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Prof. Francisco Rocha
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ESTUDO DAS ATUALIZAÇÕES DA JURISPRUDÊNCIA NAS CIÊNCIAS CRIMINAIS.
1. DIREITO PROCESSUAL PENAL
A) DENÚNCIA ANÔNIMA, FUGA DO AGENTE E INVASÃO DOMICILIAR. PRISÃO LEGAL?
Entendimento da 6ª turma do STJ: A existência de denúncia anônima da prática de tráfico de drogas somada à
fuga do acusado ao avistar a polícia, por si sós, não configuram fundadas razões a autorizar o ingresso policial no
domicílio do acusado sem o seu consentimento ou sem determinação judicial.
Veja o que entende o STF sobre o assunto:
“A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada
em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de
flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de nulidade
dos atos praticados.” (RE n.º 603.616/Tema 280/STF).
Observação II: importante estudar esse julgado após ler os artigos 5º, XI, da CF e o art. 302 do CPP).
CF, Art. 5º, XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial;
CPP, Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:
I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça
presumir ser autor da infração;
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele
autor da infração.
Vamos ao julgado do STJ:
RECURSO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. FLAGRANTE. VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO. TEMA
280/STF. FUGA ISOLADA DO SUSPEITO. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. NULIDADE DE PROVAS
CONFIGURADA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO.
1. No RE n.º 603.616/Tema 280/STF, a Suprema Corte asseverou que a flagrância posterior, sem demonstração
de justa causa, não legitima o ingresso dos agentes do Estado em domicílio sem autorização judicial e fora das
hipóteses constitucionalmente previstas (art. 5º, XI, da CF).
2. Apesar de se verificar precedentes desta Quinta Turma em sentido contrário, entende-se mais adequado
com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal o entendimento que exige a prévia realização de diligências
policiais para verificar a veracidade das informações recebidas (ex: "campana que ateste movimentação
atípica na residência").
4. Recurso em habeas corpus provido para que sejam declaradas ilícitas as provas derivadas do flagrante na
ação penal n.º 0006327-46.2015.8.26.0224, em trâmite no Juízo da 4ª Vara Criminal da Comarca de
Guarulhos/SP.
(RHC 89.853/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 18/02/2020, DJe 02/03/2020)
B) PROCESSO PENAL. COMPETÊNCIA. ESTELIONATO. DEPÓSITO EM FAVOR DE CONTA BANCÁRIA
DE TERCEIRO. COMPETÊNCIA. DIVERGÊNCIA NA TERCEIRA SEÇÃO. JUÍZO DO LOCAL DA
AGÊNCIA BENEFICIÁRIA DO DEPÓSITO. COMPETENTE.
Entendimento do STJ: na hipótese em que o estelionato se dá mediante vantagem indevida, auferida mediante o
depósito em favor de conta bancária de terceiro, a competência deverá ser declarada em favor do juízo no qual se
situa a conta favorecida.
Cuidado para não confundir;
a) com a hipótese de estelionato na modalidade de emissão de cheque sem provisão de fundos, cuja
competência será a do local onde se deu a recusa do pagamento (local da agência bancária do emissor
do cheque). Nesse sentido, as súmulas 521 do STF (o foro competente para o processo e julgamento dos
crimes de estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do
local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado) e 244 do próprio STJ (“compete ao foro do local
da recusa processar e julgar o crime de estelionato mediante cheque sem provisão de fundos”).
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b) Com o estelionato por meio de saque (ou compensação) de cheque clonado, adulterado ou falsificado,
quando a competência será do local onde a vítima possui conta bancária, aplicando-se, aqui, a súmula 48
do STJ (Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de
estelionato cometido mediante falsificação de cheque).
Vamos ao julgado do STJ:
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. ESTELIONATO. DISSENSO ACERCA DO LOCAL DA
CONSUMAÇÃO NA HIPÓTESE DE TRANSFERÊNCIA OU DEPÓSITO BANCÁRIO. DIVERGÊNCIA
VERIFICADA ENTRE PRECEDENTES RECENTES DA TERCEIRA SEÇÃO. EQUACIONAMENTO DO TEMA.
COMPETÊNCIA DO JUÍZO DO LOCAL DA AGÊNCIA BENEFICIÁRIA DO DEPÓSITO.
1. A jurisprudência da Terceira Seção desta Corte tem oscilado na solução dos conflitos que versam acerca de
crime de estelionato no qual a vítima é induzida a efetuar depósito ou transferência bancária em prol de conta
bancária do beneficiário da fraude.
2. Deve prevalecer a orientação que estabelece diferenciação entre a hipótese em que o estelionato se dá
mediante cheque adulterado ou falsificado (consumação no banco sacado, onde a vítima mantém a conta
bancária), do caso no qual o crime ocorre mediante depósito ou transferência bancária (consumação na agência
beneficiária do depósito ou transferência bancária).
3. Se o crime de estelionato só se consuma com a efetiva obtenção da vantagem indevida pelo agente
ativo, é certo que só há falar em consumação, nas hipóteses de transferência e depósito, quando o valor
efetivamente ingressa na conta bancária do beneficiário do crime.
4. No caso, considerando que a vantagem indevida foi auferida mediante o depósito em contas bancárias
situadas em São Paulo/SP, a competência deverá ser declarada em favor daquele Juízo (suscitado).
5. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito do Foro Central Criminal da Barra Funda
(DIPO 4) da comarca de São Paulo/SP, o suscitado.
(CC 169.053/DF, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 11/12/2019, DJe
19/12/2019)
Cuidado para não confundir com a situação seguinte.
C) FALSO SEQUESTRO. COMPETÊNCIA. LOCAL DA CONSUMAÇÃO DO CRIME. CRIME DE
EXTORSÃO OU ESTELIONATO?
Entendimento: a conduta de simulação de sequestro com o objetivo de ameaçar a vítima amolda-se ao
delito de extorsão tipificado no art. 158 do Código Penal. Sendo crime formal, sua consumação se dá no
local do constrangimento da vítima.
Vamos ao julgado do STJ:
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL. "FALSO SEQUESTRO". COMPETÊNCIA FIRMADA PELO
LOCAL DA CONSUMAÇÃO DO DELITO (ART. 70 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL – CPP).
PRÁTICA EM TESE DO CRIME DE EXTORSÃO. DELITO FORMAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 96 DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – STJ. CONSUMAÇÃO NO LOCAL DO
CONSTRANGIMENTO DA VÍTIMA. O RECEBIMENTO DA VANTAGEM INDEVIDA CONFIGURA MERO
EXAURIMENTO.
1. O presente conflito de competência deve ser conhecido, por se tratar de incidente instaurado entre
juízos vinculados a Tribunais distintos, nos termos do art. 105, inciso I, alínea d da Constituição Federal –
CF.
2. O núcleo da controvérsia consiste em saber se a competência para apurar suposta conduta
criminosa de comunicação por telefone de falso sequestro com exigência de resgate por meio de
sucessivos depósitos bancários seria do Juízo do local onde a vítima teria sofrido a ameaça por
telefone e depositado as quantias exigidas; ou o Juízo do local onde está situada a agência
bancária da conta beneficiária do valor extorquido.
3. Nos termos do art. 70 do Código de Processo Penal – CPP, "a competência será, de regra,
determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for
praticado o último ato de execução". Diante disso, para solução da controvérsia sobre a competência é
imprescindível identificar o delito em tese praticado, levando-se em consideração os fatos apurados no
inquérito policial.
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4. Conforme jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – STJ, a conduta de simulação de
sequestro com o objetivo de ameaçar a vítima amolda-se ao delito de extorsão tipificado no art. 158
do Código Penal – CP. Isso porque, no crime de extorsão, a vítima entrega seus bens com medo de
o agente cumprir suas ameaças, ao passo que, no estelionato, a vítima sofre o prejuízo por ser
induzida a erro, mediante meio ardiloso e sem ameaças. Precedentes: CC 129.275/RJ, Rel. Ministra
LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 3/2/2014 e CC 115.006/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE
ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 21/3/2011)
5. No caso concreto, constata-se que o agente praticou ameaças, as quais aterrorizaram a vítima
que temeu pela morte de sua filha. Nesse contexto, configurada a prática, em tese, do delito de
extorsão, incide na espécie a Súmula 196 do STJ, segundo a qual "o crime de extorsão consuma-
se independentemente da obtenção da vantagem indevida".
6. Destarte, o crime em análise se consumou no município de Santo Antônio das Missões – RS, onde a
vítima se encontrava no momento em que sofreu a primeira ameaça e realizou o primeiro depósito,
de forma que o recebimento da vantagem indevida pelo meliante, em agência bancária situada no
Rio de Janeiro, caracteriza mero exaurimento do delito.
7. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da Vara de Santo Antônio da Missões –
RS, o suscitado.
(Conflito de Competência nº 163.854 – RJ, STJ, 3ª Seção, unânime, rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado
em 28.08.2019, publicado no DJe em 09.09.19)
D) PROCESSO PENAL. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA. MANDADO DE PRISÃO PREVENTIVA.
CUMPRIMENTO EM UNIDADE JURISDICIONAL DIVERSA. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA. REALIZAÇÃO
POR MEIO DE VIDEOCONFERÊNCIA PELO JUÍZO ORDENADOR DA PRISÃO. NÃO CABIMENTO.
AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL.
Entendimento do STJ: Não é cabível a realização de audiência de custódia por meio de videoconferência.
Vamos ao julgado do STJ:
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL PENAL. MANDADO DE PRISÃO PREVENTIVA.
CUMPRIMENTO EM UNIDADE JURISDICIONAL DIVERSA. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA. REALIZAÇÃO.
COMPETÊNCIA. JUÍZO DA LOCALIDADE EM QUE EFETIVADA A PRISÃO. REALIZAÇÃO POR MEIO DE
VIDEOCONFERÊNCIA PELO JUÍZO ORDENADOR DA PRISÃO. DESCABIMENTO. PREVISÃO LEGAL.
INEXISTÊNCIA. CONFLITO CONHECIDO PARA DECLARAR COMPETENTE O JUÍZO SUSCITANTE.
1. A audiência de custódia, no caso de mandado de prisão preventiva cumprido fora do âmbito territorial
da jurisdição do Juízo que a determinou, deve ser efetivada por meio da condução do preso à autoridade
judicial competente na localidade em que ocorreu a prisão. Não se admite, por ausência de previsão legal,
a sua realização por meio de videoconferência, ainda que pelo Juízo que decretou a custódia cautelar.
2. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal da Vara da Seção Judiciária do Paraná, o
Suscitante.
(CC 168.522/PR, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 11/12/2019, DJe 17/12/2019)
E) PROCESSO PENAL. PROVAS. AUTORIDADE POLICIAL QUE ATENDE LIGAÇÃO COMO SE FOSSE
O ACUSADO. NEGOCIAÇÃO PARA PROVOCAR PRISÃO EM FLAGRANTE. AUSÊNCIA DE
AUTORIZAÇÃO PESSOAL OU JUDICIAL. ILICITUDE DA PROVA.
Entendimento: é ilícita a prova obtida mediante conduta da autoridade policial que atende, sem autorização, o
telefone móvel do acusado e se passa pela pessoa sob investigação.
Vamos ao julgado do STJ:
HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO. ILICITUDE DA PROVA.
AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO PESSOAL OU JUDICIAL PARA ACESSAR DADOS DO APARELHO
TELEFÔNICO APREENDIDO OU PARA ATENDER LIGAÇÃO. POLICIAL PASSOU-SE PELO DONO DA LINHA
E FEZ NEGOCIAÇÃO PARA PROVOCAR PRISÃO EM FLAGRANTE. INEXISTÊNCIA DE PROVA AUTÔNOMA E
INDEPENDENTE SUFICIENTE PARA A CONDENAÇÃO.
1. Não tendo a autoridade policial permissão, do titular da linha telefônica ou mesmo da Justiça, para ler
mensagens nem para atender ao telefone móvel da pessoa sob investigação e travar conversa por meio do
aparelho com qualquer interlocutor que seja se passando por seu dono, a prova obtida dessa maneira
arbitrária é ilícita.
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2. Tal conduta não merece o endosso do Superior Tribunal de Justiça, mesmo que se tenha em mira a persecução
penal de pessoa supostamente envolvida com tráfico de drogas. Cabe ao magistrado abstrair a prova daí
originada do conjunto probatório porque alcançada sem observância das regras de Direito que disciplinam a
execução do jus puniendi. 3. No caso, a condenação do paciente está totalmente respaldada em provas ilícitas,
uma vez que, no momento da abordagem ao veículo em que estavam o paciente, o corréu e sua namorada,
o policial atendeu ao telefone do condutor, sem autorização para tanto, e passou-se por ele para fazer a
negociação de drogas e provocar o flagrante. Esse policial também obteve acesso, sem autorização
pessoal nem judicial, aos dados do aparelho de telefonia móvel em questão, lendo mensagem que não lhe
era dirigida. 4. O vício ocorrido na fase investigativa atinge o desenvolvimento da ação penal, pois não há
prova produzida por fonte independente ou cuja descoberta seria inevitável. Até o testemunho dos
policiais em juízo está contaminado, não havendo prova autônoma para dar base à condenação. Além da
apreensão, na hora da abordagem policial, de cocaína (2,8 g), de maconha (1,26 g), de celulares e de R$ 642,00
(seiscentos e quarenta e dois reais) trocados, nada mais havia no carro, nenhum petrecho comumente usado na
traficância (caderno de anotações, balança de precisão, material para embalar droga, etc.). Somente a partir da
leitura da mensagem enviada a um dos telefones e da primeira ligação telefônica atendida pelo policial é que as
coisas se desencadearam e deram ensejo à prisão em flagrante por tráfico de drogas e, depois, à denúncia e
culminaram com a condenação.
5. Ordem concedida para anular toda a ação penal.
(HC 511.484/RS, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 15/08/2019, DJe
29/08/2019)
F) PROCESSO PENAL. UNIÃO HOMOAFETIVA E LEGITIMIDADE PARA AJUIZAMENTO DA AÇÃO
PENAL PRIVADA POR COMPANHEIRA.
Entendimento: a companheira, em união estável homoafetiva reconhecida, goza do mesmo status de cônjuge
para o processo penal, possuindo legitimidade para ajuizar a ação penal privada.
Vamos conferir o art. 3º c/c arts. 24, § 1º, e 31, do CPP:
CPP, Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o
suplemento dos princípios gerais de direito.
CPP, Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas
dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de
quem tiver qualidade para representá-lo.
§ 1º No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de representação
passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
CPP, Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de
oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
Curiosidade: o STJ cometeu, no acórdão abaixo, um erro ao citar o art. 24, § 1º, do CPP. Leram os artigos
acima? Confiram agora o julgado abaixo e vejam vocês mesmos.
Vamos ao julgado do STJ:
QUEIXA-CRIME. ACUSAÇÃO CONTRA DESEMBARGADORA DO TJRJ. PRERROGATIVA DE FORO NO STJ.
CRIME DE CALÚNIA CONTRA PESSOA MORTA. QUEIXA PARCIALMENTE RECEBIDA.
1. É do Superior Tribunal de Justiça a competência para processar e julgar a queixa-crime em questão, que
imputa o crime de calúnia a Desembargadora do TJRJ, pois, caso contrário, a Acusada teria de responder perante
juiz de direito vinculado ao mesmo Tribunal, o que afrontaria a isenção e independência que norteiam a atividade
jurisdicional. Precedentes: QO na APn 878/DF, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, CORTE ESPECIAL,
julgado em 21/11/2018, DJe 19/12/2018;
APn 895/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado em 15/05/2019, DJe 07/06/2019.
2. Por se tratar de crime de calúnia contra pessoa morta (art. 138, § 2.º, do Código Penal), os Querelantes -
mãe, pai, irmã e companheira em união estável da vítima falecida - são partes legítimas para ajuizar a ação
penal privada, nos termos do art. 24, § 1.º, do Código de Processo Penal ("§ 1.º No caso de morte do
ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de representação passará ao
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão").
3. A companheira, em união estável reconhecida, goza do mesmo status de cônjuge para o processo
penal, podendo figurar como legítima representante da falecida. Vale ressaltar que a interpretação
extensiva da norma processual penal tem autorização expressa no art.
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3.º do CPP ("A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o
suplemento dos princípios gerais de direito"). 4. Ademais, "o STF já reconheceu a 'inexistência de hierarquia ou
diferença de qualidade jurídica entre as duas formas de constituição de um novo e autonomizado núcleo
doméstico', aplicando-se a união estável entre pessoas do mesmo sexo as mesmas regras e mesmas
consequências da união estável heteroafetiva' [...]". (RE 646721, Relator Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-204 DIVULG 08-09-2017 PUBLIC 11-09-2017).
5. A despeito do cabimento.......
(APn 912/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, julgado em 07/08/2019, DJe 22/08/2019)
G) PROCESSO PENAL. INVESTIGAÇÃO DEFLAGRADA COM BASE EM NOTITIA CRIMINIS DE
COGNIÇÃO IMEDIATA. NOTÍCIA VEICULADA EM IMPRENSA. REPORTAGEM JORNALÍSTICA.
POSSIBILIDADE.
Entendimento: é possível a deflagração de investigação criminal com base em matéria jornalística.
Vamos ao julgado do STJ:
PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. GESTÃO FRAUDULENTA. ALEGAÇÃO DE
NULIDADES NO INQUÉRITO POLICIAL. NÃO OCORRÊNCIA. INCOMPETÊNCIA RATIONE LOCI. NÃO
OCORRÊNCIA. ATOS DE GESTÃO. ATOS DECISÓRIOS. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO. NÃO
CARACTERIZAÇÃO. PARTICIPAÇÃO DO SUPOSTO DETENTOR DO FORO COMO TESTEMUNHA E NÃO
COMO INVESTIGADO. INVESTIGAÇÃO DEFLAGRADA COM BASE EM NOTITIA CRIMINIS DE COGNIÇÃO
IMEDIATA. NOTÍCIA VEICULADA EM IMPRENSA. REPORTAGEM JORNALÍSTICA. POSSIBILIDADE. OUTROS
ELEMENTOS. RECURSO DESPROVIDO.
1. De acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o trancamento de inquérito policial, por meio
de habeas corpus ou de recurso em habeas corpus, é medida de exceção, sendo cabível, tão somente,
quando inequívoca a ausência de justa causa, v.g., a atipicidade do fato ou a inexistência de autoria por
parte do indiciado.
2. A fraude, para a caracterização do crime de gestão fraudulenta, ante a intelecção do indigitado preceito de
regência,"compreende a ação realizada de má-fé, com intuito de enganar, iludir, produzindo resultado não
amparado pelo ordenamento jurídico através de expedientes ardilosos". A gestão fraudulenta, portanto, "se
configura pela ação do agente mediante o emprego de ardis e artifícios, com o intuito de obter vantagem indevida"
(HC n.
95.515/RJ, relª. Minª. Ellem Gracie, Primeira Turma, Dje 30/9/2008).
3. Na linha do que já decidiu esta Corte Superior, "Os delitos dos arts. 4º, 6º e 10 da Lei 7.492/86 são formais, ou
seja, não exigem resultados decorrentes das condutas, e consumam-se com a prática dos atos de gestão (art.4º)
[...]" (CC n. 91.162/SP, rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 12/8/2009, Dje
2/9/2009).
4. Na hipótese vertente, não obstante as tratativas iniciais terem sido traçadas na Bahia, verifica-se que os atos
decisórios, ou seja, as concessões dos créditos - "atos decisórios de seu deferimento" - teriam sido realizadas em
Fortaleza/CE, Juízo este, portanto, competente, primo ictu oculi.
5. O foro por prerrogativa de função foi instituído pelo constituinte originário a ocupantes de determinados cargos
em razão de sua relevância e para proteção da consecução de suas finalidades intrínsecas no âmbito da
organização estatal. Desse modo, verificada a existência de conexão ratione personae, deverá ser observada a
competência privilegiada para todos os atos investigatórios e instrutórios, sem que tal desiderato importe ofensa
aos princípios do juiz natural e do devido processo legal.
6. No entanto, na hipótese vertente, consignou a instância ordinária que o então Ministro do Planejamento (e ex-
Presidente do Conselho de Administração do Banco do Nordeste) - o qual alude a defesa que estaria sob
investigação -, figurou, deveras, como testemunha e não como possível investigado. Tal conclusão, portanto, não
possui o condão de autorizar a remessa dos autos ao Supremo Tribunal Federal.
7. Ademais, perquirir eventual participação do então detentor do foro por prerrogativa de função, no âmbito do
habeas corpus, é expediente não admitido, porquanto a via eleita, ante seu angusto espectro cognitivo e pelas
peculiaridades do caso vertente, não permite tal aferição para infirmar a conclusão obtida pela Corte de origem.
8. É possível que a investigação criminal seja perscrutada pautando-se pelas atividades diuturnas da
autoridade policial, verbi gratia, o conhecimento da prática de determinada conduta delitiva a partir de
veículo midiático, no caso, a imprensa. É o que se convencionou a denominar, em doutrina, de notitia
criminis de cognição imediata (ou espontânea), terminologia obtida a partir da exegese do art. 5º, inciso I,
do CPP, do qual se extrai que "nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado de ofício".
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9. In casu, "uma reportagem jornalística pode ter o condão de provocar a autoridade encarregada da
investigação, a qual, no desempenho das funções inerentes a seu cargo, tendo notícia de crime de ação
penal pública incondicionada, deve agir inclusive ex officio (a licitude das provas apresentadas na
reportagem não é tema que possa, no escopo exíguo de cognição do writ, ser aferida com mínima
segurança, não sendo ocioso lembrar o sigilo da fonte, constitucionalmente assegurado)", sem olvidar a
"farta documentação que foi acostada pela autoridade policial e pelo próprio Parquet Federal".
10. Recurso desprovido.
(RHC 98.056/CE, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 04/06/2019, DJe
21/06/2019)
H) PROCESSO PENAL. REVISTA PESSOAL. EXCLUSIVIDADE DAS AUTORIDADES JUDICIAIS,
POLICIAIS OU SEUS AGENTES. INVALIDADE DA REVISTA PESSOAL REALIZADA POR AGENTE
DE SEGURANÇA PRIVADA. PROVAS OBTIDAS. ILICITUDE.
Entendimento: é ilícita a revista pessoal realizada por agente de segurança privada e todas as provas
decorrentes desta.
Vamos ao julgado do STJ:
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. DESCABIMENTO. TRÁFICO DE DROGAS.
ILICITUDE DA PROVA. REVISTA PESSOAL REALIZADA NO AGENTE POR INTEGRANTES DA SEGURANÇA
PRIVADA DA COMPANHIA PAULISTA DE TRENS METROPOLITANOS - CPTM. IMPOSSIBILIDADE. WRIT NÃO
CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
1. Diante da hipótese de habeas corpus substitutivo de recurso próprio, a impetração não deve ser conhecida,
segundo orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal - STF e do Superior Tribunal de Justiça - STJ.
Contudo, ante as alegações expostas na inicial, afigura-se razoável a análise do feito para verificar a existência de
eventual constrangimento ilegal. Não é cabível a utilização do habeas corpus como substitutivo do meio
processual adequado.
2. Discute-se nos autos a validade da revista pessoal realizada por agente de segurança privada da
Companhia Paulista de Trens Metropolitanos - CPTM.
3. Segundo a Constituição Federal - CF e o Código de Processo Penal - CPP somente as autoridades
judiciais, policiais ou seus agentes, estão autorizados a realizarem a busca domiciliar ou pessoal.
4. Habeas corpus não conhecido. Todavia, concedida a ordem, de ofício, para absolver o paciente, com fulcro no
art. 386, inciso II, do CPP.
(HC 470.937/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 04/06/2019, DJe
17/06/2019)
I) PROCESSO PENAL. PROVAS ILÍCITAS. REVISTA ÍNTIMA. DENÚNCIA ANÔNIMA. FUNDAMENTO
EXCLUSIVO. IMPOSSIBILIDADE. ILICITUDE DAS PROVAS OBTIDAS.
Caso concreto: no caso, a acusada foi submetida à realização de revista íntima com base, tão somente, em uma
denúncia anônima feita ao presídio no dia dos fatos informando que ela tentaria entrar no presídio com drogas,
sem a realização de outras diligências prévias para apurar a veracidade e a plausibilidade dessa informação.
Entendimento: é ilícita a prova obtida por meio de revista íntima realizada com base unicamente em denúncia
anônima.
Vamos ao julgado do STJ:
RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO DE DROGAS. REVISTA ÍNTIMA. ILICITUDE DAS PROVAS OBTIDAS.
RECURSO NÃO PROVIDO.
1. A acusada foi submetida à realização de revista íntima com base, tão somente, em uma denúncia
anônima feita ao presídio no dia dos fatos informando que ela tentaria entrar no presídio com drogas, sem
a realização, ao que tudo indica, de outras diligências prévias para apurar a veracidade e a plausibilidade
dessa informação.
2. No caso, houve apenas "denúncia anônima" acerca de eventual traficância praticada pela ré, incapaz,
portanto, de configurar, por si só, fundadas suspeitas a autorizar a realização de revista íntima.
3. Se não havia fundadas suspeitas para a realização de revista na acusada, não há como se admitir que a
mera constatação de situação de flagrância - localização, no interior da vagina, de substância
entorpecente (45,2 gramas de maconha) -, posterior à revista, justifique a medida, sob pena de esvaziar-se
o direito constitucional à intimidade, à honra e à imagem do indivíduo.
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4. Em que pese eventual boa-fé dos agentes penitenciários, não havia elementos objetivos e racionais que
justificassem a realização de revista íntima. Eis a razão pela qual são ilícitas as provas obtidas por meio da
medida invasiva, bem como todas as que delas decorreram (por força da Teoria dos Frutos da Árvore
Envenenada), o que impõe a absolvição dos acusados, por ausência de provas acerca da materialidade do
delito.
5. Recurso especial não provido. (REsp 1695349/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 08/10/2019, DJe 14/10/2019)
J) PROCESSO PENAL. CONSTITUCIONAL. BUSCA E APREENSÃO NAS DEPENÊNCIAS DO CONGRESSO NACIONAL ATRAI A COMPETÊNCIA DO STF?
Entendimento do STF: inexistente previsão constitucional em direção diversa, não há como se acolher a pretensão no sentido de que seria necessariamente do Supremo Tribunal Federal a competência para apreciar pedido de busca e apreensão a ser cumprida nas dependências de Casas Legislativas.
Vamos ao julgado do STF:
RECLAMAÇÃO. AÇÃO CAUTELAR. JULGAMENTO CONJUNTO. MATÉRIA PROCESSUAL PENAL. BUSCA E
APREENSÃO REALIZADA NAS DEPENDÊNCIAS DO SENADO FEDERAL. MEDIDA AUTORIZADA PELO JUÍZO
DE PRIMEIRO GRAU. AUSÊNCIA DE AUTOMÁTICA E NECESSÁRIA USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. SUPERVISÃO DE APURAÇÃO TENDENTE A ELUCIDAR CONDUTAS
POTENCIALMENTE ATRIBUÍDAS A CONGRESSISTAS NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO PARLAMENTAR.
VULNERAÇÃO À COMPETÊNCIA DESTA CORTE. HIGIDEZ DAS PROVAS REPETÍVEIS OU QUE DISPENSAM
PRÉVIA AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. PEDIDO PARCIALMENTE PROCEDENTE. 1. A competência penal originária
do Supremo Tribunal Federal, inclusive no que toca à etapa investigatória, encontra-se taxativamente elencada
nas regras de direito estrito estabelecidas no art. 102 da CRFB, razão pela qual não permite alargamento pela via
interpretativa. 2. Inexistente previsão constitucional em direção diversa, não há como se acolher a
pretensão no sentido de que seria necessariamente do Supremo Tribunal Federal a competência para
apreciar pedido de busca e apreensão a ser cumprida nas dependências de Casas Legislativas. Isso
porque, conforme se extrai do art. 102, CRFB, não se elegeu o local da realização de diligências, ou seja, o
critério espacial, como fator de determinação de competência desta Corte. 3. As imunidades parlamentares
visam a salvaguardar a independência do exercício dos respectivos mandatos congressuais, de modo que não
são passíveis de extensão em favor de outros agentes públicos ou funções alheias às estritas atividades
parlamentares. Por essa razão, não há impedimento normativo de que integrantes de Polícia Legislativa
sejam diretamente investigados em primeiro grau, na medida em que referidas funções públicas não se
inserem no rol taxativo a legitimar a competência penal originária desta Suprema Corte. 4. Eventuais
interferências entre os Poderes constituídos ou condicionamentos da atividade jurisdicional, como a exigência de
participação de outros órgãos na realização de determinadas diligências, devem decorrer de previsão
constitucional, descabendo adotar mecanismo de freio e contrapeso não disciplinado, expressa ou implicitamente,
pela própria Constituição da República. 5. A jurisprudência desta Suprema Corte firmou-se no sentido de que
a competência penal constitucionalmente estabelecida alcança também a fase investigatória. Assim, se
inexistir indicativo de competência do Supremo Tribunal Federal para processar e julgar eventual ação
penal, não há razão para que a Suprema Corte aprecie medida de cunho preparatório e acessório. 6. Em
sede de reclamação, a alegação de usurpação da competência do STF em razão da investigação, em primeiro
grau, de agentes detentores de foro nesta Suprema Corte, deve ser demonstrada sem exigir o reexame de
matéria fático-probatória. Para a configuração dessas circunstâncias, são insuficientes a possibilidade abstrata de
envolvimento de parlamentares, bem como simples menções a nomes de congressistas. 7. Caso concreto em
que, segundo decisões judiciais anteriormente proferidas pelo Juízo reclamado, a confirmação das hipóteses
investigatórias poderia levar a identificação de parlamentares que, em tese, teriam comandado os atos objeto de
apuração, cenário, a um só tempo, a denotar a usurpação da competência desta Suprema Corte e afastar a
alegação de incidência da Teoria do Juízo Aparente. 8. A irregularidade atinente à competência para supervisão
das investigações não infirma a validade de quaisquer elementos probatórios não sujeitos à cláusula de reserva
de jurisdição e que, bem por isso, dispensam, para sua produção ou colheita, prévia autorização judicial. 9. As
interceptações telefônicas, por sua vez, sujeitas a perecimento por excelência, bem como a quebra de sigilo
telefônico deferida com base nesses diálogos captados, são declaradas ilícitas em relação aos detentores de
prerrogativa de foro nesta Corte, providência que não se estende aos demais investigados. 10. O Tribunal Pleno,
por maioria, acolheu o pedido cautelar formulado pela Procuradoria-Geral da República para o fim de não
desconstituir a busca e apreensão realizada, resguardando-se o exame exauriente da validade de eventuais
provas decorrentes da medida para momento oportuno, após avaliação do material arrecadado pelos órgãos de
persecução. 11. Pedido julgado parcialmente procedente. (Rcl 25537, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Tribunal
Pleno, julgado em 26/06/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-052 DIVULG 10-03-2020 PUBLIC 11-03-2020)
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K) PROCESSO PENAL. BUSCA E APREENSÃO. É IMPRESCINDÍVEL QUE A DECISÃO JUDICIAL E O
MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO ESPECIQUEM COM PRECISÃO O QUE PODE SER
APREENDIDP?
Entendimento do STJ: suficiente à delimitação da busca e apreensão é a determinação de que deveriam ser
apreendidos os materiais que pudessem guardar relação estrita com aqueles fatos, e que todo e qualquer material
apreendido que se revele desconectado dos fatos em apuração deverá ser imediatamente restituído a parte.
Vamos ao julgado do STF:
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. OPERAÇÃO CHABU. MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO.
NULIDADE DAS PROVAS OBTIDAS NA RESIDÊNCIA SEM A PRESENÇA DE REPRESENTANTE DA OAB.
ALEGAÇÃO DE INVIOLABILIDADE DO ADVOGADO. INOCORRÊNCIA. INVESTIGAÇÃO DE CRIME NÃO
RELACIONADO COM A ATUAÇÃO PROFISSIONAL. ALEGADA GENERALIDADE DO MANDADO DE BUSCA E
APREENSÃO. IMPOSSIBILIDADE DE PREVER TODOS OS MATERIAIS QUE SERÃO ENCONTRADOS.
AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. DECISÃO MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO.
1. A decisão agravada deve ser mantida pelos seus próprios fundamentos.
2. A proteção do art. 7º, II e § 6º, da Lei 8.906/94, se dá em favor da atividade da advocacia e do sigilo na relação
com o cliente - não como obstáculo à investigação de crimes pessoais - e estará sempre relacionada ao exercício
da advocacia, como compreendeu o Supremo Tribunal Federal na ADI 1.127.
3. Suficiente à delimitação da busca e apreensão é a determinação de que deveriam ser apreendidos os
materiais que pudessem guardar relação estrita com aqueles fatos, e que todo e qualquer material
apreendido que se revele desconetado dos fatos em apuração deverá ser imediatamente restituído a parte.
Precedentes.
4. Agravo regimental improvido.
(AgRg no HC 537.017/RS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 17/12/2019, DJe
03/02/2020)
2. DIREITO PENAL
A) DIREITO PENAL. FURTO QUALIFICADO E PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
Entendimento da 5º turma do STJ: A despeito da presença de qualificadora no crime de furto possa, à primeira
vista, impedir o reconhecimento da atipicidade material da conduta, a análise conjunta das circunstâncias pode
demonstrar a ausência de lesividade do fato imputado, recomendando a aplicação do princípio da insignificância.
Observação: lembre dos vetores com base nos quais se pode aplicar o princípio da insignificância: (a) a mínima
ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau
de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada (HC n.
98.152/MG, Rel. Ministro Celso de Mello, Segunda Turma, DJe 5/6/2009).
Vamos ao julgado do STJ:
PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL.
DESCABIMENTO. FURTO QUALIFICADO. SUBTRAÇÃO DE GÊNEROS ALIMENTÍCIOS. EXCEPCIONALIDADE
DO CASO CONCRETO. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
1. O Superior Tribunal de Justiça, seguindo entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal, passou a não
admitir o conhecimento de habeas corpus substitutivo de recurso previsto para a espécie. No entanto, deve-se
analisar o pedido formulado na inicial, tendo em vista a possibilidade de se conceder a ordem de ofício, em razão
da existência de eventual coação ilegal.
2. De acordo com a orientação traçada pelo Supremo Tribunal Federal, a aplicação do princípio da
insignificância demanda a verificação da presença concomitante dos seguintes vetores (a) a mínima
ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau
de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada.
3. O princípio da insignificância é verdadeiro benefício na esfera penal, razão pela qual não há como deixar de se
analisar o passado criminoso do agente, sob pena de se instigar a multiplicação de pequenos crimes pelo mesmo
autor, os quais se tornariam inatingíveis pelo ordenamento penal. Imprescindível, no caso concreto, porquanto, de
plano, aquele que é contumaz na prática de crimes não faz jus a benesses jurídicas.
4. Na espécie, a conduta é referente a um furto qualificado pelo concurso de agentes de produtos
alimentícios avaliados em R$ 62,29.
5. Assim, muito embora a presença da qualificadora possa, à primeira vista, impedir o reconhecimento da
atipicidade material da conduta, a análise conjunta das circunstâncias demonstra a ausência de lesividade
do fato imputado, recomendando a aplicação do princípio da insignificância.
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6. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para trancar a ação penal movida em desfavor das
pacientes.
(HC 553.872/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 11/02/2020,
DJe 17/02/2020)
B) DIREITO PENAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO PELO MEIO CRUEL. DOLO EVENTUAL.
Entendimento da 5º turma do STJ: A qualificadora do meio cruel é compatível com o dolo eventual.
Vamos ao julgado do STJ:
RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. PRONÚNCIA. DOLO
EVENTUAL. QUALIFICADORA DO MEIO CRUEL. COMPATIBILIDADE. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
1. Consiste a sentença de pronúncia no reconhecimento de justa causa para a fase do júri, com a presença de
prova da materialidade de crime doloso contra a vida e indícios de autoria, não representando juízo de
procedência da culpa.
2. Inexiste incompatibilidade entre o dolo eventual e o reconhecimento do meio cruel para a consecução
da ação, na medida em que o dolo do agente, direto ou indireto, não exclui a possibilidade de a prática
delitiva envolver o emprego de meio mais reprovável, como veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou
outro meio insidioso ou cruel (AgRg no RHC 87.508/DF, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 23/10/2018, DJe 03/12/2018).
3. É admitida a incidência da qualificadora do meio cruel, relativamente ao fato de a vítima ter sido
arrastada por cerca de 500 metros, presa às ferragens do veículo, ainda que já considerado ao
reconhecimento do dolo eventual, na sentença de pronúncia.
4. Recurso especial provido para restabelecer a qualificadora do meio cruel reconhecida na sentença de
pronúncia.
(REsp 1829601/PR, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 04/02/2020, DJe 12/02/2020)
C) DIREITO PENAL. PECULATO-DESVIO. DESCONTO DE VALORES DOS CONTRACHEQUES DOS
SERVIDORES PARA QUITAÇÃO DE EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS. NÃO REPASSE À
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. DEMONSTRAÇÃO DO PROVEITO PRÓPRIO OU ALHEIO.
DESNECESSIDADE.
Entendimento do STJ: o administrador que desconta valores da folha de pagamento dos servidores públicos
para quitação de empréstimo consignado e não os repassa a instituição financeira pratica peculato-desvio, sendo
desnecessária a demonstração de obtenção de proveito próprio ou alheio, bastando a mera vontade de
realizar o núcleo do tipo.
Confira antes o art. 312 do Código Penal:
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular,
de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa
Vamos ao julgado do STJ:
PENAL. AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. GOVERNADOR DO ESTADO DO AMAPÁ.
RECURSOS DE APELAÇÃO. PECULATO-DESVIO. CONDUTA TÍPICA. RETENÇÃO DE VALORES RELATIVOS
A EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS. PERDA DO CARGO DE GOVERNADOR. APELAÇÃO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO PROVIDA. CONDENAÇÃO DO RÉU ÀS PENAS DE RECLUSÃO E DE MULTA E AO
RESSARCIMENTO DO ERÁRIO.
1. Peculato-desvio é crime formal para cuja consumação não se exige que o agente público ou terceiro
obtenha vantagem indevida mediante prática criminosa, bastando a destinação diversa daquela que
deveria ter o dinheiro. Os aspectos formais da descrição típica da conduta estão preenchidos na medida em que
é desviado dinheiro destinado ao pagamento de empréstimos consignados de servidores públicos.
2. Configura peculato-desvio a retenção dos valores descontados da folha de pagamento dos servidores
públicos que recebiam seus vencimentos já com os descontos dos valores de retenção a título de
empréstimo consignado, mas, por ordem de administrador, os repasses às instituições financeiras
credoras não eram realizados.
3. Na modalidade peculato-desvio, não se discute o deslocamento de verbas públicas em razão de gestão
administrativa, mas o deslocamento de dinheiro particular em posse do Estado. Assim, a consumação do
crime não depende da prova do destino do dinheiro ou do benefício obtido por agente ou terceiro.
4. Nos termos do art. 92, I, do Código Penal, a perda do cargo, função ou mandado eletivo é efeito da
condenação, mas é imprescindível que o juiz fundamente especificamente a decretação desse efeito extrapenal.
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É absolutamente incabível que o chefe do Poder Executivo de Estado da Federação permaneça no cargo
após condenação pela prática de crime cuja natureza jurídica está fundamentada no resguardo da
probidade administrativa.
5. Apelação do Ministério Público provida para condenação do réu às penas de reclusão e de multa e para
ressarcimento do erário em montante atualizado e corrigido. Apelação do réu prejudicada.
Decretação da perda do cargo de governador de Estado.
(APn 814/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Rel. p/ Acórdão Ministro JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, CORTE ESPECIAL, julgado em 06/11/2019, DJe 04/02/2020)
D) DIREITO PENAL. MEDIDA DE SEGURANÇA. ART. 97 DO CÓDIGO PENAL. INIMPUTABILIDADE DO
RÉU. CRIME PUNIDO COM PENA DE RECLUSÃO. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA IMPRÓPRIA. MEDIDA
DE SEGURANÇA. INTERNAÇÃO EM MANICÔMIO JUDICIÁRIO. SUBSTITUIÇÃO POR TRATAMENTO
AMBULATORIAL. POSSIBILIDADE.
Entendimento do STJ: na aplicação do art. 97 do Código Penal não deve ser considerada a natureza da pena
privativa de liberdade aplicável, mas sim a periculosidade do agente, cabendo ao julgador a faculdade de optar
pelo tratamento que melhor se adapte ao inimputável.
Vamos conferir o que diz o art. 97 do CP:
CP, Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto
como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial.
Vamos ao julgado do STJ:
PENAL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. PARADIGMA EM HABEAS
CORPUS. IMPOSSIBILIDADE. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR.
INIMPUTABILIDADE DO RÉU. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA IMPRÓPRIA. MEDIDA DE SEGURANÇA.
INTERNAÇÃO EM MANICÔMIO JUDICIÁRIO. SUBSTITUIÇÃO POR TRATAMENTO AMBULATORIAL.
CRIME PUNIDO COM PENA DE RECLUSÃO. ART. 97 DO CP. POSSIBILIDADE. EMBARGOS
REJEITADOS.
1. Os embargos de divergência em recurso especial, ao tempo em que solucionam a lide, têm por
finalidade possibilitar ao Superior Tribunal de Justiça que resolva a discordância existente entre seus
órgãos fracionários na interpretação de lei federal, com objetivo de uniformização da jurisprudência interna
corporis.
2. Esta Corte tem entendimento de que somente se admitem como acórdãos paradigmas os proferidos no
âmbito de recurso especial e de agravo que examine o mérito do especial, não sendo aptos a tal finalidade
os arestos no âmbito de ação rescisória, habeas corpus, conflito de competência, tampouco em sede de
recurso ordinário em mandado de segurança, como na espécie.
3. "Tal interpretação veio a ser corroborada pelo art. 1.043, § 1º, do CPC/2015, que restringiu,
expressamente, os julgados que podem ser objeto de comparação, em sede de embargos de divergência,
a recursos e ações de competência originária, não podendo, portanto, funcionar como paradigma
acórdãos proferidos em ações que têm natureza jurídica de garantia constitucional, como os habeas
corpus, mandado de segurança, habeas data e mandado de injunção. O mesmo raciocínio vale para
enunciados de súmula de tribunais" (AgRg nos EAREsp 1.243.022/DF, Rel. Ministro REYNALDO
SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 10/10/2018, DJe 22/10/2018).
4. Hipótese em que se verifica posicionamento dissonante entre as Turmas que compõem a Terceira
Seção desta Corte quanto ao direito federal aplicável (art. 97 do CP. "Se o agente for inimputável, o juiz
determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção,
poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial").
5. A doutrina brasileira majoritariamente tem se manifestado acerca da injustiça da referida norma, por
padronizar a aplicação da sanção penal, impondo ao condenado, independentemente de sua
periculosidade, medida de segurança de internação em hospital de custódia, em razão de o fato previsto
como crime ser punível com reclusão.
6. Para uma melhor exegese do art. 97 do CP, à luz dos princípios da adequação, da razoabilidade e
da proporcionalidade, não deve ser considerada a natureza da pena privativa de liberdade
aplicável, mas sim a periculosidade do agente, cabendo ao julgador a faculdade de optar pelo
tratamento que melhor se adapte ao inimputável.
7. Deve prevalecer o entendimento firmado no acórdão embargado, no sentido de que, em se
tratando de delito punível com reclusão, é facultado ao magistrado a escolha do tratamento mais
adequado ao inimputável, nos termos do art. 97 do Código Penal.
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8. Embargos de divergência rejeitados.
(EREsp 998.128/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/11/2019, DJe
18/12/2019)
E) EXECUÇÃO PENAL. REINCIDÊNCIA. AUSÊNCIA DE RECONHECIMENTO PELO JUÍZO
SENTENCIANTE. PROCLAMAÇÃO PELO JUÍZO DA EXECUÇÃO. POSSIBILIDADE. REFORMATIO IN
PEJUS. INEXISTÊNCIA.
Entendimento do STJ: o Juízo da Execução pode promover a retificação do atestado de pena para constar a
reincidência, com todos os consectários daí decorrentes, ainda que não esteja reconhecida expressamente na
sentença penal condenatória transitada em julgado.
Vamos ao julgado do STJ:
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO
PENAL. AUSÊNCIA DE RECONHECIMENTO DA REINCIDÊNCIA PELO JUÍZO SENTENCIANTE.
PROCLAMAÇÃO PELO JUÍZO DA EXECUÇÃO. POSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE REFORMATIO IN
PEJUS. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA ACOLHIDOS.
1. A individualização da pena se realiza, essencialmente, em três momentos: na cominação da pena em
abstrato ao tipo legal, pelo Legislador; na sentença penal condenatória, pelo Juízo de conhecimento; e na
execução penal, pelo Juízo das Execuções.
2. A intangibilidade da sentença penal condenatória transitada em julgado não retira do Juízo das
Execuções Penais o dever de adequar o cumprimento da sanção penal às condições pessoais do réu.
3. Tratando-se de sentença penal condenatória, o juízo da execução deve se ater ao teor do
referido decisum, no tocante ao quantum de pena, ao regime inicial, bem como ao fato de ter sido a
pena privativa de liberdade substituída ou não por restritivas de direitos. Todavia, as condições
pessoais do paciente, da qual é exemplo a reincidência, devem ser observadas pelo juízo da
execução para concessão de benefícios (progressão de regime, livramento condicional etc) (AgRg no
REsp 1.642.746/ES, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
03/08/2017, DJe 14/08/2017).
4. Embargos de divergência acolhidos para, cassando o acórdão embargado, dar provimento ao agravo
regimental, para dar provimento ao recurso especial e, assim, também cassar o acórdão recorrido e a
decisão de primeiro grau, devendo o Juízo das Execuções promover a retificação do atestado de pena
para constar a reincidência, com todos os consectários daí decorrentes.
(EREsp 1738968/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/11/2019, DJe
17/12/2019)
F) PENAL. PROCESSUAL PENAL. LEI MARIA DA PENHA. RETRATAÇAÕ DA REPRESENTAÇÃO.
Entendimento do STJ: não atende ao disposto no art. 16 da Lei Maria da Penha, a retratação da suposta
ofendida ocorrida em cartório de Vara, sem a designação de audiência específica necessária para a confirmação
do ato.
Confira os artigos 25 do CPP, 102 do CP e 16 da Lei Maria da Penha:
CPP, Art. 25. A representação será irretratável, depois de oferecida a denúncia.
CP, Art. 102 - A representação será irretratável depois de oferecida a denúncia.
Lei 11.340/06, Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta
Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal
finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
Vamos ao julgado do STJ:
PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO. INADEQUAÇÃO. LESÃO CORPORAL NO
CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E ESTUPRO. REJEIÇÃO DA DENÚNCIA PELA
RETRATAÇÃO DA VÍTIMA. RESE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PROVIDO NA ORIGEM.
INOBSERVÂNCIA DO DISPOSTO NO ART. 16 DA LEI Nº 11.340/06 E NOS ARTS. 25 DO CPP E 102
DO CP. IRRETOCÁVEL O ENTENDIMENTO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. 1. Esta Corte e o
Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido de que não cabe habeas corpus substitutivo
do recurso legalmente previsto para a hipótese, impondo-se o não conhecimento da impetração, salvo
quando constatada a existência de flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado.
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2. A Lei Maria da Penha disciplina procedimento próprio para que a vítima possa eventualmente se
retratar de representação já apresentada. Dessarte, dispõe o art. 16 da Lei n. 11.340/2006 que, "só
será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada
com tal finalidade" (HC 371.470/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 17/11/2016, DJe 25/11/2016).
3. Considerando que, no caso em apreço, a retratação da suposta ofendida ocorreu somente em
cartório, sem a designação de audiência específica necessária para a confirmação do ato, correto
posicionamento da Corte de origem ao elucidar tal ilegalidade e cassar a decisão que rejeitou a
denúncia com base unicamente na retratação.
4. É uníssona a jurisprudência desta Corte Superior no sentido de que, depois de oferecida a denúncia, a
representação do ofendido será irretratável, consoante o disposto nos arts. 102 do Código Penal e 25 do
Código de Processo Penal. Assim, imperiosa a manutenção do julgado também nesse ponto, acerca do
crime previsto no art. 213 c/c art. 224, ambos vigentes à época no Código Penal.
5. Considerando que o Tribunal Estadual não teceu qualquer consideração sobre a ausência de justa
causa quanto ao crime de estupro, em virtude da relação amorosa entre o paciente e a vítima, inviável a
apreciação direta por esta Corte Superior, sob pena de indevida supressão de instâncias.
6. Habeas corpus não conhecido.
(HC 138.143/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 03/09/2019, DJe
10/09/2019)
G) LEI MARIA DA PENHA. NÃO COMPARECIMENTO DA OFENDIDA À AUDIÊNCIA DO ART. 16.
Entendimento do STJ: eventual não comparecimento da ofendida à audiência do art. 16 da Lei Maria da Penha
ou a qualquer ato do processo não pode ser considerado como “retratação tácita”. Pelo contrário: se a ofendida já
ofereceu a representação no prazo de 06 (seis) meses, nada resta a ela a fazer a não ser aguardar pelo impulso
oficial da persecução criminal.
Observação sobre outro aspecto do assunto: a audiência prevista no art. 16 da Lei 11.340/06 não deve ser
marcada se não houver manifestação da vítima em retratar-se. Assim, a audiência não deve ser marcada
automaticamente.
Vamos ao julgado do STJ:
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. PRINCÍPIO DA
FUNGIBILIDADE. CRIME DE AMEAÇA. LEI MARIA DA PENHA. INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. NÃO
CONFIGURADA. SÚMULA N. 7/STJ. NÃO COMPARECIMENTO DA VÍTIMA À AUDIÊNCIA. RETRATAÇÃO
TÁTICA. NÃO OCORRÊNCIA. MATÉRIA PACIFICADA. SÚMULA N. 83/STJ.
1. É entendimento desta Corte Superior que o recurso de embargos de declaração, quando oposto com o intuito
de conferir efeitos infringentes à decisão embargada e quando inexistir obscuridade, contradição ou omissão, seja
recebido como agravo regimental em nome da economia processual, da celeridade e do princípio da fungibilidade;
assim, os presentes embargos são recebidos como agravo regimental.
2. O Tribunal a quo afirmou, com espeque nas provas amealhadas aos autos, que o acusado teve relacionamento
amoroso com a vítima, e ameaçou matá-la com tiros em sua cabeça em razão de documentos de um imóvel,
sendo inviável infirmar tal premissa, de modo a abraçar a tese defensiva de insuficiência probatória, sem o efetivo
revolvimento do acervo fático-probatório, providência vedada em recurso especial, conforme o óbice prescrito pela
Súmula n. 7/STJ.
3. Nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, "a audiência do art. 16 deve ser realizada
nos casos em que houve manifestação da vítima em desistir da persecução penal. Isso não quer dizer,
porém, que eventual não comparecimento da ofendida à audiência do art. 16 ou a qualquer ato do
processo seja considerada como 'retratação tácita'. Pelo contrário: se a ofendida já ofereceu a
representação no prazo de 06 (seis) meses, na forma do art. 38 do CPP, nada resta a ela a fazer a não ser
aguardar pelo impulso oficial da persecutio criminis" (AREsp n. 1.165.962/AM, relator Ministro SEBASTIÃO
REIS JÚNIOR, DJe de 22/11/2017).
4. Incidência do óbice contido na Súmula n. 83/STJ, segundo o qual: "Não se conhece do recurso especial pela
divergência, quando a orientação do Tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida." 5. Embargos de
declaração recebidos como agravo regimental, ao qual se nega provimento.
(EDcl no REsp 1822250/SP, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
05/11/2019, DJe 11/11/2019)
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H) LEI MARIA DA PENHA. MEDIDA PROTETIVA. ART. 9º, § 2º, II, DA LEI N. 11.340/2016 (LEI MARIA DA
PENHA). MANUTENÇÃO DO VÍNCULO TRABALHISTA. AFASTAMENTO DO LOCAL DE TRABALHO. VARA
ESPECIALIZADA EM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR. COMPETÊNCIA.
Entendimento: compete ao juízo da vara especializada em violência doméstica e familiar a apreciação do pedido
de imposição de medida protetiva de manutenção de vínculo trabalhista, por até seis meses, em razão de
afastamento do trabalho de ofendida decorrente de violência doméstica e familiar.
Vejamos o dispositivo em questão da Lei 11.340/06:
Art. 9º, § 2º O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua
integridade física e psicológica:
II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de trabalho, por até seis
meses.
Vamos ao julgado do STJ:
RECURSO ESPECIAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR. MEDIDA PROTETIVA. AFASTAMENTO
DO EMPREGO. MANUTENÇÃO DO VÍNCULO TRABALHISTA. COMPETÊNCIA. VARA
ESPECIALIZADA. VARA CRIMINAL. NATUREZA JURÍDICA DO AFASTAMENTO. INTERRUPÇÃO DO
CONTRATO DE TRABALHO. PAGAMENTO. INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA. INTERPRETAÇÃO
EXTENSIVA. PREVISÃO LEGAL. INEXISTÊNCIA. FALTA JUSTIFICADA. PAGAMENTO DE
INDENIZAÇÃO. AUXÍLIO DOENÇA. INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL. RECURSO
ESPECIAL PROVIDO PARCIALMENTE.
1. Tem competência o juiz da vara especializada em violência doméstica e familiar ou, caso não
haja na localidade o juízo criminal, para apreciar pedido de imposição de medida protetiva de
manutenção de vínculo trabalhista, por até seis meses, em razão de afastamento do trabalho de
ofendida decorrente de violência doméstica e familiar, uma vez que o motivo do afastamento não
advém de relação de trabalho, mas de situação emergencial que visa garantir a integridade física,
psicológica e patrimonial da mulher.
2. Tem direito ao recebimento de salário a vítima de violência doméstica e familiar que teve como
medida protetiva imposta ao empregador a manutenção de vínculo trabalhista em decorrência de
afastamento do emprego por situação de violência doméstica e familiar, ante o fato de a natureza
jurídica do afastamento ser a interrupção do contrato de trabalho, por meio de interpretação
teleológica da Lei n. 11.340/2006.
3. Incide o auxílio-doença, diante da falta de previsão legal, referente ao período de afastamento do
trabalho, quando reconhecida ser decorrente de violência doméstica e familiar, pois tal situação
advém da ofensa à integridade física e psicológica da mulher e deve ser equiparada aos casos de
doença da segurada, por meio de interpretação extensiva da Lei Maria da Penha.
4. Cabe ao empregador o pagamento dos quinze primeiros dias de afastamento da empregada
vítima de violência doméstica e familiar e fica a cargo do INSS o pagamento do restante do período
de afastamento estabelecido pelo juiz, com necessidade de apresentação de atestado que confirme
estar a ofendida incapacitada para o trabalho e desde que haja aprovação do afastamento pela
perícia do INSS, por incidência do auxílio-doença, aplicado ao caso por meio de interpretação
analógica.
5. Recurso especial parcialmente provido, para a fim de declarar competente o Juízo da 2ª Vara Criminal
de Marília-SP, que fixou as medidas protetivas a favor da ora recorrente, para apreciação do pedido
retroativo de reconhecimento do afastamento de trabalho decorrente de violência doméstica, nos termos
do voto.
(REsp 1757775/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 20/08/2019,
DJe 02/09/2019)
I) LEI DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA – ART. 2º, §1º, DA LEI N. 12.850/2013. IMPEDIR OU
EMBARAÇAR A INVESTIGAÇÃO DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. INQUÉRITO POLICIAL E AÇÃO
PENAL. ABRANGÊNCIA.
Entendimento: o tipo penal previsto pelo art. 2º, §1º, da Lei n. 12.850/2013 define conduta delituosa que abrange
o inquérito policial e a ação penal.
Vamos conferir o que diz o artigo.
Lei 12.850/13, Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa,
organização criminosa:
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Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações
penais praticadas.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração
penal que envolva organização criminosa.
Vamos ao julgado do STJ:
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. DESCABIMENTO. IMPEDIR OU EMBARAÇAR A
INVESTIGAÇÃO DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA PREVISTA NO ART. 2º, §1º, DA LEI N. 12.850/13. CONDUTA
DELITUOSA QUE ABRANGE O INQUÉRITO POLICIAL E A AÇÃO PENAL. TIPICIDADE DA CONDUTA.
DETRAÇÃO PENAL. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. VALOR DA MULTA E USO DE ARMA DE FOGO. EXAME
APROFUNDADO DE PROVAS. REGIME FECHADO. PENA SUPERIOR A 4 QUE NÃO EXCEDA 8 ANOS.
CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL NEGATIVA. POSSIBILIDADE. EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA.
ESGOTAMENTO DA INSTÂNCIA ORDINÁRIA. VIABILIDADE. WRIT NÃO CONHECIDO.
1......
3. A tese de que a investigação criminal descrita no art. 2º, § 1º, da Lei n. 12.850/13 cinge-se à fase do
inquérito, não deve prosperar, eis que as investigações se prolongam durante toda a persecução criminal,
que abarca tanto o inquérito policial quanto a ação penal deflagrada pelo recebimento da denúncia. Com
efeito, não havendo o legislador inserido no tipo a expressão estrita "inquérito policial", compreende-se
ter conferido à investigação de infração penal o sentido de persecução penal, até porque carece de
razoabilidade punir mais severamente a obstrução das investigações do inquérito do que a obstrução da
ação penal. Ademais, sabe-se que muitas diligências realizadas no âmbito policial possuem o
contraditório diferido, de tal sorte que não é possível tratar inquérito e ação penal como dois momentos
absolutamente independentes da persecução penal.......
7. Habeas corpus não conhecido.
(HC 487.962/SC, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 28/05/2019, DJe
07/06/2019)
J) LEI DE DROGAS (LEI 11.343/06). POSSE DE DROGAS PARA CONSUMO PESSOAL. ART. 28, § 4º,
DA LEI N. 11.343/2006. REINCIDÊNCIA ESPECÍFICA. REVISÃO DO ENTENDIMENTO DA SEXTA TURMA.
Entendimento: a reincidência de que trata o § 4º do art. 28 da Lei n. 11.343/2006 é a específica.
Vamos antes conferir o que diz o art. 28 da Lei de Drogas:
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
§ 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas
destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou
psíquica.
§ 3º As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco)
meses.
§ 4º Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas
pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.
Vamos ao julgado do STJ:
RECURSO ESPECIAL. POSSE DE DROGAS. ART. 28, § 4º, DA LEI 11.343/2006. APLICABILIDADE
ÀQUELE QUE REINCIDIR NA PRÁTICA DO DELITO PREVISTO NO CAPUT DO ART. 28 DA LEI DE
DROGAS. MELHOR EXEGESE. REVISÃO DO ENTENDIMENTO DA SEXTA TURMA. RECURSO
IMPROVIDO.
1. A melhor exegese, segundo a interpretação topográfica, essencial à hermenêutica, é de que os
parágrafos não são unidades autônomas, estando direcionados pelo caput do artigo a que se referem.
2. Embora não conste da letra da lei, é forçoso concluir que a reincidência de que trata o § 4º do
art. 28 da Lei 11.343/2006 é a específica. Revisão do entendimento.
3. Aquele que reincide no contato típico com drogas para consumo pessoal fica sujeito a resposta
penal mais severa: prazo máximo de 10 meses.
4. Condenação anterior por crime de roubo não impede a aplicação das penas do art. 28, II e III, da
Lei 11.343/06, com a limitação de 5 meses de que dispõe o § 3º do referido dispositivo legal.
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5. Recurso improvido.
(REsp 1771304/ES, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 10/12/2019, DJe
12/12/2019)
K) LEI DE DROGAS. APLICAÇAÇÃO DA CAUSA DE AUMENTO DO ART. 40, III, DA LEI 11.343/06.
Vamos conferir o que dispõe o art. 40, III, da Lei de Drogas:
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se:
III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de
ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou
beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer
natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou
policiais ou em transportes públicos;
VEJA O ENTENDIMENTO QUE É REGRA.
PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO DE DROGAS. DOSIMETRIA DA PENA.
CAUSA DE AUMENTO. INCIDÊNCIA. COMETIMENTO DO CRIME NAS IMEDIAÇÕES DE ESCOLA.
COMPROVAÇÃO. REQUISITO SUFICIENTE PARA MAJORAÇÃO DA PENA. INAFASTÁVEL A INCIDÊNCIA DO
VERBETE N. 83 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - STJ. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. Para a incidência da causa de aumento prevista no art. 40, III, da Lei n. 11.343/2006 é desnecessária a
efetiva comprovação de que o tráfico se dava naquelas entidades ou que a mercancia se destinava a seus
frequentadores, bastando apenas que o crime seja cometido em suas imediações, conforme comprovado
pelo laudo pericial.
Precedentes. (AgRg no HC 488.403/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
DJe 8/4/2019).
2. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp 1838350/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 03/03/2020,
DJe 09/03/2020).
AGORA, A EXCEÇÃO
HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. DELITO PERPETRADO NAS IMEDIAÇÕES DE
ESTABELECIMENTO DE ENSINO. MAJORANTE PREVISTA NO ART. 40, III, DA LEI N. 11.343/2006.
IMPOSSIBILIDADE DE INCIDÊNCIA. PARTICULARIDADES DO CASO CONCRETO. ORDEM CONCEDIDA.
1. A razão de ser da causa especial de aumento de pena prevista no inciso III do art. 40 da Lei n.
11.343/2006 é a de punir, com maior rigor, aquele que, nas imediações ou nas dependências dos locais a
que se refere o dispositivo, dada a maior aglomeração de pessoas, tem como mais ágil e facilitada a
prática do tráfico de drogas (aqui incluído quaisquer dos núcleos previstos no art. 33 da Lei n.
11.343/2006), justamente porque, em localidades como tais, é mais fácil ao traficante passar despercebido
à fiscalização policial, além de ser maior o grau de vulnerabilidade das pessoas reunidas em determinados
lugares.
2. Como, na espécie, não ficou evidenciado nenhum benefício advindo ao paciente com a prática do delito
nas proximidades ou nas imediações de estabelecimento de ensino - o ilícito foi perpetrado, tão somente,
em um domingo, de madrugada - e se também não houve uma maximização do risco exposto àqueles que
frequentam a escola (alunos, pais, professores, funcionários em geral), deve, excepcionalmente, em razão
das peculiaridades do caso concreto, ser afastada a incidência da referida majorante.
3. Ordem concedida, para afastar a aplicação da causa especial de aumento de pena prevista no art. 40, III, da Lei
de Drogas e, por conseguinte, reduzir a reprimenda do paciente para 3 anos e 4 meses de reclusão e pagamento
de 166 dias-multa.
(HC 451.260/ES, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 07/08/2018, DJe
21/08/2018)
L) LEI DE DROGAS. TRÁFICO DE DROGAS. CRIME PRATICADO EM PRESÍDIO POR MEIO DE
TELEFONE. ART. 40, INCISO III, DA LEI N. 11.343/2006. MAJORANTE. INCIDÊNCIA.
Entendimento: não é necessário que a droga passe por dentro do presídio para que incida a majorante prevista
no art. 40, III, da Lei n. 11.343/2006.
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Vamos ao julgado do STJ:
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. IMPOSSIBILIDADE. DOSIMETRIA. PENA BASE
FIXADA MUITO ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. MAUS ANTECEDENTES. UMA CONDENAÇÃO ANTERIOR NÃO
UTILIZADA PARA FINS DE REINCIDÊNCIA. REDUÇÃO DEVIDA. MAJORANTE. TRÁFICO PRATICADO EM
PRESÍDIO. AUTORES SUBMETIDOS A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE. ORGANIZAÇÃO DOS CRIMES
POR MEIO DE TELEFONES. INCIDÊNCIA DA MAJORANTE NO ART. 40, INCISO III, DA LEI DE DROGAS.
WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
1. O aumento em 1/8 da pena base por cada circunstância judicial desfavorável, que não possua uma maior
reprovabilidade, é acolhida amplamente pela jurisprudência desta Corte Superior, se mostrando mais proporcional
que o aumento de 40% da pena mínima pelo tráfico e 33% da pena mínima em relação à associação para o
tráfico, conforme fixado na sentença e mantida no acórdão impugnado.
2. A denúncia narra que parte dos acusados de integrar associação criminosa que movimentava grandes
volumes de entorpecentes entre estados diversos da federação estavam presos e organizavam a dinâmica
da quadrilha por meio de telefones celulares possuídos clandestinamente. Estando os autores dos crimes
incluídos no sistema penitenciário, não se pode afastar a conclusão de que seus atos foram praticados no
interior do presídio, ainda que seus efeitos tenham se manifestado a quilômetros de distância.
3. O inciso III do art. 40 da Lei n. 11.343/06 não faz a exigência de que as drogas, objeto do crime,
efetivamente passem por dentro dos locais que se busca dar maior proteção, mas apenas que
cometimento dos crimes tenha ocorrido em seu interior.
4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para reformular a pena aplicada a um dos
pacientes.
(HC 440.888/MS, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 15/10/2019, DJe
18/10/2019)