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Psicologia Aplicada ao Trabalho SUMÁRIO 1 - PSICOLOGIA .................................................................................................................................................... 3 1.1 - ÁREAS DA PSICOLOGIA .................................................................................................................................................. 3 1.2. - PERSONALIDADE ........................................................................................................................................................... 3 1.2.1 - Etimologia............................................................................................................................................................. 4 2 - O SER HUMANO E O TRABALHO .................................................................................................................. 4 2.1 - FATORES MOTIVACIONAIS PARA O TRABALHO .............................................................................................................. 4 2.1.1 - Hierarquia das necessidades de segurança de Maslow ............................................................................... 4 2.2 - FATORES MOTIVACIONAIS NAS ORGANIZAÇÕES ........................................................................................................... 5 2.3 - TEORIAS COMPORTAMENTAIS (TEORIA X E Y) ............................................................................................................. 6 2.3.1 - Teoria X ................................................................................................................................................................ 6 2.3.2 Teoria Y................................................................................................................................................................... 7 3 - O QUE ENTENDEMOS POR RELAÇÕES HUMANAS? ................................................................................. 7 4. PERCEPÇÃO E ATENÇÃO ............................................................................................................................... 8 4.1 - O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO E DA ATENÇÃO................................................................................................ 8 4.1.1 - Estudos do Comportamento de Escolha Perceptiva em Crianças .............................................................. 9 5 - A IMPORTÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO DA PERCEPÇÃO .................................................................. 12 5.1 TIPOS DE PERCEPÇÃO ................................................................................................................................................... 12 5.2 - O PAPEL DA ATENÇÃO NO PROCESSO PERCEPTIVO .................................................................................................. 13 5.3 - COMPREENSÃO DO PROCESSO PERCEPTIVO ............................................................................................................. 14 5.4 - AUTO PERCEPÇÃO ....................................................................................................................................................... 14 5.5 - O SER HUMANO COMO PERCEBEDOR......................................................................................................................... 15 5.6 - O PERCEBIDO .............................................................................................................................................................. 15 5.7 - PERCEPÇÃO E SENSAÇÃO ........................................................................................................................................... 16 5.8 - A INFLUÊNCIA DO ESTADO PSICOLÓGICO NA PERCEPÇÃO......................................................................................... 16 6 - TRABALHO EM EQUIPE, PAPEIS E PERCEPÇÃO ..................................................................................... 16 6.1 - A PERCEPÇÃO E SUAS DISTORÇÕES .......................................................................................................................... 17 6.2 - PERCEPÇÃO E JULGAMENTO ....................................................................................................................................... 18 6.3 - A PERCEPÇÃO E A COMUNICAÇÃO .............................................................................................................................. 19 6.4 - PERCEPÇÃO DE RISCOS E OLHAR SISTÊMICO ............................................................................................................ 20 7 - ÉTICA NO TRABALHO .................................................................................................................................. 22 7.1 - CÓDIGO DE ÉTICA NO TRABALHO: 10 MANDAMENTOS ESSENCIAIS ............................................................................ 22

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    SUMRIO

    1 - PSICOLOGIA .................................................................................................................................................... 3

    1.1 - REAS DA PSICOLOGIA .................................................................................................................................................. 3

    1.2. - PERSONALIDADE ........................................................................................................................................................... 3

    1.2.1 - Etimologia ............................................................................................................................................................. 4

    2 - O SER HUMANO E O TRABALHO .................................................................................................................. 4

    2.1 - FATORES MOTIVACIONAIS PARA O TRABALHO .............................................................................................................. 4

    2.1.1 - Hierarquia das necessidades de segurana de Maslow ............................................................................... 4

    2.2 - FATORES MOTIVACIONAIS NAS ORGANIZAES ........................................................................................................... 5

    2.3 - TEORIAS COMPORTAMENTAIS (TEORIA X E Y) ............................................................................................................. 6

    2.3.1 - Teoria X ................................................................................................................................................................ 6

    2.3.2 Teoria Y ................................................................................................................................................................... 7

    3 - O QUE ENTENDEMOS POR RELAES HUMANAS? ................................................................................. 7

    4. PERCEPO E ATENO ............................................................................................................................... 8

    4.1 - O DESENVOLVIMENTO DA PERCEPO E DA ATENO ................................................................................................ 8

    4.1.1 - Estudos do Comportamento de Escolha Perceptiva em Crianas .............................................................. 9

    5 - A IMPORTNCIA DO DESENVOLVIMENTO DA PERCEPO .................................................................. 12

    5.1 TIPOS DE PERCEPO ................................................................................................................................................... 12

    5.2 - O PAPEL DA ATENO NO PROCESSO PERCEPTIVO .................................................................................................. 13

    5.3 - COMPREENSO DO PROCESSO PERCEPTIVO ............................................................................................................. 14

    5.4 - AUTO PERCEPO ....................................................................................................................................................... 14

    5.5 - O SER HUMANO COMO PERCEBEDOR ......................................................................................................................... 15

    5.6 - O PERCEBIDO .............................................................................................................................................................. 15

    5.7 - PERCEPO E SENSAO ........................................................................................................................................... 16

    5.8 - A INFLUNCIA DO ESTADO PSICOLGICO NA PERCEPO ......................................................................................... 16

    6 - TRABALHO EM EQUIPE, PAPEIS E PERCEPO ..................................................................................... 16

    6.1 - A PERCEPO E SUAS DISTORES .......................................................................................................................... 17

    6.2 - PERCEPO E JULGAMENTO ....................................................................................................................................... 18

    6.3 - A PERCEPO E A COMUNICAO .............................................................................................................................. 19

    6.4 - PERCEPO DE RISCOS E OLHAR SISTMICO ............................................................................................................ 20

    7 - TICA NO TRABALHO .................................................................................................................................. 22

    7.1 - CDIGO DE TICA NO TRABALHO: 10 MANDAMENTOS ESSENCIAIS ............................................................................ 22

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    8 - RELACIONAMENTO INTERPESSOAL: O PODER DAS RELAES NO AMBIENTE DE TRABALHO ... 23

    8.1 - TRABALHO EM EQUIPE - PERSONALIDADE E RELACIONAMENTO ................................................................................24

    9 - COMO TRABALHAR EM EQUIPE OU GRUPO ............................................................................................ 26

    9.1 - TRABALHO EM EQUIPE .................................................................................................................................................26

    10 - POSTURA DO TCNICO DE SEGURANA ............................................................................................... 28

    11 - REFERNCIAS ............................................................................................................................................. 28

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    1 - Psicologia

    Psicologia filha da filosofia, nos primrdios, na Grcia antiga, a psicologia era disciplina da filosofia. Tinha como objetivo estudar as questes relacionadas ao ser humano, o objeto de estudo, era a alma humana. Esta chamada psicologia antiga. Psico = alma e Logia = estudo

    Aps revoluo cientifica, no sculo XIX percebe-se que a alma um atributo da f, ou seja, subjetiva do ser humano e que no se prova a existncia da alma, apenas se cr nela. Desta forma, para ser cincia a psicologia adquiriria mtodos e tcnicas com o foco no comportamento humano e os resultados deste comportamento. Visto que comportamento pode ser observvel e provado, caractersticas de cincia e alma no se podem ver, nem provar cientificamente sua existncia.

    Assim, o marco da psicologia como estudo do comportamento humano foi na Alemanha no sec. XIX ano de 1879 no Laboratrio de LEIPZIG e o precursor foi Wilhelm Wundt. Desta forma considera-se Wundt pai da Psicologia Moderna.

    Psico = Comportamento e logia = estudo

    Elementos que possibilitaram a o aparecimento da Psicologia como Cincia:

    Surgimento da cincia. Sc. XVII d.C;

    Separao das reas da filosofia;

    Revoluo cientfica: Sc. XIX. Psicologia separa-se definitivamente da filosofia;

    Pesquisa, mtodos, tcnicas;

    Indagaes: memria, aprendizagem, percepo etc...

    Desta forma, a psicologia:

    Passa para o status de cincia;

    Defini seu objeto de estudo;

    Formula mtodos para investigao do seu objeto de estudo;

    Formula teorias com um corpo consistente de conhecimento na rea.

    Psicologia a cincia que estuda o comportamento humano e seus processos psicolgicos vivencias e experincias individuais e em grupos, que passam pela sensao, emoo, percepo, aprendizagem, inteligncia.

    1.1 - reas da Psicologia

    Psicologia clinica;

    Psicologia do esporte;

    Psicologia organizacional e do trabalho;

    Psicologia escolar/educacional;

    Psicologia institucional;

    Psicopedagogia;

    Psiconeurologia;

    Psicologia social e comunitria;

    Psicologia jurdica;

    Psicologia forense;

    Psicologia do transito;

    Psicologia hospitalar.

    1.2 - Personalidade

    Denominada como o conjunto de caractersticas psicolgicas que determinam os padres de pensar, sentir e agir, ou seja, a individualidade pessoal e social de algum A formao da personalidade processo gradual, complexo e nico a cada indivduo. O termo usado em linguagem comum com o sentido de "conjunto das caractersticas marcantes de uma pessoa".

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    1.2.1 - Etimologia

    Personalidade vem do Latim personare, persona = ressoar, mscara.

    Pode-se dizer que se constitui em com 25% de gentica 25% fentipo e 50% ambiente.

    Carver e Scheier do a seguinte definio: "Personalidade uma organizao interna e dinmica dos sistemas psicofsicos que criam os padres de comportar-se, de pensar e de sentir caractersticos de uma pessoa".

    Esta definio de trabalho salienta que personalidade...

    ... uma organizao e no um aglomerado de partes soltas;

    ... dinmica e no esttica, imutvel;

    ... um conceito psicolgico, mas intimamente relacionado com o corpo e seus processos;

    ... uma fora ativa que ajuda a determinar o relacionamento da pessoa com o mundo que a cerca;

    ... mostra-se em padres, isto , atravs de caractersticas recorrentes e consistentes;

    ... expressa-se de diferentes maneiras - comportamento, pensamento e emoes.

    Asendorpf complementa essa definio. Para ele personalidade so as particularidades pessoais duradouras, no patolgicas e relevantes para o comportamento de um indivduo em uma determinada populao. Esta definio acrescenta quela de Carver e Scheier alguns pontos importantes:

    Os traos de personalidade so relativamente estveis no tempo;

    As diferenas interpessoais so variaes frequentes e normais - o estudo das variaes anormais objeto da psicologia clnica (ver tambm transtorno mental e transtorno de personalidade);

    A personalidade influenciada culturalmente. As observaes da psicologia da personalidade so assim ligadas apenas populao em que foram feitas; para uma generalizao de tais observaes para outras populaes necessria uma verificao emprica.

    2 - O Ser Humano e o Trabalho

    Podemos definir trabalho como qualquer atividade fsica ou intelectual, realizada por ser humano, cujo objetivo fazer, transformar ou obter algo.

    O trabalho na vida do homem: O trabalho sempre fez parte da vida dos seres humanos. Foi atravs dele que as civilizaes conseguiram se desenvolver e alcanar o nvel atual. O trabalho gera conhecimentos, riquezas materiais, satisfao pessoal e desenvolvimento econmico. Por isso ele e sempre foi muito valorizado em todas as sociedades.

    Diferena entre trabalho e emprego: Vale dizer que h diferena entre trabalho e emprego. Enquanto o primeiro envolve a atividade executada em si, o segundo refere-se ao cargo ou ocupao de um indivduo numa empresa ou rgo pblico.

    O trabalho um conjunto de atividades realizadas, o esforo feito por indivduos, com o objetivo de atingir uma meta. O trabalho tambm pode ser abordado de diversas maneiras, e com enfoque em vrias reas, como na economia, na fsica, na filosofia, a evoluo do trabalho na histria, e etc.

    2.1 - Fatores Motivacionais para o Trabalho

    2.1.1 - Hierarquia das Necessidades de Segurana de Maslow

    Motivo tudo aquilo que impulsiona a pessoa agir de determinada forma. Ou, pelo menos da origem a uma propenso de um comportamento especfico. Esse impulso ao pode ser provocado por um

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    estmulo externo provido pelo ambiente, mas tambm pode ser gerado internamente nos processos mentais do indivduo (Hersei e Blanchard, 1986).

    Os motivos do comportamento humano derivam de foras interiores do prprio indivduo. Algumas necessidades so conscientes, outras no (Bergamini, 1997). Segundo Maslow, as necessidades humanas podem ser dispostas em forma de pirmide. Na base da pirmide esto as necessidades mais baixas e prementes enquanto no topo ficam as mais sofisticadas e intelectualizadas.

    As necessidades fisiolgicas so as necessidades inatas, ou biolgicas. Sua principal caracterstica a premncia e exige satisfao cclica e reiterada para garantir a preservao da espcie e sobrevivncia do indivduo. So predominantes sobre todas as demais necessidades. So elas: fome, abrigo, repouso, sexo, etc. Quando essas necessidades no so satisfeitas, elas dominam a direo do comportamento da pessoa.

    As necessidades de segurana surgem no comportamento humano quando as necessidades fisiolgicas esto relativamente satisfeitas. A busca de um mundo ordenado e previsvel, protegido e seguro so manifestaes tpicas dessa necessidade e leva o indivduo a proteger-se de qualquer perigo real ou imaginrio, fsico ou abstrato. So elas: proteo contra: perigo, doena, desemprego, roubo. Quando essas necessidades no so satisfeitas, causam incerteza e insegurana.

    As necessidades sociais surgem no comportamento quando as necessidades primrias (fisiolgicas e de segurana) esto relativamente satisfeitas. So as necessidades de associao, participao e aceitao por parte dos colegas; a amizade, o afeto e o amor so seus pontos altos. Quando essas necessidades no so satisfeitas, conduzem geralmente falta de adaptao social e solido.

    As necessidades de estima so as necessidades relacionadas com a auto avaliao e autoestima. Envolvem a auto apreciao, a autoconfiana, necessidade de reconhecimento e aprovao social, de status, prestgio, considerao. Quando essas necessidades no so satisfeitas, podem produzir sentimentos de inferioridade, dependncia, desamparo que podem levar ao desnimo ou a atividades compensatrias.

    J as necessidades de auto realizao so as necessidades humanas mais elevadas e que esto no topo da hierarquia. Esto relacionadas com autonomia, independncia, autocontrole, competncia. So as necessidades de cada pessoa realizar seu prprio potencial e se desenvolver continuamente como criatura humana. Pode ser expressa pelo impulso do indivduo para se tornar mais do que e vir a ser tudo o que pode ser. Enquanto as quatro necessidades anteriores podem ser satisfeitas com recompensas externas, esta s pode ser satisfeita no nvel do interior pessoal, com o sentimento de realizao, no sendo observada nem controlada por outras pessoas. Esta pode ser insacivel, ou seja, quanto mais a pessoa obtm recompensas que a satisfaam, mais importante ela se torna e mais ela desejar satisfazer-se.

    De modo geral, as necessidades secundrias so sentimentos vagos em lugar de necessidades fsicas especficas, esto frequentemente escondidas do reconhecimento consciente. So fortemente condicionadas pela experincia, variando quanto ao tipo e intensidade entre as pessoas e estando sujeitas mudana dentro de uma mesma pessoa. Elas influenciam o comportamento, pois os seres humanos so lgicos na medida em que seus sentimentos os permitam.

    2.2 - Fatores Motivacionais nas Organizaes

    Antes da chamada Revoluo Industrial, no havia preocupao em relao aos esforos humanos e a questo da motivao dos trabalhadores. As unidades de produo eram pequenas, as tcnicas de produo muito simples e a jornada de trabalho longa.

    Com o aumento de capitais, fbricas e maquinarias, a indstria cresceu e comeou a visar a um aumento de produtividade. O trabalhador passou a ser visto como outro elemento no processo de produo. Na concepo Tayloriana, o colaborador era padronizado, todos eram tidos como iguais e a administrao cientfica aumentaria a satisfao do trabalhador atravs de incentivo financeiro. O colaborador comeou a ser remunerado em funo da produo, com salrios adicionais. No entanto,

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    os funcionrios perceberam que no podiam produzir alm de certo nvel, pois no podia exceder as demandas do mercado e seriam despedidos. Entrou em jogo a necessidade de segurana.

    As verdadeiras complexidades da motivao humana comearam a aparecer, e a administrao cientfica comeou a ter um nmero crescente de fracassos.

    Trabalhando com a teoria motivacional, Elton Mayo foi chamado para resolver fracassos na Western Eletric Company de Hawthorne. Realizou uma srie de experincias, reconhecendo que os colaboradores buscavam mais do que dinheiro no trabalho e necessitavam de outros estmulos. Verificou que eles desejavam pertencer a um grupo e serem considerados como membros significativos do mesmo. Muitos incentivos estavam sendo includos como segurana, afiliao, estima, interesses pelo trabalho e xito. Mayo iniciou assim, o movimento de relaes humanas.

    Os trabalhos de Mayo serviram para mostrar que a produtividade aumentou porque os colaboradores conseguiram:

    Um sentimento maior de valor pessoal;

    Participao nas decises que afetavam o seu trabalho;

    Ter um envolvimento no trabalho;

    Sentirem-se mais seguros em seu trabalho, devido ao tratamento permissivo e amistoso do experimentador;

    Ter a oportunidade de ganhar mais dinheiro devido ao sistema de recompensa com incentivo ao grupo.

    2.3 - Teorias Comportamentais (Teoria X e Y)

    Douglas McGregor (1906-1964) foi um dos mais influentes Behavioristas na teoria das organizaes, preocupou-se em distinguir duas concepes opostas de administrao baseadas em certas pressuposies a cerca da natureza humana. Para ele, existem duas concepes sobre a natureza humana: a tradicional (a qual denominou teoria X") e a moderna (a qual denominou teoria Y).

    2.3.1 - Teoria X

    A teoria X baseia-se em certas concepes e premissas incorretas e distorcidas a cerca da natureza humana e que predominaram durante dcadas no passado. Seus principais pressupostos so:

    Os seres humanos no gostam do trabalho e o evitaro, sempre que isso esteja ao seu alcance;

    Toda organizao tem uma srie de objetivos e, para que estes sejam atingidos, as pessoas que nela trabalham devem ser compelidas, controladas e ameaadas com punies, para que seus esforos sejam orientados no sentido daqueles objetivos;

    O ser humano, em geral, prefere ser dirigido a dirigir;

    O ser humano, em geral, procura evitar as responsabilidades sempre que possvel;

    O ser humano mdio tem relativamente pouca ambio;

    As pessoas preocupam-se, acima de tudo, com a prpria segurana.

    Em funo dessas concepes e premissas a respeito da natureza humana, a Teoria X reflete um estilo de administrao duro, rgido e autocrtico que se limita a fazer as pessoas trabalharem dentro de certos esquemas e padres previamente planejados.

    Toda vez que um administrador impe arbitrariamente, e de cima para baixo, um esquema de trabalho e passe a controlar externamente o comportamento de trabalho de seus subordinados, ele estar agindo

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    segundo os preceitos da Teoria X. O fato de ele impor autocraticamente ou impor suavemente no faz diferena na viso de McGrecor.

    A teoria X se fundamenta em uma srie de pressuposies errneas acerca do comportamento humano e apregoa um estilo de administrao onde a fiscalizao e o controle externo rgido, constituem mecanismos para neutralizar a desconfiana da empresa quanto s pessoas que nela trabalham.

    Segundo esta teoria o nico estmulo para o trabalho somente pelo salrio, de modo que se no houver o estmulo salarial, o trabalho fica comprometido.

    2.3.2 - Teoria Y

    A Teoria Y prope um estilo de administrao francamente participativo e democrtico, baseado nos valores humanos.

    Seus principais pressupostos so os seguintes:

    O trabalho pode ser uma fonte de satisfao ou de sofrimento, dependendo de certas condies controlveis;

    O controle externo e as ameaas de punio no so os nicos meios de estimular e dirigir os esforos. As pessoas podem exercer autocontrole e autodirigir-se, desde que possam ser convencidas no sentido de se comprometerem a faz-lo;

    As recompensas do trabalho esto em ligao direta com os compromissos assumidos. A satisfao do ego e da necessidade de auto realizao pode ser recompensa de esforos dirigidos no sentido dos objetivos da organizao;

    As pessoas podem aprender a aceitar e assumir responsabilidades;

    A imaginao, a criatividade e a engenhosidade podem ser largamente encontradas na populao;

    A potencialidade intelectual do ser humano mdio est longe de ser totalmente utilizada. Uma utilizao muito maior pode ser conseguida.

    A Teoria Y desenvolve um estilo de administrao muito aberto e dinmico, extremamente democrtico, atravs do qual administrar um processo de criar oportunidades, liberar potencialidades, remover obstculos, encorajar o crescimento individual e proporcionar orientao quanto a objetivos.

    3 - O que Entendemos por Relaes Humanas?

    o conjunto de conhecimentos e regras que nos ensinam a viver bem com os outros. a arte de conquistar e conservar a cooperao, a confiana e o respeito de algum ou um grupo.

    Importncia das Relaes Humanas:

    Buscar a valorizao do fator humano que est sendo deteriorado e eliminado pela tecnologia e supremacia do capital, resgatando os valores eternos, como: amor, solidariedade e dignidade que so essenciais formao humana.

    Nossas relaes com os outros:

    Aceitao: Em princpio, querer e aceitar os outros, tendo conscincia de que cada um um indivduo com caractersticas prprias e tem qualidades a oferecer ao crescimento conjunto;

    Pacincia para aos outros, colocar cada um em seus pontos de vista e necessidades sem, contudo esperar o resultado imediato. Dar tempo para que os outros reflitam;

    Carinho: Sempre se colocar numa postura de carinho e ateno, mesmo sob condies adversas e de contrariedades;

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    Confiana: Ter em mente que os outros sempre esto fazendo o que, no seu entender, o melhor de si, sabendo que cada um tem limitaes impostas tanto pelo prprio estgio de desenvolvimento como tambm pelo meio e pelas circunstncias;

    Humildade: no pretender ser o dono da verdade, ou detentor do mtodo mais correto e eficaz. Humildade para poder dar valor ao que o outro tem, por menor que seja o seu grau de entendimento a cerca das coisas da vida.

    4 - Percepo e Ateno

    4.1 - O Desenvolvimento da Percepo e da Ateno

    A relao entre o uso de instrumentos e a fala afetam vrias funes psicolgicas, em particular a percepo, as operaes sensrio-motoras e a ateno, cada uma das quais parte de um sistema dinmico de comportamento. Pesquisas experimentais do desenvolvimento indicam que as conexes e relaes entre funes constituem sistemas que se modificam, ao longo do desenvolvimento da criana, to radicalmente quanto s prprias funes individuais. Considerando uma das funes de cada vez, examinarei como a fala introduz mudanas qualitativas na sua forma e na sua relao com as outras funes.

    O trabalho de Kohler enfatizou a importncia da estrutura do campo visual na organizao do comportamento prtico de macacos antropides. A totalidade do processo de soluo de problemas foi, essencialmente, determinada pela percepo. Quanto a isso, Kohler tinha muitas evidncias para acreditar que esses animais eram muito mais limitados pelo seu campo sensorial do que os adultos humanos. So incapazes de modificar o seu campo sensorial atravs de um esforo voluntrio. De fato, talvez fosse til encarar como regra geral a dependncia de todas as formas naturais de percepo em relao estrutura do campo sensorial.

    Entretanto, a percepo de uma criana, porque ela um ser humano, no se desenvolve como uma continuidade direta e aperfeioada das formas de percepo anirnal, nem mesmo daqueles animais que esto mais prximos da espcie humana. Experimentos realizados para esclarecer esse problema, levaram-nos a descobrir algumas leis bsicas que caracterizam as formas humanas superiores de percepo.

    O primeiro conjunto de experimentos relacionou-se aos estgios do desenvolvimento da percepo de figuras pelas crianas.

    Experimentos similares, descrevendo aspectos especficos da percepo em crianas pequenas e sua dependncia de mecanismos psicolgicos superiores, foram realizados anteriormente por Binet, e analisados em detalhe por Stern (1). Ambos observaram que a maneira pela qual as crianas pequenas descrevem uma figura difere em estgios sucessivos de seu desenvolvimento. Uma criana com dois anos de idade, comumente limita sua descrio a objetos isolados dentro do conjunto da figura. Crianas mais velhas descrevem aes e indicam as relaes complexas entre os diferentes objetos de uma figura. A partir dessas observaes, Stern nferiu que o estgio em que as crianas percebem objetos isolados precede o estgio em que elas percebem aes e relaes, alm dos prprios objetos, ou seja, quando elas so capazes de perceber a figura como um todo. Entretanto, vrias observaes psicolgicas sugerem que os processos perceptivos da criana so inicialmente fundidos e s mais tarde se tornam mais diferenciados.

    Ns solucionamos a contradio entre essas duas posies atravs de um experimento que replicava o estudo de Stern sobre as descries de figuras por crianas. Nesse experimento pedamos s crianas que procurassem comunicar o contedo de uma figura sem usar a fala.

    Sugeramos que a descrio fosse feita por mmica. A criana com dois anos de idade, que, de acordo com o esquema de Stern, ainda est na fase do desenvolvimento da percepo de "objetos" isolados, percebe os aspectos dinmicos da figura e os reproduz com facilidade por mmica. O que Stern entendeu ser uma caracterstica das habilidades perceptuais da criana provou ser, na verdade, um

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    produto das limitaes do desenvolvimento de sua linguagem ou, em outras palavras, um aspecto de sua perceloo verbalizada.

    Um conjunto de observaes correlatas revelou que a rotulao a funo primria da fala nas crianas pequenas. A rotulao capacita a criana a escolher um objeto especfico, isollo de uma situao global por ela percebida simultaneamente; entretanto, a criana enriquece suas primeiras palavras com gestos muito expressivos, que compensam sua dificuldade em comunicar-se de forma inteligvel atravs da linguagem. Pelas palavras, as crianas isolam elementos individuais, superando, assim, a estrutura natural do campo sensorial e formando novos (introduzidos artificialmente e dinmicos) centros estruturais. A criana comea a percebez- o mundo no somente atravs dos olhos, mas tambm atravs da fala. Como resultado, o imediatismo da percepo "natural" suplantado por um processo complexo de mediao; a fala como tal torna-se parte essencial do desenvolvimento cognitivo da criana.

    Mais tarde, os mecanismos intelectuais relacionados fala adquirem uma nova funo; a percepo verbalizada, na criana, no mais se limita ao ato de rotular. Nesse estgio seguinte do desenvolvimento, a fala adquire uma funo sintetizadora, a qual, por sua vez, instrumental para se atingirem formas mais complexas da percepo cognitiva. Essas mudanas conferem percepo humana um carter inteiramente novo, completamente distinto dos processos anlogos nos animais superiores.

    O papel da linguagem na percepo surpreendente, dadas as tendncias opostas implcitas na natureza dos processos de percepo visual e da linguagem. Elementos independentes num campo visual so percebidos simultaneamente; nesse sentido, a percevo visual integral. A fala, por outro lado, requer um processamento seqencial. Os elementos, separadamente, so rotulados e, ento, conectados numa estrutura de sentena, tornando a fala essencialmente analitica.

    Esta pesquisa mostrou que, mesmo nos estgios mais precoces do desenvolvimento, linguagem e percepo esto ligadas. Na soluo de problemas no verbais, mesmo que o problema seja resolvido sem a emisso de nenhum som, a linguagem tem um papel no resultado.

    Esses achados substanciam a tese da lingustica psicolgica, como formulada muitos anos atrs por A. Potebnya, que defendia a inevitvel interdependncia entre o pensamento humano e a linguagem. Um aspecto especial da percepo humana - que surge em idade muito precoce - a percepo de objetos reais. Isso algo que no encontra correlato anlogo na percepo animal. Por esse termo eu entendo que o mundo no visto simplesmente em cor e forma, mas tambm como um mundo com sentido e significado.

    No vemos simplesmente algo redondo e preto com dois ponteiros; vemos um relgio e podemos distinguir um ponteiro do outro. Alguns pacientes com leso cerebral dizem, quando vem um relgio, que esto vendo alguma coisa redonda e branca com duas pequenas tiras de ao, mas so incapazes de reconhec-lo como um relgio; tais pessoas perderam seu relacionamento real com os objetos. Essas observaes sugerem que toda percepo humana consiste em percepes categorizadas ao invs de isoladas.

    A transio, no desenvolvimento para formas de comportamento qualitativamente novas, no se restringe a mudanas apenas na percepo. A percepo parte de um sistema dinmico de comportamento; por isso, a relao entre as transformaes dos processos perceptivos e as transformaes em outras atividades intelectuais de fundamental importncia. Esse ponto ilustrado por nossos estudos sobre o comportamento de escolha, que mostram a mudana na relao entre a percepo e a ao motora em crianas pequenas.

    4.1.1 - Estudos do Comportamento de Escolha Perceptiva em Crianas

    Pedimos a crianas de quatro e cinco anos de idade que pressionassem uma de cinco teclas de um teclado assim que identificassem cada uma de uma srie de figuras-estmulo, cada uma correspondendo a uma tecla.

    Como essa tarefa excede a capacidade das crianas, ela provoca srias dificuldades e exige esforo intenso para solucionar o problema.

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    O resultado mais notvel talvez seja que todo o processo de seleo pela criana eterno e concentrado na esfera motora, permitindo ao experimentador observar nos movimentos da criana a verdadeira natureza do prprio processo de escolha. A criana realiza sua seleo medida que desenvolve qualquer um dos movimentos que a escolha requer. A estrutura do processo de deciso na criana nem de longe se assemelha quela do adulto.

    Os adultos tomam uma deciso preliminar internamente e, em seguida, levam adiante a escolha na forma de um nico movimento que coloca o plano em execuo. A escolha da criana parece uma seleo dentre seus prprios movimentos, de certa forma retardada.

    As vacilaes na percepo refletem-se diretamente na estrutura do movimento. Os movimentos da criana so repletos de atos motores hesitantes e difusos que se interrompem e recomeam, sucessivamente. Passar os olhos por um grfico dos movimentos de uxna criana suficiente para qualquer um se convencer da natureza motora bsica do processo.

    A principal diferena entre os processos de escolha no adulto e na criana que, nesta, a srie de movimentos tentativos constitui o prprio processo de seleo. A criana no escolhe o estmulo (a tecla necessria) como ponto de partida para o movimento conseqente, mas seleciona o movimento, comparando o resultado com a instruo dada.

    Dessa forma, a criana resolve sua escolha no atravs de um processo direto de percepo visual, mas atravs do movimento; hesitando entre dois estmulos, seus dedos pairam sobre o teclado, movendo-se de uma tecla para outra, parando a meio caminho e voltando.

    Quando a criana transfere sua ateno para outro lugar, criando dessa forma um novo foco na estrutura dinmica de percepo, sua mo, obedientemente, move-se em direo a esse novo centro, junto com seus olhos. Em resumo, o movimento no se separa da percepo: os processos coincidem quase que exatamente.

    No comportamento dos animais superiores, a percepo visual constitui, de forma semelhante, parte de um todo mais complexo. O macaco antropide no percebe a situao visual passivamente; uma estrutura comportamental complexa consistindo de fatores reflexos, afetivos, motores e intelectuais dirigida no sentido de obter o objeto que o atrai.

    Seus movimentos constituem uma combinao dinmica imediata de sua percepo. Nas crianas, essa resposta inicial difusamente estruturada, sofrendo uma mudana fundamental to logo funes psicolgicas mais complexas sejam utilizadas no processo de escolha. O processo natural encontrado nos animais , ento, transformado numa operao psicolgica superior.

    Em seguida ao experimento descrto acima, tentamos simplificar a tarefa de seleo marcando cada tecla com um sinal correspondente, com o objetivo de servir como estmulo adicional que poderia dirigir e organizar o processo de escolha. Pedia-se criana que, assim que aparecesse o estmulo, apertasse a tecla marcada com o sinal correspondente. As crianas de cinco ou seis anos j so perfeitamente capazes de realizar essa tarefa com facilidade.

    A incluso desse novo elemento mudou radicalmente a estrutura do processo de escolha. A operao elementar "natural" substituda por uma operao nova e mais complicada. A tarefa mais fcil de resolver evoca uma resposta estruturada de forma mais complexa. Quando a criana presta ateno ao signo auxiliar com o objetivo de encontrar a tecla correspondente ao estmulo dado, ela no mais apresenta aqueles impulsos motores que surgem como conseqncia direta da percepo. No h movimentos hesitantes e incertos, como observamos na reao de escolha em que no foram usados estmulos auxiliares.

    O uso de signos auxiliares rompe com a fuso entre o campo sensorial e o sistema motor, tornando possveis assim, novos tipos de comportamento. Cria-se uma "barreira funcional" entre o momento inicial e o momento final do processo de escolha; o impulso direto para mover-se desviado por circuitos preliminares. A criana que anteriormente solucionava o problema impulsivamente, resolveo, agora, atravs de uma conexo estabelecida internamente entre o estmulo e o signo auxiliar correspondente. O movimento, que era anteriormente prpria escolha, usado agora somente para realizar a operao j preparada. O sistema de signos reestrutura a totalidade do processo psicolgico, tornando a criana capaz de processar seu movimento.

    Ela reconstri o processo de escolha em bases totalmente novas. O movimento descola-se, asim, da

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    percepo direta, submetendo-se ao controle das funes simblicas includas na resposta de escolha. Esse desenvolvimento representa uma ruptura fundamental com a histria natural do comportamento e inicia a transio do comportamento primitivo dos animais para as atividades intelectuais superiores dos seres humanos.

    Dentre as grandes funes da estrutura psicolgica que embasa o uso de instrumentos, o primeiro lugar deve ser dado ateno. Vrios estudiosos, a comear por Kohler, notaram que a capacidade ou incapacidade de focalizar a prpria ateno um determinante essencial do sucesso ou no de qualquer operao prtica. Entretanto, a diferena entre a inteligncia prtica das crianas e dos animais que, aquelas so capazes de reconstruir a sua percepo e, assim, libertarem-se de uma determinada estrutura de campo perceptivo.

    Com o auxlio da funo indicativa das palavras, a criana comea a dominar sua ateno, criando centros estruturais novos dentro da situao percebida. Como K. Koffka to bem observou, a criana capaz de determinar para si mesma o "centro de gravidade" do seu campo perceptivo; o seu comportamento no regulado somente pela conspicuidade de elementos individuais dentro dele. A criana avalia a importncia relativa desses elementos, destacando, do fundo, "figuras" novas, ampliando assim as possibilidades de controle de suas atividades.

    Alm de reorganizar o campo visuo-espacial, a criana, com o auxlio da fala, cria um campo temporal que lhe to perceptivo e real quanto o visual. A criana que fala tem, dessa forma, a capacidade de dirigir sua ateno de uma maneira dinmica. Ele pode perceber mudanas na sua situao imediata do ponto de vista de suas atividades passadas, e pode agir no presente com a perspectiva do futuro.

    Para o macaco antropide a tarefa insolvel, a no ser que o objetivo e o instrumento para atingi-lo estejam, simultaneamente, vista. A criana pode facilmente superar essa situao controlando verbalmente sua ateno e, conseqentemente, reorganizando o seu campo perceptivo. O macaco perceber a vara num momento, deixando de prestar-lhe ateno assim que mude seu campo visual para o objeto-meta. O macaco precisa necessariamente ver a vara para prestar ateno nela; a criana deve prestar ateno para poder ver.

    Assim, o campo de ateno da criana engloba no uma, mas a totalidade das sries de campos perceptivos potenciais que formam estruturas dinmicas e sucessivas ao longo do tempo. A transio da estrutura simultnea do campo visual para a estrutura sucessiva do campo dinmico da ateno conseguida atravs da reconstruo de atividades isoladas que constituem parte das operaes requeridas. Quando isso ocorre, podemos dizer que o campo da ateno deslocou-se do campo perceptivo e desdobrou-se ao longo do tempo, como um componente de sries dinmicas de atividades psicolgicas.

    A possibilidade de combinar elementos dos campos visuais presente e passado (por exemplo, o instrumento e o objeto-alvo) num nico campo de ateno leva, por sua vez, reconstruo bsica de outra funo fundamental, a memria. Atravs de formulaes verbais de situaes e atividades passadas, a criana liberta-se das limitaes da lembrana direta; ela sintetiza com sucesso, o passado e o presente de modo conveniente a seus propsitos. As mudanas que ocorrem na memria so similares quelas que ocorrem no campo perceptivo da criana, onde os centros de gravidade so deslocados e as relaes figura-fundo alteradas. A memria da criana no somente torna disponveis fragmentos do passado como, tambm, transforma-se num novo mtodo de unir elementos da experincia passada com o presente.

    Criado com o auxlio da fala, o campo temporal para a ao estende-se tanto para diante quanto para trs. A atividade futura, que pode ser includa na atividade em andamento, representada por signos. Como no caso da memria e da ateno, a incluso de signos na percepo temporal no leva a um simples alongamento da operao no tempo. Mais do que isso, cria as condies para o desenvolvimento de um sistema nico que inclui elementos efetivos do passado, presente e futuro. Esse sistema psicolgico emergente na criana engloba, agora, duas novas funes: as intenes e as representaes simblicas das aes propositadas.

    Essa mudana na estrutura do comportamento da criana relaciona-se s alteraes bsicas de suas necessidades e motivaes. Quando Lindner comparou os mtodos usados por crianas surdas na soluo de problemas aos usados, pelos macacos de Kohler, notou que as motivaes que levavam a perseguir o objetivo eram diferentes nas crianas e nos macacos. As premncias "instintivas"

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    predominantes nos animais tornamse secundrias nas crianas.

    Novas motivaes, socialmente enraizadas e intensas, do direo criana. K. Lewin descreveu essas motivaes como Quasi Beduerfnisse (quase-necessidades) e defendeu que a sua incluso em qualquer tarefa leva a uma reorganizao de todo o sistema voluntrio e afetivo da criana. Ele acreditava que, com o desenvolvimento dessas quase necessidades, a impulso emocional da criana desloca-se da preocupao com o resultado para a natureza da soluo.

    Em essncia, a "tarefa" (Aufgabe) nos experimentos com macacos antropides s existe aos olhos do experimentador; no que diz respeito ao animal, existe somente a isca e os obstculos interpostos no seu caminho. A criana, entretanto, esfora-se por resolver o problema dado, tendo, assim, um propsito completamente diferente. Uma vez sendo capaz de gerar quase-necessidades, a criana est capacitada a dividir a operao em suas partes componentes, cada uma das quais torna-se um problema independente que ela formula a si mesma com o auxlio da fala.

    5 - A Importncia do Desenvolvimento da Percepo

    O processo atravs do qual aprendemos e conhecemos envolve dois momentos distintos

    1. Percepo: A percepo um processo psicofisiolgico atravs do qual o sujeito organiza e interpreta os estmulos do meio que foram captados atravs dos rgos dos sentidos (sensao), permitindo-nos identificar os objetos e acontecimentos significativos.

    2. Sensao: resulta do primeiro contato com a realidade, captao pura e simples de um objeto

    sensorial. um estado bruto e imediato, cujo papel principal proporcionar percepo os dados de que necessita. Realiza-se atravs dos sentidos.

    Quantos so os nossos sentidos?

    Cinco, certo?

    Na verdade, no. So onze: viso, audio, paladar, olfato, sentido vestibular (do equilbrio), sentido cinestsico (do movimento). E mais cinco que antigamente se agrupavam dentro da designao de tato: contato fsico, presso profunda, calor, frio e dor.

    5.1 - Tipos de Percepo

    Percepo visual: A viso a percepo de raios luminosos pelo sistema visual. Esta a forma de percepo mais estudada pela psicologia da percepo. A maioria dos princpios gerais da percepo foi desenvolvida a partir de teorias especificamente elaboradas para a percepo visual

    Percepo auditiva: A audio a percepo de sons pelos ouvidos. A psicologia, a acstica e a psicoacstica estudam a forma como percebemos os fenmenos sonoros. Uma aplicao particularmente importante da percepo auditiva a msica.

    Percepo olfactiva: O olfato a percepo de odores pelo nariz. Este sentido relativamente tnue nos humanos, mas importante para a alimentao. A memria olfativa tambm tem uma grande importncia afectiva. A perfumaria e a enologia so aplicaes dos conhecimentos de percepo olfativa. Em alguns animais, como os ces, a percepo olfativa muito mais desenvolvida e tem uma capacidade de discriminao e alcance muito maior que nos humanos.

    Percepo gustativa: O paladar o sentido de sabores pela lngua. Importante para a alimentao. Embora seja um dos sentidos menos desenvolvidos nos humanos, o paladar geralmente associado ao prazer e a sociedade contempornea muitas vezes valoriza o paladar sobre os aspectos nutritivos dos alimentos. A culinria e a enologia so aplicaes importantes da percepo gustativa. O principal fator desta modalidade de percepo a discriminao de sabores.

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    Percepo tctil: O tato sentido pela pele em todo o corpo. Permite reconhecer a presena, forma e tamanho de objetos em contato com o corpo e tambm a sua temperatura. Alm disso, o tato importante para o posicionamento do corpo e a proteo fsica. O tato no distribudo uniformemente pelo corpo. Os dedos da mo possuem uma discriminao muito maior que as demais partes, enquanto algumas partes so mais sensveis ao calor. O tato tem papel importante na afetividade e no sexo.

    Percepo espacial: Assim como as duraes, no possumos um rgo especfico para a percepo espacial, mas as distncias entre os objetos podem ser efectivamente estimadas. Isso envolve a percepo da distncia e do tamanho relativo dos objetos.

    Aparentemente a percepo espacial supramodal, ou seja, compartilhada pelas demais modalidades e utiliza elementos da percepo auditiva, visual e temporal. Assim, possvel distinguir se um som procede especificamente de um objeto visto e se esse objeto (ou o som) est a aproximar-se ou a afastar-se.

    Cinestesia: a capacidade em reconhecer a localizao espacial do corpo, a sua posio e orientao, a fora exercida pelos msculos e a posio de cada parte do corpo em relao s demais, sem utilizar a viso. Este tipo especfico de percepo permite a manuteno do equilbrio postural e a realizao de diversas atividades prticas. Resulta da interao das fibras musculares que trabalham para manter o corpo na sua base de sustentao, de informaes tteis e do sistema vestibular, localizado no ouvido interno.

    Problemas perceptivos

    Iluses, Cegueira, surdez e anestesia (problemas no rgo receptor), Agnosia (Problemas no processamento da informao pelo SNC), Alucinaes...

    5.2 - O Papel da Ateno no Processo Perceptivo

    Constantemente recebemos uma quantidade de estmulos (visuais, auditivos, olfativos,), o que implica que nem todos sejam captados do mesmo modo.

    A ATENO desempenha um importante papel na nossa percepo da realidade, pois leva-nos a seleccionar umas sensaes em detrimento das outras.

    Assim, para vermos alguma coisa ela tem de chamar a nossa ateno. Quantas vezes no passamos pelas coisas e, simplesmente, no as vemos?

    Falar em percepo falar do ser humano, nas suas relaes com outros seres humanos, objetos, animais, smbolos, mitos, conceitos, referncias. O estudo do processo perceptivo antigo. Segundo Aguiar, MAF (1992) os estudos da percepo levantaram a hiptese de que os objetos emitiriam cpias deles prprios, as quais se transmitiriam ao crebro. Os estudos da Fsica vieram contribuir para o abandono dessa hiptese ao mostrar que os objetos no emitem cpias. Na realidade, a maioria dos objetos limita-se a refletir ondas que os atingem.

    Assim, o processo perceptivo passa a ser analisado de modo objetivo, trazendo ao ser humano a perspectiva de ser ele o nico percebedor no mundo em que vive. Somos dotados de rgos dos sentidos, que nos permitem ver, tocar, cheirar, ouvir, degustar, e assim interagimos com o mundo, percebendo as formas, os jeitos, as tonalidades e suas distines. A cada ser humano, entretanto, possvel perceber de modo distinto um mesmo objeto, e isto nos traz a questo a ser tratada: Como se d o processo perceptivo?

    Trataremos desta pergunta nos Captulos seguintes, onde buscaremos contribuir para a reflexo do processo perceptivo na vida organizacional.

    A percepo, segundo Robbins, SP (2002) pode ser definida como o processo pelo qual os indivduos organizam e interpretam suas impresses sensoriais, com a finalidade de dar sentido ao seu ambiente.

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    5.3 - Compreenso do Processo Perceptivo

    A compreenso do processo perceptivo pode ser iniciada pela anlise neurofisiolgica do ser humano. Ao observar um objeto, o ser humano consegue perceb-lo visualmente, pois o objeto percebido reflete ondas de luz que atingem a retina desencadeando estimulaes dos nervos visuais, e provocando impulsos nervosos.

    Estes impulsos so transmitidos ao crebro, que os codificam gerando distintos padres de energia. Para cada indivduo, teremos distintas retinas, portanto com distintos padres de energia que produzem distintas percepes do mesmo objeto percebido.

    Assim, ao olhar para uma cadeira, esta reflete luzes, que em ondas, atingem a retina e vo ao crebro, codificando a cadeira. Se perguntarmos a vrios indivduos sobre o objeto percebido (cadeira), teremos diferentes tipos de respostas. A cadeira, entretanto, continua a mesma, o que muda apercepo individual.

    O mesmo ocorre com a percepo auditiva. Ao ouvirmos uma frase, esta transmitida em ondas sonoras ao nosso sistema auditivo e transformada em impulsos nervosos, sendo ento emitidos ao crebro. Isto ocorre tambm com os outros animais, considerando a especificidade de seus sistemas nervosos.

    Ento, o que diferencia o processo perceptivo dos seres humanos dos outros animais? Somente o ser humano faz a pergunta: Quem sou?.

    5.4 - Auto Percepo

    Quem sou? Desde seu nascimento esta pergunta instiga o ser humano a olhar para si mesmo na busca de uma resposta. Esta resposta, entretanto, comea a se delinear no contato com o mundo (outros seres, objetos, smbolos,...). Ele busca no mundo referncias que lhe daro as primeiras noes de quem . Assim, um recm-nascido esquim somente ter referncia de quem no contexto em que vive e com quem vive. Isto nos traz a importncia do espao em nosso processo de percepo.

    Outro fator importante o tempo. O ser humano se reconhece em uma poca especfica. Desta forma, acolhe o contexto onde est inserido nas dimenses espacial e temporal. O beb esquim somente tem a possibilidade de se reconhecer como esquim naquele contexto, ou seja, de acordo com o espao e tempo em que est inserido.

    Ento vejamos, se isto se d assim, dois bebs esquims que nasceram no mesmo contexto tero as mesmas percepes? Para responder esta pergunta, sugiro uma nova reflexo. Ao tentar responder a primeira pergunta (quem sou?) o ser humano, primeiramente, encontra a resposta para outra questo: O que sou? Perceber que um esquim, por exemplo, no o diferencia dos outros esquims. Responde apenas o que : Um esquim. O que o diferencia no ser um esquim dentre outros, mas sim quem , como um esquim.

    A pergunta quem sou, no entanto, nunca respondida, pois o ser humano no um ente parado no tempo presente. Ele se projeta para o passado e para o futuro, revivendo momentos, lembrando situaes, e desejando, sonhando e fantasiando o que ainda lhe falta. Assim, por ser dinmico, vai acolhendo de modos distintos o que se apresenta no mundo, interagindo com outros seres humanos e atuando nos objetos e animais.

    O ser humano tem a capacidade de perceber sua prpria existncia, percebendo-se nas relaes com os demais entes no mundo. Deste modo, ele coexiste, ou seja, existe dinamicamente com outros seres. No meio organizacional, os seres humanos ocupam cargos que lhes do uma posio e responsabilidades dentro do ncleo das atividades produtivas. Vejamos o exemplo:

    Na sua empresa, quem voc ?

    Eu sou mecnico de manuteno.

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    Assim, quando perguntamos quem , estamos esperando uma resposta ligada ao seu desempenhar mecnico de manuteno, entretanto, no o diferencia dos demais mecnicos de manuteno, apenas o enquadra dentro de uma categoria funcional. E, deste modo simplificador, o percebemos nas possibilidades de interao dentro do contexto institucional. Isto possibilita, tambm, que este empregado mecnico se perceba dentro desta categoria, recebendo e atribuindo referncias quilo que faz, fala, escuta, como um mecnico de manuteno.

    5.5 - O Ser Humano como Percebedor

    Somente ao ser humano cabe perceber. Desde seu nascimento, o ser humano estabelece relaes com o mundo, que no comeo lhe aparece estranho, para buscar referncias que lhe possibilitem interagir, compreender e, principalmente, apreender este mundo novo.

    Assim, como percebedor, percebendo o outro como igual, percebe-se como homem ou mulher, alto ou baixo, gordo ou magro, sempre de acordo com o contexto no qual est e foi inserido (seu mundo). O processo perceptivo do percebedor est intimamente relacionado com o contexto no qual se sente pertencedor. Os valores e crenas so referncias colhidas e acolhidas na tarefa de cuidar de si, preservando-se e buscando sentir-se pertencente. O ser humano tem capacidade de perceber o que se mostra, seja outro ser humano, um animal, um objeto, um smbolo. No caso de perceber outro ser humano ocorre a possibilidade de tambm ser percebido, e da pode imaginar o que o outro percebe dele, e assim levando a influncias na percepo de ambos.

    Se percebermos que o outro nos percebe como nocivo, buscamos, por exemplo, desfazer esta percepo, que por vezes est incorreta. Isto explica parte das dificuldades de relacionamento entre dois seres humanos e muito mais complexamente em grupos, onde os focos perceptivos se cruzam intensamente. Com os animais e objetos no ocorre o mesmo, pois o processo perceptivo est direcionado ao percebido, no havendo e nem sendo esperado retorno.

    5.6 - O Percebido

    Somente o ser humano, ao ser percebido pode se dar conta disto. Um objeto percebido, mas no percebe isto, e consequentemente, no atua. Um objeto no percebido isoladamente, mas sim dentro de um contexto. Assim, no se percebe somente um automvel, mas tambm sua cor, tamanho, forma. Percebe-se ainda que esteja entre outros automveis, de noite ou de manh, entre outros aspectos. Um automvel no percebido, portanto, de modo igual. Ao perceber, o ser humano transforma o automvel em um fenmeno. Fenmeno vem do grego phanesthai (Heidegger, M., 1988), que significa mostrar-se, mas como se mostra somente quele percebedor. Desta forma, um automvel para aquele ser humano percebedor ser acolhido como s a ele o automvel se mostrar. As caractersticas e o comportamento do percebido podem tambm afetar a percepo.

    Robbins (2002) nos mostra que os movimentos, sons, tamanhos e atributos de um alvo influenciam a forma como ele percebido. Estes alvos no so, entretanto, percebidos isoladamente, ou seja, esto em um contexto. Esta relao com o cenrio influencia a percepo, pois temos a tendncia de agrupar elementos ou parecidos.

    Segundo Robbins (2002), objetos prximos uns dos outros tendem a ser percebidos em conjunto. Esta proximidade pode ser tanto fsica como temporal. Robbins cita como exemplo dois acidentes fatais com esqui que ocorreram com poucas semanas um do outro. Relata que as pessoas comearam a considerar o esqui um esporte muito perigoso. Assim, embora os dois eventos fatais tenham ocorrido em situaes diferentes tendncia foi de agrupa-los pela proximidade temporal, influenciando a percepo sobre o esquiar.

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    5.7 - Percepo e Sensao

    O ser humano recebe as informaes do mundo e as transforma em fenmenos sensoriais e perceptivos. Os fenmenos sensoriais esto ligados aos sentidos. Entramos em contato com o mundo atravs de nossos sentidos, recebendo informaes dele.

    Assim, sentimos frio e calor. Sentimos a comida doce e salgada, spero e liso, longe e perto. O que complementa estas informaes recebidas a significao dada a elas, que chamamos de processo perceptivo. Esta significao baseia-se em nossas experincias de vida, dando s informaes sensoriais um carter afetivo-emocional. Um objeto que no conhecemos ser percebido na similaridade com outro percebido anteriormente. Uma flor desconhecida somente pode ser chamada de flor pela percepo de outras em suas similaridades (ptalas, caule, folhagens).

    Se esta no possuir estes aspectos, estranharemos ser chamada de flor. Assim, a percepo iniciada por um filtro sensorial calcado na aparncia, para depois. Atribuirmos uma significao afetiva. Deste modo, entendemos que um mesmo objeto percebido distintamente a cada ser humano, em seus processos perceptivos.

    5.8 - A Influncia do Estado Psicolgico na Percepo

    Uma confirmao da subjetividade no processo perceptivo a influncia dos fatores psicolgicos no modo como o ser humano interage com os estmulos e com os demais seres. Em seus contatos com o mundo, o ser humano se disponibiliza para acolher aquilo que se mostra, sofrendo interferncias em suas escolhas. A ansiedade, por exemplo, transforma o olhar para o mundo, determinando um modo-ansioso-de estar no mundo. Frente ansiedade, um evento que poderia passar por despercebido, pode se revestir de extrema importncia causando desequilbrio em seu viver. Como citamos anteriormente, a sensao ocorre como recolhedora de informaes, e a percepo, neste caso, colhida pelo episdio ansioso e seus determinantes, promover significaes distintas de momentos sem ansiedade.

    6 - Trabalho em Equipe, Papeis e Percepo

    O ser humano transita pelo mundo de acordo com referncias que colhe desde cedo. Estas referncias so importantes para o estabelecimento de padres de segurana em suas aes e reaes. Desta forma, sente-se inseguro em contextos desconhecidos, podendo sentir-se perdido. Por isto, nomeia os seres e objetos, na busca de uniformizar e dar significado a eles (o que ?). Proponho uma reflexo: tente imaginar o mundo sem nomes. Damos nomes aos objetos e assim unificamos o plural, criando uma unidade denominada conjunto. Assim posso falar que sei o que um vaso, no pelas caractersticas especficas de um determinado vaso, mas pelo conjunto de vaso unificado pelos aspectos que determinam todos os vasos que conheo (formato geral, tamanho, utilidade, fragilidade, material,...). Uma das primeiras preocupaes que os pais tm ao saber de uma gravidez dar um nome para a criana que vai nascer.

    Desde o incio dos tempos este fato acontece, sendo em algumas pocas revestido de extrema importncia. As dinastias no Egito Antigo eram determinadas por nomes de faras, definindo uma linhagem nas sucesses de poder. Povos aborgines associam nomes a variveis ambientais para descrever padres de conduta futuros. De modo geral, podemos falar que o nome diz de seu dono, pelo contexto onde est inserido, a poca, valores e crenas. O ser humano, ainda, cria nomes para atividades, que determinam papis que desempenhar na comunidade. Surgem assim, os papis sociais e profissionais. De modo geral, espera-se um padro de comportamento daquele ser que tem o nome (papel social) de me, distintamente de outra com o nome de filha.

    Nas relaes estabelecem-se pactos que se espera no serem rompidos. Estes pactos so secretos, ou seja, so determinados pelo processo perceptivo de cada ser humano. comum a frase:

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    No esperava isto de voc!. Deste modo, para cada ser humano, com sua percepo so estabelecidos padres que orientam seus relacionamentos e suas buscas de realizao de desejos e sonhos. No contexto organizacional, seus integrantes recebem nomes (papel profissional) que estabelecem seus poderes, deveres e limites dentro da organizao. Estas referncias so de grande importncia, pois determinam o que se espera de cada grupo de trabalho e, individualmente, quele que ocupa um cargo.

    Tambm o ocupante do cargo considera seu desempenho pela percepo que tem de seu papel profissional, e como percebedor de si no grupo. Estes papis, tanto o social como o profissional, somente podem fazer sentido na condio do comum, de onde vem a palavra comunidade. Os papis profissionais so montados a partir dos papis sociais. O professor, por exemplo, tem como base os papis sociais de pai e me. Este fator interfere na percepo tanto do aluno como do professor em suas relaes.

    6.1 - A Percepo e Suas Distores

    A percepo pode ser distorcida por processos ilusrios e alucinatrios. A iluso pode ser entendida como um engano nas funes dos rgos dos sentidos, levando a uma percepo distorcida da realidade. Muitas vezes o ser humano se depara com estmulos no meio ambiente (captados pelos cinco sentidos) que se apresentam com uma roupagem circunstancial e conhecida, influenciada pelo seu estado de nimo naquele momento. Assim, uma pessoa que est se sentindo perseguida pode perceber uma frase como ameaadora pela predisposio a isto. Um rudo, neste momento, de um copo quebrando ao cair, far com que esta pessoa se assuste pela falsa ameaa sua preservao.

    O medo, a crena, a carncia, o afeto so componentes influenciadores no processo de percepo ilusria. As alucinaes so percepes causadas por distrbios mentais que afetam a interao do ser humano com o mundo. Estas percepes, ao contrrio da iluso, no so dependentes de estmulos externos. So percepes de imagens inexistentes, mas que ganham do percebedor um carter de realidade incontestvel. No apresentam uma exigncia lgica, podendo estar recheadas de imagens de fantasia. As mais frequentes so as alucinaes visuais e auditivas.

    As alucinaes podem influenciar o trato do ser humano com o mundo e consigo mesmo, podendo colocar em risco a sua prpria vida e/ou dos outros. Para o percebedor alucinatrio, a audio de uma voz mandando que suicide ou que mate algum, muitas vezes implacvel, podendo levar a comet-lo. As alucinaes so estados mrbidos que necessitam de aderncia a um tratamento clnico pela desestruturao psquica e devido ao estado de confuso que promovem.

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    6.2 - Percepo e Julgamento

    No contato com o outro, buscamos constantemente explicaes sobre o seu comportamento. Se no encontramos tais respostas, julgamos o comportamento como inadequado, e reagimos conforme esta percepo. Robbins (2002) cita que ao observarmos o comportamento de algum buscamos determinar se sua causa interna ou externa. Esta busca de determinao segue trs fatores: diferenciao, consenso e coerncia. Os comportamentos de causas internas so aqueles vistos como sob controle do indivduo. J os de causas externas so aqueles resultantes de estmulos que levam a pessoa a aquele comportamento.

    Se o trabalhador pede demisso por no acreditar na poltica da empresa, esta seria uma escolha interna. Se, no entanto, pede demisso pela incompatibilidade entre os horrios de trabalho e da escola, esta seria uma escolha externa. Os fatores de diferenciao referem-se busca em perceber se o trabalhador emite ou no comportamentos diferentes em diversas situaes.

    Se percebermos que no usual ao trabalhador chegar atrasado, por exemplo, julgamos o comportamento de atrasar como proveniente de causa externa. No entanto se percebemos que este comportamento usual, o julgamento ser de causa interna. Se observarmos que em uma determinada situao todas as pessoas emitem o mesmo tipo de comportamento, determinamos que houvesse consenso. Se todos os trabalhadores que moram prximos chegam atrasados, julgamos que a causa externa.

    Em outra situao, se alguns chegam no horrio, a causa do atraso julgada como interna. Quanto mais alto o consenso, mais percebemos a causa como externa. O passado e as aes da pessoa percebida determinam a percepo de coerncia. Se percebermos que o comportamento do trabalhador em atrasar incoerente com suas aes e passado, tenderemos a julgar seu comportamento como proveniente de causas externas. Quanto mais coerente o comportamento, mais inclinados ficamos a perceb-lo como determinado por causas internas.

    Ocorre, entretanto, a possibilidade de distores perceptivas. comum escutarmos de Gestores de RH que a produo de seu setor est baixa devido incapacidade de seus funcionrios, ou at mesmo a displicncia destes. Por vezes, a causa est muito mais relacionada ao ritmo de produo imposto e s presses oriundas do controle do processo produtivo. Assim, podem ocorrer erros fundamentais de atribuio, julgando a baixa produo como determinada por causas internas, ao invs de externas. A percepo tambm pode ser influenciada por erros de auto convenincia.

    Como mecanismos de defesa, o sucesso individual tende a ser percebido como determinado por causas internas, e o fracasso por causas externas. Desta forma, os resultados de programas organizacionais, como a Avaliao de Desempenho, por exemplo, podem ser distorcidos dependendo da percepo de cada trabalhador e de serem positivos ou negativos.

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    6.3 - A Percepo e a Comunicao

    Para que entre duas pessoas ocorra uma comunicao, alguns aspectos precisam estar presentes. Em primeiro lugar, como j vimos nos captulos anteriores, necessrio a relao percebedor-percebido. Em segundo, h a necessidade de que haja uma relao do ser-comunicador com o ser comunicado. Uma ou mais pessoas na qualidade de emissores do contedo a ser comunicado e outra (s) na posio de receptor (es).

    Por ltimo, o contedo deve ser entendido por ambos, ou seja, comum quele contexto onde esto inseridos. Como j citado, a palavra comunicao vem de comum. Assim, a comunicao s ocorre se o contedo fizer parte do modo em que vivem, seus valores, crenas, poca, lugar. Mesmo quando se comunica sobre algo incomum, o ser humano o faz na referncia do que lhe comum. O contedo pode ser comunicado de diversos modos: impresso, oral, subliminar, virtualmente, gestual e simbolicamente. Dependendo do modo escolhido, a comunicao interferir na percepo do contedo, provocando uma reao.

    Neste processo de volta, o primeiro comunicador ser agora o ser-comunicado, podendo tanto obter a satisfao pelo entendimento como a denncia de distores no que tentou transmitir. Os dois tero, neste momento, suas percepes acerca um do outro alteradas, ou melhor, resinificadas. Mesmo na comunicao impressa onde o emissor no est presente na recepo do contedo, o receptor necessita criar uma imagem de quem escreve, o personificando.

    comum ouvirmos pessoas estranhando a aparncia de um escritor, pois o imaginava diferente. Esta percepo tem por base o contedo lido e os seus prprios valores e significaes.

    O fato do receptor da comunicao impressa no ter a presena fsica do emissor cria a possibilidade de mltiplas interpretaes livres, podendo ocorrer distores e concluses inadequadas ao objetivo do contedo emitido.

    Muitas vezes, na rea Organizacional encontramos problemas de comunicao advindos de distores no processo perceptivo. A linguagem de suma importncia no processo de comunicao. Martin Heidegger (1989), em seu artigo Linguagem, cita que Refletir sobre linguagem significa atingir o falar da linguagem de tal maneira que esse falar tome lugar como aquilo que concede uma morada para o ser dos mortais. Heidegger tenta explicar a comunicao a partir do falar, em 03 evidncias: expresso, atividade humana e verdade.

    Ao falar, o ser humano expressa seus contedos internos, exteriorizando-os. No se trata, entretanto, de emisses sonoras exteriorizadas e superficiais. Trata-se de algo complexo, subjetivo e particular a cada comunicador. Falar, neste sentido prprio a cada um. Em segundo lugar, falar uma condio humana. O ser humano fala sempre uma linguagem. Isto quer dizer que o ser humano no apenas fala, mas sim fala dentro de um contexto comum e peculiar para a compreenso do falar. Por ltimo, qualquer fala expressa numa linguagem uma verdade. O ser humano sempre busca representar e apresentar na fala uma dimenso do que para si real e irreal. Para Heidegger (1988), a verdade pode ser compreendida de dois modos: verdade como convencimento e como descobrimento.

    Convencer uma atividade comunicativa de algo comprovado, mensurado, inexorvel.

    Descobrir, ao contrrio, trata-se de desvelar, trazer luz, aquilo que est ainda ocultado, no momento de cada um, com a afinao do olhar e da escuta. Estas duas formas de falar a verdade so importantes e no excludentes.

    Precisamos de referncias advindas do convencimento, mas tambm o desvelamento imprescindvel, pois nos d a dimenso, ainda que parcial, de quem somos. Muitas dificuldades de comunicao so decorrentes da desconsiderao deste desvelar. Ao comunicar, o ser-comunicador deve considerar que o ser-comunicado um ser humano e, portanto, dinmico, sensvel, sonhador, passvel de todo o processo perceptivo que buscamos detalhar neste trabalho.

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    6.4 - Percepo de Riscos e Olhar Sistmico

    Percepo de risco o ato de avaliar as probabilidades de que algum perigo venha a se manifestar concretamente, e estimar a magnitude dos efeitos de um evento provvel. importante entender que o conceito de natureza secundria, pois se trata de aplicar conceitos primrios (como a percepo e probabilidade subjetiva) ao tema da segurana.

    Suponha que algum esteja numa festa e verifica um copo de vidro cheio beira de um balco por onde muitas pessoas passam. Os elementos da realidade esto presentes: o copo, as pessoas, o balco, etc. A partir dessas informaes o sujeito pode avaliar a possibilidade de que algum derrube o copo no cho. Para avaliar essa possibilidade ele se serve da anlise de outros elementos que no so auto evidentes, mas exigem algo para alm da mera identificao do copo, por exemplo.

    Ele avalia que a rea de circulao relativamente estreita; que a distncia a que as pessoas passam pelo copo pequena; que as pessoas, em geral, no esto atentas ao copo da mesma forma que ele. Julga ainda que, dada a altura do balco, o copo certamente quebrar ao bater o cho e que isso poder ferir os transeuntes.

    Em resumo, o sujeito entrou em contato com os elementos da realidade e construiu uma ideia acerca da probabilidade de que algo de negativo acontea. Em outras palavras, ele identificou um risco em sua exata magnitude. Para chegar a isso ele se apoiou em seus rgos sensoriais, em funes cognitivas, nos conhecimentos elementares da fsica, etc. Tudo isso sob o pano de fundo de sua experincia prvia, que o ajudou a compreender os fenmenos da realidade e identificar as relaes de causa e efeito que nela se expressam.

    Infelizmente, o conceito de percepo de risco nem sempre para por a. Muitas vezes ele "inclui" indevidamente a ideia de comportamento inseguro. Isso ocorre principalmente quando se recorre ao conceito para explicar acidentes. Isso se faz, muito amide, com base numa espcie de fuso entre a percepo do risco e o ato dirigido sua mitigao. Neste ponto est implcita a falsa suposio de uma relao automtica e necessria entre ambos.

    Explicando melhor: j ouvi que a maior parte dos acidentes causado por falta de percepo de risco. Um colega "mais informado" ousou um pouco mais e chegou a fornecer uma porcentagem: 95%. Olhando para esse nmero eu tenho praticamente certeza de que no estou diante de um dado da realidade, mas do efeito perverso de um problema de raciocnio. Um dado como esse s pode ser obtido da seguinte maneira: voc interpreta praticamente todo e qualquer ato inseguro ou m deciso que resultou em acidente como falta ou falha na percepo de risco.

    E chamar a m deciso de falta de percepo de risco uma espcie de metonmia, pois se designa o efeito por sua (suposta) causa. Ou seja, quando se utiliza uma m deciso ou ato inseguro como elemento necessrio para avaliar a percepo de risco voc foi alm do prprio conceito. A relao entre a identificao do risco e a conduta ou deciso do sujeito "contingencial" e no necessria.

    Dizer que a percepo de risco premissa bsica para um comportamento seguro uma coisa. Ningum discute o bvio. Mas dizer, por uma espcie de lgica inversa, que comportamentos inseguros e ms decises so resultados inequvocos da falta de percepo de risco um automatismo ingnuo. E essa lgica empregada com mais frequncia do que deveria. Afinal, de que outra forma chegaramos estatstica oficiosa do colega segundo a qual a falta de percepo de risco causa 95% dos acidentes.

    Cabe agora esclarecer o que a suposio de uma relao automtica entre percepo e ato, pressuposto bsico que leva indivduos a fundir as duas coisas no conceito de percepo de risco: a ideia de que ao perceber um risco o sujeito necessariamente age para mitig-lo - por exemplo, o sujeito de nosso exemplo, por alguma fora implacvel da natureza, removeria o copo imediatamente ao perceber o risco que a situao oferecia. Neste ponto fica ainda mais claro o absurdo do raciocnio por inverso, pois o fato de o sujeito no remover o copo no necessariamente um indicativo de que ele no percebeu o risco, ou que no avaliou corretamente sua magnitude.

    Ademais, assumir esse automatismo s faz sentido se imaginarmos tambm que tudo o que existe na cabea do sujeito naquele momento a sua percepo de que o copo pode ser derrubado. Nada mais lhe interessa. Mas entre a percepo deste fato e a deciso de remover ou no o copo pode haver

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    muita coisa envolvida. O sujeito pode estar ocupado numa conversa amorosa ou de negcios; pode ter decidido que remover o copo no era sua responsabilidade, de que no problema dele que outros se machuquem; pode ter julgado que mexer no copo de outra pessoa fosse algo grosseiro. As possibilidades que explicam a sua deciso por no mitigar o risco so muitas e todas podem conviver pacificamente com o fato de que o risco foi precisamente identificado e avaliado. Este ponto fundamental.

    Pense em sua vida cotidiana e tente identificar situaes em que voc, mesmo percebendo certos riscos, agiu de modo que a probabilidade de que ele se manifestasse se mantivesse intacta. Quantas vezes voc j atravessou o sinal amarelo, ou mesmo vermelho? Quantas vezes voc acelerou a 100km/h em estradas desconhecidas, sem saber se havia animais ou buracos? Quantas vezes voc apostou seu dinheiro em aes de empresas que voc desconhece, seguindo apenas as orientaes de seu consultor? Quantas vezes voc bebeu um copo a mais e voltou para casa dirigindo? No futebol, voc alguma vez entrou em divididas fortes?

    Agora tente lembrar se voc agiu assim porque "no tinha a noo exata do risco de faz-lo". Aqui entramos na questo da falta de percepo de riscos como categoria preferencial para explicao de acidentes. Ou seja, nos tais 95% citados pelo "estatstico" acima referido. Se voc bateu o carro, foi porque voc no sabia exatamente o risco de atravessar aquele sinal vermelho? Se machucou a perna na dividida foi porque no tinha ideia da probabilidade disso acontecer? Para quem funde percepo e ato numa mesma categoria e assume que se o risco no foi evitado porque no foi identificado, a resposta sim. um simplismo que ofusca a verdadeira compreenso dos acontecimentos.

    Com razovel frequncia estamos assumindo riscos e agindo no sentido (at mesmo) inverso ao de sua mitigao. No trabalho isso tambm acontece. Idealmente, no deveria claro. bvio que h situaes em que o sujeito toma decises erradas porque no avaliou adequadamente os riscos envolvidos. Contudo, em grande parte das ocasies "jogamos" com as probabilidades visando alcanar determinados objetivos. s vezes optamos por realizar atalhos no trabalho. Outras vezes resolvemos ser mais criteriosos e, obviamente, mais demorados. A noo do princpio ETTO (Efficiency-Thoroughness-Trade-Off) de Hollnagel ajuda a explicar como jogamos com as diferentes demandas do trabalho.

    H ainda outra questo muito importante para entender porque se recorre tanto ao conceito para explicar coisas que deram errado. Ela consiste no hbito de se interpretar as aes do sujeito envolvido no acidente com os critrios da situao posterior ao acidente. Esclarecendo: existe uma discrepncia aguda entre a situao do sujeito envolvido num determinado acidente e o sujeito que o investiga a posteriori. Basta dizer que no momento anterior ao acidente tudo o que se pode conceber so probabilidades; umas mais fortes outras nem tanto.

    No momento posterior ao acidente o que existe uma relao linear de causa e efeito que se expressou concretamente na realidade. Ento no primeiro momento as relaes so possveis/provveis enquanto no segundo as relaes no so apenas certas mas necessrias; afinal, o fato ocorreu "assim e assado". Ao avaliar as aes do sujeito envolvido no acidente e tentar compreend-las necessrio, portanto, remontar sua situao concreta: a de um ambiente de probabilidades subjetivas e no tomar como ponto de partida e referncia o ambiente de relaes estabelecidas ex post facto, que propriamente o momento da investigao.

    Ns, seres humanos, jogamos conscientemente com probabilidades e no com fatos acontecidos. Se aquele que investiga no atentar para a diferena entre os dois momentos ele pensar: mas certo que ele no tinha ideia do perigo se o resultado era to bvio!. E assim, confundindo o que bvio com o que era apenas provvel (na cabea do sujeito) ele no entende como algum poderia "jogar" com o bvio. E precisamente nesse ponto a falta de percepo de risco aparecer como explicao preferencial.

    A explicitao dessas questes refere-se simplesmente ao uso cotidiano e "rasteiro" da noo de percepo de risco e em nada diminui a importncia de estudar esse tema. Continua a ser importante compreender como as pessoas interpretam e integram os diversos elementos da realidade e formam ideias sobre o que pode ou no acontecer. Nesse mbito, o conhecimento dos processos fundamental. necessrio entender a influncia de fatores como a experincia, o conhecimento tcnico, o estado afetivo, os valores individuais acerca da segurana, bem como outros muitos aspectos do contexto laboral sobre a percepo de risco.

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    Continua a ser importante entender o que faz com que pessoas faam estimativas diferentes acerca dos riscos oferecidos numa mesma situao, qual o papel das heursticas e, ademais, como o mesmo risco parece ser mais aceitvel para uns que para outros. Esses aspectos devem, certamente, ser explorados de modo a identificar a probabilidade de ocorrncia de atos inseguros e, consequentemente, garantir melhores resultados em sua preveno. Enfim, percepo de risco um assunto muito rico. Importa, contudo, separar o trigo do joio e no permitir que o uso desse conceito seja acompanhado de ideias ingnuas sobre a ao humana.

    O quadro abaixo importante para lembrar que um tcnico de segurana deve ter a capacidade de:

    Analizar a capacidade de Percepo de Riscos;

    Melhorar a capacidade de observao individual e grupal;

    Incentivar o trabalho em equipe;

    Praticamente todos os Incidentes possuem nas suas Causas Bsicas: Falta de Percepo de Riscos.

    O que afinal perceber riscos? o ato de tomar contato com um perigo por meio dos sentidos e das percepes estudadas aqui, para interpretar informao e ento decidir o que fazer antes que o acidente ou incidente acontea.

    Um acidente ou incidente mostra que se deve ter como experincia para que outros no venham a acontecer, necessrio trabalhar com profilaxia de acidentes tambm, ou seja, antecipar perigos que podem vir a se tornar acidentes caso algo no seja feito. O tcnico de segurana deve ter em suas habilidades a de antecipao de risco e perigos.

    7 - tica no Trabalho

    tica um conjunto de regras relacionadas aos valores e conceitos morais de um indivduo ou grupo social. A tica est diretamente conectada aos princpios que disciplinam, orientam ou mesmo distorcem o comportamento humano.

    tica no trabalho algo profundamente necessrio para um ambiente saudvel. Mesmo Quando no h um Cdigo de tica formalmente definido para a sua empresa ou profisso, em geral h um conjunto de aspectos que so considerados bom senso (mas deixam espao para interpretaes variadas) em uma tentativa de delimitar o que o comportamento tico, incluindo os que representam integridade e comprometimento e separando os que ferem os princpios e assim so inaceitveis (e assim considerados anti-ticos no mbito pessoal ou do grupo).

    Um cdigo de tica definido formalmente positivo porque remove dvidas que possam surgir por divergncias de opinio de cunho moral ou valorativo, j que as definies do bom senso nem sempre so compartilhadas. Um exemplo o Cdigo de tica Profissional.

    7.1 - Cdigo de tica no Trabalho: 10 Mandamentos Essenciais

    1. Seja honesto, honrado e digno em qualquer situao;

    2. Nunca faa algo que voc no possa assumir perante sua equipe, seus superiores, seus subordinados ou o pblico;

    3. Seja humilde, tolerante, flexvel e disposto a ouvir crticas e sugestes;

    4. Crticas e repreenses devem ser feitos primeiro pessoa a quem se referem, cara a cara. Se houver o dever de lev-los a mais algum, que no seja pelas costas;

    5. A privacidade do colega, do cliente e de todos os demais inviolvel. Independentemente de questes de propriedade corporativa, mexer na mesa, gaveta, informaes ou documentos alheios exige autorizao (de norma ou da pessoa envolvida) em qualquer circunstncia;

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    6. Em aes e discusses internas, assuma sempre seus valores e princpios e as consequncias dos atos a que eles conduzirem, mesmo que isso signifique ficar contra a maioria mas jamais procure obstruir o direito de expresso e voto no posicionamento alheio;

    7. Fique longe de fofocas e comentrios maldosos, mesmo que paream fazer parte da cultura do grupo. Muitas vezes, o simples fato de dar ouvido a elas pode ser suficiente para identific-lo com o rtulo de fofoqueiro;

    8. A relao hierrquica e de equipe no deve considerar amizades nem antipatias. O subordinado amigo deve ao seu chefe o mesmo tratamento que os demais, e o chefe amigo precisa cuidar para jamais privilegiar o subordinado que lhe prximo. Da mesma forma, antipatias pessoais no tm espao no ambiente profissional. Reserve-as para seu ntimo e procure oportunidades para super-la. No trabalho, trate o colega com o respeito comum, mantenha distncia se possvel, e no comente com outros a antipatia que sente;

    9. Sempre d crdito a quem merece, sem jamais aceitar elogios ou recompensas pelo mrito alheio;

    10. Ao errar, reconhea, sem exageros. A atitude esperada no foi um erro intencional, vou providenciar para que no ocorra de novo e vou remediar o acontecido.

    O fato essencial que ser tico significa, muitas vezes, renunciar a oportunidades de obter dinheiro, status e benefcios. Se os seus princpios e valores estiverem ajustados, a deciso tica ser sempre a correta, mas a existncia de um Cdigo de tica aceito por todos do grupo pode reduzir os conflitos e facilitar a resoluo dos casos em que houver dvida.

    8 - Relacionamento Interpessoal: O Poder das Relaes no Ambiente de Trabalho

    Como deve ser o seu relacionamento com os pares na empresa onde voc trabalha ou vai trabalhar?

    Acredita-se que boa parte das pessoas ainda convive com esse questionamento na organizao onde atua; seria injusto generalizar e falar que todas as empresas tm algum tipo de conflito interno, causado pelos indivduos que interagem diariamente no ambiente de trabalho, mas o fato que no mundo empresarial eles existem e podem prejudicar o desempenho da equipe, assim como os resultados esperados pelas empresas, impactando inclusive no clima organizacional. s vezes, os problemas de relacionamento no so visveis, ficam mascarados e embutidos intrinsecamente em cada um, onde s podemos perceb-los por meio de aes, do comportamento e no modo de agir com os outros membros da equipe.

    A necessidade de trocar informaes sobre o trabalho e de cooperar com a equipe permite o relacionamento entre os indivduos, o que acaba sendo imprescindvel para a organizao, pois, as mesmas, valorizam cada vez mais tal capacidade; o relacionamento interpessoal , sem sombra de dvida, um dos fatores que influenciam no dia-a-dia e no desempenho de um grupo, cujo resultado depende de parcerias internas para obter melhores ganhos. No ambiente organizacional importante saber conviver com as pessoas, at mesmo por ser um cenrio muito dinmico e que obriga uma intensa interao com os outros, inclusive com as mudanas que ocorrem no entorno, seja de processos, cultura ou at mesmo diante de troca de lideranas.

    A contribuio dos pares e a forma que eles so tratados ajudam o colaborador atingir suas metas e desenvolver suas atribuies de maneira eficaz. Para isso, necessrio saber lidar com a diversidade existente na empresa, respeitando as diferenas e as particularidades de cada um; com isso, possvel conquistar o apoio dos demais e fazer um bom trabalho, afinal, ningum trabalha sozinho.

    O papel do gerente nesse processo de extrema importncia, pois de sua responsabilidade administrar os conflitos existentes entre as pessoas do time, e fazer com que o clima interno seja agradvel, permitindo um ambiente sinrgico e que prevalea a unio e a cooperao entre todos. Essa forma de conduta est relacionada ao estilo de gesto que se aplica e suas aes, e pode influenciar no desempenho dos liderados; este gestor ter que dar o exemplo para os demais, saber como falar com

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    seus colaboradores, pois a maneira com que ir trat-los poder refletir no relacionamento entre a gerncia x colaborador e, consequentemente, nas metas e objetivos da empresa.

    No entanto, sabemos que tem gente que no consegue lidar com pessoas adversas e com opinies diferentes da sua, e deixam se levar por uma impresso negativa sem ao menos procurar compreend-las e conhec-las mais detalhadamente. Outro vilo que pode prejudicar o relacionamento entre os membros de uma equipe o mau humor; o que faz com que essas pessoas (mal humoradas) criem uma espcie de escudo e fiquem isoladas das demais. Isso impede que seus colegas se aproximem para pedir algum tipo de ajuda, ou at mesmo para bater um papo.

    Essa dificuldade de relacionamento acaba impactando no desempenho de uma pessoa em relao s tarefas que desenvolve na organizao, pois ela ir evitar a sua exposio e nem sempre poder contar com algum para auxili-la, e devido a isso acaba fazendo, na maioria das vezes, seu trabalho de maneira individualizada. Deixa-se, tambm, de ouvir opinies diferentes e de compartilhar escolhas e alternativas com os demais, o que pode causar certo risco dependendo da deciso tomada. Em outras palavras, o mau humor certamente causar prejuzos ao trabalho em equipe e, por tabela, aos resultados em geral.

    Quando a empresa enfrenta problemas de relacionamento, a rea de Recursos Humanos junto gerncia tem a misso de sanar a dificuldade o quanto antes para no comprometer o clima de trabalho. necessrio identificar as causas para minimizar o efeito que este fator pode gerar, assim como sensibilizar os colaboradores para que eles no deixem que essa varivel prejudique o desenvolvimento das tarefas, pois os clientes internos e externos podem no ser atendidos com prontido e eficcia, resultando em queda na qualidade do atendimento e na produtividade.

    As divergncias e as brigas internas podem ser resolvidas com um bom treinamento e atividades grupais, procurando valorizar a integrao e focar a importncia de se ter um excelente relacionamento com os membros da equipe. O gerente tambm ter que fazer o seu papel, dando apoio, feedbacks e fazendo coaching com seus colaboradores, evitando, assim, qualquer tipo de atrito que possa ocorrer futuramente no time. Contudo, isso no depende somente do gestor: todos tero que estar envolvidos nesse processo. Os funcionrios tambm tm um papel importante para a construo de um ambiente saudvel, pois depende de suas condutas e atitudes para acabar com problemas desse tipo.

    Para manter um clima agradvel e sem manifestao de atritos, necessrio que as pessoas deixem de agir de forma individualizada e passem a interagir como uma equipe, promovendo relaes amigveis e fazendo com que cada um procure cooperar com o outro, mas, para isso, preciso que cada um faa a sua parte, pois se todos no estiverem dispostos a contribuir, no iremos chegar a lugar algum.

    8.1 - Trabalho em Equipe - Personalidade e Relacionamento

    O bom funcionamento de uma equipe vai depender da personalidade de cada elemento da equipe e do relacionamento entre eles. Alguns tipos de personalidade so mais compatveis com outros e quando dois tipos de personalidade compatveis trabalham juntos, a equipe sai beneficiada.

    Um ambiente saudvel e agradvel tambm essencial para o trabalho em equipe. Desta forma, cada elemento deve colocar a equipe em primeiro lugar e no procurar os seus prprios interesses. Alm disso, importante haver empatia para que trabalho exercido seja o mais eficaz e prazeroso possvel. Trabalhar em equipe requer muitas horas de convivncia, e por isso, a harmonia e respeito devem ser cultivados em todas as ocasies.

    Nunca se falou tanto sobre a importncia do trabalho em equipe como agora. A procura por indivduos que tenham habilidade para trabalhar em conjunto cada vez maior, sendo apontada como uma competncia essencial.

    Equipe no somente o conjunto de pessoas que atuam juntas num determinado projeto, cada qual na sua funo. O significado mais profundo: a ideia que cada integrante saiba qual a sua parte no grupo, mas que leve em considerao o todo, valorizando o processo inteiro e colaborando com ideias e

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    sugestes. E o resultado da meta estabelecida, seja num projeto empresarial, num grupo voluntrio ou numa sala de aula, no mrito somente do lder. mrito de todos!

    Faz parte do ser humano o sentimento de pertencer, integrar algo maior que ele prprio e assumir um ideal comum. Portanto, cada integrante de uma equipe precisa ter conscincia de que seu trabalho importante para seu grupo e se sentir valioso para ele.

    Trata-se de uma sensao de comunidade em que todos se c