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Rugendas

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O CATÁLOGOFUNDAMENTADODA OBRA DEJ. M. RUGENDAS

P A B L O D I E N E R

E algumas idéiaspara a interpretaçãode seus trabalhossobre o Brasil

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ticulares da Alemanha ou ainda espalhadaspor todo o continente americano.

A partir de uma breve referência biográ-fica serão resumidos, na seqüência, os princi-pais momentos da história referente à con-centração e à dispersão da obra de Rugendas.Essa síntese é o resultado do trabalho decopilação e catalogação da obra de Rugendas,estudo que concluí recentemente em um pro-jeto de pesquisa desenvolvido nas universi-dades de Augsburgo e de Zurique. Essa visãode conjunto permitirá, por último, dar algu-mas idéias para uma interpretação global daobra americana do pintor bávaro e uma aná-lise mais diferenciada no contexto da pinturada época. Particularmente, penso que nestaperspectiva também será possível vislumbrarcom mais nitidez a concepção intelectual daobra no âmbito de cada um dos países queRugendas visitou.

BIBLIOGRAFIA

Rugendas pertence à sétima e última ge-ração de uma família de artistas de origemfrancesa radicada em Augsburgo desde o sé-culo XVII. Os Rugendas tinham se destacadosobretudo como pintores de batalhas. JohannMoritz foi educado nessa tradição e, por issomesmo, nos primeiros exercícios de sua car-reira artística deparamos com numerosascópias das obras de seus antepassados. Du-rante sua aprendizagem, Rugendas foi discí-pulo do também alemão Albrecht Adam, outroimportante pintor de batalhas, e posteriormen-te estudou na Academia de Munique. A gran-de virada na carreira de Rugendas ocorreucom o convite que recebeu do barãoLangsdorff para participar como desenhistana expedição ao Brasil. Para o jovem artistase abriu um leque de novas possibilidadesque acabaram por distanciá-lo definitivamenteda pintura de batalhas e o levaram ao círculodos pintores-viajantes. Nesse sentido, Ru-gendas encontrou no Brasil, nos artistas da“Misión Artística Francesa” e na expediçãode Langsdorff, a primeira escola na qual seiniciou como artista-viajante. Depois de qua-se três anos trabalhando para Langsdorff,Rugendas abandonou a expedição e em pou-co tempo retornou à Europa. Graças ao apoio

O artista alemão Johann Moritz Rugendas (1802-58) visitou o Brasil em duas ocasiões. Entremarço de 1822 e maio de 1825

trabalhou no Brasil como desenhista da expe-dição científica do barão Georg Heinrich vonLangsdorff, e de julho de 1845 a agosto de1846 fez uma escala de um pouco mais de umano no Rio de Janeiro; ali concluiu sua gran-de viagem americana, durante a qual haviapercorrido o continente desde o México até oCabo de Hornos.

Os vinte anos que separam essas duasestâncias brasileiras marcam a etapa mais ricada produção artística de Rugendas. Na déca-da de 1820, o artista havia chegado ao Brasilquando tinha somente 19 anos; acabava deconcluir sua formação artística na Academiade Munique, não tinha nenhuma experiênciano trabalho de ilustrador que teria que reali-zar sob as ordens de Langsdorff e seus conhe-cimentos sobre o país eram muito escassos.Os trabalhos realizados durante a primeiravisita ao Brasil foram feitos sem obedecer aum projeto artístico próprio e previamenteelaborado; a seleção dos temas e a forma deapreendê-los estiveram determinadas funda-mentalmente pela experiência e pelas moti-vações que Rugendas encontrou no caminho.Cabe considerá-los como uma obra de juven-tude. Na segunda estância, por outro lado,nos encontramos diante de um artista madu-ro, que chega ao Rio de Janeiro depois dequinze anos viajando pela América e que sepropõe a concluir o principal projeto de suacarreira artística.

Para uma valorização acabada da obrarealizada por Rugendas no que se refere tantoao Brasil como a todos os demais países quevisitou, é de importância primordial enquadrá-la no conjunto de sua obra. Satisfazer o requi-sito de um conhecimento completo da obrade Rugendas constitui uma tarefa difícil por-que nos achamos frente a um corpus de enor-me dimensão, que soma aproximadamenteseis mil peças no total, entre pinturas a óleo,aquarelas e desenhos. É verdade que a maiorparte dos trabalhos de Rugendas se acha emduas coleções alemãs, em Munique e emAugsburgo, mas o restante se encontra dis-perso em numerosas coleções públicas e par-

O

Tradução deElizabeth Kochgoriane Rosemeire da Silva

PABLO DIENER éprofessor daUniversidade deMunique, Alemanha.

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entusiasta que Alexander von Humboldtmanifestou pela obra de seu jovem com-patriota em Paris, Rugendas conseguiu pu-blicar seu famoso livro com cem litografias,o Voyage Pittoresque dans le Brésil, pela edi-tora parisiense de Engelmann & Cia entre1827 e 1835.

Outra etapa essencial na aprendizagem ena carreira artística de Rugendas foi sua es-tância em Paris e sobretudo em Roma. Foi alique teve contato com as vanguardas artísticasda época e onde, em última instância, apren-deu a pintar. Até então, tinha sido um fieldiscípulo da escola alemã, na qual predomi-nava a preferência pelo desenho como crista-lização da idéia artística, e para a qual a corestava sujeita a desempenhar um papel se-cundário. Entre 1825 e 1830, Rugendas co-nheceu a obra de Jean Baptiste Camille Corote de William Turner, em Paris teve contatocom o aquarelista inglês Richard P. Boningtone em Roma travou amizade com o pintorberlinense Carl Blechen, o alemão que maisdecididamente praticou a pintura ao ar livrerecorrendo ao esboço a óleo. Nos anos de suaestância européia, entre 1825 e 1830,Rugendas ampliou seu horizonte artístico e,por outro lado, adquiriu uma grande baga-gem de informação sobre o continente ame-ricano graças à sua amizade com Alexandervon Humboldt. Esses foram anos de gestaçãode seu projeto de realizar uma grande viagemamericana com a intenção de reunir materialpara publicar uma obra de caráter enciclopé-dico-artístico, seguindo o exemplo dos traba-lhos de seu protetor Alexander von Humboldt.

A grande viagem americana de Rugendasteve início no mês de julho de 1831 no Méxi-co. Em seguida visitou o Chile, o Peru, aBolívia, a Argentina, o Uruguai e o Brasil,onde concluiu seu percurso em 1846. Estepériplo é o mais amplo e o maior levado acabo por um artista europeu na primeira me-tade do século XIX. Além disso, a obra deRugendas é a mais rica quanto à variedadetemática: assim como no México seu interes-se se centra na natureza e na paisagem, noChile se destacam os trabalhos sobre a popu-lação indígena da Araucânia e sobre ocostumbrismo; no Peru, seus desenhos detemas arqueológicos estão entre os trabalhos

pioneiros da arqueologia andina e seus estu-dos sobre a arquitetura colonial denotam umaextraordinária espontaneidade receptiva quelhe permitiu ver aqueles monumentos sem aconotação político-histórica que lhes impu-nha a época. Na Argentina e no Uruguai,Rugendas se soma ao interesse rio-platensepela vida interior de ambas as repúblicas dopampa e sobretudo de seus habitantes, osgauchos (*). A segunda estância de Rugendasno Brasil se reduziu ao Rio de Janeiro. Maisque uma continuação de sua obra precedente,aproveitou as oportunidades que lhe foramoferecidas para expor na academia carioca epara pintar uma série de retratos do impera-dor e sua família.

A OBRA E SUA CATALOGAÇÃO

Durante sua viagem americana, Rugendasconservou a maior parte de seus trabalhos.Excepcionalmente, desprendeu-se de seusdesenhos, aquarelas ou esboços a óleo. O queficou nos países americanos foram algunsálbuns e, sobretudo, um bom número de qua-dros a óleo sobre tela, obras acabadas em todosos seus detalhes, realizadas seguindo as exi-gências da escola classicista. No que se refereao projeto artístico de Rugendas, isto é, suaintenção de publicar uma ou várias obrasilustradas sobre a América, teve comoconseqüência uma grande concentração desua obra. Mas, uma vez na Europa, ao fracas-sar sua intenção de publicar seus trabalhosem Paris e ao dificultar-se mais e mais a con-clusão desse projeto na Alemanha, Rugendasoptou por vender sua obra à coroa da Bavieracom a esperança vã de uma posterior publica-ção. Nessa ocasião, vale dizer, em 1848, opróprio Rugendas redigiu uma lista das obrasque entregava: um total de 3.022 folhas – entredesenhos, aquarelas e esboços a óleo – detodo o périplo americano, desde sua primeiraestância no Brasil, passando também pelopercurso no México e na América do Sul,para concluir com a segunda estância no Bra-sil. Esse documento é a base para qualquerordenação da obra de Rugendas; ali estãoenumerados os temas da geografia física ehumana, em termos gerais do mundo e davida americana que ele percebeu como moti-

*Gauchos: mantém-se o ter-mo espanhol; refere-se aoshabitantes dos pampas ar-gentino e uruguaio (N. do T.).

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pode acompanhar passo a passo seu desen-volvimento desde os primeiros trabalhos fei-tos no ateliê paterno, passando pela aprendi-zagem em Munique e na Itália, até as últimasobras realizadas depois do seu retorno à Eu-ropa e até a sua morte.

Outras duas coleções importantes tanto porseu volume como pela homogeneidadetemática são a da Academia Russa de Ciênciasem São Petersburgo e a dos museus estatais deBerlim (Iberoamerikanisches Institut eMuseum für Völkerkunde). A Academia Rus-sa de Ciências conta em seus fundos com 79folhas de temas brasileiros; as obras desta co-leção são as ilustrações que Rugendas entre-gou a Langsdorff ao abandonar a expedição.Apesar de se tratar de uma seleção muito redu-zida do total da obra feita por Rugendas noBrasil, oferece um excelente panorama de to-dos os temas abordados pelo jovem artistadurante sua primeira estância neste país. Ascoleções berlinenses, por sua vez, possuem 199esboços a óleo pintados no México entre 1831e 1834 e enviados por Rugendas à Alemanha,sobretudo a Alexander von Humboldt. A essemesmo conjunto de obras sobre o Méxicoenviadas à Alemanha pertencem também os37 esboços a óleo que Berlim repassou aoMuseu Nacional de História da Cidade doMéxico. Esse conjunto de 236 esboços a óleocobre toda a estância de Rugendas no México.

Essas coleções reúnem mais de dois terçosdos trabalhos de Rugendas e abarcam pratica-mente todos os temas tocados pelo artista.Assim, poderia parecer que o restante não émais que uma quantité négligeable. Contudo,ao revisar quais são os tipos de obras que seencontram dispersos, ou seja, que não fazemparte das quatro coleções mencionadas, vere-mos que são determinantes tanto para a com-preensão de Rugendas em sua qualidade deartista como também no que se refere à suaforma de apreender a América. Assim, porexemplo, há um evidente interesse pela loca-lização e identificação da obra alienada pelosmuseus alemães no decorrer deste século, prin-cipalmente no que diz respeito ao Brasil. Se sepretende uma aproximação à personalidadeartística de Rugendas é também imprescindí-vel o conhecimento detalhado de sua obra aóleo, e não apenas dos esboços a óleo que se

vos artísticos para desenvolver em sua obra.Este corpus fundamental do conjunto dos tra-balhos de Rugendas assim como uma cópiada lista se encontram atualmente na Coleçãode Arte Gráfica de Munique (StaatlicheGraphische Sammlung München). Entretan-to, do total das obras entregues por Rugendasao Estado da Baviera falta praticamente tudoo que se refere ao Brasil e uma parte importan-te dos desenhos de tema costumbrista argenti-no, aproximadamente 500 folhas. Este con-junto foi vendido em 1928 ao negociante dearte Washt Rodrigues; posteriormente se dis-persou e passou a numerosas coleções particu-lares da Argentina e do Brasil. Uma parte im-portante das obras dedicadas à população indí-gena da Araucânia se perdeu durante a Segun-da Guerra Mundial. Apesar dessas lacunas, oMuseu de Munique possui, sem dúvida, a prin-cipal coleção da obra de Rugendas.

Assim como a coleção muniquense reúnea espinha dorsal das viagens americanas, acoleção de arte da cidade de Augsburgo(Städtische Kunstsammlungen Augsburg)possui um total de aproximadamente 800folhas, que o artista e sua família doaram àsua cidade natal. O mais destacado das obrasdesta coleção está constituído por peças departicular interesse biográfico; estão ali osprimeiros desenhos que Rugendas realizouainda adolescente, como também numerosasobras que concluiu depois de seu retorno àEuropa, a partir de 1846. A coleção deAugsburgo possui, além disso, a totalidadeda obra feita na Itália, um conjunto de 257folhas de sua viagem pela península italiananos anos de 1828 e 1829. Por último,Augsburgo possui obras da viagem america-na, numerosos retratos e réplicas de algumasobras que havia entregado à coroa da Baviera.Como no caso da coleção de Munique, oMuseu de Augsburgo alienou por volta decinqüenta obras entre as décadas de 1920 e1950, uma parte através da casa deHiersemann, um negociante de arte deLeipzig, e outra parte pelas mãos do catedrá-tico de arte norte-americano David James.Mais que o valor meramente artístico das obrasda coleção da cidade de Augsburgo, este con-junto oferece um especial interesse quanto àbiografia artística de Rugendas, já que ali se

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conservam em especial em Munique e emBerlim, mas também dos óleos acabados queficaram majoritariamente em coleções priva-das nos diferentes países americanos. Outrogrupo de obras que se dispersou são os álbunsde desenhos. O exemplo mais destacado, e quese conserva sem alterações ou perdas, é o Ál-bum de Carmen Arriagada, que pertence àBiblioteca Nacional de Santiago do Chile.Trata-se, neste caso, de um conjunto de 52folhas entre desenhos, aquarelas e esboços aóleo que Rugendas reuniu em um álbum, umaespécie de autobiografia ilustrada, com o qualobsequiou sua amante chilena Carmen Arrai-gada por volta de 1842.

A copilação do enorme legado artísticode Rugendas foi acompanhada da criação deum arquivo fotográfico da totalidade de suaobra, que se apresenta particularmente im-portante no caso das peças que se encontramem coleções privadas pela freqüência às ve-zes surpreendente com que estas costumammudar de proprietário. Se a busca e o inven-tário da obra apresentaram um sem-fim dedificuldades de ordem prática que não mere-cem ser descritas aqui, não acontece o mes-mo com as questões colocadas no processode ordenação e catalogação da obra, que cons-titui um tema de importância primordial, poisnele se definem alguns critérios medularespara a interpretação da obra do artista.

Como ponto de partida para a cataloga-ção, conjugaram-se aspectos geográficos ecronológicos e, no essencial, o catálogo estáestruturado em função da rota seguida porRugendas em suas viagens. Desse modo,apresentou-se razoável reunir em um capítu-lo todas as obras referentes ao mesmo país.No caso do Brasil, por exemplo, os trabalhosestão separados pelos vinte anos que trans-correram entre as duas estâncias de Rugendasno país. Entretanto, é evidente que aqui aprimazia é dada ao critério geográfico paranão isolar as poucas obras que Rugendas fezsobre o Brasil durante sua segunda visita –ainda mais se levamos em conta que com fre-qüência a datação dos desenhos não pode tersenão um caráter de tentativa. Ou, no âmbitoda obra referente ao México, nos encontra-mos com um bom número de obras de temamexicano que foram feitas anos mais tarde,

no Chile, durante a segunda estância no Bra-sil ou até mesmo depois do retorno do artistaà Europa; também nesse caso se optou porreuni-las com o conjunto da obra mexicana.Quanto à estruturação interna da obra referi-da a cada um dos países, foi difícil não su-cumbir à tentação de submeter esses conjun-tos a um esquema único e aplicá-lo por igualà obra sobre o Brasil, o México, o Chile e oPeru. Todavia, finalmente se optou por apli-car critérios mais diferenciados nos quais selevasse em consideração tanto a bagagem deinformação de que dispunha Rugendas emcada momento, como também a intenção comque a obra foi realizada. A título de exemplo,podemos observar o tratamento docostumbrismo, que na obra de Rugendas ad-quire autonomia tão-somente em uma etapajá muito avançada de suas viagens. É a partirde 1836, ou seja, durante sua estância no Chile,que Rugendas começa a se ocupar sistemati-camente na representação dos distintos tiposde população. Isso é resultado da influênciaque exerceram sobre ele personalidades detoda a América que, por então, residiam noChile, entre outros, o venezuelano AndrésBello, o argentino Domingo de Oro, o uru-guaio Juan Espinoza e, um pouco mais tarde,a figura destacada de Domingo FaustinoSarmiento. Obviamente os motivos docostumbrismo já estão presentes nos traba-lhos realizados no México entre 1831 e 1834,mas ali têm um caráter marginal, são um ador-no que serve para completar a imagem globalda paisagem. E é indiscutível que, no Méxi-co, o interesse de Rugendas se centra na re-presentação da paisagem, seguindo as reco-mendações que Alexander von Humboldt ti-nha feito a ele. Do mesmo modo, também naobra sobre o Brasil encontramos desenhos detema costumbrista, mas seu caráter neste casoé mais casual ainda. No contexto dos traba-lhos realizados no Brasil, o costumbrismoescassamente pode ser considerado mais queuma nota de cor local, como uma históriacuriosa. O valor que Rugendas atribui a estesmotivos em sua obra brasileira fica evidente,por exemplo, nas duas versões de um dese-nho de uma cena de rua no Rio de Janeiro, naqual representa o ir e vir em torno de umafonte. Na primeira versão (“Carregadores de

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Água”, lápis e tinta sobre papel, 14,5 x 25,2cm, Museu Histórico Nacional do Rio de Ja-neiro) vemos homens e mulheres, negros ebrancos que vão à fonte para buscar água ouque ficam ali um tempo conversando, e nesteentorno aparece o episódio de uma disputa dedois rapazes negros. A reelaboração destedesenho (“Aguadeiros”, lápis, tinta e guachesobre papel, 15 x 25 cm, Col. GermaineÁlvarez Penteado, São Paulo) situa a conten-da no centro do desenho e faz desse episódioo assunto principal da cena junto à fonte. Asegunda versão seria levada à litografia noVoyage Pittoresque (litografia 4/14). Obvia-mente a intenção aponta em primeiro lugar aênfase ao anedótico, aquilo que, em últimainstância, ofereça uma imagem amena, aogosto do público europeu da época. Na obrade Rugendas, o tratamento do costumbrismoevolui de forma tão manifesta que seria im-próprio assinalar-lhe, no Brasil ou no Méxi-co, a mesma categoria que, posteriormente,no Chile, no Peru ou na Argentina. Daí que naobra da primeira etapa da viagem, isto é, noBrasil e no México, esses temas tenham sidocatalogados junto com o restante dos trabalhosseguindo unicamente uma ordem cronológi-ca, ao contrário da obra posterior na qual pare-ceu conveniente ordená-los em um subcapítulodentro do conjunto da obra de cada país.

No conjunto da obra de Rugendas setransluz como o espírito científico vai ganhan-do terreno de forma paulatina. Mais e mais.

Rugendas tentará ir sistematizando o trata-mento de cada área temática. Nocostumbrismo a partir de 1836 no Chile bus-cará a criação de tipologias; na representaçãodas cidades afinará cada vez mais a observa-ção pontual não somente em função de umconjunto como também pelo interesse quemerece, de sua parte, o objeto em si mesmo;da mesma maneira, a recepção dos monumen-tos pré-hispânicos adquirirá, no Peru, umaautonomia que jamais tinha alcançado em seutrabalho no México. Sobre a base desses cri-térios se elaborou a estruturação interna daobra de cada um dos países ilustrados porRugendas. É evidente que isso acarreta umainterpretação da totalidade da obra e da per-sonalidade de Rugendas como artista e emsua qualidade como pesquisador do continenteamericano. Depois de ter realizado uma apren-dizagem artística de caráter acadêmico,Rugendas entrou no círculo dos científicosamericanistas mais importantes de seu tem-po. Langsdorff, Martius e Humboldt influ-enciaram decisivamente na evolução inte-lectual de Rugendas e a eles se remonta ainstrumentalização que este faz do artísticoem benefício de um trabalho que aspira a serum material de caráter documental para oestudo e a pesquisa. Esta idéia está explicita-mente formulada em uma frase de Humboldtem carta a Olfers, em que afirma ter consul-tado um dos quadros de Rugendas “para ave-riguar algo sobre o Vulcão de Colima”. É pre-

Johann Moritz

Rugendas,

“Carregadores de

Água”, lápis e tinta

sobre papel, Museu

Histórico Nacional,

Rio de Janeiro

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cisamente esta intenção a que guiará a obraamericana de Rugendas. E durante sua via-gem pelo continente americano levará a cabouma aprendizagem que o conduzirá a aplicaresse espírito científico não somente a fenô-menos naturais, como também a temas histó-rico-culturais. Isso, unido ao destacado valorartístico de seu trabalho, faz com que a obrade Rugendas mereça particular atenção entreas dos artistas-viajantes do século XIX.

OS TRABALHOS SOBREO BRASIL À LUZ DO CONJUNTODE SUA OBRA

Se analisamos os trabalhos de Rugendassobre o Brasil sob a perspectiva do conjunto desua obra, devemos levar em consideração emprimeiro lugar que se trata majoritariamentede uma obra de juventude. Como se apontouinicialmente, seus conhecimentos sobre o Bra-sil eram escassos e, sobretudo, carecia de todaexperiência referente ao trabalho de um artis-ta-viajante, mais ainda, seria tão-somente du-rante sua estância no Brasil, de 1822 a 1825,que vislumbraria pela primeira vez as possibi-lidades e a problemática que devia ser enfren-tada por um artista-viajante.

Seus primeiros trabalhos como ilustradorforam feitos na Fazenda Mandioca, de pro-priedade de Langsdorff e do zoólogo francêsE. P. Ménétriès. Durante suas visitas ao Riode Janeiro travaria amizade com os artistas da

Expedição Artística Francesa, particularmen-te com Jean Baptiste Debret e com a famíliaTaunay. A influência desse grupo, unida àrica experiência que significaria presenciar aefervescência política do processo da inde-pendência, indubitavelmente ampliou de for-ma decisiva seus horizontes para uma recep-ção mais completa do país, e que iria além domero interesse pelos temas científico-natu-rais. Um conjunto amplo e representativo dostrabalhos realizados por Rugendas duranteestes três anos passou às mãos da coroa daBaviera. Na lista anteriormente mencionada,ou seja, o inventário das obras que o artistatranspassou ao Estado bávaro em 1848, sãomencionadas 437 folhas de tema brasileiro.A maior parte dessas folhas está relacionadacom a primeira viagem. Apesar da atual dis-persão desse conjunto, é possível reconstituí-lo ainda hoje, já que todas as folhas que per-tenceram ao Estado bávaro levam o corres-pondente selo no dorso. Esse conjunto de tra-balhos cobre um amplo leque temático quevai desde desenhos da flora e da fauna, moti-vos costumbristas e etnográficos, até cenasde tema histórico, como a coroação de DomPedro I. Um estudo detalhado desses traba-lhos demonstra que nos achamos frente a obrasde caráter muito díspar quanto a sua intenção.Se analisarmos, por exemplo, alguns dese-nhos de tema etnográfico, poderemos ver quehá esboços e estudos de figuras feitos do na-tural e que não estão submetidos a um esque-

Johann Moritz

Rugendas,

“Aguadeiros”, lápis,

tinta e guache sobre

papel, coleção

Germaine Álvares

Penteado,

São Paulo

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ma de composição, mas também existemdesenhos acabados em todos os seus detalhese compostos com mais rigor academicista quefidelidade ao motivo representado. É prová-vel que boa parte dos trabalhos deste últimotipo tenha sido elaborada na Europa para ser-vir como desenhos prévios para as litografiasde Voyage Pittoresque. No minucioso estudode Thekla Hartmann sobre a iconografia dosíndios brasileiros no século XIX (Hartmann,1975, p. 84), a autora analisa cada uma dascenas de caráter etnográfico da publicação deRugendas e conclui que, em termos gerais,carecem de interesse enquanto material do-cumental. Referindo-se à litografia da “Danzade los Puri” (litografia 3/6) afirma que:

“o espaço está composto de tal forma quea vegetação serve de cenografia, e o clarono bosque está concebido de forma quepermita dispor um grupo de figuras emprimeiro plano à esquerda; por sua situa-ção, estas guiam o olhar em direção aosegundo plano, onde se encontra o temada cena. Em meio às nuvens de fumaça deuma pequena fogueira – nas quais qual-quer pessoa, inclusive uma indígena,morreria asfixiada – se movem em círcu-lo uma série de figuras de índios puri im-precisamente representados”.

Tal como aponta Hartmann, esta cena estáinspirada no primeiro tomo da obra de Spix eMartius (Spix e Martius, 1823, tomo 6, sextailustração – sem numeração). Ainda que cer-tamente não se tenha conservado nenhumdesenho preparatório da composição globaldesta litografia, existe um desenho de detalhede uma das figuras recostadas em primeiroplano. Esta figura se encontra em um esboço,provavelmente feito do natural, no qualRugendas representa um grupo de índiosbotocudos (lápis sobre papel, 11,5 x 17,5 cm,Col. Erico Stickel, São Paulo). A identifica-ção é inequívoca através do distintivo tribaldos cilindros de madeira no lábio inferior.Assim, portanto, o juízo emitido por Hartmanna partir da análise das litografias pode confir-mar-se ao cotejá-las com os desenhos origi-nais do artista, isto é, carecem de interessedocumental. Ao reconstruir a rota de

Rugendas no Brasil se constata que seu con-tato com a população indígena foi muito bre-ve: se reduz fundamentalmente a uns poucosdias nos meses de julho e agosto de 1824. Aafirmação da primeira biógrafa de Rugendas,a alemã Gertrud Richter, de que o jovem ar-tista teria convivido “meses com uma triboindígena” (Richter, 1959, pp. 10-1) não seconfirma à luz do conjunto de sua obra. Dessemodo, parece evidente que a informação deRugendas sobre o tema foi muito rudimentar.Ao dispor-se a preparar os desenhos para suapublicação na Europa, Rugendas recorreu comfreqüência à informação de segunda mão eutilizou seus próprios desenhos de formabastante indiscriminada. Comparando os tra-balhos de caráter etnográfico do Brasil com aobra que realizou a partir de 1835 no Chile ena Argentina sobre a população indígena daAraucânia vemos que neste último caso o guiaum meticuloso espírito científico o que, porexemplo, o faz constantemente cuidar da di-ferenciação dos distintos grupos tribais. Aquiestá um exemplo a mais da evolução deRugendas em direção a uma crescente aten-ção de caráter científico.

Na valorização da obra de Rugendas so-bre o Brasil teve um importante papel o gran-de prestígio que alcançou sua VoyagePittoresque imediatamente depois de iniciar-se sua publicação por entregas em 1827. Semdúvida se trata de um livro bonito, bemestruturado e com uma rica variedade de te-mas. Entretanto, é preciso levar em conta quesua concepção não coincide plenamente como Brasil que Rugendas apreendeu durante suaestância no país. Não somente são numerosasas cenas que foram modificadas radicalmen-te na Europa, como também há um bom nú-mero de litografias que obedecem plenamen-te à moda dos interesses europeus da época ecujos desenhos foram compostos porRugendas em Paris sem contar para isso comantecedentes em seus álbuns dos trabalhosfeitos durante sua estância no país. Um dosexemplos mais claros de criação puramenteeuropéia, na publicação de Rugendas, é a cenade um barco negreiro (litografia 4/1). Sobreesse motivo Rugendas fez um esboço de com-posição rápido e muito solto, no qual as figu-ras dos escravos aparecem vagamente insi-

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nuadas no fundo do barco (lápis sobre papel,113,5 x 23,7 cm, Col. Mário de Andrade, SãoPaulo). Sobre essa base elaborou uma versãoem aquarela e minuciosamente acabada (lá-pis e guache sobre papel, 13 x 23 cm, Col.Sebastião Loures, Rio de Janeiro). O esboçode composição é muito estranho se pensamosno conjunto da obra de Rugendas, cujos tra-balhos feitos do natural geralmente não par-tem de uma concepção compositiva, pois oartista costumava destacar, desde o começo,determinados motivos com cuidadoso traçode lápis. A folha, por sua vez, faz pensar quese trata de uma cena que não está baseada naexperiência visual direta do artista, ainda maisse levamos em consideração que se trata deum motivo amplamente difundido na época.A Society for the Abolition of Slave Trade,fundada em 1787, utilizava, entre outros, pre-cisamente o motivo de um barco negreiro emsuas campanhas antiescravistas. Daí que otema acabasse entrando rapidamente na obrade numerosos pintores da primeira metade doséculo XIX, entre outros Géricault e August-François Biard, que conseguiu um grandesucesso com seu “Traite de Nègres” no Salãode Paris de 1835. A essa tradição se soma o

desenho de Rugendas, que provavelmente foifeito em Paris entre 1825 e 1828, e que compouca sorte foi litografado com umpateticismo doce por Laurent Deroy.

A obra realizada por Rugendas durantesua estância no Brasil teve, pois, que ser com-pletada e enriquecida para a publicação deVoyage Pittoresque, o que trouxe como con-seqüência uma marcada deformação em suaespontânea recepção do país em benefício deconcessões ao gosto europeu da época. Alémdisso, com o passar do tempo, Rugendas co-meçou a idealizar sua experiência brasileira.O confronto das recordações do Brasil com atradição européia da recepção do continenteamericano gerou nele uma dinâmica que o

Johann Moritz

Rugendas e V.

Adam, “Dança dos

Puris”, litografia

que ilustra

Voyage Pittoresque

au Brésil

(Paris, 1827-35),

Biblioteca

Municipal Mário de

Andrade, São Paulo

Johann Moritz

Rugendas, “Porão de

Navio Negreiro”,

lápis e guache sobre

papel, coleção

Sebastião Loures,

Rio de Janeiro

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levou a um mundo de novas idéias e de fanta-sia. Depois de sua estância na Itália, entre 1829e 1831, Rugendas retomou uma série de moti-vos brasileiros e, pela primeira vez, os levou àpintura a óleo. Pintou vistas de paisagens de umenquadramento aparentemente casual da selvatropical. Nos seus detalhes, essas obras se basei-am em observações de tipo naturalista. Contu-do, de fato compõem com tais detalhes umapaisagem ideal, um mundo idílico. Rugendasjamais se aproximaria mais que nestas obras darepresentação de um anelado paraíso terrestre esua população, em “bom selvagem” – dois dosmelhores exemplos dessas obras se conservamnas coleções públicas de Berlim.

Como tema global no conjunto de sua obra,o Brasil parece ter sido para Rugendas um

capítulo concluído depois da publicação deVoyage Pittoresque. A única novidade queapresenta sua segunda estância no Rio de Ja-neiro em 1845 e 1846 é a elaboração de vistaspanorâmicas de 360º da Baía de Guanabara.Essa técnica de ilustração teve grande difusãoa partir de fins do século XVIII. Rugendas autilizou pela primeira vez no México, especi-ficamente na última etapa de sua viagem,quando escalou o Vulcão de Colima em com-panhia do engenheiro de minas e cartógrafoalemão Eduard Harkort. É muito provável quetenha sido Harkort quem tenha mostrado a eleas possibilidades desta técnica. E, anos maistarde, Rugendas voltaria a recorrer a esse pro-cedimento para reter com plenitude a belezado entorno geográfico do Rio de Janeiro.

BIBLIOGRAFIA

Incluem-se aqui (A) uma seleção da bibliografia sobre Rugendas e (B) trabalhos de pesquisa do séculoXIX e estudos histórico-culturais que foram utilizados para definir os critérios da catalogação.

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Johann Moritz

Rugendas e L. Deroi ,

“Negros no Porão”,

litografia que ilustra

Voyage Pittoresque

au Brésil (Paris,

1827-35), Biblioteca

Municipal Mário de

Andrade

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