Upload
cristina-de-zotti-nassis
View
253
Download
53
Embed Size (px)
Citation preview
As Drogas da Recompensa e a Via Mesolímbica.
A sensação de recompensa está ligada a um complexo sistema "em
cascata", envolvendo diversas estruturas situadas na profundidade do
encéfalo e vários neurotransmissores. ( Oliveira, J. M. et al 1997).
A localização dos centros do circuito da recompensa do cérebro é ao longo
do feixe medial mesencefálico. Na área tegmental ventral (VTA) e no
nucleus accumbens estão os dois principais centros deste circuito, que
também inclui vários outros, como o septo, a amígdala, o córtex pré-frontal
e parte do tálamo, os quais de interligam para inervar o hipotálamo. Sendo
muito importantes nesse sistema, os núcleos laterais e ventromedial do
hipotálamo. (GARDNER, 2011; GUTIERREZ et al., 2011).
A via final comum do reforço e da recompensa no cérebro é, portanto, a via
dopaminérgica mesolímbica, que começa na área tegmental ventral e
termina em receptores de dopamina denominados D2, localizados nas
membranas de neurônios situados no núcleo accumbens e no
hipocampo,motivo pelo qual esta via é considerada o “centro do prazer”. A
via mesolímbica medeia a psicofarmacologia da recompensa, cujos
mediadores incluem a própria dopamina, a serotonina, os opióides
endógenos (endorfinas e encefalinas) e os modladores GABA (inibitório) e
glutamato (excitatório). (VOLKOW et al., 2009; GARDNER, 2011).
O processo, tal como idealizado por Blum et al. se inicia no hipotálamo,
com a atividade excitatória de neurônios serotoninérgicos. Isto leva à
liberação do peptídeo opióide meta-encefalina na área tegumental ventral, o
qual inibe a ação inibitória do GABA sobre os neurônios secretores de
dopamina. Desinibidas, as células dopaminérgicas "disparam" no feixe
meso-límbico e a dopamina termina por se acoplar com seus receptores D2,
no hipocampo (via amígdala) e no núcleo accumbens onde, mais uma vez,
a encefalina neutraliza a ação inibitória do GABA. ( Blum, K. et al, 1996)
Promove-se, assim, a despolarização dos neurônios dopaminérgicos (pós-
sinápticos) nestas duas áreas, o que completa a "cascata" e gera a sensação
de recompensa. Usualmente, estando íntegras as estruturas do sistema "em
cascata" e os neurotransmissores envolvidos funcionando normalmente, a
"recompensa", expressa em sua forma mais significativa : sensação de
bem-estar, é obtida se certas condições básicas são satisfeitas.(Oliveira, J.
M. et al 1997).
Nas espécies menos desenvolvidas, tais condições são bastante simples :
quando em estado de saúde, existe o sentimento de recompensa se o animal
se sente em segurança em seu nicho ecológico, está alimentado e sem sede,
e se mantém aquecido (melhor seria dizer : "termoestável"). À medida que
se sobe na escala zoológica, novas exigências se juntam às anteriores :
satisfação sexual e reciprocidade afetiva, bem como aceitação e
posicionamento dentro do seu grupo ou da "família". Estas duas últimas,
bem caracterizadas entre os mamíferos superiores e, principalmente, nos
primatas. O homem exige ainda, pelo menos, duas coisas mais:
reconhecimento social e estabilidade econômico-financeira ( Freund, G. Et
al, 1984).
No entanto, em humanos (e talvez também em outras espécies), quando
baixa o nível de dopamina nos neurônios pós-sinápticos da via meso-
límbica, quer por diminuição da produção desse neurotransmissor na área
tegmental ventral, quer por redução do número de receptores D2 no
hipocampo e/ou no núcleo accumbens, aquelas condições, acima
mencionadas, que atuavam como autênticos estímulos "naturais", já não se
mostram suficientes para gerar sensações prazeirosas ou de bem-estar. O
indivíduo passa, então, a buscar, através de alterações comportamentais, em
geral de natureza perversa, e/ou pelo consumo de certas substâncias
químicas, o aumento da liberação de dopamina para o sistema límbico.
( Freund, G. Et al, 1984).
As drogas psicoativas sobrepõem-se aos neurotransmissores do próprio
cérebro e estimulam diretamente seus receptores, o que leva à liberação de
dopamina. Não é necessária, portanto, a liberação fisiológica desses
neurotransmissores para que se inicie a ativação do circuito da recompensa,
uma vez que a liberação de dopamina pode ser obtida de forma mais
intensa e mais fácil com a droga psicoativa. Mas a resposta é apenas
temporária e a exigência pelos químicos ou pelas atitudes perversas
necessita aumentar, mais e mais, para que o indivíduo obtenha, através de
alguma sensação de prazer, por menor ou fugaz que seja, alívio para sua
ansiedade ou depressão.
Isso ocorre pois há uma dessensibilização nos receptores de dopamina D2,
uma vez que as drogas psicoativas produzem um suprimento límbico pós-
sináptico de dopamina muito elevado, forçando o indivíduo a buscar mais
droga para realimentar o circuito, originando, então, um ciclo vicioso.
Com isso, a dependência da droga depende da sensibilidade e da
quantidade dos receptores dopaminérgicos que cada indivíduo possui
(determinada geneticamente). Assim, um indivíduo com poucos receptores
(ou receptores menos sensíveis) para a dopamina não ativará muito o
circuito da recompensa na primeira vez em que utilizar a droga psicoativa,
o que pode levá-lo a tentar obter o prazer associado a esse circuito
repetindo incessantemente a utilização da droga e/ou aumentando a
dosagem da mesma. Essa situação configura um estado patológico, a
síndrome da deficiência da recompensa, que compreende, além de um
estado de constante ansiedade, as vezes acompanhado de depressão, uma
amplo espectro de distúrbios compulsivos. Dentre eles, estão o uso e abuso
de substâncias químicas que parecem induzir ao aumento da liberação de
dopamina para o sistema límbico como o álcool, opióides,nicotina e
carboidratos( obesidade). ( Oliveira, J. M. et al 1997). (CARVALHO et al.,
2009; ENOMOTO et al., 2011; GARDNER, 2011; SOLOWAY et al., 2011;
QUINTANILLA et al., 2011; VETULANI, 2001).
Obesidade e a cascata da recompensa
O sistema de recompensa dopaminérgico está significamente associado a
obesidade .Fatores genéticos estão relacionados com com o desejo pela
glicose, gerando um excesso comportamental que aumentará a síntese de
dopamina. (Liu, L.L. et al, 2008; Blum, K. et al, 2007).
A presença do alelo A1 do gene DRD2 aumenta a probabilidade de se
desenvolver compulsão por comida e, também, pelo consumo de drogas
psicoativas, as quais geram depedência química, levando uma grande
associação entre mecanismos de desencadeamento da obesidade e do abuso
de substâncias químicas, uma vez que ambos os transtornos aumentam a
produção e a ação da dopamina. Tal fato ocasiona a diminuição da
disponibilidade de receptores D2, modulando a motivação e os circuitos de
recompensa (Blum, K et al, 1996; Davis, C. et al, 2007Jack, W. et al, 2001).
Esses dados têm implicações futuras no estudo das terapias
comportamental e farmacológica da obesidade. Assim, pode-se supor que
uma terapia com DNA –alvo dirigida a genes reguladores dessas vias,
unida a intervenção nutricional podem ser eficazes para combater a
obesidade. (Davis, C. et al, 2007;Blum, K. et al, 2008)
Além disso, estratégias para melhorar a função da dopamina podem ser
úteis para o tratamento de obesos , como a utilização da bupropiona,
antidepressor que atua inibindo a recaptação de dopamina e norepinefrina
(Faria, A.M. et al, 2010).
Empiricamente, alguns clíniucos estão optando por associar a bupropiona
ao topiramato, anticonvulsionante