Upload
alailtongama
View
220
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
7/23/2019 Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth...
http://slidepdf.com/reader/full/texto-iii-fundamentos-da-educacao-elisabeth 1/9
\
)
ISBN: 978-85-362-3136-5
z l77 ij
17
L J.}); I
l
E .D<TOR4
Av Munhoz da
Rocha, 143 - Juvevê-
Fcne (41 3352 -
3900
Fax. 141
j 3252-
2· 1 CEP:
80.030-4 75
Curitiba
Paraná
- Brasil
e-mail: [email protected]
Rl
75
Ramos,
Elisabeth Christmann org.).
Fundamentos
da
educação:
os
diversos
olhares
do educar./ Elisabeth
Christmann Ramos e K2-en Franklin orgs.)./
Curitiba:
Jurué 2010.
220 P.
1. Educação.
1.
Franklin,
Karen
(org .
). li.
Título.
COO 370 (22.ed)
DU 37
Visite nossos sites na internet: www.juruapsicologia.com.
br
www. edítoriafjurua. com
Elisabl th
Christ
mann Ramos
Kan:n Franklin
undamentos
da ducação
s
diversos olhares
do
educar
Colaboradores
átia
Cilene Farago
Clara Brener Mindal
Clcusa Valér
io
Gabardo
Elisabeth Christmann Ramos
Gelson João Tesser
Helga Loos
Karen F rauklin
Laura Ceretta
Moreira
Maria Augusta Bolsanello
Marta
Pinheiro
René Simonato Sant Ana
Sandra Regina Dias da Costa
Sandra Regina Kirchncr Guimaràl' s
Sueli Fernandes
Tamara
da Silveira Valente
Tania Stoltz
Vera Regina Beltrão Marques
Veronica
Branco
Curitiba
Juruá Editora
2010
7/23/2019 Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth...
http://slidepdf.com/reader/full/texto-iii-fundamentos-da-educacao-elisabeth 2/9
FILOSOFIA DA
EDUCAÇÃO
UMA OUTRA
FILOSOFIA
Profª Dr ª Karen Franklin
ProfªMs átia ilene Farago
O entendimento sobre o conceito de Filosofia da Educação
desde há muito tempo acarreta controvérsias a respeito
de
seu conteú
do de
seu alcance e limites tanto no âmbito da filosofia como
no
da
educação. A partir dessa controvérsia nos propomos a.esclarecer alguns
conceitos fundamentais para a compreensão e o entendimento
do
que
seja filosofia da educação e sua importância para a reflexão educacional
de
qualquer tempo.
Em primeiro lugar devemos esclarecer o ponto de partida ou
seja a relação entre a filosofiá da educação coITI a própria Filosofia.
Concebemos a filosofia da educação como parte constitutiva das preo
cupações da Filosofia
desde a .sua origem. Sócrates
já
nos apresenta
as
principais questões acerca da filosofia da eduéáção: O que é o homem?
possível ensinar a virtude? O que é possíverensinar? Enfim desde a
Antiguidade as questões que permeiam a educação e o educar estão
presentes e fazem parte da discussão
e
do fazer: filosófico. ~ob este pon
to de vista podemos dizer que a filosofia :
d
eçlu cação
é o olhar que a
filosofia dedica à educação. Ela se constitui
né{ün
iverso a ser investiga
do
questionado e construído .através do discurso filosófico sobre o fe
nômeno educativo. Ela
se
preocupa em evidenciar as questões que le
vam a esclarecer sobre o ideal pedagógico. Muitas vezes a filosofia da
educação é confundida com as próprias noções e concepções pedagógi
cas. Esse fato contribuiu para que a própria Filosofia compreendesse
que esta tarefa estava mais próxima
de
pedagogos do que
de
filósofos.
Uma compreensão errônea pois desde a origem filosofia e educação
estão intrinsecamente ligadas pois fazem part e da reflexão sobre o ho
mem e seu mundo. Essa compreensão leva a ·filosofia ao centro da tare
fa pedagógica e transforma-se
em
filosofia
d
educação.
7/23/2019 Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth...
http://slidepdf.com/reader/full/texto-iii-fundamentos-da-educacao-elisabeth 3/9
24
Karen Franklin e Cátia Cilene Fa rago
1 O
QUE É FILOSOFIA
DA
EDUCAÇÃO?
Quando nos perguntamos qual é o princípio
ou
a finalidade do
ato de ed ucar, estamos nos colocando no centro das preocupações filosó
fi
_as a re~peito da educação. Esse recorte sobre as concepções ou princí
p10s
daqmlo que
se
concebe
como
educação é o horizon te da reflexão da
filosofia
da
educação. Essa relação intrínseca entre filosofia e educação
mostra con:o a tarefa do filósofo
da
edycação é fundamental para esclare
cer
as
teonas
sobre o ato
de
educar. E a filosofia que prioriza objetiva
mente o
olhar
do filósofo para as diversas concepç ões do educar, impon
do nesse traba~o todo o esforço por esclarecer princípios humanos que
devem
ser considerados
em
qualquer processo educativo. A filosofia
da
educação
busca
construir
um
c .iscurso a respeito d boa pedagogia; e
est~, não_ aro, 1 negação da pedagogia vigente de algum local
ou
tem
po Ghualdelb
Jr 2006, p.
31)
. Isso significa dizer que a filosofia da
educação é o olhar apun1do sobre as teorias pedagógicás, buscando sem
pre
esclarecer qual seria o melhor caminho
para
esta tarefa. Dessa forma,
a filosofia da educação constitui-se como o ol har crítico sobre o fenôme
no
educativo, buscando postular o melhor modo de -conceber a educação
e expressando
um
olhar límpido sobre as teorias pedagógicas.
2
OBJETO
DA
FILOSOFIA
DA EDUCAÇÃO
O homem é~ ~nica cric:tu~a que precisa ser educada (Kant,
1996, p. 11). Ao contrano dos ammai s o
homem
necessita de cuidados
par~ sobreviver e crescer de acordo com a sua
própria
natureza, que é
ra
cional. Isso nos le
~a ª
con~iderar que ele necessita de educação para
t
omar-se
homem, pois nmgu em nasce pronto. Essa necessid ade ori oinal
ao mesmo tempo imprime no
homem
uma necessidade gregária
0
pois
ele depende definitivamente de outros p ara
tomar-se
homem.
. A educação tem valor
em
si , pois se apresenta ligada a todas as
dimensões humanas, seja dos sentidos, das emoções, do conhecimento ou
do caráter. A educação
humana é ao mesmo tempo
uma
relação de um
para com o outro e uma aquisição do ho
mem
para consigo mesmo. Ser
ed~cado ou educar faz parte do agir em direção à próp ria humanidade. O
º?J_eto
da filosofia da educação é este fazer humano e nele todas
as
possi
b1hda~es, sustentí;ldas pelas ideias de como tomar um
ser
humano
um
autêntico homem. A análise sobre as ideias que fundamentam as teorias
pedagó~icas são um ~os focos possíveis de nossa reflexão, porém não
apenas isso. Concoffiltantemente, é preciso buscar elucidar os mistérios
do próprio homem, na sua concepção e conceituação mais precisa. Se o
Filosofia
d
Educação:
um
outra Filosofia?
25
fenômeno educativo se direciona para a própria concepção
de
humanida
de contida em
cada homem,
então, nesse sentido,
as
teorias sobre educa
ção necessitam de fundamentação filosófica. Logo, o objeto da filosofia
da
educação é o próprio homem, enquanto ser educável, e a educação,
enquanto fenômeno
humano
que preci sa de contínua superação.
3 ORIGEM
DA
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
O surgimento da filosofia
da
educação não está afastado do
próprio
surgimento
da
Filosofia. A relação estreita entre Educação e
Filosofia está posta
desde
sua origem. Se a palavra Filosofia etimologi
camente
vem do grego philosophia1, que é constituída
de
duas partes:
philo, amar, amizade,
amor
fraterno, e sophia, sabedoria,
saber _ da
_qual
deriva sophos, sábio. A interpretação desse termo nos leva ao s1gmfica
do
de
amizade
pela
sabedoria, amor e respeito pelo saber, amor à sabe
doria.
Por
muito
tempo
foi sinônimo
de
saber racional e
de
ciência de
vido à sua origem
estar próxima
do que os gregos conheciam como
episteme, ciência e thecné, técnica
ou
arte. Basta lembrar-se
da
asserção
aristotélica de que
quanto
mais profundamente examinamos a matéria,
mais somos conduzidos
à
filosofia.
O filósofo
moderno
René
Descartes (1596-1650)
também
compreende
tal termo
como
o estudo da sabedoria , isto
é
um per
feito conhecimento de
todas
as
coisas
que o
homem
pode saber. Já o
termo
Educação
tem
sua
origem no
latim,
educere,
conduzir ou treinar
e educare, que
significa
treinar
ou
nutrir e alimentar (Winch
& Gin
gell, 2007, p. 78).
Porém, podemos
buscar a origem da filo sofia da
educaç
ão
na
preo cupação com o fundamen
to
educativo através
d?
termo grego p ideia, qu e si
gnifica
fom1ação e educação em
seu
senti-
do mais abrangente
2
.
Hoje
já
esta
mos
acostumados com as diferentes ciência s, tais
como, a medicina, a m at
emá
tica , a geometria, a psicologia, entre ou~ras,
porém
na
orig
em da Fi
losofia todas est
as
ciências eram compreendidas
como
uma
coisa ún ica, o conhecimento humano voltado
para
o mundo.
É quase ceno que os pré-socráticos não conh
ec
eram o a
dj
etivo ph
ilosophos
nem o verbo
philosophein
(filosofar). De maneira geral, desde Homero, as palavras compostas em
phzlo
serviam para designar a disposição de alguém que encontra seu mteresse, seu
pra~
e
r suara
zão de viver. Na dedicação a essa ou àquela atividade:
philo-posia,
por exemplo, e? prazer_e
o proveito que se tem ao beber;
philo-timia
é a propens
ão
para angariar honras,
phzlo-sophza
será, portanto, o interesse pela
sophia,
pela sabedoria (Hadot, 1999). .
Este termo sempre carrega certa impossibilidade
de
tradução simples para a llilgua po~gue
sa, como para qualquer língua moderna, pois ele está sobrecarregado de concepçoes q?e
alargam
sua
compreensão não podendo se afastar ,
dq
que compreendemos por cultura.
l
l
7/23/2019 Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth...
http://slidepdf.com/reader/full/texto-iii-fundamentos-da-educacao-elisabeth 4/9
26
Karen Franklin e Cátia Cilene Farago
No decorrer da história do pensamento humano paulatinamente as ciên
cias foram
se
separando da Filosofia, tal como fizeram os primeiros
pensadores gregos do século V a.C., que entre rupturas e continuidades
foram se di
stanciando do Mito, dando origem à Filosofia. Eles introdu
ziram um processo de reflexão sistemática e racional diante
do
mundo
ou
~eja, aos poucos ~ei~aram de lado as explicações mitológicas para
0
~
fenomenos e ocorrencias do mundo
para
dar luoar à racionalidade
expressa na Filosofia. Mesmo assim, não podemo; deixar de destacar
que os Mitos foram
uma
das primeiras formas de pensar que revelava
um esforço de ordenação, de unificação, que prenunciou tudo o que
viria a seguir no Ocidente em termos de saber.
DA MITOLOGIA À FILOSOFIA
Para situarmos expressamente a relação entre filosofia e edu
cação vamos nos remeter à mitologia e retomar uma conhecida passa
gem do "Mito de Prometeu", que prenuncia a própria condição humana
contado por Hesíodo
3
• '
O
poeta
conta que a primeira falta cometida po r Prometeu para
com
Zeus
foi
a divisão de
um
boi
em
duas partes, uma cabendo a Zeus e
outra aos mortais.
Na
primeira estavam as carnes e as vísceras, cobertas
com
o couro.
Na
segunda, apenas ossos, cobertos com a banha do ani
mal. Zeus, atraído
pela
banha, escolhe a segunda. Ao descobrir o enga
n~, _sua raiva, rancor e cóle:a subiram à cabeça e tomaram seu coração.
V1s1velmente Prometeu agm em favor dos homens . Por conta disso
Zeus castigou os homens, negando a eles a força do fogo infatigável.
A
afronta definitiva de Prometeu ocorre quando ele rouba o brilho lon-
gevisível do infatigável fogo em oca Férula (Hesíodo, 566). Esse fogo
reanimou a inteligência do homem, que antes era semelhante aos dos
fantas~as
dos sonhos.
Na
verdad~, ~onsta que Prometeu roubou
O
fogo
da razao, colocando ~o homem ongmalmente uma característica divina.
A Prometeu os mortais devem suas habilidades, todas as artes inclusive
a de domesticar animais selvagens,
bem
como a arte de fazê~los traba
lhar para os homens.
O
mito de Prometeu tal como
é
contado
por
Hesíodo em sua obra chamada
Teogonia
mas
também é_ itado por Platão :n seu diálo_?O
Protágo_ras,
que apresenta complementos
de
Ésqui
lo
, traged1ógrafo contemporaneo de Platão. Esse mito apresenta a origem de todas as criaturas
vivas, que aparece~ como obra de vários deuses, feitas com terra, limo e fogo. Daí vem
à
ori
gem da palavra latma humus te~), que.dá ori~em ao.termo homem. Desde a origem
os
gregos
acreditavam que uma centelha divma de imortalidade percorri a toda a Terra e as criaturas.
Filosofia
d
Educação uma outra Filosofia?
7
O que nos interessa
aqui é
a explicação mitológica para
uma
característica
humana
que não se manifesta entre
as
outras criaturas, a
razão. Esse fogo roubado é a representação
da
racionalidade, aquilo que
permite aos homens assumirem a atitude filosófica. O fogo representa
simbolicamente a inteligência do homem, um saber racional que conduz
à superação do próprio mito. A partir de uma explicação mitológica a
inteligência humana aos poucos se liberta das explicações de cunho
fantástico, própria
da
origem e impõe uma organização do cosmos atra
vés da racionalidade.
Na
verdade,
os
únicos problemas especificamente
humanos, não compartilhados por nenhuma outra espécie de seres vi
vos, são aqueles relacionados com a exigência do saber e com a presen
ça das relações de poder entre os homens.
Se a origem
da
filosofia se dá a partir da própria mitologia,
temos
uma
situação original
que
reflete esta proximidade
com
as expe
riências que perturbam o homem. A partir delas ele busca explicações
capazes de satisfazer sua inteligência e é nesse momento que inicia o
seu filosofar. · , __
Os homens necessitam do conhecimento e do saber para co m
preenderem o que se passa
com
o mundo. Es sa busca pelo conhecimen
to, caracterizada
pela
filosofia, tenta libertar o homem,
da
autoridade e
originalidade do mito. Dessa forma, a origem
da)ilóspfia
sempre estará
vinculada ao mito. Mesmo contando com as
éx.plic.àções sistemáticas
para a maioria dos dilemas humanos,
em
certos·-mõrp.ehtos ainda deixa
mos. espaç(? para que o mítico fale. Dessa fo .liia •:f reflexão filosófica
desenvolvida
pela
.humanidade é fundamentalm~~w
um esforço
em
busca do saber e conhecimento; que visa esclare&·f
'
é"-Iibertar o honiem
de todas as dificuldades diante
da
vida,
:
·
•~;
·· . ·
Não nos engànamos em dizer que a _ilpjof1à .origina-se
da
se
paração entre as expressões _míticas da rel~9ãA,~qs~os-.hu~ani~ade,
através
da
concepção de expressões e r~p:i;es~_t;çp~f
r~
_1onais diante
dos acontecimentos da vida.
Ao
longo do temp'ó?êlií
seJransformou
em
uma impressi9nante expressão cultural no Oci~eite, constituindo-se em
tradição de pensamento, através
da
elaboração de ·côn:iplexas visões
da
realidade, procurando sempre '"explicar" e "compreender" o sentido de
todas as coisas.
5 O PRIMEIRO FILÓSOFO DA EDUCAÇÃO: PLATÃO
Consideramos que o primeir o filósofo da educação foi o grego
Platão (427-347 a.C.), aluno·
de
Sócrates (470-399 a.C.).
Já
que este
último não deixou nada escrito, muitas passagens dos chamados diálo-
7/23/2019 Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth...
http://slidepdf.com/reader/full/texto-iii-fundamentos-da-educacao-elisabeth 5/9
28
Karen Franklin e Cátia Cilene Farago
gos ~ocráti~os
4
retratam as teorias e posições do mestre, no entanto é
preciso salientar que o personagem Sócrates das obras de Platão tam
bém é o porta-~~z das ~dei~ do próprio autor. Essa indefinição sobre
quem
fala nos drnlogos e objeto de longa discussão, mas o mais interes
sante
_é
que
~o
~ssociar a preocupação ético-formativa de Sócrates
com
a
teona
das ideias de Platão temos de fato a o rigem do primeiro filósofo
da educação. . . .
O objet~ educaciona~ de Platão é claro: quer objetivar intelec
tualmente
uma
cidade que seja·
justa
e perfeitamente harmônica entre
suas,pa_rtes. Est~ pensamento
s~
encontra·principalmente no diálogo
A
Republica considerado
por
mmtos como o primeiro texto de filosofia
da e~ucação. Nesta obra é apresentado o Mito da Caverna (livro VII),
uma 111: agem que representa tod_ .o esforço do
homem
em direção
ao
coi:11ecimen;º· _ movim:nto a~i ap:esentado _urge como uma represen
ta_çao dayropna
educaçao,
p01s
alem
de
: ser
um
caminho difícil, ele é
trilhado isolad~mente. Isso _igrii~ca dize.r_
ue
o esforço para a aquisi
ça
o
º
conhecimento deve ser feito por cada um. O aprendizado é um
movimento da alma. · · ·
. , .Também
_não
P?denÍ~s es qvecer do diálogo
Ménon
onde des
de o mic10 a questao esta colocada: E possível ensinar a virtude? Essa e
outras questões permeiam as preocupações originais da filosofia
da
educação._Platão foi o pri1:1eiro a definir a e ssência da filosofia enquan
to fo1:1.1açao de um novo tipo de homem e essa abordagem estreitou
em
definitivo o~ rumos·da relação entre filosofia e educação (Jaeger, 1995).
:s
so q~er
_dize~
~ue, qua~do os gregos despertaram para si mesmos, a
~o~sc1enc1a teonco-filosofica da educação foi compreendida como uma
ideia de formação - pai?ei~
5
-
para a qual deveriam dirigir todos os
esforços humanos como Justificação da comunidade e
da
individualida
de. C ~~forço
ed11:cativo
na Antiguidade
tem
sua origem na tentativa de
pos s;bihtar a efet1yação _de urn_a sociedade
justa
. O texto A República é
ur n 1_cone dessa
d1
~c1:ssao, po1~ nele que surge a ideia da educação
publica,_das estra~egias pedagogicas e da seleção de conteúdos. Sua
concepçao educac10nal busca mudar a ordem social para possibilitar
uma n?va ~strutura, e~sa fonna de pensar a realidade ficou co nhecida
como idealismo, que, a partir de Platão, manteve -se presente por toda a
Não
há
~ossibilidade_
de
atribu\rmos com precisão a genealogia das obras, mas a maioria dos
e_:-pec1alrstas
apresenta como d1ál~gos socráticos os diálogos da juventude de Platão que es
ta?
centrad~s em esclarecer conceitos como o Lísis, Laques, Eutifron, Hipias
Maior
Crátilo
Gorgias, Menon, entre outros. ' · '
Pod~mos compreender
aidéia
na cultura grega como a·formação integral do homem, a ser
prop1c1~da
pel~ educaçao, através de recursos pedagógicos e culturais com destaque para a
formaçao filosofica. '
Filosofia da Educação: uma outra Filosofia? 29
história do pensamento humano. Se Platão
buscava
mudar o status quo
criticando a democracia e suas instituições, Alistóteles (384-322 a.C.)
buscava
aprimorar as instituições da melhor forma possível. -
6 .ÀRISTÓTELES: O ALUNO SE TORNA MESTRE
Foi
aluno
da Academia
de Platão,
mas
também
um
grande crí
tico do mestre.
Porém
compartilhava
com
o mestre a rigidez critica
contra
os
sofistas. A sofistica
6
surge
no
desenvolvimento espiritual do
mundo grego como
um
acontecimento educativo. Sem os sofistas não
seria possível compreender a importância de Sócrates, Platão
ou
Aristó
teles. Eles são os contrapontos para todas as questões educacionais,
po
líticas, éticas e teóricas do helenismo clássico.
A importância dada
por
Aristóteles à educação conduziu-o à
defesa
de uma
educação pública, tal como ensinara seu mestre Platão. A
educação pública proposta deveria ser capaz de complementar e de
substituir, quando necessário, as insuficiências da família, de modo que
as novas gerações pudessem se beneficiar de
uma
boa formação do ca
ráter.
Na
obra A Polfrica Aristóteles dedica várias páginas à organiza
ção
da
educação como alicerce da formação do caráter e defende a ideia
de que são necessárias leis e medidas corretivas que acompanhem e
ajudem
na
conduta
da
vida ética do homem, tanto na juventude como na
maturidade e na velhice.
Ainda, para Aristóteles, a felicidade surge como
um
dever e
um
direito do homem.
Ele
é feliz
7
quando realiza aquilo para o qual foi
feito. A felicidade está associada ao Bem, à Virtude e à Alma, po1ianto,
não exclusiva.mente ao corpo e aos bens exteriores. Ao contrário dos
A educação sofistica buscava a formação do espírito, através de uma multiplicidade de
processos e metodologias educati-rns . Os sofistas tin
ham,
segundo Jaeger, duas modalidades
distintas de educação do espírito: a transmissão de
um
saber enciclopédico e a formação do
espírito nos seus diversos ,:ampos
..
Ao lado da formação Ileramente formal do entendimen
to, exi stiu igualmente nos sofistas uma educação formal no mais alto sentido da palavra, uma
Paideia :dl lhada
con
os novos rempos, onde a linguagem e a
fo
r::1ação do espírito estão
or
denados aos resultados diante da Assembleia. O que de novo e
de
único liga todos os sofistas
é o ideal da retórica, nas demais questões diferem de vários modos (Jaeger, 1995, p. 342).
Em A Política Aristóteles dá-nos a seguinte definição de vida feliz: consiste no livre exercí
cio da virtude, e a virtude na mediania; segue-se daí que a melhor vida deve ser a vida média,
encerrada nos limites de uma abastança que todos possam conseguir. E este princípio é váli
do tanto para as pessoas como para o Estado. Um Estado é tanto mais feliz quanto mais justo ,
prudente e bom for. Daí que o melhor governo seja aquele no qual cada
um
encontra a me
lhor maneira de ser feliz. Um governo justo é o que procura um justo meio e o que chama a si
as virtudes da moderação e da prudência, evitando a desigualdade extrema e a desproporção,
que são causas
da
discórdia e da inveja entre os homens. Um governo justo é o que se esforça
por respeitar o equilfürio entre as classes e o que procura o interesse comum.
7/23/2019 Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth...
http://slidepdf.com/reader/full/texto-iii-fundamentos-da-educacao-elisabeth 6/9
30
Karen Franklin e Cátia Cilene Farago
outros seres vivos, o homem possui uma alma racional e inteligível,
dotada
de
razão. Deste modo, fazer o
Bem
é agir de acordo
com
a razão.
Mas será que a felicidade é acessível a todos os homens? De
acordo com Aristóteles, apenas os que não possuem conhecimento
estão
impedidos
de atingir a felicidade. Segundo ele, a educação vai
permitir que as virtudes se desenvolvam e se tornem realidade.
Embo-
ra
a
educação
não
seja
determinante é, contudo, condição necessária .
Sem educação é
difícil despertar as virtudes. Embora ela
não seja
tudo
- ao contrário de Sócrates que pensava que bastava conhecer para
fazer o
bem
- vai permitir a aquisição de bons hábitos e o contato com
pessoas
virtuosas.
Sócrates e Platão nunca deram
uma
resposta plausível à gran
de
questão:
como
é possível tornar uma pessoa virtuosa?
Do
mesmo
modo,
não
conseguiram dar uma resposta satisfatória à questão: é pos
sível ensinar a virtude?
No
entanto, Aristóteles, na sua obra Ética a
Nicômaco, responde afirmativamente sobre a possibilidade de
seu
ensi
no.
As
virtudes morais
podem
ser ensinadas, diz ele. Mas, mais do que
produto do ensino, as virtudes morais são produto do hábito. Em A Polí-
tica, afirma que três coisas devem contribuir para isto: a natureza, o
hábito e a razão. No entanto, a hierarquização destas partes sempre esta
rá em
discussão, pois o filósofo responde que devemos esforçar-nos ao
máximo
para
proporcionar à criança, ao mesmo tempo, o raciocínio e o
hábito. Da
mesma
forma -que a alma e o corpo são duas substâncias
distintas, assim também a alma tem duas faculdades distintas,
uma
é
iluminada
pela
razão e outra não. Isso significa dizer que para Aristóte
les a educação é, eminentemente,
uma
educação ética que deve ter co
mo objetivo atingir todas as excelências humanas.
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO: MUITOS OLHARES
Na
história
do
pensamento muitos filósofos se ocuparam com
a educação, desde a Antiguidade até a Contemporaneidade.
As
classifi
cações e tendências teóricas no interior da Filosofia da Educação foram
influenciadas pelo pensamento de diversos autores. Não vamos explici
tar aqui todas as classificações e pontos de vista. Deteremos-nos a fazer
considerações às problemáticas mais pontuais e a filósofos referência
nas questõ.es humanas .
O pensamento filosófico de Santo Agostinho (354-430), autor
do final
da
Antiguidade, é uma destas referências para se pensar as
questões humanas. Suas obras Confissões e Cidade de Deus são consi
deradas fundamentais para compreender o sentido de conversão da alma
Filosofia da Educação
uma
outra Filosofia?
3
humana. Seu pensamento ·
apresenta
uma forte influência platônica e
sempre parte
da
reflexão sobre a vida: coisas que ocorrem ao redor,
ideias dominantes, as questões sobre a alma e os ataques contra a
fé.
Agostinho aborda o problema
do homem
concreto, deixa de lado a bus
ca pela essência humana em
geral
ou o homem abstrato. O que lhe inte
ressa é o
eu,
o homem enquanto indivíduo único, ou seja, como pessoa.
A reflexão sobre sua própria
vida
e existência desencadeia
uma
metafí
sica da interioridade e isso o aproxima das reflexões filosóficas da edu
cação, nesse sentido a problemática
do
indivíduo é também o motivador
das reflexões sobre educação.
Muito
influenciado pelas concepções
gregas, Agostinho mantém a perspectiva de que o
homem
é alma no
corpo. No entanto agora esta relação
está
imbuída do conceito de cria
ção e dos dogmas cristãos. Aqui o co rpo adquire uma maior importância
devido ao dogma da encarnação
de
Cristo, mas a alma ainda mantém
preponderância sobre o corpo,
pois é
a imagem de Deus e da Trindade.
Outro filósofo decisivo para a história do pensamento foi
Tomás de Aquino (1225-1274), um expoente entre
OS
escolásticos. Sua
inspiração intelectual é Aristóteles. Desenvolve
um
sistema de transpa
rência lógica e conexão orgânica entre as partes. Sua
obra
inais conhe
cida é a
Suma Teológica,
mas
. outras também são· importantes para
compreendermos as interfaces de
seu
pensamento,~ão elas Suma contra
os gentios, Questões disputadas, entre outras.
Tomás
de Aquino distin
gue perfeitamente filosofia e teologia como campos .diversos
da
procura
pela verdade. Seja pela razão ou pela fé, a busca
pelaverdade
deve ser o
objetivo. Assinala que é predso
partir
das verdades racionais para tor
nar possível a discussão com qualquer pessóa, pois as convicções são
diversas e o que nos une enquanto homens é ·a razão. Nesse sentido, o
pensamento de Tomás
d~
Aquino
.
é importante pàra a reflexão sobre
educação, pois
tal
como -ele, a filosofia
da
educação
busca
estabelecer
discussões a partir do que nos
é comum
e convergente, isto·é, a razão.
A Filosofia da
Educaç
-ão .se ·Consolidou · ôesde·· sua ori
gem como
uma
reflexão
prescritiva da
· educação,
pois
na
aborda
gem dos assuntos estabelecia-se
como uma
forma procedimental. No
centro destas considerações
podemos
citar Jean.:Jaques Rousseau
(1712-1778) que na mesma linha platônica propõe uma·revolução pro-
cedimental no cuidado com a educação. Apresenta em sua obra Emílio
uma proposta educacional
baseada
nos princípios
da
empiria, ou seja,
tomando a experiência como origem
de
todo
o
conhecimento humano.
Essa obra comporta a educação do homem inteiro, sentimentos e
razão, naquela vontade geral e naquele bem comum .que são os pila-
res da nova construção soci l , Reale Antiseri, 1990).
7/23/2019 Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth...
http://slidepdf.com/reader/full/texto-iii-fundamentos-da-educacao-elisabeth 7/9
32
Karen Franklin e Cátia Cilene Farago
Também podemos dizer que Kant (1724-1804) ocupou-se, de
certa forma, com a questão educacional. Apesar
de
ser mais conhecido
por suas obras Críticas ..
8
,
Kant
também se preocupou com a formação
moral
humana
9
•
Temos hoje uma obra publicada por seu aluno Theodor
Rink
em 1803,
Sobre a Pedagogia
que é o resultado de uma série de
cursos ministrados na Universidade de Kõnigsberg. Segundo Kant,
sem a educação o homem talvez tivesse uma destinação semelhante a
dos demais animais e, neste sentido, iria desviar-se do seu destino, des
viar-se
da
humanidade. A necessidade que marca a existência desse ser
que não pode se tomar
um
verdadeiro homem senão
pela
educação,
apresenta-se como uma necessidade. metafisica da educação. Somente
ela o torna moralmente homem. Nesse sentido
é
preciso que ele passe
por um processo para efetivar-se um '.'ser mon1l''_
namaior
plenitude que
consiga atingir. Já na
Crítica da Razão Pura
e
Fundamentação
da Me-
tafisica dos Costumes
Kant estabelece que .a conduta humana deva
estar submetida
à
razão. Submissão esta que assegurará ao homem a sua
autonomia, liberdade, racionalidaçle, e .moralidade. O _dever em Kant
adquire um valor fundamental para à realizaçao da humanidade, pois a
possibilidade de se ter uma ordem
~iversai
na convivência humana, só
se constituiria com o desabrochar dà cidadania e da digniq.ade humana.
Na
mesma linha de pensamento de Aristóteles, Kant admite
que
é
possível o ensino das virtudes morais. O homem, através da edu
cação, é capaz de moldar suas ações por meio de máximas estabelecidas
numa legislação universal. A razão humana e o bom uso da razão pro
porcionam ao indivíduo sua autonomia, livrando-o da submissão de
outrem. Cumprir por dever uma lei que sua própria razão lhe asse
gura é estabelecer-se como um legislador universal, membro de unia
.comunidade que compreende a lei como princípio único de suas ações.
Assim, podemos dizer que a ação humana é pautada
por
princípios ob
je tivos, morais e universais. O objetivo de Kant é mostrar que a vontade
de\'e se tornar autônoma, parn que o homem possa agir de forma racio
nal e universal. Pela decisão do próprio homem a razão se emancipa das
tutelas ideológicas e religiosas, possibilitando que este homem passe a
se
r responsável por suas açõe
s,
atinge o
~z
rfkl
rung
ou sej
a,
o
es
clare
cimento. Podemos dizer que o pensamento de Kant marca decisivamen
te o pensamento sobre a educação. Kant nos permitiu conceber que a
educação deve tornar o homem um ser moral através da busca pelo
es clarecimento.
Crítica d Razão Pura Crítica da Razão Prática e Crítica.do Juízo.
Crítica
d
Razão Prática Fundamentação da Metafisica dos Costumes
e a
Metafisica dos
Costumes/doutrina das virtude
s
Filosofia da Educação uma outra Filosofia?
33
Mais tarde; segundo Porto (2006), o princípio do
~écuJo
XX
apresenta uma diferença interes~ante
em
rela~ão
à
democratlzaçao: en
quanto a democracia moderna amda se anuncia na Europa, n?s Estado~
Unidos ela está em pleno desenvolvimento. Este d:senvolvimento fm
uma preocupação constante do filós,ofo norte-ame~can? .John Dewey
(1859/1952). Ele viu na educação, alem de su~ funçao prati~a de, s.er um
elemento inerente e coadjuvante da democracia,
uma
funçao teon~a. A
atenção de Dewey (1959)
à
ação social e
à
educação ~eu uma onenta
ção decididamente prática
à
sua filosofia.
Em
vez de hdar apen~s com
constructos teóricos imutáveis, ele afirmava que a filosofia devena pre
ocupar-se com problemas humanos em um mundo variável e incerto.
Acreditava que a maioria dos pensadores lançava-se em uma busca
pela certeza , na qual procuravam
por
ideias verdadeiras e eternas,
quando o necessário são soluções práticas para problemas modernos.
Essa visão está de acordo com a ciência moderna, para a qual
as ideias não são imutáveis, se configuram em pontos de partida para
resolver um problema perturbador. Dewey acreditava q_tie}ever~amos
usar a filosofia para ajudar a nós mesmos a .s~rmos mais . e~penmen
tais em nossa abordagem dos problemas sociais, testan~o ideias e pr~
postas reflexivamente, antes de agir sobre elas, e i:or meio
da.
avah~çao
crítica e do exame reflexivo dos resultados, depois de expenmenta-las
na prática. Nesse sentido as ideias são instrumentos na solução d pro
blemas humanos. Porém devem ser testadas de
uma
forma expenmen
tal, de modo que possam'os aprender com nossos esforços e redirecioná
las para um efeito melhor.
A filosofia de Dewey é conhecida como experimentali~ta e
instrumentalista. Tem estes tem1os forjados
por
ele mesmo, pois ao
distanciar-se da concepção de pragmatismo, imprime à sua filos?fi~
uma busca que evidencia o papel da educação
pela
ação. Dewey atnb_:1i
à filosofia função essencial de nos
levar
a compreend~r que a educaç~o
se confunde com o próprio processo àe viver. Isso sigmfica que estao
presentes em sua abordagem a necessid~~~ de esclarecer as ~uestões
fundamentais sobre a vida humana e a utilmade de todas as açoes para
nossa fo rmação.
Nesse sentido, quando refletirmos sobre qu:stões _com?: ?
homem pode ser educado? O que é educação? Que sentidos sao atnbui
dos à filosofia e à educação; somos levados a compreende~ a filosofia,
novamente, no seu papel fundamentador. Ela. não tem simpl:smente
uma função de legitimação do discurso educac10nal. (a pedago~ia) e do
objetivo da educação (a meta do processo de ensmo-aprend1zagem e
formação dos homens), mas apresenta-se com~ a própria filosofia abert~
para a problemática da educação. Na perspectiva de Deleuze e Guattan
7/23/2019 Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth...
http://slidepdf.com/reader/full/texto-iii-fundamentos-da-educacao-elisabeth 8/9
34
Karen
Franl<lin
e Cátia Cilene Farago
(1992), para os quais, simplesmente é chegada a hora de perguntar o
que é a filosofia? Se para estes a filosofia é a arte de formar, de inven
tar, de fabricar conceitos, cabe a nós percorrermos
um
caminho que
parte da compreensão etimológica
da
palavra para a composição do
nosso conceito.
Muitas são as correntes que influenciaram o pensamento con
temporâneo com relação à educação. Hoje convivemos com uma plura
lidade de pontos de \ista que são fundamentados sobre perspectivas
filosóficas da modernidade, sejam as cartesianas, as kantianas, as hege
lianas, empíricas ou racionalistas.
Muitas
são as classificações propos
tas, porém o que nos interessa é mantermos aberta a discussão sobre o
objeto que é a educação. A compreensão sobre o que é educa ção sempre
causa discussão, pois não há uma definição última. Ela pode ser conce
bida como todo o fenômeno de desenvolvimento de um set humano .
Segundo Winch e Gingel1
10
,
Richard Peters distingue três critérios ou
condições para mapear a distinção entre a educação e outras ocupações
e atividades humanas.
O
primeiro critério é o de que a educação, em seu
sentido pleno, tem uma implicação necessá ria na percepção de que algo
de valor ou importante está acontecendo. Segundo critério leva em con
ta que
a educação envolve a aquisição de conhecimento, a qual ultra
passa a mera habilidade, o saber-fazer ou a coleta de informação. E, em
terceiro lugar, os processos de educação envolvem pelo menos alguma
compreens ão daquilo que está sendo apreendido e daquilo que é exigido
na aprendizagem. Isso implica, por exemplo, a compreensão de que
participamos de
um
processo voluntário e que não corremos o risco de
sofrer lavagem cerebral, condicionamento ou adestramento (Winch
Gingell, 2007).
Compreender a educação como a conquista final de
um
proces
so que, por vezes, percorre a vida de uma pessoa, é compreender a rela
ção intrínseca do processo educativo com o pensamento que o sustenta.
Nesse sentido, o processo de desenvolvimento integral do
homem
não
cabe apenas às correntes pedagógicas utilizadas no processo, mas signifi
cativamente a re:f:1 exão filosófica impressa em tal processo. Se a educação
é
um processo de formação integral do homem, então a formação ética,
moral, política, epistemológica, social e cultural estão no centro desta
discussão e cabe a Filosofia fomentar tais discussões e reflexões.
Ao percorrermos esse caminho de pontuais esclarecimentos
sobre filosofia e educação, chegamos de fato ao ponto central de nossa
indagação: o que é Filosofia da Educação?
De fato, ela se mostrou co-
10
Professores de filosofia da educação da Universidade de Northampton, Inglaterra.
Filosofia da Educação: uma outra Filosofia?
35
mo o olhar filosófico sobre a educação,
é
a atividade que o pensamento
desenvolve, de forma sistematizada, sobre o fenômeno educativo e so
bre a educação, procurando compreender sua complexidade. E aqui,
cabe salientarmos, que ao busca r compreendê-la de for ma integral, caí
mos fatalmente na circrmscrição da Filosofia. Por isso, resgatamos a
representatividade de seu símbolo, a coruja
,
que sabe lançar seu
olhar em todas
as
direções.
Quando esclarecemos o papel central que o fenômeno educati
vo tem
em
alguns pensamentos clássicos
da
filosofia nos damos conta
da relação intrínseca que estes âmbitos do conhecimento têm entre si.
Dessa forma, o horizonte em que nos colocamos para compreender a
Filosofia da Educação se situa entre a percepção filosófica da educação
e a dimensão pedagógica da filosofia. Alguns sustentam que ela deva
debruçar-se sobre concepções epistemológicas do pensamento (classifi-
.cadas como: idealismo, empirismo, analítica, transcendental , entre ou
tras); mas também, há
quem
afirme que a Filosofia da Educação deve
estar associada a uma perspectiva de compreender apenas a história da
educação ou ainda que deva refletir sobre as particularidades dos mo
vimentos pedagógicos.
O distanciamento destas concepções deve ocorrer pelo fato de,
ora diminuírem a reflexão filosófica sobre educação apenas a correntes
pedagógicas, ora concebereqi t :filosofia da educação como simples
discussão sobre teoria do c.onhecimento. Por isso, res gatamos a percep
ção da Antiguidade como foi;-ma
d~
reafirmar a estreita relação entre a
filosofia e a educação de
o~~
·ª esclarecer .que as discussões devem
estar enraizadas na própria ·Filosç:±ia. Dessa forma, concebemos a Filo
sofia da Educação collló urµ olli~r . ilosófico sobre a educação de forma
integral, buscando estlar~ c.er :e questionar as inter-relações das questões
éticas, políticas,
epistemológicas e culturais com o conjunto de concep-
ções e práticas chamada Educação. ·
REFERÊNCI S
Aristóteles . (1991). A Política. São Paulo: Livraria
Martins
Fontes.
11
O mais antigo símbolo da filosofia é a ave chamada Atena, deusa da sabedoria e da fecundi
dade. Aparece sempre associada, na mitologia grega, a ave noctívaga que é a coruja, cuja no
ta
distintiva é a
de
se levantar ao anoitecer e andar vigilante e ativa pela calada da noite. A
coruja auxiliada apenas pela luz da lua, é dotada
de
uma excepcional acqidade visual, vê o
que o comum dos outros anímais só consegue perceber com a luz do sol. E essa invulgar ca-
pacidade de ver e de orientar-se no mundo das trevas que faz dela um símbolo da filosofia e
do conhecímento racional: a coruja, tal como a filosofia , simboliza a reflexão que domina as
trevas ou a capacidade de obter conhecimentos para lá das sombras.
7/23/2019 Texto III - Fundamentos Da Educação - Elisabeth...
http://slidepdf.com/reader/full/texto-iii-fundamentos-da-educacao-elisabeth 9/9
36
Karen Franklin e Cátia Cilene Farago
Aristóteles. (1991). Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural. (Os Pensadores)
Deleuze; Gill es, Guattarri, Félix. (1992). O que é a filosofia? Rio de Janeiro:
Ed. 34.
Dewey, J. (1959). Democracia e educação. São Paulo: Com panhia Nacional.
Guimarães, Ruth. (1972). Dicionário da Mitologia Grega. São Paulo: Cultrix.
Ghiraldelli Jr, Paulo. (2006). Filosofia da Educação. São Paulo: Ática.
Hadot,
Pierre. (1999). O que é filosof ia antiga. São Paulo: Loyola.
Hesíodo. (1991). Teogonia (Tradução de Mário da Gama Kuri). Rio de Janeiro:
Jorge Zahar. ·
Jaeier, Wemer. (1995). Paidéia (Tradução de Artur
M.
Parreira). São Paulo:
Martins
Fontes.
· · ·
Kant, Immanuel. (1996). Sobre a pedagogia
(Tradução
de Francisco
Cock
Fontanella). Piracicaba: UNIMEP. · · . ·
Ozmon, Howard A. (2004). Fundamentos filosóficos da educação (6ª ed.).
Porto Alegre: Artmed. . . · . ·
Platão. (1990). A República (6ª ed.). Lisboa: FÜn4ação Calous_e Gulbenkian.
Platão. J?iálogos III A República (Tradução ~e Leonel Vallandro). São Paulo:
Ediouro. ; . ·. .·
Platão. (1991). Diálogos (Seleçãó de textos ·de
J~sé Américo Motta
Pessanha,
Tradução e notas de José Cavalcante de Sóuza, Jorge Paleikat e João Cruz
Costa)
(5ª
ed.). São Paulo: Nova
Cultural
(Os Pensadores)
Schwab, Gustav. (1994).
As
mais belas histórias da Antigüidade Clássica.
Rio
de Janeiro: Paz e Terra. .
Porto, Leonardo Sartori. (2006).
Filosofia da educação.
Rio de Janeiro: Jorge
Zahar. . , ·
Reale, Giovanni, Antiseri, Dario. (1990). História d a Filosofia: o huma-
nismo a Kant (v. II). São Paulo: Paulinas.
Rousseau, Jean-Jaques. (1999). Emílio ou Da Educação. São Paulo: Martins
Fontes.
Tcsser'. ?elso_n João. (2007). Sentidos filosóficos no ensino-aprendizagem.
In
D1ms
, N1lson Fernandes, Bertucci,
Liane Maria
e col. (Orgs.), Múlti
plas faces do educar: processos de aprendizagem, educação e saúde, for
mação docente. Curitiba: Editora UFPR.
Winch, C. , Gingell, J. (20 07). Dióonário de filosofia da
ed
ucação (Tradu
ção de
Renato
Marques de Oliveira).
São Pa
ulo: Contexto.
J
•
i
·A
BIOLOGI
EDUCACIONAL
E OS
FUND MENTOS D
EDUCAÇÃO
ProfªDr ªElisabeth Christmann Ramos
Nascemos com toda a carga de nossa genéticafisica e psíquica.
Mas não somos apenas isso.
Somos em parte resultado o que foram nossos pais.
Mas não somos apenas isso.
Lya Luft
Como outros campos do conhecimento, a história da Biolo
o ia Educacional reflete as mudanças que ocorreram não só nas leis edu
;acionais brasileiras, mas, também, as alterações no seu quadro político,
ideológico, social e cultural ao longo dos tempos. Ao trilhar, desde a
sua origem, diferentes caminhos nem sempre bem definidos, a história
dessa disciplina deixou marcas que ainda hoje são percebidas nas ques
tões controversas e mal resolvidas que envolvem as concepções e signi
ficados da Biologia Educacional nos currículos dos cursos de formação
de professores e pedagogos.
A lógica interna de uma disciplina influenc ia o seu perfil, con
tudo,
os
fatores externos a ela também são determinantes na sua organi
zação,
na
seleção dos seus conteúdos, objetivos e pressupostos. As dis
ciplinas também não estão imunes às influências dos novos conheci
mentos científicos e das disputas ideológicas travadas no campo especí
fico das suas pesquisas, das suas áreas correlatas e
do
contexto científi
co no qual o conhecimento é produzido.
Assim, a partir da contextualização histórica e social da gêne
se e evolução dessa disciplina pretende-se compreender e trazer para
reflexão o processo histórico da construção dos seus pressupostos e a
1
'
i