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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS – GRADUAÇÃO “LATO SENSU” ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICO – FINANCEIRA PARA A EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DE PETRÓLEO NO PRÉ – SAL Por: Luciana Souza Silva Orientador Prof. Luis Cláudio Lopes Alves Rio de Janeiro 2009

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS – GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICO – FINANCEIRA PARA

A EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DE PETRÓLEO NO PRÉ – SAL

Por: Luciana Souza Silva

Orientador

Prof. Luis Cláudio Lopes Alves

Rio de Janeiro

2009

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS – GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICO – FINANCEIRA PARA

A EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DE PETRÓLEO NO PRÉ – SAL

Monografia apresentada ao Instituto A

Vez do Mestre – Universidade Cândido

Mendes como parte dos requisitos

para a obtenção do Grau de

Especialista em Finanças e Gestão

Corporativa.

Por: Luciana Souza Silva

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais e ao meu

marido pelo apoio e paciência ao longo

dessa jornada.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu avô,

Argemiro (in memorian), exemplo de

caráter e humildade.

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RESUMO

As descobertas de petróleo na camada Pré – Sal no Brasil, fizeram

surgir inúmeras questões que hoje povoam discussões em diversos

meios. Sabe – se que os desafios envolvidos no desenvolvimento de seus

campos são de grandes proporções e, por conseguinte, os investimentos

para tal. Após a queda abrupta do preço do barril de petróleo no período

de um ano, oscilando de algo em torno dos US$ 145.00 aos US$ 35.00,

dúvidas surgiram quanto a viabilidade dos campos do Pré – Sal. Embora

as informações existentes hoje ainda sejam escassas para a realização do

estudo de viabilidade, procuramos neste trabalho estimar os custos de

exploração e produção e assim determinar a que preço do barril o Pré –

Sal apresenta – se viável.

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METODOLOGIA

A metodologia empregada no desenvolvimento do presente

trabalho consiste na consulta a livros, jornais, revistas, relatórios

publicados por empresas do ramo petrolífero, web sites, leitura de artigos

de profissionais da área de economia, finanças e petróleo, além da coleta

de dados por meio de entrevistas realizadas com especialistas em

exploração e produção de petróleo a fim de obter o máximo de

informações relacionadas aos custos de desenvolvimento dos campos do

pré – sal.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 7

CAPÍTULO I

O PETRÓLEO 9

CAPÍTULO II

ANÁLISE DE INVESTIMENTOS 33

CAPÍTULO III

ESTUDO DE CASO 46

CONCLUSÃO 52

BIBLIOGRAFIA 53

ÍNDICE 54

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INTRODUÇÃO

O petróleo é a principal fonte de energia do mundo, sendo inegável a

sua importância como estrutura ao desenvolvimento da atividade econômica

global.

A descoberta das reservas no pré-sal trouxe consigo grandes

expectativas no que se refere à retomada do crescimento do Brasil, ao fomento

de projetos sociais, ao aumento de seu parque industrial, ao desenvolvimento

tecnológico, à consolidação do petróleo brasileiro no cenário mundial.

Concomitantemente, questões relacionadas ao custo de

desenvolvimento da seção pré-sal também afloraram. Grandes são os

desafios. O emprego dos recursos técnicos, tecnológicos e logísticos

necessários à execução do projeto demanda investimentos elevados.

Ainda, nesse contexto, o mundo se depara com a queda abrupta da

cotação do barril do BRENT, variando de um pico de US$ 145.66 a um mínimo

de US$ 34.04.

Dentro desse cenário, surge a indagação: Até que patamar a queda

do preço do barril de petróleo ainda torna viável a exploração e produção

no pré-sal?

As reservas de óleo contidas na seção Pré-Sal apresentam,

indubitavelmente, grande importância econômica e estratégica para o Brasil.

Analistas estimam que toda a região, que se estende pela costa dos estados

do Espírito Santo a Santa Catarina, pode conter algo em torno de 100 bilhões

de barris.

Os desafios para extração do petróleo são imensos, pois está localizado

em águas ultraprofundas, abaixo da camada de sal, o que significam 7 km a

serem vencidos, entre lâmina d´água, rochas, camada de sal e reservatório.

Os montantes envolvidos em qualquer projeto que envolva Exploração e

Produção de Petróleo são conhecidamente de grandes proporções. Diferente

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não é para o Pré – Sal. Ao contrário, grandes investimentos serão necessários

para que se proceda a extração do óleo e gás de seus reservatórios.

Assim, devido aos vultosos investimentos que serão demandados, às

oscilações da cotação do barril de petróleo, revela – se de fundamental

importância a realização de um estudo de viabilidade econômico – financeira,

procedendo – se a uma série de análises detalhadas do mercado, utilizando –

se de critérios auxiliares para a tomada de decisão, tais como o VPL, a TIR, o

PAYBACK, para então determinar se é viável a execução do projeto.

O presente trabalho tem como objetivo levantar os custos envolvidos

para a exploração e produção dos campos do Pré-Sal e realizar um estudo de

viabilidade econômica e financeira do desenvolvimento de seus campos em

função do preço do barril de petróleo.

Apresenta, ainda, como demais objetivos conceituar o petróleo,

abordando aspectos relacionados à sua composição química, formação e tipos

de óleos existentes; explicar a evolução da indústria do petróleo, no Brasil e no

mundo, destacando os choques do petróleo e ainda tratar de aspectos de

exploração e produção; apresentar informações sobre o pré – sal, sua

localização, formação e tamanho; explicar os desafios técnicos, tecnológicos e

logísticos envolvidos no desenvolvimento do pré – sal; conceituar estudo de

viabilidade econômico – financeira e descrever sua importância; definir os

diversos tipos de critérios e ferramentas utilizados em um estudo de viabilidade

econômico – financeiro e explicar a aplicabilidade de cada um deles; descrever

as etapas de Exploração e Produção envolvidas no desenvolvimento dos

campos de petróleo, analisando os custos de cada fase.

No primeiro capítulo, são abordados tópicos relacionados ao conceito,

origem e formação do petróleo, a evolução da indústria e, ainda, trata de

informações sobre o Pré – Sal, tais como localização, formação, tamanho e os

desafios envolvidos no desenvolvimento dos seus campos.

O capítulo segundo refere – se à conceituação e importância de um

estudo de viabilidade econômico – financeira para a tomada de decisão,

apontando alguns critérios e ferramentas utilizados no desenvolvimento do

estudo.

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Por fim, no terceiro capítulo, será apresentado o estudo para o caso

proposto, com o detalhamento das etapas e custos envolvidos no

desenvolvimento dos campos do Pré – Sal.

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CAPÍTULO I

O PETRÓLEO

O petróleo é um marco no desenvolvimento da humanidade, tendo

modificado de forma permanente a vida do homem. Uma das substâncias mais

cobiçadas do mundo, além de ser a principal fonte energética do planeta, é

matéria – prima para a produção de inúmeros compostos que dão origem a

produtos considerados imprescindíveis para as facilidades e comodidades da

vida moderna.

A indústria petrolífera provoca fascínio pela sua grandeza, pelas somas

elevadas de recursos financeiros que movimenta, pelo número de profissionais

que reúne, pelas diversas áreas de conhecimento envolvidas: engenharia,

geologia, direito, economia, administração. Tudo o que se relaciona ao petróleo

é grandioso.

Não há dúvidas da sua importância estratégica no cenário mundial. A

detenção de reservas e o domínio tecnológico para sua produção representam

hoje fator determinante para o desenvolvimento de países emergentes.

Sonia Shah, jornalista norte – americana, autora do livro Crude: The

Story of Oil, resume muito bem porque o petróleo dominou o mundo:

“Era uma vez uma sociedade que, para tornar a vida

mais confortável, utilizava principalmente árvores. Bebês

choravam em berços de madeira enquanto a casa era

aquecida pela queima de lenha. Hoje, o petróleo – e os

produtos e as máquinas que dele necessitam – penetraram

todos os aspectos da vida no planeta. Usa – se o ‘ouro

negro’ para colocar os carros em movimento, fazer os

aviões voar, aquecer e iluminar casas, esterilizar hospitais

e encher supermercados de frutas e legumes. Crianças

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vêm ao mundo com a ajuda de mãos vestidas por luvas

sintéticas, são envolvidas em cobertores de poliéster e

levadas rapidamente para ambientes climatizados por

aquecedores a óleo. Praticamente tudo sobre a Terra é

transportado por máquinas movidas a petróleo, que se

locomovem sobre estradas pavimentadas com derivados

do mesmo. Os mais corriqueiros produtos do dia – a – dia

chegam – nos empacotados em embalagens plásticas

também provenientes de petróleo.”(SHAH,2007,P.241)

Assim, tendo em vista a magnitude do petróleo, a seguir serão

dedicados alguns tópicos ao estudo dessa fabulosa substância que

revolucionou o mundo.

1.1 – Conceito, Origem e Formação do Petróleo

A palavra petróleo tem sua origem no latim petra (pedra) e oleum (óleo).

De acordo com THOMAS (2004), quando no estado líquido, corresponde a

uma substância oleosa, inflamável, menos densa que a água, possuindo cheiro

característico e cor que varia entre o negro e o castanho – claro.

Constitui – se, basicamente, de uma mistura de compostos químicos

orgânicos, chamados hidrocarbonetos. Seu estado físico é determinado pelo

tamanho das moléculas que contém, ou seja, em condições normais de

pressão e temperatura, um percentual elevado de moléculas pequenas

determina o estado físico gasoso, já moléculas maiores estão associadas ao

estado líquido. (THOMAS, 2004, P. 4)

O petróleo origina – se a partir do depósito de sedimentos e matéria

orgânica. Os sedimentos, produtos da erosão e da ação do tempo, escorregam

pela terra, são acomodados em poças, arrastados por córregos e por fim

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chegam ao mar. SHAH (2007) explica o fluxo: os rios correm em direção ao

oceano, carregando areia e sedimentos; quando se aproximam, seu fluxo

desacelera, e os sedimentos suspensos começam a afundar. Assim, as

camadas de sedimentos vão, aos poucos, aumentando no solo marinho; as

mais profundas são enterradas progressivamente, transformando – se em

pedra devido à compressão provocada por pesos cada vez maiores.

No solo marinho, restos de plâncton e outros sedimentos se misturam

com os sedimentos oriundos dos rios, podendo cobri – lo com cerca de 0,1

milímetros de matéria orgânica por ano, que chega a alcançar uma espessura

de cerca de um quilômetro após dez milhões de anos. Sabe – se que a maior

parte da matéria orgânica que começa a afundar nunca atinge o fundo do mar,

pois é comida por peixes ou destruída por bactérias. Entretanto, em

determinados momentos e locais, os sedimentos orgânicos são preservados e

enterrados, possibilitando a sua transformação em petróleo, caso observadas

condições adequadas para sua formação. Essa lama é uma precursora do

petróleo, composta em boa parte por carbono. (SHAH, 2007, P. 15)

As carcaças de plâncton, que são ricas em hidrocarbonetos (fusão de

carbono com hidrogênio), juntam – se aos sedimentos no fundo do mar,

enterrando cada vez mais fundo as camadas no leito oceânico. Com o avanço

dos sedimentos quilômetros adentro no subterrâneo, a água armazenada é

expelida das matérias compactas. Como já mencionado, a maior parte da

matéria orgânica provém dos plânctons que, por sua vez, são formados por

hidrocarbonetos, repelentes de água, enriquecendo, assim, as camadas com

esses compostos. Tais camadas, ricas, portanto, em hidrocarbonetos, se

endurecem após milhões de anos, resultando em finas lâminas de uma rocha

com cor variando entre o marrom e o negro.

As camadas sedimentares, depois de enterradas em regiões bem

profundas, a pelo menos dois quilômetros abaixo da superfície, transformar –

se – ão em uma argila xistosa abundante em hidrocarbonetos, que, sob

pressões cada vez maiores devido à aproximação ao centro da terra, será

lentamente aquecida. Após milhares de anos, os hidrocarbonetos presentes

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nas rochas são transformados. O calor quebra as moléculas maiores, fazendo

com que fiquem cada vez menores e, assim, os hidrocarbonetos tornam – se

mais leves, menos viscosos e muito mais voláteis, preenchendo a chamada

rocha fonte ou geradora. (SHAH, 2007, P. 17)

Conforme THOMAS (2004), as diferentes faixas de temperatura a que

são submetidas a matéria orgânica determinam estágios diversos de

transformação, e, conseqüentemente, a variedade dos produtos gerados, como

metano bioquímico, hidrocarbonetos líquidos, gás, grafite, gás carbônico (Fig.

1.1 e Fig. 1.2)

Figura 1.1 Esquema geral de evolução da matéria orgânica (TISSOT

e WELTE, 1984).

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Figura 1.2 Transformação termoquímica da matéria orgânica e

geração do petróleo (THOMAS, 2004)

Portanto, segundo THOMAS (2004), pode – se dizer que o processo de

geração de petróleo, em resumo, é resultado da captação da energia solar, por

meio da fotossíntese, e a transformação da matéria orgânica com o auxílio do

fluxo de calor proveniente do interior da Terra.

A rocha geradora por si só, não é suficiente para que se verifique uma

acumulação de petróleo e, menos ainda, a formação de uma jazida. Para tal,

outras condições devem ser obrigatoriamente atendidas. Dessa forma, após o

processo de geração, ainda deve ocorrer a migração, a acumulação em uma

rocha reservatório, a existência de rocha selante e de armadilhas para conter a

migração.

De acordo com THOMAS (2004), o petróleo é expulso da rocha de onde

foi gerado, transitando por uma rocha porosa e permeável, até que seja

interceptado e contido por uma armadilha geológica. O petróleo migrado,

portanto, acumula – se em uma rocha denominada reservatório, que pode ter

qualquer origem ou natureza, devendo, contudo, apresentar espaços vazios

(porosidade) e interconectados (permeabilidade). A acumulação será garantida

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pela existência de uma barreira que possa impedir que o petróleo migrado se

perca, chamada de rocha selante, caracterizada por sua baixa permeabilidade

e plasticidade (Fig 1.3).

Figura 1.3 Rochas geradoras, reservatórios e selantes (THOMAS,

2004)

Por fim, a jazida será formada quando, além dos requisitos já explicados,

ocorrer a formação de trapas ou armadilhas (Fig. 1.4), isto é, elementos

arquitetônicos que se tornam abrigos para a contenção de fluidos.

Figura 1.4 Tipos de formações de trapas ou armadilhas

(http://cpgf.ufpa.br, acesso em 11/07/2009)

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1.2 – A Indústria do Petróleo

O petróleo já era conhecido pelos povos da Antigüidade. Entretanto, sua

utilização era bem diferente da destinação que hoje lhe é dada. Chegou a ser

utilizado como vedação à prova de água em casas e embarcações, como

material bélico e até como símbolo sagrado, tendo o seu uso sido limitado e

considerado quase que inútil e inadequado , pois era muito combustível.

Por volta de 1850, nos Estados Unidos da América, o petróleo passou a

ser retirado na Pensilvânia e empregado como remédio para conter uma série

de doenças que assolava o país.

Marco do início da exploração comercial do petróleo data de 1859,

quando, em Tittusville, Pensilvânia, o famoso Coronel Drake, ex – maquinista,

perfurou um poço de 21 metros de profundidade, valendo – se de um sistema

de percussão movido a vapor e descobriu – se que a destilação do óleo gerava

querosene, empregado na iluminação. (THOMAS, 2004)

Contudo, deve – se ressaltar que, nessa época, século XIX, o único

derivado do petróleo considerado útil era justamente o querosene, que passou

a ser produzido ao máximo pelas refinarias norte – americanas, uma vez que

substituía, com uma boa margem de lucro, o querosene obtido a partir do

carvão e o óleo de baleia, produtos amplamente utilizados para iluminar as

noites. (SHAH, 2007)

Outro nome de destaque na história da indústria do petróleo é John D.

Rockefeller, empreendedor de Nova York que construiu fortuna no mercado de

querosene. Fez com que seus negócios se tornassem altamente lucrativos por

meio da expansão de seu império petrolífero e dominação dos mercados. Para

tal, criava empresas de fachada visando à desvalorização de seus

concorrentes, forçando – os a abandonar seus empreendimentos.

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Segundo YERGIN (2008), a descoberta da lâmpada incandescente por

Thomas Edison em 1879, abriu espaço para a energia elétrica, e fez a

demanda por querosene diminuir drasticamente, obrigando os barões do

petróleo, que ainda nadavam em óleo, a encontrar um novo mercado. O

advento do automóvel, a construção de estradas de asfalto, criou um novo e

sedento mercado para a indústria do petróleo. A invenção dos motores a

gasolina e a diesel, derivados até então desprezados, renderam lucros

expressivos à atividade petrolífera.

Em 1909, o império de Rockefeller foi desmontado, com a aplicação de

uma lei antitruste chamada Sherman Antitrust Act, de 1890. A batalha judicial

que durou quase 10 anos desmembrou a Standard Oil em diversas

companhias para que se descaracterizasse o monopólio. Suas subsidiárias,

contudo, conseguiram se reerguer, transformando – se em companhias

gigantes. (SHAH, 2007).

Após o desenvolvimento de um novo método de perfuração de poços

nos EUA em 1900, o processo rotativo de perfuração, que representou um

marco importante na história do petróleo, mais poços foram perfurados e o

aperfeiçoamento da técnica possibilitou a perfuração de poços cada vez mais

profundos.

A crescente busca pelo petróleo levou a importantes descobertas de

reservas nos EUA, Venezuela, Trinidad, Argentina, Borneu e Oriente Médio. Os

Estados Unidos detinham a hegemonia da produção até 1945, acompanhado

de países como Venezuela, México, Rússia, Irã e Iraque. Entretanto, finda a

Segunda Guerra Mundial, o novo quadro geopolítico e econômico que se

delineou também incluiu a indústria do petróleo. Assim, embora os EUA ainda

na década de 50 ainda figurassem como detentores de metade da produção

mundial, um novo pólo produtor começa a se firmar no hemisfério oriental.

Deve – se destacar que essa década foi marcada também por uma forte

atividade exploratória, com intensificação das incursões marítimas, culminando

com o surgimento de novas técnicas exploratórias. (THOMAS, 2004)

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Seguindo a linha do tempo, pode – se dizer que a década de 60,

conforme THOMAS (2004), foi marcada pelo registro da abundância de

petróleo disponível no mundo. O consumo sem limites foi favorecido pelo

excesso de produção de óleo, em conjunto com os preços baixos praticados

pelo mercado. Oriente Médio e União Soviética revelam grande sucesso

exploratório, com expressivas reservas de óleo e gás respectivamente.

A exploração das jazidas do Oriente Médio por companhias petrolíferas

ocidentais, que buscavam sempre a maximização do lucro, culminou na

fundação da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que

expulsou tais companhias do território de seus países membros, assumindo as

jazidas e declarando que o petróleo seria extraído por empresas estatais, a

uma taxa determinada pelo governo. (SHAH, 2007)

Elevações drásticas nos preços do petróleo assinalam a década de 70.

Com isso, as grandes descobertas realizadas no Mar do Norte e no México

passam a ser economicamente viáveis. As grandes reservas dos EUA

demonstram – se esgotadas, cabendo a eles o aprimoramento de técnicas para

localização de reservas de menor porte. Verificam – se nessa época grandes

avanços tecnológicos no que se refere aos dispositivos de aquisição,

processamento e interpretação de dados sísmicos, e nos processos de

recuperação de petróleo de jazidas já conhecidas. (THOMAS, 2004)

Em 1973, 55 milhões de barris de petróleo eram produzidos por dia,

sendo metade oriundo do Oriente Médio. Todo esse petróleo era integralmente

consumido pelo mundo industrializado. Nesse mesmo ano, Egito e Síria

atacaram Israel na tentativa de reconquistar os territórios da Península do

Sinai, Faixa de Gaza, Cisjordânia e Colinas de Golã, perdidos em 1967. Os

EUA imediatamente reagiram, enviando ajuda a Israel. A OPEP, então, decidiu

se impor e tomar uma atitude. Seus membros reduziram a produção e

embargaram o envio de petróleo aos EUA e Holanda. Em seis meses, o preço

do barril saiu de US$ 3.00 para US$ 12.00, dada à sua escassez. O efeito nas

economias dependentes do petróleo foi severo e duradouro. Os preços ao

consumidor dobraram, as taxas de desemprego cresceram, assim como os

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índices inflacionários. Esse evento ficou conhecido como o Primeiro Choque do

Petróleo, que seria seguido pelo Segundo Choque em 1979, quando

fundamentalistas islâmicos depuseram o Xá do Irã. O então presente

americano Carter anunciou a “Doutrina Carter”, que seria uma espécie de

tolerância zero por parte dos EUA a qualquer ato hostil que pudesse

interromper o fluxo de petróleo do Golfo Pérsico, utilizando – se dos meios que

fossem necessários para contê – los. (SHAH, 2007)

A ira da Doutrina Carter atingiu o Iraque em agosto de 1990, quando

tentou anexar o Kuwait, país rico em reservas de petróleo. A resposta dos EUA

veio de forma devastadora, com a imposição de sanções e bombardeios

aéreos.

No campo tecnológico, os avanços ocorridos nas décadas de 80 e 90

possibilitaram a redução dos custos de exploração e produção, favorecendo a

indústria petrolífera. Para se ter uma idéia, as reservas mundiais provadas em

1996 eram 60% maiores que em 1980, sendo que os custos de prospecção e

produção foram reduzidos em 60% no mesmo período. (THOMAS, 2004)

O petróleo se consolidou como principal fonte energética do mundo e foi

além. O advento da petroquímica permitiu a produção de centenas de novos

compostos, tais como plásticos, borrachas, tintas, corantes, solventes,

detergentes, explosivos, produtos farmacêuticos, cosméticos, passando a ser

um elemento imprescindível na vida moderna.

1.2.1 – No Brasil

A história do petróleo no Brasil tem seu início no ano de 1858 com a

concessão a José de Barros Pimentel do direito de extrair betume de terrenos

situados nas margens do rio Marau, Bahia, por meio do decreto nº 2.266,

assinado pelo Marquês de Olinda. (PETROBRAS, 2009)

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As primeiras pesquisas relacionadas ao petróleo ocorreram no ano de

1891, em Alagoas. Contudo, o primeiro poço perfurado no Brasil com fins de

prospectar petróleo data de 1897, no município de Bofete, São Paulo.

Em 1938, toda a atividade petrolífera no Brasil, passou, por lei, a ser

obrigatoriamente realizada por brasileiros, criando – se o Conselho Nacional do

Petróleo (CNP), com fins de avaliar os pedidos de pesquisa e lavra de jazidas

de petróleo.

A descoberta de petróleo em Lobato, Bahia, no ano de 1939, com a

perfuração do poço DNPM – 163 iniciada em 29 de julho do ano anterior, ainda

que não fosse considerada economicamente viável, foi um marco na história

nacional, incentivando novas pesquisas do CNP na região do Recôncavo

Baiano. (THOMAS, 2004)

Assim, em 1941, foi descoberto o primeiro campo comercial em

Candeias, Bahia. Foram os primeiros passos da indústria nacional do petróleo.

Após as descobertas na Bahia, as perfurações prosseguiram em

pequena escala, até que em 1953 o governo Vargas sancionou a lei nº 2004

que instituiu o monopólio estatal de pesquisa e lavra, refino e transporte do

petróleo e seus derivados, criando a Petróleo Brasileiro S.A. – PETROBRAS. O

monopólio foi ampliado em 1963, passando a englobar as atividades de

importação e exportação de petróleo e seus derivados.

As descobertas de petróleo no Brasil, pela Petrobrás, se estendem pelos

estados do Amazonas, Pará, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas,

Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo e Santa

Catarina. (THOMAS, 2004)

A decisão de explorar petróleo no mar foi um marco na história da

empresa. A prospecção offshore iniciou em 1968, com a descoberta do campo

de Guaricema, em Sergipe. Contudo, foi em Campos, litoral fluminense, que a

Petrobrás descobriu a bacia que se tornou a maior produtora de petróleo do

país. (PETROBRAS, 2009)

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Devido ao desenvolvimento de tecnologia para exploração em águas

profundas e ultraprofundas pela Petrobrás, o Brasil encontra – se entre os

poucos países que detêm o domínio de todo o ciclo de perfuração submarina

em campos que se localizam a mais de dois mil metros de profundidade.

(PETROBRAS, 2009)

Figura 1.5 Gráfico com os recordes, ano após ano, obtidos pela

Petrobras em lâmina d´água de poço em produção (PETROBRAS, 2009)

No ano de 1997, durante o governo do presidente Fernando Henrique

Cardoso, foi sancionada a lei nº 9478, que pôs fim ao monopólio da Petrobrás,

permitindo o ingresso de outras empresas para competir em todos os ramos da

atividade petrolífera. Criou – se também, em 1998, a Agência Nacional do

Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), autarquia federal vinculada ao

Ministério das Minas e Energia, órgão regulador das atividades que integram a

indústria do petróleo e gás natural e a dos biocombustíveis no Brasil.

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O ano de 2006 marca o alcance da auto – suficiência sustentável pelo

Brasil na produção de petróleo. A Petrobrás chega à marca de dois milhões de

barris por dia, com início das operações do FPSO (Floating Production Storage

Offloading) P-50, no campo de Albacora Leste, norte da Bacia de Campos.

1.3 – Exploração e Produção

A fase de exploração é o ponto de partida para a busca de petróleo.

Nessa etapa são realizados estudos preliminares com a finalidade de se

localizar uma jazida. Assim, para que se possa identificar o petróleo nos poros

das rochas, para que então seja definida a melhor forma de extraí – lo das

profundidades da terra ou do mar, duas ciências são utilizadas, a Geologia e a

Geofísica. Os estudos de superfície promovidos pela geologia possibilitam um

exame detalhado das camadas de rocha onde seja possível encontrar

acumulação de petróleo. Já a geofísica, valendo – se do emprego de

determinados princípios físicos, realiza uma radiografia do subsolo.

A sísmica consiste em um dos métodos mais utilizados pela geofísica.

Ela consiste em verdadeiros terremotos artificiais, provocados, em geral, por

meio de explosivos, que originam ondas que se chocam contra a crosta

terrestre e retornam à superfície, sendo detectadas por instrumentos que

registram determinadas informações sobre o subsolo.

Uma vez obtidas tais informações, os pesquisadores confeccionam um

painel de conhecimentos referentes à espessura, profundidade e

comportamento das rochas sedimentares, local em que se armazenam petróleo

e gás. Embora nessa fase ainda não se possa afirmar seguramente sobre a

existência de petróleo no subsolo, os conhecimentos apurados conduzem a

uma definição sobre o melhor ponto para se perfurar o solo.

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A segunda etapa consiste na perfuração, que se dá nos locais

previamente definidos pelas pesquisas geológicas e geofísicas, em que se

perfura um poço pioneiro mediante o uso de uma sonda. Ocorrendo a

comprovação de existência de petróleo, outros poços serão perfurados para

que a extensão da jazida possa ser avaliada. Tal informação é que determinará

a viabilidade comercial ou não de se produzir o petróleo descoberto.

Determinada a viabilidade, outros poços serão perfurados, formando um

campo de petróleo – poço de desenvolvimento. Sabendo – se que a vida útil de

um campo gira em torno dos 30 anos, procura – se fazer a extração de forma

racional para que não ocorra a redução desse período. As estatísticas mostram

que apenas 20% dos poços exploratórios perfurados apresentam índice de

sucesso.

As sondas utilizadas na perfuração de poços de petróleo classificam –

se de acordo com seu emprego – terrestres ou marítimas.

Ocorrendo perfuração em terra (onshore), a sonda possui brocas que

giram para romper a rocha, trazendo até a superfície o material extraído do

subsolo. Todas são muito semelhantes, variando apenas o meio de transporte

empregado para se atingir o local a ser perfurado.

A perfuração marítima (offshore) segue os mesmos padrões da terrestre,

entretanto, as sondas marítimas se diferem entre si por se adequarem às

diferentes profundidades em que atuam, podendo ser instaladas em

plataformas fixas, móveis ou navios.

As plataformas fixas são fixadas em campos localizados em lâminas

d’água de até 200 metros. Apresentam como vantagem o fato serem

completamente estáveis mesmo nas piores condições de mar. Podem ser de

aço ou de concreto, sendo sua instalação feita com estacas cravadas no solo

marinho. São projetadas para receberem todos os equipamentos de

perfuração, estocagem de material, alojamento de pessoal e demais

instalações que se façam necessárias.

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As plataformas móveis podem ser dos seguintes tipos: auto – eleváveis,

semi – submersíveis ou de pernas atirantadas. As auto – eleváveis consistem

em plataformas marítimas com três ou mais pernas de tamanho variável, que

acionadas mecânica ou hidraulicamente, movimentam – se para baixo até

atingirem o fundo do mar, podem ser posicionadas em locais com diferentes

profundidades, em lâminas d’água entre 5 e 130 metros – na região situada

entre a praia e o início dos abismos oceânicos. O conjunto é formado por uma

balsa de casco largo e chato, retangular ou triangular, que suporta as pernas.

São transportadas até o local de perfuração dos poços exploratórios por

rebocadores ou propulsão própria.

As plataformas semi – submersíveis são flutuantes, constituídas de uma

estrutura de um ou mais conveses. Seu apoio é realizado por flutuadores

submersos que sofrem movimentação em virtude da ação das ondas, ventos e

correntezas. Ficam situadas na superfície marítima para que sofra menos

impacto das condições impostas pelo mar. O posicionamento da unidade pode

ser feito por dois sistemas: o de ancoragem ou o de posicionamento dinâmico.

O sistema de ancoragem é composto de 8 a 12 âncoras e cabos/correntes

fixados no fundo do mar, que atuam como molas produzindo esforços capazes

de restaurar a posição do flutuante quando modificada pela ação das ondas,

ventos ou correntezas. Já no sistema de posicionamento dinâmico, não há

ligação física da plataforma com o fundo do mar, com exceção a dos

equipamentos de perfuração. Sua atuação é por meio de sensores acústicos

que determinam a deriva, e então propulsores no casco acionados por

computador são capazes de restaurar a posição da plataforma. A profundidade

de operação das plataformas que utilizam o sistema de ancoragem é limitada,

enquanto as que apresentam o posicionamento dinâmico podem atuar em

águas com cerca de 500 metros de profundidade.

As plataformas de pernas atirantadas são muito semelhantes às semi –

submersíveis, diferenciando destas pelo seu sistema de ancoragem no fundo

do mar. Nesse caso a ancoragem se dá por meio de estruturas tubulares, com

tendões fixos no fundo do mar por estacas que são mantidos esticados pelo

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excesso de flutuação da plataforma. Tal sistema confere uma maior

estabilidade, diminuindo consideravelmente os movimentos da plataforma,

fazendo com que as operações de perfuração e produção sejam semelhantes

àquelas executadas em plataformas fixas.

Tem – se também os navios sonda, que são navios projetados para

explorar poços submarinos localizados em águas muito profundas. Assim como

as plataformas semi – submersíveis, tais navios são equipados com sistemas

de posicionamento dinâmico. Suas vantagens em relação aos outros tipos de

plataforma referem – se à sua grande capacidade de estocagem, perfuração de

poços em qualquer profundidade e a operação sem a necessidade de barcos

de apoio ou de serviços.

Por fim, existem as plataformas do tipo FPSO (Floating, Production,

Storage and Offloading), que são navios capazes de processar e armazenar

petróleo, provendo a transferência do petróleo e/ ou gás natural. A planta de

processo para separar e tratar os fluidos é instalada no convés do navio. Uma

vez separado da água e do gás, o óleo é armazenado em tanques do próprio

navio para transferência posterior a um navio aliviador.

Figura 1.6 Tipos de Plataformas (PETROBRAS, 2009)

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A terceira etapa, consistente na extração do petróleo, só começa após a

avaliação da extensão da jazida. Sendo definida a viabilidade da extração,

introduz – se nos poços perfurados uma tubulação de aço da superfície até o

fundo, denominada revestimento. O espaço existente entre as rochas

perfuradas e a coluna de revestimento é preenchido com cimento para impedir

a comunicação entre as varias zonas porosas que foram atravessadas pelo

poço. O próximo passo é descer pela tubulação de aço uma ferramenta

chamada canhão, que tem por objetivo perfurar o revestimento e o cimento,

permitindo uma comunicação entre a jazida e o interior do poço. A extração dos

fluidos que migram da rocha geradora é feita por meio de uma coluna de

produção, isto é, uma tubulação de menor diâmetro inserida no revestimento. O

controle vazão desses fluidos é feito pela árvore de natal, equipamento

constituído por um conjunto de válvulas instalado na superfície do poço.

Nos processos naturais de extração do óleo (surgência), este chega à

superfície de maneira espontânea, devido à pressão interna de gases. Em

casos nos quais a pressão interna é reduzida, processos mecânicos são

utilizados para suprir a pressão dos gases no reservatório, promovendo uma

elevação artificial da pressão interna. O objetivo dos processos de elevação

artificial é a maximização do petróleo a ser extraído.

Quando os processos naturais e nem os artificiais são suficientes para a

extração de óleo dos poços, utiliza – se a recuperação secundária, que

também tem por objetivo maximizar o volume de petróleo a ser produzido das

jazidas. As técnicas tradicionais de recuperação secundária são a injeção de

água ou gás e as mais sofisticadas consistem na injeção de gás carbônico e de

polímeros.

Assim, dos campos de produção situados tanto na terra quanto no mar,

o petróleo e o gás seguem para o campo de armazenamento, extensa área em

que se encontram instalados tanques interligados por tubulações, onde ficam

estocados.

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1.4 – O Pré – Sal

A divulgação das descobertas de petróleo na camada pré – sal é

assunto recente, o que dificulta a existência de bibliografia para dar suporte ao

tema. Assim, todas as informações relacionadas ao pré – sal são provenientes,

até então, de opiniões de especialistas, de divulgações da Petrobrás, de

entrevistas concedidas a jornais e revistas, de alguns estudos divulgados, além

materiais fornecidos por professores da área de petróleo e gás. Portanto, são

dados que ainda não estão consolidados em livros, sendo obtidos de fontes

bem variadas.

De acordo com o jornal a Folha de São Paulo (2008), a camada pré – sal

consiste em uma faixa que se estende ao longo de 800 km entre os estados de

Santa Catarina e do Espírito Santo, abaixo do leito do mar, englobando três

bacias sedimentares (Santos, Campos e Espírito Santo). O petróleo encontado

nessa região lcaliza – se a profundidades que superam os 7 mil metros, abaixo

de uma extensa camada de sal que,conforme explicam os geólogos, tem a

propriedade de conservar a qualidade do petróleo.(Fig 1.7 e 1.8)

Figura 1.7 – Descobetas da Camada Pré – Sal, (FOLHA DE

SÃO PAULO, 2008)

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Figura 1.8 Esquema do Pré – Sal (PETROBRAS, 2009)

Diversos campos e poços já foram descobertos na área do pré – sal,

dentre os quais Guará, Bem – te – Vi, Carioca, Júpiter, Iara e Tupi, o mais

importante deles.

Geologistas da Petrobras em entrevista á revista Bloomberg Markets

(2009), explicam que o óleo encontrado abaixo do sal é proveniente de um lago

de 130 milhões de anos de idade. Este lago formou – se quando África e

América do Sul, então partes de um supercontinente chamado Gondwana,

lentamente se separaram, enviando o lago e sua rica camada de sedimentos

orgânicos para o fundo do que hoje é o Oceano Atlântico. Tais sedimentos

foram gradualmente cobertos com o sal marítimo. Pressão, calor, tempo e o

movimento das placas tectônicas transformaram os sedimentos em óleo.

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Mello (2009), estima que toda a região do Pré – Sal pode conter por

volta de 100 bilhões de barris de óleo. A confirmação desses números, pode

conduzir o Brasil à posição de quanto maior produtor mundial de petróleo,

perdendo apenas para Arábia Saudita, Rússia e EUA. Hoje, de acordo com o

ranking elaborado pela British Petroleum (BP), o país ocupa a 13ª posição.

Para se extrair o óleo do Pré – Sal, conforme Bloomberg (2009),

toneladas de equipamentos precisam ser levados ao fundo do mar, onde a

pressão da água é tal que amassaria um navio afundado como se fosse uma

lata derefrigerante. Ainda, o óleo a uma temperatura de 38ºC ao atingir os

dutos que se encontram meio a água extremamente fria no fundo do mar, pode

produzir parafina, o que poderia provocar seu entupimento.

Assim, a instabilidade da camada de sal torna a perfuração horizontal,

na qual possibilita que se atinja diferentes partes de um depósito de óleo a

partir de um único ponto, muito difícil. A utilização da perfuração vertical além

de elevar os custos, não permite a maximização da extração de óleo

(Bloomberg, 2009).

Outro desafio que se apresenta refere – se à logística. O transpoorte de

equipamentos e pessoas para as plataformas marítimas merece especial

atenção, pois os helicópteros não são capazes de cobrir ida e volta, por

exemplo, os 340 km de distância entre Tupi e outros pontos sem ficar sem

combustível. A solução apontada por Guilherme Estrella, diretor de Exploração

e Produção da Petrobras, é a construção de armazéns flutuantes e helipontos

entre a costa e as plataformas.

A Petrobras em seu Relatório Anual (2008) explica alguns dos desafios

da seção pré – sal das bacias sedimentares do Sudeste e Sul que estende-se,

de forma heterogênea, do sul da Bacia de Santos ao norte da Bacia de

Campos, numa área de aproximadamente 800 km de comprimento por 200 km

de largura, em águas profundas e ultraprofundas.

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O Polo Pré-Sal da Bacia de Santos é composto pelas áreas

remanescentes dos blocos BM-S-8, BM-S-9, BM-S-10, BM-S-11, BM-S-21, BM-

S-22 e BM-S-24. Esse polo se localiza a cerca de 300 km da costa do estado

do Rio de Janeiro e em torno de 350 km da costa do estado de São Paulo, em

lâminas d’água ultraprofundas que variam de 1.900 a 2.400 metros.

Com exceção do bloco BM-S-24 (Júpiter), todos os demais possuem

planos de avaliação aprovados pela ANP. Esses planos prevêem a perfuração

de 22 poços de avaliação na área nos próximos cinco anos, juntamente com a

execução de sete testes de longa duração (TLD).

Ainda no pré – sal da Bacia de Santos, onde a Petrobras possui cerca

de 60% dos interesses econômicos, a expectativa é que a produção de

petróleo atinja a marca de 1 milhão de bpd em 2017, apenas 12 anos após a

descoberta de Parati no bloco BM-S-10, em 2005.

As descobertas na seção pré – sal ao norte da Bacia de Campos

(Parque das Baleias), onde a Petrobras detém a totalidade dos interesses

econômicos, confirmam o potencial de toda a extensão da seção pré – sal nas

bacias do Sul e Sudeste do Brasil.

Em função da magnitude e do impacto nos diversos negócios da

companhia, o polo pré-sal da Bacia de Santos exigirá que a concepção das

estratégias de desenvolvimento, assim como o planejamento e execução dos

projetos sejam conduzidos de forma integrada, envolvendo as diversas áreas

da companhia.

Para coordenar essa complexa rede de competências, a Petrobras criou,

em 2008, uma gerência executiva na área de Exploração e Produção dedicada

ao planejamento e à definição da estratégia de desenvolvimento dessa nova

fronteira exploratória. Também foi elaborado o Plano Diretor de

Desenvolvimento Integrado do Polo Pré-Sal (Plansal), para potencializar os

benefícios de uma visão integrada e de planejamento de longo prazo.

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O principal objetivo do Plansal é identificar e priorizar o conjunto de

estratégias a serem implementadas nas áreas impactadas, considerando o

estágio inicial de conhecimento das características das acumulações de

petróleo recém descobertas e as condições da indústria do petróleo no Brasil.

Principalmente nos aspectos regulatórios, mercadológicos e de suprimento de

recursos críticos.

Entre as oportunidades geradas pelo desenvolvimento da camada pré -

sal destacam-se:

• Criação de conhecimentos, programas tecnológicos e parcerias com

universidades e institutos de pesquisas, fortalecendo a integração com a

comunidade técnica brasileira e internacional;

• Ampliação das oportunidades de emprego, com formação de mão de

obra especializada;

• Novas soluções de unidades, sistemas e pólos de produção

(equipamentos e logística);

• Desenvolvimento da indústria de base e expansão das empresas de

engenharia, indústria naval e correlatas, e grandes equipamentos.

Ainda, conforme o Relatório Anual da Perobras (2008), o sucesso da

atividade exploratória na seção pré-sal das bacias sedimentares brasileiras do

Sul e Sudeste marcou o ano de 2008.

Na Bacia de Santos, em agosto, a companhia descobriu significativa

acumulação de óleo leve e gás natural, com volume recuperável estimado

entre 3 e 4 bilhões de barris de óleo equivalente (boe) na área conhecida como

Iara (bloco original BM-S-11). Essa descoberta decorreu da perfuração do poço

1-RJS-656, a cerca de 230 km do litoral da cidade do Rio de Janeiro, em

lâmina d’água de 2.230 metros. A nova área soma-se à de Tupi, descoberta em

2006 no mesmo bloco, com volume recuperável estimado entre 5 e 8 bilhões

de boe, conforme anunciado em novembro de 2007. A Petrobras detém 65%

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dessa concessão e está associada, na área, à BG Group e à Galp Energia, que

participam com 25% e 10%, respectivamente.

Ainda na Bacia de Santos, a companhia identificou a presença de

petróleo leve (28º API) na área conhecida como Guará, na seção pré-sal. A

jazida se localiza no bloco BM-S-9, operado pela Petrobras (45%), em parceria

com BG Group (30%) e Repsol YPF (25%). Na mesma bacia, a companhia

anunciou, em 2008, a descoberta de gás natural e condensado na área de

Júpiter, localizada no bloco BM-S-24, operado pela Petrobras (80%) em

parceria com a Galp Energia (20%). Além disso, o consórcio formado pela

Petrobras (66%), Shell (20%) e Galp Energia (14%) comprovou a presença de

petróleo em reservatórios do pré-sal, no bloco BMS-8 (Bem-te-Vi), em águas

ultraprofundas na Bacia de Santos.

No litoral do Espírito Santo, ao norte da Bacia de Campos, foram feitas

duas descobertas importantes na seção pré-sal do Parque das Baleias, nos

campos de Baleia Azul e Baleia Franca, com volume recuperável total estimado

entre 1,5 e 2 bilhões de boe (30º API). O volume total de óleo estimado na área

do Parque das Baleias, incluindo os reservatórios acima e abaixo da camada

de sal, chega a aproximadamente 3,5 bilhões de boe.

Em setembro, com o início do teste de longa duração do poço 1-ESS-

103A, interligado à plataforma P-34, no campo de Jubarte, no norte da Bacia

de Campos, a companhia começou a produzir na seção pré-sal do litoral do

Espírito Santo.

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CAPÍTULO II

ANÁLISE DE INVESTIMENTOS

A análise de investimentos consiste na coleta de dados e aplicação de

técnicas de engenharia econômica, levando – se em consideração taxas de

desconto, prazos e valores previstos em um fluxo de caixa.

De acordo com KASSAI (2005), os investimentos são necessários e

saudáveis, entretanto, devem apresentar um nível de retorno satisfatório para

que não se comprometa a própria existência da empresa.

Assim, antes de se tomar a decisão de investir, deve – se recorrer aos

cálculos financeiros, às teorias de finanças, às técnicas de análise de

viabilidade econômica de projetos.

A missão de qualquer empresa deve ser a busca da eficácia

empresarial, ou seja, produção voltada para geração de um lucro condizente

com o retorno mínimo exigido pelos investidores, aliando, portanto, no curto

prazo produção, eficiência e satisfação e no longo prazo adaptabilidade e

desenvolvimento.

2.1 Viabilidade Econômico – Financeira

A viabilidade de qualquer empreendimento começa sempre pelo aspecto

econômico. Em meio a várias oportunidades de investimento existe a

possibilidade de se identificar a mais atraente, permitindo uma escolha mais

acertada, ou seja, aquele projeto que trará maior lucro com alguma garantia de

sua realização. Quando a decisão de investir é baseada apenas na análise

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comparativa das entradas e saídas de recursos, resultando em um lucro, tem –

se uma análise de viabilidade econômica.

A análise de viabilidade financeira, por sua vez, leva em consideração a

disponibilização de recursos, com o fim de se obter um equilíbrio entre

entradas e saídas, ou seja, considera o fluxo de caixa.

Um estudo de viabilidade econômico – financeira, portanto, é realizado

de forma a caracterizar um empreendimento que proporcione lucro aos

investidores ao final do negócio, sendo capaz de proporcionar um fluxo de

caixa positivo.

Projeto de investimento, segundo KASSAI (2005), consiste em um

conjunto de informações de natureza quantitativa e qualitativa que permite

estimar um cenário com base em uma alternativa escolhida. Apesar de não

existir padrão rigoroso da estrutura do projeto, é ideal que estejam presentes

informações como mercado, localização, processo de produção, aspectos

técnicos, administrativos e legais, meio ambiente, fontes de recursos, etc.

Na análise de projetos, deve – se ter uma definição prévia de alguns

parâmetros mínimos de comparação, tais como, a Taxa Mínima de

Atratividade, o Período Mínimo de Atratividade. Por Taxa Mínima de

Atratividade (TMA), entende – se a taxa mínima a ser alcançada em

determinado projeto. Ela é também utilizada para descontar os fluxos de caixa

quando se usa o método do Valor Presente Líquido (VPL) e é parâmetro de

comparação para a TIR – Taxa Interna de Retorno. Deve levar em

consideração não apenas taxas de remuneração do capital, mas também a

taxa para remunerar o risco envolvido na execução do projeto. O Período

Mínimo de Atratividade é entendido como o prazo mínimo ou ideal para que um

projeto retorne o seu investimento. (KASSAI, 2005)

As técnicas mais usuais para o exercício da análise econômica e

financeira são a TIR – Taxa Interna de Retorno, o VPL – Valor Presente

Líquido, o PAYBACK – período de retorno de um investimento, e o IL – Índice

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de Lucratividade, partindo de um Fluxo de Caixa Descontado. A seguir, serão

tratados os conceitos dessas técnicas.

2.1.1 – Fluxo de Caixa

Fluxo de caixa pode ser entendido, segundo GITMAN (2007), como o

fluxo de entradas (resultados) ou saídas (investimentos) de dinheiro de

determinado projeto.

Para KASSAI (2005), o dimensionamento dos métodos quantitativos

aplicados com base em fluxos operacionais líquidos de caixa é considerado

como o aspecto mais importante da decisão. Segundo o autor, a

representatividade dos resultados de um investimento é bastante dependente

do rigor e confiabilidade com que os fluxos de caixa são estimados.

Na montagem do fluxo de caixa, aqueles valores que não representam

efetivamente entradas ou saídas de caixa devem ser desprezados. A decisão

de se avaliar projetos de investimento com base nos resultados de caixa, e não

no lucro econômico, justifica – se pela existência de uma necessidade

econômica, que revela a efetiva capacidade da empresa em remunerar o

capital aplicado e reinvestir os benefícios gerados. (KASSAI, 2005) Em outras

palavras, conforme GITMAN (2007), os fluxos de caixa são usados, pois são

eles que afetam diretamente a capacidade de pagamento de contas e de

compra de ativos da empresa.

No que se refere à capacidade aquisitiva da moeda, os fluxos de caixa

das alternativas de investimento, segundo KASSAI (2005), podem apresentar –

se expressos sob diferentes formas:

Fluxos de Caixa Nominais: são expressos em valores correntes da

época da sua realização.

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Fluxos de Caixa Constantes: os valores são apresentados no mesmo

padrão monetário, ou seja, estão referenciados em moeda de mesma

capacidade aquisitiva.

Fluxos de Caixa Descontados: os valores encontram – se todos

descontados para a data presente por meio de uma taxa de desconto definida

para o investimento.

O fluxo de caixa descontado se difere do fluxo de caixa descontado

tendo em vista o ajuste a valor presente ser feito não apenas por uma taxa de

inflação, mas também pela taxa de atratividade que contém outras parcelas,

como juros reais, risco, etc.

A taxa a ser utilizada para descontar os fluxos de caixa de um projeto de

investimento refere – se à taxa mínima de rentabilidade exigida do projeto,

também chamada de TMA (Taxa Mínima de Atratividade). A TMA representa o

custo de oportunidade do capital investido ou simplesmente uma taxa definida

pela empresa em função de sua política de investimentos. A taxa de desconto

tem por finalidade tornar os valores dos fluxos de caixa equivalentes aos

valores presentes. (GALESNE, 1999)

Conforme GITMAN (2007), os fluxos de caixa podem, ainda, ser

classificados como convencionais e não convencionais. Uma série de fluxos de

caixa convencionais é composta por um desembolso inicial seguido somente

por uma série de entradas. Já uma série não convencional de fluxos de caixa é

aquela que um gasto inicial é seguido por uma série de entradas e saídas.

Assim, uma vez dimensionado o fluxo de caixa do projeto, com o

envolvimento de todos os valores econômicos, as ferramentas disponíveis de

analise de investimentos podem ser aplicadas.

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2.1.2 – Valor Presente Líquido (VPL)

Para GITMAN (2007), os administradores financeiros e investidores

sempre se deparam com oportunidades de investimentos que podem lhes

proporcionar taxas de retorno positivas quando da aplicação de seus recursos.

Dessa forma, a distribuição das entradas e saídas em um fluxo de caixa ao

longo do tempo, apresentam importantes conseqüências econômicas, que se

relacionam ao valor do dinheiro no tempo. Com isso, tem - se a importância de

se determinar quanto vale hoje uma determinada quantia que será recebida no

futuro.

O valor presente mede os fluxos de caixa no início da vida de um

projeto, representando a quantia hoje, isto é, conforme GITMAN (2007), "é o

mesmo que o dinheiro na mão agora".

O Valor Presente Líquido (VPL), segundo KASSAI (2005), representa

uma das técnicas sofisticadas mais utilizadas na avaliação de propostas de

investimentos de capital. De acordo com o autor, ele demonstra a riqueza em

valores monetários do investimento apurada pela diferença entre o valor

presente das entradas e o valor das saídas em determinado fluxo de caixa, a

uma determinada taxa de desconto, chamada também de retorno exigido,

custo de capital ou custo de oportunidade, que conforme GITMAN (2007), é o

retorno mínimo que deve ser obtido em um projeto para que o valor de

mercado da empresa fique inalterado.

Portanto, um investimento será atraente quando o resultado do VPL for

um valor igual ou maior do que zero. Projetos que apresentem VPL menor que

zero não são considerados viáveis ou atraentes.

O conceito de VPL é extremamente útil nos cálculos que envolvem

operações com valores em moeda de poder aquisitivo diferentes, tendo uma

afinidade muito grande com o princípio contábil do denominador comum

monetário. (KASSAI, 2005)

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Uma vez levantadas as informações das entradas e saídas do

investimento, o primeiro passo, portanto, é organizar os dados e elaborar um

fluxo de caixa. Calculando o VPL desse fluxo, pode - se analisar a sua

viabilidade, lembrando de descontar os valores pela Taxa Mínima de

Atratividade (TMA).

O VPL, conforme KASSAI (2005), consiste em um dos melhores

métodos para se analisar projetos de investimentos, sendo apontado como

principal ferramenta, não somente porque trabalha com o fluxo de caixa

descontado e pela sua consistência matemática, mas também porque

apresenta um resultado em espécie, o que revela a riqueza absoluta do

investimento. A identificação da taxa de desconto a ser utilizada, que em

muitas vezes é obtida de forma complexa ou subjetiva, revela - se como uma

dificuldade na utilização dessa ferramenta.

2.1.3 – Taxa Interna de Retorno (TIR)

A Taxa Interna de Retorno (TIR) é considerada por KASSAI (2005) como

uma das formas mais sofisticadas de se avaliar projetos de investimentos de

capital.

Ela representa a taxa de desconto que iguala, em um mesmo momento,

os fluxos de entrada com os de saída de caixa, igualando o VPL de uma

oportunidade de investimento a zero. (BREALEY, 1981)

Para GITMAN (2007), a TIR é "a taxa composta do retorno anual que a

empresa obteria se concretizasse o projeto e recebesse as entradas de caixa

previstas."

Calcular a TIR manualmente não é tarefa fácil, pois trata - se de função

polinomial de grandeza maior que dois. Um valor aproximado poderia ser

obtido por meio de uma técnica baseada na tentativa e erro. A melhor maneira

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de se calcular a TIR, portanto, é com a utilização de calculadoras financeiras

ou de planilhas eletrônicas.

A TIR, como critério da tomada de decisão, é utilizada para se

determinar a aceitação ou rejeição do projeto. Assim, quando a TIR se

apresentar maior do que o custo de capital, o projeto deve ser aceito, caso

contrário, este deverá ser rejeitado. Tais critérios, portanto, podem assegurar à

empresa a obtenção de pelo menos o retorno exigido. (GITMAN, 2007)

Apesar da facilidade de entendimento da TIR como uma taxa, sua

interpretação requer alguns cuidados que não devem ser desprezados,

conforme orienta KASSAI (2005): ao se calcular a TIR de um investimento,

pressupõe – se que todos os valores caminham no tempo pela própria TIR, isto

é, os fluxos de caixa negativos (investimentos) seriam financiados pela TIR e

os fluxos de caixa positivos (lucros) também seriam reinvestidos pela TIR.

Neste caso, quando a TIR apurada é muito diferente das taxas de mercado,

sua interpretação não é verdadeira. Outro ponto a ser observado refere – se a

projetos representados por fluxos de caixa não convencionais, ou seja, em que

há várias inversões de sinais entre fluxos de caixa positivos e negativos,

podendo ocorrer as seguintes situações: mais de uma TIR pode ser

apresentada (positivas e/ ou negativas); pode ter uma única TIR, igual a um

projeto convencional; ou inexistir uma solução.

Assim, GITMAN (2007) analisa a aplicabilidade da TIR e do VPL sob os

pontos de vista teórico e prático. Em bases teóricas, o VPL é o melhor enfoque

a ser adotado, principalmente porque seu uso supõe que as entradas

intermediárias de caixa geradas por um determinado investimento são

reinvestidas ao custo de capital da empresa. Já o uso da TIR supõe que o

reinvestimento ocorre à elevada taxa especificada por ela. Dessa forma, como

o custo de capital tende a ser uma estimativa razoável da taxa à qual a

empresa poderia efetivamente reaplicar entradas intermediária, o uso do VPL,

devido a sua taxa de reinvestimento mais conservadora e realista, é

teoricamente preferível.

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Ainda de acordo com GITMAN (2007), sob o ponto de vista prático,

evidências apontam que apesar da superioridade teórica do VPL, os

administradores financeiros demonstram preferência pela TIR. Tal escolha

deve – se ao fato de que, em geral, os executivos tendem a preferir as taxas de

retorno aos retornos monetários, porque consideram o VPL menos intuitivo por

não medir os benefícios em relação ao montante aplicado.

2.1.4 – Índice de Lucratividade (IL)

Outro indicador de aceitação ou rejeição de projetos, segundo KASSAI

(2005), é o Índice de Lucratividade (IL). Ele é a relação entre o valor presente

dos fluxos de caixa positivos (entradas) e o valor presente dos fluxos de caixa

negativos (saídas), em que a taxa de desconto utilizada é a Taxa de

Atratividade do Projeto (TMA). O índice reflete o retorno apurado para cada $

1,00 investido em moeda atualizada pela taxa de atratividade.

Pela análise desse índice, um determinado projeto de investimento será

considerado atraente quando o valor da relação tiver por resultado uma

grandeza maior ou igual a 1,00.

2.1.5 – Retorno do Investimento (Payback)

Os períodos de payback também são indicadores usualmente utilizados

na análise de investimentos e podem ser compreendidos como o período para

se recuperar determinado investimento realizado, consistindo na identificação

do prazo em que o montante do dispêndio de capital efetuado será recuperado

por meio dos fluxos de caixa gerados pelo investimento, ou seja, trata – se do

tempo necessário para que a empresa recupere seu investimento inicial em um

projeto, calculado com suas entradas e saídas. Pode ser explicado ainda, como

o período em que os valores dos investimentos (fluxos negativos) se anulam

com os respectivos valores de caixa (fluxos positivos). (KASSAI, 2005)

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Quando se utiliza o período de payback na tomada de decisões de

aceitação ou rejeição de determinado projeto, será aceito aquele que tiver um

período de payback menor do que o período máximo aceitável de recuperação

do investimento, por conseguinte, será rejeitado aquele projeto em que o

período de payback for maior. (GITMAN, 2007)

A determinação da duração do período máximo aceitável de

recuperação do investimento é feita pela empresa, sendo um valor fixado

subjetivamente, baseado em fatores relacionados ao tipo de projeto, ao risco

oferecido.

Existem algumas versões de payback, dentre elas a mais conhecida

chamada de original, até outras mais sofisticadas como o payback descontado

e o payback descontado total.

O payback original, ou prazo de recuperação do capital, de acordo com

KASSAI (2005), é obtido a partir da soma dos valores dos fluxos de caixa

negativos com os valores dos fluxos de caixa positivos, até o momento em que

a soma resulta em zero. Pode – se dizer que essa versão configura mais uma

medida de risco do que propriamente de retorno de investimento, sinalizando

um menor grau de risco aquele investimento que apresenta menor payback.

Esse método, entretanto, não leva em consideração o valor do dinheiro

no tempo, pois não é baseado em valores descontados, convivendo, ainda,

com outras duas inconsistências, pois não considera a magnitude dos fluxos de

caixa e sua distribuição nos períodos que antecedem o payback, e nem os

fluxos de caixa que ocorrem após o período de payback.

A análise do payback original deve ser feita por meio da comparação

com o período máximo definido como parâmetro de atratividade. Uma vez

excedido o limite estipulado, o investimento apresenta indicações de rejeição.

Embora seja considerado um método não exato, é uma ferramenta útil

para complementar a análise de risco dos projetos. (KASSAI, 2005)

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Tendo em vista as críticas ao método original, por não considerar o valor

do dinheiro no tempo, o payback pode ser determinado por meio de um fluxo

de caixa descontado. Trata – se do payback descontado, bastando descontar

seus valores pela Taxa Mínima de Atratividade e verificar o prazo de

recuperação do investimento. Apesar de o payback original ser mais

conhecido, o payback descontado é mais refinado, proporcionando uma análise

mais elaborada, embora ainda mantenha falhas da versão original no que se

refere à distribuição dos fluxos de valores, assim como daqueles que ocorrem

após o período de recuperação.

Assim, enquanto o payback descontado corrige e trabalha com os

valores descontados, o payback total, ou duration do projeto, além de trabalhar

com os fluxos de caixa descontados pela TMA, também considera os fluxos

existentes após os prazos apurados anteriormente. O cálculo, ensina KASSAI

(2005), consiste na comparação (razão) do montante dos fluxos de caixa

negativos (investimentos) com os positivos (lucros) e na multiplicação dessa

razão pelo número total de períodos do projeto. A interpretação dessa versão

de payback difere do modelo original, uma vez que não exprime exatamente o

período de recuperação do projeto, mas sim um prazo de equilíbrio ao longo de

todo o período do projeto.

2.2 - Análise de Riscos

A decisão de investir é uma decisão relacionada à otimização do lucro, e

por conseguinte, ao retorno que o investimento possa proporcionar.

Os dados e informações empregados em análises de investimentos,

muitas vezes, são provenientes de valores estimados. Dessa forma, por mais

que tais dados possam ser as melhores projeções possíveis, não se pode ter a

certeza absoluta de ocorrência dos números esperados. A todo momento,

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portanto, previsões são feitas em relação ao futuro, em relação aos resultados

que determinados atos decisórios podem acarretar.

O processo decisório, por sua vez, deve partir de informações

existentes, podendo admitir certas hipóteses e, assim, por meio de algum

método de previsão, elaborar informações sobre o futuro. Algumas vezes, as

previsões são realizadas com a obediência a parâmetros e critérios seguros;

outras vezes, acontecem de maneira assistemática ou subjetiva. Dessa forma,

de acordo com SECURATO (1993), além dos critérios científicos utilizados na

tomada de decisão, aspectos como a experiência e o julgamento são de

fundamental importância.

Todo projeto de investimento convive com condições de risco e

incerteza. Risco, conforme KASSAI (2005), está relacionado ao conhecimento

de todas as ocorrências possíveis, ou estados futuros, de uma determinada

variável, que encontram – se sujeitas a uma distribuição de probabilidade,

também conhecida, ou que possa ser calculada.

A incerteza, por sua vez, ocorre quando a distribuição de probabilidade

não pode ser avaliada, envolvendo, de forma geral, situações de ocorrência

não repetitivas ou pouco comuns na prática, em que não se pode determinar

suas probabilidades.

Algumas medidas preliminares podem ser adotadas a fim de promover a

diminuição de riscos dos projetos. O uso de avaliações quantitativas pode

amenizar a dificuldade de uma decisão ou escolha, podendo ser baseada em

modelos e técnicas sofisticadas ou em simples cálculos que possam esclarecer

e confortar a tomada de decisões. Ainda, a utilização de estimativas

cuidadosas, dotadas de prudência e conservadorismo, facilita a elaboração de

projeções confiáveis. Analisar, além da situação esperada, cenários de

otimismo e pessimismo, permite a visualização dos extremos do projeto e, com

isso, uma melhor percepção dos riscos envolvidos. (KASSAI, 2005)

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Além de avaliações quantitativas, o processo de decisão e avaliação de

risco também envolve critérios qualitativos. WOILER (1989), relaciona algumas

dessas técnicas, que podem ser utilizadas para complementar a análise

quantitativa, são elas: pesquisa de mercado, técnica DELPHI, painel de

especialistas, redação de cenários, analogia histórica, análise de impacto

cruzado.

A pesquisa de mercado consiste em levantamentos feitos por meio de

questionários ou entrevistas, com a posterior interpretação dos dados

coletados de forma a indicar os fatores mais relevantes que exercem influência

na preferência do consumidor.

A técnica Delphi tem por objetivo a obtenção de um consenso por parte

de um grupo de especialistas, sem ocorrer, contudo, interação pessoal entre

eles. Essa técnica tem sido empregada com elevado nível de sucesso em

projeção tecnológica, com Ênfase na possibilidade de ocorrência de um evento

e sua respectiva data.

O painel de especialistas tem objetivo semelhante à técnica Delphi, isto

é, a obtenção de um consenso entre especialistas, que com o trabalho em

conjunto têm a possibilidade de chegar a uma melhor projeção. A diferença

entre as técnicas reside no fato de que a comunicação, neste caso, é feita de

forma direta e pessoal.

A dramatização de cenários é uma técnica consistente no

estabelecimento de uma seqüência lógica de eventos, que mostra o

desenvolvimento de um processo, a inter – relação entre os muitos fatores

envolvidos e até onde o processo pode chegar. Sua grande contribuição é

fazer com que os participantes da técnica pensem em aspectos não rotineiros

do meio ambiente, dramatizando fatores mais relevantes. Ainda, permite o

exame da dinâmica de certas situações que poderiam vir a ser ignoradas.

A técnica de analogias históricas consiste na realização de uma análise

comparativa de uma nova situação com outra similar já conhecida, com o

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objetivo de quantificar o grau de semelhança existente entre elas e determinar

em que medida o padrão básico seria alterado pela falta de semelhança com

uma nova situação.

Por fim, a técnica de análise de impactos cruzados que procura

determinar, de modo sistemático, o possível impacto que determinado evento

possa provocar sobre todos os outro eventos com os quais ele se relaciona.

Para tal, procede – se, inicialmente, a uma análise dos eventos que possam

ocorrer. A seguir, é feito o exame da interdependência desses eventos, para

que se detecte eventuais inconsistências.

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CAPÍTULO III

ESTUDO DE CASO

O Estudo de Viabilidade Econômico – Financeira dos campos do Pré –

Sal faz com que algumas questões venham à tona e que algumas premissas

sejam firmadas.

As indagações que se apresentam referem – se ao custo do

desenvolvimento dos campos, às estratégias de desenvolvimento, ao preço do

barril que garanta a sua viabilidade.

Assim, para a relaização do estudo, algumas premissas devem ser

assumidas. O estudo terá por base os campos da área pré – sal da Bacia de

Santos (Fig. 3.1), e será assumida uma reserva de 50 bilhões de boe, com uma

vazão de 20 mil boed no pico de produção por poço (Fig. 3.2). Ainda, estima –

se um custo de US$600 bilhões para desenvolvimento do cluster em questão.

Figura 3.1 Campos do Pré – Sal (UBS, 2008)

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Figura 3.2 Vazão por poço de teste no Pré – Sal (PETROBRAS,

2009)

O custo de desenvolvimento dos campos é influenciado pelos pontos a

seguir detalhados no fluxograma:

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Portanto, o presente estudo traz as seguintes estimativas em seu

cenário base para a determinação do custo de desenvolvimento do módulo:

De acordo com o Banco UBS, tem – se o detalhamento dos custos

indicativos de desenvolvimento:

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A seguir, o custo por barril desenvolvido, em cenários alternativos, sendo

o cenário base US$12.7:

O desenvolvimento de TUPI, com o preço do barril de petróleo a

US$60.00, apresenta a seguinte informação de Caixa Investido X Caixa

Acumulado:

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CONCLUSÃO

Muitas questões acerca de todos os desafios para desenvolvimento dos

campos do Pré – Sal ainda continunam sem respostas definitivas.

Ainda não se tem informações completas sobre a sua escala e as suas

características, restando, portanto, muitos dados desconhecidos.

A estratégia de desenvolvimento adotada foi o desenvolvimento por

módulos, em que o custo de um módulo foi estimado com base em premissas.

Assim, o custo de desenvolvimento do Pré – Sal, é algo em torno de

US$600 bilhões e o seu retorno é uma função de variáveis desconhecidas, pois

os custos de equipamentos podem ser bem maiores, assim como a vazão por

poço pode ser bem pior do que as estimadas.

Ao assumirmos uma vazão de 20 mil boed, concluímos que o Pré – Sal

é viável mesmo com o barril de petróleo a preços baixos. Já uma vazão de 10

mil boed apresenta retorno insuficiente quando o preço do barril for inferior a

US$ 100.00, e, mesmo com a retirada dos royaties e participações especiais, a

TIR seria de 9% com o barril a US$50.00.

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BIBLIOGRAFIA

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO 7

CAPÍTULO I 10

O PETRÓLEO 10

1.1– Conceito, Origem e Formação do Petróleo 11

1.2 – A Indústria do Petróleo 16

1.2.1 – No Brasil 19

1.3 – Exploração e Produção 22

1.4 – O Pré – Sal 27

CAPÍTULO II 33

ANÁLISE DE INVESTIMENTOS 33

2.1 Viabilidade Econômico – Financeira 33

2.1.1 – Fluxo de Caixa 35

2.1.2 – Valor Presente Líquido (VPL) 37

2.1.3 – Taxa Interna de Retorno (TIR) 38

2.1.4 – Índice de Lucratividade (IL) 40

2.1.5 – Retorno do Investimento (Payback) 40

2.2 - Análise de Riscos 42

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CAPÍTULO III 46

ESTUDO DE CASO 48

CONCLUSÃO 52

BIBLIOGRAFIA 53