199
Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Modelo do Diamante Nacional de Porter VANTAGEM COMPETITIVA: PRECEDENTES TEÓRICOS DA ANÁLISE DO DIAMANTE NACIONAL DE PORTER PAULO DE SOUZA NUNES FILHO Dissertação apresentada à Escola de Administração – Núcleo de Pós-graduação NPGA, da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Administração . Salvador - Brasil 2006

VANTAGEM COMPETITIVA: PRECEDENTES …...Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter vi AGRADECIMENTOS ”Agradeço a Deus por iluminar meu

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Modelo do Diamante Nacional de Porter

VANTAGEM COMPETITIVA: PRECEDENTESTEÓRICOS DA ANÁLISE DO DIAMANTE NACIONAL

DE PORTER

PAULO DE SOUZA NUNES FILHO

Dissertação apresentada à Escola de Administração – Núcleo de Pós-graduação NPGA, da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para aobtenção do grau de Mestre em Administração .

Salvador - Brasil

2006

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

ii

VANTAGEM COMPETITIVA: PRECEDENTESTEÓRICOS DA ANÁLISE DO DIAMANTE NACIONAL

DE PORTER

PAULO DE SOUZA NUNES FILHO

Orientador : Prof. Dr. Amílcar Baiardi

Dissertação apresentada à Escola de Administração – Núcleo de Pós-graduação NPGA, da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para aobtenção do grau de Mestre em Administração .

Salvador – Brasil

2006

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

iii

Escola de Administração - UFBA

N972 Nunes Filho, Paulo de Souza.Vantagem competitiva: precedentes teóricos da análise

do diamante nacional de Porter. / Paulo de Souza Nunes Filho. – 2006.

193 f.

Orientador: Prof. Dr. Amílcar Baiardi.Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da

Bahia. Escola de Administração, 2006.

1.Desenvolvimento econômico. 2. Concorrência. 3. Política industrial. 4. Porter, Michael. I. Baiardi, Amílcar. II. Universidade Federal da Bahia. Escola de Administração. III. Título.

338.9CDD 20. ed.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

iv

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃONPGA – NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃOCURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

VANTAGEM COMPETITIVA: PRECEDENTESTEÓRICOS DA ANÁLISE DO DIAMANTE NACIONAL

DE PORTER

PAULO DE SOUZA NUNES FILHO

Banca Examinadora :

__________________________________________________________

Amílcar Baiardi – OrientadorDoutor em Ciências Humanas, Universidade de Campinas (UNICAMP)Universidade Federal da Bahia (UFBA)

__________________________________________________________

Fernando PedrãoDoutor em Economia, Universidade Federal da Bahia (UFBA)Universidade Federal da Bahia (UFBA)

__________________________________________________________

Armando Barros de CastroDoutor em Economia, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP)Fundação Getúlio Vargas (FGV)

SALVADOR

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

v

2006

Para meus pais, meus irmãos, minha esposa Meire e meu filho Gustavo.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

vi

AGRADECIMENTOS

”Agradeço a Deus por iluminar meu caminho e fazer-me perseverar nos momentos

difíceis ”

”Agradeço ao Prof. Amílcar Baiardi por sua orientação e por acreditar que essa

jornada seria possível”

”Agradeço também, a todos os amigos que puderam colaborar nesse processo de

construção, em especial aos Profs. Edelvino Góes e Jair Sento-Sé, cuja amizade e

solidariedade são inestimáveis ”

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Modelo do Diamante Nacional de Porter

EPÍGRAFE

”Agradeço a Deus por iluminar meu caminho e fazer-me perseverar nos momentos

difíceis ”

”Agradeço também, a todos os amigos que puderam colaborar nesse processo de

construção, em especial aos Profs. Edelvino Góes e Jair Sento-Sé, cuja amizade e

solidariedade são inestimáveis ”

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Modelo do Diamante Nacional de Porter

SUMÁRIO

Página· LISTA DE FIGURAS........................................................................................... 11

· LISTA DE QUADROS ........................................................................................ 12

· LISTA DE TABELAS.......................................................................................... 13

· LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS........................................................... 14

· RESUMO ............................................................................................................. 15

· ABSTRACT......................................................................................................... 16

· APRESENTAÇÃO.............................................................................................. 17

· CAPÍTULO 01 – Referencial Teórico e Metodologia.................................

1.1 Introdução....................................................................................................... 19

1.2 A definição do objeto de estudo................................................................. 21

1.3 As justificativas ............................................................................................. 22

1.4 Os objetivos................................................................................................... 23

1.5 As escolhas teóricas e metodológicas...................................................... 23

· CAPÍTULO 02 – Da Vantagem Comparativa à Competitiva....................

2.1 O Capitalismo como começo...................................................................... 43

2.1.1 O sistema de produção capitalista..................................................... 43

2.1.2 Primeiras idéias sobre o sistema econômico .................................. 48

2.2 Smith e Ricardo – Vantagens Absolutas e Comparativas....................... 55

2.2.1 Adam Smith e as Vantagens Absolutas ............................................ 55

2.2.2 David Ricardo e as Vantagens Comparativas ................................. 56

2.2.3 As Vantagens Comparativas e as Teorias de Comércio

Internacional........................................................................................... 59

2.3 As Vantagens e o seu lócus ........................................................................ 63

2.3.1 Os conceitos de Região / Território ................................................... 63

2.3.2 Os Distritos Marshallianos................................................................... 67

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

- 9 -

2.4 Abordagens marxistas sobre a divisão internacional do trabalho

e sobre o intercâmbio desigual.................................................................. 72

2.4.1 A obtenção de vantagens através da inovação tecnológica........... 72

2.4.2 Che Guevara, a valorização do capital e o intercâmbio desigual .. 75

2.5 A Competitividade e suas abordagens...................................................... 78

2.5.1 Conceitos e divergências.................................................................... 78

2.5.2 Competitividade Sistêmica................................................................. 85

· CAPÍTULO 03 – Vantagens e Inovação .......................................................

3.1 O Pensamento de Schumpeter: Inovação, Crédito e Destruição

Criativa .......................................................................................................... 90

3.1.1 A concepção do equilíbrio de Walras como início ........................... 90

3.1.2 Teoria do Desenvolvimento Econômico (TDE): Inovação,

Crédito e Destruição Criativa ......................................................... 94

3.2 A transição de Schumpeter para os Neo-schumpeterianos:

Rosenberg, Vernon, Freeman, Nelson & Winter e Dosi.......................... 99

· CAPÍTULO 04 – Vantagens Competitivas e seus Determinantes.........

4.1 As Vantagens Competitivas e o cenário atual.......................................... 107

4.1.1 Globalização: O discurso e o conceito .............................................. 108

4.1.2 A Crítica de Chesnais sobre a Mundialização do Capital............... 110

4.1.3 A teoria da produção internacional: O esforço nas últimas

décadas ................................................................................................. 118

4.2 O modelo do Diamante Nacional de Porter.............................................. 123

4.2.1 A Vantagem Competitiva do Estado ................................................. 123

4.2.2 Condições de Fatores ......................................................................... 129

4.2.3 Condições de Demanda ..................................................................... 133

4.2.4 Industrias Correlatas e de Apoio ........................................................ 138

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

- 10 -

4.2.5 Estratégia, Estrutura e Rivalidade ...................................................... 140

4.2.6 O Papel do Acaso e do Governo........................................................ 146

· CAPÍTULO 05 – Vantagens Competitivas: Criticas ao Modelo de Porter

5.1 Limites explicativos, deficiências e lacunas do modelo.......................... 150

5.2 A contribuição de Narula - Investment Development Path....................... 151

5.3 A crítica de Omar Aktouf.............................................................................. 164

5.4 Analise crítica da obra “Vantagens Competitiva das Nações” e

do modelo do “Diamante Nacional” de Michael Porter ........................... 167

· CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 170

· REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 172

· ANEXOS.............................................................................................................. 180

A – Livros publicados por Michael Porter (1976 – 2006) .............................. 180

B – Artigos publicados por Michael Porter (1976 – 2006) ............................ 182

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- 11 -

LISTA DE FIGURAS

Página

· FIGURA 01 : Modelo de Análise.................................................................... 39

· FIGURA 02 : Diamante Nacional – Sistema Completo..................................... 40

· FIGURA 03 : Espiral de crescimento, segundo Adam Smith ............................ 54

· FIGURA 04 : Comparativo Vantagens Absolutas versus Comparativas .............. 58

· FIGURA 05 : Modelos de crescimento baseados no conceito de vantagens....... 62

· FIGURA 06 : Fatores que influenciam a localização de indústrias ..................... 70

· FIGURA 07 : Modelo Estrutura – Conduta – Desempenho ............................... 86

· FIGURA 08 : Classificação das inovações, segundo Schumpeter ..................... 95

· FIGURA 09 : Posição competitiva de um Estado............................................. 124

· FIGURA 10 : Determinantes da vantagem competitiva de um Estado ................. 130

· FIGURA 11 : Diamante Nacional – Sistema completo...................................... 146

· FIGURA 12 : Desenvolvimento da vantagem tecnológica nacional: O papel

Da tecnologia acumulada.......................................................... 154

· FIGURA 13 : Estágio 01: Investment Development Path................................... 156

· FIGURA 14 : Estágio 02: Investment Development Path................................... 157

· FIGURA 15 : Estágio 03: Investment Development Path................................... 159

· FIGURA 16 : Estágio 04: Investment Development Path................................... 160

· FIGURA 17 : Estágio 05: Investment Development Path................................... 161

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- 12 -

LISTA DE QUADROS

Página

· QUADRO 01 : Definições de competitividade – Conceito da firma..................... 80

· QUADRO 02 : Definições de competitividade – Comércio internacional............. 81

· QUADRO 03 : Definições de competitividade – Bem estar econômico.............. 81

· QUADRO 04 : Condicionantes da competitividade internacional ....................... 88

· QUADRO 05 : Classificação de Riqueza Social, segundo Walras .................... 91

· QUADRO 06 : Etapas da teoria do equilíbrio, segundo Walras ......................... 92

· QUADRO 07 : Agentes no sistema econômico, segundo Walras ..................... 92

· QUADRO 08 : Estratégias tecnológicas nas empresas, segundo Freeman ....... 102

· QUADRO 09 : Classificação das condições de fatores .................................... 131

· QUADRO 10 : Características das condições de demanda............................... 134

· QUADRO 11 : Características das indústrias correlatas e de apoio .................. 139

· QUADRO 12 : Fatores que influenciam nas estratégias, na estrutura e na

rivalidade de empresas............................................................ 141

· QUADRO 13 : Estágios sugeridos por Rajneesh Narula .................................. 163

· QUADRO 14 : Publicações de Michael Porter – Livros (1976 – 2006) .............. 167

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- 13 -

LISTA DE TABELAS

Página

· TABELA 01 : Número de horas necessárias para a produção de uma

Unidade de tecido e de vinho na Inglaterra e em Portugal.............. 57

· TABELA 02 : Quantidades de produtos primários necessários para

Adquirir um trator de 30-39 HP ................................................... 77

· TABELA 03 : Fusões e Aquisições “Transfronteiras” Totais no Mundo .............. 115

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- 14 -

LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

· COMECON : Conselho de Ajuda Mútua Econômica

· C&T : Ciência & Tecnologia

· ECD : Estrutura - Conduta - Desempenho

· IDP : Investment Development Path

· IED : Investimento Externo Direto

· NICS : Newly Industrialized Countries

· OCDE : Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico

· P&D : Pesquisa & Desenvolvimento

· SCP : Structure – Conduct – Performance

· SOBEET : Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização

Econômica

· TDE : Teoria do Desenvolvimento Econômico

· UCLA : University of California, Los Angeles

· UNCTAD : United Nations Conference on Trade and Development

· WIR : World Investment Report

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- 15 -

RESUMO

A vantagem competitiva das nações. Apenas em seu título o tema já sugerediversidade de dimensões e possibilidades de análise dos aspectos que tornam um Estado - Nação ou uma região mais ou menos competitivo dentro de um determinado contexto econômico. Entrementes, da mesma forma que as dimensões de análise sãomulti-variadas, inúmeros são os questionamentos que acompanham essa temática tão intrigante. Em quais aspectos residiriam essa vantagem, ou quais fatores seriam decisivos na construção dessa vantagem. Certamente, as vantagens competitivas de países são um dos principais elementos em termos de alocação internacional da atividade econômica, atraindo fluxos de capitais. No caso do modelo de Michael Porter, o foco dessa dissertação, a competitividade é analisada em seus principais determinantes e seus inter-relacionamentos. O modelo é apresentado e criticado em suas deficiências e lacunas como um modelo insuficientemente explicativo dodesenvolvimento econômico.

Palavras-Chave: 1. Vantagem Competitiva 2. Desenvolvimento Econômico 3. MichaelPorter

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

- 16 -

ABSTRACT

The competitive advantage of nations. The theme already suggests diversity ofdimensions and many possibilities of analysis of the aspects that became a nation more or less competitive in a certain economical context. Meanwhile, in the same way the analysis dimensions are multi-varied, countless questions accompany such intriguing theme. In which aspects would lie those advantages, or which factors would be decisivein the construction of advantages. Certainly, the competitive advantages of countries are one of the main elements in terms of international allocation of economic activity and capital flows. In Michael Porter’s model, the focus of this work, the competitiveness is analyzed in their main determinants and their inter-relationships. The model is presented and criticized in their deficiencies and gaps not sufficient s an explanatory of aneconomic development model.

Key-words: 1. Competitive Advantage 2. Economic Development 3. Michael Porter

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

- 17 -

A P R E S E N T A Ç Ã O

O tema “Vantagem Competitiva” tem sido amplamente explorado nos últimos anos em

diversos trabalhos do meio acadêmico pelos estudiosos da área de economia e

administração. Várias vertentes teóricas e casos empíricos são exaustivamente

pesquisados desde a década de 60 e diversas questões políticas, econômicas e

organizacionais são analisadas. O trabalho de Michael Porter sobre vantagem

competitiva, aplicada a segmentos e setores, cuja abordagem trata do modo como

uma firma coloca em prática suas estratégias genéricas, tem ampla aceitação tanto

dentro quanto fora do meio acadêmico. Entretanto, quando o conceito de construção

de vantagens competitivas é aplicado ao desenvolvimento econômico de uma região

ou mesmo de uma nação, existem várias limitações e deficiências teóricas que o

modelo do “Diamante Nacional” de Porter carrega.

Esta dissertação apresenta-se em cinco capítulos, mais as considerações finais e

referências bibliográficas. O primeiro capítulo estabelece o referencial teórico e a

metodologia utilizada, definindo o objeto de estudo, as justificativas e os objetivos

desse trabalho, bem como as escolhas teóricas e metodológicas.

O segundo capítulo inicia a abordagem evolutiva teórica dos conceitos de vantagens,

analisando o Capitalismo como sistema de produção, passando por Adam Smith e

Ricardo, com seus conceitos de Vantagens Absolutas e Comparativas, e as teorias de

comércio internacional. O capítulo prossegue trabalhando os conceitos de região e

território sob a ótica econômica, enfocando as idéias de Alfred Marshall e seus

distritos industriais. Em seguida, ainda como precedente teórico à análise do modelo

de Porter, são identificadas as idéias sobre inovação tecnológica intercâmbio desigual

e a obtenção de vantagens. O capítulo encerra com a análise sobre competitividade,

seus conceitos e divergências.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

- 18 -

O terceiro capítulo aprofunda a análise da relação entre a obtenção de vantagens e o

processo de inovação, abordando o pensamento de Joseph Alois Schumpeter e os

neo-schumpterianos Rosenberg, Vernon, Freeman, Dosi e Nelson & Winter.

O quarto capítulo aborda os conceitos envolvidos na discussão sobre a construção da

vantagem Competitiva, trabalhando o conceito globalização sob a ótica de Chesnais e

o esforço teórico das últimas décadas nas teorias de produção internacional. O

capítulo detalha o modelo do Diamante Nacional elaborado por Michael Porter na

década de 90, analisando os determinantes: condições de fatores, condições de

demanda, indústrias correlatas e de apoio e estratégia, estrutura e rivalidade.

O quinto capítulo realiza a crítica ao modelo proposto por Porter à luz dos precedentes

teóricos estabelecidos nos capítulos anteriores. Além das teorias utilizadas, algumas

fragilidades intrínsecas do modelo são identificadas por outros teóricos, em especial

os artigos de John Dunnig e Rajneesh Narula e Omar Aktouf. É apresentado o modelo

IDP (Investment Development Path) construído por Narula a partir dos trabalhos de

Dunning.

Nas considerações finais, além do resgate dos principais pontos desenvolvidos a

cerca da crítica do modelo de Porter, levantam-se ainda algumas questões específicas

que merecem uma maior atenção nas pesquisas acadêmicas.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

- 19 -

1. REFERENCIAL TEÓRICO E METODOLOGIA

1.1- INTRODUÇÃO

O estudo sobre vantagem competitiva tem se transformado em um dos temas mais

intrigantes nas últimas décadas. Não apenas por nele estarem relacionados vários

conceitos, escolas de pensamento e ou correntes teóricas, mas, sobretudo, por ter

deixado o círculo acadêmico e se enraizado nas mais diversas áreas do conhecimento

humano e até mesmo no cotidiano das pessoas.

As novas dimensões adquiridas pelo tema proporcionaram sua popularização e em

certos aspectos sua vulgarização. Nos sítios de busca o tema é citado

aproximadamente 39 milhões de vezes (Google - 2006); e, conceitos como

competitividade, barreiras à entrada e inovação tecnológica, transbordam para áreas

como engenharia, saúde, ciências sociais, dentre outras. Essa generalidade excessiva

tem causado transtornos e pela falta de clareza gerando distorções dentro e fora das

escolas de pensamento.

Nessa miríade de conceitos, abordagens e visões, o objetivo desse trabalho é a

investigação do tema com um enfoque teórico econômico seletivo: sua origem,

evolução na teoria econômica, as diferentes abordagens das escolas de pensamento

e os conceitos atrelados. Será realizada uma aproximação histórica ao tema, iniciando

com as abordagens de Smith e Ricardo sobre as vantagens absolutas e comparativas

e chegando até as vantagens competitivas de Porter e seu modelo Diamante Nacional.

Nesse recorte, a vantagem competitiva, cujo conceito é uma construção com múltiplas

determinações, terá como ponto de partida os próprios clássicos e a formação dos

primeiros elementos que dariam forma, mais tarde, ao conceito de competição e

competitividade, até o modelo da nova organização industrial “new industrial

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

- 20 -

organization”, cujos trabalhos de Edward Mason e Joe Bain 1956 sobre a estrutura da

indústria “SCP – Structure – Conduct – Performance” foram os pioneiros.

Os trabalhos de Joseph A. Schumpeter e dos neo-schumpterianos são essenciais para

o entendimento da questão da competitividade e a criação de vantagens. É importante

salientar ainda dentre outros, os trabalhos de teóricos como Vernon (1966) destacando

a relevância dos fatores específicos nacionais (locais) na construção da Vantagem

Competitiva; Hymer (1960) que observou, na década de 50, um crescimento de

empresas americanas fora dos Estados Unidos e Pavitt (1987), Cantwell e Hodson

(1990), que procuraram identificar em suas pesquisas, as ligações existentes entre a

propensão das firmas em produzir fora de suas fronteiras nacionais e as condições

competitivas oferecidas.

Nesse contexto, Michael Porter tem sido um dos autores mais citados nas últimas duas

décadas tanto no meio acadêmico quanto nos círculos de negócio sobre o tema

Vantagem Competitiva, sendo seus estudos e proposições aceitos por determinadas

áreas ou correntes teóricas e renegados por outros autores ou teóricos. Os trabalhos

iniciais de Michael Porter tiveram como base alguns elementos característicos da nova

organização industrial, avançando seus estudos a respeito do tema Vantagem

Competitiva com o modelo de desenvolvimento econômico – Diamante Nacional, foco

de nossa análise.

Apesar de seu modelo de vantagem competitiva ser extremamente citado e utilizado

como instrumento de análise em diversos trabalhos acadêmicos no Brasil. Não se

encontram, em nível nacional, análises e críticas do modelo desenvolvido por Michael

Porter (Diamante Nacional), o que, no nosso entender, justifica a elaboração desse

trabalho.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

- 21 -

1.2 –A DEFINIÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

I. O Problema

Na concepção econômica neoclássica, a vantagem competitiva – resultados

consistentemente superiores à média, é um acidente excepcional, uma imperfeição

temporária do funcionamento dos mercados. O poder das forças de concorrência,

dirigido pela mão invisível dos mercados, tende a corroer todo o lucro acima da média

por meio de mecanismos de fluxo livre de capitais à procura da máxima lucratividade

(Vasconcellos, 2000). A partir dos anos 70, diversas correntes do pensamento

econômico abordaram a questão da vantagem competitiva utilizando abordagens

conceituais diferentes.

No final da década de 70 e início dos anos 80 o pensamento porteriano (Aktouf, 2002)

começou a influenciar os escritos, o ensino, as práticas e as consultorias em

administração. Tudo começou com um artigo que imediatamente suscitou diversos

admiradores. A partir de então, as idéias de Porter se tornaram, rapidamente, os

fundamentos obrigatórios de disciplinas nos cursos de graduação e pós-graduação

em Havard. Porter é autor de 17 livros e de mais de 90 artigos publicados pelas mais

prestigiosas revistas acadêmicas.

Segundo Aktouf o “porterismo” tornou-se mais do que uma simples teoria ou um

decálogo de normas para o uso de gerentes que querem crer-se estratégicos. Seu

modelo analítico passou a ser um molde generalizado de concepção e de análise, uma

visão do mundo, uma ideologia plena e inteira.

A problemática, a princípio, consiste em nos interrogarmos acerca dos atributos ou

fatores que fizeram as idéias de Porter adquirirem tanta relevância. Pode o modelo de

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

- 22 -

Porter de aquisição de vantagens competitivas pelas nações ser universal, válido em

todas as situações? Em que ele avança em relação às teorias anteriores e do que ele

não trata?

II. A pergunta

Quais são as lacunas teóricas que estão presentes no modelo teórico de Michael

Porter (Diamante Nacional) que trabalha com o conceito de Vantagem Competitiva,

tendo como fundamentos as teorias precedentes, em especial, o pensamento Neo-

schumpeteriano?

III. Os pressupostos

Michael Porter oferece a promessa de modelo de desenvolvimento econômico

baseado na construção de vantagens competitivas e uma explicação fundada sobre

uma estrutura teórica consistente e empiricamente verificável; capaz de prever o

comportamento das empresas, com isso conseguindo articular um influente paradigma

no campo da estratégia empresarial; sugerindo ainda que esse conjunto fatores,

adotados sistematicamente, fornecerá vantagem competitiva para regiões ou mesmo

países, sendo, assim, reconhecido como um modelo de desenvolvimento econômico.

Essa promessa apresenta-se convincente e crível pelo fato de Porter ter se utilizado de

conceitos e elaborações de outros teóricos da área que tratam sobre o tema e exposto

isso em uma formatação clara e acessível, tanto dentro como fora do meio acadêmico.

1.3 – AS JUSTIFICATIVAS

A ausência na literatura nacional de trabalhos críticos detalhados com foco (teses e

dissertações) no modelo de Michael Porter (Diamante Nacional – A construção de

Vantagens Competitivas) é a maior justificativa deste trabalho. A pesquisa tem o

propósito de identificar as principais lacunas e fragilidades apresentadas pela

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

- 23 -

argumentação de Porter na sua proposição de obtenção de Vantagens Competitivas,

através do seu modelo Diamante Nacional, como um paradigma de desenvolvimento

econômico.

Justifica-se também pela investigação dos conceitos de vantagens desde a origem

nos clássicos até as últimas correntes mais recentes (neo-schumpetrianos /

evolucionistas), verificando as fontes do desenvolvimento das idéias de Porter. Onde

buscou inspiração? Quem são os teóricos e as escolas de pensamento que ele

utilizou?

1.4 – OS OBJETIVOS

O propósito deste trabalho de pesquisa será analisar os determinantes que compõem

o modelo do “Diamante Nacional” de Michael Porter, à luz de teorias precedentes

(conceitos e escolas de pensamento) que tratam do tema Vantagens na Competição,

em especial a escola de pensamento neo-schumpteriano. Ao se proceder assim,

estar-se-ia verificando suas deficiências enquanto modelo de análise do

desenvolvimento econômico de nações ou regiões destacando as principais críticas

de acordo com o pensamento neo-schumpetriano, as de John Dunning e Rajneesh

Narula e Omar Aktouf.

1.5 – AS ESCOLHAS TEÓRICAS METODOLÓGICAS

I. O marco teórico

O tema Vantagem Competitiva possui uma ampla abordagem teórica que se origina

nas teorias econômicas e avança pelas teorias organizacionais. Segundo Aktouf

(2000), com seus diferentes enfoques, a teoria da vantagem competitiva trabalhada

por Porter pretende impor-se como articulação entre a política, a economia e a

administração. Entretanto, Aktouf adverte que este gênero de posicionamento em

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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relação às teorias mais gerais fica no nível dos aspectos secundários que não

acrescentam nada à questão da admissão ou da refutação do argumento central

dessa ou daquela concepção histórica, tornada clássica, e, portanto, inevitável.

Apesar desse aspecto geral identificado por Aktouf, a análise de Porter sobre a

vantagem competitiva utiliza elementos característicos da Nova Organização industrial

e da Teoria da Produção Internacional. Desse modo o escopo do projeto inicia-se com

uma evolução do conceito de vantagens absolutas e relativas de Smith e Ricardo

(Vantagens Comparativas), passando por Schumpeter (A inovação e papel do

empreendedor e a questão do crédito), a abordagem marxista sobre a assimetrias e a

construção de vantagens, Vernon e os Neo-schumpterianos e as mudanças

tecnológicas (Freeman, Nelson, Winter e Dosi). Ressalta-se ainda os trabalhos

recentes de Rosemberg, Perez & Soete sobre inovação e mudança tecnológica

vinculadas ao desenvolvimento econômico.

II. Revisão da Literatura - Breve histórico das Escolas de Pensamento

Econômico

O estudo da teoria da Economia Industrial, ao longo do tempo, não deixa margem à

dúvida quanto ao fato de que ela evoluiu com a época, o desenvolvimento tecnológico

e as ideologias vigentes em cada período, limitada pelas circunstâncias históricas de

cada momento.

Os primeiros pensadores econômicos a formularem uma literatura de maneira

ordenada e lógica sobre o sistema econômico, tentando explicar o funcionamento das

leis econômicas e do cenário institucional no qual deveriam funcionar, foram os

fisiocratas, cujo principal representante era François Quesnay.

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Apesar dos grandes avanços dos estudos no setor agrícola, suas idéias ainda não

consideravam como relevantes, no contexto econômico, as unidades de produção

industrial que se encontravam na etapa do artesanato ou da manufatura, mas

valorizavam as atividades econômicas defendendo, o laissez faire e o laissez passer

(plena liberdade na produção e na distribuição).

Os fisiocratas abordavam todos os problemas sob o ângulo de seus efeitos na

agricultura. Eles argumentavam ser a terra a única fonte de riqueza, e o trabalho na

terra o único trabalho produtivo. As demais atividades, como a indústria e o comércio,

embora necessárias, não faziam mais que transformar ou transportar os produtos da

terra.

Posteriormente, com a ascensão da produção industrial durante a Revolução Industrial

na Inglaterra, desenvolveu-se uma nova ideologia que trouxe consigo teorias

econômicas baseadas no liberalismo clássico. Formularam-se, assim, uma série de

doutrinas que eram as "Leis Naturais da Economia".

Estas idéias eram baseadas nos fundamentos da doutrina do Laissez-Faire, segundo

o qual caberia aos governos assumirem funções de apoio às atividades lucrativas,

sem qualquer interferência nos demais assuntos econômicos. Seguindo esta linha de

pensamento estão os estudos desenvolvidos por Adam Smith, Ricardo, Malthus, Say.

Desse processo estruturado de análise da atividade econômica aparecem os

conceitos de vantagens.

Suas concepções teóricas estavam baseadas nas profundas transformações

ocorridas no ambiente econômico, caracterizado por uma divisão social entre o campo

e as atividades manufatureiras e terciárias, bem como uma dinamização dos

relacionamentos setoriais. Assim sendo, a economia adquire um caráter científico na

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medida em que seus representantes passam a centralizar a abordagem teórica na

questão do valor, cuja fonte original era o trabalho.

Adam Smith desenvolveu suas idéias dentro do marco do liberalismo, analisando a

situação das empresas perante o mercado, procurando explicar a formação de preços

pelas firmas com base em duas formas de organização do mercado: a Concorrência

Perfeita e o Monopólio. No sistema de Concorrência Perfeita, a empresa tem seus

preços determinados pelo mercado, através das relações entre oferta e procura, e este

preço, por sua vez, determina a produção, os custos e o lucro. Já no monopólio, a

empresa tem certo poder de determinação de preços, que se situam acima dos

preços determinados no mercado de livre concorrência.

Para David Ricardo, o livre jogo do mercado, ou seja, a lei da oferta e da procura,

assegurava não só o equilíbrio econômico, mas também o equilíbrio entre as três

classes da sociedade (proprietários fundiários, proprietários de capitais e

trabalhadores), mesmo que seus interesses pareçam contraditórios, levando ao

equilíbrio também entre nações, com o jogo dos custos comparativos e da

especialização garantindo o interesse recíproco de todos (Vantagens Comparativas).

Outro teórico clássico, Jean Baptiste Say, analisando a produção de riquezas,

desenvolve o conceito de indústria, salientando os diferentes tipos de indústria e como

elas concorrem para a produção. "Define três tipos de indústrias: a) indústria agrícola,

quando esta se limita a colher os produtos da natureza; b) indústria manufatureira,

quando ela separa, mistura e modela os produtos da natureza para adaptá-los a

nossas necessidades; c) indústria comercial ou comércio, quando coloca à nossa

disposição os objetos de que necessitamos e que, não fosse ela, estariam fora de

alcance".

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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A partir de 1870, com as contribuições de Stuart Mill, Marshall, Jevons e outros, são

desenvolvidas novas teorias de determinação de preços como tópico básico para a

compreensão da alocação de recursos. Estas idéias, denominadas neoclássicas,

seguem os preceitos clássicos do comportamento das firmas em relação ao mercado,

acrescentando outros elementos quanto ao comportamento da firma em relação às

suas decisões de produção.

O tema central da teoria neoclássica passou a ser a sua maneira de analisar a teoria

dos preços, fundamentada em uma teoria de valor baseada nos conceitos de utilidade,

como elemento essencial na tomada de decisões das firmas. A firma ou empresa,

desta forma, consiste em uma unidade primária, a partir da qual os recursos são

organizados com o fim de produção em busca da maximização dos lucros.

A análise da escola neoclássica caracteriza-se fundamentalmente por ser

microeconômica, baseada no comportamento dos indivíduos e nas condições de um

equilíbrio estático, estudando os grandes agregados econômicos a partir desse ponto

de vista. Tem como postulado a concorrência perfeita e a inexistência de crises

econômicas, admitidas apenas como acidentes ou conseqüências de erros.

A teoria da firma desenvolvida sobre o enfoque neoclássico, descreve o equilíbrio da

firma como função de ajustes em termos de variações em unidades produzidas (Teoria

da Produção) e de custos (Teoria dos Custos). Neste sentido, em concorrência

perfeita, o nível de produção da empresa se situaria no ponto onde os custos

marginais se igualam ao preço, assegurando lucros normais para a firma. E no

Monopólio, no ponto onde os custos marginais se igualam às receitas marginais, com

a conseqüente maximização dos lucros.

Uma outra visão derivada da clássica foi desenvolvida por Marx, e continuada por seus

seguidores denominados "Socialistas Científicos". Estes pensadores voltaram suas

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observações para a Economia Industrial analisando o processo de acumulação de

capital no sistema capitalista, mostrando haver uma correlação entre a crescente

acumulação e concentração de capital e a pauperização relativa da classe operária, o

que levaria a contradições básicas do sistema.

A partir de meados da década de vinte do século passado, a teoria econômica

tradicional - a neoclássica, preocupada particularmente com a determinação de uma

posição de equilíbrio no âmbito da firma e do sistema econômico e com as premissas

de concorrência perfeita, passou a ser questionada. A suposição de maximização de

lucro como meta única do comportamento empresarial não se mostrava mais suficiente

para explicar o comportamento gerencial voltado para outros objetivos que não o lucro.

Com base nesta lógica, as críticas à análise neoclássica trouxeram uma nova visão

sobre a determinação de preços, ao questionarem as premissas básicas da

concorrência perfeita e a existência de apenas duas formas de organização do

mercado propostas pelos clássicos.

Grande parte das pesquisas foi desenvolvida com a proposta de definir melhor o

mercado, buscando uma renovação das análises sobre o tipo de organização. Alguns

autores como Sraffa criticam a economia neoclássica e os preceitos da concorrência

perfeita, questionando a sua não aplicabilidade a qualquer mercado real e salientando

a força do hábito, o conhecimento pessoal, a quantidade de produto, a proximidade do

vendedor, a existência de necessidades particulares, o prestígio de uma marca e

outros, como fatores que influenciam a decisão do consumidor, levando-o a preferir um

vendedor em detrimento de outro.

Simultaneamente surgem as teorias da concorrência imperfeita e monopolística que

emergem dos trabalhos de Robinson e Chamberlin, criticando também a concorrência

perfeita e salientando estas novas formas de competição, como conseqüência do grau

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de diferenciação do produto das firmas, e pela ligação destas à grupos de

compradores por algo mais que o preço, assim como: localização do vendedor, marca,

custos de transporte e publicidade.

Neste contexto surge o enfoque de Schumpeter, que procura romper com a principal

coluna de sustentação da teoria neoclássica: a noção de equilíbrio de mercado. De

acordo com a teoria schumpteriana, há um constante desequilíbrio micro e

macroeconômico decorrente dos esforços inovativos dos agentes em concorrência

(Possas, 1996). Esse novo enfoque traz de volta ao debate as vantagens competitivas

e sua relação com o processo de desenvolvimento econômico. Às visões de

Schumpeter somaram-se outras como as de Bain, Labini, etc... que ajudaram a

entender melhor o sistema capitalista contemporâneo.

De fato, a ênfase na interdependência, no conceito de indústria como um número de

concorrentes com produção de mercadorias que são substitutas próximas entre si,

configurando homogeneidade ou diversificação e o questionamento da livre entrada,

associado aos desequilíbrios do mercado, redundaram num processo de centralização

e concentração de capitais que propiciou o crescimento das empresas e a formação

de mercados com pequeno número de rivais entre si - o oligopólio.

A partir de então, os estudos passaram a enfatizar o conceito de firma como uma

organização em crescimento com outros atributos dinâmicos, além dos representados

pelas curvas de custos e rendimentos, ou por um equilíbrio baseado nas decisões

sobre preço e produção.

Os aspectos relacionados à organização interna e à estratégia de comportamento da

empresa assumem relevância. De igual importância, as características da estrutura de

mercado e o seu embasamento, principalmente em pesquisas empíricas e estudos

econométricos, assumem um papel preponderante. Dentre estas, são típicas as

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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seguintes: concentração de mercado, substitutibilidade de produtos, as questões da

dimensão das empresas e aquelas relacionadas à entrada potencial de novos

competidores limitada por barreiras à entrada de novas firmas. Constituindo-se todos

esses elementos como fatores importantes na construção de vantagens no processo

concorrencial.

Adicionalmente, podem-se incluir as estruturas de custo, a integração vertical e o grau

de conglomeração como elementos constitutivos da estrutura de mercado,

caracterizada como o primeiro elo na cadeia de causalidade do modelo de Estrutura-

Conduta-Desempenho, modelo este que passou a ocupar o posto de paradigma

teórico por excelência das teorias microeconômicas auto-rotuladas como

verdadeiramente preocupadas com as questões práticas ligadas às empresas, à

indústria e aos mercados.

Desta forma, a abordagem da Organização Industrial ou Economia Industrial consolida-

se como uma disciplina da Ciência Econômica sob o paradigma Estrutura-Conduta-

Desempenho. A formulação pioneira desta metodologia foi de Joe S. Bain (1959),

tendo como ponto central o relacionamento entre a organização e a indústria, sendo

que a estrutura da indústria determina os retornos das organizações que nela estão

inseridas. Os autores desta abordagem consideram que a conduta da organização e o

seu desempenho resultam diretamente das características da estrutura da indústria.

Finalmente, na década de 70, surgiram novas análises que se adicionaram aos

estudos anteriores sobre a estrutura e o desempenho das indústrias, destacando-se

duas linhas de pensamento que ganharam influência na moderna economia industrial:

as análises de Chicago - UCLA, sustentando a possibilidade de se manter a

estabilidade de uma economia capitalista apenas por meio de medidas monetárias,

baseadas nas forças espontâneas do mercado. Suas teorias baseiam-se na teoria

Quantitativa da Moeda, formulada por meio de uma equação que estabelece uma

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relação entre preços, o número de transações e o volume de dinheiro e sua velocidade

de circulação na economia, e a teoria da Contestabilidade, desenvolvida pela escola

da Contestabilidade de Baumol-Bailey-Willig.

Simultaneamente à estas vertentes referidas, surge uma nova corrente alternativa de

análise da organização industrial baseada na Teoria dos Jogos, formulada a partir de

um comportamento de equilíbrio da firma onde esta ajusta quantidades, preços e

outras variáveis, de forma cooperativa ou não, basicamente ligada aos primórdios das

teorias do oligopólio, deixando de lado as premissas do modelo Estrutura-Conduta-

Desempenho. Vale registrar ainda o surgimento da escola neo-schumpteriana,

derivada do pensamento de Joseph Alois Schumpeter, cuja atenção principal volta-se

para o processo de inovação tecnológica e sua correlação com o desenvolvimento

econômico. Outras escolas recentes aparecem nas últimas décadas, com destaque

para a corrente regulacionista e os neo-institucionalistas.

III. Nova Organização Industrial / Teoria da produção internacional

Segundo Dunning (1990), a Teoria da Produção Internacional tem chegado a algum

grau de maturidade nos últimos 30 anos, na tentativa de oferecer uma explicação geral

para as atividades que possam agregar valor em empreendimentos externos

efetivados pelas firmas. O autor observa que, de certa forma, já é amplamente aceito,

na teoria econômica, que a maior ou menor propensão para uma firma produzir fora de

suas fronteiras nacionais, está relacionada a três importantes aspectos: primeiro à

capacidade em obter e trabalhar determinados fatores e ativos, tais como tecnologia,

capacidade organizacional, empreendedorismo, acesso a mercados, etc...; segundo à

capacidade própria de agregar valor e lucratividade à esses ativos e fatores; e terceiro

à possibilidade das firmas estarem relacionadas à atividades agregadoras de valor

(cadeia de valor), sejam através de firmas locais ou não.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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O consenso em torno desse entendimento tem sido bastante útil para a compreensão

das atividades das empresas transnacionais, mas não o suficiente para fornecer

subsídios para a análise do IED (Investimento Externo Direto). Para tanto, faz-se

necessário uma nova teoria que possa combinar as vantagens competitivas das

firmas, com as vantagens nacionais oferecidas dentro de um cenário internacional

caracterizado por uma ampla movimentação de capitais.

Vários pesquisadores têm buscado formular conceitos teóricos que possam explicar a

origem e o crescimento da produção internacional e as atividades empresariais

internacionais, principalmente no que diz respeito às possíveis explicações ou

justificativas em relação aos investimentos privados externos. Entretanto, as diversas

tentativas, muitas vezes, não conseguem explicar ou identificar os elementos que, em

seu conjunto, podem levar à construção de uma teoria que encorpe os diversos

comportamentos estratégicos das firmas, em um determinado período de tempo e

espaço.

Dunning considera que a diversidade de teorias que surge, com a expectativa de

explicar tais fenômenos, advêm do próprio processo de amadurecimento que a teoria

econômica vêm realizando nessa área nas últimas décadas. O autor aponta que

algumas teorias tiveram um poder explicativo válido por um determinado período de

tempo, mas que as relações empresariais internacionais e os cenários mundiais

transformaram-se tão rapidamente, que colocaram por terra seus pressupostos. Além

disso, é importante observar que as teorias mais recentes abordam esse fenômeno

sob diferentes aspectos, tentando investigar características como causalidade,

processos envolvidos, ou mesmo possíveis externalidades que estejam atreladas ao

objeto de estudo. As escolas e os teóricos buscam contribuir, analisando diferentes

modalidades e dimensões que a produção internacional possa assumir, e isso tem

colaborado no processo de amadurecimento da teoria econômica.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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Os trabalhos acadêmicos dos últimos anos têm procurado explicar o crescimento da

produção internacional, tendo como ponto de partida a firma (uma entidade

organizacional). Dunning ressalta a importância de ser dada maior atenção ao

ambiente econômico internacional, em especial, à dinâmica estabelecida entre as

vantagens competitivas das firmas e as vantagens nacionais oferecidas pelos países.

É importante salientar o esforço teórico efetivado nos últimos trinta anos com o intuito

de sistematizar uma explicação satisfatória a respeito do fenômeno da produção

internacional. Inicialmente, ainda na década de 60, devem ser destacadas as

pesquisas de Stephen Hymer (1960) que observou, na década de 50, um crescimento

nas atividades das firmas americanas fora dos Estados Unidos, em especial no

Canadá e na Europa, e concentrado em setores industriais.

Seus estudos nesta época ainda estavam fundamentados na explicação tradicional da

movimentação internacional de capitais (diferença de taxas entre países), e o autor não

demonstrou preocupação com o financiamento das atividades das firmas. Hymer, em

sua análise, utilizou-se, também, dos estudos de outro teórico importante nessa área,

Joe Bain. As pesquisas sobre barreiras a entrada de Bain (1956), possibilitaram a

identificação de alguns elementos (custos absolutos, economias de escala, fatores de

produção, fatores de mercado, etc...) que facilitariam ou dificultariam as empresas

penetrarem em determinados mercados.

Outra importante contribuição nessa área foi feita por Raymond Vernon (1966). Em seu

trabalho, o autor, destaca a importância dos fatores específicos nacionais (locais) que

influenciam tanto a questão da competitividade das firmas bem como sua capacidade

de agregar valor à suas atividades. Em seu trabalho, Vernon (1979) destaca que, para

uma completa explicação sobre a produção e comercialização internacional, a teoria

deve considerar elementos como as vantagens que autorguem maior capacidade de

competir às firmas e nações.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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Na década seguinte as pesquisas de Hymer e Vernon sobre a produção internacional

tiveram quatro importantes desdobramentos, quase todos baseados na continuidade

de pesquisas de firmas americanas instaladas em outros paises. Autores como Pavitt

(1987), Cantwell e Hodson (1990) procuraram identificar em suas pesquisas, as

ligações existentes entre a propensão das firmas em produzir fora de suas fronteiras

nacionais e as condições competitivas oferecidas por determinados setores de um

país. Vários estudos, principalmente estudos comparativos, são desenvolvidos com o

intuito de analisar as similaridades de comportamentos dos mercados, o

desenvolvimento de padrões em setores e entre firmas, a formação de oligopólios, ou

até mesmo as condições pré-existentes em países desenvolvidos (vantagens) que

seriam atrativas, para as atividades das empresas transnacionais.

Observa-se que, com a evolução dos estudos econômicos sobre a produção

internacional, surge um novo enfoque de análise que passa a identificar a firma não

apenas como um agente de transação no mercado, porém como uma entidade

organizacional estratégica (produtora de valor), assumindo, por vezes, o papel de

agente organizador, tendo, com isso um papel diferenciado na teoria da produção

internacional. A década de 70 é caracterizada, também, por uma forte mudança na

teoria organizacional. O surgimento de novos modelos de gestão e estruturas

organizacionais dá novos contornos e uma maior complexidade de análise à teoria da

administração. Vários teóricos, na área econômica, começam a investigar a questão

do comportamento estratégico das firmas e suas ilações com as atividades

internacionais e o comportamento dos mercados.

È importante salientar, que, ainda na década de 70, o sistema capitalista passa por

mais uma forte crise, caracterizada pelo fim do padrão de desenvolvimento pós-guerra:

o fordismo. A aceleração das taxas de inflação, a estagnação da produtividade, a

redução dos níveis de crescimento, a elevação dos defict públicos e o aumento do

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desemprego são alguns dos elementos que retratam esse momento de crise nos

países centrais desenvolvidos.

Filgueiras (1997) identifica alguns elementos que exercem importante papel nesse

cenário de alterações das relações econômicas, políticas e sociais mundiais. Dentre

os elementos expostos pelo autor, deve ser destacado o processo de reestruturação

produtiva dos anos 70. A reestruturação aparece como resposta à crise econômica

enfrentada pelos países centrais e propicia mudanças estruturais no âmbito da

produção e do trabalho, em que duas perspectivas centrais podem ser analisadas.

Sob a perspectiva setorial, pode-se identificar uma reorganização e reorientação dos

setores industriais, com a realização de investimentos em setores de ponta

(informática, química fina, biotecnologia e telecomunicações), a modernização de

setores dinâmicos (automobilístico, máquinas e equipamentos e petroquímica) e o

declínio de setores tradicionais (têxtil e siderurgia). Sob a perspectiva de processo de

trabalho, verifica-se a adoção de um novo paradigma tecnológico e organizacional,

com a migração do uso de tecnologias de base eletromecânicas para tecnologias de

base micro-eletrônicas e a utilização de novos esquemas de gestão e organização do

trabalho.

IV. Quadro teórico de referência - Michael Porter na literatura econômica

No final da década de 70 e início da década de 80, a crise apresentada pelo

capitalismo começa a apresentar reverberação no meio acadêmico e começam a

surgir teorias, sobre a produção internacional, mais orientadas por aspectos tais como:

o uso da tecnologia e a dinâmica do processo de inovação.

Os novos estudos apontam para uma preocupação em analisar os aspectos dinâmicos

da atividade empresarial multinacional e suas alterações ao longo do tempo. Os

trabalhos de Michael Porter (1986) e Bruce Kogut (1985) procuram identificar o papel

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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central desempenhado pelas vantagens competitivas oferecidas pelos países

(recursos, mercados, instituições, etc...), em relação à propensão das firmas em

empreender e inovar fora de suas fronteiras. Nesse novo enfoque, as vantagens

competitivas das firmas devem ser algo a ser explicado pela teoria, e não mais visto

como um aspecto a ser tomado.

Porter (1986) tenta distinguir cuidadosamente quais são as variáveis específicas da

firma e dos países que influenciam no processo de globalização. Além disso, Porter,

em seu livro Competition in Global Industries, identifica três grupos de produtores

internacionais: No primeiro grupo estariam as firmas domésticas que possuem

orientação para o mercado externo (exportações). No segundo grupo, Porter classifica

as firmas multinacionais que possuem bases externas (exercem atividades com valor

agregado) em diversos países, porém possuem uma gestão individualizada em cada

país. E no terceiro grupo estão as firmas globais, em que suas posições competitivas

em cada país são afetadas pelo seu posicionamento em outros países, necessitando,

dessa forma, uma coordenação global de suas operações.

Dunning (1990), observa que mesmo as teorias nas quais as vantagens nacionais

assumem um papel relevante como elemento explicativo da produção internacional,

dedicam pouca atenção ao modo como as vantagens competitivas nacionais afetam e

são afetadas pelo comportamento e pelas estratégias adotadas pelas firmas para

produzir e comercializar produtos e serviços fora de suas fronteiras nacionais. Esta

interface dinâmica entre os elementos formadores das vantagens competitivas das

firmas e dos países será, inequivocamente, tema para novas abordagens na teoria da

produção internacional.

V. Porter e a Vantagem Competitiva do Estado

Em sua abordagem de 1986, Porter evidencia que as visões econômicas tradicionais

(Teoria Neoclássica), que definem competitividade como uma questão de preços,

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custos, taxas de câmbio dentre outros elementos, estão aparentemente superadas.

Essa concepção levou vários países a manipularem tais fatores na expectativa de

conseguirem vantagens no processo de competição global. Entretanto os exemplos do

Japão e da Alemanha corroboram inversamente às expectativas dessa teoria.

Ademais, notadamente a busca de uma significação para competitividade baseada

unicamente através de uma característica isolada, pode levar a uma falsa interpretação

da realidade. O conceito de competitividade e a busca dessa vantagem, seja dentro

da empresa ou por uma atratividade demonstrada por um Estado ou nação, reside,

fundamentalmente, nos ganhos de produtividade e nos valores agregados disponíveis

no processo produtivo e social. Verificar os determinantes dessa produtividade e o seu

real crescimento em um determinado período de tempo, constitui-se uma das mais

importantes tarefas na análise do desenvolvimento econômico.

Nesse momento vale ressaltar, também, as diferenças entre vantagem comparativa e

vantagem competitiva. A Teoria das Vantagens Comparativas de Ricardo (1988),

trabalhada posteriormente por Heckscher e Ohlin (1933), baseia-se na idéia que todas

as nações têm tecnologia equivalente, mas diferem na disponibilidade dos chamados

fatores de produção, como terra, mão-de-obra, recursos naturais e capital. Esses

elementos, indissociáveis do processo produtivo, foram importantes no entendimento

da busca de vantagens tanto entre nações como entre empresas. A otimização dos

fatores de produção visando a redução dos custos e o aumento da produtividade foi

essencial em termos de competitividade empresarial. Entretanto a necessidade de

extrapolar a utilização de mecanismos que busquem um incremento ainda maior na

produtividade das empresas, e que contemplem outros fatores também integrantes da

competição, fizeram com que a Teoria da Vantagem Comparativa não fosse suficiente

para explicar a evolução da competição real. Não incorporar elementos como a

definição de estratégias próprias e individualizadas, a movimentação de capital e

recursos humanos e tecnologia entre localidade e organizações, coloca limitações à

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teoria das vantagens comparativas com relação a uma explicação lógica dos novos

cenários competitivos e às rápidas modificações tecnológicas e econômicas.

Ademais as vantagens comparativas podem apenas constituir-se em vantagens

passageiras ou vulneráveis. Os custos dos fatores podem ser modificados

rapidamente através da utilização de novas tecnologias. Os subsídios governamentais

podem tornar empreendimentos viáveis ou não por determinado período de tempo. Os

baixos custos de trabalho podem ser modificados de uma região para outra através

dos processos de deslocamentos intensivos. A facilidade de manipulação desses

fatores como diferencial para a competição tem fomentado diversas regiões a

disputarem e atraírem indústrias para implantarem novos empreendimentos locais.

O novo cenário econômico tem diminuído a importância dos custos desses fatores

principalmente em indústrias que utilizam intensivamente tecnologia sofisticada e mão-

de-obra altamente especializada. A utilização de novas tecnologias possibilitou às

empresas ter capacidade de compensar os fatores escassos, por meio de novos

produtos e processos. Entretanto essa análise deve ater-se a determinados

segmentos industriais que podem prescindir desses fatores. Paralelamente a

utilização de tecnologias avançadas diminuindo o papel dos fatores, liberta as

empresas da necessidade de instalação de suas bases em localidades específicas.

Com o fenômeno da globalização da economia e a internacionalização das empresas

seria lógico concluir, então, que, à primeira vista, o Estado perdeu sua importância no

sucesso empresarial das organizações. Entretanto, a realidade tem demonstrado que

essa conclusão pode ser precipitada na medida que tem sido cada vez mais relevante

e estratégica a escolha da localização dos novos empreendimentos empresariais.

Parece lógica a importância de modelos de análise que abordem essas questões e

tentem fornecer um entendimento para as novas perguntas que se apresentem na

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

- 39 -

ordem do dia: Quais são os novos determinantes de competitividade para um Estado?

Quais características verdadeiramente podem responder e explicar a consolidação de

um Estado ou Nação que possui vantagens que sejam fomentadoras de um

desenvolvimento econômico estruturado e sustentável? É certo que além dos fatores

econômicos trabalhados pela Teoria da Vantagem Comparativa, novos elementos tais

como diferentes estruturas econômicas, valores, culturas instituições e histórias

nacionais irão também ser preponderantes no entendimento da construção de

vantagens competitivas nos Estados ou Nações? Michael Porter tenta dar essas

respostas através de seu modelo de análise - Diamante Nacional.

Modelo de análise da Pesquisa

VANTAGEM COMPETITIVA: PRECEDENTES TEÓRICOS DA ANÁLISE DODIAMANTE NACIONAL DE PORTER

Conce

ito T

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rios e regiões

Assim

etrias e Intercâmbio D

esigual

Valorização do C

apital

Teorias da produção internacional

Globalização

Mundialização do C

apital

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

- 40 -

PRECEDENTESTEÓRICOS

PRECEDENTESTEÓRICOS

Figura 01. Modelo de Análise. Fonte: Elaboração própria.

O projeto de pesquisa utilizará no seu modelo de análise (figura 01) o conceito central

de Vantagem Competitiva. Alinhado ao conceito central será analisado o modelo

teórico do Diamante Nacional de Michael Porter, que tenta ser um modelo de

desenvolvimento econômico baseado na construção de Vantagens Competitivas para

um Estado ou Nação.

Dentro de seu modelo (figura 02) analisaremos seus determinantes e os conceitos

mais importantes que contribuem para o entendimento do modelo e as críticas das

VantagemCompetitiva

DiamanteNacional

Vantagens Absolutas – AdamSmith

Vantagens Comparativas – Ricardo

Teorias do Comércio Internacional

Con

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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idéias de Porter em sua explicação da Construção das Vantagens Competitivas, à luz

das teorias precedentes.

Figura 02: Diamante Nacional - Sistema Completo. Fonte: Extraído do livro Vantagem Competitiva das Nações.

VI. Os procedimentos, técnicas e delimitação do universo de pesquisa

Esta pesquisa foi desenvolvida mediante revisão bibliográfica abrangendo

publicações nacionais e internacionais e trabalhos acadêmicos inéditos (Teses e

Dissertações produzidas no país) que versam sobre o tema e adotou os seguintes

procedimentos: 01) Revisão da literatura econômica que tratam sobre o tema

Condições defatores

Estratégia, Estrutura e

Rivalidade dasempresas

IndústriasCorrelatas e

de apoio

Condições dedemanda

Ação dogoverno

Acaso

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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Vantagens Competitivas, desde a abordagem clássica até a escola de pensamento

neoschumpetriana; 02) Identificação e análise do conceito de competitividade e seus

elementos; 03) Inserção de Porter na literatura econômica com a apresentação do

modelo de análise do Diamante Nacional como modelo de desenvolvimento

econômico através da construção de vantagens competitivas; 04) Identificação dos

seus principais determinantes do modelo à luz literatura revisitada; 05) Verificação da

origem das idéias e conceitos utilizados pelo autor dentro da teoria econômica, e; 06)

Crítica do modelo sob a ótica das escolas de pensamento econômico, em especial a

visão neo-schumpeteriana.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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”Não só o trabalho aplicado diretamente às mercadorias afeta o seu valor, mas

também o trabalho gasto em implementos, ferramentas e edifícios que contribuem para

a sua execução ”

David Ricardo, 1823

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Modelo do Diamante Nacional de Porter

2. DA VANTAGEM COMPARATIVA À COMPETITIVA

2.1 - O Capitalismo como começo

2.1.1 - O sistema de produção capitalista

Quando são tratados os temas Vantagens Absolutas, Vantagens Comparativas ou

Vantagens Competitivas é preciso entender antes um pouco em que contexto histórico

esses temas são propostos e seus conceitos construídos. Para tanto, mister se faz

uma síntese da origem do sistema de produção capitalista, bem como de algumas de

suas características e sua evolução. O Capitalismo como sistema econômico, político

e social dominante surgiu muito lentamente, num período de vários séculos, muito

antes das tentativas de compreensão de Adam Smith. Embora não haja concordância

entre os economistas e historiadores de economia sobre quais as características

essenciais desse sistema, podem-se identificar quatro conjuntos de esquemas

institucionais e comportamentais (Hunt, 1985): produção de mercadorias, orientada

pelo mercado; propriedade privada dos meios de produção; um grande segmento da

população que não pode existir a não ser que venda sua força de trabalho no mercado;

e comportamento individualista, aquisitivo, maximizador, da maioria dos indivíduos

dentro do sistema econômico.

Antes de identificar, de forma sintética, as características do Capitalismo, é importante

observar que um dos elementos centrais desse sistema, embora não exclusivo, foi sua

capacidade de produzir excedentes sociais. Na evolução histórica da economia

capitalista, a maioria das pessoas, em cada sociedade, trabalha para produzir o

necessário para sustentar e perpetuar o modo de produção, bem como o excedente

social, enquanto uma minoria se apropria deste excedente e o controla.

Segundo Hunt, a primeira característica definidora do capitalismo relaciona o valor de

uso e o valor de troca dos bens produzidos. A produção de mercadorias existe,

enquanto sistema, desde que os produtos são fabricados pelos produtores sem

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qualquer interesse pessoal imediato em seu valor de uso (quando uma mercadoria é

avaliada por seu uso na satisfação pessoal das necessidades), mas, sim em seu valor

de troca (os produtos têm valor porque podem ser trocados por moedas). Dessa

forma, a produção de mercadorias não é um meio direto de satisfação de

necessidades, mas sim um meio de adquirir moeda pela troca de produtos por moeda.

A segunda característica é a propriedade privada dos meios de produção. Essa é

expressa pelo direito que a sociedade facultou a determinadas pessoas de determinar

como matérias-primas, ferramentas, maquinaria, etc.., seriam utilizados. Essa

característica permitiu ao sistema capitalista a apropriação do excedente social1. A

propriedade se concentra na mão de um pequeno segmento da sociedade – os

capitalistas, que por sua vez, não precisava desempenhar qualquer papel direto no

processo produtivo, de modo a controlá-lo, pois a propriedade lhe dava esse controle.

A terceira característica, decorrente da propriedade privada dos meios de produção, é

que a maioria dos agentes no processo produtivo, já que não são proprietários dos

meios de produção, devem vender sua força de trabalho para que possam sobreviver

dentro do sistema. Na relação entre proprietários dos meios de produção, capitalistas,

e a classe trabalhadora que oferece sua força de trabalho, é estabelecido um elo de

dominação entre classes. Desse modo, diferente de qualquer outro sistema produção

anterior, o Capitalismo faz da força produtiva humana uma mercadoria em si mesmo –

força de trabalho – e gera um conjunto de condições pelas quais a maioria das

pessoas não pode viver, a não ser que elas sejam capazes de vender a mercadoria de

que são proprietárias – a força de trabalho – a um capitalista, em troca de um salário.

Com este salário, podem comprar dos capitalistas somente uma fração das

mercadorias que eles mesmos produziram. O restante das mercadorias que

produziram constitui o excedente social e é retido e controlado pelos capitalistas. A

1 - É importante lembrar que a transição do sistema feudal para o capitalista tem como mudança essencial à desvinculação de um sistema paternalista, baseado em crenças e tradições medievais para uma situação onde direitos e deveres eram expressos através de contratos.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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quarta e última característica é a de que a maioria das pessoas é motivada por um

comportamento individualista, aquisitivo e maximizador.

A saída do sistema medieval para o sistema capitalista é marcada por uma

significativa mudança nas relações de produção. Os costumes e a tradição eram a

chave das relações no feudo, no qual à vontade do senhor feudal prevalecia sobre as

demais (lavradores, servos, comerciantes, etc...), não havendo um poder central que

pudesse impor um sistema de leis. Em troca, o senhor feudal fornecia proteção,

supervisão e administração da justiça; já no sistema capitalista a lógica é baseada no

cumprimento de leis de caráter universal e contratos.

Vários fatores foram responsáveis pelo processo de transição do sistema de produção

medieval para o capitalista, entretanto vale destacar uma alteração que teve forte

impacto e que propiciou uma sucessão de modificações nas atividades produtivas

exercidas pela sociedade medieval2. Segundo Hunt, na Idade Média a hierarquia

social era baseada nos laços do indivíduo com a terra e o sistema social por inteiro

repousava em base agrícola. Era de se supor, então, que qualquer alteração na base

agrícola obtivesse desdobramentos significativos em toda a sociedade da época3.

Dessa forma, o mais importante avanço tecnológico4 da Idade Média, com

significativos impactos econômicos e sociais, foi a substituição do sistema de plantio

de dois campos para o sistema de três campos. Essa mudança no processo de

plantio com a introdução de uma rotação de cultivos e períodos de descansos fizeram

2 - Segundo Hunt, outras forças de mudança também foram instrumentais na transição para o Capitalismo. Entre estas estava o despertar intelectual do século XVI, o período de grandes descobertas e novas rotas de navegação (Índia, África e Américas), o fluxo de metais preciosos para a Europa, etc...

3 - Para maiores esclarecimentos sobre a passagem da agricultura medieval para a agricultura capitalista ver BAIARDI, A. . MUDANCAS TECNICAS NA AGRICULTURA MEDIEVAL E O PROCESSO DE TRANSICAO PARA O CAPITALISMO. OPS, v. 2, n. 8, p. 13-19, 1997.

4 - Nesse período não é dado à tecnologia qualquer tratamento teórico especial, ao passo que a acumulação de capital, o crescimento da população e os recursos naturais é que terão um significado muito mais ativo que a qualquer mudança tecnológica.

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com que a agricultura medieval ganhasse maior eficiência e produtividade. Ainda

segundo Hunt, o sistema de três campos proporcionou outras mudanças importantes:

[...]Plantações de aveia e forragem, na primavera, permitiam a criação de mais cavalos, que começaram a substituir o boi como principal fonte de energia, na agricultura. Os cavalos eram muito mais rápidos e, assim, a área cultivável pôde ser estendida.Maiores áreas cultivadas permitiram que o campo alimentasse centros urbanos mais populosos. Com o cavalo, o transporte de homens, mercadorias e equipamentos tornou-se muito maiseficiente. Um arado puxado por bois exigia três homens para controlá-lo e um arado puxado por cavalos poderia ser operado por um só homem. Além disso, no século XIII, o custo dotransporte de produtos agrícolas foi substancialmente reduzido, quando a carroça de duas rodas foi substituída pela de quatro rodas, com eixo dianteiro móvel. (HUNT, História do Pensamento econômico: Uma Perspectiva Crítica, 1985. p. 32 - 33).

As alterações propiciadas pelas invenções e a utilização de novas tecnologias

propiciaram o crescimento de cidades e vilas à época, provocando desdobramentos

(externalidades positivas) na produção de bens manufaturados com a ampliação dos

trabalhadores urbanos que não tinham relacionamento com a terra (artesãos, nas

categorias de mestres e aprendizes), descolando dessa forma da lógica da economia

medieval de base essencialmente agrícola.

A melhoria na produtividade e os incrementos na produção agrícola tiveram

desdobramentos também em relação ao comércio, dando origem aos primeiros

capitalistas comerciantes. O excedente agrícola e também de manufaturas tornava-se

disponível tanto para mercados locais (dentro da própria Europa) como internacionais.

O fortalecimento do comércio reforçou o crescimento das cidades industriais e

comerciais, que por sua vez, auxiliou no processo de desintegração do feudalismo

medieval e na transposição do sistema de produção medieval para o sistema

capitalista.

Lá pelo século XV, as feiras já estavam sendo substituídas por cidades comerciais, onde florescia um mercado permanente. O

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comércio, nessas cidades, se tornara incompatível com osrestritos costumes e tradições feudais. Geralmente, as cidades conseguiam ganhar independências de seus senhores feudais e da Igreja. Sistemas complexos de câmbio, compensação efacilidades creditícias se desenvolveram nesses centroscomerciais, e instrumentos modernos, como cartas de crédito, tornaram-se de uso corrente. Novos sistemas de leis comerciais foram criados. Ao contrário do sistema paternalista de execução de dívidas, baseado nos costumes e na tradição vigentes no feudo, a lei comercial era fixada por um código preciso. Assim, esta lei tornou-se a base das modernas leis capitalistas dos contratos, títulos negociáveis, representação comercial eexecuções em hasta pública. (HUNT, História do Pensamento econômico: Uma Perspectiva Crítica, 1985. p. 34 - 35).

O sistema capitalista passou por diversas fases na Europa devido aos diferentes

graus de amadurecimento das regiões. A fase mercantilista que deu origem aos

primeiros capitalistas comerciantes foi o ponto de partida para que à medida que o

comércio prosperava e se expandia para diversas regiões dentro e fora da Europa, a

necessidade de produtos manufaturados induzia a uma maior importância do processo

produtivo. As tradições e costumes perderam espaço para o mercado e suas regras e

quando isso se consolidou surgiu então o Capitalismo.

Um outro aspecto importante a ser analisado diz respeito às novas classes sociais e

econômicas que surgiram desse processo de transposição de um sistema para outro.

O sistema de trabalho da era medieval era baseado em uma classe servil que

trabalhava nas terras do senhor feudal cultivando os campos para a sua própria

subsistência e para alimentar os donos da terra. Com a expansão dos ofícios dos

artesãos e o nascimento das indústrias de manufaturas modificam-se as formas de

produção. No período medieval, o artesão (trabalhador) vendia um produto acabado ao

comerciante feito através de sua habilidade (arte). Com a expansão da necessidade

de crescimento da produção de manufaturas para atender o crescimento populacional

das cidades, o trabalho é segmentado e o trabalhador oferece apenas sua força de

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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trabalho e não mais o produto acabado. Ele, trabalhador, não é mais responsável pelo

processo produtivo é apenas parte dele.

Muitos agricultores e artesãos foram compelidos a se tornarem trabalhadores urbanos

que não estavam mais sujeito às tradições e costumes medievais, porém sujeito às

leis e contratos das novas corporações de ofício com seus estatutos criminais e a

repressão do governo. A nova classe capitalista (classe média e burguesia) substituiu,

lenta e inexoravelmente, a nobreza como classe que dominava o sistema econômico e

social.

2.1.2 - Primeiras idéias sobre o sistema econômico

Com a transposição do sistema de produção medieval para o sistema de produção

capitalista surgiram os primeiros pensadores que tentaram compreender esse

fenômeno. A visão dos mesmos sobre o capitalismo tinha como elemento central o

processo de troca de mercadorias e não a produção de manufaturas (pensamento

mercantilista). Essa ênfase no comércio é compreensível pelo fato, na análise desses

teóricos, ser o ato de troca de mercadorias que gerava o lucro e não a sua produção.

A partir de então se tem um processo de reflexão sobre oferta, demanda, preços, valor

e lucro.

Entretanto essa visão dos autores mercantilistas começou a mostrar-se insuficiente à

medida que o capitalismo se foi desenvolvendo. Dois fatos motivaram essa alteração:

o primeiro foi à diminuição das diferenças de preços entre as diversas regiões e

nações que propiciou a redução dos lucros auferidos no processo de troca; apesar da

intervenção dos governos na tentativa de manutenção de estruturas de monopólio que

beneficiavam os capitalistas mercantilistas (companhias de comércio). O segundo

fato, decorrente da redução dos lucros, foi à ampliação das atenções dos capitalistas,

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não apenas para o processo de troca de mercadorias, mas também para o processo

de produção.

Esses dois fatos foram importantes para mudanças econômicas de longo alcance

dando origem, entre os pensadores da época, à filosofia do individualismo5 (o

protestantismo e a ética individualista). Nessa época começa a difundir-se a idéia de

que seria concorrência, e não o monopólio e outras formas de protecionismo, mais

benéfica para a sociedade como um todo, pois daria um equilíbrio ao mercado.

Cresce o pensamento entre os teóricos que a ambição, o egoísmo e o comportamento

aquisitivo tenderiam a contribuir para a industrialização e para a economia

progressista. A ética cristã paternalista fruto das tradições e costumes medievais cede

espaço para a nova ética protestante.

Surge uma das primeiras escolas econômicas: A escola dos fisiocratas. Originada de

um grupo de reformadores sociais franceses cujo principal representante é o intelectual

francês François Quesnay6, os fisiocratas tinham como premissa que as sociedades

deveriam ser governadas pela lei natural e que os problemas, em geral, eram devidos

à incapacidade de seus dirigentes compreenderem esta lei natural e ordenarem a

produção e o comércio de acordo com ela.

Apesar das idéias dos fisiocratas terem uma forte orientação para a reforma política,

elas tiveram um maior impacto intelectual do que político. Dentre suas propostas de

reformulação destaca-se a recomendação de que toda a renda do governo fosse

obtida através de um único imposto, para todo o país, sobre as atividades agrícolas.

Outra grande contribuição dessa época foi o modelo de Quesnay – Tableau

5 - A economia de mercado capitalista precisava de um comportamento baseado na iniciativa individual, aquisitivo, para funcionar bem. Neste contexto, começaram a aparecer novas teorias sobre ocomportamento humano. Autores (Malynes, Petty, North, Law e Child) começaram a afirmar que os motivos pessoais e egoístas eram motivos básicos – quando não os únicos – que levavam o homem a agir.

6 - Quesnay, François (1694-1774). Tableau Êconomique. Londres, H. Higgs, 1894 ; original impresso por particulares, Versalhes, 1758.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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Êconomique – que ilustra a alocação de insumos e produtos dentro de setores de uma

economia e necessidade de circulação contínua de moedas, antecipando discussões

de outros economistas posteriores.

Após os fisiocratas, Adam Smith7 aparece com seus trabalhos sobre filosofia social e

economia e apresenta-se como o primeiro pensador a elaborar um modelo abstrato

completo e estruturado do funcionamento do sistema capitalista. Em 1776, publicou

sua obra mais importante: An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of

Nations (A Riqueza das Nações). A contribuição dos trabalhos de Smith ocorre em

uma época em que o modo de produção capitalista, apesar de ter quebrado as

correntes do feudalismo, ainda não tinha atingido seu apogeu.

O modo de produção capitalista no início do século XVIII ainda apresentava algumas

características do sistema de produção feudal, devido em grande parte à utilização de

ferramentas ainda artesanais e por depender da habilidade dos trabalhadores /

artesãos. A manufatura desse período era produzida em um centro de produção em

que o capitalista possuía o prédio, os equipamentos de produção e as matérias-

primas e contratava os operários assalariados para realizar o trabalho, empregando

antigas técnicas artesanais de produção. A utilização de novas técnicas e ferramentas

de produção fizeram com que as fábricas mecanizassem o trabalho. As indústrias têxtil

e siderúrgicas foram as pioneiras na absorção dessas novas tecnologias e,

conseqüentemente, as primeiras a ampliar seus índices de produtividade e volumes de

produção.

Neste contexto, Smith foi o primeiro economista a fazer uma clara distinção entre os

elementos básicos da economia: lucros (industrial e comercial), salários e alugueis;

atrelando essas três categorias funcionais de renda às três classes sociais mais

7 - Adam Smith (1723 – 1790) nasceu na Escócia, onde viveu quase toda a vida. Cursou as universidades de Glasglow e Oxford (1737 – 1746) e foi professorem Glasglow, de 1751 a 1764.

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importantes de sua época – os capitalistas, os operários e os proprietários de terra.

Smith em suas teorias de história e sociologia acreditava, ainda, que havia quatro

estágios de desenvolvimento econômico e social: a caça, o pastoreio, a agricultura e o

comércio.

Esses estágios se apresentavam como etapas evolutivas da sociedade em bases

econômicas, sendo a caça a etapa menos evoluída vinculada às tribos nativas. Smith

identifica que nesse estágio inexistem instituições que possam legitimar qualquer

forma de poder e privilégios aos seus pares. O estágio de desenvolvimento

subseqüente é o pastoreio, que permitia à sociedade formas de grupamentos sociais

mais complexos que o estágio anterior. A propriedade do gado torna-se a primeira

forma de relação de propriedade e surge, então, a necessidade de uma forma de

institucionalizar8 esse privilégio:

[...] Portanto, a aquisição de propriedades valiosas e extensas requer, necessariamente, o estabelecimento do governo civil. Quando não existe propriedade... o governo civil não é tãonecessário.O governo civil pressupunha uma certa subordinação, mas, a medida que a necessidade do governo civil vai gradativamente aumentando com a aquisição de propriedades de valor, tambémvão gradativamente aumentando as principais causas que criam, naturalmente, a subordinação com o crescimento destaspropriedades de valor. (SMITH, In Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations – Nova Iorque, Modern Library, 1937, p. 670)

O terceiro estágio identificado por Smith foi o da agricultura, associado ao feudalismo,

onde a propriedade de terra passa a ser a relação de propriedade mais importante na

estrutura da sociedade e, por conseguinte, na diferenciação de classes e seus

privilégios e nas relações de poder. Na análise de Smith, essa organização econômica

8 - O termo Instituição pode ser compreendido dentro de diferentes contextos, Smith faz uma das primeiras incursões para analisar o termo que teria uma grande relevância nas escolas de pensamento econômico. Entretanto, desde sua primeira aparição o termo já sucinta uma estreita vinculação às trajetórias de crescimento econômico de determinada região ou nação.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

53

envolvia a manipulação do poder absoluto pela nobreza com muito poucos direitos e

pouca liberdade para a grande maioria do povo. Dessa forma o quarto estágio

identificado por Smith – o comércio, foi considerado um grande avanço, tanto em

termos de desenvolvimento econômico, quanto em termos de liberdade e segurança

para a maior parte da população.

Smith analisa que o aparecimento dos grandes centros comerciais na Europa

possibilitou um maior desenvolvimento na agricultura, juntamente com um

desenvolvimento social e econômico. A partir de então, o desenvolvimento da

agricultura incentivou o crescimento do comércio e da indústria que, num ciclo virtuoso,

incentivou o maior desenvolvimento da agricultura capitalista. Sua análise prossegue

avaliando as características desse estágio de desenvolvimento econômico, onde ele

acreditava que a natureza tinha criado uma ilusão nas pessoas: a de que a felicidade

pessoal estaria atrelada, principalmente à riqueza material; e que os efeitos

econômicos e sociais oriundos dessa ilusão eram socialmente benéficos. Nasce então

o tema que permeia as obras de Adam Smith: a idéia que as pessoas são conduzidas

por uma ´´mão invisível´´, no sentido de promover o bem social, sem que esta

promoção seja parte de seu intento ou motivo.

A despeito da análise de Smith sobre a ´´mão invisível´´, ele observa, ainda, a

importância central do conflito de classes entre capitalistas e trabalhadores, que tinha

como base de diferenciação a propriedade da terra e do capital; onde os capitalistas

exerciam sua supremacia através da sua riqueza, sua capacidade de influenciar a

opinião pública e seu controle do governo.

Entretanto, inegavelmente, a maior contribuição de Adam Smith foi sua obra A

Riqueza das Nações que, em seus cinco volumes, é essencialmente uma teoria do

crescimento econômico: Livro Primeiro – As causas do aprimoramento das forças

produtivas do trabalho e a ordem segundo a qual sua produção é naturalmente

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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distribuída entre as diversas categorias do povo. Livro Segundo – A natureza, o

acúmulo e o emprego do capital. Livro Terceiro – A diversidade do progresso da

riqueza nas diferentes nações. Livro Quatro – Sistemas de economia política. Livro

Cinco – A receita do soberano ou do estado.

[...] O crescimento da produtividade do trabalho, que tem origem em mudanças na divisão e especialização do processo detrabalho, ao proporcionar o aumento do excedente sobre ossalários permite o crescimento do estoque de capital, variável determinante do volume de emprego produtivo; a pressão da demanda por mão-de-obra sobre o mercado de trabalho,causada pelo processo de acumulação de capital, provoca um crescimento concomitante dos salários e, pela melhora dascondições de vida dos trabalhadores, da população; o aumento paralelo do emprego, salários e população amplia o tamanho dos mercados que, para um dado estoque de capital, é odeterminante básico da extensão da divisão do trabalho,iniciando-se assim a espiral de crescimento. (SMITH, Série Os Economistas. Ed. Nova Cultural. 1996, p. 65 – 76)

Essa apresentação esquemática e sintética (figura 03) é desenvolvida,

essencialmente, nos dois primeiros volumes da obra que abordam os determinantes

do crescimento da produtividade do trabalho e da distribuição funcional da renda que

regulam o excedente total disponível e, portanto, o potencial de acumulação de capital

(livro primeiro); e, as condicionantes e características da acumulação de capital, que

determina oferta de emprego produtivo e sua distribuição setorial (livro segundo).

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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Figura 03: Espiral de crescimento, segundo Adam SmithFonte: Produzido a partir do livro “A Riqueza das Nações”. Elaboração própria.

É preciso entender Smith e sua obra A Riqueza das Nações dentro de uma

perspectiva histórica, em que ele foi influenciado por importantes pensadores. A

formação intelectual de Smith contou com a influência de Hutcheson, herdeiro de uma

linha direta de filósofos protestantes; a troca de idéias com fisiocratas como Quesnay

e Turgot; e, contou ainda com a influência direta de Hume e das obras de Montesquieu,

adotando uma metodologia essencialmente empiricista. A conjugação dessas

influências e outras9 possibilitou um fio condutor diferenciado na obra A Riqueza das

Nações, tanto em termos filosóficos quanto metodológicos.

9 - Smith foi influenciado na sua construção teórica ainda por outros economistas que o precederam como Cantillon (teoria dos diferenciais de salário), Hume, Harris e Davenant (teoria monetária), Hume e Petty (divisão do trabalho).

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56

Obviamente Smith, em seu modelo de crescimento econômico não conseguiu dar

conta de toda a compreensão do funcionamento da economia capitalista, tendo suas

teorias dos preços (valor-utilidade, valor-trabalho) apresentado fragilidades. Entretanto,

pelo fato de Smith adotar um método essencialmente empiricista, onde os traços de

seu modelo, que enfatiza o crescimento econômico como um fenômeno a ser

explicado e o crescimento de produtividade e acumulação de capital como suas

causas finais, foi emblemático para sua época e para a história econômica.

2.2 – Smith e Ricardo - Vantagens Absolutas e Comparativas

2.2.1 - Adam Smith e as Vantagens Absolutas

Outra contribuição de Adam Smith em sua obra A Riqueza das Nações foi sua teoria

da vantagem absoluta. É importante lembrar que o período mercantilista foi marcado

por algumas acepções que nortearam a conduta de governos e capitalistas entre os

séculos XV e XVII. Como características econômicas desse período pode-se destacar:

a riqueza de uma nação estava no acúmulo de reservas de metais preciosos que tinha

como conseqüência a limitação das importações e o estímulo / subsídios às

exportações; nessa ótica, as trocas internacionais sempre seriam um jogo de soma

zero, ou seja, se um ganha o outro perde; a classe de mercadores era fundamental

para o sistema funcionar; o trabalho era o único fator produtivo; o Estado adotava

medidas intervencionistas como a exclusividade nos direitos de comércio, os

subsídios à exportação e imposição de quotas à importação, o controle no uso e na

troca de metais preciosos, a regulação econômica dos mercados internos, com o

controle da indústria e do trabalho (subsídios às empresas e política de baixos

salários).

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Smith critica o pensamento mercantilista identificando que o comércio internacional

não é um jogo de soma nula / zero. Se os bens forem produzidos nos países que

utilizam menos quantidade de trabalho é possível aumentar o nível global do produto a

distribuir pelo total dos países, aumentando assim o seu bem estar.

Além disso, a idéia de Smith era a de que a riqueza de uma nação dependia da sua

capacidade produtiva e não na posse de metais preciosos. A divisão e especialização

do trabalho provocada pelo comércio internacional deveriam trazer ganhos de

produtividade a serem repartidos pelos parceiros participantes nas trocas. O interesse

pessoal é o motor do crescimento e a concorrência o mecanismo regulador. Portanto

não havia necessidade do Estado controlar a economia, devendo apenas servir de

garantia ao livre funcionamento do mercado, ou seja, daquela ´mão invisível´ que

garantia o equilíbrio e a maximização do bem-estar individual e social. Smith é, pois, o

defensor de uma política de laissez-faire. Aplicando estas idéias ao comércio

internacional Smith concluiu que os países devem se especializar na exportação dos

bens em cuja produção detivessem uma vantagem absoluta (a quantidade de trabalho

necessário para a produção do bem fosse menor que a do parceiro) e deveriam

importar os bens em que o outro país interveniente nas trocas detivesse uma vantagem

absoluta.

2.2.2 - David Ricardo e as Vantagens Comparativas

David Ricardo foi um dos primeiros economistas a trabalhar, de forma mais coerente,

o livre comércio internacional. Ele propôs, indo além da análise de Smith, que um país

não precisava ter uma vantagem absoluta na produção de uma mercadoria, para que

o comércio internacional entre outro país seja mutuamente benéfico. Segundo Ricardo,

dois países poderiam beneficiar-se com o comércio, se cada um tivesse uma

vantagem relativa na produção. Na sua definição, vantagem relativa significava,

simplesmente, que a razão entre o trabalho incorporado às duas mercadorias diferia

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entre os países (custo de oportunidade), de modo que cada um deles poderia ter, pelo

menos, uma mercadoria na qual a quantidade relativa de trabalho incorporado seria

menor do que a do outro país.

Tabela 01: Número de horas necessárias para a produção de uma unidade de tecido e de vinho na Inglaterra e em Portugal.

País Tecido VinhoRazão entre o

preço do vinho e o preço do

tecido

Razão entre o preço do tecido e o preço

do vinho

Inglaterra 100 120 1,20 0,83Portugal 90 80 0,88 1,12

Fonte: Extraído de “Os Princípios de Economia Política e Tributação”. Série OsEconomistas. Ed. Nova Cultural. 1996. p. 138.

[...] Neste quadro (tabela 01), Portugal tem uma vantagemabsoluta na produção de vinho e de tecido, quer dizer, são necessários menos horas de trabalho para produzir ambas as mercadorias em Portugal do que o número de horas necessárias para sua produção na Inglaterra. Se supusermos que os preços do vinho e do tecido são proporcionais ao trabalho incorporado a eles, tanto na Inglaterra como em Portugal as razões de ambos os preços, em cada país, serão idênticas à razão de horas de trabalho necessárias para a produção das mercadorias, emcada país.Em Portugal, são necessárias 90 horas para a produção de uma unidade de tecido e 80 horas para a produção de uma unidade de vinho. Isto quer dizer que o vinho precisa apenas de 88% do trabalho exigido pelo tecido e que o preço do vinho equivale a apenas 88% do preço do tecido. Na Inglaterra, o trabalhoincorporado ao vinho e seu preço equivalem a 120% do trabalho e do preço do tecido. Então, Portugal usa relativamente menos trabalho na produção de vinho, e o preço é relativamente mais baixo. Por outro lado, Portugal usa 112% do trabalho incorporado à produção de vinho para produzir tecido e, uma vez mais, o preço do tecido equivale a apenas 83% do preço do vinho.Assim, a Inglaterra usa relativamente menos trabalho paraproduzir tecido, muito embora use mais trabalho, em termosabsolutos; portanto, a Inglaterra tem uma vantagem relativa na produção de tecido. (HUNT, História do Pensamento econômico: Uma Perspectiva Crítica, 1985. p. 138 - 139).

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

59

A argumentação de Ricardo leva em consideração alguns postulados importantes para

as suas conclusões: Primeiro, deveria existir uma quantidade fixa de recursos e todas

as unidades são idênticas; segundo, imobilidade dos fatores inter-países; terceiro, o

nível de tecnologia deveria ser fixo para ambos os países; quarto, os custos de

produção seriam constantes; quinto, a existência de pleno emprego; sexto, a

concorrência perfeita entre os países; sétimo custos de transporte nulos; oitavo,

inexistência de obstáculos à atividade econômica imposta pelo governo; nono, todos

os outros inputs do processo deviam ser medidos em termos de trabalho; e, décimo, o

preço dos fatores deveriam ser idênticos.

A teoria das Vantagens Comparativas10 de Ricardo foi à base para a construção de

toda uma vertente de teorias de comércio internacional que dominou por muito tempo o

debate econômico. O seu esquema lógico e aritmético fornecia um sistema de

comércio mundial ancorado no padrão-ouro e no livre-cambismo.

10 - Ricardo, David. On the Principle of Political Economy and Taxation, 1817.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

60

Figura 04: Comparativo Vantagens Absolutas versus Comparativas.Fonte: Produzido a partir de “História do Pensamento econômico: Uma Perspectiva Crítica,1985. Elaboração própria.

A diferença entre as duas teorias está nos custos de produção de bens entre países,

defendido por Adam Smith e pela produtividade do trabalho defendido por David

Ricardo (figura 04). Smith, não conseguiu explicar, o caso de um país que não

produzisse nenhuma mercadoria com custos menores do que os custos dos parceiros

comerciais em potencial, pois, para o ele, somente os excedentes seriam

comercializados no mercado internacional, onde a especialização na produção do

produto A pelo país X, traria vantagens no comércio com o país Y, que não é

especialista na produção do mesmo produto A.

Entretanto, Ricardo em sua formulação teórica, considerou a existência de países

pobres sem tecnologia para a produção de mercadorias com custos reduzidos em

relação aos países ricos, permitindo assim a explicação de comércio entre nações

sem vantagem absoluta na produção de nenhum bem, sugerindo então, uma

cooperação, fortalecendo a eficiência global do comércio exterior, por meio de

vantagem de um país importar certos produtos, muito embora pudessem produzi-los a

custos inferiores, desde que em comparação com outros produtos sua vantagem fosse

maior. Essa formulação teórica, por meio de dados aritméticos, fortaleceu ainda mais

a teoria do comércio internacional, explicando melhor ainda como a relação de troca é

estabelecida.

2.2.3 – As Vantagens Comparativas e as teorias de comércio internacional

As Teorias das Vantagens Absolutas de Smith e Vantagens Comparativas de Ricardo

iniciaram as primeiras explicações sobre crescimento econômico através do comércio

internacional. Entretanto, a relação entre crescimento econômico e comércio

internacional é objeto de divergências entre economistas e as correntes teóricas até os

dias atuais. Embora os efeitos do crescimento econômico de longo prazo possam ser

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capazes de provocar mudanças no padrão de comércio entre as nações é complexa a

correlação dessas variáveis. Dentre os determinantes que se destacam no processo

de crescimento econômico, o estoque de capital e o investimento são os únicos a

obterem consenso entre os teóricos das principais correntes e escolas sobre comércio

internacional.

Alguns modelos teóricos (figura 05) tentam explicar essa relação tendo como base a

teoria das vantagens comparativas de Ricardo. O modelo básico de Heckscher-Ohlin11

(1933) (H-O) coloca como causa para o comércio internacional a diferença nas

dotações de fatores; pois, ampliando o modelo ricardiano que reduz todos os fatores

de produção a um único, qual seja, o trabalho, o modelo H-O explica que cada país

exportará a mercadoria que utiliza mais intensivamente o fator produtivo mais

abundante internamente, ou seja, os padrões dos custos de oportunidade serão

influenciados pelas diferenças nas dotações dos fatores.

Entretanto, da mesma forma que o modelo ricardiano exige alguns pressupostos para

sua concepção, o teorema de Heckscher-Ohlin parte de três hipóteses essenciais para

seu poder explicativo, em termos de vantagens comparativas: A primeira hipótese

supõe que as funções de produção apresentem produtividade dos fatores positiva,

porém decrescentes, e retornos constantes de escala. A segunda hipótese é que a

estrutura de demanda deve ser idêntica nos dois países. E a terceira hipótese

pressupõe a exclusão da possibilidade de reversão na intensidade do uso dos fatores.

Mas este modelo teórico de relação do comércio com crescimento baseado

unicamente no enviesamento da produção devido às dotações dos fatores, também

não descreve a realidade, pois quando existem custos crescentes, as preferências

também são um fator explicativo. O que realmente importa é a comparação entre os

11 OHLIN, B. The Theory of Trade. In: HECKSCHER, E.F. e OHLIN, B. Heckscher-Ohlin trade Theor. Cambridge,MA: The MIT Press, 1991.

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preços relativos entre os dois países, os quais são determinados não só pelas

dotações, mas também pelas preferências.

O modelo de Heckscher-Ohlin-Samuelson12 (1948) (H-O-S) também tenta relacionar o

crescimento econômico e o comércio internacional analisando os efeitos desse sobre

o emprego e distribuição de renda. O modelo explica que o comércio internacional leva

a um equilíbrio Pareto-eficiente com maior bem-estar mediante a realocação

intersetorial dos recursos. Movimentos nos preços relativos criam diferenciais

intersetoriais de remuneração de fatores que estimulam o movimento de fatores de

produção até o ponto em que tais diferenciais sejam eliminados.

Outro importante modelo que trata da relação entre comércio e crescimento é o

modelo de Bagwhati13 (1999), no qual o bem-estar de uma nação se reduz como

resultado de um processo de crescimento econômico estimulado pelo progresso

tecnológico. A idéia básica deste modelo está no fato de o bem-estar declinar em

seguida a um processo de incorporação de progresso tecnológico, resultante de uma

deterioração dos termos de troca que, por sua vez, produz um efeito sobre o consumo

capaz de contribuir para uma redução do bem-estar global.

Apesar da maior parte das teorias tradicionais sobre comércio internacional conduzir

para uma situação de maior bem-estar social, comparativamente a uma situação de

economias fechadas, as limitações e hipóteses e pressupostos restritivos da maioria

destes modelos, tem como resultado sua fraca validação empírica. A despeito das

fragilidades apresentadas pelos modelos tradicionais, existe a concordância que a

abertura comercial permite aos países explorar vantagens comparativas e com isso

melhorar a eficiência da alocação de seus recursos domésticos.

12 SAMUELSON, P.A. International trade and the equalization of factor prices, Economic Journal, v. 58: p. 163-184, 1948.

13 Srinivasan, T.N. e Bhagwati, J. 1999. Outward-orientation and development: are revisionists right? Manuscritonão publicado.

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63

As novas teorias de comércio internacional buscam trabalhar a relação de comércio e

crescimento com um caráter dinâmico em que o progresso técnico apresenta-se de

forma endógena. O modelo de Grosman e Helpman14 (1990) expõe que o crescimento

econômico deve levar em consideração a acumulação de conhecimento, enfatizando o

papel das economias de escala e do progresso técnico. Três características desse

modelo definem a relação entre comércio e crescimento. A primeira é que a demanda

relativa mais forte por bens finais do país, com vantagem comparativa em P&D, reduz

a sua participação de longo prazo no número de produtos intermediários e desacelera

o crescimento de longo prazo da economia mundial. A segunda característica do

modelo é que uma tarifa reduzida de importação ou subsídio à exportação incidente

sobre bens finais diminui, em uma situação de crescimento equilibrado, a participação

do país em produtos intermediários e em P&D. E a terceira característica coloca que a

provisão de um subsídio para P&D em um país aumenta o crescimento de longo prazo

se a divisão do gasto entre os dois bens é constante e se a política é implementada

pelo país com vantagem comparativa em P&D.

14 Grosman, G. e Helpman, E. 1990. Comparative advantage and long-run growth. American Economic Review. 80(4): 796-815.

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Figura 05: Modelos de crescimento baseados no conceito de Vantagens.Fonte: Produzido a partir da Revista Brasileira de Comércio Exterior n. 69. ComércioInternacional e Crescimento Econômico. Frederico G. Jayme Jr. Elaboração própria.

2.3 – As Vantagens e o seu Locus

2.3.1 - Os conceitos de Região / Território

A questão da competitividade ou dos fatores que possibilitam criar vantagens tem sido

tratados até então sem um nexo básico com o Desenvolvimento Econômico. Trata-se

da relação orgânica da criação de vantagens e o seu locus. Qual o espaço que está

envolvido nessa discussão e como os teóricos que trabalharam sobre o tema

Vantagens abordaram essa questão. Segundo Baiardi15 (1993), “[...] na história do

pensamento econômico são muitos os autores que associam a prosperidade do

território / região à existência de determinadas pré-condições [...]”. Essa associação

mostra que a questão do desenvolvimento ou obtenção de vantagens está

inequivocamente associada a um lócus / espaço.

A questão de investigação de como uma região cresce ou desenvolve-se parece

instigar desde Adam Smith até os teóricos da atualidade, por que algumas regiões

desenvolvem-se mais rapidamente que outras? Ou por que algumas conseguem

desenvolver-se e outras não? Esses questionamentos têm sido alvo de discussões e

análises constantes extrapolando a área econômica e despertando interesse em

outras áreas do conhecimento humano tais como a sociologia, a ciência política e

outras ciências sociais; entretanto é necessária uma discussão sobre o entendimento

do que seja uma região ou território. Qual o significado do termo região ou território:

Região.´Do latim, regione´. S.f. 1. Grande extensão de terreno. 2. Território que se distingue dos demais por possuir

15 - Baiardi, Amílcar. Política Regional de C&T como instrumento de modernização tecnológica da periferia. VIII seminário de Modernização Tecnológica Periférica. Recife. 1993.

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características (clima, produção, etc.) próprias. Território. ´Do latim, territoriu´. S.m. 1. Extensão considerável de terra. 2. A área de um país, ou estado ou província, ou cidade, etc. (NovoDicionário da Língua Portuguesa, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Nova Fronteira. 2ª edição, 1986)

Apesar dos conceitos comumente aceitos, percebe-se a dificuldade de definir para

efeitos de desenvolvimento econômico o que seria uma região ou território. As

definições geográficas são insuficientes para a análise econômica e os estudos sobre

o desenvolvimento e seus impactos na população. Sob o aspecto institucional tem-se

ainda uma definição que avança um pouco mais sob a ótica do desenvolvimento:

Território. ´Do latim, territoriu´. S.m. jur. A parte juridicamente atribuída a cada Estado, sobre a qual ele exerce soberania, e que abrange o solo, rios, lagos, mares interiores, águasadjacentes, e bem assim o espaço aéreo que corresponde ao território, até a altura determinada pelas necessidades da polícia e segurança do país, devendo-se, ainda, considerar como parte do território os navios de guerra, onde quer que se encontrem, e os navios mercantes em alto-mar ou em águas nacionais. (Novo Dicionário da Língua Portuguesa, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Nova Fronteira. 2ª edição, 1986).

A definição jurídica de território envolve outros conceitos e elementos institucionais que

tornam seu entendimento mais complexo, não sendo ainda suficiente para seu

entendimento em termos de desenvolvimento econômico. Apesar do interesse comum

de vários teóricos em torno do tema ‘Desenvolvimento Regional’, existe divergência

entre os pesquisadores de como uma região ou território deve ser definido, variando

as definições e conceituações desde de uma definição mais simples que tenta definir

região como a coesão em um só elemento econômico e geográfico, até definições

mais complexas que envolvem inclusive a questão da influência espacial.

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Christaller16 (1993) e Losch17 (1954) tentam definir uma região como sistemas

hierarquizados de lugares e cidades centralizados. Nessa definição cada região teria

um grande número de grandes cidades e um grande número de pequenas cidades

todas ordenadas. Esse ordenamento seria determinado pela diversidade de bens

oferecidos em cada cidade, de acordo com o tamanho relativo da área de mercado de

diferentes bens. A limitação dessa definição é que ela somente é válida para

determinar a estrutura espacial de uma região que é orientada pelo mercado.

Uma outra definição de região adotada pelos teóricos do desenvolvimento regional é a

que define uma região como uma área de mercado de trabalho espacialmente

interdependente. Nesse conceito trabalhado por Hoover e Giarratani18 (1985) uma

região nodal apresentaria duas características: A primeira característica é que a região

seria funcional e internamente integrada em termos de trabalho, capital e fluxo de bens.

A segunda característica é que as atividades dentro da região são orientadas para um

ponto nodal no qual as demais áreas periféricas gravitam. Richardson19 (1979) amplia

o conceito de ponto nodal para definir regiões policêntricas com vários pontos nodais

e várias áreas periféricas, mas que exibam alto grau de funcionalidade interna

integrada.

Fox e Kumar20 (1994) desenvolveram um conceito de área economicamente funcional

que seria uma variante do conceito de região nodal baseada no mercado de trabalho.

Nessa concepção de região existiria uma dominância de um ponto nodal central sobre

16 - Christaller, Walter. 1933. 1966. Central places in southern Germany. Trans. Charlisle W. Baskin. London: Prentice Hall.

17 - Losch, August. 1954. The economics of location. New Haven, CT: Yale University Press.

18 - Hoover, Edgar M., and Frank Giarratani. 1985. Introduction to regional economics. 3d ed. New York: Knopf.

19 - Richardson, Harry W. 1978. Regional economics. Urbana: University of Illinois Press.

20 - Fox, Karl., and T. Krishna Kumar. 1994. The functional economic área: Delineation and implications for economic analysis and policy. In Urban-regional economics, social systems accounts, and eco-behavioralscience: Selected writings of Karl A. Fox. James R. Prescott, Paul van Moeskeke, and Jati K. Sengupta, eds. Ames:Iowa State University Press.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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uma área periférica atribuída a uma dependência espacial do mercado de trabalho.

Por uma série de questões práticas e teóricas, uma parte dos teóricos considera o

conceito de área economicamente funcional de Karl Fox bastante útil; sendo o principal

motivo a racionalidade econômica em adotar o mercado de trabalho funcionalmente

integrado embutido no conceito de região.

Esse conceito de região ou território possibilita a análise econômica regional dentro

dos elementos tradicionais da economia (firmas, trabalho, capital, etc.). Ademais a

concepção de região baseada no mercado de trabalho funcionalmente integrado

pressupõe, em parte dos casos, um mercado consumidor possivelmente integrado e

funcional para as firmas.

Uma das limitações desse conceito de região como área economicamente funcional

são os avanços tecnológicos em termos de comunicação e transporte que

enfraquecem a força de coesão que esses pontos nodais exerceriam sobre as áreas

periféricas e suas necessidades em termos de mercado de trabalho e mercado

consumidor. Esse enfraquecimento tem implicações diretas na concepção de região,

já que a dependência espacial entre mercado de trabalho e mercado para a troca de

bens seria bem menor.

Concepções alternativas têm sido esboçadas utilizando como parâmetros elementos

como as o grau de homogeneidade interna de algum fator (US. Belts), ou baseada na

especialização setorial do trabalho (regiões industriais, comerciais, serviços, etc.).

Outras definições levam em conta os aspectos de controles políticos e administrativos

em determinadas áreas para caracterizar uma região. Regiões e territórios podem ser

ainda definidos em termos de recursos naturais, ecossistemas, ou outros limites

geográficos. Nesse sentido, alguns autores sugerem como definição de região em

termos de interdependência entre um sistema de recursos naturais e populações

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humanas. Para finalizar, Markusen21 (1987) têm um conceito de região bastante útil

para a análise econômica:

[…] A historically evolved, contiguous territorial society thatpossesses a physical environment, a socioeconomic, political,and cultural milieu, and a spatial structure distinct from otherregions and from the other major territorial units, city and nation[…]. (MARKUSEN, Ann. 1985. Profit cycles, Oligopoly, andregional development. Cambridge, MA: MIT Press).

Essa definição reconhece que as regiões são entidades historicamente determinadas

que surgem em função de uma interação entre recursos humanos e naturais locais.

2.3.2 - Os Distritos Marshallianos

Apesar de não ser o propósito deste trabalho analisar as teorias de localização ou as

de desenvolvimento regional, é interessante observar a importância que a questão da

identificação de uma região ou território em seu sentido econômico têm, e vem sendo

uma discussão iniciada ainda pelos economistas do século XIX, dentre os quais deve

ser destacado Alfred Marshall22, e sua análise da concentração de indústrias

especializadas em certas localidades e seu conceito de distrito industrial.

Marshall procurou analisar a questão da organização industrial em termos espaciais

tentando identificar quais fatores levariam ou promoveriam a concentração de

indústrias em certas localidades. O autor começa sua análise indicando que em

estágios primitivos da civilização, as comunidades de determinada região geográfica

tinham que depender de seus próprios recursos e de sua própria produção para viver.

Entretanto, ele prossegue argumentando que com a evolução das necessidades e dos

costumes o comércio possibilitou que as mercadorias produzidas em lugares distantes

21 - Markusen, Ann. 1985. Profit cycles, Oligopoly, and regional development. Cambridge, MA: MIT Press.

22 - Marshall, Alfred. Princípios de economia: Tratado Introdutório / Alfred Marshall; tradução revista de Rômulo Almeida e Ottolmy Strauch – São Paulo. Abril Cultural, 1982. Os Economistas.

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pudessem ser difundidas por toda a Europa através dos comerciantes ou dos próprios

produtores em suas viagens.

Dessa análise histórica, Marshall identifica o aparecimento da chamada “indústria

localizada”. Essa localização ainda elementar da indústria, com desdobramento na

divisão do trabalho e sua especialização, seria o início do processo de concentração

industrial por ele verificado. O autor discute as várias origens / fatores que

condicionaram a localização das indústrias (figura 06), destacando inicialmente as

condições físicas do ambiente:

[...] São muitas as diversas causas que levaram a localização de indústrias, mas as principais foram às condições físicas, taiscomo a natureza do clima e do solo, a existência de minas e de pedreiras nas proximidades, ou um fácil acesso por terra ou mar. Assim as indústrias metalúrgicas situaram-se geralmente perto de minas ou em lugares em que o combustível era barato. A indústria de ferro da Inglaterra procurou primeiro os distritos de carvão abundante, e depois situou-se na vizinhança das próprias minas. (MARSHALL, A. Princípios de economia: TratadoIntrodutório. p. 232; tradução revista de Rômulo Almeida eOttolmy Strauch – São Paulo. Abril Cultural, 1982. OsEconomistas).

Além das condições físicas do ambiente, Marshall discute outros fatores que

condicionaram a localização das indústrias, abordando a questão do financiamento

(patrocínio das cortes) como outro fator relevante:

[...] Outro fator importante foi o patrocínio de uma corte. O rico contingente lá reunido (na localidade) dá lugar a uma procura para as mercadorias de uma qualidade excepcionalmente alta, e isso atrai operários especializados, vindos de longe, ao mesmo tempo que educa os trabalhadores locais. Quando um potentado oriental mudava sua residência, a cidade abandonadacostumava desenvolver a indústria especializada que surgiracom a presença da corte. Mas muitas vezes os dirigentesconvidavam deliberadamente os artesãos que residiam em

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outras localidades, e os instalavam aos grupos. (MARSHALL, A. Princípios de economia: Tratado Introdutório. p. 232; tradução revista de Rômulo Almeida e Ottolmy Strauch – São Paulo. Abril Cultural, 1982. Os Economistas).

De certa forma, Marshall estava tratando da questão do financiamento dos

empreendimentos como fator de concentração quando se refere a esse patrocínio das

cortes, e exemplifica com os casos da indústria manufatureira da Inglaterra e a

influência recebida pelos reis Plantagenetas e Tudors. Apesar de identificar que outros

fatores mais amplos tais como as influências religiosas, culturais, políticas e

econômicas possam agir sobre a questão da localização industrial, Marshall

prossegue sua análise examinando os fatores que estariam mais próximos das

empresas. Nessa linha o autor observa que os grupamentos de trabalhadores

especializados dentro de uma determinada região também servirão como elemento de

influência no processo de localização industrial.

[...] São tais as vantagens que as pessoas que seguem uma mesma profissão especializada obtêm de uma vizinhançapróxima, que desde que uma indústria escolha uma localidade para se fixar, aí permanece por longo espaço de tempo. Ossegredos da profissão deixam de ser segredos, e, por assim dizer, ficam soltos no ar, de modo que as crianças absorvem inconscientemente grande número deles. Aprecia-sedevidamente um trabalho bem feito, discutem-se imediatamente os méritos de inventos e melhorias na maquinaria, nos métodos e na organização geral da empresa. Se combinam comsugestões próprias e, assim, essa idéia se torna uma fonte de outras idéias novas. Acabam por surgir, nas proximidades desse local, atividades subsidiárias que fornecem à indústria principal instrumentos e matérias-primas, organizam seu comércio e, por muitos meios, lhe proporcionam economia de material.(MARSHALL, A. Princípios de economia: Tratado Introdutório. p. 234; tradução revista de Rômulo Almeida e Ottolmy Strauch –São Paulo. Abril Cultural, 1982. Os Economistas).

Marshall, apesar de não mencionar explicitamente a questão da tecnologia como fator

que influenciaria a questão da concentração industrial, percebe-se em sua análise a

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

71

identificação dos elementos que posteriormente seriam trabalhados por Schumpeter

em seu conceito de Inovação. Baiardi23 aponta que, possivelmente, a análise de

Marshall apresenta-se como “[...] a primeira referência sobre a estrita relação entre

tecnologia autonomamente gerada e desenvolvimento do território, desenvolvimento

regional / local [...]”. Marshall observa ainda que a utilização econômica de máquinas

de alto preço pode, muitas vezes, ser realizada numa região em que exista uma

grande produção conjunta da mesma espécie, sendo essa utilização também um fator

de concentração industrial. Outro fator identificado por Marshall é o surgimento de

indústrias subsidiárias à indústria principal, como elemento de influência para a

localização e concentração industrial.

Dentre os fatores identificados até o momento cabe um destaque especial ao

elemento especialização do trabalho. Marshall observa que a oferta de mão-de-obra

especializada é fator de grande influência no processo de seleção do espaço para

instalação das indústrias:

[...] O proprietário de uma fábrica isolada, embora possaconseguir um grande número de operários não especializados, geralmente tem grande dificuldade em obter operários de uma determinada especialização. [...] Essas dificuldades continuam a ser um grande obstáculo ao sucesso de qualquer empresa em que seja necessária uma determinada especialidade, e que não esteja situada nas proximidades de outras empresas similares. (MARSHALL, A. Princípios de economia: Tratado Introdutório. p. 234; tradução revista de Rômulo Almeida e Ottolmy Strauch –São Paulo. Abril Cultural, 1982. Os Economistas).

23 - idem.

CondiçõesFísicas do Ambiente

Patrocínioda Corte

Grupamen-to de

Trabalha-dores

Especializados

IndústriasSubsidiá-

rias

Utilizaçãode

máquinasde Alto preço

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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Figura 06: Fatores que influenciam a localização de indústrias (Marshall, 1890)Fonte: Produzido a partir do Livro: Princípios de Economia: Tratado Introdutório / Alfred Marshall. Tradução revista de Rômulo Almeida e Ottolmy Strauch – São Paulo.

Marshall, além de identificar os fatores que influenciam a localização de indústrias,

salienta ainda que a concentração de diferentes indústrias na mesma vizinhança

atenua reciprocamente suas depressões. Partindo desses elementos formou-se o

conceito de distrito industrial como uma região econômica, que leva em consideração,

além da questão espacial, todos esse elementos que influenciam a sua atratividade.

Autores recentes definem distritos industriais, baseados ainda na análise de Marshall,

como aglomerados de empresas envolvidas em processos de produção

interdependentes, muitas vezes a atuarem na mesma indústria ou até no mesmo

segmento industrial, que estão inseridas na comunidade local e se delimitam por uma

distância acessível por deslocações diárias.

Marshall observa ainda que, apesar da existência de fatores que podem facilitar o

processo de localização industrial, existem outros elementos que podem alterar a ação

dessas forças de concentração / localização (Comunicação e transporte):

[...] Qualquer barateamento nos meios de comunicação, qualquer facilidade que surja para a troca de idéias entre regiõesdistantes, altera a ação das forças que tendem a localizar as indústrias. Falando em termos gerais, podemos dizer que umaredução de tarifas alfandegárias ou de fretes do transporte de mercadorias tende a fazer com que a região adquira de lugares distantes maior quantidade daquilo de que precisa, tendendo assim a concentrar determinadas indústrias em determinadaslocalidades. (MARSHALL, A. Princípios de economia: Tratado Introdutório. p. 236; tradução revista de Rômulo Almeida eOttolmy Strauch – São Paulo. Abril Cultural, 1982. OsEconomistas).

Baiardi24 em sua análise observa que:

24 - ibidem.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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[...] Malgrado Marshall trabalhasse com supostos de competição baseada no preço e de existência de livre circulação deinformações e de conhecimento tecnológico transmissível, osquais desaparecem no estágio do capitalismo monopolista, não deixa de ser surpreendente a sua visão e a importância que ele dá ao conhecimento autonomamente gerado para aprosperidade de um território, de uma região industrial, nas suaspalavras [...]. (BAIARDI, Amílcar. Política Regional de C&T como instrumento de modernização tecnológica da periferia. VIIIseminário de Modernização Tecnológica Periférica. Recife.1993. p. 04 - 05)

2.4 – Abordagens Marxistas sobre a divisão internacional do trabalho e sobre o

intercâmbio desigual

2.4.1 – A obtenção de vantagens através da inovação

Dentro da teoria econômica, os teóricos das novas correntes e escolas sobre

comércio internacional começam a identificar a questão da inovação tecnológica como

um outro importante determinante de correlação entre comércio internacional e

desenvolvimento econômico. Baiairdi25 (1996) aponta que já os economistas clássicos

como Smith, Ricardo e Mill foram os primeiros a reconhecer a importância do

progresso técnico para o crescimento econômico. Embora as conceituações e

definições à época não tratassem do tema da forma e com a importância dada nos

dias atuais é inegável ao analisar os textos originais desses economistas clássicos, a

identificação da influência da questão da tecnologia como elemento participativo do

crescimento econômico de uma determinada região e o estabelecimento de

vantagens.

25 - Baiardi, Amílcar. Revista Baiana de Tecnologia – TECBAHIA. Ciência, Tecnologia e a Rediscussão da Questão Regional. Camaçari. V. 11, N. 1, Jan/abr 1996.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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A despeito da identificação efetivada pelos economistas clássicos, não existiu uma

contribuição em termos do aprofundamento da análise e da sistematização do papel

da tecnologia ou do progresso técnico no processo de obtenção das vantagens sejam

elas absolutas ou comparativas. Essa contribuição também não apareceu na maioria

dos trabalhos dos economistas neoclássicos; vindo surgir apenas com o trabalho de

Schmookler (1966) – Invention and Economic Growth, que abordou o desempenho da

economia norte-americana no pós Segunda Guerra Mundial, introduzindo a questão

tecnológica como elemento impulsionador do crescimento econômico. A partir de

então a mudança tecnológica e / ou processo de inovação constituem-se em uma área

da economia denominada Economia da Tecnologia. Atualmente, em maior ou menor

grau de influência, seja como elemento constitutivo ou explicador, a mudança

tecnológica passou a ser elemento da maioria das escolas do pensamento

econômico.

Entretanto é nessa nova área de conhecimento da ciência econômica que a mudança /

inovação tecnológica e suas relações com o processo de crescimento e

desenvolvimento econômico vão estar presentes de forma mais profunda e

estruturada. Baiardi (1996) chama atenção para alguns temas que têm sido

importantes questões de análise na Economia da Tecnologia, dentre os quais pode-se

destacar: 01 - As políticas públicas de ciência e tecnologia e das instituições

integrantes do sistema nacional / regional de inovações tecnológicas e seus impactos

econômicos. 02 – As decisões empresariais e o processo de inovação tecnológica

(produção e introdução de inovações). 03 – O funcionamento do sistema de geração

de tecnologias e os mecanismos de endogeneização da demanda pela pesquisa e

desenvolvimento – P&D. 04 – Os mecanismos de aumento da competitividade dos

sistemas econômicos nacionais e regionais, através da competitividade

microeconômica ou da competitividade sistêmica.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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Percebe-se, então, que a o processo de inovação tecnológica e todas as questões

inerentes ao progresso técnico, irão proporcionar a criação de vantagens decisivas no

processo de crescimento e desenvolvimento econômico, sendo que, não só os

diferentes estados de acumulação de capital, mas, também, os diferentes estados de

acumulação tecnológica serão determinantes na obtenção e manutenção de vantagens

entre países e regiões. Vernon26 (1979) analisa que o processo de inovação e

acumulação tecnológica tem influenciado no ciclo de vida dos produtos (concepção,

desenvolvimento e vida comercial) e com isso, influenciado favoravelmente a obtenção

e manutenção de vantagens no comércio internacional através da manutenção de

lucros extraordinários de monopólios. Dessa forma, quanto maior o espaço de tempo

que uma determinada região ou nação puder sustentar a sua vantagem tecnológica -

gap, maiores os benefícios auferidos no comércio internacional com os países

exportadores de produtos estandartizados que não podem viabilizar lucros

extraordinários de monopólio.

Essa nova visão de obtenção de vantagens através do processo de inovação

tecnológica avança, não somente em relação à teoria clássica de vantagens absolutas

e comparativas, mas também em relação os modelos neoclássicos de análise do

comércio internacional. Para Dosi e Soete27 (1990) as investigações dos modelos

neoclássicos que apontam para as imperfeições de mercado, rendas de oligopólios e

de monopólios e as inequalizações do fator preço, não seriam suficientes ou únicas

para explicar os desempenhos assimétricos entre as regiões e ou nações. Para esses

autores o desenvolvimento de um sistema de inovação tecnológica (capacidade

inovativa), que deve ser entendido pela convergência entre acumulação de capital e

acumulação de tecnologias, configura-se em elemento preponderante na explicação

26 - Vernon, R. La inversion internacional y el comercio internacional em el ciclo de productos. In Rosenberg, N. Economia Del cambio tecnológico. México: Fondo de Cultura Econômica, 1979.

27 - Dosi, G. Soete, L. Technical change and international trade. In: Dosi, G. et al. Technical change end economic theory. London: Pinter Publishers, 1990.

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das diferenças nas relações de comércio, das alterações na relação peso / valor de

um produto e das dificuldades em alcançar um equilíbrio nas relações de troca,

gerando com isso implicações virtuosas ou perversas nos padrões de alocação de

investimentos (Baiardi, 1996).

É interessante observar que as questões ligadas às assimetrias entre regiões ou

nações dentro do sistema capitalista ou dos intercâmbios desiguais já haviam sido

observadas, segundo Baiardi (2005), também por alguns autores da escola marxista

(Arghiri Emmanuel, Samir Amin e outros). Apesar do enfoque desses autores não se

ater especificamente à questão da inovação tecnológica, a abordagem dessa escola

de pensamento francesa é, de certa forma, pioneira na identificação de assimetrias

entre regiões, baseadas não somente na obtenção de vantagens absolutas ou

comparativas, mas na conquista de vantagens através do intercâmbio de duas

mercadorias que se dão em uma relação diferente daquela que resultaria da lei de

valor (intercâmbio desigual). Os autores analisam os elementos da composição

orgânica do capital entre diversas regiões ou nações e as características de seus

fatores (estrutura, mobilidade, etc.) tais como investimentos e mão-de-obra (trabalho),

taxas de lucro, salários, etc., para explicar as diferenças nas relações de trocas entre

nações ou regiões.

2.4.2 –Che Guevara, a valorização do capital e o intercâmbio desigual.

Na mesma linha de análise das assimetrias e intercâmbio desigual, um pensador,

pouco citado pelas escolas de pensamento econômico, Ernesto Che Guevara, em

seus trabalhos, também abordou o tema. Segundo Baiardi28 (2005), para Che Guevara

o pensamento econômico marxista não oferecia, em sua fundamentação, respostas

28 BAIARDI, A. ; MENDES, J. . A HETERODOXIA NO PENSAMENTO ECONÔMICO DE ERNESTO CHEGUEVARA. In: 4º Colóquio Marx e Engels, 2005, Campinas. Anais do 4º Colóquio Marx e Engels. Campinas : Centro de Estudos Marxistas, CEMARX, 2005. v. 1. p. 46-68.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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satisfatórias para os problemas como o financiamento da produção, o abastecimento,

a remuneração dos fatores e as relações de comércio internacional. Dessa forma,

apesar de seu pensamento orientar-se essencialmente pelas idéias marxistas, ele

buscou inspiração em outras fontes do pensamento econômico para desenvolver suas

proposições.

As divergências das proposições de Che Guevara e o pensamento marxista são

notados em alguns momentos, dentre os quais pode-se destacar seu entendimento

com relação à gestão coletiva e descentralizada da atividade econômica, acreditando

ele, ser possível em uma economia socialista. Ele advoga que a autonomia da gestão

produtiva não deveria ser reduzida à agricultura, mas também poderia ser aplicada à

indústria de bens de consumo de setores não estratégicos, através de uma economia

planificada democraticamente. Essa posição divergia, em certa medida, da

programação centralizada adotada pelos países do Comecon29, que visava o

desenvolvimento harmônico e proporcional da economia, pois, Guevara discordava

que o planejamento fosse uma “camisa de força” que não pudesse ser modificado, ver

Baiardi (2005).

Destaca-se ainda um outro aspecto que diz respeito ao financiamento do investimento

produtivo e o custeio da produção. Para o autor a alocação de recursos para a

ampliação e manutenção da capacidade produtiva na economia, devia fazer parte de

uma concepção geral de desenvolvimento e de construção do socialismo e, para tanto,

o Estado deveria centralizar e controlar o fluxo de financiamentos e as transferências

de recursos da economia evitando desequilíbrios de uma possível acumulação por

parte de empresas e / ou setores mais dinâmicos. O entendimento do autor era que o

Sistema Orçamentário de Financiamento funcionaria como elemento central cuja

operacionalização propiciaria a aplicação, na medida do possível, da lei do valor nas

trocas e que pudessem expressar as condições médias de alocação de capital

29 - Comecon ou Komecon Conselho de Ajuda Mútua Econômica. Bloco econômico dos países socialistas,

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constante e capital variável no conjunto da economia.(Baiardi, 2005). A despeito de

não se apresentar como um formulador e não ser referencial na literatura econômica,

as reflexões de Ernesto Che Guevara contribuíram, com suas críticas, ao modelo de

planificação socialista.

Segundo Baiardi (2005), [...] Guevara identificava uma série de fatores que

influenciariam os preços internacionais e que não atuariam sobre os preços do

segmento socialista da economia cubana. Entre eles estariam o avanço

tecnológico[...]. Nessa ótica, Guevara apresenta um quadro comparativo com as

quantidades de produtos primários necessários para adquirir um produto

manufaturado (trator) (tabela 02), ressaltando, com isso, que firmas ou setores e até

mesmo nações que consigam aumentar sua composição orgânica do capital (C/V)

conseguiram obter vantagens no seu comércio internacional.

Tabela 02. Quantidades de produtos primários necessários para adquirir um trator de

30 -39 HP.

Cantidades de productos primários necesarias para adquiri um tractor de 30-39 HP.

(Fuentes: FAO, Production Yearbook; Financial Statistics)

Productos y porcentaje País Cantidades necesarias Aumento

de sus exportaciones (en Tn. Métricas) (Tn. Métricas) (Porcentaje)

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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1955 1962

Cacao 67% Ghana 3.06 7.14 4.08 133%

Aceite de coco 35% Filipinas 11.21 13.63 2.42 21%

Café 46% Brasil 2.38 4.79 2.41 101%

Cobre 58% Rhodesia 4.23 5.45 1.22 28%

Algodón 71% Rep. Árabe U. 2.11 3.41 1.30 61%

Petróleo 92% Venezuela 938* 1.118* 180 19%

Arroz 71% Birmania 26.35 32.57 6.22 23%

Caucho 66% Malásia 3.27 5.55 2.28 70%

Té 60% Ceilán 1.89 2.93 1.04 55%

Tabaco 25 % Turquia 1.77 2.90 1.13 63%

Lana 55% Uruguay 1.94 2.59 0.58 20%

* Barriles

Fonte: Extraído de Teoria económica del período de transición: Consideraciones sobre los

costos de producción. Ediciones Pasado y Presente (Org.). (Ernesto Che Guevara) 1972.

Em sua argumentação, Baiardi (2005) identifica, através da exposição de Guevara,

que a lei do valor transforma-se em lei de valorização do capital, conferindo vantagens

de intercâmbio às nações.

2.5 – Competitividade e suas abordagens

2.5.1 – Conceitos e divergências

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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Após a breve incursão na linha do tempo sobre os tipos de vantagens econômicas na

competição e suas abordagens teóricas (desde as absolutas abordadas por Smith ou

comparativas introduzidas por Ricardo até os conceitos de região e território), o tema

vantagem competitiva ou competitividade começa a despertar maior interesse teórico

dos estudiosos a partir da década de 70. Isso ocorre “vis a vis” o esgotamento do

poder explicativo das teorias de comércio internacional baseadas nas vantagens

comparativas de Ricardo (custo de oportunidade) e suas derivações teóricas.

É importante destacar que com relação à questão das vantagens, existe uma alteração

da linha teórica até então analisada. Enquanto as teorias de vantagens absolutas e

vantagens comparativas estão centradas no campo das teorias de comércio

internacional, tendo como pressupostos, dentre outros, a não mobilidade dos fatores, a

concorrência perfeita nos mercados e custos constantes à escala; quando é abordado

o tema das vantagens competitivas ou da competitividade, de uma forma geral, os

conceitos estão mais relacionados ao campo das teorias ligadas ao campo da

economia industrial ou da empresa.

Dessa forma, muito se tem discutido sobre o tema sendo várias definições elaboradas

por diversas correntes teóricas sem que se chegasse a uma definição única e

acabada. Entretanto, o termo extrapola sua ambiência teórica e começa a ser utilizado

de forma generalizada e indiscriminada tanto dentro quanto fora dos meios

acadêmicos. Essa popularização do termo em nada auxiliou a construção de conceitos

e postulados que pudessem compor um corpo teórico. Vale ressaltar também a

complexidade do assunto, em termos teóricos, e uma questão particular que ainda

recai sobre o termo que é a sua utilização pelas teorias econômicas e pelas teorias

organizacionais a partir do final da década de 70 e início da de 80.

Em termos de teoria econômica, a análise dos elementos macroeconômicos e

microeconômicos apresentava-se, até então, insuficiente para explicar a maior parte

dos comportamentos das variáveis ambientais. O foco de análise adotado levava a

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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uma compreensão parcial dos fenômenos econômicos a partir da ótica ortodoxa das

escolas clássicas e neoclássicas.

Dessa forma, a teoria econômica buscou encontrar novas concepções / formulações

que auxiliassem o entendimento do comportamento das organizações, indústrias /

segmentos e regiões ou mesmo países, surgindo então, dentre outros conceitos, o de

competitividade ou de vantagens competitivas. Segundo Vasconcelos30 (2000) “a

partir dos anos 70, diversas correntes do pensamento econômico abordaram a

questão da vantagem competitiva utilizando abordagens conceituais diferentes”.

Apesar de inúmeros estudos e tentativas de definições, os economistas não

conseguiram consenso com relação a uma definição única sobre competitividade.

No entanto, dentre as abordagens sobre o tema, cabe destacar o trabalho de

Chudnovsky31 (1990) que tenta sistematizar varias definições de competitividade

(conforme quadro a seguir), propondo a existência de enfoques macroeconômicos e

microeconômicos nos conceitos de competitividade.

Kupfer32 (1992) analisa os enfoques propostos por Chudnovsky ressaltando que no

enfoque microeconômico as definições de competitividade estão centradas na firma

(quadro 01), mesmo que para alguns teóricos, as definições possam ser

generalizadas, por extensão, para regiões ou países. Já no enfoque macroeconômico

as definições de competitividade aparecem invariavelmente como capacidades de

economias nacionais apresentarem resultados econômicos satisfatórios (quadro 02),

30 Vasconcelos, F.C. Vantagem Competitiva: Os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional. RAE – Revista de Administração de Empresas. Out./dez. 2000. São Paulo, v.40. n. 4. p.20-37.

31 Chudnovsky, D. La Competitividad Intenacional: Principales Cuestiones Conceptuales y Metodológicas. *Documento revisado del estudio preparado para el Centro de Estudios e Investigación de PostgradoCEIPOS), Universidad de la República, Uruguay en enero de 1990.

32 Kupfer, D. Padrões de Concorrência e Competitividade. Texto para Discussão 265, IEI/UFRJ, publicado nos Anais do XX Encontro Nacional da ANPEC, Campos do Jordão, SP. 1992

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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ou ainda, de forma mais abrangente, apresentar esses resultados econômicos

simultaneamente à melhoria no nível de vida da população (quadro 03).

Chudnovsky identifica que a passagem do nível microeconômico para o macro

sustenta algumas dificuldades. O primeiro ponto salienta a dificuldade de identificação

do sujeito / agente, que em nível micro pode ser identificado facilmente como a firma,

mas que em nível macro suscita dúvidas. O segundo ponto é a definição de critérios

objetivos para medição da competitividade, bem como a identificação das fontes de

competitividade.

Definições centradas o conceito da firma“Competitividade é a aptidão de vender aquilo que é produzido” (Mathis et al, 1988)"Significa a capacidade das empresas de um dado país de conceber / desenhar, desenvolver, produzir e vender seus produtos em concorrência com outras empresas baseadas em outros países" (Alic, 1987, pag. 5)"A competitividade industrial é uma medida da capacidade imediata e futura dos empresários de conceber, produzir e vender produtos cujos atributos em termos de preço e além dos preços configurem um pacote mais atrativo que os produtos similares oferecidos pelos competidores: onde o juiz final será o mercado"(European Management Forum, 1980, citado por Chesnais, 1981, pág.10)"A capacidade de uma indústria (ou empresa) de produzir bens com padrões dequalidade específicos, requeridos por determinados mercados, utilizando recursos em níveis iguais ou inferiores aos utilizados por indústria semelhantes no resto do mundo por um determinado período de tempo" (Haguenauer, 1989, pag. 23)"Uma economia é competitiva na produção de um determinado bem quando pode, pelo menos, igualar os padrões de eficiência vigentes no resto do mundo em termos de utilização de recursos e qualidade do bem" (Tavares de Araujo Jr et al, 1989, pag 1 y 2)"Uma firma (ou uma economia nacional) será competitiva se é vitoriosa (possui uma boa colocação) em sua confrontação com seus competidores no mercado (nacional ou mundial)" (Michalet, 1981, pag.1, subrayado en el original)

Quadro 01: Definições de Competitividade – Conceito da firma. Fonte: Elaborado a partir do texto La Competitividad Intenacional: Principales Cuestiones Conceptuales y Metodológicas. CHUDNOVSKY, 1990. Elaboração própria.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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Definições centradas na capacidade de uma economia nacional em atuar no comércio internacional

"Se identifica a competitividade com a capacidade de fazer retroceder os limites de restrição externa..." Mathis et al (1988) (pág. 7)."A capacidade de um país (ou grupo de países) de enfrentar a competição a nível mundial. Inclusive tanto a capacidade de um país exportar e vender nos mercados externos como sua capacidade de defender seu próprio mercado doméstico daexcessiva penetração das importações" (Chesnais, 1981, pág. 8).“É basicamente a participação das exportações de um país no mercado mundial” (Fouquin, 1986).

Quadro 02: Definições de Competitividade – Comércio internacional.Fonte: Elaborado a partir do texto La Competitividad Intenacional: Principales Cuestiones Conceptuales y Metodológicas. CHUDNOVSKY, 1990. Elaboração própria.

Definições centradas não apenas em termos de comércio internacional ou da defesa do mercado nacional, mas no bem estar econômico e aumento

do nível de renda"A capacidade de um país em alcançar objetivos fundamentais de política econômica, tais como o crescimento de entradas e empregos, sem incorrer em dificuldades na balança de pagamentos " (Fagerberg, 1988, pag. 355)"É quando uma nação pode, em condições de livre comércio, produzir bens e serviços que satisfaçam as exigências dos mercados internacionais e simultaneamente, manter ou expandir a renda de seus cidadãos" (President's Commission on IndustrialCompetitiveness, 1985, pag. 6)"A capacidade de produzir, distribuir e prover bens e serviços na economiainternacional em concorrência com bens e serviços de outros países, e fazê-lo de forma a aumentar o nível de vida da população" (Scott, 1985, pag.14 y 15)"É quando um país, em um mundo de mercados abertos, produz bens e serviços que satisfaçam as exigências do mercado e simultaneamente expanda seu PIB per capitã,ao menos tão rapidamente quanto seus parceiros comerciais " (Jones y Teece, 1988, pag. 108)"A capacidade de um país para sustentar e expandir sua participação nos mercados internacionais e elevar simultaneamente o nível de vida de sua população. Isto exige o incremento da produtividade e, por último, a incorporação de progresso técnico"(Fajnzylber, 1988, pag. 13)

Quadro 03: Definições de Competitividade – Bem estar econômico.Fonte: Elaborado a partir do texto La Competitividad Intenacional: Principales Cuestiones Conceptuales y Metodológicas. CHUDNOVSKY, 1990. Elaboração própria.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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Kupfer (1992) não concorda com o posicionamento de Chudnovsky (1990) com

relação ausência de dificuldades na conceituação de competitividade em termos

microeconômico, o qual seria:

[…] A nivel microeconómico el concepto de competitividad no ofrece mayores dificultades. Em primer lugar, el agenteeconómico de que se trata es fácilmente identificable, unaempresa productora de bienes o servicios. En segundo lugar, dicha empresa está dirigida por sus dueños o ejecutivos que fijan una estrategia de producción y comercialización y,eventualmente, de desarrollo tecnológico y toman decisionespara poner en práctica dicha estrategia. Finalmente, losresultados obtenidos se van a reflejar en las ventas logradas y, por ende, en la participación en el mercado respectivo. Aúncuando a veces una mayor participación en el mercado se logra a costa de los márgenes de ganancia, es lícito suponer, en el mediano plazo, una correlación positiva entre participación en el mercado y márgenes de ganância. (CHUDNOVSKY, D. LaCompetitividad Intenacional: Principales CuestionesConceptuales y Metodológicas.p.10)

Kupfer (1992) justifica ainda sua discordância postulando que mesmo em nível

microeconômico, estabelecer uma noção precisa e operacionalizável de

competitividade encerra ainda muitas dificuldades:

[...] A seleção de estratégias competitivas e a tomada dedecisão empresarial está longe de ser um processo trivial,mormente em ambientes sujeitos a inovação tecnológica, pois as informações que condicionam esse processo não podem sercompletamente obtidas dos sinais emitidos a cada instante pelo mercado.A noção de competitividade, portanto, não pode prescindir de fundamentos microeconômicos genéricos, que sejam pertinentes com suas particularidades enquanto objeto analítico. Essesfundamentos, por sua vez, são demarcados pela dinâmica do processo de concorrência, em particular, pela interação entre as condições estruturais que o direcionam e as condutas inovativas das empresas que o transformam.(KUPFER, D. Padrões de Concorrência e Competitividade .p.01. 1992)

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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Essa correlação entre os conceitos de competitividade e de concorrência feita por

Kupfer (1992) é importante para a compreensão da complexidade que envolve as

definições de competitividade. No enfoque do autor, depreende-se que sem os

conceitos de concorrência e a as noções de firma, industria e mercado com a

identificação de suas variáveis básicas descritivas, não existe, a princípio,

competitividade.

Haguenauer33 (1989) procurou sistematizar conceitos de competitividade em dois

grandes grupos. Os conceitos de competitividade baseados no desempenho e na

eficiência:

CONCEITO DESEMPENHO

[...] A noção mais simples, implícita em grande parte dos textos, associa competitividade ao desempenho das exportaçõesindustriais. Trata-se de um conceito ex-post, que avalia acompetitividade através de seus efeitos sobre o comércioexterno: são competitivas as indústrias que ampliam suaparticipação na oferta internacional de determinados produtos. Além de ser quase intuitivo, a vantagem deste conceito está na facilidade de construção de indicadores, argumento utilizado, por exemplo, por Gonçalves (1987) na análise das exportaçõesbrasileiras. É ainda o conceito mais amplo de competitividade, abrangendo não só as condições de produção como todos os fatores que inibem ou ampliam as exportações de produtos e / ou países específicos, como as políticas cambial e comercial, a eficiência dos canais de comercialização e dos sistemas de financiamento, acordos internacionais (entre países ouempresas), estratégias de firmas transnacionais, etc..Mesmo autores que incorporam outros elementos à noção de competitividade enfatizam o papel do desempenho exportador no conceito: “a competitividade consiste na capacidade de um país para manter e expandir sua participação nos mercadosinternacionais e elevar simultaneamente o nível de vida de sua população. (Fajnzylber, 1988, p.13)”.(HAGUENAUER, L.

33 - Haguenauer, L. Competitividade: Conceitos e Medidas: Uma resenha da Bibliografia recente com ênfase no caso brasileiro. Texto para discussão n. 211. p.02. UFRJ / IEI. 1989.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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Competitividade: Conceitos e Medidas: Uma resenha daBibliografia recente com ênfase no caso brasileiro .p.02. 1989)

CONCEITO EFICIÊNCIA

[...] Outra linha de autores vê a competitividade como umacaracterística estrutural, conceituando-a como a capacidade de um país de produzir determinados bens igualando ou superando os níveis de eficiência observáveis em outras economias. Ocrescimento das exportações seria uma provável conseqüência da competitividade, não sua expressão. Em relação àcompetitividade no desempenho, é um conceito potencial, ex-ante, e geralmente restrito às condições deprodução.(HAGUENAUER, L. Competitividade: Conceitos eMedidas: Uma resenha da Bibliografia recente com ênfase no caso brasileiro .p.03. 1989)

Essa sistematização efetivada pela autora leva a uma outra possível caracterização

sobre a abordagem da competitividade que é seu enfoque ex-ante ou ex-post.

Segundo Kupfer, o conceito competitividade desempenho tenderia a um enfoque ex-

post, ou seja, como resultado de um vasto conjunto de fatores utilizados pelo agente. E

o conceito competitividade eficiência estaria atrelado a um enfoque ex-ante, ou seja, o

grau de capacitação detido pela firma de concorrer.

Ambos enfoques auxiliam no entendimento das dimensões dos conceitos de

competitividade, porém, não extinguem as limitações conceituais efetivadas até então,

pois, não conseguem ainda tratar o caráter estático das abordagens. Kupfer analisa

que, em uma abordagem dinâmica, os conceitos e enfoques sobre competitividade

relacionando com desempenho e eficiência são tautológicos, não se podem, em

princípio, estabelecer relações diretas de causalidade.

Fanjzylber34 além de sua conceituação para competitividade acrescenta uma nova

dimensão para o conceito.

34 - Fajnzylber, F. (1988).Competitividad Internacional: Evolucion y Licciones; Revista de La Cepal; n. 36; Santiago.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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[...] A capacidade de um país para sustentar e expandir sua participação nos mercados internacionais e elevarsimultaneamente o nível de vida de sua população. Isto exige o incremento da produtividade e, por último, a incorporação de progresso técnico[...] (Fajnzylber, F. (1988).CompetitividadInternacional: Evolucion y Licciones; Revista de La Cepal; n. 36; Santiago).

Segundo o autor a competitividade pode ser considerada espúria se consistir em

ganhos de produtividade e de fatias de mercado conquistados através de um

empobrecimento da nação / região (salários baixos e subsídios); e, a competitividade

legítima que consiste em um conceito com forte vinculação à incorporação de

progresso técnico, dinamismo industrial e elevação da produtividade.

Possas e Carvalho35 (1990), ainda sob a ótica da firma, definem competitividade como

sendo “o poder de definir (formular e implementar) estratégias de valorização do

capital, desde que baseado em aspectos econômicos e não institucionais”.

2.5.2 – Competitividade Sistêmica

Teixeira36 (2003) concorda que o conceito de competitividade, embora bastante

utilizado nos meios acadêmicos, revela ainda lacunas teóricas e empíricas associadas

a estudos sobre estruturas e políticas industriais. Segundo o autor, as distintas

acepções do conceito de competitividade estão relacionadas a diferentes linhas

teóricas. Dentro da escola neoclássica, o conceito teria forte vinculação industrial, cujo

foco seria o distanciamento entre o desempenho de um dado setor industrial e aqueles

teoricamente possíveis de serem obtidos através da concorrência perfeita. Essa proxy

conceitual explica-se pela utilização de um modelo de concorrência perfeita

neoclássica com pressupostos que garantam estruturas industriais perfeitamente

35 Possas, M. L. e Carvalho, E.A.; Competitividade Internacional: Um enfoque teórico; mimeo; s.d

36 Teixeira, Francisco; Guerra, Oswaldo. A Competitividade na Cadeia de suprimento da Indústria de Petróleo no Brasil. R. Econ. Contemporânea. Rio de Janeiro, 7(2): 263-288, jul/dez. 2003.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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competitivas com grande número de empresas; homogeneidade dos produtos;

ausência de barreiras à entrada; e plena informação.

Teixeira prossegue ainda relacionando, em paralelo à concepção neoclássica, o

surgimento de uma outra concepção para o termo competitividade. Essa concepção

tem origem na insuficiência que a teoria neoclássica teria para dar respostas

razoáveis aos problemas reais em termos de eficiência econômica. Nessa

abordagem, na qual a firma teria resgatado um papel de maior relevância, a

competitividade estaria associada à indicadores de desempenho resultantes das

condutas empresariais que, estariam inseridas dentro de uma estrutura de indústria,

que forçariam, por sua vez, a uma conduta. Esse resgate da firma como ator principal

no processo econômico fica claro no modelo E-C-D de Mason (1939) Estrutura-

Conduta-Desempenho (figura 07).

Figura 07: Modelo Estrutura –Conduta – Desempenho. Fonte: Adaptado de Scherer e Ross (1990). Elaboração própria.

Nessa abordagem alternativa fica evidente que a eficiência econômica neoclássica

(alocativa / distributiva / produtiva) divide espaço com uma eficiência dinâmica por

considerar as possibilidades de trade-offs e ainda por considerar lucros

extraordinários aceitáveis, dentro de determinados parâmetros, como forma de

Estrutura- Número e tamanho

de empresas.-Barreiras à entrada

e saída.-Diferenciação de

Produto- Integração Vertical

Conduta-Estratégia de preço.- Estratégia de mkt.- Estratégia de P&D.-Estratégia de

Logística.

Desempenho-Eficiência produtiva

e alocativa.- Progresso técnico.- Pleno Emprego.-Equidade Sócio-

econômica.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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viabilizar investimentos em P&D. Entretanto essas duas concepções de

competitividade, além de não suprir completamente as lacunas teóricas, trabalham

sob uma perspectiva de análise de performance competitiva de atividades específicas

(setores / segmentos industriais); Teixeira (2003) coaduna com a opinião de Krugman

(1999) que transpor o conceito de competitividade para regiões e países exigiria

adaptações metodológicas que não seriam triviais. Para esses autores é difícil

estabelecer o que é um país competitivo, devido ao forte componente setorial /

microeconômico implícito nessa noção de competitividade.

Entretanto, sob a ótica de Fajnzylber, o conceito de competitividade sistêmica ganha

uma análise teórica, consubstanciada em estudos empíricos nas décadas de 70 e 80,

em países industrializados (Japão, Estados Unidos e Alemanha) e nos chamados NICs

– Newly Industrialized Countries. Apesar de não utilizar o termo competitividade

sistêmica, nesses estudos o autor caracteriza a competitividade em duas dimensões:

autêntica ou espúria, sendo a primeira obtida através do aumento da produtividade e

da incorporação de progresso técnico, e a segunda, conseguida por desvalorizações

cambiais, restrições de demanda, subsídios, mão de obra barata, etc... Em síntese,

para Fajnzylber (1989), competitividade sistêmica é o resultado da confrontação de

sistemas produtivos, esquemas institucionais e organismos sociais.

[…] En el mercado internacional compiten no solo empresas. Seconfrontam también sistemas productivos, esquemasinstitucionales y organismos sociales, em los que la empresa contituye um elemento importante, pero integrado em uma red de vinculaciones com el sistema educativo, la infraestruturatecnológica, lãs relaciones gerencial-laborales, el aparatoinstitucional público y privado, el sistema financiero,etcétera....”(FAJNZYLBER, F. Competitividad Internacional:evolucion y lecciones .p.XX. 1988)

O autor prossegue ainda sua análise identificando os fatores condicionantes da

competitividade internacional (quadro 04).

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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Condicionantes da Competitividade Internacional (Fajnzylber, 1988)01. Elevados níveis de investimento.02. Alocação de recursos para investimentos em setores estratégicos.03. Legislação trabalhista favorável (flexibilidade, seguridade social, educação,qualidade de mão de obra).04. Relações trabalhistas harmoniosas e cooperação construtiva entre os distintos atores econômicos, sociais e políticos.05. Inovações organizacionais (relações de cooperação horizontais intra firmas e inter firmas).06. Sistema educacional adequado para a formação de recursos humanos habilitados para a reestruturação produtiva com a incorporação de progresso técnico.07. Construção de vantagens comparativas com a absorção de progresso técnico.08. Uso de instrumentos de política e a dimensão institucional.

Quadro 04: Condicionantes da Competitividade Internacional. Fonte: Elaborado a partir do texto “Competitividade Sistêmica: A contribuição de Fernando Fajnzylber” Wilson Suzigan37 e Suzana Cristina Fernandes.UNICAMP. Elaboração própria.

Verifica-se então que, apesar de muitos autores não concordarem com conceito de

competitividade em termos macroeconômicos, ou entenderem que transposição do

conceito da firma para regiões ou mesmo países é uma tarefa de difícil execução,

existe uma corrente de teóricos que advogam que o conceito de competitividade,

quando analisado de forma sistêmica, pode ser utilizado para analisar a

competitividade de regiões e nações.

37 - Suzigan, W; Fernandes, S. C. Competitividade Sistêmica: A Contribuição de Fernando Fajnzylber. IE/UNICAMP. In mimeo. 2002.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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” Pretenderíamos com isso dizer que o desenvolvimento econômico não é um

fenômeno a ser explicado economicamente, mas que a economia, em si mesma sem

desenvolvimento, é arrastada pelas mudanças do mundo à sua volta, e que as causas,

e portanto a explicação do desenvolvimento, devem ser procuradas fora do grupo de

fatos que são descritos pela teoria econômica”

“O Desenvolvimento, no sentido que tomamos, é um fenômeno distinto, inteiramente

estranho ao que pode ser observado no fluxo circular ou na tendência para o equilíbrio.

É uma mudança espontânea e descontínua nos canais do fluxo, perturbação do

equilíbrio, que altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio previamente

existente”

Joseph Alois Schumpeter, 1934

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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3 – Vantagens e Inovação

3.1 – O Pensamento de Schumpeter: Inovação, Crédito e Destruição Criativa

3.1.1 - A concepção de equilíbrio de Walras como início

O Diamante Nacional de Porter trabalha implicitamente com o conceito de tecnologia

com sendo um dos fatores importantes na sua construção como modelo de

desenvolvimento econômico. Nesse aspecto é importante analisar a contribuição de

Joseph Alois Schumpeter e dos neo-schumpeterianos.

Schumpeter e sua Teoria do Desenvolvimento Econômico – TDE contribuíram para a

construção do modelo de Porter em dois aspectos fundamentais: Inovação e Crédito.

Os fundamentos desses dois conceitos abordados por Schumpeter estão alicerçados

no pensamento econômico do início do século XX, que estava bastante envolvido com

as Teorias do equilíbrio econômico geral. Vários economistas38 no final do século XIX

e início do século XX dedicaram seus esforços teóricos para a formulação de teorias

que explicassem o sistema econômico a partir de uma teoria do equilíbrio. Dentre

38 Para Napoleoni a teoria do equilíbrio se formou a partir da obra dos maiores economistas do fim do século XIX:Menger na Áustria; Jevons, Edgeworth e Marshall na Inglaterra; Walras na França;Pareto e Barone na Itália; Clark e Fischer na América; Wicksell na Suécia.

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esses economistas Schumpeter utiliza-se da formulação de Walras da teoria do

equilíbrio para desenvolver seus conceitos e teorias.

Por ser fortemente embasada em equações algébricas, a formulação teórica do

equilíbrio proposta por Walras é uma das mais completas e rigorosas e por isso,

talvez, os elogios de Schumpeter ao economista. Não é propósito desse trabalho

explicitar em detalhes os conceitos desenvolvidos por Walras, entretanto serão

apresentadas as principais idéias que seriam posteriormente trabalhadas por

Schumpeter. Segundo Napoleoni,39 Walras trabalhou o conceito de riqueza social e fez

algumas categorizações interessantes. Para o autor o conceito de riqueza social

diferente do conceito ricardiano, [...] é o conjunto das coisas materiais ou imateriais

que são escassas, isto é, que por um lado nos são úteis e por outro, não são

disponíveis a não ser em quantidades limitadas [...]. Essa conceituação confere três

propriedades à riqueza: ser apropriável, ser objeto de troca e ser objeto da atividade

produtiva. Napoleoni identifica a classificação e as categorias (quadro 05) definidas

por Walras para o conceito de riqueza social:

Classificação de Riqueza Social Categorias

Os

capitais

São os Bens que não se

exaurem ao serem usados

uma única vez, mas que

ainda podem servir

novamente, ou ainda são os

bens duráveis.

01 – As Terras

02 – Os Capitais (máquinas, edifícios,

etc.)

03 – Os Capitais pessoais (capacidade

de trabalho)

Os

Rendimen

-tos

São os Bens que se exaurem

num só uso, que servem

apenas uma vez.

01 – Bens de consumo não duráveis.

02 – Bens intermediários (usados na

produção)

03 – Serviços dos bens de capital.

39 Napoleoni, Cláudio. O Pensamento Econômico do século XX. Círculo do Livro. Editora Paz e Terra. São Paulo, Brasil.

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Quadro 05: Classificação de Riqueza Social, segundo Walras. Fonte: Produzido a partir de “O Pensamento Econômico do século XX”. Napoleoni, Cláudio. Círculo do Livro. Editora Paz e Terra. São Paulo, Brasil. Elaboração própria.

A partir da classificação e da categorização feita do conceito de riqueza social Walras

estrutura sua teoria do equilíbrio em quatro etapas (quadro 06).

Etapa 01 Etapa 02 Etapa 03 Etapa 04

Teoria da Troca:

ocupa-se da

determinação

das quantidades

trocadas e dos

preços dos bens

de consumo

Teoria da

Produção: ocupa-

se das quantidades

trocadas e dos

preços, seja dos

serviços produtivos

de capital, seja dos

bens

intermediários.

Teoria da

Capitalização:

ocupa-se das

quantidades

produzidas dos

capitais

propriamente

ditos e dos seus

preços.

A distribuição no tempo,

seja do aprovisionamento

dos bens intermediários,

seja da venda de

produtos, pode requerer à

necessidade de

antecipações.

(aparecimento do

fenômeno do capital

circulante)

Quadro 06: Etapas da teoria do equilíbrio, segundo Walras. Fonte: Produzido a partir de “O Pensamento Econômico do século XX”. Napoleoni, Cláudio. Círculo do Livro. Editora Paz e Terra. São Paulo, Brasil. Elaboração própria.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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Walras imagina ainda três agentes no sistema econômico (quadro 07), ligados ao

conceito de riqueza social e suas categorias e um quarto agente econômico que seria

uma das figuras centrais no trabalho de Schumpeter:

Categorias do Capital Agentes ligados ao Capital Outros

01 – As Terras

02 – Os Capitais (máquinas,

edifícios, etc.)

03 – Os Capitais pessoais

(capacidade de trabalho)

01 – Proprietários rurais

02 – Os Capitalistas no sentido

estrito

03 – Os Trabalhadores

Empresários

Quadro 07: Agentes no sistema econômico, segundo Walras. Fonte: Produzido a partir de “O Pensamento Econômico do século XX”. Napoleoni, Cláudio. Círculo do Livro. Editora Paz e Terra. São Paulo, Brasil. Elaboração própria.

Cada um desses agentes econômicos, enquanto ligados a uma categoria de capital

oferecem serviços produtivos desses mesmos capitais ao mercado. Walras, no

entanto, faz uma distinção, até então não existente, entre os capitalistas no sentido

mais estrito, como sendo aqueles que detêm os meios de produção (máquinas,

edifícios, etc.) e uma nova categoria de agente econômico: os empresários que são os

que adquirem no mercado os fatores de produção e, com base em uma tecnologia

dada, os combinam em processos produtivos dos quais surgem os produtos.

Dessa forma, o sistema econômico analisado por Walras e sua Teoria do equilíbrio,

advêm da interação desses agentes econômicos e seus fatores. Napoleoni expressa

que a configuração de equilíbrio proposta por Walras tenderia a acontecer, em um

ambiente de concorrência perfeita40, pelo fato de cada agente econômico buscar

comportar-se de modo a conseguir uma posição de máxima satisfação ou máxima

utilidade. Desses comportamentos derivarão conjuntos de quantidades ofertadas e de

40 - Cada um dos agentes econômicos seja suficientemente pequeno em relação ao mercado global, de maneira a não influenciar, nem com sua oferta nem com sua demanda os preços do mercado.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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quantidades demandadas que se confrontarão no mercado; e o sistema de preços

dado pelo mercado se modificará a medida que oferta e demanda se confrontem num

processo contínuo até que se dê a igualdade completa entre quantidades ofertadas e

quantidades demandadas. O equilíbrio sistêmico ocorrerá quando duas condições se

justaporem. A condição denominada por Walras de condição subjetiva, que é a busca

por uma posição de máximo de cada agente isoladamente e a condição objetiva que

residiria justamente no equilíbrio entre demanda e oferta em um determinado mercado,

que garanta a condição subjetiva.

Um dos problemas expostos pela Teoria do equilíbrio de Walras diz respeito à

dificuldade do sistema em determinar / convergir uma única taxa de retorno para vários

capitais. Segundo Napoleoni, embora existam mecanismos para determinar o preço

de equilíbrio dos vários produtos através da confrontação entre demanda e oferta, para

as taxas de retornos dos diferentes capitais não existiriam mecanismos suficientes

para uma convergência a uma única taxa no mercado. Os problemas de taxas de

retorno e formação do capital colocaram dificuldades à teoria do equilíbrio geral.

3.1.2 - Teoria do Desenvolvimento Econômico (TDE) – Inovação, Crédito e a

Destruição Criativa

A teoria do equilíbrio econômico geral descrita por Walras é utilizada por Schumpeter

para o desenvolvimento de algumas de suas análises e conceituações no início do

século XX. Uma das questões prementes, que se apresentava aos economistas e

estudiosos dessa época, era como ocorria o processo de desenvolvimento

econômico. Schumpeter ao assumir a teoria do equilíbrio de Walras como ponto de

partida para suas indagações sobre desenvolvimento econômico, aceita os fatores e

agentes identificados por Walras e seu entendimento que o sistema econômico

tenderia ao equilíbrio. Entretanto, Schumpeter questiona que, partindo do pressuposto

da tendência ao equilíbrio, não existiria o desenvolvimento econômico, mas apenas um

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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crescimento vegetativo devido ao aumento da população e / ou da oferta de força de

trabalho.

Dessa forma, Schumpeter desenvolve a tese de que para que ocorresse o processo

de desenvolvimento econômico seria necessária uma ruptura nesse estado de

equilíbrio estacionário. O autor analisou que a conjunção das condições subjetivas e

objetivas apontadas no modelo walrasiano tendiam a se repetir continuamente em

busca de uma posição de máximo rendimento. Entretanto, esse processo reduziria o

papel dos agentes econômicos a uma rotina cíclica na qual seriam produzidos e

consumidos os mesmos bens e os fatores seriam sempre combinados da mesma

forma.

Schumpeter analisou que a ruptura desse processo e o conseqüente desenvolvimento

econômico adviriam de eventos que modificariam o sistema produtivo. Essas

modificações foram identificadas por ele com o termo inovações e a elas foram

atribuídas classificações (figura 08).

Inovações

Novos Bens ou características

Introdução de umnovo bem ou deuma nova qualidade de um certo bem.

Novos Métodos

Introdução de umnovo método deprodução, nãoexperimentado emdeterminado ramoprodutivo.

NovosMercados

Abertura de umnovo mercado para uma determinadaindústria.

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Figura 08: Classificação das inovações, segundo Schumpeter.Fonte: Produzido a partir de Teoria do Desenvolvimento Econômico – TDE, J.A. Schumpeter. 1934. Elaboração própria.

Entretanto, faz-se necessário destacar uma substancial diferença no entendimento do

agente econômico empresário, que já aparece na configuração do sistema econômico

trabalhado por Walras e o entendimento proposto por Schumpeter. Para Walras o

agente econômico empresário era o elemento que, dada uma determinada tecnologia,

tinha a função de adquirir e combinar os fatores em processos produtivos para a

criação de bens (duráveis, de consumo, intermediários, etc.). Para Schumpeter, a

figura do empresário e da firma como unidades transformadoras têm uma conotação

diferente e muito mais relevante dentro do sistema econômico e no processo de

desenvolvimento. A função precípua do empresário para Schumpeter é trazer a

inovação para dentro do sistema econômico, tal ação é denominada por ele de ato

empresarial; dessa forma, para o autor, empresário é o agente que introduz a

inovação dentro do sistema econômico produzindo uma ruptura e promovendo o

desenvolvimento e sendo a firma o lócus dessa transformação.

Os resultados desses atos empresariais, em princípio, impediriam que a teoria do

equilíbrio geral se confirmasse, pois o aparecimento de lucros diferenciados41

romperia o estado estacionário descrito por Walras. Schumpeter aprofunda sua

41 - Schumpeter também observa que o aparecimento do lucro diferenciado, não quer dizer que ele seja apropriado pelo agente empresário. Esse lucro, fruto do processo de inovação introduzido no sistema, proporcionará um aumento da riqueza social, que poderá estar retido por um dos agentes do sistema,

Novas Fontes de Insumos

O uso de uma nova fonte de oferta de matéria-prima ou de produtos semi-acabados.

NovaOrganização

Estabelecimento de uma novaorganização de uma indústria, como acriação ou rupturade uma posição de monopólio.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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análise, vislumbrando que os atos empresariais que introduzissem inovações42 no

sistema econômico tenderiam, num processo de concorrência perfeita, a serem

repetidos pelas demais firmas, provocando com isso o desaparecimento dos lucros

diferenciados, voltando, a princípio, ao estado estacionário. Entretanto Schumpeter

observa que o processo de inovação é intrinsecamente radical e contínuo, ou seja, ele

estaria sempre acontecendo em alguma parte do sistema, proporcionando sempre o

aparecimento de lucros diferenciados em algum tipo de indústria e dando continuidade

ao processo de desenvolvimento econômico.

[...] Entenderemos por ‘Desenvolvimento’, portanto, apenas as mudanças da vida econômica que não lhes forem impostas de fora, mas que surjam de dentro, por própria iniciativa. Se se concluir que não há tais mudanças emergindo na própria esfera econômica, e que o que chamamos de desenvolvimentoeconômico é na prática baseado no fato de que os dadosmudam e que a economia se adapta continuamente a eles, então diríamos que não há nenhum desenvolvimento econômico.Pretenderíamos com isso dizer que o desenvolvimentoeconômico não é um fenômeno a ser explicadoeconomicamente, mas que a economia, em si mesma semdesenvolvimento, é arrastada pelas mudanças do mundo à sua volta, e que as causas, e portanto a explicação dodesenvolvimento, devem ser procuradas fora do grupo de fatos que são descritos pela teoria econômica.Nem será designado aqui como um processo dedesenvolvimento o mero crescimento da economia, demonstrado pelo crescimento da população e da riqueza. Por isso nãosuscita nenhum fenômeno qualitativamente novo, mas apenas processos de adaptação da mesma espécie que as mudanças nos dados naturais. Como desejamos dirigir nossa atenção para outros fenômenos, que consideraremos tais incrementos como mudanças dos dados.(SCHUMPETER, J.A. Teoria doDesenvolvimento Econômico – TDE, Cap. II p. 74. 1934).

42 - A despeito da classificação efetivada para o conceito de inovação, Schumpeter dá maior destaque às inovações que proporcionam transformações radicais no sistema, pois estas, segundo o autor,caracterizam, de fato, o processo de desenvolvimento.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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Sua análise prossegue indicando que as inovações radicais possuem o poder

transformador e que tenderiam a gerar desenvolvimento econômico. Schumpeter

coloca:

[...] O Desenvolvimento, no sentido que tomamos, é um fenômeno distinto, inteiramente estranho ao que pode ser observado no fluxo circular ou na tendência para o equilíbrio. É uma mudança espontânea e descontínua nos canais do fluxo, perturbação do equilíbrio, que altera e desloca para sempre o estado deequilíbrio previamente existente [...]. (SCHUMPETER, J.A. Teoriado Desenvolvimento Econômico – TDE, Cap. II p. 78. 1934).

Na categoria de inovações radicais, o autor identifica que, em geral, elas comportam a

construção de novas instalações ou pelo menos a transformação radical das

instalações velhas e / ou obsoletas; e, para que isso realmente possa ser introduzido

no sistema econômico é necessário financiamento desses atos empresariais (crédito).

Schumpeter verifica que no sistema econômico estacionário ou em equilíbrio, as

atividades das firmas são auto-financiadas num processo cíclico por seus próprios

resultados, sendo a necessidade de financiamento mínima. Em um processo de

ruptura que ocasione o desenvolvimento seria necessário um financiamento ao

empresário, até então inexistente, pelo qual ele possa adquirir fatores produtivos para

que sejam orientados para um novo processo produtivo / inovativo.

Schumpeter especula sobre a utilização da poupança como forma de financiamento do

processo inovativo, porém ele argumenta que, ao utilizar um elemento proveniente de

um processo de desenvolvimento precedente, estaríamos incluindo dados da

explicação naquilo que deveria ser explicado. Em outras palavras, Schumpeter tenta,

em sua teoria sobre desenvolvimento, explicá-lo a partir de uma situação sem

desenvolvimento. É importante ressaltar ainda dois aspectos importantes: Primeiro

que, partindo do fluxo circular do equilíbrio walrasiano, não haveria estoques ociosos

de recursos para atender as necessidades dos empresários, não sendo possível o

processo de transformação (inovação) econômica gerando desenvolvimento. Segundo

que o elemento crédito ao qual Schumpeter se refere não deve ser confundido com o

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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crédito corrente presente e necessário ao fluxo circular na situação de equilíbrio.

Dessa forma, Schumpeter esclarece que o empresário é necessariamente um

devedor, pois, em princípio e diferente dos demais agentes econômicos, recebe bens

da corrente social antes de ter contribuído para esta de alguma forma43.

[...] O crédito é essencialmente a criação de poder de compra com o propósito de transferi-lo ao empresário, mas nãosimplesmente a transferência do poder de compra existente. A criação de poder de compra caracteriza, em princípio, o método pelo qual o desenvolvimento é levado a cabo num sistema de propriedade privada e divisão de trabalho. Através do crédito, os empresários obtêm acesso à corrente social dos bens antes que tenham adquirido o direito normal a ela. (SCHUMPETER, J.A. Teoria do Desenvolvimento Econômico – TDE, Cap. III p. 111. 1934).

Outro aspecto importante observado por Schumpeter e que ganharia notoriedade pela

aparente dicotomia do termo é o processo de Destruição Criativa. Schumpeter ao

elaborar sua crítica ao sistema walrasiano de concorrência faz uma distinção entre

“Capitalismo Concorrencial” e “Capitalismo Trustificado”. Para Schumpeter a

verdadeira concorrência não é a que se exerce entre pequenas firmas que produzem a

mesma mercadoria e que não teriam poder de influência junto ao mercado

(Concorrência Perfeita). A concorrência se daria entre as firmas inovadoras que, ao

produzirem produtos novos (novos processos), estariam destruindo os velhos ou

antigos (produtos ou processos). A esse processo concorrencial Schumpeter deu o

nome de “Destruição Criativa”. Esse conceito de concorrência, como observado por

Napoleoni, traz intrinsecamente o conceito de monopólio, pois a firma inovadora obterá

certo grau de domínio antes de ocorrer o processo de difusão, e, por conseguinte, um

lucro extraordinário. Em sua análise haverá a passagem de um capitalismo

concorrencial para um capitalismo trustificado, sendo que este processo não diminuiria

43 - Schumpeter esclarece que o fenômeno do crédito ao consumo, a despeito de toda a sua importância prática no processo econômico, ele é excluído de sua análise.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

102

a intensidade do desenvolvimento econômico, como, em princípio, poderia se supor.

Schumpeter advoga justamente o oposto, que o processo desenvolvimento econômico

possa ser acentuado.

3.2 – A transição de Schumpeter para os Neo-schumpterianos: Rosenberg,

Vernon, Freeman, Nelson & Winter e Dosi.

Schumpeter, em seus trabalhos, ressaltou a importância de alguns elementos e

conceitos para o entendimento da dinâmica do desenvolvimento econômico,

destacando-se o papel das inovações, do juro, do capital, do lucro, do crédito e dos

ciclos econômicos. Sua colaboração foi de fundamental importância para a construção

de um novo paradigma de desenvolvimento econômico, descolado da noção de

equilíbrio da teoria neo-clássica, questionando os métodos estáticos de raciocínio e

de análise em economia.

A partir de Schumpeter, uma nova corrente teórica é estabelecida tendo diversos

teóricos aprofundado seus conceitos e análises. Surge dessa forma a abordagem neo-

schumpteriana. Segundo Kupfer44 (1996), “[...] esses autores têm como preocupação

central a lógica do processo de inovação e seus impactos na atividade econômica,

enfatizando o papel da mudança tecnológica na conformação das estruturas de

mercado e no processo de mudança estrutural[...]”. Convém apontar que, para

Schumpeter as inovações podem ser classificadas em 5 modos distintos e que, de

modo geral, para os neo-schumpterianos, os estudos e análises focam prioritariamente

o processo de inovação e o progresso técnico que abarcam apenas 3 das 5

dimensões identificadas por Schumpeter45.

44 - Kupfer, D. Uma Abordagem Neo-schumpteriana da Competitividade Industrial. Publicado em Ensaios FEE, Ano 17. n.o. 1, pp.355-72, 1996.

45 - Em geral, as dimensões / classificações estabelecidas por Schumpeter como novos mercados e nova organização não são abordados / destacados nos estudos dos autores neo-schumpetrianos.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

103

Dentre os teóricos da linha neo-schumpteriana destacam-se os trabalhos de Nathan

Rosenberg, Christopher Freeman, Richard R. Nelson & Sidney Winter, Giovanni Dosi e

Raymond Vernon. Em linhas gerais, esses autores deram suas contribuições

relacionando a atividade inovativa ao desenvolvimento econômico. Segundo Shikida e

Bacha46 (1998), Rosenberg constatou que a atividade inovativa comporta-se como um

procedimento de busca atrelado ao processo de aprendizagem. Freeman focou o

papel das empresas e suas estratégias tecnológicas. Nelson & Winter enfatizaram a

analogia com as ciências biológicas e as idéias de evolução a partir do

estabelecimento de rotina, busca e seleção. Dosi procurou contribuir com o

desenvolvimento dos conceitos de paradigma tecnológico e trajetórias tecnológicas. E

Vernon, por sua vez, contribuiu com a teoria do ciclo de vida do produto.

Rosenberg47 (1969), citado em Shakida e Bacha (1998), realça importantes pontos

sobre o processo de mudança tecnológica e assinala a influência que o nível de

aprendizado exerce sobre o rumo da mudança tecnológica. O autor observa a

existência de gargalos no processo de desenvolvimento como elemento impulsionador

e sugere uma teoria de mudança técnica induzida baseada na necessidade de superar

restrições sobre o crescimento. O foco de sua análise são as indústrias e empresas e

o processo produtivo. Rosenberg ressalta ainda a questão da aprendizagem

tecnológica como sendo a forma de conduzir o processo de mudança e

desenvolvimento econômico, podendo ser analisada sob dois conceitos fundamentais:

o learning-by-using (o resultado derivado do aprendizado via uso) e o learning-by-

doing (o resultado é derivado do aprendizado via processo produtivo).

46 - Shikida, P.F.A. e Bacha, C.J.C. Notas sobre o modelo Schumpteriano e suas principais correntes de pensamento. Teor. Evid. Econ. Passo Fundo. V.5. n. 10 pp. 107 -126, maio 1998.

47 - Rosenberg, N. The direction of technological change. Inducement mechanisms and focusing devices. Economic Development and Cultural Change, v.18, n.1, p. 1-24, october 1969.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

104

Esses dois conceitos colocam a questão do aprendizado como elemento central ao

processo de mudança tecnológica, pois, para Rosenberg, a atividade inovativa deve

ser analisada como um procedimento de busca, cujos resultados não são conhecidos

ex-ante. O autor salienta que as decisões de inovação, bem como as de investimento,

carregarão determinado grau de incerteza. E como forma de diluir ou mesmo balizar o

processo de escolha por parte das empresas ou das indústrias aparece como

elemento central o nível de aprendizagem tecnológica.

Dessa forma, Rosenberg contribui para a discussão sobre desenvolvimento, sob a

ótica evolucionista neo-schumpteriana, contrapondo determinados postulados

neoclássicos, em especial a noção de equilíbrio e da racionalidade maximizadora,

estabelecendo a relação entre desenvolvimento econômico e o processo inovativo,

tendo as condições de incerteza como elemento importante de sua análise; e ainda,

identificando a importância do nível de aprendizado tecnológico e sua influência no

rumo da mudança tecnológica.

Freeman48 (1974), por sua vez, e, ainda em um enfoque microeconômico, concentrou

suas análise no uso da tecnologia e de seu importante papel para as empresas

(quadro 08). Em seus estudos, o autor conseguiu classificar as estratégias

tecnológicas nas empresas em 6 categorias (Shakida e Bacha , 1998):

EstratégiaTecnológica

Caracterização

Ofensiva Estratégia intensiva em P&D e com elevando nível de pesquisa aplicada. Tem como objetivo a liderança técnica e de mercado.

Defensiva Estratégia intensiva em P&D, mas com o propósito de evitar o distanciamento tecnológico. Tem como foco a diluição do risco.

48 - Freeman, C. Innovation and the strategy of the firms. In: FREEMAN, C. The economics of industrial innovation. Harmondsworth: Penguin Books, 1974. p. 225 – 282.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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Especial atenção nas áreas de vendas, publicidade, treinamento e patentes.

Imitativa Estratégia copiativa com o foco na redução de custos. Sem investimentos em P&D.

Dependente Estratégia focada para a associação institucional ou econômica com outras empresas. Sem investimentos em P&D.

Oportunista Estratégia focada me nichos de mercado. Sem investimentos em P&D.

Tradicional Estratégia focada para atuação em mercados próximos àconocrrência perfeita (atomizados) ou a mercadosoligopolizados. Sem investimentos em P&D.

Quadro 08: Estratégias tecnológicas nas empresas, segundo Freeman.Fonte: Elaborado a partir do texto “Notas sobre o modelo Schumpteriano e suas principais correntes de pensamento”. Shikida e Bacha. 1989. Elaboração própria.

Os autores Nelson & Winter49 (1982) analisam que, para um ambiente concorrencial

entre as firmas, existe a tendência de um comportamento, por parte da firma, que pode

ser explicado pelos conceitos de rotina, busca e seleção. Segundo Nelson & Winter,

citados em Shikida e Bacha, 1989:

“[...] as firmas apresentam determinados padrões decrescimento que são assimiláveis à rotina, sendo o análogo biológico de rotina a carga genética; para o processo de busca (mudanças de rotina), tem-se a mutação e, para o mecanismo de seleção, o meio ambiente[...]”.(Shikida e Bacha, Notas sobre o modelo Schumpteriano e suas principais correntes de pensamento,1989)

Segundo os autores:

[...] a rotina é o conjunto de técnicas e processos organizacionais que caracterizam o modo através do qual as mercadorias e serviços são produzidos [...]; O processo de busca compreende as atividades organizacionais que estão associadas com aavaliação de rotinas correntes, que podem levar à alteração destas[...]; e a seleção tem a ver com a estrutura institucional”. (Shikida e Bacha, Notas sobre o modelo Schumpteriano e suas principais correntes de pensamento, 1989)

49 - Nelson, R. R.; Winter, S.G. In search of a useful theory of economic change. Cambridge: Harvard University Press, 1982. 437 p.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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Dosi50 (1984) procura dar sua contribuição com o desenvolvimento dos conceitos de

paradigma tecnológico e trajetórias tecnológicas.

[…] A ‘technological paradigm’ defines contextually the needs that are meant to be fulfilled, the scientific principles utilised for the task, the material technology to be used. In other words, atechnological paradigm can be defined as a ‘pattern’ for solution of selected techno-economic problems based on highly selected principles derived from natural sciences.(DOSI, G. Technicalchange and Economic Theory. p. 224, 1988)

Um paradigma tecnológico é um pacote de procedimentos que orientam a

investigação sobre um problema tecnológico, definindo o contexto, os objetivos a

serem alcançados, os recursos a serem utilizados, enfim um padrão de solução de

problemas técnico-econômicos selecionados (Kupfer, 1996). Já as trajetórias

tecnológicas podem ser definidas como desdobramentos próprios no interior de um

paradigma tecnológico, correspondendo, em geral, às respostas aos diversos trade-

offs estabelecidos entre as variáveis tecnológicas (Dosi, 1984).

Vernon51 (1979), com sua teoria do ciclo de vida do produto, estabelece uma nova

contribuição para a analise das atividades inovativas, as teorias de comércio

internacional e o processo de desenvolvimento econômico.

[…] es un error suponer que el acceso igual a los princípios científicos en todos los países avanzados significa igualprobabilidad de aplicación de estos princípios en la generación de productos nuevos. Hay de ordinário una gran brecha entre el conocimiento de un principio cientifico y la incorporación del princípio en un producto vendible em el mercado. (Vernon, R. La inversión internacional y el comercio internacional en el ciclo de productos p. 409. In ROSENBERG, N. Economia Del cambio tecnológico, México: Fondo de Cultura Econômica, 1979.)

50 Dosi, G. Technical change and industrial transformation. New York: St. Martins Press, 1984. 338p.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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Através desse corolário Vernon identifica que cada produto percorre um ciclo, dividido

em três fases: produto novo, produto em fase de maturidade, produto standartizado. O

autor teve como suporte empírico à observação do padrão do comércio dos Estados

Unidos, mercado onde, na época, se desenvolvia a maioria dos novos produtos. A

primeira fase caracteriza-se por ser uma fase de desenvolvimento ou inovação, na qual

existe uma forte atividade inovativa e, em geral, não se registram trocas internacionais.

A segunda fase do ciclo caracteriza-se por ser uma fase de crescimento e ou

maturidade, na qual algumas características dos produtos tornam-se standartizadas,

emergindo as economias de escala e com uma forte atividade no comércio

internacional. A terceira fase caracteriza-se pela intensificação do processo de

standartização onde produtos e processos produtivos são conhecidos

internacionalmente. Nessa fase, em geral, existe o processo de deslocamento da

produção para países em desenvolvimento, quando a produção exige uma forte

componente de mão-de-obra.

Segundo Baiardi52 (2003):

[...] Vernon pensou no seu trabalho que este ciclo seria comum a todas as grandes empresas que entrassem em mercadoscompetitivos. Para que se cumprisse com sucesso estas três fases, seria necessário que o território, a zona, fosse dotado de uma aglomeração industrial, de infra-estrutura em P&D e que lá estivessem as sedes sociais ou as “home base” das indústrias. (BAIARDI, A. Política Regional de C & T como Instrumento de Modernização Tecnológica da Periferia. p. 07. VIII Seminário de Modernização Tecnológica Periférica.2003. p. 07-08)

A inovação ou a atividade inovativa apresenta-se nesses autores como elemento

microeconômico de caráter, em geral, endógeno e que como característica em comum

possibilita a criação de um diferencial de comportamento entre empresas e indústrias.

51 - Vernon, R. La inversión internacional y el comercio internacional en el ciclo de productos. In ROSENBERG, N. Economia Del cambio tecnológico, México: Fondo de Cultura Econômica, 1979.

52 - Baiardi, A. Política Regional de C & T como Instrumento de Modernização Tecnológica da Periferia. VIII Seminário de Modernização Tecnológica Periférica.1993

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

108

De forma semelhante da inicialmente proposta por Schumpeter, a atenção é dada ao

papel da inovação (no caso desses autores, sinônimo de mudança tecnológica) e sua

relação intrínseca com o desenvolvimento econômico. A criação de um diferencial de

comportamento e conseqüentemente a obtenção de resultados assimétricos

determinam a obtenção de vantagens entre os diversos participantes do processo

concorrencial (vantagens competitivas).

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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”A mundialização deve ser pensada como uma fase específica do processo de

internacionalização do capital e de sua valorização, à escala do conjunto das regiões

do mundo onde há recursos ou mercados, e só a elas”

François Chesnais, 1996

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Modelo do Diamante Nacional de Porter

4. VANTAGENS COMPETITIVAS E SEUS DETERMINANTES

4.1 – As Vantagens Competitivas e o cenário atual

A Analise do Diamante Nacional de Porter como um modelo de desenvolvimento

econômico exige uma breve introdução à principal característica do processo de

desenvolvimento mundial nas últimas duas décadas: o processo de globalização.

Apesar de constituir-se em um processo multifacetado com implicações nas mais

diversas áreas (culturais, econômicas, sociais, religiosas, etc...), o foco abordado

neste trabalho, é o de conhecer como esse processo tem afetado as economias

mundiais nesse período, em termos de desenvolvimento, e como o seu comportamento

econômico pode estar relacionado ao padrão ideológico utilizado pelas nações

capitalistas desenvolvidas. A análise do processo de globalização auxiliará o

entendimento de como o modelo do diamante nacional de Porter, apesar das

deficiências apresentadas, teve uma forte aderência por parte das nações

desenvolvidas sendo suscitado até como um modelo de desenvolvimento econômico a

ser seguido.

O termo “global” segundo François Chesnais53 surgiu nas grandes escolas americanas

de negócios no início dos anos 80 e a partir de então começou a popularizar-se nas

obras e artigos da escola americana de administração. O termo rapidamente passou a

fazer parte das estratégias das grandes multinacionais e em menos de uma década

transformou-se, de uma ferramenta corporativa para um processo que extrapolaria

qualquer magnitude de planejamento ou estratégia empresarial invadindo os mercados

nacionais e a sociedade como um todo. O sistema capitalista havia criado sua nova

quimera: O processo de globalização.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

4.1.1 Globalização: O discurso e o conceito

O final da década de 80 e o início da década de 90 coincidem com um período de

intensas modificações sociais e econômicas em diversos países, e, em especial, os

do leste europeu. O fim do socialismo real ou da economia de comando54 na extinta

União Soviética modificou o cenário mundial, possibilitando à economia de mercado

hegemonizar seu discurso ideológico: um mundo global sem fronteiras e com

oportunidades iguais para todos.

Observa-se então, que o processo de trabalho das grandes multinacionais capitalistas,

que têm como objetivo precípuo o lucro e para obtê-lo necessita de uma estratégia que

maximize suas ações em qualquer lugar em que esteja atuando, também passa a

compor o sistema econômico em que elas atuam. O processo de globalização passa a

ser algo inexorável para todas as sociedades e Estados, e não deveria ser avaliado

como um processo do capitalismo, porém como um processo inerente ao

desenvolvimento da humanidade.

Dessa forma, o conceito de globalização invade os discursos políticos e econômicos e

tenta adquirir uma conotação neutra sendo usado, em muitos casos, como forma de

manipular o imaginário social. Chesnais (1996) ressalta que a falta de nitidez do

conceito de globalização é, por muitas vezes, conveniente a ideologia capitalista, pois

reflete uma falsa naturalidade. Verifica-se que o termo globalização transcorre do

discurso político, econômico e ideológico até o uso popular ou corriqueiro garantindo

assim uma questionável legitimidade ao processo.

53 CHESNAIS, François, A mundialização do capital; tradução Silvana Finzi Foá. – São Paulo: Xamã, 1996.54 Economia de comando ou socialismo real são termos utilizados pela escola de Frankfurt.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Chesnais observa ainda que o termo de origem francesa “mundialização”55

(mondialisation) ganha diferente entendimento do termo “global”, pois passa a refletir

uma vinculação do sistema capitalista e o padrão de desenvolvimento econômico

estabelecido pelos países ricos. Nesse enfoque, o conceito de mundialização refere-

se ao processo de liberalização das forças econômicas e financeiras e as suas

implicações, obedecendo a uma ideologia capitalista de geração de riquezas e lucros

para aqueles que conseguem ser competitivos em uma economia de mercado.

Entretanto a nova quimera capitalista consegue fazer que a idéia de um mundo sem

fronteiras e com igualdade de oportunidades para todos os indivíduos, substitua, de

certa forma, o sonho do extinto estado de bem estar social. As promessas foram

muitas: da igualdade de oportunidades para todos os países, sociedades e indivíduos,

à possibilidade de acesso aos avanços tecnológicos (produtos, serviços e

investimentos em P&D) que a pesquisa pudesse oferecer. Chesnais em seu livro A

mundialização do Capital de 1994, já efetua severas críticas a essa falsa imagem que

é vinculada ao processo de globalização, pontuando inclusive que os próprios textos e

estudos da OCDE56 tentam traduzir o aspecto natural que seria inerente ao processo

de globalização, ”A globalização é a expressão das forças de mercado, por fim

liberadas,..., dos entraves nefastos erguidos durante meio século”. E como pretenso

processo natural, seria necessário que a sociedade se adaptasse a ele; extrapolando

sua influencia restrita à ação empresarial para outras dimensões da sociedade

(culturais, sociais, etc...) Para a OCDE “É essencial a adaptação aos modos de

produção e intercâmbio que estão surgindo”57. Verifica-se, então, a existência de uma

clara tentativa de organismos internacionais em analisar o processo de globalização

como algo natural, benéfico, para as nações que estejam dispostas a participar do

jogo, e, também, como um processo irreversível. Diante disso, o procedimento lógico é

55 - O termo mundialização surgiu na escola francesa e tenta contrapor-se ao termo globalização aplicado pela escola americana.

56 OCDE – Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico

57 OCDE, 1994 (Relatório do Secretário-geral)

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

o inexorável processo de adaptação que as nações e a sociedade como um todo

deveria sofrer para usufruírem amplamente dos benefícios da liberalização e

desregulamentação dos mercados mundiais. Nesse contexto entra o receituário

neoliberal com medidas como: a desregulamentação do mercado, o abandono de

medidas de proteção ao trabalhador, as privatizações, a repressão ao movimento

operário, o aumento da precarização das relações capital e trabalho, com a

multiplicação dos terceirizados, sub-contratados e desempregados, dentre outras.

Entretanto, contrariando uma máxima do próprio sistema capitalista, “Não existe

almoço gratuito” e não seria diferente no processo de globalização; sendo assim, o

custo de todo esse processo deveria ser pago por alguém. Passada a década de 90,

verifica-se que poucas nações conseguiram entrar neste seleto grupo para o qual o

processo de globalização foi amplamente benéfico, caindo por terra a ilusão de que o

processo beneficiaria todas as nações que estivessem dispostas a abrir suas

fronteiras e participar, de forma competitiva, de um desenvolvimento econômico

equilibrado.

Das promessas frustradas de desenvolvimento para todos, restaram as seqüelas

comuns a qualquer processo traumático: o acirramento das desigualdades sociais,

uma maior concentração de riqueza, o aumento da pobreza no mundo, o crescimento

do desemprego, os rápidos, perigosos e não controlados fluxos de capital financeiro, o

protecionismo das nações desenvolvidas contra os produtos das nações periféricas,

os desequilíbrios do comércio mundial, dentre outras.

4.1.2 A crítica de Chesnais sobre a Mundialização do Capital

Chesnais e outros autores acreditam que o processo de mundialização está

diretamente vinculado às novas formas de centralização do capital-dinheiro (fundos

mútuos de investimento e os fundos de pensão), fomentados pelas instituições

financeiras e pelos estados mais poderosos.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Esse processo de mundialização do capital reflete uma nova relação de forças

políticas e econômicas entre o capital e o trabalho, bem como o capital e o Estado.

Após a crise de 30 e a segunda guerra mundial, as classes abastadas são obrigadas

a aceitar a ampla intervenção do Estado, concedendo novos direitos aos assalariados.

Entretanto após a segunda metade do século XX, a disseminação do uso de novas

tecnologias pelas firmas começa a possibilitar extraordinários ganhos de

produtividade e modificações nas relações com os assalariados e as organizações

sindicais.

O capital financeiro ganha força com as políticas de liberalização, desregulamentação

e privatização adotas pelos estados. (Reagan / Thatcher), e o capital volta a ter a

liberdade para se desenvolver e movimentar de um país ou continente para outro. Os

países hegemônicos (desenvolvidos) passam a impor essas novas regras, fazendo

com que o processo de globalização seja inevitável, infringindo para as demais

economias o novo jogo livre das leis de mercado.

A sociedade mundial contemporânea (seus diversos segmentos) não teria outra opção

a não ser adaptar-se, pois segundo a interpretação dominante, a desregulamentação

dos mercados constitui-se fator de modernidade no processo de desenvolvimento

econômico das nações. A justificativa para o processo residiria, também, no benefício

do consumidor (sob a ótica do mercado), que estaria livre para adquirir os produtos e

serviços com preços baixos graças à abertura das fronteiras, ao desmantelamento das

regulações públicas e a atuação de empresas em uma concorrência total.

Entretanto, a análise de Chesnais, possibilita identificar que o verdadeiro conteúdo do

processo de globalização não se dá através da mundialização das trocas e sim do

capital (industrial e financeiro). O autor sustenta sua análise observando que 2/3 do

volume de transações no intercâmbio internacional de bens e serviços ocorre entre

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

empresas multinacionais (matrizes, filiais ou sub-contratadas) e que aproximadamente

40% do comércio mundial pertencem à categoria intragrupo.

O autor considera em sua argumentação que a questão da internacionalização das

relações econômicas diz respeito a um conjunto de processos que promovem a

interdependência entre as economias. Dentre eles, destacam-se as importações e

exportações de bens e serviços, as entradas e saídas de investimentos diretos e de

capital financeiro, as entradas e saídas de tecnologias (sejam através de

equipamentos ou know-how), os movimentos internacionais de mão-de-obra

qualificada e os fluxos inter-fronteiras de informações.

Neste conjunto é possível identificar indicadores estatísticos que possam avaliar a

importância relativa desses processos nos últimos anos. Esses indicadores têm

possibilitado a verificação de alguns fatos relevantes. 1) O investimento internacional

(movimentação do capital – industrial / financeiro) tem dominado o processo de

internacionalização, sobrepujando os processos de troca (bens e serviços). 2) Os

fluxos de trocas intrafirmas vêm adquirindo um peso cada vez maior. 3) O investimento

internacional é fortalecido pela globalização das instituições bancárias e financeiras. 4)

O surgimento de novas modalidades de transferência de tecnologias (acordos

interempresas) além das já existentes. 5) O aparecimento de novas empresas

multinacionais com diferentes formas de organização (tipo rede).

Esse novo cenário das relações internacionais tem como vetor principal

indubitavelmente a questão da mobilidade do capital. Chesnais, em seu livro, identifica

que o termo, mundialização do capital, tem origem nos estudos franceses dos anos 70,

de inspiração marxiana, sobre a internacionalização do capital. Os estudos franceses,

com a contribuição anglo-saxã, abordam temas como: A produção internacional; a

internacionalização dos custos de transação; a economia das mudanças técnicas e a

teoria das formas de mercado (oligopólio internacional).

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Nos anos recentes acrescentam-se uma atualização na abordagem com a introdução

de novos ingredientes: A prioridade metodológica que reflete a anterioridade e

predominância do investimento e da produção em relação à troca; o processo de

centralização financeira e de concentração industrial do capital, nos planos nacional e

internacional. Isto sendo refletido pela movimentação dos bancos e grupos

internacionais de fundos mútuos e de pensão e a maior interpenetração entre os

capitais de vários países (criação do investimento internacional cruzado), com o

surgimento de estruturas oligopolísticas transnacionais.

A justificativa da utilização do termo mundialização do capital está atrelada ao fato de

que parte do mercado financeiro internacional está mundializado com modalidades e

instrumentos de ação e controle variados.

Ademais, o campo de desenvolvimento do capital industrial concentrado (âmbito em

que as empresas transnacionais desenvolveram suas estratégias globais) é o mesmo

das relações constitutivas dos oligopólios mundiais.

Nos seus trabalhos o autor esclarece que, para o entendimento da mundialização do

capital, é importante analisá-lo como uma unidade diferenciada e hierarquizada.

Chesnais aponta para os estudos de Michalet58, que analisam as dimensões do

capital, de acordo com os ciclos de movimentação definidos por Marx. Esses ciclos

devem ser entendidos como elementos de uma totalidade, diferenciações dentro de

uma unidade: O capital que produz valor e mais valia (capital industrial), o capital

mercadoria ou capital comercial (concentrado) e o capital dinheiro (empréstimos e

aplicações).

Diferentemente de Michalet, que em 1985 analisa que, das três formas estruturadas de

capital, existia a centralidade do capital industrial sob as demais, Chesnais avalia, em

58 - Michalet, C. A. Lê Capitalisme mondial. 2nd. Ed. Paris: Presses Universitaires de France, 1985. (CollectionEconomie em Liberte).

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

1995, que existiria a tendência da diminuição da dominação do capital industrial, com

o aumento da importância do capital comercial (que passa a rivalizar-se com o capital

industrial, usurpando-lhe algumas operações que tradicionalmente seriam suas) e

principalmente do capital financeiro, que começa e imprimir sua marca no conjunto das

operações do capitalismo contemporâneo. A principal marca desta forma de capital é

o acirramento de um regime de acumulação rentista.

A análise do capital, em suas três dimensões, possibilita identificar fatos relevantes no

transcorrer do desenvolvimento econômico mundial, no que diz respeito à evolução do

capital industrial. Dentre esses, é importante destacar que foi através da acumulação

ocorrida pelo regime produtivo fordista, que o capital industrial pôde gerar excedentes

que viabilizassem o surgimento do capital dinheiro. Além disso, a acumulação do

capital industrial, também proporcionou a saturação dos mercados, gerando um

estado endêmico de sobreprodução; fazendo com que os grupos industriais

buscassem mecanismos que possibilitassem sua expansão (queda das restrições ao

capital): crescimento externo via aquisições e fusões (fatias de mercado), ruptura das

relações fordistas com os assalariados e internacionalização crescente.

O processo de internacionalização foi, então, fortemente alavancado pelo uso de novas

tecnologias da informação. A aplicação no setor produtivo de novos fatores

tecnológicos combinados com os modelos de gestão organizacional resultou, entre

outros desdobramentos, em uma maior rentabilidade do capital industrial.

Concomitante a aplicação dessas novas tecnologias e ao uso de modelos gerenciais

mais eficazes, existiu uma motivação ideológica baseada na desregulamentação e na

flexibilização (fragilização) das relações entre o capital e o trabalho. Essa motivação

tinha como objetivo a destruição dos ganhos obtidos na primeira metade do século nas

relações contratuais construídas entre patrões e trabalhadores. Os novos modelos e

sistemas produtivos tais como o just in time, lean production, toyotismo, entre outros,

auxiliaram a expansão dos grandes grupos corporativos, proporcionando ganhos de

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

produtividade cada vez maiores e possibilitando que o processo de

internacionalização ocorresse de modo a favorecer muito mais o capital que o

trabalho.

A precariedade das relações entre capital e trabalho começa a expandir no sentido

centro periferia e constitui-se em um dos principais elementos do processo de

globalização. A tríade (EUA, Europa e Japão), através de um discurso ideológico

neoliberal que tem como mote o crescimento econômico através da expansão dos

investimentos estrangeiros, começa a expandir sua área de influência identificando

regiões desprovidas de qualquer proteção social, nas quais as grandes corporações

possam instalar suas bases produtivas e impingir baixos salários e condições

desfavoráveis ao trabalhador, acirrando sobremaneira o processo de mais valia.

O Capital dinheiro começa seu processo de hegemonia através de um movimento de

centralização e concentração do capital industrial. Verifica-se que, já na década de 80,

aproximadamente 80 % dos investimentos diretos estrangeiros ocorrem apenas no

eixo dos países capitalistas avançados e basicamente em processos de aquisições e

fusões entre grandes corporações, não havendo com isso criação de novos meios de

produção59. Esse processo acirra-se durante toda a década de 90 (tabela 01),

alcançando um patamar de 90 % do volume de transações ocorridas no ano de 2000.

Tabela 03: Fusões e Aquisições “Transfronteiras” totais no mundo.

59 - O modelo de Porter reflete bem esse processo, pois procura identificar os fatores, que articulados de forma estratégica, possibilitam a criação de vantagens competitivas frente a esse novo cenário. Sua análise inicial tenta explicar como os fatores trabalhados corretamente pelas firmas e ou segmentos / setores. Posteriormente tenta explicar como os fatores podem trazer também posições competitivas diferenciadas para as nações.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

A teoria econômica já tinha analisado processos de centralização e concentração de

capital antes (indústria petrolífera ou extrativa), porém em toda a década de 80 e início

da década de 90 verifica-se o acirramento desse processo de centralização e

concentração de investimentos, facilitado pelo desenvolvimento de novas tecnologias e

aplicação de novos modelos de gerenciamento e gestão (ganhos de produtividade),

não apenas no setor indústria como também no setor de serviços.

Nota-se, então, que o processo de centralização e concentração do capital industrial

provoca um impacto significativo na forma que as indústrias e os segmentos passam a

se organizar. Dunning analisa esse processo e verifica que as empresas

multinacionais clássicas pesquisadas por Chandler nos anos 60 e 70 diferem das

organizações multinacionais dos anos 80. Para Dunning (1991), as organizações

mundiais da década de 80 procuram uma estratégia concorrencial global que

possibilite um posicionamento e a manutenção de participações de mercado estáveis.

Ou seja, além de procurar aumentar sua eficiência e organizar sua produção interna e

as transações comerciais, as firmas passam a ser entendidas pela forma de

relacionamento estabelecido com as demais organizações mundiais.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

A evolução da análise de Chandler, onde o cenário mundial da década de 60 e 70

ainda é bastante regulamentado e as novas tecnologias não estão amadurecidas, para

a análise de Dunning, é fundamental para o entendimento do modelo de Porter60. O

modelo de desenvolvimento econômico está baseado, não apenas no conceito de

firmas ou empresas stricto sensu, mas nos grandes grupos financeiros com

dominância industrial. As estruturas das relações oligopolizadas e o processo de

desregulamentação, cernes do modelo de Porter, favorecem o crescimento dos

mercados financeiros mundiais. O crescimento da vertente em que as organizações

passam a se estruturar através de holdings facilita o acesso aos mercados financeiros

internacionais sem a necessidade de intermediações. Isto, apesar de constituir um

grande avanço em termos de redução de uma série de custos, representa, por outro

lado, uma forte inclinação da aplicação menor de capital na atividade produtiva e maior

na atividade rentista (fortalecimento do capital rentista).

Essa nova dimensão de estruturas oligopolizadas possibilita ao sistema capitalista um

acirramento de seu processo de apropriação. A estrutura dos mercados, onde as

empresas estão organizadas em cadeias de valor, operando, muitas vezes, em

sistema de rede, favorece a apropriação, por parte das grandes organizações com

maior poder de mercado, dos excedentes criados na atividade produtiva. A lógica do

processo de globalização e sua concorrência global passa da criação de riquezas

para a apropriação de riquezas, caracterizado, principalmente, pelo avanço do volume

de transações intrafirmas que dão novos contornos ao capital comercial. As novas

formas de organização em especial o toyotismo e os keiretsu possibilitam que os

grandes grupos passem por uma integração vertical e ao mesmo tempo possuam

flexibilidade em uma estrutura frouxa descentralizada. O processo de liberalização do

comércio beneficiou sobremaneira os grupos transnacionais que puderam organizar

os mercados e através de fusões, aquisições e sub-contratações estabelecendo os

padrões das relações comerciais até mesmo para firmas independentes.

60 - Porter (1986), em seus estudos, consegue identificar três grupos de empresas que tem algum tipo de orientação/ atividade fora do seu país sede.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Para um perfeito entendimento dessa lógica excludente do processo de mundialização

do capital e seus efeitos, é importante conhecer como a teoria econômica tem

abordado o processo de globalização dentro do enfoque da produção internacional.

4.1.3 A Teoria da Produção Internacional: O esforço nas últimas décadas

Segundo Dunning61, a Teoria da Produção Internacional tem chegado a algum grau de

maturidade nos últimos 30 anos, na tentativa de oferecer uma explicação geral para as

atividades que possam agregar valor em empreendimentos externos efetivados pelas

firmas. O autor observa que, de certa forma, já é amplamente aceito, na teoria

econômica, que a maior ou menor propensão para uma firma produzir fora de suas

fronteiras nacionais, está relacionada a três importantes aspectos: primeiro à

capacidade em obter e trabalhar determinados fatores e ativos, tais como tecnologia,

capacidade organizacional, empreendedorismo, acesso a mercados, etc...; segundo à

capacidade própria de agregar valor e lucratividade à esses ativos e fatores; e terceiro

61 - Globalization of Firms and the Competitiveness of nations – McGill University Libraries – Intitute of economic Research; Lund University. 1990.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

à possibilidade das firmas estarem relacionadas à atividades agregadoras de valor

(cadeia de valor), sejam através de firmas locais ou não.

O consenso em torno desse entendimento tem sido bastante útil para a compreensão

das atividades das empresas transnacionais, mas não o suficiente para fornecer

subsídios para a análise do IED (Investimento Externo Direto). Para tanto, faz-se

necessário uma nova teoria que possa combinar as vantagens competitivas das

firmas, com as vantagens nacionais oferecidas dentro de um cenário internacional

caracterizado por uma ampla movimentação de capitais.

Vários pesquisadores têm buscado formular conceitos teóricos que possam explicar a

origem e o crescimento da produção internacional e as atividades empresariais

internacionais, principalmente no que diz respeito às possíveis explicações ou

justificativas em relação aos investimentos privados externos. Entretanto, as diversas

tentativas, muitas vezes, não conseguem explicar ou identificar os elementos que, em

seu conjunto, podem levar à construção de uma teoria que encorpe os diversos

comportamentos estratégicos das firmas, em um determinado período de tempo e

espaço.

Dunning considera que a diversidade de teorias que surge, com a expectativa de

explicar tais fenômenos, advêm do próprio processo de amadurecimento que a teoria

econômica vêm realizando nessa área nas últimas décadas. O autor aponta que

algumas teorias tiveram um poder explicativo válido por um determinado período de

tempo, mas que as relações empresariais internacionais e os cenários mundiais

transformaram-se tão rapidamente, que colocaram por terra seus pressupostos. Além

disso, é importante observar que as teorias mais recentes abordam esse fenômeno

sob diferentes aspectos, tentando investigar características como causalidade,

processos envolvidos, ou mesmo possíveis externalidades que estejam atreladas ao

objeto de estudo. As escolas e os teóricos buscam contribuir, analisando diferentes

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

modalidades e dimensões que a produção internacional possa assumir, e isso tem

colaborado no processo de amadurecimento da teoria econômica.

Os trabalhos acadêmicos dos últimos anos têm procurado explicar o crescimento da

produção internacional, tendo como ponto de partida a firma (uma entidade

organizacional). Dunning ressalta a importância de ser dada maior atenção ao

ambiente econômico internacional, em especial, à dinâmica estabelecida entre as

vantagens competitivas das firmas e as vantagens nacionais oferecidas pelos países.

É importante salientar o esforço teórico efetivado nos últimos trinta anos com o intuito

de sistematizar uma explicação satisfatória a respeito do fenômeno da produção

internacional. Inicialmente, ainda na década de 60, devem ser destacadas as

pesquisas de Stephen Hymer62 (1960) que observou, na década de 50, um

crescimento nas atividades das firmas americanas fora dos Estados Unidos, em

especial no Canadá e na Europa, e concentrado em setores industriais.

Seus estudos (1960) ainda estavam fundamentados na explicação tradicional da

movimentação internacional de capitais (diferença de taxas entre países), e o autor não

demonstrou preocupação com o financiamento das atividades das firmas. Hymer, em

sua análise, utilizou-se, também, dos estudos de outro teórico importante nessa área,

Joe Bain. As pesquisas sobre barreiras a entrada de Bain (1956), possibilitaram a

identificação de alguns elementos (custos absolutos, economias de escala, fatores de

produção, fatores de mercado, etc...) que facilitariam ou dificultariam as empresas

penetrarem em determinados mercados.

Outra importante contribuição nessa área foi feita por Raymond Vernon (1966)63. Em

seu trabalho, o autor, destaca a importância dos fatores específicos nacionais (locais)

62 -Ver Dunning (1990)

63 - Idem

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

que influenciam tanto a questão da competitividade das firmas bem como sua

capacidade de agregar valor à suas atividades. Em seu trabalho, Vernon (1979)

destaca que, para uma completa explicação sobre a produção internacional, a teoria

deve considerar elementos como as vantagens competitivas das firmas e nações.

Na década seguinte as pesquisas de Hymer e Vernon sobre a produção internacional

tiveram quatro importantes desdobramentos, quase todos baseados na continuidade

de pesquisas de firmas americanas instaladas em outros paises. Autores como Pavitt

(1987), Cantwell e Hodson (1990) procuraram identificar em suas pesquisas, as

ligações existentes entre a propensão das firmas em produzir fora de suas fronteiras

nacionais e as condições competitivas oferecidas por determinados setores de um

país. Vários estudos, principalmente estudos comparativos, são desenvolvidos com o

intuito de analisar as similaridades de comportamentos dos mercados, o

desenvolvimento de padrões em setores e entre firmas, a formação de oligopólios, ou

até mesmo as condições pré-existentes em países desenvolvidos (vantagens) que

seriam atrativas, para as atividades das empresas transnacionais.

Observa-se que, com a evolução dos estudos econômicos sobre a produção

internacional, surge um novo enfoque de análise que passa a identificar a firma não

apenas como um agente de transação no mercado, porém como uma entidade

organizacional estratégica (produtora de valor), assumindo, por vezes, o papel de

agente organizador, tendo com isso um papel diferenciado na teoria da produção

internacional. A década de 70 é caracterizada, também, por uma forte mudança na

teoria organizacional. O surgimento de novos modelos de gestão e estruturas

organizacionais dá novos contornos e uma maior complexidade de análise à teoria da

administração. Vários teóricos, na área econômica, começam a investigar a questão

do comportamento estratégico das firmas e suas ilações com as atividades

internacionais e o comportamento dos mercados.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

È importante salientar, que, ainda na década de 70, o sistema capitalista passa por

mais uma forte crise, caracterizada pelo fim do padrão de desenvolvimento pós-guerra:

o fordismo. A aceleração das taxas de inflação, a estagnação da produtividade, a

redução dos níveis de crescimento, a elevação dos defict públicos e o aumento do

desemprego são alguns dos elementos que retratam esse momento de crise nos

países centrais desenvolvidos.

Filgueiras64 identifica alguns elementos que exercem importante papel nesse cenário

de alterações das relações econômicas, políticas e sociais mundiais. Dentre os

elementos expostos pelo autor, deve ser destacado o processo de reestruturação

produtiva dos anos 70. A reestruturação aparece como resposta à crise econômica

enfrentada pelos países centrais e propicia mudanças estruturais no âmbito da

produção e do trabalho, em que duas perspectivas centrais podem ser analisadas.

Sob a perspectiva setorial, pode-se identificar uma reorganização e reorientação dos

setores industriais, com a realização de investimentos em setores de ponta

(informática, química fina, biotecnologia e telecomunicações), a modernização de

setores dinâmicos (automobilístico, máquinas e equipamentos e petroquímica) e o

declínio de setores tradicionais (têxtil e siderurgia). Sob a perspectiva de processo de

trabalho, verifica-se a adoção de um novo paradigma tecnológico e organizacional,

com a migração do uso de tecnologias de base eletromecânicas para tecnologias de

base micro-eletrônicas e a utilização de novos esquemas de gestão e organização do

trabalho.

No final da década de 70 e início da década de 80, a crise apresentada pelo

capitalismo começa a apresentar reverberação no meio acadêmico e começam a

surgir teorias, sobre a produção internacional, mais orientadas por aspectos tais como:

o uso da tecnologia e a dinâmica do processo de inovação.

64 - Filgueiras, L.A. M. “ A Desestruturação do Mundo do Trabalho e o ‘Mal-Estar’ desse fim de Século”. Cadernos do Ceas. Salvador, n. 171, set/out. 1997.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Os novos estudos apontam para uma preocupação em analisar os aspectos dinâmicos

da atividade empresarial multinacional e suas alterações ao longo do tempo. Os

trabalhos de Michael Porter (1986) e Bruce Kogut (1985) procuram identificar o papel

central desempenhado pelas vantagens competitivas oferecidas pelos países

(recursos, mercados, instituições, etc...), em relação à propensão das firmas em

empreender e inovar fora de suas fronteiras. Nesse novo enfoque, as vantagens

competitivas das firmas devem ser algo a ser explicado pela teoria, e não mais visto

como um aspecto a ser tomado.

Porter (1986) tenta distinguir cuidadosamente quais são as variáveis específicas da

firma e dos países que influenciam no processo de globalização. Além disso, Porter,

em seu livro Competition in Global Industries, identifica três grupos de produtores

internacionais: No primeiro grupo estariam as firmas domésticas que possuem

orientação para o mercado externo (exportações). No segundo grupo, Porter classifica

as firmas multinacionais que possuem bases externas (exercem atividades com valor

agregado) em diversos países, porém possuem uma gestão individualizada em cada

país. E no terceiro grupo estão as firmas globais, em que suas posições competitivas

em cada país são afetadas pelo seu posicionamento em outros países, necessitando,

dessa forma, uma coordenação global de suas operações.

Dunning (1990), observa que mesmo as teorias em que as vantagens nacionais

assumem um papel relevante como elemento explicativo da produção internacional,

elas dedicam pouca atenção ao modo como as vantagens competitivas nacionais

afetam e são afetadas pelo comportamento e pelas estratégias adotadas pelas firmas

para produzir e comercializar produtos e serviços fora de suas fronteiras nacionais.

Esta interface dinâmica entre os elementos formadores das vantagens competitivas

das firmas e dos países será, inequivocamente, tema para novas abordagens na teoria

da produção internacional.

4.2 O modelo do Diamante Nacional de Porter

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

4.2.1 A Vantagem Competitiva do Estado

Analisar as correlações existentes entre as vantagens competitivas das firmas e dos

países é uma tarefa que envolve vários elementos complexos tais como fatores de

produção, demanda dos mercados, estrutura da indústria, desenvolvimento tecnológico

dentre outros. O trabalho de Michael Porter,65 descrito em seu livro “A Vantagem

Competitiva das Nações”, tenta avançar nos estudos sobre a produção internacional e

relacionar a competitividade das empresas com a competitividade do Estado-nação

ou economia politicamente delimitada. Para tanto são analisados o que Porter

categoriza como os determinantes da competitividade nacional; ou seja, o que

caracteriza uma nação competitiva é o modo como esses determinantes são

trabalhados. Antes, porém, da análise dos determinantes e da estrutura do “Diamante

Nacional”, Porter explicita seis características que, à princípio, poderiam levar um

Estado a uma posição competitiva (figura 09). Entretanto isoladamente essas

características não garantem que essa posição competitiva seja alcançada ou mesmo

que o Estado - Nação consiga tornar-se atrativo para novos investimentos externos e

empreendimentos privados.

65 - PORTER, Michael E.,A Vantagem Competitiva das Nações. Tradução por Waltensir Dutra. - Rio de Janeiro: Campus 1989. Tradução de : The Competitive advantage of Nations.

INDÚSTRIASCOMPETITIVAS

PREÇOSCOMPETITIVOS

SUPERÁVITCOMERCIAL

EXPORTAÇÕESNACIONAIS

GERAÇÃO DEEMPREGOS

CUSTOS UNITÁRIOS BAIXOS

ESTADOCOMPETITIVO

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Figura 09 – Posição Competitiva de um Estado.Fonte: Elaborado a partir do Livro “Vantagem Competitiva das Nações”. Elaboração própria.

A primeira característica discorrida por Porter supõe que um Estado no qual todas as

empresas ou indústrias fossem competitivas, também teria elementos competitivos.

Entretanto essa situação configura-se como ideal, pois nenhum Estado ou mesmo

nação possui todos os segmentos de sua indústria desenvolvidos.

A segunda característica estabelece que um Estado, cuja taxa de câmbio torne

competitivos os preços de seus produtos nos mercados externos, também conquistará

uma vantagem competitiva. Historicamente, nações passaram por períodos de moeda

forte e pressão ascendente de preços e, no entanto, conseguiram consolidar uma

posição de liderança econômica.

A terceira característica atribui uma posição competitiva a um Estado com uma grande

e positiva balança comercial. Novamente, verifica-se que uma balança comercial

positiva não pode ser utilizada como indicador único de uma economia potencialmente

estruturada e competitiva.

A quarta característica também atribui uma posição competitiva a um Estado com uma

parcela crescente das exportações nacionais. Estados e Nações têm apresentado

participações estáveis em suas exportações sem usufruir de economias vigorosas.

A quinta característica fundamenta a vantagem competitiva em um Estado que pode

criar empregos. Nesse item será relevante não apenas criar empregos (quantitativo)

como gerar empregos com qualificações adequadas aos novos padrões tecnológicos

da nova economia.

A sexta característica exposta por Porter estabelece que um Estado cujos custos

unitários do trabalho são baixos poderá alcançar uma posição de vantagem em

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

relação a outros Estados. Custos unitários baixos que evidenciem uma

sustentabilidade devem ser obtidos através de ganhos de performance e não de

baixos salários.

Em sua abordagem, Porter evidencia que as visões econômicas tradicionais, que

definem competitividade como uma questão de preços, custos, taxas de câmbio

dentre outros elementos, estão aparentemente superadas. Essa concepção levou

vários países a manipularem tais fatores na expectativa de conseguirem vantagens no

processo de competição global, entretanto os exemplos do Japão e da Alemanha

corroboram inversamente às expectativas dessa teoria.

Ademais, notadamente a busca de uma significação para competitividade baseada

unicamente através de uma característica isolada, pode levar a uma falsa interpretação

da realidade. O conceito de competitividade e a busca dessa vantagem, seja dentro

da empresa ou por uma atratividade demonstrada por um Estado ou nação, reside

fundamentalmente nos ganhos de produtividade e nos valores agregados disponíveis

no processo produtivo e social. Verificar os determinantes dessa produtividade e o seu

real crescimento em um determinado período de tempo constitui-se uma das mais

importantes tarefas na análise do desenvolvimento econômico.

Ë importante a definição de competitividade para identificar seus fatores

preponderantes. A Competitividade pode ser vista como a produtividade das

empresas ligada à capacidade dos governos, ao comportamento da sociedade e aos

recursos naturais e construídos, e aferida por indicadores nacionais e internacionais,

permitindo conquistar e assegurar fatias de mercados. A Comissão da presidência

dos EUA sobre competitividade industrial propôs em 1985 uma definição abrangente

para competitividade de uma nação66:

66 -Estudo de Competitividade da Indústria Brasileira – Coordenação Geral : Luciano G. Coutinho, João Carlos Ferraz – 3a edição – Campinas, São Paulo: Papirus; Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1995.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

[...] A Competitividade de uma nação é o grau pelo qual ela pode, sob condições livres e justas de mercado, produzir bens eserviços que se submetam satisfatoriamente aos teste dosmercados internacionais enquanto, simultaneamente, mantenha e expanda a renda real dos seus cidadãos. Competitividade é a base para o nível de vida de uma nação. É também fundamental à expansão das oportunidades de emprego e para a capacidade de uma nação cumprir suas obrigações internacionais.(ESTUDO DE COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA(1995) – Coordenação Geral : Luciano G. Coutinho, João Carlos Ferraz – 3a edição – Campinas, São Paulo: Papirus; Editora da Universidade Estadual de Campinas. p.)

Essa definição reconhece que a competitividade internacional de economias nacionais

é construída a partir da competitividade das empresa que operam dentro do Estado e

que conseguem exportar seus produtos e serviços. Vale salientar que esse conceito é

sistêmico e com retroalimentação, pois a nação que consegue saldos positivos em

suas relações internacionais e que consegue agregar valor a sua renda per-capita,

notadamente irá influenciar nas estratégias empresarias adotadas nos vários

segmentos de sua economia.

Nesse momento vale ressaltar, também, as diferenças entre vantagem comparativa e

vantagem competitiva. A teoria das vantagens comparativas de Ricardo67, trabalhada

posteriormente por Heckscher e Ohlin68, baseia-se na idéia que todas as nações têm

tecnologia equivalente, mas diferem na disponibilidade dos chamados fatores de

produção, como terra, mão-de-obra, recursos naturais e capital. Esses elementos,

indissociáveis do processo produtivo, foram importantes no entendimento da busca de

vantagens tanto entre nações como entre empresas. A otimização dos fatores de

produção visando a redução dos custos e o aumento da produtividade foi essencial em

termos de competitividade empresarial. Entretanto, a necessidade de extrapolar a

utilização de mecanismos que busquem um incremento ainda maior na produtividade

67 - RICARDO, David . On the Principles of Political economy and Taxation The works and Correspondence of David Ricardo (vol. I). Cambrigde, Cambrigde University Press (1988).

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

das empresas, e que contemplem outros fatores também integrantes da competição,

fizeram com que a teoria da vantagem comparativa não fosse suficiente para explicar a

evolução da competição real. Não incorporar elementos como a definição de

estratégias próprias e individualizadas, a movimentação de capital e recursos

humanos e tecnologia entre localidade e organizações, coloca limitações à Teoria com

relação a uma explicação lógica dos novos cenários competitivos e às rápidas

modificações tecnológicas e econômicas.

Ademais as vantagens comparativas podem apenas constituir-se em vantagens

passageiras ou vulneráveis. Os custos dos fatores podem ser modificados

rapidamente através da utilização de novas tecnologias. Os subsídios governamentais

podem tornar empreendimentos viáveis ou não por determinado período de tempo. Os

baixos custos de trabalho podem ser modificados de uma região para outra através

dos processos de deslocamentos intensivos. A facilidade de manipulação desses

fatores como diferencial para a competição tem fomentado diversas regiões a

disputarem e atraírem indústrias para implantarem novos empreendimentos locais.

O novo cenário econômico tem diminuído a importância dos custos desses fatores

principalmente em indústrias que utilizam intensivamente tecnologia sofisticada e mão-

de-obra altamente especializada. A utilização de novas tecnologias possibilitou às

empresas ter capacidade de compensar os fatores escassos, por meio de novos

produtos e processos. Entretanto essa análise deve ater-se a determinados

segmentos industriais que podem prescindir desses fatores. Paralelamente à

utilização de tecnologias avançadas diminuindo o papel dos fatores, esse novo cenário

liberta as empresas da necessidade de instalação de suas bases em localidades

específicas.

Com o fenômeno da globalização da economia e a internacionalização das empresas

seria lógico concluir, então, que, à primeira vista, o Estado perdeu sua importância no

68 - OHLIN, Bertil. Interregional and International Trade. Cambrigde, Mass.: Havard University Press, 1933.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

sucesso empresarial das organizações. Entretanto, a realidade tem demonstrado que

essa conclusão pode ser precipitada na medida que tem sido cada vez mais relevante

e estratégica a escolha da localização dos novos empreendimentos empresariais.

Parece lógico, então, que novas perguntas apresentem-se na ordem do dia : Quais

são os novos determinantes de competitividade para um Estado? Quais

características verdadeiramente podem responder e explicar a consolidação de um

Estado ou Nação que possui vantagens que sejam fomentadoras de um

desenvolvimento econômico estruturado e sustentável? É certo que além dos fatores

econômicos trabalhados pela teoria da vantagem comparativa, novos elementos tais

como diferentes estruturas econômicas, valores, culturas, instituições e histórias

nacionais irão também ser preponderantes no entendimento da construção de

vantagens competitivas nas economias nacionais. Obviamente uma única explicação

não será suficientemente abrangente para colocar um ponto definitivo no problema,

entretanto algumas configurações apresentam-se como indicadores dessa explicação.

A primeira configuração está baseada na utilização por parte das empresa de

economias de escala. Esta possibilita a redução de custos e o conseqüente

descolamento da necessidade de instalação das unidades produtivas próximas das

fontes de recursos. Associadas às economias de escala estão mais duas

configurações: o processo de pesquisa e desenvolvimento (P&D) utilizado cada vez

com maior intensidade pelas indústrias e a curva de aprendizado que diminui os

custos com o volume cumulativo e favorece o processo inovativo.

Pode-se estabelecer então uma conexão entre essas aparentemente diferentes

configurações, desde que o eixo comum resida no conceito amplo de tecnologia. A

nova teoria deve fazer da melhoria e inovação em métodos e tecnologia de produtos e

processos um elemento central dessa análise. O Estado que possa criar e manter

essas condições de melhoria e inovação tecnológica conseguirá atrair

empreendimentos sustentáveis. O Estado que ofereça tais condições conseguirá atrair

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

competidores bem sucedidos em indústrias sofisticadas que passarão a centralizar o

controle efetivo, estratégico, criativo e técnico na localidade onde estará sediada.

Porter, em seu estudo realizado no final da década de 80, focaliza oito países (Coréia,

Itália, Suécia, Japão, Suíça, Alemanha, Grã Bretanha e Estados Unidos) com o

propósito de analisar a competição internacional. O seu modelo do “Diamante

Nacional” tenta categorizar o Estado Competitivo através da análise das diversas

condições / determinantes (Condições de Fatores, Condições de Demanda, Indústrias

Correlatas e de Apoio e Estratégia, Estrutura e Rivalidade das empresas), que

trabalhados, poderiam levar um Estado à uma posição de excelência no cenário da

competitividade econômica internacional.

4.2.2 – Condições de Fatores

Segundo Porter (op. Cit.), as Nações conseguem consolidar indústrias competitivas

oferecendo um ambiente dinâmico e desafiador que possibilitem e estimulem as

empresas a atuarem de forma inovadora. Na configuração desse ambiente, Porter, em

seu modelo, estabelece 4 determinantes essenciais à construção de vantagens

competitivas nas indústrias (figura 10). O Estado ou Nação que possuir esses

determinantes desenvolvidos ou em desenvolvimento em boa parte de suas indústrias,

certamente obterá vantagem com relação às demais Nações ou Estados.

Condições defatores

Estratégia, Estrutura e

Rivalidade dasempresas

Condições dedemanda

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Figura 10 – Determinantes da Vantagem Competitiva de um Estado.Fonte: Extraído do Livro “Vantagem Competitiva das Nações”.

O primeiro determinante “Condições de Fatores” configura-se de forma semelhante ao

que a Teoria Clássica estabeleceu como fatores de produção. Porter classifica esses

fatores em 5 categorias69: recursos humanos, recursos físicos, recursos de

conhecimentos, recursos de capital e infra-estrutura (quadro 09). Entretanto, dois

aspectos importantes devem ser salientados na utilização dessas categorias de

fatores como sendo um determinante na construção da vantagem competitiva de um

Estado. O primeiro reside na mobilidade dos fatores. Desde a época da revolução

industrial no século XIX, alguns fatores de produção já possuíam mobilidade entre as

nações. Engenheiros ingleses (recursos humanos) se dirigiam a diversos países da

América e da África para construírem fábricas e usinas. Hoje, mais de duzentos anos

após a revolução industrial, a mobilidade dos fatores de produção é ainda maior e com

custos decrescentes.

CONDIÇÕES DE FATORES

69 - Porter recorre aos fatores de produção da Teoria Clássica (Capital, Terra e Trabalho), tentando configurar uma nova roupagem. As 5 categorias estabelecidas englobam : Recursos Humanos (quantidade capacidade e custo de pessoal), Recursos Físicos (abundância, qualidade, acessibilidade e custos dos recursos), Recursos de Conhecimentos (conhecimentos científicos, técnicos e de mercado relativos a bens e serviços) Recursos de capital (o total e o custo do capital disponível para o financiamento da indústria) e Infra-estrutura (o tipo, qualidade e valor de uso da infra-estrutura disponível).

IndústriasCorrelatas e

de apoio

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Categorias Hierarquia Especificidade Origem

I. Recursos

Humanos

II. Recursos

Físicos

III. Recursos de

Conhecimento

IV. Recursos de

Capital

V. Infra-estrutura

I. Básicos

II. Adiantados

I.Generalizados

II.Especializados

I. Herdados

II. Criados

Quadro 09: Classificação das Condições de fatores. Fonte: Produzido a partir do Livro “Vantagem Competitiva das Nações”. Elaboração própria.

O segundo aspecto analisado por Porter advêm de uma conclusão que a própria

mobilidade dos fatores revelou. A vantagem competitiva de uma indústria não será

construída apenas pela disponibilidade dos fatores, porém pela eficiência e

efetividade com que serão utilizados. Uma Nação ou Estado não construirá vantagem

competitiva em suas indústrias pela simples disponibilidade de recursos. Será

necessário ter a capacidade de explora-los de forma adequada, sabendo oferta-los de

forma balanceada para cada tipo de indústria e, principalmente, o Estado deverá

saber manter suas condições de fatores, evitando sua evasão para outros Estados ou

Nações.

Ainda em sua análise das Condições dos Fatores, Porter (op. Cit.) estabelece uma

outra separação entre os fatores classificando-os entre básicos e adiantados (quadro

09). Os fatores básicos constituirão aqueles de menor influência no processo de

construção da vantagem competitiva de uma indústria, como por exemplo mão-de-obra

não especializada ou recursos de baixa exigência tecnológica. Porter (op. Cit.)

argumenta que esse tipo de condição de fator poderá proporcionar alguma vantagem

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

competitiva70, porém dificilmente será sustentável por um longo período de tempo. De

forma inversa, a utilização de fatores adiantados poderá proporcionar a construção de

uma vantagem competitiva duradoura. É importante salientar que a estruturação de

fatores adiantados, em geral, utiliza como base os próprios fatores básicos e seu

desenvolvimento exige grandes investimentos em capital humano e físico. Como

exemplo de fatores adiantados Porter (op. Cit.) cita a moderna infra-estrutura de

comunicação de dados digital, pessoal altamente educado e institutos universitários de

pesquisa em disciplinas sofisticadas.

Porter (op. Cit.) prossegue sua análise fazendo uma outra distinção entre os fatores:

Fatores generalizados e especializados (quadro 09). Essa nova classificação sugere a

existência de fatores que são generalizados quanto a sua utilização, pois podem ser

aproveitados por diversos tipos de indústrias (sistemas de rodovias, ferrovias,

telecomunicações, oferta de capital, educação superior, etc.) e fatores especializados

cuja destinação atende apenas indústrias altamente especializadas e complexas

(portos especializados, programadores de computadores altamente habilitados,

software específicos, projetistas especializados, etc.). É mister salientar que, da

mesma forma que os fatores adiantados, a criação e utilização de fatores

especializados demandam investimentos permanentes tanto por parte do setor público

quanto privado.

A quarta classificação do determinante “Condições de Fatores” estabelece uma

diferenciação quanto a sua origem, podendo ser classificado como fatores herdados

ou criados (quadro 09). Os fatores herdados quase sempre são os recursos naturais

ou mesmo a localização ou qualquer outra forma que tenham sido obtidos com baixos

investimentos. De forma inversa, os fatores criados pressupõem, em geral, a

existência de mecanismos de criação tais como: instituições educacionais públicas ou

70 - As Indústrias Extrativas ou de base agrícola que não se utilizam de processos tecnológicos complexos, em geral, conseguem um diferencial importante na utilização desses fatores básicos.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

privadas, órgãos que proporcionem infra-estrutura, centros tecnológicos, investimentos,

etc..

Porter (op. Cit.) conclui que as Nações ou Estados que possuam os fatores adiantados

e especializados e/ou que possuam mecanismos institucionais de qualidade para a

criação desses fatores, conseguirão construir vantagens competitivas duradouras

para suas indústrias. Adicionalmente, a maior ou menor relevância de cada fator para

a construção da vantagem competitiva dependerá do tipo de indústria e o ambiente

concorrencial no qual está inserida.

4.2.3 – Condições de Demanda

O segundo determinante da vantagem competitiva de um Estado são suas condições

de demanda (quadro 10). Porter (op. Cit.) desenvolve sua análise referindo-se apenas

a demanda interna de uma Nação ou Estado. Segundo o autor, a demanda interna

pode determinar o rumo e o caráter da melhoria e inovação que serão adotados por

empresas locais. A demanda interna, sob essa ótica, funciona como elemento de

pressão para que as empresas possam inovar mais depressa e obtenham vantagens

competitivas em suas indústrias. Porter (op. Cit.) enumera ainda três características ou

atributos que juntos seriam elementos fundamentais para a dinâmica da demanda

interna. Os atributos seriam a sua composição, o seu tamanho e padrão de

crescimento e os seus mecanismos de transmissão da preferência interna.

CONDIÇÕES DE DEMANDA

Composição da

Demanda Interna

Tamanho e Padrão de

Crescimento

Mecanismos de

Transmissão

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

I. Estrutura da

Demanda do

Segmento

II. Compradores

Sofisticados e

Exigentes

III. Necessidades

Precursoras do

Comprador

I. Número de

Compradores

Independentes

II. Taxa de crescimento

da demanda interna

III. Demanda interna

inicial

IV. Saturação precoce

I. Compradores

locais ou

multinacionais

II. Influências sobre

as necessidades

estrangeiras

Quadro 10: Características das Condições de demanda.Fonte: Elaborado a partir do Livro “Vantagem Competitiva das Nações”.

O autor define a composição da demanda interna como sendo a maneira como as

empresas percebem, interpretam e reagem às necessidades do comprador. Dessa

forma as empresas conseguiriam obter vantagem competitiva quando conseguissem

antecipar esse quadro de necessidades dos compradores. Porter (op. Cit.) sugere que

as empresas locais tendem a levar vantagem em relação às empresas estrangeiras

por seu melhor conhecimento das características da demanda local. As empresas

estrangeiras teriam dificuldade de compreender as circunstâncias locais e manter

eficientes canais de comunicação, fato esse não comprovado empiricamente nos

estudos de Porter.

À composição da demanda interna são atribuídas ainda três características

importantes para a obtenção da vantagem competitiva : A estrutura da demanda do

segmento, os compradores sofisticados e exigentes e as necessidades precursoras

do comprador. A primeira característica define como está estruturada a demanda

interna dentro de um determinado segmento. Como a demanda em cada indústria

trabalha de forma segmentada, é importante compreender como cada segmento está

estruturado, seu tamanho e suas características. Essa estrutura do segmento

desempenhará papel fundamental na competitividade de um Estado, pois as políticas

governamentais de cunho vertical incidirão diretamente nos segmentos que

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

demonstrarem maior potencialidade e atratividade econômica. Esses segmentos

também serão os mais visados para a atração de investimentos privados.

A segunda característica da composição da demanda interna são seus compradores

sofisticados e exigentes que refletem a qualidade da demanda. O grau de exigência e

de pressão que os compradores internos estabelecem impacta na construção da

vantagem competitiva das empresas, pois quanto mais exigentes e sofisticados forem

esse compradores (grau de Qualidade da Demanda Interna) maior será a pressão sob

as empresas por melhoria contínua de produtos e processos. Essa característica é

essencial no processo da construção da competitividade nacional pois incentivará o

esforço para a inovação, resultando em produtos e serviços mais competitivos nos

mercados interno e externo. Outro aspecto que deve ser observado é a relação entre a

exigência sofisticada da demanda interna com as condições de fatores. As vantagens

ou desvantagens nas condições de fatores sejam eles criados ou herdados, básicos

ou avançados influenciará o grau de exigência da demanda interna de uma Nação.

Fatores como recursos naturais, localização geográfica, mão de obra especializada,

etc., junto às características da demanda interna podem direcionar tanto as políticas

governamentais como investimentos privados em segmentos industriais.

A terceira característica da composição da demanda interna são as necessidades

precursoras do comprador. Nessa característica, Porter relaciona a demanda interna

com a demanda externa. Segundo a visão do autor, as empresas obterão vantagem

competitiva quando as necessidades dos compradores internos (demanda interna)

prenunciarem também uma demanda externa para os seus produtos ou serviços. Essa

característica relaciona-se com a anterior pois o grau de exigência dos compradores

internos possibilitaram uma sofisticação dos produtos e processos das empresas que

ganharão competitividade também em mercados externos.

A segunda característica atribuída ao determinante condições de demanda é o

tamanho e os padrões de crescimento. Segundo o autor, além da sua estrutura ou

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

composição é necessário analisar a tamanho da demanda interna e seu padrão de

crescimento. Porter prossegue afirmando que o tamanho do mercado interno pode

assumir um papel preponderante na vantagem nacional, desde que a composição

dessa demanda interna seja sofisticada e possa prenunciar necessidades externas.

Nesse enfoque são destacados quatro elementos de análise dessa segunda

característica: O número de compradores independentes, a taxa de crescimento da

demanda interna, a demanda interna inicial e a saturação precoce da demanda

interna. É importante identificar que o ponto de partida da análise do autor para

estabelecer uma posição de vantagem competitiva, reside na relação entre o tamanho

dos mercados internos e sua capacidade de estimular investimentos ou uma dinâmica

econômica interna.

O primeiro elemento de análise do tamanho e da taxa de crescimento da demanda é o

numero de compradores independentes. Uma expressiva quantidade de compradores

independentes estimularia a competição entre as empresas e criaria um dinamismo no

mercado, favorecendo aspectos de preço, inovação tecnológica e investimentos. O

segundo elemento é taxa de crescimento apresentada pela demanda interna do

Estado ou Nação. Esse elemento poderá determinar também a taxa de crescimento

da própria indústria que será estimulada a acelerar seus investimentos em novas

tecnologias pois terá um mercado possivelmente demandante no médio e longo

prazos71. O terceiro elemento de análise refere-se a demanda interna inicial. Porter

atribui a demanda interna inicial um papel importante no processo de aprendizado das

empresas, principalmente as primeiras que entrassem no mercado, pois essas

ganhariam escala e acumulariam experiência através dessa demanda interna inicial.

Ele ressalta, porém que essa curva de aprendizado somente contribuirá para a

construção de vantagem competitiva caso a demanda interna prenuncie as

necessidades externas de outros mercados.

71 Porter, no entanto, não estabelece uma relação de causalidade entre essas dimensões de crescimento da demanda e crescimento do segmento de indústria.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

O quarto e último elemento reside na saturação precoce da demanda interna. O autor

coloca que o processo de saturação precoce pode criar pressões intensas na

competição estimulando com isso uma redução de preços, um desenvolvimento

tecnológico / inovação, ou até mesmo a busca de novos mercados estrangeiros. A

saturação do mercado interno constitui, em geral, um elemento preponderante na

busca de novos mercados por parte das firmas.

A terceira característica do determinante condições de demanda são seus

mecanismos de transmissão. Dois elementos são destacados: Os compradores locais

ou multinacionais e as influências sobre as necessidades estrangeiras. O primeiro

elemento pode agir como mecanismo de transmissão caso compradores locais

tenham presença no exterior. Nesse caso, existiria a tendência desse comprador local

ser abastecido, no estrangeiro, também por seus fornecedores do país sede. Isto serve

de estímulo aos fornecedores a expandirem suas operações no estrangeiro. Porter

aponta uma série de vantagens nesse comportamento das firmas, entre elas podem

ser destacadas a facilidade de comunicação, a diminuição de riscos e a vantagem,

em algumas indústrias, da padronização de insumos ou processos.

O segundo elemento de transmissão são as influências sobre as necessidades

estrangeiras. Essa influência ocorreria quando as necessidades ou os desejos

eminentemente da demanda interna poderem ser inseridos no padrão dos

compradores estrangeiros, influenciando assim a demanda externa. Essa situação de

influência torna-se possível apenas quando as condições de demanda interna (padrões

de demanda) passam a ser um referencial no padrão de consumo das outras Nações.

É oportuno esclarecer que esses elementos de transmissão apenas conseguem uma

efetiva ação, quando a composição de demanda interna é sofisticada e exigente o

suficiente para influenciar outras condições de demanda.

4.2.4 – Industrias Correlatas e de Apoio

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

O terceiro determinante no processo de construção da vantagem competitiva do

Estado é a presença de indústrias correlatas e de apoio, internacionalmente

competitivas. O autor ressalta a importância do papel das indústrias que possuem

estreita relação com outros segmentos, seja fornecendo insumos e equipamentos ou

mesmo produzindo produtos correlatos ou integrantes da mesma cadeia de valor.

A idéia central deste determinante reside na possibilidade de indústrias, que sejam

competitivas internacionalmente, poderem auxiliar na construção de vantagens

também em outros segmentos de indústria. Esse auxílio pode ocorrer sob dois

aspectos básicos: O primeiro seria a construção da vantagem competitiva com o

apoio das indústrias abastecedoras, e o segundo seria a construção baseada na

dinâmica das indústrias correlatas existentes (quadro 11). De fato, esses dois

aspectos trabalham com abordagens vertical e horizontal, respectivamente, da

dinâmica dos segmentos da indústria.

As indústrias abastecedoras ou fornecedoras podem potencializar a criação de

vantagens competitivas em outras firmas dentro do seu segmento de várias formas. A

primeira seria através do acesso eficiente e rápido à maioria dos insumos72. Apesar

desse acesso ser fundamental para ganhos de produtividade para as firmas, não

poderia ser considerado isoladamente um fator essencial na construção da vantagem

competitiva de um setor. A segunda seria a capacidade de coordenação e integração

constantes que os fornecedores locais poderiam proporcionar às industrias

pertencentes a mesma cadeia de valor. E a terceira forma de potencializar a criação

de vantagens competitivas seria através do processo de inovação e aperfeiçoamento.

Porter argumenta, ainda, que a pesquisa e desenvolvimento e a solução conjunta dos

72 - Não obstante, Porter ter elencado o acesso rápido e eficiente aos insumos como elemento importante no processo de construção da vantagem competitiva, o próprio autor nas suas argumentações a respeito das condições de fatores estabelece que o importante não é o insumo ou recurso estar disponível para a indústria, mas ser utilizado de forma eficiente e eficaz.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

problemas podem gerar resultados mais rápidos e eficientes para o segmento

industrial, acelerando o ritmo de inovação dentro de toda a indústria nacional.

CARACTERÍSTICAS DAS INDÚSTRIAS CORRELATAS E DE APOIO

Indústrias Abastecedoras Indústrias Correlatas

I. Acesso eficiente e rápido aos

insumos

II. Capacidade de coordenação

e integração constantes

III. Processo de inovação e

aperfeiçoamento

I. Oportunidade de informação

e intercâmbio técnico

II. Fomentar o desenvolvimento

de indústrias de fornecimento

Quadro 11: Características das indústrias correlatas e de apoio. Fonte: Elaborado a partir do Livro “Vantagem Competitiva das Nações”. Elaboração própria.

Essa relação entre as firmas, na procura de vantagens recíprocas, dentro da

abordagem vertical da dinâmica de segmentos de industriais, pode ser estimulada

através dos investimentos governamentais que possam gerar externalidades para todo

o segmento da indústria. Porter, em sua análise, ressalta, ainda, que essa relação

com fornecedores na busca da construção de vantagens terá melhores resultados,

caso eles sejam competidores globais73. Os fornecedores locais somente contribuirão

nesse processo de obtenção de vantagem competitiva caso possuam um padrão tão

forte quanto os padrões internacionais. É importante lembrar que um Estado ou Nação

não necessita que todas as indústrias fornecedoras tenham vantagem competitiva para

que os demais segmentos também obtenham essa vantagem. Os outros

determinantes da vantagem competitiva devem também estimular esse processo.

73 - Porter entretanto, generaliza essa contribuição dos fornecedores na construção da vantagem competitiva. É importante verificar que tipo de indústria está sendo analisada e o grau de importância que o fornecimento de insumos e/ou equipamentos terá nessa cadeia de valor.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

As indústrias correlatas ou de apoio também podem potencializar a criação de

vantagens competitivas. Esse raciocínio encontra sua lógica quando trabalhado sob a

ótica da cooperação em diversas atividades, tais como desenvolvimento de

tecnologia, distribuição, comercialização e assistência técnica, etc. Porter, entretanto,

em seu texto, não consegue demonstrar a causalidade dessa relação74. A existência

de indústrias correlatas competitivas em diversos países é colocada como exemplo de

que pode haver sinergia sob vários aspectos. Dentre esses aspectos dois podem ser

considerados mais relevantes: O primeiro estabelece que nas indústrias correlatas

existe a oportunidade de troca de informação e intercâmbio técnico. As indústrias, por

trabalharem em segmentos semelhantes, poderiam firmar convênios de cooperação

técnica para fortalecer seus desempenhos. O segundo aspecto aborda novamente o

fato da presença de indústrias correlatas incentivarem o desenvolvimento de indústrias

fornecedoras que possam atender ambos os segmentos.

4.2.5 – Estratégia, Estrutura e Rivalidade

O quarto determinante amplo no processo de construção da vantagem competitiva do

Estado reside na estratégia, estrutura e rivalidade das empresas. Porter (op. Cit.), em

seus textos, salienta as observações efetivadas nos vários países pesquisados e

procura estabelecer comparações com relação ao comportamento das firmas no

ambiente competitivo. Algumas das argumentações levantadas, no entanto, não

possuem uma fundamentação teórica suficiente para que possam ser consideradas

importantes no processo de construção da vantagem competitiva. O autor não

consegue estabelecer relações de causalidade, tampouco, quantificar os impactos que

determinadas características apresentadas possam ter no processo de competição.

74 - Porter não consegue demonstrar a existência dessa relação de causa e efeito na relação entre indústrias correlatas que desenvolvem atividades conjuntas. O autor novamente generaliza sua observação colocandoque o sucesso nacional de uma indústria é particularmente provável se o país tem vantagem competitiva em várias indústrias correlatas.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Entre as várias características levantadas pelo autor que influenciam a competição,

podem ser destacadas : as estratégias, as metas, os modos de organização e o

padrão de rivalidade interna. De uma forma geral, o autor não consegue categorizar

esses elementos que influenciam no processo; ele apenas procura estabelecer

correlações entre a estrutura da indústria e as condutas adotadas pelas firmas. Para

efeito de organização, o quadro a seguir (quadro 12) tenta agrupar os diversos

elementos sugeridos por Porter.

ESTRATÉGIA, ESTRUTURA E RIVALIDADE DE EMPRESAS

Estratégias Metas Rivalidade Interna

I. Disposição e

capacidade das

empresas em

competir

globalmente

II. Atitudes para com

viagens

III. Conhecimento de

línguas e iniciativa

de aprender outros

idiomas

IV. Política

governamental

I. Metas da empresa

II. Metas dos indivíduos

III. A influência da

prioridade/prestígio

nacionais sobre as

metas

IV. A importância da

dedicação constante

I. Empresas locais

fortes ficam

equipadas para

ter êxito no

exterior

II. Desenvolvimento

de barreiras de

entrada

III. Concentração

geográfica

Quadro 12: Fatores que influenciam nas Estratégias, na Estrutura e na Rivalidade deempresas.Fonte: Elaborado a partir do Livro “Vantagem Competitiva das Nações”. Elaboração própria.

Porter enfatiza as diferenças nos estilos e práticas administrativas adotadas em várias

Nações. Como exemplo, são apontadas as seguintes áreas : treinamento, formação e

orientação de lideres, estilo de grupo em contraposição a estilo hierárquico, influência

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

da iniciativa individual, instrumentos para a tomada de decisões, natureza das relações

com os clientes, capacidade de coordenar funções, atitude com as atividades

internacionais e relação entre o trabalho e a administração. No entanto, essas áreas

são apenas pontuadas, não existindo um trabalho de análise comparativa nos diversos

países, estabelecendo semelhanças e diferenças em cada estilo ou prática

administrativa. Não existe divergência na literatura sobre a peculiaridade das

características administrativas adotadas em cada país ou mesmo em cada segmento.

Porter, no entanto, não avança na análise dessas características, sua contribuição

restringe-se a verificar que cada segmento de indústria analisado nos diversos países

possui características próprias. Essas características são influenciadas pela estrutura

institucional e pelos demais determinantes.

Porter (op. Cit.) indica, ainda, alguns aspectos institucionais do país que interferem

nas práticas administrativas das firmas. Aspectos como as atitudes para com

autoridades, as normas de interação interpessoal, atitudes dos trabalhadores para

com a administração e vice-versa, normas sociais de comportamento individualista ou

de grupo e padrões profissionais são mencionados, porém, não avaliados.

As metas das firmas também podem sofrer influencias das estruturas e padrões

nacionais vigentes. O autor coloca que, na construção da vantagem nacional, os países

terão êxito quando suas metas estiverem alinhadas com as fontes de vantagem

competitiva. As empresas determinarão suas metas com base nos padrões e

expectativas impostos pelos segmentos industriais de cada país e a estrutura de

mercado e o padrão de funcionamento das instituições nacionais farão com que as

expectativas de resultados sejam diferentes em cada nação, influenciando dessa

maneira as metas empresariais. Porter tenta exemplificar essas influências, citando

que países como Alemanha, Estados Unidos, Coréia, Suíça e outros, possuem

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

estruturas institucionais e padrões nacionais próprios75 que determinam as práticas

administrativas e o estabelecimento de metas de curto e longo prazos.

Porter ressalta ainda alguns aspectos que influenciam o estabelecimento e o

cumprimento das metas. Entretanto, aspectos como a influência da prioridade/prestígio

nacionais sobre as metas ou a importância da dedicação constante, não são avaliados

de forma objetiva, recaindo em uma subjetividade que apesar da contribuição na

obtenção da vantagem competitiva nacional, não possuem parâmetros quantitativos

que expliquem suas contribuições no processo. A subjetividade dessa análise não

ajuda na construção de um referencial teórico coerente e que possa ser multiplicado.

A rivalidade interna de empresas também é posta como um elemento que estimula a

criação e a sustentação da vantagem competitiva. Porter, nesse aspecto, advoga que

a rivalidade entre firmas de um país dentro de um determinado segmento pode atuar

como elemento de pressão mútua no processo de melhoria contínua e de inovação76.

E essa melhoria e inovação advindas dessa pressão ajudariam na construção de

vantagens dinâmicas que firmas estrangeiras não conseguiriam. O autor explicita que

as vantagens obtidas não necessitam estar apenas vinculadas a preços competitivos,

porém, estarem atreladas à reduções de custos, à melhoria da qualidade e serviços, à

criação de novos produtos e processos e à implementação de novas tecnologias.

Porter atribui à rivalidade interna vários aspectos benéficos e, algumas vezes,

contraditórios. A rivalidade interna, segundo o autor, pode gerar empresas locais mais

75 - Porter sugere que o estabelecimento de uma estrutura institucional (sistema de governo, regras institucionais, independência de poderes, etc.) clara e estável terá uma influência determinante nas práticas de gestão adotadas pelo setor produtivo.

76 - Existe uma divergência essencial entre a pesquisa de Porter, que aponta para o processo inovativo como sendo também fruto da rivalidade interna das firmas e os textos de Schumpeter. A visão schumpteriana atribui o processo de inovação à figura central do empreendedor, que dentro da empresa procuraincessantemente a inovação de produtos e processos. Schumpeter não estabelece correlações entre o processo inovativo e o padrão de concorrência ou rivalidade entre empresas. Para uma melhor análise ver Schumpeter, Joseph. The Theory of economic development, 1911.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

fortes para a competição global, porém pode gerar autofagia em ambientes de

competição acirrada. Uma outra característica da rivalidade seria os desdobramentos

positivos para toda a indústria nacional, criando uma vantagem competitiva para os

segmentos e não apenas para uma firma. Esse fortalecimento dos segmentos

levantaria defesas contra possíveis rivais estrangeiros77. A concentração geográfica

apresenta-se como uma outra característica que pode refletir ou ampliar as vantagens

competitivas. Nesse ponto, aparece novamente a contradição do autor em estabelecer

à característica um reflexo da vantagem construída ou um elemento que auxiliará na

construção da vantagem. A relação causa e efeito não é analisada de forma

apropriada, deixando com isso vários questionamentos a respeito da construção de

vantagens competitivas nacionais. Porter prossegue sua investigação analisando o

fato da presença de rivais locais ajudarem no processo de condução de um apoio

governamental efetivo. Esse apoio ocorreria pelo fato das próprias estratégias dos

competidores criarem um ambiente propício para que as ações do governo ajudem na

construção de uma dinâmica setorial78.

Em sua análise de diversos segmentos de indústria nos dez países escolhidos, Porter

não verifica as possíveis etapas em que se encontra a rivalidade interna em cada

segmento. Tampouco analisa as diferentes estruturas de mercado (mercados

fechados, estruturas monopolistas, acesso a livre movimentação de capitais, etc..) que

retro-alimentam essas rivalidades internas. Parece óbvio inferir que cada componente

da estrutura fará com que as firmas adotem estratégias diferenciadas para atuar frente

a rivalidade interna, e isso ocorrerá dentro de uma linha de tempo na qual a própria

relação dos competidores será modificada. Isto determinará que a rivalidade interna

entre firmas locais passará por diversas etapas.

77 - Para uma melhor abordagem sobre tema “Barreiras a entrada de novos competidores” ver : J. Bain. Barries to New Competition – Havard, 1956.

78 - Essa argumentação carrega uma nova inconsistência na análise de Porter, pois não será apenas a ausência ou a presença de rivalidade entre os competidores internos que determinará o tipo e a qualidade da intervenção da ação governamental. Os aspectos institucionais e de mercado (estrutura) terão também influência preponderante no processo de ação governamental.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Ademais, além de ter um caráter temporal acentuado, a rivalidade interna possuirá

diferentes graus de intensidade. Cada segmento, através de suas características

estruturantes, determinará uma rivalidade mais ou menos acentuada entre as firmas.

Esse aspecto, pouco abordado pelo autor, interferirá no processo de definição de

metas e estratégias das firmas competidoras e determinará, ainda, qual será o perfil

de firma mais apropriado para o segmento79.

Mais uma vez, Porter expõe uma argumentação inconsistente, ao colocar a

cooperação direta entre competidores como sendo elemento de possível

enfraquecimento da vantagem competitiva80. Segundo sua análise, exceto quando

ocorre de forma limitada ou específica, a cooperação direta pode eliminar a

diversidade, minar os incentivos e, até mesmo, tornar mais lento o ritmo de melhoria da

indústria. Não obstante esse posicionamento determinístico do autor, a cooperação

entre firmas locais pode assumir um caráter bastante positivo em relação a rivalidade

externa. A associação de pequenas empresas com o intuito de adquirir ganhos de

escala, ou mesmo para uma cooperação tecnológica, é bastante freqüente em

determinados segmentos da indústria.

79 - Os aspectos de possíveis etapas e graus de rivalidade interna levantados acima, não são encontrados e analisados no texto do autor. Acreditamos serem fundamentais na dimensão da rivalidade entre firmas.

80 - Porter, de forma contraditória, já havia colocado a cooperação entre firmas e fornecedores ou entre empresas correlatas como sendo um elemento positivo na obtenção de vantagem competitiva nacional. Entretanto na sua análise da rivalidade interna, o elemento de cooperação não aparece mais comoelemento positivo.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

4.2.6 - O papel do acaso e do governo

Além dos quatro determinantes da vantagem nacional, Porter adiciona, ainda, dois

elementos importantes na construção do seu modelo do diamante nacional: o papel do

acaso e o do governo (figura 11).

Figura 11 – Diamante Nacional – Sistema CompletoFonte: Extraído do Livro “Vantagem Competitiva das Nações”.

Condições defatores

Estratégia, Estrutura e

Rivalidade dasempresas

IndústriasCorrelatas e

de apoio

Condições dedemanda

Ação dogoverno

Acaso

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Porter (op. Cit.) define o acaso como ocorrências fortuitas que pouco têm a ver com as

circunstâncias de um país e estão fora do alcance das firmas. Segundo o autor, essas

ocorrências somente influenciariam o diamante nacional, caso os fatos gerados

permitam modificações nas posições competitivas nos segmentos de indústria. Porter

cita como exemplos do acaso, os atos de pura invenção, as importantes

descontinuidades tecnológicas, as descontinuidades nos custos dos insumos, as

modificações significativas nos mercados financeiros mundiais ou nas taxas de

câmbio, os surtos de demanda mundial ou regional, as decisões políticas de governos

estrangeiros e as guerras.

Esses exemplos teriam condições de neutralizar vantagens competitivas já

estabelecidas, criando condições para que novos competidores consigam se

posicionar no novo ambiente de competição. Porter ressalta, ainda, que os impactos

dos acontecimentos fortuitos, em geral, são assimétricos, pois favorecem

determinadas firmas ou segmentos e desfavorecem outros. Esses impactos podem

influenciar as bases do diamante nacional como um todo ou apenas alguns dos seus

determinantes. É importante observar que não serão todos os acontecimentos fortuitos

que poderão criar essas condições de mudanças, pois os determinantes atuam,

também, como um poderoso sistema de manutenção das bases do diamante nacional.

Em sua análise, o autor atribui ao governo papel relevante na construção de vantagens

competitivas dentro de um país. A influência governamental pode ocorrer isoladamente

em um dos quatro determinantes ou pode influenciar o diamante como um todo. Essa

interferência, em geral, ocorre por meio de incentivos governamentais, do

estabelecimento de padrões ou regulamentos locais, da criação circunstâncias

favoráveis à dinâmica empresarial, ou, até mesmo, de subsídios . Entrementes a essa

grande influência que o governo pode exercer, sua interferência pode assumir um

aspecto positivo ou negativo no processo de criação e manutenção das vantagens

competitivas. Modificações nas estruturas institucionais ou de mercados, alterações

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

nas políticas fiscal e de crédito e financiamentos podem levar a um empobrecimento

do diamante nacional e conseqüentemente uma perda de competitividade dos

segmentos produtivos.

Porter advoga um papel de relevância parcial para o governo na construção da

vantagem competitiva do estado. O autor sugere que a ação governamental falhará

caso queira assumir o papel principal na vantagem competitiva nacional. O papel do

governo será o de reforçar a dinâmica dos quatro determinantes do diamante nacional.

Apesar da análise dos determinantes e das variáveis exógenas do “Diamante

Nacional”, o modelo de Porter apresenta uma série de limitações e lacunas que

impossibilitam o seu uso geral para explicar o desenvolvimento econômico de uma

nação ou mesmo região.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

”Tendo em vista o grande número de trabalhos em diferentes disciplinas que incidem

de alguma maneira sobre o meu assunto, simplesmente não foi possível oferecer

referências completas. Nem posso tentar aqui uma história intelectual completa do meu

tema. Procurei, porém, registrar alguns dos antecedentes mais importantes à minha

abordagem, nos vários campos, bem como alguns dos trabalhos individuais que me

pareceram mais interessantes ”

Michael Porter em Vantagens Competitivas das Nações, 1990

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

5. VANTAGENS COMPETITIVAS: CRÍTICAS AO MODELO DE PORTER

5.1 Limites explicativos, lacunas e deficiências do Modelo

Apesar de sua inequívoca contribuição à teoria da produção internacional, através de

seus estudos e pesquisas, principalmente suas pesquisas setoriais realizadas em

diversos segmentos e países, o modelo do “Diamante Nacional” apresenta alguns

limites explicativos como modelo econômico. Sua análise apresenta diversas lacunas

que prejudicam a sua aplicação direta para explicar o desenvolvimento econômico de

nações ou mesmo regiões. Essas limitações fomentam críticas que, em geral, fazem

referência à característica estática do modelo de desenvolvimento competitivo

preconizado por Porter. As críticas advertem, ainda, que suas análises são

freqüentemente subjetivas e baseadas em alguns poucos países industrializados, não

podendo ser estendidas para uma explicação da evolução das economias de países

em desenvolvimento81.

Uma outra limitação do modelo foi evidenciada por Narula (1993)82, que, em sua

análise do modelo, evidenciou a ausência da abordagem da atividade empresarial

internacional e suas implicações, tanto na caracterização dos estágios propostos por

Porter quanto na influência nos determinantes. Essa lacuna foi, também, abordada por

Dunning83, que observou a dinâmica da atividade empresarial internacional e suas

relações com o desenvolvimento de vantagens competitivas nas nações e as possíveis

ilações com a elaboração de políticas governamentais84. Dunning adapta o Diamante

81 - Essa limitação, no entanto, não é apenas do modelo de Porter, porém de boa parte da literatura sobre produção internacional. Os teóricos, em geral, efetivam suas análises em países centrais desenvolvidos, deixando uma lacuna nos estudos com relação aos países periféricos.

82 - Narula, Rajneesh. Management International Review. Special Issue vol. 33. 1993/2.

83 - Dunning, J.H. The Competitive Advantages of Countries and the Activities of Transnational Corporation, Transnational Corporations Vol. 1, No 1, February.

84 - Dunning, J.H. Governments and Multinational Enterprises: From Confrontation to Co-operation ? Millenium,Journal of International Studies, 20

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

de Porter com a inclusão da análise da atividade das multinacionais como a terceira

variável exógena85.

Além dessas limitações, Narula ressalta ainda que Porter não enfatizou a importância

da tecnologia como um processo dinâmico e incremental no desenvolvimento das

economias nacionais. Também não é dado muita atenção ao papel do IED

(Investimento Externo Direto) e a falta de ação ou a má ação do Estado com relação

ao estímulo das vantagens competitivas. O papel da incerteza (diferente do acaso) não

é considerado como uma variável importante em seu modelo. As ausências desses

elementos, bem como, a generalização de suas pesquisas e estudos, constituem as

principais limitações do modelo desenvolvido por Porter.

5.2 A Contribuição de Rajheness Narula – Investment Development Path

Segundo Narula (op. Cit.), pode-se identificar, ainda, quatro deficiências do modelo de

Porter como modelo explicativo de desenvolvimento econômico. A primeira encontra-

se no fato de Porter analisar o desenvolvimento de algumas nações industrializadas e

tentar estender essa análise a países de diferentes estruturas econômicas. A segunda

deficiência refere-se ao fato da maioria dos países em desenvolvimento estar

fortemente atrelada aos seus fatores de produção por causa da dependência dos seus

recursos naturais. Terceira, Porter advoga uma limitada intervenção estatal, sem, no

entanto, considerar as possibilidades de acordos internacionais entre países que

visem a consolidação ou mesmo a complementação de suas vantagens competitivas.

A quarta deficiência, e talvez a mais importante de todas, em termos de inviabilizar a

utilização do modelo de Porter como um modelo de análise de desenvolvimento

econômico, reside na ausência de exame dos fatores causais que determinam às

mudanças de estágios de desenvolvimento econômico (dinâmica do processo), e na

85 - Porter em seu modelo analisa o papel do acaso e da ação governamental como variáveis exógenas ao Diamante Nacional, Dunning acrescenta o papel da atividade empresarial internacional também como uma importante variável influenciando os determinantes.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

falta de análise dos motivos que explicariam porque alguns países são capazes de

fazer essa transição de um estágio para outro, mais cedo que outros países, e, como

esse processo poderia ser reproduzido.

Para Narula (op. Cit.), o modelo de desenvolvimento econômico de Porter não

consegue identificar quais são as bases de diferenciação (potenciais ou reais)

existentes entre os países que fornecem uma explicação satisfatória do porque o

crescimento econômico acontece em alguns países ou regiões e em outros não.

Narula (op. Cit.) segue sua análise considerando a abordagem de Porter sobre

tecnologia. Apesar de Porter considerar a tecnologia como uma variável endógena em

seu modelo, ela aparece em dois níveis distintos de análise, de modo a não ter

influência decisiva na dinâmica do processo de desenvolvimento. O primeiro nível

aborda a tecnologia como uma variável específica da firma, podendo estar presente de

forma codificada ou não, mas que contribui no processo de organização e/ou de

desempenho eficiente das firmas (Condições de fatores avançados). O segundo nível

coloca a tecnologia como o conhecimento inerente à indústria ou à estrutura de

mercado de um país ou região, influenciando a organização eficiente das transações

inter-firmas e intra-firmas (Estrutura de Mercado).

Para Narula é necessário uma elucidação das diferenças entre as dimensões da

estrutura da firma e da indústria ou mercado. A estrutura da firma é resultado do

conhecimento acumulado experimentado no processo de busca de resultados/lucros. E

a estrutura de mercado constitui-se na arena onde as transações ocorrem,

desempenhando um importante papel, pois o grau de competição entre firmas irá

afetar a taxa de inovação86. Para o autor, a tecnologia, nessas duas dimensões,

assume um papel relevante no processo de desenvolvimento econômico pois a

86 Narula define inovação como o conhecimento e a capacidade de produzir bens e serviços com uma alta qualidade por preço unitário, enquanto a tecnologia é definida como o acúmulo dessas inovações. A tecnologia, por sua vez, contribuirá para a construção de vantagens competitivas enquanto explorada comercialmente pelas firmas.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

construção de vantagens competitivas ocorre primeiramente no nível das firmas e

indústrias, que, por sua vez, estão ligadas ao desenvolvimento econômico nacional. A

produção e a difusão comercial do conhecimento interferem no processo de

desenvolvimento econômico. O acúmulo progressivo de conhecimento e inovações é

estabelecido como um fenômeno da firma que, através de um efeito multiplicador,

extrapola a estrutura da indústria impactando na prosperidade econômica nacional.

Verifica-se, então, que a tecnologia interfere diretamente tanto como uma variável

endógena quanto exógena no processo de construção de vantagens competitivas. Sua

interferência, entretanto, ocorre de modo mais explícito e direto nos determinantes

“Estrutura da Indústria” e “Condições de Fatores”, e indiretamente nas “Condições de

Demanda” (Estrutura de Mercado) e nas “Indústrias Correlatas”. A figura 12 demonstra

o caráter interativo e dinâmico proporcionado pela inclusão da tecnologia como uma

variável do sistema que, ao mesmo tempo que influencia os determinantes, é

influenciada por eles.

Narula (op. cit.) acrescenta em sua análise a importância dos investimentos internos e

externos na dinâmica do desenvolvimento econômico87. A posição de investimentos

diretos, sejam eles internos ou externos, bem como, a posição da tecnologia

acumulada podem retratar melhor a dinâmica do processo de desenvolvimento

econômico de um país.

87 - Dunning, em seu trabalho, discute a influência que os investimentos terão sobre os quatro determinantes e indiretamente sobre o processo de acumulação tecnológica.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Figura 12 – Desenvolvimento da Vantagem Tecnológica Nacional : O Papel da Tecnologia Acumulada.Fonte: Extraído do Texto “Technology, International Business and Porter’s “Diamond”:Synthesizing a Dynamic Competitive Development Model”. NARULA, Rajneesh (1993).

Conclui-se que a obtenção de vantagens tecnológicas por parte de uma nação ou

região está baseada no processo de acumulação tecnológica iniciado no nível das

firmas, e que, ao longo do tempo, tende a extrapolar a própria indústria e consolidar-se

como um dos elementos centrais da dinâmica do desenvolvimento econômico.

I. Investment Development Path

Partindo das considerações e críticas do modelo de Porter, Narula (Op. Cit.) propõe-se

a elaborar um modelo sintético (Dynamic Economic Development Model) que possa

preencher as lacunas e incorreções do modelo de Porter. Para a construção desse

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

modelo, Narula parte das contribuições do trabalho de Dunning, que criara um modelo

para analisar os aspectos de desenvolvimento envolvidos na produção internacional e

também nas possíveis interações de elementos como condições de demanda,

sistemas políticos e falhas de mercado. Esse modelo (Investment Development Path

– IDP), apesar do seu foco essencialmente macroeconômico, que não aborda a

questão do processo de acumulação tecnológica, serviu de base para uma explicação

completa do processo de desenvolvimento econômico e sua dinâmica.

Um outro ponto importante para o desenvolvimento de um modelo que contemplasse

uma explicação do processo de desenvolvimento econômico, foi, também tendo como

ponto de partida as contribuições do trabalho de Dunning, correlacionar ao

desenvolvimento econômico com o fluxo de investimentos diretos. O modelo de Porter

associa o desenvolvimento econômico ao crescimento da economia através da

evolução dos setores industriais88, relacionando o modelo à idéia de competitividade

setorial e tentando analisar o seu rebatimento na economia como um todo. Em seu

modelo, Porter (op. Cit.) estabelece como um dos indicadores desse desenvolvimento

competitivo a renda per-capita.

No entanto, utilizar a renda per-capita isoladamente para analisar o estágio de

desenvolvimento de setores produtivos mostrou-se inapropriada. Narula sugere então,

o uso dos fluxos de investimentos diretos como um indicador do nível de

competitividade de um país. Apesar da utilização desses fluxos como forte indicativo

de competividade de uma região, eles não são suficientes como justificativa do

processo de acumulação tecnológica. Narula sugere, então, cinco estágios básicos

progressivos de desenvolvimento :

88 -Esse é, possivelmente, o maior equívoco da análise de Porter. Seu modelo é, certamente, um poderoso instrumento de análise empresarial e setorial, porém, bastante limitado como modelo de análise de desenvolvimento de nações ou regiões.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Os países que encontram-se no primeiro estágio (figura 13), em geral, possuem

economias baseadas nas condições de fatores básicas89. Possuem baixos

investimentos internos e os externos são praticamente nulos. Existe a presença

marcante do governo que controla a estrutura da indústria e o nível de rivalidade. O

Processo de inovação tecnológica é marcado pela baixa taxa de acumulação, que

ocorre, em geral, através do licenciamento de tecnologia e de “joint ventures”. As

Condições de Demanda apresentam como característica principal, um demanda fraca

e desqualificada.

Figura 13 – Estágio 01 : Investment Development PathFonte: Extraído do Texto “Technology, International Business and Porter’s “Diamond”:Synthesizing a Dynamic Competitive Development Model”. NARULA, Rajneesh (1993).

89 - A economia dos países nesse estágio, em geral, está baseada em recursos básicos e em setores como

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

No segundo estágio de desenvolvimento (figura 15) persiste a forte dependência da

ação do governo para estimular os fatores. A estrutura da indústria tende para a

formação de oligopólios e inicia-se o fortalecimento das indústria de suporte e apoio

(formação de clusters). O governo começa a investir em condições de fatores

avançados. Em geral, nota-se uma estratégia orientada para a exportação de produtos

e/ou uma política de substituição das importações. O processo de acumulação

tecnológica começa a modificar suas características, pois, além do processo de

licenças e “joint ventures”, iniciam-se as inovações nos processos de aprimoramento

e desenvolvimento dos produtos e processos produtivos. Pode-se detectar um

aumento na demanda e nos investimentos internos e externos. Esses aspectos

conjugados possibilitam o acirramento da competição.

Figura 14 – Estágio 02 : Investment Development Path

a agricultura, petróleo e indústria extrativa.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Fonte: Extraído do Texto “Technology, International Business and Porter’s “Diamond”:Synthesizing a Dynamic Competitive Development Model”. NARULA, Rajneesh (1993).

O terceiro estágio de desenvolvimento (figura 15) caracteriza-se pela acumulação de

tecnologia baseada em conhecimento tecnológico, gerencial e de mercado. O

desenvolvimento passa a ser direcionado por condições de fatores avançados. Existe

um aumento na demanda qualificada e os investimentos internos e externos continuam

a evoluir a taxas crescentes. O papel do governo modifica-se passando de executor à

moderador, desenvolvendo políticas gerais como forma de atração de investimentos e

atuando como limitador da rivalidade entre as empresas. O crescimento tecnológico

está baseado também na qualidade da demanda e na competição das indústrias

correlatas. Essas indústrias estimuladas pelo aumento da competição e das condições

de demanda passam a ter padrão mundial.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Figura 15 – Estágio 03 : Investment Development PathFonte: Extraído do Texto “Technology, International Business and Porter’s “Diamond”:Synthesizing a Dynamic Competitive Development Model”. NARULA, Rajneesh (1993).

No quarto estágio de desenvolvimento (figura 16), a pesquisa básica e aplicada é feita

localmente – atividades de P & D. Os investimentos externos crescem a medida que a

capacidade tecnológica das empresas avançam e os fatores avançados passam a ter

maior relevância que os fatores básicos como fonte de vantagem competitiva. O

governo promove políticas localizadas para reestruturar os setores declinantes e

estimular setores nascentes, assumindo o papel regulador da rivalidade com atuação

através das agências, influindo no grau de rivalidade e competição.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Figura 16 – Estágio 04 : Investment Development Path

Fonte: Extraído do Texto “Technology, International Business and Porter’s “Diamond”:

Synthesizing a Dynamic Competitive Development Model”. NARULA, Rajneesh (1993).

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Figura 17 – Estágio 05 : Investment Development PathFonte: Extraído do Texto “Technology, International Business and Porter’s “Diamond”:Synthesizing a Dynamic Competitive Development Model”. NARULA, Rajneesh (1993).

No quinto estágio (figura 17) encontram-se as nações industrializadas que além das

características do quarto estágio revelam dois aspectos a serem observados: O

primeiro está na sua taxa de crescimento econômico que não cresce tanto quanto nos

estágios 3 e 4, já que seu nível de produtividade tende a estabilizar-se. O segundo

aspecto está na propensão do incremento das transações entre países que

apresentem similaridades de mercados e diferentes condições de fatores. Isso cria

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

uma dependência econômica internacional, favorecendo o surgimento dos blocos

econômicos.

Observa-se que o modelo sugerido por Porter (op. Cit.), ganha nova abordagem

através dos estágios (Quadro 13) sugeridos por Narula (op. Cit.), que introduz a

tecnologia e seu processo de acumulação como aspectos fundamentais da dinâmica

do desenvolvimento de vantagens competitivas e de crescimento econômico. Essa

análise possibilita o exame da interação dos complexos elementos da economia

nacional e de seus mecanismos de crescimento, com o intuito de formação de políticas

setoriais e globais.

A interferência do Estado é marcante nos estágios de desenvolvimento sugeridos por

Narula. A formação de políticas públicas intervencionistas ou reguladoras mostra a

importância decisiva do papel do governo no estímulo ao desenvolvimento de

vantagens competitivas nacionais.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

ESTÁGIOS SUGERIDOS POR NARULA

I II III IV V

Condições de

fatores básicas

Estratégia voltada

para exportações

Condições de

fatores

avançadas

Maior importância

fatores avançados

Idem anterior

Baixo nível de

investimentos

internos e

externos

Aumento dos

Investimentos

externos e

internos

Taxa de

crescimento dos

investimentos

Investimento

externo forte

Idem anterior

Governo controla

a estrutura e a

rivalidade

Governo estímulo

aos fatores

avançados

Governo

moderador e

limitador

Governo políticas

localizadas

Idem anterior

Demanda fraca e

desqualificada

Aumento da

demanda

Taxa de

crescimento da

demanda

qualificada

Idem anterior Idem anterior

Baixa taxa de

acumulação

tecnológica

Acumulação

tecnológica –joint

ventures

Acumulação

tecnológica –

conhecimento

tecnológico,

gerencial e de

mercado

Pesquisa básica

e aplicada local

Menor incremento

das taxas de

produtividade

Acirramento da

competição

Indústria com

padrão

competição

mundial

Idem anterior Incremento das

transações

países :

mercados

similares X

condições de

fatores diferentes

Formação

oligopólios

Fortalecimento

indústria suporte/

apoio

Quadro 13 – Estágios sugeridos por Rajneesh Narula.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Fonte: Extraído do Texto “Technology, International Business and Porter’s “Diamond”:Synthesizing a Dynamic Competitive Development Model”. Elaboração própria.

5.3. – A crítica de Omar Aktouf.

Omar Aktouf, em seu texto “Governança e Pensamento Estratégico: Uma Crítica a

Michael Porter”, de 2002, faz uma severa crítica ao pensamento de Porter com relação

à sua teoria geral da vantagem competitiva. Aktouf começa sua analise identificando a

mítica que se desenvolveu em torno do pensamento de Michael Porter, o que ele

chamou de porterismo. Para o autor, as últimas décadas têm sido marcadas por uma

crença de que tudo relacionado ao mundo dos negócios ou da economia passou a ser

estratégico e competitivo; e que o modelo analítico de Porter é um molde generalizado

de uma concepção e de uma análise, uma visão de mundo, uma ideologia plena e

inteira com o propósito de explicar o comportamento das firmas, mercados, nações e

as sociedades de uma forma geral.

Aktouf descreve o fenômeno porterismo como uma resposta simples para um

problema complexo que permeia a economia, a administração e a política, envolvendo

os Estados e as sociedades humanas, de forma apenas aproximativa e minimalista.

Prossegue identificando que o pensamento de Porter atingiu o estado de influência

através de três movimentos. O primeiro passo foi dado com a publicação de

Competitive Strategy, em 1980, com seu modelo das forças competitivas, fortemente

inspiradas na economia industrial. O segundo passo ocorreu com a publicação de

Competitive Advantage, em 1985, que trabalha a noção de cadeia de valores

integrados. E por último, o terceiro movimento ocorrido com o lançamento de

Competitive Advantage of Nations, em 1990, em que Porter expande suas idéias para

aplicação em nações e / ou regiões.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

A crítica de Aktouf não se ateve a identificar a origem das idéias e do pensamento de

Porter, elaborando apenas uma desconstrução do conteúdo das publicações de Porter

com suas principais fragilidades em termos epistemológicos, metodológicos e

ideológicos.

O autor prossegue indicando as limitações históricas e teóricas das idéias de Porter,

relatando abordagens equivocadas de teóricos como Adam Smith, David Ricardo,

Eckscher-Ohlin, Vernon, Bain e de suas reais contribuições à teoria econômica, em

especial às teorias de comércio internacional. Deixando ainda, segundo Aktouf, de

tratar, com a merecida profundidade, importantes aspectos ligados à economia como

“economia de escala”, “diferenças de tecnologia e de produtos entre países”,

“circulação de mão-de-obra qualificada e dos capitais”, “deseconomias de escala”,

“barreiras de toda a espécie” e “transferências internacionais entre filiais de firmas

multinacionais”. Aktouf prossegue sua crítica a Porter:

[...] Como é freqüente com as teorias que pretendem impor-secomo articulação entre a política, a economia e a administração, este gênero de posicionamento em relação às teorias maisgerais fica no nível dos aspectos secundários que nãoacrescentam nada à questão da admissão ou da refutação do argumento central dessa ou daquela concepção histórica,tornada clássica, e, portanto inevitável. Este nos parece serindubtavelmente o presente caso, com o sintético, breve edistanciado posicionamento que Porter toma diante decomplexas teorias [...]. (AKTOUF, O. Governança e Pensamento Estratégico: Uma crítica a Michael Porter. RAE. V.42. nº3. jul / set. 2002. p. 45)

Outro ponto importante que Aktouf chama a atenção é sobre a definição de

competitividade. Sobre o conceito, Porter, além de afirmar que não existe consenso,

coloca que não há nenhuma teoria amplamente aceita para explicá-la, desprezando

com isso todo esforço teórico feito nas últimas décadas nas teorias de produção

industrial e comércio internacional.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Na argumentação de Aktouf, Porter ignora as posições de economistas importantes

como Karl Marx, Samir Amin, Stuart Mill, Veblen, Rosa Luxemburgo, dentre outros, e

com um viés fortemente ideológico, postula que “a acumulação e a produção de

riquezas podem ser infinitas, e que a organização da sociedade que a acompanha [...]

é um constante progresso que cabe ser generalizado a todos, para a felicidade de

todos”.

Outra crítica ao trabalho de Porter refere-se ao tratamento superficial que é atribuído ao

conceito de mercado e de concorrência, ignorando teóricos importantes como Marx,

Walras90, Arrow91 e Debreu92, Lypsey e Lancaster que tratam de questões de preço,

capital, valor, equilíbrio, concorrência perfeita e imperfeita, etc.

Aktouf questiona ainda a validade metodológica das idéias de Porter quando este

edifica todo um arcabouço teórico para a construção do “Diamante Nacional” tendo

como referenciais estudos de caso de setores industriais, de firmas e de grupos de

firmas. Nesse sentido, Aktouf coloca em questão todo o trabalho de Porter,

Competitive Advantage of Nations em dúvida. Seria valida essa generalização sob a

ótica de um método científico? A resposta de Aktouf é não. A conclusão do autor é que

a obra porteriana contém falhas científicas e epistemológicas inadmissíveis.

90 - WALRAS, L. Élements d´économie politique purê: theorie de la richesse social.Paris: librairie génerale de droit et de jurisprudence, 1952.

91 ARROW, K.J. General Equilibrium. Cambridge: Belknap Press, 1983.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

5.4 – Análise crítica da obra “Vantagem Competitiva das Nações” e do modelo

do “Diamante Nacional” de Michael Porter.

Michael Porter escreveu nos últimos trinta anos (1976 – 2006) 17 livros (quadro 14) e

93 artigos em vários idiomas e algumas obras passando por mais de 50 edições.

Apesar do quantitativo de livros e artigos, destacam-se alguns trabalhos seminais da

obra de Porter, a começar por seu artigo de 1979 na Harvard Business Review: “How

competitive forces shape strategy”.

Livros Ano

01 - Interbrand Choice, Strategy and Bilateral Market Power 02 - Studies in Canadian Industrial Organization 03 - Competition in the Open Economy 04 - Competitive Strategy: Techniques for Analyzing Industries andCompetitors05 - Cases in Competitive Strategy 06 - Competitive Advantage: Creating and Sustaining Superior Performance07 - Business Policy: Text and Cases 08 - Competition in Global Industries 09 - The Competitive Advantage of Nations 10 - Upgrading New Zealand’s Competitive Advantage 11- International Competitive Advantage: A New Strategic Concept forSwitzerland12 - Advantage Sweden13 - Strategy: Seeking and Securing Competitive Advantage14 - Canada at the Crossroads: The Reality of a New CompetitiveEnvironment15 - On Competition 16 - Can Japan Compete? 17 - Redefining Health Care: Creating Value-based Competition on Results

197619771980

19801982

19851986198619901991

199119911991

199219982000

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

2006

Quadro 14: Publicações de Michael Porter – Livros (1976 – 2006). Fonte: Produzido a partir do site: http://www.isc.hbs.edu/, em abril / 2006.Elaboração própria.

A partir desse trabalho Porter estruturou seus principais estudos e publicações,

desenvolvendo as noções de análise do setor concorrente, barreiras de entrada,

estratégias genéricas, produtos substitutos, cadeia de valor, até chegar a noção de

vantagem competitiva das nações.

Além das críticas feitas aos determinantes do Diamante Nacional (capítulo 4) e por

outros autores (capítulo 5), coloca-se ainda como uma das principais críticas ao

trabalho de Michael Porter em seu livro “A Vantagem Competitiva das Nações” a não

referência à diversos conceitos por ele utilizados, não sendo mencionados os teóricos

que o precederam em análise sobre a questão das vantagens. Porter dá a entender

que as idéias contidas em seu livro são originais e concepções exclusivamente suas.

Percebe-se, entretanto, que vários conceitos e abordagens não são originais

remontando à época de Adam Smith e aos economistas clássicos.

A estrutura do livro “A Vantagem Competitiva das Nações” sinaliza que o esforço

teórico de Porter poderia ter sido maior. Em suas 878 páginas, Porter divide seu

trabalho em quatro partes e treze capítulos, dos quais dedica apenas as trinta

primeiras páginas ao resgate teórico das teorias de comércio internacional e teorias

da produção industrial que precedem suas observações e deveriam embasar suas

argumentações. Reserva cento e vinte páginas à apresentação de seu modelo com a

explicação dos determinantes da vantagem competitiva nacional, e, mais de

quatrocentas páginas para a apresentação dos estudos de casos de indústrias e

segmentos em diversos países (cap. 05 – 10).

Apesar de vários teóricos e seus trabalhos mais expressivos aparecerem em suas 18

páginas de referências bibliográficas, os devidos créditos não são efetivados

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

conquanto são apresentados os conceitos ao longo do livro. Como exemplo dessas

omissões ou ausências de créditos, podem ser citados alguns estudos e trabalhos

seminais de Dosi – Technical change and economic theory (1988), Dunning –

International production and the multinational entreprise (1981), Freeman – The

economics of industrial innovation (1974), Lundvall – Product innovation and user-

producer interaction (1985), Marshall – Principles of economics (1890), Nelson &

Winter – An evolutionary theory of economic change (1982), Ohlin – Interregional and

International trade (1933), Rosemberg - The direction of technological change.

Inducement mechanisms and focusing devices. Economic Development and Cultural

Change (1969), Scherer – Industrial market Structure and economic performance

(1980), Schmookler – Invention and economic growth (1966), Schumpeter – The

theory of economic development (1934), Smith – An inquiry into nature and causes of

the wealth of nations (1776), Vernon – International Investments and international

trade in the product cycle (1966).

Além desses teóricos e suas abordagens, outros autores, citados no presente trabalho,

não são analisados ou citados por Porter em seu livro. Destacam-se David Ricardo -

On the principle of political economy and taxation (1817), Leon Walras – Compêndio

dos elementos de economia política pura (1983) Emmanuel Arghiri - A troca desigual

[1973], John Bain – Barries to new competition (1956), Fernando Fajnzylber -

Competitividad Internacional: Evolucion y Licciones (1988), dentre outros.

Outra crítica é a passagem do conceito competitividade da noção microeconômica

para a macroeconômica, transbordando as vantagens competitivas das firmas ou

indústrias para os países e nações. Como salientado por Krugman (1999) e Aktouf

(2002), a transposição do conceito não é tarefa simples e requer um esforço teórico,

uma profunda análise das variáveis e elementos institucionais envolvidos.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Além disso, Porter utilizando como objeto de análise empírica o estudo de setores de

oito países (Coréia, Itália, Suécia, Japão, Suíça, Alemanha, Grã-Bretanha e Estados

unidos) com perfis diferenciados e não representativos, generaliza suas conclusões

como regra geral para as demais nações.

Outra crítica pertinente ao trabalho de Porter é a falta de sinergia entre os

determinantes do seu modelo de competitividade. O autor não estabelece uma

correlação entre os determinantes (condições de fatores; condições de demanda;

indústrias correlatas e de apoio; estratégia, estrutura e rivalidade das empresas; o

papel do acaso e o papel do governo).

Outra crítica ao trabalho do autor refere-se ao tratamento que é atribuído à questão

tecnológica, em geral, sendo tratada como um elemento endógeno ao processo de

desenvolvimento econômico.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O grau de desenvolvimento de um Estado-nação competitivo, certamente não pode ser

traduzido apenas na leitura de índices ou indicadores setoriais. A própria definição de

competitividade também envolve aspectos relacionados com o nível de vida de uma

nação. O Estudo de Porter não permite identificar e explicar a dinâmica que leva a

construção do desenvolvimento competitivo, tampouco consegue relacionar níveis de

qualidade de vida de uma nação ou região ao comportamento dos determinantes por

ele analisados.

Observam-se várias deficiências teóricas no modelo do “Diamante Nacional” de

Porter, desde a omissão de pensadores econômicos importantes (clássicos e não

clássicos), até a utilização de teorias de comércio internacional e produção

internacional sem a sua devida menção e / ou fundamentação (vantagens absolutas,

comparativas, comparativas reveladas, competitividade sistêmica, etc.). As correntes /

escolas de pensamento apresentadas nesse trabalho demonstram vários dos

conceitos implícitos no desenvolvimento das idéias de Porter em seu modelo

(mercado, valor, concorrência, barreiras à entrada, ciclo do produto, etc.).

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

As lacunas e deficiências apontadas por Dunning e Narula (op. Cit) revelam a

fragilidade do modelo proposto carregado de aspectos subjetivos ou inconsistentes.

Entretanto o IDP (Investment Development Path), formulado por Narula, que introduz o

processo de acumulação tecnológica e dos investimentos externos diretos (IED)

como alguns dos aspectos que explicariam o desenvolvimento de vantagens

competitivas, carece de uma abordagem histórica e de fundamentação empírica que,

além de explicar a relação de causalidade, possa ser adotado, de forma geral, como

um modelo de desenvolvimento econômico.

O posicionamento da escola evolucionista e dos neo-schumpeterianos com a

preocupação central no processo de inovação e seus impactos na atividade

econômica também fornece subsídios para a análise do modelo de Porter, que aborda

a questão de forma frágil e pouco consistente. As críticas de Aktouf revelam problemas

metodológicos, epistemológicos e ideológicos no trabalho de Porter sem entrar no

mérito da origem de suas idéias.

Quais são os novos determinantes de competitividade para um Estado-nação e como

estes estariam influenciando e sendo influenciados pelas vantagens competitivas das

firmas? A resposta para essa pergunta parece indicar para uma conjugação de

diversos fatores, alguns aqui abordados e outros não, que trabalhados de forma

apropriada, através de políticas governamentais, sejam elas de cunho vertical ou

horizontal, ou reformistas, neo-liberais ou neo-desenvolvimentista, possam consolidar

um desenvolvimento econômico estruturado e sustentável que coadune com um

crescimento no nível de qualidade de vida da população. A evolução histórica e teórica

apontou várias características que ajudaram a explicar a consolidação de um Estado-

nação competitivo (teorias do comércio internacional e teorias da produção

internacional), mas também demonstrou que construir vantagens que sejam

fomentadoras de um desenvolvimento econômico estruturado e sustentável de forma

perene, ainda não foi factível.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

É importante lembrar que o modelo de Porter está ideologicamente baseado na lógica

do processo de mundialização do capital em que os mercados transformaram-se em

grande espaço de rivalidade com relações mútuas de dependência, colaboração e

competição entre grandes grupos em vários segmentos produtivos. O modelo reflete

como esta estrutura oligopolizada manipula os fatores produtivos, cria barreiras à

entrada e estabelece padrões e normas de conduta favorecendo cada vez mais a

centralização e a concentração de riquezas.

O modelo reflete uma forte hierarquização e definição de papéis ao nível das relações

entre as economias nacionais, no qual as nações dominantes ditam o padrão de

funcionamento da economia capitalista como um todo e as economias nacionais

dominadas adaptam-se ao modelo e sofrem as conseqüências da dominação política

e econômica.

As teorias econômicas sobre o comércio internacional, a produção internacional e a

evolucionista (neo-schumpterianos) devem ir além dos aspectos por elas investigados

(sejam eles micro ou macro econômicos) dando maior atenção a questão da cultura

organizacional (teorias organizacionais) como importante elemento que afeta o

processo da construção de vantagens competitivas das firmas, e por conseguinte,

influenciando as vantagens nacionais. As teorias organizacionais vêm buscando

avançar em suas análises com relação à identificação de elementos culturais

nacionais e internacionais que influenciam no padrão comportamental das

organizações. É de suma importância que as teorias sobre comércio e produção

internacional e sobre as organizações incorporem elementos, mutuamente, para o

desenvolvimento de respostas factíveis aos questionamentos, cada vez mais

freqüentes e complexos, que são apresentados por um cenário mundial, ao mesmo

tempo muito dinâmico e instável.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

mestrado do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas – UFMG. 2002.

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PORTER, Michael E., Vantagem Competitiva: Criando e Sustentando umDesempenho Superior. Tradução por Elizabeth Maria de Pinho Braga; Revisão técnica de Jorge A. Garcia Gomez. Rio de Janeiro: Campus. Tradução de:Competitive advantage. 1990.

PORTER, M. E., Locational, Competition, and Economic Development: Local Clusters in a Global Economy. Economic Development Quartely, vol 14, nº 1, p: 15-34. February, 2000. Sage Publications.

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RICARDO, David . On the Principles of Political economy and Taxation The works and Correspondence of David Ricardo (vol. I). Cambrigde, Cambrigde University Press (1988).

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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SAMUELSON, P.A. International trade and the equalization of factor prices,Economic Journal, v. 58: p. 163-184, 1948.

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SCHUMPETER, Joseph. The Theory of Economic Development. Oxford. Oxford University Press, 1978.

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SMITH, A., An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations – Nova Iorque, Modern Library, 1937, p. 670.

SMITH, A., Série Os Economistas. Ed. Nova Cultural. 1996.

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SUZIGAN, W. & VILLELA, A . V.. “Industrial Policy in Brazil”. Campinas :UNICAMP/IE. 1997.

SUZIGAN, W; FERNANDES, S. C. Competitividade Sistêmica: A Contribuição de Fernando Fajnzylber. IE/UNICAMP. In mimeo. 2002.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

TEIXEIRA, F.; GUERRA, O.. A Competitividade na Cadeia de suprimento da Indústria de Petróleo no Brasil. R. Econ. Contemporânea. Rio de Janeiro, 7(2): 263-288, jul/dez. 2003.

VASCONCELOS, F. C., CYRINO, Á. B.. Vantagem Competitiva: Os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional.Revista de Administração de Empresas. Out. / Dez. 2000.

VERNON, RS.. International Investment and International Trade in ProductCycle. Quartely Journal of Economics, 80:90-207. 1966.

VERNON, R. La inversión internacional y el comercio internacional en el ciclo de productos. In ROSENBERG, N. Economia Del cambio tecnológico, México: Fondo de Cultura Econômica, 1979.

WALRAS, L. Compêndio dos elementos de economia política pura. São Paulo. Abril Cultural. 1983.

WINTER, S.G., KANIOVSKY, Y. M., DOSI, G.. A Baseline Model of IndustryEvolution. IASA – International Institute for Applied Systems Analysis. Austria. March 1997.

WINTER, S.G., KANIOVSKY, Y. M., DOSI, G.. Modeling Industrial Dynamics with Innovative Entrants. IASA – International Institute for Applied Systems Analysis. Austria. May 1998.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

ANEXO A – LIVROS PUBLICADOS PORMICHAEL PORTER (1976 – 2006)

1. ——— and Elizabeth Olmsted Teisberg. Redefining Health Care: CreatingPositive-Sum Competition to Deliver Value. Boston: Harvard Business School Press, forthcoming.

2. ———, H. Takeuchi, and M. Sakakibara. Can Japan Compete? (in Japanese), Tokyo: Diamond, 2000. In English: Basingstoke, England: Macmillan, 2000; and New York: Basic Books and Perseus Publishing, 2000.

3. On Competition. Boston: Harvard Business School Press, 1998.

4. ——— and Monitor Company. Canada at the Crossroads: The Reality of a New Competitive Environment. Ottawa, Canada: Business Council on National Issues and Minister of Supply and Services, 1992.

5. Strategy: Seeking and Securing Competitive Advantage edited and with anintroduction by Cynthia A. Montgomery and Michael E. Porter. Boston: Harvard Business School Press, 1991.

6. ———,Ö. Sölvell, and I. Zander. Advantage Sweden. Stockholm, Sweden:Norstedts Förlag AB, 1991. Second edition, Stockholm, Sweden: NorstedtsJuridik, 1993.

7. ———, S. Borner, R. Weder, and M.J. Enright. InternationaleWettbewerbsvorteile: Ein Strategisches Konzept fur die Schweiz (International Competitive Advantage: A New Strategic Concept for Switzerland).Frankfurt/New York: Campus Verlag, 1991.

8. ——— , G.T. Crocombe, and M.J.Enright. Upgrading New Zealand’sCompetitive Advantage. Auckland, New Zealand: Oxford University Press, 1991.

9. The Competitive Advantage of Nations. New York: The Free Press, 1990.Republished with a new introduction, 1998.

10.Competition in Global Industries. (editor), Boston: Harvard Business SchoolPress, 1986.

11.———, C.R. Christensen, K. Andrews, J. Bower, and R. Hamermesh. BusinessPolicy: Text and Cases, 6th edition. Homewood, Illinois: Richard D. Irwin, 1986.

12.Competitive Advantage: Creating and Sustaining Superior Performance, New York: The Free Press, 1985. Republished with a new introduction, 1998.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

13.Cases in Competitive Strategy, New York: The Free Press, 1982.

14.Competitive Strategy: Techniques for Analyzing Industries and Competitors, New York: The Free Press, 1980. Republished with a new introduction, 1998. Chapter 1 reprinted in Competition, J. High (ed.) as part of Critical Ideas in Economics M. Blaug and K.D. Hoover (eds.), Fairfax, Virginia: Institute of Public Policy, George Mason University (forthcoming).

15.———, R.E. Caves, and A.M. Spence. Competition in the Open Economy.Cambridge, Massachusetts: Harvard Economic Studies, Harvard UniversityPress, 1980.

16.———, A.M. Spence, J.T. Scott, and R.E. Caves. Studies in Canadian Industrial Organization. Canadian Royal Commission on Corporate Concentration,January 1977.

17.Interbrand Choice, Strategy and Bilateral Market Power. Cambridge,Massachusetts: Harvard Economic Studies, Harvard University Press, 1976.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

ANEXO B – ARTIGOS PUBLICADOS PORMICHAEL PORTER (1976 – 2006)

1. ——— and Daniel C. Esty. “National Environmental Performance: An Empirical Analysis of Policy Results and Determinants, Environment and DevelopmentEconomics, forthcoming.

2.———, Jay W. Lorsch and Nitin Nohria. “Seven Surprises for New CEOs,”Harvard Business Review, October 2004.

3.——— and Elizabeth O. Teisberg, “Redefining Competition in Health Care,” Harvard Business Review, June 2004.

4.——— and Mark Kramer. “Evolution or Revolution: Challenging Assumptions,” in a special report by European Business Forum on Corporate SocialResponsibility, Summer 2004.

5.——— and Mariko Sakakibara, “Competition in Japan,” Journal of Economic Perspectives 18, no. 1 (Winter 2004): 27-50.

6.“Building the Microeconomic Foundations of Prosperity: Findings from theBusiness Competitiveness Index,” The Global Competitiveness Report 2003-2004, X Sala-i-Martin (ed.), New York: Oxford University Press (2004).

7.——— and Scott Stern, “Ranking National Innovative Capacity: Findings from the National Innovative Capacity Index,” The Global Competitiveness Report 2003-2004, X Sala-i-Martin (ed.), New York: Oxford University Press (2004).

8.“The Economic Performance of Regions,” Regional Studies 37, nos. 6 & 7 (August/October 2003): 549-578.

9.“Building the Microeconomic Foundations of Prosperity: Findings from theMicroeconomic Competitiveness Index,” The Global Competitiveness Report2002-2003, P. Cornelius (ed.), New York: Oxford University Press (2003).

10.——— and Scott Stern, “The Impact of Location on Global Innovation: Findings from the National Innovative Capacity Index,” The Global Competitiveness Report 2002-2003, P. Cornelius (ed.), New York: Oxford University Press (2003).

11.——— and Anita M. McGahan, “The Emergence and Sustainability of Abnormal Profits,” Strategic Organization 1, no. 1, (2003): 79-108.

12.——— and Mark R. Kramer, “The Competitive Advantage of Corporate

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Philanthropy,” Harvard Business Review, December 2002. Also reprinted inAnnual Editions: Management (F. Maidment, ed.), New York: McGraw Hill (2003). Also reprinted in Harvard Business Review on Corporate Responsibility, Boston: Harvard Business School Publishing (2003).

13.——— and Anita M. McGahan, “What Do We Know About Variance inAccounting Profitability?,” Management Science 48, no. 7 (July 2002): 834-851.

14.——— and Daniel C. Esty, “National Environmental Performance Measurement and Determinants,” Environmental Performance Measurement: The GlobalReport 2001-2002, D. Esty and P. Cornelius (eds.), New York: Oxford University Press (2002).

15.——— and Scott Stern. “Innovation: Location Matters,” MIT Sloan Management Review, Summer 2001.

16.——— and Mariko Sakakibara, “Competing at Home to Win Abroad: Evidence from Japanese Industry,” Review of Economics and Statistics, May 2001.

17.“Strategy and the Internet,” Harvard Business Review, March 2001.

18.———, Jeffrey L. Furman, and Scott Stern. “Los Factores Impulsores de la Capacidad Innovadora Nacional: Implicaciones para Espana y Latinoamerica,” in Claves de la Economma Global, Madrid: Spanish Institute of International Trade/Ministry of Economy, forthcoming. (Translation of “The Drivers of National Innovative Capacity: Implications for Spain and Latin America,” HarvardBusiness School Working Paper 01-005, May 2000.)

19.“Regions and the New Economics of Competition,” in Global City-Regions (A.J. Scott, ed.), Oxford: Oxford University Press (2001).

20.“Locations, Clusters, and Company Strategy,” in Oxford Handbook of Economic Geography, (G. Clark, M. Gertler, and M. Feldman, eds.), Oxford: OxfordUniversity Press (2000). Also reprinted in The Globalization of the WorldEconomy: SMEs in the Age of Globalization, D.B. Audretsch, , Cheltenham:Edward Elgar Publishing (2003).

21.“Attitudes, Values, Beliefs, and the Microeconomics of Prosperity,” in Culture Matters: How Values Shape Human Progress, (L.E. Harrison, S.P. Huntington, eds.), New York: Basic Books (2000).

22.“Clusters and Government Policy,” Wirtschafts politische Blätter 47 (2000): 144-154.

23.“Location, Competition and Economic Development: Local Clusters in a Global

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Economy,” Economic Development Quarterly 14, no. 1 (February 2000): 15-34.Also reprinted in Globalization and the Location of Firms (J. Cantwell, ed.), Cheltenham: Edward Elgar Publishing (2004).

24.——— and Mark R. Kramer. “Philanthropy's New Agenda: Creating Value,”Harvard Business Review, November-December, 1999.

25.“Microeconomic Competitiveness: Findings from the 1999 Executive Survey,” and (with Gregory C. Bond) “Innovative Capacity and Prosperity: The NextCompetitiveness Challenge,” in The Global Competitiveness Report 1999,Geneva, Switzerland: World Economic Forum, 1999.

26.“The Microeconomic Foundations of Economic Development andCompetitiveness,” Wirtschafts politische Blätter 46 (1999).

27.——— and Hirotaka Takeuchi. “Fixing What Really Ails Japan,” Foreign Affairs 78, no. 3 (May-June 1999).

28.“Clusters and the New Economics of Competition,” Harvard Business Review,November-December 1998. Also reprinted in World View: Global Strategies for the New Economy, Jeffrey E. Garten (ed.), Boston: Harvard Business School Press (1999); Managing in the New Economy, Joan Magretta (ed.), Boston: Harvard Business School Press (1999); Systems of Innovation: Growth,Competitiveness and Employment, Charles Edquist and Maureen McKelvey(eds.), Cheltenham: Edward Elgar Publishing Limited, forthcoming.

29.——— and Anita M. McGahan. “The Persistence of Shocks to Profitability,”Review of Economics and Statistics 81, no. 1 (February 1999): 143-153.

30.“The Microeconomic Foundations of Economic Development,” and “Measuring The Microeconomic Foundations of Economic Development,” in The GlobalCompetitiveness Report 1998, Geneva, Switzerland: World Economic Forum, 1998.

31.——— and Nicolaj Siggelkow. “Competition and Strategy: The Creation of a Group and a Field,” in The Intellectual Venture Capitalist: John H. McArthur and the Work of the Harvard Business School, 1980-1995 (eds. Thomas K. McCraw and Jeffrey L. Cruikshank), Boston: Harvard Business School Press, 1999.

32.——— and Örjan Sölvell. “The Role of Geography in the Process of Innovation and Sustainable Competitive Advantage of Firms,” in The Dynamic Firm (eds. Alfred D. Chandler, Jr., Peter Hagström, and Örjan Sölvell), Oxford, England: Oxford University Press, 1998.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

33.—— with Daniel C. Esty. “Industrial Ecology and Competitiveness,” Journal of Industrial Ecology 2, no. 1 (1998).

34.——— and Anita McGahan. “How Much Does Industry Matter, Really?”, StrategicManagement Journal 18 (July 1997): 15-30.

35.“Building Competitive Advantage: Lessons from Other Countries,” Voices from Marrakech: Selections from the Mediterranean Development Forum,Washington, DC: Economic Development Institute, World Bank, 1997.

36.“New Strategies for Inner-City Economic Development,” Economic Development Quarterly 11, no. 1 (February 1997), Thousand Oaks, California: SagePeriodicals Press.

37.“What is Strategy,” Harvard Business Review, November-December 1996.Excerpted in Spotlight on Performance 12, no. 1, Northfield, MN: Fine Lines Creative Communications. Also reprinted in Delivering Results: A New Mandate for Human Resource Professionals, D. Ulrich, ed., Boston: Harvard Business School Press, 1998. Also reprinted in The International Library of CriticalWritings in Business and Management Strategic Management, J. Birkinshaw, Cheltenham: Edward Elgar Publishing (2004). Also reprinted in Annual Editions: Management (F. Maidment, ed.), New York: McGraw Hill (2003). Also reprinted in Strategic Management (Volume 1), J. Birkinshaw (ed.), Cheltenham, England: Edward Elgar (2004).

38.

“Competitive Advantage, Agglomeration Economies, and Regional Policy,”International Regional Science Review 19, nos. 1 & 2 (1996), Regional Research Institute, West Virginia University.

39.“Competitiveness in Central America,” in Competitiveness in Central America: Preparing Companies for Globalization, a publication of the Latin AmericanCenter for Competitiveness and Sustainable Development, INCAE, Costa Rica,July 1996.

40.“Capital Choices: National Systems of Investment,” in As If the Future Mattered, Neva R. Goodwin (editor), Ann Arbor: The University of Michigan Press, 1996.

41.“Comment on ‘Interaction Between Regional and Industrial Policies: Evidence From Four Countries,’ by Markusen”, in Proceedings of The World Bank Annual Conference on Development Economics 1994, Supplement to The World Bank Economic Review and The World Bank Research Observer, Michael Bruno and Boris Pleskovic (editors), Washington, DC, 1995, The International Bank for Reconstruction and Development/THE WORLD BANK.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

42.——— and Claas van der Linde. “Toward a New Conception of the Environment-Competitiveness Relationship,” The Journal of Economic Perspectives 9, no. 4 (Fall 1995). Reprinted in A Reader on Environmental Law, edited by Bridget Hutter, Oxford Readings in Socio-Legal Studies, Oxford: Oxford University Press. Excerpted as “Toward a New Paradigm,” in Perc Reports 15 (October 1997), Bozeman, MT. Summarized in Sustainable Human and Economic Development (6th volume of series Frontier Issues in Economic Thought), Washington, DC: Island Press (2000). Also reprinted in Corporate Strategies for ManagingEnvironmental Risk, (T. Tietenberg and K. Segerson, eds.), Hampshire: Ashgate Publishing Group (2004).

43.——— and Claas van der Linde. “Green and Competitive: Ending theStalemate,” Harvard Business Review, September-October 1995. Alsopublished in The Earthscan Reader in Business and the Environment, edited by Richard Welford and Richard Starkey, Earthscan Publications Ltd, London,1996.

44.——— and Rebecca E. Wayland. “Global Competition and the Localization of Competitive Advantage,” Proceedings of the Integral Strategy Collegium,Graduate School of Business, Indiana University, JAI Press, Greenwich,Connecticut, 1995.

45.“The Competitive Advantage of the Inner City,” Harvard Business Review, May-June 1995. Also excerpted in The City Reader, second edition, Richard T.LeGates (ed.), New York: Routledge (1999).

46.“Competitive Strategy Revisited: A View from the 1990s,” in The Relevance of a Decade, Boston: Harvard Business School Press, 1994.

47.“Global Strategy: Winning in the World-Wide Marketplace,” in The Portable MBA in Strategy. Liam Fahey and Robert M. Randall (eds.), New York: John Wiley & Sons, Inc., 1994.

48.——— with Elizabeth O. Teisberg and Gregory B. Brown. “Making Competition in Health Care Work,” Harvard Business Review, July-August 1994.

49.“The Role of Location in Competition,” Journal of the Economics of Business 1, no. 1 (1994).

50.“Applying the Competitive Advantage of Nations Paradigm to Norway,” Praktisk økonomi & Ledelse: et Konsurransedyktig Norge 1 (February 1993), Oslo,Norway: Bedrifsøkonomens Forlag A/S.

51.“Capital Disadvantage: America’s Failing Capital Investment System,” Harvard

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Business Review, September-October 1992. Also reprinted in The Quest for Loyalty: Creating Value through Partnership, edited with an introduction byFrederick F. Reichheld, Harvard Business School Press, 1996.

52.“Capital Choices: Changing the Way America Invests in Industry,” Journal of Applied Corporate Finance, September 1992. Also in Studies in International Corporate Finance and Governance Systems: A Comparison of the U.S., Japan, and Europe, Donald H. Chew (ed.), New York: Oxford University Press, 1997.

53.“Korea in the Middle,” in Korean Competitiveness: A Shortcut to an Advanced Nation, Dong-Sung Cho, Seoul, Korea, 1992.

54.“Towards a Dynamic Theory of Strategy,” Strategic Management Journal, special winter edition, John Wiley & Sons, Ltd., Chichester, England, 1991. Alsoreprinted in Fundamental Issues in Strategy: A Research Agenda, edited byRichard P. Rumelt, Dan E. Schendel, and David J. Teece, Harvard Business School Press, Boston, MA, July 1994.

55.“America’s Green Strategy,” Scientific American 264, no. 4 (April 1991): 168. Also reprinted in The Company Leader, a publication of the St. Paul Fire and Marine Insurance Company, August 1994. Also published in The EarthscanReader in Business and the Environment, edited by Richard Welford and Richard Starkey, Earthscan Publications Ltd, London, 1996.

56.“The Competitive Advantage of Nations,” Harvard Business Review, March-April,1990. Also reprinted in From Adam Smith to Michael Porter: Evolution ofCompetitiveness Theory, Dong-Sung Cho & Hwy-Chang Moon, World ScientificPublishing Company: forthcoming August 2000. Also reprinted in Organizational Capability and Competitive Advantage, edited by William Lazonick and William Mass in The International Library of Critical Writings in Business History, Series Editor Geoffrey Jones, Edward Elgar Publishing Ltd, Cheltenham, England,1995, and in Engineering Management Review, Volume 18, Number 4,December 1990.

57.“Can Japanese Companies Survive in Global Competition,” in Twenty-firstCentury: What Will Happen to Japanese Companies? NHK Publications, Tokyo, Japan, September 1989 (in Japanese).

58.“Competition in Global Industries: A Conceptual Framework,” HitotsubashiBusiness Review 35, no. 4 (March 1988). Reprinted from Competition in Global Industries, Boston: Harvard Business School Press, 1986.

59.“From Competitive Advantage to Corporate Strategy,” Harvard BusinessReview, May-June 1987. Also reprinted in Manufacturing TechnologyInternational: Europe 1988, The International Review of Advanced Manufacturing

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Technology and Management, The Sterling Publishing Group PLC, pages 25-35,1988. Also reprinted in The McKinsey Quarterly, New York, Spring 1988. Also reprinted in International Review of Strategic Management, edited by D.E.Hussey, Volume 1 1990, John Wiley & Sons Ltd, Chichester, England, 1990. Also published as part of Managerial Excellence: McKinsey Award Winners from the Harvard Business Review, 1980-1994, foreword by Rajat Gupta, Boston: Harvard Business School Press, 1996.

60.“The New Japanese Challenge to the U.S. Auto Industry,” in The Japanese Competition: Phase 2. Peter J. Arnesen, editor, Ann Arbor, Michigan: theUniversity of Michigan Center for Japanese Studies, Michigan Papers inJapanese Studies, no. 15, 1987.

61.“UK Conglomerates: A View of Hanson Trust,” The World in 1987, London: The Economist Group, November, 1986.

62.“The Strategic Role of International Marketing,” in ‘World Marketing: Going Global or Acting Local?,’ F. Simon-Miller, editor, Journal of Consumer Marketing 3, no. 2: (Spring 1986).

63.“Changing Patterns of International Competition,” California ManagementReview, January 1986. Also reprinted in The Globalization of the WorldEconomy, in Transforming International Organizations, William G. Egelhoff (ed.), Edward Elgar Publishing, Cheltenham, England. Also reprinted in StrategicManagement (Volume 1), J. Birkinshaw (ed.), Cheltenham, England: Edward Elgar (2004).

64.“Defensive Strategy,” Strategy 7, no. 1 (1985): Technomic Consultants.

65.——— and Victor A. Millar. “How Information Gives You Competitive Advantage”Harvard Business Review, July-August 1985.

66.“Technology and Competitive Advantage,” The Journal of Business Strategy 5, no. 3 (Winter 1985).

67.——— and Kathryn Rudie Harrigan. “End Game Strategies for DecliningIndustries,” Harvard Business Review, July/August 1983. Also reprinted inSunrise...sunset: Challenging the Myth of Industrial Obsolescence, John Wiley & Sons, Inc. and Harvard Business Review, Spring, 1985.

68.“The Strategic Role of Global Marketing: Managing the Nature and Extent of Worldwide Coordination,” in Business Review 31, no. 1 (August 1983), Institute of Business Research, Hitotsubashi University, Japan.

69.“The Technological Dimension of Competitive Strategy,” in R. Rosenbloom,

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

Research on Technological Innovation, Management and Policy, J.A.I. Press, Volume 1, 1983.

70.“Analyzing Competitors: Predicting Competitor Behavior and FormulatingOffensive and Defensive Strategy,” in Policy, Strategy, and Implementation,edited by Milton Leontiades, Random House, 1983.

71.——— with T.M. Hout and E. Rudden. “How Global Companies Win Out” Harvard Business Review, September/October 1982. Also reprinted in Global Strategies: Insights from the World’s Leading Thinkers (preface by Percy Barnevik), Boston, Massachusetts: Harvard Business School Press, 1994.

72.“Industrial Organization and the Evolution of Concepts for Strategic Planning: The New Learning,” in T.H. Naylor, Corporate Strategy: The Integration of Corporation Planning Models and Economics, North-Holland Publishing, Amsterdam, 1982.

73.——— with A. Michael Spence. “The Capacity Expansion Process in a Growing Oligopoly: The Case of Corn Wet Milling” in J.J. McCall, The Economics of Information and Uncertainty, National Bureau of Economic Research, University of Chicago Press, 1982.

74.“The Contributions of Industrial Organization to Strategic Management: APromise Beginning to be Realized,” Academy of Management Review, 1981. Also reprinted in The Internatioanl Library of Critical Writings in Business and Management: Strategic Management, J. Birkinshaw, Cheltenham, England:Edward Elgar Publishing (2004). Also reprinted in Strategic Management(Volume 1), J. Birkinshaw (ed.), Cheltenham, England: Edward Elgar (2004).

75.“Strategic Interaction: Some Lessons from Industry Histories for Theory and Antitrust Policy,” in S. Salop, editor, Strategy, Predation and Antitrust Analysis, Federal Trade Commission, 1981. Also reprinted in Antitrust Law andEconomics Review, Volume 13, Number 3, 1981, p. 13 and in Robert Lamb, editor, Competitive Strategic Management, Prentice-Hall, 1984.

76.——— with Kathryn Rudie Harrigan. “A Framework for Looking at Endgame Strategies,” in B. Glueck, editor, Strategic Management and Business Policy, McGraw-Hill, 1981.

77.“The Experience Curve and Antitrust,” in Forum on Antitrust, Economics of Scale and Experience Curve Strategies, The Conference Board, New York, June 1980.

78.“Capacity Expansion: Should You Play the Preemption Game?,” Journal ofBusiness Strategy, Winter 1981.

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Vantagem Competitiva: Precedentes Teóricos da Análise do Diamante Nacional de Porter

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