9
7/23/2019 Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth... http://slidepdf.com/reader/full/texto-iii-fundamentos-da-educacao-elisabeth 1/9  \ ) ISBN: 978-85-362 - 3136-5 z l77 ij 17 L J.}); I l E .D<TOR4 Av Munhoz da Rocha, 143 - Juvevê- Fcne (41 3352 - 3900 Fax. 141 j 3252-  1 CEP: 80.030-4 75 Curitiba Paraná - Brasil e-mail: [email protected] Rl 75 Ramos, Elis abeth Christmann org.). Fundamentos da educação: os diversos olhares do educar./ Elisabeth Christmann Ramos e K2-en Franklin orgs.)./ Curitiba: Jurué 2010. 220 P. 1. E ducação. 1. Franklin, Karen (org .). li. Título. COO 370 (22.ed) DU 37 Visite nossos sites na internet: www.juruapsicologia. com.br www. edítoriafjurua. com Elisabl th Christ mann Ramos Kan:n Franklin undamentos da ducação s diversos olhares do educar Colaboradores átia Cilene Farago Clara Brener Mindal Clcusa Valér io Gabardo Elisab eth Chris tmann Ramos Gelson João Tesser Helga Loos Karen F rauklin Laura Ce retta Moreira Maria Augusta Bolsanello Marta Pinheiro René Simonato Sant Ana Sandra Regina Dias da Costa Sandra Regina Kirchncr Guimaràl' s Sueli Fernandes Tamara da Silveira Valente Tania Stoltz Vera Regina Beltrão Marques Veronica Branco Curitiba Juruá Editora 2010

Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth

7/23/2019 Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth...

http://slidepdf.com/reader/full/texto-iii-fundamentos-da-educacao-elisabeth 1/9

 

\

)

ISBN: 978-85-362-3136-5

z l77 ij

17

L J.}); I

l

E .D<TOR4

Av Munhoz da

Rocha, 143 - Juvevê-

Fcne (41 3352 -

3900

Fax. 141

j 3252-

 

2· 1 CEP:

80.030-4 75

Curitiba

Paraná

- Brasil

e-mail: [email protected]

Rl

75

Ramos,

Elisabeth Christmann org.).

Fundamentos

da

educação:

os

diversos

olhares

do educar./ Elisabeth

Christmann Ramos e K2-en Franklin orgs.)./

Curitiba:

Jurué 2010.

220 P.

1. Educação.

1.

Franklin,

Karen

(org .

). li.

Título.

COO 370 (22.ed)

DU 37

Visite nossos sites na internet: www.juruapsicologia.com.

br

www. edítoriafjurua. com

Elisabl th

Christ

mann Ramos

Kan:n Franklin

undamentos

da ducação

s

diversos olhares

do

educar

Colaboradores

átia

Cilene Farago

Clara Brener Mindal

Clcusa Valér

io

Gabardo

Elisabeth Christmann Ramos

Gelson João Tesser

Helga Loos

Karen F rauklin

Laura Ceretta

Moreira

Maria Augusta Bolsanello

Marta

Pinheiro

René Simonato Sant Ana

Sandra Regina Dias da Costa

Sandra Regina Kirchncr Guimaràl' s

Sueli Fernandes

Tamara

da Silveira Valente

Tania Stoltz

Vera Regina Beltrão Marques

Veronica

Branco

Curitiba

Juruá Editora

2010

Page 2: Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth

7/23/2019 Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth...

http://slidepdf.com/reader/full/texto-iii-fundamentos-da-educacao-elisabeth 2/9

 

FILOSOFIA DA

EDUCAÇÃO

UMA OUTRA

FILOSOFIA

Profª Dr ª Karen Franklin

ProfªMs átia ilene Farago

O entendimento sobre o conceito de Filosofia da Educação  

desde há muito tempo acarreta controvérsias a respeito

de

seu conteú

do de

seu alcance e limites tanto no âmbito da filosofia como

no

da

educação. A partir dessa controvérsia nos propomos a.esclarecer alguns

conceitos fundamentais para a compreensão e o entendimento

do

que

seja filosofia da educação e sua importância para a reflexão educacional

de

qualquer tempo.

Em primeiro lugar devemos esclarecer o ponto de partida ou

seja a relação entre a filosofiá da educação coITI a própria Filosofia.

Concebemos a filosofia da educação como parte constitutiva das preo

cupações da Filosofia

desde a .sua origem. Sócrates

nos apresenta

as

principais questões acerca da filosofia da eduéáção: O que é o homem?

possível ensinar a virtude? O que é possíverensinar? Enfim desde a

Antiguidade as questões que permeiam a educação e o educar estão

presentes e fazem parte da discussão

e

do fazer:  filosófico. ~ob este pon

to de vista podemos dizer que a filosofia :

d

eçlu cação

é o olhar que a

filosofia dedica à educação. Ela se constitui

né{ün

iverso a ser investiga

do

questionado e construído .através do discurso filosófico sobre o fe

nômeno educativo. Ela

se

preocupa em evidenciar as questões que le

vam a esclarecer sobre o ideal pedagógico. Muitas vezes a filosofia da

educação é confundida com as próprias noções e concepções pedagógi

cas. Esse fato contribuiu para que a própria Filosofia compreendesse

que esta tarefa estava mais próxima

de

pedagogos do que

de

filósofos.

Uma compreensão errônea pois desde a origem filosofia e educação

estão intrinsecamente ligadas pois fazem part e da reflexão sobre o ho

mem e seu mundo. Essa compreensão leva a ·filosofia ao centro da tare

fa pedagógica e transforma-se

em

filosofia

d

educação.

Page 3: Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth

7/23/2019 Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth...

http://slidepdf.com/reader/full/texto-iii-fundamentos-da-educacao-elisabeth 3/9

24

Karen Franklin e Cátia Cilene Fa rago

1 O

QUE É FILOSOFIA

DA

EDUCAÇÃO?

Quando nos perguntamos qual é o princípio

ou

a finalidade do

ato de ed ucar, estamos nos colocando no centro das preocupações filosó

fi

_as a re~peito da educação. Esse recorte sobre as concepções ou princí

p10s

daqmlo que

se

concebe

como

educação é o horizon te da reflexão da

filosofia

da

educação. Essa relação intrínseca entre filosofia e educação

mostra con:o a tarefa do filósofo

da

edycação é fundamental para esclare

cer

as

teonas

sobre o ato

de

educar. E a filosofia que prioriza objetiva

mente o

olhar

do filósofo para as diversas concepç ões do educar, impon

do nesse traba~o todo o esforço por esclarecer princípios humanos que

devem

ser considerados

em

qualquer processo educativo. A filosofia

da

educação

busca

construir

um

c .iscurso a respeito d boa pedagogia; e

est~, não_ aro, 1 negação da pedagogia vigente de algum local

ou

tem

po Ghualdelb

Jr 2006, p.

31)

. Isso significa dizer que a filosofia da

educação é o olhar apun1do sobre as teorias pedagógicás, buscando sem

pre

esclarecer qual seria o melhor caminho

para

esta tarefa. Dessa forma,

a filosofia da educação constitui-se como o ol har crítico sobre o fenôme

no

educativo, buscando postular o melhor modo de -conceber a educação

e expressando

um

olhar límpido sobre as teorias pedagógicas.

2

OBJETO

DA

FILOSOFIA

DA EDUCAÇÃO

O homem é~ ~nica cric:tu~a que precisa ser educada (Kant,

1996, p. 11). Ao contrano dos ammai s o

homem

necessita de cuidados

par~ sobreviver e crescer de acordo com a sua

própria

natureza, que é

ra

cional. Isso nos le

~a ª

con~iderar que ele necessita de educação para

t

omar-se

homem, pois nmgu em nasce pronto. Essa necessid ade ori oinal

ao mesmo tempo imprime no

homem

uma necessidade gregária

0

pois

ele depende definitivamente de outros p ara

tomar-se

homem.

. A educação tem valor

em

si , pois se apresenta ligada a todas as

dimensões humanas, seja dos sentidos, das emoções, do conhecimento ou

do caráter. A educação

humana é ao mesmo tempo

uma

relação de um

para com o outro e uma aquisição do ho

mem

para consigo mesmo. Ser

ed~cado ou educar faz parte do agir em direção à próp ria humanidade. O

º?J_eto

da filosofia da educação é este fazer humano e nele todas

as

possi

b1hda~es, sustentí;ldas pelas ideias de como tomar um

ser

humano

um

autêntico homem. A análise sobre as ideias que fundamentam as teorias

pedagó~icas são um ~os focos possíveis de nossa reflexão, porém não

apenas isso. Concoffiltantemente, é preciso buscar elucidar os mistérios

do próprio homem, na sua concepção e conceituação mais precisa. Se o

Filosofia

d

Educação:

um

outra Filosofia?

25

fenômeno educativo se direciona para a própria concepção

de

humanida

de contida em

cada homem,

então, nesse sentido,

as

teorias sobre educa

ção necessitam de fundamentação filosófica. Logo, o objeto da filosofia

da

educação é o próprio homem, enquanto ser educável, e a educação,

enquanto fenômeno

humano

que preci sa de contínua superação.

3 ORIGEM

DA

FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

O surgimento da filosofia

da

educação não está afastado do

próprio

surgimento

da

Filosofia. A relação estreita entre Educação e

Filosofia está posta

desde

sua origem. Se a palavra Filosofia etimologi

camente

vem do grego philosophia1, que é constituída

de

duas partes:

philo, amar, amizade,

amor

fraterno, e sophia, sabedoria,

saber _ da

_qual

deriva sophos, sábio. A interpretação desse termo nos leva ao s1gmfica

do

de

amizade

pela

sabedoria, amor e respeito pelo saber, amor à sabe

doria.

Por

muito

tempo

foi sinônimo

de

saber racional e

de

ciência de

vido à sua origem

estar próxima

do que os gregos conheciam como

episteme, ciência e thecné, técnica

ou

arte. Basta lembrar-se

da

asserção

aristotélica de que

quanto

mais profundamente examinamos a matéria,

mais somos conduzidos

à

filosofia.

O filósofo

moderno

René

Descartes (1596-1650)

também

compreende

tal termo

como

o estudo da sabedoria , isto

é

um per

feito conhecimento de

todas

as

coisas

que o

homem

pode saber. Já o

termo

Educação

tem

sua

origem no

latim,

educere,

conduzir ou treinar

e educare, que

significa

treinar

ou

nutrir e alimentar (Winch

& Gin

gell, 2007, p. 78).

Porém, podemos

buscar a origem da filo sofia da

educaç

ão

na

preo cupação com o fundamen

to

educativo através

d?

termo grego p ideia, qu e si

gnifica

fom1ação e educação em

seu

senti-

do mais abrangente

2

.

Hoje

esta

mos

acostumados com as diferentes ciência s, tais

como, a medicina, a m at

emá

tica , a geometria, a psicologia, entre ou~ras,

porém

na

orig

em da Fi

losofia todas est

as

ciências eram compreendidas

como

uma

coisa ún ica, o conhecimento humano voltado

para

o mundo.

É quase ceno que os pré-socráticos não conh

ec

eram o a

dj

etivo ph

ilosophos

nem o verbo

philosophein

(filosofar). De maneira geral, desde Homero, as palavras compostas em

phzlo

serviam para designar a disposição de alguém que encontra seu mteresse, seu

pra~

e

r suara

zão de viver. Na dedicação a essa ou àquela atividade:

philo-posia,

por exemplo, e? prazer_e

o proveito que se tem ao beber;

philo-timia

é a propens

ão

para angariar honras,

phzlo-sophza

será, portanto, o interesse pela

sophia,

pela sabedoria (Hadot, 1999). .

Este termo sempre carrega certa impossibilidade

de

tradução simples para a llilgua po~gue

sa, como para qualquer língua moderna, pois ele está sobrecarregado de concepçoes q?e

alargam

sua

compreensão não podendo se afastar ,

dq

que compreendemos por cultura.

l

l

Page 4: Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth

7/23/2019 Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth...

http://slidepdf.com/reader/full/texto-iii-fundamentos-da-educacao-elisabeth 4/9

26

Karen Franklin e Cátia Cilene Farago

No decorrer da história do pensamento humano paulatinamente as ciên

cias foram

se

separando da Filosofia, tal como fizeram os primeiros

pensadores gregos do século V a.C., que entre rupturas e continuidades

foram se di

stanciando do Mito, dando origem à Filosofia. Eles introdu

ziram um processo de reflexão sistemática e racional diante

do

mundo

ou

~eja, aos poucos ~ei~aram de lado as explicações mitológicas para

0

~

fenomenos e ocorrencias do mundo

para

dar luoar à racionalidade

expressa na Filosofia. Mesmo assim, não podemo; deixar de destacar

que os Mitos foram

uma

das primeiras formas de pensar que revelava

um esforço de ordenação, de unificação, que prenunciou tudo o que

viria a seguir no Ocidente em termos de saber.

DA MITOLOGIA À FILOSOFIA

Para situarmos expressamente a relação entre filosofia e edu

cação vamos nos remeter à mitologia e retomar uma conhecida passa

gem do "Mito de Prometeu", que prenuncia a própria condição humana

contado por Hesíodo

3

• '

O

poeta

conta que a primeira falta cometida po r Prometeu para

com

Zeus

foi

a divisão de

um

boi

em

duas partes, uma cabendo a Zeus e

outra aos mortais.

Na

primeira estavam as carnes e as vísceras, cobertas

com

o couro.

Na

segunda, apenas ossos, cobertos com a banha do ani

mal. Zeus, atraído

pela

banha, escolhe a segunda. Ao descobrir o enga

n~, _sua raiva, rancor e cóle:a subiram à cabeça e tomaram seu coração.

V1s1velmente Prometeu agm em favor dos homens . Por conta disso

Zeus castigou os homens, negando a eles a força do fogo infatigável.

A

afronta definitiva de Prometeu ocorre quando ele rouba o brilho lon-

gevisível do infatigável fogo em oca Férula (Hesíodo, 566). Esse fogo

reanimou a inteligência do homem, que antes era semelhante aos dos

fantas~as

dos sonhos.

Na

verdad~, ~onsta que Prometeu roubou

O

fogo

da razao, colocando ~o homem ongmalmente uma característica divina.

A Prometeu os mortais devem suas habilidades, todas as artes inclusive

a de domesticar animais selvagens,

bem

como a arte de fazê~los traba

lhar para os homens.

O

mito de Prometeu tal como

é

contado

por

Hesíodo em sua obra chamada

Teogonia

mas

também é_ itado por Platão :n seu diálo_?O

Protágo_ras,

que apresenta complementos

de

Ésqui

lo

, traged1ógrafo contemporaneo de Platão. Esse mito apresenta a origem de todas as criaturas

vivas, que aparece~ como obra de vários deuses, feitas com terra, limo e fogo. Daí vem

à

ori

gem da palavra latma humus te~), que.dá ori~em ao.termo homem. Desde a origem

os

gregos

acreditavam que uma centelha divma de imortalidade percorri a toda a Terra e as criaturas.

Filosofia

d

Educação uma outra Filosofia?

7

O que nos interessa

aqui é

a explicação mitológica para

uma

característica

humana

que não se manifesta entre

as

outras criaturas, a

razão. Esse fogo roubado é a representação

da

racionalidade, aquilo que

permite aos homens assumirem a atitude filosófica. O fogo representa

simbolicamente a inteligência do homem, um saber racional que conduz

à superação do próprio mito. A partir de uma explicação mitológica a

inteligência humana aos poucos se liberta das explicações de cunho

fantástico, própria

da

origem e impõe uma organização do cosmos atra

vés da racionalidade.

Na

verdade,

os

únicos problemas especificamente

humanos, não compartilhados por nenhuma outra espécie de seres vi

vos, são aqueles relacionados com a exigência do saber e com a presen

ça das relações de poder entre os homens.

Se a origem

da

filosofia se dá a partir da própria mitologia,

temos

uma

situação original

que

reflete esta proximidade

com

as expe

riências que perturbam o homem. A partir delas ele busca explicações

capazes de satisfazer sua inteligência e é nesse momento que inicia o

seu filosofar. · , __

Os homens necessitam do conhecimento e do saber para co m

preenderem o que se passa

com

o mundo. Es sa busca pelo conhecimen

to, caracterizada

pela

filosofia, tenta libertar o homem,

da

autoridade e

originalidade do mito. Dessa forma, a origem

da)ilóspfia

sempre estará

vinculada ao mito. Mesmo contando com as

éx.plic.àções sistemáticas

para a maioria dos dilemas humanos,

em

certos·-mõrp.ehtos ainda deixa

mos. espaç(? para que o mítico fale. Dessa fo .liia •:f reflexão filosófica

desenvolvida

pela

.humanidade é fundamentalm~~w

 

um esforço

em

busca do saber e conhecimento; que visa esclare&·f

'

é"-Iibertar o honiem

de todas as dificuldades diante

da

vida,

:

·

•~;

·· . ·

Não nos engànamos em dizer que a _ilpjof1à .origina-se

da

se

paração entre as expressões _míticas da rel~9ãA,~qs~os-.hu~ani~ade,

através

da

concepção de expressões e r~p:i;es~_t;çp~f

r~

_1onais diante

dos acontecimentos da vida.

Ao

longo do temp'ó?êlií

seJransformou

em

uma impressi9nante expressão cultural no Oci~eite, constituindo-se em

tradição de pensamento, através

da

elaboração de ·côn:iplexas visões

da

realidade, procurando sempre '"explicar" e "compreender" o sentido de

todas as coisas.

5 O PRIMEIRO FILÓSOFO DA EDUCAÇÃO: PLATÃO

Consideramos que o primeir o filósofo da educação foi o grego

Platão (427-347 a.C.), aluno·

de

Sócrates (470-399 a.C.).

que este

último não deixou nada escrito, muitas passagens dos chamados diálo-

Page 5: Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth

7/23/2019 Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth...

http://slidepdf.com/reader/full/texto-iii-fundamentos-da-educacao-elisabeth 5/9

28

Karen Franklin e Cátia Cilene Farago

gos ~ocráti~os

4

retratam as teorias e posições do mestre, no entanto é

preciso salientar que o personagem Sócrates das obras de Platão tam

bém é o porta-~~z das ~dei~ do próprio autor. Essa indefinição sobre

quem

fala nos drnlogos e objeto de longa discussão, mas o mais interes

sante

que

~o

~ssociar a preocupação ético-formativa de Sócrates

com

a

teona

das ideias de Platão temos de fato a o rigem do primeiro filósofo

da educação. . . .

O objet~ educaciona~ de Platão é claro: quer objetivar intelec

tualmente

uma

cidade que seja·

justa

e perfeitamente harmônica entre

suas,pa_rtes. Est~ pensamento

s~

encontra·principalmente no diálogo

A

Republica considerado

por

mmtos como o primeiro texto de filosofia

da e~ucação. Nesta obra é apresentado o Mito da Caverna (livro VII),

uma 111: agem que representa tod_ .o esforço do

homem

em direção

ao

coi:11ecimen;º· _ movim:nto a~i ap:esentado _urge como uma represen

ta_çao dayropna

educaçao,

p01s

alem

de

: ser

um

caminho difícil, ele é

trilhado isolad~mente. Isso _igrii~ca dize.r_

ue

o esforço para a aquisi

ça

o

º

conhecimento deve ser feito por cada um. O aprendizado é um

movimento da alma. · · ·

. , .Também

_não

P?denÍ~s es qvecer do diálogo

Ménon

onde des

de o mic10 a questao esta colocada: E possível ensinar a virtude? Essa e

outras questões permeiam as preocupações originais da filosofia

da

educação._Platão foi o pri1:1eiro a definir a e ssência da filosofia enquan

to fo1:1.1açao de um novo tipo de homem e essa abordagem estreitou

em

definitivo o~ rumos·da relação entre filosofia e educação (Jaeger, 1995).

:s

so q~er

_dize~

~ue, qua~do os gregos despertaram para si mesmos, a

~o~sc1enc1a teonco-filosofica da educação foi compreendida como uma

ideia de formação - pai?ei~

5

-

para a qual deveriam dirigir todos os

esforços humanos como Justificação da comunidade e

da

individualida

de. C ~~forço

ed11:cativo

na Antiguidade

tem

sua origem na tentativa de

pos s;bihtar a efet1yação _de urn_a sociedade

justa

. O texto A República é

ur n 1_cone dessa

d1

~c1:ssao, po1~ nele que surge a ideia da educação

publica,_das estra~egias pedagogicas e da seleção de conteúdos. Sua

concepçao educac10nal busca mudar a ordem social para possibilitar

uma n?va ~strutura, e~sa fonna de pensar a realidade ficou co nhecida

como idealismo, que, a partir de Platão, manteve -se presente por toda a

Não

~ossibilidade_

de

atribu\rmos com precisão a genealogia das obras, mas a maioria dos

e_:-pec1alrstas

apresenta como d1ál~gos socráticos os diálogos da juventude de Platão que es

ta?

centrad~s em esclarecer conceitos como o Lísis, Laques, Eutifron, Hipias

Maior

Crátilo

Gorgias, Menon, entre outros. ' · '

Pod~mos compreender

aidéia

na cultura grega como a·formação integral do homem, a ser

prop1c1~da

pel~ educaçao, através de recursos pedagógicos e culturais com destaque para a

formaçao filosofica. '

Filosofia da Educação: uma outra Filosofia? 29

história do pensamento humano. Se Platão

buscava

mudar o status quo

criticando a democracia e suas instituições, Alistóteles (384-322 a.C.)

buscava

aprimorar as instituições da melhor forma possível. -

6 .ÀRISTÓTELES: O ALUNO SE TORNA MESTRE

Foi

aluno

da Academia

de Platão,

mas

também

um

grande crí

tico do mestre.

Porém

compartilhava

com

o mestre a rigidez critica

contra

os

sofistas. A sofistica

6

surge

no

desenvolvimento espiritual do

mundo grego como

um

acontecimento educativo. Sem os sofistas não

seria possível compreender a importância de Sócrates, Platão

ou

Aristó

teles. Eles são os contrapontos para todas as questões educacionais,

po

líticas, éticas e teóricas do helenismo clássico.

A importância dada

por

Aristóteles à educação conduziu-o à

defesa

de uma

educação pública, tal como ensinara seu mestre Platão. A

educação pública proposta deveria ser capaz de complementar e de

substituir, quando necessário, as insuficiências da família, de modo que

as novas gerações pudessem se beneficiar de

uma

boa formação do ca

ráter.

Na

obra A Polfrica Aristóteles dedica várias páginas à organiza

ção

da

educação como alicerce da formação do caráter e defende a ideia

de que são necessárias leis e medidas corretivas que acompanhem e

ajudem

na

conduta

da

vida ética do homem, tanto na juventude como na

maturidade e na velhice.

Ainda, para Aristóteles, a felicidade surge como

um

dever e

um

direito do homem.

Ele

é feliz

7

quando realiza aquilo para o qual foi

feito. A felicidade está associada ao Bem, à Virtude e à Alma, po1ianto,

não exclusiva.mente ao corpo e aos bens exteriores. Ao contrário dos

A educação sofistica buscava a formação do espírito, através de uma multiplicidade de

processos e metodologias educati-rns . Os sofistas tin

ham,

segundo Jaeger, duas modalidades

distintas de educação do espírito: a transmissão de

um

saber enciclopédico e a formação do

espírito nos seus diversos ,:ampos

..

Ao lado da formação Ileramente formal do entendimen

to, exi stiu igualmente nos sofistas uma educação formal no mais alto sentido da palavra, uma

Paideia :dl lhada

con

os novos rempos, onde a linguagem e a

fo

r::1ação do espírito estão

or

denados aos resultados diante da Assembleia. O que de novo e

de

único liga todos os sofistas

é o ideal da retórica, nas demais questões diferem de vários modos (Jaeger, 1995, p. 342).

Em A Política Aristóteles dá-nos a seguinte definição de vida feliz: consiste no livre exercí

cio da virtude, e a virtude na mediania; segue-se daí que a melhor vida deve ser a vida média,

encerrada nos limites de uma abastança que todos possam conseguir. E este princípio é váli

do tanto para as pessoas como para o Estado. Um Estado é tanto mais feliz quanto mais justo ,

prudente e bom for. Daí que o melhor governo seja aquele no qual cada

um

encontra a me

lhor maneira de ser feliz. Um governo justo é o que procura um justo meio e o que chama a si

as virtudes da moderação e da prudência, evitando a desigualdade extrema e a desproporção,

que são causas

da

discórdia e da inveja entre os homens. Um governo justo é o que se esforça

por respeitar o equilfürio entre as classes e o que procura o interesse comum.

Page 6: Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth

7/23/2019 Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth...

http://slidepdf.com/reader/full/texto-iii-fundamentos-da-educacao-elisabeth 6/9

30

Karen Franklin e Cátia Cilene Farago

outros seres vivos, o homem possui uma alma racional e inteligível,

dotada

de

razão. Deste modo, fazer o

Bem

é agir de acordo

com

a razão.

Mas será que a felicidade é acessível a todos os homens? De

acordo com Aristóteles, apenas os que não possuem conhecimento

estão

impedidos

de atingir a felicidade. Segundo ele, a educação vai

permitir que as virtudes se desenvolvam e se tornem realidade.

Embo-

ra

a

educação

não

seja

determinante é, contudo, condição necessária .

Sem educação é

difícil despertar as virtudes. Embora ela

não seja

tudo

- ao contrário de Sócrates que pensava que bastava conhecer para

fazer o

bem

- vai permitir a aquisição de bons hábitos e o contato com

pessoas

virtuosas.

Sócrates e Platão nunca deram

uma

resposta plausível à gran

de

questão:

como

é possível tornar uma pessoa virtuosa?

Do

mesmo

modo,

não

conseguiram dar uma resposta satisfatória à questão: é pos

sível ensinar a virtude?

No

entanto, Aristóteles, na sua obra Ética a

Nicômaco, responde afirmativamente sobre a possibilidade de

seu

ensi

no.

As

virtudes morais

podem

ser ensinadas, diz ele. Mas, mais do que

produto do ensino, as virtudes morais são produto do hábito. Em A Polí-

tica, afirma que três coisas devem contribuir para isto: a natureza, o

hábito e a razão. No entanto, a hierarquização destas partes sempre esta

rá em

discussão, pois o filósofo responde que devemos esforçar-nos ao

máximo

para

proporcionar à criança, ao mesmo tempo, o raciocínio e o

hábito. Da

mesma

forma -que a alma e o corpo são duas substâncias

distintas, assim também a alma tem duas faculdades distintas,

uma

é

iluminada

pela

razão e outra não. Isso significa dizer que para Aristóte

les a educação é, eminentemente,

uma

educação ética que deve ter co

mo objetivo atingir todas as excelências humanas.

FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO: MUITOS OLHARES

Na

história

do

pensamento muitos filósofos se ocuparam com

a educação, desde a Antiguidade até a Contemporaneidade.

As

classifi

cações e tendências teóricas no interior da Filosofia da Educação foram

influenciadas pelo pensamento de diversos autores. Não vamos explici

tar aqui todas as classificações e pontos de vista. Deteremos-nos a fazer

considerações às problemáticas mais pontuais e a filósofos referência

nas questõ.es humanas .

O pensamento filosófico de Santo Agostinho (354-430), autor

do final

da

Antiguidade, é uma destas referências para se pensar as

questões humanas. Suas obras Confissões e Cidade de Deus são consi

deradas fundamentais para compreender o sentido de conversão da alma

Filosofia da Educação

uma

outra Filosofia?

3

humana. Seu pensamento ·

apresenta

uma forte influência platônica e

sempre parte

da

reflexão sobre a vida: coisas que ocorrem ao redor,

ideias dominantes, as questões sobre a alma e os ataques contra a

fé.

Agostinho aborda o problema

do homem

concreto, deixa de lado a bus

ca pela essência humana em

geral

ou o homem abstrato. O que lhe inte

ressa é o

eu,

o homem enquanto indivíduo único, ou seja, como pessoa.

A reflexão sobre sua própria

vida

e existência desencadeia

uma

metafí

sica da interioridade e isso o aproxima das reflexões filosóficas da edu

cação, nesse sentido a problemática

do

indivíduo é também o motivador

das reflexões sobre educação.

Muito

influenciado pelas concepções

gregas, Agostinho mantém a perspectiva de que o

homem

é alma no

corpo. No entanto agora esta relação

está

imbuída do conceito de cria

ção e dos dogmas cristãos. Aqui o co rpo adquire uma maior importância

devido ao dogma da encarnação

de

Cristo, mas a alma ainda mantém

preponderância sobre o corpo,

pois é

a imagem de Deus e da Trindade.

Outro filósofo decisivo para a história do pensamento foi

Tomás de Aquino (1225-1274), um expoente entre

OS

 escolásticos. Sua

inspiração intelectual é Aristóteles. Desenvolve

um

sistema de transpa

rência lógica e conexão orgânica entre as partes. Sua

obra

inais conhe

cida é a

Suma Teológica,

mas

. outras também são· importantes para

compreendermos as interfaces de

seu

pensamento,~ão  elas Suma contra

os gentios, Questões disputadas, entre outras.

Tomás

 de Aquino distin

gue perfeitamente filosofia e teologia como campos .diversos

da

procura

pela verdade. Seja pela razão ou pela fé, a busca

pelaverdade

deve ser o

objetivo. Assinala que é predso

partir

das verdades racionais para tor

nar possível a discussão com qualquer pessóa, pois as convicções são

diversas e o que nos une enquanto homens é ·a razão. Nesse sentido, o

pensamento de Tomás

d~

Aquino

.

é importante pàra a reflexão sobre

educação, pois

tal

como -ele, a filosofia

da

educação

busca

estabelecer

discussões a partir do que nos

é comum

e convergente, isto·é, a razão.

A Filosofia da

Educaç

-ão .se ·Consolidou · ôesde·· sua ori

gem como

uma

reflexão

prescritiva da

· educação,

pois

na

aborda

gem dos assuntos estabelecia-se

como uma

forma procedimental. No

centro destas considerações

podemos

citar Jean.:Jaques Rousseau

(1712-1778) que na mesma linha platônica propõe uma·revolução pro-

cedimental no cuidado com a educação. Apresenta em sua obra Emílio

uma proposta educacional

baseada

nos princípios

da

empiria, ou seja,

tomando a experiência como origem

de

todo

o

conhecimento humano.

Essa obra comporta a educação do homem inteiro, sentimentos e

razão, naquela vontade geral e naquele bem comum .que são os pila-

res da nova construção soci l , Reale Antiseri, 1990).

Page 7: Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth

7/23/2019 Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth...

http://slidepdf.com/reader/full/texto-iii-fundamentos-da-educacao-elisabeth 7/9

32

Karen Franklin e Cátia Cilene Farago

Também podemos dizer que Kant (1724-1804) ocupou-se, de

certa forma, com a questão educacional. Apesar

de

ser mais conhecido

por suas obras Críticas ..

8

,

Kant

também se preocupou com a formação

moral

humana

9

Temos hoje uma obra publicada por seu aluno Theodor

Rink

em 1803,

Sobre a Pedagogia

que é o resultado de uma série de

cursos ministrados na Universidade de Kõnigsberg. Segundo Kant,

sem a educação o homem talvez tivesse uma destinação semelhante a

dos demais animais e, neste sentido, iria desviar-se do seu destino, des

viar-se

da

humanidade. A necessidade que marca a existência desse ser

que não pode se tomar

um

verdadeiro homem senão

pela

educação,

apresenta-se como uma necessidade. metafisica da educação. Somente

ela o torna moralmente homem. Nesse sentido

é

preciso que ele passe

por um processo para efetivar-se um '.'ser mon1l''_

namaior

plenitude que

consiga atingir. Já na

Crítica da Razão Pura

e

Fundamentação

da Me-

tafisica dos Costumes

Kant estabelece que .a conduta humana deva

estar submetida

à

razão. Submissão esta que assegurará ao homem a sua

autonomia, liberdade, racionalidaçle, e .moralidade. O _dever em Kant

adquire um valor fundamental para à realizaçao da humanidade, pois a

possibilidade de se ter uma ordem

~iversai

na convivência humana, só

se constituiria com o desabrochar dà cidadania e da digniq.ade humana.

Na

mesma linha de pensamento de Aristóteles, Kant admite

que

é

possível o ensino das virtudes morais. O homem, através da edu

cação, é capaz de moldar suas ações por meio de máximas estabelecidas

numa legislação universal. A razão humana e o bom uso da razão pro

porcionam ao indivíduo sua autonomia, livrando-o da submissão de

outrem. Cumprir por dever uma lei que sua própria razão lhe asse

gura é estabelecer-se como um legislador universal, membro de unia

.comunidade que compreende a lei como princípio único de suas ações.

Assim, podemos dizer que a ação humana é pautada

por

princípios ob

je tivos, morais e universais. O objetivo de Kant é mostrar que a vontade

de\'e se tornar autônoma, parn que o homem possa agir de forma racio

nal e universal. Pela decisão do próprio homem a razão se emancipa das

tutelas ideológicas e religiosas, possibilitando que este homem passe a

se

r responsável por suas açõe

s,

atinge o

~z

rfkl

 

rung 

ou sej

a,

o

es

clare

cimento. Podemos dizer que o pensamento de Kant marca decisivamen

te o pensamento sobre a educação. Kant nos permitiu conceber que a

educação deve tornar o homem um ser moral através da busca pelo

es clarecimento.

Crítica d Razão Pura Crítica da Razão Prática e Crítica.do Juízo.

Crítica

d

Razão Prática Fundamentação da Metafisica dos Costumes

e a

Metafisica dos

Costumes/doutrina das virtude

s

Filosofia da Educação uma outra Filosofia?

33

Mais tarde; segundo Porto (2006), o princípio do

~écuJo

XX

apresenta uma diferença interes~ante

em

rela~ão

à

democratlzaçao: en

quanto a democracia moderna amda se anuncia na Europa, n?s Estado~

Unidos ela está em pleno desenvolvimento. Este d:senvolvimento fm

uma preocupação constante do filós,ofo norte-ame~can? .John Dewey

(1859/1952). Ele viu na educação, alem de su~ funçao prati~a de, s.er um

elemento inerente e coadjuvante da democracia,

uma

funçao teon~a. A

atenção de Dewey (1959)

à

ação social e

à

educação ~eu uma onenta

ção decididamente prática

à

sua filosofia.

Em

vez de hdar apen~s com

constructos teóricos imutáveis, ele afirmava que a filosofia devena pre

ocupar-se com problemas humanos em um mundo variável e incerto.

Acreditava que a maioria dos pensadores lançava-se em uma busca

pela certeza , na qual procuravam

por

ideias verdadeiras e eternas,

quando o necessário são soluções práticas para problemas modernos.

Essa visão está de acordo com a ciência moderna, para a qual

as ideias não são imutáveis, se configuram em pontos de partida para

resolver um problema perturbador. Dewey acreditava q_tie}ever~amos

usar a filosofia para ajudar a nós mesmos a .s~rmos mais . e~penmen

tais em nossa abordagem dos problemas sociais, testan~o ideias e pr~

postas reflexivamente, antes de agir sobre elas, e i:or meio

da.

avah~çao

crítica e do exame reflexivo dos resultados, depois de expenmenta-las

na prática. Nesse sentido as ideias são instrumentos na solução d pro

blemas humanos. Porém devem ser testadas de

uma

forma expenmen

tal, de modo que possam'os aprender com nossos esforços e redirecioná

las para um efeito melhor.

A filosofia de Dewey é conhecida como experimentali~ta e

instrumentalista. Tem estes tem1os forjados

por

ele mesmo, pois ao

distanciar-se da concepção de pragmatismo, imprime à sua filos?fi~

uma busca que evidencia o papel da educação

pela

ação. Dewey atnb_:1i

à filosofia função essencial de nos

levar

a compreend~r que a educaç~o

se confunde com o próprio processo àe viver. Isso sigmfica que estao

presentes em sua abordagem a necessid~~~ de esclarecer as ~uestões

fundamentais sobre a vida humana e a utilmade de todas as açoes para

nossa fo rmação.

Nesse sentido, quando refletirmos sobre qu:stões _com?: ?

homem pode ser educado? O que é educação? Que sentidos sao atnbui

dos à filosofia e à educação; somos levados a compreende~ a filosofia,

novamente, no seu papel fundamentador. Ela. não tem simpl:smente

uma função de legitimação do discurso educac10nal. (a pedago~ia) e do

objetivo da educação (a meta do processo de ensmo-aprend1zagem e

formação dos homens), mas apresenta-se com~ a própria filosofia abert~

para a problemática da educação. Na perspectiva de Deleuze e Guattan

Page 8: Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth

7/23/2019 Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth...

http://slidepdf.com/reader/full/texto-iii-fundamentos-da-educacao-elisabeth 8/9

34

Karen

Franl<lin

e Cátia Cilene Farago

(1992), para os quais, simplesmente é chegada a hora de perguntar o

que é a filosofia? Se para estes a filosofia é a arte de formar, de inven

tar, de fabricar conceitos, cabe a nós percorrermos

um

caminho que

parte da compreensão etimológica

da

palavra para a composição do

nosso conceito.

Muitas são as correntes que influenciaram o pensamento con

temporâneo com relação à educação. Hoje convivemos com uma plura

lidade de pontos de \ista que são fundamentados sobre perspectivas

filosóficas da modernidade, sejam as cartesianas, as kantianas, as hege

lianas, empíricas ou racionalistas.

Muitas

são as classificações propos

tas, porém o que nos interessa é mantermos aberta a discussão sobre o

objeto que é a educação. A compreensão sobre o que é educa ção sempre

causa discussão, pois não há uma definição última. Ela pode ser conce

bida como todo o fenômeno de desenvolvimento de um set humano .

Segundo Winch e Gingel1

10

,

Richard Peters distingue três critérios ou

condições para mapear a distinção entre a educação e outras ocupações

e atividades humanas.

O

primeiro critério é o de que a educação, em seu

sentido pleno, tem uma implicação necessá ria na percepção de que algo

de valor ou importante está acontecendo. Segundo critério leva em con

ta que

a educação envolve a aquisição de conhecimento, a qual ultra

passa a mera habilidade, o saber-fazer ou a coleta de informação. E, em

terceiro lugar, os processos de educação envolvem pelo menos alguma

compreens ão daquilo que está sendo apreendido e daquilo que é exigido

na aprendizagem. Isso implica, por exemplo, a compreensão de que

participamos de

um

processo voluntário e que não corremos o risco de

sofrer lavagem cerebral, condicionamento ou adestramento (Winch

Gingell, 2007).

Compreender a educação como a conquista final de

um

proces

so que, por vezes, percorre a vida de uma pessoa, é compreender a rela

ção intrínseca do processo educativo com o pensamento que o sustenta.

Nesse sentido, o processo de desenvolvimento integral do

homem

não

cabe apenas às correntes pedagógicas utilizadas no processo, mas signifi

cativamente a re:f:1 exão filosófica impressa em tal processo. Se a educação

é

um processo de formação integral do homem, então a formação ética,

moral, política, epistemológica, social e cultural estão no centro desta

discussão e cabe a Filosofia fomentar tais discussões e reflexões.

Ao percorrermos esse caminho de pontuais esclarecimentos

sobre filosofia e educação, chegamos de fato ao ponto central de nossa

indagação: o que é Filosofia da Educação?

De fato, ela se mostrou co-

10

Professores de filosofia da educação da Universidade de Northampton, Inglaterra.

Filosofia da Educação: uma outra Filosofia?

35

mo o olhar filosófico sobre a educação,

é

a atividade que o pensamento

desenvolve, de forma sistematizada, sobre o fenômeno educativo e so

bre a educação, procurando compreender sua complexidade. E aqui,

cabe salientarmos, que ao busca r compreendê-la de for ma integral, caí

mos fatalmente na circrmscrição da Filosofia. Por isso, resgatamos a

representatividade de seu símbolo, a coruja

 

,

que sabe lançar seu

olhar em todas

as

direções.

Quando esclarecemos o papel central que o fenômeno educati

vo tem

em

alguns pensamentos clássicos

da

filosofia nos damos conta

da relação intrínseca que estes âmbitos do conhecimento têm entre si.

Dessa forma, o horizonte em que nos colocamos para compreender a

Filosofia da Educação se situa entre a percepção filosófica da educação

e a dimensão pedagógica da filosofia. Alguns sustentam que ela deva

debruçar-se sobre concepções epistemológicas do pensamento (classifi-

.cadas como: idealismo, empirismo, analítica, transcendental , entre ou

tras); mas também, há

quem

afirme que a Filosofia da Educação deve

estar associada a uma perspectiva de compreender apenas a história da

educação ou ainda que deva refletir sobre as particularidades dos mo

vimentos pedagógicos.

O distanciamento destas concepções deve ocorrer pelo fato de,

ora diminuírem a reflexão filosófica sobre educação apenas a correntes

pedagógicas, ora concebereqi t :filosofia da educação como simples

discussão sobre teoria do c.onhecimento. Por isso, res gatamos a percep

ção da Antiguidade como foi;-ma

d~

reafirmar a estreita relação entre a

filosofia e a educação de

o~~

·ª esclarecer .que as discussões devem

estar enraizadas na própria ·Filosç:±ia. Dessa forma, concebemos a Filo

sofia da Educação collló urµ olli~r . ilosófico sobre a educação de forma

integral, buscando estlar~ c.er :e questionar as inter-relações das questões

éticas, políticas,

epistemológicas e culturais com o conjunto de concep-

ções e práticas chamada Educação. ·

REFERÊNCI S

Aristóteles . (1991). A Política. São Paulo: Livraria

Martins

Fontes.

11

O mais antigo símbolo da filosofia é a ave chamada Atena, deusa da sabedoria e da fecundi

dade. Aparece sempre associada, na mitologia grega, a ave noctívaga que é a coruja, cuja no

ta

distintiva é a

de

se levantar ao anoitecer e andar vigilante e ativa pela calada da noite. A

coruja auxiliada apenas pela luz da lua, é dotada

de

uma excepcional acqidade visual, vê o

que o comum dos outros anímais só consegue perceber com a luz do sol. E essa invulgar ca-

pacidade de ver e de orientar-se no mundo das trevas que faz dela um símbolo da filosofia e

do conhecímento racional: a coruja, tal como a filosofia , simboliza a reflexão que domina as

trevas ou a capacidade de obter conhecimentos para lá das sombras.

Page 9: Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth

7/23/2019 Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth...

http://slidepdf.com/reader/full/texto-iii-fundamentos-da-educacao-elisabeth 9/9

36

Karen Franklin e Cátia Cilene Farago

Aristóteles. (1991). Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural. (Os Pensadores)

Deleuze; Gill es, Guattarri, Félix. (1992). O que é a filosofia? Rio de Janeiro:

Ed. 34.

Dewey, J. (1959). Democracia e educação. São Paulo: Com panhia Nacional.

Guimarães, Ruth. (1972). Dicionário da Mitologia Grega. São Paulo: Cultrix.

Ghiraldelli Jr, Paulo. (2006). Filosofia da Educação. São Paulo: Ática.

Hadot,

Pierre. (1999). O que é filosof ia antiga. São Paulo: Loyola.

Hesíodo. (1991). Teogonia (Tradução de Mário da Gama Kuri). Rio de Janeiro:

Jorge Zahar. ·

Jaeier, Wemer. (1995). Paidéia (Tradução de Artur

M.

Parreira). São Paulo:

Martins

Fontes.

· · ·

Kant, Immanuel. (1996). Sobre a pedagogia

(Tradução

de Francisco

Cock

Fontanella). Piracicaba: UNIMEP. · · . ·

Ozmon, Howard A. (2004). Fundamentos filosóficos da educação (6ª ed.).

Porto Alegre: Artmed. . . · . ·

Platão. (1990). A República (6ª ed.). Lisboa: FÜn4ação Calous_e Gulbenkian.

Platão. J?iálogos III A República (Tradução ~e Leonel Vallandro). São Paulo:

Ediouro. ; . ·. .·

Platão. (1991). Diálogos (Seleçãó de textos ·de

J~sé Américo Motta

Pessanha,

Tradução e notas de José Cavalcante de Sóuza, Jorge Paleikat e João Cruz

Costa)

(5ª

ed.). São Paulo: Nova

Cultural

(Os Pensadores)

Schwab, Gustav. (1994).

As

mais belas histórias da Antigüidade Clássica.

Rio

de Janeiro: Paz e Terra. .

Porto, Leonardo Sartori. (2006).

Filosofia da educação.

Rio de Janeiro: Jorge

Zahar. . , ·

Reale, Giovanni, Antiseri, Dario. (1990). História d a Filosofia: o huma-

nismo a Kant (v. II). São Paulo: Paulinas.

Rousseau, Jean-Jaques. (1999). Emílio ou Da Educação. São Paulo: Martins

Fontes.

Tcsser'. ?elso_n João. (2007). Sentidos filosóficos no ensino-aprendizagem.

In

D1ms

, N1lson Fernandes, Bertucci,

Liane Maria

e col. (Orgs.), Múlti

plas faces do educar: processos de aprendizagem, educação e saúde, for

mação docente. Curitiba: Editora UFPR.

Winch, C. , Gingell, J. (20 07). Dióonário de filosofia da

ed

ucação (Tradu

ção de

Renato

Marques de Oliveira).

São Pa

ulo: Contexto.

J

i

·A

BIOLOGI

EDUCACIONAL

E OS

FUND MENTOS D

EDUCAÇÃO

ProfªDr ªElisabeth Christmann Ramos

Nascemos com toda a carga de nossa genéticafisica e psíquica.

Mas não somos apenas isso.

Somos em parte resultado o que foram nossos pais.

Mas não somos apenas isso.

Lya Luft

Como outros campos do conhecimento, a história da Biolo

o ia Educacional reflete as mudanças que ocorreram não só nas leis edu

;acionais brasileiras, mas, também, as alterações no seu quadro político,

ideológico, social e cultural ao longo dos tempos. Ao trilhar, desde a

sua origem, diferentes caminhos nem sempre bem definidos, a história

dessa disciplina deixou marcas que ainda hoje são percebidas nas ques

tões controversas e mal resolvidas que envolvem as concepções e signi

ficados da Biologia Educacional nos currículos dos cursos de formação

de professores e pedagogos.

A lógica interna de uma disciplina influenc ia o seu perfil, con

tudo,

os

fatores externos a ela também são determinantes na sua organi

zação,

na

seleção dos seus conteúdos, objetivos e pressupostos. As dis

ciplinas também não estão imunes às influências dos novos conheci

mentos científicos e das disputas ideológicas travadas no campo especí

fico das suas pesquisas, das suas áreas correlatas e

do

contexto científi

co no qual o conhecimento é produzido.

Assim, a partir da contextualização histórica e social da gêne

se e evolução dessa disciplina pretende-se compreender e trazer para

reflexão o processo histórico da construção dos seus pressupostos e a

1

'

i