12
eSOCIAL BETO SOARES/ESTÚDIO BOOM MARÇO / 2017 38 REVISTA PROTEÇÃO

Proteção esocial

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Proteção esocial

MARÇO / 201738 REVISTA PROTEÇÃO

eSOCIALeSOCIALB

ETO

SO

AR

ES

/ES

DIO

BO

OM

MARÇO / 201738 REVISTA PROTEÇÃO

Page 2: Proteção esocial

REVISTA PROTEÇÃO 39MARÇO / 2017

eSOCIAL

BBB DAS EMPRESASCom a obrigatoriedade do eSocial estipulada para 2018, as empresas passarão a ser vigiadas 24 horas por dia, não só pelo Governo, mas por todos aqueles que quiserem conferir as informações fornecidas ao sistema

Vivemos em um mundo em constante evolução em que a tecnologia já faz parte do dia a dia da maioria das pessoas. Não só se consegue pagar contas, fazer compras, mas também falar com alguém do outro lado do mundo sem sair de casa. Os avanços tecnológicos também são utilizados como ferramenta para melhorar as questões econômicas e sociais do país. É justamente dentro desse contexto que o Governo Federal desenvolveu uma ferramenta de escrituração digital em parceria com diversos órgãos e entidades. O eSocial é uma ferramenta que permitirá que todas as informações dos trabalhadores sejam cadastradas em tempo real, comunicando, entre outros, o número de afastamentos, acidentes e suas tipologias,

Reportagem de Raira Cardoso

ambientes insalubres e periculosos das organizações. Oportunizando a redução da burocracia com a integração de informações e substituição de envios de documentos variados a diferentes órgãos por uma plataforma única, o sistema facilitará também o processo de fiscalização por estes mesmos órgãos.Agilizando processos trabalhistas e previdenciários e a concessão de benefícios, o eSocial também terá reflexos na área de Saúde e Segurança do Trabalho. Nesta reportagem abordaremos a novidade, falando sobre o que é essa nova ferramenta de gestão integrada e seus impactos no trabalho dos prevencionistas e nas práticas voltadas à saúde e segurança dos colaboradores desenvolvidas nas organizações.

Page 3: Proteção esocial

MARÇO / 201740 REVISTA PROTEÇÃO

eSOCIALEmpresas que perdem todas as docu-

mentações de seus empregados devido a um incêndio. Um colaborador que desco-bre que precisará trabalhar por mais três anos para se aposentar porque sua docu-mentação foi extraviada. Um empregador que apresenta um PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais) que não condiz com os riscos de sua empresa e um trabalhador que desenvolve uma doença de trabalho, ou mesmo sofre um acidente no ambiente laboral, devido a perigos que não estão enquadrados no cargo que pos-sui ou na atividade que deveria exercer, segundo seu contrato de trabalho. Todas essas situações não só podem acontecer como são realidade em muitas empresas brasileiras. Em pleno século 21, quando quase tudo pode ser feito via plataforma online, a grande maioria das questões tra-balhistas e de Saúde e Segurança do Tra-balho ainda dependem muito de papeis que, muitas vezes, acabam no fundo de gavetas e nunca veem a luz do dia.

Mas não mais. Uma nova era se apro-xima, em que todas essas informações e muitas outras serão disponibilizadas em tempo real para todos que quiserem aces-sá-las. E quem proporcionará tudo isso é o eSocial, projeto do Governo Federal classificado como o mais novo sistema de escrituração fiscal digital das obrigações fiscais, previdenciárias e trabalhistas, que pretende unificar a prestação dessas infor-mações, padronizando sua transmissão, validação, armazenamento e distribuição.

em todas as empresas a partir de 2018. A data de início da obrigatoriedade do

eSocial dependerá do faturamento da em-presa no ano de 2016. As maiores, que ti-veram faturamento superior a 78 milhões de reais terão que cadastrar os dados no sistema a partir de janeiro de 2018. Já as demais empresas, passarão a ser obriga-das a informar seus dados ao eSocial a par-tir de julho do mesmo ano. Maia ressalta, porém, que o prazo será diferente para as questões de SST. “O envio dos eventos re-lativos à saúde e segurança do trabalhador só será exigido seis meses após o início da obrigatoriedade dos demais eventos”, afir-ma. Segundo o auditor fiscal do Ministério do Trabalho, esse tempo a mais foi estipu-lado devido à notória falta de integração dos sistemas de SST em relação às demais áreas da empresa.

RECONHECIMENTOFaltando pouco menos de um ano para

a sua implantação em algumas empresas do país, o eSocial passa por um processo de reconhecimento pelos profissionais de SST e demais atores que serão afetados pela novidade. Na visão do engenheiro de Segurança do Trabalho e diretor da Mila-neli Consultoria Empresarial, Eduardo Mi-laneli, o eSocial é um dos marcos mais im-portantes na gestão de SST no Brasil. “Isto porque as atividades de saúde e segurança sempre foram tratadas sistematicamente pelos módulos de folha de pagamento co-mo um requisito legal, criando uma cultura sistemática, um mero depósito de dados, como se as informações de SSO jamais fossem alteradas”. Essa cultura, segundo Milaneli, gerou, por exemplo, PPPs (Perfis

Além de agilizar vários processos, essa modernização afetará diretamente a área de Saúde e Segurança do Trabalho, exigin-do das empresas transparência em seus indicadores, integração entre os setores e cada vez mais qualidade nas atividades dos prevencionistas. Mas, com sua obriga-toriedade tão próxima, será que todos os envolvidos já entenderam o que é, de for-ma prática, o eSocial, e como implantar o sistema nas empresas?

INÍCIOConforme explica o coordenador do

Grupo de Trabalho do eSocial, José Al-berto Maia, o sistema nada mais é do que uma nova forma de registro dos fatos re-levantes que acontecem na vida do traba-lhador durante o seu vínculo trabalhista. O projeto nasceu na esteira do SPED (Siste-ma Público de Escrituração Digital), que foi instituído em 2007 com o escopo de levar para o meio digital o cumprimento de todas as obrigações acessórias. “A par-tir do final de 2010, início de 2011, diver-sas obrigações tributárias já tinham sido instituídas neste novo formato e algumas ainda estavam sendo desenvolvidas. Foi quando decidimos criar o eSocial, desta vez com um olhar mais voltado para as obrigações trabalhistas e previdenciárias”, conta Maia.

Logo no começo houve muita resistên-cia por parte das empresas e da socieda-de como um todo segundo Maia, quando ele foi convidado a prestar informações no Conselho de Relações do Trabalho. O Conselho é uma instância tripartite cons-tituída no âmbito do Ministério do Traba-lho, que conta com a participação de re-presentantes das centrais sindicais e das confederações patronais. “Naquela opor-tunidade ficou claro o nível de desinfor-mação das entidades representativas de classe e a importância de uma melhor di-fusão do projeto junto a estes atores. De-cidimos ali, em meados de 2014, criar um Grupo de Trabalho Confederativo compos-to pelos representantes destas entidades e pelos representantes do Comitê Gestor do eSocial”, conta.

Desde então, o grupo que é formado por representantes do Comitê Gestor do eSo-cial (Secretaria da Receita Federal do Bra-sil, Caixa Econômica Federal, Instituto Na-cional do Seguro Social, Previdência Social e Ministério do Trabalho) e outras entida-des vêm trabalhando para a implantação do projeto, que passará a ser obrigatório

Page 4: Proteção esocial

MARÇO / 201742 REVISTA PROTEÇÃO

eSOCIAL

da Saúde do Trabalhador), S-2240 (Con-dições Ambientais do Trabalho – Fatores de Risco) e S-2241 (Insalubridade, Pe-riculosidade e Aposentadoria Especial). Oliveira salienta que a prestação dessas informações no eSocial substituirá todos os documentos que contêm esses dados atualmente. “Hoje, quase a totalidade de informações de SST são produzidas e ar-mazenadas pelas empresas em papel, o que dificulta o gerenciamento de tais do-cumentos e uma adequada gestão do meio ambiente de trabalho. O eSocial permitirá a padronização dessas informações, seu registro no momento do seu nascedou-ro e maior segurança no cumprimento das obrigações impostas pela legislação”, aponta, permitindo uma melhor gestão dos riscos ambientais do trabalho e das suas consequentes repercussões tributárias.

Para o higienista Ocupacional certifica-do, Marcos Jorge Gama Nunes, uma das grandes mudanças trazidas pelo eSocial será a gestão por parte da equipe de SST do leiaute referente às condições ambien-tais do trabalho (S-2240), que consiste em uma combinação das necessidades do MTE e da Previdência Social. “Pelo lado do Ministério do Trabalho, esse leiaute exige do técnico conhecer os fatores de riscos, as condições às quais o trabalhador está exposto, a descrição das proteções coleti-vas e individuais, os resultados qualitativos e quantitativos dos riscos físicos, químicos e biológicos, ergonômicos e de acidentes. Em relação à Previdência, há necessidade de conhecer as exigências específicas do órgão, o que implica em conclusões claras quanto ao recolhimento do FAE (Finan-ciamento de Aposentadoria Especial) ”, diz Marcos Jorge.

Profissiográficos Previdenciáros) que não representam de fato os locais de trabalho do segurado e trazem divergências entre as empresas, os trabalhadores e a Previ-dência, ou o fato do PCMSO não refletir os riscos do PPRA, o que será percebido imediatamente pelo eSocial.

A abrangência do eSocial nas organi-zações envolve as áreas Contábil, Fiscal, Jurídica, de Departamento Pessoal, Re-cursos Humanos e Segurança e Saúde Ocupacional. Por esse motivo, entidades como a Brasscom (Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informa-ção e Comunicação) e a Fenacon (Fede-ração Nacional das Empresas de Serviços Contábeis, Assessoramento, Perícias, In-formações e Pesquisas) têm participado ativamente das discussões, com assento no Comitê do eSocial.

O sistema não traz nenhuma obrigação nova ou diferente em termos de legislação trabalhista, fiscal ou previdenciária. Todas as informações exigidas já são prestadas por meio de diversas obrigações acessórias como o GFIP, RAIS, CAGED, DIRF, CNIS, CAT, PPP, etc. Portanto, o representante da Secretaria de Políticas de Previdência Social, Órion Sávio de Oliveira, entende que as empresas que cumprem correta-mente suas obrigações não terão maiores problemas, pois apenas terão que transmi-tir essas informações ao eSocial.

“Dessa forma, serão necessárias, a prio-ri, apenas adequações nas rotinas da área de RH e contabilidade da empresa para adequarem-se ao novo formato de pres-tação das informações”, pondera Olivei-ra. Mas, afirma que é fundamental que todos os setores estejam empenhados no processo, integrando as áreas responsá-veis por tais informações. “Sem dúvida, aqueles que ainda não começaram a se adequar ao sistema já estão atrasados, devendo começar o quanto antes a co-nhecer os leiautes e o manual do eSocial, bem como a desenhar os novos fluxos de envio de informações”, avisa. A versão 2.2 do Manual de Orientação do eSocial foi publicada em setembro do ano passado e está disponível para consulta em www.esocial.gov.br/doc/MOS_Manual_Orienta-cao_eSocial_v2.2.pdf.

EXIGÊNCIASOs eventos referentes à SST no eSocial

são S-1060 (Tabela de Ambientes de Tra-balho), S-2210 (Comunicação de Aciden-tes de Trabalho), S-2220 (Monitoramento

IND

US

TR

IAL

SC

IEN

TIF

IC

O eSocial permitirá uma melhor gestão dos riscos ambientais do trabalho

Page 5: Proteção esocial

REVISTA PROTEÇÃO 43MARÇO / 2017

eSOCIAL

Conforme o médico do Trabalho e vi-ce-presidente da AGSSO (Associação de Gestão de Segurança e Saúde Ocupacio-nal), Paulo Zaia, uma mudança relevante é a objetividade e o alinhamento do eSocial na descrição de riscos biológicos. “A lis-ta apresentada no leiaute do sistema traz os textos alinhados com a NR 15 (Ativi-dades e Operações Insalubres), deixan-do de lado algumas descrições genéricas e pouco claras, como ‘fungo’, ‘bactéria’ e ‘vírus’”, explica.

Uma das alterações mais significativas do eSocial, que já está na versão 2.2 é a inclusão das informações referentes aos riscos ergonômicos, que antes não eram exigidas no PPRA. Saiba mais no Quadro, Identificação dos riscos ergonômicos é obrigatória.

IMPORTÂNCIAO presidente da Abresst (Associação

Brasileira de Empresas de Saúde e Se-gurança do Trabalho), José Carlos Dias Carneiro acredita que o eSocial forçará as empresas a realizarem programas e avalia-ções voltados às boas práticas de SST nas empresas. Armando Henrique, que está à frente da Fenatest (Federação Nacional dos Técnicos de Segurança do Trabalho) complementa que o instrumento de unifi-cação do Governo Federal humanizará as relações de trabalho, visto que, “hoje um trabalhador adoecido, acidentado, tem que viver uma verdadeira tortura, uma saga, para poder correr atrás das informações de por onde ele passou e as situações de tra-balho a que ele se submeteu e que resulta-ram no seu acidente ou adoecimento”. No entanto, o técnico de Segurança do Traba-lho percebe os desafios da implementação

do eSocial nas empresas. “Sem dúvida, o maior deles é no quesito organização. As empresas precisarão ter um pouco mais de competência para lidar com a gestão interna. Precisam parar de ver esse novo sistema como um bicho papão e começar a considerá-lo um parceiro”, avalia.

O vice-presidente da Sobes (Sociedade Brasileira de Engenharia de Segurança), Jaques Sherique, aponta que, atualmente, a cultura de SST nas empresas brasileiras se divide nas de capital nacional, que in-vestem pouco na saúde e segurança dos colaboradores, e nas de capital estrangei-ro, que destinam mais tempo e recursos nessas questões. Dessa forma, o enge-nheiro de Segurança do Trabalho acredita que as médias e pequenas empresas terão mais dificuldades na implantação do eSo-cial, pois terão que organizar e reorgani-zar seus registros. “Certamente, em algum momento, essas empresas vão precisar de apoio, de orientação, até que as pessoas do RH estejam qualificadas para realizar o lançamento dos dados e fazer correta-mente o registro dos eventos. Será mais ou menos como funciona hoje a emissão de CAT, de PPP, a elaboração de PPRA, registros de acidentes, etc. Não é um tra-balho simples”, pontua.

GESTÃOIndependente do seu porte, número de

funcionários, área de atuação, ou qualquer outra coisa, é imprescindível que todas as empresas façam as adaptações necessárias até a data prevista para a obrigatoriedade do eSocial. Nessa corrida contra o tempo, a advogada e diretora da Intersystem Ser-viços em RH e da DTMSEG – Segurança do Trabalho e Medicina Ocupacional, Nil-za Machado, percebe que o primeiro passo que a empresa deve dar é definir um ge-rente do projeto eSocial, que precisa ter conhecimento em legislação trabalhista, previdenciária e do Manual de Orienta-ção do eSocial, além de, se possível, ter vivência nas áreas de RH e SST. Também é importante que a pessoa escolhida co-nheça bem os processos e práticas da em-presa. Esse gerente deve criar um comi-tê com dois representantes de cada área demandada dentro do eSocial, garantindo que o trabalho não se perca em caso do afastamento ou desligamento de um dos envolvidos.

Sylvia Yano, mestre em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente, explica que essa equipe precisará identi-

O eSocial permitirá uma melhor gestão dos riscos ambientais do trabalho

Page 6: Proteção esocial

MARÇO / 201744 REVISTA PROTEÇÃO

eSOCIALA

G. B

AP

RE

SS

.; V

AN

ER

CA

SA

ES

O gerente do eSocial na empresa deve criar comitê com representantes das áreas demandadas

ficar quais das informações exigidas pelo eSocial existem nas atividades desenvol-vidas na empresa. “Em seguida, deve-se determinar qual setor será responsável pela coleta de cada dado listado, criando um agregador dos dados, que será alimen-tado pelos setores, com as informações de sua responsabilidade”, orienta.

Nilza enfatiza que não haverá cumpri-mento parcial do eSocial. Se a SST ou qualquer uma das demais áreas não enviar as informações necessárias, o sistema não emitirá folha de pagamento e nem as guias de recolhimento mensais.

Após o diagnóstico, a perita em Legisla-ção Trabalhista, Previdenciária e Esocial aconselha que o gestor da empresa verifi-que se a mesma possui sistemas que aten-dam 100% ao eSocial e se esses sistemas estão atualizados com a última versão di-vulgada dos leiautes. Outra necessidade apontada por ela é a contratação de, no mínimo, um auxiliar técnico que envie e receba as informações, mantendo alinha-dos no eSocial os cadastros de folha de pagamento e SST.

CONTABILIDADEAs empresas de tecnologia da informa-

ção e contabilidade também precisarão se adequar ao eSocial para oferecer um ser-viço de qualidade aos seus clientes. Para o higienista Ocupacional certificado Mar-cos Jorge, o desafio é grande neste que-sito, visto que além de exigir investimen-tos em sistemas compatíveis, a empresa também precisará de pessoas capacitadas para manusear o programa utilizado pela organização. A área de TI (Tecnologia da Informação) terá que desenvolver meca-nismos que facilitem o preenchimento

dos itens requeridos de forma que per-mitam o envio de informações sem erros e inconsistências. “O próprio programa, em muitas situações, recusa o envio de dados inconsistentes porque cruza dados anteriormente registrados. Contudo, nem

sempre será desta forma e o erro poderá ser descoberto posteriormente, o que po-de implicar em retrabalho ou prejuízo fi-nanceiro, demonstrando a necessidade de imputar os dados corretos desde o primei-ro evento”, observa.

Nilza constata que muitos escritórios de contabilidade que apenas fornecem os ser-viços de folha de pagamento terceirizados para as companhias se depararão agora, possivelmente, com a obrigatoriedade de enviar também as informações mensais de Segurança e Medicina do Trabalho, o que não faz parte do seu escopo de trabalho.

Reconhecendo o papel das empresas de contabilidade nessa nova era do eSocial, o diretor de Educação e Cultura da Fena-con, Helio Donin Jr., que tem participado ativamente das reuniões do GT Confe-derativo do eSocial, aponta que, em sua maioria, os escritórios contábeis prestam serviço para médias e pequenas empresas e, nesses estabelecimentos, é a empresa contábil quem vai ser o veículo de implan-tação do eSocial. “Por isso, é essencial que os escritórios de contabilidade, primeiro, tenham o conhecimento do que é o eSocial para que, depois, possam analisar e plane-jar a melhor forma de implantação dentro do escritório e para seus clientes”, avalia.

Em parceria com a Receita Federal e o Ministério do Trabalho, a Fenacon chegou a desenvolver um portal chamado Árvore de conhecimento (www.arvoredeconhe-cimento.org.br), que contém mais de 200 vídeos falando sobre o SPED de forma ge-ral e sobre o eSocial, como uma ferramen-ta de capacitação para os profissionais do setor. “Já estamos promovendo, junto com a CNC (Confederação Nacional do Comér-cio de Bens, Serviços e Turismo), palestras para profissionais contábeis e empresários e estamos preparando cursos sobre o eSo-cial, que pretendemos levar para todo o país”, conta Donin Jr.

Rafael Kieckbush, especialista de Polí-tica e Indústria da CNI (Conferederação Nacional das Indústrias), que também faz parte do Comitê do eSocial, enfatiza que as empresas precisam estar preparadas para uma mudança em sua cultura orga-nizacional. “Sem dúvida, será necessária uma reorganização dos processos das em-presas, de modo que as áreas financeira, contábil, administrativa, de RH e SST es-tejam interligadas. A implementação de sistemas e processos que visem à unifica-ção e à desburocratização é sempre bem-vinda e pertinente”, avalia.

Page 7: Proteção esocial

MARÇO / 201746 REVISTA PROTEÇÃO

eSOCIAL

Na preparação das empresas para o aten-dimento ao eSocial, um dos maiores impac-tos está na obrigatoriedade da declaração dos riscos ergonômicos aos quais o traba-lhador está exposto na execução de sua atividade laboral. A exigência foi incluída no leiaute de fatores de risco do meio ambien-te de trabalho juntamente aos riscos físicos, químicos e biológicos. Diferente dos demais, a descrição dos riscos ergonômicos não era exigida no PPRA das organizações.

Para o médico do Trabalho com especiali-zação em Ergonomia Aplicada ao Trabalho e perícias judiciais, Paulo Zaia, essa novidade representa um grande avanço na área que sempre recebeu menos atenção por parte da grande maioria das empresas. “O fato de car-regar muitas avaliações não objetivas, com interação na organização de tarefas, fluxos de trabalho e outras 'menos exatas', fez com que os profissionais da área tivessem mais dificuldade em convencer gestores e empre-sas a entender como riscos e necessidades de melhoria, situações diárias do ambiente de trabalho”, explica o vice-presidente da AGSSO (Associação de Gestão de Segu-rança e Saúde Ocupacional).

Devido a isso, hoje nenhuma informação é prestada por parte das empresas, a não ser quando é solicitada análise ergonômica por parte de uma autoridade do trabalho. “Com a futura exigência do eSocial, os afastamentos por transtornos osteomusculares, principal-mente, e alguns relacionados a transtornos mentais, serão confrontados com a informa-ção sobre exposição ocupacional, podendo originar caracterização de adoecimento re-lacionado ao trabalho e suas consequências. Assim, se cria uma pressão visando a pre-venção”, avalia o médico do Trabalho Hud-son de Araújo Couto.

Desde sua última atualização, a tabela de riscos ergonômicos que constará no eSocial se divide em quatro campos: biomecânicos,

IDENTIFICAÇÃO DOS RISCOS ERGONÔMICOS É OBRIGATÓRIAde sobrecarga de trabalho mental. Não são situações difíceis de caracterizar. No entanto, o Manual inclui outro item de difícil demons-tração: meios de comunicação ineficientes”, avalia Couto.

Para acompanhar corretamente essas ocorrências na empresa, o médico do Traba-lho afirma que a melhor maneira é o acom-panhamento epidemiológico de transtornos mentais. “O SESMT tem uma enorme impor-tância nessa atuação. Recomendo que, nas revisões periódicas de saúde, todos os tra-balhadores respondam a um questionário de fácil aplicação quanto a transtornos mentais. Cabe à Medicina do Trabalho apurar os resul-tados e fazer investigações sobre os motivos de alta incidência de sofrimento mental em algumas áreas”. Entre os gerentes e pesso-al de nível de supervisão, Couto explica que se deve aplicar um questionário de nível de estresse, procurando-se também verificar o motivo de alta incidência em algumas áreas e ocupações. Entre operadores de linhas de produção, ele afirma que a forma mais ob-jetiva de avaliar a existência desse fator psi-cossocial é o acompanhamento da taxa de ocupação real (porcentagem de tempo da jornada em que o trabalhador efetivamente está em atividade).

EQUIPE“O profissional especialista em ergono-

mia poderá ajudar bastante, aplicando esse questionário em várias áreas da empresa obtendo resultados que podem alimentar a planilha do eSocial. O resultado também pode contribuir para que a empresa tome as medidas visando a adequação da carga psi-cossocial e cognitiva”, ressalta.

De forma geral, para atender às novas exigências ergonômicas do eSocial, Couto aconselha a criação de um Sistema Integra-do de Gestão da Ergonomia, formando uma equipe de apoio técnico-administrativo com-posta de um analista em ergonomia, pessoas da área administrativa de controle de folha de pagamento e da documentação a ser en-viada às autoridades federais, analistas de RH e pessoa da área jurídica, sendo que o número de componentes da equipe depen-derá do tamanho da empresa. Sugere ainda que haja uma revisão semestral, consideran-do as eventuais mudanças na realidade da empresa. “Caso tenham sido feitas melhorias ergonômicas, um grupo homogêneo de ati-vidades pode vir a ser descaracterizado do fator; ou o contrário, como as empresas são muito dinâmicas, pode vir a ser caracteriza-do que tal grupo homogêneo de atividade passa a ser assinalado como contendo um risco ergonômico que não havia”, finaliza.

CR

IST

IAN

E O

LIV

EIR

A

Para atender às novas exigências deve ser criado um Sistema Integrado de Gestão da Ergonomia

mobiliário e equipamentos, organizacionais e psicossociais/cognitivos.

CARACTERIZAÇÃOCouto explica que os primeiros são classi-

camente conhecidos na ergonomia. São situa-ções de ordem física que podem ser observa-das durante a execução da atividade e podem levar o trabalhador a desenvolver alterações ou desordens biomecânicas. Os riscos orga-nizacionais estão relacionados como conse-quência de sistemas de trabalho para os quais os trabalhadores não dão conta de cumprir. As principais consequências são LER/DORT, tensão e estresse nas outras situações. Nessa categoria, o médico do Trabalho ressalta que há um item mal escrito, que pede informação sobre cobranças de metas de impossível atin-gimento. “Que empresa colocará esse item na planilha? ”, questiona, enfatizando que o desafio de metas de difícil obtenção é que é um fator organizacional importante. “Os riscos psicossociais/cognitivos são bem definidos no Manual do eSocial e são importantes dentro da ergonomia: situações de estresse, de alto nível de concentração e atenção e situações

DIV

ULG

ÃO

Couto: acompanhamento

Page 8: Proteção esocial

REVISTA PROTEÇÃO 47MARÇO / 2017

eSOCIAL

Boa parte das informações do eSocial está relacionada direta ou indiretamen-te às questões de Saúde e Segurança do Trabalho. Isso dá a dimensão da impor-tância do papel dos profissionais da área de SST no contexto da escrituração di-gital social.

Conforme aponta o médico do Traba-lho e vice-presidente da AGSSO (Asso-ciação de Gestão de Segurança e Saúde Ocupacional), Paulo Zaia, o conteúdo das informações apresentadas, o controle e a gestão desses dados é essencial a toda e qualquer empresa que não tiver o de-sejo de ser questionada e, consequente-mente, punida, pela prática equivocada de ações voltadas à saúde e segurança de seus colaboradores. “Muito embora, em teoria, nada mude em relação às atribui-ções dos profissionais de SST, a exposi-ção de informações geradas ou controla-das por maus profissionais e empresas de consultoria passa a ser mais clara e muito mais fácil de ser identificada e, com isso, entendo que o mercado, por si só, se au-

Momento para adaptaçãoeSocial exigirá qualificação profissional e muita dedicação

torregule com o passar do tempo”, avalia. A primeira coisa que os prevencio-

nistas precisam para desenvolver um bom trabalho nas organizações, segun-do o presidente da Fenatest (Federa-ção Nacional dos Técnicos de Segurança do Trabalho), Armando Henrique, é se apropriar o máximo possível da temáti-ca eSocial, entendendo o que é esse no-vo sistema e quais são os benefícios nas questões de SST e para a empresa como um todo. “Não podemos ficar como me-ros espectadores. Temos que nos inserir e buscar não só ocupar esse espaço do conhecimento, como facilitar a implan-tação do eSocial no local de trabalho”, orienta. Segundo o técnico de Segurança do Trabalho, os profissionais devem ape-nas garantir que não estão trabalhando com dados distorcidos. “O prevencio-nista precisa trabalhar bem embasado, tomando cuidado para não se tornar o vilão da história ao registrar dados que comprometerão a empresa ou omitir-se em relação aos direitos dos trabalhado-

res e obrigações de governo”, salienta.

VISÃO AMPLIADAA advogada e diretora da Intersystem

Serviços em RH e da DTMSEG – Segu-rança do Trabalho e Medicina Ocupacio-nal, Nilza Machado, aponta que o papel dos profissionais de SST aumentará pe-la visão ampliada que eles terão que ter nos oito documentos básicos para aten-dimento do eSocial: o LTCAT, o PPRA, a APR, a AET, o PCMSO e os laudos de NR 12, insalubridade e periculosidade. “Do-cumentos estes que deverão ser cons-truídos seguindo a lógica do eSocial para cada leiaute”, pondera.

Embora perceba que a base de dados que será disponibilizada no eSocial faci-litará o trabalho dos profissionais de SST em desenvolver programas preventivos, o vice-presidente da Sobes (Sociedade Brasileira de Engenharia de Segurança), Jaques Sherique, percebe a falta de ex-periência de muitos prevencionistas do setor. “Há pouco tempo eu estava minis-trando um curso sobre como fazer laudos de ergonomia e NR 12 e, em uma turma de 60 pessoas, apenas um já havia feito laudo ergonômico e nenhum havia feito o de NR 12. Falta qualificação para atender

Page 9: Proteção esocial

MARÇO / 201748 REVISTA PROTEÇÃO

eSOCIALas demandas. Acredito que isso vá mudar com o eSocial, porque as pessoas serão obrigadas a informar postos de trabalho, pressão por produção, etc.”, prevê.

Especialmente para os engenheiros de Segurança do Trabalho, o presidente da Abraest (Associação Brasiliense de Engenharia de Segurança do Trabalho), José Delfino da Silva Lima, acredita que caberá o primordial papel de fazer a con-tabilidade ambiental-sanitária da empre-sa, estruturando os sistemas de gestão e seus livros contábeis para apurar pas-sivos, calcular perdas por absenteísmo, baixa produtividade e lucro-cessante, entre outras tarefas. “O EST precisará considerar nessa contabilidade o enor-me desperdício empresarial decorrente da Medicina do Trabalho rasteira e inó-cua do ASO com caros exames dispensá-veis, passivo deferido com ações indeni-zatórias, ações regressivas, ações penais por crime de lesão corporal, exposição a risco de sonegação fiscal e desestímulo e desânimo dos trabalhadores”, elenca o engenheiro de segurança.

RENOVAÇÃOPara prestar um bom trabalho e se

adaptar a essa nova era do eSocial, o hi-gienista Ocupacional certificado, Marcos Jorge Gama Nunes, acredita que o pro-fissional de SST precisa se desprender do passado, tempo em que atuava com apenas fotos e pranchetas, incorporando o papel de consultor ao de técnico para produzir os documentos corretamente. No caso do PPRA (Programa de Preven-ção de Riscos Ambientais), por exemplo, quando é necessária extrema atenção do técnico na hora de preencher os dados. “A obrigatoriedade de enviar as infor-mações do processo de antecipação de riscos ao Governo, por meio da tabela S-1060, está condicionada sempre que se criar novos ambientes de trabalho, se al-terar os riscos dos ambientes já enviados ou, ainda, se excluir riscos ou ambientes. O que já é previsto no PPRA desde 1994”. Já na fase de reconhecimento de riscos, Marcos Jorge observa que a medição de exposições dos trabalhadores pode ser realizada individualmente ou dentro do conceito de grupo de exposição similar. “Vale lembrar ainda que, na preparação do PPRA é necessário se trabalhar com atividades reais. O eSocial quer saber se o EPC e o EPI são eficazes na neu-tralização do risco, quer que a empresa

Page 10: Proteção esocial

MARÇO / 201750 REVISTA PROTEÇÃO

eSOCIALD

IVU

LGA

ÇÃ

O/P

RE

VIN

E

Novo sistema deve impulsionar o mercado de trabalho para profissionais e assessorias

relate individualmente todos os equipa-mentos de proteção que o trabalhador utiliza, seu modelo e CA. Com essas im-posições, o Governo obriga as empresas a terem sistemas informatizados de SST que possibilitem gestão e controle”, re-lata. O maior desafio para os profissio-nais, de acordo com Marcos Jorge, será efetivar uma gestão de engenharia que contemple diretrizes claras para reduzir ou eliminar os riscos avaliados.

Em relação ao PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional), ele explica que há uma pequena mudan-ça. Atualmente é obrigatório que os pro-fissionais utilizem os limites informados na NR 15 e os parâmetros da Previdên-cia Social, incluindo os agentes nocivos reconhecidamente cancerígenos para humanos do grupo 1 que possuem CAS na LINACH (Lista Nacional de Agentes Cancerígenos para Humanos). “Agora, para o controle da saúde dos trabalhado-res, as organizações poderão usar tam-bém os limites de exposição da ACGIH (American Conference of Governmen-tal Industrial Hygienist) como indicador para controle da saúde do trabalhador, que são mais restritivos do que na nossa legislação, mas não obrigatórios, quando o agente constar na NR 15”, esclarece.

OPORTUNIDADESTodos os especialistas ouvidos pela

reportagem concordam que a implanta-

ção do eSocial fomentará o mercado de trabalho. Para a médica do Trabalho e presidente da Anamt, Márcia Bandini, se destacarão aqueles profissionais de SST cujas competências de gestão sejam mais desenvolvidas, principalmente de gestão integrada. “O profissional de saúde terá que entender um pouco mais de seguran-ça e o de segurança terá que entender um pouco mais de saúde, para que pos-sam trabalhar juntos. Para os médicos do Trabalho em especial, acho que o desa-fio maior será o volume de informações, que tende a ser muito grande, pois são informações coletadas individualmente, ao contrário dos dados coletivos das áre-as de higiene e segurança. Acredito que a gestão na área de saúde será mais desa-fiadora e que as informações requeridas terão de ser coletadas de forma eficiente e ética”, pondera.

Além de precisarem estar por den-tro dos temas de Saúde e Segurança do Trabalho, os profissionais do setor pre-vencionista também terão que estar pre-parados para exercerem atividades em conjunto com os demais setores da em-presa envolvidos com o eSocial. José Car-los Dias Carneiro, presidente da Abresst (Associação Brasileira de Empresas de Saúde e Segurança do Trabalho), acredi-ta que essa integração sempre foi neces-sária e já acontece entre os setores de RH e jurídico, que habitualmente participam de processos da área de SST como, por

exemplo, a reintegração de funcionários com restrições após afastamentos. “A novidade passa a ser a integração neces-sária com o setor de contabilidade que, provavelmente, estará mais próximo da transmissão de todos os demais dados do eSocial. Nesse cenário, podemos dizer que o setor de SST das empresas pode-rá ser realmente mais ouvido e atendido em suas necessidades como, por exem-plo, nas soluções coletivas para riscos apontados em laudos”, afirma.

Márcia acredita que, embora teorica-mente o volume de informações seja me-nor, são as pequenas empresas que terão maior dificuldade com esse novo estilo de gestão porque tendem a ter menos recur-sos para fazer essa integração. “Isso é o que me preocupa, porque a maior parte dos empregos no Brasil está nas peque-nas ou médias empresas. São essas que vão precisar de mais preparação para en-trar no eSocial”, avalia.

CONSULTORIASNeste contexto, entram também o tra-

balho das consultorias de SST que tam-bém terão grandes oportunidades, se trabalharem de forma responsável e bem articulada com o eSocial.

O problema, segundo o engenheiro de Segurança do Trabalho e diretor da Mi-laneli Consultoria Empresarial, Eduardo Milaneli, é que a maioria das consultorias de SST disponíveis no mercado hoje não tem a estrutura necessária para atender ao eSocial e precisam trabalhar o passi-vo cultural humano dentro das organi-zações. “Por outro lado, o eSocial traz um mar de oportunidades para as con-sultorias de ponta. Tanto é verdade que as maiores e mais respeitadas consulto-rias atuantes no Brasil, principalmente as de engenharia e sistemas, acabaram incluindo um produto chamado Projeto eSocial, que congrega, inclusive, toda suíte de SST, além dos outros processos integrados”, conta. Para Eduardo, as con-sultorias que se especializaram somen-te em SST perdem, porque a procura de mercado é por um único produto de ges-tão, que integre todas as áreas exigidas pelo eSocial.

Para José Carlos, da Abresst, é impos-sível que os profissionais dos SESMTs das empresas consigam dar conta de todo o trabalho. Por exemplo, para realizar me-dições ambientais, não basta a empresa dispor de um engenheiro de segurança.

Page 11: Proteção esocial

MARÇO / 201752 REVISTA PROTEÇÃO

eSOCIAL

Com a data de obrigatoriedade do eSo-cial definida para 2018, algumas empre-sas já começaram a se preparar e, entre elas, a Cedro, empresa têxtil com mais de 140 anos no mercado que, atualmen-te, possui 3.300 colaboradores próprios, distribuídos em sete unidades.

De acordo com a gerente de Desenvol-vimento Humano Organizacional da em-presa, Paula Pizzani, o processo começou em 2015, época em que o eSocial ainda estava na versão 2.0. A empresa iniciou contratando os serviços da TOTVS, uni-dade de consultoria de negócios. O pri-meiro passo da consultoria foi realizar um diagnóstico na Cedro, em que foram mapeados os processos das áreas rela-cionadas ao eSocial, como RH, Contabi-lidade, Departamento Pessoal, Medicina e Segurança do Trabalho e Jurídico. A partir daí foi possível analisar a compati-bilidade dos dados existentes no sistema de gestão utilizado pela companhia para identificar oportunidades de melhoria e prepará-los para as novas rotinas. “De-pois dessa consultoria, quando vimos o que precisava ser feito, montamos um co-mitê do eSocial, que tem profissionais de todos os setores ligados a esse novo sis-

HORA DE FAZER AJUSTES

Também é necessário realizar a manuten-ção e a calibração dos equipamentos, a tabulação e interpretação dos resultados, e tudo isso requer tempo e expertise. “Da mesma forma, os médicos do Trabalho das empresas dificilmente conseguem tempo para realizar os exames ocupa-cionais previstos no PCMSO, o que não poderá ocorrer com o eSocial, que exige a apresentação das informações em tem-po real. Cada vez mais se faz necessário o auxílio de empresas de assessoria”, avalia. Para atender a essa demanda, o presidente da Abresst aponta a necessi-dade de as consultorias contarem com um corpo técnico experiente em vários segmentos, com maturidade suficien-te para apresentar soluções, unindo a equipe em torno de valores relacionados à SST. “Além disso, a consultoria preci-sa ter uma estrutura física capaz de dar andamento às ações propostas, equipe e equipamentos médicos capacitados e ajustados para a atender à demanda de exames médicos previstos, equipe pa-ra realizar os treinamentos, elaborar os programas, dispor de técnicos treinados e instrumentos devidamente calibrados

tema. Então, estruturamos um cronograma no qual, dentro da sua área de atuação, os profissionais devem seguir as exigências do manual do eSocial”, relata.

Entre as alterações que precisavam ser feitas, Pizzani destaca a necessidade de identificação dos riscos ergonômicos por cargo, além da descrição correta das ativi-dades desenvolvidas e dos equipamentos de proteção necessários para cada função. “No momento, uma empresa de Ergonomia está fazendo esse levantamento de todos os nossos postos de trabalho. Então, são diversas planilhas que a gente começou a alimentar no sistema, que vamos precisar para rodar o eSocial. Com todas essas mu-danças, faremos manuais tanto de lideran-ça quanto de procedimentos, para que te-nhamos uma gestão bem-sucedida”.

Pizzani conta que a Cedro está ofere-cendo capacitação para seus funcionários sobre o tema e, em novembro do ano pas-sado, a empresa promoveu um fórum de DHO (Desenvolvimento Humano Organiza-cional), abordando a temática. “A implanta-ção do eSocial é um trabalho árduo e que, com certeza, leva cerca de dois anos para ser feito. Nosso maior desafio é o comporta-mento, é a questão de o chefe entender que

o procedimento que era feito antes, agora deve ser de outra maneira. Essa sensibili-zação precisa começar o quanto antes. Pa-

DIV

ULG

ÃO

CE

DR

O

A empresa têxtil Cedro está se preparando para o eSocial desde 2015

para realizar medições ambientais, e ter uma afinada equipe de apoio, o chama-do back office para a produção, geren-ciamento e arquivamento dos documen-tos”, finaliza.

FISCALIZAÇÃOEm um país que conta com cerca de

3 mil auditores fiscais do Trabalho em exercício, conforme observa Armando Henrique, incumbidos de verificar as práticas de mais de 17 milhões de em-presas ativas no país, segundo dados da CNC (Confederação Nacional do Co-mércio de Bens, Serviços e Turismo), é lógico dizer que a fiscalização não tem acontecido como deveria. Também nis-so o eSocial será uma ferramenta revo-lucionária, uma vez que, a partir da sua obrigatoriedade, a fiscalização passa a ser mensal e eletrônica, atuando em 100% das organizações brasileiras com CNPJ. “Com o eSocial, o auditor nem precisa ir na empresa. Se ele tiver conhecimento, estudando as informações ele consegue identificar falhas ou informações inde-vidas que a empresa esteja atestando”, ressalta o vice-presidente da Sobes Ja-

ques Sherique. José Alberto Maia, coordenador do

Grupo de Trabalho do eSocial, explica que a fiscalização funcionará pratica-mente da mesma maneira que se dá ho-je, só que de uma forma mais precisa, pois o fisco contará com as informações da empresa mesmo antes de efetuar a visita ao seu estabelecimento. “Além do mais, será possível fazer uma compara-ção entre as informações prestadas por uma empresa e pelas demais do mesmo ramo, permitindo fazer uma análise mais aprofundada das organizações que traba-lham de forma diferente em relação às empresas semelhantes”, pondera o audi-tor fiscal do Trabalho. O coordenador do GT lembra ainda que a fiscalização das empresas já acontece em relação ao seu porte, conforme previsto em legislação, quando, normalmente, o cálculo do valor das multas é levado em consideração, e afirma que isso não mudará.

Armando Henrique acredita que es-sa nova ferramenta deve ser usada pa-ra aprimorar o trabalho dos auditores fiscais, utilizando melhor o número de profissionais disponíveis atualmente.

Page 12: Proteção esocial

REVISTA PROTEÇÃO 53MARÇO / 2017

eSOCIAL

HORA DE FAZER AJUSTESra o futuro, o eSocial vai melhorar vários processos, inclusive nos quesitos de saú-de e segurança, com certeza”, finaliza.

A empresa têxtil Cedro está se preparando para o eSocial desde 2015

“Não adianta aumentar em três, quatro ou cinco vezes a capacidade fiscal, por-que esse número ainda não vai ser nada em relação ao volume da demanda que se tem. O Governo deveria aproveitar os auditores que tem hoje para visitar as empresas nos casos em que não ha-ja entendimento entre as empresas e os trabalhadores, quando o índice de aci-dentalidade está muito alto ou há um desrespeito flagrante contra as práticas de SST”. O presidente da Fenatest des-taca a importância dos sindicatos dos trabalhadores nessa fiscalização. “Se o sindicato não acompanha de perto essas questões ele não está cumprindo o seu papel”, afirma.

PENALIDADESUma das principais dúvidas que tem

sido levantada pelos profissionais e pe-las empresas com o advento do eSocial é justamente no caso de as informações serem preenchidas de maneira incorreta. Maia reforça que todas as informações a serem prestadas no sistema estão rela-cionadas entre si. “Quando a empresa in-formar que um determinado ambiente de

trabalho está sujeito a um fator de risco tal, e que um trabalhador desempenha-rá atividade neste ambiente, e que, por este motivo, ele fará jus a um determi-nado adicional de periculosidade ou a uma aposentadoria especial, criará uma expectativa de que conste em seu paga-mento uma rubrica correspondente a es-te adicional”, exemplifica. Por outro lado, segundo o auditor fiscal do Trabalho, se em uma determinada atividade industrial não estão registrados ambientes com os fatores de risco comuns àquela tarefa, es-ta ausência de informação também pode gerar um indício de irregularidade e pro-vocar uma nem sempre desejável visita do auditor fiscal.

Em caso de incoerências nas informa-ções cadastradas no eSocial, Nilza expli-ca que, em primeiro lugar, destaca-se a responsabilidade do empregador. “Ape-sar de identificados no eSocial o enge-nheiro de Segurança do Trabalho e o mé-dico do Trabalho, os responsáveis são os donos do CNPJ na Receita Federal. São eles que responderão em casos de infor-mações falsas ou incorretas”. Os valores das multas estão todos informados em le-gislação. Saiba mais no Quadro, Irregula-ridades ficam mais visíveis com eSocial.

Mesmo assim, a advogada não descarta a possibilidade de uma ação de regresso do empregador contratante contra um profissional ou empresa de consultoria em caso de documentos mal elaborados.

O coordenador do Grupo de Trabalho do eSocial relembra ainda que todas as informações prestadas relativas à SST, inclusive a CAT (Comunicação de Aci-dente de Trabalho), estão diretamen-te ligadas a alguns tributos específicos e podem repercutir fortemente em su-as bases de cálculo. Isso, sem contar a possibilidade de a empresa vir a ser res-ponsabilizada em caso de acidentes, por descumprimento de medidas de segu-rança previstas em lei. “A ideia é que, com o aumento da percepção de risco, as empresas passem a cumprir de forma voluntária as normas trabalhistas e con-sigam aumentar o nível de segurança de seus estabelecimentos”, observa Maia.

Órion Sávio de Oliveira, representante da Secretaria de Políticas de Previdên-cia Social, aproveita para destacar que o eSocial está preparado para receber alterações, retificações ou exclusões de informação, de acordo com a situação ve-rificada. “Nestes casos, estas ações tam-

bém serão analisadas segundo a legisla-ção que as regem atualmente”, informa.

EXPECTATIVASEmbora as datas de obrigatoriedade do

eSocial já tenham sido adiadas algumas vezes, Maia afirma que não há previsão para novas mudanças no cronograma. “A nossa expectativa é de que, nesta re-ta final, as empresas já estejam traba-lhando nas adequações de seus proces-sos à nova metodologia de prestação de informação”.

Segundo ele, espera-se que um am-biente de testes para o eSocial seja dis-ponibilizado ainda em julho deste ano. Por meio deste ambiente, as empresas poderão verificar se as soluções que es-tão desenvolvendo para enviar os even-tos ao eSocial estão ou não funcionando de maneira apropriada.

Considerando o novo sistema de escri-turação digital como a ferramenta mais inteligente criada nos últimos tempos, o presidente da Fenatest, Armando Hen-rique, se preocupa que, a cada atualiza-ção, o programa se direcione mais para as questões tributárias, deixando a SST de lado. “Ainda assim, o eSocial vai, pelo menos, tirar muitas incertezas que nós temos sobre os dados de óbitos e aciden-talidades no trabalho, por exemplo, fa-zendo uma fotografia da situação como ela realmente é. A partir disso podere-mos tirar o Brasil dessa situação vexató-ria, visto que ainda somos um dos piores do mundo quando o assunto é a saúde e segurança de nossos colaboradores”, prevê Armando.

De modo geral, as expectativas para o eSocial são otimistas. Espera-se o fim da indústria do papel, visto que as empresas serão vigiadas 24 horas por dia, e os da-dos apresentados precisarão concordar um com o outro. Há esperanças de que essa vigilância e agilidade no processo de auditoria fiscal obrigue as organizações a investirem em ações preventivas, evitan-do acidentes e afastamentos. Também se supõe que, para fazer tudo isso, as em-presas vão prezar por profissionais de SST mais qualificados e comprometidos. Com o tempo será possível descobrir se todas essas previsões estavam corretas e se o sistema funcionará da maneira pro-metida. Resta, no momento, que todos os envolvidos se apropriem da temática e se preparem, porque 2018 logo vem e, com ele, uma nova era.