentos propugnados por estes modelos.

Para atingir este objetivo geral, são definidos os seguintes objetivos

específicos:

1 °) Analisar o contexto histórico da evolução da gestão

empresarial a nível mundial e brasileiro.

Com este objetivo, pretende-se mostrar que existe um "pano de

fundo" na evolução da gestão empresarial: assim, as várias correntes do

pensamento administrativo, desde a Escola Clássica de Taylor e Fayol até

as abordagens de vanguarda que anunciam a emergência da corporação

virtual na virada do próximo milênio, estão vinculadas a grandes fatos

históricos que têm provocado o processo de evolução econômica e social

da civilização humana.

2°) Analisar as origens, características e principais instrumentos

dos novos modelos de gestão empresarial surgidos nas últimas décadas,

em decorrência da exaustão dos modelos tradicionais de gestão.

Com este objetivo, pretende-se sistematizar o conjunto de novas

práticas de gestão empresarial, cada vez mais aplicadas pelas empresas

inovadoras que buscam sobreviver através da competitividade. Neste

sentido, este conjunto de novas práticas gerenciais será analisado a partir

de cinco linhas estruturadas que constituem a base de novos modelos de

gestão, cada um com suas características peculiares.

3°) Analisar, através do estudo de caso, três empresas que

notoriamente incorporaram na sua prática administrativa vários instrumentos

Page 15: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

5

gerenciais inovadores e são consideradas empresas bem sucedidas no seu

setor de atuação.

Embora ainda estes novos modelos sejam pouco conhecidos e

aplicados no setor empresarial brasileiro, já é possível identificar e avaliar

um conjunto de organizações (privadas e públicas) que já vêm

implementando uma série de inovações gerenciais que podem ser avaliadas

como um esforço em busca de uma nova maneira de administrar os seus

negócios.

4°) Propor um conjunto de recomendações às empresas

brasileiras, no sentido de se adequarem nos próximos anos aos novos

modelos de gestão, visando assegurar a sua sobrevivência e

competitividade no mercado.

Estas recomendações serão especificadas ao nível dos dirigentes,

gerentes, colaboradores, entidades empresariais e agências

governamentais relacionadas ao desenvolvimento econômico e empresarial

do país.

Ao mesmo tempo, serão elaboradas recomendações direcionadas às

Escolas de Administração, visando provocá-las a repensar a sua missão

diante do novo mundo organizacional que se vislumbra nos próximos anos e

da formação dos administradores profissionais que estarão conduzindo as

mudanças nas empresas.

1.3 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO

À medida que a sociedade mundial vai evoluindo para se tornar a

"aldeia global", imaginada pelo cientista canadense Macluhan nos anos 50,

as organizações são intensamente afetadas pelas mudanças ambientais

decorrentes das grandes transformações de natureza política, econômica,

social, tecnológica, cultural, legal e espiritual. Assim, novos valores passam

a orientar a gestão empresarial e a própria missão destas organizações:

ecologia, ética, qualidade de vida, parceria, visão social, auto-realização

Page 16: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

6

pessoal e outros valores passam a permear o dia-a-dia das atividades

organizacionais. Como resultados; as empresas estão assistindo a exaustão

dos seus métodos tradicionais de trabalho, baseados em posturas rígidas e

centralizadas de gestão e estão à busca de novas formas que respondam

às novas exigências ambientais.

Neste sentido, é preciso buscar novos instrumentos que orientem a

empresa para a satisfação total do cliente, cada vez mais exigente com

relação à sua qualidade de vida, garantida pelos produtos e serviços que

consome; é preciso também desenvolver novas formas de relações com os

empregados, os quais buscam na empresa não apenas a sua sobrevivência

econômica, através do salário, mas sobretudo a sua auto-realização pessoal

e profissional como projeto de vida; é preciso ainda criar novos formatos de

relacionamento com outras empresas que orbitam em torno das atividades

do empreendimento, como fornecedores, distribuidores e prestadores de

serviços de apoio; é necessário inovar nas relações com a comunidade

onde a empresa está inserida, sem contar os novos padrões éticos que

devem orientar suas relações com os sindicatos, agências governamentais,

entidades empresariais e outras instituições relacionadas às atividades

empresariais.

Diante deste novo e complexo sistema de relações

interorganizacionais, as empresas encontram grandes barreiras para se

adaptarem às novas situações decorrentes das novas relações

estabelecidas: tais barreiras estão geralmente localizadas no próprio âmbito

interno destas empresas, ou seja, são os seus métodos de gestão.

No entanto, desde os anos 70, diversas empresas que operam a nível

internacional já estão rompendo com as filosofias e práticas tradicionais de

gestão e iniciam a implantação de novos instrumentos gerenciais, a

princípio em caráter tentativa, mas posteriormente aperfeiçoados e

consolidados. Assim, nos. anos 90, já é possível avaliar e sistematizar o

conjunto destas novas práticas gerenciais, rompedoras das Escolas

tradicionais de administração e talvez semeadoras das novas Escolas que

orientarão a gestãó empresarial nas próximas décadas ou, quando multo,

nos próximos anos, já que a velocidade das mudanças tornará obsoletas/

estas práticas em prazos muito rápidos.

Page 17: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

7

Ao mesmo tempo, focando a realidade empresarial brasileira,

constata-se que as organizações nacionais, tanto públicas como privadas, já

desenvolvem esforços no sentido de recuperar o tempo perdido (de pelo

menos duas décadas) que levou a um atraso em relação à situação mundial.

No entanto, se há poucas empresas brasileiras consideradas de "classe

mundial", já é possível avaliar a partir destas a aplicabilidade no sistema

empresarial brasileiro das novas práticas gerenciais que garantirão a sua

sobrevivência num mercado cada vez mais globalizado e competitivo.

Este estudo se justifica, portanto, pelas contribuições efetivas que

poderá propiciar às Escolas de Administração, formadoras da classe

empresarial e dos administradores profissionais que serão os condutores e

aplicadores destes novos instrumentos de gestão; ao setor empresarial,

público e privado, pela análise crítica que apontará as barreiras e

dificuldades existentes para implantação das novas idéias e práticas de

gestão, bem como pelas recomendações que fará no sentido de preparar as

empresas brasileiras a introduzirem estes novos métodos gerenciais.

Finalmente, este estudo será uma contribuição inovadora às pesquisas

acadêmicas na área de Administração, considerando que estará sendo

proposta uma estrutura consolidada de todo o conjunto de novas práticas

inovadoras de gestão: no entanto, elas são analisadas isoladamente, às

vezes até com maior profundidade do que serão neste estudo, porém não

estão inter-relacionadas a outras práticas e instrumentos gerenciais de

forma estruturada.

1.4 O MODELO DA PESQUISA

O modelo de pesquisa que orientou os esforços da coleta de dados ·.

nas fontes bibliográficas e nas empresas tem sua fundamentação teórica

baseada nas influências e impactos que exercem as grandes mudanças

ambientais sobre as organizações de uma forma geral e, principalmente,

sobre as empresas que necessitam continuamente se adaptar às novas

realidades ambientais para sobreviver.

Segundo Zaccarelli et ai (1980),

Page 18: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

as macro e micro mudanças ambientais afetam diferencialmente as empresas. Os tipos de empresas que são muito sensíveis às transformações do ambiente são geralmente as empresas pequenas, as quais podem ser muito beneficiadas ou prejudicadas. As médias e grandes empresas levam, pelo peso de sua estrutura, um tempo maior para reagir e adaptar-se às novas conjunturas ambientais. Apesar de mais lentas, as médias e grandes empresas possuem mais recursos para identificar as mudanças e incorporá-las internamente, restabelecendo o seu equilíbrio com o novo contexto ambiental. (p. 48)

8

Em decorrência das pressões ambientais de natureza econom1ca,

política e tecnológica, as empresas procedem mudanças na sua filosofia

·gerencial, na estrutura organizacional, nos conceitos e instrumentos

gerenciais, sempre buscando recuperar suas condições de sobreviver e

competir nos ambientes instáveis nos quais atuam. Desta forma, os modelos

de gestão utilizados nas empresas são condicionados pelas novas

realidades ambientais. Por esta razão, em cada período de tempo,

predominam certas abordagens (ou modelos), os quais são

complementados ou questionados por modelos mais recentes que já

incorporam novas váriáveis extraídas da prática das empresas.

Existe, pois, uma inter-relação entre a evolução do macro ambiente

institucional e a evolução dos modelos de gestão praticados pelas empresas

nas diferentes etapas do processo de desenvolvimento da sociedade.

O Modelo de Pesquisa assume como pressuposto que é possível

estabelecer relações entre as mudanças e transformações ocorridas no

nível macro ambiental e a nivel micro da gestão de cada empresa. Assume,

inclusive, que é possível estabelecer, cronologicamente, os momentos

prováveis em que predominaram certas abordagens gerenc1a1s,

caracterizadas como ações de respostas das empresas na busca de um

novo equilíbrio, face a uma nova realidade externa. No entanto, este

pressuposto não significa que todas as empresas necessariamente

ajustarão a sua evolução gerencial de acordo com as mudanças no seu

contexto ambiental: há empresas que não evoluem ou não acompanham a

mesma velocidade das mudanças externas e tornam-se, assim,

organizações obsoletas.

Page 19: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

9

Na seqüência, é apresentada a Figura 1, que retrata o quadro teórico

referencial que serve de suporte e fundamentação ao Modelo de pesquisa

utilizado.

Figura 1: O MODELO DE PESQUISA: QUADRO TEÓRICO

REFERENCIAL DE SUPORTE

O CENÁRIO

AMBIENTAL

IMPACTOS SOBRE A GESTÃO EMPRESARIAL

CENÁRIO

AMBIENTÀL

ONDAS DE TRANSFOR­MAÇÃO

Revolução Agrícola

Revolução Industrial

Revolução Informação

da :

MODELOS

DE

GESTÃO

- • ERAS EMPRE- Era da Era da Efi-

Produção ciência SARIAIS

em Massa

INÍCIO DA ERA 1920 1950

MODELOS TRA- • Administra- Administração

DICIONAIS DE ção Burocrática

GESTÃO Cientifica

• Administra-

I

Era da Era da I Era do(a) Qualidade Competiti- I

I ? vidade I

I

1970 1990 I 2000

Tradicionais _-ção das

Relações

Humanas

Outros "mode­

los tradicio­

nais" da Admi­

nistração

l Presentes

Futuro

NOVOS MODELOS

-• GESTÃO DE

(em prática atual)

NOVOS MODELOS

--GESTÃO

(do futuro)

DE

Administração Japonesa

Administração Participativa

I

I I I I I I

Administração Empreendedora 1

I 1 Administra­I • ção Holfstica I I

I

I Administra-I • , ção Virtual I C .•

APLICAÇÃO DE ALGUMAS PRÁTICAS GERENCIAIS ESTUDOS DE CASO: INOVADORAS EM EMPRESAS BRASILEIRAS -LOCALIZA

- MÉTODO ENGENHARIA -INEPAR

Page 20: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

10

Inicialmente, . dividiu-se o cenário histórico da evolução das .

abordagens da Administração em momentos:

• As Grandes Ondas de Transformação, compreendedo três grandes

períodos: a Revolução Agrícola (até 1750 D.C.}, a Revolução

Industrial (1750 a 1970) e a Revolução da Informação (após 1970},

de acordo com Toffler (1980).

• Por sua vez, a Revolução Industrial foi dividida também em três

períodos: 1 a Revolução Industrial (1820-1870); 2a Revolução

Industrial (1870-1950); 3a Revolução Industrial, a partir de 1950.

• Dentro destes períodos, foram analisadas as abordagens da

Administração, segundo o seguinte esquema:

a) Durante a 2a Revolução Industrial, inicia-se, em torno de 1920, a

Era da Gestão Empresarial, a qual se divide em 4 períodos

diferentes:

• Era da Produção em Massa (1920/49)

• Era da Eficiência ( 1950/69)

• Era da Qualdiade ( 1970/89)

• Era da Competitividade (a partir de 1990)

b) As duas primeiras Eras (Produção em Massa e Eficiência)

correspondem às abordagens tradicionais da Administração (da

Escola Clássica à Teoria da Contingência)

c) As duas últimas Eras (Qualidade e Competitividade) correspondem

às Novas Abordagens da Administração, que são os seguintes:

• Administração Japonesa

• Administração Participativa

• Administração Empreendedora

• Administração Holística

. . ..

Page 21: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

11

• Administração Virtual

Cada uma destas novas abordagens de Administração será analisada

a partir dos seguintes aspectos:·

• Origem e evolução histórica (exceto as duas últimas abordagens,

tendo em vista que são abordagens futuristas da Administração)

• Filosofia central da abordagem.

• Principais práticas gerenciais: Processo decisório; postura

gerencial; estrutura organizacional; controles; sistemas de

incentivos; técnicas e instrumentos gerenciais.

• Aspectos críticos na aplicabilidade do modelo.

As abordagens teóricas componentes do quadro de referência acima

podem ser entendidas como escolas de estudiosos e práticos da

Administração que aspiraram ou ainda aspiram a condição de paradigma.

Segundo Kuhn (1991 ), algumas ciências cujo processo de formação são

recentes ainda não possuem paradigmas definidos. Assume-se como

pressuposto desta pesquisa que a Administração é uma ciência quase

normal que está na fase pré-paradigmática, onde as várias abordagens se

sucedem e sistematizam novas práticas gerenciais observadas na gestão

das organizações. Por conseguinte, suas estruturas conceituais e teóricas

não possuem a consistência de um paradigma típico das ciencias normais.

Este é o sentido do termo "modelo de gestão", utilizado freqüentemente

neste estudo e definido no item 1.5. (algumas vezes utiliza-se o termo

"abordagem" em substituição ao termo "modelo")/

1. 4. 1. Os Métodos de Pesquisa

Este estudo baseia-se na utilização de dois métodos de pesquisa: o

método da pequisa descritiva e o método do estudo de caso. Segundo lsaac

& Michael (1982),

a pesquisa descritiva visa descrever de forma sistematizada uma situação ou área de interesse com base em dados factuais da realidade observada. O estudo de caso focaliza a evolução de uma

Page 22: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

empresa, de um indivíduo, de um grupo social, ou de toda uma comunidade, investigando os marcos da trajetória percorrida, dentro de um determinado período de tempo. (p. 12)

12

A evolução da administração, através da análise das diferentes

abordagens teóricas, foi feita através do levantamento e análise da literatura

de Administração referenciada no estudo. O uso destes procedimentos,

típicos da pesquisa descritiva, permitiu identificar as origens, a filosofia, os

conceitos, as técnicas e as práticas administrativas difundidos pelas

diferentes abordagens ou correntes teóricas da Administração. Estas

abordagens, que constituem o corpo de conhecimento teóricos, foram sendo

construídas a partir das práticas gerenciais observadas na gestão diária das

organizações. Além da análise da literatura técnica especializada de

Administração, foram pesquisadas matérias publicadas na imprensa e em

revistas de circulação nacional que revelavam experiências e resultados

obtidos por empresas que estavam praticando conceitos ou formas

inovadoras de Administração. A análise das informações contidas nestas

publicações permitiu estabelecer o quadro referencial teórico das práticas

de gestão observadas nas empresas, mencionado na Figura 1.

Com base neste quadro referencial, o estudo dos casos das

empresas que utilizam práticas inovadoras de gestão permitirá analisar a

utilização de conceitos e técnicas de gestão e estabelecer uma vinculação

destas práticas com conceitos vinculados a abordagens constantes do

quadro de referência.

A partir da identificação de práticas incorporadas nestas abordagens,

será possível estabelecer um elo com as macro mudanças

(megatendências) tipícas das várias eras (ondas) ou ciclos vividos nas

diferentes épocas de desenvolvimento da sociedade e as práticas de gestãc;>

das empresas

A partir do quadro téorico referencial construído com base nestas

abordagens, foi possível identificar inicialmente seis empresas consideradas

avançadas e inovadoras na utilização de novos conceitos e práticas

gerenciais relacionadas com as mais recentes abordagens teóricas da

Administração.

Page 23: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

13

Para pesquisar e analisar com detalhes estas experiências

inovadoras o estudo utilizou-se do método de estudos de casos. Alguns

autores como Leenders & Erskine (1978) e, posteriormente, Maximiano &

Sbragia (1980) consideram o método de caso como uma forma de pesquisa

que gera a formação do conhecimento. Os casos podem ser elaborados

focalizando diferentes aspectos. Existem casos que narram um incidente

crítico, ou seja, relatam de forma sucinta alguma situação ou incidente que

mereça ser discutida sobre uma organização. Existem os casos diagnósticos

que registram, de forma ordenada, um grande volume de informações sobre

uma organização com o objetivo de caracterizar um tipo específico de

problemas ou de vários problemas, descritos a partir da visão e da

experiência das pessoas que os vivenciam na organização e, finalmente, o

caso que relata a história da empresa em um certo período, o qual pode

começar e terminar em qualquer ponto. No "lato- sensu", um caso completo

poderia começar desde a fundação da empresa até a data em que o mesmo

foi feito. É mais comum o caso cobrir apenas períodos considerados

relevantes pelo autor para demonstrar as evidências necessárias ao estudo

da problemática focalizada na pesquisa.

A escolha das empresas, cujos dados coletados serviram de base

para a elaboração dos estudos de casos, foi feita com base nos seguintes

critérios:

1) empresas que introduziram práticas gerenc1a1s inovadoras

vinculadas às novas abordagens teóricas da Administração, nos últimos

cinco anos e que já divulgaram estas experiências através de jornais e

revistas especializadas, em vídeos ou publicações institucionais ou em

livros de assuntos gerenciais;

2) empresas que se dispuseram, através de entrevistas

personalizadas, fornecer os dados que permitissem a elaboração dos casos

e, ao mesmo tempo, aprovaram e permitiram·a divulgação destes casos com

os nomes reais das empresas e dos protagonistas que viveram a

experiência;

3) empresas que operam em diferentes setores da economia, ou

seja: setor de serviços de locação de veículos, setor da industria da

construção civil e setor da industria eletroeletrônica. Desta forma, foi

Page 24: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

14

possível conhecer as realidades das práticas de gestão no setor de

serviços, no setor de construção (mais tradicional) e em um terceiro setor

industrial mais dinâmico e de base tecnológica, como é o caso do setor de

eletroeletrônico.

Para elaboração dos casos integrantes do presente estudo, foram

entrevistados dirigentes de diferentes empresas que narraram a introdução

de conceitos e práticas inovadoras na gestão das empresas analisadas. Ao

mesmo tempo, foram coletados materiais institucionais e publicações que

complementaram as informações obtidas através das entrevistas.

1.5. DEFINIÇÃO DOS TERMOS

Os principais termos utilizados durante este estudo e que precisam

ser definidos são os seguintes:

MODELO DE GESTÃO

O modelo de gestão é um conjunto de conceitos e práticas que, .

orientadas por uma filosofia central, permitem a uma organização

operacionalizar todas as suas atividades, seja no seu âmbito interno como externo.

Considerando que a Administração ainda não é consolidada como

uma teoria, a palavra "modelo" não assume aqui o mesmo caráter que lhe é

propiciado nas ciências exatas. Tal definição foi operacionalizada apenas

para os propósitos limitados deste estudo. Assim, a expressão "modelo de

gestão" não tem um sentído rigoroso e pode ser substituída, de acordo com

o sentido, por "abordagem" ou "estilo" de gestão ou de administração.

Page 25: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

15

ONDA DE TRANSFORMAÇÃO

O conceito de "onda de transformação" é de Alvin Toffler (1980},

segundo o qual a civilização humana evoluiu ao longo de três períodos de

tempo, cada qual caracterizado por um conjunto de paradigmas que afetam

a vida humana no que diz respeito à tecnologia predominante, ao sistema

econômico, ao sistema político, ao sistema social e aos recursos materiais

mais utilizados. Para efeito deste estudo, trabalhou-se com o conceito de

que estamos na transição da Segunda Onda (Sociedade Industrial) para

Terceira Onda (Sociedade da Informação ou do Conhecimento).

ERA EMPRESARIAL

É um período de tempo durante o qual predomina uma certa

característica na orientação da maioria das empresas, na tentativa de

buscar o crescimento e o ajuste de sua estrutura às mudanças ambientais.

Assim, num certo momento, aquela característica era produzir a maior

quantidade possível de um produto padronizado (Era da Produção em

Massa); depois passou a ser o controle interno das operações (Era da

Eficiência); depois passou para a busca da satisfação do cliente (Era da

Qualidade); e, finalmente, a busca do nível de excelência (eficiência mais

eficácia), atendendo os interesses de clientes, colaboradores, comunidade e

acionistas (Era da Competitividade).

Page 26: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

CAPÍTULO 2

O CENÁRIO HISTÓRICO DA

ORIGEM E EVOLUÇÃO DOS

"MODELOS" DE GESTÃO

Page 27: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

17

Os mais remotos registros da história da civilização humana indicam

que o homem sempre buscou algum formato organizacional visando atingir

seus objetivos, ora individuais ora coletivos, através da racionalização de

esforços que permitissem alcançar aqueles objetivos. Assim, os grandes

empreendimentos humanos, registrados a partir das primeiras civilizações,

evidenciam que já se buscava um "modelo" de organização que permitisse

ao homem o domínio sobre a natureza e os meios físicos de que dispunha,

incluindo o seu próprio trabalho e o seu conhecimento.

Este estudo não tem como objetivo estudar a "teoria da organização"

em si e nem reconstruir os modelos de gestão que foram evoluindo ao longo

da história humana. Considerando seus objetivos mais estreitos, já

abordados no Capítulo 1, quais sejam, entender "o quê" está mudando nas

organizações atualmente, a partir de "novas" práticas gerenciais

disseminadas amplamente nas organizações, o propósito do presente

capítulo é analisar o cenário histórico e seu respectivo ambiente que

provocaram a evolução dos modelos de gestão, desde as formas primitivas

pré-históricas até as organizações virtuais do futuro.

2.1. AS GRANDES "ONDAS DE TRANSFORMAÇÃO" E SEUS

IMPACTOS NAS ORGANIZAÇÕES

Segundo Toffler (1980), a civilização humana teria evoluído ao longo

de três grandes "ondas de transformação": a Revolução Agrícola (Primeira

Onda), a Revolução Industrial (Segunda Onda) e a Revolução dos Serviços

(Terceira Onda): são os grandes marcos da referência histórica da

humanidade. Portanto, para entender como as organizações evoluiram e o

conteúdo da mudança nestas organizações, é necessário compreender o

que significa cada um destes momentos, em termos dos seguintes aspectos

principais:

• o paradigma que orientava o estilo de vida das pessoas em cada

uma das "ondas"

• o sistema político então predominante

Page 28: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

18

• idem o sistema social

• idem o sistema econômico

• e a tecnologia (conhecimento) básica que atendia as necessidades

humanas.

A Revolução Agrícola é antecedida pela sociedade primitiva, que se

caracterizava pelos seguintes aspectos:

• Paradigma: o mundo era visto puramente em termos naturais;

• Sistema Político: a unidade política básica era a tribo, governada

pelos anciãos;

• Sistema social: baseado em pequenos grupos ou tribos;

• Sistema Econômico: baseado em atividades de caça, coleta e

pesca, sem interesse econômico que não a sobrevivência;

• Tecnologia: a energia era humana; os materiais principais eram as

peles de animais e as pedras; as ferramentas, normalmente feitas

de pedras, eram utilizadas em funções de cortar e moer; não havia

nenhum método estruturado de organização do trabalho ou de

produção; o sistema de transporte era a caminhada (modo-a-pé); e

. o sistema de comunicação era a própria voz humana.

Portanto, a sociedade primitiva não gerou nenhum modelo de gestão,

pois as necessidades de sobrevivência eram atendidas pela própria

natureza, exigindo do homem quase nenhum esforço para atingir seus

objetivos individuais e coletivos. As "organizações" se limitavam aos

sistemas sociais e políticos embrionários.

No entanto, na medida em que a "explosão demográfica" determinava

um desequilíbrio no ambiente, fazendo escassear os recursos naturais que

até então garantiam a sobrevivência humana, rompe-se o paradigma

daquela sociedade e ocorre a primeira grande transformação (Primeira

Onda) na história humana: a Revolução Agrícola que, segundo os

historiadores, teria iniciado há cerca de dez mil anos atrás.

Page 29: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

A partir deste momento, segundo Toffler (1980),

os chamados povos primitivos (. . .) foram ultrapassados pela Revolução Agrícola: O mundo "civilizado", em contraste, foi precisamente aquela parte do planeta em que a maior parte dos povos amanhavam o solo. Pois onde quer que surgisse a agricultura, a civilização criava raízes. (p. 35)

19

Assim, os principais aspectos que caracterizam a Revolução Agrícola

foram os seguintes:

• Paradigma: os valores principais da vida humana eram baseados

na harmonia com a natureza, o que influenciava a idéia de que o

ser humano era controlado por forças superiores (deuses): assim,

desenvolveu-se muito a religiosidade e a visão mística da vida,

dando origem aos movimentos espirituais que até hoje

predominam nas instituições religiosas (cristianismo, budismo,

islamismo, entre outros). O conhecimento básico era a matemática

(álgebra e geometria), a astronomia e a astrologia, todas

influenciadas pelo desenvolvimento da filosofia.

• Sistema Político: prevalecia o feudalismo, com sistemas de leis,

religião, classes sóciais e políticas atrelados ao controle das

terras, com autoridade transmitida hereditariamente (aristocracia);

a unidade política básica era a comunidade local.

• Sistema Social: prevalecia o esquema familiar estratificado com

definições claras das funções em virtude do sexo; a educação era

limitada à elite; assim, surgiram algumas castas e classes sociais

claramente definidas (nobres, sacerdotes, guerreiros, escravos e

servos).

• Sistema Econômico: a atividade principal era a produção e o

consumo de alimentos, sem atividades significativas de mercado,

pois a base da economia era local (descentralizada e auto­

suficiente). A divisão do trabalho era simples, sendo feita em

função da comunidade, sendo a terra o recurso econômico mais

importante de produção.

Page 30: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

20

• Tecnologia: a energia era natural (humana, animal e eólica); os

materiais básicos eram recursos renováveis (árvores, algodão, lã,

entre outros); as principais ferramentas eram a força muscular

humana ampliada através de alavancas e guinchos ou forças

naturais dirigidas (navegação, roda d'água e outros); os métodos

de produção eram artesanais; o sistema de transporte utilizava o

cavalo, a carroça e o barco à vela; o sistema de comunicação era

manuscrito.

Portanto, a Sociedade Agrícola chegou a desenvolver algumas

formas organizacionais não muito complexas, que deram fundamento aos

seus sistemas político, social e econômico. Segundo Toffler (1980),

houve fábricas embrionárias de produção em massa na Grécia e na Roma antigas. Houve perfurações para extração de petróleo em uma das ilhas gregas em 400 a. C. e na Birmânia em 100 d. C. Floresceram vastas burocracias na Babilônia e no Egito". Surgiram grandes metrópoles urbanas na Ásia e na América do Sul. Houve dinheiro e câmbio. Rotas comerciais entrecruzaram desertos, oceanos e montanhas de Catai a Calais. Existiram nações e companhias incipientes: Houve mesmo, na antiga Alexandria, uma surpreendente precursora da máquina a vapor. Contudo, não houve em parte alguma coisa que pudesse designar-se, mesmo remotamente, uma civilização industrial. (. . .) Até 1650 - 1750, por conseguinte, podemos falar de um mundo da Primeira Onda. (p. 36)

De fato, após o movimento renascentista dos séculos XV e XVI e a

Era das Grandes Descobertas, quando se buscavam "novos mundos" que

ampliassem o modo de vida que já se encontrava esgotado, a humanidade

começa a romper outro paradigma histórico da sua civilização: emerge a

Revolução Industrial (Segunda Onda}, com profundas alterações a serem

provocadas na vida humana nos próximas 300 anos a seguir (a partir de

meados do século XVII). Ainda segundo Toffler (1980},

foi este o mundo em que irrompeu a revolução industrial, lançando a Segunda Onda e criando uma contra civilização estranha, poderosa e febrilmente energética. O industrialismo foi mais do que chaminés e linha de montagem. Foi um sistema social rico, multiforme, que tocou todos os aspectos da vida humana e atacou todas as feições do passado da Primeira Onda. Produziu a grande fábrica de Willow Run, fora de Detroit, mas também colocou o trator na fazenda, a máquina de escrever no escritório, a geladeira na cozinha. Produziu o jornal e o cinema, o trem suburbano e o DC - 3. Deu-nos o

Page 31: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

cubismo e a mus1ca de 12 tons. Deu-nos edifícios Banhaus e cadeiras de Barcelona, as greves brancas, as pílulas de vitaminas e o prolongamento da duração da vida. Universalízou o relógio de pulso e a urna eleitoral. Mais importante, interligou todas estas coisas - montou-as como máquina - e formou o sistema social mais poderoso, coeso e expansivo que o mundo já conheceu: a civilização da Segunda Onda. (p. 36) ·

21

As principais características da Revolução Industrial são as

seguintes:

• Paradigma: segundo Crawford (1994), a Sociedade Industrial tem

como uma de suas idéias centrais que "os homens se colocam

como controladores do destino num mundo competitivo com a

crença de que uma estrutura social racional pode produzir

harmonia num sistema de castigos e recompensas". (p. 18) A base

do conhecimento humano passa a ser a física e a química,

propiciando os grandes avanços científicos que possibilitaram

desenvolver o sistema produtivo industrial.

• Sistema Político: predominam duas correntes ideológicas, o

Marxismo e o Capitalismo; as leis, a religião, as classes sociais e a

base política são modelados de acordo com os interesses da

propriedade e do controle do capital investido. Outra vertente

política é o Nacionalismo, que leva a governos centralizados e

fortes, tanto na forma de governo representativo quanto na forma

ditatorial.

• Sistema Social: A base da sociedade é a família nuclear, com

divisão de papéis entre os sexos e instituições permanentes que

sustentam o sistema (casamento e relações parentais). Os valores

sociais enfatizam a conformidade, o elitismo e a divisão de

classes. A educação é massificada e se completa na idade adulta.

• Sistema Econômico: a base da economia é o mercado nacional,

cuja atividade é a produção de bens padronizados, tangíveis e com

divisão entre produção e consumo. Há uma divisão complexa do

trabalho, com mão-de-obra baseada em habilidades específicas,

modo de produção padronizado e organizações com vários níveis

Page 32: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

22

hierárquicos, orientados para o controle das operações. O recurso

fundamental é o capital financeiro.

• Tecnologia: a energia é baseada em combustíveis fósseis (óleo e

carvão); os materiais são recursos não-renováveis, como metais,

por exemplo; as principais ferramentas são máquinas que

substituem a força humana (motores); os métodos de produção são

baseados na linha de montagem e partes intercambiáveis; o

sistema de transporte abrange o barco a vapor, a ferrovia, o

automóvel e o avião; e o sistema de comunicação inclui a imprensa

e a televisão.

Como se observa, o "conteúdo" das suas catacterísticas e o "tempo"

decorrido a partir da emergência da Segunda Onda provocaram a

aceleração das mudanças e seu impacto sobre o sistema produtivo. Assim,

vários autores costumam subdividir a Revolução Industrial em três períodos:

Primeira, Segunda e Terceira Revolução Industrial.

Segundo Cano ( 1994 },

a Primeira Revolução Industrial maturou plenamente entre 1820 e 1830 na Inglaterra, centro hegemônico do capitalismo de então. A partir daí, a Inglaterra liberou suas exportações de capitais, de equipamentos e também a saída de emigrantes com aptidões técnicas. (p. 15)

Segundo o mesmo autor, o que caracterizou a Primeira Revolução

Industrial foram bases técnicas relativamente simples, com tecnologia não

muito complexa, baixa densidade de capital por trabalhador e baixa relação

capital-produto.

Portanto, neste período o processo produtivo ainda tinha

características mais artesanais do que propriamente industriais, sendo um

período de transição para a Segunda Revolução Industrial. Assim, os

formatos organizacionais ainda eram pouco evoluídos, pois a produção

ocorria em unidades tecnicamente pouco complexas e com baixa

capacidade produtiva.

A Primeira Revolução Industrial ocorre em momentos diferentes em

outros países. Nos Estados Unidos, em meados do século XIX, na Região

i :I

Page 33: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

23

Nordeste (Nova Inglaterra), já começava a se consolidar um setor industrial,

produzindo armas de fogo, relógios, implementas agrícolas, têxteis,

máquinas de costura e outros produtos, enquanto o resto do país

continuava predominantemente agrícola. Segundo Toffler (1980), a Guerra

Civil americana foi provocada basicamente pelo conflito entre os defensores

da sociedade industrial e os que defendiam a sociedade agrícola, afinal

vencida pelos primeiros.

No Japão, segundo o mesmo autor, a Restauração Meiji, iniciada em

1868, também representou o confronto entre o passado agrícola e o futuro

industrial para a sociedade nipônica. Na Rússia, tal embate ocorreria mais

tarde, com a Revolução de 1917, quando os bolchevistas eliminaram os

últimos vestígios que restavam da servidão e da monarquia feudal,

empurrando a agricultura para o segundo plano e conscientemente,

acelerando o industrialismo.

No Brasil, conforme Cano (1994), o engajamento à Primeira

Revolução Industrial se inicia entre as décadas de 1870 e 1880 e consolida­

se entre as décadas de 1920 e 1930, com os famosos embates entre

"ruralistas" e "industrialistas". Segundo o autor,

no primeiro período (1880-1930), a implantação da indústria -notadamente de bens de consumo leves - esteve completamente subordinada à economia primário - exportadora, que lhe determinava não só a demanda de bens de consumo, mas também a constituição do mercado de trabalho, a origem da maior parte dos seus capitais e recursos financeiros e, por último, a capacidade para importar a maior parte dos bens de produção de que necessitava. (p.16e17)

A Segunda Revolução Industrial inicia-se ainda na primeira metade

do século XIX, maturando entre as décadas de 1870 e de 1890 e se

prolongando até 1950. Cano (1994) descreve assim este período:

. . . maior emprego da base científica com o desenvolvimento da física e da química; a inovação do motor a combustão; o uso da eletricidade; substituição do antigo padrão de livre concorrência com o surgimento da grande empresa, de trustes, cartéis e oligopólios; padrão tecnologicamente muito mais complexo; requisitos de grandes massas de capital e escalas produtivas maiores. Este novo padrão de industrialização constituiria também duas novas peças que se destacariam no cenário das principais economias líderes: o capital bancário e financeiro e o Estado estruturante, formulador e

.,

Page 34: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

executor de políticas de industrialização na maioria desses países. (p. 17)

24

Portanto, a Segunda Revolução Industrial provocaria uma radical

transformação no processo de industrialização. Mais uma vez, o Brasil

demoraria cerca de meio século para atravessar este segundo período da

Revolução Industrial, a partir da Crise de 1929. Segundo Cano (1994),

iniciamos a sua implantação entre 1933-1955 de forma restringida e incipiente e de forma mais decisiva nos períodos de 1956-1962 e 1968-1980, quando concluímos a instalação dos setores produtores de bens de consumo durável, de bens intermediários e de capital. (p. 17)

E prossegue o mesmo autor:

... tivemos (o Brasil) maiores dificuldades para o engajamento na Segunda Revolução Industrial do que na Primeira, devido em grande parte às radicais alterações sofridas pelo processo de industrialização: grandes escalas de plantas; grandes massas de capital; complexidades tecnológicas; necessidade de maior uso de base científica; controles monopólicos e oligopólicos pelas grandes empresas, etc. (p. 21)

Portanto, enquanto o Brasil ingressava na Segunda Revolução

Industrial, o mundo desenvolvido já iniciava a Terceira Revolução Industrial:

esta se inicia logo após o final da Segunda Guerra, quando emerge o poder

financeiro das grandes companhias multinacionais, sobretudo de origem da

nação norte-americana, a nova potência econômica mundial. A principal

característica deste terceiro momento é um novo padrão tecnológico,

decorrente da aplicação de diversas pesquisas e invenções no campo da

eletrôniQa, para aplicação no campo industrial, provocando uma revolução

técnica extraordinária no desenvolvimento da microeletrônica, da

informática, da indústria química, de novos materiais e da biotecnologia. Na

década de 70, estas tecnologias são lideradas, além dos Estados Unidos,

pelo Japão e Alemanha, que já haviam recuperado suas economias após o

desastre da Segunda Guerra.

A Terceira Revolução Industrial é o apogeu da Sociedade Industrial e

está criando as condições que levarão (ou já estão levando) a humanidade

à Terceira Onda, ou à Revolução dos Serviços: será a Sociedade Pós­

Industrial ou Sociedade do Conhecimento, que será analisada adiante.

Page 35: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

25

Antes de prosseguir a análise da Terceira Onda, é necessário

explorar mais profundamente alguns aspectos da Sociedade Industrial,

sobretudo a evolução da gestão empresarial ao longo da revolução

Industrial.

2.2. A EVOLUÇÃO DAS ERAS EMPRESARIAIS

O surgimento do fenômeno empresàrial e, em conseqüência, dos

modelos de gestãp empresarial, ocorre é! partir sobretudo da Segunda

Revolução Industrial, nas últimas décadas do século XIX.

Segundo Reich (1983),

ao contrário da Revolução Industrial britânica (Primeira Revolução Industrial), que meramente dera aos trabalhadores novas ferramentas e fontes mais baratas de energia, que lhes permitia executar com mais eficiência basicamente as mesmas tarefas que faziam antes, as inovações nas últimas décadas do século XIX só

. podiam ser explorados por sistemas de fábricas, em grande escala, equipamentos especializados, recursos seguros de materiais e canais de distribuição e uma nova organização do trabalho. (p. 40) (grifo nosso)

Assim, como não havia até então modelos de gestão que orientassem

a produção em larga escala, os próprios inventores-empreendedores

assumiram naturalmente a tarefa de organizar o processo produtivo. Reich

(1983) retira do "Diário" de Thomas Edison estas palavras: "Meu trabalho

aqui está feito, minha lâmpada é perfeita. Agora vou iniciar a produção

prática do invento". (p. 40) E observe-se que um inglês, Joseph Swan,

reivindicava para si a invenção da lâmpada elétrica, mas só Thomas Edison

conseguiu organizar o empreendimento para produzi-la, o que se

transformou num império industrial.

A Segunda Revolução Industrial ocorre simultaneamente em vários

países, com o início de grandes empreendimentos industriais. Mas é nos

Estados Unidos que o processo industrial se desenvolve mais rapidamente.

Segundo Reich (1983),

Page 36: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

I /

A América (. . .) estava singularmente bem equipada para a produção em massa de bens padronizados. eram excepcionalmente móveis o capital e o trabalho, grande o país, com recursos naturais de limites ainda desconhecidos, fontes baratas e abundantes de energia e um mercado potencial quase além do que se podia imaginar. (p. 42)

26

Assim, os Estados Unidos se tornaram a primeira nação a criar as

condições necessárias à produção em larga escala padronizada. Mas, de

outro lado, os ·inventores-empreendedores não tinham experiência na

"administração" das suas fábricas. Na realidade, eles não se preocupavam

com as tarefas administrativas da organização, nem com os sistemas de

coordenação e supervisão. Em vez disso, afirma Reich (1983),

supunha-se que a liderança empresarial requeria simples força de caráter, as virtudes protestantes de prudência, pontualidade e perseverança. (. . .) Os líderes emergentes do mundo dos negócios americanos proclamavam-se autodidatas e louvavam a missão cristã da empresa. O crescimento econômico e a força de caráter subjacente ao mesmo eram ao mesmo tempo apresentados como a salvação do mundo. (p. 46)

Outro aspecto é que a industrialização em larga escala, obtida em

pouco mais de algumas décadas, provocou três grandes problemas,

segundo Reich (1983):

o o excesso de produção em relação à capacidade de distribuir,

comercializar e consumir levou as empresas a remediarem o

problema através de fusões e consolidações, ou então de acordos

de preços entre os industriais, o que obrigou o Governo a

promulgar a Lei Antitruste Sherman, de 1890;

o · a deficiência .da organização das fábricas levou muitos industriais

a contratarem capatazes para supervisionarem os trabalhadores,· o

que provocou um agravamento das relações de trabalho, devido às

atitudes arbitrárias e autoritárias dos capatazes, criando

crescentes dificuldades na coordenação da produção dentro da

fábrica;

o a urbanização acelerada, provocada pela rápida industrialização,

fez aumentar a demanda de serviços sociais, · para o que o

Governo não estava preparado, pois, da mesma forma, a

"administração pública" também era incipiente.

Page 37: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

27

Estes três problemas conjugados provocaram a queda da

produtividade nas duas primeiras décadas deste século, decorrente,

portanto, de falhas na estrutura organizacional. Assim, segundo Reich

(1983),

reduziu-se o crescimento contínuo da produção em grande escala. A inquietação trabalhista, as tensões sociais e a agitação política nas primeiras décadas do novo século limitaram a produtividade e colocaram questões fundamentais sobre o papel das grandes empresas na vida americana. Os Estados Unidos procuraram uma solução para o que parecia ser um impasse em sua política e economia. A resposta surgiu sob a forma de uma nova visão política e econômica: a da administração da empresa. (p. 58) (grifo nosso)

Surgia, assim, o que o próprio autor chama de "A Era da

Administração de Empresas", cujo início ocorre em torno de 1920.

A Figura 2 mostra a evolução das eras empresariais ao longo de

quatro momentos principais. Adaptando o modelo proposto por Maranaldo

(1989), são as seguintes eras:

• Era da Produção em Massa

• Era da Eficiência

• Era da Qualidade

• Era da Competitividade

Page 38: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

Figura 2 - ERAS EMPRESARIAIS x RELAÇÃO EMPRESA-CLIENTE

I ÊNFASE NOS

VALORES

Adotar o

28

partilhar valo­

res)

Valor para

uma nova aborda­

gem gerencial

1920 1930 1940 19$0 1960 1970 1980 Ül90 2000

ERA DA PRODUÇÃO EM MASSA .....

j ERA DA EFICIÊNCIA

ERA DA QUALIDADE

• ERA DA

COMPETITIVIDADE

Tendo em vista o objetivo deste estudo, a evolução dos modelos de

gestão empresarial serão analisados de acordo com cada um destes

momentos. No entanto, com relação às duas primeiras eras, procurar-se-á

limitar a descrever suas principais características, pois a literatura sobre a

história da Administração tem fartamente explorado as várias Escolas e

teorias que foram surgindo ao longo daqueles dois períodos: a

Administração Científica, a Escola de· Relações Humanas, a Teoria

Burocrática, o Estruturalismo, a Escola Néo-Ciássica, a Teoria

Comportamental, a Escola Sistêmica e a Teoria da Contingência. Este

conjunto de . abordagens forma o que se pode chamar de "modelos

Page 39: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

29

tradicionais" de administração, das quais serão analisadas apenas as

primeiras três, que constituem a base principal do pensamento

administrativo, pois as demais evoluíram a partir das concepções propostas

por aquelas abordagens pioneiras.

2.2.1. A Era da Produção em Massa

A partir desta primeira Era, a gestão empresarial começa

efetivamente a se consolidar como um conjunto de conhecimentos e

princípios que viriam resultar na formação da primeira abordagem científica

da administração, cujas idéias básicas foram propostas por dois

engenheiros: Frederick W. Taylor, que se preocupava com a racionalização

do trabalho e Henri Fayol, que focalizava o aspecto funcional das

organizações.

Segundo Bertero (1992), esta Escola

foi a manifestação de uma racionalidade de tipo baconiano e cartesiano ao nível da teoria da organização. O próprio Taylor lamentava (. . .) a ineficiência industrial que acarretava enormes prejuízos à nação, retardando o seu ritmo de desenvolvimento. Esta ineficiência, no entender de Taylor, era motivada pela falta de uma ciência da administração que permitisse a objetivação dos procedimentos e a constituição de um corpo de conhecimentos que dessem à administração as mesmas características da universalidade encontradiças em outros setores do conhecimento e da atividade humana. (p. 16)

A Administração Científica baseava-se em três princípios:

1 °) a especialização do trabalho através da simplificação de tarefas

isoladas. Segundo Reich (1983)

o novo era o esforço deliberado, laborioso, de decompor as tarefas em seus elementos básicos, de modo que cada uma das tarefas pudesse tornar-se exata e extremamente simples. Especialistas em "tempos e movimentos" procuravam reduzir todos os trabalhos a um número finito de passos elementares, todos os quais poderiam ser distribuídos como tarefas distintas. (. . .) todos os trabalhos manuais consistiam de 17 movimentos básicos. Em todas as tarefas, alguns desses movimentos podiam ser eliminados ou combinados para se obter maior eficiência. (p. 83)

Page 40: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

30

2°) normas predeterminadas para coordenar as tarefas. Reich

(1983) continua:

. . . o aumento da especialização ex1g1a coordenação e controle detalhados por supeNisores de nível mais alto. A fim de assegurar a impossibilidade de decisões estreitas demais no nível de supeNisão, os supeNisores por seu turno, precisavam ser coordenados e controlados por um nível ainda mais alto de administração, capaz este de uma perspectiva mais ampla. A especialização pela simplificação obrigava ao desenvolvimento de hierarquias de administração, arranjadas em pirâmide. Todos os níveis da hierarquia eram responsáveis por uma parte progressivamente maior da operação. (p. 84)

3°) controle detalhado do desempenho

Mais uma vez é Reich (1983) quem explica:

O terceiro princípio derivava dos dois primeiros. A fim de saber que regra aplicar a uma situação específica, gerentes em todos os níveis precisavam de informações seguras sobre o estado corrente em cada fase do processo de produção. A administração científica oferecia um grande conjunto de instrumentos de coleta de informações: contabilidade de custos, controle de estoques, controles orçamentários, sistemas de apuração da situação financeira e relatórios sobre execução de tarefas. Requeria também um quadro de funcionários e cronometristas a fim de controlar os resultados. (p. 85)

Enfim, a administração científica tornou o trabalhador uma "extensão

da máquina", como mostra Charles Chaplin satiricamente em seu filme

"Tempos Modernos", de 1940. Este conjunto de princípios partia da

premissa do "homo economicus", baseada na racionalidade cartesiana que

pressupunha como a única motivação do trabalhador a obtenção de um

salário. De outro lado, isto levou à criação da "linha de montagem" de Ford

como o símbolo mais forte da Administração Científica.

A esta corrente de pensamento contrapõe-se uma segunda, ainda

dentro da abordagem clássica da administração, que veio a ser conhecida

como a "Escola de Relações Humanas", originada a partir das experiencias

conduzidas por Elton Mayo na ind~stria Western Eletric, de Hawthorne,

entre 1927 e 1932. Mayo percebe a importância da organização informal,

que leva os trabalhadores a buscarem a cooperação e o relacionamento

com outras pessoas no trabalho. Esta propensão à colaboração permite

Page 41: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

31

evitar o conflito social e leva o bem-estar às pessoas: portanto, a

administração deve ser humanizada, partindo da premissa do "homo social".

No entanto, segundo Bertero (1992),

as experiências e teorias de G. Elton Mayo e de seus seguidores, do chamado grupo das Relações Humanas não negaram a necessidade da racionalidade na esfera da administração, mas antes se satisfizeram em apontar algumas limitações dos teóricos anteriores, sem todavia contestar-lhes os fundamentos. O próprio Mayo (. . .); ao avançar uma explicação sobre as causas de não se terem desenvolvido em nossa civilização industrial as "habilidades sociais" (social skills) com a mesma intensidade com que se desenvolveram as "habilidades técnicas" (technical skills), acaba por deplorar o estágio em que se encontravam as ciências sociais, devido, em última instância, ao fato de não terem logrado realizar ainda a "revolução científica" que as ciências da natureza haviam realizado no início da Idade Moderna. (p. 18)

De fato, várias críticas são dirigidas à Escola de Relações Humanas,

considerando suas abordagens ingênuas: por exemplo, a solução dos

conflitos entre os trabalhadores e a organização pela simples negação do

conflito: a solução ficaria no plano teórico. Outras críticas se referem ao

caráter meramente experimentalista desta Escola e ao enfoque

"manipulativo" das relações humanas, visando o interesse exclusivo da

organização.

Assim, o "industrialismo" predominante na Era da Produção em

Massa ainda não contava com uma "ciência social" que permitisse

"operacionalizar" seus conhecimentos em "modelos gerenciais" que

orientassem a administração das organizações.

A Era da Pr~dução em Massa evolui até o final dos anos 40, já no

Pós-Guerra e, segundo Toffler (1980), tem seis características prinCipais,

que marcam a Segunda Onda de transformação:

1 °) A padronização, visando a massificação dos produtos para

atender milhares de consumidores que, pressupostamente, teriam a mesma

necessidade, ou seja, atribuiriam o mesmo valor (satisfação) para o produto.

O Gráfico 1 mostra claramente que isto determinava a relação entre

empresa e cliente de tal modo que a especificação técnica do produto era

definida pela primeira, sem preocupação com a satisfação do segundo.

Page 42: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

32

2°) A especialização, provocada pela divisão do trabalho: segundo

Toffler (1980), "A Segunda Onda substituiu o descuidado camponês pau­

para-toda-a-obra pelo minucioso e limitado especialista e o trabalhador que

só fazia uma tarefa." (p. 62)

3°) A sincronização, provocada pela valorização do tempo como

dinheiro, à medida em que a produção era efetivada através de máquinas

caras e que, portanto, precisavam ter ritmo próprio. Assim, a sociedade

humana é obrigada a ajustar o seu tempo (horário de trabalhar, de

descansar, de estudar e de todas as atividades humanas) ao "relógio do

sistema produtivo".

4°) A concentração, tanto de energia (insumo para produção em

massa), quanto de pessoas (força de trabalho). Segundo Toffler (1980),

o industrialismo (. .. .) foi chamado a Época das Grandes Encarcerações"- quando· os cnmmosos eram cercados e concentrados em prisões, os mentalmente afetados eram cercados e concentrados em "asilos de loucos" e as crianças cercadas e concentradas em escolas, exatamente como os trabalhadores eram concentrados em fábricas. A concentração ocorreu também em fluxos de capital, de modo que a civilização da Segunda Onda gerou a companhia gigantesca e, além disso, o truste ou monopólio. (p. 66)

Esta caracteristica é o início do gigantismo empresarial. Conforme o

mesmo autor (1980),

por meados da década de 60, as três grandes companhias de automóveis dos Estados Unidos produziam 94 por cento de todos os carros americanos. Na Alemanha, quatro companhias em conjunto -a Volkswagen, a Daimler-Benz, a Opel (GM) e a Ford-Werke -fizeram 91 por cento da produção. Na França, a Renault, a Citroen, a Simca e a Peugeot produziram virtualmente 100 por cento. Na Itália, a Fiat sozinha construiu 90 por cento de todos os automóveis. (p. 66)

5°) A maximização, provocada pelo que T offler chamou de

"macrofilia obsessiva" -uma espécie de mania de grandeza e crescimento.

Segundo ele,

se fosse verdade que os períodos de produção na fábrica produziriam custos de unidade mais baixos, então, por analogia, os aumentos em escala produziriam economias igualmente em outras

Page 43: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

atividades. "Grande" tornou-se smommo de "eficiente" e maximização tornou-se o quinto princípio chave da Segunda Onda. (p. 67)

33

Isto resultou que, quando os Estados Unidos completaram a fase do

industrialismo tradicional e começaram a sentir os primeiros efeitos da

Terceira Onda de mudanças, suas 50 maiores companhias industriais

tinham chegado a empregar uma média de 80.000 trabalhadores cada uma.

Algumas companhias já se tornavam gigantescas, como a General Motors,

com 595.000 empregados e a AT&T, atuante no setor de telecomunicações,

com 956.000 empregados por volta de 1970, quando esta se tornaria um

"dinossauro empresarial", conforme Toffler vai denominá-la mais tarde em

seu livro "A Empresa Flexível" (1985).

6°) A centralização, caracterizada pela passagem de uma economia

totalmente descentralizada da Primeira Onda para uma economia cujas

organizações passaram a utilizar métodos totalmente novos para centralizar

o poder; assim, os empregados foram divididos em funcionários "de linha" e

"de administração", visando centralizar o comando e as informações: estas,

por exemplo, fluíam por uma cadeia de comando centralizada até chegarem

ao nível superior, que tomava as decisões e enviava as ordens ao longo da·

linha. A administração centralizada, considerando o seu "sucesso" nas

grandes companhias de então, passou a se tornar modelo para outras

organizações e países cujas economias já faziam ou começavam a fazer

parte da Segunda Onda.

Para Toffler (1980),

estes seis princípios, cada um reforçando o outro, levam implacavelmente à expansão da burocracia. Produziram algumas das organizações burocráticas maiores, mais rígidas e mais poderosas que o mundo já vira, deixando o indivíduo a vaguear num mundo "kafkiano" de mega-organizações que se avolumavam. (p. 72)

Esta conseqüência do "inchaço" organizacional vai levar a uma nova

abordagem na evolução do pensamento administrativo, que foi o súrgimento

da Escola Burocrática e a passagem da Era da Produção em Massa para a

Era da Eficiência (dentro do modelo evolutivo das eras empresariais

ilustrado no Gráfico 1).

Page 44: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

2.2.2. A era da Eficiência

A Era da Eficiência demarca o que Motta (1986) chama de

transição da teoria da administração para a teoria das organizações, isto é, a tentativa de estudar o sistema social em que a administração se exerce, com vistas à sua maior eficiência, face às determinações estruturais e comportamentais. A preocupação com a eficiência do sistema. (p. 13)

34

Esta nova postura, decorrente das críticas efetuadas à Administração

Científica pelo - seu mecanismo - e à Escola das relações Humanas - pelo

seu romantismo ingênuo - levará ao surgimento da Escola Burocrática, a

partir dos anos 40.

A inspiração desta escola foi baseada na Teoria da Burocracia do

sociólogo alemão Max Weber. Segundo Bertero (1992),

Weber chega à teoria da organização pelo que ousaríamos chamar de via política. Ao estudar as transformações econômicas, políticas e sociais da sociedade ocidental a partir da Idade Média, Weber não pode deixar de fascinar-se pela importância que gradativamente veio assumindo o Estado até atingir sua atual fisionomia. O Estado como centralizador de poder e responsável pela manutenção da soberania, o que implicava no controle de uma determinada área geográfica, viu-se forçado a criar uma superestrutura administrativa para administrar a coleta de recursos com que sustentar forças armadas de caráter permanente e manter os quadros administrativos não militares para implementação dos ordenamentos jurídicos. Isto levou à criação de uma "Máquina administrativa" ou "burocracia" que se caracteriza, antes de mais nada, pela sua "profissionalização." (p. 18)

Assim, a Escola Burocrática, ao buscar explicar como as

. organizações devem atingir a máxima eficiência, estabelece a premissa do

"Homem Administrativo", ou seja, o comportamento humano é orientado pela

racionalidade: o comportamento humano é previsível.

A partir desta premissa, pode-se estabelecer alguns princípios

enumerados pela Escola Burocrática que caracterizam as organizações,

como:

• O trabalho é dividido racionalmente e as rotinas são padronizadas.

Page 45: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

35

• Há um conjunto de regulamentos e normas que estabelecem os

níveis hierárquicos de autoridade e as inter-relações funcionais.

• O sistema de comunicação é formalizado, tornando as relações

entre .as pessoas em caráter impessoal.

• O processo de carreira e as recompensas são baseados na

· meritocracia e na competência técnica.

Muitas destas características . da organização burocrática levarão

mais tarde à exaustão dos "modelos gerenciais" desenvolvidos ainda na

Sociedade Industrial. A Teoria Burocrática tem desdobramento na Escola

Estruturalista que, por sua vez, também recebe influências da Escola de

Relações Humanas. A Escola Néo-Ciássica procura retomar as idéias da

Escola Clássica, adptando-a às necessidades práticas das organizações

modernas.

As demais Escolas procuram desenvolver abordagens inovadoras,

como a Comportamental, que procura abandonar posturas normativas e

prescritivas das três teorias anteriores e a Escola Sistêmica, que focaliza a

organização como um sistema aberto: no entanto,. para efeito deste estudo,

não será necessário analisar estas abordagens de Administração, tendo em

vista que as três primeiras Escolas são as que demarcam as características

principais das organizações da Sociedade Industrial.

No próximo Capítulo, será analisada a exaustão dos modelos

tradicionais de administração, com a passagem da Sociedade Industrial

(Segunda Onda) para a Sociedade do Conhecimento (Terceira Onda). Ao

mesmo tempo, em termos de eras empresariais, as organizações estão

deixando para trás as Eras da Produção em Massa e da Eficiência e

ingressando nas Eras da Qualidade e da Competitividade.

Page 46: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

CAPÍTUL03

O ESGOTAMENTO DOS

MODELOS DE GESTÃO DA

SOCIEDADE INDUSTRIAL

Page 47: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

37

Os modelos de gestão analisados no Capítulo anterior, chamados de

"tradicionais", sobretudo a Administração Científica de Taylor e Fayol, a

Escola de Relações Humanas de Elton Mayo e a Teoria Burocrática de

Weber orientaram o surgimento e o crescimento das organizações, até que

estas se tornaram, em alguns casos, mega-corporações. À medida em que

foram crescendo, tais organizações foram adquirindo características cada

vez mais rígidas e passaram a ser o modelo do sucesso empresarial da

Segunda Onda.

O presente Capítulo tem o objetivo de analisar o esgotamento destes

"modelos de gestão" que, a partir dos anos 70, já não conseguem responder

aos desafios crescentes e cada vez mais complexos que afetam as

organizações. Ao mesmo tempo, é preciso compreender as causas daquele

esgotamento, as quais são explicadas basicamente pelo rompimento de um

novo paradigma: a passagem da Sociedade Industrial para a Sociedade do

Conhecimento. Mais uma vez, a humanidade esta revendo os aspectos

básicos que caracterizam as ondas de transformação: estamos passando da

Segunda para a Terceira Onda.

3.1. A TRANSIÇÃO DA SOCIEDADE INDUSTRIAL PARA A SOCIEDADE

DO CONHECIMENTO

Para. se analisar os novos modelos de gestão empresarial,

emergentes a partir dos anos 60 (com a administração _J.aponesa) e em

desenvolvimento ao longo dos anos 80 e 90, com novas abordagens, como

a gestão empreendedora e a gestão participativa, é necessário

compreender o cenário ambiental que provocou a exaustão dos modelos

Page 48: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

38

tradicionais de gestão. Na medida em que as organizações fazem parte de

um sistema político, social e econômico, as mudanças ambientais afetam

todos os tipos de organização- públicas e privadas; pequenas ou grandes;

com objetivos lucrativos ou não. Assim, todas estas organizações têm sido·

afetadas. nas últimas décadas por um conjunto de transformações que

represe~tam um novo paradigma: a emergência de uma nova Sociedade

que vai "suceder" ao modo de vida determinado até então pela Revolução

Industrial.

É bem verdade que a palavra "suceder" tem sentido relativo, pois a

intensidade de mudança depende de que "sociedade" estamos falando:

regiões mais desenvolvidas industrialmente certamente serão as mais

influenciadas na mudança para o novo paradigma. No entanto, há países

como o Brasil, no qual convivem três sociedades diferentes- da Revolução

Agrícola, da Revolução Industrial e uma minoria já vivenciando a nova

Sociedade Pós-Industrial.

Vários autores têm estudado e escrito sobre a mudança da

Sociedade Industrial para uma Nova Sociedade e várias terminologias

diferentes têm sido adotadas:

Daniel Bell (1973) foi o pioneiro em citar a "Sociedade Pós­

Industrial".

• Alvin Toffler dedicou uma trilogia a este assunto: O Choque do

Futuro (1970); a Terceira Onda (1980) e Powershift- As mudanças

do poder (1990), sem designar um nome específico para esta

"nova sociedade".

• Peter Drucker (1993) dedica um dos seus últimos livros à

"Sociedade Pós Capitalista".

• John Naisbitt (1982) utilizou o termo "Sociedade da Informação"

em seu livro "Megatendências", ao descrever o seguinte fato:

Page 49: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

Os Estados Unidos pareciam ser, exteriormente, uma economia industrial próspera, mas um marco fundamental simbólico, pouco noticiado, anunciava o fim de uma era. Em 1956, pela primeira vez, trabalhadores em posições técnicas, administrativas e de escritório, ultrapassaram em número os operários da indústria. A América industrial abria passagem para uma nova sociedade, onde, pela primeira vez na história, a maioria de nós trabalhava mais com informação do que com produção de bens. (p. 12)

39

Este fato é apenas um dos sintomas das profundas mudanças que

começavam a provocar as mais importantes e velozes transformações na

civilização humana: a era do conhecimento. No capítulo anterior,

analisaram-se as características de cada um dos estágios da história da

humanidade que antecederam a Sociedade do Conhecimento. Crawford

(1994) cita tais características desta nova Sociedade, quais sejam:

• Paradigma: a base é o conhecimento, orientado por ciências

avançadas: eletrônica, física quântica, biologia molecular e

ecologia. As idéias centrais do paradigma são de que os homens

são capazes de uma transformação contínua e de crescimento

(pensamento com cérebro integrado); o sistema de valores enfatiza

um indivíduo autônomo numa sociedade descentralizada com

valores femininos dominantes;

• O Sistema Político: baseia-se na cooperação global: as instituições

são modeladas com base na propriedade e no controle do

conhecimento; as normas são definidas a nível de organizações

supra-nacionais (exemplo: ISO 9000 para a Qualidade; ISO 14000

para o meio-ambiente), envolvendo também os governos locais e

suas unidades;

• O Sistema social: Há diversos tipos de famílias, inclusive as

formadas por homossexuais, sendo sempre o indivíduo o centro

das mesmas; há ênfase em auto-ajuda; os valores sociais

enfatizam a diversidade, o igualitarismo e o individualismo; a

educação é individualizada e contínua;·

Page 50: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

40

• O Sistema Econômico: A economia tem base global integrada, sua

atividade principal é a provisão de serviços de conhecimento com

maior fusão entre produtor e consumidor; a economia é

dinamizada através de organizações empreendedoras de pequeno

porte, cujos membros têm um ganho diretamente proporcional aos

seus resultados; o capital humano é o recurso fundamental;

Tecnologia: a energia é natural (sol e vento) e nuclear; os

materiais básicos de produção são recursos renováveis

(biotecnologia), a cerâmica e a reciclagem de materiais; as

ferramentas principais são máquinas para ajudar a mente

(computadores e eletrônica relacionada); os métodos de produção

são automatizados (robótica); o sistema de transporte é especial; o

sistema de comunicação utiliza canais individuais ilimitados,

através de meios eletrônicos.

Assim, este conjunto de novos paradigmas da Sociedade do

Conhecimento passa a tornar obsoletos os conceitos correspondentes que

vinham evoluindo ao longo da Revolução lndustrfal. Para as organizações,

por exemplo, os esU'!dos de tempos e movimentos de Frederick Taylor que

estabeleceram os fundamentos da Teoria Científica _da Administração têm

aplicação bastante restrita na economia do conhecimento, baseada

predominantemente em atividades ligados à informação, sobressaindo o

setor de serviços em detrimento das empresas manufatureiras.

As mudanças fundamentais da Sociedade Industrial para a

Sociedade do Conhecimento estão suportadas por um conjunto de

suposições que caracterizam cada uma destas Sociedades. Tais suposições

estão sintetizadas, para efeito comparativo, no Quadro 1.

Como decorrência das suposições básicas das Sociedades Industrial

e do Conhecimento, alguns valores básicos estão sofrendo transformações

radicais na passagem da primeira para a segunda. A seguir, alguns dos

valores objeto de tais mudanças são citados:

Page 51: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

41

• da hierarquia (Sociedade Industrial) para a igualdade (Sociedade

do Conhecimento): o nível educacional passam a gerar maiores

oportunidades de mobilidade social.

• da conformidade (Sociedade Industrial) para a individualidade e

criatividade (Sociedade do Conhecimento): as pessoas deixam de

aceitar passivamente o que está estabelecido e passa a gerar

(novos) conhecimentos.

• da padronização (Sociedade Industrial) para a diversidade

(Sociedade do Conhecimento): as necessidades cada vez mais

individualizadas dos clientes obrigaram as empresas a diversificar

suas linhas de produtos e serviços.

• da centralização (Sociedade Industrial) para a descentralização

(Sociedade do Conhecimento): em decorrência do maior

igualitarismo na sociedade e nas organizações, os modelos

autocráticos estão se tornando obsoletos.

• da eficiência (Sociedade lndustrial),para a eficácia (Sociedade do

Conhecimento): deve-se enfatizar mais os resultados do que os

meios e recursos para atingi-los.

• da especialização (Sociedade Industrial) para a generalização

(Sociedade do Conhecimento): as novas tecnologias de trabalho

requerem das pessoas visão holística (do todo) e postura

interdisciplinar na organização.

Page 52: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

42

Quadro 1 -COMPARAÇÃO DE SUPOSIÇÕES BÁSICAS NAS SOCIEDADES

INDUSTRIAL E DO CONHECIMENTO

SOCIEDADE INDUSTRIAL SOCIEDADE DO CONHECIMENTO

A maioria das pessoas deseja sucesso A partir do memento em que as necessidades

econômico para atender a necessidades de subsistência foram satisfeitas, as

materiais; assim, o modo de motivá-las é recompensas unicamente econômicas não

através de recompensas econômicas. são suficientes para motivar a maioria das

pessoas.'

O trabalho, para maioria das pessoas, deve O trabalho, para a maioria das pessoas, deve

ser rotineiro e padronizado. ser variado, não repetitivo e responsável,

desafiando a capacidade individual de

discernimento, avaliação e julgamento.

Quanto maior a empresa, nielhor, mais forte Há limites superiores para as economias de

e mais lucrativa será. escala, tanto para corporações quanto para

organizações governamentais

Mão-de-obra, matérias-primas e capital são Informação e conhecimento são os elementos

os elementos básicos da produção. básicos da produção. •

A produção de bens e serviços A produção de bens e serviços orientados

padronizados é mais eficiente que uma para o cliente, através de um novo sistema

produção artesanal, na qual cada unidade artesanal, ou a produção artesanal, baseada

produzida difere da próxima. na informação e na tecnologia avançada, é

mais eficaz do que a produção em massa.

A organização mais eficiente é a burocracia, A melhor maneira de organização não é

na qual cada suborganização tem um papel burocracia, mas adhocracia. Numa

permanentemente claro e definido na organização ad hoc, cada componente

hierarquia. A burocracia é uma máquina organizacional é modular e disp_onível, cada

organizacional para a produção de decisões unidade interage com muitas outras

padronizadas. lateralmente e as decisões são adequadas a

cada cliente e não padronizadas.

Os avanços tecnológicos ajudam a Os avanços tecnológicos não trazem

padronizar a produção e levam ao necessariamente o progresso e podem, se

progresso. . não forem controlados cuidadosamente,

destruir o progresso já alcançado.

Fonte: CRAWFORD, Richard. Na Era do Capital Humano. São Paulo: Atlas, 1994.

Page 53: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

43

o da maximização (Sociedade Industrial) para a qualidade de vida

(Sociedade do Conhecimento): ocorre um "ponto de mutação", na

visão de Capra ( 1989), que obrigará a sociedade a prestar mais

"atenção às condições políticas e considerar os custos sociais e

ambientais das atividades econômicas." (p. 203)

o da ênfase no conteúdo quantitativo (Sociedade Industrial) para a ênfase na qualidade do resultado (Sociedade do Conhecimento):

foi a grande mudança observada no comportamento dos

consumidores a partir dos anos 70, provocando a Era da

Qualidade.

o da segurança (Sociedade Industrial) para a auto-realização

(Sociedade do Conhecimento): as pessoas querem conquistar

seus objetivos pessoais e não mais serem agentes passivos,

aguardando que os mesmos sejam atendidos.

Este conjunto de suposições básicas e valores que estão sofrendo

um processo de mudança radical na passagem da Sociedade Industrial para

a Sociedade do Conhecimento estão provocando o mais importante

conjunto de transformações da história humana. Dentre os estudos que têm

avaliado os impactos destas mudanças, nos campos econômico, político,

social, cultural, organizacional e espiritual, destacam-se as análises das

megatendências dos anos 80 e do próximo milênio, conduzidas por John

Naisbitt e Patrícia Aburdene, que serão comentados a seguir:

3.2. AS MEGATENDÊNCIAS: AMEAÇAS E OPORTUNIDADES PARA AS

ORGANIZAÇÕES

No início dos anos 80, uma instituição privada dos Estados Unidos

(The Nasbitt Group ), passava a divulgar os resultados dos seus estudos

sobre as grandes mudanças que afetavam a sociedade americana. Neste

estudo, Naisbitt (1982) indicava as dez principais tendências que afetavarn

a sociedade, a partir de uma visão dos Estados Unidos para o mundo. Eram

as seguintes transfórmações que se vislumbravam:

Page 54: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

44

1) De Sociedade Industrial para a Sociedade da Informação.

2) Da Tecnologia Forçada para o Alta Tecnologia/Alto Contato

Humano.

3) Da Economia Nacional para a Economia Mundial.

4) Do Curto Prazo para o Longo Prazo.

5) Da Centralização para a Descentralização.

6) Da Ajuda Institucional para a Auto-Ajuda.

7) Da Democracia Representativa para a Democracia Participativa.

8) Das Hierarquias para as Redes.

9) Do Norte para o Sul.

1 O) Do "Isto ou Aquilo" para a Opção Múltipla.

Percebe-se uma razoável congruência com as mudanças

anteriormente citadas por Crawford (1994), quando este foca a passagem

da Sociedade Industrial para a Sociedade do Conhecimento.

As megatendências constituem um conjunto de grandes

transformações nos âmbitos político, social, econômico, cultural, tecnológico

e espiritual, sem esquecer os aspectos organizacionais. Assim, as

organizações são afetadas profundamente por tais mudanças, seja no

âmbito restrito do seu negócio (clientes, fornecedores e empregados), seja

no ambiente ampliado do negócio (variáveis macro-ambientais).

Neste sentido, cada uma das megatendências citadas representa um

desafio para qualquer organização: tal desafio, dependendo da forma como

a mudança é percebida pela mesma, pode ser vista por esta de dois

ângulos diferentes: como ameaça ou como oportunidade. Aqui a abordagem

é a mesma da Gestão Estratégica, que parte da identificação da missão e

do negócio e, em seguida, do conhecimento do ambiente do negócio,

através do conjunto de ameaças e oportunidades que afetam cada

organização.

Page 55: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

45

Embora Naisbitt & Aburdene (1990) tenham continuado e avançado

seus estudos das megatendências em direção à década de 90 e à virada do

próximo milênio, é preciso analisar melhor os efeitos das megatendências

dos anos 80 sobre as organizações, pois foi o momento de maior impacto e

cujas mudanças contribuíram para alterar radicalmente os paradigmas que

prevaleciam até então, ligados à Revolução Industrial: aquelas mudanças

representam o início da Sociedade do Conhecimento.

Assim, as empresas só sobreviverão à mudança dos novos

paradigmas, caso se antecipem ou se adaptem às novas características

ambientais, considerando a realidade sócio-econômica em que estão

inseridas. No caso do Brasil, por exemplo, aquelas megatendências dos

anos 80 só começam a ser sentidas de forma mais concreta nos anos 90 e,

mesmo assim, é preciso avaliar as diferentes realidades regionais no país,

considerando sua extensão territorial e sua complexa heterogeneidade

social e econômica.

As conseqüências (ameaças e oportunidades) que as organizações

têm sentido a partir destas megatendências podem ser sintetizadas em

algumas idéias:

• Megatendência 1: Da Sociedade Industrial para a Sociedade de

Informação

Segundo Naisbitt (1982), há cinco aspectos principais a serem

avaliados:

• A sociedade da informação é uma realidade econômica e não uma abstração intelectual.

• As inovações nas comunicações e na tecnologia de computadores acelerarão o ritmo da mudança, encolhendo o tempo de transmissão das informações.

• As novas tecnologias da informação serão aplicadas primeiro em antigas tarefas industriais, depois, gradualmente, gerarão novas atividades, processos e produtos.

• Numa sociedade muito letrada, onde os conhecimentos básicos de ler e escrever são mais necessários do que nunca, nosso sistema educacional se deteriora cada vez mais, formando pessoas cada vez menos preparadas. (p. 19)

Page 56: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

46

Esta última afirmação do autor, embora se refira à realidade dos

Estados Unidos, aplicada à situação brasileira, torna-se um verdadeiro

desafio nacional. O Brasil está entrando na "Sociedade do Conhecimento"

com um índice de escolaridade de sua população em torno de 3, 7 anos, em

comparação a índices entre 1 O e 14 à nos para os países mais

desenvolvidos.

Portanto, para as empresas, se de um lado há imensas oportunidades

de novos produtos e serviços baseados na informação, de outro há grandes

ameaças com relação a um mercado estreito para tais produtos e serviços,

bem como escassez de pessoas educadas para trabalharem em atividades

relacionadas a novas tecnologias.

• Megatendência 2: Da Tecnologia Forçada

Tecnologia/Grande Contato Humano

Segundo Naisbitt (1982),

para a Alta

sempre que uma nova tecnologia é introduzida na sociedade, deve ser contrabalançada por uma resposta humana - ou seja, o grande contato humano - ou a tecnologia é rejeitada. Quanto mais alta tecnologia, mais "grande contato humano". (p. 39)

Assim, à medida em que as empresas vão introduzindo novas

tecnologias, maior importância deve ser conferida à forma como as pessoas

- clientes ou funcionários - se adaptarão às novas tecnologias. Na

Sociedade Industrial, a tecnologia era forçada - as pessoas ficavam

alienadas ao produto do seu trabalho e, em conseqüência, míopes em

relação ao cliente.

Assim, as oportunidades desta mudança estão na busca do equilíbrio

entre as necessidades das pessoas e as novas tecnologias, sendo estas

que deverão se adaptar às primeiras. As ameaças são representadas pela

rejeição das pessoas - desde clientes que se recusam a "consumir" os

novos produtos ou serviços (exemplo: o cliente do banco que não se adapta

aos serviços eletrônicos de saques, saldos e pagamentos de contas)- ou de

Page 57: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

47

funcionários que não se adaptam às novas tecnologias, tornando-se

profissionais obsoletos e desmotivados.

• Megatendência 3: Da Economia Nacional para a Economia

Mundial:

Sem dúvida, esta é a mudança que talvez mais tenha ampliado sua

importância ao evoluir em direção aos nos 90, quando passa a ser uma das

principais megatendências. Sua manifestação mais concreta é pelo fim das

fronteiras geográficas dos países enquanto mercado, provocando a

formação de blocos econômicos regionais que vão se consolidar na década

de 90, como a Comunidade Econômica Européia (agora União Européia), o

NAFTA (North America Free Trade Agreement), a Associação Econômica

dos Países Asiáticos (evolução dos "Tigres Asiáticos") e Mercosul -

Mercado Comum dos Países do Cone Sul, envolvendo Brasil, Argentina,

Uruguai e Paraguai, bem como outros blocos em formação no mundo.

A globalização da economia está provocando os novos conceitos de

"produto global", "consumidor global", "empresa global" e "mercado global".

São produtos globais o automóvel, o computador, a alimentação "fast-food",

o vestuário "jeans", o calçado tênis e outros; são serviços globais as

telecomunicações (uma das provocadoras de tal globalização), a cultura

(vídeo, cinema e m~sica) e entretenimento (turismo, eventos esportivos e­

artísticos, entre outros).

De outro lado, esta megatendência está provocando o surgimento de

um estilo global de vida, manifestado no consumo daqueles produtos e

serviços globais, o que fêz "explodir" nos últimos anos as redes de

franchising, cujo crescimento é viabilizado exatamente pelo conceito da

"globalização do estilo de vida". No entanto, contrapõe-se a tal

megatendência o nacionalismo cultural, que reage frente à globalização, em

defesa dos valores comunitários ou nacionais, como território, cultura e

idioma próprio: é o fenômeno dos conflitos bélicos localizados, geralmente

de povos e nacionalidades que pretendem resgatar sua identidade cultural.

Page 58: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

48

Certamente não há empresa que não esteja afetada atualmente por

esta megatendência: mesmo que seja uma pequena empresa, sem qualquer

operação comercial com o mercado externo, provavelmente tem que ajustar

o seu produto/serviço, estratégia de marketing ou processo produtivo a esta

nova situação ambiental. Assim, as oportunidades e ameaças decorrentes

desta megatendência certamente estão entre as maiores, considerando

outras megatendências, inclusive com exigências dos modelos de gestão

das empresas, como será analisado adiante.

• Megatendência 4: Do Curto Prazo para o Longo Prazo

Na Sociedade Industrial, as empresas criaram estruturas voltadas

para a busca de resultados a curto prazo. A ênfase na atribuição de

objetivos e metas e seus sistemas de acompanhamento e controle; as

políticas de dividendos aos acionistas; os planos de carreira rígidos e

bonificações que premiavam resultados "do próximo balancete" levaram as

empresas a se voltarem "para dentro", esquecendo as necessidades dos

clientes e o seu próprio papel social. A mudança nos valores e

pressuposições básicas, na passagem da Sociedade Industrial para a

Sociedade do Conhecimento, provocou novas posturas dos clientes: maior

exigência com relação à qualidade dos produtos, postura ecológica no estilo

de vida, atitudes politicamente corretas e outras manifestações

comportamentais que evidenciam estarem as pessoas mais preocupadas

não apenas com o "seu" bem-estar, mas da coletividade.

Esta megatendência tem trazido ameaças às empresas no sentido

destas . não perceberem as mudanças que ocorrem no seu ambiente de

negócio. De outro lado, existem as oportunidades para aquelas que

repensarem o seu negócio e mudarem s.ua postura de planejamento

estratégico para visão estratégica. Tal mudança terá impacto fundamental

também nos novos modelos de gestão, como será analisado adiante.

Page 59: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

49

• Megatendência 5: Da Centralização para a Descentralização

A Sociedade Industrial provocou o surgimento de grandes

organizações, tanto públicas como privadas, a partir do conceito de

produção em massa. Tais organizações se agigantaram e se tornaram

verdadeiros "organossauros", sem condições de se movimentarem sobre

suas próprias "patas". À medida em que a velocidade das mudanças

aumenta, elas perdem flexibilidade para acompanhar tais mudanças. Para

sobreviver na Sociedade da Informação, é preciso ter agilidade: as grandes

organizações estão buscando o caminho reverso, através de processos de

descentralização, seja utilizando parcerias com pequenas empresas

(terceirização, franchising e outros tipos de parcerias), seja "demolindo"

parte da burocracia que conduziu à centralização. Os novos modelos de

gestão são, em parte, decorrência desta nova postura de demolir e

reconstruir uma empresa mais flexível, através de programas de melhoria

contínua ou mudanças radicais de reengenharia.

As ameaças da megatendência existem para as empresas que

reagirem defensivamente a esta mudança. As oportunidades existem para

as empresas que mudarem, inclusive para pessoas que estão buscando sua

auto-realização através de projetos de empreendimento próprio, tornando­

se parceiras de tais empresas.

• Megatendência 6: Da Ajuda Institucional para a Auto-Ajuda

A reconstrução da economia mundial, após a Segunda Grande

Guerra, seguiu a cartilha "keynesiana" que orientava o Governo a assumir

os investimentos básicos para atender as principais necessidades da

sociedade - educação, saúde, segurança, transportes, moradia, previdência

e outros. Era a política do "Welfare State" (Estado do Bem-Estar-Social).·

Segundo Naisbitt (1982)

confiamos cada vez mais no governo para nossas necessidades básicas. A função tradicional de um governo é a defesa e proteção de seus cidadãos. Pedimos também que ele fornecesse comida, moradia e empregos. Mas, na década de 60, o papel do governo

Page 60: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

cresceu a ponto de ele testar brinquedos, regular o meio ambiente e grande parte da economia. (p. 129)

50

O Brasil não só seguiu a mesma receita, como também, na visão dos

economistas liberais, "exagerou na dose". Isto criou uma imensa máquina

burocrática que chega praticamente falida nos anos 80 e ainda permanece

como o principal problema estrutural do país, sendo o consenso que a

solução .a longo prazo do processo inflacionário é a "reforma fiscal". Em

outras palavras, o Estado devolverá, através da privatização, a prestação da

maioria dos serviços de interesse público às instituições civis.

No entanto, independente desta iniciativa, a própria sociedade civil já

vem criando mecanismos alternativos à prestação daqueles serviços pelo

Estado. Assim, ao lado da assistência médica pública ineficiente, nasceu um

setor privado de prestação de serviços na área de saúde; idem nas áreas de

educação, segurança, previdência e outras.

De outro lado, o custo social do "Welfare State" tornou-se de tal

modo insuportável que, em alguns países, já se estuda o sistema do

"Workfare", ou seja, a vinculação da ajuda governamental aos que

trabalham ou estão temporariamente sem trabalho. Esta nova postura é

decorrente do "poço sem fundo" criado pelas políticas de proteção social

que, em alguns países, tornaram o "desemprego" uma ocupação formal

mais protegida do que o emprego de baixa renda.

, O movimento de auto-ajuda provocou o surgimento e crescimento

rápido de um conjunto de instituições que se voltaram para áreas de

interesse social, porém sem estarem formalmente no Governo: trata-se das

chamadas "Organizações Não-Governamentais" (ONG's) ou, como também

são chamadas, organizações do Terceiro Setor.

O reflexo nos negócios é a busca do auto-emprego, que tem

provocado o fenômeno chamado "entrepreneurship" nos Estados Unidos, no

período de 1975-85 e, no Brasil, a partir da recessão econômica no período

1981-83: em outras palavras, no momento em que as políticas públicas de

geração de empregos fracassaram com a recessão econômica, a sociedade

reagiu na tentativa dos indivíduos gerarem seu próprio trabalho e garantirem

sua sobrevivência econômica. "Saímos de uma sociedade administrativa

para uma sociedade empreendedora", afirma Naisbitt (1982). Esta

Page 61: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

51

megatendência é uma ameaça para as empresas cujas atividades ainda

dependem essencialmente da contratação pelo Estado, como empreiteiras

de obras públicas e fornecedores de produtos e serviços cujo principal

cliente é o Governo. No entanto, estão ocorrendo inúmeras oportunidades

de prestação de serviços alternativos à ineficiência governamental ou de

participação em processos de privatização de serviços públicos, seja

concorrendo isoladamente ou se associando em parcerias ou consórcios

com outras empresas. De outro lado, crescem produtos e serviços ligados à

tendência do "faça você mesmo" como uma indicação de que um maior

número de pessoas estão buscando sozinhas resolver seus problemas

operacionais e domésticos, em grande parte devido ao aumento dos custos

de prestação de serviços.

• Megatendência 7: Da Democracia Representativa para a

Democracia Participativa

Esta megatendência decorre diretamente das duas anteriores

(descentralização e busca da auto-aJl:Jda). Segundo Naisbitt (1982)

a ética da participação espalha-se de baixo para cima (. . .) e está alterando radicalmente a maneira como achamos que as pessoas devem ser dirigidas nas instituições. Cidadãos, trabalhadores e consumidores estão exigindo e obtendo maior voz ativa no governo, nos negócios e no mercado. (p. 157)

Portanto, esta megatendência tem efeitos no campo da política, dos

negócios e até das relações inter-pessoais, uma vez que a cultura

participativa cria maior voluntariedade e comprometimento das pessoas.

A Sociedade Industrial criou instituições públicas e modelou as

organizações privadas, visando a massificação dos produtos e serviços,

falhando num aspecto essencial: são "pessoas" que produzem e são

"pessoas" que consomem.

O consumidor não era ouvido, como indica a relação empresa-cliente

demonstrada no Gráfico 1, durante as Eras de Produção em Massa e da

Eficiência. Mas, a partir dos anos 70 nos estados Unidos e já nos anos 90

no Brasil, amadurece o movimento do consumidor ciente dos seus direitos.

Page 62: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

52

Forma-se um verdadeiro "partido do consumidor", movimento que

certamente terá cada vez mais maior peso político.

De outro lado, as pessoas, enquanto empregados de uma empresa,

passam a buscar maior espaço para sua auto-realização pessoal e

profissional através do trabalho. Esta nova postura, decorrente da mudança

dos valores básicos na Sociedade do Conhecimento, tem pressionado as

empresas a desenvolverem novos estilos de gestão, o que será abordado

adiante. Empresas que têm resistido a tal pressão correm a ameaça de

perder (se já não perderam) seus funcionários mais competentes e criativos.

De outro lado, empresas inovadoras têm utilizado a disposição de seus

funcionários para uma maior participação e têm tido sucesso no

desenvolvimento de um novo relacionamento com os mesmos, através de

uma postura de parceria "empresa-empregado". Em tais empresas,

inclusive, a palavra "empregado" já é substituída por outras, como

"associado", "colaborador", "talento", "ser humano" e outras.

• Megatendência 8: Das Hier,a_rquias para as Redes

A Sociedade Industrial elegeu o modelo "piramidal" para estruturar e

gerenciar as empresas e, para tanto, inspirou-se no modelo hierarquizado

da Igreja Católica e do exército. Várias correntes do pensamento

administrativo tentaram propor mecanismos mais eficientes, mas na prática

não houve resultados efetivos: o sistema de produção em massa impunha a

estrutura hierarquizada de poder. Com o advento da Sociedade da

Informação, ocorrem as seguintes mudanças que afetam as hierarquias

organizacionais:

• o fluxo das informações é diferente do fluxo da manufatura;

• começam a surgir nas empresas nos anos 70 alternativas

organizacionais de unidades menores e descentralizadas:

unidades de negócio; centros de ·lucros ou de resultados, entre

outras formas;

Page 63: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

53

• desenvolvem-se modelos participativos de gestão, envolvendo os

trabalhadores em equipes (círculos de controle de qualidade, por

exemplo);

• melhora o nível educacional dos trabalhadores, com postura de

rejeição natural à estrutura hierarquizada das empresas.

Este conjunto de mudanças não destruiu a hierarquia das

organizações: estas permanecem, tendo em algumas empresas sido

reduzidas quanto ao número de seus níveis e/ou, em outras, tendo passado

por flexibilização de suas normas. No entanto, a partir dos anos 80, começa

a proliferar, dentro e fora das empresas, a palavra "networking", ou seja,

"rede": trata-se de uma estrutura de comunicação lateral entre as pessoas,

fora da estrutura hierárquica formalizada.

E tais redes não se limitam ao campo do trabalho: hoje elas se

multiplicam na área de consumo ("network marketing"), na área social (o

movimento feminista em sua origem), na área de entretenimento

(competição de xadrez por computador, por exemplo), na troca de

informações tecnológicas (redes de conhecimento tipo Internet) e outras.

Em suma, as redes se tornaram uma forma de escapar às estruturas

hierarquizadas, pois estas não conseguem estabelecer relações laterais, já

que perderiam o controle de informações e, portanto, o poder. De outro

lado, nas redes prevalece o princípio "igualitário": há regras consensuais

que todos obedecem, mas não há controles hierarquizados.

Para as empresas que ainda adotam modelos centralizadores de

gestão, não há dúvida de que esta megatendência constitui uma das mais

sérias ameaças à sua sobrevivência. No entanto, para aquelas que

identificarem tais redes como oportunidades de mudanças em direção a

modelos mais flexíveis de gestão, certameote sobreviverão e se tornarão

uma espécie de empresa do futuro- a corporação virtual, baseada em redes

de parcerias, o que será comentado nos modelos emergentes de

administração.

Page 64: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

54

• Megatendência 9: Do Norte para o Sul

Esta mudança, do ponto de vista geográfico, diz respeito a uma

reestruturação da economia norte-americana, que está se deslocando não

só no sentido Norte para o Sul, como também do Leste para o Oeste. Nas

megatendências dos anos 90, tal mudança evolui para incluir a região

formada pela Orda do Pacífico ("Pacific Rim") formada pela Costa Oeste dos

Estados Unidos, mais Japão, Coréia do Sul, Hong Kong, Cingapura,

Formosa e os países de industrialização emergentes, como Tailândia,

Indonésia, Filipinas e o Sul da China, ou seja, trata-se da tendência do

deslocamento do eixo do "Atlântico" para o eixo do "Pacífico" como a região

economicamente mais dinâmica e competitiva do mundo. Tal reestruturação

é decorrente da estagnação e do declínio dos setores industriais

tradicionais, os quais estão sendo substituídos por outros setores mais

dinâmicos da economia. Este fenômeno também começa a ocorrer no Brasil,

com o deslocamento do parque industrial das regiões tradicionalmente

manufatureiras (área metropolitana de São Paulo, por exemplo) para outras

regiões de desenvolvimento industrial mais recente.

• Megatendência 10: Do "Isto ou Aquilo" para a Opcão Múltipla

A sociedade massificada da Revolução Industrial tinha poucas

oportunidades de exercer opção na escolha de produtos ou serviços,

procurando atender suas necessidades individualizadas. Mesmo fora da

área de consumo, a situação não era muito diferente: para o projeto de vida

pessoal, era casar ou permanecer solteiro; para escolher uma profissão, era

"colarinho azul" ou "colarinho branco" (trabalho na fábrica ou no escritório),

e outras situações semelhantes.

A Sociedade da Informação abriu a possibilidade da diversidade; há

múltiplas opções para tudo: desde a diversificação de produtos e serviços,

aproximando-se cada vez mais da personalização do atendimento, o mesmo

ocorrendo em todos os aspectos da vida humana; a família tem vários

arranjos possíveis que não mais a tríade "pai-mãe-filhos"; as carreiras

profissionais multiplicaram as opções com as novas tecnologias de trabalho;

a busca da espiritualidade pode ser atendida com uma ampla gama de

Page 65: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

55

religiões, seitas, movimentos esotéricos e filosofias alternativas de vida.

Enfim, o ser humano dificilmente poderá reclamar da falta de opções em

quase todos os campos de suas necessidades.

A ameaça para as empresas é não abrir o leque de opções de

produtos e serviços aos seus clientes. Assim, há grandes oportunidades

decorrentes da personalização crescente de produtos e serviços que

procuram atender de forma "customeirizada" os clientes potenciais.

A evolução das megatendências

As dez megatendências analisadas dizem respeito às mudanças

ocorridas ao longo dos anos 80, tendo em vista sobretudo a realidade do

que ocorreria naquela década nos Estados Unidos. À medida em que

aqueles fatos foram evoluindo (e confirmando a maioria das previsões) em

direção aos anos 90, observa-se que grande parte das mudanças

anunciadas passa a se generalizar por todos os países, abrangendo a

sociedade global, porém em ritmo e intensidade variados de acordo com o

grau de desenvolvimento sócio-eco~<?mico de cada país. Assim, no caso do

Brasil, apenas na década de 90 estão sendo percebidas as mudanças em

vários dos aspectos anunciados para os Estados Unidos nos anos 80: por

exemplo, a disseminação de sistemas de comunicação lateral (redes), a

descentralização de grandes estruturas, tanto na área pública como privada,

a maior integração à economia mundial, maior conscientização do

consumidor, entre outras posturas que vão se modificando e criando

ameaças e/ou oportunidades para as empresas.

No entanto, as megatendências dos anos 80 também evoluíram em

termos de conteúdo e o próprio Naisbitt, juntamente com Aburdene (1990),

desenvolveram novos estudos que levaram à descrição do cenário das

grandes transformações ao longo dos anos 90, em direção ao próximo

milênio. Segundo eles,

as tendências para o milênio influenciarão elementos importantes de sua vida - suas decisões quanto à carreira e emprego, suas escolhas em termos de viagens, negócios e investimentos, o lugar onde residir e a educação de seus filhos. Para obter o máximo desta

Page 66: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

extraordinária década, você precisa estar consciente das mudanças que estão ocorrendo à sua volta. (p. 23)

56

Tendo em vista os objetivos deste estudo, podem ser destacadas as

seguintes megatendências que mais estão afetando as organizações nos

anos 90, todas elas representando a consolidação de mudanças que já

ocorriam nos anos 80.

• a globalização da economia

• a globalização do estilo de vida

• o declínio do Welfare State

• a era da biologia

• a emergência de novas lideranças

• o triunfo do indivíduo

As duas primeiras representam o prosseguimento da integração

econômica global e foram aceleradas com o fim da Guerra Fria,

representado pela queda do Muro de·Berlim em 1989. De outro lado, as três

últimas representam aspectos que estão afetando diretamente as pessoas e

as organizações.

Assim, a "era da biologia" significa o abandono da postura

mecanicista da "era da física" tradicional (deve-se lembrar que a própria

física evoluiu para a abordagem da física quântica). Neste sentido, as

organizações serão modeladas segundo as premissas da biologia, ou seja,

dos organismos vivos, cujos elementos interagem dinamicamente e se

iritercomunicam com o seu ambiente externo. Os novos modelos gerenciais,

baseados em estilo participativo e visão holística, bem como a postura

empreendedora ou a tendência à corporação virtual, estão inspirados mais

nos preceitos da biologia do que da física.

Com relação à emergência das novas lideranças, segundo Naisbitt e

Aburdene ( 1990}, há dois aspectos mais importantes a destacar:

a) O princípio dominante da organização deixou de ser a gerência com o objetivo de controlar a empresa, e passou a ser a liderança com o objetivo de extrair das pessoas o que elas têm de melhor e de

Page 67: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

reagir rapidamente às mudanças"; b) "Fora do modelo militar de gerência, os homens e as mulheres são igualmente capazes de inspirar comprometimento e extrair das pessoas o que elas têm de melhor. (. . .) Se o homem foi o protótipo do trabalhador industrial, o trabalhador da era da informação é tipicamente uma mulher. (p.256)

57

Além da carreira empresarial, que tem obrigado diversas empresas a

reverem suas políticas de recursos humanos, no que diz respeito sobretudo

a planos de carreira e benefícios sociais, as mulheres têm aumentado sua

participação na carreira política e em cargos públicos. Também deve se

destacar a participação das mulheres na abertura de novas empresas,

sobretudo aquelas localizadas em setores originados das oportunidades de

mercado provocadas pela maior presença feminina no mercado de trabalho

(confecções, cosméticos, serviços de apoio doméstico, cuidados com o

corpo, educação e cuidados com crianças, entre outros).

Finalmente, com relação à megatendência "triunfo do indivíduo",

pode ser considerada como o "afunilamento" de todas as mudanças

políticas, econômicas, sociais, culturais, tecnológicas e espirituais, atuando

sobre as pessoas. A produção em massa será substituída pela produção de

pequenos lotes, direcionados a mercados globalizados cujos clientes

apresentam necessidades, cada vez mais individualizadas

("customeirização"). As megatendências da globalização da economia e do

triunfo do indivíduo estão criando uma situação aparentemente

contraditória, que Naisbitt ( 1994) chama de "Paradoxo Global", ou seja, --

quanto maior a economia (globalizada), menores, mais poderoso e mais

importantes são as suas partes (nações, empresas e indivíduos).

As pessoas passam a assumir uma crescente responsabilidade

individual diante dos problemas coletivos: desenvolve-se na sociedade o

conceito de "cidadania" e multiplicam-se os movimentos baseados no

voluntarismo e participação individual: por exemplo, a Campanha de

Combate à Fome, no Brasil e os movimentos ecológicos. Enfim, as pessoas

passam a resgatar a sua individualidade e não aceitam mais serem apenas

"elos de uma corrente" ou meros números de conta bancária, de CIC's e

RG's, de matrícula na Escola ou na empresa empregadora, entre_ outros

códigos que as vinculam burocraticamente a certas instituições.

Page 68: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

58

3.3. AS NOVAS ERAS EMPRESARIAIS NA SOCIEDADE DO

CONHECIMENTO

Analisadas as megatendências que, a partir dos anos 80, romperam

os paradigmas da Sociedade Industrial, cabe analisar os efeitos destas

grandes transformações sobre as empresas. Neste sentido, é preciso

retomar a análise da evolução das eras empresariais, apresentada na

Figura 1.

No Capítulo 2, foram descritas as Eras da Produção em Massa e da

Eficiência, bem como foram analisados os modelos tradicionais de

administração que evoluíram ao longo daquelas duas primeiras eras.

Com a emergência da Sociedade do Conhecimento (ou Revolução da

Informação), duas novas eras empresariais dão seqüência àquela evolução:

• A Era da Qualidade, nas décadas de 70 e 80;

• A Era da Competitividade, a partir do início dos anos 90.

A Era da Qualidade

A partir do início dos anos 70, um novo tipo de relacionamento passa

a existir entre o consumidor/cliente e a empresa: de um lado, uma postura

mais consciente do consumidor com relação à sua situação de consumidor.

O mundo acabava de passar por movimentos sociais de protesto e

contestação ao "status quo" até então existente: a filosofia de vida "hippie"

contestava a sociedade materialista de consumo e pregava estilos

alternativos de viver, em busca da liberdade e felicidade humana; nascia o

movimento ecológico, que evoluiria ao longo dos anos 80 para se tornar o

movimento pró-qualidade de vida nos anos 90; os estudantes reclamavam

por maior liberdade e por um sistema de ensino menos comprometido com o

poder econômico estabelecido (representado pelas organizações da

decadente Revolução Industrial).

Page 69: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

59

Diante deste novo quadro, as empresas se encontravam em

mercados cada vez mais saturados em termos de diversidade de produtos e

do andamento da concorrência. Assim, novas posturas passam a ser

buscadas, visando aumentar a satisfação (valor) para o cliente. Como

mostra o Figura 1, as curvas que simbolizam o valor para a empresa e o

valor para o cliente tendem a se encontrar, ou seja, ambas vão em direção à

Era da Qualidade; este novo momento da evolução da gestão empresarial

significará que não basta mais oferecer um produto ou serviço padronizado

(Era da Produção em Massa) a baixo custo operacional (Era da Eficiência):

mais do que isso, o cliente quer o atendimento das suas necessidades, o

que significa "qualidade".

É neste aspecto que as empresas japonesas começam a evidenciar

que estavam melhor preparadas que as empresas americanas e européias:

após 20 (vinte) anos de preparação, nos anos 50 e 60, as empresas

japonesas começam a difundir um novo conceito - Qualidade Total - que

viria a marcar de forma indiscutível um novo paradigma na relação

"empresa/cliente". Este foi o resultado do modelo gerencial desenvolvido no

Japão, como será analisado adiante, e que provocará a reação das

empresas ocidentais, sobretudo atr~xés do modelo de gestão participativa e

gestão empreendedora.

A Era da Qualidade significa ainda uma nova relação

interempresarial: à medida em que as empresas passam a buscar a

Qualidade Total, ou seja, a qualidade no processo de fabricação do produto

ou da prestação de serviço, todas as empresas envolvidas na cadeia de

produção serão necessariamente envolvidas na filosofia e nas práticas da

Qualidade Total.

Na medida em que as empresas vão adotando esta nova filosofia de

gestão ao longo dos anos 80, as grandes transformações, em velocidade

cada vez maior, vão determinar o início da era empresarial na qual nos

encontramos atualmente: a era da competitividade.

Page 70: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

60

A Era da Competitividade

Conforme pode ser verificado na Figura 1, esta era se caracteriza por

uma relação já consolidada entre empresa e cliente, cuja orientação passa a

ser a "superação da expectativa do cliente". Assim, diversas· empresas

passam a adotar lemas, como: "Não basta satisfazer o cliente, é preciso

encantá-lo"; "O cliente em primeiro lugar"; "O cliente é o rei", entre outros.

Esta nova postura é que determinará a Competitividade da empresa no

mercado, ou seja, a sua capacidade de sobreviver.

Ser uma organização competitiva passou a ser uma questão

imperativa tanto para organizações privadas como públicas: se, para as

primeiras, a questão era de sobrevivência física, para as últimas seria

cumprir a sua missão, ou seja, prestar serviços de interesse público com

qualidade (satisfação do usuário).

No Brasil, esta questão provocou recentemente o desenvolvimento do

"Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira", cujos coordenadores,

Coutinho & Ferraz (1994), afirmam que:

estão superadas as visões econômicas tradicionais que definiam a competítividade como uma · · questão de preços, custos (especialmente salários) e taxas de câmbio. Esta concepção levou, no passado, a políticas centradas na desvalorização cambial, no controle dos custos unitários de mão-de-obra e na produtividade do trabalho, como o objetivo de melhorar a competitividade em cada país. (p. 16)

Assim é que, por exemplo, países como Japão e Alemanha se

tornaram dois sucessos a nível mundial em competitividade, ao mesmo

tempo em que apresentavam fortes incrementos nos seus custos salariais e

enfrentavam longos períodos de sobrevalorização cambial.

Portanto, o novo conceito de competitividade, segundo Coutinho &

Ferraz, deve ser atribuído a um· conjunto de "fatores determinantes",

conforme ilustra a Figura 3. Há três tipos de fatores determinantes:

Page 71: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

61

Figura 3- FATORES DETERMINANTES DA COMPETITIVIDADE DE UMA

EMPRESA

FATORES INTERNOS À EMPRESA

~ - Estratégia e Gestão

- Capacitação para

Inovação

- Capacitação Pro-dutiva

- Recursos Humanos

~

1\ F> s

E T o R

F> E s

FATORES ESTRUTURAIS

(SETORIAIS )

Mercado Configuração Concor-

do Setor rência

FATORES SISTÊMICOS

- Macro-econômicos

- Internacionais

-Sociais

-Tecnológicos

- Infra-Estruturais

- Fiscais e Finan­ceiros

- Político-i nstitucio­nais

Fonte: Coutinho, Luciano & FERRAZ, João C. (Coord.}. Estudo da Competítívídade da

Indústria Brasileira. Campinas, SP: P.apirus-Editora da Universidade Estadual de

Campinas, 1994, p.19.

a) Fatores internos à empresa

Tais fatores são aqueles que estão sob o controle da empresa e com os

quais ela busca se diferenciar dos seus concorrentes:

• estratégia e gestão da empresa;

• capacitação da empresa para inovação;

• capacitação tecnológica e produtiva da empresa; ·

• a qualidade e a produtividade dos recursos humanos da empresa;

• o conhecimento do mercado e a capacidade de se adequar às suas

especificidades;

Page 72: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

62

• a qualidade e a amplitude dos serviços de pós-vendas;

• as relações privilegiadas com usuários e fornecedores.

b) Fatores estruturais e setoriais

Tais fatores são aqueles que, mesmo não estando sob controle da

empresa, estão parcialmente sob a sua influência e caracterizam o ambiente

competitivo que ela enfrenta diretamente:

• fatores relacionados às características dos mercados

consumidores em termos da sua distribuição geográfica e em

faixas de renda; grau de satisfação e outros requisitos impostos

aos produtos; oportunidades de acesso a mercados internacionais;

as formas e os custos de comercialização predominantes;

• fatores relacionados às configurações da indústria ou setor em que

a empresa atua, tais como grau de concentração, escalas de

operação, atributos dos insumos, potencialidade de alianças com

fornecedores, usuários e concorrentes, grau de verticalização e

diversificação setorial; e ritmo, origem e direção do progresso

técnico;

• fatores relacionados à concorrência, no que tange às regras que

definem condutas e estruturas empresariais nas relações com

consumidores, meio ambiente e competidores; o sistema fiscal­

tributário incidente sobre as operações industriais; práticas de

importação e exportação e a propriedade dos meios de produção

(inclusive propriedade intelectual).

c) Fatores sistêmicos

Tais fatores são aqueles sobre os quais a empresa não exerce

qualquer controle mas é afetada por eles, entre os quais:

Page 73: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

63

• fatores macroeconômicos (taxa de câmbio, oferta de crédito e

taxas de juros, por exemplo);

• fatores político-institucionais, como as políticas tributária e tarifária,

as políticas de compras do Estado e os programas de apoio ao

investimento em tecnologia;

• fatores regulatórios, como as políticas de proteção ambiental, de

proteção à propriedade industrial, de defesa da concorrência e da

proteção ao consumidor;

• fatores relacionados à infra-estrutura, tais como disponibilidade,

qualidade e custo de energia, transportes, telecomunicações e

serviços tecnológicos;

• fatores sociais, como a situação da qualificação da mão-de-obra

(educação profissionalizante e treinamento}, políticas de educação

e formação de recursos humanos, trabalhista e de seguridade

social e grau de exigência dos consumidores;

• fatores relacionados à dimensão regional, como os aspectos

referentes à distribuição espacial da produção; e

• fatores internacionais, como as tendências do comércio mundial,

os fluxos internacionais de capitais, de investimento de risco e de

tecnologia, relações com organismos multilaterais, acordos

internacionais e políticas de comércio exterior.

Portanto, a competitividade de uma empresa está relacionada à

competitividade do seu setor e do próprio país, que deverá visar e oferecer

as condições adequadas para que alguns setores empresariais, de acordo

com a vocação e as vantagens competitivas do país, possam abrigar

organizações competitivas. No entanto, devem-se destacar, tendo em vista

o objeto deste estudo, os fatores internos de competitividade, pois estes são

relacionados ao modelo e à capacidade gerencial da empresa. Assim,

empresas que, em plena Era da Competitividade, ainda adotam posturas ·

gerenciais da Era da Produção em Massa ou da Era da Eficiência,

dificilmente terão condições de sobreviver a esta nova Era.

Page 74: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

Concluindo, assim, Coutinho & Ferraz afirmam que

o sucesso competitivo passa (. . .) a depender da criação e da renovação das vantagens competitivas por parte das empresas, em um processo em que cada produtor se esforça para obter peculiaridades que o distingam favoravelmente dos demais, como, por exemplo, custo e/ou preço mais baixo, melhor qualidade, menor "lead-time", maior habilidade de servir à clientela, etc. O sucesso implica, também, que as empresas mostrem-se aptas não apenas a adotar estratégias competitivas adequadas, mas a impor correções de rumo quando necessário. (p.18)

64

Analisados os aspectos macroambientais que levaram à exaustão os

modelos tradicionais de administração (as megatendências e a emergência

das Eras de Qualidade e da Competitividade), serão avaliados no próximo.

item as características gerenciais da empresa brasileira e os desafios da

sua modernização, visando torná-la competitiva e garantir a sua

sobrevivência.

3.4. AS CARACTERÍSTICAS E OS DESAFIOS GERENCIAIS NA

EMPRESA BRASILEIRA

A partir das megatendências dos anos 80 e da emergência das Eras

da Qualidade e da Competitividade, a economia brasileira e o próprio setor

empresarial passam a sofrer grandes impactos provocados pelo cenário

mundial: num primeiro momento, as empresas encontram-se despreparadas

do ponto de vista de sua capacitação gerencial para reagir às ameaças ou

aproveitar as oportunidades; de outro lado, surgem os novos desafios para

· a modernização gerencial que irão evidenciar o rompimento das formas

tradicionais de gestão, ao mesmo tempo que indicarão os novos padrões de

práticas gerenciais a serem seguidos pelas empresas brasileiras.

Do ponto de vista econômico, o Brasil passa a receber profundos

impactos a partir de meados dos anos 70 e com maior força nos anos 80, à

medida em que as mudanças tecnológicas se aceleram e passam a

transformar as estruturas industriais nos países mais desenvolvidos

(passagem da Revolução Industrial para a Revolução da Informação ou

Page 75: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

65

Sociedade do Conhecimento): o maior impacto ocorre com a difusão cada

vez mais veloz das tecnologias da informação, baseadas na microeletrônica.

Estas novas tecnologias propiciaram uma maior integração da economia

mundial (a formação dos blocos econômicos de países, a globalização

financeira, entre outros aspectos), mas os efeitos sobre os países não

ocorreram de forma igual, provocando um crescente distanciamento da

capacidade competitiva entre os países mais desenvolvidos e aqueles

pertencentes ao chamado "Terceiro Mundo", do qual o Brasil é um dos mais

ativos componentes.

Estes impactos, segundo Coutinho .& Ferraz (1994}, tiveram os

seguintes impactos estruturais na economia brasileira, com reflexo na

competitividade do setor empresarial:

• a emergência do complexo eletrônico como carro-chefe do

dinamismo das novas tecnologias de informação e de

telecomunicações, epicentro do processo de inovação nos países

avançados;

• a transformação dos métodos de produção, principalmente com a

difusão de automação industrial flexível e integrada de novas

técnicas organizacionais que implicam mudanças significativas nos

processos fabris, nas relações de trabalho e nos requisitos

educacionais da mão-de-obra;

• as inovações na forma de gestão e de organização empresarial,

com o avanço das formas de interligação e integração intra e

interempresas (sendo inclusive estabelecidos novos padrões de

relacionamento entre produtores, fornecedores e usuários,

incluindo consumidores finais);

• a forte aceleração dos investimentos diretos no exterior,

conduzindo a uma crescente interpenetração patrimonial entre os

grandes grupos econômicos dos países desenvolvidos;

• o rápido crescimento do comércio internacional, em particular do

comércio interindustrial (e, dentro dele, do comércio intra-firma); e

Page 76: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

66

• a emergência de novas formas de concorrência entre grupos de

empresas, através de proliferação de redes de cooperação,

alianças competitivas, especialmente nos oligopólios mundiais.

Diante destes impactos que passaram a afetar diretamente o setor

empresarial brasileiro a partir dos anos 70, somados aos efeitos das

megatendências e à emergência das Eras da Qualidade e da

Competitividade, é preciso analisar quais eram as características gerenciais

predominantes das empresas brasileiras no período considerado (décadas

de 70 e 80). Assim, Boog (1991) define um conjunto de características, por

ele denominadas de "situação encontrada", presentes tipicamente na

empresa brasileira ao final dos anos 80; ao mesmo tempo, o autor propõe

um conjunto de características gerenciais que deveriam ser desenvolvidas

ou estar presentes na empresa brasileira, para que ela possa sobreviver na

Era da Competitividade: estas últimas são denominadas de "situação

desejável".

Ambas as situações (encontrada e desejável) estão ilustradas no · Quadro 2.

A "situação encontrada" na ·empresa brasileira evidencia que sua J

estrutura organizacional é rígida, baseada na ênfase à hierarquia, o que

leva a um processo decisório centralizado no topo da estrutura, ou seja, as

decisões são individuais. Isto leva os gerentes e dirigentes a se

concentrarem em suas atividades funcionais, com extrema lealdade à sua

área de especialização, o que exige dos mesmos basicamente habilidades

técnicas, pois serão cobrados pela sua eficiência, ou seja, pela gestão dos

recursos de que dispõem (atividades-meio). Este conjunto de práticas

reforça a cultura -da tradição na empresa, visando manter o "status quo" que

garantiu não somente o crescimento e sucesso empresarial, como também o

crescimento profissional daqueles que se moldaram às características

descritas.

De outro lado, a "situação desejável" indica que, para ser competitiva,

a empresa deverá buscar uma estrutura organizacional baseada na

flexibilidade, enfatizando o trabalho de grupo (modelos participativos de

gestão}, o que propiciará o clima adequado para a obtenção do consenso

da(s) equipe(s) no processo decisório: portanto, é preciso desenvolver

Page 77: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

67

novas habilidades nos gerentes e dirigentes, para que estes, além de suas

habilidades técnicas, estejam preparados para trabalhar com equipes de

pessoas (habilidades humanas), sabendo o momento oportuno para

delegar-lhes autoridade e propiciando gradual autonomia ao grupo. Ao

mesmo tempo, os gerentes e dirigentes deverão buscar uma visão do todo

(visão holística) da organização, sabendo conceituar e orientar a busca de

solução de cada problema da sua área (habilidades conceituais). Este

conjunto de novas práticas e de atitudes gerenciais propiciará à empresa

uma cultura mais empreendedora, voltada para a inovação em busca de

resultados.

Quadro 2 - CARACTERÍSTICAS DA EMPRESA BRASILEIRA

SITUAÇÃO ENCONTRADA SITUAÇÃO DESEJÁVEL

• Rigidez organizacional • Flexibilidade

... . Tradição . Inovação

• Ênfase na hierarquia • Ênfase no trabalho de grupo

• Centralização no topo . Delegação e autonomia

• Decisões individuais . Decisões consensuais

. Lealdade a seu departamento • Lealdade à empresa como um todo

. Gerentes com ênfase em • Gerentes com habilidades técnicas,

habilidades técnicas humanas e conceituais

• Importância às atividades . Importância aos resultados (eficácia) · (eficiência)

Fonte: BOOG, Gustavo G. O desafio da competéncia. São Paulo: Best Seller, 1991.

Page 78: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

68

As características assinaladas na "situação encontrada" são típicas

das empresas que se encontram ainda nas Eras da Produção em Massa e

da Eficiência e, portanto, orientadas em suas práticas gerenciais pelos·

modelos de administração tradicionais.

Por outro lado, as características da "situação desejável" são aquelas

observadas nas empresas que já estão buscando novas práticas gerenciais,

orientadas por novos modelos e abordagens da administração: portanto,

são empresas já preparadas ou que já vivenciam as características das Eras

da Qualidade e da Competitividade. Conforme se pode verificar na Figura 1,

as empresas que atingem a Era da Competitividade, após passar pela Era

da Qualidade, são obrigadas a assumir duas novas posturas, em relação às

suas posturas tradicionais:

1 °) adotar o chamado "marketing do valor", ou seja, desenvolver um

novo esforço orientado para superar a expectativa dos clientes.

2°) adotar novos modelos e teorias gerenciais, que transformem a

empresa numa organização inovadora e competitiva.

Nos dois próximos capítul9~. as duas questões acima serão

analisadas: no Capítulo 4 serão detalhadas as características dos novos

modelos gerenciais e, no Capítulo seguinte, serão avaliadas algumas·

experiências e resultados de empresas brasileiras que já colocam em

prática os novos modelos gerenciais.

Page 79: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

CAPÍTUL04

OS NOVOS MODELOS DE

GESTÃO: PRINCIPAIS

ABORDAGENS E SUAS

CARACTERÍSTICAS

Page 80: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

70

A partir da análise do rompimento dos modelos tradicionais de

administração, análise esta elaborada ao longo dos Capítulos 2 e 3, será

desenvolvido neste Capítulo o detalhamento dos novos modelos e práticas

gerenciais. Conforme já citado anteriormente, na definição do modelo desta

pesquisa, parte-se do ponto de vista de Kuhn ( 1991) de que as abordagens

da administração, em suas estruturas conceituais e teóricas, não possuem a

consistência de um paradigma típico das ciências normais. Neste sentido, o

que tem sido chamado, neste estudo, de "novos modelos gerenciais", tem

exatamente esta característica de abordagem em fase pré-paradigmática,

ou seja, não são conhecimentos solidificados em bases científicas que

permitam a ampla aplicabilidade no setor empresarial.

No entanto, tais abordagens foram desenvolvidas a partir da

evidência empírica de que estão contribuindo para a melhoria da

capacitação gerencial das empresas que têm aplicado várias práticas

inovadoras de gestão. Uma das contribuições mais importantes deste

estudo é tentar sistematizar este conjunto de práticas dentro de uma

estrutura denominada "novos modelos gerenciais" e que foi dividida em

cinco abordagens diferentes, assim designadas:

• Administração Japonesa

• Administração Participativa

• Administração Empreendedora

• Administração Holística

• Administração Virtual

As três primeiras abordagens serão consideradas como práticas

atualmente já conhecidas e difundidas largamente em várias empresas,

tanto a nível internacional como no Brasil. As duas últimas abordagens

estão ainda na fase embrionária de sua filosofia, enquanto uma nova linha

de pensamento administrativo, havendo poucas práticas que possam

assegurar a generalização de tais abordagens: portanto, podem ser

considerados os "modelos de administração do futuro".

Page 81: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

71

Para categorizar as vanas práticas inovadoras dentro dos cinco

modelos de administração acima citados, utilizou-se como critério principal o

conjunto de características assemelhadas ou intercomplementares destas

práticas. Assim, a partir da análise da sua origem histórica, da sua filosofia e

dos principais instrumentos que operacionalizavam os conceitos

decorrentes, foi possível reunir e categorizar as referidas práticas

gerenciais. De outro lado, já existe uma literatura que vem divulgando

·estudos sobre estas novas práticas gerenciais e já é possível identificar uma

certa coerência entre diversos autores quando os mesmos se referem à

"administração japonesa", à "administração participativa" e à "administração

empreendedora".

A seguir, será analisada cada uma destas novas abordagens da

administração.

4.1. ADMINISTRAÇÃO JAPONESA

Certamente um dos países cjue mais tem suscitado curiosidade e

provocado estudos sobre a sua situação nos últimos anos é o Japão. A

força da sua economia, hoje a segunda do mundo; a sua cultura milenar que

convive ao lado da sofisticação tecnológica, esta em grande parte

desenvolvida pelo próprio esforço de pesquisa e inovação das empresas

japonesas; e, também, o sucesso das indústrias japonesas, que se tornaram

competitivas em vários setores de atividade, sobretudo nos segmentos de

automóveis, produtos eletrônicos, material fotográfico, entre outros.

No entanto, antes de estudar a administração japonesa, é importante

compreender a base cultural milenar do povo japonês, que foi o principal

fator que possibilitou o surgimento e sustentação das várias práticas da

administração japonesa, bem como a evolução histórica que antecede a

origem deste modelo.

Page 82: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

72

4.1.1. Origem e evolução da administração japonesa

Com a Revolução Industrial implantada no Japão a partir de 1868,

correspondendo ao que historicamente se denomina "Restauração Meiji"

(restauração do poder imperial), inicia-se a modernização do país, depois

de alguns séculos de isolamento do resto do mundo. O desenvolvimento

econômico, propiciado pela sua modernização, torna o Japão o único país

não-ocidental a ser considerado uma economia industrial antes de 1945.

Uma das principais características da Era Meiji foi a prioridade à

educação: depois de abolir o feudalismo e o sistema social hierarquizado

que existia até então, procurou-se modernizar o Governo, através de uma

monarquia constitucional e de uma administração centralizada e provincial;

ao mesmo tempo, desenvolveram-se esforços para preparar o país para

ingressar no setor industrial, tanto leve como pesado. Para tanto, a

educação teria um papel estratégico: em 1871, foi criado o Ministério da

Educação e, a partir de então, foram treinados milhares de professores e

construiu-se uma ampla rede escolar. O ensino primário era obrigatório,

inicialmente com quatro anos, depois ampliado para seis anos. Investiu-se

também no ensino médio e ensino técnico, inclusive o médio superior, que

prepara os candidatos às universidades.

No entanto, como há registros de vanos autores, "as escolas se .

transformaram crescentemente num meio de ensinar ao povo sobretudo o

que pensar, em vez de como pensar". Assim, o ensino tornou-se doutrinário,

como mais tarde na União Soviética e na Alemanha nacional-socialista.

Segundo Peralva ( 1990},

nas aulas e nas casernas do Exército ensinava-se aos jovens japoneses glorificar as tradições militares do Japão. Eles chegaram a acreditar que a morte pelo imperador, no campo de batalha, era o destino mais glorioso do homem. Assim, criaram-se no japonês médio o nacionalismo fanático, já característico das classes mais altas e uma devoção ainda mais fanática ao imperador. (p. 21)

Na realidade, o que se buscava com esta "ideologia" educacional era

preparar a população japonesa para resistir a eventuais tentativas

colonizadoras de potências imperialistas ocidentais e, uma vez fortalecido o

país, inclusive de recursos materiais resultantes da sua incipiente

Page 83: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

73

industrialização, passar a disputar com aquelas potências imperiais a

conquista de colônias nas regiões sob sua esfera de influência.

De fato, nas décadas seguintes, o Japão passa a travar guerras de

conquistas imperiais com a Rússia e a China, tendo expandido seu território.

Estes aspectos históricos são importantes para a compreensão do modelo

japonês de administração, pois, ao longo da evolução cultural da sociedade

japonesa, foram se consolidando três valores principais: os conceitos de

pátria, família e trabalho.

Historicamente, o conceito que os japoneses têm de serem um povo

único se deve ao fato de que as ilhas que fazem parte do território japonês

sempre foram dominadas pelo mesmo grupo étnico, por quase 1500 anos,

sendo que neste período prevaleceu sempre o poder da mesma família

imperial, cujos descendentes atravessaram todas as reviravoltas da história

do Japão até o século XX.

Quando as forças de ocupação aliada chegaram ao Japão, após sua

rendição ao final da 11 Guerra Mundial, encontraram as pessoas, nas

palavras de um escritor, "aturdidas, titubeantes, entorpecidas pelo choque".

O novo comandante-supremo, o general norte-americano Douglas Mac

Arthur, observou: "Não houve somente a derrocada do poderio militar

japonês; houve o desmoronamento de uma fé, a desintegração de tudo em

que acreditavam e que regia suas vidas e servia como razão pata sua luta".

Assim, o conceito de "pátria" está ligado ao nacionalismo fervoroso

do povo japonês: cada cidadão é parte de um povo, de uma nação. A sua

vida só tem razão de ser quando está ligado aos destinos da pátria.

Exemplos deste valor cultural são os guerreiros samurais, que defendiam os

senhores feudais {portanto, era a defesa do clã a que se pertencia); os

"kamikazes", jovens pilotos de aviões de combate, na 11 Guerra Mundial,

cuja missão era atirar o avião contra o alvo inimigo; a devoção fanática ao

Imperador, o símbolo da pátria (a Junta americana de intervenção após a

·Guerra não puniu o Imperador, ciente de que estaria criando imensas

dificuldades com a população japonesa).

O conceito de "família" é decorrente do primeiro valor: a pátria só

será permanente através da família. O conceito é milenar e atravessa toda a

Page 84: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

74

história do povo japonês através dos "clãs", que eram a base da pátria. Na

família japonesa, cada pessoa tem um papel determinado e há expectativa,

por parte de outros familiares e da própria sociedade, que cada um cumpra

seu papel. Assim, as crianças representam o futuro da pátria e devem ser

educadas para continuar e aprimorar o progresso da nação; o pai é o

responsável pela provisão econômica da família; a mãe é a responsável

pela "gerência" da família, inclusive no aspecto financeiro; os idosos são o

símbolo da sabedoria e devem transmitir seus conhecimentos e experiência

de vida aos mais jovens. Há um grande respeito entre as gerações.

O terceiro valor cultural - o trabalho - é aquele que liga os dois

primeiros valores - pátria e família - dando base ao modelo gerencial

japonês. Se a família é que vai garantir a perenidade da pátria, o trabalho é

o que sustentará economicamente a família. E na economia industrial, da

qual o Japão sempre foi um dos países mais destacados (desde o início da

Era Meiji), o trabalho passou a ser exercido predominantemente nas

empresas. Daí, trabalho e empresa passam a fazer parte do mesmo valor

cultural. Ao ter sua economia destruída ao final da 11 Guerra Mundial, com

grande parte do seu parque industrial em ruínas e a sua produção industrial

reduzida a um sétimo do nível obtido em 1941, o país enfrentava o seu

maior desafio: reconstruir a nação. Segundo jornalistas da Time Life (1987),

as antigas virtudes dos japoneses, entretanto, não haviam desaparecido. A disciplina que os fez tão temidos na guerra ainda os servia na hora da catástrofe. Sua capacidade de trabalho superou a exaustão. Sua atitude propícia a esforços de cooperação sobrepujou a anarquia. Peritos na arte da sobriedade, os japoneses começaram a restaurar seu país devastado com cada pedaço de sucata que se pudesse achar nos destroços.

Mesmo despedaçados como estavam pela derrota, os japoneses, com honestidade notável, culpavam não o inimigo mas seus próprios líderes e o militarismo estabelecido desde á década de 30. Trabalhando em harmonia, foram gradualmente trilhando um caminho novo e melhor. {p. 89)

De fato, o trabalho árduo e disciplinado passou a ser uma das

características típicas da sociedade japonesa, o que vai se refletir em

algumas práticas do modelo japonês de gestão. Segundo o relato dos

mesmos jornalistas da Time Life (1987),

Page 85: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

A reputação dos japoneses de trabalharem duro, de forma dedicada e sem reclamações, tornou-se uma lenda moderna. Como qualquer outro país, · o Japão também tem seus rebeldes, contestadores e sonhadores. Mas em geral, no âmbito da empresa, é um país de viciados em trabalho. As jornadas são longas e principalmente em pequenas fábricas e empresas familiares espalhadas por todo o país. Funcionários de pequenas oficinas trabalham em suas bancadas por cinco dias e meio ou seis dias por semana. Só nas grandes indústrias a semana de trabalho foi reduzida para um máximo de 40 horas, mas a atividade é intensa.

75

"No Japão, o trabalho é uma cerimônia", diz o escritor lchiro

Kawasaki.

Muitas explicações foram dadas para a mania de trabalho dos japoneses. Uma motivação importante é o desejo de aprovação pelo grupo. Preguiça, no Japão, é considerada um terrível deslize moral. Se outros membros de seu grupo trabalham duro e você não, no fim você será rejeitado, diz o executivo de uma empresa. E ele continua: Ser excluído de um grupo é a coisa mais atérradora que um japonês pode imaginar. (p. 128)

Assim, a partir dos três valores culturais analisados - pátria, família e

trabalho/empresa - o Japão passa a reconstruir a sua economia,

centralizando tais esforços junto· ·às empresas. Após sete anos de

intervenção norte-americana, o Japão volta a conduzir o seu próprio

destino, com a assinatura do Tratado de Paz e o Tratado de Segurança

Mútua, ambos com os Estados Unidos, em 1952.

Com a reorganização do país, mantém-se a monarquia (por um

respeito às tradições) e implanta-se um sistema parlamentarista de

Governo: o primeiro-ministro é nomeado pelo Imperador (que tem apenas

uma função simbólica) e chefia o gabinete de ministros. Entre os Ministérios

governamentais, cabe destacar aquele que, além de ser o mais conhecido

internacionalmente, foi um dos responsáveis pelo reerguimento econômico

do país: o Ministério do Comércio Internacional e da Indústria - o famoso

MITI. Este Ministério elaborou um plano estratégico de desenvolvimento

industrial, que priorizou inicialmente alguns setores (siderúrgicas, estaleiros

e petroquímicas) e permitiu, através de financiamentos a longo prazo, a

reconstrução do parque industrial do ·país, porém agora com outro enfoque:

o esforço econômico, envolvendo Governo - empresários - trabalhadores,

não teria mais o objetivo de preparar o país para conquistar "sonhos

Page 86: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

76

imperiais" e sim para que o país se tornasse competitivo internacionalmente:

para tanto, seria necessário modernizar as empresas e incentivar a

pesquisa tecnológica. Inicialmente, deu-se prioridade à educação: desde a

nova Constituição de 1947, a educação obrigatória passou a ser de nove

anos e, diferentemente do ensino anterior, o objetivo era ensinar "a pensar"

e não "como pensar".

Nos primeiros anos da recuperação, o Japão contou com a "boa

vontade" dos países mais industrializados, sobretudo dos Estados Unidos,

que assumira compromissos de ajuda ao Japão após a assinatura do

Tratado de Paz (1952) e o fim da intervenção pós-guerra. Assim é que, com

a eclosão da Guerra da Coréia (1950-1953}, grande parte do suprimento às

tropas americanas - desde vestimentas até munições e outros objetos de

natureza bélica - passam a ser encomendados junto às indústrias

japonesas. Como os produtos japoneses não tinham boa qualidade, os

americanos decidem trazer um especialista em estatística do Departamento

de Recenseamento dos Estados Unidos - E. Edwards Deming - até então um

desconhecido, pelos próprios americanos, no campo da gestão empresarial.

A partir daquele momento, a gestão japonesa começava a dar seus

primeiros passos -e a mudar a própria Teoria da Administração.

O próprio Oeming (1990) relata sua participação pessoal neste

momento importante da história da gestão japonesa:

O mundo inteiro conhece muito bem o milagre do Japão e sabe que este milagre começou com um choque em 1950. Antes disso, a qualidade dos bens de consumo japoneses tinha granjeado, no mundo todo, uma fama negativa, de produtos mal feitos e baratos. (. . .) Subitamente, a qualidade e a confiabilidade dos produtos japoneses deram um salto e, em 1954, tinham ganho mercados no mundo inteiro. Tinha começado a nova era econômica. O que ocorrera?

A resposta é que a direção convenceu-se de que a qualidade era vital

para a exportação e que eles poderiam empreender a mudança.

Aprenderam, em seguidas conferências, alguma coisa sobre suas

responsabilidades pela consecução deste objetivo e que teriam que assumir

a liderança para este fim. A administração e os operários das fábricas

somaram seus esforços para conseguir qualidade e criar empregos.

Page 87: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

(. .. )As autoridades militares japonesas formaram, para o esforço de guerra, diversos grupos de cientistas (. . .) com um novo objetivo: a reconstrução do Japão. Um dos grupos passou a ser a União dos Cientistas e Engenheiros Japoneses - JUSE, (. . .) que começou a levar a sério a instrução a respeito dos métodos de aperfeiçoamento da qualidade. (. . .) o pessoal da JUSE resolveu que o passo seguinte seria trazer um especialista estrangeiro. O convite me foi feito em 1949 e eu pude aceitá-lo em junho de 1950. (p. 353)

77

A partir de então, Deming começa a divulgar suas idéias para

dirigentes empresariais e utiliza um fluxograma simplificado para apresentar

sua concepção sobre Qualidade, conforme ilustração da Figura 4.

Figura 4 - O FLUXOGRAMA DE MELHORIA DA QUALIDADE

DE EDWARDS DEMING

Recepçãoe I teste dos insumos

Projeto e reprojeto

E-(--- Pesquisa de

mercado

Consumidores

Fornecedores ;) de insumos e equipamentos ~

: ~ Produção, montagem, inspeção, distribuiçao ~ /

~;:?---~) Teste~s:L~os.) ) ~ ~ das máquinas, dos métodos, dos custos

Segundo o próprio Deming (1990) explica,

o consumidor é a parte mais importante da linha de produção - um princípio novo para a administração japonesa. Seria preciso garantir o desempenho dos produtos. Ela teria que olhar para a frente e projetar novos produtos e serviços. Teria que trabalhar com o fornecedor escolhido de qualquer material, em uma relação

Page 88: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

duradoura de confiança e lealdade no sentido de melhorar a uniformidade e a confiabilidade dos materiais fornecidos. A administração teria que prestar muita atenção na manutenção dos equipamentos nas instruções e gabaritos. (p. 354)

78

Em outras palavras, Deming estava mostrando aos dirigentes

japoneses que eles não deviam cometer os mesmos erros das empresas

americanas que, aliás, não davam até então importância às suas idéias.

Quais eram estes erros? Focar a qualidade nos produtos (inspeção da

qualidade) e não nos processos (qualidade total). Assim, a melhoria da

qualidade abrange todo o processo de produção, desde os insumos até o

consumidor, bem como a revisão do projeto do produto/serviço para o

futuro.

Outra contribuição importante na fase de aprendizagem sobre a

qualidade é a criação, pela JUSE, do Prêmio Deming de Qualidade, que

estimulou as empresas e as pessoas conquistarem este importante prêmio,

de prestígio crescente no país, tendo em vista o sentimento patriótico que

envolvia, naquele momento da história do Japão, a busca da qualidade.

A partir das idéias de Deming, a JUSE e os dirigentes empresariais

japoneses percebem que a filosofia tia qualidade, por ele divulgada, casa-se

perfeitamente com os valores culturais tradicionais do Japão: portanto, a

idéia seria facilmente disseminada entre os gerentes e trabalhadores, bem

como os fornecedores envolvidos no processo. O objetivo de todos naquele

momento era reerguer a pátria.

Assim, a JUSE passa a desenvolver um amplo esforço de educação

junto a diversas empresas líderes no Japão, treinando engenheiros,

supervisores e operários, em técnicas estatísticas voltadas para a melhoria

da qualidade.

Segundo Ogliastri (1992},

em 1954, convidaram o Professor Joseph Juran, um austríaco naturalizado norte-americano, para que lhes desse cursos sobre a administração do controle de qualidade, através do qual o seu conceito de "controle de qualidade total" disseminou nas grandes empresas japonesas os conhecimentos de gerência e de comportamento humano na organização que existiam nos Estados Unidos. (p. 32)

Page 89: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

79

Até 1970, já haviam sido treinados pela JUSE cêrca de 14.700

engenheiros e milhares de supervisores. Também foram ensinadas técnicas

de amostragem para pesquisa de mercado: já desde 1951, os treinandos se

dividiram em grupos para pesquisar, de porta em porta, as necessidades de

máquinas de costura, bicicletas e remédios das famílias japonesas. Assim, a

filosofia da qualidade total começava a impregnar a cultura empresarial

japonesa, que passava a se orientar para as necessidades do consumidor.

Por volta de 1960, outra evolução importante começava a ocorrer nas

empresas japonesas: por orientação do Dr. Kaoru lshikawa, começavam a

se formar grupos espontâneos de pessoas que trabalhavam juntas nos

mesmos processos ou tarefas, visando discutir os problemas da área e

buscar as soluções mais adequadas. Tais grupos procuravam, assim,

eliminar as causas especiais de variabilidade e aperfeiçoar os sistemas,

através de mudanças das ferramentas, dos projetos e das programações de

tempo e até mesmo de alterações de processo de produção. À medida em

que foram se multiplicando dentro das empresas, estes grupos passaram a

ser chamados de Círculos de Qualidade<*>, pois o objetivo fundamental era

a melhoria da qualidade.

O modelo dos Círculos de· Qualidade se disseminou entre as

empresas japonesas de tal forma que, segundo Ogliastri (1992),

em 1961, a revista japonesa Controle da Qualidade decidiu incorporar aos supervisores da fábrica as atividades de controle da qualidade, publicar uma revista dirigida a eles (a preços populares) e convidá-los aos painéis dos seus congressos. (. . .) O governo iniciou uma extensa campanha com prêmios e programas educativos pelo rádio e pela televisão, designou novembro como o "mês da qualidade" e impôs padrões muito altos para produtos destinados à exportação. (. . .) Em 1980, existiam dez milhões de japoneses que participavam de programas de círculos de qualidade. (p. 33)

Segundo Deming,

um dos cem relatórios feitos na convenção nacional dos CQ em Tóquio em novembro de 1980 foi uma explicação de como, com uma reesquematização do trabalho, cinco pessoas fazem agora, o mesmo trabalho que antes era feito por sete. Ou seja, cem pessoas conseguem fazer agora o trabalho de 140. As outras quarenta

(*) Círculo de Qualidade e Círculos do Controle de Qualidade são denominações da mesma prática de gestão participativa, com origem na gestão japonesa.

Page 90: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

pessoas não ficaram sem emprego. Foram, simplesmente, transferidas para outro trabalho. Contribuições como esta ajudam a melhorar a posição concorrencial da empresa, e o resultado final é que a empresa precisará de mais, e não de menos empregados. (p. 357)

80

À medida em que a economia japonesa se recuperava, era maior o

número de empresas que aderia às novas práticas de gestão, orientadas

para a qualidade. Deming (1990). previu este fato, como ele mesmo

descreve:

O primeiro obstáculo a ser vencido a nível de direção no Japão em 1950 foi a suposição geral de que seria impossível eles fazerem concorrência à indústria americana e européia, em vista da reputação de má qualidade do bens de consumo produzidos no Japão. O ano de 1950 foi o começo de um novo Japão em termos de qualidade. Previ, em 1950, que os produtos japoneses invadiriam, dentro de cinco anos, os mercados do mundo inteiro, e que o padrão de vida do Japão igualar-se-ia, com o tempo, ao dos países prósperos do mundo. (p. )

De fato, por volta de 1954, a economia japonesa passava do período

de recuperação para o de expansão, que ficou conhecido como a

"prosperidade Jimmu", em alusão aq nome do primeiro imperador da história

do Japão; em 1959, começava um novo período de prosperidade, que foi

denominado de "lwato", significando que era a maior desde as épocas

mitológicas. E, como previra Deming, na década de 60, o Japão ultrapassou

os suíços na produção de relógios, os alemães nos aparelhos fotográficos,

os americanos e os europeus em vários outros produtos eletrônicos e no

progresso ferroviário, com o trem-bala (Shinkansen).

"Disse a eles, muitos anos depois, que a qualidade japonesa poderia

ser a melhor e não a pior do mundo e que podiam transformar a frase "made

in Japan" de. um sinônimo de refugo em uma marca registrada de

qualidade", recordou-se Deming. De fato, a economia japonesa passa a ser

conhecida pela razão social "Japão SIA", tendo em vista que o país passava

a basear sua atividade no comércio internacional, importando matérias­

primas, processando-as e exportando produtos acabados para o resto do

mundo.

E Deming (1990) completa suas previsões acima:

Page 91: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

A base de minha confiança nesta previsões era: (1) observações sobre a mão-de-obra japonesa; (2) o conhecimento e a dedicação do trabalhador japonês e a sua ânsia de aprender; (3) a fé em que a direção da empresa japonesa aceitaria suas responsabilidades e delas se desincumbiria; (4) a ampliação da educação pela JUSE. (p.356)

81

Deve-se observar a presença dos valores culturais tradicionais do

povo japonês nas características do sucesso da empresa japonesa, na

previsão de Deming. Nos anos 70, as empresas japonesas se consolidam

no mercado mundial, destacando-se na liderança em vários segmentos,

como automóveis e produtos eletrônicos. A seguir, serão analisados

algumas das principais práticas e instrumentos gerenciais que foram se

desenvolvendo ao longo da evolução do modelo de administração japonesa.

4.1.2. Práticas e instrumentos da administração japonesa

Ao analisar a evolução da administração japonesa no tópico anterior,

verificou-se que foram sendo desenvolvidas duas importantes práticas

gerenciais que até então · os tradicionais de administração não haviam ... focalizado: o controle da Qualidade Total (TQC) e os Círculos de Controle

de Qualidade (CCQ). Além destas, outras práticas foram elaboradas ou

surgiram em decorrência dos valores culturais que permeavam a gestão das

empresas.

Para sistematizar estas novas práticas gerenciais da administração

japonesa, as mesmas serão divididas, segundo três categorias:

• práticas voltadas para a relação de emprego;

• práticas voltadas para a relação interempresarial;

• práticas de organização do trabalho e da empresa.

a) Práticas voltadas para a relação de emprego

Segundo Ogliastri (1992),

Page 92: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

a administração japonesa pode ser resumida em duas características: a prática de que a autoridade vem de baixo para cima e uma coesa organização de grupos de trabalho. As principais conseqüências desses dois fatos são um excepcional desenvolvimento de seus recursos humanos, a satisfação, lealdade e motivação das pessoas e um trabalho eficientemente orientado para o longo prazo. (p. 12)

Segundo Yoshino (1968), citada em Fleury (1993),

nos primeiros estágios de industrialização japonesa, a competição e a necessidade de acumulação de capital levou as empresas a adotar padrões de relações de trabalho tão predatórios quanto as ocidentais (europeias e americanas). A mão-de-obra era abundante, as condições de trabalho precárias, os contratos de trabalho temporários, com alta taxa de rotatividade. Em 1911, o Governo promulgou o "Factory Act" regulamentando as condições de trabalho.

(. . .) com o crescimento econômico, a necessidade de uma mão-de­obra mais estável, qualificada, com baixa taxa de rotatividade e absenteismo tornou-se prioritária. Foram modificando-se os padrões de relações de trabalho, passando os empregados a ser contratados diretamente pela empresa; reforçava-se a idéia da empresa como uma grande família.

E, assim, gradualmente, foram se definindo os traços mais distintos do sistema de gestão japonês: o emprego vitalício, os salários e promoções baseados na senioridade, idade e educação, o processo decisório (sistema ringi), a importância do grupo e não do indivíduo, gerando o comprometimento a uma · cultura corporativa extremamente forte. (p. 126)

82

Deve-se considerar que os "traços distintivos" de que fala Yoshino

(1968) foram formados sobretudo a partir do final dos anos 40, quando as

empresas japonesas se lançam no processo de reconstrução da economia

do país.

Peralva (1990), a partir das características da gestão de recursos

humanos na empresa japonesa, levanta as seguintes questões na relação

empresa-empregados:

Por que o japonês é solidário com a empresa de que é empregado? Por que, às vezes, nem termina as férias e volta ao seNiço? Por que, na maioria dos casos, em lugar de paralisar o trabalho, limita-se a exprimir seu desagrado ou apoiar sua reivindicação enrolando no braço ou na cabeça uma faixa vermelha, com os dizeres em branco

Page 93: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

"estamos em greve"? Será que o cidadão nipônico é mesmo, no dizer dos americanos, um "work-aholic", isto é, viciado no trabalho? Ou um patriota extremado? (p. 72)

83

Deve-se entender, inicialmente, que grande parte das características

da relação de emprego foram estabelecidas no período da reconstrução

econômica do país, quando os valores culturais, sobretudo o patriotismo,

influenciaram no desenvolvimento destas práticas.

Com relação à carga de trabalho, estatísticas internacionais, citadas

por Peralva ( 1990), evidenciam que o . trabalhador japonês está muito

próximo da carga semanal de trabalho (41,5 horas) em relação ao seu

colega norte-americano (40,0 horas) e alemão (40,2 horas). O que

diferencia bastante nesta comparação é o número de dias de férias pagas,

sendo no Japão em média de 13,9 dias ao ano, quando nos Estados Unidos

é de 22,2 e na Alemanha (ex-Ocidental) é de 24 dias.

O que explica a dedicação do trabalhador japonês ao trabalho é,

além dos fatores culturais e psicológicos de integração ao grupo e à

sociedade, o sistema de salários e bonificação, prevalecente nas grandes

empresas principalmente.

Segundo Peralva (1990),

o sistema japonês de bonificação faz com que, na prática e de maneira informal, o salário se divida em duas ou três partes. A primeira parte é recebida mensalmente, a segunda no fim do semestre, constituída de mais três salários, e a terceira no fim de ano, com três ou quatro salários extras (em média), dependendo do aumento da produtividade, em resumo, do lucro da empresa. (p. 73)

Assim, grande parte da remuneração do trabalhador é variável e tal

variação depende do resultado, para o qual cada trabalhador está

consciente da sua responsabilidade individual em ajudar a obtê-lo. Deve-se

ressaltar que há diferenças salariais entre as empresas japonesas,

dependendo do porte da empresa: aliás, o status de uma pessoa no Japão

depende do tamanho da empresa em que trabalha.

Assim, os jovens, quando concluem a universidade ou o nível. médio

( cêrca de 90% da população jovem completa pelo menos nove anos de

escolaridade), procuram ingressar em grandes empresas, que promovem

Page 94: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

84

seleção de candidatos no período logo após o término do ano letivo. Há

cerimônias para recepção e integração dos pandidatos aprovados que, a

partir daí, iniciarão uma longa carreira na empresa. Três novas

características devem ser analisadas na relação de emprego: a vitaliciedade

do emprego, a promoção por senioridade e a relação empresa-sindicato.

Emprego vitalício

Segundo Ouchi (1985),

a característica mais importante da organização japonesa é o emprego para a vida toda: o emprego vitalício, mais do que uma simples política, é a rubrica sob a qual muitas facetas da vida e do trabalho japoneses se integram.

(. . .) Emprego para a vida toda significa que uma grande firma ou um órgão do governo (. . .) admite uma grande quantidade de novos empregados, todos. de uma vez, embora geralmente não tenha trabalho para todos eles imediatamente. As promoções são sempre internas e uma pessoa com um, cinco ou vinte anos em uma empresa não será admitida e nem ao menos considerado por outra empresa. Uma vez contratado, o novo empregado é mantido até a aposentadoria compulsória, aos cinqüenta e cinco anos. Um empregado não será demitido por nada além de umfj grande ofensa criminal e a demissão é uma punição severa, pois quem foi demitido não tem esperança de encontrar emprego em uma firma comparável e, por isso, tem de procurar uma menor, que paga salários comparativamente menores e oferece pouca proteção, ou então tem de voltar para sua cidade natal. (p. 17)

Deve-se observar, no entanto, que este modelo de emprego vitalício

está restrito a 35% ou 40% no máximo das empresas japonesas e que, por

outra característica cultural do mercado de trabalho, praticamente tem

beneficiado os trabalhadores do sexo masculino.

Segundo Hirata (1993), a partir de uma pesquisa realizada nas

empresas japonesas em 1982,

Constatamos que os pilares do dito "modelo" japonês de relações industriais industriais não diziam respeito nem às mulheres assalariadas japonesas, nem aos trabalhadores das fábricas subempreiteiras, em geral pequenas e médias empresas.

A mesma pesquisadora retornou ao Japão em 1989, após um período.

de "boom" econômico sustentado durante 38 meses, quando o país

Page 95: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

85

apresentava a taxa de crescimento mais elevada do mundo industrial e

constatou que

esta conjuntura econômica modificou a gestão do emprego vitalício, ao introduzir a contratação em meio de carreira, e transformou de forma espetacular o perfil do mercado de trabalho. A atividade feminina aumentou de modo notável, sobretudo a das assalariadas em regime de "part-time" e, pela primeira vez na história do Japão, lançou-se mão do trabalho imigrante. (p. 17)

Deve-se considerar que a "importação" de mão-de-obra está

relacionada ao aumento do custo do trabalhador japonês que, nos anos 80,

alcança e, em alguns casos, ultrapassa o nível salarial dos países mais

industrializados; em função disto e do nível de bem-estar alcançado pela

população, já não havia trabalhadores disponíveis para realizar as tarefas

que no Japão são denominadas "ka ka ka" ( correspondendo às iniciais da

letra "k" e que designam: trabalho sujo, pesado e insalubre). Tais tarefas

são executadas pela mão-de-obra imigrante, incluídos aí grande parte dos

cento e cinqüenta mil "dekasséguis" brasileiros.

Senioridade

Trata-se do sistema de prom6Çao por antigüidade. Segundo Ogliastri

(1993),

o sistema de cargos hierárquicos na empresa japonesa tem muitas semelhanças com a organização militar. O cargo se adquire por antigüidade e as promoções são praticamente automáticas: nas empresas maiores, o executivo ingressa recém-formado pela universidade e, (. . .), depois de dez anos, recebe a sua primeira promoção, a assistente do chefe de um_grupo e, aproximadamente cinco anos depois, é nomeado chefe de um grupo. Somente a partir da promoção seguinte, a gerente de departamento, é que começa um sistema de promoções por mérito e não por antigüidade, e isto ocorre quando o executivo atinge os quarenta e cinco anos de idade: este é o nível de gerência média, encarregada do desenvolvimento de todo o pessoal do seu departamento. Depois seguem os cargos de alta gerência, de vice-presidência para cima. (p. 16)

Segundo análises realizadas recentemente por lnagami (1989),

citados por Fleury (1993), com base em dados do Japan lnstitute for Labor,

verifica-se que

Page 96: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

o sistema de promoção e salários com base na senioridade, com seu enfoque igualitário, vem sendo se transformando em um sistema orientado para a habilidade e desempenho; os empregados regulares não objetam ao novo sistema desde que as mudanças não sejam drásticas. (p. 135)

86

Ou seja, o sistema de promoção na empresa japonesa passa a

valorizar mais o mérito e o desempenho do que a antigüidade, uma vez que

esta impedia a ascensão de pessoas com maior talento e que poderiam sair

espontaneamente de empresa à busca de novas oportunidades de carreira,

inclusive através do negócio próprio. Ao se analisar adiante a gestão das

empresas americanas nos ·anos 70, vai se verificar que estas enfrentaram o

mesmo problema de incentivar a carreira interna de empregados criativos e

empreendedores.

Relação Empresa-Sindicato

Finalmente, outro aspecto a ser analisado na questão da relação

empregatícia no Japão diz respeito ao pap~l do sindicato. Durante a 11

Guerra Mundial, já havia os sindicatos de trabalhadores que, em sua

maioria, estavam ligados individualmente a gtar\des empresas e não a uma

entidade sindical. No entanto, com a revitalizaç~o econômica do país, a

federação sindical (SOHYO), que existia desd~ a ocupação norte­

americana, passa a fortalecer a sua participação na relação empresas­

empregados. Assim, segundo Peralva (1190},

duas vezes por ano empreendem-se negociações entre representantes das empresas e representantes dos empregados. É o que se denomina a lei de Ofensiva de Primavera (Shunto), que tem seu ponto alto no 1° de Maio, e a Ofensiva de Outono (Shiuto), que culmina em dezembro, quando se aproxima a grande festa de ano-novo e a febre do consumismo atinge as mais elevadas temperaturas. (p. 73)

Nos anos mais recentes, conforme Ogliastri (1993),

a SOHYO, maior federação sindical do país, quer chegar a uma negociação anual comum a todas as empresas. Mas durante os anos 80 adquiriu-se o hábito de esperar a negociação "de prova" em alguma empresa: as demais seguem a pauta da primeira, e aquelas que obtiveram melhores resultados que a empresa de base proporcionam um aumento ligeiramente maior. (p. 23)

Page 97: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

87

Com o crescente índice de participação dos trabalhadores na gestão

da empresa, sobretudo através dos Círculos de Controle de Qualidade, em

muitas empresas o sindicato perdeu o papel de intermediador entre

empresas e trabalhadores. No entanto, isto não significou o fracasso destes

sindicatos, pois eles passaram a atuar dentro de um novo papel, talvez mais

nobre do que o primeiro: como complementadores das políticas sociais das

empresas, e do Governo, através de sistemas de assistência médica, lazer,

cultura e esporte para os trabalhadores.

A seguir, serão analisadas as práticas da administração japonesa

referentes às relações interempresariais.

b) Práticas voltadas para a relação interempresarial

Certamente grande parte do sucesso das empresas japonesas pode

ser atribuído ao seu sistema de relações interempresariais. Historicamente,

as empresas japonesas, inicialmente devido à concentração do capital em

famílias (clãs) descendentes dos senhores feudais, formavam poderosos

conglomerados empresariais, coohecidas como "Zaibatsu". Com a

Revolução Industrial empreendida na Era Meiji, pretendia-se acabar com

tais grupos, desconcentrando o poder econômico. No entanto, eles

conseguiram sobreviver enquanto empresas, embora antigos executivos,

descendentes das famílias feudais, fossem expurgadas da vida pública.

Com o esforço de produção para a Guerra da Coréia e, em seguida, a

reconstrução do país, ·estes grupos ressurgiram e se multiplicaram,

formando uma espécie de um "tecido inter-empresarial": grande parte da

economia japonesa (mais de 50 por cento do PIS) está relacionada a estes

grupos. Mas, como os "zaibatsu" não tinham uma boa imagem junto ao ·povo

japonês, pelos problemas políticos que haviam provocado no passado

(corrupção de funcionários públicos, exploração predatória da mão-de-obra,

concentração do poder econômico, entre outros), o Governo decidiu

reestruturá-los, passando inclusive a se . chamarem "keiretsu" que, em

japonês, tem o sentido de "conglomerado empresarial".

Segundo Miyashita & Russell (1994), existem dois tipos de "keiretsu":

horizontal e vertical.

Page 98: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

88

O "keiretsul" horizontal é formado por um grupo de empresas,

atuantes em diversos setores diferentes da economia e que têm um banco

como o poder econômico central do grupo. São apenas seis "keiretsu's"

horizontais, conhecidos como "Big Six" e são os seguintes: Mitsui,

Mitsubishi, Sumitomo, Fuyo, Sanwa e Dai-lchi-Kangyo. Os três primeiros

eram antigos "zaibatsu" (e fazem questão de não incluírem esta informação

na sua memória empresarial). Cada um deles possui poderosas empresas,

diversas delas líderes em seus setores, inclusive a nível mundial.

Por exemplo, a Mitsui inclui a Toyota, a Toshiba e a lshikawajima

(estaleiros), além de dezenas de outras menos conhecidas; o Fuji Bank (do

"Keiretsu" Fuyo) inclui a Nissan, a Canon, a Hitachi, a NKK (televisão) e

outras.

Já o "kereitsu" vertical é um grupo de empresas que mantém relações

de compra e venda entre elas.

Ouchi (1985) descreve o funcionamento destes grupos:

c Cada grupo consiste em vinte a trinta grandes firmas, todas aglomeradas em torno de um banco poderoso. Essas grandes firmas representam cada um dós importantes setores industriais da economia, de modo que geralmente um grupo inclui uma companhia de navegação, uma companhia siderúrgica, uma companhia de seguros, uma companhia de comércio, e assim por diante.

Por sua vez, ao redor de cada uma das grandes firmas, há uma série de empresas satélites, talvez cem ou mais, em alguns casos. Essas empresas satélites, pequenas firmas que empregam uma família ou talvez cem pessoas, geralmente fabricam submontagens ou prestam um serviço, vendido somente a um único cliente maior. As empresas satélites não eram consideradas como membros do grupo e não desfrutavam da proteção financeira ou outros tipos de proteção oferecidos às firmas maiores.

A relação entre as satélites e as maiores firmas no Japão constitui um monopólio bilateral, em que a empresa satélite tem somente um cliente para seu produto e a firma maior tem somente um fornecedor para cada um dos seus insumos. (p. 18)

Outro aspecto importante da relação interempresarial na

administração japonesa é a integração das empresas para colocar em

Page 99: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

89

prática os sistemas "just-in-time" e kanban, o que será analisado .no tópico a

seguir.

c) Práticas de organização do trabalho e da empresa

As práticas voltadas para a relação empresa-empregados e para as

relações interempresariais se refletem ou interagem com as práticas

int~rnas da gestão japonesa, tais como: o processo decisório, a filosofia da

melhoria contínua (kaizen) e a gestão industrial Uust-in-time, kaban e

manufatura flexível). Cada uma destas práticas será analisada a seguir.

O processo decisório

Uma das características mais conhecidas da administração japonesa

é o sistema de decisão, cujo processo é consensual: há uma palavra

específica para designar tal processo: "ringi". Esta palavra se compõe de

duas partes: "rin" significa "submeter proposta a um superior e receber sua

aprovação" e "gi" significa "deliberações e decisões".

Este sistema possibilita que· as decisões sejam tomadas de baixo

para cima, invertendo a pirâmide tradicional dos sistemas hierarquizados de

decisão. Inicialmente, o sistema "ringi" procura estimular a diversidade de

idéias e alternativas de decisão, evitando a homogeneidade, que é

característica das organizações burocráticas (as mesmas pessoas tomam as

mesmas decisões sobre os mesmos problemas em suas áreas de

responsabi I idade).

Assim, o passo inicial é estimular os subordinados ou pessoas mais

jovens da equipe a propor as alternativas a uma decisão.

Ouchi (1985) relata o processo "ringi" em um banco japonês.

Quando está para ser tomada uma grande decisão uma proposta escrita coloca em discussão uma alternativa melhor. A tarefa de redigir a resposta vai para o membro mais jovem e mais novo do departamento. Naturalmente, o presidente, ou o vice-presidente, conhece as alternativas aceitáveis e o jovem tenta ao máximo calcular quais são elas. Conversa com todos, solicitando opiniões, dando atenção especial aos que conhecem melhor o homem da cúpula. (. . .) Este jovem freqüentemente cometerá alguns erros

Page 100: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

durante o processo. Sugerirá coisas que são tecnicamente impossíveis ou politicamente inaceitáveis, .e deixará de incluir outras. Os administradores experientes jamais se impõem ao jovem, nunca se sentam com ele para dizer-lhe o que a proposta deveria conter. (. . .) Por fim, é redigida uma proposta forma que depois circula desde a base da organização até o topo. Em cada estágio, o administrador em apreço manifesta sua concordância, fixando seu carimbo no documento. No final deste processo "ringi", a proposta está literalmente coberta de carimbos de aprovação de todas as pessoas envolvidas. (p. 46)

90

Depois de obtido o consenso, o documento aprovado passa a circular

entre os vários gerentes para a aprovação formal. É normal este processo

decisório levar algumas semanas ou meses, de acordo com a complexidade

do problema a ser decidido. E a responsabilidade da decisão fica tão difusa

que ela não pode ser atribuída a uma pessoa, individualmente. Em teoria, a

responsabilidade final caberia ao presidente, mas ele pode alegar que agiu

com base na aprovação prévia dada pelos membros da equipe. A

responsabilidade fica compartilhada entre todos os membros da equipe.

Existe pouca margem para que o presidente possa fazer um

julgamento independente sobre a questão a decidir. O documento aprovado

por consenso não apresenta alternativas e os dados que o acompanham

são escassos -e, naturalmente, sempre em apoio à decisão proposta.

Assim, é raro ocorrer a não aprovação de uma proposta pela alta

administração.

O sistema "ringi" de decisão não é compreendido pelas empresas I

ocidentais, o que se justifica pela questão cultural. Mas, à medida em que o

Japão vem participando crescentemente da economia mundial e aumenta o

volume de suas operações com empresas ocidentais, as empresas

japonesas têm tido dificuldades em manter este processo consensual de

decisão, devido à lentidão inata do processo. Assim, embora um grande

número de empresas ainda mantenha o sistema "ringi", evidencia-se que é

utilizado cada vez menos, sobretudo pelas empresas que estão em setores

mais competitivos ou globalizados, nos quais as decisões devem ser mais

rápidas para acompanhar a velocidade das mudanças.

Page 101: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

91

A filosofia da melhoria contínua

Esta filosofia, mais conhecida como "kaizen", significa a melhoria

contínua, ou seja, a busca permanente da perfeição. A palavra tem duas

partes: "kai" tem o sentido de repetição e "zen" é o estado da perfeição, de

acordo com a religião budista. Os japoneses levaram este conceito espiritual

para dentro das empresas e fizeram do mesmo uma prática vinculada à

gestão da Qualidade Total. Assim, cada vez que se atinge um resultado de

melhoria; não. pode se acomodar: é necessário continuar a desenvolver

novos esforços, visando obter uma nova melhoria. E assim por diante, sem

nunca chegar ao estágio da perfeição. Foi provavelmente com base nesta

filosofia que os japoneses vêm perseguindo, e continuam a perseguir, o

aprimoramento dos seus produtos, como a miniaturização dos componentes

eletrônicos, que possibilitou passar do "mainframe" para o computador

pessoal de mesa ("desk-top"), depois o computador portátil de colo ("lap­

top"), depois o computador de bolso ou que cabe na palma da mão ("palm­

top") e já existe até o "finger-top", para aplicação na medicina em cirurgias

intra-vasculares ou operações de robótica de micro-precisão.

Outro aspecto fundamental d~. filosofia "kaizen" é que, segundo lmai

(1990),

o kaizen gera o pensamento orientado para o processo, já que os processos devem ser melhorados antes que consigamos resultados melhores. Além disso, o kaizen é orientado para as pessoas e dirigido aos esforços das pessoas. Isto contrasta nitidamente com o pensamento orientado para o resultado, da maioria dos gerentes ocidentais. (p. 14)

Neste sentido, a idéia de "melhoria contínua" se contrapõe à idéia

ocidental de inovação. Enquanto a inovação busca a solução de problemas

através de saltos, a filosofia "kaizen" busca as mesmas soluções através de

pequenas melhorias. O resultado é que, enquanto a inovação exige maior

esforço inclusive de mudanças. culturais e até de maiores investimentos, o

"kaizen" pode ser aplicado com a adaptação mais gradual das pessoas ao

novo "status quo" resultante da melhoria contínua.

A filosofia do "kaizen", aplicada em programas de Qualidade Total,

tem gerado a criação dos chamados "Grupos de Melhoria Contínua", a

serem analisados no modelo de administração participativa.

Page 102: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

92

Práticas de gestão industrial

Depois de implantar vários mecanismos de gestão na empresa como ·

um todo, à medida em que as empresas japonesas foram aumentando seu

volume de operações, novas práticas e técnicas gerenciais foram

desenvolvidas, agora voltadas para o processo industrial. As três práticas

mais conhecidas nesta área são: os sistemas just-in-time, kanban e

manufatura flexível que, para serem compreendidos, devem ser analisados

em conjünto.

Focalizando a gestão da produção nas empresas japonesas, Coriat

( 1993) afirma que

uma das causas essenctats da formidável competitividade das empresas japonesas tem a ver com o fato de que, por razões que lhe são próprias e que a história econômica e a sociologia histórica do Japão explicam, este país se viu na situação de ter que inovar nas áreas associadas da organização do trabalho e da gestão de produção. E que, pelo jogo de uma série de inovações organizacionais coerentes entre si, ele formou por fim uma verdadeira "escola japonesa de gestão de produção", distinta da escola clássica americana (Administração Científica), justamente associada aos nomes de Taylor e Ford). Ponto-chave, esta nova escola se revela especialmente adaptada às condições contemporâneas da competição entre empresas, nas quais a obrigação de diferenciação e de qualidade têm um lugar essencial. (. 79)

Assim, os japoneses seguiram caminhos diferentes dos americanos

no que diz respeito à racionalização do trabalho ao invés da especialização

em tarefas, no Japão partiu-se para a polivalência dos trabalhadores

qualificados. Para tanto, foi adequado o arranjo físico de máquinas e

treinado o operador para que ele possa desempenhar múltiplas funções,

otimizando a utilização de seus tempos ociosos.

Analisando o sistema de produção da empresa japonesa, Ribeiro

(1989) conclui que

o milagre japonês não tem nada de sobrenatural. O que existe é uma atitude dirigida para o HOMEM, procurando aprimorar suas habilidades e através dela partir para programas mais amplos de otimização da produtividade. Foi através desta reversão conceitual, definindo o HOMEM como ponto chave, ao invés da MÁQUINA, que os japoneses conseguiram se impor dentro da comunidade

Page 103: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

industrial, tornando-se respeitados como fabricantes de produtos de alta tecnologia, elevada escala de produção e baixo custo. (p. 1 O)

93

O sistema de produção japonês tornou-se um paradigma para todo o

mundo industrial; neste sentido, vários autores têm denominado este

sistema de:

• japonização ou toyotismo- Wood (1993)

• ohnismo- Coriat (1993)

• sistema de produção Toyota ou sistema kanban- Ribeiro (1989).

Historicamente, atribui-se a Taiichi Ohno (daí, o ohnismo de Coriat),

ex-vice-presidente da . Toyota Motor Company, o desenvolvimento das

técnicas industriais que vieram a constituir o sistema japonês de gestão

industrial: isto ocorreu no início dos anos 50, portanto, no período de

recuperação do parque industrial. No· entanto, as técnicas só se

consolidaram como um novo sistema de produção no período de expansão

da economia japonesa pós-1954.

A seguir, serão analisadas .as três principais técnicas de gestão

industrial desenvolvidas pela administração japonesa: o "kanban", o Just-in­

Time e a manufatura flexível.

KANBAN

A palavra "Kanban" em japonês significa cartão ou painel. É através

de cartões ou painéis que o sistema de controle de produção comanda as

operações: quem determina a fabricação de um novo lote é o consumo das

peças ou componentes realizado pelo setor seguinte.

Assim, o controle "kanban" praticamente elimina da fábrica os papéis,

as chefias e a burocracia: ficam apenas ·as atividades-fins, que serão

programadas e controladas pelo "kanban", uma vez que estas geram valor

(satisfação) para o cliente e este se dispõe a pagar este custo.

Neste sentido, Ribeiro (1989) afirma que,

tradicionalmente, a programação de produção explode, em diversas ordens de serviço, a fabricação dos diferentes tipos de peças que compõem um determinado produto. Cada seção executa operações

Page 104: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

independentes, de acordo com as ordens de fabricação em seu poder e as fornece às seções subseqüentes. Este método é hoje conhecido como "PUSH METHOD", ou seja, um método que poderia ser entendido como o sentido de "Empurrar a Produção". (p. 40)

De outro lado, observa o mesmo autor,

no sistema "kanban" a produção é comandada pelas linhas de montagem. Somente após o consumo das peças na linha de montagem é gerada autorização de fabricação do novo lote. (. . .) O sistema "kanban" utiliza o "PULL METHOD", ou seja, o método que poderia ser entendido com o sentido de "Puxar a Produção".

94

Assim, o sistema "kanban" deve ser complementado com a outra

técnica de gestão industrial, o sistema Just-in-Time.

JUST-IN-TIME

Segundo Edward Hay (1992}, o sistema de fabricação Just-in-Time

visa "produzir o mínimo de unidades, nas menores quantidades possíveis,

no tempo mais longo possível e eliminando todas as razões para se fazer

estoques." (p. 7)

Inclusive o Just-in-Time tamb.ém é conhecido como "estoque- zero".

Segundo Ruas et ai (1993),

o Just-in-Time (ou JIT) pode ser compreendido como um processo que visa a eliminação total dos desperdícios (programa perda -zero). Estas perdas podem ter várias origens: dos defeitos de fabricação (problema esse que é geralmente atacado por programas de garantia de qualidade) às atividades ou práticas que geram custo e não adicionam valor ao produto (tais como movimentação de matérias-primas ou produtos em elaboração, tempo de preparação de equipamentos, controles indiretos de qualidade e manutenção, preservação de grandes volumes de estoques de produtos acabados ou de matérias-primas em processo). (p. 1 05)

Assim, o Just-in-Time torna-se uma arma estratégica para a empresa,

pois envolve uma nova postura de relacionamento com seus fornecedores -

tal relação passa a ser de parceria e não mais de simples relação comercial

de suprimento. O fornecedor deve se reorganizar - inclusive reaplicando

várias das técnicas de gestão industrial do seu cliente-parceiro, a fim de

atendê-lo com relação às quantidades requeridas somente dos produtos

necessários e no momento certo.

Page 105: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

95

Os conceitos que dão suporte à implantação do JIT são:

balanceamento, sincronização e fluxo. Curiosamente, os mesmos que Henry

Ford utilizou para criar a linha de montagem. Onde errou? Onde os

japoneses acertaram? Certamente foi na concepção de um "sistema de

gestão industrial" que envolve, além das técnicas, o envolvimento dos

recursos humanos, estimulando sua participação ativa na produção, na

melhoria da produtividade e das condições gerais de trabalho: de outro

lado, os mesmos são premiados por participação nos resultados.

O sistema Just-in-Time tem sido uma das técnicas mais divulgadas e

aplicadas por empresas ocidentais. Uma vez implantada, tem exigido

mudanças profundas na gestão das empresas no sentido de flexibilizar sua

estrutura produtiva, reduzir custos associados e desencadear um programa

de qualidade.

MANUFATURA FLEXÍVEL

-o processo de manufatura flexível não é uma técnica em si, como

podem ser chamados o "kanban" e o Just-in-Time: na realidade, é o

resultado de várias outras técnicas que buscam tornar o processo industrial

mais flexível, em termos de duas catacterísticas:

• a flexibilidade da organização da produção: trata-se da aptidão de

ajustar os equipamentos a uma demanda variável em volume e

composição. Está relacionada a equipamentos multiuso e

automoção microeletrônica;

• a flexibilidade em termos da aptidão dos trabalhadores trocarem de

posto ou de tarefa durante o processo produtivo: tal característica

implica na polivalência ou multifuncionalidade dos trabalhadores.

Há outros formas de flexibilidade, como a nível da estrutura

organizacional, mas cabe aqui se restringir à área de manufatura, que é um

dos marcos distintivos da gestão industrial na administração japonesa.

Assim, a flexibilidade na linha de produção pode assumir diversas formas,

segundo Salerno (1993):

Page 106: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

96

• flexibilidade de volume: é a capacidade de variar o volume de um

ou mais itens sem afetar significativamente os custos ou margem

operacional;

• flexibilidade de gama ou família: é a capacidade de introduzir,

retirar e/ou modificar produtos, peças e componentes de linha;

• flexibilidade de mix: capacidade de suportar alterações no mix de

produção, dentro de uma dada gama/família de produtos, peças ou

componentes. Muito ligado ao tempo de preparação de máquinas

(set up);

• flexibilidade para suportar sazonalidades na produção, o que está

ligado à flexibilidade de contratação da mão,..de-obra, uma vez que

pode ser necessário contar com horas-extras, ou de possibilidade

de deslocar mão-de-obra entre setores produtivos de uma mesma

empresa ou fábrica;

• flexibilidade para suportar o mau funcionamento do sistema

produtivo: capacidade de resposta a imprevistos (falta de

suprimentos, variabilidade. da matéria-prima, variabilidade do

equipamento, quebras, problemas de coordenação, entre outros).

Para implantar e obter um processo de manufatura flexível, é preciso

integrar diversas técnicas de gestão industrial, além daquelas já citadas

(círculos de qualidade, Qualidade Total, "kanban" e Just-in-Time):

• Mínimo Inventário em Processo, também conhecido como MIPS -

Minimized lnventory Production System - objetiva reduzir ao

mínimo o estoque de peças em produção ou acabadas.

• Limpeza e arrumação: visa eliminar excessos, materiais fora de

uso, peças rejeitadas e máquinas obsoletas das áreas fabris,

permitindo identificar visualmente qualquer irregularidade. Faz

parte do Programa SS, que normalmente é a primeira fase de

implantação da Qualidade Total, também conhecida por House

keeping = limpeza da casa. (58 são iniciais das palavras

japonesas: Seiri = organização; Seiton = ordenação; Seiso = limpeza; Seiketsu = asseio; e Shitsuke = disciplina).

Page 107: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

97

• Máquinas em disponibilidade: visa buscar a eficiência do conjunto

homem-máquina-ferramenta quando da real necessidade.

• Troca rápida de ferramenta: objetiva reduzir a menos de 1 O

minutos os tempos de paradas de máquina, de linha de montagem

ou de qualquer processo para troca do tipo de peça ou de produto.

• Operador polivalente: visa treinar_ o operador e ajustar as

máquinas e ferramentas, visando otimizar os tempos ociosos do

operador, preparando-o para execução de tarefas diferentes.

• Automatização de baixo custo: procura adaptar acessórios aos

equipamentos existentes, visando eliminar tempos ociosos do

operador da máquina ou de ambos, aumentando suas eficiências.

• Produção em lotes pequenos: consiste na sincronização das

operações ao longo do processo de produção, regularizando o

ritmo de trabalho e balanceando as quantidades produzidas na

unidade de tempo.

A partir deste conjunto de técnicas acima comentadas, foi possível

desenvolver nas empresas japonesas o sistema FMS - Flexible

Manufacturing System, ou seja, o Sistema de Manufatura Flexível. Não

significa que todas as técnicas anteriores são aplicadas para implantar o

FMS.

Segundo Ribeiro (1989),

o Sistema FMS, atualmente em desenvolvimento no Japão, visa a transformar uma operação que atue sob encomenda numa fabricação ágil, extremamente flexível, com prazos de entrega reduzidos. Existe ainda forte tendência de transformar produção em série, em fabricação pedido a pedido, acelerando os setores produtivos no sentido do rápido atendimento ao cliente. Este procedimento é diametralmente oposto ao sistema tradicional de programação semanal, mensal e até trimestral, onde os produtos são fabricados segundo tendência histórica do consumo, com pouco possibilidade de mudança durante a execução do programa. (p. 49)

Deve-se lembrar que as indústrias foram obrigadas a buscar sistemas

flexíveis de manufatura a partir do início dos anos 80 devido à tendência

(analisada anteriormente) da individualização do consumo, o que provocou

Page 108: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

98

o surgimento de "nichos de mercado". A história empresarial recente mostra

que as indústrias japonesas podem não ter sido as primeiras a perceberem

esta tendência, mas foram as primeiras a aproveitar as oportunidades dela

decorrentes, através do FMS, sem esquecer as tecnologias de automação,

sobretudo a robótica, que permitiram à indústria japonesa saltar à frente das

suas concorrentes ocidentais.

4. 1. 3. Aspectos críticos na aplicabilidade da administração japonesa

Se a administração japonesa tem sido constantemente estudada e

analisada sob forma de estudos e pesquisas de profissionais, ligados tanto

à área acadêmica como empresarial, grande parte dos quais já está

publicada em livros e periódicos, tal fato, por si só, evidencia a importância

do conhecimento das suas práticas gerenciais.

No entanto, este interesse pela gestão japonesa tem uma motivação:

quase todos os autores e pesquisadores tentam avaliar até que nível é

possível transferir para as empr~~as ocidentais as experiências bem

sucedidas nas empresas japonesas.

Ao desenvolver a pesquisa literária para este estudo, observaram-se

dois tipos de atitudes dos pesquisadores e autores: inicialmente, uma

atitude de deslumbramento com o "modelo" japonês; num segundo

momento, a postura crítica de tentar avaliar a aplicabilidade do "modelo"

estudado.

As duas atitudes podem ser constatadas nas páginas dos estudos

publicados (ou no próprio título da obra). Assim, seguem alguns exemplos:

• Ouchi (1985) escreve o livro "Teoria Z" e propõe o seguinte

subtítulo: "Como as Empresas podem enfrentar o desafio japonês".

O título da Parte 1 do livro indica o deslumbramento: "Aprendendo

com o Japão" e a Introdução : "Por que precisamos aprender" e,

logo no Capítulo 1, o título é: O que podemos aprender".

Page 109: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

99

• Pascale & Athos (1982) vivenciaram a mesma experiência de

Ouchi e escrevem o livro "As artes gerenciais japonesas" e abrem

o subtítulo: "Métodos e Sistemas dos Executivos Japoneses,

Adaptados à realidade Ocidental". O capítulo 1 - "O Espelho

Japonês" e o Capítulo 2 - "O Exemplo da Matsushita" pretendem

colocar o leitor mirando uma situação que poderá ser ou não

transportada para a sua realidade.

• Ogliastri (1992) estudou e escreveu "Gerência Japonesa e

Círculos de Participação", com o subtítulo "Experiências na

América Latina". Logo no Capítulo 1, aborda o título: "A empresa

japonesa: exemplo de autoridade e respeito humano", numa

tentativa de comparar na segunda parte do livro diversas

experiências de empresas latino-americanas na implantação dos

Círculos de Participação.

• Falconi (1992) tem desenvolvido um trabalho quase pioneiro no

Brasil, através da Fundação Christiano Ottoni, ligada à Escola de

Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo

Horizonte. Escreve o livro ·"TQC - Controle da Qualidade Total" e

dá o seguinte subtítulo, entre parenteses: "(No Estilo Japonês)".

Desde 1984 ele vem pesquisando sobre qualidade, até que

resolveu trazer a "linha japonesa" da Qualidade, como é ensinada

pela JUSE no Japão: segundo ele, a razão é a "simplicidade" que

facilitará a aplicação do TQC no Brasil, ao qual as maiores

empresas brasileiras, tanto privadas como estatais, vêm aderindo

nos últimos anos.

• Schonberger (1988), depois de escrever o livro "Técnicas

Industriais Japonesas", desenvolve um segundo título, chamado

"Fabricação Classe Universal", onde analisa as empresas que

aplicaram as técnicas japonesas de gestão industrial e se tornaram

"empresas de classe universal". No entanto, logo no prefácio,

dedica uma página com o título "Agradecendo aos Japoneses",

onde conclui com as seguintes palavras: "( .. .) o sucesso japonês é

facilmente compreensível, fácil de ser aceito (uma vez que seja

Page 110: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

100

conhecido), extremamente fácil de ser ensinado e aprendido e não

tão difícil de ser aplicado." (p. V)

• Murata & Harrison (1992) escrevem o livro "Como fazer com que

métodos japoneses funcionem no Ocidente", abrindo o texto com o

Capítulo 1: "Preparando-se para competir com o Japão". No último

. capítulo, propõem várias idéias de como "transformar as maneiras

japonesas bem-sucedidas em maneiras bem-sucedidas

apropriadas à cultura ocidental", envolvendo os seguintes

aspectos: trabalho de equipe; lealdade; interesse; valor na vida de

trabalho; integração; curiosidade; valor da experiência; e rotação

de postos e promoção.

• loshimoto (1992) escreve o livro: "Qualidade, Produtividade e

Cultura", com o seguinte subtítulo: "O que podemos aprender com

os japoneses", No texto, ele tenta responder a algumas questões, .

como:

Qual é a razão para o sucesso dos japoneses? Como é possível implantar os procedimentos e q.~ técnicas gerenciais nipônicas em nosso país? Por que quase sempre eles não dão certo? Há algum segredo não revelado? (orelha da capa).

Depois de analisar os vários conceitos e técnicas da gestão

japonesa, compara suas aplicações no Japão e no Brasil, baseando-se em

sua experiência profissional como engenheiro mecânico de produção.

• Hay (1993) escreve o livro "Just-in-Time", com o subtítulo: "Um

Exame dos Novos Conceitos de Produção". Seu capítulo 1 assume

a seguinte forma interrogativa: "Mas vai funcionar em minha

empresa?", como que a interpretar as dúvidas de dirigentes e

gerentes de empresas ocidentais que acreditam que "isto só dá

certo no Japão". Ele desenvolve um esforço para mostrar que "a

fabricação Just-in-time pode funcionar em qualquer ambiente

produtivo, seja qual for o ramo de atividade." (p. 21)

Page 111: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

101

• Woronoff (1993), em contraposição aos autores citados, assume

uma postura crítica em relação à administração japonesa,

criticando a "mistificação" que se faz àquele modelo de gestão. O

autor procura inicialmente demonstrar como os próprios japoneses

têm dificuldades de se adaptar ou conviver com as· práticas do

modelo, sobretudo com relação ao emprego vitalício, à carreira

baseada na senioridade e à decisão consensual em grupo.

Finalmente, Hirata (1993) coordena a edição do livro "Sobre o Modelo

Japonês", em que vários autores,

especialistas em questões do trabalho, mas não necessariamente em relação ao Japão, abordam esse "modelo" sob dois pontos de vista: sua natureza e sua transferibilidade a outros países, sobretudo no Brasil, onde a presença da empresa japonesa é bastante significativa, tanto em termos de investimentos diretos quanto de adoção de seus métodos e técnicas. (orelha da capa)

Os autores não são unânimes nem quanto à transferibilidade do

modelo e nem quanto à "emergência de um novo paradigma de organização

industrial alternativo ao fordismo" e, .~ssim, recomendam ao leitor ''julgar por

si mesmo as contribuições e os limites do "modelo", a sua atração e

relatividade''.

Neste tópico do estudo, o objetivo é apenas levantar a polêmica

existente sobre o "modelo" japonês de administração: o tema será

novamente focalizado nas conclusões gerais do estudo.

No entanto, antes de encerrar a análise da administração japonesa,

após conhecer a sua origem, evolução e principais práticas gerenciais, é

importante entender o que levou estas empresas a serem tão bem

sucedidas frente às empresas ocidentais, nos setores em que foram

colocados em situação competitiva.

Ouchi (1985), depois de estudar durante vários anos as empresas

japonesas e as empresas americanas, estabelece uma comparação entre os

dois tipos de empresa e percebe que as características gerenciais são

quase sempre oponentes. É claro, alerta o autor, que tais características

BIBLIOTECt~ l{ARt A. BOEDECKER

Page 112: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

102

são genéricas, não estando necessariamente todas presentes

simultaneamente na mesma empresa ou que todas as empresas se

enquadram naquela tipologia, que está apresentada sinteticamente no

Quadro 3.

Quadro 3 - CARACTERÍSTICAS GERENCIAIS DAS EMPRESAS

JAPONESAS E AMERICANAS

ORGANIZAÇÕES JAPONESAS

• Emprego vitalício

• Avaliação e promoção lentas

ORGANIZAÇÕES AMERICANAS

• Emprego a curto prazo

Avaliação e promoção rápidas

• Trajetórias de carreira não- • Trajetórias de carreira

especializadas

• Mecanismos de controle implícitos

• Tomada de decisão coletiva

• Responsabilidade coletiva

• Interesse holístico

especializadas

Mecanismos de controle explícitos

Tomada de decisão individual

Responsabilidade individual

Interesse segmentado

Fonte: OUCHI, William. Teoria Z- Como as empresas podem ebfrebtar o desafio japonês.

São Paulo: Ed. Nobel, 1985.

Assim, a empresa americana ( qué representa tipicamente a empresa

ocidental) atrai empregados para desenvolverem carreiras especializadas,

pois receberão como principal atribuição a execução de uma tarefa

específica: a carreira poderá ser rápida, dependendo da avaliação do seu

desempenho, mas não há lealdade para com a empresa: assim, o emprego

poderá ter curta duração.

De outro ·lado, a empresa japonesa atrai candidatos, independente de

haver vagas em certos postos de trabalho, pois será 'iniciada uma relação

empregatícia baseada na lealdade e no emprego vitalício: assim, a carreira

será longa e o empregado não se voltará para uma especialização

funcional.

Page 113: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

103

Com relação ao processo decisório, na empresa americana as

decisões são centralizadas e, portanto, de responsabilidade individual.

Dada a hierarquia rígida existente, passa a prevalecer a cultura do controle

sobre as pessoas, o que é operacionalizado através de mecanismos

explícitos (regulamentos, autorizações formais, relatórios de

acompanhamento e outros procedimentos explícitos). Com isto, o interesse

das pessoas passa a ser na obediência às normas e à obtenção das metas

designadas, levando a uma visão microscópica do seu trabalho, limitada

pela extensão da tarefa.

De outro lado, na empresa japonesa, a decisão é coletiva, buscando­

se exaustivamente o consenso entre a equipe e a decisão é provocada no

sentido de "baixo para cima": portanto, é um estilo participativo e, do ponto

de vista da nossa cultura ocidental, até coercitivo. No entanto, a

responsabilidade é coletiva, o que dispensa mecanismos explícitos de

controle: este é implícito. A própria equipe pune com posturas morais que

deixam o punido humilhado perante todos. Assim, uma vez que cada um se

compromete com a busca de resultados, ou a decisão da equipe, a

responsabilidade coletiva exigirá de todos uma visão holística dos

problemas analisados e do próprio trabalho desenvolvido. Neste sentido, o

trabalho será um prazer e um desafio.

Certamente outras características poderão ser comparadas entre as

empresas japonesas e americanas, além destas analisadas por Ouchi. No

entanto, estas já são suficientes para demonstrar as razões que levaram ao

sucesso da empresa japonesa, sobretudo a partir dos anos 70, e às

crescentes dificuldades da empresa americana para competir naquele

mesmo período.

Esta situação levou a empresa americana (e também as demais

empresas ocidentais) a reagirem a partir do "final da década de 70 e início

da década de 80: tal reação se manifestava pela busca de novos

mecanismos de gestão, constatado que aqueles até então praticados

estavam exaurindo sua possibilidade de manter aquelas empresas

competitivas. Começam a emergir a gestão participativa e a gestão

empreendedora, que serão analisadas a seguir.

Page 114: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

104

4.2 ADMINISTRAÇÃO PARTICIPATIVA

Diferente da administração japonesa, a administração participativa

não tem uma origem histórica definida, seu arcabouço conceitual é disperso

(no tempo e no espaço) e são raras as empresas que colocam em prática a

filosofia participativa de gestão, daí a dificuldade de identificar e analisar

tais práticas.

Na realidade, ao se denominar "administração participativa" uma das

linhas de pensamento que constituem os novos modelos de gestão, a intenção não era colocá-lo ao mesmo nível dos demais. Na realidade, a

participação é muito mais um estilo de gestão do que um conjunto de

práticas e mecanismos de gestão. Neste sentido, a sua análise estará mais

voltada para as formas como se operacionaliza o estilo participativo de

gestão, sem preocupação de ideologia as possíveis tentativas de práticas

descentralizadas de gestão.

4.2.1. Origem da gestão participativa

Não existe, no campo da Teoria da Administração, uma "Escola" ou a

própria "Teoria" da Participação. No entanto, nos últimos anos, o assunto

vem merecendo estudos e interesse crescentes, porém sem a divulgação de

novas abordagens ou de novos conceitos que tornem a gestão participativa

um modelo pré-paradigmático.

Mesmo que não tenha desenvolvido um corpo estruturado de teorias,

a gestão participativa tem recebido algumas contribuições ao longo das

teorias tradicionais de administração. Assim, a experiência de Elton Mayo,

no período de 1927 a 1932, na fábrica da Western Electric, mostrou a

importância do grupo informal, ao se constatar que as moças que

participavam dos testes procuravam aumentar o nível de colaboração entre

elas, à medida em que aumentava o grau de dificuldade, provocado pela

própria experiência, em executar o seu trabalho.

Page 115: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

105

McGregor (1960), ao propor as Teorias X e Y, identificou na segunda

o estilo de administração que valorizava o aspecto comportamental do ser

humano no trabalho. Portanto, um estilo mais participativo propiciaria

melhores resultados e maior satisfação das pessoas com o seu trabalho.

Chris Argyris (1975) também contribui para o conceitual da gestão

participativa, ao propor o enriquecimento das tarefas ("job enrichment")

como uma alternativa para reduzir a. dicotomia entre as necessidades das

pessoas e as necessidades das organizações. O enriquecimento das

tarefas permite maior proximidade entre as pessoas e aumenta sua

intensidade emocional, estimulando a participação nos trabalhos de grupo.

Likert (1961) propõe o modelo de estilos de liderança, enfatizando o

estilo de liderança participativa; para ele, "para uma liderança eficaz, é

fundamental que a mesma propicie envolvimento e enseje a participação de

todos".

Outra contribuição a ser registrada é de Chester Barnard, com a sua

Teoria da Cooperação: ele propõe, segundo Freitas ( 1991 ),

a cooperação formal, idealizando um sistema consciente de atividades coordenadas entre d'i..las ou mais pessoas. Inicia-se aí o rompimento com um passado clássico e o projeto de um futuro novo, em que a comunicação entre pessoas com vontade de contribuir para metas comuns seria a base da organização. (p. 38)

O mesmo autor comenta que

Barnard foi grandioso em seu trabalho, aconselhando corajosamente os executivos de sua época, e mostrando-lhes a possibilidade de serem práticos no propósito de organizar e unir as pessoas em uma ação coesa para um objeto único. (p. 38)

O último teórico das escolas tradicionais de administração que

contribuiu conceitualmente para a gestão participativa foi Abraham Maslow,

que estudou as . necessidades humanas numa escala hierárquica de

atendimento. Depois de garantir sua sobrevivência física, atendendo suas

necessidades fisiológicas e de segurança, o próximo nível de necessidades

é o reconhecimento social e é neste· momento que o estilo participativo de

gestão pode propiciar às pessoas a sua realização pessoal e profissional,

levando~as ao nível de auto-estima.

Page 116: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

Segundo Mendonça (1987),

- o pressuposto fundamental dessas diversas visões é a identificação do conflito indivíduo versus organização e a preconização da possibilidade de sua superação por meio de uma ação sobre o homem, através de formas de motivação intrínsecas. Daí por que (. . .) a gerência participativa enfatiza arranjos organizacionais -rotação de cargo, enriquecimento da tarefa, ampliação da tarefa, grupos semi-autonômos e gerência por objetivos - para permitir o desenvolvimento psicológico do indivíduo e do grupo. (p. 56)

106

A emergência da gestão japonesa e seus resultados espetaculares a

partir dos anos 70, bem como o ingresso na Era da Qualidade (anos 70) e

da Competitividade (anos 90), têm provocado um novo interesse recente de

diversos autores sobre a gestão participativa: isto decorre do fato de que a

tendência das novas práticas gerenciais, tanto da gestão japonesa como

empreendedora, apontam para a ênfase em trabalhos em equipe.

Segundo Crawford (1994),

numa economia do conhecimento, os recursos humanos e não o capital físico e financeiro - constituem as vantagens competitivas das organizações e a gerência deve maximizar a preparação de trabalhadores altamente especializados. À medida que o homem da organização se torna uma espécie em decadência e que os trabalhadores devem sua yida profissional ao treinamento profissional e à sua capacidade mental e não a simplesmente fazer parte de uma organização, os estilos de administração participativa tornam-se cada vez mais importantes. O crescimento do trabalhador de "colarinho dourado" está gerando uma mudança de um estilo de administração autoritário para um estilo de administração participativa, com estrutura de trabalho orientada aos recursos humanos. (p. 124)

O estilo de gestão participativa pressupõe que as pessoas desejam:

• Trabalhar com pessoas que os tratem com respeito.

• Fazer um trabalho interessante.

• Serem reconhecidas por um bom trabalho.

• Ter uma chance de desenvolver suas habilidades.

Page 117: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

107

• Trabalhar para pessoas que ouçam idéias de como fazer as coisas

de uma forma melhor.

• Ter uma chance de pensar por elas mesmas.

• Ter uma oportunidade de ver os resultados do seu trabalho.

• Trabalhar para um gerente eficiente.

• Trabalhar num emprego que apresente desafios.

• Sentirem-se bem informados sobre o que está ocorrendo.

Portanto, as pessoas esperam do seu trabalho muito mais do que o

salário: o trabalho deve conviver, de forma harmoniosa, com outras

prioridades, como família, saúde e espiritual idade.

Neste sentido, as práticas da gestão participativa devem levar em

conta as expectativas das pessoas na organização.

Assim, é preciso analisar o modelo de gestão participativa de um

ponto de vista mais pragmático e ~peracional, o que será desenvolvido a

seguir.

4.2.2. O funcionamento da gestão participativa: conceitos e práticas

Tendo em vista a vinculação crescente do estilo participativo de

gestão com as novas práticas gerenciais (Qualidade Total, por exemplo), o

presente tópico abordará o aspecto do funcionamento da administração

participativa, iniciando por um conceito mais operacional deste "modelo" de

administração.

Segundo Maranaldo (1989),

Administração Participatíva é o conjunto harmônico de sistemas, condições organizacionais e comportamentos gerenciais que provocam e incentivam a participação de todos no processo de administrar os três recursos gerenciais (Capital, Informação e Recursos Humanos), obtendo, através dessa participação, o total comprometimento com os resultados, medidos como eficiência, eficácia e qualidade.

Page 118: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

108

Seguindo este conceito, antes de implantar um processo participativo

numa empresa, é necessário harmonizar três aspectos:

• seus sistemas (produção, comercialização, recursos humanos,

administração e finanças, entre outros): se há conflitos de estilos

diferentes de gestão entre estes sistemas, é difícil implantar a

gestão participativa numa empresa;

• condições organizacionais: é preciso flexibilizar a estrutura

organizacional, com menor número de níveis hierárquicos e

normas mais adaptáveis;

• comportamentos gerenciais: certamente é o mais importante dos

três, pois os gerentes serão os principais mobilizadores das

pessoas para o processo participativo.

A segunda parte do conceito aborda outro aspecto importante: indica

os dois pilares que sustentam a gestão participativa, ou seja, a "participação

de todos" e o "comprometimento total com os resultados":

• participação de todos: a princípio nenhuma pessoa, em qualquer

nível hierárquico, deve ser excluída do processo participativo. No

entanto, isto implica num grande risco para a empresa; a gestão

participativa pode transformar a empresa numa "assembléia geral

permanente", ou seja, resvalar a participação para o

"assembleismo" ou "democratismo". Daí, a importância do segundo

pilar que vai sustentar a gestão participativa, analisado a seguir;

• comprometimento total com os resultados: este aspecto garante

que cada pessoa está consciente da sua responsabilidade

individual com os resultados a serem perseguidos pela equipe ou

pela empresa. Este comprometimento é uma das características

mais importantes da administração participativa, pois disciplina a

atuação individual de cada pessoa, evitando o risco de pender

para o "assembleismo".

Neste sentido, é imprescindível que a empresa, antes de implantar a

gestão participativa, defina claramente os objetivos ou resultados a serem

alcançados, entre os quais, por exemplo: ·

Page 119: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

109

• melhoria da qualidade

• maior produtividade

• melhoria do clima de trabalho

• enriquecimento das funções

• flexibilidade na utilização de recursos

Os objetivos definidos para serem alcançados, através da

administração participativa, vão definir o melhor formato organizacional para

implantar o processo. Por exemplo, se o objetivo é melhorar a qualidade dos

produtos e/ou serviços, a forma organizacional será Círculos de Controle de

Qualidade ou, mais modernamente, Times de Qualidade ou Grupos de

Melhoria Contínua; se o objetivo é melhorar o clima de trabalho, certamente

o melhor formato será de célula de produção ou grupo semi-autônomo.

Outras formas são:

• Comissão de Fábrica: geralmente representa o sindicato da

categoria na discussão dos problemas internos da empresa;

• Conselho de Representantes de Empregados: quando se pretende

acompanhar o desempenho financeiro da empresa para discutir e

negociar a participação dos empregados nos lucros.

Estes formatos vão determinar dois tipos de gestão participativa:

• direta: quando todos os empregados participam. Exemplo, times de

qualidade;

• indireta: quando há representantes dos empregados que "falam"

por todos. Exemplo, Comissão de Fábrica.

Para implantar a gestão participativa, algumas condições devem ser

obedecidas:

Page 120: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

110

a) Quanto ao uso do poder

• Deve-se ter consciência prévia de que haverá perda parcial do

poder nos níveis superiores. Assim, os dirigentes delegam para os

gerentes algumas atividades e decisões que antes se

concentravam neles; idem dos gerentes para a equipe, de forma

que há uma diluição do poder na empresa, envolvendo mais

. intensamente os colaboradores, o que viabiliza a redução de níveis

hierárquicos e possibilita a maior horizontalização da empresa.

• Deve-se delegar efetivamente a autoridade à equipe para tomar

decisões: a responsabilidade formal permanece com quem

delegou.

• Deve-se negociar as decisões a serem delegadas por área de

competência, ou seja, a equipe ou as pessoas que receberam

delegação de autoridade devem agir dentro de uma área limitada

de competência, para evitar "invasão" sobre outras áreas.

• Deve haver uma predisposição para autonomizar gradualmente os

grupos: gestão participativa . não se implanta com a delegação

imediata de 1 00% de uma decisão: sempre é possível graduar. Por

exemplo, se a delegação para a equipe é de gerenciamento dos

recursos de treinamento, inicialmente deve-se estabelecer um

percentual dos recursos a serem gerenciados; com a avaliação do

processo, caso os resultados sejam atingidos, aquele percentual

poderá gradualmente ir aumentando, até o limite máximo possível

ou até o nível adequado ao tipo de decisão.

Finalmente, antes de implantar a gestão participativa, os dirigentes,

gerentes e colaboradores devem estar conscientes de que o processo é

irreversível, ou seja, não tem retorno; caso contrário, poderá provocar

grandes frustrações aos empregados, que desacreditarão por muito tempo

em qualquer esforço participativo.

A implantação da gestão participativa ho processo decisório pode

ocorrer segundo uma escala gradativa, conforme Figura 5.

Page 121: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

lll

Figura 5- AVALIAÇÃO DO GRAU DE PARTICIPAÇÃO DA EQUIPE NO

PROCESSO DECISÓRIO

GRAU CARACTERÍSTICA DA PARTICIPAÇÃO

O Os funcionários cumprem ordens e ficam alheios aos

acontecimentos

1 A direção toma decisões e informa a equipe

2 A direção toma decisões, informa e ouve reações

3 A direção pede sugestões, decide e informa

4 A direção permite que os funcionários participem da decisão

5 A direção delega a decisão e reserva-se a prerrogativa da

palavra final

6 A direção delega completamente a decisão

Nos dois primeiros graus, o estilo de gestão é autoritário: a direção

decide sem ouvir a equipe.

A partir do grau 2, já há um estilo misto de gestão, que pode ser

chamado de "gestão diretiva ou unilateral" e vai até o grau 4.

A gestão participativa só ocorre efetivamente a partir do grau 5, pois

neste nível as pessoas se comprometem com o resultado, já que receberam

delegação de autoridade: até então elas são apenas atuantes passivos no

processo decisório, com as devidas graduações.

Quando se atinge o grau 6, pode-se afirmar que a equipe atingiu o

nível do "empowerment" ou do auto-gerenciamento, ou seja, a equipe

assume responsabilidades e toma decisões sobre tarefas e trabalhos,

incluindo muitas das responsabilidades que pertenciam ao líder. A partir

deste momento, o gerente já perdeu suas funções tradicionais de

"controlador das pessoas" e passou a exercer uma atividade mais nobre,

que é o de gerente estilo "coach", ou seja, orientador da equipe, para que

esta tenha condições de auto-gerenciar suas atividades.

Page 122: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

112

Várias empresas, que há muitos anos vêm implantando práticas de

gestão participativa, estão atingindo este nível de auto-gerenciamento.

Quando a empresa atinge tal nível, há outra questão a ser estudada e

definida, agora junto com as equipes: a questão da participação nos

resultados ou lucros da empresa. Como tal questão é comum ao modelo da

gestão empreendedora, será discutida dentro daquele modelo.

4.2.3. ·Etapas para implantação da gestão participativa

Segundo Freitas (1991 ), são as seguintes as etapas para implantar a

gestão participativa numa empresa:

1. Conscientização pelos dirigentes da necessidade da mudança do

comportamento: esta é de cima para baixo ("top-down").

2. Treinamento para sensibilização dos dirigentes, gerentes e

equipes.

3. Quebra da rigidez hierárquica, visando abrir espaços para os

grupos a serem criados.

, 4. Análise sociológica dos grupos de trabalho e desenho do

sociograma dos diversos canais informais, visando facilitar a comunicação

entre as pessoas.

5. Treinamento para o trabalho em grupo, visando reeducar todas as

pessoas para o trabalho coletivo, o que implica numa nova cultura.

6. Incentivo à critividade individual e grupal, visando estimular a

busca de soluções inovadoras para os problemas da empresa.

7. Treinamento intensivo para o trabalho cooperativo, visando buscar

a realização de metas grupais.

Page 123: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

113

8. Criação de grupos de estudos e de trabalho, de acordo com os

objetivos a serem buscados.

9. Planejamento das metas e objetivos da empresa, visando engajar

as pessoas no cumprimento dos resultados a serem buscados

coletivamente.

1 O. Implantação e acompanhamento dos resultados, com atenção

especial sobre as resistências ao estilo participativo.

Uma vez implantada a gestão participativa, um dos resultados que

provavelmente a empresa conseguirá será a mudança na sua relação com

os empregados: de uma relação empregatícia, passará a ser uma relação

de parceria.

4.2.4. Aspectos críticos na aplicabilidade da gestão participativa

Com base nas experiências dé implantação de programas de gestão

participativa em algumas empresas, tem-se observado algumas dificuldades

comuns a estas empresas. Almeida (1994) aponta três mais freqüentes"

Na implantação do programa, a dificuldade maior é a falta de preparo e de conscientização das chefias para o trabalho participativo. A cultura predominante é de valorizar mais o estilo impositivo e a quantidade (volume de produção).

Uma outra dificuldade é o baixo grau do pessoal de nível operacional. Isto exige um trabalho constante de acompanhamento e de formação, além da adequação da metodologia.

Um problema geral é a falta de habilidade da maioria das pessoas para trabalhar em grupo e com grupos.

Finalmente, no reconhecimento dos grupos, um obstáculo importante é a própria estrutura formal da empresa que dificulta a agilização das decisões para implantação dos projetos dos grupos. (p. 77)

Page 124: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

114

Além destas dificuldades internas, pode-se encontrar obstáculos junto

ao sindicato de trabalhadores. Infelizmente, no Brasil (como é comum ainda

na maioria dos países ocidentais), o sindicato ainda tem como papel

principal a intermediação na relação empresa-empregados. Certamente

haverá novos e desafiadores papéis para tais entidades nos próximos anos,

à medida em que as empresas acelerem a implantação de novas práticas

gerenciais. Como estas geralmente resultam em estilos mais participativos

de gestão, significa que haverá canais diretos de relação empresa­

empregados. Alguns sindicatos, receosos quanto à perda do poder, tentam

boicotar os processo participativos de gestão, mas, felizmente, não são

todos que manifestam tal postura. De qualquer maneira, é outra possível

dificuldade a ser encontrada na implantação de modelos participativos de

gestão.

4.3 ADMINISTRAÇÃO EMPREENDEDORA

A competitividade crescente das empresas japonesas, sobretudo a

partir dos anos 70, obrigou as empresas americanas (e mais tarde as

européias) a uma atitude de reação. A princípio, as empresas americanas

não acreditavam que o sucesso das empresas japonesas se manteriam por

muito tempo: viam ainda as empresas japonesas apenas como copiadoras

de idéias e de tecnologias, que seriam, no máximo, aprimoradas. Esta

miopia das empresas americanas custou-lhes caro, mas trouxe também

lições.

Assim, a partir do início dos anos 80, as empresas americanas já

haviam compreendido que o que as empresas japonesas tinham realizado,

de fato, era uma "revolução gerencial". Os livros de Pascale & Athos (1982)

e de Ouchi (1985) ajudaram a criar a nova visão de que as empresas

americanas estavam fora da competitividade (e não sobreviveriam) devido

ao seu modelo de administração tradicional. O esforço para mudar tal

situação levou ao desenvolvimento do "modelo" de administração

Page 125: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

115

empreendedora, cujas origens e principais características serão analisadas

a seguir.

4.3.1. Origens da administração empreendedora

Do declínio industrial à "economia empreendedora"

Após o final da 11 Guerra Mundial, como principal potência econômica

industrial, os Estados Unidos passa a transferir grandes volumes de

investimentos para a Europa e o Japão, visando ajudar a reconstrução dos

países que participaram do esforço de guerra.

Com isso, segundo Cano (1994), promoveu-se a expansão daquelas

economias sobretudo a japonesa e a alemã, "transformando esses países

em duas grandes potências" (p. 59), enquanto a própria economia

americana esgotava suas fontes internas de crescimento acelerado,

passando a conviver, no final da década de 70, com a chamada "crise da

hegemonia (econômica) americana".

Segundo Peters (1989), as causas do alarme do declínio americano

já eram visíveis:

Nossa produtividade média de negoctos cresceu 3% ao ano, de 1950 a 1965. De 1965 a 1973, a taxa foi de 2% e, de 1973 para cá (1987), mal chegou a 1%. A produtividade de manufatura está ainda pior. Ela cresceu 2, 5% ao ano de 1950 a 1985, enquanto a do Japão cresceu 8,4%, a da Alemanha e Itália, 5,5%, a da França 5,3%, a do Canadá 3,5% e a da Inglaterra 3, 1%. (p. 4)

Reich (1983) interpreta assim o que ocorreu no período:

Quando os termos da concorrência global começaram a sofrer alteração em fins da década de 1960, as vantagens competitivas dos países industrializados mudaram para produtos e processos de sistemas flexíveis, aos quais as superestruturas não conseguiram reagir. Essas estruturas, tipicamente, procuraram manter intactas as velhas bases industriais, protegendo-as contra incursões estrangeiras. (p. 208)

Assim, por volta de meados da década de 1960, as indústrias básicas

haviam perdido o hábito de concorrer. Os sindicatos faziam acordos de três

Page 126: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

116

anos, muitos deles incluindo aumentos automáticos com a elevação do

custo de vida. Alguns órgãos do Governo, como o Departamento de Defesa,

rotineiramente negociavam contratos não-competitivos com os líderes

empresariais; a Comissão Federativa de Comércio providenciava a proteção

de preços, evitando descontos a distribuidores e varejistas.

Assim, conclui Reich (1983),

uma vez que a rentabilidade ·estava mais ou menos garantida, nenhum motivo havia para inovar em novos produtos ou processos. Na verdade, inovação demais poderia desestabilizar a estrutura. (p. 209)

Isto levou as indústrias americanas a perderem a condição de

concorrer com tecnologia e preços: preferiram manter-se sob a proteção das

"superestruturas"; procurando defender-se das importações. Isto garantiria

os lucros a curto prazo (que Reich denominou de "capitalismo de papel") e

as empresas preferiam pagar dividendos aos investidores, visando manter

atrativo o "papel" (ações) da empresa no mercado de capitais, do que

investir em novas fábricas, modernizar equipamentos, pesquisar e

desenvolver novos produtos ou melhorar a qualificação dos seus recursos

humanos.

No final da década de 60, o Governo americano percebeu que sua

ajuda estava tirando a competitividade internacional das empresas

americanas: assim, algumas proteções começaram a ser afrouxadas e

definiram-se prazos para que as indústrias de vários setores estratégicos

reiniciassem investimentos em modernização, sobretudo para se adequarem

ao sistema de produção flexível.

No entanto, o círculo vicioso estava estabelecido: a maioria das

empresas estava em situação financeira difícil, devido à postura defensiva

até então adotada; assim, os grandes bancos não tinham interesse em

emprestar capitais para investimento de médio e longo prazo, preferindo

concentrar suas operações no curto prazo e no mercado financeiro

("capitalismo de papel").

Outro aspecto a considerar, segundo Reich (1983), é que,

ironicamente, esses esforços para preservar a velha base industrial tenderam, na verdade, para tornar ainda mais flexíveis e dinâmicas

Page 127: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

as economias do Japão e de várias nações em desenvolvimento do que teriam sido em outras condições, e isto exatamente porque elas foram forçadas a se adaptar às políticas protecionistas americanas, (. . .) assim, as restrições introduziram os fabricantes estrangeiros no mais caro e mais especializado segmento do mercado americano, onde os produtores do país, em outras circunstâncias, teriam suas maiores possibilidades de manter a competitividade. (p. 221)

Womack et ai (1992) exemplificam tal situação:

Constitui a General Motors o mais impressionante exemplo. Continua· essa gigantesca companhia, sendo o maior complexo industrial do planeta, tendo indubitavelmente a liderança da produção em massa, sistema que ajudou a criar. Agora, na era da produção enxuta, encontra-se com excesso de gerentes, trabalhadores e instalações fabris. No entanto, a GM ainda não deparou com uma crise de vida ou morte, (. . .) não tendo sido, por causa disto, capaz de modificar-se. (p. 2)

Peters (1989) avalia secamente:

A verdade é que todas as grandes empresas de manufatura ou de serviços estão sofrendo traumas: do Bank of America e Citicorp à Ou Ponte General Motors, da IBM e Intel ao Hospital Corporation of America. (.,.)Estamos sendo derrotados basicamente devído à baixa qualidade daquilo que produzimos e pelo nosso fracasso, como resultado de atendimento questionável e de resposta lenta, na utilização de nossa vantagem, de estarmos próximos ao maior mercado do mundo. (p. 5)

117

No entanto, Drucker (1986), avaliando a economia americana no

período 1965-1985, começou a observar um novo aspecto pouco percebido

até então por outros autores: o fenômeno do que ele denominou

"entrepreneurship", que poderia ser traduzido literalmente como

"empreendedorismo", mas a expressão que tem prevalecido é "espírito

empreendedor", a qual foi inclusive utilizado como tradução do título do

livro.

Segundo Drucker ( 1986),

desde meados dos anos 70, slogans como "a economia do crescimento zero", a "desindustrialização dos Estados Unidos" e uma "estagnação "Kondratieff" a longo prazo da economia" tornaram-se populares e são considerados como axiomas. No entanto, os fatos e os números desmentem todos esses slogans. O que está acontecendo nos Estados Unidos é algo bem diferente: um

Page 128: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

redirecionamento profundo da economia, de "gerencial" para "empreendedora". (grifo nosso) (p. 1)

118

Ele mostra, com dados estatísticos, que a economia americana gerou

4 milhões de empregos no período 1974-1984, exatamente num período

turbulento, com duas crises de petróleo (1974 e 1978) e do declínio das

grandes indústrias. E compara esta situação com a Europa que, em 1970,

possuía 20 milhões de empregados a mais que os Estados Unidos e, em

1984, passou a ter 1 O milhões de empregados a menos; idem com relação

ao Japão que, no período de 1970 a 1982, teve apenas 1 O por cento de

aumento no número de empregos. Dentro da própria economia americana,

verificou-se que, "por volta de 1984, a lista das "500 da Fortuna" havia

perdido de vez, pelo menos, de 4 a 5 milhões de vagas." (p. 4)

Então Drucker (1986), conclui que

todos esses novos empregos só podem ter sido criados pelas instituições pequenas e médias, a maioria delas pequenas e médias empresas privadas, e das quais um grande número, talvez a maioria, é de novas empresas, que sequer existiam há vinte anos trás. De acordo com o "The Economist", hoje em dia, 600.000 novas empresas estão começando a cada ano nos Estados Unidos - cêrca de sete vezes mais do que as .. que começaram em cada um dos anos de grande crescimento das décadas de 50 e 60. (p. 4)

Cabe então a pergunta: "De onde vieram todos · esses

empreendedores?" Drucker responde a questão:

foi o surgimento da economia empreendedora, que é um evento tanto cultural e psicológico, quanto econômico ou tecnológico. (. . .) O que viabilizou o aparecimento da economia empreendedora são as novas aplicações da administração:

• a novos empreendimentos, comerciais ou não, enquanto que. a maior parte das pessoas até agora tem considerado a Administração aplicável apenas a empresa existente;

• a pequenos empreendimentos, enquanto que a maior parte das pessoas estava absolutamente certa até há poucos anos de que a Administração era só para os "grandões";

• a empreendimentos não comerciais (serviços de saúde, educação e outros), enquanto que a maior parte das pessoas ainda ouve "empresa" quando depara com a palavra "Administração";

Page 129: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

• a atividades que simplesmente não eram consideradas "empresas" de maneira alguma, como pequenos restaurantes, por exemplo;

• e, acima de tudo à inovação sistemática: à busca e ao aproveitamento de novas oportunidades para satisfazer as carências humanas e necessidades humanas. (p. 20)

119

De outro lado, cabe a questão: de onde estavam saindo os novos

empreendedores? Certamente das grandes empresas que estavam em

declínio dos seus negócios, não estavam investindo em inovações (de

produtos ou processos) e, em conseqüência, desestimulavam as pessoas

com talento e espírito empreendedor a desenvolverem carreira nestas

organizações. Drucker (1986) pergunta:

Como explicar (. .. ) que, de um momento para outro, surja tanta gente disposta a trabalhar como doida por longos anos e a enfrentar sérios riscos, em vez de ter a segurança das grandes organizações? Onde estão os hedonistas, os que buscam status, os "eu também", os conformistas? (p. 19)

Assim, empresas do porte da IBM, Xerox, Ou Ponte outras começam

a perder "talentos" que saiam para criar seu próprio negócio. Ao tentarem

entender o que desmotivava tais pessoas a permanecerem na empresa,

estas empresas começaram a perceber que os problemas estavam no seu

modelo de gestão.

b) Do "planejamento estratégico" à "gestão empreendedora"

A partir dos anos 50, as empresas americanas começam a enfrentar

novas questões, que não tinham precedentes anteriores, sobretudo na área

de marketing (estabilidade das vendas, surgimento de produtos substitutos

baseados em novas tecnologias, entre outros). Os métodos tradicionais de

gestão, baseados sobretudo em controles, .não tinha soluções para este e

outros novos problemas. Depois de muito esforço na busca de tais soluções,

surgiu no início dos anos 60 o "planejamento estratégico". Para que este

funcionasse, era imprescindível a atenção e o comprometimento do nível

diretivo da organização, o que nem sempre ocorria ou, quando muito, havia

um entusiasmo temporário do dirigente, que logo priorizava novas

situações.

Page 130: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

Segundo Ansoff (1990),

a experiência inicial com o planejamento estratégico enfrentou três problemas sérios:

1. a "paralisia pela análise", que ocorre quando uma série de planos estratégicos não leva a resultados significativos no mercado.

2. A resistência organizacional à introdução do planejamento estratégico na empresa.

3. A expulsão do planejamento estratégico da empresa assim que o temporariamente vigoroso apoio da alta administração ao planejamento é retirado ou diminuído. (p. 178)

Outras críticas que são feitas ao planejamento estratégico são:

120

• concentração das decisões no topo da administração, com a

alienação do nível operacional (apenas toma conhecimento das

_metas a serem cumpridas a curto prazo) e a contribuição passiva

do nível gerencial (apenas controla a execução dos planos);

• as empresas criaram duas estruturas separadas: uma para

planejar e outra para exe~~tar. A separação entre quem pensa e

quem realiza tem levado a conflitos desgastantes e geralmente

insuperáveis nas grandes empresas;

• reforço das características burocráticas da organização, uma vez

que as atividades passam a ser planejadas e controladas com

mecanismos rígidos de gestão. Assim, a empresa perde

flexibilidade para acompanhar as mudanças.

Ansoff ( 1990) não só percebeu que grande parte das críticas eram

procedentes, como também constatou, através de estudos estatisticamente

confiáveis, que o planejamento estratégico, "quando devidamente usado,

realmente produz melhorias significativas no desempenho da empresa." (p.

178)

A partir destas constatações, ele propõe uma nova abordagem para o

planejamento estratégico: trata-se da "administração estratégica". Nesta

nova abordagem, ele afirma que

Page 131: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

o planejamento estratégico é apenas um de três processos que devem ser combinados para assegurar uma adaptação estratégica efetiva. Os outros dois processos são: o planejamento do potencial de gestão e a administração do processo geral de mudança estratégica. (p. 178)

l2l

Assim, Ansoff passa a trabalhar com dois novos conceitos que,

agregados à abordagem tradicional do planejamento estratégico,

revitalizarão nas empresas a função de planejamento, agora sob a rubrica

de "administração estratégica" e com uma nova postura que levará ao

modelo de "gestão empreendedora".

O segundo processo componente da administração estratégica é o

"planejamento do potencial de gestão" da empresa, ou seja, é avaliar, a

partir do comportamento estratégico da empresa, qual a possibilidade que

ela tem de aproveitar as oportunidades oferecidas pelo ambiente externo.

Antes disso, Ansoff (1990) define dois tipos de comportamento da

empresa:

1. Comportamento Operacional: a empresa procura rentabilidade

no. aproveitamento de uma oportu~i~ade ambiental, assegurando o preço

mais alto possível e a maior participação no mercado.

2. Comportamento Estratégico: a empresa substitui produtos e/ou

mercados obsoletos por novos produtos e/ou mercados que oferecem maior

rentabilidade futura. Para tanto, a empresa identifica novas demandas,

desenvolve produtos mais adequados ao mercado, melhora o seu processo

de produção e comercialização, faz testes de mercado e lança novos

produtos.

Para avaliar o tipo de comportamento (operacional ou estratégico), é

necessário considerar que há dois tipos de mudanças:

1. Mudança incrementalista: os produtos e mercados evoluem

através de aperfeiçoamentos gradativos, seguindo a lógica histórica do

desenvolvimento da empresa.

2. Mudança descontínua: os produtos e mercados evoluem,

rompendo a lógica histórica da empresa, através da substituição de

tecnologias, do desinvestimento, da diversificação e da internacionalização.

Page 132: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

122

A Figura 6 mostra que há quatro variantes significativas de

comportamento da empresa, quando se inter-relacionam os dois tipos de

comportamento com os dois níveis de mudança. No entanto, face ao objeto

deste estudo, só interessa avaliar os comportamentos extremos, ou seja:

• comportamento concorrencial

• comportamento empreendedor

Figura 6- VARIEDADE DE COMPORTAMENTO ESTRATÉGICO E

OPERACIONAL

TIPO DE

COMPORTAMENTO

Operacional

Estratégico

TIPO DE MUDANÇA

INCREMENTAL J DESCONTÍNUA

Concorrencial

Empreendedora

Segundo Ansoff (1990), no período inicial da Revolução Industrial,

até cêrca de 1900, prevaleceu o · comportamento empreendedor:

empreendedores visionários criavam empresas, a partir das novas

tecnologias emergentes e da demanda que surgia no mercado; de 1900 a

1950, prevaleceu o comportamento concorrencial, sem eliminar de vez o

comportamento empreendedor: foi o período da consolidação das grandes

empresas, a partir da exploração das oportunidades do ambiente no mesmo

mercado em que já atuavam, pois este tinha espaço para crescer.

A partir de meados da década de 1950, começa a alterar a

importância relativa dos dois comportamentos. As mudanças no· mercado

global tornam os desafios concorrenciais mais importantes, com a entrada

de novos concorrentes e a postura mais agressiva dos consumidores. Mas o

comportamento concorrencial esgotou a garantia de crescimento e

rentabilidade das empresas a partir dos anos 70; a partir daí, o surgimento

de novas tecnologias e o crescimento rápido do setor de serviços exigiu

novos desafios das empresas que, para sobreviverem e manterem sua

rentabilidade, passaram a ter que adotar posturas empreendedoras mais

Page 133: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

123

agressivas, mas sustentando também seu comportamento concorrencial. A

seguir, serão analisadas as características e principais práticas da gestão

empreendedora, desenvolvidas após a adoção desta nova postura

(empreendedora) frente às mudanças turbulentas do meio-ambiente a partir

dos anos 80.

4.3.2. Características e principais práticas da gestão empreendedora

A partir da nova abordagem do planejamento empresarial, proposto

por Ansoff sob a filosofia da Administração Estratégica, ficou claro que, para

adotar posturas estratégicas na gestão dos negócios, as empresas

deveriam desenvolver o comportamento empreendedor. Esta nova postura

deveria ser operacionalizada através de mecanismos e práticas próprias, já

que havia o risco de que idéias inovadoras e empregados com

comportamento empreendedor fossem controlados burocraticamente pelos

instrumentos de gestão já existentes na empresa.

Assim, a partir dos anos 80, não só diversas empresas já vinham

colocando em prática o (novo) comportamento empreendedor, como isso

também provocou inúmeros estudos .e publicações sobre tais experiências

bem sucedidas. Alguns destes autores e suas linhas de estudo são os

seguintes:

• Gifford Pinchot 111 (1989) Estudou o comportamento

empreendedor de diversas empresas americanas e criou a palavra

"intrapreneurship" para designar esta nova postura empresarial,

em analogia ao "entrepreneurship" (criação do negócio próprio).

• Larry Farrell (1993) - Estudou o mesmo aspecto desenvolvido por

Pinchot 111, porém dedicou mais tempo à pesquisa (cêrca de d~z

anos), o que lhe possibilitou escrever uma obra mais madura e

atualizada.

• John Kao ( 1991) - A partir de sua atividade acadêmica na Harvard

Business School, preocupou-se em pesquisar a relação entre a

organização, a criatividade e o empregado empreendedor, com o

objetivo de elaborar um livro-texto para uso didático.

Page 134: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

124

• Rosabeth Moss Kanter (1989) - Desenvolve a abordagem das

organizações pós-empreendedoras, avaliando como serão as

empresas após adotarem o estilo empreendedor de gestão.

• Gary Linn & Norman Linn (1992) - Desenvolveram procedimentos

metodológicos para operacionalizar a implantação de idéias

inovadoras na empresa.

• David Osborne & Ted Gaebler (1994) - Desenvolveram o conceito

de "espírito empreendedor" para aplicá-lo às organizações do

set~r público.

Além destes autores que têm se dedicado ao campo do

"entre/intrapreneurship" nos últimos anos, pode-se destacar os trabalhos de

outros que, embora não tratando exclusivamente deste novo campo do

conhecimento administrativo, têm oferecido novas abordagens e conceitos

básicos relacionados ao assunto.

• lgor Ansoff (1990) - Conforme já citado, pela sua abordagem da

Administração Estratégica, que conduziu as empresas ao

"comportamento empreend~_dor".

• Edgar Schein (1983) - Desenvolveu estudos sobre o papel dos

empreendedores na formação da cultura organizacional.

• Gareth Morgan ( 1989) - Desenvolveu estudos sobre as

organizações criativas e as novas formas de gestão empresarial,

incluindo a abordagem empreendedora.

• Henry Mintzburg (1983)- Desenvolveu estudos sobre os desenhos

organizacionais, nos quais inclui uma abordagem empreendedora

para a Adhocracia.

• John Naisbitt (1985) - A partir dos estudos das megatendências

(nos anos 80 e virado do milênio}, estudou como as empresas

estão se "reinventando" para se adaptarem às turbulências ·

ambientais. Entre as diversas práticas de "reinvenção", identificou

a empresa como uma "federação de empreendedores".

Page 135: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

125

4.3.2.1. Características de uma organização empreendedora

A partir dos anos 80, a palavra empreendedor(a) tem sido utilizada,

em ambos os gêneros, como substantivo e como adjetivo; na primeira forma,

designa uma pessoa cujas características comportamentais definem um

empregado, gerente ou dirigente empreendedor ou, geralmente, aquele(a)

que cria seu negócio próprio; quando funciona adjetivando um substantivo,

tanto pode se referir a uma pessoa- gerente empreendedor(a), por exemplo

- como também uma organização ou empresa que adota o comportamento

empreendedor, citado por Ansoff. ·

·Nos anos 90, tem se multiplicado o uso da palavra empreendedor(a)

como adjetivo. No presente tópico, por exemplo, será analisada a

organização empreendedora.

Antes, porém, é importante analisar o contexto, tanto no ambiente

externo como interno das organizações, o que está levando as mesmas a

adotarem a Gestão Empreendedora. A Figura 7 ilustra a situação: a partir

das megatendências do ambiente (externo), as empresas sofrem impactos

(ameaças e/ou oportunidades) que afetarão o seu ambiente interno. Assim,

questões como inovação, competitividade, qualidade, visão da clientela,

criatividade, parceria, reinvenção da empresa, administração participativa,

espírito empreendedor, flexibilidade, unidade independente de negócio,

parceria e ética nos negócios, entre outras possíveis novas palavras, se

constituirão em desafios para a empresa; se esta focalizar tais desafios do

ponto de vista de "oportunidade", estará adotando posturas favoráveis à mudança.·

Por exemplo, uma nova relação com a clientela; incentivo à criatividade dos empregados; adotar normas e estrutura mais flexíveis, entre

outras: o resultado será uma empresa mais competitiva.

Por outro lado, se a postura for defensiva (encara as megatendências

do ambiente como ameaças}, correrá o risco de perder clientes;

desestimular a carreira dos empregados; enfatizar o controle sobre as

pess_oas e recursos (eficiência): o resultado será uma empresa estabilizada

com grande possibilidade de fracassar.

Page 136: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

r---1

-

Figura 7 - CONTEXTO DO AMBIENTE EXTERNO E INTERNO

DE UMA ORGANIZAÇÃO EMPREENDEDORA

AMBIENTE EXTERNO I

o o MEGATENDÊNCIAS AMEAÇAS E/OU

DO AMBIENTE OPORTUNIDADES

o o AMBIENTE INTERNO

Inovação Reinvenção da Empresa

Competitividade Administração participativa . Qualidade Espírito Empreendedor

Visão da Clientela Flexibilidade

Criatividade Unidade Independente de Negócios

Parceria Ética nos Negócios

o .. NOVA ABORDAGEM DO PLANEJAMENTO:

DO NÍVEL ESTRATÉGICO AO OPERACIONAL

o I

GESTÃO ESTRATÉGICA

I o

COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR

PLANEJAMENTO + AÇÃO = RESULTADOS

o GESTÃO EMPREENDEDORA

126

Page 137: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

127

Caso a empresa adote a primeira postura (voltada para aproveitar

oportunidades}, deverá rever ou reforçar seu sistema de planejamento,

adotando a abordagem da gestão estratégica: esta levará a empresa a

adotar um comportamento empreendedor, ou seja, em que o planejamento e

a ação estão integrados, inclusive funcionalmente nas mesmas pessoas ou

equipes, num esforço orientado para resultados. Esta postura indica que a

organização está na direção de um estilo empreendedor de gestão.

Dos autores anteriormente citados, Ansoff é quem melhor caraterizou

a organização de comportamento empreendedor, comparando-a com a

organização de comportamento concorrencial, conforme está apresentado

no Quadro 4, segundo diversos atributos, como objetivos, metas, estrutura

organizacional, sistema de planejamento, entre outros.

A análise comparativa dos dois perfis organizacionais permite

concluir que:

a) Se uma empresa predominantemente adota o perfil

concorrencial e deseja· passar para o perfil empreendedor, deverá

desenvolver um grande esforço para mudar o modelo de gestão, incluindo

os sistemas e estruturas organizacionais. Por ·exemplo, reduzir os níveis

hierárquicos ou estabelecer unidades de negócios independentes, com

gerentes de estilo empreendedor, conduzindo tais unidades.

b) É preciso criar uma cultura de risco na organização, o que

implica eliminar qualquer atitude primitiva perante o fracasso. Só assim as

pessoas estarão estimuladas a assumir a busca de soluções para os

problemas.

c) Os perfis, tanto concorrencial como empreendedor, não devem

ser mutuamente exclusivos. A empresa precisa dos dois estilos de gestão,

um para inovar e outro para manter os processos em andamento. É preciso

desenvolver mecanismos de . integração entre ambos, inclusive porque a

Administração Estratégica buscará integrar o planejamento com a ação, na

busca de resultados (conforme ilustra a Figura 7).

Page 138: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

128

Quadro 4- COMPARAÇÃO DE PERFIS ORGANIZACIONAIS:

ORGANIZAÇÃO CONCORRENCIAL x EMPREENDEDORA

Atributo

Objetivo

Metas

Modo

Concorrencial

Otimizar rentabilidade

Extrapolação modulada de metas passadas

Empreendedora

Otimizar potencial de rentabilidade

Determinação por in­teração de oportuni­dades e potencialida­des

Sistema de recom- (1) Recompensa por es- (1) Recompensa por criatividade e ini­ciativa

pensa e punição tabilidade, eficiência

Informação

Problemas

Estilo de liderança

(2) Recompensa por de­sempenho passado

(3) Punição por distancia­mento das metas

(1) Interna: desempenho

(2) Punição por falta de iniciativa

(1) Interna: potencia­lidades Externa: oportuni- . dades futuras no-

(2) Externa: oportunida- (2) des tradicionais co­nhecidas v as

Não-repetitivos, novos

(1) Carisma

Repetitivos, familiares , ..

(1) Popularidade (2) Habilidade de inspirar

maior esforço (2) Habilidade de ins­

pirar aceitação de mudança

Estrutura cional

organiza- (1) Estável ou em expan- (1) Fluída, em pro­são cesso de mudan­

Sistema de plane­jamento

Resolução de pro­blemas pela adminis­tração (a) Estímulo à ação

(2) Atividades agrupadas pelo processo de con­versão de recursos

(3) Atividades ligadas de maneira frouxa

Planejamento a longo pra­zo

ça estrutural (2) Atividades agru­

padas por proble­mas

(3) Atividades ligadas de maneira frouxa

Planejamento estraté­gico

(1) Impulso no sentido de (1) realizar metas

(b) Busca de alter- (1) Confiar no precedente (1) nativas

Busca de novas oportunidades Gerar alternativas criativas

Fonte: ANSOFF, lgor. A Nova Estratégia Empresarial. São Paulo: Atlas, 1990.

Page 139: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

129

Este aspecto da integração é importante para evitar a rejeição, por

exemplo, dos projetos desenvolvidos no planejamento, por parte de áreas

ou pessoas que adotem o estilo empreendedor, entendendo que sua ação

empreendedora esteja sendo boicotada ou dificultada.

Drucker (1986) destaca as seguintes características típicas da

organização empreendedora:

a) a organização deve ser receptiva à inovação e predisposta a ver

a mudança como uma oportunidade e não como uma ameaça. Para tanto,

diretrizes e práticas são necessárias para criar o clima empreendedor;

b) o desempenho da empresa deve ser obrigatoriamente

acompanhado, pois a avaliação dos resultados é o maior aprendizado do

estímulo à ação dos empreendedores;

c) a gestão empreendedora requer práticas específicas pertinentes

à estrutura organizacional, à gestão das pessoas e às políticas de

remuneração e de carreira;

d) existem alguns "nãos" a serem observados, entre os quais:

• "não" misturar unidades administrativas e empreendedoras;

• "não" confundir inovação com diversificação: a empresa deverá

inovar dentro do seu negócio, onde tem forcas competitivas.

para desenvolver a nova idéia;

• "não" empreender idéias novas através da aqu1s1çao de

empresas ou negócios já existentes: a gestão empreendedora

só pode ser implantada dentro da própria empresa.

4.3.2.2. Características dos "intrapreneurs"

A palavra "empreendedor", de origem francesa "entrepreneur" e

assim adotada pelos americanos, foi preocupação inicial do economista

austríaco Joseph Schumpeter (1941) que, ao estudar o processo de

Page 140: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

130

desenvolvimento econômico dos países, percebeu que havia um "agente­

motor" que propiciava o progresso econômico. Este conceito é clássico:

"O empreendedor é o agente do processo de destruição construtiva,

que é o impulso fundamental da economia capitalista, criando novos

produtos, novos métodos de produção e novos mercados".

Segundo Degen ( 1989),

foi o processo de destruição criativa que tornou obsoleta a caneta­tinteiro em favor da esferográfica, a válvula eletrônica em favor do transistor, a régua de cálculo em favor da calculadora eletrônica, a locomotiva a vapor em favor da elétrica ou a diesel, etc. (p. 9)

Do ponto de vista comportamental, quem melhor define a atitude do

empreendedor é Mclelland (1961 ), para quem tais pessoas estão

estimuladas a trabalhar duramente para atingir um objetivo pessoal

(segundo ele, é uma minoria) e seu comportamento se manifesta através de

três níveis de motivação:

• necessidade de realização: é a necessidade do sucesso

competitivo, medido em relação a um padrão pessoal de

excelência. Cada pessoa ·tem seu critério próprio de sucesso

(motivo financeiro, realização profissional, reconhecimento, entre

outros);

• necessidade de afiliação: é a busca de relacionamentos afetivos

com outras pessoas, seja de caráter cordial, compadecido,

caloroso ou outros;

• necessidade de poder, visando controlar ou influenciar outras

pessoas.

Trazendo o conceito de Mclelland para o campo da gestão

empresarial, pode-se afirmar que, diante da necessidade da solução de

problemas, haverá dois perfis comportamentais diferentes:

1°) perfil conservador diante dos problemas: é aquele em que o

indivíduo procura adotar comportamentos padrões diante dos problemas; o

sucesso levará o indivíduo a confiar naquele padrão de comportamento;

Page 141: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

131

2°) perfil empreendedor diante dos problemas: o indivíduo busca

desenvolver diferentes padrões de comportamento, como uma forma de

aprendizagem, já que está altamente motivado a competir e a lutar para

atingir uma necessidade de realização ou de afiliação.

Com relação às características pessoais dos empreendedores,

Pinchot 111 (1989) foi quem descreveu e conceituou melhor o seu

comportamento típico. Inicialmente, ele cunhou a palavra "intrapreneur"

como uma abreviatura para "entrepreneur intracorporativo", pois seu

interesse estava voltado para o empreendedor que atua numa organização

já existente. Segundo ele,

lntrapreneur" é o sonhador que realiza: é aquele que assume a responsabilidade pela criação de inovações de qualquer espécie dentro da organização. O "intrapreneur" pode ser o criador ou o inventor, mas é sempre o sonhador que concebe como transformar uma idéia em uma realidade lucrativa. (p. xi)

Em outras palavras, o "intrapreneur" nem sempre tem a solução

pronta: ele é estimulado, por suas próprias características, a desenvolver a

solução, que pode inclusive vir de terceiros (um membro da equipe, um

cliente ou um fornecedor).

Pinchot 111 (1989) descreve o "intrapreneur" com relação à suas

principais atitudes:

• motivação: quer liberdade para agir e buscar recursos. É auto­

motivado, orientado para resultados, mas também reage às

recompensas e ao reconhecimento da organização. Dedica-se à

"causa";

• orientação quanto ao tempo: prazo de 3 a 15 anos, de acordo com

o tipo de empreendimento. Tem urgência para atender

cronogramas auto-impostos ou definidos pela empresa;

• ação: "põe a mão na massa". Pode saber como delegar, mas

quando necessário faz o que deve ser feito.· Orientado para a

ação, combinado à visão;

• habilidades: semelhantes praticamente ao "entrepreneur" (dono do

negócio próprio}, mas a situação exige maior capacidade para

Page 142: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

132

prosperar dentro da organização. Neste aspecto, precisa ser

ajudado;

• coragem e destino: auto-confiante e corajoso. Muitos

"intrapreneurs" são cínicos a respeito do sistema, mas otimistas

quanto à sua capacidade de superá-lo;

• atenção: tanto para eventos dentro como fora da empresa. Hábil

para "vender'' internamente as necessidades de risco e do

mercado, mas também focaliza os clientes;

• metas: são auto-definidos; fazem coisas que não lhe foram

solicitadas;

• risco: gosta de riscos moderados. Em geral, não teme ser demitido;

vê pouco risco pess~al;

• padrão de qualidade: auto-determinado; procura superar os

padrões definidos;

• pesquisa de mercado: faz sua própria pesqu1sa e avaliação

intuitiva do mercado;

• status: considera os símbolos de status tradicionais uma piada -

prefere símbolos de liberdade;

• fracasso e erro: sensível à necessidade de parecer disciplinado na

empresa. Tenta ocultar os projetos de risco, assim pode aprender

com os erros sem o custo político do fracasso público; supera erros

e fracassos;

• objetivos da empresa: procura ser fiel;

• decisões: gosta de fazer os outros concordarem com sua visão. É

pouco mais paciente e disposto a compromissos que o

"entrepreneur", mas ainda é executor;

• a quem serve: agrada a si mesmo, aos clientes e patrocinadores;

• atitude em relação ao sistema: não gosta do sistema, mas aprende

a manipulá-lo;

Page 143: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

133

• estilo de solução de problemas: resolve problemas dentro do

sistema ou passa por cima deles, sem deixá-lo;

• histórico sócio-econômico: classe média;

• nível de instrução: com freqüência é alto, em particular nas áreas

técnicas;

• relacionamento inter-pessoal: transações dentro da hierarquia.

As características acima descritas são genéricas e não significa que

devam estar presentes em sua totalidade no "intrapreneur", mas devem ser

predominantes no seu comportamento.

Quando a empresa como um todo adota o estilo empreendedor de

gestão, isto implica em que, além dos "intrapreneurs", enquanto

empregados atuando nas diversas áreas da empresa, os gerentes deverão

também desenvolver posturas empreendedoras.

Algumas das características observadas nos gerentes

empreendedores, inclusive até requeridas por empresas que praticam a

gestão empreendedora, são as seguintes:

• desenvolver atitude interativa perante as questões estratégicas da

organização, ou seja, os gerentes não podem se limitar à visão do

seu departamento ou área: a lealdade deve ser para com toda a

empresa e, assim, é preciso interagir com as outras áreas afetas

ao problema para entender o seu ponto de vista sobre a questão;

• saber administrar as turbulências ambientais: estas não estão

previstas no Manual da Organização; ocorrem aleatoriamente e se

originam no ambiente externo, fora do controle da empresa: daí o

espírito empreendedor na busca de soluções criativas;

• estar orientado para o processo de inovação: é a postura nata dos

gerentes empreendedores, pois empreender significa inovar para

buscar resultados;

• ter capacidade administrativa para consolidar planos inovativos:

não basta apenas inovar~ é preciso manter as ações em curso; daí

Page 144: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

134

os gerentes empreendedores continuam sendo executivos e

controladores, com a diferença de que o objetivo são os resultados

(e não o controle em si);

• desenvolver liderança sobre a equipe, no sentido de estimular a

inovação e premiar a equipe: na gestão empreendedora, os

gerentes passam a ser orientadores da equipe ("coach");

• estimular a participação dos membros da equipe, visando propiciar

a necessária criatividade ao grupo. Mais do que a participação, o

gerente deve buscar a integração das pessoas ao trabalho de

equipe;

desenvolver processos de negociação no estilo "ganha-ganha", no

sentido de facilitar a busca de relações de parceria (internas e

externas);

adotar postura competitiva nas ações e decisões, ou seja, priorizar

aquilo que agrega valor ao cliente (noção de custo x valor).

4.3.2.3. Aspectos organizacionais da gestão empreendedora

Para implantar a gestão empreendedora em uma organização já

existente, é preciso considerar vários aspectos fundamentais para o êxito da

prática empreendedora. Drucker (1986) afirma que,

para a empresa em operação ter condições de inovar, ela precisa criar uma estrutura que permita às pessoas serem empreendedoras. Tem que delinear relacionamentos baseados em empreendimento. Precisa se assegurar de que as suas recompensas e incentivos, seus salários, suas decisões sobre pessoal e diretrizes, todos recompensam o comportamento empreendedor correto, e não o punem. (p. 224)

Neste sentido, a empresa deverá desenvolver os seguintes cuidados

no que diz aos aspectos organizacionais para implantar um estilo

empreendedor de gestão: ·

Page 145: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

135

1 °) separar atividades novas, de caráter empreendedor, das

atividades tradicionais, que têm geralmente caráter operacional ou de

manutenção: uma não pode prejudicar a outra;

2°) é necessário localizar o novo empreendimento nos níveis

superiores da organização, a fim de facilitar a obtenção de apoio das

diversas áreas que fornecerão recursos (humanos, financeiros, técnicos ou

informações). Necessariamente o gerente ou coordenador do

"intraempreendimento" não deverá se dedicar integralmente ao projeto:

cada situação deve ter a solução mais adequada. Caso a mesma pessoa

coordene mais de um ou até todos os projetos inovadores da empresa,

neste caso se justificará sua atuação exclusiva para a ação empreendedora;

3°) a política de remuneração da equipe empreendedora deve

incluir um salário fixo, enquadrando os membros da equipe no plano, de

cargos e salários da empresa mais um critério definido na participação nos

resultados, quando estes começarem a aparecer. Algumas empresas

antecipam parcelas pequenas destes resultados quando as perspectivas do

projeto empreendedor são otimistas; porém, mais uma vez, cada projeto

orientará a solução mais adeq~;~~da para a empresa e a equipe

empreendedora, o que deverá ser objeto de negociação;

4°) deverá haver alguém ou um grupo de pessoas que seja

claramente responsabilizado pelo projeto. Nos primeiros anos de

experiência com projetos empreendedores, no início dos anos 80, as

empresas preferiam apoiar idéias pessoais de funcionários, que passavam

então a ser tratados como "intrapreneurs". No entanto, esta alternativa

começou a provocar problemas internos, sobretudo de inter-relacionamento

pessoal, que resultaram em conflitos, ciúmes e, geralmente, no fracasso dos

projetos. Assim, à medida em que a experiência das práticas

empreendedoras permitia, as empresas passaram a enfatizar o apoio às

equipes empreendedoras. Estas têm maior facilidade de identificação do

projeto empreendedor como um esforço inovador da empresa e não de um

indivíduo "cheio de idéias". Assim, os conflitos têm sido menores ou, pelos

menos, gerenciáveis e o grau de sucesso dos projetos inovadores de

equipes empreendedoras tem sido mais favorável, de acordo com estudos

feitos nas empresas que utilizaram ambas as alternativas;

Page 146: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

136

5°) o "intrapreneur" ou a equipe empreendedora precisam ter uma

certa autonomia de atuação, fugindo das normas e da estrutura formal da

empresa. A própria cultura empreendedora, a ser disseminada na empresa,

facilitará a compreensão, por parte de todos os funcionários e de todas as

áreas, dos "privilégios" do "intrapreneur" ou da equipe empreendedora.

Assim, tanto no sentido vertical como horizontal do organograma da

empresa, é preciso conceder uma certa liberdade de interação do

"intrapreneur" ou da equipe com as diversas áreas da empresa que deverão

apoiar o projeto. A nível horizontal, por exemplo, os contatos seriam com as

áreas de marketing, finanças, recursos humanos, engenharia ou

desenvolvimento (se houver) e outras. No nível vertical, o "intrapreneur" ou

equipe empreendedora não ficariam em linha de subordinação direta ou

supervisão funcional;

6°) a empresa tem várias alternativas de desenho organizacional

para o projeto empreendedor; entre estas, o formato que tem sido adotado

com maior freqüência é a adhocracia, baseada em "forças-tarefas" ou

estrutura temporária. Mintzberg (1983) propõe uma "estrutura adhocrática"

para projetos inovadores, que teriam as seguintes características:

· estrutura altamente orgânica; · com pouca formalização; alta especialização em tarefas horizontalizadas, com base em treinamento formal da equipe; tendência a agrupar os especialistas em equipes de projeto orientadas para o mercado; mecanismos de interligação entre as equipes, visando troca de informações e experiências; e descentralização seletiva dentro destas equipes, visando combinar gerentes de linha com especialistas e o staff. (p. 254)

Mintzberg (1983) lembra ainda que "inovar é quebrar os padrões

estabelecidos. Assim, a organização inovativa não pode confiar em qualquer

forma de padronização da coordenação." (p. 254) Isto ocorre, por exemplo,

quando a empresa atua num mercado cujas mudanças são muito rápidas,

exigindo adaptação e lançamento de novos produtos, estes com o ciclo de

vida cada vez mais curto.· A este tipo de equipe, Mintzberg chama de

"adhocracia empreendedora".

Para Waterman Jr. (1992), ao utilizar estrutura adhocrática,

problemas do tipo "nós contra eles" são os piores obstáculos a se superar em empresas ansiosas por criar um contexto no qual a adhocracia e a burocracia possam coexistir pacificamente. (. . .) o

Page 147: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

objetivo é partilhar não apenas o trabalho, mas também as idéias. (p. 59)

137

Waterman cita o exemplo de uma empresa que adotou o formato de

"colméias" de trabalhadores, em que os membros das várias equipes

(colméias) aprendem tudo sobre o trabalho dos outros, fazendo rodízios

para manter o serviço interessante e não rotineiro: isto também amplia suas

habilidades. E ajudam-se mutuamente para encontrar soluções para

problemas especiais, além de realizarem as manutenções de rotina sem

esperar um especialista.

7°) Outro aspecto que afeta a estrutura organizacional no estilo

empreendedor de gestão é a busca de parcerias com outras empresas,

visando complementar atividades necessárias à fabricação de um produto

ou prestação de serviço. O fator que está cada vez mais obrigando as

empresas a desenvolverem relações de parceria é a questão da

competitividade, ou seja, para competir no seu mercado, a empresa deve

concentrar seus esforços no seu negócio essencial ("core competition") e

transferir atividades complementares ou nas quais não consegue ser

competitivas para terceiros.

Há várias modalidades de paréefias:

Aliança estratégica

Segundo Lewis (1992),

numa aliança estratégica, as empresas cooperam em nome de suas necessidades mútuas e compartilham dos riscos para alcançar um objetivo comum, Sem uma necessidade mútua as empresas podem ter o mesmo objetivo, mas cada uma pode atingi-lo sozinho. Se elas não compartilharem de riscos significantes, não poderão esperar compromissos mútuos. As empresas somente dividem riscos se necessitam uma da outra para atingir o mesmo objetivo. (p. 1)

Exemplos de alianças estratégicas têm sido freqüentes na indústria

automobilística, cuja globalização impôs a necessidade de relações de

parceria para que as indústrias possam competir no mercado. Mas há casos

de insucessos neste tipo de aliança, como é o exemplo recente do fim da

Autolatina (parceria entre a Volkswagem e a Ford para atuação conjunta no

mercado latino-americano).

Page 148: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

Tercerização

Segundo Fontanella et ai. (1994),

a Terceirização é uma tecnologia de administração que consiste na compra de bens é/ou serviços especializados, de forma sistêmica e intensiva, para serem integrados na condição de atividade-meio à atividade-fim da empresa compradora, permitindo a concentração de energia em sua real vocação, com intuito de potencializar ganhos em qualidade e competitividade. (p. 19)

138

Assim, ao adotar a terceirização como uma decisão estratégica do

negócio, a empresa pode estar buscando, entre outros objetivos:

• ter acesso a novas tecnologias que ainda não domina;

• buscar novas culturas empresariais nas empresas-parceiras;

• intensificar o investimento na atividade fim, transferindo atividades

não essenciais para outras empresas;

• diminuir o custo fixo e obter economia de escala.

No entanto, a terceirização no Brasil ainda não está ao nível do

conceito e dos objetivos acima enumerados, com poucas exceções. Grande

parte das empresas que adotaram a terceirização o fizeram apenas com

objetivos de curto prazo (redução de custos, sobretudo de salários e

encargos sociais). As conseqüências são a deterioração das condições de

trabalho e a insegurança dos trabalhadores cuja atividade ainda não foi

terce i rizada.

Franchising

Segundo Bernard (1992),

podemos definir o franchising (ou franquia comercial e de distribuição, segundo o termo jurídico empregado no Brasil, embora pouco popular) como uma oportunidade de negócios na qual o proprietário, seja ele produtor ou distribuidor, de um serviço ou de um produto que possua uma marca registrada, concede direitos exclusivos a um indivíduo ou, em alguns casos, uma pessoa jurídica, para distribuir/vender, em determinada área, determinado serviço ou produto, que em troca recebe uma taxa inicial e/ou royalties, além de uma conformidade à padronização da qualidade por ele proposta. Denominamos o indivíduo ou as empresas concedentes dos direitos o "franqueador", enquanto o indivíduo (ou, em alguns casos, a

\ ·~ v

Page 149: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

pessoa jurídica) a quem é concedido o direito de operar de acordo com determinado método de produzir ou vender um produto ou serviço passa a ser denominado "franqueado". (p. 24)

139

O franchising é um sistema de negócio em crescimento rápido nos

últimos anos, a nível mundial e também no Brasil, impulsionado pela

globalização da economia e do estilo de vida, conforme análise anterior no

Capítulo 3. Para os empreendedores, pode ser uma "escola empresarial"

para quem ainda não tem experiência como empresário.

Joint-venture ·

Trata-se de uma parceria entre duas ou mais empresas que se juntam

para entrar num novo negócio de risco, seja compartilhando recursos

financeiros para os investimentos, seja combinando capital· e tecnologia, de

acordo com a competência técnica de cada parte. Trata-se de uma forma de

parceria muito utilizada em operações internacionais de negócios.

Há outras formas de parcerias, porém ainda pouco aplicadas no

Brasil: as redes horizontais de pequenas empresas que atuam no mesmo

setor de atividade (concorrentes entre si) e que desenvolvem projetos

compartilhados de investimentos em .tecnologia, central de matérias-primas,

centros de comercialização de seus produtos e outras formas de

compartilhamento de recursos.

Outro modelo, comum sobretudo na Europa Ocidental, é o das redes

verticais de empresas que atuam em diferentes elos da mesma cadeia

produtiva e que intercomplementam suas atividades (relação de

fornecedores-clientes na cadeia produtiva).

Um aspecto fundamental para o sucesso das parcerias entre

empresas é a postura de cada parte frente ao seu parceiro; cada um deve

estar predisposto a ceder para poder ganhar (negociação "ganha-ganha"):

ambos os lados precisam ter vantagens com a parceria, pois este é um

"casamento" entre organizações.

.-

Page 150: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

140

4.3.2.4 Políticas de recursos humanos para estimular o espírito

empreendedor

Para que uma empresa adote e pratique com sucesso o estilo

empreendedor de gestão, não basta estimular as pessoas a desenvolverem

novas idéias ou a desenharem formatos organizacionais adequados à

inovação: além destes aspectos, é fundamental elaborar e colocar em

prática um conjunto de políticas de recursos humanos.

A seguir, serão analisadas algumas políticas que têm sido

observadas em algumas empresas que já adotam a gestão empreendedora:

a) Desenvolvimento de um clima organizacional favorável à inovação

A inovação, enquanto rompimento de posturas tradicionais, necessita

de um ambiente organizacional adequado a estimular as pessoas e as

equipes a se auto-motivarem na busca de resultados. O desafio para a

gestão de Recursos Humanos, neste caso, é desenvolver instrumentos que

operacionalizem, dentro da empres~,. uma (nova) cultura organizacional que

atinja pelo menos três objetivos:

• o envolvimento emocional e mental das pessoas com a empresa;

• a auto-motivação para colaboração (inter e intra-grupal);

• a aceitação de responsabilidades.

Quando uma empresa vai ao mercado de trabalho atrair novos

profissionais, a postura tradicional é "obter o máximo das pessoas": tal

postura não atinge nenhum daqueles objetivos.

No entanto, a empresa que adota o estilo empreendedor de gestão

provavelmente inverterá aquele foco: "o que a empresa pode retribuir às

pessoas pela sua colaboração". Assim, há empresas que estão adotando as

seguintes práticas:

Page 151: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

141

• uma nova postura ética para com os empregados, procurando

enfatizar uma relação de parceria (ao invés da relação

empregatícia);

• identificar os projetos de vida pessoais dos empregados, a fim de

compatibilizá-los com o trabalho: assim, as políticas de recursos

humanos serão melhor direcionadas, no sentido de ·propiCiar às

pessoas a sua realização pessoal e profissional, através do

trabalho;

• flexibilidade na gestão do horário de trabalho, visando

compatibilizar o trabalho com a vida pessoal;

• possibilidade de participação nos resultados gerados pelas

pessoas ou equipes;

• desenvolvimento de programas que possibilitem a integração

família-empresa: isto proporciona segurança e conforto às

pessoas.

Na realidade, a "cultura orgq.nizacional favorável à inovação" não é

uma política isolada: mais que isto, é o resultado da combinação de outras

políticas de recursos humanos, a serem analisadas adiante. O depoimento

de Rodgers (1990), sobre sua experiência de "intrapreneur" na IBM,

conforma tal afirmação:

Desde o início, Tom Watson, Sr. (um dos fundadores da IBM), sabia que não se pode estimular o desenvolvimento de empreendedores corporativos sobrecarregando seus funcionários com uma enervante estrutura burocrática. Watson não era um teórico, mas sabia intuitivamente que uma burocracia excessiva estrangula a criatividade e o espírito necessário para se assumir riscos. Sua solução foi a de construir sua empresa de tal forma que nenhum funcionário precisasse tratar com uma estrutura gigantesca, não importando quanto ela crescesse. Quando entrei na empresa, ela faturava $250 milhões por ano e não se "sentia" grande. Se eu tivesse sido contratado por uma empresa muito menor que a IBM, teria, provavelmente, que tratar com uma burocracia muito maior. Mesmo hoje, um novo funcionário que entra na IBM- agora uma corporação de $50 bilhões - acha-se em uma atmosfera de empresa pequena. Isso se deve, em parte, ao fato de a empresa nunca permitir que suas filiais cresçam demais; e, em qualquer função, um gerente supervisiona de dez a doze pessoas, raramente mais. Desta forma, ninguém fica perdido. Um empreendedor em formação é rapidamente reconhecido e incentivado. Não só se espera que o

Page 152: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

gerente estimule esse tipo de pessoa, mas ele também é avaliado quanto ao sucesso do estímulo dado. O resultado é um ambiente de trabalho carregado de entusiasmo, energia criativa e comprometimento. (p. 239-240)

142

Assim, segundo Naisbitt (1985), emerge um novo papel para os

dirigentes: "o de criar um ambiente que, mais do que dar a oportunidade de

-contribuir para o crescimento da instituição, seja favorável ao

desenvolvimento individuar. (p. 64)

b) Implantação do horário flexível de trabalho

A Sociedade Industrial, voltada para a massificação da produção,

implementou mecanismo de controle do tempo - para trabalhar, estudar,

comprar, viajar, lazer e outras atividades humanas. Certamente, o controle

de tempo mais marcante - e que é o condicionador dos demais - é o

referente ao trabalho.

Não existe relação direta entre inovação e horário de trabalho: a

inovação é um processo atemporal e, também, sem relação espacial com o

trabalho. Ou seja, a inovação pode G>Gorrer em qualquer tempo e lugar.

Além deste aspecto, alguns fatores têm provocado a exaustão da

necessidade de controlar o horário de trabalho das pessoas, entre as quais:

• novas tecnologias de comunicação, que estão viabilizando o

trabalho à distância ("telecommuting"). Segundo Naisbitt &

Aburdene ( 1990),

um novo tipo de trabalhador da informação está mudando o panorama. Livres para viverem praticamente em qualquer lugar que desejem, cada vez mais indivíduos têm optado por morar m cidades pequenas e áreas rurais. (. . .) Pela primeira vez na história, estão sendo rompidas as "amarras" que forçavam as pessoas a morar nas cercanias de seu local de trabalho. (p. 375)

Esta tendênCia, na visão daqueles autores, estão criando os

chamados "eletronic cottages" ("chalés eletrônicos"), em que as

pessoas- ficam em casa, trabalhando em seus computadores, em

vez de irem para escritórios localizados nas redondezas;

Page 153: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

143

• as mudanças no mercado de trabalho, sobretudo com a

participação crescente da mulher em atividades remuneradas

(rompendo com o longo ciclo dos serviços gratuitos prestados à

família como "dona-de-casa"), têm possibilitado a redução da

jornada de trabalho, tanto do marido e da mulher, que agora

compartilham as despesas da casa e, inclusive, tarefas antes

exclusivas das "donas-de-casa": fazer compras, pagar contas,

levar e buscar as crianças para a escola e centros de recreação,

entre outras atividades. Está acabando o modelo de família da

sociedade industrial, cujo trabalhador típico era do sexo masculino, .

com horário integral de 8 horas de trabalho e uma família a

sustentar;

• novas formas contratuais de trabalho: as empresas estão adotando

novos formatos jurídicos e administrativos para a contratação de

serviços. É crescente o número de empresas que está "demitindo"

seu staff mais qualificado e recontratando-os através de

terceirização ou de prestação de serviços como consultores, em

tempo parcial e sem necessidade de manter exclusividade para

com a empresa (desde que o "consultor" não complemente suas

hor~s de trabalho prestando serviços ao principal concorrente);

• novas estruturas organizacionais: com estruturas mais

horizontalizadas, é possível à maioria dos trabalhadores auto­

gerenciarem o seu tempo de trabalho, compatibilizando interesses

pessoais com as necessidades do trabalho. Assim, as empresas

definem regras gerais, de acordo com a natureza das atividades

(por exemplo, se há atendimento 24 horas ao cliente, se existem

processos que não podem parar, entre outros) e as equipes e

respectivos gerentes definem as regras específicas. Estabelecem­

se os horários extremos de entrada e saída; os intervalos para

almoço/descanso previstos na legislação trabalhista; horários

comuns em que a presença de todos é obrigatória para

desenvolver os trabalhos coletivos (discussão de projetos,

relatórios, novos produtos e serviços, entre outros);

• compartilhamento de tarefas: com as novas tecnologias de

trabalho, exigindo o perfil multifuncional ou polivalente das

Page 154: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

144

pessoas, já é possível adotar formas mais avançadas de horário

flexível com o compartilhamento de tarefas entre duas ou mais

pessoas que executam as mesmas atividades. Assim, é possível

programar o trabalho, de tal forma que uma pessoa trabalhe de

segunda a quarta-feira e outra de quarta a sexta-feira. A quarta­

feira seria comum para ambas, a fim de ajustarem e

reprogramarem as atividades. Já existem exemplos deste tipo de

flexibilidade de trabalho em· empresas americanas e européias.

c) Revisão das políticas de remuneração de compensação

A postura empreendedora exige das empresas uma nova reflexão e

novas práticas de recompensar seus empregados. A "velha" política salarial,

baseada em planos de cargos e salários e em sistemas de avaliação de

desempenho já obsoletos, não garantem mais a permanência na empresa

de pessoas com potencial empreendedor. Muitas empresas têm perdido

funcionários talentosos porque adotam sistemas rígidos e burocráticos de

remuneração e de desenvolvimento de carreira.

Várias empresas inovadoras, buscando romper esta postura

tradicional, estão desenvolvendo novas alternativas de remuneração, entre

as quais:

c. 1 . participação em lucros ou resultados

É preciso, inicialmente, diferenciar as duas alternativas: a

participação em lucros ("profit sharing") baseia-se exclusivamente nos

resultados financeiros apurados ao final de um exercício fiscal ou de um

período determinado. É a alternativa atualmente mais utilizada, porém

geralmente desvinculada de uma política de recursos humanos que

incentive a inovação e o espírito empreendedor das pessoas na

organização.

Por outro lado, a participação em resultados ("gain sharing") tem um

sentido mais abrangente e permite à empresa adotar esta alternativa como

Page 155: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

145

parte de uma política de recursos humanos orientada para a inovação.

Neste sentido, o objetivo é premiar o desempenho das equipes e das

pessoas, através de indicadores previamente determinados (aumento de

produtividade, redução de custos, melhoria da qualidade, redução do "lead­

time", entre outros).

Os principais problemas enfrentados em ambas as situações são as

seguintes:

• dificuldade de implantar sistemas de informação que permitam

aferir com relativa precisão os resultados e indicar o nível de

contribuição das áreas, equipes ou pessoas aos resultados

obtidos;

• a falta de uma legislação trabalhista que não seja apenas

esclarecedora, mas também incentivadora da premiação dos

resultados pelas empresas. Apenas recentemente o Governo

brasileiro tomou iniciativa neste sentido, mesmo assim através de

Medida Provisória, "regulamentado a participação dos

trabalhadores nos lucros ou resultados das empresas". Embora os

projetos de tal regulamentação já sejam tentativas desde 1946 e a

Constituição de 1988 chegou a criar a obrigatoriedade desta

participação, observa-se que a questão principal ainda não foi

discutida: a relação empresa-empregados, não numa visão

empregatícia e sim numa postura de parceria; assim, a questão

tem sido desviada para o âmbito jurídico da questão, envolvendo

aspectos como: geração de direitos adquiridos, incidência de

encargos sociais e impostos sobre a parcela distribuída. Tal

aspecto é agravado pela cultura de grande parte dos empregados

que passa a considerar a participação nos lucros como parte de

sua renda (salário) e não como o resultado de sua contribuição

individual para com o cumprimento dos objetivos empresariais;

• a cultura empresarial tradicional, que teme perder não só a parcela

dos lucros transferida aos trabalhadores, como também parte do

poder, uma vez que a discussão de indicadores ou o

desenvolvimento de sistemas de informações transparentes sobre

Page 156: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

146

os negócios da empresa colocariam em "cheque" o controle

centralizado da gestão empresarial.

No entanto, várias empresas, independentemente da obrigação legal,

já praticam ambas as modalidades: observa-se que aquelas que praticam

modelos mais tradicionais de gestão tendem a dotar a "participação em

lucros", quando os dirigentes determinam um certo percentual a ser

distribuído, sendo em algumas empresas de acordo com o salário do

empregado e em outras não se segue esta proporcionalidade; já as

empresas que adotam a "participação nos resultados" geralmente colocam

em prática várias posturas inovadoras de gestão, como programas de

qualidade, melhoria contínua da produtividade, administração participativa,

parcerias com outras empresas, entre outras.

Inclusive, nestas últimas empresas, observa-se que a participação em

resultados evolui gradativamente: passa da participação em lucros para a

participação em resultados num primeiro momento, com base no

desempenho de uma área ou unidade de negócios; em seguida, uma vez

obtida maior coesão na relação empresa-empregados, evolui-se para a

participação em resultados "a nível ,il)dividual", ou seja, a empresa implanta

mecanismos de informações e de acompanhamento sistemático do

desempenho dos seus negócios, que permitam atribuir os devidos méritos a

cada empregado, de acordo com as metas que lhe foram designadas e o

seu respectivo cumprimento. Algumas empresas, neste sentido, começam a

implantar contratos de gestão a nível individual, fixando os objetivos e metas

de cada empregado e os respectivos critérios de avaliação do seu

desempenho.

Quando uma empresa atinge este nível, algumas conseqüências são

observadas:

• melhoria do ambiente de trabalho, favorecendo a integração entre

as equipes e as diversas áreas da empresa (os resultados

individuais dependem do desempenho global);

• índice de rotatividade de empregados ("turn-over") próximo a zero:

as pessoas aumentam sua lealdade à empresa e fazem planos de

carreira longe para realização dos seus objetivos profissionais;

Page 157: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

147

• maior "alinhamento" das pessoas com a visão da missão da

empresa: cada um sente a responsabilidade individual pelo

atingimento dos resultados;

• melhor identificação com a clientela da empresa, propiciando as

condições favoráveis a uma gestão baseada na filosofia da

qualidade (satisfação dos clientes).

Outra alternativa utilizada por empresas inovadoras é o sistema de

"spot bônus" ou de bonificação, cujo objetivo é premiar o esforço individual

ou de equipes pelos resultados alcançados em transações, negócios e de

conquista de novos clientes ou novos mercados. Geralmente tal alternativa

é aplicada mais para os funcionários envolvidos com os negócios externos

da empresa.

c.2. participação societária

Esta alternativa implica em redistribuir partes do capital da empresa

entre um grupo selecionado de empregados ou a distribuição generalizada

de cotas de capital da empresa entre todos os empregados. Na primeira

situação, quando apenas um grupo limitado de funcionários tem

possibilidade de ter participação societária, normalmente o processo está

vinculado a um sistema de premiação não sistematizado em políticas e

normas da empresa: os dirigentes simplesmente decidem propiciar a um ou

mais empregados tal participação, geralmente num percentual pouco

significativo do capital social, visando recompensar uma idéia inovadora ou

a abertura de um cliente importante. No entanto, tem-se observado, nas

poucas experiências conhecidas, que este tipo de recompensa não é a mais

adequada (em relação à participação em resultados, por exemplo), pois se

corre o risco de que o funcionário venha a assumir posturas patronais e

deixe em segundo plano suas características empreendedoras que

possibilitaram tal recompensa.

De outro lado, há casos raros de empresas que, desde a sua

constituição, adotaram um modelo societário ou acionário no qual os

empregados passam a subscrever cotas ou ações da empresa e todo o

capital social é detido por pessoas internas à organização. Embora não haja

Page 158: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

148

vinculação direta com a carreira, este sistema cria um envolvimento maior

do empregado com a organização, pois ele passa a ser um investidor na

empresa que lhe garante o emprego. Dificilmente este modelo poderá ser

adotado em uma empresa já existente.

c.3. Carreira em "Y"

A carreira em "Y" é uma alternativa recente que várias empresas têm

utilizado como uma política de remuneração alternativa ao Plano de Cargos

e Salários tradicional, visando viabilizar a carreira de pessoas que têm

predominantemente o perfil técnico-empreendedor. Tanto que algumas

empresas adotam a denominação "carreira técnica" ou "carreira paralela".

Segundo Resende ( 1991 ),

isto certamente ocorreu não porque, de repente, se tenha descoberto que os fatores tradicionais de avaliação de cargos e suas ponderações de pesos apresentassem falhas ou incoerências. Mas, provavelmente, pelo fato de estar havendo gradativo crescimento quantitativo e qualitativo de cargos técnicos, de assessoria e consultoria, por força do impacto do desenvolvimento da tecnologia nas organtz:ações, e das reformulações organizacionais, as quais indicam nítida tendência de redução de níveis hierárquicos e surgimento de mais funções de staff. (p. 81)

Assim, a carreira em "Y" pode evitar uma situação cada vez mais

freqüente em grandes empresas, tanto privadas como públicas, nos últimos

anos: transformar excelentes técnicos em gerentes. O resultado prático é

que, geralmente, as empresas perdem potencial empreendedor e nem

sempre ganham um bom gerente, mesmo porque tais pessoas não têm perfil

administrativo.

Resende (1991) aconselha que

não se transforme, todavia, a carreira em "Y" em panacéia das dificuldades de administração salarial, nem no último modismo da área de R.H. Não deve ela servir de pretexto, também, para que os técnicos se transformem nos novos heróis das empresas, desbancando os gerentes. (p. 82)

Assim, deve se ter uma certa cautela e critérios definidos para aplicar

a carreira em "Y"; talvez não seja aplicável em todos os tipos de carreira

Page 159: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

149

técnica, nem para todos os setores de· atividade. Certamente organizações

cujas atividades tipicamente dependem de desenvolvimento tecnológico se

adequarão mais facilmente à carreira em "Y". É preciso lembrar ainda que

este modelo de desenvolvimento de carreira afeta predominantemente

pessoas que estão em cargos e funções estratégicas na empresa: isto exige

maior cuidado, pois há situações no plano de carreira que se tornam

irreversíveis.

A configuração da carreira em "Y" se justifica pela sua semelhança

com o formato da letra que lhe dá a denominação. Assim, por exemplo, a

Figura 8 ilustra um caso hipotético de uma empresa em que existem áreas

de produção e áreas técnicas (planejamento, pesquisa e desenvolvimento,

engenharia, entre outras). Neste exemplo, os salários da carreira técnica

podem ser até superiores aos da carreira administrativa, dependendo da

política salarial da empresa.

Figura 8 - CARREIRA EM "Y"

Superintendente Técnico

Assistente Técnico 111

Assistente Técnico 11

Assistente Técnico I

Superintendente de Produção

... Gerente Depto.de Produção

... Chefe Setor de Produção

....... Assistente de Chefia

Trainee

Estagiário

Resende (1991) sugere alguns critérios para definir que cargos

técnicos devem ser enquadrados na carreira em " Y":

Page 160: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

150

• Há permanente dificuldade para formar ou obter mão-de-obra.

• Há exigências de qualificações extras ou muito especiais dos seus

ocupantes (estágios prolongados no exterior, pós-graduação, etc.).

• É necessário que seus ocupantes tenham domínio de tecnologias

complexas aplicáveis aos processos operacionais ou produtivos da

empresa.

• Suas tarefas são basicamente de pesquisa e desenvolvimento,

voltado para atuação e inovação tecnológica.

• Seus profissionais assessoram os dirigentes em importantes e

fundamentais sistemas administrativos e gerenciais (planejamento

estratégico, por exemplo).

• Seus ocupantes têm missões especiais de representação ou

negócios, através dos quais oferecem significativas contribuições à

empresa.

Assim, segundo estes critérios, cargos espec1a1s de assessoria

administrativa, com atribuições de· grande responsabilidade e exigindo

conhecimentos e habilidades específicos, devem ser também considerados

como possíveis enquadramentos na carreira em "Y".

Para as empresas que praticam gestão empreendedora, este modelo

de carreira certamente deverá ser adotado crescentemente, com as devidas

adequações a cada empresa.

c.4. Remuneração variável

Uma das mais recentes práticas das empresas inovadoras é a

introdução de um novo conceito na política de remuneração dos

empregados: trata-se da remuneração variável.

Segundo as experiências observadas recentemente nestas

empresas, a remuneração variável pode ser conceituada como a

bonificação complementar ao salário fixo, em decorrência do cumprimento

Page 161: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

151

de metas previamente determinadas. Assim, a empresa passa a contar com

um sistema de remuneração misto: um, baseado no salário fixo, de acordo

com o Plano de Cargos e Salários e atendendo todos os requisitos da

legislação trabalhista; um segundo, de caráter deliberativo da empresa que,

através da decisão dos dirigentes ou por processo de negociação direta

com os empregados, estabelece metas a serem cumpridas (globais, por

setor e até por empregado), cuja medição estabelecerá a premiação

previamente acordada.

A diferença em relação ao Plano de Incentivos é que esta alternativa

está vinculada diretamente à política salarial e a premiação sempre será

monetária. Ao mesmo tempo, uma vez implantada, deverá ter caráter

permanente e, em alguns aspectos, poderá se agregar ao próprio salário, de

acordo com a legislação trabalhista.

Esta alternativa deverá se conciliada com a política de participação

nos lucros ou resultados das empresas, cuja regulamentação está em curso

no Congresso Nacional, já estando em vigor desde 30.12.94, através de

Medida Provisória. A diferença é que, enquanto a remuneração variável é

de periodicidade mensal, acompanhando a política salarial, a participação

em lucros ou resultados, de acordo' com a regulamentação em curso, deve

ter periodicidade mínima semestral (exatamente para não se confundir com

o salário e premiar o desempenho obtido durante certo período).

d) Planos de incentivos

Como complemento às novas políticas na área de remuneração, as

empresas têm buscado outros tipos de recompensas, geralmente não

monetárias, visando incentivar os funcionários a cumprirem metas e a maior

integração aos objetivos da empresa. Assim, tem se multiplicado nos últimos

anos o conjunto de alternativas destes incentivos. Neste sentido, eles têm

se diferenciado dos benefícios que as empresas concedem, seja por

cumprimento de legislação trabalhista (vale-refeição, vale-transporte,

auxílio-creche e outras), seja por deliberação da própria empresa

(assistência médico-hospitalar, seguro de vida, auxílio-doença,

financiamento/empréstimo, viagens de lazer e outros).

Page 162: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

152

O que diferencia os benefícios acima dos planos de incentivos é que

os primeiros se constituem em vantagens garantidas aos funcionários,

independentemente de resultados dos negócios ou do cumprimento de

metas: ou seja, uma vez adotados, eles tornam-se como que parte do custo

fixo da empresa e, pela legislação trabalhista no Brasil, alguns se

incorporam ao salário e não podem ser revertidos.

Ao contrário, os planos de incentivos, que ficaram muito conhecidos

como programas de "Marketing de Incentivos", . estão atrelados ao

cumprimento de metas, como o aumento de vendas ou de produção,

melhoria da produtividade, entre outros. Algumas empresas têm utilizado

tais incentivos também para premiar novas idéias, seja de um funcionário

isoladamente, seja de uma equipe. Por estarem vinculados a resultados,

para a empresa representam custos variáveis e, para os funcionários, um

desafio.

As premiações, geralmente, são não monetárias, para não interferir

na política salarial da empresa e devem ser previamente acordadas com os

funcionários através de uma regulamentação própria. Inclusive, surgiram

várias empresa nos últimos anos que gerenciam este tipo de programa,

evitando assim desgastes internos para a organização que decida recorrer a

este tipo de incentivo. As premiações podem ser viagens nacionais e

internacionais, vale-compras, planos de saúde, aparelhos elétrico­

eletrônicos (tele/cine/foto/som), automóveis e, até em alguns casos,

dinheiro. Os motivos que levam as empresas a desenvolverem tais

programas são, além do maior motivação para os funcionários, a obtenção

de uma relação de cumplicidade dos mesmos com relação aos objetivos a

serem cumpridos, a valorização do trabalho inovador, a maior qualificação

dos funcionários, o aumento dos salários indiretos e até a disputa com a

concorrência, quando esta ameaça atrair funcionários da empresa.

Para a Administração Empreendedora, estes programas de incentivo

são fundamentais, porque complementam a política de remuneração da

empresa, estimulando a capacidade empreendedora dos seus funcionários.

Page 163: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

153

e) Endomarketing

Trata-se de uma postura pró-ativa da empresa, que visa aumentar a

integraÇão interna das pessoas através do estímulo à melhoria na relação

entre clientes internos e fornecedores internos, o que vem sendo

denominado de Endomarketing ou Marketing Interno. Assim, esta postura

representa a conjugação de duas políticas: de Recursos Humanos e de

Marketing.

Geralmente, este tipo de programa está vinculado à melhoria da

qualidade e da produtividade, para o que o processo de integração entre

equipes internas é essencial. O Endomarketing exige mudança de

comportamento das pessoas, pois estarão sempre se colocando como

fornecedores ou como clientes, em qualquer processo do qual façam parte.

Para a Administração Empreendedora, o Endomarketing é um

instrumento gerencial importante na formação das equipes

empreendedoras.

f) Outras políticas de Recursos Humanos

Além das políticas já mencionadas, as empresas que desejam

estimular a inovação e o espírito empreendedor de seus funcionários e

equipes podem desenvolver outros tipos de políticas, que complementam as

anteriores (não são mutuamente exclusivas). Entre estas, pode-se destacar

as seguintes:

• estímulo ao ambiente mais intelectual na empresa, visando criar

um clima mais propício à inovação: assim, algumas empresas têm

criado programas culturais, envolvendo os próprios funcionários,

como coral de música, teatro na empresa, produção de vídeos

internos, criação de espaços culturais na empresa para exposição

de artes, salas de leituras e outras formas de incentivo cultural;

• estímulo à integração intergrupal, visando desenvolver a visão

holística da empresa, tão importante para a criação de inovações

"globais": assim, algumas empresas têm incentivado o rodízio

Page 164: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

154

funcional dentro das áreas e entre as áreas; ao mesmo tempo,

criam programas do tipo "MBWA - Management by Walking

Around", cujo sentido é fazer as pessoas caminharem em outras

áreas da empresa, visando interagir com outras áreas e trocar

idéias e experiências;

• intercâmbio entre pessoas mais jovens e mais maduras, visando a

troca de experiências e de criação de idéias novas. Algumas

empresas, inclusive, têm recontratado funcionários recém­

aposentados, em tempo parcial, como uma espécie de consultores

internos, visando repassar seu conhecimento e experiência às

equipes mais jovens.

O conjunto das políticas de Recursos Humanos, acima citados, uma

vez implantadas e mantidas pelas empresas, certamente terão um efeito

muito positivo na atração e manutenção de pessoas que poderão se tornar

"intrapreneurs" na organização. Dificilmente uma empresa será bem

sucedida com o modelo empreendedor de gestão se não desenvolver e

praticar políticas de Recursos Humanos estimuladoras da inovação.

4.4. ASPECTOS CRÍTICOS NA APLICABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO

EMPREENDEDORA

Após analisar os principais conceitos e práticas da Administração

Empreendedora, cabe a questão: o modelo é aplicável a toda organização já

existente? Quais os requisitos para implantação de suas práticas? Como

avaliar os resultados do modelo? Quais as exigências com relação às

pessoas?

Inicialmente, pode-se definir que qualquer ambiente, em processo de

turbulência e de grandes mudanças, como a sociedade vive atualmente,

comporta e exige organizações inovadoras. O modelo empreendedor de

gestão não é o único a desenvolver instrumentos e práticas que estimulam a

criatividade e a inovação na empresa; ao mesmo tempo, ele não exige

exclusividade quanto à abordagem ou estilo de gestão. Dada a sua

Page 165: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

155

flexibilidade, facilmente se acopla ou complementa a outras novas

abordagens da administração (modelo participativo ou holístico, por

exemplo).

No entanto, o modelo empreendedor exige alguns cuidados na sua

implantação. Por exemplo, a experiência em algumas grandes empresas

americanas evidenciou que a abordagem do "intrapreneur", atuando

isoladamente, não é a mais adequada; deve-se incentivar a inovação,

assim, através de equipes empreendedoras. Para tanto, desenvolver

lideranças e implantar políticas transparentes de Recursos Humanos,

visando estimular a inovação e recompensá-la, são condições fundamentais

para o êxito do modelo. De um outro lado, a empresa que desenvolve

esforços na direção deste modelo deve aprender a conviver com pessoas

empreendedoras; estas procuram permanentemente sua auto-realização

pessoal e profissional, o que nem sempre está ligado à motivação

financeira, sendo pessoas que desenvolvem acentuadamente o espírito de

independência. Neste sentido, as equipes e pessoas empreendedoras

devem ser acomodadas em áreas ou unidades com um certo nível de

autonomia funcional, sendo acompanhadas mais pelos resultados (eficácia)

do que pelo controle dos recurso~. utilizados (eficiência). Outro aspecto

decorrente é que a empresa precisa aprender a conviver com o risco das

inovações: a cultura empreendedora exige que tolere eventuais fracassos

de novas idéias, pois, segundo uma pesquisa desenvolvida nos Estados

Unidos, citada por Degen ( 1989), apenas duas de cada dez idéias

inovadoras implantadas são bem sucedidas. Em outras palavras, a empresa

precisaria aprender a lição durante oito vezes (fracasso) para colher os

resultados positivos que compensam todos os erros, apenas duas vezes.

Outro aspecto é de que o modelo empreendedor, seja através de

idéias pessoais ("intrapreneurs") ou de equipes empreendedoras, quebra a

estrutura organizacional e "confunde" os conceitos de autoridade e de

responsabilidade: é preciso desenvolver uma nova cultura organizacional

que absorva estas novas posturas de gestão. A independência das equipes

ou a ênfase sobre os resultados individuais podem destruir os valores

organizacionais, se a empresa não estiver devidamente preparada para

implantar e conviver com este modelo.

Page 166: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

156

4.5. ADMINISTRAÇÃO HOLÍSTICA

Nas últimas décadas, (res)surgiu dentro das ciências o chamado

"movimento holístico". De origem grega, a palavra hólos = todo, vem

crescentemente penetrando nas abordagen~ cada vez mas complexas de

todos os ramos do conhecimento humano. A questão parece ser facilmente

explicável; as ciências, de forma geral, foram construídas com base em

paradigmas mecanicistas, suportados numa visão cartesiana-newtoniana do

mundo: todos os fenômenos eram possíveis de serem divididos em partes e

cada uma destas seria estudada profundamente, constituindo um ramo

específico do saber humano; assim foi com a química e seus elementos

individualizados; com a física e sua estrutura orientada para as partes do

material; com a medicina, que "retalhou" o organismo humano, perdendo a

visão do sistema biológico que comanda a vida humana; . e, na

administração, o mesmo processo ocorreu, a partir da visão da

"administração científica" de Taylor e Fayol, reduzindo o trabalho humano

ao nível da visão da tarefa.

Segundo I ma i ( 1991 ),

a crise é de percepção. Dada a sua complexidade, os assuntos foram sendo fragmentados para serem estudados por especialistas. Cada fragmento foi sendo aprofundado ao longo dos anos, tornando-se ainda mais complexo, incontrolável e distante da realidade em rápida mudança. Perdemos a visão simplificada do todo e, simultaneamente, os conceitos econômicos e administrativos tornaram-se obsoletos, deixando de funcionar.

(. . .) Na enorme confusão reinante, precisamos resgatar novamente a visão global e simplificada dos fatos, para nos lançarmos rapidamente na nova Era Convergente e até para podermos perceber os erros estruturais acobertados até hoje pela visão complexa e fragmentada, entender a que ponto chegamos na complexidade de obsoleta e incontrolável dos temas. (p. 53)

E o autor volta ao ponto inicial: "É a crise de percepção, que chamo

também de crise de perda da visão global e simplificada, ou a crise da visão

complexa e fragmentada dos fatos." (p. 54)

Esta visão fragmentada tem provocado uma reação em cadeia de

todas as ciências. Ferguson (1980) "denuncia" uma conspiração mundial:

Page 167: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

Uma rede poderosa, embora sem liderança, está trabalhando no sentido de provocar uma mudança -radical (. . .). Seus membros romperam com alguns elementos-chave do pensamento ocidental e até mesmo podem ter rompido com a continuidade da História. Esta rede é a Conspiração Aquariana: uma conspiração sem doutrina política, sem manifesto, com conspiradores que buscam o poder apenas para difundi-la, e cujas estratégias são pragmáticas, até científicas, mas cujas perspectivas parecem tão misteriosas que eles hesitam em discuti-las. (. . .) esta conspiração benigna a favor de uma nova ordem deflagrou o mais rápido realinhamento cultural da História. (p. 23)

157

Kuhn ( 1991) interpreta tal "conspiração" como a "mudança de

paradigma", ou seja, uma forma de pensamento inteiramente diferente do

que sempre existiu, mas que não era percebido assim.

Capra (1989) tem sido um dos maiores influenciadores da visão

holística: ele mostra as grandes mutações pelas quais passa a sociedade -

na tecnologia, na educação, na economia, na medicina, na psicologia, na

ecologia, entre outras grandes áreas - e a mudança de valores que afetam

aspectos como a individuação, a criatividade, a flexibilidade, a informação, a

autonomia, entre outros valores, cuja mudança afeta tanto organizações

como as pessoas. O autor procura explicar como o paradigma cartesiano­

newtoniana afetou a prática econômica contemporânea: a fragmentação das

especializações, o desvinculamento dos valores superiores da humanidade,

a abordagem competitiva na exploração da natureza, o esgotamento

progressivo dos recursos naturais, o consenso de que a natureza existe

para o homem, a visão do homem com um ente consumidor, o que levou a

um consumo desenfreado, a confusão entre riqueza material e felicidade, a

tecnologia a serviço da destruição em massa e a venda de 70% de

armamentos aos países do Terceiro Mundo, a divisão econômica norte-sul

do mundo, a exploração indiscriminada das sociedades pela multinacionais,

entre outras questões. ,

A visão holística é uma das abordagens destes novos paradigmas

das ciências, inclusive da Administração. Há um movimento emergente de

pesquisadores e autores que já tenta desenvolver uma "ab_ordagem holística

da administração" e já existem algumas experiências que procuram colocar

em prática tal abordagem.

Page 168: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

158

4.5.1. A visão holística na Administração

Historicamente, uma das primeiras experiências registradas na

evolução dos modelos de administração que teria buscado, de forma

deliberada ou não, uma abordagem holística para solução de problemas

organizacionais, foi em uma das unidades de produção da Volvo, na Suécia,

na década de 60. De um lado, o alto nível sócio-econômico-cultural do país

possibilitou aos trabalhadores um nível alto de bem-estar social; de outro

lado, o trabalho rotineiro da linha de montagem dos automóveis e

caminhões alienava estes trabalhadores, desmotivando-os para a realização

do trabalho. Eram "especialistas" em tarefas determinadas do processo de

fabricação e não tinham qualquer visão do cliente que compraria o produto

final de cuja produção participava.

A solução "holística" da Volvo foi a criação de uma tecnologia de

produção, que exigiu inclusive a construção de uma nova fábrica: surgia a

"célula de produção". Neste conceito, cada célula tem uma equipe de

funcionários auto-gerenciável. Na medida em que a empresa vai se

organizar com base num conjunto de células, a sua estrutura passa a ser

policelular.

Landier (1987) estabelece algumas características da empresa

policelular:

• o grupo é representado por um animador, que é o líder natural;

• há intensidade nas relações interpessoais;

• as qualidades e defeitos determinam o reconhecimento de cada

membro; a intensidade pessoal é construída através do

pertencimento ao grupo;

• o grupo se auto-:-gerencia e cada um dos membros pode ter

iniciativa própria;

• um mesmo indivíduo pode pertencer a mais de um grupo;

• algumas células podem ter durabilidade no tempo, enquanto outras

podem ter vida efêmera;

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159

• a eficácia organizacional está ligada aos mecanismos das

comunicações internas das células e entre as células;

• o "tecido" celular é organizado na forma de uma "rede" com muitos

caminhos possíveis entre uma célula e outra;

• há uma semelhança de cada célula com uma pequena

organização, havendo no entanto uma ligação muito forte com a

visão global da empresa;

• não existem tarefas definidas no interior da célula; as papéis são

assumidos de acordo com as competências individuais;

• a célula que não for eficaz não consegue sobreviver na

organização;

• há uma célula central cujo papel é assegurar a unidade

empresarial e controlar a eficácia das demais células;

• as condições externas é que determinam o crescimento da

empresa;

• ao crescer demasiadamente, uma célula pode ser subdividida em

células menores, visando garantir estas características;

• o fato de uma célula não ser eficaz não significa risco para todo o

conjunto das outras células;

• as condições para estimular e gerar inovações são aumentadas.

As caraterísticas e práticas da administração holística serão

ànalisadas a seguir.

4.5.2. Práticas da Administração Holística

Sendo um "modelo" de administração do futuro, existem poucas

empresas que têm adotado algumas· das práticas holísticas de gestão. Entre

estas práticas, as principais são as seguintes:

Page 170: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

160

• Quanto aos objetivos

A administração Holística procura realizar plenamente os objetivos

dos dirigentes e funcionários da empresa, procurando integrar os objetivos

individuais com os interesses da organização; ao mesmo tempo, a

organização deve buscar a satisfação plena dos clientes.

Segundo Wiersema & Thompson (1995},

a abordagem fragmentada das empresas erra o alvo porque não é desta maneira que o consumidor vê seus fornecedores. Os consumidores vêem as empresas fornecedoras como um todo e não fazem distinção quanto à área da companhia que o deixou na mão. Assim, se uma linha aérea extravia a bagagem de João da Silva, ele presume que os pilotos são fracos na pilotagem de jatos, também. Se o vendedor não pode dar os preços atualizados dos produtos químicos industriais que Joana da Silva estiver tentando encomendar-lhe, ela duvida que a companhia faça a entrega a tempo ou mantenha a mesma qualidade do seu fornecedor. Os clientes não fragmentam a visão que têm de um fornecedor. Portanto, este deve começar a ver seus clientes holisticamente. Caso contrário, arrisca-se a perdê-los para um concorrente que o faça. (p. 5)

A Tecnologia de Informação possibilitará às empresas obterem uma

visão holística dos seus clientes, lidando com o tamanho e a complexidade

de seu mercado sem quebrar a unidade do serviço ao consumidor.

Finalmente, ainda com relação aos objetivos, a Administração

Holística. procura construir relacionamentos fortes para com seus

fornecedores e revendedores/distribuidores, que também fazem parte do

negócio, na visão holística dos clientes.

• Quanto à estrutura da empresa

Prevalece, na empresa que adota Administração Holística, uma certa

informalidade, pois a empresa não depende, para seu funcionamento, da

estrutura formal.

Assim, são estabelecidos valores comuns a todos os membros da

equipe e prevalece uma comunicação lateral intensa, ou seja,

relacionamento em rede integrada, o que permite uma fluidez contínua das

informações e uma grande flexibilidade.

Page 171: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

161

De outro lado, a empresa holística passa a dispensar autoridade e

mecanismos formais de controle. Segundo Ribeiro (1989),

assim como são essenciais as chefias intermediárias em organizações convencionais, da mesma forma elas se tornam totalmente dispensáveis nas organizações holísticas. Na verdade, essa nova concepção de chefia já é praticada pela administração japonesa, exatamente por desfrutar da convergência de valores, fruto de um processo cultural e não planejado, como precisa ser feito nas organizações ocidentais. (p. 59)

O formato das equipes auto-gerenciáveis são células de produção ou

de serviços, também denominados Grupos Semi-Autônomos ("semi" porque

a autonomia é operacional e mercadológica e a equipe depende do apoio

de um "staff' centralizado, na área de finanças, suprimentos, recursos

humanos, informática e outros)~

• Quanto às caraterísticas comporlamentais da equipe

A empresa holística se caracteriza pelo comprometimento individual

de cada membro da equipe para com o resultado, objetivo ou missão da

equipe e/ou da empresa.

Por não existir mais tarefa fiidívidualizada, os membros da equipe

trabalham em regime de rodízio de funções, o que lhes propicia uma visão

holística do trabalho e exige dos mesmos a polivalência ou a

multifuncionalidade, ou seja, devem estar preparados para executar

diversos tipos de tarefas dentro da equipe. Esta característica da empresa

holística exige uma integração da equipe, o que garantirá a satisfação no

trabalho de cada um dos membros e sua realização pessoal e profissional.

Com isto, ocorre uma estabilidade funcional tácita dos membros da equipe,

embora as equipes multifuncionais passam ser transitórias.

4.5.3. Condições para uma empresa adotar o modelo holístico de

gestão

A empresa que decidir praticar o modelo de Administração Holística

deverá atender as seguintes condições no processo de mudança:

• eliminar a hierarquia piramidal;

Page 172: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

162

• eliminar, da sua estrutura formal, os departamentos, divisões e

setores, para adotar o sistema de células;

• fim das associações de funcionários: não é necessário existir

intermediação entre empresa e funcionários;

• fim dos cargos e da disputa pelos mesmos: as pessoas serão

polivalentes ou multifuncionais, sem vinculação a cargos formais;

• fim do controle e da autoridade: implanta-se o sistema de equipes

auto-gerenciadas;

• redução do emprego em tempo integral: implantam-se relações de

parceria que complementam as atividades de tempo integral;

• redução ao máximo dos ativos fixos da empresa: as células de

produção e parcerias não requerem concentração de ativos na

empresa.

Quanto à aplicabilidade da Administração Holística, sem dúvida a

principal dificuldade é de natureza cultural, pois a mudança comportamental

é radical em relação a outras forma·s ·organizacionais mais tradicionais. O

alto comprometimento individual com a equipe exige mudança de

características pessoais, enquanto a multifuncionalidade exige o

desenvolvimento de novas habilidades técnicas e humanas (relacionamento

e integração com a equipe).

Por se tratar de um modelo de vanguarda na administração, os

cuidados na adoção de suas práticas e instrumentos gerenciais deverão ser

muito mais rigorosos.

4.6. ADMINISTRAÇÃO VIRTUAL

.A adoção pelas organizações de novos· modelos gerenciais, bem

como de novas tecnologias de trabalho, está levando a um modelo

Page 173: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

163

organizacional visto atualmente como a "empresa do futuro". Tal visão é

decorrente de dois aspectos:

• de um lado, todos os novos modelos gerenciais são baseados na

filosofia de redução da estrutura formal das organizações, gerada

sobretudo a partir da orientação dos modelos tradicionais de estão;

• de outro lado, as novas tecnologias de trabalho, sobretudo a

informática, estão possibilitando a automação de diversos

processos administrativos, fabris, operacionais e comerciais,

reduzindo não só internamente a necessidade de níveis

hierárquicos e de postos de trabalho, como também viabilizando a

interligação com outras empresas que, numa relação de parceria,

passam a fazer parte de um "networking" organizacional.

Surge então o conceito de "empresa ou corporação virtual", cuja

origem será analisada a seguir:

4.6.1. Origem da "Corporação Virtual"

Segundo Davidow & Mallone (1993),

a corporação virtual começou com uma visão de futurólogos, chegou a possibilidade para os teóricos de administração e hoje tornou-se uma necessidade econômica para os executivos das empresas ... tudo em pouco mais de dez anos. Este fato não só salienta a inevitabilidade deste novo modelo empresarial, mas também sugere o senso acelerado de tempo que irá caracterizá-lo. (p. 4)

A palavra "virtual" se incorporou para adjetivar este novo modelo

organizacional da mesma forma que já havia se incorporado a outros termos

substantivos.

Segundo o Novo Dicionário Aurélio, a palavra "virtual" tem os

seguintes significados, enquanto adjetivo:

1. Que existe como faculdade, porém sem exercício ou efeito atual.

2. Suscetível de se realizar; potencial.

Page 174: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

164

Assim, este sentido de "vir a ser" ou de "potencial" é o que tem

caracterizado todos os conceitos "virtuais" nas últimas décadas: na

informática, no final dos anos 50, foram desenvolvidos os chamados

"computadores virtuais"- máquinas que operavam em rede, possibilitando o

trabalho simultâneo de várias pessoas, embora cada um se sentisse como

um trabalhador isolado, como se toda a .estrutura fosse construída só para

ele; na. ótica, surge a "imagem virtual", através de técnicas de holografia,

que permitem reproduzir várias imagens sobre o mesmo plano.

A aplicação do conceito "virtual" à administração vem do aspecto de

que, segundo Davidow & Mallone (1993),

estruturas antes bem definidas começam a perder seus contornos, o que parecia permanente começa a mudar continuamente e produtos e serviços se adaptam para atender nossos desejos. Os produtos virtuais não só terão grande valor para os clientes, mas também a capacidade para fazê-los irá determinar quais serão as corporações de sucesso no século 21. (p. )

Segundo Hawken (1983),

informação e recursos são sinônimos. (. . .) A faculdade reforçadora do concreto armado e a atmosfera do restaurante são ambas informações. O preço, a qualidade, o design, a utilidade e o acabamento são todos partes de informação sobre produtos e serviços. A única tendência que é mais importante compreender é a razão variável entre massa e informações em mercadorias e serviços. (p. 11)

A partir desta relação entre informação e massa, Davis (1990) propõe

a seguinte equação:

INFORMAÇÃO VALOR DO PRODUTO =

MASSA

Na sua visão, tal equação é a essência da mudança da economia de massa baseada na indústria para a economia de serviços baseada na informação. (. . .) O aço tem muita massa com relativamente pouca informação, ao contrário qe um chip de computador, que tem muita informação em relação à sua massa. Se uma folha de papel estiver escrita, terá mais informação e por isso será mais valiosa. (p. 108)

Page 175: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

165

Na área organizacional, esta "equação" começa a mostrar os efeitos

combinados das mudanças gerenciais e das inovações tecnológicas: assim,

no mês de setembro de 1994, surge na França o Banque Directe (Gazeta

Mercantil - 17.03.94): um banco com 50.000 clientes e nenhuma agência.

Todos os serviços são prestados através de uma rede interconectada de

computadores, aparelhos de fax, telefone e televisão interativa. -O único

contato físico do cliente com o banco é receber o talonário de cheques pelo

correio. Portanto, com um pequeno "staff'' e a tecnologia de informação, o

"banco virtual" certamente é mais competitivo do que o seu concorrente que

utiliza os serviços convencionais, baseados numa estrutura física (agência)

e organizacional (atendimento).

Clegg (1990) analisa o modelo organizacional da corporação

multinacional italiana Benetton: esta, na realidade, é uma empresa familiar

sediada no Norte da Itália, opera no ramo de confecções de moda, voltada

para os públicos masculino e feminino, tanto jovem como infantil,

procurando os mercados cujo estilo de vida do consumidor seja

notoriamente afluente: nível cultural alto, gosto de estilos diferentes de vida,

tem comportamentos de vanguarda e facilmente aceita inovações nos

produtos de consumo. Para atingir tal mercado, a nível mundial, a empresa

não tem fábrica e nem lojas próprias; no lado da produção, está articulada a

uma rede de pequenas e médias indústrias que fabricam toda a sua linha de

produtos; do lado da distribuição, opera com uma rede mundial de 2.500

lojas, todas sob o sistema de franchising, operando exclusivamente sob a

marca Benetton. "E o que é então a organização Benetton?", pergunta Clegg

(1990). Trata-se de um pequeno staff de pessoas, que cuidam do design,

estilo das roupas, da criação das coleções, do marketing e dos contratos de

terceirização (produção) e de franchising (comercialização). A empresa está

interligada com os produtores e distribuidores através de uma rede de

computadores, de forma que a estrutura é altamente flexível e pode

responder rapidamente a uma mudança do mercado, tão influenciado pelas

transformações correntes no mundo.

Page 176: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

166

4.6.2. Principais práticas gerenciais na Corporação Virtual

Tratando-se de um modelo futurístico de gestão empresarial, as

práticas de instrumentos aplicados por uma. corporação virtual ainda não

estão instrumentalizados. No entanto, é possível prescrever algumas das

principais características que esta práticas assumirão, tanto a partir das

poucas experiências já existentes, como da evolução prevista para tais

organizações.

Davidow & Mallone (1989) perguntam"

"Como será uma corporação virtual?" (p. 5)

E eles mesmos tentam responder:

Não existe uma resposta única. Para o observador externo, uma corporação virtual parecerá quase sem contornos, com a interface entre empresa, fornecedores e clientes permeável e mudando continuamente. Do lado de dentro da empresa, a visão não será menos amorfa, com os tradicionais escritórios, departamentos e divisões operacionais sendo constantemente reformados de acordo com as necessidades. As responsabilidades dos cargos mudarão regulamente, bem como as linhas de autoridade - até mesmo a própria definição de funcionário irá mudar, à medida em que alguns clientes e fornecedores comeÇarem a passar mais tempo na empresa do que alguns dos seus próprios empregados. (p. 5)

Outras características que a corporação virtual deverá desenvolver

são:

• capacidade para se entregar, rápida e globalmente, uma grande

variedade de produtos sob medida;

• serviços "incluídos" nos produtos;

• envolvimento dos clientes no desenvolvimento dos produtos

(engenharia simultânea);

• bancos de dados atualizados sobre os clientes, produtos,

fornecedores, metodologia de projeto e produção, visando atender

o cliente em tempo real;

• sistemas de informações integradas à rede de clientes e

fornecedores, levando as empresas a operarem em "networkings";

Page 177: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

167

• cargos desvinculados do poder: funções gerenciais e operacionais

serão intercambiáveis;

• empresa em contínua transmutação;

• acumulação de práticas gerenciais desenvolvidas em outras

abordagens inovadoras de gestão, como fornecimento Just-in­

Time, equipes de trabalho, fabricação flexível, simplificação

organizacional, CAD, qualidade total, entre outros;

• acordos de cooperação possíveis com concorrentes, visando

compartilhar investimentos em tecnologia ou de custos

operacionais (compras conjuntas, infra-estrutura de transporte,

armazenagem e comunicação, entre outros).

Segundo Paulin et ai (1994), estes acordos de cooperação podem ser

de vários tipos, incluindo redes de clientes, fornecedores e até

concorrentes. Os principais tipos são:

• Acordo de franquia (franchising): .é uma aliança formal na qual um

ou mais empresas - geralmente do setor de serviços - se tornam

parceiras de outra empresa que vai lhes transferir sua tecnologia,

fórmula comercial ou assessoria de gestão.

• Acordo de licença: é uma. aliança formal na qual duas ou mais

empresas se engajam com outra empresa que vai lhe ceder sua

tecnologia, suas licenças próprias, sua marca de comércio ou

outras vantagens de sua propriedade de que podem ser úteis para

o detentor em troca do pagamento de royalties.

• Aliança: é uma ligação formal ou informal entre as empresas

formadoras de uma rede externa de uma empresa, caracterizada

por uma relação de cooperação. No caso da ligação informal, as

obrigações dos parceiros são modestos, sem base contratual e

cada um permanece na rede quando e se quiser. Na ligação

formal, a relação é contratual, sendo o mais importante ó nível de

controle.

Page 178: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

168

• Aliança estratégica: é uma relação de longo prazo entre duas

empresas, no interior da qual os riscos e os benefícios são

compartilhados em função do seu impacto sobre. o resultado de

cada uma das partes.

• Consórcio: é uma aliança estratégica entre diversas empresas que

juntam seus recursos para criar uma nova empresa, com o objetivo

de realizar uma operação ou um projeto. A nova empresa nascida

desta aliança também leva o nome de consórcio.

• Empresa conjunta ("Coentreprise''): é uma aliança formal entre

duas ou diversas empresas que exige um investimento de cada

uma das partes, com o objetivo de criar uma nova empresa, a partir

de suas áreas internas de interface, a qual também será chamada

"Empresa Conjunta".

• "Maillage": trata-se de uma ligação informal entre empresas,

caracterizada por uma relação de associação destinada a

favorecer a atividade de cada uma delas sem que sejam forçadas

as ligações financeiras entre elas. Trata-se de uma relação de

associação por afinidade, t:l'entro da qual cada empresa assume a

responsabilidade pelo seu desenvolvimento.

• "Parrainage": trata-se de uma aliança informal, estabelecida por

uma duração limitada, entre duas empresas cuja ligação é

caracterizada por uma relação de ajuda da empresa "A" para a

empresa "8".

Estas várias formas de aliança vão se estabelecendo de acordo com

a necessidade que cada empresa tem para buscar a sua sobrevivência e

tornar competitiva e inovadora no mercado em que atua.

Assim, a corporação virtual reunirá todo o conjunto de instrumentos e

práticas gerenciais desenvolvidos ao longo das inovações administrativas

propostas pelas novas abordagens gerenciais; significa que, à medida em

que a empresa aplica práticas participativas de gestão, parcerias com

fornecedores e clientes, inovação em produtos e serviços, visando

satisfazer o cliente, bem como outros instrumentos inovadores de gestão, a

empresa estará caminhando naturalmente para o modelo virtual.

Page 179: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

169

4.6.3. Aspectos críticos na aplicabilidade das práticas gerenciais da

administração virtual

Segundo Davidow & Mallone (1993),

as corporações virtuais somente poderão prosperar em um ambiente de trabalho em equipe, no qual os funcionários, a gerência, os clientes, fornecedores e o governo trabalham em conjunto para atingir metas comuns. (p. 17,)

.I'

Assim, não basta fazer investimentos em tecnologia da informação,

integrar a empresa em rede com outras empresas, se os outros aspectos, de

natureza comportamental, não forem atendidos. Assim, a transição para o

modelo virtual é um processo evolutivo, baseado na interface "pessoas x

tecnologia". A corporação virtual será a típica organização da Sociedade do

Conhecimento: portanto, a maioria das organizações não pratica ainda o

modelo virtual de administração à sua. aplicabilidade exigirá uma profunda

mudança cultural das organizações, para viabilizar os relacionamentos de

parcerias.

''

4.7. A TRANSIÇÃO DOS "MODELOS TRADICIONAIS" PARA OS

"NOVOS MODELOS" DE ADMINISTRAÇÃO"

A partir dos anos 80, vários autores têm se dedicado a pesquisar

empresas que estão passando por transformações profundas em seus

modelo de gestão. Ao tentar explicar tais mudanças, praticamente todos

buscam expandir as práticas observadas e tentar propor tais experiências

como "os novos caminhos da administração".

Assim, sem seguir rigorosamente uma ordem cronológica, pode-se

citar os seguintes autores e suas linhas de trabalho, algumas das quais

bastante disseminadas:

Page 180: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

170

Ouchi (1985) propõe a Teoria "Z", como um caminho que as

empresas americanas (e ocidentais) deveriam seguir as práticas

da gestão japonesa.

Peter & Waterman ( 1986) estudam as empresas americanas bem­

sucedidas e procuram mostrá-las como modelos em "Busca da

Excelência" (no Brasil, o título da tradução desta obra foi infeliz:

"Vencendo a crise"); mais tarde, Peter (1989), partindo do ponto de

vista de que "não existem empresas excelentes", propõe uma

"revolução gerencial" em direção à flexibilidade organizaCional;

por sua vez, Waterman (1989) também procura mostrar que o "novo" caminho é o da "Renovação" (a essência da vida), para que

a empresa possa "assegurar sua sobrevivência e seu

crescimento".

• Naisbitt & Aburdene (1985), depois de analisar as práticas

desenvolvidas por empresas inovadoras nos primeiros anos da

década de 80, propõem a "Reinvenção da Empresa", visando

adaptá-la à nova Sociedade da Informação, na qual ocorrem

radicais mudanças no ambiérite do trabalho.

• Drucker (1986) chama a atenção para a emergência do "espírito

empreendedor", dentro e fora das empresas, como a maior

mudança provocada pelas oportunidades emergentes da década

de 80.

• Pinchot 111 (1989) continua a abordagem de Drucker e estuda o

comportamento das organizações e das pessoas inovadoras e

cunha um novo termo na teoria gerencial: "intrapreneurship",

procurando mostrar que é dentro das organizações que as

pessoas empreendedoras podem realizar seus objetivos pessoais

e, com isto, aquelas empresas é que sairão ganhando, por se

tornarem organizações inovadoras.

• Kanter (1989) procura mostrar os caminhos da empresa pós­

empreendedora, tal como se faz para "ensinar os elefantes a

Page 181: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

l7l

dançarem", em analogia à pesada estrutura organizacional que a

maioria das grandes empresas carrega.

• Beer et ai. ( 1990) procuram mostrar o "caminho crítico" para a

renovação organizacional das empresas, já que alguns esforços

atingem melhor os objetivos do que outros. A partir de entrevistas

com diversos executivos e gerentes, eles tentam mostrar "o que

funciona" e "o que não funciona" na busca da mudança

organizacional.

• Tomasko (1992) propõe o caminho do"Downsizing" para que as

empresas reduzam o tamanho de sua estrutura e procurem novas

alternativas de sobrevivência no mercado competitivo.

• Mills (1993) propõe o "Renascimento da Empresa", através de

alternativas como a estrutura organizacional colegiada, eliminando

as divisões hierarquizadas e burocráticas que sufocam a inovação

e a produtividade nas empresas.

• Hammer & Champy (1994) criam a palavra "Reengeneering"

("Reengenharia") e provocam um dos maiores movimentos

recentes na busca das novas "fórmulas" para garantir a

sobrevivência das empresas nos turbulentos anos 90: a postura é

radical ("esqueça o que você sabe sobre como as empresas

devem funcionar: quase tudo está errado!") e, assim, as reações

idem. Para Drucker, "a reengenharia será a bússola e o mapa­

mundi empresarial no século XXI".

• Byham ( 1992) introduziu a abordagem da energização

("empowerment") das pessoas e das equipes, visando introduzir

mudanças em todos os níveis da organização. Esta abordagem

tem sido amplamente divulgada entre grandes empresas nos

últimos anos.

Algumas destas obras foram analisadas por Wood (1990), além de

outras por ele escolhidas, formando um conjunto de novas idéias que ele

chamou de "A Nova Onda Administrativa". Segundo o mesmo,

Page 182: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

o desafio que a nova onda apresenta às ciências sociais é como nós investigaremos o simbolismo nas ações administrativas, e mais importante, os seus efeitos sobre o desempenho econômico. Na medida em que os administradores realmente comecem a agir com base nas idéias da nova onda, eles estarão provendo locais ideais de pesquisa para tais explorações. O desafio, particularmente para os que são céticos sobre seus prováveis efeitos de longo prazo, será primeiro de divisar critérios e métodos pelos quais possam avaliá­los. (p. 21)

172

De fato, estas e outras abordagens de novas práticas e instrumentos

gerenciais têm sido propostas (por exemplo, na área de Qualidade Total).

Na realidade, há um consenso: o futuro da gestão empresarial terá pouco a

ver com o seu passado.

' : . ·-I::. , . ' ·"" .. "

Assim, na medida em que o cenário ambiental vai evoluindo (e cada

vez mais rápido), maiores serão os desafios para as empresas se

adequarem ao novo p~radigma - se sobreviverem. Da mesma forma, os . ' desafios para os (novos) administradores são crescentes: é preciso

repensar não só as práticas gerenciais, a própria Administração, enquanto

um conjunto de conhecimentos, não está totalmente preparada para

prescrever os modelos organizaciona-is do futuro. Há · muito caminho a

percorrer na transição entre os "modelbs tradicionais" e "os novos modelos"

de administração.

Page 183: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

CAPÍTULOS

ESTUDOS DE CASO

Page 184: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

ESTUDO DE CASO 1:

LOCALIZA RENT A CAR

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175

ESTUDO DE CASO 1: LOCALIZA RENT A CAR

A LOCALIZA RENT A CAR (que será denominada LOCALIZA ao

longo deste estudo de caso) é uma empresa de capital nacional, criada em

1973 na cidade de Belo Horizonte - MG e que desde o início dos anos 80

assumiu a liderança do mercado de locação de automóveis, sem perdê-la

até o ano de 1994.

Ao longo da trajetória de seus 21 anos já completados, a empresa

registra uma história bem sucedida de um empreendimento nascido sob o

ideal do seu fundador, Salim Mattar e de mais três sócios. Ao mesmo tempo,

é uma empresa que demonstra a possibilidade de aplicar novas práticas de

gestão, sem apego a "modismos administrativos", mas no firme propósito de

perseguir sua missão e seus objetivos.

Para a elaboração deste estudo de caso, foram realizadas várias

visitas à empresa, com entrevistas dos seus principais Diretores e

executivos. Ao mesmo tempo, a empresa forneceu um amplo material de

registros históricos da sua evoluçã9. gerencial, o que permitiu desenvolver

um "case" consistente com a abordagem teórica desenvolvida no Capítulo 4;

assim, será possível analisar, ao final deste estudo de caso, as novas

práticas gerenciais e identificar os novos modelos de gestão aplicados pela

empresa.

1. O nascimento da empresa

Após formar-se em Administração de Empresas, determinado a

construir uma rede de locação de carros no País, o jovem Salim Mattar, aos

22 anos, procurou três sócios que, empreendedores como ele, aceitaram

abrir o negócio em 1973, num momento que o mundo atravessava a

primeira grande crise do petróleo e a ameaça de racionamento ou falta de

combustível. Naquele ano, Belo Horizonte possuía doze locadoras de

carros, cuja frota era formada basicamente por fuscas e opalas para atender

a dois tipos de públicos bem definidos. O negócio de locação de veículos

viveria naquele ano seu grande boom - 50% das locadoras de veículos

Page 186: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

176

surgiram no início dos anos 70. Incipiente, a atividade era dominada por

e!Ylpresas pouco profissionais, algumas das quais entraram no negócio

quase por acaso.

O mercado brasileiro estava comandado por três empresas de rent a

car; a mais importante delas, a Hertz, possuía cinco filiais.

Organizado, planejador e estrategista nato, Salim inaugurou sua

empresa com objetivos e metas bem definidas. Há quem aponte aí a origem

do sucesso da LOCALIZA.

Amante do Marketing, Salim não descuidou, intuitivamente no início e

estrategicamente depois, de qualquer detalhe, em seu projeto: a LOCALIZA

já nasceu com público definido- Classe A e B, que paga bem por um serviço

diferenciado; política de preços inovadora - era a mais cara da época se

comparada ao aluguel da concorrência, mas oferecia mais opções de

produtos e outras novidades que atraíam o usuário; atendimento

personalizado - os próprios donos trataram de imprimir o padrão de

atendimento à clientela, pois, por vários anos, cuidaram de tudo dentro da

empresa, do balcão à manutenção dos veículos; ponto de venda

diferenciado - a LOCALIZA possuía· a mais sofisticada loja de locação de

Belo Horizonte e seus clientes eram recebidos impecavelmente, com direito

a atenções e conforto não encontrados na concorrência; comunicação

criativa - os empresários contrataram a melhor agência de publicidade de

Belo Horizonte na época e lançaram sua empresa com brindes

promocionais (kit com flanela, cigarros e fósforos com logotipo LOCALIZA).

Folhetos comunicando a abertura, enviado por mala direta, spot de rádio,

anúncio em jornal e o slogan: "Vive la Difference", posicionando, desde

então, a LOCALIZA como uma empresa de locação de carros diferenciada.

Para a época tudo isso representava inovação absoluta. E para

completar, introduziu serviços e produtos não existentes na concorrência:

atendimento 24 horas; locação nos finais de semana; diárias fracionadas;

frota diversificada com os novos lançamentos da indústria automobilística.

Em quatro anos, a empresa conquistou o mercado mineiro -

empresas, agências, hotéis e consumidores diretos já conheciam e

utilizavam o serviço rent a car LOCALIZA.

Page 187: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

177

2. O crescimento da empresa nos primeiros anos

De acordo com Fernando Campos, Diretor de Marketing, o estreito

relacionamento com públicos de outras praças ocorreu a partir de 74 com a

abertura de sua primeira loja no aeroporto da Pampulha, o que intensificou a

locação de veículos para executivos, em viagens de negócios, e turistas.

De 73 a 75, a LOCALIZA passa de 907 locações, no primeiro ano, a

2.870 no terceiro. Sua frota inicial, formada por seus fuscas usados chegou

a 1 00 carros em três anos.

Com a demanda reprimida e o rápido crescimento do negócio, a

LOCALIZA não se livraria de uma crise interna que durou quase três anos.

Segundo aquele Diretor, cinco fatores básicos, além da própria

inexperiência, motivaram a crise que quase levou a empresa à falência: alto

grau de endividamento, com perda de crédito; altos custos operacionais;

juros crescentes; explosão inflacionária e crescimento desordenado.

O momento crítico ocorreu ·fia fase da renovação da frota. Sem

crédito, descapitalizada, a empresa teve que implementar um plano de

saneamento das finanças, maximização dos serviços aos clientes e rígida

administração de despesas com pessoal.

A fé no negócio, talento, dedicação, ousadia e "feeling", foram as

armas da LOCALIZA para superar a crise, agravada pelo abandono de dois

sócios, assustados com a situação da empresa. Cada um dos sócios que

ficou convidou um irmão para assumir o lugar dos ex-sócios com 20% de

participação na empresa.

Em 76, a empresa começava a se recuperar pagando todas as

dívidas.

A LOCALIZA conseguiu um excelente crescimento de 76 a 78,

passando de 3.216 locações anuais a 7.749, e começa a pensar em

expansão.

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178

3. O início das mudanças estruturais

Em 1979, a LOCALIZA já era uma grande empresa de locação de

veículos em Belo Horizonte. Finanças em dia, tem início uma nova fase de

desenvolvimento. Nesta ocasião, ocorre a primeira grande mudança

estrutural na LOCALIZA. Os sócios decidem se revesar nas diretorias.

Há recursos em caixa e a decisão, desde o início, de sempre

reinvestir na empresa cria um impasse: diversificar ou crescer? Os sócios

resolvem apostar na expansão. A esta altura a LOCALIZA já realiza

pesquisas junto a seus clientes e monitoramento da concorrência, com

amplo conhecimento de seu mercado. Assim, estrategicamente a empresa

decide comprar ao invés de instalar suas próprias locadoras de carros em

outras cidades, pois além de evitar dificuldades operacionais de instalação

e equipes, ainda adquiria o negócio pronto com frota e cadastro de clientes-

o maior patrimônio da locação de veículos na época, pois ainda era restrito

o número de usuários destes serviço.

Outra decisão importante foi enviar um dos diretores para administrar

a primeira filial por seis meses, para que a empresa adquirisse know how

para operar à distância. E com isso, 'dominar ainda mais o ciclo do negócio.

A primeira aquisição foi em Vitória, onde comprou a empresa de

locação líder da cidade, com frota e cadastro de clientes como planejado. A

LOCALIZA inicia imediatamente suas operações na capital capixaba e, em

seis meses, obtém resultado operacional.

A empresa estava pronta para sua primeira etapa de expansão e,

novamente, com incrível senso de oportunidad~, desvia o projeto de

crescimento da direção Sul/Sudeste.

Tradicionalmente, a concorrência vinha concentrando suas atividades

nestas regiões onde o mercado era mais competitivo. A LOCALIZA, no

entanto, direcionou seus esforços a um mercado pouco explorado:

Norte/Nordeste. A chegada aos grandes centros urbanos localizados no

Sul/Sudeste do País exigiria um super esforço financeiro e operacional. O

crescimento para o Norte/Nordeste, menos arrojado, determinava, por outro

lado, uma expansão horizontal dentro de suas possibilidades, e que

permitiria torná-la pioneira entre as grandes redes.

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179

Na época tinha início o boom turístico na região. E, dezoito meses

foram compradas sete empresas de locação de veículos em Salvador,

Aracaju, Maceió, Recife, Fortaleza, Natal e Belém. Ao mesmo tempo, a

empresa instalava sua locadora própria no Rio de Janeiro. Em pouco tempo,

a LOCALIZA marcou presença no Norte/Nordeste assumindo a liderança do

mercado nacional em número de pontos de venda, volume de locação, frota

e presença nos aeroportos. Em São Paulo também foram compradas duas

empresas, iniciando seu posicionamento no importante mercado paulista.

Alem disso, a empresa passou a se especializar em atender grandes

clientes, através de postos avançados, com agências instaladas em regiões

distantes ou em grandes projetos como Angra dos Reis, a Hidrelétrica de

Embarcação, em Minas Gerais, e a Represa de Pedra do Cavalo, em

Brasília.

Esta etapa de crescimento da empresa prossegue até 1982, com a

abertura de novas agências, como a de São Luis (MA), que viria a se tornar

a agência mais rentável de toda a rede. De 1979 a 1981, a LOCALIZA

passava de 7.121 para 32.160 locações anuais, comprovando sua vitalidade

e vocação para o crescimento.

4. A primeira crise estrutural da empresa

Segundo Salim Mattar, então Diretor-Superintendente da empresa,

em 1982, a LOCALIZA já possuía a maior malha de locação de veículos do

País e mantém sua disposição de continuar crescendo.

No entanto, a expansão desordenada provocou o estrangulamento da

estrutura interna, que exigia agilidade da direção em solucionar prob.lemas

específicos, como: falta de qualificação profissional; faixa etária jovem;

baixos salários; excesso de trabalho; e problemas de organização funcional

e de comunicações.

A solução de cada uma destas barreiras representava um desafio e

impunha reflexão sobre os caminhos da modernização inadiável da empresa

a serem implementados nos anos seguintes. Tem início um programa de

treinamento e a empresa começa a mudar a filosofia de contratação,

Page 190: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

180

apostando em profissionais mais experientes. Ao mesmo tempo, elabora

uma nova estrutura organizacional, criando novas gerências, como a de

Marketing, com a contratação de Fernando Campos, seu atual Diretor.

Até então, o modelo de gestão da empresa era tipicamente

burocrático-funcional, com estrutura departamentalizada e controles

centralizados.

5. Os novos caminhos do crescimento: interiorização e

internacionalização

O Diretor .de Marketing, Fernando Campos, como uma de suas

primeiras iniciativas, desenvolveu uma pesquisa de mercado, visando

identificar novos mercados que garantissem a expansão da empresa.

Segundo ele, as pesquisas realizadas junto à clientela já sinalizavam para

dois novos caminhos, adotados em 84 também por uma situação

conjuntural: a interiorização e a internacionalização. A LOCALIZA inicia os

estudos de associação a uma rede mundial de carros e começa a analisar

alternativas para atender à demanda .do interior.

Outro dado que terá influência no mercado é a ascensão dos fluxos

turísticos internacionais, que provocam a elevação da demanda. Vale

ressaltar que o consumidor comum não tem o hábito da locação de veículos,

ao contrário do turista estrangeiro, especialmente os da Europa e Estados

Unidos.

Em 1983, a indústria de locação de veículos de carros se expandia a

taxas elevadas. O mercado começa a se estruturar- e a se profissionalizar­

atendendo à crescente demanda, provocada pela divulgação do serviço rent

a car.

A LOCALIZA já desfrutava de posição confortável como líder do setor

com 35 agências, 42.871 locações anuais e presença nos principais

aeroportos e capitais do País.

Naquele ano, vários fatos tornam a disputa de mercado mais acirrada

e antecipam os planos de profissionalização do setor. Por um lado, Avis e

Page 191: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

181

Hertz marcam presença forte como grandes multinacionais. Por outro,

nascia a lnterlocadora, uma rede de aluguéis de carros com o suporte de

pesos pesados como a Varig e VW. Em Belém, a Belauto e, em Porto

Alegre, a Locarauto experimentam expansão para o Sudeste, aumentando

suas redes.

A partir de então o nível competitivo do mercado não perdoará mais

amadorismo. Somente os grandes sobreviverão.

Sempre atenta às necessidades dos clientes e à situação da

economia como um todo, a LOCALIZA percebeu em 1982/1983 que

precisavam ampliar ainda mais sua área de atuação. O Brasil, na época,

uma das dez maiores economias do mundo, tinha uma série de contrastes,

com uma parte rica e industrializada, ao lado de regiões pobres e altamente

subdesenvolvidas. Com alto grau de endividamento, sem liquidez no

mercado, o País vivia a grande crise da dívida externa, com reflexos dentro

das empresas nacionais.

Em 1984, todos estes fatores ao lado da tendência de globalização

da economia mundial, levam a LOCALIZA a implementar, após um ano

inteiro de estudos, o projeto de associação a uma rede mundial de locação.

O projeto se concretiza com o contrato assinado com a norte-americana

National Car Rental, a maior rede de aluguel de carros do mundo, em

número de pontos de venda e a terceira maior em faturamento.

O acordo com a empresa nada custou, com a LOCALIZA associando

a marca National ao seu nome mantendo a cor verde - a mesma da empresa

americana, e adotando dois traços paralelos e inclinados na logotipia. A

National entrou no mercado brasileiro, como desejava, através de uma

grande rede, e a LOCALIZA via atendida mais uma necessidade de seus

clientes: o acesso à rede internacional de locação de veículos, com

presença em mais 130 países.

Para ser fechado o acordo entre as duas empresas, a LOCALIZA teve

de comprar mais uma locadora de veículos que usava e detinha o nome da

National do Brasil.

A National, além da LOCALIZA é associada a três empresas de

locação de veículos no mundo: Tilden, no Canadá - Europcar, em todo o

Page 192: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

182

Continente Europeu, e à Nippon, no Japão. Desta maneira, a necessidade

internacional dos clientes estava atendida, com amplo retorno institucional

para a LOCALIZA pelo prestígio da marca National.

Nos anos de 1982 a 1983, a LOCALIZA já havia detectado também

por pesquisas junto à clientela, uma demanda em cidades do interior do

País como Araçatuba, llheús, Santarém e Blumenau, entre diversas outras.

Apos dois anos de amplo estudo, a empresa deflagra o primeiro

Franchising em locação de veículos e um dos primeiros sistemas do gênero

no Brasil.

Assim, uma operação de conquista de mercado e expansão de

negócios em termos de retorno de investimento com rentabilidade- abrindo

agências em cidades que muitas vezes comportavam pequena frota - foi

viável por esta moderna ferramenta de Marketing: o sistema de franquia.

6. A expansão através do Franchising

Segundo o Diretor de Franchising, Aristides Newton, em 1984, é

criada a LOCALIZA SYSTEM, empresa especializada em licenciar agências

com a marca LOCALIZA, que passaria a se integrar ao sistema. A

implantação do Franchising exigiu da LOCALIZA uma grande

profissionalização, alterando comportamentos, mudando a estrutura da

corporação, criando um novo tipo de parceiro: o FRANQUEADO.

Tudo foi feito para garantir o melhor para os clientes e para a própria

LOCALIZA, que estava presente no maior número de cidades.

Sempre atenta às novidades e buscando estar preparada para

responder às transformações constantes e inevitáveis do mercado, a

LOCALIZA, em 1985 incrementa seu programa de cursos, seminários e

intercâmbios internacionais. A associação com a National Car Rental

também lhe garantia o acesso às informações e meandros do mercado

norte-americano, o mais avançado .do mundo. Esta atualização permitia à

LOCALIZA ter uma visão sobre o futuro do seu mercado e oferecer o melhor

suporte a toda a sua rede, inovando sempre.

Page 193: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

183

A LOCALIZA continuava sua trajetória ascendente e fortalecia sua

liderança, instalando-se em todas as cidades do País com mais de 300 mil

habitantes. No final de 1987, a empresa já possuía uma extensa malha de

agências próprias e franqueadas - e a maior frota do País com 4. 720

veículos.

Ao contrário do que se possa imaginar, este posicionamento estava

bem distante do que a LOCALIZA poderia avançar em termos empresariais

e mercadológicos. A consciência de sua necessidade de sair na frente e

alavancar uma indústria que tinha então apenas 10% de seu potencial

trabalhado, conduziu a alta direção da LOCALIZA a uma nova revisão de

sua filosofia e seus objetivos. Três anos depois é fácil entender porque os

funcionários da LOCALIZA dividem a história da empresa em duas etapas:

antes e depois de 1988.

7. 1988: um marco na história da empresa

Consolidada a interiorização da empresa, a LOCALIZA passa a

vislumbrar novos horizontes para continuar sua rota de crescimento, até

então bem sucedida. Percebia-se o esgotamento de suas estratégias

utilizadas até então e, inclusive, do seu próprio modelo de gestão. A

empresa já ultrapassava um quadro de mais de mil e quatrocentos

funcionários e o mercado potencial permitia o crescimento de toda a

"indústria" de locação de automóveis: a empresa visava não só crescer,

como manter a liderança já conquistada desde 1981.

O cenário do Setor

Pesquisa divulgadas em 1988 revelavam o seguinte cenário para o

setor: segundo Salim Mattar, existiam 20 milhões de pessoas no Brasil, de

alto poder aquisitivo, das classes A/8, prontas para consumir os chamados

serviços de primeira linha, oferecidos por segmentos como cartões de

crédito, companhias aéreas, bancos, agências de viagens e locação de

veículos O indústria que começava a se posicionar como a irmã mais nova

do pool de serviços de primeira linha e responder ao avanço do hábito de

consumo dos brasileiros.

Page 194: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

184

No entanto, mesmo diante deste potencial altamente positivo, a

indústria de locações continuava limitada até então a 3 milhões de pessoas,

a maior parte executivos em viagens de negócio.

Iniciada nos anos 60, a atividade não estava incorporada à vida do

consumidor, como nos Estados Unidos onde são realizados 63 milhões de

locações/ano e a frota é de 1,5 milhão de veículos. Só para se ter uma idéia

da distância do nosso jovem mercado - que começou 50 anos depois do

norte-americano - a frota nacional de carros de aluguel era formada então

por 35 mil veículos.

Até aquele momento as locações realizadas pelo segmento

empresarial - executivos em viagens de negócios - representavam o grosso

volume das locadoras e uma pequena parte - flutuante na alta estação -

pelo turismo interno e externo. A massa dos consumidores potenciais não

conhecia o aluguel de carros. Falta de hábito e desconhecimento do serviço

e das vantagens, redundava (e ainda redunda) - em baixos volumes,

implicando em preços altos. Um círculo vicioso que começava na demanda

restrita e acabava em· juros altos para renovação da frota. (Nos Estados

Unidos se aluga um carro por 100 dólares por uma semana - graças à

economia em escala e estabilidade econômica - enquanto no Brasil é

suficiente para apenas 2 diárias).

A pressão do mercado como um todo terá grande influência no

processo de mudanças do segmento de locações, a partir daquele ano.

A indústria automobilística desenvolvia na época, novos produtos e

veículos mais compactos - a Fiat torna-se importante parceira da

LOCALIZA. Crescia a demanda provocada por segmentos como hotéis e

agências de viagens, estimuladas principalmente pelo turismo.

Ameaças e oportunidades do mercado

O mercado de locação de veículos começava o ano de 88 em grande

efervescência. A lnterlocadora que se formara três anos antes - com suporte

da VW e Varig já ocupava o segundo lugar no ranking. Assumia papel de

destaque também a Unidas, surgida da dissidência de ex-franqueadas da

Nobre.

Page 195: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

185

Quatrocentas locadoras dominavam o mercado então - 1 O redes, que

detinham o bolo do mercado nacional e 390 pequenas locadoras de atuação

local. Das dez, 8 operavam em sistema de franchising, 1 diretamente e 1 por

representantes. A LOCALIZA, líder, detinha 178 pontos de vendas, a

segunda colocada 95 e a terceira 54. Na época, 160 locadoras integravam a

ABLA -Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis, criada em 1973.

A franquia dava um interessante panorama das mudanças do

mercado. Do bolo total de empresas, 128 operavam por franquia - a

LOCALIZA, pioneira no sistema, já possuía 44 empresas franqueadas, a

lnterlocadora 30; a Hertz 6 e as locadoras independentes 13.

Em todo o Brasil, 120 cidades operavam com locação. A LOCALIZA

estava presente em 93 cidades - 78% do total; a lnterlocadora já chegara

em 50 cidades; a Unidas, em 29- e a Nobre, em 25.

Disputado ponto de distribuição, os aeroportos já tinham 137 pontos

de vendas de locação - A LOCALIZA com 56, a lnterlocadora com 17, a

Locarauto com 16 e a Hertz com 12 lojas.

Apesar de líderes mundiais e de ter iniciado a a atividade no País, a

Hertz e a Avis perdiam mercado para as grandes redes nacionais.

A Budget, também uma líder mundial, no 4° lugar no ranking,

começava a operar agressivamente no Brasil, no eixo Rio/São Paulo e já

detinha 9 pontos centrais - fora dos aeroportos.

Em relação aos preços, o aluguel diário era o mesmo acompanhando

a tarifa da líder- a variação ocorria nos descontos.

Em relação ao perfil dos clientes, 70% era formado por executivos

(empresas), e 30% por turistas (as flutuações aconteciam nos meses de alta

estação, especialmente no Sul do País, Rio e Nordeste onde havia inversão

total dos números).

O conjunto das locadoras atendia uma demanda inercial e atuava de

forma tímida em termos de comunicação - até então nenhuma delas havia

realizado uma campanha nacional na mídia eletrônica, A base da

Page 196: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

186

comunicação era a mala direta - que atingia exatamente aquele público já

sensibilizado pelo serviço de locação de veículos.

A relação dos clientes com as marcas era quase desoladora: para o

consumidor, as locadoras eram todas iguais, havia pouca percepção de

diferenciação entre elas.

Enfrentando ameaças

A situação do mercado com a pressão de novos competidores e

demanda represada, pronta para desaguar, exigia um reposicionamento da

LOCALIZA. Fatores internos também empurravam os dirigentes da empresa

para o novo desafio: mudar a LOCALIZA de patamar. A empresa não

poderia acomodar-se na situação de líder com sua extensa rede de lojas,

sua máquina bem azeitada e uma clientela cativa. Era preciso ir mais longe.

A LOCALIZA enfrenta nesta época, segundo seu Diretor de Marketing, uma

grande crise: "possuíamos uma estrutura de alto nível, porém

necessitávamos, naquele momento, de novas fórmulas, estratégias e

inovações capazes de ejetar a empresa para um novo patamar'. Era preciso

dar o "start", assumindo as mudanças exigidas pelo momento e que não se

restrigiam a garantir sua fatia de mercado. A cúpula da LOCALIZA sabia de

sua responsabilidade como líder para mobilizar o grande mercado potencial,

indicado pelas pesquisas, para o qual ela já vinha se preparando, há algum

tempo. E chegara o momento, diz Fernando Campos.

8. A "virada" da empresa: o Planejamento Estratégico Competitivo

A partir da análise do cenário, das ameaças e das oportunidades que

a empresa enfrentava naquele momento, a LOCALIZA tinha percepção do

que estava acontecendo em seu mercado e "olhou para o próprio umbigo",

como reforça Campos, desnudando os seus mais sérios problemas: o baixo

volume de negócios para uma enorme rede de distribuição, em contraponto

a um potencial de 20 milhões de novos consumidores; o crescimento de

competitividade dos anos 90; a necessidade de modernização de suas

estruturas internas, o investimento em suas equipes e revisão de sua cultura

de gestão - a LOCALIZA tinha uma administração centralizada. Para

alavancar o mercado e se posicionar no segmento de primeira linha a

Page 197: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

187

empresa precisava romper barreiras. O atalho para os novos caminhos

surgiria num encontro de 1 O dias do "board" da empresa, onde foi passado

o filme da LOCALIZA.

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO COMPETITIVO

Historicamente orientada pe.lo marketing, a LOCALIZA, durante o

seminário com a alta cúpula, oferecido pela IBM, em 1988, lançou mão da

avançada metodologia de Michael Porter para realizar um profundo raio X

em suas estruturas internas e um completo diagnóstico do mercado de

locação de veículos do País. Elabora, então, seu primeiro Planejamento

Estratégico Competitivo e parte para a grande virada de sua história,

buscando tornar-se uma empresa dirigida pelo mercado. Conceituação

sofisticada que não passava na prática da aplicação integrada de táticas

corriqueiras · de marketing, visando atender as expectativas dos seus

diversos públicos: clientes, fornecedores, franqueados, parceiros (agentes

de viagens, companhias aéreas, cartões de crédito e hotéis, entre outros) e

funcionários. No encontro realizado no Centro de Convenções da IBM, na

Gávea, foi debatida a missão da empresa, seus fatores de sucesso, seus

problemas e soluções, estabelecendo planos e projetos específicos

desenvolvidos e implantados nos anos seguintes. E mais, dentro de uma

visão moderna de marketing, a direção decide centrar suas ações na

interação de seus públicos e introduz um novo conceito na empresa: o

marketing de relacionamento.

O encontro relatado teve como resultado as seguintes definições:

MISSÃO DA EMPRESA

"Manter a liderança no mercado de locação de veículos, diretamente

e através de um sistema de Franchising, oferecendo serviços diferenciados

e de alta qualidade, satisfazendo os interesses dos clientes, funcionários e

comunidade como um todo, com rentabilidade".

Page 198: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

188

Fatores críticos de sucesso

• Imagem;

• localização e número de pontos de venda, ênfase em aeroportos;

• eficiência e eficácia em vendas;

• atrair e manter pessoal de alta qualidade;

• carros novos.

Objetivos

• Posicionar a marca como líder;

• posicionar a localiza no pool dos serviços de primeira linha;

• expansão dos negócios através de Franchising;

• manter a liderança de mercado;

• institucionalizar o aluguel de carros.

Problemas

• Deficiência na informatização;

• estrutura matricial de vendas inadequada;

• ausência de posicionamento;

• atuação/imagem nos mercados de Rio e São Paulo;

• instalações deficientes localizadas;

• sistemas de informações gerenciais;

• estrutura de alto custo;

• administração centralizada;

• falta de qualificação de pessoal para serviços avançados de

primeira linha;

Page 199: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

• novos competidores.

Estratégias

a) Utilizar a informática como ferramenta de marketing

• investimentos em equipamentos (Mainframe, terminais, etc.);

• contratação de rede de comunicação;

• desenvolvimento de sistemas estratégicos para o marketing;

• formação de Banco de Dados.

b) Comunicação integrada

• propaganda;

• promoção de vendas;

• merchandising;

• assessoria de imprensa;

• plano de marketing interno;

• plano de identificação visual.

c) Otimizar negócios com canais de distribuição

• consolidar a atuação junto aos agentes de viagem;

• incrementar parceiros com rede de hotelaria;

• desenvolver relacionamento com companhias aéreas;

• ampliar presença em congressos e eventos.

d) Expansão da rede

• . ampliar a rede de franqueados;

• crescimento vertical nas filiais corporativas.

189

Page 200: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

190

e) Aperfeiçoamento dos Serviços/Marketing de Relacionamento

• lançar novos produtos;

• beneficiar produtos regulares;

• intensificar promoções;

• RH integrado a Marketing.

f) Expandir vendas

• estruturação por unidades estratégicas de negócios;

• treinamento de operações de vendas;

• desenvolver material de apoio a vendas.

A análise dos resultados do encontro da Gávea permite analisar

alguns aspectos do modelo de gestão da empresa:

• Entre os fatores críticos de sucesso, dois se referem à estrutura

gerencial: "eficiência e efiç;$cia em vendas" e "atrair e manter

pessoal de alta qualidade";

• Entre os objetivos, a "expansão dos negócios através de

Franchising" significava uma alternativa de fortalecimento das

parcerias (franqueados), favorecendo uma estrutura mais

horizontal izada.

• Entre os problemas identificados, apontaram-se vários aspectos de

falhas na estrutura organizacional:

"estrutura matricial de vendas inadequada";

"estrutura de alto custo";

"administração centralizada".

• Entre as estratégias definidas, várias delas exigiriam revisão da

estrutura organizacional para serem implantadas:

Page 201: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

191

Na expansão da rede, seja para "ampliar a rede de

franqueados", seja no "crescimento vertical nas filiais

corporativas" (lojas próprias da LOCALIZA).

No aperfeiçoamento dos Serviços/Marketing de

Relacionamento, sobretudo com a "integração de Recursos

Humanos ao Marketing".

Na expansão de vendas, através da "estruturação por

unidades estratégicas de negócios".

Portanto, a empresa estava adotando a Administração Estratégica,

que a conduziria depois ao modelo de Gestão Empreendedora.

9. A implantação do Planejamento Estratégico

A partir da reunião histórica da Gávea e da revisão da missão,

estratégias e objetivos da empresa, elaborou-:-se o Planejamento Estratégico

Competitivo para o período 1988-1990. Ao retornar do encontro, a direção

da empresa reuniu seus gerentes ·de todas as filiais para apresentar as

principais conclusões e definiu que cada área deveria trabalhar de forma

independente na formatação e implementação dos projetos, definindo

objetivos, estratégias e táticas que perseguissem as metas globais daquele

Planejamento. Assim, estava em curso a implementação de um estilo

empreendedor de gestão, baseado na flexibilidade organizacional e na

autonomia operacional das unidades de negócio.

Um fator estratégico para a mudança do modelo de gestão foi a

aplicação de novas práticas gerenciais, centradas no Marketing de

Relacionamento, cujo objetivo é integrar as pessoas (Recursos Humanos)

com a visão da clientela (Marketing); portanto, trata-se de integrar as

práticas de gestão de RH com as estratégias e ações de Marketing da

empresa.

Segundo Eugênio Mattar, então Diretor de Recursos Humanos,

Administração e Finanças, a ação integrada entre o Marketing e Recursos

Humanos levou a empresa a uma valorização de seu público interno,

Page 202: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

192

fazendo-o engajar-se de maneira consciente nos novos propósitos. Com

isso, a colocação do homem certo no lugar certo tornou-se possível, bem

como o desencadeamento de um grande trabalho de treinamento em todos

os níveis, visando um aprimoramento da comunicação interna e, finalmente,

a delegação de poderes para as pontas.

A LOCALIZA passou, então, da decisão centralizada para a decisão

em todos os níveis, com reflexos diretos nos seus consumidores.

Tal decisão possibilita à LOCALIZA virar "de cabeça para baixo" sua

estrutura organizacional e seu processo decisório. Duas histórias que

ocorrem logo a seguir registram o resultado desta decisão:

Cena 1: 1990- Toca o telefone no Setor de Atendimento ao Cliente na

agência da LOCALIZA em Maceió:

- Por favor, alguém pode me ajudar? Acabo de alugar uma Kombi aí

e por duas vezes, no meio do caminho, tive que parar para fechar o porta­

malas; agora abro o carro e vejo que a mala sumiu.

- O senhor pode nos dar seu nome e informar o valor da mala e do

seu conteúdo para podermos providenciar o ressarcimento?

Cena 11: 1991 - Após três dias de viagem, o jovem entra na agência

da LOCALIZA na Avenida Paulista, em São Paulo, e entrega a chave à

operadora. A pedido desta, informa-lhe surpreso a quantidade de

quilômetros rodados e o nível do combustível. Senta-se à espera que seja

feita a conferência. A moça não sai do lugar. Faz os cálculos e devolve o

cartão de crédito ao cliente, agradecendo sua preferência. O jovem

permanece em frente à operadora por alguns segundos sem entender nada.

E se estivesse mentindo?

Saiu da agência com uma certeza: por algum motivo desconhecido, o

terminal de computador indicava que ele era um cliente preferencial.

Chegou a imaginar a anotação: cliente confiável.

Dias depois, ao relatar o fato ·a um amigo descobre que ele recebera

o mesmo tratamento. Permanece inconformado. Tempos depois, ao retornar

à agência não resiste a perguntar à mesma operadora:

Page 203: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

193

- Você não confere a quilometragem e o gasto de combustível

quando os clientes devolvem o carro?

- Não é necessário.

- Vocês não temem ser enganados? Insiste.

- Por princípio nós confiamos nas informações de nossos clientes.

Estes dois momentos ilustram de forma contundente as

transformações ocorridas na empresa. "Representam, segundo Fernando

Campos, a exemplificação da revolução do óbvio, que a LOCALIZA teve

coragem de fazer em 88 ao encarar suas próprias contradições e as reais

expectativas do mercado. A nova postura restabeleceu algo precioso no

segmento de prestação de serviços: a confiança no cliente e o

comportamento mútuo. Tudo isso graças a um projeto que integrou as ações

de Marketing e Recursos Humanos e que alteraram definitivamente as

relações entre a empresa/equipe e a empresa/cliente.

Para conseguir que histórias como as duas acima relatadas se

tornassem rotineiras na empresa, o público interno passou a ser treinado

para ter um relacionamento com o 'êliémte no mais alto nível de respeito e

confiança. A palavra de ordem era ser positivo, transparente, acreditar,

confiar e transformar o cliente em aliado da empresa. A palavra "não" foi

completamente eliminada do dicionário da LOCALIZA, dentro desta nova

postura, criando reflexos extremamente positivos e resultando em mudança

de comportamento do próprio cliente.

"Quando você encanta o cliente ele se torna seu aliado", afirma

convicto o Diretor de Marketing, Fernando Campos. O Marketing do

Relacionamento, além de ser o meio seguro de estabelecer este

encantamento, é também, a forma de estabelecer um relacionamento de

longo prazo, que a LOCALIZA está aplicando com sucesso. (Vale ressaltar

que este projeto mexe com a cultura da empresa, por isso é de longo prazo).

O Marketing de Relacionamento, iniciativa pioneira da LOCALIZA no

mercado de locação de veículos, estabeleceu para o público interno o mesmo clima de confiança e respeito para com o cliente, "A moça que está

no balcão é quem sabe o que é melhor para o cliente", assevera Campos.

Page 204: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

194

Mas ela só pode decidir se tiver confiança em si e certeza de que sua

decisão será acatada pela empresa. Para que suas equipes adquiram esta

independência, um trabalho de treinamento está sendo realizado até hoje.

Trata-se de mudar completamente a postura até então adotada, tornando as

pessoas mais positivas diante do cliente.

1 O. "Em busca da Excelência"

Em 1990, elaborou-se a primeira revisão do Planejamento Estr-atégico

Competitivo: segundo Engênio Mattar, concluiu-se que a conquista dos

objetivos traçados só seria possível através do total comprometimento de

seus funcionários com os resultados da empresa.

Decide-se então lançar o programa "Em busca da Excelência", cujo

objetivo é conscientizar os funcionários da LOCALIZA para que cada um,

desde o lavador de carros até o gerente, saibam da importância do seu

trabalho no conjunto da organização e compreendam que o cliente satisfeito

é o maior patrimônio de uma empresa de serviços.

Este programa estabeleceu as bases do "Plano Estratégico 1990-

1994" e, ao mesmo tempo, redefiniu o negócio, a missão, os objetivos e os

princípios que norteariam os rumos da empresa nos próximos anos. A

seguir, são transcritas estas definições, que inclusive orientarão a

consolidação de um novo modelo de gestão.

NEGÓCIO da Empresa: Soluções em Transportes.

MISSÃO da Empresa: Oferecer soluções em transportes através de

aluguel de carros, buscando a excelência.

OBJETIVOS

• Aumentar a receita no mínimo em 20% ao ano.

• Ampliar a liderança no mercado de aluguel de carros .

• Ter o melhor e_ mais motivado quadro de pessoal e a mais

dinâmica equipe de vendas e operações.

Page 205: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

195

• Obter rentabilidade anual mínima de 15% sobre o patrimônio

líquido e lucro líquido mínimo de 1 O% da receita.

PRINCÍPIOS

• Expectativas dos clientes orientam nossas ações.

Todo trabalho visa a satisfação dos clientes, internos e externos.

Esses clientes são o foco central na definição das ações.

• Busca constante da eficácia.

A produtividade é garantida através da eficácia e racionalidade na

execução dos trabalhos, procurando fazer certo da primeira vez, com

ausência de erros.

Toda ação é importante e deve ser executada com competência,

atenção e pontualidade.

• Estilo gerencial empreendedor, inovador e participativo.

Agilidade, inovação, criatividade., flexibilidade, iniciativa, comunicação

clara, comprometimento e participação são qualidades estimuladas na

Empresa.

A exploração competente e eficaz de oportunidades geradas no

mercado deve ser uma constante.

• Valorização do indivíduo.

O indivíduo e a principal força de desenvolvimento nas organizações.

A segurança, o estímulo ao crescimento pessoal, com promoção de

oportunidades de treinamento, reconhecim~nto e incentivo de talentos, são

formas de respeito às pessoas como indivíduos e como profissionais.

• Zelo pela imagem da Empresa.

O respeito aos padrões de comportamento, apresentação e

organização, bem como a conservação das instalações e do patrimônio com

Page 206: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

196

a efetiva atuação de todos, garantem a promoção constante da imagem da

Empresa.

• Ética nos relacionamentos.

A postura ética no relacionamento com clientes, funcionários,

parceiros e sociedade determinam o comportamento da Empresa.

Observe-se o terceiro princípio anunciado apresenta o estilo de

gestão desejado pela empresa: "empreendedor, inovador e participativo".

Esta postura, junto com as demais, levaria a uma política estratégica de

Recursos Humanos vinculada à visão mercadológica da empresa: nascia o

Endomarketing.

11. O Plano Estratégico de Recursos Humanos

Segundo Eugênio Mattar, a atenção às definições do novo

Planejamento Estratégico levou a empresa a repensar suas políticas de

Recursos Humanos. Assim, caberia ao RH ser a ponte de comunicação e

orientação entre os propósitos da empresa da direção e do corpo funcional.

A intenção foi a de transformar cada funcionário num "homem de

marketing".

Foi elaborado então o Plano Estratégico de Recursos Humanos,

sintetizado a seguir:

MISSÃO

Prover a empresa de pessoas adequadas, mantendo-as motivadas e

com desempenho superior.

PRINCÍPIOS

• Manter estreito relacionamento com os funcionários.

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197

• Agir com transparência, justiça e democracia.

• Manter confidencialidade das informações pessoais.

• Ter a confiança mútua como uma constante no relacionamento.

• Estar comprometido com a educação e o bem estar dos

funcionários.

• Zelar pelo desempenho superior.

OBJETIVOS E ESTRATÉGIAS

Objetivo 1: Ter funcionários satisfeitos e comprometidos

Estratégias:

• Estimular a participação no desenvolvimento da empresa;

• Buscar maior interação com todas as unidades.

• Apoiar a melhoria do desem.penho dos funcionários.

• Apoiar a formação de cultura de vendas e atendimento.

• Evoluir políticas de remuneração e educação.

• Promover mudanças de comportamento organizacional via

educação e comunicação interna.

Objetivo 2: Posicionar-se internamente e externamente como uma

empresa com Recursos Humanos e pessoas diferenciadas.

Estratégia:

• Aprimorar o relacionamento dom o público interno e externo.

• Diferenciar-se positivament.e no mercado de RH.

• Dar visibilidade aos funcionários de sua crescente valorização

profissional na LOCALIZA.

Page 208: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

198

Ao iniciar a implementação do novo Planejamento Estratégico, no

início de 1990, a empresa, assim como todo o país, sofre um "choque": as

medidas econômicas tomadas pelo Governo Collor. O confisco monetário,

associado a outras decisões, provocou a paralisia da economia. Os reflexos

sobre a LOCALIZA são brutais. Passa a enfrentar crise de capital de giro

pela falta de cruzeiros e tem dificuldade para obtenção de empréstimos. O

consumidor de locação de carros desaparece, determinando a queda do

preço do aluguel diário de carros e retração no movimento de aluguel

mensal. Muitos clientes ficam inadimplentes. Impossibilitada de adquirir

carros novos, a empresa vê ainda a venda dos- carros usados estancar.

Integrantes da diretoria e gerência são desviados de suas funções

para acompanhar as novas medidas. A implementação do planejamento

estratégico fica comprometida.

Pela primeira vez em sua história, a LOCALIZA estava enfrentando

uma retração vertiginosa dos negócios e com a perspectiva de ver seu

resultado anual ser negativo.

Diante de números como a queda de 60 para 2 locações/dia em uma

das agências de melhor desempenho., surge a necessidade de um Plano

Emergencial que provoque a união de todos os profissionais da LOCALIZA

na luta pela recuperação do volume de negócios.

Em apenas 48 horas, a LOCALIZA elaborou o Plano Emergencial (em

anexo) para enfrentar aquele momento, introduziram um programa de

premiação, baseado em salário variável de acordo com as vendas, e a

participação nos lucros. Levaram ao ar uma campanha nacional de TV. Os

funcionários foram avisados que os preços dé locação estavam reduzidos e

o mercado estava informado. Foram orientados também sobre a flexibilidade

nas negociações, recebendo maior poder e autonomia para decisões face a

face com o cliente. Portanto, se recuperassem o volume de vendas, todos

seriam recompensados.

A LOCALIZA aproveitou novamente a ameaça de crise para progredir

e, neste momento, o crescimento envolveu também a melhoria das relações

internas. Ao enfrentar a crise com uma mudança planejada e orientada, a

empresa conseguiu superar o momento crítico, recuperando o volume de

Page 209: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

199

vendas em apenas 3 meses, contando fundamentalmente com a

colaboração dos seus funcionários.

A participação ativa dos profissionais, especialmente pela maneira

como entenderam o significado daquele período, convenceu a direção da

LOCALIZA de que a primeira estratégia a ser previamente traçada era

implantar o Planejamento de Recursos Humanos e o fez 15 dias após a

deflagração da crise de março de 1990.

Plano Emergencial - 1990

OBJETIVOS

Recuperar o nível de vendas de imediato

ESTRATÉGIAS E TÁTICAS

• Envolver os funcionários

Convocação de todos os funcionários.

Garantia de estabilização do nível de empregos.

Remuneração variável (premiação).

Delegação de poder para as pontas

Participação nos lucros

• Estabelecer preços competitivos

Redução de despesas.

Suspensão dos investimentos.

Redução dos preços de venda.

• Divulgação para o grande público

Campanha de propaganda na mídia impressa e eletrônica,

Display no balcão das agências.

Page 210: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

200

Emissão de 245.000 malas diretas.

Porém antes de implantar aquele Plano, era necessário avaliar os

principais problemas enfrentados na área de Recursos Humanos. Foram

identificadas as seguintes situações:

• O crescimento desordenado da empresa no período de 1984 e

1988 provocou o inchaço da estrutura. Com 1400 funcionários, era

preciso reconhecer e administrar a necessidade de enxugamento,

bem como a falta de adaptação de alguns funcionários ao novo

modelo empresarial.

• A . área de RH da LOCALIZA atuava, até então, de forma

centralizada, decidindo de cima para baixo as estratégias de

recursos humanos. Era necessário encontrar uma nova linha de

atuação, que se adaptasse ao contexto proposto para a empresa,

a partir daquele momento.

• Os salários não estavam competitivos em relação ao mercado. A

LOCALIZA precisava encontrar meios para corrigir as injustiças

salariais e restabelecer a c.ampetitividade da remuneração.

• Os funcionários precisariam estar envolvidos com a mudança. E

isto exigia a definição dos caminhos para conquistar a confiança

de todos no sucesso da proposta.

. • A comunicação estava centralizada, precisando ser revista em

todos os seus conceitos operacionais, fornecendo a todos os

funcionários as informações gerenciais, necessárias para a

realização dos programas de mudança de postura gerencial.

• A LOCALIZA tinha também a noção exata dos riscos da

transferência de autoridade para as pontas. Dar condições para

que os funcionários tivessem segurança e confiança suficientes

para evitar o erro, era um grande desafio a ser enfrentado.

• Enfim, a estrutura da empresa precisava ser modernizada, assim

como os relacionamentos. Era preciso achatar a pirâmide de uma

vez por todas.

Page 211: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

201

Portanto, o quadro de problemas mais uma vez indicava a

necessidade de rever o modelo de gestão.

12. A "Hora da Verdade"

Para entender este momento da história da LOCALIZA, é preciso

conhecer o livro "A Hora da Verdade", de Jan Carlzon (1990). Este livro

passou a ser uma espécie de "bíblia" para a LOCALIZA, de leitura

obrigatória de seus funcionários, pois tem orientado a empresa a ser uma

organização modelo em serviços no que diz respeito às suas práticas de

gestão de Recursos Humanos.

Como a companhia sueca de aviação SAS, dirigida por Carlzon, a

LOCALIZA também definiu como seu foco de negócio a satisfação plena do

cliente.

E a solução de Carlzon para qualquer problema ou reclamação feita

por um cliente é eliminar as barreiras horizontais de comunicação, definindo

um novo papel para os gerentes d.~ nível médio, então "contratados para

fazer com que as instruções sejam seguidas", e transformá-los de

administradores em líderes e auxiliares do pessoal; da linha de frente que

tem contato direto com o cliente.

Afinal, o primeiro encontro de quinze segundos entre um cliente e o

pessoal da linha de frente, determina a impressão sobre toda a companhia

na mente deste cliente. É a situação que Carlzon chama de "A Hora da

Verdade".

Durante uma crise ele percebeu que os serviços e o pessoal de ponta

eram as duas alavancas do sucesso.

Transferiu autonomia e encorajou as pessoas a não aceitarem um

"não" como resposta. Além de fortalecer seu pessoal, apostou no

desenvolvimento do espírito de liderança de cada funcionário. E valorizou

muito mais a intuição, emoção e criatividade.

Page 212: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

202

As novas ferramentas dos líderes são uma visão clara e concisa do

negócio e a perfeita habilidade para se comunicar, estimulando a equipe a

se envolver, com alma, no novo projeto.

Ele acredita também que as pessoas somente brilham quando as

exigências são muito altas. Um componente básico são as avaliações

rigorosas e honestas. Os objetivos firmes e visíveis, dirigidos para o

atendimento ao cliente e calculados para criar a competição entre as

unidades, aceleram a marcha do processo.

A segurança para agir com autonomia e exercer a autoridade é

garantida por uma administração que impede demissões sumárias; a

motivação vem do aumento da responsabilidade e do sistema de

recompensa transparente; a auto-confiança nas decisões está alicerçada no

treinamento constante, o _estímulo para assumir responsabilidades vem da

certeza de que o projeto pessoal será atingido em conjunto com as metas da

empresa.

-13. Retomando "Em Busca da Excelência"

Com a recuperação dos negócios ainda em 1990, graças ao Plano

Emergencial, ficou evidente que a transferência da responsabilidade para as

pontas envolveu todos os funcionários na busca da solução da crise.

Superada esta fase, pretendia-se retomar o programa "Em Busca da

Excelência", como uma nova proposta de gestão empresarial.

O programa foi adotado como estratégia empresarial para colocar

toda a empresa no caminho da melhoria permanente da sua qualidade. Os

conceitos mensuráveis e subjetivos da Excelência são considerados

compatíveis com o passado da empresa e imprescindíveis para encaminhar

a formação de uma nova cultura.

A Excelência é_ viável quando a cultura da empresa já possui

arraigados no cotidiano dos funcionários, valores como respeito, ética,

criatividade, disposição de ser melhor.

Page 213: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

203

Durante 1991, Em Busca da Excelência foi o tema presente em todas

as campanhas e encontros da empresa. O comportamento que a LOCALIZA

queria transferir às pessoas foi disseminado mais claramente no ano

seguinte que teve como tema A Eficácia Operacional. Demonstrou-se

através de inúmeros recursos de comunicação e treinamento, a capacidade

de uma equipe chegar ao pódium e estar preparàda para superar seu

próprio desempenho.

Em 1993, ano da Visão Compartilhada, a abordagem mostrou a

importância de todos estarem conscientes do significado do caminho da

Excelência e dispostos a se envolver permanentemente com o programa.

O processo da Busca da Excelência está ligado à consolidação de

valores da empresa, difundidos pelo Livro Verde de Valores Localiza e na

série de livretos Edições em Busca de Excelência.

Para a LOCALIZA obter esta postura dos seus funcionários, é

necessário que a diretoria demonstre confiança em seus profissionais. A

responsabilidade por idéias, decisões e ações deve vir, principalmente, de

quem está, dia-a-dia, na Hora da Verdade com os clientes.

14. A Reengenharia na "Busca da Excelência"

Em 1991, com 1400 funcionários, a diretoria da LOCALIZA entendeu

ter chegado um dos momentos mais difíceis na execução do plano de

mudanças: achatar a pirâmide. Após os primeiros meses de

desencadeamento do processo da Busca da Excelência e transferência de

responsabilidade para as pontas, constatou-se a necessidade da empresa

se adaptar ainda mais à nova realidade com a implantação das mudanças

de cultural gerencial.

Ao estabelecer a orientação do foco para o cliente, foi necessário

eliminar os níveis hierárquicos de responsabilidade para ter agilidade de

responder rapidamente ao mercado.

A gerência média deveria desempenhar funções de apoio ao pessoal

de frente, ao invés de ficar presa, exclusivamente, a questões

Page 214: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

204

administrativas. Deste novo gerente e equipe seria cobrados resultados

sobre as metas estabelecidas. Coube à gerência oferecer as condições e

meios para que sua equipe atingisse os objetivos pré-estabelecidos.

A primeira readaptação envolveu a redução do quadro de

funcionários em 400 pessoas. Através de um programa de demissão, eles

tiveram indenizações extras, receberam apoio profissional para recolocação,

assistência médica prolongada e outros benefícios. Em grande parte, esta

medida deveu-se à terceirização de várias atividades, como manutenção da

frota, informática, xerox e outras.

Esta medida foi um choque para a direção da empresa - nunca

haviam passado por este problema. Os funcionários que permaneceram,

compreenderam a decisão da empresa. Em menos de 30 dias, todos os

demitidos estavam em novos empregos. O mercado valorizava os

funcionários da LOCALIZA. Os novos parceiros absorveram parte destes

funcionários demitidos.

No ano seguinte, a Reengenharia atuou para a reestruturação da

empresa e a área de Relações Humanas buscou a adequação das pessoas

a cargos e funções. Esta reestruturação colocou a empresa num processo

de melhoria contínua ao adotar sistemas que permitiram as pessoas certas

trabalharem nos lugares certos.

A nova estrutura organizacional adotou o modelo matricial, conforme

ilustração em anexo do novo organograma. A empresa está estruturada em

três áreas de negócios: aluguel diário, aluguel de frota e venda de carros

semi-novos, todas como parte da Diretoria de Marketing.

As áreas matriciais fornecem apoio aos "centros de responsabilidade

de negócios".

Page 215: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

Diretoria de

205

ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

I Diretoria de RH,

Adm.e Finanças

CONSELHO

I PRESIDÊNCIA

(C.E.O.)

~1-----~ VICE PRESIDÊNCIA

SUPERINTENDÊNCIA (C.O.O.)

1 I I I

Diretoria de Diretoria de Diretoria de Sistemas

Operações Franchising e Informações

1-- Marketing e Vendas

1--

Aluguel Diário

Diretoria de

Marketing e Vendas

Aluguel de Frota

Diretoria de

Marketing e Vendas

Carros Seminovos

15. Preparando Novas Lideranças

O papel da direção da empresa no desencadeamento do processo de

mudança de gestão foi fundamental. Cada diretor da LOCALIZA precisou

transformar-se num líder genuíno e dar ao ambiente, condições propícias

para a implantação da nova cultura, onde os funcionários pudessem exercer

suas responsabilidades com confiança e habilidade. Assim, os diretores

foram os primeiros a serem treinados para estabelecer boa comunicação

Page 216: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

206

com a equipe, compartilhar e envolvê-la nos projetos. E não puderam mais

tomar decisões de maneira isolada e autoritária.

Para atuar adequadamente em todas as áreas e satisfazer os

funcionários, o RH da LOCALIZA passou por uma forte reestruturação. De

um centro de custos passou a fonte de lucros. Descentralizou suas ações e,

com a política de transferência de responsabilidades para as pontas,

capacitou os gerentes regionais como responsáveis pela contratação das

pessoas. Desenvolveu o manual de orientação sobre como contratar o

profissional mais capacitado para a função, o manual de política salarial,

entre outros. Hoje o RH oferece todo o suporte para as filiais, atuando como

uma consultoria.

O RH está voltado para resultados. É de sua responsabilidade

direcionar as pessoas para alcançar os objetivos estabelecidos pela

empresa. Deve orientar os esforços, a liderança, o treinamento, o

comportamento e a cultura da empresa para que os funcionários realizem os

seus sonhos profissionais e pessoais.

Cabe ao RH propor a adoção de sistemas de remuneração por

resultados e programas de treinamento, cuja aprovação é feita por todos os

envolvidos. Este processo de compartilhar as decisões é aplicado também

aos critérios do sistema de avaliação de desempenho.

Quando um funcionário deixa a LOCALIZA, preenche um questionário

em que se procura colher todas as informações sobre os problemas que,

eventualmente, tenha vivenciado na empresa.

A ascensão interna é outro projeto da área. Nele, as vagas abertas

são oferecidas inicialmente ao público interno. As chefias não podem

antepor obstáculos. Se o candidato for qualificado à função, ele vai assumir.

Somente em caso de falta de solução interna é que a vaga é aberta ao

mercado.

A missão da área de RH deste momento em diante é de sustentar o

empenho da equipe para atingir as metas estabelecidas e atuar como um

orientador de todas as áreas, já que a autonomia conquistada pelos

gerentes transformou-os em profissionais capazes de administrar e motivar

Page 217: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

207

sua própria equipe. Os gerentes são hoje profissionais de Relações

Humanas.

16. Implantando o Endomarketing

A partir da nova visão de Recursos Humanos na LOCALIZA, foi

possível implantar a filosofia do Endomarketing, ou seja, integrar as políticas

de Recursos Humanos com as políticas de Marketing; a prática do

Endomarketing foi operacionalizada através de três programas nas áreas de

Recompensa, Educação e Comunicação, os quais atuando de forma

integrada, procuram alcançar a eficácia empresarial através de um estilo

empreendedor, descentralizado e participativo de gestão.

Cada um destes programas será analisado a seguir:

16.1. Programa de Recompensa

A recompensa na LOCALIZA é a somatória ·de remuneração mais

reconhecimento, e através de salários competitivos, baseada em política

. salarial transparente e em ações de ·homenagem. A melhor performance

sempre será valorizada, inclusive com a criação de meios para avaliação

individual e de equipe, com a participação nos lucros da empresa,

campanhas de inventiva permanentes, programa de benefícios abrangente,

administração de salários com regras bem claras desde o processo de

admissão, critérios para progressão profissional até normas específicas

quanto a demissões de qualquer natureza.

Para conseguir isso, definiu-se claramente uma política de

remuneração salarial. Com a contratação da Hay do Brasil, desenvolveu-se

um programa para obter justiça interna de salários e competitividade com o

mercado. Em trabalho conjunto com uma comissão de funcionários,

encontrou-se uma fórmula profissional de administração de cargos e

salários. Transparente, a fórmula vem sendo aperfeiçoada a cada ano,

consistindo hoje na soma do salário base mais o ATS (Adicional por Tempo

de Serviço), o prêmio mensal, conforme o volume de vendas e resultados, e

a participação anual nos lucros e benefícios. Desde o office boy até o

Page 218: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

208

presidente, o salário é variável em função do desempenho individual ou de

equipe, mensalmente.

A participação nos lucros não é social, ou seja, dividida igualmente

entre todos. Quem contribui mais para o resultado da empresa, tem um

melhor desempenho, recebe um percentual maior.

À remuneração participativa, a LOCALIZA acoplou um sistema de

recompensa através de diversos tipos de homenagens, como aos que

completam qüinqüênios na empresa. Patrocina festas para os

aniversariantes do mês. Uma das homenagens é o Este Elogio é pra Você,

aplicado toda vez que um cliente elogia um funcionário. Este recebe um

certificado, carta do diretor superintendente e o cliente externo também

recebe uma correspondência do Presidente agradecendo a atenção.

Em 1992, a LOCALIZA adotou, dos cargos de assistente para 'cima,

um Contrato de Gestão Individual para cada funcionário. Ao formalizar os

objetivos, conseguiu-se um nível de comprometimento tangível.

O Programa de Recompensa se compõe dos seguintes

subprogramas:

a) Política de salários e benefícios

Tem por objetivo compatibilizar salários e benefícios em função das

necessidades da empresa, de satisfação e motivação dos funcionários e

também da competitividade no mercado de trabalho.

O salário na LOCALIZA é composto pelo salário-base, ATS (Adicional

por Tempo de Serviço), prêmio mensal por atingimento de metas e

participação nos lucros. A atualização do valor-base é feita de acordo com

pesquisas realizadas entre as grandes empresas do mercado para garantir

que seja um valor competitivo. O ATS é uma gratificação que corresponde a

1% do salário-base a cada ano de serviço até o limite de 1 0% O prêmio é

uma parcela mensal variável recebida por funcionário, de acordo com seu

desempenho individual ou da equipe atingindo até 70% do salário-base.

Além disso, há os aumentos por mérito, anuais, incorporados aos salários

nos percentuais de 3,5%, 7,12% com o máximo de 14,75%.

Page 219: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

. 209

Entre os benefícios destacam-se Vale Restaurante, Vale

Supermercado, Seguro de Vida, Plano de Saúde, Reembolso do Material

Escolar, Auxílio Creche, Auxílio Educação, etc.

São fornecidos uniformes aos funcionários de ponta que têm contato

direto com os clientes. Os funcionários com filhos recém-nascidos têm

direito também ao Kit Natalidade composto por mais de 14 produtos

básicos.

b) Campanhas de superação de metas

Objetivam a motivação dos funcionários no aumento da

produtividade, demonstrando que podem superar as metas previstas no

contrato de gestão.

c) Recrutamento e seleção

Desde 1991, o recrutamento e seleção de pessoal utiliza diversos

recursos para a identificação de profissionais que se adequam ao perfil

pretendido para o cargo e à cultura da empresa. Um dos recursos aplicados

é a grafologia, que permite avaliar o estado emocional e a capacidade de

desenvolvimento do candidato. OuUO recurso é a utilização da dinâmica de

grupo.

Outro ponto importante é a comparação das expectativas

profissionais do candidato em relação ao que a empresa pode lhe oferecer.

As normas da LOCALIZA nesta área dão prioridade aos profissionais

internos para o preenchimento das vagas abertas. Somente após

constatada a impossibilidade de uma solução interna, é que se vai ao

mercado para suprir a vaga em aberto.

d) Contrato de gestão

Adotado desde 1992, é o contrato pelo qual todos os níveis da

empresa formalizam seu compromisso quanto a metas operacionais de

vendas, ou comportamentais, e resultados da empresa. o contrato é

assinado por ocupantes de cargos de assistente para cima e é definido por

dois pontos básicos: objetivos da sua área e ações a serem tomadas.

Page 220: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

210

Sua aplicação permitiu a cada funcionário discutir o que pretende

realizar para a empresa. Na elaboração do contrato são discutidos metas e

objetivos para o próximo ano de trabalho. As metas são divididas ao longo

de doze meses e são permanentemente acompanhadas pelos profissionais.

A sua aplicação contribui para a difusão de uma cultura de resultados e

vendas, de redução de custos, e da satisfação dos funcionários.

e) Avaliação de desempenho

Os funcionários são avaliados individualmente. quanto à sua

performance. No nível gerencial é analisado também o alcançado pela

equipe. Os componentes da avaliação têm 70% do peso ligado ao contrato

de gestão, observando-se o que era esperado e o que se conquistou. Para

os demais 30% da avaliação, observam os valores comportamentais

relativos ao estilo gerencial pretendido pela empresa.

A avaliação é discutida abertamente entre funcionário e chefia. Ao

discutir pontos qualitativos e quantitativos, o responsável pela avaliação

apresenta um resultado objetivo, conforme classificação pré-determinada.

j) Horário flexível

Nas funções que o permitem, os funcionários têm flexibilidade de 45

minutos no horário de trabalho. Não há cartão de ponto e são os próprios

colegas que controlam eventuais desvios.

g) Plano de homenagens

Mensalmente, a LOCALIZA homenageia os aniversariantes da

empresa, na matriz e em cada filial. Os funcionários realizam a

comemoração da maneira que acharem mais conveniente. Todos os anos

no aniversário da empresa, são homenageados os funcionários que

completam 5, 1 O ou mais anos de companhia.

h) Programa de demissões especial

Dependendo do tempo de casa, o funcionário não é demitido pelo

gerente, mas colocado à disposição da RH. Se o funcionário tem mais de 5

anos de empresa sua demissão só pÓde ser assinada pelo diretor

Superintendente. Se tem mais de 1 O anos de companhia, somente pelo

Page 221: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

211

Presidente. O RH avalia todas as possibilidades para ele encontrar nova

ocupação na empresa. Se a saída é irreversível, a LOCALIZA auxilia no

encontro do novo emprego com apoio de especialistas. Ao deixar a

empresa, o ex-funcionário preenche um questionário de avaliação.

i) Este elogio é pra você

Se um funcionário de atendimento recebe um elogio de um cliente,

este receberá uma carta do Diretor Superintendente. E o Diretor Presidente

da companhia envia uma carta também para o cliente agradecendo o

estímulo.

16.2. Programa de Educação

Consciente de que se trata de uma responsabilidade da empresa, a

LOCALIZA investe na educação de seus funcionários, recorrendo a meios

que valorizam o indivíduo, comprometendo-os com os seus princípios. O

aproveitamento das pessoas nos lugares certos é prioridade no RH da

LOCALIZA.

O público interno passou a ser treinado para ter um relacionamento

de alto nível com o cliente, assumir responsabilidades e tomar decisões no

momento deste encontro. Cada colaborador deve trabalhar para a

LOCALIZA ser, sempre, a melhor e a maior locadora de veículos do país.

As campanhas "Seja Positivo", "Diga Sim ao Cliente", "Faça Mais

pelo Cliente" e "Vender deve ser um Espetáculo", influenciaram

positivamente as relações internas da empresa e o atendimento do cliente

externo.

O treinamento básico para todos os funcionários foi o Emoções, que

teve como intuito criar o espírito de equipe na empresa. Focado para a

Busca da Excelência, este treinamento visava mexer com a emoção das

pessoas, estimulando-as a serem naturalmente positivas no trabalho.

A Hora da Verdade veio na seqüência. Do office-boy ao presidente,

todos participaram deste treinamento levado para todos os escritórios da

rede no País. É a partir deste ponto que a empresa começa a levantar e

Page 222: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

212

resolver necessidades dos funcionários. O atendimento das reivindicações

foi encaminhado para se conseguir um ambiente de trabalho cada vez

melhor.

O estímulo à leitura é permanente com a montagem da biblioteca

LOCALIZA com mais de 500 títulos à disposição de todos os funcionários.

Na área de Educação, os principais eventos envolvem a consolidação

da cultura, orientação geral, integração e motivação do público interno.

O Programa de Educação se compõe dos seguintes subprogramas:

a) Livro verde de valores Localiza

É o código de ética da LOCALIZA que orienta o dia-a-dia de todas as

ações da equipe. O livro contém a sua história, missão, negócio e princípios

que a norteiam. Sua leitura é um dos meios para que se compreenda,

assimile e se atue de acordo com os valores da empresa.

b) Face a face com o cliente

No mês de aniversário da LOCALIZA, os executivos (incluindo o

Presidente) entram em contato direto com o público, atendendo nos balcões

das agências por um ou dois dias. Isso permite uma atualização sobre o

setor de atuação da empresa, verificação sobre a prática dos valores e

princípios da LOCALIZA, uma maior compreensão das necessidades do

mercado através de informações dos clientes e também saber o que o

público pensa dos serviços da empresa.

c) Interação com consultorias

A LOCALIZA busca constantemente o apoio de consultorias externas

especializadas e de altíssimo nível para assessorá-la. A Booz, Aliem &

Hamilton colaborou com o programa de reengenharia, a Arthur Andersen na

melhoria dos processos, e a Hay do Brasil nos trabalhos para identificação

da percepção de lideranças, contrato de gestão, etc.

Page 223: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

213

d) Campanhas motivacionais

Apoiadas por material promocional (impressos e vídeos), as

campanhas motivacionais objetivam alinhar as atitudes dos funcionários às

da empresa. Assim, em 1994 houve a campanha "Seja Positivo", visando

incentivar os funcionários a assumirem posturas positivas, mesmo diante de

adversidades; no mesmo ano· também foi implantada a "Faça Mais Pelo

Cliente", estimulando atender e superar as expectativas dos clientes. Em

1993, "Diga Sim" visava criar o hábito do "sim", evitando a utilização do

"não" na empresa.

e) Banco de idéias

O Banco de Idéias funciona como um canal permanentemente aberto

para o público interno, ouvindo suas sugestões e freqüentemente adotando­

as, tornando-o assim mais participativo no desenvolvimento da empresa.

f) Livro "A Hora da Verdade"

Escrito por Jan Carlzon, é leitura obrigatória de todos os funcionários

que respondem a uma avaliação sobre o livro. A função desta ação é

reforçar o programa Em Busca tfa · Excelência através dos exemplos

utilizados pelo autor que podem e devem. ser utilizados no dia-a-dia da

LOCALIZA

g) Ciclo de Debates

Estar em sintonia com o que acontece no mercado em geral e,

principalmente, em sua área específica de atuação, é fundamental para o

crescimento e desenvolvimento profissional dos dirigentes de qualquer

empresa. As palestras, em que os executivos debatem estes assuntos, são

filmadas e exibidas a todos os funcionários das filiais.

h) Capacitação, Treinamento e Desenvolvimento

Na LOCALIZA os treinamentos não são sistematizados. As áreas

identificam as necessidades, decidem sobre elas e solicitam o apoio da área

de RH que funciona como uma consultora, propondo a solução e o

treinamento adequado àquele momento.

Page 224: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

214

i) Kits de Orientação

O RH necessita de agilidade para oferecer seus serviços de

consultoria. Um dos recursos para conquistar a maior eficiência e eficácia

neste projeto foi criar kits de orientação e treinamento aos funcionários para

que todos tenham informações seguras sobre como lidar com temas como:

Excelência ao Conduzir o Carro, Excelência nas Entrevistas, Programa de

Integração dos Novos Funcionários, Capacidade de Negociar.

j) Convenções e Encontros

Objetivam a consolidação da cultura LOCALIZA e a integração e

motivação constantes. Bienal, a Convenção Nacional completou sua sétima

edição em 1992. Em março de 1994 aconteceu a primeira Convenção

Internacional com a participação de 366 pessoas, dos quais 216

franqueados do Brasil e Exterior.

Nesses eventos foram apresentados os planos da LOCALIZA para os

dois anos seguintes. Os presidentes das montadoras Fiat e Autolatina

destacaram-se entre os palestrantes convidados.

Os temas anuais da empresa são alcançados e reforçados ao longo

destes encontros. Toda a decoração das instalações é baseada no tema,

como por exemplo, em 1992, quando tema foi Eficácia Operacional,

apoiando-se no desempenho das equipes de Fórmula 1 .

. 16. 3. Programa de Comunicação

A Comunicação Interna foi a arma para transmitir novos ideais e

convencer a todos, que podiam e deviam assumir a responsabilidade de

alcançar a Excelência.

Para a LOCALIZA, llquem não recebe informação não pode assumir

responsabilidades, mas quem a recebe não pode deixar de assumi-las". O

desenvolvimento do sistema de comunicação interna com os funcionários é

Page 225: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

215

efetivo, passando a levar informações relativas à empresa e ao mercado

para todos os funcionários.

Por meio de boletins, informativos emitidos por área, jornais de

agregação comunitária, manuais (reestruturados anualmente) e boletins de

RH, a área de comunicação da LOCALIZA trabalha para que nenhum

funcionário saiba qualquer assunto referente à empresa por intermédio de

terceiros.

Os fatos mais importantes do mercado de locação de carros também

são passados regularmente para todos os funcionários através dos veículos

de comunicação interna.

Assim, todos sabem o que está acontecendo na empresa e no

mercado. O funcionário se sente preparado e valorizado para se situar no

contexto e tomar decisões.

O Sistema de Informações de Marketing, Operações e Finanças, foi

todo readequado para descentralizar o nível de conhecimento necessário à eficaz tomada de decisão e estimular a ação descentralizada.

O estímulo à participação também foi realizado pela Comunicação

Interna com a criação do Banco de Idéias, aberto a funcionários e clientes.

Tendo como princípio responder a toda e qualquer sugestão, o sistema

começou a funcionar em 1992.

O Programa de Comunicação se compõe dos seguintes

subprogramas:

a) Privilege News

Publicação distribuída aos clientes internos e externos, que tem como

objetivo informar sobre fatos e notícias da. LOCALIZA, em relação à sua

atuação no mercado nacional e internacional. A tiragem é de 110.000

exemplares.

b) BIS- Boletim de Integração do Sistema

O BIS foi a primeira publicação interna da LOCALIZA. Foi lançado em

1984 e tem como objetivo informar o público interno sobre as atividades da

Page 226: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

216

empresa. O BIS é praticamente uma leitura obrigatória e natural de todos os

funcionários LOCALIZA.

c) Ver de Fato

Edição destinada a manter o relacionamento com o funcionário e sua

família, mantendo-os integrados aos objetivos da empresa. Traz

informações sobre variedades. É publicado em português e castelhano, com

tiragem de 2.000 exemplares que são enviados para a residência dos

funcionários.

d) Clipping

Periodicamente, as notícias publicadas na imprensa sobre o setor de

locação de carros e a própria LOCALIZA, são agrupadas e circulam pela

. empresa. É um meio de manter os funcionários atualizados sobre o mercado

e a concorrência.

e) Informativos das Áreas

Específicos, os informativos não têm uma periodicidade definida, mas

são editados em função da necessidade imediata de uma divisão divulgar

acontecimentos para a equipe.

A LOCALIZA, desde 1991, edita os informativos: RH, Atendimento,

Franchising, Aluguel Diário, Aluguel de Frota, Carros Seminovos,

Manutenção e Financeiro. São leitura obrigatória.

f) Manuais de Orientação

Os Manuais são criados para documentar os critérios e políticas de

RH e orientar as chefias sobre Recrutamento e Seleção de Pessoal,

Benefícios e Política Salarial. São distribuídos para o público interno.

g) Temas Anuais

A LOCALIZA anualmente adota temas para disseminar por toda a

companhia o conceito predominante na corporação. Os temas anuais

adotados em 1991, 1992 e 1993 foram "Em Busca da Excelência", "Eficácia

Operacional" e "Visão Compartilhada", respectivamente. Um instrumento

Page 227: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

217

para consolidação dos conceitos adotados são os vídeos motivacionais

exibidos em convenções, encontros e visitas da diretoria às filiais. A

visualização dos conceitos buscados, geralmente através de analogias,

torna sua compreensão e absorção mais eficazes.

h) Atenda com "SIM"

Este subprograma é uma campanha interna, lançada no final de

1993, visando a melhorar a comunicação externa e interna da empresa.

Baseia-se · em dois aspectos da comunicação: Simpatia e Interesses

Máximos- "SIM". Para divulgá-la internamente, foram utilizados estandarts,

cartazes, bottons e selos adesivos. Ao mesmo tempo, foi editado o livro

"Máximos do Atendimento Localiza", segundo volume das "Edições em

Busca da Excelência", o qual procura sintetizar a cultura de atendimento da

empresa.

17. Programa de Qualidade

Em janeiro de 1995, foi implanto o Programa "Qualidade Total

Localiza - QTL", que pretende envolver todos os funcionários na nova

filosofia que, segundo Eugênio Mattar, pretende consolidar as práticas de

gestão orientadas para o cliente que a empresa sempre desenvolveu, porém

não de uma forma estruturada. Inicialmente, todos os funcionários estão

recebendo o livro "Iniciando Conceitos em Qualidade Total" como base

conceitual do Programa.

18. Os Resultados Alcançados

Dada a filosofia de Integração entre Recursos Humanos e Marketing

(Endomarketing) que orientam todos os esforços da empresa nos últimos

quatro anos e levou à prática de inovações gerenciais ao longo daquele

período, pode-se avaliar os resultados de todo o esforço de gestão, tendo

como base alguns indicadores nas ·duas áreas mais envolvidas (Recursos

Humanos e Marketing) e resultados globais.

Page 228: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

218

De acordo com relatórios recentes da empresa, cedidos para a

elaboração deste estudo de caso, poderão ser avaliados os seguintes

indicadores:

18.1. Na área de Recursos Humanos

• Salários e Benefícios

A partir de 1991, a quantidade global de salários pagos pela

LOCALIZA tem aumentado. Neste ano, o pagamento de salários base mais

ATS (Adicional por Tempo de Serviço) totalizou US$6,7 milhões. No ano

seguinte, a quantidade paga somou US$7,7 milhões. e no ano passado

atingiu quase US$8 milhões. No período de 90 a 94 a massa salarial

dobrou, mesmo com o decréscimo do número de funcionários.

Aos salários agregam-se os benefícios oferecidos pela empresa, cujo

montante de investimentos esteve acima de US$ 1 milhão, fechando 1993

com US$1, 170 milhões.

• Remuneração Variável

Premiação mensal e participaçâo nos lucros

A premiação por resultados, instituída desde 1990, garantiu aos

funcionários recursos sempre superiores a US$500 mil. Entretanto, as

mudanças implementadas começaram a apresentar resultados mais

expressivos a partir de 1993, quando o volume de prêmios pagos foi de

aproximadamente US$ 635 mil. O alto desempenho dos profissionais

LOCALIZA nos primeiros quatro meses do ano fazem a empresa projetar um

pagamento de prêmios em 1994 no valor de US$ 1 ,2 milhão.

Quanto à participação nos lucros, a empresa cumpriu o acertado com

sua equipe, destinando US$224,8 mil do lucro de 1990, que foram pagos em

1991. No ano seguinte, 1992, a quantidade caiu para US$ 1200,2 mil face à

queda de faturamento ocorrida em 1991. O prejuízo de 1992 não impediu

que a direção da LOCALIZA adotasse, em 1993, uma medida ousada:

anteciparam o pagamento de parte dos lucros projetos, num total de US$

175,6 mil. Agora, em 1994, a empresa paga mais US$ 400 mil, referentes ao

Page 229: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

219

lucro de 1993. Para 1994 projeta-se uma distribuição em 95 superior a US$

1,0 milhão.

• Rentabilidade por funcionário

A rentabilidade média por· funcionário é o índice que demonstra

claramente o acerto da LOCALIZA em alterar sua gestão empresarial. O

lucro líquido por funcionário atingiu em 1990 um grande resultado, US$8,9

mil/funcionário. A partir do ano seguinte, num quadro recessivo onde os

preços de locação caíram 40% reais e o patrimônio sofreu um baque de

20% pela redução do valor dos carros, a rentabilidade baixou para US$3,5

mil/funcionário e em 1992 foi negativo.

• Funcionários Satisfeitos

Os atuais 700 funcionários estão totalmente adaptados ao novo

modelo de gestão empresarial. A LOCALIZA pesquisa periodicamente o

clima organizacional comparando com o mercado e empreendendo ações

de melhoria e correção. Nesta área a LOCALIZA já é um "benchmark".

Diversas empresas a visitam todos os anos para conhecer seus métodos de

operação.

A LOCALIZA é a empresa que mais investe na formação de mão-de­

obra para o setor de aluguel de carros, cumprindo seu papel de empresa

líder.

18.2. Na área de Marketing

• Número médio de locações por funcionário

O índice de produtividade locação/funcionário tem aumentado

constantemente.

Com base nos 5 primeiros meses do ano, para 1994 a LOCALIZA

projeta uma produtividade de 245,9 locações/funcionários em 1993 este

índice foi de 216,0 e em 1992 foi 194,7.

.,

Page 230: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

220

• Número de carros (da frota) por funcionário

O aumento de frota elevou o índice de 7,9 em 1993 para 9,4 em

1994.

• Encantamento dos clientes

A carteira de clientes atingiu o número de 400 mil pessoas físicas e

jurídicas em 1994, sendo a LOCALIZA líder de mercado, percebida como

líder pelo público, como empresa de maior qualidade no setor, e com a

marca mais conhecida (Pesquisa independente realizada pelo DataFolha

em 1993)

18.3. Resultados Globais

• Crescimento da empresa ·

O sistema Localiza permanece líder no setor de aluguel de carros no

Brasil, detendo 25% do mercado. O Sistema conta com 301 agências, sendo

250 franqueadas no Brasil e América Latina. Diretamente, o Sistema

emprega 1,9 mil funcionários dos quais 700 pertencem a Localiza Rent a

Car, que estão comprometidos em obter, ao final de 1994, um resultado

20% superior ao faturamento do ano anterior, da ordem de 136 milhões,

com lucro líquido de 3,1 milhão. Todas as ações de Educação e

Comunicação são repassadas para todo o Sistema.

O atendimento de locações diárias e terceirização de frotas é

realizado com 10,5 mil carros e está desenvolvendo um programa de

renovação de seus automóveis para chegar no final de 1994 operando 13

mil veículos, correspondendo a crescimento de 20%. A LOCALIZA de

janeiro a junho de 1994, cresceu 30% em relação ao mesmo período no ano

de 1993. No período de 90 a 94, cresceu 160% em seu volume de negócios.

A empresa dobrou de tamanho nos últimos dois anos em volume de

negócios. O número de clientes foi para a casa de 400 mil. O número de

funcionários estacionou em 700. .,

Page 231: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

221

• Processo de Gestão

A transferência de autoridade para as pontas já está concluída. A

prova de que deu certo está nos números do primeiro semestre de 1994,

projetando crescimento de 30% ao ano no volume de vendas e com

rentabilidade assegurada. Prova disso é a média da premiação mensal que

já ultrapassou 30% nos primeiros 5 meses do ano de 1994, atingindo um

índice de 36%.

• Consolidação de Valores

Os valores LOCALIZA estão disseminados pela empresa. As

expectativas dos clientes orientam as ações da organização. A valorização

dos indivíduos é um compromisso realizado todos os dias. A ética nos

relacionamentos está no cotidiano de cada funcionário.

O zelo pela imagem da empresa frutifica da consciência de que o

negócio da LOCALIZA é serviço, e não apenas aluguel de carros. O espírito

empreendedor e participativo vem da busca constante da eficácia de uma

equipe talentosa e motivada.

19. Análise do modelo de gestão

Ao longo do estudo de caso, observou-se nitidamente que a vocação

empreendedora da empresa, baseada na visão do seu líder e fundador,

Salim Mattar, propiciou crescimento contínuo para a LOCALIZA. As

dificuldades encontradas foram transformadas de ameaça em oportunidades

e os eventuais fracassos foram lições aprendidas.

Como principais práticas inovadas de gestão, a LOCALIZA vem

utilizando uma postura inovadora na aplicação de novas práticas de gestão;

assim, pode-se destacar suas principais ferramentas gerenciais

identificadas com os novos modelos de gestão:

Page 232: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

222

a) Gestão Empreendedora

• Estrutura descentralizada e flexível, através de Unidades de

Negócio Autônomas (Centros de Responsabilidade de Negócios);

• estilo inovador dos dirigentes e gerentes;

• sistema de premiação dos funcionários por resultado individual;

• integração entre Recursos Humanos e Marketing (Endomarketing);

• postura de toda a organização orientada para o cliente (áreas

matriciais x áreas de negócios);

• parceria com outras empresas (manutenção de frota,

compartilhamento de desenvolvimento de software's e outros);

• a flexibilidade para mudança frente às crises ambientais.

b) Administração Participativa· ·

• Comprometimento dos funcionários com a missão da empresa;

• descentralização das decisões ao nível da unidade de negócio

("hora da verdade");

• integração intra e intergrupal.

c) Administração Holística

Segundo Eugênio Mattar, a empresa busca a visão holística, na

medida em que dirigentes e gerentes procuram ter uma visão de toda a

empresa e transmiti-la aos funcionários: o Endomarketing tem sido

importante para disseminar este tipo de visão.

O Programa de Qualidade, recém-implantado, de acordo com a

orientação que vier a receber nos próximos meses, poderá receber

Page 233: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

223

influências da administração japonesa, sobretudo no que diz respeito à

participação dos funcionários em equipes de qualidade total, à busca de

consenso grupal e à parceria com outras empresas, principalmente

fornecedores, que também deverão aderir à filosofia da qualidade para

garantir a qualidade do processo.

No entanto, fica evidente que a LOCALIZA é uma empresa que

predominantemente aplica práticas gerenc1a1s da Administração

Empreendedora. Tal conclusão é referendada por seu líder, que não só

adota pessoalmente este estilo, como também incentiva outros dirigentes e

gerentes a serem empreendedores.

Page 234: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

.. ESTUDO DE CASO 2: ,

METODO ENGENHARIA

Page 235: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

225

ESTUDO DE CASO 2: MÉTODO ENGENHARIA

Uma das empresas mais destacadas no setor empresarial brasileiro,

tendo recebido o Prêmio de "Melhor Empresa do Ano" da Revista Exame,

em 1992, a Método Engenharia conseguiu obter sucesso empresarial numa

trajetória de pouco mais de 20 anos, atuando num segmento de mercado - a

construção civil- nitidamente conservador e reativo à mudança.

Assim, a empresa tem tomado medidas aparentemente ousadas, mas

que refletem o amadurecimento de um modelo de gestão baseado no

___ processo participativo, no qual dirigentes, gerentes e funcionários têm se 'c '' '~·:' .. ' ' •

comprometido com os resultados globais da empresa.

A elaboração deste estudo de caso foi baseado em entrevistas

pessoais com dirigentes da organização, Hugo Marques da Rosa e Victor

Henrique Foroni (sócios-fundadores) e Oscar Simões- Diretor de Recursos

Humanos, bem· como em pesquisas de publicações e de material

institucional cedido pela empresa.

1. Os antecedentes à criação da empresa

Segundo Hugo Marques da Rosa, um dos dois sócios-fundadores da

Método, analisar a história da Método exige entender a história dos seus

empreendedores. As posturas, valores e princípios que nortearam o

nascimento e o crescimento da empresa estão muito relacionados à sua

filosofia de vida.

Segundo Hugo, ele recebeu duas influências importantes na sua vida: ,,J •

a primeiro foi de seu pai que, tuberculose;>, se dedicou à Medicina para

encontrar meios de resolver não só o seu problema, como de tantas outras

pessoas que tinham tal doença. Era a visão da procura por um ideal de vida.

A segunda influência ser refere à sua vida de estudante secundário.

Seus professores eram jovens e o sistema de ensino enfatizava muito a

liberdade e o sistema ,participativo dentro da classe. Não havia provas, .? sistema de aprovação era pela avaliação dos professores. Não havia

Page 236: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

226

sabatinas, como ocorria em outras escolas. A avaliação era feita

basicamente em função do desempenho e da participação dos alunos

durante as aulas, durante os debates e pelos trabalhos em grupo.

Normalmente as atividades eram feitas em grupo. Assim, teve seu primeiro

contato com um sistema participativo.

Mais tarde, veio para São Paulo, onde prestou vestibular para a

Escola Politécnica da USP, onde optou pelo -Curso de Engenharia

Mecânica. Foi então morar nos alojamentos da Universidade, já que não

tinha recursos financeiros para alugar ou dividir um apartamento. Este fato

acabou contribuindo muito na sua formação de caráter, tendo influência em

sua postura profissional.

Ocorre que, naquele período (fins da década de 60), com o

recrudescimento do movimento estudantil, tanto a nível mundial como no

Brasil, houve uma radicalização política. O Governo decide fechar o CRUSP

e, de repente, ele se vê sem local para morar. Quais seriam suas

alternativas que outros colegas seguiram? Fazer estágio ou dar aula em

Cursinhos pré-vestibular. A primeira alternativa não garantiria sua

sobrevivência; a segunda ele não aceitava politicamente, por ser contra este

tipo de educação.

A solução parecia ser uma só: tornar-se empresário.

"Sendo empresário", diz Hugo,

não teria compromissos de horário, poderia trabalhar entre uma aula e outra, na hora do almoço. Além do mais, como empresário teria autonomia, teria independência, não ficaria restrito a determinado compromisso com uma empresa. Contudo, como ser empresário se eu não tinha condição de sobreviver?

Com uma pequena poupança familiar, juntou-se com alguns colegas

e montou, em Diadema, uma fábrica de blocos: alugaram umas máquinas

encostadas e um terreno, com determinado prazo de carência para pagar o

primeiro aluguel em troca de benfeitorias necessárias. Com as máquinas,

conseguiram também uma carência para pagar os primeiros aluguéis. O

investimento, assim, foi pequeno e nem utilizou toda a poupança disponível,

sobrando um pouco para sobreviver. Como a fábrica funcionava desde as

sete horas da manhã ele precisa estar presente, era obrigado a uma

Page 237: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

227

verdadeira maratona diária para comparecer duas vezes por dia à

universidade, mas conseguia compatibilizar ambas as atividades.

Segundo Hugo,

dos fatos marcantes dessa época, ocupou o primeiro lugar a absoluta inexperiência. Para se ter idéia, quando conseguimos montar a fábrica e começar a produzir os primeiros blocos, a primeira venda foi feita à vista. Não se imaginava como vender a prazo sem capital de giro.

Ele confessa que não sabia como fazer uma venda a prazo e que só

depois das primeira vendas foi perguntar ao contador o que era fatura e

duplicata que os clientes lhe pediam.

Iniciamos nossas atividades com pouquíssimos trabalhadores, meia dúzia deles, e conhecíamos visualmente as pessoas. Chegando à fábrica às 7 horas, em uma manhã notei a ausência de um dos operários e perguntei: "onde é que está o fulano?" "ele não veio, não vem mais, pediu demissão 11

• Fiquei profundamente chocado por ser um empresário idealista, um sujeito que queria o melhor possível para os seus trabalhadores e, de repente um deles pedia demissão, não queria trabalhar na empresa, não me queria como patrão. Era meu primeiro grande problema a ser. administrado na área de recursos humanos. O que fazer? Peguei o endereço do cidadão e fui à casa dele para conversar, saber o por quê de não querer mais trabalhar na empresa. Sem sabét, eu estava fazendo minha primeira entrevista de desligamento.

Começou também a aprender sobre marketing, disse ele. Observava

a ação do principal concorrente, que tinha um custo menor dos seus

produtos, pois ele mesmo comprava e transportava as matérias-primas e

nem pagava impostos, trabalhando na informalidade. Havia outro

concorrente, de porte maior, com capacidade financeira para vender a longo

prazo, entre outras vantagens para os clientes. Concorrendo com o primeiro

nas vendas menores .e com o segundo nas maiores, era preciso encontrar

uma solução.

Encontramos duas saídas. Havia, como ainda existe, legislação obrigando os proprietários a murar os terrenos desocupados e fazer calçadas. Como tínhamos um colega da faculdade que trabalha na prefeitura, conseguíamos receber informações sobre as pessoas que estavam notificadas para murarem seus terrenos. O sujeito recebia a notificação da prefeitura e no dia seguinte recebia a visita nossa. Oferecíamo-nos para construir o muro para ele. E nesse tipo de prestação de serviços também tínhamos concorrentes, porque como hoje, havia enorme número de empresas especializadas na

· construção de muros e calçadas. No entanto, como fábrica de

Page 238: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

blocos tínhamos vantagem competitiva, porque normalmente essas empresas compravam blocos de terceiros. Como chegávamos junto coma notificação da prefeitura, o cliente não precisava procurar pelo serviço e por vantagem competitiva, pois nosso custo era menor por utilizarmos os blocos que fabricávamos.

Essa foi a saída típica de marketing: descobrimos um segmento de mercado no qual usar nosso produto e com vantagem competitiva.

Além dessa, descobrimos outra saída: o bloco é um produto muito pesado; de baixa densidade de custo, ou seja, tanto a matéria-prima quanto o transporte têm custo elevado relativamente ao peso do produto. Além de considerar-se o ICM incidente sobre as Vendas. Se os blocos fossem fabricados no próprio canteiro da obra haveria economia de frete e de impostos, porque não existia incidência de ICM. Assim, começamos a oferecer às construtoras - no caso de grandes conjuntos habitacionais a serem construídos com blocos - a montagem de uma fábrica de blocos no próprio canteiro da obra. Com a isenção de frete e imposto, com a matéria-prima comprada em nome da construtora, tínhamos condições de cobrar apenas pelo nosso serviço e ter preço mais competitivo.

228

Assim surgiu a primeira obra: uma construtora havia iniciado um

conjunto de casas populares em São Bernardo e contratou os serviços da

empresa para murar o terreno e administrar a fábrica de blocos da obra.

Como a construtora estava em crise administrativa e financeira, acabou

repassando toda a obra: eram 28 c~~as a serem construídas num prazo de

90 dias.

Aceitamos o desafio; era nossa primeira chance de fazer uma coisa maior. Havia, porém, uma dificuldade:· nunca tínhamos entrado numa obra. (. . .) Nós não entendíamos absolutamente nada de construção civil, não tínhamos a menor experiência.

Para agravar a situação, o engenheiro não aparecia na obra, o

projeto não estava detalhado e não havia planejamento de suprimentos.

Como nessa época eu ainda cursava a faculdade, fazendo mecânica de produção, comecei a perceber que a construção civil era uma área extremamente fértil para um engenheiro de produção, o que não ocorria em uma indústria mecânica.

"Entretanto", prossegue Hugo,

em um setor como o da construção civil, totalmente desorganizado, com pequenos investimentos conseguiam-se grandes avanços. Quanto mais desorganizado um setor, quanto mais primitivo o estágio de organização de determinado setor, maiores avanços são conseguidos com os mesmos recursos. Assim, a construção civil pareceu-me uma área extremamente fértil. Inclusive, foi-me propiciada a oportunidade de, nessa experiência, elaborar mel!

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(' . .

Page 239: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

trabalho de formatura, sobre planejamento e controle de produção em construção civil dentro de uma obra.

Ao término dessa primeira obra recebemos convite para auxiliar na administração de uma construtora concordatária, mas com certo volume de bons contratos. Aceito o convite, fomos tentar gerir essa empresa. Foi uma rica experiência administrar na crise, dentro de maior grau de dificuldade. Adquirimos grande experiência em relacionamento com bancos, fornecedores, planejamento financeiro; foi uma espécie de madureza em administração financeira.

Essa empresa também fazia obras públicas. Foi nosso primeiro contato com o setor que, aliás, não diferia muito do das obras privadas. Os projetos eram bastantes rudimentares, as obras dirigidas pelos mestres, não ·havendo na empresa outro engenheiro, além do dono. A parte de suprimentos era absolutamente desorganizada.

De qualquer forma, a empresa não tinha estrutura de empresa. O engenheiro começava a trabalhar como profissional liberal, fazendo obras. De repente, surgem mais algumas obras e ele começa a montar uma peque estrutura: um pequeno escritório, uma secretária. Depois de algum tempo, um mensageiro e a empresa ia crescendo, apesar de o engenheiro não deixar de ser um profissional liberal. Muitas vezes, no nascedouro das empresas construtoras, no Brasil, é que as empresas são geridas, são organizadas como um prolongamento de uma atividade profissional liberal.

Após a experiência com a construtora concordatária, da qual saímos com um patrimônio em cessões -de crédito, fomos convidados a trabalhar com outra empresa construtora - mais organizada, mas com um sócio extremamente centralizador, incapaz de delegar decisões - e a única coisa positiva dessa experiência foi exatamente a lição aprendida pelo lado negativo, ou seja, não ser possível realizar algo com autonomia, sem liberdade."

2. O nascimento da Método Engenharia

229

A falta de autonomia, descrita na situação antecedente, foi a grande

motivação para criar a Método Engenharia. A oportunidade surgiu com a

possibilidade de ter que construir um galpão para uma fábrica de herbicidas

e inseticidas líquidos, que estava se relocalizando em função de problemas

ambientais; mas, era um desafio para os empreendedores, pois em 45 dias

seria iniciada as montagens dos equipamentos para iniciar a produção nos

90 dias seguintes.

Resolvemos fazer uma proposta para a execução dessa obra. Ainda não tínhamos uma empresa. Precisávamos de um nome e de papel timbrado para elaborar a proposta. Sentamo-nos, fizemos uma lista

Page 240: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

e escolhemos o nome Método porque tinha a ver com o que pensávamos em termos de organização de uma empresa e, ao mesmo tempo, era uma palavra comum. Já havíamos percebido que uma das coisas importantes para a imagem de uma empresa construtura era a tradição. Como montar uma empresa nova que tivesse tradição? Resolvemos adotar como nome uma palavra que fosse absolutamente comum, lida pelas pessoas nos jornais, nas revistas, no dia-a-dia, e escrita com um tipo de letra parecido com a de jornal. Ao verem Método escrito com aquele tipo de letra as pessoas deveriam achar que já haviam visto aquilo 50, 100 vezes na vida, ficando a impressão de uma empresa muito antiga, conhecida. E isso funcionou. Com menos de um ano de atividade, encontrávamos pessoas que diziam: "Já conheço a empresa de vocês há alguns anos", disse Hugo.

230

A esposa do sócio, Victor Henrique Forani, escreveu Método com

letraset em uma folha de papel, que foi reproduzida. Assim foi feita a

primeira proposta e até hoje a empresa mantém a comunicação visual

"criada" para regularizar sua situação.

Segundo Hugo,

a Método tinha por objetivo básico inicial crescer. Por que? Porque quando se parte do zero, tem-se de crescer, criar uma massa crítica, sem pensar em racionalização: .aumento de produtividade de zero é zero! Assim, o objetivo básico dos primeiros tempos foi crescer, a qualquer custo, de qualquer maneira, para depois, tendo volume de negócio, poder organizar e racionalizar.

Tínhamos visão um pouco mais estruturada de marketing, além da assessoria externa de uma grande empresa prestadora de serviços na área de assessoria de imprensa, a qual produzia um jornal interno, o que na época era absoluta novidade. Eram poucas as empresas no Brasil que contavam com assessoria de imprensa e no setor de construção civil provavelmente nenhuma.

Esse jornal interno - o Hora Prêmio - foi um dos precursores do jornalismo de empresa no Brasil. ·

Por outro lado, diz agora Victor Foroni,

o mercado de construção civil era muito favorável. Havia grandes projetos em execução. As grandes empresas brasileiras dedicavam­se a grandes obras - hidrelétricas, rodovias -, que tal porte que as como o metrô de São Paulo e a ponte Rio-Niterói foram inicialmente executadas por médias empresas.

Em um mercado que crescia 15% ao ano, com empresa não­aparelhadas do ponto de vista tecnológico para enfrentar esse crescimento, sobravam obras. A Método, no início, direcionou-se mais para o segmento de obras públicas, pela facilidade oferecida

Page 241: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

no mercado. As empresas podiam optar pelo volume de obras que lhes interessava assumir num determinado momento.

3. A filosofia de gestão

A Método Engenharia, segundo Hugo,

é o produto de uma sociedade de duas pessoas com personalidades muito diferentes, cujo resultado é exatamente a conseqüência da interação e da soma dessas duas personalidades. Dentro da

. empresa sempre tivemos maior vocação para determinadas áreas. A minha sempre foi pelas áreas de marketing, financeira e, algumas vezes, recursos humanos. A vocação de meu sócio - Victor Henrique Foroni - é para a produção, além de às vezes, dedicar-se também a finanças e recursos humanos.

Como deve-se proceder para dirigir uma sociedade com partes rigorosamente iguais? Dizem que a empresa deve ter sempre um número ímpar de sócios; alguém para desempatar. Como se desempata em uma sociedade formada por pessoas com personalidades muito diferentes, na qual as funções são divididas?

Temos, dentro da empresa, um processo de decisão no qual cada sócio tem a última palavra em sua área. Isso não significa serem as decisões tomadas unilateralmente. O que costumo fazer quando tenho novas idéias é discutí-las com meu sócio. Quando sua opinião é frontalmente contrária à minha, e isso acontece com freqüência, não significa que simplesmente vou decidir pela minha idéia ou abandoná-la. Procuro o desempate ouvindo outras pessoas da organização, e até pessoas de fora dela, numa tentativa de obter subsídios sobre a questão. Procuro levar em conta não o achômetro, no qual as pessoas acham que a posição A ou 8 está correta, mas os argumentos que usam para defender uma ou outra posição. A decisão é sempre tomada em cima de argumentos.

É dessa forma que dirigimos a organização: se eu tiver determinada opinião, contrária à de meu sócio, e perceber, conversando com cinco pessoas, que todas elas têm opinião contrária à minha, provavelmente estarei errado e então deverei reformular meu pensamento . . Provavelmente irei decidir diferentemente daquilo que de início havia pensado, porém a decisão é minha. Esta é a fórmula que encontramos para conseguir conviver.

231

No entanto, segundo Oscar Simões, Diretor de Recursos Humanos,

para atingir este nível de gestão, a empresa passou por uma fase de

"esquizofrenia". Havia reuniões e debates em excesso, entre representantes

dos diversos níveis hierárquicos e setores. De outro lado, a empresa nascia

Page 242: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

232

com base em uma estrutura departamentalizada, o que dificultava o

processo participativo.

O Diretor de Recursos Humanos, Oscar Simões, disse que,

quando empresas de nosso porte ainda falavam em departamento pessoal, já pensávamos em área de recursos humanos. Nossa ambição era ir além de um departamento pessoal, era realmente constituir uma área de recursos humanos. A Método, desde o início de suas atividades, tinha um sistema de participação nos lucros para os funcionários, inicialmente, restrito ao pessoal do escritório, inclusive a faxineira e os office-boys, uma vez que os funcionários de obras recebiam prêmio de produtividade ao terminá-las.

Tínhamos ainda grande preocupação com clima organizacional e motivação, coisas de que também não se falava. A primeira pesquisa sobre clima organizacional da Método foi feita nessa fase, objetivando conhecer que os funcionários viam como pontos negativos e como pontos positivos na empresa e o que nós, sócios da empresa, precisávamos fazer para melhorar o clima da organização.

Já se percebia que o clima da organização dependia em grande parte

das atitudes dos sócios-diretores. Segundo Oscar Simões, a empresa tinha

dois estilos completamente diferentes de gestão e pela pesquisa feita

queríamos conhecer como isso era. visto pelo quadro de funcionários. A

motivação dos funcionários era buscada, principalmente, através do

envolvimento dos sócios com os funcionários. Com pequeno quadro

funcional, a proximidade era maior. Semanalmente fazíamos reuniões com

os funcionários: toda sexta-feira fazíamos churrascos com a participação de

todos; qualquer acontecimento era festejado na empresa, desde o

aniversário do office-boy, gerando sentimento de equipe muito grande e

sendo forte fator motivador.

4. A primeira fase da empresa: 1973- 1982

Nessa primeira fase, iniciada em 1973 com a fundação da empresa,

até 1982, foràm feitas algumas tentativas de racionalização e instrualização

em algumas obras. Uma das tentativas mais marcantes foi realizada na área

de habitação popular. Elaborou-se um projeto e, numa tentativa de

industrialização, consegui-se viabilizá-lo. O projeto e seu custo eram

competitivos com relação ao mercado, porém, naquela oportunidade, após a

Page 243: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

233

construção de mil casas - parte de um grande contrato realizado com a

Cohab de São Paulo -, a contratante decidiu substituir o projeto pela

construção de apartamentos. O sistema da empresa não se adaptava ao

novo projeto e, assim, suas máquinas estão até hoje enferrujando.

Tentativas desse tipo não foram bem-sucedidas porque, era sempre mais

fácil aumentar um cruzeiro no preço de venda do que reduzir um cruzeiro no

custo, o que desestimulava qualquer tentativa de racionalização.

Na área financeira, o objetivo prioritário era crescer com recursos

próprios. A empresa deveria se apoiar nas próprias pernas, reinvestindo os

lucros integralmente. Durante toda a história da Método, mas principalmente

nessa época, os lucros eram integralmente reinvestidos - não uma grande

parte, mas 1 00% dos lucros eram reinvestidos na empresa. Os sócios

retiravam apenas pro-labore calculado em função do que achavam que

conseguiam receber foram da empresa, se fossem trabalhar como

funcionários de outra organização, portanto, equivalente ao valor de

mercado de trabalho.

Nesse fase, as características principais da administração eram a

centralização das decisões, em es~il.o marcadamente paternalista, ênfase

nos resultados e, basicamente, determinação e disposição de aceitar riscos.

Entre as dificuldades dos primeiros tempos, havia a sazonalidade das

obras, que eram pequenas, com prazo médio de seis meses e, geralmente,

públicas, contratadas na mesma fase do ano- entre outubro e dezembro-,

. em função de orçamento, verba, etc. Dessa forma, o faturamento era

altamente oscilante, não havendo condição de manter quadro de pessoal

estável, o que dificultava extremamente a possibilidade de racionalização e

até de treinamento.

Havia um ciclo de crises com a redução das obras, quando a

empresa foi obrigada a reduzir a equipe. Com a contratação de novas

obras, a iniciarem-se ao mesmo tempo, o quadro desfalcado gerava crise de

produção. Comprando matéria-prima . e com as obras não conseguíamos

decolar, não havia como pagar os materiais adquiridos, o que gerava crise

financeira. Quando as obras finalmente entravam na fase em que conseguia

começar a receber e saía da crise financeira surgia a crise comercial

novamente. Era um ciclo de crises: comercial, produção, financeira ... Ciclo

Page 244: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

234

esse que não afetava somente a Método, mas todas as empresas que

executavam o mesmo tipo de obra. Não se conseguia ter um período com

produção andando normalmente e situação financeira equilibrada, além do

crônico atraso de pagamento das obras públicas.

A situação agravou-se com a crise do início dos anos 80 chegando

ao Brasil. A dívida externa tornou-se impagável e pelo acordo feito com o

FMI houve restrições nos investimentos fixos.

O governo brasileiro foi forçado a cortar o déficit público e, não

conseguindo cortar custeio, cortou o investimento. Cortar investimento no

setor de construção civil significava cortar obras. Essa crise econômica foi

particularmente grave nesse setor nos anos de 1983 e 1984.

Simultaneamente, começava a transição política no Brasil. Embora

persistisse o regime militar, começava a haver liberdade de imprensa, já se

começava a respirar um clima diferente no país. E a situação da empresa

dentro disso? Em 1982 ocorreram eleições municipais, quando as obras

estavam muito centradas em prefeituras de São Paulo e do interior. Com

vários prefeitos candidatando-se a outros cargos, essas obras eram

realizadas com base no ritmo político, para serem inauguradas antes da

eleições. Muitas obras foram executadas com atropelos, sem verbas

disponíveis para acompanhar o ritmo acelerado, andando à frente dos seus

empenhos.

A Método executava uma grande obra contratada com a prefeitura de

São Paulo, tocada em ritmo de 14 horas por dia, em três turnos, incluindo

sábados, domingos e feriados, na qual trabalhavam 1 . 700 funcionários

quando, de um dia para o outro, recebeu ordem da prefeitura para parar a

obra. "Fomos forçados a demitir os 1. 700 funcionários, o mesmo ocorrendo

com outras obras contratadas com outras prefeituras", disse Hugo.

No primeiro semestre de 1982 o faturamento estava em torno de US$

4 milhões por mês, mantendo cerca de 3.500 funcionários distribuídos entre

a Método e as demais empresas da Corporação atuando em construção

civil. Em seis meses esse contingente foi reduzido a 700, 800 funcionários,

ou seja, um corte de 80% do quadro funcional. Aliado a isso, atrasos e não­

recebimento de correção monetária por atraso de pagamento da parte de

Page 245: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

235

órgão públicos causaram a queda do patrimônio líquido à metade. Em 31 de

dezembro de 1982, o patrimônio líquido era a metade do possuído em 31 de

dezembro de 1981, ou seja, a metade do que fora construído em quase dez

anos perdida em seis meses.

5. A fase de crescimento e transição: 1983 - 1986

A segunda etapa da história da Método tinha como principal

estratégia de recuperação era capitalizar a empresa, o que só poderia

ocorrer se a mesma gerasse lucro. Nessa fase - 1983 a 1986 - o objetivo da

empresa deixou de ser o crescimento e passou a ser o lucro. Continou o

reinvestimento de 100% dos lucros, dimuindo a disposição de assumir

riscos, principalmente riscos financeiros.

Foi enfatizado o controle, basicamente através da informatização da

empresa. Iniciou-se um grande esforço, inclusive com a criação da empresa

- Método Informática, cujo grande objetivo era informatizar a Método em sua

totalidade. Buscou-se a redução de riscos pela seleção de clientes e pela

administração dos contratos, evit~~do-se executar obras sem recursos

empenhados. "Passamos a fazer a gestão financeira dos nossos clientes,

quer dizer, conhecer a situação financeira de nossos clientes melhor do que

eles mesmos", disse Hugo.

Por razões distintas, meu sócio e eu afastámo-nos um pouco da empresa, delegando sua estão a profissionais contratados. Iniciou­se fase de transição, passando-se, inclusive, a buscar executivos para os postos mais altos da organização.

Dentro da estratégia de assumir menores riscos, desenvolveu-se um

esforço de diversificação, começando a atuar na área de telefonia, no

mercado imobiliário e dando maior ênfase ao mercado de obras privadas. O

objetivo não era deixar de contratar obras públicas, mas ter atuação

equilibrada entre os dois setores - público e privado -, além de

empreendimentos próprios na área de incorporação, a qual oferece a

vantagem de "sermos os agentes, decisores, podermos dimensionar nosso

volume de negócios, contrabalançando, na área de incorporação, as

oscilações dos outros dois segmentos."

Page 246: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

236

Com a gestão profissionalizada da empresa, os dois sócios decidiram

sair da empresa e se dedicarem a atividades associativas (Associação

Paulista de Empreiteiras de Obras Públicas) e cursos no exterior.

6. A ·fase da diferenciação pela qualidade: 1986- 1990

Em 1986, após 13 anos de atividade, passava a se destacar no

segmento de construção civil. Foi considerada em 1986 e 1987 como a

empresa em melhor situação financeira no setor e tal resultado foi obtido

durante seis anos consecutivos.

Na visão de Hugo,

isso significava que nossos objetivos haviam sido atingidos. Porém, ao analisarmos nosso produto, constatávamos serem nossas obras rigorosamente semelhantes às da concorrência. Talvez a qualidade não fosse rigorosamente igual à média, mas comparável à das melhores empresas do setor, o que pouco significava. As empresas do setor de construção civil eram muito parecidas; nosso trabalhador era igual ao trabalhador das outras construtoras; o nosso engenheiro assemelhava-se ao engenheiro das demais construtoras; e o nível de problemas que enfrentávamos era o mesmo que os outros tinham.

Essa análise demonstrou-nos que, embora bem-sucedidos economicamente, nosso produto, intrinsecamente, tinha um valor igual ao dos outros. Talvez nosso sucesso resultasse de boa administração financeira, controles mais eficazes, reinvestimentos do lucro; mas nosso produto era semelhante ao de outras empresas e queríamos um produto diferenciado.

Surgiu então, algo, que poderia ser chamado de crise de produção -uma crise existencial dos sócios. Achávamos que só nos interessaria continuar com a empresa à medida que conseguíssemos fazer uma coisa melhor. Precisávamos de um desafio: realizar uma coisa melhor que o concorrente. Lucro, já havíamos provado que conseguíamos; já tínhamos provado a capacidade de conseguir. Só não havíamos conseguido provar sermos capazes de fazer uma coisa melhor.

Assim, no período de 1987 a 1990, com o retorno dos dois sócios à

operação da empresa, foram definidos novos objetivos: produtividade,

qualidade, agilidade e flexibilidade.

Segundo Hugo,

Page 247: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

buscamos produtividade, para que a empresa seja mais competitiva. Qualidade, para termos diferenciação e não sermos obrigados a vencer a concorrência, simplesmente por ter preço menor. Concorrer pu(a e simplesmente com preço é praticar concorrência predatória, A medida que se tenha produto de qualidade notoriamente superior, é sempre possível melhor enfrentar a concorrência. Agilidade e flexibilidade estão ligadas ao processo do ambiente em que vivemos, tanto quanto ao país, como a nível mundial. Em qualquer setor, seja ele econômico, social ou político, as mudanças são cada vez mais rápidas. As empresas somente conseguem sobreviver se em ritmo de mudanças aceleradas, respondendo com agilidade e flexibilidade. Agilidade relativamente à velocidade com que as empresas se adaptam às novas situações; flexibilidade quanto à própria capacidade de adaptação.

237

A partir destes quatro objetivos, a empresa precisava definir seu

modelo de gestão; porém, a estratégia para atingimento daqueles objetivos

era mudar a cultura do setor, cultura essa que, na construção civil, é

considerada como um grande entrave para a sua melhoria de qualidade.

Esta cultura é influenciada por um mercado excessivamente fácil e

favorável, desfrutado durante longos anos; é uma cultura marcada por vícios

- problema da economia brasileira como um todo: a mentalidade dos

cartórios e dos mercados protegidos.

Hugo descreve como esta cu_l~ura tem afetado o setor e como chega

às obras:.

A construção civil foi um dos segmentos protegidos, por lei de defesa de engenharia nacional. Esta lei, ao invés de defendê-la, acabou por prejudicá-la, em nada contribuindo para tornar as empresas do setor mais competitivas. O segmento da construção civil é marcadamente nacional, não por as empresas serem competitivas, mas por ter havido, de fato, reserva de mercado.

Do poto de vista de gestão, era uma cultura bastante autoritária: a do mestre-feitor, figura predominante na indústria como um todo, hoje já abolida, mas que persiste na construção civil. Como resultado, o operário só trabalha se tiver alguém em cima dele, exigindo trabalho.

Outra característica cultural é a execução da obra ser de responsabilidade do mestre, Em nossa área de atuação, que é a de edificações, a obra é feita pelo mestre. O engenheiro simplesmente passeia pela obra. Quem determina como proceder, impõe o ritmq e a organização é o mestre da obra. E quem é o mestre da obra? E o indivíduo que se iniciou na construção civil como ajudante. Por ser habilidoso, começou a imitar o pedreiro, o· carpinteiro, vindo a exercer essas funções e, posteriormente, com espírito de liderança, virou feitor, virou encarregado, virou mestre, sem ter recebido

Page 248: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

qualquer treinamento. O processo de formação na construção civil é basicamente de aprendizado por imitação.

7. A disseminação da filosofia da empresa

238

Dados os entraves à realização dos objetivos da empresa,

anteriormente definidos, devido àquela cultura do setor já descrita, a

empresa chegou à conclusão de que precisava mudar "a sua cultura". Como

se muda uma cultura? Hugo explica:

Começamos com a explicação da filosofia da empresa, a qual contradizia a cultura do setor. Iniciamos um treinamento objetivo, procurando passar aos funcionários a filosofia da Método, que tem quatro princípios básicos.

O primeiro princípio é fazer bem-feito, baseado na convicção de que o sucesso da empresa está ligado à sua credibilidade, a qual só pode ser obtida com qualidade. Qualidade não se consegue pelo simples desejo. Não adiante uma empresa querer ter um produto de boa qualidade, ela precisa se organizar para obtê-/o. A qualidade começa pela organização da empresa como empresa, por sua estrutura organizacional, passando por todas as etapas envolvidas no processo. Um produto bem-feito é resultado de projeto bem-feito, marketing bem-eito, venda bem-feita, treinamento de pessoal bem­feito, além de área de · ·recursos humanos capacitada, acompanhamento de produção, matéria-prima adequada. Não basta implantar controle de qualidade numa empresa se ele apenas demonstrar que o produto não é de boa qualidade.

O segundo princípio é que a empresa é um veículo soclal, propiciando o desenvolvimento das pessoas que nela atuam. E o desenvolvimento da empresa que alimenta o das pessoas e vice­versa, o desenvolvimento das pessoas alimenta o da empresa. Não existe empresa competente com funcionários incompetentes. Assim, é através do desenvolvimento dos funcionários que se consegue o desenvolvimento da empresa. E é essa a missão social da empresa: desenvolver as, pessoas, não só tecnicamente, mas socialmente, culturalmente. E o desenvolvimento do ser humano pleno - em nível cultural, social e político - que vai criar o desenvolvimento da empresa.

O terceiro princípio refere-se às relações do trabalho serem regidas por negociação e troca, num processo marcadamente democrático. A relação da empresa com seus funcionários é de negociação e troca, significando a abolição do paternalismo dentro da Método.

Finalmente, há o princípio da competência, condição essencial para a sobrevivência das empresas no final deste século, vivendo em processo de busca de liberdade, de democracia, extremamente

Page 249: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

acentuado. Hoje é constatado esse anseio mundial pela liberdade. Quando a filosofia da Método foi escrita, esses movimentos que estão mudando o mundo ainda não estavam em curso. Essa mudança percebida não ocorre apenas em nível de país, mas também nas estruturas familiar, escolar, empresarial, e na sociedade como um todo. Ao mesmo tempo, a democracia implica em regras de jogo muito claras. Dentro de um regime democrático não existe condição para favorecimento, cartório ou reserva de mercado. As empresas têm de se preparar para competir; só as empresas competentes conseguirão sobreviver dentro de um regime democrático.

Paralelamente, está ocorrendo um processo de internacionalização da economia: A concorrência não se limita às empresas nacionais. Mais cedo ou mais tarde a construção -civil irá enfrentar a concorrência internacional e, acredito, será mais cedo do que se imagina.

Além disso, há outro tipo de competição em torno do mercado de trabalho. O setor foi abastecido durante longo tempo por migrantes vindos do interior para as capitais, pessoas totalmente despreparadas profissionalmente e para o convívio urbano. A construção civil teve a missão de urbanizar essas pessoas.

Esses migrantes, durante a crise ocorrida em 198311984, acabaram desempregados, descobrindo ser mais fácil sobrevier em outro tipo de atividade. A economia informal cresceu com atividades na área de serviços: vendedores ambulantes, vigilantes de prédio, catadores de papel.

Quando o setor de construção civil começou a se recuperar, os trabalhadores não retornaram, uma vez que, na novas atividades, tinham condições de trabalho e melhores ganhos.

Uma pesquisa feita junto a nossos funcionários revela que a maioria deles não quer seus filhos trabalhando na construção civil; preferem que sejam motoristas, metalúrgicos, entre as mais diferentes profissões.

Resta saber como o setor vai sobreviver sem trabalhadores. A migração de outras regiões do Brasil - do interior para as capitais -está terminando. Hoje, temos quase 70% da população brasileira nos grandes centros urbanos e apenas 30% no campo, inverso do que ocorría ha 30 anos. Daqui para frente, o setor da construção civil vai ter que disputar esse trabalhador com o comércio, com a indústria, com outros tipos de atividade.

Para enfrentar a situação o setor precisa se preparar, pagando maiores salários e oferecendo melhores condições de trabalho. Como pagar maiores salários com baixa produção? O setor deverá se tornar competente. Terá de aumentar sua produtividade que, hoje, é aproximadamente um décimo da dos países desenvolvidos; ou seja, temos em uma obra semelhante, dez vezes mais trabalhadores do que a França, a Alemanha, os Estados Unidos, o

239

Page 250: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

Canadá. Nossa produtividade precisa ser multiplicada por dez! Não é uma questão de aumentar 20% ou 30%.

Condição essencial para ser competente é enxergar antes, é enxergar longe. Esse é outro dado da nossa filosofia. é Fundamental para que a empresa seja competente ter visão de futuro. Isso não significa antever a próxima medida que o governo vai ditar, o que seria impossível, mas os grandes movimentos da sociedade. Como estará o nosso país daqui a 20 anos? Daqui a 15 anos, como estará o mundo? Nossa preocupação no presente não deve ser com o plano econômico ou como sobreviver no futuro próximo., mas como vamos fazer para virar o século, como vamos estar no ano 2010.

O empresário brasileiro precisa aprender a ter visão de futuro e começar a se preparar para enfrentar crises. Na Método esse processo foi iniciado com a explicitação da sua filosofia e conseqüentes políticas de produção, recursos humanos e marketing, além de planejamento estratégico.

240

Também não adianta, segundo Hugo, um planejamento detalhado

para os próximos cinco anos, se as condições estão continuamente

mudando. Na Método, não temos planejamento estratégico, temos objetivos

estratégicos.

8. A implantação de um novo·modelo de gestão

Após discutida e disseminada por toda a empresa a filosofia de

gestão, o próximo passo era implantar um novo modelo de gestão, orientado

pela filosofia e voltado ao atingimento dos quatro objetivos. Segundo Hugo,

Para isto acontecer, era preciso buscar novas tecnologias, não só em nível de produção, mas também de gestão. Para tanto, não bastaria escolher algum modelo que deu certo e tentar implantá-lo. Era necessário saber o que estava acontecendo no Brasil e no resto do mundo, observar casos bem-sucedidos, sem adotar qualquer desses casos como modelo, mas aproveitando idéias, estudando um conjunto de idéias que poderia ser adaptado e criar um modelo próprio. Não existe maneira ideal de dirigir uma empresa, existem maneiras de dirigir cada uma delas. Nessa fase, a busca de motivação dos funcionários foi colocada como questão essencial. Procurou-se motivá-los através de ambiente adequado de trabalho, ambiente democrático, sistema participativo. Conseguimos bom índice de motivação com uma gestão mais democrática da empresa.

O que é gestão participativa? Em primeiro lugar, encaro a gestão participativa como um processo. Não algo que a empresa tenha imposto por modelo: "a partir de hoje decidimos ter uma gestão participativa." Só é possível praticar estão participativa se a empresa tiver cultura apropriada para isso. Não posso afirmar que a Método,

Page 251: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

hoje, seja uma empresa participativa. Acredito que ele é mais participativa do que era há um ano e que, provavelmente, no próximo ano será ainda mais, pois não se trata de um estado, mas de um processo.

Dentro· desse processo de participação, a condição básica é que a ideologia da empresa e sua filosofia estejam impregnadas nas pessoas e que essas pessoas passem a agir de acordo com tal ideologia. Há, inclusive, críticas a esse respeito na literatura, mas acredito ser condição essencial para que a gestão participativa ocorra a empresa ter forte ideologia, impregnada nas pessoas que a compõem. E o que eu chamo vestir a cabeça. Normalmente, os dirigentes querem que o funcionário vista a camisa da empresa. Eu prefiro que o funcionário vista a cabeça da empresa, ou seja, pense como a empresa pensa. Como se consegue isso? Esse procedimento faz parte de um processo de mudanças. Uma das formas de se conseguir a adesão do funcionário é fazer com que ele participe da formulação das políticas da empresa.

A filosofia da empresa é opção de seus acionistas, uma coisa não negociável; a pessoa concorda ou discorda. No entanto, as políticas que são a tradução da filosofia para as ações, para o cotidiano da empresa, essas devem ser feitas em conjunto com os funcionários. Como exemplo, nossa política de recursos humanos foi escrita em conjunto com os funcionários. Foram escolhidos representantes de todos os segmentos de funcionários - office-boys, secretárias, engenheiros, gerentes - e a política de recursos humanos foi definida por esse grupo de funcionários, depois de uma série de discussões. A redação dessa política inclui uma negociação e, a partir do momento em que é cohsensual, fica muito mais fácil de ser aceita e praticada por todos.

Para implantar a estão participativa é condição essencial a criação de uma cultura dentro da empresa e ideologia que permita isso. Dentro desse esquema participativo, um dado importante - mas não essencial - é a participação nos lucros, a qual precisa ser feita com certo cuidado, pois muitas vezes a busca do lucro compromete outros objetivos. Mesmo existindo participação nos lucros dentro da empresa, não é através dela que se chega à gestão participativa.

Com relação aos limites da gestão participativa, não adianta discutir com um pedreiro o planejamento estratégico da empresa, isso seria uma simulação. Acho que as pessoas têm de contribuir dentro dos limites de sua competência, à medida de sua capacidade, nas coisas que lhe dizem respeito. As condições de trabalho, por exemplo, têm de ser profundamente discutidas com os· funcionários, assim como a forma de remuneração, ou nosso política salarial.

241

Assim, implantou-se o "Modelo de Gestão" da empresa, o qual parte

do conjunto de valores definidos (filosofia), orientando as políticas de

recursos humanos, o processo de gestão (participativa) e a tecnologia a ser

adotada: com isso, a empresa busca atingir seus objetivos (qualidade,

produtividade, flexibilidade e agilidade), visando tanto satisfazer seus

Page 252: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

242

clientes como melhorar e preservar a imagem da empresa (missão). O

cumprimento dos objetivos e da missão implicará nos resultados

econômicos, que visam não só satisfazer os acionistas, como também

promover o crescimento e a perpetuação da empresa e satisfazer

plenamente os colaboradores, cuja resposta será alinhamento com os

objetivos da empresa.

MODELO DE GESTÃO DA EMPRESA

SATISFAÇÃO DOS

CLIENTES

SATISFAÇÃO DOS

CLIENTES

TECNOLOGIA

CRESCIMENTO/ PERPETUAÇÃO

RESULTADOS ECONÔMICOS .

················)

QUALIDADE PRODUTIVIDADE

FLEXIBILIDADE

GESTÃO

VALORES

SATISFAÇÃO DOS

ACIONISTAS

IMAGEM

RECURSOS

HUMANOS

Page 253: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

243

9. A nova estrutura organizacional

A estrutura organizacional da Método é o resultado de sua própria

história: não foi planejada e sim foi evoluindo até chegar ao estágio atual. A

empresa caminha para um modelo mais empreendedor, porém centrada no

processo criativo em equipe e não incentivando individualmente os

colaboradores talentosos.

As áreas foram sendo criadas ·de acordo com as necessidades; muitas vezes, a necessidade despareceu, mas a área confinou. O mais importante na empresa não é exatamente aquilo que está no organograma. Um dos problemas que enfrentamos é relativo à estrutura organizacional inadequada, herança dessa história e sobre a qual a empresa precisa agir.

Um dos nossos objetivos para o futuro é exatamente buscar uma nova estrutura organizacional, ou melhor, uma nova forma de organização. Esse trabalho já começou com a desmontagem do organograma. Há dois ou três anos, deliberadamente, não fazemos organograma da empresa. Não se sabe muito bem que é subordinado a quem, e criar certa confusão favorece demonstrar estrutura difícil de modificar, pois ela se protege. Para poder modificá-la é preciso apagar um pouquinho a memória de como ela era.

Estamos igualmente procurando reduzir os níveis hierárquicos. Na cúpula da empresa conseguimos eliminar dois deles. Tínhamos um diretor-superintendente de divisão dentro de cada departamento; hoje, praticamente, temos só dois níveis. Somos um processo em busca de nova organização. Não sei qual será - vai ter de ser buscada em conjunto com as pessoas que compõem a empresa.

Outra questão fundamental dentro da empresa é a comunicação. Para praticar gestão participativa, além de as pessoas estarem imbuídas da ideologia da empresa, devem receber informações sobre tudo o que acontece dentro dela: a empresa precisa ser transparente, possibilitando às pessoas o acesso a dados que habitualmente são sigilosos, como fluxo de caixa - quanto a empresa tem disponível, quanto vai . receber, qual o seu lucro, enfim, informaçõesgeralmente restritas à área financeira da empresa.

Na Método isso é absolutamente transparente. É elaborado um relatório gerencial, distribuído aos gerentes da empresa. Todos têm condições de saber qual é o saldo de caixa da empresa naquele momento, quanto vai ter no fim do mês, se há dificuldade financeira, qual o quadro de pessoal, qual é o índice de rotatividade, de segurança do trabalho, etc.

Para mim, gestão participativa é a pessoa ser parte da empresa; participar é ser parte e não colocar sugestão numa caixinha para ser examinada por um comitê. Participar é como ser parte de um corpo humano: cada célula do corpo humano tem o mesmo código

Page 254: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

genético. Se examinarmos cada célula do corpo de uma pessoa, o DNA de todas elas ter o mesmo código genético. Eu imagino que a empresa com gestão participativa seja uma coisa muito parecida. E para isso a comunicação é indispensável. Todo funcionário precisa ter acesso a todas as informações necessárias para poder pautar suas ações no dia-a-dia. Quando a Método recruta um executivo, fica muito atenta ao seu perfil, ao seu estilo de gerência e à sua forma de agir; se ele é uma pessoa autoritária, se pratica uma gestão mais democrática. O perfil do executivo da Método tem de estar intimamente relacionado com o tipo de gestão que a empresa pratica.

Os objetivos da Método para o futuro continuam sendo os mesmos de hoje:· produtividade, qualidade, flexibilidade e agilidade. A estratégia é a mesma, com uma pequena modificação: na área de recursos humanos enfatiza-se a busca de motivação pela auto­realização.

As pessoas, principalmente na franja superior da empresa, têm grande motivação pela auto-realização. Contudo, para se auto­realizar é necessário, antes, realizar e para realizar é preciso estar capacitado e qualificado. Assim, nosso esforço na área de recursos humanos volta-se para a Engenharia - objeto de nosso trabalho - e para o treinamento. Nesse sentido, foram feitos convênios com ·a Escola Politécnica, que montou um curso de pós-graduação específico para a Método, com um curriculum específico para complementar a formação de seus engenheiros no que foi identificado, ao longo do tempo, como necessário.

Ao mesmo tempo, estamos constituindo uma joint venture com uma empresa do Canadá, com o objetivo de enviar nossos engenheiros para treinamento no exterior, receber os engenheiros canadenses, para treinar nosso pessoal aqui, e desenvolvermos trabalhos em conjunto. No futuro deveremos operar em conjunto com essa empresa. Quer dizer, nada melhor para nos defendermos da concorrência externa do que conhecer perfeitamente como as empresas atuam no exterior. Identificamos uma empresa que tem um perfil de produto muito parecido com o nosso e vamos conhecer a sua tecnologia.

Finalizando, estamos hoje no meio de uma fase, adotando algumas mudanças de rumo. Talvez a principal delas seja a questão da motivação. Acreditávamos que pelo fato de terem ambiente propício, as pessoas iriam desenvolver alto potencial, através do qual obteríamos altas produtividade e qualidade. Verificamos que isso é importante, mas não suficiente, pois está faltando a ferramenta, que vamos procurar fornecer a partir de agora.

Nossa ênfase atual é a área de produção, ou seja, o produto de qualidade. A Método tem hoje uma boa imagem, porém, um bom produto é o melhor marketing que podemos fazer.

244

Mais recentemente, a empresa vem buscando parcerias, não só no

mercado internacional, visando buscar novas tecnologias, como vem

Page 255: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

245

detectando oportunidades de novos negócios no mercado nacional: assim,

desenvolveu uma parceria com a Promon, para ambas atuarem em conjunto

na implantação de novos sistemas de telefonia.

ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

-Marketing Institucional

-RH Estratégico

-Desenv. Organizacional

-Diversificação

ADMINISTRATIVO

FINANCEIRO

-Controladoria

-Financeiro

-Juridico

-Administração Sede

Page 256: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

246

11. Análise do modelo de gestão

Ao longo do estudo de caso, foi possível observar que,

historicamente, a empresa nasceu com uma característica empreendedora

(oportunidades aproveitadas pelos sócios-fundadores), mas durante o seu

processo de crescimento, foi se consolidando um modelo participativo de

gestão, ao ponto tal que levou o empreendimento a uma gestão

profissionalizada, que permitiu inclusive o afastamento dos sócios durante

quase quatro anos da direção dos negócios, período durante o qual a

empresa apresentou resultados financeiros excepcionais, que até lhe

propiciaram prêmios por este desempenho.

Com o retorno dos sócios, em 1990, o modelo de gestão se definiu

melhor, com a divulgação mais ampla da filosofia e dos objetivos

organizacionais. Isto permitiu a consolidação da empresa e seu perfil atual

se orienta para o estilo empreendedor, na medida em que a empresa busca

parcerias internacionais (aquisição de novas tecnologias) e exploração de

novos negócios sinérgicos à sua atividade principal (setor de telefonia, por

exemplo, em associação com a Prorhon).

Page 257: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

ESTUDO DE CASO 3:

INEPAR S.A. A

ELETROELETRONICA

Page 258: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

248

ESTUDO DE CASO 3: INEPAR S.A. ELETROELETRÔNICA

A INEPAR S.A. ELETROELETRÔNICA (que será denominada

simplesmente de INEPAR ao longo deste estudo de caso) é uma empresa

de capital nacional, criada em 1990, tendo origem na INEPAR S. A. Indústria

e Construções, parte de um grupo empresarial do setor de material

eletroeletrônico, com sede em Curitiba. A empresa tem duas fábricas, sendo

que a Unidade 1 atende o mercado de sistemas para indústria e construção.

A Unidade 2 é voltada para o mercado eletroeletrônico, sendo sua linha de

produtos constituída de produtos de alta tecnologia.

Para elaborar este estudo de caso, foram entrevistadas diversas

pessoas, entre dirigentes e gerentes, onde várias informações foram

levantadas por observação. Trata-se de uma empresa aberta e transparente

para informações, sem medo de mostrar seus erros e acertos, o que é típico

de uma empresa inovadora.

•• o

1. A evolução histórica da empresa

A INEPAR é atualmente o maior fabricante brasileiro de

equipamentos eletrônicos, elétricos e eletroeletrônicos destinados a

geração, transmissão, utilização de energia elétrica, hoje atuando com

liderança também nas áreas de automação e serviÇos, telecomunicações e

outras.

O Grupo lnepar nasceu em Curitiba em 1968 e, após se firmar como

o maior produtorde. painéis e quadros elétricos, iniciou, em 1976 sua

expansão, com a implantação da lnebrasa S.A., em ltajaí- SC.

Adquiriu a IBR - Indústria Brasileira de Ralés, em 1982 e a Postes

Seccionais em 1984. Em associação com a Westinghouse, criou em 1987 a

lnepar Semicondutores, cujo controle total assumiu em 1988. Da mesma

Westinghouse já havia adquirido a Elcon (capacitadores). A Hober do Brasil

foi incorporada no ano seguinte.

Page 259: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

249

Em 1990, adquiriu as instalações da Sony do Brasil na Cidade

Industrial de Curitiba e ali instalou a Inepar S.A. Eletroeletrônica.

A Palitei Equipamentos Elétricos, fábrica de capacitares de baixa

tensão do Grupo Itel, foi comprada em 1991, época em que o Grupo

assumiu também metade do capital da JL Capacitares, de São Paulo.

O Grupo Inepar diversificou seus investimentos também em outras

áreas e hoje participa de empreendimentos como as revendas BMW -

Eurolmport (Paraná, Sta. Catarina e Rio de Janeiro), a HTV - Televisão a

Cabo (Giobosat), concessionárias GM, Factoring e fomento comercial,

agropecuária e outros. No início de julho de 1992, o Grupo lnepar reafirmou

sua pujança: firmou joint-venture com a General Electric do Brasil, para

fabricação de medidores de energia e equipamentos destinados à geração,

transmissão e utilização de energia elétrica, em quatro unidades fabris, sob

o comando da lnepar S.A. Eletroeletrônica.

A composição da joint venture: GE = 19,9% e INEPAR = 80,1 %.

Assim, observa-se que a empresa, desde o início de suas atividades,

sempre buscou o crescimento por r"!l~io de desenvolvimento e absorção de

tecnologia, bem como a verticalização da produção, comprando outras

empresas ou desenvolvendo parcerias com empresas que complementam

sua atividade, como foi no caso da General Electric. Segundo Atiliano de

Oms "o objetivo desta associação é reduzir custos de produção, ganhar

competitividade e ampliar a participação no mercado."

Esta política de crescimento permitiu à empresa estar presente em

praticamente todas as atividades da sociedade. Da usina geradora de

energia, passando pelas linhas de transmissão, subtestações, redes

urbanas e rurais de distribuição, instalações industriais, comerciais e

residenciais, a empresa está presente com equipamentos, produtos e

serviços.

Da mesma maneira, a empresa se faz presente, através de seus

produtos e serviços, em estações de saneamento, tratamento de água,

sistemas de telecomunicações e telefonia, sistemas de transporte

eletrificado de passageiros (metrô, trens e tróleibus) e sistemas de

iluminação pública contam com equipamentos e serviços de engenharia

Page 260: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

250

especializada. A empresa tem atuado ainda no segmento de conservação

de energia e automação de sistemas.

Todo este conjunto de produtos e serviços permitiu à empresa faturar

cerca de 250 milhões de dólares em 1993 e seu quadro de "colaboradores

. se aproxima a 3.000 pessoas.

2. A filosofia empresarial

Em 1976, a INEPAR ainda não era uma empresa de expressão

nacional, com seu faturamento não tendo ainda atingido dois milhões de

dólares. No entanto, os seus Diretores já tinham uma visão clara do seu

"ideal" empresarial e fizeram registrar seus pensamentos em uma folha de

papel, que até hoje é distribuído entre os colaboradores e que expressa a

"maneira pela qual pensamos".

A Filosofia INEPAR" está sintetizada em 18 pontos, a seguir

transcritos literalmente:

Princípios determinantes da ftlosofia do Grupo

1. A boa ética profissional e empresarial será constante em todos os

procedimentos da empresa.

2. Toda e qualquer decisão deverá fundamentar-se no objetivo

visado.

3. Dar-se-á ênfase à descoberta e desenvolvimento dos potenciais

humanos existentes dentro do Grupo, delegando liberdade e

responsabi I idade.

4. O desenvolvimento da empresa e o desenvolvimento profissional

de seus gerentes caminharão paralelamente e constituirão, juntamente com

a perpetuidade, os objetivos principais da organização.

5. Dentro do princípio da procura constante do desenvolvimento e

longevidade da organização, procurar-se-á sempre promover a participação

na sociedade dos elementos de níveis gerenciais.

Page 261: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

251

6. A responsabilidade pública e social do Grupo será demonstrada,

não só pelos seus dirigentes, mas também pela conduta interna e externa

de seus colaboradores.

7. A responsabilidade pela retribuição será considerada igualmente

relevante à responsabilidade pela contribuição .

. 8. Procurar-se-á sempre alcançar resultados incomuns através de

pessoas comuns.

9. Dar-se-á ênfase aos resultados e às contribuições, muito mais que

aos movimentos e ao trabalho em si mesmo, e o pessoal será julgado pela

sua atuação com a máxima abstração possível das características que não

interferem diretamente nessa atuação.

1 O. As pessoas aqui serão julgadas pelos resultados obtidos, e

não pela capacidade pessoal.

11. Buscar-se-á desenvolver ao máximo a prática da autonomia e

da otimização tática no nível gerencial e de chefias, dando-se total

importância às inovações através da análise dos seus benefícios.

12. Diante de qualquer decisão altamente significativa, o critério

prioritário é o de custo e benefício.

13. Entende-se sempre como competência nas empresas o

conglomerado profissional, contribuições apresentadas, relacionamento

humano, atributos morais e motivação ao desenvolvimento.

14. A qualidade do produto e a satisfação de utilização por parte

do cliente serão sempre fatores impulsionadores de nossa cada vez maior

participação no mercado.

15. O planejamento é considerado de alta relevância e, entende-se

por flexibilidade não o descumprimento do planejado, e sim o constante

replanejamento e correspondente cumprimento dos resultados assim

previstos.

16. O emprego constante da engenharia econômica aliada à

simplicidade com qualidade serão as tônicas da preocupação no

Page 262: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

252

desenvolvimento, ou criação do produto, com vista sempre à adequação do

idealizado à realidade almejada pelo mercado consumidor.

17. A estrutura interna da empresa deverá evoluir a partir dos

objetivos claramente definidos, e a ênfase estará na exploração dos pontos

fortes , a par do cuidado normal no tratamento ou extinção dos pontos

fracos.

18. Procurar-se-á sempre manter a organização como

genuinamente nacional e como retrato fidedigno de engrandecimento de

nosso país.

Tal filosofia permitiu à empresa crescer e desenvolver os seus

negócios, principalmente porque a sua cultura tem acompanhado todo este

processo dinâmico sem perder a unidade e a essência: desenvolver,

expandir, criar e consolidar nas pessoas que forma a principal riqueza da

empresa, buscando sempre atingir e realizar resultados incomuns com

pessoas comuns.

Atiano de Oms Sobrinho e sua equipe de Diretores passara esta

cultura de crescimento, arrojo e busca. incessante de resultados incomuns a

todos os níveis de seus colaboradores.

A consolidação e constante reafirmação desta cultura é a ênfase em

todos os programas de tratamento, motivacionais, assistenciais, estratégicos

e táticos de todas as atividades do Grupo lnepar. Por isso é que quando se

visita a lnepar tem-se a clara idéia de que todos realizam seu trabalho com

a alegria e felicidade estampada no rosto. Quem trabalha feliz mesmo no

meio de tempos tão difíceis, produz mais e melhor.

Graças à sua cultura expansionista e de valorização constante de

seus recursos humanos é que o Grupo lnepar é extremamente bem

sucedido.

O sucesso é repartido com todos os que trabalham em prol do

desenvolvimento da empresa. O bem estar no trabalho é busca constante

de todos. A participação de todos tem sido decisiva para que os pbjetivos,

que são sempre altamente desafiadores, sejam alcançados.

Page 263: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

253

Os fatos comprovam este sucesso que, por sua vez, evidencia que a

cultura é forte, sólida e plenamente assimilada por todos.

A síntese da filosofia da INEPAR pode ser resumida nestas palavras:

"Obter resultados extraordinários através de pessoas comuns". Ao mesmo

tempo, tal filosofia passava a orientar dois programas que abrangem grande

parte das práticas gerenciais inovadoras da empresa: o programa de

Garantia da Qualidade e o Projeto Q.uero-Quero.

3. O Programa de Garantia da Qualidade

Ao final dos anos 70, a INEPAR já iniciava um programa voltado à sua clientela: adotou a gestão através da Garantia da Qualidade. Desde

então, a empresa tem mantido a filosofia da Qualidade como uma das suas

práticas gerenciais mais importantes.

Assim. o sistema adotado permite que todas as etapas do ciclo

produtivo estejam interrelacionados desde a elaboração da proposta,

administração total e integrada no contrato até atividades de supervisão,

assistência técnica, passando por 'atividades intermediárias, entre outras,

como de Engenharia, Suprimentos, Produção, Controle de Qualidade e

Expedição.

A garantia da uniformidade do tratamento de cada

assegurada através de procedimentos, instruções e

conhecimento de todo corpo funcional.

São objetivos do Sistema de Qualidade:

cliente está

normas de

• assegurar que a fabricação dos produtos satisfaça os requisitos do

sistema bem como especificações do cliente e sua plena

adequação ao uso para o qual foi especificado;

• assegurar que, quando em funcionamento, os produtos não

apresentem defeitos de . fabricação ou não conformidades,

propiciando o seu máximo desempenho;

Page 264: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

254

• assegurar uma constante otimização das operações industriais,

possibilitando um nível de confiabilidade maior, bem como

facilidade na sua supervisão e manutenção do produto com alta

economicidade;

• atualização constante do sistema operacional, da tecnologia e

diminuição das incertezas.

4. O Programa Quero-Quero

A partir da filosofia empresarial anteriormente definida, a empresa

focou todo o seu esforço de busca de resultados nos seus colaboradores.

Para tanto, era necessário romper o tradicional modelo de "vinculação

trabalhista" e partir para uma "relação de parceria" com os empregados.

Quem explica é Renato Requião, Diretor Industrial:

a empresa queria provar que é possível estabelecer

uma relação capital-trabalho decente. De outro lado,

precisava quebrar uma ·cerla cultura tradicional em

relação aos empregados: estes não gostam de

trabalho em ambiente sujo e querem discutir os

problemas do seu trabalho.

Assim, Renato Requião dizia que a empresa procura a "gerência pela

simplicidade" e isto levou ao desenvolvimento do Programa Quero-Quero,

que já recebeu inclusive um prêmio do Instituto Paranaense de

Administração de Pessoal - IPAP em 1991. Este programa surgiu para

harmonizar o "quero"do empregado com o "quero" da empresa. todas as

ações do programa são inspiradas no "humanware", a filosofia que tem o

ser humano como centro de todas as atenções e como principal fator

competitivo para grupos e organizações.

O nome "quero-quero", inspirador do nome do programa, vem de um

passarinho muito comum nos campos do Sul do Brasil, cujas características

são: viver em liberdade absoluta, manter seu espaço muito limpo e defender

seu ninho como um bravo guerreiro.

Page 265: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

255

O Programa Quero-Quero está estruturado em um conjunto de 1 O

Mandamentos e de 11 linhas de projetos a serem desenvolvidos, cada qual

com o "Quero" do Empregado e com o "Quero;' da Empresa.

Os Quadros a seguir apresentam os mandamentos e os projetos

referidos, os quais são depois relacionados, um a um , com relação a seus

objetivos:

OS 1 O MANDAMENTOS DO PROGRAMA "QUERO-QUERO"

01. Amarás tua empresa como a ti mesmo.

02. Produzirás qualidade acima de tudo.

03. Produzirás cada vez mais e melhor.

04. Participarás das decisões da tua área.

05. Melhorarás profissionalmente e financeiramente.

06. Auxiliarás teus colegas para que sejas auxiliado.

07. Preservarás a tua empresa, da mesma maneira que ela te

preservará.

08. Preservarás os interesses dos teus clientes como os teus

próprios.

09. Lembrarás sempre que o teu progesso e o da lnepar só· virão

através do teu trabalho.

1 O. Pensarás em ti, na tua família, na tua lnepar, no Paraná e no

Brasil para que faças algo pelo MUNDO.

Page 266: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

256

PROGRAMA "QUERO-QUERO" 1991

Objetivo: Integração empregado/Empresa na busca de melhores

resultados para ambos os lados.

Perfi l/Projetos:

QUERO (EMPREGADO) QUERO (EMPRESA)

a) Cultura/Leitura (Praça da Leitura) a) Qualidade

b) Conhecimento/comunicação/integra- b) Aumento da produtividade ção (café com Presidente)

c) Integração 1° Lar/2° Lar (visita dos c) Diminuição turn over familiares)

d) Conhecimento/acompanhamento (a d) Aumento da competitividade no mar-palavra do Presidente) cado brasileiro e internacional

e) Melhora financeira - alcançar 50% e) Desburocratização acima da média do mercado nos próximos 04 anos

f) Limpeza - a fábrica mais limpa do f) Melhor alternativa para associações mundo e joint-venture no Brasil para com

empresas estrangeiras

g) Organização - arrumação que facilite g) o trabalho e produtividade

Maximização dos resultados do Grupo lnepar, mesmo que a custa de sacrifícios internos

h) ambiente - familiar, amizade, cole- h) guismo, união de forças

Soluções inovadoras nos benefícios concedidos aos seus colaboradores

i) Ajuda - se dispor a prestar treina- i) Aumento de faturamento menta aos colegas, formal ou in-formalmente

j) Eliminação de desperdícios

k) Participaão nas decisões da área-

j) Empresa modelo/destaque sob to­dos os aspectos

k) Integração entre empresas do Gru­po lnepar

Page 267: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

257

DESCRIÇÃO DOS OBJETIVOS DO PROGRAMA "QUERO-QUERO" 1991

(EMPREGADO)

QUERO (EMPREGADO)

a) Cultura/Leitura (Praça da Leitura)

b) Conhecimento/comunicação/integra­ção (café com Presidente)

OBJETIVO

Propiciar a todos os empregados da INEPAR acesso a revistas e jornais informativos e técnicos, visando aprimorar os seus conhecimentos e desenvolver as suas criatividades de acordo com a evolução das técnicas existentes.

A praça deverá ser utilizada para todo e qualquer evento cultural. As apresentações de conjuntos musicais, bandas, filmes educativos devem ser estimulados e já provaram ser um sucesso.

Integração empregado/empregador, eliminando as dificuldades de entendimento entre estas partes.

Operacionalização: Reuniões todas as 2as feiras no início do expediente, tomando o desjejum com o presidente da empresa, o diretor da área sorteada e mais nove funcionários escolhidos.

Este projeto nunca cessará e fará com que todos participem e retornem outras vezes, integrando cada vez mais as partes em questão, externando os anseios e dificuldades dos empregados e da empresa.

Page 268: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

c)

d)

e)

QUERO (EMPREGADO)

Integração 1 o Lar/2° Lar (visita dos familiares)

Conhecimento/acompanhamento (a palavra do Presidente)

Melhora financeira - alcançar 50% acima da média do mercado nos próximos 04 anos

258

OBJETIVO

Trazer os familiares dos que aqui trabalham, para mostrar a empresa e o local onde passamos a maior parte de nossas vidas.

Aqui é o 2° lar e nossa casa o 1 o lar, portanto necessitamos do máximo bem estar para podermos viver dignamente.

O projeto já é sucesso e tem propiciado sub-produtos valiosos, tais como: diminuição do turn over; valorização dos empregados perante suas famílias; colaboração dos familiares na limpeza e organização; colaboração da empresa na limpeza e organização de algumas famílias; idéias de benefícios viáveis, sugeridos pelos familiares, etc.

Conhecer e acompanhar o crescimento e situação da empresa, participando de maneira construtiva e realista da sua evolução, tendo em vista que a evolução de cada colaborador é necessária para o sucesso do todo empresarial.

Cada colaborador deverá se sentir um empreendedor, onde suas idéias serão utilizadas para enriquecer a força e a competitividade da lnepar no mercado.

"O conhecimento da empresa é de vital importância para que se tenham empregados informados e que compreendam as mais diversas situações sempre relacionadas com as épocas e o perfil do mercado".

Conseguir perceber salários 50% acima da média de mercado para cada mesma categoria até o final de 1994, utilizando métodos inovadores de produção, ganho e satisfação. "Os métodos tradicionais já provaram não admitir melhora para o trabalhador".

O modelo utilizado com a "Mala Caseira" já está mostrando bons resultados.

Page 269: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

259

QUERO (EMPREGADO) OBJETIVO

f) Limpeza - a fábrica mais limpa do Conseguir e manter estes intuitos mundo através do Comitê de Fábrica,

composta de elementos líderes e que realmente mostrem aptidão para estes objetivos. Treinamentos internos e mesmo externos deverão ser definidos e levados à aprovação por este comitê.

"Começamos mos_trando a fábrica pelo seu banheiro". E como enxergar o íntimo do ser humano.

g) Organização- arrumação que facilite Idem o trabalho e produtividade

h) ambiente - familiar, amizade, cole- Idem guismo, união de forças

i) Ajuda - se dispor a prestar treina- Idem mento aos colegas, formal ou in­formalmente

j) Eliminação de desperdícios

k) Participação nas decisões da área

Diminuir até a eliminação, os desperdícios e retrabalhos. Cada área deverá manter reuniões rápidas e objetivas com todos seus colaboradores, a fim de obter idéias simples que ataquem definitivamente estes problemas.

Testes já executados mostraram resultados surpreendentes, tais como: economia de energia nos intervalos; economia de água através de recirculação; melhoramentos em máquinas operatrizes; readequação de lay-out; inspeção de qualidade em fornecedores; etc.

"O Comitê de Fábrica" poderá orientar o procedimento de cada área, a fim de se obter maximização de resultados.

Idem

Page 270: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

260

DESCRIÇÃO DOS OBJETIVOS DO PROGRAMA "QUERO-QUERO" 1991

, (EMPRESA)

a)

b)

c)

d)

e)

f)

QUERO (EMPRESA)

Qualidade

Aumento da produtividade

Diminuição turn over

Aumento da competitivida­de no mercado brasileiro e internacional

Desburocratização

Melhor alternativa para associações e joint-venture no Brasil para com em­presas estrangeiras

OBJETIVO

Integrar todos os colaboradores de maneira participativa nos programas de garantia assegurada já existentes na INEPAR. "Produzir qualidade ao invés de controlar qualidade".

Melhorar os resultados da produção, através de sistemas modernos e inovadores que primem pela simplicidade. Já temos o exemplo do Kanban, os resultados são significativos e paupáveis.

Manter a equipe em constante desenvolvimento, não perdendo "cabeças" valiosas que foram aqui treinadas e desenvolvidas. Muitas vezes as razões das demissões são rídiculas e oriundas por falta de uma melhor comunicação. Os projetos de motivação e satisfação no trabalho fazem parte importante deste contexto.

Racionalizar através da engenharia econômica os produtos existentes e buscar novas opções no mercado internacional e nacional que pr'ôpiciem maior agressividade nas vendas/

Racionalizar os sistemas existentes, simpli­ficando os processos, facilitando os controles e propiciando produtividade maior com qualidade assegurada.

"A lnepar participa de Instituto especializado em desburocratização".

A lnepar tem que ser a melhor alternativa no Brasil para associação, acordos tecnológicos e joint-ventures com empresas que busquem entrar no mercado brasileiro.

INEPAR:

Qualidade-Produtividade-Agressividade­Conhecimento do Mercado

Relacionamento-Respeitabi I idade-Competência

Page 271: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

g)

h)

i)

j)

k)

QUERO (EMPRESA)

Maximização dos resulta­dos do Grupo lnepar, mesmo que à custa de sacrifícios internos

Soluções inovadoras nos benefícios concedidos aos seus colaboradores

Aumento de faturamento

Empresa modelo/destaque sob todos os aspectos

Integração entre empresas do Grupo lnepar

261

OBJETIVO

Relacionamento exemplar e salutar entre as empresas do grupo. Não poderemos admitir isolamentos e busca parcial de resultados.

"O todo é o mais importante"

"A busca do resultado maximizado será diretamente proporcional à nossa inteligência, humildade, despreendimento e competência".

Obter soluções inteligentes que beneficiem todos os empregados de maneira a não comprometer a saúde financeira da empresa.

"Para se obter bons ovos, o cuidado com a galinha é o mais importante". Sabemos que é até possível obter ovos com duas gemas!!?

Acatar as idéias dos funcionários através das reuniões da Área e Comitê de Fábrica.

Alcançar os resultados da Eletroeletrônica tendo como meta a quintuplicação do faturamento no final de 1994.

Assim todos os pré-requisitos para a obtenção destes resultados serão fruto dos projetos que executaremos ao longo dos próximos 04 anos.

Ser o melhor e trabalhar na melhor empresa, só pode ser motivo de orgulho.

"Vestir a Camisa" é prerrogativa de poucas erhpresas. Seremos uma delas e procuraremos ser a melhor.

Faremos distintivos do projeto Quero-Quero, escolhendo em votação o melhor modelo do pássaro para que através de "pregadores de lapela" mostremos o nosso orgulho de aqui trabalhar.

Integrar todas as empresas do Grupo, trocando experiências e maximizando os resultados.

"Devemos ter humildade suficiente para absorvermos as boas experiências dos outros, passando-as para a prática."

O repasse de esperiências com sucesso, economiza tempo e dinheiro para as co-irmãs, evitando · gastos desnecessários com consultorias ou tentativas frustradas.

Como exemplo, gostaríamos que todos os nossos colaboradores utilizassem veículos G.M. adquiridos nas concessionárias do grupo, pois além do resultado financeiro há o resultado psicológico de se estar colaborando para o resultado como um todo. A recíproca deve também ser verdadeira.

Page 272: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

262

Os resultados dos vários projetos implantados dentro do Programa

"Quero-Quero" são estimulantes. A avaliação será feita com relação a cada

um dos projetos avaliados.

Projeto Cultura/Leitura

• A empresa implantou um espaço no interior da fábrica - a Praça da

Leitura - onde são colocadas as revistas: não há controle sobre

elas e é até normal os empregados trazerem revistas de casa para

deixarem na "Praça". A empresa assina vários jornais e revistas.

Normalmente a "Praça" é utilizada durante os horários de almoço e

nos intervalos da manhã e da tarde. (em anexo: cartazete "A Praça

é Sua").

• A empresa tem investido em muito treinamento, parte deste feito

com ampliação da jornada de trabalho. Há cuidados para evitar

problemas com o Sindicato (não caracterizar como hora-extra).

Tem havido treinamento inter-áreas opcionais (pensa-se em

formalizar mais tal exigência). Os próprios funcionários são

estimulados a ensinar seus colegas: uma secretária treinou outras

secretárias e, com isso, gahhou um Curso de Espanhol, pago pela

empresa.

• Na última sexta-feira de cada mês, realiza-se um evento cultural -

comerata, teatro, concerto de violão, entre outros, com duração de

01 (uma) hora; a empresa encerra o expediente meia-hora antes e

o empregado cede mais meia-hora do seu tempo, sem

remuneração: isto visa valorizar o evento cultural.

• Não há premiação pela geração de novas idéias: o funcionário já

se sente premiado ao ver sua ,idéia implantada.

Projeto Conhecimento/Comunicação// ntegração

• "Café com o Presidente"- é realizado toda segunda-feira, reunindo

o Diretor da área e mais dez funcionários. São discutidos vários

projetos e idéias (o próprio Programa "Quero-quero" foi resultado

Page 273: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

263

destas sugestões). Outras idéias geradas foram: pagamento de

bolsas de estudo através da fundação lnepar, mantida pela

empresa; o Presidente também propõe projetos: por exemplo,

sobre o aumento da jornada de trabalho, para aumentar a

produção. Às sextas-feiras, o Presidente toma café com Gerentes

e Diretores (numa das últimas semanas, ocorreu a idéia de criar

uma nova empresa no Grupo).

• Os Diretores se revezam num café da manhã com gerentes e dez

funcionários de cada vez, além de um almoço semanal de

confraternização.

Projeto Integração 1° Lar/2° Lar

• A idéia é que o 1° lar é a família; o 2° lar é a empresa: ambos

precisam se integrar. toda sexta-feira são convidadas três famílias

de empregados para visitar a empresa. O objetivo é valorizar o

funcionário perante seus familiares, que conhecerão seu ambiente

de trabalho, assistirão ~alestras e vídeos sobre a empresa,

almoçarão juntos e poderão gerar opiniões e sugestões para a

empresa. Por exemplo, uma família sugeriu rever o critério de

distribuição de cestas básicas, pois casados e solteiros recebiam

uma igual. Hoje, a empresa já diferencia a cesta, em função do

"cadastro familiar".

• "A lnepar agradece": é um projecto de agradecimento formal às

famílias de funcionários que viajam freqüentemente a serviço da

empresa.

Projeto "Conhecimento! Acompanhamento"

• "Palavra do Presidente": regularmente o Presidente faz duas

palestras por ano: uma sobre os resultados do ano findo e as

perspectivas da empresa no futuro; outra de saudação aos novos

funcionários, visando integrá-los à cultura da empresa.

Page 274: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

264

Projeto Limpeza - Fábrica mais limpa do mundo

• Foram elaborados diversos cartazetes e informes para serem

colocados nos locais de acesso dos colaboradores, entre os quais,

o "Perfil do Colaborador", enfatizando mais "habilidades" de

limpeza.

COLEGA

• Vamos zelar pelo nosso banheiro.

• Não vamos escrever nas paredes, pois é só pedir papel de

rascunho que a Empresa fornece.

• Vamos lembrar que todos nós utilizamos a mesma instalação.

• Queremos ser respeitados, não vamos admitir que irresponsáveis

prejudiquem a nossa imagem perante os outros colegas.

• Aqui é nosso segundo lar e não prisão.

• Ninguém é obrigado a ficar e nós não somos obrigados a aturar

pessoas desleixadas e sujas.

• Obrigado, ajude a fiscalizar.

COLEGAS

• To dos lembram que tivemos de escrever um texto até mesmo

pesado para podermos sensibilizar alguns companheiros, a

respeito dos cuidados com a higiene e limpeza dos banheiros.

• Felizmente todos estão colaborando e hoje nos orgulhamos da

fábrica, do escritório, do jardim, do restaurante e do banheiro que

temos.

PARABÉNS A TODOS

VAMOS CONTINUAR CABRICHANDO!

SIMPLESMENTE QUEREMOS SER OS MELHORES!

Page 275: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

265

• Há caixas coletoras de papel por toda a empresa, visando reciclar

este material.

• Os ambientes na empresa são realmente muito limpos, inclusive na

área industrial, onde máquinas e ferramentas convivem com

arranjos de flores e gaiolas de pássaros.

Projeto Ambiente - Familiar, Amizade, Coleguismo, União das Forças

• Desde o final de 1992, não há mais relógio de ponto na entrada, o

que inclusive melhorou a pontualidade.

• Há buttons coloridos à disposição dos funcionários na entrada da

empresa. São três cores com funções bem claras:

quem usar o button verde, indica que está de bem com a vida;

quem usar o amarelo, indica que tem problemas, porém sem

gravidade;

quem usar o vermelho, significa que precisa de ajuda. Isto

pode reduzir também o índice de acidentes de trabalho, na

medida em que tais pessoas não receberão neste dia tarefas

que impliquem riscos para si ou para quem usaria o produto ou

serviço que estariam fazendo.

• O crachá do funcionário indica o nome ou apelido, escolhido pelo

próprio, pelo qual deseja ser identificado ou chamado. Evüa-se

assim chamá-lo pelo número, nome ou apelido degradante.

Projeto Ajuda

• Vários funcionários têm sido instrutores formais ou informais de

seus colegas. Isto tem aumento o nível de integração e de

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266

responsabilidade destas pessoas e maior respeito perante seus

colegas.

Projeto Eliminação de desperdícios

• As próprias equipes são conscientizadas e motivadas a reduzir

desperdícios. Por exemplo, houve redução significativa no custo de

manutenção dos banheiros. Os próprios funcionários da unidade

produtiva gerenciam a verba para a manutenção, o que os levou a

manter e usar os banheiros de forma mais responsável.

Projeto Participação nas decisões da área

• O estilo gerencial da lnepar é predominantemente participativo em

todas as áreas: há ênfase no trabalho por equipes.

• Há um funcionário, escolhido pelo voto direto dos demais, que

participa do Conselho de Administração de todas as empresas do

grupo.

Outros projetos da empresa

Além dos projetos citados no Programa "Quero-Quero", a empresa

tem colocado em ação vários outros subprogramas voltados para a melhoria

na relação capital-trabalho. entre estes, pode-se citar os seguintes:

Parceria - Com funcionários aposentados que abriram suas próprias

empresas; com funcionários que mo11taram empresas e têm a lnepar

como cliente; com ex-funcionários que formaram empresas nas quais

a lnepar é sócia-minoritária.

Treinar para ser treinado - Aqueles funcionários que se dispuserem a

treinar seus colegas acumulam créditos para receber novos

treinamentos.

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267

Plano de Assistência Médica (Pami) - Autogerenciamento da saúde,

com credenciamento direto de profissionais, laboratórios e hospitais.

Só são envolvidos os funcionários, os credenciados e a Fundação

lnepar, criada em junho de 1992, com o objetivo de cuidar da imagem

institucional da empresa e agrupar funções sociais, ambientais,

educacionais e econômicas.

Programa de Bolsas de Estudo (Probein) - Bolsas para dependentes

de funcionários, da pré-escola ao terceiro grau.

Programa de Assistência ao Empregado (PAE) - Atendimento e

encaminhamento de funcionários com problemas relacionados ao

álcool, drogas, stress e desequilíbrio emocional.

Piá no oficio - Adesão ao projeto da prefeitura de Curitiba para

contratação de menores carentes, que trabalham meio período e

continuam estudando.

Projeto de Ensino e Saúde Especial (Pense) - Bolsa mensal para

atender funcionários com filhos portadores de deficiências.

Vale creche- Outro programa ·da prefeitura. A empresa contribui com

o valor necessário à manutenção de uma creche municipal e tem

direito a 120 vagas, sendo o benefício gratuito para os funcionários.

Fundação Alírio Pfiffer - Entidade especializada no transplante de

medula óssea, mantida pela lnepar.

Projeto de Valorização de Idéias Talentosas (Provita) - A idéia

implementada por quem fez a sugestão, é reconhecida formalmente

com um diploma e divulgação interna.

Treinamento e cursos para familiares dos funcionários, em diversas

áreas, para a formação profissional de dependentes.

Hino Nacional - Projeto de incentivo ao patriotismo. Os funcionários

cantam o Hino Nacional em dia e horário escolhido por votação.

O resultado do Progama "Quero-Quero" e de seus subprogramas é o

que o "turn over" na empresa é próximo de zero, ou seja, as pessoas

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268

admitidas passam a fazer uma carreira estável, cumprindo o seu papel

("quero" da empresa) e são compensados pela empresa ("quero" do

empregado).

De outro lado, a empresa distribui lucros aos seus empregados,

tornando-os parceiros nos resultados globais.

5. Práticas inovadoras na gestão industrial

Como resultado das inovações no relação capital-trabalho, a empresa

tem conseguido colocar em prática várias idéias inovadoras na gestão

industrial. Os principais aspectos analisados são os seguintes:

• a empresa tem um Sistema Kanban que orienta e acompanha o

processo de produção;

• há uma boa relação com os fornecedores, visando melhorar

continuamente o sistema "just-in-time", devido às características

peculiares da linha de produtos (não é. seriado}, há dificuldades

para a efetiva aplicação· deste sistema. No entanto, como

fornecedora de algumas grandes indústrias do setor de

eletrodomésticos, a INEPAR pratica o "just-in-time";

• sistema de parceria com os empregados, inclusive aposentados

(projeto já citado) reduz os custos de produção;

• o lay-out da fábrica é discutido pelos gerentes com os

empregados: as modificações são imediatas e não há resistência.

6. Análise do modelo de gestão

Como se verificou através das informações coletadas e analisadas

neste estudo de caso, a INEPAR é uma empresa que sempre buscou

inovações gerenciais. Ao avaliar as suas práticas adotadas ao longo de sua

trajetória de sucesso empresarial e de seus resultados, pode-se considerar

Page 279: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

269

que a empresa tem predominantemente aplicado conceitos e práticas da

administração japonesa e da administração participativa.

Assim, tais práticas podem ser divididas segundo as duas

abordagens:

Administração japonesa:

• conceitos de um Programa SS (Housekeeping), envolvendo:

organização; ordenação; limpeza; asseio e disciplina;

• práticas de gestão industrial baseadas no Kanban e "just-in-time";

• comprometimento com a cultura da empresa;

• integração empresa-família;

• subcontratação industrial (envolvendo ex-empregados).

Administração participativa

• encontros freqüentes dos funcionários com o Presidente, Diretores

e Gerentes;

• comprometimento com os resultados da empresa;

• participação nos lucros;

• trabalhos com ênfase em equipe;

• representação dos funcionários no Conselho de Administração do

Grupo;

• implementação de idéias sugeridas pelos funcionários.

Neste sentido, a INEPAR é uma empresa que pode ser considerada

inovadora em métodos e práticas gerenciais, tendo abandonado as posturas

tradicionais de gestão.

Page 280: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

CAPÍTUL06

CONCLUSÕES DO ESTUDO E

RECOMENDAÇÕES

Page 281: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

271

Com base no presente estudo, baseado na análise do cenário

histórico da evolução dos modelos de gestão; da descrição da filosofia; dos

conceitos e principais práticas dos novos modelos de gestão; e da análise

de três estudos de caso de empresas brasileiras que têm desenvolvido

esforços para aplicar alguns dos conceitos e práticas dos novos modelos

estudados, é possível estabelecer um conjunto de afirmações conclusivas

sobre o estudo, bem como propor algumas recomendações.

As conclusões serão vinculados aos respectivos objetos do estudo e

se referem aos seguintes aspectos:

a) Com relação ao objetivo "analisar o contexto histórico da

evolução da gestão empresarial a nível mundial e brasileiro", conclui-se

que:

a.1- A origem e evolução dos modelos de gestão são influenciados

pelas mudanças ambientais que afetam as organizações. Neste sentido, a

evolução das "ondas de transformação" e, dentro destas, a· evolução das

"eras empresariais" determinaram as condições para o surgimento e

evolução de conceitos e práticas de administração que, com o tempo, foram

reconhecidos como modelos ou Teorias da Administração.

a.2- Neste sentido, o cenário ambiental que provocou a entrada do

Brasil na "era empresarial" influenciou para que o processo de

industrialização no país decolasse quando os países mais desenvolvidos já

se encontravam no esgotamento do seu paradigma de sociedade Industrial.

Portanto, os modelos de gestão aplicados pelas empresas brasileiras, de

forma geral, ainda são predominantemente de características tradicionais,

baseados na Era da Produção em Massa e da Era da Eficiência (período

1920/1970).

a.3- Não há uma linearidade entre as "ondas de transformação", as

"eras empresariais" e o modelo de gestão aplicado ao nível de determinada

organização. As empresas podem estar em níveis diferentes de evolução \

organizacional e, em conseqüência, do modelo de gestão predominante.

Assim, as empresas brasileiras estão distribuídas nas quatro eras

empresariais, não significando que todas elas estariam acompanhando a

"era da competitividade" nos anos 90.

Page 282: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

272

b) com relação ao objetivo "analisar as origens, características e

principais instrumentos dos novos modelos de gestão empresarial", conclui­

se que:

b.1- Dentre os novos modelos de Administração, ou seja, aqueles

surgidos no rompimento da Sociedade Industrial para a Sociedade da

Informação, a Administração Japonesa emerge como a abordagem que mais

se aproxima do conceito de modelo de gestão, ou seja: tem uma origem

histórica e cultural profunda, decorrente do ambiente onde surgiu;

desenvolveu conceitos novos e independentes dos modelos tradicionais de

gestão; absorveu também conceitos e práticas dos modelos tradicionais,

sem descaracterizar a estrutura dos seus conceitos; e criou instrumentos

gerenciais específicos, de ampla aplicabilidade nas empresas orientais· e

ocidentais.

b.2- Os novos modelos de administração têm algumas

características comuns, destacando-se dois aspectos: uma forte orientação

para o cliente e um estilo mais participativo de gestão. Assim, as

características e os instrumentos . gerenciais desenvolvidos por estes

modelos procuram, de um lado, substituir a visão da estrutura funcional,

orientada para controles, para estrutura orientada para resultados; de outro,

de uma estrutura verticalizada para uma estrutura horizontalizada.

b.3- Em termos do desenho organizacional, os modelos estão

evoluindo em três estágios: num primeiro momento, a estrutura é

hierarquizada no sentido vertical (modelos tradicionais); num segundo

momento, a estrutura continua hierarquizada, porém em menor número de

níveis hierárquicos e passa a ter um desenho mais horizontalizado, através

de estilos mais participativos e empreendedores de gestão (Administração

Japonesa, Participativa e Empreendedora). Finalmente, percebe-se que as

organizações caminham no futuro para serem parte de uma rede de

pequenas organizações, interligadas por interesses comuns (Administração

Holística e Corporação Virtual).

Page 283: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

273

b.4- Analisando a evolução cronológica dos modelos de gestão,

observa-se que, nos extremos (entre os modelos tradicionais e a corporação

virtual}, surgiram os modelos de Administração Japonesa, Administração

Participativa e Administração Empreendedora, cujo principal papel parece

ser de transição dos modelos tradicionais para a corporação virtual no

futuro. Assim, as empresas que adotam, por exemplo, práticas

empreendedoras de gestão, não estão utilizando seus instrumentos como

um modelo definitivo e sim como ferramentas de transição na busca de um

modelo que permita sua sobrevivência e competitividade. Isto não significa

que a corporação virtual será o modelo definitivo de administração: assim

como os novos modelos surgiram em função das mudanças ambientais, não

é possível ainda vislumbrar o cenário futuro e sua implicações sobre os

modelos gerenciais "pós-virtuais".

c) Com relação ao objetivo "analisar, através do estudo de caso,

três empresas que notoriamente incorporam na sua prática administrativa

vários instrumentos gerenciais inovadores", conclui-se que:

c.1- As empresas brasileiras analisadas não utilizam os novos

modelos de gestão de forma exclusiva, ou seja, tais empresas combinam

várias práticas inovadoras de gestão, as quais podem ser identificadas com

mais de um modelo de gestão inovador. Esta conclusão reforça um dos

aspectos anteriores de que tais modelos possuem características comuns

(visão da clientela e estilo mais participativo de gestão) e possuem

instrumentos gerenciais que podem ser combinados ou complementados em

suas práticas.

c.2- As empresas brasileiras analisadas são líderes de mercado ou

inovadores de tecnologias e processos operacionais em seu setor de

atividades. Tal característica evidencia uma inter-relação entre a

competitividade e o modelo de gestão, ou seja, para que as empresas

sobrevivam na Era da Competitividade, deverão desenvolver esforços para

adotar algumas das práticas gerenciais propugnadas pelos novos modelos

de gestão.·

Page 284: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

274

d) Com relação ao objetivo "propor em conjunto de

recomendações", este estudo propõe algumas idéias a seguir:

A partir das conclusões enunciadas são elaboradas algumas

recomendações, dirigidas às Escolas de Administração, aos dirigentes

empresariais e aos profissionais _que atuam no nível gerencial das

organizações.

a) Recomendações às Escolas de Administração

O mundo está evoluindo rapidamente e já há sinais evidentes que a

sociedade passa a viver, nesta prox1ma virada de milênio,

predominantemente a Sociedade da Informação ou do Conhecimento.

Assim, as organizações precisarão acelerar a mudança dos seus modelos

de gestão, adotando abordagens inovadoras de administração e certamente

aquelas que foram analisadas neste estudo estarão presentes nas práticas

. gerenciais corriqueiras destas organizações.

De outro lado, observa-se que a maioria das Escolas de

Administração, responsáveis pela formação dos profissionais que dirigirão

as empresas ou gerenciarão seus processos administrativos, em sua grande

maioria, ainda adotam conteúdos curriculares cujo conhecimento passa a se

tornar obsoleto diante das novas abordagens do administração.

Neste sentido, a estrutura curricular é mais informativa ("como se

administrava uma empresa nas Eras da Produção em Massa e da

Eficiência) do que formadora ("como se administrará a empresa das Eras da

Qualidade e da Competitividade).

No entanto, a questão não é apenas "mudar o conteúdo curricular". É

preciso trabalhar e desenvolver este conteúdo. O ensino de Administração

no Brasil está praticamente (desvinculado) da pesquisa e pouco se conhece

da realidade gerencial das nossas empresas nacionais. Assim, observa-se

que aquelas empresas mais inovadoras, como as três organizações

analisadas neste estudo, estão buscando novos conhecimentos e práticas

em empresas de consultoria de origem internacional.

Page 285: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

275

Assim, as Escolas de Administração não têm cumprido o papel de

serem "geradoras" de conhecimento e sim, em regra, meramente

"multiplicadoras" de conhecimentos já gerados ... e geralmente já obsoletos.

Concluindo esta análise, recomenda-se, de forma generalizada, às

Escolas de Administração (públicas ou privadas, independentes ou

vinculadas à Universidades) que repensem sua missão e a forma como

estão preparando os profissionais que conduzirão as organizações nas

próximas turbulentas décadas.

b) Recomendações aos dirigentes empresariais

A sobrevivência das organizações, públicas ou privadas, nos

próximos anos e décadas, dependerá cada vez mais da capacidade dos

seus dirigentes orientarem e conduzirem as grandes mudanças necessárias

à adaptação (ou até antecipação) aos novos cenários ambientais.

Assim, os dirigentes empresariais assumirão novos desafios e papéis

diante deste quadro. Antes de mud13r as organizações, é preciso mudar as

pessoas, não no sentido de substitui-las, mas de fazer com que elas

mudem.

Tais mudanças, certamente, devem começar pelos propnos

dirigentes: a condução das organizações inovadoras e competitivas exigirá

deles, em primeiro lugar, a postura de "líderes de visão". As organizações

caminharão no sentido para o qual esta visão apontará: este será o principal

papel dos dirigentes. Quanto aos papéis tradicionais, grande parte será

delegado aos níveis gerenciais, sobretudo aqueles relacionados c.om a

gestão de processos internos e suas respectivas decisões.

Concluindo, recomenda-se aos dirigentes empresariais, repensarem

o seu papel e sua postura pessoal frente ao cenário prospectivo das novas

abordagens da administração. Como se verificou anteriormente, todas as

alternativas de novos modelos de gestão caminham para estilos mais

participativos de administração.

Page 286: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

276

c) Recomendações aos profissionais de nível gerencial das

organizações

Após a análise dos novos modelos de estão e o papel decorrente dos

dirigentes empresariais, cabe recomendar aos profissionais, atuais e

futuros, do nível gerencial das organizações, um repensar sobre o seu

papel, posturas e habilidades pessoais frente ao cenário emergente de

novas práticas de gestão.

Os gerentes assumirão um (novo) papel, muito mais nobre e

importante do que aquele exercico nos modelos tradicionais da

administração: de controladores em busca da eficiência, passarão a ser os

orientadores das pessoas na busca da excelência (eficiência+ eficácia). Em

outras palavras, considerando que os modelos emergentes de

administração levarão as organizações a operarem em estruturadas

horizontalizadas, no máximo com três níveis hierárquicos e o trabalho

organizado com ênfase em equipes, geralmente auto-gerenciáveis, um novo

papel caberá aos profissionais da gerência: assim, serão os orientadores

("coach") e líderes de equipe, com a missão de estimular as pessoas à auto­

motivação ("empowerment") em busca dos resultados e da missão da

empresa.

Concluindo, recomenda-se a estes profissionais a postura da auto­

aprendizagem permanente. O melhor gerente não será mais aquele que tem

maior conhecimento: será aquele que está mais auto-motivado para

aprender.

Com estas recomendações - às Escolas de Administração, aos

dirigentes empresariais e aos profissionais de nível gerencial -o autor deste

estudo espera estar cumprindo modestamente com um dos propósitos

anunciados: contribui para o aprimoramento da gestão empresarial nas

organizações brasileiras.

Page 287: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

277

ABSTRACT

The main purpose of this thesis is to contribute to understanding the

new approaches of management. The study is composed of three parts: the

first describes the evolution of the "corporate eras", since the Second

Industrial Revolution ("mass production") until the lnformation Society

("competitivity era"); the second part is a description of a conceptual

framework of the new approaches of management, including the following:

japanese management; participative management; entre/intrapreneurial

management; holistic management; and virtual corporation. Finally, the third

partis a report of three case studies about the evolution of the management

in brazilian innovative companies. Thus, the study is a descriptive research.

The main conclusion is that the brazilian companies need rapidly to

cope their managerial models to the new approaches to survive in the

turbulent nineties.

The study resulted in a set of recommendations about the introduction

of the new approaches of management in brazilian companies.

Page 288: OS NOVOS MODELOS DE GESTÃO: ANÁLISE E ALGUMAS

REFERÊNCIAS

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