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reformador Maio 2010 - a.qxp

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Page 1: reformador Maio 2010 - a.qxp

O Espiritismo e a humanização da JustiçaLiberdade, sonho inalcançável?

Veja nesta Edição:

A Característica principal da lei divina é ser imutável eperfeita de toda aeternidade

LEI DIVINAJustiça e Misericórdia da

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Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: AUGUSTO ELIAS DA SILVA

Revista de Espiritismo CristãoAno 128 / Maio, 2010 / N o 2.174

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRADiretor: NESTOR JOÃO MASOTTI

Editor: ALTIVO FERREIRA

Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO

CESAR PERRI DE CARVALHO E EVANDRO NOLETO

BEZERRA

Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA

Gerente: ILCIO BIANCHI

Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE

Equipe de Diagramação: SARAÍ AYRES TORRES, AGADYR

TORRES PEREIRA E CLAUDIO CARVALHO

Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA

CARVALHO

REFORMADOR: Registro de publicação no 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça)CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503

Direção e Redação:Av. L-2 Norte • Q. 603 • Conj. F (SGAN) 70830-030 • Brasília (DF)Tel.: (61) 2101-6150FAX: (61) 3322-0523Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

Departamento Editorial e Gráfico:Rua Sousa Valente, 17 • 20941-040Rio de Janeiro (RJ) • BrasilTel.: (21) 2187-8282 • FAX: (21) 2187-8298E-mails: [email protected]

[email protected]

Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA

Capa: AGADYR TORRES PEREIRA

SumárioExpediente

PARA O BRASILAssinatura anual R$ 339,00Número avulso R$ 55,00

PARA O EXTERIORAssinatura anual US$ 335,00

Assinatura dde RReformador: Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274

E-mmail: [email protected]

Editorial

Lei Divina ou Natural

Entrevista: Olga Lúcia Espíndola Freire Maia

O Espiritismo no Nordeste

Presença de Chico Xavier

Esclarecimento – André Luiz

Esflorando o Evangelho

Salários – Emmanuel

A FEB e o Esperanto

Cruz e Souza – copiosa produção em e sobre o Esperanto –

Affonso Soares

Trova – Soares Bulcão

Seara Espírita

Lei Divina ou Natural (Capa) – Christiano Torchi

Agressividade – Joanna de Ângelis

Amor e submissão – Richard Simonetti

Procura por Centros Espíritas se ampliará com a

maior difusão – Antonio Cesar Perri de Carvalho

O Espiritismo e a humanização da Justiça –

Adilton Pugliese

Liberdade, sonho inalcançável? – A. Merci Spada Borges

Em dia com o Espiritismo – O Plano Físico –

Marta Antunes Moura

Retorno à Pátria Espiritual – Geraldo Guimarães

A consciência faz de nós covardes? –

Delauro de O. Baumgratz

Reforma íntima: quem precisa? –

Ivone Molinaro Ghiggino

Jonas da Costa Barbosa

Ciúme: trama escura do sentimento –

Clara Lila Gonzalez de Araújo

Quando eu crescer – Carlos Abranches

Composição dos Órgãos da FEB após a Reunião do

Conselho Superior de março de 2010

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4 Reformador • Maio 2010117788

EditorialLei Divina

Naturalo capítulo I do Livro III de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec,1 osEspíritos superiores responderam a várias questões formuladas sobre aLei Divina ou Natural, das quais destacaram:

614. Que se deve entender por lei natural?

“A lei natural é a Lei de Deus. É a única verdadeira para a felicidade do homem.Indica-lhe o que deve fazer ou não fazer e ele só é infeliz porque dela se afasta.”

615. A Lei de Deus é eterna?

“É eterna e imutável como o próprio Deus.”

621. Onde está escrita a Lei de Deus?

“Na consciência.”

647. Toda a Lei de Deus está contida na máxima do amor ao próximo, ensinada porJesus?

“Certamente essa máxima encerra todos os deveres dos homens uns para com osoutros. Mas é preciso mostrar a eles a sua aplicação, pois, do contrário, deixarão depraticá-la, como o fazem até hoje. Ademais, a lei natural abrange todas as circuns-tâncias da vida, e essa máxima é apenas uma parte da lei. Os homens necessitam deregras precisas; os preceitos gerais e muito vagos deixam muitas portas abertas àinterpretação.”

648. Que pensais da divisão da lei natural em dez partes, compreendendo as leis deadoração, trabalho, reprodução, conservação, destruição, sociedade, progresso,igualdade, liberdade e, por fim, a de justiça, amor e caridade?

“Essa divisão da Lei de Deus em dez partes é a de Moisés, e pode abranger todasas circunstâncias da vida, o que é essencial. Podes, pois, adotá-la, sem que, por isso,tenha qualquer coisa de absoluta, como não o têm os demais sistemas de classifica-ção, que dependem do ponto de vista sob o qual se considere uma coisa. A últimalei é a mais importante; é por meio dela que o homem pode adiantar-se mais navida espiritual, visto que resume todas as outras.”

Ao transcrever estas questões temos o propósito de motivar o estudo dessas Leis,que tratam dos assuntos relacionados à compreensão do comportamento humano,fundamentais para a nossa evolução moral e intelectual e consequente libertaçãoespiritual.

N

1Tradução Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010.

ou

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5Maio 2010 • Reformador 117799

ue somos? Antes de nascer,o que éramos? Por que aspessoas são tão diferentes?

Por que a vida sorri para umas e ésó desgraça para outras? Porque umas nascem enfermas,outros sãs? Por que umas sãomiseráveis, outras abastadas?Por que umas, demorando-seem má conduta, sofrem me-nos que outras, que só fazem obem? Por que o Criador per-mitiria essas aparentes desi-gualdades entre seus filhos? Porque a felicidade completa ain-da não é deste mundo? De on-de viemos? Para onde vamos?O que estamos fazendo na Ter-ra? Várias pessoas viajam numtrem, carro, navio ou avião,mas somente uma ou algumasdelas se salvam, após desastreterrível, como ocorreu nos des-lizamentos de terra em Angrados Reis, no litoral do Estadodo Rio de Janeiro, que vitimoudezenas de famílias na viradado ano – qual a razão de “sortes”tão diferentes? Onde encontrar, emfatos tão díspares, a Justiça Divina?

Estas são indagações milenares queos estudiosos procuram responder,em vão, com base nos compêndioshumanos.

Se os homens fossem mais aten-tos aos fenômenos da vida, prin-cipalmente aos de ordem social,

aprenderiam a interpretar melhora realidade que os cerca, buscan-do nas leis divinas a base funda-mental dos seus códigos, subme-

tendo seus labores e suasconquistas aos princípios deuma ética incorruptível, evi-tando, por exemplo, a aprova-ção de leis que atentam con-tra a vida, em seus múltiplosaspectos, como no caso doaborto, da eutanásia e da pe-na de morte.

A despeito da ignorânciahumana, as leis divinas, quetêm por escopo o Amor, ba-se de sustentação do equilí-brio e da harmonia do Uni-verso, seguem seu curso ine-xorável, aguardando, pacien-temente, que despertemos,pelos nossos próprios esfor-ços, de profundo sono espi-ritual. Nesse hercúleo mister,contamos com o auxílio pre-cioso das revelações conti-das em O Livro dos Espíritos,

pedra angular sobre a qual se erguea Doutrina Espírita, que elucida,sem mistérios:

Lei Divinaou Natural

QCH R I S T I A N O TO RC H I

Capa

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A lei natural é a Lei de Deus. É a

única verdadeira para a felicida-

de do homem. Indica-lhe o que

deve fazer ou não fazer e ele só

é infeliz porque dela se afasta.1

Para os desesperados que aindanão se dispuseram a sondar os ar-canos das leis naturais ou para mui-tos dos que insistem em ignorar,por exemplo, a justiça das reen-carnações e da lei de causa e efei-to, corolário da imortalidade e doprogresso dos Espíritos, tudo pare-ce perdido, especialmente quandoas tragédias e os sofrimentos aba-tem seus ânimos.

Como achar sentido na vida,com base na crença niilista do“morreu, acabou”? Com ela, muitoganhariam os maus que se veriamlivres, ao mesmo tempo, de suasmazelas e de suas culpas, em detri-mento das pessoas escrupulosasque não encontrariam nenhumacompensação pelos seus esforços

de melhoramento pessoal. Ou,ainda, como acreditar que a cria-tura humana venha a ser conde-nada, irremissivelmente, a uminferno eterno por erros cometi-dos em única existência? Se Deusassim agisse, seria menos justo queos próprios homens que, apesarde imperfeitos, vêm criando leisequitativas para julgar seus seme-lhantes, cujas penas são propor-cionais aos malefícios cometidos.

Todos os Espíritos, encarnadose desencarnados, estão submetidosà lei natural que governa o Univer-so – a Lei de Deus –, que está aci-ma das legislações humanas, tran-sitórias e imperfeitas. A caracte-rística principal da lei divina é serimutável, visto ser perfeita de todaa eternidade. Por tal motivo, impri-me estabilidade às coisas, o que jánão acontece com as leis humanas,que se modificam, constantemen-te, de acordo com o progresso e acultura da sociedade.

Sendo Deus o autor de todas ascoisas, segue-se que todas as leis daNatureza, sejam elas físicas ou mo-rais, têm o selo da paternidade di-

vina. Enquanto o sábio estuda as leisda matéria, com o auxílio da Ciên-cia, o homem de bem estuda e pra-tica as leis da alma, que são as leismorais, contando, para isso, como apoio da Filosofia e da Religião.

Em sua infinita misericórdia,sabedoria, bondade e justiça, Deusfaculta a todos os seres pensantesos meios de conhecerem sua lei. To-davia, mesmo conhecendo-a, nemtodos a compreendem de imediato.É por tal motivo que os Espíritosalertam que uma única existêncianão nos basta para alcançar estameta, pois necessitamos, para isso,de experiência,maturidade, isto é,deevolução intelecto-moral.

Os que perseveram no bem e osinteressados em pesquisar tais leissão os que melhor as compreen-dem, sentindo a ventura de pene-trar, gradualmente, nos segredosque elas ocultam. No futuro, po-rém, todos partilharão dessas ex-periências, uma vez que o progressoé inevitável. A unicidade da exis-tência não se compadece com a ló-gica divina, visto que milhões decriaturas humanas perecem dia-

6 Reformador • Maio 2010118800

1KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad.Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Ja-neiro: FEB, 2010. Q. 614.

Capa

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riamente ainda embrutecidas naselvageria e na ignorância, sem quetenham tido a oportunidade de seesclarecer.

Ensinam os benfeitores do espa-ço que a lei de Deus (lei moral) estáinsculpida na consciência.2 Apesardisso, esta lei necessitou ser reveladaao homem, por meio de missio-nários, uma vez que ele a esque-ceu e a desprezou. Em meio a essesmensageiros do bem, vez por ou-tra, surgem os “falsos profetas” que,movidos pela ambição e confun-dindo as leis que regulam as condi-ções da vida da alma, com as que re-gem a vida do corpo, se atribuemuma missão que não lhes cabe.Deus permite que isso aconteçapara que aprendamos a discerniro bem do mal. O verdadeiro pro-feta inspirado por Deus cultiva vir-tudes: é reconhecido não somentepelas palavras, mas também pelosseus atos, uma vez que Deus nãose utiliza de um emissário dado amentiras para ensinar a verdade.No afã de dominar as massas, es-ses falsos profetas apresentam leishumanas, concebidas unicamentepara servir às paixões, como se fos-sem leis divinas. Apesar disso, porserem homens de gênio, mesmoentre os equívocos que propagam,muitas vezes se encontram gran-des verdades.

No topo da Escala espírita – Es-píritos puros –, Deus oferece JESUScomo o tipo mais perfeito para ser-vir de guia e modelo aos homens,

cuja doutrina é a mais pura ex-pressão das leis do Criador. Estan-do como estão as leis divinas es-critas no livro da Natureza, muitoantes da vinda de Jesus à Terra, jáera possível percebê-las em seussinais por aqueles que estivessemdispostos a meditar sobre a sabe-doria. Por isso, muitas dessas leisforam antecipadas, ainda que demodo incompleto, por vários ho-mens virtuosos, chamados de pre-cursores, que prepararam o terre-no para a vinda do Messias. Nãosem razão, alguns desses preceitosconsagrados por essas leis têm sidoproclamados em todos os tempose lugares, com destaque para ocódigo de ouro do Universo: “Nãofaças a outrem o que não gostariasque fizessem contigo”.

Jesus, Mestre por excelência, fa-lava de acordo com a época e oslugares. Para não chocar as pes-soas, ainda desprovidas de conhe-cimento e de compreensão quan-to a determinados assuntos, acessí-veis apenas aos iniciados, utilizava--se de alegorias que seriam futura-mente desvendadas quando tives-sem adquirido maior desenvolvi-mento, o que efetivamente aconte-ceu, com o progresso da Ciência eo advento do próprio Espiritismo, oConsolador Prometido. Isto porque“todo ensinamento deve ser pro-porcional à inteligência daquele aquem é dirigido, pois há pessoasa quem uma luz viva demais des-lumbraria, sem as esclarecer”.3

Entretanto, Jesus somente pro-cedia assim quanto às partes maisabstratas de sua Doutrina. No to-cante à caridade para com o próxi-mo e à humildade, condições bási-cas da “salvação”, tudo o que disse aesse respeito foi inteiramente cla-ro, explícito e sem ambiguidades.Atualmente, é preciso que a verda-de seja inteligível para todos. Porisso, os Espíritos superiores têmpor missão abrir os olhos e os ou-vidos da Humanidade, de sorte queninguém poderá alegar ignorân-cia, interpretando a lei de Deus aosabor de suas paixões e interessespessoais, visto que

a posse, a compreensão da lei

moral é o que há de mais neces-

sário e de mais precioso para a

alma. Permite medir os nossos

recursos internos, regular o seu

exercício, dispô-los para o nosso

bem. As nossas paixões são for-

ças perigosas, quando lhes esta-

mos escravizados; úteis e benfei-

toras, quando sabemos dirigi-las;

subjugá-las é ser grande; deixar-

-se dominar por elas é ser pe-

queno e miserável.4

Se desejamos libertar-nos dosmales terrestres, evitando as reen-carnações dolorosas, vivenciemos,na medida do possível, as leis mo-rais, pois elas constituem o roteirode felicidade do homem, constru-tor do próprio destino, nas sendasda evolução.

7Maio 2010 • Reformador 118811

2KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Riode Janeiro: FEB, 2010. Q. 621.

3Idem. O evangelho segundo o espiritismo.Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de Ja-neiro: FEB, 2008. Cap. 24, item 4.

4DENIS, Léon. Depois da morte. ed. esp. 1.reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. P. 5, cap.56, A lei moral, p. 431.

Capa

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8 Reformador • Maio 2010118822

ivem-se, na atualidade, osdias de descontrole emo-cional e espiritual no que-

rido orbe terrestre.O tumulto desenfreado, fruto

espúrio das paixões servis, invadequase todas as áreas do comporta-mento humano e da convivênciasocial.

Desconfiança sistemática aturdeas mentes invigilantes, levando-asa suspeitas infundadas e contínuas,bem como a reações doentias nasmais diversas circunstâncias.

A probidade cede lugar à avare-za, enquanto a simpatia e a afabi-lidade são substituídas pela ani-mosidade contumaz.

As pessoas mal suportam-se umasàs outras, explodindo por motivosirrelevantes, sem significado.

Explica-se que muitos fatoressociológicos são os responsáveispelas ocorrências infelizes.

Apontam-se a fugacidade de to-das as coisas, a celeridade do reló-gio, o medo, a solidão e a ansieda-de, como responsáveis pela frustra-ção dos indivíduos, gerando as si-tuações agressivas que os armamde violência e de perversidade.

A cultura e a ética não têm conse-guido acalmar os ânimos, deixandoque a arrogância e a presunção en-ganosas tomem conta dos incautosque se lhes submetem docemente.

Os relacionamentos sem afetivi-dade real, estimulados por interes-ses nem sempre nobres, tornam-serápidos, diluindo-se com facilida-de, quando não se transformamem antagonismos, em decorrênciade alguma negativa que se tornaoportuna e é direcionada ao outro.

A maledicência perversa grassanos arraiais dos grupos, minando as

bases frágeisdas amiza-des superfi-ciais, e, não

poucas ve-

zes, transformando-se em calúniasinsidiosas. Mesmo entre as pessoasvinculadas às doutrinas religiosas li-bertadoras que se baseiam no amore na caridade, no respeito ao próxi-mo e no culto aos deveres morais, ovício infeliz permanece, destruidor.

Armando-se de mau humor, nãopoucos homens e mulheres exter-nam o enfado ou os sentimentoscontrovertidos em que se conso-mem, dando lugar a situações ve-xatórias. Em mecanismo de trans-ferência psicológica atiram os seusconflitos à responsabilidade dosoutros, como se estivessem desfor-çando-se da inveja que experimen-tam em relação aos mesmos.

Aumenta, assustadoramente, aagressividade, nestes dias, nos gru-pos humanos, sem que haja umprograma de reequilíbrio, de har-monização individual ou coletiva.

Trata-se de uma guerra não de-clarada, cujos efeitos perniciososatemorizam a sociedade.

As autoridades dizem-se atadasa dificuldades quase insuperáveisem razão do suborno, do tráficode drogas, dos desafios adminis-trativos, da ausência de pessoal ha-bilitado para os enfrentamentos,falhando, quase sempre, nas pro-vidências tomadas.

Permanecem, desse modo, oscomportamentos infelizes nos la-res, nos educandários, nas vias pú-blicas, no trabalho...

VAgressividade

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A agressividade é doença da almaque deve merecer cuidados muitoespeciais desde a infância, educan-do-se o iniciante na experiênciaterrestre, de forma que possa dis-por de recursos para vencer a infe-rioridade moral que traz de exis-tências transatas ou que adquire naconvivência doentia da família...

A agressividade é herança crueldo medo ancestral, que remanesceno Espírito desde priscas eras.

Não diluído pela segurança psico-lógica adquirida mediante a fé re-ligiosa, a reflexão, a psicoterapia aca-dêmica, a oração, domina os recôn-ditos do sentimento e exterioriza-sede forma infeliz na agressividade.

A ausência dos diálogos domés-ticos saudáveis entre pais, filhos ecônjuges ou parceiros, que se agri-dem mutuamente, sempre ressen-tidos, extrapolam do lar em direçãoà via pública, transformada emcampo de batalha, segue no rumodo local de trabalho, e até aos clu-bes de recreação, em contínuo des-trambelho das emoções.

Nesse contubérnio afligente,Espíritos irresponsáveis e frívolosaproveitam-se das vibrações dele-térias e misturam-se com essescombatentes perturbados, aumen-tando-lhes a ferocidade e estimu-lando-lhes os instintos inferiores.

O resultado são os crimes hedion-dos, asselvajados, estarrecedores, queaumentam o índice de maldade emrazão da ingestão de bebidas alcoóli-cas, de drogas alucinantes e fatais...

A civilização contemporâneapericlita nos seus alicerces mate-

rialistas, ameaçada pela agressivi-dade e pelo desrespeito moral queassolam sem freio.

Sem dúvida, estudiosos do com-portamento, educadores sincerose devotados, religiosos abnegados,pensadores sensatos e sociólogos lú-cidos vêm investindo os seus melho-res recursos na construção da novamentalidade saudável, em tentativasainda não vitoriosas para a reversãodo quadro aparvalhante, confiantes,no entanto, nos resultados futuros.

O progresso moral é lento e exi-ge sacrifícios de todos os cidadãosque aspiram pela felicidade e pelaharmonia na Terra.

As respeitáveis contribuições daCiência e da Tecnologia, valiosas,sob qualquer aspecto consideradas,respondem por muitas modifica-ções das estruturas ultramontanas,suprimindo a ignorância e o pri-mitivismo. Nada obstante, tambémsão usadas para o crime de váriasdenominações, especialmente atra-vés dos veículos da mídia: os perió-dicos, a Internet, a televisão, assimcomo o teatro e o cinema, com asua complexa penetração nas mas-sas, às vezes, usados vergonhosa-mente e sem qualquer controle, ofe-recendo campo de vulgaridades einformações que preparam delin-quentes e viciosos...

A rigor, com as nobres exceçõesexistentes, a sociedade moderna en-contra-se enferma gravemente,necessitando de urgentes cuidados,que o sofrimento, igualmente ge-neralizando-se, conseguirá, no mo-mento próprio, oferecer a recupe-ração, o reencontro com a saúdeapós a exaustão pelas dores...

Instala-se, desse modo, lenta-mente, o período da paz, da bran-dura, da fraternidade.

Sofrido, o ser humano ver-se-ácompelido a fazer a viagem devolta às questões simples e afáveis,à amizade e à ternura, qual filhopródigo de retorno ao lar paternoapós as extravagantes experiên-cias que se permitiu.

Que se não demorem esses dias,que dependerão do livre-arbítriodos indivíduos em particular e dasociedade em geral, embora o pro-gresso seja inevitável, apressando--se ou retardando-se em razão dasopções humanas.

A agressividade infeliz é doençapassageira, embora os grandes da-nos que produz, cedendo lugar àpacificação.

Torna dócil a tua voz, nestesturbulentos dias de algazarra, egentis os teus gestos ante os tu-multos e choques pessoais...

Com sua sabedoria ímpar, Jesus as-sinalou:“Bem-aventurados os man-sos, porque eles herdarão a Terra”.1

Suavemente permite que a mansi-dão domine os territórios das tuasemoções, substituindo esses infelizesmecanismos da inferioridade moralpelos abençoados valores da verdade.

Joanna de Ângelis

(Página psicografada pelo médium Divaldo

Pereira Franco, na sessão mediúnica da noite

de 15 de março de 2010, no Centro Espírita

Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.)

9Maio 2010 • Reformador 118833

1MATEUS, 5:5. (Nota da autora espiritual.)

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aio, mês consagrado àsmães, evoca a figura ve-nerável daquela que é a

mãe espiritual da Humanidade:Maria de Nazaré.

São escassos os registros a seurespeito nos textos evangélicos.Os evangelistas centralizaram anarrativa na figura augusta doCristo.

Não obstante, a tradição nosfala de uma mulher ardente na fée dedicada ao filho amado.

No livro Boa Nova, psicografiade Francisco Cândido Xavier, oEspírito Humberto de Campos,colhendo informações da Espiri-tualidade, reporta-se aos últimosanos de Maria, em Éfeso, ampara-da por João, o discípulo amado,onde se devotou inteiramente aossofredores de todos os matizes.

Diz Humberto de Campos:

Sua choupana era, então, co-nhecida pelo nome de “Casa daSantíssima”.

O fato tivera origem em certaocasião, quando um miserável le-proso, depois de aliviado em suas

chagas, lhe osculou as mãos, reco-nhecidamente murmurando:

– “Senhora, sois a mãe de nossoMestre e nossa Mãe Santíssima”.

A tradição criou raízes em to-dos os espíritos. Quem não lhe de-via o favor de uma palavra mater-nal nos momentos mais duros? EJoão consolidava o conceito, acen-tuando que o mundo lhe seriaeternamente grato, pois fora pelasua grandeza espiritual que oEmissário de Deus pudera pene-trar a atmosfera escura e pestilen-ta do mundo para balsamizar ossofrimentos da criatura. Na suahumildade sincera, Maria se es-quivava às homenagens afetuosasdos discípulos de Jesus, mas aque-la confiança filial com que lhe re-clamavam a presença era para suaalma um brando e delicioso tesou-ro do coração. O título de mater-nidade fazia vibrar em seu espíri-to os cânticos mais doces. Diaria-mente, acorriam os desampara-dos, suplicando a sua assistênciaespiritual. Eram velhos trôpegos edesenganados do mundo, que lhevinham ouvir as palavras confor-

tadoras e afetuosas, enfermos queinvocavam a sua proteção, mãesinfortunadas que pediam a bên-ção de seu carinho.

– “Minha mãe – dizia um dosmais aflitos – como poderei venceras minhas dificuldades? Sinto-meabandonado na estrada escura davida...”

Maria lhe enviava o olhar amo-roso da sua bondade, deixando ne-le transparecer toda a dedicaçãoenternecida de seu espírito ma-ternal.

– “Isso também passa! – diziaela, carinhosamente – só o Reino deDeus é bastante forte para nuncapassar de nossas almas, como eter-na realização do amor celestial.”

Seus conceitos abrandavam ador dos mais desesperados, desanu-viavam o pensamento obscuro dosmais acabrunhados. (Op. cit., cap.30, p. 254-256, ed. FEB.)

Na Revista Espírita, janeiro de1862, Kardec situa Maria comoum Espírito puro, não pertencen-te à Humanidade, acentuandoque Deus [...] de vez em quando,

Amor esubmissão

MRI C H A R D SI M O N E T T I

10 Reformador • Maio 2010 118844

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envia Espíritos superiores que en-carnam [na Terra] a fim de im-pulsionar o progresso e apressar odesenvolvimento do orbe. Na Terratais Espíritos agem como o verda-deiro pastor, que vai moralizar oscondenados em suas prisões e lhesmostrar o caminho da salvação.(p. 29, ed. FEB.)

Dá para perceber, caro leitor,nessas citações, a grandeza es-piritual da Mãe de Jesus.

Há na narrativa evangé-lica um momento glorio-so, em que Maria, meni-na-moça ainda, de pou-co mais de 16 primave-ras, recebeu a visita deum anjo, a anunciar--lhe que seria mãe doMessias.

E ela, sem maioresquestionamentos, semdúvidas e sem receios,intuitivamente cons-ciente de sua mis-são, simplesmenterespondeu (Lucas,1:38):

Senhor, eis aquia tua serva. Cum-pra-se em mim se-gundo a tua palavra.

Muitos sofrimentos seriam evi-tados, muitos problemas seriamsolucionados, muitas angústias se-riam superadas, muitas desaven-ças seriam eliminadas, plena debênçãos seria nossa existência, senos dispuséssemos a imitar seus

exemplos, em dois aspectos fun-damentais:

O amor ao próximo, que com-preende, perdoa, atende, socorre,ajuda, sempre pronto a servir.

A submissão à vontade de Deus,que elimina dúvidas e temores denosso coração, sustentando-nos oequilíbrio e a paz em todas as si-tuações.

Em Parnaso de Além-Túmulo,psicografia de Chico Xavier, vá-

rios poetas desencarnados ren-dem homenagem a Maria, a de-monstrar que lá, nas etéreas pla-gas, como diria Camões, tambémé reconhecida a grandeza espiri-tual da mãe de Jesus.

Dentre as homenagens dessespoetas, escolhemos uma, de Al-phonsus de Guimaraens (1870--1921), que bem nos fala do queela representa e do que continua afazer:

Sobe da Terra, em ondas [luminosas,

Um turbilhão de vozes e de[lírios,

Buscando-vos nas Luzes[Harmoniosas,

Oh! Virgem da Pureza [e dos Martírios!

Imagens de turíbulos e[rosas

Aromatizam todos os [empíreos…

Há na Terra canções [maravilhosas

Entre as luzes e as[lágrimas dos círios.

Senhora, o mundo[inteiro vos festeja,Em magnificência[ampla e radiosa,

Nos altares [simbólicos da Igreja!

Eis, porém, que vos vejo nos[caminhos,

Onde a vossa virtude carinhosaConsola e ampara os fracos

[pobrezinhos...

11Maio 2010 • Reformador 118855

“Nossa Senhora, Mãe de Jesus” (Trabalho artístico realizado pelo

sr. Vicente Avela, sob a orientaçãomediúnica de Chico Xavier e ditado pelo Espírito Emmanuel, em 1983.)

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Reformador: Como tem se dissemi-nado o Espiritismo no Nordeste?Olga: Em 1865, Luís Olímpio Te-les de Menezes fundava, na entãoprovíncia da Bahia, o Grupo Fami-liar do Espiritismo, a primeira so-ciedade espírita do Brasil. O Espi-ritismo no Nordeste contou comrespeitáveis nomes como o mara-nhense Marechal Ewerton Quadros,primeiro presidente da FEB, do pa-raibano Leopoldo Cirne e dos cea-renses Adolfo Bezerra de Menezese Manoel Vianna de Carvalho. Adisseminação de nossa Doutrinacontou, também, com otrabalho anônimo dosinúmeros companhei-ros que foram desta-cados para servir nosrincões mais distantesde nossa Região, le-vando consigo os co-nhecimentos espíri-tas, trabalhando empequenas cidades,fundando células deestudo, deixando

estruturados núcleos de amor, co-laborando, decisivamente, para queo Espiritismo brilhe como uma es-cola de luz, esclarecendo com se-

gurança e iluminando definitiva-mente aqueles que o buscam e queo estudam. Hoje,o Trabalho de Uni-ficação vem sendo estimulado pau-latinamente por meio do Con-selho Federativo Nacional da FEB,viabilizando as reuniões das Co-missões Regionais do Nordeste, queconsolidam esta disseminação,cons-truindo as bases para que o Espiri-tismo seja bem entendido e com-preendido, atendendo à preocu-pação de Allan Kardec, que afirmaem Obras Póstumas:“um dos maio-res obstáculos capazes de retardar

a propagação da Doutrinaseria a falta de unidade”.

Reformador: Como asreuniões das ComissõesRegionais do CFN têmcolaborado com o Mo-vimento da Região?Olga: Elas constroemas bases do Trabalhode Unificação de nos-sa Região, promovema união e a capacita-

12 Reformador • Maio 2010118866

OLG A LÚ C I A ES P Í N D O L A F. MA I AEntrevista

Olga Lúcia Espíndola Freire Maia, secretária da Comissão Regional Nordeste do CFN, comenta o Movimento Espírita em sua Região

O Espiritismono Nordeste

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ção dos trabalhadores e, ainda,complementam e enriquecem asreuniões anuais do CFN. É rele-vante ressaltar a importância des-sas reuniões tanto para as Fede-rações Estaduais, como para seusdirigentes e coordenadores, como,ainda, para a Federação EspíritaBrasileira. Para as Federativas, re-presentam excelente oportunidadede compartilhamento e aprendiza-do, uma vez que integram os tra-balhos executados nos Estados edão oportunidade a permuta deexperiências exitosas, promoven-do a segurança e o fortalecimentodas Ações Doutrinárias, Assisten-ciais e Administrativas. Para os di-rigentes e coordenadores, essasreuniões ensejam capacitação,confiança, motivação, abrem no-vos horizontes para os trabalhos efortalecem os laços de união entreos trabalhadores dos diversos Esta-dos e a equipe do CFN da FEB. Pa-ra a FEB, propiciam oportunida-de de conhecer de pertoa realidade de cada Fe-derativa. Este conheci-mento é valioso para aelaboração de estratégiasque ajudam a colocar emprática as diretrizes ecampanhas aprovadasnas Reuniões do CFN.Aqueles que participamdesses encontros podemavaliar com mais cons-ciência a importância fun-damental que tem o Tra-balho de Unificação pa-ra que o Espiritismopossa ser posto ao alcan-ce de todos, esclarecen-

do, consolando e construindo asbases deste Edifício que, confor-me consta em “Prolegômenos” deO Livro dos Espíritos, deverá reu-nir todos os homens num mesmosentimento de amor e caridade,“abrindo uma Nova Era para a re-generação da Humanidade”.

Reformador: E o desenvolvimentodo Espiritismo no Interior, em ci-dades pequenas? Algum exemplointeressante?Olga: É um dos maiores desafiospara o Trabalhador de Unificação.Nosso Brasil geograficamente émuito extenso e as Federativas vi-venciam inúmeras dificuldades,inclusive financeiras, com algumaspoucas exceções. O trabalho em-preendido pelo CFN da FederaçãoEspírita Brasileira, focando a inte-riorização do Espiritismo, será de-cisivo para o enfrentamento das di-ficuldades, considerando que nãoapenas capacitará o trabalhador

das pequenas localidades, mas apro-ximará e unirá todo o Movimento.Em 1990, na pequena cidade deViçosa, sertão cearense, foi fun-dado o Centro Espírita “O Pobrede Deus”. Em poucos meses, nopovoado Oiticicas, eles iniciaramuma obra social, amparada peloestudo e pelas atividades espíri-tas. Hoje, o trabalho social do ci-tado Centro é reconhecido comode Utilidade Pública Municipal,Estadual e Federal. Atende a 90 fa-mílias muito carentes, com visita-ção domiciliar, grupos sociais,qualificação profissional, apoio àsnecessidades básicas e mutirõeshabitacionais; 120 crianças fre-quentam quatro horas diárias deatendimento complementar à es-cola pública, com oficinas criati-vas, apoio escolar, atividades es-portivas e recreativas, coralzinhoinfantil e Evangelização. A Casaoferece, aos jovens, evangelização,iniciação profissional voltada para a

13Maio 2010 • Reformador 118877

Centro Espírita “O Pobre de Deus”

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inserção no mercado de trabalho,através de seus projetos Pão daVida e Sítio Estrada de Damasco.Nesses 20 anos, muita coisa mu-dou, mas o grupo de estudos espí-ritas conserva os traços do início,onde se encontram muitos dosparticipantes sem escolaridade,soletrando as obras espíritas, lega-das pelos benfeitores do MundoMaior... Ficam em nossos ouvidosespirituais as palavras de Bezerrade Menezes: “Allan Kardec, nosestudos, nas cogitações, nas ativi-dades, nas obras, a fim de que anossa fé não se faça hipnose, pelaqual o domínio da sombra se es-tabelece sobre as mentes mais fra-cas, acorrentando-as a séculos deilusão e sofrimento” (Mensagem“Unificação”).

Reformador: Qual sua expectativacom o novo documento “Orienta-ção aos Órgãos de Unificação”?Olga: Rogamos a Jesus que abençoecada trabalhador federativo, paraque nos conscientizemos da im-portância do momento em curso,no que concerne à responsabilida-de de orientar, de apoiar os centrosespíritas a fim de que tenham con-dições de bem desenvolver suasatividades Doutrinárias, Assisten-ciais e Administrativas, direcio-nando um olhar especial às pe-quenas cidades do Interior, esti-mulando o estudo e o trabalho emprol do bem. Nesta fase de transi-ção em que vive a Terra, quando aglobalização integra as informa-ções e dá velocidade aos proces-sos, é fundamental que os Órgãosde Unificação estejam preparados

para orientar a difusão, o estudo ea prática da Doutrina Espírita,munidos de um material nortea-dor, no que concerne à Ação Fe-derativa, para que seja possívelviabilizar o “Plano de Trabalhopara o Movimento Espírita Brasi-leiro (2007-2012)” e consolidar operíodo de aplicação e consequên-cias dos postulados espíritas. Nos-sas expectativas mais caras dizemrespeito a nós mesmos, os que nospropusemos a trabalhar na Unifi-cação do Movimento Espírita emqualquer lugar do mundo, paraque envidemos todos os esforçosno sentido de fazer a nossa peque-na parte, neste maravilhoso con-certo que é colaborar para a cons-trução de um mundo melhor. So-mos felizes, pois quem trabalhapela unificação presta relevanteserviço à Causa do Evangelho Re-dentor, junto à Humanidade, con-forme nos orienta Emmanuel.

Reformador: Qual o impacto dascomemorações do Centenário deChico Xavier?Olga: É muito difícil avaliar os im-pactos das comemorações desteCentenário que serão constatadosa curto, médio e longo prazos erepercutirão, também, em todoo Exterior. Como sabemos, serãofilmes, documentários, congres-sos, novelas abordando a temáticaespírita, encartes, reportagens, pa-lestras, entrevistas, dentre outros.O inolvidável exemplo de ChicoXavier imprimirá em muitos co-rações o desejo sincero de fazer obem e de conhecer o Espiritismo.Sua mediunidade indiscutível mos-

tra que a vida continua para mui-to mais além do túmulo. Sua obraliterária socializa o raciocínio dospostulados, trazidos por Allan Kar-dec, como uma majestosa bandei-ra desfraldada no horizonte do in-finito, convidando ao esclarecimen-to e ao consolo. Suas mensagens,impregnadas do raciocínio da reen-carnação, ensejarão atitudes no-vas, por conscientizarem acerca daeternidade do Espírito. A sua exis-tência dedicada à Humanidadee, agora, as comemorações de seuCentenário, com certeza, fazemparte do planejamento dos ben-feitores espirituais para consoli-dar o tempo de regeneração daHumanidade. O homenageadodedicou sua vida para esclarecer econsolar, imprimindo em seuspassos um verdadeiro caminho deluz, que ficará grafado no coraçãode todos os que ouvirem falar dohomem: “Chico Amor Xavier”.

Reformador: Mensagem aos leito-res de Reformador.Olga: Um dia, há dois mil anos,Jesus nos falou do convite paraum banquete no qual muitos nãocompareceram... Nos tempos atuais,os Espíritos do Senhor nos convi-dam para o Concerto Divino...Nossos mais sinceros votos de quesaibamos aceitar o convite, vis-tamos a túnica nupcial e traba-lhemos o campo do Senhor comdesinteresse e movidos apenaspela verdadeira caridade, con-forme nos orienta o Espírito deVerdade, em “Os obreiros do Se-nhor”, de O Evangelho segundo oEspiritismo. Muita paz!

14 Reformador • Maio 2010118888

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uando alinhamos nossas despretensiosasanotações acerca de Nosso Lar,1 relacionan-do a nossa alegria diante da Vida Superior,

muitos companheiros inquiriram espantados: –“Afinal, o que vem a ser isso? Os desencarnados olvi-dam assim a paragem de que procedem? Se as almas,em se materializando na Terra, chegam do mundoespiritual, por que as exclamações excessivas de júbi-lo quando para lá regressam, como se fossemestrangeiros ou filhos adotivos de nova pátria?”

O assunto, simples embora, exige reflexão.E é necessário raciocinar dentro dele, não em ter-

mos de vida exterior, mas de vida íntima.Cada criatura atravessa o portal do túmulo ou

transpõe o limiar do berço, levando consigo a visãoconceptual do Universo que lhe é própria.

Almas existem que varam dezenas de reencarna-ções sem a menor notícia da Espiritualidade superior,em cuja claridade permanecem como que hibernadas,na condição de múmias vivas, já que não dispõem derecursos mentais para o registro de impressões quenão sejam puramente de ordem física.

Assemelham-se, de alguma sorte, aos nossos sel-vagens, que, trazidos aos grandes espetáculos daópera lírica, suspiram contrafeitos pela volta aobatuque.

E muitos de nós, como tantos outros, em seguida aromagens infelizes ou semicorretas, tornamos domundo às esferas espirituais compatíveis com a nossaevolução deficiente, e, além desses lugares de pur-gação e reajuste, habitualmente somos conduzidospor nossos instrutores e benfeitores para ensaios desublimação a círculos mais nobres e mais elevados,nos quais nem sempre nos mantemos com o equi-

líbrio desejável, já que nos achamos saudosos de con-tato mais positivo com as experiências terrestres.

Agimos, então, como alunos inadaptados deUniversidade venerável, cuja disciplina nos desagra-da, por guardarmos o pensamento na retaguardadistante, ansiosos de comunhão com o ambientedoméstico, em razão do espírito gregário que aindaprevalece em nosso modo de ser.

Como é fácil observar, raras Inteligências descem,efetivamente, das esferas divinas para se reencar-narem na esfera física.

Todos alcançamos as estações do berço e do túmu-lo, condicionando nossas percepções do mundo ex-terno aos valores mentais que já estabelecemos paranós mesmos, porque todos nos ajustamos, bilhões deencarnados e desencarnados, a diferentes faixas vibra-tórias de matéria, guardando, embora, o Planeta comonosso centro evolutivo, no trabalho comum.

Desse modo, a mais singela conquista interior cor-responde para a nossa alma a horizontes novos, tan-to mais amplos e mais belos, quanto mais bela e maisampla se faça a nossa visão espiritual.

Construamos, pois, o nosso paraíso por dentro.Lembremo-nos de que os grandes culpados que

edificaram o inferno, em que se debatem, respiram oambiente da Terra – da Terra que é um santuário doSenhor, evolutindo em pleno Céu.

Nosso ligeiro apontamento em torno do assuntodestina-se, desse modo, igualmente a reconhecermos,mais uma vez, o acerto e a propriedade da palavra deNosso Divino Mestre, quando nos afirmou, convin-cente: – “O reino de Deus está dentro de nós”.

Fonte: XAVIER, Francisco C. Vozes do grande além. 5. ed. Rio de

Janeiro: FEB, 2003. Cap. 12.

Esclarecimento

15Maio 2010 • Reformador 118899

Q

Presença de Chico Xavier

Pelo Espírito André Luiz

1Nosso Lar, de autoria do Espírito André Luiz, edição da Federa-ção Espírita Brasileira. – Nota do Organizador.

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s comemorações do Cen-tenário de Nascimento deChico Xavier, com inúme-

ros eventos, lançamentos de livros,DVDs e filmes, ampliará substan-cialmente a difusão do Espiritis-mo e, especificamente, dasobras psicográficas do no-tável médium. Como con-

sequência poderá aumentar aprocura pelas instituições espí-ritas, suas livrarias e bibliotecas,e pelas páginas eletrônicas naInternet.

Com o planejamento e o pre-paro por parte das instituições,atuando-se em sinergismo com osreflexos naturais da mais ampladifusão da Doutrina Espírita, po-derá ocorrer um melhor atendi-mento para a recepção de simpa-

tizantes do Espiritismo.A provocação que lançamos

para reflexão há algumas déca-das – “Estão os Centros Espíritas

preparados para receber gran-des massas humanas?”,1 é válidapara a atualidade. Ao influxo da

divulgação dos exemplos nobi-litantes da história de vida deChico Xavier e de sua porten-

tosa obra psi-cográfica, seria

conveniente que asinstituições espíritas

aproveitassem o opor-tuno cenário do momento pa-

ra, na base do Movimento Es-pírita, no contato direto comas comunidades em que se in-serem, estivessem preparadaspara recepcionar interessa-

Procura por CentrosEspíritas se ampliarácom a maior difusão

AAN TO N I O CE S A R PE R R I D E CA RVA L H O

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dos no conhecimento da Doutri-na Espírita.

As propostas de organização ad-ministrativa e doutrinária dos cen-tros espíritas vêm se intensifican-do nas últimas décadas. Estas estãoprevistas e contêm recomendaçõesoportunas em documentos gera-dos pelo Conselho Federativo Na-cional da FEB, como a edição am-pliada de Orientação ao Centro Es-pírita2,3 (2007) e o “Plano de Traba-lho para o Movimento Espírita Bra-sileiro (2007-2012)”.4 Este últimoapresenta como primeira Diretriz“A Difusão da Doutrina Espírita”,que tem como objetivo: “Difundira Doutrina Espírita, através do seuestudo, da sua divulgação e da suaprática, colocando-a ao alcance e aserviço de todas as pessoas, indis-tintamente, independentementede sua condição social, cultural,econômica ou faixa etária”, cum-prindo, assim, a missão do Movi-mento Espírita, que é “instruir eesclarecer os homens, abrindouma Nova Era para a regeneraçãoda Humanidade”.5 Há o respaldodo entendimento de Erasto, em“Missão dos Espíritas”:

Ide, pois, e levai a palavra divi-

na: aos grandes que a despreza-

rão, aos eruditos que exigirão

provas, aos pequenos e simples

que a aceitarão; porque, princi-

palmente entre os mártires do

trabalho, desta provação terre-

na, encontrareis fervor e fé.

Arme-se a vossa falange de de-

cisão e coragem! Mãos à obra! o

arado está pronto; a terra espe-

ra; arai!

Ide e agradecei a Deus a gloriosa

tarefa que Ele vos confiou; mas,

atenção! entre os chamados para

o Espiritismo muitos se trans-

viaram; reparai, pois, vosso ca-

minho e segui a verdade.6

O citado Orientação ao CentroEspírita contempla algumas reco-mendações específicas que podemser adotadas para o desenvolvi-mento das atividades de divulga-

ção,2 aplicáveis às várias frentesde trabalho dos centros espíritas.Mas, são indispensáveis algumasatenções especiais, enfeixadas nocapítulo “Atendimento Espiritualno Centro Espírita”,3 para o ade-quado acolhimento e esclareci-mento das pessoas que procuramas instituições em busca de conso-lo e de esclarecimentos, ou seja, derespostas para suas dúvidas e an-

siedades, com fundamento nasobras da Codificação Espírita e,no caso, nas obras psicográficasde Francisco Cândido Xavier quetrazem subsídios importantes edoutrinariamente coerentes.

A propósito, Emmanuel comentaas várias formas de atendimento ede difusão do Espiritismo, encer-rando com a frase:

[...] estudemos Allan Kardec,

ao clarão da mensagem de Jesus

Cristo, e, seja no exemplo ou na

atitude, na ação ou na palavra,

recordemos que o Espiritismo

nos solicita uma espécie perma-

nente de caridade – a caridade

da sua própria divulgação.7

Referências:1PERRI DE CARVALHO, Antonio C. Estão

os Centros Espíritas preparados para re-

ceber grandes massas humanas? O Cla-

rim. Matão, p. 6-7, 15 mai. 1975.2Orientação ao centro espírita. Organiza-

do pela Equipe da Secretaria-Geral do Con-

selho Federativo Nacional. Rio de Janeiro:

FEB, 2007. Cap. 7.3______. ______. Cap. 3.4Plano de Trabalho para o Movimento Es-

pírita Brasileiro (2007-2012). In: Reforma-

dor. ed. esp. ano 125, n. 2.140A, p. 30,

jul. 2007.5KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad.

Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Ja-

neiro: FEB, 2010. Prolegômenos, p. 70.6______. O evangelho segundo o espiri-

tismo. Trad. Guillon Ribeiro. 4. ed. esp. 1.

reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 20,

item 4, p. 401-402.7XAVIER, Francisco C. Estude e viva. Pelo

Espírito Emmanuel. 13. ed. Rio de Janeiro:

FEB, 2008. Cap. 40, p. 235.

17Maio 2010 • Reformador 119911

“EstudemosAllan

Kardec, aoclarão da

mensagemde JesusCristo”

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18 Reformador • Maio 2010119922

m 1891, 22 anos após a de-sencarnação de Allan Kar-dec, um famoso médico e

cientista, fundador da Antropolo-gia Criminal, nascido na Itália, emVerona, no dia 6/11/1835, e desen-

carnado em Turim em 19/10/1909,há um século, passaria por fasci-nante experiência que mudariaradicalmente a sua concepção dohomem. O jornal Mundo Espírita,de fevereiro de 2009, comenta epi-sódios, que transcrevemos, da vidadesse pensador, chamado CesareLombroso, um dos fundadoresda corrente positivista do Direi-to Penal, cujas pesquisas e livros,notadamente sobre Antropolo-gia Criminal, tornaram-no co-nhecido e respeitado mundial-mente, e para o qual a personali-dade moral nada mais era queuma secreção do cérebro. E, nes-sa linha de raciocínio, a mortetudo extinguia.

Pesquisando sobre as causasprimeiras dos atos delituosos, eledirecionou sua atenção à pessoa

do delinquente e concebeu suafamosa teoria do criminoso nato,também conhecida como teorialombrosiana, ainda hoje estudadanas faculdades de Direito e deMedicina, na cadeira de MedicinaLegal. Segundo o célebre pensa-dor, o delito é fruto inexorável dohomem incorrigível, havendo as-sim um criminoso nato, cuja ori-gem estaria no atavismo, na he-rança da idade selvagem, da não--evolução de aspectos físicos e psí-quicos. Ou seja, certos indivíduostrazem a predestinação criminosainexoravelmente estampada naconformação fisionômica.

Mas naquele ano de 1891, ce-dendo às insistências de um ami-go, o Prof. Ercole Chiaia, Lombro-so foi assistir a uma experiênciacom a médium italiana EusapiaPalladino (1854-1918). Observouentão inúmeros fenômenos deefeitos físicos e admitiu a realida-de dessas manifestações.

Contudo, qual a conclusão doeminente sábio? Preso às suas

O Espiritismo e ahumanização da Justiça

EAD I LTO N PU G L I E S E

“É preciso combater a injustiça com mais prontidão do que um incêndio.”Heráclito

Cesare Lombroso: médico,cientista e fundador daAntropologia Criminal

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convicções materialistas, não po-dendo admitir pensamento semcérebro e nem a sobrevivência doEspírito após a morte, entendeuque os ditos fenômenos eramcausados por funções neurofisio-lógicas da também famosa sensi-tiva, Eusapia, como igualmenteconcluíram outros sábios, pesqui-sadores do universo dos fenôme-nos psíquicos.

Posteriormente, em 1902, du-rante outra sessão, estando Eusa-pia retida numa sala, Lombrosopercebeu que das cortinas emer-giu um vulto que veio deslizandoem sua direção. Um arrepio per-corre-lhe a epiderme. Ele entãoreconhece... sua mãe! A mãe apro-xima-se mais e o abraça carinho-samente, beijando-lhe a face. Ele aabraça também, sente sua carne,sente o seu calor. Embora porta-dor de deficiência auditiva, ouveela dizer-lhe: Cesare, meu filho!1

Lombroso, a partir daí, leu tudoque havia sobre Espiritismo e es-creveu um livro muito sugestivo:Ricerche sui Fenomeni Ipnotici2 eSpiritici, traduzido no Brasil co-mo Hipnotismo e Mediunidade eHipnotismo e Espiritismo.3

Nessa obra, ele refuta sua teoriado criminoso nato. Não é o tipo fí-sico que determina o tipo psico-lógico, é exatamente o contrário.

Em 1906, entrevistado, ele decla-raria na revista Luce e Ombra:

Nenhum gigante do pensa-

mento e da força poderia me

fazer o que me fez essa pequena

mulher analfabeta [referindo-

-se a Eusapia]: arrancar minha

mãe do túmulo e devolvê-la aos

meus braços.4

Em 4 de janeiro de 2009, o jornalEstado de São Paulo publicou lon-go artigo do advogado Miguel RealeJúnior, professor da USP, membroda Academia Paulista de Letras e ex--ministro da Justiça,no qual o ilustremestre do Direito comenta esse epi-sódio na vida de Lombroso, fazen-do conexão com os ensinamentoscontidos em O Livro dos Espíritos.

Revendo essa fascinante históriada vida do famoso pensador italia-no, refleti como seria maravilho-so se todos os magistrados e ope-radores do Direito do Brasil, e domundo, passassem por semelhan-te experiência paranormal, masde consequências éticas, quandoobteriam a comprovação de umdos pilares dos fundamentos do Es-piritismo: a Imortalidade da Alma,ao lado da Existência de Deus, daReencarnação e da Lei de Causa eEfeito.

O tema dos nossos comentá-rios parece sugerir que a Justiça –no sentido de Poder Judiciário,um dos três poderes da Repúblicaou Conjunto dos Profissionais eInstituições responsáveis pela apli-

cação das leis de uma sociedade5 –é desumana. Essa visão tambémparece estar inserida no famosopensamento do escritor e jornalis-ta, nascido no Maranhão, Hum-berto de Campos (1886-1934),exarado em uma das suas famosascrônicas, escrita quando encarna-do: “a Justiça tem na mão uma es-pada, quando deveria ter, no lugardesta, um coração”.

Poderíamos deduzir, contudo,que a Justiça, através dos diver-sos órgãos judiciários, tem rea-lizado, além da sua função decontrole de constitucionalidade, asua função jurisdicional, ou seja,a obrigação e a prerrogativa decompor os conflitos de interesseem cada caso concreto, através do

19Maio 2010 • Reformador 119933

1Vide jornal Mundo Espírita, de fevereirode 2009.

2Edição da Federação Espírita Brasileira,1999. Tradução de Almerindo Martins deCastro.

3Edição da LAKE. Livraria Allan Kardec Edi-tora, 1999. Tradução de Carlos Imbassahy.

4PIRES, Herculano. Mediunidade. EDICEL,p. 38.

5Dicionário da Academia Brasileira de Le-tras. 2. ed. 2008.

Eusapia Palladino

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processo judicial, aplicando sen-tenças e decisões, consoante a vi-são que tem do homem e do mundofísico.

Com essa visão do ser huma-no, qual o perfil do ser que umaparcela do judiciário julga e osoperadores do Direito defendemou acusam? Um ser sem passadoantes de nascer; um ser sem futu-ro após morrer; um ser resultadode uma herança genética, ou ain-da consequência de um zigoto de-feituoso, recebido como herançainesperada irreversível; um ser re-sultado ou produto do meio am-biente nefasto em que vive, sempossibilidades de educação e desobrevivência.

Adotando esse entendimento, ojudiciário então se sente em con-dição de decidir: se alguém deveou não morrer através da eutaná-sia; se alguém deve ou não nascer,autorizando o aborto, inclusive

dos chamados anencéfalos;que existe o delinquente in-corrigível; que alguém de-veria ser punido com a pe-na de morte; que a segre-gação nas penitenciárias éo único meio de punir ocrime – afastando o cri-minoso da sociedade.

Estudiosos da vida deJesus consideram que omotivo da sua crucifica-ção foi a ocorrência deum choque entre trêsDireitos: o Direito Ju-daico, o Direito Roma-no e o Direito Messiâ-nico. Ouviste que foi

dito: “Olho por olho e dente pordente”. Eu, porém, vos digo “quenão resistais ao mal; mas se qual-quer te bater na face direita, ofere-ce-lhe também a outra” (Mateus,5:38-39).

Também foi dito: “Amarás o teupróximo e aborrecerás o teu ini-migo”. Eu, porém, vos digo: “Amaios vossos inimigos, bendizei osque vos maldizem” (Mateus, 5:43--44).“Perdoai não apenas sete vezes,mas setenta vezes sete” (Mateus,18:22). Era esse o Direito Messiâ-nico, praticado por Jesus.

Operadores do Direito consi-deram que o Mestre praticou, emsuas pregações, vários exercícios dehermenêutica jurídica, que seria a interpretação da Lei, o sentido ealcance das expressões do Direito.Várias vezes Ele foi desafiado nes-se sentido. Os fariseus ofereciamuma visão distorcida do espíritode complacência, presente nas en-trelinhas da Torá, que era a Codi-

ficação das leis judaicas, a Bíbliaque Jesus lia e interpretava. O Mes-tre realizava exercícios de herme-nêutica jurídica dos textos sacrosda Torá, comprometido que esta-va em demonstrar a verdadeira fina-lidade da Lei. Em instrutivo e me-morável encontro de Jesus com osapóstolos, o Mestre enfatiza: “Se avossa justiça não exceder a dosescribas e fariseus, de modo algumentrareis no Reino dos céus”, con-forme anotou Mateus (5:20) emseu Evangelho.

Ao ler os episódios dos exercí-cios de hermenêutica jurídica deJesus, lembrei-me do célebre cri-minalista italiano Cesare Bonesa-na, o Marquês de Beccaria (1738--1794). Em sua famosa obra DosDelitos e das Penas, lida por Dide-rot, Voltaire e outros pensadores,ele declara que “a partir do mo-mento em que o juiz é mais seve-ro que a lei, ele é injusto e que sea interpretação arbitrária das leisé um mal, também o é a sua obs-curidade, pois precisam ser inter-pretadas”.6 A “humanização da Jus-tiça” passaria, portanto, por essedesafio de realizar a “verdadeirahermenêutica jurídica” dos textosatuais praticados, e na forma deação dos operadores do Direito.

O Livro dos Espíritos, na ques-tão 876, ensina que a verdadeirajustiça [direitos e deveres iguaispara todos os cidadãos] é aquelacujas leis humanas são feitas paratodos e se identificam com as leisde Deus.

20 Reformador • Maio 2010119944

6BECCARIA, Cesare B. Dos delitos e daspenas. Hemus Editora. p. 16 e 19.

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21Maio 2010 • Reformador 119955

Esf lorando o EvangelhoPelo Espírito Emmanuel

“E contentai-vos com o vosso soldo.”– JOÃO BATISTA (LUCAS, 3:14.)

Salários

Fonte: XAVIER, Francisco C. Pão nosso. ed. esp. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 5.

resposta de João Batista aos soldados, que lhe rogavam esclarecimentos, é

modelo de concisão e bom senso.

Muita gente se perde através de inextricáveis labirintos, em virtude da

compreensão deficiente acerca dos problemas de remuneração na vida comum.

Operários existem que reclamam salários devidos a ministros, sem cogitarem das

graves responsabilidades que, não raro, convertem os administradores do mundo

em vítimas da inquietação e da insônia, quando não seja em mártires de represen-

tações e banquetes.

Há homens cultos que vendem a paz do lar em troca da dilatação de vencimentos.

Inúmeras pessoas seguem, da mocidade à velhice do corpo, ansiosas e descrentes,

enfermas e aflitas, por não se conformarem com os ordenados mensais que as cir-

cunstâncias do caminho humano lhes assinalam, dentro dos Imperscrutáveis

Desígnios.

Não é por demasia de remuneração que a criatura se integrará nos quadros divinos.

Se um homem permanece consciente quanto aos deveres que lhe competem,

quanto mais altamente pago, estará mais intranquilo.

Desde muito, esclarece a filosofia popular que para a grande nau surgirá a gran-

de tormenta. Contentar-se cada servidor com o próprio salário é prova de elevada

compreensão, ante a justiça do Todo-Poderoso.

Antes, pois, de analisar o pagamento da Terra, habitua-te a valorizar as conces-

sões do Céu.

A

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22 Reformador • Maio 2010119966

iberdade apresenta várias ver-tentes, mas vamos situá-la co-mo circunstância ou estado

do homem livre, com a faculdade deexercer seus direitos e suas vonta-des com responsabilidade.

Cantada em prosa e verso, a li-berdade tem sido tema de filóso-fos, artistas, literatos.

Marcelo Gleiser, em comentáriosobre a frase “Ser livre é poder es-colher ao que se prender”, afirma:

[...] essa frase pressupõe a liber-

dade de escolha. Isso nem sempre

é verdade. Para ser livre é preci-

so ter livre acesso à informação.

Só assim teremos o privilégio

de podermos escolher ao que

vamos nos prender. Daí o papel

fundamental da educação [...]

em torno de 50 a.C., o poeta ro-

mano Lucrécio celebrava a im-

portância da educação na liber-

dade das pessoas. [...] só aqueles

que usam a razão para desven-

dar o porquê das coisas podem

de fato ser livres, dizia. [...] nun-

ca se deve aceitar algo só porque

foi dito por uma autoridade [...]

(Folha de São Paulo, 6/9/09.)

Não são poucos os filósofos queescreveram sobre o tema. Todavia, énotório que sem instrução dificil-mente o indivíduo alcança a sua li-berdade, seja ela social, econômica,etc. Geralmente, quando clamamospor liberdade estamos pensando nodireito de ir e vir, de agir de acor-do com a própria vontade. Assimrealizar todos os nossos sonhos edesejos. Fazer o que bem enten-der sem dar satisfações a ninguém.

Expressar livremente pensamen-tos e ideias em palavras e atos, doaa quem doer. Dirigir em alta velo-cidade, ouvir música com o somnas alturas. Que liberdade é essaque sempre depara com barreiras?

E as nossas aspirações a ter ocarro da moda, a mansão dos so-nhos, viajar pelo mundo, o empre-go ideal e bem remunerado...

Mas, que liberdade é essa quetrava os passos, amordaça e limitadireitos?

Não há liberdade se existem leisque monitoram as nossas ativida-des e ações. Além disso, existe umdispositivo físico e mental que sem-pre interfere quando exageramosna bebida, na comida, no trabalho...Sempre que ultrapassamos os li-mites do bom senso e do equilí-brio, vem a sanção. Como precisar

Liberdade,sonho inalcançável?

LA. ME RC I SPA DA B O RG E S

“Enquanto um se contenta com o seu horizonte limitado, outro, queapreende alguma coisa de melhor, se esforça por desligar-se dele

e sempre o consegue, se tem firme a vontade.”(O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 4. Ed. FEB.)

“Liberdade – essa palavra / Que o sonho humano alimenta: // Que não há ninguém que explique, / E ninguém que não entenda!”

(Cecília Meireles, em Romanceiro da Inconfidência.)

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esses limites? Onde começam? On-de terminam?

Diante de tantas dúvidas, de inu-meráveis empecilhos, de um ema-ranhado de regras e monitoramen-tos, é oportuno perguntar: Ondeestá a nossa liberdade? Que liberda-de é essa que procuramos? Comoexercê-la se, vislumbrada, é imedia-tamente reprimida? Estaria dentrode nós, ou fora? Seria ela individualou coletiva? Seria favorável ou des-favorável ao ser como indivíduo?Partindo do princípio de que osseres vivem em agrupamentos, por-tanto, em sociedade, a liberdade de-veria favorecer a quantos?

Em resumo, a partir do instanteem que favoreça uns em detrimen-to de outros surge uma sombraperturbadora: o privilégio. Esse éo ponto crucial do relacionamen-to humano. Onde o privilégio pre-domina, explodem as desigualdadessociais. Onde há desigualdade social,a liberdade não entra. Assim, privi-légio e liberdade não se entrosam.

A liberdade impera altiva e se-rena de forma individual ou cole-tiva, onde imperam o amor, o sa-ber, a justiça.

O Espírito Lázaro afirma:

O dever principia, para cada um de

vós, exatamente no ponto em que

ameaçais a felicidade ou a tran-

quilidade do vosso próximo; acaba

no limite que não desejais ninguém

transponha com relação a vós. (O

Evangelho segundo o Espiritismo,

cap. XVII, item 7, Ed. FEB.)

Mas, antes disso, muito antes,Jesus já delimitara de forma mais

suave e amorosa: “Não façais aosoutros, o que não desejaríeis quevos fosse feito!” (Lucas, 6:31.)

A Declaração Universal dosDireitos Humanos [1948] estabe-lece que o reconhecimento da dig-nidade inerente a todos os mem-bros da família humana e de seusdireitos iguais e inalienáveis é ofundamento da liberdade, da jus-tiça e da paz no mundo...

Eis alguns artigos:

Artigo I – Todas as pessoas nas-cem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão econsciência e devem agir em rela-ção umas às outras com espíritode fraternidade.

Artigo II – Toda pessoa temcapacidade para gozar os direitose as liberdades estabelecidos nes-ta Declaração, sem distinção dequalquer espécie, seja de raça, cor,sexo, língua, religião, opinião po-lítica ou de outra natureza, ori-gem nacional ou social, riqueza,nascimento, ou qualquer outracondição.

23Maio 2010 • Reformador 119977

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Artigo III – Toda pessoa temdireito à vida, à liberdade e à se-gurança pessoal.

Artigo IV – Ninguém serámantido em escravidão ou servi-dão, a escravidão e o tráfico de es-cravos serão proibidos em todasas suas formas.

Artigo XVIII – Toda pessoatem direito à liberdade de pensa-mento, consciência e religião [...]

Em nome da liberdade, naçõese indivíduos desrespeitam os di-reitos humanos e a mulher é sem-pre a mais prejudicada, por ser fi-sicamente mais frágil.

Desde que o homem conquis-tou o estado da razão, compreen-deu a importância, o valor da liber-dade e então passou a lutar por ela,porém, em detrimento da liberda-de alheia. O esforço em garantir epreservar a própria liberdade tor-nou o homem belicoso e guerreiro.

Na Antiguidade, povos inteirosse tornavam escravos, verdadeirostroféus de guerra. Resultado dotriunfo sobre o inimigo.

Por amor a Jesus, Pedro, o Ere-mita, com a justificativa de liber-tar o “túmulo vazio do Mestre”, de-sencadeia as Cruzadas, numa sérieinfindável de guerras, que envol-vem várias nações no comprome-timento com as leis divinas.

Foi igualmente em nome da li-berdade, igualdade e fraternidadeque a França se envolveu na terrí-vel revolução do século XVIII.

Ainda hoje o panorama do Pla-neta continua o mesmo. Em no-me da liberdade física o homemse escraviza moralmente.

Cantada em prosa e em verso portodos os povos, em todos os tempos,a liberdade é aspiração legítima,sendo, no entanto, mal interpretada.

Ninguém mais que o povo he-breu soube valorizar a sua liber-dade após o esforço empreendidopor Moisés para retirá-lo da es-cravidão no Egito.

Várias nações possuem símbo-los que representam a liberdade. Amais conhecida é a Estátua da Li-berdade, erguida no porto, na ci-dade de Nova York. Ali está para

recordar o centenário da assinatu-ra da Declaração de Independênciados Estados Unidos da América.

O Brasil também possui um sím-bolo semelhante. Em Maceió, Ala-goas, uma outra estátua expressa aimportância da liberdade.

O sonho de liberdade é um sen-timento inato no ser humano.Tanto a submissão quanto o do-mínio impedem a evolução doser. Somente a consciência libertapromove o progresso. Para isso, épreciso solidificar a liberdade de

24 Reformador • Maio 2010119988

Pedro, o Eremita, desencadeando as Cruzadas

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consciência, única capaz de der-rubar as muralhas que limitam oEspírito. O estudo do Evangelho eda Doutrina dos Espíritos pode li-bertar a alma da opressão.

Por mais conhecido ou impor-tante que seja, nenhum símbolosupera a liberdade proposta porJesus. “Amar a Deus acima de to-das as coisas e ao próximo como asi mesmo”. (O Evangelho segundoo Espiritismo, cap. I, item 3.) Essaé a maior proposta de libertaçãorediviva no Espiritismo.

Kardec perguntou aos Espíritos:

Haverá no mundo posições em

que o homem possa jactar-se de

gozar de absoluta liberdade?

“Não, porque todos precisais uns

dos outros, assim os pequenos

como os grandes.”

Em que condições poderia o ho-

mem gozar de absoluta liberdade?

“Nas do eremita no deserto. Des-

de que juntos estejam dois homens,

há entre eles direitos recíprocos que

lhes cumpre respeitar; não mais,

portanto, qualquer deles goza de

liberdade absoluta.” (O Livro dos

Espíritos, q. 825-826. Ed. FEB.)

Enquanto a Humanidade se di-gladia em busca de uma liberda-de transitória e efêmera, perde aoportunidade de viver a liberda-de de consciência, expressa naslições do Mestre.

Eis o que afirma a Doutrina Espírita:

Será a liberdade de consciência

uma consequência da de pensar?

“A consciência é um pensamen-

to íntimo, que pertence ao ho-

mem, como todos os outros

pensamentos.”

Tem o homem o livre-arbítrio de

seus atos?

“Pois que tem a liberdade de pensar,

tem igualmente a de obrar. Sem

o livre-arbítrio,o homem seria má-

quina.” (Op. cit., q. 835 e 843.)

O Espírito Emmanuel esclarece:

– Determinismo e livre-arbítrio

coexistem na vida, entrosando-

-se na estrada dos destinos, para a

elevação e redenção dos homens.

O primeiro é absoluto nas mais

baixas camadas evolutivas e o

segundo amplia-se com os valo-

res da educação e da experiên-

cia. Acresce observar que sobre

ambos pairam as determinações

divinas, baseadas na lei do amor,

sagrada e única, da qual a profe-

cia foi sempre o mais eloquente

testemunho.

[...]

Estabelecida a verdade de que o

homem é livre na pauta de sua

educação e de seus méritos, na

lei das provas, cumpre-nos reco-

nhecer que o próprio homem, à

medida que se torna responsável,

organiza o determinismo de sua

existência, agravando-o ou ame-

nizando-lhe os rigores, até po-

der elevar-se definitivamente aos

planos superiores do Universo.

(O Consolador, q. 132. Ed. FEB.)

Enquanto o homem permanecerna ignorância conservará a teimosia

de perseguir a liberdade sem, toda-via, saber usá-la com responsabi-lidade. Impedido de expressar a sualiberdade de forma ampla e pru-dente, estará constantemente ultra-passando os limites do bom sensoe do equilíbrio, agravando o seu es-tágio na Terra. Da mesma formaque não se permite à criança o po-der de decisão conferido aos adul-tos, o Pai não concede às suas cria-turas a liberdade que não têm con-dições de desfrutar. É preciso ama-durecer e demonstrar capacidade,respeito aos direitos e deveres deseus semelhantes, às leis divinas, esenso de justiça em sua amplitu-de. Antes disso, viverá em liberdadecondicional nesta Terra de provase expiações que para muitos nadamais é que verdadeira prisão. Por-tanto, liberdade condicional.

A liberdade não se expressa abso-luta no corpo perecível, mas se ma-nifesta crescente para o Espírito àmedida que este se integre à vontadedo Pai através das duas vertenteseducacionais: intelectual e moral.

Jesus deixou o roteiro de liber-dade moral através de suas lições.Escarnecido e humilhado, perma-neceu soberano ante Pilatos. Nin-guém demonstrou maior senso deliberdade do que Ele, quando, noalto da cruz, dirige ao Pai o pedidode perdão a seus algozes. Após acrucificação, ressurgiu entre seusdiscípulos no maior exemplo deliberdade e responsabilidade. O seuEvangelho atravessou os séculos epermanece como o maior símbo-lo de humanidade e liberdade queo homem pode almejar: a liberda-de de consciência.

25Maio 2010 • Reformador 119999

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26 Reformador • Maio 2010220000

plano físico é o local ondetranscorre a existênciacarnal, idealizado pela Es-

piritualidade superior para se pôrem prática o planejamento reen-carnatório. Ensina Emmanuel quenesse “[...] templo miraculoso dacarne, em que as células são tijo-los vivos na construção da forma,nossa alma permanece proviso-riamente encerrada, em temporá-rio olvido, mas não absoluto, por-que [...] transporta consigo maisvasto patrimônio de experiência[...]”.1 Esclarece ainda que

dentro da grade dos sentidos fisio-

lógicos, porém, o espírito recebe

gloriosas oportunidades de traba-

lho no labor de autossuperação.

Sob as constrições naturais do

plano físico, é obrigado a lapidar-

-se por dentro, a consolidar qua-

lidades que o santificam e, sobre-

tudo, a estender-se e a dilatar-se

em influência, pavimentando o

caminho da própria elevação.

É região em que o Espírito

[...] encontra multiplicados

meios de exercício e luta para a

aquisição e fixação dos dons de

que necessita para respirar em

mais altos climas.1

O plano físico é objeto de estu-do da Geociência que investiga, emconjunto com a Biologia, Física,Química, Matemática, Antropolo-gia, Palenteologia, entre outras ciên-cias, a Natureza e a Vida planetárias.É consenso científico que a Terraestá dividida em quatro ambientesou geosferas, decorrentes da for-ma do Planeta (uma esfera achata-da nos polos), assim especificados:

• Litosfera ou Crosta Terrestre: é acamada sólida mais externa daTerra, formada por rochas e mi-nerais que abrangem a chamadacrosta continental e a oceânica.

Composta pelas rochas ígneas,

sedimentares e metamórficas, a

litosfera cobre toda a superfície

da Terra. [...] Nas regiões conti-

nentais é constituída principal-

mente por rochas graníticas, ri-

cas em alumínio e silício (a cros-

ta continental), também denomi-

nada de Sial. Já nas áreas oceâni-

cas predominam as rochas basál-

ticas (crosta oceânica) compostas

por minerais ricos em silício e

magnésio, denominada de Sima.2

• Atmosfera: camada gasosa que en-volve a Terra, de aproximadamen-te 800 quilômetros de extensão,contados na vertical, a partir dacrosta. É constituída de gases,principalmente nitrogênio e oxi-gênio, mas há outros de menorproporção. Aí se encontram tam-bém o vapor de água, necessário àvida, e o dióxido de enxofre, ele-mento altamente poluente da at-mosfera, pois afeta diretamente avida humana, animal e vegetal. Oseu mais nocivo efeito é conhecidocomo “chuva ácida” (precipitaçãode ácidos fortes na atmosfera).

• Hidrosfera: é o ambiente hídricodo Planeta, formado pelas águasglaciais, dos oceanos e mares; dosrios, fontes, lagos e águas subter-râneas. Os reservatórios marinhose salobros correspondem a 97,4%dos recursos hídricos do Plane-ta. Apenas 2,6% são mananciaisde água doce, fato que demons-tra a importância da água salga-da para a vida planetária.

O

Em dia com o Espiritismo

O Plano FísicoMA RTA AN T U N E S MO U R A

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• Biosfera: comumente denomina-da “esfera da vida”, é um ambien-te misto, composto de porções deterra, mar e águas continentais,habitado pelos seres vivos. Esta éa razão de a biosfera ser conside-rada a esfera de todos os ecossis-temas da Terra. Por definição, ecos-sistema (do grego oikos = casa esystema = sistema: sistema ondese vive) designa o conjunto for-mado por todas as comunidadesque vivem e interagem em deter-minada região e pelos fatoresabióticos que atuam sobre essascomunidades. É, pois, o espaçoonde predomina intensa ativida-de vital: microbiana, vegetal, ani-mal e humana. O homem se en-contra totalmente integrado àbiosfera há milhares de anos, deforma que não é possível imagi-nar a sua sobrevivência fora des-se ambiente.

Com base nas provas fósseis egeológicas, os modernos estudoscientíficos concluem que no pas-sado remoto a litosfera planetáriaestava organizada em um único

bloco continental, espécie de “su-percontinente” ou Pangeia, nomeque lhe foi dado pelo famoso me-teorologista alemão Alfred LotharWegener (1880-1930). Para Wege-ner, esse continente “[...] teria sedividido há cerca de 200 milhõesde anos”.3 A sua teoria, ainda quebrilhante, foi palco de muitas con-trovérsias, pois não se aceitava apossibilidade de os continentes sedeslocarem. Somente a partir de1950, as conclusões do estudiosoalemão foram aceitas, trinta anosdepois de sua morte, fundamen-tando-se nas provas fornecidaspor estudos em águas profundas.4

As análises desenvolvidas pelocientista britânico Robert HoggMatthew (1906-1975)3 demonstra-ram que para respaldar a ideia demovimentação dos continentes,foram realizadas pesquisas que

[...] incluíam estudos geológicos

da cordilheira Mesoatlântica,

bem como das profundezas do

Oceano Atlântico, que sugeriam

que novas rochas estavam emer-

gindo das profundezas da Terra

e estavam afastando a América

da Europa. Isso levou ao concei-

to tectônico de placas, que ex-

plica características da superfí-

cie da Terra por meio de eventos

nas bordas de gigantescas pla-

cas que flutuam sobre o interior

derretido do nosso Planeta. Evi-

dências obtidas por satélites de-

monstraram que os continentes

se movem até 15 cm por ano –

fornecendo a prova definitiva que

Wegener sempre procurou.3

De acordo com [as melhores]

estimativas, o surgimento da at-

mosfera ocorreu há aproximada-

mente 4 bilhões de anos. Sua for-

mação aconteceu quando o pla-

neta Terra, após ter sofrido um

enorme aquecimento, começou

a esfriar, então do seu interior foi

sendo expelido, dentre outros,

vapor de água, e uma considerá-

vel quantidade de gases. Os mes-

mos se dirigiram em direção ao

espaço sideral, porém uma par-

te se fixou ao redor do planeta,

evento proporcionado pela força

gravitacional.4 (Grifo nosso.)

27Maio 2010 • Reformador 220011

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Com a formação do Planeta,supostamente ocorrida há 4,5 bi-lhões de anos, acredita-se que asprimeiras manifestações da vida te-nham surgido um bilhão de anosdepois e, por esse fato, a biosferaalterou gradativa e significativa-mente a atmosfera terráquea, pelaproliferação de micro-organismosaeróbios (oxigênio dependentes)e pela formação da camada deozônio (capa de gás que envolve aTerra e a protege de várias radia-ções). Na verdade, a atmosfera ter-restre jamais foi estável, mas sujei-ta a modificações consequentes dasocorrências usuais da Natureza epor efeito das ações humanas (be-néficas ou nocivas). Importa con-siderar, porém, que o momentoatual é especialmente grave, pois aNatureza se revela absurdamenteagredida pelo homem, cujas con-sequências refletem a tendênciade séria ameaça à sobrevivênciadas espécies.

A orientação espírita nos fazver, contudo, que o plano físicoda Terra é mais do que umaadmirável estrutura geológica. É,sobretudo, espaço de aprimora-mento espiritual, viabilizado pe-las reencarnações sucessivas. Por-tanto, revela-se como necessidadepremente o aprendizado de sa-bermos preservar a moradia quenos foi cedida por Deus. A Terra,no dizer dos Espíritos esclareci-dos, é, pois,

um magneto enorme, gigantes-

co aparelho cósmico em que fa-

zemos, a pleno céu, nossa via-

gem evolutiva.

Comboio imenso,a deslocar-se so-

bre si mesmo e girando em torno

do Sol,podemos comparar as clas-

ses sociais que o habitam a gran-

des vagões de categorias diversas.

[...]

Temos aí o símbolo das reen-

carnações.

De corpo em corpo, como quem

se utiliza de variadas vestiduras,

peregrina o Espírito de existência

em existência, buscando aquisi-

ções novas para o tesouro de

amor e sabedoria que lhe cons-

tituirá divina garantia no cam-

po da eternidade.

Podemos, ainda, filosoficamen-

te, classificar o planeta, com mais

propriedade, tomando-o por nos-

sa escola multimilenária.5

Referências:1XAVIER, Francisco C. Roteiro. Pelo Espíri-

to Emmanuel. 13. ed. Rio de Janeiro: FEB,

2008. Cap. 2, p. 16-17.2Disponivel em: <http://pt.wikipedia.org/

wiki/Litosfera>.3MATTEWS, Robert. 25 grandes ideias:

como a ciência está transformando o

mundo. Trad. José Gradel. Rio de Janeiro:

Zahar, 2008. Cap. 11, p. 103.4Disponivel em: <http://www.brasilescola

.com/geografia/aorigem-atmosfera.htm>.5XAVIER, Francisco C. Roteiro. Pelo Espíri-

to Emmanuel. 13. ed. Rio de Janeiro: FEB,

2008. Cap. 8, p. 39-40.

28 Reformador • Maio 2010220022

Registramos a desencarnação,aos 74 anos, de Geraldo Guima-rães, ocorrida em 11 de janeiropassado, no Rio de Janeiro (RJ).Conceituado orador espírita,participou ativamente de even-tos doutrinários em todas as re-giões do Brasil e no Exterior. Na-tural de Aracaju (SE), mudou-se,ainda jovem, para Salvador (BA),onde conviveu com Divaldo Pe-reira Franco e, por seu intermé-dio, conheceu o Espiritismo,tornando-se seu adepto; colabo-rou com Divaldo e Nilson deSouza Pereira, nas suas ativida-des de assistência social. Atuou,

em Araçatuba (SP), no movi-mento de mocidades, e presidiu aUnião Municipal Espírita; casou--se, naquela cidade, com a jovemAna Jaicy, também sua compa-nheira na tribuna espírita. Resi-dia, atualmente, no Rio de Ja-neiro, onde fundou, com a es-posa, o Grupo Espírita Caminhoda Esperança, e era um dos coor-denadores do programa de tele-visão Despertar de um Mundo Me-lhor, que tem patrocínio do LarFabiano de Cristo e da CAPEMI.

Ao seareiro que retorna à Pá-tria Espiritual, rogamos as bên-çãos de Jesus.

Geraldo Guimarães

Retorno à Pátria Espiritual

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utrora, indagamos, naspáginas desta revista, se sepoderia considerar Wil-

liam Shakespeare (1564-1616)precursor do Espiritismo, e ana-lisamos um de seus conceitos.1

Agora, gostaríamos de contradi-tar, em termos, uma das afirma-tivas do Bardo de Stratford-on--Avon, in A tragédia de Hamlet,Príncipe da Dinamarca...

Ouçamos a peça, no palco daimaginação. Hamlet, na cena Ido Ato III, formula suas angus-tiosas reflexões metafísicas, no mo-nólogo imortal To be or not tobe/Ser ou não ser, que desaguamna polêmica assertiva: Thus cons-cience does make cowards of usall./Assim, a consciência nos tor-

na a todos covardes, motto desteartigo. (O termo “consciência”, aquinão em sua acepção moral, masintelectiva: “saber”, “tomar conhe-cimento de”, “estar a par”, “inter-nalizar informações”.)

Anteriormente, na cenaV do Ato I, um “espectro”,com toda a aparên-cia do finado rei,surgira entre asameias do castelode Elsinore e dis-sera a Hamlet: Iam thy father’sspirit/Sou o espí-rito de teu pai. In-formara-o, então, de

que não fora ofendido por umacobra como se espalhara peloreino, mas by a brother’s hand/Oflife, of crown, of queen, at oncedispatch’d;/pela mão de um irmão

A consciência faz

O

“Thus conscience does make cowards of us all.”– Shakespeare (em Hamlet)

DE L AU RO D E O. BAU M G R AT Z

1BAUMGRATZ, Delauro de O. Shakes-peare, precursor da Doutrina Espírita?. In:Reformador, ano 109, n. 1.951, p. 20(304)--23(307), out. 1991.

de nós covardes?

Retrato de WilliamShakespeare por

Max Bihn

29Maio 2010 • Reformador 220033

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/privado de um só golpe da vida,da coroa e da rainha – esta, des-posada pelo fratricida, logo apóso ato criminoso, em busca de le-gitimidade para outro delito, oda usurpação do trono. The ser-pent that did sting thy father’s li-fe/Now wears his crown/A víboraque picou a vida de teu pai/Agoraostenta sua coroa. E lhe pede: Ifthou didst ever thy father love/Re-venge this foul and most unnatu-ral murder/Se jamais amaste teupai/Vinga este hediondo e desnatu-rado assassinato.

Elaborando em torno dessacomunicação do Espírito mate-rializado, desenhemos esse qua-dro: um jovem príncipe, filho depais afetuosos, um ser ameno ede nobres sentimentos, já tendo a eleita de seu coração – a “fairOphelia”/“a bela Ofélia” – aguar-da um futuro de coroa e bodas,em sonhos de felicidade. Subita-mente, uma revelação o confron-ta com cruel realidade: o esposofiel e pai amoroso, o grande rei,fora vítima do pérfido e ambi-cioso irmão, que lhe instilara ve-neno no ouvido, durante sua cos-tumeira sesta no jardim.

A chocante mensagem provo-ca a eclosão de um tumulto in-terior – é-lhe difícil assimilaresse brutal enredo e cumprir avontade do pai, pois, se por umlado, o venera e quer atender--lhe o pedido, por outro, estádespreparado emocionalmentepara perpetrar o crime de vin-gança. Finge-se de louco, como

tática de despiste, e toma reso-luções temporárias, ambíguas,espalhando involuntariamente atragédia na corte, sem dar mor-te ao tio!

Sufocando-se, náufrago dadúvida, o protagonista recolhe--se e medita. O já mencionadosolilóquio “Ser ou não ser” –exíguos 33 versos que valempor um tratado de filosofia –,resume suas mais lacerantes indagações.

Sente-se canhestro viajor tran-sitando no corrompido planoterreno, hostil à nobreza de suaalma. Sua cogitação tangencia mo-mentaneamente o suicídio, co-mo suposta libertação. Descartaa ideia, todavia. Por quê? Aí afonte de seu agon, do conflitometafísico: sua clara noção daimortalidade da alma o induz apensar que talvez seja melhorpara o habitante da Terra sofreras vicissitudes desta vida (a seaof troubles/um mar de aborreci-mentos; the opressor’s wrong/aafronta do opressor; the law’s de-lay/a lentidão da justiça; the in-solence of office/a arrogância dopoder etc.). Esquivar-se-ia, destaforma, ao pavor de ignoradosacontecimentos após a morte, por-ta para The indiscover’d coun-try/from whose bourn/No tra-veller returns/o mundo desconhe-cido/de cujas fronteiras/nenhumviajante volta. E esta torturanteincerteza puzzles the will/con-funde a vontade. Não fora estetemor, quem suportaria the

thousand natural shocks/Thatflesh is heir to,/os mil embatesnaturais/inerentes à carne; Whenhe himself might his quietus ma-ke/With a bare bodkin?/Quandoele próprio poderia buscar apaz/Na ponta de um punhal?.Vale dizer: se o perecimento docorpo físico implicasse aniqui-lamento total não haveria por-que sofrer; poder-se-ia dar umponto final à existência corpó-rea sem qualquer consequênciaulterior. Como esta convicção éinalcançável, a dúvida é a gera-triz da “covardia”, como ele diráa seguir.

Em exame também tangen-cial do tema do suicídio – estenão é o objetivo principal des-te artigo –, observamos que opríncipe não manifesta “temora Deus”, nem que a vida nacarne seja dádiva de uma divin-dade, portanto, “bem inaliená-vel”, posição comum a várias re-ligiões. Sequer fala na crençaem um deus. Seu receio las-treia-se exclusivamente na vidaapós a morte física. Ele tem cer-teza dela, mas não a vislumbra.Nesse domínio, a propósito, oEspiritismo apresenta tese cris-talina: o suicídio é, sim, contrá-rio à lei divina. A literatura dou-trinária é rica no assunto e in-forma quais as consequênciasdo tresloucado gesto, em obe-diência à lei universal de ação ereação – expiações dolorosas,pelo mecanismo da reencarna-ção ou não.

30 Reformador • Maio 2010220044

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Encontramo-nos agora diantedo ponto focal do presente estu-do: Thus conscience does make co-wards of us all/Assim, a consciên-cia nos torna a todos covardes. De-finamos a “consciência” a que elese remete: a de algo haver “do ou-tro lado”, mas sem uma antevisãodesse “algo”, talvez composto demales muito mais dolorosos doque os já conhecidos, força a ter-rena gente a preferir seu penaratual. Enfatizemos o registro: elenão demonstra preocupações mo-rais ou teológicas; sua análise étão somente “racional” – aceita a hipótese de uma vida em outroplano; não sabe, todavia, em queconsiste, como é a mesma.

Assim pensa o vivente no Orbe?Tem-se de conceder pela afirma-tiva – para os que não aceitam aDoutrina dos Espíritos.

Entretanto, responde-se nega-tivamente, em relação a seus se-

guidores, pois a Revelação Novaabre as cortinas do mistério e ilu-mina o cenário. Sua contribuição– científica e filosófica, com resso-nâncias morais, daí religiosas –,ao saber humano, confirma a imor-talidade da alma, a evolução aní-mica, através das vidas sucessivas,a pluralidade dos mundos habi-tados e resolve as questões agô-nicas do destino e da dor. Reco-nhece existir, além da esfera física,o mundo espiritual, de cujas fron-teiras os viajantes voltam, sim, e atése comunicam – como Hamletpai, materializando-se em toda suamajestade e dialogando com o fi-lho homônimo.

A “consciência” – decorrentedo conhecimento dos princípiosespíritas –, por conseguinte, muitoao contrário de celeiro de covar-des, é o vetor que norteia o co-rajoso viandante do Universo,encarnado ou não.

A Doutrina codificada porAllan Kardec oferece esta visão,“suscetível de descerrar a conti-nuidade da vida além do sepul-

cro”,2 como elucida o irmãoEmmanuel, em página inspira-da na questão 838 de O Livrodos Espíritos, em que destacaseus aspectos principais, entreestes o de orientar “na soluçãodos problemas do destino e dador”. “Doutrina Espírita”2 é exa-tamente o título da comunica-ção; após lembrar sua funçãoesclarecedora e consoladora,deixa essa bela exortação a seusseguidores:

Dignifica, assim, a Doutrina

que te consola e liberta, vigian-

do-lhe a pureza e a simplici-

dade [...]

“Espírita” deve ser o teu caráter

[...]

“Espírita” deve ser a tua condu-

ta [...]

“Espírita” deve ser o teu nome,

ainda mesmo respires em afliti-

vos combates contigo mesmo.

2XAVIER, Francisco C. Religião dos espíri-tos. Pelo Espírito Emmanuel. 21. ed. Riode Janeiro: FEB, 2008. p. 309-313.

Gravura de uma cena da tragédia de William Shakespeare, Hamlet

31Maio 2010 • Reformador 220055

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32 Reformador • Maio 2010220066

spíritos que somos, fomos to-dos criados “simples e igno-rantes, isto é, sem saber”,3 de-

vendo, através das múltiplas chan-ces encarnatórias, conhecer a ver-dade e palmilhar a estrada da evo-lução rumo à perfeição, o que nosproporcionará “a pura e eterna fe-licidade”,4 que é nossa destinação.

Jesus, há mais de dois mil anos,ensinou-nos o Mandamento doAmor, base indispensável para qual-quer melhoria individual e coletiva.A seguir, com as importantes pará-

bolas, Ele nos exemplificou quaisatitudes devemos ou não tomar.E, como roteiro seguro, receita paraessa escalada luminosa rumo aoprogresso, legou-nos as Bem-aven-turanças, verdadeiro “coração” doSermão da Montanha: aí, nessaspérolas inigualáveis de sabedoriae doçura, encontramos, em mara-vilhosa simplicidade, os recursosíntimos que devemos desenvolverem nós a fim de capacitar-nos pa-ra pensar, sentir e agir no bem.

Mais tarde, em pleno século XIX,a Doutrina Espírita veio, com a per-missão de Deus e sob a orientaçãodo Cristo, recordar-nos seus ensi-nos, enfatizando a necessidade deque os sigamos para sermos real-mente felizes, o que é o anseio detoda a Humanidade.

Assim, com esclarecimentos de-talhados, é-nos sinalizada, comoimprescindível, a nossa reforma ínti-

ma, único meio de alcançarmosnossas metas de júbilo e pureza.Aliás, Jesus já nos animava a en-cetar essa reconstrução interior, aoafirmar: “Vós sois a luz do mun-do.5 Vós sois o sal da terra”.6

E nós, como estamos?Apesar de todas essas informa-

ções, de todos esses avisos, muitosde nós ainda estamos claudicantesnesse mister, às vezes até caminhan-do invigilantes, descuidados, esque-cendo que, embora o progresso sejauma lei divina, nós somos seres inte-ligentes: “o princípio inteligente doUniverso”,7capazes de alcançar pata-mares evolutivos superiores,mais ou

Reforma íntima:quem precisa?

E

Semper ascendens:1 “De muito longe venho, em surtos milenários; vivi na luz dossóis, vaguei por mil esferas e, preso ao turbilhão dos motos planetários, fui lodoe fui cristal, no alvor de priscas eras. Mil formas animei, nos reinos multifários:

fui planta no verdor de frescas primaveras e, após desenvolver impulsos embrionários, galguei novos degraus: fui fera dentre as feras. Depois que em mim brilhou o facho da razão, fui o íncola feroz das tribos primitivas e como tal vivi, por vidas sucessivas. E sempre na espiral da eterna evolução, um dia

alcançarei, em planos bem diversos, a glória de ser luz, na Luz dos universos”.2

IVO N E MO L I NA RO GH I G G I N O

1Latim: “Sempre ascendendo”.

2ROMANELLI, Rubens C. Primado do es-pírito, 3. ed. Belo Horizonte: Ed. Síntesi,1965. Tópico III – Temas Filosóficos: Evo-lução, p. 55.

3KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. 1. reimp. Riode Janeiro: FEB, 2008. Q. 115.

4Idem, ibidem.

5MATEUS, 5:14. Bíblia sagrada (CD--ROM). Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 1996.

6MATEUS, 5:13. Idem.

7KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. 1. reimp.Rio de Janeiro: FEB, 2008. Q. 23.

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menos rapidamente,conforme o usoque façamos de nosso livre-arbítrio.

Por que é tão difícil praticarmoscom autenticidade a Lei de Amor?

Para algumas pessoas, a palavra“amor” encerra tanta grandeza,tanta sensação de incomensurável,que não raro se sentem “esmaga-das” e incompetentes ante esse pe-so, praticamente desistindo dessainadiável empreitada.

Todos nós precisamos entenderque “reformar”significa “novamen-te dar forma a alguma coisa”,“mo-dificá-la para melhor”, e, porquenão, “retocá-la”, “embelezá-la”... Éhigienizarmos nosso interior, sa-nando-o de miasmas pestilenciais,eliminando sombras persistentes,as quais, desavisadamente, permiti-mos que nos invadissem, e que in-

sistem em querer ocultar a luz daverdade que irá nos libertar.

Um bom amigo nosso (MiltonMenezes), em suas explanações emtarefas espíritas, costuma alertar aseus ouvintes de que, se não nosachamos aptos ainda a cultivar oamor incondicional, devemos dedi-car-nos corajosa e persistentemen-te a semear e cultivar os “filhotes doamor” (respeito, paciência, tolerân-cia, humildade, simplicidade etc.).Desse modo, embora enfrentandonumerosas dificuldades individuais,iremos paulatinamente eliminandoerros e edificando virtudes, as quaisnos levarão ao Amor Incondicional,semelhante ao de Jesus.

Por conseguinte, ouçamos a vozde Jesus em nós, e, com perseve-rança, anulemos conscientemente

os adornos enganosos do HomemVelho, que nos cerceiam a evolu-ção, e dediquemo-nos a esculpirem nós mesmos o Homem Novo,tornado-nos Cidadãos do Universo,dignos filhos amados de nosso Pai.

Não tenhamos dúvida de que,então, estaremos transformando aTerra realmente num mundo azul,belo e evangelizado.

Recordemos as palavras judi-ciosas do Dalai Lama:

Se você quer transformar o mun-

do, experimente primeiro pro-

mover o seu aperfeiçoamento

pessoal e realizar inovações no

seu próprio interior. [...]8

33Maio 2010 • Reformador 220077

8Disponível em: <www.pensador.info/autor/Dalai_Lama/>.

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elo menos cinco poetas brasileiros dedica-ram, no além-túmulo, a sensibilidade doseu estro à genial criação de Lázaro Luís

Zamenhof: Abel Gomes (1877-1934), Amaral Or-nellas (1885-1923), Castro Alves (1847-1871), Cruze Souza (1861-1898) e Emílio de Menezes (1866--1918).

Abel Gomes, que era tio do grande pioneiroesperantista Ismael Gomes Braga (1891-1969),também compôs, ainda encarnado, versos emque exaltou as excelências da Língua Internacio-nal Neutra e seus ideais de fraternidade entre ospovos.

Vamos aqui, porém, destacar o grande vate ca-tarinense João da Cruz e Souza, que é o autor damais copiosa produção mediúnica em torno doidioma, a qual, traduzida em números, nos apre-senta, em português, três peças através do ChicoXavier e, originalmente em esperanto, 12 poemaspor meio do médium Francisco Valdomiro Lo-renz e 26 por intermédio de Luís da Costa PortoCarreiro Neto. Esses originais em esperanto estãoenfeixados nas obras Vo/oj de Poetoj el la SpiritaMondo (Vozes de Poetas do Mundo Espiritual), pelomédium F. V. Lorenz, e Mediuma Poemaro (Coletâ-nea de Poesias Mediúnicas), pelo médium P. Carrei-ro Neto, ambas de edição da Federação EspíritaBrasileira (FEB).

Convém ressalvar, todavia, que três peças cons-tantes do citado Vo/oj não são propriamente ori-ginais em esperanto, pois se trata de versões, feitaspelo Espírito Cruz e Souza, de sonetos por ele an-teriormente ditados ao Chico Xavier, que figuram

P

34 Reformador • Maio 2010220088

A FEB e o Esperanto

Cruz e Souza –copiosa produção em e sobre o Esperanto

Cruz e Souza, autor da mais copiosa produção mediúnicaem torno do Esperanto

AF F O N S O SOA R E S

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em Parnaso de Além-Túmulo: “Animo Libera” (Al-ma Livre), “Nia Mesa1o” (Nossa Mensagem) e “SeVi Volas...” (Se Queres).

Muito provavelmente, Cruz e Souza aprendeu oesperanto nas regiões espirituais, embora pudesse tersabido, em vida física, da existência do idioma, con-siderando que a criação de Zamenhof foi lançada em1887 e a desencarnação do poeta ocorreu em 1898.

Entretanto, nossa estatística dos seus versos arespeito do tema em foco deve sofrer pequena alte-ração. Há poucos dias, conhecemos um soneto dogrande simbolista brasileiro, recebido pelo Chicoe inserido na obra Doutrina-Escola, de diversosautores espirituais, edição do IDE, de 1996.

Esse poema, cujo título é “Esperanto”, não fi-gurou na bem cuidada compilação do que os Es-píritos têm dito em e sobre o esperanto, editadapelo CELD, em 2004, com o título A Língua queVeio do Céu.

Vamos finalizar nossotexto, transcrevendo o belosoneto:

ESPERANTO

Mensageiro Divino da [Verdade,

O Esperanto abre as portas[do futuro,

Apagando o passado horrendo[e obscuro

Da treva e dissensões da [Humanidade.

É a linguagem do bem que ama[e persuade

– Vasto porto de paz, calmo e seguro,Onde se acolhe a nau sem palinuroDo velho sonho da Fraternidade.

Esperanto! – Mensagem soberanaPara a Babel da iniquidade humana,Que recorda os horrores da caverna!

Dá novo brilho à luz do pensamento,A caminho do grande entendimentoNo campo augusto da Unidade Eterna!

35Maio 2010 • Reformador 220099

Nenhuma ciência elucida

Onde a saudade é mais forte:

Se nas lágrimas da vida,

Se nos júbilos da morte.

Ne klari1is /i afero:

0u sopir’ estas pli forta

Dum surtera vivsufero,

A9 en feli/o postmorta.

XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. Trovadores do além.(Antologia). Diversos Espíritos. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB,2002. Trova 1, p. 23.

Trova

Soares Bulcão

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Natural de Cruzeiro do Sul, Acre,nasceu em 17 de setembro de 1928,filho de João Lemos Barbosa eFrancisca da Costa Barbosa, ambosespíritas. Mudou-se para Belém,em 1940, onde concluiu os estudosprimários. Fez o curso secundáriono Colégio Estadual “Paes de Car-valho”. Formou-se em engenhariacivil, em 1952, quando se casoucom Adelina Lopes Barbo-sa, igualmente de formaçãoespírita. Tiveram uma filha:Lívia, adotaram dois e cria-ram mais quatro como fi-lhos. Foi funcionário doInstituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE)por 3 anos e, posterior-mente, do Banco da Ama-zônia por 27 anos. Exerceu,durante vários anos, em ca-ráter particular, sua profis-são de engenheiro civil.

Aos 16 anos começou aestudar o Espiritismo. Logoapós o casamento, ingres-sou na União Espírita Pa-raense, passando, a partir de mar-ço de 1953, a integrar sua direto-ria, ocupando, ao longo dos anos,os cargos de segundo secretário, se-cretário-geral, presidente, vice-pre-sidente e novamente presidente.Como presidente (1960 a 1971) per-maneceu 12 anos seguidos no man-dato. Voltando à presidência, em1978, continuou no cargo por mais48 anos, até abril de 2006.

Permaneceu ativo, na Federati-va, trabalhando na assessoria daárea doutrinária interna da Casa,onde também conduzia dois gru-pos de ESDE e realizava inúme-ros atendimentos pelo diálogo aosaflitos e oprimidos que o busca-vam constantemente. Na vésperada sua desencarnação, ocorridaem 13/12/2009, dirigiu a reunião

mediúnica semanal e, em seguida,deslocou-se para a Praça da Repú-blica, fazendo-se presente no standda XX Feira do Livro Espírita, porele fundada há 20 anos.

Sua participação no desenvol-vimento do Espiritismo no Paráfoi marcante: além da preservaçãoda pureza doutrinária, despendeuenormes esforços para a expansão eunificação do Movimento Espírita,

num Estado em que as vias de aces-so são diversificadas, cuja manuten-ção ainda hoje é precária para ven-cer grandes distâncias, conseguin-do instalar, até dezembro de 2005,185 unidades espíritas, das quais105 adesas, em 65 municípios. E,ainda, criou uma geografia espíritaparaense, onde jurisdicionou a Ca-pital e o Interior em 23 CREs –

Conselhos Regionais Espí-ritas, descentralizando asações de expansão da Dou-trina Espírita. Visando ca-pacitar as lideranças, ins-tituiu, ligadas à DiretoriaExecutiva, Coordenadoriasde Áreas de Atividades deInfância e Juventude,ESDE,Assistência Espiritual, Me-diunidade, Serviço de As-sistência e Promoção So-cial Espírita, ComunicaçãoSocial Espírita, Adminis-tração e Organização, As-sessoria Jurídica.

Participou dos simpó-sios espíritas na Região

Norte, na Região Centro-Oeste eterritórios e, por último, no nacio-nal, realizados respectivamente, emBelém – 1964; Goiânia – 1965 e Riode Janeiro – 1966. Além da sua in-tensa atividade no Movimento Es-pírita regional, estadual e nacional,foi membro, como esperantista, da“Pará Esperanto-Asocio”, e tomouparte do 14o Congresso Brasileirode Esperanto, em 1954.

Jonas da Costa Barbosa

36 Reformador • Maio 2010221100

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37Maio 2010 • Reformador 221111

Mestre, ao enunciar essesignificativo ensinamento,de inapreciável valor, tam-

bém registrado no Evangelho deMarcos (7: 18 a 21), espera de nósuma mudança íntima e radical me-diante a purificação do nosso cora-ção, não de reforma externa. A pas-sagem evangélica impele-nos a pen-sar sobre o tema do presente artigo,identificando, nas doenças da alma,o momento em que o ciúme conver-te a palavra em açoite desesperador.

O assunto sugere vasta aborda-gem, mas gostaríamos de nos deterem alguns aspectos desse sentimentoque tem danificado moralmentemuitas almas irmãs que se deixamlevar pelo receio e pela incerteza nosrelacionamentos afetivos entre ca-sais. Como aniquilar o ciúme do co-ração para fugir de aflitivas tenta-ções que nos assaltam o pensamento?Se o sentimento precede, em nós,toda e qualquer elaboração de ordemmental, por que não conseguimosmantê-los equilibrados, pacifican-do-os, tanto quanto possível, em

benefício das experiências amo-rosas que usufruímos?

Ao interpretar o ciúme, o Mentorespiritual Emmanuel, esclarece:

– O ciúme, propriamente con-

siderado nas suas expressões de

escândalo e violência, é um indí-

cio de atraso moral ou de esta-

cionamento no egoísmo, dolo-

rosa situação que o homem so-

mente vencerá a golpes de muito

esforço, na oração e na vigilân-

cia, de modo a enriquecer o seu

íntimo com a luz do amor uni-

versal, começando pela pieda-

de para com todos os que so-

frem e erram, guardando tam-

bém a disposição sadia para coo-

perar na elevação de cada um.1

Nossas ideias se exteriorizamtodos os dias e somos identificadospelas vibrações que irradiamos. Éimprescindível, portanto, observaras condições emocionais que se ori-ginam de nossas reflexões e racio-cínios – nem sempre vigilantes – e

que nos conduzem à derrota nocampo de lutas cotidianas.

Ao examinar os relacionamentosperturbadores, o Espírito Joanna deÂngelis mostra-nos que “o amor éuma conquista do espírito maduro,psicologicamente equilibrado; usi-na de forças para manter os equi-pamentos emocionais em funcio-namento harmônico”2 e refere-se àscaracterísticas daqueles que agemem desacordo com esse amor:

Os indivíduos de temperamento

neurótico, tornam-se incapazes

de manter um relacionamento

estável. Pela própria constituição

psicológica, são portadores de

afetividade obsessiva e, porque

inseguros, são desconfiados, ciu-

mentos, por consequência, de-

pressivos ou capazes de inespera-

das irrupções de agressividade.

[...] Creem não merecer o amor

de outrem, e, se tal acontece, as-

sumem o estranho comporta-

mento de acreditar que os outros

não lhes merecem a afeição, po-

Ciúme: trama escurado sentimento

O

“Escutai e compreendei bem isto: não é o que entra na boca que macula o homem; o que sai da boca do homem é que o macula.

O que sai da boca procede do coração e é o que torna impuro o homem.” (Mateus, 15:17-18.)

CL A R A LI L A GO N Z A L E Z D E AR A Ú J O

Page 38: reformador Maio 2010 - a.qxp

dendo traí-los ou abandoná-los

na primeira oportunidade. Quan-

do se vinculam, fazem-se absor-

ventes, castradores, exigindo que

os seus afetos vivam em caráter

de exclusividade para eles [...].3

Afirma o preclaro Espírito, queo amor-compreensão “não se esco-ra em suspeitas, nem exigênciasinfantis; elimina o ciúme e a ambi-ção de posse, proporcionando ine-fável bem-estar ao ser amado que,descomprometido com o dever deretribuição, também ama”.3 De fa-to, esse amor, contrário ao amor--paixão, vence obstáculos para ma-nifestar a sua afeição com maiorintensidade a cada dia. Assim, noentender de Vinícius: “A paixão po-de conduzir o homem à loucura eao crime. O amor equilibra as fa-culdades, consolida o caráter, apu-ra os sentimentos e torna o homemcapaz dos mais belos sacrifícios”.4

O monstro do ciúme, contudo,devora-nos o equilíbrio; torna--nos frágeis emocionalmente fren-te às dúvidas e às desconfiançasque nos atormentam o coração.Nossas suspeitas, fruto do egoísmoque nos assinala a personalidade,convertem-se em profundas afli-ções fazendo-nos sofrer desneces-sariamente, causando-nos inúme-ros transtornos físicos e morais;padecimentos buscados na vidapresente, “consequência naturaldo caráter e do proceder dos queos suportam”.5 Sobre o problema,Allan Kardec explica-nos, objeti-vamente:

Interroguem friamente suas

consciências todos os que são

feridos no coração pelas vicissi-

tudes e decepções da vida; re-

montem passo a passo à origem

dos males que os torturam e ve-

rifiquem se, as mais das vezes,

não poderão dizer: Se eu hou-

vesse feito, ou deixado de fazer

tal coisa, não estaria em seme-

lhante condição.

A quem, então, há de o homem

responsabilizar por todas essas

aflições, senão a si mesmo? O

homem, pois, em grande nú-

mero de casos, é o causador de

seus próprios infortúnios [...].6

Em nota à questão 917 de O Li-vro dos Espíritos, tendo como res-posta a mensagem transmitida pe-lo Espírito Fénelon, analisa Kardec,asseverando:

[...] Quando compreender bem

que no egoísmo reside uma des-

sas causas, a que gera o orgulho,

a ambição, a cupidez, a inveja, o

ódio, o ciúme, que a cada mo-

mento o magoam, a que per-

turba todas as relações sociais,

provoca as dissensões, aniquila

38 Reformador • Maio 2010221122

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a confiança, a que o obriga a se

manter constantemente na de-

fensiva contra o seu vizinho, en-

fim a que do amigo faz inimigo,

ele compreenderá também que

esse vício é incompatível com a

sua felicidade e, podemos mes-

mo acrescentar, com a sua pró-

pria segurança. [...]7

É imprescindível vigiar a palavrapara que não venhamos a cometerdesatinos em nome do sentimen-to que afirmamos ter pela pessoaamada; vigiar a boca, ao transmi-tir pensamentos destrutivos, exte-riorizando elementos perturbado-res, de acordo com as nossas inten-ções mais secretas e personalis-tas. Dia virá em que colheremosos frutos amargos das atitudesinfelizes que perpetramos.

O exemplo oferecido pelo Espí-rito André Luiz, retratado em umade suas obras, alerta-nos para ofato de que, mesmo espíritas, nãofugiremos dessas situações senão soubermos preservar a har-monia necessária ao lado daque-les com quem convivemos no re-cesso do lar: é o caso da médiumIsaura Silva. O autor, em conversacom Sidônio, diretor dos traba-lhos, a descreve como

[...] valorosa cooperadora, re-

vela qualidades apreciáveis e

dignas, porém, não perdeu ain-

da a noção de exclusivismo so-

bre a vida do companheiro e,

através dessa brecha que a in-

duz a violentas vibrações de có-

lera, perde excelentes oportuni-

dades de servir e elevar-se. [...]8

André Luiz, orientado peloGuardião espiritual, relata que,apesar de a cooperadora possuirvastas probabilidades de serviçoao próximo, suas condições espi-rituais menos nobres, influencia-das pelos sentimentos enegrecidosque cultiva, lhe encaminham, du-rante o sono, fora do corpo de car-ne, ao encontro de entidades de-sencarnadas, caracterizadas poraspirações de ordem inferior e dementes pervertidas. Confabulandocom esses Espíritos, a seareira en-contra guarida para desabafar so-bre os dramas imaginários que aca-lenta dentro de si. Em razão disso,os Espíritos superiores que a assis-tem, concluem:

– Antes de tudo, os agentes da

desarmonia perturbam-lhe os

sentimentos de mulher, para,

em seguida, lhe aniquilarem as

possibilidades de missionária.

O ciúme e o egoísmo constituem

portas fáceis de acesso à obses-

são arrasadora do bem. Pelo ex-

clusivismo afetivo, a médium,

nesta conversação, já se ligou

mentalmente aos ardilosos ad-

versários de seus compromissos

sublimes.9

Vivamos, pois, tranquila-mente junto aos que nos cer-cam, mantendo uma condutade segurança no plano afeti-vo; saibamos cultivar a liga-ção imperecível entre as al-mas que amamos e que nos

amam, lutando contra os perigosdo ciúme devastador que aniqui-la a estabilidade de nossos me-lhores sentimentos, sem esquecerque a palavra procede do coraçãoenvolvendo-nos para o bem oupara o mal.

Referências:1XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo

Espírito Emmanuel. 28. ed. 3. reimp. Rio

de Janeiro: FEB, 2010. Questão 183.2FRANCO, Divaldo P. O homem integral.

Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador,

BA: LEAL, 1990. Cap. 7, Relacionamentos

perturbadores, p. 114-117.3______.______. p. 114.4VINÍCIUS (Pseudônimo de Pedro de Ca-

margo). Nas pegadas do mestre. 12. ed.

1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap.

Amor e paixão, p. 126.5KARDEC, Allan. O evangelho segundo o

espiritismo. 129. ed. Rio de Janeiro: FEB,

2009. Cap. 5, item 4, p. 107.6______.______. p. 108.7______. O livro dos espíritos. 91. ed. 2.

reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Comen-

tário de Kardec à questão 917.8XAVIER, Francisco C. Libertação. Pelo Es-

pírito André Luiz. 2. ed. esp. Rio de Janei-

ro: FEB, 2007. Cap. 16, p. 216.9______.______. p. 220.

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40 Reformador • Maio 2010221144

ada um a seu momento,dentro de sua realidade, po-deria fazer uma avaliação

pessoal para saber se tudo vaibem no encaixe ideal entre aidade física e a emocional.

Nesse contexto, faço uma leitu-ra mental, imaginando como seriaa expressão dos desejos de algunsdesencontrados nesse aspecto.

Talvez as sentenças se revelas-sem assim:

O eterno Don Juan – “Quandocrescer, vou conseguir ser maduroe profundo em minhas relações,sem precisar pular de coração emcoração para me sentir importan-te ou realizado emocionalmente”.

O político corrupto – “Quandocrescer, vou ter a exata noção deque o dinheiro ilícito que desviopara meu bolso é exatamente o quefalta para a construção da escolano bairro pobre, do hospital queatenderia a comunidade carente,da ação pública que ofereceria umprograma eficiente para os jovens,ameaçados pelo tráfico de drogas”.

A dondoca renitente – “Quandocrescer, poderei compreender quea relação entre meu corpo e as rou-pas e maquiagem comuns à faixa

etária de minhas filhas não é sufi-cientemente harmônica para queeu continue a usá-las, numa tenta-tiva estranha e um tanto ridículade não aceitar a idade que tenho”.

O traficante – “Quando crescer,vou compreender que a droga quevendo para alimentar a busca in-saciável do prazer egoísta do vi-ciado tem a força de uma bomba,ao minar a criatividade de todauma geração, a força produtivados jovens e a esperança das co-munidades. Vou enfim entenderque cada pacotinho de ilusão queofereço aos outros explodirá co-mo vazio interior, solidão existen-cial e dura cobrança da própriaconsciência, que me exigirá reporpedra por pedra tudo que destruínos corações alheios”.

O viciado – “Quando crescer, vouenfim aceitar que vivi até agoracomo uma pobre e indefesa criançaemocional, joguete fácil nas mãosde víboras e vampiros da energiaalheia. Vou finalmente compreen-der que a força de uma sociedadeconsumista e focada na busca in-consequente do prazer a todo custopode ser freada por meu profundodesejo de me autodescobrir. Foiinvestindo nisso que ganhei for-ças para assumir as rédeas deminhas próprias emoções”.

O trabalhador invigilante dobem – “Quando crescer, vou tercondições de perceber que pode-ria ter feito muito mais pelo bemdo que fiz, e que só não fui maisadiante por causa de minhas pró-prias fraquezas não vigiadas,dando vazão a vaidades tolas, ainvejas limitantes e a atritos rui-dosos, que poderia ter calado naraiz, mas que permiti floresces-sem e tomassem conta de meusdias de servidor”.

O homem medroso do futuro –“Quando crescer, verei o impactoque a falta de coragem de assumirminhas metas de evolução provo-cou em minha condição pessoal.Poderei, então, vislumbrar que ha-via atalhos que a bondade divinaabriu a minha frente, a fim de queeu tivesse alternativas flexíveis pa-ra solucionar meus entraves, eque acabei desprezando, por purafalta de coragem para tomar as ré-deas de minha própria vida”.

Minha leitura mental poderiacontinuar por muitas e muitas li-nhas. Mas deixo para que você meajude, acrescentando suas impres-sões a respeito do que pode acon-tecer, quando algumas pessoas de-cidirem finalmente amadurecer.

Quando eu crescerC

CA R LO S AB R A N C H E S

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CONSELHO DIRETORPresidente: Nestor João Masotti. Vice-presidentes: Altivo Ferreira, Cecília Rocha, Ilcio Bianchi e José Carlos da Silva Silveira.

DIRETORIA EXECUTIVADiretores: Affonso Borges Gallego Soares, Amaury Alves da Silva, Antonio Cesar Perri de Carvalho, Arthur do Nascimento, Edna MariaFabro, Geraldo Campetti Sobrinho, João Pinto Rabelo, José Salomão Mizrahy, José Valdo de Oliveira, Maria de Lourdes Pereira deOliveira, Marta Antunes de Oliveira de Moura, Norberto Pásqua, Rute Vieira Ribeiro, Sady Guilherme Schmidt e Tânia de Souza Lopes.

CONSELHO FISCALEfetivos: César Augusto Lourenço Filho, Ennio de Oliveira Tavares e Sérgio Thiesen. Suplentes: Alamir Gomes de Abreu e EliphasLevi Garcez Maia.

ASSESSORES DA PRESIDÊNCIAEvandro Noleto Bezerra e Jorge Godinho Barreto Nery.

REFORMADORDiretor: Nestor João Masotti. Editor: Altivo Ferreira. Redatores: Affonso Borges Gallego Soares, Antonio Cesar Perri de Carvalho,Evandro Noleto Bezerra. Secretário: Paulo de Tarso dos Reis Lyra. Gerência: Ilcio Bianchi.

CONSELHO SUPERIOREfetivos: Allan Eurípedes Rezende Nápoli, Allan Kardec Rezende Nápoli, Alzira Matoso de Abreu, Christodolino da Silva, Clara LilaGonzalez de Araújo, Francisco Bispo dos Anjos, Ismael de Miranda e Silva, Jamile Mizrahy, João de Jesus Moutinho, JorgeGodinho Barreto Nery, José Francisco dos Santos, Lucia Maria Alba da Silva, Luiz Antonio de Moura, Lydia Alba da Silva, MárciaRegina Pini de Souza, Marco Aurélio Luzio de Assis, Maria da Conceição de Carvalho, Maria Euny Herrera Masotti, Maria LuizaPriolli dos Santos Fonseca, Nilton da Costa Pereira de São Thiago, Paulo Affonso de Farias, Raimunda Maria Prata, Regina Lúciade Souza B. Rodrigues, Salim Tannus Feres Neto, Suely Caldas Schubert, Tossie Yamashita, Yola Carvalho Borges de Souza, OrlandoAyrton de Toledo, Rubens André Gonçalves Dusi e Bittencourt Rezende de Nápoli. Efetivos indicados pelo CFN: Ana Luiza NazarenoFerreira, César Soares dos Reis, Darcy Neves Moreira, Divaldo Pereira Franco, Hélio Ribeiro Loureiro, José Raimundo de Lima,Lacordaire Abrahão Faiad, Sandra Maria Borba Pereira, Sônia Maria Arruda Fonseca e Weimar Muniz de Oliveira. Ex-presidente:Juvanir Borges de Souza.Suplentes: Lauro de Freitas Carvalho, Zaira Amarilis da Cruz Silveira, Marlene Silva Duarte, Roosevelt Pinto Sampaio, AldeniceCousseiro de Carvalho Filha, Marley de Souza Lopes, Venita Abranches Simões, Eliphas Levi Garcez Maia e Maria Alves da Silva.Suplentes indicados pelo CFN: Gerson Simões Monteiro, Pedro Valente da Cunha, Miriam Lucia Herrera Masotti Dusi, EloyCarvalho Villela e Israel Quirino do Nascimento.

CONSELHO FEDERATIVO NACIONALEntidades Federativas Estaduais: Acre – Federação Espírita do Estado do Acre; Alagoas – Federação Espírita do Estado de Alagoas;Amapá – Federação Espírita do Amapá; Amazonas – Federação Espírita Amazonense; Bahia – Federação Espírita do Estado da Bahia;Ceará – Federação Espírita do Estado do Ceará; Distrito Federal – Federação Espírita do Distrito Federal; Espírito Santo – FederaçãoEspírita do Estado do Espírito Santo; Goiás – Federação Espírita do Estado de Goiás; Maranhão – Federação Espírita do Maranhão;Mato Grosso – Federação Espírita do Estado de Mato Grosso; Mato Grosso do Sul – Federação Espírita de Mato Grosso do Sul;Minas Gerais – União Espírita Mineira; Pará – União Espírita Paraense; Paraíba – Federação Espírita Paraibana; Paraná – FederaçãoEspírita do Paraná; Pernambuco – Federação Espírita Pernambucana; Piauí – Federação Espírita Piauiense; Rio de Janeiro – ConselhoEspírita do Estado do Rio de Janeiro; Rio Grande do Norte – Federação Espírita do Rio Grande do Norte; Rio Grande do Sul –Federação Espírita do Rio Grande do Sul; Rondônia – Federação Espírita de Rondônia; Roraima – Federação Espírita Roraimense;Santa Catarina – Federação Espírita Catarinense; São Paulo – União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo; Sergipe –Federação Espírita do Estado de Sergipe; e Tocantins – Federação Espírita do Estado do Tocantins.

ENTIDADES ESPECIALIZADAS DE ÂMBITO NACIONALAssociação Brasileira de Artistas Espíritas; Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo; Associação Brasileira de Esperantis-tas-Espíritas; Associação Brasileira dos Magistrados Espíritas; Associação Médico-Espírita do Brasil; Cruzada dos Militares Espíritas;e Instituto de Cultura Espírita do Brasil.

Federação Espírita BrasileiraCOMPOSIÇÃO DOS ÓRGÃOS DA FEB

Após a Reunião do Conselho Superior de março de 2010

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Seara Espírita

Ato Público Em Defesa da VidaO Movimento Nacional da Cidadania pela Vida –Brasil Sem Aborto realizou no dia 20 de março, nocentro de São Paulo, o 4o Ato Público Em Defesa daVida. A Marcha reivindicou a não aprovação doProjeto de Lei 1.135/91 que, se aprovado, permitiráo aborto no Brasil até o nono mês de gravidez.A Federação Espírita Brasileira (FEB), foi repre-sentada por Clodoaldo de Lima Leite. Informações:<www.brasilsemaborto.com.br>.

Amazonas: Congresso Espírita em homenagem a Chico Xavier

A Federação Espírita Amazonense promoveu o 4o

Congresso Espírita do Amazonas, em Manaus, de 2a 4 de abril, com o tema central “Chico Xavier – oApóstolo do Bem e da Paz”. O evento fez parte dascomemorações do Centenário de Nascimento de Chi-co Xavier e contou com palestras proferidas porAlberto Almeida (PA), Suely Caldas Schubert (MG),André Luiz Peixinho (BA) e Sandra Borba (RN).Informações: <www.feamazonas.org.br>.

Reino Unido e Suíça: Workshops sobreMediunidade

A diretora da Federação Espírita Brasileira, MartaAntunes de Oliveira de Moura, e Ruth Guimarães,integrante da equipe das Comissões Regionais doConselho Federativo Nacional (CFN), estiveram dis-correndo sobre a mediunidade nos dias 6 e 7 demarço, em Londres, numa promoção da União Bri-tânica de Sociedades Espíritas. Em seguida, cum-priram programação similar em Centros da Suíça,a convite da União dos Centros de Estudos Espíri-tas da Suíça. Informações: <[email protected]>,<www.spiritismus.ch>.

Espírito Santo: Encontro de TrabalhadoresA Federação Espírita do Estado do Espírito Santopromoveu o Encontro de Trabalhadores Espíritas,nos dias 27 e 28 de março, em Vitória. O evento con-

tou com a atuação de Roberto Versiani e José LuizDias, da equipe da Secretaria-Geral do CFN. Infor-mações: <www.feees.org.br>.

Minas Gerais: Homenagens a Chico Xavier O Estado natal de Chico Xavier sediou vários even-tos alusivos ao Centenário de Nascimento de ChicoXavier. Nos dias 2 e 3 de abril, foi inaugurado umMemorial anexo ao Centro Espírita Luiz Gonzaga,em Pedro Leopoldo, e ocorreram palestras pelo dire-tor da FEB, Antonio Cesar Perri de Carvalho, e porTerezinha de Oliveira (SP). Marta Antunes de Mourarepresentou a FEB, no dia 2, na sessão especial noGrupo Espírita da Prece, em Uberaba, e, no dia 6 deabril, na Sessão Solene em homenagem ao médium,na Câmara de Vereadores de Belo Horizonte. No dia2, Marival Veloso de Matos proferiu palestra come-morativa na sede da União Espírita Mineira, em BeloHorizonte. Informações: <www.uemmg.org.br>.

Rio de Janeiro: Homenagem aChico Xavier

Em comemoração ao Centenário de Nascimento deChico Xavier, a Assembleia Legislativa do Estadodo Rio de Janeiro promoveu, no Plenário do PalácioTiradentes, no dia 5 de abril, sessão solene em home-nagem ao médium mineiro e ao Dia do Livro Espírita,oficializado em 18 de abril, data da publicação deO Livro dos Espíritos. Informações: <www.ceerj.org.br>.

São Paulo: Vários eventos sobre Chico Xavier

A União das Sociedades Espíritas do Estado de SãoPaulo (USE) promoveu eventos simultâneos em ho-menagem ao Centenário de Chico Xavier em:Araçatuba, Bauru, Ribeirão Preto, São José dosCampos, São Paulo e Sorocaba. No dia 11 de abril,das 10h às 11h, cada uma dessas Regionais da USEsediou evento aberto à participação popular, comapresentações artísticas, palestras curtas e depoimen-tos. Informações: <www.use-sp.com.br>.

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