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Departamento de Serviço Social Primeira infância no Brasil urbano. Análise das políticas públicas voltadas à promoção do direito ao desenvolvimento integral de crianças de 0 a 6 anos 1 Aluna: Thamara Silva Maia Orientadora: Irene Rizzini Introdução A primeira infância compreende o período de idade entre zero e seis anos. Os primeiros anos de vida são considerados fundamentais para o desenvolvimento humano, compreendendo as estruturas física e psíquica e as habilidades sociais. O Brasil é considerado avançado em seu arcabouço jurídico no tocante à infância, entretanto, a implementação de políticas e ações com foco sobre a primeira infância constituiu ainda um desafio. Este projeto tem como proposta priorizar as crianças que nascem em condições de alta vulnerabilidade social e a busca por melhores oportunidades para o seu desenvolvimento integral. Tem como base o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) [2], lei que preconiza uma série de direitos para que toda a criança tenha direito ao “desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade” (ECA, Art. 3º). Esta pesquisa tem como objetivo geral a análise dos processos de construção e implementação de políticas públicas com foco sobre a criança na Primeira Infância no Brasil, sobretudo no que tange a promoção de seus direitos. A pesquisa vem sendo desenvolvida em parceria com o CIESPI, Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância, em convênio com a PUC-Rio. Primeira fase da pesquisa 1 Pesquisa coordenada pela professora Irene Rizzini do departamento de Serviço Social da PUC-Rio e diretora do Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância, em convênio com a PUC-Rio (CIESPI/PUC- Rio). Integram a equipe de pesquisa do projeto no CIESPI Cristina Laclette Porto, professora do curso de especialização em Educação Infantil da PUC-Rio e do curso normal superior do Instituto Superior de Educação Pró-Saber (ISEPS); Vicente Barros, professor do Departamento de Design da PUC-Rio e Nathercia Lacerda, da equipe do CIESPI/PUC-Rio.

Primeira infância no Brasil urbano. Análise das políticas ... · indicando a prevalência da área de Ciências Humanas, ... 3 Estas reflexões têm como fonte o artigo Olhares

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Departamento de Serviço Social

Primeira infância no Brasil urbano. Análise das políticas públicas voltadas à

promoção do direito ao desenvolvimento integral de crianças de 0 a 6 anos1

Aluna: Thamara Silva Maia

Orientadora: Irene Rizzini

Introdução

A primeira infância compreende o período de idade entre zero e seis anos. Os

primeiros anos de vida são considerados fundamentais para o desenvolvimento humano,

compreendendo as estruturas física e psíquica e as habilidades sociais.

O Brasil é considerado avançado em seu arcabouço jurídico no tocante à infância,

entretanto, a implementação de políticas e ações com foco sobre a primeira infância constituiu

ainda um desafio. Este projeto tem como proposta priorizar as crianças que nascem em

condições de alta vulnerabilidade social e a busca por melhores oportunidades para o seu

desenvolvimento integral. Tem como base o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) [2],

lei que preconiza uma série de direitos para que toda a criança tenha direito ao

“desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de

dignidade” (ECA, Art. 3º).

Esta pesquisa tem como objetivo geral a análise dos processos de construção e

implementação de políticas públicas com foco sobre a criança na Primeira Infância no Brasil,

sobretudo no que tange a promoção de seus direitos. A pesquisa vem sendo desenvolvida em

parceria com o CIESPI, Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância, em

convênio com a PUC-Rio.

Primeira fase da pesquisa

1 Pesquisa coordenada pela professora Irene Rizzini do departamento de Serviço Social da PUC-Rio e diretora

do Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância, em convênio com a PUC-Rio (CIESPI/PUC-

Rio). Integram a equipe de pesquisa do projeto no CIESPI Cristina Laclette Porto, professora do curso de

especialização em Educação Infantil da PUC-Rio e do curso normal superior do Instituto Superior de Educação

Pró-Saber (ISEPS); Vicente Barros, professor do Departamento de Design da PUC-Rio e Nathercia Lacerda, da

equipe do CIESPI/PUC-Rio.

Departamento de Serviço Social

A primeira parte da pesquisa (2013-2016) incluiu um levantamento e análise da

produção acadêmica nacional sobre temas relacionados à Primeira Infância nas principais

bases de dados bibliográficos existentes (SCIELO e CAPES), no período de 2004 a 2013. A

análise da literatura nacional incluiu uma discussão sobre os principais temas de pesquisa

sobre os direitos de crianças de zero a seis anos, referenciada nas leis e diretrizes de políticas

sobre a primeira infância (RIZZINI, PORTO E TERRA, 2014).

A equipe estabeleceu os seguintes procedimentos metodológicos a serem seguidos

para levantar a produção acadêmica sobre crianças de zero a seis anos no Brasil no período de

2004 a 2013: (1) Definição de palavras-chave; (2) Escolha das bases de dados a serem

acessadas para o levantamento de produção acadêmica; (3) Levantamento de produção

acadêmica; (4) Estabelecimento de critérios e organização da produção acadêmica. Estes

procedimentos estão agora sendo aplicados no levantamento em curso junto ao portal da

CAPES.

Partiu-se dos eixos que constam no Plano Municipal Primeira Infância

(CMDCA/PMPI, nº1.042/2013) [3]: Saúde; Educação infantil; Cultura e Esporte/lazer;

Cidade/espaço urbano; Prevenção às violências contra crianças para identificar palavras-chave

que permitissem chegar aos artigos, já que o termo “primeira infância” é relativamente novo.

Assim, criou-se uma lista contendo diversas palavras-chave para direcionar a busca de artigos

que contemplassem crianças de zero a seis anos.

Todos os resumos dos textos encontrados por meio das palavras-chave utilizadas

foram lidos. Nesse processo, foram contabilizados 1.437 textos, sendo sua maioria artigos.

Após uma criteriosa seleção, chegou-se ao número de 1.179 textos, que foram classificados

em três categorias: (1) primeira infância – zero a seis anos; (2) infância – inclui também

primeira infância; (3) infância - sem definição de faixa etária.

Após essa sistematização, os textos foram organizados estatisticamente por ano,

periódico, instituição, local e área de conhecimento. A análise foi feita com base nas

publicações que se incluem na primeira categoria, totalizando 758 textos.

Principais resultados

Apesar do número expressivo de crianças na Primeira Infância no país, são poucos os

campos de conhecimento que se dedicam a compreender os contextos que as cercam e os

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fatores que influenciam seu desenvolvimento integral. Se comparado a publicações dedicadas

a outras faixas etárias, o número de artigos e textos disponíveis no site SciELO é reduzido.

Tabela 1 – Número de textos por ano de publicação referente à Primeira Infância (2004 a

2013)

ANO DE PUBLICAÇÃO NÚMERO DE TEXTOS

2004 54

2005 56

2006 59

2007 77

2008 66

2009 94

2010 95

2011 88

2012 81

2013 88

Total 758

Fonte: Plataforma SciELO. Levantamento CIESPI/PUC-Rio, 2014.

No que diz respeito a estudos voltados exclusivamente para a faixa etária de 0 a 6

anos, observou-se, que, a partir de 2009, em comparação ao ano de 2004, houve um aumento

significativo de publicações. É provável que esse aumento esteja relacionado a diversos

acontecimentos. Explicitaremos alguns deles a seguir.

Recorte regional

De acordo com a tabela 2, o Sudeste é expressivamente a região brasileira onde mais

se publicou estudos que envolvem a Primeira Infância.

Tabela 2 – Produção acadêmica por local referente à Primeira Infância (2004 a 2013)

ESTADO NÚMERO DE TEXTOS

São Paulo 356

Departamento de Serviço Social

Rio de Janeiro 132

Rio Grande do Sul 68

Distrito Federal 66

Minas Gerais 38

Paraná 34

Pernambuco 26

Rio Grande do Norte 21

Santa Catarina 14

Total 758 Fonte: Plataforma SciELO. Levantamento CIESPI/PUC-Rio, 2014.

O levantamento na Plataforma SciELO, indicou que São Paulo é o local que mais tem

publicado sobre a Primeira Infância, seguido do Rio de Janeiro. Foram encontrados,

respectivamente, 351 e 126 textos. A diferença entre os dois é, portanto, de 225 textos. O Rio

Grande do Sul e o Distrito Federal, com 68 e 61 artigos, são o terceiro e o quarto estados onde

mais publicações foram identificadas.

Essa diferença é significativa e expõe uma clara divisão entre os estados brasileiros.

São Paulo é o estado com maior número populacional do país e, em 2010, segundo o IBGE2,

tinha 41.262.199 habitantes. Minas Gerais tinha nessa ocasião 19.597.330 habitantes e o Rio

de Janeiro, 15.989.929 habitantes. Estes são os três estados mais habitados do Brasil.

Áreas de conhecimento

Para fins deste levantamento, as áreas de conhecimento foram divididas conforme

tabela da CAPES: Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Ciências de Saúde e

Linguística. A tabela 4 mostra a concentração de publicações de acordo com estas áreas,

indicando a prevalência da área de Ciências Humanas, seguida da área de Ciências da Saúde.

Número de publicações por área de conhecimento referente à Primeira Infância (2004-

2013)

Área de conhecimento Número de publicações

Ciências Humanas 398

Ciências da Saúde 354

Ciências Sociais Aplicadas 5

2 Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/estadosat/>. Acesso em: jul. 2015.

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Linguística 1

Total 758

Fonte: Plataforma SciELO. Levantamento CIESPI/PUC-Rio, 2014.

Atividades desenvolvidas no estágio

Minhas atividades nesta primeira parte da pesquisa foram voltadas a leituras e

fichamentos da literatura, dando continuidade ao trabalho anterior. Pois quando iniciei na

pesquisa, a mesma já estava parcialmente encaminhada, precisando apenas ser concluída.

Segunda fase da pesquisa

Contrastes: a criança e a cidade e o tema da Participação Infantil

A segunda fase da pesquisa, de 2016 até o presente, elegeu um dos temas apontados na

análise como foco principal para aprofundamento. Dentre os temas encontrados no

levantamento, que lidam com a Primeira Infância, achamos importante trabalhar o tema sobre

Participação Infantil.

Para pesquisar o tema, como estagiária, junto à equipe do CIESPI/PUC-Rio, tive a

oportunidade de participar de dois tipos de atividade: leitura da bibliografia sobre o tema e

uma experiência piloto com crianças em uma escola com foco sobre metodologias de escuta

da criança, chamada Contrastes. Além disso, participei das reuniões de equipe do CIESPI,

interagindo com pesquisadores envolvidos em outros projetos de pesquisa e com profissionais

de diferentes áreas do conhecimento.

Selecionamos diversos textos que lidam diretamente com o tema, a fim de

entendermos mais sobre o assunto e assim darmos prosseguimento no nosso projeto. A

questão da participação infantil torna-se alvo de discussões e estudos sistemáticos a partir da

ratificação da Convenção dos Direitos da Criança (NAÇÕES UNIDAS, 1989), e, no Brasil, a

partir da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). O direito à

participação se desdobra em vários outros aspectos, como o direito a se expressar livremente,

demandando respeito às vozes e pontos de vista infanto-juvenis.

Após um período de estudo sobre o tema, a equipe vem se dedicando a testar

diferentes metodologias, tendo em vista a criação de estratégia que possamos estimular a

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participação da criança no processo de construção social, bem como para contribuir para o

desenvolvimento integral e para a promoção e defesa dos seus direitos.

Contrastes – a escuta da criança:

Nessa experiência temos participado de diversas atividades no campo de pesquisa.

Uma delas, da qual tenho participado ativamente, acontece em escola pública situada na

Gávea, que atende um grande número de crianças moradoras da Rocinha. Nesse projeto piloto

tenho participado de oficinas direcionadas a percepção das crianças sobre cidade do Rio de

Janeiro, incluindo os lugares que frequentam, que desejam frequentar e os que não gostam de

frequentar.

No final dessas oficinas (totalizando três; uma por semana), realizamos uma exposição

em uma biblioteca, juntamente com a professora da turma. Atualmente desenvolvemos esta

metodologia também em uma escola situada no Jardim Botânico com crianças de 4 aos 6 anos

de idade. Porém nesta escola ao invés de trabalharmos com apenas uma turma durante um

mês, trabalhamos cada semana com uma turma para que pudéssemos aplicar a metodologia

em todas as turmas da escola, que são no total de 4 turmas de tempo integral.

De acordo com a proposta da equipe de pesquisa3, essas iniciativas, que favorecem a

participação infantil e reconhecem as crianças como seres inteiros, curiosos e capazes de

pensar, desenhar e agir de forma plena no seu cotidiano, podem servir como suporte para a

elaboração e implementação de políticas públicas para a infância, direito previsto no Estatuto

da Criança e do Adolescente (1990).

Escuta e participação infantil no contexto da escola

De acordo com Porto e Rizzini (2017), a escola mostra-se como um espaço de

convivência importante, onde a prática do diálogo e do debate deve ser permanente. No

entanto, nem sempre as crianças encontram oportunidades adequadas para expressarem o que

pensam nas instituições que as atendem. Via de regra, são os adultos que costumam

3 Estas reflexões têm como fonte o artigo Olhares das Crianças sobre suas Cidades: Reflexões sobre Aportes

Metodológicos para Projetos de Pesquisa, apresentado por Irene Rizzini e Cristina Laclette Porto, na

Universidade de São Paulo, em seminário internacional sobre Estudos da Infância, realizado em março de 2017.

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interpretar e traduzir as experiências infantis, pois a eles vem sendo conferida a autoridade de

dizer e prescrever o que a criança precisa.

Essa pesquisa se propõe a não apenas observar uma prática, mas construir uma

metodologia para favorecer a escuta das crianças, mas não apenas delas.

Como afirmam as autoras:

Isso requer que os sujeitos interajam, socializem o que pensam, o que sabem,

para juntos conhecerem o que antes não sabiam. Dentro desta concepção de

pesquisa, a ética é construída a cada momento. O desafio colocado é evidenciar

o que está presente nessas relações que convida ao diálogo e o que, ao

contrário, produz o monólogo. Para tal, o ato de observar exige que estejamos

por inteiro e demanda atenção, escuta, presença e reflexão. É na socialização

das observações de cada um, que iniciamos um diálogo interno, alimentado

pela linguagem do outro (PORTO e RIZZINI, 2017, p.5).

Na pesquisa, foram utilizados os seguintes instrumentos metodológicos: a observação; o

registro reflexivo sobre a prática e a teoria; a avaliação dos encaminhamentos e o

planejamento das ações subsequentes. O registro escrito foi um dos recursos básicos. E foram

várias as produções dessa escrita que foram tomadas como fonte desta pesquisa: memória das

reuniões; planejamentos; troca de mensagens por e-mail, caderno de campo, etc.

Segundo os coordenadores da pesquisa:

Nossa expectativa era, com este trabalho era que o resultado dessa

interação revelaria subjetividades, aspectos diversos das culturas nas

quais estão inseridos, gerando uma narrativa própria sobre a infância e a

cidade.

Com papel transparente colocado em cima das fotografias originais da Exposição

Contrastes, apenas a silhueta das crianças retratadas foi decalcada. Assim, como se pode

visualizar abaixo, as fotografias foram transformadas em desenhos, com o objetivo de

proporcionar a criação-recriação de diferentes realidades vivenciadas pelas crianças nos

espaços em que habitam e transitam. Foram fornecidos aos alunos giz de ceira, lápis de cor e

canetinhas para que pudessem colorir e dar forma as silhuetas. Estes desenhos abaixo foram

produzidos por alunos do 6º ano, com idades entre 11 e 12 anos.

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E ao final, quando todos terminaram suas produções, foram convidados a falar sobre o

que fizeram e a dar um título para o desenho. Muitos alunos retrataram seus desejos, através

do desenho, de conhecer lugares turísticos da Cidade do Rio de Janeiro. Já outras crianças

preferiram retratar sua realidade, como por exemplo as dificuldades que enfrentam ao ir de

casa para a escola ou até mesmo os lugares em que brincam como são e como gostariam que

fossem. Esta primeira turma produziu até mesmo uma cartilha para o Prefeito reivindicando

seus direitos e acrescentando alguns. Nesta mesma cartilha eles reclamavam do preço da

passagem, do feijão e até mesmo da merenda da escola, etc.

Desenhos produzidos através das silhuetas:

Fonte: Acervo Projeto Contrastes. CIESPI/PUC-Rio, 2017.

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Outras imagens que serviram de estrutura para as silhuetas:

Fonte: Acervo Projeto Contrastes. CIESPI/PUC-Rio, 2017.

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Desenhos produzidos pela turma através das silhuetas:

Fonte: Acervo Projeto Contrastes. CIESPI/PUC-Rio, 2017.

Apartir desta primeira experiência, temos realizado outras oficinas, sendo elas na

mesma escola e também em uma escola do Jardim Botânico, Julia Kubitschek. No presente, a

equipe está também contatando outras escolas para que possamos ouvir outras crianças de

outras localidades e vermos como esta metodologia se encaixa em cada uma delas.

É importante lembrar que esta é uma metodologia pode e deve ser modificada segundo

a idade das crianças, e que também dependerá dos projetos realizados pela escola. Como por

exemplo nesta primeira turma a professora da sala de Leitura já tinha uma exposição marcada

com as crianças em uma biblioteca da localidade, e a proposta inicial, feita pela professora,

era de que as crianças criassem um poema para esta exposição. Como nosso projeto estava

trabalhando a cidade do Rio de Janeiro, juntamos o poema com a proposta da professora e

Departamento de Serviço Social

pedimos as crianças que criassem um poema falandoda cidade em que moram, e por fim os

poemas foram expostos junto com os desenhos das crianças.

Desafios da pesquisa: dificuldades encontradas

Uma das preocupações iniciais era de encontrarmos terreno propício não só para

usarmos o espaço para a realização das oficinas, mas também para compartilhar com as

crianças e com os adultos as descobertas sobre suas formas próprias de ler e interpretar as

fotografias. A ideia não era apenas colher essas impressões, mas desenvolver uma prática que

favorecesse o envolvimento da escola com essa escuta e ao mesmo tempo favorecesse a

criação de elos entre pesquisadores, professores e crianças. Assim, a principal dificuldade foi

de encontrarmos uma escola que tivesse disponibilidade em sua agenda para que as oficinas

fossem aplicadas, e mais do que isso que a direção da escola e os professores embarcassem

conosco nessa proposta, pois precisaríamos da ajuda deles para que as oficinas fossem

realizadas, primeiramente pelo intuito deste trabalho de criar uma metodologia que

envolvesse todos estes agentes, e, em segundo lugar, eles seriam nossa ponte com as crianças.

Atividades desenvolvidas no estágio:

Minhas atividades realizadas no estágio, foram concentradas em leituras e fichamentos

sobre o tema Primeira Infância, mais especificamente a participação infantil. Logo após ter

propriedade sobre o tema, começamos a pensar em como poderíamos promover atividades

que fizesse com que essa participação fosse ativa, e com isso, surgiu a ideia das oficinas nas

escolas. Nestas oficinas ficaram em minha responsabilidade: observar as falas das crianças e

anota-las, e registrar, através de fotografia, suas ações para que tivéssemos um suporte de

memória. Além disso, quando necessário, poderia intervir em alguma brincadeira ou fala para

fins reflexivos.

Desde o começo do projeto, assumimos o trabalho de refletir sobre o que vivenciamos

e nomear o que foi aprendido em cada etapa. Para isso identificamos os instrumentos

metodológicos citados acima como imprescindíveis para a nossa observação.

É importante destacar que o registro escrito foi um dos recursos básicos em que toda a

equipe o utilizou, com isso tivemos várias produções dessa escrita tomadas como fonte desta

pesquisa: memória das reuniões; planejamentos; troca de mensagens por e-mail, caderno de

campo, etc.

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Após o fim de cada oficina planejamos conjuntamente as próximas oficinas e

compartilhamos o que cada componente da equipe tenha anotado, além de destacamos

também as falas que nos chamam mais atenção.

Considerações Finais

O material produzido nas oficinas será disponibilizado na página web do

CIESPI/PUC-Rio para que desse modo, as oficinas se transformem em projetos que possam

ser implementados em outras escolas e ambientes variados. Espera-se que o estudo seja fonte

para os debates referentes à infância, revelando múltiplos significados e fortalecendo o

processo de participação e escuta de crianças. O material fotográfico produzido será lançado

em exposição prevista para o mês de setembro de 2017.

Acredito que nossos objetivos iniciais estão sendo alcançados no decorrer das oficinas,

onde temos observado a visão diferenciada que as crianças possuem da cidade do Rio de

Janeiro. E mais do que isso suas reinvindicações e inquietações sobre a mesma.

Publicações da pesquisa:

A primeira parte da pesquisa resultou na seguinte publicação:

RIZZINI, Irene; PORTO, Cristina Laclette; TERRA, Carolina. A Criança na Primeira

Infância nas Pesquisas Brasileiras. Rio de Janeiro: CIESPI/PUC-Rio, 2014. Disponível em:

http://www.ciespi.org.br/images/arquivos/524/primeira_infancia.pdf.

A segunda parte da pesquisa foi apresentada em dois seminários (GRUPECI, Florianópolis,

Santa Catarina, em dezembro de 2016 e seminário internacional Estudos da infância, USP, em

março de 2017, por Irene Rizzini e Cristina Laclette Porto).

O seguinte artigo encontra-se no prelo:

PORTO, Cristina Laclette e RIZZINI, Irene. Olhares das Crianças sobre suas Cidades:

Reflexões sobre Aportes Metodológicos para Projetos de Pesquisa. São Paulo: USP,

seminário internacional Estudos da Infância, março de 2017.

Referências bibliográficas:

1 – CIESPI/PUC-Rio. Ambiente da Primeira Infância. Espaço Virtual com foco sobre a

Criança na Primeira Infância Rio de Janeiro: CIESPI/PUC-Rio, 2015.

Departamento de Serviço Social

2- BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal nº8.069, 13 de julho de

1990.

3 – CONSELHO MUNICIPAL DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.

Plano Municipal pela Primeira Infância. Deliberação nº 1.042/2013, 11 de novembro de

2013.

4 - RIZZINI, Irene e RIZZINI, Irma. A institucionalização de crianças no Brasil. Percurso

histórico e desafios do presente. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2004.

288p.

5 - BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do

Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do

Brasil. Brasília, DF, 16/7/1990, p.13.563.

6 – AÇÃO EDUCATIVA. A participação de crianças e adolescentes e os Planos de

Educação / Ação Educativa – São Paulo: Ação Educativa, 2013, 1ª edição.

7- PIRES, Sergio Fernandes Senna; BRANCO, Angela Uchoa. Protagonismo infantil: co-

construindo significados em meio às práticas sociais. Paidéia (Ribeirão Preto) [online], v.

17, n. 38, p. 311-320, 2007. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/paideia/v17n38/v17n38a02.pdf. Acesso em: 02 de maio de 2017.

8- SARMENTO, Manuel Jacinto, Fernandes, Natália e Tomás, Catarina. Políticas Públicas e

Participação Infantil, Educação, Sociedade e Cultura, nº 25: 183-206, 2007.

9- Rossetti-Ferreira, Maria Clotilde; Gonçalves de Almeida, Ivy; do Amaral osta, Nina Rosa;

de Almeida Guimarães, Lilian; Neísa Mariano, Fernanda; de Pauli Teixeira, Sueli Cristina;

Serrano, Solange Aparecida. Acolhimento de crianças e adolescentes em situações de

abandono, violência e rupturas Psicologia: Reflexão e Crítica, vol. 25, núm. 2, 2012, pp.

390-399 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre, Brasil

10- FRIEDMANN, A. Construindo uma cultura da ética para as infâncias. SP: Promenino

Fundação Telefônica, 2016. Disponível em:

http://www.promenino.org.br/noticias/colunistas/construindo-uma-cultura-da-etica-para-as-

infancias. Acesso em: 24 de outubro de 2016.

11-GUSMÃO, D. e JOBIM E SOUZA, S. A estética da delicadeza nas roças de Minas: sobre

a memória e a fotografia como estratégia de pesquisa-intervenção. In: Psicologia &

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12-JOBIM e SOUZA, S.; CASTRO, L. R. Pesquisando com crianças: subjetividade infantil,

dialogismo e gênero discursivo. In: CRUZ, S. H.V. (org.) A criança fala: a escuta de

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13-JOSSO, M.C. O caminhar para si: uma perspectiva de formação de adultos e professores.

In: Revista @mbienteeducação. São Paulo, v.2, n.2, p.136-139, ago/dez. 2009.

14-KOSSOY, B. Fotografia e História. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.

15-KOSSOY, Boris. Os Tempos da Fotografia: o efêmero e o perpétuo. São Paulo: Ateliê

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18-LOPES, A; GUSMÃO, D.; PORTO, C.L. Correspondências entrelaçadas: percursos de

pesquisa com fotografia. In: KRAMER, S.; NUNES; M.F. e CARVALHO, M. C, (orgs.)

Educação Infantil: formação e responsabilidade. Campinas, S.P.: Papirus, 2013.

19-PEREIRA, R. M. R. Por uma ética da responsividade: exposição de princípios para a

pesquisa com crianças. In: Currículo sem Fronteiras, v.15, n.1, p.50-64, jan/abr.2015.

20 – PORTO, Cristina Laclette e RIZZINI, Irene. Olhares das Crianças sobre suas

Cidades: Reflexões sobre Aportes Metodológicos para Projetos de Pesquisa. São Paulo:

USP, seminário internacional Estudos da Infância, março de 2017.

21-SARMENTO, M.; FERNANDES, N. E TOMÁS, C. Políticas Públicas e Participação

Infantil. In: Educação, Sociedade & Culturas, nº25, 2007, 183-206.

22 -VIGOTSKI, L.S. Imaginação e Criação na Infância. São Paulo: Ática, 2009.