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Universidade de São Paulo Escola de Comunicações e Artes Relatório Parcial de Pesquisa de Iniciação Científica Responsável: Prof. Dr. Mássimo Di Felice | Centro de Pesquisa ATOPOS Netativismo: ações colaborativas e novas formas de participação em redes digitaisProf. Dr. Massimo Di Felice Projeto Temático com o apoio da USP Daniele Bezerra de Melo Silva Agosto de 2011

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Universidade de São Paulo

Escola de Comunicações e Artes

Relatório Parcial de Pesquisa de Iniciação Científica

Responsável: Prof. Dr. Mássimo Di Felice | Centro de Pesquisa ATOPOS

“Netativismo: ações colaborativas e novas formas de participação em redes digitais”

Prof. Dr. Massimo Di Felice

Projeto Temático com o apoio da USP

Daniele Bezerra de Melo Silva

Agosto de 2011

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Sumário

Introdução....................................................................................................................................1

Embasamento teórico...................................................................................................................4

À Comunicação Digital....................................................................................................4

Marshall McLuhan………..................................................................................7

Derrick de Kerckhove…....................................................................................12

Manuel Castells..................................................................................................20

Lúcia Santaella...................................................................................................25

Mássimo di Felice...............................................................................................31

Dos Direitos Humanos....................................................................................................35

Do Ativismo ao Netativismo..........................................................................................42

Pesquisa empírica.......................................................................................................................50

Exemplos de redes digitais sobre direitos humanos.......................................................54

Direitos Humanos e Ação social na Rede......................................................................92

Outras contribuições...................................................................................................................99

Conclusão.................................................................................................................................114

Anexos.....................................................................................................................................118

Referências Bibliográficas.......................................................................................................137

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NETATIVISMO: AÇÕES COLABORATIVAS E NOVAS FORMAS DE PARTICIPAÇÃO

EM REDES DIGITAIS

Introdução:

Partindo de estudos sobre a comunicação digital, os direitos humanos e o ativismo, a pesquisa

em andamento tem como objetivo analisar os aspectos e o impacto de ações colaborativas,

desenvolvidas através da interação com a tecnologia, além de mapear algumas ações

protagonizadas no Brasil, para avaliar a forma como estas ações promovem, nas redes digitais,

novas formas de ativismo e definir as principais características dos significados sociais e

políticos de tais ações.

Para alcançar os objetivos supracitados, fez-se necessário o prévio estudo de teorias relativas à

comunicação digital e, principalmente, sobre a considerada, por alguns pensadores, como a

Segunda Revolução Digital (em curso). O netativismo surge dentro do contexto da cibercultura,

com o advento da chamada Web 2.0, termo que se refere à plataforma web caracterizada pela

conexão de alta velocidade (que permite a veiculação de informação em todos os formatos), pelo

colaborativismo e pela grande possibilidade de participação dos usuários. O surgimento desta

nova plataforma alterou a forma comunicativa da sociedade ocidental. O aumento da quantidade

de informações, que circulam em menos tempo e com menor custo, e a quebra da passividade do

receptor favoreceram a construção desta plataforma colaborativa e participativa. Ela engloba as

wikis (páginas dedicadas à construção de conteúdos colaborativos), blogs, redes sociais, redes

digitais, entre outros aplicativos que estimulam a inteligência e a criação coletivas.

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É neste contexto que as ações sociais e as formas de ativismo ganham novo sentido. Surge uma

nova forma de ativismo em rede e na rede, que se articula como maximização das possibilidades

de autonomia e sustentabilidade do desenvolvimento e da criatividade, no âmbito dos

movimentos new-global, caracterizados, não pela oposição à globalização, mas pelo advento de

uma identidade cidadã global, habitante das redes digitais, que não nega a diversidade local e

cujas pautas reivindicatórias e de ação glocal avançam na direção do atendimento das

necessidades comuns, tais como a democracia, o consumo consciente, a sustentabilidade etc.,

muitos deles constituindo redes de redes, ecossistemas onde sociedade, tecnologia e natureza

tornam-se sujeitos glocalmente interagentes.

O enfoque desta pesquisa são as redes sociais digitais temáticas, responsáveis pela multiplicação

das relações sociais online e que possibilitam novas formas de práticas de interação e de

ativismo. Com o objetivo de verticalizar o estudo proposto neste trabalho, foi decidido analisar

ações colaborativas dentro de redes digitais que abordassem a temática dos Diretos Humanos. Ou

seja, a posterior pesquisa de campo foi baseada em modelos de redes digitais que denunciam

abusos ou defendem os Direitos Humanos. Esta escolha foi pautada no julgamento do quão

importante é a discussão deste tema em um país com tanta desigualdade e preconceito. Além

disso, é vasta a gama de subtemas ligados a esta área, o que nos possibilitaria, quantitativa e

qualitativamente, uma melhor análise.

A primeira parte deste estudo, então, foi dedicada à compreensão e resumo das leituras

bibliográficas relativas ao entendimento da Comunicação Digital, dos Direitos Humanos e do

Ativismo. Autores como Marshall McLuhan, Derrick de Kerckhove, Lúcia Santaella, Manuel

Castells (no campo da Comunicação), Norberto Bobbio (no campo dos Direitos Humanos) e

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Ângela Alonso e Jorge Alberto S. Machado (no campo do ativismo) ajudaram a construir o

alicerce teórico necessário à etapa seguinte da pesquisa.

Posteriormente ao estudo teórico, seguiu-se a pesquisa empírica dedicada, primeiramente, ao

levantamento de referências de ações netativistas no Brasil e no mundo, coletadas no dia-a-dia e

necessárias ao entendimento de como as lutas sociais e as afirmações dos Direitos Humanos

passam pelas redes, nelas se fortalecem e através delas se modificam; e, posteriormente, aos

exemplos de redes brasileiras desta natureza pesquisadas na própria internet. Por último, seguiu-

se a análise dos conteúdos destas redes, como elas se articulam e quais os efeitos de suas ações

em nossa sociedade.

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Embasamento Teórico

1.1) À Comunicação Digital

As teorias da comunicação anteriores à comunicação digital consideravam um emissor, “dono”

da informação, que enviava uma mensagem a um receptor passivo, que não tinha nenhum poder

de modificação e/ou interação com a mensagem, sendo permitido, no máximo, enviar um

feedback. (WOLF, Teorias da Comunicação, 1999).

Na comunicação digital, este paradigma é alterado de forma decisiva para a comunicação. O

receptor deixa de ser passivo e passa a ser ativo, sendo então chamado de usuário e ganhando

poder de pressão e de resposta, nunca antes visto. O feedback conhecido nos paradigmas

anteriores passa a ser uma interação constante entre usuários e rede. Esta qualidade possibilitada

pela internet altera a maneira com a qual os indivíduos se relacionam entre si, se relacionam com

as redes e com o mundo.

A partir de um ponto de vista comunicativo, o advento das redes digitais, sobretudo na Web 2.0,

foi interpretado por estudiosos da comunicação digital como uma revolução responsável pela

transformação da própria natureza da arquitetura e do processo de repasse das informações. A

internet alterou a maneira com que armazenamos, organizamos e distribuímos as informações, e

também as formas de interação entre cidadãos.

O pensamento de vários autores estabeleceu um ponto de vista fértil para a nossa época que

passa a pensar a tecnologia como um elemento importante nos processos de transformação

social, assumindo um papel não somente instrumental, mas ativo e transformador dos processos

culturais e sociais.

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A comunicação digital e a cibercultura estão atreladas à emergência das redes digitais. A

comunicação digital na rede não possui centros informativos; nela não há um emissor que envia

uma mensagem a um ou mais receptores passivos. Há nela a possibilidade de um usuário falar

para todos, de todos falarem para um, de todos falarem para todos ou de um falar para um,

diferentemente do modo analógico, no qual os papeis do emissor e do receptor são claramente

separados e diferentes – o emissor emite a mensagem e manipula o receptor, que a recebe, sem

nela interferir, sem modificá-la. A comunicação digital assume que todos são usuários e

interagem entre e si e com a rede, de forma possivelmente igualitária.

No modo digital não há unilateralidade, há interação entre todos e quaisquer usuários, em todas

as direções e sentidos. Há participação, colaboração, interatividade. A rede destaca o papel das

minorias, possibilitando a multiplicação das visões de mundo:

Esta multiplicação da comunicação, esta tomada da palavra por

parte de um número crescente de subculturas, é o efeito mais

evidente dos mass media e é também o fato que (...)

determina a passagem da nossa sociedade para a pós-modernidade”.

(VATTIMO, 1992, p. 52)

As redes promovem a aproximação de pessoas de vários territórios, possibilitando a combinação

de diferentes culturas e reforçando o fenômeno da diversidade cultural. (AMADEU, 2009)

Esta nova fase da comunicação cria uma nova cognição. O pensamento deixa de ser linear como

nas outras mídias e passa a ser hipertextual. Isto altera a forma com a qual o Homem se vê no

mundo e a forma como o Homem vê o mundo. A natureza, o território e o contexto agem de

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modo determinante na nossa constituição, no modo como somos (DIFELICE, 2009). Nesta fase,

a mídia possibilita a tomada de consciência do Homem através da difusão de mais informações e

do aumento da facilidade no acesso a essas informações.

1.1.1) Marshall McLuhan e as extensões do homem

Anterior a todos esses pensamentos, Marshall McLuhan foi precursor dos estudos das mídias.

Ele destacava o impacto das novas tecnologias em nossas vidas. Apesar de não falar sobre a

comunicação digital (nestes termos), ele foi o primeiro a conduzir estudos de caráter cultural e

social sobre os meios de comunicação. Dizia que “as sociedades sempre foram influenciadas

mais pela natureza dos media, através dos quais os homens se comunicam, do que pelo conteúdo

da comunicação” (MCLUHAN, 1964).

Em “Galáxia de Gutemberg” (1962), McLuhan discorre sobre a evolução midiática, pensada por

ele como determinante nas transformações culturais e sociais do mundo. Ele divide a evolução

midiática em três grandes galáxias: a da cultura oral ou acústica, a da cultura tipográfica (ou

Galáxia de Gutemberg) e a da cultura eletrônica (aqui ele traz o conceito de Aldeia Global,

explicado mais à frente). A cada nova fase, é percebida uma modificação do homem, de suas

relações com seus semelhantes e com a natureza e dos seus processos mentais.

A galáxia da cultura oral era própria das sociedades não-alfabetizadas, cuja principal forma de

comunicação era a palavra oral. Nesta fase, houve uma valorização da memória, da percepção

sensorial, dos costumes, das experiências e tradições familiares. A disseminação das idéias era

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feita oralmente. O homem aqui era tribal, bárbaro. O mundo era auditivo e a memória era

coletiva.

Com a invenção do alfabeto fonético, o homem foi transferido do “mundo mágico do ouvido”

para o “mundo neutro da visão”, afetando-o tanto de forma fisiológica quanto psíquica. Ele

afirma que “o alfabeto é o agressivo militante absorvidor de culturas”.

Em seu livro “Os Meios de Comunicação como extensões do homem”, McLuhan aborda as

consequências sociais dos meios de comunicação, estes colocados por ele como extensões dos

nossos sentidos.

Neste livro, ele procura determinar as propriedades diferenciadoras de cada meio, observando

que cada um traz transformações sociais, culturais, políticas e de civilização. Os meios geram

ambientes que moldam os tipos de vida, com conseqüências profundas no homem.

No primeiro capítulo “O meio é a mensagem”, destaca que o conteúdo de uma mensagem é, na

verdade, outro meio, outro veículo:

O efeito de um meio se torna mais forte e intenso justamente porque o seu conteúdo é um

outro meio, como o conteúdo de um filme é o romance, uma peça de teatro ou uma ópera. [...]

O conteúdo da escrita ou da imprensa é a fala. Mas o leitor permanece quase que inteiramente

inconsciente, seja em relação à palavra impressa, seja em relação à palavra falada.

(MCLUHAN, 1964, p. 33)

Segundo ele, o meio é a mensagem, porque ele modela e controla a escala e a forma das

associações e trabalho humanos. Os conteúdos ou usos destes meios são tão variados como

incapazes de modelar as formas de associação humana e nos impedem de ver seu caráter.

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Enquanto suporte pensado meramente como material da comunicação, o meio era visto como

transparente e não-determinante no processo comunicacional. Para este autor, porém, o meio não

é simplesmente um canal de transmissão da mensagem. Ele é elemento determinante do processo

de comunicação. A mesma mensagem proferida pela mídia televisiva e impressa, por exemplo,

teria dois impactos diferentes no mesmo receptor. Segundo ele, uma mensagem veiculada

oralmente (pelo rádio ou televisão, por exemplo) e a mesma mensagem emitida de forma

impressa desencadeiam diferentes mecanismos de compreensão e de percepção, no receptor,

adquirindo diferentes significados.

“O „conteúdo‟ de um meio é como a „bola‟ de carne que

o assaltante leva consigo para distrair o cão de guarda da mente.

O efeito de um meio se torna mais forte e intenso justamente

porque o seu „conteúdo‟ é um outro meio. O conteúdo de um filme é um romance,

uma peça de teatro ou uma ópera. O efeito da forma fílmica não está relacionado

ao conteúdo de seu programa. O „conteúdo‟ da escrita ou da imprensa

é a fala, mas o leitor permanece quase que inteiramente inconsciente,

seja em relação à palavra impressa, seja em relação à palavra falada”.

(McLUHAN, 1964, p. 33)

A tecnologia pela qual a comunicação é estabelecida, portanto, constitui a forma comunicativa e

determina o conteúdo da própria comunicação. Numa perspectiva determinista, McLuhan nos

coloca como reféns do meio, tema que volta a falar no capítulo quatro, explicado mais à frente.

“A aceitação dócil e subliminar do impacto causado pelos meios

transformou-os em prisões semmuros para seus usuários”

(MCLUHAN, 1964, p. 36).

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McLuhan considera duas grandes rupturas no ambiente social provocadas pela tecnologia: a

Revolução Tipográfica decorrente da invenção da imprensa, por Gutemberg, em meados do

século XV; e a revolução eletrônica nos séculos XIX e XX, iniciada pela invenção do telégrafo e,

continuada pela revolução das mídias de massa, com a TV, o cinema e o rádio.

A Revolução Tipográfica desenvolveu um novo tipo de sociedade e de cognição. O raciocínio e a

visão nesta fase passaram a ser linear e individual. A Revolução Eletrônica e dos Meios de

Comunicação de Massa desenvolveram uma sociedade retribalizada, de múltiplos sentidos, e de

reconstituição da tradução oral.

Os meios eletrônicos, principalmente os audiovisuais, dirigem-se de forma direta ao espectador,

apelando para sua sensibilidade e envolvendo-o em sua mensagem, provocando um retorno da

expressividade da comunicação oral.

A partir destes pensamentos, McLuhan introduziu o conceito de Aldeia Global. Segundo ele, a

Aldeia Global começou nos anos 20, com o rádio. Os meios eletrônicos nos colocavam de novo

em contato com as emoções tribais, das quais a imprensa nos tinha distanciado. Pessoas de

qualquer parte do mundo podiam se comunicar, como se vivessem em uma aldeia, ou seja, o

processo tecnológico reduziu o mundo à condição de aldeia. “A nova interdependência eletrônica

cria o mundo à imagem de uma aldeia global”, afirmava. McLuhan falava do computador e das

telecomunicações, em uma época em que a rede era apenas a interligação de computadores

militares norte-americanos, no período de guerra. Sem saber, ele vislumbrava a mesma situação

para meios como o celular e a internet.

A Aldeia Global seria um mundo interligado, conectado, fruto de tecnologias que diminuíram as

distâncias entre os indivíduos, como a Tecnologia da Informação e da Comunicação, e,

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atualmente, a própria internet. O estreitamento dos laços provocados pela quebra do

distanciamento promove uma aproximação entre as lutas e os ideais glocais. A informação

transmitida por meios eletrônicos permite diminuir as distâncias geográficas. Os meios

eletrônicos, segundo ele, permitem ampliar as possibilidades de organização social, fazendo com

que um acontecimento em uma parte isolada do mundo ganhe projeção e reflexos em outra parte

geograficamente distante.

Como parte do estudo dos meios de comunicação, McLuhan os divide em dois tipos (quentes e

frios), de acordo com a quantidade de informação que transmitem e com o envolvimento (em

maior e menor grau) do receptor.

Os meios quentes seriam aqueles que prolongam um único sentido e em alta definição, como o

rádio e a fotografia, por exemplo, por fornecerem muita informação visual, permitindo pouco

envolvimento do receptor. “Alta definição se refere a um estado de alta saturação de dados”,

explica, ou muita informação. Os meios frios como o telefone, a televisão e a fala, permitem (e

exigem) mais envolvimento do receptor, por serem considerados meios de “baixa definição”.

Se analisarmos a internet a partir destes conceitos, verificaremos que a complexidade nas

possibilidades de interação que o ciberespaço proporciona torna difícil sua classificação em um

desses meios. Ela pode ser considerada tanto um meio frio quanto um meio quente, já que a rede

interativa integra o escrito, o oral e o áudio-visual. Essa integração muda o caráter da

comunicação. A internet pode ser considerada de “alta definição”, por saturar o meio, mas, por

outro lago, como possibilita que o usuário tenha efetiva participação como em nenhum outro

meio, pode também ser considerada um meio frio.

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Mais adiante, McLuhan explica que o homem fica fascinado por qualquer extensão de si mesmo

em qualquer material que não seja o dele próprio, ficando então entorpecido. Ele explica isso ao

citar o mito do Narciso, que viu em seu próprio reflexo na água uma outra pessoa, ficando então

inerte.

Para ele, essa extensão é como uma “auto-amputação”, ou seja, quando o homem se prolonga ou

se projeta para fora de si, causa uma amputação da função da parte do corpo “amputada”, numa

tentativa de ampliar os limites de seu funcionamento. Ele usa como exemplo de extensão e auto-

amputação, a roda, criada como extensão do pé. A função do pé é amputada e amplificada.

“Qualquer invenção ou tecnologia é uma extensão

ou auto-amputação de nosso corpo e essa

extensão exige novas relações e equilíbrios entre

os demais órgãos e extensões do corpo”.

(McLUHAN, 1964, p. 63)

Outros exemplos podem ser buscados: o livro como a extensão dos nossos olhos, a roupa como

extensão da pele e o circuito eletrônico como extensão do nosso sistema nervoso.

Além de tratar sobre a relação do homem e suas extensões, o autor fala sobre a relação entre os

meios. Como extensões do nosso sentido, eles estabelecem novos índices relacionais entre si, na

medida em que se inter-relacionam (idem, p 72). Nesta passagem, ele fala sobre a hibridização

dos meios, de como um se apropria e incorpora características e linguagem de outros meios, para

atrair e sensibilizar ainda o espectador. Como exemplo, podemos pensar na televisão

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incorporando nuances da linguagem do cinema, e vice-versa, para aumentar a possibilidade de

consumo por parte do telespectador.

Apesar de não ser abordada pelo autor, podemos pensar a internet como um meio híbrido e de

amplo alcance, por se apropriar de várias linguagens para se moldar.

1.1.2) Derrick de Kerckhove e a nova realidade eletrônica

Em “A Pele da Cultura – uma investigação sobre a nova realidade eletrônica” (1995), Derrick de

Kerckhove propõe, como o subtítulo do livro sugere, uma análise dos meios de comunicação

com e da sociedade após a chegada da eletricidade. Assim como seu “mestre” Marshall

McLuhan, Derrick pensa os meios eletrônicos como extensões do nosso corpo e sistema nervoso,

mas extrapola este pensamento ao entendê-los também como extensões da psicologia, da

imaginação e da consciência humanas.

Ele fala sobre a evolução dos meios de comunicação, da alteração promovida pelas novas

tecnologias na maneira com a qual o homem se relaciona entre si, com a técnica e com o mundo.

Do estudo das culturas orais, passando pela invenção do alfabeto, pelas mídias de massa e

chegando ao advento das redes digitais, “A Pele da Cultura” nos mostra como os meios de

comunicação são extensões de nós mesmos e que os meios eletrônicos são extensões, inclusive,

da psicologia humana.

Kerckhove afirma que “qualquer tecnologia que afete significativamente a linguagem afeta

também o nosso comportamento física, emocional e mentalmente” (idem, pg. 61). Ele considera

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que, tanto a linguagem quanto o alfabeto são espécies de softwares que nos predispõem para as

tecnologias.

Ele explica que a escrita amplifica nossa inteligência e que o alfabeto, desenvolvido ao longo de

cinco milênios, “tornou-se o mais importante conceito, ocupando a mente, a alma e o corpo de

qualquer cultura humana até a descoberta da eletricidade” (idem, p. 58). Ele é colocado por

Kerkhove como o principal sistema de processamento de informação do Ocidente, até a

eletricidade, sendo a partir dele que o Ocidente derivou sua característica tecnocêntrica (idem, p.

119).

Nossa mente ocidental foi condicionada a dividir a informação em pequenos pedaços, como as

propriedades seqüenciais do alfabeto, e depois juntá-los em uma ordem da esquerda para a

direita (como a ordem da nossa leitura).

“Foi o programa mental linguístico e o modelo alfabético,

por exemplo, que orientaram a mente no sentido de aprofundar

as matérias analisando entidades

cada vez menores, até se chegar ao átomo”.

(idem, p. 69)

Kerkchove dedica muito de seu pensamento à televisão, descrevendo-a como um “órgão coletivo

da teledemocracia que utiliza os estudos e sondagens do mercado para examinar, como um raio

X, o corpo social” (KERCKHOVE, 1997, p.22). Segundo ele, isto acontece, pelo fato da

televisão ser uma projeção do inconsciente emocional e, sendo um meio de comunicação de

massa, é uma exteriorização da psicologia do público.

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Para ele, os nossos olhos são atraídos para a tela (ecrã) da televisão “como um ferro por um ímã”

(idem, p. 39); podendo ser comparada à música, a TV modula as nossas emoções e nossas

imaginações, e “nos acaricia e impregna o seu significado por debaixo da nossa pele”. (idem, p.

49).

Ainda sobre a TV, ele afirma que este meio projetou um novo sistema político baseado nos

intervalos. Essa nova realidade política é descrita por ele como uma nova democracia funcional,

participativa, a telecracia. Para Kerckhove, ela se dirige ao corpo do espectador e não à mente,

sendo capaz de nos atingir fisicamente.

“Como provei a mim mesmo com a experiência dos irmãos Kline,

o meu sistema neuromuscular segue constantemente as imagens no ecrã,

mesmo que a minha mente divague ocasionalmente”

(idem, p. 40)

Assim como McLuhan, Derrick fala do Tecnofetichismo, uma espécie de obsessão fetichista (a

“narcose de Narciso”, nos termos de McLuhan) gerada, nos utilizadores, pela integração das

tecnologias de consumo em nossas vidas, e que parecemos querer que as nossas máquinas

(carros, computadores) sejam dotadas de poderes muito superiores aos que elas, de fato,

possuem:

“A partir do momento em que mexem com os computadores,

nossas crianças desenvolvem uma espécie de vício

que as faz berrar e espernear se os seus programas favoritos

demoram mais do que um nanosegundo a entrar”.

(KERCKHOVE, 1997, p. 31).

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Ele explica este fenômeno advertindo para o fato de que estamos nos tornando cyborgs

(organismos cibernérticos), já que desejamos adquirir as melhores extensões do nosso corpo, à

medida que cada nova tecnologia desdobra uma de nossas faculdades e transcende nossas

barreiras físicas.

Kerckhove criou o termo “Psicotecnologia”, inspirado no conceito de “Biotecnologia”, para

definir qualquer tecnologia que rivaliza, estende ou amplifica o poder da nossa mente; é uma

manipulação da psique. A televisão, por exemplo, seria considerada uma psicotecnologia,

quando vista como uma extensão dos nossos olhos e ouvidos. Assim, segundo ele:

“Quando se compreende a televisão desta forma, pouco importa se

o programa é gravado ou ao vivo. De fato, telefone, rádio, televisão,

computadores e outros media combinam-se para criar ambientes que,

juntos, estabelecem um domínio de processamento de informação”.

(idem, p. 34)

O livro é uma psicotecnologia que produz um tipo de pensamento dividido em parágrafos e

capítulos, por exemplo; um pensamento linear. O homem tipográfico se apropria do mundo

através de uma leitura seqüencial, estimulada pelo livro. A televisão estimula outro tipo de

cognição, de apreensão do mundo. O homem eletrônico é diferente, então, do homem tipográfico

e os dois são diferentes do homem digital.

As pessoas alfabetizadas tendem a traduzir sua experiência sensorial em palavras e suas

respostas sensoriais em estruturas verbais. “Isto vem do hábito de traduzir cadeias de letras

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impressas em imagens sensoriais para dar sentido ao que lêem”. Com o computador e a internet,

hoje o novo senso comum é o processo digital. Os computadores nos deram o poder sobre a

informação e nós estamos nos tornando seres globais, enfatizando cada vez mais as nossas

identidades locais (idem, p. 123).

A era da televisão teve seu ponto mais alto no final dos anos 60, início dos anos 70, cedendo

cada vez mais espaço aos computadores. Com eles, aprendemos a atuar de uma forma interativa

sobre as propriedades de processamento de informação na tela. Ao criar uma espécie de livro

eletrônico, “o computador recuperou parcialmente o equilíbrio entre as formas de pensar

alfabéticas e videográficas” (idem, p. 51).

Com a chegada dos microcomputadores pessoais e portáteis, nos anos 80, os consumidores

passaram a ser produtores; a nova tecnologia mudou a nossa relação passiva, de sentido único,

com o televisor, para o modo interativo e bidirecional dos computadores (idem, p. 177).

O desenvolvimento dos computadores, segundo o autor, deve ser compreendido não em oposição

à televisão, mas em continuidade a ela. Ele destaca que o computador é um aparelho de

comunicação a distância, como o telefone, e o que deve ser pensado, na verdade, é a noção de

telecomunicação ligada com a do computador.

Os computadores nos permitem a criação de uma interface, ao nos abrir a possibilidade de

responder, de interagir. A interface, então, tornou-se o local principal de processamento de

informações, sendo considerada a fronteira entre o exterior e o interior. Derrick alerta para um

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questionamento que persegue os psicólogos cognitivos: “ao usarmos o computador, somos

mestres ou escravos – ou um pouco de cada um deles?”. E, em seguida, responde:

“A única resposta possível (...) é reconhecer que os

computadores criaram uma nova forma de cognição intermédia,

uma ponte de interação continuada,um corpus callosum entre o mundo

exterior e nossos eus interiores”. (idem, p. 52)

Partindo das noções de realidade virtual e de integração, o autor introduz em seu livro uma

análise sobre o ciberespaço. Ele afirma que a Realidade Virtual (RV) é uma realidade que pode

ser tocada, sentida, ouvida e vista através de sentidos reais, destacando a importância do tato, da

integração, do manter-se em contato. Ele afirma que hoje a inclusão do tato entre as restantes

extensões tecno-sensoriais e psicotécnicas pode mudar a forma como nós, ou os nossos filhos,

pensamos que pensamos. (idem, p. 80).

No ciberespaço, a velocidade de interação atingiu a imediaticidade, sendo possível experimentar

reações instantâneas, não só com as simulações de RV, mas com os aparelhos que captam os

movimentos dos nossos olhos ou que analisam nossas reações biológicas:

“O cérebro tecnologicamente prolongado projeto exteriormente

a sua rede de sensores inteligentes, observando o ambiente,

da mesma maneira que as anêmonas projetam o estômago

para capturar o plâncton. (...) O tato participa sempre no

processo do pensamento, seja na cabeça seja na máquina”.

(idem, p. 81)

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Derrick chama a atenção do leitor para a convergência entre televisão e computador, afirmando

que desta convergência abre-se uma possibilidade inédita de ligar indivíduos com suas

necessidades individuais e mentes coletivas:

“(...) enquanto a televisão foi sempre percebida como um

meio de grande difusão, para grandes públicos, os computadores eram

meios personalizados, solitários e privados. Enquanto a TV fornecia uma

espécie de espírito coletivo para toda a gente, os computadores eram

espíritos privados sem contribuições coletivas. Esta nova situação

(a convergência entre computador e televisão) é profundamente criadora de

novos poderes; tem repercussões sócias, políticas e econômicas”.

(idem, p. 89)

Ao falar da Internet, o autor a conceitua como uma rede de redes que permite a transmissão

precisa e que “entrega” o controle nas mãos do usuário; um cérebro coletivo, vivo, que nunca

para de trabalhar, de pensar, de produzir informações, de analisar e combinar.

É interessante notar que, quando Kerckhove cita a internet em seu livro, ele cita que o número de

utilizadores chega a 40 milhões em cerca de 90 países, e que o número duplica a cada 10 meses

(idem, p. 91). Atualmente, cerca de 14 anos depois da publicação do livro, os novos dados

apontam para os 2 bilhões de usuários, segundo matéria publicada na Folha de S. Paulo, em 26

de janeiro de 2011.

Sobre a rapidez na evolução do computador, Kerckhove comenta que “muito em breve, a

inteligência tecnológica coletiva vai superar a inteligência orgânica individual tanto na

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velocidade como na capacidade de interação” (idem, p. 101) e que, à medida que nossos

computadores aceleram nossas respostas psicológicas e nossos tempos de reação, começamos a

nos habituar à velocidade deixando-nos alucinados:

“(...) a nossa imparável aceleração tecnológica pode dar-nos a

impressão de que tudo vai bem demais, que vamos depressa demais a

caminho de um destino que não conseguimos distinguir, à medida que vamos

experimentando coletivamente a adrenalina de uma alucinação consensual”

(idem, p. 118)

A conseqüência de inserirmos o computador em nossas vidas dessa maneira e de pensarmos nos

nossos ecrãs do computador como extensões das nossas mentes é que começamos a esperar que

nossas máquinas reajam aos nossos comandos com a mesma velocidade intuitiva dos nossos

membros e sentidos.

O ecrã do computador, com sua modalidade e sua interatividade bidirecional, aumentou a

velocidade. O efeito, então, dos hipermedia integrados será a imersão total. “Estamos à beira de

uma nova cultura profunda que está a tomar forma durante os anos noventa”, afirma Kerckhove.

Derrick explica que a globalização é uma das condições psicológicas da cibercultura, tecnologia

esta que nos faz ver através da matéria, do espaço e do tempo, ao nos permitir ir

instantaneamente a qualquer ponto e interagir com ele.

O autor também aborda alguns futuros efeitos que a globalização terá nas estruturas sociais,

sugerindo que a guerra e o nacionalismo podem ser resultados dessa globalização. Segundo ele,

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já que as tecnologias declaram guerra às culturas de onde emergem, conhecer e controlar as

características dessa globalização pode tornar-se a tarefa mais importante do homem.

1.1.3) Manuel Castells e a sociedade em rede

“Sociedade em Rede” (1999) é o primeiro volume da trilogia “A Era da Informação: economia,

sociedade e cultural”, no qual Castells busca analisar o cenário tecnológico atual. Ele coloca a

interdependência global das economias, a descentralização, a organização em rede do

capitalismo, o declínio dos movimentos dos trabalhadores devido à individualização e

diversificação das relações de trabalho, como características da nossa sociedade, mostrando que

a revolução das tecnologias da informação a remodela em ritmo acelerado.

Segundo ele, há uma fragmentação dos movimentos sociais; as pessoas tendem a reagrupar-se

em torno de identidades primárias (regionais, nacionais, de gênero, religiosas), o que explicaria

os fundamentalismos contemporâneos. A fragmentação social se propaga à medida que as

identidades se tornam mais especificas e cada vez mais difíceis de se compartilhar.

A sociedade contemporânea se torna uma “oposição bipolar entre a rede e o ser”, afinal “segue-

se uma divisão fundamental entre o instrumentalismo universal abstrato e as identidades

particularistas historicamente enraizadas”.

Castells rejeita o determinismo tecnológico, tecnologia é a sociedade. A tecnologia não

determina a sociedade: incorpora-a. Mas a sociedade também não determina a inovação

tecnológica: utiliza-a.

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O primeiro capítulo fala da revolução da tecnologia da informação, ocorrida no final do século

XX, que se conceitua pela transformação da “cultural material” pelos mecanismos de um novo

paradigma organizado em torno da tecnologia da informação e se caracteriza pela penetração em

todos os domínios da atividade humana (CASTELLS, 1999, p. 68).

A partir daí, o mundo se tornou digital. Pela primeira vez, a mente humana é uma força direta de

produção e não um elemento necessário ao sistema produtivo; o ciclo de realimentação entre a

introdução de uma nova tecnologia, seus usos e seus desenvolvimentos em novos domínios

torna-se mais rápido, e os usuários e os criadores podem se tornar a mesma coisa. A linguagem

universal e a lógica as redes geraram as condições tecnológicas para uma comunicação global e

horizontal.

Através da aplicação imediata no próprio desenvolvimento da tecnologia gerada, essa revolução

se diferencia pela rapidez com a qual se propaga no mundo, com a velocidade da luz. O mundo

passa a se conectar através da tecnologia da informação (idem, p. 70).

A internet é colocada como conseqüência da fusão singular entre a estratégia militar, a grande

cooperação científica e iniciativa tecnológica e inovação contracultural (espírito

libertário/anarquista). A ideia que culminou na criação da internet foi criar um sistema de

comunicação invulnerável a ataques, uma rede independente de centros de comandos e controle.

Castells afirma que somos contemporâneos de uma transformação tão radical quanto à invenção

do alfabeto. A invenção do alfabeto tornou possível o preenchimento da lacuna entre o discurso

oral e escrito, separando o que é falado de quem fala; no ocidente, proporcionou a infra-estrutura

mental para a comunicação cumulativa, baseada em conhecimento. Isso forjou uma cultura que

acabou renegando o elemento audiovisual, que por sua vez teve sua revanche no século XX com

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o advento do cinema, rádio e TV. Atualmente, vivemos a integração de vários modos de

comunicação em uma rede interativa, o que muda de forma fundamental a cultura. O autor

afirma que a nova cultura decorrente dessa comunicação é a cultura da virtualidade real.

A capacidade do novo sistema em rede de incluir a abrangência de todas as expressões culturais

diferencia a fase atual das anteriores. Mensagens que não são inseridas na rede são

marginalizadas. Não foi apenas todo o sistema que mudou, mas suas interações sociais e

organizacionais.

Pela primeira vez, a unidade básica de organização econômica não é um sujeito individual, como

um empresário, nem coletivo (como a empresa ou o Estado), mas a rede, formada de vários

sujeitos e organizações e modificando-se sempre, conforme se adaptam aos ambientes de apoio e

às estruturas do mercado (idem, p. 257).

Para Castells, o tempo na sociedade em rede é organizado pelo espaço e ambos sofrem

conseqüências decorrentes do paradigma da tecnologia da informação. Castells define esse novo

espaço da era da informação como espaço de fluxos, descrito pela combinação de três camadas:

1- circuito de impulsos eletrônicos; 2- nós e centros de comunicação; 3- organização espacial das

elites gerenciais dominantes.

O novo espaço industrial tem a capacidade tecnológica de separar o processo produtivo em

diferentes localizações e reintegra sua unidade através de conexão de telecomunicações e de

flexibilidade e precisão da microeletrônica na fabricação de componentes.

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O conceito de tempo vem sofrendo profundas mudanças decorrentes das transformações trazidas

pelo paradigma da informação. A contemporaneidade ainda é fortemente marcada pelo conceito

de tempo cronológico, tão fundamental para a instauração do capitalismo industrial, “a

modernidade pode ser concebida como o domínio do tempo cronológico (...) importantíssima

para a constituição do capitalismo industrial”. Esse tempo linear e mensurável entra em profunda

crise com a sociedade em rede: “A libertação do capital em relação ao tempo e a fuga da cultura

em relação ao relógio são decisivamente facilitadas pelas novas tecnologias da informação e

embutidas na estrutura da sociedade em rede”. O tempo se transforma de duas formas: a

simultaneidade e a intemporalidade.

Segundo o autor, “o tempo intemporal, como chamo a temporalidade dominante de nossa

sociedade, ocorre quando as características de um dado contexto, ou seja, o paradigma

informacional e a sociedade em rede causam confusão sistêmica na ordem sequencial dos

fenômenos sucedidos naquele contexto”. Assim, fluxos induzem tempo intemporal, lugares estão

presos no tempo. O espaço de fluxos dissolve o tempo desordenado a seqüência dos eventos e

tornando-os simultâneos, instalando, portanto, a sociedade da efemeridade eterna.

As bases significativas da sociedade, espaço e tempo estão sendo transformadas, organizadas em

torno do espaço de fluxos e do tempo intemporal (este parece a negação do tempo na rede do

espaço de fluxos.

Para Castells, as redes constituem a nova morfologia social de nossas sociedades e a difusão de

sua lógica modifica de forma substancial os processos produtivos, de experiência, poder e

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cultura. A presença na rede ou a ausência são fontes cruciais de dominação e transformação em

nossa sociedade. Para castells, “A inclusão/exclusão em redes e a arquitetura das relações entre

redes, possibilitadas por tecnologias da informação que operam a velocidade da luz, configuram

os processos e funções predominantes em nossas sociedades”.

Ele pensa a comunicação digital como novo sistema de comunicação, baseado na integração de

múltiplos modos de comunicação.

Resumidamente, a estrutura baseada em redes é aberta e dinâmica permitindo a inovação sem

ameaças ao seu equilíbrio. As redes são instrumentos privilegiados para a economia capitalista

baseada na inovação, globalização e concentração descentralizada. O Mundo do trabalho

também assistiu suas transformações: Flexibilidade e adaptabilidade. Política agora é destinada

ao processamento instantâneo de novos valores e humores públicos. E a organização social é

fundada na suplantação do espaço e invalidação do tempo.

A sociedade em rede é uma sociedade capitalista cujas características fundamentais é que é

global e estruturado em grandes fluxos financeiros. As relações sociais entre capital e trabalho

sofreram uma transformação profunda, afinal o capital é global e o trabalho é local, divida em

sua ação coletiva, perdendo sua identidade coletiva. Capital e Trabalho vivem lado a lado sem se

relacionar. “O Capital tende a fugir em seu hiperespaço de pura circulação, enquanto os

trabalhadores dissolvem sua entidade coletiva em uma variação infinita de existências

individuais”.

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As expressões culturais são retiradas da história e da geografia e tornam-se predominantemente

mediadas pelas redes de comunicação eletrônica. Como a informação e a comunicação circulam

basicamente pelo sistema de mídia diversificado, porém abrangente, a prática da política também

é crescente no espaço da mídia. Tudo isso provoca profundas transformações nas culturas, bem

como na organização, objetivos dos processos, atores e instituições políticas.

1.1.5) Lúcia Santaella e as culturas (das mídias e do pós-humano)

Maria Lúcia Santaella Braga é pesquisadora e professora de Ciências da Comunicação. As

teorias e questionamentos trazidos nos livros “Cultura da Mídia”, de 1996, e “Culturas e Artes do

Pós-humano”, de 2003, ambos de sua autoria, colaboraram para o entendimento das

transformações trazidas pelas novas mídias na sociedade ocidental contemporânea.

“Cultura das mídias” traz artigos da pesquisadora sobre as conseqüências do avanço tecnológico

frente às culturas conhecidas como erudita e de massa, dando ênfase para a informação.

Estabelecendo um pensamento crítico sobre a Escola de Frankfurt, ela também defende que, com

o crescimento das mídias e seus canais de comunicações, as divisões entre a cultura erudita,

cultura de massa e a popular são abaladas; as interações que essas culturas sofrem entre si tornam

a sua delimitação impossível.

Por ser estudiosa da semiótica da comunicação, ela afirma que “todo o esforço da semiótica se

endereça para a investigação dos modos como os mais diferenciados processos de linguagem

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engendram-se, codificam-se e funcionam comunicativamente e culturalmente” (SANTAELLA,

1996, p. 27) e, pontuando que cultura e comunicação são inseparáveis, acrescenta que “os

fenômenos culturais só funcionam culturalmente porque são também fenômenos comunicativos”

(idem, p. 29).

Ela teoriza também sobre a cultura de massa, a qual um emissor transmite uma mensagem para

um ou mais receptores, que não possuem conexão entre si: “Comunicação de massa é um

processo no qual uma pessoa fala para muitas e é assim compelida a ignorar os traços distintivos

destas últimas; em uma margem ampla, a comunicação de massa é anônima” (idem, p. 33).

Santaella explica o conceito “Cultura das Mídias” entendido como a cultura do efêmero,

passageiro, do descontínuo; é uma cultura intermediária entre a cultura de massas e a

cibercultura. Ela envolve os processos de produção, distribuição e consumo comunicacionais,

distintos da lógica massiva, e que semearam a cultura virtual.

Ela considera que o estudo da cultura de mídias é substancial para a compreensão da

cibercutlura, da qual falará mais tarde. As tecnologias da cultura das mídias possuem demandas

heterogêneas, fugazes e mais personalizadas.

Em “Culturas e Artes do Pós-humano”, Santaella discute, entre outros temas, as mídias digitais,

os substratos da cibercultura, as formas de socialização da cultura digital, as artes híbridas e as

relações entre arte e tecnologia, trazendo uma reflexão sobre o surgimento da cultura digital, em

curso. Para enriquecer a discussão, traz também questionamentos sobre o que está acontecendo à

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interface homem-máquina e o que isso significa para a comunicação e a cultura do início do

século XXI.

A expressão “pós-humano”, segundo ela, vem da necessidade de responder a estas perguntas, de

repensar o homem na sociedade. Em busca de respostas, ela recorre à história das novas

tecnologias, à filosofia, à psicanálise, à comunicação, à semiótica e à arte. Pós-humano é um

termo empregado por artistas e teóricos da arte e da cultura desde início dos anos 90 para

sinalizar as transformações que as novas tecnologias da comunicação trazem para o homem no

nível psíquico, social e antropológico.

A autora afirma pressentir que são os artistas que têm nos colocado frente a frente com a face

humana das tecnologias, que estão criando uma nova imagem do ser humano no turbilhão de

suas transformações atuais.

Para o melhor entendimento das transformações culturais ocorridas ao longo da história, ela

propõe uma divisão de seis tipos de formações, chamadas por elas de “Eras Culturais”: cultura

oral, cultura escrita, cultura impressa, cultura de massas, cultura das mídias e cultura digital. Não

se tratam de períodos culturais lineares, como se uma cultura desaparecesse ao surgimento da

outra; são períodos dominados por tecnologias diferentes. Uma cultura se integra a outra,

provocando nelas reajustes e refuncionalizações. É importante compreender essa divisão, para

entender a sutil passagem de uma cultura para outra e saber que não há uma separação entre uma

forma de cultura e o ser humano; nós somos essas culturas.

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Em função dos processos comunicativos que as mídias propiciam, as formas de socialização e

cultura criadas por elas não se dissociam delas mesmas; assim, o advento de cada meio traz seu

próprio ciclo cultural, carregado de todas as contradições.

Para ela, não devemos acreditar que as transformações culturais são devidas somente ao advento

de novas tecnologias e meios de comunicação e cultura. Os verdadeiros responsáveis por moldar

o nosso pensamento e a nossa sensibilidade e de propiciar o surgimento de novos ambientes

sociais são os tipos de signo que circulam nos meios, os tipos de mensagem e processos de

comunicação que neles produzem.

A mediação, segundo Santaella, não vem das mídias, mas dos signos, da linguagem e do

pensamento que elas veiculam. Os meios, para ela, são suportes materiais, canais físicos, nos

quais as linguagens tomam corpo. Mídias são meios, veículos, canais, tecnologias, que não

teriam sentido sem a mensagem nelas configurada. O processo comunicativo deve levar em

conta as diferentes linguagens dentro de cada veículo, o potencial e o limite de cada veículo,

além das misturas de linguagens realizadas nos veículos como a televisão e a hipermídia,

considerados híbridos.

As linguagens híbridas, ou seja, as misturas entre meios e linguagens, começaram por volta dos

anos 80. Novos equipamentos e dispositivos como as copiadoras, os gravadores de vídeo, o

walkman, propiciam a escolha e o consumo individualizados em oposição ao consumo massivo,

Esses processos comunicativos são considerados pela autora como constitutivos da cultura das

mídias e foram eles os responsáveis por preparar os usuários para a chegada dos meios digitais,

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caracterizados pela busca não-linear, individualizada, fragmentada e dispersa, da mensagem e da

informação.

A autora atenta para o fato de que vivemos em uma época de confraternização de culturas e

formas de comunicação, construindo um ambiente híbrido e denso, no qual a comunicação oral,

a escrita, a cultura de massas, a cultura das mídias (ou cultura do disponível) e a cibercultura

(cultura do acesso) convivem hibridamente. A convergência das mídias tem sido responsável

pelo aumento da produção e circulação da informação, marcas registradas da cultura digital.

Ela chama a atenção para mudanças provocadas pela extensão e desenvolvimento das hiper-

redes-multimídia da comunicação interpessoal. Segundo ela, a sociedade de distribuição

piramidal passou a sofrer a concorrência de uma sociedade reticular de integração em tempo real,

na qual cada um pode ser produtor, criador, difusor, de seus próprios produtos, a sociedade da

terceira era midiática, a cibercultura.

Na década de 70, com a revolução da tecnologia da informação, a moeda corrente passou a ser a

informação, matéria-prima do novo paradigma, o informacional, caracterizado pela

penetrabilidade, pela flexibilidade (capacidade de reconfiguração) e pela crescente convergência

de tecnologias. Antes a informação era da posse de poucos, depois passou a ser de acesso de

todos. Isso culminou na cultura do acesso ou cultura digital.

No capítulo oitavo de “As culturas e as artes do pós-humano”, “O corpo cibernético e o advento

do pós-humano”, ela compara as conseqüências trazidas pela revolução digital às da emergência

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da cultura urbana mercantil no fim do feudalismo. Especialmente as tecnologias digitais e

computacionais, entendidas como tecnologias da inteligência, moldam nossa sensibilidade e

nossa mente. São autoevolutivas, na medida em que as máquinas ficam cada vez mais

“inteligentes”.

O computador recodifica as linguagens, as mídias, as artes e estéticas anteriores, além de criar

suas próprias. A rápida evolução dessa tecnologia comparada às anteriores e o não

acompanhamento evolutivo do ser humano levaram Myron Krueger, teórico e artista da realidade

virtual a pensar que é para o corpo e os sentidos humanos que a interface entre o computador e as

pessoas estará voltada. Este pensamento levou Santaella a dar importâncias às mudanças do

corpo humano, não só mentais, mas corporais, moleculares, e da sensibilidade explorada por

artistas.

1.1.6) Mássimo di Felice, as redes e as paisagens pós-urbanas

Os dois livros de Mássimo di Felice estudados aqui dialogam entre si na medida em que

discutem a relação entre o homem, suas práticas comunicativas e o seu território, com base nas

transformações trazidas pelas redes digitais. “A cidade, o coletivo, o planeta tornam-se dados

informativos, criando uma interação dinâmica com o indivíduo” (DIFELICE, 2008).

O livro “Do público para as Redes” fala sobre a comunicação digital e as novas formas de

participação social possibilitadas por ela. Ele traz um diálogo atual sobre o impacto das

tecnologias digitais na cidadania contemporânea, analisando a passagem das tecnologias

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comunicativas de massa para as digitais, colaborativas, das mídias pessoas. Trata-se de uma

análise das dimensões dos significados das transformações nas formas de participação dentro

desses processos criativos das redes sociais digitais.

Em meio às mudanças trazidas pelas redes digitais como a interatividade, a pluralidade de vozes,

a não-linearidade, o fácil acesso à informação, a velocidade, a dinamicidade e a informação

distribuída e não centralizada, as práticas da comunicação contemporânea criaram uma nova

forma de arquitetura comunicativa (interativa e tátil), trazida pelo computador. Essas nova forma

permite que o indivíduo interaja com o seu espaço através das informações ao seu redor,

transformando o habitar e a relação do sujeito com o território uma prática comunicativa.

O conceito de habitar é explicado no livro “Paisagens pós-urbanas”. O habitar, na prática

comunicativa, é a maneira com a qual o homem vê o mundo, como sele se vê e como ele se vê

no mundo, pautada pela influência das técnicas midiáticas em sua realidade. A relação entre

sujeito e território é modificada pela interação desse sujeito com os meios. (DIFELICE, 2009).

Neste livro, Di Felice faz considerações sobre um processo histórico de superação da cidade pela

metrópole – do isolado, cercado analógico para o ilimitado, contínuo, eletrificado; e das

metrópoles pelo digital – do eletrificado para o mundo virtual, intermediado pela técnica.

Ele aponta para as transformações ocorridas nas últimas quatro décadas, em diferentes campos.

No tecnológico, por exemplo, passamos do analógico para o digital; no campo comunicacional,

passamos da TV e do cinema à interatividade; no habitacional, passamos de formas geométricas

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das cidades às formas sem raízes e em constante mutação das metrópoles; no campo identitário,

das identidades separadas e nacionais às globais, glocais e híbridas; no geopolítico, fomos da

Guerra Fria às formas desterritorializadas das guerras do terrorismo; no campo econômico, das

economias nacionais ligadas ao capitalismo industrial às formas transnacionais e instáveis do

capitalismo financeiro; finalmente, no campo da filosofia, passamos das verdades e certezas à

dúvida do pensamento fragmentário.

Para explicar a evolução da relação do homem e seu ambiente, explica que a cisão entre ser

humano e natureza existe desde os primórdios da história do Ocidente, como no Gênesis, livro

bíblico que separa o criador da criatura, ou em Homero, lendário poeta épico da Antiga Grécia,

que destacava a contraposição entre o homem racional e as forças da natureza.

Desde os estudos da Perspectiva, porém, esta relação começou a se alterar. O elemento técnico

passa a ser essencial ao conhecimento, à apropriação do território e do espaço. Com a invenção

do telescópio, por Galileu Galilei, a barreira entre natureza e sujeito é superada, por permitir que

o mundo do observador (interno) e o mundo da natureza (externo) passem a uma nova forma

interacional, por intermeio das extensões técnicas do sentido.

A cada evolução tecnológica, então, os novos instrumentos e as novas técnicas geram novas

formas de percepção e modificam a visão e a compreensão do ambiente, resultando em novas

dinâmicas habitativas.

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Atualmente, vivemos em um habitar considerado por Di Felice como atópico (do grego a-topos,

“lugar estranho”, “indefinível”). Esta é a época dominada pela internet em sua forma mais atual

(Web 2.0), na qual o homem passa a enxergar a natureza como parte de um ecossistema comum

a ele e não mais vista como inferior a ele, passiva. A mídia modifica essa relação à medida que

possibilita a tomada de consciência do homem, através da difusão de mais informação, para mais

pessoas, de forma mais rápida e menos ruidosa.

As redes abrem espaço para a interatividade, no lugar da unidirecionalidade das mídias

anteriores; elas permitem que os indivíduos interajam e atuem de forma cada vez mais ativa

através de informações produzidas e divulgadas por ele mesmo.

Todas essas alterações a nível social, cultura, psíquico e, inclusive, fisiológico, instauradas e

preconizadas pelos autores estudados anteriormente, são discutidas e estudadas no mundo todo,

por pensadores, comunicólogos, sociólogos, psicólogos.

O momento atual modificou a comunicação como era entendida anteriormente. O advento das

redes sociais digitais é caracterizado como um novo tipo de interação social e o início da

passagem para uma nova forma de cidadania, sem precedentes.

As redes digitais são responsáveis pelo surgimento do que os autores intitulam “a nova era da

democracia” por possibilitar uma nova interação entre sujeito e território, que supera as

mediações políticas. O cidadão passa a ter voz ativa, constante e livre, podendo, de forma plena,

exercer o seu papel de cidadão. A possibilidade de organização e de solução, em conjunto, de

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problemas considerados particulares ou locais foi trazida pela internet.

1.2) Dos Direitos Humanos

Para o aprofundamento do estudo sobre Direitos Humanos, optou-se pela definição do filósofo

político Norberto Bobbio, no Dicionário de Política. O verbete “Direitos Humanos” traz um

histórico deste conceito, que tem, entre suas possíveis origens, Declaração dos Direitos

Humanos, na Revolução Francesa de 1789.

Bobbio escreve: “O constitucionalismo moderno tem, na promulgação de um texto escrito

contendo a declaração dos Direitos Humanos e de cidadania, um de seus momentos centrais de

desenvolvimento e de conquista, que consagra as vitórias do cidadão sobre o poder”. (BOBBIO,

2007, p. 353)

A Declaration dês detroits de l‟homme Ed Du citoyen, votada pela Assembléia Nacional

francesa em plena Revolução como precedentes o Bills of rights, de 1776, de colônias

americanas que se revoltavam contra a opressão da inglesa e o Bills of rights inglês, em 1689.

Tanto o francês quanto o americano não se diferenciam conceitualmente; ambos foram

dominados pelo jusnaturalismo e pelo contratualismo. Segundo eles, “os homens têm direitos

naturais anteriores à formação da sociedade, direitos que o Estado deve reconhecer e garantir

como direitos do cidadão” (idem, p. 353).

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O inglês, por outro lado, não reconhecia os direitos dos homens, mas os tradicionais, fundados na

common law, decididos em tribunais.

A declaração francesa dos Direitos do homem e do Cidadão (Anexo I) foi votada pela

Assembléia Nacional francesa e proclamava a liberdade e a igualdade nos direitos de todos os

homens; eram reivindicados os direitos naturais, como a liberdade, a propriedade, a segurança, a

resistência à opressão. Dezessete artigos listados nesta primeira declaração resumiam os ideais

libertários influenciados pelos Bills of Rights americano e pelas doutrinas iluministas. O texto

original era composto por um preâmbulo e seguido pelos artigos.

Após o período de ápice da Revolução Francesa, foram proclamadas outras declarações no país.

Uma de 1793, importante por seu caráter menos individualista e mais social; e uma de 1795, na

qual também são apontados os “deveres” dos cidadãos, o que acabou por virar uma tendência.

A primeira declaração dos direitos do homem e do cidadão trouxe questionamentos de ordem

política e conceitual. Os direitos ficariam como meros princípios abstratos ou como princípios

ideológicos que serviriam para subverter o ordenamento constitucional? Sobre esta questão, o

racionalismo jusnaturalista de um lado, e o utilitarismo e o historicismo de outro, entraram em

conflito. Este conflito foi agravado pelo fato de que, nos Estados Unidos, a declaração estava

contida no texto constitucional, diferente do que acontecia na França, por exemplo.

Outro problema era sobre a derivação da natureza dos direitos. Alguns defendiam que os direitos

humanos são naturais e que o Estado deve reconhecê-los. Esses eram seguidores de uma corrente

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de pensamento jusnaturalista, a qual admitia um limite preexistente à soberania do Estado. Os

não seguidores deste pensamento, defendiam que os direitos eram subjetivos, concedidos ao

indivíduo pelo Estado, com base em sua autonomia, que, assim, não seria autolimitada.

Os intermediários aceitavam o contratualismo, os quais fundavam os direitos sobre o contrato,

expresso pela Constituição.

De acordo com Bobbio, esses direitos podem ser classificados de três formas: como direitos

civis, políticos ou sociais. Os direitos civis são à personalidade do sujeito, como liberdade

pessoal, de pensamento, de religião, de expressão, desde que seu comportamento não viole o

direito dos outros (exemplos: artigo décimo e artigo décimo primeiro).

Os direitos políticos estão ligados à formação de um Estado democrático, como a liberdade de

associação a partidos, direitos eleitorais, etc., (explicitados nos artigos décimo terceiro e décimo

quinto, por exemplo), preveem uma liberdade ativa e uma participação dos cidadãos nas

determinações dos objetivos políticos do Estado.

Os direitos sociais vêm amadurecidos com a sociedade industrial, implicando um

comportamento ativo do Estado. Os direitos sociais envolvem o direito ao trabalho, à assistência,

ao estudo, à saúde, etc., como ilustrado pelo artigo décimo sétimo.

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O princípio de igualdade trazido pela Revolução Francesa foi o motor das transformações nos

conteúdos dos direitos e trouxe conseqüências ao texto do século XVIII. O individualismo de

antes foi superado pelo reconhecimento dos direitos dos grupos sociais.

Atualmente, como citado no verbete de Norberto Bobbio, luta-se ainda por estes direitos, porque

mesmo com tantas transformações sociais, não se chegou a uma situação ideal, como sonhavam

os iluministas. “As ameaças podem vir do Estado, como no passado, mas podem vir também da

sociedade de massa, com seus conformismos, ou da sociedade industrial, com sua

desumanização” (idem, p. 355).

A declaração francesa influenciou a Declaração Universal dos Direitos Humanos (Anexo II),

proclamada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1948, mais de 150 anos depois da

francesa. A Assembleia Geral considera esta declaração como um ideal que deve ser buscado por

todas as nações. Esta declaração contava com mais artigos (um total de 30) e um preâmbulo mais

extenso; este texto original prevalece até os dias de hoje.

Entre a declaração francesa e esta a proclamada pela ONU, porém, traçou-se um caminho de

proteção e reconhecimento destes direitos ao redor do mundo. A melhoria das condições de vida

do homem terminou na reivindicação de liberdade e direitos qualificados de forma sintética por

Direitos Humanos.

Inicialmente, os ideais humanitários foram sendo invocados somente em relação a estrangeiros e,

em com menos freqüência, a minorias étnicas ou religiosas. Apenas no decorrer da Segunda

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Guerra Mundial, com os absurdos nazistas e suas reações, que foi criado um perfil de ação

internacional pela promoção dos direitos.

Envolvidos pelo clima de barbárie da Segunda Guerra Mundial, em 1942, alguns Governos

uniram-se convencidos de que a vitória era essencial para a defesa da vida, da liberdade, da

independência e da liberdade religiosa, “assim como para conservar os Direitos Humanos e a

justiça nos próprios países e nas outras nações” (idem, p. 355).

Pouco tempo depois, em 1945, foi assinada a Carta das Nações Unidas, construída com o

objetivo de promover a paz, a democracia e o fortalecimento dos Direitos Humanos. A Carta

esclarecia que um dos objetivo das Nações Unidas deveria ser “conseguir a cooperação

internacional na solução dos problemas internacionais de caráter econômico, social e cultural ou

humanitário, e o de promover e encorajar o respeito pelos Direitos Humanos e pelas liberdades

fundamentais para todos sem distinção de raça, de sexo, de língua ou de religião”.

A ONU, então, em 1947, programou o International Bill of Human Rights, sendo adotado pela

Assembleia Geral em 10 de dezembro de 1948, sob o nome de “Declaração Universal dos

Direitos do Homem”. Desde então, as Constituições modernas são baseadas na proteção destes

direitos. O fato da Declaração ter sido aceita pela maioria dos países do mundo é a comprovação

de que a humanidade partilha dos mesmos valores.

Em “A Era dos Direitos”, Norberto Bobbio afirma que os direitos naturais são históricos,

nascidos no início da era moderna e considerados indicadores do progresso histórico. O Estado

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Moderno trouxe uma mudança na relação política. A figura central deixou de ser o soberano e

passou a ser o cidadão e seus direitos. Posteriormente, com a Declaração Universal dos Direitos

do Homem, os direitos do cidadão passaram a ser reconhecidos em território mais amplo do que

somente aos olhos do Estado.

Ao afirmar que os direitos são históricos, Bobbio explica que eles são resultado de uma

evolução, já que não nasceram prontos. Ele classifica os direitos em de primeira, segunda,

terceira e quarta geração. Os de primeira são os civis; os de segunda são os políticos e sociais; os

de terceira são os culturais, econômicos e também sociais; e os de quarta, representados pela

defesa do patrimônio genético, por exemplo. Essa evolução pode ser notada se considerarmos as

duas declarações de direitos (a francesa e a universal). A primeira considera direitos até a

segunda geração, enquanto a segunda já leva em consideração aspectos culturais e ambientais.

Podemos associar a evolução dos direitos humanos à evolução tecnológica da sociedade, que

criam necessidades novas e diferentes aos cidadãos, e ao conseqüente aumento do acesso à

informação. A consciência e a discussão sobre questões ambientais, por exemplo, não tinham

tanto espaço antes da disseminação de idéias pela rede, assim como não entravam na lista dos

direitos do homem.

Bobbio chama a atenção para o fato de que, por resultado de uma evolução histórica, o termo

“direitos humanos” é muito generalizado e vago. Os direitos são heterogêneos e variam com o

período histórico, e não podem, por isso, ter fundamentos absolutos. Bobbio adverte que seria

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mais correto se os direitos tivessem vários fundamentos e que os direitos fundamentais não

podem ter fundamento absoluto.

A contemporaneidade não encontra problema em justificar os direitos do homem, mas em

defendê-los, dependente do desenvolvimento da sociedade. O universalismo de valores citado

anteriormente neste relatório é colocado pelo autor como uma conquista lenta, dividida em fases

que culminaram na Declaração de 1948. A primeira fase é a fase da teoria filosófica, a segunda é

do seu acolhimento pelo legislador e a terceira é a da aceitação universal e positiva da afirmação

dos direitos.

O importante é que os direitos não se cristalizem com o tempo, mas, pelo contrário, se adaptem

às novas relações sociais. Quanto ao problema contemporâneo de defesa dos direitos do homem,

a emergência das redes sociais digitais, sob sua forma mais recente da chamada Web 2.0, e o

surgimento de movimentos de ação direta, com práticas sociais e comunicativas específicas, são

aspectos facilitadores e podem ser futuras soluções.

Novas formas de ativismo, como explicitado na próxima parte deste relatório, têm apontado para

um novo caminho de exposição, discussão e resolução de questões consideradas problemáticas

para a sociedade. ONGs, instituições e grupos independentes encontraram nas redes um ambiente

de colaboração propício para a produção e divulgação de conteúdos problemáticos, visando uma

solução comum e consensual. Muitas dessas redes atuam no campo dos Direitos Humanos

expondo atos realizados em todo o mundo que violam os direitos fundamentais do homem. A

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exposição destes atos ganha, na rede, alcance inédito, fomentado discussões, buscando soluções

e cobrando reações extra-rede, tanto por parte das autoridades quanto de outros cidadãos.

1.3) Do Ativismo ao Netativismo

As ações sociais consideradas, aqui, como netativistas, o são por serem resultado de um conjunto

de modificações psíquicas, sociais e tecnológicas da sociedade contemporânea, como estudado

nos tópicos acima. O entendimento deste tipo de ação é melhor alcançado, quando entendemos a

origem e a evolução dos movimentos sociais ao redor do mundo, antes mesmo do surgimento da

internet. Para, então, alcançar este entendimento, julgou-se necessário o estudo de teorias dos

movimentos sociais, abordada, entre outros teóricos, por Ângela Alonso, sociólogo, pesquisadora

e professora da Universidade de São Paulo.

1.3.1) Teorias dos Movimentos Sociais, de Ângela Alonso

No livro “A Teoria dos Movimentos Sociais: um balanço do debate”, de 2009, Ângela Alonso

aborda a mudança nas teorias sobre os movimentos sociais, como resultado do que ela chama de

“rotinização do ativismo” e do fato de as mobilizações coletivas terem ganhado escala global e

caráter violento por onde passavam. Ela justifica esta mudança com um quadro do Ocidente nos

anos 1960:

“É que as teorias dos movimentos sociais se constituíram diante de um quadro

bastante distinto, o do Ocidente dos anos 1960, quando o próprio termo

"movimentos sociais" foi cunhado para designar multidões bradando por mudanças

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pacíficas ("faça amor, não faça guerra"), desinteressadas do poder do Estado.

Até então concentrados em pensar revoluções - ou a ausência delas -,

os sociólogos produziram três grandes famílias de explicação para os movimentos

sociais. Este artigo apresenta essas teorias, apontando, em seguida, as adaptações

a que tiveram de se submeter para fazer face à cena contemporânea.”

(Alonso, 2009)

Alonso expõe as três principais teorias clássicas para explicar os movimentos sociais e, em

seguida, as modificações que os teóricos tiveram que se submeter para se adaptar ao cenário

contemporâneo. As três teorias clássicas que a autora levanta em seu artigo são: a Teoria da

Mobilização de Recursos (TMR), a Teoria do Processo Político (TPP) e a Teoria dos Novos

Movimentos Sociais (TNMS).

A primeira destas teorias, a da Mobilização de Recursos, foi considerada, em 1960, uma nova

corrente interpretativa criada por Marcun Olson, um teórico norte-americano que voltou suas

pesquisas para as ações coletivas. Diferentemente do pensamento clássico, Olson não

concordava com as visões sobre ação coletiva construídas com base nos comportamentos

coletivos dos grupos sociais ou em aspectos psicológicos. Segundo ele, essas explicações não

eram suficientes para explicar as motivações que levavam a uma ação coletiva. Para Olson,

portanto, as motivações não eram meramente pessoais.

A novidade trazida por Olson foi citar a questão dos grupos de interesses como determinantes no

processo de construção de uma ação coletiva. Ou seja, este sentimento (o interesse comum) seria

um elemento catalisador da organização e da estruturação dos movimentos sociais. Pensando

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neste aspecto, as ações coletivas ganham valor para os atores participantes; segundo ele, antes da

ideia de promoção de qualquer manifestação coletiva, são feitas racionalizações a respeito dos

benefícios trazidos por esta ação. Daí a ideia de “mobilização de recursos”. Para ele, as pessoas

se organizam em grupos de interesses e atraem outras pessoas com o mesmo interesse, após

fazerem este análise dos benefícios trazidos pela inserção no grupo. Como numa estrutura

hierárquica de exército, Olson pensava nos grupos de interesses como construções sociais

hierarquizadas, com líderes responsáveis pela mobilização e organização interna, sendo

considerados responsáveis primários pelo fracasso ou sucesso do mesmo.

A segunda e a terceira teorias explicitadas por Ângela Alonso são a Teoria do Processo Político

(TPP) e a Teoria dos Novos Movimentos sociais (TNMS). Ambas surgiram nos debates sobre a

revolução marxista e eram contra a ideia de um sujeito histórico universal e conta as explicações

anteriores de ações coletivas, e uniam política e cultura para explicar os movimentos sociais. A

TPP acreditava na teoria da mobilização política e a TNMS se baseava na teoria de mudança

cultural. Diferente da teoria exposta anteriormente, a TPP foi a primeira a assumir o conceito de

“identidade coletiva”; ela destaca “o dinamismo, a interação estratégica e a resposta ao ambiente

político” e privilegia “o ambiente macropolítico e incorpora a cultura na análise por meio do

conceito de repertório, embora não tenha lhe dado lugar de honra”.

“Em suma, as três teorias – agora clássicas – sobre movimentos sociais têm contornos bastante

peculiares. A TMR focalizou a dimensão micro-organizacional e estratégica

da ação coletiva e praticamente limou o simbolismo na explicação. Já a TPP privilegiou

o ambiente macropolítico e incorporou a cultura na análise por meio do conceito de repertório,

embora não tenha lhe dado lugar de honra. A TNMS, inversamente, acentuou aspectos

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simbólicos e cognitivos – e mesmo emoções coletivas –, incluindo-os na própria definição

de movimentos sociais. Em contrapartida, deu menor relevo ao ambiente político em que

a mobilização transcorre e aos interesses e recursos materiais que ela envolve.”

(Alonso, 2009, p. 69)

O debate sobre os movimentos sociais dividia os teóricos, até os anos 1980, entre essas três

teorias acima citadas. Entre 1990 e 2000, os debates caminharam para uma conciliação e uma

teoria mais ampla vem sendo formulada, na tentativa de sintetizar as três teorias em uma única

mais completa. Segundo Alonso, essa síntese se deu pelo seguinte:

Os “movimentos sociais não surgem pela simples presença de desigualdade”, ainda que a

desigualdade seja um fator de relevância e, na presença de outros elementos, possa

impulsionar as mobilizações, transformando-se em variadas reivindicações.

Os movimentos sociais não “resultam diretamente de cálculos de interesses ou de valores”,

ainda que esses cálculos estejam presentes em diversos movimentos. Assim, as “mobilizações

envolvem tanto a ação estratégica, crucial para o controle sobre bens e recursos que sustentam

a ação coletiva, quanto a formação de solidariedades e identidades coletivas”.

(Alonso 2009, p. 72)

Alonso destaca que, entre os anos 1930 e 1960, as explicações dos teóricos para a mobilização

coletiva eram baseadas, unicamente, no aspecto psicossocial, sendo encarada como uma

“irracionalidade” ou como reação às frustrações individuais e emoções coletivas, diante do

contexto de regimes totalitários. As mobilizações não eram, então, pensadas como tal.

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Então, nos anos 60, uma mudança no cenário obrigou os teóricos a reverem seus conceitos. Na

Europa, berço do totalitarismo, e nos Estados Unidos, as mobilizações continuaram a acontecer

e, agora, não eram mais de caráter trabalhista/proletário, mas de caráter étnico (como o

movimento pelos direitos civis), de gênero, de qualidade de vida, etc.

“Não eram reações irracionais de indivíduos isolados, mas movimentação

concatenada, solidária e ordeira de milhares de pessoas. Então não cabiam

bem em nenhum dos dois grandes sistemas teóricos do século XX,

o marxismo e o funcionalismo.”

(Alonso, 2009)

A partir destes fenômenos, tais acontecimentos já começaram a ganhar o título de “movimento”,

ações coordenadas e fora das instituições políticas, obrigando os teóricos a repensarem suas

teorias. As teorias clássicas nasceram daí, nos anos 1970, em meio a tantas mobilizações em

variados locais.

A TMR e a TPP partem do pressuposto de que a coordenação dos ativistas é fator determinante

na construção de um “ator coletivo”. A TPP pensa também em um elemento cultural: a

solidariedade. Essa teoria sugere que a coordenação depende de solidariedade, da combinação

entre o pertencimento a uma categoria e a força das redes interpessoais conectando seus

membros.

Porém, segundo Alonso, a solidariedade não produz ação sem as chamadas estruturas de

mobilização, que são, por exemplo, as organizações civis, as redes sociais e outros elementos que

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favorecem a organização. Ela afirma que “a mobilização é, então, o processo pelo qual um grupo

cria solidariedade e adquire controle coletivo sobre os recursos necessários para sua ação”.

(ALONSO, 2009).

As novas mobilizações, segundo ela, não teriam autores definidos por uma atividade (como o

trabalho, por exemplo), mas por formas de vida; eles não seriam outsiders, minorias excluídas

(negros, mulheres, índios, jovens, etc. ) e se aproximariam pelo sentimento comum de oposição.

Diferentemente dos “movimentos sociais”, como pensados anteriormente, esses “novos” não

seriam de oposição ao Estado e nem objetivariam uma conquista de poder, como no contexto dos

regimes totalitários de outra época. Alonso coloca esses movimentos como “agentes de pressão

social”, com intuito de convencer a sociedade de sua “causa”, de sua motivação. Ela cita:

Os movimentos sociais nasceriam na sociedade civil e, portadores de uma nova

"imagem da sociedade", tentariam mudar suas orientações valorativas.

Os movimentos sociais aparecem, então, como o novo ator coletivo, portador de um projeto

cultural. Em vez de demandar democratização política ao Estado, demandariam uma

democratização social, a ser construída não no plano das leis, mas dos costumes;

uma mudança cultural de longa duração gerida e sediada no âmbito da sociedade civil.”

(Alonso, 2009).

Citando Habermas, Alonso explica que esses novos movimentos sociais seriam “subculturas

defensivas” nascidas em reação a uma “situação problema”, e os divide em dois tipos: os

movimentos de liberação e os movimentos defensivos. A exemplo dos primeiros, podemos citar

os movimentos em favor dos direitos civis e o feminismo, por serem mais ofensivos e de caráter

“emancipatório”. Os movimentos defensivos podem ser de dois tipos: os tradicionais (estes

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seriam os com base na “velha classe média”, de defesa da propriedade, luta contra os impostos,

etc.) e os “novos” seriam os surgidos contra a o consumo e as instituições políticas, por exemplo.

Ela explica, à luz dos pensamentos de Habermas, que os novos movimentos sociais defenderiam

formas de autogestão, novos modelos de participação, liberdade de comunicação, fazendo uma

espécie de “política expressiva”, sem interesse em bens ou cargos de poder, mas voltada para a

afirmação de identidades e para a preservação da autonomia.

Analisando, então, outras visões, a autora se apropria do pensamento de Melucci para explicar a

dissociação das ações coletivas a questões meramente psicológicas. Foi este autor que

primeiramente inseriu o conceito de identidade coletiva nestes estudos sobre os movimentos

sociais, citando que “a identidade coletiva é uma definição interativa e compartilhada produzida

por numerosos indivíduos e relativa às orientações da ação e ao campo de oportunidades e

constrangimentos no qual a ação acontece" (Melucci, 1988, p. 342)”. Sendo assim, Melucci

construiu uma nova teoria da ação coletiva.

Como Tilly - e à diferença de Touraine e Habermas -, Melucci define os

movimentos sociais não como um agente, mas como uma forma de ação coletiva,

que surge a partir de um campo de oportunidades e constrangimentos e que possui

organização, lideranças e estratégias. Melucci incorpora também a tese da

TMR e da TPP de que relações ou organizações já existentes facilitam o engajamento.

Mas em vez de falar de "estruturas de mobilização", recorre à noção mais compatível

com a agency que quer enfatizar: as "redes de relacionamento"

(Melucci, 1988, p. 340). Nelas se construiriam a motivação para a ação

coletiva e a própria interação. (Alonso, 2009).

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O século XXI trouxe mudanças; o ativismo passou de nacional para global e o fenômeno da

globalização fez com que as causas transpassassem as barreiras territoriais. Segundo Alonso,

além desses fatores, a profissionalização do ativismo também foi determinante na sua

consolidação. Em alguns países do Ocidente, inclusive, os movimentos se burocratizaram e se

tornaram partidos. O acontecimento de 11 de setembro, nos Estados Unidos, marcou o fim dos

protestos pacíficos, abrindo espaço para a mobilização policêntrica e violenta. E assim, “essas

transformações obrigaram a remodelagem das teorias dos movimentos sociais, sobretudo de

modo que lhes desse capacidade de explicar mais persuasivamente o caráter simbólico e a

dimensão global do ativismo contemporâneo”. (Alonso, 2009).

1.3.2) Ativismo em rede e conexões identitárias: novas perspectivas para os

movimentos sociais, Jorge Alberto S. Machado.

Jorge Alberto é sociólogo e professor da Escola de Artes Ciências e Humanidades, da

Universidade de São Paulo. Neste livro, Alberto procura, através de alguns casos, caracterizar as

novas formas de mobilização social associadas às novas tecnologias de informação e de

comunicação. Ele cita como essas organizações atribuem papel central à internet em suas

articulações. “Tal fenômeno abre um amplo horizonte de transformações e mudanças sociais,

que apontam para o surgimento de novas dinâmicas de ação coletiva com base em complexas

redes identitárias, orientadas por valores „universais‟”, explica.

Suas pesquisas se assemelham a esta, aqui proposta, por defender que as tecnologias não são só

facilitadoras no processo de articulação e mobilização social, mas produzem novas formas de

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ativismo. Segundo o autor, os novos “coletivos sociais” e as novas formas de ativismo têm uma

atuação cada vez mais formatada pelas redes.

Fazendo um resgate sobre os conceitos de “ação coletiva”, o autor cita Gianfranco Pasquino, no

livro de Norberto Bobbio, Dicionário de Política, o verbete “movimentos sociais”, ao falar que

estes podem ser divididos em dois grandes grupos: de um lado, o grupo que vê nos movimentos

sociais manifestações de irracionalidade.

“Aproximam-se de tal interpretação as leituras de Le Bon, Ortega y Gasset e Tarde.

Le Bon e Tarde que contrapõem os indivíduos, como agentes da racionalidade,

civilização e cultura, à credulidade das massas caracterizada pela exasperação

das emoções, ao instinto de manada e à tendência à imitação do comportamento coletivo

(Le Bon, 2005 [1895]; Tarde, 2004 [1895]).”

(Machado, 2007)

Do outro lado, autores como Marx, Durkheim e Weber analisam os coletivos sociais como um

modo interessante de ação social que poderiam marcar um, entre outras coisas, o início de um

processo revolucionário.

O autor cita outro sociólogo e outra interpretação dos movimentos sociais, dessa vez de Smelser.

Para ele, é em condições de tensão que as mobilizações coletivas se manifestam. Esses

comportamentos sociais seriam definidos como “não-institucionalizados”, uma vez que a ação

social está colocada em um ambiente de tensão, mas os meios institucionalizados são seriam

inadequados para dominar esta tensão. Smelser, segundo Machado, se utiliza de sistemas sociais

e políticos que se transformam em velocidade mais lenta do que as sociedades em que se

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contextualizam, para responder à questão sobre a natureza dessas ações coletivas. Aí está sua

falha: “não considerar os contextos históricos específicos em que se dá a ação social”. (Machado,

2007).

Machado explica que as teorias sobre os movimentos sociais consideradas “clássicas”

predominaram até 1960 e associavam-nos às mudanças trazidas pela sociedade industrial.

Afirmava que “a concepção de que o sistema político democrático capitalista era aberto, fazia

com que a ação coletiva extra-institucional fosse interpretada como antidemocrática e

desestabilizadora” e alertava para o fato de que essas abordagens eram atravessadas por grande

desconfiança ideológica.

Ainda sobre a natureza da ação social, Machado cita Melucci e Castells para afirmar sobre a

dificuldade de se chegar a alguma conclusão sobre o termo, sendo, por vezes, caracterizado

como “indefinível”. Segundo ele, para Melucci, inclusive, “o conceito de movimento social „será

sempre objeto do conhecimento construído pelo analista‟, pois „não coincide com a

complexidade empírica da ação‟ (Melucci, 1996: 21-2)”. Machado arrisca um conceito de

movimentos sociais:

“(...) poderíamos dizer que o mesmo se refere a formas de organização e articulação

baseadas em um conjunto de interesses e valores comuns, com o objetivo de definir e orientar

as formas de atuação social. Tais formas de ação coletiva têm como objetivo,

a partir de processos freqüentemente não-institucionais de pressão, mudar a ordem social existente,

ou parte dela, e influenciar os resultados de processos sociais e políticos que envolvem valores

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ou comportamentos sociais ou, em última instância, decisões institucionais de governos e organismos referentes à

definição de políticas públicas.” (Machado, 2007)

Assim como Ângela Alonso, Machado teoriza sobre a mudança na concepção de movimentos

sociais ao longo da história. Ele afirma que, durante algum tempo, essa concepção era ligada aos

movimentos revolucionários, frequentemente mais radicais. Até os anos 70, os movimentos

sociais eram considerados produto da ação histórica da sociedade contra as contradições do

sistema capitalista.

Quando os movimentos sociais começaram a crescer e a ganhar notoriedade e alcance com o

aparecimento de coletivos e organizações que lutam por diversas causas, esta interpretação de

movimentos sociais ligada a atitudes revolucionárias passou a ser considerada ultrapassada.

Neste contexto, surgiram os chamados “novos movimentos sociais”, como também exposto por

Ângela Alonso. Machado afirma:

Os "novos" movimentos sociais seriam principalmente os movimentos pacifistas,

das mulheres, ambientalistas, contra a proliferação nuclear, pelos direitos civis e outros.

Tais movimentos, a maioria de base urbana, estavam bastante afastados do caráter

classista dos movimentos sindical e camponês, atuando, não raras vezes, em cooperação

com o sistema econômico e no escopo político das instituições vigentes.

(Machado, 2007)

Com base no aparecimento de inúmeros coletivos sociais em países com regime socialista, nos

quais o governo repreendia tais formas de organização, Machado afirma que “ainda que pudesse

ser uma expressão de lutas de classes ou desigualdade social, os movimentos sociais nunca

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dependeram disso para existir” e que “seu fortalecimento e proliferação estiveram mais

associados ao amadurecimento ou transformação das instituições democráticas e da própria

capaxidade de organização da sociedade civil”.

Segundo este autor, o erro da abordagem marxista nesta interpretação foi não considerar as

questões identitárias da formação destes movimentos, mas considerar apenas as classes sociaias e

seus paradoxos.

A alteração das interpretações e análises sobre as organizações de ação social foi, segundo

Machado, devido às transformações políticas ocorridas em cenário internacional. O fim da

Guerra Fria, por exemplo, fez com que os movimentos passassem a ser considerados

protagonistas da promoção dos direitos civis e da cidadania.

Essas alterações nos contextos políticos fizeram com que os movimentos sociais respondessem a

questões que caberiam ao Estado. Com o reconhecimento da legitimidade dos movimentos

sociais como protagonistas em ações políticas, pode-se perceber um aumento considerável de

iniciativas entre sociedade civil e estado, e assim, foram-se criando políticas de incentivo e apoio

à ação de coletivos sociais.

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Pesquisa Empírica: exemplos de redes digitais que abordem os Direitos Humanos

Esta pesquisa foi dedicada ao levantamento de exemplos de redes digitais ativistas, envolvidas na

temática dos Direitos Humanos, seja este seu tema principal ou secundário. Foram consideradas

as redes espontâneas, ou seja, aquelas criadas de forma espontânea, por um motivo pontual e

temporário, que utilizaram alguma ferramenta da denominada Web 2.0; e redes instituídas,

aquelas criadas por organizações públicas ou privadas, com abordagem mais permanente.

A metodologia aplicada a esta pesquisa foi baseada no próprio caráter flexível, abrangente e

disperso da internet, única fonte de informações, dado o tema da pesquisa. Buscou-se, em sites

de busca variados, palavras-chave envolvidas nas temáticas, tanto do ativismo digital, quando

dos Direitos Humanos, tais como “redes digitais”, “ciberativismo”, “direitos humanos”, “direito

da mulher”, “direito civil”, “declaração universal dos direitos humanos”, “ativismo em rede”,

etc., sendo cada uma associada, variavelmente, a outra, em uma espécie de análise combinatória.

Assim, tentou-se garantir o maior número de possibilidades e a menor perda de resultados.

Além da utilização do recurso de site de buscas, foi feito também um registro nos chamados

Alertas do Google. Esta ferramenta possibilita o registro de alguns termos-chave, os quais são

buscados diariamente (ou outra freqüência escolhida pelo usuário) na web (incluindo notícias,

artigos, sites que citaram os termos, etc.), e enviados ao email pessoal do mesmo. Isto possibilita

um número ainda maior de possibilidades e ainda menor de perda de resultados. As palavras

escolhidas para serem buscadas nos Alertas do Google foram as mesmas utilizadas nos sites de

busca, nomeadas anteriormente.

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Outra ferramenta utilizada na pesquisa empírica foi a busca por palavra-chave no micro-blog

Twitter. Com um registro de usuário, é possível buscar por termos e citações em toda a

“twittosfera” e ainda encontrar outros usuários dentro das temáticas escolhidas. Esta ferramenta

possibilitou o encontro de alguns exemplos, inclusive, de redes digitais sobre variadas temáticas,

entre elas, Direitos Humanos. Apesar desta busca ser manual (ou seja, todas as vezes que a busca

acontecia, tinha que ser feita manualmente, diretamente no site, sem a facilidade do Alertas do

Google, por exemplo), julgou-se importante fazê-la, por se tratar de um espaço bastante propício

para o aparecimento das iniciativas buscadas.

As buscas foram feitas também através do site Busk.com, uma rede social produzida para

encontrar, colecionar e compartilhar artigos de interesse do usuário. Neste site, há um campo de

busca no qual o usuário cadastrado pode digitar uma palavra e buscar artigos e notícias sobre ela.

O Busk.com coleciona estes conteúdos marcados e facilita a descoberta de outros do mesmo tipo,

através de tags e pastas. As palavras buscadas neste site foram as mesmas citadas anteriormente,

em outras ferramentas de pesquisa.

Importante esclarecer aqui que esta pesquisa foi baseada na Declaração Universal dos Direitos

Humanos e não em Direitos Humanos, como termo amplo, por ser este um conceito que pode ir

muito além da própria Declaração. Sendo assim, os exemplos foram associados aos artigos

cabíveis.

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Exemplos:

Artigo XIX

“Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade

de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias

por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”

Mega Não (HTTP://meganao.wordpress.com)

O Mega Não é um movimento virtual em favor da liberdade de expressão na internet. O

movimento é contrário à vigilância e à censura ao ambiente virtual e, apesar de seu conteúdo não

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ser voltado, necessariamente, para a defesa dos Direitos Humanos, ele pode ser encaixado no

artigo 19, da Declaração Universal dos Direitos Humanos, por defender a liberdade de expressão.

Além de contar com uma plataforma característica da nova era da internet, o próprio visual do

blog se encaixa no reconhecido mundo da Web 2.0. O blog se propõe colaborativista e,

realmente, o é, na medida em que abre espaço para a participação de usuários externos à própria

organização. A sua presença em outras plataformas de participação massiva, como o Facebook e

o Twitter, também o fazem adequado ao rótulo de rede digital netativista, dentro da temática dos

Direitos Humanos.

Para citar algumas ações do movimento, temos “O Ato contra o AI-5 Digital”, que convocou

usuários para um protesto externo ao mundo virtual, no Congresso Nacional, em Brasília, após o

recolhimento virtual de mais de 350 mil assinaturas contrárias ao projeto de lei que, segundo eles

iria “criminalizar práticas cotidianas e trazer graves retrocessos ao país, retirando o Brasil da

vanguarda como nação conectada e com grandes potenciais nesta área”.

O movimento disponibiliza cartazes e filmes sobre sua causa, para serem massivamente

divulgados pelos adeptos, via rede.

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Trezentos

(http://www.trezentos.blog.br/)

Trezentos é um blog que se encaixa nos mesmos moldes do Mega Não. Além de ser resultado de

um processo colaborativo – ele é produzido por mais de 200 autores -, chama a atenção para

questões como a censura na internet, o ciberativismo, liberdade de expressão, software livre,

entre outros, podendo ser caracterizado, também, como rede digital ativista, dentro da temática

de Direitos Humanos, por defender a liberdade de expressão, presente no artigo XIX da DUDH.

Ações como a divulgação do ato contra o chamado AI-5 Digital, em Brasília, ou o diálogo sobre

a carta pela internet livre, inclusiva e democrática, a oportuna discussão sobre o software livre,

além de outras iniciativas, estão presentes nos conteúdos do blog. É curioso notar a maneira com

a qual diferentes organizações se referenciam entre si, como uma maneira de apoio ao ativismo

em rede. O Blog Trezentos, por exemplo, faz diversas referências ao movimento do Mega Não

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ou o Centro de Mídia Independente (citado abaixo). Essas iniciativas contam com o apoio umas

das outras, para divulgação de ações e consequente maior adesão de usuários.

Centro de Mídia Independente - http://midiaindependente.org/

O Centro de Mídia Independente é “uma rede de produtores e produtoras independentes de mídia

que busca oferecer ao público informação alternativa e crítica de qualidade que contribua para a

construção de uma sociedade livre, igualitária e que respeite o meio ambiente”. Além de agir

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pela defesa do direito à informação, este movimento trabalha de maneira colaborativa e

participativa – os usuários podem publicar seus próprios vídeos, áudios, imagens e textos.

A cobertura principal do CMI é dedicada a movimentos sociais de ação direta, chamados de

“novos movimentos”, que não são abordados nas grandes mídias. A organização está fisicamente

presente em diversas cidades do Brasil e do mundo, e convida os cidadãos a se procurarem suas

sedes e extrapolarem o ambiente virtual, na tentativa de ampliar sua ação na sociedade. Através

de frases imperativas e convidativas, o conteúdo do CMI se distancia dos conteúdos da grande

mídia, e se aproxima do cidadão comum.

Apesar do conteúdo e da ideia serem atuais, o visual não é muito moderno. Eles não fazem usos

de tags (palavras-chave) para acessar os conteúdos e os caminhos para se chegar aonde se deseja

ainda são longos. Além disso, a interface não é muito intuitiva.

Brasil Aberto (http://www.brasilaberto.org/)

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O slogan do movimento já explica: “Informação pública é um direito nosso”. A mobilização é

produzida por um conjunto de entidades e cidadãos comuns e foi criada em encontro na Casa de

Cultura Digital, um coletivo dedicado à cultura digital em suas mais variadas formas e

produções. O objetivo final deste movimento é a aprovação do Projeto de Lei de Acesso à

Informação Pública. O apoio dos cidadãos é conseguido através das assinaturas, relatos de casos

e colaborações em grupos de emails.

Apesar do caráter colaborativo e participativo, próprios da era 2.0, o site não possui um layout ou

as ferramentas próprias desta plataforma web.

Xô Censura - http://xocensura.wordpress.com/

O Xô Censura é um blog que reúne conteúdos contra as ações ou os projetos de leis que tentam

impor limites de conteúdo ao ambiente da internet, como o chamado “AI-5 Digital”, projeto de

lei do deputado federal Eduardo Azeredo, que prevê a punição por cibercrimes. O site defende

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que a retenção de dados dos internautas, prevista pelo projeto de lei, não evita os crimes,

tratando-se, apenas, de censura e tentativa de controle dos órgãos governamentais, sobre os

usuários, além de invasão de privacidade.

Artigo XXI

1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por

intermédio de representantes livremente escolhidos.

Rede Nossa São Paulo –

www.nossasaopaulo.org.br

Esta rede surgiu com o intuito de construir uma força política, social e econômica, para exigir

que, tanto a sociedade, quanto o governo, trabalhem em prol de uma cidade com melhores

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condições de vida. Para isso, conta com mais de 600 organizações civis, além de empresas e

cidadãos, e segue a lógica horizontal da rede, sem um único centro de poder.

A ideia é reunir o maior número possível de adeptos e, assim, construir, coletiva e

colaborativamente, uma cidade mais justa, sustentável, em diversas áreas, como a educação, o

meio ambiente, a segurança, o trabalho, etc.

Entre as ações desta organização, está a campanha “Você no Parlamento”

(www.vocenoparlamento.org.br), que também se enquadra no artigo XXI e merece destaque.

A campanha é uma ação conjunta da Rede Nossa São Paulo e da Câmara Municipal de São

Paulo, com o objetivo de “fazer com que gestores públicos direcionem seus trabalhos a partir das

reais necessidades da sociedade que os elegeram. E, com isso, oferecer à população a

oportunidade de acompanhar, fiscalizar e cobrar”.

Na página da iniciativa, o usuário é direcionado a um questionário simples e rápido, e responde

perguntas sobre o que considera prioritário nas políticas públicas em temas como assistência

social, inclusão de pessoas com deficiência, consumo e meio ambiente, cultura e lazer,

desigualdade social educação, esporte, entre outros. A ideia é que o resultado desses

questionários seja enviado aos governantes, para que, assim, o cidadão comum também participe

das decisões do governo, já que ele é diretamente beneficiado ou prejudicado por elas.

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Adote um Vereador - http://vereadores.wikia.com/

A ideia é simples: o usuário escolhe um vereador e passa a acompanhá-lo em suas atividades

parlamentares. A plataforma também é simples: baseado no formato wiki¸a iniciativa é

colaborativa e permite a participação ampla dos usuários. O objetivo é “adotar” o parlamentar,

para fiscalizar suas ações e cobrar, quando necessário, e abre para a participação do cidadão,

através do Google Groups (http://groups.google.com/group/adoteumvereador), de um micro-blog

(http://identi.ca/adoteumvereador), do Twitter (@AdoteUmVereador), de uma comunidade no

Orkut, além do próprio site-wiki.

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Contas Abertas – www.contasabertas.com.br

O Contas Abertas é uma organização civil que “reúne pessoas físicas e jurídicas, lideranças

sociais, empresários, estudantes, jornalistas, bem como quaisquer interessados em conhecer e

contribuir para o aprimoramento do dispêndio público”, com o objetivo de disponibilizar os

gastos do governo, bem como garantir a qualidade destes gastos e aumentar a participação do

cidadão comum na elaboração e no acompanhamento do Orçamento Geral da União.

O site também faz uso de ferramentas da Web 2.0, como o Twitter, para conseguir um alcance

mais amplo e uma maior participação dos cidadãos, em prol de suas causas.

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Cidade democrática - http://www.cidadedemocratica.org.br/

Logo na abertura do site, nota-se seu caráter colaborativo e participativo. Em mensagem direta

ao usuário, o Cidade Democrática convida para a construção de uma nova iniciativa para

incentivar soluções criativas para os problemas contemporâneos.

Esta organização cria um espaço virtual para a criação de propostas para um mundo melhor. O

usuário pode participar, tanto expondo um problema em sua cidade, quanto sugerindo soluções

para outros problemas. Os temas são os mais variados possíveis, indo desde Transporte Público,

passando por Educação, Política, Meio Ambiente e Direitos Humanos. O usuário cadastrado

pode ser uma pessoa física ou uma instituição, de todos os lugares do Brasil.

Esta iniciativa se destaca perante as demais, pois, além de tratar de temas atuais como a

implementação de ciclovias nas cidades e o desenvolvimento sustentável, ela possibilita variadas

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formas de participação e colaboração por parte dos usuários, além de ser uma plataforma

bastante interativa e intuitiva.

O layout do site pode ser enquadrado nos padrões 2.0, porque favorece a usabilidade, diminui os

caminhos até um conteúdo buscado, além de chamar a atenção, em um quadro na home, para os

assuntos mais comentados, através da nuvem de tags, recurso implementado pela plataforma web

2.0. A nuvem de tags facilita a navegação e hierarquiza, democraticamente, os conteúdos,

colocando em destaque as tags mais comentadas.

A interação dos usuários no site é completamente horizontal, o que possibilita que cada um tenha

igual poder de interação e de opinião, dentro deste espaço virtual democrático. Além disso, o

usuário pode buscar pelos tópicos relativos a sua cidade, o que também facilita a busca por

conteúdos.

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Vote na Web – www.votenaweb.com.br

O projeto Vote na Web é um site direcionado a todos os cidadãos eleitores, com o objetivo de

aumentar a participação nas decisões do Congresso Nacional. Através de um registro na

iniciativa, o usuário pode votar em uma série de projetos de lei e, a partir de seus resultados,

conhecer o candidato que mais se aproxima de suas idéias, favorecendo o voto consciente.

A navegação é bastante facilitada pelo menu principal (com os botões “Votar”, “Arquivo” e

“Políticos”) e também pela disposição dos projetos, em ordem cronológica. No botão “Políticos”,

o usuário tem uma lista dos senadores, deputados e presidentes, informações como o estado que

trabalha e em que mandato está, além das informações sobre os projetos que enviou, os que

foram aprovados e os que não foram, em que projetos votou e qual foi seu voto (contra ou a

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favor). A nuvem de tags também organiza os projetos de leis por assuntos, o que facilita bastante

a navegação.

Além disso, o site também conta com outras ferramentas da plataforma web 2.0, como o Twitter,

o Facebook e o Orkut, aumentando ainda mais as possibilidades de participação dos usuários.

Congresso aberto - http://www.congressoaberto.com.br/

Semelhante ao Vote na Web, o Congresso Aberto expõe informações sobre o poder legislativo,

na tentativa de aumentar a transparência de suas ações, perante a sociedade. O projeto está em

fase de testes e pede a colaboração dos usuários para se aprimorar.

O site expõe as votações em andamento no legislativo, separando as que o governo ganhou e as

que ele perdeu, bem como as votações em destaque, pelo tema, e uma nuvem de tags com os

principais assuntos tratados ali.

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Petição Pública - http://www.peticaopublica.com.br/

O site Petição Pública Brasil é uma rede que agrega abaixo-assinados como forma de pressão

política. A intenção é construir um serviço público e democrático de pressão no governo.

Qualquer usuário pode criar um abaixo-assinado e divulgar massivamente. O site fornece

alojamento gratuito para as petições e os divide por categorias como “Legislação e Justiça”,

“Sociedade”, “Educação”, “Ambiente”, entre outros. As petições ficam disponíveis todo o

tempo, no site, para consulta.

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Artigo XXIII

3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe

assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e

a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.

Repórter Brasil –

www.reporterbrasil.org.br

Repórter Brasil é uma ONG que denuncia a ocorrência de trabalho escravo no país, em defesa das leis

trabalhistas. No site da iniciativa, a missão é “identificar e tornar públicas situações que ferem

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direitos trabalhistas e causam danos socioambientais no Brasil visando à mobilização de

lideranças sociais, políticas e econômicas para a construção de uma sociedade de respeito aos

direitos humanos, mais justa, igualitária e democrática”.

A rede do Repórter Brasil conta com quatro programas de combate à escravidão contemporânea:

a Agência de Notícias (que divulga os casos de escravidão), a Pesquisa em Cadeias Produtivas

(que investiga a utilização de mão de obra escrava nas cadeias produtivas do país), o Centro de

Monitoramente de Agrocombustíveis (relatórios informativos sobre culturas agroenergéticas e

seus impactos socio-ambientais e “Escravo nem pensar” (programa de prevenção do trabalho

escravo).

O usuário pode colaborar enviando denúncias de atos escravistas por todo o território nacional.

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Artigo XXV

Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde

e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços

sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez,

viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle.

Um teto para meu país - http://www.umtetoparameupais.org.br/

Um Teto para meu País é uma iniciativa criada e comandada por jovens de todo o mundo, que

objetiva a melhoria da qualidade de vida de famílias que residem em assentamentos irregulares e

em favelas, através da construção coletiva de moradias de emergência. A colaboração ultrapassa

a internet e ganha as ruas, na medida em que os voluntários se reúnem por este objetivo comum.

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A rede também se coloca presente em várias plataformas colaborativas, como o Twitter, o

Facebook e o Orkut, como medida de divulgação e também de participação de usuários externos

à organização.

Cidade para as pessoas – www.cidadeparaaspessoas.com.br

Este site surgiu a partir de um recurso interessante da Web 2.0: o Crowdfunding, uma espécie de

financiamento colaborativo, alcançado através da rede. O Cidade para as pessoas partiu deste

tipo de financiamento para descobrir, pelo mundo, boas práticas urbanas para se viver melhor em

grandes centros. O projeto convida os internautas a participarem colaborando com idéias de e

para “construir, juntos, e colaborativamente, o nosso habitat ideal”. O projeto também pode ser

acompanhado pelas redes sociais Twitter e Facebook e por um canal de vídeos no YouTube.

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Alagoas Colaborativo - http://www.alagoascolaborativo.org.br/

O projeto Alagoas Colaborativo foi criado com o intuito de promover a inclusão digital e a

difusão de conhecimento no estado do Alagoas. O projeto acredita que a produção de conteúdos

digitais e sua livre distribuição pela internet, aliada principalmente a cadeia produtiva da

indústria cultural, colabora decisivamente para o desenvolvimento sustentável e a inclusão

social.

O objetivo é criar um ambiente no qual os cidadãos de Alagoas pudessem entrar em contato com

novas ferramentas tecnológicas, que levem à produção de conteúdos educativos, à reflexão e à

reconstrução e valorização da identidade do estado.

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Viva Favela - http://www.vivafavela.com.br/

O projeto Viva Favela tem como objetivos promover a inclusão digital, a democratização da

informação e a redução da desigualdade social. Moradores de favelas atuam como repórteres

correspondentes, fotógrafos e produtores de conteúdos multimídia. Os moradores se transformam

em agentes da informação, em comunicadores, buscando uma visão crítica sobre a realidade

vivida por eles.

Qualquer usuário cadastrado pode participar enviando textos, fotos, vídeos ou colaborar com

outros tipos de conteúdo.

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Artigo XXVI

1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus

elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-

profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.

Recursos Educacionais Abertos - http://rea.net.br/

Esta rede conta com o conhecimento de vários profissionais como educadores, engenheiros,

jornalistas, entre outros, e distribui abertamente recursos educacionais, como cursos completos,

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coleções, periódicos, para ajudar na garantia de educação, considerada insuficientemente

abarcada pelo governo. O movimento conta com a amplitude que a internet alcança, para

disseminar o conhecimento por todo o Brasil conectado e construir uma educação mais inclusiva,

democrática e colaborativa.

O projeto também conta com um canal no Google Groups, no qual é possível se inscrever e

colaborar, além de conhecer os eventos do movimento: http://groups.google.com/group/rea-

lista/about.

Cidade Comunicadora - http://www.culturadigital.org.br/site/cidade-comunicadora

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A Cidade Comunicadora é um projeto que pretende promover o debate sobre a disponibilização

de conexão de banda larga gratuita, no Brasil, além de sugerir e articular propostas junto a

gestores de cidades digitais para qualificar o uso da rede nos municípios. A rede virtual conecta

cidades, pesquisa de tecnologias para conectar estas cidades, incentiva o debate sobre a

qualificação do uso de redes e promove um seminário para discutir a democratização da

cominicação em rede.

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A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana

e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A

instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e

grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da

manutenção da paz.

Movimento Mais Feliz –

www.maisfeliz.org.br

O Movimento Mais Faliz trabalha em favor do desenvolvimento da educação no Brasil, julgando

que, só assim, nossa sociedade será mais feliz. A rede se propõe a agregar todo o capital humano

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do país para encontrar soluções para os problemas que enfrentamos, através do estímulo e do

incentivo da valorização do capital social, como fator determinante para o crescimento do Brasil.

O objetivo maior é aumentar a participação e o envolvimento dos cidadãos nas causa sociais do

país, tomando como inspiração o projeto Bairro-Escola, coordenada pela ONG Aprendiz, que

transforma espaços em locais educativos, de convício produtivo, de aprendizagem, de

desenvolvimento de habilidades, para a comunidade e potencializa o capital social.

Rede V2V - http://portaldovoluntario.org.br/

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A rede social V2V foi criada pelo Portal do Voluntário, com o intuito de conectar voluntários em

potencial, e instituições que precisam de trabalho voluntário e para, assim, estimular a ação

social. O usuário faz seu cadastro, cria um perfil, e pode participar de ações divulgadas por

outros perfis, além de poder publicar suas próprias ações e buscar colaborações. A tecnologia

V2V (de voluntário para voluntário) está hospedada no Portal do Voluntário e em outros portais.

Avaaz – www.avaaz.org/po

A ONG Avaaz é uma organização que busca mobilizar cidadãos em todo o mundo, em favor de

campanhas “por um mundo melhor”. As causas pelas quais lutam são internacionais e as mais

variadas possíveis – entre as mais conhecidas, no Brasil, está a Lei da Ficha Limpa, que barra a

candidatura de políticos condenados por crimes graves. A Lei foi aprovada graças à pressão dos

internautas e usuários do Avaaz.

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A organização pede o apoio dos usuários através do próprio site e também pela rede de emails

de todos os cadastrados. Após conhecer as problemáticas divulgadas pela rede, os usuários são

convidados a participar de abaixo-assinados, como forma de pressão nas autoridades, para que o

problema seja resolvido.

Além da rede de emails, a ONG utiliza o Twitter e o Facebook para saber qual é o interesse do

público e quais as questões mais urgentes.

Veia Social - http://veiasocial.com.br/

A Veia Social é uma rede que conecta doadores e receptores de sangue, com o objetivo de

conscientizar e trocar opiniões sobre a os benefícios da doação de sangue. Após realizar um

cadastro, o usuário pode acessar uma área de Pedido de Doações e incluir o seu pedido, para que

os outros usuários possam ajudar.

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A iniciativa também conta com um perfil no Twitter, para divulgar pedidos de doações e outras

informações sobre o tema.

Radar HIV – www.radarhiv.com

A rede Radar HIV é um canal criado para conectar usuários soropositivos, na tentativa de

produzir um ambiente de diálogo sobre questões relativas ao HIV e que seja distante dos

preconceitos que sofrem na sociedade.

O canal conta com espaço para um Blog, Grupos de Discussão, Fóruns, Sala de Bate-Papo, além

de vídeos instruitivos e entrevistas.

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Projeto Plugado - http://projetoplugado.blogspot.com/

O projeto Plugado foi criado como ferramenta de enfrentamento e prevenção da violência contra

meninos e meninas em Foz do Iguaçu, já que essa região era sabidamente um local com muitas

ocorrências neste sentido. O objetivo é capacitar jovens para atividades de agente cultural nas

escolas, formando uma rede de aprendizado e, assim, tirá-los deste contexto.

O blog reúne todos os conteúdos produzidos pelos jovens do projeto, além de reunir discussões

sobre temas ligados à cultura, textos, vídeos, além do perfil e da comunidade no Orkut.

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Global Voices - http://pt.globalvoicesonline.org/

A rede Global Voices é uma iniciativa que busca agregar e divulgar discussões em amplitude

global, desenvolvendo ferramentas, instituições e relacionamentos que ajudem os diálogos locais

a alcançarem todo o mundo. A ideia é dar voz a quem nem sempre é ouvido pela grande mídia.

O site conta com uma equipe de voluntários por todo o mundo, para trabalhar com tradução,

edição, redação nos blogs do site.

As discussões e as coberturas são organizadas em nuvens de tags, por tópico e por país. Um dos

tópicos em maior destaque é o de “Direitos Humanos”, sendo uma das causas mais abordadas

dentro do projeto. Entre os assuntos, dentro deste tópico, destacados no Brasil, está a discussão

dos impactos trazidos pela construção de Belo Monte e a intolerância a homossexuais.

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Redes temporárias:

Eleitor 2010 - http://eleitor2010.com/

O Eleitor 2010 foi um projeto criado com o objetivo de fiscalizar, colaborativamente, as eleições

do ano passado, para construir um espaço de observação das eleições, segundo a visão dos

eleitores. Ele funcionava a partir da utilização de redes sociais e software livre para agregar,

organizar, analisar e criar conteúdo sobre as campanhas eleitorais nacional e regionais do Brasil,

de maneira participativa.

Através da plataforma Ushahidi – desenvolvedora de software livre para coleta de dados,

visualização e interação de mapas - a população podia, diretamente, enviar relato de denúncias

de crimes eleitorais e irregularidades, como boca-de-urna, comícios ou carreatas no dia da

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eleição, irregularidades em geral, e eventos similares relacionados ao processo de campanha e

eleição em 2010. As denúncias podiam ser enviadas por SMS, pelo Twitter e outras redes

sociais ou por email.

Eu Sou Gay - http://projetoeusougay.wordpress.com/

O movimento Eu sou Gay surgiu após a notícia do assassinato de uma menina de 16 anos, no

interior de Goiás; a suspeita é que o crime tenha sido motivado pela homofobia, já que a menina

tinha uma namorada e seu pai não aceitava o relacionamento. O projeto não se diz contrário à

homofobia, mas a qualquer forma de violência, de intolerância, de falta de respeito, em um

contexto de aumento de 30% em assassinatos contra homossexuais.

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O projeto convida os usuários a participarem enviando fotos pessoais com a mensagem

#EuSouGay, para posterior edição em um vídeo e divulgação massiva no YouTube.

Minha Ajuda Sua Casa - http://www.minhaajudasuacasa.com.br/

O movimento Minha Casa Sua Ajuda surgiu para ajudar as pessoas atingidas pela catástrofe da

Região Serrana do estado do Rio de Janeiro, em janeiro de 2011. O objetivo era recolher recursos

para ajudar as famílias desabrigadas. Em dois dias, o projeto ganhou mais de cinco mil

apoiadores, chegando a quase nove mil, ao final. A ajuda arrecadada foi de mais de R$ 107 mil,

mais de 5 mil vacinas e 650 toneladas de mantimentos.

O movimento foi divulgado em redes sociais como o Twitter, o Facebook, o Orkut, e através de

emails, com a hashtag #minhacasasuaajuda.

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Salve a Serra - http://www.salveaserra.org/

Assim como o movimento Minha Ajuda Sua Casa, Salve a Serra também surgiu da necessidade

de levantar organizar os esforços para ajudar os desabrigados da região serrana do Rio de

Janeiro, principalmente das cidades mais atingidas: Teresópolis, Friburgo, São José do Vale do

Rio Preto e Itaipava.

A ideia era levantar doações em alimentos, remédios, água mineral potável, cobertores e

colchonetes, leite em pó, roupas e brinquedo, além de conseguir voluntários para atuar em

resgate, transporte de médicos e construção de abrigos de emergência. A ação foi realizada

através do site da iniciativa, além de por redes sociais como o Twitter e o Facebook.

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Mega Eventos – http://megaeventos.tk/

A rede Mega Eventos tem o objetivo de articular os comitês locais e os demais agentes de

monitoramento dos impactos da Copa do Mundo de 2012 ou das Olimpíadas de 2012, nas

cidades-sede. Os relatos e as notícias são mapeados e divididos por cidade, por categoria e por

evento (Copa do Mundo ou Olimpíadas), para facilitar a navegação.

Além de poder acessar os relatos, o usuário pode enviar o seu próprio relato, vídeo ou foto e

fazer parte de um grupo, de acordo com sua cidade.

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Marcha da Educação - http://marchadaeducacao.org/

A Marcha da Educação foi um ato realizado pelo resgate do sistema público de ensino, com o

objetivo de universalizar a educação de qualidade, através do emprego correto do dinheiro

recolhidos em impostos. A reivindicação foi que a porcentagem do PIB investida em educação

seja, no mínimo, de 10 por cento.

O protesto também declarou apoio ao Projeto de Lei nº 480, que obrigaria políticos eleitos a

colocar seus filhos em escolas públicas. Mais de mil pessoas confirmaram presença no evento,

que aconteceu na Av. Paulista, no dia 27 de agosto de 2011.

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3. Direitos Humanos e Ação Social nas Redes Digitais

Além da promoção de uma nova cultura, como abordado anteriormente, a expansão da internet

culminou no surgimento de uma série de movimentos de ação direta, com práticas sociais e

comunicativas específicas, explicitando uma rede de relações e de novos conflitos sociais. O

termo “ativismo” foi ampliado e diversificado enquanto tipo de organização e ação política

direta. Surgiu um novo tipo de participação e atuação potencializada e protagonizada pela rede,

que abrange diversos campos, como o escolhido para abordagem nesta pesquisa: o dos Direitos

Humanos.

A rede favorece um tipo de relação que não tinha sido permitida anteriormente, principalmente

em sua plataforma mais atual, a Web 2.0. Além de conectar o mundo todo através de sua

linguagem universal de zeros e uns e de suas redes sociais, ela permite que qualquer conteúdo

seja gerado em seu interior, sem que seja necessária uma grande audiência para mantê-lo.

Diferentemente de como acontecia nas mídias de massa, os conteúdos gerados na rede não são,

necessariamente, adorados pela maioria; um conteúdo gerado na rede não se pauta nem se

mantém inteiramente pela audiência. Por este motivo, a internet abarca conteúdos de inúmeros

tipos e, também por isso, tem adesão de tantos usuários, das mais diversas origens.

Devido à possibilidade de reunião de pessoas geograficamente próximas (ou não), as redes

digitais sociais possibilitam uma nova forma de organização social, baseada em interesses

comuns, mesmo que motivados por questões diferentes. É muito mais fácil se organizar dentro

da rede do que fora dela, já que o alcance da informação é muito maior dentro dela. A

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informação está a um clique de distância e não mais a quilômetros, não mais centralizada nas

mãos de poucos.

Mesmo possibilitando a geração de qualquer tipo de conteúdo, percebemos que as formas de

ativismo em rede passam pela questão dos Direitos Humanos, seja em sua forma política, social,

étnica ou de gênero. A infração dos Direitos Humanos é universalmente contestada, assim como

a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão fora universalmente aceita, quando proposta.

Os Direitos Humanos ganham importância no mundo e é na rede que se encontra o espaço para

defendê-los, em sua plenitude. Eles são universalmente reconhecidos e, na rede, universalmente

protegidos, vigiados. Antes da rede, se algum direito fundamental do homem era infringido em

Cuba, por exemplo, o resto do mundo não tomava conhecimento. Essa informação encontrava

barreiras políticas e até mesmo físicas para se multiplicar. A rede quebra estas barreiras e

possibilita que esse tipo de informação chegue rapidamente aos interessados em todo o mundo.

Um exemplo desta quebra de barreiras é o que tem feito a blogueira cubana Yoani Sanchèz com

seu blog “Generación Y” (WWW.desdecuba.com/generaciony). Neste blog, a jornalista critica o

regime de seu país comandado por Fidel Castro e seu sucessor Raúl Castro, e relata as

dificuldades vividas no cotidiano de Cuba, onde o acesso à internet é limitado pelo Estado. Seu

blog é traduzido em mais de quinze idiomas e tem grande audiência internacional.

Yoani não tem facilidades em gerar e publicar conteúdos em seu blog, já que o acesso à internet

no país é dificultado pelos governantes, mas mesmo assim não deixa de alimentá-lo. O blog não

é acessado pelos cubanos, ou por ela mesma, fato que a fez se auto-intitular “a blogueira cega”.

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Ela não pode postar os conteúdos e, por isso, conta com ajuda de colaboradores de vários países

para fazê-lo. A velocidade e a instantaneidade da rede possibilitaram uma rápida disseminação

das informações postadas por Yoani ao redor do mundo.

Em 2008, por exemplo, Cuba estava povoada por jornalistas de vários países, devidos às eleições

para o novo presidente. Jornalistas de veículos como o The New York Times, The Washington

Post, Al Jazeera e outros, aproveitaram a deixa para conversar com a blogueira e divulgar seu

projeto. Com tanta repercussão, Yoani ganhou ainda mais notoriedade, para o temor do Estado

cubano, que imediatamente depois, bloqueou seu acesso.

Mesmo sendo perseguida, a jornalista não deixou de divulgar informações aos quatro cantos,

amparada por usuários e leitores também dos quatro cantos, ficando entre as cem pessoas mais

influentes do mundo, segundo a revista Time, sendo considerada uma das maiores defensoras de

um direito básico de qualquer cidadão: a liberdade de expressão.

A blogueira também aderiu a outras formas de conectividade com o mundo além-Cuba, através

de redes sociais como o Twitter, de onde ela desabafa e também pede apoio de outros twitteiros.

Apesar de ser proibida de deixar o país devido ao confisco de seu passaporte pelas autoridades

do país, graças ao alcance promovido pela rede, Yoani é “ouvida” e consegue fazer sua

informação chegar a diversos locais.

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O acesso a seu blog fora liberado em fevereiro de 2011 pelo governo cubano, depois de 3 anos

de proibição, como mostra a reportagem do Observatório da Imprensa, retirada d‟O Estado de S.

Paulo (Anexo III).

E os movimentos sociais na rede não param por aí. A ONG Avaaz (WWW.avaaz.org) é, como

ela mesma se define uma “comunidade de mobilização online que leva a voz da sociedade civil

para a política global”:

“Avaaz, que significa "voz" em várias línguas européias, do oriente médio e asiáticas, foi lançada em 2007

com uma simples missão democrática: mobilizar pessoas de todos os países para construir uma ponte entre o mundo

em que vivemos e o mundo que a maioria das pessoas querem. A Avaaz mobiliza milhões de pessoas de todo tipo

para agirem em causas internacionais urgentes, desde pobreza global até os conflitos no Oriente Médio e mudanças

climáticas. O nosso modelo de mobilização online permite que milhares de ações individuais, apesar de pequenas,

possam ser combinadas em uma poderosa força coletiva. Operando em 14 línguas por uma equipe profissional em

quatro continentes e voluntários de todo o planeta, a comunidade Avaaz se mobiliza assinando petições, financiando

campanhas de anúncios, enviando emails e telefonando para governos, organizando protestos e eventos nas ruas,

tudo isso para garantir que os valores e visões da sociedade civil global informem as decisões governamentais que

afetam todos nós”.

(Texto retirado da sessão “Quem somos”, do blog da ONG)

Com mais de sete milhões de membros ao redor do mundo, a Avaaz já divulgou casos como o do

“estupro corretivo” (homossexuais mulheres que foram abusadas sexualmente e sofreram

violência física, para “curar” a homossexualidade), na África do Sul, ou como o caso da iraniana

Sakineh condenada à morte por apedrejamento julgada pela suposta culpa na morte do marido. A

ONG conseguiu recolher mais de 500 mil mensagens de seus membros, endereçadas aos

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governantes dos respectivos países, que contataram diretamente o Irã, conquistando o adiamento

da execução da iraniana.

Ainda no campo dos Direitos Humanos, a ONG também atuou em questões como a lei anti-

homossexual na Uganda, o fim da tortura em Guantanamo e a luta por democracia em Zimbábue.

A divulgação das mensagens da instituição é feita através de email de cadastro dos membros e

das redes sociais como o Facebook e o Twitter. O poder de voz da comunidade virtual vem dos

próprios membros e é possibilitada pela rede, fazendo jus à característica de descentralização da

informação e do forte alcance deste meio. A luta pelos direitos humanos no Irã, por exemplo, não

é mais “privilégio” dos iranianos. As lutas e causas locais ganham dimensão global na rede; elas

viram causas e lutas glocais.

No Brasil, a atuação da ONG Avaaz começou com a petição que visava à aprovação do projeto

da Lei da Ficha Limpa, na Câmara dos Deputados, em maio de 2009. O projeto de lei tinha como

objetivo barrar a candidatura de candidatos condenados a crimes graves. Além da mobilização

via emails, o ONG criou perfis no Twitter e no Facebook para recolher assinaturas em favor da

aprovação do projeto. As assinaturas eram enviadas aos deputados, junto a telefonemas

encorajados pelo grupo. Milhões de assinaturas foram recolhidas e o projeto foi, então, aprovado.

Graziela Tanaka, coordenadora da ONG no Brasil, conta, em entrevista ao site Planeta

Sustentável (WWW.planetasustentavel.com.br) como a mobilização tomou forma e alcançou seu

objetivo com a ajuda da rede (Anexo IV).

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Como prova de que a rede possibilita a pluralidade de vozes, o garoto Renê Silva, morador do

Morro do Adeus, no Rio de Janeiro, é um só e não 500 milhões como são os membrs da ONG

Avaaz, mas tem tanto poder de voz, na rede, quanto todo esse batalhão junto. Renê, de 17 anos,

twittou em tempo real a invasão policial ao Complexo do Alemão, em novembro de 2010,

conseguindo uma cobertura privilegiada, não alcançada por nenhum outro jornalista.

Renê criou o jornal Voz da Comunidade (www.jornalvozdacomunidade) de onde divulgava

informações sobre a invasão através do perfil @vozdacomunidade no Twitter. O perfil do

jornalista-mirim (@Rene_Silva_RJ) tem mais de 30 mil seguidores e o do seu jornal já alcançou

mais de 40 mil usuários seguidores, interessados nas informações divulgadas por eles. O jornal

criou também uma WebRádio.

Entre os tuites com a cobertura ao vivo do que acontecia no Complexo do Alemão, alguns

mereceram destaque (Anexo V) por mostrarem o trabalho jornalístico da equipe do jornal Voz da

Comunidade, composta por jovens moradores do complexo, com idade entre 11 e 17 anos.

Toda a cobertura jornalística realizada pela equipe do jornal Voz da Comunidade da invasão

policial ao Complexo do Alemão gerou uma repercussão enorme no Brasil e também em outros

países. René Silva ganhou prêmios nacionais como o “Faz Diferença” do jornal O Globo, e

recebeu indicações a prêmios internacionais como o “Shorty Awards”que premia as melhores

pessoas e organizações no Twitter e redes sociais.

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Ainda em contexto nacional, a ONG Repórter Brasil (www.reporterbrasil.org.br) também faz um

trabalho importante na defesa dos Direitos Humanos no país. Fundada pelo jornalista Leonardo

Sakamoto, em 2001, a ONG investiga a presença de trabalho escravo na cadeias produtivas de

empresas e divulga essas informações através de seu site. A rede de informação da Repórter

Brasil é composta pelos emails de cadastro dos usuários, na qual são divulgados eventos sobre o

tema, reportagens, notícias, programas de rádio, entre outros.

4. Outras contribuições:

Além da promoção de uma nova cultura, com a expansão da internet, surgiram vários

movimentos de ação direta, com práticas sociais e comunicativas específicas, explicitando uma

rede de relações e de novos conflitos sociais; ampliou-se e diversificou-se o termo ativismo, de

origem estadunidense, enquanto modalidade de organização e ação política direta de base

(marcada por boicotes ao consumo de determinados produtos, ocupações, manifestações e

protestos ligados aos direitos humanos, civis e ambientais). Surgiu um novo tipo de participação

e atuação que vai das formas de conflitualidade em defesa de recursos naturais e do ambiente às

lutas indígenas em defesa da diversidade cultural, dos territórios e da paticipação, de fóruns

mundiais contra o neoliberalismo às formas de conflitualidade contra o G8 até a reforma da

ONU.

A forma de cidadania e ativismo que caracteriza os movimentos new-global é resultado de uma

interação fecunda entre sujeitos, grupos e entidades com as tecnologias da informação, as redes

informativas e as diversas interfaces utilizadas. Desta maneira, os objetivos, suas definições, suas

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disseminações e suas implementações são, em muitos casos, resultados não de um processo

unidirecional, mas construídos em rede de forma colaborativa.

Alguns acontecimentos (destacados a seguir) podem e devem ser destacados como importantes

dentro deste contexto de colaboração, de interatividade, de conexão e de abolição das fronteiras

geográficas entre os países, possibilitadas pela rede. Ao reder do mundo, vários episódios

marcaram esta reviravolta midiática e colaboraram para este estudo.

Matéria retirada da seção “Tecnologia” do site Terra

Internet: blogs e Twitter informam sobre situação no Irã

15 de junho de 2009 • 16h39

O assunto é político, mas colocou em destaque a liberdade de expressão e o poder da internet. No

Irã, com o conturbado resultado das eleições, tanto a conexão à internet quanto a rede celular

foram suspensas no país, que se tornou um campo de batalha. As informações divulgadas pela

grande imprensa são, em muitos casos, superficiais. Porém, no meio da violência, blogueiros e

usuários do Twitter têm conseguido levar detalhes dos acontecimentos correntes, em tempo real

e driblando a censura, em uma ação nunca antes vista.

De acordo com o site do jornal britânico The Times, repórteres em Teerã informam que redes

sociais como o Facebook e o Twitter estão sendo derrubados após a vitória duvidosa de

Mahmoud Ahmadinejad. Isso se deve ao fato de que muitos usuários estão expressando sua

indignação quanto ao resultado, e tentam noticiar a repressão imposta pelo governo após a

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revolta dos cidadãos: uma tecnologia especial que estaria sendo testada pelo governo para

censurar qualquer notícia que circule pelo país ou mesmo saia dele.

"A internet agora está muito lenta, assim como a rede de telefonia. YouTube e Facebook são

difíceis de serem acessados e os sites pré-reforma estão completamente inacessíveis", diz um

relato no site Repórteres sem Fronteiras. "Uma eleição democrática é aquela na qual a imprensa

é livre para monitorar o processo eleitoral e investigar alegações de fraude, mas nenhuma dessas

condições foi permitida na suposta reeleição de Mahmoud Ahmadinejad", completa o site.

Em tom de crítica ao concorrente, o jornal The New York Times recomenda à CNN, que vem

fazendo uma cobertura aquém do esperado da situação iraniana após as eleições, que busque no

Twitter as novidades sobre o país, uma vez que o site vem sendo mundialmente criticado pela

cobertura falha do caso.

O tópico de busca "#CNNFail" (CNN falha) chegou a ser o terceiro mais comentado no

"Trending Topics", lista do Twitter que mostra o que está sendo mais falado, ficando atrás

apenas de #iranelection (eleições iranianas) e #iremember (evento particular do site).

Os usuários estariam criticando o site pela total falta de cobertura no acontecimento, diz o site

CNET. Mesmo blogs ocidentais têm dado mais atenção ao fato do que a mídia tradicional.

O pedido de ajuda de um usuário do site Slashdot é desesperador: "Precisamos de ajuda urgente

no Irã. Estamos sob ataque pelo governo. Eles roubaram as eleições. E agora estão prendendo

todo mundo. Eles também filtraram os sites um por um. Mas o nosso problema é que bloquearam

também a rede de SMS e estão bagunçando os satélites de TV. Por favor, algum de vocês pode

nos ajudar a configurar algum tipo de rede utilizando nossos pontos de acesso caseiros? Alguém

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pode nos mostrar um link de como instalar estações de rádio ou TV? Alguma sugestão de como

configurar uma rede? Por favor nos ensine, ou morreremos em uma guerra nuclear entre o Irã e

os Estados Unidos."

Um vídeo lançado há sete meses (que pode ser visto pelo endereço vimeo.com/2139754) tem

como título o mote "IRÃ: Uma nação de blogueiros", e fala sobre a opressão no país e a

importância dos blogs para os jovens, que representam 50% da população e têm na internet seu

único canal de expressão, o que muitas vezes os leva à prisão.

Um post no Twitter, noticiado pelo site The Daily Dish, pede: "TODAS as redes de celular e

internet estão cortadas. Pedimos a todos em Teerã que subam em seus telhados e gritem ALAH

O AKBAR (Deus é grande) em protesto".

A última vez em que isso foi feito foi na Revolução Islâmica, em 1979, que derrubou o Xá Reza

Pahlavi e instaurou o governo dos Aiatolás, portanto o ato é de grande significação no país.

O site também comenta o que todos estão vendo: não se pode parar as pessoas. Não é mais

possível controlá-las. "As pessoas podem ignorar a mídia tradicional; podem contar a verdade no

boca-a-boca; podem se organizar como nunca antes puderam", completa.

Segundo blogs e mensagens do Twitter que chegam a todo momento, tanto os posts no

microblog quanto as ligações por celular estão sendo feitas por satélites que ainda não foram

descobertos pelo governo reeleito. Enquanto isso, os telhados do Irã se enchem de pessoas

gritando em protesto. Vídeos dos protestos pacíficos do povo iraniano pipocam a todo momento

nos sites YouTube e Vimeo. Um exemplo pode ser visto no atalho tinyurl.com/nscg8r.

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Matéria retirada da seção de “Mundo”, do site Terra.

Ativismo na internet acelerou queda de ditador na Tunísia

17 de janeiro de 2011 • 14h28 • atualizado às 14h31

Manifestante enfrenta policiais emTúnis; redes sociais contribuíram para queda de Ben Ali na

última sexta-feira

Foto: AFP

A renuncia do ditador tunisiano Zine Al-Abidine Ben Ali no dia 14 de janeiro após quase um

mês de violentos protestos teve a ajuda de um forte movimento na internet, entre blogueiros,

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usuários do Twitter e a rede social Facebook. Muitas das imagens que chegavam às grandes

emissoras de TV internacionais foram feitas por ativistas nas ruas da capital Túnis.

Durante as semanas de violência e manifestações da população contra a corrupção, altas dos

preços, desemprego e falta de democracia, vídeos começaram a aparecer no Facebook e Twitter

mostrando a repressão imposta pelas forças de segurança do governo da Tunísia.

A mídia internacional rapidamente usou as imagens e as informações nas redes sociais e blogs de

jornalistas locais e ativistas como fonte, mostrando uma mudança no comportamento das

redações na busca de fontes. "Aproximadamente 3,6 milhões de tunisianos se conectam

diariamente. A maioria das manifestações, incluindo aquela em frente ao palácio presidencial de

Ben Ali foi organizada através do Facebook", contou a uma rádio francesa Phillip Rochot, um

morador de Túnis.

A censura da mídia era uma das armas cruciais do regime de Ben Ali durante os 23 anos em que

esteve no poder. Como em muitos países do mundo árabe, em que governos autoritários

controlam jornais e emissoras de rádio e TV, o ativismo na internet se tornou a única maneira de

cidadãos manifestarem suas frustrações.

Sites de compartilhamento de vídeos foram banidos na Tunísia até o dia anterior à renuncia de

Ben Ali, quando o próprio presidente anunciou uma série de site que seriam bloqueados, como o

YouTube.

Facebook

Mas o governo não contava com a força do Facebook, que permaneceu acessível na rede mundial

e foi, segundo analistas, o grande responsável pelas imagens que correram o mundo com os

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protestos e repressão da polícia tunisiana, que deixou um saldo de mais de 60 pessoas mortas e

centenas de feridos.

"Embora ativistas e jornalistas tenham usado outras mídias sociais também, o Facebook foi o

grande culpado pela queda de Ben Ali. Através da rede social, jovens organizaram suas ações

nas ruas, deixando o governo sem controle da informação", disse Magda Abu-Fadil, diretora do

Programa de Treinamento em Jornalismo da Universidade Americana de Beirute, no Líbano.

De acordo com Mukhtar Trifi, diretor de Liga Tunisiana de Defesa dos Direitos Humanos, o

Facebook virou uma forma de expressão para a maioria dos jovens desempregados da Tunísia,

apesar do medo e repressão no país. "Vários problemas assolavam o país, todos sabiam mas

ninguem falava a respeito. Nesse cenário, o Facebook virou a arma da juventude", disse ele ao

prestigiado site americano The Huffington Post.

Ele explicou que a derrubada do poder de Ben Ali não teria sido possível sem o opoio do

exército, mas que os tunisianos inundaram o Facebook com vídeos amadores com imagens da

repressão policial, esquadrões de atiradores e violentos protestos em suas contas no Facebook

direto de suas casas ou cybercafés.

"Muitos tunisianos tinham amigos e familiares morando fora do país, como na França e resto da

Europa. Assim que os vídeos estavam na rede, eles se multiplicavam nas contas destes amigos,

tornando impossível o controle pelo regime de Ben Ali", reiteirou Phillip Rochot.

Twitter e confiabilidade

Mas o fenômeno das redes sociais na cobertura de um grande evento começou em 2009, quando

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a conturbada eleição presidencial no Irã levou centenas de milhares de pessoas às ruas de várias

cidades em protesto contra o resultado, que reelegeu o atual presidente Mahmoud Ahmadinejad.

Acusando o governo de fraudar o resultado do pleito, a oposição, liderada por seu candidato

derrotado Mir Hussein Moussawi, mobilizou simpatizantes nas ruas que foram duramente

reprimidos pela polícia e milícias pró-governo.

Com a mídia internacional censurada e controlada no país, as imagens dos protestos eram feitos

pelos celulares e enviados pelo Twitter, onde as emisorras internacionais usavam para transmitir

o que acontecia no país.

Uma das grandes questões que envolvem o uso das mídias sociais por jornalistas envolve a

confiabilidade e credibilidade da informação.

Segundo Firas Al-Atraqchi, professor de Jornalismo da Universidade Americana do Cairo, nas

primeiras duas semanas dos protestos na Tunísia, as informações que chegavam aos jornalistas

internacionais vinha das redes sociais.

"O Twitter foi crucial para informar observadores e jornalistas estrangeiros. O Facebook foi

atacado depois que o governo percebeu que imagens estavam chegando ao mundo através do site

e desesperadamente tentou atacar e fechar contas de vários usuários", escreveu ele também em

um artigo no The Huffington Post.

Para ele, as informações devem ser filtradas, em que as redações devem selecionar as imagens e

depoimentos vindas de pessoas que estão testemunhando os eventos que acontecem em primeira

mão.

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"Uma das maneiras de fazer isso era pegar as informacões e imagens vindas de pessoas que se

identificavam e depois checar se estas informações estavam sendo repetidas por outras pessoas.

Depois, havia a confirmação por telefone com ONGs ou fontes oficiais para corroborar os fatos",

disse ele.

Jovens no Oriente Médio vêm cada vez mais escolhendo o Twitter e Facebook como ferramentas

para organizar protestos e quebrar anos de silêncio e repressão em seus países.

"Redes sociais não podem ser controladas pelos governos autoritários, é uma bola de neve que

eles não têm como segurar. A informação está aí, e qualquer pessoa pode ter acesso. Nós não

podemos mais ignorar isso", salientou Magda Abu-Fadil, de Beirute.

Reportagem retirada do site da revista VEJA, em 28/01/2011.

O Twitter só não faz revolução. Mas ajuda

Uso de redes sociais, blogs e celulares em levantes populares como os

ocorridos no Egito e Tunísia mostra que essas tecnologias podem ajudar a

coordenar manifestações contra ditaduras, avessas à liberdade de

informação

Jadyr Pavão Júnior e Rafael Sbarai

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Manifestantes utilizam telefone celular durante protestos na Tunísia (Fred Dufour/AFP)

Nas últimas semanas, o mundo assistiu apreensivo e esperançoso ao sopro de inconformismo que

fez balançarem duas ditaduras velhas de décadas. É uma situação tão rara no mundo árabe

quanto a passagem do cometa Halley pela vizinhança da Terra. A soma de insatisfações –

incluindo a ausência de liberdade de expressão – fez com que milhares de pessoas marchassem

em protesto pelas ruas de Egito e Tunísia, de onde o ditador Zein al-Abidine Ben Ali foi

catapultado. Nos dois casos, manifestantes contaram com a ajuda, em graus a serem precisados,

de componentes cada vez mais comuns em situações desse tipo (confira o infográfico abaixo): a

internet e o telefone celular. Na Tunísia, ativistas utilizaram Twitter e Facebook para organizar

protestos. No Egito, blogs e também as redes sociais. Os episódios reaquecem o debate sobre

qual é, afinal, o potencial dessas tecnologias quando o assunto é ativismo político, e opõem dois

grupos de analistas: os "ciber-utópicos", que acham que blogs e celulares tudo podem, e os

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"ciber-céticos", que pensam o oposto. Vale adiantar: como é de sua natureza, os radicais

radicalizam, e o potencial do ativismo via tecnologia está em um ponto entre os extremos.

A turma dos ciber-utópicos fez seu début em junho de 2009, depois que os iranianos saíram às

ruas para protestar contra a eleição fraudulenta que reconduziu Mahmoud Ahmadinejad à

presidência do país controlado pela ditadura dos aiatolás. O assunto foi o mais comentado do ano

no Twitter, superando até a morte do astro pop Michael Jackson, o que levou os utópicos a

cunhar a expressão "Revolução do Twitter" e a apostar que essa ferramenta seria responsável por

revoluções. O trecho de um editorial do respeitado jornal americano Washington Post captou o

clima (otimista) da época: "O imediatismo dos tweets foi emocionante, com um fluxo de

atualizações com fotos e vídeos que mostrou um retrato de crise no país. O que estamos vendo é

a chama tremulante da liberdade." Um assessor do ex-presidente dos Estados Unidos George W.

Bush chegou a sugerir que o Twitter fosse indicado ao prêmio Nobel da Paz pelo papel na crise.

O governo de Teerã, contudo, não caiu: reprimiu os protestos e bloqueou serviços de internet. O

episódio deixou a impressão de que a turma dos ciber-utópicos sobrecarregara de expectativas as

asas do Twitter, fazendo do microblog a panaceia antiditaduras.

A resposta dos ciber-céticos veio na mesma intensidade, em sentido oposto. O primeiro contra-

ataque foi comandado pelo pesquisador iraniano Hamid Tehrani, que tentou colocar os fatos

ocorridos no Irã em sua real dimensão. "Houve uma sobrevalorização do Twitter. O país contou

com menos de 1.000 usuários ativos. O maior volume de informações propagadas no microblog

veio do Ocidente, de pessoas que não estavam no local. Quando alguém comentou que havia

700.000 pessoas protestando em frente a uma mesquita, descobriu-se que apenas cerca de 7.000

pessoas compareceram", escreveu.

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Se os ciber-utópicos haviam jogado a internet e o celular nas alturas, coube ao jornalista e

escritor canadense Malcolm Gladwell colocá-los abaixo do chão, em artigo publicado pela

revista New Yorker e entitulado "A revolução não será tuitada". O americano se apoiou em duas

teorias clássicas. A primeira defende que o "ativismo de alto risco", aquele em que o indivíduo

coloca a própria vida em risco, só é possível quando os participantes mantêm vínculos pessoais

fortes – ou seja, depende de tête-à-tête. As redes seriam o inverso disso e só possibilitam

vínculos frouxos – daí, a facilidade com que, sentadas na praia, com o notebook no colo, tantas

pessoas aderem a abaixo-assinados em favor da independência do Tibete. Além disso, diz

Gladwell, as redes, por natureza, conferem a todos os integrantes igual poder e nenhuma

hierarquia – e organização e liderança são fundamentais ao ativismo político, prova a história.

Levante a levante, contudo, os argumentos dos ciber-céticos são enfraquecidos pela realidade.

Ditaduras como Bielorrússia, Moldávia e Tailândia, além de Egito e Tunísia, já conheceram o

impacto que a tecnologia pode emprestar à oposição. No caso da Tunísia, universitários lançaram

mão de Twitter e Facebook para organizar protestos. O estopim foi a morte de Mohamed

Bouazizi, vendedor ambulante que teve sua mercadoria apreendida pela polícia e, desesperado,

ateou fogo ao próprio corpo na pequena cidade de Sidi Bouzid. A população local protestou.

Para atrair simpatizantes, ativistas compartilharam com concidadãos, via rede, documentos

vazados pelo site WikiLeaks que mostravam casos de corrupção no governo. Um dado

eloquente: um em cada cinco tunisianos está cadastrado no Facebook. Ou seja: ao contrário do

Irã, não há razão para duvidar da informação de que a população teve acesso à agitação virtual.

O fato de os céticos estarem errados significa, necessariamente, que os utópicos estão certos?

Não. No caso da Tunísia, o movimento antigoverno de fato contou com ajuda das redes. Mas, ao

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chegar às ruas, ganhou sua própria dinâmica, atingindo a capital, Tunis, e só derrubou o ditador

Ben Ali após quase um mês de pancadaria no "mundo real". "É questionável a tese de que as

redes já têm um papel determinante em uma revolução", afirma o espanhol Enrique Dans,

professor de sistemas de informação da IE Business School. "Mas é fato que elas atuam na

coordenação de informações e, assim, assumem relevância nessas situações." Não por acaso, a

secretária de Estado americana, Hillary Clinton, defende que a liberdade de informação, em

geral, e o acesso à internet, em particular, são elementos definidores do destino de cidadãos de

todo o mundo – especialmente daqueles que vivem sob o jugo de ditaduras.

Outro defensor da ideia de que blogs, redes e afins podem atuar como propagadores de

informação, Clay Shirky, professor de novas mídias da Universidade de Nova York, aposta que

essas ferramentas podem provocar não apenas vendavais contra ditaduras, mas também brisas

para democracias. O caso exemplar seria a eleição espanhola que se seguiu aos atentados

terroristas de 2004. No dia 11 de março, bombas explodiram em trens de Madri, matando cerca

de 200 pessoas. O então primeiro-ministro José María Aznar veio a público e atribuiu a ação ao

grupo separatista basco ETA, que há décadas desafia Madri. Alguém desconfiou da versão.

Segundo Shirky, o torpedo contra Aznar partiu de uma mensagem de texto (SMS) que circulou

inicialmente entre cinco pessoas e dizia que, com a história, Aznar fazia um cálculo político. A

poucos dias da eleição, ele tentava desviar a atenção pública da real mandante dos ataques, a Al

Qaeda, que se voltara contra a Espanha porque o país participava militarmente da ocupação do

Iraque. A mensagem teria sido replicada à exaustão entre eleitores. No dia 14 de março, José

Luis Rodriguez Zapatero, que até então não era favorito na eleição, saiu vitorioso das urnas. A

Espanha iniciou a retirada do Iraque naquele mesmo ano.

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Ditadores nas redes – A força da tecnologia não foi percebida apenas pelos opositores e

democratas. Ditadores a conhecem. Às vezes, eles tentam usá-la em benefício próprio. Outras,

esmagá-la. Nesta semana, os serviços de internet e telefonia móvel foram suspensos no Egito,

horas antes de uma manifestação de opositores prevista para acontecer em várias cidades do país.

Foi a expressão do que o ministro egípcio do Interior, Habib al Adly, definira como "medidas

drásticas e decisivas" para conter os protestos. Às vésperas de cair, o ditador tunisiano teria

tentado impor o mesmo tipo de controle sobre as comunicações - tardiamente, contudo. Teerã

levou o bloqueio de serviços a cabo em 2009. Ahmadinejad mostrou também seu lado ardiloso:

determinou o desbloqueio do Facebook por um período determinado com o objetivo de

identificar dissidentes. Recentemente, um tribunal do país condenou Hossein Derakhshan, um

dos primeiros blogueiros locais, a mais de 19 anos de prisão por "cooperação com países hostis,

propaganda política e insulto a figuras religiosas". Derakhshan ficou conhecido por publicar na

rede instruções sobre como iniciar um blog no idioma farsi, dando início à explosão de blogs na

língua oficial do Irã.

Em outros casos, os governos promovem contra-ataques pelas redes. Fazem perceber que

permanece atual o famoso alerta do político americano Hiram Johnson, segundo o qual, na

guerra (ainda que virtual), a verdade é a primeira vítima. Na Moldávia, em 2009, funcionários do

governo criaram perfis falsos no Twitter com a missão de espalhar boatos e provocar

instabilidade no país. O objetivo era justificar medidas de força por parte do governo comunista.

"O fato de que há governos ditatoriais tentando cercear a liberdade de expressão da população

demonstra que as plataformas digitais têm sua importância no embate político", avalia Adriana

Amaral, professora do programa de pós-graduação em ciências da comunicação na Unisinos. A

revolução pode não ser tuitada, como previu Malcolm Gladwell, no sentido de que um Twitter só

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não faz a revolução. Mas as que acontecerem no século XXI, é certo, passarão pelo Twitter e

similares.

Conteúdo do infográfico:

Ativismo Digital – Episódios em que o povo usou internet e celular contra seus governos

Filipinas, 2001 – Milhares de pessoas trocam mensagens de texto no celular para coordenar

protestos que culminam no impeachment do presidente Joseph Estrada.

Espanha, 2004 – Mensagens de texto acusando o premiê José Maria Aznar de mentir sobre o

atentado ao metrô de Madri influenciam a eleição e impõem derrota ao primeiro-ministro nas

urnas. Vale lembrar: a Espanha é uma democracia.

Bielorrússia, 2006 – A tentativa de revolução começa por e-mail, mas não vai longe: protestos

não têm força para derrubar o ditador Aleksandr Lukashenko, que em seguida tenta controlar a

rede.

Irã, 2009 – Ativistas utilizaram celulares e redes sociais para coordenar protestos contra fraudes

nas eleições. Em respostas, a ditadura dos aiatolás bloqueia o acesso ao Twitter e ao Facebook.

Moldávia, 2009 – Ações na web reúnem mais de 10.000 manifestantes anti-governo comunista,

que responde com responde com perfis falsos paraatrapalhar os manifestantes.

Tailândia, 2010 - Chamado Red Shirt, o movimento que se opõe à junta militar que governa o

país usa as redes sociais para coordenar ações, mas é esmagado. Dezenas de pessoas morrem.

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Tunísia, 2011 – O ditador Zine El Abidine Ban Ali cai após convulsão popular. As redes sociais

são usadas como meio de comunicação entr manifestantes.

Egito, 2011 - Motivados pelos acontecimentos na Tunísia, os egípcios saem às ruas contra o

ditador Hosni Murabak, que tenta bloquear o Twitter – ferramenta de coordenação do

movimento.

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Conclusão

Com o surgimento do netativismo dentro do contexto da cibercultura, com o advento da chamada

Web 2.0 – reconhecida pela conexão de alta velocidade, pelo colaborativismo e pela grande

possibilidade de participação dos usuários -, alterou, definitivamente, a forma comunicativa da

sociedade ocidental. Este contexto favoreceu o surgimento de novas formas de ativismo, na rede

e em rede, como demostrado nos exemplos expostos nesta pesquisa. Redes como Avaaz.org e

Global Voices são exemplos da formação desta identidade global, que habita as redes digitais, e

que faz as causas locais atingirem amplitude global, através das conexões possibilitadas pela

nova plataforma web, com o objetivo de atender necessidades globalmente reconhecidas como a

democracia, a defesa dos direitos humanos, a sustentabilidade, etc.

Não é por acaso que alguns teóricos da comunicação interpretam o advento da internet, como

uma revolução responsável pela transformação da natureza da arquitetura e do processo de

repasse das informações. A internet alterou a forma de interação entre os cidadãos e, entre estes e

o governo e as redes digitais promoveram transformações a nível social. Os movimentos sociais

surgiram na tentativa de suprir as necessidades da população que não são suficientemente

atendidas pelos governantes ou por órgãos oficialmente responsáveis. Além de a rede destacar o

papel das minorias, possibilitando a multiplicação das visões de mundo, elas promovem a

aproximação de pessoas de vários territórios, possibilitando a combinação de diferentes culturas

e reforçando o fenômeno da diversidade cultural.

Este mundo conectado, fruto de novas tecnologias, e esta aproximação provocada pela quebra de

distanciamento entre as causas e idéias de grupos glocais, faz com que vivamos nesta Aldeia

Global, como previa Marshall McLuhan, que nos permite ampliar as possibilidades de

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organização social, fazendo com que um acontecimento em uma parte isolada do mundo ganhe

projeção e reflexos em outra parte geograficamente distante e, consequentemente, ganhe

soluções coletivas, colaborativas e, possivelmente, melhores. O controle está na mão dos

usuários, o chamado “cérebro coletivo”, sempre alerta. Como Derrick cita: a cibercultura é esta

tecnologia que nos faz ver através do tempo e do espaço, e nos transporta a qualquer ponto, além

de nos possibilitar interagir com ele.

O aumento do surgimento dos movimentos sociais, como explicado por Jorge S. Machado, se

deu a partir do reconhecimento de que são protagonistas de ações políticas. Muitas já foram as

conquistas alcançadas por movimentos sociais em rede, como exposto nos exemplos acima,

alguns exemplos mais eficazes do que outros, mas cada um com importância dentro do cenário

global de injustiças, preconceito, violência e abuso de poder. Este papel das redes digitais é

inquestionável, mas, para se alcançar um resultado cada veza mais efetivo e plenamente

satisfatório é preciso que, até mesmo as redes, entendam as mudanças psicosociais trazidas por

elas. Nesta pesquisa, notou-se, por exemplo, que algumas redes, apesar de tratar de assuntos

contemporâneos, não possuem um visual chamativo ou enquadrado nos moldes conhecidos da

Web 2.0. Com um visual antiquado, com a navegação dificultada por estas características, o

alcance das redes, com certeza, é menor. Verifica-se que redes, mais uma vez, como a Avaaz e a

Global Voices, ou a Cidade Democrática e o Vote na Web, tiveram adesão muito maior do que

iniciativas como o Petição Pública e um dos fatores que podem ser apontados como motivadores

desta adesão (ou não) é o layout apresentado pela iniciativa. Estes exemplos também alcançaram

uma divulgação maior na grande mídia, devido ao design e ao layout contemporâneos que

apresentam, além da facilidade de navegação.

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A divulgação, aliás, é outro fator que impede essas redes de se propagarem ainda mais. Notou-se

que a divulgação dessas iniciativas é um tanto falha, nos seguimentos que lhe cabem. A

divulgação interna, no meio em que acontecem – o das mobilizações -, é positiva; as redes se

conhecem e fazem referência umas às outras. Porém, a divulgação externa ainda é pouca (ou

nenhuma).

Entre as temáticas mais abordadas pelas redes analisadas aqui, as questões políticas são as mais

recorrentes. Questões como a defesa da liberdade de expressão, contrárias à censura, de defesa

da democracia e contrários ao abuso de poder são apenas alguns exemplos. E isso não é uma

particularidade do Brasil, onde a corrupção e a impunidade andam incomodando bastante a

população. O fato de as redes tratarem de questões políticas em todo o mundo reforça a idéia de

que a sociedade sofreu alterações provocadas pela internet, no sentido de vontade de participação

em assuntos antes tratados apenas pelos políticos, já que a própria internet é um espaço

democrático no sentido mais amplo do termo.

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Anexos

Anexo I

“Os representantes do povo francês, constituídos em Assembleia Nacional, considerando que a

ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas das infelicidades

públicas e da corrupção dos governos, resolveram expor, numa Declaração solene, os direitos naturais,

inalienáveis e sagrados do homem, a fim de que esta Declaração, constantemente presente a todos os

membros do corpo social, lhes lembre sem cessar seus direitos e deveres; de modo que seus atos do

poder legislativo e do poder executivo, podendo ser a qualquer momento confrontados com o fim de toda

instituição política, sejam mais respeitados, para que as reclamações dos cidadãos, fundamentadas em

geral em princípios simples e incontestáveis, voltem-se sempre para a manutenção da Constituição e a

felicidade geral.

Por conseguinte, a Assembleia Nacional reconhece e declara, em presença e sob os auspícios do Ser

supremo, os seguintes direitos do homem e do cidadão:

Art.1.º Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-

se na utilidade comum.

Art. 2.º A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis

do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão.

Art. 3.º O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhum corpo, nenhum

indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente.

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Art. 4.º A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo: assim, o exercício dos

direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros

da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei.

Art. 5.º A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela lei não pode

ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene.

Art. 6.º A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente

ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja para proteger,

seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as

dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a

das suas virtudes e dos seus talentos.

Art. 7.º Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo

com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens

arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve

obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência.

Art. 8.º A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser

punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada.

Art. 9.º Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se se julgar indispensável

prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei.

Art. 10.º Ninguém pode ser molestado por suas opiniões , incluindo opiniões religiosas, desde que sua

manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei.

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Art. 11.º A livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem; todo

cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta

liberdade nos termos previstos na lei.

Art. 12.º A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública; esta força é,

pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é confiada.

Art. 13.º Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração é indispensável uma

contribuição comum que deve ser dividida entre os cidadãos de acordo com suas possibilidades.

Art. 14.º Todos os cidadãos têm direito de verificar, por si ou pelos seus representantes, da necessidade

da contribuição pública, de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição,

a colecta, a cobrança e a duração.

Art. 15.º A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração.

Art. 16.º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação

dos poderes não tem Constituição.

Art. “17.º Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não

ser quando a necessidade pública legalmente comprovada o exigir e sob condição de justa e prévia

indenização.”

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Anexo II

“Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas.

Preâmbulo

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de

seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,

Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que

ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de

liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi

proclamado como a mais alta aspiração do homem comum,

Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para que o

homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra tirania e a opressão,

Considerando essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações,

Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos humanos

fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das

mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade

mais ampla,

Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a desenvolver, em cooperação com as

Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a observância

desses direitos e liberdades,

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Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para

o pleno cumprimento desse compromisso,

Assembléia Geral proclama

A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os

povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre

em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses

direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por

assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos

próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.

Artigo I

Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e

devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.

Artigo II

Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem

distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra

natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

Artigo III

Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo IV

Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos

em todas as suas formas.

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Artigo V

Ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

Artigo VI

Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei.

Artigo VII

Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm

direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra

qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo VIII

Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais competentes remédio efetivo para os atos que

violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Artigo IX

Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo X

Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e pública por parte de um tribunal

independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer

acusação criminal contra ele.

Artigo XI

1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua

culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido

asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.

2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito

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perante o direito nacional ou internacional. Tampouco será imposta pena mais forte do que aquela que,

no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.

Artigo XII

Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua

correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei

contra tais interferências ou ataques.

Artigo XIII

1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.

2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.

Artigo XIV

1. Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.

2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de

direito comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XV

1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.

2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de

nacionalidade.

Artigo XVI

1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm

o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao

casamento, sua duração e sua dissolução.

2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.

Artigo XVII

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1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.

2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Artigo XVIII

Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade

de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela

prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.

Artigo XIX

Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem

interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e

independentemente de fronteiras.

Artigo XX

1. Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas.

2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo XXI

1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por intermédio de

representantes livremente escolhidos.

2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.

3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições

periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a

liberdade de voto.

Artigo XXII

Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço

nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos

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direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua

personalidade.

Artigo XXIII

1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de

trabalho e à proteção contra o desemprego.

2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.

3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim

como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se

necessário, outros meios de proteção social.

4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e neles ingressar para proteção de seus interesses.

Artigo XXIV

Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e férias

periódicas remuneradas.

Artigo XXV

1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem

estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis,

e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda

dos meios de subsistência fora de seu controle.

2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas

dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social.

Artigo XXVI

1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e

fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a

todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.

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2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do

fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução

promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos,

e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.

3. Os pais têm prioridade de direito à escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.

Artigo XXVII

1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e

de participar do processo científico e de seus benefícios.

2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer

produção científica, literária ou artística da qual seja autor.

Artigo XXVIII

Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos

na presente Declaração possam ser plenamente realizados.

Artigo XXIX

1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno desenvolvimento de sua

personalidade é possível.

2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará sujeita apenas às limitações

determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos

direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-

estar de uma sociedade democrática.

3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos

propósitos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XXX

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Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer

Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à

destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.

10 de dezembro de 1948”

Anexo III

INTERNACIONAL

Cuba suspende censura a blog de Yoani Sanchez

em 10/2/2011

O Estado de S.Paulo, 10/2

Cuba levanta censura a blog de premiada opositora

Cubanos que vivem na ilha comunista puderam acessar ontem pela primeira vez o blog

Generación Y, da dissidente Yoani Sanchez, ganhadora de vários prêmios internacionais. Sem

anunciar publicamente, o regime castrista retirou a página da lista de endereços de internet

censurados.

„Na longa noite de censura, uma pequena brecha se abriu. Meu blog Generación Y voltou a

receber luz da ilha‟, disse Yoani em sua conta no Twitter.

A página da dissidente foi tirada do ar em 2008, quando ela ganhou o prestigioso Prêmio

Ortega y Gasset de jornalismo, na Espanha. No mesmo ano, a cubana de 35 anos apareceu na

lista das cem pessoas mais influentes do mundo da revista Time. Yoani ganhou vários outros

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prêmios internacionais, mas o governo apreendeu seu passaporte e não permite que ela deixe

Cuba.

O Generación Y descreve as dificuldades políticas e da vida comum sob o regime dos irmãos

Raúl e Fidel Castro. Embora tenha grande repercussão internacional - seu conteúdo é

diariamente traduzido em 15 idiomas -, o blog é pouco conhecido em Cuba, onde poucos têm

acesso à internet. Mais de 100 mil pessoas seguem Yoani no Twitter.

Na mira. A internet tornou a blogueira uma das principais vozes da oposição ao regime castrista

fora de Cuba. A fama fez o governo passar a atacá-la com frequência em suas publicações

impressas e online.

Um vídeo divulgado na semana passada mostra uma reunião de autoridades cubanas discutindo

sobre como a internet se tornara o novo „campo de batalha‟ contra os EUA. Yoani era citada

várias vezes na conversa.

Uma joint venture cubano-venezuelana está instalando um cabo submarino de fibra ótica de

1.600 quilômetros que, pela primeira vez, levará internet rápida à ilha. A obra deve terminar no

fim do mês. A expectativa, porém, era a de que a melhora no acesso não reduzisse o controle de

conteúdo imposto por Havana. O governo cubano não deu explicações sobre o fim da censura

ao blog de Yoani. / REUTERS

Anexo IV

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A Lei Ficha Limpa, que barra a candidatura de politicos condenados por

crimes graves, provavelmente não teria sido aprovada sem a pressão dos

internautas. Por trás desse movimento está a socióloga Graziela Tanaka,

de 30 anos, coordenadora no Brasil da Avaaz.org

Kátia Arima

Revista Info Exame – 07/2010

A ONG promoveu uma forte mobilização por e-mail e redes sociais em defesa do projeto, recolhendo

milhões de assinaturas. Agora, o foco é o Código Florestal. Veja o que ela disse à INFO.

Como a Avaaz.org realiza as mobilizações?

Enviamos alertas por e-mail ao nosso cadastro de 600 000 brasileiros, para deixá-los a par das

novidades de uma campanha ou para convocá-los para alguma ação. Na Ficha Limpa, por exemplo,

quando alguns deputados estavam tentando enfraquecer o projeto ou adiar a votação, sugerimos às

pessoas que enviassem e-mail aos políticos e ligassem para o Congresso. Abarrotamos a caixa de e-mail

desses deputados com 40 000 mensagens.

Os internautas não têm capacidade de se autogerenciar sem a coordenação da Avaaz.org?

Nós somos a garantia de que uma ação na internet será levada a sério. Antes, as pessoas recebiam uma

petição por e-mail e não sabiam se era verdade ou não, se ela chegaria até a pessoa certa no poder.

Poucas ONGs sabem como lidar com o ciberativismo, e, por isso, apoiamos organizações de qualquer

área.

Participar de mobilizações políticas na frente do computador não é uma militância preguiçosa?

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O clique do mouse é só o primeiro passo na participação política. Telefonar para o Congresso Nacional

já é um passo além. Quem assinou a petição da Ficha Limpa hoje recebe alertas sobre questões

ambientais, pois agora estamos organizando uma petição para rejeitar as emendas propostas ao Código

Florestal Brasileiro. Nem todo mundo é jovem e tem tempo para ser voluntário. Na Ficha Limpa, a

maioria das pessoas estava na faixa entre 40 e 50 anos. A internet é o meio que elas têm para se engajar.

Como a ONG obtém recursos?

Dos mais de 5 milhões de cadastrados na lista de alertas, que fazem doações. Poucas ONGs conseguem

fazer esse tipo de captação de recursos. Não recebemos nada do governo, nem de empresas privadas. A

doação dos brasileiros fi ca em torno de 20 reais, em média.

Qual ferramenta na internet é melhor para o ciberativismo?

Usamos o Twitter e o Facebook para saber onde está ointeresse do público, quais são as questões mais

urgentes no momento. O orkut não é utilizado, pois o foco dele é mais a amizade. Para divulgar

campanhas, optamos mais pelo e-mail, que tem um efeito viral, e pelo Twitter (@avaazpo).

Anexo V

@vozdacomunidade Voz da Comunidade

Hoje quinta-feira, geralmente todos estavam na rua bebendo e se divertindo ouvindo som no

último volume...mas alguma coisa mudou.

9 Dec via web Favorite Retweet Reply

@vozdacomunidade Voz da Comunidade

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Antes desta guerra no alemão, o complexo não ouvia tiros faziam 3 ou 4 anos! Sabia

@AqueleRyan ???

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@vozdacomunidade Voz da Comunidade

Uma kombi acabou bater na estrada do itararé. Bateu num corsa prata ocorreu as 22:57

8 Dec via Twitter for iPhone Favorite Retweet Reply

@vozdacomunidade Voz da Comunidade

Lula quer visitar Complexo do Alemão! Ele vai entrar para o "guiness book" porque foi o

presidente que mais visitou a comunidade!!!

7 Dec via web Favorite Retweet Reply

@vozdacomunidade Voz da Comunidade 15:53 - estão revistando moradores que sobem a

comunidade! #vozdacomunidade http://twitpic.com/3bdy7u

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29 Nov

@vozdacomunidade Voz da Comunidade

Atencao veiculos evitem a estrada do itarare

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@vozdacomunidade Voz da Comunidade

O exercito fica cercando todos os acessos do Complexo do alemão! Não entrou em momento

algum! Apenas a policia civil e militar q entrou

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@vozdacomunidade Voz da Comunidade

Helicóptero da Policia Civil sobrevoa na comunidade agora

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@vozdacomunidade Voz da Comunidade

O Jornal VOZ DA COMUNIDADE foi criado com objetivo de ajudar moradores da comunidade

a resolverem problemas sociais e necessidades daqui.

5 Dec via web Favorite Retweet Reply

@vozdacomunidade Voz da Comunidade

03:01 - Comunidade está tranquila. Não se houve barulhos.

5 Dec via web Favorite Retweet Reply

@vozdacomunidade Voz da Comunidade

Comandante do exército afirmou que o exército vai permanecer até o inicio do ano que vem!

3 Dec via web Favorite Retweet Reply

@vozdacomunidade Voz da Comunidade

14:27 - há policiais no interior da comunidade revistando casas.

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@vozdacomunidade Voz da Comunidade

Acabamos de ouvir um disparo de tiro ! 12:49

30 Nov via Twitter for iPhone Favorite Retweet Reply

@vozdacomunidade Voz da Comunidade

10:47 - Neste momento o comércio da comunidade está funcionando normalmente!

30 Nov via web Favorite Retweet Reply

@vozdacomunidade Voz da Comunidade

10:17 A policia civil acaba de sair da comunidade com 2 motos! #vozdacomunidade

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@vozdacomunidade Voz da Comunidade

09:41 - Neste momento a policia civil e militar, esta dentro da comunidade e o exercito esta em

torno, em todos acessos do complexo!

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@vozdacomunidade Voz da Comunidade

08:21 - A secretária Municipal de educação @ClaudiaCostin está neste momento entrando no

Complexo do Alemão! #vozdacomunidade

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@vozdacomunidade Voz da Comunidade

23:23 URGENTE!!!! A energia elétrica foi cortada novamente no Complexo do Alemão!!!!

#vozdacomunidade

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Referências Bibliográficas

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KERCKHOVE, D. A Pele da Cultura. ______________, 1997.

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