tese_jorge paulos - Contributos da música na inclusão de alunos com Paralisia Cerebral

Embed Size (px)

Citation preview

JORGE MIGUEL MONTEIRO PAULOS

CONTRIBUTOS DA MSICA NA INCLUSO DE ALUNOS COM PARALISIA CEREBRAL

Orientador: Professor Doutor Horcio Pires Gonalves F. Saraiva

Escola Superior de Educao Almeida Garrett

Lisboa 2011

JORGE MIGUEL MONTEIRO PAULOS

CONTRIBUTOS DA MSICA NA INCLUSO DE ALUNOS COM PARALISIA CEREBRAL

Dissertao apresentada para obteno do Grau de Mestre em Educao Especial conferido pela Escola Superior de Educao Almeida Garrett Orientador: Professor Doutor Horcio Pires Gonalves F. Saraiva

Escola Superior de Educao Almeida Garrett

Lisboa 2011

AgradecimentosEm todo o tipo de trabalho, existem momentos melhores que outros, a adversidade e os contratempos tambm fazem parte da investigao. Como refere o autor Quivy, R. Campenhoudt, L. (1998) h sempre momentos em que no estamos no melhor caminho para atingir os nossos objetivos. Vrias vezes os sentimentos negativos invadiram a vontade de querer prosseguir, mas a ajuda de vrias pessoas prximas a nvel pessoal e profissional, tornaram possvel este estudo, contriburam a nvel colaborativo, como fonte de inspirao ou de motivao. A todos eles, fica um agradecimento pela fora e motivao transmitida para que o trabalho tenha atingido os seus objetivos.

I

AbstractEste estudo resulta de uma investigao sobre a importncia da msica na incluso de alunos com necessidades educativas especiais, mais concretamente com os portadores de Paralisia Cerebral. A reviso da literatura debruou-se sobre os temas que achamos mais pertinentes para poder desenvolver esta temtica. Definio de Deficincia, Paralisia Cerebral, msica, importncia da msica no desenvolvimento humano, Musicoterapia, Educao Musical, musicalizao e incluso. Como instrumento de recolha de dados foi utilizado um inqurito por questionrio a professores do 1 ciclo da Regio Autnoma da Madeira e uma entrevista a professores de Educao Musical do Ncleo de Arte Inclusiva da mesma Regio. Os dados foram recolhidos, tratados, analisados e confrontados com a reviso da literatura e com estudos j feitos na mesma temtica. Palavras-chave: msica, incluso, Paralisia Cerebral.

This study is the result of an investigation into the importance of music in the inclusion of pupils with special needs education, more specifically those with cerebral palsy.

The literature review focused on the issues we find most relevant in order to develop this theme. Definition of disability, Cerebral Palsy, music, importance of music in human development, music therapy, music education, music to and inclusion. As data collection tool was used a questionnaire to teachers of the 1st cycle of the Autonomous Region of Madeira and an interview with teachers of Music Education at the Center for Inclusive Arts in the same region. The data were collected, processed, analyzed and compared with the literature review and studies already done on the same topics. Keywords: music, inclusion, Cerebral Palsy.

II

A msica que provm do corpo semelhana de toda a expresso reconcilianos connosco, coopera e organiza o nosso devaneio, acorda prazeres, sugere o que ns fomos e d-nos a voz do que queremos ser. APMT (1998) P. 42.

III

ndice

Captulo 1: Introduo 1.1-Justificao do Estudo.......3 1.2- Introduo....4

Captulo 2: Reviso da Literatura 2.1-Deficincia.......7 2.2-Paralisia Cerebral.....9 2.3-Msica.....19 2.4-Importncia da msica no desenvolvimento humano.........22 2.5-Musicoterapia e Msica......26 2.6-Educao Musical...........29 2.7-Musicalizao......35 2.8- Incluso..38 2.9- Msica e Incluso......44 2.10- Incluso, Paralisia Cerebral e Msica......49 2.11-Incluso pela Msica e pela Arte na RAM...55

Captulo 3: Metodologia 3.1-Problema......60 3.2-Obletivos de Investigao....61 3.3-Hipteses..62 3.4-Instrumentos de Investigao...64 3.5-Procedimentos......65 3.6-Populao.....66 3.7-Dimenso e critrios de seleo de amostra.....67 3.8-tica da pesquisa...68

IV

Captulo 4: Anlise de dados 4.1-Apresentao dos resultados.......70 4.1.1-Anlise dos questionrios.....70 4.1.2-Anlise das entrevistas..78

Captulo 5: 5.1- Apresentao e discusso dos resultados.....104

Captulo 6: 6.1- Concluso.....116 6.2- Linhas futuras de investigao..119

Bibliografia.....120

Anexos.....125

V

Abreviaturas

APPC- Associao Portuguesa de Paralisia Cerebral CAP- Centro de Apoio Psicopedaggico CAOS - Centros de Atividades Ocupacionais CIF- Classificao Internacional de Funcionalidade Incapacidade e Sade DRE- Direco Regional de Educao DREER- Direco Regional de Educao Especial e Reabilitao GCEA- Gabinete Coordenador de Educao Artstica ICIDH - Classificao Internacional de Deficincias Incapacidades e Desvantagens IMC- Infirmit Motrice Crbral IMOC- Infirmit Motrice D`origine crbral NIA- Ncleo de Incluso pela Arte NEE- Necessidades Educativas Especiais OMS- Organizao Mundial de Sade ONU- Organizao das Naes Unidas PC- Paralisia Cerebral PEI- Programa Educativo Individual PIT - Plano Individual de Transio RAM- Regio Autnoma da Madeira SREC- Secretaria Regional de Educao e Cultura UVP- Unidade de Vigilncia Peditrica UNESCO- Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura.

VI

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

Captulo 1(Introduo)

2 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

1.1- Justificao do estudo

Segundo Quivy, R.; Campenhoudt, L. (1998), no fcil gerar conhecimento novo, mas sempre importante melhorar o significado dos fenmenos. Gerando novas perspetivas a fatos, mesmo que j tenham sido estudados, iro sempre ajudar a compreender com mais nitidez esses fenmenos. Sendo a incluso um fenmeno de elevada importncia no seio escolar e social, julgamos ser pertinente contribuir para a melhoria o conhecimento e desenvolvimento desse processo. A msica como disciplina escolar e como arte tem um papel fundamental no enriquecimento pessoal e acadmico nos alunos em geral. importante contribuir para a sensibilizao de todos que numa sociedade toda a gente tem um papel importante a desempenhar e que temos todos muito a aprender uns com os outros.

3 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

1.2- Introduo

Este trabalho cientfico reflecte de uma feio simples a anlise sobre a forma como a msica pode contribuir para a incluso de alunos com Necessidades Educativas Especiais, mais concretamente os da patologia de Paralisia Cerebral. Numa sociedade que cada vez mais tem a tendncia em quebrar preconceitos, onde a escola um dos principais meios de criao de valores dos seus alunos, a escola inclusiva cada vez mais um conceito defendido por uns e criticado por outros. Numa perspetiva de procurar saber as necessidades e as dificuldades dos professores que lidam com estes alunos direccionmos a recolha de dados baseada na experiencia e na opinio dos mesmos em relao incluso destes alunos atravs da msica. Esta temtica faz despertar determinadas questes: o que ser que a msica tem de especial para aproximar as pessoas? Ser que a msica desenvolve o pensamento? Ser que a msica apenas contagia, ou tem realmente a capacidade de desenvolver competncias psicomotoras num indivduo? So estas questes e outras direcionadas com a incluso de alunos com Paralisia Cerebral que tentaremos responder na elaborao do trabalho. Este trabalho de investigao passa pela explorao dos conceitos que esto ligados ao tema: Deficincia, Paralisia Cerebral, msica, importncia da msica no desenvolvimento humano, Musicoterapia, Educao Musical, musicalizao e incluso.

4 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

Captulo 2(Reviso da Literatura)

5 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

Dado o facto de estarmos perante um trabalho de investigao, estritamente necessrio contextualizar o quadro de estudo. Aps a identificao da problemtica em anlise, torna-se indispensvel reunir e organizar estudos que se relacionem com a temtica. fundamental criar um resumo sobre o que j existe documentado a respeito dos temas pertinentes neste mesmo estudo. Fortin (1999) refere que a reviso da literatura um procedimento que consiste em verificar o registo e o exame crtico do conjunto de publicaes pertinentes, sobre um domnio de investigao. No fundo fazer um balano do que foi escrito no domnio da investigao em estudo. Segundo o autor a reviso bibliogrfica serve para a obteno de indicaes e sugestes para o plano de investigao, quer na recolha de dados, quer na utilizao de instrumentos ou amostras. Num trabalho de investigao importante criar uma estrutura terica que possibilite a explicao dos fatos em estudo e produzir uma relao entre eles de acordo com o tema. Os temas aqui aprofundados e relacionados so importantes para a compreenso do objeto em estudo e para a anlise dos resultados obtidos. A pesquisa foi feita com base nas palavraschave: deficincia, paralisia cerebral, msica, a msica no desenvolvimento do ser humano, musicoterapia, educao musical, musicalizao, incluso.

6 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

2.1- Deficincia

Segundo a Organizao Mundial de Sade (OMS) no h uma definio nica de deficincia ou de determinado tipo de deficincia, existem sim variadssimos conceitos, uns mais divergentes e outros mais parecidos uns com os outros. De autor para autor, e medida que a sociedade vai evoluindo no sentido de procurar novas descobertas, as definies vo-se modificando. Desde o incio dos anos 80 que a (ICIDH) Classificao Internacional de Deficincias Incapacidades e Desvantagens tem vindo a trabalhar no sentido de criar um consenso na definio de deficincia dentro da nossa sociedade. Com a evoluo de termos, de conceitos e dos valores da prpria sociedade, em 2002 sentiu-se a necessidade de criar Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade (CIF). A Revista de Sade Pblica de So Paulo (2000), citada por Matheus e Schielemann (2000), descreve a deficincia como: perda ou anormalidade de estrutura ou funo psicolgica, fisiolgica ou anatmica, temporria ou permanente. Incluem-se nessas a ocorrncia de uma anomalia, defeito ou perda de um membro, rgo, tecido ou qualquer outra estrutura do corpo, inclusive das funes mentais. Amiralian et al, (2000) P. 98. Citado por Matheus e Schielemann (2000). D que pensar quando, por exemplo, alguns estudos demonstram que est estimado que 10% da populao mundial possui alguma deficincia. Segundo a mesma revista, deficincia associada s limitaes bsicas para uma vida social, nomeadamente no que diz respeito mobilidade, comunicao, uso dos sentidos, interao social e cognio. Sendo que, para que se possam qualificar como deficincia, tero de se expressar no corpo num estado permanente ou de longa durao. Para alm de todas essas limitaes, existem ainda as barreiras fsicas, ambientais, econmicas e sociais que, apesar de muitas vezes serem esquecidas pela nossa sociedade, so tambm fatores que contribuem para que um individuo fique em desvantagem em relao aos demais. Ainda se verifica uma certa marginalidade em relao s pessoas com deficincia, contudo ultimamente as coisas tm evoludo para que as diferenas e as barreiras sejam diminudas. Segundo Bieler (2005), numa abordagem sobre a deficincia como parte do ciclo de vida e desenvolvimento inclusivo, a autora refere-se a deficincia como sendo o resultado7 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

da interao de deficincias fsicas, sensoriais ou mentais com o ambiente fsico, cultural e as instituies sociais. Atravs do estudo desta autora chegou-se concluso que 80% das deficincias tm origens que se podem prevenir e que muitas vezes podem estar associadas a nveis baixos econmicos e sociais, desde falta de condies de saneamento, de alimentao e fatores hereditrios. A deficincia pode-se apresentar essencialmente de 2 formas: fsica motora, sensitiva, visual e auditiva ou mental alteraes psicolgicas originadas por desequilbrios biolgicos e ambientais. Apesar desta distino, existem tambm as multideficincias que podem ser um misto das duas formas. A nvel clnico, as alteraes anatmicas e/ou funcionais por motivos genticos, denomina-se de anomalia, que podem ser congnitas adquiridas no nascimento ou anomalias adquiridas ocorridas aps o nascimento ou prximo dele. Existem ainda outras denominaes como a sndrome, que a denominao mdica onde existem determinados erros durante a formao do embrio.

8 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

2.2- Paralisia Cerebral

A Paralisia Cerebral (PC) segundo registos, j vem sendo referida desde h muito tempo. citada na Bblia e algumas das personagens mais importantes da histria da humanidade foram portadoras desta deficincia. Desde muito cedo se criou muita discusso sobre o tipo de patologia que se tratava, qual a origem e quais as causas e caractersticas. A prpria denominao e definio foram motivos de muitos estudos e de consequentes transformaes. Mesmo atravs de muitas investigaes e da evoluo da tecnologia, ainda se torna, em alguns casos, difcil de analisar com rigor certos casos desta patologia. Segundo a revista de Educao Especial e Reabilitao (1989), a definio de Paralisia Cerebral (PC) passa de um modo geral pela referncia a uma leso originada pela falta de oxignio no crebro, esta manifesta-se sobretudo no controlo da postura e movimento qual se podem coligar perturbaes a nvel da linguagem, de deficincias sensoriais e de perceo, problemas de comportamento e epilepsia. A definio desta deficincia foi sendo sujeita a vrias transformaes, na metade do sculo XIX foi reconhecida como uma deficincia neuro motora, por volta do ano de 1860, um mdico Ingls de seu nome John Little focou-se na importncia da baixa oxigenao do crebro, denominada de hipoxia. Este Senhor deu origem primeira definio de PC em 1843. Uns anos depois, em 1862 sintetizou vinte anos de investigaes, citado por Nielsen L. B.(1999) P.96.William Little afirmou que: os espasmos e a deformidade associados paralisia cerebral se ficavam a dever a hemorragia cerebral resultante de trauma ocorrido no processo de nascimento. P. 95. Mais tarde, Sigmond Freud veio dizer que uma das causas de origem da PC se devia a agresses desenvolvidas na fase pr-natal, ou seja, desde a gerao at altura do parto. Muitos foram os autores que contriburam para a definio desta patologia. Logicamente que nem sempre foram consensuais umas definies com as outras mas, todas contriburam para a sua evoluo e aperfeioamento. Desde muito cedo os autores no tiveram dvidas de que esta patologia seria provocada por uma leso enceflica. S aps a II grande guerra que este assunto voltou a ter interesse no mbito internacional. Nos Estados Unidos concluiu-se a formao da Academia de Paralisia Cerebral. Segundo Nielsen (1999), a Academia Americana para a Paralisia Cerebral (American9 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

Academy for Cerebral Palsy) foi fundada em 1947 e a Associao Unida para a Paralisia Cerebral (United Cerebral Palsy Association), uma organizao de projeo nacional, foi formada em 1949-1950. Passado uns anos, num congresso em Edimburgo, conseguiu-se obter um bom resultado de concordncia sobre a patologia, vrios estudiosos especializados no assunto reuniram-se e chegaram a vrias concluses. No primeiro congresso, chegou-se concluso de que a PC seria uma patologia originada por uma desordem do movimento e da postura devido a uma leso no crebro. Uns anos depois, como refere a revista de Educao Especial e Reabilitao (1989), e na mesma cidade, chegou-se concluso de que seria: uma desordem permanente, mas no imutvel, da postura e do movimento, devida sua disfuno do crebro antes que o seu crescimento e o seu desenvolvimento estejam completos. Baxi (1964), citado pela revista de Educao Especial e Reabilitao (1989) P. 19. Esta patologia foi tendo vrias nomenclaturas ao longo da sua histria, como IMC (Infirmit Motrice Crbral) ou IMOC (Infirmit Motrice D`origine crbral). Ingman (1984) distingue PC como a no ausncia de movimentos, mas sim movimentos involuntrios ou descoordenao e que a sua origem nem sempre cerebral, mas sim intracraniana. Cahuzac (1985), citado pela revista de Educao Especial e Reabilitao (1989), distinguiu algo muito importante para o conhecimento desta patologia, segundo o autor os portadores desta patologia apresentavam principalmente alteraes a nvel motor, separando assim a associao inevitvel de atraso mental devido ao prprio nome da patologia. Segundo o autor, uma criana portadora desta patologia pode ter um desenvolvimento mental normal ou at acima da mdia, o que tambm no significa que no possa apresentar atraso mental, at devido s leses a nvel cerebral e o que da possa advir.

10 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

2.2.1 - Caractersticas da Paralisia Cerebral

Nielson (1999), refere que de acordo com rea do crebro que est lesionada e da extenso no sistema nervoso central, a PC pode evidenciar as seguintes caractersticas: - Espasmos - Problemas a nvel de tonicidade muscular - Movimentos involuntrios - Problemas de postura e movimento - Convulses - Anomalias no campo das sensaes e da perceo - Problemas de viso - Problemas de fala - Deficincia mental Segundo a revista Diversidades N 30 da Direco Regional de Educao Especial e Reabilitao da Regio Autnoma da Madeira (2010), a definio de PC foi revista por um grupo de investigadores (Developmental Medicine and Child Neurology, 2000) visando j os dados neuro imagiolgicos. No nosso pas, a Associao Portuguesa de Paralisia Cerebral (APPC), fundada em 1960 tambm tem contribudo no estudo Epidemiolgico Europeu. Surveillance of Cerebral Palsy in Europe desde 2006 num projeto de Vigilncia Epidemiolgica Nacional da Paralisia Cerebral aos 5 anos, que tem a coordenao da Unidade de Vigilncia Peditrica (UVP).

Assim, define-se paralisia cerebral como um termo abrangente para um grupo de situaes clnicas, que permanente mas no inaltervel, que origina uma perturbao do movimento e/ou postura e da funo motora e devida a uma alterao, leso ou anomalia no progressiva do crebro imaturo e em desenvolvimento. As crianas que adquirem esta situao at aos 5 anos de idade devem ser includas neste grupo1.1

Revista Diversidades N30 P. 4 11 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

Para alm da definio, da nomenclatura e das caractersticas desta patologia, os autores foram-se virando para as causas de aparecimento, para que assim a pudessem compreender melhor. Segundo a revista de Educao Especial e Reabilitao (1989), esta leso pode suceder em 3 momentos da vida: pr-natais, perinatais e ps-natais. medida que a tecnologia e o conhecimento foram avanando, a definio comeou a ter menos contradies e comearam-se ento a especificar ainda mais as caractersticas desta patologia e todos os aspetos envolventes a ela.De acordo com a Associao Mdica Americana, 90% dos casos de Paralisia Cerebral ocorrem no crebro. Entre as suas causas incluem-se: infeco materna com rubola, ou quaisquer outras doenas vricas que se manifestem na gravidez; parto prematuro, falta de oxigenao da criana devido separao prematura da placenta; posicionamento inadequado do beb no momento do parto; trabalho de parto demasiado prolongado ou demasiado abrupto e problemas com o cordo umbilical.2

Estas so algumas das causas que podem originar esta patologia, que no alvo de contgio. A Paralisia Cerebral no contagiosa e raramente est associada a uma condio hereditria. Dado que as leses cerebrais no se agregam com o tempo. Esta patologia no progressiva e no causa primria de morte.

2.2.2- Causas da Paralisia Cerebral

A incidncia desta patologia, segundo a Revista de Educao Especial e Reabilitao (1989) referida segundo Paneth e Kieley (1984) aps a reviso de 28 estudos efectuados nos ltimos 35 anos, em 2 pessoas por 100. Cahuzac (1985), citado na mesma revista, refere que as causas pr-natais ocupam cerca de 1% do total dos casos de PC, enquanto que no perodo perinatal, j se verificavam 95%, (50% dos quais de sofrimento fetal so neo-natais). Monreal (1985), citado na mesma revista, constatou que cerca de 60% a 70% de crianas com PC teriam histrias familiares relacionadas com alguns tipos de anomalias neurolgicas. Andrada (1986), citada pela revista de Reabilitao (1989), refere que a PC em pases em desenvolvimento mais elevada quem em pases industrializados devido sobretudo capacidade de atender aos cuidados com as crianas nos perodos mais crticos.

2

Nielsen L. B.(1999) P.96. 12 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

Sendo assim, vamos tentar ento conhecer quais as causas que originam esta leso. Segundo F. Stanley e E. Blair (1984), citado pela revista de Educao Especial e Reabilitao (1989) os fatores etiolgicos da PC so: 1- Fatores pr-natais (antes do nascimento) - Predisposio familiar, - Influncias intra-uterinas precoces ex: alcoolismo da me, deficincia de iodina, doena de minamata, metil mercrio, infeces virais congnitas (rubola, citomegalovrus, toxoplasmose), - Influncias na gravidez adiantada (hemorragias), - Segundo Miller (2000), a hipoxia (falta de oxignio), as exposies a radiaes, a diabetes, a tenso alta e a incompatibilidade sangunea tambm podem ser fatores para a ocorrncia de PC antes do nascimento. 2- Fatores perinatais (durante o parto) - Fatores de risco intraparto, ex: parto plvico, parto prolongado, traumatismo de parto, - Fatores de risco extraparto, ex: kenicterus, meningite, anxia, hemorragia incraniana, Segundo Miller (2000), intoxicao por medicamentos, hemorragia

intraventricular. 3- Fatores ps-natais (depois do parto) - Infeces virais bacteriolgicas, - Traumatismos, - Segundo Miller (2000), incompatibilidade sangunea no feto materno, tumores, hematomas, problemas metablicos, acidentes cardiovasculares, meningite, encefalite. Embora a leso cerebral possa ocorrer em qualquer momento da vida, segundo a revista de Educao Especial e Reabilitao (1989) determinante para o tratamento de uma Paralisia Cerebral que seja diagnosticado e encaminhado o mais cedo possvel. A incidncia13 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

maior como afirma Wigglesworth (1984), citado na revista de Educao Especial e Reabilitao (1989), situa-se desde a concepo at aos primeiros anos de vida, hoje em dia cada vez mais j se aposta na preveno, reabilitao e insero social na perspetiva de minimizar os efeitos da doena.

2.2.3- Graus da Paralisia Cerebral

A Paralisia Cerebral um termo genrico que inclui um conjunto de tipos nosolgicos que apresentam quadros muito distintos entre si. Como referido na revista de Educao Especial e Reabilitao (1989), no clara a forma de distinguir a classificao ou uma tipologia pura, at bastante comum encontrarem-se na mesma pessoa uma combinao de dois tipos de Paralisia Cerebral que tm a denominao de casos mistos. De acordo com a conjugao dos fatores decisivos na autonomia do indivduo, local da leso e os dfices motores, a PC pode ser classificada em 3 graus: 1- Severo quando o indivduo apresenta uma enorme dificuldade na realizao dos movimentos, quase no existe autonomia 2- Moderado quando o indivduo necessita de ajuda nas alteraes de movimentos 3- Leve - quando o indivduo apresenta uma autonomia considervel apesar de ainda necessitar de ajuda em movimentos de coordenao e equilbrio

2.2.4- Tipos Nosolgicos da PC

Segundo Bobath (1984), citado pela revista de Educao Especial e Reabilitao (1989), existem trs fatores que devem ser considerados em todos os casos de Paralisia Cerebral: a tonicidade, a inervao recproca e os padres predominantes de postura e movimento. Dentro da tonicidade, ou seja, dentro do estado permanente de tenso dos msculos que no participam nos movimentos, a PC pode-se classificar em trs tipos de14 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

categorias: Espstico, Atetsico e Atxico. Alguns autores referem-se a estas categorias referindo-as como uma classificao fisiolgica, outros como tipos nosolgicos. Segundo a revista de Educao Especial e Reabilitao (1989), a Espasticidade de todos os tipos nosolgicos o mais comum. Gersh (2007) afirma que 80% dos casos de crianas com PC so deste tipo. A espasticidade pode ser definida como um exagero permanente do reflexo de estiramento, resultante de uma desordem no tnus, acompanhado geralmente de um aumento de resistncia. Bobath (1984), citado pela revista de Educao Especial e Reabilitao (1989) refere-se espastecidade como uma falta de controlo inibitrio dos altos centros nervosos sobre o sistema gama ou alfa. Os indivduos realizam movimentos lentos, bruscos e sobretudo rgidos devido exagerada contrao dos msculos quando esto em extenso. A espastecidade considerada comummente como uma leso piramidal afetando primordialmente o movimento contrrio. Revista de Educao Especial e Reabilitao (1989) P. 20. A Atetse caracterizada pela ocorrncia de movimentos involuntrios cuja frequncia pode variar de acordo com o estado de excitao do indivduo. Segundo a revista de Educao Especial e Reabilitao (1989), este caso representa cerca de um quarto do total de casos de PC. Alguns autores distinguem dentro do tipo geral de atetose a disquinsia quando o sndroma se situa nos membros e distonia quando no tronco que os seus efeitos se fazem mais sentir. P. 21. Literalmente significa que a postura no est fixada, podendo afetar principalmente o controlo da cabea e do tronco. A Ataxia uma leso cerebelosa que origina uma instabilidade de movimentos caracterizada por uma desadequao s solicitaes do meio. Educao Especial e Reabilitao (1989). P. 21. O indivduo apresenta uma grande descoordenao e desequilbrio e um tremor associado aos movimentos que quer executar, tanto a nvel da motricidade fina como a nvel global. As principais caractersticas so as de uma marcha alargada e descoordenao na linguagem verbal.

15 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

2.2.5- Classificao Topogrfica

A classificao topogrfica tem a ver com o aspeto exterior da pessoa, dependendo da localizao e do tipo de anomalia a Paralisia Cerebral pode variar de acordo com a sua gravidade e com as incapacidades que as leses podem provocar na motricidade e em geral. Na revista Educao Especial e Reabilitao (1989) refere que os tipos nosolgicos e a incidncia topogrfica so dois valores fundamentais a ter em conta quando se perspetiva uma classificao da paralisia. A classificao de Little Club, citado pela revista de Educao Especial e Reabilitao (1989) distingue o tipo nosolgico da incidncia topogrfica e tambm a etiolgica da seguinte forma: 1- Sindromas Espsticos: -Diplegia - Tetraplegia - Hemiplegia 2- Sindromas Atxicos: - Ataxia congnita - Diplegia Atxica 3- Sindromas Disquinticos: - Atetose - Distonia

2.2.6- Classificao da Paralisia Cerebral

A revista de Educao Especial e Reabilitao (1989), refere-se ao uso da designao plegia dizendo que est ligado ausncia total de movimento e que paresia se liga a uma leso com um papel de menos gravidade. Smith (1993), citado pela revista de Educao Especial e Reabilitao (1989) classifica a PC em: - Monoplegia que afeta apenas um dos membros superiores - Paraplegia que afeta os dois membros inferiores16 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

- Hemiplegia quando dois membros do mesmo hemisfrio so afetados, ou seja, inferior e superior do mesmo lado - Triplegia que afeta trs membros. Geralmente os dois membros inferiores e um superior - Tetraplegia quando os quatro membros esto paralisados, sendo que os superiores so atingidos com maior gravidade - Diplegia quando so afetados os quatro membros, sendo que os inferiores so atingidos com maior gravidade - Hemiplegia quando os quatro membros so afetados, sendo que um dos hemisfrios est mais afetado que outro

2.2.7- Doenas Relacionadas

Segundo Gersh (2007) a PC abrange distrbios que afetam a capacidade de mobilidade e equilbrio. As leses provocadas pela patologia no deterioram os msculos que esto ligados espinal medula, mas alteram a capacidade de o crebro controlar esses msculos. Ora como o crebro est associado a vrias leses do nosso corpo devido sua forte ligao, tambm a PC est associada a outras patologias. A revista N 30 Diversidades da Direco Regional de Educao Especial e Reabilitao da Regio Autnoma da Madeira (2010) expe a importncia de serem tidas em conta as necessidades especficas que uma criana com PC apresentam no seu desenvolvimento. Uma vez que na paralisia cerebral h uma alterao, leso ou anomalia que afeta um crebro imaturo e em desenvolvimento, vrias funes cerebrais podem ser perturbadas, sendo a deficincia motora a mais evidente, mas existindo outras

17 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

deficincias associadas, nomeadamente da viso e audio, dfices perceptivos, 3 cognitivos e na linguagem e comunicao, podendo tambm haver epilepsia

Apesar das principais perturbaes da PC terem mais caractersticas a nvel motor, segundo a revista de Reabilitao (1989), esta patologia tambm pode estar associada epilepsia, leses ao nvel da linguagem, audio, viso, cognitivas e relaes sociais. - Linguagem - a dificuldade de coordenao e de desempenho nos movimentos, limita bastante a expressividade e os gestos do indivduo, sem esquecer da fala que uma ao motora, a respirao e movimentos de articulao e coordenao que interferem na pronunciao das palavras - Audio - o indivduo sente em geral uma certa dificuldade na perceo principalmente dos sons agudos, o que implica que haja menor capacidade tanto na recepo como na emisso desses sons. - Viso a insuficincia deste sentido deve-se muitas das vezes descoordenao dos msculos envolvidos no olho, da, muitas das vezes alguns indivduos optam por fechar um dos olhos j que assim envolve menos capacidade de coordenao. - Cognio a associao do nome Paralisia Cerebral muitas vezes confundida com atraso mental, o que est errado. Podem-se encontrar indivduos inteligentes, normais ou com inteligncia abaixo da mdia, muitas vezes depende da leso que estes apresentam. - Relaes Sociais a criana com PC muito sensvel, na relao com os outros, quando existe deficincia mental muito difcil existir um bom controlo emocional.

3

Diversidades N 30 (2010). P 6. 18 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

2.3- Msica o que ?

daquelas coisas que muitos de ns no pensamos muito no seu significado. O que a msica? algo to relativo e to presente no nosso dia-a-dia que raro pararmos para pensar no que ela significa ou qual a importncia que ela tem nas nossas vidas, o que a torna to especial e to essencial. Num s dia quantas vezes ela passa por ns? Por vezes estamos atentos sua presena, outras nem tanto, mas ela est quase sempre presente em ns, e de forma consciente ou inconsciente ela influencia as nossas aes. O escritor francs Victor Hugo escreveu um dia que a msica est em tudo, do mundo sai um hino. Significa que a msica algo de dimenso universal, atravs dela o mundo pode sofrer alteraes fazendo de si uma arma de grande dimenso na humanidade. Brscia (2003), citado por Barreto e Silva (2004), define msica como sendo uma linguagem universal que teve um papel sempre importante ao longo da histria da humanidade. Desde os mais simples rituais como um casamento at um concerto com milhares de pessoas, a msica sempre teve um papel importante, seja para marcar momentos importantes, seja para definir pretextos para que se renam ou mobilizem pessoas. A autora refere que a msica comeou a ser utilizada em rituais importantes na vida do Homem. Os rituais mais conhecidos e antigos do ser humano como: o nascimento, o casamento ou a morte, comearam a ser acompanhados com msica, tanto nos momentos de maior euforia como nos de maior tristeza. Esta representao de estado de esprito comeou a ter uma importncia enorme, os grandes lderes tinham a sua prpria msica para que assim pudessem ser louvados com distino. No s como forma de expresso de sentimentos ou atos comemorativos, a msica tambm comeou a fazer parte de um estado de esprito, segundo dados antropolgicos, a msica comeou a ter um papel importante na recuperao de doenas. Brscia (2003), citado por Barreto e Silva (2004) refere que Pitgoras conseguiu demonstrar que uma sequncia correta de sons podia alterar comportamentos e at em alguns casos ajudar na cura de doenas, na Grcia Antiga a msica chegou at a ser um dos ensinos obrigatrios devido sua importncia. Com a evoluo dos tempos, a tecnologia foi avanando. O Homem tornou-se cada vez mais criativo e foi sentindo necessidade em melhorar as suas condies de vida. Desde19 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

que a msica comeou a fazer parte da vida do ser humano, fez tambm parte dessa evoluo, quer tenha sido utilizada como forma de conforto, satisfao pessoal, terapia ou simplesmente como forma de praticar um instrumento de msica. Hoje bastante mais fcil e consegue-se de uma forma muito mais verstil ouvir ou produzir msica ou sons. Da que, definir o significado de msica se torne um pouco mais complexo do que aquilo que se possa imaginar. Segundo Brscia (2003), citado por Barreto e Silva (2004), so vrias as formas de definir a palavra msica. De uma forma geral, por diversos autores vista como cincia e arte ao mesmo tempo. Cincia, no s pela relao matemtica e fsica entre os elementos musicais, mas tambm, como uma terapia devido aos efeitos que consegue desencadear no ser humano. E arte pela forma como se pode escolher e organizar os arranjos musicais. Desde o que ela transmite ao que ela composta existem muitas formas de definir msica. Brscia (2003), citado por Barreto e Silva (2004) descreve-a como uma () combinao harmoniosa e expressiva de sons e como arte de se exprimir por meio de sons, seguindo regras variveis ()P. 25. Dependendo do fim e da perspetiva, vrios autores foram estudando os efeitos da msica, quais os seus constituintes principais e a sua grande envolvncia. Numa ptica mais a nvel da influncia no ser humano, Gainza (1988) citado por Barreto e Silva (2004), relata que A msica e um som, enquanto energia, estimulam o movimento interno e externo do homem; impulsionam-no ao e promovem nele uma multiplicidade de condutas de diferentes qualidade e grau. P. 22. A nvel estrutural a msica pode variar imenso. Existem diversos estilos musicais, uns mais meldicos, outros mais ritmados, uns mais concretos e organizados, outros mais abstratos, mas, todos eles fazem parte de uma famlia chamada msica. Schafer (1993), citado por Costa (1995) refere-se msica como uma combinao de sons, podendo ser atravs de ritmo ou melodia com o objetivo de ser ouvida. Sons esses organizados no tempo sem esquecer os silncios que fazem parte da msica tambm. Abrangendo variaes no som que podem acontecer sequencialmente ou simultaneamente. De acordo com tantos fatores pelos quais a msica pode variar, desde a sua cadncia, ao volume, expresso, intensidade, entre outros, Weigel (1988), citado por Barreto e Silva (2004), definiu que a msica composta por 4 fatores muito importantes: - Som: que so vibraes audveis e regulares de corpos elsticos, que se repetem com a mesma velocidade, como as de um pndulo de um relgio. As irregulares so denominadas de rudo.

20 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

- Ritmo: o efeito causado pela durao de diferentes sons, que podem ser longos ou curtos. - Melodia: a sucesso rtmica e bem ordenada dos sons. - Harmonia: a combinao simultnea entre a melodia e a harmonia dos sons.

Numa perspetiva mais filosfica, est definido que a msica pode ser considerada por duas formas: naturalista ou funcional. No que diz respeito perspetiva naturalista a msica pode j existir por si s, ela existe antes de ser ouvida e s se poder considerar como arte quando interpretada ou ento expressada. A outra perspetiva defende que a msica tem de ser vista como uma forma de comunicao, uma abordagem artstica e funcional que tem o objetivo de estabelecer um dilogo entre o compositor e o ouvinte.

21 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

2.4- A Msica como influncia das Emoes e do Desenvolvimento Humano

O filsofo Aristteles (384-322 a. C.), citado pela Revista Diversidades N 24 (2009) refere que a msica d largas ao pensamento e imaginao. Alm da msica requerer determinados parmetros como refere Weigel (1988), citado por Barreto e Silva (2004), esta arte ou cincia como tambm considerada, consegue suster o rigor matemtico com a criatividade de um msico virtuoso inspirado, tornando-a como uma forma de comunicao impar. Gainza (1988), citado por Barreto e Silva (2004), refere que os componentes da msica correspondem a aspetos humanos especficos. O ritmo alicia o movimento corporal, a melodia estimula a afectividade e a estrutura musical colabora na ordem mental do homem. Benezon (1985) diz que a msica uma arte e uma cincia, dois elementos que contribuem para a evoluo do ser humano. Todas estas pequenas concluses favorecem a noo de que a msica tem, sem margem de dvidas, um semblante importantssimo no desenvolvimento do ser humano. Ela uma forma de expresso universal que marca geraes e acontecimentos, origina emoes, de tal forma que se pode tornar at numa boa terapia e, alem disso, facilita o desenvolvimento cognitivo. Weigel (1988), citado por Barreto e Silva (2004), confirma que o ritmo tem um papel valorizado na formao e equilbrio do sistema nervoso. Para o autor a ao musical favorece a descarga emocional e a reao motora. Segundo o autor a msica tem a funo de romper barreiras para facilitar a comunicao entre os seres humanos. H autores que defendem que a msica est na base de toda a aprendizagem no ser humano. Alm das emoes, a msica consegue interferir com a capacidade que ns prprios temos em decidir na resoluo de situaes ou de problemas. Por outras palavras, interfere na nossa inteligncia. Gardner (1995), citado por Barreto e Silva (2004), autor da teoria das inteligncias mltiplas, distingue 8 inteligncias, sendo que uma delas a inteligncia musical. O autor referencia que Uma inteligncia implica na capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos que so importantes num determinado ambiente ou comunidade cultural. P.21. A inteligncia musical caracterizada pela habilidade para reconhecer sons e ritmos, gosto em cantar ou tocar um instrumento musical. Em termos de comportamento humano, a nvel das emoes e dos comportamentos dentro da sociedade, a msica desempenha um papel bastante importante, atravs dos seus22 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

efeitos, esta pode ser estimulada de variadssimas formas, desde as terapias at ao simples lazer sem qualquer planeamento. Benezon (1985) destaca que esta a arte e a cincia que por sua vez, so elementos importantes no processo evolutivo do desenvolvimento do ser humano. As alteraes que a msica provoca no ser humano tanto podem ter efeitos positivos como menos bons. La msica ambiental durante las atividades docentes estimula la atencin del nio e a la vez que actua como sedante. Prez e Martinez (1968) P. 284. Na prpria Bblia Sagrada, citado por Revista Diversidades N 24 num texto do antigo testamento, relatado um episdio do rei Saul que estava atormentado com uma coisa que o deixava perturbado. A msica foi ento o remdio:se tu, nosso rei nos deres ordens, os teus servos procuraro um homem que saiba tocar harpa, para que quando o mau esprito dominar sobre ti, ele a toque a fim de te acalmar () e sempre que o mau esprito atormentava Saul, David tomava a harpa e tocava. Saul acalmava-se, sentia-se aliviado e o esprito mau deixava-o. 4

A msica pode tambm ser vista de uma forma abstrata. O que pode causar desconforto para uns pode causar conforto ou indiferena para outros. A msica foi-nos oferecida pela harmonia. Segundo Plato (sc. V a.C.), citado pela Revista Diversidades N 24 (2009), esta arte ajuda-nos a entender melhor as nossas emoes, o que faz com que nos conheamos melhor a ns prprios tambm. Alm disso, ajuda-nos a ter confiana naquilo que sentimos e que acreditamos, uma das maiores virtudes da msica que pode ser feita da forma como se quer, ou seja, da forma como se sente e sem imposies. Muitos autores tm vindo a estudar os efeitos teraputicos da msica. Desde que se conhece este fenmeno que se vo relatando casos bastante pertinentes para a melhoria do conhecimento sobre a msica no desenvolvimento humano e na relao com as suas emoes. Descobrir na msica o poder de curar o corpo, fortalecer a mente e desbloquear o esprito criativo so alguns dos objetivos de um livro de Don Campbell sobre o Efeito Mozart. Este termo foi utilizado quando em 1991, Dr. Alfred A. Tomatis afirmou que a msica de Mozart benfica para melhorar problemas como dislexia, deficite de ateno, autismo e dificuldades motoras. O que comeou com o objetivo de tornar crianas mais inteligentes, fez com que se viesse a descobrir que a msica estimula a aprendizagem e a memria, fortalece a capacidade4

Revista Diversidades N 24 (2009) P.10. 23 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

de concentrao, reduz a tenso muscular e melhora o movimento e a coordenao corporal. Segundo Don Campbell este fenmeno impar e contagiante, ele refere a msica como um remdio para o corpo, para a mente e para a alma. Segundo Campbell D. (2000), quem tenha reparado numa criana a balanar-se ao ritmo de um som, consegue reparar na forma profunda como a msica nos toca. A msica tem muita importncia no desenvolvimento dos indivduos dentro de uma sociedade. Alm de funcionar como terapia, tambm serve na ajuda do desenvolvimento da inteligncia, criatividade e disciplina. Segundo o programa de competncias, Segundo o Programa de Competncias do 1. Ciclo, (2004), ouvir uma cano ou aprend-la desperta, estimula e desenvolve o gosto pela vivncia da linguagem. O efeito de descontrao provocado pela msica faz com que as crianas descubram o mundo da aprendizagem ao mesmo tempo que brinca, segundo o programa de competncias a criana torna-se mais recetiva. Quanto a menos presso um indivduo for sujeito em determinada tarefa, melhores sero os nveis de stresse e consequentemente melhor ser o estado de confiana e de sucesso. Segundo Barreto e Silva (2004), o relaxamento provocado pela msica ajuda no controlo da mente e do afastamento de sensaes negativas. Segundo Barreto e Silva (2004), Villa-Lobos (1946) refere que a msica um alimento indispensvel para a alma do ser humano. Segundo Kodly (1929), citado por Gardnard (1974), no h disciplina que sirva tanto o bem-estar da criana a nvel espiritual e fsico como a msica. Esta causa efeitos bio-psico-sociais no desenvolvimento do ser humano: - Provoca uma sensao de enorme bem-estar; - Tende a reduzir ou retardar a fadiga e, em consequncia, o aumento do tnus muscular; - Segundo o ritmo, incrementa ou diminui a energia muscular; - Acelerao da frequncia respiratria ou sua regularizao; - Produz efeito marcado, porm varivel, na pulsao e na presso sangunea;

24 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

- Desenvolve o raciocnio a memria (cantigas de roda e as canes de mima, desenvolvem o raciocnio lgico); - Desenvolve a sensibilidade e amplia a perceo (promove alteraes no impacto dos estmulos sensoriais de diferentes modos); - Com a msica pode-se trabalhar alguns aspetos da personalidade e disciplina da criana, estimulando a sua formao global. Uma criana muito rebelde, por exemplo, descarrega toda sua energia manipulando um instrumento; - Desenvolve a autoestima da criana (a timidez das crianas pode ser superada com as aulas de msica; o tocar ou cantar num coro, faz com que a criana passe a sentir a sua prpria voz e comece a soltar-se, a perceber a importncia do trabalho em grupo, da cooperao entre pessoas. Estas aulas podero ser uma forma destas crianas demonstrarem as suas potencialidades, o seu sentimento de potncia, sentindo-se aceites e fazendo parte de um grupo); - Facilita a expresso de sentimentos espirituais e promove conforto espiritual; - Auxilia na expresso de dvidas, raiva, medo e questes relacionadas ao significado da vida e finitude; - Promove entretenimento e diverso; - Desenvolvem a coordenao motora, expresso corporal (atravs dos instrumentos, danas, e realizao de ritmos ela aumenta a atividade voluntria, como por exemplo, digitar, e incrementar a extenso dos reflexos musculares empregues no escrever, desenhar,); - Melhoram as habilidades matemticas das crianas (a rea cerebral responsvel pela msica est muito prxima da rea de raciocnio lgico-matemtico (ou seja, as conexes nervosas acionadas ao executarem uma obra clssica so muito prximas daquelas usadas ao fazer-se uma operao aritmtica ou lgica, no crtex cerebral esquerdo); - Desenvolvimento da linguagem pode ser estimulado por meio de atividades musicais tais como lengalengas, trava-lnguas e pequenas canes (desenvolvendo a

comunicao/compreenso, estimulando habilidades scio comunicativas); - Socializao (considerando que estas crianas geralmente vivenciam o seu quotidiano de uma forma isolada, ela funciona como ponte entre as diferenas culturais e o isolamento).

25 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

2.5-Musicoterapia e Msica

A grande diferena entre os conceitos de musicoterapia e msica est na forma como esta utilizada, com que objetivo. Ouvir msica simplesmente pode servir para distrair, enquanto que a musicoterapia exige a utilizao desta mas de uma forma planeada com o fim de atingir determinados objetivos. A musicoterapia basicamente uma forma teraputica na utilizao da msica e dos seus efeitos. So vrias as definies para esta terapia. Musicoterapia a utilizao damsica e ou seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) por um musicoterapeuta qualificado, com um paciente ou grupo, num processo para facilitar e promover a comunicao, relao, aprendizagem, mobilizao, expresso, organizao e outros objetivos teraputicos relevantes no sentido de alcanar necessidades fsicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas. 5

O ser humano tem por hbito utilizar a msica como indutor de relaxamento ou excitao. Muitas das vezes quando se procura mudar o estado de esprito recorre-se msica. Esta j foi no passado utilizada para exorcizar ou curar doenas, com a evoluo dos tempos e com o aumento dos conhecimentos, foi-se descobrindo a causa das doenas e cada vez mais em pormenor os efeitos da msica at se chegar a um carter mais cientfico. Desde o efeito dos ritmos musicais no ritmo cardaco ao relaxamento muscular, a msica comeou a fazer parte de uma utilizao teraputica. Essa terapia pode ser feita de modo ocupacional ou ento de uma forma verdadeiramente psicoteraputica. O primeiro Instituto de Musicoterapia nasce em Estocolmo no ano de 1942. A primeira denominao foi a de Psicorritmia, mais tarde os Estados Unidos da Amrica criaram a denominao de National Association for Music Therapy. Antes de se espalhar pelo mundo, a Gr-Bretanha, em 1959 criou a denominao de Society for Music Therapy and Remedial Music Benezon (1985) por muitos encarado como o pai da musicoterapia, ele descreve musicoterapia como uma psicoterapia que utiliza o som, a msica e os instrumentos corporais-sonoros-musicais para constituir uma ligao entre o musicoterapeuta e o paciente

5

Federao Mundial de Musicoterapia inc. (1996). 26 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

ou grupos de pacientes, permitindo melhorar a qualidade de vida, recuperando e reabilitando o paciente para a sociedade. A musicoterapia, segundo os terapeutas, uma atividade que procura o bem-estar social, fsico e psicolgico. Baseia-se na prtica de atividades musicais controladas e organizadas especificamente para determinado(s) sujeito(s). Os instrumentos musicais so a ponte de ligao gradual e espontnea entre o paciente e o terapeuta. Atravs da aproximao dos instrumentos, o paciente vai-se abrindo cada vez mais ao terapeuta, mostrando-se, para que assim se possa acionar uma melhor progresso e reabilitao, como refere (Sousa 2005) um dos objetivos da musicoterapia criar uma ligao comunicativa. Segundo o autor no importava o tipo de msica produzida mas sim os sentimentos que atravs dela se produziam. Esta terapia visa a independncia e a autonomia dos pacientes, proporciona atividades que criam condies para o desenvolvimento no domnio humano pretendido. A musicoterapia objetiva desenvolver potenciais e/ ou restabelecer funes do indivduo para que ele / ela possa alcanar uma melhor integrao intra e/ou interpessoal e, em consequncia, uma melhor qualidade de vida, pela preveno, reabilitao ou tratamento. Federao Mundial de Musicoterapia inc. (1996). A msica e a musicoterapia so conceitos que esto bastante ligados um ao outro mas, tm objetivos diferentes. A msica reconhecida pelos seus efeitos no Homem desde a antiguidade, a musicoterapia j um processo ordenado que implica um planeamento e uma metodologia. Ainda a nvel do tratamento psicopedaggico, existe um processo que se denomina de ludo psicopedagogia-musical. Este sistema consiste no tratamento psicopedaggico

associado msica. Envolve duas reas de interveno, a rea ldica e a msica. Grosso modo este processo envolve atividades musicais brinquedos, instrumentos musicais ou melodias atravs de formas de brincar direcionadas para um trabalho especfico no tratamento de uma deficincia. Apesar de no existir um significado de linguagem especfico a nvel das organizaes sonoras, a msica no deixa de ser um veculo de expresso. Autores como Weigel (1988), referido por Barreto e Silva (2004), investigaram os efeitos da msica sobre a aprendizagem e os comportamentos relacionados com esse processo. A msica, alm de ser um ptimo27 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

veculo para o conhecimento ntimo, tambm uma tima atividade ldica. O processo ensino/aprendizagem tem melhores performances quando acompanhado por atividades como esta, a msica facilita na comunicao, expresso e linguagem e o facto de ser acompanhada com uma ndole ldica, deixa de parte sentimentos negativos e abre espao s emoes que facilitam a aprendizagem. As atividades de ludo psicopedagogia-musical desenvolvem o domnio cognitivo porque desenvolvem os sentidos das crianas, a viso, audio e expresso. A nvel psicomotor facilitam o controlo muscular, o equilbrio e a coordenao. Em termos sociais este processo desenvolve a capacidade de se relacionar e conviver com os outros.

28 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

2.6-A Educao Musical

As atividades musicais feitas nas escolas no so dirigidas para a criao de msicos profissionais, segundo Brscia (2003), referido por Barreto e Silva (2004), so feitas com o objetivo de proporcionar uma vivncia e uma compreenso da linguagem musical, para a facilitao da expresso de emoes e ganhos na cultura geral e de integrao do ser. Segundo o autor a msica pode melhorar o desempenho em disciplinas como o Portugus e a Matemtica. Gainza (1988), referido por Barreto e Silva (2004), afirma que as atividades musicais na escola podem ter objetivos profilticos, nos seguintes aspetos: -Fsico: oferecendo atividades capazes de promover o alvio de tenses devidas instabilidade emocional e fadiga; -Psquico: promovendo processos de expresso, comunicao e descarga emocional atravs do estmulo musical e sonoro; -Mental: proporcionando situaes que possam contribuir para estimular e desenvolver o sentido da ordem, harmonia, organizao e compreenso.

A Educao Musical o conjunto de experincias dirigidas a transmitir a prtica e a teoria da msica que inclui: - Musicalizao: mtodos destinados a iniciar o estudante na prtica vocal ou instrumental antes do ensino da teoria musical - Prtica Instrumental: ensino e treino de tcnicas especficas de cada instrumento - Prtica Vocal: ensino da teoria musical, escalas, rtmica, harmonia e notao musical - Perceo Auditiva: treino da perceo meldica (alturas e intervalos) e rtmica. Da mesma forma que a Musicoterapia utiliza a msica de uma forma metdica e planeada, a Educao Musical tambm o faz. Na Musicoterapia so os terapeutas que utilizam a msica para os seus objetivos, na Educao Musical, so os Professores. Apesar de os29 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

resultados de ambos os processos por vezes no diferirem muito, os mtodos so bastante distintos. Mesmo estando a msica sempre relacionada, a Educao Musical est direcionada na aquisio de conhecimentos especficos, na Musicoterapia, mesmo que se adquiram algumas competncias nesse nvel, s a sade e a reabilitao que interessam verdadeiramente ao Psicoterapeuta. Por outro lado, o Professor tem o dever de motivar e estimular o desenvolvimento da prtica de determinada habilidade, embora tambm possam da resultar efeitos que beneficiem a sade, como refere Louro (2006) a Educao Musical educa e reabilita. Dalcroze, Kodly, Orff, Villa Lobos e Suzuki foram alguns dos Educadores que contriburam para a evoluo desta disciplina. Em Portugal esta disciplina passou por vrias fases. A msica tambm tem a capacidade de refletir os valores de uma sociedade. Na poca do fascismo s alguns tinham o direito de usufruir da msica e de forma controlada, na escola nem sequer era mencionada. Com um pas com uma industrializao bastante atrasada e com uma forte emigrao, os artistas e os intelectuais estavam reprimidos. Gagnard (1974) refere que a msica sofreu durante cinquenta anos uma ofensiva de represso e s alguns privilegiados puderam usufruir dela. Assim que surgiu a democracia no ano de 1974 com a revoluo, a msica passou a ficar acessvel a quem a quisesse consumir. Ao nvel do Ensino, em 1990 criou-se uma nova reforma do Sistema Educativo e atravs do surgimento do Decreto-lei n. 6/2001 de 18 de Janeiro houve j avanos significativos, uma vez que as reas de expresso adquiriram direito de cidadania. A partir da, o Governo, atravs do novo programa fez com que se garantisse uma educao de base para todos. A educao passou a ser um processo de formao para o indivduo ao longo da vida e no apenas na fase inicial, o que envolveu conceder uma particular ateno s situaes de excluso e tambm ao desenvolvimento de um trabalho de esclarecimento de exigncias quanto s Expresses. Mais tarde, em 1998 o Ministrio da Educao reorganizou o currculo do Ensino Bsico. Na perspetiva de uma aprendizagem melhor e considerando que a escola necessitava de assumir um espao distinto para a cidadania, para as aprendizagens diversificadas e para as atividades de apoio e estudo, consagrou ento trs novas reas curriculares no disciplinares. Entre elas a Educao Musical que se encontra integrada na rea de Expresso e Educao

30 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

Artstica. A Educao passou assim a ter uma maior diversidade cultural e ldica como podemos ler no seguinte artigo:As escolas, no desenvolvimento do seu projeto educativo, devem proporcionar aos alunos atividades de enriquecimento do currculo, de carcter facultativo e de natureza eminentemente ldica e cultural, incidindo, nomeadamente, nos domnios desportivo, artstico, cientfico e tecnolgico, de ligao da escola com o meio, de solidariedade e voluntariado e da dimenso europeia na educao. 6

No Decreto-Lei n. 344/90, de 2 de Novembro, que estabelece as bases gerais da organizao da educao artstica pr-escolar, esclarece que a educao artstica imprescindvel na formao global equilibrada da pessoa. A msica e as outras expresses comearam assim a ser encaradas no s como uma forma de entretenimento, mas sim como um caminho de ligao multidisciplinar, nas quais se favorecem valores e competncias que estavam reprimidas noutras disciplinas sem a exigncia de tcnicas artsticas apuradas. (Snyders, 1996), referido por Barreto e Silva (2004), refere que a Escola tem a funo de preparar os jovens para o futuro, segundo este autor a melhor forma de o fazer criando momentos positivos realando-os. As expresses nas escolas so uma mais-valia porque alm de se poderem articular de forma multidisciplinar com as outras disciplinas, so bastante motivadoras tanto na aprendizagem como no comportamento dos alunos. Segundo o autor, necessrio que os esforos dos alunos recompensados por uma alegria que possa ser vivida no momento presente.

2.6.1- Educao Musical no Pr-Escolar

As orientaes curriculares para a Educao Pr-escolar envolvem trs grandes reas: formao social, formao pessoal e expresso e comunicao que inserem a expresso motora, dramtica, plstica e musical. Apesar de a disciplina de Educao Musical ocupar um lugar secundrio na Educao, muitos foram os Educadores que contriburam para que esta disciplina fizesse parte da Lei de Bases do Sistema Educativo. Silva (1997) conta que a msica deve iniciar-se logo na primeira infncia para que assim se possa criar um ambiente com a famlia em casa onde se possa ouvir6

(artigo 9 - Decreto-Lei n.6/ 2001 de 18 de Janeiro) P. 7. 31 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

e explorar a msica. Desde a identificao dos sons at ao brincar na identificao dos sons do meio ambiente cantando e trauteando. No Ensino Pr-Escolar, as orientaes para a msica baseiam-se num trabalho muito bsico de sons e ritmos para que a criana comece desde logo a ter noo das diferenas de intensidade fraco/forte, timbre modo de produo, durao longo/curto e altura grave/agudo. O trabalho nesta fase desenvolve-se na execuo de alguns itens que devem ser abordados com a maior proximidade possvel de sons do nosso meio ambiente. So eles: -escutar: identificar sons como os da natureza, gua a correr por ex. -cantar: explorar a linguagem e formas de ritmo -danar: desenvolvimento motor -criar: o seu prprio instrumento. Basicamente os objetivos desta primeira fase so o aperfeioamento da audio e da emisso de sons e de alguns movimentos corporais. Os objetivos desta primeira fase, segundo as Orientaes Curriculares para a Educao PrEscolar, passam principalmente pelo aperfeioamento da audio e da emisso de sons e de alguns movimentos corporais.

2.6.2- Educao Musical no 1 Ciclo do Ensino Bsico No Primeiro Ciclo do Ensino bsico, segundo as orientaes Curriculares, as direes baseiam-se mais no aperfeioamento a nvel do canto. Nesta fase, a voz o instrumento mais importante, ela uma ferramenta muito importante na comunicao e por isso, tem de ser estimulada. Algumas das estratgias mais sugeridas so as prticas atravs de jogos de roda, movimentos corporais entre outros. O corpo tambm outro instrumento pelo qual o aluno comunica imenso, desde as palmas, batimentos de vrias intensidades e outras variantes dinmicas importantes na forma de expresso e de reconhecimento do corpo. Segundo o programa do 1 ciclo:Sentir, no corpo em movimento, o som e a msica , na criana, um forma privilegiada e natural de expressar e comunicar cineticamente o que ouve. O movimento, a dana, a percusso corporal so meios de que o professor dispe para, com pleno agrado das crianas, desenvolver a sua musicalidade. 7

7

Programa do 1. Ciclo p. 69. 32 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

2.6.3- 2 e 3 Ciclo e Secundrio

No 2 Ciclo, a disciplina lecionada por um docente da rea e tem o nome de Educao Musical. Os objetivos a desenvolver so semelhantes aos do 1 Ciclo mas, uma vez que os alunos nesta fase j tm as competncias mais desenvolvidas, podem-se assim realizar um conjunto de tarefas mais especficas na rea musical. Desenvolver o poder de reflexo, observao, perceo e memorizao, educar o ouvido musical, desenvolver habilidades rtmicas, e expressar a criatividade em conjunto com as outras expresses so algumas das competncias a desenvolver. A disciplina de Educao Musical no 3 Ciclo e no Ensino Secundrio de carcter opcional, o que faz com que no haja muitos alunos matriculados. O trabalho desenvolvido no 1 ciclo no domnio de flautas, do canto, dos cordofones (instrumentos de corda) e do instrumental Orff (instrumentos de precurso adaptados) nem sempre continuado ainda mais quando a disciplina mais tarde se torna opcional. Segundo Paulos Esteireiro, coordenador de Educao Artstica na Regio Autnoma da Madeira, a disciplina de Msica mesmo estando prevista no currculo nacional, no lecionada de forma contnua o que faz com que o trabalho feito inicialmente nem sempre seja prosseguido, o que enfraquece um pouco a disciplina.

2.6.4- Educao Musical na Regio Autnoma da Madeira

A Regio Autnoma da Madeira um caso muito particular no que diz respeito incluso da msica no 1 ciclo. Desde 1980 que as expresses musical e dramtica tm vindo a ser implementadas neste nvel de ensino embora s em 1989 que foi oficializada atravs da sua primeira lei orgnica, integrada no Decreto Legislativo Regional n. 26/89/M de 30 de Dezembro, com a designao de Gabinete de Apoio Expresso Musical e Dramtica. A Educao Artstica no 1 Ciclo foi regulamentada pelo Decreto-Lei n344 de 1990, passou por algumas alteraes, aumentou as competncias e em 1997 foi criado o Gabinete Coordenador de Educao Artstica (GCEA), que uma Direco de Servios da Direco33 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

Regional de Educao (DRE), que integra a Secretaria Regional de Educao e Cultura (SREC), da Regio Autnoma da Madeira (RAM). Em 2002, Paulo Esteireiro, Coordenador do Centro de Investigao e Documentao do Gabinete Coordenador de Educao Artstica (GCEA), criou um projeto de regionalizao do currculo da Educao Musical no 2 ciclo com o objetivo de conservar a msica tradicional da Madeira.

34 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

2.7-Musicalizao o que .

Desde a antiguidade que a msica est relacionada com valores morais. J na Grcia antiga, acreditava-se que esta participava na formao e na construo da cidadania das pessoas. Mais tarde comeou a ser encarada como uma forma de relacionar emoes com outras aes como a integrao social e a aprendizagem. A msica comeou a ser utilizada como uma forma de inspirao para influenciar o desempenho de determinadas tarefas. A musicalizao um procedimento que permite com que a msica seja o objeto de formao de um indivduo. Antigamente apenas se sabia que este termo se associava iniciao musical de crianas. Hoje em dia j se sabe muito mais, alguns autores referem-na como sendo uma aula individual ou em grupo onde se pretende, de uma forma metodolgica, atingir determinados objetivos. Segundo Brscia (2003), citado por Barreto e Silva (2004): um processo de formao de conhecimento cujo objetivo no apenas criar o gosto pela msica mas tambm pelo desenvolvimento de outras aptides como a sensibilidade, a criatividade, o sentido rtmico, a imaginao, memria, concentrao, ateno, auto-disciplina, respeito ao prximo, sociabilizao, afectividade, expressividade, coordenao motora, perceo auditiva e consciencializao corporal. 8

As atividades de musicalizao deveriam ser mais exploradas no ensino, no s porque melhoram a aprendizagem como trazem benefcios a nvel da sociabilizao. Segundo Brscia (2003) o canto ajuda na aprendizagem, na sociabilizao e no conhecimento do que nos rodeia. Gainza (1982), referido por Barreto e Silva (2004) certifica que O objetivo especfico da educao musical musicalizar, ou seja, tornar um indivduo sensvel e recetivo ao fenmeno sonoro, promovendo nele, ao mesmo tempo, respostas de ndole musical. Gainza (1982), citado por Barreto e Silva (2004) O trabalho da musicalizao pode comear a ser feito a partir dos 2 anos de idade, tanto que, hoje em dia a msica obrigatria na escola desde o pr-escolar. Segundo Barreto e Silva (2004), a musicalizao na escola desenvolve a concentrao, memria, coordenao motora, socializao, acuidade auditiva e disciplina. A experincia uma forma muito rica de obter conhecimento. Estes dois conceitos esto diretamente relacionados, quanto mais diversificadas forem as situaes de processo

8

Brscia (2003), citado por Barreto e Silva (2004) 35 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

ensino/aprendizagem, melhores resultados da viro. Segundo Weigel (1988), citado por Barreto e Silva (2004), as atividades de musicalizao podem melhorar em muito alguns domnios de desenvolvimento nas crianas. A nvel cognitivo/lingustico, atravs da msica possvel desenvolver os sentidos viso, tato e audio, a criana pode danar ou repetir gestos trabalhando a coordenao motora e a ateno, ao mesmo tempo que pode cantar ou imitar sons tornando-a mais familiarizada com o ambiente que a rodeia. A nvel psicomotor, o ritmo tem um papel muito importante na formao e no equilbrio do sistema nervoso. Ao mesmo tempo que uma criana canta e faz um ritmo ou uma dana, permite que esteja a desenvolver varias competncias ao mesmo tempo, neste caso concreto, o sentido rtmico, a coordenao motora e a aquisio de leitura ou escrita. Quanto ao desenvolvimento scio afetivo, a msica tem tambm um papel importante, na medida em que a criana vai formando a sua identidade e a sua autoestima, a sua forma de se relacionar com os outros e de se sentir includo. H atividades musicais entre crianas que favorecem a participao em grupo apelando a valores de cooperao, entreajuda e sociabilizao. Atravs da msica pode-se trabalhar um conjunto muito vasto de conhecimentos que se podem relacionar com outras reas. Pode-se pegar no timbre do som e diferenciar, classificar, atribuir intensidade, tempo, etc. De acordo com as capacidades da criana e com as reas de interesse o Professor pode problematizar situaes e da aperfeioar conhecimentos e competncias para o aluno de uma forma motivante. Alm disso pode ainda torn-los mais proativos, autnomos e determinados como refere Benezol (1985) no manual de musicoterapia: A msica deve desempenhar um papel importante na educao em geral, pois ela responde aos desejos mais diversos do Homem; o estudo da msica o estudo de si mesmo. Dalcorze citado por Benezol (1985) P. 173. As atividades de musicalizao possibilitam criana um conhecimento melhor dos seus domnios e da sua capacidade de relacionamento e comunicao com os outros. Nos dias que correm, so cada vez mais os atrativos visuais com que as crianas vo sendo seduzidas. A imagem tem um poder tremendo na nossa sociedade e para que o ditado popular, uma imagem vale mais que mil palavras, no seja comparado em relao ao som, bastante importante que as crianas sejam estimuladas capacidade de captar e distinguir os sons. Da mesma forma que um professor pede ao aluno para descrever uma ao por meio de palavras ou de desenhos, tambm o pode pedir por meio de sons. O facto de distinguir sons mais graves ou agudos, mais intensos, curtos ou longos, ou de os conseguir reproduzir e diferenciar36 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

faz com que a criana esteja a desenvolver um conjunto muito completo de competncias e domnios, ao mesmo tempo que desenvolve a sensibilidade auditiva. Brscia (2003) destaca que se podem fazer jogos muito didticos na fase infantil atravs dos sons. Distingue 3 tipos de jogos, o Sensrio-Motor onde a criana at idade dos dois anos realiza atividades que relacionam o som e o gesto, reproduzindo sons atravs do corpo. O Simblico onde se procura o desenvolvimento da linguagem atravs do som relacionado com a imagem, realizase at aos quatro anos. O Analtico que envolve o relacionamento com os outros e aprendem as regras bsicas de disciplina, realiza-se a partir dos quatro anos de idade.

37 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

2.8-Incluso o que .

H muitos anos atrs, pensava-se que a escola s servia para tornar as crianas mais cultas e fazer delas boas pessoas, pensava-se tambm que os que no aprendiam era simplesmente porque tinham menos capacidade do que os outros. O que certo que ao longo da histria da humanidade fomos conhecendo alguns maus alunos que se tornaram verdadeiros gnios. Cada vez mais a escola vista como uma instituio de muita importncia no desenvolvimento de uma sociedade. Grande parte do tempo de uma criana est dividido entre a escola e o lar onde reside. na escola que se fazem grande parte das primeiras amizades, l que as crianas comeam a descobrir o mundo e o que querem que ele seja no futuro. l que estes adquirem os valores e as aprendizagens necessrias para se integrarem da forma mais autnoma numa sociedade que futuramente estar tambm dependente desses mesmos alunos. A escola neste sentido tem o dever de incluir o aluno na sociedade, como refere o guia de professores com alunos com NEE na sala de aula, a incluso um processo que envolve a integrao dos alunos sem qualquer distino.A incluso, a pretender portanto, que todos os alunos, tenham direito a uma educao igual e de qualidade. Que todos os alunos sejam vistos quanto ao seu todo, no seu crescimento e desenvolvimento. Que a todos os alunos seja provida uma educao que respeite as suas necessidades e caractersticas que, na sua essncia, constituem direitos fundamentais de toda a criana. Que a todos os alunos seja facilitada a sua transio para a vida ativa, por forma a que eles se venham a mover na sociedade a que por direito pertencem com maior autonomia e indecncia possveis. 9

A educao serve a sociedade, hoje em dia considerada um direito do ser humano. J h alguns anos comeou-se a pensar na importncia da educao no reflexo de uma sociedade, segundo a Declarao Universal dos Direitos do Homem (ONU 1948). O Conclio do Vaticano 11 declara que toda a pessoa tem direito educao. Visto que todo o indivduo deve ter os mesmos direitos, olhando por esse prisma, a escola deve acolher todos sem distino. Nem todas as crianas tm as mesmas possibilidades, nem todas tm os mesmos moldes culturais e cada uma tem as suas prprias9

Nielsen L. B.(1999) P.9. 38 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

capacidades. A educao no um direito s de alguns e cada criana apresenta caractersticas, interesses, habilidades e necessidades nicas de aprendizagem. A escola tem de estar preparada para recolher todas estas diferenas e tentar preparar todas as crianas sem que se sintam prejudicadas ou de alguma forma tratadas de forma diferente. A educao, atravs da sua reforma educativa, tem lutado cada vez mais por uma escola eficaz e abrangente para todos os alunos. A escola tem-se desenvolvido no sentido de prevalecer os valores da igualdade de direitos e condies. Cada vez mais se aposta numa escola inclusiva onde os alunos com deficincia aprendem juntamente com os alunos do ensino regular na procura de uma maior integrao e de um enriquecimento de valores sociais. Estas alteraes tm mudado o sistema de ensino, especialmente no papel dos professores e nas exigncias que essas mudanas provocam. Ao longo do tempo quebraram-se algumas barreiras que existiam, mudaram-se algumas mentalidades, surgiram novos valores sociais e conseguiu-se criar condies para que um aluno com NEE (Necessidades Educativas Especiais) tenha igualdade na educao em relao aos restantes. Alguns autores pensam que a incluso j est implementada e outros acham que este sistema ainda no resulta porque nem as escolas, nem os professores, nem os pais esto ainda completamente preparados, como refere Correia (2003). No so s os elementos mais diretamente envolvidos neste processo que devem estar preparados, toda a sociedade deve estar sensvel a esta mudana para benefcio de todos. A educao especial no passado era vista de outra forma. Os deficientes mentais eram internados em orfanatos ou manicmios, junto daqueles que na altura no eram teis para a sociedade, velhos e pobres, eram marginalizados, postos de parte. As primeiras instituies especializadas para portadores de deficincia aparecem no sculo XIX. A sociedade sentiu necessidade em proteger os civis sem deficincia daqueles que eram diferentes, predominando assim valores discriminatrios e de preconceito, passou-se de rejeio para um protecionismo exacerbado. No nosso pas, nos anos 40 surge o primeiro centro de observao e diagnstico mdico-pedaggico para deficientes, o Instituto Antnio Aurlio da Costa Ferreira. Nos anos 60 comea-se a falar em integrao, comea-se a pensar em inserir alguns dos alunos com deficincia com alunos do ensino regular, o objetivo era proporcionar um maior campo social para estes alunos.

39 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

Em Portugal, a integrao comeou-se a experimentar em alguns liceus. Mas s em 1986, atravs da publicao da Lei de Bases do Sistema Educativo, com a lei (46/86 de 14 de Outubro) alnea J, artigo 7 que permitiu que pela primeira vez, jovens deficientes e jovens no deficientes estudassem no mesmo espao. Este foi um decreto muito importante na histria dos direitos inclusivos. Segundo a Lei de Bases do Sistema Educativo, o ensino adopta um cunho universal de maneira a assegurar uma formao geral comum a todos os portugueses. O seu cunho universal abrange todos os indivduos, sem discriminao. No 2. ponto do Artigo 2 da Lei de Bases do Sistema Educativo (1998) o Estado compromete-se a fomentar a democratizao do ensino, garantindo o direito igualdade de oportunidades no acesso e sucesso escolares. Em 2008 a este decreto foram reforados alguns objetivos e algumas finalidades em relao ao antigo, veio trazer melhores condies e um maior nmero de direitos. Assegurar s crianas com necessidades educativas especficas, devidas, designadamente, a deficincias fsicas e mentais, condies adequadas ao seu desenvolvimento e pleno aproveitamento das suas capacidades Alnea J Decreto-Lei n.3/2008 de 7 de Janeiro. Este Decreto veio alargar o Ensino Especial at ao Pr-escolar e ao Ensino Particular e os encarregados de educao passaram a ter deveres de participao na educao do aluno. Foi criada a CIF (Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade), o PEI (Plano Educativo Individual) acompanhado por um PIT (Plano Individual de Transio) tornando o trabalho da educao mais cooperativo com os outros tcnicos profissionais, com o objetivo de melhorar a aprendizagem e integrao do aluno. Atravs de uma resoluo das Naes Unidas, a Declarao de Salamanca 1994, que se desenvolveram os princpios, polticas e prticas do Ensino Especial. Esta declarao foi elaborada pelo Congresso Mundial sobre NEE, realizada pelo Governo Espanhol em colaborao com a UNESCO, com a participao de 92 pases e 25 Organizaes Internacionais. Esta declarao considerada um dos mais importantes documentos que visam a incluso social, surge devido aos movimentos a favor dos direitos humanos e abre uma nova perspetiva inclusiva. A escola deve ser o meio mais competente para combater atitudes discriminatrias, formando mentalidades mais abertas e compreensivas de modo a formar uma sociedade inclusiva. Segundo Crespo (2005), a escola inclusiva valoriza todos os alunos, mesmo tendo eles diferenas so acolhidos e respeitados. () As crianas e jovens com necessidades educativas especiais devem ter acesso s escolas regulares, que a elas se devem adequar atravs de uma pedagogia centrada na40 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

criana, capaz de ir ao encontro destas necessidades. Declarao de Salamanca UNESCO (1994) P. 2. Este acordo permitiu que o Ensino Especial deixasse de ser uma instituio isolada para passar a fazer parte do ensino como um servio reconhecido. Os alunos com NEE, cujas carncias se relacionam com deficincias ou dificuldades escolares, passaram a ter direito a frequentar o ensino regular e de aceder ao currculo comum por via de um conjunto de adaptaes adequadas s suas necessidades e s suas caractersticas. Nesta declarao pediase s escolas que acolhessem todas as crianas independentemente das condies fsicas, intelectuais, econmicas, sociais ou lingusticas, para que aprendessem juntos sempre que possvel independentemente das diferenas existentes. Todas estas alteraes exigiram profundas reestruturaes tanto a nvel humano, pais, professores, alunos, como em termos dos espaos fsicos, adaptaes de acesso e funcionalidade, como a nvel de pedagogias. Esta alterao geradora de controvrsias. Segundo Correia (2003) ainda h muito a fazer para que as escolas inclusivas tenham bons resultados. Devido heterogeneidade de alunos a incluso importante mas mais importante ainda gerar condies para haver as respostas certas. Segundo o autor, os pais, os professores e os colegas ainda no esto completamente sensibilizados com esta mudana ao ponto de poderem passar para os alunos com NEE toda a confiana para que estes sejam integrados. preciso ajudar os professores que ainda no esto completamente preparados e os espaos fsicos tm de ser reorganizados. Correia (2003) refere que a escola inclusiva deve defender um trabalho de equipa desenvolvido por todos os rgos da escola, desde a gesto, aos professores, tcnicos, terapeutas, psiclogos, auxiliares e pais. Todos eles so responsveis pela integrao e aprendizagem dos alunos. Para compreender melhor a evoluo da relao que a escola teve em relao sociedade no que diz respeito incluso e integrao, temos de distinguir dois conceitos. O termo incluso um termo recente. Tem vindo a ter algum destaque na rea educativa e est na sua histria, ligado defesa e valorizao da pessoa com deficincia. Comeou-se a falar em incluso no princpio dos anos 80 quando a ONU organizou o ano internacional da pessoa com deficincia. A incluso refere-se s metodologias e pedagogia diferenciada necessria para que os alunos com NEE se sintam em igualdade com os outros. A integrao tem o mesmo sentido de incluir os alunos com necessidades perto dos que no as tm. anterior ao41 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

conceito de incluso j que a principal preocupao deste conceito centra-se na integrao e normalizao dos alunos com deficincia junto dos outros. Rodrigues (2003) afirma que colocar a criana na escola comum no indica que ela est efectivamente includa; necessrio ajudar os professores a aceitarem a responsabilidade quanto aprendizagem de todas as crianas nas escolas e prepar-los para ensinarem aquelas crianas que esto atualmente excludas das escolas por qualquer razo. Se na preparao para a incluso de alunos com deficincia todos os intervenientes estiverem bem preparados todos podem ficar a ganhar numa escola inclusiva. Para Hoffmann (2000), existem muitas vantagens na incluso de alunos com deficincia. O autor refere que atravs da incluso os alunos alcanam experincia e capacidades humanas, melhoram o ensino e ficam mais bem preparados para a vida adulta numa sociedade. Segundo relatrios de Educao Inclusiva na sala de aula, a partir de estudos de caso em 15 pases europeus, constatou-se que nas salas de aula inclusivas o que bom para os alunos com NEE igualmente bom para todos os alunos. Os professores necessitam de apoio e de colaborar com os colegas, com a escola e com os profissionais exteriores. A cooperao entre os pares fundamental para o desenvolvimento cognitivo e afetivo dos alunos. A heterogeneidade permite que as estratgias de aprendizagem se tornem mais flexveis e diversificadas, ao mesmo tempo que exigem regras que melhoram o funcionamento da sala de aula. O Programa Educativo Individual (PEI) d lugar a uma abordagem de ensino eficaz e mais qualitativo, onde se valorizam os progressos. Uma sociedade inclusiva tem caractersticas de abertura que considera e valoriza as diferenas e consegue criar oportunidades iguais para todos os seus elementos. A Constituio da Repblica Portuguesa refere no artigo 71 que o Estado obriga-se a reabilitar e integrar cidados portadores de deficincia. A escola passa ento a ter um desafio notvel, o de desenvolver uma pedagogia focada no aluno, mesmo naqueles que apresentam mais dificuldades e incapacidades. Ao nivel de adaptaes pedaggicas, a incluso pode ser feita com maiores ou menores adaptaes, dependendo da especificidade, tm processos de adaptaes especficos. Os alunos com alguma modificao, tm uma incluso de certos objetivos ou metodologias. o aluno passa a maior parte do tempo na sala do ensino regular. Nas modificaes42 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

significativas, os alunos passam longos perodos fora da sala do ensino regular, onde recebem reforo em reas especficas. A soma de todas as diferenas de cada um pode produzir resultados harmoniosos e enriquecedores, onde possvel viver uma socializao sem barreiras (Carvalho 2006) citado pela revista Diversidades RAM n 24 (2009) P. 14. A heterogeneidade das escolas inclusivas um fator de grande mudana do papel do professor no ensino. As grandes diferenas existentes entre as crianas, fazem com que cada aluno seja visto como uma potencial fonte de conhecimento benfico para todos os outros elementos. Como no aprendem todos da mesma maneia, como no esto todos no mesmo patamar de capacidade e como alguns apresentam desvantagens, o professor tem o papel proativo face s necessidades dos alunos com o objetivo de minimizar ao mximo as diferenas. Esse processo permite ao docente ganhar competncias ao nvel de estratgias de ensino/aprendizagem, assim, medida que se vo aprefeioando e reinventando as metodologias, e ao mesmo tempo que se vo difernciando as pedagogias, torna a incluso um processo de aprendizagem mutua, onde todos aprendem e todos ensinam. Para que o ensino resulte nesta pedagogia diferenciada, essencial compreender quais os objetivos pretendidos a cumprir de acordo com as capacidades de cada aluno, cada evoluo deve ser valorizada. O facto de se adaptar o ensino s necessidades uma grande mais-valia para o processo de ensino/aprendizagem, no s porque permite maximizar os pontos fortes e minimizar os pontos mais fracos como o faz sentir satisfeito e valoriza um fator muito importante em qualquer tipo de desempenho acadmico, a motivao.

A Regio Autnoma da Madeira encontra-se num processo em desenvolvimento. Segundo a Directora Regional do Ensino Especial, a Dra. Maria Jos Camacho numa entrevista RTP Madeira, ainda existem crianas com deficincia cujos familiares ainda no procuraram ajudas junto das entidades especializadas. A integrao feita pela DREER (Direco Regional de Educao Especial e Reabilitao), por CAOS (Centros de Atividades Ocupacionais) e por algumas associaes.

43 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

2.9-Msica e inclusoAps uma abordagem sobre os temas nucleares desta investigao, importante agora relacion-los entre si para que se possa a partir da compreender a afinidade existente entre eles no estudo em causa. Com a escolaridade obrigatria estendida para todas as crianas, incluindo portadoras de deficincia, que se regulamentou a perspetiva de escola igual, gratuita e de qualidade para todos. Desde o inicio dos anos 90 que as nossas escolas se tm preocupado em dar mais nfase s expresses fsico-motoras e artsticas. nelas que por vezes se faz a triagem de talentos nos alunos para que assim estes possam seguir desde cedo na rea em que sentem mais aptido ou talento. prova de que estas disciplinas no s so importantes para a comunidade e para o bom encaminhamento do ensino tendo em vista a orientao vocacional, como e principalmente para demonstrar que estas reas so importantssimas no desenvolvimento da criana e na aprendizagem em geral. As reas da Lngua Portuguesa e da Matemtica tm sempre ganho mais protagonismo nos contedos programticos e na carga horria. Mas pouco e pouco foi-se verificando que as expresses musical, plstica e tecnolgica, fsico-motora e dramtica tm vindo a manifestar alguma importncia no s isoladamente mas tambm numa perspetiva multidisciplinar. Em qualquer tipo de relao entre seres humanos, a envolvncia entre as partes um fator importante para que se possa criar uma forma de comunicao mais produtiva. Quando se conseguem criar laos entre as pessoas, torna-se mais fcil captar a ateno ou mesmo a vontade dos outros. Diz-me e eu esquecerei; ensina-me e eu lembrar-me-ei; envolve-me e eu aprenderei (Provrbio Chins), citado pelo Projeto Educativo da EBI/ Jardim de Infncia do Couo (2009) P. 1. Frases como esta, do-nos conta da importncia que as expresses tm no ensino. No processo de ensino/aprendizagem a incluso tem de ser sentida, atravs da convivncia as diferenas amenizam-se favorecendo valores como o companheirismo e colaborao.Mulheres e homens, somos os nicos seres que, social e historicamente, nos tornamos capazes de aprender. Por isso, somos os nicos em que aprender uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico que meramente repetir a

44 Escola Superior de Educao Almeida Garrett - 2011

Jorge Miguel Monteiro Paulos - Contributos da msica na incluso de alunos com Paralisia Cerebral.

lio dada. Aprender para ns construir, reconstruir, constatar para mudar, o que no se faz sem abertura do Esprito. 10

A msica, segundo Snyders (1992), citado por Barreto e Silva (2004), Uma atividade criativa e integradora. Ela atrai e envolve os alunos, serve de motivao, estimula reas do crebro, desenvolve a criatividade, autoestima, capacidade de concentrao, raciocnio lgico, socializao e expresso corporal.P.12. Uma das maiores dificuldades das escolas inclusivas deve-se ao facto de muitos professores no estarem ainda completamente preparados para enfrentar as adversidades deste processo. Em algumas situaes, alguns professores no sabem gerir uma turma onde estejam includos alunos com NEE, muitos deles nunca tiveram qualquer tipo de formao especializada. A msica pode ser um dos veculos importantes para diferenciar metodologias de ensino e principalmente para amenizar situaes mais complicadas na relao entre todos os agentes da turma. Rodrigues (2003) refere que o ensino tradicional, com as suas tcnicas e mtodos baseados na transmisso de conhecimentos e na individualizao das