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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE DE DIREITO, CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E ECONÔMICAS CURSO DE DIREITO Cerlyanne Araújo da Silva JUIZADO DE CONCILIAÇÃO: Uma forma alternativa de solução de conflitos Governador Valadares 2011

UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE · Universidade Vale do Rio Doce . 4 Dedico acima de tudo a Deus, por ter feito com que eu ... sentença e da vingança que estão implícitos em alguns

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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE

FACULDADE DE DIREITO, CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E ECONÔMICAS

CURSO DE DIREITO

Cerlyanne Araújo da Silva

JUIZADO DE CONCILIAÇÃO:

Uma forma alternativa de solução de conflitos

Governador Valadares

2011

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CERLYANNE ARAÚJO DA SILVA

JUIZADO DE CONCILIAÇÃO:

Uma forma alternativa de solução de conflitos

Monografia para obtenção do grau de bacharel em Direito, apresentada à Faculdade de Direito, Ciências Administrativas e Econômicas da Universidade do Vale do Rio Doce. Orientadora: Marlene Franklin Alves

Governador Valadares

2011

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CERLYANNE ARAÚJO DA SILVA

JUIZADO DE CONCILIAÇÃO:

Uma forma alternativa de solução de conflitos

Monografia apresentada como requisito para obtenção do grau de bacharel em Direito, apresentada à Faculdade de Direito, Ciências Administrativas e Econômicas da Universidade do Vale do Rio Doce.

Governador Valadares, ____ de __________________ de 2011.

Banca Examinadora:

___________________________________________________________________ Profª. Dra. Marlene Franklin Alves – Orientadora

Universidade Vale do Rio Doce

___________________________________________________________________ Prof.ª Dra. Lissandra Lopes Coelho Rocha – Convidada

Universidade Vale do Rio Doce

___________________________________________________________________

Prof. Dr. Ianacã Índio Brasil – Convidado Universidade Vale do Rio Doce

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Dedico acima de tudo a Deus, por ter feito com que eu

estivesse aqui para a conclusão de mais uma etapa em minha

vida.

À minha mãe, que em nenhum momento mediu esforços para

realização dos meus sonhos, que me guiou pelos caminhos

corretos, me ensinando a fazer as melhores escolhas. À você

devo a pessoa que me tornei.

Ao Wederson, meu noivo, pelo amor, por me entender, por me

ajudar, por me dar força, na verdade você “fez” a faculdade

comigo. Por me ouvir e incentivar a prosseguir mesmo estando

a quilômetros de distância como nestes últimos meses. Por

tudo isso e muito mais TE AMO!

À minha amada amiga e madrinha Cinara Cardoso por toda a

dedicação e carinho que demonstrou nos momentos em que

mais precisei. Te Adoro!

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AGRADECIMENTOS

A Deus, meu refúgio e força, onde sempre procuro e encontro respostas para os

meus questionamentos e problemas.

Ao meu noivo Wederson, pelo apoio e compreensão pelos tantos momentos de

ausência e pela infinita demonstração de amor durante esta trajetória.

À Profª Marlene Franklin, pela excelente orientação, pela prontidão quando precisei,

e principalmente por todas as palavras de incentivo. Obrigada pelo carinho,

paciência, credibilidade, e pelos ensinamentos que me proporcionou.

Aos demais professores que foram muito mais que simplesmente professores, foram

amigos e ensinaram muito além de teorias e técnicas, todo o meu carinho e gratidão

a todos.

A todos os amigos da grande família 2ª Vara Cível desta Comarca, especialmente

ao Dr. Roberto Apolinário de Castro, que me permitiu o contato com o Juizado de

Conciliação, o que despertou em mim além do interesse, o compromisso social.

Agradeço pelas orientações, pelas oportunidades, e generosidade em compartilhar

seus conhecimentos que contribuíram abundantemente para minha formação

profissional e pessoal, e às minhas eternas amigas do gabinete.

À Luiza, pelas orientações, pelo apoio, amizade e prontidão, por ser mais que uma

“chefa”, ser amiga, sem palavras, quero ser como você quando eu crescer!!

Aos grandes amigos que conquistei na Comarca de Galiléia, especialmente aos

amigos Isac, companheiro de tantas conciliações, Gilberto Marçal e a todos da

JESP.

Ao EAJ – Escritório de Assistência Judiciária e toda equipe de coordenação e apoio,

em especial às professoras orientadoras de segunda-feira Luciana e Andreza e aos

inesquecíveis Professores Yuri e Beatriz da saudosa sexta-feira, pela convivência,

pela amizade e por ampliarem meus conhecimentos, possibilitando que eu desse

mais este passo.

Àquelas que se tornaram muito mais que amigas, Janine, Cida, Marke e Keila.

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“Alguma coisa, em cada situação de conflito, demanda um

ajuste, longe dos ditames do olho por olho, da frieza da

sentença e da vingança que estão implícitos em alguns

conceitos de Justiça”.

Maria Nazareth Serpa.

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RESUMO

Através da presente Monografia, pretende-se demonstrar a relevância dos novos métodos de solucionar conflitos, dando ênfase ao Juizado de Conciliação, demonstrando os benefícios trazidos à sociedade e ao judiciário. Trata-se de um tema bastante relevante, de alcance universal e civilizatório, baseado em idéias, valores e comportamentos que indicam a evolução ética das pessoas e das nações, que através do diálogo, do respeito e da solidariedade, é possível caminhar para a construção da paz e um ser humano melhor. Instituído pelo Conselho Nacional de Justiça para atuar em parceria com a sociedade, tem-se por finalidade demonstrar como os Juizados têm funcionado para desafogar o judiciário e solucionar de uma forma mais célere os conflitos, bem como demonstrar a eficácia dessa forma alternativa que influencia diretamente a sociedade. Pretende-se também abordar como a Conciliação é conduzida para solução extrajudicial dos mais diversos conflitos, ratificando que, através de acordos que acontecem de forma rápida, eficaz e totalmente gratuita, é possível a satisfação de ambas as partes, colocando fim às divergências amigavelmente, sem a necessidade da imposição do Estado-Juiz para a determinação do cumprimento do acordo, reduzindo o tempo que a demanda seria resolvida se fosse para um debate judicial. Palavras-chave: Formas alternativas de solucionar conflitos. Juizado de Conciliação. Eficácia dos acordos.

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ABSTRACT

Through this research I intend to demonstrate the relevance of new methods of resolving conflicts, emphasizing the Conciliation Court, demonstrating the benefits to society and the judiciary. This is a very relevant issue, and of universal civilization, based on ideas, values and behaviors that indicate the evolution of people and nations, that through dialogue, respect and solidarity, it is possible to walk to the building peace and a better human being. Established by the National Judicial Council to act in partnership with society, it has been intended to demonstrate how the Courts have worked to relieve the judiciary and resolve a conflict more quickly, and demonstrate the effectiveness of alternative way that directly influences society. We also intend to address how the conciliation is conducted for non-judicial settlement of various conflicts, confirming that, through agreements that happen quickly, efficiently and completely free, it is possible to satisfy both parties, putting an end to disagreements amicably without the imposition of the State Judge to determine compliance with the agreement, reducing the time that the demand would be resolved if it were for a judicial debate. Key words: Alternative ways of resolving conflicts. Conciliation court. Effectiveness of agreements.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 09

2 A HISTÓRIA E A HISTÓRIA DO DIREITO 12

2.1 DA AUTOTUTELA À JURISDIÇÃO 12

3 SOCIEDADE E TUTELA JURÍDICA 15

3.1 DO ACESSO À JUSTIÇA 15

3.2 MEIOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE LITÍGIOS 17

3.2.1 Arbitragem 18

3.2.2 Negociação 20

3.2.3 Mediação 21

3.2.4 Conciliação 23

4 JUIZADO DE CONCILIAÇÃO 25

4.1 OBJETIVOS 26

4.2 LEGITIMIDADE E COMPETÊNCIA 26

4.3 PRINCÍPIOS E VALORES DO JUIZADO DE CONCILIAÇÃO 27

4.3.1 Princípio da Economia Processual 27

4.3.2 Princípio da Celeridade 28

4.3.3 Princípio da Imparcialidade 29

4.3.4 Princípio da Informalidade 30

4.4 ESTRUTURA 30

4.4.1 Implantação dos Núcleos 31

4.4.2 Os Voluntários 31

4.4.3 O Processo de Reclamação e a Sessão de Conciliação 32

5 O JUIZADO DE CONCILIAÇÃO EM MINAS GERAIS 34

5.1 O JUIZADO DE CONCILIAÇÃO EM GOVERNADOR VALADARES 34

6 A EFICÁCIA DA CONCILIAÇÃO NA RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS 38

7 CONCLUSÃO 40

REFERÊNCIAS 42

ANEXOS 45

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1 INTRODUÇÃO

Esta monografia tem como objetivo estudar de forma abrangente, contudo,

não exaustiva, a problemática do difícil acesso à justiça, bem como a facilidade de

se resolver problemas existentes através das novas formas de resoluções de

conflitos. No decorrer deste trabalho de conclusão de curso será abordado desde os

primórdios da justiça, passando pelos desenvolvimentos que houveram durante toda

trajetória, até a real situação dos dias atuais, demonstrando a necessidade de se

renovar o judiciário com as novas formas de resolução de conflitos, utilizando-se

para tanto a metodologia de pesquisa bibliográfica e de campo.

É incontestável que o homem nasceu para viver em sociedade e busca a

realização de seus ideais junto a outros seres de sua espécie, porém entre toda

situação de convívio acontecem em determinados momentos conflitos de interesses,

sejam eles, individuais, coletivos ou difusos, e a necessidade de se proporcionar

proteção às prerrogativas naturais, nasce com todos os seres humanos e sempre

será uma constante na vida.

No início dos tempos vigorava a Lei da XII Tábuas constituída na antiga

legislação de origem do direito romano, originária da Lei do Talião, que, para

resolução dos conflitos, faziam justiça por meio da vingança, aplicando uma pena

proporcional ao tamanho do dano causado, que é o modelo atualmente conhecido

como “olho por olho, dente por dente”, era uma forma que os povos incivilizados

encontravam de fazer justiça, a qual mais tarde foi denominado de autotutela ou

autodefesa.

Este modelo foi gradativamente substituído pela autocomposição, que ao

invés de fazer uso da vingança contra o ofensor, a vítima era ressarcida por meio de

uma indenização estabelecida por um árbitro, momento em que o Estado começava

a intervir obrigando a adoção da arbitragem pelas partes quando estas não

resolviam consensualmente os conflitos, e assegurando a execução da sentença.

Com a evolução da sociedade contemporânea e o nascimento de um Estado

organizado, uma diversidade cada vez maior de conflitos começou aparecer, de tal

forma que as sociedades que eram acostumadas a resolverem seus problemas,

perceberam a necessidade da intervenção do Estado para colocar fim nos conflitos

dizendo o real direito de cada um.

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No entanto, com o decorrer dos anos o acúmulo de processos a serem

apreciados sobrecarregou consideravelmente o poder judiciário, tornando-o cada

vez mais lento e ineficaz aos olhos da sociedade, acarretando ao longo do tempo o

afastamento do cidadão do poder público, tornando-se uma sociedade

desacreditada e insatisfeita com o judiciário.

Como o objetivo de uma prestação jurisdicional mais célere e como uma das

grandes tendências no direito moderno, observou-se a necessidade da criação de

mecanismos que realmente cumprissem esse papel, surgindo, assim, o Juizado de

Conciliação, pautado em valores e princípios como da celeridade, economia

processual, informalidade, autonomia das partes e imparcialidade e tendo como

finalidade a tentativa de conciliação e solução do litígio por meio de uma composição

amigável entre os litigantes, onde a premissa básica é restabelecer o diálogo entre

as partes e conduzir a negociação para a solução da lide em questão, ou seja,

instruir as partes quanto à maneira mais conveniente a se portarem perante um

conflito.

Com o objetivo de avaliar a eficácia do Juizado de Conciliação como uma

forma extrajudicial de solução de conflitos, visa-se demonstrar os benefícios desse

método ao Judiciário e à sociedade.

É notório que o Poder Judiciário não possui estrutura suficiente para abarcar

o grande número de processos que surgem a cada dia, motivo pelo qual ocorre a

morosidade na prestação jurisdicional. A conciliação se destaca como o método

informal mais prático e eficiente de resolver pequenos litígios que atormentam a

sociedade cotidianamente e que sufocam o Poder Judiciário com a excessiva

quantidade de processos existentes.

É sabido ainda que grande parte da população, não possui condições

financeiras para reivindicar por seus direitos na Justiça Comum, bem como não há

defensores públicos suficientes para atender os mais carentes. Perante este

episódio concreto, o Juizado de Conciliação apresenta-se como um benefício à

sociedade e ao Estado por levar a essas pessoas o sentimento de Justiça rápida, e,

ao adquirirem conhecimento da importância da Conciliação, todos os cidadãos

tomarão consciência do melhor caminho a seguir em uma situação de conflito,

buscando pela paz e harmonia social, desenvolvendo um crescimento individual na

sociedade, o que se pode chamar de emancipação cidadã.

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Assim, a pesquisa consubstancia-se em saber quais os benefícios trazidos à

sociedade pelos acordos realizados no Juizado de Conciliação e qual a eficácia

desses acordos. Além disso, tem por objetivo verificar a conciliação realizada

através dos Juizados de Conciliação como modalidade extrajudicial de solução de

conflitos, se tem a capacidade realmente de pacificar conflitos em todas as suas

eventuais dimensões (jurídica, sociológica e psicológica), obtendo-se assim, uma

base para formação de novos cidadãos resguardando paz social.

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2 A HISTÓRIA E A HISTÓRIA DO DIREITO

2.1 DA AUTOTUTELA À JURISDIÇÃO

O direito desempenha na sociedade a função de coordenar os interesses que

se manifestam na vida em grupo, de modo a organizar e auxiliar as pessoas na

resolução de conflitos aparentemente impossíveis de serem resolvidos

pacificamente.

Tal coordenação é regulada pelo critério do justo e do equitativo, de acordo

com a convicção prevalecente em determinado momento e lugar.

Atualmente os conflitos ocorrentes na vida em sociedade são resolvidos

através da imposição do Estado-Juiz, que expõe qual a vontade do ordenamento

jurídico de acordo com o caso concreto. Contudo nem sempre foi assim.

Nos primórdios da civilização inexistia um órgão estatal que regulasse os

ímpetos individualistas, bem como leis que garantissem o cumprimento do direito, a

tranquilidade e a pacificação da sociedade. Assim, aquele que pretendesse para si

alguma coisa que porventura tivesse na posse de outrem haveria de, com sua

própria força, obtê-lo. (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2006, p.26)

Esse regime foi denominado de autotutela (ou autodefesa), ou seja, a vitória

do mais forte, mais artificioso ou mais ousado sobre o mais fraco ou mais tímido, que

são fundamentalmente caracterizados por dois traços: a) ausência de juiz distinto

das partes; b) imposição da decisão por uma das partes à outra. (CINTRA;

GRINOVER; DINAMARCO, 2006, p.27)

Além deste, outra solução encontrada no decorrer dos anos para solucionar

conflitos foi a utilização da autocomposição, na qual as partes, por si mesmas,

tentavam encontrar a solução adequada para colocar fim à lide por meio de

conversas e debates, o que ainda tem permanecido no direito moderno.

A autocomposição aparece sob três formas, que são elas: a desistência, que

nada mais é, senão a renúncia à pretensão; submissão, o desinteresse à resistência

oferecida à pretensão; e por fim a transação, a qual corresponde à anuência

recíproca. Diferentemente da autotutela que tem a imposição da parte mais forte

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sobre a mais fraca, esta apresenta a dependência da vontade de uma ou ambas as

partes envolvidas.

Aos poucos, percebendo os malefícios do sistema parcial, na qual os próprios

indivíduos atuavam para resolverem seus conflitos, passaram a buscar a

intervenção de terceiros, denominado árbitro, que eleito pelas próprias partes

resolvia os conflitos de uma forma amigável e imparcial. Inicialmente por acreditarem

na influência dos deuses para resolverem os conflitos de uma forma mais acertada,

eram escolhidos para intervir nos litígios os sacerdotes ou os anciãos, que

conheciam os costumes do grupo social dos interessados, e a decisão era

fundamentada nos padrões acolhidos pela convicção coletiva, inclusive os

costumes.

Na autotutela, aquele que impõe ao adversário uma solução não cogita de apresentar ou pedir a declaração de existência ou inexistência do direito; satisfaz-se simplesmente pela força (ou seja, realiza a sua pretensão). A autocomposição e a arbitragem, ao contrário, limitam-se a fixar a existência ou inexistência do direito: o cumprimento da decisão, naqueles tempos iniciais, continuava dependendo da imposição de solução violenta e parcial (autotutela). (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2006, p.28)

Contudo, mais tarde, na medida em que conseguia se impor perante aos

particulares, aparecia gradativamente o Estado organizado tendo como participação,

neste momento, nomear um árbitro escolhido pelas partes, na qual era investido

como magistrado, substituindo absolutamente a arbitragem facultativa1 pela

obrigatória2, vedando assim definitivamente a utilização da autotutela.

Nota-se, portanto, nessa fase histórica, apesar da pequena participação do

Estado na resolução dos conflitos, a justiça até então privada, dando lugar à justiça

pública, estabelecendo o Estado como responsável para decidir os conflitos de

interesses dos particulares, afastando os temores dos julgamentos arbitrários e

subjetivos, surgindo assim a jurisdição3, com a função de aplicar as normas do

1 A arbitragem facultativa compreende quando as partes envolvidas em um litígio, livremente decidem

resolver a questão junto a um Arbitro ou Tribunal Arbitral qualquer. 2 A arbitragem obrigatória obriga as partes a resolverem a demanda em um Tribunal Arbitral já pré-

definido em um contrato em que as partes escolheram na hora do fechamento de um negócio. 3 Jurisdição é um dos elementos que constitui o direito, pode-se dizer que em sua concepção mais

ampla, é o poder de ditar o direito, pois é por meio desta que os juízes estatais analisam as reivindicações e dão solução aos conflitos.

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ordenamento jurídico a cada caso concreto, e o papel do legislador através da Lei de

XII Tábuas4.

De acordo com Fiúza (1995, p.31), atualmente como órgão do Poder estatal,

o Judiciário emana a jurisdição, com a “principal finalidade de pacificação social em

perspectiva da ordem social, política, econômica e jurídica”.

No entanto, no decorrer dos anos o Poder Judiciário vem sendo amplamente

criticado, por seus critérios, pela morosidade na prestação jurisdicional e seus altos

custos, que muitas vezes torna economicamente impossível o acesso aos tribunais.

Diante de tais exigências por parte da sociedade, os operadores do direito

não tiveram outra opção, a não ser buscarem novos mecanismos de solução de

conflitos, que fossem mais céleres e menos burocráticos e mais acessíveis

economicamente.

4 A Lei da XII Tábuas foi o primeiro documento legal do Direito Romano, ou seja, a primeira lei escrita

e autorizada.

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3 SOCIEDADE E TUTELA JURÍDICA

3.1 DO ACESSO À JUSTIÇA

Quando se fala em "acesso à Justiça", pensa-se logo numa Justiça eficaz,

acessível aos que precisam dela e em condições de dar resposta imediata às

demandas; enfim, uma Justiça capaz de atender uma sociedade em constante

mudança.

Como toda sociedade que vive em grupo, em um momento ou outro

acontecerá situações de conflitos, pois isso é inerente ao ser humano, e essas

situações podem se tornar positivas, podendo inclusive ser um meio de crescimento

do indivíduo, se forem utilizados os procedimentos eficientes para resolvê-las.

Entretanto, diante da dificuldade e da complexidade do acesso à Justiça,

parecia, até bem pouco tempo, que a legislação pátria tinha esquecido a imensa

importância do acesso ao Poder Judiciário, ficando durante muito tempo distante da

realidade social brasileira, principalmente em razão da burocracia e o modelo

arcaico utilizado.

Atualmente, a realidade que se encontra, é um Judiciário sobrecarregado de

processos, o que vem tornando as soluções dos litígios cada dia mais demoradas

acarretando no decorrer dos anos àqueles que estão à espera de uma solução nada

mais que angústias, insatisfações e um descrédito na justiça.

Quanto maior o acesso à justiça, maior será a possibilidade de manutenção

da paz social, e na tentativa de mudar esse lamentável quadro em que vive o

Judiciário, bem como valorizar o indivíduo como sujeito moral, é que se procurou

buscar novas formas de justiça, como a criação dos Juizados Especiais Cíveis e

Criminais implantados pela Lei 9.099/95.

Como um dos primeiros passos dados em direção à resolução dos problemas

encontrados na ordem jurídica nacional, a criação dos Juizados Especiais, visando

uma prestação jurisdicional mais célere e de acesso mais fácil, pelo fato da

simplificação do processo e dos procedimentos, não só representava um

aperfeiçoamento da Justiça, como também uma garantia da prestação jurisdicional

do Estado-Juiz.

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Esse sistema alcançou um grandioso sucesso, pois o mesmo tinha

capacidade de aproximar a justiça do povo, já que havia uma necessidade por parte

do cidadão de ver seus problemas jurídicos resolvidos, de forma rápida, eficaz e

muitos não tinham condições financeiras para arcar com custas processuais e

demais gastos, mesmo que estes fossem de pequena expressão econômica, que

podem ser relacionados a coisas do dia-a-dia, como por exemplo, nas compras que

se faz e o produto adquirido apresenta algum defeito ou ainda nos serviços que são

prestados nos quais há ineficiência ou má prestação, como é demonstrado por Silva,

1998, p.01:

Os Juizados Especiais Cíveis vieram acabar com algumas distorções sociais, facilitando a vida daqueles que tinham dificuldades financeiras para buscar a prestação jurisdicional e que hoje podem ter acesso a essa prestação, sem o ônus das custas processuais e sucumbência em honorários advocatícios (...)

Com a resposta positiva do funcionamento dos Juizados Especiais, um

número maior de pessoas passou a buscar neles uma resolução mais rápida de

seus problemas, o que fez com que eles ficassem sobrecarregados, tornando-se

quase tão moroso quanto a justiça comum.

Ao verificar tal situação e visando atender o verdadeiro acesso à justiça e a

efetividade da prestação jurisdicional, mediante ampliação dos meios de solução

pacífica das lides, o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais – TJMG, por

força do Princípio da Celeridade, propôs em setembro do ano de 2002 um projeto

piloto chamado “Projeto Conciliação”.

Apesar de o Projeto Conciliação ter sido implantado inicialmente com o

objetivo de auxiliar os juízes a desafogar as Varas da Família e, consequentemente,

diminuir o acervo de processos, em pouco tempo se percebeu os benefícios trazidos

por este projeto ao Judiciário.

Diante do sucesso alcançado, o Tribunal de Justiça do Estado de Minas

Gerais, criou os chamados Juizados Informais de Conciliação em 20 de setembro do

ano de 2002, através da Resolução de nº 400/2002 e estendeu o “Projeto

Conciliação” às demais Varas, regulamentando a Central de Conciliação pela

Resolução nº407/2003, publicada em 12 de fevereiro de 2003.

Mesmo após alguns anos, conforme pode ser verificado em pesquisa de

campo a Central de Conciliação continua contribuindo fundamentalmente para a

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redução do período de tramitação processual nas varas cíveis, tendo em vista os

vários acordos realizados. Já os Juizados Informais de Conciliação devido à

necessidade de introduzir modificações no funcionamento, organização e instalação,

foi alterado pela Resolução de nº 460/2005, e desde então, o Tribunal de Justiça de

Minas Gerais vem implantando a cultura conciliatória através da implantação do

Juizado de Conciliação em várias Comarcas, tendo como objetivo alterar a cultura

da litigiosidade e promover a busca de soluções para os conflitos mediante a

construção de acordos, podendo ser confirmado através de investimentos em

propagandas publicitárias, ações voluntárias itinerantes realizadas pelo Tribunal de

Justiça, conforme pode se verificar no próprio site do Tribunal a Semana da

Conciliação.

3.2 MEIOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE LITÍGIOS

O Estado desempenha na sociedade uma função pacificadora e ordenadora.

No entanto, devido às formalidades exigidas, os processos têm caminhado

lentamente, fazendo com que a resolução dos litígios demore muito mais do que as

partes gostariam, aumentando a angústia e o sofrimento daqueles que esperam por

uma resposta.

Diante da dificuldade de acesso à justiça e ainda o fato do Poder Judiciário se

encontrar sobrecarregado, estudiosos perceberam a necessidade de buscar novos

meios de solução de conflitos, que fossem menos formais, mais céleres, econômicos

e acessíveis a todos.

Tal recurso passou a existir através dos meios alternativos de pacificação, ou

simplesmente meios não-jurisdicionais, que tornou o acesso à justiça muito mais

fácil e descomplicado, o que pode ser confirmado por Antônio Cintra, Grinover e

Dinamarco, 2006, p.33:

Os meios informais gratuitos (ou pelo menos baratos) são obviamente mais acessíveis a todos e mais céleres, cumprindo melhor a função pacificadora. (...) constitui característica dos meios alternativos de pacificação social também a delegalização, caracterizada por amplas margens de liberdade nas soluções não-jurisdicionais (juízo de equidade e não juízos de direito, como no processo jurisdicional).

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Esses meios de resolução de litígios receberam o termo “alternativo” por ser

aplicado de forma diferenciada da tradicional, que é o Poder Judiciário. Entre estes

meios alternativos destacam-se a arbitragem, a negociação, a mediação e a

conciliação.

3.2.1 Arbitragem

Com o desenvolvimento da humanidade e a complexidade dos conflitos na

vida em sociedade, aos poucos se abandonou a autotutela para então dirimirem as

controvérsias através de um terceiro imparcial escolhido pelas partes, cuja decisão

deveria ser acatada pelos litigantes, nascendo, assim, o instituto da arbitragem,

desenvolvido na história antiga os primeiros métodos de heterocomposição.

Em nosso país passou-se a utilizar a arbitragem após a Constituição de 1824,

na qual se visava na época à resolução dos conflitos somente no âmbito civil. No

ano de 1981, devido ao fato de ter sido claramente definido o instituto arbitragem,

esse foi muito confundido com o conceito de arbitramento.

Importa ressaltar que a arbitragem não pode ser entendida como um sinônimo

de arbitramento, como explica Carmona (1993, p.22):

Sendo a arbitragem forma de solução de litígios, não se pode confundi-la com o arbitramento, verdadeiro procedimento que se promove no sentido de apurar o valor de determinados fatos ou coisas, de que não se tem elementos certos de avaliação.

Tal instituto tem como base o acordo de vontade entre pessoas capazes que

preferem não se submeterem a uma decisão judicial, confiando assim a solução de

sua demanda a uma terceira pessoa denominada de árbitro, decisão esta que é

concedida através de concessões recíprocas dada pelos próprios envolvidos.

De acordo com Alvim (2000) “a arbitragem é o instituto pelo qual as pessoas

capazes de contratar confiam a árbitros, por elas indicadas ou não, o julgamento de

seus litígios relativos a direitos transigíveis5”.

5 Direito transigível – É o direito que admite transação, um direito renunciável, sendo facultado ao

detentor deste direito abrir mão do direito e lançá-lo a outro ou a ninguém.

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Conforme indica o art. 1º da Lei nº 9.307 de 19966, é restrito utilizar a

arbitragem para litígios que versarem sobre direito patrimonial disponível, porém as

questões em que envolvam o Estado, a capacidade das pessoas, direitos da

personalidade e outros, terão que ser submetidos à jurisdição estatal.

No entanto é permitido às partes, no momento em que estão resolvendo seus

conflitos perante o juízo, desistirem e optarem pela arbitragem. Para tanto, devem

requerer ao magistrado que seja tomado por “Termo” tal compromisso, podendo

ainda no momento em que optarem por este instituto, indicarem qual o órgão arbitral

institucional ou entidade especializada irá instituir e processar a arbitragem. É

importante ressaltar ainda que esses procedimentos são indispensáveis, uma vez

que fornecem toda a assistência e assessoria necessária aos litigantes, como

também aos árbitros, do inicio ao fim do litígio.

Como preceitua o art. 13 da Lei de Arbitragem, qualquer pessoa pode assumir

a função de árbitro. Para tanto não é necessário possuir formação superior, basta

que seja capaz e possua a confiança das partes envolvidas no litígio. As partes

podem escolher o mesmo árbitro, ou a opção de um para cada, ou até mesmo

podendo nomear árbitros reservas, porém vale ressaltar que este número deve ser

sempre ímpar. No entanto, se nomeado um árbitro para cada parte, um terceiro

deverá ser escolhido, pelas partes ou pelo órgão (ou entidade) responsável pela

arbitragem, formando assim o Tribunal Arbitral.

A função de árbitro permanece somente enquanto durar o litígio arbitral, não

podendo então ser considerada como profissão.

A pessoa escolhida para a função de árbitro deve possuir a disponibilidade

para atuar no caso atentamente, deve ser neutro, imparcial, competente e discreto.

No entendimento de Caetano (2002, p.29):

[...] o árbitro escolhido, e aceitando a indicação, deve inteirar-se da questão ou conflito, ouvindo as partes, praticar alguma diligência se entender necessário e prolatar sua sentença arbitral. (...) Por exigência legal, a sentença arbitral será sempre escrita.

A principal função do árbitro é a resolução dos conflitos de interesses.

Entretanto, diferente do juiz de direito, o árbitro pode se embasar no direito nacional,

ou qualquer outros como o princípio da equidade, os princípios gerais que norteiam

6 Lei de Arbitragem – As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir

litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis.

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o direito, ou usos e costumes, nas regras que regem o comércio e as corporativas,

assim como as regras ora convencionadas entre as partes.

De acordo com a Lei de Arbitragem, enquanto o árbitro estiver no exercício de

sua função, o mesmo será equiparado ao funcionário público para efeitos da

legislação penal vigente. Alguns autores defendem ainda a idéia de que os árbitros

possuem condição igual à de um juiz de fato e de direito.

Dentre os princípios que norteiam a arbitragem os mais importantes são:

celeridade, informalidade, oralidade, contraditório, igualdade entre as partes,

imparcialidade, livre convencimento dos árbitros, eficácia, precisão,

confidencialidade e por fim o sigilo absoluto. Além de todos esses princípios, é de

extrema importância que o procedimento seja pautado na boa-fé das partes, as

quais devem realmente ter como objetivo primordial a solução do conflito.

3.2.2 Negociação

A negociação é a forma mais simples e antiga de resolução amigável de

conflitos, pois está presente constantemente na vida de todas as pessoas, sendo

através das relações comerciais, ou quando utilizada em qualquer tipo de transação,

na maioria dos casos, por ser um fenômeno comum do dia-a-dia acontece sem ser

notado.

De acordo com Alfonso (2008), a negociação é a relação entre duas ou mais

pessoas a respeito de um determinado assunto, buscando eliminar diferenças

aproximando gradualmente as posições até chegar a um ponto aceitável, e que seja

mais benéfico e vantajoso para todos.

Conforme entendimento de Tavares (2002, p.42) citando Pucci, a negociação

se resume em duas correntes, qual seja: a “negociação competitiva”, aquela na qual

os negociadores buscam elevar ao máximo seus lucros, e a “negociação

colaborativa”, aquela em que o principal objetivo é ajudar as partes a satisfazerem

suas necessidades, resolvendo seus conflitos.

É importante destacar que na negociação, ao contrário da arbitragem e da

mediação, as partes chegam a uma solução satisfatória sem, contudo, haver a

participação de estranhos na relação problemática. É uma prática espontânea, na

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qual os indivíduos através de suas próprias táticas e estilos, mediante argumentação

entre si, encontram uma maneira de resolver a contenda, de modo a alcançar um

acordo equilibrado que seja razoável para ambas as partes, diminuindo os riscos de

conflitos maiores mais tarde, justamente porque são realizados de acordo com os

interesses de cada um.

3.2.3 Mediação

Considerado um processo complementar de auxílio à justiça. A palavra

mediação originou-se do termo em latim mediare que significa intervir, mediar. Tal

instituto consiste em um meio não-jurisdicional de solução de demandas judiciais, no

qual uma terceira pessoa imparcial é colocada entre as partes conflitantes para

buscar de forma pacífica a resolução dos problemas, eliminando inicialmente o

aspecto competitivo entre eles.

Sales (2007, p.23) conceitua mediação da seguinte formar:

Procedimento consensual de solução de conflitos por meio do qual uma terceira pessoal imparcial – escolhida ou aceita pelas partes – age no sentido de encorajar e facilitar a resolução de uma divergência. As pessoas envolvidas nesse conflito são as responsáveis pela decisão que melhor a satisfaça. A mediação representa um mecanismo de solução de conflitos utilizado pelas próprias partes que, motivadas pelo diálogo, encontram uma alternativa ponderada, eficaz e satisfatória. O mediador é a pessoa que auxilia na construção desse diálogo.

Corroborando com o autor acima, Bacellar (2003, p.174) assim conceitua

mediação:

Técnica “lato senso” que se destina a aproximar pessoas interessadas na resolução de um conflito e induzi-las a encontrar, por meio de uma conversa, soluções criativas, com ganhos mútuos e que preservem o relacionamento entre elas.

No entendimento de Sena (2006, p.01) mediação “é a conduta, pela qual, um

terceiro aproxima as partes conflituosas, auxiliando e até mesmo instigando sua

composição, que há de ser decidida, porém, pelas próprias partes”.

A mediação é um dos meios alternativos de resolução de conflitos

interpessoais a qual tem como objetivo aproximar as partes, conduzindo-as a uma

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solução eficaz da demanda, preservando o vínculo existente sem perder de vista o

ponto a ser alcançado, que é o acordo.

Sendo assim, a proposta primordial da mediação é demonstrar que o conflito,

não é algo negativo, mas sim natural e extremamente positivo, pois conduz as

partes ao progresso, aprimorando as relações interpessoais e sociais.

De acordo com o entendimento de Tavares (2002) a mediação pode ser

utilizada em qualquer situação capaz de produzir conflitos, como relações íntimas de

amizade, vizinhança, questões familiares, entre outras na qual se pretende manter o

vínculo de forma duradoura.

Conforme o entendimento de Sales (2007, p.33-39) para se chegar à solução

de um litígio é indispensável que haja o diálogo, o qual deve ser baseado na visão

positiva, juntamente com a colaboração das partes e a participação do mediador.

Ao contrário dos demais institutos, a característica predominante da mediação

é a voluntariedade, ou seja, as partes não estão obrigadas a negociar, a mediar ou

fazer acordo, sendo de responsabilidade do mediador explicar que a decisão

pertence exclusivamente às partes e que atua apenas para auxiliá-las. Cabe a ele

esclarecer que, apesar das controvérsias, as partes podem ser beneficiadas, pois

prevalecerá o que for acordado entre eles e por essa razão o acordo deverá ser

cumprido em todo o seu teor.

A mediação no Brasil ainda não possui uma estrutura legal específica, ou

seja, uma lei que defina as técnicas procedimentais que devem ser adotadas na sua

aplicação, porém isso não significa que ela não seja uma técnica de resolução de

conflitos que não deva ser adotada, uma vez que ela tem respaldo no preâmbulo

constitucional, portanto, presente em nosso ordenamento jurídico.

[...] para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil.

No entanto, há um Projeto de Lei de nº 4.827, apresentado desde 10 de

novembro de 1998, pela Deputada Federal Zulaiê Cobra Ribeiro, que dispõe a

mediação paraprocessual nos conflitos de natureza civil para alterar a Lei nº 5.869,

de 1973, ou seja, o Código de Processo Civil, Institucionalizando e disciplinando a

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mediação, como método de prevenção e solução consensual de conflitos na esfera

civil, bem como dando outras providências, na qual a última manifestação foi em 16

de dezembro de 2010 pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania

devolvendo sem manifestação, estando ainda em regime de tramitação até os dias

atuais, bem como há também um recente projeto de Lei de nº 428, apresentado no

dia 16 do mês de fevereiro de 2011, pelo Deputado Federal Luiz Couto, na qual

apesar de estar voltada para a mediação familiar no âmbito do divórcio, incentiva a

inclusão de um dispositivo no Código Civil que estabeleça a prática da mediação

familiar, não pela mera pacificação dos conflitos como é a conciliação, mas pelo

benefício de trazer uma cultura de paz entre casais, o que por analogia trará

benefícios aos demais casos de pessoas envolvidas em conflitos, contudo, assim

como o Projeto de Lei nº 4.827/98, a última manifestação foi em 06 de abril de 2011,

e também se encontrando em tramitação.

Diante disso, é possível concluir que a mediação está presente tanto na parte

que, segundo alguns constitucionalistas, é a mais importante de nossa Constituição

Federal, o chamado “guia de orientação máxima”, denominada preâmbulo, como

também em Projetos de Leis a espera de serem votados.

3.2.4 Conciliação

A Conciliação é mais um dos meios que o Estado pode utilizar para fazer com

que litígios sejam solucionados de uma melhor forma para todos.

Verifica-se que esse método de resolução de conflitos poderá ser judicial ou

extrajudicial, ou seja, judicial quando realizado em audiência, antes de iniciar a

instrução, quando juiz deverá tentar conciliar entre as partes. E extrajudicial, quando

um terceiro, busca solucionar o conflito fazendo com que as partes desistam ou

evitem a jurisdição, encontrando o denominador comum.

Vale frisar, que a força que conduz a dinâmica na conciliação por esse

terceiro é real, o que muitas vezes conseguem programar um resultado que, num

primeiro momento, não era o imaginado nem o pretendido pelas partes. (DELGADO,

2002, p.665).

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Conciliar é uma arte que deve ser exercida pelos conciliadores como uma

missão, na qual seu objetivo maior é fazer com que os envolvidos cheguem a um

consenso.

No seu sentido etimológico Aragão define assim (2003, p.107):

Conciliar significa produzir alianças, criar aliados, unir o separado somar o divergente, pacificar o conflito. Nesse sentido, fazer acordo também pode vir a significar acordar, isto é, trazer à consciência elementos inconscientes de discórdia e pendência, revelar a justiça através de uma decisão clara e solar.

A conciliação é bastante conhecida na cultura jurídica brasileira, e encontra-

se vinculada ao procedimento judicial, ou seja, aquela presidida pelo juiz togado7,

prevista na legislação processual civil no artigo 125, IV, que atribui ao juiz o dever de

“tentar a qualquer tempo conciliar as partes”. Ou aquela exercida por juízes leigos8,

ou conciliadores bacharéis em direito e profissionais da psicologia e serviço social

realizadas nas centrais de conciliação.

O Código de Processo Civil em seu procedimento ordinário também inclui-se uma audiência preliminar ou de conciliação, na qual o juiz, tratando-se de causas versando direitos disponíveis, tentará a solução conciliatória antes de definir os pontos controvertidos a serem provados. (BRASIL, 2001, ART.125, IV)

Sendo assim, a conciliação busca de uma forma imparcial as soluções

imediatas para os problemas, com o objetivo de reduzir o número de processos

judiciais, agilizando a prestação jurisdicional através da obtenção de acordos,

atendendo as expectativas da sociedade e tentando passar para os envolvidos uma

imagem menos negativa da justiça, porque eles decidem através de um consenso o

que for melhor para eles, não existindo vencedores nem perdedores, mas chegando

a um ponto comum, conciliando-se.

7 Juízes Togados – Graduado em Direito e aprovado em concurso de provas de títulos para o

ingresso na Magistratura, ou levado a essa nos termos da Constituição Federal. 8 Juízes Leigos – Juízes sem especial formação jurídica.

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4 JUIZADO DE CONCILIAÇÃO

O Juizado de Conciliação é um projeto social criado pelo TJMG, o qual tem

como missão a solução rápida e amigável de pequenos conflitos por meio de

acordos entre as pessoas que o procuram.

Implantado em Setembro de 2002, através da Resolução nº 400/2002 e

alterada pela Resolução nº 460 em 2005 visa, desde então, a promoção de uma

nova cultura às comunidades, ou seja, a cultura da resolução das demandas de

maneira amigável, sem ter a necessidade de partir para as vias judiciais, onde

sempre haverá um perdedor e um vencedor, e fazer com que os cidadãos tenham

mais oportunidades para resolver esses pequenos litígios de forma mais

harmoniosa.

Por se tratar de um projeto social, o juizado é inteiramente gratuito, possuindo

uma estrutura organizacional com a participação efetiva de membros do Judiciário,

os quais têm as competências e as atribuições legalmente definidas, bem como a

participação de voluntários da sociedade que são escolhidos de acordo com suas

habilidades, envolvimento compromissado e consciente, o que possibilita uma maior

credibilidade em seu funcionamento e garante a sua idoneidade enquanto projeto

social.

Apesar do Juizado de Conciliação ter o Poder Judiciário como suporte, este

não possui qualquer autoridade de aplicação de leis, função jurisdicional,

obrigatoriedade em conhecimento de infrações de leis ou poder de julgar e

administrar a justiça como o Poder Judiciário tem no exercício de sua jurisdição,

justamente pelo fato de não haver necessidade de um processo formal, por ser a

conciliação um meio autônomo, dependendo apenas da manifestação da vontade

das partes, se tornando uma forma mais simples, econômica, menos burocrática, e

eficaz por conseguir atender as demandas da sociedade e distribuir a justiça.

Segundo o assessor da 3ª Vice-Presidência, Cristiano de Araújo Abreu, a

iniciativa de levar os Juizados aos locais onde há grande circulação de pessoas é de

suma importância. "É um exercício de cidadania e também uma medida prática,

tomada em favor da promoção da Justiça e da paz social".

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4.1 OBJETIVOS

O Juizado de Conciliação tem como objetivos reduzir o número de processos

judiciais e agilizar a prestação jurisdicional, buscando a harmonia social através da

realização de acordos entre os litigantes, embasado na premissa de que a paz social

é dever do Estado, mas responsabilidade de todos.

O juizado é pautado no respeito, ética, compromisso e responsabilidade

social. Seus colaboradores têm um papel muito importante, pois são eles que

conduzirão as sessões, ouvindo, esclarecendo, devendo reconhecer as

diversidades, propiciando a coexistência das diferenças culturais, sociais e raciais,

conciliando as partes com tranquilidade e segurança para que cheguem em um

acordo que melhor os atenda.

Desta forma, eles devem procurar durante toda a sessão ser imparciais não

se deixando levar por idéias preconcebidas, pois estão ali com o intuito de ajudar as

partes a chegarem a um consenso, pois quanto mais acordos obtidos, menos

processos terão para serem julgados, e como consequência fática, haverá um

desafogamento expressivo no judiciário.

4.2 LEGITIMIDADE E COMPETÊNCIA

Conforme a Resolução 400/2002, a legitimidade ativa para figurar no Juizado

é inerente as pessoas físicas maiores de 18 anos, sendo vedado figurar ativamente

entes públicos e pessoas jurídicas em geral, sendo, entretanto, possível que figurem

como reclamados.

Surgindo o conflito ora apresentado o Juizado deverá orientar as pessoas que

se reportarem a ele, sendo assim, a competência está intimamente ligada à missão

do Juizado.

Artigo 2º - Compete aos Juizados de Conciliação promover a mediação e a conciliação entre as partes, maiores de dezoito anos, que procuram, buscando a melhor solução possível para a composição, mediante acordo,

de seus interesses em conflito.

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Considerando que a atuação do Juizado está condicionada a invocação do

cidadão e o exercício das atividades do Juizado está restrito a orientação das partes

ou a realização de acordo, conclui-se que sua competência compreende todas as

questões, garantindo uma atuação ampla devido à celeridade e a economia

processual.

É importante ressaltar que o fato do Juizado ter ampla atuação, não impede o

acesso à justiça caso uma ou duas partes não se sintam satisfeitas com o resultado

do acordo celebrado, podendo elas exercer o direito de ação e se reportarem ao

Poder Judiciário.

4.3 PRINCÍPIOS E VALORES DO JUIZADO DE CONCILIAÇÃO

Em um mundo onde as soluções parecem resolvidas diante de um poder de

coagir, muitas vezes impondo respeito, as pessoas perderam hábito de tentarem

conciliar de acordo com suas possibilidades e solucionarem elas próprias problemas

que, na maioria das vezes, são resolvidos com uma simples conversa pautada na

ordem e no bom senso. Assim, pode-se perceber a grande importância dos

princípios e de valores como o respeito, a ética, o compromisso e a responsabilidade

social que norteiam o Juizado de Conciliação na busca pelo resgate de valores

pessoais, o desafogar do Judiciário e a prática da cidadania na busca da harmonia

social.

4.3.1 Princípio da Economia Processual

O sistema judiciário se viu pressionado pela sociedade no sentido de ter a

carga de processos reduzida, dando solução mais rápida e econômica às demandas

judiciais, e isso fez com que os métodos de resolução de conflitos menos onerosos

fossem aumentando e se aperfeiçoando, com a intenção de se tornarem mais

eficazes.

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Quando se busca a economia processual deve-se sempre optar pelo modo

que seja menos oneroso tanto para a parte quanto para o Estado. Podendo assim

ser definido como o princípio que busca retirar do processo o máximo de proveito

com menor dispêndio financeiro possível, de forma segura e equilibrada sem

suprimir atos necessários. (NOGUEIRA, 1996, p.9)

Diante de tal afirmação, entende-se que o objetivo maior deste princípio é o

alcance da justiça, competindo aos operadores do direito permitirem às partes do

processo uma ordem jurídica justa, com menos gastos e que seja igualmente

eficiente.

Sendo a maioria das reclamações dos Juizados de Conciliação marcados por

conflitos que geram desgastes psicológicos e financeiros, vê-se a importância da

utilização de mecanismos que eliminem esses transtornos. Diante disso, a

institucionalização do Juizado de Conciliação tornou-se útil e viável para o Judiciário,

pois em muitos casos pode-se evitar uma ação judicial desnecessária, tornando a

prestação jurisdicional mais rápida, eficaz e econômica para as partes.

4.3.2 Princípio da Celeridade

A Constituição Federal (1988) traz o referido princípio em seu inciso LXXVIII

do artigo 5º:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LXXVIII - A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

Tal inciso foi inserido pela Emenda Constitucional nº 45 de 8 de dezembro de

2004 – responsável pela reforma do Poder Judiciário – no rol de direitos

fundamentais, tendo como premissa a obtenção de maior operacionalidade,

rendimento e celeridade na prestação jurisdicional.

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O princípio da celeridade pode ser entendido em duplo sentido, pois respeita-

se a duração do processo do inicio ao fim, havendo porém, um equilíbrio entre a

celeridade e a justiça, não suprimindo direitos e as garantias do litigante e nem

fazendo com que esses percam o ânimo da justiça ou mesmo seu objeto,

enaltecendo os meios alternativos para a resolução de conflitos.

No Juizado de Conciliação, o princípio da celeridade pode ser observado com

muita precisão, tendo em vista que a resolução dos conflitos de uma forma

amigável, sem a necessidade de ingressar com ação judicial é mais rápida e

econômica, já que todo o serviço prestado é totalmente gratuito, trazendo mais

satisfação para as partes, principalmente pelos resultados positivos, além de atender

as demandas sociais, distribuindo justiça para todos.

4.3.3 Princípio da Imparcialidade

Na busca pela paz social e a igualdade de direitos para todos surgiu o

princípio da imparcialidade visando um tratamento igualitário a todos, buscando a

justiça em primeiro lugar, sem beneficiar um em desfavor de outro, conforme

determina o art. 95, § único da Constituição Federal ao definir algumas restrições

aos magistrados.

O Juizado da mesma forma busca uma atuação imparcial por parte dos

conciliadores, tendo como objetivo apenas auxiliar as partes da melhor forma

possível a se chegar a um acordo através da composição amigável que atenda o

interesse de ambos e não só de um.

É importante ressaltar que a imparcialidade deve ser sempre observada,

fixando sempre na verdade real, não se deixando levar por um convencimento

antecipado dos fatos narrados por uma das partes, mas sim observar todo o

contexto, buscando sempre orientar as partes sobre as consequências de uma

demanda judicial e os benefícios do acordo sem, contudo, favorecer um em

detrimento de outro, mas instruir e fazer com que a justiça seja alcançada de forma

mais rápida e simples.

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4.3.4 Princípio da Informalidade

Quando se fala em informalidade, logo vem à mente os termos simplicidade,

naturalidade, desapego de formalidades de modo a não prejudicar nem atrasar o

resultado da prestação jurisdicional. (MIRABETE, 1997, p.24)

Este princípio também é aplicado no Juizado de Conciliação e um exemplo

disso é o fato das partes terem acesso ao Juizado sem a necessidade de terem que

constituir advogado para pleitear seus direitos, assim como os acordos são feitos de

forma amigável, sem qualquer tipo de coerção por parte do Estado.

No entanto, essa simplicidade não pode ser confundida com a inexistência de

registros, ainda que sucintos, pois as partes precisam de documentos que

comprovem o acordo feito, para utilizarem em uma ação de execução de título

extrajudicial, caso uma das partes venha a não cumprir o que foi acordado.

4.4 ESTRUTURA

O juizado, apesar de ser informal, conforme consta na cartilha do Tribunal de

Justiça de Minas Gerais sobre os Juizados de Conciliação (2006), possui uma

estrutura hierárquica composta por uma coordenação geral, dirigida pela 3ª Vice-

Presidência e uma secretaria geral coordenada através do Senhor Juliano Veiga, os

quais conduzem o Juizado através da atuação dos conciliador-orientadores,

secretários e conciliadores.

Cada integrante possui tarefa específica e essencial para o bom

funcionamento do Juizado. O Juiz-orientador é a pessoa responsável pelo

funcionamento do Juizado de Conciliação para qual foi nomeado pelo TJMG,

normalmente, um magistrado que acredita na relevância da justiça informal e

coordena as atividades na Comarca. O conciliador-orientador deverá ainda ter

notável saber jurídico, a fim de auxiliar nas conciliações mais complexas, além de

supervisionar as demais.

O secretário tem como função atender os reclamantes, redigir o termo de

reclamação, preencher os formulários, organizar e manter os arquivos, enviar mapas

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de controle de funcionamento trimestral, fazer requisição de força policial para o dia

determinado das audiências e comunicar os conciliadores as sessões de

conciliação.

O conciliador é um voluntário devidamente portariado pelo Tribunal de

Justiça, cabendo ao mesmo ouvir e conciliar as partes em conflito, estimulando o

diálogo e colaborando na escolha da melhor solução dos interesses das partes.

4.4.1 Implantação dos Núcleos

Devido ao caráter voluntário do Juizado de Conciliação, ele conta com a

mobilização da sociedade, e seu funcionamento só é possível quando há parceria

com a comunidade.

A implantação dos núcleos se dá através de parcerias com a comunidade,

órgãos do governo, prefeituras, empresas privadas, ONGs (Organizações não

governamentais), escolas, instituições religiosas, clubes de serviços, associações de

classe e outras entidades que contribuem cedendo o espaço físico e equipamentos,

entre outros. (Juizados de Conciliação, 2006.)

A colaboração oferecida por esses parceiros é determinada através da

assinatura de um convênio com o Tribunal de Justiça onde ficará determinado o

local e horário de funcionamento e demais assuntos relacionados à parceria. O

convênio assinado será encaminhado ao Tribunal de Justiça para a atual

desembargadora Márcia Milanez, na qual será editada uma portaria assinada pelo

Corregedor-Geral, sendo assim, devidamente instalado o núcleo, inicia-se a partir

daí a divulgação na comunidade, o recebimento das reclamações, agendamento e

realização das sessões de conciliação.

4.4.2 Os Voluntários

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Conforme dispõe a Resolução nº 460/2005, “o trabalho prestado aos Juizados

e suas secretarias será gratuito e considerado múnus público, sem vínculo

empregatício com o Estado”.

Sendo assim, aquele que se interessar ser conciliador deverá procurar uma

secretaria do Juizado, preencher a ficha de inscrição e o termo de adesão, sendo

que esses documentos serão analisados e logo após o candidato inscrito será

convocado para uma reunião na qual serão repassadas instruções referentes ao

funcionamento do Juizado, assim como nessa mesma reunião será observado se o

candidato se enquadra nas atividades que terá que desempenhar. Passando por

essa fase, o candidato receberá um treinamento oferecido pelo Tribunal de Justiça,

sendo posteriormente designado através de uma Portaria para atuar em um dos

núcleos do Juizado.

É importante ressaltar, que apesar de ser importante que o conciliador tenha

um conhecimento jurídico para que possa esclarecer às partes sobre as vantagens e

as desvantagens do acordo, motivo pelo qual muitos acadêmicos em direito

procuram ser conciliadores, essa não é uma condição imposta aos conciliadores.

4.4.3 O processo de reclamação e a sessão de conciliação

Quando uma pessoa procura pelo Juizado uma das primeiras medidas a

serem tomadas pelo secretário é verificar se o problema pode ser atendido e a este

procedimento dá-se o nome de “triagem”. Caso não seja possível o atendimento, a

pessoa será orientada sobre as providências e medidas que poderá tomar, bem

como orientação para se encaminhar a outros órgãos que possam solucionar o

problema.

Caso possa ser realizada a conciliação, o secretário do núcleo irá documentar

a reclamação em termo próprio, fornecido pelo Tribunal de Justiça, conhecido como

carta convite ou termo de reclamação, constando os nomes, qualificações, endereço

completo das partes, o resumo dos fatos que ensejaram a reclamação, a informação

de que o Juizado é gratuito e ainda data e horário marcados para a sessão de

conciliação.

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O termo redigido pelo secretário será colocado em um envelope com timbre

do Tribunal de Justiça que, após ser lacrado, será entregue ao reclamante, para que

este cientifique a pessoa reclamada, por si ou utilizando o intermédio de outra

pessoa, sendo possível ainda a utilização de via postal.

No dia e horário marcados, as partes estando presentes, a sessão será

iniciada com a apresentação do conciliador que irá esclarecer sobre o

funcionamento do Juizado e da importância da conciliação para ambas as partes, e

em seguida dará oportunidade as partes para que exponham suas razões,

promovendo o diálogo entre elas. Se por ventura, na data marcada para a sessão, a

parte reclamada não compareça, o conciliador a pedido da parte poderá fazer uma

carta chamada de reiteração, na qual será redesignada nova sessão,

proporcionando às partes outra oportunidade para a resolução do conflito.

É muito comum que as partes neste momento fujam do assunto principal,

sendo essencial para o bom desenvolvimento que o conciliador de forma calma

restrinja a conversa para evitar a desordem e não perder o objetivo da reunião.

O acordo deverá ser feito de forma espontânea, e todas as alternativas

levantadas para a solução do problema devem ser consideradas, cabendo ao

conciliador indicar outras se forem mais oportunas, mas sempre com imparcialidade.

Quanto mais alternativas existirem para atender os interesses das partes, maiores

serão as possibilidades de se fazerem um acordo.

O acordo deve ser sempre espontâneo. O conciliador não pode se esquecer em momento algum, de que não é um juiz, de que não tem nenhum poder institucional nem coercitivo e de que sua função é a de pacificar as pessoas em conflito. (TJMG, 2006, P.18).

Havendo acordo entre as partes, o conciliador redigirá na presença das partes

o termo de acordo, que deverá ser escrito de forma clara e compreensível a todos,

contendo o que foi combinado e a forma que será cumprido, deixando determinado o

lugar e o prazo. O referido termo deverá ser assinado pelo conciliador, pelo

reclamante e reclamado e por duas testemunhas.

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5 O JUIZADO DE CONCILIAÇÃO EM MINAS GERAIS

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais criou o Juizado de Conciliação em

2002, e é hoje referência nacional em relação aos ótimos resultados obtidos no

referido Juizado, uma vez que, o TJMG investiu consideravelmente nesta nova

forma de solucionar conflitos, recrutando e capacitando os conciliadores voluntários,

ministrando cursos em todo o Estado, mostrando a verdadeira função do Juizado,

bem como os deveres do conciliador, para que dessa forma possa se obter

voluntários preparados para lidar com as diferentes formas de conflitos.

O principal motivo de o TJMG acreditar no Juizado de Conciliação é a

necessidade de criar novas maneiras para “desafogar” o judiciário, oferecendo uma

prestação jurisdicional mais célere e eficaz, justamente pelo fato de não ser imposto

às partes o conteúdo do acordo, essas terão maior liberdade e conforto para cumprir

o avençado.

O Juizado de Conciliação de Minas Gerais é organizado por uma secretaria

geral, coordenada por um Desembargador, na atualidade quem ocupa este cargo é

a Desembargadora Márcia Milanez. As informações são passadas da coordenação

geral para cada núcleo do Estado por intermédio dos secretários regionais, trocando

informações e catalogando todos os dados e resultados obtidos pelo Juizado,

incluindo no banco de dados no site do TJMG as informações para estarem sempre

à disposição sociedade.

Atualmente no Estado de Minas Gerais se encontram instalados 356 postos

de atendimento ao cidadão, sendo distribuídos da seguinte forma: 65 núcleos na

Comarca de Belo Horizonte; 291 postos no interior do Estado, estando inclusa

nesses números a Comarca de Governador Valadares como referência na

pacificação de conflitos.

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5.1 O JUIZADO DE CONCILIAÇÃO EM GOVERNADOR VALADARES

Atualmente o Juizado de Conciliação da Comarca de Governador Valadares

possui 20 núcleos implantados, sendo 13 na Cidade, e um em cada Município

pertencente à Comarca, como Alpercata, Era Nova, Frei Inocêncio, Marilac, Mathias

Lobato, Periquito e no Distrito de Chonim de Baixo. Sendo o Juizado de Conciliação

totalmente gratuito, para seu funcionamento nos Municípios mencionados acima,

conta-se com uma parceria feita através de cada Prefeitura, que por intermédio

Poder Administrativo oferece como forma de contra prestação o fornecimento de

local, logística e transporte para os conciliadores que atuam voluntariamente nos

núcleos, bem como todo tipo de apoio solicitado quando necessário.

O Juizado de Conciliação de Governador Valadares conta-se atualmente com

a colaboração de uma equipe composta por 15 conciliador-orientadores, 16

secretários e 60 conciliadores que, sob a supervisão do Juiz-orientador desta

Comarca, Dr. Roberto Apolinário de Castro, realizam mensalmente conciliações em

todos os núcleos.

Dados estatísticos que podem ser encontrados nos arquivos da 2ª Vara Cível

desta comarca, por ser a vara responsável pela implantação dos Juizados de

Conciliação da Comarca de Governador Valadares mostram que em 2007 foram

realizados 1.808 acordos, sendo considerado um recorde de acordos realizados em

uma única Comarca no Estado de Minas Gerais naquele ano, recebendo, assim,

uma placa de premiação como destaque por ter obtido o melhor desempenho. No

ano seguinte, em 2008, foram realizados 792 acordos, e em 2009, foram feitas 894

reclamações, das quais 363 foram firmados acordos entre as partes. Em 2010 foram

registradas 946 reclamações, das quais 426 foram feitos acordos. Vale ressaltar

que, entre os anos de 2007 e 2008, devido às várias trocas de secretários, muitos

termos de reclamações foram perdidos, restando somente em arquivo os termos de

acordos realizados.

Por ser considerado juizado-modelo devido ao elevado número de acordos

firmados, o Juizado de Conciliação da Comarca de Governador Valadares foi

escolhido para participar de um quadro chamado “O conciliador” no programa de

televisão “Fantástico” da Rede Globo, que apresentava casos característicos de

serem solucionados no Juizado de Conciliação, exibido em 16 de maio 2010, o caso

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da Sra. Eupídia (vulgo Dona Pipi), uma senhora de 78 anos que dependia da

atenção das filhas em tempo integral, porém, as filhas viviam em conflito em relação

a quem seria delegada a função de cuidar da mãe idosa, o que foi resolvido através

do Juizado de Conciliação.

Após a exibição do quadro “O conciliador”, o Juizado de Conciliação foi

divulgado nacionalmente, o que proporcionou um maior conhecimento sobre o

assunto, popularizando e principalmente quebrando os preconceitos existentes por

parte da sociedade quanto à resolução de seus problemas através de meios

alternativos como o Juizado de Conciliação, demonstrando à sociedade que através

de uma cultura de pacificação se torna muito mais fácil e rápida a resolução de um

litígio, bem como mostrar à sociedade como pode ser fácil procurar um poder

jurisdicional e obter rapidamente uma resposta sobre o problema apresentado, tendo

em vista que a maioria dos casos exibidos foram construídos acordos.

Outro caso relevante que foi atendido pelo Juizado de Conciliação de

Governador Valadares recentemente, demonstrando ainda mais a credibilidade que

este Juizado repassa para a sociedade, é o caso da senhora Valéria Otália Nalon de

Andrade que se envolveu em um acidente automobilístico com sua vizinha, a menor

Yasmim Lucas Costa.

A senhora Valéria estava transitando em seu veiculo automotor quando foi

surpreendida por uma falha mecânica na parte elétrica do veículo, acionando o freio

o mesmo não correspondeu, o que ocasionou a perda do controle do carro, fazendo

com que este descesse a ladeira na rua onde ambas moram, na qual se

encontravam crianças brincando no meio da via. O carro atingiu duas das crianças

que se encontravam no local, sendo que uma delas apresentou apenas lesões

leves, o que foi resolvido de imediato, e a menor Yasmim sofrido uma lesão mais

grave na perna direita, tendo a autora dado toda a assistência necessária à menor.

Após a recuperação da menor Yasmim, apesar da senhora Valéria possuir um

seguro privado do carro, a mesma procurou este Juizado de Conciliação para propor

um acordo de reparação de danos entre as partes, tendo em vista sua comoção

pessoal em relação à gravidade da lesão causada à menor. O acordo foi realizado, e

a reclamada, Sra. Valéria, pagou a importância de R$ 7.000,00 (sete mil reais) em

espécie para a genitora da menor no ato da sessão de audiência, a título de

reparação pelos danos causados, ressaltando que a reclamante poderá se assim

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desejar, requerer judicialmente da empresa seguradora a reparação sobre os danos

causados.

Vale esclarecer ainda, que a importância paga extrajudicialmente pela Sra.

Valéria se deu pelo fato do reconhecimento da gravidade da lesão causada à menor,

e a comoção particular da autora em ver a gravidade da lesão causada em sua

vizinha.

Sendo assim, pode-se perceber que o Juizado é um projeto que realmente

funciona traz soluções imediatas para a resolução dos conflitos sem a burocracia de

um processo judicial, pois se a parte reclamada fosse primeiramente ingressar com

uma ação de indenização em desfavor da reclamante, seria mais um processo a se

acumular em uma das varas cíveis da comarca, aguardando uma prestação

jurisdicional.

Diante ao exposto, tendo em vista o valor do objeto do caso apresentado, fica

evidente a credibilidade que o Juizado de Conciliação possui, pois por se tratar de

uma quantia relativamente alta, não poderia ser discutida por um método alternativo

que não fosse seguro, e que transparecesse credibilidade, confirmando mais uma

vez que o Juizado de Conciliação atua não somente a resolver os problemas

jurídicos, como também os problemas sociais e psicológicos da sociedade.

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6 A EFICÁCIA DA CONCILIAÇÃO NA RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS

O Poder Judiciário detém o monopólio da jurisdição, o que constitui um dos

pilares do Estado Democrático de Direito. No entanto, não vem correspondendo a

sua magna função estatal qual seja: a de entregar uma prestação jurisdicional célere

e de qualidade aos cidadãos que dela necessita.

A burocratização, o excessivo formalismo da legislação processual, o apego a

fórmulas arcaicas de movimentação dos processos emperram o andamento

processual e, por conseguinte, resultam na insegurança e morosidade na prestação

jurisdicional, e ainda as altas custas judiciais dificultam o acesso dos mais carentes

à justiça.

No decorrer dos anos foram elaborados vários mecanismos e técnicas para

uma prestação jurisdicional mais ágil, que ultrapassassem as barreiras dos

procedimentos comuns e contribuíssem para o afastamento de práticas morosas na

resolução dos conflitos, pois aos demandantes pouco importa a diferença entre

processo e procedimento, o que lhes interessa realmente é a solução de seus litígios

de forma rápida e descomplicada.

Na consecução deste ideal, entre outros, foi elaborado o projeto Juizado de

Conciliação, um instrumento de pacificação social, com a missão de promover a

solução dos conflitos de forma mais acessível, rápida e totalmente gratuita,

substituindo o modelo conflitual apresentado pelo Poder Judiciário e acelerando a

prestação jurisdicional através de uma composição amigável dos interesses das

partes que o procuram.

Muito mais do que um acordo, a conciliação preconiza o potencial de

transformação das pessoas, estabelecendo ou fortalecendo relacionamentos de

confiança e respeito entre as partes de maneira que minimize os custos e os danos

psicológicos, construindo uma nova relação a partir daquele momento, sem

enfrentamentos, condutas hostis, agressivas ou vingativas, mas com a atenção

voltada ao futuro, e não aos acontecimentos anteriores.

O fato de a conciliação transformar os conflitos, não se limitando apenas a

resolvê-los de modo jurídico, mas exercendo uma função “curativa”, ou ainda em um

conceito mais amplo, como recomposição de relações desarmônicas, faz com que

independentemente de qualquer força executiva, o acordo obtido pelas partes seja

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cumprido de uma forma natural, evitando o acervo processual não só no Juízo de

primeiro grau, mas também nos Tribunais, uma vez que o ato conciliatório é feito de

acordo com o efetivo anseio das partes.

O Juizado de Conciliação tem como objetivo a resolução de conflitos

extrajudicialmente através de acordos estabelecidos por diálogo através da prática

de falar e ouvir, respeitando as diferenças de cada um e resguardando a paz social.

No entanto, apesar de se destacar por sua informalidade, os acordos estabelecidos

pelas partes são colocados a “termo”, e são válidos como título extrajudicial, dando

ao cidadão que a ela recorre também uma segurança jurídica para que se proceda a

uma ação de execução de título extrajudicial, caso uma das partes não cumpra o

acordo firmado.

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7 CONCLUSÃO

Um Estado Democrático de Direito deve permitir amplo e irrestrito acesso à

Justiça, atendendo aos cidadãos com o mais básico dos direitos humanos do

sistema jurídico moderno e igualitário, na condição de agente constitucionalmente

responsável pela pacificação dos conflitos sociais.

No entanto, devido ao crescimento da sociedade, e consequentemente, a

complexidade das relações sociais, isso fez com que surgissem diferentes tipos de

conflitos, aumentando as demandas judiciais e acarretando no decorrer dos anos um

acúmulo de processos a serem apreciados, sobrecarregando o Judiciário.

A necessidade de se buscar alternativas para desafogar o Judiciário e, ao

mesmo tempo, que esses métodos fossem utilizados como apoio aos métodos

tradicionais (processos judiciais), mediante sistemas não onerosos ao Poder

Público, e ainda que oferecesse aos cidadãos desacreditados na justiça um sopro

de esperança de se cumprir o direito constitucional através de um meio simples,

desburocratizado, rápido e acessível a todos, surgiu o Juizado de Conciliação, que

foi o objeto desta pesquisa, assim como vários outros meios demonstrados.

Diante do exposto, indaga-se: quais os benefícios trazidos à sociedade pelos

acordos realizados no Juizado de Conciliação e qual a eficácia desses acordos?

Como modalidade extrajudicial de resolução de conflitos, a conciliação realizada

através dos Juizados de Conciliação consegue resguardar a paz social?

Apesar ser fundamentalmente pautado na simplicidade, informalidade,

celeridade, economia processual e na autonomia das decisões, os acordos

realizados no Juizado de Conciliação apresentam respostas efetivas para as

demandas sociais, evitando desgastes financeiros e psicológicos que um processo

longo pode causar.

A conciliação permite que o conflito possa ser resolvido em suas duas

esferas: objetiva e subjetiva. Ou seja, resolve um conflito antes que se torne um

processo (esfera objetiva) e devolve a paz, a tranquilidade, a segurança e a

sensação de justiça em tempo razoável, que são valores que a sentença não

alcança (esfera subjetiva). E o mais importante é que permite ainda a redução dos

sentimentos de rancor e angústia, que normalmente ocorrem com as pessoas nessa

ocasião, pois o método se assenta na soberania da vontade, e, assim, dá

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oportunidade para que os envolvidos encontrem por si mesmos, o que lhes parecem

mais adequados, sem submeter-se à decisão de um terceiro, o que garante o

cumprimento do acordo, eliminando o aspecto de adversariedade e competição

entre eles.

Uma vez que o acordo firmado é reduzido a termo por um conciliador e duas

testemunhas, apesar da informalidade da celebração do acordo, este estará

revestido de direitos e obrigações, e é considerado um título extrajudicial, e se uma

das partes descumpre o acordado, a parte prejudicada poderá levá-lo a execução,

buscando imediatamente por seus direitos com base no art. 585, II do Código de

Processo Civil.

Outro fato que demonstra a relevância dos Juizados de Conciliação é a

satisfação daqueles que o procuram e, mesmo aqueles que não conseguem resolver

os seus conflitos extrajudicialmente, são devidamente orientados e até mesmo

encaminhados aos órgãos competentes.

É notável que o conflito afronta a paz social, mas a pacificação trazida pelo

Juizado de Conciliação é uma realidade, pois resolve o conflito por meio de diálogo

e, com isso, o conflito desaparece naturalmente, pois a solução é encontrada por

elas mesmas, negociando, fazendo concessões, chegando a um acordo e tendo

uma prestação jurisdicional célere, segura e eficaz, pois o feito atinge o seu fim com

a solução espontânea do conflito, fato raramente alcançado com a prolação de uma

sentença.

Para concluir, verifica-se que o Juizado de Conciliação é um complemento

ideal de auxílio à justiça, sendo de fundamental importância para o desenvolvimento

da cidadania no Brasil, uma vez que o brasileiro em sim tem uma cultura litigiosa e

esse exercício inovador da cultura da conciliação extrajudicial de conflitos, vem

conscientizar a todos que mais vale um bom acordo de uma demanda judicial.

Sendo assim, a atuação do Juizado de Conciliação como forma alternativa de

resolução de conflitos é totalmente viável, visto que auxilia as partes a entenderem

como se posicionarem diante de um conflito, trazendo inúmeros benefícios para o

judiciário, promovendo sempre que possível justiça para todos de uma forma rápida,

simples e pacífica, beneficiando não somente as partes que tem seus conflitos

resolvidos como toda a sociedade no âmbito da pacificação social.

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REFERÊNCIAS

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ANEXOS

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ANEXO A – RESOLUÇÃO DE Nº 460/2005

Resolução nº 460/2005, revoga a Resolução nº 400/2002 e passa a dispor sobre

os Juizados de Conciliação do Estado de Minas Gerais.

A CORTE SUPERIOR DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS

GERAIS, no uso das atribuições que lhe confere o art. 22, inciso III, da Lei

Complementar nº 59, de 18 de janeiro de 2001,

Considerando a conveniência de se modificar, em parte, a regulamentação dos

Juizados de Conciliação;

Considerando, assim, a necessidade de introduzir alterações na Resolução nº 400,

de 17 de setembro de 2002;

Consideração, finalmente, o que constou do Processo nº 347, reapreciado pela

Comissão de Organização e Divisão Judiciárias em Sessão de 15 de fevereiro de

2005, e atendendo ao que ficou decidido pela própria Corte Superior em Sessão de

23 de fevereiro de 2005,

RESOLVE baixar a seguinte Resolução:

TÍTULO I DA ORGANIZAÇÃO DOS JUIZADOS DE CONCILIAÇÃO

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1º - Os Juizados de Conciliação, regulamentados pela Resolução nº 400/2002,

de 20 de setembro de 2002, passam a reger-se pelo disposto nesta Resolução;

Art. 2º - Compete aos Juizados de Conciliação promover a conciliação entre as

partes, maiores de dezoito anos e capazes, que o procurarem, buscando a melhor

solução possível para a composição, mediante acordo, de seus interesses em

conflito, gratuitamente.

§ 1º - Compete ainda aos Juizados orientar quaisquer pessoas que o procurarem,

quanto a questões de seu interesse.

§ 2º - Os Juizados funcionarão nas sedes dos Municípios, em Distritos, bairros ou

onde se fizer necessário, podendo inclusive haver Juizados itinerantes.

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Art. 3º - São órgãos dos Juizados de Conciliação:

I - o Coordenador-Geral;

II - os Conciliadores-Orientadores;

III - os Conciliadores.

Parágrafo único - Junto ao Coordenador-Geral existirá a Secretaria-Geral e, junto a

cada Juizado, a respectiva Secretaria.

CAPÍTULO II DO COORDENADOR-GERAL

Art. 4º -O Presidente do Tribunal de Justiça designará desembargador para ser o

Coordenador-Geral dos Juizados de Conciliação do Estado.

Art. 5º - Compete ao Coordenador-Geral:

I - orientar as atividades dos Juizados e supervisionar sua atuação, expedindo

instruções para seu melhor funcionamento;

II - apreciar proposta de instalação, extinção e reativação de Juizado, e determinar a

suspensão temporária de suas atividades;

III - aprovar modelos de formulários padronizados para uso dos Juizados;

IV - determinar, mediante Portaria, a instalação, a suspensão de atividades,a

extinção e a reativação de Juizado;

V - designar e dispensar, mediante Portaria, Conciliador-Orientador, Conciliador e

Secretário de Juizado;

VI - conceder entrevistas e prestar informações à imprensa, em caráter oficial,

acerca de assuntos atinentes aos Juizados, e autorizar outra pessoa a fazê-lo.

CAPÍTULO III DOS CONCILIADORES-ORIENTADORES E DOS CONCILIADORES

Seção I

Da Seleção

Art. 6º - Os Conciliadores-Orientadores serão escolhidos entre Magistrados,

membros do Ministério Público e Defensores Públicos, em atividade ou

aposentados, bem como entre outras pessoas de reputação ilibada e reconhecida

respeitabilidade, que reúnam condições pessoais de dedicação e aptidão para o

trabalho de natureza conciliatória, sempre com a assinatura do termo de adesão ao

trabalho voluntário.

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§ 1º - Poderá haver mais de um Conciliador-Orientador no mesmo Juizado, hipótese

em que servirão eles mediante revezamento.

§ 2º - As autoridades locais poderão indicar interessados em servir como

Conciliador-Orientador, para apreciação e decisão do Coordenador-Geral, nos

termos do art. 5º, inciso V, desta Resolução;

§ 3º - Os conciliadores serão escolhidos dentre as pessoas que tenham aptidão para

o trabalho de natureza conciliatória, após apreciação e decisão do Coordenador-

Geral, ou do Conciliador-Orientador nos termos do parágrafo único do art. 7º desta

Resolução, sempre com assinatura do termo de adesão ao trabalho voluntário.

Seção II Das Atribuições

Art. 7º - Compete ao Conciliador-Orientador:

I - supervisionar o funcionamento do Juizado;

II - designar e dispensar os servidores da Secretaria do Juizado;

III - dirigir as sessões do Juizado;

IV - intervir na conciliação, se necessário.

Parágrafo único - O Conciliador-Orientador também poderá designar Conciliadores e

secretários, ad referendum do Coordenador-Geral, fazendo-lhe imediata

comunicação da designação.

Art. 8º - Compete ao Conciliador empregar seus bons ofícios, ouvindo as partes e

aconselhando-as quanto à melhor solução possível para a composição de seus

interesses, mediante acordo.

Seção III Da Dispensa

Art. 9º - O Conciliador-Orientador será dispensado quando não houver conveniência

funcional de que continue prestando serviços naquele Juizado, ou a seu pedido.

Art. 10 - O Conciliador será dispensado quando:

I - faltar injustificadamente a três sessões consecutivas ou seis alternadas, o ano;

II - praticar qualquer ato contrário aos objetivos do Juizado;

III - utilizar o Juizado como forma para angariar clientela;

IV - não houver conveniência funcional para que continue prestando seus serviços

naquele Juizado;

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V - houver de sua parte pedido neste sentido.

Art. 11 - O Conciliador-Orientador poderá ser dispensado dessa função, continuando

a prestar serviços, no mesmo Juizado, como Conciliador.

Art. 12 - Os conciliadores e secretários designados por Conciliador- Orientador (art.

7º, parágrafo único), poderão ser por ele dispensados, com imediata comunicação

do ato ao Coordenador-Geral.

Art. 13 - A dispensa, que será processada nos termos do art. 5º, inciso V, desta

Resolução, não constituirá, para qualquer fim, nota desabonadora do dispensado.

CAPÍTULO IV DAS SECRETARIAS E DOS SERVIDORES

Seção I

Dos Servidores

Art. 14 - Os Servidores integrantes da Secretaria-Geral serão designados e

dispensados pelo Presidente do Tribunal de Justiça, por indicação do Coordenador-

Geral.

Art. 15 - Os Servidores integrantes da Secretaria de cada Juizado serão designados

e dispensados pelo Coordenador-Geral ou pelo respectivo Conciliador- Orientador,

mediante Portaria.

Seção II Da Secretaria-Geral

Art. 16 - Compete à Secretaria-Geral, sob a orientação e direção do Coordenador-

Geral:

I - assessorar o Coordenador-Geral e exercer as atividades de apoio administrativo

necessários à sua atuação;

II - receber e expedir correspondência;

III - levar ao conhecimento do Coordenador-Geral as comunicações dos

Conciliadores-Orientadores;

IV - cuidar da guarda e conservação de documentos;

V - expedir os modelos de formulários e impressos aprovados pelo Coordenador-

Geral;

VI - providenciar a publicação, no “Diário do Judiciário” e na imprensa em geral, de

matérias referentes aos Juizados.

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Seção III Da Secretaria do Juizado

Art. 17 - Compete à Secretaria de cada Juizado, sob a orientação e direção do

Conciliador-Orientador:

I - atender os reclamantes e, quando for o caso, redigir o Termo de Reclamação e

Carta Convite ao reclamado;

II - registrar o movimento diário de reclamações ajuizadas, de conciliações obtidas,

de comparecimentos e ausências das partes;

III - organizar e manter o arquivo das reclamações;

IV - organizar as pautas das sessões do Juizado;

V - providenciar a confecção de formulários, conforme os modelos

padronizados determinados pelo Coordenador-Geral;

VI - registrar a freqüência dos conciliadores;

VII - providenciar a publicação, na imprensa local, das matérias de interesse do

Juizado;

VIII - enviar à Secretaria-Geral, trimestralmente, o quadro-resumo de funcionamento

do Juizado, utilizando o impresso próprio.

Parágrafo único - Nas Comarcas em que funcionar mais de um Juizado, poderá

haver uma secretaria coordenadora dos seus trabalhos.

TÍTULO II DA INSTALAÇÃO, DA SUSPENSÃO DAS ATIVIDADES E DA EXTINÇÃO DOS

JUIZADOS

CAPÍTULO I DA INSTALAÇÃO

Art. 18 - O Juizado de Conciliação será instalado, por ato do Coordenador-Geral,

expedido:

I - de ofício;

II - por solicitação de Magistrado, Promotor de Justiça ou outra autoridade local ou

de instituição civil ou religiosa.

Parágrafo único. A instalação do Juizado será autorizada pelo Coordenador-Geral,

mediante Portaria, e será presidida por ele ou por Conciliador-Orientador que

designar, ocorrendo, sempre que possível, nas dependências onde o Juizado

funcionará.

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CAPÍTULO II DA SUSPENSÃO DAS ATIVIDADES

Art. 19 - As atividades do Juizado poderão ser suspensas temporariamente por

motivo relevante a juízo do Coordenador-Geral, mediante Portaria.

Art. 20 - Vencido o prazo estabelecido para a suspensão, ou cessando o seu motivo,

o Juizado reiniciará suas atividades, independentemente de qualquer formalidade,

salvo determinação em contrário do Coordenador-Geral.

CAPÍTULO III DA EXTINÇÃO

Art. 21 - O Juizado será extinto:

I - quando não mais houver interesse da comunidade no seu regular funcionamento;

II - quando não houver condições para recrutamento de Conciliadores;

III - quando for conveniente a extinção, a critério do Coordenador-Geral.

Art. 22 - A extinção do Juizado será efetivada mediante Portaria expedida pelo

Coordenador-Geral.

Art. 23 - Cessado o motivo da extinção, poderá o Juizado ser reativado,

obedecendo-se, para sua reinstalação, o disposto no art. 19 desta Resolução.

TÍTULO III DOS PROCEDIMENTOS

CAPÍTULO I

DA RECLAMAÇÃO

Art. 24 - A reclamação será reduzida a termo na Secretaria do Juizado, em tantas

vias quantas forem os reclamados, mais uma.

§ 1º - A Secretaria encaminhará uma via para a sessão de conciliação e entregará

ao reclamante as demais vias, uma para cada reclamado.

§ 2º - Compete ao reclamante providenciar a entrega da reclamação ao reclamado,

por si ou por intermédio de outra pessoa, podendo também, caso queira, utilizar a

via postal.

Art. 25 - No termo da reclamação constarão a data, a hora e o local da sessão, a

identificação completa do reclamante, a identificação possível do reclamado, a

síntese da reclamação e a informação de que o procedimento do Juizado é gratuito.

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CAPÍTULO II DA SESSÃO

Art. 26 - Presentes as partes, a sessão será aberta pelo Conciliador, o qual dará

oportunidade para que exponham suas razões, ouvindo-as atentamente e

diligenciando para que se obtenha a conciliação, como previsto no art. 8º desta

Resolução.

§ 1º - Conseguida a conciliação, o Conciliador lavrará termo de acordo

circunstanciado, que será visado por ele e assinado pelas partes e por 2 (duas)

testemunhas.

§ 2º - Não havendo acordo, as partes serão orientadas sobre providências e

medidas que poderão tomar.

§ 3º - Não comparecendo uma das partes, a reclamação será arquivada ou

designada outra sessão.

Art. 27 - As partes serão orientadas quanto às conseqüências do descumprimento

do acordo, inclusive no tocante à possibilidade de utilização do mesmo em ação

judicial.

TÍTULO IV DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 28 - O Trabalho prestado aos Juizados e suas Secretarias será gratuito e

considerado munus público, sem vínculo empregatício com o Estado, de acordo com

a Lei nº 9.608, de 18 de fevereiro de 1998.

Art. 29 - A efetiva prestação de serviço ao Juizado poderá ser considerada como

título em concursos públicos realizados pelo Poder Judiciário do Estado de Minas

Gerais.

Art. 30 - Poderão constar, por indicação do Coordenador-Geral, anotação de mérito

na ficha funcional de magistrados e servidores do Poder Judiciário do Estado de

Minas Gerais que se destacarem pela sua atuação nos Juizados de Conciliação;

Art. 31 - As instituições interessadas em estabelecer parcerias com o Tribunal de

Justiça do Estado de Minas Gerais, objetivando instalação e funcionamento do

Juizado, fornecerão a ele auxiliares, material e instalações necessárias.

Art. 32 - Os termos de convênio referentes às parcerias do artigo anterior serão

assinados pelo Coordenador-Geral ou por magistrado da respectiva Comarca,

mediante delegação.

Art. 33 - Os casos omissos serão resolvidos pelo Coordenador-Geral.

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Art. 34 - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 35 - Revogam-se as disposições em contrário, especialmente a Resolução nº

400, de 17 de setembro de 2002.

PUBLIQUE-SE. CUMPRE-SE.

Belo Horizonte, 28 de fevereiro de 2005.

Desembargador MÁRCIO ANTÔNIO ABREU CORRÊA DE MARINS

Presidente

Figura 1 – Anexo

Fonte - Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

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ANEXO B – TERMO DE ADESÃO

Figura 2 – Anexo Fonte - Guia de Funcionamento do Juizado de Conciliação

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ANEXO C – CONTROLE DE RECLAMÇÃO

Figura 3 – Anexo Fonte - Guia de Funcionamento do Juizado de Conciliação

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ANEXO D – TERMO DE RECLAMAÇÃO (CARTA CONVITE)

Figura 4 – Anexo Fonte - Guia de Funcionamento do Juizado de Conciliação

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ANEXO E – CARTA CONVITE (REITERAÇÃO)

Figura 5 – Anexo Fonte - Guia de Funcionamento do Juizado de Conciliação

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ANEXO F – TERMO DE ACORDO

Figura 6 – Anexo Fonte - Guia de Funcionamento do Juizado de Conciliação

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ANEXO G – PAUTA E RESULTADOS DE SESSÕES

Figura 7 – Anexo Fonte - Guia de Funcionamento do Juizado de Conciliação

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ANEXO H – TERMO DE RECLAMAÇÃO DO CASO APRESENTADO

Figura 8 – Anexo Fonte – Reclamação feita no Juizado de Conciliação do Rotary Club

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ANEXO I – TERMO DE ACORDO DO CASO APRESENTADO

Figura 9 – Anexo Fonte – Acordo realizado sobre o caso apresentado.

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ANEXO J – FOTO TIRADA APÓS O ACORDO ENTRE AS PARTES

Figura 10 – Anexo Fonte – Foto das partes após terem feito o acordo demonstrando que o litígio

foi resolvido amigavelmente.