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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO AFETIVO NA PSICOPEDAGOGIA. Por: CLÁUDIA CAMARA LAIA Orientador Prof. VILSON SÉRGIO Rio de Janeiro 2009

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO AFETIVO NA

PSICOPEDAGOGIA.

Por: CLÁUDIA CAMARA LAIA

Orientador

Prof. VILSON SÉRGIO

Rio de Janeiro

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO AFETIVO NA

PSICOPEDAGOGIA.

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

Psicopedagogia.

Por: Cláudia Camara Laia

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AGRADECIMENTOS

.... Agradeço a conclusão deste

trabalho de pesquisa a minha filha

Paula e ao meu marido Paulo Cesar,

que tem muita compreensão a cerca de

minha constante busca de

conhecimento.

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DEDICATÓRIA

.....Dedico este trabalho monográfico a

todos os profissionais que se dedicam a

melhoria da educação brasileira.

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RESUMO

A presente monografia tem como objetivo analisar as possíveis

causas das dificuldades emocionais e afetivas que acontecem no espaço

escolar, que dificultam o acesso a aprendizagem.

Toda pesquisa foi realizada por fontes bibliográficas, partindo da

análise do processo de aprendizagem vinculado ao desenvolvimento cognitivo-

afetivo, familiar e social.

Concluindo, este estudo tem por finalidade enfocar a importância do

trabalho psicopedagógico voltado para o entendimento do processo de

desenvolvimento do aluno, considerando interações sociais estabelecidas por

ele a partir do vínculo afetivo.

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METODOLOGIA

O objeto de estudo – A Importância do Vínculo Afetivo na

Psicopedagogia – surgiu face aos meus questionamentos sobre a importância

do afeto para aprendizagem escolar.

Esta obra foi fundamentada em pesquisa bibliográfica realizada

durante 4 (quatro) meses, tempo em que pude aprimorar meus conhecimentos

através da leitura de autores consagrados, como também, através dos eventos

culturais visitados.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I 12

AFETO: O FIO CONDUTOR CAPÍTULO II 18

APRENDIZAGEM, EMOÇÃO E AO VÍNCULO AFETIVO CAPÍTULO III 25

DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM CAPÍTULO IV 29

O PAPEL IMPORTANTE DA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA E DA FAMÍLIA PARA SUPERAÇÃO DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA 38

ÍNDICE 59

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INTRODUÇÃO

A falta de preocupação com a área da afetividade revela-se como

um ponto obscuro para o entendimento dos mecanismos do conhecimento, do

processo cognitivo, do desenvolvimento da inteligência, da aprendizagem.

O processo do conhecimento, sabe-se já, tem indissociáveis os

aspectos afetivos e cognitivos apesar de, há décadas, estudos terem dado

ênfase à cognição.

Devemos abordar a emoção como mais um aspecto educacional a

ser considerado. Ela está inserida nesse processo, porque é inerente ao

homem. O homem nasce com ela, vive com ela e morre sem conseguir vivê-la

em sua plenitude.

De acordo com ALMEIDA (1999, p. 15):

“Acredita-se na possibilidade de controle das emoções, o

que se faz urgente na medida em que ficar a seu serviço

traz sérios prejuízos à vida humana. O adulto, nesse

caso família e professor, deve ter clareza sobre o que é

emoção, como funciona, para poder administrá-la em si e

no outro. É um grande desafio, uma vez que os

progressos da inteligência, responsabilidade do

professor, dependem em grande parte, do

desenvolvimento da afetividade”.

O profissional de educação tem um papel relevante nesse cenário

educacional, pois permitir relações afetivas em sala de aula é uma função

pedagógica. Possibilitar contatos afetivos é favorecer a obtenção do

conhecimento de si mesmo e do outro.

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Aceitar a afetividade como fiel companheira da inteligência é aceitar

o aluno como ser humano e respeitá-lo, partindo de suas experiências para

criar ação educacional que atenda suas reais necessidades.

A escola precisa ensinar sobre as emoções e a afetividade. O

professor precisa aprender sobre a afetividade para ensinar sobre ela também.

E o psicopedagogo fará com que o produto final de uma ação pedagógica seja

integradora.

O aluno, como qualquer outro ser humano, necessita de apoio para

desenvolver suas habilidades e potencialidades, pois ninguém se desenvolve

sozinho. Tendo sua criatividade, sensibilidade e desenvolvimento incentivados

por seus familiares, professores e pelos que o rodeiam, terão grandes chances

de tornarem-se indivíduos bem sucedidos e felizes.

“Não existe inteligência emocional, mas sim, emoção na

inteligência. É sabido que muitas pessoas deixam de

expressar/demonstrar a sua inteligência quando estão

bloqueadas por problemas ou situações difíceis e isto já

foi descrito por diversos autores, especialmente por

Freud e outros grandes humanistas”.( METTRAU, 1998)

“Pensar e sonhar é um direito específico e antecipador

de inovações. É uma força peculiar das funções

superiores do homem. Os demais animais não planejam,

inventam e criam idéias ou situações, porque não sabem

relacionar o presente com o passado e o futuro. Não

trabalham as seqüências e as conseqüências em longo

prazo. Esta modalidade de funcionamento é um belo

problema que somente o homem sabe realizar.

(METTRAU, 1995, p. 19)

Nas últimas décadas, vários estudos vêm dando ênfase aos

aspectos cognitivos na tentativa de solucionar os inúmeros problemas

educacionais surgidos, porém o homem não é um ser apensar cognitivo, é

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também social, afetivo, psicológico, enfim, é um conjunto de aspectos

interligados e conectados para que tudo funcione, como uma engrenagem,

onde uma peça depende da outra, e todas fazem a máquina funcionar.

E desconhece-se muito ainda da relação que existe entre o afetivo,

motor, pessoal e o cognitivo. Esse desconhecimento atrasa o avanço de

pesquisas educacionais e sobre o processo de aprendizagem. Por sua vez, as

teorias vão e vêm, sem manterem-se firmes na prática de sala de aula,

funcionando como experimentos e os alunos como cobaias.

É indiscutível o papel da educação na formação do indivíduo. Sabe-

se que o que vivemos na escola e, mais tarde, na universidade, possui um

significado insubstituível para o desenvolvimento social e afetivo de uma

pessoa.

Os teóricos, Paulo Freire, Vygotsky e Piaget, por exemplo,

evidenciaram a importância da emoção para que o aluno sinta-se motivado a

conhecer e aprender. Wallon, na área da Psicologia, também destacou que

nós, através do emocional, entramos em contato com o meio ambiente e nos

adaptamos à realidade exterior.

Saltini, em seu livro “Afetividade e Inteligência”, defende a educação

como um compromisso com a formação de uma sociedade mais livre, criativa

e amorosa; com igualmente, justiça e cooperação; e que conhecer é pensar,

inventar, descobrir e conectar as qualidades e atributos de um determinado

objeto a ser estudado ou conhecido.

Por essa pesquisa bibliográfica, a afetividade é analisada como um

fator fundamental para o desenvolvimento da inteligência e da capacidade de

aprendizagem, enfocada de maneira acessível e clara, unindo a cognição, a

criação e a emoção como aspectos inseparáveis da personalidade de uma

pessoa.

Em outros estudos, já foi dada importância ao fator criação, e muitos

autores escrevem sobre o assunto. Por sua vez, atualmente percebe-se a

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tendência à análise da cognição isoladamente. Porém, as teorias continuam

apresentando falhas e devido a isso, os estudos voltam-se então, à

afetividade. Livros e pesquisas vêm demonstrando a importância da emoção e

suas conseqüência no comportamento humano: como ela ajuda ou atrapalha

nas atividades e funções cotidianas, e como fica facilitado o trabalho

psicopedagógico a consciência da relevância do afeto existe no profissional em

sala de aula.

O presente estudo traz para debate questões que poderão melhorar

a formação do profissional para o exercício de sua atividades e alertar para a

complexidade dos aspectos que abrangem esta formação. Pois, o profissional

que tem conhecimento do que fazer para obter um determinado resultado ou o

que evitar para não atrapalhar o processo de aprendizagem é mais seguro e

mais competente.

No entanto, não é só o que basta. É necessário que a prática

também seja acompanhada da coerência, além de outras competências

próprias. Sobre essas competências, os capítulo a seguir tecerão algumas

considerações.

Partindo do principio que somos, todos nós, seres humanos e

sociais, é indissolúvel- para o entendimento do mecanismo de aprender e de

ensinar- o aspecto humano afetivo-cognitivo. Um depende do outro, são

estruturas conjuntas, que abrem os horizontes nos estudos sobre o sucesso

educacional e como chegar até ele. A partir do instante que se puder conhecer

plenamente a emoção e suas conseqüências, o homem poderá ser o melhor

entendido e as teorias melhor adaptadas para darem certo.

Vive-se a era da tecnologia, da informática, da globalização, enfim, a

era do conhecimento e da comunicação; mas perde-se muito na promoção do

desenvolvimento humano, social e político, e também econômico, quando

enxerga-se no ser humano apenas o intelecto, deixando para trás tudo o que

diz respeito à emoção e afeto.

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CAPÍTULO I

AFETO: O FIO CONDUTOR

Desde os primeiros momentos de sua vida, temos contato com

diferentes objetos e pessoas e isso nos provoca diferentes emoções e

sentimentos.

Precisamos ser amados, aceitos e acolhidos para despertar nos a

curiosidade pelo aprendizado. Se não houver o afeto, a interação torna-se

difícil, e o aprendizado também e, assim, acontecerá durante toda nossa

existência. Os adultos, para serem felizes e produzirem bem, precisam de

afeto e serem aceitos. O ser humano, então, e um ser afetivo, além de

cognitivo social. São aspectos que se interligam durante toda a vida, nos

diferentes momentos por que cada um passa. É no contato social que o

indivíduo interage sendo, portanto, a inteligência a expressão de um processo

dinâmico profundamente afetado pela emoção, pelos desejos e pelo afeto.

(METTRAU, 2000, p. 45)

Seja na família, na escola ou no grupo social, o indivíduo faz uso

de sentimentos, emoções que o movem todo o tempo. Pode ser um medo que

o faz agir; uma situação que o deixe feliz ou um acontecimento que o deixe

triste. A emoção e a afetividade fazem parte do dia-a-dia, e são o fio condutor

para ações e compreensões; motivação para uma aprendizagem e o que

impulsiona em direção ao progresso intelectual.

Na escola, o afeto deve estar presente através do professor. A

criança entra em contato com a aprendizagem motivada pelo afeto

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dispensado. O afeto, então, é o que conduz a aprender. Sentindo-se motivada,

aceita e acolhida, a absorção do objeto a ser conhecido se faz de maneira

mais rápida e satisfatória. E a criatividade, torna-se livre para acontecer. Ou

seja, estando à vontade, ela pode se expressar e deixar sua criação aflorar.

Quando o aluno se sente livre para expressar-se, seus talentos desabrocham,

suas ideias são liberadas e ele

pode então, mostrar-se sem inibições ou medos. “Ser criativo não significa ter

de inventar ou descobrir coisas. O fascínio está justamente em podes

estabelecer novas relações entre coisas existentes”. (SANDAU, 1990, p. 53)

As relações que as crianças vão construindo ao longo de seu

desenvolvimento favorecem mudanças no seu modo de perceber o mundo.

Nesse processo, elas vão gradativamente valendo-se de diferentes linguagens

(oral, desenho, canto, artes), nomeando e representando o que veem e

sentem, comunicando aos outros seus sentimentos, desejos e conhecimentos

sobre o meio em que vivem.

Enfim, por meio da possibilidade de se emocionar, de formular

suas próprias questões, buscar respostas, imaginar soluções, expressar suas

opiniões, interpretações e concepções de mundo, confrontar seu modo de

pensar com o de outras pessoas e de relacionar seus conhecimentos, idéias a

contextos mais amplos, que a criança poderá construir conhecimentos cada

vez mais elaborados. Porém, esse não é um processo que ocorre de uma só

vez. Resulta de um mecanismo de construção interna compartilhada com os

outros, no qual elas pensam, sentem e refletem sobre o que desejam

conhecer.

Além da dimensão afetiva, é preciso também identificar as

necessidades de cada criança e priorizá-las, assim como atendê-las de forma

adequada. Então, cuidar de uma criança é, antes de mais nada, dar atenção a

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ela como pessoa que está num contínuo crescimento e desenvolvimento,

compreendendo o que ela sente, pensa o que sabe sobre si e sobre o mundo,

visando ampliar seus conhecimentos e suas habilidades.

Afeto é necessário a todo ser humano, pois aptidões emocionais

todos têm. O que nos falta é saber lidar com elas, uma vez que isso não nos é

ensinado pelo professor na escola, nossos pais também não sabem como

ensinar-nos, enfim, é um assunto quase considerado sem importância. Prova

disso é o aumento do número de livros sobre o assunto.

A relação psicopedagogo-aluno está inserida no processo de

trocas de significados aprendidos e transformados. A sala de aula e os demais

ambientes

são considerados como locais onde há interlocução, baseada essa, em

processos cognitivos e afetivos. As pessoas percebem e sentem quando

conhecem, quando entram em contato com o objeto de conhecimento. Não dá

para dissociar um processo do outro. Estão interligados desde o nascimento

de uma pessoa.

Estando parte de nossas vidas na escola, entregamos nas mãos

do educador uma parcela grande de responsabilidade por nossa formação. E

cabe a ele acrescentar-nos novas experiências, fazendo com que possamos

ser cidadãos, mas também que nos percebamos enquanto seres afetivos.

Se desde a mais tenra idade, a criança recebe informações sobre

si que não representam a verdade, sua imagem de si mesma cresce distorcida

e, consequentemente, seu desempenho também não será de todo perfeito.

No contexto social, o indivíduo interage e a inteligência é a

expressão dessa relação, afetada por desejos, afetos, emoções, experiências

diversas que transformam-no num ser mais seguro e confiante, podendo

desenvolver-se cada vez mais, intelectual e emocionalmente; produzindo

conhecimento ou adquirindo, não importa, pois sem que percebamos, estão

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incutidos nesse processo os aspectos cognitivos, criativos e afetivos

interligados.

E se então interligados, por que a escola não ensina o

conhecimento afetivo? O pensamento que reina entre profissionais é que o

problema da educação se resolveria com a melhoria de laboratórios e salas de

aula ou melhoria de recursos pedagógicos. Enquanto o ser humano

permanecer na atitude de “ser objeto”, não experimentando a realidade mais

ampla e mais profunda que existe dentro de si mesmo, não terá pleno

conhecimento de si, nem do outro. A escola deveria entender dos seres

humanos, muito mais do que entende da matemática e do português. Deveria

entender de amor, de sonhos, de criações de símbolos, de dor e de fantasias.

O psicopedagogo capacitado entende as variadas expressões da inteligência,

entende também, que o elo que deve ligá-lo aos alunos é o afeto e, aí sim, os

resultados psicopedagógicos serão alcançados.

O mundo do criar e do amar é pátria e paraíso; do

comportamento improdutivo e do amor apagado, ao

invés, é um deserto desconhecido, inimigo no qual não

distinguimos o mínimo rastro que nos leva àquilo que

perdemos, como se tivesse desaparecido para sempre,

como um sonho, um nada.

( SANTOMÉ, 1998, p. 131)

A partir desse pensamento, fica claro a necessidade de

empregarmos afeto e amor em tudo que fazemos. A falta de amor é o início do

fracasso, é viver sem esperança, pois tudo nasce de um ato de amor. Daí a

conduta natural da existência. Se o mundo nasce desse sentimento, não pode

existir sem ele. Pensar sem sentimento é impossível, chorar ou rir também.

Esses são alguns dos exemplos concretos de que a emoção está sempre

presente, seja em situações alegres ou tristes. É ela quem nos faz movimentar-

nos e querermos buscar nossos sonhos e anseios mais profundos.

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O homem a cada dia que passa vem registrando acelerada

evolução no campo dos conhecimentos científicos e tecnológicos. Não vale a

pena estar no terceiro milênio entendendo melhor o ser humano?

Acredito que sempre que um adulto torna-se problemático,

apresentando comportamentos fora do aceitável, diz-se que a culpa foi da

criação, que os pais erraram em dar-lhe uma educação “assim” ou “assado”.

Mas, e a escola? Será que ela pode continuar distanciada do problema, isenta

de responsabilidades? Verifica-se cada vez mais pessoas improdutivas, sem

emprego, atuando negativamente contra nossa sociedade.

Lembro que muitas pesquisas já apontam para a mudança

provocada na aquisição de conhecimentos, quando se dá atrelada ao

conhecimento afetivo, ou seja, o significado de aprender nada mais é que

pensar, inventar, descobrir e conectar as qualidades e atributos dos objetos a

serem conhecidos.

Segundo Vygotsky ( 1991, p. 129): O pensamento propriamente

dito é gerado pela motivação, isto é, por nossos desejos e necessidades

nossos interesses e emoções. Essa afirmação é a prova de que até em

pensamento, despertamos emoções. Essa relação emocional que temos com

o mundo inicia-se quando desejamos algo. O afeto conduz a ação.

A boa evolução da afetividade é expressa através das atividades,

comportamento e postura. Muitas crianças que apresentam dificuldades de

aprendizagem acabam tendo algumas dificuldades emocionais também. Como

possuem inteligência, sofrem, muitas vezes, com seus fracassos escolares e,

com isto, se isolam mais, afastando-se de qualquer atividade que envolva

disputa e exposição.

Muitas vezes se sentem inferiores, pois professores, ao

perceberem essas dificuldades, rotulam-nas de preguiçosas, desinteressadas

em ler e escrever. E isso, acaba causando insegurança, falta de interesse

realmente, inibição e desistência pela escola. A auto-estima diminui,

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aumentando o isolamento ou a agressividade por seus professores ou

companheiros escolares.

É difícil dizer que as perturbações afetivas sejam causa ou

conseqüência da incapacidade de o indivíduo integrar-se ao processo de

leitura e escrita ou se qualquer outra aprendizagem, porém, com certeza,

pode-se afirmar que o vínculo afetivo entre aluno e profissional da educação

ou da psicologia; ou da psicopedagogia, quando bem estabelecido é o fio

condutor para que a aprendizagem se desenvolva de maneira positiva.

A avaliação psicopedagógica sempre focará o pedagógico e o

psicológico, ou seja, o funcionamento cognitivo e as emoções do paciente em

uma estrutura dissociada, integralizada e ligada ao significado de ações e

conteúdos cotidianos. Faz-se necessário pesquisar o que ele já aprendeu, mas

também como aprendeu; assim como o que não aprendeu e por qual motivo

não aprendeu.

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CAPÍTULO II

APRENDIZAGEM, EMOÇÃO E O VÍNCULO AFETIVO.

A aprendizagem é uma “apropriação instrumental da realidade

para transformá-la” (PICHON, 1983, p.95). E de acordo com esta afirmação, é

fácil perceber a importância que tem para o ser humano, o processo de

aprender, pois é através dele que se adapta para evoluir, e evolui para se

adaptar. Aprendemos para viermos melhor; modificamos a realidade para

obtermos conforto, segurança e desenvolvimento. Se não houvesse a

aprendizagem, provavelmente a humanidade já teria sido extinta.

A criança constrói sua história vincular a cada nova experiência e

assim, se modifica, podendo ampliar seu universo. Nessas relações vinculares

pode-se compreender os papéis que uma criança desempenha em sua

maneira de se relacionar com o conhecimento; com o professor, com a escola

e com os outros alunos. Existem vínculos bons e vínculos ruins. Há os que

ajudam o aluno a crescer e os que o estagnam. Cabe ao profissional, em sua

atuação, seja ele professor ou psicopedagogo, estabelecer o vínculo que

proporcione o seu desenvolvimento saudável.

O processo de aprendizagem deve ser compreendido como um

sistema de fechamento e de abertura em constante diálogo. E, assim,

entende-se que o que o aluno recebe, deva ser informações construtivas para

si e em sua forma de perceber o mundo; que, também aprenda a fechar-se

para informações que, ao contrário, só lhe oferecerão estagnação ou

retrocesso. Para isso, a psicopegagogia precisa atuar oferecendo

possibilidades de trilhar caminhos na busca do conhecer e viver experiências

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esclarecedoras, significantes, comunicando-se com ele de maneira simples e

positiva, mediando e propiciando o domínio de práticas que o beneficiem.

As emoções, assim como os desejos e os sentimentos, são

manifestações da vida afetiva. Na linguagem comum é hábito substituir

emoção por afetividade, tratando os termos como sinônimos. Todavia, são

diferentes. A afetividade se insere num conceito muito mais abrangente e que

engloba várias manifestações. Já as emoções, possuem características que as

distinguem de outras manifestações afetivas. As emoções sempre estão

acompanhadas de modificações visíveis expressivas, como aceleração de

batimentos cardíacos, mudanças no ritmo da respiração, dificuldades na

digestão, secura na boca e outros. Além disso, provocam alterações na

expressão facial, na postura, na forma como se executam os gestos.

A última década, apesar de inúmeros episódios ruins que nos

ofereceu, assistiu a uma explosão de estudos científicos sobre a emoção. Essa

luz sobre os mecanismos das emoções e suas deficiências põe em foco o

sentimento e sua importância para a vida humana e seus processos. Pois,

como sabemos por experiência própria, quando se trata de moldar nossas

decisões e ações, a emoção pesa muito, e às vezes muito mais do que a

razão.

O estudo das emoções demonstra que a origem delas está na

consciência, operando a passagem do mundo orgânico para o social, do plano

fisiológico para o psíquico. Para Wallon, as teorias sobre as emoções dividem-

se em uma abordagem dominante representada por reações incoerentes e

tumultuadas; destacando o efeito desagregador, perturbador sobre a atividade

motora e intelectual. A outra abordagem destaca o poder ativador das

emoções, considerando-as como reações positivas. Acompanhadas de uma

descarga de adrenalina na circulação e do aumento da quantidade de glicose

no sangue e tecidos, as emoções provocam aumento de energia, o que se

torna bom para uma ação sobre o mundo físico.

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No adulto, são pouco freqüentes crises emotivas, como ataques de

choro, birras, surtos de alegria, tão comuns ao cotidiano da criança. As

emoções aparecem reduzidas, pois estão subordinadas ao controle das

funções psíquicas superiores. Assim, ao enfocar as emoções na vida adulta,

as teorias tendem a identificá-las com ação sobre o mundo exterior objetivo,

enfatizando seus efeitos sobre os automatismos motores e a ação mental.

É grande o destaque que a análise walloniana dá ao

componente corporal das emoções. Wallon mostra que

todas as emoções podem ser vinculadas à maneira como

o tônus se forma, se conserva ou se consome. À cólera,

por exemplo, vincula-se a um estado de hipertonia, na

qual há excesso de excitação sobre as possibilidades de

escoamento. A alegria resulta de um equilíbrio e de uma

ação recíproca entre o tônus e o movimento. Na timidez

verifica-se hesitação na execução dos movimentos e

incerteza na postura a adotar. Com base nesta relação,

resulta até mesmo uma classificação das emoções

segundo o grau de tensão muscular a que se vinculam”.

(GALVÃO, 1995, p. 63)

Enfim, as emoções podem impulsionar uma pessoa a agir, ou

podem impedi-la, travando seus movimentos. As emoções também podem ser

o ponto de partida da consciência pessoal do sujeito por intermédio de seu

grupo, no qual receberá as fórmulas diferenciadas de ação e os instrumentos

intelectuais, sem os quais lhe seria impossível efetuar as distinções e as

classificações necessárias ao conhecimento das coisas e de si mesmo.

A importância das manifestações emocionais coletivas se dá na

medida em que favorece coesão e adaptação ao meio e ao grupo social. As

emoções aparecem como primeira forma de adaptação que o ser humano tem

para com o ambiente em que vive. A atividade intelectual, que tem a linguagem

como um instrumento indispensável, depende do coletivo. Permitindo acesso à

linguagem, podemos dizer que a emoção está na origem da atividade

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intelectual. Pelas interações sociais que propicia, as emoções possibilitam o

acesso ao universo simbólico da cultura.

Porém, em sala de aula é muito comum haver descaso com

relação às emoções dos educandos. A instituição de ensino deveria ter clareza

que ao cumprir a função de transmitir conhecimentos, está lidando com o ser

humano e com os demais aspectos que o formam, além do intelectual.

Na verdade, os aspectos afetivo e motor na sala e aula são

considerados como processos estanques, sem nenhuma relação com o

processo de conhecimento. Assim, é também desconhecida a reciprocidade

entre a afetividade e a inteligência, conquanto exista entre ambas uma

integração que permita nutrição mútua. Ao mesmo tempo em que a afetividade

se estende no desenvolvimento de um sujeito, assim também o faz a

inteligência. Então, à medida que as conquistas no campo cognitivo vão

acontecendo, são incorporadas ao plano afetivo do ser. A evolução completa

se dá, em grande parte, pela reciprocidade entre ambos.

“Os movimentos, como expressões da natureza afetiva, podem

gerar emoções e ser resultado delas. Como salientado anteriormente, a

alegria, ao se produzir, desencadeia uma grande excitação motora”.

(WALLON, 1995, p. 63)

Em sala de aula tais movimentos e emoções, muitas vezes, não

são percebidos ou aproveitados para o processo de aprendizagem. Seria muito

mais fácil para a prática docente se as expressões e emoções favoráveis ao

aprendizado contribuíssem positivamente, e que os educadores, por sua vez,

pudessem compreender que a falta de clareza a respeito da ligação que existe

entre movimento e emoção interfere na relação professor e alunos,

consequentemente, na aprendizagem.

Aprender a ler as emoções é um pré-requisito para administrá-las.

Se o professor aprender a ler o que seus alunos sentem, tornará sua ação

pedagógica mais eficaz. Utilizando as expressões emocionais dos educandos

poderá facilitar o processo de construção do conhecimento, fazendo um elo

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entre ele e seus alunos e contribuir também para a socialização e integração

destes no grupo, e mais abrangentemente, na vida. Pois ao se incumbir da

função de transmissor do conhecimento, o professor deve atuar como um

arguto observador, no sentido de articular, sempre que possível, os aspectos

afetivos e intelectual, ambos inseparáveis e presentes na atividade

pedagógica.

Abordar a emoção como mais um aspecto educacional a ser

considerado para o entendimento do processo ensino-aprendizagem é um

grande passo em direção ao progresso das pesquisas na área do

conhecimento e de como ele se constrói. Ela está inserida neste processo,

porque é inerente ao homem. Por sua vez, as instituições de ensino devem

possibilitar contatos afetivos para obter conhecimento do outro e do que

acontece em seu ambiente. Aceitando a emoção como companhia a

inteligência- uma não existe sem a outra- é aceitar o aluno como ser humano,

utilizando suas experiências para agir e atender suas reais necessidades.

Quando os teóricos e cientistas da área cognitiva tiverem a plena

consciência de que no processo do conhecimento é indissociável os aspectos

afetivo e cognitivo, talvez haja uma mudança positiva na situação educacional

universal, e como a qualidade de vida depende em grande parte disto, haverá

também a melhoria desta no mundo.

O ser humano para desenvolver-se plenamente, necessita da

família e precisa estar inserido em grupos sociais. A partir daí, terá sua

criatividade e suas potencialidades trabalhadas. Porém, tudo isso se dá num

universo mais complexo quando observado pela ótica da vivência,

propriamente dita. Ou seja, uma ação pedagógica consciente e integradora

buscará resultados a partir de situações que aconteçam entre interações e

relações sociais a todo momento, no ambiente onde a educação se dá. Saber

que o afeto faz parte de todos nós é o primeiro passo para que essa ação

obtenha resultados satisfatórios, criando possibilidades para expressões

individuais, onde aflorem as idéias, juntamente com toda a bagagem afetiva

que isso possa ter.

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Quando o aluno consegue sentir-se à vontade e livre para

expressar-se, sente-se também pronto para receber informações que lhe

possam ser úteis no momento e futuramente seus talentos podem ser

incentivados, suas ações poderão estar motivadas, aceitas e acolhidas; e

através da ótica democrática do profissional que conduz a prática, tornar-se

uma realidade positiva para ele. A final, educar é fornecer armas para que uma

pessoa possa manter-se, sobrevivendo da melhor maneira possível,

adequando-se à sociedade e suas regras.

Aptidão emocional é um aspecto inerente ao ser humano. O que

nos falta é aprender a lidar com essa dimensão de nosso ser, e saber fazer elo

entre as demais aptidões que possuímos. Se a emoção fosse ensinada nas

instituições como é ensinado o conteúdo instrutivo, provavelmente, seríamos

capazes de nos relacionarmos muito melhor com nossos semelhantes, e

evitaríamos os problemas atuais que assistimos, atônicos, todos os dias,

quando ligamos nossos aparelhos de tevê. Educar deveria estar no lugar de

instruir; e as instituições, por sua vez, estariam desempenhando

verdadeiramente, suas funções.

“é preciso reinsistir em que não se pense que a prática

educativa vivida com afetividade e alegria, prescinda da

formação científica séria e da clareza política dos

educadores ou educadoras. A prática educativa é tudo

isso: afetividade, alegria, capacidade científica, domínio

técnico a serviço da mudança ou, lamentavelmente, da

permanência do hoje.” (FREIRE, 1996, p. 52)

Se o professor, em sua prática em sala de aula, conseguir- através

da democracia e do querer bem aos educandos- transformações significativas

que contribuam para o indivíduo e também para a sociedade, estará

desempenhando suas funções pedagógicas no caminho da estimulação e

desenvolvimento, visando a exploração do afetivo com toda a carga que ele

sempre carrega. Apesar de não ser uma tarefa fácil, é gratificando na medida

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em que torna um ser cidadão, pronto para concorrer a oportunidades

oferecidas a todos.

As instituições capacitadas, públicas ou privadas, privilegiam o

aspecto cognitivo e o afetivo. Aliando-se uma proposta pedagógica a uma

instituição que promova a ação educativa de maneira eficiente e profissionais

conscientes de que a emoção é o que estabelece o vínculo entre o ser e o

mundo humano, estaremos, todos nós, profissionais docentes, alunos,

funcionários, reitores, diretores, pais, comunidade; caminhando para a tão

buscada solução para uma educação que há muito vem deixando a desejar.

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CAPÍTULO III

DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM.

Toda criança necessita de apoio e paciência. Muitas crianças com

dificuldade para aprender sofrem de falta de autoconfiança, pois sentem-se

menos inteligentes que seus amigos porém, um bom tratamento pode curar um

disléxico. Existe uma alta porcentagem de disléxicos entre os artistas,

cientistas e executivos. Muitos especialistas acreditam que pessoas disléxicas,

por serem forçadas a pensar de forma diferente, são mais habilidosas e

criativas e tem idéias inovadoras que superam as de não-disléxicos.

Apesar das salas de aula estarem lotadas e apesar da falta de

recursos para pesquisas, a dislexia precisa ser combatida. Muitos casos de

dislexia passam despercebidos em nossas escolas e muitas crianças

inteligentes e disléxicas aparentam ser péssimos alunos. Devido a isso, muitos

se sentem envergonhados e acabam abandonando a escola. Muitos pais, por

falta de esclarecimento, também sentem vergonha e tentam esconder o

problema. Porém, isso só tende a piorar a situação da criança, que ao invés de

receberem tratamento adequado para viverem melhor, sofrem o descaso tendo

sua vida escolar atrasada e dificultada.

Os disléxicos precisam de um método adequado para aprenderem

a ler e, consequentemente, a escrever. O psicopedagogo, munido de toda a

técnica necessária, precisa também estar atento para o aspecto afetivo deste

processo, pois, é através do vínculo estabelecido entre eles que poderá

detectar onde ocorre a falha e então agir para corrigi-la.

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É importante frisas que a dislexia não se resolve sem um

tratamento apropriado. Não é um problema que se supero com o tempo,

portanto, não deve ser ignorada. Pais e profissionais devem esforçar-se para

identificar hipóteses da dificuldade existir na vida de suas crianças. Pois,

quando o atendimento acontece desde cedo, o disléxico passa a desenvolver-

se semelhantemente as que não-disléxicas.

Apesar de exigir tratamento, a psicopedagogia não tem uma forma

padronizada de abordar o problema da dislexia, uma vez que, deve-se

considerar as diferenças individuais, as singularidades que cada indivíduo

possui para iniciar o tratamento.

Semelhante à dislexia, a discalculia ocorre de uma falha na

formação dos circuitos neuronais, ou seja, na rede por onde os impulsos

nervosos são processados. Essa falha, quando não detectada e tratada pode

comprometer o desenvolvimento escolar de maneira bem ampla. O estudante,

geralmente tem medo de enfrentar novas experiências de aprendizagem por

acreditar que não é capaz de evoluir. Pode também adotar comportamentos

agressivos, apáticos ou desinteressar-se. Sem saber o que acontece, pais,

professores e até colegas correm o risco de abalarem mais a auto-estima da

criança, com críticas ou punições. Por isso, é importante chegar a um

diagnóstico rápido, de preferência com a avaliação de um psicopedagogo e de

um médico, para que o tratamento seja iniciado adequadamente.

Confusões com sinais matemáticos e dificuldades para realizar

simples contas podem indicar o problema. Para algumas crianças, conseguir

acertar a sequência dos números é um grande desafio. E a razão disso pode

ser a descalculia. Também há a dificuldade em discernir entre igual e diferente

ou pequeno e grande. A pesar do diagnóstico só poder acontecer aos 8 anos,

já se pode iniciar um trabalho com essa criança para que o problema não

evolua e prejudique a vida escolar deste aluno.

Associada a discalcuilia, pode estar também o TDAH (Transtorno

do Déficit de Atenção e Hiperatividade), que se reconhece pela dificuldade de

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concentração e organização, baixa tolerância à frustrações, impulsividade e

cronicidade dos sintomas.

A melhor forma de se tratar o TDAH começa pelo diagnóstico

correto e uma avaliação adequada do meio onde o indivíduo vive, seu contexto

familiar, social e escolar, que pode ou não estar contribuindo para alterar o

comportamento desse indivíduo. Se tais aspectos ou qualquer um desses for

esquecido, provavelmente haverá erro do diagnóstico que, por sua vez,

causará erro na abordagem psicopedagogica adotada.

A disortografia, transtorno da escrita com inversões, aglutinações,

omissões, desordem na estrutura da frase, reflete um processo cognitivo da

linguagem defeituoso e não se refere à falta de correção motora. Está

relacionada à dislexia e é apontada por muitos autores como uma seqüela

dela. Não é considerada uma doença. E como todo distúrbio de aprendizagem,

pode ser contornado com acompanhamento adequado.

Outro distúrbio tratado pela psicopedagogia é o autismo, que se

caracteriza por prejuízo severo e invasivo em diversas áreas do

desenvolvimento. Se manifesta nos primeiros anos de vida e frequentemente

estão associados a algum grau de retardo mental.Podem apresentar sintomas

comportamentais comportamentais comuns, como: hiperatividade, atraso de

linguagem ou ausência, desatenção, impulsividade, acessos de raiva, auto e

heteroagressão, respostas incomuns a estímulos sensoriais, distúrbios na

alimentação e ou do sono, anormalidades do humor e do afeto, ausência de

medo ou medo exagerado. Enfim, por apresentarem prejuízo na interação

social, os indivíduos autistas necessitam de acompanhamento médico e

terapêutico para desenvolverem independência e adquirirem um grau de

convivência possível, apesar de muitas vezes, ser limitado por sua falta de

reciprocidade social e emocional.

Muito semelhante ao autismo, está a Síndrome de Asperger, que é

um transtorno como características prejudiciais iguais a do autismo, porém,

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com uma diferenciação no que se refere à linguagem e ao desenvolvimento

cognitivo.

Para ambos transtornos, não há medicação específica e o

tratamento deve ser fundamentado numa abordagem multidisciplinar e

interdisciplinar, onde a intervenção fonoaudiológica aconteça intensivamente,

assim como o tratamento médico e as intervenções educacionais e

comportamentais. Além de intervenções intensivas, o autista precisa de

uniformidade de condutas, tanto escolares como sociais e familiares.

E, por último, temos a Síndrome de Down, ou Trissomia do

cromossomo 21, que designa a divisão em três do cromossomo número 21 do

material genético humano. De uma forma geral, podemos classificar a

Síndrome de Down como um acidente genético, sobre o qual não se tem

controle. Qualquer mulher pode ter filho com esta síndrome não importando a

raça, credo, nacionalidade ou classe social.

O desenvolvimento de uma criança com Síndrome de Down se

difere em pouco do desenvolvimento dos demais. Na área educacional, apesar

de enfrentar algumas dificuldade de aprendizagem, ela pode freqüentar escola

de ensino regular, pois o convívio com crianças não portadoras contribui para

que ela se desenvolva melhor. Além disso, a convivência é positiva para

ambos os lados, uma vez que, se possibilita a conscientização das diferenças

individuais e do não preconceito ou restrição seja por aparência, raça, ou

demais características distintas.

Aspectos como intervenção psicopedagógica com monitoração de

problemas comuns a indivíduos portadores desta síndrome, ambiente familiar

estável e muitos outros, contribuem para o bem estar e para um bom

desenvolvimento dele. Enfim, recebendo o apoio necessário, tanto dos pais,

como dos professores e terapeutas, estas crianças apresentam resultados

comportamentais sociais e até mesmo profissionais, muito bons, e em alguns

casos, surpreendentes.

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CAPÍTULO IV

O PAPEL IMPORTANTE DA INTERVENÇÃO

PSICOPEDAGÓGICA E DA FAMÍLIA PARA SUPERAÇÃO

DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM.

“Alterar a posição de passividade dos alunos e suas mentalidades,

tornando-os autônomos e independentes é o desafio”. (FREINET)

Esta citação ilustra a preocupação dos psicopedagogos em relação

ao atendimento que se oferece as crianças com alguma dificuldade de

aprendizagem ou algum transtorno de desenvolvimento, ou mental.

O profissional, cujo objeto de trabalho é a problemática da

aprendizagem, não pode deixar de observar o que sucede entre inteligência e

desejos inconscientes; porém, sem prender-se apenas no psicológico, ou

apenas no pedagógico.

A atuação psicopedagógica precisa caracterizar-se por uma

específica ação profissional, que é voltada para os processos de aprender e

seus fatores agregados. Isso implica a necessidade do corpo teórico,

constituído através da junção e interação de diversos conhecimentos

emprestados de outras áreas.

A psicopedagogia nos remete, então, a visão do homem como

sujeito ativo num processo de interação com o meio físico e social, tendo seu

equipamento biológico, afetivo e intelectuais levado em conta, acima de tudo.

E entende que todas essas condições são geradas e desenvolvidas no âmbito

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social e familiar do aluno, sendo a aprendizagem o elemento que liga e que dá

sustentação para que todo esse mecanismo aconteça adequadamente.

Desse modo, o profissional tem que saber reconhecer a

aprendizagem nessa via de mão-dupla, sujeito-meio, e compreendendo como

esta interação acontece. Pois é através dessa observação que se fundamenta

seu planejamento de trabalho e atendimento psicopedagógico, numa

perspectiva individual ou em grupo, contextualizando o que será oferecido a

este cliente com necessidades especiais ou não.

Apesar do psicopedagogo quando atua na instituição educacional

pesquisar a aprendizagem no âmbito escolar, também terá o olhar clínico, pois

requer atitude preventiva, investigativa e intervencionistam considerando que

cada situação é única e particular, seja ela, individual ou em grupo. Cada

problema deve ser analisado de maneira singular, levando em conta todos os

fatores como escola, família, professor, comunidade e que não podem ser

negados.

Por tal motivo, cabe aos profissionais de psicopedagogia agir

educacionalmente no sentido amplo, ou seja, conhecimentos e informações,

mas também valores e regras de conduta num empenho de socialização desde

indivíduo, principalmente.

E isto está intimamente ligado a escola porque é ela a grande

responsável por grande parte do que todos nós aprendemos e usamos em

nosso dia-a-dia. Sendo assim, orientar psicopedagogicamente é adaptar o

aluno para o universo escolar, e fazer com que ele compreenda todos esses

complexos sistemas interativos. E, importante é, frisar o papel do vínculo

afetivo que se precisa estabelecer na busca de soluções para problemas e

dificuldades, ou ajustamentos e caminhos simplificados para cada um, em

suas atribuições e com suas aptidões e necessidades.

Como na família abordamos pais ou responsáveis para investigar

relações entre os componentes do núcleo, na escola precisamos também

observar como se dão as relações entre todos os envolvidos, inclusive o aluno

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em questão, e não deixando esquecer-se de quem ensina também. Ou seja, o

professor em sua metodologia e profissionalismo no que diz respeito a

construir autonomia, num compromisso consciente de seguir um planejamento,

mas também de manter o foco no histórico dessa criança, com sucessos ou

não, com erros e acertos, porém, com muita sensibilidade e atenção num

traçar de estratégicas de trabalho.

Nesta análise e abordagem, devemos destacar que não podemos

nunca fundar uma prática que não leve em consideração o afeto, seja ele

oriundo de vínculo positivo ou negativo. Quer dizer, o afeto denota situações

de satisfação e prazer, mas também de insatisfação e dor. Se isso ocorre, o

olhar de interventor deve estar voltado para as emoções que estejam

bloqueando a aprendizagem de acontecer, num esforço que se volte para o

bem-estar da criança e de sua melhor adaptação social e escolar.

Por outro lado, temos que evidenciar e destacar que, apesar das

teorias valorizarem a questão emocional discente, a prática escolar delega-os

em função de priorizar fatores cognitivos, intelectuais, metodologias e técnicos

demais. Sem a noção segura da importância que os sentimentos

desenpenham nessas relações, todo profissional envolvido no problema e não

só o psicopedagogo, fica deficiente em seu desempenho, devendo uma tarefa

tão primordial para o sucesso desse atendimento, que é a da avaliação total e

integrada, pois não podemos separar o âmbito emocional do intelectual e

cognitivo, pois um só acontece com o outro.

Assim sendo, creio que a formação docente se faz significativa,

pois se o professor aprende num ambiente de acolhimento e liberdade de

expressar, provavelmente pautará sua prática também desta mesma forma,

com respeito e amor, dedicação e tolerância. Como o professor, e talvez muito

mais, o psicopedagogo deve ater-se no desenvolvimento afetivo-cognitivo de

seus clientes e sujeitos que com eles convivem de uma maneira global.

O resgate do afeto, das emoções boas ou ruins faz parte do

trabalho nosso, profissionais em educação, e perpassa pelas relações sociais

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em sua totalidade. É importante olhar o que falta no aluno, mas também é

preciso, fundamental, resgatar o que se tem de bom e do que foi construído na

história desse indivíduo, de forma prazerosa e gratificante. Evidenciar as falhas

nem sempre é o caminho mais acertado e devido a isso, torna-se primordial

facilitar o trabalho caminhando no “sim”, entendendo como ele aprende, onde

busca, onde acha estímulo, positivo, para querer conhecer alguma coisa. A

partir do que ele se interessa, monta-se a abordagem e a intervenção

psicopedagógica para ajudá-lo numa adaptação aos ambientes que lhe são

indispensáveis, ou seja, no jogo da vida. Ensinar a jogar, retirar a angústia que

os processos de aprendizagem podem causar, ensiná-lo a pensar e a

conhecer-se, conhecendo-o primeiro de todas as maneiras que possível for. O

psicopedagogo passa a investigar seu cliente, foca no cognitivo-afetivo, e

então descobrindo seus mecanismos na busca do conhecimento, ensina-lhe

sobre si próprio, sem precisar dizer-lhe isso. Ele é ensinado sobre si sem ter a

verdadeira consciência de como isso se dá. Aprende sobre como aprende e se

relaciona sem perceber essa finalidade em sua essência profunda. Porque é

isso que o profissional psicopedagógico realiza: análise, busca, investigação

do sujeito, de seu histórico passado e presente, para uma prevenção futura. E

o aluno, orientado a seguir por outro caminho, torna-se capaz de ter autonomia

em suas escolhas e a discernir qual o melhor para si mesmo, apesar dos pais,

do professor, do médico, do psicólogo.

Se, conscientes dessa função, terão, provavelmente, os

psicopedagogos, sucesso total em suas intervenções. Porém, se não total, o

que restar indissolúvel, talvez fuja a seu alcance, e esteja, possivelmente, no

terreno dos demais profissionais que envolvidos neste processo diagnóstico e

terapêutico.

Nas últimas décadas, vários estudos têm dado ênfase aos

aspectos cognitivos, deixando de lado os aspectos afetivos do

desenvolvimento infantil. Porém, de acordo com Wallon, “o desenvolvimento se

dá de maneira completa, ou seja, pela integração de seus aspectos sociais e

individuais”. (GALVÃO, 1995, p.55)

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Através dessas pesquisas, se tomou conhecimento da importância

dos grupos sociais para a formação do indivíduo. Entre esses grupos, está a

família como o primeiro e duradouro grupo a que fazemos parte. É ela que

determina, nos primeiros anos de vida, os limites de expressão de nossas

emoções e de nossa afetividade. Nosso primeiro grupo que reprime nossas

emoções negativas, e reforça nossos comportamentos positivos e agradáveis,

também molda a maneira como expressamos nossos sentimentos.

Comportamentos desencadeados por sentimentos inaceitáveis são censurados

e os que são aceitos socialmente, são incentivados.

Quanto maior for o vínculo afetivo entre os pais e o aluno,

melhores deverão ser as chances dele se tornar um adulto feliz, pois, “a

criança que apresenta um componente emocional bem trabalhado por seus

pais já sai na corrida da vida com um coração de vantagem”. (METTRAU,

2000, p. 62 )

Os pais e familiares precisam ter uma coerência entre o agir e o

pensar, para que não passem a exigir da criança o que é impossível realizar.

Muitas vezes confunde-se a capacidade intelectual com a capacidade de

resolver bem problemas pessoais e sociais e maturidade emocional que não

condiz com desenvolvimento biopsicossocial. Enfim, alguns familiares

precisam de atendimento e orientação nessa tarefa, porém gratificante, que é a

de educar um filho.

Crianças com dificuldades de aprendizagem precisa de cuidados e

apoio especiais, como elogios, amor, encorajamento, tolerância, paciência, e,

como toda criança, de disciplina e limites. Os pais devem ser amigos, mas

devem também fazer o papel de orientadores para uma vida em sociedade,

onde ele saiba se expressar, defender suas opiniões; porém, respeitando os

outros e sabendo de suas limitações, deveres e obrigações. A psicopedagogia

deve ajudá-lo a ser uma pessoa melhor.

O desafio de ter um filho é aprender sobre ele durante o convívio.

Toda mãe e todo pai passui uma dose de intuição que deve ser levada em

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conta e, depois disso, um esforço para entender e atendes sua necessidades

nos aspectos intelectual, afetivo, de compreensão e de aceitação. Ele mesmo

tem que ver-se como alguém que possui o pensar, o agir, o falar e o sentir. A

criatividade é um traço marcante, porém, se não for trabalhada e entendida

perde-se, dando lugar, muitas vezes, ao desânimo, introspecção,

agressividade ou comportamentos que escondem suas capacidades, levando

as outras pessoas a pensarem que seu nível intelectual é baixo e que não são

indivíduos, criativos e inteligentes.

O ideal é que o acompanhamento seja feito, não só pela família,

como também, por professores, profissionais da área ou especialistas. Esse

atendimento visa conhecer os gostos e preferências, seus interesses, seus

padrões comportamentais, suas habilidades e suas intensidades. Ou seja,

propiciar a ele um desenvolvimento em potencial, onde sinta-se apoiado e

seguro para expor suas opiniões e questionamentos. A escola é outro fator que

merece atenção, pois ela também precisa ser interessante, oferecendo

atividades que o estimulem e o façam sentir-se bem.

A curiosidade, a energia para descoberta, são fatores que

acompanham as crianças. Cabe aos pais, tentar canalizar inquietação e

vontade, para atividades de passeio, brincadeiras, divertimento e lazer

também, e não só voltá-lo para atividades intelectuais, onde seja posto a

estudar, a ler, a decifrar enigmas ou desenvolver exercícios de raciocínio.

Crianças precisam brincar e divertir-se para que o intelectual tenha um tempo

de recuperação e descanso. Ninguém consegue pensar em resolver conflitos

sérios o tempo todo, ou exercitar a lógica e o raciocínio sem parar. É disso que

os pais também precisam saber. Crianças têm que conviver com outras

crianças, para que aprendam sobre grupos e sociedade, e até mesmo para

que aprendam a viver.

VYGOTSKY (1991, p.44), cita :

“O desenvolvimento da lógica na criança, como os

estudos de Piaget demonstraram, é uma função direta de

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sua fala socializada. O crescimento intelectual da criança

depende de seu domínio dos meios sociais do

pensamento, isto e linguagem”.

Os pais e familiares, se quiserem que a sua criança se desenvolva

e seja futuramente um sujeito bem-sucedido em suas atividades, precisam ter

conhecimento de tudo isso, além de uma boa dose de paciência, persistência,

informação, saber reconhecer até onde seu filho pode ir e incentivá-lo a ir, sem

esquecer do amor, do afeto, das palavras de carinho e compreensão que todos

nós, seres humanos, precisamos. Criando um ambiente saudável, acolhedor,

onde ele possa sentir-se querido e aceito, sua individualidade seja respeitada,

e onde não haja comparações com irmãos ou amigos.

Como saber se o papel da família e de todos a que ela teve que

recorrer foi eficiente ? Observando a criança durante seus momentos,

atividades de estudo, seu lazer ou até mesmo numa situação de descontração

entre amigos, se ele apresenta-se satisfeito, bem, feliz, pleno em seu modo de

agir, de tratar os demais, com consciência de suas vontades, capacidade

e interesse. Inserido na sociedade e tendo liberdade para demonstrar o que

sabe, aí sim, prova-se a eficiência do acompanhamento familiar. Sendo os pais

pessoas humildes, que sabem esperar o momento certo de interferir, sem

atropelos ou exposições, estarão caminhando para a realização de uma

orientação bem fundamentada e coerente, que vise o desenvolvimento de uma

pessoa que , sozinha , não conseguiria conhecer - se . Todos nós , seres

humanos , precisamos das outras pessoas e , basicamente, de uma família.

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CONCLUSÃO

As pessoas buscam a felicidade e querem estar bem, vivendo

dignamente, sendo respeitadas e tendo suas emoções respeitadas também. E

para que isso ocorra, o mundo precisa humanizar-se cada vez mais. As

pessoas sendo valorizadas pelo que são, e não pelo que possuem.

Comprovou-se que é a emoção o fator de ligação entre o homem e tudo o que

está ao seu redor. Portanto, é o que nos move ao progresso.

A contribuição da psicopedagogia é muito grande, quando forma

cidadãos, produz conhecimento, transmite informações e favorece o

desabrochar dos talentos. A escola alavanca para o futuro, então que seja de

maneira construtiva, expandindo horizontes, abrindo leques de opções

profissionais. Associadas – escola e psicopedagogia - estas possibilidades

são potencializadas.

Ignorada pelos estudiosos, que visaram o estudo do intelecto, do

cognitivo, a afetividade vem sendo hoje, alvo de diversas análises com os

estudos da inteligência. E a partir daí, o ser humano passou a fazer sentido e

dar sentido ao que o emocionava.

Situada entre dois percursos esteve durante décadas a inteligência:

por um ângulo, estudiosos que a tratavam apenas pelo prisma da

racionalidade, de outro lado, pesquisadores que tinham apenas a dimensão

emocional. Sempre separadas umas das outras, essas duas visões sobre a

inteligência sempre foram os focos de buscas de respostas. Hoje, pode-se

dizer que o quadro e outro, pois mais e mais autores abordam o tema,

apontam a ligação entre racional e o emocional, e a inteligência como

conseqüência dessa ligação.

O meio circundante deve garantir que a aprendizagem aconteça e seja

conseqüência da união entre os pais e os profissionais de educação. Nesse

meio, em que vive o aluno, deve encorajá-lo a ir em frente, expressar-se seja

de que forma for, promover suas habilidades, satisfazer sua sede de

conhecimento, sua curiosidade, e também, atender sua necessidade de

pertencer e de ser aceito.

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Sabemos que as relações afetivas são o motivo de agregações. Muitos

grupos sociais têm como prioridade para existir, o afeto. Assim acontece na

família quando duas pessoas que se amam resolvem unir-se, ter filhos e

manter-se ligados pelo amor. Porém, com a escola isso não ocorre. Ela tem

como prioridade o conhecimento. Entretanto, mesmo na escola, as relações

afetivas se evidenciam, pois a transmissão do conhecimento implica,

necessariamente, uma interação entre pessoas. Portanto, na relação

profissional-aluno, que é uma relação de pessoa para pessoa, o afeto também

está presente.

Este estudo vem mostrar que, se o afeto está presente até onde ele

não é priorizado, então não se dissolve nunca enquanto existimos. Pode-se

dizer que, onde não há afeto e emoção não há ser humano.

“Uma das qualidades mais importantes do homem e da

mulher nova é a certeza que têm de que não podem parar

de caminhar, e a certeza de que cedo o novo fica velho

se não se renovar. A educação das crianças, dos jovens

e dos adultos tem uma importância muito grande na

formação do homem novo e da mulher nova. Ela tem de

ser uma educação nova também, que estamos

procurando pôr em prática de acordo com as nossas

possibilidades”. (Paulo Freire)

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BIBLIOGRAFIA

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1988.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I 12

CAPÍTULO II 18

CAPÍTULO III 25

CAPÍTULO IV 29

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA 38

ÍNDICE 40