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reformador Dezembro 2010 - a.qxp

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Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: AUGUSTO ELIAS DA SILVA

Revista de Espiritismo CristãoAno 128 / Dezembro, 2010 / N o 2.181

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRADiretor: NESTOR JOÃO MASOTTI

Editor: ALTIVO FERREIRA

Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO

CESAR PERRI DE CARVALHO E EVANDRO NOLETO

BEZERRA

Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA

Gerente: ILCIO BIANCHI

Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE

Equipe de Diagramação: SARAÍ AYRES TORRES, AGADYR

TORRES PEREIRA E CLAUDIO CARVALHO

Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA

CARVALHO

REFORMADOR: Registro de publicação no 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça)CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503

Direção e Redação:Av. L-2 Norte • Q. 603 • Conj. F (SGAN) 70830-030 • Brasília (DF)Tel.: (61) 2101-6150FAX: (61) 3322-0523Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

Departamento Editorial e Gráfico:Rua Sousa Valente, 17 • 20941-040Rio de Janeiro (RJ) • BrasilTel.: (21) 2187-8282 • FAX: (21) 2187-8298E-mails: [email protected]

[email protected]

Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA

Capa: AGADYR TORRES PEREIRA

SumárioExpediente

PARA O BRASILAssinatura anual R$ 339,00Número avulso R$ 55,00

PARA O EXTERIORAssinatura anual US$ 335,00

Assinatura dde RReformador: Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274

E-mmail: [email protected]

Editorial

Natal

Entrevista: Elias Barbosa

Estudemos com afinco as obras do médium Chico Xavier

Elias Barbosa e Chico Xavier

Presença de Chico Xavier

Oração do Natal – Humberto de Campos

Esflorando o Evangelho

Façamos nossa luz – Emmanuel

A FEB e o Esperanto

A Bezerra de Menezes, em esperanto... – Affonso Soares

Nas conversações / Dum la konversacioj – André Luiz

Conselho Espírita Internacional

Reunião Ordinária do Conselho Espírita Internacional em

Valencia

Seara Espírita

Relações homoafetivas – Christiano Torchi

Reflexões angustiantes – Amélia Rodrigues

Viver encantado – Richard Simonetti

Companheiros indispensáveis –

Clara Lila Gonzalez de Araújo

O magno problema – Yvonne A. Pereira

A consciência de Deus em nós – Marcos Alencar

Em dia com o Espiritismo – O significado do Natal

para os espíritas (Capa) – Marta Antunes Moura

A transição e o papel do Espiritismo

Retorno à Pátria Espiritual – Amaury Alves da Silva

6o Congresso Espírita Mundial foi um marco na

Espanha

A função da livraria na Casa Espírita –

André Luiz Anciães dos Santos

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Editorial

Natalesus, para a Doutrina Espírita, é o ser mais perfeito que Deus ofereceu ao

homem para lhe servir de guia e modelo.

“Para o homem [registra Allan Kardec], Jesus constitui o tipo da perfeição moral

a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais per-

feito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor,

porque, sendo ele o mais puro de quantos têm aparecido na Terra, o Espírito Divino

o animava.” (O Livro dos Espíritos, q. 625, ed. FEB.)

Em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. I, ed. FEB, encontramos: “Mas, o

papel de Jesus não foi o de um simples legislador moralista, sem outra autoridade

que a sua palavra. [...] Sua autoridade decorria da natureza excepcional do seu

Espírito e da sua missão divina. Veio ensinar aos homens que a verdadeira vida não

é a que transcorre na Terra e sim no reino dos céus: veio ensinar-lhes o caminho

que conduz a esse reino [...]”. (Item 4.)

“O Cristo foi o iniciador da moral mais pura, da mais sublime: a moral evangé-

lico-cristã, que há de renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los irmãos;

que há de fazer brotar de todos os corações humanos a caridade e o amor do pró-

ximo e estabelecer entre os homens uma solidariedade comum [...].” (Item 9.)

O mês de dezembro é marcado pelo Natal, quando se comemora o nascimento

de Jesus, inspirando em todos nós o exercício da solidariedade, da fraternidade, o

fortalecimento dos laços de afeição em todas as famílias e entre todas as pessoas.

Natural, portanto, que intensifiquemos as nossas ações com pensamentos e sen-

timentos fraternos e solidários, vivenciando, mais profundamente, os princípios da

caridade que são conhecidos pela “benevolência para com todos, indulgência para

as imperfeições dos outros, perdão das ofensas”, ações estas que, no futuro, serão

praticadas em todos os meses do ano. (O Livro dos Espíritos, q. 886, ed. FEB.)

Cultivemos, pois, as alegrias sadias do Natal, lembrando do “aniversariante” e do

exemplo que nos deixou, exercitando o amor ao próximo, especialmente para com

os mais simples e os mais necessitados.

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ste artigo propõe-se a esbo-çar, sob a ótica espírita, al-guns pontos básicos da in-

trigante questão, pertinente à Leide Reprodução: a homossexuali-dade, ou homoafetividade, comose tem convencionado chamá-la nomeio jurídico.1 Não há a vã pre-tensão de esgotar o assunto nemde dar respostas prontas a todas asperguntas. O objetivo é despertara reflexão e estimular o leitor abuscá-las por si mesmo.

Este tema ainda é um tabu emtodo o mundo, porquanto a ho-mossexualidade, embora seja tãoantiga quanto o homem e exista in-clusive no reino animal, é vista co-mo um comportamento socialcontrário à natureza, talvez por seralgo fora dos padrões do que é con-siderado “normal”. Mas será que éisso mesmo? A pessoa, invariavel-mente, é homossexual porque odeseja? Porque assim o escolheu?

A homossexualidade, desde o fi-nal do século XX, deixou de ser

considerada doença por organis-mos internacionais e pelo ConselhoFederal de Psicologia, no Brasil.2

De acordo com a legislação bra-sileira, o casamento – vínculo con-jugal entre duas pessoas – só épossível entre homem e mulher.Entretanto, aumenta cada vez maiso número de pessoas do mesmosexo que sustentam vida em co-mum e que ficam à margem daproteção legal. Em vista disso, oPoder Judiciário tem sido constan-temente instado a resolver con-flitos desse jaez, tais como os rela-tivos a pedidos de adoção de crian-ças, questões sucessórias, alimen-tares, previdenciárias, entre outras.

À míngua de norma explícitaque autorize tais uniões, os intér-pretes buscam respaldo na Cons-tituição Federal, por analogia àunião estável entre homem e mu-lher e à família monoparental,que foram equiparadas, peloconstituinte, a entidades familia-res. Tomam por base princípiosconstitucionais muito caros àsdemocracias, entre eles o da dig-

nidade da pessoa humana, o da li-berdade e o da igualdade, paraconcluir que é possível a uniãoestável entre pessoas de sexoidêntico, com todas as conse-quências jurídicas próprias dosinstitutos referidos.3

O que há, ainda, é muita igno-rância e preconceito no tocante àhomossexualidade, cujas causasreais são praticamente desco-nhecidas dos especialistas encar-nados. Em virtude da visão frag-mentária e reducionista que asciências acadêmicas nutrem arespeito do ser humano, consi-derando-o como ente finito, eque, sob essa ótica, desapareceriapara sempre da realidade após amorte física, muitos fenômenospsicológicos, sociais e biológicos,entre eles a homossexualidade,têm sido precariamente estuda-dos e interpretados pelos estu-diosos encarnados.

A seu turno, a Doutrina Espí-rita oferece subsídios valiosos

ECH R I S T I A N O TO RC H I

Relaçõeshomoafetivas

2Resolução CFP no 1/99.

1Informação acessada em 26/9/2010, nosite <http://www.mbdias.com.br/hartigos.aspx?77,14>.

3Arts. 1o, caput, III; 5o, caput, I; e 226,§§ 3o e 4o, todos da Constituição Fede-ral Brasileira.

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para auxiliar a compreensão detais incógnitas, uma vez queanalisa o ser humano sob oprisma holístico.4 Isto é, inves-tiga as causas do enigma, poisnão se detém apenas no examedos fatores físicos e psicoló-gicos inerentes ao ser humano.O seu estudo, por si só, consti-tui uma excelente terapêutica,visto que auxilia a libertação demuitos conflitos e encaminhaas pessoas para a tomada de ati-tudes mais coerentes e segurasdiante da vida.

Os benfeitores do Alto, nasquestões 200 e 201 de O Livrodos Espíritos (Ed. FEB), deixamclaro que os Espíritos não têmsexo, como o entendemos, e quepodem encarnar ora como ho-mem, ora como mulher. E com-plementam – “há entre eles amor

e simpatia, mas basea-dos na afinidade de

sentimentos”.Portanto, as prefe-rências sentimentais

de pessoas por ou-tras do mesmo gê-

nero nem sempreimplicam a exis-

tência de conúbiocarnal ou o desvir-

tuamento e o abuso dasfaculdades genésicas, abuso

esse que também ocorre, expres-sivamente, entre os indivíduosheterossexuais.

Qualquer pessoa, independen-temente de sua orientação sexual,jamais logrará realização, se seentregar aos excessos no campoda sexualidade. Nesses casos, oindivíduo sujeita-se a adquirirhábitos nocivos e a viciar-se nasaberrações da luxúria, essas,sim, contrárias às leis naturais,as quais convidarão o Espíritoimortal a corrigi-las nas futurasencarnações.

– Por que sou assim? – frequen-temente perguntam crianças e jo-vens de ambos os sexos, atormen-tados com a descoberta de suastendências homossexuais, semque tenham, conscientemente, es-colhido esse caminho. Já os pais dehomossexuais, alguns deles cho-cados com a orientação sexual deseus filhos, geralmente têm comoprimeira reação buscar uma ex-plicação racional para a origemda homossexualidade.

De acordo com o ensino dosEspíritos superiores, o sexo residena mente, expressa-se no corpo

espiritual (perispírito)5 e, conse-quentemente, no corpo físico:

[...] o instinto sexual não é ape-

nas agente de reprodução entre

as formas superiores, mas, aci-

ma de tudo, é o reconstituinte

das forças espirituais, pelo qual

as criaturas encarnadas ou de-

sencarnadas se alimentam mu-

tuamente na permuta de raios

psíquico-magnéticos, que lhes

são necessários ao progresso.

[...] ninguém escarnecerá dele,

desarmonizando-lhe as forças,

sem escarnecer e desarmonizar

a si mesmo.6

Kardec também enfrentou esseassunto na Revista Espírita, ondeesclareceu que as “anomalias apa-rentes” do caráter de certas pes-soas se devem aos atavismos que oser reencarnado traz de outras vi-das.7 Entretanto, essas caracterís-ticas que as pessoas apresentamnão as transformam, automatica-mente, num homossexual.

Outros Espíritos, com a finali-dade de expiarem erros do passado

4Pela teoria holística, a criatura humana éconsiderada um todo indivisível e não po-de ser explicada pelos seus distintos com-ponentes, separadamente (físico, psi-cológico, moral, espiritual).

5Perispírito é o envoltório semimaterialdo Espírito, que tem como uma das fun-ções básicas servir de intermediário entreeste e o corpo físico.

6XAVIER, Francisco C. Evolução em doismundos. Pelo Espírito André Luiz. 25. ed.3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap.18, itens Alimento espiritual, p. 183; e En-fermidades do instinto sexual, p. 185.

7KARDEC, Allan. As mulheres têm alma?In: Revista espírita: jornal de estudos psi-cológicos, ano 9, p. 17, jan. 1866. Trad.Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio deJaneiro: FEB, 2009.

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ou exercerem tarefas de auxílio e/ouaprendizado, renascem em corposincompatíveis com o seu psiquis-mo, pelo que, não raro, enfrentamseveras rejeições de seus própriosfamiliares e são marginalizadospela sociedade, circunstâncias emque podem ser induzidos ao des-virtuamento e à viciação de suassublimes faculdades reprodutoras.

O Espírito Emmanuel explicaque muito dos enigmas da sexuali-dade se deve ao desconhecimentode nossa origem espiritual e bioló-gica, está radicada nos seres infe-riores da criação, de cujos instin-tos ainda não nos libertamos total-mente, bem assim ao desconheci-mento da reencarnação e dos refle-xos das experiências pretéritas.8

Não nascemos prontos, e nossoprocesso evolutivo prossegue semdetença, ainda muito distanteda almejada perfeição. Por isso,é apropriada a comparação sim-bólica do ser humano perso-nalizado na figura do Centauro,monstro da mitologia, cujo cor-po da cintura para cima se apre-senta como homem e a outrametade como animal.

Esmagadora maioria dos paisnão tem condições psicológicasnem experiência para tratar deum assunto dessa envergadura,quando ele surge no seio familiar.Além disso, os pais nem sempreencontram uma orientação psi-cológica segura para enfrentar asituação, em virtude da diretriz

materialista de muitos especialis-tas, como já visto.

Há casos de homossexuais que,devido ao desconhecimento espiri-tual de si mesmo e muitas vezes daprópria orientação sexual, associa-do à cobrança sociocultural, expe-rimentam momentos de intensossofrimentos psíquicos, em virtudede suas emoções estarem nesse ins-tante em processo de desequilíbrio.

Dessa maneira, tornam-se soli-tários, com muitas dificuldades derelacionamento. É quando, diantedas pressões sociais, principal-mente da família, percebem-se emconflito oriundo da própria se-xualidade, oportunidade em quepodem vivenciar um quadro deambivalência ou ambiguidade afe-tiva de ordem existencial, encap-sulando-se em seus dramas. Nessascondições perturbadoras, é possívelque desenvolvam ideações suicidas,com predomínio de tentativas deautocídio.

Para as famílias de homos-sexuais e para esses próprios, reco-menda-se, entre outros, o livro deautoria da educadora e professorapaulistana Edith Modesto.9 Trata--se de obra utilíssima, uma vez quetraz a experiência pessoal deuma mãe que arrostou odesafio de trabalharseus sentimentos eos de seus fami-liares ante o desa-brochamento da

homossexualidade em um de seussete filhos.10

As teorias humanas reducionis-tas, que visualizam a criatura ape-nas como a expressão da matéria,têm que ser revistas urgentemen-te, para que semeemos um futuromelhor para a Humanidade, emconsonância com as leis naturaisou divinas.

A exclusão social é produto doegoísmo, que deve ser superada comos recursos modernos à disposiçãoda sociedade. Falo não só da moder-nidade da revolução tecnológicaproporcionada pelo conhecimentohumano, em seus múltiplos aspec-tos, mas, sobretudo, do legado dosensinos cristãos de amor ao pró-ximo, que jamais será ultrapassa-do, pois está acima dos critériostransitórios do mundo.

8XAVIER, Francisco C. Vida e sexo. PeloEspírito Emmanuel. 26. ed. 2. reimp. Riode Janeiro: FEB, 2009. Cap. 21.

9Mãe sempre sabe? Mi-tos e verdades sobre paise seus filhos homossexuais.Editora Record. A obra toda.

10Para conhecer a autora e seu grupo deajuda mútua, acesse <www.edithmodesto.com.br>, bem como <www.gph.org.br>.Para fazer contato com a autora, o e-mailé <[email protected]>.

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udo lhe aconteceu rapida-mente, como um raio querasgasse a treva densa e sua

força terrível o fulminasse, mes-mo antes da tragédia que iria de-sencadear.

No íntimo, ele sabia que algode inconcebível iria acontecer etemia que fosse o instrumentodesse horror. É como se o malig-no se lhe houvesse penetradocom as suas ardilosas redes decrueldade. Pensava sobre isso, aprincípio com medo, depois foi--se adaptando à ideia e, por fim,tresloucado, executou-a; vendeuo Amigo!...

O ato insano foi muito rápido,irracional, criminoso.

Bastou que Ele dissesse durantea ceia, embora a infinita amargu-ra na voz – “O que fazes, faze-odepressa”,1 e ele correu desvairadona direção dos sinedritas com osquais se houvera comprometidoantes, e vendeu-o.

Não tinha dimensão do atoalucinado que praticara, mas as-sim mesmo o realizou, pois queestava fora de si, a consciência

adormecida pelo anestésico dadúvida, da ingratidão...

O que sucedeu, logo depois, foiinexplicável surpresa acompanha-da de dores amargas.

A negociata infame previa queos acontecimentos deveriam suce-der depois da Páscoa, mas ele, queera traidor, também foi traído pe-los que o concitaram ao hediondocrime.

Quem negocia com criminosospadece-lhes o caráter venal, a as-pereza da indignidade.

A psicosfera em Jerusalém, na-quele momento, como sempre,era asfixiante, e aquela seria a noi-te mais longa dentre todas as suasnoites.

Ele seguira com a triste comi-tiva armada de varapaus e lâmi-nas dos soldados, acompanha-dos pela ralé dos desocupados,da súcia infeliz, na direção doGetsêmani, onde sabia que Eleestava orando. Como pudera uti-lizar-se daquele momento para adetestável conduta?! Não soubedizê-lo. A verdade é que, ao vê-lotão angustiado ao brilho dosarchotes de labaredas vermelhas,não trepidou e beijou-o na face,

conforme houvera combinado,a fim de informar quem era avítima.

Viu-o, então, ser aprisionadosem nenhuma resistência, fitá-locom infinita compaixão e deixar--se conduzir à presença dos infa-mes julgadores.

Passava da meia-noite, mas amalta dos malfeitores e vagabun-dos, assim como dos demais quese encontravam a soldo do Siné-drio, superlotavam o pátio ondePilatos mandou despi-lo, chiba-teá-lo, numa tentativa de salvá-loda sanha perversa dos seus, semque Ele se queixasse, enquantotodos, inclusive muitos que fo-ram beneficiários do seu amor,apupavam-no.

A ingratidão das criaturas hu-manas é proverbial, e a massa éum monstro que obedece ao co-mando do mais cruel.

Tremeu, acovardado, na escuri-dão de um lugar de onde podiavê-lo vencido, Ele que era seuamigo!

Foi, então, milagre da cons-ciência, que a culpa se lhe inscul-piu na alma com o ferro em brasado remorso.

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Reflexõesangustiantes

1JOÃO, 13:27. (Nota da autora espiritual.)

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As lágrimas avolumaram-senos olhos e escorreram como áci-do, queimando-lhe a face defor-mada pelo estupor que o tomounaquele momento.

Correu na direção dos abutresque o traíram e tentou reparar oerro ignominioso.

A galhofa e a ironia dos vence-dores de mentira foram a respos-ta que lhe deram. Tentou explicar--se, mas não havia ouvidos que oescutassem. Reconheceu o seu cri-me, mas isso era com ele não comos mesquinhos negociantes que oaliciaram.

Desesperado, atirou-lhes astrinta malditas moedas de prataque eram o preço da traição esaiu enlouquecido, sem forças,sequer, para gritar a própriadesdita.

As sombras densas e o climaterrível, resultado das mentes in-felizes reunidas para o grandedesfecho, abafavam as suas emo-ções, que o asfixiavam.

O horror apresentava-se emforma de fantasma sobre a cidadeinfeliz dos profetas desprezados eassassinados, conforme Ele o de-clarara oportunamente...

Não suportou o desconfortosuperlativo que o tomou todo, e amesma força tiranizante que o des-governava sussurrou-lhe a fugapelo suicídio, que ele atendeu deimediato, atirando uma corda vi-gorosa sobre um galho forte develha figueira, e enforcou-se...

Quando ele recebeu o chamadodaquele Estranho, era jovem e to-das as fibras do corpo e da almavibraram de especial emoção.

Chamava-se Judas, que, em he-braico, significa agradecimento,ish Kerioth, também significandohomem de Kerioth, cidadezinha aosul de Judá, e naquela ocasião eraum idealista, um sonhador.

Possuidor de lúcida inteligên-cia, foi recebido pelo grupo de

pescadores e pessoas simplescom carinho e júbilo, tendo sidodestacado para ser responsávelpela guarda dos seus escassosrecursos monetários, seus redu-zidos haveres...

Ficou entusiasmado com o cha-mado e fascinado com aqueleque o havia destacado com oconvite.

Quem convivesse com Jesusnão tinha outra alternativa: ama-va-o para sempre ou detestava-o,nunca ficando indiferente.

Ele se deixou abrasar pelo seuverbo altissonante e doce ao mes-mo tempo. A sua mensagem re-passada de ternura era um refri-gério para a ardência do seu tem-peramento inquieto e para as suasambições, pois que anelava porconquistar o mundo, pelo poder,pelo destaque social...

Pertencer a um reino especialera tudo quanto desejava então,tornando-se importante, merecen-do e conseguindo homenagens e

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honrarias como via acontecercom outros, que considerava semmérito para tanto.

Tudo parecia-lhe estar ao al-cance, agora que se encontrava aolado do Taumaturgo, que tinhapoder até mesmo sobre as forçasda Natureza.

Vira-o limpar a morfeia emcorpos apodrecidos que se recom-puseram de imediato, e não ocul-tava o contentamento por tê-locomo Amigo.

Todos os fenômenos imaginá-veis ou não, ele os vira aconte-cer com a interferência daquelemeigo Rabi, que o comovia pro-fundamente.

As multidões emocionadas se-guiam-no docemente como ove-lhas submissas ao cajado do seupastor.

À medida que convivia com Elee os demais amigos, sua naturezaexperimentava alterações.

Não entendia, por exemplo,porque Ele preferia os miseráveis,os réprobos e dialogava com to-dos, sentando-se à mesa com eles,que eram rejeitados por todos epor todos repudiados.

Certamente que Ele explicavaserem os enfermos, aqueles quenecessitam do médico, sendo Eleo médico dos desventurados, par-ticularmente dos excluídos da so-ciedade pusilânime de sua época.

Mas observava também quepríncipes e militares de alto co-turno o buscavam mas sem rece-berem qualquer privilégio confor-me suas posições requeriam. Eleera capaz de os deixar esperandopara atender um pária detestado,

o que não lhe parecia justo nemcoerente.

A pouco e pouco, os conflitosiniciais converteram-se em inse-gurança e dessa passou a agasa-lhar dúvidas e receios quanto àvitória da empresa em que se en-contrava.

Amava Jesus, sim, a seu modo,mas nem sempre o compreendia.Os seus silêncios eram perturba-dores e a sua indiferença pelosbens materiais, quase os despre-zando, era difícil de entender-se...

No banquete, por exemplo, nacasa de Simão – outro detestadopela lepra que o vencia –, quandoMaria derramou-lhe de surpresao perfume especial e de alto preço,numa demonstração de afeto, elenão pôde silenciar e interrogou: –“Por que não se vendeu esse per-fume por trezentos denários e nãose deu aos pobres?”.2

Em verdade, não era por senti-mento de amor aos pobres e so-fredores que ele tomara essa atitu-de, mas por avareza, por despeito,porque já furtava os bens dosamigos...

Noutras vezes, irara-se com oscompanheiros que demonstra-vam desconfiança a respeito dasua fidelidade e do seu valor.

Mas lentamente tentou ajustar--se ao grupo e ser útil.

Quando constatou, porém, queo Mestre não iria oferecer a Is-rael a governança do mundo, esma-gando o império romano, decep-cionou-se e pensou que poderiaprecipitar os acontecimentos.

– Quem sabe? – pensara – numacircunstância grave Ele não se des-velaria, apelando para os seus sim-patizantes, que aguardavam so-mente a sua voz de comando?

Ledo equívoco, infeliz conclu-são, pois que o reino dele não eradeste mundo e ele se enganou ter-rivelmente, perdendo a oportuni-dade, aniquilando-se...

Judas amava Jesus, porém seinteressava mais pelos própriosprojetos e não pela promessa deamor incondicional e da imor-talidade...

Infeliz, atirou-se no abismo daperdição através da loucura doautocídio, esquecido do Amornão amado que, apesar de tudonão o olvidou, indo resgatá-lonas regiões inferiores de sofri-mentos inenarráveis antes de res-surgir na madrugada do terceirodia após a sua crucificação emorte. Isto porque o amor nãotem limites....

Através de reencarnações pun-gentes, dolorosas, o homem deKerioth resgatou o delito tremen-do e retornou ao colégio galileu,ele que era o mais inteligente, oúnico judeu, após sofrer o martí-rio como Joana d’Arc.

Amélia Rodrigues

(Página psicografada pelo médium Dival-

do Pereira Franco, na reunião mediúnica

da noite de 21 de agosto de 2010, no

Centro Espírita Fraternidade, em Parami-

rim, Bahia.)

10 Reformador • Dezembro 2010446644

2JOÃO, 12:5. (Nota da autora espiritual.)

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Reformador: Qual a sua motiva-ção para elaborar o primeiro livrocom mensagens familiares, psico-grafadas por Chico Xavier?Elias Barbosa: Devido ao deses-pero dos pais, principalmente dasmães que me procuravam, não sóquando me encontrava presenteno momento em que o médiumXavier estava psicografando, quan-to em meu lar e, o mais das vezes,no consultório, onde muitas com-pareciam debaixo de uma depres-são profunda, visivelmente como processo de luto não resolvi-do. Grande parte delas alimentava,conscientemente, ideário suicida,numa época em que os timolépti-cos apresentavam efeitos colate-rais desagradáveis. Em todos os ca-sos, recomendávamos o estudodas obras de Allan Kardec e as deEmmanuel e de André Luiz, rece-bidas pelo nosso inesquecível Chi-co, sugerindo trabalharem na cari-

dade, em nome do filho, da filhaou do cônjuge desencarnados emsituações aparentemente trágicas.

Reformador: Na época, fez contatocom os familiares dos Espíritoscomunicantes, para análise dasmensagens?Elias Barbosa: Sim. Logo após arecepção da mensagem e a leituradela, pelo nosso Chico, já que amaioria das mães e algunspais choravam convulsiva-mente onde se encontravamsentados, sabendo, de ante-mão, que se tratava do filhoou filha que demandaram otúmulo. Eu procurava essespais e solicitava a gentilezade me fornecerem os dadosprecisos e concretos das men-

sagens psicografadas que caracte-rizavam o estilo dos respectivosEspíritos comunicantes. A maio-ria, gentilmente, fornecia-me osdados comprobatórios da auten-ticidade da mensagem. Outras

11Dezembro 2010 • Reformador 446655

EL I A S BA R B O S AEntrevista

Estudemos com afincoas obras do médiumChico Xavier

Ao final do ano do Centenário de Chico Xavier, Elias Barbosa (de Uberaba), relata os contatos com o médium, em função de sua amizade e do trabalho

com mensagens e livros psicografados por Francisco Cândido Xavier

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vezes, íamos até os hotéis em quese hospedavam, com vistas a noscontarem mais detalhes a respeitodo Espírito comunicante, quandona Terra.

Reformador: Chegou a realizaralguma pesquisa nas referidasmensagens?Elias Barbosa: Sim, a maioria de-las, detalhadamente, sem qualquerpreocupação científica. Numa dasnoites a que eu assistia, Chico psi-cografou uma página de um rapazque se deu a conhecer por Wilson;sua mãe ficou o tempo todo emprantos, querendo, de toda forma,aproximar-se do médium. Tran-quilizei-a dizendo-lhe que eu iriacom ela até onde se encontrava ocaro Chico. Mas perguntei-lhe setinha consigo uma foto e, se pos-sível, um documento com a as-sinatura dele. Foi quando ela memostrou a Carteira de Trabalho,não somente com a foto, mastambém com uma nítida assina-tura, que era semelhante à que seencontrava na mensagem. Todosos presentes ficaram emocionadose eu solicitei àquela senhora se elapoderia me emprestar o preciosomaterial para tirar uma cópia fo-tostática, já pensando em publi-cá-la num livro em andamento.Assim o fiz, e depois coloquei-anum dos livros que organizei emparceria com Chico Xavier, tendorepercussão internacional, já queum livro traduzido no Brasil eeditado pela hoje extinta EditoraBloch, de um autor inglês, trazia,na última página de sua bela obra,um estudo honesto sobre esta

ocorrência, sem que ele houvesseconstatado a documentação – afoto e o fac-símile da assinatura dojovem trabalhador, que se trans-feriu para o plano extrafísico, porafogamento.

Reformador: Como dirigente espí-rita ou psiquiatra, teve oportuni-dade de interagir com o médiumpara o atendimento de pessoas emdesequilíbrio?Elias Barbosa: Várias vezes, compacientes internados no SanatórioEspírita de Uberaba, onde traba-lhei, a partir de 1o de maio de 1969,na condição de médico-assistentedo Dr. Inácio Ferreira, desencar-nado em 1988, sendo este substi-tuído pelo Dr. Adroaldo ModestoGil, que também veio a retornar àPátria Espiritual, no dia 14 de se-tembro de 1993. Com o decessodeste grande amigo, passei a ser odiretor clínico, sem qualquer vín-culo empregatício, até janeiro de2002, quando dois de meus ex-alu-nos procuraram adquirir o títulode especialistas em psiquiatria, umdeles passando à direção do nossotão querido nosocômio, onde tra-balharam, com amor, dona MariaModesto Cravo, o Sr. Manoel Ro-berto, além dos fundadores doCentro Espírita Uberabense, quecompletará o seu centenário, a 14de janeiro de 2011, tendo à frenteo professor Antônio Augusto Cha-ves. Mas, voltando à pergunta queme foi formulada, em todos oscasos gravíssimos, geralmente deesquizofrenia e anorexia nervosa,eu sempre solicitava ao Chico aju-dar-nos no Sanatório, às vezes com

simples imposição das mãos sobreos enfermos. Um dos casos maisgraves foi o de uma jovem ado-lescente que entrou num quadropsicótico de esquizofrenia para-nóide, com delírios persecutóriose alucinações auditivas e visuais.Ela somente permanecia no quar-to-forte, devido à sua agressivida-de incontrolável. Depois que apli-quei nela uma série de onze ses-sões de eletrochoques (ECTs), semqualquer resultado, resolvi solici-tar ao Chico a sua imprescindívelcolaboração. Ao observar a moça,o inesquecível médium me disse:“Você fez muito bem em fazeresta série de eletrochoques nela,porque esta moça está, ainda, naregião dos ombros e pescoço, cheiade corpos ovóides a ela agregados,e tal recurso terapêutico utilizadofará com que ela, pelo uso dosmedicamentos já prescritos, entreem estado de remissão, jamais po-dendo afastar-se das fileiras es-píritas, usando, corretamente, osmedicamentos prescritos pelosseus psiquiatras, amparada pe-los amigos espirituais que super-visionam a sua reencarnação”. Ou-tros casos ocorreram, mas o espa-ço obriga-me a colocar, aqui, oponto final, nesta questão.

Reformador: Como foi a elabora-ção do livro biográfico No Mundode Chico Xavier? Contou com acolaboração do médium?Elias Barbosa: Certa noite de ter-ça-feira em que, invariavelmente,Chico nos dava a honra de sua vi-sita para conversarmos sobre oslivros espíritas, solicitei-lhe se eu

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poderia iniciar uma série deentrevistas com ele, a fim de queos leitores do futuro pudessemconstatar as suas próprias pala-vras, a respeito de sua mediunida-de, que já se estendia por 40 anos,e ele disse: “Podemos começaragora, meu filho!”. De posse deum caderno, eu ia fazendo as per-guntas e ele dava as respostas ime-diatas, sempre me lembrando tra-tar-se de Chico Xavier/Emma-nuel. Das 11 às 3 horas da madru-gada seguinte, eu datilografava to-das as entrevistas, inclusive as queforam feitas na própria casa doChico, quando ele solicitava ao Sr.Weaker Batista para avisar-meque estava disponível para a nossatarefa. Tão logo ia tomando co-nhecimento de outras entrevistascom o médium, apressei-me aaproveitá-las todas, como se en-contram dispostas no livro, queconsumiu horas e horas de agra-dável e abençoado trabalho, lem-brando-me do biógrafo de Fran-cisco de Assis (1182-1226), seucontemporâneo, ao registrar oinstante em que o poverello se des-pediu de seu pai, afirmando, alto ebom som: “A partir de hoje só te-nho um Pai que é Deus. Guarde,por favor, as minhas vestes!”.

Reformador: Com base em sua con-vivência com Chico, como analisa oaspecto humano da pessoa Chico Xa-vier e a missão dele como médium?Elias Barbosa: Ao ficar conhe-cendo Chico Xavier, em PedroLeopoldo, na noite de 25 de abrilde 1955, graças à gentileza de doisamigos de São Paulo, ao me apro-

ximar dele, nunca vi pessoa tãohumilde e educada; referiu-se à mi-nha querida mãe, que viria a de-sencarnar em 1984, como sendoum Espírito que ele conhecia háséculos e nascera com uma mis-são de muita importância na con-dução da família, de seus oito fi-lhos, netos e bisnetos. Nada dissea meu respeito. De 1955 a 1959,ele, Chico Xavier, e outros amigos,em companhia de Waldo Vieira,nos períodos das férias escolares,iam a Monte Carmelo, Minas, on-de frequentava todos os centrosespíritas, recebendo orientaçõespara centenas de pessoas que vi-nham de cidades vizinhas. Muitoaprendemos – e quanto! – com onosso inesquecível amigo.

Reformador: O que você reco-menda ao leitor, por ocasião dascomemorações do Centenário deChico Xavier?

Elias Barbosa: Estudar, com afin-co, a Doutrina Espírita, assim co-mo todos os livros deixados porAllan Kardec, inclusive os 12 to-mos da Revista Espírita: jornal deestudos psicológicos; dos segui-dores da Terceira Revelação, den-tre outros, Léon Denis e ErnestoBozzano, percorrendo, por fim,todas as obras recebidas pelo mé-dium Xavier, não somente as dosprosadores, mas, principalmentedos poetas, reverenciando Chico eJesus, principalmente a edição be-líssima do Parnaso de Além-Tú-mulo, recém-lançada para alegriade todos nós; Trovadores do Além;O Espírito de Cornélio Pires; todaa coleção de André Luiz, a come-çar por Nosso Lar, best-seller quejá se transformou em filme, alémde tantos outros que retratam avida incomparável do nosso que-rido médium Francisco CândidoXavier.

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Elias Barbosa conheceu Chico Xavier em Pedro Leopoldo (1955)

e acompanhava visitas do médium a Monte Carmelo (1956 a

1959), quando este recebia mensagens mediúnicas na residência da

mãe de Elias, dona Myrthes Barbosa, e a partir de janeiro de 1959,

após a mudança de Chico para Uberaba, trabalharam juntos,

em tarefas de desobsessão, sessões públicas e organizando livros em

parceria: Enxugando Lágrimas, Entre Duas Vidas, Claramente Vivos,

Irmã Vera Cruz, Gabriel, e outros. Escreveu sobre a vida do médium

em Presença de Chico Xavier e No Mundo de Chico Xavier e foi orga-

nizador de Antologia dos Imortais (FEB, 1962), Trovadores do Além

(FEB, 1965) e O Espírito de Cornélio Pires (FEB, 1965). É um dos

entrevistados em Depoimentos sobre Chico Xavier (FEB, 2010).

Elias Barbosa e Chico Xavier

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enhor Jesus. Há quase dois milênios, estabele-cias o Natal com tua doce humildade namanjedoura, onde te festejaram todas as har-

monias da Natureza. Reis e pastores vieram de longe,trazendo-te ao berço pobre o testemunho de sua ale-gria e de seu reconhecimento. As estrelas brilharamcom luz mais intensa nos fulgores do céu e uma delasse destacou no azul do firmamento, para iluminaro suave momento de tua glória. Desde então, Senhor, omundo inteiro, pelos séculos afora, cultivou a lem-brança da tua grande noite, extraordinária de luz ede belezas diversas.

Agora, porém, as recordações do Natal são muitodiferentes.

Não se ouvem mais os cânticos dos pastores, nemse percebem os aromas agrestes da Natureza.

Um presépio do século XX seria certamentearranjado com eletricidade, sobre uma base de bom-bas e de metralhadoras, onde aquela legenda suavedo Gloria in excelsis Deo seria substituída por umapelo revolucionário dos extremismos políticos daatualidade.

As comemorações já não são as mesmas.Os locutores de rádio falarão da tua humildade,

do cume dos arranha-céus, e, depois de um progra-ma armamentista, estranharão, para os seus ouvin-tes, que a tua voz pudesse abençoar os pacíficos, pro-metendo-lhes um lugar de bem-aventurados, embo-ra haja isso ocorrido há dois mil anos.

Numerosos escritores falarão, em suas crônicaselegantes, sobre as crianças abandonadas, estampan-do nos diários um conto triste, onde se exalte a céle-bre virtude cristã da caridade; mas, daí a momentos,fecharão a porta dos seus palacetes ao primeiropobrezinho.

Contudo, Senhor, entre os superficialismos destaépoca de profundas transições, almas existem que teesperam e te amam. Tua palavra sincera e branda, do-ce e enérgica, magnetiza-lhes os corações, na capricho-sa e interminável esteira do tempo. Elas andam ocul-tas nas planícies da indiferença e nas montanhas deiniquidade deste mundo. Conservam, porém, consi-go a mesma esperança na tua inesgotável misericórdia.

É com elas e por elas que, sob as tuas vistas amo-ráveis, trabalham os que já partiram para o mundodas suaves revelações da morte. É com a fé admirávelde seus corações que semeamos, de novo, as tuaspromessas imortais, entre os escombros de uma civi-lização que está agonizando, à míngua de amor.

É por essa razão que, sem nos esquecermos dospequeninos que agrupavas em derredor da tua bon-dade, nos recordamos hoje, em nossa oração, dascrianças grandes, que são os povos deste século depomposas ruínas.

Tu, que és o Príncipe de todas as nações e a basesagrada de todos os surtos evolutivos da vida plane-tária; que és a Misericórdia infinita, rasgando todasas fronteiras edificadas no mundo pelas misériashumanas, reúne a tua família espiritual, sob as alge-mas da fraternidade e do bem que nos ensinaste!...

Em todos os recantos do orbe, há bocas que mal-dizem e mãos que exterminam os seus semelhantes.Os Espíritos das trevas fazem chover o fogo de suasforças apocalípticas sobre as organizações terrestres,ateando o sinistro incêndio das ambições na alma demultidões alucinadas e desvalidas. Por toda parte,assomam os falsos ídolos da impenitência domundo, e místicas políticas, saturadas do vírus dasmais nefastas paixões, entornam sobre os espíritos ovinho ignominioso da morte.

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S

Presença de Chico Xavier

Oração do Natal

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Mas nós sabemos, Senhor, como são falazes eenganadoras as doutrinas que se afastam da seivasagrada e eterna dos teus ensinos, porque dissipasmisericordiosamente a confusão de todas as almas,ainda que os seus arrebatamentos se apóiem nas pai-xões mais generosas.

Tu, que andavas descalço pelos caminhos agrestesda Galileia, faze florescer, de novo, sobre a Terra, oencanto suave da simplicidade no trabalho, trazendoao mundo a luz cariciosa de tua oficina de Nazaré!...

Tu, que és a essência de nossos pensamentos deverdade e de luz, sabes que todas as dores são irmãsumas das outras. Assim, as esperanças desabrochemnos corações dos teus frágeis tutelados, para vibrarnos mesmos ideais, aquém ou além das linhas arbi-trárias que os homens intitularam de fronteiras!

Todas as expressões da Filosofia e da Ciência dosséculos terrenos passaram sobre o mundo, enchendoas almas de amargosas desilusões. Numerosos políti-cos te ridiculizaram, desdenhando as tuas liçõesinesquecíveis; mas nós sabemos que existe uma ver-dade que dissimulaste aos inteligentes para a revela-res às criancinhas, encontrada, aliás, por todos oshomens, filhos de todas as raças, sem distinção decrenças ou de pátrias, de tradições ou de família, quepratiquem a caridade em teu nome...

Pastor do rebanho de ovelhas tresmalhadas, desdeo primeiro dia em que o sopro divino da vontade donosso Pai fez brotar a erva tenra, no imenso campoda existência terrestre, pairas acima do movimentovertiginoso dos séculos, acima de todos os povos e desuas transmigrações incessantes no curso do tempo,ensinando as criaturas humanas a considerar o nadade suas inquietações, em face do dia glorioso e infi-nito da eternidade!...

Agora, Senhor, que as línguas da impiedade con-clamam as nações para um novo extermínio, mani-festa a tua bondade, ainda uma vez, aos homens infe-lizes, para que compreendam, a tempo, a extensão doseu ódio e de sua perversidade.

Afasta o dragão da guerra de sobre o coração dila-cerado das mães e das crianças de todos os países,curando as chagas dos que sangram de dor selvagemà beira dos caminhos.

Revela aos homens que não há outra força além datua e que nenhuma proteção pode existir, além da-quela que se constitui da segurança de tua guarda!

Ensina aos sacerdotes de todas as crenças doglobo, que falam em teu nome, o desprendimento ea renúncia dos bens efêmeros da vida material, a fimde que entendam as virtudes do teu Reino, que aindanão reside nas suntuosas organizações dos Estadosdeste mundo!

Tu, que ressuscitaste Lázaro das sombras do sepul-cro, revigora o homem moderno, do túmulo das vai-dades apodrecidas!

Tu, que fizeste que os cegos vissem, que os mudosfalassem, abre de novo os olhos rebeldes de tuas ove-lhas ingratas e desenrola as línguas da verdade e dodireito, que o medo paralisou, nesta hora torva, depenosos testemunhos!

Senhor, desencarnados e encarnados, trabalhamosno esforço abençoado de nossa própria regeneração,para o teu serviço divino!

Nestas lembranças do Natal, recordamos a tuafigura simples e suave, quando ias pelas aldeias quebordavam o espelho claro das águas do Tiberíades!...Queremos o teu amparo, Senhor, porque agora olago de Genesaré é a corrente represada de nossaspróprias lágrimas. Pensamos ainda ver-te, quandovinhas de Cesareia de Filipe para abençoar o sorrisodoce das criancinhas... De teus olhos misericordiosose compassivos, corria uma fonte perene de esperan-ças divinas para todos os corações; de tua túnicahumilde e clara, vinha o símbolo da paz para todosos homens do porvir e, de tuas palavras sacrossantas,vinha a luz do céu, que confunde todas as mentirasda Terra!...

Senhor, estamos reunidos em teu Natal e suplica-mos a tua bênção!... Somos as tuas crianças, dentroda nossa ignorância e da nossa indigência!... Apiada--te de nós e dize-nos ainda:

— Meus filhinhos...

Fonte: XAVIER, Francisco C. Novas mensagens. 13. ed. Rio de

Janeiro: FEB, 2009.

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Pelo Espírito Humberto de Campos

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piedade é a virtude que maisvos aproxima dos anjos; é airmã da caridade, que vos

conduz a Deus. Ah! deixai que o vos-so coração se enterneça ante o espe-táculo das misérias e dos sofrimentosdos vossos semelhantes. Vossas lágri-mas são um bálsamo que lhes derra-mais nas feridas e, quando, por bon-dosa simpatia, chegais a lhes pro-porcionar a esperança e a resignação,que encanto não experimentais! [...]

Este é o início de uma manifesta-ção do Espírito que assina Miguel,obtida em Bordeaux,em 1862,e cons-ta de O Evangelho segundo o Espiri-tismo, capítulo XIII, item 17, ed. FEB.

Exalta a piedade que, como sabe-mos, amigo leitor, tem dois signi-ficados distintos.

Primeiro: exprime uma partici-pação religiosa. Sejamos o espírita,o católico, o evangélico, o budista,somos piedosos por vinculação adeterminada crença.

Segundo: exprime um senti-mento de compaixão ante os so-frimentos alheios, com a disposi-ção de atenuá-los.

Talvez o maior problema dosreligiosos em geral seja o descom-passo entre esses dois significados.

São piedosos porque partici-pam de um culto, proclamam sua

fé, mas não vivenciam os princí-pios de sua crença, no dia a dia.

Não se compadecem do próxi-mo em suas carências, fraquezas eproblemas, com o empenho porajudá-lo.

Jesus reportava-se a esse pro-blema, ao proclamar:

Hipócritas, bem profetizou Isaíasa vosso respeito, dizendo: Este povose aproxima de mim com a suaboca e me honra com os seus lábios,mas o seu coração está longe demim. (Mateus, 15:7-8.)

A religião não pode estar ape-nas nos lábios, como diz o Mestre.

Imperioso que desça ao cora-ção e dali comande as mãos, mo-vimentando-as nos serviços doBem, no atendimento às carênciashumanas.

Importante ser um piedosocristão – aceitar Jesus por Mestre.

Mil vezes mais importante serum cristão piedoso – cumprir oque Jesus recomendou.

É a parte mais difícil, geralmen-te negligenciada.

Estive em uma cidade turísticabrasileira com a esposa e um casalamigo.

Em dado momento tomamosum táxi.

O automóvel revelava que o ta-xista participava de uma igreja cris-tã. O nome Jesus estava inscritoem letras garrafais na parte dian-teira. Na parte traseira, no para-brisa, a expressão Deus é fiel!.

Durante o percurso, observeique a cidade se apresentava quasetotalmente livre de pichações, essapraga que tanto polui, visualmen-te, a paisagem urbana.

Iniciei breve diálogo a respeito,com o motorista:

– Parece que a Prefeitura estásendo eficiente no controle daspichações...

– Não é a Prefeitura. A soluçãoveio da própria população.

– Estão educando os pichadores?– Não. Estamos matando!– O senhor está brincando...– Não, matamos mesmo! Pi-

chador morto, cidade limpa.– O senhor teria coragem?– Não tenha dúvida! Quem pi-

char minha casa pode encomen-dar o caixão!

– Posso lhe fazer uma pergunta?– Tudo bem.– Como fica esse nome em des-

taque no vidro do carro?– Jesus?– Sim.

Viver encantadoA

RI C H A R D SI M O N E T T I

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– Ora, meu amigo, pi-chação é problema parti-cular, não tem nada a vercom religião.

Temos aí o exemplo per-feito do descompasso en-tre a piedade como crençareligiosa e a piedade comovivência da religião.

Aquele taxista, que pode-ria ser católico, espírita ouevangélico, simplesmentenão conseguia entender queuma das finalidades da reli-gião é ajudar-nos a superara agressividade que caracte-riza o comportamento hu-mano no estágio de evolu-ção em que nos encontramos.

Talvez estivesse mais perto devivenciar um princípio religiosose substituísse no carro o nomeJesus por Moisés.

Seu comportamento está maispara o olho por olho, dente pordente, de Moisés, bem longe doperdoar não sete vezes, mas setentavezes sete, ensinado e exemplifica-do por Jesus.

Moisés mandava matar quemcometesse adultério, praticasse oincesto, desrespeitasse pai e mãe,blasfemasse contra Deus, exerci-tasse a homossexualidade, e atéquem trabalhasse no sábado, diaconsagrado ao Senhor.

Mediunismo, nem pensar! Eramsumariamente condenados à mor-te todos os que se atrevessem aevocar os mortos.

Certamente Moisés também con-denaria à morte os pichadores.

Quem proclama sua crença emJesus, mas age como adepto de

Moisés, está preso de concepçõesque eram cultivadas há perto detrês mil e duzentos anos.

Há dois mil anos Jesus está ten-tando nos ensinar que não pode-mos revidar ao mal com o mal, ouestaremos a perpetuá-lo.

Só se elimina o mal com a prá-tica do Bem.

É até um exercício algébrico.Mal + mal = mal dobrado.Mal + bem = mal eliminado.Fundamental para isso que não

sejamos apenas um piedoso cristão.Muito mais que isso, sejamos

um cristão piedoso.

Com o Espiritismo compreen-demos que essa vivência não ésimplesmente um exercício deboa vontade, mas uma necessida-de inadiável, em benefício de umfuturo feliz, quando deixarmos aescola terrestre e retornarmos aolar celeste.

Quem participa de reu-niões mediúnicas de aten-dimento a Espíritos sofre-dores sabe do que estoufalando.

Há os que sofrem por-que foram impiedosos, pra-ticaram o mal...

Há os que sofrem por-que não foram piedosos,não praticaram o Bem.

Em estado lamentávelestão os que, sendo piedo-sos, porque tinham uma re-ligião, não cultivaram a pie-dade,não se compadeceramdo próximo, não ajudaram.

Piores ainda são os adep-tos do Espiritismo que, tendo per-feito conhecimento do que nos es-pera no mundo espiritual, forampiedosos espíritas, quando deve-riam ser espíritas piedosos.

O Espiritismo não nos fala sim-plesmente da necessidade de exer-citarmos a piedade hoje para ser-mos bem recebidos amanhã.

Se grande for nosso empenhonesse particular, estaremos desdeagora desfrutando das benesses quefelicitam os que servem no campodo Bem.

É a isso que se refere a entidade,quando fala do encanto que expe-rimentamos quando, movidos pelapiedade, a compaixão pelas misé-rias alheias, nos dispomos a fazeralgo pelo próximo.

Na verdade, com o exercício doBem nossa vida fica encantada des-de agora, no melhor sentido, depermanente deslumbramento, umviver em plenitude, em harmoniacom os ritmos do Universo.

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nsina-nos a Doutrina Espíritaque o filho que não se afinacom os nossos ideais, decep-

cionando-nos quanto à conduta emdesacordo com a educação e oscuidados amorosos e sincerosque lhe dispensamos – o que ofaz distanciar-se da harmoniadoméstica que erigimos comtanto esforço – é um compa-nheiro ou companheira de ou-tras existências terrestres a exi-gir-nos enormes desvelos, pormeio de novas experiências ma-teriais, para cumprimento dosdesígnios divinos, necessários, abem dele, visto que a passagempela Terra lhe auxilia o desen-volvimento moral e intelectual.

Esses Espíritos, que acolhe-mos jubilosos em nossos lares,mas que nos tornam insegurossobre os cuidados a se ter paracom eles, são chamados de filhosdiferentes, de filhos rebeldes ou defilhos-problemas, sem que tenhamosnecessidade de deixar-nos envolver

pelo desespero ou pela amargurapor vê-los escolher caminhos, nemsempre compatíveis com os preceitosde justiça e amor ao próximo que

lhes aplicamos. São “[...] filhos quese fizeram enigmas”, no entenderdo Espírito Emmanuel, e, “à vista

disso, é natural que muitas vezes o[nosso] procedimento diante delesassuma aspecto de exceção”.1 Ospais devem assumir atitudes espe-

ciais, como prova de amor –um amor de qualidade singular– e demonstrar esse sentimen-to, mesmo quando eles nãoconsigam manifestá-lo em tro-ca, sem compreender o carinhooferecido pelos genitores paraneutralizar conflitos familiares,nos quais o uso da agressivi-dade poderia significar a ex-trema falta de amor entre eles.

Ao analisar problemas tortu-rantes de peculiares obsessõesno corpo de carne, o EspíritoAndré Luiz, em conversaçãocom o assistente Barcelos, daturma de servidores atendentesde Espíritos insanos, traz im-portante colaboração do ins-trutor, sobre o assunto:

[...] Os antagonismos domésti-

cos, os temperamentos aparen-

ECL A R A LI L A GO N Z A L E Z D E AR A Ú J O

“[...] o Espírito da criança pode ser muito antigo e que traz, renascendo para a vida corporal, as imperfeições de que se não tenha despojado em suas precedentesexistências.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VIII, item 3, ed. FEB.)

Companheirosindispensáveis

18 Reformador • Dezembro 2010 447722

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temente irreconciliáveis entre

pais e filhos, esposos e esposas,

parentes e irmãos, resultam dos

choques sucessivos da subcons-

ciência, conduzida a recapitula-

ções retificadoras do pretérito

distante. Congregados, de novo,

na luta expiatória ou reparado-

ra, as personagens dos dramas,

que se foram, passam a sentir e

ver, na tela mental, dentro de si

mesmas, situações complicadas

e escabrosas de outra época,

malgrado os contornos obscu-

ros da reminiscência, carregan-

do consigo fardos pesados de

incompreensão, atualmente de-

finidos por “complexos de infe-

rioridade”. Identificando em si

questões e situações íntimas,

inapreensíveis aos demais [...]

requerendo o concurso de psi-

quiatras e neurologistas, que, a

seu turno, se conservam em po-

sição oposta à verdade, presos à

conceituação acadêmica e às rí-

gidas convenções dos preceitos

oficiais [...].2

Sem esquecer que o reduto fa-miliar é crisol reparador e sublimepara os resgates que amealhamos,devemos ter resignação e coragem,na busca das melhores soluçõesque permitam ajudar a esses Espí-ritos reencarnados, com quem as-sumimos compromissos inadiá-veis para promover, essencialmen-te, uma educação que ataque comveemência certos problemas deconduta surgidos na infância, en-tre eles: desobediência, cólera, in-solência, preguiça, ciúme excessivo,maus modos, arrivismo, maldadeetc. impedindo-os de praticá-losdesde cedo. A omissão dessa ver-dade irá nos custar provas difíceisque haveremos de enfrentar quan-do se tornarem adultos.

Crianças são argilas maleáveis;vamos moldá-las descobrindo suasnecessidades e estimulando suasaptidões. Por que não transmitir-mos aos filhos, na fase adequadada meninice, os ensinamentos escla-recedores da Doutrina Espírita,orientando-os, de acordo com a

sua compreensão? Somos espíritase não podemos ter dúvidas quantoà importância dos preceitos dou-trinários para aprendermos a viver;não dar à prole a chance de conhe-cê-los na puerícia seria negligenciara nossa missão de pais! Dizem osEspíritos superiores que “o Espí-rito, durante esse período, é maisacessível às impressões que recebe,capazes de lhe auxiliarem o adian-tamento, para o que devem contri-buir os incumbidos de educá-lo”.3

No entanto, as imperfeições quegeram os defeitos em nossos filhosdevem ser avaliadas com desvelo ecuidado para não considerarmostodas as manifestações indevidas dacriança, ao expressar formas parti-culares e aberrantes de reagir àsexigências do mundo exterior, comoerros graves, o que é inadmissívelnessa fase infantil. Se assim fosse,seríamos levados a suspeitar dequalquer ação que denotasse a me-nor sombra de falha, obrigando-aa ser um organismo incapaz de rea-ção. Mesmo porque, não devemos

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esquecer que certas expressões dacriança demonstram profundosconflitos vividos no ambiente do-méstico, como resultante da falta deequilíbrio na relação entre os pais.Em certos lares, são eles os causa-dores dos problemas enfrentadospelos filhos, causando-lhes traumase inquietações.

Allan Kardec, o educador emé-rito, em nota à questão 917, de OLivro dos Espíritos, nos adverte arespeito dessa questão:

[...] A educação, conveniente-

mente entendida, constitui a cha-

ve do progresso moral. Quando

se conhecer a arte de manejar os

caracteres, como se conhece a de

manejar as inteligências, conse-

guir-se-á corrigi-los [fazer ho-

mens de bem] do mesmo modo

que se aprumam plantas novas.

Essa arte, porém, exige muito tato,

muita experiência e profunda

observação. É grave erro pensar-se

que, para exercê-la com proveito,

baste o conhecimento da Ciên-

cia. Quem acompanhar, assim o

filho do rico, como o do pobre,

desde o instante do nascimento, e

observar todas as influências per-

niciosas que sobre eles atuam, em

consequência da fraqueza, da in-

cúria e da ignorância dos que os

dirigem, observando igualmente

com quanta frequência falham os

meios empregados para morali-

zá-los, não poderá espantar-se

de encontrar pelo mundo tantas

esquisitices. [...]4 (Grifo nosso.)

Aconselha-nos Kardec, a estudarprofundamente a natureza moral

dos filhos, chegando-se “a modifi-cá-la, como se modifica a inteli-gência pela instrução e o tempe-ramento pela higiene”.5 Há, por-tanto, um terreno educativo aces-sível e que espera boa semeadurade nossa parte, sem deixar-nosabater pelos percalços que surjamno decorrer do plantio; quandoalguém se convence de que tem fi-lhos muito difíceis, aventura-se atorná-los piores do que o seriamcom pais mais otimistas.

Para educá-los, pois, primeira-mente, é imprescindível: a) atenderàs necessidades do desenvolvimentoda criança, a fim de prover a plenarealização de sua personalidade, emmeio a uma atmosfera de segu-rança e de afeição, reconhecendo-se,entretanto, que os filhos são pessoasdiferentes e que os seus interessesnem sempre coincidem com os nos-sos; as uniformidades de gostos, asaptidões, as tendências variam deacordo com a natureza dos Espíritosreencarnados; b) observar reaçõesque comandam os comportamen-tos e atitudes, mas lembrando, sem-pre, que as crianças, por sua próprianatureza, estão em contínua trans-formação; a experiência de conhe-cermos empiricamente os nossos fi-lhos, a partir de vivências significati-vas que estimulem nossos objetivoseducacionais, permite projetar luzsobre os problemas comportamen-tais que apresentem; c) conviver emfrequente contato com os filhos,desde o nascimento,oferecendo-lhessegurança emocional e alegria deviver;“[...] Observar cada filho comcuidado, a fim de descobrir-lhe onível espiritual em que se encontra,

suas aspirações e possibilidades, édever impostergável dos pais, quenão pode ser transferido para fun-cionários remunerados”;6 d) estru-turar a família em clima de entendi-mento, amparando-se mutuamen-te, sobretudo nas horas de maiorrebeldia por parte daqueles filhosque demonstrem excessiva agressi-vidade e intolerância, sem aceitar aajuda que lhes é oferecida. E, concor-de com as palavras de Emmanuelsobre o filho-problema,“[...] Longeou perto dele [...] ampara-o coma tua prece, estendendo-lhe apoio einspiração pelas vias da alma”.7

São eles os companheiros indis-pensáveis que retornam para oengrandecimento de nossa atualreencarnação. Para amá-los, siga-mos as inestimáveis lições propor-cionadas pela Doutrina Espírita epelo Evangelho de Jesus.

Referências:1XAVIER, Francisco C. Encontro marcado.

Pelo Espírito Emmanuel. 13. ed. 1. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 34, p. 142.2______. Obreiros da vida eterna. Pelo

Espírito André Luiz. 33. ed. 3. reimp. Rio

de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 2, p. 43-44.3KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.

Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. 2. reimp. Rio

de Janeiro: FEB, 2010. Q. 383.4______. ______. Comentário de Kardec à

q. 917.5______. ______. Q. 872, p. 447-451.6FRANCO, Divaldo P. Constelação fami-

liar. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Sal-

vador: LEAL, 2008. Cap. 17, “Relaciona-

mentos familiares”, p. 109-113.7XAVIER, Francisco C. Encontro marcado.

Pelo Espírito Emmanuel. 13. ed. 1. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 34, p. 142.

20 Reformador • Dezembro 2010447744

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“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens.”– JESUS. (MATEUS, 5:16.)

Façamos nossa luz

Fonte: XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e vida. ed. esp. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 180.

nte a glória dos mundos evolvidos, das esferas sublimes que povoam oUniverso, o estreito campo em que nos agitamos, na Crosta Planetária, élimitado círculo de ação.

Se o problema, no entanto, fosse apenas o de espaço, nada teríamos alamentar.

A casa pequena e humilde, iluminada de Sol e alegria, é paraíso de felicidade.A angústia de nosso plano procede da sombra.A escuridão invade os caminhos em todas as direções. Trevas que nascem da

ignorância, da maldade, da insensatez, envolvendo povos, instituições e pessoas.Nevoeiros que assaltam consciências, raciocínios e sentimentos.

Em meio da grande noite, é necessário acendamos nossa luz. Sem isso é impos-sível encontrar o caminho da libertação. Sem a irradiação brilhante de nosso próprioser, não poderemos ser vistos com facilidade pelos Mensageiros Divinos, que ajudamem nome do Altíssimo, e nem auxiliaremos efetivamente a quem quer que seja.

É indispensável organizar o santuário interior e iluminá-lo, a fim de que astrevas não nos dominem.

É possível marchar, valendo-nos de luzes alheias. Todavia, sem claridade que nosseja própria, padeceremos constante ameaça de queda. Os proprietários das lâmpa-das acesas podem afastar-se de nós, convocados pelos montes de elevação que aindanão merecemos.

Vale-te, pois, dos luzeiros do caminho, aplica o pavio da boa vontade ao óleo doserviço e da humildade e acende o teu archote para a jornada. Agradece ao que teilumina por uma hora, por alguns dias ou por muitos anos, mas não olvides tuacandeia, se não desejas resvalar nos precipícios da estrada longa!...

O problema fundamental da redenção, meu amigo, não se resume a palavras fala-das ou escritas. É muito fácil pronunciar belos discursos e prestar excelentes infor-mações, guardando, embora, a cegueira nos próprios olhos.

Nossa necessidade básica é de luz própria, de esclarecimento íntimo, de auto-educação, de conversão substancial do “eu” ao Reino de Deus.

Podes falar maravilhosamente acerca da vida, argumentar com brilho sobre a fé,ensinar os valores da crença, comer o pão da consolação, exaltar a paz, recolher asflores do bem, aproveitar os frutos da generosidade alheia, conquistar a coroa efê-mera do louvor fácil, amontoar títulos diversos que te exornem a personalidade emtrânsito pelos vales do mundo...

Tudo isso, em verdade, pode fazer o espírito que se demora, indefinidamente, emcertos ângulos da estrada.

Todavia, avançar sem luz é impossível.

A

21Dezembro 2010 • Reformador 447755

Esf lorando o EvangelhoPelo Espírito Emmanuel

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ma jovem aprendiz de Es-piritismo, residente no in-terior de Minas Gerais, cujo

nome é L. G., muito interessada emestudar criteriosamente e observaros fatos da Doutrina dos Espíritos,escreveu-me interessante carta,em a qual duas perguntas inteli-gentes são expostas:

É lícito colocar uma pessoaobsidiada na mesa de sessões dedesobsessão a fim de desenvolvera mediunidade? Devemos desen-volver nossa mediunidade emsessões desse tipo?

Sinto grande atração pelo es-tudo do perispírito, mas conhe-ço pouco sobre ele. Ultimamente,porém, tenho ouvido dizer a algunsadeptos, que o perispírito, chegadoa certa altura morre, deixa deexistir. Como vem a ser isso?

Como vemos, são pergun-tas ingênuas, próprias dequem tateia indecisamentesobre um vastíssimo campode aprendizagem espírita, sem

orientação adequada para atinarcom o melhor caminho que levasseao ponto racional, concorde comas autênticas revelações que até omomento foram concedidas aoshomens através dos Espíritos supe-riores que presidiram a Codifica-ção de Allan Kardec, bem como deoutros emissários autênticos que,

posteriormente, as confirmaram.Nada certamente responderíamos,porque os códigos doutrinários aí

estão, claros, convidando ao estudoe à meditação, se não fora o ensejode auxiliar a uma menina de cora-ção simples realmente desejosa deacertar. Tentaremos, portanto, satis-fazer à gentil adepta de boa vontaderespondendo rigorosamente den-tro dos postulados da Doutrina dosEspíritos como da observação:

Nenhuma necessidade realmenteexiste de que um obsidiado se senteà mesa de sessão, a fim de desen-volver a própria mediunidade oucurar-se do seu mal. Um obsessornão poderá ser esclarecido atra-vés de um obsidiado, visto queeste, seriamente impregnado dasvibrações maléficas do adversário,não terá condições para tão im-

portante trabalho. Será necessáriotransportar o obsessor para um mé-dium bastante desenvolvido e bemassistido por seus Espíritos guias,pois as tarefas de desobsessão são

difíceis, melindrosas, requeremmédiuns fortes psiquica-

mente, por assim dizer, espe-cialistas nesse setor.

Em princípio, a mediuni-dade não precisa ser provocada,

arrancada, extraída em mesas dedesenvolvimento mediúnico. Nemobsidiados, nem os demais candi-datos ao desenvolvimento mediú-

O magno problema1

UYVO N N E A. PE R E I R A

22 Reformador • Dezembro 2010447766

1Artigo inédito da médium, assinadocom o pseudônimo Frederico Francisco,usado em suas produções para Reforma-dor. Yvonne A. Pereira, que nasceu em24/12/1900, completaria neste mês 110anos de existência.

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nico devem fazê-lo em faixas vi-bratórias inferiores, quando a lógi-ca e o bom senso aconselham odesenvolvimento na ocasião pró-pria, isto é, naturalmente, esponta-neamente, sem a insistência desca-bida. A observação tem demons-trado que é justamente essa pro-vocação indébita, sistemática que,muitas vezes, deturpa para semprea força mediúnica legítima, dandocausa ao chamado animismo, oupersonismo, ou seja, a que a mentedo próprio médium (subconsciên-cia) se expanda e dê uma comuni-cação como se fora uma entidadeestranha, o que é muito frequente.O melhor meio de desenvolver fa-culdades mediúnicas é o adeptodedicar-se primeiro ao estudo daDoutrina Espírita, a par do trabalhogeral do Bem e da Caridade, quermoral, quer material; procurarreformar-se moralmente quantopossível, combater os próprios ví-cios, se os tiver, pôr-se, enfim, emcondições de se tornar digno deinterpretar os ditados e lições dosprotetores espirituais, incumbidospor Deus de aconselhar e instruir aHumanidade, não esquecendo quea mediunidade é um dom de Deuse deve ser praticada santamente,com amor, respeito e humildade.

Assim sendo, o iniciante poderáaplicar passes no Centro Espíritaonde se inicia e, logo depois, foradele, desde que o ambiente ondefor solicitado seja capaz de coadju-vá-lo. Nesse período, poderá assistira sessões mediúnicas (não de de-sobsessão), sentando-se na segundacorrente. Logo que desabrochem osprimeiros sintomas da faculdade,

deverá sentar-se à mesa, com o quea mediunidade aflorará suavemente,protegida por influenciações equi-libradas e benfazejas, e o médiumestará garantido pela assistênciados protetores espirituais, semestar sacrificado pelas deploráveiscrises das sessões de desobsessão,ao mesmo tempo que evitará osproblemas do animismo. Esse tra-balho de passes, realizado sob atutela de Espíritos adiantados, de-sencadeará a mediunidade quenele existir.

Quanto a um obsidiado, de qual-quer natureza, não deverá desen-volver os dons mediúnicos, nem oseu obsessor deverá ser esclareci-do através dele próprio. Será ne-cessário curar-se primeiro, ser oobsessor transportado para outromédium bem desenvolvido e/ouesclarecido, aconselhado, benefi-ciado com as preces etc., pois aprópria prece bem sentida, since-ra tem poder para erradicar as ob-sessões morais simples, desde queo paciente queira colaborar para aprópria cura. O tratamento dequalquer obsessão será longo, pa-ciente, caridoso. Geralmente, co-mo ninguém ignora, só as pessoasrealmente portadoras de boa mo-ral e qualidades generosas têm as-cendência sobre obsessores, aopasso que o ambiente do Centroem que este trabalho seja realiza-do deverá ser protegido pelas me-lhores vibrações possíveis, jamaisprofanadas por quaisquer cir-cunstâncias negativas, conformetanto aconselham os excelentesprotetores espirituais que nos di-rigem e orientam.

A par de tudo isso, é bom nãoesquecer o estudo e a meditaçãosobre o Evangelho e esforçar-se, sin-ceramente, por praticá-lo diaria-mente. Para tornar-se um legítimointérprete dos mensageiros do Beme, mesmo, dos Espíritos ainda im-perfeitos e ignorantes, o médiumhá de renunciar a muitos hábitosprejudiciais a si próprio, furtan-do-se a certas atrações mundanasque nenhum benefício e sim pre-juízos morais e materiais lhe po-derão acarretar. Enfim, deverá vi-ver no mundo, atender aos seus de-veres profissionais e sociais, semse tornar escravo do mundo, oran-do e vigiando, a fim de não sucum-bir às tentações, que são frequen-tes e variadas. Recebemos das leisdivinas o dom da mediunidade,não porque tenhamos méritos pas-sados, mas para que os adquira-mos para o futuro. Convém que acaridade e a humildade sejam oapoio da mediunidade. Não exis-tirá, certamente, maior júbilo parao coração de um médium do queconseguir atrair a assistência de umprotetor espiritual, a fim de podercurar as dores físicas e morais dosseus irmãos de humanidade: sararuma obsessão, curar um doentegrave com os passes que aplicar –terapêutica celeste que o amor ins-pira – dar um conselho sensato queremova problemas aflitivos, enxu-gar as lágrimas de um coração demãe, de um filho que ficou só nestemundo, de um pai desgostoso comos erros de um filho sobre quemnutria as melhores esperanças. Todomédium deve se dedicar a esforçosperseverantes para esse trabalho

23Dezembro 2010 • Reformador 447777

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redentor que o Senhor aconselhae abençoa. Os versos e a literaturavirão, se possível, depois desses de-veres cumpridos. O único médiumque se sabe, até agora, que inicioua tarefa mediúnica com um magis-tral livro de versos brilhantes foiChico Xavier. Mas isso é muito raro,pois trata-se de uma especialidadedos médiuns psicógrafos.

Uma de minhas amigas2 de mo-cidade, companheira de trabalhosespíritas, médium esforçada quese ofereceu incondicionalmenteaos trabalhos do Bem, costumavadizer que não foi a literatura espí-rita, que ela produziu, que edificoua sua alma e lhe proporcionou osúnicos dias de felicidade nestemundo, mas, sim, as curas que,como médium, pôde realizar sobo amparo de seus guias espirituais,que a assistiram durante a vidainteira. Sua faculdade mediúnicabrotou em seu ser desde a infância,jamais sentou-se a uma mesa desessões para desenvolvimento me-diúnico, apenas preparou-se, es-tudando a Doutrina Espírita e oEvangelho, a fim de inteirar-se daresponsabilidade de um médiume aprender a prática do Bem.

Grandes belezas espirituais po-deremos contemplar, se assim nosdedicarmos. Lembro-me de que,certa vez, pelo ano de 1957, assistia um belíssimo trabalho de passesno Centro Espírita Luís Gonzaga, nacidade mineira de Pedro Leopoldo.A mesma amiga acima indicada,

de visita ao Centro, fora convidadaa auxiliar no trabalho de passes,dado que era “passista” e videntede grande vigor. Naquele núcleo,as condições assistenciais-espirituaiseram das mais eficientes possíveis.Enquanto Chico Xavier, no salão,atendia ao receituário e às mensa-gens para os necessitados que assolicitavam, realizava-se o atendi-mento de passes num recinto es-pecial para o feito, sob a presidên-cia do irmão José de Paula, entãodiretor da referida sessão, em queminha amiga colaborava.

Em dado momento, entrou norecinto uma jovem senhora em gri-tos e atropelos, acompanhada doesposo e de sua mãe. Imediatamenteadmitida na câmara de passes, foiassistida, cabendo a essa amigaaplicar o passe. No instante em quea descarga magnética a atingiu, apaciente soltou um grito e tombou,atordoada, sobre as cadeiras emfila para uso dos pacientes. Este gritoporém, fora emitido pelo obsessore não, propriamente, pela paciente.No mesmo momento, transporta-do para o médium de plantão, foio comunicante atendido por umauxiliar, enquanto a jovem era fa-cilmente despertada. Após atendi-mento enérgico, mas caridoso,amoroso, foi o obsessor retiradopor duas entidades assistenciais edesapareceu. Uma vez terminadaa operação, a minha amiga, pode-rosa vidente, que captara toda acena ali desenrolada, explicou aoesposo e à mãe da paciente:

“Era o Espírito de um homemalto e magro, de bigodes estirados

atingindo as faces, chapéu comabas largas, próprio para o campo,camisa social branca cuja mangaesquerda pendia, desabotoada nopunho; calças de brim ordináriopreto com listinhas brancas ondu-ladas; botas, esporas, um chicote namão direita, dobrado, tipo ‘rabo detatu’ e uma faixa branca cobrindoa fronte esquerda e o olho, man-chada de sangue”. E tudo isso na-turalmente colocado.

– É o avô dela! exclamaram, aum só tempo, a mãe e o esposo.

– Ele nunca gostou dela, desde ainfância! Era delegado de polícia,vivia a cavalo, rondando a cidadeonde residia e, quando encontra-va algo que o contrariasse, metia ochicote nos circunstantes. Devidoa isso deram-lhe uma foiçada nafronte que lhe cegou o olho es-querdo, ferimento que jamais cica-trizou e que o levou a morrer.

À paciente foi recomendado quepedisse uma receita a Chico Xavier,o que foi feito na hora; que fre-quentasse reuniões de estudo dou-trinário duas vezes por semana erecebesse passes nessas ocasiões,e aprendesse a orar e perdoar.

Como vemos, os mais belos tra-balhos espirituais, de qualquer na-tureza, podemos obter num CentroEspírita bem dirigido, com mé-diuns conhecedores do própriodever e fervorosamente dedicadosao Consolador, o qual nos permi-tirá poderosa assistência espiri-tual, se envidarmos esforços porsermos dignos dela.

Quanto ao perispírito, estuda-remos posteriormente, se Deuspermitir.

2Sua referência a uma amiga, tambémmédium, é um relato de sua própriaexperiência.

24 Reformador • Dezembro 2010447788

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busca pelo Reino de Deusvem esgotando as energiashumanas há séculos. Não

porque pareça impossível empre-ender essa tarefa, mas devido aoresultado dessa empreitada. Oque acreditávamos ser o corretodemonstrou quanto a Humanida-de errou para entender que os es-forços do passado em buscar oReino Divino apenas nos afasta-ram da essência do amor do Paipara com todos nós.

Em todas as épocas, os homensbuscaram Deus nos sacrifíciosextremos da carne, na adoraçãodos bezerros de ouro, na lei mo-saica, nos ensinamentos de Mao-mé, na idolatria à letra dos fari-seus, nas filosofias orientais, nomartírio dos cristãos primitivos,na intolerância da Idade Média, naReforma Protestante, no Iluminis-mo, na Codificação Espírita, noscultos africanos, no advento das

diversas correntes das igrejas sal-vacionistas, enfim, fora de suaconsciência.

Apesar dessa busca, a maioriados seres humanos não se senteplena de Deus, mesmo com todaprática exterior da fé. Isso se deveao pouco entendimento sobre oque de fato é o Reino de Deus.

As inúmeras tentativas que ohomem empreendeu para encon-trar o Reino de Deus fora da cons-ciência resultaram em aberraçõesinjustificáveis, apesar das explica-ções dos intolerantes de toda ordem.As perseguições aos cristãos, a in-tolerância religiosa, as guerras queforam iniciadas sob supostas or-dens divinas, nada disso foi capazde apresentar-nos o referido Reino.Com isso, o objetivo de buscá-lofora de si apenas escravizou o serhumano aos medos e à culpa.

Mas vivemos outros tempos,novas oportunidades para a velha

Humanidade que deseja renovar--se em atitudes libertadoras. Jáfomos à Lua, agora falta-nos mer-gulhar em nossa consciência eencontrar Deus em nós. Atravessa-mos distâncias siderais e desen-volvemos teorias fabulosas so-bre a Criação. Resta-nos enten-der a nós mesmos, vencendo o“homem velho” que ainda moradentro de nós.

Como avançamos na Ciência ena Tecnologia, também podemosavançar nos sentimentos, nas rela-ções humanas, sem preconceitos,sem intolerância, sem rivalidades.Se a nossa inteligência foi capazde nos conduzir até aqui, apesar detantas decisões moralmente equi-vocadas e revoltantes, a nossaconsciência, livre dos atavismosdo passado, vai nos mostrar queDeus sempre esteve e estará den-tro de nós, com seu Reino inter-minável de amor.

MA RC O S AL E N C A R

A consciência deDeus em nós

A

25Dezembro 2010 • Reformador 447799

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Natal é comemorado nodia 25 de dezembro porquea data foi retirada de uma

festa pagã muito popular existentena Roma antiga, e que fora oficiali-zada pelo imperador Aureliano em274 d. C. A finalidade da festa erahomenagear o deus sol Natalis SolisInvicti (Nascimento do Sol Invicto)– considerado a primeira divindadedo império romano – e festejar oinício do solstício de inverno. Como triunfo do Cristianismo, séculosdepois, a data foi utilizada pela igre-ja de Roma para comemorar o nas-cimento do Cristo (que, efetiva-mente, não ocorreu em 25 de de-zembro), considerado, desde então,como o verdadeiro “sol” de justiça.

Com o passar do tempo, hábitose costumes de diferentes culturas fo-ram incorporados ao Natal, impreg-

nando-o de simbolismo: a árvorenatalina, por exemplo, é contribui-ção alemã, instituída no século XVI,com o intuito de reverenciar a vida,sobretudo no que diz respeito aospinheiros, que conservam a folha-gem verde no inverno; o presépiofoi ideia de Francisco de Assis, noséculo XIII. As bolas e estrelas queenfeitam a árvore de Natal represen-tam as primitivas pedras, maçãs ououtros elementos com que no pas-sado se adornavam o carvalho, pre-cursor da atual árvore de Natal.Antes de serem substituídas porlâmpadas elétricas coloridas, as velaseram enfeites comuns nas árvores,como um sinal de purificação, e aschamas acesas no dia 25 de dezem-bro são uma referência ao Cristo,entendido como a luz do mundo.A estrela que se coloca no topo da

árvore é para recordar a que surgiuem Belém por ocasião do nasci-mento de Jesus. Os cartões de Natalapareceram pela primeira vez na In-glaterra, em meados do século XIX.

Os espíritas veem o Natal soboutra ótica, que vai além da troca depresentes e a realização do banque-te natalino, atividades típicas do dia.Já compreendem a importância de

renunciar às comemorações na-

talinas que traduzam excessos de

qualquer ordem, preferindo a

alegria da ajuda fraterna aos ir-

mãos menos felizes, como lou-

vor ideal ao Sublime Natalício.

Os verdadeiros amigos do Cristo

reverenciam-no em espírito.2

A despeito do relevante significadoque envolve o nascimento e a vida

O

Em dia com o Espiritismo

MA RTA AN T U N E S MO U R A

O significado do

“Eis que vos trago boas-novas de grande alegria, que será de todo o povo,porque nasceu para vós, hoje, um salvador, que é o Cristo Senhor, na cidade

de Davi.” (Lucas, 2:10-11.)1

os espíritasdo Natal para

26 Reformador • Dezembro 2010448800

Capa

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do Cristo e sua mensagem evangé-lica, sabemos que muitos represen-tantes da cristandade agem comocristãos sem o Cristo, porque viven-ciam um Cristianismo de aparência.Neste sentido, afirmava o EspíritoOlavo Bilac que “ser cristão é ser luzao mundo amargo e aflito, pelo domde servir à Humanidade inteira”.3

Chegará a época,contudo,em queJesus, o guia e modelo da Huma-nidade terrestre,4 será reverenciadoem espírito e verdade; Ele deixará deser visto como uma personalidademítica, distante do homem comum;ou mero símbolo religioso que maisse assemelha a uma peça de museu,esquecida em um canto qualquer,empoeirada pelo tempo. Não pode-mos, contudo, perder a esperança.Tudo tem seu tempo para aconte-cer. No momento preciso, quandose operar a devida renovação espiri-tual da Humanidade, indivíduos ecoletividades compreenderão que

[...] Jesus representa o tipo da

perfeição moral a que a Huma-

nidade pode aspirar na Terra.

Deus no-lo oferece como o mais

perfeito modelo, e a doutri-

na que ensinou é a mais

pura expressão de

sua lei [...].5

Distanciado dos simbolismos edos rituais religiosos, o espíritaconsciente procura festejar o Na-tal todos os dias, expressando-secom fraternidade e amor ao pró-ximo. Admite, igualmente, que

[...] a Doutrina Espírita nos re-

conduz ao Evangelho em sua pri-

mitiva simplicidade, porquanto

somente assim compreendere-

mos, ante a imensa evolução

científica do homem terrestre,

que o Cristo é o sol moral do

mundo, a brilhar hoje, como bri-

lhava ontem, para brilhar mais

intensamente amanhã.6

Perante as alegrias das comemo-rações do Natal, destacamos trêslições ensinadas pelos orientado-res espirituais, entre tantas outras.Primeira, o significado da Manje-doura, como assinala Emmanuel:

As comemorações do Natal

conduzem-nos o entendimento

à eterna lição de humildade de

Jesus, no momento preciso em

que a sua mensagem de amor

felicitou o coração das criatu-

ras, fazendo-nos sentir, ainda, o

sabor de atualidade dos seus di-

vinos ensinamentos.

A Manjedoura foi o Caminho.

A exemplificação era a Verdade.

O Calvário constituía a Vida.

Sem o Caminho, o homem terres-

tre não atingirá os tesouros da

Verdade e da Vida.7

Segunda, a inadiável (e urgente)necessidade de nos aproximarmosmais do Cristo, de forma que o seuEvangelho se reflita, efetivamente,em nossos pensamentos, palavras eatos. Para a nossa paz de espíritonão é mais conveniente sermoscristãos ou espíritas “faz de conta”.

[...]

Comentando o Natal, assevera

Lucas que o Cristo é a Luz para

alumiar as nações.8

Não chegou impondo normas

ou pensamento religioso.

27Dezembro 2010 • Reformador 448811

Capa

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Não interpelou governantes e go-

vernados sobre processos políticos.

Não disputou com os filósofos

quanto às origens dos homens.

Não concorreu com os cientistas

na demonstração de aspectos par-

ciais e transitórios da vida.

Fez luz no Espírito eterno.

Embora tivesse o ministério en-

dereçado aos povos do mundo,

não marcou a sua presença com

expressões coletivas de poder,

quais exército e sacerdócio, ar-

mamentos e tribunais.

Trouxe claridade para todos,

projetando-a de si mesmo.

Revelou a grandeza do serviço

à coletividade, por intermédio

da consagração pessoal ao Bem

Infinito.

Nas reminiscências do Natal do

Senhor, meu amigo, medita no

próprio roteiro.

Tens suficiente luz para a marcha?

Que espécie de claridade acen-

des no caminho?

Foge ao brilho fatal dos curtos-

-circuitos da cólera, não te con-

tentes com a lanterninha da vai-

dade que imita o pirilampo em

voo baixo, dentro da noite, apaga

a labareda do ciúme e da discór-

dia que atira corações aos preci-

pícios do crime e do sofrimento.

Se procuras o Mestre divino e a

experiência cristã, lembra-te de

que na Terra há clarões que amea-

çam, perturbam, confundem e

anunciam arrasamento...

Estarás realmente cooperando

com o Cristo, na extinção das

trevas, acendendo em ti mesmo

aquela sublime luz para alumiar?9

Por último é muito importanteaprendermos a ser gratos a Jesuspelas inúmeras bênçãos que Ele nosconcede cotidianamente, em nomedo Pai, como a família, os amigos, aprofissão honesta, a vivência espíritaetc., sabendo compartilhá-las com opróximo, como aconselha Meimei:

Recolhes as melodias do Natal,

guardando o pensamento en-

grinaldado pela ternura de har-

moniosa canção...

Percebes que o Céu te chama a

partilhar os júbilos da exalta-

ção do Senhor nas sombras do

mundo.

[...]

Louva as doações divinas que te

felicitam a existência, mas não

te esqueças de que o Natal é o

Céu que se reparte com a Terra,

pelo eterno amor que se derra-

mou das estrelas.

Agradece o dom inefável da paz

que volta, de novo, enriquecen-

do-te a vida, mas divide a pró-

pria felicidade, realizando, em

nome do Senhor, a alegria de

alguém!...10

Referências:1DUTRA, Haroldo D. O novo testamento.

(Tradutor). Brasília: EDICEI, 2010. p. 258.2VIEIRA, Waldo. Conduta espírita. Pelo

Espírito André Luiz. 31. ed. 3. reimp. Rio

de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 47, p. 154.3XAVIER, Francisco C. Antologia mediúni-

ca do natal. Espíritos diversos. 6. ed. Rio

de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 76, p. 201.4KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.

Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio

de Janeiro: FEB, 2010. Q. 625.5______. ______. Comentário de Kardec à

q. 625.6XAVIER, Francisco C. Religião dos espíri-

tos. Pelo Espírito Emmanuel. 21. ed. 2.

reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. Je-

sus e atualidade, p. 296.7______. Antologia mediúnica do natal.

Espíritos diversos. 6. ed. Rio de Janeiro:

FEB, 2009. Cap. 21, p. 57.8LUCAS, 2:32.9XAVIER, Francisco C. Antologia mediú-

nica do natal. Espíritos diversos. 6. ed.

Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 4.10______. ______. Cap. 29, p. 73-74.

28 Reformador • Dezembro 2010 448822

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a etapa significativa denossos tempos de transi-ção para uma Nova Era, o

Espiritismo tem um papel a exer-cer como “Consolador Prome-tido”.

A disseminação dos princípiosemanados da Doutrina Espírita énecessária para que a mensagemde esclarecimento, consolo e espe-rança se faça presente junto àspessoas. Realmente, é o momentode se concretizarem as belas eprofundas assertivas contidas nocapítulo VI de O Evangelho segun-do o Espiritismo – O Cristo Con-solador!

Em O Livro dos Espíritos há al-gumas questões que delineiamessa tarefa:

O Espiritismo se tornará crençageral, ou continuará sendo profes-sado apenas por algumas pessoas?

“Certamente ele se tornarácrença geral e marcará uma NovaEra na História da Humanidade,

porque está na Natureza e chegouo tempo em que ocupará lugarentre os conhecimentos huma-nos. Entretanto, terá que sustentargrandes lutas, mais contra os inte-resses, do que contra a convicção[...].”1

Comentário de Kardec:

“[...] Sua marcha, porém, serámais rápida que a do Cristianis-mo, porque é o próprio Cristia-nismo que lhe abre o caminho eserve de apoio. [...]”.1

O Codificador deixa muitoclara a tarefa do Espiritismo naquestão:

De que maneira o Espiritismopode contribuir para o progresso?

“Destruindo o materialismo,que é uma das chagas da socieda-de, o Espiritismo pode fazer comque os homens compreendamonde estão seus verdadeiros inte-resses. Como a vida futura nãomais estará velada pela dúvida, ohomem perceberá melhor quepode garantir seu futuro por meiodo presente. Destruindo os pre-

conceitos de seitas, castas e cores, oEspiritismo ensina aos homens a grande solidariedade que os háde unir como irmãos.”2

O tema é tratado de formaesclarecedora por Allan Kardecem A Gênese, com a seguinte assertiva:

“O Espiritismo não cria a reno-vação social; a madureza da Hu-manidade é que fará dessa reno-vação uma necessidade. Pelo seupoder moralizador, por suas ten-dências progressistas, pela ampli-tude de suas vistas, pela generali-dade das questões que abrange, oEspiritismo, mais do que qual-quer outra doutrina, está apto asecundar o movimento regenera-dor; por isso, ele é contemporâ-neo desse movimento. Surgiu nomomento em que podia ser útil,visto que também para ele ostempos são chegados. [...]”.3

Dentro da visão sobre a NovaEra, comentou Emmanuel numadas primeiras obras psicografadaspor Chico Xavier, em A Caminhoda Luz: “[...] todos os Espíritos de

N

A transição e o papeldo Espiritismo*

*N. da R.: Terceiro de uma série de trêsartigos, sobre a mesma temática, elabora-do pela equipe da Secretaria-Geral doConselho Federativo Nacional da FEB.

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boa vontade poderiam trabalharpelo advento da paz e da fraterni-dade do futuro humano, e foi porisso que, laborando para os séculosporvindouros, definiram o papelde cada região no continente [...]”,e localiza ainda “seu coração nasextensões da terra farta e acolhe-dora onde floresce o Brasil, naAmérica do Sul”.4 Este assunto édesenvolvido pelo Espírito Hum-berto de Campos na obra espe-cífica que é Brasil, Coração doMundo, Pátria do Evangelho.

Divaldo Pereira Francotem sido intermediáriomediúnico para diver-sas manifestações so-bre o tema. O EspíritoJoanna de Ângelis esclarece:

“O indivíduo, que se renovamoralmente, contribui de formasegura para as alterações que sevêm operando no planeta. Não énecessário que o turbilhão dossofrimentos gerais o sensibilize,a fim de que possa contribuireficazmente com os Espíritos queoperam em favor da grande tran-sição”.5

No conjunto das obras citadas,fica claro que a questão humanís-tica e espiritual é de fundamentalimportância para a aurora daNova Era, como destaca Emma-nuel em O Consolador:

“Como entender o trabalho depurificação nos ambientes domundo?

[...] Todos os Espíritos encar-nados, porém, devem considerar

que se encontram no planeta co-mo em poderoso cadinho de acri-solamento e regeneração, sendoindispensável cultivar a flor da ilu-minação íntima, na angústia da vi-da humana, no círculo da famíliaou da comunidade social, atravésda maior severidade para consigomesmo e da maior tolerância comos outros [...]”.6

A propósito do planejamento edas etapas de cumprimento paraa transição para uma Nova Era,torna-se sugestiva a leitura e a refle-xão sobre a parábola do “Festimdas Bodas” (Mateus, 22: 1-14).7

Reflexões e recomendações

Com base nos textos citados aolongo deste e de dois outros arti-gos, anteriormente publicados emReformador, apresentamos algu-

mas contribuições para as refle-xões em torno de algumas açõesviáveis como papel do Espiritis-mo na fase de transição para aNova Era e que podem ser enten-didas como recomendações aoMovimento Espírita e aos espíri-tas em geral:

• Implementar a ampla difusãodos princípios da DoutrinaEspírita;

• Estimular a união dos espí-ritas e a unificação do Movi-mento Espírita como uma fa-

mília, base propiciadoraà difusão do Espiritismoe à prática da solida-

riedade;• Divulgar as obras básicas

e as que sejam coerentes coma Codificação Espírita, comorecomendações para leiturase estudos;

• Evitar a divulgação de infor-mações e de literaturas catas-tróficas que destaquem fatosnegativos;

• Pautar as ações espíritas –estudo, divulgação e prática –com base no ensino moral doCristo;

• Manter em constante exe-cução as Campanhas Em Defe-sa da Vida, Viver em Família,Construamos a Paz Promo-vendo o Bem!, “O Evangelhono Lar e no Coração”, e Di-vulgação do Espiritismo;

• Estimular a realização decampanhas de esclarecimen-to sobre a visão espírita comrelação à preservação domeio ambiente;

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• Estimular e orientar açõesde parcerias, em casos deacidentes e tragédias, com aconcretização da solidarie-dade e da fraternidade;

• Estimular ações de convivên-cia fraterna e de parceria,quando há objetivos comuns,com as diversas agremiaçõesreligiosas;

• Estimular a reforma e a ilu-minação íntima, bem como oexercício da serenidade.

“Vinde a mim, todos vós queestais aflitos e sobrecarregados,que eu vos aliviarei. Tomai sobre vóso meu jugo e aprendei comigo quesou brando e humilde de coração eachareis repouso para vossas almas,pois é suave o meu jugo e leve omeu fardo. (Mateus, 11:28-30.)”8

Referências:1KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.

Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de

Janeiro: FEB, 2010. Q. 798.2______. ______. Q. 799.3______. A gênese. Trad. Evandro Noleto

Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap.

18, item 25.

4XAVIER, Francisco C. A caminho da luz.

Pelo Espírito Emmanuel. 37. ed. 1. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 20, item

Missão da América, p. 207.5FRANCO, Divaldo P. Jesus e vida. Pelo

Espírito Joanna de Ângelis. Salvador:

LEAL. Cap. A grande transição.6XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo

Espírito Emmanuel. 28. ed. 3. reimp. Rio

de Janeiro: FEB, 2010. Q. 229. 7KARDEC, Allan. O evangelho segun-

do o espiritismo. Trad. Evandro No-

leto Bezerra. 1. reimp. (atualizada).

Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 18,

itens 1-2. 8______. ______. Cap. 6, item 1.

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Retorno à Pátria Espiritual

Desencarnou no Rio de Janei-ro, às 2h do dia 11 de novembrode 2010, no Hospital Nortecor,com 68 anos, nosso companheiroAmaury Alves da Silva, diretorda FEB que, durante 8 anos con-secutivos, de 1999 a 2007, exer-ceu o cargo de gerente de Re-formador, além de haver servido,nos últimos 3 anos, ao setor deAtendimento Fraterno, em fun-cionamento na Sede Seccional doRio de Janeiro.

O sepultamento foi realizadoàs 16h no Cemitério São Fran-

cisco Xavier, no bairro do Caju,havendo comparecido ao velóriodiretores, colaboradores e fun-cionários da FEB. Após as ex-pressões emocionadas de sua es-posa, Maria Alves da Silva, o con-frade Jorge Camacho, da UniãoEspírita Paulo, Dimas e Mada-lena, sediada no bairro carioca deBangu, proferiu sentida preceem favor do Amaury, a quem sesentia ligado por estreitíssimoslaços de fraternidade.

Ao irmão Amaury, em seuretorno à Pátria Espiritual, ro-gamos as bênçãos de Jesus!

Amaury Alves da Silva

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á alguns meses, recebemos de nossa amiga, irmãna fé espírita e coidealista no esperanto, MariaNazaré de Carvalho Laroca, de Juiz de Fora

(MG), um acróstico em homenagem a Bezerra deMenezes, fruto de imensa gratidãopelos favores celestes que sederramaram sobre sua vida,trazidos por aquele ve-nerando Espírito.

Sensibilizado peloteor simples, masprofundo, da peça,procuramos vesti-lacom a roupagem do es-peranto, de alguma for-ma nos associando à ho-menagem de nossa ami-ga, pois de Bezerra de Me-nezes, por intermédio das fa-culdades mediúnicas de YvonneA. Pereira,1 os esperantistas,espíritas e não-espíritas, rece-beram substancioso alentopara divulgação e utilizaçãoda genial criação de Lázaro LuísZamenhof.

E agora, após criteriosa revisão daautora, tanto no próprio original em portu-

guês, como na versão em esperanto, apresentamoso acróstico ao leitor.

Cremos, entretanto, necessárias algumas pou-cas palavras a respeito de nossa amiga.

Nazaré, como é carinhosamente tra-tada por todos, nasceu em berço espí-

rita, em Juiz de Fora, dedicando-seao estudo, prática e difusão daDoutrina desde a juventude.

Seu acentuado pendor paraos estudos linguísticos a fezmestra nesse campo do co-nhecimento e a conduziu

ao esperanto, exatamen-te em 1o de janeiro de2003, quando, ao des-pertar, ouviu, em seuíntimo, uma poderosaexortação, certamenteoriunda de esferasespirituais:

“– Nazaré, vocêtem que estudar o es-

peranto!”

Sem hesitar, dedicou-se aoensino e à divulgação do idioma, o que

se tornou o objetivo principal de sua vida.Nazaré é poetisa, escritora, professora aposentada da

Universidade Federal de Juiz de Fora e professora titu-lar do Curso de Letras do Centro de Ensino Superior

A Bezerra de Menezes,em esperanto...

HAF F O N S O SOA R E S

1PEREIRA, Yvonne A. A tragédia de Santa Maria. Pelo EspíritoBezerra de Menezes. 2. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.P. 1, cap. Amor de outra vida...

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A FEB e o Esperanto

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daquela cidade. Seu imenso amor pelo esperantolevou-a a fazer um Curso de Doutorado em EstudosLinguísticos na Universidade Federal Fluminense,em Niterói (RJ), ali defendendo a tese “O caráterverbo-nominal do aspecto em Esperanto”.

A seguir, o acróstico, em português e na sua versãoem esperanto:

A Bezerra de Menezes

B enfazejo emissário da bondade,E spírito de escol, alma sublime,Z elando sempre pelos desvalidos,E xerce a caridade com fervor!R ara estrela a fulgir com humildade,R enúncia é seu nome abençoado,A bnegado Irmão de todos nós...

D edicado servidor de Jesus,E xemplo maior de ação no bem!

M aria o chamou para as Alturas:E nvia-lhe Celina, a emissária...N enhuma glória, todavia, quis;E le suplica prosseguir a obra,Z eloso do dever com os sofredores,E enobrece o trabalho mais humildeS alvando almas com paterno amor.

(Maria Nazaré de Carvalho Laroca – Juiz de Fora,16/7/2010.)

Al Bezerra de Menezes

B onfara kurier’ de l’ Karitato,E minenta Spirit’, anim’ sublima,Z organte sen/ese pri l’ forlasitoj,E n la Bono servadas kun fervor’!R ara stelo brilanta plej humile,R ezigno – jen benata lia nomo,A bnegacia Frat’ al /iuj homoj...

D edi/ata servanto de Jesuo,E kzemplo plejalta de bonagado!

M aria vokis lin al la Plejsupro:E stis Celina la invit-portanto...N enian gloron tamen li deziris;E n la mond’ plu servadi li petegas,Z orga pri la flegad’ al suferantoj,E l simpla labor’ faras li misianS avon de homoj kun patreca amo.

(Tradução de Affonso Soares e Maria Nazaré deCarvalho Laroca.)

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Lembre-se de que o mal não merece

comentário em tempo algum.

Nas conversações

Dum la konversacioj

André Luiz

Fonte: XAVIER, Francisco C. Agenda cristã. (Kristana agendo).Cap. 9.

Memoru, ke la malbononeniam meritas komentarion.

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Informações gerais

Durante o evento, a FederaçãoEspírita Espanhola promoveu a1a Feira do Livro Espírita da Espa-nha e montou uma Exposição dosPioneiros Espíritas Espanhóis. AEDICEI lançou dezenas de livrosem vários idiomas, principalmen-te os psicografados por Chico Xa-vier, e a obra Las Vidas Pasadas delos Niños de autoria da pesquisa-dora americana Carol Bowman.Houve 1.807 inscritos, oriundosde 35 países: Alemanha, Angola,Argentina, Austrália, Áustria, Bél-gica, Bielorrússia, Brasil, Canadá,Chile, Colômbia, Cuba, Espanha,Estados Unidos, Finlândia, Fran-ça, Guatemala, Holanda, Hondu-ras, Hungria, Itália, Japão, Luxem-burgo, México, Noruega, Panamá,Paraguai, Peru, Polônia, Porto Ri-co, Portugal, Reino Unido, Suécia,Suíça e Uruguai. Eis os países commaior número de participantes: 1)Espanha – 773; 2) Brasil – 693; 3)Portugal – 67; 4) Estados Unidos –60; 5) Suíça – 26; 6) França – 20;7) Colômbia, Suécia, Reino Unido– com 15 cada; 8) Itália – 14; 9)Alemanha – 13; 10) Bélgica – 10.

A TVCEI <www.tvcei.com.br>transmitiu ao vivo todo o evento,tendo registrado 13.044 acessosde 603 cidades, de 52 países, prin-cipalmente do Brasil, Espanha,Portugal, Estados Unidos, Colôm-bia, Alemanha, Argentina e Gua-temala. A Federação Espírita Es-panhola foi entrevistada pelos pe-riódicos: El País, El Mundo, Pron-to, Periódico Información, Levante,e Revista Más Allá.

Programação

O evento foi iniciado com apre-sentações eruditas por artistas locais

e por Enrique Baldovino, este exe-cutando peças de Mozart, compa-rando os estilos de encarnado e deEspírito.1 Ocorreram saudaçõesdo presidente da Federação Espí-rita Espanhola, Salvador Martín,e do secretário-geral do CEI, NestorJoão Masotti, seguindo-se pales-tra de Divaldo Pereira Franco,subordinada ao tema central doevento “Somos Espíritos Imortais”.

6o Congresso Espírita Mundial

Nos dias 10, 11 e 12 de outubro foi realizado o 6o Congresso Espírita Mundial, promovido pelo Conselho Espírita Internacional, no recinto da

Feira de Valencia, em Valencia (Espanha)

1KARDEC, Allan. Música de além-túmu-lo. In: Revista espírita: jornal de estudospsicológicos, ano 2, p. 186-191, mar. 1859.Trad. Evandro Noleto Bezerra. 3. ed. 2.reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009.

Mesa de abertura do 6º Congresso Espírita Mundial

foi um marco na Espanha

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A Mesa foi composta pela Comis-são Executiva do CEI que, além deSalvador e de Nestor, foi integradapor Antonio Cesar Perri de Car-valho, Charles Kempf, Edwin Bra-vo Marroquin, Elsa Rossi, FabioVillarraga, Jean-Paul Évrard, Ri-cardo Lequerica e Olof Bergman.

O evento contou com as se-guintes palestras: Charles Kempf(Que é Deus), Juan Miguel Fer-nández (Comprovações da Exis-tência e da Imortalidade da Al-ma), Carol Bowman (EvidênciasCientíficas da Reencarnação), Jor-ge Berrio Bustillo (A Cons-trução da Paz à Luz daImortalidade doEspírito), SérgioFelipe de Olivei-ra (Médiuns eMediunidade),Alfredo Tabueña(Lei de Causa eEfeito segundo oEspiritismo), FabioVillarraga (Espiritis-mo: Fonte de Escla-recimento e ConsoloEspiritual), Maria dela Gracia de Ender(A Caridade na Visão Espírita),Vanessa Anseloni (Allan Kardec –Fundamentos da Filosofia Espírita),Jean-Paul Évrard (As Leis Morais),

Carlos R. Campetti(Educação do Es-pírito), EdwinBravo Marro-quin (Naturezae Espiritismo).O “Centenário deChico Xavier” foidestaque nas abor-dagens do Congres-so. Ocorreram aspalestras sobre“Contribuições desua Obra Psicográfica”: MarleneSeverino Nobre (Exemplo de Vida)

e Antonio Cesar Perri deCarvalho (Impacto da

Obra no Mundo).Houve apresen-

tação artísticade Ana Ariel, aexibição espe-cial do filmeNosso Lar, e o

trailer do filme Ea Vida Continua...,

seguindo-se algunscomentários pelosdiretores Paulo Fi-gueiredo e OceanoVieira de Melo. Este

novo filme tem o apoio da FEB eserá lançado no ano de 2011.

Após três dias de programaçãointensa, encerra-se, por volta das

14 horas do dia12 de outubro,o 6o CongressoEspírita Mun-dial, com pa-lestra de José

Raul Teixeira. AMesa foi integra-

da pela ComissãoExecutiva do CEI.Ao final, manifes-tações de agradeci-mento do secretá-

rio-geral do CEI, Nestor JoãoMasotti, do presidente da Fede-ração Espírita Espanhola, Salva-dor Martín e de Joaquín Huete,como coordenador da comissãoexecutiva do Congresso.

Na prece final, Divaldo PereiraFranco transmitiu, em espanhol,a seguinte mensagem psicofônicado Espírito José María FernándezColavida.

Mensagem aosCongressistas

“Mestre Jesus,

No momento do encerramentodo 6o Congresso Espírita Mundial,desejamos agradecer-te por todasas bênçãos com que nos honraste;agradecer-te o bem, as oportuni-

Salvador Martín,presidente da Federação

Espírita Espanhola

Nestor João Masotti,secretário-geral do CEI

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Aspecto parcial do público

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dades ditosas, o estudo da Doutri-na Espírita, as reflexões profundasa respeito da verdade e o momentode Convivência Espiritual Inter-nacional, e também agradecer-tepelo mal que não logrou pertur-bar-nos, porquanto administrasteas tarefas da Divulgação do Con-solador não somente em terras es-panholas, como em diferentesquadrantes do mundo.

Mestre Incomparável, propicia--nos prosseguir neste labor, que aschamas terrestres não logramdestruir, porque é a ClaridadeDivina do teu Evangelho restau-rado pelos Espíritos. Faculta-nos

prosseguir no intercâm-bio saudável em que asfronteiras entre as duas

vibrações – material e espiritual –desapareçam, e que nesta nova horaque já se vive no planeta, os espi-ritistas saibamos demonstrar, comoos Cristãos Primitivos, a excelênciados teus Ensinos.

Tu, que nos propiciaste estestrês dias de convivência espiritualsuperior, alarga-nos os horizontespara que prossigamos indefinida-mente até que se instale no plane-ta terrestre o reino de amor queiniciaste há dois mil anos.

Por mais que tentemos agrade-cer-te, não saímos do lugar co-mum das palavras e por isso noscomprometemos a viver real-mente o Significado Profundodos teus Ensinos para que todossaibam que pertencemos à tua fa-mília, e, conquanto as diferençasopinativas, somos as ovelhas doteu rebanho; que cada um retorne

a seus lares, províncias, países, le-vando não somente a alegria, oaplauso, a satisfação de aqui haverestado, mas, principalmente oCompromisso de servir ao Espi-ritismo, antes que do Espiritismoservir-se para projetar-se. Que aNova Era seja caracterizada pelalídima fraternidade e pela cons-trução de um mundo melhor.

Nós outros, os Espíritos queparticipamos do Movimento Es-pírita da Espanha, e vós outros,com vossos guias espirituais queconosco confraternizam, vosabraçamos com infinita ternurae rendemos graças a Deus, o PaiCeleste.

Abraça-vos, José María Colavi-da,2 desejando muita paz a todos.”

(Mensagem psicofônica recebida pelo mé-

dium Divaldo Pereira Franco, em 12/10/2010,

durante a prece de encerramento do 6o

Congresso Espírita Mundial. Tradução do

espanhol para o português por Enrique e

Regina Baldovino.)

Palestra de Divaldo Pereira Franco

Encerramento e agradecimento de Joaquín Huete

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2José María Fernández Colavida (1819-1888)nasceu em Tortosa (Tarragona, Espanha);foi o primeiro tradutor para o espanholdas obras de Allan Kardec, sendo conhe-cido como “o Kardec espanhol”. Foi fun-dador da Revista de Estudios Psicológicosde Barcelona, em 1869, sendo o seu dire-tor e redator durante 20 anos. Tambémfoi Presidente de Honra do 1o CongressoEspírita Internacional, em Barcelona, noano de 1888.

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raro, hoje, encontrar CasaEspírita que não possua emsuas dependências uma li-

vraria. Mesmo as casas de menortamanho têm, em sua maioria, aomenos um espaço dedicado ao li-vro. Consideramos extremamentepositivo tal cenário pois, comotodos sabemos, o caráter da reve-lação espírita é primordialmenteliterário, tendo sido a própria Co-dificação um conjunto de livros,secundado, é claro, por obras sub-sidiárias do próprio Kardec e pelaRevista Espírita. Não diminuímos,com isso, em nenhum aspecto osoutros meios de divulgação dou-trinária, como as palestras, e mui-to menos perdemos de vista o ca-ráter fundamental da vivência dospostulados codificados por Kar-dec. Apenas reforçamos que é ele,o livro, o maior meio de difusão

da mensagem trazida pelo Espí-rito de Verdade através de Kardec.

Existem diversos fatores quealavancam a presença das livrariasespíritas dentro dos centros: o in-teresse do público em geral pelaliteratura espírita, especialmenteneste momento onde vemos o lan-çamento de filmes e novelas comtemática espírita ou espiritualista;o auxílio que as verbas obtidascom a venda dos livros oferece aosustento da Casa; legislação espe-cífica que isenta de tributos avenda de livros religiosos, dentrodos templos, de impostos (Art.150 da Constituição Federal, entreoutras leis); e, claro, o desejo dedivulgação das ideias espíritas ede consolação aos que sofrem.

Qual, no entanto, a função pri-mordial da livraria na Casa Espírita?

Esta pergunta pode ser respon-dida sob diversas óticas. Há aque-les que acreditam que a livrariatem, como motivo fundamentalde existir, ser fonte de lucro e

consequentemente auxiliar na ma-nutenção da Casa. Há os que veemna livraria um ambiente de con-vivência, oferecendo, no mesmoespaço, alimentação e cadeiraspara que se possa aguardar o iní-cio de algum trabalho enquantohá socialização fraterna. Há, final-mente, aqueles que veem a livra-ria na Casa Espírita como sendo,fundamentalmente, um agente dedivulgação doutrinária, um pontode oferta para uma demanda clarapor informação espírita, que é ademanda do público que buscaa Casa Espírita, seja o frequentadorhabitual, seja aquele que chegapela primeira vez. E nós, humil-demente, nos colocamos entreestes últimos.

O Espiritismo, conforme codi-ficado por Kardec, possui hojepouquíssimos espaços de divulga-ção em sua pureza, sem enxertos,visões pessoais ou distorções. Te-mos filmes de cunho espiritua-lista que misturam Doutrina Espí-

A função da livrariana Casa Espírita

É

“O livro nobre livra da ignorância, mas o livro espírita livra da ignorânciae livra do mal. [...]”1

AN D R É LU I Z AN C I Ã E S D O S SA N TO S

1XAVIER, Francisco C. Mentores e searei-ros. Pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janei-ro: IDEAL, 1993.

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rita com conceitos de outras reli-giões ou mesmo com ficção purae simples; temos novelas de televi-são que são anunciadas como decunho espírita, mas contêm ele-mentos contrários à Doutrina; te-mos revistas que trazem o termo“espírita” no nome, mas tratam deassuntos e conceitos alheios aosque Kardec codificou; e temos,enfim, livros que se dizem espíri-tas e que deturpam, ou mesmoatacam, as bases dos ensinamen-tos que os Espíritos nos transmiti-ram através de Kardec.

Porém, nenhum destes temcompromisso com a Doutrina,não cabendo a eles fidelidade aoEspiritismo.

O compromisso do produ-tor cinematográfico e

da emissora de TV é com aaudiência ou a venda de ingressos;o compromisso do editor de re-vista que não zela pelo conteúdodoutrinário é a tiragem e a venda;o compromisso do autor que nãose atém à Doutrina é com o lucropessoal ou, em certos casos, com adivulgação de ideias outras quenão as espíritas.

Mas o compromisso da CasaEspírita é com a Doutrina, e ape-nas com a Doutrina.

É por isso que, em nossa opi-nião, a função primordial, senãoúnica, da livraria na Casa Espíritaé a divulgação da Doutrina Espí-rita, em sua pureza, com preocu-pação absoluta com a qualidade e

fidelidade doutrinária dos livros.Qualquer outro benefício trazidopela livraria, como auxílio na ma-nutenção da Casa, é colateral econsequente, e não objetivo pri-mário. Nossa opinião se baseia emdiversos fatores, quais sejam:

• Para o neófito, a livraria daCasa Espírita é uma represen-tante da Doutrina Espírita. Elecrê, sinceramente, que aquiloque lá é oferecido é Espiritismo.Se passamos a vender livrosnão-espíritas, ainda que edi-ficantes e espiritualistas, esta-remos induzindo este neófitoao erro, pois ele acreditaráque a Doutrina acolhe e con-corda com a visão doutriná-ria exposta nesses livros, oque não é verdade;

• O Espiritismo possui pou-quíssimos focos de divulgação.Os centros, juntamente comas federativas, respondem tal-vez por 99% desses espaços,haja vista que mesmo emis-soras de rádio e TV espíritascomercializam determinadasfaixas de horário para pro-gramas não-espíritas. Utilizaro espaço da livraria do Cen-tro Espírita para comerciali-zar qualquer material não--espírita (que pode ser ampla-mente encontrado nas livra-rias comerciais) é diminuirainda mais este espaço, des-viando a atenção do públicodas obras que constróem amoral espírita para outras que,ou nada constróem, ou mes-mo atacam esta moral.

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Em Conduta Espírita, André Luiznos lembra, no capítulo intitula-do “Na Imprensa”, que devemos:

Selecionar atentamente os ori-

ginais recebidos para publica-

ção, em prosa e verso, de auto-

res encarnados ou de origem

mediúnica, segundo a correção

que apresentarem quanto à es-

sência doutrinária e à nobreza

da linguagem.2

Acrescenta ainda: “Sem o cultoda pureza possível, não chegare-mos à perfeição”.2 Se André Luizdemonstra tal preocupação com aseleção do que publicar, comodespreocupar-nos com o que éoferecido na livraria que se locali-za no interior da Casa Espírita?

Pode-se questionar, então, comodefinir o que é ou não-espírita,de forma a decidir o que oferecer nalivraria. Esta resposta é mais clarado que parece, embora vejamosirmãos que, por visões pessoaismuito particulares e influênciasde outras crenças, tentem tornarcomplexo o que é simples: livrosespíritas são aqueles cujo conteú-do está completamente alinhadoà Codificação, sem excessos nemdeficiências. Além disso, são livrosque, se falam em conceitos de ou-tras religiões, o fazem sempre apartir de um ponto de vista es-pírita, dedicando a essas religiõeso respeito que merecem, mas semjamais tergiversar com as bases

doutrinárias do Pentateuco deKardec. São ainda livros cujo lu-cro jamais se destina ao autor,sendo, ao contrário, direcionadoa órgão espírita de divulgação, afederativas espíritas, casas espíri-tas ou obras de caridade, estas úl-timas de qualquer natureza, espí-ritas ou não.

Dessa maneira, não são espíritas,de acordo com nosso ponto devista, livros que se utilizam osten-sivamente de nomenclaturas de ou-tras religiões para se referir a Espí-ritos, utilizando-se de um imagi-nário não pertencente à Doutrina.Também não são espíritas livrosque descrevam como necessáriosrituais, paramentos, objetos deculto, oferendas e afins para qual-quer objetivo. E não são espíritaslivros cujo autor lucre com eles –em alguns casos vivendo apenasdeste lucro. E, como tal, por nobreque seja seu conteúdo e por maispositiva seja a intenção de seuautor, não devem ser oferecidosna livraria espírita, pelos motivosanteriormente descritos.

Cabe a nós, espíritas, trabalharpara que no futuro o Espiritismoesteja, ainda, límpido como foitrazido pelos Espíritos. Lembre-mos que Jesus disse que não vinhadestruir a lei, mas cumpri-la – poisos Dez Mandamentos haviamsido deturpados desde Moisés.Novamente, com a vinda da Ter-ceira Revelação, buscava Ele repa-rar as distorções, como nos diz OEvangelho segundo o Espiritismo:

Jesus promete outro consola-

dor: o Espírito de Verdade, que

o mundo ainda não conhece,

por não estar maduro para o

compreender, consolador que

o Pai enviará para ensinar to-

das as coisas e para relembrar

o que o Cristo há dito. Se,

portanto, o Espírito de Verda-

de tinha de vir mais tarde en-

sinar todas as coisas, é que o

Cristo não dissera tudo; se ele

vem relembrar o que o Cristo

disse, é que o que este disse

foi esquecido ou mal com-

preendido.3

Não deixemos, portanto, queo Espiritismo seja, também ele,mistificado ou enxertado, nem queseus ensinamentos sejam envol-vidos por meias verdades. O Espi-ritismo não precisa de nós, masnós precisamos dele, imperfeitosque somos, e também dele preci-sarão aqueles que nos sucederão.Não sejamos nós os que causa-rão mais uma vez a deturpaçãoda verdade divina, repetindo oserros do passado quando, emoutra roupagem carnal, vimos amensagem do Cristo ser tingidapelas tintas humanas apenas parasatisfazer nossos caprichos pes-soais. Não é a Doutrina que de-ve se transformar para se adap-tar a nós, mas nós é que necessi-tamos urgentemente nos trans-formar pelo estudo e compreen-são deste facho de luz chamadoDoutrina Espírita.

2VIEIRA, Waldo. Conduta espírita. PeloEspírito André Luiz. 31. ed. 3. reimp. Riode Janeiro: FEB, 2010. Cap. 15, p. 64.

3KARDEC, Allan. O evangelho segundo oespiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 4. ed.esp. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.Cap. 6, item 4.

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Após o encerramento do 6o

Congresso Espírita Mundial, emValencia (Espanha), na tarde dodia 12 de outubro, foi iniciada aReunião Ordinária do ConselhoEspírita Internacional, nas depen-dências do Hotel Vora Fira. A reu-nião foi presidida por Jean-PaulÉvrard, assessorada pelo secretá-rio-geral, Nestor João Masotti, esecretariada por Charles Kempf.Houve o comparecimento de diri-gentes de entidades nacionais dospaíses: Alemanha, Angola, Argen-tina, Áustria, Bélgica, Brasil, Ca-nadá, Chile, Colômbia, Cuba, ElSalvador, Espanha, Estados Unidos,França, Guatemala, Holanda, Hon-duras, Itália, Japão, México, No-ruega, Panamá, Paraguai, Peru,Porto Rico, Portugal, Reino Uni-do, Suécia, Suíça e Uruguai; e de

visitantes da Hungria, Bielorrús-sia, Equador, Finlândia, Luxem-burgo e Polônia. Todos os repre-sentantes dos países, as Coorde-nadorias do CEI (Europa, Amé-rica do Sul, América Central eCaribe), e a Comissão Executivado CEI apresentaram informaçõessobre as atividades realizadas eprogramadas. O relatório do Brasilfoi apresentado pelo diretor daFEB Antonio Cesar Perri de Car-valho. O secretário-geral infor-mou sobre a proposta da ComissãoExecutiva do CEI para as medi-das iniciais com vistas à criaçãoda Coordenadoria do CEI para oMovimento Espírita da África;Salvador Martín (Espanha) infor-mou dados sobre o 6o CongressoEspírita Mundial (de Valencia), quecontou com 1.807 participantes,

oriundos de 36 países. A ReuniãoOrdinária do Conselho EspíritaInternacional, foi concluída natarde do dia 13, com algumas de-cisões: 1) Houve aprovação daintegração de Luxemburgo, comomembro observador do CEI; 2)Após as ações de apoio já ocor-ridas, e tendo em vista a diver-gência existente com relação aorepresentante da União EspíritaFrancesa e Francofônica (USFF),com duas pessoas comunicandoao Conselho Espírita Internacionalque estão na presidência dessaInstituição, e na impossibilidadede o CEI deliberar sobre o as-sunto, já que este está sendo le-vado para decisão em juízo junto àJustiça Francesa, o Conselho Espí-rita Internacional decidiu afastartemporariamente a União Espí-

Reunião Ordinária doConselho Espírita Internacional

em Valencia

Secretário-geral do CEI, Nestor João Masotti, falando aos representantes dos países

Conselho Espírita Internacional

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rita Francesa e Francofônica co-mo membro do CEI, retornando oassunto para ser analisado empróxima reunião, quando hou-ver condições para uma decisãoa respeito. A direção do Conse-lho Espírita Internacional e asinstituições que o integram, per-manecem à dispo-sição da referidaInstituição e doMovimento Espíri-ta francês para co-laborarem no tra-balho de pacifica-ção e de união des-se Movimento; 3)Após as apresenta-ções dos países quese propõem a sediaro 7o Congresso Espí-rita Mundial, em 2013 – nas cidadesde Assunção, Havana e Lima –,foi designada uma comissão paraconhecer in loco as condições dastrês candidaturas para o próximoevento; 4) Houve eleição da Co-missão Executiva do CEI, reno-

vando-se sete membros cujos man-datos se extiguiam e, em seguida,eleição para os cargos. A comissãoexecutiva do CEI ficou integradapor: Nestor João Masotti (Brasil)– secretário-geral; Charles Kempf(Bélgica) – 1o secretário; Salva-dor Martín (Espanha) – 2o secre-

tário; Antonio Cesar Perri deCarvalho (Brasil) – 1o tesoureiro;Vitor Mora Féria (Portugal) – 2o

tesoureiro; membros: EduardoDos Santos (Uruguai), Elsa Rossi(Reino Unido), Edwin BravoMarroquin (Guatemala), Fabio

Villarraga (Colômbia), Jean-PaulÉvrard (Bélgica), Jussara Korn-gold (EUA) e Ricardo Lequerica(Colômbia). Ao final, foram defi-nidos alguns eventos, como reu-niões, seminários e visitas para oano de 2011, e Reunião Ordiná-ria do CEI, em Montreal (Cana-

dá), para o mês dejunho de 2012. Areunião foi con-cluída em climafraterno, com a lei-tura de duas men-sagens espirituais,destinadas à reu-nião do CEI, dosEspíritos JoaquimAlves (Jô) e AmaliaDomingo Soler,psicografadas por

Sandra Ventura. O dirigente daConfederação Espírita Colom-biana (CONFECOL) Jorge BerrioBustillo (Colômbia) descreveu apresença de diversos Espíritosorientadores, ligados a váriospaíses presentes.

Parte dos representantes e visitantes presentes

Mesa diretora da Reunião do CEI

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Minas Gerais: Feira do Livro EspíritaPara divulgar temas como autoconhecimento, imor-talidade da alma, virtudes e leis contidas no Evange-lho, a União Espírita Mineira realizou a XXVIII Feirado Livro Espírita, de 4 a 10 de outubro, na sede daUEM, e de 15 a 26 de outubro, no hall principalda Rodoviária de Belo Horizonte. Informações: <www.uemmg.org.br>.

Constanza: Evento para lançamento de obras editadas pelo CEI

O presidente da FEB e secretário-geral do CEI, NestorJoão Masotti, atendeu a compromissos em Winter-thur (Suíça) e participou do lançamento de obras emalemão, editadas pelo CEI: O Evangelho segundo oEspiritismo, de Allan Kardec, e Missionários da Luz,pelo Espírito André Luiz, psicografado por FranciscoCândido Xavier, em Constanza (Sul da Alemanha).No dia 16 de outubro, pela manhã, houve um cursosobre Assistência Espiritual nos centros espíritas,coordenado por Maria Euny Herrera Masotti. À tar-de, Nestor João Masotti fez saudação destacando aimportância do lançamento das obras em alemão;houve apresentações artísticas, em homenagem àtradutora Henie Seifert – já desencarnada –, e pales-tra de José Raul Teixeira. Estavam presentes diri-gentes da União Espírita Alemã e da União dos Cen-tros Espíritas na Suíça. Informações: <www.spiritismusdsv.org>, <www.spiritismus.ch>.

Itália: Homenagens a Chico XavierEm programação da União Espírita Italiana (USI),foi desenvolvido um seminário sobre “Vida e Obra deChico Xavier”, no dia 17 de outubro, nas dependênciasdo Gruppo di Lecco Allan Kardec, na cidade de Lecco.O programa foi cumprido por Antonio Cesar Perride Carvalho, diretor da FEB e do CEI, Flávio Rey deCarvalho e Célia Maria Rey de Carvalho. Na sequên-cia, o diretor da FEB proferiu palestras sobre o mesmotema, no dia 18, no Gruppo Sentieri dello Spirito, emMilão, e, no dia 23, no Gruppo Spiritico Il Camminodella Luce, em Treviso. Em todos os locais houve

comparecimento de dirigentes das regiões, e pergun-tas e respostas após as apresentações. Neste período,em Milão, foi lançada a versão em italiano do livroNosso Lar, editado pelo Conselho Espírita Internacio-nal. Informações: <[email protected]>,<[email protected]>, <www.kardec.it>.

Nova Entidade EspecializadaDurante o Congresso Jurídico-Espírita do Estado deSão Paulo, realizado em Ribeirão Preto, nos dias 22 e23 de outubro, foi fundada a Associação Jurídico--Espírita do Brasil (AJE-Brasil). Na oportunidade,foi eleita a primeira diretoria: Tiago Cintra Essado(SP), presidente; Hélio Ribeiro Loureiro (RJ), Mar-cus Vinícius Severo (RS) e Ricardo Silva (DF), vice--presidentes. Informações: <[email protected]>.

Espírito Santo: Encontro para divulgadoresA Federação Espírita do Estado do Espírito Santorealizou o 10o Encontro de Divulgadores Espíritas doEstado do Espírito Santo, no dia 30 de outubro, emVitória. O encontro foi elaborado para abranger gru-pos de formação e preparação de novos expositores,acrescentar base teórica a quem já realiza palestras eapoiar coordenadores de estudos e de evangelização.Informações: <www.feees.org.br>.

Distrito Federal: Semana EspíritaA Federação Espírita do Distrito Federal realizou, dodia 24 a 30 de outubro, a 5a Semana Espírita do Dis-trito Federal. Estiveram juntas as regiões do Cruzei-ro, Estrutural, Setor Militar Urbano, Sudoeste e Octo-gonal, em comemoração ao Centenário de Nasci-mento de Chico Xavier – “O Apóstolo da Paz”. Infor-mações: <www.fedf.org.br>.

Casa Espírita CentenáriaO Centro Espírita Amor e Humildade do Apóstolo,de Florianópolis (SC), comemorou o seu centená-rio de fundação em 11 de setembro passado, compalestra de Maureen R. M. Wetzstein, sobre o tema“A Solidão na Visão Espírita”.

Seara Espírita

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