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RELATÓRIO PARCIAL DE INTELIGÊNCIA POLICIAL II - STJ
OPERAÇÃO NAVALHA
ABELARDO diz “GIL, tudo tem limite! Nós estamos esticando a corda demais! A corda vai partir!”.
(29/3/2007 15:03:11)
1. APRESENTAÇÃO
Apresenta-se relatório de Inteligência
Policial da operação policial denominada NAVALHA, em trâmite
perante a Excelentíssima Senhora Ministra Relatora do
Superior Tribunal de Justiça, Doutora ELIANA CALMON.
Este relatório reúne a integralidade dos
elementos probatórios obtidos durante toda a investigação,
compilando e analisando todos os dados obtidos através das
técnicas de investigação utilizadas.
Em razão de problemas técnicos na geração de
alguns arquivos de áudios para inclusão neste relatório, nos
eventos “interceptação ilegal” e “Camaçari” (mês de
abril/2006), somente estão disponíveis as transcrições
fonográficas, sendo que, tão logo, os arquivos de áudios
possam ser gerados, serão incluídos nos eventos respectivos e
um novo DVD será encaminhado em substituição ao presente.
Cabe salientar, contudo, que referidos áudios estão contidos
em DVD´s já encaminhados à Justiça, quando da apresentação de
relatórios quinzenais, sendo apenas incluídos neste relatório
para facilitar a compreensão dos eventos criminosos
mencionados.
Cabe ressaltar, ainda, que, por se tratar de
um relatório parcial, pode conter eventuais retificações de
relatórios anteriores, tais como identificação de
interlocutores, bem como incluir áudios antigos que à época
não faziam sentido dentro do contexto investigativo, mas que
foram aclarados com o andamento dos trabalhos e se revelaram
importantes, ressaltando ainda, que poderá sofrer mudanças
com futuras diligências investigativas.
......................
No Governo do Estado de Alagoas, a organização
conta com a participação efetiva e intensa do Secretário de
Infra-Estrutura - ADEILSON TEIXEIRA BEZERRA, do Subsecretário
- DENISSON DE LUNA TENÓRIO, do Diretor de Obras - JOSE VIEIRA
CRISPIM, além ENEAS DE ALENCASTRO NETO (Representante do
Governo de Alagoas em Brasília), o qual faz uso de sua
influência junto ao Governador TEOTONIO BRANDÃO VILELA FILHO
para beneficiar a organização. No ano de 2006 também atuou em
favor da organização o então Secretário de Infra-Estrutura
MARCIO FIDELSON MENEZES GOMES.
RELATÓRIO PARCIAL DE INTELIGÊNCIA POLICIAL II - STJ
OPERAÇÃO NAVALHA
1. APRESENTAÇÃO
Apresenta-se relatório de Inteligência
Policial da operação policial denominada NAVALHA, em trâmite
perante a Excelentíssima Senhora Ministra Relatora do
Superior Tribunal de Justiça, Doutora ELIANA CALMON.
Este relatório reúne a integralidade dos
elementos probatórios obtidos durante toda a investigação,
compilando e analisando todos os dados obtidos através das
técnicas de investigação utilizadas.
Em razão de problemas técnicos na geração de
alguns arquivos de áudios para inclusão neste relatório, nos
eventos “interceptação ilegal” e “Camaçari” (mês de
abril/2006), somente estão disponíveis as transcrições
fonográficas, sendo que, tão logo, os arquivos de áudios
possam ser gerados, serão incluídos nos eventos respectivos e
um novo DVD será encaminhado em substituição ao presente.
Cabe salientar, contudo, que referidos áudios estão contidos
em DVD´s já encaminhados à Justiça, quando da apresentação de
relatórios quinzenais, sendo apenas incluídos neste relatório
para facilitar a compreensão dos eventos criminosos
mencionados.
Cabe ressaltar, ainda, que, por se tratar de
um relatório parcial, pode conter eventuais retificações de
relatórios anteriores, tais como identificação de
interlocutores, bem como incluir áudios antigos que à época
não faziam sentido dentro do contexto investigativo, mas que
foram aclarados com o andamento dos trabalhos e se revelaram
importantes, ressaltando ainda, que poderá sofrer mudanças
com futuras diligências investigativas.
2. DO INÍCIO DAS INVESTIGAÇÕES
A presente investigação surgiu como
desmembramento da operação policial OCTOPUS, que tem como
foco a atuação de um grupo de empresários do Estado da Bahia,
especializado na prática de crimes de fraude à licitação,
especialmente nas áreas de segurança privada, construção
civil, ensino superior e na prestação de serviços gerais
terceirizados.
Foram identificadas ligações entre este grupo
e policiais federais, que apontaram indícios de prática de
crimes de corrupção passiva, violação de sigilo funcional e
prevaricação, que teriam sido praticados pelo então
Superintendente Regional de Polícia Federal no Ceará - DPF
JOÃO BATISTA PAIVA SANTANA; o então Superintendente Regional
de Polícia Federal em Sergipe - DPF RUBEM PAULA DE CARVALHO
PATURY FILHO; o então Superintendente Regional de Polícia
Federal na Bahia – DPF PAULO FERNANDO BEZERRA e o então
Delegado Regional Executivo na Bahia – DPF ANTONIO CESAR
FERNANDES NUNES. Ainda segundo a notícia inicial, os
correspondentes atos de corrupção ativa seriam praticados
pelos empresários por intermédio de um advogado, JOEL ALMEIDA
LIMA (Delegado de Polícia Federal aposentado) e do lobista
FRANCISCO DE ASSIS BORGES CATELINO. Havia também notícia de
suposta prática de facilitação de contrabando/descaminho por
parte do APF FRANCISCO MIGUEL MACEDO GONÇALVES no Aeroporto
Internacional Eduardo Magalhães. Todos esses fatos foram
devidamente relatados na representação inicial contida no
Ofício n. 101/06 DICINT/DIP/DPF.
Diante de tais situações, foi iniciada a
presente investigação de contra-inteligência, perante a 2ª
Vara Federal da Bahia, com o deferimento de monitoramento
telefônico dos investigados e escuta ambiental nos gabinetes
dos policiais federais. Inicialmente, foi possível se
constatar a relação próxima entre referido grupo de
empresários e os mencionados policiais. Constatou-se, ainda,
a existência de um grupo especializado em praticar delitos de
interceptação clandestina, ligado a JOEL ALMEIDA.
Contudo, o aprofundamento das investigações
com relação à conduta dos policiais restou completamente
prejudicado, em razão do vazamento da presente Operação, no
âmbito do próprio Departamento de Polícia Federal, bem como
por parte do Juiz Federal da 2ª Vara Federal da Bahia, Dr.
DURVAL CARNEIRO NETO. (v. quadro de eventos).
Foi possível, no entanto, manter-se a
investigação com relação ao empresário ZULEIDO SOARES DE
VERAS, o qual, por intermédio de JOEL DE ALMEIDA e FRANCISCO
CATELINO, corrompeu o então Superintendente Regional em
Sergipe, DPF RUBEM PATURY FILHO.
Assim, por meio do monitoramento telefônico de
ZULEIDO, verificou-se que ele é o chefe de uma organização
criminosa articulada com ramificações em diversos Estados da
Federação.
Ao se prosseguir com os trabalhos, contudo,
constatou-se a participação de pessoas que possuem foro por
prerrogativa de função, o que motivou o encaminhamento da
investigação ao Superior Tribunal de Justiça, dando início ao
Inquérito nº 544/2006 – STJ, atualmente presidido pela
Ministra Relatora ELIANA CALMON.
Nº QUADRO DE EVENTOS I
01 EVENTO DPF JOÃO BATISTA
02 EVENTO DPF RUBEM PATURY
03 EVENTO ABUSO DE AUTORIDADE
04 EVENTO VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL 1
05 EVENTO VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL 2
06 EVENTO INTERCEPTAÇÃO ILEGAL
3. A ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA (ORCRIM)
A continuidade da investigação, através de
vertente diversa da contra-inteligência policial, identificou
a atuação de um grupo organizado, hierarquizado, permanente
no tempo e com atuação marcante em diversos Estados da
Federação, tais como Alagoas, Bahia, Maceió, Maranhão, Mato
Grosso e Sergipe, camuflado pela atividade aparentemente
lícita de uma construtora, especializada em executar obras
públicas.
A Construtora GAUTAMA tem como diretor-
presidente o empresário ZULEIDO SOARES DE VERAS, verdadeiro
líder de uma organização criminosa voltada para a obtenção de
lucro por meio de execução de obras públicas. Para a
consecução desse objetivo primário, corrompem diversos
servidores públicos e agentes políticos, a fim de: 1º)
garantir o direcionamento de verba pública (federal ou
estadual) para obras de interesse da organização; 2º)
garantir o vencimento de certames licitatórios; 3º) garantir
a liberação de pagamentos de obras superfaturadas,
irregulares ou mesmo inexistentes.
O objetivo primário da organização é a
apropriação do dinheiro público destinado à execução de
obras, sendo que a efetiva construção das obras é relegada ao
segundo plano, apenas como pretexto para sua atuação
criminosa. Para a manutenção de sua atividade lucrativa, a
organização criminosa (GAUTAMA) conta com uma vasta rede de
funcionários e lobistas, necessários para efetivar contatos
com servidores públicos e agentes políticos. Dentre a
categoria dos lobistas, incluem-se também alguns agentes
públicos que recebem vantagem indevida, em troca do uso da
influência que possuem em razão do cargo para beneficiar a
organização criminosa.
3.1. ELEMENTOS CARACTERIZADORES DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
Apesar da não existência de conceitos legais
do que venha a ser organização criminosa, a doutrina de há
muito já elenca as suas principais características.
Apresentam-se como notas básicas que permitem diferenciá-la
da criminalidade grupal e da simples co-autoria: a)
associação de várias pessoas, em um acordo criminoso de
vontades permanente, livre e consciente dos fins almejados,
com caráter de estabilidade; b) um setor estruturado com
chefias, equipes e funções determinadas a seus membros, como
se fossem verdadeiras empresas, e ainda que seus objetivos
sejam criminosos, funcionam no modelo empresarial, inclusive
com previsões de lucros, bem assim se compondo de grupos,
subgrupos e grupos menores, sempre com um líder, que, no
caso, mais do que se utilizando da força, se impõe pela sua
capacidade operativa e negocial; c) a corrupção de agentes
públicos para garantia da atividade fim (ingerência no poder
do Estado); d) atividades diversas de “supressão dos meios de
prova” (ÉLVIO FASSONE).
As ações de supressão dos meios de prova estão
caracterizadas pela preferência em tratarem de assuntos
importantes pessoalmente, evitando falar ao telefone, e pela
utilização de diversas linhas telefônicas, em nome de
terceiros que, aparentemente, não possuem vínculo com os
verdadeiros usuários das linhas.
Por oportuno, vale lembrar que cada vez mais
as organizações criminosas tomam o formato empresarial, como
é o caso da Construtora GAUTAMA e das empresas do mesmo grupo
(MANDALA, ECOSAMA, SILTE), tornando-se parte da economia
formal e, dependendo do grau de estruturação e
desenvolvimento, exercendo forte influência no poder público,
tendo em vista seu alto poder de corrupção. Não almejam o
poder estatal, mas o comprometimento dos agentes públicos.
Assim, o dinheiro “sujo” é utilizado para a corrupção destes,
os quais fazem parte do esquema criminoso.
É verdade irrefutável que as organizações
criminosas lançaram seus “tentáculos” e lograram se infiltrar
em Instituições Públicas corrompendo alguns de seus
integrantes que passaram a integrá-las auferindo os lucros
advindos da atividade criminosa. Pode-se afirmar com
convicção que, quando possuem a obrigação de coibir a conduta
criminosa praticada tornam-se peças fundamentais na relação
de causa e efeito do crime-fim.
Aqui cabe uma digressão: é certo que as
organizações criminosas especializam suas atividades em
compartimentos estanques, evitando-se, assim, que a eventual
descoberta pela polícia de um de seus níveis venha a
acarretar o desbarate de toda a quadrilha.
Desta forma, muitas vezes, os membros da mesma
organização desconhecem outros comparsas que desempenham suas
tarefas em níveis diversos.
Essa definição é importante para estabelecer o
papel de cada integrante dentro da quadrilha, uma vez que,
apesar de atuarem com união de desideratos, há os interesses
característicos de cada nível (chefe,
funcionários/intermediários e agentes públicos), além do
interesse pessoal de cada integrante nos crimes praticados.
Essas características básicas das organizações
criminosas encontram-se presentes no caso dos autos.
3.1.1. DOS INTEGRANTES DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA (níveis)
Ainda que a presente investigação tenha
sofrido sérios prejuízos com o vazamento de informações, o
qual aniquilou qualquer possibilidade de se investigar os
policiais federais de cujo envolvimento criminoso se teve
notícia inicialmente, foi possível se delinear o
funcionamento da organização criminosa liderada por ZULEIDO
SOARES DE VERAS e os diversos crimes por ela praticados,
utilizando-se da Construtora GAUTAMA Ltda. e as empresas a
ela vinculadas (empresa ECOSAMA, Construtora MANDALA Ltda. e
SILTE Participações S.A.).
A condução da investigação no âmbito do
Superior Tribunal de Justiça permitiu não só a ampliação dos
meios de obtenção de prova, mas principalmente elucidar
gradativamente a forma de agir do grupo e identificar cada
membro da organização, apurando a conduta daqueles que
possuem prerrogativa de foro.
Com a maturidade dos trabalhos de análise,
foram identificados novos integrantes e contextualizada a
participação de cada um dos membros do grupo, os quais
possuem participação efetiva e intensa nos atos preparatórios
e nos crimes da organização, bem como o modo de agir,
modificando-se a apresentação inicial da organização dada no
relatório parcial de inteligência I (compilação nº 01) – STJ.
O chefe da organização criminosa é o
empresário ZULEIDO SOARES DE VERAS, que se encontra acima da
atuação dos integrantes abaixo mencionados, encabeçando todo
o esquema criminoso. Ele é sócio-diretor da Construtora
GAUTAMA, responsável por chefiar a organização, dando as
diretrizes, coordenando e controlando as ações de seus
funcionários e intermediários e determinando o modo de agir
do grupo.
No primeiro nível da organização, atuando
efetiva e intensamente, encontram-se os funcionários diretos
de ZULEIDO, ou seja, aqueles que possuem relação direta de
subordinação para com o ele. Funcionam, em realidade, como
longa manus do chefe, mas tem ciência da atividade ilícita da
qual são peças fundamentais, beneficiando-se da mesma, por
meio de recebimento de salário e também de pagamentos
oriundos de dinheiro não contabilizado, ou seja, “caixa
dois”, referido pelos membros do grupo como “folha B” (v.
item 5).
Inserem-se nesse patamar: RODOLPHO DE
ALBUQUERQUE SOARES DE VERAS (filho de ZULEIDO), MARIA DE
FÁTIMA PALMEIRA, FLÁVIO HENRIQUE ABDELNUR CANDELOT, ABELARDO
SAMPAIO LOPES FILHO, BOLIVAR RIBEIRO SABACK, ROSEVALDO
PEREIRA MELO, TEREZA FREIRE LIMA, FLORENCIO BRITO VIEIRA, GIL
JACO CARVALHO SANTOS, HUMBERTO RIOS DE OLIVEIRA, JORGE E. DOS
S. BARRETTO, VICENTE VASCONCELOS CONI, DIMAS SOARES DE VERAS,
HENRIQUE GARCIA DE ARAÚJO, RICARDO MAGALHÃES DA SILVA e JOÃO
MANOEL SOARES BARROS.
Atuam de diversas maneiras em benefício da
organização, seja confeccionando planos de trabalho e/ou
editais de licitação, seja gerenciando os recursos
financeiros da empresa, inclusive transportando valores
destinados ao pagamento de “propinas” (FLORENCIO, GIL,
HUMBERTO, HENRIQUE GARCIA), seja atuando in loco junto aos
agentes públicos da localidade onde há obras em andamento, a
fim de garantir o pagamento de processos de medição
fraudados, mediante a prática de corrupção.
Cabe ressaltar que a maioria dessas pessoas
são escolhidas/cooptadas por ZULEIDO justamente por possuírem
algum vínculo com pessoas ocupantes de cargos estratégicos e,
como conseqüência, para servirem como ponte nos contatos mais
agressivos com integrantes de Poder (Ministérios, Governo do
Estado, Prefeituras Municipais, Câmara dos Deputados, Senado
Federal), por meio de “lobby” ou corrompendo-os para obter
ato de interesse do grupo.
É o caso de ROSEVALDO PEREIRA (funcionário
da GAUTAMA em 2006 e ainda servidor da Companhia de Água e
Saneamento de Alagoas, vinculado à SEINFRA/AL) e MARIA DE
FÁTIMA PALMEIRA, Diretora Comercial da GAUTAMA, oriunda do
Estado de Alagoas e que, em razão de já ter trabalhado na
Secretaria de Infra-Estrutura do Governo do Estado
(SEINFRA/AL), faz uso da influência que possui junto às
autoridades desse órgão para beneficiar o grupo, inclusive,
intermediando o pagamento de vantagens indevidas (v. Evento
Pratagy). Atua também em diversos outros órgãos, como o
Departamento Nacional de Infra-Estrutura Terrestre (DNIT),
reunindo-se com agentes públicos, a exemplo do Coordenador
Geral de Construção Rodoviária (da Diretoria de Infra-
estrutura Rodoviária do DNIT) LUIZ MUNHOZ PROSEL JUNIOR, a
fim de tratar de resolução de problema relativo à licença
ambiental para continuidade de execução de obra da BR 319/AM
(trecho km 166 a 370) e obtenção de mais recursos (V.
RELATÓRIO PARCIAL 5 STJ e Informação Policial n. 029/07).
Outro funcionário, cujos contatos pessoais
beneficiam a organização, é FLÁVIO CANDELOT, ex-diretor do
Departamento de Habitação da Secretaria Especial de
Desenvolvimento Urbano da Presidência da República durante o
Governo Fernando Henrique, atual Ministério das Cidades. Seus
principais contatos são: FLAVIO JOSE PIN (Superintendente
Nacional de Produto de Repasses da Caixa Econômica Federal);
o ex-deputado federal PEDRO CORREA e RODRIGO FIGUEREDO
(Secretário Executivo do Ministério das Cidades). FLAVIO
CANDELOT age como verdadeiro lobista em prol dos objetivos
ilícitos da organização criminosa. Seu papel principal é o de
criar e manter relações favoráveis aos interesses do grupo
com pessoas ocupantes de cargos estratégicos, inclusive
intermediando pagamento de vantagens, mesmo que sem a
imediata contraprestação de ato de ofício por parte de tais
pessoas, mas sempre visando a uma possibilidade futura. Pode-
se citar o caso do ex-Deputado Federal HUMBERTO MICHILES, o
qual recebeu dinheiro da GAUTAMA possivelmente para financiar
campanha eleitoral, por meio de seu filho TASSO MICHILES e de
depósito bancário na conta da empresa RB NEWS SIST.
INFORMAÇÕES S/C LTDA.. Para tanto, FLAVIO CANDELOT utilizou-
se de transferência bancária por meio da conta do Posto
Jardim Botânico de seu amigo LUIZ ROBERTO RIBEIRO BATISTA.
INFORMAÇÃO POLICIAL N. 031/06 - NAVALHA
No segundo nível da organização, estão os
parceiros da organização, que atuam como verdadeiros
prestadores de serviços ilícitos. Podem ser tanto
empresários, quanto agentes públicos, sendo que, em qualquer
caso, recebem vantagem indevida para usarem de sua influência
junto àqueles que podem, com a prática de atos de ofício,
beneficiar diretamente a organização (terceiro nível). Servem
também como intermediários no pagamento de “propina” aos
integrantes do terceiro nível da organização, suprindo ou
complementando a atuação dos integrantes do primeiro nível.
Inserem-se nesse patamar, com participação
efetiva e intensa: GERALDO MAGELA FERNANDES DA ROCHA, ex-
assessor do ex-Governador do Estado do Maranhão JOSE REINALDO
TAVARES; FLAVIO CONCEIÇÃO DE OLIVEIRA NETO, ex-Secretário da
Casa Civil do Governo de Sergipe e atualmente Conselheiro do
Tribunal de Contas do Estado de Sergipe, o qual, juntamente
com JOÃO ALVES NETO, filho do ex-Governador de Sergipe JOÃO
ALVES FILHO, possibilitou a liberação de pagamentos de obra
para a GAUTAMA; JOSE EDSON VASCONCELLOS FONTENELLE,
empresário ligado a RODOLPHO DE VERAS (filho de ZULEIDO),
para o qual intermediou contatos com funcionários da
Prefeitura de Camaçari/BA; ALEXANDRE DA MAIA LAGO e FRANCISCO
DE PAULA LIMA JÚNIOR (conhecido como PAULO LAGO), ambos
referidos como sendo sobrinhos do Governador do Maranhão
JACKSON KEPLEER LAGO; JAIR PESSINE, que intermediou pagamento
de “propina” ao Prefeito de Sinop/MT (NILSON LEITÃO); ERNANI
SOARES GOMES FILHO, ROBERTO FIGUEIREDO GUIMARÃES(Presidente
do BRB) e ZAQUEU DE OLIVEIRA FILHO, responsável por
intermediar vantagens para o Prefeito de Camaçari LUIZ CARLOS
CAETANO.
ERNANI SOARES GOMES FILHO é servidor do
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão do Governo
Federal, mas está cedido à Câmara dos Deputados. Sua função
na ORCRIM é a de obter, junto ao referido Ministério,
liberação de orçamento para as obras de interesse da
organização (v. EVENTO PRATAGY e INFORMAÇÃO POLICIAL N.
016/07).
ROBERTO FIGUEIREDO GUIMARÃES foi Secretário do
Tesouro Nacional no período de 03/1990 a 10/1992 na mesma
época em que SIMÃO CIRINEU (ex-Secretário do Planejamento do
Maranhão). Em razão disso, BETINHO, como é conhecido, possui
influência na STN, agilizando a liberação de recursos para
obras de interesse da organização, bem como relacionamento
estreito com as autoridades políticas do Maranhão. De fato,
em 2006 foi contratado por inexigibilidade de licitação como
consultor financeiro do Governo do Maranhão, favorecendo
ainda mais a organização criminosa (v. EVENTO MARANHÃO).
Atualmente ocupa a presidência do Banco de Brasília – BRB.
Verificou-se também a participação efetiva e
intensa do empresário SÉRGIO LUIZ POMPEU SÁ, na intermediação
de contatos entre o grupo criminoso, JORGE TARGA JUNI
(Diretor da Companhia Energética do Piauí – CEPISA) e IVO
ALMEIDA COSTA (Assessor Especial do Ministro das Minas e
Energia SILAS RONDEAU), o qual também auxiliou nos contatos
com o Ministério das Minas e Energia (Ministro SILAS
RONDEAU).
Com participação efetiva está JAIR PESSINE,
ex-Secretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente da
Prefeitura de Sinop/MT, o qual intermediou a assinatura de
contrato com a Prefeitura de Sinop, junto ao atual Prefeito
NILSON APARECIDO LEITÃO.
Cabe ressaltar que muitos desses
intermediários encobrem a origem ilícita da vantagem
pecuniária recebida fazendo uso das empresas que possuem. É o
caso de ROBERTO FIGUEIREDO (PLANOS Consultoria Financeira
Ltda.) e GERALDO MAGELA (POOL Comunicações Ltda.), que
recebem vantagens pecuniárias, via de regra, por depósito
bancário. Quando o uso de tal artifício não é possível, não
havendo como justificar a origem do dinheiro, a remessa do
montante deve ser feita em espécie e por meio de transporte
clandestino (v. descrição do modus operandi e eventos).
No terceiro nível da organização, estão os
agentes públicos municipais, estaduais e federais, os quais,
em razão do cargo que ocupam, beneficiam diretamente a
ORCRIM, mediante a prática de atos de ofício, recebendo, para
tanto vantagens indevidas.
Nesse nível, a participação desses integrantes
pode ser efetiva e/ou intensa, sendo caracterizada essa
intensidade do envolvimento pela qualidade da atuação
(posicionamento do servidor dentro da própria organização),
ou pela quantidade de contatos, pagamentos, dados repassados
ou outros indicadores de permanência do vínculo do servidor
com o grupo criminoso.
Podem contatar diretamente o chefe e os
integrantes do primeiro nível e/ou atuar por interposição de
pessoas (como é o caso de JOSE REINALDO TAVARES, JOSÉ IVAN DE
CARVALHO PAIXÃO, LUIZ CARLOS CAETANO, JACKSON KEPLER LAGO,
NILSON APARECIDO LEITÃO).
Apesar do acordo livre e consciente para a
prática de crimes com um objetivo comum, os integrantes desse
nível hierárquico nem sempre atuam por devoção à quadrilha ou
por compromisso moral, pois sua motivação é venal. Por esse
motivo, não hesitam em frustrar seus compromissos com a
quadrilha, caso seja necessária uma exposição maior ou se
mostre perigosa a prática do ato de ofício ou a omissão
desejada (p. ex.: redução do valor do pagamento de medição de
obra por exclusão de algum item cuja manutenção poderia levar
à responsabilização por órgãos de fiscalização). Da mesma
forma, quando deixam de ocupar os cargos, não apresentando
mais qualidades que interessem à organização, são
imediatamente descartados por ela, a qual se articula para
abordar seus substitutos.
Na Prefeitura de Camaçari/BA, atuam efetiva e
intensamente, o Secretário de Obras - IRAN CESAR DE ARAÚJO
FILHO, o assessor deste - EDÍLIO PEREIRA NETO, o
Subsecretário de Obras - EVERALDO JOSE DE SIQUEIRA ALVES e o
próprio Prefeito - LUIZ CARLOS CAETANO.
No Governo do Estado de Alagoas, a organização
conta com a participação efetiva e intensa do Secretário de
Infra-Estrutura - ADEILSON TEIXEIRA BEZERRA, do Subsecretário
- DENISSON DE LUNA TENÓRIO, do Diretor de Obras - JOSE VIEIRA
CRISPIM, além ENEAS DE ALENCASTRO NETO (Representante do
Governo de Alagoas em Brasília), o qual faz uso de sua
influência junto ao Governador TEOTONIO BRANDÃO VILELA FILHO
para beneficiar a organização. No ano de 2006 também atuou em
favor da organização o então Secretário de Infra-Estrutura
MARCIO FIDELSON MENEZES GOMES.
No Governo do Estado do Maranhão, favorecendo
a organização na liberação de pagamentos de obras, atuaram o
atual Secretário de Infra-Estrutura - NEY DE BARROS BELLO e o
Governador JACKSON KEPLER LAGO. Da mesma forma, com relação
ao Governo anterior, identificou-se o fiscal da Secretaria de
Infra-Estrutura (SINFRA/MA) - SEBASTIÃO JOSÉ PINHEIRO FRANCO,
o funcionário da SINFRA - JOSE DE RIBAMAR RIBEIRO HORTEGAL o
então Procurador-Geral do Estado – ULISSES CESAR MARTINS DE
SOUSA (conhecido como GORDINHO) e o ex-Governador JOSE
REINALDO TAVARES.
Em Sergipe, foi efetiva a participação do ex-
deputado federal JOSÉ IVAN DE CARVALHO PAIXÃO, na obtenção de
recursos federais do Ministério da Integração Nacional para
obra da Adutora do Rio São Francisco, executada pela
Construtora GAUTAMA.
Em Brasília, o Deputado Distrital PEDRO PASSOS
JUNIOR também favoreceu a GAUTAMA na execução do Convênio
257/2000.
O Prefeito de Sinop/MT, NILSON APARECIDO
LEITÃO, teve participação efetiva, possibilitando a
contratação da GAUTAMA para a construção de rede de esgoto no
Município.
Com participação efetiva e intensa,
corroborada pelo modo de agir da quadrilha investigada,
identificou-se FLAVIO JOSE PIN, Superintendente Nacional de
Produtos de Repasses da Caixa Econômica Federal (SUREP).
Conforme se tem conhecimento, a SUREP é órgão
operacionalizador de contratos de repasse do Ministério das
Cidades e tem como atribuição receber as propostas (consultas
públicas) pré-selecionadas pelo Ministério das Cidades, de
acordo com critérios técnicos descritos no Manual do
Ministério, e homologadas pelo Secretário Executivo e pelo
Ministro das Cidades. Ao receber tais propostas, a SUREP
realiza o empenho dos recursos das propostas pré-selecionadas
e solicita a documentação necessária ao órgão que encaminhou
a proposta (Prefeitura ou Governo do Estado). Recebida a
documentação (plano de trabalho, projeto básico e social
etc.) e cumpridos os requisitos, é emitido o SPA (Síntese de
Projeto Aprovado) e assinado o Contrato de Repasse (este
procedimento está detalhadamente descrito no TC 017.387/2006-
3).
Nesse contexto, ficou comprovado que FLAVIO
PIN, no exercício de sua função, livre e conscientemente,
contribui para que a organização atinja seu fim criminoso,
tendo em vista que, conforme já se mencionou, mantém contatos
freqüentes e diretos com FLAVIO CANDELOT, funcionário da
GAUTAMA, orientando-o quanto às pendências existentes para a
liberação do SPA e, consequentemente, a assinatura de
Contrato de Repasse, além de trabalhar para que as obras da
GAUTAMA recebessem recursos oriundos do PAC (ex.: obra do
Tabuleiro do Martins em Alagoas e urbanização de favela em
São João de Meriti/RJ). FLAVIO PIN orienta FLAVIO CANDELOT a
providenciar planos de trabalho, ofícios de Prefeitos e
Governadores, projetos e outros documentos, como se o mesmo
representasse o órgão proponente (Prefeitura ou Governo do
Estado), agindo na certeza de que o objeto do futuro contrato
de repasse estaria garantido para a Construtora GAUTAMA, o
que é ainda mais grave pelo fato de que a CEF tem também a
atribuição de fiscalizar a regularidade do processo
licitatório.
INFORMAÇÃO POLICIAL N. 043/07 - NAVALHA
3.1.2. INGERÊNCIA DA ORGANIZAÇÃO NO PODER DO ESTADO:
Dentro da atuação dos agentes do Estado
alcançados pela organização criminosa, cabe contextualizar as
formas de aproximação identificadas ao longo de diversas
operações policiais conduzidas pelo DPF.
Fator sempre presente no estudo de
organizações criminosas, a promiscuidade da quadrilha
especializada com o Estado pode ocorrer em três níveis:
1º) direto e efetivo: onde as atividades dos
agentes públicos são indissociáveis das ações centrais dos
demais integrantes da organização criminosa, inserindo-se na
própria definição do crime de quadrilha.
Ao lado da atividade-fim, aparecem os
integrantes da organização que, cientes dos fins almejados
pela quadrilha, atuam efetiva e intensamente em suas áreas
para garantir a prática criminosa.
2º) periférico ou indireto: a atuação efetiva
e/ou intensa do agente estatal é um auxílio ou obstáculo à
perpetração do ilícito. Esse obstáculo é então removido ou o
auxílio é conseguido para consecução do crime-fim através da
prática do crime intermediário (corrupção, violação de sigilo
funcional, prevaricação, interceptação telefônica ilegal,
advocacia administrativa etc.).
3º) remoto ou desejável: sob o manto do
relacionamento amistoso, da aparente legalidade e
legitimidade, a organização criminosa tenta se aproximar ou
demonstrar proximidade com ocupantes de altos cargos do
Poder, alardeando prestígio e facilidades, com ou sem ciência
do agente estatal quanto aos objetivos da quadrilha.
No caso da presente investigação, verificou-se
que as atividades dos agentes públicos dos quais a
organização se aproxima afetam diretamente a atividade-fim da
quadrilha. Esta atua diretamente sobre os ocupantes de cargos
estratégicos, determinando quais atos de ofício devem ou não
ser praticados. De outra maneira, não teriam sucesso no fim
almejado, ou seja, a obtenção de lucro.
Conforme a doutrina atual, o crime de
corrupção de servidores públicos de alto escalão pode ocorrer
de diversas formas, facilmente dissimuladas na forma de
concessões, presentes e agrados aparentemente
despretensiosos, os quais, no caso de não se identificar de
plano o ato de ofício praticado ou omitido, vão pavimentando
o relacionamento entre investigados em potencial com agentes
públicos (ex.: camarotes no Carnaval de Salvador,
fornecimento de garotas de programa, pagamento de estada em
hotéis e passagens aéreas – v. eventos específicos).
Por tal motivo, a jurisprudência já se firma
no sentido de que, para que os presentes, os “mimos” e as
concessões oferecidas ao agente público, em razão do cargo,
não caracterizem o crime de corrupção passiva e ativa, exige-
se: 1º. ausência de habitualidade; 2º. ausência de
correspondência – qualquer correspondência - com ato de
ofício praticado, independente do valor ofertado ou recebido
(princípio doppia assenza).
A doutrina de Contra-Inteligência Policial do
DPF preconiza que a existência de organização criminosa está
intimamente ligada à ingerência da quadrilha no aparelho
estatal, onde as atividades dos agentes públicos são
indissociáveis das ações centrais dos demais integrantes da
organização criminosa.
3.2. MODO DE AGIR
Para atingir seu objetivo primário, ou seja, a
obtenção de máximo lucro por meio de execução de obras
públicas, a organização atua nas diversas fases por que passa
o recurso público. Isso significa dizer que ela atua desde a
previsão orçamentária inicial para obras de seu interesse até
o efetivo recebimento de pagamento pela execução da obra,
sempre com a participação de agentes públicos no esquema
criminoso.
Para a obtenção de recursos, a organização
atua tanto junto a parlamentares para a obtenção de verba
para obras de seu interesse (ex.: ex-Deputado Federal IVAN
PAIXÃO, Deputado distrital PEDRO PASSOS), quanto junto a
Prefeituras ou Governo dos Estados para a elaboração de
propostas para celebração de Convênios ou Contratos de
Repasse (quando via Caixa Econômica Federal). Neste caso, na
maioria das vezes, elaboram os próprios planos de trabalho,
apresentando-os ao Ministério respectivo. Concomitantemente,
agem junto ao Ministério do Planejamento (ERNANI SOARES) para
obter previsão orçamentária e também junto ao Ministério da
Fazenda, em especial, à Secretaria do Tesouro Nacional
(ROBERTO FIGUEIREDO), para a liberação imediata do recurso.
Quando almejam celebração de convênio com o Ministério das
Cidades, atuam também junto à Superintendência Nacional de
Produtos de Repasse da Caixa Econômica Federal (FLAVIO PIN),
tendo em vista a necessidade de celebração de contrato de
repasse com esta instituição, a qual é responsável por
analisar e selecionar a proposta, bem como fiscalizar a
execução da obra.
Fraude à licitação: após conseguirem a
celebração de convênio, torna-se necessário oficializar junto
ao órgão convenente a execução da obra, por meio do
vencimento do certame licitatório, cujo edital, muitas vezes,
elaboram. Vencido o certame, passam à fase da fraude na
execução da obra.
Fraude na execução: a execução de obra pública
deve obedecer ao cronograma físico-financeiro previsto e
aprovado no Plano de Trabalho. Ocorre que a ORCRIM, ao dar
entrada nos chamados processos de medição, por meio dos quais
deveria apresentar e comprovar a parte da obra que foi
efetivamente executada, sujeitando-se à conferência por parte
da Secretaria de Infra-Estrutura do órgão contratante,
corrompe os agentes públicos responsáveis pela fiscalização e
pagamento, a fim de que aprovem e paguem medições irregulares
ou mesmo inexistentes. Há diversas referências a
“adiantamentos”, indicando que receberam o pagamento por obra
não executada. Muitas das irregularidades presentes nas obras
da Construtora GAUTAMA são objeto de processos no Tribunal de
Contas da União.
O pagamento de vantagem indevida é feito
sempre que necessário e de duas maneiras – oficialmente ou
clandestinamente. No primeiro caso, o corrompido emite
faturas de sua empresa (de consultoria, comunicação), lavando
o dinheiro ilícito recebido. Caso isso não seja possível, o
dinheiro deve chegar a suas mãos clandestinamente. Foram
feitos diversos acompanhamentos em que funcionários da
GAUTAMA (em especial os do setor financeiro) e o próprio
ZULEIDO transportaram quantia em espécie para serem entregues
aos agentes públicos destinatários (v. informações policiais
abaixo e eventos).
INFORMAÇÃO POLICIAL N. 009/07 - NAVALHA
INFORMAÇÃO POLICIAL N. 023/07 – NAVALHA
INFORMAÇÃO POLICIAL N. 014/07 – NAVALHA
INFORMAÇÃO POLICIAL N. 024/07 – NAVALHA
INFORMAÇÃO POLICIAL N. 026/07 - NAVALHA
O tópico referente aos crimes supostamente
praticados pelos integrantes da organização criminosa aponta
a participação de cada participante no fato mencionado.
4. DOS CRIMES PRATICADOS (EVENTOS)
A organização criminosa em investigação
demonstrou estar articulada para consecução de seus
objetivos, ainda que, para tanto, tenha que utilizar
ilegalmente os contatos que possui com detentores de poder.
Abaixo seguem resumos das situações e os meios
de prova indicadores de suposta prática de crimes por
integrantes da organização criminosa investigada, com a
provável participação de servidores públicos e agentes
políticos, cujas circunstâncias em alguns dos eventos só
serão esclarecidas com a deflagração de fase ostensiva
(busca, interrogatórios etc.).
Esclareça-se que os eventos abaixo não exaurem
todas as situações envolvendo os integrantes da organização
criminosa supostamente identificada, mesmo porque diversos
relatórios parciais já foram encaminhados ao juízo, sendo o
presente relatório parcial a compilação das principais
situações averiguadas, podendo ser complementado a qualquer
tempo com novos elementos probatórios, à medida que a
investigação evoluir.
Isso significa que há outros eventos
identificados no curso da investigação que, embora tão
relevantes quanto os ora apresentados, não foram analisados,
compilados ou identificados ao tempo da apresentação do
presente relatório. Esses trabalhos estão em andamento.
Como já dito, a utilização de outras técnicas
- em especial as ostensivas, como a busca e apreensão -
poderá esclarecer pontos ainda não definidos de alguns
eventos abaixo:
Nº QUADRO DE EVENTOS II
01 EVENTO CAMAÇARI
02 EVENTO PRATAGY
03 EVENTO PONTES
04 EVENTO SERGIPE (CONVENIO 539364)
05 EVENTO RIO PRETO
06 EVENTO SINOP
07 EVENTO LUZ PARA TODOS
08 EVENTO AVIÃOZINHO
5. DOS PROVENTOS DO CRIME
Conforme se pode constatar, a organização
criminosa beneficia-se dos proventos dos crimes que pratica,
acrescendo a seu patrimônio: automóveis, lanchas, fazendas,
apartamentos, viagens e festas, com o uso do dinheiro
público, sendo tais produtos novamente utilizados para
proporcionar vantagens a agentes públicos em troca de
atendimento aos interesses da quadrilha (ex.: passeios de
lancha, camarotes no Carnaval, passagens aéreas e hospedagem
em hotéis).
De outra parte, os próprios funcionários da
Construtora recebem diretamente, além do salário oficial,
outro tipo de pagamento não contabilizado na empresa, que
chamam de “folha B” e que é entregue sob a forma de remessas
clandestinas em espécie ou depósitos bancários em contas de
terceiros, como é o caso de FLAVIO CANDELOT, o qual, conforme
se apurou, faz uso da conta bancária de posto de gasolina de
propriedade de LUIZ ROBERTO RIBEIRO BATISTA (POSTO JARDIM
BOTÂNICO e outros), o qual também fornece notas fiscais
“frias” para a GAUTAMA.
Identificaram-se, ainda, indícios de prática
de lavagem de dinheiro por meio da compra de gado em leilões.
HENRIQUE GARCIA DE ARAÚJO, funcionário da GAUTAMA, é o
responsável por administrar uma fazenda da quadrilha e por
gerenciar a compra e venda de gado. O pagamento das contas da
fazenda também é feito com dinheiro oriundo da prática de
crime, o qual é transportado clandestinamente em espécie de
Salvador a Brasília.
INFORMAÇÃO POLICIAL N. 023/07 – NAVALHA
6. CONCLUSÃO
Foi identificada a forma de agir da
organização criminosa especializada na prática de crimes de
corrupção de agentes públicos e fraudes de diversos tipos,
com o objetivo de garantir o lucro por meio da execução de
obras públicas.
A nocividade das atividades da organização
está demonstrada pelos diversos crimes praticados, bem como
pelas medidas e contra-medidas tomadas pelos investigados, a
fim de encobrir suas condutas criminosas.
Para aclarar as poucas situações pendentes de
apuração das circunstâncias, necessário se faz utilizar
técnicas ostensivas de investigação, especialmente com
realização de buscas em locais de interesse para obtenção de
prova.
Da mesma maneira, o início dessa nova fase
deve coincidir com a neutralização da atuação da organização
criminosa identificada, retirando-se de circulação os
integrantes da quadrilha que possuam participação intensa na
atividade investigada, sob pena de frustrar futuros atos de
persecução.
Brasília, de 08 de maio de 2007.
ANDREA TSURUTA ANTONIO DE PÁDUA VIEIRA CAVALCANTI
Delegada de Polícia Federal Delegado de Polícia Federal