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Page 1: Jornal Causa Operária nº 801

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Editorial

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SEGUNDO CADERNO

B1

internacional & políticade 28 de junho a 4 de julho de 2014

Está em 6,41%, deveria ser de cerca de 8%

Controle de preços pelo governo segura

artificialmente a alta da inflação

Apesar das manipulações estatísticas descaradas, as pressões LQÀDFLRQiULDV�DYDQoDP

De acordo com o último IPCA 15 (Índice de Preços ao Consumidor Ampliado), que é medido entre o dia 16 de um mês até o dia 15 do mês seguinte, no acumulado dos

últimos 12 meses o índice oficial foi de 6,41%, muito perto do teto da meta, fixado pelo governo em 6,50%. Isso aconteceu mesmo com os alimentos e bebidas tendo

subido menos em junho (0,21%), na comparação com os meses de maio (0,88%) e abril (1,84%). Seis capi-tais, Fortaleza, Belém, Recife, Rio de janeiro, Porto Alegre e Curitiba, estão com taxas acumuladas em 12 meses acima do teto da meta oficial. No Rio, o índice é de 7,29%.

A especulação com os preços dos alimentos e da energia nas bolsas especu-lativas futuro são dois dos principais componentes da escalada da inflação no mundo. No Chile, a inflação anual subiu para 4,7% em maio, 2,7% acima da meta oficial. No Peru, a taxa foi de 3,6%, acima da meta estipu-lada entre 1% e 2%. Na Co-lômbia, a inflação foi a 2,9%, quase no limite da margem de tolerância, que é de entre 1% e 3%. 

As pressões inflacionárias continuarão altas por causa das obscenas emissões de tí-tulos públicos, que sustentam

os lucros dos capitalistas, o endividamento generalizado, o aumento das importações, da disparada dos preços dos produtos que deixaram de ser produzidos no País, e, em fim, das amarrações imperia-listas que têm como objetivo manter os lucros dos mono-pólios a qualquer custo.

Conforme continuar se aprofundando, o poder de fogo do estado para conter a inflação ficará, cada vez mais, reduzido. Os preços adminis-trados, que representam 40% dos componentes da inflação oficial, consomem bilhões. O déficit nas contas públicas obrigam a políticas que só podem acentuar a crise.  En-quanto a inflação dos preços que o governo controla foi de 0,9%, a inflação dos preços livres foi de 7,3%. Os preços controlados compõem um quarto do índice. Se eles foram liberados, a inflação oficial dispararia para algo em torno a 8%.

A manipulação dos

índices estatísticos

A análise dos compo-nentes da inflação apresen-tados pelo IBGE, revela que o impacto aumenta conforme considera-se a renda dos tra-balhadores com menores in-gressos. Os componentes que fazem parte da cesta de con-sumo básico dos trabalha-dores têm sido os mais afe-tados desde o colapso capi-talista de 2008. A maneira como os produtos e serviços são agrupados, assim como o peso atribuído a cada um desses itens, tem como ob-jetivo camuflar a deterio-ração da qualidade de vida dos trabalhadores conforme a crise capitalista tem se aprofundado.

O IBGE considera os preços dos alimentos e be-bidas como sendo respon-sáveis por 23,46% do orça-mento das famílias. O Dieese (Departamento Intersindical

de Estatística e Estudos So-cioeconômicos) considera que mais de 47% do salário mínimo é necessário para a compra da cesta básica. No Brasil, em torno de 120 mi-lhões de pessoas sobrevivem com um salário mínimo e, por esse motivo, o peso da alimentação nos ingressos está muito mais próximo de 50% que dos 23% do IBGE.

O IPCA é utilizado para atualizar salários e benefícios sociais e, por esse motivo, se-gundo a versão oficial do go-verno, desconsideraria des-pesas contempladas por ou-tros índices, como os IGPs que medem o índice de rea-juste dos alugueis,  e das ta-rifas dos serviços públicos, e o INPC que mede o índice de reajuste dos preços da cons-trução. Moradia e serviços públicos também impactam em cheio os rendimentos dos trabalhadores, mas não é considerado no aumento dos salários.

Indústria

O novo pacote do governo: mais do mesmo7RGRV�RV�PHFDQLVPRV�H�SDFRWHV�LPSOHPHQWDGRV�GHVGH�QRYHPEUR�GH������QmR�FRQVHJXLUDP�VDOYDU�D�LQG~VWULD�GD�UHFHVVmR

O recente pacote indus-trial anunciado pelo governo para evitar o colapso dos lu-cros dos grandes capitalistas, simplesmente reeditou me-didas dos pacotes anteriores. Foram incrementados o Reintegra, que permite aos exportadores receberem um percentual em dinheiro do que pagam de impostos para exportar; o PSI (Programa de Sustentação de Investi-mento), que são os recursos repassados pelo BNDES (Banco Nacional de Desen-volvimento) a taxas ultra-subsidiadas para a compra de máquinas, equipamentos e caminhões. Os recursos do PSI têm sido usados para serem aplicados na especu-lação financeira. Foi aumen-tado o prazo para as compras governamentais com sobre-preço, mesmo se o produto nacional for 25% mais caro. Foi retomado o programa de pagamento de dívidas tribu-tárias à prazo.

Os capitalistas ainda querem mais para salvarem os lucros. Eles querem energia ainda mais barata, a contenção da inflação, menos impostos, melhorias na logística e, em fim, “mu-danças estruturais”, como a redução dos gastos públicos destinados a programas so-ciais.  Na prática, se trata de

um programa de terra arra-sada contra as massas.

A recessão industrial re-flete o colapso do chamado

“modelo de crescimento Lula”, por meio da impo-sição que o imperialismo tentou conter o aprofunda-mento da crise capitalista, aumentando o papel expor-tador de matérias primas da maioria dos países atrasados para o mercado manufatu-reiro asiático, a começar pela China. Os efeitos iniciais até foram relativamente posi-tivos sob a lógica dos espe-culadores financeiros, pois conseguiram manter altos lucros, após terem migrado enormes volumes de capitais da especulação imobiliária para a especulação nos mer-cados futuros de commodi-ties (matérias primas), em cima dos quais os nefastos derivativos financeiros ga-nharam novo fôlego du-rante aproximadamente três anos. Como segundo pilar do “crescimento”, o mercado foi inundado com crédito podre (turbinado por meio de recursos públicos) para fomentar o consumo. Esses mecanismos artificiais se es-gotaram no ano passado e, agora, o Brasil, assim como acontece com a economia capitalista mundial, se en-caminha para a pior crise da

história, inclusive devido à completa impossibilidade de elaborar uma política alter-nativa ao chamado neolibe-ralismo, tal o grau extremo de parasitismo.

Esgotamento

do "modelo de

crescimento Lula"

O modelo de “cresci-mento Lula”, que foi im-posto pelo imperialismo após o colapso capitalista de 2007-2008, se esgotou devido ao aprofundamento da crise capitalista mundial. Ele foi estruturado em cima de três pilares fundamen-tais – o direcionamento da economia à produção e ex-portação de meia dúzia de matérias primas, por meio dos mercados especulativos futuros de  commodities; o fomento ao consumo, por meio de enormes volumes de recursos públicos repas-sados através do sistema fi-nanceiro, que dessa maneira angariou enormes lucros em cima de juros e taxas usurá-rios; e o direcionamento de crescentes recursos para os capitalistas por meio dos re-passes feitos pelos bancos públicos e a manutenção dos serviços de pagamento da dívida pública.

As importações continuam altas, pois o “modelo Lula” in-centivou a disparada das im-portações, que representam um dos fatores fundamentais da crescente desindustriali-

zação do País. A desvalori-zação do dólar pouco contri-buiu para contê-la e mesmo que ela aumentar, seriam criados efeitos colaterais gra-víssimos, como o aumento dos custos das importações e dos serviços da dívida pú-blica nos quais as principais empresas têm se empenhado no último período.

Para manter em pé o paga-mento dos serviços da dívida pública, o modelo implemen-tado, em escala mundial, nos últimos cinco anos, tem sido o incentivo artificial ao con-sumo por meio de enormes repasses de recursos públicos

para os bancos que passaram a viver um novo período de bonança nos lucros. Essa foi a política mundial desde, pelo menos, 2009, e não tem nada ver com uma especifi-cidade das economias “blin-dadas” à crise capitalista do Brasil, da Argentina ou ou-tros, conforme foi propagan-deado pelos governos semi-nacionalistas e a imprensa burguesa.

A “blindagem” da eco-nomia foi uma ilusão provo-cada pelo afluxo de recursos provenientes das exporta-ções de matérias primas, em-bora que o grosso tenha sido

direcionado para suportar a especulação financeira mun-dial. A disparada das reservas internacionais se transfor-maram em mais um compo-nente da espoliação imperia-lista, pois elas estão aplicadas nos países imperialistas a baixíssimas taxas de juros, com rendimentos negativos quando consideradas as ta-rifas e comissões.

Os bancos, por sua vez, nunca lucraram tanto nos úl-timos 10 anos nos países atra-sados e, ao mesmo tempo, os monopólios imperialistas têm repatriado crescentes recursos para as matrizes.

A inflação continua crescendo por causa do contágio da

crise capitalista mundial

A recessão industrial reflete o colapso do chamado "modelo de crescimento Lula"

Ponta de lança da crise

no Oriente Médio

Iraque

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a pior contração da

economia em cinco anos B3

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SEGUNDO CADERNO

B1

internacional & políticade 28 de junho a 4 de julho de 2014

Está em 6,41%, deveria ser de cerca de 8%

Controle de preços pelo governo segura

artificialmente a alta da inflação

Apesar das manipulações estatísticas descaradas, as pressões LQÀDFLRQiULDV�DYDQoDP

De acordo com o último IPCA 15 (Índice de Preços ao Consumidor Ampliado), que é medido entre o dia 16 de um mês até o dia 15 do mês seguinte, no acumulado dos

últimos 12 meses o índice oficial foi de 6,41%, muito perto do teto da meta, fixado pelo governo em 6,50%. Isso aconteceu mesmo com os alimentos e bebidas tendo

subido menos em junho (0,21%), na comparação com os meses de maio (0,88%) e abril (1,84%). Seis capi-tais, Fortaleza, Belém, Recife, Rio de janeiro, Porto Alegre e Curitiba, estão com taxas acumuladas em 12 meses acima do teto da meta oficial. No Rio, o índice é de 7,29%.

A especulação com os preços dos alimentos e da energia nas bolsas especu-lativas futuro são dois dos principais componentes da escalada da inflação no mundo. No Chile, a inflação anual subiu para 4,7% em maio, 2,7% acima da meta oficial. No Peru, a taxa foi de 3,6%, acima da meta estipu-lada entre 1% e 2%. Na Co-lômbia, a inflação foi a 2,9%, quase no limite da margem de tolerância, que é de entre 1% e 3%. 

As pressões inflacionárias continuarão altas por causa das obscenas emissões de tí-tulos públicos, que sustentam

os lucros dos capitalistas, o endividamento generalizado, o aumento das importações, da disparada dos preços dos produtos que deixaram de ser produzidos no País, e, em fim, das amarrações imperia-listas que têm como objetivo manter os lucros dos mono-pólios a qualquer custo.

Conforme continuar se aprofundando, o poder de fogo do estado para conter a inflação ficará, cada vez mais, reduzido. Os preços adminis-trados, que representam 40% dos componentes da inflação oficial, consomem bilhões. O déficit nas contas públicas obrigam a políticas que só podem acentuar a crise.  En-quanto a inflação dos preços que o governo controla foi de 0,9%, a inflação dos preços livres foi de 7,3%. Os preços controlados compõem um quarto do índice. Se eles foram liberados, a inflação oficial dispararia para algo em torno a 8%.

A manipulação dos

índices estatísticos

A análise dos compo-nentes da inflação apresen-tados pelo IBGE, revela que o impacto aumenta conforme considera-se a renda dos tra-balhadores com menores in-gressos. Os componentes que fazem parte da cesta de con-sumo básico dos trabalha-dores têm sido os mais afe-tados desde o colapso capi-talista de 2008. A maneira como os produtos e serviços são agrupados, assim como o peso atribuído a cada um desses itens, tem como ob-jetivo camuflar a deterio-ração da qualidade de vida dos trabalhadores conforme a crise capitalista tem se aprofundado.

O IBGE considera os preços dos alimentos e be-bidas como sendo respon-sáveis por 23,46% do orça-mento das famílias. O Dieese (Departamento Intersindical

de Estatística e Estudos So-cioeconômicos) considera que mais de 47% do salário mínimo é necessário para a compra da cesta básica. No Brasil, em torno de 120 mi-lhões de pessoas sobrevivem com um salário mínimo e, por esse motivo, o peso da alimentação nos ingressos está muito mais próximo de 50% que dos 23% do IBGE.

O IPCA é utilizado para atualizar salários e benefícios sociais e, por esse motivo, se-gundo a versão oficial do go-verno, desconsideraria des-pesas contempladas por ou-tros índices, como os IGPs que medem o índice de rea-juste dos alugueis,  e das ta-rifas dos serviços públicos, e o INPC que mede o índice de reajuste dos preços da cons-trução. Moradia e serviços públicos também impactam em cheio os rendimentos dos trabalhadores, mas não é considerado no aumento dos salários.

Indústria

O novo pacote do governo: mais do mesmo7RGRV�RV�PHFDQLVPRV�H�SDFRWHV�LPSOHPHQWDGRV�GHVGH�QRYHPEUR�GH������QmR�FRQVHJXLUDP�VDOYDU�D�LQG~VWULD�GD�UHFHVVmR

O recente pacote indus-trial anunciado pelo governo para evitar o colapso dos lu-cros dos grandes capitalistas, simplesmente reeditou me-didas dos pacotes anteriores. Foram incrementados o Reintegra, que permite aos exportadores receberem um percentual em dinheiro do que pagam de impostos para exportar; o PSI (Programa de Sustentação de Investi-mento), que são os recursos repassados pelo BNDES (Banco Nacional de Desen-volvimento) a taxas ultra-subsidiadas para a compra de máquinas, equipamentos e caminhões. Os recursos do PSI têm sido usados para serem aplicados na especu-lação financeira. Foi aumen-tado o prazo para as compras governamentais com sobre-preço, mesmo se o produto nacional for 25% mais caro. Foi retomado o programa de pagamento de dívidas tribu-tárias à prazo.

Os capitalistas ainda querem mais para salvarem os lucros. Eles querem energia ainda mais barata, a contenção da inflação, menos impostos, melhorias na logística e, em fim, “mu-danças estruturais”, como a redução dos gastos públicos destinados a programas so-ciais.  Na prática, se trata de

um programa de terra arra-sada contra as massas.

A recessão industrial re-flete o colapso do chamado

“modelo de crescimento Lula”, por meio da impo-sição que o imperialismo tentou conter o aprofunda-mento da crise capitalista, aumentando o papel expor-tador de matérias primas da maioria dos países atrasados para o mercado manufatu-reiro asiático, a começar pela China. Os efeitos iniciais até foram relativamente posi-tivos sob a lógica dos espe-culadores financeiros, pois conseguiram manter altos lucros, após terem migrado enormes volumes de capitais da especulação imobiliária para a especulação nos mer-cados futuros de commodi-ties (matérias primas), em cima dos quais os nefastos derivativos financeiros ga-nharam novo fôlego du-rante aproximadamente três anos. Como segundo pilar do “crescimento”, o mercado foi inundado com crédito podre (turbinado por meio de recursos públicos) para fomentar o consumo. Esses mecanismos artificiais se es-gotaram no ano passado e, agora, o Brasil, assim como acontece com a economia capitalista mundial, se en-caminha para a pior crise da

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Esgotamento

do "modelo de

crescimento Lula"

O modelo de “cresci-mento Lula”, que foi im-posto pelo imperialismo após o colapso capitalista de 2007-2008, se esgotou devido ao aprofundamento da crise capitalista mundial. Ele foi estruturado em cima de três pilares fundamen-tais – o direcionamento da economia à produção e ex-portação de meia dúzia de matérias primas, por meio dos mercados especulativos futuros de  commodities; o fomento ao consumo, por meio de enormes volumes de recursos públicos repas-sados através do sistema fi-nanceiro, que dessa maneira angariou enormes lucros em cima de juros e taxas usurá-rios; e o direcionamento de crescentes recursos para os capitalistas por meio dos re-passes feitos pelos bancos públicos e a manutenção dos serviços de pagamento da dívida pública.

As importações continuam altas, pois o “modelo Lula” in-centivou a disparada das im-portações, que representam um dos fatores fundamentais da crescente desindustriali-

zação do País. A desvalori-zação do dólar pouco contri-buiu para contê-la e mesmo que ela aumentar, seriam criados efeitos colaterais gra-víssimos, como o aumento dos custos das importações e dos serviços da dívida pú-blica nos quais as principais empresas têm se empenhado no último período.

Para manter em pé o paga-mento dos serviços da dívida pública, o modelo implemen-tado, em escala mundial, nos últimos cinco anos, tem sido o incentivo artificial ao con-sumo por meio de enormes repasses de recursos públicos

para os bancos que passaram a viver um novo período de bonança nos lucros. Essa foi a política mundial desde, pelo menos, 2009, e não tem nada ver com uma especifi-cidade das economias “blin-dadas” à crise capitalista do Brasil, da Argentina ou ou-tros, conforme foi propagan-deado pelos governos semi-nacionalistas e a imprensa burguesa.

A “blindagem” da eco-nomia foi uma ilusão provo-cada pelo afluxo de recursos provenientes das exporta-ções de matérias primas, em-bora que o grosso tenha sido

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Os bancos, por sua vez, nunca lucraram tanto nos úl-timos 10 anos nos países atra-sados e, ao mesmo tempo, os monopólios imperialistas têm repatriado crescentes recursos para as matrizes.

A inflação continua crescendo por causa do contágio da

crise capitalista mundial

A recessão industrial reflete o colapso do chamado "modelo de crescimento Lula"

Ponta de lança da crise

no Oriente Médio

Iraque

2�TXH�UHSUHVHQWD�R�DYDQoR�GRV�JXHUULOKHLURV�GR�(,,/"�B2

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golpistas condenam

jornalistas a sete anos

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CAUSA OPERÁRIA

Iraque

Ponta de lança da crise no Oriente Médio2�TXH�UHSUHVHQWD�R�DYDQoR�GRV�JXHUULOKHLURV�GR�(,,/"

A desestabilização da Síria transbordou para o Iraque, o Líbano e a Jordânia. O sul da Síria e o norte do Iraque se encontram sob controle do EIIL (Estado Islâmico do Iraque e do Levante). O as-censo guerrilheiro sunita está fazendo parecer a onda ante-rior, xiita, impulsionada pela Revolução Iraniana de 1979, quase uma brincadeira de crianças.

O regime político ira-quiano se encontra à beira do colapso, da mesma ma-neira que aconteceu em 2007, quando o imperialismo nor-te-americano fez um acordo com os aiatolás iranianos para evitar a iminente der-rota militar. O EIIL luta pela formação de um califato en-volvendo o norte do Iraque e uma boa parte da Síria, onde seria aplicada a lei da Sharia. Mas o ascenso sunita está direcionado contra o re-gime de conjunto. Contra a maioria xiita que governa Bagdá; contra a Lei Anti-terrorista; contra o JRTN (Jaysh Rijal al-Tariqa al-Na-qshbandia), grupo Ba’athista liderado pelo antigo membro do governo de Saddam Hus-seim Izzat Ibrahim al-Douri; contra o esmagamento dos protestos pelo governo. Ao mesmo tempo, a desestabi-lização está levando à reapa-rição do Sahwa (Filhos do Iraque), o grupo guerrilheiro sustentado pelos norte-ame-ricanos para lutar contra a al-Qaeda no Iraque em 2007. As milícias xiitas lideradas por Muqtada al-Sadr, que colo-caram em xeque o Exército norte-americano no mesmo ano, e que foram incorpo-radas ao governo de al-Ma-liki, estão se reorganizando, mas ao mesmo tempo têm rejeitado os “conselheiros mi-litares” imperialistas que de-sembarcaram no Iraque.

A somalização da região avança a passos largos, em escala muito maior em re-lação à década passada. 

A bancarrota da

política imperialista no

Oriente Médio

A política do imperialismo norte-americano para o Oriente Médio se encontra à beira do colapso. Os acordos da Administração Obama com os aiatolás, com o obje-tivo de estabilizar o Oriente

Médio, não estão conse-guindo conter a crise. A polí-tica da extrema direita do Tea Party, que apregoa uma saída de força, com a intervenção militar direta, inclusive con-siderando a guerra atômica contra o Irã, só pode con-duzir a uma crise em muito maior escala. Os recentes golpes de estados  pinoche-tistas  no Egito e na Ucrânia, influenciados pelos setores de extrema direita que ga-nham força na política exte-rior norte-americana, foram tentativas desesperadas para conter o aprofundamento da crise, mas acabaram condu-zindo a uma desestabilização ainda maior. 

A burguesia imperialista tem se dividido devido à falta de homogeneização em cima da estruturação de uma nova política, que consiga agru-

pa-la e conter o avanço re-volucionário numa das re-giões mais críticas em escala mundial.

Setores importantes da direita tradicional tentam manter a política centrada na contrarrevolução demo-crática, mas, devido à cres-cente bancarrota dessa po-lítica, pressionam para evo-lui-la à direita por meio de alianças com setores da di-reta árabe, diminuindo o papel de Israel como instru-mento reacionário do impe-rialismo no Oriente Médio. A ultradireita norte-americana, agrupada fundamentalmente no  Tea Party  pressiona para tentar estabilizar a situação por meio da imposição de so-luções de força que envolvem a escalada das agressões mili-tares, a guerra contra o Irã e o fortalecimento de regimes de cunho fascistoide com o objetivo principal de viabi-lizar a continuidade da es-poliação das massas popu-lares e continuar o saque do petróleo, que está na base

da especulação financeira mundial, o coração da eco-nomia capitalista parasitária. O risco dessa política incen-diária para o imperialismo é a maior desestabilização da região que deverá provocar, inevitavelmente, uma esca-lada ainda maior das massas populares. O caldo de cultivo para a revolução e, portanto,

para a formação do partido operário de massas passa pela desestabilização do re-gime burguês e o aprofunda-mento da crise capitalista nos países atrasados e nos países imperialistas.

A frente única dos

governos nacionalistas

com o imperialismo

Os governos nacionalistas burgueses tentam conter a desestabilização nos pró-prios países fazendo frente única com o imperialismo. Além do regime dos aiatolás iranianos, o governo russo de Vladimir Putin ofereceu amplo apoio ao governo ira-quiano de al-Maliki para combater os guerrilheiros do EIIL. Al-Maliki tem rejei-tado formar um governo de coalisão nacional conforme

a Administração Obama tem pressionado com o objetivo de rachar a base de apoio do EIIL.

  As principais potências regionais asiáticas, a Rússia e a China, têm importantes interesses comerciais e, no caso da Rússia, também mi-litares, não somente devido à base naval de Tartus (locali-zada ao norte do Líbano, na Síria), mas também devido ao temor dos movimentos guerrilheiros explodirem no Cáucaso e nas repúblicas da Ásia Central, em direção ao sul da Rússia, a começar pela Tchetchênia.

O movimento nacionalista, além de ter ganhado escala, experiência e conquistas mi-litares, colocou um enorme risco para os interesses do imperialismo. A ligação com movimentos iraquianos, principalmente da Frente al

-Nusra, começou a desgarrar parte do território sírio para juntá-lo à província oci-dental iraquiana de Anbar, formando um novo califato. Trata-se o início da “soma-lização” da Síria e do Iraque, que inclui a divisão desses

países em vários pedaços. A desestabilização avança a passos largos em direção ao coração do Oriente Médio, a Arábia Saudita.

A chamada Conferência de Paz, que aconteceu em Bruxelas, e que contou com a participação do Irã, teve como objetivo montar a frente única contra o avanço dos guerrilheiros islâmicos ligados a Al Qaeda.

A desestabilização gerada pelos grupos guerrilheiros tem como consequência a desestabilização do domínio imperialista e o enfraqueci-mento das potências regio-nais. Desta maneira, cresce a crise nos países capita-listas que colocará inevitavel-mente, a classe operária em movimento.

Avança o califato do

Iraque e do Levante

EIIL representa uma dis-sidência da direção da al-Qaeda por causa desta ter acabado contendo as ações por causa dos acordos com o imperialismo. Na Síria, o re-presentante da al-Qaeda é o grupo Jabhat al-Nusra, que era uma aliado próximo do EIIL. Recentemente, al-Nusra anunciou que começará a atuar sob o comando do EIIL, que agora passou a controlar ambos lados da fronteira, Albu Kamal na Síria e Al-Qaim no Iraque. Nos últimos dias, EIIL e tribos sunitas aliadas cercaram e atacaram maciçamente o Campo Ana-conda, no Iraque, que é uma base aérea chave dos norte-a-mericanos, localizada perto da cidade de Yathrib, a 90 quilômetros de Bagdá. De acordo com alguns órgãos da imprensa imperialista é pos-sível que parte do aeroporto já esteja controlado pelos guerrilheiros.

Algumas regiões da Jor-dânia já começaram a ser controlada pelo EIIL, como

a cidade de Zarqa, onde nasceu o fundador do grupo, Zarqawi, que foi morto por um míssil norte-americano. Desta maneira, se alarga o ca-lifato do Iraque e o Levante, incluindo regiões onde estão localizadas refinarias impor-tantes. Desta maneira, a base do acordo do Irã com a Ad-

ministração Obama se en-fraquece. O EIIL estabeleceu uma barreira entre o Irã e a Síria, ameaçando as rotas de apoio ao Hizbollah libanês.

O governo iraquiano conta com o apoio direito das milí-cias xiitas e do Irã. Muito di-ficilmente o EIIL conseguirá tomar o controle de Bagdá, a cidade de Sadr, base das mi-lícias Modi de Muqtada al-Sadar. E menos ainda, as ci-dades consideradas sagradas pelos xiitas, como Najaf e Karbala.

O fortalecimento dos

curdos iraquianos

O avanço do EIIL acabou expulsando o Exército ira-quiano de Kirkut, que é uma

rica região petrolífera. Os Curdos tomaram a cidade e a converteram na capital do Curdistão iraquiana. A de-volução para o governo de Bagdá, independentemente do resultado da guerra civil será muito complicada, e só pode conduzir a uma maior desestabilização. Kirkut produz 670 mil barris de petróleo diários, dos quais são exportados para a Tur-quia por meio de um oleo-duto. Por causa dos ataques, a produção caiu para quase 100 mil barris. Por esse mo-tivo, o governo turco, de Er-dogan, está acelerando o acordo de paz com a milícia curda do PKK (Partido dos Trabalhadores). Mas o desen-volvimento da situação polí-tica está colocando à ordem do dia, a questão do Grande Curdistão, que envolve re-giões importantes do Iraque, Irã, Síria e Turquia.

Os curdos foram parcial-mente contidos na província de Anatólia, na Turquia, em cima do acordo de paz com o PKK (Partido dos Traba-lhadores). Mas até que ponto esse acordo conseguirá levar à paz? O imperialismo e o governo turco apostam na criação do nó (hub) de for-necimento de energia à Eu-ropa e no aumento do co-mercio com o Curdistão ira-quiano e o Irã. É uma aposta que tem como pontos fracos a própria política do impe-rialismo em relação a esses governos, principalmente o Irã e o aumento das contra-dições com o governo cen-tral do Iraque. Os curdos têm grande autonomia no norte da Síria, encontram-se armados e organizados em conselhos populares. O PYD (curdos sírios) tem estreitas relações com o PKK (curdos turcos), que continuam ar-mados no Iraque. Será que o governo turco terá condições de aplicar concessões capazes de conter a retomada do con-flito no cenário do aprofun-damento da crise capitalista mundial?

O PKK foi fundado em 1978 e é a maior força entre a população curda. Desde feve-reiro o líder do partido, Ab-dulláh Oçalan, condenado à morte pelo governo turco, está preso no Quênia. Esta condenação, no entanto, pesa contra a intenção da Tur-quia em integrar-se à União Européia.

Desde 1984 o PKK adotou a guerrilha como estratégia política, principalmente entre o campesinato, uma vez que praticamente toda a indústria se concentra nas áreas turcas.

Sua principal reivindi-cação é a separação do Cur-distão da Turquia, na qual chegaram a formar um Par-lamento Curdo no Exílio (PKE), sediado na Europa e com 65 representantes, entre eles a  Frente de Liber-tação Nacional do Curdistão (FLNK), braço político do PKK.

O PKK agrega atualmente cerca de 10 mil a 15 mil mi-litantes somente para a luta armada. Destes, cerca de seis mil estão na Turquia. Há muitos simpatizantes também na Europa. A Tur-quia proibiu o idioma curdo e não reconhece a etnia.

A desestabilização con-tinua se irradiando a passos largos para as regiões vizi-nhas. O grosso da produção dos 3,3 milhões de barris diários de petróleo acontece no sul do país, em Basra que é uma região controlada pelos xiitas. Mas as princi-pais refinarias estão loca-lizadas no norte do país. O Iraque já passou a ser obri-gado a importar mais de 300 mil barris de combustíveis por dia.

A tendência da desesta-bilização promovida pelos movimentos guerrilheiros já avançou para as regiões vizi-nhas, como o Iêmen, o norte da África e o Sahel, região lo-calizada ao sul do Deserto de Saara. A extensão natural é a Ásia Central e o norte do Cáucaso.

de 28 de junho a 4 de julho de 2014B2 INTERNACIONAL

Os guerrilheiros do EIIL dominam o norte do Iraque

O imperialismo tenta manter o controle sobre o petróleo. Em 2007, a iminente derrota

militar o levou a fazer um acordo com o regime dos aiatolás iranianos para controlar o país

Os guerrilheiros do EIIL avança em direção à capital, Bagdá

O ex general Petraeus alertou sobre os perigos de uma

invasão militar do Iraque

Page 7: Jornal Causa Operária nº 801

CAUSA OPERÁRIA

Julian Assange

Dois anos na embaixada equatoriana em Londres2�LPSHULDOLVPR�FRQWUD�DV�OLEHUGDGHV�GHPRFUiWLFDV

No  dia 19 de junho, completou-se dois anos desde que Julian  Assange  atra-vessou as portas da embai-xada equatoriana em Lon-dres, disfarçado e temendo ser abordado pela polícia bri-tânica que monitorava seus passos através de pulseira ele-trônica preso a seu tornozelo.  

Já fazia um ano e meio que Julian estava sob prisão do-miciliar em uma casa no in-terior da Inglaterra, após co-meçar o vazamento dos do-cumentos do Departamento de Estado norte-americano, e é no dia 19 em questão que completa-se dois anos de prisão: sem qualquer jul-gamento, sem qualquer apu-ração real dos fatos.   

Dentro da embaixada equatoriana que se loca-liza em frente ao templo do consumo de Londres, Julian ocupa duas salas, uma delas, um escritório transformado

em quarto onde se amon-toam suas poucas mudas de roupa, livros e papeis e no outro apenas uma tela que é usada para projeção quando  Assange  participa por Skype de algum evento.  

No ano passado, a In-glaterra decidiu encerrar a equipe  que auxiliava  As-sange com o Wikileaks, com o objetivo de negociar com o governo equatoriano o im-passe que o mantém trancado. O Equador deu asilo a Julian, mas a Inglaterra se nega a dar o salvo-conduto para que ele possa viajar a América do Sul. Em resposta, na última semana o presidente equato-riano Rafael Correa declarou a jornalistas: "Estão aten-tando contra os direitos hu-manos de uma pessoa" 

Em primeiro lugar fica evi-dente que o imperialismo em crise aboliu o direito de asilo.  Assange  é um perse-

guido político, embora o te-nham procurado incrimi-na-lo de maneira a disfarçar essa perseguição, acusando-o falsamente de "crime sexual".

Da mesma maneira acon-teceu no caso de Cesare Bat-tisti, a quem o governo ita-liano queria extraditar de maneira arbitrária tentando se sobrepor e interferir na decisão que caberia unica-mente ao Brasil, que é con-ceder asilo.  

Nesses dois casos, os es-trangeiros buscam refúgio em países latino-americanos e os países imperialistas, em questão, simplesmente não reconhecem o direito de asilo político, tampouco dos per-seguidos receberem alguma proteção.  

A questão é que para o im-perialismo a soberania dos países atrasados vai até o ponto em que não atinjam seus interesses. É oque se vê claramente nesses casos, em que tanto os governos britâ-nico e italiano queriam in-validar a decisão das auto-ridades dos países, assim como passar por cima da convenção de Viena e ig-norar um direito democrá-tico elementar, de imunidade diplomática. 

Nessa semana uma coa-lizão de organizações de ad-vogados, tais como a Asso-ciação de Juristas  Ameri-canos, a Associação Europeia de Advogados pela Demo-cracia e Associação dos Ad-vogados da índia entregou um relatório analisando as condições da detenção prévia de  Assange  a Comissão de Direitos Humanos da ONU. O relatório entre outros cri-tica o excesso de poder do ministério público na Suécia:

"Primeiro, os procuradores

rotineiramente colocam os suspeitos em prisões  preven-tivas longas, isoladas e sem explicação. Estatísticas re-centes  mostram que a Su-écia está entre os piores pa-íses europeus em prisões preventivas".  

O documento aponta também que nos casos de indivíduos sob investigação que estão fora da Suécia, os procuradores aceitam tomar seu depoimento re-motamente entre alguns casos, mas não em outros. As decisões sobre fazer ou não um interrogatório são feitas sem qualquer expli-cação ou base coerente. No caso de Assange a acusação negou a oferta de realizar o interrogatório na baixada, ou por Skype.  

O relatório que recomenda mudanças no código penal sueco, será usado como base para os advogados de  As-sange  entrarem com um pe-dido na Justiça sueca deman-dando a extinção do pedido de extradição e da detenção prévia, que já dura 3 anos e meio. O caso de Julian é o mais extenso de detenção sem julgamento da justiça sueca.  

Nesses termos é  preciso exigir a liberdade imediata de Julian Assange e lutar pelo direito elementar de asilo político e  soberania dos pa-íses atrasados contra a perse-guição déspota dos governos imperialistas. A luta por esses direitos é parte fundamental da luta contra o imperialismo, que se diz democrático, mas que atropela suas próprias leis como o direito ao julga-mento sempre que se faz ne-cessário para atender seus próprios interesses.

Em 2010, a divulgação de

vídeos e documentos dos EUA sobre, principalmente, a atuação deste na Guerra do Iraque, revelando o ver-dadeiro genocídio causado pelas tropas norte-ameri-canas, a espionagem feita pelas embaixadas deste país e a prática de tortura na prisão de Guatánamo. Após isto, o jornalista e seu site come-çaram a ser perseguidos, ten-tando acabar com a atividade do site e extraditá-lo aos Es-tados Unidos para ser jul-gado por divulgação de docu-mentos ilegais, espionagem e conspiração.

No mesmo ano, através de uma manipulação para incri-

miná-lo, ele foi acusado de estrupo e agressão sexual na Suécia, para ser preso e de-pois extraditado para os EUA. Ele se entregou à polícia in-glesa e negou as acusações. Ele foi preso, passando logo em seguida para prisão do-miciliar, esperando o resul-tado do pedido de extradição. Após uma grande batalha ju-dicial, o pedido foi aprovado por um juiz no começo de 2011 e foi divulgado em maio do ano passado.

Com isto, Assange fugiu da prisão domiciliar e foi para a embaixada do Equador em Londres, onde pediu e conse-guiu asilo político.

Birmânia

Como o imperialismo tenta estabilizar o regime?2�DYDQoR�QR�FRQWUROH�GR�UHJLPH�SROtWLFR�SRU�GHQWUR�FRP�R�REMHWLYR�GH�XVDU�R�SDtV�FRPR�PDLV�XP�PHFDQLVPR�GH�FRQWHQomR�GR�GHVFDODEUR�GR�PHUFDGR�PDQXIDWXUHLUR�DVLiWLFR

A líder da oposição na Bir-mânia, Aung San Suu Kyi, da Liga Nacional pela De-mocracia (LND), está ten-tando promover uma mu-dança constitucional. A di-tadura militar no País durou de 1962 a 2011. Na prática, os militares continuam no poder, permitindo uma len-tíssima abertura do regime, a partir das eleições gerais de 2010. Os militares ainda têm poder de veto em qual-quer mudança constitucional, além de apontar diretamente membros para 25% do parla-mento, sem passar por elei-ções. Suu Kyi não pode se candidatar devido a uma lei constitucional que impede pessoas casadas com estran-geiros ou que tenham filhos estrangeiros de concorrerem à presidência.

Mas não é contra essa lei que a LND está lutando no momento, mas apenas para que a maioria necessária para

aprovar mudanças consti-tucionais passe de 75% para dois terços dos votos no Par-lamento, uma iniciativa que partiu do próprio partido dos militares, a União para a Solidariedade e Desenvol-vimento (USPD). Além de pedir uma mudança na seção 436 da constituição, que dá aos militares poder de veto. Ou seja, com as eleições mar-cadas para 2015, Suu Kyi ainda está lutando por mu-dança tímida, que permita para depois que ela tente a mudança necessária para se candidatar.

Em 2010, Suu Kyi foi liber-tada da prisão domiciliar. Ela tinha passado 15 anos presa. Líder do único partido oficial de oposição, Suu Kyi foi liber-tada num complemento da manobra dos militares para

“distender” a ditadura e, gra-dualmente, impor um regime que acomode os interesses hoje representados pelos mi-

litares e elimine o atrito per-manente entre o governo e as massas. A  “revolução pací-fica” almejada por Suu Kyi é parte deste plano. Dois dias depois de libertada, a líder da LND afirmou estar disposta a conversar com os generais na primeira oportunidade. Suu Kyi afirmou ainda, na sede da LND em Rangoon, que não deseja que a Junta caia, mas que se modifique e sirva me-lhor ao país.

“Não quero ver os militares caindo. Quero ver os mili-tares se elevando a alturas dignas do profissionalismo e do verdadeiro patriotismo”, afirmou (BBC, 15/11/2010).

“É bastante óbvio o que as pessoas querem; as pessoas querem viver vidas melhores baseadas em segurança e li-berdade” (idem). A dispo-sição da líder “democrata” em colaborar com o regime militar vai além. Em suas pri-meiras declarações públicas depois de mais de 15 anos de prisão afirmou ainda que está disposta a “assumir as conse-quências” caso a Junta Militar decida prendê-la novamente por suas declarações ou atos.

Os trabalhadores e as massas oprimidas da Bir-mânia, se veem diante de um impasse. Chantageados com a promessa de um re-torno pacífico à democracia, tendo depositado durante anos suas esperanças em que a sua “campeã” democrática colocaria um fim no grotesco regime de opressão imposto pelos militares e o imperia-lismo, foram traídos pela li-derança da LND.

A mudança de comando conduzida “do alto” no país representa um enfraqueci-mento do regime militar. É o sinal para que as massas se agitem ainda mais na pers-pectiva de liquidar tanto os militares quanto com a farsa democrática. Ao contrário da mitologia corrente de que a democracia deva prevalecer pacificamente, não haverá democracia em um governo

controlado pelos militares nos bastidores. 

Birmânia: canto do

cisne do mercado

manufatureiro asiático

As políticas do imperia-lismo para conter a deca-dência do mercado manu-fatureiro asiático seguem a mesma linha das políticas para conter o aprofunda-mento da crise capitalista – exatamente mais do mesmo: desenvolvimento de novos mercados manufatureiros, aumento da superexploração dos trabalhadores, saque e exploração depredadora dos recursos minerais e maté-rias primas e, principalmente, o aumento da especulação financeira.

Após o esgotamento dos mercados manufatureiros na China, Índia, Vietnã, Coréia do Sul, Filipinas, Malásia e outros países da região, o im-perialismo, liderado pelos EUA e o Japão, está estru-turando, na Birmânia, um novo mercado manufatu-reiro que poderá prover mão

de obra semiescrava, além de ter um enorme poten-cial em recursos naturais. A construção do complexo in-dustrial de Dawei que de-verá transformar-se no prin-cipal do sudeste asiático, terá como principal objetivo conter a crescente escalada do aumento dos salários nos países da região.

A Birmânia é rica em re-cursos naturais, principal-mente petróleo, gás e terras raras, sobre os quais as mul-tinacionais imperialistas estão muito interessadas. Em cima da sua exploração e produção devastadoras, que será direcionada para a exportação especulativa através dos mercados fu-turos, assim como em cima dos empréstimos do FMI, o imperialismo promete ao regime da Birmânia gerar os recursos necessários para conter o crescente avanço popular no País que se en-contra mergulhado numa profunda crise.

O governo birmano co-meçou uma reforma finan-ceira e já implementou um

novo sistema de câmbio da moeda local, o Kt, com o dólar baseado em pari-dade diária a ser determi-nada pela variação das tran-sações que serão realizadas por 17 bancos. Tratava-se de uma das exigências do imperialismo para levantar as sanções contra o País. O próximo passo será o início das negociações com o FMI (Fundo Monetário Inter-nacional) para a concessão de um empréstimo, como uma primeira medida para colocar a Birmânia sobre o controle direto do capital especulativo internacional, que também pressiona pela desregulamentação da agricultura e dos recursos minerais.

A pergunta que surge é: durante quanto tempo o mercado manufatureiro da Birmânia terá capacidade para gerar as obscenas taxas de lucro desejadas pelos es-peculadores financeiros? Na China, o modelo foi bas-tante eficiente durante mais de duas décadas. No Vietnã, durou apenas quatro anos.

de 28 de junho a 4 de julho de 2014B4 INTERNACIONAL

Julian Assange saindo de uma corte britânica em Londres

O imperialismo impondo a censura sobre a população

mundial

Aung San Suu Kyi e Obama

Thein Sein o presidente da Birmânia

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Page 9: Jornal Causa Operária nº 801

As eleições no Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de São Paulo

Na sexta-feira, dia 27, a Cor-

rente Ecetistas em Luta, do

Partido da Causa Operária

nos Correios, registrou sua

chapa para concorrer à di-

reção do maior sindicato da

categoria no País, o Sintect

-SP (Sindicato dos Trabalha-

dores dos Correios de São

Paulo).

Esta eleição é muito impor-

tante para a luta da categoria

de conjunto por mais de um

motivo. É o sindicato que

concentra o maior número

de trabalhadores em sua base,

mais de 20.000. É o sindica-

to que junto com o segundo

maior sindicato do país, o do

5LR� GH� -DQHLUR�� VH� GHV¿OLRX�da Federação Nacional dos

Trabalhadores dos Correios

(Fentect) dividindo a catego-

ria e enfraquecendo sua luta

contra a empresa e o gover-

no. É um dos sindicatos con-

trolados pelo PCdoB/CTB, e

da burocracia em geral, que

não têm mais nenhum apoio

na base e onde existe uma

tendência de ruptura com

essa burocracia.

Por tudo isso, e mais coisas

poderiam ser listadas, a elei-

ção já começou e toda ela

vai se dar em um processo

de intensa luta. Todo tipo

de golpe e barreira contra a

oposição e fraude serão uti-

lizadas; se necessário com a

intervenção da empresa ou

da justiça, para impedir que

a vontade dos trabalhadores

se expresse nas urnas.

Essas eleições são impor-

tantes para os trabalhado-

res dos Correios, mas são

também uma experiência a

mais para todos os trabalha-

dores com a burocracia sin-

dical em crise. Não apenas a

R¿FLDO��3&GR%�TXH�GLULJH�R�sindicato, mas também com

o PT e sua ala mais frágil,

PSTU/PSol. Todos os tra-

balhadores devem acompa-

nhar de perto essas eleições

e o jornal Causa Operária

vai trazer toda semana notí-

cias sobre essa luta.

Oposição registra chapa para

derrotar o PCdoB/CTB no

maior sindicato da categoriaA corrente Ecetistas em Luta registra a Chapa 4 e chama os trabalhadores dos Correios de todo o País D�DSRLDUHP�D�OXWD�FRQWUD�RV�GLYLVLRQLVWDV�GR�3&GR%�&7%�)LQGHFW�H�UHXQL¿FDU�R�PRYLPHQWR�QDFLRQDO�GD�categoria C2

USP

Reitor contra

o ingresso da

população negra,

pobre e os direitos

trabalhistasEm entrevista à Veja, Marco Antonio Zago se opõe às cotas raciais e sociais, SURS}H�XP�QRYR�¿OWUR�SDUD�R�LQJUHVVR�QD�XQLYHUVLGDGH��FULWLFD�D�LVRQRPLD�salarial e a estabilidade no emprego dos servidores públicos C6

MetRoviáRioS

o que não fazer em uma greveA diretoria do Sindicato dos Metroviários mostrou na prática a melhor maneira de fazer o errado C3

BancáRioS

Mesmo apresentado recorde de lucro, banqueiros demitem em massaSegundo dados do Caged, os bancos demitiram 3.283 trabalhadores de janeiro a maio de 2014 C3

Morreu um dos

maiores mestres do

Soul, Bobby Womack C8

eM São PaUlo

a cada dois dias uma

mulher morre de

forma violenta em

São PauloA conclusão foi feita a partir de levantamento da Secretária de Segurança Pública C5

TERCEIRO CADERNO

C1

movimentos

de 28 de junho a 4 de julho de 2014

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As eleições no Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de São Paulo

Na sexta-feira, dia 27, a Cor-

rente Ecetistas em Luta, do

Partido da Causa Operária

nos Correios, registrou sua

chapa para concorrer à di-

reção do maior sindicato da

categoria no País, o Sintect

-SP (Sindicato dos Trabalha-

dores dos Correios de São

Paulo).

Esta eleição é muito impor-

tante para a luta da categoria

de conjunto por mais de um

motivo. É o sindicato que

concentra o maior número

de trabalhadores em sua base,

mais de 20.000. É o sindica-

to que junto com o segundo

maior sindicato do país, o do

5LR� GH� -DQHLUR�� VH� GHV¿OLRX�da Federação Nacional dos

Trabalhadores dos Correios

(Fentect) dividindo a catego-

ria e enfraquecendo sua luta

contra a empresa e o gover-

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trolados pelo PCdoB/CTB, e

da burocracia em geral, que

não têm mais nenhum apoio

na base e onde existe uma

tendência de ruptura com

essa burocracia.

Por tudo isso, e mais coisas

poderiam ser listadas, a elei-

ção já começou e toda ela

vai se dar em um processo

de intensa luta. Todo tipo

de golpe e barreira contra a

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lizadas; se necessário com a

intervenção da empresa ou

da justiça, para impedir que

a vontade dos trabalhadores

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Essas eleições são impor-

tantes para os trabalhado-

res dos Correios, mas são

também uma experiência a

mais para todos os trabalha-

dores com a burocracia sin-

dical em crise. Não apenas a

R¿FLDO��3&GR%�TXH�GLULJH�R�sindicato, mas também com

o PT e sua ala mais frágil,

PSTU/PSol. Todos os tra-

balhadores devem acompa-

nhar de perto essas eleições

e o jornal Causa Operária

vai trazer toda semana notí-

cias sobre essa luta.

Oposição registra chapa para

derrotar o PCdoB/CTB no

maior sindicato da categoriaA corrente Ecetistas em Luta registra a Chapa 4 e chama os trabalhadores dos Correios de todo o País D�DSRLDUHP�D�OXWD�FRQWUD�RV�GLYLVLRQLVWDV�GR�3&GR%�&7%�)LQGHFW�H�UHXQL¿FDU�R�PRYLPHQWR�QDFLRQDO�GD�categoria C2

USP

Reitor contra

o ingresso da

população negra,

pobre e os direitos

trabalhistasEm entrevista à Veja, Marco Antonio Zago se opõe às cotas raciais e sociais, SURS}H�XP�QRYR�¿OWUR�SDUD�R�LQJUHVVR�QD�XQLYHUVLGDGH��FULWLFD�D�LVRQRPLD�salarial e a estabilidade no emprego dos servidores públicos C6

MetRoviáRioS

o que não fazer em uma greveA diretoria do Sindicato dos Metroviários mostrou na prática a melhor maneira de fazer o errado C3

BancáRioS

Mesmo apresentado recorde de lucro, banqueiros demitem em massaSegundo dados do Caged, os bancos demitiram 3.283 trabalhadores de janeiro a maio de 2014 C3

Morreu um dos

maiores mestres do

Soul, Bobby Womack C8

eM São PaUlo

a cada dois dias uma

mulher morre de

forma violenta em

São PauloA conclusão foi feita a partir de levantamento da Secretária de Segurança Pública C5

TERCEIRO CADERNO

C1

movimentos

de 28 de junho a 4 de julho de 2014

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Aborto

Direita religiosa declara guerra contra

reeleição de DilmaApesar da capitulação permanente do governo do PT à direita, juristas católicos realizam reunião para organizar campanha durante as eleições

Ives Gandra da Silva Mar-tins, principal representante da Opus Dei no Brasil e prin-cipal porta-voz da organi-zação de extrema-direita da Igreja Católica está decla-rando guerra à reeleição de Dilma Rousseff à presidência da República.

A guerra declarada foi ini-ciada durante o encontro da União dos Juristas Católicos de São Paulo (UJUCASP) que “prevê que após as elei-ções, na eventualidade da re-eleição da presidente Dilma Rousseff ”, segundo portal Bí-blia Católica News.

Como de costume o prin-cipal alvo da campanha é o direito das mulheres ao

aborto. Segundo Ives Gandra, “os brasileiros serão surpreen-didos com uma nova portaria do Ministério da Saúde re-gulamentando o aborto nos hospitais conveniados com o SUS”.

O representante da ex-trema-direita católica se re-fere à Portaria 415 editada pelo Ministério da Saúde que regulamentaria o aten-dimento do aborto legal no Sistema Único de Saúde (SUS). A Portaria criava me-lhores condições para o aten-dimento das possibilidades para o aborto já previstas em lei, sendo elas, gravidez em caso de estupro, quando houver risco para a vida da

mulher, ou em casos de invia-bilidade do feto por anence-falia (como determina a de-cisão do Supremo Tribunal Federal de 2012).

O aborto nesses casos está previsto no Código Penal brasileiro desde 1940, mas até hoje carece de uma série de regulamentações que ga-ranta seu pleno atendimento pela rede de saúde no País. Esse tipo de regulamentação apenas começou a ser edi-tada na década de 80, mas sempre de maneira limitada, faltando determinados as-pectos, apesar de serem con-sideradas um avanço no sen-tido geral das previsões ne-cessárias para o atendimento das mulheres.

No entanto, uma semana depois da publicação da portaria, publicada em maio deste ano, ela foi revogada.

O motivo? Justamente a gri-taria de setores reacionários, como a bancada evangélica do Congresso Nacional li-derados pela hierarquia da Igreja Católica e o lobby de integralistas contra a medida.

E o aborto não é a única razão da campanha contra o governo do PT. Os juristas católicos também manifes-taram preocupação quanto aos “efeitos do Decreto 8.242, da presidenta Dilma Rous-seff, sobre as escolas, univer-sidades, hospitais e demais instituições privadas não lu-crativas, e que, pelo seu ca-ráter assistencial, gozam do direito constitucional de imunidade de taxas e im-postos, tais como IPTU, IPI, ICMS e Imposto de Renda”, os esforços da Igreja Cató-lica são por manter os pri-

vilégios religiosos diante de todo o resto da sociedade, apesar de muito limitada a decisão do governo.

A capitulação do governo Dilma não é suficiente para a direita; que já demonstrou que qualquer mínima medida pelo direito das mulheres por

sua autonomia ou pela dimi-nuição do sofrimento diante de uma gestação indesejada é duramente atacada, até que o governo ceda e continue condenando às mulheres ao aborto clandestino, mesmo quando esta teria o direito ao aborto legal.

Michele Bachelet

Presidenta do Chile

diz que aborto será

despenalizado este ano

Os detalhes da proposta discutida no parlamento não foi divulgado

O Chile é um dos pa-íses onde a legislação para o aborto é uma das mais atra-sadas da América Latina. En-quanto na maioria dos pa-íses prevalece uma legislação, ainda limitada, mas que re-conhece o direito ao aborto em casos de estupro, risco de vida para a mulher e a cha-mada inviabilidade do feto, o Chile o proíbe em todos os casos. Na última semana

a presidenta do país, em seu segundo mandato, Michele Bachelet, está prometendo mudar esta situação.

Bachelet tem mandato que encerra este ano como Se-cretária da Mulher na ONU (Organização das Nações Unidas). Durante esse pe-ríodo muito falou sobre as condições das mulheres em diferentes países, mas muito pouco sobre o Chile.

Agora afirma que vai mudar a legislação, obede-cendo ao processo legislativo.

O Chile passou nos úl-timos anos por um processo de luta intensa, principal-mente levada adiante pelos estudantes, em defesa da edu-cação pública. No país a po-lítica neoliberal destruiu os sérvios públicos do país. As mulheres também entraram em luta, principalmente em defesa do direito ao aborto.

Com a despenalização do aborto em outros países como o Uruguai e decisões favoráveis na Argentina, o Chile viu-se forçado a mexer na legislação por aborto, in-clusive por sua posição na ONU.

A proposta é tímida e como ainda não foram divulgados os detalhes do projeto de lei corre-se o risco de ser apro-vada uma lei que como acon-teceu em países como a Es-panha, coloque as mulheres em situação da comprome-tedora. Por exemplo, impor exigências como laudos mé-dicos, entrevistas constran-gedoras, ou “apoio” que mais representam uma chantagem moral para que a mulher de-cidida ou que necessite do aborto desista da prática.

Bachelet também não deu detalhes de como pre-tende lidar com a resistência do parlamento. Outras pro-postas desse tipo já foram derrotadas pela direita fun-damentalista no país.

Em São Paulo

A cada dois dias

ocorre uma morte

violenta de mulheres

A conclusão foi feita a partir de levantamento da Secretária de Segurança Pública

De um total 1.606 vítimas de homicídios dolosos (com intensão de matar) de janeiro a abril deste ano foram come-tidos como resultado de “con-flitos entre familiares e casais”.

Os dados são da secretaria de segurança que não di-vulgou quantas vítimas deste percentual eram homens e quantas eram mulheres. Essa

“imprecisão” contribui para não trazer à tona os números alarmantes da violência contra as mulheres no estado.

Por exemplo, um dossiê do mesmo tipo, no estado do Rio de Janeiro, mostrou que os crimes de família tem uma característica feminina; as mortes violentas fora do espaço doméstico são bas-tante inferiores. Inclusive o número de estupros dentro de casa, contra mulheres e crianças, são maiores.

No caso de São Paulo fica apenas a conclusão inevitável, baseada na experiência e no caso de outros estados, que a maioria das mortes são de mulheres.

Os próprios números in-dicam isso, apesar de não terem sido divulgados com clareza. “De janeiro a abril, 63,2% das vítimas de homi-cídio motivado por conflitos entre casais eram mulheres. Nos conflitos entre familiares, 39,8% das vítimas eram do sexo feminino.

Isso quer dizer que dos cerca de 90 assassinatos mo-tivados por briga de casal, 57 foram de mulheres. Se adi-cionados a estes dados os números relativos a outro tipo de crime também fre-quentemente associado à violência de gênero – o de mortes com sinais de vio-lência sexual – o percentual de vítimas mulheres é ainda maior: 83,3%, ou seja, mais 8 homicídios”, de acordo com análise feita pelo Agência Patrícia Galvão.

No mínimo, a conclusão possível dos dados divul-gados pela Secretária de Se-gurança Pública de São Paulo é de que a cada dois dias uma mulher é assassinada em São Paulo. Esse tipo de morte tem sido chamado de feminicídio. Morte motivada pelo simples fato ser mulher, esposa, por-tanto, segundo a sociedade em que vivemos, proprie-dade do marido, do pai, do homem.

Contra esse tipo de morte está em discussão um Pro-jeto de Lei no Congresso Na-cional que seria a inclusão de mais um tipo de homi-cídio no Código Penal. Com a previsão de uma pena de reclusão de 12 a 30 anos. A mesma pena prevista para crimes dolosos. A mudança na legislação é uma recomen-dação da ONU (Organização

das Nações Unidas).O projeto está baseado em

dados registrados pela Co-missão Parlamentar Mista de Inquérito que registrou o assassinato de 43,7 mil mu-lheres no país entre 2000 e 2010, 41% delas mortas em suas próprias casas. O que colocou o Brasil na sétima posição mundial de assassi-natos de mulheres.

A punição do femincídio tem sido a principal rei-vindicação das feministas quanto à violência contra as mulheres no último período. O problema é que ela está baseada na insistência de determinados movimentos em dar ao Estado burguês o poder de aumentar a re-pressão contra a população. Especialmente a população pobre, que é quem geral-mente acaba sendo denun-ciada por esse tipo de crime. É reivindicar do estado bur-guês, não os direitos demo-cráticos das mulheres, e sim maior repressão.

Essa posição nada tem a ver com a defesa da impuni-dade dos assassinos de mu-lheres. É fundamental uma legislação na defesa delas contra a violência. O pro-blema é que esta violência é inerente ao estado burguês, responsável pela manutenção da condição da mulher como ser humano de segunda cate-goria. Portanto, é a transfor-mação dessa condição que deve estar no centro da luta das mulheres.Para conquistar esse direito, o movimento de mulheres terá de manter sua luta

de 28 de junho a 4 de julho de 2014 C5

movimentosmulheres

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