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    Tema: Regras escolares

    1. Objetivos da reunião1.1. Discutir a necessidade das regras escolares.1.2. Alertar para a responsabilidade da família no cumprimento dessas regras.1.3. Esclarecer que a escola em parceria com a família tem o dever e o direito de edu-

    car os alunos para a coletividade, numa perspectiva democrática e humanista.

    2. Desenvolvimento2.1. Fazer uma cópia da tirinha (cópia maior em anexo) e distribuí-la a cada participan-

    te da reunião.

     2.2 Pedir que todos os participantes leiam a tirinha.2.3. Solicitar que alguns participantes teçam comentários sobre a situação apresentada

    na tirinha.

    2.4. Iniciar a formulação das perguntas sugeridas a seguir para a instalação de reflexõessobre a temática. É um momento de exposição de opiniões, portanto não devehaver correções das respostas emitidas.

    • Com relação ao cumprimento de regras, qual é o comportamento apresentadopelo pai de um aluno?

    • Qual é o posicionamento adotado pela escola?• Há algumas regras que são cumpridas pelos alunos. Contudo, outras só serão

    realizadas com a participação da família. Quais seriam elas?• De que modo o comportamento social da família, em relação às regras coletivas,

    pode influenciar o comportamento escolar dos alunos?

    • Qual deve ser a atitude da família quando não concordar com algumas regrasescolares?

    • Qual é a melhor forma de propor aos alunos as regras coletivas?• Em caso de transgressões, qual deve ser o comportamento da escola? E o da família?

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    2.5. Distribuir uma cópia do texto-base (em anexo) para cada participante da reunião.2.6. Ler o texto em voz alta.2.7. Pedir que alguns pais destaquem trechos do texto que lhes foram significativos.2.8. Fechamento: pontuar para o grupo que a escola em parceria com a família tem a

    responsabilidade de educar os alunos para a coletividade, numa perspectiva de-

    mocrática. Isso significa que as regras grupais podem ser discutidas, reconstruídasou até abolidas, todavia, enquanto existirem e forem legítimas para o grupo, de-vem ser respeitadas por todos.

    2.9. Apresentar as regras escolares, evidenciando aquelas que dependem da contribui-ção das famílias para serem realizadas. Por exemplo: pontualidade, uso de unifor-me, material adequado, etc.

    3. Regras escolares: desfazendo o jogo de empurraA escola é o legítimo espaço social para o ensino e a aprendizagem. Nela, as crianças

    e os jovens da sociedade ingressam para se apropriarem dos saberes, historicamente cons-truídos pelos seus semelhantes, por meio de um processo pedagógico individual e coletivo.A coletividade intrínseca ao contexto escolar conduz à necessidade do estabeleci-

    mento de determinadas condutas individuais e grupais, caso contrário, o grupo fica im-possibilitado de viver, conviver e aprender em harmonia. Há que se estabelecer alguns“combinados” para que se torne possível e realizável a busca dos objetivos que sãocomuns a todos, uma vez que a vida em sociedade pressupõe organização e disciplinasob todas as formas.

    As regras podem ser discutidas e construídas e, para defini-las, podemos usar o re-curso da democracia, sob a condição de que todos aceitem o que a maioria decidir.

    Além disso, depois de definidas, ninguém pode se recusar a cumpri-las, pois a nãoobservação das regras implicará punições ou perdas. Ainda é importante ressaltar quecabe à escola a definição de normas próprias do ambiente escolar, o estabelecimentoe o cumprimento de regras coletivas, pautas de comportamento e normas básicas deconvivência, preferencialmente com participação dos alunos.

    As regras surgem, ou deveriam surgir, da necessidade e do consenso do grupo, como objetivo de indicarem os direitos e os deveres de todos, cuja meta principal visa àimplementação de uma formação democrática, cidadã e pacífica.

    A busca dessa formação é um grande desafio da escola, uma vez que o não cumpri-mento de regras sociais é um problema vivido pela sociedade brasileira.

    Apesar de possuirmos um discurso “politicamente correto”, nossas atitudes cotidia-nas apontam para um agir individual descomprometido com o coletivo. Costumeira-mente, desrespeitamos o bem público, estacionamos em local proibido, “furamos” afila, usamos mal o banheiro público, fumamos em local proibido, não reivindicamoslegalmente nossos direitos, mas os alcançamos por meio do “olho por olho e dente pordente”, não sabemos perder em embates esportivos, nossos políticos gastam irrespon-savelmente o dinheiro público etc. Tais comportamentos revelam uma cultura egoísta,que não hesita um segundo em burlar as regras sociais em proveito próprio quando aocasião se apresenta oportuna.

    Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, criado por Mário de Andrade, reflete um

    pouco da alma da sociedade brasileira, quando o assunto diz respeito a comportamen-tos que visam ao bem da coletividade, em detrimento do bem individual.Por esta razão, tratar da importância da parceria família e escola para a formação da

    criança e do jovem cidadão torna-se imprescindível quando se debate a questão das re-

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    gras escolares, uma vez que é na instituição escolar que as regras sociais, presentes na es-fera pública de nossas vidas, começam a ser aprendidas e praticadas por meio do diálogopromovido pela escola entre o mundo privado (família) e o mundo público (sociedade).

    Nesta direção, família e escola devem ser parceiras; se há regras para os alunos, que

    elas sejam respeitadas em primeiro lugar pela família, a fim de que o princípio formati-vo das mesmas seja cumprido. O diálogo sincero e aberto apresenta-se como o melhorinstrumento para a resolução de possíveis discordâncias. Escola e família devem estarsempre disponíveis para outras reflexões e construção de novas regras. Entretanto, éimportante lembrar que burlar as normas e ludibriar a escola são comportamentosinaceitáveis, pois somente a inserção do indivíduo no meio social e a subordinação deseus interesses pessoais em favor da coletividade formarão um sujeito solidário.

    No contexto atual, é preciso desmontar o “jogo de empurra”, a competição entre afamília e a escola, fazendo com que as duas instituições assumam suas reais funções deeducadores, cujo alvo primordial é proporcionar às crianças e aos adolescentes o de-

    senvolvimento de habilidades que propiciem, harmoniosamente, a convivência grupal.

    4. Textos complementaresA orientação educacional frente à indisciplina (fragmento)In Cadernos FAPA n. 1 – 1o sem. 2005

    Adelires Scapini  | Cristiane Delagnesi Z. Suardi  | Priscila Kepler Machado 

    Para Rocha (1996, p. 338), “indisciplina é a falta de disciplina, que significa regimede ordem imposta ou livremente consentida, a ordem que convém ao funcionamento

    regular de uma organização”. Um outro conceito é possível ser encontrado no dicioná-rio Aurélio (1974, p. 702), em que indisciplina é sinônimo de desobediência, desordem,rebelião. Para a comunidade escolar entrevistada, indisciplina é algo que atrapalha aaula, é a falta de respeito, de responsabilidade; é transgressão de regras, além de faltade respeito às hierarquias sociais.

    É possível inferir, nesse sentido, que o conceito de indisciplina, aqui, demonstratratar-se de uma construção social ampla. As causas apontadas pelos entrevistados paraa chamada indisciplina escolar são a desestruturação familiar, a falta de imposição delimites por parte da família, as influências negativas da mídia e da sociedade em geral.Um outro aspecto abordado pelos entrevistados foi o fato de considerarem que, no mo-

    mento atual, a escola encontra-se isenta da construção de limites.Quanto à citada desestruturação familiar, entende-se que não existe um padrão de or-ganização familiar. O que há, na verdade, são diferentes estruturas familiares, que foramconstituindo-se de acordo com as mudanças sociais ocorridas ao longo do tempo. Nessesentido, não é possível conceber-se, hoje, somente a ideia de famílias nucleares. Na atuali-dade, por exemplo, esposas e filhos participam mais intensamente no mercado de trabalhoe na renda familiar, compartilhando responsabilidades e promovendo uma redefinição nospadrões de hierarquia social. Além disso, há um incremento no número de famílias recons-tituídas, resultantes de separações, divórcios e “recasamentos”, além de ser esse um novomodelo de família largamente veiculado pelos meios de comunicação (GOLDANI, 1994).

    Cabe ressaltar que a desestruturação familiar por nós comentada decorre muito mais da faltade diálogo, atenção e afeto que envolvem as relações familiares do que propriamente umacrise da estruturação familiar considerada padrão: pai, mãe e filhos. Como comentado poruma funcionária da escola entrevistada: “muitas pessoas (pai, mãe, filhos, avós, tios) moramna mesma casa e nem sequer formam uma família. Não tem diálogo, não tem afeto”.

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    Nos dias atuais, a falta de limites é gritante em nossa sociedade. Tanto a escola quantoas famílias estão isentando-se de proporcionar às crianças e aos adolescentes o desen-volvimento de habilidades que propiciem contatos interpessoais cordiais e de boa convi-vência. Nesse contexto, fica claro haver um jogo de “empurra” entre a família e a escola,não assumindo ambas seus verdadeiros papéis na educação. A família, como primeira

    célula social da qual faz parte a criança, sente-se impossibilitada de dar maior atenção,de ser mais “firme” e, ao mesmo tempo, mais tolerante com os filhos; condições essasfundamentais para o estabelecimento de uma relação de respeito mútuo e cooperativo. Enão o faz, muitas vezes, por estar preocupada cada vez mais com o sustento econômicofamiliar, deixando para a escola a responsabilidade de suprir as carências deixadas pelafamília. Essa realidade pode ser constatada nas falas dos entrevistados:

    a) funcionário: “As mães colocam os filhos na escola e acham que o problema daeducação está resolvido”.

    b) vice-diretora: “Principalmente a família não ensina o que é certo e errado aos fi-lhos”.

    Cabe salientar que o papel da escola é construir situações para que os alunos seapropriem dos conhecimentos científicos acumulados, através de um ensino interdisci-plinar, que mostre a utilidade dos conteúdos aprendidos e a aplicabilidade dos mesmosem nosso dia a dia, além de reforçar os valores sociais morais e éticos e tentar reformaralguns aspectos sociais considerados negativos.

    Muitas vezes, pais e professores envolvem-se em discussões improdutivas com osfilhos e alunos, respectivamente, usando expressões agressivas, tentando justificar seuspontos de vista e acabando por desencadear uma relação de autoridade, de disputa depoder, de intolerância, de falta de diálogo, o que gera uma insatisfação geral expressapor atitudes hostis e de agressividade.

    É possível constatar que nem a família, nem a escola têm clareza sobre o que é real-mente estabelecer limites. Ou seja, de acordo com Pereira (2002, p. 106), “[...] os limitessão o respeito ao ser humano, o respeito a si mesmo e ao outro, traduzido como respeitomútuo, enquanto disciplina seria um conjunto de regras a serem obedecidas por todos”.

    No que se refere à mídia, o que podemos identificar é uma influência negativa, prin-cipalmente entre os adolescentes, no que tange a modismo, comportamentos estereo-tipados e valores. A mesma mídia permite que o indivíduo busque um certo bem-estare tente diluir as contradições sociais em programas e propagandas que forjam umaigualdade entre as pessoas. A frustração decorrente de uma crença ingênua na mídiaé enorme, porque, apesar de usar a “calça azul e desbotada”, o “tênis de marca”, as

    pessoas continuam não tendo o “corpo sensual da garota da propaganda”, nem tendoa possibilidade de estudar na “escola mais cara da cidade”, nem, tampouco, frequentaro “barzinho da moda”.

    Priorizam-se, através da mídia, o individualismo e o consumismo, gerando a compa-ração, o descontentamento e a revolta. Isto gera graves conflitos sociais. Nos dias atuais,por exemplo, mata-se por um par de tênis de marca.

    Outras instâncias sociais também sofrem influências da mídia e acabam criandomodelos sociais que ditam as normas e as regras da sociedade em geral. Nesse sen-tido, a mídia vai constituindo-se na linguagem por excelência do nosso tempo, umavez que é presença maciça em todos os espaços da vida cotidiana, e, principalmente,por funcionar não só como um lugar de veiculação de modos de vida, mas, sobretudo,como um lugar decisivo no processo de construção de identidades individuais e sociais(FISCHER, 1999). Assim, vai se enfraquecendo cada vez mais o respeito para consigo ecom o outro.

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    Diante disso, acreditamos que o objetivo de um trabalho que pretenda pensar oslimites de muitos componentes da comunidade educativa é muito mais que dizer o queé certo ou errado e determinar regras. É, segundo Pereira (2002, p. 17), “[...] iniciar oprocesso de compreensão e apreensão do outro [...]. A criança interioriza a ideia de quepode fazer milhares de coisas, mas nem tudo e nem sempre”.

    Portanto, para nós, educadores, é de fundamental importância saber dizer sim e não,desde que estas palavras venham carregadas de afeto, comprometimento, tolerância(PEREIRA, 2002).

    ALMEIDA, Laurinda R. et al. O coordenador pedagógico e o espaço de mudança. 3. ed.São Paulo: Loyola, 2001.

    BUENO, Francisco da Silveira. Dicionário escolar da língua portuguesa. 8. ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1974.

    FISCHER, Rosa Maria Bueno. Identidade, cultura e mídia. In: SILVA, Luiz Heson da. (org.).

    Século XXI: Qual conhecimento? Qual currículo?  Petrópolis: Vozes, 1999. p. 18-32.GOLDANI, Ana Maria. As famílias brasileiras: mudanças e perspectivas. Cadernos depesquisa, São Paulo, n. 91, p. 7-22, nov. 1994.

    GRINSPUN, Mírian P. S. Zippin et al. Supervisão e orientação educacional: perspectivade integração na escola. São Paulo: Cortez, 2003.

    ___________. A prática dos orientadores educacionais . 4. ed . São Paulo: Cortez, 2001.

    MEKSENAS, Paulo. Sociologia da educação: uma introdução ao estudo da escola noprocesso de transformação social . 9. ed. São Paulo: Loyola, 2000.

    PEREIRA, Gilson de A. Limites e afetividade: a representação do professor e sua práticapedagógica no cotidiano escolar . 2002. Dissertação (Mestrado em Educação) – Facul-dade de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

    SAVIANI, Demerval. Escola e democracia. 6. ed. São Paulo: Cortez, 1985.

    VASCONCELLOS, Celso dos S. Coordenação do trabalho pedagógico: do projeto políti- co-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. 2. ed. São Paulo: Libertad, 2002.

    Indisciplina: Um signo geracional?Vamos agora examinar o variável processo, uma vez que se prende mais diretamente

    com o objetivo do nosso trabalho, a indisciplina.Para combater a indisciplina, a escola tem de analisar a forma como é exercido o seu

    controle. Vimos atrás como a prevenção da indisciplina está relacionada com a orga-nização pedagógica da escola, quer dizer, a disciplina e a indisciplina são um produtodas relações pedagógicas estabelecidas entre os diversos protagonistas da realidadeescolar. Para se compreender o que é indisciplina, a escola tem de entender-se primeirosobre a disciplina, isto é, sobre o conjunto de comportamentos que considera aceitá-veis, sob o ponto de vista pedagógico e social, para aquelas pessoas, naquele contexto.Se este trabalho for minimamente levado a cabo, a escola pode avançar para medidasde controle disciplinar.

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    De acordo com Rodrigues, controle disciplinar é o conjunto de todas as atividadesque visam exercer alguma espécie de influência sobre o comportamento dos alunos,procurando ajustá-los àquilo que é, para cada professor e pelos professores em cadaescola, considerado como padrão de «comportamento aceitável”. A partir desta interes-sante definição, vemos desde logo uma das dificuldades do problema da indisciplina.

    Qual é, “para cada professor e pelos professores de cada escola”, o “comportamentoaceitável”? Provavelmente, nunca poderemos obter um padrão uniforme, mas certa-mente o que não levará a lado nenhum será a ausência de reflexão conjunta sobre oque poderá ser “aceitável”. No meu livro Voltei à escola, dei múltiplos exemplos destainconsistência normativa que caracteriza muitas das nossas escolas. Este fato resulta emgrande parte do pouco tempo existente para a discussão dos dilemas disciplinares e dasclivagens existentes nos dias de hoje entre as culturas das gerações em presença.

    Não pode, pois, haver controle disciplinar sem regras. Mas que espécie de regraspodem existir numa escola? Quem as elabora? Como podem ser atualizadas e postasem prática?

    Entendamo-nos em primeiro lugar sobre os vários tipos de regras. Existem as regrasformais, provenientes do Ministério da Educação, disponíveis em vários decretos e por-tarias, com a intenção de regular o funcionamento global do sistema. As sucessivasmudanças ministeriais no setor da Educação deixam muitas vezes um emaranhado dedispositivos legais, nem sempre coerentes, que desde logo dificultam a sua aplicação;contudo, estão escritas, são de fácil consulta e embora possamos não concordar comelas, a confusão pode rapidamente desfazer-se.

    Num segundo plano, surgem as regras não formais, elaboradas pela escola comos mais diversos procedimentos. Por vezes, são feitas para tornar mais explícitas asnormas mais gerais, noutras ocasiões pretendem dar resposta a problemas surgidos no

    âmbito do estabelecimento em causa. O modo como são postas em prática é muitoimportante. São elaboradas pelos órgãos da escola e afixadas num local público ouenviadas para a casa dos alunos sem uma discussão prévia? São postas em prática apósum trabalho de discussão com os diversos intervenientes? São normas avulsas ou, pelocontrário, integradas num regulamento interno da escola?

    Parece claro que o conjunto de regras formais precisa ser discutido, o que pressupõeum processo de discussão partilhado que enche de pânico ou tédio todos aqueles paraquem a participação democrática é um problema. Sobretudo quando a escola recebeestudantes provenientes de meios familiares desorganizados, é essencial deter-se sobreaquilo que alguns designam como a sua “constituição”, num ambiente de discussão

    franca e aberta onde todos podem fazer ouvir a sua voz. Para que isto seja possível e nãoexcessivamente consumidor de tempo, a escola tem de organizar-se à volta de um con- junto de procedimentos práticos, a que voltaremos, não podendo dispensar a opiniãodos pais, dos professores, dos alunos e dos auxiliares de ação educativa ou segurança.

    Se quisermos pensar nas regras informais, vemos que o problema se complexifica, aomesmo tempo que se torna decisivo. Estas regras são no fundo normas sociais, não es-truturadas, comunicadas verbalmente na sala de aula ou através de uma intervenção nopátio da escola. Podem pretender melhorar a eficácia da classe ou possibilitar a entradanum grupo de jovens. São fortemente moduladas pelo contexto cultural dos seus atorese sofrem influência de muitas variáveis. A grande questão que levantam será a amplitudecom que podem ser aplicadas e como obter o consenso mínimo para as pôr em prática.

    Os diversos procedimentos pedagógicos utilizados pelos professores e a forma comoos alunos neles interagem podem, só por si, constituir momentos de indisciplina. Se umdocente propõe e mesmo incentiva a participação oral espontânea e um pouco anárquica,o aluno ficará perplexo se noutra aula for advertido por subitamente ter usado da palavra.

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    Para que a indisciplina não brote quase por geração espontânea, é útil que o pro-fessor tenha bem presente a importância dos aspectos relacionais com os seus alunos.Se o professor continuar a valorizar apenas a sua função de instrução (transmitir co-nhecimentos), é mais provável que os conflitos disciplinares apareçam. Para evitar talsituação, a tônica da ação da escola deverá centrar-se na prevenção da indisciplina e

    não na forma de a controlar.Em resumo, a escola deve começar por reorganizar-se e por desenvolver competen-

    temente o trabalho pedagógico, para de fato prevenir a indisciplina. Muitas iniciativasatuais vão no sentido oposto: quando a escola multiplica faltas disciplinares e conse-lhos de turma para propor a aplicação de suspensões, não está a resolver o problemado aluno, está provisoriamente a resolver o problema do professor.

    SAMPAIO, Daniel. Indisciplina: Um signo geracional? In: Cadernos de organizaçãoe gestão curricular  – Editora Instituto de Inovação Educacional.