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1 FAETEC/ETESC REDAÇÃO TÉCNICA PROFESSOR: ADRIANO OLIVEIRA OS TIPOS OU MODOS DE ORGANIZAÇÃO DO TEXTO Na escola, normalmente, apresentam aos alunos a existência de 3 modos básicos de organização do texto: narração, descrição e dissertação. Ainda, são poucos os que se atentam para os estudos da linguística textual que aponta para a existência de mais tipos de organização. Além disso, ensinam-se, muitas vezes, nas escolas, os modos como unidades isoladas, o que na prática não corresponde, uma vez que é possível encontrar todos esses modos na tessitura de um texto. Assim, num artigo, por exemplo, é possível observar que o pesquisador narra os fatos que o levaram a realizar a pesquisa, descreve o seu objeto de investigação, incita o leitor, por meio de questionamentos, quanto aos problemas possíveis de suas pesquisas e conclui com argumentos que fundamentam o seu ponto de vista ou sua hipótese. Dessa forma, num mesmo gênero textual o artigo foi possível mobilizar quatro modos de organização do texto ao mesmo tempo: a narração, a descrição, a injunção e argumentação. Para escrevermos um texto, em qualquer um dos gêneros disponíveis, em nossa sociedade, teremos de mobilizar ou operar com os modos de organização do texto, os quais se apresentam em um número reduzido (quatro ou mais, de acordo com a perspectiva do autor escolhido) quando comparados aos gêneros (em número infinito). Para o nosso trabalho, utilizaremos a definição de Marcuschi (2007) para explicitar o conceito de “tipos textuais”, porém adotaremos o quadro de Azeredo (2008) para a nossa produção. Marcuschi (2007: 22), para diferenciar “gêneros” de “tipos textuais” declara: Usamos a expressão ‘tipo textual’ para designar uma sequência teoricamente definida pela ‘natureza linguística’ de sua composição [aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas]. Os tipos ou modos não são textos empíricos, mas sequências linguísticas, ou de enunciados no interior de um gênero e aparecem não isoladamente em um gênero, mas, em boa parte das vezes, paralelamente num mesmo gênero. Esse fenômeno Marcuschi (2008:166) denomina “heterogeneidade tipológica”. A carta pessoal é um exemplo de como os tipos podem ocorrer ao mesmo tempo. Os modos ou tipos textuais, de acordo com Azeredo (2008: 86-89), apresentam-se em: 1) NARRAÇÃO Chamamos narração à sequenciação própria da enunciação de fatos que envolvem personagens movidos por certos propósitos e respectivas ações encadeadas na linha do tempo, seja por simples sucessão cronológica, seja também por relações de causa e efeito. (Azeredo, 2008: 86-87)

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tipos de textos

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    FAETEC/ETESC REDAO TCNICA PROFESSOR: ADRIANO OLIVEIRA

    OS TIPOS OU MODOS DE ORGANIZAO DO TEXTO

    Na escola, normalmente, apresentam aos alunos a existncia de 3 modos bsicos de

    organizao do texto: narrao, descrio e dissertao. Ainda, so poucos os que se atentam para os

    estudos da lingustica textual que aponta para a existncia de mais tipos de organizao. Alm disso,

    ensinam-se, muitas vezes, nas escolas, os modos como unidades isoladas, o que na prtica no

    corresponde, uma vez que possvel encontrar todos esses modos na tessitura de um texto.

    Assim, num artigo, por exemplo, possvel observar que o pesquisador narra os fatos que o

    levaram a realizar a pesquisa, descreve o seu objeto de investigao, incita o leitor, por meio de

    questionamentos, quanto aos problemas possveis de suas pesquisas e conclui com argumentos que

    fundamentam o seu ponto de vista ou sua hiptese. Dessa forma, num mesmo gnero textual o artigo

    foi possvel mobilizar quatro modos de organizao do texto ao mesmo tempo: a narrao, a

    descrio, a injuno e argumentao.

    Para escrevermos um texto, em qualquer um dos gneros disponveis, em nossa sociedade,

    teremos de mobilizar ou operar com os modos de organizao do texto, os quais se apresentam em um

    nmero reduzido (quatro ou mais, de acordo com a perspectiva do autor escolhido) quando comparados

    aos gneros (em nmero infinito).

    Para o nosso trabalho, utilizaremos a definio de Marcuschi (2007) para explicitar o conceito de

    tipos textuais, porm adotaremos o quadro de Azeredo (2008) para a nossa produo.

    Marcuschi (2007: 22), para diferenciar gneros de tipos textuais declara: Usamos a expresso

    tipo textual para designar uma sequncia teoricamente definida pela natureza lingustica de sua

    composio [aspectos lexicais, sintticos, tempos verbais, relaes lgicas].

    Os tipos ou modos no so textos empricos, mas sequncias lingusticas, ou de enunciados no

    interior de um gnero e aparecem no isoladamente em um gnero, mas, em boa parte das vezes,

    paralelamente num mesmo gnero. Esse fenmeno Marcuschi (2008:166) denomina heterogeneidade

    tipolgica. A carta pessoal um exemplo de como os tipos podem ocorrer ao mesmo tempo.

    Os modos ou tipos textuais, de acordo com Azeredo (2008: 86-89), apresentam-se em:

    1) NARRAO

    Chamamos narrao sequenciao prpria da enunciao de fatos que envolvem personagens

    movidos por certos propsitos e respectivas aes encadeadas na linha do tempo, seja por simples

    sucesso cronolgica, seja tambm por relaes de causa e efeito. (Azeredo, 2008: 86-87)

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    Na narrao predominam os verbos de ao (sobretudo no pretrito [im]perfeito). comum

    encontrarmos a narrao, predominantemente, em gneros como contos de fadas, fbulas, relatos de

    experincia pessoal, crnicas, notcias, reportagens, conto, novela, romance, publicidades

    (principalmente, televisivas) etc. Vejamos o exemplo a seguir:

    TEXTO (1a) SISSICA

    (Lus Fernando Verssimo Novas Comdias da Vida Privada)

    No sei se fecha com a estatstica geral, mas, naquela sala de espera do aeroporto, entre trinta pessoas, uma tinha telefone celular. E ele tocou.

    Al? Eu. Oi, querida. As outras vinte e nove pessoas continuaram fazendo o que se faz numa sala de espera de aeroporto

    quando o avio atrasa. Lendo, tentando dormir, olhando fixo para nada. E fingindo que no ouviam a conversa. No, ainda estou no aeroporto. O avio atrasou. Sei l. Devo chegar pela meia-noite. Um homem mais velho sacudiu a cabea com leve irritao. Saco, ser obrigado a ouvir a conversa dos

    outros daquele jeito. E no poder ouvir o que estavam dizendo do outro lado. Voc vai me esperar acordada? Ah, ? Quero s ver. Qual, aquele curtinho? Ai meu Deus. J estou

    vendo. E o que que voc vai me dar? Hein? Houve uma certa inquietao em torno do homem que falava. Um certo mexe-mexe nas cadeiras e

    arrastar de ps. Um casal que j conversara muito e ficara em silncio retomou a conversa, animadamente, agora falando mais alto. Alguns olharam para as duas freiras que, a poucos metros do homem do celular, mantinham os olhos baixos e no se mexiam.

    O qu? Estou levando, sim. Est aqui na maleta. E com pilha nova. . Te prepara, Sissica. Ao som de Sissica o homem mais velho empinou a cabea num espasmo involuntrio e duas outras

    pessoas levantaram-se rapidamente e dirigiam-se para o bar, para a livraria, para qualquer ponto longe daquele celular e do seu dono. As freiras continuavam de olhos postos no cho.

    C vai fazer o qu? Ah, ? T bom. S acho que hoje eu no vou poder, no. Tou com um furnculo. Uma mulher soltou uma espcie de grito e depois tentou disfarar com tosse. O homem mais velho

    tambm se levantou, olhou para o relgio, exclamou No possvel e foi procurar algum da companhia para reclamar do atraso. Afastou-se quase correndo.

    Sei l. Apareceu hoje. E acho que est supurando. T um roxo meio esverdeado. Mais pessoas saram de perto, procurando o que fazer. O casal aumentou o volume da sua conversa, tentando falar mais alto do que o homem. Outros tambm comearam a falar. Pessoas que nunca tinham se visto antes agora puxavam conversa uma com a outra e todas falavam ao mesmo tempo. Mas o homem do celular falava mais alto.

    Onde? , l mesmo. Bem na dobra. Uma das freiras olhou para o alto com um sorriso triste enquanto a outra se encurvou para olhar o cho

    mais de perto. Um homem, fora de si, veio perguntar se as duas no gostariam de ir ao banheiro. Ele as acompanharia. As duas sacudiram a cabea. Ficariam firmes, o Senhor lhes daria fora.

    Como que eu sei que ta roxo? Eu olhei, n Sissica. Com um espelho. R, c pensou o qu? Vrias pessoas estavam agora de p, tomadas de uma sbita revolta com aquela demora no embarque.

    Caminhavam de um lado para o outro. Por que o avio no saa?

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    C pensa que eu pedi pra camareira olhar, ? D uma olhadinha aqui no meu furnculo, minha filha, pra ver que cor . s levantar o...

    Houve uma debandada. Algumas pessoas se precipitaram para o balco de informaes e comearam a bater com os punhos no balco, exigindo embarque imediato ou explicaes. Outras se dispersaram pelo aeroporto, em pnico. S as duas freiras continuaram sentadas, com os olhos fechados e uma expresso de martrio, entre doce e dolorida, no rosto. Finalmente o homem despediu-se da Sissica, guardou o celular no bolso e disse para as freiras:

    Minha filhinha. Estou levando um joguinho eletrnico para ela e... Ento o homem se deu conta de que a sala de espera estava vazia e perguntou: U, j chamaram?

    Atividade: Identifique alguns elementos de cunho narrativo, que compem a crnica de Verssimo.

    Tipo de narrador:

    Espao:

    Personagens:

    Tempo:

    Tema:

    Situao inicial:

    Complicador:

    Desfecho:

    Nveis de linguagem ([in]formal)

    TEXTO (1b)

    O LEO E OS TRS TOUROS (Esopo)

    Trs touros, amigos desde longa data, pastavam juntos e tranquilos no campo. Um Leo, escondido no mato, espreitava-os na esperana de fazer deles seu jantar, mas receava atac-los enquanto estivessem em grupo.

    Finalmente, por meio de ardilosas e traioeiras palavras, ele conseguiu criar entre eles a discrdia e separ-los.

    Assim, to logo eles pastavam sozinhos, atacou-os sem medo algum, e um aps outro, foram sendo devorados sempre que sentia fome.

    Moral da Histria: Unio fora.

    (Disponvel em: http://sitededicas.uol.com.br/fabula19a.htm. Acesso em: 14/03/2011).

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    TEXTO (1c): O SAPO E O BOI (Esopo)

    H muito, muito tempo existiu um boi imponente. Um dia o boi estava dando seu passeio da tarde quando um pobre sapo todo mal vestido olhou para ele e ficou maravilhado. Cheio de inveja daquele boi que parecia o dono do mundo, o sapo chamou os amigos. Olhem s o tamanho do sujeito! At que ele elegante, mas grande coisa; se eu quisesse tambm era. Dizendo isso o sapo comeou a estufar a barriga e em pouco tempo j estava com o dobro do seu tamanho normal. J estou grande que nem ele? perguntou aos outros sapos. No, ainda est longe!- responderam os amigos. O sapo se estufou mais um pouco e repetiu a pergunta. No disseram de novo os outros sapos -, e melhor voc parar com isso porque seno vai acabar se machucando. Mas era tanta vontade do sapo de imitar o boi que ele continuou se estufando, estufando, estufando at estourar. Moral: Seja sempre voc mesmo. Disponvel em: http://www.metaforas.com.br/infantis/fabulasdata.asp . Acesso em: 14/03/2011.

    Atividade: Crie uma nova verso para a narrativa do texto (1b) ou (1c). Se sua escolha for pelo texto

    (1b), no deixe de acrescentar dilogos. Atente para estrutura do gnero: personagens animais,

    doutrinamento (moral da histria), ttulo (bem criativo!!!) para a histria, verbos no passado

    quando em dilogo, os verbos podem passar a outros tempos e modos, como presente do indicativo,

    por exemplo. Voc pode optar por: definir o espao e o tempo das aes, acrescentar outras

    personagens e escolher o tipo de narrador (1 ou 3 pessoa). O narrador deve relatar os fatos em

    linguagem padro. Procure atribuir, se possvel, comicidade a sua narrativa.

    (Trabalho a ser desenvolvido em grupo de 4 a 5 componentes).

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    2) DESCRIO

    Chamamos descrio ao tipo de construo textual em que se encadeiam os traos que servem para

    caracterizar a composio de um ambiente, de um ser vivo, de um objeto, de um conceito, de um

    evento. Azeredo (2008: 87-88)

    No modo descritivo, observam-se os verbos de ligao (no presente do indicativo ou pretrito

    imperfeito do indicativo) e expresses qualificativas (por meio de adjetivos, locues adjetivas e

    substantivos). Em publicidades, no entanto, comum encontrarmos a descrio com verbos elpticos.

    Geralmente, encontramos esse modo de organizao em gneros como crnicas, contos,

    poemas, notcias, romances, reportagens, mapas, cartazes, grficos, currculos. A seguir, temos um

    exemplo de texto, predominantemente, composto pela descrio:

    TEXTO (2a): A GUERRA DO FIM DO MUNDO

    O homem era alto e to magro que parecia sempre de perfil. Sua pele era escura, seus ossos

    proeminentes e seus olhos ardiam como fogo perptuo. Calava sandlias de pastor e a tnica azulo

    que lhe caa sobre o corpo lembrava o hbito desses missionrios que, de quando em quando,

    visitavam os povoados do serto batizando multides de crianas e casando os amancebados. Era

    impossvel saber sua idade, sua procedncia, sua histria, mas algo havia em seu aspecto tranquilo, em

    seus costumes frugais, em sua imperturbvel seriedade que, mesmo antes de dar conselhos, atraa

    pessoas.

    (VARGAS LLOSA, M. A guerra do fim do mundo. 8. ed. So Paulo: Francisco Alves, 1982).

    TEXTO (2b):

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    Atividade: Compare os textos (2a) e (2b) e comente:

    a) Como se destacam, em ambos, o modo descritivo de organizao do discurso?

    b) A descrio pode ser objetiva ou subjetiva. Em qual dos textos predomina a descrio subjetiva?

    Por qu? Apresente um exemplo.

    c) Quanto estrutura dos gneros (conto, cartaz publicitrio), comente suas diferenas a partir do:

    Narrador:____________________________________________________.

    Recursos gramaticais (formas verbais, qualificativos e pontuao):____________________

    _________________________________________________________________________

    Estrutura do texto (paragrafao, introduo, desenvolvimento, concluso).

    __________________________________________________________________________

    __________________________________________________________________________

    _________________________________________________________________________.

    d) A descrio pode ser referente a ambientes, fatos, pessoas e objetos. Qual (quais) desses

    elementos aparece(m) descrito(s) nos textos (2a) e (2b)?

    _____________________________________________________________________________

    ________________________________________________.

    e) A partir dos textos (2c) e (2d), realize o que se pede.

    Texto (2c): A dengue: o qu.

    A dengue uma doena infecciosa febril aguda causada por um vrus da famlia Flaviridae e transmitida

    atravs do mosquito Aedes aegypti, tambm infectado pelo vrus. Atualmente, a dengue considerada um dos

    principais problemas de sade pblica de todo o mundo.Em todo o mundo, existem quatro tipos de dengue, j que o

    vrus causador da doena possui quatro sorotipos: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4.No Brasil, j foram

    encontrados da dengue tipo 1, 2 e 3. A dengue de tipo 4 foi identificada apenas na Costa Rica.A dengue pode se

    apresentar clinicamente - de quatro formas diferentes formas: Infeco Inaparente, Dengue Clssica, Febre Hemorrgica da Dengue e Sndrome de Choque da Dengue. Dentre eles, destacam-se a Dengue Clssica e a Febre

    Hemorrgica da Dengue. (Fonte: http://www.combateadengue.com.br/. Acesso em: 11/01/2011)

    Texto (04): Cartaz de campanha contra a dengue

    Disponvel em:

    http://www.google.com.br/imgres. Acesso em:

    14/03/2011.

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    3) INJUNO

    A injuno consiste no emprego de formas da linguagem com que o enunciador explicita sua inteno

    de levar o destinatrio, ouvinte ou leitor, a praticar atos ou ter atitudes. (Azeredo, op. cit.: 88-89)

    Geralmente, o modo injuntivo se apresenta em formas verbais imperativas, mas comum,

    tambm, em cartas, trazer saudaes e vocativos, os quais se configuram em formas de incitao do

    leitor. Os gneros que abrigam esse modo do texto so variados: receitas mdicas e culinrias, cartas,

    publicidades. O texto seguinte ilustra esse modo de organizao:

    Texto (3a): Chuleta na presso

    Modo de preparo: Em uma panela de presso coloque o leo para esquentar quando j estiver bem quente frite a chuleta j temperada de modo que doure no precisa ficar bem frita por dentro mas dourada. Depois de todas as chuletas j fritas desligue a panela e forre o fundo da mesma panela (sem lavar) com uma camada de cebola uma de tomate uma de carne repetindo at que v toda a cebola, o tomate, e a carne. Coloque o sal e a pimenta a gosto. Feche na presso deixando cozinhar por 35 min. ou at que toda agua seque no vai agua. Depois s degustar. Bom apetite!

    Disponvel em: http://receitas.maisvoce.globo.com/Receitas/Carnes/0,,REC52390-7770-30+CHULETA+NA+PRESSAO,00.html. Acesso em: 14.03.2011.

    Atividade: Localize (sublinhando) as sequncias injuntivas nos textos (3a) e (3b)

    Texto (3b)

    Fonte: Folder dos Cartes de Crdito Santander, 2009.

    Tente sensibilizar seus amigos, parentes e vizinhos para o combate eficaz contra o mosquito da dengue. Para isso, elabore, em dupla, com um companheiro de

    turma, um cartaz de campanha, de forma criativa e chamativa. Nele, descreva, rapidamente a doena, os lugares favoritos do mosquito e os sintomas, usando, claro

    adjetivos ou locues adjetivas. Faa uso de figuras! (desenho, fotografias, recorte de revista ou jornal).

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    4) ARGUMENTAO

    Muito preferem intitular esse modo de organizao do discurso como dissertao. Na trade da

    tradio escolar h uma tendncia em identific-lo dessa forma. Contudo, tomamos o ponto de vista

    de Azeredo (2008: 86) que concebe do seguinte modo a dissertao: O conceito de dissertao

    como modo de desenvolvimento de um tema em torno do qual articulamos ideias e pontos de vista

    presta-se melhor definio de um gnero textual o ensaio. Preferimos, de acordo com o autor,

    denominar ao modo que organiza nossos ideias, argumentos, posies na defesa de uma certa

    opinio ou hiptese de ARGUMENTAO.

    A argumentao consiste no encadeamento de proposies com vista defesa de uma opinio

    e ao convencimento do interlocutor. (Azeredo, op. cit.: 88).

    A argumentao tem por princpio a defesa de uma tese, uma opinio, um ponto de vista, uma

    ideia. Para tanto, o produtor no s mobiliza uma srie de argumentos, fatos, opinies de outros autores

    ou autoridades, resultados de experimentos etc. a favor do que pretende defender, como se utiliza de

    uma srie de elementos gramaticais na elaborao de seu texto.

    Desse modo, o uso de conectivos como as conjunes subordinativas condicionais (se, caso),

    concessivos (embora, mas, mesmo que), conclusivos e explicativos (portanto, por isso, pois) ser

    bastante explorado, sobretudo, o das conjunes adversativas, ora, tambm conhecidas como

    operadores argumentativos (mas, porm, contudo, no entanto, por outro lado etc.)

    Esse o modo de organizao textual que mais nos interessar, uma vez que trabalharemos

    constantemente com ele em nossas produes acadmicas. Como ser a dissertao o gnero

    escolhido por ns, mas com o predomnio do modo argumentativo, focaremos nossas atividades,

    portanto, no texto DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO. A esse respeito, dedicar-nos-emos com mais

    detalhes nesse tpico.

    4.1 O TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO

    O texto dissertativo-argumentativo, diferentemente dos textos predominantemente1 descritivos e

    narrativos, em lugar de apresentar uma sequncia de aes ou caractersticas de um objeto, trata de

    apresentar uma sequncia de argumentos, nele, o autor expe suas ideias a respeito de um certo

    assunto. Vejamos o exemplo em um pargrafo retirado de um texto dissertativo-argumentativo:

    A gua uma das principais condies para a existncia de vida, porm a sua simples ocorrncia

    num dado local no suficiente para que a se desenvolva a vida. A gua pode existir em grandes

    quantidades, como nas superfcies geladas das regies polares, no podendo, contudo, ser utilizada por

    1 Isso significa que num texto dissertativo pode haver passagens descritivas e narrativas, e num texto narrativo pode haver passagens dissertativas e descritivas e num texto descritivo pode haver passagens dissertativas e narrativas, portanto, dificilmente haver um texto exclusivamente com uma tipologia textual somente.

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    estar solidificada na forma de cristais de gelo. Assim, torna-se importante a disponibilidade da gua

    para ser utilizada pelos seres vivos.

    (In: TUFANO, D. Estudos de Redao. So Paulo: Moderna, 1985)

    Como podemos perceber o texto supracitado apresenta etapas em sua estrutura. Observe que o

    texto comea com a afirmao de que a gua uma das principais condies para a existncia da

    vida, mas, logo a seguir, o autor adverte: porm a sua simples ocorrncia num dado local no

    suficiente para que a se desenvolva a vida. Essa ltima frase contm o tpico frasal ou a ideia

    central, que vai ser explora pelo autor no resto do pargrafo. Em seguida, encontramos dispostas as

    ideias e argumentos de apoio, que justificam a ideia central: nesse caso, o exemplo dado das regies

    polares, onde existe quantidade e gua, mas em estado slido, no sendo, por isso, disponvel.

    Desenvolvida a ideia central, o produtor fecha o pargrafo com uma concluso (Assim, torna-se...).

    4.1.1 Organizao do texto dissertativo-argumentativo

    TTULO: uma expresso curta, objetiva, normalmente, sem verbos, relacionada com o tema.

    TEMA: assunto sobre o qual voc ir escrever, ou ideia que ser defendida na composio.

    INTRODUO: prope a ideia-ncleo da dissertao, devendo ser clara, precisa e preparatria.

    Localiza e caracteriza o fato.

    DESENVOLVIMENTO: consiste em ordenar, progressivamente, os dados, opinies, aspectos

    que o tema envolve e tambm fundament-los por meio de razes, exemplos e provas. Nesta

    parte, apresentam-se os argumentos pr e/ou contra acerca de uma ideia.

    CONCLUSO: nesta parte, o produtor do texto encerra seu texto de forma sinttica e clara

    expondo sua posio assumida (e oferecendo a possibilidade de soluo para o problema

    levantado).

    4.1.2 Estrutura do texto dissertativo-argumentativo

    Basicamente, divide-se esse texto em trs partes fundamentais:

    4.1.2.1 Como elaborar, na prtica, um texto dissertativo-argumentativo: passo a passo

    1 Identifique o tema a ser dissertado. Leia-o e compreenda-o, o quanto puder.

    2 Tente parafrasear o tema, ou seja, reescreva-o com suas palavras.

    INTRODUO: do tema e apresentao da tese. Construda, de modo geral, por um pargrafo.

    DESENVOLVIMENTO: do tema. Elenco dos argumentos. Normalmente, apresenta mais de um pargrafo.

    CONCLUSO: do tema, com uma [possvel] soluo para o problema levantado.

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    3 Transforme o tema em pergunta.

    POR QUE + TEMA = ARGUMENTOS A FAVOR DA TESE

    4 As respostas sero os argumentos os quais utilizar para compor os pargrafos do desenvolvimento de seu

    texto.

    APLICAO 01

    Tema: No terceiro milnio, o homem ainda no conseguiu resolver graves problemas sociais.

    Por qu +Tema reescrito:

    POR QU os problemas sociais ainda so entraves para o homem do terceiro milnio?

    a) Argumento 01: Porque falta ao homem a conscincia social.

    b) Argumento 02: Porque a acomodao diante dos problemas ainda existe.

    c) Argumento 03: Porque h motivos polticos, sociais e religiosos envolvidos.

    A humanidade e seus velhos problemas TTULO

    Os problemas sociais ainda so entraves para o homem do

    terceiro milnio, pois lhe falta conscincia social, alm de uma

    acomodao diante deles, tudo isso agravado por motivos polticos,

    sociais e religiosos.

    INTRODUO

    APRESENTAO DO TEMA

    REESCRITO + CONECTOR (J

    QUE, POIS, POR ISSO, ASSIM,

    DESSE MODO, UMA VEZ QUE,

    POR CAUSA DE ETC.) +

    ARGUMENTOS

    Uma m distribuio das riquezas leva a uma grave injustia

    social, enquanto alguns desperdiam fortunas, muitos passam

    fome.

    DESENVOLVIMENTO DO

    PRIMEIRO ARGUMENTO

    A indiferena perante a pobreza, a misria, a falta de moradias,

    o desemprego cria geraes revoltadas, o que leva os problemas

    sociais a se perpetuarem.

    DESENVOLVIMENTO DO

    SEGUNDO ARGUMENTO

    Muitos afirmam que as diferenas humanas tornam a sociedade

    dinmica. Porm, h diferenas que acentuam a excluso, como as

    dissidncias polticas, a falta de dilogo entre as religies, os quais

    DESENVOLVIMENTO DO

    TERCEIRO ARGUMENTO

    (Nesta parte, interessante abrir

    com um argumento contra a

    ideia defendida. Em seguida,

    apresentar o terceiro argumento

    a favor do ponto de vista

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    fazem o home tornar-se mais sectrio e, consequentemente,

    egosta.

    defendido e contra o argumento

    do incio do pargrafo. Para

    fazer a coeso entre os

    argumentos, use os

    OPERADORES

    ARGUMENTATIVOS: MAS,

    PORM, NO ENTANTO,

    CONTUDO, TODAVIA, NO

    OBSTANTE.

    O terceiro milnio, portanto, chegou para a humanidade com os

    mesmos problemas dos sculos atrs. Com isso, necessrio

    despertar a humanidade para que resgate valores humansticos,

    ticos e sociais at ento adormecidos.

    REAFIRMAO DO TEMA +

    CONCLUSO

    Fique atento!

    Na concluso so bem vindos os conectores conclusivos, como portanto, assim, logo, ento.

    Ou expresses como: em virtude disso, em virtude do exposto, diante disso, dessa

    forma/desse modo, com isso.

    NO USE: conclui-se que..., Diante disso, chega-se concluso de que..., pois todos j

    sabem que se trata de um pargrafo conclusivo.

    A quantidade de pargrafos do DESENVOLVIMENTO depender da quantidade de

    argumentos que voc apresentar. Procure, apresentar, pelo menos, dois argumentos.

    A ANTITESE um argumento contrrio ideia que voc est defendendo em seu texto. No

    entanto, ele no precisa aparecer no terceiro pargrafo, contrariando o terceiro argumento.

    Pode aparecer no primeiro ou no segundo, desde que seja contrrio ao argumento seguinte.

    importante ressaltar que voc pode apresentar vrios argumentos antitese que quiser, com

    tambm tem a opo de no apresent-los em seu texto. Porm, saiba: o argumento

    anttese, embora no obrigatrio, oferece ao texto dissertativo, maior fora

    ARGUMENTATIVA.

    APLICAO 02

    Tema: O racismo um dos comportamentos ignbeis capaz de levar a autodestruio do homem.

    Por que + tema reescrito:

    Por que o racismo , entre os comportamentos vis humanos, o que capaz de fazer com que o

    homem se autodestrua?

    a) Argumento 01: Porque o racismo gera desigualdades sociais

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    b) Argumento 02: Porque em nome do racismo o homem se sente superior ao outro e promove a

    guerra.

    Racismo: um problema do homem para com o prprio homem

    inegvel que o racismo um, entre os comportamentos vis humanos, capaz de fazer o homem

    autodestruir-se, j que o racismo traz consigo desigualdades sociais e faz com que o homem se sinta

    melhor ou superior que o outro, promovendo a guerra.

    Alguns j afirmam que, no Brasil, o racismo est acabando, porm o contracheque tem

    mostrado o contrrio. Os jornais, frequentemente, divulgam a notcia de que, no mercado de trabalho, o

    salrio de um trabalhador negro ainda bem menor do que o de um trabalhador branco.

    Consequentemente, um branco, por ganhar mais, ter mais acesso aos bens e servios o que tornar

    sua qualidade de vida possivelmente maior do que a de um negro.

    Outro problema motivado pelo racismo est nas guerras, promovidas por um grupo, o qual se

    sente superior, contra outro, visto como inferior. Em nome da chamada raa pura, justificou-se o

    extermnio de centenas de milhares de judeus em campos de concentrao. O mesmo se diga do

    regime poltico sul-africano, conhecido como apartheid, que previa a tortura, a priso e, inclusive, a

    morte daquele que ousasse invadir o espao dos brancos.

    Diante do exposto, percebemos que, entre as armas de poder de destruio, est o racismo, to

    vil e dissimulado. importante que a sociedade, sobretudo os grupos, vtimas de aes racistas,

    motivem atitudes de solidariedade entre as pessoas, lutem por leis que combatam o racismo e eduquem

    as prximas geraes para formarem sociedades antirracistas e compostas pela nica raa que existe,

    a raa humana.

    Atividade: com base nos temas, apresentados, abaixo, escolha UM e disserte de acordo com as

    tcnicas aprendidas. Ateno! Ao fazer sua escolha por um tema, considere o seguinte: voc deve

    procurar ler textos relacionados ao tema, capazes de gerar argumentos para a sua dissertao.

    a) A existncia da gua um dos elementos fundamentais para o desenvolvimento da vida.

    b) O esporte constitui-se uma forma de convivncia humana pacfica.

    c) A publicidade no s vende produtos, como tambm vende sonhos.

    d) Os perigos que oferecem as redes sociais.

    e) A televiso desempenha importante papel na vida da criana.

    REFERNCIAS

    AZEREDO, J. C. Gramtica Houaiss da Lngua Portuguesa. 2. ed. So Paulo: Publifolha, 2008. GARCIA, Othon M. Comunicao em prosa moderna. 26. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2007.

  • 13

    LAGE, N. Estrutura da notcia. So Paulo: tica, 2006. [Srie Princpios] MARCUSCHI, L. A. A. Gneros textuais: definio e funcionalidade. In: DIONSIO, A. P. et. al. (orgs.). Gneros textuais e ensino. 5. ed. So Paulo: Lucerna, 2007.