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Introdução O presente trabalho enquadra-se no âmbito da cadeira da Antropologia em Moçambique e visa fundamentalmente efectuar um estudo descritivo das campanhas antropológicas da Missão Antropológica em Moçambique. O trabalho releva-se na medida em que ajuda os estudantes da cadeira de Antropologia em Moçambique a perceber em que substrato intelectual, politico, social e económico em que os estudos antropológicos surgem em Moçambique. Estes estudos surgem na tutela da Junta das Missões Geográficas e Investigações Coloniais (JMGIC) que estava intimamente ligada ao governo colonial. Neste trabalho procura-se descrever de uma forma detalhada o objecto de análise, os métodos usados para a recolha dos dados, resultados e o seu impacto na metrópole como nas colónias. Procura-se também identificar os objectivos de cada uma das campanhas e as suas zonas de foco. Para a elaboração deste trabalho usou-se o método de revisão bibliográfica, e análise dos documentos que se relacionam com esta temática.

Trabalho de Antropologia Em Mocambique

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Page 1: Trabalho de Antropologia Em Mocambique

Introdução

O presente trabalho enquadra-se no âmbito da cadeira da Antropologia em Moçambique e visa

fundamentalmente efectuar um estudo descritivo das campanhas antropológicas da Missão

Antropológica em Moçambique.

O trabalho releva-se na medida em que ajuda os estudantes da cadeira de Antropologia em

Moçambique a perceber em que substrato intelectual, politico, social e económico em que os

estudos antropológicos surgem em Moçambique. Estes estudos surgem na tutela da Junta das

Missões Geográficas e Investigações Coloniais (JMGIC) que estava intimamente ligada ao governo

colonial.

Neste trabalho procura-se descrever de uma forma detalhada o objecto de análise, os métodos

usados para a recolha dos dados, resultados e o seu impacto na metrópole como nas colónias.

Procura-se também identificar os objectivos de cada uma das campanhas e as suas zonas de foco.

Para a elaboração deste trabalho usou-se o método de revisão bibliográfica, e análise dos

documentos que se relacionam com esta temática.

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1. As campanhas da Missão Antropológica

Segundo Rodrigues os trabalhos de investigação no âmbito das missões antropológicas foram

iniciadas no longínquo ano de 1936 e findos no ano de 1946 e estavam na tutela da Junta das

Missões Geográficas e Investigações Coloniais (JMGIC). Estes estudos, continua a autora, visavam

obter um conhecimento científico sobre as então províncias ultramarinas e “que não se confundia

com a memória ou “tradição oral” das suas populações. Estes estudos segundo afirma a autora

estavam na direcção do professor Mendes Corrêa, que era um professor de Antropologia na

Faculdade de Ciências da Universidade de Porto.

1.1. A Primeira e Segunda campanhas

A primeira campanha da missão antropológica e etnológica de Moçambique iniciou, segundo

Rodrigues a 30 de Julho de 1936, e foi encabeçada por Dr. Santos Júnior, assistente escolhido pelo

professor Mendes Corrêa. Aquele descobriu a primeira estação da idade da pedra em Moçambique,

vale do Zambeze, no ano de 1936: a estação lítica de Marissa.

Esta campanha tinha como objectivo efectuar estudos bioétnicos, segundo advoga a autora acima

citada, e notou-se um forte uso do trabalho de campo como fonte de recolha de dados; facto este

explicado pela autora como sendo uma influência da teoria funcionalista.

De acordo com Júnior estes estudos foram feitos na região de Tete, onde os estudos centralizavam-

se em fazer a colheita antropológica estudando os mesmos, pertencentes a grupos étnicos dos

Nhúngues. O bom rendimento das medições das estaturas dos indígenas foi garças a ajuda de alguns

administradores portugueses.

Em cada indivíduo ele fazia 62 medições antropométricas além de do registo de numerosos

caracteres descritivos, levando um pouco de uma hora para fazer o mesmo estudo por indígena.

Depois de Tete, ele segui para outras localidades, assim como, Angonia (vila coutinho) – Macanga

(Furankungo – Chifumbaze, isso no dia 11 de Outubro. Aqui o seu alvo de estudo de colheita eram os

Antumbas onde também tirou medidas neles num numero de 29 Antumbos e 6 Angones ou

mestiços.

Em chifumbaze observou pela mata e vários locais quando caminhava diversas figuras pitorescas,

pintadas de vermelho-claro, vermelho com cor de tijolo, descobrindo uma sobre posição nas

pinturas que as mesmas figuras eram difíceis de distinguir limites preciosos a muitos desses sinais.

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Em Chicarone, ele fez o seu estudo com certas dificuldades, não por falta de material, mas também

por ter conseguido arranjar a meia dúzia de pretos carregadores. De salientar que Júnior no seu

estudo do povo de chicarone, tirou notas etnográficas, fotografias e desenhos, encontrando uma

semelhança de tatuagem na pele, no ventre e membros no povo chifambaze e o povo dos

Nhungues de Tete.

Houve dois trabalhos publicados que foram considerados pioneiros no estudo da antropo-biologia:

os grupos sanguíneos de Tete e Zambézia; estudos da idade da pedra em Moçambique, estudo de

tatuagem em relevo e anomalias dos membros em negros da Zambézia portuguesa.

Nota-se nas leituras feitas que a primeira e a segunda campanhas tinham a mesma a essência, isto é,

visavam efectuar um estudo das características físicas dos grupos étnicos. A segunda campanha,

segundo Rodrigues, iniciou, em 1937 e ainda estava agregada à Missão Geográfica de Moçambique.

Os estudos efectuados nas duas campanhas possibilitaram:

- Concluir que os negros de Moçambique eram “mamíferos anómalos”;

- A realização dos estudos na metrópole (Coimbra, Porto e Lisboa) e boa parte destes trabalhos

foram apresentados no I Congresso Nacional de Antropologia Colonial.

2.3. A quarta Campanha da Missão Antropológica em Moçambique (Maio – Novembro de 1946)

O objectivo desta campanha era o de efectuar uma pesquisa etnográfica, arqueológica e biológica de

modo a produzir conhecimento profundo e dar uma nova orientação ao negro. Verifica-se nesta

campanha uma introdução de testes psicotécnicos para o controle da capacidade do indígena e

agrupá-los segundo sua inclinação profissional. Por exemplo, das várias estudas concluiu-se que os

Alolos eram menos inteligentes que os swahilis.

O Dr. António Augusto, citado por Júnior, afirma que “quando se conhece bem a média intelectual

de cada tribo, poderá determinar-se o seu melhor aproveitamento, indagar-se a causa do atraso ou

deficiência mental onde for notada e tentar remover” (Júnior 1950:457). Nota-se as conotações

utilitaristas e políticas de que estudos antropológicos estavam impregnados.

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Conclusão

Conclui-se que os estudos antropológicos em Moçambique surgem no âmbito da tentativa de tornar

a colonização num processo científico e conforme podemos constatar acima estes estudos visavam

obter dados sobre os “indígenas” com o intuito de conhecê-los para melhor aproveitá-los como

força de trabalho.

O trabalho foi efectuado com base na análise bibliográfica no arquivo histórico e notou-se uma forte

carência de fontes sobre esta matéria e isto impossibilitou a análise das segunda, terceira, quinta e

sexta campanhas o que de uma certa forma fez com que se produzisse um conhecimento parcial

sobre esta temática.